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“Estudos de Psicologia Psicologia Arquetípica) Ed. achiamé IV – TRAIÇÃO James Hillman (do livro “Estudos É corrente entre os udeus uma hist!ria" uma dessas anedotas comuns de udeus" que di# a seguinte$ um pai estava ensinando seu %ilho a ser menos medroso" a ter mais coragem" %a#enda&a pular de uma escadaria. 'olocou o menino no segundo degrau e disse$ Pule que eu seguro voc. E a menino pulou. * pai ent+o colocou o garoto no terceiro degrau" di#endo.$ Pule que eu seguro voc. Apesar de estar com medo" o menino con%iou no pai" %e# a que ele mandou e pulou em seus ,ra-os. aí ent+o o pai colocou&o no degrau seguinte" depois na seguinte" cada ve# di#endo$ Pule que eu seguro voc " e todas as ve#es o menino pulou e a pai segurou. segurou. E assim %oram %oram indo. Aí ent+o o garoto pulou de um degrau degrau ,em alto" da mesma mesma %or ma que antes/ mas desta ve# a pai recuou e o menino %oi direto com a cara no ch+o. 0uando conseguiu levantar&se" machucado machucado e chorando" chorando" o pai %alou$ 1sto vai lhe ensinar$ ensinar$ nunca con%ie num udeu" mesmo que ele sea seu pai. Essa hist!ria & com todo seu question2vel anti&semitismo sugere outras conota-3es mais" principalmente porque muito provavelmente %oi inventada pelos pr!prios udeus. Acredito que tenha alguma coisa re%erente ao nosso tema & trai-+o. Por e4emplo$ por que se deveria ensinar um menino a n+o con%iar5 E a n+o con%iar num udeu5 E a n+o con%iar em seu pr!prio pai5 0ue signi%ica ser traído pelo pr!prio pai" ou por al guém muito chegado5 0ue signi%ica para um pai" para um homem" trair alguém que con%ia nele5 0ual a %inalidade da trai-+o na vida psicol!gica5 Estas s+o. as quest3es que levantamos. I
evemos tentar come-ar por algum lugar. Pre%iro neste caso come-ar no come-o" com a 6í,lia" 6í,lia" mesmo mesmo que" como psic!logo" possa estar invadindo o terreno da teologia. Apesar de ser psic!logo n+o deseo" no entanto come-ar como os psic!logos em geral come-am" com aquela outra teologia" aquele outro ardim do Éden$ a crian-a e sua m+e. 0uando" pela tarde" Ad+o saia a passear com eus" con%ian-a e deslealdade n+o surgiam como temas de suas conversas. A imagem do ardim do paraíso com est2dio inicial da condi-+o humana apresenta aquilo que poderíamos chamar de con%ian-a primordial" ou como chamou 7anta8ana" %é animal/ uma certe#a %undamenta %undamentall & a despeito da ang9stia" ang9stia" do medo" da d9vida:& de que o ch+o encontra&se ali mesmo" em,ai4o dos pés" e que n+o vai sumir quando dermos o pr!4imo passo" de que amanh+ o sol vai nascer outra ve#" de que o céu n+o vai cair cair so,re so,re nossas nossas ca,e-as ca,e-as e de que eus eus de %ato %e# o mundo para o homem. Esta situa-+o de con%ian-a primordial" apresentada como a imagem arquetípica do Éden" repete&se nas vidas individuais de %ilhos e pais. Assim como Ad+o" com %é animal" no come-o con%ia em eus" da mesrna %orma o menino no come-o con%ia em seu pai. Em am,os" eus e Pai" encontra&se a imagem paternal$ con%i2vel" %ir& me" est2vel" usta" aquela ;ocha Eterna cuia palavra %irma a alian-a. Essa imagem paterna pode ser e4pressa tam,ém pelo conceito do ara!" a adora-+o do ,e#erro pelas costas de =oisés" 7aul" 7ans+o" J! , a ira de eus e a quase anula-+o da cria-+o ? mais e mais" culminando no mito central da nossa cultura$ a trai-+o de Jesus. Em,ora n+o esteamos mais naquele Jardim" podemos a ele retomar cada ve# que nos colocamos numa situa-+o de relacionamento pro%undo" por e4emplo" o amor" a ami#ade" a an2lise" em que se reconstitui a situa-+o de con%ian-a primordial. @ma outra %orma di%erente de designa&la é cham2&la de temenos, o vaso analítico" analítico" a sim,iose sim,iose m+e&%ilho. m+e&%ilho. Aqui se tem de novo a seguran-a do Éden. =as essa seguran-a seguran-a & ou pelo meno menoss o tipo tipo de teme temenos nos a que estou me re%erindo & é masculina" dada pelo
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mundo primordial primordial pode emergir emergir em seguran-a a %raque#a e a som,ra" o desamparo nu de Ad+o" o mais primitivo dos homens em nosso interior mesmo. ele" de a lguma maneira %icamos entregues B nossa nature#a mais simples" simples" que contém a melhor e a menor por-+o por-+o de n!s mesmos" mesmos" o passado de milh3es de anos e as idéias germinais do %uturo.
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A necessidade de seguran-a" em que o mundo primordial da pessoa pode emergir" onde é possível e4pressar&se sem ser destruído" é ,2sica e evidente na an2lise. Essa necessidade de seguran-a pode re%letir carncia de cuidados maternos" mas a partir do padr+o paterno de que estamos %alando" a necessidade é de uma apro4ima-+o a eus" como a que Ad+o" A,ra+o" =oisés e os patriarcas conheceram. * que se aspira é ser contido per%eitamente por um outro que amais possa trair. 1sso transcende a con%ian-a e a deslealdade do outro numa rela-+o. * que se almea é uma situa-+o na qual a pessoa estea protegida das PROPRIAS traições e am,ivalncias" de sua pr!pria Eva. Em outras palavras" con%ian-a primordial na palavra paterna signi%ica estar no Paraíso com e us e com todas as coisas" exceto Eva. * mundo primevo é prévio ao surgimento de Eva e do mal. Estar unido a eus por uma con%ian-a primordial o%erece prote-+o contra pr!prias am,ivalncias. +o s pode estragar coisas" desear" enganar" sedu#ir" tentar" %raudar" culpar" con%undir" ocultar" %ugir" rou,ar" mentir" e4propriar a cria-+o usando a pr!pria nature#a %eminina" trair por sua pr!pria m2&%é na trai-+o da anima" que é a %onte do mal no Éden e da am,ivalncia em todo Ad+o daí por diante. 0ueremos a seguran-a do
maridos/ n+o em inimigos" n+o em estranhos. 0uanto maior o amor e a lealdade" o envolvimento e o compromisso" maior a trai-+o. A con%ian-a contém em si a semente da trai-+o/ a serpente estava no Paraíso desde o come-o" da mesma %orma que Eva 2 se encontrava pré%ormada na estrutura que envolvia o cora-+o de Ad+o. A con%ian-a e a possi,ilidade de traí&1a vieram ao mundo no mesmo momento. *nde quer que e4ista con%ian-a em uma uni+o * risco de trai-+o torna&se uma possi,ilidade real. E a trai-+o" como uma possi,ilidade com que se deve sempre contar" é parte integrante da con%ian-a" da mesma %orma que a d9vida integra uma %é viva. 7e tomarmos essa narrativa como modelo de progresso na vida desde o come-o de tudo" ent+o pode& se esperar que a con%ian-a primordial deva ser que,rada se se quiser que haa progresso nos relacionamentos/ e" mais que isso" que nunca haver2 amadurecimento para essa con%ian-a primordial. A crise so,revir2" uma que,ra caracteri#ada por trai-+o" que" de acordo com a lenda" é o sine qua non para a e4puls+o do Éden para o mundo real da conscincia e responsa,ilidade humanas. Pois devemos estar convencidos de que viver ou amar apenas em situa-3es em que se pode con%iar" onde h2 seguran-a e conten-+o" onde n+o se pode ser %erido ou atrai-oado" em que toda palavra empenhada
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est2 para sempre comprometida" signi%ica estar realmente a salvo" mas por outro lado tam,ém alienado da vida real. E n+o importa qual sea o continente da con%ian-a & an2lise" casamento" 1grea ou lei" ou qualquer rela-+o humana. 7im" poderia di#er até mesmo o relacionamento com o divino. =esmo nesse caso con%ian-a primordial poderia parecer n+o ser o que eus quer. e# a inicia-+o de seu %ilho. Esta inicia-+o em uma nova conscincia da realidade ocorre através da trai-+o" pela omiss+o do" pai" pela promessa que,rada. * pai intencionalmente a%asta&se do compromisso essencial do ego de manter sua palavra" de n+o dar %also testemunho e n+o mentir para seu %ilho" de ser respons2vel e digno de con%ian-a aconte-a o que acontecer. A,andona sua posi-+o deli,eradamente" permitindo mani%estar&se o lado som,rio nele e através dele. e %orma que é uma trai-+o com moral. Pois nossa hist!ria é uma %2,ula moral" como o s+o todas as ,oas hist!rias dos udeus. +o é uma %2,ula e4istencialista descrevendo um acte gratuit" nem uma lenda Fen que leva a um esclarecimento li,ertador. É um serm+o" uma li-+o" uma parte importante da vida. * pai demonstra e4istir em sua pr!pria pessoa a possi,ilidade de trai-+o" mesmo numa situa-+o de m24ima con%ian-a. ;evela sua pr!pria deslealdade" posta&se diante do %ilho em sua nua humanidade" revelando uma verdade a respeito da paternidade e da humanidade$ eu" um pai" um homem" n+o mere-o con%ian-a. * homem é trai-oeiro. A palavra n+o é mais %orte que a vida. E di# tam,ém$ +o con%ie nunca num udeu de modo que a li-+o di# mais coisas ainda. Dorna implícito que sua paternidade segue o padr+o de paternidade de Javé" que uma inicia-+o #udaica signi%ica igualmente uma inicia-+o ao conhecimento da nature#a de eus" este 7enhor t+o pouco digno de con%ian-a que precisa ser continuamente louvado com salmos e ora-3es como sendo paciente" con%i2vel" usto" e propiciado com epítetos de esta,ilidade & por ser t+o ar,itr2rio" emocional e imprevisível. * pai di#" em resumo" eu traí voc da mesma %orma como s+o todos na trai-+o da vida criada por eus. A inicia-+o do garoto na vida é a inicia-+o B tragédia adulta. II
A e4perincia da trai-+o é" para algumas pessoas" t+o humilhante quanto a do ci9me e a do %racasso. Para Ga,riel =arcel" trai-+o é a essncia da maldade (). Para Jean Genet" segundo 7artre" trai-+o é a maldade maior" como a maldade que causa mal a si mesma (I). 0uando as e4perincias adquirem esse aspecto" assumimos um conte4to arquetípico" algo humano demais. Admitimos que provavelmente encontraremos um mito %undamental e um padr+o de comportamento com que a e4perincia possa ser ampli%icada. 'reio que esse conte4to arquetípico é a trai-+o de Jesus" o que pode nos dar maior compreens+o da e4perincia do ponto de vista do traído. Estou hesitando em %alar da trai-+o de Jesus. 7+o tantas as ila-3es que se podem %a#er. =as é nisso
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ustamente que consiste o valor de um sím,olo vivo$ pode&se e4trair dele um %lu4o contínuo de signi%icados. E é como um psic!logo em ,usca de signi%icados psicol!gicos que outra ve# atravesso as %ronteiras teol!gicas. a hist!ria de Jesus o tema da trai-+o logo nos impressiona. * %ato de ocorrer por trs ve#es (Judas" os discípulos que dormiram" Pedro) & repetido pela tripla trai-+o de Pedro & indica uma %atalidade" a trai-+o como essencial para a dinmica do clíma4 da hist!ria de Jesus" o que coloca a trai-+o em posi-+o central no mistério crist+o. A triste#a na 9ltima ceia" a agonia no horto e o grito na cru# parecem repetir um mesmo padr+o" rea%irma-3es de um mesmo tema" num tom cada ve# mais alto" de que um destino est2 sendo reali#ado" de que uma trans%orma-+o est2 se impondo a Jesus. Em cada uma dessas trai-3es ele v&se %or-ado ao terrível reconhecimento de ter sido traído" a,andonado e dei4ado s!. 7eu amor %oi recusado" sua mensagem mal entendida" seu chamado negligenciado e seu destino proclamado. Acho que h2 pontos em comum entre nossa anedota ,anal de udeus e esse grande sím,olo. * primeiro ato da trai-+o de Judas 2 era conhecido antecipadamente. 7a,edor disto" Jesus podia aceitar su,meter&se a esse tipo de sacri%ício para a glori%ica-+o de eus. * impacto assim n+o deve ter sido t+o devastador" para Jesus" mas Judas aca,ou se en%orcando. Dam,ém a nega-+o de Pedro %oi conhecida previamente" e da mesma %orma Pedro é que aca,ou chorando amargamente. urante a 9ltima semana a con%ian-a de Jesus estava depositada no 7enhor. Homem da a%li-+o" sim" mas sua con%ian-a primordial n+o se a,alara. 'omo o garoto na escadaria" Jesus podia contar com seu Pai e até mesmo pedir&lhe o perd+o para seus carrascos até o 9ltimo instante era um s! com o Pai" até aquele momento da verdade em que %oi traído" negado e a,andonado por seus seguidores" entregue nas m+os de seus inimigos" perdida a con%ian-a em eus" atrelado a circunstncias irreversíveis/ nesse momento" sentindo na sua carne humana a realidade da trai-+o e a ,rutalidade de Javé e de sua cria-+o" ,radou o salmo II" aquela longa lamenta-+o em torno da con%ian-a em eus&Pai$ $eu %eus, meu %eus, por que me a&andonastes' Por que deixastes de me socorrer e vos afastastes de min(as s)plicas' O(, meu %eus, clamo por v*s de dia e v*s n+o me ouvis" e noite... E, no entanto sois #usto.... -ossos pais confiaram em v*s. onfiaram e v*s os salvastes... onfiaram em v*s e n+o foram confundidos... /*s sois aquele que me tirastes do. &erço.0 fi1estes2me confiar quando ainda estava no seio da min(a m+e. Estou diante de v*s desde o. meu nascimento0 /*s sois meu %eus desde o ventre da min(a m+e. -+o vos afasteis de mim, pois o tormento est3 pr*ximo, pois n+o (3 ningum para me socorrer...
E eis que surgem as imagens de uma ,rutali#a-+o por %or-as ,estiais Estou cercado pelos touros, fortes touros que me sitiam. $ostram2me suas imensas fauces como se fossem leões... os c+es me rodearam. Estou preso no meio de malfeitores0 furam2me.as m+os e os ps...
Esta passagem e4traordin2ria a%irma que a con%ian-a primordial est2 depositada no poder paterno" que ! pedido de resgate n+o é pedido de prote-+o materna" mas que a e4perincia da trai-+o integra o mistério masculino. É impossível dei4ar de notar o ac)mulo de sim&olismo da anima constelado #unto com o tema da traiç+o. medida que o drama da trai-+o vai&se desenrolando e intensi%icando" o %eminino vai&se tornando mais e mais evidente. ;esumidamente posso re%erir&me ao lavapés na 9ltima ceia e ao mandamento do amor/ ao ,eio e Bs moedas de prata" B agonia no Getsmani & um horto" B noite" o suor salgado poreando como gotas de sangue/ B orelha %erida" B imagem das mulheres estéreis no caminho do G!lgota/ B advertncia do sonho
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da mulher de Pilatos" B degrada-+o e ao so%rimento" B espona de vinagre e %el" B nude# e B %ragilidade" B escurid+o da nona hora e ao grande n9mero de =arias & e re%erir&me de modo especial B %erida no %lanco no instante irremedi2vel da morte" lem,rando a maneira como Eva %oi arrancada do %lanco de Ad+o. E %inalmente ao encontro do 'risto ressuscitado" vestido de ,ranco" por mulheres. Poderia parecer que a mensagem de amor" a miss+o de Eros de Jesus ganha sua %or-a %inal s! quando ocorre a trai-+o e a cruci%i4+o. Pois no momento em que eus o a,andona" Jesus se torna realmente humano" so%rendo a tragédia humana" com seu %lanco %erido e per%urado" de onde corre sangue e 2gua" a %onte n+o represada da vida" do sentimento" da emo-+o. (* sim,olismo do sangue %oi e4tensivamente ampli%icado no tra,alho de Emma Jung e =. <.von >ran# so,re o Graal) (K). A marca do puer, a condi-+o de seguran-a destemerosa do pregador miraculoso" terminou. * eus puer morre quando se perde a con%ian-a primordial" e nasce o homem. E o homem s! nasce quando nele nasce o %eminino. eus e homem" pai e %ilho" n+o s+o mais uma s! pessoa. E uma mudan-a radical no cosmos masculino. epois que Eva nasceu do %lanco adormecido de Ad+o" o mal tornou&se possível/ depois que o %lanco de Jesus" traído e mori,undo" %oi per%urado" o amor tornou&se possível.
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* momento crítico da grande trai-+o" quando se é cruci%icado pela pr!pria %é" é um momento perigosíssimo daquilo que >rances LicMes chamaria escolhaN.(O). Ao levantar&se do ch+o o garoto" a quest+o pode encaminhar&se para qualquer dire-+o/ sua ressurrei-+o %ica pendente na ,alan-a. Pode mostrar&se incapa# de perdoar e assim manter uma %i4a-+o no trauma" tornar&se vingativo" ressentido" cego a toda" compreens+o e a%astado do amor. *u pode votar&se para a dire-+o que tentarei descrever no restante destas minhas considera-3es. =as antes de dirigirmos nossa aten-+o para as possíveis conseqncias aproveit2veis da trai-+o" vamo& nos deter um pouco nas op-3es estéreis" nos perigos que sucedem B trai-+o. * primeiro desses perigos é o espírito de vinganca. *lho por olho/ mal por mal/ dor por dor. Para alguns vingan-a é algo natural" imediato" sem contesta-+o. 7e e4ecutada diretamente como um ato de verdade emocional pode ser puri%icadora. eve acertar as contas sem" é claro" produ#ir mais conseqncias. Cingan-a n+o leva a nada a n+o ser contravingan-a e inamistosidade. Psicologicamente n+o é produtiva porque permite apenas a a,rea-+o da tens+o. 0uando a vingan-a é adiada e vai&se trans%ormando em intriga" dissimula-+o e espera do dia da ca-a" come-a a cheirar a perversidade" a alimentar %antasias de crueldade e rancor. Cingan-a adiada" vingan-a re%inada por métodos indiretos pode tornar&se o,sessiva" redu#indo o %oco que a,arcava todo o evento da trai-+o e seu signi%icado" para a pessoa do traidor e para sua som,ra. Por isso 7. Dom2s de Aquino usti%ica a vingan-a apenas quando ela se dirige de %orma a,rangente contra o mal e n+o contra o perpetrador do mal. * pior da vingan-a é" psicologicamente" sua perspectiva medíocre e mesquinha" seu e%eito redutor so,re a conscincia. . Esses perigos" desvios errQneos se ,em que naturais" continuam no mecanismo de de%esa da negac+o. 7e uma pessoa é traída em um relacionamento" sente&se tentada a negar o valor da outra pessoa/ a ver" instantaneamente" a som,ra do outro" uma vasta coura-a de demQnios viciosos que" é claro" simplesmente n+o estavam presentes quando ainda e4istia a con%ian-a primordial. Esses aspectos hediondos do outro su,itamente revelados s+o todos compensa-3es" uma enantiodromia" de ideali#a-3es prévias. * choque da revela-+o s9,ita indica o quanto era grosseira a inconscincia prévia da anima. Pois devemos admitir que sempre que h2 um lamento amargo por uma trai-+o" é porque e4istiu um conte4to de con%ian-a primordial" de inconsciente inocncia in%antil" em que se reprimiu a am,ivalncia. Eva ainda n+o tinha entrado em cena" ainda n+o %ora reconhecida como parte da situa-+o" estava reprimida. . 0uero di#er com isto que os aspectos emocionais do envolvimento especialmente os ulgamentos de valor" essa corrente contínua de avalia-3es que %lui no interior de toda cone4+o & n+o eram admitidos. Antes da trai-+o o relacionamento negava o componente da anima. @m envolvimento que é inconsciente da anima ou é precipuamente uma proe-+o" como num caso amoroso" ou precipuamente uma repress+o" como na muitíssimo masculina ami#ade de idéias e de tra,alho em comum. essas circunstncias a anima s! pode chamar a aten-+o so,re si criando pro,lemas. A inconscincia grosseira da anima consiste em considerar a parte emocional de um relacionamento como um dado de certe#a" com %é animal" uma con%ian-a primordial de que n+o h2 pro,lemas" de que é su%iciente o que se di#" o que se cr" o que se tem em mente" de que as
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coisas caminham, ça va tout seul. 7e a pessoa %alha ao tentar honestamente tra#er para o interior de um relacionamento a esperan-a" a necessidade de crescer unto e com reciprocidade & o que se constela como possi,ilidade 9ltima em qualquer relacionamento íntimo & aí ent+o se muda de rumo e se nega por completo as esperan-as e as e4pectativas. =as a passagem s9,ita do estado de inconscincia grosseira para um estado de conscincia tam,ém grosseira integra todo momento de %é e é até evidente. e modo que n+o é esse o perigo maior. =ais perigoso é o cinismo. ecep-+o amorosa" desapontamento com uma causa política" com uma organi#a-+o" com um amigo" um superior ou um analista" condu# a uma mudan-a de atitude na pessoa traída" que n+o s! passa a negar o valor daquela pessoa particular e do relacionamento" como tam,ém todo amor passa a ser considerado >alsidade/ as causas s+o para os 1ngnuos/ as organi#a-3es" Armadilhas/ as hierarquias" =al e a an2lise nada menos que prostitui-+o" lavagem cere,ral e %raude. 7ea inteligente" %ique alerta. Apanhe o outro antes que ele o apanhe. =elhor so#inho. Dudo ,em comigo" José & o verni# para esconder as cicatri#es de uma con%ian-a perdida. 'om os restos des%eitos de idealismo improvisa&se a %iloso%ia agressiva do cinismo. . É ,em possível que encontremos este cinismo & especialmeme entre os ovens & por n+o ter sido dada aten-+o su%iciente ao signi%icado da trai-+o" principalmente na trans%orma-+o do puer aeternus. 'omo analistas n+o ela,oramos a sua signi%icatividade no desenvolvimento da vida sentimental/ como um dado %inal em si" de onde %ni4 alguma poderia renascer. Assim" a pessoa traída ura nunca mais su,ir t+o alto na escada. Cai %icar grudada no ch+o" no mesmo nível do c+o" 45nis, cínico. Essa postura cínica" como dispensa o tra,alho de ela,ora-+o de um signi%icado positivo da trai-+o" %orma um círculo vicioso" o c+o perseguindo a pr!pria cauda. * cinismo" esse #om,ar do pr!prio destino" é uma trai-+o dos pr!prios ideais" uma trai-+o das mais elevadas am,i-3es pessoais encerradas no arquétipo do puer. 0uando este entra em colapso" tudo que tem a ver com ele é reeitado. * que leva ao quarto e" acredito" maior perigo$ B autotrai-+o. A traiç+o de si mesmo é talve# o que mais realmente nos angustia. E uma das maneiras disto acontecer é como conseqncia de alguém nos ter traído. a situa-+o de con%ian-a" na liga-+o amorosa" ou com um amigo" um parente" um parceiro" um analista" alguma coisa sempre %ica em a,erto. Alguma coisa que tinha estado l2 dentro vem para %ora$ unca contei isto antes em toda a minha vida. @ma con%iss+o" um poema" uma carta de amor" uma inven-+o ou esquema %ant2stico" um segredo" um sonho de terror in%antil & algo que contém os valores mais pro%undos da pessoa. o instante da trai-+o" essas pequenas pérolas" t+o delicadas e sensíveis" trans%ormam&se em nada mais que p!" gr+os de areia. A carta de amor torna&se um amontoado de asneiras sentimentais" e o poema" o terror" o sonho" a am,i-+o" tudo %ica redu#ido ao ridículo" e4posto B #om,aria grosseira" tratado em linguagem grossa como merde, uma ,osta. ;everte&se o processo alquímico$ o ouro volta a ser e4cremento" a pérola l an-ada aos porcos. Porque os porcos n+o s+o os outros" de quem se deve esconder os valores sagrados" e sim as e4plica-3es materialistas grosseiras" as redu-3es Bs simplicidades o,tusas do instinto se4ual e da so%reguid+o" que devora tudo indiscriminadamente/ a pr!pria insistncia o,stinada em achar que o melhor era realmente o pior" o re%ugo onde se arroam os mais preciosos valores. É uma e4perincia estranha perce,er alguém traindo a si mesmo" voltando&se contra as pr!prias e4perincias ao atri,uir&1hes os valores negativos da som,ra e ao agir contrariamente Bs pr!prias inten-3es e sistema de valores. o colapso de uma ami#ade" de uma parceira" de um casamento" de uma liga-+o amorosa" de repente o que h2 de pior e de mais suo vem B tona e a pessoa se surpreende agindo da mesma maneira cega e s!rdida que atri,ui ao outro" e usti%icando as pr!prias a-3es com um sistema de valores 0ue n+o é seu. A pessoa é realmente traída" entregue ao inimigo interior. E os porcos avan-am e despeda-am. * distanciamento de si mesmo ap!s a trai-+o é em grande parte para se proteger. +o se quer ser %erido de novo" e 2 que a %erida resultou ustamente da revela-+o daquilo que se é" come-a&se a evitar viver de novo e4perincias assim. e modo que se evita" trai&se a si mesmo" dei4ando&se de viver uma etapa da vida (um divorciado de meia&idade sem ninguém para amar) ou a pr!pria se4ualidade (n+o quero mais sa,er de homens e vou passar a ser t+o cruel quanto eles) ou o pr!prio tipo psicol!gico (meu sentimento" minha intui-+o ou %osse l2 o que %osse" estava errado)" ou a pr!pria voca-+o (a psicoterapia é mesmo um neg!cio suo). Porque %oi ustamente pela con%ian-a nesses marcos %undamentais da pr!pria nature#a que se %oi atrai-oado. Assim" recusamos ser o que somos" come-amos a ludi,riar a n!s mesmos com desculpas e
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evasivas" trans%ormando&se a autotrai-+o em nada menos que a de%ini-+o de Jung para neurose como uneigentlic( leiden, so%rimento inautntico. ei4a&se de viver a e4perincia pessoal de so%rimento para" por mauvaise foi, por %alta de coragem de ser" trair&se a si mesmo. 1sto é" em 9ltima an2lise" suponho" um pro,lema religioso" e mais parecemos Judas ou Pedro ao trair o essencial, a e4igncia essencial de que se assuma e se carregue o pr!prio so%rimento e de que se sea o que se é n+o importa quanto isso possa doer.
Ao lado da vingan-a" nega-+o" cinismo e autotrai-+o" e4iste ainda um outro perigo" um outro desvio negativo" que chamaremos de paran*ide. É" mais uma ve#" uma medida de prote-+o contra novas trai-3es" por meio da ela,ora-+o de um relacionamento per%eito. ;elacionamentos desse tipo e4igem um uramento de %idelidade" n+o toleram riscos B seguran-a. Coc n+o deve me trair amais & é o lema. A trai-+o deve ser e4orci#ada por votos de con%ian-a" declara-3es de %idelidade eterna" provas de dedica-+o" uras secretas. +o pode haver nem um arranh+o/ a trai-+o tem de ser e4cluída. =as se a trai-+o est2 contida na interior da con%ian-a" como a semente antinQmica encerrada nela" ent+o essa e4igncia paran!ide de um relacionamento sem possi,ilidade de trai-+o n+o pode na verdade estar ,aseada na con%ian-a. É mais uma conven-+o arquitetada para e4cluir riscos. 'omo tal tem a ver menos com o amor do que com o poder. É um recuo para um lacionamento ,aseado no logos" im posto pela palavra e n+o sustentado pelo amor. É impossível resta,elecer&se a con%ian-a primordial depois que se dei4ou o Éden. Agora se sa,e que as promessas mantm&se apenas até certo ponto. A vida é que toma a seu cargo os uramentas" cumprindo&os ou que,rando&os. E os novos relacianamentos ap!s a e4perincia da trai-+o tm de come-ar por algum outro ponto totalmente di%erente. A distor-+o paran!ide dos assuntos humanos é algo muito sério. 0uando um analista (ou marido" amante" discípulo ou amiga) tenta preencher os requisitos de um relacionamento paran!ide" %ornecendo garantias de lealdade" e4conurando a trai-+o" certamente estar2 a%astando&se do amar. Pois como 2 vimos e tornaremos a ver" amor e trai-+o procedem de um mesmo lado$ o esquerdo. IV
Gostaria agora de encerrar a quest+o do que signi%ica a trai-+o para o %ilho" o traído" a %im de voltar&me para a.outra das nossas quest3es iniciais$ 0ue pode a trai-+o signi%icar para o pai5 * que signi%ica para eus dei4ar 7eu %ilho morrer na cru# é algo que n+o nos %oi dito. * que signi%icou para A,ra+o levar seu %ilho para o sacri%ício" tam,ém isso n+o nos %oi dito. =as eles %i#eram essas coisas. Eram capa#es de trair" da mesma %orma que Jac!" o patriarca" que adquiriu o seu status traindo o irm+o. 7er2 que a capacidade de trair é inerente B paternidade5 Camos e4aminar melhor esta quest+o. * pai naquela hist!ria n+o mostra apenas sua imper%ei-+o humana" quer di#er" n+o é que apenas n+o segura o %ilho. +o é apenas %raque#a e erro. 'onscientemente ele resolveu dei42&lo cair e causar&lhe dor e humilha-+o. =ostra como é ,rutal. A mesma ,rutalidade que aparece no tratamento que Jesus rece,e desde a captura até a cruci%i4+o" e nos preparativos %eitos por A,ra+o. * que acontece com Esa9 e com J! é nada menos que ,rutalidade. A ,rutalidade aparece de novo na pele de animal que Jac! veste para trair Esa9" e nas grandes ,estas que eus revela a J! como usti%icativas de seus tormentos. a mesma %orma" nas imagens do 7almo II" como vimos acima. A imagem paterna & esta %igura usta" s2,ia e tolerante & recusa de qualquer maneira intervir para minorar o so%rimento que ele pr!prio ocasionou. Recusa tam&m #ustificar sua conduta. A recusa de e4plica-3es signi%ica que a e4plica-+o" se a%inal de contas houver uma" deve proceder da parte o%endida. epois de uma trai-+o n+o se est2 em posi-+o de ouvir de %orma alguma e4plica-3es do outroR 1sto é" creio eu" um estímulo criativo na trai-+o. É o traído quem de al guma %orma deve cuidar da pr!pria ressurrei-+o" dar o passo adiante" por meio de sua pr!pria interpreta-+o do que aconteceu. =as isso s! ser2 criativo se a pessoa n+o sucum,ir aos perigos que mencionamos acima. aquela nossa hist!ria o pai e4plica. ossa hist!ria é mais que tudo uma li-+o e a pr!pria a-+o é educativa enquanto inicia-+o" ao passo que nas lendas arquetípicas e em muitas situa-3es da vida di2ria" o traidor n+o e4plica a trai-+o ao traído" pois a trai-+o procede do lado autQnomo" esquerdo" incosciente. Apesar das e4plica-3es" nossa hist!ria ainda e4i,e ,rutalidade. * uso consciente da &rutalidade poderia parecer um traço
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comum das figuras paternas. * pai inusto re%lete a inusti-a da vida. 0uando se mostra inacessível ao grito de
socorro e Bs necessidades do outro" ou admite que sua promessa é %alível" est2 reconhecendo que o poder da palavra pode ser transcendido pelas %or-as da vida. Este conhecimento das suas limita-3es masculinas e esta insensi,ilidade implicam em um alto grau de di%erencia-+o do lado %raco" esquerdo. i%erencia-+o do lado esquerdo poderia signi%icar a capacidade de suportar tens+o sem a-+o" de prosseguir no erro sem tentar corrigir as coisas" dei4ando os %atos determinarem os princípios. 7igni%ica tam,ém que a pessoa deve" em al& guma medida" superar este descon%ort2vel sentimento de culpa que impede a reali#a-+o plenamente consciente de atos necess2rios" ainda que ,rutais. ('om ,rutalidade consciente n+o me re%iro nem B ,ru& talidade deli,eradamente perversa destinada a arruinar o outroR em B ,rutalidade sentimental" tal como Bs ve#es a encontramos na literatura" nos %ilmes e nos c!digos dos soldados). A culpa incQmoda e a pusilanimidade con%erem aos atos um car2ter am,íguo & o que n+o é tare%a muito adequada para a anima. =as a aspere#a do pai n+o d2 margem a am,igidade alguma. +o é que ele sea cruel de um lado e compassivo de outro. +o é que ele traia e em seguida levante o %ilho do ch+o di#endo po,re garoto" isto me %eriu mais que a voc. a an2lise" como em todas as situa-3es de con%ian-a" somos Bs ve#es levados a situa-3es em que alguma coisa ocorre que requer uma a-+o conscientemente ,rutal" uma trai-+o da con%ian-a do outro. 0ue,ramos uma promessa" omitimo&nos quando nossa presen-a seria necess2ria" atrai-oamos o outro" alienamos uma a%ei-+o" traímos um segredo. +o damos e4plica-3es de nossas a-3es" n+o aliviamos o outro de sua cru#" nem sequer o erguemos do ch+o ao pé&da&escada. 7+o ,rutalidades & e n!s as %a#emos com mais ou menos conscincia. E temos de permiti&1as e assumi&1as" caso contr2rio a anima %a# nossos atos inconsistentes" indi%erentes e cruéis. Essa insensi,ilidade aponta para uma integra-+o da ,rutalidade" com isso apro4imando o indivíduo da nature#a & que n+o d2 e4plica-3es de si mesma. As e4plica-3es tm de ser arrancadas dela. Essa disposi-+o para ser um traidor apro4ima&nos da condi-+o primitiva em que somos n+o tanto os protegidos de um eus supostamente moral e de um emQnio imoral" e sim de uma nature#a amoral. E assim somos recondu#idos ao nosso tema da integra-+o da anima" que tem na insensi,ilidade e nos l2,ios selados semelhan-a com Eva e a serpente" cua sa,edoria est2 tam,ém pr!4ima da trai-+o da nature#a. 1sto me leva a perguntar se a integra-+o da anima n+o pode mostrar&se de maneira distinta da usual & vitalidade" relacionamento" amor" imagina-+o" sutile#a e assim por diante & ou sea" assemelhando&se B nature#a$ menos con%i2vel" como 2gua que corre pelo caminho que o%erecer menor resistncia" mudando as respostas com o vento" %alando uma linguagem d9,ia & am,igidade consciente" mais que am,ivalncia inconsciente. 7upostamente" o s2,io ou mestre" a %im de ser o psicopompo que guia as almas através da con%us+o da cria-+o" onde e4iste uma %alha em cada pedra e os caminhos n+o s+o diretos" e4i,e uma sagacidade hermética e uma %rie#a que é t+o impessoal quanto a pr!pria nature#a. (S). Em outras palavras" nossa conclus+o para a quest+o$ * que signi%ica a trai-+o para o pai5 resulta nisto & a capacidade de trair outros est3 relacionada com a capacidade de condu1ir outros. A paternidade integral possui am,as. a medida em que a orienta-+o psicol!gica tem por o,etivo a auto&auda e a autocon%ian-a" o outro ter2" de alguma %orma" em algum ponto" que ser a,andonado ou cair em seu pr!prio nivel" isto é" a%astado do au4ílio humano" (a)traido para o interior de si mesmo" onde é dei4ado s!. 'omo di# Jung em Psicologia e Alquimia (p2gs. IT&U)$ Sei por experi6ncia que toda coerç+o & se#a ela sugest+o, insinuaç+o, ou qualquer outro mtodo de persuas+o & no final das contas aca&a sendo apenas um o&st3culo para a mais elevada e decisiva experi6ncia de todas, que estar so1in(o com o pr*prio Sel,. ou com o que quer que se c(ame a oetividade da psique. * paciente deve ficar so1in(o se for para encontrar aquilo que o sustm quando n+o pode mais suportar a si mesmo. 7! essa experi6ncia pode l(e dar uma &ase indestrut!vel. V
* que ent+o é digno de con%ian-a no ,om pai ou no psicopompo5 'om rela-+o a isso" qual a di%eren-a entre o mago da magia ,ranca e o da magia negra5 * que separa o s2,io do selvagem5 +o poderíamos" através daquilo que venho apresentando" usti%icar toda ,rutalidade e trai-+o que um homem possa cometer como um sinal de sua integra-+o da anima" como um sinal de sua chegada B plena paternidade5
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+o sei como responder a essa quest+o a n+o ser re%erindo&me Bs mesmas hist!rias 2 mencionadas. Em todas elas encontramos duas coisas$ o tema do amor eVou do sentido da necessidade. A interpreta-+o crist+ di# que eus a,andonou Jesus na cru# porque amou tanto o mundo que deu 7eu pr!prio >ilho pela sua reden-+o. 7ua trai-+o era necess2ria" per%a#ia o seu destino. A,ra+o amava tanto a eus que se preparou para imolar 1saac em o%erenda. A trai-+o de Esa9 por Jaco, era uma necessidade 2 anunciada no momento do nascimento. * pai naquela nossa hist!ria deve ter amado tanto seu %ilho que podia arriscar que,rar&lhe os ossos" des%a#er sua con%ian-a e denegrir a pr!pria imagem aos olhos do %ilho. Esse conte4to mais amplo de necessidade ou amor leva&me a acreditar que a trai-+o & voltar atr2s de uma promessa" recusar auda" revelar um segredo" enganar no amor & é uma e4perincia por demais tr2gica para ser usti%icada em termos pessoais de mecanismos e motiva-3es psicol!gicas. +o ,asta psicologia pessoal/ an2lises e e4plica-3es n+o resolvem. eve&se procurar o conte4to maior do amor e do destino. =as quem pode ter certe#a da presen-a do amor5 E quem pode di#er que a trai-+o %oi uma necessidade" %oi o destino" %oi um chamamento do 7el%5 e certo" uma parte do amor é necessidade/ é igualmente interesse" envolvimento" identi%ica-3es & mas talve# uma maneira ainda mais certa de se di#er se a pessoa est2 mais pr!4ima do selvagem ou do s2,io é e4aminando o oposto do amor$ o poder. 7e a trai-+o é perpetrada principalmente para o,ter&se vantagem pessoal (sair de uma situa-+o di%ícil" %erir ou usar" salvar a pr!pria pele" aplacar um deseo ou satis%a#er uma necessidade" de%ender os pr!prios interesses) ent+o pode&se estar seguro de que o predomínio n+o é tanto do amor e sim da ,rutalidade" do poder. * conte4to mais amplo do amor e da necessidade é dado pelos arquétipos míticos. 0uando se coloca o evento so, esta perspectiva" o padr+o pode tornar&se outra ve# signi%icante. * ato mesmo de tentar compreend&1o nesse conte4to mais amplo é teraputico. 1n%eli#mente o evento pode n+o revelar seu signi%icado por muito" muito tempo" enquanto a# so, o selo do a,surdo ou apodrece no ressentimento. =as a luta para coloc2&1o dentro do conte4to mais amplo" as lides com interpreta-+o e integra-+o" esse é o caminho para %a#er andar. Pareceme que apenas isto pode condu#ir através dos est2gios da di%erencia-+o da anima" h2 tanto 2 delineado" e mesmo levar a um passo adiante/ na dire-+o do mais elevado dos sentimentos religiosos$ o perd+o. evemos dei4ar ,em claro que perd+o n+o é assunto %2cil. 7e o ego errou" o ego n+o pode perdoar" s! porque deveria" sem considera-+o pelo conte4to mais amplo de amor e destino. * ego consegue manter&se vital devido a seu amor&pr!prio" seu orgulho e sua honra. =esmo quando se quer perdoar" v&se que simplesmente n+o se pode" porque o perd+o n+o provém do ego. +o posso perdoar diretamente" posso apenas pedir" ou re#ar" para que esses pecados seam perdoados. esear que o perd+o venha e esperar por ele talve# sea tudo o que se pode %a#er. * perd+o" como a humildade" é apenas um termo até que pessoa tenha sido realmente humilhada ou realmente enganada. Perd+o s! tem sentido 0uando n+o se pode nem perdoar nem esquecer. E nossos sonhos n+o nos permitem perdoar (esquecer). 0ualquer um pode perdoar um insulto ,anal" uma a%ronta pessoal. =as se alguém é levado" passo a passo" a um envolvimento cua su,stncia é a pr!pria con%ian-a" desnuda a pr!pria alma" e ent+o é pro%undamente traído" no sentido de ser entregue Bs m+os de seus inimigos" e4teriores ou interiores (aqueles valores da som,ra descritos acima" situa-3es em que as chances de uma nova con%ian-a amorosa %icam permanentemente comprometidas por de%esas paran!icas" pela autotrai-+o" pelo cinismo)" ent+o aí o perd+o assume grande signi%icado. Pode ,em ser 0ue a trai-+o n+o tenha nenhum outro produto positivo além do perd+o" e que a e4perincia do perd+o sea possível apenas se alguém tiver sido traído. Dal perd+o é um perdoar que n+o é um esquecer" mas a lem&rança do erro, que se transforma, quando inserido em um contexto mais amplo, ou nos termos em que Jung coloca" o sal da amargura trans%ormado no sal da sa,edoria. A sa,edoria" como 7o%ia" é de novo uma contri,ui-+o %eminina B masculinidade. e poderia %ornecer o conte4to mais amplo que a vontade n+o pode providenciar por si mesma. Gostaria de considerar aqui a 7a,edoria como a uni+o do amor com a necessidade" da qual %inalmente ,rota o %lu4o livre do sentimento para o interior do pr!prio destino" reconciliando&nos com um acontecimento. a mesma %orma que a con%ian-a contém em si a semente da trai-+o" a trai-+o contém em si a semente do perd+o. Esta poderia ser a resposta B 9ltima de nossas quest3es iniciais$ 0ue posi-+o ocupa a trai-+o na vida psicol!gica em geral5 -em a confiança nem o perd+o podem ser corretamente imaginados sem a
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traiç+o. A trai-+o é o lado som,rio de am,os" a am,os dando sentido" tornando am,os possíveis. Dalve# isso
nos e4plique um pouco por que a trai-+o é um tema t+o %orte em nossas religi3es. É talve# a passagem humana para as e4perincias religiosas t+o elevadas do perd+o e da reconcilia-+o com este la,irinto silencioso" a cria-+o.
=as o perd+o é t+o di%ícil que provavelmente necessita da auda de outra pessoa. 0uero di#er com isto que a %alta" se n+o %or lem,rada por am,as as partes & e lem,rar como %alta & recai inteiramente so,re o traído. * conte4to mais amplo no interior do qual ocorreu a tragédia poderia parecer reclamar sentimentos paralelos de parte a parte. Am,os encontram&se ainda em uma rela-+o" agora como traidor e traído. 7e s! o traído perce,e o crime" enquanto o outro o contorna com racionali#a-3es" ent+o a trai-+o prossegue & e até mesmo aumentada. Esta ilus+o com respeito ao que realmente aconteceu é" para o traído" a mais a,erta de todas as chagas. * perd+o vem com mais di%iculdade/ os ressentimentos crescem porque o traidor n+o est2 carregando sua culpa e o ato n+o é honestamente consciente. Jung disse que o sentido de nossos pecados é que n!s os carreguemos" o que signi%ica n+o lan-2&1os so,re os om,ros de outrem" esperando que este os carregue para n!s. Para carregar os pr!prios pecados é preciso primeiro reconhec&los e reconhecer sua ,rutalidade. Psicologicamente" carregar um pecado signi%ica simplesmente reconhec&1o" lem,rar&se dele. Dodas as emo-3es ligadas B e4perincia da trai-+o em am,as as partes && remorso e arrependimento no traidor" ressentimento e rancor no traído & insistem no mesmo ponto$ a lem,ran-a. * ressentimento" em especial" é uma a%li-+o emocional da mem!ria que o esquecimento n+o pode amais reprimir completamente. 7endo assim" n+o é melhor lem,rar de um erro do que oscilar entre o esquecimento e o ressentimento5 Estas emo-3es poderiam parecer ter como o,etivo evitar que uma e4perincia se dissolvesse no inconsciente. 7+o o sal que preserva o evento da decomposi-+o. Amargamente" %or-am&nos a manter a %é ao lado do pecado. Em outras palavras" o parado4o da trai-+o é a fidelidade que am,os" traidor e traído" guardam" ap!s o evento" ao seu amargor. E essa %idelidade é guardada da mesma %orma pelo traidor. Porque se sou incapa# de admitir 0ue traí alguém" ou se tento esquec&lo" permane-o enclausurado numa ,rutalidade inconsciente. esse caso perde& se o conte4to mais amplo do amor e o conte4to mais amplo do destino" da minha a-+o e de todo o evento. +o somente continuo enganando o outro" como me engano a mim mesmo" pois cortei a possi,ilidade de me autoperdoar. +o posso tornar&me mais s2,io nem tenho nada com que reconciliar. Por essas ra#3es creio que o perd+o de um requer a repara-+o do outro. A e4pia-+o consiste na ado-+o do comportamento silencioso do pai" con%orme o descrevemos anteriormente. * pai carrega sua culpa e seu so%rimento. Em,ora tenha per%eita no-+o do seu ato" n+o d2 e4plica-3es dele ao outro" o que implica em e4pi2&lo" isto é" em autorelacionar&se. ;epara-+o implica tam,ém numa su,miss+o B trai-+o como tal" B sua realidade %atal transpessoal. Ao curvar&me B vergonha"da minha incapacidade de manter a palavra" sou %or-ado a admitir humildemente tanto a minha %raque#a pessoal como a realidade de poderes impessoais. o entanto é preciso veri%icar ,em se essa repara-+o n+o é apenas para apa#iguar a mente ou s! circunstancial. -+o dev tragédia poderia parecer reclamar sentimentos paralelos de parte a parte. Am,os encontram&se ainda em uma rela-+o" agora como traidor e traído. 7e s! o traído perce,e o crime" enquanto o outro o contorna com racionali#a-3es" ent+o a trai-+o prossegue & e até mesmo aumentada. Esta ilus+o com respeito ao que realmente aconteceu é" para o traído" a mais a,erta de todas as chagas. * perd+o vem com mais di%iculdade/ os ressentimentos crescem porque o traidor n+o est2 carregando sua culpa e o ato n+o é honestamente consciente. Jung disse que o sentido de nossos pecados é que n!s os carreguemos" o que signi%ica n+o lan-2&1os so,re os om,ros de outrem" esperando que este os carregue para n!s. Para carregar os pr!prios pecados é preciso primeiro reconhec&los e reconhecer sua ,rutalidade. Psicologicamente" carregar um pecado signi%ica simplesmente reconhec&1o" lem,rar&se dele. Dodas as emo-3es ligadas B e4perincia da trai-+o em am,as as partes && remorso e arrependimento no traidor" ressentimento e rancor no traído & insistem no mesmo ponto$ a lem,ran-a. * ressentimento" em especial" é uma a%li-+o emocional da mem!ria que o esquecimento n+o pode amais reprimir completamente. 7endo assim" n+o é melhor lem,rar de um erro do que oscilar entre o esquecimento e o ressentimento5 Estas emo-3es poderiam parecer ter como o,etivo evitar que uma e4perincia se dissolvesse no inconsciente. 7+o o sal que preserva o evento da decomposi-+o. Amargamente" %or-am&nos a manter a %é ao lado do pecado. Em outras palavras" o parado4o da trai-+o é a fidelidade que am,os" traidor e traído" guardam" ap!s o evento" ao seu amargor. E essa %idelidade é guardada da mesma %orma pelo traidor. Porque se sou incapa# de admitir 0ue traí
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alguém" ou se tento esquec&lo" permane-o enclausurado numa ,rutalidade inconsciente. esse caso perde& se o conte4to mais amplo do amor e o conte4to mais amplo do destino" da minha a-+o e de todo o evento. +o somente continuo enganando o outro" como me engano a mim mesmo" pois cortei a possi,ilidade de me autoperdoar. +o posso tornar&me mais s2,io nem tenho nada com que reconciliar. Por essas ra#3es creio que o perd+o de um requer a repara-+o do outro. A e4pia-+o consiste na ado-+o do comportamento silencioso do pai" con%orme o descrevemos anteriormente. * pai carrega sua culpa e seu so%rimento. Em,ora tenha per%eita no-+o do seu ato" n+o d2 e4plica-3es dele ao outro" o que implica em e4pi2&lo" isto é" em autorelacionar&se. ;epara-+o implica tam,ém numa su,miss+o B trai-+o como tal" B sua realidade %atal transpessoal. Ao curvar&me B vergonha"da minha incapacidade de manter a palavra" sou %or-ado a admitir humildemente tanto a minha %raque#a pessoal como a realidade de poderes impessoais. o entanto é preciso veri%icar ,em se essa repara-+o n+o é apenas para apa#iguar a mente ou s! circunstancial. -+o deve ela recon(ecer a outra pessoa' 'reio que este ponto n+o pode ser e4agerado" pois vivemos em um mundo humano" mesmo quando somos as vítimas de temas c!smicos" como a tragédia" a trai-+o" o destino. Drai-+o pode integrar um conte4to mais amplo e ser um tema c!smico" mas é sempre no interior de relacionamentos individuais" através de outra pessoa muito pr!4ima" de uma intimamente imediata" que estas coisas nos atingem. 7e os outros s+o instrumentos dos deuses para nos tra#er tragédias" s+o tam,ém o caminho pelo qual a nossa e4pia-+o chega aos deuses. As condi-3es se trans%ormam no interior do mesmo tipo de situa-+o pessoal em que ocorreram. É su%iciente o%erecer repara-+o apenas aos deuses5 2& se com isso por encerrada a quest+o5 A tradi-+o n+o conuga a sa,edoria B (umildade' A e4piac+o" como o arrependimento" n+o precisa ser expressis ver&is, mas é provavelmente mais e%etiva se ocorre em alguma %orma de contato com o outro" com o reconhecimento integral do outro. E" a%inal" o que é esse reco nhecimento pleno do outro sen+o o amor5 VI
Dentarei resumir. *s desdo,ramentos" por sucessivos est2gios" da con%ian-a" através da trai-+o" até o perd+o" representam uma modi%ica-+o da conscincia. A condi-+o inicial de con%ian-a primordial é em ,oa parte inconsciente e pré&anima. 7egue&se a trai-+o" em que a palavra dada é que,rada pela vida. Apesar de toda sua negatividade" a trai-+o representa ainda um avan-o em rela-+o B con%ian-a primordial porque condu# B morte do puer através da e4perincia de anima do so%rimento. 1sto pode ent+o levar" se n+o %or ,loqueado pelas vicissitudes negativas da vingan-a" da nega-+o" cinismo" autotrai-+o e de%esas paran!ides" a uma paternidade mais %irme" em que o traído pode" por seu turno" trair outros de %orma menos inconsciente" implicando isto na integra-+o de uma nature#a humana pouco digna de con%ian-a. A integra-+o %inal da e4perincia pode resultar no perd+o pelo traído" e4pia-+o pelo traidor e uma reconcilia-+o & n+o neces& sariamente de um com o outro & mas a reconcilia-+o de cada um com o %ato ocorrido. 'ada uma destas %ases de amargos con%litos e de e4perincias so%ridas que podem consumir longos anos de %idelidade ao lado som,rio da psique" é tam,ém uma %ase do desenvolvimento da anima e %oi" apesar de minha n%ase so,re o masculino" o tema principal deste tra,alho.
-O7AS
1. 8eing and 9aving, (ed. >ontana)"
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1#$*" +,gs. *&-&$. onferência +roferida em de o/t/(ro de 1#$%" em 'ondres.