Editora Appris Ltda. 1ª Edição - Copyright© 2017 do autor Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda. Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98. Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores. Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010. Catalogação na Fonte Elaborado por: Josefina A. S. Guedes Bibliotecária CRB 9/870 L946 2017
Lüdorf, Sílvia M. Agatti Metodologia da pesquisa: do projeto ao trabalho de conclusão de curso / Sílvia M. Agatti Lüdorf. - 1 ed. - Curitiba: Appris, 2017. 178 p. ; 21 cm (Educação, Tecnologias e Transdisciplinaridades). Inclui bibliografias ISBN 978-85-473-0760-8 1. Pesquisa - Metodologia. I. Título. II. Série. CDD 23. ed. – 001.42
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Dra. Sonia Ana Charchut Leszczynski – UTFPR
Dra. Evelyn de Almeida Orlando – Dra. Vani Moreira Kenski – USP PUCPR Dr. Francisco Antonio Pereira Fialho – UFSC
Dedico este livro aos meus amados, e sempre presentes, meu pai Antonio (in memoriam), minha mãe Cecília, Vô Nim (in memoriam), Vó Angelina, e aos três homens de minha vida: Rogério, Diego e Thiago.
NOTA DA AUTORA SOBRE A EDIÇÃO DE 2017 E AGRADECIMENTOS Em 2004 publiquei o livro Metodologia da Pesquisa: do projeto à monografia, cuja versão original esgotou há alguns anos, pela Editora Shape, que encerrou suas atividades. Com satisfação percebi a calorosa acolhida de um material destinado a ser de fácil leitura, com exemplos práticos ligados à Educação Física, mas que poderiam ser aproveitados em outras áreas. Igualmente gratificante foi ver que professores o indicavam em suas aulas e, também, receber relatos de que a leitura colaborou para desmistificar dificuldades associadas à pesquisa e serviu de estímulo para a continuidade dos estudos. É fato que várias informações contidas na primeira edição necessitavam de atualização, afinal foram escritas há mais de 10 anos. Durante esse período, tive oportunidade de trabalhar não apenas na graduação e pós-graduação lato sensu, mas também stricto sensu, com a criação do Programa de Pós-Graduação em Educação Física da EEFD/UFRJ (mestrado e doutorado). Diante da experiência acumulada desde 1999, de orientações de projetos de pesquisa, monografias, dissertações, teses, artigos científicos, e demais trabalhos acadêmicos, além de valiosas trocas com meus alunos e colegas de graduação e de pós-graduação, observo que o conteúdo original ainda é útil àqueles que desejam se inserir ou conhecer mais das práticas associadas à pesquisa. Por esses motivos, optei por redigir uma segunda edição, agora em suas mãos. Vejamos o que há de diferente em relação à edição anterior: O subtítulo foi modificado considerando-se que o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) não se restringe à monografia, mas ainda é a forma mais comum de TCC. No entanto, como o artigo científico também é um formato bastante utilizado, criei mais uma parte contendo três capítulos que abordam como construir um artigo, as particularidades desse formato, indicações de como publicar um artigo e, ainda, como
transformar a monografia em artigo. A estrutura dos demais capítulos foi mantida, mas o conteúdo foi atualizado e complementado com informações pertinentes e, em alguns casos, alterado de modo substancial. Na primeira parte, os capítulos 1, 2 e 3, que tratam da pesquisa em Educação Física, sofreram alterações consideráveis a partir da inclusão de comentários sobre o desenvolvimento da produção de conhecimento científico desse campo de estudos. Na segunda parte, merecem destaque as modificações efetuadas nos capítulos 6 e 7, em especial o item 7.5 sobre a pesquisa da literatura, reescrito em sua totalidade, levando-se em conta a vertiginosa mudança nos últimos anos no que se refere à amplitude de acesso às fontes científicas. No capítulo 8 procurei enriquecer os detalhes relativos à escrita do projeto e apresentar mais exemplos, com vistas a facilitar a compreensão do leitor. Na terceira parte, os capítulos 9, 10 e 11 foram alterados de modo a acrescentar informações sobre a elaboração da monografia, principalmente no que se refere aos tipos de pesquisa que podem ser executados. O capítulo 12 recebeu também ajustes relativos à operacionalização da coleta de dados. Já o capítulo 13, sobre as questões éticas em pesquisa, foi renovado quase de maneira integral. A redação do capítulo 14, assim como da quarta parte, que traz informações complementares sobre a escrita do projeto de monografia e do TCC, foi reformulada a partir da inclusão de novos exemplos e das atualizações disponíveis. Inseri a quinta parte, conforme mencionado, para tratar do TCC no formato de artigo, em vista da demanda percebida (e a grande quantidade de dúvidas) quanto a esse tipo de conteúdo. Enfim, espero que esta nova edição agrade e possa ser útil aos leitores. Aproveito este espaço para manifestar alguns agradecimentos. À Escola de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Rio de Janeiro, instituição da qual tenho muito orgulho de participar, que oferece acolhida às minhas iniciativas acadêmicas ao longo desses
anos. Agradeço aos meus alunos, por constantemente me desafiarem nas aulas e pelo reconhecimento do meu trabalho. Agradeço aos colegas com os quais compartilhamos trabalhos e ideais de uma universidade pública de qualidade. Em especial, agradeço a todos que formaram e formam o Núcleo de Estudos Sociocorporais e Pedagógicos em Educação Física e Esportes, o Nespefe, que coordeno desde 2005. As nossas reuniões, parcerias, atividades, os projetos e, principalmente, a convivência fraterna, respeitosa e estimulante representam o que há de mais enriquecedor e motivador na vida acadêmica. Sou, e aprendo a ser, professora, a cada dia de minha vida. E por isso sou eternamente agradecida. A autora
Maio de 2017
Fundamentalmente, progredir na ciência não é saber o que é, mas saber o que não é. (AGATTI, 2008, p. 163)
APRESENTAÇÃO (EDIÇÃO DE 2004)
A ideia da elaboração deste livro surgiu a partir das necessidades detectadas durante minha prática como professora de Metodologia da Pesquisa e orientadora de monografias da Escola de Educação Física e Desportos da UFRJ (cursos de graduação e pós-graduação). Observei que, embora tenha tentado selecionar e simplificar as informações já existentes na bibliografia pertinente ao assunto, os alunos, independentemente do nível, acabavam por recorrer, no momento das dúvidas, a um manual que contivesse orientações básicas. Como são inúmeros os livros que tratam da Metodologia Científica, cujas informações, por vezes, são desencontradas, não vejo como indicar apenas um para as disciplinas ministradas. Além disso, há pouquíssimas contribuições no que diz respeito especificamente a livros de metodologia científica com enfoque em Educação Física. Dessa forma, procurei desenvolver um material, de linguagem simples e acessível, que pudesse servir de apoio às aulas e aos alunos na elaboração de projetos e de monografias, além de sintetizar e sistematizar as informações básicas relativas à elaboração de pesquisas no campo da Educação Física. O mapeamento das principais dificuldades dos alunos no decorrer dos semestres e a análise crítica de diversas obras forneceram-me subsídios para idealizar um protótipo de projeto de pesquisa, que chamo de Projeto de Monografia, ou, carinhosamente, de PM. Apresento, nesta oportunidade, uma visão particular da Metodologia da Pesquisa em Educação Física, na qual delineio os fundamentos teórico-práticos para a construção do Projeto de Monografia e da Monografia, tendo como pano de fundo a reflexão em torno de sua importância no contexto acadêmico. O PM é o ponto de partida para que seja realizada a transição para a Monografia, em um processo contínuo de produção do conhecimento. Mais do que um manual, este livro aborda procedimentos didáticopedagógicos resultantes de minha prática acadêmica e de meu estilo
pessoal. O livro está dividido em quatro partes. Na primeira parte discuto questões de caráter geral relacionadas à pesquisa em Educação Física, ressaltando o papel da pesquisa na formação de professores críticos. Na segunda, abordo especificamente o PM, o que é, sua estrutura, o processo de elaboração e detalhamento das etapas de elaboração. Na terceira parte, trato da Monografia e de diversos aspectos a ela relacionados, tais como: diferenças entre o PM e a Monografia; a monografia teórica e a teórico-empírica; a operacionalização da pesquisa de campo; questões éticas, dentre outros. Julguei importante incluir, o que constitui a quarta parte, algumas informações relativas à formatação (com base nas normas mais atuais da ABNT) e à redação acadêmica, essenciais à elaboração de qualquer trabalho acadêmico. Para tornar esta obra o mais próxima possível das necessidades dos alunos, criei uma seção abordando os erros típicos na elaboração do PM, e outra com respostas às dúvidas mais frequentes (que aguarda a sua contribuição!). Finalizando, espero que este livro possa contribuir de alguma forma com aqueles que trilham o caminho da busca e da construção incessante do conhecimento. Sílvia Maria Agatti Lüdorf
Outubro de 2003
PREFÁCIO DA NOVA EDIÇÃO O presente livro atualiza a versão anterior, publicada por Sílvia Maria Agatti Lüdorf em 2004. Da mesma forma que a versão anterior, o livro apresenta simplicidade na forma e no conteúdo e contribui como referência bibliográfica de apoio a todos aqueles que lidamos com cursos de Metodologia da Pesquisa e Seminários de Monografia, ou seja: um texto agradável e, ao mesmo tempo, que indica o “caminho das pedras” para a realização de uma Monografia ou TCC de graduação. Sem pretensões de discutir questões ontológicas ou epistemológicas que caracterizam a pesquisa, o livro busca, no entanto, encaminhar, de forma prática, o graduando pelas vias que irão conduzi-lo à elaboração de sua monografia ou seu artigo. Trata-se de fruto da longa experiência da autora na área, tendo sido testado com alunos reais, pertencentes a seu contexto de trabalho, com resultados bastante satisfatórios. Dessa forma, embora particularmente interessante para graduandos em Educação Física – foco das discussões presentes no livro e sua área de formação inicial e atuação pedagógica da autora, na Escola de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Rio de Janeiro – sua utilidade extrapola esse público específico, na medida em que traz questões passíveis de serem levantadas por alunos dos mais diferentes cursos, que se deparam com os desafios inerentes a esse primeiro trabalho de pesquisa, com vistas à obtenção do título de bacharel ou licenciado. Repetindo as palavras dos autores Norman Denzin e Yvonna Lincoln, a propósito da importância de um manual – definido por eles como aquele livro percebido como essencial para ser levado até mesmo a uma ilha deserta, de forma a permitir que se enfrente qualquer eventualidade num lugar como esse, posso afirmar que o livro de Sílvia Maria Agatti Lüdorf vem a constituir-se em um importante manual, capaz de oferecer formas pelas quais “o barco da monografia” seja construído, em meio às tormentas e às tempestades de dúvidas que assolam nossos graduandos nessa importante fase de sua formação como
pesquisadores. Ana Ivenicki
Professora titular, Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio de Janeiro Pesquisadora do CNPq Uma das autoras do livro Metodologia da Pesquisa: rompendo fronteiras curriculares (Editora Ciência Moderna, 2016)
SUMÁRIO PRIMEIRA PARTE A PESQUISA EM EDUCAÇÃO FÍSICA 1 - O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA COMO CIENTISTA 2 - UM BREVE PANORAMA DA PESQUISA EM EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL 3 - A MONOGRAFIA E A INICIAÇÃO CIENTÍFICA 4 - O PROJETO DE PESQUISA
SEGUNDA PARTE O PROJETO DE MONOGRAFIA 5- O QUE É O PROJETO DE MONOGRAFIA (PM)? 6 - A ESTRUTURA DO PM 6.1 Parte pré-textual ou Preliminares 6.2 Parte textual ou Corpo do trabalho 6.3 Parte Pós-textual ou Referências e anexos
7 - ETAPAS DE ELABORAÇÃO DO PM 7.1 A conscientização de um problema 7.2 Tema e Problema 7.3 A escolha/definição de um problema 7.4 A problematização 7.5 O levantamento da literatura
8 - O PROJETO DE MONOGRAFIA EM DETALHES 8.1 Introdução 8.2 Fundamentação Teórica 8.3 Esboço de Metodologia
TERCEIRA PARTE A MONOGRAFIA 9 - DIFERENÇAS ENTRE O PROJETO DE MONOGRAFIA E A MONOGRAFIA 10 - A ESTRUTURA DA MONOGRAFIA 10.1 Elementos pré-textuais 10.2 Elementos textuais 10.3 Elementos pós-textuais
11 - A CONTINUAÇÃO DO PM, A MONOGRAFIA 11.1 A elaboração da Monografia Teórica 11.2 A elaboração da Monografia Teórico-empírica
12 - A OPERACIONALIZAÇÃO DA COLETA DE DADOS 13 - QUESTÕES ÉTICAS LIGADAS À PESQUISA 13.1 Pesquisas com seres humanos 13.2 Execução da pesquisa e divulgação científica
14 - A FINALIZAÇÃO DA MONOGRAFIA 14.1 O título do PM e da Monografia
QUARTA PARTE INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES À ELABORAÇÃO DO PROJETO DE MONOGRAFIA E DA MONOGRAFIA 15 - A FORMATAÇÃO DO PROJETO DE MONOGRAFIA E DA MONOGRAFIA 15.1 Dados Gerais 15.2 Citações 15.3 Referências
16 - DICAS DE REDAÇÃO “ACADÊMICA” 17 - ERROS TÍPICOS NA ELABORAÇÃO DO PROJETO DE MONOGRAFIA E DA MONOGRAFIA 18 - DÚVIDAS MAIS COMUNS NA ELABORAÇÃO DO PROJETO DE MONOGRAFIA E DA MONOGRAFIA
QUINTA PARTE O TCC NO FORMATO DE ARTIGO 19 - CONSTRUIR UM ARTIGO, EIS A QUESTÃO 20 - PARTICULARIDADES DO FORMATO DE ARTIGO 21 - COMO PUBLICAR UM ARTIGO 21.1 Como transformar a monografia em artigo
REFERÊNCIAS
PRIMEIRA PARTE A PESQUISA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
1 O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA COMO CIENTISTA
Aposto que você escolheu a profissão de Educação Física por algum destes motivos: porque gosta de esportes, porque não gosta de trabalhar em escritório, porque quer trabalhar com pessoas em movimento, porque sempre gostou de atividade física... Bem, pelo menos essas justificativas são as mais mencionadas pelos meus alunos de primeiro período. Na verdade, até hoje, ninguém disse que estava cursando Educação Física para ser um pesquisador! Confesso que até mesmo quando escolhi a graduação em Educação Física, jamais havia pensado nesta possibilidade. Mas, por que será? Parece que a pesquisa está reservada aos grandes cientistas da área tecnológica ou biomédica. Imaginamos aquelas pessoas de avental branco, em laboratórios, realizando experimentos, fazendo cálculos, descobrindo fórmulas, debruçadas no computador... Claro que isso ocorre! E é ciência! Mas há outros sentidos associados ao fazer ciência. A pesquisa, de acordo com Minayo (2010), é a atividade básica da ciência na sua indagação e descoberta da realidade. Ao pesquisar, ajudamos a construir o conjunto de conhecimentos científicos, necessários e básicos ao cotidiano. A pesquisa é um componente fundamental para o enriquecimento e crescimento de qualquer área de estudo. Ainda que a palavra pesquisar possa ser utilizada no cotidiano, pois conforme Ferreira (1999), significa inquirir, investigar, informar-se a respeito de, indagar, estamos tratando de uma pesquisa de caráter científico. Ou seja, o conhecimento científico é derivado de uma pesquisa que possui particularidades, tais como: objeto de estudo claramente definido, fundamentação teórica que forneça respaldo ao estudo, métodos adequados e respeito aos preceitos éticos, aspectos esses balizados pelo rigor exigido no âmbito científico. Vamos entender melhor sobre isso nos próximos capítulos. Importa destacar que, na verdade, todos temos certa “atitude” de cientista
quando detectamos algum problema e vamos atrás das respostas ou quando ficamos curiosos em conhecer o porquê das coisas. São essas dúvidas, essas interrogações que estão à nossa volta que, quando percebidas, constituem o combustível para a pesquisa. Freire (2004) é enfático: “Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino.” (p.32). Isto é compreensível na medida em que a pesquisa fornece subsídios para um ensino atualizado e crítico, enquanto o ensino, muitas vezes, instiga e inspira a pesquisa. Demo (1997), por sua vez, diz que a pesquisa deve ser um princípio educativo, uma atitude crítica e inquisidora diante da realidade, presente em todo o processo de formação do educando. Dessa maneira, o ensino possibilitaria a criação de novos mestres e não a mera reprodução de discípulos. Essa é a ideia, em especial ao se tratar de nível superior. Não basta ao aluno simplesmente prestar atenção às aulas, anotar tudo o que o professor fala e, posteriormente, reproduzir. A atitude crítica e a criatividade devem ser incentivadas, o aluno deve buscar aquele algo mais, deve questionar a realidade, procurar ir além do que lhe é transmitido. Cabe ao professor, estimular essa dinâmica, propor problemas que gerem desafios e colaborar nesse, que é o caminho da construção do conhecimento. Para se tornar um cientista, independentemente da área de estudo, é preciso vivenciar um processo de capacitação e formação, inclusive com a realização, na maior parte das vezes, de cursos de mestrado e doutorado. A iniciação científica na graduação representa uma etapa crucial para despertar essa possibilidade. Ainda que bolsas de estudo não sejam acessíveis a todos, ter a oportunidade de participar da execução de projetos de pesquisa pode vir a encantar aqueles que vivenciam essa experiência e, quem sabe, ser um passo importante rumo à carreira de pesquisador. Estou querendo dizer que você, que agora está lendo este livro, é um cientista em potencial! E melhor, de uma área extremamente diversificada e interessante de se estudar, a Educação Física! A Educação Física é privilegiada, pois possui interfaces com as
Ciências Naturais e as da Saúde, assim como com as Ciências Humanas e Sociais. Ou seja, pode abarcar as mais diferentes preferências. Você pode querer se dedicar a estudos com foco na fisiologia, biomecânica ou bioquímica do exercício, ao treinamento desportivo, ou querer estudar a cultura corporal, as práticas pedagógicas, o lazer... São inúmeras as opções! Basta desenvolver a sua potencialidade. Sim, mas como? Sabemos que fazer pesquisa é certamente o caminho mais indicado e... Bem, como pesquisar?
2 UM BREVE PANORAMA DA PESQUISA EM EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL
Existem inúmeras formas de se pesquisar. Thomas, Nelson e Silverman (2012) discorrem acerca da pesquisa relacionada às atividades físicas, mencionando duas grandes tendências: a ciência “normal” (ou quantitativa) e as “alternativas” (qualitativa). Atualmente, a denominação “alternativa” não mais se aplica, uma vez que as pesquisas qualitativas se consolidaram no cenário investigativo em variados campos de estudo. Diferentes da pesquisa tradicional em termos teóricos e metodológicos, também são realizadas com base em preceitos científicos e apresentam critérios próprios de confiabilidade 1 que experimentaram significativo avanço nas últimas décadas. A ciência dita “normal” é aquela fundamentada nas ciências naturais: [...] as leis da natureza são absolutas e podem ser descobertas por observações e investigações sistemáticas e objetivas e por investigações que não tenham sido influenciadas pelos humanos (em outras palavras, independentes). Os experimentos são conduzidos por teorias e têm hipóteses testáveis. (THOMAS NELSON e SILVERMAN, 2012, p. 34).
Já as pesquisas sob a denominação qualitativa são essencialmente subjetivas e visam compreender e interpretar fenômenos a partir dos significados que lhe são atribuídos em determinados contextos sociais (TURATO, 2011). Estão atreladas a estudos do comportamento humano e respaldam-se em referenciais teóricos advindos das ciências humanas e sociais. São utilizadas observações e descrições aprofundadas, dentre outras técnicas, realizadas, na maior parte das vezes, no próprio ambiente onde os fatos a serem estudados ocorrem. Há um envolvimento consciente do pesquisador, desde a escolha do objeto de estudo, até a interpretação dos dados recolhidos. No campo de estudos da Educação Física, a trajetória histórica explica e, até certo ponto, justifica as tendências de pesquisa desenvolvidas. As vinculações com a saúde e higiene, com o militarismo e com o esporte de rendimento, por exemplo, fartamente comentadas na
literatura sobre o assunto, forneceram (e ainda fornecem) subsídios para discussões principalmente nos âmbitos médico, fisiológico, antropométrico, técnico-instrumentais e metodológicos. Além disso, o primeiro curso de mestrado em Educação Física foi criado em 1977 e o de doutorado, em 1989 (ambos da Universidade de São Paulo). Esse fato indica que até praticamente a década de 80, os professores que optaram por fazer pós-graduação stricto sensu ligada à Educação Física, tinham que fazê-lo no exterior (Europa e Estados Unidos basicamente), onde a ciência tradicional era fortemente demarcada. Outra possibilidade era cursar mestrado e doutorado em programas de outras áreas. Assim, a produção científica da Educação Física até a década de 80 era praticamente pautada pelos fundamentos científicos advindos das ciências naturais, utilizando abordagens quantitativas de forma predominante. No entanto, na medida em que referenciais teóricos oriundos das ciências humanas e sociais começam a ser difundidos, surge a necessidade de se buscar novas estratégias metodológicas que possam se adequar à exploração dos fenômenos humanos. A pesquisa de enfoque qualitativo pode ser considerada recente na área de Educação Física, mas alcançou crescimento e inserção consideráveis, acompanhando tendência detectada nas outras áreas, inclusive na da saúde. Utiliza procedimentos e técnicas específicas, na tentativa de lidar com aspectos subjetivos, que não podem ser mensurados, mas interpretados. Conforme Goellner et al.(2010), é particularmente pertinente e eficaz “no trato dos problemas da Educação Física, que vão além dos aspectos descritivos empregados em desenhos de investigação empírico-analíticos.” (p. 54) Lüdorf (2002) verificou que na década de 90 ocorreu uma mudança no panorama da pesquisa em Educação Física: embora houvesse preponderância das abordagens de cunho quantitativo, esta não é de forma tão acentuada como antes. As abordagens qualitativas passaram a ser incorporadas gradativa e significativamente, no que parecia um movimento crescente. Nas últimas décadas assistimos a uma proliferação dos programas de pós-graduação em Educação Física (PPGEF), normalmente distribuídos,
não de forma homogênea, em linhas de pesquisa que contemplam aspectos, de acordo com Manoel e Carvalho (2011), biodinâmicos, socioculturais e pedagógicos. Pode-se dizer que estudos da subárea biodinâmica se pautam em pressupostos da ciência natural, portanto, de foco quantitativo. Já aqueles estudos advindos das subáreas sociocultural e pedagógica, primordialmente, trabalham com referenciais teóricos das ciências humanas e sociais, calcados na perspectiva qualitativa. A área avança continuamente na produção de conhecimento científico e as temáticas a serem exploradas ampliaram-se sobremaneira, inclusive com a incorporação de estudos sobre questões ligadas à saúde, gênero, corpo, cultura, dentre outras, pouco contempladas anteriormente. Ao analisar a produção científica dos principais PPGEF do Brasil no novo milênio, Castro (2015) detectou hegemonia da vertente biodinâmica na Educação Física, mas representatividade digna de nota das pesquisas das vertentes sociocultural e pedagógica. A ampliação no número de cursos de mestrado e doutorado em Educação Física no Brasil poderia representar o recrudescimento das pesquisas na área, como de fato ocorre, no entanto, este panorama é eivado de complexidade2. Obviamente, cabe à Educação Física buscar bases científicas para fundamentar sua prática voltada ao ensino e aprimoramento de técnicas específicas, ao treinamento e preparação física de modalidades esportivas, ao conhecimento das alterações fisiológicas, bioquímicas e biomecânicas derivadas da prática de exercícios etc. Essas contribuições fundamentais vêm sendo dadas normalmente pelos profissionais que possuem interesse nas áreas vinculadas à biodinâmica, com respaldo nas ciências naturais. A amplitude da atuação do professor de Educação Física traz em seu bojo, entretanto, além dos aspectos mencionados, questões pedagógicas, culturais, antropológicas, filosóficas e sociais que vêm sendo incorporadas expressivamente no campo de estudos. Em outras palavras, a Educação Física mantém uma relação direta com as ciências humanas e sociais.
Dessa forma, mais relevante que discutir quais são as vantagens de uma ou outra abordagem, se a quantitativa ou qualitativa, o que tem sido motivo de intenso debate nas diferentes “ciências”, importa saber que ambas prestam relevantes contribuições à pesquisa em Educação Física. Na realidade, o problema de estudo e, em consequência, os objetivos, terão relação com uma abordagem metodológica específica. Por exemplo, se quisermos estudar o nível de lactato e sua influência no desempenho físico, obviamente serão necessários procedimentos experimentais. Por outro lado, se estivermos interessados em conhecer a influência da mídia nos padrões corporais de adolescentes, provavelmente a abordagem qualitativa fornecerá mais subsídios. Desde que a investigação possua objetivos claros, tenha uma base teórica, seja pautada por procedimentos metodológicos adequados e pelo rigor científico, praticamente qualquer assunto é passível de ser pesquisado. Concluindo, com base em Eco (1998), as características de cientificidade de um estudo são: • • • •
O objeto de estudo deve ser bem definido e reconhecível pela comunidade acadêmica; O estudo deve tratar sobre algo que ainda não foi dito ou abordar sob uma ótica diferente; O estudo deve acrescentar algo à comunidade, portanto, deve ser útil; O estudo deve ser claro o suficiente para que possa ser verificado ou contestado, ou seja, de modo a permitir sua continuidade;
Agora que você já tem ideia do enfoque que estou dando à pesquisa e conhece um pouco sobre o campo de pesquisas em Educação Física, vamos pensar de forma prática como é possível tornar-se um pesquisador. A seguir, abordarei um dos grandes mitos dos cursos de graduação e pós-graduação, a realização do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), aqui representado pela monografia.
3 A MONOGRAFIA E A INICIAÇÃO CIENTÍFICA
Você pode estar pensando: “Ser um cientista... Pesquisar... Monografia, TCC...? Poxa, preciso preparar um TCC para me formar! E o que isso tudo tem a ver com a monografia? E mais ainda, com o Projeto de Monografia?” Vamos entender um pouco melhor... A monografia constitui-se em exigência para a conclusão do curso de graduação, principalmente a partir da década de 80 (MELLO, 2000). O TCC é um tipo de trabalho acadêmico, exigido como requisito para aprovação em cursos, normalmente de graduação e de pós-graduação lato sensu. A depender da instituição, o TCC pode ser realizado em diferentes formatos, como por exemplo, monografia, artigo de pesquisa, proposta de aplicação prática que tenha relação com determinado curso ou outros. Neste livro trataremos inicialmente da monografia pelo fato de ser a forma mais comum de se realizar um TCC de graduação ou de pósgraduação em cursos de Educação Física e áreas afins. Contudo, diante da popularidade que o artigo de pesquisa vem adquirindo nos últimos anos, informações sobre o TCC no formato de artigo e temáticas relacionadas, podem ser conferidas na Quinta Parte dessa obra. O formato de monografia apresenta algumas vantagens, a depender do ponto de vista: a) Permite desenvolver e aprofundar o assunto; b) Pode ser transformada em um artigo, bastando algumas adaptações; c) Possibilita o aprendizado das etapas básicas de pesquisa;
Assim, considero que elaborar um trabalho monográfico é uma experiência importante de formação tanto acadêmica, quanto pessoal e profissional. Mas, o que é monografia? Monografia é um tipo de trabalho científico que se concentra em um
único assunto o qual deve ser intensamente explorado. Dissertações de mestrado ou teses de doutorado também podem ser consideradas trabalhos monográficos, entretanto, apresentam graus diferenciados de densidade teórica e metodológica. Normalmente, parte-se de uma dúvida ou questionamento, cuja resposta deverá ser buscada por meio de um estudo ou investigação. Para não correr o risco de abordar brevemente várias matérias, o que não é o caso da monografia, é realizado um processo 3 de escolha e delimitação do assunto, até que se chegue a um “problema de estudo”. O problema de pesquisa4 é um dos aspectos que poderiam ser estudados em relação a determinado tema mais abrangente. Por exemplo, a ginástica em academia, o futebol, a psicomotricidade ou a formação profissional poderiam ser temas de estudo, no entanto, a monografia deverá ser direcionada a um assunto específico, como “A motivação do profissional de musculação das academias de ginástica”. Essa investigação poderá ser de caráter teórico ou compreender também uma coleta de dados, como veremos adiante. Entretanto, deve ser realizada de forma estruturada, metódica e seguir as exigências de rigor e cientificidade comentadas anteriormente. Como vimos, a realização da monografia, então, é uma atividade de pesquisa! Obviamente, o nível de aprofundamento de um trabalho de final de curso é diferente do de uma dissertação ou tese. Mas, como qualquer aprendizado deve ser gradual, a monografia pode ser um dos primeiros passos ligados à iniciação científica. Ou seja, está sendo dada a você a possibilidade de ser desenvolvido aquele potencial de cientista comentado anteriormente! Ao elaborar uma monografia, você terá condições de vivenciar na prática alguns passos básicos para qualquer investigação, tais como: escolha do problema, definição de objetivos, levantamento bibliográfico, coleta de dados (se necessário), organização, análise e discussão do material e construção do trabalho. Ora, é natural que alguns não se entusiasmem com esta história, afinal, talvez não se imaginem passando horas frente ao computador ou lendo livros e artigos entusiasticamente.
É possível também que a instituição em que você estude não forneça algumas das condições básicas para se pesquisar, seja por falta de bibliotecas, laboratórios ou instalações adequadas, ou ainda, por ter pouco incentivo advindo do corpo docente ou raras bolsas para a iniciação científica. Embora tais recursos sejam importantes, atualmente o acesso às informações científicas é rápido e facilitado, assim como há muitos materiais e ferramentas disponibilizados na Internet que facilitam o estudo. Ao longo destes anos na universidade, tive a satisfação de acompanhar muitos alunos que se entusiasmaram pelos seus trabalhos, a ponto de seguir a carreira acadêmica. Concordo com Daolio (2015) quando afirma que da mesma forma que um artista demora a conceber e executar sua obra, a formação de pesquisadores exige tempo. Ao que acrescentaria dedicação e disciplina. Ainda que nem todos tenham o desejo de se tornar pesquisadores, faço um apelo aos meus alunos: Aproveite a “obrigação” de fazer a monografia como oportunidade para estudar o que lhes interessa! Dessa forma, você poderá contribuir para seu próprio crescimento profissional. Descubra algo que desperte o prazer em ler e em se aprofundar. Algum assunto que possa ser útil na sua prática ou que satisfaça sua curiosidade. Considero praticamente impossível que, diante da diversidade de assuntos em Educação Física, não haja algo que desperte sua motivação para o estudo. O caminho mais indicado para o engajamento acadêmico-científico seria a participação em grupos ou projetos de pesquisa ainda na graduação. Diante das vivências proporcionadas pala vida acadêmica e, especialmente na coordenação do Núcleo de Estudos Sociocorporais e Pedagógicos em Educação Física e Esportes (Nespefe) 5, observo que quanto mais cedo ocorrer esse envolvimento, mais chances o aluno possui de se engajar nas atividades de pesquisa. Participar, se envolver com as leituras, discussões e projetos em andamento possibilita conexões entre as questões práticas e teóricas, desperta a curiosidade e permite a troca de ideias e a renovação dos interesses de pesquisa. Para Lüdorf (2017):
Na verdade, em que pesem os títulos, nos formamos pesquisadores continuamente, pois a pesquisa guarda sempre surpresas e aprendizados. Conhecer, vivenciar e se adaptar aos ditames acadêmico-científicos é uma tarefa árdua, assim como um aprendizado que demanda tempo, empenho e dedicação de todos os envolvidos. Entretanto, possuir alguns conhecimentos básicos sobre os referenciais teóricos e metodológicos adotados por determinado grupo de pesquisa é importante para dar início a essa empreitada. (p.17)
Infelizmente, nem todas as instituições possuem opções de inserção científica na graduação ou disponibilizam incentivos nessa direção. Assim, a monografia pode ser uma oportunidade única para você criar gosto pela pesquisa, ou ao menos, conhecer na prática do que se trata. No meu ponto de vista, deve ser encarada com seriedade, como um desafio. Um desafio para o aprimoramento acadêmico, profissional e, com certeza, humano! Duvido que você não goste de desafios! Que tal encarar este? Bem, para fazer uma monografia, é necessário que se faça um planejamento, que se tenha ideia do que se quer estudar e como se deve proceder. Essas e outras informações são desenvolvidas em um projeto de pesquisa. Vamos conhecê-lo melhor na próxima seção.
4 O PROJETO DE PESQUISA
Imagine as seguintes situações: • • • • • •
Um engenheiro que idealiza uma obra Um roteirista que pretende fazer um filme Um alpinista que projeta uma escalada arriscada Um técnico que prepara um atleta para os Jogos Olímpicos Um professor de Educação Física que deve se organizar para o ano escolar Você tendo que ir ao supermercado fazer uma compra para o feriado
O que há em comum nessas situações? Pense em como seria difícil, senão impossível, que cada pessoa atingisse seu objetivo se não houvesse um mínimo de planejamento. Afinal, se um engenheiro não fizer um projeto correto, sua construção pode desabar. O roteirista deve ter tudo muito bem planejado e estruturado antes de começar a filmar, até para conseguir recursos e convencer artistas a trabalharem com ele. O alpinista deve estudar detalhadamente o roteiro a ser seguido, as características do local, o material de segurança e de sobrevivência adequado etc., para tentar obter sucesso na escalada. O técnico deve projetar o momento em que pretende ter seu atleta no pico da performance e elaborar uma planilha de treinamento que forneça a sobrecarga necessária para tal, sem que incorra em lesões. O professor de Educação Física precisa estudar as características da turma na qual lecionará, determinar os objetivos a serem alcançados e escolher as atividades apropriadas, e depois, colocar todas estas informações no seu planejamento do semestre. E você? Pronto para passar o feriado com os amigos? Quantos são? O que levar para comer? Precisa material de limpeza e de higiene? Melhor fazer uma lista de compras para não esquecer nada, não é mesmo? Pois bem, em todas estas situações e em muitas outras, precisamos fazer um planejamento inicial, detalhar os passos a serem dados para atingirmos algum objetivo com eficiência. Se não estiver claro onde queremos chegar, como escolher o melhor caminho? O mesmo procedimento deve ser adotado quando da elaboração de uma pesquisa. Normalmente, as investigações partem de uma dúvida,
inquietação, curiosidade ou de uma necessidade prática. Você está diante de um problema, para o qual pretende encontrar uma solução, ou, no mínimo, conhecer as respostas já existentes para discuti-las, analisálas e adequá-las ao seu caso. É importante, em primeiro lugar, definir exatamente o que se pretende estudar, explicar o seu problema de estudo. Será preciso levantar a bibliografia pertinente, fazer leituras e anotações sobre tal assunto, ou seja, familiarizar-se com o campo de estudos e conhecer alguns autores que possam contribuir para a pesquisa. Daí, você será capaz de estabelecer os objetivos e esboçar alguns caminhos6 para atingi-los. Este processo de elaboração mental e, posteriormente, escrita sobre o seu problema, constitui-se no Projeto de Pesquisa. Conforme Ferreira (1999), projeto significa: “Ideia que se forma de executar ou realizar algo, no futuro; plano, intento, desígnio. [...] Redação ou esboço preparatório ou provisório de um texto[...]” (p. 1400). No momento em que se pretende fazer uma pesquisa, o planejamento e a organização são passos fundamentais para que se atinjam os objetivos propostos, com o máximo de economia e de probabilidade de sucesso. O Projeto de Pesquisa é elemento fundamental em cursos de pósgraduação, sejam eles lato sensu ou stricto sensu. Normalmente, é requisito para o processo de seleção de Mestrado e Doutorado ou para a solicitação de pedidos de bolsa ou fomento às instituições de pesquisa. No entanto, após a exigência do trabalho de conclusão de curso, o Projeto de Pesquisa tornou-se um elemento chave também na graduação, para que o aluno consiga se apropriar das primeiras noções da pesquisa científica. Dessa forma, facilitando, ou até mesmo abreviando, o processo de elaboração do trabalho final. O que é o Projeto de Pesquisa?
O Projeto de Pesquisa serve, sobretudo, para orientar o próprio pesquisador sobre os rumos que devem ser tomados no decorrer da investigação. É um planejamento inicial, que pode sofrer alterações de percurso, mas que indica os caminhos a serem seguidos. Trata-se de uma elaboração escrita, organizada e metódica, que visa
responder: o que pesquisar, para que pesquisar, por que pesquisar e como pesquisar. Sua elaboração envolve alguns elementos básicos, quais sejam: título, explicitação do problema, objetivos, justificativa, referencial teórico, métodos, cronograma de execução e referências. A forma de apresentação e a nomenclatura destes elementos, bem como as divisões, sofrem alterações conforme a visão de cada autor. Abaixo seguem alguns exemplos de estruturas recomendadas para o projeto de pesquisa: 1. Goldenberg (2004): Introdução (objetivos e objeto); Justificativa; Hipóteses de trabalho; Discussão teórica; Metodologia; Cronograma; Referências Bibliográficas. 2. Lakatos e Marconi (1991): Apresentação; Objetivo; Justificativa; Objeto; Metodologia; Embasamento teórico; Cronograma; Orçamento; Instrumentos de Pesquisa; Bibliografia. 3. Deslandes (1994): Definição do objeto; Definição da base teórica e conceitual; Formulação de hipóteses; Justificativa; Objetivos; Metodologia; Orçamento; Cronograma; Referências Bibliográficas. 4. Thomas, Nelson e Silverman (2012): Introdução (definição, objetivo e significado do problema, com revisão de literatura); métodos; cronograma e referências (dentre outros itens a depender da finalidade).
Neste livro proponho um modelo denominado de Projeto de Monografia, que possui algumas particularidades, com vistas a aproximá-lo da estrutura básica da monografia e facilitar a sua futura elaboração. Ainda assim, este projeto pode servir a quem deseja realizar o TCC em formato de artigo, uma vez que tratamos do plano de uma pesquisa a ser executada. Na próxima parte, abordarei o Projeto de Monografia (PM), sua estrutura e etapas de elaboração. Considero essencial que os alunos vivenciem a construção do PM para poder amadurecer as ideias e ter contato com os procedimentos básicos relacionados à pesquisa. Vamos conhecê-lo?
SEGUNDA PARTE O PROJETO DE MONOGRAFIA
5 O QUE É O PROJETO DE MONOGRAFIA (PM)?
Manuais complicados, autores que apresentam opiniões divergentes, nomenclaturas abstratas, pouca compreensão relativa à Metodologia Científica, muita teoria e pouca aplicação prática e, principalmente, não saber o que fazer com aquele projeto recheado de vazia sofisticação 7, diante do desafio da monografia. Eis as principais reclamações que tenho ouvido não apenas de alunos da graduação, mas também, de pósgraduação. Em relação à monografia propriamente dita, alguns a tratam até mesmo como um grande empecilho para a formação. Proponho que tal tarefa seja vista sob outra perspectiva: a de considerar a elaboração da monografia um dos elementos mais importantes dessa etapa formativa. O contato com a pesquisa é enriquecedor sob vários aspectos, mas talvez o mais importante seja o desenvolvimento de um “novo” olhar sobre o mundo, descrito por Goldenberg (2004) como: “um olhar científico, curioso, indagador e criativo.” (p. 11). Com o intuito de facilitar e desmistificar o processo de realização de uma pesquisa é que desenvolvi uma adaptação estrutural ao tradicional projeto de pesquisa, chamada de Projeto de Monografia (PM). O PM, a ser aqui discutido e apresentado, poderia ser considerado um recurso didático-pedagógico, elaborado principalmente a partir dos seguintes aspectos: → Simplicidade: A utilização de termos mais simples e semelhantes aos da monografia visa
aproximar os dois trabalhos e tornar a transição suave e proveitosa entre o projeto e a monografia; → Praticidade: As etapas de elaboração, graduais e sequenciais, foram idealizadas de modo a facilitar a aplicação prática dos fundamentos teóricos. → Detalhamento: Há itens, por exemplo, na introdução e no esboço dos métodos, que são exigidos propositadamente, na intenção de oferecer determinado direcionamento no processo de elaboração do PM. Este encaminhamento é necessário, especialmente para os
iniciantes em pesquisa. Com a prática, contudo, podem ser revistos em outras situações (processos seletivos, submissão a editais de financiamento etc.). → Autonomia: Embora fornecendo um direcionamento, abre espaço para o desenvolvimento da autonomia intelectual e da criatividade “científica”, qualidades fundamentais para a condução da pesquisa;
Exponho nesta oportunidade, não uma estrutura rígida, única e infalível, mas antes, o resultado dinâmico, portanto passível de alterações, de um modo de trabalho e de uma visão pedagógicoacadêmica, que venho construindo ao longo dos anos na universidade. Convido a você, caro leitor, a exercitar sua autonomia e decidir sobre qual assunto pretende estudar e se aprofundar. Mas, calma, você não estará só neste caminho, vamos pensar untos? Esta segunda parte do livro está assim dividida: O capítulo 6 fornece uma visão geral da estrutura básica do PM, apresentando os elementos necessários à sua construção. O capítulo 7 aborda, passo-a-passo, as etapas de elaboração do PM, essenciais para a escolha e delimitação do problema de estudo, assim como o levantamento das fontes bibliográficas e eletrônicas. Já o capítulo 8, compreende a explicação em detalhes da estrutura do PM, com o intuito de guiar a construção do corpo ou parte textual do trabalho.
6 A ESTRUTURA DO PM
O mercado editorial apresenta uma farta contribuição no que diz respeito aos aspectos de formatação de um trabalho acadêmico. Entretanto, é comum encontrar divergências dentre os autores, à primeira vista insignificantes, mas que podem gerar confusões. É recorrente a crítica de que o excesso de rigor nas questões de formatação pode resultar em queda da qualidade de um trabalho acadêmico. Mas é preciso considerar que esse tipo de trabalho demanda cuidados importantes devido às características acadêmicas. Sendo assim, é crucial que os alunos se familiarizem com estas questões o quanto antes para não ter problemas posteriormente. Segundo a ABNT (2011), são considerados trabalhos acadêmicos, dentre outras características, os documentos que representam resultado de estudo, que expressam conhecimento do assunto escolhido e que emanam de uma disciplina. Uma vez que o Projeto de Monografia e o TCC se encaixam nestas diretrizes, optei por seguir as normas da ABNT que regem este tipo de produção. É importante destacar que há outras normas internacionais que circulam no âmbito da Educação Física e áreas afins, como as propostas pela American Psychological Association (APA8) ou ainda, editadas pelo International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE9), anteriormente reconhecidas como Normas de Vancouver, que se aplicam em especial a artigos. No entanto, este livro considerará as nacionais por serem comumente adotadas nas universidades e publicações brasileiras. Dessa forma, pretendo minimizar as discussões em torno de detalhes e tentar oferecer uma possibilidade de formatação adequada à nossa realidade. A estrutura do PM é dividida em três partes, a saber:
6.1 Parte pré-textual ou Preliminares a) Capa:
É a proteção externa do trabalho. Cada instituição pode possuir um modelo específico10, mas deve conter as informações básicas para a sua identificação. São elas: → Nome do autor; → Título do trabalho; → Natureza do trabalho (ex. Projeto de Monografia); → Instituição (Escola de Educação Física e Desportos/ Universidade Federal do Rio de Janeiro); → Cidade e ano.
b) Folha de Rosto: É a folha oficial do trabalho, com os seguintes elementos de identificação: → Nome do autor; → Título do trabalho; → Nota indicando a natureza acadêmica do trabalho, disciplina, unidade de ensino, instituição.
Ex.: Projeto de Monografia apresentado ao curso de Metodologia da Pesquisa, Escola de Educação Física e Desportos, Universidade Federal do Rio de Janeiro; → Professor(a) orientador(a); → Cidade e ano.
c) Dedicatória e Agradecimentos: São opcionais e pouco utilizados em projetos, sendo mais frequentes na monografia. No entanto, caso alguns alunos desejem incluir esse item, colocar após a Folha de Rosto. d) Sumário: É a relação dos capítulos e seções do trabalho na ordem em que aparecem, com suas respectivas páginas. Não confundir com Resumo, que consta apenas na monografia e significa: “[...] apresentação concisa dos pontos relevantes de um texto
[...]” (ABNT, 2011, p.14); e nem com Índice, que é uma lista detalhada de assuntos e autores, geralmente em ordem alfabética. e) Listas de tabelas e figuras: Relações de tabelas e figuras que aparecem no texto. As figuras podem ser gráficos, estampas, fotos, desenhos etc. Esses recursos são também, normalmente, mais utilizados na monografia. Servem para proporcionar melhor visualização e tornar as informações mais condensadas e compreensíveis.
6.2 Parte textual ou Corpo do trabalho O corpo do trabalho é o texto propriamente dito do Projeto de Monografia. É dividido em três partes: Introdução, Fundamentação Teórica e Esboço de Metodologia. INTRODUÇÃO A Introdução deve fornecer uma visão geral sobre o problema ou objeto de estudo. É a apresentação do trabalho. Deve conter: informações básicas sobre o contexto no qual o problema está inserido; explicações claras quanto ao que se quer estudar; objetivos bem definidos; razões que justifiquem o estudo; apresentação do que será discutido na Fundamentação Teórica. Didaticamente, a Introdução compreenderia as seguintes informações11: → Contextualização; → Delimitação do problema; → Objetivos; → Questões; → Hipótese (opcional); → Importância/justificativa do estudo; → Organização do estudo; → Definição de termos (opcional).
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A Fundamentação Teórica, também conhecida como Revisão de Literatura, constitui-se na apresentação de parte 12 da base teórica que será utilizada na pesquisa. É a fundamentação do estudo, onde serão apresentadas as principais correntes, teorias e ideias, a partir da revisão dos principais autores que tratam do assunto. Deve ser dividida em capítulos (que podem apresentar várias seções) com títulos pertinentes ao problema de estudo, normalmente organizados do geral para o específico, como veremos adiante. ESBOÇO DE METODOLOGIA Como se trata de um projeto, ou seja, uma intenção de pesquisa, os aspectos metodológicos não são definitivos, podendo ser alterados no decorrer do estudo. É o que justifica o nome de “esboço”. Nesta seção deve ser dada uma explicação sobre como será feita a pesquisa. A princípio, os objetivos da pesquisa devem ser retomados . Depois, deve ser esclarecido qual o tipo de pesquisa que se pretende realizar. Sugerimos uma divisão básica, a qual será explicada em detalhes posteriormente, pertinente a esse nível de trabalho acadêmico: • Pesquisa Teórica (PT): bibliográfica, baseada na revisão de literatura; • Pesquisa Teórico-empírica13 (PTE): quando além da pesquisa bibliográfica, é realizado algum tipo de coleta de dados;
A partir dessa informação, há dois caminhos: a) Pesquisa teórica: descrever como pretende realizá-la. b) Pesquisa teórico-empírica: descrever e justificar como será executada a coleta de dados (local, participantes, instrumentos de coleta de dados, procedimentos, análise etc.).
6.3 Parte Pós-textual ou Referências 14 e anexos Os elementos pós-textuais são: a) Referências: Relação dos documentos utilizados como fonte para o trabalho, com elementos descritivos, conforme as normas da ABNT, de modo a permitir sua identificação. b) Anexos (opcional): São informações complementares e elucidativas para a compreensão do texto. São colocadas em separado para não sobrecarregar ou comprometer a sequência lógica da apresentação. (Ex.: documentos, leis, roteiros de questionário ou entrevista etc.).
7 ETAPAS DE ELABORAÇÃO DO PM
Conforme vimos, embora de maneira bastante simplificada, a monografia possui uma divisão semelhante à de uma redação: Introdução, Desenvolvimento e Conclusão. Já o Projeto de Monografia (PM) é um plano, uma intenção de pesquisa. Desta forma, devem ser apresentados os elementos necessários para se compreender o que será estudado, por que , para que e como será feito o estudo. Contudo, como em princípio a pesquisa ainda não foi realizada, não é possível apresentar conclusões a respeito. As etapas de elaboração do projeto de monografia serão apresentadas a seguir. seguir.
7.1 A conscientização de um problema Na linguagem científica, é comum mencionar o “problema de pesquisa”. Como o próprio nome diz, trata-se de um problema identificado pelo autor, autor, para o qual se pretende achar uma solução. A identificação do problema pode advir de uma dificuldade teórica ou prática ligada ao campo de estudos, no nosso caso, da Educação Física. Daí a necessidade de se fazer a pesquisa, para, em primeiro lugar, conhecer a fundo a situação que envolve o problema e, posteriormente, poder opinar a respeito e apresentar sugestões. Laville e Dionne (1999) argumentam que: Um problema de pesquisa não é, portanto, um problema que se pode resolver com a intuição, pela tradição, pelo senso comum ou até pela simples especulação. Um problema de pesquisa supõe que informações suplementares podem ser obtidas a fim de cercá-lo, compreendê-lo, resolvê-lo ou eventualmente contribuir para a sua solução. (p. 88)
Neste sentido, o que vai ser estudado deve ser relevante para a área, á que é por meio da pesquisa que ocorre o processo de construção do conhecimento. O Projeto de Monografia é um dos primeiros passos a serem dados em relação à iniciação científica. Daí o fato da escolha do problema ser revestida de importância.
7.2 Tema e Problema Normalmente essas palavras são utilizadas indistintamente no contexto da pesquisa. Entretanto, farei uma distinção entre tema e roblema, visando facilitar a compreensão. Tema refere-se a uma determinada temática ou área de conhecimento. É abrangente e pode compreender inúmeros problemas. Já o problema é algo específico, delimitado, objetivo, que reflete o olhar do pesquisador. É o pinçamento de um detalhe que mereça ser explorado. Na Educação Física, teríamos os seguintes exemplos de temas: a) Esportes, Dança, Lazer, Educação Física Escolar, Aprendizagem e Desenvolvimento Motor, Biomecânica, Fisiologia do Exercício etc. b) Handebol, Futebol, Natação, Hidroginástica, Musculação, Atividade Física para grupos especiais (idosos, portadores de deficiências, diabéticos, hipertensos, cardíacos etc.), Psicomotricidade etc. c) Handebol escolar, Hidroginástica para Gestantes, Preparação física no futebol, O desenvolvimento das habilidades motoras da criança, Suplementos nutricionais, dentre outros.
Observe que os temas citados ainda poderiam comportar várias subcategorias, pois guardam certo grau de abrangência. Isso significa que se fôssemos estudar cada um destes temas, correríamos o risco de falar muito superficialmente de muita coisa, o que não é o caso da monografia. Relembrando, a monografia é o estudo aprofundado de um assunto específico e delimitado. Ou seja, dentro desses temas, poderíamos detectar vários problemas, dependendo da perspectiva do estudo a ser empreendido e da criatividade do autor/aluno. Severino (2000) afirma que é necessário que o tema seja roblematizado. Isso significa que se deve levantar questionamentos para tentar delimitar o assunto, identificando o problema de forma objetiva e escolher com clareza o que se pretende estudar. Vejamos um exemplo: É comum que os alunos cheguem, em um primeiro momento, com temas amplos tais como: Natação, Musculação, Futebol. Uma primeira delimitação para a natação poderia ser: recreativa ou competitiva? Na natação recreativa, poderia se estudar o ensino em clubes, academias,
colégios... Mas, em qual local especificamente? Em uma escola só ou várias da mesma região? É um estudo comparativo ou descritivo? Com qual público? Adultos ou crianças? Idosos ou gestantes? Iniciação ou aperfeiçoamento? De qual cidade? O que, especificamente, se pretende estudar? Métodos de ensino? Motivos da aderência? Benefícios da prática da atividade física? Quais? Físicos? Psicológicos? Sociais? Como se pode observar, são várias as perguntas, cada qual fornecendo certo grau de detalhamento e uma direção diferente ao Problematizar é fazer estudo. Esse processo é a problematização! Problematizar perguntas, levantar questionamentos em torno do que se pretende estudar. problematizar, estamos delimitando o objeto de estudo. Através Ao se problematizar destas perguntas podemos chegar a um assunto específico, como por exemplo: • “Análise comparativa dos métodos de ensino do nado borboleta nas academias do bairro X”; • “Natação para portadores da Síndrome de Down: estudo da escola Y”; Y”; • “Benefícios da hidroginástica para a qualidade de vida de idosas”.
O processo de delimitação do estudo exemplificado anteriormente poderia ser repetido com qualquer dos temas citados. Desse exercício de questionamento e da criatividade do aluno podem surgir problemas de estudo interessantes. Provavelmente, se um mesmo tema fosse sugerido a uma turma, cada pessoa abordaria de forma diferente, sob um determinado ponto de vista. Isto é o que se poderia chamar de originalidade da pesquisa. De modo a exemplificar, na época da Copa do Mundo, propus aos meus alunos que tentassem extrair possíveis problemas de pesquisa ao assistir um simples jogo do Brasil. As contribuições foram bastante criativas e originais, observemos algumas: → O que mais importa na equipe, o valor individual ou o coletivo? → De que forma a pressão de um jogo de campeonato mundial (ou a torcida) influencia no rendimento dos jogadores? → Qual é a tática mais apropriada a cada jogo? Quais fatores a definem? → Como adequar o treinamento à posição ocupada pelo jogador?
→ Quais aspectos podem ser trabalhados no ensino do futebol a crianças?
E por aí vai... A lista poderia ser muito maior. Obviamente, alguns problemas podem parecer mais ou menos interessantes que outros, mas o que importa aqui é destacar o processo de problematizar. Evoluindo a partir destes questionamentos, pode surgir até mesmo um assunto para uma tese de doutorado! Normalmente, os alunos encontram dificuldades nessa primeira etapa. Alguns ainda não se sentem seguros ou acham que não possuem ainda o amadurecimento necessário ou vivência acadêmica para essa escolha. Outros têm dúvidas na elaboração do problema, já que não conseguem visualizar algo específico. É comum, também, mudar o problema após uma primeira investida em virtude de insuficiência de material bibliográfico. Tais dificuldades, porém, não devem representar empecilhos para a elaboração do PM. Poderia citar um caso exemplar: um aluno resolveu estudar a recreação em hospitais, como uma forma auxiliar no tratamento de doenças e achava que era algo pouco estudado. Realizou o processo de delimitação e durante a busca das referências, identificou uma produção significativa especificamente sobre aquele assunto. Em um primeiro momento, houve certo desânimo, que logo, porém, se converteu em um elemento motivador para o próximo desafio. Tendo ideia dos estudos desenvolvidos sobre a temática, identificou uma lacuna, ou seja, um determinado aspecto que ainda não tinha sido abordado. Criou, então, um novo problema a partir do tema inicial e desenvolveu um ótimo e relevante trabalho. Assim, com um pouco de criatividade, um problema diferente pode ser identificado ou então, um enfoque inovador e, dessa maneira, tornarse uma contribuição para a área. Certamente seria interessante que o assunto escolhido para o Projeto de Monografia pudesse ser aproveitado para a Monografia, para que possibilitasse a continuidade do estudo. O mesmo pode ser dito em relação ao projeto de pesquisa apresentado em um processo de seleção e a dissertação ou tese concluída. Em muitos casos, reencontro meus alunos ao final do curso, apresentando os seus TCCs e observo que
vários optam por avançar com o seu projeto. Entretanto, isso por vezes não ocorre devido à mudança de interesses com o decorrer do curso de graduação ou por outras razões. Até mesmo em cursos de mestrado e de doutorado, é possível haver alterações nos assuntos, mas, sem dúvida, esforços destinados à execução das atividades inerentes ao projeto de pesquisa são fundamentais para otimizar e organizar o tempo, além de facilitar a condução e cumprimento dos prazos para a entrega do trabalho. Se vier a ocorrer, a mudança em relação ao problema de pesquisa deve ser encarada com naturalidade e ser um elemento motivador, visto que poderá ser transformada em oportunidade para o amadurecimento acadêmico e profissional do aluno. De qualquer forma, ao finalizar um PM (Projeto de Monografia), o aluno terá tido oportunidade de: • Conhecer a forma de elaboração do projeto, podendo aplicá-la a qualquer outro problema; • Estudar algum assunto específico que poderá ser útil quando da atuação profissional; • Aprofundar o conhecimento em determinada área de estudo, que lhe possibilitará a abertura de novas empreitadas acadêmicas; • Conhecer os passos básicos para a condução de pesquisas;
Cabe ressaltar que não basta ao aluno ter lido e entendido (ou achar que entendeu) a parte teórica referente à construção do projeto, sem exercitá-la ou aplicá-la de modo prático.
É o mesmo processo que ocorre com o aprendizado de qualquer habilidade ou técnica esportiva. Não se aprende ou se aperfeiçoa um arremesso de handebol ou uma cortada no vôlei apenas lendo livros. É preciso exercitar, treinar, vivenciar a situação! Da mesma forma, é preciso aprender a fazer pesquisa! E o PM é um excelente campo de prática.
7.3 A escolha/definição de um problema “[...] um problema não merece uma pesquisa se não for um verdadeiro problema – um problema cuja compreensão forneça novos conhecimentos para o tratamento de questões a ele relacionadas.” (LAVILLE, DIONNE, 1999, p.88)
Definir um problema significa especificá-lo clara, concisa e objetivamente. O problema deve ser levantado, formulado e delimitado. Há consenso de que a identificação de um problema não é tarefa fácil,
mas é importante dedicar tempo a essa fase para realizar leituras, refletir sobre as diferentes possibilidades e trocar ideias. Há vários fatores que podem influenciar na escolha de um problema de estudo: • • • • • • • •
Conhecimentos anteriores; Experiência profissional; Curiosidade; Leituras; Conversas com especialistas; Afinidade com o tema; Tempo e recursos disponíveis para a execução da pesquisa; Viabilidade da pesquisa (consecução propriamente dita e acesso às informações).
Além desses aspectos, Cardoso (2000) argumenta que, normalmente, o estudante escolhe um assunto que tenha alguma relação com sua vida emocional-afetiva. Quanto maior o envolvimento, maior a motivação! Isto é fundamental, pois conforme ainda a autora: “[...] ao escolher um tema, o/a estudioso/a terá que sustentar sua própria motivação, ao longo da extensão do trabalho e do tempo disponível para pesquisar.” (p. 17) Costumo dizer que o aluno deve se “sentir em casa” com o seu problema de pesquisa, o que significa apresentar familiaridade, sentir-se bem e tranquilo diante do processo de investigação. É fundamental que haja sempre satisfação e vontade de se dedicar ao assunto, para explorá-lo gradativamente, articular as ideias e adquirir segurança ao abordá-lo. Vários dos projetos mais bem avaliados apresentados nos cursos de Metodologia da Pesquisa guardavam relação com vivências pessoais. Alguns exemplos a seguir: • Uma aluna queria estudar um determinado aspecto fisiológico da preparação física do futebol feminino porque era atleta e tinha interesse em tornar-se técnica; • Um aluno se interessou pela relação entre atividade física e diabetes, pois o irmão mais novo era diabético; • Uma aluna passou por experiências diferenciadas no ensino da Educação Física no ensino médio e quis investigar quais eram os conteúdos e estratégias apropriadas a essa fase; • Uma ex-consumidora de esteroides anabolizantes, impressionada com alguns problemas que vivenciou, estudou estas substâncias e pretendia, por ocasião da monografia, fazer um estudo específico com usuários para compreender as razões desse consumo; • Um aluno tinha interesse em trabalhar com dependentes químicos e aproveitou o PM para se familiarizar com a literatura específica relacionada ao assunto;
Observa-se que a escolha do problema ou objeto de estudo é,
normalmente, algo bastante pessoal. Contudo, há duas situações a serem mencionadas. A primeira é quando o aluno se engaja em um projeto de pesquisa conduzido por um orientador. Nesse caso, o problema pode ser um desmembramento derivado desse projeto mais amplo, nem sempre de escolha do próprio aluno. A segunda é o fato de ser permitido, em algumas instituições, realizar a monografia e, consequentemente o PM, em duplas. Nesse contexto, não é difícil encontrar alunos que se unem por motivos outros que não o interesse científico. Seria bom que aproveitassem esta oportunidade para, por exemplo, se agruparem em torno de temas semelhantes. Com certeza o processo seria enriquecedor, pois poderiam discutir as fontes pesquisadas e elaborar o material de forma crítica, partilhada e dinâmica. A escolha do problema de pesquisa é crucial, pois dessa tarefa depende todo o desenrolar do PM. Há muitos alunos que demoram ou têm dúvidas quanto ao assunto de interesse. Gostaria de esclarecer que, apesar de ser normal essa indecisão, não basta se conformar com a dúvida e, aula após aula, dizer que ainda não foi possível fazer a escolha. É preciso refletir sobre o(s) assunto(s), buscar mais informações, conversar com os professores, pesquisar bibliografias, questionar, ler, ler e ler! O que muitas vezes ocorre, e é saudável, é o aluno se decidir por um tema e, ao iniciar as leituras, modificar a direção do estudo ou o enfoque. É um processo normal, decorrente das inquietações provocadas a partir do efetivo envolvimento com a pesquisa bibliográfica. Nos casos em que preponderem dúvidas a respeito do assunto, sugiro que se tente escrever algumas linhas sobre dois ou três temas ou problemas de interesse. Feito isso, mostre a alguns professores para discutir qual seria o mais viável e/ou interessante ou ainda, se há outros encaminhamentos possíveis. Além da ajuda externa, que pode fornecer um direcionamento, o ato de escrever proporciona condições de organizar os pensamentos e sugere pistas para a delimitação. Uma vez escolhido o problema que, em princípio, seria o objeto de estudo, é importante refletir sobre e, principalmente, quanto à sua
relevância e viabilidade. Para a definição do Problema de Pesquisa, algumas questões são fundamentais: • O estudo servirá para ampliar os conhecimentos na área? • O estudo poderá preencher lacunas de conhecimento ou apenas reproduzirá o que já se sabe? • O estudo é importante para a sociedade? A quem interessará? • O estudo é possível de ser feito nas condições disponíveis?
7.4 A problematização Supondo que suas respostas tenham sido afirmativas para a maioria das questões levantadas anteriormente, você terá um “bom problema” em mãos. A próxima etapa seria, para facilitar, enunciar o seu problema por meio de uma pergunta. A pergunta deve ser significativa, clara e exequível. Laville e Dionne (1999) esclarecem a importância de uma pergunta bem formulada: “A função de uma boa pergunta é ajudar o pesquisador a progredir em sua pesquisa; ela lhe fornece um fio condutor para o desenrolar de seu trabalho, guia-o nas operações futuras.” (p. 106) Poderiam ser citados os seguintes exemplos: a) Quais são os efeitos provocados pela altitude em uma equipe de futebol? b) Qual é a corrente pedagógica de Educação Física que predomina nas escolas municipais do bairro X do Rio de Janeiro? c) De que forma o esporte Y está inserido na comunidade X? d) Qual é a concepção de Educação Física que os alunos do curso de graduação de EF da Universidade Y possuem?
Cumprida esta etapa da escolha do assunto e tendo a certeza de que o problema está adequadamente delimitado, será preciso realizar um cuidadoso processo de problematização. Sugiro que, para cada problema de estudo, seja feito um desmembramento em duas ou três questões15 mais específicas, que servirão para orientar a pesquisa.
Voltando aos exemplos anteriores, poderíamos fazer as seguintes indagações diante dos problemas apresentados: a.1) Quais são as características da “altitude”, em relação ao nível do mar? a.2) Quais são os efeitos fisiológicos (poderiam ser psicológicos, físicos etc.) causados no organismo em decorrência da altitude? a.3) Como essas características podem interferir no desempenho dos jogadores? a.4) De que forma treinar ou preparar o atleta de futebol para minimizar estes efeitos da
altitude? b.1) Quais são as principais correntes pedagógicas da Educação Física contemporânea? b.2) Há alguma orientação específica para as escolas municipais em relação à Educação Física? b.3) Em qual (ou quais) perspectiva pedagógica a Educação Física vem sendo trabalhada no Município? c.1) Como o esporte Y foi implementado na Comunidade X? c.2) Qual é a opinião de alunos (ou dos responsáveis pelos alunos) sobre o esporte Y? c.3) Até que ponto o esporte Y estaria contribuindo para a Comunidade X? d.1) Quais são as concepções de Educação Física que permeiam a área? d.2) Quais as características do curso de Educação Física da Universidade Y? d.3) O que os alunos entendem por Educação Física?
Uma vez feita a problematização16, definem-se praticamente os rumos da pesquisa, já que as respostas para estas questões serão dadas por intermédio da pesquisa que se concretizará na monografia. O projeto (PM) representa uma etapa crucial para o desenvolvimento dessa, pois apresentará a primeira sistematização das informações referentes ao problema, inclusive norteando, em princípio, a base teórica e os procedimentos metodológicos a serem adotados na pesquisa. As questões bem formuladas constituem a espinha dorsal do PM, pois ainda nortearão os capítulos da Fundamentação Teórica, como será visto. Exemplificarei a seguir, de modo esquemático, o processo discutido até aqui, desde a escolha do problema até a problematização: TEMA: “ESPORTE E ALTITUDE” Primeiro nível de problematização
Delimitação ou recorte
PROBLEMA: OS EFEITOS DA ALTITUDE EM UMA EQUIPE DE FUTEBOL OU: QUAIS SÃO OS EFEITOS PROVOCADOS PELA ALTITUDE EM UMA EQUIPE DE FUTEBOL? Segundo nível de problematização
Encaminhamento da pesquisa
QUESTÕES NORTEADORAS DO ESTUDO: 1. Quais são as características da “altitude”, em relação ao nível do mar? 2. Quais são os efeitos fisiológicos causados no organismo em decorrência da altitude? 3. Como estas características podem interferir no desempenho do jogador de futebol?
4. De que forma treinar ou preparar o atleta de futebol para minimizar estes efeitos da altitude?
TÓPICOS DA FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: 1. A altitude: características do ambiente e efeitos no ser humano. 2. O futebol e possíveis alterações em decorrência da altitude. 3. A preparação do atleta de futebol para o jogo na altitude.
Diante do exposto, é possível compreender porque mencionei inicialmente que o processo de problematização deve ser realizado de forma cuidadosa. Assim procedendo, as etapas seguintes serão mais bem coordenadas e organizadas.
DICA PARA A PROBLEMATIZAÇÃO: Para se chegar às questões norteadoras bem formuladas, procure fazer o seguinte exercício: 1. Em um primeiro momento, não restrinja o número de questões, elabore tantas quantas achar necessário. 2. Redija as questões de modo claro. 3. Releia-as atentamente. 4. Observe que várias delas podem ser agrupadas de modo a constituir uma melhor elaborada. 5. Tente reorganizá-las, sucessivamente, de modo a construir poucas e novas questões que contemplem os assuntos que pretende discutir. 6. Faça a versão final com as perguntas realmente necessárias, de forma objetiva. 7. Discuta-as com seu professor ou orientador, mas, provavelmente, estas serão as questões norteadoras do seu estudo.
Com o problema definido e feita a problematização, uma boa parte da Introdução já poderá ser feita. No entanto, é preciso recolher informações acerca do seu problema de estudo, que possam enriquecer a elaboração do PM. Mas onde procurar? Como proceder? É o assunto que será tratado a seguir.
7.5 O levantamento da literatura Para a realização de qualquer estudo, é fundamental que se conheça o que já foi produzido a respeito do assunto. Sua ideia pode lhe parecer inédita e original, contudo raramente o é. Muitos alunos dizem que fizeram um primeiro levantamento e não encontraram nada a respeito do assunto que pretendem estudar. Podem existir, a princípio, duas situações: a) A busca não foi feita da forma correta; b) A busca não foi feita nos lugares adequados.
Uma terceira possibilidade é que, efetivamente, seja algo ainda não estudado, mas ainda assim, para se fazer essa afirmativa, é preciso checar todas as possibilidades. Para tanto, é preciso realizar o levantamento da literatura, pois assim você terá condições de conhecer mais sobre o assunto, saber quem são os autores que produzem a respeito, as principais ideias e teorias desenvolvidas e, especialmente, compreender e selecionar a fundamentação teórica para o seu estudo. A pesquisa bibliográfica: das prateleiras às bases de dados A pesquisa bibliográfica, dentre os aspectos relacionados à elaboração de trabalhos acadêmicos, é talvez o que mais tenha se modificado nos últimos anos. Livros, dissertações, teses e mesmo periódicos, eram acessados apenas em versões impressas, o que demandava a ida às bibliotecas. Era preciso, então, ir àquelas mais bem aparelhadas e atualizadas, que disponibilizassem um acervo amplo e adequado. Esse panorama se modificou radicalmente com os recursos disponíveis na Internet e com a utilização das inúmeras facilidades, tais como ferramentas de busca, bases de dados, bibliotecas digitalizadas, portais de divulgação científica, dentre outras. As informações aqui descritas correm o risco de estarem desatualizadas em pouco tempo, haja vista a velocidade das modificações tecnológicas. Além disso, diante da imensa quantidade de informações que nos assola, a principal tarefa é conseguir discernir o que é importante, no menor tempo possível. Em outras palavras, devemos direcionar a busca bibliográfica, selecionando material de fontes confiáveis e que tenham relação estrita com o assunto pesquisado. Outro aspecto que gerou uma mudança considerável nos últimos anos foi a crescente tendência de publicação de artigos científicos. Era recorrente a crítica, em décadas passadas, de que o conhecimento derivado das pesquisas desenvolvidas ficava “mofando” nas prateleiras das bibliotecas. Os resultados das investigações muitas vezes circulavam pouco, uma vez que, nem sempre, na Educação Física, se produziam artigos derivados, por exemplo, de dissertações e teses. Algumas eram transformadas em livros e trabalhos eram apresentados
em congressos, mas nada semelhante ao que se vê atualmente. A quantidade de artigos é tanta que muitos não chegam a ser lidos, embora o acesso esteja facilitado, principalmente com a criação dos periódicos eletrônicos. A Educação Física no Brasil, por muitos anos, não possuía periódicos científicos indexados nas principais bases de dados. Para um periódico ser indexado em uma determinada base de dados, há exigências a serem cumpridas em relação à periodicidade, número de artigos, diretrizes aos autores, bem como muitos outros requisitos importantes, a depender de qual seria (nacional ou internacional). Assim, a busca da literatura tinha que ser feita no acervo de cada periódico, o que demandava tempo considerável. Nos últimos anos, contudo, houve uma mudança drástica nesse panorama, com os principais periódicos da área obtendo credenciais para indexação. Assim, ao fazer a busca nas bases de dados, nos deparamos com os artigos publicados nas principais revistas brasileiras e estrangeiras. Mas o que seriam as bases de dados? Imaginemos antigamente, quando cada interessado deveria mandar uma carta ao editor de um periódico para fazer a assinatura e, assim, receber em sua residência ou local de trabalho os números lançados. Para cada periódico, uma assinatura. As bibliotecas tradicionais solucionavam esse problema assinando vários periódicos e os disponibilizando aos usuários. As bases de dados, contudo, reúnem e oferecem acesso a milhares de periódicos nacionais e internacionais. Há, também, bases de dados específicas a depender da natureza do assunto ou mesmo da área científica. Na Educação Física, as bases de dados mais utilizadas são: Lilacs, SciELO, Eric, Medline e Scopus/Elsevier, dentre outras. Como exemplo, vejamos uma base de dados nacional, a SciELO ( Scientific Electronic Library Online), que disponibiliza acesso aberto a textos completos de periódicos científicos que se enquadrem na metodologia SciELO 17. Essas bases podem ser acessadas diretamente ou por meio de portais, como a BVS18, PubMed Central ou PubMed 19, ou ainda, o Portal de Periódicos da Capes 20 (Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior), dentre outros. Atualmente, portanto, o acesso à literatura é facilitado e democratizado, com a possibilidade de se obter integralmente o artigo, no formato PDF21. Além disso, há várias bases de livros também disponibilizados em PDF, o que permite ao leitor ter acesso à leitura por meio de computadores, tablets, até mesmo aparelhos celulares, dentre outros dispositivos, algo impensado há alguns anos. Como realizar o levantamento das fontes: O levantamento da literatura permite vários caminhos e desdobramentos, a depender da área de estudo, do nível de conhecimento do (aspirante a) pesquisador e do assunto, para mencionar apenas os principais. Assim, as informações que apresento aqui são de caráter geral, essencialmente voltadas à Educação Física e áreas afins, e aconselho a buscarem especialistas no assunto, como bibliotecários, para juntos traçarem a melhor estratégia de busca da literatura. As fontes bibliográficas mais procuradas são: artigos de periódicos, livros, teses, dissertações e anais de eventos científicos (publicação dos trabalhos apresentados em congressos, simpósios etc.). Outrora ocupando lugar de destaque praticamente sem concorrência, o livro ainda constitui importante fonte de consulta. Os artigos científicos, publicados em periódicos especializados, contudo, têm sido privilegiados por oferecerem algumas vantagens tais como facilidade de acesso e atualidade das informações. Outro aspecto importante relacionado aos artigos científicos é o processo de peerreview, ou análise pelos pares, presente nos periódicos, principalmente os que são indexados em bases de dados qualificadas. Isso significa que os artigos publicados passam por um rigoroso crivo de avaliação, atendendo a critérios teórico-metodológicos definidos por especialistas da comunidade científica de determinado campo de conhecimento. Assim, publicar em uma revista bem avaliada é um indicativo da qualidade científica do manuscrito. Há vários sistemas de classificação dos periódicos que podem indicar indiretamente o nível de qualidade e, de certa maneira, de confiabilidade dos artigos, tais como o Qualis-Periódicos. Conforme informações do site
da Capes22: “[...] o Qualis afere a qualidade dos artigos e de outros tipos de produção, a partir da análise da qualidade dos veículos de divulgação, ou seja, periódicos científicos.” Assim, os periódicos recebem classificações (A1, A2; B1, B2, B3, B4, B5 e C) que indicam o estrato no qual está inserido, a depender da área. Cabe destacar que um mesmo periódico pode ser classificado em diferentes estratos, uma vez que cada área estabelece seus próprios critérios, impactando assim, na classificação. Como exemplo, ao consultar o título da Revista Brasileira de Ciências do Esporte, editada pelo Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte, na classificação mais atual disponibilizada23, observamos que é B1 na Educação Física, mas chega a A1 na área de Ensino e a A2 na Educação, enquanto que é B2 na Psicologia, B3 na Nutrição, B4 na Medicina e B5 na Filosofia ou nas Ciências Biológicas. Devido à pluralidade epistemológica encontrada na área de Educação Física, a busca da literatura também pode se diferenciar em função do enfoque, por exemplo, se mais voltado à biodinâmica ou aos aspectos socioculturais ou pedagógicos. Artigos científicos de periódicos bem classificados na Área 21, à qual a Educação Física pertence na Capes, atendem a todas as vertentes e são fontes confiáveis. Há dois princípios importantes que balizam a pesquisa da literatura: adequação ao tema/problema e atualidade. Por isso, o primeiro passo é definir palavras-chave ou descritores que auxiliarão na busca. O Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde, criou o DeCS - Descritores em Ciências da Saúde 24. O DeCS é um vocabulário estruturado que serve: “como uma linguagem única na indexação de artigos de revistas científicas [...] e outros tipos de materiais[...].” (BVS, 2017). A busca pelo descritor adequado pode ser feita em português no DeCS, que disponibiliza definições, usos do termo e, também, a tradução em inglês. É importante observar que a utilização de descritores na língua inglesa permite ampliar a busca. Nesse sentido, a U.S. National Library of Medicine , bastante utilizada para estudos da área biomédica, disponibiliza o MeSH 25 (Medical Subject Headings), ou seja,
um glossário de termos utilizados para a indexação de artigos na MEDLINE/PubMed. Uma vez definidos os descritores adequados, a busca pode ser realizada nos portais e bases de dados anteriormente mencionados, a depender da vertente de estudo. Uma sugestão que serve aos diferentes enfoques é iniciar pela Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) 26, uma vez que esse portal permite que sejam utilizados descritores em português. A BVS disponibiliza várias fontes de informação científica e técnica, dentre as quais, as principais bases de dados da área da saúde. Assim, já se pode ter uma ideia da quantidade de referências disponíveis sobre o seu assunto. O Portal Capes também vale ser explorado, especialmente a partir de alguma instituição credenciada, como o caso das universidades federais e outras, que permitem acesso ao conteúdo assinado. No próprio Portal Capes são disponibilizadas ferramentas de busca de assunto, periódico, livro ou base. Cabe esclarecer, também, que os descritores podem ser combinados para se definir uma estratégia de busca. A esse respeito, é imprescindível a consulta a especialistas como os bibliotecários, além de tutoriais oferecidos pelos portais científicos, para que o levantamento das referências seja otimizado e adequado. Portanto, hoje em dia, o acesso ao conhecimento científico está literalmente a alguns cliques. Essa situação era inimaginável há algum tempo. Entretanto, é importante considerar que obras atuais devem ser priorizadas, principalmente se o assunto tiver sofrido muitas modificações nos últimos anos. Por exemplo, assuntos ligados à biodinâmica, tais como fisiologia do exercício, treinamento esportivo etc. podem ter produções defasadas em pouco tempo. No âmbito pedagógico ou sociocultural, igualmente, as produções se renovam constantemente, sendo impreterível que se tenha acesso ao que há de mais atual acerca do assunto. Isso não quer dizer, contudo, que as referências clássicas devam ser esquecidas. Ao contrário, há obras que, diante do nível de importância e de inserção na área, mesmo que produzidas há muitos anos, são consideradas essenciais e devem ser constantemente revisitadas.
Inclusive, é crucial que sejam lidas em seu formato original. A apropriação de ideias inexatas ou conceitos equivocados é um sério problema advindo da rapidez e superficialidade com que estudos muitas vezes são feitos. Uma dica em relação aos estudos mais antigos é verificar as críticas que foram feitas posteriormente, em resenhas ou mesmo artigos ou capítulos de livro, dentre outros, de modo a conhecer e se atualizar em relação aos desdobramentos das ideias apresentadas originalmente. Se ainda assim, com essas informações, você não conseguiu material substancial para seu estudo, é possível que esteja procurando algo pouco estudado ou ainda, que os termos exatos não encontrem correspondência. Nesse caso, a busca deve privilegiar temas mais amplos ou semelhantes. A analogia, neste caso, é a utilização de uma câmera de filmagem. É possível filmar uma paisagem e, depois, com o auxílio do “zoom”, buscar detalhes cada vez mais precisos como uma casa, uma pessoa etc. É pensando nisso que se deve realizar o levantamento bibliográfico. Como exemplo, suponhamos um projeto cujo título seja “A prática do tênis em comunidades carentes”. Trata-se de um assunto atual que talvez possua raríssimas contribuições. Além de buscá-las, para conhecer outras abordagens, a fundamentação teórica necessariamente deve contemplar aspectos relacionados ao tênis, ao esporte em comunidades carentes, aos benefícios do esporte, podendo incluir algo referente a políticas públicas de esporte e lazer (caso seja um estudo em que o tênis faça parte de um projeto social, por exemplo). Ou seja, sobre esses assuntos mais gerais, provavelmente há muito mais material disponível. E é por onde se deve começar. A Internet é fascinante e oferece inúmeras possibilidades, inclusive no acesso aos mecanismos de busca ou sites especializados. Contudo, como qualquer outra tecnologia, deve ser usada com certo cuidado e, acima de tudo, discernimento e capacidade crítica. Sabe-se que qualquer pessoa, por exemplo, pode criar um site. Até mesmo um leigo pode escrever sobre assuntos pertinentes à Educação Física. Sendo assim, é crucial que as informações retiradas da Internet sejam de sites científicos e especializados.
DICA IMPORTANTE! Se você não domina o inglês instrumental, necessário para a leitura e compreensão de textos, é hora de começar a aprender! O uso do inglês é fundamental para navegar na Internet, assim como abre possibilidades para a leitura de bibliografia estrangeira. Além do mais, é essencial para quem pretende fazer um curso de pós-graduação.
8 O PROJETO DE MONOGRAFIA EM DETALHES
Espera-se que, a essa altura, você já tenha definido o seu problema de estudo, avançado em relação à problematização e seja capaz de selecionar (e ler) parte da literatura a ser utilizada. Estas etapas são fundamentais para a confecção do seu PM, pois representam uma primeira sistematização e organização das ideias. Além disso, fornecem certo direcionamento para o estudo. As leituras ajudam, também, a refletir sobre o seu assunto e podem abrir possibilidades interessantes de problemas, antes sequer pensados. Essa tentativa de definição do “problema” ou do “objeto” de estudo é importante em qualquer pesquisa que venha a ser feita. Eco (1998) diz que fazer uma tese é uma experiência de caráter metodológico, em que não importa tanto o tema, mas sim a experiência de trabalho que ela comporta. Concordo com o autor, pois lidar com questões associadas à pesquisa é algo necessário, a ser feito mais cedo ou mais tarde, por quem deseja se aprimorar na profissão. Se tal experiência já começar a ser adquirida ainda na graduação, tanto melhor! Embora tenha comentado sobre a estrutura do PM de um modo generalizado, é necessária uma explanação mais detalhada para dirimir possíveis dúvidas. A seguir, detalharei aspectos da parte textual, bem como farei comentários acerca da elaboração do projeto.
8.1 Introdução Esclareço, inicialmente, que a estrutura apresentada a seguir está dividida de forma didática em tópicos. São os elementos que devem constar da Introdução. No entanto, embora essa divisão auxilie em um primeiro momento, daí o seu caráter didático, aconselho que seja redigido um texto único por ocasião da confecção do PM. Ou seja, não se deve esquecer de contemplar todos os tópicos apresentados de forma concatenada, organizada, encadeando-se, por assim dizer, uma informação à outra. Desse modo, o texto ganhará em fluidez e sua compreensão será facilitada.
Passemos à INTRODUÇÃO, a primeira parte do PM! Contextualização:
Volto a relacionar a estrutura do PM à de uma redação, pois guarda semelhanças. Quando se tenta desenvolver um assunto, a primeira coisa a ser feita é oferecer uma visão geral, mostrando ao eventual leitor onde e como se situa. O mesmo procedimento deve ser adotado para a elaboração da Introdução. Em um primeiro momento, deve ser feita a contextualização, ou seja, as informações devem ser apresentadas gradualmente, do geral para o específico e, se possível, estabelecendo-se ligações com o contexto atual e com a Educação Física. Algo que parece óbvio, mas às vezes os alunos esquecem é a importância de se estabelecer um vínculo com o campo de estudos no qual a pesquisa se insere. É um tema ligado à licenciatura ou ao bacharelado (também chamado de graduação)? Em qual subárea se situa? Biodinâmica, Sociocultural, Pedagógica? Qual a temática central do estudo? O que a literatura traz de informações a respeito? Nessa fase pode ficar caracterizada a atualidade da pesquisa ao mencionar informações recentes sobre o assunto (não se esqueça de fazer citações!). Se não possuir informações detalhadas, é importante que você mostre o quadro geral no qual seu tema se insere, ou seja, contextualize-o no âmbito de estudos em Educação Física. Delimitação:
Em um segundo momento, passaremos à delimitação do problema. Visualize um funil, no qual são colocadas as informações e, após um “filtro” (que é exatamente o seu ponto de vista, o seu olhar de pesquisador), o resultado seria o problema enunciado. A analogia que utilizarei aqui é a de um mapa. Imagine que a área de Educação Física é um grande mapa. Estudá-la toda seria impossível. Portanto, faz-se necessário “recortar” esta área em diversos pedaços (Esporte, Inclusão, Lazer, Biomecânica etc.). Mas, mesmo esses pequenos pedaços podem ser extensos para serem estudados, e assim por diante. O processo do “recorte” 27 deve ser feito até que se chegue ao problema específico do seu estudo.
É esse problema, já delimitado, que será apresentado nessa parte da Introdução. Você poderá esclarecer que o seu tema poderia receber diversas abordagens e direcionamentos, mas que você escolheu, especificamente, o problema “x”. Procure enunciá-lo claramente. Problematização:
Neste momento, se você fez a problematização, é interessante mencionar as questões que foram levantadas. Ao utilizar essas perguntas, você terá melhores condições de conduzir seu estudo, já que sua pesquisa visa justamente buscar respostas a elas. As questões podem ser apresentadas dentro do próprio texto, como se fossem indagações que surgiram das suas reflexões sobre o assunto. Dessa forma, o leitor pode acompanhar um pouco o seu raciocínio e o problema de estudo ficaria ainda mais claro. Objetivos:
Vou me deter um pouco neste item, pois considero que os objetivos são a “alma” do PM, aliás, de qualquer trabalho. Se você está na academia de ginástica e chega um aluno novo, você elaborará um determinado programa em função das necessidades dele, não é mesmo? Ou seja, o seu trabalho será norteado pelo objetivo que for estabelecido. E cada objetivo demanda meios diferentes de trabalho (olha aí o método...). Ou você utilizará a famosa “receita de bolo” para um idoso que busca melhoria de qualidade de vida e para uma adolescente que quer emagrecer e deixar o corpo “sarado”? Espero que sua resposta tenha sido: “Não!”. A professora orientadora28 no meu curso de mestrado dizia que, enquanto não temos o objetivo do trabalho, ou pesquisa, claro para nós mesmos, não conseguiremos avançar. Ela sugeria que procurássemos falar para alguém do que se tratava a nossa pesquisa. Tente fazer isso! Se a outra pessoa entender, você já deu um grande passo. Agora se você se sentiu confuso, com as ideias embaralhadas, é preciso trabalhar mais um pouco na delimitação. Voltando ao projeto, se você conseguiu escrever a contextualização, a delimitação e as questões, naturalmente os objetivos fluirão como consequência lógica do raciocínio.
Chegou a hora de enunciar os objetivos, de forma clara e objetiva. Isto significa que não é necessário inventar palavras bonitas ou usar vocabulário rebuscado. Basta colocar sucintamente as finalidades da sua pesquisa. Pergunte-se: • O que definitivamente quero atingir com a minha pesquisa?
Ou: • O que pretendo nesta pesquisa?
Provavelmente a resposta indicará seus objetivos. Você pode apresentar somente um objetivo geral, amplo, do tipo “guarda-chuva”, ou, além disso, detalhar posteriormente os objetivos específicos. Procure utilizar verbos no infinitivo, que indiquem certo direcionamento e moderação, por exemplo: discutir, analisar, estudar, identificar, verificar etc. Evite verbos como: comprovar, demonstrar, provar, modificar, transformar etc., já que dificilmente você poderá fazêlo. Muitos alunos, nessa parte, costumam misturar os objetivos da pesquisa com aqueles que alcançariam, eventualmente, em longo prazo, caso se concretizasse a ideia discutida. Eis um exemplo típico: “Conscientizar os professores de Educação Física e a sociedade em geral da importância da prática de atividade física para o portador do vírus HIV”. Veja, seria excelente que isto acontecesse, mas, sejamos sinceros, uma monografia poderia alcançar esse fim? E o que dizer de um projeto de monografia? É importante, como mencionado anteriormente, que assumamos nossas limitações, principalmente em se tratando de um trabalho de iniciação científica. Não há qualquer tipo de cobrança para você modificar uma situação na prática. Você pode e deve contribuir para entender melhor o problema, para apresentar uma crítica fundamentada e, eventualmente, apresentar sugestões (no caso da monografia). Portanto, atenha-se a descrever os objetivos estritos da sua pesquisa! Importância/justificativa do estudo:
Nesse tópico, costumo dizer aos meus alunos que eles devem
exercitar a criatividade de “vendedor”. Como se tivessem um projeto de trabalho a ser apresentado para uma determinada instituição e necessitassem argumentar e defender a sua importância para que fosse aprovado. Os argumentos devem ser originais e adequados a cada situação, ou a cada tema, no nosso caso. Imagine ter de responder a perguntas como: qual é a importância de se estudar este assunto? Por que pesquisá-lo? Quais suas possíveis contribuições? Você deve apresentar de forma clara os motivos que justificam a realização da pesquisa e, principalmente, esclarecer de que forma seu estudo poderá contribuir para o campo da Educação Física. Observe que não se trata de uma justificativa individual ou pessoal (do tipo: “porque tenho curiosidade a respeito” etc.), mas considerando-se o âmbito acadêmico-científico da Educação Física. Um aspecto muito importante é demonstrar até que ponto o estudo é original, ou seja, se há uma lacuna quanto à produção acadêmica no que se refere àquele assunto específico. Essa argumentação deve ser enriquecida a partir da revisão de literatura, sobre a qual escrevi no capítulo anterior. Ao fazer a busca, ler os trabalhos e também conversar com professores especialistas, você terá condições de verificar até que ponto é um assunto já muito discutido. Organização do estudo:
Chegamos ao final da Introdução, o último parágrafo! Não vá fazer como vários alunos e deixar de colocar este item! Exijo-o, mais uma vez, por questões didáticas. Acredito que quando o aluno tem uma ideia do que pretende desenvolver, consegue se organizar melhor e, assim, cumprir os objetivos traçados. Para explicar a organização do estudo, sugiro que se folheie qualquer livro acadêmico, de qualquer assunto e observe que, de uma forma geral, ao final do texto introdutório, há uma apresentação do(s) assunto(s) a ser(em) tratado(s) na sequência, de modo sintético. É comum constar breve comentário sobre os capítulos que se sucederão, para que o leitor tenha uma noção do todo do livro. Este tópico chamado de “organização do estudo” é justamente isso: uma breve apresentação de como você organizará a parte teórica que se
seguirá. Pode ser descrito em um parágrafo, para fechar a sua introdução. Ou seja, mencione brevemente o que será tratado nos capítulos ou seções posteriores (leia-se: os assuntos da Fundamentação Teórica). Dessa forma, qualquer pessoa que vier a ler sua Introdução, poderá saber exatamente o que você pretende estudar e por onde será encaminhada a discussão teórica. Itens opcionais da Introdução: a) Definição de termos:
A definição de termos só deve ser utilizada se forem mencionados, no decorrer do PM, termos técnicos essenciais que não sejam do conhecimento da comunidade da Educação Física, ou que sejam restritos a uma área específica (medicina, psicologia etc.). Nesse caso, aqui pode ser apresentada uma breve lista dos termos técnicos e respectivas definições, conforme os autores consultados (colocar sobrenome do autor e ano da obra pesquisada, seguindo as normas para citação). Entretanto, pense na possibilidade de, no decorrer do trabalho, na primeira vez em que você se referir a determinado termo, apresentar a definição no próprio texto. Tal providência pode enriquecer a discussão teórica. Mas se, ao contrário, achar que pode comprometer o desenrolar da escrita, opte por colocá-lo ao final da Introdução. b) Hipótese(s):
A hipótese, segundo Ferreira (1999) é uma suposição, uma conjetura. No seu estudo, ela nada mais é do que uma previsão, que pode se confirmar ou não, das respostas a serem alcançadas. O contexto original das hipóteses é o das pesquisas do tipo experimental, em que se pretende comprovar uma determinada relação causa/efeito. No entanto, mesmo em estudos teóricos, pode haver uma hipótese. Por isso, fica a critério do aluno colocá-la ou não. Ou seja, você tem uma possível resposta (hipótese) para a sua pesquisa? Se tiver e quiser antecipá-la, enuncie a hipótese depois de apresentar os objetivos. O objetivo de construir uma boa Introdução é colocar as ideias em ordem, de modo a ter noção do que se pretende fazer e do caminho que deverá ser percorrido. Ordenar as ideias, talvez, seja uma das maiores
dificuldades que surgem ao se iniciar uma pesquisa. Senti-las organizadas representa certo alívio, pois a partir desse momento, tem-se noção do que deve ser feito posteriormente. Por meio da escrita, organizamos a “desorganização mental”, pois os rumos da pesquisa estarão, provisoriamente, delineados. Segundo Eco (1998), o objetivo da introdução é permitir a fixação das ideias ao longo de uma diretriz, que pode vir a ser alterada.
8.2 Fundamentação Teórica A Fundamentação Teórica constitui-se na segunda parte do PM, em que será apresentada a base teórica, ou seja, a fundamentação do estudo. Ao realizar a pesquisa da literatura, você se defrontará com os trabalhos já desenvolvidos, conhecerá as tendências teóricas, o que há de novidade sobre o assunto, dentre outros aspectos. É preciso apresentar então, o que foi lido, principalmente porque possui relação direta com o problema enunciado na Introdução. Essa parte é denominada por alguns autores de “Revisão de Literatura”, pois se trata de revisar o que já foi escrito sobre o assunto. Entretanto, mesmo que seja de natureza preliminar, não considero este termo apropriado para um projeto de monografia. Uma extensa e sistemática revisão da literatura é necessária em dissertações ou teses. Para monografias, dependendo do assunto, aceita-se uma revisão menos aprofundada. Para o PM, é fundamental que o aluno tenha contato ao menos com os principais autores e consiga elaborar uma base teórica inicial. Obviamente, não será completa, pois deverá ser finalizada e revista, por ocasião da monografia. Entretanto, a imersão na literatura é necessária para se buscar as informações relevantes e atuais acerca do assunto com vistas a elevar a consistência de seu estudo. Desta forma, os aspectos teóricos a serem descritos devem estar essencialmente ligados ao problema de estudo. Sugiro que a discussão teórica seja organizada em tópicos (que virão a constituir a base dos capítulos da monografia), partindo dos conhecimentos gerais que envolvem a temática, até chegar à especificidade do problema. De acordo com Severino (2000), os títulos de capítulos ou demais
itens devem ser portadores de sentido, ou seja, temáticos e expressivos, na medida em que devem indicar o conteúdo ali desenvolvido. Vejamos alguns exemplos29 de PM e seus respectivos capítulos: → O ensino do karatê: uma proposta lúdica alternativa
Capítulos: 1. O karatê: a luta e suas raízes históricas 2. O ensino tradicional do karatê 3. O lúdico e suas contribuições para o ensino de esportes 4. O ensino do karatê através da ludicidade → Treinamento de flexibilidade para idosos
Capítulos: 1. Caracterização do idoso e do processo de envelhecimento 2. A flexibilidade: conceitos e formas de treinamento 3. Aplicabilidade e benefícios do treinamento de flexibilidade para o idoso → Concepções de corpo de estudantes de educação física de ensino médio 1. Concepções de corpo na contemporaneidade 2. Educação Física no ensino médio e corpo
Para orientar a escrita da Fundamentação Teórica, algumas questões poderiam ser levantadas: • Quais são os principais autores que tratam deste assunto na literatura da Educação Física ou áreas afins? • Quais as principais ideias ou tendências sobre o assunto? • Há estudos semelhantes ao seu? Quais similaridades e diferenças? • Há correntes teóricas antagônicas ou não?
Ao tentar responder a essas questões (o que é crucial para a elaboração do PM), você entrará em contato com a literatura referente ao seu assunto. Dessa forma, você poderá organizar e desenvolver as ideias dos autores lidos. Portanto, chegando nessa parte, é imprescindível que tenha sido realizado um levantamento bibliográfico 30 acerca do problema de pesquisa. Tendo conhecimento das principais ideias e correntes, é possível iniciar a análise dessa literatura e redigir a fundamentação teórica do seu projeto de monografia. Nos capítulos que serão escritos, procure mencionar os principais conceitos e mostrar as informações obtidas,
fundamentando sua pesquisa. Ao se envolver no processo de elaboração do PM e nas leituras derivadas da pesquisa bibliográfica, muitos alunos se entusiasmam com o assunto, pois lidam com informações e discussões que desconheciam. Espero que se sinta assim também!
8.3 Esboço de Metodologia Chamo este item de esboço de metodologia, pois se trata de uma prévia definição dos procedimentos metodológicos, os quais serão oportunamente discutidos com o professor orientador e, de modo eventual, até alterados. No entanto, como o PM é o planejamento da pesquisa, é fundamental identificar o tipo de pesquisa que se quer fazer, assim como esboçar a estratégia de abordagem do problema. Metodologia, segundo Demo (1987), trata das formas e caminhos para se fazer ciência. Minayo (2010) amplia um pouco o conceito dizendo que a metodologia compreende a teoria, os métodos e a criatividade do pesquisador. O método, por sua vez, é definido por Oliveira (1998) como a via de acesso para se chegar a determinado resultado. Por estar focalizando o PM, que é um projeto específico de um trabalho de final de curso de graduação, ou seja, de iniciação científica, não discutirei a metodologia em seu sentido amplo. Trato-a em um sentido prático, instrumental, com fins específicos à consecução dos objetivos da pesquisa. Aqui devem ser fornecidas as explicações sobre o método que você escolheu para conduzir o seu estudo. Entende-se o método como o conjunto de procedimentos que serão adotados para fins específicos de uma pesquisa. Este método incluirá algumas técnicas ou instrumentos, os quais deverão ser descritos. Dessa forma, esta seção procurará responder à pergunta: “Como será feita a pesquisa?” Para respondê-la, inicialmente é preciso retomar os objetivos da pesquisa, a fim de recuperar a informação mencionada na Introdução e dar subsídios para a escolha a ser feita quanto aos procedimentos metodológicos. Posteriormente, é necessário esclarecer de que tipo de pesquisa se
está tratando, assunto que abordaremos a seguir. Após a caracterização do tipo de pesquisa, deve-se responder de forma clara e objetiva à questão: como se pretende coletar os dados? Embora este ainda seja um esboço do que será feito, tenha em mente o que afirmam Thomas, Nelson e Silverman (2012) na seção dedicada ao método: “A regra-padrão determina que a descrição deve ser completa o bastante para que outro pesquisador competente possa reproduzir o estudo.”(p. 87). →
Tipos de pesquisa
Como também são várias as classificações de pesquisa, em função de diversos critérios, sugiro uma caracterização em função das fontes de informação: 1. Pesquisa Teórica (PT):
Seria a pesquisa realizada por meio de levantamento e análise da bibliografia disponível. A fonte de informação é a consulta a livros, artigos de periódicos, dissertações, teses etc., como foi visto anteriormente. Utilizam-se, dessa forma, fontes secundárias que, segundo Tachizawa e Mendes (1999) são as obras bibliográficas, ao que acrescentaria disponíveis tanto no meio físico, como digital. Trata-se de uma organização crítica e coerente das ideias referentes a um tema específico. Cabe ao aluno sistematizar as informações das diversas fontes, estabelecer uma discussão teórica e imprimir o seu ponto de vista original e criativo acerca do tema. A conclusão a que chegará, por ocasião da monografia, será de cunho teórico, crítico e espera-se, propositivo. Às vezes, os alunos se confundem quando, em um livro ou artigo, o autor traz resultados de estudos realizados por outros pesquisadores para exemplificar o tema desenvolvido. Mesmo que se opte por citar estas pesquisas (citação da citação31), os dados continuam a ser secundários, pois quem os manipulou inicialmente não foi o aluno! O próprio autor da obra, por sua vez, também efetivou um levantamento bibliográfico, empreendeu sua análise ou fez sua própria coleta de dados. Mas, a partir do momento que esses dados já sofreram um
tratamento (análise, crítica, discussão), passam a ser secundários. Vejamos alguns exemplos de pesquisas teóricas: a) Programa de atividade física para portadores de Diabetes Mellitus tipo 1:
Nesse caso, poderia ser feito (e organizado) um levantamento na literatura referente aos seguintes assuntos: diabetes (caracterizar a de tipo 1, sintomas, cuidados necessários etc.); exercícios mais adequados para o caso; indicações de atuação do profissional de Educação Física para este grupo em particular. b) O esporte – componente educativo da Educação Física?:
Da mesma forma, a revisão da literatura buscaria saber o que se têm discutido a respeito do valor educativo do esporte, do esporte nas perspectivas de cooperação ou competição, do papel e objetivos da disciplina de Educação Física na escola e a inserção do esporte etc. 2. Pesquisa Teórico-Empírica (PTE):
Como o próprio nome diz, além da pesquisa bibliográfica, será feita uma parte empírica. Isso significa que haverá uma coleta de dados, podendo ser por meio de uma pesquisa de campo, documental, laboratorial ou outra. Tratam-se, então, de dados primários, ou seja, que ainda não foram manipulados ou analisados. Dados primários são aqueles obtidos diretamente da realidade empírica, por meio de informantes (como por exemplo: relatos, respostas a questionários e entrevistas, resultados de testes), ou de observações. Podem ser também de natureza documental. No caso da pesquisa de campo, o pesquisador deverá ir ao ambiente natural onde o fato/realidade que quer estudar, ocorre. De lá, extrairá os dados primários que serão o substrato para a sua análise por meio de técnicas de pesquisa, tais como: observação, entrevista, questionário, aplicação de testes etc. Uma pesquisa de natureza documental, por sua vez, lida com documentos (projetos pedagógicos, atas de reuniões, programas de curso ou disciplina, documentos históricos, imagens, prontuários etc.) que não foram ainda sistematizados ou organizados. Em alguns casos, é necessária autorização para obter acesso a esse acervo ou então, pode ser de domínio público.
A coleta de dados pode ser realizada também em ambiente de laboratório, como ocorre em estudos realizados em biomecânica, fisiologia do exercício, bioquímica etc. Os procedimentos realizados em laboratório normalmente seguem um modelo experimental, mas nem todos os experimentos são realizados em laboratórios. Basta ver as publicações, por exemplo, sobre treinamento de força, cujos protocolos são desenvolvidos em salas de musculação. Ou ainda estudos sobre diferentes métodos de treinamento de corrida ou qualquer esporte. É importante destacar que hoje em dia há laboratórios voltados a estudos de diferentes especialidades, tanto com aporte das ciências exatas e naturais, como das humanas e sociais. E mesmo laboratórios da biodinâmica desenvolvem coletas de dados não necessariamente seguindo um modelo experimental, como o caso de testes realizados com grupos e equipamentos específicos (plataforma de força, eletromiografia, ultrassom etc.). Vamos entender, então, como ficariam os estudos anteriormente propostos, caso fossem transformados em pesquisas teórico-empíricas: a) Programa de atividade física para portadores de Diabetes Mellitus tipo 1:
Além da parte teórica, necessária a qualquer estudo, haveria uma coleta de dados que poderia ser feita de diversas maneiras. Um exemplo seria o acompanhamento de um grupo de diabéticos que já faça atividade física regularmente em alguma instituição especializada. Além de observação sistemática das aulas, poderia haver entrevistas com os professores responsáveis e/ou com os alunos, ou ainda, realizar testes específicos ou aplicar questionários. Outra forma seria entrevistar especialistas na área de Educação Física que já tenham alguma experiência com o grupo especificado. Como é possível notar, as técnicas variam em função dos objetivos da pesquisa, bem como da criatividade do pesquisador. Não existe um método padrão, do tipo “receita de bolo”, que sirva a qualquer caso. Ao contrário, é preciso escolher o que melhor se adapta ao alcance dos objetivos. b) O esporte – componente educativo da Educação Física?
Essa pesquisa também poderia ser complementada com uma parte
empírica, como entrevistar professores de Educação Física de determinado segmento de ensino, ou gestores, alunos e até mesmo professores de cursos de graduação em Educação Física. Ou então, aplicar questionários a estudantes ou explorar possibilidades de estudos por meio de interações em redes sociais. São inúmeros os caminhos! Não hesite em propor alternativas e debatê-las com os colegas e professores sobre a viabilidade dos estudos. →
Como pretendo coletar os dados?
Em função da caracterização da pesquisa, que normalmente ficará ao seu critério (levando-se em consideração aspectos relacionados a tempo, recursos materiais etc.), o próximo passo é explicar os procedimentos metodológicos a serem adotados e justificar a escolha. No caso da Pesquisa Teórica, o método utilizado será a pesquisa bibliográfica, mas por que você escolheu essa abordagem? Justifique a escolha e explique como efetuará a pesquisa da literatura. Nesse caso, é válido descrever quais foram os descritores utilizados e especificar as bases de dados ou demais procedimentos realizados. Em relação à Pesquisa Teórico-Empírica, é preciso esclarecer: a) Onde será feita a coleta de dados?
Especificar (clube, academia, escola etc.) e caracterizar o local (tamanho, público, região etc.) onde os dados serão coletados. Ex.: Duas academias de pequeno porte da Zona Norte do Rio de Janeiro. b) Quando?
Indicar o período no qual será feita a coleta de dados. Ex.: março a abril de 2017. c) Quem participará?
O grupo de todas as pessoas que correspondem às exigências da pesquisa pode ser chamado de “universo” ou “população”, por exemplo: professores de Educação Física do Rio de Janeiro; ou técnicos de natação; ou praticantes de jiu-jitsu. Como normalmente é impossível estudar todas as pessoas, já que há dificuldades para localização ou
contato, prazos a cumprir e recursos quase sempre escassos, utiliza-se uma amostra. A amostra é um conjunto de elementos representativos de um universo ou população, selecionado mediante critérios pré-determinados. (ex.: professores das academias “X” e “Y” que trabalham com Ginástica Artística). Conforme Gaya (2008), as amostras podem ser probabilísticas ou não probabilísticas. Não abordarei a caracterização de seus tipos, pois considero que essas técnicas serão mais úteis a pesquisas de maior porte (mestrado, doutorado etc.), assim como há farta literatura sobre o assunto. Além disso, há discussões quanto à pertinência do termo amostra em pesquisas qualitativas. Bauer e Aarts (2010), ao tratar das pesquisas qualitativas, por exemplo, afirmam que os sujeitos de pesquisa são selecionados a partir de critérios, como estratos sociais, funções e categorias. Diferentemente da pesquisa quantitativa, que visa mensurar e comparar, o foco da investigação é a variedade e a estrutura dos argumentos apresentados por esses sujeitos. Para o PM, importa descrever quem participará do estudo e justificar essa escolha. d) De que forma?
Detalhar os procedimentos metodológicos, descrever instrumentos ou técnicas de coleta de dados a serem aplicados (e em quem serão aplicados) e, novamente, justificar a escolha. Ex.: entrevistas aos professores; questionários aos alunos; observação de aulas; testes físicos aplicados a atletas etc. →
As técnicas/instrumentos de coleta de dados
A área de Educação Física é extremamente rica e diversificada, o que possibilita imensa variedade de temas de estudo. Abrange desde os aspectos biodinâmicos aos socioculturais e pedagógicos, o que permite a utilização de técnicas específicas de coleta de dados, em função do objetivo proposto. Supondo que o seu problema do PM seja voltado a questões
fisiológicas, como “Perda eletrolítica de cálcio, magnésio e ferro no suor durante corrida em esteira”32. Deve-se descrever todos os procedimentos metodológicos a serem utilizados, nesse caso, a divisão em dois grupos de sujeitos (um de atletas e outro de não-atletas), submetidos à sessão de corrida monitorada (duração, intensidade etc.), com coleta de suor conforme protocolos definidos e controle rigoroso de diversos aspectos, tais como: frequência cardíaca, temperatura, ingestão de líquido etc. Ocorre que, para um PM, este tipo de pesquisa somente será feito com respaldo e orientação de um professor especializado no assunto, engajado em laboratório de pesquisas que possua as condições adequadas para realizar tal coleta de dados. Assim, supõe-se que o estudante já esteja envolvido com a iniciação científica, para poder dispor de recursos de laboratório para coleta e análise do material. Outro caso é de alunos que queiram coletar dados por meio de testes ou questionários (normalmente já validados) relacionados à atividade física . Poderia citar como exemplo: protocolos de análise funcional, testes de habilidades e capacidades motoras, questionário para detectar nível de estresse do atleta e assim por diante. Estes e outros procedimentos de uso específico seguem rigoroso controle quando da sua aplicação, que devem ser criteriosamente seguidos, sob risco de perda do material coletado. Contudo, como são inúmeros os testes e há bibliografia especializada sobre o assunto, sugiro que estas fontes sejam procuradas. Para efeito do PM, faz-se necessário esclarecer o(s) instrumento(s) específico(s) que será usado e de que modo será aplicado. A maioria dos alunos, contudo, parte para iniciativas individuais de pesquisa, optando por estudar a academia em que trabalha ou os clubes e escolas a que têm acesso etc. Para esse tipo de coleta de dados, comentarei algumas técnicas básicas, de uso mais acessível. São elas: observação, entrevista e questionário. Esclareço que serão apresentadas informações elementares que permitam ao aluno selecionar a(s) técnica(s) mais adequada(s) ao seu problema e objetivo de estudo, assim como possibilitem justificar a utilização. Afinal, esta é a função do PM. Serão apresentadas as
vantagens e desvantagens do uso de cada técnica de pesquisa, que devem ser avaliadas considerando-se a adequação ao que se pretende investigar. 1) Observação: A observação é uma característica inerente ao ser humano. Sempre estamos observando o comportamento das pessoas, suas ações, assim como os fatos em si. Esse processo, às vezes inconsciente, vem sempre ligado a uma reflexão, a um julgamento. Se olharmos para um professor, o modo como se veste e a maneira de dar aulas, podemos inferir alguma coisa a respeito de sua personalidade. O mesmo acontece quando o professor faz uma análise do aluno, a maneira de se comportar, as reações diante de determinados estímulos, a forma como se apresenta em sala de aula. É possível reconhecer os que realmente estão interessados e aqueles que parecem não querer nada... Mas que jogue a primeira pedra quem nunca errou em suas observações! Ou quem julgou uma pessoa de forma precipitada! Ou quem descobriu que a pessoa era muito diferente do que aparentava... Pois é, somos humanos e, muitas vezes, fazemos julgamentos de valor, sem a menor base para tal. Isso pode acontecer no cotidiano, em que nossas observações pessoais talvez não acarretem problemas, mas, e em uma pesquisa? E se observarmos um fato e tirarmos uma conclusão errada? O resultado pode ser totalmente modificado, não é mesmo? Veja que importância tem o pesquisador, não apenas ao escolher a técnica mais adequada ao seu estudo, mas, principalmente, ao aplicá-la! É preciso, portanto, diferenciar a observação cotidiana da científica, para que estes julgamentos de valor e, consequentemente os erros, sejam minimizados. Laville e Dionne (1999) dão algumas dicas de como fazê-lo: [...] para ser qualificada de científica, a observação deve respeitar certos critérios, satisfazer certas exigências: não deve ser uma busca ocasional, mas ser posta a serviço de um objeto de pesquisa, questão ou hipótese, claramente explicitado; esse serviço deve ser rigoroso em suas modalidades e submetido a críticas nos planos da confiabilidade e da validade. (p. 176)
O que vai nortear a escolha da técnica é justamente a natureza do seu problema de estudo. Vejamos alguns exemplos:
Quando usar a observação: • Se o objetivo é analisar algo na prática para comparar com a teoria. Ex.: “O comportamento dos alunos diante de um programa diferente de condicionamento físico”. • Analisar o comportamento das pessoas no ambiente natural (de treino, trabalho, estudo, lazer etc.). Ex.: “A motivação do professor da disciplina de Educação Física na escola”. • Análise de um fenômeno específico. Ex.: “Agressividade entre os jogadores de handebol na liga nacional”; “O treino de futsal dos juniores”.
Tipos de observação: a) Estruturada:
Quando há um roteiro pré-estabelecido. O pesquisador elabora uma ficha de observação com todas as informações que deseja extrair do campo, bastando preenchê-la enquanto observa. É a mais aconselhável de ser usada para a monografia, pois permite maior organização e controle da situação, além de facilitar futuramente a análise dos dados. Esta ficha deve ser muito bem estruturada e planejada para evitar transtornos posteriores. b) Não estruturada:
Quando não há um roteiro pré-estabelecido, embora se saibam quais são os objetivos gerais da observação. Nesse caso se enquadra a observação participante, na qual o pesquisador participa da situação que quer pesquisar (ex.: jogar ou exercer função técnica em uma equipe que pretende estudar). Esse tipo exige experiência e alto grau de envolvimento do pesquisador, já que ele “[...] se torna parte da situação observada, interagindo por longos períodos com os sujeitos, buscando partilhar o seu cotidiano para sentir o que significa estar naquela situação.” (ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSJNAJDER, 1999, p. 166). c) Técnicas intermediárias de observação:
Para Laville e Dionne (1999): “Entre a observação mais estruturada e a que se pretende livre, há lugar para vários modos intermediários.” (p. 182). Os autores fornecem um exemplo voltado ao esporte, que seria a observação do espírito de equipe de diferentes times de uma liga de basquetebol. O observador não necessariamente integraria a equipe, como seria no caso da observação participante. Poderia, também, não estabelecer indicadores previamente (não-estruturada), já que poderiam
ser fruto de sua observação. Por outro lado, faria suas observações em diferentes contextos, como nos jogos, treinos, vestiários etc., de onde extrairia as informações necessárias. 2) Questionário: O questionário é um instrumento de pesquisa impessoal, já que normalmente é enviado pelo correio ou Internet (pode ser enviado por email ou ser disponibilizado em ambiente virtual, dentre outras possibilidades) ou ainda, entregue diretamente aos sujeitos da pesquisa, os quais respondem sem interagir com o aplicador. Constitui-se de uma série de perguntas escolhidas em torno do objeto de estudo, que são respondidas na forma escrita. É utilizado quando se deseja atingir um maior número de pessoas, pois pode ser aplicado e analisado com maior rapidez. É mais adequado para verificar assuntos gerais (ex.: motivos de aderência à academia de ginástica), do que para aprofundar verdadeiramente um assunto (ex.: por que a academia “x” mantém o público fiel). Entretanto, como qualquer técnica, pode apresentar desvantagens. São elas: baixo índice de retorno; “a estrutura rígida impede a expressão de sentimentos” (GOLDENBERG, 2004, p.88); não pode ser aplicado em analfabetos; suas perguntas podem vir a ser mal interpretadas, sem chances de esclarecimentos. Por outro lado, pode propiciar liberdade de expressão considerandose o anonimato, além de permitir que a pessoa possa disponibilizar o tempo que quiser para respondê-lo. O questionário disponibilizado em ambiente virtual tem se constituído em opção cada vez mais utilizada devido à facilidade de acesso e de divulgação. 3) Entrevista: A entrevista é uma interação pessoal, registrada pelo entrevistador (anotada ou preferencialmente, gravada). É indicada para pequenos grupos e assuntos específicos, que dependem da habilidade do entrevistador para serem aprofundados. Normalmente é utilizada quando se deseja conhecer opiniões, percepções ou motivações dos sujeitos envolvidos na pesquisa. As informações podem ser complementadas, aprofundadas ou checadas na hora, o que possibilita ampliar o
conhecimento sobre o assunto. Permite ainda flexibilidade, pois o roteiro pode ser modificado dependendo das respostas do entrevistado. Pode ser aplicada em analfabetos. Devido ao contato direto e à empatia que pode ou não se estabelecer, as respostas dependem da boa vontade do entrevistado e da desenvoltura de ambos (do entrevistador também) em conduzir a conversa. Pode gerar um material mais trabalhoso para ser analisado, pois algumas respostas são difíceis de serem comparadas. No entanto, trata-se de um ótimo instrumento para pesquisas que busquem conhecer com mais detalhe opiniões e posicionamentos das pessoas, tais como: técnicos, praticantes de esportes, professores, alunos, diretores etc. As entrevistas também podem ser estruturadas (com roteiro fechado de questões); semiestruturadas (algumas questões-chave que permitem certa abertura no momento da interação) ou não-estruturadas (quando é lançada uma pergunta que permite uma resposta ampla e, a partir daí, desenvolve-se o tema). No caso da entrevista semiestruturada, uma das mais utilizadas, Lüdorf (1995) sugere uma classificação dos entrevistados em três tipos: • Espontâneo: Aqueles que se sentem à vontade para falar e discursam logo após um estímulo do entrevistador. Normalmente dão entrevistas mais longas e, por vezes, desviam-se do assunto da pesquisa. • Controlado: Esperam a pergunta para poderem opinar, mas o fazem de maneira descontraída e fluente. • Retraído: São os mais difíceis de serem entrevistados, pois dependem unicamente das questões formuladas. Suas respostas invariavelmente são curtas e, por vezes, é necessário buscar diferentes maneiras de elaboração das perguntas.
Alguns exemplos de PM que poderiam usar a entrevista para a coleta de dados seriam: “O ensino do surfe nas praias cariocas”; “O lazer para idosos na comunidade X”; “Perfil dos professores de academias de ginástica do bairro Y”.
OBSERVAÇÃO FINAL: Convém ressaltar que, normalmente, para se apreender melhor o objeto de estudo, é importante usar mais de uma técnica de coleta de dados, ou seja, a conjugação de técnicas. Assim, a observação pode ser combinada com a aplicação de questionários ou entrevistas. Ou ainda,
a análise documental pode vir associada a entrevistas, dentre outras possibilidades. O que importa é que os instrumentos auxiliem o alcance dos objetivos da forma mais adequada e eficaz. A escolha das técnicas deve ser feita, portanto, em função de sua adequação à exploração do objeto de estudo.
TERCEIRA PARTE A MONOGRAFIA
9 DIFERENÇAS ENTRE O PROJETO DE MONOGRAFIA E A MONOGRAFIA
Espero que, ao longo dos tópicos abordados, tenha ficado clara a distinção entre o projeto de monografia e a monografia. Essa diferença necessita ficar bem entendida para que se possa evoluir, sem traumas ou complicações, para a elaboração da monografia. Quanto à forma e à estrutura, algumas diferenças merecem destaque. Para a monografia, na parte pré-textual, serão incluídos elementos33 obrigatórios, como folha de aprovação e resumo, além de outros opcionais (agradecimentos e dedicatória, como veremos posteriormente). A parte textual, por sua vez, apresentará a seguinte divisão: Introdução (a do projeto de monografia pode ser aproveitada para a monografia com alguns ajustes); Fundamentação Teórica, Procedimentos Metodológicos (se for o caso da pesquisa teóricoempírica), Apresentação e discussão dos dados (na PTE) e, finalmente, a Conclusão. Vamos tratar desses assuntos em detalhes no próximo item. Para dirimir possíveis dúvidas, elaborei um quadro comparativo (quadro 1), no qual explico e sistematizo as principais diferenças entre o PM e a monografia. PROJETO DE MONOGRAFIA
MONOGRAFIA
É o planejamento da pesquisa. Serve para esclarecer É a apresentação (formato escrito) da pesquisa executada, seja o que pesquisar, por que pesquisar, para que teórica (PT) ou teórico-empírica (PTE). pesquisar, como pesquisar. INTRODUÇÃO
Apresentação do problema, objetivos, questões, Idem. A introdução do PM pode ser aproveitada mediante justificativa, organização do estudo. ajustes. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Apresenta a divisão dos capítulos e parte da Fundamentação teórica completa. fundamentação teórica. MÉTODOS
Deve conter explicações sobre como será executada a pesquisa e a justificativa referente à escolha dos métodos. Obs.: Não é preciso apresentar o roteiro do instrumento a ser utilizado para a coleta de dados
Pode vir inserido na introdução (PT), ou receber uma seção especial (PTE). Deve conter explicações e justificativas das técnicas e procedimentos metodológicos adotados. Obs.: Roteiro do(s) instrumento(s) utilizado(s) deve(m) vir em
(questionário, entrevista, observação, testes etc.)
anexo. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na PTE, seção destinada a apresentar os r esultados e discutilos à luz da teoria.
NÃO HÁ CONCLUSÃO , pois a pesquisa ainda não Há CONCLUSÃO, com o fechamento das discussões realizadas. foi realizada! Linguagem: Utilizar os verbos no futuro quando se Podem ser utilizados verbos no passado, pois a pesquisa foi referir à pesquisa, já que a mesma está ainda por ser finalizada. feita. Regras de formatação padrão para ambos. Devem conter citações e as respectivas referências, conforme normas da ABNT ou outra adotada..
QUADRO 1 - DIFERENÇAS ENTRE O PROJETO DE MONOGRAFIA E A MONOGRAFIA FONTE: A autora
10 A ESTRUTURA DA MONOGRAFIA
Anteriormente, destinamos um capítulo apenas para tratar da estrutura do PM. Quanto à monografia, apesar de seguir as mesmas normas, alguns aspectos devem ser incluídos e/ou modificados. Vejamos, a seguir, como a monografia deve ser estruturada:
10.1 Elementos pré-textuais a) Capa e Folha de Rosto:
Seguem as mesmas orientações do PM, devendo ser modificada apenas a natureza do trabalho (ex. Monografia de Conclusão do Curso de Licenciatura - ou Bacharelado - em Educação Física). b) Folha de Aprovação:
Elemento obrigatório, incluído após a Folha de Rosto. É uma folha normalmente padronizada pela instituição, que inclui os seguintes dados: → Autoria → Título do trabalho e subtítulo (se houver) → Natureza (Ex.: Monografia) → Objetivo (Ex.: Conclusão de Curso) → Nome da instituição a que é submetida → Data de aprovação → Titulação: (Ex.: Grau de Licenciado ou de Bacharel em Educação Física) → Nomes e assinaturas dos membros componentes da banca examinadora e do professor orientador; c) Dedicatória e Agradecimentos:
São itens opcionais, normalmente utilizados na monografia e devem ser colocados em folhas separadas, nessa ordem, após a Folha de Rosto. d) Resumo:
Resumo é elemento obrigatório que significa: “[...] apresentação concisa dos pontos relevantes de um texto [...]” (ABNT, 2011, p.14). Consiste em uma breve síntese da pesquisa, com informações relativas ao problema ou objeto de estudo, objetivos, metodologia, resultados e conclusões. Deve ser escrito em parágrafo único e conter, no máximo, 500 palavras. No início devem constar os seguintes dados: Título, autores e orientador (a). Logo abaixo, em campo específico conforme modelo, devem ser colocados os descritores34 ou palavras-chave (normalmente três), ou seja, palavras que representem o conteúdo abordado. e) Listas de ilustrações:
Relação das ilustrações que aparecem no texto, elaboradas de acordo com a ordem e título com o qual são apresentadas no texto, acompanhado do respectivo número da página. As ilustrações podem ser gráficos, esquemas, fotografias, desenhos etc. f) Lista de tabelas:
Também opcional e elaborada no caso de se usar tabelas no transcorrer do texto. Da mesma forma, apresentar a relação com sua ordem, título e página. g) Sumário:
É a relação dos capítulos e seções do trabalho na ordem em que aparecem, com suas respectivas páginas.
10.2 Elementos textuais A estrutura da monografia é bastante similar à do PM, principalmente em virtude da utilização de nomenclaturas semelhantes – uma das vantagens que enunciei no início deste livro. Sugiro uma estrutura básica de organização da monografia, enfatizando que não se trata de uma imposição, mas de manter a coerência com o que vem sendo apresentado. Farei uma distinção entre a Monografia Teórica e a Monografia Teórico-empírica, para facilitar. No caso da Monografia Teórica, ficaria assim: INTRODUÇÃO:
A introdução feita para o PM pode ser adaptada para a da monografia. Os elementos básicos continuam os mesmos: contextualização, delimitação do estudo, objetivos, questões ou hipóteses35, justificativa/importância do estudo e organização do estudo. A novidade refere-se à inclusão do que havia sido colocado no Esboço de Metodologia (desenvolvido separadamente no PM), após a justificativa do estudo, no caso da monografia teórica. Na monografia teórico-empírica, permanece a necessidade de abrir uma seção específica para a descrição dos procedimentos metodológicos adotados. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA (ou Revisão de Literatura): Compreende os capítulos teóricos, possivelmente acompanhando a estrutura já desenvolvida por ocasião do PM. Antes uma primeira aproximação aos autores, na monografia o conteúdo teórico deve ser revisto e aprofundado. CONCLUSÃO: É o fechamento das ideias apresentadas no decorrer do estudo. Devem ser ressaltados os principais resultados e as conclusões acerca da pesquisa empreendida. É também um espaço para as críticas e eventuais sugestões do autor (a). Já na Monografia Teórico-empírica, há uma variação na estrutura, haja vista a coleta de dados que foi efetuada. Há necessidade, então, de descrever os métodos utilizados e os resultados alcançados. Vejamos como ficaria: INTRODUÇÃO: A introdução seguirá a mesma estrutura do PM e comentada anteriormente. No caso da monografia teórico-empírica, as informações sobre a metodologia virão em seção separada, como poderá ser visto. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA (ou Revisão de Literatura): Da mesma maneira que na monografia teórica, os capítulos serão apresentados a partir da revisão de literatura efetuada. METODOLOGIA: Essa seção segue o padrão do Esboço de Metodologia do PM. A diferença é que a investigação já foi efetuada, então, deve-se descrever
e justificar: tipo de estudo, métodos e técnicas utilizados na coleta de dados, amostra, local, procedimentos adotados e forma de análise dos dados. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS ou RESULTADOS E DISCUSSÃO: Nesta parte são apresentados os resultados encontrados após a coleta dos dados. Além disso, são realizadas a análise e a discussão dos dados, em cotejo com a literatura. CONCLUSÃO: Deve ser elaborada no mesmo molde das orientações relativas à monografia teórica. Apresenta os resultados principais obtidos na coleta de dados e o que representam para a área de Educação Física, na temática estudada. O autor deve apresentar uma análise crítica e também, sugerir outros estudos que possam vir a ser efetuados sobre o assunto.
10.3 Elementos pós-textuais Em relação ao PM, há pequenas alterações nos elementos póstextuais. a) Referências: b) Anexos:
Elemento opcional. No caso da monografia teórico-empírica, alguns documentos podem ser incluídos em anexo, tais como: modelo da técnica de coleta de dados utilizada (ex.: roteiro de entrevista ou de observação, questionário ou teste específico), Termo de Consentimento etc. c) Instrumento de Avaliação da Monografia:
Em algumas instituições, uma ficha de avaliação da monografia é incluída ao final da encadernação, como última página da monografia.
11 A CONTINUAÇÃO DO PM, A MONOGRAFIA
Muito bem! O seu Projeto de Monografia já foi finalizado e espero que tenha recebido uma boa nota. Mas o mais importante é saber se você se envolveu com o estudo e se está motivado a continuar. Pois agora, chegou o momento de colocar em prática o planejamento realizado durante a elaboração do PM e encarar o desafio da construção da monografia. Esta é, normalmente, uma fase de dúvidas para os alunos, pois não sabem exatamente como proceder para que o PM evolua para uma monografia. É importante que você já tenha se encaminhado, ou ao menos, contatado, um professor orientador. Esse docente será figura fundamental para o desenrolar do processo. A escolha do orientador deve ser feita em função de alguns aspectos, tais como: conhecimento sobre o assunto abordado, disponibilidade para orientação, respeito e empatia. O bom relacionamento entre aluno e professor orientador é fundamental, já que a relação será de maior proximidade e deve haver espaço para a constante discussão das ideias. Embora os orientadores possam expressar opiniões divergentes em relação à melhor forma de andamento da monografia, sugiro, de forma geral, dois encaminhamentos para este momento da transição. A escolha por qual caminho seguir deverá ser baseada no tipo de pesquisa que se pretende realizar. Anteriormente, destaquei dois tipos de pesquisa – a teórica e a teórico-empírica. Vamos ver como será a trajetória para cada uma delas:
11.1 A elaboração da Monografia Teórica Se você seguiu os passos sugeridos na elaboração do PM, já deve ter feito um bom levantamento bibliográfico. Independentemente da qualidade desse levantamento, provavelmente você não conseguiu ler todo o material, ou sequer tê-lo todo em mãos, já que algumas referências são mais difíceis de serem localizadas. De qualquer forma, é importante complementar a lista das referências
bibliográficas e eletrônicas, aprofundando a busca na biblioteca e/ou Internet, além das novas indicações de seu orientador ou de outros professores. Para a monografia, sua fundamentação teórica deverá ser enriquecida e aprofundada. Leia atentamente todo o material e faça as devidas anotações. A prática de realizar fichamento para cada artigo ou livro que ler é muito importante. Existem várias formas de realizar essa documentação, que é algo pessoal, ou seja, você pode escolher a que melhor se adequa ao seu estilo e que possa te ajudar no momento da elaboração da monografia. Você pode realizar uma síntese ou resumo, destacar os trechos fundamentais, realizar observações, fazer o fichamento no caderno ou no computador (ou outro equipamento), ou ainda desenvolver uma maneira própria de realizar essa documentação. O que, a princípio, poderá aparentar perda de tempo, na verdade, será um ganho mais adiante, pois com o material fichado, consegue-se recorrer a ele com mais rapidez quando necessário, localizar o trecho que interessa e, principalmente, desenvolver uma maneira de se estudar. É comum que as ideias e teorias sejam difíceis de serem apresentadas no projeto, pois não se tem ainda uma noção da dimensão do assunto. Mas ao ler mais e mais, você conseguirá ampliar tanto o volume de leituras como o nível de conhecimento sobre o assunto. O que parecia difícil antes se torna mais coerente e, de posse das informações, ao conhecer melhor as diversas tendências de estudo acerca do seu assunto, sua capacidade de elaboração se ampliará. Você deverá, então, continuar a desenvolver os capítulos já iniciados. Pode ocorrer, também, de querer incluir ou modificar algum item, ou vários. Aliás, é muito natural que surjam dúvidas e questionamentos na medida em que você passa a conhecer mais acerca do tema. Isto é bastante saudável e faz parte do desenvolvimento de sua capacidade crítica, uma das funções da pesquisa. As dúvidas que porventura surgirem devem ser discutidas com o orientador para que seja dado um encaminhamento adequado. Considero a escrita de qualquer trabalho um verdadeiro quebracabeça. Através da pesquisa bibliográfica, lidamos com diversas fontes.
Ao iniciar as leituras, começamos a entender melhor do assunto, a ver como as ideias podem ser relacionadas, as peças encaixadas e, aos poucos, começamos a juntá-las em grupos que fazem sentido. Esses serão, provavelmente, os capítulos teóricos. Finalmente, será possível ter uma visão do todo, que se configurará na monografia. Durante esse processo, você notará que suas opiniões começarão a fluir, ou seja, você passará da simples “cópia” para uma fase além, qual seja, construir argumentação para criticar o que foi lido. Será possível emitir opiniões fundamentadas e, principalmente, avançar em termos teóricos. Esta, a outra função da pesquisa! Pronto! Se você conseguiu chegar nesse ponto, provavelmente sua monografia estará quase completa. Como mencionei anteriormente, além de aprofundar a Fundamentação Teórica, você terá que elaborar a Conclusão do trabalho, algo que não havia sido feito ainda por ocasião do PM. A Conclusão é o momento de recuperar os principais aspectos abordados na monografia, fechar as ideias principais, “costurar” os capítulos desenvolvidos. Observe se os objetivos enunciados na Introdução foram atingidos, se suas suspeitas se confirmaram ou não, se a resposta para o seu problema foi alcançada. Faça comentários críticos acerca de seus achados. Nessas considerações finais, há também espaço para se fazer sugestões que venham a contribuir para a área da Educação Física. E o Esboço de Metodologia? Como sua pesquisa foi teórica, não há necessidade de manter uma parte específica destinada a esse aspecto. Exijo o Esboço de Metodologia no PM para que o aluno se familiarize com os termos e saiba do que se trata. Na monografia, entretanto, é melhor incorporar as informações metodológicas essenciais na própria Introdução, como visto no capítulo anterior.
11.2 A elaboração da Monografia Teórico-empírica No caso da monografia teórico-empírica, além dos passos mencionados quanto ao levantamento das fontes e enriquecimento da Fundamentação Teórica, a coleta de dados deverá ser realizada. Chegou a hora de buscar a resposta, na prática, para o seu problema
enunciado na Introdução. O Esboço de Metodologia deve ser revisto sob supervisão do professor orientador, para que os instrumentos sejam adequadamente escolhidos e, posteriormente, aplicados. Juntos, vocês realizarão ajustes para a escolha da amostra e das técnicas de coleta de dados, levando-se em consideração critérios de viabilidade, tais como tempo, recursos, estrutura disponível etc. O que antes era apenas um Esboço de Metodologia se transformará na seção de Metodologia. Como a pesquisa já foi realizada, além dos aspectos comentados, poderão ser descritas as dificuldades encontradas e possíveis observações que possam ser úteis aos colegas que, eventualmente, virão a reproduzir estudo semelhante. Supondo que essas etapas tenham sido cumpridas, a coleta dos dados poderá ser efetivada. No entanto, a operacionalização da pesquisa merece um cuidado especial, como a eventual necessidade de um estudo piloto. Nesse sentido, o próximo capítulo abordará em mais detalhes essa parte da pesquisa. Uma vez concluída a coleta dos dados, esses devem ser analisados, apresentados e, por fim, discutidos. É quando você terá oportunidade de dialogar com a teoria explanada na Fundamentação Teórica. Será que seus dados apresentam inovações perante os estudos já mencionados? Estão de acordo ou são diferentes dos apresentados em outros estudos? Confirmam ou não suas suspeitas (ou hipótese) iniciais? Essa é a novidade do seu trabalho, uma vez que são os dados primários, derivados de sua investigação. Para mostrar então, o que você verificou na prática, como vimos anteriormente na estrutura da monografia, será necessário criar uma seção específica para a Apresentação e Discussão dos Dados (ou Resultados e Discussão). Da mesma forma que a Pesquisa Teórica, a Pesquisa teóricoempírica deve apresentar uma conclusão. Nestes comentários finais é fundamental que as questões iniciais sejam respondidas e que seja feita uma síntese crítica dos resultados alcançados. A conclusão, basicamente, é constituída de alguns elementos: fechamento das ideias, resumo dos resultados obtidos, comentários finais e sugestões de novos estudos. A monografia, pelo caráter de iniciação científica, não precisa ser uma
pesquisa de grande abrangência. No entanto, qualquer estudo deve ser bem fundamentado, possuir uma discussão atualizada e crítica, além de seguir certos procedimentos éticos e metodológicos. Comentarei brevemente sobre estes nos próximos capítulos.
12 A OPERACIONALIZAÇÃO DA COLETA DE DADOS
A operacionalização da coleta de dados deve ser cercada de cuidados. Não adianta querer se adiantar nessa parte, achando que estará ganhando tempo e fazê-la sem supervisão. Esse erro pode causar uma série de transtornos, dentre eles, a perda dos dados e a impossibilidade de refazer a coleta no mesmo local ou com os mesmos sujeitos. O planejamento cuidadoso da coleta de dados e a realização de um estudo piloto podem economizar e otimizar trabalho e tempo. O estudopiloto é a aplicação prévia da(s) técnica(s) em uma amostra menor, mas com características semelhantes ao que se deseja. Para Janesick (1994), o estudo-piloto pode auxiliar o pesquisador de diversas formas, já que permite testar o instrumento e sua adequação, além de alertar para determinados aspectos quanto à forma da pesquisa que poderiam não estar claros ou aparentes previamente. “Portanto, o tempo investido em um estudo piloto pode ser válido e enriquecedor para as fases posteriores da pesquisa.” (p. 213). Este processo é feito também para que se familiarizar com os procedimentos, checar o nível de compreensão por parte dos pesquisados e assim, identificar e evitar possíveis problemas que possam vir a comprometer a investigação futura. No caso de serem detectadas falhas, ainda há tempo de realizar alterações. Já me deparei com casos de alunos que fizeram a pesquisa sem a devida orientação, aplicando questionários ou realizando entrevistas, com roteiros por eles elaborados, e que, posteriormente, se viram diante de problemas que inviabilizaram o estudo. Vejamos alguns exemplos de condutas que já vi ocorrerem por falta de orientação e que poderiam ser evitadas: • Ao utilizar entrevistas, as questões formuladas não eram adequadas aos objetivos da pesquisa, ou seja, não foi possível saber o que se pretendia inicialmente e faltaram informações preciosas; • Em outro, no qual foram aplicados questionários, parte do público era analfabeto e não conseguiu preencher ou compreender as questões propostas; • A utilização de perguntas indutivas também é um problema recorrente. Por exemplo: “Qual a
importância da educação física para você?”. Ora, já se pensará na importância, mesmo que não tenha, certo? • Ao aproveitarem o local de trabalho para empreenderem uma pesquisa, alguns alunos se adiantaram na aplicação de determinados programas de treinamento, sem que tenha sido feito um pré-teste ou acompanhamento sistematizado e/ou controle de variáveis que pudessem influenciar o desempenho dos alunos. Os resultados ficaram totalmente comprometidos.
Por estes e outros motivos, recomendo os seguintes procedimentos antes de efetivar a coleta de dados: I. Selecione e discuta com o orientador a(s) técnica(s) de coleta de dados mais apropriada(s) ao seu estudo. II. Atente para os cuidados éticos36 que devem ser tomados em relação a pesquisas com seres humanos. III. Se for utilizar um instrumento já validado (por ex., um teste de aptidão física) certifique-se dos procedimentos metodológicos que devem ser adotados na aplicação do mesmo e cumpra todas as orientações. IV. Se for o caso de criar um instrumento, como por exemplo, um roteiro de entrevista ou um modelo de questionário, é fundamental realizar o processo de validação, que consiste nas seguintes etapas: a) Elabore um modelo prévio após analisar os objetivos do estudo e discutir as ideias com o seu orientador. b) Submeta esse modelo à análise de especialistas (professores ligados ao assunto da pesquisa e/ou ligados à metodologia científica). Sugiro que seja enviado a três professores, juntamente com uma breve explanação do que se pretende estudar, bem como os objetivos de seu estudo e caracterização da amostra. c) Solicite que cada professor avalie o instrumento e a adequação aos objetivos da pesquisa. d) Reformule o instrumento, baseando-se nas críticas e sugestões recebidas. e) Faça o estudo-piloto, realizando a aplicação do instrumento a alguns sujeitos com característica semelhante à da amostra, para se certificar da adequação do instrumento aos seus objetivos. Avalie o resultado com seu orientador e, caso ainda note lacunas e falhas, reformule-o. f) Uma vez tendo obtido resultados satisfatórios no estudo-piloto, discuta-os com o orientador. Provavelmente, a aplicação em sua amostra já poderá ser viabilizada.
Essa trajetória de construção e validação do instrumento, assim como as eventuais dificuldades encontradas devem ser descritas sinteticamente na seção referente à Metodologia, com vistas a esclarecer o leitor acerca dos procedimentos adotados. Assim que o projeto de sua pesquisa for finalizado, converse com o professor orientador sobre os procedimentos éticos a serem adotados, como a criação de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e aprovação em Comitê de Ética em Pesquisa – assunto a ser tratado no próximo capítulo.
Espera-se, com estes passos, garantir que sua pesquisa seja confiável e que atenda a um dos critérios de cientificidade expostos ainda na primeira parte deste livro, qual seja o de que o estudo seja claro o suficiente para que possa ser verificado ou contestado.
13 QUESTÕES ÉTICAS LIGADAS À PESQUISA
Questões éticas ligadas à pesquisa devem ser de conhecimento de todos aqueles envolvidos no ambiente acadêmico-científico. Obviamente que um trabalho de conclusão de curso não possui as dimensões de uma dissertação de Mestrado ou tese de Doutorado, que podem estar relacionadas a um projeto mais amplo de pesquisa, com entidades financiadoras etc., mas aspectos éticos se aplicam em quaisquer circunstâncias. Ainda que a monografia não esteja necessariamente vinculada a um projeto específico de pesquisa, reforço que a sua elaboração deve ser supervisionada pelo professor orientador em todos os aspectos e, necessariamente, os éticos. A seguir, abordarei alguns aspectos éticos relacionados à investigação que envolve seres humanos, assim como à execução e divulgação da pesquisa.
13.1 Pesquisas com seres humanos Normalmente, pesquisas teórico-empíricas na área de Educação Física envolvem seres humanos. Dependendo do problema da pesquisa ou da abordagem que será feita, a coleta de dados incluirá adultos (tais como: praticantes de atividade física, professores, diretores, coordenadores etc.) ou crianças e eventualmente adolescentes (alunos, atletas etc.). Vejamos alguns exemplos: • • • • •
Aplicação de diferentes métodos de ganho de força para comparação de resultados; Estudo sobre a influência da hidroginástica na redução do percentual de gordura; Concepções de corpo na Educação Física Escolar do ensino fundamental Diferentes estilos de ensino nas aulas de futebol e repercussões para o aprendizado; A contração muscular do abdome em diferentes angulações: estudo eletromiográfico.
Nestes casos, há uma regulamentação específica que deve ser observada, cujos pontos principais serão apresentados. Aspectos éticos relacionados a pesquisas na área da Saúde que envolvem seres humanos estão regulados pelas Diretrizes e Normas de Pesquisa em Seres Humanos. Inicialmente orientadas pela Resolução
196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS,1996), as diretrizes foram atualizadas pela Resolução 466/12 (CNS, 2012) que assim se refere ao Sistema CEP/Concep: VII – DO SISTEMA CEP/Conep É integrado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa - Conep/CNS/MS do Conselho Nacional de Saúde e pelos Comitês de Ética em Pesquisa – CEP compondo um sistema que utiliza mecanismos, ferramentas e instrumentos próprios de inter-relação, num trabalho cooperativo que visa, especialmente, à proteção dos participantes de pesquisa do Brasil, de forma coordenada e descentralizada por meio de um processo de acreditação. VII.1 - Pesquisas envolvendo seres humanos devem ser submetidas à apreciação do Sistema CEP/Conep, que, ao analisar e decidir, se torna corresponsável por garantir a proteção dos participantes. (CNS, 2012)
Conforme o Conselho Nacional de Saúde (1996; 2012), há quatro referenciais fundamentais de bioética: a) Autonomia: A pesquisa somente poderá ocorrer por meio de consentimento livre e esclarecido dos sujeitos, os quais devem ser tratados com dignidade e ter sua autonomia respeitada; b) Beneficência: A pesquisa deve promover o máximo de benefícios e o mínimo de danos e riscos; c) Não-maleficência: Garantia de que danos previsíveis serão evitados; d) Justiça e equidade: Relevância social da pesquisa e destinação sócio-humanitária;
Um dos elementos primordiais das investigações com seres humanos é o Processo de Consentimento Livre e Esclarecido. Vejamos do que se trata, conforme a Resolução 466/12 do CNS: O respeito devido à dignidade humana exige que toda pesquisa se processe com consentimento livre e esclarecido dos participantes, indivíduos ou grupos que, por si e/ou por seus representantes legais, manifestem a sua anuência à participação na pesquisa. Entende-se por Processo de Consentimento Livre e Esclarecido todas as etapas a serem necessariamente observadas para que o convidado a participar de uma pesquisa possa se manifestar, de forma autônoma, consciente, livre e esclarecida. (CNS, 2012)
Parte integrante deste processo é o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), em linhas gerais, um termo em que são explicitados os objetivos da investigação e as condições de participação, em detalhes, obedecendo aos princípios estabelecidos na mencionada resolução. Deve ser redigido em linguagem clara e acessível de modo que o eventual participante conheça exatamente do que trata a pesquisa, quais os procedimentos a serem realizados, bem como lhe
sejam garantidos sigilo e privacidade, dentre outros aspectos cruciais para a decisão de aceitar ou não participar, ou até mesmo desistir, se quiser. Atualmente a submissão dos projetos de pesquisa é realizada pela Plataforma BRASIL37, “o sistema oficial de lançamento de pesquisas para análise e monitoramento do Sistema CEP/Conep.” (CNS, 2012). Para submeter o projeto de pesquisa, é necessário realizar o cadastro na plataforma e, então, inserir todas as informações solicitadas acerca do estudo que se pretende desenvolver. Além do TCLE, é importante obter autorização formal das instituições e dos sujeitos de pesquisa envolvidos no estudo, ou outros documentos, a depender do caso, que serão inseridos também nessa Plataforma. Uma vez cadastrado e enviado, o projeto de pesquisa e a documentação anexada serão encaminhados a um Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), já associado à instituição da qual o pesquisador faz parte. De acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos 38 (Sisnep, 2017), a Plataforma BRASIL é uma base nacional e unificada de registros de pesquisas em meio digital, que permite o acompanhamento em seus diferentes estágios, da submissão e aprovação final até o envio de relatórios. Esse sistema permite mais agilidade e transparência ao processo. É importante destacar que os procedimentos necessários à aprovação em Comitês de Ética seguem as normas de estudos com enfoque biomédico. Contudo, esforços vêm sendo realizados para se considerar as particularidades de pesquisas realizadas com base nas ciências humanas e sociais. Um deles foi a constituição do Grupo de Trabalho em Ciências Humanas e Sociais da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (GT CHS/Conep), que culminou com a aprovação, pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS), da Resolução nº 510 de 07 de Abril de 2016 sobre normas aplicáveis a pesquisas em Ciências Humanas e Sociais (GUERRIERO, 2016). Ressalte-se que qualquer pesquisa teórico-empírica deve ser realizada apenas com a supervisão do professor orientador.
Normalmente, pesquisadores experientes já possuem amplo conhecimento das diretrizes e normas reguladoras deste tipo de investigação. Portanto, não hesite em procurá-los, além de ler os tutoriais, encontrados facilmente nos sites institucionais mencionados.
13.2 Execução da pesquisa e divulgação científica Além dos cuidados éticos na execução da pesquisa, conforme visto, o envolvimento e responsabilidade do pesquisador sobre a mesma não se encerra com a finalização da investigação. Uma das etapas fundamentais da pesquisa é justamente levar ao conhecimento da comunidade os resultados alcançados, o que seria a divulgação científica. Pode ser realizada de várias formas, dentre as quais, a apresentação de trabalhos em eventos científicos (congressos, simpósios etc.) ou a publicação de artigos ou de livros. Nesse percurso de execução e divulgação da pesquisa, Thomas, Nelson e Silverman (2012) destacam algumas áreas onde a “desonestidade científica” poderia ocorrer. Seriam elas: • Plágio39: utilizar ideias como se fossem suas, sem dar o crédito devido aos autores; • Fabricação e falsificação de dados: criar/inventar dados ou modificá-los à revelia do que foi coletado; • Não publicação de dados: não inclusão de alguns dados quando estes não sustentam o resultado desejado; • Procedimentos falhos de coleta de dados: não considerar problemas na condução da pesquisa que viriam a comprometer os resultados; • Retenção e armazenamento inadequado de dados: os dados devem ser mantidos originais e disponibilizados para análise, caso se faça necessário; • Problemas de autoria: para casos de projetos de pesquisa em conjunto, a autoria principal deve ser baseada no nível de contribuição dado pelo pesquisador; • Práticas duvidosas de publicação: envolvendo autoria e coautoria de trabalhos acadêmicos em que a participação não tenha sido efetiva;
Incorrer em algum destes erros pode ser penoso não apenas no aspecto pessoal, mas profissional também. Nesse sentido, é fundamental que noções de ética e de integridade científica sejam apresentadas e trabalhadas desde a iniciação científica, não apenas relacionadas à elaboração da pesquisa e divulgação de seus resultados, mas pensando na formação dos futuros professores, profissionais e pesquisadores. Nesse contexto, quaisquer dificuldades, especialmente na coleta e
divulgação dos dados, devem ser sempre discutidas com o professor orientador, a fim de que possam ser tomadas medidas para não comprometer a investigação. É importante, sim, que você tenha autonomia de trabalho e seja empreendedor, mas todos estamos sujeitos a imprevistos e falhas. Não hesite em buscar orientação caso sinta necessidade!
14 A FINALIZAÇÃO DA MONOGRAFIA
A escrita é uma forma de organização “física” da ebulição intelectual e, até que se elabore a última versão de seu trabalho, muitas modificações serão feitas. O PM, assim como a monografia serão escritos gradualmente, ou melhor, construídos pouco a pouco. Organize-se em relação às datas, elabore um cronograma e procure cumpri-lo, considerando certa folga para a entrega da monografia. Independentemente do tipo de pesquisa, faça um cronograma onde sejam colocadas as principais etapas a serem cumpridas e respectivos prazos. É melhor trabalhar com objetivos e datas pré-definidos, mas preparese para os imprevistos. Não raro há problemas na coleta de dados (dificuldade de contato, autorização e aplicação dos instrumentos etc.) ou com o computador (perda de arquivos, falta de tinta na impressora, vírus etc.). Ainda há outros elementos que demandam tempo e organização, nem sempre lembrados na hora de esboçar o cronograma. A análise dos dados deve ser realizada com atenção e cautela, além de ser necessário retomar as leituras efetuadas e outras. Questões relativas à formatação costumam gerar dúvidas ou ainda, ser dificultadas a depender da versão ou programas utilizados. Não se esqueça de que o seu professor orientador também poderá estar bastante ocupado e demorar nas correções! Por isso, planeje-se com antecedência e mantenha sempre cópias de segurança dos arquivos. Sugiro que você se programe para entregar uma versão (quase) final ao seu orientador com prazo hábil para que possam ser feitos eventuais ajustes. Chamo essa versão de “rascunhão” e vale tanto para o PM como para a monografia. Procure entregá-la já na formatação requerida. Mas antes, atente para os erros típicos que mencionarei na quarta parte do livro.
Observe também se houve ligação entre as partes e se os objetivos enunciados inicialmente foram efetivamente alcançados. Isso é fundamental! Lembre-se que, embora qualquer trabalho seja construído por partes, é importante a visão do todo, para que haja coerência de forma geral. Viu como não é tão complicado como você imaginava? Cumprindo estas etapas, sua monografia estará pronta!
14.1 O Título do PM e da Monografia Quando você seleciona um livro para ler, geralmente o faz por meio do título. Aquele conjunto de palavras comporta significados que o levam a se interessar pelo assunto. Conforme a ABNT (2002b), título é “Palavra, expressão ou frase que designa o assunto ou conteúdo de um documento.”(p.2). Os eventuais leitores do seu trabalho buscarão no título informações prévias sobre o que será abordado. Por esta razão, é importante que a escolha seja adequada aos objetivos do seu estudo. Nada mais desagradável do que ver um título interessante e, após terminar a leitura do projeto ou da monografia, descobrir que não foi tratado o assunto que se esperava. Já recebi, por exemplo, trabalhos que se referiam a idosos e atividade física e, ao terminar a leitura, pouquíssima menção havia sido feita ao idoso. Nesse caso, por que especificar no título? É importante manter a coerência ao longo do PM, a começar pela escolha do título. Afinal, o assunto que aparece na capa deverá ser apresentado na introdução, fundamentado e analisado no decorrer do trabalho e ser respondido na conclusão. Em outras palavras, é o fio condutor da discussão a ser empreendida no PM e na monografia. Recomendo, de modo a facilitar a adequação, que se experimentem vários títulos durante a elaboração do PM antes de se definir. Aliás, a escolha final deve ser feita somente quando o trabalho estiver pronto. Embora a escolha seja pessoal, busque outras opiniões, principalmente do professor orientador, que já conhece o seu trabalho. Preocupe-se em colocar frases portadoras de sentido que tenham vinculação direta com seu problema de estudo. É comum colocar um
título mais geral e, a seguir, um subtítulo, com o intuito de esclarecê-lo ou complementá-lo. Por fim, faça um teste: mostre o título do seu PM a alguém de fora do contexto acadêmico, que desconheça o seu projeto. Se, pelo título, a pessoa conseguir identificar seu assunto, está tudo bem. Senão... tente outro!
QUARTA PARTE INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES À ELABORAÇÃO DO DO PROJETO DE MONOGRAFIA E DA MONOGRAFIA
15 A FORMATAÇÃO DO PROJETO DE MONOGRAFIA E DA MONOGRAFIA
Apresento, neste capítulo, informações gerais referentes à apresentação do PM e da Monografia, incluindo explicações básicas acerca das citações e das referências. Os dados são baseados nas normas mais recentes da ABNT40 e que, a princípio, podem nortear a elaboração de qualquer trabalho acadêmico.
15.1 Dados Gerais • Folha A4:
Letra tamanho 12, Times New Roman ou Arial. Espaço 1,5 entrelinhas, alinhamento justificado, com parágrafos normais. • Margens:
Esquerda e superior = 3,0 cm; direita e inferior = 2,0 cm. • Paginação:
O número deve ser posicionado no canto superior direito. A capa não conta para numeração, mas todas as folhas pré-textuais do trabalho, a partir da folha de rosto, devem ser contadas sequencialmente, mas não numeradas. A numeração aparece a partir do início da parte textual (Introdução). • Títulos dos elementos pré-textuais, textuais e pós-textuais:
Devem ser escritos com letras maiúsculas, tamanho 14 e em negrito. Devem estar centralizados e serem colocados sempre no início da página. (Ex.: SUMÁRIO, RESUMO, INTRODUÇÃO, REFERÊNCIAS etc.). • Títulos dos capítulos ou seções:
Normalmente, os títulos dos capítulos teóricos são precedidos por numeração e devem estar alinhados à esquerda, podendo ser usados recursos de negrito, itálico ou grifo. Caso haja necessidade, cada capítulo pode comportar seções (1.1, 1.2, ...), ou sub-seções (1.1.1, 1.1.2,...).
Pode ocorrer que na monografia haja outra forma de organização além da sugerida, decidida em comum acordo com o professor orientador e o aluno, ou ainda, particular de determinada instituição. Neste caso, basta adaptar a forma de apresentação dos elementos. • Referências:
Devem ser colocadas em folha separada (obedecendo à formatação referente aos títulos das partes), em ordem alfabética por sobrenome do autor, autor, conforme as normas nor mas da ABNT (2002b). • Redação:
Para a redação do PM e da monografia, é melhor utilizar a forma impessoal. Atente para o fato de que os tempos verbais se modificam, quando se referir à pesquisa. No PM, pelo fato de ser o planejamento da pesquisa, serão utilizadas frases como: Ex.: A pesquisa será realizada... Pretende-se desvendar ... Os procedimentos metodológicos a serem adotados ... Já em relação à monografia, uma vez que a pesquisa já foi concluída, podem ser utilizados verbos no passado. Ex.: A pesquisa demonstrou que... Os resultados apontaram para ... Verificou-se que ...
15.2 Citações Uma das características mais marcantes de um trabalho científico é a utilização de citações no corpo do texto. A citação é a informação ou ideia retirada dos documentos (fontes) pesquisados que serve para esclarecer, esclarecer, ilustrar, fundamentar ou sustentar o que está sendo afirmado. Quando bem empregada, enriquece o texto e demonstra o conhecimento do pesquisador sobre o assunto. Existem várias formas de se fazer citações, dentre elas, destacam-se: a) Direta:
Quando é extraído um trecho literal, copiado fielmente do original. Neste caso é obrigatório colocar sobrenome e ano da obra, além da página. As citações diretas podem ser de dois tipos, conforme o número de linhas: a.1) Até três linhas:
Aparece incorporada ao texto, entre aspas. Ex.: Gaya (2008) argumenta que “[...] as ciências do movimento humano constituem um campo de saber científico que exige uma abordagem complexa [...].” (p. 45). Obs.: Utilizar [...] no caso de omissões. a.2) Mais de três linhas:
Devem ser destacadas com recuo de 4 cm da margem esquerda, com letra tamanho 10 e espaçamento simples. Não há necessidade de colocar entre aspas. Ex.: De acordo com Lüdorf (2009): O professor de Educação Física vê-se a todo tempo envolvido com técnicas corporais e com a cultura do corpo nos mais variados ambientes, como: escola, academia de ginástica, clube, universidade e demais espaços sociais. Mais do que uma atuação de cunho essencialmente técnico, o professor de Educação Física é um educador, à medida que desempenha um papel formativo e contribui, em sua prática pedagógica, para a formação de valores socioculturais, subjetivos e políticos. (p. 100) b) Indireta:
Quando a ideia do autor é reproduzida com outras palavras, sem modificar o sentido. Coloca-se sobrenome e ano da obra. Se o sobrenome do autor vier incorporado à frase, utilizam-se letras maiúscula e minúscula (exemplo b.1). Já, se o sobrenome vier entre parênteses, deve ser todo escrito em letras maiúsculas (exemplo b.2): Ex. b.1) Vigarello (2003) afirma que entre os anos de 1810 e 1820 ocorreu uma profunda modificação nas visões de corpo e da prática de exercícios físicos. Ex. b.2) Entre os anos de 1810 a 1820 ocorreu uma profunda modificação nas visões de corpo e da prática de exercícios físicos (VIGARELLO, 2003). c) Citação de citação ou secundária:
Quando se quer extrair uma citação feita pelo autor do documento, ou seja, secundária. Normalmente é usada quando não se tem acesso à fonte original, mas deve ser utilizada como última opção. Nesse caso, colocar o nome do autor original (citado) e ano da obra, e utilizar citado por (ou apud) nome do autor da obra consultada (do livro ou artigo que está sendo lido). Ex.: Martens (1987) citado por Thomas, Nelson e Silverman (2012), sugeriu que o conhecimento seja entendido como um continuum rotulado de “graus do conhecimento”, desde o “não sei” ao “totalmente confiável”. DICAS DE UTILIZAÇÃO: • As citações devem ser bem articuladas com o raciocínio desenvolvido e ter ligação direta com o assunto tratado. • Utilizar com bom senso, procurando variar quanto às formas de fazê-las. • Evitar emendar uma citação à outra, copiando trechos e mais trechos (“poluição”). Procure demonstrar sua capacidade argumentativa e de organização das ideias, personalizando seu trabalho e não apenas copiando.
15.3 Referências Na elaboração de qualquer trabalho acadêmico, são necessárias fontes de consulta. Dentre o material selecionado (livros, artigos de periódicos, documentos oficiais etc.), aquele que for efetivamente utilizado para a construção do trabalho deve vir identificado através de normas específicas. Conforme a NBR 6023 da ABNT (2002b), referência é o “Conjunto padronizado de elementos descritivos, retirados de um documento, que permite sua identificação individual.” (p.2). As referências servem para orientar o leitor quanto à origem do documento utilizado no trabalho e devem conter os elementos essenciais para sua identificação. A ABNT (2002b) exige que as referências sejam alinhadas apenas à esquerda e que o recurso tipográfico (negrito, grifo ou itálico), utilizado para o destaque, seja uniforme para todas as referências de um mesmo documento. Os exemplos a seguir ilustram os tipos de referências mais utilizadas, entretanto, recomenda-se a consulta à norma completa da ABNT para mais detalhes. → Livro:
Sobrenome do autor e iniciais do nome, título (em destaque), subtítulo (se houver), edição, local (cidade), editora e ano da publicação. Ex.: BACHELARD, G. A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. 10.ed. Rio de Janeiro: Contraponto, 2013. Obs.: Se a autoria for de até três autores, todos devem ser colocados, seguindo as mesmas orientações e separados por ponto e vírgula. No caso de mais de três autores, colocar o primeiro e et. al. → Artigo de periódico:
Sobrenome do autor e iniciais do nome, título, nome do periódico (em destaque), local, volume, fascículo ou número, páginas inclusivas (início e fim), periodicidade, ano. Ex.: SILVA, A. C.; LÜDORF, S. M. A. Possíveis relações entre corpo, saúde e o envelhecimento do professor de Educação Física. Movimento, Porto Alegre, v. 18, n. 02, p. 187-204, abr/jun, 2012. BELL, M. The feel of mobility: how children use sedentary lifestyles as a site of resistance. Sport, Education and Society, London, v. 16, n. 3, p. 385-397, June, 2011. → Dissertação ou tese:
Sobrenome do autor e iniciais do nome, título do trabalho (em destaque), ano, número de folhas, natureza do Trabalho (Nível e área do curso) - Unidade de Ensino, Instituição, Local, Ano de defesa. Ex.: REI, B.D. Lutas de representações sobre o desenvolvimento de uma prática: a Educação Física escolar brasileira em revista (1976-1979). 2013. 111f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Escola de Educação Física e Desportos, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013. → Documentos:
Ex. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental.
Parâmetros Curriculares Nacionais: educação física. Brasília: MEC, 1997. → Capítulo de livro41 de coletânea de artigos:
Autor, título do capítulo. In: referência completa do livro do qual foi extraído o capítulo. Ex.: BAUER, M. W.; AARTS, B. A construção do corpus: um princípio para a coleta de dados qualitativos. In: BAUER, M. W.; GASKELL, G. (Orgs.) Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. 8. ed., Trad. Pedrinho A. Guareschi, Petrópolis, RJ: Vozes, 2010. p. 39-63. → Jornal:
Autor, título, jornal (em destaque), local de publicação, data, seção (caderno ou fascículo) e página. Ex.: CEZIMBRA, C. Novas modalidades nas academias de ginástica. O Globo, Rio de Janeiro, 23 jun. 2014. Revista O Globo, p.7. → Dissertação, tese ou trabalho de conclusão de curso :
Autor, título (em destaque), ano, número de folhas, tipo do documento (dissertação, tese, trabalho de conclusão de curso), grau, instituição, local e ano. Ex.: OLIVEIRA FILHO, C.W. A variação da acuidade visual durante esforços físicos em atletas com baixa visão. 2002. 98f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Educação Física, UNICAMP, Campinas, 2002. → Internet:
Seguir padrões anteriores (autor, título do trabalho e demais informações, dependendo do caso) e acrescentar: Disponível em: endereço de URL completo. Acesso em: 10 jan. 2017. Ex.: SANTINI, J.; MOLINA NETO, V. A síndrome do esgotamento profissional em professores de Educação Física: um estudo na rede municipal de
ensino de Porto Alegre. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte , São Paulo, v. 19, n. 3, p. 209-222, jul./set. 2005. Disponível em: . Acesso em: 19 out. 2014. → Observação:
Nas normas internacionais, anteriormente comentadas, como as editadas pela American Psychological Association (APA) ou pelo International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), os elementos essenciais são praticamente os mesmos, modificando-se a ordem e/ou a forma de apresentação.
LEMBRE-SE: • Um mesmo padrão deve ser utilizado para todo o trabalho, constituindo um grave erro a mistura das diferentes normas. • Os exemplos citados são apenas os das fontes mais utilizadas. Para mais informações, recorrer à NBR 6023 (2002b).
16 DICAS DE REDAÇÃO “ACADÊMICA”
Escrever um projeto de monografia e/ou uma monografia, significa começar a ter contato com uma forma diferente de escrever. Obviamente os princípios básicos de organização, clareza e objetividade, tão cobrados por ocasião da redação para o vestibular, não se modificam. Entretanto, a escrita acadêmica guarda algumas especificidades. Abordarei algumas destas características a seguir. Citação42: A citação, ou seja, a menção a outro autor do qual se retira determinado trecho ou ideia é uma característica fundamental em textos científicos. Há uma razão óbvia para tal: deve-se dar o crédito da informação a quem a publicou anteriormente, pois a ciência é um processo de construção do conhecimento. Trata-se, acima de tudo, de uma questão ética: referenciar alguém que já estudou determinado assunto e que elaborou conceitos ou ideias que você estará usando. Assim sendo, é importante que o texto contenha citações de forma a indicar as fontes consultadas. Copiar diversos trechos de livros ou artigos, sem mencionar a autoria, constitui um erro gravíssimo, pois se trata de plágio43! Tal prática é inaceitável no processo de pesquisa e pode acarretar severas penas. Algumas vezes, quando não ocorre de má fé, o plágio é derivado de desatenção dos alunos ou do desconhecimento dos procedimentos acadêmicos. Já recebi, por exemplo, vários projetos e, até mesmo monografias, em que eram descritos minuciosamente os sistemas fisiológicos sem qualquer menção aos autores. Como não há citação, presume-se que são informações criadas pelo aluno. Ora, sabemos que esse tipo de conhecimento não pode simplesmente ser inventado (o que parece acontecer nestes casos). Daí a necessidade de indicar de onde foram retiradas as informações. Para redigir o texto, entremeando suas palavras com as ideias dos autores consultados, imagine que você está organizando um debate. Ora
introduz uma pessoa, ora outra, mas faz comentários ligando e apresentando as principais teorias ou tendências, tentando envolver a plateia no assunto discutido. Este é o seu papel ao escrever um texto! Segundo Vieira (1999), é fundamental usar uma linguagem que “fisgue” o leitor, ou seja, motive-o para a leitura. Considero um dos maiores desafios da elaboração de um trabalho acadêmico justamente encontrar o equilíbrio no emprego das citações, de modo a evitar que se torne uma mera organização de cópias. Neste sentido, convém evitar a “poluição” de citações, ou seja, copiar um trecho em seguida ao outro. As citações podem variar quanto aos tipos: direta ou indireta, curtas ou longas. Portanto, ao usá-las, procure intercalar as diferentes formas para que o texto fique mais fluido e leve de ler. Definição de conceitos: Quando falamos de pesquisa, sempre consideramos sua divulgação, ou seja, a disseminação daquele conteúdo para a sociedade. Em um primeiro momento, a pesquisa é debatida na própria comunidade de origem (no caso, da Educação Física), para que seja criticada pelos pares. Como se presume que todos devam compreender o que está sendo tratado, é importante que os conceitos básicos sejam definidos. Assim, espera-se que todos “falem” a “mesma língua”. Eco (1998), ao mencionar os requisitos para o estudo científico, refere-se à importância de um objeto ser “[...] reconhecível e definido de tal maneira que seja reconhecível igualmente pelos outros.” (p. 21). Como alguns termos podem ter significados diferentes, dependendo do contexto, é preciso esclarecer logo de início (na primeira vez em que aparecerem) o sentido ali empregado. Um exemplo típico é a palavra “treinamento”, que pode ser utilizada em um contexto de alta performance, trazendo consigo noções de preparação física, psicológica, nutricional, técnica, tática... Ou, pode significar apenas o ato de repetir/executar exercícios com determinada finalidade. Palavras utilizadas normalmente em outra área (Educação, Filosofia, Sociologia etc.), quando aplicadas à Educação Física, também merecem certos cuidados, por exemplo: práxis, representações sociais, imaginário, multiculturalismo etc. Nestes casos, deve-se especificar em que sentido
o termo será usado e esclarecer o referencial teórico adotado. Clareza: Vieira (1999) afirma que além de ter um conteúdo significativo e interessante, a qualidade mais apreciável em um texto é a clareza, ou seja, é fundamental escrever de forma clara e simples. Parece óbvio, mas é fundamental ser o mais claro possível ao escrever. Por vezes, confesso que me pergunto: “será que o aluno releu o que escreveu?”. Comparo a escrita a um esporte coletivo. Se o time é desorganizado, sem posicionamento e tática definidos, provavelmente sua atuação deixará a desejar. O mesmo acontece quando se “joga” simplesmente as ideias no papel, sem um planejamento anterior. Entretanto, se houver um treinamento direcionado, com preocupação técnica e tática, a equipe conseguirá jogar bem e, muitas vezes, se superar. Por isso, é importante não apenas uma prévia organização e uma boa dose de treinamento, mas a autocrítica em busca da melhoria constante, como no processo da escrita acadêmica. Concatenação de ideias: O PM, assim como qualquer outro projeto ou trabalho monográfico, deve ter uma sequência lógica: apresentação do problema, fundamentação teórica e aspectos metodológicos. Todos interligados, conectados através dos objetivos. É importante ser coerente na escrita para que transpareça esta organização. Defenda seu raciocínio apresentando argumentos consistentes, que obedeçam a uma lógica. Os objetivos apresentados inicialmente devem nortear o restante do trabalho. Assemelham-se aos faróis de um automóvel, iluminando seu caminho durante a noite. Ao indicar o rumo, o percurso torna-se mais fácil. Rebuscamento X informalidade Estes são, no meu ponto de vista, os dois extremos de estilos de linguagem que tenho observado em trabalhos acadêmicos. Ambos apresentam sérios problemas. Muitas vezes, a escrita de trabalhos acadêmicos é associada a uma forma rebuscada e pouco objetiva. A linguagem recheada de termos
técnicos e de palavras eruditas pouco auxilia a compreensão por parte do público leitor, além de desviar a atenção para o aspecto formal, ao invés do conteúdo propriamente dito do trabalho. Lembre-se que seu estudo é, inicialmente, destinado à comunidade acadêmica, mas deve ser compreendido igualmente por especialistas e pessoas leigas no assunto. Vieira (1999) afirma: Às vezes, pode parecer que a linguagem rebuscada é uma tentativa de compensar a falta de conteúdo e ideias. Lembre-se que a simplicidade da linguagem não é incompatível com a riqueza de conteúdo. (p.25).
Por outro lado, a informalidade e o uso de termos coloquiais (Ex.: “Batemos um papo e decidimos que o estudo...”) devem ser evitados, já que se trata de uma pesquisa científica, o que exige uma linguagem formal, clara e objetiva. Mais uma vez, é preciso achar um equilíbrio para que a escrita seja adequada. Acho que uma boa pista de que está indo bem é solicitar a alguém que leia o seu trabalho. Será que foi bem compreendido? Está interessante? Se as respostas forem afirmativas, já é um bom sinal. Continue assim! A seguir, comentarei alguns erros comuns na elaboração de Projetos de Monografia e de Monografias, que podem ser evitados, bastando apenas um pouco de atenção.
17 ERROS TÍPICOS NA ELABORAÇÃO DO PROJETO DE MONOGRAFIA E DA MONOGRAFIA
Costumo dizer aos meus alunos que “errem”! Pode soar estranho, mas é no momento em que corrigimos os erros que realmente aprendemos. Quando não há novidade no aprendizado, há também, poucos erros. Ao contrário, se aprendemos coisas novas, leva certo tempo (e muitos erros) até que passemos a fazê-las corretamente. Neste sentido, entendo o erro como uma ótima ferramenta de aprendizagem. Vou detalhar, nesta seção, o que considero erros típicos que chegam a comprometer a avaliação do PM e da Monografia. Portanto, antes de entregar o seu trabalho, procure fazer uma revisão destes aspectos para não perder pontos valiosos.
a) “Achismos”: Chamo de “achismo”, quando, na redação do texto, utilizam-se ideias ou dados do senso comum sem comprovação ou sem citação da fonte científica. Ex.: Há uma tendência mundial de aumento no número de idosos... (Tudo bem, pode até estar acontecendo mesmo, mas “mundial”? Não custa checar os dados, apresentar estatísticas de estudos já realizados que possam fundamentar a afirmação). b) Uso de gíria: A utilização de linguagem excessivamente coloquial ou gíria não é recomendada em trabalhos acadêmicos. Ex.: A galera da academia... É super importante que ... Se for uma palavra que realmente tenha que ser utilizada, recomenda-se colocá-la entre aspas.
c) Uso da primeira pessoa singular 44: Ao escrever o PM ou a Monografia, evitar palavras de cunho pessoal (eu, meu, minha etc.), assim como conjugar os verbos na primeira pessoa do singular45 (fiz, estudei, pesquisei etc.). Prefira o uso do impessoal ou da voz passiva. Ex.: Será realizada uma pesquisa... Para se alcançar os objetivos propostos... O presente trabalho se propõe a ...
LEMBRE-SE: Uma vez escolhida a forma de tratamento dos verbos, use sempre a mesma, mantendo a coerência.
d) Parágrafos longos: Muitas vezes acumulam-se várias informações em um mesmo parágrafo, de modo que ao chegarmos ao ponto final, esquecemos o que foi lido antes. Ou então, temos que voltar ao início e reler. Parágrafos longos geram problemas de compreensão das ideias apresentadas e comprometem a fluidez da leitura. Por isso, opte por frases curtas, objetivas e organizadas, de modo a deixar o texto claro e coerente. e) Colagem ou “poluição” de citações: Emendar uma citação à outra, sem a devida apreciação crítica ou organização torna o texto pouco atrativo para a leitura. Além disso, parece que o autor apenas copiou os trechos, sem uma elaboração crítica. f) Palavras e expressões usadas apenas para “encher linguiça”: Usei aqui um termo coloquial, mas que exprime exatamente o que alguns alunos tentam fazer para aumentar o número de páginas do trabalho. Não se esqueça de que a quantidade nem sempre significa qualidade! Desta forma, evite colocar palavras ou frases desnecessárias, seja claro e objetivo. Ex.: Foi feita uma extensa e abrangente revisão de literatura,
principalmente das produções mais atuais... (quando são citados pouquíssimos estudos e nem tão recentes assim...). Da mesma maneira, coloque gráficos, tabelas, figuras ou anexos se realmente forem informações essenciais ao trabalho. g) Mencionar, no decorrer do texto, autores que não aparecem nas referências: Normalmente estes casos acontecem quando se usa a citação da citação46, ou quando são trechos copiados indiscriminadamente de outro estudo ou livro. Esse é um erro cada vez mais comum na era da Internet. CUIDADO! ISSO COMPROMETE A QUALIDADE DO SEU TRABALHO! Sugiro reler o PM e checar se todos os autores mencionados no decorrer do trabalho aparecem nas referências. Além disso, atente para o problema do plágio, comentado anteriormente. Por fim, embora estas regras possam parecer enfadonhas ou detalhistas, podem ser aprendidas por meio da prática. Como um desporto qualquer, que é aperfeiçoado a partir da repetição e treino, a escrita “acadêmica” também deve ser treinada. Até o momento em que ela flui naturalmente, como uma cortada do vôlei ou um chute a gol. Que tal começar a treinar?
18 DÚVIDAS MAIS COMUNS NA ELABORAÇÃO DO PROJETO DE MONOGRAFIA E DA MONOGRAFIA
Os alunos passam... mas as dúvidas continuam as mesmas! Vamos conhecer algumas delas e suas respectivas respostas. 1. Quantas páginas deve ter um Projeto de Monografia? R.: Não gosto de estipular número de páginas, pois acho que quantidade não significa necessariamente qualidade. Costumo dizer que o aluno deve ter sensibilidade suficiente para aprofundar o assunto do PM sem que isto signifique “encher linguiça”. Por outro lado, não há necessidade de desenvolver os capítulos de forma muito detalhada, pois isto será feito por ocasião da elaboração da monografia. Se tomarmos como referência exemplos de projetos de pesquisa enviados a órgãos de fomento à pesquisa, há certo consenso que dificilmente ultrapassem 15 páginas. No entanto, como o PM pode ser a oportunidade para que o aluno se organize em relação à monografia e até mesmo, antecipe a elaboração da mesma, deixo em aberto o número de páginas. Reitero, entretanto que a quantidade pode até impressionar inicialmente, mas prefiro, sinceramente, receber poucas páginas nas quais fique explícito o trabalho de organização, a personalidade e a criatividade do aluno, do que um calhamaço de pura cópia! 2. É imprescindível fazer citações no PM e na monografia? R.: É fundamental que se faça citações, principalmente na fundamentação teórica do PM e da monografia. Isto porque as ideias ali apresentadas devem ser creditadas aos seus autores. Daí a importância da pesquisa bibliográfica, para conhecer e mostrar o que já foi estudado sobre o assunto. 3. Qual é a quantidade ideal de sujeitos para ter a pesquisa validada? R.: Conforme mencionei anteriormente, há uma linha de pesquisa com enfoque quantitativo e outra, com ênfase qualitativa. A primeira trabalha com regras de amostragem e tratamentos estatísticos, que fornecem bases para estabelecer determinado número de sujeitos a
serem investigados. Já as pesquisas qualitativas valorizam mais a profundidade da análise do que a quantidade de informantes. Sendo assim, não há um número “mágico” de sujeitos. Se for o caso de pesquisa teórico-empírica, é fundamental que o aluno, dentro de suas possibilidades, discuta com o professor orientador o caminho mais adequado. 4. Qual é a diferença entre um Projeto de Monografia e um trabalho de final de disciplina? R.: Os trabalhos acadêmicos, normalmente, apresentam brevemente o assunto a ser discutido na introdução, tratam-no superficialmente no desenvolvimento e apresentam conclusão. Já o PM, é o planejamento da pesquisa que será feita por ocasião da monografia. Apresenta uma introdução com determinadas particularidades, uma fundamentação teórica mais aprofundada acerca do assunto e o esboço de metodologia, não possuindo conclusão. 5. Como numerar e formatar o PM e a monografia? R.: A formatação de ambos seguem as normas da ABNT. Para mais detalhes, verificar o capítulo 14, específico sobre o assunto. 6. Estou fazendo o meu PM e parece que ele já tem o aspecto de uma monografia. O que terei que fazer posteriormente, para que ele efetivamente se torne uma Monografia? R.: Posso dizer que você está no caminho certo. Se fizer uma pesquisa teórica, terá que enriquecer a fundamentação teórica realizada, de modo a aprofundar a atualizar o assunto. Assim que tiver terminado esta discussão teórica, você terá condições de elaborar um fechamento ou a conclusão do seu trabalho. Caso tenha optado por uma pesquisa teórico-empírica, além do aprofundamento teórico, deverá proceder à coleta dos dados, conforme previsto no Esboço de Metodologia do PM. Posteriormente, será necessário analisar, apresentar e discutir estes dados, confrontando com a teoria apresentada para, então, concluir o trabalho. Para mais detalhes, ver capítulo 11. 7. Já fiz minha coleta de dados, como mencionar isto no Projeto de Monografia? R.: Houve um grande equívoco! A coleta de dados deve ser planejada por ocasião do PM e executada posteriormente, após a discussão e
aprovação do Professor Orientador. Você se antecipou e corre o risco de ter perdido tempo, além dos dados. A coleta de dados exige procedimentos metodológicos rigorosos que devem ser cuidadosamente discutidos e supervisionados, não podendo ser realizada de modo informal. 8. Quantas páginas deve ter uma monografia de final de curso? R.: A resposta que dei em relação ao PM vale para a monografia. Algumas instituições exigem cerca de 30 páginas de texto corrido. Entretanto, preocupe-se em desenvolver adequadamente seu assunto e não em preencher páginas. Você verá que isso se torna secundário diante do desafio do conhecimento. 9. Em minha pesquisa de campo, achei dados que não esperava. Tenho, necessariamente, que colocá-los? R.: Essa que é a essência da pesquisa! Descobrir respostas! Ou você pesquisa já tendo as respostas prontas? Você deve, sim, necessariamente, colocar todos os dados e, inclusive, mostrar ao leitor o fato de ter se surpreendido com determinado achado. Esse fato pode, inclusive, vir a mobilizar a realização de outros estudos. 10. Como fazer o Resumo da monografia? R.: As instruções para a elaboração do resumo estão no cap. 10, sobre a formatação da monografia. Contudo, em seu resumo devem conter dados essenciais que informem ao eventual leitor: do que se trata o estudo, objetivos, metodologia, resultados e conclusão. Elabore-o de forma clara e objetiva, e seja criterioso para colocar os descritores, se for o caso. Um resumo bem elaborado é um convite para a leitura. 11. Em que momento posso me posicionar na monografia? Posso fazer comentários pessoais? R.: A monografia deve ser uma produção crítica e não uma mera cópia de citações. À medida que as leituras são feitas, é preciso organizar as ideias dos autores consultados, mostrar tendências, “costurar” o assunto. Comentários pessoais do tipo opinativos ou emitir uízo de valor são ações a serem evitadas. Contudo, um posicionamento crítico e bem fundamentado é esperado, principalmente na conclusão do trabalho.
QUINTA PARTE O TCC NO FORMATO DE ARTIGO
19 CONSTRUIR UM ARTIGO, EIS A QUESTÃO
“Professora, quero escrever um artigo, como faço?” Essa é uma pergunta que tem sido frequentemente feita por meus alunos. Conforme mencionei em capítulos anteriores, o artigo de pesquisa é um dos formatos possíveis de TCC, cada vez mais utilizado, especialmente em cursos de pós-graduação lato sensu, e mesmo em alguns cursos de graduação. Por esse motivo, criei mais uma parte neste livro para tratar do artigo. Artigo científico, conforme a ABNT (2003) é “Parte de uma publicação com autoria declarada, que apresenta e discute ideias, métodos, técnicas, processos e resultados nas diversas áreas do conhecimento.” (p. 2). É parte de uma publicação, pois normalmente, o artigo é publicado em um periódico científico, junto a outros tantos artigos, constituindo um determinado número/volume deste periódico. O periódico ou revista, conforme vimos no Capítulo 7, pode ser impresso ou eletrônico. E essa última modalidade, cada vez mais disseminada nos últimos anos. O artigo científico, independentemente do tipo, é o relato de uma pesquisa. É uma forma de comunicar os resultados alcançados em um estudo de caráter científico, ou seja, que contemple todos os aspectos mencionados ao final do Capítulo 2. Não é possível, então, criar um artigo de uma hora para outra. Para elaborar um artigo, é preciso realizar uma pesquisa. Isso significa que é preciso ter um problema de estudo, saber o que já foi produzido sobre o assunto (revisão de literatura), desenvolver uma investigação que contenha os métodos explicitados de forma adequada e clara, operacionalizar esta pesquisa, ou seja, colocá-la em prática, apresentar e discutir os resultados e chegar a uma conclusão. Esse processo, obviamente, deve ser pautado pelos parâmetros científicos e no rigor, exigidos para estudos dessa natureza. Logo se percebe que para construir um artigo, é preciso passar por
todas as etapas mencionadas. Respondendo, então, à pergunta inicial, se houver interesse em escrever um artigo, voltamos ao início deste livro, pois é necessário percorrer todas as etapas ligadas à elaboração do TCC, desde a escolha do assunto em diante, como se fosse uma monografia. Ao finalizar o seu estudo, entretanto, você irá redigi-lo no formato de artigo. Supondo que você esteja executando sua pesquisa e a ideia seja apresentá-la no formato de artigo, alguns pontos devem ser observados. Em primeiro lugar, é importante saber que tipo de artigo será redigido. Comentei sobre a pesquisa teórica e a teórico-empírica anteriormente e o tipo de artigo dependerá dessa escolha. Uma pesquisa teórica poderá gerar, a princípio, dois tipos de artigos: a) Artigo de revisão: De acordo com a ABNT (2003), é “parte de uma publicação que resume, analisa e discute informações já publicadas”. Deriva, então, de um estudo de revisão de literatura sobre um determinado assunto, no qual se tem por objetivo selecionar e analisar criticamente a literatura específica, de acordo com critérios de atualidade e relevância, além de outros relacionados à temática escolhida. b) Ensaio47: Trata-se de uma análise teórica sobre um determinado assunto, pautada em referenciais teóricos e na capacidade reflexiva e crítica do autor.
Já a pesquisa teórico-empírica será relatada como um artigo original, ou seja: “Parte de uma publicação que apresenta temas ou abordagens originais.” (ABNT, 2003). Em outras palavras, está prevista a realização de uma coleta de dados primários, mediante métodos e técnicas discriminados no estudo, dados esses que serão analisados, apresentados e discutidos. Uma ressalva, contudo, deve ser feita, porque mesmo que o TCC seja no formato de artigo, isso não significa que será publicado. Observe que são ações distintas, embora dependentes. Isto porque a elaboração do artigo, para apresentá-lo como um TCC, corresponde ao cumprimento de um requisito para a formação em determinado curso, como por exemplo, de licenciatura ou bacharelado em Educação Física, ou ainda de especialização. Essa obrigatoriedade, portanto, se encerra com a entrega, apresentação e aprovação desse trabalho. Já publicar, contudo, envolve outra ação, qual seja a de submeter o artigo a um determinado periódico, após adequá-lo às suas diretrizes específicas. O artigo, então, passará por um processo avaliativo
realizado pela editoria e por revisores designados pelos editores, podendo ser aceito ou não para publicação. Explicarei melhor sobre esses procedimentos mais adiante, mas é importante que se tenha ciência de que são processos distintos, pois essa é uma dúvida recorrente junto aos iniciantes em pesquisa. Com base no exposto, argumento que o processo de elaboração da pesquisa é o mesmo, independentemente do TCC ser no formato de monografia ou de artigo científico. Porém, ambos os formatos apresentam suas peculiaridades, vantagens e desvantagens. Além disso, é possível converter uma monografia em artigo, se houver desejo de publicá-lo. Esses são os assuntos dos próximos capítulos.
20 PARTICULARIDADES DO FORMATO DE ARTIGO
Ao se comparar o formato de monografia ao de um artigo, percebemos algumas diferenças e semelhanças, bem como determinados aspectos que parecem ser mais ou menos vantajosos em cada caso. Vamos analisar alguns destes fatores: a) Quanto à extensão do artigo: Em primeiro lugar, normalmente, o artigo é mais enxuto do que uma monografia, porque se espera que a comunicação sobre os resultados da pesquisa seja feita de modo direto e objetivo, em determinado número de páginas que não pode exceder ao previsto. Na monografia, há a possibilidade de se estender em certos aportes teóricos ou ainda em outras fases da exposição da pesquisa, visto que normalmente é um trabalho que pode possuir mais laudas. A quantidade de páginas para um ou outro formato segue sugestão da própria instituição para a qual o TCC está sendo preparado. É possível, por outro lado, verificar informações específicas sobre tamanho de artigos, normalmente em tópicos como diretrizes ou normas para autores, disponibilizados pelos mais diferentes periódicos. Como exemplos ligados à área da Educação Física, a Revista Brasileira de Ciências do Esporte48, editada pelo Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte, prevê extensão de até 35000 caracteres com espaços, enquanto que a Revista Movimento 49, editada pela Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, menciona limite de 6000 palavras. Já a Revista Brasileira de Medicina do Esporte 50, órgão oficial da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, sugere que o artigo original possua 2500 palavras, excluindo resumo, referências, tabelas e figuras. b) Quanto à estrutura do artigo: Um segundo aspecto se refere à estrutura do artigo. Em termos gerais, qualquer artigo apresentará título, autor (es), resumo e palavras-
chave ou descritores51 antecedentes ao texto propriamente dito, esse sim, contendo o relato da pesquisa. Ao final, constarão as referências e, ocasionalmente, agradecimentos. No que se refere ao texto, pode apresentar diferenças quanto à estruturação, a depender do tipo de artigo (original, revisão, ensaio) e do enfoque, se voltado às ciências biomédicas/biológicas ou às ciências sociais e humanas. Ao longo de minha experiência como docente e pesquisadora, lidando com a publicação de artigos, editoria de periódicos e, também, atuando como parecerista ad hoc para variados periódicos na revisão de manuscritos, é possível observar muitas nuances em relação às diferentes estruturas de artigos. De modo a simplificar, para artigos originais há uma recomendação internacional do formato IMRAD ( Introduction, Introduction, Methods, Results and Discussion, ou Introdução, Métodos, Resultados e Discussão), principalmente para a área biomédica (SOLLACI; PEREIRA, 2004). No campo da Educação Física, este formato pode ser visto costumeiramente nas produções derivadas da biodinâmica, que seguem padrão semelhante: Introdução, Materiais e Métodos, Resultados, Discussão e Conclusões. Em que pese haver mudanças nas nomenclaturas de algumas das seções, como por exemplo, Métodos e Técnicas, ou ainda, Apresentação dos Dados etc., a parte relativa à revisão de literatura dificilmente aparece em seção específica, como ocorre na monografia. Aqueles que trabalham com temáticas relacionadas à biodinâmica, de maneira óbvia, também realizam a revisão de literatura, pois como vimos, essa é uma etapa crucial para qualquer pesquisa. No entanto, essa revisão vem inserida na própria introdução. Assim, a revisão é apresentada de modo a demonstrar como o problema de estudo se configura no contexto teórico, bem como a identificar a lacuna de estudos. Em artigos originais das vertentes sociocultural e pedagógica, embora não seja obrigatório, é comum haver uma seção destinada à fundamentação teórica, onde é apresentada a revisão de literatura, assim como autores ou correntes teóricas adotados no estudo. A seção
de métodos também pode apresentar nomenclaturas diferenciadas, tais como decisões ou procedimentos metodológicos, dentre outras. c) Vantagens e desvantagens da adoção do formato de artigo: Se por um lado, o artigo possibilita que a pesquisa seja apresentada de forma mais direta, por outro, pode ficar inviável aprofundar ou detalhar alguns aspectos que eventualmente mereceriam mais atenção. O esforço de selecionar as partes mais importantes a serem escritas (ou a permanecerem) é sempre um exercício difícil e que exige muita cautela. O formato de monografia, por sua vez, pode proporcionar que o assunto seja desenvolvido de maneira mais detalhada, ou ainda, que a operacionalização da pesquisa seja explicada em mais detalhes. Entretanto, deve-se tomar cuidado para não fugir à temática central do estudo, este, um erro comum em iniciantes. Algumas instituições adotam o formato de artigo com o intuito de ajustar-se ao cenário de incentivo à produtividade científica. Desta maneira, como o artigo já é elaborado conforme certos padrões difundidos pelos periódicos, a expectativa é que haja mais chance de ser submetido a um processo avaliativo com vistas à publicação. Nesse caso, é sempre recomendável conversar com o professor orientador para que as chances e possibilidades de se investir na publicação do artigo possam ser avaliadas conjuntamente.
21 COMO PUBLICAR UM ARTIGO
O conhecimento científico é construído coletivamente e não se esgota na realização de uma pesquisa. A divulgação científica, ou a comunicação dos resultados encontrados, é um dever do pesquisador, para que possa ser avaliado pela comunidade científica na qual está inserido. Além disso, ao expor os resultados, colabora-se para o processo de construção do conhecimento. Existem alguns meios de se realizar a divulgação científica, como a produção de artigos, livros ou capítulos de livro, apresentação de trabalhos em eventos científicos, organização de cursos, dentre outros. Como mencionei anteriormente, o fato de elaborar um estudo e apresentá-lo no formato de artigo não necessariamente está atrelado à sua publicação. Mas, se isso for possível, tanto melhor, pois uma vez sendo aceito, o estudo ganha visibilidade e atingirá um público mais amplo. Supondo que você já tenha realizado a pesquisa e esteja com o artigo pronto, o próximo passo é selecionar um periódico para enviar o artigo. Há muitas maneiras para selecionar um periódico, mas destacarei algumas dicas: a) Dê preferência aos periódicos de sua área de conhecimento, ou pelo menos que tenha interface com essa área. b) Investigue o perfil do periódico para saber se o seu estudo tem chance de se encaixar na linha editorial. c) Leia as diretrizes para os autores e identifique quais tipos de artigos são aceitos para submissão. Por exemplo, nem todos os periódicos aceitam artigos de revisão. d) Procure saber o alcance do periódico ao checar as bases de indexação, como é realizado o acesso aos artigos, se é nacional ou internacional, dentre outros fatores, como fator de impacto ou outros índices. e) Comentei sobre o Qualis-Periódicos no item 7.5 que tratou do levantamento da literatura. Como o Qualis52 é um sistema de classificação da produção científica da pós-graduação brasileira, realizado pela Capes, é possível verificar qual a classificação de determinado periódico em diferentes áreas de conhecimento, uma vez que, como mencionado, cada área possui seus próprios critérios de classificação. Esta classificação pode ser um indicador, ainda que indireto, da qualidade do periódico.
Uma vez que você tenha escolhido a revista, leia com muita atenção
as orientações para os autores, pois esse documento disponibiliza todas as informações sobre como o artigo deve ser formatado para que possa ser enviado. É preciso adequar o artigo às normas do periódico (checar se é ABNT ou outro padrão), com especial atenção ao uso das citações, formato das referências, dentre outras diretrizes. Esse cuidado é crucial, pois se houver erros na formatação do artigo, pode ser devolvido sem mesmo ir para o processo de análise. Por isso, invista seu tempo nesta adequação, para que não o perca mais adiante. Depois de formatado, é a hora de providenciar os documentos (termo de cessão de direitos autorais, declaração de conflito (ou não) de interesses, discriminação das responsabilidades de cada autor, se for o caso etc.) que devem ser enviados junto ao artigo. Essas instruções variam de um periódico a outro, portanto é imprescindível checar as diretrizes aos autores e normas para submissão de artigos. Atualmente, as submissões são feitas por meio de sistemas padronizados, pelos sites dos periódicos, mediante cadastro do autor que a executará. Embora seja autoexplicativo, é um procedimento que deve ser realizado com calma e cautela, sendo importante atentar para os mínimos detalhes. Bem, você fez tudo certo e encaminhou o seu artigo. E agora? O caminho é longo, pois é preciso que o artigo seja avaliado por, pelo menos, dois revisores, que emitirão pareceres sobre o manuscrito, basicamente com três indicações: a) aceite; b) aceite condicionado à revisão; c) recusa. No caso de pareceres antagônicos, o trabalho é enviado a um terceiro revisor. Caso os revisores indiquem modificações, é preciso efetuá-las e devolver o artigo para que verifiquem se foram realizadas conforme indicado. De maneira geral, as alterações buscam o aprimoramento do manuscrito. Se o seu trabalho for aceito, ótimo! Mas se não for, não há problema. Procure reformulá-lo com base nos pareceres recebidos e se houver condições, tente novamente a submissão a outro periódico. Tenha calma, pois a depender do periódico, o processo leva meses e, infelizmente, até mais de um ano para ter um desfecho.
21.1 Como transformar a monografia em artigo
Imagine que você tenha se dedicado à elaboração de sua monografia, tenha recebido elogios pelo trabalho e gostaria, então, de publicá-la no formato de artigo. Neste caso, você deverá realizar as adaptações necessárias, muitas delas já abordadas. Conforme mencionei, escolha o periódico para o qual pretende enviar o trabalho. Então, procure observar, em edições anteriores, a estrutura dos artigos publicados, cujas temáticas se assemelhem à sua. Este exercício é muito importante para que possa se familiarizar com as adaptações que serão necessárias. Vejamos os aspectos que você deve atentar, no caso de um artigo original: a) Quantas páginas normalmente são utilizadas em cada seção? Observe as variações dentre os artigos e, também, o que se repete, em termos de extensão de cada seção. Lembre-se que a originalidade de seu estudo, em grande medida, se deve aos seus resultados e à discussão realizada, por isso, essa parte deverá ser valorizada em seu estudo. b) Como a introdução é elaborada? Atente para uma estrutura de construção da introdução levemente diferente daquela que mencionei para a elaboração do projeto de pesquisa ou da monografia. Você deverá posicionar os objetivos, por exemplo, ao final da introdução. Se for um artigo original, não há necessidade da organização do estudo, item este que deverá ser suprimido. Itens como contextualização, delimitação e relevância, deverão obrigatoriamente constar e poderão ser aproveitados a partir da sua monografia. c) Há uma seção específica para a revisão de literatura? A depender da temática tratada e, também, do enfoque da pesquisa, será ou não necessária. Conforme mencionei, artigos ligados à biodinâmica não comportam, de modo geral, uma seção de revisão de literatura. Se for esse o caso, a revisão será incorporada de modo resumido na introdução. Para pesquisas das vertentes sociocultural ou pedagógica, pode ser que haja a necessidade de destinar uma seção ao detalhamento de seu referencial teórico. Por isso, é preciso verificar os
artigos já publicados e as diretrizes para os autores, para que estes detalhes possam ser revistos. d) Como são descritos os métodos? Esta seção não deverá sofrer modificações substanciais, pois todo estudo deve ter seus métodos e procedimentos apresentados com clareza e em detalhes, o que já deve ter sido feito por ocasião da monografia. e) De que modo os dados são apresentados e discutidos? Talvez nessa seção, seja necessário enriquecer a discussão ou ainda rever a forma de apresentação dos dados, mais em virtude do projeto gráfico ou das diretrizes do periódico. Por isso, o exame dos artigos já publicados serve de balizador para as eventuais adaptações. f) Como é construída a conclusão? De maneira geral, a conclusão do artigo é curta, mas deve conter os mesmos itens mencionados para a monografia. Se for um artigo de revisão ou ensaio, vale checar se o periódico aceita esse tipo de estudo. Se sim, procure, da mesma forma que foi indicado anteriormente, identificar artigos semelhantes e respectivas estruturas. A depender da extensão de sua monografia, as adaptações nesse caso deverão ser no intuito de enquadrar-se nas normas, bem como ajustar determinados detalhes em algumas seções, como na introdução, conforme mencionado. Espero que com essas informações, você tenha mais possibilidades de divulgar o seu estudo! Boa sorte!
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