A JÓIA NA FERIDA O corpo expressa as necessidades da psique e oferece ofe rece um caminho para a transformação Rothenberg, Rose-Emily !ão "aulo# "aulus, $%%& "RE'()*O )ada um de n+s recebe uma tarefa que dee ser desempenhada nesta ida# carregar e transformar nossa parte indiidual no unierso perda da minha mãe, logo ap+s meu nascimento, criou a ferida que me possibilitou reali.ar minha tarefa 'ui guiada nesse processo por sonhos e is/es que me abriram as portas do inconsciente coletio, a camada mais profunda do inconsciente e o reino que sub0a. mãe pessoal o trabalhar com essas d2dias do inconsciente, bem bem como com pintura e argila ila, mantie a chama que nunca foi foi completamente extinta entre eu e minha mãe 3ais importante ainda, esse trabal trabalho ho permiti permitiu-m u-me e criar criar e depois depois fortalec fortalecer er uma conexã conexão o consci conscient ente e cont4nua com uma camada mais profunda da psique Essa conexão supriu o que minha mãe não me p5de dar e, simultaneamente, trouxe um caminho para que eu pudesse encontr2-la Em 6pocas de transição ao longo de minha 0ornada, cicatri.es espont7neas surgira surgiram m em meu corpo corpo 8as 8ascid cidas as das feridas feridas ps4qui ps4quicas cas e dos desao desaoss dessas passagens, as cicatri.es : que, a princ4pio, eu abominaa : foram, no nal nal das das co cont ntas as,, minh minha a sa sal laç ação ão "or es espe pelh lhar arem em minh minha a co cond ndiç ição ão psic psicol ol+g +gic ica a no mund mundo o exte exteri rior or,, elas elas me inst instig igar aram am a ine inest stig igar ar se seu u signicado s cicatri.es t;m me inspirado ao longo de toda minha ida, tra.endo tona as partes latentes de minha psique 3eu esp4rito de ida não morreu com minha mãe< ao in6s disso, fe. sua morada nas feridas p+s anos de inestigação, e0o agora que elas foram os ob0etos sobre os quais eu pro0etaa o sofrimento adindo do caos de minha inf7ncia< ao mesmo tempo, continham a numinosidade da 0+ia que eu muit muito o dese dese0a 0aa a enco encont ntra rarr Elas Elas eram eram tang tang4e 4eis is e reai reaiss e, no enta entant nto, o, ofere ofereci ciam am-me -me tamb tamb6m 6m uma uma expe experi; ri;nc ncia ia do eter eterno no que que liga ligaa a co corp rpo o e esp4rito, ida e morte, eu e minha mãe 3inha curiosidade sobre a eolução das cicatri.es leou-me an2lise =2 trabal trabalhei hei com minha minha psique psique,, o sol solo o de onde onde as cicatr cicatri.es i.es germina germinaam am !eriam !eriam necess necess2ria 2riass muitas muitas experi experi;nc ;ncias ias de ida, ida, inclui incluindo ndo cas casame amento nto,, maternidade e doença, para concentrar meu trabalho interno o suciente para a promoção da cura e da totalidade O sofrimento e o trabalho criaram um caminho que eu podia tomar para encontrar minha mãe, demonstrando que a renoa renoação ção 6 poss4 poss4el el mes mesmo mo nas condiç condiç/es /es mais mais desfao desfaor2 r2eis eis 3inha mãe, ao retornar atra6s de um sonho, satisfe. um dese0o de toda uma uma ida ida,, dese dese0o 0o es este te tão tão inte intens nso, o, que que não não crei creio o que que eu tie tiess sse e a determinação de seguir com minha ida e meu trabalho sem esse encontro
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A JÓIA NA FERIDA O corpo expressa as necessidades da psique e oferece ofe rece um caminho para a transformação Rothenberg, Rose-Emily !ão "aulo# "aulus, $%%& )om o prop+sito de manter uma conexão ia com minha mãe, mantie uma relação atia com o inconsciente energia criatia que >u4a daquela rela relaçã ção o ac acab abou ou lea leand ndo-m o-me e para para a (fric frica, a, onde onde cica cicatr tri.e i.ess são são cria criada dass propo proposit sitalm alment ente e pelos pelos ind4ge ind4genas nas no ritual ritual da esc escari arica cação ção Entre Entreis istei tei xamãs e adquiri uma compreensão mais profunda da nature.a espiritual que sabia estar ia em minhas minhas pr+prias cicatri.es cicatri.es ?essa forma, fui capa. de me reconectar camada coletia da psique que existe antes do materno# o que os alquimistas chamaam de prima de prima matéria, matéria, os ingredientes ps4quicos @literalmente, a primeira mat6riaA que in>uenciam os desdobramentos de nossa nossa ida "recisei de muitas experi;ncias estimulantes, internas e externas, que me a0udassem a integrar e a transformar minha relação com as realidades sombrias da ida "assei a compreender que tudo o que surge do corpo e do inconsciente tem uma forma sombria a princ4pio "sicologicamente, essas realidades sombrias marcam o nascimento de algo que est2 lutando para sair sa ir do inco incons nsci cien ente te e atin atingi girr a co cons nsci ci;n ;nci cia< a< simb simbol olic icam amen ente te,, elas elas representam a 0+ia que foi perdida e que carrega o noo potencial
capa deste liro ilustra esse eento arquet4pico pintura 6 uma ersão alqu4mica da tela de Boticelli CO nascimento de D;nus 8essa pintura, CD;nus est2 de p6 em sua concha, seu corpo todo rosas# as ermelhas >orescendo das brancas p6rola que cresce da concha 6 a base dessa
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A JÓIA NA FERIDA O corpo expressa as necessidades da psique e oferece um caminho para a transformação Rothenberg, Rose-Emily !ão "aulo# "aulus, $%%& representação simb+lica D;nus nasce do caos dos prim+rdios do mundo, do !i-mesmo nascente : um começo sombrio que 6 frequentemente esquecido e negado quando a bele.a se torna tão presente 3as o negro 6 o começo da obra alqu4mica @o trabalho de ida de um alquimista, ou, na nomenclatura 0unguiana, a indiiduaçãoA O embranquecimento 6 a classicação, a transformação e a integração da prima matéria, nalmente saindo da escuridão para o ermelho dos sentimentos Esse 6 o princ4pio que sustenta a ida, passando por uma incubação no sombrio para poder ir tona F medida que daa noa forma minha ida e a mim mesma, as cicatri.es f4sicas começaram a tomar uma forma diferente 3inha consci;ncia em expansão e as repetidas experi;ncias de renoação do caos continuaram sendo re>etidas em meu corpo "sicologicamente, tornei-me capa. de transitar de maneira mais tranqGila pelo meu mundo interno e depois, literalmente, no mundo externo, como 6 mostrado nas p2ginas que seguem 8este liro exponho, lu. do dia, uma parte muito pessoal e priada da indiiduação Hma 0ornada dessa nature.a 6 sagrada, merecendo cuidado e proteção para que nenhum dano se0a causado alma princ4pio, leou-me a responder pergunta# ao tornar essa 0ornada pIblica, ser2 que estarei iolando a almaJ Kie que pesar isso contra o sentido que minha 0ornada pessoal poderia ter para pessoas que tieram experi;ncias similares e estão procurando respostas Então me lembrei de um sonho que tie muitos anos atr2s, e isso me a0udou a resoler a questão 8o sonho, o pr6dio onde eu trataa de minhas cicatri.es haia se tornado a “Bollingen Press” @uma refer;ncia Bollingen Foundation, que tornou poss4el a publicação em ingl;s das obras completas de LungA Koda pessoa que ai fundo no sofrimento pode tra.er uma reelação para nossa realidade "ara mim, a forma prim2ria de reelação foi a aparição espont7nea das cicatri.es, uma Cescaricação espont7nea Essas cicatri.es são lembranças permanentes das feridas que resultam da luta e do desao de se ter uma relação ia e consciente com ?eus, e das recompensas diinas dessa relação !omos todos feitos imagem de ?eus< dessa forma, nosso sofrimento 6 um re>exo do sofrimento diino o carregarmos o sofrimento dEle em sua ariedade de formas, contribu4mos com o inconsciente coletio, assim como com a consci;ncia coletia de nosso tempo )ontar essa hist+ria do sofrer a ferida e encontrar a 0+ia que ela esconde foi um empreendimento atra6s do qual o esp4rito curador tornou-se uma realidade consciente para mim Escrei este liro para deoler o que me foi dado atra6s da oportunidade de participar desse drama diino Essa d2dia
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A JÓIA NA FERIDA O corpo expressa as necessidades da psique e oferece um caminho para a transformação Rothenberg, Rose-Emily !ão "aulo# "aulus, $%%& tamb6m me possibilitou como analista 0unguiana, a0udar outros, atra6s do trabalho anal4tico, a encontrarem a 0+ia em suas pr+prias e singulares feridas, a 0+ia que espera por resgate 3eu pr+prio trabalho continua
Rose-Emily Rothenberg Lulho de $%%1
*8KRO?HMNO KRB=8?O )O3 H3 !*8KO3 )OR"OR= Explorar um sintoma corporal é entrar nele, Assim como ele entrou em nós, E tomar parte em um mistério sagrado. É com grande respeito e humildade Que aceitamos essa tarea. Este liro refere-se ao processo de indiiduação iniciado por um sintoma corporal e aos mIltiplos benef4cios obtidos quando se explora os sintomas em 2rios n4eis, como aconteceu com meus quel+ides Kornar-se mais consciente 6 um dos principais ob0etios deste trabalho, e tale. esta se0a uma das intenç/es da psique ao nos apresentar um sintoma corporal !intomas f4sicos, em seu sentido mais positio e metaf+rico, são como 0+ias no corpo esperando serem descobertas Eles criam um 4mpeto no paciente para reali.ar o trabalho interno, e tra.em consigo o ponto central para a cura O sintoma corporal sere a um prop+sito bem denido nesse ponto, leando o indi4duo fonte da doença ou da desordem que a criou e, consequentemente, cura Existem 2rias in>u;ncias que contribuem para a eolução, o signicado e a cura do mal ou da doença Estrutura gen6tica, condiç/es ambientais e componentes psicol+gicos são alguns dos aspectos a serem considerados
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A JÓIA NA FERIDA O corpo expressa as necessidades da psique e oferece um caminho para a transformação Rothenberg, Rose-Emily !ão "aulo# "aulus, $%%& )ada desordem 6 singular pessoa que a possui o se determinar o componente ps4quico do diagn+stico @e sempre h2 um componente ps4quicoA, dee-se olhar para todos os aspectos da ida do indi4duo @isto 6, a atitude perante o corpo e suas manifestaç/es, as condiç/es no momento da doença e suas recorr;ncias, etcA !eria dif4cil suportar a ferida se não se enxergasse seus aspectos globais : os eentos literais permeando seu in4cio, os aspectos de seu desenolimento, suas bases arquet4picas descoberta do arqu6tipo por tr2s de um sintoma corporal pode ser o momento decisio da 0ornada pessoal, na medida em que o sintoma reela seu lugar no mito pessoal @Obs# um arqu6tipo 6 a forma inata sub0acente s imagens uniersais e recorrentes aos padr/es de comportamento e aos temas m4ticosA Os sintomas corporais, normalmente, emergem das profunde.as para a lu. do dia de forma bastante inesperada Puando irrompe a doença, o indi4duo defronta-se, de maneira abrupta, com a realidade de que não 6 o Inico senhor de sua pr+pria casa O indi4duo 6 forçado a prestar atenção na psique, porque ela se tornou real Puando um sintoma f4sico aparece, alguma coisa interna, que não pode alcançar a consci;ncia diretamente, manifesta-se de forma siol+gica o fa.;-lo, auxilia o Eu ao carregar o conteIdo que ele não pode absorer tão facilmente Hm sintoma pode ter muitos n4eis de signicados profundidade do insight que pode ser obtido atra6s do sintoma ai depender de onde a psique est2 em sua eolução e da tenacidade do Eu para comprometer-se com essa exploração o se adentrar nas profunde.as do sintoma e seguir sua nature.a simb+lica, o indi4duo 6 guiado para a camada arquet4pica da psique, onde transformação e renoação são poss4eis @Obs# a camada arquet4pica 6 a camada mais profunda do inconsciente coletio Ela 6 a geradora dos s4mbolos uniersais nos sonhos, mitos, contos de fada, na religião, etcA Os sintomas corporais são portadores de mem+rias pessoais e coletias, arqu6tipos e instintos dos quais fomos desconectados Q necess2rio um grande esforço para se reconectar a esses elementos perdidos e esquecidos e para perceber o signicado da doença Hma atenção diligente aos sonhos e is/es que se centram em um sintoma corporal espec4co pode ser Itil, por reelar as camadas mais profundas do signicado do sintoma reunião de associaç/es pessoais e arquet4picas faorece a an2lise e a compreensão dos componentes psicol+gicos e simb+licos de um sintoma f4sico base arquet4pica dos sintomas reela o n4el coletio do inconsciente, as ra4.es mais profundas da psique o alcançar esse n4el, uma dimensão mais ampla e um signicado simb+lico são reelados no sintoma indiidual Esse
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A JÓIA NA FERIDA O corpo expressa as necessidades da psique e oferece um caminho para a transformação Rothenberg, Rose-Emily !ão "aulo# "aulus, $%%& contexto maior d2 ao Eu um lugar onde trabalhar e integrar a experi;ncia da doença ?2 sentido experi;ncia de sofrimento Hm sentido signicatio 6 ter de se relacionar com a realidade como ela 6 Lung disse# CO !i-mesmo tem suas ra4.es no corpo, de fato, nos elementos qu4micos do corpo !egundo Lung, o !i-mesmo 6 o nome dado totalidade da psique, o arqu6tipo central do inconsciente coletio, o centro unicador da psique O !i-mesmo tra. consigo a imagem de ?eus 8a doença, um aspecto do !i-mesmo torna-se manifesto no corpo, na mat6ria "or meio do trabalho anal4tico, o Eu consciente pode dar um sentido simb+lico releante manifestação siol+gica do !i-mesmo 8a doença, o !i-mesmo est2 tornando o Eu consciente dele mesmo o fa.;-lo, tra. para o sofrimento da enfermidade uma intensidade e uma numinosidade, como se os deuses estiessem se encontrando com o indiidual e tornando-se manifestos Os sintomas e as imagens que são numinosos de maneira persistente contam uma hist+ria que dee ser ouida O poder do !i-mesmo est2 por tr2s deles e o esp4rito io, dentro deles Originalmente, pensaa-se que a doença era causada por uma possessão espiritual ou pela perda da alma Em decorr;ncia disso, a cura ocorria atra6s da identicação e expulsão do @sA esp4rito @sA maligno @sA )om o aanço da biologia e da ci;ncia, a atenção foi focada nas causas e nos processos de cura que residem exclusiamente no corpo )om isso, a psique e o corpo experimentaram uma separação decisia, qual Lung e a psicologia profunda ;m tentando se referir )omo disse Lung, Cproaelmente não h2 tais coisas como corpo e mente na realidade absoluta, mas corpo e mente, ou alma, 6 a mesma coisa, a mesma ida, estando su0eitos s mesmas leis, e o que o corpo fa. est2 acontecendo na mente Em sua conceituação da psique e do corpo, a psicologia profunda cont6m tanto a dimensão espiritual quanto a material )ompreende-se que o que se expressa no corpo tem um equialente psicol+gico 8a medida em que a psique encarna, ela nasce como carne 0udamos a tra.er a psique mais para dentro do mundo atra6s da contemplação, da introspecção, dos questionamentos e das pesquisas do mundo externo, m6dico, assim como do mundo interno da alma e do inconsciente )omo resultado desse processo, algo muda na psique, mesmo que o sintoma f4sico não mude O Eu a0uda a atiar o processo de cura e se esforça para alcançar as forças desconhecidas no meio do caminho pr+pria nature.a da re>exão e da integração tra. lu. e energia, fortalecendo o Eu mesma atitude anal4tica pode ser usada tanto no trabalho com sintomas corporais quando com sintomas psicol+gicos ?ee-se considerar a manifestação do sintoma no n4el literal @como funciona organicamenteA bem como identicar seus componentes psicol+gicos e simb+licos
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A JÓIA NA FERIDA O corpo expressa as necessidades da psique e oferece um caminho para a transformação Rothenberg, Rose-Emily !ão "aulo# "aulus, $%%& O simbolismo alqu4mico 6 muito Itil na an2lise dos sintomas corporais "ara o alquimista medieal, o trabalho alqu4mico iniciaa-se com a contenção do material bruto no aso alqu4mico, haendo depois uma descida s profunde.as sombrias dessa matéria para encontrar o alor perdido escondido dentro dela 3etaforicamente, um indi4duo aprofunda-se em certa doença como se fosse um alquimista procura do esp4rito preso na mat6ria Esse 6 um comprometimento her+ico amplicação do processo de adoecimento atra6s da an2lise e do trabalho com imagens que façam um paralelo e se0am um re>exo do sintoma a0uda a reelar o sentido do sintoma Dia de regra, um aspecto perdido ou escondido em tona Kornar-se consciente dessa din7mica sugere a possibilidade de algum controle, não importando se um aspecto mais sombrio ou mais positio ai ser descoberto inestigação pode, então, lear a uma mudança na personalidade total, faorecendo seu desenolimento O trabalho anal4tico não muda, necessariamente, o sintoma f4sico, mas pode tra.er-lhe maior profundidade de sentido, e o sentido pode tornar!se um guia. ?entro da pr+pria doença reside a cura Essa armação corrobora o princ4pio alqu4mico de que o produto nal e seu material inicial são Cum e que o um Cpossui tudo o que necessita "aracelso, m6dico e alquimista do s6culo D*, tamb6m escreeu sobre esse conceito# “"esmo #uando ainda est$ no %tero, por nascer, o homem é oprimido pelas potencialidades de todas as doen&as, e est$ su'eito a elas. E por#ue toda doen&a é inerente ( sua nature)a, ele n*o poderia nascer +i+o e saud$+el se um médico interno n*o esti+esse escondido nele... cada doen&a natural carrega seu próprio remédio dentro de si. homem rece-eu da nature)a tanto o destruidor da sa%de #uanto o preser+ador da sa%de... o #ue o primeiro tenta exausti+amente destruir, o médico inato repara... l$ onde surgem as doen&as, pode!se encontrar as ra)es da sa%de. Pois a sa%de de+e crescer da mesma rai) #ue a doen&a e, para onde #uer #ue a sa%de se direcione, para l$ tam-ém a doen&a de+e se direcionar”. Os sintomas deem ser leados a s6rio, pois carregam mensagens urgentes do fundo de nosso ser Puanto mais profundo o sintoma, quanto mais seero ou cr5nico, mais globali.ante ele 6 dentro do mito pessoal doença parece estar entre os principais eentos que a0udam a reelar o mito pessoal 3eu mito pessoal 6 o do +rfão que começa sua ida em solidão ou abandono e depois, como o her+i arquet4pico, aceita as tarefas que o learão a descobrir sua identidade real Hma ferida tão precoce : a perda da mãe ou do pai, ou a experi;ncia de abandono : requer um consider2el processo de cura Esse rito de passagem enole a morte do elho e o nascimento do noo, e cria,
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A JÓIA NA FERIDA O corpo expressa as necessidades da psique e oferece um caminho para a transformação Rothenberg, Rose-Emily !ão "aulo# "aulus, $%%& de maneira ineit2el, uma ferida !e a ferida for muito profunda, 6 necess2rio um enorme processo de cura O +rfão, em especial, necessita de algo onde pro0etar a mãe ou o pai ausente Os quel+ides que desenoli na minha 0uentude tornaram-se esse ob0eto para mim Eles surgiram de maneira espont7nea em meu corpo, marcando minhas les/es f4sicas e psicol+gicas, re>etindo meu ser singular Eles foram super .elosos em sua recorr;ncia em 6pocas de transição, e eu sempre me questionei# qual foi a intenção da psique ao cri2-losJ "or muitos anos achei que as cicatri.es eram uma in0ustiça que eu tinha de suportar, mas atra6s desse trabalho posso agora perceber que elas me protegeram de tudo o que tie que enfrentar Kenho grande d4ida para com elas 'i. an2lise por trinta anos, com quatro analistas 0unguianos *niciei meu processo de an2lise no começo de meus inte anos, geralmente com uma sessão por semana Kerminei minha an2lise quando meu Iltimo analista aposentou-se, muitos anos antes de eu ir para a (frica, em meados de meus cinqGenta anos 3uitos dos antigos sonhos e imagens inclu4dos neste liro foram leados para minha an2lise Os insights e as amplicaç/es sobre eles estão baseados no que eu aprendi a partir das interpretaç/es de meus analistas 8os anos seguintes, adquiri amplicaç/es adicionais de consultas ocasionais com alguns colegas analistas, 0untamente com minha pr+pria pesquisa cont4nua, principalmente, mas não s+, das -ras /ompletas de Lung e de 2rios liros de s4mbolos !inteti.ei esse material com meus insights recentes e re>ex/es sobre as interpretaç/es anteriores, e o resultado est2 apresentado nas p2ginas que seguem amplicação das imagens on4ricas, e o ato de meditar e escreer sobre elas leou-me a noos n4eis de desenolimento !entimentos que, a princ4pio, não conhecia, a0udaram-me a coagular e integrar os signicados mais profundos desses sonhos, imaginaç/es atias e imagens Puando re>eti sobre os liros, contos de fada e mitos que tieram enorme impacto sobre mim, insights adicionais ieram tona Puando consegui deixar minha imaginação misturar-se nessa equação, uma s4ntese muito maior aconteceu Kodo esse material, interno e externo, trouxe-me at6 aqui, leando-me a contar esta hist+ria @Obs# o m6todo de imaginação atia implica em participar atiamente de um di2logo com as imagens que surgem do inconsciente Hma resposta direta do Eu, por meio de algumas formas de expressão, tais como argila, pintura ou escrita, estabelece uma relação ia com o mundo internoA
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A JÓIA NA FERIDA O corpo expressa as necessidades da psique e oferece um caminho para a transformação Rothenberg, Rose-Emily !ão "aulo# "aulus, $%%&
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)ET? ?! )*)KR*UE! A #uest*o decisi+a para o homem é0 Est$ ele relacionado a algo in1nito ou n*o2 3ung Eu tinha seis dias de idade quando minha mãe morreu 3eu nascimento foi sua terceira cesariana "ouco depois do parto, ela desenoleu uma infecção e morreu de septicemia Onde dias depois, fui leada do hospital para casa, a m de car com meu pai e minhas duas irmãs, uma de do.e anos e outra de um ano e meio Hma bab2 cuidou de mim por noe meses ?epois outras ieram e se foram 3eu pai casou-se noamente um m;s antes de eu completar dois anos de idade primeira cena de que me lembro aconteceu alguns anos mais tarde Est2amos em frente ao arm2rio do corredor e minha madrasta insistia para que eu e minha irmã est4ssemos nossas polainas para sair no frio 3inha irmã não queria us2-las e gritaa# CEu não preciso te obedecer Doc; não 6 nossa mãe de erdadeV 'oi a primeira e. que me conscienti.ei desse fato, e quei muda de espanto Essa declaração prenunciaa diculdades sem m partir da4, quei paralisada pelo medo de ser abandonada de noo, caso não correspondesse s expectatias de minha madrasta e s exig;ncias de meu pai para tal porta que daa acesso expressão espont7nea começou a se fechar, mas a porta para o poder do inconsciente continuou aberta tra6s dessa porta eio o primeiro sonho de minha inf7ncia do qual consigo me lembrar Koda a minha experi;ncia de +rfã estaa condensada nesse sonho “Estou de pé no centro da casa de minha in4ncia. Atr$s de mim h$ uma $r+ore morta com galhos secos e sem olhas. /o-ras negras nascem de meus ante-ra&os”. o0e em dia, entendo esse sonho da seguinte maneira# no centro de meu ser estaa a morte de minha mãe, e eu me sentia seca sem ela 2rore 6, com freqG;ncia, um s4mbolo do esp4rito eterno que deixa cair suas folhas, morrendo para poder ier 2rore morta em meu sonho, como cheguei conclusão mais tarde, continha a alma de minha mãe, e a cobra representaa não apenas a reação de minha psique a esse trauma inicial, mas tamb6m, no m das contas, uma forma de ultrapass2-lo
A JÓIA NA FERIDA O corpo expressa as necessidades da psique e oferece um caminho para a transformação Rothenberg, Rose-Emily !ão "aulo# "aulus, $%%& !imbolicamente, as cobras são portadoras de energias poderosas Essas energias podem ser usadas como eneno ou panac6ia s cobras são um exemplo tanto do que h2 de mais inferior quanto de mais superior na humanidade# a destruição ou a sabedoria diina s cobras simboli.am o n4el mais primitio da ida, assim como o renascimento e a ressurreição "odem tamb6m representar a encarnação dos mortos e, quem sabe, no sonho, fossem um recept2culo para o esp4rito de minha mãe l6m disso, as cobras que surgiam estaam ligadas s cicatri.es que estaam prestes a anunciar-se Eu iria a compreender essa ligação anos mais tarde ntes de entrar para a escola, com cinco anos, tomei a acina obrigat+ria contra ar4ola 3inha madrasta pediu ao m6dico que retirasse, tamb6m, uma pequena erruga no meu outro braço Kudo parecia dentro da normalidade, at6 que cicatri.es começaram a aparecer em meus dois braços o in6s de cicatri.es planas e da cor da pr+pria pele, como era esperado, minhas cicatri.es caram ermelhas e elearam-se mais ou menos meio cent4metro acima da pele Em termos m6dicos, tais cicatri.es são chamadas de quel+ides, um crescimento aut5nomo do tecido que forma as cicatri.es Kodos estaam chocados, mas a reação de minha madrasta foi excessia ntes mesmo que eu pudesse ter minhas pr+prias impress/es sobre o que estaa acontecendo, sua reação inundou minha psique porosa Ela estaa claramente angustiada e minhas cicatri.es disformes tornaramse alo de enorme atenção, não somente na busca de aconselhamento m6dico sobre como redu.i-las ou remo;-las Ela começou a igiar todos os meus moimentos, para que eu não me machucasse de uma forma que criasse outras cicatri.es Ela tamb6m insistia, sem tr6gua, para que eu escondesse dos outros as cicatri.es )omecei a absorer sua ergonha das cicatri.es, o que s+ aumentou a minha 02 entranhada ergonha de não ter minha pr+pria mãe perda da minha mãe e o fato de ter de me relacionar com uma madrasta foi o que me foi dado, e essa era a realidade que eu deia enfrentar )omo que para reforçar a dolorosa realidade, a psique logo criou uma isão que me a0udasse a aceit2-la ?eitada na cama de minha mãe, a cama que minha madrasta tomou para ela, delirando com febre alta, eu i “5o outro lado da rua, sentado a uma mesa de cartas, um cigano mostrando um -aralho”. pesar de minha psique de quatro anos de idade não ter compreendido seu signicado, essa isão di.ia o seguinte# essas são as cartas que oc; recebeu Doc; tem de aceitar o destino que lhe foi determinado : ier neste mundo sem sua mãe e ser criada por essa madrasta
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A JÓIA NA FERIDA O corpo expressa as necessidades da psique e oferece um caminho para a transformação Rothenberg, Rose-Emily !ão "aulo# "aulus, $%%& "or olta dessa 6poca ganhei um pequeno liro que eu adoraa Estaa encantada com a hist+ria, e isso tamb6m me a0udou a aceitar meu destino 6ee Fishie 6un contaa a hist+ria de um pequeno peixe negro que se transformaa em um lindo peixe dourado 8o liro, pequenas contas douradas e prateadas estaam coladas ao peixe Elas caam em altoreleo e criaam um efeito arredondado que daa para sentir ao tocar suas p2ginas O peixe negro era uma gura plana no papel, mas ap+s se aenturar pelo mundo afora em busca de si mesmo, 6ee Fishie 6un ganhaa pequenas contas douradas brilhantes, substituindo sua cor negra original Eu amaa tocas as pequenas contas Embora não estiesse consciente disso naquela 6poca, eu estaa me identicando com o processo de transformação que elas representaam e com o qual eu tanto ansiaa s contas do pequeno peixe, ou minha atração por elas, podem ter tamb6m prenunciado a chegada das cicatri.es Hma profunda escuridão me inadiu e foi por mim internali.ada )omo resultado, sentia-me totalmente inaceit2el e, o que 6 muito pior, respons2el por tra.er tudo isso tona culpa que eu sentia tee seu in4cio quando eu era ainda muito 0oem, pois um tio meu disse, abertamente, que era por minha causa que minha mãe haia morrido pesar de meu pai ter replicado# C8unca mais diga issoV, esse coment2rio instilou em mim uma culpa que teria posteriormente profundo efeito )onencida de que haia causado a morte de minha mãe, acreditaa que ieria o resto de minha ida em um arrependimento sem m Puando nossa madrasta chegou com suas malas na porta de casa, ela ofereceu a promessa de carinho e conforto )ontudo, sua presença cobriame de cont4nuas experi;ncias de abandono Koda e. que as coisas não sa4am do seu 0eito, ela ameaçaa fa.er as malas e ir embora Eu caa com tanto medo de que ela fosse embora e de que eu mais uma e. leasse a culpa, que enterrei meus pr+prios dese0os e comecei a me moldar aos dese0os dela Kornei-me sua faorita, pois em mim ela encontrou o re>exo externo de sua pr+pria +rfã interna 3inha madrasta estaa pronta para assumir o papel de madrasta 8o fundo, ela tinha um medo da ida que ampliaa meu pr+prio medo Ela não suportaa er suas pr+prias limitaç/es re>etidas nos outros, especialmente em mim Em e. disso, queria que eu fosse o que ela haia plane0ado para si mesma ?espe0aa sua energia em mim, o que me trouxe um senso de prop+sito, embora não fosse o meu pr+prio O ambiente em nossa casa iia carregado de tensão !eus acessos de raia iam e inham, como se ela estiesse carregando uma multiplicidade de pecados e temesse que nosso mau comportamento pudesse reel2-los !eus complexos eram atiados pelos nossos e os nossos, estimulados pelos
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A JÓIA NA FERIDA O corpo expressa as necessidades da psique e oferece um caminho para a transformação Rothenberg, Rose-Emily !ão "aulo# "aulus, $%%& dela Luntas, experimentamos uma perigosa combinação das forças sombrias que foram lançadas sobre n+s Eu me encontraa enfeitiçada por seu olhar atento, e minha psique tentaa integrar a mensagem portentosa de seus olhos Essa mesma tensão apareceu no consult+rio m6dico no dia de minha acinação, quando minha madrasta pediu que a erruga fosse retirada para que ela não incomodasse ningu6m @Obs# um complexo 6 uma entidade inconsciente, carregada de afetos, composta por um nImero de id6ias associadas e agrupadas em olta de um nIcleo central, sendo esse nIcleo uma imagem arquet4pica "ode-se perceber que um complexo foi atiado quando uma emoção desarran0a o equil4brio ps4quico e perturba o funcionamento normal do EuA atenção de minha fam4lia estaa oltada para nossa madrasta< 02 a dela, estaa oltada para as imperfeiç/es daqueles que estaam sua olta K4nhamos que nos encaixar em sua ersão das normas coletias e eitar qualquer coisa que pudesse suscitar a suposta desaproação de seus amigos 8uma festa, usando um estido com laço de tas nas costas, se eu dissesse algo que ela desaproasse, sentiria um puxão no laço do estido constituição psicol+gica de minha madrasta espelhaa a minha pr+pria, fa.endo com que o arqu6tipo do C+rfão >orescesse com força total Hma e. ela organi.ou um ba.ar de caridade em prol do nosso templo Tuardou algumas roupas doadas por pessoas que admiraa, encora0ando-me e, tamb6m, minha irmã mais elha, a us2-las mensagem era clara# eu deeria ser como as mulheres das quais ela buscaa reconhecimento 8o entanto, esses Cpresentes de pano ieram com um preço# eu tinha agora uma d4ida para com ela !ua presença intensicaa meus sentimentos de menos alia Ela me comparaa constantemente com minhas duas irmãs Puando fa.ia algo que ela consideraa tolo, eu era como minha irmã mais elha, que não se impunha como deeria Puando eu fa.ia algo inteligente, era como minha outra irmã, extroertida, esperta e brilhante 3inha madrasta mostraa-se mais inibida pela agressiidade dessa irmã do que capa. de domin2-la e eu me miraa nela por causa disso ceitando o que sugeria minha madrasta, eu pro0etaa meus aspectos sombrios e luminosos em minhas irmãs Diia sob a sombra de ambas, por6m minha auto-imagem encaixaa-se melhor com a menos extroertida !entia ciImes de minha irmã mais admirada, mas estaa ligada emocionalmente a mais elha atenção negatia que ela suscitaa era, apesar de tudo, atenção, e eu adotei muitos de seus traços Puando minha madrasta a criticaa, eu me sentia aliiada por ela direcionar sua raia e frustração a outra pessoa 3inha posição subseriente tornou-se habitual, o
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A JÓIA NA FERIDA O corpo expressa as necessidades da psique e oferece um caminho para a transformação Rothenberg, Rose-Emily !ão "aulo# "aulus, $%%& que se repetiu nos relacionamentos futuros !uprimi minha indiidualidade criatia em respeito s demandas de poder e dom4nio de minha madrasta 3inha irmã mais elha não conseguia sobreier dentro de casa com o tormento pelo qual estaa passando Ela foi embora muitos anos depois que nossa madrasta chegou e, com a a0uda de meu pai, foi ier com uma tia )om isso, passei a ser o alo da agressão de minha madrasta 3inha outra irmã, um ano e meio mais elha que eu, sobreiia muito bem por causa de sua extroersão Ela se expressaa abertamente, negando-se a fa.er o que não achaa correto 3eu pai era apaixonado por ela Eu, tamb6m ?i.iam que ela tinha Cpuxado nossa erdadeira mãe, o que a eleou ainda mais em meu conceito "or6m, isso era uma fonte de dores enormes para mim Eu queria ser a faorita de meu pai Hma brincadeira que eu fa.ia com essa irmã quando tinha mais ou menos oito ou noe anos de idade trouxe ida minha ersão particular do complexo de +rfão Esse 0ogo reelaa nossa identicação com os lados opostos da din7mica do +rfão ntes de irmos para a cama noite, particip2amos de um drama rituali.ado em nosso quarto escuro Eu sa4a do quarto e batia na porta 3inha irmã abria a porta e me encontraa em um estado miser2el Ela caa com pena de mim, conidaa-me para entrar, perguntaa meu nome e de onde eu inha Eu lhe di.ia que era iIa e que meu marido haia morrido na guerra Eu haia cado sem casa e arrasada Ela me conidaa para sentar a uma mesa imagin2ria e me seria uma generosa refeição Eu nunca haia isto tamanhas del4cias como as que me foram seridas Eu ca4ra nalmente nas mãos de uma senhora beneolente e digna, que me concedia sustento e carinho, qual eu deeria mostrar gratidão innita ?urante o dia, a d4ida era cobrada Eu caa sob o poder de minha irmã Puando ela inentaa hist+rias para brincarmos, eu tinha de representar o papel que ela escolhesse e seguir o enredo que ela ia reelando aos poucos 3inha irmã tornou-se a mãe qual eu podia pertencer Ela se agarraa s suas id6ias de grande.a para preencher o a.io deixado pela morte de nossa mãe O aspecto sofredor do +rfão perdido cabia a mim Eu iia o lado inferior dos opostos do +rfão, cando o lado positio @autonomia e independ;nciaA relegado ao inconsciente Eu achaa que não tinha o direito de estar ia impressão que eu tinha @embora não em um n4el conscienteA era a de que eu não deeria estar aqui< minha mãe, sim O que quer di.er que eu iia no lugar dela !entia que nunca estaria altura da imagem que eu fa.ia dela, nem poderia substitu4-la de maneira satisfat+ria 3inha relação com meu pai era o Inico lugar onde eu me sentia recebida e aceita, em irtude de nosso sofrimento mItuo Eu sentia que ele era
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A JÓIA NA FERIDA O corpo expressa as necessidades da psique e oferece um caminho para a transformação Rothenberg, Rose-Emily !ão "aulo# "aulus, $%%& impotente perante a força dominadora de minha madrasta e, quando ela era dura com ele, minha reação era proteger seus sentimentos delicados como forma de me proteger de meus pr+prios sentimentos 3esmo quando era criança, eu tentaa proteg;-lo das forças sombrias que nenhum de n+s conseguia controlar : do lado de fora, a ira de minha madrasta e, internamente, a depressão e o luto dele Est2amos ambos paralisados pela escuridão que nos rodeaa Embora não fosse capa. de fa.er uma mudança substancial em nossa situação, ele era solid2rio com minha triste condição D2rias e.es tra.ia presentes para mim e para minha irmã !urpreendia-nos com 0ogos e quebra-cabeças de que gostaa, e esses pequenos presentes inham embrulhados em seu carinho !eu senso de humor se manifestaa de maneiras muito tocantes 3eu pai possu4a uma pequena empresa nanceira, que ele pr+prio administraa e, s e.es, leaa-me quando ia receber dinheiro de seus clientes Essas idas s 2reas rurais, com as cabanas escondidas entre as 2rores, cheiraam a romance, e eu amaa o tempo que passaa so.inha com ele Entretanto, meu pai era tão introertido quanto eu, e ia02amos pelas estradas desertas praticamente calados 8esses momentos parecia que est2amos formando um laço mais forte entre n+s Puando eu 02 tinha idade suciente para dirigir, ele deixaa que eu pegasse no olante, o que me daa sensação de independ;ncia futura que foi muito signicatia para mim Ele tamb6m me leaa para seu escrit+rio para a0ud2-lo em seu trabalho O caixa nunca batia quando eu caa no balcão para receber os pagamentos, mas ele parecia não ligar para isso e era muito paciente comigo cho que ele sabia que eu precisaa sair de casa, independentemente do inconeniente ou dos custos disso Essa era sua maneira de me oferecer uma sa4da, o que era o mais importante Essas ocasi/es em que est2amos 0untos, sem mais ningu6m, foram as mais feli.es de minha ida Puando 4amos almoçar, andando pelas ruas de mãos dadas, eu me sentia como se fosse sua rainha Esses momentos preciosos signicaam um tempo fora da situação dolorosa que ele sabia que tinha, em parte, criado, situação que não podia ser desfeita !empre apoiou meus esforços para me tornar um indi4duo e eu queria agrad2-lo mais do que tudo nesse mundo Pueria que se sentisse orgulhoso de mim 8ão se falaa o suciente sobre a morte de minha mãe, para que eu pudesse absorer essa dolorosa realidade Eu sabia que fora uma trag6dia de enormes proporç/es para nossa fam4lia e para os amigos dela Inica e. que meu pai realmente reconheceu sua morte foi quando eu e minha irmã fomos conrmadas em nossa sinagoga ?epois disso, fomos ao cemit6rio colocar >ores sobre seu tImulo
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A JÓIA NA FERIDA O corpo expressa as necessidades da psique e oferece um caminho para a transformação Rothenberg, Rose-Emily !ão "aulo# "aulus, $%%& )olhi apenas alguns pequenos fragmentos da erdadeira hist+ria de ida de minha mãe por meio de seus parentes< minha imaginação, por6m, ornaaos com uma ariedade de imagens de como a ida teria sido se ela ainda estiesse conosco Eu imaginaa que ter4amos muitas isitas e falar4amos por muitas horas sobre assuntos culturais O ambiente seria alegre e intelectualmente estimulante Kudo isso parecia estar escondido no terceiro andar da casa, onde as malas antigas estaam guardadas quele andar guardaa o mist6rio da ida dela antes da minha chegada s malas conseraam a hist+ria de nossa fam4lia quando meus a+s eram ios Eles andaram por muitos pa4ses estrangeiros e testemunharam muitas coisas que eu s+ podia cogitar em minhas fantasias Eu queria ir aos lugares por onde aquelas malas haiam passado e enfeitaa esses lugares com minha imaginação Eu poderia sentar-me com aquelas malas horas a o, em puro deaneio, mas a porta para o s+tão estaa quase sempre fechada, e a chae caa com minha madrasta Outro quarto do terceiro andar era mais acess4el 8esse quarto dormiam as empregadas dom6sticas Disit2-las era meu refIgio, e sempre que eu podia, o que não acontecia com muita freqG;ncia, passaa tempo conersando com elas doraa apenas sentar-me e ouir as hist+rias delas sobre os passeios com seus amigos O mundo delas tinha muito mais aenturas e era muito maior do que o mundo em que minha fam4lia habitaa Eu tamb6m percebia seus anseios ocultos por uma ida melhor, e esses anseios intrigaam-me e confortaam-me Inica empregada que cou por tempo mais longo foi certa mulher chamada 3aggie 8ão me lembro de quando ela chegou, mas lembro-me de quando foi embora "ouco antes de meu oitao aniers2rio, ela aisou que estaa indo embora para se casar 3eu coração despedaçou-se, quei com muito medo de estar em casa sem ela e não ter algu6m para se interpor entre mim e minha madrasta ?urante minha inf7ncia, somente quando receb4amos isitas ou quando serentes ou trabalhadores estaam em casa 6 que eu me sentia relatiamente segura 3ais empregadas ieram e se foram, mas elas não eram tão maduras ou bondosas quanto 3aggie Exceção foi uma empregada de origem africana diarista que apareceu quando eu 02 estaa mais elha !eu toque era gentil e am2el, e ela a0udaa a suai.ar as coisas quando podia =embro-me de uma empregada falando sobre suas pr2ticas de odu 'iquei fascinada com as conex/es com o reino transpessoal que foram despertadas em mim atra6s de suas experi;ncias 3ais tarde, eu compreenderia esse fato como um esp4rito religioso oculto que compartilh2amos, e uma ligação nesse n4el satisfe. um anseio de adquirir acesso ao mundo espiritual Kudo isso contrastaa imensamente com as frias interaç/es cotidianas de minha fam4lia, preenchendo minha alma dese0osa
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A JÓIA NA FERIDA O corpo expressa as necessidades da psique e oferece um caminho para a transformação Rothenberg, Rose-Emily !ão "aulo# "aulus, $%%& 3inha mãe sempre fora a intelectual da fam4lia aia estudado os cl2ssicos e escreera algumas coisas, embora nada tenha sido guardado : nem mesmo sua biblioteca : depois de sua morte Puando eu 02 tinha idade suciente para perguntar sobre os poucos liros que restaam na prateleira, meu pai pegou um deles, 7ods8 "an Então, ofereceu-me seu colo e contoume sua hist+ria faorita O ato de compartilhar o liro comigo, 0unto com seu conteIdo, causaram profunda impressão em minha psique O liro era feito de uma s6rie de xilograuras< o leitor conta a hist+ria que ele interpreta a partir das grauras ?e dentro de nosso abraço carinhoso, meu pai interpretaa as grauras, e elas exerceram in>u;ncia profunda e duradoura em mim hist+ria era a de um artista que fa.ia um pacto faustiano com a 3orte, uma gura oculta por uma m2scara, e a ida dolorosa que leou ap+s o eento funesto O conto era um coment2rio sobre a psique obscura, não redimida Eu absoria mais sobre o sentido da hist+ria a cada e. que a lia Eu era 0oem demais para compreender aquelas mensagens perturbadoras e mais inadequado era meu pai ler tal narratia para mim quele não era um liro que um pai deesse ler para sua lha pequena, 02 que estaa enolto em morte e desespero 8ão registrei esse fato na 6poca Estaa mais intrigada pelas guras e pelo modo como os relacionamentos se desenrolaam cima de tudo, meu pai me escolhera para receber uma hist+ria de tão grande import7ncia para ele Eu estaa muito feli. por compartilhar seu texto amado !omente mais tarde pude perceber o enorme impacto do liro sobre mim 8o começo da hist+ria, ap+s o pacto e o sucesso subseqGente como artista em ascensão, o protagonista conhece um empres2rio que lhe arran0a uma mulher O momento decisio do liro ocorre quando ele ; o cifrão tatuado no corpo dela e descobre que ela 6 prostituta @não me lembro como meu pai explicou o que era uma prostituta, mas peguei o sentidoA "ouco depois de descobrir essa erdade insuport2el, o artista 6 preso )onsegue escapar e 6 leado para fora da cidade por uma multidão Kem um hiato de tranqGilidade com uma esposa e um lho e depois a 3orte olta para busc2lo O tema das treas acompanhando noos começos 6 recorrente nesse liro O artista em busca de sua independ;ncia e ida criatia depara com as treas diretamente atra6s da m2scara da morte, do empres2rio, da prostituta, da prisão, e de toda a traição que a tatuagem simboli.a s sombras de sua ida interior, que tamb6m se manifestam no mundo externo, o tornam ref6m 3eu pai se identicou com 7ods8 "an porque a morte chegou para o protagonista do liro depois do encontro com uma esposa catiante, assim
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A JÓIA NA FERIDA O corpo expressa as necessidades da psique e oferece um caminho para a transformação Rothenberg, Rose-Emily !ão "aulo# "aulus, $%%& como acontecera em sua pr+pria ida com minha mãe Eu tamb6m me identiquei com 7ods8 "an hist+ria reforçou meu 02 enrai.ado medo de que entrar na ida resultaa em abandono, decepção e morte Reforçou os acontecimentos de meu nascimento e de minha inf7ncia O liro di.ia, Ca morte ai oltar para peg2-la, não h2 escapat+ria 3ais tarde, estabeleci um paralelo mais profundo Eu estaa tão chocada com o crescimento de minhas cicatri.es quanto o artista inocente com o aparecimento da tatuagem no ombro da mulher 3inhas cicatri.es continuaam sendo o ponto principal de atiidade minha olta ?a mesma forma que meu pai e minha madrasta estaam preocupados com o pr+ximo tratamento, eu estaa preocupada com a humilhação de possuir as horr4eis cicatri.es Estaa possu4da pela seguinte questão# o que eu tinha feito de errado para essas cicatri.es apareceremJ O desenolimento de quel+ides tão feios criara outra ferida em mim Puando fui ao dermatologista com minha madrasta, senti-me inundada de preocupação com o que poderia acontecer !er2 que o m6dico poderia consertar meus braçosJ !er2 que o raio ou o tratamento com gelo seco iriam doerJ ansiedade de minha madrasta reelaa-se em seus coment2rios pe0oratios sobre meu problema 8ão haia espaço para se discutir essas quest/es Eu não deeria demonstrar qualquer curiosidade ou interesse sobre o que estaa acontecendo al6m de me estir e car pronta Ela não queria ser lembrada das duras realidades ou car sem graça na frente de suas amigas Eu tentaa, então, com muito anco, fa.er de maneira adequada o que ela esperaa de mim 3inha madrasta titubeaa quando o m6dico olhaa minhas cicatri.es Eu gostaria de poder conersar com ele so.inha e ser eu mesma sem a presença dela 3as ela estaa bem ali, olhando-me de maneira intimidadora Eu caa petricada em sua presença, e parecia que eu era somente aquelas cicatri.es horripilantes 3inhas dIidas permaneciam comigo e não eram respondidas Ela me fa.ia esperar na outra sala enquanto conersaa com o m6dico em particular Eu caa imaginando que ela estaa conrmando minhas fantasias de que eu seria para sempre desgurada e comentando sobre as conseqG;ncias Hma id6ia eio-me cabeça# ela estaa conrmando sua suposição de que eu não poderia ter lhos porque isso poderia causar-me quel+ides s cicatri.es .eram de mim uma p2ria Eu nunca poderia ier normalmente por causa delas D2rios anos ap+s o aparecimento das cicatri.es, eu estaa em uma la numa excursão da escola quando as garotas minha frente começaram a especular sobre a origem das errugas Eu quei gelada "ensei que elas estiessem falando de mim !enti-me como o sapo feio do qual elas
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A JÓIA NA FERIDA O corpo expressa as necessidades da psique e oferece um caminho para a transformação Rothenberg, Rose-Emily !ão "aulo# "aulus, $%%& estaam rindo e quei tamb6m com medo de que as pessoas que me tocassem pegassem minhas errugas Pueria sumir para eitar as ineit2eis perguntas e .ombarias chaa que o 0ulgamento das crianças era igual ao de minha madrasta e seus coment2rios sussurrados deoraam o que me restaa de auto-estima *sso acabou leando meu m6dico a sugerir que eu remoesse as cicatri.es Os outros procedimentos m6dicos para redu.ir o tamanho das cicatri.es não haiam obtido sucesso 'ui com meu pai a 8oa WorX consultar um dermatologista de renome nacional sobre a cirurgia para remoção das cicatri.es Eu tinha de. anos de idade, e esse m6dico foi a primeira pessoa, em minha ida, que se solidari.ou de forma genu4na com meus sentimentos sobre as cicatri.es Puando lhe mostrei meus braços, sua resposta carinhosa e imediata foi# C8ossa, oc; tem mesmo um problema, heinJ !ua bondade foi restauradora Em sua abordagem calma e maneiras gentis, ele demonstraa um interesse aut;ntico pelas quest/es psicol+gicas que me confrontaam< ele estaa mais preocupado com os efeitos psicol+gicos de ter as cicatri.es do que com o resultado pro2el da cirurgia Ele me contou a hist+ria de um menino que tinha apenas uma perna e ia para a praia com os amigos< ele não cou para tr2s por causa da amputação O m6dico percebia que eu estaa sofrendo por causa da humilhação de ter as cicatri.es Eu sabia onde ele queria chegar ao me contar essa hist+ria, mas a minha relut7ncia em expor as cicatri.es era profunda e imut2el Doltei para casa, e me submeti cirurgia quando estaa na metade da quinta s6rie Kinha grande esperança de me lirar de minha sina e de ser como Ctodas as outras garotas, usando estidos sem manga e moimentando-me com mais liberdade 8o entanto, algumas semanas depois da operação, as cicatri.es cresceram de noo, agora maiores do que antes 'iquei arrasada 3inha madrasta aumentaa minha ergonha com sua reação perante os quel+ides !ua atitude de re0eição, em especial perante as cicatri.es, exerciam profundo impacto em minha auto-estima !empre que eu tiraa a roupa, ela rapidamente sa4a do quarto Puando 4amos s compras, ela mantinha as endedoras longe das cabines, para que não descobrissem meu segredo !empre que me trocaa na frente de minhas amigas, eu tinha de plane0ar como manter meus braços descobertos fora da ista delas 3inha madrasta encora0aa-me a esconder as cicatri.es a qualquer preço Puando me formei, ganhei de presente da escola um penhoar, que minha madrasta leou, na mesma hora, para seu quarto, a m de costurar um tecido mais grosso por dentro das mangas transparentes 'iquei ao lado dela, em sil;ncio, pensando se ela 02 haia me imaginado indo para a cama,
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A JÓIA NA FERIDA O corpo expressa as necessidades da psique e oferece um caminho para a transformação Rothenberg, Rose-Emily !ão "aulo# "aulus, $%%& nua e exposta : o que aconteceria, entãoJ !eus sentimentos de inferioridade in>amaam os meus "or tr2s de sua m2scara de poder, sua pr+pria ergonha estaa em polorosa Kudo isso formaa um campo f6rtil para os sentimentos de insegurança dela serem pro0etados em mim Eu haia assimilado sua repulsa pelas cicatri.es, identicando-me com seus medos e re0eição de meu corpo imperfeito Kudo isso fa.ia com que eu me sentisse inferior, uma leprosa !ua re0eição era outra forma de abandono 3eu choro lamuriento não acabaa nunca# mãe, onde oc; est2J "or que oc; não est2 aqui para me a0udarJ Os quel+ides tornaam is4eis a ergonha e a culpa incessantes que eu sentia por causa da morte da minha mãe Eles reelaam o caos emocional que crescia dentro de mim Era como se as cicatri.es em meu corpo formassem l2grimas permanentes, pois não haia lugar seguro para derramar as l2grimas reais s cicatri.es inham de uma fonte interna que eu não compreendia, aumentando minha curiosidade sobre suas origens !e essas cicatri.es não apareciam na maioria das pessoas, por que estaam aparecendo em mimJ Inica coisa que restaa era oltar ao dermatologista local para mais sess/es de gelo seco e tratamentos adicionais de irradiação, na esperança de controlar o tamanho derradeiro das cicatri.es 8as minhas primeiras isitas depois que os quel+ides oltaram, o m6dico mostrou-me fotos, tiradas de um liro m6dico, de uma mulher com quel+ides enormes nas orelhas, que cresceram depois que ela os perfurou Enquanto olhaa xamente para as chocantes fotograas dos quel+ides deformadores, eu estaa tanto catiada como aterrori.ada !aber que mais algu6m no mundo tinha cicatri.es como as minhas não me tra.ia muito conforto, instilando um medo ainda maior em mim do que poderia acontecer se eu me cortasse de noo Esse era o intuito do m6dico ao me mostrar as fotograas perturbadoras 8a adolesc;ncia, a aersão a reelar as cicatri.es se intensicou aia uma piscina no parque local, onde meus amigos iam nadar, e eu relutaa em me 0untar a eles 8ão tinha coragem de usar um mai5 e expor meus braços Em e. disso, o que . foi, em parte, um ato de rebeldia adolescente, que pode ter surgido de meu primeiro sonho com as cobras aia um .ool+gico perto da piscina, onde eu passaa meu tempo lire "ara minha surpresa, ofereceram-me uma chance de trabalhar na toca das cobras, exibindo cobras não enenosas para os isitantes do parque s cobras não me assustaam nem metade do que me assustaa mostrar minhas cicatri.es Essa foi uma tentatia de dar conta da minha situação e de estabelecer uma relação atia com o inconsciente que a cobra representaa, embora não tiesse consci;ncia disso naquela 6poca
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A JÓIA NA FERIDA O corpo expressa as necessidades da psique e oferece um caminho para a transformação Rothenberg, Rose-Emily !ão "aulo# "aulus, $%%& pesar de meu pai sentir profundamente meu sofrimento, ele nada podia fa.er para diminuir meu isolamento Ele não podia assumir uma postura denitia contra o comportamento nocio de minha madrasta )ontudo, ele percebia a necessidade que as lhas tinham de experimentar um ambiente mais saud2el e, por meio da sugestão de um parente atencioso, insistiu para que eu e minha irmã f5ssemos para um acampamento de f6rias !air de casa por dois meses e ier no campo foi uma panac6ia para mim, embora eu tiesse de reelar minhas cicatri.es durante as atiidades l2 desenolidas Puando 4amos nadar no lago, eu sa4a correndo do chal6 com as mãos sobre as cicatri.es, numa tentatia de me proteger da humilhação, o que suscitaa ainda mais o esc2rnio e o cochicho dos outros Era tudo o que eu podia fa.er para conter meus sentimentos de dor e medo de encontros futuros que pudessem repetir esse cen2rio doloroso inda assim, no m das contas, aquela experiencia foi muito saud2el e, ao contr2rio das outras crianças que choraram na ida para o acampamento, eu e minha irmã choramos na olta F medida que fui crescendo, comecei a duidar cada e. mais de mim mesma 8ão queria ser diferente de meus amigos e chamar atenção sobre mim 8ão podia suportar mais re0eição Eu percebia que era diferente, mas não aceitaa aquela realidade< ., então, enorme esforço para me encaixar no grupo e encontrar um lugar fora do alcance de minha madrasta 3eu pai tentou a0udar ?eido sua preocupação de que minha auto-imagem estiesse diminuindo sob o peso das atitudes de minha madrasta, como comprar roupas para mim no ba.ar, ele me leou a uma lo0a super chique no meu d6cimo sexto aniers2rio, deixando-me escolher a roupa que eu quisesse )omprei um pequeno casaco de couro por trinta d+lares 'oi a primeira e. que me lembro de ter feito uma compra numa lo0a, não num ba.ar, com a liberdade de escolher o que quisesse, o que fe. com que me sentisse uma pessoa normal 8unca me esquecerei desse dia 8os meus Iltimos anos de escola secund2ria, tie o espaço e o tempo psicol+gicos para re>etir sobre a din7mica de minhas interaç/es com meu pai e minha madrasta, principalmente sobre suas reaç/es perante as cicatri.es e o efeito que causaam em mim O que eio tona nessa 6poca ilustraa muito bem suas caracter4sticas psicol+gicas indiiduais, 02 que interagia com minhas pr+prias caracter4sticas Eu podia perceber que meu pai estaa preocupado com o fato de que ningu6m se casaria comigo por causa de minhas cicatri.es "erguntei-lhe, de maneira direta, se era isso que o preocupaa Ele cou tão impressionado com minha sinceridade que chegou a coment2-la !eu respeito por mim cou eidente naquele momento, o que foi muito mais importante para mim do que a nature.a de sua preocupação
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A JÓIA NA FERIDA O corpo expressa as necessidades da psique e oferece um caminho para a transformação Rothenberg, Rose-Emily !ão "aulo# "aulus, $%%& reação de minha madrasta minha sinceridade foi bem diferente Hm dia, quando me dei conta de que sairia de casa em bree, percebi minha Iltima chance de falar com ela sobre sua re0eição s minhas cicatri.es Luntei minhas forças para contar-lhe como me sentia quando ela sa4a do quarto toda e. que eu tiraa a roupa Ela negou todas as coisas que eu lhe disse, di.endo que era tudo imaginação minha princ4pio, senti-me desapontada e so.inha em minha pr+pria experi;ncia ?epois, senti a raia que suprimira por tanto tempo )om o tempo, pude perceber que ela agia dessa forma deido a uma diculdade em aceitar suas pr+prias limitaç/es ?epois desse epis+dio, soube que uma relação erdadeira com ela seria imposs4el e que eu teria que buscar o signicado das minhas cicatri.es so.inha ?urante o erão antes do Iltimo ano na escola secund2ria, aconteceu uma coisa que, ho0e, percebo como o in4cio do processo que me learia a essa busca Hma tarde, eu estaa sentada na sala com meu pai quando, de repente, ouimos uma batida muito forte bem perto de nossa casa 'icamos muito assustados e sa4mos para er o que haia ocorrido lguns adolescentes bateram num carro parado na rua 8o banco de tr2s do carro estaa a garota da escola com o rosto mais delicado que eu 02 haia isto 8o acidente, ela se cortou graemente no rosto Ela fe. uma cirurgia pl2stica que conseguiu recuperar suas feridas no rosto, mas o eento desencadeou uma s6rie de discuss/es intermin2eis em nossa fam4lia sobre como o acidente teria sido Cum desastre se tiesse acontecido comigo *sso s+ aumentou minha ansiedade sobre me machucar em um lugar que eu não pudesse esconder, como fa.ia com as cicatri.es do braço "or muito tempo quei obcecada com horripilantes imagens de mim mesma sendo terrielmente desgurada, e o medo quase me impediu de sair de casa inda assim, a psique guardaa algo mais para mim depois daquele acidente quela garota foi para a uniersidade e, com o est4mulo de seu pai, tornou-se fonoaudi+loga )erto dia, meu pai sugeriu que a fonoaudiologia seria um bom campo para eu explorar Hma noa possibilidade para deixar aquela situação sombria começaa a emergir, mas seu desenrolar seria lento e, como im a compreender mais tarde, nasceria da pr+pria escuridão na qual me encontraa O que aconteceu foi o seguinte# ?epois de uma bateria de testes escolares, os orientadores disseram que eu proaelmente não conseguiria entrar para uma uniersidade Eu esperaa que eles pudessem reconhecer que meu baixo desempenho estiesse ligado, em parte, ao p6ssimo ambiente familiar no qual eu estaa inserida, e ao meu estado emocional naquela 6poca 8o entanto, eu sabia que, apesar de meus baixos resultados, eu tinha de sair de casa ?e alguma forma,
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A JÓIA NA FERIDA O corpo expressa as necessidades da psique e oferece um caminho para a transformação Rothenberg, Rose-Emily !ão "aulo# "aulus, $%%& encontrei a força interna para me inscreer numa faculdade, um ato que mudou minha ida de forma dram2tica Embora não apoiasse minha partida, deido minha insist;ncia, minha madrasta sugeriu que eu me inscreesse na uniersidade perto de sua cidade natal, situada em outro estado 'ui aceita nessa uniersidade =2, o que poderia ter sido apenas uma extensão de minha ida com ela, na erdade continha a promessa de uma transformação 3eu orientador acad;mico no departamento de fonoaudiologia era um psic+logo 0unguiano Em poucas semanas tie meu primeiro encontro com os textos de Lung, encontrando uma estruturação conceitual da psique que possibilitaria a minha inestigação sobre o papel das cicatri.es em minha constituição psicol+gica 8esse momento, pela primeira e., tomei consci;ncia do processo de indiiduação que estaa io dentro de mim Encontrei uma forma de olhar para a psique que podia a0udar-me a achar um sentido nas experi;ncias de minha inf7ncia abordagem 0unguiana possu4a um elemento espiritual que podia conter meu sofrimento 3eu caminho começaa a se apresentar para mim com toda a sua profundidade de signicados qui estaa a salação, nascida de uma situação aparentemente sem esperança, de estar submetida a essa madrasta ?o 7mago da dor eio a fonte da cura
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