VOLPATO, Gilson; BARRETO, Rodrigo (2014). Elabore Projetos Competitivos: Biológicas, Exatas e Humanas. Botucatu: Best Writing, p. 117-23; p. 135-42. Capítulo 6 – A A Redação do Projeto 1- Estratégias Básicas Uma primeira concepção que enfatizamos é que você tenha o projeto bem claro em seu pensamento antes de iniciar a redação. Debata sobre ele com colegas, ou consigo mesmo, mas fale muito dele, pense muito nele antes de iniciar a redação. Se isso for feito à exaustão, certamente conseguirá escrever a essência lógica de seu projeto no máximo em 1 dia. Lembre-se de que a redação não é mais que a expressão escrita de uma ideia claramente estruturada no pensamento. pen samento. Não aconselhamos estruturar a ideia enquanto a escreve. “
Ao escrever cada parte do projeto, não se preocupe com a forma da escrita. Correção de forma (frases claras, sintéticas, direta, etc) é questão que vem após o conteúdo estar plenamente resolvido. Portanto, deixe isso para depois, para não se atrapalhar na expressão escrita do pensamento lógico-criativo necessário. Seguindo o preceito acima, escreva cada parte do texto com suas próprias palavras (sem formalismos), que devem representar claramente o pensamento já totalmente estruturado. Em relação a estilo, o texto estará horrível, mas não se assuste com isso ainda. A visão de uma casa com construção iniciada não é bela, mas poderá ser uma casa maravilhosa quando concluída. Primeiro, a estrutura, depois o acabamento. Com essa orientação, escreva os blocos principais (Métodos e Introdução). Após redigir cada um deles com suas palavras, sem necessariamente incluir as literaturas pertinentes, cheque se a estrutura lógica das informações está adequada. Veja se não falta informação crucial para se propor o que se apresenta no projeto. Ou seja, veja se, em termos de informação (estrutura), nada falta de fundamental. Nessas duas partes que enfatizamos, tenha uma Introdução que claramente fundamente seus objetivos e um Material e Métodos que logicamente permita atingir seus objetivos. Depois disso, retorne à literatura principal de seu estudo e olhe superficialmente partes desses estudos. Certamente, encontrará informações que você rapidamente perceberá que podem ser usadas para melhor substanciar e melhor fundamentar os textos que você já escreveu. Se num dado momento disse que X interfere com A, poderá encontrar algum estudo que mostre, com base empírica sólida, que tal efeito ocorre. Então, esse exemplo entrará para justificar o que você já conhecia, mas não havia ainda apresentado suporte literário. Feito isso, o texto continuará esteticamente feio, mas agora já com todas as informações necessárias. Cheque se não falta informação importante e necessária. A última parte será a correção de estilo. Outra sequência importante é a sequência dos itens a redigir. Uma sequência adequada lhe permite seguir o processo natural de estruturação de uma ideia e proposta científica.
Por isso, ajuda a redação. Nossa proposta é baseada no processo de redação de artigo científico de trás para frente, expressa em Magnusson (1996). No caso do projeto, adaptamos para a sequência apresentada na figura 6. Sequência para Redigir o Projeto
1º) Objetivos
5º) Problemática
2º) Delineamento
3º) Análise de Dados
4º) Sujeito
6º) Justificativas
7º) Técnicas e Montagem
8º) Resumo
9º) Título
10) Complementos
Figura 6. Sequência de itens a redigir durante a confecção do projeto de pesquisa. Essa sequência privilegia as atividades teóricas; posteriormente as técnicas e de comunicação. Note que o objetivo do estud o é o d irecionador de toda a estruturação do projeto (...) [adaptado]
Pela sequência apresentada, primeiro orientamos para a redação da parte teórica do estudo. Lembre-se de que a ciência é teórica. Feito isso, complementamos com os detalhes técnicos da pesquisa, seguido pelos apelos de divulgação (Resumo e Título) e, finalmente, por questões técnicas. 2 – Redija o objetivo As orientações necessárias para a redação de objetivos foram dadas no capítulo 4. Aqui apenas enfatizamos que ele deve ser a primeira parte a ser escrita no projeto. Mesmo que ele apareça dentro da Introdução, ou logo após, escreva-o primeiro para sua orientação. Na Introdução, no momento certo, você o incluirá. Não apenas o escreva, mas tenha clareza absoluta sobre ele. Ele será o diferencial de seu estudo. Se esse diferencial for o uso de alguma técnica específica para coleta de dados, ou o uso de algum sujeito de pesquisa, isso deve estar claramente expresso no objetivo. Note que é natural e lógico que o objetivo apareça na Introdução do texto, como ocorre com os artigos e outros textos de pesquisa já concluída. Apesar disso, no projeto é comum que se solicite a inclusão do objetivo num item à parte. Isso não é, necessariamente, um erro. Trata-se de tentar evidenciar essa parte central do projeto para facilidade do revisor. Muitos revisores podem ler apenas o objetivo, pelo fato de o entenderem plenamente e já perceberam sua relevância, sem necessidade das fundamentações (justificativas) que estão na Introdução.
Quanto mais organizado for sua apresentação do objetivo, melhor para todos (o revisor e você). Ligando essa exposição do objetivo com clareza às outras partes do projeto, ele só será negado se a ideia original não for boa. [...]
4 – Sequência de apresentação do projeto A apresentação do projeto obedecer à sequência mais formal, mais costumeira no diálogo científico. Assim, os itens indicados anteriormente na figura 6 para serem redigidos em 2º, 3º, 4º e 7º lugar devem, agora, ser apresentados em outra sequência (Fig. 7) que melhor mostrará o formato do projeto ao costume dos revisores. Geralmente o mais geral do estudo é o sujeito da pesquisa da pesquisa. Em seguida, a estratégia intelectual (Delineamento), pois sem conhecer essa estratégia não sabemos como será feito o estudo. O terceiro item é bem técnico e o quarto é a forma como você prevê analisar seus dados. Sequência para Apresentação do Projeto
1º) Título
2º) Resumo
3º) Introdução
4º) Material e Métodos
5º) Sujeito
6º) Delineamento
7º) Procedimentos Específicos
8º) Análise dos Dados
9º) Cronograma
10) Referências
Financeiro
Figura 7. Sequência das partes de um projeto para encaminhamento à agência de fomento. De acordo com conceitos da agência, detalhes dessa sequência podem mudar, bem como alguns subitens podem ser incluídos. Distinga claramente a sequência de redação (Fig.6) desta sequência de montagem (apresentação) do projeto.
[...]
5 – Redija a Introdução Agora que a essência de seu projeto está redigida, faça a Introdução. Ou seja, apresente para o revisor qual será o seu projeto e porque pretende executá-lo. Isso envolve mostrar a problemática que originou a pesquisa e a fundamentação que o levou a escolher seu(s) objetivo(s). No Brasil há algumas manias horríveis para se construir Introdução, infelizmente. Elas matam qualquer aprendizado de redação científica e desnorteiam mesmo quem já é um pouco mais experiente. Uma dessas manias trata da separação dos itens Introdução e Justificativa. Isso não tem o menor sentido lógico num texto científico.
Introdução de projeto de pesquisa, em qualquer lugar do mundo, é o texto onde você explica as razões sobre o que fará no projeto. Razões, a menos que estejamos delirando, é justificativa. E lembramos que fazemos ciência para responder a perguntas que ainda não foram solucionadas. Usamos o método científico para isso. Assim, a justificativa está inexoravelmente ligada a problemática que originou a pesquisa. Considere a Introdução como um argumento lógico. Isso significa que toda a informação apresentada deverá ser necessária para fundamentar sua conclusão que, no ambiente da Introdução, é o seu objetivo. Partindo da lógica estrutural do seu objetivo (visto no capítulo 4), fica fácil identificar os elementos que terá que validar para o objetivo proposto. Para apresentar essa argumentação, seja simples. Tente imaginar quais são as informações que lhe dão razão para propor o que se propõe. Elas serão suas premissas e o argumento deverá desembocar nas suas conclusões. Para construir esse texto, você deverá ser criativo e lógico. Lembre-se de que tem que convencer o revisor de que vale a pena investir no seu sonho, mesmo que o revisor não tenha os dados na mão. Projeto é isso, é sonho... e tem que convencer alguém a pagar para você realizar seu sonho. V ocê só conseguirá ser perfeitamente convincente se tiver, antes de tudo, convencido a si próprio de que esse sonho vale a pena. Tente expor oralmente sua argumentação. Faça papel de advogado do diabo, questionando a você mesmo sobre essa argumentação. Não passe por cima do que tiver dúvida; enfrente! Sua ideia deverá estar bem clara para que você consiga escrever o texto com clareza e coerência lógica. Esqueça as regrinhas que possivelmente aprendeu nos corredores da ciência equivocada (...) Você sabe discutir e defender ideias... apenas aplique isso. Nada tem que fazer parte de sua Introdução se não atender essa regra do argumento lógico. [...] Outra mania que temos aqui no Brasil é a de inclusão de uma parte resumindo as principais referências da área; um discurso que mostra o que já foi feito, a tal Revisão da Literatura. Isso só mostra conhecimento da área, erudição. Lógico que podemos fazer um apanhado das principais publicações da área, mas sempre no sentido de fundamentação da problemática do estudo e/ou do objetivo do projeto. A ideia não deve ser de que aquelas informações poderão ser úteis para o revisor, pois nem sempre eles a lerão. Você não tem que mostrar erudição ao revisor, mas fundamentos científicos que validem e deem sentido à sua proposta. Lógico que você deve ter feito uma revisão da literatura, mas não precisa nos contar tudo o que leu... guarde com você e use-a! Muitos orientadores e revisores insistem nesse tópico, o que só agrava a situação da comunicação científica em nosso país. Escrever um breve texto contendo os principais andamentos dentro da temática do estudo poderá ser necessário se, e somente se, esse andamento for elemento importante na fundamentação do estudo. Pode, por exemplo, mostrar o Estado da Arte para indicar até onde a ciência chegou e qual será seu caminho a partir daí. Não precisa escrever um resumo da literatura para dizer que isso nunca foi testado, porque se o revisor quiser discordar, deverá mostrar estudos que já tenham feito o que você propõe. Em outras áreas tem ainda o tal ‘Referencial Teórico’. Vejamos a lógica disso. Toda pesquisa tem algum referencial teórico, logicamente (...) como lidar com o Referencial Teórico? Se você tem alguma teoria maior, que usará como base para realizar seu trabalho, pode dizer isso, mas na Introdução. Não é um tópico do estudo, muito menos do projeto. Tudo isso se coaduna com a fundamentação do seu objetivo dentro da Introdução (...)
[...]
Nossa sugestão é que você procure embasar sua proposta e também explicar porque ela parte de determinado referencial teórico (apenas se a controvérsia em sua área exigir tal opção). Para um bom projeto, justifique fortemente (mesmo que resumidamente) suas opções. Esse será o início de sua justificativa, que pode vir logo após apresentar o problema que resolveu investigar, mas não precisa dividir em tópicos, pois a Introdução é um tópico que deve ter todos os parágrafos interligados logicamente, de forma a defender seus objetivos. ”