CRISTOLOGIA
CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD Cristologia - Prof. Dr. Pe. Hélcion Ribeiro
Vivo e moro em Curitiba. Tenho três amores: sou professor, padre e escritor. Dou aulas de Teologia Sistemática. Lecionei em Florianópolis, São Paulo e Curitiba. Como padre, trabalhei em Lages (SC), Florianópolis e atualmente em Curitiba (Paróquia Sagrados Corações de Jesus e Maria). Como autor, publiquei vários livros quase todos de antropologia teológica. Os principais pr incipais são: Ensaio de antropologia cristã (Vozes); cristã (Vozes); Condição humana e solidariedade cristã (Vozes); cristã (Vozes); Quem somos? Donde viemos? Para onde vamos (Vozes); vamos (Vozes); A A realização de nosso Deus e a do homem (Loyola); Teologia da religiosidade popular latino-americana (Paulus). Também tenho escrito muitos artigos de teologia. No momento estou escrevendo outro livro versando sobre o tema antropologia teológica. Como estudo, fiz graduação de filosofia, pedagogia e teologia. Fiz também mestrado e doutorado em missiologia, e pós-doutorado em antropologia teológica. Lecionei cristologia, c ristologia, escatologia e antropologia teológica no Studium Theologicum (Curitiba) e na Pontificia Universidade Católica do Paraná, por muitos anos.
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Helcion Ribeiro
CRISTOLOGIA
Batatais Claretiano 2014
© Ação Educacional Clareana, 2014 – Batata Batatais is (SP) Versão:: ago./2014 Versão 232 R367c Ribeiro, Hélcion Cristologia / Hélcion Ribeiro – Batatais, SP : Claretiano, 2014. 214 p. ISBN: 978-85-8377-158-6 1. Cristologia. 2. Jesus. 3. Morte. 4. Ressurreição. 5. Dogmas. I. Cristologia.
CDD 232
Corpo Técnico Editorial do Material Didático Mediacional Coordenador de Material Didáco Mediacional: Mediacional: J. Alves Preparação Aline de Fátima Guedes Camila Maria Nardi Matos Carolina de Andrade Baviera Cáa Aparecida Ribeiro Dandara Louise Vieira Matavelli Elaine Aparecida de Lima Moraes Josiane Marchiori Marns Lidiane Maria Magalini Luciana A. Mani Adami Luciana dos Santos Sançana de Melo Patrícia Alves Veronez Montera Raquel Baptista Meneses Frata Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Simone Rodrigues de Oliveira Bibliotecária Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11
Revisão Cecília Beatriz Alves Teixeira Felipe Aleixo Filipi Andrade de Deus Silveira Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz Rafael Antonio Morotti Rodrigo Ferreira Daverni Sônia Galindo Melo Talita Cristina Bartolomeu Vanessa Vergani Machado Projeto gráfico, diagramação e capa Eduardo de Oliveira Azevedo Joice Cristina Micai Lúcia Maria de Sousa Ferrão Luis Antônio Guimarães Toloi Raphael Fantacini de Oliveira Tamires Botta Murakami de Souza Wagner Segato dos Santos
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação Educacional Claretiana. Claretiano - Centro Universitár Universitário io Rua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo – Batatais SP – CEP 14.300-000
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SUMÁRIO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 9 2 ORIENTAÇÕES PARA ESTU DO ......................................................................... 10
UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À CRISTOLOGIA 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 31 2 CONTEÚDOS .................................................................................................... 31 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 31 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 32 5 PONTO DE PARTIDA E CON CEITO DE CRISTOLOGIA ...................................... 33 6 DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA CRISTOLOGIA ...................................... 34 7 OPORTUNIDADE E DIFICULDADES EM CRISTOLOGIA ................................... 39 8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 41 9 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 42 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 43
UNIDADE 2 JESUS, DESDE A HISTÓRIA BÍBLICA DA SALVAÇÃO 1 2 3 4 5
OBJETIVOS ....................................................................................................... 45 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 45 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 46 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 47 ANTIGO TESTAMENTO COMO BASE E FUNDAMENTO DA CRISTOLOGIA NEOTESTAMENTÁRIA ....................................................................................... 48 6 EXPERIÊNCIAS SALVÍFICAS NO ANTIGO TESTAMENTO ................................. 49 7 JESUS DE NAZARÉ, SUA HISTÓRIA E SUA ATUAÇÃO ...................................... 57 8 A HISTÓRIA DO HOMEM JESUS ....................................................................... 58 9 A ATUAÇÃO DE JESUS DIANTE DOS OUTROS ................................................. 69 10 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 77 11 CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 79 12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 80
UNIDADE 3 O DESTINO DE JESUS: MORTE E RESSUREIÇÃO 1 2 3 4 5
OBJETIVOS ....................................................................................................... 81 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 81 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 82 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 82 A MORTE DE JESUS .......................................................................................... 84
6 A RESSURREIÇÃO DE JESUS O TESTEMUNHO NEOTESTAMENTÁRIO ....... 89 7 QUEM É JESUS? A REFLEXÃO TEOLÓGICA NEOTESTAMENTÁRIA ............ 96 8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 102 9 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 104 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 105
UNIDADE 4 REFLEXÃO HISTÓRICO DOGMÁTICA: A CRISTOLOGIA DOS DOGMAS 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 107 2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 108 3 ORIENTAÇÃO PARA O ESTUDO DA UNIDADE ................................................. 108 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 108 5 NOVO TESTAMENTO COMO NORMATIVO PARA A CRISTOLOGIA ............... 109 6 EVOLUÇÃO DOGMÁTICA NOS CONCÍLIOS CRISTOLÓGICOS ........................ 110 7 TRÊS GRANDES RESPOSTAS E AS CONCLUSÕES DOS CONCÍLIOS ................ 123 8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 126 9 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 128 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 129
UNIDADE 5 CRISTOLOGIA SISTEMÁTICA 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 131 2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 132 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 132 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 134 5 AS CRISTOLOGIAS HOJE ................................................................................... 136 6 O HOMEM JESUS .............................................................................................. 139 7 O DESTINO DE JESUS: A MORTE...................................................................... 154 8 O RESSUSCITADO: AUTORREVELAÇÃO DE DEUS E DO HOMEM .................. 168 9 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 180 10 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 182 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 183
UNIDADE 6 O LUGAR E O PAPEL DE CRISTO NO PLANO DE DEUS 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 185 2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 185 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 186 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 187 5 O LUGAR DO SALVADOR NO PLANO DE DEUS ............................................... 188 6 TEOLOGIA DA SALVAÇÃO SOTEREOLOGIA ................................................... 191 7 CRISTO SALVADOR ATUANDO ENTRE NÓS ..................................................... 196 8 JESUS, O EMANUEL E SALVADOR NOSSO ...................................................... 200 9 SEGUIR JESUS ................................................................................................... 208 10 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 210 11 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 212 12 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 212 13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 213
Caderno de Referência de Conteúdo
CRC 1. INTRODUÇÃO Seja bem-vindo! Você iniciará o estudo de Cristologia, que compõe os cursos de graduação oferecidos na modalidade EaD do Claretiano. A Cristologia é a base dos estudos teológicos. Com base na visão cristológica que se constrói toda a teologia. Dizia Jesus: "Quem me vê, vê o Pai". Ele é o revelador do Pai e do próprio ser humano. A grande “novidade” do Vaticano II foi recentralizar tudo em Cristo e, a partir dele, repensar todas as questões da fé. Se assim não fosse, que sentido teria em sermos "cristãos"? Conhecer Jesus Cristo para amá-lo e segui-lo, enquanto cristãos, é o caminho a que a Cristologia remete. Sem dúvida, o conhecer Jesus não é uma mera questão de saber quem é o biografado, nem do conhecimento de sua atuação e influência na história. Nós cremos em Jesus Cristo vivo e atuante hoje, no passado e sempre (cf. Hebr. 13, 8.).
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Como teologizar é estabelecer as razões da própria fé, espero que você esteja bem motivado para aprofundar os conhecimentos sobre Jesus Cristo. Para isso, você deverá ler e estudar os textos indicados e complementares. Observar a sua maneira (e a dos outros) de se relacionar com Cristo e crescentemente responder: "E para você, quem sou?" (Mt. 16, 15).
2. ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO Abordagem Geral Você estudou anteriormente Antropologia Teológica. E isto tem certa vantagem, apesar de cada uma delas serem autônomas. Mas, se você lembra: lá, na Antropologia, dizia-se que hoje se faz uma antropologia cristológica. Aqui, pelas novas tendências, quase seria possível dizer: faz-se uma cristologia antropológica – tal é a ênfase na pessoa de Jesus. É certo que Jesus Cristo é o fundamento de nossa fé. E é também, sem dúvida, o fundamento de toda a teologia cristã. A partir do Concílio Vaticano II, das orientações da Igreja e da teologia contemporânea, nenhum cristão se aproxima de Deus sem passar por ele. Não é em vão que Jesus mesmo disse ser “ o caminho”. Ainda acrescentou: só conhece ao Pai, aquele a quem o Filho quiser revelar. Estudar cristologia é encontrar-se com Jesus Cristo. É um encontro de estudos. Porém, é mais que isto. É um encontro de fé. Não poucos teólogos insistem que este estudo/encontro se faz ajoelhado, pois vamos nos encontrar com o mistério de Deus que se dignou fazer-se um de nós, um conosco, a fim de participarmos também de seu mistério divino. Quanto mais se estuda, lê-se ou se escreve cristologia mais se sente que se deve rezar, ou melhor, silenciar diante deste mistério tão divino e tão humano. É importante perceber que a cristolo-
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gia se faz com estudo e oração. Quem se adentrar em Cristologia precisa estudá-la muito. Mas sem rezar, sem contemplar o Senhor Jesus Cristo, não será possível aprendê-la. Alguém já teria se perguntado se é possível estudar cristologia sem a fé? – decididamente não. Sem fé, alguém até pode estudar, pesquisar muita coisa sobre Jesus, até fazer grandes estudos científicos sobre ele. Porém, não faria cristologia. Ela é, é necessário reafirmar, feita desde a fé, com o coração e com a razão. Então, sugiro no início de seu curso, ao ler e estudar Cristologia você diga rezando, muitas vezes a si mesmo: estou estudando sobre aquele que é nosso Deus e nosso irmão. É ele meu senhor e salvador . No caso, como você é cristão, então já sabe empírica e/ou aleatoriamente muitas coisas sobre Jesus Cristo. Talvez até já tenha feito algum outro curso sobre a questão. Mas, vamos fazer aqui um caminho para aprofundar e sistematizar conceitos que dão as razões de nossa fé em Cristo Jesus. Antigamente, a cristologia era uma ciência que tratava praticamente de dogmatização sobre Cristo. A preocupação era comprovar que ele era verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Aí surgia uma série de interrogações, cujas respostas iam sendo formuladas - desde a razão - para compreender quem era Jesus. Estas discussões se tornariam válidas à medida que ficasse claro ser ele o salvador da humanidade toda. Este estudo, que caracterizou por muito tempo a cristologia (praticamente do século 3º à primeira metade do século 20), não perdeu seu valor. Porém, houve uma nova interpretação neste estudo. Desse modo, ao menos no universo católico, a cristologia é divida didaticamente em três grandes temas: • cristologia bíblica; • cristologia histórico-dogmática; • cristologia sistemática. Claretiano - Centro Universitário
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Comentemos, introdutoriamente, um pouco mais sobre cada uma delas. Cristologia bíblica Se você perguntar às pessoas mais velhas se elas, quando crianças, liam a bíblia, a resposta imediatamente será mais ou menos assim: "Não. Não só não líamos como era proibido lê-la". Quase assim procedia também a cristologia: não se utilizava da bíblia. As coisas mudaram. Hoje sem a bíblia não se pode fazer cristologia. Afinal, onde encontrar Jesus se não a partir dela? Fora dela não se encontra Jesus Cristo. Aliás, não é só questão de encontrá-lo. É preciso compreendê-lo também. A própria bíblia é critério para este estudo. É por isso que dizemos: a bíblia é normativa para a cristologia. Inclusive é só nela que encontramos as mais antigas referências sobre Jesus Cristo. Todas as outras referências antigas quase nada acrescentam de modo objetivo. Os tão falados evangelhos apócrifos foram escritos, no mínimo, 150 anos depois da morte dele. Mais ainda: os textos bíblicos sobre Jesus não são reportagem nem narrativas históricas ou fatos jornalísticos como se pensa hoje. A cristologia bíblica é uma interpretação pela ótica dos evangelistas inspirados por Deus, de quem foi Jesus. Esta ótica é feita à luz pascal. Quer dizer, os textos interpretam Jesus a partir da ressurreição. Isto cria um sentido diferente: aquele Jesus da Galileia, da Palestina, é redescoberto pelos próprios seguidores que o conheceram de uma forma nova. Agora, iluminados pela ressurreição, o percebem num outro sentido, inclusive, muito mais profundo... Desse modo, textos dos evangelhos são escritos de fé. No entanto, é preciso observar: temos quatro evangelhos. Cada um deles apresenta Jesus de uma forma – o que não significa negar a outra. Além disso, encontramos também a cristologia paulina. Portanto, a Bíblia sagrada não oferece uma, mas cinco cristologias ao menos.
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A fé da Igreja compreende a inesgotabilidade de quem seja Jesus Cristo. Desse modo, nenhum escrito neo-testamentário se basta por si só. Antes cada um enriquece o outro e todos juntos é que mostram maximamente – apesar de não dizerem tudo – quem é aquele em que acreditamos. Dizemos que a Bíblia é normativa em suas cinco interpretações conjuntas. Ora, a riqueza plural de interpretações também cria para todos os intérpretes posteriores várias possibilidades de enfoque. São Marcos enfatizou o Filho de Deus; São Mateus aprofundou o messianismo de Jesus; São Lucas ressaltou a misericórdia de Deus em Jesus; São João faz predominar a divindade no homem Jesus; São Paulo acentuou o sacrifício do crucificado ressuscitado. As cinco cristologias bíblicas têm em comum a perspectiva da ressurreição para abordar o sentido da vida daquele judeu nascido seis ou sete anos antes da era cristã e que foi crucificado pelo ano trinta da nossa era. Ele passou pelo mundo fazendo o bem. Curou a muitos. Reintegrou excluídos. Abriu espaço para mulheres e crianças. Multiplicou pão. Fez muitos milagres. Anunciou o Reino de Deus para todos. Foi crucificado e morto pelos romanos, instigados pelo Sinédrio judeu. Depois foi ressuscitado e glorificado pelo Pai. Jesus – do NT – é compreendido, após a páscoa, como o messias prometido e esperado desde o AT. Por causa das circunstâncias concretas e históricas, Jesus não se enquadrou no modelo sócio-político do messias esperado. Isto contribuiu para sua condenação. Da mesma forma, os judeus de então tinham certas expectativas salvíficas, mas elas não foram satisfeitas por Jesus. A salvação que ele trouxe de Deus tinha critérios mais profundos que questões econômicas e políticas. Como estamos vendo nestas questões de messianismo e expectativas salvíficas, Jesus também deve ser explicado a partir Claretiano - Centro Universitário
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do AT. Isto quer dizer: para compreender Jesus Cristo é preciso reler o AT numa ótica cristológica. Assim, nossa primeira unidade "Fundamentos bíblicos da cristologia" será dividida em duas partes: a primeira "O AT como base e fonte da cristologia e da sotereologia néo-testamentária" e a segunda: "Jesus de Nazaré, sua atuação e sua história". Na primeira parte, procuraremos entender, a partir do AT , as experiências de salvação do povo hebreu, a questão da aliança e das expectativas messiânicas. Além disso, é interessante perceber na "Sabedoria" vétero-testamentária uma indicação cristológica muito importante: a sabedoria de Deus é o Verbo, que se encarnou entre nós. Na segunda parte da cristologia do NT, iremos estudar sobre este homem extraordinário chamado Jesus. Enfocaremos sua vida. Nela iremos nos deter na orientação de sua vida, de seu agir, de sua pregação e modo de ser. Destacaremos a relação dele com os marginalizados, com as mulheres e com os diferentes grupos de influência de seu tempo. Depois, estudaremos o destino humano de Jesus, ressaltando sua morte e ressurreição. Para concluir, vamos aprofundar a resposta do NT acerca de Jesus. A mesma pergunta que Jesus fizera aos seus: "quem dizem os homens que eu sou?" se estende pela história toda e continua a ser feita. É preciso respondê-la. E o NT é sempre uma norma segura, apesar de não ser uma resposta unívoca. É por isto que se percebe duas grandes orientações no NT: uma chamada "cristologia da exaltação e da eleição" (que alguns chamam de "cristologia de baixo") e "cristologia da pré-existência e da encarnação" (outros a chamam de "cristologia do alto"). A partir destas perspectivas, temos uma chave para compreender como padres, bispos, catequistas, teólogos e familiares falam sobre Jesus.
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A cristologia histórico-dogmática A segunda unidade de nosso estudo volta-se para o desenvolvimento do dogma, ou seja: de como a Igreja foi compreendendo quem era Jesus por meio de uma nova linguagem (a filosófica, de corte helênico) – centrada, sobretudo, entre os séculos 4º e 7º. São os chamados "séculos de ouro da cristologia". O que aconteceu? O cristianismo foi saindo de suas raízes e limites judaicos. Os cristãos foram se espalhando pelo Império Romano e encontravam outras culturas, especialmente a cultura helênica, dos filósofos gregos. Começaram a adaptar a mensagem evangélica a estes povos e culturas. Na linguagem de hoje se diria: começaram a inculturar o evangelho. Como há muito tempo não existia mais quem tivesse conhecido Jesus, começaram a multiplicar perguntas: ele é verdadeiramente Deus? – É, então, um homem verdadeiro como nós? – Como poderia ser Deus e homem ao mesmo tempo? – Seria uma pessoa em duas? – Ele sabia as coisas porque era Deus? – Enfim, como explicar quem era aquele Jesus a quem todos amavam? As perguntas multiplicavam-se. As discussões tornavam-se acaloradas. Chegava-se a discutir nos botequins, nas esquinas e praças. Todo mundo ia tomando partido. Pior ainda. Como estavam se misturando interesses políticos e econômicos aos religiosos. O próprio imperador romano interferia constantemente não só para apaziguar os exaltados, como também para acirrar ânimos. Aí muita gente foi presa. Outros, torturados. Houve perseguição e até assassinatos. Por causa das cristologias, bispos, teólogos, políticos e o povo começaram a criar inúmeras polêmicas. Uns explicavam de um jeito. Outros não aceitavam o jeito e propunham explicações diferentes. Um era de um partido; outro, doutro. Houve até muita vontade de acertar. E isto era o que a Igreja, por meio de sua gente, definia. Foram uns 400 anos de lutas teológicas até a Igreja definir os mais importantes dogmas – não só - mas, sobretudo - cristológicos. Claretiano - Centro Universitário
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Esta unidade – que será apresentada de forma sintética em nosso curso – destacará uma série de concílios ecumênicos (os 7 grandes concílios ecumênicos), com muitos nomes e muitas ideias. Aí se estabeleceram uma série de termos técnicos – de ordem filosófica - para definir Jesus Cristo verdadeiro Deus e verdadeiro homem, ao mesmo tempo, como uma única pessoa, mas portadora de duas vontades e duas reações, por causa de sua divindade e de sua humanidade – que devem ser integrais, totais, a fim de que se reconheça nela o verdadeiro mediador entre Deus e os homens e nosso salvador. Lembro ao estudante que a cristologia antiga considerou esta parte como "a cristologia", como se ela fosse a cristologia em sua totalidade. Hoje nós a estudamos como parte integrativa da fé, mesmo que muito importante na cristologia. Se a Bíblia é normativa, a dogmática é integrativa. Ela deve ser conhecida e compreendida para não serem repetidas inverdades e/ou exageros na fé. A cristologia sistemática A terceira unidade será chamada "Cristologia sistemática". Ela quer ser uma retomada da reflexão bíblica e histórico-dogmática, com linguagem atual, como resposta às nossas atuais questões de fé. Vamos sub-dividí-las em quatro temas. "As cristologias atuais", "O homem Jesus", "Seu destino (morte e ressurreição)" e, por fim, "O papel e o lugar de Cristo no plano de Deus". Será uma reflexão teológica, em que vamos procurar fazer leituras globais sobre Jesus Cristo. No tema "As cristologias atuais", a partir do esquema "cristologia de baixo" e "cristologia de cima", vamos procurar compreender esta atual e tão rica forma de fazer cristologia. Inclusive, vamos perceber a validade atual das chamadas "cristologias contextuais ou de contexto", como por exemplo: a cristologia negra ou africana, a cristologia feminista, a
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cristologia indígena, a cristologia da libertação e a atual cristologia europeia – de cunho mais dogmatizado. Todas estas cristologias são respostas circunstanciadas, que as pessoas e as comunidades precisam. Elas são sempre respostas parciais – não universalizadoras, como se pretendeu no passado. Mas, sua validade se confirma a partir da normatividade e diversidade do próprio NT, que respondia aos anseios de fé daqueles que queriam seguir Jesus. No tema "O homem Jesus", procuraremos entender a originalidade dele e como ele mesmo se compreendeu diante de Deus. Convém ter claro que ele existiu entre nós, por nós. Mas, ao mesmo tempo, deve-se compreendê-lo como homem por Deus e por nós, simultaneamente. Assim, ele não é só um deus e nem só um personagem humano que viveu só para Deus ou só para a história humana. O "destino de Jesus" será o terceiro tema da unidade. Explicações antigas sobre a morte de Jesus necessitam de novos horizontes. As respostas clássicas parecem insuficientes, mesmo mantendo a validade. Então se começa a entender a necessidade de novas e convincentes respostas. Aí surgem as teologias da solidariedade e da representação. Encontramos a resposta do amor total de Jesus que se entrega por nós, até o extremo da cruz. Nunca um homem amou tanto assim a seus irmãos e a Deus. Como ressuscitado, Jesus revela Deus e o próprio ser humano. A recuperação do valor da ressurreição, na cristologia, abriu novas perspectivas de fé para clarear quem somos, qual o nosso futuro, como o ressuscitado garante a nossa ressurreição futura. Enfim, a ressurreição de Jesus – como diz S. Paulo – é o mistério central de nossa fé. Sem ela, tudo quanto cremos seria em vão. O quarto tema abordará "O lugar e o papel de Cristo no plano de Deus". Nossa fé ensina que o filho de Maria, filho da humanidade, foi unido de tal modo com o Filho eterno de Deus – o que sempre Claretiano - Centro Universitário
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existiu. Ele tornou-se, desde seu nascimento humano, a imagem visível de Deus invisível. E nele, nós reconhecemos nosso Salvador. Se pela cruz ele nos redime de nossos pecados, pela ressurreição sabemos que ele agora vive e, ao mesmo tempo, nos vivifica, nos dá vida nova e plena, pelo seu Espírito. Por isto é nosso salvador. . Deveremos aprofundar aqui a questão da "Teologia da salvação" oportunizada por Cristo. Pela cruz ele salva os pecadores. Mas, sua obra salvífica é bem maior que isto. Nossa salvação, por meio dele, consiste na realização plena e total do ser humano e de qualquer ser humano. Nossa humanização completa consistirá em poder ver e viver em Deus. Isto pertence ao serviço de salvação que o Filho eterno de Deus, nosso irmão, faz por nós. Eis aí, prezado estudante, a caminhada que faremos: uma cristologia que passa pela bíblia, vai à história do dogma e conclui com uma reflexão sistematizada sobre Jesus Cristo. S. João evangelista conta que, em certa ocasião, André, irmão de Simão Pedro, perguntou a Jesus: "Mestre, onde moras?". E Jesus respondeu: "Vinde ver". André foi, passou à tarde com Jesus e nunca mais o abandonou. Gostaria que seu estudo de cristologia tivesse como inquietação e resposta esta atitude do apóstolo André: que você encontre Jesus, e permaneça com ele, como discípulo e missionário evangelizador. Bons estudos! E que Jesus, o Senhor, esteja presente neles enquanto você estuda. Glossário de Conceitos O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rápida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de conhecimento dos temas tratados em Cristologia. Veja, a seguir, a definição dos principais conceitos:
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1) Adocianismo: doutrina do 2º século que afirmava ter Jesus sido adotado por Deus (Pai) como Filho especial, dadas suas qualidades morais. O principal autor desta teoria foi Paulo de Samósata. 2) Amartiocentrismo: teoria teológica que compreende toda a relidade da salvação a partir do pecado. Jesus é nosso salvador por causa do pecado. Sua encarnação se deve a este fato. 3) Antropomorfismo: forma de compreender Deus como homem ou atribuir a Deus sentimentos (ira, ódio, rancor, alegria etc.) ou imagens humanizadas de Deus (boca, olhos, dedos etc.). 4) Antropos: o ser humano considerado em sua realidade completa. Para indicar o homem, no sentido masculino, usa-se a expressão "andros", como o equivalente feminino "gineos"- daí: ginecologia. É importante a expressão "antropos" porque, na história da cristologia, alguns quiseram afirmar que Jesus era apenas um "corpo" (sarx) emprestado para Deus e não um verdadeiro "antropos". 5) Apocalíptico: gênero literário muito usual no judaísmo pré e pós-cristão, por meio de parábolas, visões e números simbólicos, cuja característica consiste em "revelações" sobre o fim dos tempos e os sinais que o precedem. 6) Apócrifos: são textos de antiga tradição que se pretendiam ser revelados, mas foram excluídos do cânon bíblico. 7) Apolinarismo: doutrina, cujo principal defensor foi o bispo Apolinário de Laodiceia (séc. 4º), que negava a existência de uma alma humana em Jesus. Jesus seria portador apenas de uma alma divina. Em consequência, Jesus não seria verdadeiramente humano. 8) Arianismo: doutrina do século 4º, cujo principal defensor, ARIO, defendia que o Verbo fora criado por Deus e era inferior a ele, mesmo sendo superior a toda criatura, pois fora gerado antes da criação do mundo. O arianismo foi condenado como heresia no Concílio de Niceia, em 325. 9) Calcedonia (Concílio): convocado pelo imperador Marciano, em 451, condenou a heresia de Eutiques afirmanClaretiano - Centro Universitário
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do que Jesus Cristo, o Verbo Encarnado, é uma pessoa (divina) em duas naturezas (humana e divina) unidas sem se confundir ou mudar, sem se separar nem se dividir. O Verbo Encarnado é ao mesmo tempo um e o mesmo homem e Deus Jesus Cristo. Carisma: na linguagem do NT, designa o dom gratuito e irrevogável concedido pelo Espírito Santo a uma pessoa em vista do bem da comunidade. Concílio: assembleia dos bispos seja regional ou universal. Nos tempos antigos podia ser convocado pelo imperador; hoje este poder pertence ao papa. Um concílio ecumênico, convocado e presidido pelo papa, é a mais alta autoridade da Igreja Católica e pode decidir importantes realidades da fé, da moral e da vida da Igreja. Consubstancial: termo não bíblico, proveniente da filosofia, adotado no Concílio de Niceia (325) para designar a perfeita unidade e a perfeita identidade entre Deus Pai e Filho. Ambos têm a mesma natureza e a mesma substância. Mais tarde também se atribui o conceito ao Espírito Santo. Assim o Pai, o Filho e o Espírito Santo têm a mesma natureza e a igual substância. Também se utiliza a expressão grega "homoousios" ou "homousios", algo bem diferente de "homoiousios" (ver à frente). Cristo: expressão grega latinizada que significa "ungido" equivale à expressão hebraica "messias" (mashiaj). Expressa a realização das expectativas messiânicas em Jesus, dada nela a plenitude do Espírito Santo. Cristocentrismo: gira em torno de Jesus Cristo como centro da teologia e da fé. A revelação de Deus se faz pelo Cristo Jesus para a nossa salvação. Nem por isto pode-se ignorar o significado da Trindade Santa, em que Cristo é a segunda Pessoa Divina e que se fez um de nós. Cristomonismo: compreensão equivocada do lugar de Jesus Cristo na fé, como se ele fosse o centro único do próprio cristianismo, ignorando o lugar da Santíssima Trindade.
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16) Cristologia: doutrina teológica que estuda a pessoa, a mensagem e a obra de Jesus Cristo. Sua razão de ser está em compreender Jesus e sua obra como Aquele Um da Trindade que se encarnou e se fez humano como nós, para a nossa salvação. Cristológico: referente a Cristo. 17) Cristo da Fé: teoria histórico-religiosa que se contrapõe ao Jesus histórico, na tentativa de diferenciar os atos e fatos pertinentes ao mesmo Jesus, homem e Deus, inseparavelmente. Tal teoria, no fundo, chega quase, senão totalmente, à realidade histórica de Jesus de Nazaré. 18) Cristologia do alto ou do descenso: é a cristologia que tem como ponto de partida de sua reflexão a preexistência do Verbo que existe junto do Pai desde toda a eternidade e daí parte para encarnar-se na história. A cristologia de Baixo ou da Ascensão, ao contrário da anterior, afirma a realidade de Jesus a partir da sua encarnação histórica. São dois pontos de partidas que não podem se excluir mutuamente. Ambas devem, ao final, conseguir o mesmo resultado. A questão está em partir analiticamente da humanidade ou da divindade de Jesus Cristo. 19) Docetismo: teoria teológica primitiva, rejeitada pela Igreja, que negava a real encarnação de Cristo, atribuindo a ele apenas uma aparência humana – para não "contaminar" sua realidade divina. 20) Dogma: verdade de um aspecto da fé, definido pela autoridade da Igreja como revelado por Deus. O dogma é uma afirmação definitiva sobre uma verdade da fé, que não se pode mudar. Isto não quer dizer que o dogma seja algo que não possa ser expresso em novas linguagens que visem expressar exatamente o que a Igreja quer ensinar. É muito comum confundir "dogma" com "dogmatismo"; este último consiste numa atitude de fechamento, de conservadorismo, que em geral não expressa a própria atitude de fé. 21) Emanuel: expressão atribuída a Jesus para significar "Deus conosco". É, antes, uma expressão antigo-testamentária usada pelos profetas para designar a futura presença de Deus entre os homens.
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22) Éfeso: nesta cidade da antiga Ásia Menor (atual Turquia), no ano de 431, foi realizado o terceiro concílio ecumênico, por causa das controvérsias de Nestório, que afirmava existirem em Cristo duas pessoas simultâneas. A primeira sendo Deus mesmo e a segunda “o filho de Maria”. Por isso ela não poderia ser chamada "mãe de Deus", mas apenas "mãe do homem Jesus, ou quando mundo "Mãe de Cristo". O Concílio de Éfeso, presidido por Cirilo, patriarca de Alexandria, condenou Nestório e declarou "Maria, mãe de Deus". 23) Economia da salvação ou divina, também plano de Deus: economia, do grego, administração da casa. Teologicamente se refere à vontade salvífica de Deus, por meio da história, cuja culminância acontece pela encarnação do Verbo. 24) Escatologia: doutrina referente às questões últimas. Este tratado teológico estuda as questões referentes ao tempo da presença plena e definitiva de Deus na história, cujo evento Jesus Cristo é a antecipação e a garantia antecipada do tempo da salvação definitiva em Deus. 25) Escola alexandrina e escola antioquena: duas grandes escolas teológico-catequéticas, surgidas no final do século 2º que tiveram grande importância na interpretação da fé. A primeira tinha um acentuado caráter metafísico-filosófico na pregação da fé, com pressupostos platônicos e orientação intelectual idealista, com método alegórico para a interpretação das Sagradas Escrituras. A outra (em oposição à Alexandrina) fazia uma interpretação mais lógico-gramatical das Escrituras, ressaltando assim mais o dimensão histórico-terrena de Jesus. 26) Filho do Homem: expressão antigo-testamentária, para indicar uma figura celeste, que aos poucos foi assumindo um caráter de figura pessoal e ao mesmo tempo divina. No NT, Jesus provavelmente a utilizou para indicar a si mesmo. 27) Gnosticismo ou Gnose: movimento religioso anterior ao cristianismo, com que rivalizou em algumas cidades, inclusive chegando a infiltrar-se em algumas comunidades cristãs. Afirma uma dualidade radical entre matéria e es-
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pírito, bem e mal; afirma também a salvação como um processo de libertação por meio do conhecimento e não pela encarnação e morte do Filho de Deus. Heresia: palavra grega que indica "escolha". É a escolha arbitrária de uma parte da verdade de fé, em detrimento do todo, inclusive negação de alguns aspectos da própria fé. Hipostase: (termo grego) correspondente ao latino substância: é utilizado para indicar "o que está por detrás". No caso da cristologia, refere-se ao sujeito das operações, a pessoa. Homoi-Ousios: termo cuja tradução indica semelhança. Para afirmação da unicidade de Deus (uma só pessoa), dizia-se que Jesus não seria igual (homousios), mas semelhante (homoi-ousios. Pela doutrina da "homoouosia" (ou homousia") afirma-se que Jesus é igual ao Pai, em natureza ou substância. Jesus: termo hebraico (Jeho-shuah), encontrado diversas vezes no AT e significa “Aquele que salva”. Para distingui-lo dos outros, chama-se ao filho de Maria: Jesus de Nazaré. Kerigma: (ou querigma): a expressão teológica designa o anúncio da Boa Nova do Evangelho, feito pelos apóstolos para anunciar aos crentes quem era Jesus e por que eles eram chamados à conversão e ao batismo. O kerigma indica o conteúdo primeiro da pregação de nossa fé, o anúncio do fato de nossa salvação, anunciado por Jesus. Logos: “palavra” ou “verbo”, em grego. Aplicado a Jesus, indica o que pré-existia junto a Deus, encarnou-se no seio de Maria, está glorificado à direita do Pai e o Senhor e Salvador nosso. Messias: (em hebraico), Cristo (em grego) foi o termo usado normalmente para indicar o "ungido" esperado escatologicamente como salvador. Depois foi atribuído a Jesus. Monofisismo: doutrina do monge Eutiques que afirmava uma única natureza em Cristo. Tal doutrina foi condenada no Concílio de Calcedonia. Claretiano - Centro Universitário
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36) Monotelismo: heresia condenada no III Concílio de Constantinopla (seculo 8º), que afirmava existir apenas uma vontade em Cristo, a divina, anulando assim a vontade humana de Jesus – o que caracterizaria uma falsa humanidade em Jesus. 37) Pessoa Divina: considera-se que a Trindade Santa é formada pelas três pessoas divinas, Pai, Filho e Espírito Santo. Cada uma dessas Pessoas Divinas está relacionada às outras duas, mas tem a mesma substância divina, mas mantém uma relação quer como Pai, quer como Filho etc. O conceito de pessoa divina tem analogia, mas não se identifica com o conceito de pessoa humana. 38) Preexistência: (de Jesus): referência que se faz à pessoa divina de Jesus, que existia desde toda a eternidade, junto com o Pai e o Espírito Santo, e que se encarnou como humano no seio de Maria. A preexistência não significa nenhuma possibilidade de Jesus ter sido criado antes de algo ou de alguém. Sua vida é eterna como a do Pai e do Espírito. 39) Redenção: (redentor) ação salvadora e libertadora atribuída a Jesus. Alguns autores enfatizam a "redenção" como a dimensão própria auferida pela morte de Jesus na cruz – o que enfatizaria o aspecto negativo da salvação (salvação dos pecados). A salvação, em sua dimensão positiva, seria a conquista da vida eterna feliz em Deus, para o que Jesus é o "caminho, a verdade e a vida"). A contraposição desses dois conceitos, para muitos, está em que a redenção é pertinente à questão dos pecados, enquanto a salvação se refere à plena realização da pessoa. 40) Sinótico(s): referente aos evangelhos de Marcos, Mateus e Lucas, que mantêm entre si uma visão capaz de criar uma visão de conjunto sobre Jesus, o mais aproximado possível da realidade por ele vivida. 41) Sotereologia: doutrina que enfatiza o papel salvífico de Jesus no Plano divino da criação. Jesus veio para nos conduzir à vida plena, ensinando-nos o caminho de Deus. 42) Substância (em grego "ousia"): aquilo que existe em si, o suporte para a existência pessoal e que não depende
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de outra pessoa ou objeto. O que lhe é próprio e não acidental. É a essência do ser. 43) Subordinacionismo: teologia rejeitada pela Igreja, por afirmar a subordinação de natureza e não a igualdade entre o Filho e o Pai. 44) União Hispostática: conceito cristológico que afirma a plena e total unidade das naturezas divina e humana em Jesus – sem divisão e nem separação, sem mistura e nem confusão. Jesus, por causa da união hipostática, é um e o mesmo Deus e homem. É um conceito importante porque privilegiar demais a dimensão divina sobre a humana, ou vice-versa, descaracteriza a pessoa de Jesus. O único sujeito, Jesus Cristo, tem em si e ao mesmo tempo as naturezas divina e humana. 45) Verbo: aplicado a Jesus, significa ser ele preexistente como a “Palavra do Pai”, o Logos. Esquema dos Conceitos-chave Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais importantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um Esquema dos Conceitos-chave. O mais aconselhável é que você mesmo faça o seu esquema de conceitos-chave ou até mesmo o seu mapa mental. Esse exercício é uma forma de você construir o seu conhecimento, ressignificando as informações a partir de suas próprias percepções. É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos Conceitos-chave é representar, de maneira gráfica, as relações entre os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais complexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar você na ordenação e na sequenciação hierarquizada dos conteúdos de ensino. Com base na teoria de aprendizagem significativa, entende-se que, por meio da organização das ideias e dos princípios em esquemas e mapas mentais, o indivíduo pode construir o seu conhecimento de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos pedagógicos significativos no seu processo de ensino e aprendizagem.
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Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem escolar (tais como planejamentos de currículo, sistemas e pesquisas em Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda, na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que estabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos conceitos e de proposições na estrutura cognitiva do aluno. Assim, novas ideias e informações são aprendidas, uma vez que existem pontos de ancoragem. Tem-se de destacar que "aprendizagem" não significa, apenas, realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno; é preciso, sobretudo, estabelecer modificações para que ela se configure como uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante considerar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiais de aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os novos conceitos devem ser potencialmente significativos para o aluno, uma vez que, ao fixar esses conceitos nas suas já existentes estruturas cognitivas, outros serão também relembrados. Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que é você o principal agente da construção do próprio conhecimento, por meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações internas e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por ob jetivo tornar significativa a sua aprendizagem, transformando o seu conhecimento sistematizado em conteúdo curricular, ou seja, estabelecendo uma relação entre aquilo que você acabou de conhecer com o que já fazia parte do seu conhecimento de mundo (adaptado do site disponível em:
. Acesso em: 11 mar. 2010).
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Preexistente
Eleito para ser o Salvador
Um da Trindade: O Verbo
Humanidade: Criada para a Glória de Deus
Relações salvíficas
Escatológicas de: - criação - santificação - consumação
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Históricas de: - aliança - Reino de Deus - messianismo
Desde a origem à plenitude dos tempos (Maria)
LOGOS ANTROPOS (União hipostática)
“Pro Deo”
JESUS, VERBO ENCARNADO
Obediente e fiel Orante
A história humana de Jesus Pelos outros “Pro
Nobis”
Morte Ressurreição
Jesus Exaltado à direita do Pai
Verdadeiro Deus
Verdadeiro Homem
Um e o Mesmo
Dois modos de agir
Duas vontades
No plano de Deus
EMANUEL Deus conosco e para nós
Primogênito dentre os mortos
Consumador da criação
Modelo de “adão”
(homem) perfeito
Realizador das aspirações humanas
Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave do Caderno de Referência de Conteúdo Cristologia.
Como você pode observar, esse Esquema dá a você, como dissemos anteriormente, uma visão geral dos conceitos mais importantes deste estudo. Ao segui-lo, você poderá transitar entre Claretiano - Centro Universitário
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um e outro conceito e descobrir o caminho para construir o seu processo de ensino-aprendizagem. Por exemplo, o conceito central da cristologia é o próprio Jesus, Verbo encarnado donde procedem todos os demais conceitos, como a preexistência e a consumação do ser humano e do cosmos, que passa pelos conceitos de homem perfeito e Deus perfeitos, que por sua vez se unem no conceito de união. O Esquema dos Conceitos-chave é mais um dos recursos de aprendizagem que vem se somar àqueles disponíveis no ambiente virtual, por meio de suas ferramentas interativas, bem como àqueles relacionados às atividades didático-pedagógicas realizadas presencialmente no polo. Lembre-se de que você, aluno EAD, deve valer-se da sua autonomia na construção de seu próprio conhecimento. Questões Autoavaliativas No final de cada unidade, você encontrará algumas questões autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem ser de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas. Responder, discutir e comentar essas questões, bem como relacioná-las com a fé e a pastoral pode ser uma forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a resolução de questões pertinentes ao assunto tratado, você estará se preparando para a avaliação final, que será dissertativa. Além disso, essa é uma maneira privilegiada de você testar seus conhecimentos e adquirir uma formação sólida para a sua prática profissional. Você encontrará, ainda, no final de cada unidade, um gabarito, que lhe permitirá conferir as suas respostas sobre as questões autoavaliativas de múltipla escolha. As questões de múltipla escolha são as que têm como resposta apenas uma alternativa correta. Por sua vez, entendem-se por questões abertas objetivas as que se referem aos conteúdos matemáticos ou àqueles que exigem uma resposta determinada,
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inalterada. Já as questões abertas diss ertativas obtêm por resposta uma interpretação pessoal sobre o tema tratado; por isso, normalmente, não há nada relacionado a elas no item Gabarito. Você pode comentar suas respostas com o seu tutor ou com seus colegas de turma.
Bibliografia Básica É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as bibliografias complementares. Figuras (ilustrações, quadros...) Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte integrante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilustrativas, pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os conteúdos estudados, pois relacionar aquilo que está no campo visual com o conceitual faz parte de uma boa formação intelectual. Dicas (motivacionais) Este estudo convida você a olhar, de forma mais apurada, a Educação como processo de emancipação do ser humano. É importante que você se atente às explicações teóricas, práticas e científicas que estão presentes nos meios de comunicação, bem como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao compartilhar com outras pessoas aquilo que você observa, permite-se descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a ver e a notar o que não havia sido percebido antes. Observar é, portanto, uma capacidade que nos impele à maturidade. Você, como aluno dos Cursos de Graduação na modalidade EaD, necessita de uma formação conceitual sólida e consistente. Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância, do tutor presencial e, sobretudo, da interação com seus colegas. SugeriClaretiano - Centro Universitário
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mos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades nas datas estipuladas. É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas poderão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produções científicas. Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discuta a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoaulas. No final de cada unidade, você encontrará algumas questões autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas, pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadurecimento intelectual. Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procurando sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores. Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a este Caderno de Referência de Conteúdo, entre em contato com seu tutor. Ele estará pronto para ajudar você.
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Introdução à Cristologia
1 1. OBJETIVOS • Analisar o âmbito e o conceito de cristologia. • Identificar as grandes etapas do estudo cristológico. • Caracterizar as dificuldades e oportunidades atuais da cristologia.
2. CONTEÚDOS • Ponto de partida e conceito de cristologia. • Desenvolvimento histórico da cristologia. • Oportunidades e dificuldades em cristologia.
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a seguir:
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1) Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie e aprofunde seus horizontes teóricos. Esteja sempre com o material didático em mãos e discuta a unidade com seus colegas e com o tutor. 2) Tenha sempre à mão o significado dos conceitos explicitados no Glossário e suas ligações pelo Esquema de Conceitos-chave para o estudo de todas as unidades deste CRC. Isso poderá facilitar sua aprendizagem e seu desempenho. 3) Para saber mais, leia os quatro discursos de Pedro nos Atos dos Apóstolos. 4) Revistas semanais como Veja, Superinteressante, Isto é, em geral trazem informações baseadas no "Jesus Seminar" – cuja única preocupação é com o Jesus da história, não com o Cristo da fé nem mesmo com Jesus Cristo crido pelas Igrejas. 5) Entre os teólogos que afirmam a continuidade de Jesus no judaísmo encontram-se John D. Crossan e Marcos Borg. No grupo que privilegia a descontinuidade com a tradição judaica estão E. P. Sanders, Geza Vermes, John P. Méier. 6) Independentemente desta terceira fase (Thrid Quest sobre o Jesus histórico), na cristologia contemporânea surgem novos e fascinantes temas, como o Cristo Cósmico e a cristologia pluralista. Veja sobre este assunto o interessante número 326 – 2008/3 da CONCILIUM, Revista Internacional de Teologia, intitulado: Jesus como Cristo: o que está em jogo na cristologia? 7) Para aprofundar o estudo da história da cristologia, leia o verbete “história da cristologia” in: LACOSTE, Jean-Yves. Dicionário crítico de teologia. São Paulo: Paulinas - Loyola, 2004, p. 480-491.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE Nesta unidade, você terá a oportunidade de conhecer a história da cristologia, seu ponto de partida e seu conceito, bem como as dificuldades e oportunidades que ela propõe.
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Vale ressaltar que a cristologia, como todas as outras disciplinas teológicas, pressupõe e exige a fé. Estudar Jesus Cristo, aqui, não quer dizer encontrá-lo como um líder (político ou religioso), fundador de religião ou personalidade mais conhecida do mundo. Tão pouco, vamos encontrá-lo a partir da piedade devocional. Ele é o Messias, Filho de Deus vivo que viveu na Palestina, passou fazendo o bem e hoje continua sendo irmão e Senhor de todos os homens e mulheres. Bom estudo!
5. PONTO DE PARTIDA E CONCEITO DE CRISTOLOGIA A cristologia é o tema central da teologia. A comunidade e a fé cristã não se constituem por meio de uma religião ou de uma moral, nem mesmo de um conjunto de doutrinas. O centro do cristianismo e, por consequência, da cristologia, está na pessoa de Jesus Cristo. Uma pessoa viva, que é o revelador definitivo de Deus e do ser humano. Ele é o fundamento e o conteúdo da fé, a origem e o sentido da existência humana. É o Filho do Altíssimo que assumiu, em si, a carne humana, vivendo como um de nós. Desse modo, toda a teologia, a fé e a comunidade eclesial são determinadas pela compreensão de "quem é Ele, para Deus e para nós". Não há nenhum outro fundamento (cf. 1Cor 3,11; Mc 12,10ss) e orientação de fé, senão Ele. Assim, para compreender Deus, o ser humano, o mundo, a igreja, a revelação, a fé, a graça, a salvação, a eternidade etc., Ele é o "caminho", o mediador radical, mesmo que não seja a meta final (que é o Reino de Deus ou Deus mesmo). Para tanto, salientamos que a cristologia é o centro da teologia. É ela o ponto de partida, sem ser a totalidade da teologia. Ela é como o centro donde partem os raios de uma roda de bicicleta. A palavra “cristologia” foi usada pela primeira vez, em 1624, como título do livro de B. Messneir, Christologiae sacrae disputationes.
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A história pessoal de Jesus Cristo é a referência permanente e o ponto de partida da cristologia. Ela abrange a vida, a mensagem, as ações e o destino (morte e ressurreição) de Jesus, contados à luz da páscoa. Não é a pura biografia de Jesus que dá origem à cristologia, mas, a sua vida à luz da ressurreição – aliás, é como fazem os evangelhos. Dessa forma, ela passa da história dos fatos para captar a consciência e o significado destes na totalidade de quem é Jesus, aquele que nasceu de Maria, mas veio de Deus, como nosso salvador.
6. DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA CRISTOLOGIA Como reflexão a respeito de Jesus Cristo, a cristologia tem início no Novo Testamento. Implicitamente, pode-se dizer que o próprio Jesus Cristo seria seu iniciador. Mas, as questões sobre Ele começaram a surgir logo após sua ressurreição, quando os discípulos precisaram compreender e explicar que o crucificado não era um fracassado, mas Deus o havia ressuscitado. Quanto mais se propagou a vida, a mensagem e o destino de Jesus, mais os cristãos foram chamados a "dar as razões de sua fé". Assim, logo no início surgiu uma reflexão entre os judeus convertidos e outra reflexão entre os cristãos de origem grega. Ambas queriam saber quem era Jesus, diante do crescente contato com o mundo greco-romano, a fim de continuarem crendo nele como Deus encarnado. A expansão de Igreja levou-a a um terceiro período, que também é conhecido como o "período de ouro da cristologia" (século 3º ao século 7º), com os grandes Concílios de Niceia (325), Constantinopla I (381), Éfeso (431), Calcedônia (451), Constantinopla II (553) e III (681). Neste período se discutiriam questões de transcendental importância, num período de inculturação da fé, saída do mundo semita para o helenismo: Jesus é verdadeiro Deus? É verdadeiro homem? É, ao mesmo tempo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem? Como?
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O período posterior é o da cristologia medieval. Entre os temas, destacam-se: o significado (o porquê) da encarnação e a ciência (conhecimento, vontade e consciência) de Jesus. Informação Complementar ––––––––––––––––––––––––––––– A história da cristologia medieval é bem mais desenvolvida, nesta unidade, como informação. E não será retomado o tema noutras unidades deste Caderno de Referência de Conteúdo, ao contrário dos outros. De modo geral, ela está muito presente no atual cotidiano das igrejas cristãs. ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O período subsequente é o da cristologia escolática, em que se destacam duas grandes figuras: santo Anselmo (+ 1109) e santo Tomás de Aquino (+ 1274). A importância cristológica de Anselmo está em sua obra Por que Deus se fez homem? (Cur Deus homo? ). Este livro foi traduzido para o português pela editora evangélica Novo Século, em 2003. Nesta obra e em alguns outros discursos, Anselmo faz a mais influente leitura ocidental da cristologia sotereológica. Esta cristologia marcou todo o segundo milênio e permanece muito forte ainda hoje. Anselmo propusera-se a dialogar com os judeus e muçulmanos sobre quem era Jesus por meio de uma lógica racional e sociológica, sem apelar às Escrituras Sagradas (NT). Judeus e mulçumanos não acreditam nelas. O autor parte do contexto sociocultural de seus pretensos interlocutores. Vejamos: Assim como é, não só indigno, mas é injusto, um senhor feudal perdoar a um servo que o tenha ofendido gravemente, também não só é injusto é indigno da parte de Deus, perdoar ao homem pecador. Pois, se o senhor feudal o perdoa, se tornará injusto para com os outros servos, além de abrir possibilidade para que eles o ofendam também. Por outra razão, como e com que "moral" um ofensor se dignará aproximar-se de seu senhor para suplicar-lhe o perdão? Somente um terceiro, que possa fazer a intermediação Claretiano - Centro Universitário
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e ao mesmo tempo esteja comprometido com os dois lados, sem dever a nenhum, teria a possibilidade deste gesto de sacrifício e compaixão. Contudo, segundo Anselmo, é deste modo que Jesus se encarnou para poder, morrendo na cruz, restituir a honra ofendida de Deus e obter o perdão de Deus ao pecador. Se desde Tertuliano (+ depois de 220) vinha se afirmando a dimensão sotereológica (de salvação) pela cruz, agora Anselmo elabora critérios teológicos suficientes para justificar a encarnação de Jesus. Note-se que desde a bíblia e da patrística, há várias interpretações possíveis sobre o significado "encarnatório". O predomínio do significado de "morte na cruz pelos pecados" avultou-se no segundo milênio, o que oportunizou a artistas, dramaturgos, poetas e "místicos" medievais desenvolverem tanto a espiritualidade quanto a devoção e a literatura centradas na cruz. Santo Tomás de Aquino aceitou a "teoria da satisfação" de Anselmo, mas, propôs-se a corrigi-la num ponto fundamental. Não era o direito do ofendido (Deus) que se deveria levar em conta. O importante era a bondade de Deus, que nos amou tanto a ponto de nos dar seu Filho único. Deus poderia nos perdoar de diversos modos, mas escolheu este. A teoria de santo Tomás, mesmo aceita, nem sempre foi mais utilizada que a "dramática" de Anselmo. É bem verdade, que antes de Tomás de Aquino, Pedro Abelardo (+ 1142) já havia proposto o amor de Deus como critério da encarnação. Como, porém, Abelardo se fundamentou nas ideias de santo Irineu e a igreja no ocidente, que estava tão imbuída do helenismo, teve dificuldades de recepção. Tomás capitalizou a explicação mantendo a relação amor-cruz-morte. A teoria da satisfação (anselmiana) foi a que os reformadores encontraram e que se tornou fundamento, não só na cristologia, mas em toda a teologia decorrente da Reforma e, até os dias atuais, esta teoria é muito frequente.
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Note que, na Igreja Católica, a teoria anselmiana é muito frequente. Contudo, não há uma interpretação unívoca.
Merece atenção, aqui, a cristologia da Reforma com dois grandes teólogos: Lutero (+ 1504), influenciado por questões pessoais e pelo pessimismo agostiniano, afirmava que a ira de Deus só poderia ser satisfeita ou Deus só deixaria de punir, mediante o sacrifício de seu Filho morrendo em nosso lugar. Jesus carregou nosso pecado, sofreu as consequências, satisfez a Deus e obteve para nós a justificação. É assim o nosso salvador, porque é o único que pode nos justificar. Calvino (+ 1504), inclusive por sua formação jurídica, entendeu que Cristo, oferecendo-se em sacrifício ao Pai em nosso lugar, como substituto nosso, obtém do Pai o perdão, pois nós nascemos maus e depravados. Nós nascemos da carne e por isso somos carne (cf. Jo 3,6). Esta corrupção é irregenerável, mas Deus, pelos méritos de Cristo, pode salvar aqueles a que predestinou esta graça. Nem todos serão salvos, apenas os que Deus escolhe ou predestina. Calvino também insistiu na ideia de tríplice função de Cristo: sacerdote, profeta e rei. O Concílio de Trento (1545 – 1563) não elaborou uma cristologia própria. Aceitou diversas correntes da época, mas afirmou certas verdades de fé: a universalidade do pecado de Adão, a necessidade do batismo para a salvação, o enfraquecimento da vontade por causa do pecado e, sobretudo, a necessidade de Cristo para a salvação. Informação Complementar ––––––––––––––––––––––––––––– Por causa da cultura amartiocêntrica, nos tempos do Concílio de Trento, parece que a salvação era apenas questão de salvar dos pecados. ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
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A partir do século 19, novas questões contextuais e universais oportunizaram e continuam oportunizando criativas reflexões teológicas sobre o significado de Jesus para todos os homens e/ou desde as culturas. Uma nova e radical questão cristológica surgiu nesse período e é conhecida como a questão do “Cristo da fé e o Jesus histórico”. A grande influência do "período de ouro da cristologia" (séculos 4º e 8º) fazia parecer que tudo estava resolvido partindo da ontologização de Cristo. Mas, a re-descoberta do Novo Testamento, de modo crescente, obrigou uma volta ao Jesus da história. Não que se entendessem duas realidades distintas. Mas, a do Cristo da fé era, de tal modo, hegemônica que o Jesus da história "quase" desaparecia. A questão surgiu com o pesquisador alemão Hermann Samuel Reimarus, com seu livro, não traduzido, Sobre a intenção de Jesus e seus discípulos e se estende até hoje. Inúmeros historiadores dividem três períodos desta pesquisa: 1) Na primeira fase (de 1779 a 1913), pesquisas históricas começam a descobrir a história de Jesus. Descobre-se um Jesus "liberal", pois querem se afastar de toda "ideologia" e "mistificações", seja dos textos do NT, seja do ensino da Igreja. Albert Schweitzer, em 1913, fez uma grande síntese deste período e qualificou os estudos como "filhos culturais" daqueles tempos em que emergia uma figura que satisfizesse mais os ideais moralizantes ou moralistas da humanidade. 2) A segunda fase (1913...) atém-se, até hoje, ao chamado método histórico-crítico. Martin Kähler cunhou as expressões "Cristo da fé" e "Jesus histórico", num livro seu de 1896, em que afirmava a necessidade de não separar o chamado Jesus histórico do autêntico Cristo bíblico. Outros autores como Rudolf Bultmann, Paul Tillich, Günther Bornkamm, Ernest Fuchs, Gerhard Ebeling e Joachim Jeremias também aprofundaram a questão do Cristo da fé e do Jesus histórico. Eles, mesmo fazendo suas distinções, afirmavam a necessidade de manter a unidade para compreender Aquele que é apresentado pela nossa fé.
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3) Já na terceira fase, desde 1954, continua-se a pesquisa histórica e procura-se desenvolver a compreensão de Jesus Cristo, a partir de elementos culturais paralelos como a influência dos documentos de Qumran, a descoberta de evangelhos apócrifos, o contexto sociocultural, político e religoso dos tempos de Jesus. Um grupo de estudiosos do "Jesus Seminar" (Califórnia EUA) tende a privilegiar, no tempo de Jesus, a descontinuidade dele em relação ao seu tempo. O outro grupo prefere vê-lo inserido em seu contexto hebraico.
7. OPORTUNIDADE E DIFICULDADES EM CRISTOLOGIA As históricas e grandes questões cristológicas podem ser resumidas em três: a humanidade de Jesus, sua divindade e a simultaneidade divina e humana. No entanto, há outra questão importante: o lugar da compreensão de Jesus. Neste sentido, fala-se muito, hoje, de Jesus histórico e do Cristo da fé, da cristologia de cima ou de baixo, da cristologia cósmica e da exaltação. Esta discussão surge partindo ora da dimensão divina que pré-existe e se encarna na terra, ora da história de Jesus nascido de Maria, na Galileia. Uma faz o caminho inverso da outra. Seus autores constroem inúmeros argumentos para demonstrar a certeza de seu ponto de vista. A verdade cristológica exige que as duas se completem. Uma não é completa sem a outra. A grande tensão na cristologia e na fé cristã em geral é conciliar a humanidade e a divindade de Jesus. Por causa do ponto de partida, há excessos e/ou insuficiências que levam a considerar demais a humanidade, esquecendo a divindade ou vice-versa. Esta dificuldade – natural, por sinal – só é real porque estudar, conhecer, amar e seguir Jesus têm muitas faces. Jesus Cristo não é uma pessoa linear, de um esquema só. Sua riqueza sempre ultrapassa um ponto de vista. Não é em vão que no NT aparecem vários modelos de análise cristológica. Nenhum Claretiano - Centro Universitário
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deles é completo sem os outros. Esta sabedoria bíblica com frequência é esquecida ou desvalorizada entre os teólogos. Outra dificuldade foi a grande ontologização de Jesus. Quer dizer, os "séculos de ouro" produziram uma riquíssima e feliz reflexão sobre o "ser de Jesus em si". Ao procurar compreender "quem é Jesus", responderam muito mais "o que é Jesus". Então, por meio de uma linguagem altamente sofisticada, muitas vezes só compreendida por especialistas, estabeleceram diversas explicações, donde se originaram os dogmas cristológicos. A modificação do modo de viver, sobretudo a partir da revolução industrial, do avanço da tecnologia e das ciências, atingiu o modo medieval de compreender quem é Jesus. Novas culturas, que não só as europeias, também pedem novos estudos, exigem novas apresentações eclesiais e teológicas sobre Jesus. Mas, sobretudo, com a descristianização dos povos e a perda da hegemonia dos cristãos, tem sido mais difícil "dar as razões da fé" em Jesus Cristo. Os tempos atuais urgem novas maneiras de seguir a Jesus e relacionar-se com Ele. A experiência pessoal, grupal e da comunidade de fé procura nova abertura para o mistério de Deus, do mundo, dos seres humanos etc. Esta renovação passa pela compreensão de quem é Jesus. Ele é o caminho. A cristologia tradicional, mesmo sem perder seu valor, vai dando à luz cristologias plurais, capazes de sustentar a fé dos crentes nas novas situações humanas e culturais. É importante perceber que Jesus Cristo é o mesmo sempre. Mudam-se os tempos, as culturas e os modos de compreendê-lo.
A reflexão teológica sobre Jesus tem, então, a tarefa de comunicar, de modo construtivo, o significado da história e da pessoa de Jesus, sem nunca perder de vista as cristologias neotestamentárias. Todavia, deve-ser ter presente, também, a longa história da dogmatização como fonte e certeza da verdade da fé.
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Na história dos dogmas encontra-se uma adequada escola para evitar concepções erradas sobre o Filho de Deus, que se fez nosso irmão para nossa salvação. Ele, o Senhor dos vivos e dos mortos, é, contudo, uma pessoa viva e histórica e só Nele está a nossa salvação. Por isso, a cristologia, que tem como normativo o NT e é guarda do patrimônio da tradição e do dogma, atualiza-se, ao mesmo tempo, como ciência (conhecimento) e como vivência (experiência) da fé. A tarefa e as novas possibilidades da cristologia permanecem, ao clarificar, hoje: a) o significado da história do crucificado/ressuscitado; b) a relação singular de Jesus com Deus, como seu Pai; c) a unidade com o Pai e o Espírito Santo; d) a relação de Cristo com todos os homens; e) o sentido da história e do mal; f) a salvação para todos os seres humanos, conforme o plano de Deus.
8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS Sugerimos, neste tópico, que você procure responder às questões a seguir, que tratam da temática desenvolvida nesta unidade, bem como que as discuta e as comente. A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para testar seu desempenho. Se encontrar dificuldades em responder a essas questões, procure revisar os conteúdos estudados para sanar suas dúvidas. Este é o momento ideal para você fazer uma revisão do estudo desta unidade. Lembre-se de que, na Educação a Distância, a construção do conhecimento ocorre de forma cooperativa e colaborativa. Portanto, compartilhe com seus colegas de curso suas descobertas. Confira, na sequência, as questões propostas para verificar seu desempenho no estudo desta unidade: Claretiano - Centro Universitário
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1) Por que entender que Jesus Cristo é o ponto de partida de toda a teologia cristã, particularmente da cristologia? 2) Quais são os grandes períodos da história da cristologia? 3) Qual a ideia básica de Santo Anselmo para compreender quem é Jesus Cristo? 4) Por que a cristologia continua apresentando novas ideias teológicas sobre quem é Jesus Cristo? 5) Cite alguns novos temas da cristologia. 6) A partir do que você estudou, como conceitua “cristologia”? Elabore suas respostas em seu caderno para verificar sua compreensão, e depois confira com o texto.
9. CONSIDERAÇÕES Nesta unidade, você se deparou com a problemática não de Jesus, mas da cristologia. Entre as questões, surgiu a diversidade de cristologias, já no NT, as tensões entre as teorias sobre Deus e o homem, o lugar da cristologia, bem como o papel do dogma cristológico, suas dificuldades e possibilidades atuais. A grande transformação da(s) cristologia(s) atual(ais) é o seu reencontro com a soteriologia, a qual é o estudo da ação e significado salvíficos de Cristo para nós. Verbo de Deus que se fez humano, entre nós e conosco, é enviado do Pai para nos mostrar quem somos (você deve recordar, aqui, seus estudos de Antropologia Teológica) e nos levar à salvação, à realização plena. Para anunciar isso, Jesus falou da Boa Nova do Reino de Deus, “passou pelo mundo fazendo o bem” (At 10,38), mas foi morto na cruz. O Pai o ressuscitou e o constituiu Senhor nosso, colocando-o à sua direita. Contudo, a cristologia re-descobre a soteriologia e faz o discurso sobre Aquele nosso irmão que foi constituído como nosso salvador.