A música música regionalista gaúcha por Rogério Ratner
A exemplo do que ocorre em outros estados brasileiros, o Rio Grande do Sul conta com uma música tradicional típica, que atua como um das principais formas de expressão de sua cultura artística. m torno da música, que funciona como suporte, articula!se também a dan"a, outra expressão cultural das mais importantes dentro da tradi"ão regionalista gaúcha. Sem dú#ida, estas duas formas de arte auxiliaram sobremaneira a pr$pria consolida"ão da imagem do gaúcho enquanto um tipo distinto e inconfundí#el, dentro do uni#erso mais amplo do po#o brasileiro. , se a música e a dan"a a%udam a articular a constru"ão do &tipo gaúcho' no imagin(rio nacional, também desempenham um forte forte papel papel nos proces processos sos de reprod reprodu"ã u"ão, o, atuali atuali)a" )a"ão ão e rein#e rein#en"ã n"ão o deste deste mesmo personagem, de contornos inclusi#e mitol$gicos, nos pr$prios limites do RS. A bem da #erdade, é necess(rio di)er que as matri)es culturais nas quais se encontram as raí)es da música dita típica gaúcha feita atualmente no RS foram se articulando pouco a pouco, &co)idas' em &fogo lento' no amplo &caldeirão' de infl influ* u*nc ncia iass étni étnica cass e cultu ultura rais is em que que se asse assent nta a a regi região ão,, e que que consta constante ntemen mente te foram foram acresc acrescida idass por no#as no#as inform informa"+ a"+es es tra)id tra)idas as pelos pelos imigrantes e migrantes que se assomaram em seu seu espa"o geogr(fico geogr(fico ao longo do tempo, e por #isitantes nacionais e estrangeiros. Assim é que a música gaúc gaúcha ha dita dita trad tradic icio iona nall que que se apre aprese sent nta a ho%e ho%e est( est( calc calcad ada a em algu alguns ns elementos de base que, curiosamente, e ao contr(rio do que a princípio se poderia imaginar, não necessariamente estão aqui &desde todo o sempre', mas foram se acrescendo e fundindo lentamente ao &caldo cultural' local, de forma a chegar em um grau identific(#el de consolida"ão, em um contínuo processo informal de mescla de #ertentes das mais #ariadas. Se tentar tentarmos mos buscar buscar estes estes elemen elementos tos que corres correspon ponder deriam iam s matri) matri)es es centrais mais e#identes em torno das quais se estrutura esta produ"ão musical, de#emos, naturalmente, e#idenciar o elemento ibérico. m que pese a origem preponderante da popula"ão gaúcha se%a portuguesa, h(, não apenas em face da proxi proximida midade de geogr( geogr(fic fica, a, mas também também em torno torno da pr$pri pr$pria a hist$r hist$ria ia da cons consol olid ida" a"ão ão da fron fronte teir ira a sul sul do país país,, um long longo o proc proces esso so de mútu mútuos os interc-mbios com uruguaios e argentinos, popula"+es que correspondem a dois dois países países dos mais mais import important antes es da Améric América a espanh espanhola ola.. este este ponto, ponto, é rele#ante destacar que, em que pese a nossa historiografia geralmente acentue os portugueses e os espanh$is como como duas nacionalidades nacionalidades díspares, de#e!se ter em mente que /ortugal, embora %( conte com séculos de independ*ncia como entidade estatal aut0noma, de um modo geral sempre este#e muito intimamente #inculada #i)inha spanha, ecoando, em significati#a medida, o período em que consta#a como apenas uma de suas regi+es. 1e fato, h( inúmer inúmeros os pontos pontos de identi identidad dade e entre entre as cultu culturas ras portug portugues uesa a e hisp-n hisp-nica ica,, mesmo porque a hist$ria da ocupa"ão da região ibérica, de origens #isig$ticas, roma romana nas, s, crist ristãs ãs,, (rab (rabe es, %uda %udaic ica as, ciga iganas, nas, etc., tc., é comu omum, o que, naturalmente, reflete em certo parentesco entre as formas musicais ad#indas
destes países2 #ale di)er, as formas musicais ad#indas de /ortugal t*m muitos pontos de contato com as espanholas ! as quais deram substrato música típica da região do /rata !, sem embargo das suas especificidades. este aspecto, cumpre destacar o elemento &oriental' que perpassa a produ"ão musical daquela região européia, ad#indo especialmente das influ*ncias (rabes, %udaicas, g$ticas, ciganas, etc., o que representa realmente um diferencial significati#o da música produ)ida naquela península européia em rela"ão a outras formas musicais que se consolidaram no &3elho 4undo'. A pr$pria figura mítica do &gaúcho' brasileiro, enquanto o elemento que, montado a ca#alo, explora a ati#idade pastoril5pecu(ria, foi muito influenciada, na sua configura"ão regional, pelas pr(ticas e costumes dos seus equi#alentes uruguaios e argentinos, o que #em refletir também, naturalmente, na música feita no RS, que tem grande influ*ncia da produ"ão musical daquela região. 6ontudo, é importante ressaltar que, em seu perfil cultural, o gaúcho brasileiro t*m inúmeros elos comuns com os tropeiros5boiadeiros5pe+es5ca#aleiros5#aqueiros5sertane%os5carreteiros do resto do país, mesmo porque o stado, economicamente falando, sempre este#e muito mais articulado com o centro do país do que propriamente com os países do /rata. 6om efeito, correspondia a sua região ao ponto mais meridional da chamada &Rota dos 7ropeiros', que le#a#am daqui especialmente mulas, ca#alos, gado e carne seca ao centro do país, retornando com produtos de l( para uso das popula"+es locais. 1e fato, os chamados &tropeiros' foram de fundamental import-ncia para a po#oa"ão e ocupa"ão do solo gaúcho, estando na origem da cria"ão de inúmeros po#oados, lugare%os, aldeias e cidades. 6ulturalmente, exerceram o papel de reali)ar um grande interc-mbio com as popula"+es do centro do país 8sendo de assinalar que di#ersos &gaúchos' prime#os, em realidade, eram pro#enientes de outras regi+es do país9. 1esta forma, h( na cultura gaúcha tradicional não apenas elementos ancestrais comuns aos países do /rata, mas tal#e) ainda mais significati#amente di#ersas características que são compartilhadas com os patrícios de outras regi+es do país, especialmente em rela"ão ao restante do sul e do sudeste brasileiro, e que são de origem lusitana. Realmente, são inúmeros os elos comuns entre as popula"+es sertane%as5interioranas do :rasil, sendo pouco a pouco sedimentadas as diferen"as regionais, a partir da pr$pria fixa"ão da popula"ão em cada região, com a consolida"ão de seus h(bitos locais. ;sto naturalmente refletiu!se na música, não sendo toa, por isso, que em muitos discos antigos de música gaúcha as can"+es fossem denominadas como &sertane%as', além de que hou#esse a utili)a"ão de ritmos comuns a outras regi+es como a &rancheira', a &toada', o &chote', o &rasqueado', etc. Ali(s, em face destas conflu*ncias, não é aleat$rio também que
gaúcha. sta influ*ncia, é bom di)er, não fe) sentir seus efeitos apenas na música brasileira interiorana, mas também muito flagrantemente na música urbana, estando nas raí)es de muitos ritmos que ho%e consideramos &ancentrais', como o &choro', a #alsa, a &modinha', etc. 1e fato, ritmos como o schottish, a ma)ur>a, a pol>a, a #alsa, etc., deram substrato a muitos ritmos brasileiros. A habanera, ritmo #indo de 6uba, e o tango, de origem portenha, também exerceram um importante papel no cabedal das influ*ncias estéticas que resultaram na música popular brasileira, especialmente do final do século ?;? e até a metade do século ??. Assim, a música gaúcha, pode!se di)er, em linhas gerais, tem como #értices a forte influ*ncia européia e a de demais regi+es da América
sociais as mais #ariadas, desde os mais humildes s elites regionais, em um mo#imento que culminou na articula"ão de grandes propor"+es que se #erifica atualmente, em que tal matri) cultural est( espraiada não apenas por di#ersos outros estados brasileiros, mas inclusi#e em #(rios países mundo afora. I(, sem dú#ida, nas raí)es do 47G, fortes resson-ncias tanto do mo#imento rom-ntico, quanto da #ertente regionalista do modernismo brasileiro. 4uito embora o Rio Grande do Sul, especialmente em suas cidades, da mesma forma como muitos outros estados brasileiros, tenha sofrido fortíssimas influ*ncias européias no campo cultural, muito especialmente até a metade do século ?? 8ibéricas, naturalmente, mas também particularmente francesas, italianas e alemãs9, manifestou!se, principalmente em sua literatura, um forte impulso no sentido de estabelecer um colorido e uma marca regional. mbora esta #ertente não possa ser reconhecida como nitidamente ma%orit(ria dentro do panorama liter(rio e cultural gaúcho em geral, consolidou!se, sem dú#ida, como um de seus mais importantes elementos. Assim, ao lado de uma literatura mais uni#ersal, sofisticada, contempor-nea e urbana, consolidou!se um nicho em que a tem(tica rural, articulada em torno da estrutura social das est-ncias e fa)endas, da hist$ria, da tradi"ão e dos tipos a ela relacionados, era o foco central. m rela"ão música, muito especialmente a partir do modernismo, engendrado no final dos anos J do século ??, este elemento naive regional foi encontrar resson-ncia, em alguma medida, inclusi#e na produ"ão erudita. ntre outros procedimentos, conforme %( dissemos, /aixão 60rtes e :arbosa
mapear não apenas #(rias das influ*ncias ancestrais ad#indas de raí)es portuguesas e espanholas, mas inclusi#e aquelas decorrentes dos ritmos europeus surgidos a partir do século ?3;;;, e muito especialmente no século ?;?. Assim é que foram identificados, nas raí)es da música gaúcha, ritmos e estilos musicais, muitas #e)es amalgamados com as dan"as respecti#as, e que esta#am relacionados cultura dos &fandangos', ou festas dan"antes. L interessante notar que os fandangos, originalmente, eram animados por #ioleiros e, e#entualmente, por rabequistas que a eles se %unta#am. apresenta#am, em muitos casos, uma estrutura peculiar ha#ia momentos em que os casais executa#am os passos de dan"a, enquanto os músicos toca#am e canta#am, sendo que, de quando em #e), cessa#a a dan"a, para que os músicos entoassem as cantilenas ou cantigas. Assim, o bailado sofria algumas descontinuidades, em que eram entoadas as cantilenas, recome"ando na sequ*ncia as dan"as. /odemos apontar, então, como melodias #inculadas intimamente com as dan"as, o tatu, o pe)inho, a rancheira, a toada, a )amba, o rasqueado, a chula, a cana!#erde, a serrana, o chamam*, o siriri, a roseira, o carangue%o, o ma"anico, o candombe, o bugio, o terol, o sarrabalho, o chirimindé, o graxaim, a mariquita, etc. como cantilenas, podemos apontar o car(, o amor!feli), o ben)inho!amor, o %oão!fernandes, o chico, a queromana, o pagar(, o pega!fogo, a retorcida, o feli)!meu!bem, etc. 6abe salientar que, especialmente com a contribui"ão ad#inda da imigra"ão italiana, o acordeon passou a ocupar um papel central na estética do fandango, relegando, em certa medida, a #iola, sendo que a música utili)ada para a dan"a passou a ser, em grande parte, instrumental. 4as também foram identificados, neste processo de pesquisa le#ado a efeito pelos pioneiros do 47G, outros ritmos europeus que aqui, aos poucos, foram tomando fei"+es regionais, como de resto ocorreu em outros estados brasileiros, nos quais estes estilos igualmente deixaram sua influ*ncia. este sentido, podemos indicar o chote 8schottish9, a polca 8pol>a9, a ma)urca 8ma)ur>a9, a #alsa, etc. igualmente foi ressaltada a influ*ncia de ritmos latino!americanos, como a #anera 8habanera9, a milonga 8que d( suporte ao tango9, a )amba, a chacarera, etc. M aristepe, por sua #e), é originado do one!step norte!americano. Assim, a partir destes elementos, e no longo processo de fus+es e de no#as apropria"+es que continuamente foram ocorrendo, engendrou!se boa parte dos ritmos5estilos que ho%e são tão comuns na chamada música tradicional gaúcha chote5xote, #anera5#anerão, rancheira, tro#a, bugio, chimarrita, milonga, #alsa, limpa!banco 8polca9, chamam*, etc. Dundamental também, para a posi"ão alcan"ada pela can"ão gaúcha no momento atual, foram os cantores5compositores ditos &populares', que, #alendo!se de uma tem(tica cotidiana, e abordando os dramas pessoais e emocionais do po#o simples, mediante a utili)a"ão de uma linguagem mais direta e acessí#el, receberam grande acolhida especialmente %unto popula"ão mais humilde. 1estes, sem dú#ida, a figura mais querida e ainda extremamente popular é a de 7eixeirinha, respons(#el também, ali(s, em grande medida, pela di#ulga"ão da can"ão típica gaúcha para o restante do país. esta trilha, cabe indicar também artistas como 4erN 7ere)inha 8parceira de 7eixeirinha9, Gildo de Dreitas, 7io :ilia, =osé 4endes, etc. L importante ressaltar que a chamada música urbana e a música rural gaúcha nem sempre esti#eram &apartadas' em segmentos tão bem delineados, tal como ho%e se desenha. 1e fato, inúmeros compositores, cantores e
instrumentistas, até as raias do período que se delineia melhor no início dos anos O do século ??, a partir da cria"ão da 6alif$rnia da 6an"ão, ao lado de sua produ"ão urbana 8que incluía sambas, samba!can"ão, choros, etc.9 produ)iam can"+es utili)ando!se de ritmos e tem(ticas considerados regionais. Ali(s, em que pese existissem antes de tal marco artistas que se identifica#am muito fortemente com a música regionalista, incrustados em um nicho específico, pode!se di)er que, de um modo geral, não ha#ia uma tão forte estratifica"ão artística, ao menos não na forma que foi se consolidando especialmente a partir dos anos O. Em $timo exemplo que se pode dar, para ressaltar o modo como as coisas costuma#am correr, é o do 6on%unto Darroupilha. ste grupo #ocal foi formado por cantores que atua#am no -mbito da R(dio Darroupilha de /orto Alegre, e ho%e em dia é reconhecido como um dos principais porta!#o)es da música gaúcha tradicional, muito especialmente porque gra#ou inúmeras can"+es de :arbosa ings e longos no lado direito do quadro. 1e fato, não ha#ia, pelo menos até o ad#ento da 6alif$rnia da 6an"ão de Eruguaiana, em linhas gerais, uma &separa"ão' mais radicali)ada entre os campos ®ional' e o &uni#ersal', que se tornou mais e#idente em épocas posteriores. Somente para acentuar, e dar alguns exemplos a mais, dentre tantos outros
regional, barrando a participa"ão de 6olmar 1uarte em um festi#al de música popular brasileira. 6olmar, então, indignado, reuniu!se com companheiros para organi)ar um festi#al em que a música regional gaúcha pudesse ser apresentada li#remente, sem ser barrada em seu pr$prio territ$rio de origem. L importante ressaltar que não ha#ia na 6alif$rnia, de início, uma postura mais extremada, tanto que, em sua primeira edi"ão participaram di#ersos nomes normalmente relacionados com a música urbana, inclusi#e tra%ando roupas &normais' 8smo>ings e longos9, quanto mais não se%a o pr$prio
de festi#ais nati#istas, por exemplo, con%untos ou músicos mais comumente relacionados ou #indos do &ramo dan"ante', e compositores de festi#ais que também comp+em can"+es para serem interpretadas por con%untos di#ersos e destinadas a animar bailes, e assim por diante. 1e fato, h( um contínuo di(logo e influ*ncias #ariadas nestes &ramos' da música regional, a desaconselhar uma conceitua"ão rígida em &categorias' específicas. ;sto posto, podemos apontar alguns nomes que se dedicaram5dedicam especialmente a fa)er músicas mais #oltadas mera frui"ão auditi#a, #(rios dos quais consagraram!se por sua atua"ão em festi#ais, tais como os de 7elmo de o Dreitas, que atualmente acompanha =oão :osco9, oel GuaranN, 6enair 4aic(, 4ano
&gaudérios' de baile, numa dire"ão que aproxima bastante tal produ"ão do pop, da chamada música brega, da música &popular', do forr$, do sertane%o, etc. xemplos destes con%untos gaúchos &modernos' são o 7ch* :arbaridade, o 7ch* Guri e o 7ch* Garotos, dentre muitos outros. I( também que chamar a aten"ão para os ®ionalismos' existentes dentre o pr$prio regionalismo gaúcho, ou se%a, as características que se afiguram em face das regi+es do stado de que pro#*m os músicos. 4uito forte, por exemplo, é a tradi"ão dos compositores &missioneiros', ou se%a, #indos da região fronteiri"a com o Eruguai, nas proximidades das antigas miss+es %esuíticas. L forte também a tradi"ão da música serrana e do planalto, dentre outras. 7ambém é bastante popular na música gaucha a linhagem de &gaiteiros', podendo ser apontados aqui os nomes do Gaúcho da Dronteira, Gilberto 4onteiro, , roc>, da 4/:, etc., tais como os de eto e /aulinho Dagundes, 4(rio :arbar(, Renato :orghetti, Sérgio Ro%as, /irisca Grecco, Grupo 7empero, 7ambo do :ando, etc., etc. Ainda, cumpre assinalar outros nomes relacionados chamada 4/G 8a 4/: gaúcha, de #iés mais urbano9, que também manti#eram5mant*m fortes la"os com elementos tradicionais gaúchos dentro de seus trabalhos, como é o caso de Alm0ndegas, Qleiton e Qledir, 6ordas e Rimas, Rebenque, Saracura, /erN Sou)a, Gl$ria Mli#eira, 6anto o ?a#ier, Grupo 6antoria, Grupo Status, Giba Giba, etc., etc. Mutros artistas também populares neste segmento regional, curiosamente, come"aram sua carreira influenciados pela %o#em guarda, como é o caso de :erenice A)ambu%a 8que integrou o grupo de roc> As :rasas, nos anos C9, 4aria
social, ocorrida especialmente a partir da última década do século ??, e a consolida"ão do multiculturalismo, a desusar o maniqueísmo tão pr$prio daquele século, parecem ter permitido que se lance um no#o olhar sobre a questão acerca da con#i#*ncia entre os di#ersos ramos da música popular em nosso stado. Apesar de ainda despontarem alguns radicalismos em ambos os &campos', e mesmo em suas respecti#as &subdi#is+es', pensamos que atualmente a con#i#*ncia entre os di#ersos estilos musicais que #ice%am no -mbito do RS est( bem mais saud(#el, tal como, de resto, costuma#a ser praxe no início desta &hist$ria', conforme ressaltamos anteriormente. Assim, longe dos maniqueísmos que eram tão correntes tempos atr(s, di#isa!se atualmente na cena musical gaúcha uma mais salutar e harmoniosa con#i#*ncia entre os campos da música nati#ista e urbana gaúcha, se%a para perceber!se que ambas de#em ter as suas especificidades e espa"os pr$prios preser#ados e respeitados, se%a para o estabelecimento de &pontes', influ*ncias e &trocas' para os que assim o dese%am. 1e fato, é possí#el intuir que ao menos a maioria dos artistas e produtores en#ol#idos com tal problem(tica anuíram ser mais construti#o, ao in#és de ficar tentando obter uma unanimidade, mais construti#o tal#e) se%a tolerar o fato de existirem espa"os mais restriti#os, e outros menos, sem que necessariamente a discussão tenha que ser ele#ada a um ní#el de incompatibilidade, num eterno esfor"o de con#encimento sobre o rumo certo que de#e tomar a música gaúcha. ão estamos, com tal afirma"ão, repise!se, tentando esconder o fato de que e#entualmente sur%am disputas, discuss+es, rusgas e desacertos em torno desta questão, com a manifesta"ão de posi"+es mais ou menos &puristas' de lado a lado. Apenas apontamos para a circunst-ncia de que, a nosso #er, aos poucos, a pr$pria compreensão acerca dos di#ersos posicionamentos parece menos tensionada, num efeti#o processo de alteridade, o que, sem dú#ida, est( tra)endo um efeito positi#o em termos de maior interc-mbio entre os artistas e produtores culturais. 4as o que parece mais significati#o, dentro deste contexto, é o are%amento maior que se #erifica %unto ao pr$prio público, que ho%e parece permitir!se gostar de &isto e mais aquilo', não se restringindo apenas a um tipo específico de música, o que se afigura um bom augúrio. 1ito de outra forma, parecem agora ao menos abrandadas as dicotomias e incompatibilidades que permea#am o campo da música gaúcha em décadas passadas 8que fi)eram surgir as &cl(ssicas' oposi"+es entre música urbana ? rural, tradicional ? uni#ersal, de &rai)' ? estrangeirada, etc.9, num processo de maior interc-mbio, e que, indiscuti#elmente, auxilia no sentido do desen#ol#imento de nosso meio musical. Se%a como for, o certo é que a música gaúcha, se%a denominada como típica, nati#ista, tradicional, gauchesca, etc., #em, em sua tra%et$ria sempre ascendente, mostrando grande pu%an"a e poder de mobili)a"ão, dentro de um processo muito rico, tanto no sentido de resgate das tradi"+es mais ancestrais, como no de mesclar as tradi"+es com os di#ersos elementos que #ão se agregando #ida cultural dos gaúchos.