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PETER KREEFT SÓCRATES ENCONTRA MARX O Pai da Filosofia Interroga o Fundador do Comunismo
Tradução de Pedro Cava
Su Sumário mário
Capa Folha de Rosto Introdução 1. O “Eu” 2. A Alegação Alegaçã o Abrangente do Mar Marxi xismo smo 3. O Começo: Toda a História é Opressão? 4. O Tempo Presente: A Natureza Humana Pode Mudar? 5. A Existência Existência de Santos Ref Refut utaa o Com Comuni unism smo? o? 6. A Quest Que stãã o da Liberdade 7. O que o Ca pit Ca pitalism alismoo Produzi P roduziu? u? 8. O que o Comunismo Pr oduziu? oduziu? 9. Com Comuni unism smoo é P redes redesttinação? 10. Propriedade Propriedade P riv rivada ada 11. Obje Objeçõ ções es ao a o Comunis Comunism mo 12. Individualidade Individualidade 13. A Naturez Naturezaa Humana Hum ana P ode ode Ser Ser Mudada? 14. Cul Cultura tura Comuni Com unist sta: a: Um Oxímo Oxímoro? ro? 15. A Família 16. Educação 17. Mulhere Mulheress 18. Nações 19. Três Filosofias do Homem 20. Materialismo 21. As Etapas até o Comunismo Agradecimentos Créditos Sobre o Auto Autor r Sobre a Obra
Introd Introdu uç ão
Este Este livro livro é parte de uma um a série de exploraç explorações ões socrática socráticass dos dos Grandes Gra ndes Livros Livros.. 1 Pret Pre tendese que os livros livros desta desta série sej am curtos, curtos, claros, acessí ac essíveis veis – logo logo,, de fác f ácil il compree com preens nsão ão aos a os iniciantes – e também que introduzam (ou revisem) as questões básicas presentes nas divisões fundam entais da fil f ilosofi osofiaa (ver (ve r os tít títul ulos os dos capí ca pítu tulos los): ): m etafís etaf ísica, ica, epistem epistem ologi ologia, a, antropologi antropologia, a, ética, lógica e metodologia. Esses livros foram projetados tanto para uso em salas de aula quanto para par a proveit prove itoo de autodi a utodidata datas. s. Os livros da série “Sócrates encontra...” podem ser lidos e entendidos por completo em si m esmos esm os,, em bora se possa possa apreciar apre ciar m elhor elhor cada c ada um deles após a leitura leitura do pequeno clássico clássico com que tra travam vam diálog diálogo. o. A sit situação uaçã o – um encont e ncontro ro na et e terni er nidade dade ent e ntre re Sócrates ócra tes e o autor autor de um Grande Gra nde Livro Livro – não deve intimidar intimidar o leitor leitor que não acr a credit editee na vida vida após a pós a m orte, orte, pois, pois, embora em bora as a s duas duas personage per sonagens ns e suas sua s filosofia filosofiass sej am rea re a is historic historicaa m ente, ente , seu diálogo cer c ertam tam ente nã nãoo o é; portanto, porta nto, requer reque r um a “suspensão “ suspensão voluntária voluntár ia da descre desc rença nça”. ”.22 Não há qualquer qualquer raz ra zão para par a que os céti cé ticos cos não estendam estendam tal crença cr ença literár literária ia tam tam bém à situaçã situaçãoo do livro. livro. 1 N.T.: Great Books – nome nome dado, em língua inglesa, aos grandes clássicos da tradição ocidental. 2 N.T.: Alusão Alusão ao conce c onceit itoo de suspension of disbelief cr iado por por Sam Sam uel Tay lor lor Coler Colerid idge. ge. disbelief , criado
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O “Eu”
MARX: Eu... eu pensei que estava morrendo! E agora eu... eu... SÓCRATES ÓCRATES:: Palavrinha Pa lavrinha profunda essa, Karl. Ka rl. Sabe Sabess o que ela e la signifi significa ca?? MARX: MARX: Não sei se i do que que fala f alas. s. Sei Sei de um a coi c oisa, sa, no entanto: não est e stou ou morto. m orto. Posso ouvirouvir-te te e verver te também tam bém;; em verdade, és o médico mai ma is feio qu quee j á vi. SÓCRATES: Eu não sou um médico; sou um filósofo. MARX: MARX: Tu te te pare pa rece cess com Sócrates. ócra tes. SÓCRATES: Nesse caso, aparência e realidade coincidem: eu sou Sócrates. MARX: Mas por que tu? Não temos nada nada em e m comum, com um, tu e eu. e u. SÓCRATES: Ah, creio que sim – penso termos ao menos duas coisas em comum: provavelmente somos os dois filósofos mais feios da história e também os mais odiados – ou amados. MARX: Em que lugar do mundo estamos? SÓCRATES: Em nenhum lugar do mundo. Estamos no mundo além. MARX: MARX: Que Que nada! nada ! Não Nã o há nenhum nenhum “m und undoo do além ”. SÓCRATES ÓCRATES:: Ah... desculpa-m e, m as o que pensas ser isto isto?? MARX: Um sonho, é claro. Só pode ser um sonho, pois isso certamente não pode ser real. SÓCRATES ÓCRATES:: Então, Então, quem que m imagin ima ginas as que está a sonhar sonhar o sonho? sonho? MARX: MARX: Min Minha ha m assa cer c erebra ebral.l. SÓCRATES: “Minha” massa cerebral, dizes? Mas quem é este “eu” que possui massa cerebral? MARX: Sou eu, Karl Marx, idiota! SÓCRATES: Mas qual o sentido desta palavra que acabas de usar, esta palavrinha que todos usamos com tanta facilidade – a palavra “eu”? MARX: Certamente não é a alma, como tu pensavas que que era e ra,, Sócra Sócrates, tes, ou quem quem raio ra ioss sej sej as. SÓCRATES: Conta-me mais. Caso pudesses ensinar-me onde é que errei, seria eternamente grato gra to a ti. MARX: Tua suposta “alma” é um fantasma, um mito, uma ilusão; não existem almas. Existir é ser material. Foste tu, Sócrates, quem poluiu, quase só, as águas da filosofia com esse mito lamacento da alma, essa distração de tudo o que há de real, esse fantasma que disseste habitar a máquina de nossos corpos. Não hei de permitir assombrações em minha filosofia. Exorcizo teu fant fa ntasm asma! a! Fora, fora, fora , esp e spíri írito to mald ma ldit ito! o! SÓCRATES: Ai, parece-me que não poderemos ter a conversa que estamos destinados a ter, até que, primeiro, tenhas sido convencido de um ponto sobremodo elementar: que tu existes, que há um “eu”, “e u”, em algum algum lugar, lugar, a coligi coligirr todos todos os mem me m bros de de teu corpo.
MARX: MARX: Pois Pois como pretend pre tendes es argumentar argum entar em e m favor da exi e xist stência ência de tal “eu”? “eu” ? SÓCRATES: Bem, talvez para ti um argumento moderno funcione melhor que um antigo. Assim, o que m e diz dizes do fam fa m oso oso argume ar gument ntoo de Descartes: De scartes: “Penso, “P enso, logo logo exist existo”? o”? MARX: Digo-te que é um argumento ridículo. SÓCRATES: E por quê? MARX: Apenas um idealista como ele, ou como tu, lançaria mão do pensame nto para fundamentar a existência real. Não, a verdade é o oposto: a existência real é que fundamenta o pensam pensa m ento. SÓCRATES: Ah, concordo plenamente, se por “fundamentar” queres dizer “causar”. Somente algo que que exi e xist stee pod podee pens pe nsar ar,, mas m as pensar não c ausa a existência existência de nada. nada . MARX: MARX: Tu me confundes confundes ao a o concordares concordare s comig com igo. o. SÓCRATES: Então, desfarei a confusão ao discordar de ti. Penso que nossa discordância não se dá em função do que causa o que, mas em função do que prova o que. Suspeito que não concordes que o pensamento racional e abstrato (como o argumento de Descartes) possa provar qualquer qualquer coi c oisa sa real. re al. MARX: Nisso, estás certo. Aceito apenas evidências científicas, empíricas, como prova de qualquer qualquer coi c oisa sa real. re al. SÓCRATES: Pois tens evidências empíricas, científicas, que corroborem esse princípio? MARX: Não hei de ser distraído por tua lógica abstrata. É por isso que desconfio da maioria dos argumentos de vós, filósofos. O “penso, logo existo” de Descartes é completamente abstrato, e nada de concreto c oncreto o prova prova ou refut ref uta. a. SÓCRATES: Afirmas, então, que o “eu” pensante que Descartes alega ter provado não é uma realidade? MARX: Exatamente. SÓCRATES: O que é, pois? MARX: Um sonho. SÓCRATES ÓCRATES:: Se Se o “eu” “ eu” é um sonho, sonho, quem quem é que o sonha? sonha? MARX: A massa cerebral, por certo. Prefiro “peido, logo existo” a “penso, logo existo”. SÓCRATES: Logo, o mau cheiro é prova melhor que o pensamento? MARX: De fato é! É empírico e, portanto, científico. SÓCR ÓCRATES: ATES: Então Então sabes sabe s que que és real re al não por pensares, pensare s, mas ma s por perceber perc eberes? es? MARX: Isso. SÓCR ÓCRATES: ATES: E é assim assim que sabes tam tam bém que uma outra outra pessoa pessoa é real, re al, como com o eu? MARX: É. SÓCRATES: Conheces aos outros, pois, da mesma maneira que conheces a ti mesmo: pelas sensações? MARX: Correto. SÓCRATES: Conheces meus pensamentos, mesmo antes que eu os diga?
MARX: Não. SÓCRATES ÓCRATES:: Mas conhece conhe cess agora teus próprios pensam pensam entos, antes de diz dizê-los ê- los?? MARX: MARX: É claro. c laro. SÓCRATES: Por quê? Se conheces aos outros da mesma forma que conheces a ti mesmo, por quee deve haver tam anha difere qu diferença? nça? MARX: Mas que pergunta simplista! SÓCRATES: Talvez seja, mas tens uma resposta igualmente simplista para mim? MARX: Sim! Porque os aglomerados de massa que constituem teu cérebro e os aglomerados de m assa que consti constitu tuem em m eu cére cé rebro bro são são dife difere rent ntes, es, estão estão separados separa dos no espaç espaçoo e não se toca tocam m. SÓCRATES: Mas, então, por que... MARX: Espera! Por que estou a discutir filosofia abstrata contigo? O que estou fazendo aqui? Eu estava em m eu leito, leito, aguardando a m orte, e agora a gora est e stou ou a discut discutir ir filos filosofia ofia com Sócrates ócra tes em um sonho – isso isso é ridículo. SÓCRATES: Não é. Isso é o que deves fazer; o que todos devem fazer, afinal. Trata-se do prime prim e iro m a ndam ento: “ Co Conhec nhecee-te te a ti m e smo”. sm o”. Nã Nãoo é uma um a opção, opçã o, m a s um requis re quisit ito. o. Conquanto tu pudesses facilmente te desviar dessa tarefa no outro mundo, isso não é permitido aqui – é por isso que fui enviado para te ensinar. No outro mundo, podias bem evitar-me – quer diz dizer, a taref ar efaa que repre r epresent sento: o: “Conhece “Conhece-te -te a ti m esmo”; esm o”; neste neste mund m undo, o, já não tens essa opção. MARX: Se é assim, jogarei teu jogo, simplesmente porque não me parece restar outra escolha. Conta-me mais, por favor, acerca deste suposto mundo vindouro; conheces aqui o futuro? O futuro da vida na terra, quero dizer. SÓCRATES: Sim, algo dele – tanto quanto é necessário. MARX: Como? SÓCRATES: Ainda não estás pronto para aprender isso: seria uma digressão e uma distração. MARX: Seria uma distração de quê? O que devo fazer? SÓCRATES ÓCRATES:: Deves-te Deve s-te lem brar... bra r... MARX: Lembrar não me agrada; prefiro planejar. O futuro me é preferível ao passado. SÓCRATES ÓCRATES:: Em outra outrass palavras, palavra s, prefer pref eres es os sonhos sonhos aos fato fa tos. s. MARX: Não, não, sou um amante dos fatos. Eu sou um cientista. Com efeito, fui o primeiro a encontrar a fórmula científica para toda a história humana e achei um sem-número de fatos para provar prova r m inha fórm fór m ula. Vê Vês, s, Sócra ócr a tes, é assim que um cienti cie ntista sta prova suas ideias: c om fatos fa tos concretos, não com argumentos abstratos como vós, filósofos, fazeis. SÓCRATES: Pois nossa tarefa aqui é examinar tua “fórmula para toda a história humana” – e as evidências evidências que oferec ofer ecest estee para pa ra corrobo corr oborárá-lla em e m teu liv livro ro mais m ais fam oso, oso, o qual qual mudou o mundo. mundo. MARX: Disseste mesmo “o qual mudou o mundo”, não foi? SÓCRATES: Sim. Tu, Karl, fizeste diferença maior para os acontecimentos históricos e para as vidas vidas de um m aior número núme ro de pess pe ssoas oas que qualquer qualquer outro outro ser humano huma no na na hist história ória moderna. m oderna. MARX: Eu sabia! Eu sabia! Ele, o meu grande livro, teve êxito, embora eu jamais o tenha terminado. SÓCRATES: Eu não falava daquele livro demasiado longo e colossalmente enfadonho que é O
m as do Manifesto do Partido Capital , mas Partido Comunist Comunista a. MARX: MARX: Min Minha ha obra-prima obra-prim a retó re tórica! rica! Eu sabia sabia que que ela e la estava estava dest de stin inada ada a m udar a fac f acee da terra. terr a. O que quer queres es exam inar inar a resp re speit eitoo dela? dela? SÓCRATES ÓCRATES:: Oh, só uma coisinha coisinha de nada: nada : ela diz a verdade ver dade?? MARX: A verdade? Mas é claro que diz! Ela mudou a face da terra, não foi? Não disseste isso? Logo, foi bem sucedida. SÓCRATES ÓCRATES:: Então Então o sucesso é prova da verda ve rdade? de? MARX: Certamente. SÓCRATES: Mas uma mentira não poderia ser bem sucedida, caso o mentiroso persuadisse outros a acreditarem nela, se seu desejo e sua vontade fossem feitos? Uma mentira também não poderia poder ia m udar o mundo, m undo, desde que as a s pessoas ac a c redit re ditasse assem m nela? nela ? MARX: Não a longo prazo, pois a história é mãe da verdade. SÓCR ÓCRATES: ATES: E o que que exatam e xatamente ente queres quere s diz dizer com essa imagem ima gem?? MARX: MARX: Quero diz dizer que a verdade é testada testada pela açã a ção, o, não não pela cont c ontem em plaç plação, ão, pelo pensam pensamento ento abstra abstrato to,, ou mesmo me smo por argum a rgumento entos. s. SÓCR ÓCRATES: ATES: Então, Então, com c om efeit ef eito, o, os argument argume ntos os jam ja m ais provam provam que algo é verdade? ve rdade? MARX: MARX: Não, não provam . SÓCRATES: Sei, pois, que não apresentarás argumentos para provar isso, mas poderias explicálo, ao menos, embora te recuses a prová-lo? MARX: Este é o ponto principal, Sócrates: o pensamento, em si mesmo, é um ato concreto que tem lugar na história e que tem causas materiais; não é um fantasma que reside fora do ato, a olhá-lo a partir de um ponto de vista transcendente que está fora do tempo e do espaço, como vós, idealistas, pensais. Em verdade, esse foi o erro fundamental ao qual deste início, Sócrates – o erro do idealismo, a que Platão, e Aristóteles, e Agostinho, e Tomás de Aquino, e Descartes, e Hegel, e todos os seus respectivos discípulos ludibriados deram continuidade. É uma pena que eu não estivess estivessee present pre sentee à tua tua época, é poca, Sócra Sócrates; tes; teria dado um basta basta a esse erro, er ro, o qual qual corrompe corr ompeuu a filosofia por dois mil anos. Teria feito contigo o que fiz com Hegel: a ti, que estavas de pontacabeça ca beça,, eu teria te endire endireit itado ado – e também tam bém a toda toda tua filos filosofia. ofia. SÓCRATES: E o que queres dizer com essa imagem? O que é uma filosofia que está “ereta” e o que é uma filosofia que está “de ponta-cabeça”? Em uma palavra, qual foi meu erro e o erro de todos esses outros fil f ilósofos? ósofos? MARX: Em uma palavra, como eu disse em minhas Teses sobre Feuerbach, “Os filósofos até agora apenas interpretaram o mundo, mas o importante é mudá-lo”. E eu poderia mudar este mundo também, não importa o que ele seja e onde quer que esteja, estej a, m esmo esm o que que se trate, tra te, como com o presumo, apenas apena s de um sonho sonho,, pois pois m esmo esm o os sonho sonhoss hão hão de tomar emprestado ao mundo – ao único mundo que há – a parcela de verdade que contêm. Hummm... Dize-me algo acerca deste mundo: tendes trabalhadores e empregadores aqui, certo? E certam ce rtamente ente precis prec isais ais de de economist e conomistas as e... SÓCRATES: Não. Não temos trabalhadores ou empregadores e também não precisamos de economistas, pois aqui não existe dinheiro. Teu trabalho chegou ao fim. MARX: MARX: Mas isso isso é impossível. impossível. Mesmo Mesm o um sonho sonho devia faz fa zer m ais sentido sentido que isso. isso.
SÓCRATES: Talvez pudesses tentar me mostrar porque necessitamos de economistas aqui. MARX: Irei refutá-lo com o teu próprio tipo de lógica, Sócrates. Já que posso te ver, deves ser uma entidade corpórea. Se és ser corpóreo, deves ter necessidades corporais e, se tens necessidades corporais, tais necessidades devem ter valores relativos. Se essas têm valores relativos, podem ser trocadas, compradas ou vendidas e, caso sejam trocadas, compradas ou vendidas, precisa-se de economistas, pois a economia é a ciência dessas coisas. Por exemplo, essa túni túnica ca branca que vestes vestes – quem quem a fez f ez,, e onde onde a compraste? com praste? SÓCRATES ÓCRATES:: Ó, céus! cé us! Terem Ter em os de lidar lidar com tudo tudo isso isso antes de expl e xplora orarm rm os teu teu livro? MARX: Mas meu livro é sobre isso! Vem, deixa-me ver esta túnica que estás a usar. Tira-a um pouco, por favor. fa vor. SÓCRATES: Ela não sai, pois não é como os outros tipos de vestes que conheces; ela não me oculta, mas me revela. Esta é a terra da luz e do desvelamento, não da ocultação. Vê, até teu traje sujo não pode ser despido, não importa o quanto o puxes – ele revela a alma que veste o corpo que o veste. MARX: MARX: Arre! Arr e! Que sonho sonho insano insano é est e ste! e!?? Socorro! ocorr o! SÓCR ÓCRATES: TES: Est Este é precisam pre cisamente ente m eu propósit propósitoo aqui: aqui: ajudar-te, aj udar-te, ou ao m enos começ com eçar ar a aj a j udarte a “sanar” alguns dos sonhos insanos que tiveste e ainda tens. Mas não estás sonhando agora, Karl, e sim acordando; em verdade, estás agora mais acordado que jamais estiveste. MARX: MARX: Então, Então, que se expl e xploda! oda! Eu não ace a ceit itoo este univer universo! so! Irei Ir ei destruí-lo! destruí-lo! SÓCRATES ÓCRATES:: Aqui, Aqui, não tens m ais o poder de destruir destruir coisa alg a lgum uma, a, exce e xceto to ilu ilusões. sões. MARX: Eu organizarei um partido! Hei de encontrar tuas vítimas. Quem mais oprimes, ditador de pensamentos? Unirei tuas vítimas e nos desvencilharemos de teus grilhões; então, publicarei meu manifesto: Trabalhadores do Mundo dos Sonhos, Uni-vos! Nada tendes a perder senão vossas vossas corre ntes, ntes, mas m as tendes um m und undoo int inteiro a ganhar! SÓCRATES: Não precisas gritar; ninguém pode ouvir-te além de mim. MARX: MARX: Então, Então, una-te a m im , Sócra Sócrattes, e j untos untos ini iniciem ciem os um um a revol re volução. ução. SÓCRATES: Tu não entendes. Não há aqui qualquer necessidade a que tua revolução pudesse se devotar. MARX: Conservador! Reacionário! Contra-revolucionário! Pró- establishment ! SÓCRATES: Terminaste? MARX: Não! SÓCRATES: Sou paciente. MARX: Mas eu não – não sou paciente, mas agente. O que pensas ser isto, um hospital para as m entes, onde onde eu sou o pac paciiente, e tu és o médico? m édico? SÓCRATES: É isso mesmo. MARX: MARX: Isso é intolerá intolerável! vel! Este é o infe inferno! rno! SÓCRATES: Não, meu caro, este é apenas o purgatório – purgatório para ti e paraíso para mim, sim sim ult ultaneam ente. ente. Um arranjo arra njo bem econômico, não? MARX: A que torturas me sujeitarás, Doutor Sócrates? Vais dissecar-me? SÓCRATES: Não, dissecarei apenas teu livro.
MARX: MARX: Mas Mas não sabes j á com exatidão exatidão aqui a quilo lo que que est e stáá em m eu livro? livro? SÓCRATES: ÓCRATES: Eu sei, m as tu talvez não. MARX: Como poderia não saber aquilo que eu mesmo escrevi? Se o escrevi, logo o conheço. SÓCRATES: A maior parte de vós não entende de fato aquilo que escreve, e é por isso que prec pre c isais de algo c omo om o eu, algo c omo om o um espelho. espe lho. P ois bem , fui e nviado aqui para par a ser teu espelho, embora ainda não para tua alma – isso virá depois – e sim para teu livro. Um começo m odesto, odesto, por por certo ce rto.. MARX: Vejo que tens uma cópia dele em mãos, e eu também tenho! Como chegaram aqui? Há livrarias livrarias por cá? c á? SÓCRATES ÓCRATES:: Outra questão questão dist distra rati tiva, va, à qual não irei responder. r esponder. MARX: Bem, se meu livro permanece até no além, então é verdadeiramente imortal. O que hei de fazer fazer com c om el e le? SÓCRATES: Ele deve passar das tuas mãos para dentro da tua cabeça.
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A Alegaç Alegação ão Abran Abrange gen nte do Marxismo Marxismo
SÓCRATES: Talvez fosse melhor que primeiro introduzisses teu livro, a fim de explicares seu contexto e seu propósito, como estivesses a ensinar em uma sala de aulas na universidade. Penso que estás ainda ainda m uito uito mais ma is apto a faz fa zer preleção preleçã o que a dialog dialogar ar,, de m odo qque ue talvez talvez esse esse m étodo étodo alivie um pouco tua ansiedade. MARX: Realmente esperas que eu aceite convite tão insultante quanto esse? SÓCRATES: Sim. MARX: MARX: Por quê? SÓCRATES: Porque és um egotista e também porque não tens escolha: não há mais nada a se fazer aqui. MARX: MARX: Ora! Bem , aceit ac eitar arei ei teu desafio. desafio. O livro livro que que est e stam am os pre prest stes es a expl e xplorar orar é m uito uito curto: trata-se de um panfleto de cer c erca ca de 12.000 12.000 palavras apenas. apena s. Porém , ele m udo udouu o mundo, como com o eu sabia sabia que acont a contec eceria. eria. Esse Esse livro livro contém, nessas poucas páginas, a essência do comunismo – e todos os meus outros escritos constit constituem uem som som ente adições a ele ou aprimoram aprimora m entos entos do do mesm m esmo. o. Escrevi-o aos vint vintee e nove anos a nos de idade, e Engels não não escre e screveu veu uma um a só palavra palavra que está nele, em e m bora tenha produzid produzidoo algumas algum as das da s ideias ideias ali a li contidas: contidas: o Manifesto correspon corr esponde de aos prime prim e iros vinte vinte e cinco cinc o problem a s de seu se u Catecismo e, o que é m ais im im portante, portante, Engels Engels forneceu fornece u a m aior parte do dinhei dinheiro ro para a publicaç publicação ão do Manifesto. Ele Ele é um Grande Gra nde Livro Livro porque, porque, fin f inalm almente, ente, solu solucion cionaa o mis m istério tério que que é o homem home m e desv de svela ela as leis m ais fundam fundamentai entaiss que, que, desde sem pre, governam o comport com portam am ento huma humano. no. Fi Fiz pela hist história ória do homem home m aquilo aquilo que que Darwin Da rwin fez par paraa a hist históri óriaa das espécies ani a nim m ais e Newto Ne wtonn para o universo universo inorgâni inorgânico. co. É a reali re alizzação aç ão suprema suprem a do pensam pensam ento huma humano: no: fui o prim prim eiro a tornar tornar a hist história ória verdadeiram ve rdadeiram ente científi científica ca.. Todos os filósofos, de Platão em diante, buscaram a “pedra filosofal”, o sistema do cosmo, a fórm ula ula – e todos todos alegaram alegara m tê-la encontrado, mas ma s nenhum nenhum o fez. fez. Cada Cada vez que o pensam pensa m ento ficava fic ava estagnado esta gnado diante dia nte da fórm fór m ula atem a tem poral pora l de um desses desse s filósofos, filósofos, o mundo m undo prosseguia prosse guia e a re r e futava. futa va. Então Então veio Hegel, o qual qual fez fe z da m udança em si a fórm f órmul ulaa univer universal sal – o que que era e ra verdadeiro, verdade iro, mas ma s não origin original: al: Herácli Herá clitto, mesm m esmoo antes de teu tem po, Sócra Sócrattes, vira vira que “tudo flui”, tal qual um rio, e buscara o lógos – a lei ou fórm ula ula – da m udança univer universal sal,, que, que, porém , não fora encontrado até a vinda vinda de Hegel, que viu, viu, pela primeira prim eira vez, vez, que a própria própria lógi lógica ca se move com a história, que a verdade mesma muda de acordo com o padrão daquilo que ele cham ou de de “di “ dialéti alética ca”, ”, segundo segundo a qual uma tese gera sua sua própria antítese e, e , desse confli c onflito to sínte se , que perpé per pétuo, tuo, eme em e rge uma um a sínte que ent e ntão ão se torna uma nov novaa tese que irá gera ge rarr sua própria própria antítese, e assim por diante, até a síntese final. Entretanto, Hegel, com estupidez inacreditável,
identificou esse processo com “Deus”, ou “O Absoluto”, ou “Espírito” – provavelmente as três piores piore s palavra pala vrass existentes no discurso hum a no e os três trê s mit m itos os mais m ais prej pre j udiciais presente pre sentess no pensam pensa m ento do home hom e m . Herác Her ácli litto descobriu descobriu a universali universalidade dade da m udança, ou “devir”, e He gel descobriu descobriu a form f ormaa lógica desse processo. Mas eu descobri o seu verdadeiro conteúdo: matéria, não espírito. Hegel pensava pensa va que as ideias causavam os conflitos históricos; já eu encontrei essas causas no mundo real, das quais as ideias são apenas o eco ou o efeito. Adem ais, encontrei, dentro dentro do mundo real, a font f ontee da m udança hist históri órica ca – não em características, escolhas ou paixões individuais, mas no determinismo econômico, o que foi a chave para tornar tornar a hist história ória uma um a ciência, pois pois tra trata-se ta-se de algo pre previ visí sível vel e controlável. controlável. As forças da dialética da história são as classes econômicas, e o conflito de classes é o m otor otor da hist história. ória. Tam bém fui o prime primeiro iro a m ost ostrar ra r com c omoo a utopia utopia sociali socialist staa e livre livre de cl c lasses, tão tão sonhada sonhada por outrem outre m , desabroc desa brochar haria, ia, qual qua l uma um a flor, f lor, da planta de m eu m undo contem porâne porâ neo, o, pois, pois, uma um a vez que que o númer núm eroo de classes c lasses fosse fosse reduz r eduzido ido a um – o proletariado –, o conflito conflito seria reduz re duzid idoo a zero. Isso seria alcançado alca nçado pela elim elim inaç inação ão da única única outra outra classe rem anescent anesce nte, e, a burguesia. burguesia. Aí está precis prec isam am ente o signi significado ficado de m inha inha era e ra:: o capi ca pital talis ism m o já j á havia havia reduzid reduzidoo a pletora pletora de classes classes que cara ca racteriz cterizavam avam o feudalismo feudalismo a duas apenas, a burguesia burguesia e o proletariado. proletariado. Portanto, Portanto, a revolução comunista será o último grande evento da história, pois eliminará a burguesia, deixando deixando apenas “a “ a ditadura ditadura do proletariado”, proletariado”, com o eu disse disse em e m m inha inha Crítica do Programa de e m outros outros lugares, lugares, ou sej sej a, deixando apenas apena s uma sociedade sociedade de iguald igualdade ade e j usti ustiça ça Gotha e em perfe per feit itaa s, onde “o “ o livre livre desenvolvi dese nvolvim m e nto de ca c a da um é a condiçã c ondiçãoo do livre livre de desenvolvim senvolvimento ento de todos” e onde, como eu disse no mesmo livro, tudo flui “de cada qual, segundo sua capacidade, a cada qual, segundo suas necessidades”. SÓCRATES: Fizeste um maravilhoso discurso, Karl! Ele fez exatamente o que tinha de fazer ao introduzir teu livro. Foi admiravelmente claro e simples – até eu consegui entendê-lo –, além de poderoso poder oso e a traente tra ente:: és é s verda ve rdadeir deiraa m e nte um grande gra nde retórico. re tórico. P or fim, fim , e o que é m e lhor, ele foi curto. MARX: Pois se estás satisfeito, façamos o que ele prega e não apenas pensemos a respeito. Juntar-te-ás ao partido? SÓCRATES: Bem, creio que encontrarás algumas dificuldades em organizar esse tipo de coisa por aqui. a qui. MARX: MARX: Não tem tem o desafio algum, algum, mesm m esmoo em m eus sonh sonhos os.. SÓCRATES: Tu não entendes. MARX: Qual é o problema? SÓCRATES: Bem, em adição ao pequeno detalhe de que não estamos em teus sonhos e somos perfe per feit itaa m e nte reais, re ais, há outra c oisinha oisinha com a qual tem os de lida lidarr a ntes de poderm poder m os pensar pensa r em prati pra ticc ar tua fil f ilosofia. osofia. MARX: E o que é isso? SÓCRATES: O que achas? Do que deverias te certificar antes de pôr em prática qualquer filosofia?
MARX: De que tenho o dinheiro necessário. Engels também está aqui? SÓCRATES: Não, falo de algo mais básico que isso. MARX: Não há nada mais básico que isso. SÓCRATES: Sim, há. MARX: MARX: Que Que eu e u tenha tenha a base de poder requerida? r equerida? Não temas, tem as, hei de de criá-la. c riá-la. SÓCRATES: Não, é outra coisa. MARX: MARX: Camar Cam arada adas? s? Ha Habil bilidades idades organiz or ganizac acio ionais? nais? SÓCRATES: Não, trata-se de algo referente à filosofia e não a ti. Do que precisas te assegurar que uma filos filosofia ofia é, antes de mais m ais nada? nada? MARX: Dinâmica? Radical? Progressiva? Não? Ainda fazes que não com tua cabeça feia e bulbosa! bulbosa! De Desaf safiador iadora, a, e ngaj a dora, dora , impele im pelente nte à ação? aç ão? Não? Nã o? Lisonj Lisonjee ira, ira , talvez ta lvez?? Astuta Astuta e e sperta sper ta e cativante? Não? Original? Criativa? Interessante? Ainda não! Por certo não sugeres que deva ser confortavelmente tradicional? Não, mais uma vez. O que, então? Desisto desse jogo degradante de charadas. O que procuras? Dize-me o segredo. Qual é a qualidade oculta que exiges de uma filos filosofi ofiaa antes que que a coloques coloques em prática prática?? SÓCRATES ÓCRATES:: Tinha Tinha em e m m ente sua veracidade . MARX: Ah. SÓCRATES ÓCRATES:: Essa Essa é tua única única respos re sposta? ta? Uma Um a m íser íseraa sílaba? sílaba? MARX: Mas a prática irá revelar sua veracidade, Sócrates. A verdade sempre emerge, enfim, do processo da história – a dialética; a verdade não vem fora da ação e anteriormente a ela, mas na ação e como resultado dela. SÓCRATES: ÓCRATES: Isso é fato? fa to? MARX: Sim, te asseguro. SÓCRATES: Então, é verdade que a verdade apenas em erge desse desse processo processo?? MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: Pois estamos no processo agora, ou estamos fora dele e em seu término? MARX: MARX: Estam Estam os no process proce sso. o. SÓCRA ÓCRATES: TES: E a verdade ver dade não vem ve m antes desse processo, ou fora dele, mas m as apenas apenas emerge em erge como fora dele, resu re sulltado do do mesm m esmo? o? MARX: Foi o que eu disse. Tens a memória muito curta. SÓCRATES: Portanto, uma vez que estamos apenas no processo e não fora dele, como podemos saber saber o que que est e stáá fora f ora do mesmo? m esmo? MARX: MARX: Não podem os. SÓCRATES: Somos como peixes no mar, então, que não podem voar por sobre o mar qual pássaros. pássa ros. MARX: Correto. SÓCRATES: Logo, não podemos saber o que está ou não está fora do processo, assim como um peixe não pode saber sabe r o que está ou não está e stá fora for a do m a r?
MARX: MARX: Corre Correto to m ais um um a vez. vez. Come Começa çass a ent e ntenderender-m m e, Sócr Sócrates. ates. SÓCRATES: Então, como podemos saber que não há verdade fora do processo? MARX: Como? O que disseste? SÓCRATES: Se os peixes não podem saber o que está fora do mar, tampouco podem saber o que não está fora do mar. Assim, se não podemos conhecer nenhuma verdade que esteja fora do tempo, tem po, tampou tam pouco co podemos podem os saber saber que não há qualquer qualquer verdade fora do tem tem po. Porém , tu dis dissest sestee saber precis pre cisam am ente ist isto: o: que não há verdade a lguma fora do tempo. tem po. MARX: Não me deixarei enganar pelo argumento lógico abstrato de filósofos e ser desviado do real para o ideal. Todas as ideias que tens, Sócrates, incluindo também essa tua lógica estática, nada são além de produtos de tua ordem social pré-industrial, camponesa, aristocrática e conservadora. SÓCRATES: E as tuas? MARX: MARX: Toda ideia é produto produto de condições sociais. SÓCRATES: Mas as tuas condições sociais, até mesmo tua educação, eram completamente burguesas. burgue sas. Se todas as ideias na nada da são além alé m de produtos de sua ordem orde m social, socia l, teu c omunismo om unismo deve ser um a ideia ideia inteiram inteiram ente burguesa. burguesa. MARX: Não hei de responder à tua lógica desprezível, Sócrates, pois ela é impotente. Tentas em vão destruir o rolo compressor da dialética da história, usando as palavras como armas. Mas as palavra pala vrass são me m e ras ra s sombra som bras, s, espec espe c tros, fantasm fa ntasmaa s. SÓCRATES: Até mesmo as tuas palavras, Karl? Elas também são espectros? MARX: Não paras de fazer isso, Sócrates! É um hábito por demais irritante. SÓCR ÓCRATES: TES: Essa Essa imagem ima gem – a de um espectro – não é exatam ente a que tu usaste usaste ao te re ferir fe rir às tuas próprias palavras, às tuas próprias ideias, isto é, ao comunismo, na primeiríssima linha de teu livro? livro? Ei-la: Ei-la: “Um espectro ronda a Europa – o esp e spec ectro tro do comunism comunism o”. MARX: MARX: Devo te al a lertar, er tar, Sócra Sócrates, tes, de de que esse teu hábito hábito de ataca a tacarr as a s pessoas pessoas com suas suas próprias palavra pala vrass não irá te conquis c onquistar tar m uitos uitos am igos – irá conquistar apena ape nass discussões. discussões. SÓCRATES: Meu propósito aqui não é ganhar amigos e tampouco argumentos, mas ser teu ajudante, se não teu amigo, ao ser-te um espelho para a mente a fim de que possas conhecer-te a ti mesmo. me smo. MARX: MARX: És tão ingênu ingênuoo a ponto ponto de espera r que eu e u creia cre ia que és m eu aj a j udante, udante, quando me suj suj eitas eitas a tam anha tortura? tortura? E a ponto ponto de esperar espera r que eu e u aceit ac eitee isso, isso, como fos f osse se para o meu m eu próprio próprio bem? bem ? SÓCRATES: Sim, por certo. A menos que queiras ser personagem cômica, em vez de séria, pois nada mais cômico posso conceber que uma filosofia que não presta contas de seu próprio criador, uma filosofia sem filósofo – isso, sim, é um paradoxo. MARX: MARX: Tua Tua tarefa tare fa aqui é disseca dissecarr a m im, ou a m eu livro? livro? SÓCRATES: Por hora, apenas teu livro, mas essa tarefa é apenas um meio para um fim mais nobre, que é conheceres a ti mesmo. Estás pronto para começar? MARX: Vai em frente, faze teu pior, Sócrates! SÓCRATES: Não, Karl, obedeço à minha mãe e não a ti: ela sempre me disse para eu fazer o meu melhor.
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O Começ Começ o: Toda a História História é Opressão? O pressão?
SÓCRATES: Nós já citamos o famoso começo de teu livro... MARX: MARX: Mas Mas aquele era e ra apenas apena s o começo come ço do preâm bulo, bulo, não não do liv livro ro em si. si. A frase-c fra se-chave have desse livro é a primeira que se encontra após o prefácio, no capítulo I: “A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história da luta de classes” – e todo o resto é conseqüência conseqüê ncia disso. disso. SÓCRATES: Sim, mas o leitor começa começa pelo preâmbulo; logo, exploremo-lo em primeiro lugar. Tu disseste: Um espectro ronda a Europa Europa – o espectro do comuni com unismo. smo. Todas as potências potências da velh ve lhaa Europa Europa unem -se numa num a Santa Santa Aliança para par a conjurá c onjurá-lo -lo:: o papa papa e o cz c zar, ar , Mett Metter erni nich ch e Guizot, os radicais da França e os policiais da Alemanha. [...] O comunismo já é reconhecido re conhecido como força f orça por todas todas as potências potências da da Europa. MARX: Pois então? SÓCRATES: Bem, eu te adverti de que ia fazer aquela perguntinha simples, a pergunta que uma criança faria: “Mas isso é verdadeiro?” Com efeito, quando escreveste essas palavras, havia exatamente dois comunistas na Europa: tu e Engels. MARX: MARX: Uma m íser íseraa tecnicidade. tecnicidade. SÓCRATES: E também teu próximo argumento, o que explica o título “Manifesto”, é sim sim plesme plesment ntee uma m enti entira desca descarada: rada: É tempo tem po de os comunistas comunistas expore exporem m , à fac f acee do m und undoo int inteiro, eiro, seu seu m odo de ver, ver , seus fins e suas tendências, opondo um manifesto do próprio partido à lenda do espectro do comuni com unismo. smo. Com Com este este fim, f im, reuni re unira ram m -se, em Londres, Londres, comuni com unist stas as de várias nacionalidades e redigiram o manifesto seguinte. Não Nã o havia, havia , quando escr e scree veste isso, isso, parti par tido do com unista unista algum a lgum em c anto nenhum ne nhum da terr te rraa , exceto exce to talvez talvez naquele mund m undoo ideal, ideal, aquele mund m undoo de ideias ideias ao qual sem sem pre te ref r efer eres es de form a injuriosa. Do mesmo modo, tampouco “reuniram-se” em Londres algumas pessoas para produzir produzir esse e sse Manifesto – ele é fruto f ruto de teu próprio trabalh traba lhoo solit solitár ário. io. MARX: Com Comoo sabes sabe s disso disso tudo? SÓCRATES ÓCRATES:: Não te dire direi; i; basta sabere sabe ress que eu e u sei. MARX: Então talvez também saibas qual será minha resposta a um filósofo como tu, que me acusa por eu não me conformar a uma “verdade” abstrata e atemporal que já está “estabelecida”, como as estrelas, e somente pode ser contemplada. Pois dou mais valor à ação que à contem contem plaç plação ão e digo digo que que a verdade ve rdade superior superior é o futuro futuro hist histórico órico – e m inhas inhas palavras hão de trazer esse futuro; elas produzem a verdade, em vez de apenas refleti-la passivamente. Cada
palavra pala vra de m e u livro livro deve ser inte inte rpre rpr e tada e e ntendida sob e ssa luz e a valiada segundo e sse critério; cada palavra é calculada para ocasionar um efeito, para criar uma nova verdade sobre a terra. terra . Meu livro livro trouxe trouxe à existência existência as verdades ver dades por ele e le proferid profer idas as – ele e le criou o comuni com unismo. smo. SÓCRATES: Dizes, pois, que qualquer mentira que se possa contar torna-se verdade quando tem êxito êxito em enganar as pessoas? pessoas? MARX: MARX: Não, não, nã o, isso isso não é o que quero que ro dizer dizer.. SÓCRATES: O que queres dizer, então? Tentemos descobrir isso por meio de um experimento m ental: ental: tu tu não crês cr ês que Deus De us algum algum exi e xist sta, a, não é? é? MARX: MARX: Não. Deus é um m ito, ito, um sonho sonho,, um entorpec entorpecente. ente. SÓCRATES: Pois bem, supõe que eu escrevesse um “Manifesto de Deus” que afirmasse a Sua realidade e que eu convencesse metade da população da terra a acreditar Nele; dirás, então, que terei criado uma nova verdade – a existência de Deus? Supõe que eu incrementasse a mentira com a alegação de que eu sou Deus, o Criador, e de que me encarnei a mim mesmo como criatura. Supõe, também, que eu conseguisse que metade do mundo me adorasse e me tornasse assim o homem mais influente da história. Terei então sido bem sucedido em tornar o mito realidade, de acordo com teus critérios? Não terei, assim, trazido o Cristianismo à existência, bem como trouxeste o comunismo à existência? Mas por que tua verdade é mais verdadeira que o Cristianismo? Em verdade, por que não é o Cristianismo mais verdadeiro, já que é mais poderoso, poder oso, mais m ais bem be m sucedido, suce dido, ma m a is ativo e m ais transfor tra nsform m a dor com c om relaç re lação ão a o mundo? m undo? Se gundo teu critér critério io de verdade, ver dade, deverias dever ias ser ser um cri cr istão! stão! MARX: Impossibilidade! Estupidez! Estrume! SÓCRATES: Essas são novas refutações lógicas das quais ainda não ouvi dizer? MARX: MARX: Tu me entendeste entendeste m al. Eu não não digo digo que que a m ente possa possa trazer trazer a verdade à exi e xist stência. ência. Não Nã o sou um filósofo idealista, mas um cientista, e digo que a verdade consiste na correspondência à realidade objetiva, que a verdade é objetiva. SÓCRA ÓCRATES: TES: Ah! Então não c oncordas oncorda s com aqueles aque les de teus discípul discípulos os que dizem dizem que a verdade ver dade é apenas apena s um um a m áscara ásca ra hipócrit hipócritaa na fac f acee do poder poder polít político? ico? MARX: Com certeza não. Quem são essas pessoas? Por certo, não são meus discípulos – eu digo quee a verdade qu ver dade é ob objj etiva. etiva. SÓCRATES: Bom. Então, podemos continuar a investigar se as afirmações de teu livro são verdadeiras, já que concordamos acerca do significado de verdade – esse é um progresso maior do que muitos filósofos poderiam fazer. Comec om ecem em os invest investig igando ando tua tua primeira prime ira frase, fr ase, que é tua tua fórm f órmul ulaa de toda toda histó história ria humana: huma na: “A hist história ória de todas todas as a s sociedades sociedade s que exi e xist stiram iram até nossos nossos dias dias tem sido sido a hist história ória das da s lutas lutas de classes”. MARX: MARX: E o que queres quer es investig investigar ar a respeit re speitoo dela? SÓCR ÓCRATES: TES: Ora, se é verdadei verdade ira! ra ! E “verdadeira” “ver dadeira” no sentid sentidoo sim sim ples ples e comum com um de “verdade “ verdadeiro” iro” sobre o qual acabamos de concordar, não no sentido que usaste poucos minutos atrás, quando disseste que teu Manifesto havia “criado” a verdade do comunismo. MARX: Mas eu não estava errado em dizê-lo. Se meu livro criou o comunismo, então ele criou o fato de que o comunismo existe, de modo que, embora a asserção de que “o comunismo existe” não fosse verdadeira antes de meu livro ter sido escrito, ela passou a ser verdadeira após isso.
Dessa maneira, ele de fato criou a verdade do comunismo, assim como o nascimento cria a verdade de um novo bebê. SÓCRATES: Eu compreendo. Então, também o Novo Testamento, ou a Igreja, “criou a verdade” verdade ” do Cris Cristi tianis anism m o, do mesmo me smo m odo odo.. É isso isso que que afi af irm as? MARX: MARX: Sim, Sim, ele criou cr iou a exis e xistência tência do Crist Cristianis ianism m o. SÓCRATES ÓCRATES:: Mas Mas tu não ac redi re ditas tas que o que a Bíbli íbliaa diz diz, ou o que a Igrej Igre j a diz, diz, seja sej a verdade ver dade.. MARX: MARX: Cer Certo. to. Eu não acr a credito edito.. SÓCRATES: Mas o que o comunismo diz é verdade, afirmas. afirma s. MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: Logo, devemos testar essa alegação que é o fundamento histórico do comunismo: é verdade que toda a história é conflito de classe? Pois esse é teu “ponto arquimédico”. Como sabes, Arquimedes disse: “Dê-me apenas uma alavanca e um fulcro sobre o qual apoiá-la e moverei o mundo”. Pois eis aí teu primeiro ponto, tua premissa, teu fulcro para a alavanca do comunismo, com a qual moverás o mundo inteiro. Vejo que acenas teu assentimento. Bem, entendes, então, que é por isso que devemos, antes de mais nada, investigar se é verdade que toda a história história é confli conf lito to de de classe. MARX: Sim Sim.. E é verdade. Por exemplo... SÓCRATES: Não, por favor, não me dês múltiplos exemplos. Eu sei que muitos existem, mas o quee precisam qu precisam os saber saber é se há também tam bém contra contra exem plos plos.. MARX: Por que insistes insistes nisso? nisso? SÓCRATES: Dizes que toda a hist história ória é conflito conflito de clas c lasse. se. Porém Poré m , nada provam os ao mos m ostrar trar que algo da história é conflito de classe, mas, apesar disso, poderíamos re provar prova r essa hipóte hipóte se ao demonstrar que algo da história não é conflito de classe. Em linguagem lógica, uma proposição afirmativa universal não pode ser provada por uma proposição afirmativa particular, mas pode ser ref r efut utada ada por uma proposi proposiçã çãoo negativa negativa parti par ticular. cular. MARX: MARX: Eu compre endo as regra s da lógi lógica ca.. SÓCRATES: No entanto, podemos encontrar exatamente tais evidências contrárias, certo? Com certeza, as classes cooperaram entre si, algumas vezes – por exemplo, contra inimigos estrangeiros ou por razões religiosas. Ademais, certamente a maioria das pessoas, ao longo da história, apenas se ocupou de suas vidas cotidianas, de suas famílias, de seus prazeres e dores, de seus nasciment nascime ntos os e m ortes – sem j am ais um um pensamento pensam ento acer ac erca ca dos conflito conflitoss de de class c lasse. e. MARX: Tenho duas respostas para ti, Sócrates. A primeira é que falo apenas de toda história conhecida, da história registrada, mas pode ter havido algumas sociedades comunistas primitivas das quais não não tem os conhec conheciim ento. ento. SÓCRATES: Com efeito, Engels falou precisamente sobre isso em uma nota de rodapé a uma edição posterior de teu Manifesto. Mas tua alegação ainda é gigantesca, mesmo com esse qualificativo. MARX: Minha segunda resposta é que a falta de consciência acerca do conflito de classe não prova sua inexistênc inexistência. ia. Um a c oisa oisa pode existir existir quando nã nãoo se está c iente dela; dela ; a verdade ver dade é objetiva, lembra-te disso. SÓCRATES: Ótima observação, Karl. De certo, algum planeta distante ou algum elemento
quím quím ico oculto oculto poderiam poderiam exist existir sem que ningu ninguém ém se aperc a percebesse ebesse disso disso,, mas m as como c omo o “confl “c onfliito de de classe” poderia existir sem que ninguém o sentisse? O que poderia luta de classe significar em uma sociedade em que todos, mesmo as classes inferiores, aceitassem o sistema de classe, um sistema no qual poucas pessoas, ou nenhuma, se sentissem sentissem oprimidas ou quisessem depor seus superiores, superiores, ou onde onde sequer quisess quisessem em ascender asce nder a uma um a classe super superio ior? r? Pois Pois mui m uittas sociedades do passado passa do pare par e cem ce m ter sido a ssim ssim . O que significa significaria ria “ c onflito onflito de classe” c lasse” e m tal socieda de? MARX: MARX: Não aceit ac eitoo teu teu pressupos pressuposto to de que m uitas uitas sociedades sociedades foram dessa dessa form f orma, a, porém , mesm m esmoo que tais sociedades houvessem existido, ainda assim poderiam ter contido conflitos de classe – apenas sua consciência ainda não teria sido iluminada com relação a esse fato. Essas pessoas eram er am oprim oprim idas, idas, mas ma s por por demais dem ais estúpi estúpidas das par paraa perce per ceber ber isso isso.. SÓCRATES: Mas como eram oprimidas, se eram felizes? Onde há “conflito de classe” quando ele não é sentido por ninguém? Isso não seria um oxímoro, como uma guerra entre pacifistas ou a fome f ome entre os sac saciiados? MARX: Lê minha próxima frase, Sócrates. Ela responde à tua questão, dizendo onde ocorre o conflito de classe: é entre as classes e não necessariamente na mente ou nos sentimentos dos indi indiví víduo duoss que as a s compõem com põem.. Conforme Conforme escrevi: escr evi: Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro, com panheiro, [...] [...] em e m constante constante oposição, oposição, têm vivi vivido do numa guerra inin ininterrupt terrupta, a, ora franca, franca , ora disfarça disfarçada; da; um um a guerra qu quee term ino nouu sem sem pre, ou po porr uma um a transform transformaçã açãoo revolucionária da sociedade inteira, ou pela destruição das duas classes em luta. SÓCRATES: Realmente crês que toda a história humana é assim tão lúgubre, que não é nada além de opressão, “constante” “constante” e “inint “ininter errupt rupta” a”?? MARX: MARX: Sim, Sim, por cer c erto. to. SÓCRATES: Então quando, por exemplo, o mestre de corporação e o companheiro, ou o mestre artes ar tesão ão e o aprendiz, aprendiz, jjunt untavam avam -se livrem livrem ente por um c ontra ontrato to m útuo, útuo, para benefício e satisfaç satisfação ão de ambos, essa relação era na verdade opressão, ainda que ambos a experienciassem como cooperação? MARX: Sim! Pois a opressão é estrutural, mas não necessariamente psicológica; ela existe na estrutura mesma das classes econômicas, ainda quando não é sentida nas mentes e desejos dos indivíduos. SÓCRATES: Mas como poderia tal fenômeno amplo e prejudicial, que é, em essência, uma escravidão universal, não ser captado pelas consciências das pessoas? Como poderiam os escravos escr avos ser serem em feli fe lizzes em sua sua escravidão? e scravidão? Isso não vai contra contra a natu na ture rezza humana? hum ana? MARX: MARX: Não creio cre io que haja haj a alg a lgoo como com o uma “natureza “natureza humana” hum ana” universal universal e imut im utável. ável. A nature naturezza humana é criada por condições sociais e modificada por condições sociais; ela é uma natureza radica radicallm ente ente diferente diferente em e m uma sociedade sociedade do que que é em ou outtra. SÓCRATES: Acreditas que as pessoas podem ser felizes quando são oprimidas? Que escravos podem ser feli fe lizzes em e m sua escr e scravidã avidão? o? MARX: Não, não penso isso. SÓCRATES: No entanto, afirmas que o aprendiz era oprimido ou escravizado pelo mestre? MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: Assim, ele não pode ter sido feliz.
MARX: Mas não creio que ele fosse fosse feliz. Somente um podia ser o mestre, mas todos gostariam de tê-lo sido – certamente o aprendiz teria preferido ser o mestre, teria gostado de substituí-lo. Mas não podia, ao menos não ainda. De certo, essa é a única razão pela qual ele suportava seus grilhões e servia a seu mestre – por interesse próprio, a esperar o momento propício. Tu não acre ac redi dittas que ele e le o faz fa zia por caridade , em vez de por interesse próprio, acreditas? SÓCRATES: Hum... Tua visão da natureza e dos relacionamentos humanos soa bem similar àquela de um outro filósofo que interroguei há pouco tempo, Nicolau Maquiavel. Bem, não creio que os homens ajam por caridade o tempo todo, ou mesmo na maior parte do tempo – mas tu pare par e c es a creditar cr editar que e les não a gem a ssim ssim em m ome om e nto a lgum. lgum . De qualquer qualque r form for m a, suponhamos que estejas certo, que tanto o aprendiz quanto o mestre são motivados por interesse próprio própr io e nada m a is que isso, isso, sem se m m e smo sm o um a centelha ce ntelha de a m izade izade,, lealdade lea ldade,, afe a feto, to, respeito re speito ou dever – ainda assim, a estrutura mesma do relacionamento parece propícia a satisfazer o interesse próprio de ambos e não apenas de um deles, pois o aprendiz carece da expertise do mestre, e o mestre necessita do trabalho do aprendiz. Tu disseste que, mesmo que as pessoas não se sentissem oprimidas, as estruturas eram opressivas, mas essa estrutura parece ser mais cooperativa que opressiva. Logo, não encontramos essa opressão “constante” e “ininterrupta” nem nas pessoas pessoas e nem nas estrut estruturas. uras. MARX: Crês, Sócrates, que o relacionamento entre um homem rico e uma prostituta é cooperati coopera tivo vo e não opressiv opressivoo porque porque o homem home m rico carece dos serviços da prostit prostituta uta e esta precisa prec isa de seu se u dinheiro? dinheiro? SÓCRATES: Maravilha, Karl! Estás a responder logicamente. E não, não creio nisso. Mas não é isso o que tu dizes? Tu não acreditas que o mestre de corporação seja apenas uma prostituta do artes ar tesanato anato e que o profess profe ssor or sej a sim sim plesm plesmente ente uma um a prost prostitut itutaa intel intelec ectu tual? al? MARX: Sim – exceto sob o comunismo. Vês, tenho não apenas o diagnóstico, mas também a cura. Assim como uma doença só pode ser curada ao se encontrar sua causa e removê-la, também a única maneira de eliminar a opressão é removendo-lhe a causa, que é o sistema de classes. SÓCRA ÓCRATES: TES: Não crê c rês, s, então, que a opressão sej se j a causada ca usada pelos opre opresso ssore res, s, ist istoo é, por indivíd indivíduos uos malignos e por escolhas malignas? MARX: Não. Os opressores são apenas instrumentos do sistema social, do sistema de classes, e é por isso isso que a opressão opre ssão pode ser e lim lim inada – não por a pelo à virtude e por prega pre gaçã çãoo c ontra a maldade, mas apenas por meio da destruição do sistema de classe, sem que, com isso, ele seja substituído por um outro. E isso só pode ser feito pelo comunismo. SÓCRATES: Essa é uma alegação pretensiosa. MARX: MARX: De fato. f ato. SÓCRATES: Antes de passarmos ao próximo grande ponto de teu livro, gostaria de compreender que sorte de alegação estás a fazer. O que eu quero dizer é: devo olhar para o comunismo como uma espécie de religião ou como uma espécie de ciência? MARX: MARX: O com unismo unismo é compl com pletam etam ente irreli irre ligi gios osoo e compl com pletam etam ente cient c ientífi ífico. co. SÓCRATES: Deixa-me ver se estamos entendendo bem um ao outro: por “científico”, queres diz dizer “em “e m pírico”, pírico”, ou algum algum a outra outra coisa? coisa? MARX: MARX: Empírico, Empírico, é claro. O que poderia ser essa “al “a lguma outra outra coisa” coisa”??
SÓCRATES: Bem, algumas pessoas alegam que a teologia é uma ciência, conquanto não seja em pírica, pírica, porque ela e la usa usa dem de m onstraçõe onstraçõess lógi lógica cas. s. MARX: Não, não, uma ciência tem de ser empírica e nada mais que empírica. SÓCRATES: Acerca disso, entremos em maiores detalhes. Queres dizer que todas as evidências, verificações verificações e provas provas de uma ciência ciência também tam bém devem ser em píricas? píricas? MARX: MARX: Sim; Sim; de outro outro modo m odo,, não seria re almente alm ente uma um a ciência. c iência. SÓCRATES: E queres dizer também que, a fim de refutar uma alegação científica, igualmente se devem usar evidências empíricas, assim como se têm de usar evidências empíricas para provar prova r um a alegaç ale gação? ão? MARX: Certamente. SÓCRATES: Logo, se alguém fizesse uma alegação religiosa – por exemplo, que um Deus todo poderoso, poder oso, onisc onisc iente e dotado de am or a bsoluto bsoluto havia criado cr iado a ti e e stava, stava , ne neste ste m omento, om ento, cuidando cuidando provid providencialm encialmente ente de tua tua vida, vida, de m odo per perfe feiito –, –, dirias dirias que seria c orret orre to cham cha m ar essa alegação alegaç ão de não científica? científica? MARX: Por certo. SÓCRATES: Deixa-me ver se tua razão para dizeres isso é a mesma que a minha: eu diria que essa alegação a respeito da providência divina, quer seja verdadeira ou falsa, não é científica porque o cre c rente nte na providência providênc ia divina divina nã nãoo é c a paz de responder re sponder à seguinte questão: questã o: “Diz “ Dizee-m m e, ó crente na providência, como poderia essa tua crença algum dia ser refutada? Por exemplo, se dois dois de teus bons bons am igos igos,, inocentes, inocentes, morressem morr essem repent re pentin inam am ente em e m um acid ac idente ente trágico, trágico, tal fato empírico refutaria tua crença em teu Deus e em Sua providência?” Penso que o crente responderia “não”, não achas? MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: E se eu persistisse em meu questionamento e perguntasse ao crente se dez, cem ou m il de tais eventos refut re futar ariam iam sua sua cre c rença, nça, pensas então então que ele haveria haver ia de responder responder “si “ sim m ”? MARX: MARX: Não, ele diria diria “não”, “ não”, m ais uma vez. vez. SÓCRATES: Por fim, se eu lhe perguntasse quantos desses maus eventos refutariam sua crença em um Deus De us bo bom m , seria seria ele capaz de dar-me dar-m e um número? núm ero? MARX: MARX: Penso que que ele e le seria inca incapaz paz de dar-te dar -te um número. núme ro. SÓCRATES: E se eu lhe pedisse para descrever qualquer coisa que pudéssemos ver neste mundo que lhe provaria que o bom Deus no qual ele crê é um mito irreal, o que achas que ele responderia? MARX: Ele seria incapaz de te dar aquilo que pedes. SÓCR ÓCRATES: ATES: Assim, Assim, eu e u estaria cer c ertto em concluir concluir que sua sua crença cr ença não é científica? científica? MARX: De fato estaria. SÓCRATES: E isso por que, em princípio, não é possível, mesmo na imaginação, refutá-la empiricamente? MARX: MARX: Sim. Sim. Essa é uma crença cr ença reli re ligi gios osa, a, não racion ra cional. al. SÓCRATES: Bem, ela não é científica, certamente. Se tudo aquilo que não é científico, ou seja, que não é verificável ou refutável empiricamente, é, por essa razão, também irracional é uma
questão que ainda não investigamos – e talvez voltemos a ela mais tarde. Mas não precisamos de pressupor pre ssupor que tudo o que não é cientí cie ntífic ficoo tam bém não é raciona ra cional; l; aliás, esse e sse é um pressupos pre ssuposto to do qual muitos discordariam. Tudo o que precisamos fazer para mostrar que uma crença não é científica é demonstrar que o crente não permite que qualquer estado de coisas que seja em piricam piricament entee ob observável servável a refut ref ute. e. MARX: De acordo. Se uma crença não é empiricamente refutável em princípio, então ela não é científica, mas religiosa ou quase religiosa. SÓCRATES: Pois apliquemos agora esse mesmo princípio à frase que dizes ser a frase-chave de teu livro, aquela primeira, a partir da qual todo o resto do livro flui: “A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história da luta de classes”. Na frase seguinte, explicas que isso significa que todas as relações sociais são relações de opressão: “Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro, [...] em constante constante oposi oposiçã ção, o, têm têm vivi vivido do num num a guerra inin ininterrupt terrupta, a, ora franca, fra nca, ora disfarç disfarçada” ada”.. MARX: E continuo a sustentar isso. SÓCRATES: Quando primeiro citei essa frase, expressei minha surpresa com relação à tua crença de que toda a história humana nada é senão opressão e apresentei um exemplo de relação social – aquela que há entre o aprendiz e o mestre de corporação – que parecia refutar tua crença, já que se trata de um relacionamento de cooperação mútua e não de opressão. No entanto, interpretaste também essa relação como uma relação de opressão e fizeste o mesmo no caso de uma relação entre um professor e um estudante. Assim, agora te pergunto se podes me dizer alguma relação social que poderia possivelmente não ser opressiva . Que relação se poderia encontrar algures que refutasse tua primeira frase? MARX: Posso responder a essa pergunta com facilidade, Sócrates: todas as relações de igualdade que cara ca racteriz cterizam am uma um a sociedade com unist unistaa são rel re lações aç ões não-opre não-opress ssiv ivas. as. SÓCRATES: Mas sociedade comunista alguma havia existido, em tempo algum da história, antes de teu próprio tempo, não é? MARX: MARX: Não ainda. SÓCRATES: Mas tua afirmação, aquela que estamos a investigar, é a respeito da história, do passado, passa do, e não do futuro. O que poderíam poder íam os buscar busca r na história história que refuta re futasse sse tua afirm af irmaa ç ão? Podes descrever que coisa refutaria empiricamente tua crença? Supõe que pudéssemos visitar todas todas as sociedades sociedades que j á exi e xist stiram iram:: encontra encontraríam ríamos os então então al a lgum exem e xempl ploo de sociedade sociedade que não nã o fosse opressiva e, não obstante, ainda não fosse uma sociedade comunista? MARX: MARX: Não encontraríam os. os. SÓCRATES: E isso é verdade por que observaríamos ser verdade, ou por que definimos que é assi assim antes antes mesmo me smo de começar come çarm m os a observar? observar? MARX: O que queres dizer com essa questão? SÓCRATES: O que quero dizer é: podes imaginar que o que afirmas não seja verdade? Podes escrever uma fantasia acerca de um mundo no qual isso não seja verdade? Uma fantasia imagi ima ginável, nável, tal tal qual um m und undoo onde onde os hom hom ens tenham tenham duas cabeça cabe ças? s? Ou seria alg a lgoo literalm literalmente ente inima inimagi ginável, nável, como com o um m und undoo onde onde os home homens ns não não fos f ossem sem homens home ns?? MARX: Suponho que seria possível imaginar o mundo que propões, mas seria um reino de pura fantasia.
SÓCRATES: Então, por favor dize-me como seria uma sociedade assim – na qual não houvesse opressão e, e , não obstante, obstante, não nã o existis existisse se com c omuni unism smo. o. MARX: Não posso fazer isso – é impossível. SÓCRATES: Pois parece que simplesmente definiste “opressivo” como “não comunista” e “não opressi opressivo” como c omo “comunis “c omunista”. ta”. MARX: MARX: Não, é um a questão de verdade verda de em e m pírica, pírica, não de uso uso arbitrá arbitrário rio de de palavras. SÓCRATES: Pergunto-me se estás certo. Deixa-me tentar, mais uma vez, testá-lo acerca desse ponto. P odes ima im a ginar a possibil possibilidade idade de que a lgum historia historiador dor de descobr scobriss issee alguma algum a sociedade socie dade comuni com unist staa do passado, passado, ou de alg a lgum umaa ilha ilha rem r em ota? ota? MARX: Certamente. SÓCRATES: E tal sociedade seria necessariamente não opressiva? MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: ÓCRATES: Por quê? MARX: MARX: Ora, porque ela e la seria com c omuni unist sta, a, é claro. SÓCRATES ÓCRATES:: Haveria Have ria algu a lgum m a outra outra raz ra zão? MARX: Não. SÓCRATES: E todas as outras sociedades do passado ou de algum lugar remoto no presente que porventura porve ntura de descobr scobríss íssee m os – tam bém e las seriam ser iam opressi opre ssivas vas c aso não fossem fosse m socieda socie dades des comunistas? MARX: Sim Sim.. SÓCRATES ÓCRATES:: Simplesm Simplesmente ente por não serem ser em com unist unistas? as? MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: E todas as sociedades que viéssemos a criar no futuro, se não fossem sociedades comuni com unist stas, as, tam tam bém seriam opressiv opressivas? as? MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: Necessariamente? MARX: Sim Sim.. SÓCRATES ÓCRATES:: Só Só por não serem sere m com unist unistas? as? MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: Logo, parece-me que estás simplesmente a usar esses dois conjuntos de palavras de form a interc intercam am biável biável e que, com “opressivo”, “opressivo”, não não queres quere s diz dizer er nada m ais que que “não “nã o comuni com unist sta” a”.. MARX: Isso não é verdade. SÓCRATES: Então, por favor, conta-me o que queres dizer quando falas de uma sociedade “opressiva”. Talvez queiras dizer que uma sociedade assim é aquela que suprime os direitos naturais natura is das pess pe ssoas? oas? MARX: Não, eu não creio em “direitos naturais” universais e imutáveis. SÓCRATES: E uma sociedade que assassina seus cidadãos simplesmente porque eles não acreditam na filosofia política daqueles que estão no poder? Ou que rouba a propriedade de seus cidadãos? Ou que faz seus cidadãos infelizes, tanto que precisam ser proibidos de viajar e de
deixar seu país e têm de ser contidos por uma força policial grande e poderosa que reina pelo terror? Ou simplesmente uma que faz alguma coisa – qualquer coisa – a seus cidadãos que eles consideram opressiva? Tu aceitarias qualquer uma dessas coisas como marcas certeiras de uma sociedade opressiva? Afinal, isso é o que a maioria das pessoas quer dizer com essa expressão. MARX: MARX: E se eu e u disser disser que sim sim ? SÓCRATES: Então usarei tua resposta para julgar a maioria das sociedades comunistas da história como sendo de fato muito opressivas – muito mais ainda que a maior parte das sociedades não comunistas. MARX: Tu estás a usar tuas próprias definições de opressão para fazer esse julgamento, então. SÓCRATES: Não, estou usando as tuas, se tu as aceitas. MARX: MARX: Mas eu não as a s aceito! ac eito! SÓCRATES: Então, voltamos onde estávamos alguns instantes atrás: tu não és capaz de especificar outro sentido à palavra “opressão” que “não comunismo”; tornas verdade por definição que toda a história anterior ao comunismo é opressão. MARX: MARX: Min Minha ha afirm a firmaç ação ão não é apenas apena s uma tautol tautologi ogiaa vaz va zia; ela ela é verdadeira ve rdadeira.. SÓCRATES: Talvez ela não seja apenas uma tautologia, e eu não alego ter provado que ela não seja verdadeira; alego apenas ter demonstrado que não se trata de uma crença científica. MARX: MARX: Mas Mas é claro c laro que que el e la é científica: científica: ela é a primei prime ira a tornar a hist história em uma ciência. SÓCRATES: Assim dizes. No entanto, a ciência é empírica, ou a posteriori, como dizem os lóg ógiicos, cos, mas m as acabam aca bamos os de demon dem onst strar rar qu quee tua crença cre nça não é assi assim , que que el e la é uma crença cre nça a priori. MARX: Pois o que isso significa, ó grande lógico? SÓCRATES: De acordo com os critérios sobre os quais concordamos apenas há uns minutos atrás, iss issoo quer quer diz dizer que tua tua afi af irm ação aç ão é um a cre c rença nça reli r eligi gios osa, a, tal qual qual a crença cr ença de que um Deus D eus bondoso e am a m oroso exis e xiste te a despeit despe itoo da quanti qua ntiaa de m al que possamos possam os experie expe riencia nciarr no m undo. MARX: MARX: Ridí Ridículo! culo! Meu sistem sistem a é científico, científico, não nã o reli re ligio gioso; so; ele é em pírico. pírico. SÓCRATES: Tu não demonstraste porque tua crença é empírica. Porém, tu mostraste algo em pírico pírico acerca acer ca de tua tua crença c rença:: que que ela te fez fe z corar bastant bastante. e.
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O Te mpo mpo Presente: Presente: A Natu Natureza Human Humana a Pode Mudar? Mudar?
MARX: Não corei por ficar envergonhado, Sócrates, ou por ser incapaz de te responder – corei por e star enra enr a ivecido ivec ido com c om tua injusti inj ustiça ça.. Até A té a gora, gora , tua crít cr ítica ica de m inha filosofia da história história – ou melhor, apenas de sua primeira frase – não foi histórica, mas meramente lógica. Usaste aquela lógica abstrata e atemporal que tu inventaste, em vez daquela lógica da história, concreta e mutável, que aprendi de Hegel, de modo que tua crítica é tão injusta quanto se criticasses uma dança por não obedecer obedece r às à s leis leis da da pint pintura. ura. SÓCRATES: Muito me agrada que começas a argumentar logicamente, Karl, mesmo ao argumentares contra a lógica, pois mesmo uma lógica ruim é melhor que uma boa propaganda. Também me apraz que apeles a uma justiça universal e atemporal à qual tu esperas que ambos estejamos submetidos, muito embora tua filosofia não aceite a existência dessa sorte de justiça. Tua prática parec par ecee cont c ontra radi dizzer tua tua teoria. Assim Assim , ttalvez alvez devêssemos devêssem os pre prest star ar m enos atenção à tua tua teoria teoria que à tua tua lógica lógica – e o mesm m esmoo no refe re fere rent ntee ao a o comuni com unismo. smo. MARX: Não há qualquer contradição. Sustento tanto minha teoria quanto minha prática, e igualmente no que diz respeito ao comunismo. SÓCRATES: Pois bem, procede então com tua nova lógica dialética e desenvolve-me tua filos filosofi ofiaa da hist história, assim assim como com o uma um a teia de aranha ara nha é desenvolv desenvolvid idaa a partir partir de seu primeiro prime iro fio. fio. Toda a tua filosofia da história se origina daquele pressuposto que acabamos de examinar e que descobrimos ser questionável: que toda história passada não é mais que oposição e conflito de classes. Já examinamos o primeiro fio de tua teia, mas ainda não te demos a chance de mostrarnos o restante dela. MARX: Fazes troça de minha aparência, Sócrates, comparando-me a uma aranha? SÓCRATES: Eu? Caçoar do semblante de outro homem? Olha bem para mim, Karl. Eu te asseguro, j á fui f ui cham ado de coi c oisas sas piores piores que “ara “a ranha”. nha”. Mas não, não tiv tivee a intenção intenção de zom zom bar de ti, ti, apenas apena s de exam e xamin inar ar teu livro. livro. MARX: MARX: Pois Pois façam faça m o-lo, o-lo, Ó mestre m estre teorist teorista, a, em vez de apenas ape nas falarm os em faz fa zê-lo ê- lo!! SÓCRATES: Touché . Após resumires toda a história passada como opressão, resumes também a significância do tempo em que viveste – o século dezenove – como oportunidade. Por fim, tu profetiz prof etizaa s que o futuro guardar guar daráá o triunfo do com unism unism o. Esse é um sumá sum á rio j usto, usto, e m três trê s frase fr ases, s, de tua filosofia filosofia da história? história? MARX: MARX: Até onde ele e le vai, sim sim . SÓCRATES: Pois agora devemos proceder a teu segundo ponto: a diferença entre todas as eras passada passa dass e tua e ra presente pre sente.. Em uma um a palavr pa lavra, a, em e m que dizes dizes const c onstit ituir uir essa e ssa difere dife rença nça?? MARX: MARX: Na burguesi burguesia. a. Como escre e screvi vi em seguida, seguida, “Nas “ Nas primeiras prim eiras épocas é pocas histó históricas, ricas, verificam os, os, quase por toda parte, uma completa divisão da sociedade em classes distintas...”
SÓCRATES: Perdoa-me por interromper, mas esse ponto me parece digno de nota: quase todas as outras pessoas, se questionadas acerca da diferença entre a sociedade moderna e as sociedades sociedades anteriores, diri diriam am que a m oderna é mais compli c omplica cada da – m as tu diz dizes es que é m enos! MARX: MARX: Sim, Sim, eu e u digo. digo. E eu apreciaria apre ciaria se não m e int interrom er rompess pesses es novamente, novam ente, porque... porque... SÓCRATES: Não posso te prometer isso. MARX: MARX: Lá vens ve ns tu tu outra outra vez! vez! Como Com o se espera e spera que... SÓCRATES: Quem pensas que está a esperar algo de ti? MARX: MARX: Acabas de m e inter interrom romper... per... SÓCRATES: Novamente. Sim, estou a provocar-te, Karl. Cadê teu senso de humor? MARX: O Manifesto é uma coisa coisa séria! séria! SÓCRATES: Oh, sim, de fato é – terrivelmente séria. Mas esperava encontrar em ti algumas coisas coisas que não encontrei em teu liv livro, ro, tal tal como com o um senso de hum hum or em tua tua alma a lma.. MARX: Encontrarás em mim apenas carne, e ossos, e cabelos, e unhas, e cérebro, e sistema nervoso nervoso – mas ma s nenhu nenhum m a “alma” “ alma”.. SÓCRATES: Hum... é isso que temo. Mas vem, chega de provocações. Termina tua leitura; já termin term inei ei m inhas inhas inter interrupções. rupções. MARX: Nas Na s prime prim e iras ira s época époc a s histórica históricas, s, verifica ver ificam m os, quase por toda parte pa rte,, uma um a com c ompleta pleta divisão da sociedade em classes distintas, uma escala graduada de condições sociais. Na Ro Rom m a antiga encontr e ncontram am os patrícios patríc ios,, cava c avaleiros, leiros, plebeus, plebe us, escra esc ravos; vos; na Ida I dade de Média, Mé dia, senhore senhores, s, vassal vassalos os,, mest m estre res, s, companhei compa nheiros, ros, ser servos vos;; e, em cada ca da uma um a dest de stas as clas c lasses, ses, gradações gradaç ões especiais. especiais. A sociedade burguesa m oderna, que brotou brotou das ruínas ruínas da sociedade sociedade feudal, não aboliu aboliu os antagonism antagonism os de classe. c lasse. Não Nã o fez fe z senão subst substit itui uirr novas class cla sses, es, novas condições de opressão, novas formas de luta às que existiram no passado. Entretanto Entretanto,, a nossa nossa época, é poca, a época da burguesia, burguesia, car c arac acteriz terizaa-se se por ter simplificado os antagonismos de classe. A sociedade divide-se cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado. SÓCRATES: Consideremos esse ponto antes de passarmos ao que se segue. Essa é uma versão m ais detalhada de teu primeiro prim eiro ponto – de que toda a histó história ria é a história história dos conflitos conflitos de class cla ssee –, e as palavras que usas para todas as relações entre as classes são palavras bélicas: “ant “a ntagoni agonismos”, smos”, “opress “ opressão”, ão”, “luta” “luta” e “cam “c am pos opos oposto tos”. s”. MARX: Nós já discutimos acerca disso. O que há de novo aí é que a batalha de classes foi reduzida em quantidade: agora existem apenas dois exércitos. SÓCRATES: Mas, para avaliarmos teu novo argumento, precisamos entendê-lo; a fim de entendê-lo, temos de entender seus termos. Logo, por favor, conta-me exatamente o que queres dizer ao empregares estes dois novos termos com os quais defines a situação social de teu tempo: a “burgu “ burguesi esia” a” e o “proletariado”. “proletariado”. MARX: MARX: A burguesia burguesia é a classe daqueles que que detêm os meio me ioss de produção. SÓCRATES ÓCRATES:: Produçã P roduçãoo de quê?
MARX: De riqueza social. E, no capitalismo, esses indivíduos são os capitalistas, isto é, aqueles que têm capital – uma riqueza que está muito além do necessário para a sobrevivência e subsistência básica dessas pessoas, e que elas podem investir com juros, tornando-se, assim, mais ricas. Com efeito, no capitalismo, quanto mais rico alguém é, mais rico pode vir a ser, e mais depressa. Assim, Assim, os ricos ricos ficam m ais ricos ricos e os pobres pobres ficam m ais pobres. pobres. O proletariado, por outro lado, são aqueles que não detêm os meios de produção e que, portanto, porta nto, a fim de sobrevive sobr evivere rem m , têm de vender vende r a si mesm me smos os com o trabalha tra balhadore doress em troca troc a de salários salários pagos a eles pela burguesia, burguesia, pelo pe loss capi ca pital talis istas. tas. Vês, tra trata-se ta-se da rel re lação aç ão m estre estre-e -escra scravo vo em vocabulário econômico. SÓCRATES: Crês que o conflito entre ricos e pobres, entre aqueles que “têm” e aqueles que “não têm”, têm ”, é inevit inevitável, ável, então? MARX: Não é só entre os ricos e os pobres, isto é, entre aqueles que têm riquezas e aqueles que não as têm , mas m as sobre sobretu tudo do entre entre aqueles que que têm o poder poder de produzir produzir maiores m aiores riquez riquezas as e aqueles que não o têm têm . SÓCRATES: Logo, concentras-te mais no poder que apenas na riqueza e também mais no controle do futuro que no controle controle do present prese nte. e. MARX: Pode-se dizer que sim, mas meu ponto principal acerca de meu tempo presente é que, a parti par tirr de então, entã o, passou pa ssou a haver ha ver apenas ape nas um a c lasse de ricos ric os e uma um a de pobres, pobre s, de m odo que não há mais conflito dos ricos entre si ou dos pobres entre si, mas apenas o conflito remanescente entre essas duas classes, e o significado prático desse fato é enorme: pela primeira vez na história, uma única revolução mundial de proletários pode abolir a burguesia e, assim, abolir o conflito de classe, que é o motor de toda a história. SÓCRATES: Então tal revolução realmente traria o fim da história! MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: Que alegação extraordinária! Assim, o fim da história ocorrerá em algum momento da história. MARX: Isso não é uma autocontradição lógica, como parece ser. Na verdade, verás que é perfe per feit itaa m e nte lógico, lógico, se a penas pena s olhare olhar e s pa para ra seu c onteúdo m a terial, ter ial, e m ve vezz de sua form for m a abstra abstrata ta – em outra outrass palavra palavras, s, se se fores cient c ientífi ífico, co, com o eu, e não nã o abstra abstratam tamente ente filos filosófi ófico, co, com o tu. A história é mudança; logo, sem mudanças sociais, não há história. Como a causa das mudanças sociais é o conflito de classe, sem conflito de classe também não há história – ao removeres a causa, removes também o efeito. Porém, o conflito de classe só pode cessar se, e somente se, não houver mais classes, e isso só pode ocorrer quando o número de classes é reduzido a dois, de modo que a eliminação de uma classe pela outra crie uma sociedade sem classes. E isso é a revolução comunista. Portanto, a história só pode acabar por meio da ação histórica da revolução comunista. SÓCRATES: Essa é certamente uma história fascinante. Resta saber se é fato ou ficção. MARX: MARX: O que queres dizer dizer com “fato “fa to ou ficç ficção”? ão”? SÓCRATES ÓCRATES:: Ora, Ora , se o que dizes dizes é verdade ver dade,, é claro. c laro. MARX: MARX: E com o pretendes pre tendes descobrir desc obrir isso? isso? SÓCRATES: Já que o fim da história ainda não aconteceu, não podes saber se o que disseste é verdadeiro verdade iro ou ou falso por observaç observação ão em pírica. pírica.
MARX: Mas dizer que ele ainda não aconteceu, que ainda não foi observado, não prova que o que eu disse disse é uma ficção. ficçã o. Mas Mas o fim da histó história ria será obser observado, vado, quando quando ele ele ocorrer. ocorre r. SÓCRATES: No entanto, ainda não podemos observar o futuro e, logo, não podemos verificar ou refut re futar ar tua tua ideia ideia agora. a gora. MARX: MARX: E, por isso, isso, concluis concluis que ela não é uma um a ideia ideia científica científica?? SÓCRATES: Não, eu não disse isso. Mas digo que há uma segunda forma de testar uma ideia, m esmo uma um a ideia deia ci c ientí entífica, além da observaç observação ão em pírica. pírica. MARX: Impossível. Se algo não é empírico, também não é científico. SÓCRATES: Supõe que uma teoria científica contenha uma autocontradição lógica: isso não comprovaria com provaria a fa lsidade sidade dessa teoria? teoria? MARX: Na verdade, não! A história é feita de contradições ambulantes. Tua lógica rejeita as contradições porque rejeita a história, mas a lógica de Hegel, a minha lógica, as acolhe. Isto é o que move a dialética da história: a contradição entre tese e antítese. SÓCRATES: Ah, estou perfeitamente disposto a conceder-te, para fins argumentativos, que Hegel está certo acerca de sua dialética e que tu também estás, mas essa dialética não envolve sim contrariedades . contradições e sim MARX: MARX: O que queres quer es dizer dizer?? SÓCRATES: Quente e frio, bem e mal, visível e invisível são pares de opostos ou de termos contrários e podem facilmente coexistir; por exemplo, um homem pode ser, ao mesmo tempo, bom e m au, ou visível visível (em (e m funçã funç ã o de seu c orpo) e invisível invisível (e ( e m funçã funç ã o de sua a lma lm a ). Nã Nãoo são dois termos que podem ser contraditórios, ou duas coisas reais designadas por um termo, mas proposiçõe s e, embora dois termos contraditórios possam estar presentes em um ser real ao duas proposiçõe mesmo tempo, como quando o bem e o mal estão presentes em um só homem, duas proposições contraditórias não podem ambas ser verdadeiras a um só tempo. Por exemplo, conquanto Sócrates possa ser bom e mau simultaneamente, que Sócrates tenha bondade e que Sócrates não tenha bondade não pode ser verdade ao mesmo tempo. MARX: Mas Sócrates pode ser bom e mau ao mesmo tempo. Tu mesmo admites isso. Tu podes ser ess e ssaa cont c ontra radi diçã çãoo am bulante. bulante. SÓCRATES: Não, isso é diferente, isso não é uma contradição; por essa razão é que precisamos de uma palavra diferente para designar esse fenômeno. Com efeito, na lógica, a palavra tradicional para ele é contrariedade , ou oposição, e tu estás equivocado em chamá-lo de contradição. MARX: Obrigado, criador da lógica, por tua lição sobre jogos abstratos de palavras. SÓCRATES: Pois hei de transformá-la em uma lição de história prática e concreta. Olha só – dizes que a história terminará por razão de uma revolução comunista. Vós, comunistas, dizeis que essa proposi proposiçã çãoo é verdadeira, ver dadeira, não é? MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: Mas os vossos oponentes, os anticomunistas, dizem que ela é falsa, certo? MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: Assim, os comunistas e os anticomunistas contradizem uns aos outros, de modo que a proposição na qual alguns acreditam deve ser verdadeira e aquela na qual outros acreditam
deve ser falsa. MARX: MARX: É claro. c laro. Nisso, Nisso, não contradigo o m undo. SÓCRATES: Mas em que contradizes o mundo? O que falas acerca da história e da contradição que o mund m undoo não sabe? MARX: Que tanto o comunismo quanto o anticomunismo são partes necessárias à dialética e que, portanto, porta nto, am a m bos são verdade ver dadeiros iros c om relaç re laçãã o a seu lugar na história história.. Logo, a s contradiç contr adiçõe õess são tanto verdadeiras quanto necessárias. SÓCRATES: Talvez ambos sejam necessários, mas, ma s, então, então, um um será uma um a verdade necess nec essária ária e o outro outro uma um a falsi f alsidade dade necessária. nec essária. MARX: Podes colocar a coisa dessa forma, mas, embora o capitalismo seja falso desde o ponto de vista vista com c omuni unist sta, a, ele e le é verdade ver dadeiro iro desde o ponto ponto de vista vista capi ca pitali talist sta. a. SÓCRA ÓCRATES: TES: Se Se isso isso é verda ve rdade, de, então e ntão o ponto ponto de vista vista capi ca pitali talist sta, a, em e m si mesm me smo, o, não é verdade ver dadeiro, iro, m as o ponto ponto de vista vista com unist unistaa é. Em outra outrass palavras, o capi ca pittalismo alismo é fals fa lso, o, mas m as o comunis c omunism mo é verdadeiro. MARX: MARX: Pare Pa rece cess estar estar concordando comig com igo, o, mas ma s não creio cre io que esteja estej a de fato fa to.. Sus Suspeit peito, o, Sócra Sócrattes, que quando dizes que “o capitalismo é falso, mas o comunismo é verdadeiro”, estejas fazendo referência a uma verdade universal, abstrata, atemporal e não histórica. É aí que divergimos: eu não creio cr eio nesse nesse tipo tipo de de verdade. ve rdade. Eu acre ac redi dito to que a verdade ve rdade m esma esm a m uda ao longo longo da da histó história. ria. SÓCRATES: Negas, pois, que possamos saber que uma teoria científica é falsa simplesmente por ela contradizer logicamente a si própria? MAR MARX: Dá-me Dá-m e um exem plo. plo. SÓCRATES: Supõe que alguém proponha a teoria de que Júlio César tenha sido assassinado por Karl Kar l Mar Marx. x. Digo Digo que que podem os saber saber que essa teoria é fals fa lsaa pel pe lo sim sim ples ples fato fa to de de que contém contém uma autocontradição, a qual todos podemos reconhecer – e é por isso que todos sabemos ser falsa essa teoria. MARX: Que autocontradição? SÓCRATES: Todos sabemos que um homem vivo não pode ser assassinado por um homem que não est e stáá vivo vivo – e todos todos nós sabem os que César foi assassinado assassinado quando tu ainda não nã o estavas estava s vivo. vivo. MARX: Está certo, então. Concordo que uma teoria que se contradiga dessa forma deve ser fals fa lsa. a. No ent e ntanto anto,, nada em e m m inha inha teoria é autocont autocontra radi ditó tória ria dessa m aneira. aneira . SÓCRATES: É isso que devemos investigar agora, pois se encontrarmos tal contradição em tua teoria, saberemos que a teoria é falsa. MARX: Mas deves interpretá-la corretamente, pois é muito fácil encontrar contradições aparentes. SÓCRATES: Deveras. Assim, teremos de compreendê-la antes de testá-la, e é por isso que eu insisto em definir os termos antes de testar as proposições por meio de argumento. MARX: MARX: Vai em frent fre nte, e, ent e ntão. ão. Já m e canso c anso de de toda toda ess e ssaa lógica lógica geral, gera l, abstrata abstrata e vazia. vazia. SÓCRATES: Pois eis aqui algo denso, concreto e específico: vejo três coisas na passagem que leste há pouco que parecem conter contradições. Talvez não contenham de fato; talvez eu não as tenha tenha compre c ompreendi endido do direit direito. o. Logo, Logo, deves explicarexplicar-m m e o que queres quere s diz dizer er com cada ca da uma um a delas. MARX: MARX: Ficare Ficareii feliz feliz em esclarece esclare cer-te, r-te, Sócr Sócrates. ates. Se Se pensas ver qualquer qualquer cont c ontra radi diçã çãoo no que falei fa lei,,
tenho tenho cert cer teza eza de que não o entendest entendestee corretam c orretam ente. SÓCRATES: Veremos. Eis minha primeira pergunta: dizes que o conflito somente some nte pode cessar quandoo todas quand todas as classes classes forem fore m elim elim inadas, inadas, exceto exc eto uma, uma , correto corre to?? MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: Então, não pode haver conversão, ou mudança de ideia, ou mudança na natureza humana, huma na, de belicosa belicosa a pacífica, ant a ntes es de tua revoluçã revolução? o? MARX: Não pode haver e não houve. SÓCRATES: E em teu presente histórico, teu século dezenove, encontram-se apenas duas classes rem re m anescent anesce ntes, es, a burguesia burguesia e o proletariado, proletariado, corret corre to? MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: E é o proletariado que há de se levantar e revoltar-se contra seus opressores, correto? MARX: Sim. A burguesia certamente não irá se levantar contra o proletariado, pois ela precisa dele, mas o proletariado não precisa da burguesia. É a “dialética senhor-escravo” de Hegel: o senhor é escravizado por seu escravo, isto é, por sua necessidade de seu escravo. Por isso é que os senhores senhores nunca nunca se revol re voltam tam contra contra seus escravos, mas ma s apenas est e stes es contra aquel a queles. es. SÓCRATES: Entendo. Logo, em tua estória, os proletários são os heróis e os burgueses são os vilões. MARX: Historicamente falando, poder-se-ia dizer isso. Mas não apelo a qualquer verdade atem poral par paraa faz f azer er tal j uíz uízo. SÓCRATES: E os homens dessas duas classes têm duas naturezas diferentes, uma boa e a outra m á? MARX: MARX: Não; eles não podem podem evitar evitar agi a girr da form a que agem age m . SÓCRATES: Se pegássemos cada membro da burguesia e os tornássemos proletários, simplesmente privando-lhes de sua posse dos meios de produção, eles agiriam então como burgueses burgue ses ou com c omoo proletár prole tários ios?? MARX: Como proletários. SÓCRATES: E se pegássemos cada proletário e o fizéssemos um membro da burguesia, dandolhe lhe a posse posse dos meio me ioss de produção, ele agiria agiria como com o burguês burguês ou com o proletário? proletário? MARX: Como burguês. SÓCRATES: Logo, os homens não estão divididos entre bons e maus, ou egoístas e altruístas, mas entre burgueses e proletários? MARX: Sim. Todos os homens são egoístas; eles apenas agem de maneiras diferentes por serem membros de classes diferentes. SÓCRATES: Entendo. Portanto, se todos os homens são egoístas, e se a natureza humana não se modifica ao mudarmos os homens de classes sociais, então teu comunismo também não irá mudar a natureza humana. Os homens continuarão a ser tão egoístas e competitivos após a revolução quanto eram antes dela. Assim, a história não termin term inar ará, á, e a luta luta há de cont c ontin inuar. uar. MARX: Não, não, tu não entendeste, Sócrates. A natureza humana é maleável. Se mudarmos a estrutu estrutura ra de class c lasses, es, mudam m udamos os o conteúdo conteúdo dessa dessa natu na ture rezza, ass a ssim im com c omo, o, ao mudarm m udarmos os as palavra palavrass
em um document docume nto, o, mudam os o sig signi nificado ficado dele. Assim, Assim, a revol re volução ução produzirá produzirá um nov novoo homem home m , desprovido de conflitos e antagonismos. Como eu disse em minha Crítica do Programa de Gotha , os homens viverão de uma forma que flua “de cada qual, segundo sua capacidade, a cada qual, segundo suas necessidades”, e na qual “o livre desenvolvimento de cada um é a condição do livre desenvolvimento de todos”. Ninguém será deixado para trás, ninguém será escravizado ou oprim oprim ido. ido. A revol re volução ução m udará radi ra dica calme lment ntee tanto tanto a nature naturezza humana huma na quanto a hist história. ória. SÓCRATES: Assim, a natureza humana é mutável. MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: Por que, então, ela jamais pode mudar antes da revolução? Por que um homem egoísta não poderia se tornar altruísta antes de 1848? Já não ocorreu de pecadores virarem santos? E por que o mesmo não poderia acontecer a mais de um homem? Por que não uma sociedade inteira de tais homens altruístas e pacíficos? MARX: Porque a causa suficiente de tal mudança só vem com a revolução. Apelos morais e religiosos não conseguiram operar essa mutação e nada mais serão que ideais abstratos, não reali re alidades dades concretas, concr etas, até que a estrutura estrutura social sej sej a alter alterada ada radi ra dica calme lment nte, e, pois pois estrutu estrutura rass sociais sociais egoístas produzem indivíduos egoístas. SÓCRATES: Pergunto-me se faz sentido usar a palavra “egoísta” para descrever não apenas um homem, mas uma estrutura social. MARX: MARX: Não obstante, obstante, faz fa z sentido. sentido. Uma Um a estrutura estrutura social egoísta egoísta é aquela aque la que propi pr opicia cia confli conf litos tos de classe; por outro lado, uma estrutura social altruísta é aquela que está livre desses mesmos conflitos. SÓCRATES: Por que não podemos agir de maneira altruísta mesmo quando vivemos em uma “estrutura social egoísta”? MARX: MARX: Porque nossas nossas estruturas estruturas sociais sociais determ determ inam inam a form f ormaa como com o agimos. SÓCRATES: Pois é essa alegação que devemos investigar agora.
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A Exist Existência ência de Santos antos Refuta o Comu Comunismo? ismo?
SÓCRATES ÓCRATES:: Tu já j á ouvist ouvistee falar fa lar em santos? santos? MARX: Isso é o mesmo que me falar em assombrações, Sócrates. SÓCRATES: Mas a existência de santos, ao contrário da existência de assombrações, é um dado empírico – dado, aliás, que parece refutar tua teoria. Alguns homens boníssimos viveram em sociedades péssimas; um desses homens, Thomas More, escreveu certa vez: “os tempos nunca são ruins ruins demais dem ais para que não poss possaa um homem home m bom viver viver nel ne les”. MARX: Essa é a opinião dele, mas palavras idealistas nada provam. Minha filosofia é baseada em ciência, não reli r eligi gião; ão; em fatos exatos, exatos, não em belos belos sonho sonhos. s. SÓCRATES: Nós já tivemos oportunidade de questionar essa alegação uma vez, mas creio seja bom testá-la testá- la novam nova m e nte. DizeDize-m m e, Ka K a rl, e tu? Viveste em e m tem pos ruins? MARX: De fato vivi. SÓCRATES ÓCRATES:: E fizeste fizeste o experim e xperimento ento de tentar viver viver com o um santo nesses nesses tem pos? pos? MARX: MARX: Por que fazes f azes pergunta tão tola, tola, Sócrates? Sócra tes? SÓCRATES: Porque isso teria te dado ao menos alguns dados experimentais com os quais poderias poder ias testar tua teoria teor ia de que tal ta l coisa é impossí im possíve vel.l. MARX: MARX: O que pensas pe nsas que eu e u sou, sou, um católico? SÓCRATES: Eu pensava que tu havias sido protestante por um tempo, quando eras jovem. MARX: Eu tentei ser – quando era jovem e tolo. SÓCR ÓCRATES: ATES: Mas Mas nascest nasce stee j udeu, embora em bora j am ais tenha tenha tentado ser ser um, não nã o é? MARX: Meu pai repudiara seu judaísmo. SÓCRATES: Conheço tua história. Meu ponto é que tu não fizeste qualquer experimento nesse sentido e tampouco te preocupaste em investigar os diversos experimentos feitos por outros, experimentos de santidade, experimentos que produziram sim dados relevantes com relação à tua teoria, dados estes que parecem contradizê-la. Mas Thomas More fez justamente esse experimento. MARX: Tu me criticas, então, por eu não compartilhar de suas crenças idealistas? SÓCR ÓCRATES: ATES: Não, apenas apena s classifi classifico co a opini opinião ão dele como com o mais m ais científi científica ca,, já j á que ela é baseada em dados hist históricos, óricos, e rot r otul uloo a tua com c omoo reli re ligio giosa, sa, porque ela e la não é. é. MARX: Isso é ultrajante e grosseiramente injusto! SÓCRATES: Concordo. MARX: Como?
SÓCRATES: Eu concordo que o fato de tu te apropriares do rótulo de “científico”, tirando-o de seu lugar adequado – a ideia de Thomas More –, e reivindicares esse rótulo para tua ideia não testada testada é de fat fa to ultraj ultrajante ante e grosseiram grosseiramente ente inj inj usto usto.. MARX: Não, tu és o ladrão que rouba e desloca rótulos. Ainda que minhas ideias não fossem científi científica cass – mas ma s elas são são –, certam ce rtamente ente não são religiosas! (Cos (Cospe! pe! Escarra !) SÓCRATES ÓCRATES:: Poi P oiss bem be m , testem os, então, essa tua afirmação. MARX: MARX: Tu nunca desistes, desistes, não é? é? SÓCR ÓCRATES: ATES: Nunca. DizeDize-m m e, como c omo definirias definirias uma um a crença cr ença “reli “r eligi gios osa” a”?? MARX: MARX: Com Comoo um m ito idi idiot ota, a, ali a lienante enante e desumani desuma nizzador, para m entes entorpec entorpecid idas as e fraca fra cas. s. SÓCRA ÓCRATES: TES: Talvez Talvez devêss devê ssem em os primeiro prim eiro defin def inir ir “def “ defin inição” ição”,, a fim de que possam possam os dist distin ingui gui-la -la de “denúncia” e “difamação”. MARX: MARX: Qual é a tua definição, então? SÓCRATES: Não há nada de “meu” ou “teu” em uma definição. As definições não são proprieda propr iedades des privada pr ivadas, s, ma m a s pública públicas. s. MARX: Não há nada em comum entre as definições burguesas dessas ideias-chave e as definições comunistas. SÓCR ÓCRATES: ATES: Então, Então, de acordo ac ordo com o comuni com unismo, smo, não há nada em comum com um?? Que irônico irônico que tu, o comunista, torne propriedade privada aquilo que outros dizem ser público – no mundo das ideias, ao m enos. enos. MARX: Nós, comunistas, nos preocupamos com propriedades reais, Sócrates; vós, filósofos, é que vos preocupais com ideias. SÓCRATES: Discutiremos a condição das ideias mais adiante, para determinarmos se são reais ou irreais. Por hora, no entanto, devemos terminar o que começamos: aceitas a definição de crença religiosa dada pelo dicionário como uma definição que, ao menos, é tida em comum ou acei ace ita verbalm verbalm ente? ente? MARX: Digamos que sim, apenas para fins práticos. SÓCRATES: Pois bem, o dicionário nos diz que a palavra religião, literalmente, significa “que relacio re laciona”, na”, ou “relaçã “re lação”, o”, ou “que liga”, liga”, ou “que reli re liga”. ga”. MARX: Francamente, Sócrates, pouco me interesso por religião ou etimologia. Mas e daí? SÓCRATES: E daí que isso é uma religião, de acordo com o dicionário, o qual relata como as palavra pala vrass de fato fa to são sã o usadas usada s popularm ente. ente . Um a c renç re nçaa reli re ligiosa giosa é uma um a c rença re nça a cerc ce rcaa de uma um a relação com um objeto religioso, com Deus ou algo divino, seja tal objeto real ou irreal. Essa é uma definiçã definiçãoo aceit ace itável ável para ti? ti? MARX: Sim, mas também é essencial à religião o não ser científica; quero incluir também essa informação em nossa definição. SÓCRATES: Está bem. Que tal isto, então? As crenças religiosas não se permitem ser refutadas por qualquer qua lquer dado em e m pírico, pois elas não nã o se baseia ba seiam m neles. nele s. MARX: Ótimo. Estou completamente de acordo. SÓCRATES: Bem, apliquemos, assim, nossa definição acordada à questão que estávamos discutindo antes, acerca da crença de Thomas More de que a santidade é possível mesmo em
sociedades perversas – questão esta que certamente é religiosa, já que trata da relação entre um homem e Deus. More baseava sua crença – que a santidade é possível mesmo no pior dos tempos – no conhecimento da sua própria vida e da vida dos santos que ele estudara. Tu, por outro outro lado, lado, não baseias tua tua cre c rença nça opo opost staa e refe re fere rent ntee ao a o mesm m esmoo tem tem a em e m qualquer qualquer dado exist existente e não permites que aqueles dados, os dados relativos a esse ou outros santos, refutem a tua crença. Logo, concluo que tua crença na hipótese de que todos os homens são determinados por suas suas est e strutu rutura rass sociais sociais é um a crença cre nça reli re ligi gios osa. a.
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A Que Que stão stão da Liberdade
MARX: MARX: Pouco me importa como com o classifi classifica cass minha minha cre c rença, nça, pois pois ela é verdade. verda de. SÓCRATES: Não se ela contém uma contradição. MARX: Que contradição? SÓCRATES: Tu mesmo, penso. MARX: MARX: Não compre c ompreendo. endo. SÓCRATES ÓCRATES:: Cre Creio io que que tua tua ideia ideia não preste pr este cont c ontas as da própria orig or igem em . MARX: Que origem? SÓCRATES: Tu. Tu escreveste este Manifesto, não é? MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: E tu disseste que foste o primeiro a descobrir a fórmula fundamental da história humana, referente à opressão passada, à oportunidade presente e ao futuro triunfo do comuni com unismo, smo, corre to? to? MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: E uma de tuas ideias, um dos princípios de tua filosofia, é que todas as ideias são determ inadas inadas por cond c ondições ições sociais sociais,, especialmente especialm ente pelas estruturas estruturas de classe, classe, não nã o é verdade? verdade ? MARX: Correto. SÓCRATES: E não que as estruturas sejam determinadas pelas ideias, como pensam os idealistas? MARX: MARX: Cer Certo to mais ma is uma um a vez. vez. SÓCRATES: Mas tu nasceste em uma sociedade burguesa e de uma família burguesa, uma fam fa m ília lia típica ípica de “class “c lassee m édia”, não foi f oi?? E Engels Engels tam tam bém? bém ? MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: Podes dizer-me um só nome de um pensador ou militante comunista que conheceste em tua época e cuja origem fosse proletária e não burguesa? MARX: Ah, em sua juventude eles foram burgueses, mas rejeitaram essas origens; eles viram a luz luz, e tu mesmo me smo poderias vê-la, Sócr Sócrates. ates. Serias Serias um grande acré ac résci scim m o ao nosso nosso movi m ovim m ento. ento. SÓCR ÓCRATES: ATES: Parec Par eces es apelar ape lar à m inha capacidade ca pacidade de livre ivre escolha. escolha. MARX: MARX: Não vais m e pegar pe gar com c om isso isso.. A livre livre escol e scolha ha é uma um a ilus ilusão, ão, e a ciência c iência conhece apenas apena s o determinismo. Não importa o que façamos, escolhamos ou pensemos, ambos somos apenas instrumentos da história. SÓCRATES: Mas há algo disso que não compreendo: tu e todos os comunistas de tua época vieram da burguesia. No entanto, dizes que os indivíduos não têm como evitar o modo como
agem, pensam e escolhem, porque é sua classe social que determina tudo isso. Assim, se aceitamos as duas premissas, chegamos à conclusão de que as ideias e as ações comunistas são completamente burguesas! MARX: Essa conclusão é tão nojenta que só posso pensar em uma palavra para descrevê-la: ela é burguesa! SÓCRATES: Mas eu não sou dono de qualquer meio de produção de riquezas. Então, por definição, não posso ser um membro dessa classe odiada; em verdade, fui pobre a minha vida toda. MARX: E? SÓCRATES: E acabas de chamar minha ideia de que as tuas ideias comunistas devem ser burguesas burgue sas de uma um a ideia ide ia burguesa bur guesa.. MARX: E? SÓCRATES: E tu dizes que todas as ideias são determinadas por classes sociais. MARX: MARX: De fato f ato são. SÓCRATES: Então como minhas ideias “burguesas” podem ter vindo de minha origem proletár prole tária? ia? E com c omoo as tuas ideias ideia s proletária proletá riass vêm de tua origem orige m burguesa? burgue sa? MARX: Eu rejeitei minhas origens, e tu rejeitaste as tuas. SÓCRATES: Pois tua sociedade burguesa, teus professores e teus pais disseram-te para rejeitálas? MARX: É claro que não. SÓCRATES: Eles desejavam que tu te acomodasses, que fosses tão burguês quanto eles mesmos. MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: Mas tu optaste por rebelar-te. MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: Logo, parece que os indivíduos têm a capacidade de livre escolha, afinal! Tu m esmo esm o és exem plo plo diss disso. o. MARX: Não, isso não procede. Eu escolhi, sim, mas essa escolha era tão necessária, tão determ inada inada pelo desti destino da dialéti dialética ca hist históri órica ca quanto quanto as escol e scolhas has dos dem dem ais de perm per m anecer anec erem em burgueses. burgue ses. Ac Acontec ontecee que o de desti stino no escolheu esc olheu a m im, im , e não a e les, para par a ser o instrum instrumee nto de propagaç propa gação ão do com c omunis unism m o. SÓCRATES: Então não há liberdade alguma para ninguém, de acordo com tua filosofia? MARX: A coisa não é assim; no entanto, a fim de entendermos porque ela não é assim, prec pre c isamos isam os faz fa ze r aquilo que sem pre insistes insistes em e m faz fa zer: er : temos tem os de defini def inirr nossos ter term m os. Estam os a usar a mesma palavra, mas não com o mesmo significado. Quando dizes “liberdade”, estás a pensar pensa r na libe liberda rdade de burguesa, não na liberdade comunista. SÓCRATES ÓCRATES:: Pois o que é liber liberdade dade com unist unista? a? MARX: Sob o comunismo, e somente sob o comunismo, todos serão livres: livres de carências e de guerras, guerra s, liv livre ress de crimes crim es e de desemprego, desem prego, liv livres res da falt f altaa de lar e da pob pobreza. reza. SÓCRATES ÓCRATES:: Eles Eles est e star arão ão livre livress para ter pensam pe nsamentos entos não com unist unistas? as?
MARX: Isso não é liberdade verdadeira. Espera, Sócrates; antes de responderes a isso, deixa-me explicar. Tu não entendes a noção comunista de liberdade porque partes de tua pressuposição de uma essência ou natureza humana universal e imutável e então perguntas se essa coisa tem liberdade. Mas não há tal natureza humana imutável, ou tal “ser de uma espécie”, como eu o chamo. SÓCR ÓCRATES: TES: Então Então crês crê s que não haj a espécies re ais, ais, que palavras palavra s universais universais como com o “homem “hom em ” ou “rio “r io”, ”, em e m opo oposi siçã çãoo a palavras indi individuai viduaiss como com o “Sócr “Sócrates” ates” ou “Nil “ Nilo”, o”, não se refiram re firam a quaisq quaisquer uer realidades comuns ou naturezas universais. Logo, és um nominalista; acreditas que a universali universalidade dade se encont e ncontra ra apenas apena s nas palavra palavras, s, em nomina. MARX: Correto. Assim, não existe uma única “liberdade” ou “justiça” que seja comum a todas as classes e estágios da humanidade. Conforme a história percorre seu caminho dialético e a sociedade muda suas estruturas de classe, são produzidas diferentes formas de humanidade e, logo, logo, de liberdade liberdade e j usti ustiça ça,, de acordo ac ordo com as dife difere rent ntes es form as de propriedade. SÓCR ÓCRATES: ATES: Mas Mas quer a humani huma nidade dade exi e xist staa sob uma ou muitas muitas form as, deves falar fa lar em e m form as e, portanto, porta nto, e m universali universa lidade dade.. Mesmo Mesm o que a huma hum a nidade burguesa burgue sa e a huma hum a nidade c omunist om unistaa sejam duas espécies e não uma, ainda assim há espécies, e um comunista se enquadra na mesma espécie que outro comunista. MARX: Como eu resolvo o problema lógico abstrato dos termos universais não é importante; o que é importante é que cada etapa da história produz um tipo diferente de liberdade – é sobre isso que estamos estam os falando agora agora,, afin af inal. al. SÓCRATES: Então, no capitalismo, não há liberdade da pobreza, de crimes ou da guerra como há no comuni com unismo. smo. MARX: Correto. SÓCRATES ÓCRATES:: E a raz ra zão disso disso é que o capitali c apitalism smoo ainda se baseia no conflito conflito de classe. c lasse. MARX: MARX: Sim. Sim. Tu entendes, e ntendes, então. SÓCRATES: Por outro lado, no comunismo, não há economia de livre mercado, ou livrecomér com ércio, cio, como há no capi ca pital talis ism m o – e pelo mesmo me smo m oti otivo: não há clas c lasses. ses. MARX: Correto mais uma vez. SÓCRATES: Pois bem, aceitemos tuas definições e passemos a avaliá-las. Não afirmo saber muito acerca daquilo que chamas de forma capitalista de liberdade e, logo, não posso julgar se ela é boa ou ruim, embora, à primeira vista, pareça ser boa. Mas sei bem que essa liberdade que alegas ser dada pelo comunismo – liberdade da pobreza, da criminalidade e da guerra – é um bem , pois é um desej dese j o natural natura l de todo home hom e m são. MARX: Concordas comigo cada vez mais. SÓCRATES: Mas ainda não sei se estás certo em tua alegação de que, de fato, o comunismo dá tais tais lib liberda erdades des ao home m e o capit c apitali alismo smo não. Não Nã o obsta obsta nte, nenhum ne nhum de desses sses dois tipos tipos de liberdade liberda de é o que m e interessa inter essa m a is, m a s sim sim um terceiro terce iro titipo, o qual qual eu cham cha m aria ar ia de liberdade liberdade de pensam ento. ento. Assim, Assim, pergun per guntto-te se há liberdade liberdade de pens pe nsam am ento sob sob o comuni com unismo. smo. MARX: MARX: Não há. SÓCRATES: Admites isso livremente?
MARX: Sim, mas também digo que isso tampouco existe no capitalismo. Trata-se de um fantasma, de um mito, tal qual o próprio pensamento: ele é um efeito, não uma causa. O pensam pensa m ento de qualquer qualque r sociedade socie dade é um subproduto de sua estrutura de c lasses e c onômica onôm icas. s. Ele não voa livrem livrem ente, qual um um anjo, anj o, sem sem raíz ra ízes es em seu solo solo social. social. SÓCR ÓCRATES: TES: Esse Esse é um problem problem a crucial cruc ial ao qual ter terem em os de de reto re tornar rnar m ais adiante, adiante, no mom m omento ento em que ele surge em teu livro. Apartamo-nos desse livro já há bastante tempo, mas agora devemos voltar a ele. Porém, antes disso, tenho de fazer-te esta pergunta: ainda não entendo como teus pensamentos comunistas floresceram necessariamente de teu solo social burguês; podes m e explicar? explica r? MARX: Tentarei esclarecê-lo melhor para ti. Nem eu, nem o meu livro e nem os meus pensam pensa m entos somos som os a c ausa da revoluçã re voluçãoo – nós somos som os apenas ape nas os seus instrum instrum e ntos, ntos, os fósforos fósf oros que irão acender aquela chama que há de se espalhar pelo mundo. Mas essa chama se espalhará por nece nec e ssidade ssidade,, e m funçã funç ã o de sua própria própr ia nature natur e za , porque as folhas folha s m ortas orta s do m undo – os produtos m oribundos do c apitalismo apitalism o – j a zem sobre o chão, chã o, seca sec a s e inertes. iner tes. O de desti stino no de delas las é queimar, pois é da natureza mesma do capitalismo ser auto-destrutivo e do comunismo triunfar, porquanto porqua nto o capit ca pitaa lism lismoo produz seus próprios própr ios c oveiros, oveir os, o proletariado. proletar iado. SÓCRATES: Eu entendo como uma coisa pode destruir a si mesma, creio, seja essa coisa uma m era er a pessoa ou um um sist sistem em a social. Porém Poré m , não entendo entendo como com o algo pod podee criar c riar a si próprio próprio – e tu? tu? MARX: É claro que não; nada pode criar a si mesmo ou causar a si mesmo. Isso é uma impossibil impossibilidade idade científica científica.. SÓCRA ÓCRATES: TES: Eu concordo. Qual Qua l é a origem do com unism unismo, o, então? Dizes Dizes que apenas ape nas é necessár nec essário io um pequeno fósforo – o teu Manifesto – e o efeito será a destruição de todo o mundo capitalista no fogo da revolução. Mas quem é que acendeu o primeiro fósforo? Ele acendeu a si próprio? Ele crio cr iouu a si próprio? próprio? O teu livro livro escre e screveu veu a si próprio? MARX: É claro que não. SÓCRATES ÓCRATES:: Tu escreve escr evest stee o livro. livro. Tu acende ac endest stee o fósforo. Então, tu és a causa ca usa do fogo. MARX: É claro que sou. No entanto, sou apenas um instrumento, um elo na cadeia causal da história. Não creio na “teoria histórica do grande homem”; não há, entre os homens, um Prometeu, um Hércules, ou um Zeus que move os mundos. Pelo contrário, nós somos movidos por nosso mundo; m undo; nós somos som os o nosso nosso destino. destino. SÓCRATES ÓCRATES:: E o teu destino destino é ser o profeta profe ta do com c omuni unism smo. o. MARX: MARX: Se Se insis insistes tes em usar linguagem linguagem reli re ligio giosa, sa, sim. sim . SÓCRATES: Ou seja, és o profeta da filosofia que ensina que todos as ações dos homens, e m esmo esm o os seus seus pensamento pensam entos, s, são são determ deter m inadas por seu sist sistem em a de class c lasses, es, seu sist sistem em a social, social, seu seu sistema econômico. MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: Então, não existe algo como o pensamento livre; o pensamento é apenas um efeito de condições sociais, tanto quanto quanto a riqueza. riqueza. MARX: Exatamente. SÓCRATES: Logo, os homens não têm a vontade livre para escolher quais pensamentos terão ou quais quais ações aç ões reali re alizzarão. ar ão. MARX: Eles têm vontade e escolha, mas essas não são livres; elas não são independentes das
cadeias ca deias causais que que os atam , e ess e ssas as cadeias ca deias são são sociais. sociais. SÓCRATES: Entendo. Portanto, em teu sistema, presta-se contas de tudo, tudo é explicado, em função de causas necessárias. MARX: Sim, e é por isso que meu sistema é científico; nada deixo sem causas, nada falta de que prestar pre star contas, c ontas, nada fica fic a sem e xplic xplic açã aç ã o. SÓCRATES: Não, eu acho que há uma coisa que tu não explicaste. MARX: O quê? SÓCRATES ÓCRATES:: Tu mesm me smo, o, enquanto escrit escr itor or dess de ssee livro livro e pensador desses de sses pensam entos. MARX: MARX: Mas eu j á te disse, disse, Sócr Sócrates: ates: eu fui f ui apenas apena s um inst instrum rum ento. Tanto Tanto os pensam pensam entos quanto quanto as ações, e tanto as ações dos homens quanto as dos animais, das plantas e dos minerais, são todos necess nece ssár ário ios, s, não livres. livres. Tudo é pre determin determ inado ado por correntes c orrentes ca usais usais.. SÓCR ÓCRATES: ATES: Necessariam Nec essariamente, ente, em vez de de livrem livrem ente? MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: Logo, se essas correntes constrangem necessariamente e não livremente, então é impossível que não funcionem, não atem, não produzam seus efeitos? MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: Incluindo cada detalhe, mesmo os meios pelos quais esses efeitos ocorrerão e quando ocorrerão? MARX: Até mesmo isso. Não pode haver exceção, nenhuma rachadura pela qual possa escorrer qualquer sinuosidade transcendente, incomensurável... SÓCRATES ÓCRATES:: Fala Fala com sim sim plicidade plicidade,, por favor! f avor! MARX: Por exemplo, não podemos dizer que a revolução é inevitável e não livre, mas, ao mesmo tempo, dizer que o momento em que ela acontecerá ou o meio pelo qual acontecerá é livre – isso não seria científico. Somente podemos conhecer e prever atualmente, algo do futuro; assim, podemos saber que a revolução acontecerá, mas não quando. Mas aquilo que não sabemos também acontecerá realmente, e o que quer que aconteça há de acontecer por necess nece ssid idade ade caus ca usal, al, não independent independentem em ente dela. SÓCRATES: Destarte, em teu sistema, não concedes o mais minúsculo recanto ou orifício para a livre escolha? MARX: Não, nenhum. SÓCR ÓCRATES: ATES: Nem m esmo esm o para um pequeno evento? evento? MARX: Não. SÓCRATES ÓCRATES:: Com Comoo o acende ac enderr um fósforo? MARX: Não. SÓCRATES ÓCRATES:: Então, Então, por que acendê ac endê-lo? -lo? MARX: MARX: O que queres quer es dizer dizer?? SÓCRATES: Se o fogo da revolução, seu tempo e seus mais minúsculos detalhes são todos necessários e imutáveis, se nada podes fazer para obstruir a revolução ou para contribuir para a sua inevitabilidade, se tudo está predestinado, por que não apenas comer, beber e ficar feliz, em
vez de devotares tua vida ao comunismo? Por que fazer sacrifícios em nome do comunismo, se nada pode pará-lo afinal? Em outras palavras, por que pagar por algo, se podes consegui-lo de graça? MARX: Sócrates, eu estava errado. SÓCRATES: Acerca da liberdade? MARX: Não, com relação a ti; pensei que começavas a entender-me. SÓCRATES: Ai de mim, acho que estás certo nisso – tu estás certo sobre em que erraste: eu não te entendo. É esse o meu destino? MARX: Por hora, sim, mas talvez teu destino seja ver a luz e te juntares a mim – e, se o fizeres, entenderás. SÓCRATES: Mas, até lá, continuarei ignorante? MARX: MARX: Provavelm P rovavelmente. ente. SÓCRA ÓCRATES: TES: Dizes, Dizes, pois, que m esm o o ent e ntendim endimento ento signi significa fica,, para pa ra os com unist unistas, as, algo a lgo dife difere rent ntee do que significa para os não comunistas? MARX: MARX: Sim, Sim, de fato. fa to. SÓCRATES: Assim, eu teria de me tornar um comunista a fim de entender o comunismo, em vez de ent e ntendê-lo endê-lo prim prim eiro e então decidir decidir se devo me m e tornar um comuni com unist staa ou não? MARX: Exatamente. SÓCRATES: O que falas é peculiarmente similar ao que dizem os místicos religiosos, os quais diz dizem que, antes de m ais nada, é precis prec isoo se tornar um m ísti ístico, co, e só então então será ser á possí possível vel entender entender o misticismo – e algumas pessoas dizem o mesmo acerca da fé religiosa: “a não ser que creias, não entenderás”. MARX: Mas religião é idealismo, não ciência materialista; ela entende tudo ao revés. A religião ignora que o pensamento e o entendimento são efeitos e não causas. O comunismo enquanto realidade , por outro lado, não é um efeito do comunismo enquanto ideia – muit m uitoo pelo contrário contrár io.. SÓCRATES: Logo, a revolução comunista, e também todas as outras revoluções, não começa no pensam pensa m ento? MARX: Não, elas começam nas ruas. SÓCRATES: Mas por que devem os homens ir às ruas para se revoltarem, a menos que sejam impelidos a fazê-lo por pensarem que tal revolução é boa, sábia ou desejável? Esses são os pensam pensa m entos que eles e les têm de fato, f ato, não nã o são? MARX: Ah, sim, eles têm mesmo tais pensamentos; no entanto, os pensamentos não podem surgir a não ser que, por sua vez, sejam causados por condições materiais reais, e quando os pensam pensa m entos surgem surge m de fato, fa to, eles ele s não nã o podem pode m causar ca usar eventos eve ntos mate m ateria riais. is. Com Comoo poderia pode ria uma um a ideia derramar sangue? Como poderia algo como um fantasma apertar os botões de uma máquina qual o corpo hum hum ano? SÓCRATES: Este é verdadeiramente um grande mistério: como nossos pensamentos são capazes de causar eventos físicos em nossos corpos. MARX: Isso é pior que um mistério: é uma irracionalidade completa, uma impossibilidade. SÓCR ÓCRATES: ATES: Mas Mas tu és científico científico – com eças eç as com c om os dados, dados, não não com c om uma um a teoria, teoria, não nã o é verdade? verdade ?
MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: No entanto, pareces negar um dado que todos experienciamos: o poder do pensam pensa m ento em e m causar ca usar nossas açõe a çõess e e m m otivar otivar-nos -nos a agir. agir . Tu rej re j e itas itas e sse dado da do m ister isterios iosoo e difícil a fim de preservar tua teoria aparentemente racional de determinismo e materialismo. Assim, Assim, concluo, concluo, mais m ais um um a vez ve z, que que teu pensamento pensam ento não não é científi científico, co, que ele é m ais como um a fé fé religiosa. MARX: MARX: Sócr Sócrates, ates, isso isso é ultraj ultraj ante. SÓCRATES: ÓCRATES: Tota Tota lmente lm ente..
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O que o Capitalismo Produziu?
SÓCRATES: Há muito que estamos navegando para longe da terra de teu livro no barco de nossa conversa; devemos, pois, retornar às docas, a fim de trazer a bordo mais provisões tiradas do livro. MARX: Já é tempo, assim como já é tempo de pensarmos acerca do tempo, da história, de eventos reais, em vez de a respeito desses teus argumentos lógicos abstratos. Afinal, devíamos estar a discutir meu livro e minha ideologia, não a tua. SÓCRATES: O conteúdo é teu; a forma lógica não é minha e nem tua, mas universal e inescapável. Está certo, façamos como sugeres. A próxima etapa no argumento do Manifesto é teu sumário do que, dizes, a burguesia já realizou. E isso é algo muito concreto. Escreves: “Onde quer que tenha conquistado o poder, a burguesia calcou aos pés as relações feudais, patriarcais e idílicas. Todos os complexos e variados laços que prendiam o homem feudal a seus “superiores naturais” ela os despedaçou sem piedade, para só deixar subsistir, de homem para homem, o laço do frio interesse, as duras exigências do ‘pagamento à vista’.” Esse é teu primeiro ponto, que concerne conce rne às à s relações sociais sociais.. “Afogou os fervores sagrados do êxtase religioso, do entusiasmo cavalheiresco, do sentimentalismo pequeno-burguês nas águas geladas do cálculo egoísta”. Esse é teu segundo ponto, ace ac e rca rc a dos senti se ntim m e ntos reli re ligios giosos. os. “Fez da digni dignidade dade pess pe ssoal oal um sim sim ples ples valor de troca”. troca ”. Esse é teu terc terceiro eiro ponto ponto,, acer ac erca ca da dignidade pessoal. “Substi “Substitu tuiu iu as numerosas nume rosas liber liberdade dades, s, conquist conquistada adass com tanto esforço, esforç o, pela única e implacável implacá vel lib liber erdade dade de com c omérc ércio io”. ”. Esse Esse é teu quar quarto to pon ponto to,, acer ac erca ca da liberdade liberdade.. “Em uma palavra, em e m lugar lugar da expl e xploraç oração ão velada por ilus ilusões ões reli re ligi gios osas as e polí política ticas, s, a burguesia burgue sia colocou c olocou uma um a exploraç e xploraçãã o aberta abe rta,, cínica, cínica , direta dire ta e brutal”. bruta l”. Creio Cre io que esse e sse não nã o é um ponto específico novo, mas apenas teu sumário geral dos pontos anteriores. “A burguesia burguesia despoj despoj ou de sua auréola a uréola todas todas as a s ativi atividades dades até então reput re putadas adas venerá vene ráveis veis e encaradas com piedoso respeito. Do médico, do jurista, do sacerdote, do poeta, do sábio fez seus servidores assalariados”. Esse é teu quinto ponto, acerca das profissões. “A burguesia burguesia rasg ra sgou ou o véu de sentim sentim entalismo entalismo que envolvi envolviaa as relações re lações de fam fa m íli ília e reduz re duziu iu-a -ass a sim sim ples ples relações re lações m onetár onetárias”. ias”. Esse Esse é teu sexto sexto pont ponto, o, acerc ace rcaa da fam fa m íli ília. Então, Então, mais m ais adiante, adiante, escre ves: “A burguesi burguesiaa subme submeteu teu o cam po à ci c idade. Criou Criou gra grandes ndes cent ce ntros ros urbanos; urbanos; aumento aum entouu prodig prodigio iosam samente ente a populaç população ão das cidades em relaçã re laçãoo à dos cam pos e, com isso isso,, arrancou arr ancou uma grande parte par te da popul populaç ação ão do embrut em brutec ecime iment ntoo da vida vida rural”. rura l”. Esse Esse é teu sétimo ponto, acerca da cidade e do campo. “Do m esmo esm o modo m odo que subordi subordinou nou o cam ca m po à cidade, os países países bár bárbaros baros ou semib sem ibár árbaros baros aos país pa íses es civ c ivil iliz izados, ados, subordinou subordinou os povos povos cam poneses aos a os povos povos burgueses, o Oriente Or iente ao ao
Ocidente”. Esse é teu oitavo ponto, acerca da globalização. MARX: De certo vês porque chamo essas mudanças de “revolucionárias”; são todas mudanças que observei em meu mundo, mudanças que já tinham se mostrado revolucionárias, mudanças quee aca qu a cabaram baram com a sociedade sociedade m edieval edieval e produz produziiram a sociedade sociedade m od oderna. erna. SÓCRATES ÓCRATES:: De fato. f ato. No entanto, tenho tenho três perguntas pe rguntas a respeito r espeito da descrição descr ição que faz fa zes dela. de la. Em primeiro lugar, essas coisas todas aconteceram mesmo? Em segundo, segundo, se acont ac ontec ecer eram am , a caus ca usaa delas foi realm re almente ente a burguesia, burguesia, com o diz dizes? Em terceiro, pensas que essas mudanças foram boas ou más? Que foram para melhor, ou para par a pior? Tu as a s louva louva s ou as condena c ondenas? s? MARX: MARX: A primeira prime ira questão questão é fácil fá cil de de resp re spond onder er,, Sócra Sócrates, tes, a m enos que que sejas sej as cego, c ego, pois pois trata-se de um fato fa to,, não de uma um a opini opinião. ão. SÓCRATES: Espero que me perdoes por não aceitar isso com base apenas em tua autoridade. Esse é um habito consolidado meu, entenda: como um outro filósofo escreveu, “Examinai, porém poré m , tudo: a braç bra ç ai o que é bom” bom ” . Ou, e m m inhas próprias própr ias palavra pala vras, s, “um a vida sem e sse exam e não é digna digna de ser vivi vivida”. da”. MARX: MARX: Faze Faze o que tens de fazer, f azer, ent e ntão. ão. SÓCRATES: Farei. Revisemos, pois, o que dizes a burguesia ter feito. Em primeiro prime iro lugar, lugar, diz dizes, o que que ela fez f ez foi “só deixar deixar subs subsis isttir, de homem home m para homem home m , o laço do frio interesse, as duras exigências do ‘pagamento à vista’.” Então, afirmas que os Romeus da burguesia não dizem às Julietas da burguesia “eu te amo”, mas “quanto custas?”. Em segundo, ela “afogou os fervores sagrados do êxtase religioso”. Então, afirmas que não há mais santos ou místicos nas sociedades burguesas. Em terceiro, terce iro, ela “fe “ fezz da digni dignidade dade pess pe ssoal oal um simples valor valor de troca”. troca ”. Então, Então, afirma af irmass que que enfermeiros, assistentes sociais e tipos similares não mais servem aos pobres e necessitados por perc per c e bere ber e m que esses e sses têm a lguma lgum a dignidade pessoal, pessoa l, ma m a s apenas ape nas porque por que eles e les têm um “ valor de troca”. troca” . Logo, Logo, essas essas pessoas pessoas crêe cr êem m que, de al a lgum m odo odo,, ficarão ficar ão ricas r icas às custas custas dos pobres. pobres. Em quarto, quarto, ela conv c onver ertteu todas todas as liberdade liberdadess no lilivre comér com ércio. cio. Então, Então, afirmas afirm as que o capitalismo aboliu todas as liberdades anteriores de uma forma que nenhum tirano do passado conseguiu fazer e que ele criou uma nova liberdade, de uma forma que nenhum comerciante do passado passa do conseguiu conse guiu faz fa zer. er . Em quinto, “do médico, do jurista, do sacerdote, do poeta, do sábio [ela] fez seus servidores assalariados”. Então, afirmas que o capitalismo tirou dos médicos o amor pela saúde, dos j uristas uristas o amor am or pela lei, dos dos sac sacer erdot dotes es o am or a Deus, dos dos poetas poetas o am or pela beleza beleza e dos cientis cientisttas o am a m or pela verdade, ve rdade, que nenhum desses desses profissi profissionai onaiss am a m ais seu seu trabalh traba lho, o, mas m as apenas apena s seu salár salário io.. E dizes dizes que tal mudança m udança radi ra dica call de at a titude itude ocorreu ocorre u sim sim plesm plesmente ente porque a economia agora se baseia em juros ou capital. Em sexto, sexto, ela “re duz duziiu-as [as [a s relações relaçõe s de fam íli ília] a simples relações relaçõe s monetárias”. Então, Então, afirmas que a nova economia extinguiu um dos instintos mais fortes da natureza: o amor e a lealdade que que há entre entre casais e irmãos irm ãos – e até mesmo m esmo o am or maternal m aternal.. Vejo Vej o porqu porquee cham c hamas as iss issoo de radical e revolucionário: trata-se de uma mudança na própria natureza humana e até mesmo nos instintos do homem. MARX: Fico contente que entendas meu argumento, Sócrates.
SÓCRATES ÓCRATES:: E alegas alega s ter ter obser observado vado tudo isso isso como com o fato, fa to, em tua tua época é poca.. MARX: Sim Sim.. SÓCRATES ÓCRATES:: Muit Muitoo em e m bora ninguém ninguém m ais o tenha feit fe ito. o. MARX: MARX: Eu via via a semente; sem ente; out outros viam viam a planta planta m adura. SÓCRATES: Logo, um século ou dois bastariam para que essa semente crescesse, de forma que então todos pudessem vê-la. MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: E isso torna tua alegação científica e empiricamente testável. MARX: Sim Sim.. SÓCRA ÓCRATES: TES: De m odo que, que, se isso isso não acont ac ontec ecesse esse – se, se , digam digam os, 150 150 anos após teres tere s escrit esc ritoo teu livro, poucas ou nenhuma dessas mudanças tivessem ocorrido de maneira evidente, tal fato refutaria tua alegação. MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: Pois talvez tenhas algumas surpresas chocantes quando aprenderes mais sobre a história. Entretanto, ensinar-te isso não é meu propósito agora. Passemos à minha segunda pergunta. per gunta. Dize Dize s que a c ausa dessa revoluçã re voluçãoo é um novo sistema sistem a socioeconôm socioe conôm ico, o capit ca pitaa lism lismo, o, não é? MARX: Sim. E sei o que vais dizer a seguir, Sócrates; perguntarás como causa tão pequena poderia poder ia produzir produzir e feit fe itoo tão e norm e . P erguntará er guntaráss tam bém se esse efe ef e ito ito excede exc ede o poder de sua causa e, portanto, viola um princípio básico da ciência. SÓCRATES ÓCRATES:: Estás Estás cer c erto; to; isso isso é exatam e xatam ente o que eu e u ia dizer dizer.. MARX: MARX: Bem Bem , eu fui f ui o prime primeiro iro a descobrir ess e ssee fat fa to surpreendente. me smo o forte o bastante para produzir esse efeito? Ou de SÓCRATES: O fato de que essa causa é mesm que esse princípi princípio básico básico da ciência não nã o é verdadeiro? verdade iro? MARX: Que a causa é forte o bastante. Em verdade, ela é suficientemente poderosa para explicar tudo na história humana; o determinismo econômico é o que torna a história uma ciência. SÓCR ÓCRATES: ATES: Logo, Logo, a economia e conomia é uma “causa “c ausa primeira”. prime ira”. MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: Como Deus. MARX: MARX: Não, ela não é como com o Deus. Darwin Darw in e eu, j untos untos,, elim elim inam inam os Deus: ele da nature naturezza, eu e u da história. Sabes que até enviei uma cópia de meu livro a Darwin? SÓCRATES ÓCRATES:: Sim. Sim. Sei tam tam bém que ele e le nunca te respo re spondeu. ndeu. MARX: MARX: Sabe Sabess de m uitas uitas coi c oisas. sas. SÓCRATES: Sei também por que ele e le nunca nunca te resp re spond ondeu. eu. MARX: Como sabes isso? SÓCRATES: Eu dialoguei com ele. MARX: Oh.
SÓCRATES ÓCRATES:: Gostarias Gostarias de saber o que ele e le pensava a respeito r espeito de teu livro? livro? MARX: Isso não tem importância. SÓCRATES: E o que tu pensas de seu livro? livro? Ac Aceitas eitas sua teoria da evolução? MARX: Sim, aceito. SÓCRATES: Assim, dizes que, anteriormente, não existia vida, mas, então, muitos séculos mais tarde, havia; dizes também que, antes, existia apenas vida subumana e, então, séculos mais tarde, havia havia vida vida humana. hum ana. MARX: Sim. A vida evoluiu por seleção natural. Pode-se até ver analogias entre a seleção natural e a dialética histórica... SÓCRATES: Eu percebo isso. Mas, penso, também vejo uma outra coisa. Por favor, pondera acer ac erca ca destas destas três coi c oisas sas nas quais diz dizes es acr a credit editar ar.. Prime P rimeiro, iro, acredit acr editas as na evolução. evolução. Segundo, Segundo, não crês cr ês que que haj a um Deus – um Criador, Criador, uma Causa Prime P rimeira ira ou um um a Mente Arquitet Arquitetaa – por trá tráss da da evolução. Terceiro, acreditas no princípio científico da causalidade, ou seja, crês que os efeitos não podem exceder suas causas, que nada vem à existência sem uma causa adequada – em verdade, tu mesmo dirias, sem uma causa necessária ou determinista. Acreditas nessas três coisas? MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: Pois vês algum problema nisso tudo? MARX: Estou um passo à tua frente, Sócrates. Dirás que há uma contradição lógica em se aceitar todas essas três ideias, pois se os efeitos não podem exceder suas causas, então o vivente não pode ser causado pelo não-vivente, as formas superiores de vida não podem ser causadas apenas pelas inferiores e tampouco a inteligência pode ser causada por algo ininteligente ou os planos, os proj e tos e a ordem orde m pelo puro a caso, ca so, a m e nos que e ssas c a usas inferiore infe rioress sej am só instrumentos de uma causa divina superior. Dirás, então, que devo desistir ou da teoria da evolução, evolução, ou de m eu at a teísmo, adm itin itindo do assim assim um Deus que a expliq explique. ue. SÓCRATES: Mas que maneira formidavelmente clara de se equacionar o problema! Tens uma solu soluçã çãoo igualme igualment ntee clara? clara ? MARX: Sim, tenho. A existência de um Deus sabotaria por completo todo o meu materialismo científico, portanto meu ateísmo não é discutível, e a mesma razão justifica minha crença na evolução: essa é a única alternativa ao desígnio divino que explica a existência de ordem na nature naturezza. A teoria teoria da evol e volução ução é o trunfo trunfo da ciênci c iênciaa em sua sua batalha batalha cont c ontín ínua ua cont c ontra ra a religião religião e a superstição. Logo, se há de fato uma tensão lógica entre essas três ideias, temos de modificar o princípi princ ípioo m a is gera ge rall e a bstrato dos três, trê s, o princípi princ ípioo da c ausali ausa lida dade, de, ou e ntão tere ter e m os de a lte lte rar ra r um princípi princípioo ainda ainda m ais ger geral al e abs a bstrato trato,, o qual qual acol ac olhere herem m os caso haj haj a o m ais mínim mínim o problem problemaa na aceitação simultânea dessas três ideias: isto é, o princípio lógico da não-contradição. Talvez as contradições lógicas sejam o veículo pelo qual a história se move; talvez tenhamos de aprender a aceitar as tensões lógicas, em vez de evitá-las. SÓCRATES: Que interessante! Em nome da ciência, modificarias um ou mesmo dois de seus princípi princ ípios os ma m a is fundam funda m e ntais, o princípi princ ípioo da c a usalidade e a lei da não c ontradiçã ontra diçãoo lógica. lógica . Podes P odes me dizer o nome de um só cientista bem sucedido e reconhecido, em toda a história, que tenha feit fe itoo isso? MARX: Penso ser o primeiro.
SÓCRATES ÓCRATES:: No entanto, há m uitos uitos cientist cientistas as que rej re j eitam o teu ateís a teísm m o. MARX: Sim Sim... ... SÓCR ÓCRATES: ATES: E há também tam bém alguns alguns que que rej r ej eitam eitam a seleção seleç ão natural. MARX: Talvez. Mas ambos os tipos são assaz tolos. SÓCRATES: Quiçá. Porém, eles são cientistas. Não diria a maioria deles que negas dois dos princípi princ ípios os m ais inquestionáve inquestionáveis is da ciência ciê ncia e m favor fa vor de duas das m a is questionáveis questionáve is teorias teor ias científicas? MARX: Não, a menos que fossem loucos. Mas eu não ligo para o que dizem; eu vi algo na história que eles não viram. SÓCRATES: Voltemos àquela alegação, pois. Afirmas ter visto uma mudança catastrófica, produzida produzida pela burguesia, burgue sia, da própria própr ia na nature turezza huma hum a na; tratar tra tar-se -se-ia -ia de uma um a m udança udanç a tão radica ra dicall que a única outra teoria, em toda a história do pensamento, que jamais propôs uma mudança histórica tão radical da natureza humana foi uma teoria da teologia cristã: refiro-me à ideia da queda de Adão. Quanto mais examino tua filosofia, mais paralelos pareço ver ent e ntre re ela e a reli re ligi gião. ão. MARX: MARX: Teu propós pr opósit itoo é insul insultar tar ou argum ar gumentar entar?? SÓCRATES: Argumentar, eu te asseguro. E a questão que farei agora acerca dessa revolução radical que descreves é bem simples. Atribuis a causa de tal revolução à burguesia. (Que elogio fazes a teu inimigo, a propósito! Que poder tremendo atribuis a ele!). MARX: MARX: Qual é tua tua pergunta, pergunta, Sócrates? ócra tes? Estás Estás novamente novam ente a m eandrar. ea ndrar. SÓCRATES: Simples: é verdade o que dizes? Trata-se de um fato que necessite mesmo de uma causa para explicá-lo? Aconteceu realmente? MARX: MARX: O que que descrevo descr evo de fato fa to acont ac ontec eceu eu mesm m esmo, o, Sócra Sócrates, tes, eu garanto gar anto.. Olhem Olhem os m ais um um a vez ve z para par a os me m e us oito oito argum ar gumee ntos. ntos. SÓCRATES: Não; devemos olhar para o modo como olharemos para eles – ao menos, para os seis primeiros. Eu listei oito pontos, mas não questionei os últimos dois pois sabemos, por observação empírica, que eles ocorreram: a concentração de população nas cidades e metrópoles e a concentração de poder nas mãos das nações mais modernas, isto é, mais avançadas tecnologicamente. Ambas as mudanças são externas e facilmente observáveis; as outras seis, ao contrário, são mudanças internas e mais radicais, mudanças na própria natureza humana, e me pergunto como poderás comprová-las, já que elas não são observáveis diretamente. Quais são teus dados a esse respeito? MARX: Elas são observáveis. Não me escoro em outro método de prova que a observação e previsão pre visão cientí cie ntífic ficas. as. P orém oré m , é claro, cla ro, um curto cur to panfle pa nfleto to com c omoo o Manifesto não tinha espaço para todo todo aquele am a m ontoado ontoado de dados que que coletei coletei para O Capital . SÓCRATES: Eu não perguntava em que livro deveria procurar pelos dados que reuniste, mas onde no mundo m undo tu tu os encontraste. MARX: Em toda parte. SÓCR ÓCRATES: TES: Bem Bem , procurem procure m os por por eles. Quais eram as nações naç ões mais m ais avançadas, avança das, mais m ais burguesas burguesas de tua época? MARX: MARX: A Alem Alem anha e a Ingl I nglaterr aterra; a; talvez talvez também tam bém o noroeste noroeste da Amér Am érica. ica.
SÓCRATES ÓCRATES:: E seus dados são são fruto f ruto da observaçã observa çãoo em pírica pírica?? MARX: Sim Sim.. SÓCR ÓCRATES: ATES: E esses dados se refe re ferem rem ao present pre sente, e, ou também tam bém ao fut f uturo? uro? MARX: MARX: O que queres quer es dizer dizer?? SÓCRATES: Alegas observar o futuro diretamente, qual um profeta, ou apenas prevê-lo com base e m tuas observaç obser vações ões do pre pr e sente? MARX: A segunda alternativa, é claro. SÓCRATES: Então, olhemos para os países que nomeaste do tempo que era teu presente: encontraremos ali os aspectos que, dizes, já haviam sido produzidos pelo capitalismo burguês? ão encontraremos nenhuma amizade ou lealdade pessoais, nenhuma religião, nada de abolição – em e m lugar da escra esc ravidão vidão –, nada na da de a m or por carr ca rree iras ira s ou vocaç voca ç ões e ne nenhum nhum relac re lacionam ionamee nto fam fa m iliar liar exceto exce to os m onetár onetário ios? s? P or exem plo, plo, dos dos romance rom ancess que, que, em teu séc sécul ulo, o, retrataram retratara m a vida vida na Inglaterr Inglaterra, a, na Alem anha ou na Amér Am érica, ica, há al a lgum deles que com partilh partilhaa de tua visão visão da vida vida humana huma na sob o jugo da burguesia? burguesia? MARX: Não, seus autores não tinham olhar tão profundo quanto o meu. Eles olhavam para as folhas folhas que ainda pendiam pendiam das árvores, árvore s, eu vejo vej o que que el e las estão secas seca s e destinadas destinadas a cair; ca ir; eles viam viam a árvore, mas eu vejo-lhe a podridão interna, a forma moribunda que ali habita. Sou melhor m édico que que eles, e les, se não vêem que o pac pacient ientee – a sociedade burguesa – é um doente ter term m inal. inal. SÓCRATES ÓCRATES:: E teu teu prognó pr ognóst stico ico se baseia ba seia em e m ciência, ciê ncia, não nã o em qualquer cois c oisaa de tipo tipo reli re ligi gioso? oso? MARX: Sim. As evidências científicas apresentam-se resumidas n’O Capital Capital . SÓCRATES: Felizmente para nós dois, nossa tarefa aqui não é examinar tal livro em seus detalhes ou argumentos, mas apenas em sua conclusão. Aceitarias o seguinte como suma justa da conclusão histórica prática de teu livro? Seria algo assim: o capitalismo burguês, em tua época, á encontrava-se moribundo e estava condenado a expirar, de uma vez por todas, em um futuro próximo? próxim o? MARX: Sim. Posso ter exagerado e simplificado a coisa toda por demais no Manifesto – afinal, ele é curto, popular, retórico e foi concebido para despertar a massa, não para fornecer detalhes científicos a estudiosos. SÓCRATES: Mas defendes todos os seus pontos essenciais? MARX: MARX: É claro. c laro. SÓCRATES: Creio que seja hora de aprenderes um bocado de história.
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O que o Comunismo Produziu?
SÓCRATES: O que dirias, então, se eu te contasse que, nos 150 anos seguintes após tua morte, o capitalismo continuaria a crescer de forma contínua, tanto em tamanho quanto em poder, com apenas umas poucas interrupções e crises, até que se tornasse, ao fim do milênio, o único sistema econo ec onom m icam ente bem suce sucedi dido do da da terra, terr a, não apresentand a presentandoo sinais sinais de decom dec ompos posição, ição, revolução revolução ou m esmo esm o insati insatisfaç sfação, ão, m as sim inúm inúmer eros os si sinais de de estabil estabilid idade ade perpétua? MARX: MARX: Isso Isso é verdade, ver dade, ou estás estás a m e testar testar com um experime e xperiment ntoo ment me ntal? al? SÓCRATES ÓCRATES:: É tudo verdade ver dade,, eu e u te asseguro. MARX: Se é, então te digo que estou extremamente surpreso com o logo tempo que o paciente levou levou para m orrer orre r e que nós comuni com unist stas as temos tem os de de esp e sper erar ar pacientemente pacientem ente pelo inevi inevitável. tável. SÓCRA ÓCRATES: TES: E o que que dirias se eu e u te contasse que o com c omuni unism smoo obter obteria ia sucesso suce sso em sua revol re voluçã ução, o, mas não nas nações avançadas da Europa ou na América, e sim nos países pobres, especialmente na Rússia e na China? MARX: MARX: O local local seria outra outra surpre surpresa, sa, mas m as não o sucesso – aliás, aliás, fala-m fala- m e m ais sobre sobre ele. e le. SÓCRATES: O comunismo dominou quase meio mundo durante grande parte do século vinte. MARX: Ah, essa é uma situação mais crível e previsível! Então, o capitalismo morreu, afinal? SÓCRATES: Não. O comunismo morreu, após ter dominado meio mundo. MARX: MARX: Imposs Im possível! ível! Com Como? o? P or outra revoluçã r evolução? o? SÓCR ÓCRATES: ATES: Nem m esmo esm o uma gota gota de sangue foi der derram ram ada. MARX: MARX: Pois Pois como com o ele pôde pôde m orrer? orrer ? SÓCRATES: Ninguém acreditava mais nele. MARX: MARX: Menti Mentira ra!! Estás a zom zom bar de m im! SÓCRATES: Sabes que não se trata disso. Nós não podemos m entir entir nest ne stee lugar. lugar. MARX: Por que as pessoas deixaram de acreditar? A religião substituiu a ciência, a superstição substituiu a razão e a contemplação monacal substituiu o pragmatismo? SÓCRATES: Não, muito pelo contrário. Os homens deixaram de acreditar no comunismo porque ele não funci f uncionava. onava. MARX: MARX: O que queres quer es dizer dizer?? SÓCRATES: O comunismo não libertou os proletários, mas os escravizou, tanto econômica quanto politicamente. Ele se estabeleceu pela força e era mantido apenas pela força. Povos inteiros foram massacrados; um só líder comunista assassinou 50 milhões de inimigos políticos. Um outro matou um terço do povo de seu país. Nunca na história humana houve carnificina tão grande da vida e da alegria humanas; nunca na história humana um sistema foi tão odiado e temido pelas pessoas.
MARX: MARX: Com Comoo isso isso pôde pôde ocorre ocor rer? r? SÓCRATES: Porque teu sistema político tinha sua raiz na revolução francesa, e uma vez que os teus discípulos alcançaram o poder, instituíram reinos de terror tal qual os jacobinos haviam feito, mas em uma escala muito mais ampla. Nenhum outro sistema na história moderna foi mais instável que o teu sistema de socialismo internacional, exceto um, chamado nacional-socialismo. MARX: E o que aconteceu com o capitalismo burguês? SÓCRATES: Nenhum outro sistema na história humana jamais foi aceito e usado, com maior satisfaç satisfação ão e suce sucess sso, o, por por um m aior núm núm ero er o de pessoas. pessoas. MARX: Agora sei que estou em um sonho: um pesadelo. Essas coisas não podem ser verdade. No entanto, neste mundo, elas são. Sei que não se pode mentir aqui, como dizes – porém, como eu sei disso, eu não sei. Não posso suportar este mundo, o que quer que ele seja, sonho ou não. Como posso escapa esca parr daqui? da qui? P refe re feria ria e star m orto em e m m eu próprio pr óprio mundo m undo que vivo neste. SÓCRATES ÓCRATES:: Não podes esca e scapar par;; tu tu já j á est e stás ás m orto. Este é teu mundo agora, o mundo da verdade, não um de mentiras ou sonhos. MARX: MARX: Onde est e stão ão as a s fábrica fá bricas? s? Onde est e stão ão os salários salár ios?? Onde est e stáá a polít política? ica? SÓCRATES: Como eu disse, este é o mundo da verdade, não de mentiras ou sonhos. Deves aprender a viver nele. MARX: Se tudo isso é verdade, então a história refutou-me tão completamente quanto alguém poderia poder ia ser possivelm possivelm e nte refuta re futado do algum dia, segundo sou c apaz apa z de imagina im aginarr – refuta re futado do não apenas apena s por por princípio princípioss e argume ar gument ntos os,, mas m as por cons c onseqüências eqüências concretas. concr etas. SÓCRATES: Sim; ideias têm consequências. MARX: MARX: Eu ensinava que as ideias eram consequências. consequências. SÓCRATES: Pois agora sabes algumas das terríveis consequências desse ensinamento. MARX: Então, como poderemos prosseguir? Como ainda poderei discutir contigo e defender o rest re stoo de m eu livro? livro? SÓCRATES: Deves cotejar e entender tudo o que pensaste, escreveste e fizeste. Acreditavas em destino e não em livre arbítrio, não é? Bem, esse é o teu destino e não tens o arbítrio livre acerca dele. Tu não não podes escapar de ti m esmo esm o aqui, aqui, como com o podi podias as na terra. terr a. MARX: MARX: O que será, será , será, ent e ntão. ão. Logo, Logo, o que que devem os fazer fazer em seguida? seguida? SÓCRATES: Ora, terminar o que começamos, é claro. Estávamos investigando três questões acerca da revolução que tu disseste a burguesia ter produzido. A primeira prime ira questão questão era e ra se as coisas coisas catast ca tastróficas róficas que diss dissest estee terem tere m acont ac ontec ecid idoo de fato fa to j á haviam ocorrido em tua época e, em caso negativo, se aconteceriam logo e se tornariam claramente visíveis mais adiante. Nós já vimos a resposta a essa questão; ela foi resolvida, não por discussão, m a s pela história. história. É o próprio pr óprio deus de tua escolha, e scolha, a história história,, quem te j ulga. A segunda segunda questão era se a burguesi burguesiaa seria suficientem suficientemente ente poderosa poderosa para caus ca usar ar todo odoss aqueles efeit ef eitos os,, ou se, em vez diss disso, o, outras outras forças forç as não teriam m aior poder poder para traz ra zer feli fe licidade cidade ou infeli infelicidade cidade a indi indiví víduo duoss e fam f am ílias, ílias, a relacion re lacionam am entos entos e a com unidades unidades humanas. huma nas. Essa Essa é uma questão questão m uito uito ampl am pla, a, e devem os dis discuti cuti-la -la em e m detalhes detalhes algum algum a hora, especialmente especialm ente porque a grande m aioria aioria dos homens home ns dis discorda corda de ti com relaçã re laçãoo a isso. isso. Afinal, Afinal, o sis sistem temaa econô ec onôm m ico é assim tão semelhante a Deus, tão onipotente e onipresente?
Mas nós nós já j á fizem fizem os muitos muitos desvi desvios os e temos tem os de de nos focar foca r em e m teu liv livro, ro, de m odo que que irei me me ater agora à m inha inha terceira terc eira questão. questão. Dizes Dizes que a burguesia burguesia aboliu aboliu certas ce rtas coisas coisas que descre de screvest vestee como com o “idíli “idílica cas” s” e “rever “r everentes” entes” e as subst substiituiu tuiu por coisas coisas que descreveste descr eveste com o “sem piedade piedade”, ”, “frio “f rioss interesses”, interesses”, “duras”, “ duras”, “geladas”, “ geladas”, “egoí “ egoíst stas”, as”, “impudent “ impudentes” es” e “brutais”. “brutais”. MARX: Qual é, pois, tua pergunta acerca do que eu disse aí? SÓCRATES: SÓCRATES: Estás Está s contente que essa coisa “brutal” destruiu aquela coisa “idílica”? MARX: Sim Sim.. SÓCRA ÓCRATES: TES: Por que ela e la é boa ou por que ela é m á? Essa Essa coisa brutal é teu herói her ói ou teu teu vilão? Se é teu herói, por que admiras mais a coisa “brutal” que a “idílica”? Se é teu vilão, por que dizes estar contente por ela ter triunfado? MARX: MARX: Tu não entendes, Sócr Sócrates: ates: o bem e o m al são relativo r elativoss à históri história; a; não são ideias abst a bstra ratas tas atemporais e estáticas. Do ponto de vista feudal, o capitalismo burguês era mau, porque ele destruiu o feudalismo, mas, do ponto de vista comunista, ele era bom, pois aplainou o caminho para par a o com unismo. SÓCRATES: Assim, coisas que todos os homens considerariam más – algumas horrivelmente m ás –, como tortu tortura ra,, massacre m assacress ger gerais ais e m entira entirass deli delibera beradas, das, elas elas se tornam tornam boas simplesme simplesment ntee por sere se rem m úteis à tua re r e volução? voluçã o? MARX: Como eu disse, Sócrates, o bem e o mal são relativos historicamente. SÓCRATES ÓCRATES:: Isso signi significa fica que tua respost r espostaa à m inha inha pergunt per guntaa é “sim”? “sim ”? MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: Logo, qualquer coisa – absolutamente qualquer coisa – passa de má a boa quando é um m eio para para o fim fim comun com uniista? sta? MARX: Deve haver algum absoluto, Sócrates, algum fim que justifique todos os meios; para status quo social; para outros, é sua própria felicidade pessoal. alguns, ele é Deus, a família ou o status Mas um homem home m deve servir servir a alguma alguma causa, a algum algum fim. fim . SÓCRATES ÓCRATES:: Por certo. ce rto. No entanto, não não distin distingues gues entre fins que que libertam e fins f ins que escra e scravi vizzam ? MARX: Certamente o faço! Toda a história passada é escravidão; apenas o comunismo é libertação. SÓCRATES: Mesmo se, de acordo com os critérios normais, de acordo com todos os outros critérios que não sejam os comunistas, ele é exatamente o oposto? Mesmo se todos os seres humanos, exceto os comunistas, o odeiam? MARX: A verdade é relativa, Sócrates. SÓCRATES: Isso é verdade? MARX: Sim, é. SÓCRATES: ÓCRATES: Absolutam Absolutam ente? ente ?
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Comunismo é Predestinação?
SÓCRATES: Não haveria sentido em explorar os detalhes de tuas profecias acerca do que aconteceria à burguesia, ao proletariado, às estruturas de classe da sociedade e à sua economia, á que essas previsões não são mais matéria de discussão, mas de fato histórico. No entanto, filosofia ia da história. devemos exam inar tua tua filosof MARX: Devo te interromper, Sócrates. Estou confuso. Em que ano estamos agora? SÓCRATES: Não medimos o tempo dessa forma, aqui. MARX: Então como conheces a história? SÓCRATES: Todos os tempos históricos da terra são aqui tempos passados. MARX: MARX: Então conhece c onhecess tudo? tudo? Com Comoo fosses Deus? D eus? SÓCRATES: Não. Cada indivíduo sabe apenas o tanto que precisa saber de toda aquela vasta som som a de tem pos que cham ei aqui de passado. passado. MARX: Não entendo como isso pode ser verdade. SÓCRATES: Mas não tens de saber; precisas apenas compreender a ti mesmo e a teus pensam pensa m entos. Assim, Assim , faç fa ç am os um resum re sumoo de teu argum ar gumento ento e ssencial ssenc ial a respeito re speito da inevitabilidade da revolução. Tu escreveste: Todos os movimentos históricos têm sido, até hoje, movimentos de minorias ou em proveit prove itoo de m inorias. O m ovime ovim e nto proletário proletár io é o movim m ovimee nto indepe independente ndente da im ensa maioria em proveito da imensa maioria. Quiseste mesmo dizer essas coisas? Acreditas que são verdadeiras? MARX: É claro que sim. Sugeres que sou um mentiroso e um hipócrita? SÓCRATES ÓCRATES:: Certam ente não. MARX: Confias em mim, então? SÓCRATES: Apenas duas mentes sabem com certeza se tu mentes ou não: uma delas tu desconhec desconheces es e, mesm m esmoo agora, sim sim plesm plesmente ente não consegues consegues passar passar a acr a credit editar ar na existência existência dela. Mas isso não é necessário aqui, pois a outra tu conheces: é tu mesmo. Meu propósito aqui é só aj udar-te, jul j ulgando gando não a ti e sim sim ao teu lilivro, a conhecere conhece ress melh me lhor or a ti m esmo. esm o. MARX: MARX: Pois qual qual é tua questão questão ace a cerc rcaa de m eu livro? livro? SÓCRATES: Se acreditas no que escreveste na passagem que mencionei, então seria do interesse próprio própr io do comunis com unism m o apoiar apoia r a de dem m oc ocra racia cia por toda parte pa rte,, com c om e leições leiçõe s livre livress e ref r efee rendos. re ndos. MARX: MARX: Mas nós apoiam apoiam os as eleições e leições livre livres. s. SÓCRATES: Então, por que dependes do poder político de uma pequena minoria, de uma elite poderosa, poder osa, e, e , afina a final,l, do poder físi f ísicc o daquilo que cha c ham m as de a “derr “de rrubada ubada viole viole nta da burguesia” burgue sia”??
MARX: Dependo dessas coisas como meios para um fim, é claro. É à vontade dos proletários que nós, comuni com unist stas, as, servi ser vim m os. Ser Servi vim m os ao povo; ele não nos serve. serve . SÓCRATES ÓCRATES:: A “vontade dos proletários” é a vontade da m aioria? MARX: Sim Sim.. SÓCRATES ÓCRATES:: Mas a m aioria não nã o gosta gosta de ti! Ela não nã o gosta gosta do com unism unismo. o. MARX: No fundo, eles gostam, pois todos são a favor de seus próprios melhores interesses, e nós servimos a esses interesses. SÓCRATES: Mas eles não pensam que tu o fazes. Logo, tens de impor tua vontade pela força, quer est e stej ej as certo ce rto ou ou errado err ado em que o comuni com unismo smo serve aos melho m elhore ress int inter eresses esses do pov povo. o. MARX: A questão psicológica é inútil, Sócrates. Não precisamos discutir sobre almas e mentes e vontades. Os próprios proletários irão retirar essa discussão de nossas bocas e levá-la às ruas; eles m esmos esm os se levantar levantarão ão e subjugarã o seus seus opre opress ssores. ores. SÓCRATES: Mesmo que não se sintam oprimidos? MARX: Mas é claro que eles se sentem oprimidos. SÓCRATES ÓCRATES:: Tens raz ra zões que j ustifiq ustifiquem uem essa tua cre c rença nça,, eu suponho? suponho? MARX: Por certo. SÓCRATES ÓCRATES:: Aposto Aposto que que consegues consegue s adivinhar adivinhar qual será m inha inha próxima pergunt per gunta. a. MARX: Eu te digo as razões – minhas razões e as deles, pois elas são idênticas. Pra começo de conversa – como escrevi naquele mesmo trecho – “O proletário não tem propriedade”. SÓCRATES: Nenhuma mesmo, de tipo algum? MARX: Trata-se apenas de um leve exagero. Ademais, “suas relações com a mulher e os filhos nada têm têm de comum com um com c om as a s relaç relações ões fami fam iliares are s burgu burguesas”. esas”. SÓCRATES: Absolutamente nada? MARX: Sócrates, o Manifesto é um panfleto panfleto pop popul ular ar.. Exageros leves e sim sim plifi plifica cações ções excessi e xcessivas vas são necess nece ssár árias. ias. SÓCRATES: Continua a ler, por favor. MARX: “O trabalho industrial moderno, a sujeição do operário pelo capital [...] despoja o proletár prole tário io de todo cará ca ráter ter nacional”. nac ional”. SÓCRATES: Dizes, então, que os pobres são menos patriotas que os ricos? Devemos investigar essa alegaçã a legação, o, confrontando-a confrontando-a com estatís estatísti tica cas? s? MARX: O livro é um panfleto, Sócrates, e não uma lâmina acadêmica de estatísticas; ele fala a respeito da direção em que o mundo anda, não acerca de onde ele já está – trata-se da direção do futuro. SÓCRATES: Portanto, prevês um término para o nacionalismo. MARX: MARX: Não apenas para par a o nacio nac ionali nalismo, smo, mas m as para as nações. naçõe s. SÓCRATES: E, conseqüentemente, para as guerras. MARX: Sim. A última guerra será a revolução mundial do proletariado de todos os países, não apenas apena s contra contra a burguesia, burguesia, m as contra a própria própria nacionalid nacionalidade ade burguesa. burguesa. SÓCRATES: Prossegue com tua descrição da vida proletária nas nações burguesas. Precisamos
ver todo todo o teu teu panoram a, se pretendem os compará com pará-lo -lo justam justam ente aos fatos. fatos. MARX: Ademais, “as leis, a moral, a religião são para ele meros preconceitos burgueses”. otarás, Sócrates, que, quando defini “opressão”, fui tão específico quanto permite um curto panfleto panf leto e que organiz orga nizee i logica logicam m ente essas essa s espec e specificidade ificidadess em e m uma um a hierar hier arquia, quia, pa partindo rtindo do m a is ao m enos im im portante. portante. SÓCRATES: Mas, para a maioria dos próprios proletários, o último argumento é o mais importante, importante, e não o menos. m enos. MARX: Minha análise não é psicológica, mas histórica; eu classifico os argumentos segundo seu poder causal. ca usal. As relaç re lações ões de proprieda propr iedade de c a usam e sses elem ele m entos inte inte rm e diários, diár ios, tais ta is quais a s nações e a lei; já a moralidade e a religião são os efeitos mais fracos e estão no fundo da corrente. SÓCRATES: Nos certifiquemos de voltar, mais adiante, a essa tua alegação filosófica central. No entanto, entanto, por por hora, quero faz fa zer-te er -te apenas ape nas uma pergunta pergunta puram pura m ente factual fa ctual.. MARX: Pois pergunte, Sócrates. Os fatos são o meu forte. SÓCRATES: Algum dia viveste entre esses proletários, cujas vidas descreves de maneira tão notável? MARX: MARX: Eu não não preciso pre ciso ir até el e les; eles vêm a m im. SÓCRATES: Eles vieram a ti, de fato? Quantos proletários se juntaram ao teu partido comunista durante todos os anos de tua vida? Quantos amigos proletários tens? Ou mesmo conhecidos? Serias capaz ca paz de me m e dizer dizer m esmo esm o o nom nomee com c ompl pleto eto de um só proletário? proletário? MARX: Que pergunta ridícula! É claro que sim. SÓCRATES: Estou a esperar. MARX: MARX: Lenchen. Lenc hen. SÓCRATES: Ah, sim, aquela mulher camponesa que tua família mantinha como escrava, sem am ais pagar pagar-lhe -lhe um só cent ce ntavo avo como com o salário. salário. Estás Estás certo: realm re almente ente tens algum algum a experiência e xperiência da exploração. MARX: O que sabes sobre Lenchen? SÓCRATES: Sei que conseguiste tudo o que queria dela, não apenas financeiramente, mas também sexualmente. Sei que te recusaste a reconhecer como teu filho o menino que tiveste com ela, que te recusaste também a encontrar-te com ele e que o proibiste de ser visto à frente de tua casa por teus amigos ricos e influentes, de modo que ele só podia visitar sua mãe na c oz ozinha inha dos fundos. f undos. MARX: MARX: És um m entiroso, entiroso, Sócr Sócrates! ates! SÓCRATES ÓCRATES:: Nós não não podem os e nem ne m precisam pre cisam os discuti discutirr sobre isso, isso, Karl, pois pois sabes a verdade ver dade.. MARX: Chamo-te de mentiroso por teres alegado que estás aqui para julgar meu livro, não minha alma. SÓCRATES: Eu não conheço tua alma. Mas eu conheço a tua vida, e ela esclarece teu livro; portanto, porta nto, ela é, é , com j ustiç ustiç a , parte par te de m inha investigaçã investigaç ã o. Voltemos, porém, ao teu livro. Escreveste: A sociedade não nã o pode pode m ais exist existir ir sob sob sua sua [da burguesia] burguesia] domin dom inaç ação. ão. [...] A condiçã condiçãoo essencial da existência existência e da supre suprem m acia ac ia da classe classe burguesa é a acumulaçã ac umulaçãoo da riquez riquezaa
nas mãos m ãos dos dos particulares, particulares, a form f ormaç ação ão e o crescime cre sciment ntoo do capi ca pital tal;; a condiçã condiçãoo de existência do capital é o trabalho assalariado. Este baseia-se exclusivamente na concorrência dos operários entre si. O progresso da indústria, de que a burguesia é agent age ntee passivo passivo e inconsciente, inconsciente, subst substit itui ui o isol isolam am ento dos operá rios, rios, result r esultante ante de sua competi com petiçã ção, o, por por sua união revolucion revolucionár ária ia mediant m ediantee a associaç associação. ão. Assim Assim , o desenvolvimento da grande indústria socava o terreno em que a burguesia assentou o seu regime de produção e de apropriação dos produtos. A burguesia produz, sobretudo, seus próprios coveiros. cove iros. Sua queda que da e a vitóri vitóriaa do proletariado proletar iado são igualm igualmente ente inevitáveis. MARX: MARX: Estou Estou assaz orgulhoso orgulhoso desse desse pará pa rágra grafo, fo, se posso posso dizêdizê-lo lo eu mesm m esm o. SÓCRATES: E justamente. Eu te congratulo, de certo, pelo poder de tua escrita. Combinas aí um longo argumento lógico com uma retórica memorável. MARX: Mas tu te perguntas se isso é tudo verdade . SÓCRATES: Começas a me conhecer bem. Sim, é isso o que me pergunto, pois, por trás de tua retórica, há uma alegação muito importante: de que tu descobriste o mecanismo pelo qual a máquina funciona, isto é, a máquina da história social. MARX: Então, agora queres tentar refutar minhas alegações por meio de algumas observações empíricas e talvez de algumas estatísticas, não é isso? SÓCRATES: Não, quero pegar um caminho mais curto: desejo testar tua alegação por meio da lei da não-cont não-c ontra radi diçã ção. o. MARX: MARX: Não há qualquer qualquer cont c ontra radi diçã çãoo naquele pará grafo, graf o, eu te ass a sseguro. eguro. SÓCRATES: Talvez haja alguma contradição entre algo que está nele e algo que está fora dele: teu próprio próprio ato de de escrevêescr evê-lo lo.. MARX: MARX: O que queres quer es dizer dizer?? SÓCRATES: Alguém escreve livros para tentar persuadir as partes de uma máquina a fazer o trabalho que devem realizar por necessidade mecânica? Tu já viste algum Manifesto da lternância lternância de Engrenagens ? MARX: Não, mas foi tu quem usou a imagem da máquina, não eu. Prefiro uma analogia biológica biológica.. Eu descobri desc obri o m e canis ca nism m o pelo pe lo qual a sociedade socie dade e volui, volui, assi a ssim m c omo om o Darw Da rwin in descobriu desc obriu o mec m ecanis anism m o pelo pelo qual qual as espécies evoluem evoluem.. SÓCRATES: Mas, em ambas as analogias, a necessidade é igual. MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: Bem, alguém escreve livros para persuadir a seleção natural a continuar com seu trabalho? Tu já viste algum Manifesto dos Anfíbios Anfíbios? ? MARX: Isso é tolice, Sócrates. SÓCRATES ÓCRATES:: Sim, Sim, m as penso pe nso que que sej se j a tua a toli tolice ce,, não m inha. inha. Mas Ma s prossigam prossigamos os testando testando o que eu penso. Dize Dize -m e, por favor, fa vor, a lguém tenta persuadir per suadir os triângulos a conserva conse rvare rem m seus três trê s lados? Alguém tenta exortar duas maçãs a continuarem a ser metade de quatro maçãs? Alguém argument argume ntaa com c om a chuv chuvaa para fazê-la fazê-la cair, c air, ou ou com o corpo para para persuadi persuadi-lo -lo a env e nvelh elhec ecer? er? MARX: É claro que não.
SÓCRATES: ÓCRATES: E por que não? MARX: MARX: Porque cada ca da um desses desses argume ar gument ntos os é desnec desnecessário essário.. SÓCRATES ÓCRATES:: E por que eles são sã o desnecessár desnec essário ios? s? MARX: MARX: Porque as próprias próprias coisas coisas a que se ref r efere erem m são necess nece ssár árias. ias. SÓCRA ÓCRATES: TES: Cre Creio io que tu est e stás ás prec pr ecis isam am ente certo. ce rto. Todas Todas essas e ssas coisas são inevitáveis, inevitáveis, em vez de serem sere m escolhid escolhidas as livrem livrem ente. No entanto, entanto, diz dizes que a revol re volução ução proletária tam bém é inevit inevitável ável e necessária – e não acreditas que o livre arbítrio ou a livre escolha existam de fato. Pois por que, então, escrevest escre vestee teu liv livro ro para par a tentar tentar persuadir persuadir o proletariado a faz f azer er aquilo aquilo que, que, de acordo a cordo com o teu teu livro, livro, o prolet proletar ariado iado não não pode deixar de faz fa zer? er ? Para Pa ra que pregar à m áquina? áquina? MARX: MARX: Porque, mui m uito to em bora a revol re volução ução sej a inevitável inevitável,, ela precis pre cisaa de caus ca usas. as. Ela Ela acont a contec ecerá erá necessariam necessariam ente, ente, m as o fará far á po porr m eio de de causas necessárias necessárias – e um a dessas dessas caus ca usas as é m eu livro livro.. Assim, não preciso introduzir parcela alguma de livre arbítrio; eu sou um instrumento do destino, da história. SÓCRATES ÓCRATES:: Entendo. Entendo. Teu ato a to de de escre esc rever ver o livro livro é necessár nec essário. io. MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: E o que é necessário não é uma livre escolha da vontade? MARX: Correto. SÓCRATES: Portanto, teu ato de escrever não é uma livre escolha da tua mente ou da tua vontade? MARX: Certo. Como explico no capítulo 2: As concepções concepç ões teóricas teóricas dos comuni com unist stas as não se baseiam , de m odo algum, algum, em e m ideias ideias ou princípi princ ípios os inventa inventados dos ou descober desc obertos tos por por tal ta l ou qual refor re form m a dor do m undo. Sã Sã o apenas ape nas a expressão gera l das condições condições reais rea is de um a luta luta de clas c lasses ses exist existente, de um movimento histórico que se desenvolve sob os nossos olhos. SÓCRATES: Assim, não podes controlar como ocorre de tua língua se agitar ou de tua caneta se mover. MAR MARX: Ou m esmo como c omo m eu cérebro cé rebro pensa. pensa. SÓCRATES: Logo, os pensamentos presentes nesse teu livro são tão necessários, tão cativos, quanto aqueles que vêm a um homem insano porque um pedaço de osso está a pressionar uma parte par te de seu cér c érebr ebro. o. MARX: Sim, por certo. Todas as coisas têm causas que são necessárias e materiais, e essa lei se aplica também aos pensamentos. SÓCRATES: Tanto aos pensamentos sãos quanto aos insanos. MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: Então, por que alguém deveria prestar a mais mínima atenção aos seus pensam pensa m entos, ma m a s não aos a os do lunático? lunático? MARX: Porque os meus são científicos e, por conseguinte, tudo explicam e de tudo prestam contas. SÓCRATES ÓCRATES:: Exceto, talvez, talvez, de de seu se u próprio autor. Mas retornare retorna rem m os a isso isso mais m ais tar tarde. de.
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Proprie Proprie dade Privada P rivada
MARX: MARX: Sócra Sócrates, tes, teu propós propósit itoo realme rea lment ntee é exam inar inar m eu livro livro de form a j usta? usta? SÓCRATES: De fato é. MARX: MARX: Então, Então, deves seguir seguir seus tópi tópicos cos e sua sua ordem de m aneira m ais cuidadosa, cuidadosa, em vez de de sair continuamente pelas tuas tangentes filosóficas e idealistas acerca do livre arbítrio, da mente e do “eu”. SÓCRATES: Esses assuntos não são tangentes e tampouco são particularmente meus. Eu não obrigo os argumentos a me seguirem, mas obrigo a mim mesmo a seguir os argumentos. No entanto, estás certo ao dizer que devemos ser mais conscienciosos ao seguir os tópicos e a ordem de teu livro. Assim, olhemos para a relação que há entre o capítulo 1 e o capítulo 2. O primeiro, “Burgueses e proletários”, é sobre o passado e sobre o problema. Já o segundo, “Proletários e comuni com unist stas”, as”, é sobre sobre o futuro futuro e sobre sobre a solu soluçã ção. o. Esse Esse é um esboço adequado? MARX: É curto, mas acurado. Além do que disseste, no capítulo 2 eu destruo qualquer objeção ao comunismo. Dessa forma, tu, como filósofo, deverias gostar desse capítulo, já que gostas de argumentos. SÓCRATES: Gosto de argumentos apenas como gosto de mapas: eles são meios para um fim – e meu fim é a descoberta da verdade. Não obstante, fico contente que tu, que não compartilhas de m eu fim, fim , comparti com partilh lhes es ao menos m enos de de m eus mei me ios, os, os argumento argum entos. s. MARX: Por que dizes que não compartilho de teu fim? SÓCRATES: Tu mesmo o disseste. Falas explicitamente que o fim do comunismo é o poder, não a verdade: “O objetivo imediato dos comunistas é [...] [a] constituição dos proletários em classe, [a] [a ] derrubada de rrubada da supremac suprem acia ia burguesa, burguesa, [a] [ a] conqu conquis ista ta do poder poder polí político tico pelo proletariado”. proletariado”. MARX: Mas é claro que nosso objetivo é o poder: nós, comunistas, fazemos política, não filosofia. filosofia. E polít política ica gira em e m torno torno de poder. pode r. Logo, que m ais poder poderia ia ser nosso nosso objetivo obj etivo?? SÓCRATES: Eis aqui outra coisa: a política poderia girar em torno da justiça, da verdadeira ustiça. A força poderia ser colocada nas mãos da retidão, em vez da retidão ser determinada pela força for ça.. Essa é a alt a lter erna nati tiva va clássica c lássica a o teu sistem sistem a. MARX: Oh, referes-te à filosofia idealista que foi feita famosa por teu discípulo Platão em sua epública, aquela ilusão que Maquiavel refutou de uma vez por todas? SÓCRATES: Ah, refutou? Algum dia tenho de te contar acerca da conversa que tive com ele aqui; mas, em todo caso, tu realmente usas argumentos nesse capítulo, e eu fico contente de examiná-los. MARX: MARX: Por favor. fa vor. Gast Ga stas as quase tanto tanto tempo tem po diz dizendo o que vais va is faz fa zer quanto gastas gastas faz fa zendo-o. Eu á sabia que vós, filósofos, preferíeis pensar a agir, mas não percebera que havia algo de que gostáveis ainda mais que de pensar. SÓCRATES: E o que é isso? MARX: De pensar sobre o pensar. SÓCRATES: Touché . Parabéns, Karl, começas a desenvolver um senso de humor. O ar nestas terras erra s faz maravi ma ravillhas à m ente. ente.
MARX: MARX: Vam os ao que import im porta, a, por favor? f avor? SÓCRATES: Touché , outra vez. Bem, nesse capítulo, não tentas mesmo responder a “toda” objeçã obje çãoo ao com c omuni unismo, smo, com o diss dissera erass ins instant tantes es atrás, a trás, mas ma s àquelas nove nove que são provavelmente provavelm ente as mais sérias e as mais comuns. E todas essas objeções estão colocadas da mesma forma: o objetant obje tantee alega a lega que o comunism comunism o não é um benefício, be nefício, m as um m alefício; que ele destrói, destrói, em vez de criar, c riar, ou que que tira tira,, em vez de dar, dar , nove nove coi c oisas sas que que são precios pre ciosas as à raça ra ça humana: huma na: a propriedade propriedade privada, priva da, a individualid individualidaa de, a m otivaç otivação ão para par a o trabalho, tra balho, a c ultura ultura,, a fam fa m ília, ília, a e ducaç duca ç ã o privada pr ivada,, a m ono onogam gamia, ia, as nações e, fin f inalm almente, ente, a reli re ligi gião ão e a fi f iloso losofia. fia. MARX: Estás correto. E nota que ordeno essas coisas em uma hierarquia, na qual o item mais importante vem em primeiro e o menos importante em último. Portanto, digo que “[...] os comunistas podem resumir sua teoria nesta fórmula única: abolição da propriedade privada”. Mas vós, idealistas, entendestes a coisa da forma exatamente oposta. SÓCRATES: Mas que tolice nossa, pensarmos mais na verdade que no dinheiro! Bem, seguiremos tua ordem e investigaremos seus fundamentos mais tarde. Começaremos, como tu fizeste, fizeste, pelo pelo argumento argum ento acerc ac ercaa da propriedade propriedade privada. privada. Pri Pr im eiro, formul form ulast astee a objeçã obje çãoo de teu teu objetant obje tantee (a ( a propósit propósito, o, essa essa é uma um a técnica que rara ra ram m ente usas em tua tua escri escr ita; par parec eces es ter aversão aver são ao diálogo); diálogo); depoi depois, s, deste deste tua tua resposta. resposta. Eis Eis a objeção: Censuraram ensurara m -nos, -nos, a nós comunistas, comunistas, o quer querer er abolir abolir a propriedade propriedade pessoalme pessoalment ntee adquirida, fruto do trabalho do indivíduo, propriedade que se declara ser a base de toda liber liberdade dade,, de toda toda indepe independência ndência indivi individual. dual. E essa é tua resposta: A propriedade propriedade pessoal, pessoal, fruto fruto do tra trabalh balhoo e do m érit ér ito! o! Pretende-se P retende-se fal fa lar da proprieda propr iedade de do pequeno pe queno burguês, bur guês, do pequeno pe queno ca c a m ponês, form f orm a de proprie pr opriedade dade anterior à propriedade burguesa? Não precisamos aboli-la, porque o progresso da indústria já a aboliu e continua a aboli-la diariamente. Ou por ventura pretende-se fal fa lar da propriedade privada atu a tual, al, da propriedade propriedade burguesa? burguesa? Mas, o trabalho do proletário, o trabalho assalariado cria propriedade para o proletár prole tário? io? De nenhum m odo. Cria Cria o capit ca pital, al, isto isto é, é , a proprieda pr opriedade de que explora o trabalho assalariado e que só pode aumentar sob a condição de produzir novo trabalho assalar assalariado iado,, a fim de exploráexplorá-lo lo nov novam am ente. Em sua form a atu a tual al a propriedade propriedade se move entre os dois termos antagônicos: capital e trabalho. [...] Horrorizai-vos porque queremos abolir a propriedade privada. Mas em vossa sociedade sociedade a propriedade propriedade privada privada est e stáá abol a boliida para par a nove déci déc im os de de seus mem m em bros. bros. E é precis pre cisam am ente porque porque não nã o exist existee para pa ra estes nove nove décimos décim os que que ela e la existe existe para vós. vós. Acusai-nos, portanto, de querer abolir uma forma de propriedade que só pode existir com a cond c ondiição çã o de privar privar de toda toda propriedade a im ensa maiori m aioriaa da sociedade. Em resu re sum m o, acus ac usai-nos ai-nos de de querer abolir abolir vossa vossa propriedade. De fato fa to,, é isso isso que que queremos. Tua retórica é mesmo de alto nível, Karl. Mas vejamos se ela também é convincente à razão. A objeçã obje çãoo poderia poderia ser resumida r esumida da seguint seguintee form f orma, a, penso: o comuni com unismo smo abol a bolee a proprieda propr iedade de privada pr ivada.. Mas a proprieda propr iedade de privada pr ivada é uma um a boa coisa; c oisa; logo, logo, o com unism unism o abole uma um a
boa coisa. c oisa. Poré P orém m , tudo que que abole uma um a boa coisa c oisa é coisa ruim r uim;; logo, logo, o com unism unism o é um a coisa ruim. Esse Esse argume a rgument ntoo é logicam logicam ente válido, válido, de m odo que, se se desej de sejas as resp re spond onder er a ele, e le, deves achar ou uma premissa falsa ou um termo ambíguo. E tu concordas com a primeira premissa do argume ar gument ntoo – que que o comunis c omunism m o abole abole a propriedade propriedade privada privada –, mas m as não com sua sua concl c onclus usão ão – que o comuni com unismo smo é uma coisa coisa rui r uim m . Correto? Correto? MARX: Sim. E o termo ambíguo é “propriedade”. Esse é o cerne lógico de minha resposta à objeção, naquele longo trecho que citaste. O capitalismo burguês já aboliu a propriedade feudal , o tipo de propriedade que a burguesia idolatra. Não foi o comunismo quem aboliu isso, mas o c omunism m o irá abol a bolir ir a propriedade burguesa. capitalismo . O comunis SÓCRATES: Entendo. E dizes que essa propriedade burguesa tem de ser abolida, que ela é uma coisa coisa ruim ruim , não um um a coi c oisa sa boa boa (a ( a segunda segunda prem issa ssa de m eu resumo da obje ção al a legava que era uma coisa boa). Ademais, tu também ofereces uma razão para o que dizes: que a propriedade burguesa burgue sa é uma um a c oisa ruim porque e xiste xiste apenas ape nas para par a os proprietár propr ietários, ios, às c usta usta s dos trabalhadores. trabalhadores. Minha Minha análi aná lise se est e stáá correta, corre ta, até agora? a gora? MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: Então, por que ela é ruim? Por que é algo ruim que sejam negadas propriedades às m assas, de de m odo a perm iti itir que os proprietários proprietários pos possam sam acum ac umul ular ar esses bens? bens? MARX: MARX: Est Estás a fazer-m e troça? troça ? SÓCRATES: De maneira alguma. MARX: MARX: Então, Então, sugeres sugeres que um a sociedade sociedade gov gover ernada nada por barões bar ões lar larápio ápioss é uma um a boa coisa? coisa? SÓCRATES: Não, estou apenas pedindo que apresentes tua razão para achar que se trata de coisa ruim. MARX: Mas ninguém nega que uma tal sociedade seja ruim. Os capitalistas não negam essa prem pre m issa; issa; eles e les nega ne gam m a penas pena s que essa e ssa coisa c oisa ruim estej este j a sendo feita f eita sob o capitalism c apitalismo. o. SÓCRATES: Portanto, se capitalistas e comunistas concordam acerca disso, por que eles o faz fa zem ? Qual é sua ra zão? MARX: Ora, porque é exploração e opressão, é claro; é uma imposição de poder aos fracos da parte par te dos fortes. for tes. SÓCRATES: E por que isso é ruim ruim ? MARX: MARX: Essa Essa é uma pergunta pergunta tola, tola, que que ningu ninguém ém j am ais faz. faz. Não há discordância discordância de que isso isso sej sej a ruim. SÓCRATES: Mas pode haver discordância acerca de por que isso isso é uma coisa coisa rui r uim m. MARX: MARX: Que discordância discordância tens em m ente? SÓCRATES ÓCRATES:: Bem Bem , alg a lguns, uns, como com o eu, e u, diriam diriam que isso isso é ruim porque é inj inj usto. usto. É isso isso o que dizes? dizes? MARX: Eu não acredito em uma forma ou essência de justiça que seja imutável, universal e transcendente, ao contrário de ti. Creio que as ideias são apenas produtos das sociedades, de suas estruturas de classe e modelos de produção, e essas coisas mudam conforme a dialética da história se desdobra. Dessas duas premissas, segue-se que a validade de todas as ideias muda, que não há nenhum rein re inoo de verdades ver dades universais universais im im utáveis, utáveis, como “j “ j usti ustiça ça”, ”, que possa possa ser um padrão comum para comparar e julgar as diferentes sociedades, as diferentes eras e as diferentes
classes. SÓCRA ÓCRATES: TES: Foi Foi o que que pensei. Logo, não dirias dirias que falam fa lamos os de alg a lgoo que é ruim sim sim plesm plesm ente por ser inj inj usto. usto. MARX: Não. SÓCRATES: No entanto, chamas essa coisa de ruim. MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: Por razão alguma, ou por alguma razão? MARX: MARX: Por um a boa raz ra zão. SÓCRATES ÓCRATES:: Então, Então, pergunto pe rgunto-m -m e qual é tua tua raz ra zão. MARX: MARX: Essa Essa coisa coisa é ruim ruim porque porque não nã o avança avanç a a revol r evolução. ução. SÓCRATES ÓCRATES:: Mas por que a revol re voluçã uçãoo é boa? MARX: MARX: Porque e la resu re sullta na sociedade sociedade sem classes. classes. SÓCRATES: E por que isso é bom? MARX: MARX: Porque ela acaba ac aba com c om a opressão opressão e com c om a luta luta de classes. classes. SÓCRATES: ÓCRATES: E essas essa s coisas coisa s são ruins r uins?? MARX: Sim – de acordo com os critérios comunistas, mas não de acordo com os critérios das classes vencedoras. É isso que tu não entendes, Sócrates: que nossas ideias do bem e do mal são compl com pletam etamente ente relat re lativ ivas as à nossa nossa era e ra hist históri órica ca e à nossa nossa class c lassee social. social. SÓCRATES ÓCRATES:: Essa Essa é a nossa nossa diferenç difer ençaa filosófica filosófica m ais profunda, penso pe nso.. MARX: É a nossa diferença filos filosófi ófica ca mais profunda, mas as diferenças filosóficas não podem ser as mais profundas das diferenças. E isso mesmo se trata de nossa diferença filosófica mais profunda: prof unda: ac a c e rca rc a do status da fil f ilosofia, osofia, ace a cerc rcaa do status das ideias. ideia s. SÓCRATES ÓCRATES:: Queres Quer es dizer dizer que não nã o tens muit m uitaa estim estim a pela fil f ilosofi osofia. a. MARX: MARX: Quero Quer o diz dizer que sou um realis re alista, ta, e tu és um idea ideali list sta. a. SÓCRATES: É assim que geralmente somos classificados. No entanto, o que exatamente queres dizer com esses dois termos? MARX: Eu acredito que eventos reais causam ideias; tu acreditas que ideias causam eventos reais. SÓCRATES: Eu creio que o pensar é um evento real. Tu não? MARX: Olha, deixa-me ser teu Sócrates por um minuto. Concordas que os critérios ou padrões pelos quais julgam j ulgamos os os eventos eve ntos reais re ais são ideias? ideia s? SÓCRATES: Sim: eles são ideias acerca do que realmente é bom ou ruim. MARX: Agora, supõe que tens um estudante – vamos chamá-lo Platão – o qual pensavas ser teu amigo. Supõe, então, que um dia ele entra em tua casa e rouba todo o teu dinheiro. Tu não mudarias de ideia acerca dele e não deixarias de pensar que ele é teu amigo, passando a achar que ele é teu inimigo? SÓCRATES ÓCRATES:: Isso me é difícil difícil de imaginar im aginar.. MARX: MARX: Por quê? Por teres tanta tanta confi c onfiança ança em Platão?
SÓCRATES ÓCRATES:: Não, porque eu e u nunca tive tive dinheiro para par a que o roubassem . MARX: É sério, Sócrates, imagina o que eu disse, apenas para o bem da discussão. SÓCRATES: Alguns dizem que isso de fato ocorreu comigo, mas no reino das ideias, não do dinheiro. Posso usar essa situação em vez da tua? MARX: Não! Meu objetivo é justamente falar a respeito da impotência das ideias e do poder de Ac h3, o que estou a fazer? És provavelmente a última pessoa no mundo a coisas como o dinheiro. Ach respeito de quem eu poderia ter esperança de convencer disso. Olha aqui a qui,, tudo tudo o que preciso pre ciso de ti é que admitas que tuas ideias acerca de uma pessoa mudariam em função da forma diferente com que a pessoa pessoa agi a giu. u. SÓCRATES: Isso é verdade, é claro, e eu o admito. MARX: Pois não vês? A coisa é simples: nossas ideias são produtos de eventos reais, não as caus ca usas as deles. SÓCRATES: Com eventos “reais”, queres dizer apenas eventos materiais e não outros como o pensam pensa m ento. MARX: Sim, a menos que admitas que também o pensamento é também um evento material. SÓCR ÓCRATES: ATES: Não admi adm ito que seja sej a um evento meram me ram ente material. m aterial. MARX: MARX: Est Estás ás a desviardesviar-m m e de m eu argume ar gument nto! o! SÓCRATES: Estou apenas respondendo tuas questões. MARX: MARX: Admit Adm ites es que as a s ideias ideias são produtos de eventos e ventos m ateriais ater iais?? SÓCRATES ÓCRATES:: Cer Certam tamente. ente. O exem exe m plo plo do ladr ladrão ão m ostra ostra isso. isso. MARX: Bem, então, suposto mestre da lógica, não percebes as implicações lógicas de tal admis adm issão? são? Tu devias devias ser um m aterialist aterialistaa como com o eu, não um idea ideali list sta. a. SÓCRATES: Mas eu também creio que os eventos materiais são produtos de eventos mentais, que um homem move seu braço porque pensa que deveria mover seu braço. Negas que isso aconteça? MARX: Continuas a desviar-me para esse problema metafísico, não importa por onde comecemos! SÓCRATES: Eu pensara que a própria lógica do argumento é que fazia isso. Entretanto, supõe que fosse fosse m esmo esm o eu quem te desviasse desviasse e não nã o o argumento argum ento;; por por que eu não deveri dever ia faz f azêê-lo lo?? MARX: Porque deverias examinar meu livro, e ele não é sobre nenhum de teus assuntos favoritos, como essências supostamente objetivas, universais e imutáveis do homem, da mente, da justiça ou da verdade – mas sobre o poder, a riqueza, a história e o conflito de classe. SÓCRATES: Logo, é desleal de minha parte essa mudança de assunto. MARX: Sim Sim.. SÓCRATES ÓCRATES:: E, com “desl “de slea eal”, l”, queres quer es dizer dizer,, grosso coisa que que com c om “i “ injusto”? njusto”? grosso modo , a m esma coisa MARX: Suponho Suponho que sim. SÓCR ÓCRATES: ATES: Assi Assim m , recorres rec orres à j usti ustiça ça a fim de crit cr iticaricar-m m e por pensar ac erca er ca da jus j usti tiça ça.. MARX: MARX: Est Estou já j á impacient impac ientee com toda toda ess e ssaa esgrima lógi lógica ca.. SÓCRATES: Isso nos diz algo acerca de teus gostos e desgostos, mas nada sobre a natureza da
realidade que está fora de teus gostos e desgostos. MARX: Pois deixa-me dizer-te algo a respeito da natureza da realidade, se tiveres paciência o bastante basta nte para pa ra escutar esc utar.. SÓCRATES ÓCRATES:: Tenho esperado esper ado pacientem pa cientem ente j usto usto por isso. isso. MARX: Não somente a justiça, mas a própria natureza humana é maleável. É por isso que a ustiça humana muda. Existe justiça feudal, e existe justiça capitalista burguesa, e existe justiça comunista proletária, e elas são incompatíveis entre si. O que é justiça para uns é injustiça para outros, e a propriedade privada é o primeiro exemplo disso. Toda a burguesia chama injusto o fato de que, sob o comunismo, a propriedade é pública, e todos os comunistas chamam injusto o fato fa to de que, sob o capi ca pital talis ism m o burguês, burguês, a propriedade é privada privada e se acumula ac umula ent e ntre re a burguesia burguesia às às custas do proletariado. Vês, Sócrates? Justiça é um conceito de classe: não um conceito de classe lógico abstrato, um ênero – não existe uma justiça genérica –, mas um conceito de classe social . A justiça capi ca pittalist alistaa é a j usti ustiça ça burguesa; burguesa; a j usti ustiça ça comuni com unist staa é a j usti ustiça ça do proletariado. proletariado. SÓCRATES: Entendo. Segundo a tua explicação, cada classe social busca seu interesse próprio e cham a isso isso de “j usto usto”, ”, e a j usti ustiça ça se resu re sum m e a isso isso.. MARX: MARX: Exatamente. Exatam ente. Agora enxergas, enxerga s, Sócra Sócrates. tes. SÓCRATES: Mas não vejo, então, qual a diferença entre justiça e interesse próprio, entre justiça e egoí e goísmo smo ou entre j ust ustiça e pod poder er.. MARX: MARX: Por que deve haver ha ver qualquer qualquer dife difere rença, nça, em e m últi últim m a análi a nálise? se? SÓCRATES: Porque temos aí duas palavras muito diferentes: “justiça” e “poder”, as quais usamos de formas muito diferentes. Caso significassem a mesma coisa, não precisaríamos de duas palavras, mas de uma apenas. No entanto, temos duas, pois todos nós – até mesmo tu – ulgam ulgam os que que alguns usos usos do do poder são j ustos ustos e outros inj injust ustos; os; nós jul j ulgam gam os o poder poder pela j ustiça. ustiça. Ademais, tentamos moldar e limitar o egoísmo e o interesse próprio por essa outra coisa que chamamos de justiça. Ao menos, a vasta maioria da humanidade o faz, em qualquer era, tempo, cultura cultura e classe social. social. Poré m , tu pareces parec es discordar discordar deles; parece pare cess diz dizer que não exi e xist stee aquilo aquilo que que chamamos justiça, que se trata apenas de uma outra palavra para poder ou para interesse de classe classe – apenas ape nas uma outra outra palavra, não um um a outra outra coisa. MARX: Concordo que é nisto que diferimos: pensas que a justiça é coisa real, mas eu não o faço. Todavia, como pretendes descobrir se ela é uma coisa ou apenas uma palavra? Essa discussão não passa de um argumento abstrato, desprovido de fatos empíricos que possam refutar os argume ar gument ntos os,, de m odo que que est e stam am os como páss pá ssar aros os a voar pelo ar vazio vazio.. SÓCRATES: Proponho que comecemos pelo conhecimento daquilo a respeito de que estamos discutindo. Precisamos ter algum conceito de justiça a fim de afirmarmos que ela existe e, igualmente, precisamos ter algum conceito dela para afirmarmos que ela não existe. Logo, qual é ess e ssee con c onceit ceitoo que que as a s mass ma ssas as acredi acr edittam ser uma coisa coisa e tu acreditas acreditas ser uma m era palavra? palavra? MARX: Essa é precisamente a nossa diferença, Sócrates: eu digo que a justiça é um mero conceito, um fantasma, um devaneio, uma fantasia, não uma coisa real. SÓCRA ÓCRATES: TES: Mas eu não perguntei pe rguntei sua sua condição na realidade; re alidade; pergunt per guntei ei o seu se u signi significa ficado. do. Queria Quer ia saber sua essência, mas tu me falaste de sua existência (ou inexistência, segundo tu). Contudo, ainda ainda que que est e stej ej as cert cer to e a j ust ustiça seja uma m era fantasi fantasia, temos de saber saber o que é essa coi c oisa sa que
é uma m era fantasi fantasia. a. MARX: MARX: Eu m e rec r ecus usoo a gastar gastar m eu tempo tem po e pensamento pensam ento em j ogo ogoss de de palavras palavra s como com o os que tu tu e Platão jogavam. SÓCRATES: Em outras palavras, não queres ou não podes responder à minha questão. MARX: O que posso e quero fazer é insistir que retornes aos dados, àquilo que escrevi em meu anifesto em respost respostaa à objeção obje ção acerc ac ercaa da propried propriedade. ade. SÓCRATES: Com prazer. O objetante diz que o comunismo é ruim porque destrói a propriedade privada, priva da, a qual é boa, e tua resposta r esposta é que o com c omunismo unismo não destrói a propriedade privada, pois o capitalismo já o fizera. Assim, o capitalismo é o vilão. Esse é um resumo justo? MARX: Expresso à tua maneira, sim. O comunismo apenas destrói a propriedade privada “maléfica”, isto é, a propriedade capitalista, a propriedade burguesa. O que não entendes, pois, acerca disso? SÓCRATES: Isto: se o capitalismo destruiu algo bom, por que não restaurar essa coisa boa? Por que se unir aos capitalistas em se opor a toda a ordem medieval pré-industrial de forma ainda mais veemente que a do capitalismo, se essa ordem é boa? Mas, se essa ordem é ruim, então o capitalismo não é o vilão, mas o herói, por tê-la destruído. MARX: Novamente, pressupões critérios absolutos e imutáveis de bem e mal, Sócrates. Eu rejeito tua pressuposição. Toda a tua lógica é baseada nessas tuas “formas eternas”, as quais sim sim plesm plesmente ente não exi e xist stem em . SÓCRATES: Então, tu te recusas a satisfazer requisições lógicas simples como “define teus termos” ou “prova que não estás a contradizer a ti mesmo” porque não crês que nada exista de imutável, m esmo esm o na lógi lógica ca?? MARX: Eu não disse isso. Posso fazer lógica formal tão bem quanto tu, assim como posso fazer matemática. SÓCRATES: Assim, por favor, responde à minha pergunta: qual é o termo ambíguo, a premissa fals fa lsaa ou a falácia fa lácia lógica lógica no argume ar gument ntoo contra contra o comuni com unismo smo ao a o qual estás estás a resp re spond onder er aqui? aqui? MARX: Eu já te disse: o termo ambíguo é “propriedade”. A dialética histórica não produz uma única forma eterna e imutável chamada “propriedade”, mas muitas formas diferentes e incompatíveis de propriedade, muitas coisas diferentes que são todas chamadas pelo mesmo nome. nome . E digo digo o mesmo me smo a respeito respeito do “bem” “bem ” e do “mal”: “m al”: eles são são relat re latiivos hist histori orica cam m ente. O que é bom em um estágio, por servir à marcha da história, é mau em um outro, porque retarda essa marcha – da mesma forma que um homem passa pelo mesmo nível intermediário de água do mar conforme afunda até as profundezas e se afoga e, de novo, à medida em que sobe à superfície ao ser resgatado: em direção ao fundo, é um regresso; em direção ao topo, é um progre progr e sso. SÓCRATES: Logo, o capitalismo é como esse nível intermediário de água do mar. MARX: Sim. O capitalismo é bom por servir o propósito da história ao abrir caminho para o comuni com unismo, smo, e é ruim ao a o ser o últi últim m o obst obstác ácul uloo a uma um a ordem orde m m und undial ial comuni com unist sta. a. Vê,, eis aí o erro Vê er ro fundam f undamental ental de vós, idea ideali list stas as e absoluti absolutist stas. as. Mesmo Mesm o quando não falais fa lais de Deus, De us, im im buis buis em vossas vossas ideias atributos atributos divin divinos. os. Presumis, Pre sumis, de novo e de novo, a existênc existência ia de um padrã padr ã o imutáve im utável,l, atem poral, pora l, idea ideal,l, perfe per feit itoo e im a terial ter ial de bondade bonda de ou j ustiça ustiça – algo que está e stá fora for a da história e acima dela, julgando-a qual um deus. Portanto, vós sois seus profetas; julgais cada
era er a e sociedade sociedade m utável utável pelo mesm m esmoo crit cr itér ério io im im utável. utável. Digo, Digo, poré porém m , que os voss vossos os critér critériios nada mais são que vossos preconceitos, produzidos em vós pelas formas mutáveis de vossas sociedades. Mudanças sociais concretas e reais são as causas de vossas ideias. As sociedades produzem e ssas ideias nas na s mente m entess de seus se us cidadãos; cidadã os; as mudanç m udançaa s sociais causam ca usam a s ideias, em em vez de as a s ideias ideias causarem causare m as mudanças m udanças sociais sociais.. SÓCRA ÓCRATES: TES: Congratul Congratuloo a ti por por teres ter es identifica identificado do o ponto-c ponto-chave have de dife difere rença nça filosófica filosófica entre nós – entre e ntre todos vós mate m ateria riali listas, stas, com c omunis unistas tas ou não, e todas as a s pessoas pe ssoas com c omuns: uns: vós pensais pensa is que a s árvores ár vores movem m ovem o vento, vento, enquanto enquanto nós nós pensam pensamos os que que o vento move as a s árvores. MARX: Não compreendo tua metáfora. Tanto o vento quando as árvores são coisas materiais. ós divergimos a respeito de como a matéria e o pensamento se relacionam, não a respeito de como com o duas duas coisas coisas materiais m ateriais se rel re laci ac ionam. onam . SÓCRATES: Desculpa-me: eu me esqueci do quanto vós, materialistas, tendeis a interpretar tudo literalmente. Eu pretendia usar as árvores como símbolos de todas as coisas materiais, visíveis, e o vento com o sím sím bolo bolo de todas todas as a s coisas invis invisíveis íveis,, espi e spiritu rituais, ais, com o ideias e escolh esc olhas. as. MARX: MARX: Portanto, Portanto, estás estás a usar usar uma analogia analogia como c omo argum a rgumento ento,, e isso isso é um a faláci falác ia lógi lógica ca.. SÓCRATES: Minha analogia nada visa provar, apenas iluminar; ela não é um argumento, mas uma expli explicação. ca ção. MARX: Bem, ela falha, ela engana. Podes chamar-nos de literalistas, mas nós, materialistas, somos científicos, e vós, idealistas, não o sois. SÓCRATES: Por que, pensas, isso é assim? MARX: Porque a ciência descobriu as causas materiais da mente. Cientificamente falando, a m ente humana huma na é insig nsigni nificante. ficante. SÓCRATES: Como pode ser? Cientificamente falando, a mente humana é o cientista! MARX: Isso é um jogo abstrato de palavras! Prefiro ser concreto, em vez disso. É por isso que digo que, não importa o que o indivíduo seja, mente ou matéria, o indivíduo é insignificante, hist historicam oricam ente fal fa lando. SÓCRATES: Mas, historicamente falando, o indivíduo é o historiador! MARX: És ótimo em retórica, Sócrates. SÓCRATES ÓCRATES:: Não, não nã o sou. Isso Isso não é retóri re tórica ca,, é lógica. lógica. MARX: MARX: Cham Chamaa do que que prefer pref eriir. Eu recorr re corroo aos fatos, fatos, não à lógi lógica ca.. Tu podes podes servir servir à lógi lógica ca,, mas m as eu sirvo à história, e os vencedores e perdedores da história não são determinados por quem tem o maior número de argumentos lógicos. Minha filosofia vencerá como fato histórico, de modo que não me m e import im portoo se se ela e la vencerá vence rá nesse nesse j ogu oguin inho ho que que cham c hamas as de diálogo diálogo ou argument argume nto. o. SÓCRATES ÓCRATES:: Então, Então, por que discutir, discutir, afin af inal? al? P or que não usar arm ar m as de fogo, em vez diss disso? o? MARX: MARX: Há arm a rm as de fogo f ogo aqui aqui? SÓCRATES: Não. Deves usar argumentos; eles são as tuas únicas armas aqui. MARX: MARX: Pois hei de usá-los, ma s não de servi-los se rvi-los.. SÓCRATES: Por que os usas? MARX: MARX: Para Par a m over alguns alguns homens home ns,, algum algumas as vezes, vezes, “a pena pe na é m ais forte forte que a esp e spada” ada”.. SÓCRATES ÓCRATES:: Logo, Logo, o poder sobre sobre os homens home ns é que é teu objetivo obj etivo..
MARX: Eu sou um político, Sócrates, não um filósofo. SÓCRATES: Tomarei isso como um “sim”. Buscas o poder, pois, pelo próprio poder, ou como um m eio a serviço serviço de alg a lgoo superio superior, r, como com o a jus j usttiça? MARX: Eu já te disse, Sócrates: não há qualquer espécie de justiça universal e genérica. SÓCRATES: E dizes o mesmo acerca da verdade que dizes sobre a justiça? MARX: Sim. Ela muda com a história. SÓCRATES ÓCRATES:: Por conseguinte, conseguinte, não nã o existem existem quaisquer quaisquer verdade ver dadess univer universais sais e imut im utáve áveis is.. MARX: Não. SÓCRATES ÓCRATES:: Então, Então, todas as verdade ver dadess mudam m udam ? MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: E essa verdade, ela é uma verdade universal e imutável? MARX: Cansam-me esses teus belos joguinhos de lógica, Sócrates. SÓCRATES: Falas de teus sentimentos, mas nada me dizes dos fatos. É isso o que queres dizer com ser cient c ientífi ífico? co? MARX: Conhecemos os fatos com os nossos sentidos, Sócrates, não com argumentos e ideias abstratos. SÓCRATES: Mas esse princípio é, ele mesmo, uma ideia, ou um argumento. MARX: Deixa-me dizê-lo de maneira bem clara: sou um empirista. Nós apenas sabemos o que vemos vem os;; o rest re stoo é esp e spec ecul ulaç ação. ão. SÓCRATES: “Vemos”, com os nossos sentidos? MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: Mas nós não vemos isso com os nossos sentidos, pois isso não é um um a coisa, dotada dotada de cor, ou um evento, que se movimenta no espaço. Trata-se de uma ideia, uma crença, uma proposição. proposiçã o. Ninguém pode vê-la. vê- la. P ortanto, orta nto, se e stás c erto er to e m dizer dizer que a penas pena s c onhecem onhec em os aquil aquilo que vem os, os, então não conhecem conhece m os isso. MARX: Sócrates, eu pensava que teu propósito aqui fosse examinar meu livro. SÓCRATES: E é. MARX: Mas não falamos dele há muito tempo. SÓCRATES: Não obstante, não o esquecemos. Estamos a explorar suas duas capas, por assim diz dizer: er : seus seus pressu pre ssupost postos os e suas implicaç ões, suas fundações fundaç ões e suas consequências. consequênc ias. MARX: MARX: Bem Bem , passemos passem os a expl e xploráorá- lo, em vez diss disso. o. Por que devem de vemos os lut lutar ar em teu ter territ ritóri órioo e não nã o no m eu? SÓCRATES: Para começar, porque não estamos lutando. Ademais, porque, embora teu livro possa ser se r teu, as a s leis do rac ra c iocínio lógico lógico nã nãoo são sã o m a is tuas do que m inhas, no m a is míni m ínim m o; elas ela s são como as leis da física, da geometria ou da aritmética. Mas sim, devemos retornar ao teu livro. 3 N.T.: Interjeição alemã que expressa descontentamento.
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Objeções ao Comunismo
SÓCRATES: As sete próximas objeções ao comunismo que listas, e tuas respostas a todas elas, pare par e c em todas se e nquadra nquadr a r no m e smo sm o padrã padr ã o lógico. lógico. P ortanto, orta nto, c onside onsidere rem m os todas as sete objeções obje ções ao m esmo esm o tem tem po. Eis Eis aqui um resum r esumoo do que tu tu escrevest escre veste: e: [Objeç [Obj eção ão 2] “[...] “ [...] A burguesia burguesia verbera verber a [... [ ...]] a abolição abolição da indivi individual dualid idade ade [...] [sob o comunismo]. [Resposta] [Resposta] Confessais, pois, pois, que quando qua ndo falais fa lais do indi indiví víduo, duo, quereis quere is refer ref erir-vos ir-vos unicamente ao burguês, ao proprietário burguês. E este indivíduo, sem dúvida, deve ser suprimido. [Objeç [Obj eção ão 3] Alega-se ain a inda da que, com a abol a boliição çã o da propriedade propriedade privada, toda toda a atividade cessaria, uma inércia geral apoderar-se-ia do mundo. [Resposta] Se isso fosse verdade, há muito que a sociedade burguesa teria sucum sucumbi bido do à ocio oc iosi sidade, dade, pois pois que que os que que no regime burguês burguês trabalham não lucr lucram am e os que lucram não trabalham. [Objeç [Obj eção ão 4] As acusações acusaç ões feitas feitas contra contra o m odo comuni com unist staa de produção e de apropriação apropriaçã o dos produt produtos os materiai ma teriaiss têm têm sido sido feitas feitas igualm igualmente ente cont c ontra ra a produçã produçãoo e a apropriação dos produtos do trabalho intelectual. Assim como o desaparecimento da proprieda propr iedade de de c lasse equivale, e quivale, para pa ra o burguês, burguê s, ao desapa de sapare recc ime im e nto de toda a produçã produç ã o, també tam bém m o desapar desa paree c ime im e nto da cult c ultura ura de classe c lasse significa, significa , para par a ele, e le, o desaparecim desapare cimento ento de toda toda a cul c ultu tura ra.. [Respos [Resposta] ta] A cul c ulttura, cuj c ujaa perda pe rda o burguês deplo deplora ra,, é, para a imensa im ensa m aioria aioria dos homens, apenas um adestramento que os transforma em máquinas. Mas não discutais conosco enquanto aplicardes à abolição da propriedade burguesa burgue sa o critér c ritério io de vossas noçõe s burguesas burgue sas de liber liberdade dade,, cultura, cultura , direit dire ito, o, etc. etc . Vossas Vossas próprias próprias ideias ideias decorrem decorre m do regime burguês burguês de produção e de propriedade burguesa, burgue sa, assi a ssim m c omo om o vosso dire direit itoo não passa pa ssa da vontade de vossa c lasse erigida e rigida em em lei, vontade cujo conteúdo é determinado pelas condições materiais de vossa existência existência com o classe. [Objeç [Obj eção ão 5] Aboliçã Aboliçãoo da fam fa m ília! lia! Até os mai ma is radicais fica ficam m indi indignado gnadoss diante diante desse desígnio infame dos comunistas. [Respos [Resposta] ta] Sobre Sobre que fundamento fundam ento repousa repousa a fam ília ília atual, a fa m ília lia burguesa? burguesa? No ca c a pita pita l, no ganho individual. individual. A fam fa m ília, ília, na sua plenitude, só exist e xistee para pa ra a burguesia, burgue sia, m as encontra encontra seu compl com plem em ento na supre supress ssão ão forçada forç ada da fam f am ília ília para o proletár proletário io e na prostituiçã prostituiçãoo pública pública.. A família burguesa desvanece-se naturalmente com o desvanecer de seu compl com plem em ento, ento, e uma e outra outra desapare desaparecer cerão ão com o desaparec desapareciim ento ento do capit capital. Acusai-nos de querer abolir a exploração das crianças por seus próprios pais? Confessamos este crime. [Objeção 6] Dizeis também que destruímos os vínculos mais íntimos, substituindo a educação doméstica pela educação social. [Respos [Resposta] ta] E voss vossaa educaç e ducação ão não é tam bém determin determ inada ada pela pe la sociedade, sociedade, pelas condições sociais em que educa e ducais is vossos vossos filhos, filhos, pela pela interve intervençã nçãoo dire direta ta ou indi indire reta ta da sociedade, por meio de vossas escolas, etc.? Os comunistas não inventaram essa
intromis ntromissão são da da sociedade sociedade na educação, educaç ão, apenas m ud udara aram m seu caráter e arrancam arra ncam a educaçã educa çãoo à influência influência da class c lassee domi dom inante. nante. As declamações burguesas sobre a família e a educação, sobre os doces laços que unem unem a criança c riança a os pais, pais, tornam tornam-se -se cada ca da vez m ais repugnant repugnantes es à m edida edida que a grande indústria destrói todos os laços familiares do proletário e transforma as cri cr ianças ança s em sim sim ples ples objeto obje toss de com ércio, ér cio, em sim sim ples ples instru instrum m entos entos de trabalho. trabalho. [Objeç [Obj eção ão 7] Toda Toda a burguesi burguesiaa grita grita em coro: ‘Vós ‘Vós,, com unist unistas, as, quereis introduzir a comunidade das mulheres!’ [Respos [Resposta] ta] Par P araa o burguês, burguês, sua sua m ulher ulher nada na da m ais é que um inst instrum rumento ento de de produçã produç ã o. Ouvindo diz dize r que os instrum instrumee ntos de produçã pr oduçãoo serão ser ão explora e xplorados dos em comum, conclui naturalmente que haverá comunidade de mulheres... Os comunistas não precisam introduzir a comunidade das mulheres. Esta quase sempre existiu. Nossos burgueses, burguese s, não contentes c ontentes em e m ter à sua disposiç disposiç ã o as m ulheres ulhere s e as a s filhas dos proletários proletários,, sem falar fa lar da prost prostitui ituiçã çãoo oficial, oficial, têm têm singu singullar prazer prazer em corneare cornea rem m -se uns aos outros. O casamento burguês é, na realidade, a comunidade das mulheres casadas. No m áximo, poder poderiiam acus ac usar ar os comunist comunistas de querer quer er subs substi titu tuir ir uma comuni com unidade dade de m ulhere ulheres, s, hipócrit hipócritaa e diss dissimulada, imulada, por outra outra que seria fra f ranca nca e oficial. oficial. [Objeç [Obj eção ão 8] Além diss disso, o, os comuni com unist stas as são acus ac usados ados de de querer abolir abolir a pátri pá tria, a, a nacionali nacionalidade. [Resposta] Os operários não têm pátria. Não se lhes pode tirar aquilo que não possuem.” possuem .” Pronto! Creio que esse tenha sido um excerto longo o suficiente para saciar, por enquanto, tua tua sede por dados escritos escritos.. Ora, vej o o mesmo me smo padrão padrã o lógi lógico co em cada ca da uma um a dessas obj obj eções; eç ões; elas dizem que o comunismo é ruim porque abole algo bom: a propriedade, a individualidade, o trabalho, a cultura, as famílias, a educação do lar, a monogamia e as nações. E vejo o mesmo padrã padr ã o lógic lógic o em c a da um a de tuas tua s respost re spostaa s: que que é o ca c a pita pita lism lismo, o, não o com c omunis unism m o, quem prom oveu j á essa e ssa aboli a boliçç ã o. Minha Minha análise a nálise está e stá corr c orree ta, até a té aí? a í? MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: Assim, em cada caso, não negas o argumento factual feito pelo objetor em cada objeçã obje ção: o: que, que, sob o comuni com unismo, smo, nenhuma das coisas coisas discuti discutidas das em cada ca da caso c aso poder poderáá existi existir. r. MARX: MARX: Não em sua sua form f ormaa ant a ntig iga. a. SÓCRATES: Mas negas o argumento de valor, isto é, a valoração do fato realizada pelo objetor. Deslocas a culpa pelo estrago do comunismo para o capitalismo, tal como uma criança, acusada de brigar brigar,, poderia poderia resp re spond onder: er: “m as ele com eçou!”. eç ou!”. No entanto entanto,, contin continuas uas a mesm m esmaa luta luta de form f ormaa ainda mais radical, não é? Qual uma criança acusada de incendiar coisas com um fósforo, apontas apontas para os fósforos de uma um a outra outra criança c riança e, e , em seguida, seguida, retornas a teu própri próprioo maç m açar ariico. MARX: MARX: Teus insult insultos os infa infant ntis is pouco pouco importam im portam;; o que eu e u digo digo é verdade ver dade.. SÓCRATES: Meu ponto aqui não é que te falte verdade, mas que te falta lógica. A forma lógica de todas as tuas respostas é a falácia à qual os lógicos chamam de tu quoque (“tu também”, em latim). MARX: Explica isso, por favor. SÓCRATES: Para usar uma analogia bélica ou esportiva, substituis uma ofensa por uma defesa,
ou, para usar um termo psicológico, fazes “transferência”, que é a necessidade de culpar teu acusador por aquilo que ele te pega fazendo. MARX: Mas ele está a faz f azê-lo! ê-lo! SÓCRATES: Talvez esteja. Porém, o que dizes revela mais acerca de ti do que dele. Tu pareces ficar m ais content contentee de provar que teu acusador está errado err ado que que de provar que tu estás certo, mais ma is content contentee em e m admi adm itir que am a m bo boss causaram m ales que que em admi adm itir que am bo boss fiz fizeram era m bens. bens. O m al do capitalismo parece a ti tão mais importante que o bem do comunismo que nem mesmo tentas responder à acusação de que o comunismo é mal! Tudo o que tentas fazer é mostrar que o capitalismo também é mal. Ora, eu não sou um psicólogo, mas parece bem óbvio, mesmo a mim, que tens uma obsessão por teu inimigo, ou por teu próprio ódio ardente por ele. MARX: MARX: Ele Ele m erece ere ce ser odiado! odiado! Houvesse Houvesse um Deus, Ele Ele tam bém o odiaria! odiaria! SÓCRATES: Logo, vês a ti mesmo como o profeta Dele – desse Deus frio e colérico? MARX: Tu leste meus poemas, não foi? SÓCRATES: Sim, de fato li. Achei sua linguagem muito poderosa e cativante – especialmente nas Canções Selvagens que publicaste em 1841, nas quais chamas a nós, humanos, de “símios de um Deus frio” e diz dizes: “hei de lançar terríveis terríveis maldi m aldições ções sobre sobre a humanid hum anidade” ade”.. MARX: MARX: Obrigado Obrigado por por perc pe rceber eberes es o poder que há nelas. SÓCRATES: Também percebi, creio, o ódio e a misantropia que há ali. Frequentemente citaste, com aprovaçã aprovação, o, uma fala do di diabo em Fausto: “tud “tudoo o que que exist existe m erece ere ce perecer”. perece r”. Em verdade, a maioria dos teus escritos vicejam sobre catástrofes, violências, apocalipses, pactos com o diabo e suicídios. Houvesses vivido no século vinte, penso que irias te comprazer em ver uma bola de fogo destrutiva incinerar toda uma cidade ou uma missão suicida explodir os edifícios mais altos do mundo. Ademais, penso ter visto algo ainda pior, algo que não vejo em muitos outros que também iriam se comprazer de tal destruição: que tu não te comprazes em ver uma mãe amamentar um bebê ou uma família privada feliz, contente e amorosa em seu próprio lar, desfrutando da companhia um do outro e dos prazeres simples da natureza. MARX: Que baboseira nojenta e baixa lanças em mim, Sócrates! És verdadeiramente um idiota burguês, burguê s, afa a fagando gando em tua m e nte essas e ssas image im agens ns de bebês bebê s e m ã es a a m am e ntar enquanto enqua nto o velho ve lho m un undo do qu queima eima e m ud udaa para sem pre. SÓCRATES ÓCRATES:: Não m ais estás nesse ve lho lho mundo, m undo, Karl. MARX: MARX: A que mund m undoo te te refe re feres? res? SÓCRATES: Ao mundo que era cheio de famílias e de natureza, ao mundo que foi criado por teu Inimigo. MARX: A burguesia matou esse velho mundo, não eu. SÓCRATES: Ela não o fez. Esse mundo continuará a existir, séculos mais tarde, quando teus sonho sonhoss febris houv houver erem em m orrido, orrido, após levar levarem em m ilhões ilhões de vidas vidas com eles. MARX: Conta-me mais sobre o futuro. SÓCRATES: Contar-te-ei apenas isto, Karl: que, no final das contas, tuas ideias são responsáveis por um m a ior númer núm eroo de m ortes, orte s, ma m a ior destruição, destruiç ão, m aior númer núm eroo de assassinatos, a ssassinatos, ma ior miséria m iséria e m aior caos ca os que aquelas de quaisq quaisquer uer outros outros pensadores pensadores ou escritores escritores que já j á viveram . MARX: A história atribuiu-me este destino: ser o profeta do apocalipse! Sabes, em minha versão
original de A Ide ologia ologia Alemã Alem ã , profetizei um Juízo Final: “quando os reflexos das cidades em chamas forem vistos nos céus [...] e quando as ‘harmonias celestiais’consistirem das melodias da arseillaise e da Carmagnole , tendo como acompanhamento canhões ribombantes, enquanto a guilhotina marca o tempo e as massas inflamadas gritam Ça ira, ça ira, e a autoconsciência está pendura pendur a da no poste de luz”. luz”. SÓCRATES: Devo parabenizar-te: essa é uma descrições mais poderosas da mente do Inferno que o mund m undoo já j á viu. Achei a última última linha inha esp e spec ecial ialm m ente profunda. profunda. MARX: Ultrapassas teus limites, ironista cruel. Devias examinar meu livro, como um homem, e não minha alma, como um deus. Quem pensas que és? SÓCRATES: Minha tarefa durante toda a minha vida foi descobrir isso. Talvez eu tenha mesmo ultrapassado os limites de minha tarefa de filósofo, mas todo filósofo é homem antes de ser filósofo. Já com relação a ultrapassar limites ao pretender ser um Deus que julga – essa é prec pre c isamente isam ente m inha a cusaçã cusa çãoo contra c ontra ti. ti. E, nessa a cusaçã cusa ção, o, tudo o que fiz foi ler a s tuas palavra pala vrass e elo e logi giar ar-te -te por seu poder poder.. MARX: MARX: Não podes podes j ulgar ulgar m inha inha al a lm a. SÓCRATES: De fato não posso – especialmente se não tens uma, como alegas em tua filosofia. Mas posso julgar as palavras que publicaste; isso não é ultrapassar meus limites. MARX: Abandonaste meu livro no meio da discussão. Deixaste sete bons argumentos pairando no ar. SÓCRATES: Pois voltarei a eles agora. MARX: MARX: Por quê? O que te m otiva? otiva? SÓCR ÓCRATES: ATES: O desej desej o de aj udar-te a c onh onhec ecer eres es a ti m esmo. esm o. MARX: MARX: E se se eu e u não te te acom a companhar panhar nessa estrada? SÓCRATES ÓCRATES:: Essa Essa escolh e scolhaa não est e stáá m ais aberta abe rta a ti. ti. MARX: MARX: Com Como? o? P or que não? SÓCRATES: Porque estás morto. MARX: MARX: Onde estou, então? SÓCRATES ÓCRATES:: Estás Estás naquele lugar onde a autoconsciência não pode ser se r pendurada pe ndurada no poste. poste.
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Individu Individuali alidade dade
SÓCRATES: Temos de completar nossa análise de teu livrinho. Não podemos deixar de vasculhar vasculhar nenhu nenhum m cant ca ntoo importante importante dele, não inter interessa essa que criatu c riatura rass poss possam am se escond e sconder er ali. ali. Já exploram exploramos os a prim prim eira objeção obje ção ao a o comun com uniismo, acerca ace rca da propried propriedade ade privada. privada. A segunda segunda concerne c oncerne à indi indivi vidual dualid idade. ade. Em resposta resposta à objeçã obje çãoo de que o comunis c omunism m o abole abole a indiv individu idualid alidade ade,, dizes dizes duas dua s coisas: primeiro, prime iro, que ele e le abol a bolee apenas ape nas a indivi individuali dualidade dade burguesa e, em segundo, que a burguesia já aboliu a individualidade. MARX: Sim. E isso não é uma contradição, ao contrário do que provavelmente dirás, porque “individualidade” não é uma coisa só, mas várias. Ela é, como dizeis vós, lógicos, “equívoca”. SÓCRATES: Queres dizer que não há nada em comum entre a individualidade burguesa e a individualidade comunista? MARX: MARX: É exatam exa tamente ente isso que que quero que ro dizer dizer.. SÓCRATES ÓCRATES:: Nada m esm o? MARX: Nada de nada. Apenas te surpreendes com isso, Sócrates, porque ainda pensas tudo em função daquela superstição velha e pré-científica chamada “natureza” ou “natureza das coisas”, ou porque pensas que as coisas têm aquelas superstições chamadas “essências” ou “espécies”, que seriam objeti obje tivam vamente ente reais. re ais. Cham Chamoo iss issoo de a ilus ilusão ão da “esp “e spéc éciie-ser” e- ser”.. Eu sou sou um nomin nom inali alist sta, a, como a maior parte dos filósofos modernos, e também um relativista histórico. Portanto, digo-te que as “espécies” nada mais são que conceitos artificialmente construídos pela mente, isto é, pela mentalidade produzida por diferentes eras e diferentes sistemas de classe – esse é o meu nominalismo –, e que esses sistemas mudam radicalmente de acordo com a dialética da história – esse é o m eu re r e lativism lativismoo histórico. histórico. Essa é a grande divisa que há entre nós, Sócrates. Vós, pensadores pré-científicos, rom ânticos, idea ideali list stas, as, tradicio tra dicionais nais e religi r eligiosos osos,, perm per m anece ane ceis is no no lado antigo, antigo, o lado moribun m oribundo, do, o lado que tenta tenta desesperadam ente apreender apre ender fantasma f antasmass e espírit espíritos os e impedi im pedirr que eles definhem definhem . Já nós, pensadores pensadore s científicos científicos e progress progre ssivo ivos, s, estamos estam os do out outro ro lado, o lado nascente. nasce nte. Estam Estam os livres livres de vossos vossos fantasm fantasmas, as, sejam sej am eles Deus, deuses, deuses, almas alm as ou espécies. As “espécies” são apenas apena s a form a aris ar isto totél téliica enfraquecida enfra quecida das “Ideias “I deias eternas” platôn platônicas, icas, as quais, quais, por sua vez, vez, eram er am apenas apena s a form a platôni platônica ca enfraquec enfr aquecid idaa dos velhos velhos deuses. SÓCRATES: Aceitas, então, a lei histórica dos três estados, de Augusto Comte: um progresso ascensional que vai do “religioso” para o “filosófico” e daí para o “positivo-científico”. MARX: Com relação às ideias, sim; no entanto, as ideias, em si, são apenas sombras causadas por eventos eve ntos m a teriais ter iais rea re a is. Te u disc disc ípulo ípulo P latão estava esta va tão erra er rado do quanto podia estar, esta r, e m sua fam fa m osa osa al a legoria da caver c averna. na. Eu virei virei Plat P latão ão do avesso. avesso. SÓCRA ÓCRATES: TES: A maioria m aioria dos histori historiadore adoress diz diz que virast vira stee He Hegel gel de pontaponta-ca cabeç beça, a, m as teu trabalho tra balho volta volta para a lém de Hegel, Hege l, até Plat P latão. ão. MARX: Por favor, quando retornaremos ao meu texto? Parece-me que, não importa qual problem proble m a e specífico spec ífico e xploram os, sem pre c hegam hega m os outra vez nesse problem proble m a filosófico geral ger al acerca ace rca das idei ideias. as. SÓCRATES: Isso ocorre porque um problema está ligado ao outro. Por exemplo, como podemos
voltar ao tópico “específico” da individualidade se não existem “espécies”? MARX: Astuto jogo de palavras, Sócrates. Mas não passa de uma máscara para encobrir teu fracasso fracasso em compreen com preender-me der-me.. SÓCRATES: Pois deixa-me tentar novamente. Quando falas sobre “individualidade”, negas que a palavra pala vra tenha a penas pena s um sentido, não nã o é? Quer Q ueroo dize dize r, negas nega s que haj a uma um a na nature turezza , espécie espé cie,, ou quididade imutável e universal para isso que chamamos de individualidade humana que não mude ao longo do tempo, ao menos não em sua substância ou essência, muito embora suas qualidades acidentais estejam a transformar-se. Até agora, estou te compreendendo corretamente? MARX: Sim – contanto que também entendas a razão que orienta minha posição. O fato é que a individualidade humana não é determinada por natureza, como o é o sistema circulatório humano, por exemplo. Ela não é produto da biologia, da evolução, mas do pensamento, o qual é produto, e le m esm o, da e strutura de c lasse e das m udança udanç a s sociais, socia is, as quais têm sua raiz ra iz nas na s m ud udanças anças econô e conôm m icas. É por isso isso que que resp re spond ondoo à objeç obj eção ão burguesa que alega a lega que “o “ o comuni com unismo smo abol a bolee a indiv individu idualid alidade ade”” diz dizendo que de fato fa to ele o faz fa z, mas m as que abol a bolee apena a penass a indivi individuali dualidade dade burguesa. Vês, a posse privada de propriedades já criou um tipo de individualidade para a burguesia inteiramente diferente daquele que existia para um indivíduo no velho sistema feudal, e o comuni com unismo smo criará c riará ainda ainda uma outra outra indivi ndividual dualid idade, ade, compl com pletam etam ente diferent difere nte, e, ao a o abolir abolir a proprieda propr iedade de privada pr ivada e a posse privada. priva da. SÓCRATES: Entendo. Se a causa da individualidade é a economia, logo mudar a economia é mudar a individualidade. MARX: MARX: É exatam exa tamente ente isso. isso. Então, Então, ent e ntende endess afinal meu m eu argumento. argumento. SÓCRATES: Creio que sim. Para expressá-lo de forma mais simples, quando crescemos em uma sociedade sociedade capit c apitali alist sta, a, soment some ntee aprendem a prendem os a dizer dizer “eu” “e u” após aprenderm os a dizer dizer “m “ m eu”, e som som ente aprendem apre ndemos os a dizer dizer “m eu” quando pos possu suímos ímos algo algo que que podemos podem os cham ar de “m eu”, ist isto é, quando tem tem os propriedade propriedade privada. MARX: Eu não poderia tê-lo expressado melhor. SÓCRATES: Não, acho que não poderias. Portanto, não há o “penso, logo existo” cartesiano – não há uma um a autoconsci autoconsciência ência m ental, privada, privada, natural e inata. inata. MARX: Exatamente! Isso é o que eu quis dizer com “a autoconsciência está pendurada no poste de luz”. luz”. Entendes Entendes agora a lógica lógica de m eu argume a rgument nto. o. SÓCRATES ÓCRATES:: Sim, Sim, m as aind a indaa não ent e ntendo endo o que queres quere s diz dizer com indivi individuali dualidade dade no com unism unismo. o. MARX: MARX: É claro que não; és irre irrem m ediavelment ediavelme ntee burguês. burguês. SÓCRATES: Pois deixa-me tentar. Em teu mundo comunista, ninguém mais diria “eu”, mas apenas “nós”? É isso o que queres dizer? Se essa é a propaganda de teu paraíso, surpreendo-me de pensares que muitos irão comprá-lo, pois ele se parece mais com aquilo que a maioria das pessoas pessoa s cham cha m aria ar ia de inferno. infe rno. MARX: Novamente, dizes isso porque tens uma mente burguesa. Não dirias isso se fosses um proletár prole tário. io. Os proletários proletár ios na nada da têm tê m a perde pe rder, r, m as têm tê m um m undo a ganhar ga nhar.. SÓCRATES: Mas – para citar um famosíssimo economista – que benefício teria um homem ao ganhar o m und undoo intei inteiro ro e perder seu próprio próprio eu?4 eu?4
MARX: Vós, velhos moralistas, sempre entendeis tudo ao contrário. O eu é produto do mundo, não o oposto. A auto-consciência é determinada pela economia, não o oposto. O pensamento é efeito da matéria, não o oposto. SÓCRATES: De novo voltamos a essa ideia crucial, o teu materialismo. No entanto, és tu enquanto pensador quem pensa a ideia, quem aprova a ideia e quem prova a ideia – a ideia de que o pensamento é um efeito apenas da matéria, não da mente. Assim, parece que teu pensam pensa m ento refuta re futa a si m e smo; sm o; ele destrói de strói as próprias própr ias cre c redenc denciais. iais. MARX: Eu não vejo por que. SÓCRATES ÓCRATES:: Se Se os pensam entos nada m ais são que os efeitos ef eitos necessár nec essários ios das col c olis isões ões cega c egass entre átomos ininteligentes, por que alguém deveria escutar as palavras que saem de tua boca em função dessas colisões cegas particulares de átomos em teu cérebro, em vez de escutar as palavra pala vrass de outrem outre m ? Ou O u por que a lguém de dever veria ia escutar esc utar os pensam pensa m e ntos ca c a usados por eventos eve ntos materiais que aconteceram quando escreveste teu Manifesto, em vez de escutar aqueles que ocorrera ocorre ram m quando eras er as um bebê be bê ou quando quando estavas bêbado? bêbado? MARX: Porque alguns pensamentos são verdadeiros e outros são falsos, é claro. SÓCRATES: Porém, se o que dizes é verdade, então todos os pensamentos, tanto os verdadeiros quanto os falsos, são igualmente materiais. MARX: Correto. SÓCRA ÓCRATES: TES: E não nã o há qualquer diferenç difer ençaa material entre entre os verdadeiros verda deiros e os falsos falsos.. O cér c érebro ebro do homem que fala a verdade não é maior, mais redondo, ou mais cinzento que o cérebro do homem que diz mentiras. Ademais, não conseguimos saber qual deles diz a verdade em função da alt a ltura ura de suas vozes. vozes. MARX: MARX: Não vejo vej o onde onde queres quere s chegar. SÓCRATES: Por que alguém deveria escutar aquela onda particular no oceano da matéria cham ada Marx e não aquela aquela ou outtra cham ada Sócra Sócrattes? MARX: Não optamos livremente por escutar uma onda particular no oceano da matéria. Tudo está determinado, tanto as ondas quanto a audição; a história nos escolhe, nós escolhemos a história. A propósito, a imagem da onda é uma ótima imagem, pois a onda não é tão individual quanto parece – sua individualidade é uma ilusão, assim como a individualidade da burguesia. SÓCRATES: Quem, então, é vitimizado por essa ilusão de individualidade, senão um indivíduo real? E, se não há qualquer indivíduo particular, como é que tu, Karl Marx, e não um outro homem, refutas a ilusão de individualidade pela qual outros são vitimizados? Não percebes a ironia que há nisso? Negas a realidade de teu próprio “eu”, do “eu” mesmo com que negas tua reali re alidade! dade! Negas o “eu” “ eu” e idol idolatras atras o “nós “ nós”; ”; no entanto, entanto, é o “eu”, “ eu”, o “eu” “e u” soli solitário, tário, quem o faz fa z. MARX: MARX: Tais argum entos indi indivi viduali dualist stas as e ditos ditos “internos” não nã o me m e m ovem . SÓCRATES: Pois usarei um argumento social e externo. Idolatras o “nós” e negas o “eu”; no entanto o “nós”, a sociedade, as massas – sim, mesmo o proletariado – acreditam no “eu” e não em tua filosofia que nega o “eu” em prol do “nós”. Apenas alguns poucos indivíduos da elite, apenas os letrados, os alienados, os desarraigados acreditam em ti. As massas se compõem de camponeses supersticiosos, de tradicionalistas religiosos, de velhos e antiquados conservadores como com o eu. Eles Eles temem teme m a tua revolução. revolução. MARX: É porque não sabem o que é melhor pra eles – e é por isso que precisam de meu livro e
por isso que eu e u o escre esc revi. vi. SÓCRATES: Sabes o porquê de eles temerem a tua revolução? MARX: É claro: porque são conservadores. SÓCRATES ÓCRATES:: E sabes por que são sã o conservadore conser vadores? s? MARX: Porque são estúpidos. SÓCRATES: Não, porque são felizes. MARX: MARX: Isso Isso é um a baboseira baboseira compl com pleta. eta. SÓCR ÓCRATES: ATES: Vejam Vej am os. os. Por que eles e les são são cham c hamados ados de de “conservadores”? “ conservadores”? MARX: Porque se opõem à mudança. SÓCRATES: E por que eles se opõem à mudança? MARX: Porque querem conservar a ordem antiga. SÓCRATES: Certo. Agora, nós buscamos conservar as coisas que nos fazem felizes ou as coisas que nos faz fa zem infeliz infelizes? MARX: MARX: As que nos fazem feli fe lizzes. SÓCRATES: E nós buscamos mudar as coisas que nos fazem felizes ou as coisas que nos fazem infelizes? MARX: As que nos fazem infelizes. SÓCRATES: Portanto, os conservadores, por definição, são felizes; eles são conservadores orque são felizes. Já os radicais, por definição, são infelizes; eles são radicais porque são infelizes. Com efeito, alguns deles são tão apoquentados que tudo o que desejam é destruir tudo o quee vêem e escrever palavras qu palavras apocalípt apocalíptiicas, como com o “tudo “tudo o que que exist existe m erece ere ce perecer” perec er”.. MARX: Esse é um argumento sagaz, Sócrates, mas é como um sonho: impotente. Ele existe apenas dentro dos limites de tua lógica abstrata e nada tem a ver com a história e com o mundo real. re al. Podes ter ter ganho ga nho o argumento argum ento,, mas ma s eu ganhare ganhareii o m und undo. o. O pensam pensamento ento é o teu me stre stre,, mas ma s a histó história ria é o m eu – e não temo tem o o teu teu mest m estre re.. SÓCRATES: Bem, espero que temas o teu – a história é um deus que consome seus adoradores. 4 N.T.: Evangelho de São Marcos, 8:36. A palavra grega que aqui se encontra traduzida por “eu” psyc hé ), que significa alma, vida, sopro, razão, inteligência, coração. As traduções mais é y ux uxh/ h/ ( psyché comuns com uns para essa palavra nesse nesse trecho tre cho específico da bíbli bíbliaa são alma e vida; no no entanto, entanto, a palavra que Peter Kreeft usa aí é “self”, de modo que a palavra “eu” se torna aqui a mais apropriada, sobre sobretud tudoo em vista vista do cont c ontexto. exto.
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A Natu Natureza Human Humana a Pode Se r Mudada? Mudada?
SÓCRATES: Agora devemos considerar tua resposta à próxima objeção, de que o comunismo abole a motivação para o trabalho, já que abole o incentivo para a competição, o incentivo para se alcançar a excelência, o incentivo para que algumas pessoas se tornem melhores que as outras. MARX: Essa questão, na verdade, concerne àquilo que chamas “justiça”, creio. A justiça comunista é bem diferente da justiça burguesa; ela não necessita e nem encoraja a competição. ão há perdedores no comunismo. Eis a fórmula da justiça comunista: “de cada qual, segundo sua capacidade, a cada qual, segundo suas necessidades”, como eu disse em minha Crítica do Programa de Gotha G otha. SÓCRATES: Isso soa muito elevado; no entanto, desejo ver o que exatamente isso significa na realidade concreta. Acho que um exemplo rústico é o que melhor testa um princípio elevado, e á que sei mais a respeito de ensino que de economia, deixa-me tomar um exemplo do mundo que conheço melhor. Supõe que eu fosse um professor e que estivesse para dar um teste a meus alunos e avaliá-los. Eu diria que o justo seria dar a cada indivíduo aquilo que ele merecesse. Logo, eu trataria igualmente os iguais e desigualmente os desiguais; não haveria de dar a mesma nota aos bons trabalhos e aos maus trabalhos. Esse é o meu conceito “burguês” de justiça. E isso nutre a competição – competição do indivíduo para com si próprio, quando nada, e competição contra o fracasso. Agora supõe que eu praticasse a justiça comunista como professor, em vez disso. Imagino que isso significaria que eu haveria de recolher os trabalhos de meus estudantes e dar uma nota a cada, para então calcular a média da sala e, após isso, dar a mesma nota a todos os estudantes, de modo que todos compartilhassem da nota igualmente e não houvesse perde per dedore doress e nem c ompe om peti tiçç ã o. Ora O ra,, crê c rêss re r e alm e nte que os estud e studaa ntes daria da riam m tão duro na c lasse comuni com unist staa quanto na outra outra classe? Não é da natureza natureza humana hum ana ter preguiça preguiça,, a m enos que que sej am os prem pre m iados ou punidos? punidos? MARX: Esquece-te, Sócrates, de que essa tal de “natureza humana” não existe. Estudantes burgueses burgue ses não trabalha tra balharia riam m se regidos re gidos por um profe prof e ssor com unista, unista, m as e studa studa ntes c omunis om unistas tas sim sim , bem com o os estudant estudantes es burgueses se se esforçam esforç am quando regidos regidos por por profess profe ssores ores burgueses. SÓCRATES: Então, tu hás de mudar a natureza humana. MARX: Certamente. SÓCRATES: Seria uma mudança radical, de fato. Pois eu nunca vi ninguém – nenhum indivíduo e nenhuma família – cuidar menos de sua propriedade privada que da propriedade pública. inguém limpa primeiro os banheiros da Prefeitura, antes de limpar o seu próprio, e ninguém corta a grama de um parque público de forma mais cuidadosa com que corta a grama de seu próprio própr io quinta quinta l. O que fará fa rá as pessoas pessoa s m udare udar e m seu forte for te insti instinto nto de coloca coloc a r o privado priva do em prime prim e iro lugar? lugar ? MARX: Mais uma vez, Sócrates, entendes a coisa ao revés. Esse instinto foi criado pela proprieda propr iedade de privada pr ivada e será ser á re r e m ovido ao rem re m overm over m os sua causa c ausa.. SÓCRATES: Pensas que as pessoas simplesmente deixarão de desejar a propriedade privada, apenas apena s porque porque ela lhes lhes foi f oi tirada? tirada? MARX: Não, não aqueles que ainda têm lembrança dela e anseiam por ter de volta sua droga.
Mas seus filhos deixarão; a geração seguinte deixará. Iremos erradicar as velhas memórias. Irem Ire m os control controlar ar o passado, passado, bem como com o o futuro. futuro. SÓCRA ÓCRATES: TES: Logo, torna tornará ráss egoístas egoístas interesseiros intere sseiros em santos abnegados simplesm ente m udando a economia? MARX: Se a causa econômica é poderosa o suficiente para mudar o próprio “eu”, a individualidade mesma, então certamente ela é forte o bastante para mudar as conseqüências da individualidade, tais como a necessidade – ou falta dela – da motivação para o trabalho pela proprieda propr iedade de privada pr ivada.. SÓCRATES ÓCRATES:: Portanto Por tanto,, a respos re sposta ta é “sim”. “sim ”. MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: Tu vais criar na natureza humana diferença maior que alguém jamais criou, dife difere rença nça m aior que a criada cr iada por Cris Cristo to ou Buda. Buda. MARX: MARX: É claro. Por P or que m encionas eles? SÓCR ÓCRATES: ATES: Porque Porque eles tam tam bém alegaram m ud udar ar a naturez naturezaa hu hum m ana m esma. esma . MARX: MARX: E por que dizes dizes que m inha inha alegaçã a legaçãoo excede exc ede a deles? SÓCRATES: Porque mesmo eles não alegam produzir neste mundo o que tu afirmas que produzirá produzirá:: uma um a socieda soc iedade de de santos sa ntos socia sociais is a bnegados bnega dos e impec im pecáve áveis. is. MARX: Pois tenho te nho dito. SÓCRATES: O efeito é verdadeiramente impressionante, mas olhemos para a sua causa, causa que dizes ser poderosa o bastante para produzir esse efeito radical, essa revolução, esse novo homem – ela deve ser realmente tremenda; deve exceder as causas às quais Buda e Jesus apelaram, pois que elas ainda não criaram aquela sociedade perfeita de santos abnegados que tu prom e tes. O budism budism o re r e c orre orr e a o “Nobr “ Nobree Caminho Cam inho Óctupl Óc tuplo” o” pa para ra produzir produzir a a boliçã boliçãoo de todos os desejos, o que, por sua vez, traria a consciência nirvânica, a beatitude perfeita. Já o cristianismo recorrera ao milagre de Deus que se fez homem, que morreu e que ressuscitou, a fim de subjugar o pecado e a morte e trazer a salvação ou “renascimento”, que é a posse da alma do homem pelo Espírito Santo. No entanto, nem o budismo e nem o cristianismo foram capazes de produzir produzir uma um a sociedade socie dade inte inte ira de santos a bnegados. bnega dos. Assim, Assim , tua c ausa deve ser real re al e incrivelmente grande para que seja capaz de trazer mudança maior que essas duas jamais trouxeram. MARX: MARX: Essas reli re ligiõ giões es apenas ape nas alegaram causar tais mudanças. SÓCRATES: ÓCRATES: Com Comoo a tua. MARX: MARX: Ah, mas ma s a histó história ria fará fa rá a entrega de m eu produto. produto. SÓCRATES: Infelizmente, tua profecia é verdadeira. A história fará a entrega de teu produto; entretanto, entretanto, ele não será aquele que imagin im aginas. as. MARX: E o motivo pelo qual o comunismo irá funcionar, enquanto a religião não o faz, é porque a religião recorre ao livre arbítrio do homem. O comunismo, porém, não há depender de fundação fundação tão fraca. fraca . SÓCRATES: Infelizmente, de novo tu profetizas a verdade. De qualquer forma, que causa todo poderosa poder osa é e ssa, que fará fa rá e nfim a quilo quilo que nenhum ne nhumaa outra outr a foi f oi capaz ca paz de fazer f azer?? MARX: Estás a brincar comigo, Sócrates. Sabes minha resposta a essa questão – trata-se do
comunismo. SÓCRATES: O qual é essencialmente um novo sistema econômico, a abolição da propriedade privada. priva da. MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: Portanto, tudo o que temos de fazer para efetivar a mudança é remover esse obstáculo obstáculo cham ado propriedade privada. MARX: Sim Sim.. SÓCRATES ÓCRATES:: E isso isso se faz fa z tira tirando ndo da burguesi burgue siaa seu dinheiro e sua propriedade propr iedade.. MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: Contra a sua vontade, é claro. MARX: MARX: É claro. c laro. SÓCRATES: Logo, a grande causa dessa transformação de pecadores em santos é, em verdade, o furto furto. MARX: Isso é como a burguesia chamaria esse ato, o que pressupõe, no entanto, que a proprieda propr iedade de privada priva da é boa. Mas eu e u pressuponho pre ssuponho que que e la é m á – o que c ham a s de furto, f urto, eu e u cha c ham mo de salvação. SÓCRATES: Então, porque essa transformação não foi realizada anteriormente? A história certam ce rtamente ente foi palco de mui m uito toss furtos furtos – perdoa-m e, de m uita uita “salvaç “salvação”. ão”. MARX: A história foi palco apenas de transferências de poder e de propriedade de uma pessoa privada priva da para pa ra outra, outra , ou de algum a lgumaa s poucas pouca s para par a outras outra s poucas. pouca s. SÓCRATES: Assim, o furto em grande escala, o roubo global, realizará aquilo que os pequenos furtos furtos não puder puderam am reali re alizzar? ar ? MARX: Teu sarcasmo burguês não altera os fatos, Sócrates. O que chamas de “furto” está destinado a produzir igualdade e justiça para todo o sempre. SÓCRATES: Creio ter escutado tal argumento antes: “os fins justificam os meios”; “façamos o m al para que venha venha o bem ”; “é vantaj vantaj oso oso mat ma tar um homem home m ino noce cent ntee para o bem do pov povo”. o”. MARX: MARX: Onde queres quere s chegar, chega r, Sócr Sócrates? ates? SÓCRATES: Apenas quero dizer que agora compreendo teu argumento, penso, e quão enormemente a “justiça” comunista é diferente da ideia usual de justiça. No entanto – desculpame –, desviei-me uma vez mais para longe de minha tarefa de examinar teu livro. É hora de consi considerarm os a próxi próxim a ob objj eção eçã o ao comuni c omunismo. smo.
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Cultura Comunista: Um Oxímoro?
SÓCRATES: A próxima objeção e tua resposta a ela dizem respeito à cultura. Foste deveras profético prof ético nessa respost re sposta, a, pois que nos séculos séc ulos que se seguiram seguira m ao teu, quando o c omunismo om unismo dominou meio mundo, a cultura que ele produziu foi notável em dois sentidos. Em primeiro lugar, a despeito de serem muito numerosos, nem mesmo um só comunista ortodoxo chegou a ser escritor, artista ou músico de primeiro calibre... MARX: MARX: De acordo a cordo com crit cr itér ério ioss burgueses, burgueses, é c laro. ar o. SÓCRATES: No entanto, o comunismo veio a produzir muitos grandes escritores, artistas e músicos, todos eles protestadores, dissidentes ou heróicos odiadores do comunismo e sofredores nas mãos m ãos do comunism comunism o, dos dos quais quais muitos muitos foram m árti ár tire ress desse desse sistem sistemaa – nenhu ne nhum m deles, porém porém , era am ante ante do comun com uniismo. MARX: MARX: Eu previ essa essa objeçã obje çãoo em m inha resp re spos osta, ta, na qual eu diss disser eraa que o capit c apitali alismo smo burguês á havia destruído a cultura, mas também que “a cultura, cuja perda o burguês deplora, é, para a imensa maioria dos homens, apenas um adestramento que os transforma em máquinas”. SÓCRATES: É assim que descreves Dickens, Blake, Words-worth, Coleridge, Pope, Tennyson, Goethe, Cézanne, Milton, Emerson, Rembrandt, Monet, Tchaikovsky, Beethoven, Mozart, Dostoiévski, Tolstói... MARX: MARX: Onde queres quere s chegar, chega r, Sócr Sócrates? ates? SÓCRATES: Quero dizer que vês todos esses artistas como meros agentes de uma cultura que é “apenas um adestram adestram ento ento que que os transfo transform rmaa em m áquinas áquinas”. ”. MARX: MARX: Isso Isso é exatam e xatamente ente o que que afirm a firmo. o. SÓCRATES: Falas mesmo com seriedade? MARX: Novamente te pergunto: onde queres chegar, Sócrates? SÓCRATES: Talvez eu queira chegar a mais um elogio de teus poderes proféticos. Mais ou menos um século após tua morte, a técnica que usas aqui ganharia fama nas mãos de um mestre da propaganda, o qual a chamaria de “A Grande Mentira”. O argumento dele era que facilmente se refutam as pequenas mentiras e se vê o que está por trás delas, mas que uma mentira verdadeiramente grande com frequência atordoa as pessoas e as leva a aceitá-la. Entretanto, devemos olhar para o teu argumento, em vez de trocarmos insultos. MARX: MARX: Ainda est e stou ou aguarda agua rdando. ndo. SÓCRATES: Teu argumento aqui não parece ser nada novo; trata-se do mesmo argumento que usaste para responder às demais objeções. Dizes que o objetor apenas está a aplicar suas noções burguesas burgue sas a coisas coisa s c omunist om unistas, as, m a s que suas “ próprias própr ias ideias decorr dec orree m do regim re gimee burguês burguê s [material] de produção e de propriedade burguesa” – em outras palavras, o dinheiro determina me smo as ideias, ideias, e a economia e conomia é a rainh r ainhaa das ciências, como a teologi teologiaa cos c ostu tum m ava ser. ser . tudo, mesmo MARX: MARX: E vol voltamos tam os ao mesm m esmoo problem problem a. SÓCR ÓCRATES: TES: Adem Adem ais, nessa nessa pass pa ssagem agem , ttam am bém negas claram clara m ente a existência existência do que que cham c hamam am de justiça e a reduzes a uma propaganda da força: “assim como vosso direito não passa da vontade von tade de vossa vossa class c lassee eri er igida gida em e m lei”. lei”.
MARX: Mas não falo aí de uma força pessoal, individual, mas da força da história. Não sou nenhum Maquiavel (o que murmuras em voz baixa, Sócrates?). Não, falo da vontade de uma classe, não de um indivíduo; e mesmo ela é resultado inevitável de coisas materiais: é uma “vontade cujo conteúdo é determinado pelas condições materiais de vossa existência como classe”. SÓCRATES: Bem, parece-me que esclarecemos tua posição, mas que não a provamos ou refutamos. Provamos apenas que realmente queres dizer aquilo que dizes – e talvez esse seja o ponto m a is importa im portante nte pa para ra o home hom e m m édio que e stá a investigar investigar teu pe pensam nsam e nto: ver claramente, entender o que o comunismo é, a fim de que nenhum subterfúgio ou nuance possa camuflá-lo. Para a maior parte das pessoas, não será necessária nenhuma discussão: a perc per c e pção pçã o será ser á suficiente. suficie nte.
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A Famí Famíli lia a
SÓCRATES: Chegamos agora ao teu próximo ponto, o clamor comunista pela abolição da fam fa m ília. lia. Aqui, Aqui, mais m ais do que nunca nunca,, creio cre io que a compree com preens nsão ão – m ais que que a discus discussão são – é suficiente, suficiente, que a simples percepção de que falas com seriedade e que queres dizer aquilo que dizes será suficiente para a grande maioria das pessoas, especialmente para aquelas a quem apelas: o proletar prole tariado, iado, os pobres. pobre s. Talvez eu devesse começar elogiando-te por tua consistência lógica, pois percebes que a família, a religião e um “eu”, ou uma alma, e também aquilo que chamas de senso burguês de individualidade vigoram ou fenecem juntos. Tua respost respostaa à ob objj eção eç ão de que o com un uniismo abole abole a fam f am ília come c omeça ça pela pela ass a sserç erção ão de que “a família atual, a família burguesa [...] baseia-se no capital, no ganho individual”. Portanto, crês que ela desapare cerá ce rá uma vez que sua sua causa c ausa houver houver desaparec desapar ecid ido. o. Esto Estouu certo cer to?? MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: E sua causa é – o capital! MARX: Sim, é. SÓCRATES: Acreditas realmente no que escreveste, que, para o marido burguês, “sua mulher nada m ais é que um inst instrum rumento ento de de produção”? MARX: MARX: Eu teria escrito esc rito isso isso se se não acr a creditass editassee no que digo? digo? SÓCRATES: ÓCRATES: Não Nã o sei; se i; ter terias? ias? MARX: MARX: Digam Digam os apenas que aquilo aquilo que que eu e u escrevi, escr evi, eu escre e screvi vi.. SÓCRATES: Esse dito me soa familiar. Pergunto-me se... deixa para lá. Dize-me, formulaste os princípi princ ípios os do com unism unism o antes ante s ou depois que conhec c onheceste este a m ulher com quem te ca c a saste? MARX: Depois. SÓCRATES ÓCRATES:: Então, Então, antes disso, disso, não eras er as um com unist unista. a. MARX: MARX: Verdade. Ve rdade. SÓCRATES: E em que tipo de sociedade cresceste? Uma sociedade feudal? MARX: MARX: Em uma um a sociedade burguesa. SÓCRATES: Logo, eras um dos membros da burguesia, então? MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: Assim, como burguês, quando pediste tua mulher em casamento, disseste algo como com o ist isto? – “Ó Jenny, Jenny , consentes consentes em e m ser m eu instrume instrument ntoo de produção?” produção?” MARX: Sarcasmo não é lógica, Sócrates. SÓCRATES: Respondes à minha questão? MARX: MARX: Pense P enseii que tudo sabias sabias aqui a qui.. SÓCRATES: Oh céus, não. Apenas tu e Jenny sabem a resposta a essa pergunta, e ela chegou aqui anos atrás, ao que foi para um lugar muito mais alto e luminoso do que tu serias capaz de suportar.
MARX: MARX: Meu Meu argume a rgument ntoo é simplesment simplesme ntee que a fam f am íli ília burguesa burguesa se baseia na opressão. SÓCRATES: De mulheres ou crianças? MARX: De ambos. SÓCRATES: E a tua própria experiência confirma esse juízo? MARX: MARX: Sim, Sim, eu cre c resci sci em uma fam fa m ília ília opressiv opressiva. a. SÓCRATES: E tu, por tua vez, oprimiste a tua mulher e teus filhos? Como fazem todos os pais burgueses, burgue ses, de a cordo cor do com a tua própria pr ópria teoria te oria?? MARX: Injusto, injusto! SÓCRATES: Mas, se Jenny estivesse aqui, tenho certeza de que confirmaria tua teoria, assim como o fariam o “Mosquinha”5 “Mosquinha” 5 e Franziska. No entanto, eles também já seguiram adiante, e Freddy não virá antes de muitos anos. MARX: MARX: Com Comoo sabes acerc ace rcaa de Henry Frederick re derick?? SÓCRATES: Engels, antes de sua morte em 1895, contou a Tussy 6 que Freddy era teu filho bastardo. basta rdo. MARX: Então Eleanor sabe? Engels contou à minha Eleanor? Traidor! Mas como podes saber do futuro? SÓCRATES: Aqui, todo tempo é presente. MARX: Isso é simplesmente intolerável. Não hei de suportá-lo! Quem quer que esteja por trás de ti, ti, tua tua imit im itaç ação ão de Sócrat ócra tes, hei de aniquil aniquilar ar-te -te e a eles e les tam tam bém! bém ! SÓCRATES: Agora pareces exatamente com o homem descrito pelo irmão de Bruno Bauer: “Estourando de fúria, cerra-se o punho maligno, e o homem urra interminavelmente, como se dez mil demônios estivessem a puxá-lo pelos cabelos”. Ou, melhor ainda, tu te pareces com a descrição que Karl Heinzen fez de ti: “um cruzamento entre um gato e um símio [...] a cuspir atos de fogo cruel”. Ou Lassalle... MARX: Lassalle era um tolo completo. Deves primeiro ouvir minha descrição dele e, sob essa luz luz, avaliar avaliar a descrição de scrição que ele e le fez de de m im. SÓCRATES: Se insistes. Em uma carta a Engels (30 de julho de 1862), descreveste teu amigo, o prime prim e iro grande gra nde líde líderr trabalhist tra balhistaa a lem ã o, com o “o P reto re to Judeu” e “um j udeu ensebado ense bado que se disfarça sob brilhantina e jóias baratas. Como o formato de sua cabeça [...] indica, ele descende dos pretos que que se j untar untaram am à fuga de Moi Moisés do Egi Egito (a m enos que que sua m ãe ou sua sua avó a vó pater paterna na tenham cruzado cruzado com um negro)”. negro)”. MARX: MARX: Onde Onde queres chegar? c hegar? SÓCRATES: Quero dizer apenas que teus leitores poderão decidir por si mesmos se és aquele homem em quem podem confiar para substituir a instituição da família por um suplente radi ra dica callm ente novo, novo, de de tua própria própria criaçã c riação. o. MARX: Eu hei de abolir a exploração das crianças por seus pais! SÓCRATES: Farias isso, de fato – e o farias pela abolição das crianças e dos pais! É como abolir uma doença pela abolição de todos aqueles que sofrem dela. Devo admitir que isso realmente pare par e c e ser c em por c ento efe ef e tivo. tivo. Mas a um custo de c em por cento. ce nto. De acordo ac ordo c om a tua econo ec onom m ia, pois pois,, essa é um a boa relaç r elação ão custo-benefício? custo-benefício? MARX: Sim, é! Pois que o Estado será a família universal, o pai universal e a criança universal,
á que o Estado será as pessoas e as pessoas serão o Estado. SÓCRATES: Entendo: com a abolição da propriedade privada, vem a abolição da família privada, priva da, j á que m ulhere ulher e s e fil f ilhos hos nada m ais são que proprieda propr iedades. des. MARX: MARX: No capitali c apitalism smo, o, sim. SÓCR ÓCRATES: TES: E a própria própria privacidade privacidade desaparece desapare cerá rá quand quandoo sua causa c ausa econômica e conômica,, a propriedade propriedade privada, priva da, for f or aboli a bolida da.. MARX: MARX: Sua Sua form a burguesa, burguesa, sim sim . A form a comuni com unist staa será ser á total totalm m ente difer diferente. ente. SÓCRATES: Teus contemporâneos já sabem, em função de seu presente e de sua experiência, qual é a forma burguesa da privacidade. Porém, nada podem saber da forma comunista ainda, não até que el e la se torne presente e deixe deixe de ser futuro. Até que iss issoo ocorra, ess e ssaa form f ormaa não é um dado de experiência, mas uma mera “ideia” – categoria da qual pareces escarnecer, embora dependas aqui da ideia para mudar a realidade. E certamente o futuro, em si mesmo, é apenas uma ideia no tempo presente, enquanto o presente e o passado são, ambos, dados e fatos reais, das formas mais concretas, materiais e científicas possíveis. Entretanto, destruirias o presente e o passado passa do em prol de teu te u sonho de futuro. f uturo. Cre Creio io que és é s prec pre c isamente isam ente o ideali idea lista sta que critica c riticas! s! MARX: MARX: Por um m omento om ento,, pensei pensei que que tu me compree com preendi ndias. as. SÓCRATES: Acho que te entendo até bem demais. 5 N.T.: Apelido Apelido do filho filho de Marx, Edgar. Edga r. 6 N.T.: Apelido Apelido da filha de Marx, Ma rx, Eleanor. Elea nor.
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Educaç Educaç ão
SÓCRATES: A próxima objeção e tua resposta a ela dizem respeito à educação, e tua resposta segue o mesmo padrão lógico: desloca a culpa para o teu acusador, ao mesmo tempo que perm per m a nece nec e a m bígua com c om relaç re laçãã o a se o crim c rimee deve ser e logiado logiado ou ce c e nsurado. nsura do. O que há de ser aboli abolido pelo comunismo comunismo é a educaçã educa çãoo no lar lar,, ou educação educaç ão privada. Pre P resu sum m o que inclui incluirias rias nessa nessa categoria não apenas a educação domiciliar, mas também todas as instituições educacionais controladas e financiadas por meios privados, e que, no comunismo, substituirias todas elas por uma só forma form a de educaçã educa çãoo que que estar estaria ia sob sob o controle controle do Est Estado. Corre Corretto? MARX: Sim, mas, no comunismo, o Estado se tornará, afinal, indistinguível do povo, da sociedade, após um breve período de transição durante o qual o Estado deve centralizar o poder a fim de fazer guerra à burguesia... SÓCRATES: A propósito, essa guerra será política ou militar? MARX: Será econômica, mas seus meios serão políticos. SÓCRATES: E supondo que ela não tenha sucesso nas urnas? MARX: Os comunistas não são pacifistas, Sócrates. Em países onde não há democracia, devem os usar usar m eios não democrá dem ocrátticos para tom tom ar o poder. poder. Isso é óbvio óbvio.. SÓCRATES: E esses meios são militares. MARX: Confessamos isto com franqueza: a revolução será sangrenta. SÓCRATES: Em outras palavras, como meio para vosso sucesso, pretendeis matar um vasto número núme ro de pessoas. pessoas. Obrigado Obrigado por esclarec eres-m ere s-mee isso. isso. MARX: MARX: Mas após o fenec fe necime imento nto do do Estado... Estado... SÓCRATES: Por que ele fenecerá, a propósito? MARX: Para que cumpra o seu destino, como a placenta de uma mulher fenece após o parto. É a dialética da história. história. SÓCRATES ÓCRATES:: Diz Dize-m e- m e, quem que m adm inist inistra ra um Estado? Estado? MARX: Os homens o administram, é claro. Mas eles são apenas instrumentos de um poder superior. SÓCRATES: E os homens possuem arbítrio? MARX: MARX: Por cer c ertto, mas ma s ele não é livre. livre. SÓCRATES: E seu arbítrio é material ou espiritual? MARX: Material. SÓCR ÓCRATES: ATES: E dois dois corpos materiai ma teriaiss podem podem ocupar o m esmo esm o espaço, ao m esmo esm o tem tem po? MARX: Não. SÓCRATES: Então eles estão em competição, inevitavelmente. MARX: MARX: Sim, Sim, até a té ent e ntão. ão. Mas, Ma s, no comuni com unism smo... o... SÓCRA ÓCRATES: TES: Atenha Atenham m o-nos por por agora a gora aos dados que tem os. A lei lei de todas as a s coisas coisas m ateriais ater iais é a lei da divisão, ou da subtração, não é? Se dois homens dividem uma torta, uma fortuna ou um
espaço físico, físico, cada ca da um perde qual parte seja sej a que o outro outro ganhe. MARX: Sim. É por isso que a abolição da propriedade privada é tão radical... SÓCR ÓCRATES: ATES: Porém Poré m , quando um professor professor com partilh partilhaa seu conhecimento conhecim ento com um estudant estudante, e, um homem compartilha seu amor com sua mulher ou um artista compartilha sua criatividade com seu público, essas coisas diminuem? Ou se multiplicam ou se somam? MARX: MARX: Onde queres quere s chegar, chega r, Sócr Sócrates? ates? SÓCRATES: Quero dizer que a matéria e o espírito seguem leis opostas e que quando observamos que certas coisas não seguem as leis da matéria, podemos concluir que não são coisas coisas m ateriais. ateriais. MARX: Pensei que estavas a falar sobre o fenecimento do Estado no comunismo. No entanto, escapas novam novament entee para a m etafísi etafísica. ca. SÓCRATES ÓCRATES:: Escapare Escapa reii de volta volta para par a a polít política. ica. MARX: MARX: E qual é teu argum a rgumento ento aqui? SÓCRA ÓCRATES: TES: Que o Estado Estado é dirigi dirigido do por homens, hom ens, e os homens home ns possuem possuem arbí ar bítrio trio,, e esse arbí ar bítrio trio é egoísta porque, de acordo contigo, ele é material. Logo, o que motivará esses homens egoístas a sacrificar sacrificar seu po poder der e “fenec “ fenecer” er”?? MARX: Eu não usei essa frase na escrita, a propósito, mas é uma boa frase. Eles fenecerão como uma folha no outono, porque é chegada a hora. A força motora da história não é os arbítrios individuais, Sócrates, mas o destino coletivo. Entretanto, continuas a olhar tudo sob tua perspec per specti tiva va burguesa bur guesa e individualis individualista. ta. SÓCRATES: Então, o “destino” se tornará egoísta de chofre, e ladrões sedentos por poder e violentos assassinos se tornarão santos mártires. Aqueles que crêem em um Deus onipotente dizem que nem mesmo Ele pode realizar tal milagre contra o nosso livre arbítrio; é por isso que existe um inferno. Talvez sejas mais religioso, mais pio, mais submisso à vontade onipotente de teu deus que que qualquer qualquer j udeu, cristão cristão ou m uçulm uçulm ano. MARX: MARX: Que coisas ultra ultrajj antes dizes, dizes, Sócrates! Sócra tes! SÓCRATES: Sinto muito que estejas ultrajado, em vez de estares refutado ou refutando. Pareceme que nossa discussão se degenerou em insultos, em lugar de se apoiar sobre argumentos lógicos. E, novamente, desviei-nos de teu texto. É por isso que é bom teres um texto à tua frente quando tens uma discussão longa e profunda dele, com muitas tangentes: ele te dá um lar a que reto re tornar rnar.. Portanto, Portanto, ret re tornemos ornem os.. Desej as elim elim inar inar a educaç e ducação ão privada, privada, m as teu oponent oponentee objeta obj eta a isso isso,, ao que tu lhe lhe cont c ontas as que o capi ca pital talis ism m o já j á fez f ez esse esse estra estrago. go. Diz Dizes que toda toda educaç e ducação, ão, na verdade, ve rdade, é social, social, mas ma s que, que, no capi ca pittalismo, alismo, seu agent a gentee não é nem os indi indiví víduo duoss e nem as fam fa m ílias, ílias, como a burguesia burguesia alega, nem ne m a sociedade com c omoo um todo, todo, nem o Est Estado, como com o será no com unismo, unismo, mas m as a burguesia burguesia enqu e nquanto anto classe. Esse é um bom resumo? MARX: Sim. Podes ser bastante lógico quando tentas, Sócrates, bem como sarcástico. Sabes, eu realmente poderia usar-te em minha causa, se mudasses de ideia algum dia. SÓCRATES: De fato poderias, mas não usando-me como teu servo e sim como teu professor. Eu am ais respond responderia eria a uma ob objj eção eçã o com escárnio e uma um a cus c uspi pidel dela. a. MARX: Quando eu e u fiz f iz isso? isso? SÓCRATES: Bem aqui neste texto: “As declamações burguesas sobre a família e a educação,
sobre os doces laços que unem a criança aos pais, tornam-se cada vez mais repugnantes...”. Revelas muito de teu próprio sentimento subjetivo e ódio profundo aqui, mas pouco acerca da reali re alidade dade objeti obj etiva. va. MARX: Mas eu falo da realidade objetiva! Eu estou irado com a hipocrisia burguesa. SÓCRATES: E qual é essa hipocrisia? MARX: Defender as famílias e as crianças com palavras, de modo farisaico, enquanto, em suas vidas, vidas, essas essas fam fa m íli ílias e crianças criança s estão estão a ser oprimidas e expl e xploradas. oradas. SÓCRATES: Onde? Como? MARX: Em todos os países capitalistas, nos países industrializados de toda a Europa, nas fábricas. SÓCRATES: Especialmente na Inglaterra, onde fazias tua pesquisa, todo dia, sentado no British British useum? MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: Como és um empirista e não um idealista, deves ter feito muitas visitas a fábricas reais a fim de coletar teus dados. É claro que, fosses tu apenas um idealista, terias mantido tua cara ca ra enfiada em e m um livro, livro, o dia dia todo. todo. Mas, Mas, fosses fosses científico, científico, ter teriias procurado procura do tam tam bém, bém , e prestado prestado conta deles, por dados que contrariassem a tua teoria, tais como as leis de reforma industrial produzidas produzidas pelo pe lo capit ca pitaa lism lismo. o. MARX: MARX: Esses Esses dados dados nada provam . Quer diz dizer, er , eles provam a existência existência de um a opress opre ssão ão m aciça ac iça que se tentou corrigir debilmente. SÓCRATES: Eles provam que as sociedades capitalistas burguesas eram capazes de corrigir os próprios própr ios abusos e opressões. opre ssões. MARX: Isso é matéria de discussão. SÓCRATES: Pois olhemos para uma matéria de dados. Podes listar ou contar o números de vezes nos quais verdadeiramente puseste os pés em uma daquelas fábricas que alegaste serem os cent ce ntros ros e agentes da auto-dest auto-destruição ruição cer c ertei teira ra do capi ca pital talis ism m o? Creio re io escutar escutar um sil silêncio ensurdecedor. ensurdece dor. Mesm Mesmoo Engels Engels visi visitara tara uma um a fábrica fá brica inglesa inglesa certa ce rta vez e te conv c onviidara para acompa ac ompanhá-lo nhá-lo,, mas m as tu não quisest quiseste. e. Não Nã o é? E podes me apontar uma só passagem, em todos os teus escritos, na qual confrontas não os argumentos de teu te u inimigo, inimigo, mas m as os seus dados? Hummm... devo estar ficando surdo, pois não escuto de ti uma resposta. Ou talvez eu esteja surdo para o que tu queres quere s diz dizer com “cient “c ientífi ífico”. co”.
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Mulh Mu lhere eress
MARX: MARX: Estás Estás te tornando m ais sarcásti sarc ástico co e m enos filosófi filosófico, co, Sócrates. Sócra tes. SÓCRATES: Isso te faz feliz ou infeliz? MARX: MARX: Por que haveria ha veria de faz fa zer-m er -m e feli f elizz? SÓCRATES: Porque, se estou me tornando sarcástico e deixando de ser filosófico, estou ficando m ais par parec ecid idoo contig contigoo e m enos pareci parec ido comig com igo. o. MARX: Isso me faz infeliz, pois tu estás no controle aqui. SÓCRATES: ÓCRATES: Oh, não. nã o. Tu estás! e stás! MARX: Como? SÓCRATES: Sempre que me dás uma razão para ser filosófico, irenista ou objetivo, eu o sou; porém poré m , quando m e dás uma um a raz ra zão pa para ra ser sarcá sar cásti sticc o, eu sou sarcá sar cásti stico. co. Eu sou um espelho espe lho – m inh nhaa tarefa tare fa é apenas refleti refletir-te, ililuminar-te, uminar-te, aj ud udar-te ar-te a conh conhece eceres res a ti mesmo. me smo. Portanto, Portanto, devem os conti continuar nuar a percorrer perc orrer a estrada que teu livro livro abriu par paraa nós. nós. A próxim próxim a objeçã obje çãoo concerne concer ne ao teu subs substi tittuto uto para a fam fa m ília: lia: uma comuni com unidade dade de m ulhere ulheress (e, podem podem os presum pre sumir, ir, tam bém de cria c riança nçass – pois, pois, em tua época é poca,, ainda a inda não nã o se haviam ha viam inventado contraceptivos eficazes). MARX: Trata-se de um substituto para a família priv priv ada; o que vossas mentes burguesas cham am sim sim plesme plesment ntee “a “ a fam f am ília” é apenas a penas um um a das mui m uittas formas form as que que el e la pode pode ass a ssumir. umir. SÓCRATES: Então, não objetarias a famílias sem pai, com muitos pais ou muitas mães, ou com dois dois ou mais ma is “pais “pa is”” homoss hom ossexua exuais is?? MARX: Eu aceitaria essas formas do mesmo modo que aceitaria qualquer revolução, ainda que não sejam totalmente comunistas, pois que são etapas, são desestabilizadoras. SÓCRATES ÓCRATES:: Queres Quer es dizer dizer que elas e las elimin elim inam am o inim inim igo. igo. MARX: MARX: Elas Elas reali re alizzam uma um a lim lim peza peza do sol soloo para a nov novaa construçã construção, o, a nova sociedade; aj udam a cobra a mudar sua velha pele; ajudam a libertar a mariposa de seu casulo, a libertar o filhote de pássaro pássa ro de seu ovo. É prec pr eciso iso quebra quebr a r o ovo para pa ra c hocar hoca r o pássar pá ssaro. o. SÓCRATES ÓCRATES:: Queres Quer es dizer dizer que elas e las elimin elim inam am o inim inim igo. igo. MARX: MARX: Se Se o ovo resi re sist stee a ser quebra que brado, do, então ele se torna o inim inim igo igo do passarinho. SÓCRATES ÓCRATES:: Há qualq qua lquer uer coisa mater m aterial ial que não resi re sist staa a ser quebrada? MARX: Não, nem mesmo o menor dos átomos. Mas, quando ele se quebra, quem sabe que energia não poderá ser liberada? SÓCRATES: Ninguém, de fato. E tu destruirias a velha ordem que conhecemos, uma ordem a qual qu al tod todos os admi adm item ser uma m istura stura de bem e m al, em prol prol de de um a ordem qu quee ningu ninguém ém sabe ao certo ce rto quão quão boa boa ou má m á será, será , porque porque ningu ninguém ém j am ais a viu. viu. MARX: As pessoas podem vê-la em meus livros. SÓCRATES ÓCRATES:: És um em pirist pirista, a, não é? é? MARX: Sim Sim..
SÓCRATES: Como empirista, deves concordar que o conhecimento depende da visão. MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: Porém, tu apenas pensaste, mas não viste, a tua nova ordem. MARX: Até agora. SÓCRATES: E destruirias a ordem que se vê em prol da ordem que não se vê; destruirias pessoas, pessoa s, fam fa m ílias, ílias, muit m uitas as vidas e a fe f e lic lic idade e m prol de um a ideia. MARX: MARX: Onde queres quere s chegar, chega r, Sócr Sócrates? ates? SÓCRATES: Penso que tu és secretamente um idealista. MARX: MARX: Eu sou sou o mar m artelo telo que que abrirá abr irá o ovo da história. história. SÓCRATES: O novo pássaro que emergiria desse ovo, a nova energia que seria liberada pela destruição do átomo, ou do átomo da família – quem sabe se esse gênio desconhecido que pretende pre tendess libe liberta rtarr da lâm pada será ser á bom ou mau? m au? MARX: Não afirmo saber tudo com certeza, mas tenho esperança de que o homem possa ser m elhor, elhor, m uito uito melh me lhor, or, do que que aquilo aquilo que que j á vim vim os dele. dele. SÓCRATES: Logo, o teu fervor revolucionário deve ser motivado pelo ódio do homem tal como ele é em vez de pelo amor do homem tal como ele poderia ser; pois apenas o homem de hoje é real e conhecível – a menos que sejas um idealista radical, como meu aluno, Platão. Também ele clamava pela abolição da família, bem como da propriedade privada, em sua imagem de uma sociedade ideal presente na Repúbli Re pública ca , mas não para toda a sociedade; apenas para uma pequena peque na c lasse dominante, dom inante, a qual ele e le conce c oncebia bia com c omoo uma um a c lasse servente ser vente,, tal com c omoo os padre pa dress na Igrej Igre j a Católi Católica ca.. Ele Ele era e ra m uito uito m enos radica radicall que que tu. tu. MARX: Eu também modero o meu radicalismo, embora não por números, como fez Platão, mas pelo tem po. A revoluçã re voluçãoo ocorr oc orrer eráá e m etapas; eta pas; pode levar leva r uma um a gera ger a ç ão ou duas dua s até a té que alguma algum a s sociedades sociedades est e stej ej am prontas prontas para a concl c onclus usão ão da tarefa taref a de subst substit itui uirr a fam fa m ília ília burguesa. burguesa. SÓCRATES: Mas, mais cedo ou mais tarde, esperas e trabalhas por uma “comunidade de mulheres” mundial? MARX: Sim Sim.. Todas as mulheres devem ser liberadas. SÓCRATES: ÓCRATES: Dos m a ridos. MARX: De maridos burgueses e privados. SÓCRATES: E as crianças, de seus pais. MARX: MARX: De pais burgueses e privados. SÓCRATES: Então, as mulheres comunistas não terão maridos e as crianças comunistas não terão pais? MARX: Não. Todos pertencerão a todos. SÓCRATES: Sexualmente também? MARX: MARX: Com Comoo a priv pr ivac acidade idade poderia poder ia ser abolida abolida se o controle privado do sexo não fosse abol a bolid ido? o? SÓCRATES: Entendo. Pensas no sexo como forma de controle . MARX: Certamente. SÓCRATES: Não me espanta que tenhas tido dificuldade em experienciar felicidade sexual. Não,
não percas tempo cerrando teu punho para mim. Sei que isso foi um golpe baixo; desculpa-me. Tenho essa obsessão com a verdade, ao que presumo erroneamente que a verdade do que é dito ustifica qualquer grosseria e impropriedade. Peço desculpas pelo insulto pessoal, mas não por minha pergunta; é que as questões que surgem acerca de tua ordem social radicalmente nova pare par e c em uma um a grande gr ande m a nada de elef e lefaa ntes. MARX: Eu ainda não resolvi todos os detalhes referentes à minha nova ordem. SÓCRATES: Acho que essa não será uma resposta muito reconfortante para alguém que está a ver os elefant elefa ntes es vindo vindo em sua sua direção. direç ão. MARX: Eu dei uma resposta à objeção em meu Manifesto, na verdade. SÓCRATES ÓCRATES:: Deu? P erdoa-m er doa-m e, não nã o devo tê-la vist visto. o. Onde? MARX: Nas próprias palavras que estão naquela página, teu suíno sarcástico! SÓCRATES: Referes-te a estas palavras: “Os comunistas não precisam introduzir a comunidade das mul m ulhere heres. s. Esta Esta quase sem pre existi existiu.”? u.”? MARX: Sim Sim.. SÓCR ÓCRATES: ATES: Bem Bem , se ess e ssaa é a tua tua resp re spos osta, ta, exam inem os as evidências evidências relat re lativ ivas as à sua sua veracidade. vera cidade. Alegas que que o adultério adultério é a norma na m aior parte das sociedades prim prim iti itivas? MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: E, por “norma”, não queres dizer um ideal moral, mas uma prática social habitual? MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: E quão prevalente dirias que tal hábito deva ser, a fim de que seja a norma? MARX: MARX: Oh, digam digamos os,, ele deve de ve ocorrer oc orrer em oito oito ou ou nove nove de cada c ada dez casos. casos. SÓCRATES: Portanto, afirmas que 80 por cento dos homens, em sociedades primitivas, eram infiéis. MARX: MARX: Esse Esse parece pare ce um número núme ro raz ra zoável. SÓCRATES ÓCRATES:: Mesmo Mesm o na Roma Rom a antiga? antiga? E na Cristanda Cristandade de m edieval? edieva l? MARX: Mesmo aí, com toda probabilidade. SÓCRATES: Logo, uma vez que não se conheciam contraceptivos eficazes, muitíssimas crianças devem ter sido sido ililegítima egítimas; s; em verdade, verdade , a m aioria. aioria. MARX: MARX: Isso Isso procede; procede ; poré porém m , é fácil fá cil esconder esconder tal fato. SÓCRATES: Aqui, de fato, temos alguns dados empíricos, embora apenas um exemplo. MARX: MARX: O que queres quer es dizer dizer?? SÓCRATES ÓCRATES:: Quero dizer dizer que aqui a qui,, finalmente, finalm ente, falas f alas por exper e xperiência. iência. MARX: MARX: És um gross gr osseirã eirão, o, Sócr Sócrate ates. s. SÓCRATES: Sou um espelho. Nada se pode esconder por muito, aqui. Então, dizes que, em uma sociedade burguesa – por exemplo, na Inglaterra Vitoriana na qual viveste por um tempo –, os m ari ar idos não eram era m m ais fiéis do que que eram er am em tribos tribos primitiv primitivas. as. MARX: MARX: Provavelmente. Provavelm ente. Quem sabe? SÓCRATES: Tu parece pare cess saber saber.. Não é isso isso o que que escre e screvest veste, e, com efeit ef eito? o?
Nossos burgueses, burguese s, não contentes c ontentes em e m ter à sua disposiçã disposiçãoo as m ulhere ulher e s e as a s filhas dos proletár prole tários, ios, sem sem falar fa lar da prosti pr ostitui tuiçç ã o oficial, oficia l, tê tê m singular singular praz pra zer e m cornea cor neare rem m -se uns aos outros outros.. O casam ca samento ento burguês burguês é, na reali re alidade, dade, a comunid c omunidade ade das mul m ulhere heress casadas. No má m á ximo, xim o, poderiam poder iam acusar ac usar os com unista unista s de quere que rerr substitui substituirr um a com unidade de m ulhere ulheres, s, hipócrit hipócritaa e diss dissimulada, imulada, por outra outra que seria fra f ranca nca e oficial. oficial. MARX: MARX: Deixa est e star ar.. Stet ! 7 SÓCRATES ÓCRATES:: Gostar Gostarias ias de saber os númer núm eros os exato exa tos? s? Somos om os excele exc elent ntes es estatíst estatísticos icos aqui. MARX: Não, vamos prosseguir com o meu livro. SÓCRATES: Isso é exatamente o que eu pensei que estávamos a fazer. MARX: MARX: Próxi Pr óxim m a pergunta, pergunta, por favor. fa vor. SÓCR ÓCRATES: TES: Prati Pra tica care reii minha m iser isericórdi icórdia, a, em e m vez de de m inha inha j ust ustiça, e fare fa reii exatam ente isso isso,, já já que minha inquisição fez com que suasses de forma bem aflitiva. A propósito, também temos ótimos sabonetes, chuveiros e perfumes aqui, caso tenhas vontade de alterar tua aparência um pouco. MARX: Qual é o preço? SÓCRATES: Apenas que por cá não pode haver conflito entre aparência e realidade, então terias de abraçar uma limpeza interior correspondente; a qual, até agora, não tenho sido muito bem sucedido ucedido mesmo em começar começ ar a con conven vencer-te cer-te de abraçar. abraça r. MARX: Hei de reter minhas próprias roupas e personalidade, obrigado. Podemos prosseguir com a pergunta seguinte, por favor? SÓCRATES: Ei-la aqui, pois: por que não falas de uma “comunidade de homens”, mas apenas de uma “com un uniidade de m ulheres” ulheres” no com un uniismo? MARX: MARX: Há igualdade igualdade total total entre e ntre nos sexos no com unism unismo. o. SÓCRA ÓCRATES: TES: Entendo. Entendo. Assim Assim , fosses um bom com unist unistaa e não um hipócr hipócrit ita, a, ficar f icarias ias tão contente com o caso de Jenny c om Engels quanto quanto estás estás com o teu teu caso ca so com Lenchen. MARX: Engels? Engels! Até tu, Brutus? Hei de aniquilá-lo! Aquela narceja, aquele chacal, aquele j udeu seboso seboso!! SÓCRATES: Devo interromper esse experimento de presto. Não posso suportar o mau cheiro. MARX: MARX: Experimento? Experim ento? O que queres quere s diz dizer? er ? SÓCRATES: Que Engels não teve tal caso. Mas agora todos podemos ver, por tua resposta à minha questão, o quão feliz tu estarias em tua própria utopia comunista. MARX: Tua cobra burguesa gosmenta! Teu – teu advogado! Disseste que não se podia mentir aqui. SÓCRATES: Eu não disse que o caso de Jenny com Engels era real. Apenas levantei a bandeira de teu pensamento – o pensamento da mesma igualdade entre homens e mulheres que alegas prega pre garr –, m a s não bateste ba teste conti c ontinênc nência ia a e la. MARX: MARX: Que truque sujo! suj o! SÓCRATES: Um truque, sim. O espelho usa truques de luz súbita, mas a sujeira que revela vem apenas do homem à sua frente. Desejarias um pequeno sabonete agora? É de graça, não sabes? MARX: Eu preferiria uma pequena arma. Elas também são de graça aqui?
SÓCRATES: Não podem existir armas neste lugar, e seus espelhos não podem ser quebrados. MARX: Isso é insuportável! SÓCRATES: Espero verdadeiramente que essa não seja a tua última palavra sobre o assunto. Pois, Pois, se for, terei tere i falhado. falhado. Se Se essa for a tua última última palavra, ent e ntão ão el e la será a tua tua últi últim m a palavra. pa lavra. MARX: MARX: Eu não com c ompree preendo ndo.. SÓCRATES: Bom! Nisso reside tua esperança e a minha oportunidade – para ajudá-lo a compreender. MARX: MARX: Também Tam bém não compree com preendo ndo isso. sso. SÓCRATES ÓCRATES:: Bom Bom;; aprendes apre ndes a primeira prim eira liçã lição. o. MARX: Queres chegar a algum lugar com tudo isso? SÓCRATES: Sim. MARX: MARX: Não há esperança. espera nça. SÓCRATES ÓCRATES:: É a tua única esperanç esper ança. a. MARX: Então, prossegue. Eu não tenho escolha – ou tenho? Há aqui algum outro lugar? Uma outra estrada, que me leve para fora daqui? SÓCRATES: Por hora, não há outro lugar e não há outra estrada. Deves andar pela mesma estrada que percorreste em vida. Ninguém pode andar pela estrada de um outro. Podes apenas escolher escolher andar a ndar ou não não andar. MARX: MARX: E supondo supondo que que eu e u escolh esc olhaa o “não” “ não”?? SÓCRATES: Tu já escolheste andar, embora relutantemente; é por isso que estás aqui, comigo, na morada da esperança. Tua estrada é extremamente longa, penosa e lenta, mas estás nela, então há esperança. espera nça. Pros Pr ossi sigam gamos os,, pois? pois? MARX: MARX: Prossi P rossigam gam os. 7 N.T.: Em latim, stêt , 3a pessoa do singul singular ar do subj subj untiv untivoo presente pre sente de stâre estar de pé, parar, stâre , estar ficar. Antigamente, usado de forma imperativa como indicação, em um manuscrito, para que se retivess retivessee uma passagem passagem qu quee fora cancelada c ancelada previam previam ente. ente.
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Nações Naç ões
SÓCRATES: Mal vale a pena mencionar a próxima objeção, pois ela segue exatamente o mesmo padrão. Ela diz que “além disso, os comunistas são acusados de querer abolir a pátria, a nacionalidade”. Ao que respondes: “os operários não têm pátria. Não se lhes pode tirar aquilo que não possu possuem em ”. Mais uma vez, não está claro se dizes que o capitalismo é mau por ter roubado do proletar prole tariado iado algo a lgo que é bom – as naç na ç ões – ou que o capitalism c apitalismoo é bom porque a s naçõe naç õess são má m ás e ele dest de strui ruiuu essa coi c oisa sa ruim. ruim . Adem ais, não está está nada claro c laro que que tua prem issa issa seja sej a verdadeira: ver dadeira: os trabalh ra balhadores, adores, geralme gera lment nte, e, são mais m ais patrio patriottas, não menos, m enos, que as classes mais ma is ricas e m ais educa educadas. das. E também tam bém não está claro se tua futura futura ordem orde m m und undial ial única única,, excluídas excluídas as nações, será melhor ou pior que a velha ordem, que as incluía. Como as famílias, as nações são coisas que quase todo mundo concorda que produziram tanto bens quanto males. E trocar um bem imperfe imper feit ito, o, mas ma s conhecido, conhecido, por algo tot totalm almente ente desconhecido par parec ecer eria ia ser m otiv otivado, ado, como com o antes, mais ma is por ódio ódio da da coisa coisa real rea l conhec conheciida que por am a m or da coi c oisa sa idea ideall desconhecida desconhecida (que se desconhec desconhece, e, a m enos, é claro, c laro, que que sejas sej as um idealista idealista em vez de um em piris piristta). a) . Pois com o podem os am ar a quilo quilo que não nã o conhece conhe cem m os? Mas, se a c onhece onhec e m os, é ape a penas nas com c omoo uma um a ideia, ide ia, pois que ela e la ainda a inda não nã o é re r e a l. Logo, ma is uma vez, valoriza valoriza s a ideia acim ac imaa da rea re a lidade lidade.. És um idealista, não um realista. Mas essas essas perguntas perguntas não são novas; novas; são as mesm m esmas as que já j á fiz f izem em os acerc ace rcaa de quase todas todas as questões controversas que levantaste – e elas ainda não foram respondidas. O que é novo e básico é o teu último argumento, a última das nove objeções, aquela acerca das ideias, das ideologias, da filosofia e da religião. Portanto, eu gostaria de passar a essas coisas, coisas, a m enos que que desej es acre ac rescentar scentar alg a lgoo a resp re speit eitoo da questão questão sobre sobre as nações. naç ões. MARX: Eu quero. Trata-se de algo muito simples: um só mundo significaria ausência de guerras. SÓCRA ÓCRATES: TES: Sim. Sim. No N o entanto, se as a s nações naç ões são boas boa s coisas, isso isso não não seria se ria com c omoo matar m atar o paciente pac iente para par a c urar ura r a doença? doenç a? Ou com o am a m putar um m e m bro para pa ra c urar ura r um a unha encra enc rava vada? da? MARX: Algumas vezes, apenas tratamentos radicais curam. Nada mais foi capaz de eliminar as guerras; guerra s; enquant enquantoo houver houver nações, naçõe s, haverá nacionalis nacionalism m o, e enquanto enquanto houver houver nacionalis nacionalism m o, haverá guerra. SÓCRATES: E, enquanto houver egos individuais, haverá egoísmo. Assim, a única cura para o egocent egoce ntris rism m o, para para o egoísmo egoísmo e para pa ra a opressão é eliminar sua caus ca usa... a... MARX: Então de fato fato entendes meu argumento. SÓCRATES: ...eliminando o próprio “eu” e substituindo-o pelo “nós”. MARX: MARX: Sim, Sim, é isso isso mesm me smo. o. SÓCR ÓCRATES: TES: Logo, Logo, toda toda ess e ssaa em preitada preitada com a qual agora e stam stam os engajados, engaj ados, esse esse “conh “c onhec ecee-te te a ti mesmo” me smo”,, é ass a ssaz az supérfluo supérfluo,, se não tens um “eu”. MARX: Muito bem. Posso prosseguir, então? SÓCRATES: Quem é o “eu” que pede para prosseguir?
MARX: Estás a brincar comigo novamente? SÓCRATES: Estou. Mas, ao mesmo tempo, falo mortalmente a sério – e pergunto-me se um “nós” pode pode algum dia falar m ortalm ortalm ente a séri sér io. MARX: Por que não? SÓCRATES: Porque, se não há um “eu”, se não há família, nação, conflito e guerra, então quem é o “outro”? “outro”? Se Se há apenas a penas um “nós” espalhado espalhado por todo todo o mundo, par paraa sempre, sem pre, se “nós somos somos o mundo”, então o que “nós” poderemos fazer que tenha importância, que faça a diferença? MARX: MARX: Est Estás a defender defe nder a guerra? guerra ? SÓCRATES: Não, mas estou defendendo a sua possibilidade. MARX: MARX: O que queres quer es dizer dizer com isso? isso? SÓCRATES: As nações, e o amor à própria nação, parecem bastante com uma família ou com um “eu”. Os três podem facilmente ser infectados por doenças de egocentrismo. No entanto, a tua tua cirurgi c irurgiaa para par a os trê trêss casos parece pare ce ser uma um a eut e utanásia. anásia. MARX: MARX: Tudo Tudo tem tem sua sua hora de m orrer, orrer , Sócra Sócrates, tes, m esmo esm o essas trê trêss coisas. coisas. SÓCRATES: Tudo exceto o comunismo? MARX: O comunismo viverá para sempre; ele sobreviverá às nações, às famílias e à individualidade burguesa. SÓCRATES: Algumas surpresas te aguardam.
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Três Filosofias do Homem
SÓCRATES: A última objeção que consideras, aquela que concerne à filosofia, é, para ti, a m enos im im portante. portante. MARX: É por isso que a deixei por último. SÓCRATES: No entanto, gastas mais tempo a respondê-la que a todas as outras, exceto a prime prim e ira, ira , que trata tra ta da proprieda propr iedade de privada pr ivada.. MARX: Faço isso porque a maioria das pessoas – como tu –, a maioria dos filósofos e certamente todos os idealistas entendem a coisa toda do avesso – e é necessário dar-lhes uma resposta. SÓCRATES: Eis aqui, então, o trecho crucial – o qual é, filosoficamente, o trecho mais importante importante de teu livro, livro, poi poiss a escolha que expressa é a m ais básica básica e fundamental, fundam ental, além de faz fa zer a m aior dife difere rença nça possív possível el para o mai ma ior número núme ro de coisas. coisas. MARX: MARX: Eu dis discordo. cordo. Pens Pe nsoo que ela não faz f az difere diferença nça algum algum a, exceto e xceto em pensamento pensam ento.. A questão questão do status status das ideias só é importante quando se parte do pressuposto idealista de que o pensamento causa as coisas e não o contrário. Mas, do ponto de vista materialista, isso vem por último, não em primeiro prime iro – tanto tanto em pod poder er quanto quanto em importância. SÓCRATES: Que são as ideias, então, de acordo com as tuas ideias? Poderíamos dizer que, uma vez que uma ideia ideia não é m aterial, ela não é m aterial para as nossas nossas vidas? vidas? MARX: Não nego de todo sua realidade, então não percas teu tempo pavoneando tuas objeções lógicas astutas contra essa posição; isso é auto-contraditório. Eu explico as ideias em função de coisas materiais reais; as ideias são efeitos, não causas, e não são fenômenos observáveis, mas apenas epifenômenos. SÓCRATES: Esses são os dois argumentos resumidos pelo termo “epifenomenismo”, termo dado pelos fil f ilósofos ósofos à tua posição posiçã o rela r elati tiva va ao status ideias. O que queres quere s diz dizer ao falar f alar que elas não status das ideias. são caus ca usas as de eventos reais? re ais? MARX: As ideias acompanham os eventos reais como os espectadores podem acompanhar uma batalha bata lha m ilit ilitar ar,, a fim de observáobser vá-la, la, m as elas ela s não nã o a fetam fe tam o resul re sultado tado da ba batalha. talha. Os fenôm fe nômee nos são as coisas reais; são materiais e, portanto, observáveis. Já os epifenômenos repousam sobre os fenômenos – “epi” é um prefixo grego que significa “sobre”. Logo, os epifenômenos são como nuvens a flutuar sobre os eventos que têm lugar na superfície da terra; são como o calor gerado pela e letricidade letric idade que corre cor re a o longo de um fio, e m direç dire ç ão a uma um a m áquina. áquina . A e letricidade letric idade realiza todo o trabalho e faz com que a máquina trabalhe – esse é o produto ou efeito da eletricidade. Mas ela também gera um subproduto: o calor que se pode sentir sobre o fio. No entanto, esse calor simplesmente se dissipa no ar; ele não afeta a máquina. Assim, as ideias são como esse calor, e a matéria é como a eletricidade. Entendes de máquinas e de eletricidade, Sócrates ócra tes?? Elas Elas não exi e xist stiam iam em teu mund m undoo e não parece pare cem m existi existirr nest ne stee daqui. daqui. SÓCRATES: Sei sobre tudo o que havia em tua vida. MARX: Então, pondera sobre a diferença que há entre um motor a vapor e uma outra máquina, que gere vapor como um subproduto. Em um motor a vapor, é esse que efetua o trabalho; em outras máquinas, o vapor é simplesmente despejado no ar, por meio de tubos ou escapamentos. A causa c ausa ime diata diata ou próxim próxim a do vapor vapor que são as a s noss nossas as ideias ideias é o cére cé rebro, bro, e a caus ca usaa últi últim m a – ou
prime prim e ira – dessas dessa s ideias é o nosso sistem a socioeconôm socioe conôm ico, a e strutura de c lasse da sociedade socie dade.. Ela m olda olda tanto os os nossos nossos pensam pensam entos quanto quanto as nossas ações. aç ões. SÓCRATES ÓCRATES:: Em outra outrass palavras, palavra s, o sis sistem temaa m onetário onetár io.. MARX: No sentido amplo, sim. SÓCRATES: Por conseguinte, se desejas encontrar a Causa Primeira, deves seguir o rastro de dinheiro. Esse é, de fato, um novo caminho até Deus. MARX: A causa primeira é a matéria, não Deus, assim como a causa de nossos pensamentos é nosso nosso cére cé rebro, bro, não não algum esp e spíri írito to ou fantasm fantasmaa cham c ham ando “mente”. “m ente”. SÓCRATES ÓCRATES:: Queres Quere s diz dizer que nossos nossos pensamentos pensam entos são são desca de scarga rgass de nossos nossos cére cé rebros? bros? MARX: Pode-se dizer isso. SÓCRATES: Talvez pudéssemos chamar isso de “a teoria da consciência como flatulência cerebral”. MARX: MARX: Cham Cham a-la do que quiseres, quiseres, ela é uma descoberta da ciênci c iência. a. SÓCRATES: Eu pensava que a ciência descobria dados. Afirmas que ela descobre teorias? MARX: Ela descobre que o cérebro está cheio de químicos e de nervos físicos, um tanto como os fios, e que, quando se toca um certo nervo com um pedaço de metal eletricamente carregado ou quando se despeja sobre ele certos químicos, pode-se produzir ou modificar um certo pensam pensa m ento ou sentime sentim e nto. Qua Quando ndo se a lter lteraa m os produtos químicos, quím icos, a lte lte ra-se ra -se tam bé bém m a consciência. Isso são dados. SÓCRATES: Isso é verdade. E quando esbarras na caneta de um escritor, mudas a sua mensagem. MARX: O que essa analogia prova? SÓCRATES: Nenhuma analogia prova nada; as analogias apenas mostram ou ilustram algo, e essa aqui a qui m ostra ostra que os dados aos quais quais fazes fazes refer re ferências ências poderiam ser expl e xplicados icados por por uma um a outra outra teoria: que o cérebro é o instrumento do pensamento e não a causa dele; que há uma mente, alma, espírito ou um “eu” que usa o corpo e seu cérebro, assim como um escritor usa a caneta. Os dados são compatí com patíveis veis com a m bas as hipót hipóteses, eses, a tua e a m inha. inha. MARX: Nada disso. Eu te desafio: nomeia qualquer ato de pensar, de sentir, ou de qualquer outra coisa que alegues ser imaterial – mesmo as experiências místicas, a paixão, o remorso moral ou os cálculos matemáticos – e encontrarei um cientista que possa dizer exatamente que parte do cérebro ou que mudança química é causa dessa coisa. Corte-se uma parte do cérebro, e um não homem poderá mais sentir dor; corte-se uma outra parte, e ele não poderá mais raciocinar; corte-se ainda uma terceira parte, e não poderá mais fazer escolhas morais. Pode-se mesmo reali re alizzar uma “cons “c onscienciot cienciotom omia”. ia”. Não há um só dado que que comprove c omprove que alg a lgoo exist existaa de imaterial ima terial,, um só ato de tua suposta alma que não possa ser explicado por algum acontecimento no corpo, espec especiialmente no cérebro, cér ebro, que que sej a m aterial aterial e ob observável servável.. SÓCRATES: Esse é um argumento impressionante – e real, pois se baseia em dados reais; portanto, porta nto, ele m e rec re c e ser se r re r e spondido. spondido. MARX: MARX: Estou aguarda agua rdando. ndo. SÓCRATES: Traçaste duas colunas, cada qual com uma longa lista de itens. A coluna um corresponde à matéria, ao corpo ou cérebro. A coluna dois corresponde ao espírito, à alma ou
mente. Dizes, então, que não há nenhum item que esteja na coluna dois que não possa ser explicado por um item correspondente da coluna um e que, portanto, a coluna dois é supérflua, uma m era cópia cópia ou im im agem fantasma fantasma da colun colunaa um. um . Est Estou certo? certo? MARX: Sim. Mas o argumento é ainda mais forte que isso. Cada item correspondente da coluna um, cada parte, estado ou ato químico ou físico do cérebro é, como se pode mostrar, a causa de seu evento mental correspondente, pois quando se estimula uma parte do cérebro com um pedaç peda ç o de m e tal, um a carga ca rga e létrica létric a ou um químico, quím ico, pode-se pode- se faz fa ze r um home hom e m ver a c or roxa; roxa ; quando se estimula uma outra, pode-se fazê-lo ter medo; e, quando se extrai um pedacinho da m assa cere ce rebral, bral, ele não pode m ais contar contar até dez de z. Tudo Tudo iss issoo são fatos, fatos, e não se pode argume ar gument ntar ar contra contra fato fa tos. s. SÓCRATES: Mas posso argumentar contra a tua teoria. Ela não é a única que dá conta desses fatos; há, na verdade, três teorias que dão conta de todos eles, creio. MARX: Eu duvido, mas quais são elas? SÓCRATES: Uma delas é uma teoria na qual nem eu e nem tu acreditamos: que a matéria não existe, existe, que que tudo é m ente. Se Se eu e u acredit acr editasse asse nessa nessa teoria, eu te desafiaria ent e ntão ão exatam exa tamente ente com o m esmo argu a rgum m ento ento que que usast usaste con c onttra m im , mas m as em reverso. Pri Pr im eiro, eu te te desafiaria desaf iaria a apresentar a presentar um único único item item da coluna coluna um, um , um único único event eve ntoo ou coisa coisa supos supostam tamente ente m aterial que não tivess tivessee um evento ment me ntal al correspon corr espondent dente, e, um item correspondente da coluna dois. Jamais poderias fazê-lo, porque o próprio ato de pensar, ou de expressar o pensam ento, ento, é o evento mental ou ideia correspondente. Se a ideia não correspon corr esponde de à coisa, coisa, ela não é uma ideia verdadeira, verdade ira, não é uma um a ideia ideia daquela coi c oisa. sa. Em segundo, segundo, eu diria diria que meu m eu argume a rgument ntoo era ainda ainda m ais forte, forte, porque eu podia podia demons dem onsttrar ra r causali c ausalidade, dade, al a lém de corre c orresp spond ondência, ência, pois pois quando quando elim elim inas inas o pensam ento de de um homem acerca de qualquer coisa, não resta qualquer evidência daquela coisa, assim como, quando eliminas o sonhador sonhador,, eliminas qualquer e vidênc vidência ia do sonho. sonho. Sei que podes podes explica explicarr os mesm m esmos os dados dados de form a oposta. oposta. Porém P orém , o que que quero diz dizer é que o im im aterialist aterialistaa também tam bém pod podee – e eu e u tam tam bém, bém , pois pois creio cr eio em uma terceira terce ira teoria. teoria. Sou Sou um um duali dualista: sta: creio cr eio que que am a m bas as colunas, colunas, que que tanto tanto a m ente quanto quanto a m atéria, são rea is e que ess e ssas as duas coisas coisas interage interagem m dentro dentro de nós; nós; uma pod podee influenciar nfluenciar a outra outra,, de m aneiras aneira s dife difere rent ntes. es. Ou, talvez talvez,, a relação entre elas seja melhor expressada dessa maneira: são duas dimensões da mesma pessoa que não podem podem ser reduz re duzid idas as a uma um a só, simil similar arm m ente a como c omo ocorre ocorr e com c om as sílabas sílabas e o signi significado ficado de um poema. poem a. Meu argumento é simplesmente que todas as três teorias explicam os dados, pois há sempre sem pre uma um a correspon c orrespondência dência ent e ntre re as duas colunas colunas e, quando quando um item item é rem r em ovido, ovido, seu item item correspond correspondent entee também tam bém desapare desaparece. ce. MARX: MARX: Então, Então, qual é tua tua conclus conc lusão? ão? Em que pé nos deixa todo esse esse argum a rgumento? ento? SÓCRATES: Prontos, enfim, para ler o argumento que está em teu livro.
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Materialism Materialismo o
SÓCRATES: Escreves: “Quanto às acusações feitas aos comunistas em nome da religião, da filos filosofi ofiaa e da ideolog deologiia em e m geral, não não m erece ere cem m um exame exam e aprofundado aprofundado”. ”. Esse Esse é um truque truque m uito uito astuto astuto de de debatedor: quando quando não não tens uma resp re spos osta ta à objeçã obje çãoo mais m ais forte de teu oponente, usas então de insultos. Essa “cortina de fumaça” pode intimidá-lo. É o truque truque dos pregadores: “se tens um argume ar gument ntoo fraco fra co aqui a qui,, grita grita qual fosse fosse o fim do mund m undo”. o”. MARX: Mas eu respondo, sim, à objeçã obje ção. o. Cont Contin inua ua a ler. SÓCRATES: “Será preciso grande perspicácia para compreender que as ideias, as noções e as concepções, numa palavra, que a consciência do homem se modifica com toda mudança sobrevinda em suas condições de vida, em suas relações sociais, em sua existência social?” Eu poderia responder à tua questão retórica no mesmo nível, dizendo que isso não requer uma intu intuição ição profunda, profunda, m as uma um a intu intuiição çã o superf superfici icial al – que requer re quer uma um a confus c onfusão. ão. Pois que que pod podes es dizer dizer duas coisas coisas mui m uito to difere diferent ntes es com c om a tua tua frase. fra se. Pri Pr im eiro, podes podes falar fa lar simplesmente que sempre que há uma mudança no mundo material da qual estejamos cientes – por exem e xem plo, a mudanç m udançaa da noite para pa ra o dia, ou de um beij o num rosto para par a um tapa –, també tam bém m há uma um a m udança corre c orresp spond ondente ente em nossa nossa consciência. consciência. A apre ensão diss disso, o, de de fato, f ato, não requer uma intuição profunda; o fenômeno é verdadeiro, como todos admitem, tanto os idealistas quanto os material ma terialis istas, tas, e nada na da prova. Cer Certtam ente não prova o materiali m aterialismo; smo; as mudanças m udanças materiais m ateriais produzem m udança udanç a s menta m entais is c orre orr e spondentes simplesm sim plesmee nte porque o pensam pensa m e nto observa essas mudanças materiais, e, para que qualquer pensamento seja verdadeiro, ele deve corresponder à realidade, inclusive à realidade material. Nós, dualistas, não acreditamos menos nisso que vós, materialistas. Logo, Logo, imagi ima gino no que que queiras diz dizer uma outra outra coisa coisa com c om a tua frase f rase que citei. citei. Deves querer quere r dizer que as condições sociais materiais são causas únicas e suficientes e que os pensam pensamento entoss são Isso excluiria excluiria o idea ideali lismo smo (sej a a m inha inha versão de idealism dealism o, à qual chamei cham ei apenas seus efeitos . Isso de dualismo, dualismo, ou aquela versão na qual não não cre c reiio, que que alega a lega que tudo são ideias, ideias, mesmo me smo a matéria). MARX: MARX: A tua segunda segunda interpretaç interpretação ão est e stáá correta. corr eta. SÓCRATES: Mas isso deve requerer uma intuição de fato muito profunda para que seja compreendido, pois eu não consigo entender como as leis da aritmética podem mudar na mente de um homem, quando a economia muda de um sistema de escambo, como o que havia na idade idade m édia, para um sist sistem em a m onetário, onetário, como com o o que que há no capitali capitalismo; smo; ou quando quando muda de um sist sistem em a capit c apitali alist staa para par a um comuni com unist sta. a. Quer o homem hom em conte conte car c arneiros neiros,, moedas moe das ou as cabeça ca beçass de de seus inimigos burgueses, dois mais três sempre será cinco. MARX: Estou falando de ideias ideológicas, não de matemática. A ideologia de um homem é que muda com o sistema de classe. SÓCRATES: É claro que muda! Porque um sistema de classe é uma ideologia; no entanto, dizes que a religião e a filosofia também mudam, não é? MARX: MARX: Sim. Sim. Lê m inha inha próxim próxim a frase. fra se.
SÓCRATES: “Que demonstra a história das ideias senão que a produção intelectual se transforma com a produção material?” Francam ra ncam ente, creio cr eio que a hist história ória das ideias prova prova quase qualquer qualquer coisa, coisa, menos isso. Queres Quere s diz dizer er realm re almente ente que, quando quando as min m inhas has fábricas fábrica s deixam deixam de depender de rodas d’água d’água e passam passa m a depende de penderr de dínam os elétricos, elétr icos, minha m inha m ente deixa de ser se r lenta le nta e a quosa para pa ra se tornar torna r fagul fa gulhent hentaa e elétrica elétrica?? A verdade ver dade não nã o é quase o oposto oposto?? A m ente prime iro não m udo udouu e se tornou tornou astuta, inventando assim o poder elétrico, e então fez uma cópia material daquilo que havia inventado? E esta tua tua frase fr ase est e stra ranha: nha: “produção intelectual”; intelectual”; pensas pensas mesm m esmoo que que a m ente é um tipo ipo de fábri fá brica ca ou lin linha ha de m ontagem ontagem para produz produzir ideias? MARX: MARX: La Mettrie Mettrie provou que que a m ente é uma m áquina, áquina, assim assim como com o fez Hobbes. Hobbes. SÓCR ÓCRATES: ATES: Eles Eles afirm a firmar aram am isso isso,, mas m as não o provaram provar am . MARX: MARX: Pois lê lê a próxim próxim a frase. fra se. SÓCR ÓCRATES: ATES: “As ideias ideias dom dom inantes inantes de uma um a época é poca sem pre foram f oram as ideias ideias da cl c lasse dominante” dominante”.. MARX: É isso o que eu quis quis diz dizer com a m inha inha frase fr ase ant a nter erio ior. r. Cer Certtam ente não podes negá-lo. SÓCRATES: Estás a usar tua “cortina de fumaça” novamente? Não há nada do que disseste que eu poderia negar com maior facilidade. MARX: MARX: Agora Agora és é s tu tu quem quem usa usa a “corti “c ortina na de fum aça” aç a”.. SÓCRATES: De forma alguma. Listemos os sete pensadores mais influentes de todos os tempos, estejam eles certos ou errados, sejam bons ou maus, verdadeiros ou falsos. Eu os enumeraria da seguinte seguinte m aneira: ane ira: Jesus, eu próprio, Buda, Buda, Maom é, Confúcio, Mois Moisés és e tu. MARX: Colocas a ti mesmo atrás apenas de Jesus? SÓCRATES: Em influência, não em valor. Aqui, nenhuma falsa modéstia é capaz de sobreviver. Eu fui o pai da filosofia, e a filosofia foi a mãe das ciências, e a ciência é a religião da modernidade. Eu fui o primeiro a saber como argumentar logicamente. MARX: MARX: Est Está certo, ce rto, está está certo; ce rto; estou estou em sétim sétim o, de qualquer qualquer form a. SÓCRATES: Essa lista não é infalível. Meu ponto é simplesmente que a existência de cada um desses sete, inclusive nós dois, refuta teu princípio. Nenhum de nós veio da classe dominante da sociedade; todos nós a desafiamos e todos fomos temidos por ela. Todas as pessoas mais influentes da história não foram conformistas. Logo, nada poderia estar mais longe da verdade que a ideia de que todos sofremos determinação da sociedade naquilo que pensamos. Que status quo é essa para um radical autonomeado como tu! filosofia conservadora, pró status MARX: MARX: Já resp re spond ondii à tua calún c alúnia ia em m eus próxim próxim os par parágra ágrafos. fos. SÓCRATES: Pois vou lê-los e verei. Quando se fala de ideias que revolucionam uma sociedade inteira, isto quer dizer que, no seio seio da da velha sociedade, sociedade, se form aram ar am os elem entos entos de de uma um a nova sociedade sociedade e que a dissolução das velhas ideias marcha de par com a dissolução das antigas condições de vida. Quando o mundo antigo declinava, as velhas religiões foram vencidas pela religião cristã; quando, no século XVIII, as ideias cristãs cederam lugar às ideias racion ra cionali alist stas, as, a sociedade sociedade feudal fe udal tra travava vava sua sua batalha batalha decis de cisiv ivaa contra contra a burguesi burguesiaa então
revolucionária. As ideias de liberdade religiosa e de liberdade de consciência não fizer fizeram am m ais que que proclam ar o im im pério da liv livre re concorrência concorrê ncia no domíni domínioo do conhecimento. Aqui, mais uma vez, está a tua ideia fundamental, teu pressuposto fundamental: que os pensam pensa m entos são m eros er os ecos ec os do til tilint intar ar das m oedas; oeda s; que que a liberda liber dade de da m ente ou de consciê c onsciência ncia nada é senão o eco m ental do do lilivre com c omér ércio cio merc me rcante. ante. Se Se isso isso é verdade, ver dade, então, antes antes do advento do capitali capitalismo, smo, não havia nada de liberdade liberdade de cons c onsciência ciência ou da m ente, nem no pensam pensa m ento e nem na rea r eali lidade dade.. Mas textos abundantes abunda ntes de socieda soc iedade dess pré-c pré -caa pita pita listas listas te re futam futa m sim sim ples ples e literalm literalmente, ente, com dados e não argume ar gument ntos os.. MARX: MARX: Ess Essaa é a objeç obj eção ão à qual meus m eus próximos próximos par parágra ágrafos fos respondem respondem.. SÓCRATES: Então, voltemo-nos a eles. MARX: MARX: Em Em primeiro prime iro lugar, lugar, formul form uloo a objeçã obje ção: o: “Sem dúvida, dúvida, – dir-se-á dir-se- á – as ideias reli re ligi giosas, osas, mora m orais is,, filosóficas, filosóficas, políti política cas, s, jurídi j urídica cas, s, etc, m odificar odificaram am -se no curso c urso do do desenvolvi desenvolvim m ento his histó tórico, rico, mas m as a reli re ligi gião, ão, a m oral, a filos filosofia, ofia, a polít polítiica, ca , o dire direit itoo manti m antivera veram m -se sem pre através dess de ssas as transformaç transform ações. ões. Além diss disso, o, há há verdades ve rdades eternas, eter nas, como a liberdade liberdade,, a j usti ustiça ça,, etc, que são comuns com uns a todos os regimes sociais. Mas o comunismo quer abolir estas verdades eternas, quer abolir abolir a reli r eligi gião ão e a m oral, em lugar lugar de lhes dar dar uma um a nova form f orma, a, e isso isso contradiz contradiz todo todo o desenvol dese nvolvi vim m ento histó histórico rico anterior” anter ior” E então a respondo: A que se reduz re duz essa acusaç a cusação? ão? A hist história ória de toda toda a sociedade até nossos nossos dias dias consi c onsist stee no desenvolvime desenvolviment ntoo dos antagonis antagonism m os de classe, c lasse, antagonism antagonismos os que que se têm revesti re vestido do de form as dife diferentes rentes nas dife difere rent ntes es épocas. época s. Mas Mas qualquer qualquer que tenha tenha sido sido a form f ormaa dess de sses es antagonismos, a exploração de uma parte da sociedade por outra é um fato comum a todos os séculos anteriores. Portanto, nada há de espantoso que a consciência social de todos os séculos, apesar de toda sua variedade e diversidade, se tenha movido sempre sob sob certas ce rtas form as com uns, uns, form as de cons c onsciência ciência que só se diss dissol olverã verãoo compl com pletam etam ente com o desaparecim desapare cimento ento tot total al dos antagonis antagonism m os de de class c lasse. e. A revol re volução ução com c omuni unist staa é a rupt r uptura ura m ais radica radicall com as a s relações relaçõe s tra tradi dicion cionais ais de de proprieda propr iedade; de; nada na da de e stranho, portanto, por tanto, que no curso c urso de seu desenvolvime de senvolvime nto, rompa, rom pa, do modo mais radical, com as ideias tradicionais. SÓCRATES ÓCRATES:: É essa a tua tua respo re spost staa a tal objeç obj eção? ão? MARX: Sim Sim.. SÓCRATES: Mas isso não é, de forma alguma, uma resposta a essa objeção, mesmo de acordo com a tua form ulaç ulação ão dela. Tudo o que que fi f izeste este foi repetir repetir a ideia à qual se se havia havia objetado obje tado.. MARX: Em um panfleto popular, minha preocupação não é provar cada argumento por lógica silogística, mas afirmar a verdade de maneira clara e contrastá-la ao erro prevalecente. SÓCR ÓCRATES: ATES: Assi Assim m , a “verdade “ verdade”” que afirma af irmass aí é que não nã o há nada de universal universal à humanid hum anidade ade ao longo da história, nada de inato à natureza humana, nenhuma definição do homem enquanto tal que seja distinta do homem comunista, do homem capitalista, do homem feudal, do homem clássico, do homem cristão ou do homem moderno – exceto uma: o homem é o explorador, o ladrão, o escravagi escra vagist sta. a. “[...] “ [...] a expl e xploraç oração ão [...] é um fato fa to com um a todos todos os os séc sécul ulos os anteriores”.
MARX: É isso o que digo. SÓCRATES: Que filosofia estonteantemente sombria! Todo altruísmo, todo afeto, toda amizade, toda toda santi sa ntidade dade,, todo todo sacrifí sacr ifício cio pessoal, todo todo amor am or m aterno, ater no, toda toda honra e todo mar m artí tírio rio ao longo longo da história – tudo isso não passa de exploração! Essa ideia é tão estonteante que me deixa mudo e incapaz de refutá-la – é como alegar que todas as coisas viventes da terra são, na verdade, morcegos-vampiros disfarçados, ou que o número oito é na verdade o número dois, mas que nossas nossas mentes m entes não são capaz capa zes de perc pe rceber eber isso. sso. E teu outro pressuposto fundamental, de que as ideias nada mais são que os títeres do tit titereiro er eiro que é a econo ec onom m ia; que Deus, a Liber Liberdade, dade, a Im ortalid ortalidade, ade, a Verdade, Ver dade, a Bond ondade, ade, a Beleza, eleza, a Just Justiça, iça, a Sabedoria, o Amor Am or e a Santidade antidade nada na da m ais são são que sombras som bras projetadas proj etadas nas pare par e des de nossas consciênc c onsciências ias pelos pe los atores atore s reais re ais do dram dra m a huma hum a no: as moeda m oedas! s! MARX: Não sejas tão educado, Sócrates; dize-me o que realmente pensas de minha filosofia. Vê, também tam bém eu posso posso ser sarcásti sarc ástico. co. SÓCRA ÓCRATES: TES: Não há com o esconder esc onder nada na da aqui a qui,, portanto te te direi. Pe nso que que ess e ssas as tuas duas ideias são tão completamente absurdas, tão logicamente autocontraditórias, tão insultantes e aviltantes à humanidade que elas somente poderiam proceder da mente de um grande odiador dos homens e de si mesmo, de um desejo de morte espiritual, de uma filosofia cujo princípio fundamental, de acordo com tua citação de Fausto, é que “tudo o que existe merece perecer”. Eu examinei m ilhare ilharess de filos filosofias ofias ao longo longo de de m ilhare ilharess de anos a nos e pou pouca cass vezes, vezes, se não j am ais, encontrei encontrei uma um a só que fosse tão destrutiva quanto a tua. Trasímaco e Maquiavel eram apenas tiranos; tu és um terrorista. MARX: Ora, obrigado, Sócrates. És um grande adulador!
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As Etapas Etapas até até o Comu Comun nismo ismo
MARX: Realmente esperas que eu fique por cá e tenha diálogos lógicos polidos contigo, após isso? SÓCRATES: Não tens escolha, e nem eu. Nossa tarefa não acabou. Devemos explorar ainda três questões: em primeiro lugar, a estratégia e as etapas que trarão o mundo à tua ordem comunista mundial, as quais listas a seguir em teu texto; em segundo, a tua conclusão; e, em terceiro, as razões para ignorar quase tudo o que se encontra na última metade de teu livro, a qual está tão cheia de detalhes triviais e totalmente desatualizados que seu tédio se torna fascinante. Uma poça de lama com meio metro de profundidade é tediosa, mas uma poça de lama com dois quilômetros de profundidade é fascinante. MARX: MARX: Vej o que que ainda ainda est e stás ás em m odo adulador. adulador. SÓCRATES: Como a maioria dos tiranos que têm egos enormes, dizes ao mundo exatamente qual é a tua estratégia para escravizá-lo, qual um terrorista cheio de autoconfiança anunciaria o loca locall que atacará ataca rá,, antes antes que o fiz fizesse: “Vimos “Vim os acima ac ima que a prime ira fase fa se da revol re volução ução operária operá ria é o advento do do proletariado proletariado com o classe dominante, dominante, a conqu conquis ista ta da democra dem ocracia”. cia”. Assim, Assim, propicias propicias aos teus inimigos o meio de frustrar tua estratégia em seu primeiríssimo estágio: nas urnas eleitorais. Em seguida, assim que subir ao poder, “o proletariado utilizará sua supremacia política para par a a rra rr a ncar nca r pouco pouc o a pouco pouc o todo capit ca pitaa l à burguesia, burgue sia, para pa ra centra ce ntrali lizza r todos os instrum instrumee ntos de produçã produç ã o nas m ãos do Estado, isto é , do proletaria proleta riado do organiz orga nizaa do em c lasse dom inante [...] [ ...] Isso I sso naturalmente só poderá realizar-se, a princípio, por uma violação despótica do direito de proprieda propr iedade de [...]” [ ...]” Então, Então, admit adm ites es francam fra ncam ente que tom tom arás ar ás o poder poder por quaisquer quaisquer meios m eios que sirvam sirvam aos teus teus fins: pela “derrubada violenta” de todas as condições existentes, onde quer que isso seja possível, ou pelos pelos méto mé todos dos m ais lento lentoss da persuasão e da propaganda, nas dem ocracias ocra cias livres livres – devem -se persuadir per suadir os hom e ns livre livress a vender ve nder sua liberdade liber dade e tornare torna rem m -se e scra scr a vos. Mas, uma um a vez ve z que tivere tiveress o poder, poder, toma rás o dinheiro dinheiro da burguesia burguesia de form f ormaa “despóti “despótica”. ca ”. Especificas, pois, as formas pelas quais farás isso: mudando as leis das nações nas quais chegare chega ress ao poder poder e faz fa zendo revoluções revoluções e guerras guerr as sangrentas sangrentas onde onde fores f ores derrot derr otado. ado. Eis aqui as tuas dez etapas etapa s que levam ao com c omuni unism smo. o. Muit Muitas as delas de las foram fora m insti instituí tuídas das até a té m esmo esm o em países países não comuni com unist stas, as, após a tua tua m orte; com efeit ef eito, o, a maior m aior parte dos leito leitores res dessa tua lista que vivem 150 anos após o teu tempo ficará muito surpresa com alguns dos itens que especificas com o ideias ideias radica radicaiis e comuni com unist stas, as, uma vez que elas já se tornara tornaram m bem comuns com uns.. Escreves: Essas medidas, é claro, serão diferentes nos vários países. Todavia, nos países mais adiantados, as seguintes medidas poderão geralmente ser postas postas em prática prática:: 1. Expropriaçã Expropriaçãoo da propriedade propriedade latifundi latifundiár áriia e em prego da renda da terra ter ra em proveito proveito do Estado. 2. Im posto posto fortemente fortem ente progressiv progressivo. o.
3. Abolição do direito de herança. 4. Confiscação da propriedade de todos os emigrados e sediciosos. 5. Centraliz entralização aç ão do cré c rédi dito to nas nas m ãos do Est Estado por m eio de um banco naci nac ional com capi ca pittal do Estado Estado e com o monop m onopóli ólioo exclu exc lusi sivo. vo. 6. Centrali entra lizzação, aç ão, nas na s mãos m ãos do Estado, Estado, de todos todos os os meios m eios de transporte. 7. Multiplicação das fábricas e dos instrumentos de produção pertencentes ao Estado [...] 8. Trabalho obrigatório para todos, organização de exércitos industriais, particularmente para a agricultu agricultura ra.. 9. [...] medid m edidas as tendentes tendentes a fazer desaparec desapar ecer er gradual gra dualm m ente a disti distinção nção ent e ntre re a cid c idade ade e o campo. 10. Educa Educaçã çãoo públi pública ca gratuita gratuita de todas todas as criança c riançass [...] Um de teus discípulos, um italiano chamado Gramsci, foi ainda mais profético do que tu com relação re lação às à s priori prioridades dades dessa dessa list lista; a; ele col c olocou ocou em primei prime iro aquilo aquilo que que col c olocaste ocaste em décimo décim o e últi últim o lugar: lugar: a propaganda. propaganda. Nas Na s escolas, escolas, cham a-se a- se iss issoo “educaçã “educa ção”; o”; fora delas, chamacham a-se se “comunicação” e “mídia”. Gramsci disse que o Marxismo não venceria no campo de batalha ou na urna eleitoral, eleitoral, mas m as nas salas de aula. Assim, tu e Gramsci, juntos, alertam bem francamente o mundo de quais serão seus cam ca m pos de batalha. Cer Certam tamente ente não é vossa vossa cul c ulpa pa se el e les ignoram ignoram esses alertas claros. E, agora, hei de concl c onclui uirr com c om m ais doi doiss comentário com entárioss am igáveis. igáveis. MARX: Amigáveis? Ah, tenho certeza que sim – e o sol nascerá no oeste e os triângulos terão cinco lados la dos.. SÓCR ÓCRATES: ATES: Primeiro, Prim eiro, elogi elogiar arei ei tua tua retóri r etórica ca.. Tua perora ção çã o realme rea lment ntee rever r everbera bera,, sabias? sabias? MARX: Eu sei. SÓCRATES: Muito embora nenhuma outra revolução, partido ou líder tenha prestado a ela a m ais mínim mínim a atenção a tenção em e m 184 1848, 8, o “ano das revoluções” revoluções” ao a o long longoo de toda toda a Europa. MARX: Eu era original demais para eles. SÓCRATES: As tuas melhores frases não eram nada originais; com efeito, foram todas plagiadas. plagiada s. Roub Roubaa ste “ os operá oper á rios não têm pátria” pátr ia” de Marat, Mar at, a ssim ssim c omo om o “ os proletár prole tários ios nada têm a perder a não ser suas cadeias”. Roubaste “a religião é o ópio do povo” de Heine, “proletários de todos os países, uni-vos!” de Schapper, “a ditadura do proletariado” de Blanqui e “de cada qual, segundo sua capacidade, a cada qual, segundo suas necessidades” de Louis Blanc. És um um grande propagandist propagandistaa apenas a penas porque porque és é s um grande gra nde ladrão. MARX: São os efeitos que contam, não as causas. Qualquer que seja sua fonte, uma grande propaganda propa ganda tem grande gra nde poder pode r para pa ra produzir produzir efe e feit itos os – ela é a trati tra tiva. va. SÓCRATES: De fato. Mas para quem a propaganda é atrativa? Quem é o par apropriado a um ganso apropriado apropriado senão senão um a gansa apropriada? MARX: Já que vais me humilhar com o teu “humor”, concedes-me ao menos a justiça de um último pedido? SÓCRATES ÓCRATES:: O que desej as? MARX: Posso ter a última palavra e citar as últimas palavras de meu próprio texto?
SÓCRATES: Podes citar a ti mesmo, porém não podes ter a última palavra. Tal privilégio deve ser reservado a um Outro, Outro, o qual qual tam tam bém teve a prim prim eira Palavra. P alavra. MARX: Escutemos, então, a conclusão de todos os afazeres do livro, o “argumento final”. Os comunistas não se rebaixam a dissimular suas opiniões e seus fins. Proclamam abertam aber tamente ente que seus obj obj etivos etivos só podem podem ser alcança a lcançados dos pela derrubada derr ubada violent violentaa de toda a ordem orde m social social exist existente. ente. Que as classes dom dom inantes inantes tre trem m am à ideia de uma um a revol re volução ução comunis c omunista! ta! Os proletários proletários nada têm a perder pe rder a não nã o ser suas cadeias. Têm um mundo a ganhar. PROLETÁRIOS DE TODOS OS PAÍSES, UNI-VOS! SÓCRATES: Essas palavras estavam destinadas, de fato, a caírem como um fósforo para incinerar teu mundo. Há bilhões de almas e milhões de corpos que irão te confrontar neste mundo com suas queimaduras. Se enfrentares aqui essas feridas que te recusaste a enfrentar então, mesm m esmoo tu poderás poderás encont e ncontra rarr purifica purificaçã çãoo e luz luz, no final. final. MARX: E o que é que tens a ver com isso, Sócrates? SÓCRATES: Eu continuarei a ajudar-te com o “conhece-te a ti mesmo” até após o fim desta conversa. MARX: E como poderás fazê-lo? SÓCRATES: Conquanto não creias no “eu”, na oração, em Deus ou na alma, rezarei para que Deus tenha piedade da tua alma, embora eu não tenha tido piedade de teu livro. E agora meu segundo segundo comentário com entário am igável... gável... MARX: Oh, aquele foi o teu primeiro comentário “amigável”? Devo tê-lo deixado passar desapercebido. SÓCRATES: Como eu deixei passar o nascer do sol no oeste e os triângulos de cinco lados. Minha última observação amigável é um pouco de piedade. Hei de eximir a nós dois: a ti por teres escrito o resto de teu livro, os capítulos três e quatro, e a mim de lê-los. MARX: MARX: Por quê? SÓCRATES: Ora, porque aquilo que contêm é tão mesquinho e insuportavelmente tedioso – pequeninos peque ninos detalhes, deta lhes, todos locais, loca is, que que rapida r apidam m e nte se tornar tor naraa m ultra ultrapassa passados. dos. MARX: Ultrapassados! Por quê? SÓCRATES: Porque estavam por demais atualizados. Como disse um homem sábio certa vez, “aquele “a quele que esposa o Espírito Espírito dos Tempos Tem pos logo logo há de se torna tornarr viúvo”. viúvo”. MARX: MARX: Mas há coisas m uito uito im im portantes nesses capítu c apítulo los. s. SÓCRATES: Não, não há. Tiveste sempre uma visão fantasticamente exagerada de pequenas coisas e uma visão fantasticamente reduzida de coisas grandiosas; pensavas que o sol e a lua nasciam nasciam e sentavam sentavam -se em teu colo. colo. MARX: MARX: Esse Esse é o teu teu come c oment ntár ário io “am igável”? SÓCRATES: Não. O comentário amigável é que eu queria eximir-te de culpa por teres escrito esses capítulos, pois que os escreveste apressadamente, sob a pressão da data limite imposta por teu edit e ditor. or. MARX: Isso é verdade. SÓCRATES: Porque, como de costume, havias gasto todo o dinheiro que tinhas, e a maior parte dele não fora fruto de teu trabalho, mas de presentes ou de empréstimos que raramente pagavas
de volta. Foste um fracasso desastroso e contínuo em gerenciar tempo e dinheiro. Apenas alguém que fosse fosse tão frac fr acassado assado em econo ec onom m ia pessoal pessoal poderia poderia ter idolatrado dolatrado a econo ec onom m ia com o fizeste; fizeste; e apenas alguém que não fosse capaz de gerenciar o próprio tempo poderia ter idolatrado dessa form a a Histó História, ria, a qual teus teus ancest ance stra raiis vili vilipendi pendiavam avam , cham ando-a de “a m eretriz er etriz Fortuna”. ortuna”. MARX: Oh, obrigado por seres tão “amigável”. SÓCRATES ÓCRATES:: Fost Fostee também tam bém , mui m uito to simples simples e litera literalme lmente, nte, um m entiroso. entiroso. MARX: Prova-o! Com informações específicas e com dados de meus escritos públicos, por favor. SÓCRATES: Isso é tão fácil que uma criança poderia fazê-lo. E aquela citação famosa e influent influentee de Gladsto Gladstone, ne, a qual citast citaste, e, delibera deliberadam damente, ente, de form a equivocada equivocada e torcest torce stee a fim f im de que dissesse o oposto exato daquilo que realmente dizia? Insististe em colocá-la em todas as edições de O Capital e te recusaste a corrigi-la ou a omiti-la, mesmo após teu erro ter sido exposto e refutado. Defendeste-a com infinitos oceanos de ofuscação por todo o resto de tua vida. Além disso, mudaste deliberadamente as palavras de Adam Smith e seu sentido quando o citaste. E ainda ainda cham aste aste a ti mesmo mesm o de cientista? Tam bém desprezaste desprezaste o proletariado proletariado real rea l e, no entanto, entanto, chamast cham astee a ti m esmo esm o de proletário. proletário. Tu e os teus teus am igos igos vieram vieram da próspera classe classe m édia, da burguesia; burguesia; entretanto, entretanto, trovej trovejaste aste contra tudo o que era burguês, como fosses contra o próprio inferno. “Burguês” foi teu palavrão mais ubíquo ubíquo e venenos vene noso. o. Alegaste ter pena dos pobres trabalhadores industriais e afirmaste ser o único especialista que poderia ajudá-los; porém, nunca em tua vida colocaste os pés em uma fábrica. Exaltaste o trabalho e ralhaste contra o ócio; contudo, nunca trabalhaste, exceto escrevendo. Foste ocioso e desprezaste teu único parente que fora trabalhador, bem sucedido e sábio com relaçã re laçãoo ao est e stado ado de coisas no capi ca pitali talism smo, o, teu teu tio Lion Lion Philips, Philips, o fundador fundador da Companhia om panhia Elétrica P hili hilips. ps. Fost Fostee m ais hosti hostill àqueles de teus te us amigo am igoss que tinham tinham alguma algum a experiênc expe riência ia de trabalh traba lhoo e odiaste os tra trabalhadore balhadoress calmos, ca lmos, discipl disciplinados inados e habilid habilidosos osos que conhecest conhece stee na Ingl I nglaterr aterraa e na Alemanha: Alem anha: eles eram por demais dem ais raz ra zoáveis, oáveis, por por dem ais reali re alist stas, as, por dem de m a is práticos para pa ra a s tua tua s visões visões de danaçã dana çãoo e destruiçã de struição. o. Quando Qua ndo fundaste funda ste a Liga Comunista, omunista, rem oveste oveste dela todos todos os os mem m em bros da classe trabalhadora, pois pois eras era s pura e sim sim plesm plesmente ente um e snobe. snobe. Foste oste com pletam pletam ente impiedoso impiedoso e venenoso venenoso contra qualquer qualquer um que prefer pre feriisse sse a paz à guerra, guerra , a moderaç m oderação ão ao ext e xtrem rem ism ism o, ou ou as etapas gra graduai duaiss à viol violência ência repenti r epentina na – como com o Weitling, por exemplo. Foste, pura e simplesmente, um hipócrita completo e consumado. MARX: E daí se fui? Meu caráter individual não importa; eu fui o instrumento da história na realização de grandes feitos. Não posso contestar nenhuma das coisas que dizes, por causa do terrível caráter veraz deste lugar. Mas convoco-te a contar toda a verdade não apenas acerca de mim, mas acerca do comunismo – não por ideologia, moralidade ou qualquer outra mera ideia, como tentaste fazer em nossas discussões, mas pela história, que é factual. Soltaste insinuações e detalhes esparsos de teu conhecimento sobre a história de meu mundo após minha morte; pois dá-nos toda toda a verdade, ver dade, por favor. fa vor. SÓCRATES: Fico muito contente que desejas isso e muito contente em responder-te. Eis aqui o que a história fez de tua filosofia – não, não usarei essa palavra preciosa, pois ela significa “amor à verda ve rdade” de”;; eis aqui o que a históri históriaa fez f ez de tua ideologi ideologia. a.
O capi ca pittalismo alismo burguês burguês não morreu morre u e nem se enfraqueceu, mas m as cresceu cre sceu em tam anho anho,, popularidade popularida de,, e em e m sua habil ha bilidade idade de sati sa tisfa sfazze r as a s nece nec e ssidade ssidadess humana hum anas. s. Ele cre c resce sceuu de m odo contínuo, com apenas alguns contratempos, interrupções e depressões. Perto da virada do milênio, 150 anos após tua época, o capitalismo era o único sistema econômico bem sucedido da terra e não apresent apre sentava ava quaisq quaisquer uer sinais sinais de de decom posição posição ou revol re volução. ução. Com Com efeit ef eito, o, as pessoas pessoas gostavam gostavam dele; faz fa zia um m aior núm núm ero er o de pessoas pessoas mais ma is próspero próspero e m ais contente contente que as demais dem ais alternativas. Por outro outro lado, o social socialis ism m o e comunis c omunism m o foram fraca fra cass ssos os econômicos espetac espetacul ular ares es por quase toda toda part par te. O comuni com unismo smo some nte nte chegou c hegou ao poder poder por m eio de menti m entira ras, s, de de ass a ssassi assinato natoss e de terror. Ele dominou meio mundo por boa parte do século vinte – e, então, simplesmente m orreu. Nem uma só go gotta de sangue sangue fora derram ada; morreu morre u sim sim plesme plesment ntee porque, porque, após setenta setenta anos a nos em vigência, vigência, ningu ninguém ém m ais o queria queria ou acre ac redi ditava tava nele. O comunismo não libertou o proletariado, mas o escravizou, tanto econômica quanto politi politicc a m ente. ente . Povos P ovos inteiros inteiros foram for am m a ssacra ssac rados dos por ele; e le; algo m a is que cem c em m ilhões ilhões de pessoas pessoa s foram fora m m ortas em seu nom nom e. Um ditado ditadorr comunis c omunista, ta, na Chin China, a, m atou cinqü cinqüenta enta mil m ilhões hões de de inimigos inimigos polí políti ticos. cos. Um outro, outro, no Cam Cam boja, boj a, ass a ssassin assinou ou um terço terç o de toda a popu populaç lação ão de seu país. Ainda Ainda um terceiro, terce iro, na Rús Rússi sia, a, maqui m aquinou nou a fome f ome em m assa de mil m ilhões hões de de pessoas e est e stabelec abeleceu eu uma rede re de enorm e de políci políciaa secre sec retta e cam ca m pos de concent conce ntra raçã çãoo por por todo todo o seu seu país. país. Onde Onde quer que o comunis c omunism m o tenha tom tom ado o poder, el e le rein re inava ava pelo ter terror. ror. A tua tua ideolo ideologi giaa é dire diretam tamente ente resp re spons onsável ável pelo maior m aior sofrim sofrim ento, ento, derram derr am am ento de sangue sangue e tirania irania na histó história ria do m und undo. o. A tua polí política tica brotar brotaraa da Revolução Revolução Francesa, France sa, especial espec ialm m ente em e m seu fanati fa natismo smo “tu “ tudo do ou nada” nada ” e em e m seu uso do m ais puro terror. terr or. Os teus discípul discípulos os inst instit ituí uíra ram m o Reino Reino do Terror Terr or dos acobi ac obinos nos em escala esca la global global,, por três três geraç ger ações. ões. Um ho hom m em cuja cuj a al a lm a, face fac e e m ov oviim entos entos lem bravam sini sinist stram ram ente ente os teus teus chegou chegou ao poder na Alem A lem a nha, em e m grande gra nde parte pa rte porque o povo alem ale m ã o temia tem ia e odiava o com unismo a tal ponto que que se voltou para e sse home hom e m , o qual prom etera ete ra de destruir struir o com unism unism o. O siste siste m a dele se chamava “ Nacional Sociali Socialismo”, smo”, m as as sem elhanças desse sist sistem em a com o teu teu ultra ultrapass passavam avam em m uit uito as dife difere renças. nças. Esse Esse homem hom em quase destrui destruiuu o mundo; ele foi f oi provavelment provavelme ntee o homem hom em m ais odiado odiado na histó história. ria. Se tivesses alcançado o poder que desejavas, talvez tu o terias superado. No entanto, as estranhas mis m iser ericórdi icórdias as da providência providência divi divina te conferiram confer iram os dons dons im im erec er eciidos da da fraquez fra quezaa e do fracass frac assoo e, assim assim , poup poupara aram m -te e deram -te uma pequ pequena ena esp e spera erança, nça, a qu qual al ainda ainda rest re sta. a. MARX: Estou atordoado. SÓCRATES ÓCRATES:: Pois niss nissoo resi re side de a tua espera e sperança nça.. MARX: MARX: Simplesm Simplesm ente não nã o sei o que dizer dizer.. SÓCRATES: E aí está a tua segunda fonte de esperança. Estás a aprender a primeira lição: conhecer conhece r a tua tua ignorância. ignorância. MARX: MARX: Em outra outrass palavra palavras, s, começo come ço a soar soar como com o tu. tu. SÓCRATES: Pouco tempo atrás, tentaste persuadir-me a pensar como tu e a juntar-me à tua ideologia e ao teu partido. Isso era impossível, é claro, porque não temos ideologias ou partidos aqui. Porém, deves te juntar a mim – não em ideologia, pois não tenho nenhuma, mas em minha m issão, issão, a qual nunca nunca tem fim; deves tentar tentar conhecer conhece r aqui a quilo lo que mais m ais evit evitaste: tu tu mesm m esmo. o. MARX: Estou no inferno?
SÓCRATES: Estás em ti mesmo, para todo o sempre. Se isso é o céu ou o inferno, depende de ti. MARX: Tenho uma escolha, então? SÓCRATES: Na terra, tinhas a escolha, a cada momento, de abrir ou fechar os teus olhos para a verdade; nenhuma opressão ou prisão poderia cercear tal liberdade. Aqui, não tens mais essa escolha; aqui, não se podem fechar os olhos. As únicas escolhas que temos aqui são aquelas que fizem fizem os na na terra, terra , mas m as que agora a gora são vist vistas com c om total total clar clarid idade ade e são confrontadas. confrontadas. Essa Essa visão visão é o proce proc e sso purgatorial purga torial ao qual de deste ste iníc iníc io c omigo. om igo. P orém oré m , m e smo sm o lá, no prime prim e iro m undo, não tinhas a liberdade para escapar realmente de ti mesmo, mas apenas de tua autoconsciência – os olhos não cessam de existir ao serem cerrados. Pois há realmente um “eu”, e tu, em teu “eu”, és a única única pesso pessoaa à qu qual al jam j am ais pod podes es escapar, em e m vida vida ou em m orte. orte. MARX: MARX: Est Estou em uma prisão prisão eterna, e terna, ent e ntão? ão? Nunca terei m inha inha liberdade liberdade?? SÓCRATES: Nunca terás aquela liberdade que todas as outras pessoas que já viveram tinham: a liberdade de não serem Karl Marx.
Agradec Agradec ime ime ntos
Karl Marx e Friedrich Engels, Manifesto do Partido P aulo: Editora Editora Escriba, Esc riba, 1968). Partido Comunist Comunista a (São Paulo: Todas as citações de Marx que, de outro modo, não foram identificadas, foram retiradas desse título.
Sócrates ócra tes encontra encontra Marx Cop opyy right right © by Pet Pe ter Kreeft Kree ft P ublicado ublicado no Brasil 1ª ediçã ediçãoo - agos a gosto to de de 2012 - CEDET CEDET 2ª edição - m arço ar ço de 2014 - CEDET CEDET Título Original: Socrates Meets Marx Tradução autorizada do idioma inglês da edição publicada por Ignatius Press. © 2004 2004 by Ignatius P ress, re ss, San San Francis Franc isco co Os dire direit itos os dest destaa edição pertencem per tencem ao CEDET - Centro de De Desenvol senvolvi vim m ento Profiss Pr ofission ional al e Tecnol Tec nológi ógico co Rua Angelo Vicentin, 70 CEP: EP : 13084-060 13084-060 - Cam pinas pinas - SP Telefone: 19-3249-0580 e-m e- m ail: ail: liv livros@c
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Kreeft, Kree ft, Pet Pe ter Sócrates ócra tes encontra encontra Marx / Peter Pe ter Kree Kr eeft; ft; Tradução Traduçã o de Pedro P edro Vianna Cava - Cam pinas, pinas, SP SP : Vide Vide Editoria Editorial,l, 2012 Título Original: Socrates Meets Marx e-ISB e- ISBN: N: 978-85-67394-16-9 978-85-67394-16-9 1. Marxismo 2. Karl Ka rl Marx 3. Filos Filosofia ofia Socr Socrática ática 4. Fil Filoso osofia fia Moderna. Moder na. I. I . Peter P eter Kreef Kre eftt II. Título Título.. CDD – 335.43 Índice para Catálogo Sistemático 1. Marxismo – 335.43 2. Filosofia Socrática – 183.2 3. Filosofia Moderna: Ensaios – 190.2
Sobre Sobre o Autor Autor
P ETER KREEF KREEFT T (P hD) É profess profe ssor or de filosofia filosofia no Bost Boston on Coll College ege,, onde lecio lec iona na desde de sde 1965. Palest Pa lestra rante nte dotado dotado de humor hum or e clareza incomparáveis, ele tem sido convidado para ensinar em várias universidades, seminários e instituições educacionais e religiosas em todos os Estados Unidos. O professor Kreeft é autor de mais de sessenta livros sobre filosofia, cristianismo e apologética, incluindo Como Vencer a Guerra Cultural, Manual do Peregrino Moderno, Catholic Christianity, diálogos os em que Sócra Sócrates tes int inter erroga roga Fundamental Fundame ntalss of the the Faith, Faith, The The Best Be st Things Things in in Lif Lifee e a série de diálog
filósofos filósofos modernos, mode rnos, que agora a VIDE V IDE Editorial Editorial traz ao leitor leitor brasi bra sileiro. leiro.
Sobre Sobre a Obra
Este Este livro livro é parte de uma série de expl e xploraç orações ões socr socráti ática cass das grandes obra obrass da filos filosofi ofiaa m oderna. Os livros desta série são curtos, claros, e de fácil compreensão aos iniciantes, e introduzem as questões questões bási bá sica cass das discipli disciplinas nas fil f ilosó osófica ficas: s: metafísi me tafísica ca,, epi e pist stem em ologi ologia, a, antropologi antropologia, a, ética, ética , lógica lógica e metodologia. Em cada ca da livro livro da série, Sócra Sócrates tes encontra encontra um filós filósofo ofo moderno m oderno na eternidade, analisando analisando no mund m undoo do além as principais principais obras obras de Maquiavel, Maquiavel, Descartes, Desca rtes, Hume, Hume , Kant, Mar Marxx e Sart ar tre. re . A dialéti dialética ca de Sócra Sócrates tes é implacável implacá vel e segue dem onst onstrando ra ndo em cada ca da capí ca pítu tulo lo os erros e as as incoe incoerê rências ncias desses grandes gra ndes filósofos filósofos e suas filosofi filosofias. as.
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