A noção de cultura nas ciências sociais Denys Cuche Capítulo 6
Cultura e Identidade Mas que relação é esta, entre cultura e identidade, que o autor estabelece? Ele remete a certa moda da identidade, que seria o prolongamento da exaltação da diferença. (CUCHE, p.175) Cultura e identidade cultural são diferentes. A primeira pode existir sem consciência de identidade, constitui-se nas práticas cotidianas, na interdependência de processos inconscientes; já a segunda deriva-se do reconhecimento que o indivíduo tem de si próprio, pode manipular e transformar a cultura, o que o autor denomina norma de vinculação. O conceito de identidade cultural tem caráter polissêmico (muitas vozes) e fluido (que se expande), remete à identidade social, que em cada indivíduo se caracteriza pelo conjunto das vinculações em um sistema social, este processo permite localizar-se e ser localizado no meio social. Contudo, não se deve esquecer esquecer de que a identidade não diz respeito apenas ao indivíduo, mas a grupos sociais, cuja identidade corresponde à sua definição e distinção social, uma categorização nós/eles. No título seguinte o autor trata das concepções objetivistas e subjetivistas da identidade cultural. Na abordagem objetivista, não há espaço de manobra, a cultura é uma segunda natureza, herdada, da qual não se escapa, estas teorias têm em comum a definição e descrição da identidade partindo de critérios deterministas, “objetivos”, como a cultura, a
língua, a religião, etc. Já na concepção subjetivista a identidade é considerada como um sentimento de vinculação a uma coletividade imaginária, nesta o risco é adotar posições extremas porque reduziria a identidade às escolhas individuais; por o utro lado, esta concepção tem o mérito de levar em conta o caráter variável da identidade. Após descrever estas duas concepções o autor aborda uma tercei ra que é a situacional e relacional. Esta supera as anteriores, visto que, assevera CUCHE “...somente este contexto [relacional] poderia explicar porque [...] em dado momento tal identidade é afirmada ou [...] reprimida.” Nesta abordagem a identidade é construção construção social, representação, representação, categorização categorização
usada pelos grupos para organizar suas trocas. Existe sempre em relação à outra, identidade e alteridade são ligadas: identificação e diferenciação se acompanham nas situações relacionais. A identificação afirma ou impõe im põe a identidade, que é sempre concessão, negociação entre auto-identidade (definida por si mesmo) e hetero-identidade ou uma exo-identidade (definida pelos outros, que vem vem de fora). CUCHE aponta aponta o caráter paradoxal que se se pode originar na hetero-identidade, uma vez que esta é uma atribuição do outro, ela pode se fixar sem que o indivíduo receptor a reconheça como sua identidade. Nesse ponto, o autor faz menção às lutas
sociais, campo em que a identidade está em jogo, para isso suscita Bourdieu para explicar que somente aqueles que dispõem de autoridade legítima poderão ter sua auto-identidade reconhecida (CUCHE, p. 186). Importante salientar que este poder de classificar leva à “etinicização” dos grupos subalternos, forjando, assim, uma única identidade legítima, aquela
do grupo dominante. Há ainda, no texto, a menção à interferência do Estado nas identidades, pois este estabelece controles e regulamentos e tem tendência à mono-identificação, ou seja, excluemse diferentes culturas com vistas à “purificação étnica”. O autor esclarece o conceito de identidade multidimensional : mista, sincrética, “dupla identidade”. Esta qualidade multidimensional diz respeito ao caráter “flutuante” e relativo da
identidade, passível de manipulações e interpretações diversas. O que possibilita certa “margem de manobra” definida como estratégias de identidade: precisa considerar situação
social, relação de força entre os grupos, manobras dos outros grupos, etc. (CUCHE, p. 196). Assim, as identidades constroem-se, desconstroem-se, reconstroem-se dada as situações de relações sociais. Identifica-se, ainda, as “fronteiras” da identidade, resultado entre embates dos limites determinados por certo grupo e os que outros querem lhe impor.