O ano de 1966 apresenta um crescimento industrial devido ao crédito fácil do ano anterior e à capacidade ociosa acumulada em três anos de estagnação. A agricultura tem um mau desempenho sofrendo uma queda na produção de 3,2%. A política salarial volta a reduzir o salário e a inflação diminui. Outro fator do desempenho da indústria neste ano , foi a alteração da política monetária e creditícia. Apesar da redução de emissão monetária (devido a mudança do financiamento do déficit público), a ação do Banco do Brasil , expandindo os seus empréstimos, evitou que a política monetária restritiva atingisse o crédito ao setor privado. Em 1967 Delfim Netto substitui Campos no comando da economia e se afasta da ortodoxia e abandona o objetivo de acabar com a inflação. A partir daí a moeda e o crédito são expandidos de forma liberal, proporcionando uma recuperação da produção industrial. A agricultura recupera-se obtendo um crescimento de 5,7% ao ano. A política salarial continua reduzindo o salário e a inflação no período apresenta um queda. O ano seguinte, 1968, marca o fim da fase de estabilização. Moeda e crédito continuam se expandindo e a inflação sofre mais um pequeno declínio. CUSTOS DA ESTABILIZAÇÃO
No período do PAEG, criou-se um hiato entre o produto observado e o produto potencial. O caráter regressivo das políticas do plano fica evidenciado pelo número de concordatas e falências por ramo de atividade do período. Os setores mais atingidos foram vestuário, alimentos e construção civil. Os dois primeiros são setores de estruturas menos oligopolizadas, onde predominam pequenas e médias empresas. A indústria de construção civil foi vítima da política fiscal que reduziu as despesas com obras públicas. Como o setor de construção civil emprega grande parte de mão de obra não qualificada, pode-se perceber o caráter regressivo do PAEG. O PAEG E A TEORIA ORTODOXA
A teoria ortodoxa relaciona a causa de inflação com a excessiva expansão monetária, devido ao financiamento do déficit público (o tesouro nacional vende títulos ao BACEN transferindo a este o direito de emitir moeda). A ortodoxia aponta políticas monetária e creditícia restritivas para enxugar o excesso de moeda no mercado. Também seria necessário política fiscal restritiva , que reduz o déficit público e reformula a estrutura de gastos do governo considerada ineficiente e causadores de distorções da economia. Quanto ao balanço de pagamentos, sugere o câmbio “realista” (flexível, pois a intervenção do governo mantinha a taxa de câmbio sobrevalorizada prejudicando exportações) e redução da proteção tarifária à indústria ineficiente. A ortodoxia acredita que o mercado de trabalho é o último a se ajustar às políticas restritivas mencionadas acima. Isto acontece por causa do poder de mercado dos sindicatos e da rigidez das expectativas que mantêm os salários reais acima do nível compatível com o equilíbrio não inflacionário. PAEG não foi, de certa forma, ortodoxo, pois se preocupou com a manutenção das taxas de crescimento e, portanto, com alguma inflação, combatida gradualmente. O diagnóstico da inflação aponta para a incompatibilidade entre as parcelas reivindicadas pelo governo, pelas empresas para investimento e pelos trabalhadores para consumo como causa da inflação (a expansão monetária seria um agente de propagação da inflação dado esta inconsistência da esfera distributiva na economia). O reconhecimento de que existem pressões reais na economia que são inflacionárias que podem ser resolvidas pela contenção da taxa de expansão dos meios de pagamentos fica explícito na política creditícia do plano. A política econômica do PAEG não se restringiu às soluções dadas pela ortodoxia. Procurou-se ativar a bolsa de valores e foram criados bancos de investimento para se estimular a poupança privada. Criou-se o Banco Nacional de Habitação sendo um agente de captação da poupança privada forçada. Em um primeiro momento, esses fundos foram utilizados para absorver os títulos da dívida pública, financiando o déficit público. A instituição da correção monetária (um mecanismo de indexação) permitiu a captação da poupança privada voluntária e a reativação do sistema financeiro. Outra área de ação da política econômica foi o setor externo. Criaram-se e reformularam-se instituições públicas ligadas ao comércio exterior; instituíram-se estímulos fiscais às exportações que culminaram com a indexação da taxa de câmbio (em 68) com o nome de mini desvalorização, na tentativa de manter a paridade do poder de compra entre a moeda doméstica e o dólar. O principal ponto de combate a inflação no PAEG foi a política salarial compatível com a teoria ortodoxa. O processo desinflacionário do PAEG substituiu a negociação salarial por uma fórmula oficial de reajuste, ou seja, usou o poder de repressão sobre a sociedade e principalmente sobre os sindicatos, para se chegar ao objetivo da ortodoxia: solucionar o impasse distributivo através da redução da parcela salarial. Neste ponto o plano de estabilização de 1964 se afasta um pouco da ortodoxia, pois o estado intervém diretamente sobre o impasse distributivo. A ortodoxia utiliza da restrição de liquidez, deixando ao mercado o encargo de selecionar os mais fracos. As políticas monetárias e fiscais restritivas, na realidade, são regressivas, ou seja, seus custos recaem sobre os desempregados e sobre as pequenas e médias empresas incapazes de ter acesso ao crédito racionado. A possibilidade de obter empréstimos externos em moeda estrangeira, deu às empresas estrangeiras e às grandes empresas estatais acesso a uma linha de crédito vedada às pequenas e médias empresas nacionais.
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