O conceito de herói nos Lusíadas e na Mensagem Tanto a Mensagem, poema épico-lírico, de Pessoa, como Os Lusíadas, epopeia clássica, de Camões, são obras que engrandecem um herói colectivo- o povo povo português - no período dos Descobrimentos. Os dois poetas pretenderam revelar o seu amor pela nossa nação em períodos históricos diferentes. Camões viveu no período renascentista, assistiu à prosperidade do país devido à política expansionista dos Descobrimentos, Descobrimentos, propícia à existência de uma epopeia que que louvasse as aventuras do povo português. Por sua vez, Fernando Pessoa assistiu a um período complicado da nossa História, caracterizado pela queda da monarquia, pelo fracasso da República pela instauração da Ditadura salazarista. Por esta razão, o poeta modernista projecta um Portugal ainda por vir, construído pelo poder do sonho. O seu amor pelo país levao a assumir uma posição mais espiritual, definida pela procura constante do que não existe e pela capacidade de sonhar que, para o autor, impulsiona todos os grandes feitos. No entanto, apesar dos 400anos que os separam, Pessoa e Camões relembram feitos gloriosos dos portugueses, porque a partir de um passado grandioso pretendem pretendem fazer ressurgir os valores e devolver a grandeza à nação. Quer na obra de Camões quer na de Pessoa, são relatados factos da nossa história, mas enquanto na epopeia de Camões esses factos são reais, no poema de Pessoa há uma visão mitificada da história e dos heróis. Ainda assim, é possível afinidades entre os dois textos. Diferenças: O Herói dos Lusíadas Ao analisarmos a Proposição (estrofes 1 a 3), verificamos que o herói colectivo será imortalizado pelos seus actos grandiosos. Este herói engloba os navegadores e os guerreiros que partiram de Portugal, por mares desconhecidos, e construíram o grande Império do Oriente; pelos Reis que dilataram a Fé e o Império e também por todos aqueles que realizaram acções dignas de ficarem para sempre na memória colectiva. Camões dedica a obra a D.Sebastião que, na altura, era um Rei ainda muito jovem, capaz de se tornar num herói aventureiro à semelhança dos seus antepassados. Os heróis desta epopeia são corajosos, cor ajosos, correm inúmeros perigos, ultrapassam grandes obstáculos e são heróis de acção, acç ão, isto é, dinâmicos. Nesta epopeia ex iste todo o dinamismo ligado às peripécias e aos perigos que os marinheiros viveram durante a sua viagem até à
Índia. Podemos verificar o que se acabou de dizer em episódios como “A batalha de Aljubarrota”, “O Adamastor” e “A “ A Tempestade”. Nestes episódios, os heróis agem, ex ibindo toda a sua coragem e amor à pátria que poderão implicar espírito de sacrifício, capaci dade de suportar o sofrimento, de ultrapassar os seus próprios medos medos e de superar a sua própria condição humana. No final da obra, os heróis são recompensados na Ilha dos Amores, um episódio simbólico que representa a subida do homem ao plano dos deuses, tornando-se ele próprio um semi-deus.
Em suma, Camões recorre a Reis e heróis individuais para representar o povo Lusitano incumbido da missão de alargar a Fé e o Império. Diferenças: O Herói na Mensagem O herói não é um homem de acção. Pelo contrário é estático, norteia- se pela “Febre e
Além”, pelo sonho e pela utopia. Pessoa vê em D.Sebastião o mito capaz de devolver ao país a vontade de viver. D.Sebastião nesta obra é tomado como exemplo porque ele quis grandeza, acreditou no seu sonho, morreu na batalha de Alcácer Quibir, mas tornou-se um mito que deu esperança a Portugal. Todas as personagens mencionadas pelo poeta têm, mais do que um estatuto histórico, um significado simbólico e de personagens simbólicas elas transformam-se em mitos. Também em Mensagem o poeta não descreve uma viagem nem um império terreno nem canta a guerra contra os Castelhanos ou contra os Mouros. O herói concentra-se num além e pretende procurar algo que não pertence ao mundo concreto. Neste poema épico-lírico não existe o reconhecimento que é dado aos Portugueses n ‘ Os Lusíadas. O herói está sempre a perseguir um ideal, nunca alcança o prémio e a sua procura
é incessante, não acaba nunca. O amor à pátria exprime-se através da crença no V Império. O poeta acredita que Portugal tem que cumprir a sua missão espiritual e para isso os heróis devem procurar o sonho e o infinito. Em suma, o herói torna-se intemporal e adquire uma configuração de mito que o
distingue do resto dos Homens. É o que se vê por exemplo no poema “D.Sebastião rei de Portugal”, quando o poeta afirma “Sem a loucura que é o homem/Mais que a besta sadia,/Cadáver adiado que proc ria”. Para Pessoa não interessa a conquista nem a colonização nem a expansão da fé, porque ele acredita que Portugal se poderá afirmar no mundo através da constituição de um império cultural e espiritual (V Império). Semelhanças: O Herói dos Lusíadas e Mensagem Ambas as obras fazem referência à fragilidade humana e à capacidade do homem para se superar. Esta característica é visível tanto no “Adamastor”(Lusíadas) como no
“Mostrengo”(Mensagem). Os dois autores concebem a glória dos heróis como algo marcado pelo sofrimento e pelas lágrimas, como se observa no episódio “As Despedidas em Belém”(Lusíadas) e no poema
“Mar português”(Mensagem). Os heróis portugueses afirmam-se no mar e na guerra, superando os limites humanos e provando a superioridade relativa aos povos antigos. A glória tem um preço, mas o mais importante é a luta pela afirmação do ideal patriótico.
Em ambos os textos o passado é invocado para tentar construir um Portugal melhor no futuro.
TANTO PESSOA COMO CAMÕES MANIFESTARAM O SEU AMOR À PÁTRIA E O SEU DESEJO DE REABILITAR A GLÓRIA NACIONAL. NO ENTANTO CAMÕES É UM HOMEM DE ACÇÃO POR ISSO DEU MAIOR IMPORTÂNCIA AOS FEITOS GUERREIROS DO SEU POVO E PESSOA ERA UM INTELECTUAL QUE VALORIZOU MAIS A UTOPIA E O SONHO.