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A Neurose das Telefonistas*
LE GUILLANT, ROELENS, BEGOIN, BÉQUART, HANSEN e LEBRETON. Centro de Tratamento e Readaptação Soca! de "!!e#$%. [ Introdução dos tradutores: Hoje, Ho je, ma mais is do qu quee an ante tes, s, o as assu sunt nto o de ne neur uros oses es,, fa fadi diga ga,, st stres ress, s, et etc. c. desper des perta ta int interes eresse se na mai maioria oria das pes pessoa soas, s, sej sejam am ela elass "ho "homen menss com comuns uns"" ou estudiosos do comportamento humano. As ideologias, as diferentes conceituações ao aordar a psicopatologia são as mais !ariadas e cada qual apresenta "de per si" riqueas e contriuições que não podem dei#ar de ser a!aliadas senão so o prisma hist$rico de uma sociedade, seu marco social e os recursos da %poca. & e#atamente so esta $tica que traduimos a cl'ssica e#peri(ncia relatada na "neurose das telefonistas telefonistas"" que ainda hoje, em )**) +-, / anos ap$s sua 01 pulicação, mant%m sua atualidade. Hoje as condições de traalho das telefonistas rasileiras continuam sendo muito semelhantes 2s das francesas daquela %poca, o que nos fa crer que, infeli inf elime mente, nte, o qua quadro dro ri rilha lhante ntemen mente te des descri crito to por 3e 4ui 4uilla llant nt man manten tenha ha sua !alilida !a dade de.. 5s 5spe pera ramo moss qu quee es este te te te#t #to o se seja ja 6t 6tilil a to todo doss aq aque uele less qu quee se !( !(m m preocupando em estaelecer relações entre as condições de traalho e a sa6de mental dos traalhadores, e, principalmente, que in!estigações dessa naturea prossigam +-. 7 A escolha deste trabalho foi feita a partir de duas considerações: de um lado, a frequência bem conhecida e crescente de alterações mentais e "nervosas" menores nesta categoria de empregadas !, e, de outro lado, a nature#a de suas ativid ati vidade adess pro profis fissio sionai nais$ s$ %st %stas as s& s&o o par partic ticula ularmen rmente te car caract acter's er'stic ticas as de cer certas tas condições de trabalho que o progresso t(cnico tende a instaurar, cada ve# mais, nos escrit)rios e nas fbricas$ +$ %stas %st as con condiç dições ões s&o def defini inidas das ant antes es de tud tudo o por uma diminuiç diminuiç&o, &o, pelo menos relativa, dos gastos de energia muscular e por uma aceleraç&o correlativa de rapide# dos atos de trabalho, das cadências, causando um aumento s ve#es considervel dos esforços de atenç&o, precis&o e velocidade$ A "fadiga nervosa" esta e-press&o, mesmo imperfeita, ( melhor que outras e provisoriamente ser utili# uti li#ada ada que res result ultaa dis disto, to, emb embora ora ger geral almen mente te pou pouco co con conhec hecida ida,, nos par parece ece constituir, ao lado de certos fatores psicol)gicos, um aspecto essencial da patologia do trabalho moderno$ 888888888888888888888888888 888888888888888888 8888888888888888888 8888888888888888888 888888888888888888 8888888888888888888 8888888888888888 888888 +- 9ulicado originalmente em "3a presse medicale", 0;<, n= 0>, p. )?@)??. +-raalho pulicado na Be!ista Crasileira de Da6de Ecupacional n= ?, Folume 0), Gulho, 0/. ata atualiada na digitaliação deste te#to. +- radução e re!isão cientfica: enise Jonetti e 3eda 3eal Kerreira, Kundacentro, D9.
As alterações observadas nas telefonistas e nas mecanografistas nos parecem fa#er parte de uma ".'ndrome /eral de 0adiga Nervosa" comum e mal conhecida, neste caso manifestadas manifestadas muito clara claramente$ mente$ %m uma primei primeira ra etapa etapa,, esforç esforçamo1n amo1nos os por recolh rec olher er dad dados os cl cl'ni 'nicos cos ind indisp ispens ensve veis$ is$ %st %stes es nos par parecer eceram am suf sufic icien ientem tement entee concordante conco rdantess para que pud(ss pud(ssemos emos tentar descre descrever ver forma formass partic particulares ulares desta s'ndrome nas telefonistas: a antiga "Neurose das Telefonistas", da qual vamos e-aminar sucintamente os traços essenciais$ 2 necessrio lembrar, por(m que se trata de fatos conhecidos h muito tempo, mas em geral negligenciados, minimi#ados ou interpretados de um modo sumrio ou inein e-at ato$ o$ 3 em !4! !4!5 5 o 6r 6r$$ 3u 3ullllia iard rd,, na "7 "7%8 %89% 9% .9 .9. ..% .% 6% 6%. . A; A;; ;6% 6%NT NT. . 69 T7A8A<", escrevia: "os choques de e-tra1corrente s&o s ve#es fortes o suficiente para que a telef telefonist onista, a, = nervo nervosa sa pelo seu trabalho que e-ige uma grande tens&o de esp'rito, comece a chorar e n&o queira mais trabalhar$ Tudo isto, acrescentado fadiga, tens&o nervosa, ao aborrecimento de receber observações in=ustificadas mais ou menos grosseiras de clientes, contribui para produ#ir, pr odu#ir, quando o su=eito est predisp pred ispost osto, o, ver verdade dadeira irass neu neuros roses es que dev devem em ser con consid sidera eradas das com como o doe doença nçass profissionais"$
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%stas frases s&o citadas e retomadas por autores su'ços, 0ontegne e .olari, num estudo de =unho de !4!> sobre "5 Trabalho da Telefonista?"$ %sses autores ressaltaram tamb(m a import@ncia dos sinais de fadiga ligados a esta profiss&o cefal(ias, insnia, dificuldade para refletir e para fi-ar sua atenç&o, humor as ve#es massacrante, violento nervosismo, s'ndrome descrita correntemente sob o nome de "Neurose das Telefonistas"$ B 6r$ .chiff, na "%nciclop(dia 0rancesa", infeli#mente classificou esta neurose como sendo de responsabilidade da desclassificaç&o social e da frequência e irregularidade das solicitações ps'quicas sofridas pelas telefonistas$ .egundo ele, esta neurose "dita profissional" teria desaparecido completamente com a instalaç&o de aparelhos automticos$ Nos Cltimos anos, a neurose das telefonistas se desenvolveu muito e apareceu na literatura medico1psicol)gica$ .$ Dacaud, em particular, num estudo psicol)gico muito interessante da carreira de telefonista analisou com muita precis&o e sutile#a certos mecanismos desta fadiga nervosa$ Trata1se de um quadro polimorfo, com uma sintomatologia rica e variada, mas onde algumas alterações dominantes se encontram de uma maneira constante e superposta em todos os su=eitos$ Dode1se estabelecer uma sistemati#aç&o apro-imada, descrevendo essencialmente: 9ma "sindrome sub=etiva comum" de fadiga nervosaE Alterações do humor e do carater$ • •
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Alterações do sonoE
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9m con=unto de manifestações somticas variveisE
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A repercuss&o destas diferentes alterações sobre a vida das trabalhadoras$
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A 1 A ".'ndrome .ub=etiva ;omum" da 0adiga Nervosa * a Dode1se di#er que n&o h uma s) telefonista que n&o sinta esta fadiga, em graus diversos$ Trata1se em FFG dos casos * de uma impress&o de lassid&o profunda, de verdadeira "aniquilamento" no fim do trabalho$ 6urante o trabalho, as telefonistas s&o mantidas pelo pr)prio ritmo de trabalho, permanecendo "com os nervos flor da pele", como di#em$ Has quando saem, têm um sentimento de abatimento profundo$ 0icam com a "cabeça va#ia"$ N&o podem estabelecer conversações, n&o suportam que se lhes diri=am a palavra$ Is ve#es esquecem seus ob=etos pessoais, tomam o metr na direç&o oposta e s) percebem no fim da linha$ Algumas disseram que vrias ve#es quase foram atropeladas quando estavam neste estado de obnubilaç&o$ Dara lutar contra estas manifestações recorrem a dois procedimentos: algumas v&o para casa o mais cedo poss'vel para se deitar e se esforçam para dormir FJG dos casos, outras têm uma necessidade imperiosa de caminhar durante longo tempo, de se cansar fisicamente: v&o para casa a p(, ou fa#em um longo percurso por Daris +KG dos casos$ b %sta astenia profunda torna1se para algumas um estado permanente fora do trabalho$ %las di#em n&o saber mais organi#ar sua atividade em casa, "um vai1e1
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vem sem fa#er nada", desinteressam1se completamente de trabalhos dom(sticos, "dei-ando tudo em desordem", enquanto que anteriormente elas eram preocupadas e ordeiras em casa$ %sta atitude ( acompanhada de uma esp(cie de indiferença, de um "desgosto de tudo"$ c B trabalho intelectual lhes ( imposs'vel$ Luase todas se quei-am de uma queda significativa de suas faculdades intelectuais$ Têm alterações de mem)ria e de atenç&o, dificuldade em conversarE n&o encontram argumentos nas discussões, precisam procurar os nomes, as datas e mesmo as palavra, mais correntes$ Têm a impress&o de n&o saber mais nada, de nunca ter aprendido nada$ 0reqMentemente a leitura ( dif'cil, a de um romance, quase sempre imposs'velE limitam1se a livros ilustrados e at( mesmo a hist)rias infantis, que s&o mais fceis$ Butras renunciam completamente leitura$ Huitas têm dificuldade em ler =ornais, onde s) vêem "palavras umas ao lado das outras"$ 9ma delas nos disse que ficou um ano sem poder ler um artigo de =ornal e F anos sem poder fa#er qualquer leitura um pouco mais dif'cil$ d Luase todas as telefonistas que tentaram dar lu# sem dor, segundo o m(todo psicoprofiltico, n&o conseguiram$ Darece1nos este ( um fato bastante demonstrativo da import@ncia de perturbações globais da atividade nervosa superior causada pelas condições de trabalho$ e 2 frequente as telefonistas empregarem, por engano, na vida cotidiana, e-pressões profissionais que lhes vêm automaticamente aos lbios$ A mais comum ( "Al, aguarde um instante", que pronunciam em mCltiplas ocasiões, por e-emplo, quando se lhes dirigem bruscamente a palavra$ %ntrando em algum lugar, elas se anunciam: "Daris F>5", por e-emplo$ Bu di#em, ao tocar uma campainha ou dar uma descarga no banheiro, "0im da ligaç&o"$ %ntre elas isto provoca risos, mas n&o raro desencadeia crises de choro$ As telefonistas se anunciam em vo# alta no metr, quando toca a campainha de partida$ Na bilheteria, sem perceberem pedem ?+ unidades" em ve# de + bilhetes de metr, e se aborrecem quando se lhes pedem para repetir$ 9ma verdadeira into-icaç&o por frases profissionais se observa em +5G dos su=eitos e-aminados$
888888888888888888888888888888888888888888888888888888888888 +- as porcentagens estaelecidas sore uma ase estatstica insuficiente não t(m mais do que um !alor indicati!o. 5las mostram, por%m, a frequ(ncia de certas alterações nos sujeitos e#aminados. 8888888888888888888888888888888888888888888888888888888888888888
1 Alterações do Oumor e do ;arter: a Hais facilmente percebidas, elas s&o quase t&o constantes como as precedentes PPG durante o trabalho e K+G depois do trabalho$ Huitas das telefonistas têm a impress&o de ter mudado profundamente sob este ponto de vista$ Anteriormente eram calmas, t'midas, agora se tornaram nervosas, irritadas, agressivasE n&o podem suportar a menor contrariedade "sem fa#er um drama"$ 7espondem rudemente a seus superiores e ficam estupefatas em seguida$ ;ontrariadas, elas d&o respostas que ultrapassam seus limites e em seguida n&o se recordam mais$ ;om o pCblico ou seus colegas elas se mostram muitas ve#es irritadas e pouco pacientes$ Tudo isto as leva a verdadeiras "crises de nervos": atiram seus fones para longe, no meio da sala, quando uma nova dificuldade aparece, e precisam sair por alguns minutos para se acalmar$ Bu ent&o s&o crises sCbitas de choro +4G dos su=eitos e-aminados s ve#es vertigens, desmaios repetidos $$$ e toda esp(cie de incidentes que levam a breves visitas enfermaria$ %ste nervosismo ( mantido pelo pr)prio trabalho que ao mesmo tempo o e-ige e o cria: certas telefonistas atingem rendimentos considerveis !P5G a !K5G em relaç&o m(dia, n&o por e-cesso de empenho, mas porque o pr)prio trabalho, di#em elas, as irrita e "quanto mais se irritam, mais se apressam"$ Dode1se di#er, sem e-agero, que o nervosismo das telefonistas (, nas condições atuais, uma doença necessria ao cumprimento de suas tarefas profissionaisE s&o as mais nervosas as que apresentam um melhor rendimento$ B sistema de controle e ano1 taç&o piora este estado de coisas$
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b Ao sair do trabalho, elas n&o suportam que se lhes diri=am a palavra: isso as irrita$ .entem, como = dissemos, a necessidade de andarE isso as acalma$ Algumas se alegram por ter um longo tra=eto a percorrer antes de chegar em casa, caso contrrio ser&o capa#es, di#em elas, de quebrar o que lhes vier m&o$ %m casa elas s&o nervosas e irritveis com tudo que as rodeia$ ;om o marido, ora acontecem cenas in=ustificadas, ora per'odos de mutismo completo$ 9ma delas nos disse que assim que volta para casa seu marido e ela n&o se falamE eles esperam que ela fique calma, o que leva em m(dia meia hora, as ve#es mais$ .omente ap)s isso a situaç&o melhora$ %las n&o suportam que os filhos façam o m'nimo ru'doE precisam controlar1se para n&o bater neles$ .eus filhos s&o, na maioria, muito nervosos, su=eitos a caprichos e crises de birra frequentes, tendo pavores noturnos$ c B ru'do ( particularmente mal suportado, qualquer que se=a ele, mas sobretudo o s&o os ru'dos violentos e inesperados: batidas de portas, arranque de um ve'culo, bu#ina de autom)veis a proibiç&o de bu#inas noite, em Daris, tem sido para alguns um al'vio considervel$ Bs ru'dos repetidos e mon)tonos, o rdio, s&o absolutamente intolerveis e podem desencadear verdadeiras crises de nervos$ N)s notamos, por ve#es, uma hipersensibilidade muito particular ao ru'do: h momentos em que o su=eito tem a impress&o de que a cabeça est "como uma caverna" onde ressoam os menores ru'dos, chegando o simples atrito de papel a causar um estado de "inquietaç&o nervosa terr'vel"E enquanto que em outros momentos, ao contrrio, o su=eito tem a impress&o de ser surdo e fa# repetir tudo aquilo que lhe disseram$ Dor outro lado, as telefonistas apresentam freqMentemente F+G dos casos per'odos de depress&o, humor triste, em que a astenia se complica com desgosto de viver, com id(ias de suic'dio mais ou menos e-pl'citas, por ve#es mesmo com tentativas de suic'dio$ Luase todas apresentam hiperemotividade e ansiedade latente$ A menor contrariedade ( suficiente, freqMentemente, para desencadear uma crise de choro, que pode tamb(m surgir sem ra#&o aparente, da mesma forma que risos incontidos ine-plicados$ N)s pudemos constatar esta hiperemotividadeE muitas nos confessaram ter dCvidas quanto a conversar com um m(dico sobre seus problemas, sabendo que isso e-igiria delas um esforço muito grande$ Huitas ve#es, enquanto nos descreviam o que sentiam, estavam pr)-imas de desatar em soluçosE a evoluç&o de suas dificuldades e de suas consequências era suficiente para despertar esse estado de nervosismo e de emotividade$ ; 1 6istCrbios do .ono %les representam tamb(m um elemento vital, quase constante o sono s) ( normal em !PG dos su=eitos e-aminados $ Trata1se essencialmente de: a Oipersonia diurna FPG dos casos: elas têm constantemente vontade de dormir durante o dia$ 9ma nos disse que seu dese=o era ser "uma rainha preguiçosa, constantemente deitada em sua cadeira"$ Algumas chegam a dormir ! ou + horas ao voltar para casa e assim recuperam, em parte, suas forças$ A maioria n&o consegue$ b nsnia noturna: o sono ( quase sempre perturbado em graus variveis: 1 adormecimento tardio e dif'cil, sono leve, despertar fcil e precoceE 1 sono agitado, pouco repousante KFG dos casos, com sonhos, relacionados profiss&o ou n&o, com pesadelosE 1 insnia quase total F>G dos casos, pelo menos em certos per'odos, que podem durar muitos meses$ Bs tratamentos prescritos pelos m(dicos consultados para estas insnias s&o freqMentemente mal tolerados$ Bs son'feros ou os sedativos as fa#em dormir, mas na manh& seguinte dei-am um estado de obnubilaç&o e de "embrutecimento" tal que atrapalha o trabalho e obriga a interrupç&o do tratamento$ Dor outro lado, o caf( ( consumido abundantemente: "a gente gosta de tomar caf( quando est no
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interurbano", disse1nos uma delas$ 9ma nos disse que havia tentado tomar o "Ha1 -iton" durante o dia quando tinha sono, mas que teve que renunciar a essa prtica pois ela causava uma necessidade de dormir ainda maior$
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6 1 Alterações .omticas Trata1se de manifestações "c)rtico1viscerais" evidentes, que e-primem as repercussKes org@nicas do esgotamento nervoso, aparecendo e, pelo menos inicialmente, desaparecendo com ele$ No decorrer do nosso trabalho, as telefonistas referiram1se a uma s(rie de indisposições mais ou menos intensas: angCstias, palpitações, dores pr(1cordiais, sensações de opress&o torcica, "bolas" no estmago etc$ Tamb(m se quei-avam de cefal(ias, as ve#es relacionadas ao uso dos fones, que davam a algumas a impress&o de queimaduras violentas$ Hais raramente, vertigens, tremores, nuseas$ Huito freqMentemente, s'ncopes desmaios$ 0ora do trabalho, notaram1se: 1 sobretudo alterações digestivas: anore-ia FKG dos casos quase sempre importantesE dores gstricas, tendo por ve#es um horrio e uma periodicidade que lembra as dores de Clceras, vmitos, emagrecimentoE 1 cefal(ias persistentes, frequentes FPG dos casosE 1 alterações cardiovasculares: s'ncopes, palpitações, vertigens, #umbido nos ouvidos, alterações da vis&o, que davam a algumas medo de ter uma hipertens&o arterial, se bem que nenhum sinal ob=etivo tenha sido observado nas nossas doentesE 1 alterações menstruais Todas essas alterações se distribuem de maneira varivel, segundo os su=eitos$ 2 comum serem encontradas associadas, embora algumas predominem$ Dor e-emplo, as telefonistas se quei-aram sobretudo das alterações do sono ou de nervosismo, ou de diversas alterações somticas$ %mbora se trate, em geral e a primeira vista, de indisposições em si pouco graves, parece1nos que terminam, muito freqMentemente, por tornar a e-istência das telefonistas absolutamente intolervel, por lhes suprimir toda a possibilidade de calma e felicidade$ A intensidade e a permanência das alterações chega a constituir uma verdadeira neurose$ Algumas têm verdadeiramente levado, durante muitos meses e at( mesmo muitos anos, uma e-istência totalmente perturbada, conseguindo somente e-ecutar seu trabalho, mas n&o podendo ter absolutamente nenhuma outra atividade, e e-perimentando em certos momentos a impress&o de "tornarem1se loucas" e de perderem completamente o controle de si mesmas$ 0oi apenas muito lentamente, por meio de um trabalho de readaptaç&o progressiva muito prudente e graças a um posto de trabalho menos cansativo, que elas puderam vencer uma situaç&o verdadeiramente dramtica$ Huitas ve#es nos disseram: "%u n&o sei viver"$ %, de fato, elas têm, quase todas, uma vida social muito redu#ida: poucas distrações, poucos passeios e centros de interesses$ 2 o oposto de uma vida leviana ou de orgia, como algumas, com uma rara inconsciência, poderiam ter pretendido$ %las levam, em geral, uma e-istência muito limitada, pobre, da qual a maior parte tem consciência e pela qual sofrem muito$ %las perderam o seu dinamismo, tornaram1se indiferentes, sem energia$ 7e1 cusam o que anteriormente lhes atra'a, a mCsica, o teatro, os esportes, os estudos$ Tudo lhes parece acima de suas forças e quando elas tentam reagir, pagam caro, com uma fadiga que lhes custa muitos dias para compensar$ %las e-perimentam freqMentemente a necessidade de atividades ao ar livre: algumas fa#em acampamento aos domingos, sentem a necessidade absoluta de sair de Daris para conseguir rela-ar um pouco$ Algumas nos disseram da a=uda que têm encontrado em interesses e mesmo nas tarefas pesadas e-tra1profissionais, subentendidos peias fortes convicções, por ob=etivos claros que lhes permitem dominar na aç&o uma vida que em outras reas est atrofiada pela fadiga, dedicada por ve#es, inteiramente reparaç&o de suas forças$ %stas influências, em aparência parado-ais 1 por outros bem conhecida dentro das outras neuroses, mereceriam
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longas considerações psicofisiol)gicas que ultrapassam o quadro desse artigo$ Huitas telefonistas nos e-primiram a certe#a de que, sem essas atividades e essas perspectivas, elas n&o teriam podido resistir, que poderiam ter sido mesmo levadas ao suic'dio$ A gravidade real desses estados de esgotamento nervoso aparece no fato de que o dia de descanso semanal (, n&o raro, insuficiente para fa#er desaparecer os sintomas: "A gente nem se apercebe de que houve um dia de repouso", di#em elas$ .omente algumas afetas a postos privilegiados, disseram1nos que no dia em que n&o trabalham s&o mais calmas, mais rela-adas$ Bs dois primeiros dias da semana elas v&o bemE somente a partir de Pa1feira sentem que se tomam cansadas e nervosas$ Has a maioria delas necessita, para se recuperar, de um repouso de ao menos duas semanas, mudando completamente de ambiente$ %nt&o, rapidamente, o sono e a calma retomam$ Has, quando voltam ao trabalho, s&o suficientes poucos dias para que toda a s'ndrome se reconstitua, e-atamente como antes$ 9m per'odo na praia (, em geral, nefasto, por ve#es mesmo catastr)fico$ B repouso no campo e sobretudo na montanha (, ao contrrio, multo mais efica#$ Assinalamos que muito poucas tiram licença por doença ou para repouso, mesmo quando elas est&o no limite de suas forças$ %ssas licenças têm , de fato, repercuss&o nas suas avaliações e pre=udicam suas promoções$ A data de aparecimento das alterações em relaç&o ao inicio do trabalho das telefonistas ( dif'cil de estabelecer1se de maneira precisa$ Luase todas que e-aminamos e-erciam suas funções havia vrios anos e lhes foi dif'cil traçar a cronologia de manifestações, por ve#es = antigas$ Darece, por(m, que no primeiro ano as alterações se=am limitadas: repetiç&o automtica de frases profissionais, sonhos relacionados com seu trabalho, anore-ia, leve emagrecimento, ligeira insnia$ %stas alterações desaparecem depressa com o repouso e n&o condu#em a perturbações importantes na vida das principiantes$ %ntretanto, pouco a pouco, o repouso se torna insuficiente para recolocar tudo em ordem, as alterações se tornam permanentes, se agravam e se multiplicam$ Aparece ent&o o nervosismo, a insnia, a astenia profunda, a diminuiç&o das possibilidades intelectuais, uma repercuss&o mais ou menos grave sobre o estado geral$ ;ertos fatores acentuam os sintomas de maneira muito clara: .&o o per'odo menstrual e a gravide#, quando o agravamento se produ# de maneira muito precoce, desde as primeiras semanas, e s) termina depois do parto$ As dificuldades pessoais, os conflitos afetivos e familiares desempenham tamb(m, naturalmente, um papel agravante muito n'tido, mas n&o determinante, como alguns podem pre1 tender$ N)s tentamos determinar quais eram os elementos do trabalho mais patogênicos$ 2 impressionante constatar que o trabalho em si mesmo 1 isto (, sua nature#a particular entre outras atividades profissionais, as operações ou mesmo as relações com os usurios que ele comporta 1 ( bem pouco questionado pelas empregadas$ 7aras foram aquelas que assinalaram 1 sem que insist'ssemos 1 a fadiga devida aos gestos necessrios, as dificuldades a vencer, ao uso do fone, ao ru'do das salas, defeitos do material, falta de aeraç&o, iluminaç&o etc$ Todas, ao contrrio, insistiram nas condições gerais nas quais se efetua o trabalho, na sua atmosfera$ Bs dois elementos fundamentais incriminados foram o rendimento e o controle$ B rendimento, a rapide# das operações que ele e-ige foram unanimemente =ulgados como e-cessivos$ 2 este ritmo, como o de mCltiplos outros postos de trabalho semi1 automati#ados das empresas modernas, que sobrecarrega os processos nervosos, e-cede as possibilidades normais de adaptaç&o e se tradu# na telefonista por esta impress&o sub=etiva de estar partida, pressionada, sobrecarregada, enervada pela e-ecuç&o de tarefas que, todavia, s&o fceis de serem cumpridas$ B modo de clculo deste rendimento contribui muito a dar ao ritmo seu carter penoso$ %le ( determinado em relaç&o a uma m(dia efetuada sobre o grupo de operadoras e em seguida cada uma ( obrigada a efetuar uma porcentagem em relaç&o a esta m(dia$ As operadoras tem horror desta m(dia a ser cumprida, pois
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caso n&o a cumpram, pensam, suas notas ser&o rebai-adas e sua promoç&o ser comprometida$ %ste modo de proceder provoca uma competiç&o entre as tele1 fonistas, que disputam entre si as comunicações, para manter suas m(dias$ %las se anunciam vrias ve#es sobre a mesma chamada e ( aquela que grita mais alto que pega a chamada$ %las "provocam ru'dos nos fones das outras" durante estas pequenas disputas, ru'dos estes que representam verdadeiros sofrimentos para multas delas$ %ste sistema provoca o seguinte fato parado-al: nas horas de menor movimento a competiç&o entre elas ( mais forte$ enquanto que quando h chamadas "para todo mundo", elas se enervam menos e, di#em, sentem uma fadiga "mais f'sica"$ B controle ( efetuado de vrios modos: sobretudo pelo sistema de "mesas de escuta" e por controladoras que circulam constantemente atrs das operadoras$ As "escutas" tem por finalidade verificar se as telefonistas utili#am bem o "modo operat)rio" fi-ado, isto (, frases fi-as e determinadas por uma esp(cie de c)digo, as quais devem obrigatoriamente ser pronunciadas em qualquer eventualidade, e de controlar a distraç&o, a conversa, a "amabilidade", etc$ As operadoras ignoram quando s&o "escutadas"E sabem apenas, atrav(s de um "clic" no fim da operaç&o, que acabaram de control1las durante !K minutos ou meia hora$ Dor outro lado, as controladoras est&o l para impulsionar o trabalho, atrav(s de lembretes como "prestem atenç&o s lu#es$$$ apressem1se, atenç&o maquete$$$ atenç&o ao controle$$$ " etc$, constantemente repetidos durante todo o dia$ As operadoras devem pedir permiss&o controladora para sair quando tiver necessidade fisiol)gica a satisfa#er, o que ( chamado de "ir e vir", com duraç&o de cinco minutos$ Luando este tempo ( ultrapassado, desencadeia interrogat)rios cerrados sobre a utili#aç&o do JQ minuto$ Tudo isso cria uma atmosfera que, se n&o chega a ser de medo, pelo menos ( de apreens&o cont'nua, um "ambiente sufocante", um sentimento de humilhaç&o, a impress&o e-asperante de serem "dirigidas como crianças", de estarem na escola maternal, de serem incompreendidas e in=ustamente repreendidas$ Butras condições de trabalho s&o igualmente mencionadas: a automati#aç&o cada ve# mais crescente causa uma grande monotoniaE as operadoras sofrem por trabalhar como "robs", fa#er um trabalho "mec@nico", n&o ter que tomar nenhuma iniciativa, n&o poder organi#ar elas mesmas o seu trabalho, n&o acrescentar nada delas mesmas a este trabalho$ sto provoca desencora=amento, a impress&o de tra1 balhar "bestamente", ou acessos de raiva quando elas percebem at( que ponto seu trabalho ( pouco interessante, sem participaç&o pessoal, sem nenhuma iniciativa$ Algumas telefonistas mais idosas nos falaram com saudades das antigas condições de trabalho$ N&o poder ser inCtil lembrar a esses su=eitos que nossas observações relativas ao clima no qual desenvolvem seu trabalho e aparecem suas fadigas n&o s&o mais que uma ilustraç&o da import@ncia dos fatores psicossociais relacionados a fadiga industrial, a qual numerosos autores têm dado atenç&o R7A%D%<N, .$ HS%7.$ %$D$ ;ATO%A7T, $ HASB, 3$H$
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etc$ Achamo1nos diante de um enorme comple-o de fatores, ficando muito dif'cil isolarem1se os aspectos determinantes dos aspectos contingentes, o que necessitaria de um levantamento muito longo e detalhado$ Nem se precisa di#er que, por outro lado, ser artificial e falso considerar isoladamente a vida profissional e a vida pessoal das telefonistas de quem quer que se=a$ 2 bem evidente, de fato, que as alterações das quais sofrem repercutem inevitavelmente, e por ve#es profundamente, nas suas relações con=ugais, familiares etc$ A alteraç&o dessas relações, em troca, as tornam mais intolerantes s suas condições de trabalho$ ;om essas reservas, nossa impress&o atual ( a de que os fatores e-traprofissionais s&o quase sempre secundrios na gênese das alterações das telefonistas que e-aminamos$ %ncontramos quase os mesmos sintomas quaisquer que se=am as condições de vida, origem parisiense ou n&o, vida isolada ou em fam'lia, "antecedentes", etc$ 2 seu trabalho, suas condições materiais e "morais" que parecem, no essencial, ser responsveis pela neurose das telefonistas$ c Al(m disso, mesmo dentro da profiss&o, s&o observadas diferenças muito sens'veis segundo o tipo de trabalho efetuado$ ;ertos postos, onde a vigil@ncia e a e-igência do rendimento s&o menos rigorosas, onde a maior iniciativa ( dei-ada para as operadoras, parecem verdadeiramente privilegiados em relaç&o aos outros$ As telefonistas têm muito menos alterações$ sso ( para elas um refCgio ao qual aspiram por muito tempo e que n&o dei-ar&o por nada no mundo$ A comparaç&o entre telefonistas pertencentes a esses diferentes grupos permitir melhor evidenciar a influência das diferentes condições "t(cnicas" ou psicol)gicas do trabalho$ %nfim, outras comparações ser&o estabelecidas com os grupos "controles" diversos, inteiramente diferentes ou similares$ ;om efeito, a s'ndrome que descrevemos n&o ( certamente pr)pria das telefonistas$ Bcorre em todos os empregos que e-igem, com ou sem fadiga muscular, um ritmo e-cessivamente rpido de operações e propiciam condições de trabalho ob=etiva ou sub=etivamente penosas: mecani#aç&o dos atos e monotonia, vigil@ncia r'gida, relações humanas na empresa alteradas etc$ A s'ndrome geral da fadiga nervosa pode ser provocada por mCltiplos pre=u'#os mais ou menos diretos na atividade nervosa superior$ 2 assim que se descreveu a s'ndrome da "fadiga dos mec@nicos da aviaç&o" submetidos aos intensos ru'dos dos motores, a "fadiga dos combates", a fadiga dos aviadores", o "nervosismo das tecel&s" e as mCltiplas formas da "fadiga industrial? dos psicotecnicistas anglo1sa-ões$ 2 sabido que a velha "neurastenia" 1 talve# in=ustamente esquecida 1 cu=o quadro cl'nico se apro-ima em vrios pontos daquele da neurose das telefonistas, ( freqMentemente acidental, aparecendo na ausência de toda predisposiç&o e em seguida a causas graves de esgotamento nervoso: choques morais, infecções etc$ d %nfim, ser necessrio ob=etivar a e-istência deste esgotamento nervoso que, no momento em que se torna irrevers'vel, constitui, como vimos, uma verdadeira neurose$ nfeli#mente as provas que permitem medir a fadiga em geral e especialmente aquela que causa o esgotamento direto dos processos nervosos n&o têm, como sabemos, grande valor$ Assim, sem renunciar ao e-ame, nas telefonistas e mecanografistas, do estado dos analisadores sensoriais, dos tempos de reaç&o e a algumas provas psicol)gicas elementares atenç&o ativa, por e-emplo, ( por outra via que pretendemos orientar nossa pesquisa$ %ssa via ( constitu'da pelos estudos da "atividade nervosa superior" no sentido pavloviano da e-press&o, utili#ando o m(todo dos refle-os condicionados$ N&o ( o caso de e-pormos aqui as grandes linhas deste m(todo$
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no trabalho das telefonistas$ 9ma ve# estabelecidos esses refle-os, ( muito fcil observar suas modificações sob influências diversas aqui a fadiga$ Assim, pensamos colocar em evidência a e-istência de perturbações importantes e permanentes da atividade nervosa superior, em particular daquelas descritas por Davlov com o nome de "estado de fase", dentro das "neuroses" provocadas e-perimentalmente no animal$ Nossa hip)tese ( que a "neurose das telefonistas" ( uma verdadeira "neurose e-perimental" caracteri#ada em esp(cie essencialmente pelo pre=u'#o dos processos de inibiç&o interna, processos estes os mais e-perimentados dentro do trabalho das telefonistas e, alis, os mais frgeis$ %sta hip)tese nos parece fornecer muito bem os dados do quadro cl'nico$ A demonstraç&o da e-istência dessa neurose e de sua patogenia permitir somente tratar de uma maneira racional as causas que as provocam: as condições de trabalho desfavorveis, e de fa#er reconhecer como doenças profissionais as afecções nervosas e mentais cada ve# mais numerosas, ligadas ao esgotamento nervoso a que as novas formas de trabalho condu#em$ 0H$