A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DOS TEXTOS CLÁSSICOS NAS AULAS DE FILOSOFIA DO ENSINO MÉDIO: REFLEXÕES ACERCA DA DOCÊNCIA EM FILOSOFIA
Yuri Galv! O"#rla#$%#r %# Ali%a
“A água é bebida com mais gosto quando da própria fonte” - Ovídio
Quando ainda estava no ensino médio, lembro de algumas palavras proféticas de meu pai. Na, meados de meus dezessete anos, entregava-me a convivência com os amigos e a prática intensa de esporte. Meu pai, médico de formação e profissão, lera amplamente, desde astrologia até filosofia, o ue l!e dá certa cultura geral. "erto dia disse-me, em tom de consel!o# $meu fil!o, leia os clássicos, os grandes pensadores, como %latão. &les $farão sua cabeça'. (magino ue ele, pautado na percepção de ue me aplicava avidamente ao esporte e ) convivência, teve a sensibilidade de notar min!a falta de interesse ao estudo, ) educação intelectual. *o+e compreendo uão proféticas essas palavras. o estudar %latão percebo uão imbudas elas estão de certa ideia de educação i. gosto de meu pai pela leitura foi decisivo para ue tivesse meu primeiro contato com a filosofia. o escrever esse ensaio de docência, ve+o em suas palavras o divisor de águas para um indivduo. Mas não s/ isso, ve+o também uma semente pela ual pode-se formar um professor de filosofia. &ste ensaio é e0pressão de e0periências docentes e refle01es acerca da docência em filosofia. filosofia entre n/s retornou, em caráter de disciplina obrigat/ria do ensino médio, em 2334. +ustificativa para sua volta é sua import5ncia para ue os cidadãos brasileiros possam de fato e0ercer sua cidadania ii. Mas de ue maneira e0atamente a filosofia prepara os +ovens para o e0erccio da cidadania6 7eria ela uma espécie de merc!andising formadora de cabeças para o status quo? u seria ela uma nobre e fiel serviçal de nossa divina 8ou mel!or, laica9 democracia6 :á adianto ue o ob+etivo desse ensaio não é responder a essas perguntas, ou mel!or, é respondê-las da maneira mais séri séria, a, radi radica call e dire direta ta ue ue aue auele le ue ue ora ora vos vos escr escrev evee é capa capaz, z, ness nessee mome moment nto. o. %rocu %rocurar rarei ei dei0ar dei0ar claro claro ue, ue, ao enfren enfrentar tar essas essas pergu pergunta ntass a sério, sério, desco descobre bre-se -se o problema ue !á no fundo delas, e então uma investigação mais essencial e preliminar mostra seu porte, fazendo dessas perguntas meras uesti;nculas secundárias. secundárias.
filosofia +á esteve em nossas escolas 8antes de nossa ditadura militar9, inclusive bem acompan!ada pelo ensino de latim, grego e francês, testemun!a disso é a professora Marilena "!au, ue foi aluna de colégio p;blico nauela época iii. No entanto, desde a ditadura militar a filosofia esteve afastada de nossas escolas, estando restrita )s universidades e faculdades. &m conseuência, a filosofia desenvolveu-se principalmente como pesuisa acadêmica, ou formação para bac!arelado, como !o+e é c!amado. preocupação pela didática, ou mesmo investigação de seu ensino para aueles ue nela não veem ou não compreendem 8$ainda ue ainda', pois um dia podem compreender9 a import5ncia da filosofia, naturalmente passou despercebida, ou foi propositalmente negligenciada. curso !ist/rico da filosofia 8+unto ao palpite deste ue ora vos escreve9 entre n/s parece indicar uma valorização maior ) pesuisa acadêmica, em detrimento de uma filosofia voltada )s escolas, ou se+a, ao p;blico ue não escol!eu como curso superior a filosofia. %odemos c!amá-los de leigos, insensveis ao encanto da filosofia, ou se+a lá o ue for. ? feita em 2334 iv. bserva-se ue os novos professores de ensino médio, formados em nossas universidades, estão inteirando-se do ensino da filosofia para os ue não escol!eram 8ao menos ainda9 a filosofia como seu estudo principal. &stão enfrentando esse desafio em momento recente ) reimplantação da filosofia nas escolas. @ natural, portanto, ue o $déficit' de formação adeuada para esse tipo de ensino 8uma vez ue o foco, ao longo dos anos, ten!a sido a pesuisa acadêmica9 se+a sentido, tanto entre os estagiários de filosofia para o ensino médio, uanto nos professores ue os preparam. utro fato r é o crescente e recente, n;mero de material didático de filosofia, sendo produzido entre n/s. través dessas consideraç1es uero destacar o momento crtico em ue o ensino de filosofia a nvel escolar vive e o uão decisivo é essa formação para o futuro desse ensino. %ortanto, o estagiário de !o+e vive o desafio de encontrar maneiras para ensinar a filosofia. nde buscar as fontes para o ensino de filosofia no ensino médio6 "omo fará cumprir a pr/pria +ustificativa pela ual a filosofia foi reintroduzida em nossas escolas 8a saber, contribuir para o e0erccio da cidadania96 &m verdade, esse estagiário de filosofia tem até mesmo o direito de uestionar e buscar refutar a possibilidade de fazer filosofia no ensino médio, ou a +ustificativa pela ual foi reintroduzida. No entanto
esse ensaio não uer enveredar por essa via. Aamos ao ponto, portanto# uma palavra tem sido usada sem maiores cerimBnias até o momento. @ usada também em nossa =>?.
credito ue a forma mais segura de formar-se frente a essa busca 8a saber, a busca pela essência da filosofia9 está no estudo da cultura greco-romana antiga. lém de serem imprescindveis para a compreensão da identidade ocidental de nosso tempo, são também as testemun!as mais palpáveis da gênese, ou do pro+eto inicial da filosofia. %ortanto, o ue é proposto é um retorno ) tradição filos/fica. Nessa !erança de nossos antepassados encontra-se o conte;do e a metodologia do ue podem vir a ser as aulas de filosofia no ensino médio. conte;do sendo os clássicos, como %latão e rist/teles, por e0emplo, e o método sendo o e0erccio de leitura e de interpretação dessas obras. vela ue ora acende-se frente ) escuridão lançada pela pergunta é bem peuena e talvez a luz ue lança mal val!a o esforço de escrever esse breve ensaio. No entanto, defende-se ue esse simples retorno aos clássicos, ) medida ue vir se desenvolvendo, pode ser uma direção segura e vigorosa para encontrar-se um camin!o para o ensino de filosofia. ssim esse ue vos escreve vem procurando fazer, desde ue seu pai despertou-l!e de seu sono e disse# vá ler os clássicosE
i De modo resumido essa ideia consiste na ginástica, para educar o corpo, e na música, para educar o espírito. Cf. Plato, Republic (book II, 37e! in Complete Works/ Plato " Indianapolis, Indiana, #ackett Publis$ing Compan%, &''7. ii ilipe Ceppas, Anotações sobre o ensino da flosofa no Brasil, em iloso)a* ensino m+dio Coordena-o, /abriele Cornelli, 0arcelo Car1al$o e 0árcio Danelon. 2 rasília* 0inist+rio da 4duca-o, 5ecretaria da 4duca-o ásica, 6&. 6&6p.* il. (Cole-o e8plorando o ensino" 1. &9!. iii 0arcelo Car1al$o e 0arli dos 5antos, O EN!NO "A #!$OO#!A NO BRA!$% &R' (ERA)*E, em iloso)a* ensino m+dio Coordena-o, /abriele Cornelli, 0arcelo Car1al$o e 0árcio Danelon. 2 rasília* 0inist+rio da 4duca-o, 5ecretaria da 4duca-o ásica, 6&. 6&6p.* il. (Cole-o e8plorando o ensino" 1. &9!. i1 rasil. :;ei Darc% '.3'9, de 6 de de?embro de &'', @ue estabelece as diretri?es e bases da educa-o nacional. 2 &. ed. 2 rasília * CAmara dos Deputados, 4di-Bes CAmara, 6&9. 9 p. 2 (5+rie legisla-o " n. &3!