1.4. Mutações nos comportamentos e na cultura 1.4.1. As transformações da vida urbana y
A nova sociabilidade
No início do século XX (século das grandes cidades, no qual a população urbana ultrapassou a das zonas rurais), havia cerca de 180 grandes núcleos urbanos (Londres, Paris, Moscovo, etc.). Esta crescente concentração populacional provocou significativas alterações na vida e nos valores tradicionais, ou seja, um novo modo de viver e de conviver no meio da multidão. Adquire-se novas formas de sociabilidade, tendo o crescimento urbano originado a criação de novos comportamentos que se massificaram (isto é, generalização dos mesmos hábitos e gostos ² massificação). A racionalização e a redução do tempo de trabalho, assim como a melhoria do nível de vida permitiram dispor de dinheiro e tempo para o divertimento e prazer, fazendo com que a convivência entre os sexos se tornasse mais ousada e livre (que rompia completamente com as antigas regras sociais), uma nova cultura do ócio e outras distracções. Adere-se à prática do desporto, ao uso do automóvel e mais viagens de automóvel. Acelera-se, pois, o ritmo de vida. y
A crise dos valores tradicionais
Os tempos de optimismo, optimismo, de confiança na paz, na liberdade liberdade,, no progresso e bem-estar bem-estar que caracterizaram a viragem viragem do século, ruíram subitamente subitamente com o eclodir da Primeira Guerra. A morte de milhões de soldados, a miséria e a destruição visíveis visíveis gerou um sentimento sentimento de descrença e pessimismo no futuro, que afectou toda a sociedade. sociedade. Por outro lado, a massificação urbana, a laicização social que terminara com a influência da Igreja, e as novas concepções científicas e culturais são igualmente responsáveis pela ruptura no padrão de valores e comportamentos sociais tradicionais. Deu-se uma profunda crise de consciência, consciência, que atinge toda a conduta social, falando-se falando-se assim duma anomia social (ausência de regras sociais). Esta crise/relativismo de valores acentuou ainda mais as mudanças que já estavam em curso. y
A emancipação da mulher
A crescente presença da mulher em todos os sectores de actividade, mais notada a partir da Primeira Guerra, proporcionava uma relativa independência económica e esteve na origem de uma consciencialização de
que o seu papel no processo económico não tinha correspondência a um estatuto social e politico dignos. No inicio do século XX, organizaram-se numerosas associações de sufragistas que lutaram contra o seu estatuto de eterna menoridade (pelo direito de participação na vida politica, à propriedade dos seus bens, à tutela dos filhos, ao acesso à educação e a um trabalho socialmente valorizado). Contudo, só no final dos anos 20 (com as convulsões da guerra que vieram alterar este estado de espírito) foi reconhecido à mulher o direito ao voto e de exercício de funções políticas. Até lá, as pretensões políticas chocaram com uma forte oposição (alvo da censura e escárnio dos poderes políticos e da sociedade conservadora). Emancipadas e libertas de todos os preconceitos, as mulheres passam a adoptar novos comportamentos sociais: frequentar festas e clubes nocturnos, praticar desporto, fumar e beber livremente, etc. A valorização do corpo e da aparência conduziu ao aparecimento de uma nova mulher que usava o cabelo curto (à garçonette) e com as saias mais curtas e ousadas. 1.4.2. A descrença no pensamento positivista e as novas concepções científicas O Positivismo impusera a ideia de que a ciência tinha a resposta para todos os problemas da Humanidade (poder do raciocínio e da ciência). Mas, no início do século XX, verifica-se uma reacção anti-racionalista e antipositivista, devido às teorias de alguns cientistas face à ciência (propunham o relativismo cientifico, segundo o qual a ciência não atinge o conhecimento absoluto) e que provocaram um profundo choque na comunidade científica: a teoria do intuicionismo, de Bergson, que defende que o conhecimento não se forma através da evidencia racional mas sim pela intuição; a teoria da relatividade, de Einstein, que demonstra que o espaço, o tempo e o movimento não são absolutos, mas relativos entre si (por exemplo, a massa do corpo depende do movimento). Não existem regras fixas; a teoria quântica, de Max Planck, que defende a existência de unidades mínimas de matéria que não se rege por leis rígidas (o que permitiu explicar o comportamento dos átomos); a teoria psicanalítica, de Sigmund Freud, que explicava que as neuroses (qualquer desordem mental) são resultado de traumas, feridas, isto é, impulsos, sentimentos, desejos, instintos naturais aprisionados no inconsciente. Criou um método terapêutico (psicanálise) que consistia em libertar o paciente dos seus recalcamentos (traumas), procurando trazê-los à consciência através da interpretação de sonhos. Trata o inconsciente.
Todas estas novas teorias põem em causa as ´verdades absolutasµ que sustentavam o positivismo, influenciando os comportamentos no quotidiano, pois nada mais é visto como absoluto mas sim como questionável e discutível. 1.4.3. As vanguardas: rupturas com os cânones das artes e da literatura Nas primeiras décadas do século XX houve uma revolução imensa nas artes, criando-se uma estética inteiramente nova, que rompia com as tradições para mostrar uma nova visão da realidade. Esse movimento cultural ficou conhecido como o Modernismo (que revolucionou as artes plásticas, a arquitectura, a literatura e a musica). As principais vanguardas artísticas foram:
- Os caminhos da literatura: Deu-se, também no campo das letras, uma verdadeira revolução que pôs em causa os valores e tradições literárias. Nas primeiras décadas de novecentos, procurou-se a libertação face à realidade concreta, tendo-se, por isso, abandonado a descrição realista da sociedade e dos acontecimentos. As obras voltam-se para a vida psicológica e interior das personagens mais do que para a narrativa de uma acção r defende-se a liberdade total do ser humano, o seu direito de tudo ousar, rejeitando assim as regras de moral, da família e da sociedade. Para além de mudanças ao nível do tema, surgiram novas formas de expressão, ao nível da linguagem e da construção frásica (poemas caligramados). Estas correntes, se bem que efémeras e pouco produtivas em termos de qualidade literária, romperam convenções e abriram portas a obras de grande valor, verdadeiramente inovadoras (exemplo: Ulisses de James).