Revista da Loja Quetzalcoatl, Ordo Templi Orientis
CAIM E A MARCA DA MORTE O NOv OvO O AeO eON N prOpiciA um NOvO eNteNdimeNtO sObre A mOrte, O sAcrifíciO e A AliANçA eNtre deu euss e O HOmem. pág. 6
Índice Editorial
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Notícias
pág. 3
Metempsicose, Reencarnação sem Lágrimas
pág. 4
Caim e a Marca da Morte
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Morte, Sandman e o Novo Aeon
pág. 10
Estudos
Ética Thelêmica pág. 13 Biblioteca Thelêmica
Liber CVI pág. 15 Hooráculo
pág. 16
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editorial
notÍcias
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Suprema Festa é a celebração Thelemica da morte de um individuo. Sua designação como suprema deriva do entendimento que a Morte é a Coroação da Conquista da Vida e a união da maniestação do Thelemita com o corpo da Deusa, Nuit. ‘(...) uma esta para a vida e uma esta ainda maior para a morte!’ Em Thelema, a vida é considerada um continuum, sendo a Morte uma parte integral do todo. A vida mortal cessa para que a vida mortal possa continuar. O Sagrado Anjo Guardião no entanto é imortal, tal como o Sol não se põe nem se eleva a cada manhã; Ele está sempre brilhante, sempre irradiando luz e vida.
Nasce o Acampamento Sub Lege Libertas, em São Paulo É com muita alegria que anunciamos que, no dia 3 de julho de 2012 e.v., nasceu um novo Corpo Local da Ordo Templi Orientis em terras brasileiras: o Acampamento Sub Lege Libertas, atuando no estado de São Paulo. O Acampamento, sob maestria de Frater Baphomet 888, já está em uncionamento, congregando Irmãos, Irmãs e realizando instruções. Residentes em São Paulo que tenham interesse em conhecer o trabalho da O.T.O. podem entrar em contato com o Sub Lege Liber tas através do e-mail:
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A Morte é a companheira do buscador que se perdeu em seu caminho.; é a iniciadora dos mistérios da imortalidade. Não deve ser temida, mas bem vinda como uma aliada e respeitada como uma proessora que um dia nos proporcionará a oportunidade de olharmos Nossa Senhora das Estrelas, cara a cara.
A Loja Quetzalcoatl deseja sucesso para todas as Irmãs, Irmãos e thelemitas paulistas, que agora dispõem deste oco de trabalho e inspiração!
Como poderia ser de outro modo, visto que nossa morte se inicia no mesmo momento de nossa maniestação no plano da matéria?
Neste dia 22 de setembro estamos celebrando o Equinócio de Primavera, marcando o momento em que o Sol cruza o plano da Linha do Equador, iluminando a terra em sua exata metade, tendo dia e noite a mesma duração.
‘Que possa ser garantido o cumprimento de suas verdadeiras Vontades para aqueles de cujos olhos o véu da vida caiu; quer isto seja a absorção no Innito ou a união com seus escolhidos e preeridos, ou permanecer em contemplação, ou estar em paz, ou alcançar o trabalho e heroísmo da encarnação neste planeta ou em outro, ou em qualquer Estrela, ou outro lugar, que lhes seja garantida a realização das suas Vontades; sim, a realização das suas Vontades.’
Equinócio de Primavera
Assim como Rá a cada manhã se levanta trazendo-nos os beijos do nascer do Sol, a vida volta a se maniestar com o raiar da Primavera. Que esta seja uma estação de orça e renascimento para todos!.
Celebração da primeira noite do Profeta e sua Noiva No dia 12 de agosto oi celebrada a Primeira noite do Proeta e sua Noiva: a celebração das núpcias de Crowley com Ouarda, a Vidente. Um brinde a Aleister Crowley e a Rose Edith Kelly, que propiciaram a revelação do Livro da Lei!
Novos Minervais No dia 1 de setembro oram iniciados, na Loja Quetzalcoatl, os Novos Minervais da Ordo Templi Orientis. Sejam bem-vindos! Que esse seja o início de uma caminhada de Sucesso.
Frater apollôn Hekatos Mestre da Loja QuetzaLcoatL - rio de janeiro
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r eencarnação sem l ágrimas
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schopenhauer foi um dos poucos que compreendeu a noção oriental de reencarnação, distanciando - a do sentimentalismo do ocidente. “Eu confEsso a minha vida una, individual E EtErna, quE foi, é, E sErá .” - libEr Xv.
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apelo midiático a determinadas correntes de pensamento espiritual tem estado em voga ultimamente, seja em ilmes, livros ou seriados televisivos. A perspectiva da reencarnação (sempre presente nos meios esotéricos), tem sido lida, vista e pensada pelas massas da população.
humano, em sua tríplice composição (essência, mente e sentidos), só é capaz de entender determinados conceitos (sejam, religiosos, ilosóicos, éticos ou morais) se viver estes conceitos. O Oriente, desde seu remotíssimo surgimento, viveu a ideia de reencarnação, isto muito antes das siglas A.C instituírem-se como calendário oicial. Schopenhauer talvez tenha sido um dos poucos que captou a noção oriental de metempsicose e tenha escrito de maneira prounda e sem pieguice sobre o tema “reencarnação”.
A ideia de “reencarnação” evidentemente não é nova, porém, no Ocidente, ela tomou contornos sentimentais um tanto quanto marcantes. A noção de pecado original e de expiação do pecado é uma ideia sempre presente e, como toda ideologia, os conceitos e princípios próprios são sempre racionalmente bem articulados.
Para Schopenhauer, a vida começaria antes do nascimento e, portanto, não poderia acabar com a morte. A vida em um corpo ísico seria, dentro de todo o espetáculo que é o universo, um meio através do qual a orça motriz se maniesta e exterioriza, e essa orça estaria presente no ser humano e seria a sua vontade.
O Hinduísmo, assim como o Budismo, encaram a possibilidade de o ser humano ao longo do tempo viver e morrer várias vezes com o seu espírito reencarnando em todas essas experiências de vida ísica e carnal.
A vontade seria, consequentemente, indestrutível e nem a morte (um dos maiores, se não o maior temor do Ocidente) poderia pôr im a ela. São de Schopenhauer estas palavras: “ ... Só a vontade, do qual o corpo é a obra, ou antes a imagem, é indestrutível. Distinção rigorosa entre vontade e conhecimento, com a supremacia da primeira: eis o caráter undamental de minha ilosoia ... ” .
Neste ciclo de vidas, o dilema “espírito e matéria” está sempre presente e muitas vezes ele se desenvolve de orma antagônica, sendo os sentidos e estímulos carnais balizas de que o espírito está ou não em atraso com a sua evolução. O Ocidente, sempre pretensioso em compreender o Oriente, importou de lá a ideia de reencarnação. Porém, o ser
O cérebro e todo o corpo ísico seriam uma maneira da vontade se maniestar, sendo o impulso sexual a maniestação mais latente da vontade, enquanto princípio indestrutível do ser humano. Não seria coincidência, portanto, que as re-
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ligiões de um modo geral mencionem, aberta ou veladamente, o sexo. Com a morte, o que se dissiparia seria apenas a individualidade aparente ormulada pela limitação da atividade racional produzida pelo cérebro. Porém, a individualidade pré-nascimento identiicada no ser humano com a vontade ou vontade de vida, cujo exemplo mais concreto e tangível a todos seria a orça do impulso sexual, não deixaria de existir com a morte. A vida, de carne e osso, seria apenas uma erramenta para este princípio eterno (a vontade) se maniestar, independente de julgamentos morais (que por vezes são temporais). Assim, um homem ou uma mulher pode, por sua vontade (aquilo de principal no seu ser) viver e morrer como se vive e morre aos olhos mundanos, porém sua vontade seria sempre a mesma, tendo em vista que para ela pouco importa a vida e a mor te. “A morte é, assim a perda de uma individualidade e a obtenção de uma outra; é, então, para o homem uma mudança de individualidade, operada sob a direção exclusiva de sua própria vontade.” , Schopenhauer, (Da Morte).
Neste movimento de vontade pré-nascimento, nascimento, vida e morte, e (re) nascimento, todos sob a égide da vontade, critérios como, pecado original, ou a carne como empecilho a “evolução” “espiritual”, normas morais ou convenções sociais, pouco importam diante do que existia antes da vida cerebral, porque são produtos da raz ão, da “excreção cerebral”.
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caim e a ma Frater eros
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ca da morte
M a t é r i a d e C a p a
o antigo mito de c aim e a bel contém uma fórmula iniciática
atemporal que abrange todos esses conceitos
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Antigo Testamento oi um hino de vitória da visão semita e do patriarcado sobre mundos mais antigos. Ainda assim, ecos presentes no próprio Gênesis não deixam dúvidas que heranças simbólicas e emocionais perduraram desde o mundo ancestral, inltrando-se nos detalhes da mitologia hebraica para, estranhamente, preservar os traços de uma era de mitos idílicos, agrícolas e sensuais que caíram na marginalidade. O pesquisador Joseph Campbell, em seu livro “As Máscaras de Deus – Mitologia Ocidental”, estuda a proximidade entre o Jardim do Éden e o Jardim da “Árvore do Mundo” suméria que, entre outras semelhanças, azia jorrar quatro rios para os cantos da terra: “Reconhecemos o antigo jardim sumério, mas agora com duas árvores (nota: Árvore da Vida e do Conhecimento do Bem e do Mal) em vez de uma, cujo cuidado e cultivo caram sob responsabilidade do homem”. E ainda: “A cena idílica é reminiscência dos tempos de Enkidu entre os animais, antes de ter sido seduzido pela prostituta do templo, quando os animais ugiram dele, e a mulher, dando-lhe um pano para cobrir a nudez, levou-o para a cidade de Uruk onde, anal, ele morreu”. Além disso, a Árvore do Jardim sumério tinha a qualidade de uma axis mundi (eixo do mundo), aquele lugar onde tudo se equilibra, onde os opostos se conciliam, e de cujos rutos o homem poderia obter a imortalidade. As semelhanças entre esta e a Árvore da Vida hebraica não são coincidência. Fica evidente um padrão de semelhanças mitológicas presente no Antigo Testamento e também em outras estórias da criação do mundo, comuns também nas culturas dos trópicos, enumerando registros na Árica, Índia, Sudeste Asiático, Peru e mesmo no Brasil indígena: há uma terra idílica; a presença de uma serpente; a importância da mulher no enredo da estória; o assassinato da serpente, da mulher ou de ambas; o surgimento de plantas comestíveis ou de uma árvore sagrada a partir do corpo da vítima e, por m, o surgimento da morte e da procriação nessa mesma época, marcando o m da era mitológica e o início do tempo humano. O grande tempero hebraico presente no Gênesis, e que o dierencia de outros mitos, é que ele se tornou carregado de uma concepção catastróca de “Queda”, enquanto as demais estórias não são críticas, mas simples armações da vida. De todo modo, Campbell analisa: “A origem última do Éden bíblico, portanto, não pode ter sido uma mitologia do deserto – isto é, um mito hebraico primitivo – mas sim a antiga mitologia agrícola dos povos da terra”. Portanto, os mistérios do mito hebraico velam em suas raízes uma visão de mundo anterior à era judaica.
Seguindo essa linha de raciocínio, há uma passagem bíblica que intriga pela vastidão de interpretações dentro do seu padrão mitológico, bem como pela quantidade de símbolos que oculta por trás de uma estória trivial. Este é o mito de Caim e Abel. O assassinato de Abel pelas mãos do irmão Caim teria todas as características de um sacriício que desencadeia a própria Criação ou o início da era humana (como Marduk, que cria a humanidade com o sangue de Kingu, esposo de Tiamat). Mas, no texto do Antigo Testamento, esse evento sucede a era mitológica, o que, talvez, já possa gerar suspeita de um recorte bíblico mal empregado. Além disso, a princípio, o conto parece apenas uma lição de moral sobre inve ja e ratricídio. Mas, dissimulada por trás da aparente lição, pode-se encontrar uma importante órmula iniciática que, assim como o Jardim do Éden, é mais antiga e excede a Bíblia, remontando a uma noção muito especial de sacriício e morte, conceitos tratados como tabus delicados no Aeon de Osíris, mas que se redimensionam sob a luz do Novo Aeon. O mito gira em torno de que órmula seria eciente para estabelecer um contato e aliança entre o homem e Deus. Caim, o agricultor, oerece o ruto do trabalho do solo a Jeová. Por sua vez, Abel, o pastor de ovelhas, oereceu as “primícias e a gordura de seu rebanho”. Jeová preeriu as oerendas do irmão mais novo, Abel. Caim se tornou abatido e irritadiço. Por m, como todos sabem, Caim mata o seu irmão. Após isso, Jeová se maniesta: “Que zeste? Ouço o sangue de teu irmão, do solo, clamar por mim”. Então Jeová o amaldiçoa: coloca uma marca única sobre a ronte de Caim, que o distingue dos outros homens, tornando-o um “ugitivo errante” entre eles. Nenhum homem também poderia tocá-lo ou eri-lo, para que assim ele pudesse viver sob a sombra dessa distinção divina. Exila-se, então, na terra de Nod (“Errante”), a leste do Éden. Vamos analisar alguns pontos interessantes. Do ponto de vista social e geográco, o conto é apenas um elogio do povo hebreu. Os hebreus eram pastores (Abel) e os antigos sumérios, agricultores (Caim), por muito tempo oram os preeridos dos deuses, inclusive da amorosa Ishtar, que chegava a desposá-los. O mito traz então uma guinada da atenção divina, vitimando o pastor hebreu contra o invejoso assassino agricultor. No entanto, analisando do ponto de vista esotérico, o mito se torna bem mais abrangente. Abel era o irmão que realizava hecatombes, isto é, o sacriício de sangue. Era ele a quem Deus ouvia. Caim só oi ouvido por Deus no momento em que ele, também, ez um sacriício de sangue: o sacriício do próprio irmão. “Ouço o sangue de teu irmão, do solo, clamar por mim”. O sangue oi o que atraiu a presença divina. E, se um irmão é “sangue do meu sangue”, o assassinato do irmão é, de certo modo, um assassinato de si mesmo, um derramamento do sangue do próprio Caim.
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a p a C e d a i r é t a M
Pela órmula indicada no mito, através dessa dinâmica de morte é que se ganha a marca da distinção de Deus. É uma marca pesada, acilmente tida como uma maldição. A marca de Caim é, na verdade, a marca da Iniciação. Esta marca, gravada sobre sua ronte, é muito acilmente análoga à serpente Uraeus na coroa do araó, símbolo de sua invencibilidade e imortalidade. Essa serpente é a mesma Kundalini desperta que coroa o Iniciado. Essa é também a “marca da Besta”, tão anaticamente demonizada e pouco compreendida. A palavra hebraica “Nechesch”, que se reere a “Serpente”, pela Gematria tem o mesmo valor – 358 – de “Messiah”, indicando uma essência única para ambos os conceitos. O Messias tem seu poder na unção pela Serpente, que, anal, é uma Besta. Voltando a Caim e sua jornada, vemos que ele se torna o Eremita. Por algum tempo ele caminha, intocável, entre os homens. “O Senhor, porém, disse-lhe: Portanto, qualquer que matar a Caim, sete vezes será castigado. E pôs o Senhor um sinal em Caim, para que o não erisse qualquer que o achasse.” (Gênesis 4:15). Ironicamente, partes do “castigo” divino parecem muito mais um prêmio.
vida é um ato de amor: um ato de superação, de transcendência e entrega. Assim, redimensionamos aquele antigo peso da morte, outrora tratado como causa de dor, restrição e luto. A morte é a coroa de tudo. Toda razão de viver que inventemos leva em conta o evento derradeiro da morte. A morte é o que dá sentido à vida. Toda a vida desagua nela, como rios num grande mar. O psicólogo Carl G. Jung nos dá mais algumas pistas sobre a natureza da morte e do sacriício, em seu livro “O símbolo de transormação na missa”:
Sobre o mesmo assunto, Crowley escreve no Liber 418 (A Visão e a Voz), Aethyr ARN:
(...) De ato, quando tomo consciência e concordo que me dou, entrego-me sem reservas e não quero receber nenhuma paga em troca; então sacriquei, realmente, minha pretensão, isto é, uma parte de mim mesmo. (...) O ato de dar sem que se tenha recebido qualquer retribuição é visto e sentido como uma perda. (...) Mas como ele representa a minha pessoa, eu me aniquilarei nele, isto é, entregarei-me sem nada esperar em troca.
“O derramamento de sangue é necessário, pois Deus não ouviu os lhos de Eva até que o sangue osse derramado. E isto é religião externa; mas Caim não alou a Deus nem recebeu a marca da iniciação sobre sua ronte, de modo que osse evitado por todos os homens, até que tivesse derramado sangue. E este sangue oi o sangue de seu irmão. Este é um mistério da sexta chave do Tarô, que não deve ser chamada de Os Amantes, mas sim Os Irmãos.” Comparemos, também, a cena protagonizada por Caim com algumas instruções do Liber Cheth vel Abiegnus: “Agora, portanto, para que tu possas realizar este ritual do Santo Graal, livra–te de todos os teus bens” e “Tu tens amor; arranca tua mãe do teu coração e cospe na ace de teu pai. Que teu pé pisoteie a barriga de tua mulher, e que o bebê no seio dela seja a presa de cachorros e abutres” e “(...) Assim, que tu consigas o Sacramento do Graal na Capela das Abominações”. Não se poupa pai, mãe, lho ou irmão: a exigência desse sacramento é hecatombe absoluta. Trata-se da entrega do próprio coração, de tudo que achávamos possuir e ser. Mas como, em Thelema, conviver com um conceito que oi tão carregado de penitência e cristandade como o sacriício? Uma pista disso está tanto na própria etimologia da palavra “sacriício” – que é tão somente “tornar sagrado” –, como na contemplação thelêmica de que nada, de ato, é perdido através do sacriício. Toda dor é resistência criada pelo l t a sentimento de posse. O sacriício, para essa nova visão, é o gozo da liber o c l a dade. Não há realmente uma expiação, pois não há pecado, nem mes z t e u mo uma redenção, anal não há nada para ser redimido. Tudo é como Q a j o sempre oi. Crowley, no Livro de Thoth, escreve, na descrição da carta “O L — Pendurado”: “Redenção é uma palavra ruim; ela implica num débito”. A s i t n e culpa advinda da sensação de um débito é ulminada pelo êxtase da i r O i l consciência da natureza divina de cada um de nós.
p m e T o d r Da mesma orma, a morte nos é um êxtase, e morrer várias vezes em O
“Torna-se um sacriício [a oerenda] quando se renuncia ao objetivo do do ut des (dou para que me dês). Se quisermos que aquilo que vamos dar seja um sacriício, é preciso que tal coisa seja totalmente entregue, como se tivesse sido aniquilada. Somente a partir desse momento é que existe a possibilidade da pretensão egoística ter sido eliminada. Se o pão e o vinho ossem doados sem que houvesse consciência de uma pretensão egoística, a inconsciência não constituiria uma desculpa mas, pelo contrário, uma garantia de que existe uma pretensão secreta.
Por outro lado, vista sob um ângulo diverso, essa perda proposital não é real, mas representa um lucro, pois a capacidade de autossacriício nos mostra que nos possuímos a nós mesmos. Portanto, aquele que se sacrica, isto é, que pode renunciar às suas pretensões, deve possuí-las ou, dito em outras palavras, deve ter consciência de suas pretensões. Isto pressu põe um autoconhecimento, sem o qual não se toma consciência dessas pretensões. (...) Mediante o sacriício, mostramos que nos possuímos a nós mesmos, pois o ato sacricial não é um deixar-se assumir, mas uma renúncia consciente e premeditada, com a qual provamos que somos capa zes de dispor de nós mesmos, isto é, do nosso eu. Isto az com que o meu eu se torne objeto do meu agir moral, pois “eu” decido, movido por uma instância que está acima da minha individualidade e de meu ego.”
Assim, a morte se apresenta para cada um de nós como um paradoxo de entrega e conquista também da vida, entrega e conquista do Si Mesmo. Perdendo tudo, realizamos que não havia nada a perder. Logo, nos permitimos conquistar tudo. Além disso, se o sacricante e o sacricado são o mesmo, temos mais um indício para entender que Caim e Abel são um. Existem também outros dois rivais cujo duelo mortal, na verdade, apenas esconde a harmonia entre eles: são os egípcios Horus e Set. Joseph Campbell nos explica sobre o “Segredo dos Dois Parceiros”, em seu volume sobre Mitologia Oriental: “(...) nas chancelas do sétimo e último araó dessa dinastia, Khasekhemui, os dois antagonistas, Horus, o herói, e Set, o vilão da história, aparecem lado a lado, juntos em condição de igualdade, enquanto o próprio monarca é denominado ‘a maniestação do poder dual no qual os deuses estão em paz’”. Ele ainda conclui: “O nome do Testamento, ‘o Segredo dos Dois Parceiros’, era
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então uma reerência ao entendimento secreto dos dois deuses que, embora pareçam inimigos implacáveis, são uma única mente atrás dos bastidores. (...) Horus e Set estão sempre em confito, enquanto na esera da eternidade, por trás do véu do tempo e do espaço, onde não há dualidade, eles estão unidos; a morte e a vida são uma; tudo é paz”. Cada transormação desencadeada pela morte sempre será sentida como um misto de agonia e libertação, putreação e renovação, m e recomeço. A morte é o método supremo de Iniciação, do retransormar de Si Mesmo ou, mais precisamente, de ver novas ases desse Si Mesmo que sempre oi, é e será. Também para a Alquimia medieval, o símbolo de Caim era um emblema da Putreactio, da ase saturnina da decomposição da matéria, que desencadeia sua espiritualização. A morte é experimentada como uma crise, ou um término que é um ponto de reviravolta. Ou seja, eito serpente que muda de escama, a morte põe a consciência em movimento a partir de cada uma de suas crises, renovando-a e avançando no caminho da Iniciação. Todos que estão no caminho iniciático sabem que suas curvas são eitas de delícias e desilusões: “Então cada ganho será um novo sacramento, e não te corromperá; tu estejarás com o libertino na praça de mercado, e virgens atirarão rosas sobre ti, e mercadores curvarão seus joelhos e te trarão ouro e especiarias. Também jovens meninos derramarão vinhos maravilhosos para ti, e os cantores e dançarinos cantarão e dançarão para ti”. “Porém, não deves tu estar ali, pois tu deves ser esquecido, pó perdido no pó.” (Liber Cheth, vers. 14 – 15). Parte da sina de Caim também lembra exatamente a “Visão da Dor”, que é a experiência espiritual reerente à Sera Binah e ao grau iniciático dela, o de Mestre do Templo. E essa consecução não descreve apenas a experiência de morte, mas da Grande Morte, ou a conclusão da travessia do Abismo. Dentre os ardos da experiência de Caim, Deus sentencia: “Agora, és maldito e expulso do solo értil que abriu a boca para receber o sangue de teu irmão. Ainda que cultives o solo, ele não te dará mais seu produto” (Gênesis 4:11–12). A chave aqui parece ser que o solo értil não dará mais seu produto especicamente a Caim, a pessoa que outrora o semeou. Anal, Caim entregou tudo – nada mais pertence a ele. Isso lembra o postulado de Karma Yoga de não nos identicarmos com os rutos de nosso próprio trabalho. Diante disso, velada por trás da sensação de perda absoluta, encontra-se a liberdade do trabalho sem ânsia de resultado. Esse é o método de trabalho aplicado no “Jardim de Nemo”, o jardim do Mestre do Templo, ou Ninguém, o nenhum-homem que, por meio de sua Grande Morte, tou a ace de Deus. No Liber 418, Aethyr ZIM, lemos: “Eu pergunto a ele: para que m este jardim é preparado? E ele disse: Primeiramente pela beleza e deleite dele mesmo; depois, porque está escrito, ‘E Tetragrammaton Elohim plantou um jardim ao leste do Éden’. E, nalmente, porque apesar de cada for originar uma dama, haverá uma for que irá originar uma criança masculina. E seu nome será NEMO, quando ele contemplar a ace de meu Pai. E aquele que cuida do jardim não busca pela planta singular que será NEMO. Ele não az nada além de cuidar do jardim”.
Esse trecho também coincide com a nossa estória. Primeiramente, Caim, como Nemo, apenas cuidará da terra sem se preocupar com o resultado de seu trabalho. É uma atitude análoga ao taoísta Wu-Wei (possivelmente traduzido como “ação sem ação”), aquele azer sem atrito, sem esorço ou avidez, alinhado com a natureza fuida das coisas. Em segundo lugar, do mesmo modo que Tetragrammaton Elohim – que é o nome divino de Binah – plantou um jardim ao leste do Éden, o exílio de Caim é exatamente ao leste do Éden, na terra de Nod. Por último, a alusão mais obscura está na criança masculina, uma espécie de varão primogênito, que era o caso do próprio Caim.
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Pode-se encontrar uma pista do signicado dessa criança no Liber ABA (Livro 4), Cap. XII: “Para os trabalhos espirituais mais elevados, a pessoa precisa escolher devidamente aquela vítima que contêm a maior e mais pura orça. Uma criança masculina de pereita inocência e inteligência é a vítima mais adequada e satisatória”. Nas notas editoriais, obtemos a seguinte análise por Soror I.W.E.: “É o sacriício da própria espiritualidade. E a inteligência e inocência da criança masculina são o pereito entendimento do Magista, sua própria meta, sem ânsia de resultado. E masculino ele precisa ser, porque o que ele sacrica não é seu sangue material, mas seu poder criativo”. Novamente em Liber 418 (A Visão e a Voz), Aethyr ARN, vemos o procedimento dessa morte–espiritualização do poder criativo: “No meio da carta está Caim; em sua mão direita está o martelo de Thor, com o qual ele assassinara seu irmão, e está todo tingido de seu sangue. Sua mão esquerda, ele mantém aberta como um sinal de inocência”. Caim está tingido de sangue ao modo de uma virgem que acabou de ser deforada – ou, mais precisamente, ao modo de seu consorte, que a deforou. Não à toa, um dos signicados de Qayin, em hebraico, é “lança”. A relação da criança masculina se torna então mais clara. Não seria esta a lança do Sacerdote, que é o seu phallus, ou poder criativo? O derramamento de sangue é o sacriício da virgindade arquetípica, que ele realiza, ainda assim, conservando o “sinal de inocência”, isto é, sua pureza, seu reto propósito espiritual. Esse deforar parece tanto o penetrar do Adepto na Grande Noite, como também a penetração de Pan – o Todo – no Iniciado, realizando as Bodas Finais – e mortais – entre o Universo e o Adepto. Como o phallus direcionado, o Iniciado, enquanto homem, penetra o Mistério. Assim atua a lança de Qayin. No instante seguinte, ele se torna, enquanto mulher, o próprio Mistério. Aqui, parece importar pouco se Caim e Abel são Irmãos, ou se são Amantes, ou se são o mesmo, ou se são Nenhum. Eles são a dualidade essencial, que se completa exatamente mediante essa morte que, sendo uma entrega e uma união, é uma orma de casamento. A morte, portanto, deixa de ser vista com luto e passa a ser uma celebração de núpcias: o encontro entre o mortal e o innito. E esse casamento, por m, espelha a relação entre Nuit e Hadit. “Portanto, a Hadit e a Nuit seja a Glória no Fim e no Início; sim, no Fim e no Início”. (Liber Cheth, vers. 22). Celebremos essa alegria.
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a p a C e d a i r é t a M
morte Frater Kin-Fo
sandman e o novo aeon r eflexos de thelema no universo pop da série de quadrinhos s andman, de neil g aiman
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que é a mor te? Talvez a denição mais simples e direta de morte, independente de crenças ou dogmas religiosos, é que seja ela o cessar da vida. Ponto.
l t a o c l a z t e u Q a j o L — s i t n e i r O i l p m e T o d r O
Desde seu surgimento no planeta, o ser humano se deparou com o acontecimento da morte. Porém ao contrário do que o homem moderno costuma pensar, a morte e o cessar da vida nem sempre oram verdades absolutas. Alguns dizem que morte é a única certeza que se pode ter na vida, mas nem sempre oi assim. Estudos eitos com cadáveres e múmias encontrados ao redor do planeta mostram que no passado o deunto não era visto como um morto, mas como um ser humano que “por um acaso” não está se mexendo mais. Acredita-se que oi por volta de 50 mil anos atrás que o ser humano passou a racionalizar a ideia da morte, e o seu conceito tomou orma. Alguns dos corpos datados dessa época mostram uma disposição peculiar e cercada de restos de pólen, como se envolto por fores no momento de seu alecimento. Um uneral e não um mero abandonar do corpo. Séculos se passaram e a morte se personicou. Na antiga Grécia ela
passou a ser vista sob um duplo aspecto, sendo a passagem personicada por Thanatos, e o estado por Hades. O grego antigo era descrente para com a vida após ser levado por Thanatos. Os inernos eram lugares pálidos e apenas os privilegiados pelos deuses poderiam aguardar algo de proveitoso, com uma chance de pós-vida nos Campos Elíseos. Entre os povos nórdicos a esperança dos guerreiros era a de alecer em batalha e ser levado por Grimmir (um dos aspectos de Odin) e as Valkírias para Valhalla. Os bretões contavam a história de Ankou, o esqueleto que com seu manto protegia e velava pelos mortos, ajudando-os em sua caminhada rumo ao além. Ambos os personagens deram origem e nomearam o Grim Reaper, o ceiador, cuja imagem caracterizou a morte durante muitos anos na Europa, sendo adotado por diversas culturas. Às vezes a pé, outras a cavalo. Sempre portando um manto negro com uma aada oice na mão, pronta para cortar o tênue o da vida, o Grim Reaper rondou por séculos o imaginário europeu e revelando uma ragilidade da crença cristã na promessa da vida eterna após a morte. No mundo literário, a presença do ceiador oi marcante, até que os pri-
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meiros questionamentos surgiram no século XIX sobre o quão terrível era sua natureza. Pouco a pouco o medo da morte se esvaiu, até que o século XX, quando o inglês Neil Gaiman revolucionou a maneira de pensar a morte dentro no universo pop.
“Sonho dos Pérpétuos... Ah, este é um enigma. Sonho acumula nomes para si da mesma orma que outros azem amigos, mas são poucos os que ele considera amigos. Se há alguém de quem é mais próximo, é de sua irmã mais velha, que vê apenas raramente. Há muito tempo , ele escutou num sonho que a cada século Morte assume um corpo mortal por um dia, para
Neil Gaiman começou sua carreira no mundo do jornalismo, de onde pouco a pouco buscou seu caminho em meio aos ramos literários, até chegar aos quadrinhos na década de 80. Foram diversos trabalhos até 1988, quando Gaiman lançou uma série que mudaria para sempre os ramos de como os Comics seriam vistos pelo público em geral. Essa série se chamava Sandman.
compreender melhor as vidas que ceia e provar o sabor amargo da mortalidade: este é o preço por ser a divisora que separada os vivos de tudo o que lhes antecedeu e tudo o que virá depois deles. Sonho pensa muito nessa história, mas nunca perguntou a verdade a sua irmã. Talvez tema receber uma resposta”.
A r t i g o
Já a morte, Gaiman se limitou a descrever como: “E há Morte” . Sandman era um personagem antigo da editora DC Comics, que conseguiu um sucesso relativo na década de 70. A história era centrada no personagem Wesley Dodds, um milionário que combatia o crime durante a noite em sua cidade, usando uma pistola que colocava os bandidos para dormir. Com o tempo o personagem acabou ouscado pelo enômeno Batman, indo direto para a gaveta. Ao ser contratado, Gaiman recebeu a diícil missão de resgatar e atualizar o personagem. Karen Berger, o editor da editora, chegou a dizer que o autor tinha liberdade artística para eetuar as modicações que achasse necessárias. Gaiman então usou e abusou da liberdade artística para alçar o personagem para níveis nunca antes pensados. De um milionário vingador, Sandman se tornou o Sonho. Não um deus, não uma ideia, mas uma representação antropomórca do ato de Sonhar. Sandman também ganhou uma amília de representações antropomórcas de grandes momentos da vida humana que se reconhecem como irmãos. Destino, Morte, Sonho, Desejo, Desespero, Destruição e Delírio. Nessa ordem os Perpétuos apareceram, mas não necessariamente nessa ordem eles se vão. Cada um deles possui sua missão e característica. Destino é uma criatura espectral que vive em seu jardim longe mesmo dos demais Perpétuos. Sonho é uma criatura pálida, magra, introspectiva e com tendência a grandes paixões e maiores desilusões. Desejo é andrógino e seu reino é seu corpo. Desespero é pequena, silenciosa e acinzentada. Destruição é orte e belo. Delírio era Deleite, até que a grande verdade a ez perder a sanidade e aceitar sua nova natureza. Já a morte... Neil Gaiman jogou ora a imagem do ceiador e trouxe uma nova morte para as páginas de Sandman. A morte de Neil Gaiman é eminina, jovial, com longos cabelos negros, uma calça jeans justa e uma camisa casual. Cada personagem dos perpétuos possui balões de texto com ontes características, exceto a morte, cuja ala é como a de qualquer outro mortal. Na Grécia antiga, o deus Thanatos era irmão de Hipnos, o deus do sono – assim como em Sandman Morte é a irmã mais próxima de Sonho. No arco de histórias chamado Estação das Brumas, Gaiman descreveu o Sonho da seguinte maneira:
Em outra história, dessa vez com o peculiar nome de Morte, o Alto Preço Da Vida, o jovem Sexton está prestes a se suicidar em um lixão, quando Morte aparece na última e o salva (sim, a morte salva o rapaz). Ele a questiona sobre o que ela estava azendo no lixão e ela responde um simples “respirando”. O jovem suicida não compreende o prazer que ela sente no ato de respirar. Pouco tempo depois surge um singular dialogo: Morte comendo uma maçã: Não são deliciosas? Quer dizer, que sabor!
E a textura... e quando a gente mastiga, é meio crocante, e o suco enche a boca... não é demais? Sexton intrigado: É só uma maçã. Não tem nada demais nisso. Morte: Que nada. É simplesmente demais!
Mais do que o mortal, que se vê amortecido pelo cotidiano da realidade, Morte observa e se regozija com os mínimos prazeres da vida. Nessa história, Morte se vê encarnada como Didi, um aspecto temporário que a “ceiadora” assume a cada século para que ela possa compreender a vida e os homens. Mesmo sendo o “m” da vida, Morte a celebra. “Uma esta para a vida e uma esta ainda maior para a morte!” (Liber AL II:41). Uma característica marcante do Aeon de Osíris era a morte não morrida. No antigo testamento, temos Elias e Enoc que oram arrebatados pelo divino. Cristo ressuscitou com seu corpo e ascendeu aos céus. Krishna ao nal da batalha de Kurukshetra sentou-se para meditar sob uma árvore e partiu conscientemente para Goloka. O mesmo ocorreu com Chaitanya Mahaprabhu. A Morte do universo de Gaiman não é tão seletiva. E o que alar sobre o suicídio? Antigos sábios, Sócrates, Aristóteles e Durkheim viam o suicídio como um problema, uma alha causada por diversos motivos, sendo os principais a causa social e depois patologia ou psicológica. Tal medo e ojeriza eram justicados por esses pela grande e terrível agressão que o sujeito azia a si mesmo. Na história Morte, o Grande Momento da Vida alguns personagens se veem de rente a Morte com um dilema que envolve uma morte e um renascer. Uma personagem, chamada Foxglove, se vê ante a ter-
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o g i t r A
rível situação de perder sua vida para que um ser querido possa continuar com a sua. Outra personagem chamada Boris, completamente alheio ao envolvimento sentimental de Foxglove, pensa na questão e por uma escolha lúcida e racional escolhe entregar sua vida para que ambos retornem. Seria um suicida? Ou apenas mais um simples morto? Ao nal Boris morre, deixando uma interessante questão: a invocação da Morte é eita por Foxglove, que derrama seu próprio Sangue. Boris morre/se suicida, sem derramar uma única gota de sangue. Ou seja, a escolha do morrer voluntariamente deixa de ser algo restrito às divindades e aos proetas e passa a ser um direito do ser comum. Da mesma maneira, o suicídio perde seus ares pecaminosos e se torna uma ação tão lógica e pensada quanto qualquer outra. Como age a morte e o que acontece após sua passagem? Isso é um mistério, ou az parte dele. Em Prelúdios & Noturnos um bebê morre para ser carregado pela Morte e pergunta “Mas... Já? Eu só vou ter isso?” e ela responde “É, parece que sim” . Mais à rente, um velho violinista judeu enxerga a Morte como o anjo da morte, e pronuncia seu Sh´ma antes de ser levado. No arco Terra dos Sonhos um novo diálogo ocorre, revelando a natureza de Morte, quando uma pobre condenada olha para ela e pergunta. Personagem: Quem é você? Morte: Você não sabe? Personagem: Sim. Acho que sei. Você veio por mim? Morte abençoada e
amiga. Ela usa uma cartola para se divertir, um colar com um ankh como pingente para ter orça e carrega um guarda-chuva preto enorme para via jar às terras sem sol. Fico aqui imaginando: qual será o cheiro dela? Tenho certeza de que é resco e limpo e de que a risada deve ser tilintante, ou talvez seja calorosa e de menininha, mas seja lá como or, o negócio é que a Morte ri muito. Falamos sobre o milagre do nascimento, mas e o milagre da morte? Já entendemos muita coisa sobre ciência da morte, mas a magia e a inevitabilidade dela são temidas e ignoradas há muito tempo. E se a Morte or uma pessoa? Esta Morte simpática e que adora as pessoas, que eu conheci aqui, não é amedrontadora nem distante. Ela está por aqui todos os dias e aproveita as coisas. Ela não está aqui para nos castigar nem para nos matar, mas sim para nos ajudar a descobrir como viver antes de precisarmos partir. Pensamos na Morte como algo ruim, mas aqui ela é a melhor das companheiras: deixa a escolha bem clara para nós e diz, usando seu exemplo, que car obcecado por coisas como violência, cobiça, preconceito e solidão nos impede de estar perto dos outros, de nos divertir e de realizar nossa grande obra. Assim, só desperdiçamos nosso tempo aqui. Gosto porque a Morte nunca diz às pessoas que estão com ela o que azer. Ela aceita todo mundo e compreende por que são daquele jeito. Ela gosta das pessoas (mesmo que estejam tristes ou sejam velhas ou jovens ou insu portáveis) de um jeito que elas começam a acreditar e a gostar delas mesmas também. E, quando isso acontece, em vez de acabar, elas podem dar início ao começo.”
misericordiosa. Veio acabar com tudo? Morte: “Não. Não vim por sua causa, Rainie. Uma mulher no andar de cima
estava trocando uma lâmpada no quarto do lho. A escada escorregou... Como eu disse, estava passando e ouvi você chorar e, bem, a porta estava aberta... mas não sou abençoada nem misericordiosa. Eu sou o que sou. Tenho um trabalho a azer. E o aço! Escute: enquanto conversamos estou lá ora buscando velhos e jovens, inocentes e culpados, os que morrem juntos e os que morrem sozinhos. Estou em carros, barcos e aviões, hospitais, forestas e matadouros. Para alguns a morte é um alívio. Para outros é uma desgraça, uma coisa terrível. Mas, no nal, eu chego para todos eles. Na Árica Ocidental, uma aldeota está sendo massacrada por mercenários pagos por seu próprio governo. Eu estou lá. Nos limites mais distantes de uma galáxia remota, um planeta está sendo estraçalhado por tensões internas. Era o lar de muitas inteligências cristalinas, calmas, belas e bondosas. Também estou l t a lá. Estou em todos esses lugares e também estou aqui, alando com você. o c l a Mas... não sou a sua morte. Pelo menos ainda não. Quando surgiu o pri z t e u meiro ser vivo eu estava lá esperando. Quando o último ser vivo morrer, meu Q a j o trabalho estará concluído. Colocarei as cadeiras sobre as mesas, apagarei as L — luzes e trancarei o universo depois de bater a porta.” s i
t n e i r O i l A atriz Claire Danes escreveu o seguinte sobre a morte: p m e T o d r “A Morte tem corpo de modelo, roupa de poeta e o sorriso da sua melhor O
Thelema rejeita a ideia do pecado original, da mesma maneira rejeita o asceticismo do Aeon passado. O cerimonial da Ecclesia Gnostica Catholica dedicado à memória dos alecidos não é um ritual de dor ou de pesar. Durante o rito, o Sacerdote e a Sacerdotisa clamam em honra do alecido para o conorto dos vivos. Não é a intenção dos ociais auxiliar ou direcionar a alma no além-mundo. Seu destino no além cabe a ninguém menos que a si próprio. Na cosmogonia thelêmica, não há um paraíso ou inerno onde a alma possa vir a gozar ou sorer durante sua morte. A morte não cessou de existir, apenas deixou de ser o m para ser uma etapa, assim como deixou de ser terrível para ser um deleite de um novo processo. Enxergar isso não é exclusividade do thelemita. Neil Gaiman nunca se declarou thelemita, assim como a equipe de desenhistas que sempre o acompanhou. Ainda assim, eles souberam transmitir a ideia da morte do Novo Aeon para o universo pop com uma incrível maestria, auxiliando na divulgação do espírito dos novos tempos. Jovem: E aí, gata, tipo... hã... Quer um reri? A gente pode se ver de novo? Morte: Claro, Franklin, você vai me ver logo. Jovem: Ceerto! Ei, como sabe que o meu nome é... Franklin?
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ética thelêmica
E s t u d o s
uma discussão de como a conduta e a relação com o outro podem ser entendidas no novo a eon.
U
m modo dierente de entender o indivíduo acarreta num modo dierente de entendermos suas relações com o outro e com o mundo. A proposta thelêmica, ao declarar que “todo homem e toda mulher é uma estrela”, realça tanto a importância individual como redimensiona a ecologia das interações. A célula undamental da sociedade, anal, não é mais a amília ou a comunidade, mas sim o indivíduo. Ao mesmo tempo, devidamente inserido no mundo, a noção deste sujeito também oi renovada: a própria coletividade passa a não ser um entulho de indivíduos, mas um panorama de estrelas. Vivemos num tempo onde uma nova ética está sendo pensada e experimentada. Novas ormas de compreender a existência necessariamente produzem mudanças comportamentais, losócas, morais, trabalhistas, religiosas, sexuais etc. Experimentamos exatamente esse vácuo das demolições do passado: um presente cuja identidade é intensamente debatida, mas onde “tudo que é sólido desmancha no ar” e as certezas, cientícas ou religiosas, não nos conortam. Precisamos, assim, entender o sistema de pensamento do passado – de onde viemos – para entender onde queremos ir e o que desejamos ser a partir de agora. A refexão sobre a moral é imprescindível para esse processo. Primeiramente, devemos perceber como a moral tem sido vivida: tanto como
resultado de condutas práticas, como pela noção de que sem esse tipo de condutas não poderia existir a sociedade. Para Nietzsche, a moral “alseia” o mundo, uma vez que organiza sua selvageria. Independente deste ponto de vista “ontológico” sobre as coisas, a moral como princípio regulador da vida surge como resultado espontâneo das relações, embora sua orma monstruosa – que Nietzsche também se dedicou a criticar – resida na cristalização de seus valores, não raro mantidos de orma anacrônica por grupos interessados em se manter no poder, ou simplesmente pela inconsciência da tradição em seu aspecto mais débil e ignorante. Por outro lado, temos nos deparado com o enômeno de que a desconstrução dos valores que antes tínhamos nos tira o chão. A ética surge para pensar essas questões: o que estamos destruindo e o que estamos criando? Há algum tempo, a ética esteve vinculada à teologia. A vontade humana não poderia ser concebida como legítima se estivesse ora da versão do que seria a vontade de Deus. Agostinho, autor escolástico, pensou a ética através da ideia de um “Bem” (Deus). O mal, sendo simples ausência do bem, era necessariamente consequência antropológica. É interessante reparar que há em Agostinho uma interessante relação entre o homem, sua vontade e Deus, porém não podemos ignorar o antasma do pecado e o sentimento de culpa sob as costas do ser humano, sempre presentes na mentalidade cristã. Nietzsche, mais
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s o d u t s E
uma vez, condenaria as consequências desse pensamento como sendo uma “moral de auto-renúncia”, cujo resultado seria a rejeição da própria vida. Já outros autores, como Kant, concentraram-se na dignidade humana e no seu valor inato. Porém, como poderia o “imperativo categórico” kantiano se adequar aos tempos atuais, quando ele arma: “age apenas segundo aquela máxima que possas ao mesmo tempo desejar que se torne lei universal”? Embora isso estabeleça uma conduta reta, como conciliar uma lei universal à toda diversidade humana? O século XX trouxe questões interessantes. A essência delas, de um modo ou de outro, está contemplada em Liber AL vel Legis. Mesmo o mais cético observador não poderia ignorar que o espírito de uma época está maniestado no Livro da Lei. Para os thelemitas, vemos o valor da liberdade ser elevado ao máximo – como Kant descreveu, uma lei universal – mas junto a ela também é armado o valor do Dever. Esse é um interessante tema para refexão: ao mesmo tempo que, na proposta thelêmica, cada um deve encontrar sua órmula pessoal de relacionamento com o universo e nenhum comportamento seja essencialmente “errado”, a liberdade de ato não está em azer o que se deseja, mas azer o que se deve. A relação entre a Verdadeira Vontade e o “Dever” problematizam o livre arbítrio, orçando-nos a pensar a respeito do que é liberdade. Em “A Mensagem de Mestre Therion” é dito: “Faze o que tu queres – então não aças nada mais. Não permitas que nada desvie a ti desta austera e sagrada tarea. A Liberdade é absoluta para azer tua vontade; mas procure azer outra coisa qualquer e instantaneamente obstáculos deverão surgir”. Vemos, portanto, o gozo da liberdade ser descrito em termos de austeridade, e seu caminho ser uma via de concentração, não raro experimentada como uma orma de renúncia. A ética thelêmica, assim, estrutura-se entre a vigilância sobre si mesmo e o intenso respeito às escolhas do outro. “Faze o que tu queres”, além da exaltação à divindade da própria Vontade, assume um teor relacional.
l t a o c l a z t e u Q a j o L — s i t n e i r O i l p m e Em “Dever”, na seção sobre “Seu dever para T o d r com outros indivíduos, homens e mulheres”, O
Crowley atesta: “Uni a ti mesmo apaixonadamente com todas as outras ormas de consciência, assim destruindo a sensação de separação do Todo”. Além disso, outro trecho diz: “(O amor e a guerra nas injunções prévias são da natureza do esporte, onde se respeita e se aprende do oponente, mas nunca se interere nele ora do próprio jogo). Buscar dominar ou infuenciar outra pessoa é buscar deormá-la ou destruí-la; e ela é uma parte necessária do próprio Universo do indivíduo, isto é, do ser do indivíduo”. A individualidade em Thelema é enatizada não como isolamento, mas como parte integrada ao Todo. Destruindo a sensação de separação, realizamos o outro indivíduo como parte de nós mesmos. Buscar intererir em seu caminho não resultaria apenas numa mutilação do outro, mas de si mesmo. A própria pretensão de intererência já desequilibra o próprio indivíduo que age por essa premissa. Como armação da sacralidade do caminho de cada um, nasceu o Liber Oz. Sendo uma declaração dos Direitos Humanos, sua dimensão ética é emblemática. O direito do indivíduo aqui expresso é, naturalmente, o direito de toda a humanidade. A violação desses direitos expressa simultaneamente um atentado à liberdade do outro e à própria liberdade da pessoa, anal, como constatou Crowley: “Se você nega os direitos de outra pessoa, você negou a própria existência desses direitos; e eles estão perdidos para você”. Consequentemente, o único modo de deender a liberdade é assegurando-a para toda a humanidade. O homem ter direito de viver, trabalhar, brincar, descansar, pensar, alar, esculpir etc. e, inclusive, morrer como quiser, o torna árbitro único de como conduzir sua estadia na Terra. Vamos nos concentrar sobre o ponto polêmico da morte, que se tornou um grande tabu. Desse modo, também o tabu do suicídio é liquidado: o homem é senhor do seu descanso mesmo na hora de morrer. O suicídio ser um estigma indiscutível, como uma vergonha patológica e religiosa, é herança de uma mentalidade para a qual a vida não pertence ao homem, mas a uma ideia distante de Deus. A vida era vista como um
débito para com a divindade. O homem desejar decidir o seu destino seria uma heresia. Não estamos dizendo com isso que eleger a hora da própria morte seja necessariamente uma escolha lúcida e consciente – mas a única maneira de assegurarmos a liberdade é não se portar como se nós soubéssemos o que é, anal, melhor ou pior para o outro. Só respeitamos a liberdade do outro quando respeitamos a possibilidade de que o erro para nós possa ser a sua medicina. A questão sobre a morte envolve mais a quebra de um tabu. Na verdade, o temor só desencadeia incompreensão e sorimento a respeito dela, do mesmo modo que o tabu sexual alimenta neuroses e expressões violentas da sexualidade. Quão mais neguemos a morte – inclusive a nossa própria –, mais ela irá nos assombrar, ou até mesmo nos azer vítimas de emboscadas que poderíamos evitar se meditássemos sobre ela sem medo ou aversão. Outro ponto interessante no Liber Oz é quando ele, após elencar todos os direitos da humanidade, nos diz que “O Homem tem o direito de matar esses que quereriam contrariar estes direitos”. Podemos, sim, pensar nisso como uma garantia de ação contra a tirania. Por outro lado, cabe a seguinte refexão: quem, realmente, pode nos privar de nossa própria liberdade? Alguém nos tira do nosso próprio eixo sem que permitamos que isso aconteça? Quem é realmente responsável por isso? Quem está constantemente retirando os nossos direitos? Somos vítimas da infuência do outro, ou de nossa própria permissividade? A única pessoa a quem realmente temos direito de matar, quiçá todos os dias um pouco, somos a nós mesmos: os únicos responsáveis por nossa própria escravidão, e por nossa própria liberdade. Matar aquilo que nos escraviza dentro de nós mesmos: isso sim é o que pode nos libertar. Posto isso, podemos começar a compreender a ética thelêmica como uma perpétua consideração sobre como podemos assegurar a nossa própria liberdade, atrelada, como não poderia ser dierente, à liberdade de todos. No que realmente acarreta essa liberdade e de que maneira pô-la em prática: estamos aqui para descobrir exatamente isso.
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b aphomet xiº l iber cvi MA EPÍSTOLA DE BAPHOMET para a ilustre Dama Anna Wright, Companheira do Santo Graal, brilhante como a Lua, concernente à Morte, para que ela e suas irmãs possam trazer conorto a todos aqueles que estão próximos à morte, e àqueles que os amam.
que queima em todo coração humano, e no âmago de cada estrela? Não é Ele Vida, e o doador da Vida? E não é, portanto, o conhecimento Dele o conhecimento da Morte? Pois te oi mostrado em muitos outros lugares como a Morte e o Amor são gêmeos. Agora tu és o caçador e a Morte galopa ao teu lado com seu cavalo e lança, enquanto tu persegues tua Vontade através das forestas da Eternidade, cujas árvores são os cabelos de Nuit, tua senhora! Vibres com a alegria da vida e da morte! Saibas, caçador poderoso e veloz, a caça está cercada! Tu deves apenas dar um golpe aado, e tu terás vencido. A Virgem da Eternidade jaz deitada de costas à tua mercê, e tu és Pan! Tua morte será o selo da promessa de nosso amor de eras. Não tens tu lutado no mais íntimo de ti? A Morte é a coroa de tudo. Mais rme! Sustenta a ti mesmo! Levanta tua cabeça! não respires tão undo — morre!
Amada Filha e Irmã,
III
concernente à morte
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Faze o que tu queres será o todo da Lei. Que seja a tua vontade e a vontade de todos aqueles que se inclinam sobre os doentes conortá-los e orticá-los com as seguintes palavras.
I ESTÁ ESCRITO no Livro da Lei: Todo homem e toda mulher é uma Estrela. É Nossa Senhora das Estrelas que ala a você, Ó tu, que és uma estrela, um membro do Corpo de Nuith! Escuta, pois tuas orelhas se tornaram ensurdecidas aos barulhos maus da terra; o innito silêncio das Estrelas corteja a ti com músicka sutil. Observai a ela se curvando sobre ti, uma chama de azul, tudo tocando, tudo penetrando, suas adoráveis mãos sobre a terra negra, & seu corpo fexível arqueado por amor, e seus pés macios não erindo as pequenas fores, e pense que toda tua grosseria deve nesse momento cair de ti, quando tu te lanças ao abraço dela, pego no seu amor como uma gota de orvalho nos beijos do nascer do Sol. Não é o êxtase de Nuit a consciência da continuidade da existência, a onipresença de seu corpo? Tudo o que eria a ti era que tu não conhecias a isto, e à medida que tal condição desaparece de você, tu saberás como nunca, no entanto, como tudo é um. Novamente Ela disse: Eu dou alegrias inimagináveis na terra; certeza, não é, enquanto em vida, sobre a morte. Isso tens tu sabido. O tempo, que devora suas crianças, não tem poder sobre aqueles que não seriam crianças do Tempo. Para aqueles que pensam a si mesmo imortais, que habitam sempre na eternidade, conscientes de Nuit, entronados sobre a carruagem do Sol, não há morte como a que os homens chamam de morte. Em todo o universo, a escuridão só é encontrada na sombra de um planeta opaco e grosseiro, como se osse por um momento; o universo em si é uma enchente de luz eterna. Então, também a morte é apenas por acidente; tu te escondeste a ti mesmo na sombra de teu corpo grosseiro e, tomando-o como realidade, tu tremeste. Mas o globo logo girou; a sombra passou longe de ti. Há a dissolução, e o êxtase eterno nos beijos de Nu! Pois à medida que tu zeste tua a Lei da Liberdade, como tu viveste em Luz e Liberdade e Amor, tu te tornaste um Homem-Livre da Cidade das Estrelas.
II ESCUTAI NOVAMENTE a tua própria voz dentro de você. Não é Hadit a chama
B i b l i o t e c a T e l ê m i c a
OU AINDA ESTÁS TU EMARANHADO com as espinhosas tranças de roseiras selvagens que tu teceste na tua mágicka dança sobre a terra? Não são teus olhos ortes o bastante para suportar a luz das estrelas? Precisas tu protelar ainda mais um pouco no vale? Precisas tu brincar com as sombras no crepúsculo? Então, se esta é Tua Vontade, tu não tens direito senão azer a Tua Vontade! Continue amando a esses antasmas da terra; tu zeste a ti mesmo um Rei; se te apraz brincar com os brinquedos da matéria, não são eles eitos para servir o teu prazer? Então siga em tua mente a palavra maravilhosa da própria Estela da Revelação. Retorne, se tu queres, da morada das Estrelas; habite com a mortalidade e regozija-te com isso. Pois tu és, neste dia, Senhor do Céu e da Terra. “O homem morto Ankh--na-Khonshu Disse, com sua voz verdadeira e calma, Ó tu, que tens um único braço! Ó tu, que resplandeceste na lua! Eu teço a ti no encantamento rodopiante Eu seduzo a ti com a melodia revolta. O homem morto Ankh--na-Khonsu Tem se separado das negras multidões Tem unido os habitantes da luz, Aberto Duant, as moradas das estrelas, Suas chaves recebendo. O homem morto Ankh--na-Khonsu Tem eito sua passagem noite adentro Para realizar seu prazer sobre a terra Entre os vivos.” Amor é a lei, amor sob vontade. Que a Bênção do Todo-Progenitor, Todo-Devorador esteja sobre ti. Baphomet X° O.T.O. Dado sob Nossa mão e selo neste dia do Anno XII, o Sol nosso Pai estando em Leo, e a Lua em Pisces, do Trono da Irlanda, Iona e toda a Bretanha que está no Santuário da Gnose.
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a c i m ê l e T a c e t o i l b i B
HOOR HOORÁCULO
O constructo de crenças do Thelemita, embora tome como orientação as palavras de Mestre Therion, é baseada na experiência individual e aquilo que não pode ser comprovado pela prática espiritual pode e deve gerar novas correntes de pensamento. Sendo assim, temos em nossa comunidade espiritual as mais diversas teorias a respeito da reencarnação, algumas teorias a comprovam, outras a reutam. A O.T.O., enquanto Ordem Telêmica, respeita e deende ardentemente a liberdade de cada indivíduo da sua comunidade. A construção de um sistema de crenças pessoal baseado em suas próprias práticas e observações é undamental para todos nós.
Thelema tem uma visão oficial sobre reencarnação e sobre por que reencarnamos? Em seu texto intitulado “Reencarnação” – Magick Without Tears – Crowley arma acreditar em reencarnação por três motivos:
Crowley nos deixou como legado vários exercícios práticos em que o objetivo é o reavivamento das memórias de vidas passadas, ele considerava esse ponto de grande valia para a descoberta do Si-Mesmo e um método para trazer à luz da consciência a essência da Verdadeira Vontade com a nalidade da realização da Grande Obra. Existem ainda métodos práticos que nos deixou para o desenvolvimento de um corpo eterno que nos permitisse manter as memórias e conhecimentos de todas as encarnações prévias intactos e imperturbáveis no percurso para a eternidade. Como dito em nossa Missa Gnóstica na sessão sobre o FIM:
1 – Por que eu me lembro de pelo menos uma dúzia de encarnações prévias minhas na Terra. 2 – Por que nenhuma outra teoria satisaz meu sentimento por justiça, por equilíbrio e pela Terceira Lei do Movimento de Newton. 3 – Por que toda religião arma, ou pelo menos traz implícita, a reencarnação de um modo ou de outro. Portanto, o undador de Thelema inundiu tanto em nossa losoa, quanto em nossa religião a ideia da reencarnação, mas advertiu que este era um assunto bastante diícil de comprovar racionalmente e que havia muita tolice escrita a respeito. Segundo Crowley não são todos os seres humanos que estão aptos a reencarnar, a grande maioria está incapacitada para este eito. Crowley explica que no ato de reencarnar é a Tríade Superna, composta por Jechidah, Chiah e Neschamah que veste o Hadit original ou Ponto-de-Vista original com todo o Ruach que a Consciência Humana, Tiphareth, oi capaz de arrecadar durante a prévia encarnação através de Aspiração contínua e persistente. Se não há Ruach suciente para assegurar uma quantidade adequada de Memórias, a pessoa l t a pode nunca se tornar consciente da continuidade da existência. o c l a z t e u Q a j o L — s i t n e i r O i l p m e T o d r O
Se por um lado, Crowley inundiu em nossa losoa a possibilidade de reencarnação, ele também nos presenteou com um combate quase que obsessivo aos dogmas que restringem a maniestação individual em qualquer de seus aspectos, inundindo em cada um dos Thelemitas um espírito livre e subversivo que mantém nossos pensamentos e ideias desapegados até mesmo dos pensamentos e ideias do Mestre.
Que possa ser garantidoo cumprimento de suas Verdadeiras Vontades para aqueles de cujos olhos o véu da vida caiu; quer isto seja a absorção no Innito ou a união com seus escolhidos e preeridos, ou permanecer em contemplação, ou estar em paz, ou alcançar o trabalho e heroísmoda encarnação neste planeta ou em outro, ou em qualquer Estrela, ou outro lugar, que lhes seja garantida a realização de suas Vontades; sim, a realização de suas Vontades. AUMGN, AUMGN, AUMGN. Até a próxima, amigos!
O Hooráculo é a resposta a uma pergunta. A cada edição, a pergunta de um leitor da Estrela Rubi será selecionada e a resposta a ela será dada por um ou mais membros da Loja Quetzalcoatl. Caso queira submeter sua pergunta de cunho mágicko ou thelêmico ao Hooráculo, a envie para
[email protected]. Nossa equipe editorial vai avaliar a pergunta mais inteligente e instigante e, se selecionada, vamos estudá-la, respondê-la e publicá-la na próxima edição. O Hooráculo só terá olhos – ou melhor, Olho – às perguntas mais desaadoras e que possam ser de interesse geral.
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s aiba m ais sobre ... a ordo templi orientis
a l oja q uetzalcoatl
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A
Ordo Templi Orientis oi undada em 1904, na Alemanha, por Karl Kellner e Theodore Reuss — seu primeiro líder —, que buscavam estabelecer um Academia para maçons de altos Graus onde estes pudessem ter contato com as revelações iniciáticas descobertas por Kellner em suas viagens ao Oriente. A entrada de Aleister Crowley, em 1912, veio a alterar proundamente a Ordem, até que, naquele mesmo ano, a O.T.O. rompe seus laços com a Maçonaria e assume–se como uma organização independente e soberana.
A principal mudança trazida por Crowley para a ordem oi a implantação da Lei de Thelema, conorme denida no Livro da Lei – Liber AL vel Legis, e o alinhamento da O.T.O. com as energias no Novo Eon, tornando esta Ordem a primeira nascida no Velho Eon a migrar para o novo. Em 1922 Crowley, com a morte de Reuss, assumiu a liderança da O.T.O.. Seu sucessor indicado oi o alemão Karl Germer, que governou a Ordem de 1947 a 1962. Como Germer não indicou um sucessor, após sua morte vários membros e não membros da Ordem tentaram assumir o controle da O.T.O. o que colocou a Ordem em sério risco de extinção. Assim, Grady McMurtry lançou mão de um documento expedido por Crowley que o autorizava a tomar o po der da O.T.O. caso esta se visse ameaçada. Assim, McMurtry tornou-se líder da Ordem em 1969, posição onde permaneceu até sua morte, em 1985. Após isso, por meio de um processo eleitoral levado a cabo pelos altos Graus da Ordem, oi empossado o atual Frater Superior, Hymenaeus Beta. Atualmente a O.T.O. está presente em mais de 70 países. No Brasil, a O.T.O. encontra–se desde 1995, com o antigo Acampamento Sol no Sul, substituído em 2000 pelo Oásis Quetzalcoatl, atual Loja Quetzalcoatl. Dando continuidade ao trabalho, em evereiso de 2010 ev oi aberto em Minas Gerais o Acampamento Opus Solis.
Loja Quetzalcoatl é um corpo ocial da Ordo Templi Orientis Internacional, undado em 23 de maio
OrdO Templi OrienTis inTernaciOnal Frater Superior: Hymenaeus Beta
de 2000 e.v. na cidade do Rio de Janeiro.
JAF Box 7666 New York, NY 10116 USA
Somos uma comunidade de homens e mulheres livres que se dedicam ao processo do auto-conhecimento e sua consequente expansão de consciência através dos princípios de Vida, Luz, Amor e Liberdade, pilares essenciais da Lei de Thelema.
Grande Secretário Geral: Frater Aion
Temos como um de nossos principais ob jetivos auxiliar no desenvolvimento de uma sociedade verdadeiramente livre da superstição, tirania e opressão onde o ser humano possa expressar a sua Verdadeira Vontade em plena harmonia com a essência divina que nele habita.
PO Box 33 20 12 D-14180 Berlin, Germany Grande Tesoureiro Geral: Frater S.L.Q. 24881 Alicia Parkway #E-529 Laguna Hills, CA 92653 USA Secret. Internac. Iniciações: Frater D.S.W. P.O. Box 4188 Sunnyside, NY 11104 USA
OrdO Templi OrienTis Brasil Site: www.otobr.com Rep. Fra. Superior: Sor. Tara Shambhala
Acreditamos que cada ser humano é uma estrela individual e eterna que possui sua própria órbita e que o objetivo primordialde sua encarnação não é outro senão descobrir as coordenadas dessa órbita e cumprir a sua Verdadeira Vontade, realizando a Grande Obra e alcançando a Felicidade Pereita. Nossos objetivos são alcançados através de um conjunto de Ritos Iniciáticos que visam despertar e ativar os chakras, propiciando a ascenção da kundalini e o acesso a estados mais elevados de consciência. Realizamos também o estudo teórico e prático da Filosoa de Thelema, Magia, Alquimia, Cabala, Tarot, Tantra, e demais ciências herméticas que possam colaborar com o caminho de auto-iluminação dos nossos iniciados. Caso deseje inormações sobre nossas atividades ou sobre a aliação à O.T.O., consulte nosso site no endereço www.quetzalcoatloto.org ou entre em contato conosco.
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