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C arlos Q ueiroz
@%£) Olhando as Escrituras, é como se Jesus Cristo estivesse dizendo aos discípulos: “Primeiro, vocês precisam descpnstruir as formas religiosas de oração antes aprendidas”. Então, de imediato, a tarefa é saber como não se deve orar; depois, será mais fácil entender como se deve orar. Orar é um estilo de vida e, com a mesma Cristo, nãológica aprendemos dos gurus a orar das com religiões. Ninguém nunca nos ensinou a respirar, simplesmente , respiramos. E como se Jesus Cristo estivesse dizendo aos seus discípulos; “Quando vocês orarem, simplesmente orem”. As religiões ensinam técnicas de oração como
meio de sensibilização divindades. Com o Pai das celestial, essas técnicas não fazem sentido.
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A O RAÇÃO NOSSA D E CADA DIA - APREN DENDO A ORAR COM JESUS Ca tego ria: Espirit ualidade / Estudo bíblico / Vida cristã
Copyright © 2013, Carlos Queiroz
Primeira edição: Março de 2013 Coordenação editorial: Bernadete Ribeiro Preparação e revisão: Lícia Rosaiee Santana Diagramação: Bruno Menezes Capa: Ana Cláudia Nunes
Dado s Internaci onais de Catal ogação na Public ação (C IP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Queiroz, CarlovS A oração nossa de cada dia : aprendendo a orar com Jesus /Carlos Queiroz. — Editora Ultimato, 2013.
Viçosa, MG :
ISBN 978-85-7779'086-9 1. Espiritualidade 2. Oração de Jesus 3- Presença de Deus 4. Vida espiritual - Cristianismo I. Título. 13 -0 19 56 _________________________________________________________________________________ índices para catálogo sistemático: 1. Oração de Je su s: Teologia devocional
C D D -2 42 .7 2 24 2.7 2
PUBLICADO NO BRASIL COM AUTORIZAÇÃO E COM TODOS OS DIREIT0S RESERVADOS E ditora
U ltimato
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Sumário
PREFÁCIO
7
A presentação
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C o m o n ã o orar
- oração
e hipocrisia
15
C O M O NÃO ORAR - ORA ÇÃO E I DOI AT RI A CO M O OR AR OU COM O VI VE R ?
21 31
A ORAÇÃO MODELO
43
INTIMIDADE E SOBERANL\
47
Santidade
57
e testemunho
GOVERNO E HISTÓRL\
61
COMUNHÃO E BENS ORAÇÃO E PERDÃO
69 73
ORAÇÃO E TENTAÇÃO
79
AMÉM
89
PREFACIO
APRENDEMOS A ORAR LENDO LIVROS?
Lembrcvme de bons autores que me ajudaram a crescer na vida de oração. E agora chegam as reflexões de Car los Queiroz sobre a oração do Pai-Nosso. Muitos de nós conhecemos irmãos e irmãs de oração que nunca leram um livro sobre o assunto. E possivelmente já ouvimos reflexões sobre a oração de pessoas que não oravam. Não é o caso de Carlos. Ele fala do que faz e do que é. Dos meus amigos, é o mais marcado pela vida de Jesus. Aprender a orar não é algo técnico, com cinco pontos para lá e sete para cá. Oram as pessoas que desenvolvem uma intimi dade duradoura Deus e que um compromisso conseqüente com com sua vontade. Oramassumem os que fazem uma revisão de vida constante na presença de Deus, os que buscam pureza de coração e lutam por um mundo transformado pôr am or e justiça, as duas normas do reino de Deus. A vida de oração nos leva a fazer de nossa vicia inteira uma oração. Primeiro, precisamos en con trar um lugar e um tempo para
estarmos totalmente transparentes na presença de Deus. E na solidão e no silêncio que superamos os ruídos de dentro e de fora, e Deus transformanossos corações. Então, começamos a refletirsobre seu caráter e nos tornamos pessoas com discernimento espiritual.
n ^r/Lçã/rmsso. ã caÁá o.
Segundo, a vida de oração é firmada em uma relação íntima com o Pai bondoso, mas cujos mistério e soberania nunca deixam de existir. Orar não é só pedir coisas, nem manipular pessoas ou situações. É ser cativado pela presença misteriosa do amor inefável e ser transformado por ele. Terceiro, santificar o nome de Deus não é aumentar sua santidade, mas torná-la visível por meio da conversão e do ar rependimento, especialmente por meio de uma vida íntegra e pura, que testemunha a santidade de Deus porque a reflete em todas as dimensões de vida. Quarto, a vida de oração nos torna inconformados com o mundo e nos faz sonhar com o reino de Deus e sua justiça. Orar como Jesus orou tem implicações sociais, políticas, econômicas e ambientais. Quinto, vida de oração é vida de generosidade. Quer pão para todos. A falta de pão tem a ver tanto com a falta de Deus, bem como com a falta de justiça. A vida de oração não se preocupa em acumular, mas tem o poder de compartilhar. Sexto, a vida de oração é uma vida que abraça e reconcilia. Quem recebe o perdão de Deus aprende a perdoar tanto ofen sas como dívidas. Cultiva um senso de comunidade, e nunca o individualismo, muito menos o rancor, o ódio ou á amargura. Sétimo, a vida de oração discerne as suas tentaçõe s e vence o mal com o bem, embora tenha consciência de que a vida pode ser desvirtuada. Por isto se apega ã vontade de Deus como bem supremo. Vida de oração conduz ao comprometimento. A Oração Nossa de Cada Dia deve ser lido de maneira medi tativa, ponderada. Aos que assim o fizerem, brotará uma vida
de oração mais significativa. Manfred Grellert
[apresentação]
ORAÇÃO, UM ESTILO DE VIDA
Certo dia Jesus estava orando em determinado lugar. Tendo terminado, um dos seus discípulos lhe disse: “Senhor, ensina-nos a orar, como João ensinou aos discípulos de le”. LUCAS 11.1-2
O s discípulos de Jesus Cristo pediram que ele lhes ensinasse a orar, como João Batista havia ensinado aos discípulos dele. Pos-
sivelmente, os discípulos de Jesus Cristo estavam condicionados aos formatos das orações de sua cultura religiosa. Em muitas reli giões, a oração é praticada de maneira burocrática, com técnicas conduzidas por mestres especializados, de modo que os iniciantes
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precisam ser treinados para fazer as suas preces de acordo com o enquadramento e forma de tais mestres especializados. Na verciade, há muitas lições a serem aprendidas dessas pedagogias litúrgicas; todavia, elas não são suficientes para atender às peculiaridades de cada pessoa. Há pessoas organizadas e sistemáticas, que conseguem se conectar com peças literárias de oração mais estruturadas, para quem uma forma litúrgica bem elaborada pode fazer algum sentido. Mas há também pessoas de vida espiritual dinâmica, cuja prática de oração acontece de maneira livre e espontânea, sob a inspiração das atividades cotidianas e diante das surpresas e dos acontecimentos im previsíveis da vida. A informalidade e a espontaneidade são características, por exemplo, das comunidades carismáticas e das pentecostais populares. Com certeza os discípulos presenci aram Jesus Cristo orando várias vezes. Alguma coisa de especial nas orações do Mestre deve ter causado admiração. Pode ter sido a sua eficácia, pois, de fato, suas orações eram sempre respondidas. Havia uma conexão perm anente entre o Jesus Cr isto de Nazaré e a vontade de Deus. Ele rogava, pedia, intercedia e o Senhor respondia. Os discípulos queriam a mesma eficácia? Estavam realmente interessados em aprender? Independente das motivações, eles queriam que Jesus lhes ensinasse a orar. Em geral, pensamos que há um jeito poderoso de “do brarmos” Deus aos nossos interesses e aspirações. Sempre acreditamos em técnicas especiais para a oração. Conhecemos
várias expressões como “oração poderosa”, “oração de fogo”, “oração forte”, “orar com ousadia”, “orar com determinação” etc. Sermos ousados em nossos propósitos e projetos da vida é uma coisa; sermos ousados e determinado s com o técn ica para
ajimentíçã/T 11
pressionar Deus quando oramos é pura relação idolátrica e desconhecimento da graça e soberania de Deus. A princípio, a forma pode fazer algum sentido para quem ora, mas para o Deus eterno, que nos acolhe em nossas orações, o mais importante é a comunhão e a relação entre Pai e filho. Então, quando os discípulos pediram a Jesus Cristo que lhes ensinasse a orar, qual foi a sua resposta?
O r a r é u m modo
de ser
EM COMUNHÃO COM DEUS
Aprender a orar com o Jesus Cristo de Nazaré é uma das mais fascinantes descobertas para o caminho de nossa espiritua lidade. Para ele, orar é um estilo de vida, um modo de ser em comunhão com Deus. Com ele, não aprendemos a orar segundo a lógica repassada pelos gurus das religiões. Assim como respirar funciona para a oxigenação do corpo, orar existe para a pneumatização da alma. Ninguém nunca nos ensinou a respirar, simplesmente respiramos. E como se Jesus Cristo estivesse dizendo aos seus discípulos: quando vocês orarem, simplesmente orem. As religiões ensinam técnicas e artifícios como meio para sensibilizar as divindades. Para o Pai celestial, essas técnicas não fazem sentido. A oração no evangelho não é ensinada, é degustada com o paladar do coração, contemplada com os olhos da interio ridade, escutada no silêncio profundo da alma, sentida pela aproximação invisível de Deus. A oração é a experiência que
gera um sentimento de se viver na companhia de Deus. O pedido dos discípulos está na narrativa de Lucas, mas usamos aqui o texto de Mateus 6.5-13 para explicar o ensino de Jesus sobre a oração.
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a.
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Na narrativa de Mateus, o Mestre procurou, primeiro, desconstruir os dois arquétipos negativos mais usados nas orações para, depois, explicar como orar: Não orar com o arquétipo mental dos hipócritas - Os religiosos acreditam em si mesmos, de tal maneira, que fazem suas preces nos espaços públicos em busca de publicidade pessoal (Mt 6.5). Não orar com o arquétipo mental dosgentios - Estes acreditam em artifícios espirituais eficientes, capazes de curvar os ídolos aos seus interesses (Mt 6.7). Como se deve orar - Depois da desconstrução, Jesus ensina o que espera da oração de seus discípulos (Mt 6.9-13) Observando bem o texto, é como se Jesus estivesse dizendo aos discípulos: prim eiro vocês precisam desco nstruir as formas religiosas de oração aprendi das a nterio rmente. Então, de ime diato, a tarefa écomo sabersecomo se deve orar e depois será mais fácil entender devenão orar. Com Jesus, aprendemos que a oração não cabe num a estru tura fechada e burocratizada. A oração é tão dinâm ica quan to a vida, é tão livre qua nto o Esp írito Sa nto que a fecunda. Qu em ora, nasceu do Espírito e, tal qual o vento, “não sabe de onde vem, nem para onde vai”seQo 3.8). Quem assim ora-,o fica apenas na certeza de que Deus interessa, cuida, supre necessário. Ele cuida das aves dos céus e dos lírios dos campos, e cuida muito mais dos seus filhos e filhas (Mt 6.26-34).
O RISCO DE SE TIRAR A MULET A
SEM OFE RECER UMA PER NA
Esperamos não falhar na pedagogia desta apresentação. Po deríamos apresentar primeiramente como se deve orar. Vamos
yirmntcbÇM 13
começar, porém, pela desconstrução dos dois arquétipos negativos apontados por Jesus - a oração dos hipócritas e a oração dos idólatras. Jesus Cristo Nicodemos, o MestreNalhemetodologia disse: “Vocêdeprecisa nascer aplicada de novo”a Qo 3.3). Ou seja, se Nicodemos não nascesse de novo, todo o ensin o repassado por Jesus seria entendido e interpretado por ele a partir de seus arquétipos mentais, formatados nas suas experiências culturais e religiosas anteriores. Portanto, usando essa mesma da desconstrução, comecemos explicando , prim eiro, cológica mo não se deve orar. Mesmo assim, ainda corremos um risco. Ainda hem jovem, fraturei a perna esquerda jogando fu tebol. Ele precisou usar muletas por mais de três meses. Elas foram necessárias para um corpo doente. Evidentemente, ele preferia a minha perna sadia,elecom a qual poderia e correr livremente. Quando se percebeu melhor,caminhar desistiu das muletas. Não andou bem de um dia para o outro, mas foi retoman do o ritmo, o jeito natural de an dar. As muletas f oram escoras necessárias, porém totalmente descartáveis quando as pernas se fortaleceram. Eram as pernas que completavam o seu corpo em sua totalidade. Então, não vamos tirar as nossas muletas religiosas sem oferecer “pernas sadias” para a nossa peregrinação espiritual.
[ 1]
COMO NÃO ORAR - OR AÇ ÃO E HIPOCRI SIA-
^ ^ £ quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas. Eles gostam de fi car orando em p é nas sinagogas e nas esquinas, a fi m de serem vistos pelos outros. Eu lhes asseguro que eles j á receberam sua plena recompensa. MATEUS 6.5
J ESUS C
não está condenando as orações feitas nos espaços públicos. Ele mesmo orou várias vezes publicamente. Jesus não está nos animando a vivermos uma espiritualidade risto
enclausurada, privada e individualista. Seu propósito é des mascarar a futilidade do uso publicitário da oração para o prestígio pessoal. E assim o estilo dos hipócritas: “gostam de
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a. [^nçcúr rurssa.
orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos dos homens”. Nos ambientes religiosos, exigem as primeiras cadeiras, tiram proveito de símbolos arquitetônicos que sinalizem o seu “status espiritual”. Os paramentos religiosos, as liturgias, as regras cerimoniais dão aos hipócritas a chance de manipulação, controle e domínio sobre as pessoas. Muitos se utilizam desta estrutura para tratar as outras pessoas com legalismo perverso e se revelam incoerentes por não usarem o mesmo rigor com seus pecados e erros. Conforme afirmou Jesus Cristo, os hipócritas engolem camelos e se engasgam com mosquitos. Colocam fardos pesados sobre os outros e não os ajudam a carregá-los (Mt 23). Os hipócritas conhecem pouco sobre graça, misericórdia, bondade e amor de Deus. São pessoas insensíveis e vão se tornando desumanas e perversas. Em nome da religião, são capazes de matar pela indiferença e, muitas vezes, tiram a vida literalmente. Basta observarmos na história as Cruzadas, a Inquisição ou as guerras religiosas. Algumas pessoas oram, mas não estão interessadas em se comunicar com Deus. Estão mais preocupadas em impressionar os seus observadores. Jesus usa o termo oração para essa prática publicitária, apenas para efeito de comunicação da ideia. Mas não há como chamar de oração essa prática litúrgica em que o orante chama a atenção do público em beneficio próprio. As frases construídas nessas orações são elaboradas como se fossem uma comunicação dirigida a Deus, quando, na verdade,
são dirigicJas aos ouvidos da platéia. Em geral, são construídas com frases sofisticadas, retórica rebuscada, entonação de voz que impressione os ouvintes, como se aquele que ora estivesse possuído por um poder sobrenatural.
em a nrn (m r - crcLçãff e ti^crisit
Em certa reunião, uma pessoa assumiu o microfone logo depois de ter sido convidada para fazer uma oração. Lá pelo meio da prece, a aparelhagem de som deu um problema e o microfone não parou de funcionar. De imediato, o rapaz in terrompeu a oração e perguntou; “Vocês estão me ouvindo?”. Este episódio pode ter sido apenas a manifestação de um “ato falho”. Ou seja, no consciente imediato, o cidadão estava usan do frases e expressões de oração a Deus, mas, no inconsciente mais íntimo, estava se comunicando com o auditório e não com o Senhor. Essa ilustração tem suas limitações. A reação do orador pode ter sido reposta ao condicionamento causado pela utili zação da tecnologia e não pretendemos estimular ninguém a fazer julgamento das orações das pessoas. Precisamos, porém, avaliar nossas motivações e propósitos quando estivermos orando. Não oremos como os hipócritas. Eles oram para serem percebidos pelas pessoas. Não estão interessados em nenhuma comunicação com Deus. As orações também possuem beleza poética. Os ritos cerimoniais públicos são inspiradores. O aprendizado pela repetição ou pela estética do ambiente comunica, de maneira pedagógica, muitas verdades importantes sobre a vida. Jesus Cristo não está menosprezando o ato público e litúrgico da oração (lembremos que ele mesmo orou em público muitas vezes). Ele está condenando a utilização da oração como arti fício para publicidade e promoção pessoal. Na verdade, Jesus Cristo conhece as limitações e os riscos das artimanhas esté
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ticas. Ele explicou isto várias vezes: falou sobre odres velhos e vinho novo; chamou os escribas e fariseus de sepulcros caiados; den uncio u a hipoc risia dos rel igiosos quan do fez referência ao
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cuidado que tinham para lavar as mãos e o exterior dos copos, sem a mesma preocupação com o mundo interior do “copo”. Todas essas analogias foram apresentadas parabásico nos ajudar a valorizar a nossa ética mais profun da, o núcleo do nosso caráter, que naturalmente será percebido ou não pelas nossas expressões estéticas. Quando oramos com o Jesus Cristo de Nazaré, vamos aprendendo que o ensino sobre a oração íntima e pessoal é uma disciplinac|uanto espiritual, que nos ajuda a crucificar tanto o exibicionismo a hipocrisia. Não há problemas em orarmos publicamente. Na verdade, no Novo Testamento, aprendemos que a oração é uma prática coleti va. Oramos ao Pai nosso (primeira pessoa do plural). Referindo-se a oração, Jesus disse: “Se dois de vocês concordarem na terra em qualquer assunto sobre o qual pedirem, isso lhes será feito por meu Pai que está nos céus. Pois onde se reunirem dois ou trêsem meu nome, ali eu estou no meio deles” (Mt 18.19-20). Em carta aos coríntios, Paulo faz referência á necessidade de que se ore com inteligibilidade, para que as demais pessoas possam confir mar dizendo amém (ICo 14.16). A oração pública é, também, um exercício de edificação da comunidade (ICo 14.17.). Judas, irmão de Tiago, escreveu: “Edifiquem-se, porém, amados, na santíssima fé que vocês têm, orando no Espírito Santo” Od 20). Portanto, oramos publicamente para aprofundarmos a co munhão da igreja com Deus, para edificarmos uns aos outros, para servirmos aos tristes e aflitos em suas dores, seus conflitos
e desalentos. Quando oramos em comunidade, mantendo o sentimento de temor a Deus, comprometidos com a prática do amor e serviço às pessoas, somos libertos da arrogância e dos pedidos egoístas e individualistas.
Círm nã/r arnr - dmçãa e íijuci
Resumindo, o problema não é a oração pública, e, sim, a má utilização que fazemos dos espaços públicos e das oportuniciades que nos são oferecidas pelas nossas comunidades. O problema é o artifício, o engano, a hipocrisia. Os religiosos hipócritas oram e usam estéticas superficiais com o fim de atrair o reconhecimento das pessoas - “porque gostam de orar em pé nas sinagogas, e nos cantos das praças, para serem vistos dos homens”. Há pessoas que usam a lógica dos hipócritas com técnicas diferentes, como o uso da entonação da voz, intercalações com repetições de sílabas e sons ininteligíveis, como se fossem línguas estranhas (glossolalia). Há situações públicas que chegam ao ridículo, como certos segmentos em que algumas pessoas, enquanto oram, começam a “dançar” fazendo movi mentos frenéticos com os pés. Essa manifestação é conhecida pejora tivam ente com o “sapatinho de fogo”. Em alguns espaços religiosos, presenciamos manifestações ou espetáculos nos quais os homens, principalmente, fazem rodopios, lançando socos e pernadas ao ar, com movimentos semelhantes aos das lutas marciais. Essas manif estações se d ão em espaços público s. Sem plateia, os religiosos exibicionistas e hipócritas perderiam o objetivo de serem vistos e reconhecidos pelas pessoas. As orações com fins publicitários existem nos ambientes mais ritualistas e burocráticos tanto quanto nos movimentos mais populares. Mudam as roupagens, os estilos, os formatos, mas, na essência, as distorções são as mesmas. E m geral, quem ora como os hipócritas, expressa sinais de arrogância e prepo
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tência. Em qualquer ambiente público, estamos sujeitos a cair na tentação do exibicionismo, busca por publicidade pessoal, reconhecimento e fama. Não importa o movimento religioso -
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^ruçãff nassa d!ê caÁ Áa.
desde movimentos liderados por pessoas sem acesso à educação formal, até onde se encontram os que transitam no mundo acadêmico, o perigo está sempre presente. A humildade é a virtude fundamental da oração. A consci ência de pecado, pessoal e coletivo, é essencial nos ensinos do evangelho. Por isso, a primeira exortação do Jesus Cristo de Nazaré é; “Quando orardes, não sejam como os hipócritas”. Logo a seguir, vamos verificar que o ensino sobre a oração íntima e pessoal é uma disciplina espiritual, que nos ajuda a crucificar tanto o exibicionismo quanto a hipocrisia.
[2 ]
COMO NÃO ORAR ORAÇÀO E IDOLATRIA
E quando orar em, nãofiq uem sempre repetindo a mesma c oisa, com ofazem ospagã os. Eles pensam quepor mu itofalarem serão ouvidos. Não sejam iguais a eles, porque o seu Pai sabe do que vocês precisam, antes mesmo de o pedirem . MATEUS 6.7-8
o s hipócritas se expressam com arrogância e Vimos que buscam publicidade pessoal. Eles oram em pé nas esquinas das praças e nas sinagogas para serem percebidos pelas pessoas. Os
gentios, por sua vez, apelam para a crença em seus métodos e ar tifícios de manipulação e controle de suas divindades - “... pensam que pelo seu muito falar serão ouvidos...”.
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a. ^roLçã/r \yraça/rntrssa, nma, £ caÁ ãa.
Estamos considerando gentio os religiosos que se relacionam com o mundo sagrado com a concepção de que são capazes de do brar as divindades para atenderem seus interesses e expectativas. O primeiro aspecto - Nesta parte, falamos sobre os agentes da religião, aqueles que tomam as decisões e controlam o espaço religioso. No espaço religioso idolátrico, como os devotos serão ouvidos se o ídolo não tem audição nem inteligência? O segundo aspecto - Aqui, explicamos algo sobre as crenças ou técnicas qu e os devotos os empreendedores mágicos de dasmanipula religiõesção presumem possuirounos monólogos de oração às suas divindades. Neste caso, estamos considerando a oração um monólogo, porque o ídolo tem boca, mas não fala.
OS AGENTES DA RELIGIÃO E O ESPAÇO RELIGIOSO IDOLÃTRICO
Toda religião depende de três agentes principais para o seu fun cionamento: a) divindade(s), b) sacerdote(s) ou especialistas da religião e, c) devotos. Os demais elementos são desdobramento s da criatividade dos especialistas e dos devotos da religião. Eles vão criando lugares e elementos ou símbolos de poder, utilizados exclusivamente pelos empreendedores do negócio religioso. A religião, como uma expressão social, possui outros aspectos desde sua representatividade pública, estrutura organizacional, hierarquias, conjunto de ensinamentos referentes à doutrina religiosa até questões morais e éticas. Aqui, refletiremos somente
sobre os três agentes referidos acima: a divindade, o sacerdote e os devotos. O ídolo não tem inteligência nem vontade; consequen temente, os sacerdotes ou agentes mágicos da religião e
c/m
seus clientes dominam e controlam os seus interesses e propósitos. Os devotos ou clientes oram entendendo que possuem poder suficiente para dominar suas divindades. Fazemos aqui um pequeno resumo sobre religião e idolatria para que se entenda melhor qual o esquema de oração dos gentios ou idólatras.
A divindade inanimada nada controla A divindade é indispensável no campo religioso. Ela é um ele mento funciante, mesmo que não seja fundadora da religião. Quem dá srcem à religião e a organiza é o especialista religioso (sacerdote, agente mágico) na interação com os devotos. Sem a crença no sobrenatural não acontece o fenômeno religioso. Estou denominando de sobrenatural a crença posta em coisas, doutrinas ou construções imaginárias, como se elas tivessem poder para re alização de fenômenos paranorm ais. Ou a tentativa de transformar em objetos concretos percepções subjetivas anteriores aos objetos ou símbolos representativos de tais percepções, de modo que a idolatria é anterior ao ídolo. O ídolo é apenas a materialização da imaginação construída. No campo religic:)so, o ídolo é uma espécie de simulacro de divindade, ou melhor, é uma tentativa de tornar concretas as percepções imaginárias das pessoas a respeito da divindade. Assim, a divindade representada em coisas palpáveis, visíveis - mesmo que inanimadas -, passa a ser o objeto de veneração dos devotos, sob o controle e manipulação do sacerdote ou
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agente mágico do ambiente religioso. Como na idolatria as divindades são uma criação ou pro jeção das experiências e desejos humanos, as pessoas existem
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a, \^ra{(Ur w m ite a
antes de seus deuses, razão pela qual, na Bíblia, os ídolos são identificados como seres inanimados. Não veem, não cheiram, andam, se comunicam e tanto sacerdote quanto onão devoto têmnão controle e domínioetc., sobre eles.oFruto da invenção imaginativa das pessoas e elaborados a partir de realidades objetivas anteriormente conhecidas, podemos identificar os ídolos visíveis ou primitivos, representados por objetos, figuras humanas, animais, elementos da natureza etc.. - “objetos sagrados”; e os ídolos modernos, representados pelas ideologias, esquemas religiosos, pela “mão invisível do mercado”, por um poder político etc. ídolo visível - divindade materializada em objetos sagrados Não é a sacralidade do objeto religioso que define a idolatria e sim a forma como os seres humanos se relacionam com tais representações. Quando se dá ao objeto o reconhecimento de poder sobrenatural, está estabelecido aí o DNA para a idolatria visível. Diante dessa crença, se fazem oferendas, sacrifícios, preces, trocas de favores, na expectativa de que a divindade escute e reaja aos apelos dos devotos. Veremos mais adiante que, na prática, essa é uma relação entre os clientes e os empreendedores da religiãti e não entre o ídolo (objeto inanimado) e as pessoas. O modelo de idolatria visível é denu nciad o por Moisés, Isaías e outros profetas: Portanto, tenham muito cuidado, para que não se cotrom-
pam fazendo parasi uni ídolo, uma imagem de alguma forma • semelhante a homem ou mulher, ou a qualquer animal da terra, a qualquer ave que voa no céu, a qualquer criatura... Deuteronômio 4-15h-18
em a ncur m r - crdçcur e i/ãíntm
O ferreiro apanha uma ferramenta e trabalha com ela nas brasas; modela um ídolo com martelos, torja-o com a força do braço. Ele sente fome e perde a força; passa sede e desfalece. O carpinteiro mede a madeira com uma linha e faz um esboço com um traçador; ele o modela toscamente com formões e o marca com compassos. Ele o faz na forma de homem, de um homem em toda a sua beleza, para que habite num santuário. Isaías 44.12-13 Paulo sempre considerou os ídolos insignificantes: Portanto, em relação ao alimento sacrificado aos ídolos, sabemos cjue o ídolo não significa nada no mundo e que só existe um Deus. Pois, mesmo que haja os chamados deuses, quer no céu, quer na terra (como de fato há muitos ‘deuses’ e muitos ‘senhores’), para nós, porém, há um único Deus, 0 Pai, de quem vêm todas as coisas e para quem vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, por meio de quem vieram todas as coisas e por meio de quem vivemos. Contudo, nem todos têm esse conhecimento. Alguns, ainda habituados com os íclolos, comem esse alimento como se fosse um sacrifício idólatra; e como a consciência deles é fraca, fica contaminada. A comida, porém, não nos torna aceitáveis diante de Deus; não seremos piores se não comermos, nem melhores se écomermos [...]. Será o sacrifício oferecido a um ídolo alguma coisa? Ou que o ídolo é alguma coisa? 1 Coríntios 8.4-8; 10.19
ídolo invisível - perceptível nas conjunturas de dominação e exploração
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O ídolo moderno é uma projeção criativa do devoto ou do “sacerdote”, chegando a ser, no máximo, resultante das intera ções humanas de poder e dominação e somente em algumas
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í ^ m çU mssa. (ã c aÁ Á
vezes materializados em forma de objetos sagrados. A idolatria moderna de mercado, por exemplo, não possui um ídolo reli gioso. A sua crença está fundamentada no poder do dinheiro. As bênçãos do ídolo de mercado são mensuráveis a partir de critérios econômicos e de sucesso dos seguidores das regras e doutrinas do mercado. As “divindades do mercado” protegem os empreendedores e os clientes da exploração e do lucro e exigem o sacrifício dos não consumidores e excluídos do poder de compra. Apenas para efeito de ilustração de uma idolatria invisível, lembremos a estátua de ouro construída por Nabucodonosor, no período em que Daniel e outros jovens judeus foram levados como escravos para a Babilônia. A adoração ao poder bélico e econômico do império de Nabucodonosor era anterior ã edificação da estátua. A materialização visível da idolatria se deu com a construção daquele mon um ento , mas a experiência idolátrica inv isível já era evidente . O imperador era v isto como divino, seu poder militar reverenciado e temido por todos. Na verdade, o que denominamos de “invisível” é uma realidade concreta, que nem sempre assume uma natureza religiosa, mas exerce domínio sobre a vida das pessoas^. Como exemplos mo dernos podemos observar a divinização do estado totalitário ou da economia neoliberal. Quantas vezes o povo hebreu foi exortado pelos profetas a confiar em Deus em vez de confiar no poder bélico da Babi lônia ou do Egito? O caso mais evidente aconteceu quando o Israel trouxe para o espaço econômico e religioso a figura de
Baal, divindade que representava a prosperidade econômica dos fenícios. Acreditava-se que Baal era o deus da chuva, por tanto, divindade que beneficiava todo o progresso agrícola e da pecuária daquela época.
em a na/r m r - ar^cur ei/ãíaJtria,
A idolatria existe também em torno de ídolos não materializados em forma de objetos religiosos. Nas religiões que usam menos símbolos e objetos sagrados, os ídolos invisí veis são mais sutis e difíceis de serem discernidos. O ídolo de mercado, representado pelo dinheiro, é adorado por ateus e religiosos igualmente materialistas. Nesse caso, a confissão da crença em Deus, enquanto se adora ao deus dinheiro, é tão pecaminosa quanto o ateísmo. Sobre o ídolo de mercado, usam-se expressões que lhe dão um sentido de personificação: “o mercado amanheceu nervoso”, “o mercado está agitado”. Mesmo assim, não é o ídolo em si mesmo que exerce qualquer controle ou domínio sobre a situação. No mundo corporativo, os ricos buscam o lucro e as benesses a qualquer custo, mesmo sacrificando no altar dos seus negócios milhares de seres humanos espoliados e injustiçados. Na religião, são os empreendedores da empresa religiosa e suas instituições quem mais tira proveito das benesses ou sacrifícios dos clientes. No ambiente idolátrico, os clientes e os agentes mágicos da religião são senhores da liturgia e das orações. Eles dom inam e controlam as relações religiosas. E como exercem esse controle? Como intermediam as orações entre os clientes/devotos e as suas divindades? Vejamos a seguir.
OS SACERDOTES, OS DEVOTOS E AS TENTATIVAS DE MANIPULAÇÃO DA DIVINDADE
Como vimos, na idolatria o adorador relaciona-se com o “sagrado” com a concepção de que tem controle sobre as suas divindades. Facilmente entendemos essas relações quando
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^ra çã/r nma á c a Á Áa.
lembramos que tais divindades são ídolos, portanto, entidades sem inteligência, vontade, iniciativa, enfim, sem poder algum. Sendo assim, o orante suas divindades devemdefine, fazer.a partir de seus interesses, o que Em qualquer ambiente idolátrico há a crença de que os devotos ou clientes e os “sacerdotes mágicos” possuem alguma técnica poderosa para dobrar as divindades aos seus interesses. A magia funciona como elemento básico da transação entre os clientes eque a mediação dosconsagrados sacerdotes, de que se passa a acreditar os objetos oumodo as frases mágicas possuem poder para modificar vidas e situações, seja para o bem, seja para o mal. Na idolatria, acredita-se que o devoto ou cliente, através de um agente intermediário, manipula, negocia ou determina o que o ídolo deveacreditando fazer. Logo,que aqueles oraminclinam repetindo pa lavras, jargões, essas que técnicas Deus aos seus desejos, estão orando ã semelhança dos idólatras. Na oração do Pai-Nosso, Jesus Cristo se referiu às pessoas que acreditam que os seus deuses lhes escutam pela muita repetição das palavras. Tais pessoas entendem essa maneira de orar comoemuma fórmula, cuja finalidade manusear força divina serviço dos interesses egoístasé dos devotosa ou clientes da religião. No mundo cristão, há também aqueles c|ue se utilizam de modelos idolátricos, achando que, usando uma frase correta. Deus irá lhes atender. Quem sabe, usando um argumento forte
baseado uma promessa, por exemplo. Deus irá curvar-senas aosEscrituras, seus interesses. Esses artifícios de manipulação não mudam em nada. Deus con hece todas as nossas necessida des, e nos atende por causa do seu amor, graça e misericórdia.
cm c m a orar
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oro^oxr iÁãárcí e
Isto não significa que não devamos pedir alguma coisa em oração. Significa, sim, que estamos pedindo a um Deus que conhece, antecipadamente, todas as nossas necessidades. Seu relacionamento conosco é de amor e confiança. Também, sendo um Deus soberano, conhecedor de todas as coisas, não se permite ser manipulado por nossos interesses egoístas e materialistas. Deus é pleno em sabedoria, tem vontad e própria e projetos eternos, não vive circunscrito às limitações do jogo de interesses imediatistas de seus filhos e filhas. Certos ensinos sobre oração dizem que precisamos orar com ousadia, com determinação. Deus atende aos ousados e determinados. Nas Escrituras, o máximo que encontramos é que Deus não despreza um “coração quebrantado e contrito” (SI 51.17b). Mesmo nesse texto, o propósito é falar muito mais sobre a atitude de c^uem ora do que sobre ensinar alguma técnica para sensibilizar Deus aos nossos pedidos. Nem mesmo, a maravilhosa frase “em nome de Jesus Cristo” fará c]ualc]uer sentido se o objetivo de nossa oração não fizer parte dos propósitos eternos de Deus. Orar em nome de Jesus Cristo não é uma técnica de magia. Orar em nome de Jesus Cristo é orar em torno das coisas e propósitos em que Jesus Cristo garante o seu aval, é orar disc ernindo a vontade de Deus. Em suma, Jesus Cristo estava ensin ando aos discípulos uma outra forma de se viver a experiência da oração. Chamamos de “outra forma” pelo fato de ser diferente da burocracia tão conhecida e imposta pela religião. Mas, na verdade, estava sendo retomada a gênese da relação livre e espontânea dos
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seres humanos com Deus - O Deus que “sopra nas narinas”, que ao m esmo tempo cria e dom ina toda a natureza, visita-a na “viração do dia”, mantém diálogo com a humanidade criada - expõe
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planos e projetos, estabelece virtudes e princípios, prescreve limites e fronteiras. O Pai a quem precisamos orar, confessando reverentemente que Ele está nos céu, é o Deus único e infalível e, ao mesmo tempo, um ser de tal intimidade que podemos inalar seu hálito em nossa respiração espiritual. Ser cheio do Espírito Santo é ser permanentemente visitado pelo sopro de Deus, que gera vida abundante. Portanto, “não sejam iguais a eles, porque o seu Pai sabe do que vocês precisam, antes mesmo de o pedirem” (Mt 6.8). Não vos assemelheis a eles - a “eles” quem? Aos hipócritas e aos idólatras. Aos hipócritas, por causa da sua prepotência e arrogância; e aos idólatras, pela prática da manipulação nas relações com a divindade.
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COM O ORAR OU COMO VIVER?
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Mas quando você orar, vã para seu quarto, feche aporta e ore a seu Pai, que está em secreto. Então seu Pai, que v ê em secreto, o recompensará. MATEUS 6.6
A ORAÇÀO é uma experiência singular para cada ser humano . Como ela nasce da conexão com o Espírito Santo, em relação
com o mundo de nossa intimidade pessoal, cada oração apre sentará, também, o mistério da singularidade de cada pessoa. Portanto, não é possível criar um arquétipo único e fechado para a oração. Não podemos fechar as possibilidades criativas de
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I
^ ríçã/r ntrssa. d é caÁ Á
nossas orações. Muito pelo contrário, precisamos entender ciiie orar é se libertar de todas as algemas e dependência da religião e de seus controladores. O c^ue parece liberdade, nas variadas possibilidades burocráticas das orações religiosas, na essência funciona como esquemas de fidelização e dependência dos clientes à empresa religiosa. Ou, no mínimo, dependência na maneira de se proceder à oração. A oração praticada por Jesus é essencialmente libertadora. Ele não cria regras impossíveis e sacrificiais. Ele nos anima a voltarmos pelo caminho mais natural de nossa interioridade em busca do mistério da presença de Deus, em comunhão com a nossa essência pessoal. Como refluxo cJo amor encontrado em Deus, em oração, passamos a amar e a cuidar das pessoas como amamos e cuidamos de nós mesmos. Portanto, a respeito da oração, vamos aprender com o Jesus Cristo de Nazaré muito mais sobre o nosso estilo de vida do que sobre as burocracias ou sobre as técnicas de oração, como fazem os religiosos. Quais as recomendações básicas feitas pelo Mestre sobre a oração?
O r a r é abrir AO CONVITE
o coraçào de
e m resposta
DEUS À INTIMIDADE COM ELE
“Mas quando você orar, vá para seu quarto..." O term o grego que deu srcem á tradução para quar to é tameion.
Mas “quarto” não representa a mesma imagem arquitetônica do termo em referê ncia. O tameion era uma espécie de depósito subterrâneo da casa, onde se guardavam os equipamentos da agricultura ou pecuária. Aquele tipo de ambiente da casa em que
cm c m r au em a ‘H nr (
depositamos nossas quinquilharias, os vários cacarecos quebrados. Pela desarrumação ou pela sujeira acumulada, o tameion pode depor mal contra a nossa capacidade de organizar a vida. Difi cilmente alguém convidaria uma pessoa para conversar em um lugar tão bagunçado. Por isso o tameion é aquele ambiente da casa para onde levamos somente as pessoas da nossa mais pro funda intimidade. E o tipo de lugar em que ficamos despidos e não nos envergonhamos, não sentimos necessidade de nos esconder debaixo de qualquer capa. Muitas vezes, é aí também que guardamos nossos tesouros escondidos. Para algumas pessoas, ainda que seja importante manter o hábito de orar em algum lugar específico, orar no tameion não tem uma cc^notação meramente geográfica. Na verdade, otameion é o espaço confuso da alma, é o ambie nte dos segredos mais ínti mos, é o nosso mundo interior escondido e de pt>rtas fechadas. Orar é entrar nes se “quarto ” ou nesse compartimen to confu so do coração para cultivar e desfrutar graciosamente da ternura do Pai, de modo que a oração passa a ser uma condição interior da mais plena transparência diante de Deus. Jesus Cristo não recomenda abrirmos a porta dess e quarto tão íntim o para todas as pessoas, mas está dizendo que Deus não está fora dele. Deus já estava lá, conhecendo todas as coisas e toda a nossa intimidade, e, como habitante de nosso quarto interior, o Espírito Santo nt)s cativa com ternura para consolidação de uma amizade mais sólida. Respondemos ao envolvimento do Espírito Santo quando oramos. Por isso, orar é viajar com Deus no espaço de nossa humanidade mais profunda e, na aventura desta viagem,
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conhecermos mais sobre Deus, com quem seremos capazes de reconstruir, na quietude da alma, o “sentimento de humanidade” que fomos perdendo pelo caminho.
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Orando no Espírito Santo, acolhemos melhor a revelação sobre Deus e desvendamos mais o núcleo básico de nosso ser interior. “Feche a porta...” A figura da porta é muito fecunda. Uma porta aberta pode indicar acolhimento, receptividade, aceitação. Uma reunião de portas fechadas sinaliza o acolhimento e tratamento de assuntos de interesse apenas das pessoas na parte interior da sala. Mas, nesse texto, do mesmo modo como quarto não é um espaço geográfico, “porta” também não é uma peça de madeira ou ferro facilitando ou impedindo a passagem de alguém. Porta aqui é o canal de comunicação da alma humana com o eterno Deus. O apóstolo João, em Apocalipse 3.21, apresenta Jesus Cristo com o visitante de nossa casa interior, “batendo ã porta de nossa alma”, sinalizando que está do lado de fora, na expectativa de que, para o nosso próprio bem, tomemos a iniciativa de aber tura pela oração e, assim, possamos desfrutar da mais íntima e profunda comunhão com ele. Nesta primeira figura da porta. Deus está do lado de fora e nós abrimos a porta para a sua entrada. Na figura da porta de Mateus 6.6, no Pai-Nosso, Deus já está em secreto no quarto de nossa interioridade, nós é que precisamos entrar e fechar a porta. Talvez fechar a porta para não sairmos em busca de aspirações e respostas que não tenham sido construídas na intimidade com o Pai. Portanto, esses textos, usando a porta como figura,
sinalizam a nossa atitude de abertura para conhecermos melhor sobre Deus e sobre nós mesmos através da oração. Deus bate á porta de nossa alma, aguardando o nosso acolhimento, em oração, para o desfrute da comunhão com ele.
em a amr au cama ftn r ?
Em outra analogia, Jesus Cristo se apresenta como a porta - “eu sou a porta” (Jo 10.9). Ele é a mediação entre nós e Deus, indicando o nosso trânsito livre de acesso ao Pai. No texto “Mas quando você orar, vá para seu c^uarto, feche a porta e ore a seu Pai, que está em secreto”, a figura da porta fechada sugere um ambiente de intimidade profunda. O Pai já está em secreto no tameion. Então, nós é que precisamos entrar no ambiente da oração e fechar a porta para mantermos uma atitude de permanente comunhão com Deus. Muitas vezes nós não conhecemos o que se passa no porão de nossa interioridade. Há muito tempo estamos fugindo das verdades sobre a nossa singularidade mais intrínseca. Olhamos e julgamos as circunstâncias e pessoas em nosso entorno, contudo, não tomamos a iniciativa de mergulhar em nossa interioridade. Por isso, orar com Deus no tameion é se colo car dian te do Jesus Cristo de Nazaré, o reflexo da figura humana que precisamos alcançar. No tameion, olhando como, por um espelho, somos transformados, de glória em glória, até a própria imagem e semelhança do Filho (2Co 3.15-18). Na intimidade com Deus, cada um descobre esse “mistério de si mesmo”. Orar é desvendar o mistério de ser acolhido pelo Pai na privacidade da vida, na intimidade da solitude, na expe riência em que não se consegue encenar, esconder ou maquiar quem somos. O Pai vê em secreto e já sabe de tudo. Ele nos conhece bem. Orar no “lugar secreto” é a oração confidencial, íntima e pessoal, de modo que cada pessoa possa se descobrir e se conhecer melhor, pois o Pai já nos conhece completamente. Não há nada em nossa vida que Deus não conheça; não apenas
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as nossas práticas cotidianas, que revemos quando exercitamos a memória, mas também a nossa composição singular mais profunda, que muitas vezes não conhecemos. Esse “mistério
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í ^m çciõ- nassa iã c a Á ãa.
de si mesmo” pode ser desvendado no espaço amplo da oração feita e conduzida pelo Espírito Santo, que conhece e sonda todas as coisas. Quem ora em profunda intimidade com Deus vai conhe cendo mais a respeito dele e, quanto mais conhece sobre Deus, mais descobre sobre si mesmo. Descobrir-se em oração é uma virtude da qual poucas pessoas desfrutam. Em oração, temos a chance de descobrir nossas inadequações, contradições, fra quezas, fortalezas, virtudes, pecados. Em intimidade com Deus, desvendamos todas as poeiras e quinquilharias do cjuarto de nossa interiorida de. Nada do que existe dentro de nosso m undo interior está escondido aos olhos de Deus. Em geral, vivemos cegos sobre quem somos. Em oração íntima com Deus, pode mos discernir melhor o misterioso ser humano escondido nos compartimentos de nossa alma. Sendo assim, orar já não depende de ambiente e sim de entrega e amizade com Deus. Orar é encontrar em Deus a paternidade da mais elevada confiança e intimidade. Sendo a oração um lugar interior de confiança em Deus, uma condição da alma c]ue descansa no Senhor, a oração já não depende de lugar, gestos e formas. Podemos orar no quarto ou fora dele, num deserto solitário ou numa noite‘silenciosa; ajoelhados ou não, rosto em terra, com ou sem lágrimas. O importante e significativo na oração é manter uma relação íntima de total apreciação pelo Pai. Orar no tameion é abraçar a vida com todas as suas contra dições e imperícias, acolhendo todos os sentimentos, inclusive
os inexplicáveis. A vida deve ser primeiramente degustada e, quando possível, interpretada e compreendida. Em oração, aprendemos a viver usufruindo das elaborações que geram melhor entendimento e apreciação pela vida.
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Precisamos orar com a atitude de quem aprendeu a cuidar de si mesmo, amando a Deus e a todas as pessoas. Orar como exercício de comunhão com Deus no silêncio do deserto da alma, para lidar com todos os ruídos externos e aprender a discerni-los. Em oração, os órgãos dos sentidos estarão mais habilitad os para distinguir as vozes vindas de fora. A oração íntima não é um fechamento para dentro de si e, sim, um diálogo distanciado com os nossos sentimentos e o mundo “de fora” para, assim, percebermos melhor as várias necessidades, oportunidades e de safios da vida. Desse modo, a oração passa a ser uma construção, sob a cooperação do Espírito Santo, ajud andonos a elaborar as nossas dúvidas, fraquezas, dores, certezas e esperanças, ou mesmo os muitos sonhos perdidos. Diante da complexidade da vida, em oração podemos nos perceber amados e acolhidos por Deus. Quando a oração se transforma no desfrute da graça, do amor e da bondade de Deus, como resposta nos to rnamos pessoas amáveis e graciosas. Quem se percebe amado e perdoado por Deus, aprende a amar e perdoar aos outros. Diante da experiência do acolhimento de Deus, aprendemos a acolher, com ternura, nossos irmãos e irmãs, mesmo que, tragam consigo suas limitações e fraquezas, que, na essência, são limitações e fraquezas da mesma natureza daquelas que levamos conosco quando nos achegamos a Deus. A oração alicerçada na intimidade com Deus toma-se pública como testemunho de uma vida marcada pelo amor, bondade, justiça e paz. O testemunho da vida de quem ora, usando o estilo de Jesus Cristo, será percebido de longe, tal qual uma luz colocada
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no velador, uma cidade edificada sobre um monte (Mt 5.14-16). Com Jesus, aprendemos que a oração é uma atitude voluntá ria de se viver em permanente comunhão com Deus, é manter
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a. [^mçiíír lurssc. ie Ci
a alma como habitação de Deus. Por isso, a porta, o quarto são apenas analogias que indicam a predisposição, a iniciativa humana de responder a essa cativação amorosa de Deus. Deus não está nos convidando para um enclausuramento espiritual. Muito pelo contrário, quem vive em comunhão com Deus, se percebe livre para construir relações saudáveis com as pessoas e o meio ambiente. A semelhança dos dois discípulos no caminho de Emaús, orar é simplesmente peregrinar em diálogo com Jesus, como ele se fosse um transeunte comum de todos os dias (Lc 24.13'15). A oração é uma vivência com Deus pelos caminhos de luta e esperança. Deus toma a iniciativa de caminhar ao nosso lado, sensibilizando-nos a uma amizade mais profunda com ele; “Eis que estou á porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo” (Ap 3.20). Orar é tomar a iniciativa de abrir a porta para atender ao convite de Deus; é assumir a atitude voluntária que propicia a invasão de Deus em nosso mundo interior. Estar com Deus no ambiente da comunhão, permanecer em oração, é “fechar a porta do quarto” para não sairmos dessa presença tão fecunda e preciosa, é não nos permitirmos abertos aos encantos geradores da morte. Resumindo, não precisamos aprender a orar, precisamos aprender a andar com Deus pelas estradas e ruelas da vida; precisamos aprender a sentar ã mesa com Ele na busca de uma amizade mais profunda. Quando oramos, estamos abrindo a porta da alma e atendendo ã visita amorosa de Deus em nosso
lar interior. Quando oramos, fechamos a porta para que outros encantos alheios à vida não venham invadir a nossa alma, nem os nossos medos e ncontrem portas abertas para as nossas fugas, diante dos enfrentamentos e desafios da vida.
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Acolhendo Deus em oração, fechamos a porta, evitando a entrada de toda a forma de perversão, injustiça e opressão. C om Deus no mundo de nossa interioridade, criamos as condições para a comunhão com as pessoas e a partilha justa do pão com quem não o tem. Em comunhão com ele, ampliamos as percep ções em favor da vida e lutamos para que o Reino de Deus venha, trazendo amor, justiça, paz e reconciliação para todas as pessoas.
e m humildade n a dependência do O r a r é se colocar Santo , o deus q u e habita e m n ó s , consolando espírito
,
INTERCEDENDO, EDIFICANDO
E eu pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro Conselheiro para estar com vocês para sempre, o Espírito da verdade. O mun do não pode recehê-lo, porque não o vê nem o conhece. Mas vocês o conhecem, pois ele vive com vocês e estará em vocês.” João 14.16-17 Geralmente, quando pensamos em oração, pensamos em pedidos, solução de problemas, diálogo com Deus etc. Mesmo que esses aspectos sejam relevantes em nossas orações, há um aspecto fundante da oração que não podemos excluir. Por ana logia limitada, vou chamar esse aspecto de “choro” pela falta da essência que fecunda a vida. O choro é a expressão virtuosa de quem percebe a aproximação do Sopro que nos faz “alma vivente”. Somente chora quem já começou a viver e somente chora cjuem ainda vive. Por isso, como manifestação dessa vir tude, Jesus Cristo considerou felizes “os que choram, porque
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serão consolados” (Mt 5.4). Aqui, Jesus está indicando o choro como uma virtude. Mas de que virtude ele está falando? Essa virtude é uma manifestação de nossa alma em busca da parte
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0. ^ro^ür nassa, (/é coÁ £
essencial que perdemos pelo caminho, razão pela qual o choro não é a resposta, é a expressão de uma sensibilidade humana que dá conta da necessidade do Consolador. Somente chora essa lágrima inusitada quem percebe a carência e a chegada do Consolador, o Deus que habita em nós como conteúdo mais importante de nossa essência humana. Quem desse modo chora, tem consciência do quanto precisa do Consolador. Com a invasão do Consolador, desvendamos nossos pecados, equívocos, imperícias, e, como consequência, lamentamos as nossas desventuras. Choramos, buscamos, pedimos, batemos à porta, insistimos, pois sabemos que, se os nossos pais, que não são tão bons, não nos dão pedra em lugar de pão, cobra em lugar de peixe, nem escorpião em lugar de ovo, então o Pai celestial, que é muito melhor do que os nossos pais terrenos, dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem (Lc 11.9-13). Precisam do Consolador homens e mulheres que reconhecem suas limitações e pecados e sentem necessidade de arrependimen to. Por isso, somente oram com o acolhimento e o perdão de Deus as pessoas que confessam suas imperícias e pecados contra Deus, contra o próximo e contra o todo o meio em que vivem. < Até mesmo esse reconhecimento de nossa inadequação, pecados e falhas só acontece porque o Espírito Sa nto os desvendou e nos convenceu em nossa interioridade (Jo 16.8) Por causa de nossa distância do Espírito S anto, bem como por causa de nosso egoísmo e cond icionamento religioso, o apóstolo Paulo afirma que “não sabemos orar como convém, mas o Espí
rito Santo intercede por n ós...” (Rm 8.2 6). Pode parecer radical, contudo as pessoas habitadas pelo Espírito Santo desfrutam mais plenamente de uma oração geradora de santidade e vida. Com o está escrito, “edifiquem-se, porém, amados, na santíssima
em a amr au em a T tnr {
fé que vocês têm, orand o no Espírito S anto” (Jd 20). A oração é a intercessão do Espírito que habita nos seguidores e seguidoras do Jesus Cristo de Nazaré. A vida é edificada pela oração no Espírito Santo. As pessoas tjue oram movidas e inspiradas pelo Espírito Santo tornam-se mais humanas, amorosas e justas. Dt)na Zilda é uma senhora da comunidade de Genipapu, município cearense de Caucaia. Nós nos conhecemos através de sua dedicação às crianças pobres de sua comunidade, em 1983. Na época, trabalhávamos na Visão Mundial Brasil. Dona Zilda apoiava, em sua casa, mais de trezentas crianças com alimenta ção, reforço escolar e atividades culturais e esportivas, contando apenas com doações de poucos voluntários. Alguns técnicos da Visão Mimdial ajudaram dona Zilda e a sua comunidade a se organizarem. Com a fundação de uma organização não-governamental, foi possível ampliar os recursos e as atividades realizadas por iniciativa daquela senhora, que sempre impressionou por sua fé e vida de oração. Antes de começar as suas atividades, por volta das sete horas da manhã, dona Zilda já havia orado cerca de duas a três horas, todos os dias. Ela atribuía à sua fé e vida de oração todo o compromisso e dedicação às pessoas pobres. Numa visita que fizemos a dona Zilda, o pastor Manfred Grellert (à época diretor executivo da Visão Mundial - Brasil) perguntou como ela havia sido sensibilizada para o trabalho com os pobres. De uma forma m uito simples, dona Zilda respondeu: “Eu dirigia um círculo de oração em minha igreja. Numa de nossas reuniões, o Espírito Santo me disse: levante-se e vá cuidar dos meus pobres. Eu simplesmente obedeci e nunca mais fiquei
um só dia sem cuidar dos pobres”. A sua dedicação às pessoas pobres era como uma resposta a “essa voz do Espírito Santo”.
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nassa, (ã caÁ áa.
O Espírito pode ser percebido, recebido e acolhido em oração, entretanto, muitos não o veem nem o recebem. Todos temos a chance de conhecê-lo e recebê-lo. Jesus mesmo disse ciue pediria ao Pai um Consolador, que o mundo não conhece, mas que nós poderíamos conhecer (Jo 14.16-17). O mesmo Espírito que habita em nós intercede por nós. Ele conhece a vontade de Deus e é conforme esta vontade que ele intercede pelos santos (Ro 8.27). Então, quem ora com o discer nimento do Espírito Santo, pede somente o cjue é da vontade de Deus, e, sendo desta forma, terá seus pedidos sempre respondidos. Precisamos inverter os processos na oração: não oramos para Deus nos atender. Pelo contrário, sintonizados com Espírito Santo , oram os com o cam inho de obediência à vontade de Deus. Algumas pessoas oram como se Deus tivesse de obedecer-lhes terrível engano. Precisamos aprender a orar como caminho de discernimento da voz do Espírito Santo, que sinaliza o que Deus quer e não o que queremos. Pedir sem compreender a vontade de Deus é pedir levianamente. No evangelho, a oração tem um papel oposto ao da oração religiosa. Na religião, oramos para Deus atender os nossos pedidos; no evangelho, oramos para discernir o q ue Deus está nos ordena ndo. Compreendid a desta maneira, a oração passa a ser muito mais exercício de escuta da vontade de Deus do que discurso ou prece litúrgica. A oração deixa de ser uma disciplina religiosa e passa a ser uma vivência espiritual, que se manifesta na mais profunda e íntima percep ção da habitação de Deus em nosso mundo interior, através do Espírito Santo - o Deus que habita em nós, edificando,
consolando, intercedendo. Diante dessas informações básicas, vamos orar e pensar, com o Jesus Cristo de Nazaré, a oração do Pai-Nosso.
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A ORAÇÃO MODELO
^ ^ Vocês, orem assim: Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja o teu nome. Venha o teu Rein o; seja feita a tua vontade, assim na terra com o no céu. D á-n os h oje o nosso pão de cada d ia. Perdo a as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal, porque teu é 0 Reino, o po de r e a gl ória para sempre. A mém”. MATEUS 6.9-13
“Portanto, vocês orem assim..." G ente oyE segue o estilo d e vida d o J esus C risto d e N azaré
Como já afirmamos, Jesus não pretendeu ensinar aos seus discípulos como se deve orar. Ele queria ensinar como se deve viver. Já que os d iscípulos queriam aprender a orar, Jesus C risto
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Mssa de coÁ áa, elaborou uma peça literária em forma de oração que explicita muito mais com o devem viver os seus seguidores do que co mo devem Claro que,espirituais havendo coerência, vidae eharmônicas. oração serão sempre orar. manifestações consonantes A oração registrada pelos evangelistas ficou conhecida como a oração do Pai-Nosso ou oração dominical. Não é uma prece para ser meramente repetida na superficialidade litúrgica, não é uma forma que, decorada e reproduzida, traz efeitos mágicos para a vida dos discípulos. Orar, segundo o estilo de Jesus, não se resume à form ulação de jargões, fraseados bem co nstruíd os, mesmo que elaborados com bom estilo literário e fundamentos bíblicos e teológicos corretos. Naturalmente, não precisamos desprezar a beleza de uma oração bem elaborada. Os salmos, por exemplo, são p eças poéticas elaboradas com muito cuidado literário e gramatical, comunicando as dores, aflições, sonhos e equívocos da natureza humana, até mesmo as maldades e violências de nossa desumanidade; falam também da justiça e da misericórdia de Deus. Portanto, não se trata de desmerecer a beleza poética e literária das orações, mas a oração do Pai-Nosso é muito mais do que uma peça poética; é, acima de tudo, um estilo de vida a ser desfrutado com graça.e compromisso. Do ponto de vista da forma e estruturação litúrgica, as inovações que fazem a grande diferença entre o “Pai nosso que estás nos céus” e as demais orações são as seguintes: - O Deus a cjuem se ora deve ser tratado com intimidade e reconhecimento de sua soberania celestial: “Pai nosso, que
estás nos céus...” - O Deus a quem se ora é santo e sua santidade precisa ser revelada através do testemunho de seus filhos e filhas em missão: “santificado seja o teu nome...”.
a arquiT m ieitr
- O Deus a quem se ora tem o governo de todas as coisas, portanto, seus filhos e filhas oram e lutam para que a sua vontade se concretize em nossa história: “venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu”. - A oração proposta por Jesus expressa a vivência da co munidade do povo de Deus - comunhão com Deus e com as pessoas, sinalizada pelo desejo de socialização dos bens: “o pão nosso de cada dia, dá-nos hoje...” - A oração ensinad a por Jesus esti mula quem ora a incl uir, no seu momento de comunhão com Deus, o ato de perdão por acjueles que o ofenderam: “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores...”. - O Pai-Nosso reconhece a vulnerabilidade das pessoas e o perigo de praticarem o mal como resposta às suas tentações: “E não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal”.
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INTIMIDADE E SOBERANIA
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Deus a quem se ora pode ser tratado com intimidade e reconheciment o de sua sob erania celestial.
“Pai nosso” - Abba-Paí O rand o com i nt i m i da de
O Pai'Nosso enfoca uma nova maneira de nos colocarmos diante de Deus, numa profunda e pessoal relação de amizade
de pai para filho. Sem esta relação íntima com o Pai não adian tam formas, lugares, bons hábitos de oração, nem a linguagem rebuscada, correta e burocrática das liturgias religiosas. Oração
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a \yraçacrmssa. nassaclécoÁ áa
ao Pai, antes de ser um modelo prefixado, requer uma entrega na base da confiança, um relacionamento alicerçado no amor, um profundo de ser perdoado, e amado pelo é Pai. desejo Este aspecto inovador, relacionai,acolhido na oraç.ão de Jesus, exclusivo dele e dos seus discípulos. Jesus começa a oração usando uma expressão aramaica - Ahha-Pai, com a qual o filho, na sua mais tenra infância, se dirigia ao pai dentro de casa e que significa “papai”. Fora de casa, o pai era tratado por Kirie, “senhor”. O c]ue poderia parecer desrespeitoso para a cultura religiosa judaica, no que se refere à forma de alguém se dirigir a Deus, de fato, era uma maneira inédita do Cristo explicitar a sua intimidade como Pai. O Deus a quem oramos é acolhedor, cheio de graça e misericordioso. Nele podemos encontrar a maternidade amorosa do Pai. De modo que, orar Abba-Pai é orar abraçando a ternura de Deus. Jesus Cristo, ao orar várias vezes “Abba-Pai”, não o fazia para conquistar uma intimidade, mas para expressar a relação fiimiliar já existente. Abha-Pai é a oração da intimidade, da depeneJência, da entrega absoluta e incondicional como desdobramento do acolhimento da ternura de Deus. Orar nesta perspectiva, pois, não gera um sacrifício, um peso litúrgico ou uma obrigação religiosa. Antes, é uma degustação contínua da presença de Deus na vida cotidiana, de forma que, se bem percebido, gera na pessoa que ora a necessidade de parar para ficar a sós com Deus. Orar é desfrutar da amizade entre Pai e filho, sentir o prazer de existir com Deus, por Ele e para Ele, motivo pelo qual a oração passa a ser uma
pulsação prazerosa de permanecer com Deus. Então, vale a pena dedicar tempo exclusivo de oração ao Pai celestial. Abba-Pai é também a oração dos interessados e engajados nos projetos de Deus. E a oração daqueles c^ue, inciependente
ínUníííÁÁe s(rfera.m 49 de adquirir ou não bens através de suas orações, ou mesmo se tiverem que correr riscos por causa do Reino de Deus, ainda assim preferem a com unhão co m o Pai. Abba-Pai é a oração do Filho que confessa: “Pai, se possível, passa de mim este cáUce...”, mas entre a morte e a nossa intimidade, entre a morte e a quebra da Tua vontade, é preferível a morte (Mt 2 6.39). Orar em nome de Jesus Cristo significa que Ele pôs o Seu nome em risco para os propósitos de nossa oração. Abba-Pai é a oração dacjuele que fala com Deus e ouve a sua voz. As vezes não paramos para ouvi-lo. Oramos com tanta angústia c]ue somente nós falamos. Oração é uma via harmoniosa de duas mãos. Precisamos falar, mas necessita mos discernir as variadas formas de comunicação de Deus, inclusive o silêncio. Para filhos que guardam tão estreita relação, o Pai não somente conhece as suas necessidades, mas pode declarar a sua apreciação: “Este é o meu filho amado em quem eu tenho prazer” (Mt 3.17). Deus, porventura, diria o mesmo sobre nós? Aprendemos com Cristo que a oração é basicamente o sentido de pertencimento na família de Deus. Quem ora ao Pai, ora por ter resgatado a relação paterno-filial. Não somos mais filhos e filhas do mercado, não somos filhos de governos tiranos, nem dos esquemas religiosos de opressão. Não somos filhos das trevas, nem da família dos injustos e opressores. Os cóciigos da nova genética cjue nos geraram produzem justiça, amor, graça, libertação, solidariedade.
A oração Abba-Pai anuncia a singularidade dos seguidores do Jesus Cristo de Nazaré. Diante dessa nova identidade familiar, os filhos e filhas de Deus não oram, por exemplo, pelas coisas que a divindade de mercado pode dar, especialmente quando
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0.
Msso. líê coÁ £a.
representar risco à vida das pessoas e uma ameaça ao mundo criado por Deus. Esses filhos e filhas pensam nas “coisas lá de cima”. Ou, melhor dizendo, coisas da esfera do reino de Deus. As “coisas de cima” não são aspirações alienígenas, são as realidades de nosso cotidiano , enfrentadas com todo o nosso amor pel a vida e a nossa sensibilidade na luta pela justiça. As “coisas de cima” se referem ao reino da vida, contra toda forma de perversão e morte. Outros textos das Escrituras vã o den ominar as coisas de cima de “obras da luz”, diferenciando-as das “obras das trevas”. Na comunhão com o Pai, os filhos e filhas de Deus, através da intimidade, discernirão melhor a vontade de Deus e serão mais criteriosos em seus pedidos de oração. "Nosso” O rando
em comunidade
- c o m a T rindade
E o povo d e D eu s
A oração ensinada por J esus Cr isto é inovadora porque ap onta para uma nova maneira de se vivenciar a oração na mutualidade do amor. A primeira pessoa do plural, usada na oração de Jesus, evita que a oração - estilo de vida - seja egoísta. O “nosso” evita também que a oração seja reduzida a práticas espiritualistas, nas quais a pessoa é estimulada a sair de si para o além, considerando-se superiora aos demais seres humanos; ou a práticas geradoras de personalismo, egoísmo e egotismo, provocando o isolamento da vida comunitária ou a utilização
dos ambientes coletivos para promoção pessoal. A oração - modelo de vida - ensinada por Jesus é “Pai no sso ”, “pão no sso” , “Perdoa as nossas dívidas, assim como n ó s
íntcm iÁ cíé e strüt 'emnuL 51
perdoamos aos nossos devedores; não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal...” O Pai-Nosso é a oração alicerçada no amororar e noé perdão. Para todos os seguidores doeJesus Cristo de Nazaré, transformar os projetos sonhos numa expressão de amor. E amor só é possível quando desfrutado comunitariamente. Ninguém ama vivendo de maneira isolada. Na oração do Pai-Nosso, mantém-se o mesmo pr incíp io en sinado por Jesus Cristo: “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali eu estarei com eles” (Mt 18.20). A unidade e a coerência da vida comunitária são um sinal da presença de Cristo: “ali eu estarei com eles”. Jesus ainda fala da oração feita em comum acordo: “Se dois de vocês concordarem na terra em qualquer assunto sobre o qual pedirem, isso lhes será feito por meu Pai que está nos céus” (Mt 18.19). O rar em concordância é mais do que pedir a mesma coisa. Portanto, orar concordando é uma consequência dos que vivem com o mesmo “coração” vocacional e missionário do Mestre. Não basta uma concordância temática para sermos atendidos em or ação. Precisamos viver em acordo co munitár io, discernindo a vontade de Deus. Desse modo, orar o Pai-Nosso é orar com a trindade dentro da comunidade dos seguidores do Jesus Cristo de Nazaré, quebrando a tentação da oração privada-individualista. Quem ora na primeira pessoa do plural, ora com os sofridos e injustiçados. Quem pede pelo “pão nosso”, está orando com todas as pessoas famintas. Quem ora pelos “nossos pecados”,
está orando com todas as pessoas pecadoras e excluídas dos centros religiosos. Por mais paradoxal que possa parecer, orar é a encubação da amizade com Deus na intimidade, no lugar secreto da
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a ^rof&T \^raçaffJiaua mssn (ã coÁ ãa. alma, sendo , ao mesmo tempo , a amizade vivida e ensinad a na montanha, à vista de todas as demais dimensões e relações da vida. A com unhão com Deus e com as pessoas, fundamen tada no amor, na fraternidade, na reciprocidade do perdão, é algo essencialmente novo na oração do Pai-Nosso. A oração comunitária não exclui a experiência pessoal e íntima com Deus. O quarto, tameion - ambiente profundo de nossa interioridade - é o ponto de partida, o depositei sub terrâneo onde Deus planta em nossos corações a semente do amor, aguada e fertilizada pela comunhão com Ele. Porém, os frutos dessa semente germinam no relacionamento familiar, na convivência com irmãos e amigos, no trato amável e reconciliador diante de relacionamentos desgastados, na consciência de nossa vocação e consequentemente na eficácia de nossa missão no mundo. O Pai-Nosso é a oração que nos projeta da amizade com Deus para uma maior comunhão e afeto com os filhos e filhas do Pai celestial. E a oração geradora do sentimento da compa nhia de Deus e, como refluxo, visitada pelo desejo de compa nhia da comunidade do povo de Deus. A oração do Pai-Nosso tamb ém nos concla ma a amar e cuidar de toda a humanidade. Porque Deus é pai do irmão que sem motivo se irou contra outro, quem ora ao Pai, não consegue ficar diante do altar da liturgia sem primeiro reconstruir o altar da amizade, uma vez que não existe, no estilo de oração-vida de Jesus Cristo, a oração egoísta e individualista. O Pai é nosso. Quem ama a
Deus, ama também todas as demais pessoas. O Pai-Nosso é a oração do Getsêmani, com a comunidade dos perseguidos e sofridos; é a oração da transfiguração, mar cada por outros brilhos e encantos colhidos misteriosamente
intiMidÁÁe scfe) ^eranuL
nos momentos tenebrosos da vida. É a oração desse Primeiro Irmão, cuja ênfase concentra-se na confluência dos relaciona mentos. “Como és tu, ó Pai, em mim, e eu em Ti, também sejam eles em nós” (Jo 17.21).
“Que estás nos céus” O rando
c o m temor
e tremor
O Pai celestial é mistério tremendo, mas o termo “celestial” não representa ausência do nosso mundo terreno. Como já vimos, ele é o Ahha-Pai” - Deus da nossa amizade e comunhão. Contudo, é, ao mesmo tempo o Deus diante de quem os mon tes, os altares e todos os poderes se reduzem a nada. Diante do seu trono, expressamos, no máximo, a nossa insignificância e lamento. Como diz o apóstolo João quando se depara com a visão do trono de Deus: “eu chorava muito” (Ap 5.4); ou o profeta Isaías, em sua experiência inusitada de visualização da glória de Deus: “Ai de mim! Estou perdido” (Is 6.5). Quem ora ao Pai celestial, ora com intimidade, desfrutando da ternura de Deus, mas ora também com um sentimento de quem está se permitindo ser moido e triturado pela profundi dade do esplendor, conhecimento, amor, sabedoria, justiça e verdade vindos dessa fon te inomi nável. A esse Deus não se ora como fazem os idólatras com as suas divindades inanimadas, pois com ele não conseguimos fazer joguetes, criar artimanhas e engano - ele conhece todas as coisas, até as profundezas de nossa alma.
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Jesus Cristo, ao proferir a oração ao Pai celestial, está ani mando aos discípulos a assumirem uma prática de vida em perm anente tem or e trem or ao Deus eterno. Não é u m convite
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a ^ ruf & r nffisú. ã ca Jl £ í
ao medo e ao pânico. E um desafio ao ato de submissão total àquele que é tudo sob re todo s e sobre todas as coisas. E le é, em plenitude, a profundidade de todo conhecimento e sabedoria. A ele pertencem a honra, a glória e o louvor diante das coisas tangíveis e intangíveis. Ele é o Senhor da história e do cosmo. Diante dele, revela-se toda a verdade, desnudam-se enganos e mentiras. Não há quem possa fugir de sua presença. Ele é único em seus atributos - somente ele pode ser denominado Eterno, fonte de todo amor e justiça. Ele é Deus. Não é um ídolo terreno, fruto do imaginário coletivo e projetado materialmente em gesso, pedra, ouro ou qualquer outro material. N ão é um íd olo da nossa criação limi tada, construído na realidade cultural-religiosa com o nome de deus, e, em muitos casos, com o nome “Jesus”, cuja expressão nem sempre representa o Jesus C risto de Nazaré anun ciado nas Escrituras. Não é um deus como mero resultado das forças que surgem de nossas inter-relações humanas, como as ideologias, o mercado ou os mitos religiosos. A oração deve ser feita a um Deus transcendente, todopoderoso, imutável, infinito, inominável, onisciente. Ele conhece a natu reza humana e, por isso, não se impressiona com aqueles que oram acreditando que podem usar técnicas para dobrá-lo aos seus interesses egoístas. Ele não se impressiona com a repetição das palavras, nem com aqueles que dão esmolas para serem vistos pelos homens. Deus acolhe as pessoas em suas aflições e as abençoa, ainda
que muitas sejam enganadas pela magia dos agentes da religião. Todavia, Deus repudia a iniquidade dos aproveitadores desses fenômenos da graça de Deus. Estes reivindicarão de Deus al gum direito: “Senhor! Nós profetizamos em teu nome, fizemos
LntmiÁiãe safei terancã.
milagres em teu nome, expelimos demônios em teu nome”. Mas o nosso Pai do céu lhes dirá: “Nunca vos conheci...” (Mt 7.21-23). Deus não reconhece qualc^uer momento de co munhão e relacionamento paterno-filial com quem pratica a iniquidade, ainda que tenha confessado corretamente e com entusiasmo o seu nome ou tenha realizado grandes milagres. O Pai que está nos céus não é manipulável, é totalmente Outro, independente, indescritível, suficiente em Si mesmo, não se confunde com qualquer ídolo e não se permite promis cuído com os hipócritas, com os empreendedores mágicos dos negócios religiosos, nem com os ególatras. O pai celestial é o Deus da justiça e se revela indignado contra toda a forma de tirania e opressão. E ele também iden tifica nossos pecados e rejeita hipocrisia e soberba. Não aceita a incoerência e a superficialidade dos religiosos mentirosos, nem a indiferença diante das injustiças. Como o Pai é celestial, nossa oração indica um estilo de vida de quem anda com Deus no espaço da interioridade e na exposição pública, como uma “cidade edificada sobre um monte” (Mt 5.14-16). Ou seja, a oração ao Pai celestial gera seres hum anos mais piedosos, am orosos, verdadei ros e puros , com vida íntima mais santa, simples, e exposição pública honesta e faminta por justiça. Quem ora e vive com o Pai celestial, vai eliminando da vida toda a forma de hipocrisia e idolatria. O binômio Abba-Pai e celestial desemboca numa espirituali dade misericordiosa e justa, cheia de amor e verdade, repleta
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de candura e firmeza. Os filhos e filhas que oram-vivem, de fato, uma relação íntima e de temor a Deus, serão percebidos e percebidas como pessoas amorosas, justas e confiáveis.
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a. ^mf&r mssa cíê caÁ <áa.
Nunca é demais repetir: Jesus Cristo de Nazaré está nos ensinando muito mais com o se deve ser e viver dian te do D eus eterno e diante das pessoas, do que como se deve orar. Diante do Deus celestial, teremos temor em pedir coisas que possam representar uma ameaça à vida de outras pessoas. Em alguns casos, por exemplo, certos “pedidos de oração” são “respondidos” pelo ídolo de mercado e não pelo Deus eterno. São os “milagres” econômicos que funcionam para religiosos e ateus de uma classe social privilegiada. O deus Mamon, re presentado pelo dinheiro, protege seus devotos, sacrificando a vida dos enfraquecidos e injustiçados. Com Jesus, aprend emos que alguns ciesses sucessos aponta dos com o bênção são m anifestações de peca dos de poder, fama e acum ulação de bens, e não dizem respeito à essência da vida. Tam bém aprend emos que alguns aparentes fra cassos deveriam ser acolhidos como bênção. Quantos empresários “bem suce didos” alcançaram seus fins sacrificando vidas e destruindo o meio am biente! Mesm o aqueles que ac umularam bens usando meios lícitos, fin daram surpreendido s com a futilidade de suas fortunas. Quantos religiosos praticantes não agregaram nada de importante ao curso de suas vidas. A nossa existência está cheia de superficialidades e acessórios «que poderiam ser des cartados. Por isso, a oração ao Pai celestial implica, também, em discern imento, com tem or e tremor, sobr e o quê re almente precisamos pedir a Deus.
[6 ]
SANTIDADE E TESTEMUNHO
^ ^ por o Deus quem se ora é santo e su a san tidad eprecis ser revelada, meioa do testemunho de seusfilhos efilhas em amissão.
“Santificado seja o teu nome” O rando
para q u e a santidade
se expresse
n a vida
d o povo
de de
D eu s
D eus
Nos testemunhos bíbUcos sobre a revelação de Deus ao seu povo, os narradores procuram de alguma maneira expressar
o contraste entre a pecaminosidade humana e a santidade de Deus. Não há hesitação: Deus é santo e todos nós somos pecadores. Portanto, não oramos para Deus se tornar mais
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0 .
^ m çSir nmso. d ê ca Á £ a
santo, visto que ele já é pleno em santidade. O pedido para que seu nome seja santificado é, antes de tudo, a oração para que este atributo, inerente ao Deus eterno, se manifeste em nosso testemunho pessoal e coletivo, a despeito de nossas falhas e limitações. “Santificado seja o teu nome” é a consequência testemunhal que se espera na vida de quem ora. A ideia do Pai-Nosso é: santifica o teu nome em nós e entre nós, torna a tua santidade visivel, a partir do testemunho de nossas vidas. Deus foi revelado ao mundo através da encarna ção do Jesus Cristo de Nazaré. Diante do seu testemunho, o mundo continua tendo a chance de perceber os sinais da gra ça, da justiça e do amor de Deus. Com a vida, a proclamação das boas novas a respeito de Jesus e a prática de boas obras, o povo de Deus dá seguimento a missão de revelar a santidade de Deus ao mundo - “Assim brilhe também a vossa luz diante dos hom ens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt 5.16). Os discípulos de C risto buscam a santidade em oração a fim de que Deus seja melhor percebido e apreciado pelos “de fora”. Pecado e santidade são ma nifestações antagônicas. Ao peca do, relacionam-se todas as manifestações de injustiça, opressão, arrogância e perversão con tra a vida. A santidade, relacionam-se todas as manifestações de amor, justiça, humildade, huma nização e libertação. De um lado, podemos afirmar que o pecado é tudo aquilo que gera morte - “O salário do pecado é a morte” (Rm 6.23). Do outro, entendemos que a santidade
é tudo a quilo que gera vida. Referindo-se a Cris to, está escrito: “A vida estava nele, e a vida era a luz dos homens” Qo 1-4)A santidade também não é um processo de formatação superficial com a estética da falsa humildade e do rigor ascético
sam’tü ã d é e testm un íff
do religioso. Esse tipo de santidade tem o potencial de gerar pessoas fanáticas e arrogantes. A santidade nos ensinos de Jesus e dos apóstolos traz consigo a marca da consciência das limitações e da vulnerabilidade humana. Por mais puros e santos que possam parecer os seguidores doJesus de Nazaré, eles confessarão sempre suas inadequações, fraquezas e pecados. Mesmo reconhecendo a suficiência da morte de Cristo para o perdão de seus pecados, estarão em permanente e humilde reconhecimento de suas fragilidades. Eles não precisam provar nada a ninguém, nem que são santos, nem que são pecadores. São apenas seres humanos desfrutando das alegrias e das dores da vida, comprometidos em viver plenamente a vocação de ser apenas gente. A santidade é uma condição interior, um estado de alma de quem foi alcançado pela graça de Deus e, como desdobra mento, vive na busca da comunhão com o Espírito Santo, para que, em processo contínuo, seja transformado num ser humano melhor, que consegue se deslumbrar com a beleza do testemunho de tantas pessoas de vida bonita. Quanto mais santo for alguém, mais humano será. A santidade co mo modo de ser e viver dos seguidores do Je sus Cristo de Nazaré gera, ainda, uma percepçã o mais profund a sobre Deus nas outras pessoas. Se entendermos adoração como o ato de revelar o caráter de Deus pelo tes tem unho, quem vive em santidade, vive em permanente adoração ao Deus da vida. Em oração, somos, p ortanto, convencidos dos nossos pecados pelo Espírito Santo. Em oração, nos confessamos, nos arrepen demos e somos transformados. Por isso, continuamos orando:
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Santificado seja o teu nome! Santificado seja o teu nome! Santificado seja o teu nome!
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GOVERNO E HISTORIA
0 Deus a quem se ora tem o governo de todas as c oisas, porta nto, seus filh os e filh as oram e lut am para que a sua vontad e se concretize em nossa história.
“Venha o teu reino” O rando sobre
para viver
todas
e m obediência
a o governo
de
D eu s
as coisas
Com a encarnação do Jesus Cristo de Nazaré temos a inauguração
do reino pela presença do Deus que se fez humano entre nós. “O verbo se fez carne e habitou entre nós...” 0« 1.14). Jesus Cristo veio e é o personagem central do reino. Ele trouxe
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^mçãtr nosso, i/é coÁ £0. consigo a proposta de uma nova sociedade e, juntamente com a primeira geração de discípulos, constitui o núcleo básico inspirador da nova sociedade. Nesta experiência srcinal, encontramos um arquétipo do reino de Deus, um modelo e inspiração de serviço e missão para todas as pessoas, em todas épocas. Mateus denomina a nova sociedade de “reino dos céus”. Lucas e Marcos a denominam de “reino de Deus” e, possivelmente, essa mesma realidade seja compreendida como “vida eterna” no Evangelho de João. “E a vida eterna é esta: que te conheçam, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” 0« 17.3). Basiléia é o termo utilizado na Bíblia para o governo de Deus sobre todas as coisas. O reino é a manifestação da presença divina sobre tudo o que existe. Deus é a razão e a sustentação de tudo o que há. Ele tem o controle sobre tudo, do nada fez todas as coisas e pode tornar em nada tudo que veio a existir. Portanto, “venha o teu reino” é a oração de cjuem deseja, em obediência, ser governado por Deus. E a oração de quem aspira por participar responsavelmente com Deus da construção de uma nova sociedade para o bem de toda a humanidade. Jesus procurou explicar o c}ue era ó reino de Deus para o seus discípulos através de várias parábolas. Na parábola da semente (Mc 4.26-29), ele comparou o reino de Deus a uma semente que, plantada, chega ao momento da produção de frutos e da ceifa. O reino de Deus é a presença do Eterno
entre nós para nos alimentar dos frutos do seu Espírito. Conforme afirma o apóstolo Paulo, “O reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz, alegria e gozo no Espírito Santo” (Rm 14.17).
)crnni(r e fistén í
Na parábola do grão de mostarda (Mc 4.30'32), o Mestre comparou o reino de Deus a um pequeno grão que, bem se meado, agermina, numa árvore cresceàse amplia sua copatransformando-se para acolher e oferecer sombraque e ninho aves do céu. Desse modo, entendemos o reino de Deus como uma sociedade amorosa para o acolhimento de pessoas aflitas e sem rumo. Pregando na Galileia, Jesus anunciou: “O tempo está cum prido, e o reino(Mc de Deus no evangelho” 1.15).está próximo, arrependei-vos e crede Os sinais do seu reino também são visíveis pelo poder evi denciado sobre os poderes satânicos. “Se, porém, eu expulso demônios pelo Espírito de Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós” (Mt 12.28). Cristo proclamou o evangelho do reino, ensinou nasJesus sinagogas e curou os enfermos (Mt 4.23-24). Seu reino é, portanto, a ambiência do crescimento das pessoas, cura das enfermidades, confrontação das estruturas de poder satânico e desumano. Seu reino é o reino da vida, em oposição a toda espécie de injustiça, violência e morte. Ele é o príncipe da paz, logo, seu reino é de paz. Ele é o senhor da misericórdia e seu reino atrai desvalidos e pecadores. Seu rein o é de justiça, então , ampara e luta em favor dos aflitos e injustiçados e põe em derrocada os poderes dos tiranos e poderosos. Seu reino é o reino da vida! Quem ora “Venha o teu reino”, luta para que os sinais do
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reino estejam presentes na sociedade. Luta para que os direitos de todas as pessoas sejam preservados e garantidos. Acredita que há um Deus soberano, então ora e não se curva diante dos déspotas e poderosos, ora e luta contra toda a forma de
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^ raçM mssa, l ã caÁ Áa
injustiça e perversão contra a vida. Quem ora: “Venha o teu reino”, participa dos processos de construção da justiça e paz. Então, oremos e lutemos juntos: Venha o teu reino! Venha o teu reino Venha o teu reino
“Faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu" ORANDO PARA DISCERNIR E OBEDECER A VONTADE DE DEUS
A vida do Jesus de Nazaré foi um exemplo de quem viveu fascinado por discernir e obedecer ã vontade de Deus. A preocupação de Jesus não era em Deus atender às suas orações. Naturalmente, sabemos que havia uma conexão ininterrupta entre as orações de Jesus Cr isto e a vontade do Pai . O Filh o não usava técnicas de oração para que as coisas pudessem acontecer com toda precisão, mas ele fazia da oração o habitat natural de intimidade com o Pai, o caminho para discernir a vontade de Deus: “A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” Qo 4.34). “Pai, se c]ueres, passa de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, e sim a tua” (Lc 22.42). ‘ Para Jesus, a oração é um modo de viver em permanente comunhão com o Pai. Orar é inalar o Espírito que conhece a mente humana e sabe qual a vontade de Deus (Rm 8.27). É caminhar com o Pai de tal forma que aprendemos, na convi
vência com ele, os propósitos inerentes ao seu reino. A essência da oração não está na fala, no pedido, na intercessão, na técnica religiosa. Antes, consiste em discernimos a vontade de Deus. Os pedidos e clamores são apenas desdobramentos da
^ ^ oT rem ir e /íút ám .
busca, até que a vontade de Deus seja revelada. E, neste caso, não existem regras pré-estabelecidas. A vontade do Senhor virá como fruto de nossa comunhão com ele, por meio de Jesus Cristo, no poder do Espírito Santo, que sonda as mentes e os corações e conhece a vontade de Pai. Sendo assim, não precisamos aprender a orar do mesmo modo que não precisamos aprender a respirar - apenas respiramos. No evangelho, a oração não é um aprendizado, é o des frute da presença do Espírito Santo. Na religião, entretanto, é diferente, toda oração precisa ser ensinada e repetida, seja no seu conteúdo ou na sua forma. Na burocracia religiosa, a oração tem um começo, um meio e um fim, e cada pedaço vem permeado de elementos que funcionam como técnicas de sensibilização da divindade. Por isso, na religião, os devotos são treinad os nos métodos e esquemas das orações. Jesus Cristo sabia que orar é uma condição natural da existência humana. Sem oração, estamos desconectados de Deus e de sua vontade, e, sem Deus, somos incompletos. Um a pessoa sem oraçã o sofre de asfixi a espiritual. So fre pela ausência do Deus da vida, sem o qual perde a sua essência mais profunda, que é a capacidade de amar. Aprendendo a orar com o Jesus Cristo de Nazaré, porém, inalamos Deus e o seu amor. Já que, no evangelho, a espiritualidade é per cebida pela nossa capacidade de amar, quando oramos com Cristo, a nossa espiritualidade será uma natural transpiração e respiração do amor de Deus.
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Aprendem os co m Jesus que a oração é uma vivência com o Pai, uma relação de amor com Deus e os nossos semelhantes. E, antes de tudo, uma atmosfera que propicia acolhimento.
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çãir nnma, m c, /ê caÁ Á a. ^m [yrcLço/r
que favorece o estabelecimento de um lugar psicológico onde as pessoas se sentem amadas e recebidas por Deus. A vida só é abundante quando vivida na plenitude do amor. Quem não ama, vive apenas um tipo de experiência vegetativa e animal. Quem ama, vive o que é próprio dos humanos. Em Deus, encontramos a fonte inesgotável do amor e a oração é uma espécie de condutor que nos liga a ela. Não há vida abundante nem compreensão da vontade de Deus sem ora ção, aquela oraçã o “estilo de vida”, “modo de ser em sintonia com a vontade de Deus” que Jesus ensinou. Nas religiões, qualquer prece é oração. Por isso, falamos em orações respondidas e não respondidas. Na ótica de Jesus Cristo, toda oração, “cristicamente” compreendida, é respondida, pois antes de ser uma prática religiosa, uma lista de pedidos, a oração é o lugar da comunhão e da intimidade com Deus. Assim, conhecendo a sua vontade soberana, clamamos e pedimos em sintonia com os seus projetos: “Se vocês permanecerem em mim, e as minhas palavras permanecerem em vocês, pedirão o que quiserem, e lhes será concedido” Qo 15.7). Idealmente, se sempre orássemos conhecendo a vontade de Deus, não teríamos conhecimento das chamadas orações não respondidas. Ou seja, não pediríamos o que antecipadamente sabemos que o Senhor não tem interesse em responder. Jesus tinha consciência do seu projeto de vida, sabia o quanto os poderosos se percebiam ameaçados e queriam tirar-lhe a vida. Então, quando orou “Meu Pai,
faça-se a tua vontade” (Lc 22.42), o Messias sabia do seu compromisso h istórico e, conseq uentem ente, de sua mor te e ressurreição. Portanto, ele não pediu que o projeto mudasse, mas reafirmou a sua disposição de fazer a vontade de Deus,
e /ústária.
a despeito das circunstâncias, inclusive da injustiça de seus algozes e da tragédia da morte. Com o Jesus Cristo de Nazaré, aprendemos que a oração é muito mais uma experiência de escuta da vontade de Deus, do que a fala no discurso religioso supostamente dirigido a Deus. Portanto, clamamos: Faça-se a tua vontade! Faça-se a tua vontade! Faça-se a tua vontade! Assim na terra como nocéu.
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[8 ]
COMUNHÃO E BENS
A oração proposta por Jesus Cristo expressa a vivência da comunidade do pov o de Deus - comunh ão com Deus e c om as pessoas, sinalizada pelo desejo de socialização dos bens.
“O p ão nosso de ca d a dia nos d á h oje” O rando para q u e o D eus d o c é u n o s ajude A socializar o pã o d a terra
A oração do Pai-Nosso é, ao mesmo tempo, a oração do “pão
nosso de cada dia”. O pedido pelo “pão” não é um apelo para o suprimento material. Jesus já havia ensinado aos seus discípulos a não se preocuparem com o alimento. Também já se conhecia
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a. ^ n çícr n/rssa £ coÁ £ 0.
a ideia de que Deus dá o pão aos seus amados enquanto eles dormem (SI 127). Conforme o Mestre, a provisão divina, através da natureza, se encarrega de suprir a carência das aves dos céus e dos lírios do campo. Se Deus assim cuida dos pequenos ani mais e dos vegetais, há, então, suprimento suficiente para todas as pessoas do planeta. Como sabemos, o problema da falta de alimentos para muitos não é causado p ela superpopulação, nem pela falta de solo agriculturável. A monocultura, a concentração de renda e de alimentos, entre outros fatores, geram a fome e a miséria que têm penalizado muita gente. Portanto, no Pai-Nosso, o pedido não por pão e sim pela prática da socialização do pão. O alimento é um direito de todas as pessoas e quando uma minoria detém a maior parte dos bens, outras pessoas irão padecer necessidade. O problema da falta de alimentos para muitos está na má utilização do solo, visando apenas o lucro e o acúmulo de capital, o que causa também a degradação do m eio am biente. O Pai-Nosso não é uma oração para ser me ramente repetida em nossas liturg ias, ela é a oraçã o que acredita na solidariedade de Deus e, como conseqüência, na solidariedade dos seres humanos entre si, pelo que, pedir ao Pai pelo pão suficiente para cada dia é um principio ético contra a acumulação excessiva de propriedades e bens. Para Jesus Cristo, vale mais uma vida eticamente correta do que a oração corretamente confessada. Há muitos cristãos orando o Pai-Nosso sem o reconhecimento de que estão pondo muitas pessoas sob o castigo da fome e da morte. É por causa
de nosso egoísmo - com end o muito e deixando outras pe ssoas com fome -, que há muitos doentes e outros que morrem em nosso meio. Não discernir esta realidade, significa comer e beber juízo para si. (ICo 11.23-27).
cm iín fíu e ã ju
Para muitos, o Pai-Nosso pode ser compartilhado, dividido, mas o pão é exclusivamente “meu”. Ele é o ídolo que só per tence ao outro na reza, na buro cracia reli giosa. O máxim o que fazemos, algumas vezes, é uma doação filantrópica de nossas sobras. E, se damos a sobra, apenas denunciam os o nosso c on texto de injustiça. E hipocrisia doar o nosso excedente como se fosse um ato de generosidade. A misericórdia se evidencia pela doação daquilo que nos faz falta. O pão é um bem que pode ser acumulado ou socializado, por isso a oração do Pai-Nosso tem implicações espirituais, econômicas, sociais e políticas. Espirituais, porque o pão, esse bem tão necessário ã vida, pode ser reduzido a um objeto de veneração, e, na categoria de ídolo, passa a exigir sacrifício das pessoas. O pão, como ídolo de mercado, representado pela propriedades e renda, vive guardado no altar acumulação sagrado dos de cofres bancários, sendo venerado pelos seus adoradores, enquanto sacrificam os mais fracos e vulneráveis da sociedade. No Brasil, o pão pertence a alguns privilegiados. Mais de 32 milhões de pessoas passam fome e 65 milhões alimentam-se de forma precária. Somos uma nação marcada pela injustiça de uma fé idolátrica e materialista. Orara ao Pai do céudiante pelo pão de cada dia é uma premissa contra idolatria do dinheiro. O mundo seria diferente se todos os cristãos fizessem do Pai-Nosso uma prática de justiça, solida riedade e socialização do pão. O Pai-Nosso é a oração pelo pão de cada dia do outro. E a
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oração quePortanto, muda adigamos concepção fundiária, de renda deque posse dos bens. outra vez, é muito maisedo um jeito de orar, é, de fato, um jeito de viver. O bem-aventurado pobre de espírito (Mt 5.3) vive motivado pela sensibilidade e
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í ^rtLçãa- uma, e/z coÁ áo.
compaixão e tem prazer em socializar com outras pessoas o Pão da Vida e o pão da terra. Além do mais, o bem-aventurado pobre de espírito é também feliz por causa da sua fome e sede de justiça, aguçadas diante da fome sofrida pelos injustiçados. A falta de pão na mesa do pobre é um reflexo da falta de espiritualidade no altar dos cristãos. Não podemos mais admitir que o nosso Brasil - maior país católico do mundo e o segundo maior país protestante do mundo, portanto, considerado um país cristão - seja um dos países mais injustos do planeta. O pão passa a ser um sinal de nossa falta de espiritualidade quando o outro não o tem. Arrepender-se, pedir perdão por esta ofensa e mudar o quadro de miséria que tem afetado tantas pessoas é uma obrigação ética dos seguidores do Jesus Cristo de Nazaré. Que o Pai do céu nos ajude a socializar o pão da terra. O pão nosso de cada dia nos dá hoje! O pão nosso de cada dia nos dá hoje! O pão nosso de cada dia nos dá hoje!
[9 ]
ORAÇÃO E PERDÃO
^ ^ yí oração ensinad a por Jesus estimula quem ora a incluir no s eu momento de comunhão com Deus o ato de perdão por aqueles que 0 ofenderam.
“Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores. ” O rando
c o m a reciprocidade
d o perdão
Na tradição religiosa judaica, era conhecido o perdão
oferecido por Deus àqueles que oram, mas em nenhuma tradição enco ntra-se a oraçã o em que aquele que ora per doa outra pessoa.
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CL ^r/Lçã/T TwsscL £ ccÁ cila.
Lucas fala de ofensas, Mateus faz referência a “nossas dívidas”. Provavelmente Mateus, com seu rigor como cobrador de im postos, agindo sempre sem complacência alguma com seus devedores inadimplentes, o faz estupefato com a misericórdia do Pai, revelada no Jesus Cristo de Nazaré, perdoando aos seus devedores. Se amamos a Deus, amamos também aos nossos irmãos. Se fomos perdoados por ele, também perdoamos os nossos irmãos e irmãs. A capacidade de perdoar, construícJa na vida dos discí pulos, é consequência do perdão recebido de Deus. Desse modo, o discípulo perdoa não para ser perdoado por Deus, mas por conhecer em sua experiência de comunhão com Deus o quanto é importante e libertador o pocier do perdão receb ido da parte de Deu s: “Pois se perdoa rem as ofensas un s dos outros, o Pai celestial também lhes perdoará. Mas se não perdoarem uns aos outros, o Pai celestial não lhes perdoará as ofensas” (Mt 6.4-15). Davi fala da maneira como o pecado lhe consumia os ossos e abatia o coração. Porém entendia também que a confissão pessoal e pública era uma porta aberta para acolher o perdão de Deus e sentir-se sarado (SI 51; 103). Jesus exercitou o perdão em todo o seu ministério. Perdoou uma mulher adúltera diante de seus acusadores, perdoou Pedro depois de este haver-lhe negado três vezes. Concedeu perdão aos algozes que o torturaram na crucificação.
Pedir perdão e perdoar é uma vocação dos discípulos de Jesus Cristo. E a vocação da libertação plena, pelo exorcismo de todas as formas de acusações. Perdoar é uma via de mão dupla, uma experiência possível somente na primeira pessoa do plural.
íOTfÃreju,
Confissão e perdão são disciplinas espirituais na perspectiva de sanar, por completo, os nossos próprios erros e os erros de nossos irmãos e irmãs. Precisamos aprender a incluir em nossas confissões todos os nossos pecados, inclusive o pecado de não perdoarmos as pessoas. “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça” (IJo 1.9). Quando confessamos e pedimos perdão, encontramos o estado de alma que se mantém em paz com Deus e com a nossa consciência. Quando perdoamos, saramos os nossos corações da amargura e do ódio; curamos a alma dos rancores e ressentimentos. As pessoas de mãos limpas e coração puro podem viver em comunhão com Deus, e ainda assim continuarão pedindo per dão pelos pecados coletivos - “Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores” (Mt 6.12). Só consegue perdoar quem já desfrutou do perdão de Deus. Não é uma condição, mas uma consequência. Perdoamos porque sabemos o que significa ser perdoado. Tendo sido perdoados por Deus, somos alimentados pela capacidade de oferecer perdão aos outros. A capacidade de amar e perdoar não depende tanto do que as outras pessoas fizeram contra nós; depende, antes, de nossa condição interior. Quem já se reconciliou com Deus passa a ser um elo de reconciliação com todas as pessoas. O apóstolo Paulo chama essas pessoas de “ministros da reconciliação”. Sejamos, portanto, cristãos
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de coração perdoador. Tenho encontrado, pelo menos, quatro “tipos de pessoas” diante da oportunidade de perdoar: - a pessoa que não perdoa o ofensor, n em esquece a ofensa;
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^raçã/r nirssa, lã caÁ Áa.
- a pessoa que consegue perdoar o ofensor e esquecer a ofensa. Possui um tipo de memória capaz de apagar todos os momentos ruins; - a pessoa capaz de apagar na memcSria todo o sofrimento causado por um ofensor, mas nunca perdoa o ofensor; - a pessoa para a qual perdoar não significa esquecer a situação que feriu e causou sofrimento. Essa pessoa consegue perdoar seu ofensor, mesmo mantendo na memór ia a tragédia. Os discipulos do Jesus Cristo de Nazaré são um exemplo claro desse tipo de com portam ento . Mesm o diante do perdão of erecido por eles aos algozes de Jesus Cristo, a história é mantida com todos os sinais de injustiça e crueldade. O perdão foi oferecido aos ofensores, mas as ofensas foram regis tradas com o memórias inesquecíveis: “Sempre que comerem deste pão e beberem deste cálice, vocês anunciam a morte do Senhor até que ele venha”. A despeito da tragédia, Jesus Cristo tomou o pão e deu graças. M esmo d iante da traição, contin uou gracioso e bondoso. Arileda é uma senhora que teve um de seus filhos assassinado por outro rapaz. Certa ocasião, perguntei-lhe como era o sentimento de ter um filho ceifado precocemente, de uma maneira tão dramática. Fiquei impressionado com a resposta dela: “Pastor, a dor é muito grande, mas tem sido muito inte ressante - eu tenho um profundo sentimento de misericórdia para com a mãe do rapaz que assassinou meu filho. Penso que é mais doloros o para uma m ulhe r levar nas costas a histó ria de ser mãe de um assassino, cio que a história de ser mãe de um
filho assassinado”. A maneira como Arileda trata do assunto me causa a impressão de que ela seria capaz de assumir a ma ternidade do jovem assassino. Na minha percepção sobre este
(rríLçU ejieráijir
testemunho, acho que ela consegue manter a sua profunda tristeza e saudade do filho, enquanto alimenta uma espécie de perdão maternal, por se colocar na pele da mãe do assassino. Ela confessa que perdoou o assassino, sem sofrer de amnésia quanto à tragédia que se abateu sobre sua família. Em suma, acredito na importância de acolhermos os fatos sobre os quais não temos mais controle algum. E, enquanto sofremos as consequências do mal que alguém nos fez, ali mentados por nossa indignação e lutando para que a justiça se manifeste, cuidamos para cjue o mal da perversidade e da morte não se instale em nossos corações, como se instalou no coração de nossos ofensores. Uma coisa é sofrermos as consequências dos males que nos atingiram; outra é não nos colocarmos passivos diante das pessoas perversas - diante dessas pessoas, precisamos nos indignar e lutar pela justiça e defesa de direitos, ainda que não nos deixemos influenciar pelo modo de ser perverso. Pior do que sofrer as consequências do mal é fecundar na alma a perversidade dos nossos ofensores. O percião não d epende de co mo a pessoa que n os feriu está, depende do tjuanto misericordiosos somos. E o nosso estado de alma e a condição de vivermos marcados pela bondade de Deus que geram, em todos nós, a força para perdoar ou não. Quando perdoamos, garantimos a preservação de nossa mais profunda singularidade humana. A condição espiritual do Jesus Cristo de Nazaré foi a garan tia permanente do seu amor e condição para ser “perdo-a-dor”. No momento da crucificação , Jesus Cristo pedi u ao Pai para
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perdoar os que estavam martirizando-o: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo” (Lc 23.34). A capacidade de perdoar é uma das virtudes mais nobres dos seguidores do
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a. (^riLçèiiT nassa. £ ca Á Á
Jesus Cristo de Nazaré. O perdão nos ajuda a não sofrermos mais com a mesma dor. É como se não quiséssemos mais que o mal continue nos corroendo e ferindo. Aprendamos com o Jesus Cristo de Nazaré a orar: “Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos! assim como perdoamos! assim como perdoamos!
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ORAÇÃO E TENTAÇÃO
A oração proposta pelo Jesus Cristo de N azaré reconhece a vulnerabilidade das pessoas e o perigo de praticarem o mal em resposta às suas tentações.
“E não nos deixes cair em tentação” O rando
para vencer
o m a l , q u e t Ao d e perto
n o s assedia
Na oração ensinada por Jesus Cristo, o Pai, o pão, os pecados são nossos, mas as probabilidades de não cairmos em tenta
ções são, também, uma responsabilidade coletiva. Todos nós vivemos num emaranhado de sistemas e convivências e somos responsáveis por construir uma ambiência favorável ou não às
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a
'M M ssí lã ca ã ãa .
tentações e aos males que nos rodeiam. Nossas organizações sociais, políticas e econômicas impedem ou favorecem as tentações. O mal é uma semente germinada na interioridade humana, e quando encontra terreno fértil no espaço externo tem tudo para proliferar o dano. Portanto, precisamos vencer o mal em nossa interioridade, mas, enquanto o vencemos no coração, precisamos, de maneira sábia, ir transformando os esquemas e conjunturas do mal que foram se consolidando no processo histórico de nossas formatações culturais, políticas, sociais e econômicas. A Bíblia fala sobre esses males que habitam em nossa in terioridade; entre muitos, registra a arrogância, a exaltação, o orgulho. Por mais que esses pecados, à semelhança de muitos outros, tenham srcem nos desejos interiores, t odos são im pulsos catalisados por condições externas que organizamos coletivamente. Nas descrições sobre a tentação de Jesus Cr isto no deserto, aparecem figuras como “parte mais alta do templo” e “os reinos do mundo e o seu esplendor” (Mt 4.1-5; Lc 4.1-5). Em Mateus 23, o narrador faz referência ã “cadeira de Moisés”, símbolo da aspiração pelo poder. Em Tiago, há referências a “anel de ouro” e “lugar apropriado” (Tg 2.2-3). Essas expressões são usadas para denu nciar um tipo de arquitetura e estética que alimentam no imaginário coletivo as tentações de poder e os pecados de discriminação e menosprezo para com as pessoas desprovidas desses mesmos símbolos.
Quando construímos em nossos templos estruturas arquite tônicas que separam o povo do clero e usamos estéticas pessoais comunicando poder e arrogância, predispomos as pessoas à queda e não percebemos que arquitetamos, coletivamente, uma cultura
ara^ãff e tentuçm
que favoreceu o mal da politicagem religiosa, discriminação de pessoas, exaltação e altivez. Quando elaboramos ensinos sobre o poder de magia que os sacerdotes possuem para agregarem valor aos objetos sagrados, oferecemos aos charlatões a chance de negociação de tais objetos com os clientes da religião. Desse modo, a tentação interior vai encontrando nas estruturas e arquiteturas externas espaço para a sua proliferação. Quantos líderes religiosos estão emocionalmente doentes. Alguns já traziam as suas doenças psicoemocionais e encon traram na religião o objeto significante catalisador de suas enfermidades. Outros adoeceram co ntam inado s pelas doenças emocionais inerentes aos espaços religiosos. Há tentações e pecados resultantes de nossa experiência coletiva religiosa; portanto, não é justo condenar o pecado que se torna visível, por meio de uma única pessoa, quando todos juntos criamos o ambiente favorável que propiciou a queda. No Brasil, as leis estão organizadas para o favorecimento de um grupo privilegiado controlador e manipulador, de maneira c]ue, diante de seus erros, são protegidos, usando as “formas da lei”, os fluxos dos processos, os parágrafos etc. Diante de outras nações, por exemplo, os pecacios de corrupção no Brasil, praticados por alguns, são pecados do povo brasileiro. Se concordamos com essa afirmação, então precisamos de arrependimento, confissão e mudança radical na cultura e conjuntura sociopolítica, pois todos pecamos. Orar é o compromisso e a prática de um estilo de vida que, encontrando-se com Deus, rompe com os círculos perversos
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do ambiente social, religioso, político e econômico. Por isso, a oração do Pai-Nosso é mais do que uma prece religiosa. Quem ora ao Pai nosso, o ra e luta pela errad icaçã o dos males que nos
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Mssa ã co Á ãa.
rodeiam. É preciso orar de modo que se possa ir erradicando as sindromes de fanatismo, arrogância, poder e fama, extermi nando os males da corrupção, injustiça e violência. Portanto, Jesus Cristo nos ensina a orarmos para vencer mos as tentações, que são nossas. As interiores - quem sabe -, vencemos pelo poder do Espírito Santo, com exercícios de espiritualidade, formação cJe um bom caráter, controle social; as conjunturais, vencemos fazendo revisão das leis e de suas aplicações, revisando as nossas organizações políticas, sociais e econômicas. Da mesma forma, como o pão é “nosso de cada dia”, as tentações também são nossas e precisamos vencê-las com sabedoria e mobilização da sociedade civil organizada. Deus, ajuda-nos e não nosdeixes cair em tentação... não nos deixes cair em tentação... não nos deixes cair em tentação.
“Mas livra-nos do mal” A tentação é apenas a iniciação para a consumação do mal. Na oração do Pai-Nosso, Jesus Cristo relaciona o mal com as tentações. Já sabemos que somos tentados por nossa própria ccv biça. O apóstolo Tiago argumenta m uito bem sobre es se tema: “Quando alguém for tentado, jamais deverá dizer: ‘Estou sendo tentado por Deus’. Pois Deus não pode ser tentado pelo mal,
e a ninguém tenta. Cada um, porém, é tentado pelo próprio mau desejo, sendo por este arrastado e seduzido. Então esse desejo, tendo concebido, dá ã luz o pecado, e o pecado, após ter se consumado, gera a morte” (Tg 1.13-15).
(rrciçã/r e tentuçM83
A concupiscência dos olhos e a soberba da vida não procedem de Deus, elas são srcinadas nos fascínios e encantos que ine briam os desejos humanos, provocam as tentações e germinam o mal. Geralmente, achamos que o mal vem tão somente de fora. Não imaginamos que ele seja proveniente, também, de nossas malícias interiores. Jesus disse: “Não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal”. Então, tudo indica que o mal previsto aqui seja resultado de nossa queda nas tenta ções. Este é o mal que podemos vencer pelo poder do Espírito Santo , quando superamos as tentações em nossa interioridade. Todos nós estamos sujeitos a várias formas de manifestação do mal. Sofremos o mal por causa da perversidade de pessoas ruins, sofremos pela imperícia de outras pessoas, sofremos por causa de fenômenos naturais etc. Porém, aqui, Jesus Cristo alerta-nos sobre as tentações que visitam a nossa interioridade e podem gerar o mal. O mal aqui não é um mal qualquer, mas o mal proveniente de nossas tentações. Assim, concluímos que as tentações não são o problema final. O problema est á no mal que elas produzem a partir de nós mesmos. A tentação gera o pecado, e o pecado, uma vez consumado, gera a morte. Comer ou beber é saboroso e necessário. Comer demais é saboroso, mas não é necessário; as consequências para quem come com glutonaria chegam a ser drásticas. Acumular patrimô nios deve ser um desafio fascinante para quem já possui muitos bens, todavia o desgaste emocional e as injustiças socioeconômicas provocadas, a médio e longo prazo, podem trazer males pessoais e coletivos incalculáveis. Ser tentado a aproveitar-se do
prestígio e poder para tirar benefícios pessoais deve ser muito atraente, mas as consequências políticas, sociais e econômicas são danosas. Os males causados por nossas tentações são, também.
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a [g rafia- nm a.
males coletivos. Jesus Cris to anima-nos a vencermos, em oração, as tentações e as suas consequências maléficas. A tentação é sempre uma linha tênue entre o que é necessário à vida e o que é essencial. O pão é necessário, mas a Palavra de Deus é essencial. Ter prestígio, fama e a chance de acumular bens pode parecer atraente, mas fazer do prestígio e dos bens uma plataforma para se perceber divino é um grande mal. Manter-se firme no propósito de adorar a Deus éessencial. Buscar o pão para alimentar-se é necessário; usar do poder para transformar pedras em pães, apenas para efeito de exposição pública, é diabólico. Orar é a intercessão íntima, profunda, comprometida com a superação da crise de tentação pessoal e da comunidade. É o clamor para que o Senhor nos livre do mal, porque, se ele ferir um membro do corpo, todos os outros membros sofrem com ele, e, se um membro do corpo for honrado, todos se regozijam com ele (ICo 12.26). O reconhecimento de que as tentações são alimentadas pelo ambiente não anula a responsabilidade pessoal de superação das tentaçõ es e erradicação do mal no co ração. O mal que está na interioridade apenas encontra no ambiente externo uma pavimentação para ser expandido. Portanto, o mal pessoal que muitas vezes sofremos tem sido, mais frequentemente, por causa da vazão que damos às nossas tentações pessoais do que pela imperícia de outras pessoas. Como então, podemos vencer o mal?
D etest an d o o m al e apeg and o-s e a o b e m ( R m
12 .9)
A prática do be m é uma con dição de quem vive a simplicidade da vida. Deus nos criou com a condicão de escolha entre o
araçã/r e íentaçü/r 85
bem e o mal. É esta condição que garante a nossa liberdade humana. Os binômios bem e mal, e, respectivamente, vida e morte entranhados nossa circunstâncias, humanidade. Oaquele bem gera a vida,estão mesmo que, em em algumas que pratica o bem sofra a maldade daquele que, pela prática do mal, provoca a morte de quem faz o bem. Quem faz o bem está comprometido com a vida e, portanto, repudia o mal, e sabe que no enfrentamento dos poderosos e perversos corre o risco os de profetas, atrair sobre si oo mal praticado pelos tiranos. Foimuitos assim com com Jesus Cristo de Nazaré, com mártires na história da humanidade. Tanto no Antigo, quanto no Novo Testamento, temos a chance de escolher de que lado caminhamos. Em situações de opressão e injustiça, o lado da vulnerabilidacle da vida é o lado dos sofridos e injustiçados. O lado da morte é o lado dos poderosos e injustos. Escolher entre o bem e o mal é uma questão de compromisso com a vida. O repúdio ao mal acontece quando estabelece mos d entro de nós uma atitude permanente para a prática do bem. Manter o bem como um paradigma do qual não abrimos mão, como um valor inegociável, é uma ferramenta propulsora para vencerm os o mal. C ontudo, isso não é tão simples a ssim. Precisamos m uito da graça de Deus, da inspiração baseada na vida do Jesus Cristo de Nazaré, dos profetas e dos mártires cpe lutaram pela justiça. Necessitamos do poder e da graça do Espirito Santo.
Ser e viver para o bem é, antes de tudo, uma decisão interior. Quem se percebe como “sendo o bem” pode proclamar: “Bendiga o Senhor a minha alma! Bendiga o Senhor todo o meu ser (SI 103.1). Ou, ainda: “Bendito seja o Deus e Pai de
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ã. ^ ru çã /r nossa /ã ca Á áa.
nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo” (Ef 1.3). Muitos não conseguem “bem-dizer” ou “dizer-bem” sobre Deus ou sobre a vida. Então, quem bendiz, diz a respeito de Deus, que merece ser dito. Quem vive dizendo a respeito de Deus acaba percebendo toda a beleza da vida, mesmo diante de suas contradições. Para os racionais, a beleza da existência depende de como elaboramos os cenários e as circunstâncias em que vivemos. O salmista expressa a sua apreciação pela totalidad e da vida com estas palavras: “Bendig a o Se nhor todo o meu ser”. Acredito nesse jeito de vencer o mal em nossa interioridade: vivendo e dizendo bem sobre toda a bondade de Deus, e el abor ando b em, mesm o qua ndo diante de c ircunstâncias adversas. Somente quem entende a importância do bem e “bem-diz”, pode viver na prática do bem, contra toda forma de maldade. As bem-aventuranças, também, são virtudes inerentes às pessoas que vivem e praticam o bem. Para os virtuosos, a prática do bem não depende de ações ou pressões externas; eles praticam o bem por causa dos seus valores interiores. O bem é o valor supremo dos virtuosos. Logo, alimentados pela prática do bem, eles conseguem vencer e erradicar o mal na interioridade da alma.
REPUD IAND O O M AL E PRATI CANDO O BE M (RM 12.17, 20, 21)
Muitas pessoas possuem uma forte motivação para a prática do bem, mas não conseguem transform ar esse sentimento na prática concreta do bem. Portanto, podemos ter u m sentimento interior para fazermos o bem, mas não termos uma atitude suficiente
oriLçlcr e tentação87 para praticá-lo. Também há situações em que somos vitimados pelo mal proveniente de outras pessoas e nos percebemos inva didos pelo ódio e espírito de vingança. Aind a assim, quem tem a consciência de indignação contra o mal lutará contra o mal, mas evitará a prática de qualquer ato que represente ameaça à vida. As pessoas de bem, mesmo quando sofrem as consequências do mal praticado por outros, não se permitem ser alimentadas pelas artimanhas de prática da maldade. Uma coisa é sofrermos as consequências das pessoas que praticam o mal; outra é nos tornarmos semelhantes a elas - este é o mal mais terrível. A prática do bem é a maneira mais eficiente de vencermos a tentação de entramos para o exército dos perversos e tiranos. Não estamos r ecom enda ndo uma resignaç ão passiva frente ao mal. Precisamos repudiá-lo e lutar contra e;le, e, encjuanto nos indignamos e lutamos, usando todos os meios legítimos, precisamos ta mbém vencer os sentim entos perversos e injust os que vão se instalando em nossa interioridade. Se não cuidar mos bem, as maldades de outras pessoas potencializarão o surgimento de uma fábrica de maldades em nossos corações. Que Deus nos livre desse mal. Pai! Que o bem impregnado em nossos pensam entos e atitu des nos livre da prática do mal. Ajuda-nos para que as virtudes, que são dadas pelo poder do Espírito Santo, fortaleçam-nos para vencermos as pressões externas que nos induzem ao mal. Pai, ajuda-nos a praticar o bem, ainda que os nossos senti mentos queiram nos conduzir a praticar o mal. “Livra-nos do mal!”
“Livra-nos do mal!” “Livra-nos do mall”
[amém]
TOIS TEU É O REINO, O PODER EA GLÓRIA PARA SEMPRE, amém ;
E s t a ÚLTI
frase da oração modelo não aparece em todos os manuscritos mais srcinais. Todavia, dada a sua importância hiblica e teológica, decidi inclui-la como forma de conclusão de nossa reflexão sobre a oração do Pai-Nosso. Jesus Cristo começa e conclui sua oração expressando o senti mento humano de quem vive uma espiritualidade marcada pela ma
total rendição e pelo reconhecimento da soberania de Deus sobre todas as coisas. Aliás, a essência da espiritualidade do Jesus Cristo de Nazaréé evidenciada pela plena dependência que ele devota aDeus.
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I
a [ymçí w nm a I
O pronome teu, em referência a Deus, está no começo e no final da oração. Não acredito que esta maneira de orar seja apenas opção literária.que Antes, jeitoliterária. de viverVejamos: e de orar do Jesusuma Cristo de Nazaré gera éa opeça Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como nocéu; 0
pão nossoasde nossasdívidas, cada dia dá-nos hoje; e perdoa-nos assim como nós temosperdoado aos nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal pois teu é 0 reino, o pod er e a glória par a sempre. Amém!
“Venha o teu reino” (no início da oração)... “pois teu é reino” (no final da oração) Tudo na vida do Jesus Cristo de Nazaré começa e termina sob o cuidado de Deus. O nosso é uma consequência de quem vive em total rendição ao cuidado de Deus. O nosso está garantido quando o amor e a justiça do reino de Deus se manifestam. A oração, à semelhança da vida, começa com Deus. Sem Deus não há vida: “No principio. Deus criou os céus e a terra” (Gn 1.1); “No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus. Ele estava com Deus no princípio. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do que
existe teria sido feito” Qo 1.1-3). Na religião, a oração começa para se cultivar uma virtude, ou para o cumprimento de certas exigências cerimoniais.
m en
Alguns oram motivados por necessidades, aspirações e desejos. Na oração inspirada na vida do Jesus Cristo de Nazaré, o discípulo ora cativado pela presença de Deus, movido pela imantação do Espírito Santo que acolhe, dirige, ensina e inter cede. Portanto, Deus já estava antes de todas as coisas. Todas as coisas vieram a existir por causa dele e para ele, sob o domínio do seu reino. O rar é in iciar a vida mergulhando no mund o de Deus, nos seus propósitos, discernindo a sua vontade. Não há como imaginarmos uma vida de oração ou a oração da vida sem Deus no começo, durante e em toda a vida. Quem ora o Pai-Nosso ora buscando “em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça” (Mt 6.33). Ora sabendo que “o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17). Quem assim ora, busca primeiramente a intimida de com Deus, e, como desdobramento, vêm as virtudes, os dons e frutos do Espirito Santo. As coisas, os bens materiais poderão vir, ou poderão ser conquistados, como direito coletivo. Quanto mais sinais do reino de Deus estiverem presentes entre nós, muito mais serão acrescentadas “todas estas coisas” prometidas no Sermão do Monte (as virtudes, a simplicidade, o suprimento necessário á vida), proferido pelo Jesus Cristo de Nazaré.
“Seja feita a tua vontade” (no início da oração)... “pois teu é 0 poder” (no final da oração) Deus é o Senhor de todas as coisas. A ele pertencem a honra,
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a glória e o poder. Quem ora o Pai-Nosso reconhece a insigni ficância humana diante da grandeza de Deus. Quem assim ora não aceita reconhecimento algum que seja uma usurpação ao
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I
a.
nossa. £ ca Á Áa.
que é devido exclusivamente a Deus. Desse modo, os seguidores do Jesus Cristo de Nazaré, enquanto oram, são curados das tentações de poder. Conheço pessoas que são um exemplo de vida e, mesmo assim, nunca se utilizaram da imagem pública que possuem para tirarem proveito do poder. A oração do Pai-Nosso reconhece o poder de Deus e alimenta no orante a virtude da humildade. “Pois teu é o poder” é um fundamento que evita a submissão do ser humano a qualquer outro poder que não venha de Deus. Quem ora o Pai-Nosso não se submete aos tiranos e déspotas. Quem assim ora, resiste e luta contra toda forma de poder c^ue seja uma agressão ou ameaça à vida. Quando oro ao Pai, sinto-me encorajado para viver e lutar. Conheço homens e mulheres de fibra, que aprenderam a en frentar os perigos com coragem e a suportar os sofrimentos com paciência. Algumas dessas pessoas já morreram, mas deixaram em minha memória a ideia de que conseguiram essa “fibra” como resultado da confiança no poder de Deus, por meio da oração. Tornaram-se pessoas livres de toda possessão e não se permitiram também ser possuídas por pessoas, coisas ou insti tuições. A oração que sur ge como expressão do reco nhecimento do poder de Deus anuncia a singeleza da‘ vida e nos liberta de todas as formas de escravidão pessoal. Somente os livres amam intensamente, pois amam condicionados pelo sentimento ine rente a sua natureza amorosa. Tudo o que está incluído na oração é possível, pois Deus tem
todo o poder. Quem ora “pois teu é o poder” reconhece não apenas a plena misericórdia, mas também a soberania de Deus sobre todas as coisas.
mém
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“Teu nome” (no início da oração)... “e a glória” (no final da oração) Deus é inominável, indescritivel. Em nossa linguagem limitada, o que ainda se aproxima da essência de Deus é a ideia de amor, liberdade e vida. Ele é a essência de toda a nossa existência. Não há como dar um nome a esse Ser e essa realidade que chamam os Deus. Deus é santo em sua natureza mais profunda e sua santida de não está condicionada às nossas formas de manipulação e controle. Aos ídolos, damos nomes, coisificamos, tanto a eles quanto a nós e às pessoas em nossas relações - e nisto não há glória alguma. Pode haver mimo, elogio barato, paparicação, mas não glória. Nada que não seja para Deus e por ele merece reconhecimento e glória. O Jesus Cristo de Nazaré não se relaciona com Deus a partir de um nome, ele se comunica com o Pai. E, como sabemos, pai não representa um nome; antes expressa uma relação, uma amizade familiar. E toda amizade alicerçada no amor percebe no outro graça e encantamento. A glória é de Deus - está nele. A nossa adoração não é para glorificar a Deus, pois ele já é pleno em glória. A nossa adoração é uma tentativa de comunicação aos outros sobre quem é Deus. A glória é inerente a Deus e não depencJe de atos humanos ou louvação de religiosos. O máximo que podemos fazer é testemunhar com a vida, palavras e obras para tjue outras pessoas acolham a revelação a respeito de Deus. Ou seja, como a glória é inerente ao Deus eterno, ela pode ser
percebida e anunciada por meio do testemunho cie seus filhos e filhas. Ren demos glória a Deus quando, pelo testemu nho e pela proclamação do evangelho, sinalizamos a bondade, a justiça e o
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nirssã. (ã ca Á áa.
amor de Deus. Vimos a glória de Deus na vida e no testemunho do Jesus Cristo de Nazaré Oo 1.14). Referindose às boas obras e ações, Mateus escreveu: “Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para tjue vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus” (Mt 5.16). Quem ora reconhecendo a glória de Deus liberta-se da arrcv gância e de toda forma de idolatria e coisificação das pessoas. Em oração ao Deus revelado no Jesus Cristo de Nazaré somos inspirados a descobrir a nossa além dosdo condicionamentos culturais que humanidade nos reduzem para à escravidão poder ou da opressão. A glória de Deus se manifesta quando nos deslumbramos pelo seu amor, justiça e paz. Fascinados por estes atributos divinos, somos alimentados a viver a nossa singularidade hu mana -figuras amando, praticando a justiça e construindo Há várias bíblicas que nos ajudam a desvendara opaz. mistério de nossa humanidade, quando nos colocamos face a face com a revelação de Deus. Reconhecer a glória de Deus é olhar a sua santidade em suas mais variadas formas, como se estivéssemos diante de um espelho que desvenda o mistério de interiordomanchado pelo pecado, em confrontação comnosso o Serserperfeito Pai celestial. Nas Escrituras, todas as experiências de quem confessou ter se deparado com a glória tle Deus resultaram em constrangimen to, confissão e arrependimento, nunca em exaltação pessoal e jactância.
com Deus permanente oração quebrar mosViver a dicotomia doem humano e divino, doajuda-nos sagrado ea profano. Ser com Deus em oração é um estilo de vida de quem deseja aprender a viver em permanente reconhecimento de suas
SMCTÍl 95
limitações e fraquezas, e, por se perceber vazio de tudo, busca e acolhe a glória de Deus. A glória não está no nome - ele é inominável. A glória mais pura consiste em ele, simplesmente. Ser. Nós o reconhecemos, também, pelos seus poderosos feitos, mas ele já era pleno em glória mesmo antes de todos os seus feitos. Somente o Ser que é merece exclusiva honra e glória. E st> mente em oração a ele conseguimos ser transformados de glória em glória, em busca dedo nossa mais plena, tendo como referencial a vida Jesushumanidade Cristo de Nazaré. Oremos,pois, ao Deus que tem o reino, o poder, e a glória, para sempre. Amém!
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(Carlos Queiroz é pastor da Igreja de Cristo no Brasil e professor de missiologia e realidade brasileira no Seminário Teológico de Fortaleza. Foi diretor executivo da Visão Mundial Brasil e presidente do Congresso Brasileiro de Evangelização (CBE2).
E também autor deSer é o Bastante — Jelirídade à lu^ do Sermão do Monte e i3/ex Herdarão a Terra.
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a r a q u e serve á u m je it o
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O s discípvlios viram Jesus Cristo orando várias vezes. E, claro, as suas orações eram respondidas. Os discípulos queriam o mesmo? Quando pediram: “Ensina-nos a orar”, eles queriam saber como “funciona” a oração de Jesus? Em A Oração Nossa de Cada Dia aprendemos a orar com Jesus, uma mais fascinantes descobertas para oa viver caminho dadas espiritualidade. Melhor, aprendemos com ele.
A. Oração Nossa de Cada Dia nunca vai envelhecer.
Primeiro, porque é uma reflexão sobre a mais antiga oração cristã; segundo, porque a oração é algo perene, que todo ser humano faz quando reconhece a sua pequenez diante de Deus! E
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Conhecemos pessoas de oração que nunca leram um livro sobre o assunto. E, possivelmente, já ouvimos sobre a oração de pessoas que não oravam. Não é o caso de Carlos Queiroz. Ele fala do que faz e do que é. M anfred
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