A ideia de progresso do conhecimento
CONHECER O CONHECIMENTO Agora, duas palavras sobre o problema do conhecimento. conhecimento. O poeta Eliot dizia “que
conhecimento
perdemos
na
informação
e
que
sabedoria
perdemos
no
Conhecimento?”, querendo dizer com isso que o Conhecimento não é harmonia e
comporta diferentes níveis que se podem combater e contradizer. Conhecer comporta “informação”, ou seja, possibilidade de responder a inc ertezas, mas o conhecimento não se reduz a informações; ele precisa de estruturas teóricas para dar sentido à informações; percebemos, então, que, se tivermos muitas informações e estruturas mentais insuficientes, o excesso de informação mergulha-nos numa “nuvem de desconhecimento”, o que acontece freqüentemente, por exemplo, quando escutamos
rádio ou lemos jornais. Muitas vezes, a concepção de mundo do cidadão do século 17 opôs-se à do homem moderno; aquele tinha limitado estoque de informações sobre o mundo, a vida, o homem; tinha fortes possibilidades de articular essas informações, segundo teorias teológicas, racionalistas, céticas; tinha fortes possibilidades reflexivas porque dispunha de tempo para reler e meditar. (...) Levanta-se uma questão: o excesso de informações obscurece o conhecimento; o excesso de teoria, entretanto, também o obscurece. O que é má teoria? A má doutrina? É aquela que se fecha sobre si mesma porque julga que possui a realidade ou a verdade. (...) Há diferentes dif erentes ordens de conhecimentos (filosóficos, poéticos, científicos) ou um só Conhecimento, uma só ordem verdadeira? Durante séculos, a ordem verdadeira do Conhecimento era a Teologia; hoje, chama-se Ciência; é por isso que toda vontade de monopolizar a Verdade pretende deter a “verdadeira” ciência.
O PROBLEMA DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO É indubitável que o conhecimento científico realizou, a partir do século 17 e ao longo dos séculos 18, 19 e 20, progressos extraordinários, mesmo sem falar – não estou produzindo um catálogo – dos progressos mais recentes em matéria de microfísica, astrofísica ou biologia, com as descobertas da genética, da biologia molecular e da etologia. Esses progressos são, evidentemente, verificados por aplicações técnicas, desde a energia atômica até as manipulações genéticas. (...) A procura de uma grande lei do universo conduziu à genial teoria de Newton e, depois, à não menos genial teoria de Einstein. Hoje, entretanto, parece que essa simplificação atinge um limite: a partícula não é a entidade simples, não há uma fórmula única que detenha a chave do universo; chegamos, assim, aos problemas fundamentais da incerteza, como no caso da microfísica e da cosmologia. Por outro lado, podemos, por método e provisoriamente, isolar um objeto do seu ambiente; mas não é menos importante, por método também, considerar objetos e, sobretudo, seres vivos sistemas abertos que só podem ser definidos ecologicamente, ou seja, em suas interações com o ambiente, que faz parte deles tanto quanto eles fazem parte do ambiente.
(...) O extraordinário é que nos damos conta de que o corte entre ciência e filosofia que se operou a partir do século 17 com a dissociação formulada por Descartes entre o eu pensante, o Ego cogitans, e a coisa material, a Res extensa, cria um problema trágico na ciência: a ciência não se conhece; não dispõe da capacidade auto-reflexiva. (...) Os progressos do Conhecimento não podem ser identificados com a eliminação da ignorância. Estamos numa nuvem de desconhecimento e de incerteza produzida pelo conhecimento; podemos dizer que a produção dessa nuvem é um dos elementos do progresso, desde que o reconheçamos. Edgar Morin
RESUMO:
A noção de progresso comumente aceita é a de crescimento, linear, quantitativo e também qualitativo no sentido de trazer melhorias. Ex., o crescimento econômico, que traz progresso, mas o autor chama atenção para um limiar em que o progresso pode não ser benéfico, pode gerar subprodutos indesejáveis ou estes subprodutos acabam se tornando os produtos primários. Na análise de Morin uma pergunta se faz essencial, por que não consideramos, nas esferas humanas e sociais, a ideia de progresso compartilhada pela própria natureza? Buscamos no princípio entrópico a noção de progresso (evolução natural) do mundo físico, ou seja, o universo evolui, como um todo, seguindo a degeneração (fator qualitativo de atribuição humana), a desordem, embora localmente o contrário possa acontecer. A vida seguem o mesmo caminho, quando segue sua tendência natural a degeneração. Para Morin devemos rever nossa noção de progresso. Propõe então um “Progresso na ideia de Progresso” para sua forma complexa e não comumente aceita,
como linear, simples e irreversível. Para abordar a problemática do conhecimento propõe uma hierarquização entre Sabedoria, Conhecimento e Informação e sendo assim, trabalha essencialmente com a contraposição destes dois últimos termos. Conhecimento é mais que informação, para se atingir o conhecimento é preciso informação, mas não é só isso. É preciso estruturas teóricas para comportar essa informação. Quando possuímos demasiadas informações e uma estrutura que não as suporte nos sentimos perdidos em um mar de informações desencontradas. Muitas vezes sentimos isso ao ler um jornal, por exemplo. Uma análise possível desse contraponto é pela via da contraposição entre o homem do século XVII e o homem do século XX, os primeiros possuíam uma quantidade de informação limitadas a respeito de seu mundo e desta forma podiam articular suas relações para atingir algum conhecimento, o homem do século XX possui uma miríade de informações e uma capacidade limitada de articulação e processamento. Neste ponto eu poderia usar uma frase que venho dizendo muito ultimamente: “Maldita internet que faz que tenhamos a atenção de um esquilo!”, tenho percebid o
particularmente isso em mim, mas não creio que seja o único, este efeito de simultaneidade da internet, essa possibilidade infinita, esse apelo midiático que
recebemos pode dificultar enormemente a capacidade de concentração e atenção (para me concentrar em um texto curto como este está sendo um parto!). Muita informação obscurece o conhecimento, sendo assim, temos no conhecimento a mesma complexidade que temos no progresso. O Problema do conhecimento científico Edgar Morin parte para uma análise do conhecimento particularmente científico, reconhecendo certos avanços teóricos e técnicos que os últimos séculos nos trouxeram neste campo, contudo ele diz que ao ganharmos algumas certezas (científicas) perdemos outras. Sabemos onde nos situar na galáxia, no sistemas solar e na evolução da Terra, mas ganhamos a incerteza do sentido (se existe algum) de tudo isso e suas relações dialéticas com nossa existência.