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família tradicional de Campinas, descendente de “barões do café”, tinha sido no passado bastante influenciado pela contra-cultura: “Então entrei no Mackenzie, saí de casa, aí com uns 20 anos comecei a fumar maconha... Aí, tal, fui trabalhar em teatro, tinha ido em dois festivais nacionais de teatro, conheci a turma do teatro, vivia no bar, toda noite ia no bar, repetia ano; daí virei comunista e daí o Partido Comunista perdeu, pra quem era do Partido foi um choque, no Mackenzie tinha Comando de Caça aos Comunistas. [...] Até que me formei. Aí também começou, trabalhava, continuava meio hippie à noite, não dava certo, ia dormir 3 h da manhã, levantava 6 h, trabalhava na Shell, casei e daí foi. Mudei, fiquei meio teosofista, fui, passei uns tempos em São Tomé das Letras, também aprontei por lá [...]. Nessa época eu cheguei a ser internado internado duas vezes no sanatório por droga. Mas droga era maconha e ácido lisérgico, as outras eu não tomava. E cerveja toda noite. [...] Quem me integrou a cabeça foi o Pietro Ubaldi, através do monismo.” 80
Daniel e Inês beberam o chá e logo continuaram a freqüentar as sessões do Samaúma. No ano seguinte, 1977, Joaquim de Andrade Neto recebe da UDV licença para beber o Vegetal com algumas pessoas de sua família em Campinas. Juntam-se a eles Daniel e Inês. Inês. Mas eles logo têm de voltar ao Samaúma em São Paulo, porque no mesmo ano Joaquim é suspenso e afastado da comunhão do Vegetal 81. Assim, Inês e Daniel permanecem participando do Samaúma até 1980. Continuando a descrição da trajetória do Núcleo Samaúma, como já afirmei acima, em novembro de 1976 a distribuição de Vegetal no núcleo foi suspensa. No ano seguinte, um outro discípulo paulista, Hélio Rodrigues Ferreira, foi a Porto Velho e voltou com uma quantidade de chá e a autorização para distribuí-lo àqueles que desejassem continuar na UDV. No entanto, em 1978, “também o Hélio foi punido”, como disse a Conselheira Inês. Inês. Aí a responsabilidade pela distribuição foi passada ao então Conselheiro Mário Piacentini, 80
Entrevista de Daniel , em Campinas, 2 de outubro de 1998. Pouco depois, Joaquim de Andrade Neto começa a distribuir o Vegetal por conta própria e em 1981 funda uma dissidência da UDV, o Centro Espiritual Beneficente União do Vegetal, com sede em Campinas. Esta entidade, que conta com apenas um núcleo, em Campinas, e uma fazenda com plantação de mariri e chacrona no Mato-Grosso, tem ocupado significativo espaço na mídia e se apresenta como a União do Vegetal . No entanto, no momento de seu desligamento do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal (CEBUDV), Andrade Neto não era mestre ou conselheiro, nem ao menos havia recebido os ensinamentos do Corpo Instrutivo. Assim, a doutrina exposta nos livros de sua entidade distingue-se sobremaneira dos ensinamentos de José Gabriel da Costa tal como o CEBUDV os transmite. O CEBUDV tem reagido com a instauração de um processo contra a entidade dirigida por Joaquim de Andrade Neto, por uso indevido da expressão “União do Vegetal”, registrada no INPI. Vide no anexo 1 a lista das dissidências do CEBUDV de que pude ter notícia.
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