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UM ELOGIA A M AGIA TRADICIONAL S ALOMÔNICA Fernando Ligório [Texto escrito aos participantes do Curso de Filosofia Oculta e integrantes do grupo Magia Tradicional Salomônica no Facebook.]
este grupo nós estamos «trabalhando», «redespertando» e «resgatando» a Magia Tradicional Salomônica. Por que esses termos? Pelo fato de que a interpretação moderna e pós-moderna da magia tem «degenerado» a Arte dos Magi. Quando falamos de magia ou hermetismo medieval (ou magia em um âmbito geral), Agrippa permanece insuperável. Foi graças aos esforços de Agrippa que hoje nós temos um sistema de magia cerimonial coeso, bem «amarrado» e «fechado». Tudo o que nós precisamos para praticar a Magia Tradicional Salomônica, quer dizer, tudo o que precisamos saber para colocar a magia dos grimórios medievais em prática, está na obra de Agrippa. Assim, não é ousado ou desmedido, mas ao contrário, justo e correto dizer que se não fosse os esforços de Agrippa, estaríamos completamente perdidos no exercício da magia cerimonial. E é porque a interpretação moderna da magia esqueceu-se completamente de Agrippa, supervalorizando autores pífios como Mathers, Crowley, Fortune, Regardie etc. que a magia moderna tornou-se desprovida de conteúdo, força e poder. A escola inglesa de magia, autora das interpretações moderna e pós-modernas, degenerou o Ocultismo e a Arte dos Magi. Portanto, no caminho de se trabalhar efetivamente a Magia Tradicional Salomônica, necessitamos tomar o cuidado para não «contaminar» nosso estudo e prática com qualquer influência da magia moderna e seus principais intérpretes. Em sua obra, OS TRÊS LIVROS DE FILOSOFIA OCULTA, Agrippa nos provê informações valiosas de quem pode ou está apto a ser um mago e de onde vem o seu poder para manipular as virtudes ocultas dos elementos e sua autoridade sobre as diversas criaturas espirituais que ele conjura. Já no início de sua obra, Agrippa define a magia:
N
«Magia é uma faculdade de maravilhosa virtude, cheia dos mais nobres mistérios, contendo a mais profunda contemplação das coisas mais secretas junto à natureza, ao poder, à qualidade, à substância e às virtudes delas, bem como o conhecimento de toda a natureza, e ela nos instrui acerca da diferença e da concordância das coisas entre si, produzindo assim maravilhosos efeitos, unindo as virtudes das coisas pela da aplica-
ção delas uma em relação a outra, unindo-as e tecendo-as bem próximas por meio dos poderes e das virtudes dos corpos superiores.»1
Depois, ao explicar como o mago adquire poder na magia, para manipular as virtudes dos elementos e para adquirir poder sobre as criaturas espirituais conjuradas, Agrippa diz: «Uma vez que a compreensão, que é em nós a maior faculdade da alma, é a única verdadeira operadora de milagres e a qual, se sobrecarregada de excessos com a carne e ocupada com a alma sensível do corpo, não é digna do comando de substâncias divinas; assim, muitos perseguem essa arte em vão . É, portanto, mister que aqueles dentre nós que se empenham em alcançar tão grande altura meditem de modo especial em duas coisas: a primeira, como deixar as afeições carnais, o fraco sentido e as paixões materiais; a segunda, como e por qual meio nós podemos ascender a um intelecto puro e imbuído dos poderes dos deuses, sem os quais jamais teremos a felicidade de ascender ao escrutínio das coisas secretas e ao poder das operações maravilhosas, ou milagres; pois é nisso que consiste a dignificação, que a natureza, o merecimento e uma certa arte religiosa compõem. [...] Mas a dignidade que é adquirida pela arte da religião é aperfeiçoada por determinadas cerimônias religiosas, expiações, consagrações e ritos sagrados, que procedem daquele cujo espírito foi consagrado pela religião pública e que tem o poder da imposição das mãos e de iniciar com o poder sacramental, pelo qual o caráter da divina virtude e poder é em nós impingido, o qual chamamos de consentimento divino, e pelo qual um homem sustentado com a natureza divina e tornado companheiro dos anjos carrega consigo o poder importado de Deus; e esse rito é mencionado nos mistérios eclesiásticos. Se, portanto, você quiser ser um homem perfeito na sagrada compreensão da religião, meditar nela com devoção e constância, acreditar sem duvidar e for o tipo de indivíduo ao qual a autoridade dos ritos sagrados e da natureza conferiu dignidade acima dos outros, e que os poderes divinos não desprezam, então, por meio da oração, da consagração, do sacrifício e da invocação, você será capaz de atrair poderes espirituais e celestiais e impingi-los no que quiser, vivificando assim todo trabalho de magia; mas aquele que, sem a autoridade de tal ofício, sem o mérito da santidade e do aprendizado, fora da dignidade da natureza e da educação, tiver a pretensão de realizar qualquer intento mágico, trabalhará em vão e enganará tanto a si mesmo quanto aqueles que nele acreditam, além do perigo de incorrer no desagrado dos poderes divinos.» 2
Essa passagem de Agrippa elucida muita coisa na prática da Magia Tradicional salomônica e vou anunciar alguns pontos importantes, explicando-os. «Uma vez que a compreensão, que é em nós a maior faculdade da alma, é a única verdadeira operadora de milagres e a qual, se sobrecarregada de excessos com a carne e ocupada com a alma sensível do corpo, não é digna do comando de substâncias divinas; assim, muitos perseguem essa arte em vão.» Agrippa trabalha com o conceito platônico de Alma onde ela é constituída de três partes: Intelectual, Emocional e Animal. A parte superior da Alma é a Intelectual, o próprio Logos de Deus no homem, o que os hindus têm chamado de ātma. No mago, a Alma Intelectual deve reger as outras duas partes da Alma, caso contrário, se ele ainda está perdido no alvoroço de suas emoções e aprisionado pelas paixões da Alma Animal, ele não tem a dignidade necessária para manipular as virtudes dos elementos ou comandar os espíritos. Sua «palavra» é pífia; não se trata da Palavra de Deus, o Logos, que 1 Agrippa, OS TRÊS LIVROS DE FILOSOFIA OCULTA, Parte I, Capítulo 2. 2 Agrippa, OS TRÊS LIVROS DE FILOSOFIA OCULTA, Parte III, Capítulo 3. Os
itálicos são meus.
reverbera em todos os planos existenciais e multiuniversos. Por isso, Agrippa diz, muitos praticam em vão essa arte, ou seja, eles pensam ser magos, eles pensam ter poderes, mas de fato não o tem. São como Simão, o Mago, que queria comprar o «dom de Deus». Ele não exercia a Arte dos Magi em nome do Eterno e sua milícia celeste, mas em nome de si mesmo. 3 Isso nos lembra da típica atitude dos magistas moderninhos cujo objetivo é tornar o Ego poderoso, construindo uma Torre de Babel para tentarem tomar o Céu por assalto, a típica atitude do pagão crioulo comunista que invade e toma a terra que não lhe pertence por direito ou mérito. Certa feita o autor que aqui lhes escreve presenciou um trabalho mágico de cura espiritual através do exorcismo. Ao usar o nome de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, a entidade disse ao conjurador: «Você? Logo você que é o mais pecador de todos acha que tem qualquer autoridade sobre mim?» O enfermo continuou obsediado. obsediado. Agrippa continua: «É, portanto, mister que aqueles dentre nós que se empenham em alcançar tão grande altura meditem de modo especial em duas coisas: a primeira, como deixar as afeições carnais, o fraco sentido e as paixões materiais; a segunda, como e por qual meio nós podemos ascender a um intelecto puro e imbuído dos poderes dos deuses, sem os quais jamais teremos a felicidade de ascender ao escrutínio das coisas secretas e ao poder das operações maravilhosas, ou milagres; pois é nisso que consiste a dignificação, que a natureza, o merecimento e uma certa arte religiosa compõem.» Diversas vezes tenho colocado ênfase que a Magia Tradicional Salomônica caminha de mãos dadas com uma típica e também tradicional piedade cristã católica ou ortodoxa. Isso implica em conduta moral e virtuosa na prática das Leis de Moisés, as mesmas defendidas e ensinadas por Jesus Cristo. Uma estrita disciplina de orações, confissões, participação nos sacramentos da Igreja, meditações, exames de consciência e penitência. Através dessa piedade cristã, o mago domina suas paixões animalescas, aperfeiçoa e refina a Alma Intelectual. Dessa maneira, é possível ascender aos planos de luz e perfeição, participar dos códigos de luz dos arcanjos e anjos, recebendo deles as virtudes de Deus e a compreensão das coisas ocultas, sobrenaturais. Agrippa é cuidadoso em usar a palavra dignificação, quer dizer, o mago tem de se tornar um homem digno em ações, pensamentos e palavras; um homem que espelhe as virtudes do próprio Cristo, Cristo, o maior exemplo e ícone de Mago a ser seguido. E isso faz parte da piedade cristã: imitar Jesus Cristo em obras. É dessa maneira que a Alma Intelectual comanda e organiza as funções das Almas Emocional e Animal. «Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem.»4 As portas do Céu se abrem ao digno apenas; por isso, aqueles que constroem a Torre de Babel na intenção de invadir e tomar a força seu 3 Veja o texto Simão, o Mago , na Lição 2 . Disponível também na internet.
4 MATEUS, 7:13-14.
lugar entre os merecedores da glória são fulminados por um Raio Divino. Tolos comunistas daimônicos... «Mas a dignidade que é adquirida pela arte da religião é aperfeiçoada por determinadas cerimônias religiosas, expiações, consagrações e ritos sagrados, que procedem daquele cujo espírito foi consagrado pela religião pública e que tem o poder da imposição das mãos e de iniciar com o poder sacramental, pelo qual o caráter da divina virtude e poder é em nós impingido, o qual chamamos de consentimento divino, e pelo qual um homem sustentado com a natureza divina e tornado companheiro dos anjos carrega consigo o poder importado de Deus; e esse rito é mencionado nos mistérios eclesiásticos.» Anteriormente eu havia falado que melhor seria ao mago, no exercício da Magia Tradicional Salomônica, tivesse sagração eclesiástica, quer dizer, fosse um sacerdote cristão. No entanto, Agrippa está nos informando nessa passagem que pelo exercício da piedade cristã e pela consagração da Alma através dos Santíssimos Sacramentos da Igreja, o mago está apto a operar magia, donde no círculo mágico terá o mesmo «dom» sacramental de imposição das mãos como um sacerdote. Se só pelo poder dos Santíssimos Sacramentos sobre a Alma um mago pode desenvolver este poder sacramental e sacerdotal, muito mais sucesso e eficiência terá sua Arte caso ele seja um sacerdote consagrado. Veja que é por meio dessa piedade cristã, seus ritos e sacramentos, estilo de vida virtuoso e moral, que o mago adquire a dignidade necessária para operar os milagres na magia. Indico aqui o LIVRO DO ECLESIÁSTICO no Antigo testamento. Agrippa termina: «Se, portanto, você quiser ser um homem perfeito na sagrada compreensão da religião, meditar nela com devoção e constância, acreditar sem duvidar e for o tipo de indivíduo ao qual a autoridade dos ritos sagrados e da natureza conferiu dignidade acima dos outros, e que os poderes divinos não desprezam, então, por meio da oração, da consagração, do sacrifício e da invocação, você será capaz de atrair poderes espirituais e celestiais e impingilos no que quiser, vivificando assim todo trabalho de magia; mas aquele que, sem a autoridade de tal ofício, sem o mérito da santidade e do aprendizado, fora da dignidade da natureza e da educação, tiver a pretensão de realizar qualquer intento mágico, trabalhará em vão e enganará tanto a si mesmo quanto aqueles que nele acreditam, além do perigo de incorrer no desagrado dos poderes divinos.» Nessa passagem, fica claro que o exercício da magia, ou melhor, seu efeito milagroso através de Deus por meio do sacerdote ou mago praticante, depende de um estilo de vida filosófico, apartado da bagunça, desordenamento de conduta, conversas tolas, vícios, maus hábitos e costumes. O poder na magia vem de Deus, não do mago. Era isso que Simão não compreendia em Pedro ou em Paulo. Eles faziam milagres (taumaturgia) através de uma graça auspiciosa de Deus, pois eram valorosamente virtuosos. Agrippa então nos aconselha a olhar para nosso caminho e nos endireitarmos caso queiramos, de verdade, receber a graça e o dom de Deus. Ficou
claro também o que acontece, cedo ou tarde, com todos os que perseguem essa Arte em vão. Por conta disso, por estarmos alinhados a valores magísticos e cristãos como Agrippa acaba de demonstrar, nesse grupo não são bem-vindos thelemitas, hermetistas modernos da Aurora Dourada, satanistas, luciferianos, kimbandeiros, umbandistas etc. Qualquer pagão ou magista que reconheça Aleister Crowley como um «grande mago», coisa que ele nunca foi, não é aceito entre nós. Bem como absolutamente ninguém alinhado com ideias pagãs e crioulas como marxismo, comunismo, feminismo, gayzismo etc.
Sobre o Autor: Fernando
Liguori é um neoplatônico-tomista e hermetista praticante, escritor interessado em Cristianismo na Antiguidade e Magia Cristã, Neoplatonismo, Tradição Salomônica, Magia na Antiguidade, Filosofia, Yoga, Tantra, Āyurveda e Xamanismo. É Patriarca e líder fundador da Igreja Cristã Ariana da Ordem de Melquisedeque, uma Igreja interessada em preservar a Tradição Ocidental de Mistérios que inclui a Ordem dos Sacerdotes de Melquisedeque, uma Ordem de Iniciação nos Mistérios e treinamento sacerdotal. Nós celebramos os Mistérios & Arcanos da Iniciação através do conhecimento inspirado transmitido por Moisés, Pitágoras, Sócrates, Platão, Aristóteles, Plotino, Jâmblico, Dionísio, o Areopagita, Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino, Santo Afonso Ligório e Marsílio Ficino. Somos uma comunidade cristã, teúrgica e ecumênica fundada na cidade de Juiz de Fora (MG). Nós nos esforçamos para nos engajar na veneração do divino e alcançar o autoconhecimento celestial.