SÍNTESE ADITIVA: ADI TIVA: DO ÓRGÃO DE TUBOS AO SINTETIZADOR SINTETI ZADOR DIGITAL DIGI TAL S N I F A & Ano 1 - Número 4 - Agosto 2014 www.teclaseafins.com.br
Fabio Ribeiro Referência no rock brasileiro, o tecladista fala sobre equipamentos, timbres, mercado e os projetos do Remove Silence
Valentina Lisitsa A pianista que surpreende o mundo e estuda com ajuda da internet!
Ray Charles A vida e o legado do gênio do soul
Harmonia e improvisação: Giant Steps e “Coltrane “Coltrane Changes”
S N I F A &
Ano 1 - N° 04 - Agosto 2014 Publisher
Nilton Corazza publisher@teclaseafins.com.br publisher@tec laseafins.com.br Gerente Financeiro
Regina Sobral financeiro@teclaseafins.com.br Editor e jornalista responsável
Nilton Corazza (MTb 43.958) Colaboraram nesta edição:
Alexandre Porto, Alex Saba, Amador Rubio, Cristiano Ribeiro, Eloy Fritsch, Hudson Hostins, José Osório de Souza, Kariny do Espírito Santo, Maurício Domene, Rosana Giosa, Turi Collura Diagramação
Sergio Coletti arte@teclaseafins.com.br Foto da capa
Duca Mendes Publicidade/anúncios comercial@teclaseafins.com.br Contato contato@teclaseafins.com.br Sugestões de pauta redacao@teclaseafins.com.br Desenvolvido por
Blue Note Consultoria e Comunicação www.bluenotecomunicacao.com.br Os artigos e materiais assinados são de responsabilidade de seus autores. É permitida a reproduação dos conteúdos publicados aqui desde que fonte e autores sejam citados e o material seja enviado para nossos arquivos. A revista não se responsabiliza pelo conteúdo dos anúncios publicados.
EDITORIAL A Copa do Mundo acabou! E não é nossa. Finalmente o País acorda para a realidade e percebe que viver de Copa é para poucos: a maioria precisa trabalhar! Com a retomada das atividades normais e dos horários habituais, o mercado volta a se agitar saindo da letargia dos últimos meses. Mas brevemente teremos eleições e os destinos do País novamente estarão na mão do povo. Afinal, o que isso tem a ver com o universo das teclas? Muito simples: com a economia girando e sem as limitações que a Copa traz, aumenta o número de lançamentos, oficinas, workshops, trabalhos, shows e concertos. O que significa mais atividade cultural e profissional para todos. Prova disso foi o fim do mês de julho, em que vários congressos e seminários ocorreram, preparando as ações do segundo semestre que se inicia com atraso de um mês. Para inspirar a todos, Teclas & Afins traz nesta edição três grandes músicos de diferentes estilos e gêneros: Fabio Ribeiro, Valentina Lisitsa e Ray Charles. Além disso, nosso time de colunistas colaboradores continua a divulgar todo seu conhecimento levando a você a experiência de muitos anos. Mas lembre-se, para aproveitar ao máximo todas as informações que oferecemos aqui é importante clicar nos links existentes em todas as matérias. Eles levam você a vídeos exclusivos ou disponíveis na internet, perfis em redes sociais, websites de fabricantes e importadores e páginas de download de produtos e aplicativos. Faça como o leitor Agnelo Martins que participou de nossa promoção de assinaturas e ganhou um kit de livro e DVD de Turi Collura. Participe de nossas promoções! A deste mês é em nossa página no Facebook e já está rolando.
Nilton Corazza Publisher Rua Nossa Senhora da Saúde, S aúde, 287/34 Jardim Previdência - São Paulo - SP CEP 04159-000 Telefone: +55 (11) 3807-0626 6 / MAIO 2014
teclas & afins
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EDITORIAL A Copa do Mundo acabou! E não é nossa. Finalmente o País acorda para a realidade e percebe que viver de Copa é para poucos: a maioria precisa trabalhar! Com a retomada das atividades normais e dos horários habituais, o mercado volta a se agitar saindo da letargia dos últimos meses. Mas brevemente teremos eleições e os destinos do País novamente estarão na mão do povo. Afinal, o que isso tem a ver com o universo das teclas? Muito simples: com a economia girando e sem as limitações que a Copa traz, aumenta o número de lançamentos, oficinas, workshops, trabalhos, shows e concertos. O que significa mais atividade cultural e profissional para todos. Prova disso foi o fim do mês de julho, em que vários congressos e seminários ocorreram, preparando as ações do segundo semestre que se inicia com atraso de um mês. Para inspirar a todos, Teclas & Afins traz nesta edição três grandes músicos de diferentes estilos e gêneros: Fabio Ribeiro, Valentina Lisitsa e Ray Charles. Além disso, nosso time de colunistas colaboradores continua a divulgar todo seu conhecimento levando a você a experiência de muitos anos. Mas lembre-se, para aproveitar ao máximo todas as informações que oferecemos aqui é importante clicar nos links existentes em todas as matérias. Eles levam você a vídeos exclusivos ou disponíveis na internet, perfis em redes sociais, websites de fabricantes e importadores e páginas de download de produtos e aplicativos. Faça como o leitor Agnelo Martins que participou de nossa promoção de assinaturas e ganhou um kit de livro e DVD de Turi Collura. Participe de nossas promoções! A deste mês é em nossa página no Facebook e já está rolando.
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teclas & afins
NESTA EDIÇÃO VOCE EM TECLAS E AFINS 4
O espaço exclusivo dos leitores INTERFACE 8
As notícias mais quentes do universo das teclas retrato 14
Valentina Lisitsa A popularização da música erudita Vitrine 22
Novidades do mercado materia de Capa 26
Fabio Ribeiro Criatividade acima de tudo sintese 36
teclas & afins
40 mestres
Ray Charles O gênio do soul 48 LIVRE PENSAR
Joe Pass por Alex Saba 52 TRILHA MUSICAL
Novelas e campanhas políticas Por Maurício Domene 54 cultura hammond
O amor à sonoridade Por José Osório de Souza 56 harmonia e improvisacao
Giant Steps e Coltrane Changes por Turi Collura 60 arranjo comentado
Síntese aditiva
Modulação: “ Passaredo Passaredo””
por Eloy Fritsch
por Rosana Giosa
MAIO 2014 / 7
vOCE em teclas & afins
Vamos nos conectar? A edição 3 está simplesmente maravilhosa! Nos dar o prazer de ler uma entrevista com Ahmad Jamal é simplesmente ímpar. Parabéns! É com mais publicações como esta que aprimoraremos a educação musical neste país. (Fabio Faria, por e-mail). Parabéns pela iniciativa da revista, pois preenche uma lacuna no cenário musical brasileiro. (Bruno Fonseca, por e-mail). A revista está ótima, com muitas matérias interessantes. Parabéns! O mais legal são os links para vídeos e redes sociais em praticamente todas elas. Assim ficamos conhecendo mais do assunto. Continuem assim! (Paulo José Ferreira, por e-mail) Sejam bem-vindos! Sei que estão pelas mãos de pessoas experientes e competentes num mercado ávido por publicações de bom conteúdo. (Fernando Moura, por e-mail) R.: Caros Fabio, Bruno, Paulo e Fernando, agradecemos as mensagens e os comentários. Procuramos levar o máximo de informação aos leitores, seja por meio das matérias publicadas nas páginas, seja por meio do que existe à disposição na internet. Tudo isso, obviamente, filtrado pela experiência do melhor time de colunistas do mercado editorial musical brasileiro.
Muito legal a revista ser digital, mas não haverá edição impressa? (José Carlos de Almeida, por e-mail) R.: Caro José Carlos, a facilidade que o meio digital oferece para acesso às informações é muito maior do que a de mídias impressas. Prova disso é que até mesmo os grandes jornais estão se rendendo a essa tendência. Embora nosso editor seja particularmente fã de revistas, jornais e livros impressos, temos a certeza de que este formato oferece aos leitores mais informação e conteúdo. Imagine ter que digitar todos os links...
Gostei muito da matéria sobre o piano ES100 da Kawai. E gostei mais ainda poder ouvir o som do instrumento no vídeo. Gostaria que toda edição trouxesse um teste como esse. (Teresa Florêncio, por e-mail). R.: Que bom que gostou, Teresa. Publicaremos testes de equipamentos sempre que estes estiverem disponíveis. Temos a certeza que tanto nossos leitores quanto os fabricantes gostam de ideia. E aguarde a próxima edição, pois haverá outro. 4 / agosto 2014
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vOCE em teclas & afins
Este espaço é seu! Teclas & Afins quer divulgar trabalhos, iniciativas, músicos e
bandas que apresentem qualidade e sejam diferenciados. Não importa o instrumento: piano, órgão, teclado, sintetizadores, acordeon, cravo e todos os outros têm espaço garantido em nossa revista. Mas tem que ser de teclas! Veja abaixo como participar:
1. Grave um vídeo de sua performance. A qualidade não importa. Pode ser até mesmo de celular, mas o som precisa estar audível. 2. Faça o upload desse vídeo para um canal no Youtube ou para um servidor de transferência de arquivos como Sendspace.com, WeTransfer.com ou WeSend.pt. 3. Envie o link, acompanhado de um release e uma foto para o endereço contato@teclaseafins.com.br 4. A cada edição, escolheremos um ou dois artistas para figurarem nas páginas de Teclas & Afins, com direito a entrevista e publicação de release e contato.
Não fique fora dessa! Mostre todo seu talento! Teclas & Afins quer conhecer melhor você, saber sua opinião e manter comunicação constante, trocando experiências e informações. E suas mensagens podem ser publicadas aqui! Para isso, acesse, curta, compartilhe e siga nossas páginas nas redes sociais clicando nos ícones acima. Se preferir, envie críticas, comentários e sugestões para o e-mail contato@teclaseafins.com.br
teclas & afins
agosto 2014 / 5
vOCE em teclas & afins
Ecletismo e dedicação Trafegando muito bem entre órgão e piano, o músico do interior de São Paulo atesta que qualidade e bom gosto não têm fronteiras Quem visita o interior de São Paulo, provavelmente já pôde ouvir as interpretações de Luiz Claudio Morato do Canto, seja em missas e casamentos ou no conforto de um hotel cinco estrelas. O músico, com formação em piano clássico, estudou no Conservatório Dramático e Musical de Piracicaba, onde se formou em 1989, e continuou seus estudos no Conservatório Dramático e Musical de Tatuí, com o professor Antenor Buschalla, além de um ano de regência com Dario Sotelo. Também foi aluno de Estelinha Epstein e Robert Dierckxy. A grande motivação para o estudo de música veio da avó, que antes de dormir dedilhava as escalas musicais no travesseiro. O início se deu no harmônio, instrumento mais comum entre as igrejas da região em que residia. Mas o interesse pelo
Luiz Claudio Morato do Canto: piano e órgão no interior paulista 6 / agosto 2014
piano surgiu depois: “descobri o instrumento na casa de um amigo em Rio das Pedras”, conta Morato. “Quando toquei piano pela primeira vez, foi paixão à primeira vista, apesar de não ter conseguido tocar quase nada”. Aquilo se tornou um desafio e o músico passou a dedicar-se com mais afinco aos estudos. Ao mudar-se para Piracicaba, na segunda metade da década de 1970, já tocava em missas e casamentos. Mas, durante 17 anos, a dedicação ao piano teve que disputar tempo com o trabalho de bancário. “O banco me ajudou muito: trabalhava seis horas por dia. Dava tempo de estudar música”, afirma Morato. Apesar disso, de 1978 a 1996, foi organista da Igreja São José e, logo na sequência, se tornou um dos organistas da Catedral de Santo Antônio, em Piracicaba, desenvolvendo sua arte em um órgão de tubos Berner op XXIV, de 1948. Abriu duas escolas de música, dedicando-se depois a aulas particulares. Atualmente, apresenta-se como pianista no Grande Hotel Senac em Águas de São Pedro, com um repertório bastante eclético, que compreende desde composições de Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth, a música popular brasileira em geral e bossa nova, passando pelos grande temas do cinema, tangos e música pop, com teclas & afins
vOCE em teclas & afins
pop, com destaque para os improvisos na dose certa para o público ouvinte. “Fui influenciado na interpretação e na obtenção de uma boa sonoridade ouvindo muito os grandes pianistas do século XX, como Magdalena Tagliaferro, Guiomar Novaes, Alfred Cortot, Artur Schnabel, Claudio Arrau e Vladimir Horowitz, e uma mistura de pianistas antigos como Carmem Cavallaro com um pouco de Richard Clayderman”, conta o músico. Mas engana-se quem pensa que essa é a atividade preferida de Morato.“Sinceramente, o que mais gosto de fazer é tocar o órgão de tubos”, confessa o também organista. “Estudar Bach, por exemplo, é uma delícia. Faz um bem enorme para a alma! O som profundamente religioso me toca muito.” Atualmente com dois alunos desse instrumento, o músico considera que vive em uma cidade privilegiada, Piracicaba, que conta com algumas orquestras, várias escolas e faculdade de música, dois ótimos teatros e quatro órgãos de tubos à disposição: um na escola de Musica Dr. Ernest Mahle, um na Catedral, outro na igreja Sagrado Coração de Jesus (Mohrle, 1945) e outro na Universidade Metodista de Piracicaba. “Talvez a influência do toque ao órgão, que exige muito que os dedilhados sejam bem ligados, me influencie também no toque pianístico mais cantábile, mais suave, onde prevalece o bom senso em obter uma sonoridade colorida, como dizia Magdalena Tagliaferro”, finaliza.
NA REDE
Conheça as publicações da SOM & ARTE E D I T O R A
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INTERFACE
Randy Weston, Harold López-Nussa e Hiromi Uehara: diferentes diferentes ingredientes no caldeirão jazzístico
VERTENTES DO JAZZ De 6 a 31 de agosto, a unidade do SESC Pompeia, em São Paulo, recebe shows de nomes nacionais e internacionais de várias vertentes do jazz. Com a proposta de traçar um panorama da atual produção, bem como apresentar as perspectivas, transformações e fusões possíveis dentro do gênero, a edição deste ano do Jazz na Fábrica prevê quatro diferentes eixos representados por artistas que perpassam essas linguagens. linguag ens. Entre vários nomes, o “Jazz Clássico” tem como destaque 8 / agosto 2014
a pianista japonesa Hiromi Uehara, que vem impressionando plateias em todo o mundo pela energia de suas apresentações. O “Jazz Étnico” tem na força do veterano Randy Weston um de seus principais representantes, ao passo que o pianista Harold López-Nussa apresenta abordagem tipicamente cubana no eixo “Hibridismos”. O “Jazz Experimental” traz o multi-instrumentista Anthony Braxton, acompanhado de seu quarteto, quar teto, e o músico e pesquisador brasileiro Itiberê Zwarg. teclas & afins
INTERFACE
Chick Corea no Brasil Um dos nomes de maior importância para o jazz após a década de 1960, o pianista americano Chick Corea, de 72 anos, volta ao País como grande atração da edição de dez anos da Mostra Internacional de Música em Olinda (Mimo). Com um novo projeto, o The Vigil, ele se apresenta em praça pública nas noites de abertura das duas primeiras etapas do evento: em Ouro Preto (de 29 a 31 de agosto) e Olinda (4 a 7 de setembro). É a oportunidade de o público brasileiro conferir ao vivo o repertório de “The Vigil”, álbum que lançou com a banda formada por músicos jovens, como o baterista Marcus Gilmore, o guitarrista Charles Altura e o saxofonista Tim Garland. Completam o time dois músicos que não participaram do disco: o baixista Carlitos del Puerto e o percussionista venezuelano Luisito Quintero.
“PLAY IT, SAM”
O piano no qual o ator Dooley Wilson toca “As Time Goes By” no filme “Casablanca”, de 1942, irá a leilão. A cena da canção, com Humphrey Bogart e Ingrid Bergman, é uma das mais famosas da história do cinema. O mítico piano - pertencente a um colecionador que o instalou em um café temático na própria cidade de Casablanca, no Marrocos – vai a leilão no próximo dia 24 de novembro, na casa Bonhams, em Nova Iorque. Estima-se que o valor ultrapasse 1 milhão de dólares. O leilão, chamado “There”s No Place Like Hollywood” (“Não há lugar como Hollywood”) terá como peça central o piano, mas também colocará à venda as portas internas e externas do café, fotografias autografadas pelo elenco, um último rascunho do roteiro e os passaportes e vistos criados para a fuga de Ilsa (Ingrid Bergman) B ergman) e Victor Laszlo (Paul Henreid). O outro piano do film e foi leiloado em 2012, atingiu os 602 mil dólares e um dos compradores foi Leonardo DiCaprio. DiCaprio. teclas & afins
agosto 2014 / 9
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Disco em dobro O pianista, acordeonista, arranjador e compositor João Donato completa 80 anos de idade - e 65 de carreira - em 2014, e para comemorar, lança o disco “Live Jazz In Rio”, gravado ano passado durante uma apresentação no Festival Jazzmania e dividido em dois CDs. Não se trata, porém, de um disco duplo nem de um lançamento em duas partes. O Volume 1, também apelidado de “O Couro Tá Comendo!”, será vendido nas lojas de discos e virá acompanhado de um encarte
convidando quem o adquirir a comparecer a um dos shows de Donato. A venda do Volume 2, denominado “O Bicho Tá Pegando!”, está reservada para as apresentações e virá com um convite para comprar o álbum-irmão nas lojas. O lançamento oficial de “Live Jazz In Rio Vols. 1 e 2”, do selo Discobertas, acontece dia 20 de agosto, em um show no Circo Voador no Rio de Janeiro que contará com as participações de Caetano Veloso, Luiz Melodia e Wanda Sá, entre outros.
Influência Influên cia camaleô camaleônica nica
Mike Garson , pianista e tecladista que tocou em vários
discos de David Bowie, emprestou sua experiência a André Frateschi, músico e ator que sempre teve o astro inglês como grande influência. O resultado pode ser conferido no álbum “Maximalista”, de Frateschi, em que Garson participa de seis faixas e compôs e gravou “Soul Searching”, que fecha o disco.
10 / agosto 2014
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Billy Joel recebe prêmio O pianista, acordeonista, cantor e compositor Billy Joel será homenageado com o Prêmio Gershwin de Canção Popular, da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, no mês de novembro. Ele é o sexto ganhador do prêmio que recebe o nome dos irmãos compositores George e Ira Gershwin. Autor de músicas de sucesso, como “Piano Man” e “New York State of Mind”, Joel, cuja carreira tem mais de 50 anos, é um dos artistas mais populares no país. Além de figurar no Hall da Fama do Rock and Roll desde 1999, conquistou o Grammy nas categorias música e álbum do ano, em 1978, para “Just the Way You Are”, e o Grammy Legend Award, de 1990.
Documentário intimista A pianista argentina Martha Argerich será tema de mais um documentário, desta vez realizado por Stéphanie, filha dela com o também pianista Stephen Kovacevich. O filme pretende ser “um retrato íntimo, engraçado e às vezes voyeurista” de sua mãe, segundo a cineasta. Um tanto quanto pessoal, o documento explora o amor, a vida e o talento extraordinário de Argerich, e expõe os desafios de combinar a maternidade com uma carreira brilhante de concertista, usando com matéria-prima fitas de família, arquivos de televisão e, claro, filmagens da própria Stéphanie, abrangendo desde os primeiros anos do triunfo da pianista no Concurso de Piano Chopin, em Varsóvia, em 1965, até os dias atuais. teclas & afins
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1° Congresso Nacional CAEM No mês de julho, o CAEM – Centro de Apoio às Escolas de Música – realizou seu 1° Congresso Nacional, ampliando a atuação dos Encontros Nacionais realizados durante a última década. Entre as várias palestras e oficinas oferecidas gratuitamente a proprietários, diretores e professores de mais de 600 escolas de música de todo o Brasil, destacou-se a mesa de debates de tema “A tecnologia está ajudando ou atrapalhando as escolas? Aula online: parceira ou vilã?”. Com mediação de nosso colaborador Turi Collura, o evento teve como convidados Nelson Filho (Diretor da Nel-Som Escola de Música), Luciana Allan (Diretora Técnica do Instituto Crescer), Fernando Costa (Supervisor dos Cursos de Inglês Melp e Easycomp), Célio Ramos (Diretor do EM&T) e Antonio Mário Cunha (Diretor do Conservatório Souza Lima).
VAI QUE É SUA! A Copa Yamaha de Teclados Arranjadores premiará o tecladista mais versátil do Brasil com um teclado arranjador Tyros 5, além de um sistema de sonorização portátil STAGEPAS 400i e um software de gravação e produção Cubase 7.5 Steinberg para o segundo e terceiro lugares, respectivamente. A conquista do cobiçado prêmio, porém, não será fácil. Os músicos têm de provar sua perícia ao criar um estilo utilizando os teclados PSR-S950, PSR-S750 ou Tyros 4. Os trabalhos selecionados serão postados na página da Yamaha no Facebook. Os oito mais curtidos disputarão o primeiro lugar ao vivo, em eliminatórias, até definição do grande vencedor. Para saber todos os detalhes e se inscrever, visite http://br.yamaha.com/. As inscrições continuam abertas. 12 / agosto 2014
teclas & afins
s e õ ç a r e t l a a a t i e j u s o ã ç a m a r g o r p
Temporada 2014: o melhor do jazz e da música clássica na Sala São Paulo
Faça sua assinatura e garanta seus lugares no segundo semestre da temporada! o a l n a o i e l l a M G i D d r l a A h c i R
Próximo espetáculo
Patrick Zimmerli e Sonia Rubinsky com TUCCA Filarmonia 10/09
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Retrato
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Valentina Listisa: técnica a serviço da emoção 14 / agosto 2014
teclas & afins
retrato
Moderna e popular Em entrevista exclusiva, a pianista ucraniana Valentina Lisitsa , cujos vídeos são recordistas em acessos no Youtube, fala da popularização da música erudita e de seus métodos de estudo Podem dizer tudo de Valentina Lisitsa, menos que seja tradicional. Recordista de visualizações no Youtube e aficionada inconteste por redes sociais, a pianista impressiona tanto pela segurança e naturalidade quanto pela jovialidade com que interpreta as mais difíceis peças do repertório de seu instrumento. Dominando a linguagem pianística como poucos, se dá ao luxo de praticar técnicas de estudo revolucionárias, em que computador e metrônomo são seus melhores companheiros. Nascida na Ucrânia, Lisitsa estudou na Escola de Música Lysenko
e no Conservatório de Kiev. Incentivada pelo colega Alexei Kuznetsoff, com quem atualmente mantém um duo, prosseguiu os estudos e, em 1992, emigrou para os Estados Unidos. Desde sua estreia no Avery Fischer Hall, no Mostly Mozart Festival , é aclamada com uma das grande pianistas da atualidade, tendo especial afinidade com a música de Rachmaninov e Beethoven. Às vésperas de suas apresentações no Brasil, em recital-solo e ao lado da orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo, Lisitsa respondeu à reportagem de Teclas & Afins.
Naturalidade, jovialidade e energia: Valentina Lisitsa em ação teclas & afins
agosto 2014 / 15
retrato
A Ucrânia é o berço de vários músicos excelentes, especialmente pianistas, como Emanuel Ax, Emil Gilels e Vladimir Horowitz, entre outros. Por que isso? Alguma coisa na água, eu acho (rs). Brincadeiras
à parte - e te perdoando por não mecionar Sviatoslav Richter, Benno Moiseiwitzch, Moritz Rosenthal, citando apenas alguns – não tem nada a ver com geografia. Parte desses grandes nomes era de origem polonesa, e parte, russa. Tem a ver com o amor em geral pela música clássica tão prevalecente na Europa Central e na Rússia na virada do século XX. Toda a região era o que hoje chamamos de países “em desenvolvimento”. As economias cresciam a uma taxa explosiva - a desigualdade também, é claro - e a classe média recém-formada abraçou com entusiasmo o que estava antes reservado a poucos privilegiados. Posso dar como exemplo minha família, que se mudou
- uma parte do centro da Rússia e outra da Pomerânia polonesa - para Novorossiya (região de Odessa) para trabalhar no agronegócio em expansão. Ser “camponês” que trabalha na terra não impede as crianças de receberem boa educação. Minha avó aprendeu latim, grego, arte e música em uma escola regular. Duas dessas crianças entraram no conservatório. Claro que a guerra destruiu tudo... É o mesmo fenômeno que vemos agora na China e na Ásia em geral. A música é o nosso patrimônio comum como humanidade e é natural que isso nunca deixe de atrair novas pessoas. O piano é um forte elemento de cultura no seu país?
O mesmo que em toda a Europa. Dói ver tantos pianos velhos serem descartados ou reciclados. São herança de família, mas, infelizmente, com o advento do entretenimento barato fornecido pela TV e por gravações, o s e n o J m a S @
Fugir do usual: marca registrada da pianista 16 / agosto 2014
teclas & afins
retrato
Valentina Lisitsa e seu computador: acesso à internet até para o estudo
piano deixou de ser o foco de uma reunião Alguns pianistas não gostam de gravações, familiar, fonte de diversão. preferindo as performances ao vivo. Qual Por que você teve que se mudar para os EUA?
sua opinião sobre isso?
Com o colapso da União Soviética, os países recém-separados seguiram seus próprios caminhos. Enquanto a Rússia manteve a grande tradição - e o governo apoiou a música e as artes, a cultura em geral, não importando o quão horrenda era a situação econômica -, o novo estado da Ucrânia tinha outras prioridades. No novo nacionalismo, não havia muito espaço para a música clássica, enquanto a música folclórica era apoiada e incentivada como forma de impulsionar o espírito nacional. A música de concerto quase não sobreviveu. Muitos dos meus colegas de classe foram para o exterior. Eu estava apenas seguindo a tendência. Ir para os Estados Unidos foi uma decisão acidental, porque ganhei uma competição importante lá e recebi um convite para prosseguir os estudos em uma das universidades americanas.
A gravação na música clássica é equivalente a um jantar congelado. Apesar de servir para beliscar, não substitui uma boa refeição com champanhe e velas em um restaurante. A música é muito parecida com o teatro. Ela existe em um momento singular, é uma colaboração entre artista e plateia. A música gravada é uma “arte” totalmente diferente.
Qual é a importância de Alexei Kuznetsoff na sua carreira?
Ele é meu marido. Preciso dizer mais? teclas & afins
Qual é a sua opinião sobre concursos?
Concursos de música não fazem sentido. É impossível julgar uma performance musical. Como você mede a conquista? Por cronômetro, por decibelímetro? Quem toca mais rápido, mais alto, mais limpo? Os pretensos participantes precisam entender que a vitória em um concurso de música é 10% de habilidade. O resto é por conta dos contatos do seu professor, das conexões da sua escola, da situação política, de favores, dinheiro, sexo... Concursos são boas ferramentas para aprimorar sua qualidade como intérprete e progredir rapidamente sob pressão. Mas competições não têm nada em comum com a agosto 2014 / 17
retrato
s e n o J m a S @
Popularização: figura cativante e estratégias de marketing
arte real. Você vai a uma competição para ser apreciado por juízes e pelo público. Você entra no palco para ser inofensivo e não-denominacional para não atiçar a ira de um único juiz sequer. Não há lugar para a fantasia, a improvisação, a manifestação de um espírito que está presente em um concerto normal. O período romântico ainda parece ser o favorito do público. Por que?
redes sociais como ferramenta de popularização da música clássica?
A música sempre foi social. A partir do momento em que nós, como seres humanos, saímos das nossas cavernas, começamos a bater os tambores e dançarmos em círculos. Desfrutamos de nossa música junto com os outros. É um fenômeno dos últimos 50 anos que agora você possa ouvir um concerto na privacidade de seu quarto, no rádio ou em gravações. De certa forma, ouvir música sozinho para os seres humanos é tão “não natural”, como – perdão - fazer amor sozinho. É por isso que o pop e o rock fazem sucesso enquanto a música de concerto murcha. A música pop é sobre jovens se reunindo, cantando, dançando, bebendo, sendo alegres. A erudita é sobre uma antiga elite chegando a um prédio extravagante com teto folheado a ouro e cortinas de veludo vermelho, e sentando-se calmamente. A música clássica não costumava ser assim. Mozart deixou seu emprego no arcebispado para ir à Viena escrever óperas cômicas que pessoas simples elogiaram. Liszt e Paganini eram rockstars de música clássica antes de o rock ser inventado! O estresse e a intimidação que um jovem deve sentir entrando agora em uma daquelas extravagantes salas de concerto tradicionais deve ser algo parecido com um turista que se aventura em uma terra estrangeira e vai a uma casa de adoração, onde não sabe o que fazer, sentindo todos os olhos fixos nele... As mídias sociais e o Youtube libertaram a geração jovem desse estigma. Eles podem ouvir e partilhar música clássica como qualquer outro. Eles podem discutir sobre isso. Eles se envolvem.
O gosto do público está amadurecendo. Nunca antes escutamos tanta música do século 21 e do passado distante, do barroco e até mesmo anteriores. Não é o período romântico em si que atrai os ouvintes. É a necessidade de música com conteúdo emocional, música que fale ao nosso coração, Como é a sua rotina de estudo? De 12 a 14 horas por dia não parece ser muito. em vez de divertir nosso cérebro. Você é uma das recordistas de visualiza- Quando as pessoas ficam horrorizadas com ções de vídeos no Youtube. Como vê as o número, eu pergunto: “Você ama a leitura?” 18 / agosto 2014
teclas & afins
NA REDE
s i o c n a r F t r e b l i G @
Youtube: recordes de visualização e mais de cem mil assinantes
Se dizem sim - e a maioria das pessoas responde isso -, afirmo: “Eu amo a música”. E assim como as pessoas que devoram os seus livros não dizem que estão praticando suas habilidades de leitura, digo que não estou praticando música. Eu leio música.
é um depósito gigantesco de sabedoria musical. Você pode encontrar referências de qualquer peça que queira aprender. E aprende com os mestres. Havia um tempo em que apenas privilegiados podiam pagar para estudar com os melhores professores Quais os métodos de estudos diários in- - música ou qualquer outra coisa. O resto teve que conviver com o mais barato, o dispensáveis para pianistas? Youtube e metrônomo. Youtube porque disponível, não necessariamente o melhor. teclas & afins
agosto 2014 / 19
retrato
Valentina Lisitsa: fenômeno mundial
Agora, o conhecimento está aberto a qualquer pessoa disposta e ansiosa para ouvir, observar e aprender.
Liszt? E Novaes, não estava associada à escola de Paris? As definições e pequenas caixas onde os músicos estão sendo empiNão é sua primeira vez no Brasil. O que lhados ordenadamente com rótulos correspondentes nunca são boas e, muitas vezes, você sabe do País e da nossa música? Desculpe, mas não muito além de Villa- são injustas. Lobos no clássico. Muito menos como Existem vários vídeos de pianistas turista. Músicos de turnê são maus turistas. tocando nas recentes manifestações na Nossa rotina é: do avião para a cama do Ucrânia. Qual é a sua opinião sobre esse hotel, para o palco. Sempre sonho em tipo de expressão? visitar muitos países onde toquei para Eu me oponho totalmente à utilização fazer apenas passeios turísticos. Mas a vida de música clássica para promover causas é muito curta e as sonatas de Beethoven políticas. O mesmo acontece no sentido são muitas (rs) . inverso: usar a política para promover No Brasil se fala de uma escola pianística os artistas. O que vi em Maidan é apenas brasileira, que teria Guiomar Novaes e uma tentativa de obter publicidade, em Nelson Freire como principais expoentes. detrimento de pessoas que morrem por sua causa, seja certa ou errada. É de mau g osto. O que falam sobre isso fora do Brasil? A geografia nunca funciona no rastreamento A única exceção é quando a politização da de “escolas pianísticas”. Estou certa quando música é feita para fins de caridade, para digo que Freire estudou com um aluno de ajudar aqueles que sofrem. 20 / agosto 2014
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agosto 2014 / 21
VITRINE
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KORG LP-180
Pride Music - www.korg.com.br
Disponível nas cores preta ou branca, o piano digital LP-180, da Korg, traz 88 teclas com o mecanismo Natural Weighted Hammer Action ajustado como um piano tradicional - com toque mais pesado na região dos graves e mais leve na dos agudos - e três opções de sensibilidade (Light, Normal, Heavy ). Com polifonia máxima de 120 vozes (60 utilizando a geração Stereo Piano System), o instrumento oferece sons de piano acústico (dois tipos), piano elétrico (dois tipos), cravo, clavinet, vibrafone, órgão de tubos, órgão elétrico e conjunto de cordas. Os efeitos Reverb e Chorus, com profundidade ajustada para cada som, imprimem maior realismo aos timbres. A unidade de pedais oferece os tradicionais Damper, Soft e Sostenuto, os dois primeiros com possibilidade de meio-pedal, recurso indispensável para a música erudita. Funções de transposição e afinação fina, além de duas conexões para fones de ouvido e MIDI OUT, completam o equipamento. 22 / agosto 2014
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VITRINE
HARTKE KM 100 Equipo – www.equipo.com.br
O amplificador multiuso para teclados KM 100 , da HARTKE, oferece alta fidelidade na reprodução das mais diversas nuances e timbres (Solidstate classe “A”). Com quatro entradas de linha (P10), uma de microfone (XLR) e uma auxiliar estéreo (RCA), entrega 100 Watts RMS de potência por meio de seu alto-falante de cone de alumínio de 12” e o driver de titânio. Controles de volumes independentes por canal e equalizador gráfico de sete bandas garantem ao músico amplos recursos de mixagem. O equipamento ainda oferece saídas Direct Out XLR balanceado, fones de ouvido e Speaker Out.
LUMINÁRIA LED
Stay Music – www.staymusic.com.br A luminária móvel multifuncional de LED, distribuída no Brasil pela Stay Music, está disponível em duas cores (branca ou preta) e é composta de base, duas hastes flexíveis e dois LEDs de alto brilho por haste. É alimentada por meio de três pilhas AAA ou por fonte de alimentação de 4,5V (não inclusos). A base da luminária tem função de presilha e prolongador, podendo ser utilizada como iluminação e clip para partituras, como luz auxiliar em mesas de som e iluminação ou como luz de apoio em serviços técnicos.
teclas & afins
agosto / 23
VITRINE
Diálogo com Cartas Jocy de Oliveira Spectra/SESI-SP 444 páginas
Pioneira no desenvolvimento do trabalho multimídia no Brasil, Jocy de Oliveira é a primeira entre as compositoras nacionais a escrever e dirigir suas óperas. O livro Diálogo com cartas originou-se de um conjunto de cento e doze missivas, recebidas ao longo de 40 anos pela pianista e compositora, escritas para ela por alguns dos maiores músicos do século XX, como Igor Stravinsky, Robert Craft, John Cage, Luciano Berio, Karlheinz Stockhausen, Iannis Xenakis, Eleazar de Carvalho, Claudio Santoro, Lukas Foss e Olivier Messiaen. A correspondência preciosa – e até agora inédita – exibe ideias, vivências e realizações de alguns dos expoentes da música de concerto do século XX, entremeadas pelas observações da autora, contextualizando fatos e explicando circunstâncias. Além das cartas, o livro reproduz ainda partituras manuscritas em primeiras versões e não editadas. (NC)
3 na Bossa – Volume 2
Zé Luiz Maia, Fernando Merlino, Erivelton Silva Deck Apesar do nome, a coleção de 5 CDs que chega ao mercado agora pela Deck– inspirada na coletânea lançada no ano de 2000 – traz composições consagradas de todo o período pós-bossa nova, grandemente influenciado por ela. O trio formado por Fernando Merlino (piano e arranjos), Zé Luiz Maia (baixo), e Erivelton Silva (bateria), gravou 70 faixas com produção de Kazuo Yoshida, baterista e profundo conhecedor da música brasileira. Divididos por temas, os cinco discos - “Olha Aqui Este Sambinha (Samba Saravah)”, “Amanhã Tudo Volta ao Normal (Bridges)”, “Abre Alas Pra Minha Folia (By The Shine of Your Eyes)”, “Canta Canta Minha Gente (My Sweetheart)” e “Pra Ver a Banda Passar (Back to Brazil)”, trazem um apanhado do que de melhor a MPB produziu desde que as harmonias dissonantes invadiram as raízes tupiniquins. O piano correto de Merlino apresenta as melodias com clareza, assim como baixo e bateria conduzem o ritmo de forma eficiente, priorizando a composição. (NC) 24 / agosto 2014
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VITRINE
Blues - Arranjos de base Adamo Prince e Alexandre Massena Irmãos Vitale
Este método se propõe a ensinar a construção de bases tradicionais e modernas de blues. Acompanhado de CD, o livro mostra como fazer improvisações e fusões com outros estilos musicais. Para cada instrumento de base (baixo, bateria, piano, guitarra, etc) são ensinados voicings, ritmos, harmonias, conduções, grooves, turn-arounds, finalizações e convenções. Cada arranjo no CD, de 49 faixas, é divido em 3 seções: baixo e bateria, instrumentos harmônicos e todos os instrumentos juntos, para prática play along. Nas duas primeiras faixas de cada arranjo, é possível ouvir cada instrumento separadamente, usando o controle do balanço exclusivamente no canal direito ou esquerdo. São 33 faixas direcionadas para o blues tradicional, 12 para o blues jazzístico (mais moderno), 2 para a improvisação e 2 para as fusões com outros estilos. Além de explicar tudo que está gravado, o livro traz as grades de todos os arranjos. (NC)
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agosto / 25
materia de capa
s e d n e M a c u D @
Fabio Ribeiro: de pianista erudito a referência do rock
26 / agosto 2014
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materia de capa
Palavra de ordem: criatividade Destacando-se em meio à mesmice que assolou o mercado fonográfico no que diz respeito às teclas, Fabio Ribeiro continua afirmando: ser diferente é importante Referência em teclados no heavy metal, sintetizadores e novas tecnologias, Fabio Ribeiro tem sólida carreira como instrumentista, ultrapassando os limites do convencional, mesmo para o estilo que o consagrou. No início dos anos 80, motivado a tocar com outros músicos, ingressou em sua primeira banda, Annubis, na guitarra. Em 1985, assumiu os teclados, além do piano, e começou a se aprofundar em música eletrônica e programação de sintetizadores. A partir daí, iniciou uma sucessão de trabalhos que inclui a formação da banda Desequilíbrios e participações em álbuns e shows dos grupos Clavion, III Milenio, Antitese, Revenge, A Chave do Sol, Overdose, Anjos da Noite e Violeta de Outono. O primeiro projeto-solo, o álbum Blezqi Zatsaz - Rise and Fall Of Passional Sanity, surgiu em 1991. Dois anos depois, estava na primeira formação da banda Angra e participou do primeiro concerto da história do grupo. Em 2001, passou a trabalhar com o Shaaman e, no ano seguinte, veio o segundo trabalho-solo: Blezqi Zatsaz - The Tide Turns foi lançado no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa. O sonho de ter um estúdio de produção e gravação realizou-se em 2002, com a inauguração do The Brainless Brothers, em que foram desenvolvidos diversos projetos, entre eles Henceforth, Shaaman, Violeta teclas & afins
de Outono, Fuga, Headgear, Andre Matos e Remove Silence, banda que mantém em atividade e está prestes a lançar um disco. Paralelamente, Ribeiro ingressou no trabalho de consultoria para empresas fabricantes de instrumentos musicais eletrônicos, prestando serviços como especialista de produtos e programador para diversas delas. Tudo isso o credencia como um dos mais experientes integrantes desse maravilhoso universo das teclas. Você é uma referência quando se fala em tecladista de rock no Brasil. Com vê isso?
O tecladista no Brasil é algo meio raro. Acho isso maluco. Outros instrumentos tem uma quantidade bem maior de músicos que o teclado. Eu não entendo muito bem a razão, porque considero o teclado um dos instrumentos mais divertidos - se não o mais divertido de todos -, o que mais te ajuda a criar sozinho, a ser autossuficiente em termos de composição, arranjo e tudo mais. Acredito que todo músico, independentemente do instrumento que toque, deveria se aprofundar mais, não no teclado em si, porque nem é esse mais o termo, mas na estação de trabalho. E também não há mais aquela dependência de “saber tocar as teclas” para criar alguma coisa, agosto 2014 / 27
materia de capa
se é que essas teclas estão presentes. Vemos coisas como o iPad, hoje em dia, em que você cria com facilidade enorme, sem saber música, sem saber nada. Então, todo instrumentista deveria investir nessa parte de tecnologia, com um afinco tão grande quanto aquele com que ele estuda música ou seu próprio instrumento. É extremamente útil para o desenvolvimento musical de todas as formas. Acabei indo para essa parte de tecnologia logo quando comecei com os teclados, por necessidade mesmo. Não havia informação a respeito de instrumentos musicais eletrônicos na época. Existia a revista Som3, que às vezes publicava algumas matérias interessantes, mas era praticamente só. Daí surgiu a necessidade de comprar livros de síntese e começar a ler a respeito. Logicamente, fui autodidata. Nunca tive aulas disso, nem uma vez na vida. Foi tudo por pesquisas próprias, algo de gosto, de amor pela coisa. Foi um interesse meu. Acabei crescendo nesse sentido. Você acha que, atualmente, com todas as facilidades disponíveis, existe interesse das pessoas em se aprofundarem?
assunto antes de partir para o próximo. A menos que ela esteja focada. Então, o que falta na verdade é um pouco de foco, de objetivo, perante essa quantidade de informações. Tudo é muito fácil. Quando comecei, nem presets de teclado existiam, estavam surgindo naquele momento. Aquela coisa de você escolher um som e sair tocando, não existia. Normalmente, você tinha que começar do zero e construir a sonoridade. Isso era legal, também, a meu ver, por que imprimia um caráter do tecladista, além do musical, além do lance de ele tocar de tal jeito, de ser conhecido pelos dotes musicias, pelas técnicas particulares de instrumentista. Muita gente é reconhecida por isso. Você houve alguém e diz: é o cara tal que está tocando. Mas, na época, o tecladista tinha mais esse elemento, algo que se perdeu muito de lá para cá: a personalidade do som, do timbre. Você houve Rick Wakeman ou Keith Emerson, por exemplo, ou o próprio Jon Lord, e você os reconhece não somente pelo modo com que estão tocando, mas pelo som que está saindo do instrumento. Ou seja, o cara programava os próprios timbres e fazia um som personalizado. E isso fazia parte da característica musical dele. Isso se perdeu.
Quanto mais informações temos, menos vamos atrás. Antigamente parecia que as pessoas eram mais ligadas, mais interessadas em aprender as coisas. Hoje, com essa Essa facilidade democratiza a evolução da quantidade enorme de informação, a pessoa música? Ou as facilidades são tão grandes nem tem tempo de assimilar direito um que a música é muito menos burilada e
Remove Silence: trabalho autoral com banda de peso 28 / agosto 2014
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materia de capa
The Brainless Brothers Studio: onde as ideias de concretizam
fica mais “rasa”?
Isso tira um pouco a emoção. As coisas ficam muito “pastelaria”, automáticas demais, com muitas fórmulas e muitos elementos prédeterminados. Sempre combati ou procurei combater isso na minha carreira. Às vezes, conseguia, às vezes não, por imposições de estilos e de gente de cima como gravadoras, por exemplo, ditando regras. Sempre fui contra isso e tentei me esquivar na medida do possível. Hoje em dia as coisas estão muito automáticas, tanto que não se vê mais evolução musical, como na década de 1970 ou início da década de 1980, quando havia coisas realmente novas acontecendo, muita criatividade rolando, pessoas mais criativas. Hoje não. São diversos fatores, mas a busca pelo spotlight, pela luz em cima da pessoa, pela “celebridade”, está tomando um pouco o lugar da arte. Isso tem acontecido bastante. Esse lance multimídia e a facilidade de você se promover e falar “sou artista, estou aqui teclas & afins
Acompanhador, arranjador, sideman, maestro: trajetória de sucesso com Zizipor Possi fiz tudo em casa” é ótimo
com meu som, um lado. Mas, por outro, tira um pouco do empenho de criar algo realmente diferente. E isso é um fator importantíssimo porque, com essa baderna toda que se tornou o mercado musical, internet, pirataria, Youtube etc, a única maneira de se destacar é pela diferença, sendo exclusivo no meio daquela coisa toda. O sujeito está ouvindo cem sons durante o dia. Ele ouve 1 minuto de uma música e 10 segundos de outra. Se você não tiver algo realmente diferente para apresentar, ele vai te ouvir durante 10 segundos e vai passar para a próxima. O que está faltando é criatividade para se tornar diferente. Mesmo no rock?
Com certeza. Todas as bandas que me chamaram a atenção nos últimos tempos têm mais de 10 anos. É impressionante. Algumas novas, mas nem de longe a maioria. Eu diria cinco por cento. No Brasil a situação piora muito. Não sei por que, aqui no Brasil, agosto 2014 / 29
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Korg: endorsement agressivo
o pessoal tem essa mania de copiar as coisas durante tanto tempo. Em determinados estilos, a cópia é tão evidente que eu sequer consigo ouvir. Heavy metal é um deles. Não consigo mais ouvir. É tudo igual. Não muda nada. Banda após banda, ou ressureição após ressureição de coisas antigas (rs), ninguém cria. É tudo cópia de alguém que tinha um nome. O cara se espelha: “vamos fazer isso que deu certo para ver se dá certo também”. E não há criação. Esse foi um dos motivos pelos quais deixei o estilo: isso de você querer criar e não poder. É um estilo dos mais limitantes. Qualquer um poderia levantar e simplesmente fazer algo diferente, mas toda vez que se tenta, o próprio público torce o nariz. E isso é muito frustrante para o músico: querer apresentar um trabalho seu, que quer, que é sua criação, e ter que sentir medo de seu próprio público. Isso é muito ruim.
realmente a grande diferença. É engraçado. Eu não procuro saber a razão, mas é estranho você ver como um instrumento é menosprezado em determinado estilo. Hoje, mais ainda. Você não vê tecladista em banda de rock. Simplesmente ele não existe. Piadinhas na internet, se vê com todo mundo, menos com tecladistas (rs). Lá tem os integrantes de uma banda, e quatro caras: vocal, guitarra, baixo e batera. E acabou! Não tem tecladista! (rs) Acho isso muito louco, porque é o instrumento que te proporciona a maior coleção de sons do que qualquer outro. O músico consegue interpretar por meio dele qualquer ideia que tenha, mas ele é mal aproveitado. O rock é um estilo de guitarra, foi criado assim. Mas acho estranho que nos anos 70 os teclados eram muito mais bem aproveitados e respeitados. Talvez também seja pelo fato de que, naquela época, havia Qual o papel do tecladista numa banda tecladistas de mais atitude. Talvez isso tenha de rock? Depois do progressivo, principal- feito a diferença. Keiht Emerson, por exemplo, foi o Jimi Hendrix nos teclados. Jon Lord foi mente, o que aconteceu? O progressivo foi o ponto em que a gente fez outro. Chegou ali e falou “nos vamos chutar o 30 / agosto 2014
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Fabio Ribeiro em performance teclas & afins
agosto 2014 / 31
materia de capa
balde, não é só o guitarrista que faz baderna no palco, que coloca o som pra fora”. Falta um pouco disso hoje em dia também. Falta atitude do tecladista. É muito raro. Mesmo os que tocam muito bem, não tem aquela garra, aquela presença, aquela força. O cara tem que ser meio mala, não pode ser tão comportado. Rock é um estilo assim. As produções mais bem conceituadas estão se voltando para os instrumentos vintage?
Sim, porque eles geram sons exclusivos. E são completamente manipuláveis. É diferente ter umsampleque sepodemanipular,processando, até certo ponto. Mas o material bruto não se consegue modificar. Há essa limitação que é próprio sample. E um oscilador analógico - ou um simulador digital de um oscilador analógico - não tem essas limitações. Você vai conseguir alterar aquilo da maneira que quiser, criando uma forma de onda completamente nova, ou seja, criando um som novo. Você tem usado iPads para produzir?
Me apaixonei pela “iOS music”. Faz dois anos, mais ou menos, que entrei nesse universo. Um pouco atrasado, mas nem tanto, porque na época também não existiam tantos aplicativos profissionais. As coisas estavam meio que esquentando ainda. Tanto que muita gente hoje, 2 ou 3 anos depois do lançamento, ainda acha que é brinquedo. Existe certo preconceito. É, na verdade, um universo à parte, não só pelo fato de ser móvel, e ser possível fazer música no ônibus ou na praia ou em qualquer lugar que seja. Mas pelos aplicativos serem muito intuitos, porque são criados para um público “genérico”, em primeiro lugar. Talvez por isso o fato de as 32 / agosto 2014
NA REDE
pessoas pensarem que era tudo brinquedinho. E era mesmo. Não havia aplicativos com qualidade. A Korg foi um dos primeiros fabricantes a implementar o MS-20 e umas coisas mais legais. Mas isso me pegou de maneira absurda, porque a facilidade e a qualidade são maravilhosas. O que me chamou mais a atenção no dispositivo em si foram, em primeiro lugar, a facilidade, porque não é necessário realmente ser músico para criar alguma coisa de qualidade ali. Desenvolvem coisas para facilitar a composição. Outra coisa é a própria tela multitouch. Existem certas técnicas que você usa para tocar na tela que, simplesmente, não tem a menor possibilidade executar no teclado. Ou seja, novamente vem aquele quesito: você vai criar algo completamente novo com aquilo. Certas técnicas de sliding polifônico entre as notas, são coisas que não há como executar em outro instrumento, nem nos não temperados, de corda! É um universo a parte e cresceu absurdamente de um ano e pouco para cá. E em relação aos instrumentos?
Em termos de hardware, o Remove Silence fechou um endorsement com a Korg, há uns três anos, mais ou menos, na época do lançamento do Kronos. Quando o teclado chegou ao Brasil, eles quiseram que eu experimentasse, trouxeram para cá e, no fim, fechamos um parceria bacana, coisa rara também por aqui. Tive poucos endorsements na vida: Kawai, Nord e, agora, Korg. Então, eles trazem todas as novidades para cá. Primeiro foi teclas & afins
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o Kronos que - em minha opinião e acredito que para a grande maioria dos tecladistas em geral - é o melhor instrumento self container, ou seja instrumento isolado, sozinho, que existe atualmente. Se você quiser comprar um teclado, apenas um, compre um Kronos, com certeza. Usamos no disco anterior e muito neste que está em produção agora. Depois veio o King Korg, que é um physical modeling, um simulador de analógicos antigos, apesar de fazer timbres convencionais também, como piano, essas coisas, para se tornar um teclado mais versátil. Os filtros são excelentes. São 18 simulações variadas, de Prophet, Moog, Oberheim, do próprio MS-20... A simulação é muito fiel, muito legal. E veio essa festa de relançar os analógicos. Quando lançaram o MS20, fiquei muito feliz. Até que enfim, porque não se encontra mais os vintage. E quando se acha, está muito detonado. Não tenho teclados muito antigos já faz um tempo, por causa de manutenção mesmo. Acabei me desfazendo deles porque não conseguia mantê-los. Estamos usando muito o MS-20 Mini e mesmo os Monotrons como o Monotribe e os Volca.
sequência absurda de shows e compromissos. Não tínhamos tempo algum de fazer outros projetos. Então, nesse momento veio a ideia: “vamos fazer uma coisa nossa já que está sobrando tempo?”. Isso foi antes do início da carreira-solo do André (Matos), o que se deu uns 6 meses depois. Eu e o Ale Souza, baixista, meu sócio no estúdio, tínhamos um projeto chamado Brainless Brothers. Em 1997 ou 1998, chegamos a gravar algumas músicas, mas era tudo muito experimental, não se encaixava em nenhum de nossos trabalhos. E essa falta de tempo nos obrigou a deixar algumas coisas na gaveta. Mas já havia algumas composições. O Hugo (Mariutti) também sempre gostou de música alternativa, das coisas um pouco mais diferentes, mesmo no próprio estilo dele. Quer dizer, foi um casamento fácil, assim, de gostos e objetivos musicais. Com essa disponibilidade de tempo, resolvemos colocar tudo em prática. Então gravamos “Dream Brother”, música do Jeff Buckley, como experiência. E o resultado ficou legal, tanto que foi incluída no primeiro disco, Fade. É a única versão que fizemos. Foi tudo muito natural. Não foi uma banda formada, E o Remove Silence? O Remove Silence foi formado quando o apenas foi indo... O Hugo indicou o Edu Shaaman se desmembrou em 2006. A banda Cominato para a batera. Depois de um ano estava indo muito bem. Estávamos tendo uma de gravação, produção, tudo mais, lançamos
Fabio Ribeiro e seus (muitos) teclados teclas & afins
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materia de capa
Remove Silence: nova formação
o primeiro disco. Chegamos a fazer um videoclipe na época também. Interessante é que esse disco foi pré-indicado ao Grammy, nos Estados Unidos. Isso foi uma surpresa muito grande. Tinhamos a Metaledge Records nos Estados Unidos, que lançou o disco lá. E o cara enviou para o Grammy para ser avaliado, sem pretensão nenhuma. Nem sabíamos. Ele só enviou o e-mail de volta: vocês estão indicados ao Grammy USA em duas categorias: Best Album e Best Hard Rock Performance, que para eles é qualquer rock mais pesado. É lógico que ninguém tinha a pretensão de concorrer com o Arcade Fire que foi quem ganhou naquele ano. Mas imagina o tamanho da surpresa para uma banda brasileira praticamente desconhecido lançando o primeiro disco. Tudo bem que a gente já tinha uma carreira antes. Mas para eles lá, “quem são esses caras?”... Isso alavancou a banda. É engraçado que o público brasileiro 34 / agosto 2014
só acredita em algo quando vem de fora. “Remove Silence foi indicado ao Grammy. Nossa!” (rs) Mas, na semana anterior, “quem é Remove Silence?”. Não fizemos tantos shows por conta das limitações. Tentamos mostrar um show mais complicadinho, não pela parte musical, mas pela tecnológica. É cheio de tralhas e requer uma mínima estrutura. E sabemos que essa mínima estrutura acabou, no Brasil, para bandas independentes. E também resolvemos diminuir a frequência de shows para que sempre fosse com qualidade. Somos uma banda que grava muito. Depois do Fade, gravamos outro disco, logo em seguida um EP com músicas que sobraram. Criamos bastante. Mas, por que? Porque não há ninguém criando regras para nós. Formamos a banda por causa disso: “vamos fazer o que a gente quer fazer, sem gravadora enchendo o saco, sem público criticando?” É um negócio completamente aberto, completamente livre. Foi assim desde o começo. Talvez seja por isso que chamamos certa atenção, principalmente aqui no Brasil. Me sinto lisonjeado e minha alegria é que em praticamente todas as resenhas e entrevistas com o Remove Silence, as palavras que mais são citadas é inovador e original. É uma gratificação imensa para um músico saber que, depois de 30 anos de carreira, está começando a conseguir fazer aquilo que sempre quis desde que começou: apresentar uma coisa original, diferente. E quais os projetos do Remove Silence?
Houve uma troca de formação em dezembro. Estamos com um novo vocalista/guitarrista, o Danilo Carpigiani, e o Leo Baeta na batera. Estamos fazendo uma bateria gigante de ensaios para levantar o show de novo, mas está praticamente pronto. E, paralelamente, começamos a gravar outro disco. É o que mais gostamos de fazer: ficar aqui pirando e gravando coisas. teclas & afins
SINTESE
POR ELOY FRITSCH
Síntese aditiva A síntese aditiva é uma técnica em que sonoridades complexas são criadas a partir dos componentes mais puros: as ondas senoidais.
Os timbres são formados por quantidades variáveis de harmônicos ou parciais que se alteram ao longo do tempo em relação a um tom ou frequência fundamental. As parciais são ondas que complementam a onda fundamental para criar um timbre. Na síntese aditiva, o sintetizador precisa somar o sinal dos osciladores de onda senoidal. A frequência produzida por cada oscilador pode ser configurada para ser o múltiplo da frequência fundamental, como uma série de parciais. O sintetizador aditivo permite produzir uma variação do espectro em um transcurso de tempo. Cada componente de frequência possui seu próprio envelope de amplitude, sendo que o balanço das intensidades entre os componentes de
Soma de ondas s eno idais
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Telharmonium, a invenção de Thaddeus Cahill
frequência pode variar durante o curso da duração do som. Para realizar o processo de síntese aditiva, portanto, é necessário dispor de um banco de osciladores, para que gerem as diferentes ondas que complementem a fundamental, cada uma com amplitudes e frequências diferentes, além de seu próprio envelope de volume, o que torna o resultado dinâmico e realista. A síntese aditiva é difícil de ser implementada e controlada em hardware por causa da grande quantidade de osciladores que precisam ser utilizados para compor um som. É necessário criar muitas frequências parciais para uma série completa e satisfatória, incluindo seus respectivos envelopes. Após especificar todos os parâmetros para cada um dos sons, novos valores para frequências e envelopes devem ser informados, gerando um grande volume de informação a ser processada. Com o advento da síntese realizada por computador, é possível programar uma grande quantidade de teclas & afins
sintese
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O órgão Hammond utiliza o princípio da síntese aditiva. Quando são acionados os vários drawbars do instrumento, diferentes ondas senoidais são somadas e mixadas para formar o som. Alguns plug-ins VSTis freeware que simulam o sistema de drawbars, como o Organized Trio, estão disponíveis e podem ser baixados aqui. osciladores e envelopes criados por software mediante a adição de sons gravados, para implementar instrumentos virtuais que diferentes timbres eletrônicos. trabalham com princípios aditivos. O primeiro sintetizador comercial a empregar a síntese aditiva foi o RMI Harmonic Synthesizer, que possuía dois osciladores com 16 História Data de 1897 o mais antigo instrumento harmônicos cada, cujas amplitudes eram musical eletroacústico criado. Conhecido controladas por 16 controles deslizantes como Dinamofone ou Telharmonium, a por oscilador. Depois de criado o espectro invenção de Thaddeus Cahill consistia em de harmônicos, o resultado era processado um dínamo elétrico, associado a indutores por filtros e geradores de envelopes tradieletromagnéticos, capaz de somar as cionais de um sintetizador subtrativo. A geamplitudes de 12 ondas senoidais. Na ração das ondas, no entanto, era digital, o década de 1930, se iniciou a fabricação dos que garantia a estabilidade das frequências. órgãos Hammond, em que são controladas Em alguns sistemas analógicos modulares, as amplitudes de nove ondas senoidais como os Moog, o Aries e o E-MU, era posexistentes na escala de frequências de sível somar uma quantidade considerável harmônicos. Nos anos 50, já se trabalhava de ondas senoidais, além de colocá-las em nos laboratórios de música eletrônica com fase, mas o caráter analógico desses sistegeradores de ondas senoidais para produzir, mas não garantia cem por cento de esta-
RMI Harmonic Synthesizer e Synclavier II teclas & afins
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SINTESE
Jon Howard Appleto n (n ascid o em 4 de jan eiro de 1939) é um professor e compositor norteamericano, pioneiro na música eletroacústica. No final da década de 1970, juntamente com Sydney Alonso e Cameron Jones, ajudou a desenvolver o Synclavier. Excursionou pelos Estados Unidos e pela Europa por uma década interpretando composições para esse instrumento.
Jon Appleto n d emo nstra o Synclavier
bilidade na frequência dos osciladores. Como para criar um timbre harmônico é necessária uma relação exata de múltiplos inteiros entre os harmônicos e a fundamental, qualquer pequeno desvio na frequência de algum dos componentes transforma o espectro em não harmônico. No final dos anos 70, foram lançados dois grandes sistemas digitais o Synclavier e o Fairlight, que oferecem síntese aditiva integrada a outras capacidades próprias desse novo tipo de instrumento, como sequenciadores polifônicos com possibilidades de edição, visualização de dados no monitor, sampleamento e ressíntese (no Fairlight) e síntese FM (no Synclavier). Logo o Synclavier incorporou sampleamento e gravação digital em disco rígido. 38 / agosto 2014
Em meados dos anos 80, começam a surgir os primeiros sintetizadores digitais economicamente acessíveis com sistemas aditivos rudimentares, como o Kawai K3 e o Korg DSS1. Também surgem softwares para computador, como o Soft Synth, baseado no conceito de síntese aditiva dos samplers Emax SE e Emax II. Esses equipamentos, no entanto, não funcionavam em tempo real. Era necessário especificar os parâmetros e dar um comando para que os dados fossem calculados e, posteriormente, o som reproduzido. Nesse ponto, o Soft Synth levava vantagem por ser mais rápido. No fim da década de 1980, foi lançado o primeiro sintetizador por síntese aditiva popular: o Kawai K5, com dois osciladores e 64 harmônicos cada um e quatro envelopes designáveis para as diferentes parciais ou grupo de parciais. teclas & afins
sintese
O sintetizador Kawai K5000
Trabalhando em tempo real e oferecendo interface gráfica que permitia a visualização de amplitude e frequência, o equipamento também oferecia filtros digitais para aplicar a síntese subtrativa ao timbre criado. Seu sucessor foi o Kawai K5000, que aperfeiçoou a seção aditiva com geradores de envoltória individuais para cada harmônico e agregou as novas tecnologias dos anos 90, como ondas PCM, filtros ressonantes de 12 e 24db por oitava, filtros de 128 bandas, morphing e multiefeitos.
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Eloy F. Fritsch Tecladista do grupo de rock progressivo Apocalypse, compositor e professor de música do Instituto de Artes da UFRGS onde coordena o Centro de Música Eletrônica. Lançou 10 álbuns de música instrumental tocando sintetizadores, realizou trilhas sonoras para cinema, teatro e televisão.
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mestres
Ray Charles: o gênio do soul 40 / agosto 2014
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mestres
Do fundo da alma Considerado um dos maiores expoentes da música americana e mundial, Ray Charles definiu um estilo e influenciou dezenas de músicos de várias gerações Muitos definem soul music como “música que vem do fundo da alma”. A literalidade da explicação pode ter fundamento se levarmos em conta de onde o estilo surgiu. Em meados das décadas de 1950 e 1960, o músico Ray Charles fundiu as influências negras que trazia da infância ao arsenal de
ritmos e impressões coletadas durante a adolescência. Mais do que isso, implantou em sua maneira de cantar e tocar todas as mágoas que recebeu de herança. O fato de ser negro lhe causou uma sequela física: a cegueira. O fato de ser cego lhe abriu as portas da expressão musical.
Instrumentista e cantor: Ray Charles e seu instrumento teclas & afins
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mestres
Million Dollar Quartet: Jerry Lee Lewis, Carl Perkins, Elvis Presley e Johnny Cash
Sem limitações: “um cego não é um tolo”
A história O nascimento de Ray Charles Robinson está registrado no dia 23 de setembro de 1932, em Albany, na Geórgia, mas é mais provável que tenha ocorrido alguns anos antes. Há certas passagens na vida do músico, principalmente as que se referem à sua infância, que permanecem nebulosas. O que se sabe é que a família Robinson foi acometida por dois duros golpes que tiveram influência direta na personalidade do pianista e em sua música. O primeiro foi a repentina e desconcertante morte de George, irmão mais velho de Ray, que caiu em uma tina de água enquanto os dois brincavam e não conseguiu sair de lá, vindo a se afogar. Pouco tempo depois, com a família já morando na Flórida, Ray 42 / agosto 2014
Charles foi acometido de uma doença infantil, provavelmente glaucoma ou mesmo uma infecção nos olhos causada por água contaminada, que deixou como sequela a perda gradativa da visão. Por falta de atendimento - já que ele era negro e os médicos, brancos - o menino ficou cego, não antes de registrar na memória uma última imagem: sua mãe chorando. Prevendo as dificuldades que ele poderia ter de enfrentar durante a vida, os pais continuaram a tratá-lo como a um menino normal. “Um cego não é um tolo. Nem um vadio”, diziam. O contato com a músico teve início e m uma escola para cegos, onde Charles aprendeu a tocar piano pelo método Braille. Estudou os clássicos, mas aventurava-se a tocar “música negra”: blues, jazz, boogie e hinos religiosos. Também aprendeu algo de guitarra, clarinete e saxofone, instrumento com o qual chegou a se apresentar e, mesmo no fim da vida, exibia conhecimento. Aos dezessete anos, ficou órfão e entregou-se às drogas, vício que jamais abandonou. O início de carreira foi idêntico ao de muitos outros jazzistas: como músico em clubes de baixa categoria. Pouco tempo depois, a fim de imitar o popular Louis Jordan, conseguiu formar um pequeno conjunto. Em 1948 mudou-se para Seattle, em Washington, onde seu trio – Maxim – e ele mesmo começaram a ficar conhecidos, sendo o primeiro conjunto negro a ter um programa exclusivo na televisão do noroeste dos Estados Unidos. Nessa época, aproximava-se mais do estilo de Nat King Cole, por considerá-lo refinado e um bom exemplo de música negra norte -americana, na qual as raízes não eram depreciadas nem omitidas, tampouco exacerbadas. Depois de trabalhar em diversas orquestras de rhythm & blues e de integrar os grupos teclas & afins
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de Lowell Fulson e Bumps Blackwell, Charles desembarcou em Los Angeles, onde gravou seu primeiro disco, como Ray Charles Trio. Pouco depois, veio a gravação, com sua própria orquestra, de “Baby Let Me Hold Your Hand (OH! Baby)”, música que o consagrou e o tornou nacionalmente conhecido. Em 1952, o músico assinou com a gravadora Atlantic, com a qual permaneceu durante essa década, fixando residência em Nova York. Inserindo cada vez mais elementos da cultura negra norte-americana em suas produções, como a introdução de ritmos gospel nas músicas de R&B, Charles ajudou a definir o formato do gênero que hoje se conhece por soul. Quando o rock’n’roll estourou com Elvis Presley, em 1955, e cantores negros como Chuck Berry e Littl e Richard foram promovidos, Ray Charles aproveitou o espaço aberto na mídia e lançou sucessos como “I Got a Woman” - canção em que pela primeira vez usou seu inconfundível estilo gospel, apoiado por uma seção de metais -, além de “This Little Girl of Mine,” “Drown in My Own Tears,” “Hallelujah I Love Her So,” “Lonely Avenue,” and “The Right Time”, todas hits. Mas Ray Charles não cativou realmente o público até What’d I Say , em que utilizou a energia dos vocais da igreja e o espírito do rock’n’roll em formação clássica com piano elétrico. Foi seu primeiro sucesso realmente popular, figurando entre os Top Ten, e o últim o pela Atlantic. Em 1958, apresentou-se no Festival de Newport - em um concerto histórico, acompanhado de um sexteto e do grupo de backing vocals feminino Raelletes – e, na sequência, no Carnegie Hall, o que lhe abriu as portas do sucesso internacional. Seus discos vendiam muito bem graças à bem dosada mistura de blues, jazz, gospel teclas & afins
e country, mesclada a canções mais melodiosas bem ao gosto do público da época. Esse cacife o le vou a assinar com a gravadora ABC, com cláusulas no contrato que garantiam a Charles maior grau de controle artístico em suas gravações. Sucessos como “Unchain My Heart” e “Hit the Road Jack” solidificaram seu estrelato pop, com apenas um pouco de polimento, aperfeiçoado na Atlantic, ao R&B. Em 1962, Ray Charles surpreendeu o mercado fonográfico e o público mundial voltando sua atenção para a música country e western, chegando ao topo das paradas com o single “I Can’t Stop Loving You” e talvez seu álbum mais popular: Modern Sounds in Country and Western
Vocal ímpar: mais de cinco décadas de música agosto 2014 / 43
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NA REDE
arranjador e bandleader, e foi o maior responsável pelo desenvolvimento da soul music. Cantores como Sam Cooke e Jackie Wilson também foram importantes, mas o pianista inventou uma nova forma de pop negro ao fundir R&B com vocais gospel, acrescentando pitadas de jazz contemporâneo, blues e (nos anos 60) country. Seu estilo de cantar está perto de ser Ao vivo: experiência única e o máximo em musicalidade o mais emocional e facilmente identificável Music . O astro se manteve extremamente entre os artistas do século 20, ao lado de popular até meados dos anos 60, realizando Elvis Presley e Billie Holiday. Sua influência grandes sucessos como “Busted”, “You Are sobre o rock é evidente: Joe Cocker e Steve My Sunshine”, “Take These Chains From My Winwood, em especial, devem muito ao seu Heart” e “Crying Time”, mas sua carreira foi estilo e ecos de seu fraseado podem ser retardada pela heroína. Afastado durante ouvido de forma mais sutil nos trabalhos de um ano das atividades, retomou a carreira grandes nomes como Van Morrison. em 1966, com “Let’s Go Get Stoned”. Apesar de problemas com drogas que lhe Nessa época, no entanto, Charles estava se prejudicaram a carreira, as interpretações concentrando cada vez menos em rock e de Ray Charles sempre foram apreciadas, soul, em favor de músicas pop, muitas vezes não importando as músicas que cantasse. com arranjos de cordas, que pareciam mais Uma “aura” de genialidade reconhecida direcionadas o público de easy listening. acompanhou-o até o fim da vida e, mais Suas gravações após os anos 60 foram do que nos últimos álbuns que gravou, decepcionantes. O mundo esperava o era nas suas apresentações ao vivo que retorno ao estilo dos grandes clássicos soul o seu talento único podia ser apreciado. gravados nos dez anos entre 1955 e 1965, Ofereceu ao mundo uma demonstração de mas, apesar da voz permanecer intacta, seu incrível ecletismo, passando com extremo foco estava na música popular capaz de desembaraço do mais clássico blues ao agradar mais facilmente os ouvintes. rock’n’roll mais exaltado. Sabia distinguir jazz Ray Charles faleceu aos 73 anos no dia 10 de música popular e trafegar tranquilamente de junho de 2004. e com habilidade por vários estilos. Ray Charles tinha características jazzísticas que O legado a rotina mais monótona e a música mais Ray Charles era exímio instrumentista, sentimental não conseguiram sufocar. 44 / agosto 2014
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OS ÁLBUNS DO AUGE Ray Charles Soul Brothers The Great Ray Charles Ray Charles at Newport Yes, Indeed!! What’d I Say The Genius of Ray Charles Ray Charles in Person Ray Charles Sextet Genius + Soul = Jazz The Genius Hits the Road Dedicated to You The Genius Sings the Blues Do the Twist with Ray Charles! Soul Meeting The Genius After Hours Ray Charles & Betty Carter Modern Sounds in Country and Western Music Modern Sounds in Country and Western Music, Vol. 2 Spotlight on Ray Charles Ingredients in a Recipe for Soul Sweet & Sour Tears Have a Smile with Me Live in Concert
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“Don´t Let The Sun Catch You Crying” Primeiro solo
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46 / agosto 2014
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POR ALEX SABA
Joe Pass: modelo para tecladistas
48 / agosto junho 2014 2014
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livre pensar
Romper limites Eu nem estava ouvindo jazz. Muito pelo contrário: ouvia “Burning Bridges”, do CD Black Moon , de Emerson Lake & Palmer. Mas comecei a me lembrar de mais um grande músico que nos deixou. Acredito que o título da música me levou a isso. “Queimar pontes” torna o caminho de volta impossível, e nunca mais ouvir Joe Pass (falecido em 23 de maio de 1994) é, no mínimo, triste.
Quando vi Joe Pass ao vivo pela primeira vez, fui tomado por um sentimento curioso. Ele estava sozinho no palco - e eu, na última fila - do Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro. Ele começou a tocar, sentado (como de praxe) e parecia estar conversando. Dialogava com a guitarra, mas eu só ouvia ela falar, não ele. Foi estranho. Já o ouvira em discos, mas não esperava essa postura tão bonita em relação ao instrumento. Havia amor e foi isso que ele transmitiu. A segunda parte do concerto foi de Oscar Peterson e, no fim, houve um belo duo dos dois. Peterson era incrível também, mas resmungava tanto enquanto tocava que parecia discutir o tempo todo com o piano. Joe Pass era diferente. E muito. Algumas vezes, chegava a achá-lo frio, muito técnico, mas era ignorância minha. Como diz André Francis em seu livro Jazz , o jazz deve ser curtido ao vivo. E senti isso na pele. Foi uma experiência completamente diferente de ouvi-lo em disco. Tenho a mesma sensação ao ouvir Jim Hall: um tributo de amor à música. Nada de brigas com a guitarra (como muitos “roqueiros”), mas somente carinho e compreensão de ambas as partes. A guitarra é daqueles instrumentos que enganam. Quase todo mundo por aqui, no mínimo, “arranha” um violão, mas presta pouca atenção àqueles que acariciam o instrumento. Paco de Lucia, o grande violonista flamenco, parece que, no final, vai quebrar o violão (quebra, na verdade, muitas “regras”). Ele é excelente, mas de uma teclas & afins
escola completamente diferente. Se ele é jazz? Ouçam a mesma música tocada duas vezes. São completamente diferentes. Paco improvisa, e jazz é isso. Charlie Christian colocou a guitarra no jazz e Wes Montgomery fez o diabo com um dedão. Django Reinhardt (que apesar dos dedos tortos na esquerda, parecia ter dez dedos em cada mão) desenvolveu um estilo próprio, que logo se tornou influência para todos os guitarristas de jazz. Joe Pass se especializou em tocar sem acompanhamento, apesar de ter gravado com grandes como Oscar Peterson e Duke Ellington (piano), Ray Brown (baixo), Milt Jackson (vibrafone), Ella Fitzgerald (voz) e Dizzy Gillespie (trompete). Sua excelente
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livre pensar
Joe Pass e Ella Fi tzgerald: classe e emoção
técnica estava a serviço da sua inesgotável imaginação. Frases nota a nota, linhas de baixo, contrapontos e sofisticadas harmonias compunham o estilo dele. Seus álbuns - como Take Love Easy , com Ella Fitzgerald, e o discosolo Virtuoso - são daqueles que se pode comprar de olhos fechados. A “Grande Orquestra Divina” está ficando cada vez melhor, mas estou me sentindo mais uma vez roubado, traído. Porque esses músicos tão bons se vão? Bill, Miles, Jaco, Dizzy, Parker, Basie, Duke... Esses anos estão nos subtraindo muitos ídolos, muitos artistas únicos que marcaram nossas vidas. Nunca vou esquecer quando ouvi a gravação ao vivo em Montreaux de “Caravan”, com Oscar Peterson, Neils Henning Orsted Pedersen (baixo), Toots Thielemans (gaita) e Joe Pass, ou, então, “Garota de Ipanema” com acompanhamento de botinha... Isso mesmo: bota. Ele marcava o ritmo de tal maneira que sua batida de pé era um acompanhamento. Joe Pass vai fazer falta. Sua elegância e tranquilidade no improvisar 50 / agosto junho 2014 2014
remetem à arte clássica. Ficam suas gravações e seus discípulos - com especial destaque, pela mesma classe e serenidade, para Tuck Andress, um pouco “confinado” na gravadora Windhan Hill Jazz (filha da New Age Windhan Hill), que merece mais atenção. Mas, por que falar de Joe Pass em uma revista para tecladistas? Simples: ele tocava muito mais como pianista do que como guitarrista. Rompia limites, estendia seu instrumento até ele se tornar música. É isso o que queremos ouvir: música. Não nos interessa qual o instrumento que a está fazendo. É preciso ouvir tudo o que é bom. E há muita coisa boa a ser ouvida. Alex Saba Tecladista, guitarrista, percussionista, compositor, arranjador e produtor com quatro discos instrumentais solo e um disco ao vivo com sua banda Hora do Rush, lançados no exterior pelo selo Brancaleone Records. Produziu e dirigiu programas para o canal TVU no Rio de Janeiro e compôs trilhas para esses programas com o grupo Poly6, formado por 6 tecladistas/compositores. Foi colunista do site Baguete Diário e da revista Teclado e Áudio. www.alexsaba.com.br teclas & afins
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TRILHA MUSICAL
POR MAURICIO DOMENE
Quando o spotting não existe Às vezes, o processo de composição tem que ser realizado antes das imagens estarem prontas ou antes de serem filmadas. É o caso de novelas e campanhas políticas Spotting é o processo de detalhar e definir onde deve haver música em um filme, como essa música deve ser e que emoção ela deve buscar. Mas há casos em que não é possível fazer isso antes de compor a música.
alguns casos excepcionais, até no mesmo dia. Como um compositor pode sobreviver com um cronograma desses? Não há tempo hábil para compor depois de as imagens já editadas. A solução, então, é criar a trilha antes de a novela começar a ser filmada. Vários temas Novelas são criados, prevendo os usos possíveis: cena A dinâmica de produção das novelas é em emotiva, cena de ação, cena de tensão, tema ritmo tão alucinante, e não é raro um episódio do protagonista, tema do casal romântico etc. ser finalizado no dia anterior à exibição – e, em Depois, no momento de sonorizar a novela,
Edição de trilhas no Steinberg Cubase 52 / agosto junho 2014 2014
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trilha musical
as trilhas são usadas escolhendo e editando cada música no lugar necessário. Eventualmente, surgem novas situações, ou algum personagem cresce na trama, sendo necessário um tema a mais. São as trilhas adicionais que o compositor produz no decorrer da novela. Às vezes, uma cena especial requer um tratamento mais especifico de trilha musical. Nesse caso, a cena é editada com antecedência e o compositor tem tempo de trabalhar em sincronismo com as imagens. Campanhas Políticas
Como nas novelas, o ritmo de produção de trilhas para campanhas políticas é geralmente insano, com poucas horas para sonorizar um programa. A solução é se antecipar e criar trilhas que possam servir para vários momentos, decididos e discutidos com a direção do programa: trilha para obras do governo, trilha para cenas com pessoas sendo cuidadas com carinho, música emotiva para as cenas de pessoas necessitadas recebendo uma casa, por exemplo, ou seja, todas as situações comuns que se possa imaginar. Tanto em novelas quanto em campanhas políticas, o processo de edição das trilhas é fundamental para adequar a música às imagens, e o compositor deve pensar em facilitar esse trabalho no momento da criação. Se a música tiver muitas modulações, a edição será bem complicada. Por exemplo, se houver uma modulação subindo um tom na segunda parte, será bem complicado juntar o acorde final ao começo da trilha, pois não haverá a preparação harmônica necessária.
Em novelas, as trilhas musicias alteram o clima da cena
Ou, se o acorde final for stacatto, podem faltar alguns segundos de trilha para a cena. Uma boa dica é criar dois finais, um mais curto e outro bem longo, com uma fermata generosa, para facilitar as transições de cena e a edição da música. E alguns compositores decidem compor todas as trilhas em um mesmo tom para facilitar a junção entre elas. Existe um sem número de truques e estratégias que podem facilitar a edição. Se você gastar um bom tempo editando músicas já gravadas para fazer que elas encaixem em cenas de filmes, perceberá o que funciona bem e o que atrapalha. Por exemplo, pode ficar muito claro que o final em stacatto causa uma dor de cabeça ou que uma modulação fez você perder um tempão para resolver a edição, ou até mesmo forçou-o a descartar a trilha e escolher outra.
Maurício Domene Formado pela Berklee em Music Composition for Film and TV, é compositor de trilha sonora premiado com atuação em cinema, TV, publicidade, teatro e outras plataformas. Tem dois álbuns instrumentais lançados: “Nuvens” e “Nuvens 2”. Foi colunista sobre Trilha Sonora na revista Home Studio. Foi professor de “Trilha Sonora” na grade do curso superior de Produção em Radio, Vídeo, Tv e Cinema da FMU/Fiam. Está à frente do Estúdio Next: www.estudionext.com.br teclas & afins
agosto junho 2014 / 53
cultura hammond
por Jose Osorio de Souza
O amor à sonoridade A princípio, o timbre de órgão era, para mim, apenas mais um. Assim como eu, para muitos que tiveram o órgão eletrônico como porta de entrada para a música, a cultura Hammond como vou chamar todo esse mundo que inclui o timbre único do instrumento, suas registrações e suas técnicas de performance - também era (e ainda é) desconhecida
Nos Estados Unidos, o Hammond foi construído para servir às igrejas. Por lá, a igreja protestante (evangélica, termo que se tem usado mais atualmente) tem presença mais significativa. Mas talvez mais importante, em termos estilísticos, que o fator litúrgico protestante seja o fator afrodescendente norte-americano dentro dessas igrejas evangélicas. Estilos como o spiritual e o gospel pertencem à música evangélica negra norte-americana, que serviu de base ao jazz, ao soul, ao tão sedutor
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blues e, finalmente, ao rock’n’roll. Foi nesse meio que o instrumento tomou rumos que, com certeza, não foram planejados pelo fabricante de relógios Laurens Hammond quando criou, em 1933, o primeiro modelo. O Hammond foi baseado na invenção do norteamericano Thaddeus Cahill, o Telarmónio (ou “Telharmonium”), do início do século XX, aparelho que pesava toneladas (por causa do gerador elétrico disponível na época para permitir seu funcionamento) e usava captadores de telefones para reproduzir o
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cultura hammond
som através de primitivos alto-falantes. Em contrapartida, Laurens usou amplificadores a válvulas, o que diminuiu bastante o tamanho do equipamento (um Hammond B-3 pesa aproximadamente 200kg). O que faz o som do Hammond ser único?
Primeiramente, é preciso entender que ele não é simplesmente um instrumento eletrônico, que manipula energia para criar seus tons, por meio de síntese ou amostras de outros sons previamente gravados (samples). O Hammond é eletromecânico, e isso faz muita diferença: a geração de som é feita por meio dos “tone wheels”, rodas com dentes em sua volta que giram à velocidade constante. Próximo à borda das rodas está um captador. Quando os “tone wheels” giram - e cada vez que a ponta dentada passa pelo captador - ocorre uma mudança no campo magnético que induz uma pequena voltagem a ele. Quanto maior a quantidade de dentes que passa pelo captador por segundo, mais agudo é o tom resultante. Dentes e captadores maiores são usados para as notas mais graves, ao passo que as notas mais agudas utilizam dentes e captadores menores. Para a oitava mais grave, são usados 12 “tone wheels”, cada um com dois dentes. As oitavas sucessivas possuem, respectivamente, 4, 8, 16, 32, 64, 128 e 192 dentes. Em um Hammond B-3, há 96 “tone wheels”, dos quais apenas 91 produzem tons, sendo os restantes colocados apenas para o equilíbrio. Os famosos “drawbars” ajustam quais “tone wheels” serão usados, possibilitando a maravilhosa variação de timbres que o Hammond possui.
Esse processo mecânico produz ruídos, chamados “clicks”, causados pelo desgaste natural do contato físico das partes mecânicas. O toque do organista também interage de forma acústica, permitindo geração de sons distintos, conforme a maneira que se toca seja em staccato ou em legato (toques rápidos e secos ou mais longos e ligados) -, mesmo que o teclado não reconheça a velocidade do toque para variar o nível de volume. Esse defeito natural no Hammond (que até tentaram “consertar”, mas foi deixado), é minuciosamente simulado nos órgãos eletrônicos mais sofisticados, como elemento do timbre do instrumento, responsável por parte importante do charme e da magia dele. Não se pode falar de órgão Hammond, contudo, sem falar da caixa amplificada Leslie. Esses dois equipamentos se tornaram tão intimamente conectados que é impossível separar um do outro. Ambos, funcionando juntos, são responsáveis pelo timbre original e eterno desse célebre instrumento musical. A caixa Leslie, uma torre com cerca de 70kg, é um sistema de falantes que amplifica e modifica o timbre por meio do movimento rotatório do som produzido pelo instrumento, com movimento e velocidade independentes dos falantes de agudo e de grave. Ela pode ser acionada por um interruptor manual - geralmente anexado ao órgão Hammond à esquerda, embaixo do teclado inferior - e pode alternar as velocidades dos falantes, ajustes conhecidos como “chorale” (“slow” ou lento) e “tremolo” (“fast” ou rápido). Donald Leslie fabricou o primeiro modelo da caixa em 1941.
Jose Osorio de Souza Pianista de formação erudita, analista de sistemas de formação acadêmica, foi proprietário de estúdio e escola de música, Suporte Técnico da Roland Brasil, tecladista da noite, é compositor e escritor, ama história e tecnologia dos sintetizadores e samplers, mas é apaixonado por teclados vintages, blues, rock progressivo e música de cinema. Atualmente toca piano instrumental no Grande Hotel Senac em Águas de São Pedro (SP) e atua como músico gospel na cidade de Itu (SP). teclas & afins
agosto 2014 / 55
HARMONIA E IMPROVISACAO
por turi collura
Giant Steps e Coltrane Changes Conheça a progressão harmônica utilizada por John Coltrane para a composição, a improvisação e a re-harmonização Giant Steps
Em poucas décadas, algumas figuras lendárias mudaram a trajetória do jazz, escrevendo sua história e modelando sua evolução estética. Uma delas foi o saxofonista John Coltrane, que em 1960 lançou o álbum intitulado Giant Steps (em português, “Passos de Gigante”).
56 / agosto 2014
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HARMONIA E IMPROVISACAO
Uma pergunta
Ao que se referia Coltrane ao chamar sua música de “Passos de Gigante”? Estaria se referindo a uma grande inovação na música contemporânea e, em específico, no jazz? Acredito que ele estivesse aludindo aos movimentos harmônicos propostos que contrariam a praxe, consolidada no sistema tonal, de progressões por quintas descendentes. A música “Giant Steps” incorpora três centros tonais equidistantes. Veja a partitura, como apresentada no consagrado livro Real Book , para analisarmos a harmonia. É possível observar três centros tonais: B, G e, Eb, indicados aqui, respectivamente, em vermelho, verde e azul. As setas arredondadas indicam o movimento dominante-tônica, ao passo que os colchetes indicam o movimento cadencial II-V. A proposta estética (e harmônica) de Coltrane foi a de fugir da centralidade de uma tônica, para criar um “efeito prisma”: não mais um centro tonal, mas três centros equidistantes. A próxima figura nos ajuda a entender o conceito: o intervalo de oitava, representado pelas doze notas que o compõem, pode ser dividido em 3 partes iguais (Dó-Mi = dois tons; Mi-Lab = dois tons; Láb-Dó= dois tons).
Da mesma forma, pode-se observar a equidistância entre as tonalidades de Si, Sol e Mib utilizada na música “Giant Steps”.
Cada centro tonal é precedido pela própria dominante ou pelo próprio II-V. teclas & afins
agosto 2014 / 57
HARMONIA E IMPROVISACAO
Coltrane Changes
O procedimento harmônico proposto em “Giant Steps” foi o ponto de chegada de algo que Coltrane vinha experimentando há algum tempo: uma progressão harmônica, conhecida como “Coltrane Changes” ou “Coltrane Matrix” - em português mais conhecida como Ciclo de Coltrane - capaz de substituir sequências de acordes mais simples do sistema tonal. Em particular, a nova sequência harmônica substitui a cadência II-V-I.
No exemplo acima, a interpolação dos acordes da sequência de Coltrane passa pelas três tonalidades equidistantes: Ab, E, C. Além de “Giant Steps”, sua música mais conhecida é “Countdown”, uma composição que tem, como modelo inicial, a música “Tune-up” de Miles Davis. O próximo exemplo mostra a re-harmonização dos primeiros oito compassos da música original.
Mas não foi somente em “Tune-up/Countdown” que o saxofonista utilizou esse tipo de recurso para criar/re-criar sobre músicas pré-existentes. Sua composição “Satellite”, por exemplo, tem como base “How High the Moon” (Morgan Lewis); a composição “Fifth House” tem grande relação com a harmonia de “What is This Thing Called Love” (Cole Porter); “Exotica” está baseada na estrutura de “I Can’t Get Started” (Vernon Duke); e ainda, a composição “2658 / agosto 2014
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HARMONIA E IMPROVISACAO
Giant Steps É o quinto álbum de estúdio de John Coltrane como líder, e o primeiro pela Atlantic Records (catálogo SD 1311), gravado em 1959 e lançado em 1960. Esse álbum foi o primeiro de sucesso para o saxofonista. Muitas de suas faixas tornaramse modelos de práticas para os músicos de jazz.
2” é uma releitura da música “Confirmation” (Charlie Parker) por meio da aplicação dos Coltrane Changes. Esses exemplos falam da capacidade de Coltrane de conseguir utilizar os standards clássicos de jazz para, a partir de suas harmonias, criar novas composições. Outras vezes, Coltrane imprimiu sua forte marca pessoal re-harmonizando músicas como “Body and Soul” ou “The Night Has a Thousand Eyes”. O contexto do Ciclo de Coltrane
Coltrane estudou harmonia na Granoff School of Music, em Filadélfia, explorando técnicas e teorias contemporâneas. Ele também teve acesso ao livro Thesaurus of Scales and Melodic Patterns de Nicolas Slonimsky (1947), tido como material de prática instrumental e de inspirações teóricas por muitos músicos de jazz. Nesse livro, é possível encontrar um exercício harmônico que levaria ao desenvolvimento do “Ciclo de Coltrane”. Outra antecipação dessa progressão harmônica se encontra na parte B da música “Have You Met Miss Jones” (Richard Rodgers). Depois da morte de Coltrane, foi proposta, pelos teóricos e pesquisadores, a ideia que seu interesse pelas relações de terça foi inspirado na religião ou na espiritualidade, com as três áreas tonais equidistantes representando um ‘’triângulo mágico’’, ou, trindade. No entanto, David Demsey - saxofonista e coordenador de estudos de jazz na William Paterson University - mostra que, embora o aspecto religioso fosse de alguma importância, os apontamentos para a criação do ciclo eram muito mais “terrenos”, isto é, fundamentados e contextualizados nos estudos harmônicos e musicais por si só. É importante, nesse sentido, mencionar o interesse de Coltrane para sistemas musicais nãotonais. Seus interesses em ragas indianas durante o início da década de 1960 - o Trimurti de Vishnu, Brahma e Shiva - podem muito bem ter sido referência importante em sua busca para as relações cromáticas e de terças e para as simetrias e geometrias musicais. Turi Collura Pianista, compositor, atua como educador musical e palestrante em instituições e festivais de música pelo Brasil. Autor dos métodos “Rítmica e Levadas Brasileiras Para o Piano” e “Piano Bossa Nova”, tem se dedicado ao estudo do piano brasileiro. É autor, também, do método “Improvisação: práticas criativas para a composição melódica”, publicado pela Irmãos Vitale. Em 2012, seu CD autoral “Interferências” foi publicado no Japão. Seu segundo CD faz uma releitura moderna de algumas composições do sambista Noel Rosa. Entre outras atividades, em 2014 Turi está ministrando cursos online em grupo, entre os quais os de “Piano Blues & Boogie”, o de “Improvisação e Composição Melódica” e o de “Bossa Nova”.
[email protected] - www.turicollura.com - www.pianobossanova.com teclas & afins
arranjo comentado
por rosana giosa
Modulação Pode-se dizer que quase todas as músicas são escritas sobre uma escala, isto é, sobre uma sequência de notas que possuem intervalos de tons e semitons definidos. Semitom é a distância entre uma nota e sua vizinha, seja ela preta ou branca (no piano) e tom é a soma de dois semitons. Um escala muito usada é a escala Maior Diatônica que possui oito notas e uma sequência de tons e semitons assim:
Já demonstramos a escala Maior Diatônica associada à escala de Dó Maior, pois ela possui exatamente essa sequência de intervalos entre suas notas. Por isso ela é chamada de Escala Maior Diatônica referência e é a mais usada entre todas. Mas essa mesma sequência de tons e semitons pode partir de qualquer uma das 12 notas ou tonalidades do teclado e, então, teremos 12 escalas Maiores Diatônicas. Apesar de todas obedecerem à mesma sequência de intervalos, ao tocá-las podemos sentir que cada uma delas tem uma “cor” especial e irá transmitir sensações diferentes. Modular é explorar essa troca de tonalidades dentro de uma música. É tocar o tema em um tom e repeti-lo em outro, mostrando exatamente essa diferença de sensações. Mas modulações também podem acontecer entre as partes A, B ou C das músicas, mesmo com melodias não repetidas, e o resultado é sempre muito bonito. “Passaredo”
A composição “Passaredo” é um exemplo disso. Sua forma é A1, B, A2. O A1 está baseado em Ré Maior, o B modula para Fá Maior e o A2 volta novamente para Ré Maior. Neste arranjo, para evidenciar ainda mais o efeito das modulações, optamos por fazer uma segunda exposição da música partindo de Mi Maior, modulando para Sol Maior no B e voltando ao Mi Maior no A2. Observe que para fazer a passagem da primeira para a segunda exposição, usamos como degrau o tom de Mib nos compassos 31 e 32, meio tom acima de Ré, caminhando para Mi. Ainda na segunda exposição, o A1 traz um tema modificado como variação, já que o ritmo e o desenho da melodia são bastante repetidos. Bom estudo!
60 / agosto 2014
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arranjo comentado
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agosto 2014 / 61
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62 / agosto 2014
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Rosana Giosa Pianista de formação popular e erudita, vive uma intensa relação com a música dividindo seu trabalho entre apresentações, composições, aulas e publicações para piano popular. Pela sua Editora Som&Arte lançou três segmentos de livros: Iniciação para piano 1 e 2 ; Método de Arranjo para Piano Popular 1, 2 e 3 ; e Repertório para Piano Popular 1, 2 e 3. Com seu TriOficial e outros músicos convidados lançou o CD Casa Amarela, com composições autorais. É professora de piano há vários anos e desse trabalho resultou a gravação de nove CDs com seus alunos: três CDs coletivos com a participação de músicos profissionais e seis CDs-solo. Contato:
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agosto 2014 / 63