BIBLIOTECA PIONEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS PSICOLOGIA
Aconselhamento Psicológico & Psicoterapia Auto-afirmação - um determinante básico OSWALDO DE BARROS SANTOS S ANTOS Anita de Castilho e Marcondes Cabral Nelson Rosamilha Oswaldo de Barros Santos Dante Moreira Leite
LIVRARIA PIONEIRA EDITORA São Paulo
índice Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . PARTE I VISÃO GLOBAL DOS PROCEDIMENTOS ORIENTADORES E TERAPÊUTICOS 1. Diagnóstico, Orientação, Aconselhamento e Psicoterapia .. . . . . . . . . . .. O longo caminho: do diagnóstico para a assistência psicológica. O uso de testes psicológicos. Orientação, aconselhamento e psicoterapia. 2. Métodos Centrados no Contexto Sócio-Cultural. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Fundamentos. Procedimentos comuns. Técnicas específicas. 3. Procedimentos Centrados no Contexto Pessoal. . . . . . . . . . . . . . . . . . .... Fundamentos. Procedimentos comuns. Técnicas específicas. 4. Métodos Mistos e Métodos Centrados no Problema. " . . . . . . . . . . . . . . Fundamentos. Procedimentos comuns. Técnicas específicas. Aconselhamento e terapia terapia em processos de grupo. grupo.
5. A Revolução Rogeriana no Campo do Aconselhamento Psicológico Psicológico e da Psicoterapia . . . Síntese histórica. Idéias básicas e originais. As condições terapêuticas essenciais. Evolução das idéias: o experienciar e as atuações em grupo. PARTE 11 OBSERVAÇÕES PESSOAIS 6. Hipótese Sobre a Auto-Afirmação Como Determinante Básico do Comportamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Resultados de terapia e fundamentos para uma nova hipótese. Seria possível um neo-rogerianismo? A motivação e os determinantes do comportamento. A auto-afirmação como motivo básico e emocionalmente preponderante. 7. A Personalidade Personalidade e a Auto-Afirmação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O Eu Pessoal, Neurose ohumanísticas Eu Social a emergência da auto-afirmação. A ocorrência afirmação. Perspectivas patológica. e significado e filosóficas. da vida. Valores sociais e a auto8. Contribuições à Terapia Psicológica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Objetivos básicos: desenvolvimento pessoal e psicoterapia. Metodologia psicoterápica: a dinâmica do processo. PARTE III APLICAÇÕES EM SITUAÇÕES SITUAÇÕES ESPECIAIS 9. Filhos e Alunos Difíceis. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Como ocorrem os problemas. Medidas gerais. 10. Ações Preventivas na Educação, na Família e no Trabalho. . . . . . . . . . . .. 11. A Vida na sua Terceira Fase: a Valorização do Idoso. . . . . . . . . . . . . ... Técnicas de orientação e psicoterapia Referências bibliográficas. . . . . ., . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. English-abstract . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ...
Introdução Os métodos, técnicas ou modelos de atuação, originários de atitudes naturais ou de comportamentos direcionados, freqüentemente usados para ajudar as pessoas com problemas psicológicos, são extremamente variados; dependem de concepções filosóficas e sociais, como, igualmente, dos r ecursos situacionais, profissionais, éticos e operacionais. Ademais, as ciências do comportamento colocam dúvidas e interrogações sobre os efeitos dos
procedimentos orientadores ou terapêuticos em virtude de pesquisas pouco elucidativas. Os conceitos e as indicações ou lembretes existentes neste livro resultam, de um lado, de informações bibliográficas e, de outro, de observações e inferências pessoais que, em muitos anos, logramos realizar. É uma ligeira coletânea de posições teóricas e da metodologia correspondente, seguida de uma hipótese sobre a auto-afirmação como determinante básico do comportamento e, em conseqüência, de procedimentos e técnicas terapêuticas. Todas as considerações, sugestões e hipóteses estão francamente abertas à crítica de todos aqueles que se dedicam ao estudo ou à aplicação prática do aconselhamento psicológico e da psicoterapia, seja na situação natural e espontânea dos relacionamentos humanos, seja na situação profissional. O que se pretende é colocar nossas observações - ainda que falhas ou limitadas - a serviço desses alvos. Serão especialmente acolhidas as apreciações e contribuições relacionadas com a proposição original, isto é, com a hipótese de ser a auto-afirmação o determinante básico do comportamento no plano psicológico. Agradeço a meus alunos alunos e ex-alunos da Universidade Universidade de São Paulo pelo incentivo e pistas que me ofereceram e aos clientes que _e proporcionaram o mais, fecundo material para estudos e conclusões. Agradeço, também, às psicólogas psicólogas Alice Maria de Carvalho Delitti e Walderez Walderez B.F. Bittencourt pela gentileza em rever e comentar o texto do capítulo 4, oferecendo úteis contribuições. O.B.S.
PARTE I VISÃO GLOBAL GLOBAL DOS PROCEDIMENTOS ORIENTADORES E TERAPÊUTICOS 1 - Diagnóstico, Orientação, Aconselhamento e Psicoterapia
O longo caminho: do diagnóstico para a assistência psicológica Poucos terão definido tão bem a evolução da Psicologia no plano operacional, como Rogers (1942) o fez ao examinar sua contribuição ao bemestar e à assistência que dela se poderia esperar. Disse o fundador do método centrado na pessoa que, na década de 1920, o interesse pelo ajustamento do indivíduo era essencialmente de estilo analítico e de diagnóstico. "Floresceram os estudos de casos, os testes, os registros e observações e os rótulos de diagnóstico psiquiátrico. Com o tempo, essa tendência voltou-se da diagnose para a terapia, para a procura de meios e de processos pelos quais o indivíduo encontre a ajuda de que necessita. Atualmente, preocupamo-nos mais com a descoberta de recursos terapêuticos mais efetivos na assistência ao indivíduo. A dinâmica do processo de ajustamento substitui a longa fase de descrições e rotulações". Realmente, se nos detivermos no estudo das teorias e das técnicas psicológicas, parece ser possível inferir que a maioria dos trabalhos psicológicos era orientada mais no sentido de conhecer a personalidade do que em intervir no complexo enredo do comportamento humano. As técnicas de diagnóstico tiveram seu apogeu nos anos de 1920 a 1960. A psicometria e os estudos estatísticos relacionados com a sensibilidade, a precisão e a validade dos instrumentos de avaliação psicológica desenvolveram-se de f orma sensível dando origem, inclusive, a um conjunto de normas publicadas, em 1954, pela American Psychological Association, conseqüência natural do crescente interesse pelos pormenores sobre os métodos de construção e de aferição de testes. A classificação de reações ou de sintomas e o relacionamento de traços e de fatores da personalidade era a tendência dominante. E a psicologia, como estudo e avaliação do comportamento, passa a ser reconhecida como ciência na medida em que é capaz de prever e descrever, por testes, questionários, inventarmos e outros recursos, o comportamento de indivíduos ou de grupos. O próprio comportamento é analisado, identificado e classificado por idades, sexo, grupos sócio-econômicos ou em variáveis estatisticamente determinadas. Com Binet, Kuhlmann, Stern, Terman, Claparede, Spearman e outros, surgem o estudo e a elaboração de testes mentais e escalas métricas. Os conceitos de idade mental, quociente de inteligência e a psicometria atingem níveis de alta sofisticação; há preocupações em se desvendar as "habilidades" primárias ou básicas e têm lugar os estudos fatoriais com Thurstone, Goodman, Thomson, Vernon, Kelley, Cattell e outros mais; aparecem famosos testes tais como o "Differential Aptitude Test" , o "California Test of Mental Maturity" , o "Guilford Zimmerman Aptitude Sorve", o "General Aptitude Test Bater". Na década de 1940-1950, Wechsler estuda a inteligência e desenvolve as não menos famosas escalas denominadas W AIS e WISC. Por último, surge a contribuição de Guilford, baseada em estudos fatoriais pelos quais 120 combinações de habilidades são teoricamente possíveis (Guilford e Hoepfner, 1971) e os famosos estudos de Piaget sobre o desenvolvimento intelectual da criança. Na
área da personalidade, além do Teste de Rorschach, do M.M.P.I., do T.A.T., do Teste de Machover surgem notáveis técnicas expressivas tais como o P.M.K. e inúmeros questionários, provas situacionais e clínicas (Anastasi, 1948, 1957; Van Kolck, 1975). Esses estudos e trabalhos de mensuração se distanciavam muito dos procedimentos terapêuticos como se estivéssemos em campos independentes. O aperfeiçoamento das técnicas de diagnóstico conduziu o Psicólogo a um conhecimento razoável das reações humanas, mas não lhe ofereceu recursos suficientes no sentido de manipulá-las. O objetivo fundamental, que seria conhecer para orientar, prevenir, corrigir, recuperar ou tratar, continuava distante. Ainda encontramos essa situação em muitos serviços psicológicos: a preocupação com um bom diagnóstico. Se tal exigência é por vezes necessária, não menos o é a do estudo dos meios e dos recursos pelos quais possamos ajudar as pessoas atendidas, por uma razão ou outra, em uma clínica psicológica ou de orientação ou em um grupo assistencial. O cenário retratado marca a longa trajetória da Psicologia para seu aspecto aplicado, assistencial. Professores, chefes, supervisores, orientadores, pais e até mesmo psicólogos tinham diante de si um quadro, tão perfeito quanto possível, do ponto de vista descritivo, etiológico, causal, mas poucos sabiam para alterá-lo. O mais acurado diagnóstico ficava, assim, inoperante, simplesmente porque os recursos de ajuda, de intervenção, não eram conhecidos ou não aplicados. A literatura psicológica, farta em técnicas de exame psicológico, conservou.-se relativamente pobre em estudos e informações sobre procedimentos para atuação na conduta. Estes se limitavam, principalmente, a manipulações ambientais, a técnicas de apoio, avisos, recomendações e conselhos. Por outro lado, em outro universo, desenvolvia-se a Psicanálise com teorias e técnicas delas derivadas; surgiu a contribuição rogeriana, e brotaram os processos de Skinner bem como outras teorias e técnicas. A conjunção entre a medida dos fenômenos psíquicos de um lado e o tratamento desses mesmos fenômenos produziu-se de maneira lenta e até mesmo hostil como se fossem campos mutuamente exclusivos. O relacionamento entre a psicometria e a psicoterapia e as preocupações com solução de problemas psicológicos foram devidos, também, ao considerável impulso motivacional a partir da II Grande Guerra, quando contingentes imensos de ex-combatentes precisavam se reintegrar na vida civil. Como assinalam Sundberg e Tyler (1963), drásticas alterações ocorreram. "Uma nova ênfase nos problemas de adultos e de crianças desenvolveu-se rapidamente. Os exames de inteligência e de aptidões continuaram sendo necessários, porém, maior atenção foi dirigida aos complexos e difíceis campos da personalidade e da motivação. A Psicoterapia tornou-se a preocupação essencial". essencial".
o uso de testes psicológicos Os testes e as medidas em psicologia remontam aos estudos da psicologia experimental iniciados por Wundt no século passado, desenvolvidos no começo do século por Binet e consideravelmente valorizados até a década de 1950-1960, quando teve início forte tendência contrária a seu uso. As razões que lhes foram opostas são, em geral, técnico.científicas e filosóficas. As primeiras questionam a validade técnica das medidas psicológicas e as
últimas o direito que teriam as pessoas de invadir e medir um campo de fenômenos nitidamente pessoais ou de utilizar os dados obtidos em benefício de grupos ou de instituições, sejam estas educacionais, políticas ou empresariais. Parece ao autor que estamos em vias de passar de um modismo psicológico a outro, ambos impregnados de vantagens e de desvantagens, eis que negar a existência de testes ou exames é desconhecer a realidade da própria vida. O que se faz, na verdade, é tentar substituir a avaliação psicométrica por entrevistas e observações clínicas, mudando-se o método mas não a intenção. A avaliação não pode, porém, deixar de existir seja por um processo seja por outro. O excessivo apego a resultados psicométricos sem a devida interpretação do contexto individual e social foi, e com razão, a origem da resistência aos testes. O problema do diagnóstico e particularmente dos testes parece concentrar-se em dois pólos essenciais: 1) a validade das medidas; 2) o uso das medidas obtidas uma vez comprovada sua validade técnico-científica. O primeiro ponto parece ser o mais relevante pois, se a medida for precária, insegura e instável, tudo o mais que dela partir é falso e altamente prejudicial. O segundo ponto envolve problemas sociais, políticos e essencialmente éticos. Testes e avaliações sempre existiram e sempre existirão, sob diferentes títulos e calcados no conhecimento acumulado e na filosofia da época. Nosso problema é aperfeiçoar as avaliações no seu sentido intrínseco e nas suas implicações culturais, éticas e terapêuticas. Quando se coloca o problema do diagnóstico prévio em aconselhamento aconselhamento ou terapia, podem os testes ser necessários ou não. A tendência atual é esperar que o diagnóstico ocorra como produto de interação entre psicólogo e cliente e na qual este atue como participante no seu propalo Julgamento A .pessoa irá ao pouco firmando sua Imagem e, seu autoconceito. Para fins de pesquisa e para outras atividades no campo da psicologia, os testes funcionam como medidores ou indicadores de comportamento e sua utilização é, às vezes, indispensável, desde que válidos e adequadamente aplicados e Interpretados *
Orientação, aconselhamento e psicoterapia Orientar, do ponto de vista psicológico, significa facilitar o conhecimento e a análise de caminhos ou direções para a conduta, com base em referenciais pessoais e sociais. Aconselhar, paralelamente, refere-se: ao processo de indicar ou prescrever caminhos, direções e procedimentos ou de criar condições para que a pessoa faça, ela própria, o julgamento das alternativas e formule suas opções. Psicoterapia é o tratamento de perturbações da personalidade ou da conduta através de métodos e técnicas psicológicas, Shoben (1966), analisando as implicações científicas e filosóficas envolvidas nos processos de assistência psicológica, afirma que do ponto de vista educacional e clínico, há dois alvos: o primeiro é ajudar o estudante ou o paciente a desenvolver suas capacidades para aperfeiçoar sua auto-avaliação "sem, necessariamente, se determinar o conteúdo de suas conclusões". Um segundo alvo, de certa forma contraposto ao primeiro, é o de se recusar ajuda
técnica sempre que esta possa ser solicitada num contexto que venha violar os princípios intrínsecos do valor pessoal. Na corrente comportamentista, encontramos Bijou (1966) afirmando ser "o objetivo final do aconselhamento ajudar o cliente a lidar mais eficazmente com seu melo e a substituir o comportamento mal ajustado pelo ajustado". "Parece claro, do ponto de vista da análise experimental do comportamento, que uma das mais eficientes formas de produzir as alterações desejáveis é pela modificação direta das circunstâncias que as suportam, e um dos meios mais efetivos de manter essas alterações é organizar um melo que continue a suportá-las." A aplicação das leis de aprendizagem é o melo pelo qual se adquire comportamentos desejáveis. Krumboltz (1966), da corrente comportamentista, coloca os alvos do aconselhamento na mesma direção dos psicólogos contemporâneos. Segundo seus conceitos, "orientadores e psicólogos dedicam-se a ajudar as pessoas a resolverem mais adequadamente certos tipos de problemas. Alguns desses problemas relacionam-se com importantes decisões escolares e profissionais, tais como: Que curso devo fazer? A que profissão devo me dedicar? Outros problemas se relacionam com dificuldades pessoais, sociais e emocionais, tais como: Como posso salvar meu casamento? Como poderei suportar esses horríveis sentimentos de ansiedade, solidão e depressão? Como deverei agir para fazer valer meus direitos? Como posso relacionar-me melhor com os outros?" A essas questões o conselheiro acrescenta outras: Como se conceituam os problemas? Como colocar alvos? Que técnicas serão úteis para atingir esses alvos? Como avaliarei meu propalo trabalho? Tais questões são tão familiares e nos apegamos tanto a elas que os novos procedimentos (refere-se ele ao método comportamental) podem justificar uma verdadeira revolução no aconselhamento A posição européia, notadamente à francesa, face ao aconselhamento aconselhamento psicológico, é bem diferente da americana. Piéron (Nepveu, 1961), em um de seus últimos trabalhos, dizia que os métOdos americanos aproximam-se muito da Psicanálise e que a concepção francesa e a americana divergem muito no juízo que fazem sobre o papel do conselheiro. "No regime americano, onde a educação não tem caráter nacional e onde a tendência geral é a de favorecer em tOdos os domínios as iniciativas individuais. o conselheiro se aproxima muito do psicoterapeuta; dirige-se a 'clientes' e não participa, de modo algum, dos problemas gerais da educação, nem se preocupa em participar de uma obra coletiva. Na França, ao contrário, tem-se procurado reduzir, ao máximo, a comercialização em matéria de Orientação. Esta, que tende a se integrar, cada vez mais, na obra nacional de educação, não visa satisfazer clientes, mas a servir os interesses dos Jovens encarando o seu futuro..." Embora haja movimentos renovadores, Nepveu pareceu exprimir bem a tendência na época dominante na França e, talvez, na Europa quando, analisando os métodos de Rogers, de Super e de Bordin e baseando-se em contribuições européias de Nahoum, Delys e de outros, afirma que uma das atitudes correntes é o "conselheiro adotar uma atitude de peritO, ou de amigo desinteressado". "Esforça-se em compreender os problemas e as pessoas, em prever uma certa possibilidade de êxito, em formular conselhos adequados, bem-vindos e liberais". Não obstante algumas controvérsias, o aconselhamento psicológico parece ter tOmado corpo e expressão na década de 1950-1960. De acordo
com relatO de Super (1955), "essa nova expressão resultou do consenso geral de um grande número de psicólogos reunidos no Congresso Anual da American Psychological Association, em 1951, na Northwestern University". O "Counseling Psychology" substitui os antigos conceitos e métodos, originários da orientação profissional, modelada por Parsons e seus seguidores, pela idéia de um trabalho mais sensível à "unidade da personalidade, mais sensível às pessoas do que aos problemas, pois que a adaptação a um aspecto da vida está em relação com todos os outros". "O novo movimento encerra dados teóricos e técnicos da psicoterapia, inclui orientação profissional e ocupa-se, sobretudo, do indivíduo como pessoa, procurando ajudá-lo a adaptar-se com sucesso aos vários aspectOs da vida. Os conselheiros ou orientadores, nesse novo ponto de vista, ocupam-se de pessoas normais podendo cuidar, ainda, daquelas que apresentam deficiências e são mal ajustados, porém, de uma maneira diferente daquela que caracteriza a Psicologia Clínica". Stefflre e Grant (1976), ao escreverem sobre aconselhamento psicológico, chegam a algumas considerações que parecem exprimir a dimensão hoje dominante: a) "a definição de aconselhamento depende dos diferentes pontos de vista das autoridades no assunto. Essas diferenças têm origem em diferentes pontos de vista filosóficos..."; b) "não se pode fazer uma distinção muitO clara e precisa entre aconselhamento e psicoterapia"; c) "o aconselhamento é uma forma deliberada de intervenção na vida dos clientes". Esse mesmo autor classifica o aconselhamento em quatro diferentes posições ou "sistemas", baseado em quatro diferentes teorias: a) Teoria do traço-fatOr, segundo a qual a mudança do comportamento "depende do conhecimento que o cliente tenha de informações"; b) Teoria centrada no cliente, pela qual o comportamento é modificado pela "reestruturação do campo fenomenológico"; c) Teoria comportamental, segundo a qual, após um diagnóstico da situação, determina-se os comportamentos a serem extintos ou reforçados; d) Teoria psicanalítica, que se propõe' 'claramente a uma redução de ansiedade na crença de que daí resulte um comportamento mais flexível e discriminador". Para Rollo May (1977), o campo do aconselhamento situa-se entre os problemas da personalidade, para os quais há necessidade de um terapeUta e o_ problemas de imaturidade ou de carência de instrução, para os quais há necessidade de um educador. Uma revisão de alguns textos sobre aconselhamento, aliada a nossa própria experiência, poderia nos levar l evar às seguintes considerações: 1. A orientação, o aconselhamento psicológico e a psicoterapia não são meros procedimentos técnicos ou operacionais. Subjacente a eles há todo um arcabouço de posições filosóficas operantes tanto no terapeuta ou 'conselheiro. como nas pessoas assistidas, o que estabelece marcantes diferenças entre a psicologia e outras ciências humanas. Mesmo na posição clássica de liberdade e de não-diretividade há, por parte do psicólogo, uma deliberada e consciente postura filosófico-social. Noutro extremo, em que o conselheiro visa instalar um comportamento específico, há, igualmente, um papel social idealizado. 2. O posicionamento conceitual do orientador, conselheiro ou terapeuta flutua, em geral, entre três premissas: a) o homem é um produto predominantemente social; possui impulsos naturais, bons ou maus, que precisam ser canalizados para um tipo de sociedade na qual nos localizamos e que nos assegura a sobrevivência e o bem-estar; b) o homem é suficientemente capaz de decidir por si mesmo e escolher as ações mais.
adequadas para si propalo e p?ra os outroS desde que sejam criadas condições facilitadoras para avaliação auto e hetero-referente e para as opções individuais; c) a autodeterminação é uma utopia; o homem é o produto de múltiplas variáveis; temos que atuar nos agentes que o controlam e nos comportamentos tal como ocorrem na vida. quotidiana. Uma das mais explícitas conceituações e descrições dos papéis atribuídos aos que se especializam em Aconselhamento Psicológico é proposta por Jordaan (1968), em seu levantamento sobre as funções do Conselheiro Psicológico. Segundo dados por ele compilados, este atua em diferentes setores da vida social (consultórios, centros universitários, escolas, hospitais, centros de reabilitação, serviços de orientação profissional, departamentos de pessoal, serviços de colocação e de treinamento, etc.). Analisando as eventuais diferenças entre Clínica e Aconselhamento, assinala que alguns especialistas apontam diferenças entre essas duas especializações, outros, porém, consideram tais diferenças como irrelevantes. Segundo muitos especialistas, o psicólogo-conselheiro tende a trabalhar com pessoas normais, convalescentes ou recuperadas e a encaminhar casos mais sérios a outros especialistas. Usa técnicas psicoterápicas e outros recursos, tais como exploração de condições ambientais, informações, testes, experiências exploratórias e outros procedimentos mais freqüentemente do que o psicólogo clínico. .Em geral, o conselheiro terá desempenho profissional de acordo com a formação que recebeu e das expectativas de trabalho que se oferecem.. Os dados hoje existentes parecem caracterizar o psicólogoconselheiro como o profissional da psicologia de formação mais eclética o que não impede, contudo, que se dedique também a um determinado tipo de atuação na qual, particularmente, venha a especializar-se, a exemplo dos que se dedicam a problemas psicológicos do Trabalho, da Educação, da Família, etc. Do ponto de vista psicológico, a atuação assistencial, profilática, terapêutica ou corretiva pode assumir diferentes rótulos classificados por alguns autores como formas suportivas, reeducativas ou reconstrutivas de tratamento (Pennington & Berg, 1954; Wolberg, 1977). Sem nos apegarmos a essa classificação, pois parece-nos difícil distinguir o que realmente ocorre, em face de um rótulo predeterminado, vamos nos limitar a mencionar apenas exemplos de métodos mais conhecidos, dando maior extensão ãqueles com os quais está o autor mais familiarizado. Procurou-se, porém, agrupá-los, tanto quanto possível, em capítulos próprios, pelo critério de seu posicionamento conceitual. Essa divisão setorial não reflete, porém, nenhuma tentativa de introduzir uma nova taxionomia no campo da psicoterapia. O Quadro 1, a seguir, relaciona exemplos de métodos, devendo-se notar que muitos destes, consoante a situação, podem se enquadrar em outras categorias. MÉTODOS ENTRADOS NO CONTEXTO SÓCLOCULTURAL
MÉTODOS CENTRADOS MÉTODOS MISTOS E NO CONTEXTO PESSOAL MÉTODOS CENTRADOS NO PROBLEMA
Informação orientação · Persuasão · Manipulação ambiental · Aproveitamento de interesses e recursos pessoais e ambientais · Terapia ocupacional · Socioterapia · Comunidades terapêuticas e vivenciais; processos de grupo ·
Psicanálise e técnicas analiticamente orientadas · Técnicas de reorganização cognitiva · Técnicas de crescimento pessoal e autodeterminação · Técnicas suportivas ou de tranquilização · Terapia gestáltica · Terapia biofuncional e bioenergética · Psicodrama · Análise transacional · Terapia primal · Psicobiologia · Logoterapia · Existencialismo ·
Terapia médica ou somática · Fisiocultura e esportes · Técnicas sugestivas e hipnóticas · Arteterapia · Ludoterapia · Biblioterapia · Semântica · Modificação do comportamento · Fé, misticismo, parapsicologia e áreas correlatas · Processos de grupo ·
Nota: Alguns métodos podem ser classificados em uma ou mais categorias: outros não são apresentados sob a nomenclatura habitual e enquadram-se na classe geral em que são colocados no texto (capítulos 2, 3 e 4). 2 - Métodos Centrados no Contexto Sócio-Cultural
Fundamentos Muitos procedimentos de aconselhamento psicológico e de psicoterapia visam atingir os alvo_ de que falamos: tentam conduzir as pessoas às situações que os valores sociais estabelecem como adequadas. Essa imposição, se, em muitos casos, produz reações de crítica e de oposição e até de uma alienação conducente a quadros patológicos, por outro lado pode gerar segurança aos que se incorporam à massa, às tradições, ao pensamento grupal. E coletivo. É a tendência sociocêntrica em oposição à linha individualista ou centrada na pessoa. Até que ponto as tendências socializantes ou personalizantes são benéficas ou prejudiciais, aprazíveis ou aterradoras não sabemos. É assunto Dara os filósofos, sociólogos e psicólogos sociais. O que nos parece evidente é a ausência de padrões, valores ou pressões que, de uma forma ou outra, balizam o comportamento humano. Do ponto de vista do aconselhamento psicológico e de tratamento, há recursos terapêuticos que visam adaptar o homem a seu contexto sóciocultural embora se procure, atualmente, limitar ao máximo a subserviência a valores preestabelecidos, sem, porém, ignorá-los; tenta-se colocar a pessoa em condições de opção, ampliando-se o leque de escolha; procura-se aproveitar as potencialidades individuais e abrir perspectivas para mudanças sociais; procura-se facilitar o questionamento de problemas e situações de vida. E de forma tal que as transições ocorram na pessoa e na sociedade sem violentá-las na sua essência, mas vigorosas no seu posicionamento. O aconselhamento imposto, extremamente autoritário, é coisa do passado, ainda que as informações, os conselhos, as advertências atuem em certos casos. Se os conselhos e recomendações fossem; por si sós, eficientes, as Prisões estariam vazias e os instrumentos; de repressão teriam amplo sentido.
Há, pois, que estabelecer um sistema de comunicação, comunicação, de orientação orientação e de atuação psicológica que produza resultados benéficos para a pessoa e para a sociedade. E, no caso em que os valores sociais sejam predominantes, muitos processos são usualmente aplicados com maior ou menor benefício pessoal ou social consoante as exigências que, naquele momento, fluem da pessoa ou do grupo.
Procedimentos comuns Ainda que prevaleça o sentido sociocêntrico,. Baseado em padrões culturais, tenta-se, do ponto de vista psicológico, reduzir ao mínimo a diretividade procurando-se reduzir tensões e preparar a pessoa para decisões socialmente desejáveis. Em geral, os procedimentos mais comuns são: 1) Discussão com o psicólogo dos prós e contras de cada situação; 2) Informação, pelo psicólogo, com base no diagnóstico, das possíveis causas e da possível evolução das reações observadas; 3) Opinião do psicólogo no sentido de estimular ou de impedir a consecução de certos planos; 4) Planejamento de situações, com o cliente, envolvendo assuntos relacionados com os problemas tratados. Dificilmente se encontra, na literatura, a citação de pormenores técnicos do método, isto é, sobre o tipo de diálogo e atuação pelo qual o psicólogo conduz o relacionamento com o cliente. Em geral" são citados métodos de interpretar resultados de testes face a uma situação considerada e prognósticos que podem ser levantados. Limitam-se os autores a afirmar que "o cliente deve ser informado", que" deve tomar conhecimento J' , que o psicólogo deve considerar isto ou aquilo e que o cliente deve decidir. Em geral, qualquer dos procedimentos aqui citados, como outros, análogos, ,embora com nomenclatura diferente, compreendem três etapas: Fas e c atárt ic a
O psicólogo ouve o cliente mantendo atitudes não críticas, facilitando sua expressão. O cliente expõe seus problemas e o psicólogo usa várias intervenções, tais como repetição, sumário e proposição de questões, esperando que o problema seja devidamente enquadrado em hipóteses prováveis. Essa fase pode durar uma ou mais sessões, na medida em que seja necessário chegarem, psicólogo e cliente, a uma estruturação formal dos problemas a enfrentar. Fase de diagnóstico
Fase de dec is ões
Variações no processo In f o r m ação -O r i en t ação
Pe rs u as ão
Trata-se de imposição comportamental, no plano da ideação e da ação, baseada em padrões de conduta previamente definidos como únicos possíveis e válidos. De efeito sugestivo, atua sob a forma de dissuasão racional, geralmente associada a recompensas e punições. É de valor ético discutível e somente indicado em situações de emergência e de perigo para o cliente ou para outras pessoas. Inclui, muitas vezes, a doutrinação e a orientação das pessoas para comportamentos sociais ou políticos emanados de um grupo dominante. Um exemplo extremado deste procedimento é a chamada "lavagem cerebral". Man ip u laçã lação am b ien tal Ap roveitamento d e interesses interesses e de recursos p essoais e amb amb ientais
deque prévio diagnóstico global! Edos visa utilizar ao _tj.anteriores, social. máximo Inclui individuais, sociais. Educação, procurando-se que família, aoPartindo Estudo sociedade Multo das o potencial baseia-se procurando-se atividades usado já da facilitar dinâmica eoferece. no aoferece nas àestrutura comunitárias Campo pessoa possibilidades do conciliá-las Écomportamento opções da menos individual, seuOrientação ajustamento ouno com diretivo em da campo usando outras as comunidade eVocacional Do ofertas adiferencial, do caminhos áreas uma alvos que trabalho, ou eeedo os ou das as mais Profissional não comportamento procedimentos da necessidades Do bloqueados. alternativas instituição, lazer,e na da Terapia Terapia ocup acional
Compreende atividades de lazer, de recreação e, principalmente, tarefas que revelem utilidade e sentimento de auto-afirmação. As atividades podem ser livres, dirigidas ou semidirigidas e propiciam redução de tensões, exploração de aptidões e de interesses, melhora de comunicação e: da expressão e podem ter ação preventiva. educativa ou terapêutica (Willard &Spackman. 1970). Pode atuar como procedimento complementar ou como como técnica terapêutica essencial, principalmente quando outros métodos são inviáveis. Pode incluir outras atividades, tais como esporte, teatro, movimentos associativos, atividades artísticas, cívicas, sociais, religiosas, bem como trabalhos manuais e artesanais. É aplicável, também, no campo empresarial para liberação de tensões, desenvolvimento pessoal enriquecimento do trabalho e melhora da comunicação. A laborterapia é algo paralelo que se diferencia de terapia ocupacional porque estabelece um padrão mínimo de (desempenho a atingir, periodicamente revisto e neste sentido, tem amplos efeitos pedagógicos e psicológicos tanto para pessoas ditas normais corno deficientes. Muitas vezes recorre-se a oficinas especiais ou "protegidas", mas a tendência atual é usar o ambiente normal de trabalho. Socioterapia
Confunde-se com outros métodos e técnicas já que o aconselhamento e a psicoterapia de qualquer estilo são, também, socioterápicos. Mescla-se, mais comumente, com a manipulação ambiental, com comunidades terapêuticas e com as técnicas de grupo em geral. Em essência, visa um contexto grupal, de que são exemplos a terapia familiar (Bowen, 1978), a terapia institucional (para pessoas que têm vida em comum) e equipes de trabalho. Nestes e noutros casos, a ênfase é dirigida para os sentimentos e as relações intragrupos e intergrupos; concentra-se nos problemas de agrupamentos humanos em geral como, também, em grupos especiais tais como grupo de doentes, grupo de viciados (o A.A.A. é um exemplo), grupo de minorias raciais, grupo de delinqüentes, etc.
Os procedimentos aplicados correspondem, em geral, às técnicas de grupo, sob orientações psicológicas as mais diversas (vide capítulo 4). Com un idad es terapêutic as e v i v e n c i ai ai s ; p r o c e s s o s d e g r u p o
São geralmente usadas quando se busca um relacionamento grupal e um trabalho de grupo e, neste caso, assemelha-se à socioterapia. As comunidades terapêuticas e vivenciais são, também, destinadas aos casos que não possam ser atendidos em clínicas ou consultórios comuns por dificuldades diversas. Aplicam-se igualmente às pessoas que tenham problemas de residência, de locomoção e as que precisam de constante assistência, seja médica ou psicológica. Em alguns casos caracteriza-se uma internação ou seja um regime de vida em clínica, hospital ou comunidade em que a pessoa submete-se a um tratamento médico, psicológico e social em geral programado pela instituição que a acolhe. Modernamente, os "internos" são convidados para colaborar, podendo até participar da direção dos programas em regime de co-gestão, visando-se confrontação com a realidade e auto-afirmação. A interação entre os participantes é discutida em sessões especiais prevendo-se, também, relações externas e o gradativo término da internação com o conseqüente autogoverno. . Os procedimentos e todas suas variações médicas, psicológicas ou sociais são planejados e aplicados por equipes multidisciplinares, com a cooperação dos participantes, podendo ser usados tanto em hospitais como em escolas, empresas, estabelecimentos penais, centros de abrigo e proteção e obras assistenciais. O hospital-dia, centro-dia ou centro terapêutico é uma variação metodológica na qual o cliente conserva o vínculo com a família e freqüenta o centro diariamente ou algumas vezes por semana. Aplica-se a pessoas para as quais a tarefa terapêutica de consultório ou de ambulatório é insuficiente e para as quais a internação comum é desnecessária ou contra-indicada. Tanto a internação ou hospitalização comum como o centro -dia implicam na existência de várias atividades que compreendem, em geral: 1) Assistência médica em geral; 2) Atividades psicoterápicas tais como sessões de grupo, jogos, dança, esporte, artes plásticas e musicais, artesanato, participação em tarefas para o centro; 3) Psicoterapia específica, conforme o caso; 4) Contacto com a realidade; 5) Trabalho com a família, fazendo desta uma ativa participante. O centro-dia, ou centro terapêutico, vem sendo usado também no campo da gerontologia, pelo qual conserva o idoso seus vínculos familiares sendo, simultaneamente, assistido por uma equipe especializada, em um melo que lhe proporciona convivência e atividade produtiva. A vivência comunitária é outra variação do procedimento procedimento de internação e comunidade terapêutica. Pode assumir várias formas, desde instituições destinadas a menores excepcionais ou desemparados, até instituições penais ou conjunto residencial para idosos. Esse sistema tem algumas vantagens e algumas desvantagens. Em geral provê meios assistenciais mais facilmente e menos onerosos mas, por outro lado, afasta o indivíduo da realidade existencial ex istencial contribuindo, até certo ponto, para uma segregação social ou etária. Outro perigo é o envelhecimento ou saturação da comunidade ou seja, o cansaço
resultante de uma constante vida em comum. Os inconvenientes apontados podem ser removidos com uma organização suficientemente ampla e flexível, com programações variadas e com população parcialmente rotativa. Pode-se, também, em certos casos, limitar a estada residencial a alguns dias por semana ou intercalá-la com temporadas em outros locais, principalmente junto à família.
3 - Procedimentos Centrados no Contexto Pessoal Fundamentos Os métodos e os procedimentos práticos atuam tanto no plano consciente como no inconsciente da personalidade e tendem a ser fenomenológicos ou, como diz Tyler: "Lida com o mundo como a pessoa o vê mais do que com a realidade existente" (Sundberg e Tyler, 1963). A pessoa atingida pela orientação individualista passa a sentir-se segura e tranqüila à medida em que entende e vivencia seus problemas pessoais e quando se torna capaz de enfrentar a realidade em todos os seus aspectos; sente redução de tensões; o autoconceito se eleva; a crítica a si mesmo e aos outros tende a diminuir e os sucessos e fracassos são percebidos como fatos naturais próprios do viver e do vivenciar de cada um no seu momento de vida. O aconselhamento psicológico e as técnicas psicoterápicas que freqüentemente se intitulam humanísticas, ou centradas na pessoa, nem sempre assim atuam, quer colocando como referencial o contexto sóclo-cultural (ver capítulo anterior), quer focalizando o problema em si, a exemplo de outras ciências. No enfoque centrado na pessoa, o trabalho ter apêutico ou profilático é intencionalmente voltado para o processo particular pelo qual os eventos psíquicos ocorrem em uma dada pessoa. I 'Os erros da vida ocorrem quando o indivíduo tenta representar algum papel que não o seu". Esta frase de May (1977) esclarece bem a individualidade de cada um de nós. Não há tipos, nem rótulos ou categorias de indivíduos ou de problemas. Há pessoas nas quais condições orgânicas ou sociais geraram dificuldades, as quais foram manipuladas de acordo com recursos pessoais em um dado momento. Todo psicólogo experiente sabe que não há dois clientes iguais, embora, aparentemente, os problemas sejam os mesmos. A vivência de cada um deles é sempre “sui-generis". “sui -generis". Diz Jung que cada um de nós traz em si uma constituição específica de vida, indeterminável, que não pode ser substituída por outra. A singularidade de cada pessoa e sua harmonia intrínseca são os alvos. A Psicanálise de Freud, bem como as teorias e técnicas que dele se originaram, constituem exemplos clássicos da orientação antropocêntrica, embora o controle social e cultural esteja sempre presente.
Procedimentos comuns A abordagem inicial, muitas vezes, é semelhante à usada na metodologia da primeira categoria (capítulo 2), ou seja, há uma fase de relacionamento e catarse na qual o cliente expõe seus problemas, formula sua "queixa" e o psicólogo o assiste, refletindo seus sentimentos e demonstrando
aceitação e empatia (o que não significa aprovação ou reprovação). A partir dessa fase e de acordo com um pré-julgamento que o psicólogo efetua sobre o cliente e as possibilidades de atendimento, é fixado um sistema de encontros periódicos, individuais ou em grupo.
Psicanálise e técnicas analiticamente orientadas
Técnicas de reorganização cognitiva Técnicas de crescimento pessoal e autodeterminação Técnicas diversas Presenciamos, atualmente, uma babel de terapias, seja nesta categoria, seja em outras, assinaladas nos Capítulos 2 e 4. Há grupos, movimentos e serviços públicos e particulares (centros pastorais, centros de valorização da vida, centros de emergência e de assistência a ansiosos, viciados ou marginalizados, encontro de casais, encontro de jovens, grupos comunitários e grupos de encontro em geral, grupos de gestantes e de idosos e um sem-fim de proposições). Alguns se utilizam de lazer, entretenimentos, recreação comum; outros utilizam o' esporte e os exercícios físicos; alguns empregam o esforço, outros o repouso; uns propugnam o relaxamento e a descontração, outros, ao contrário, a assunção da responsabilidade e da preocupação; alguns promovem estados solitários e de meditação, outros o companheirismo e a convivência grupal; outros, enfim, propõem a criatividade, a libertação e a expressão de si mesmo, enquanto outros proclamam a submissão, a obediência e o conformismo. Todos eles têm em comum a busca de soluções para problemas emocionais ou circunstanciais, no plano existencial. As proposições terapêuticas parecem estar ao sabor da atividade de muitos, bem como do charlatanismo de alguns, embora haja um bom número de profissionais seriamente empenhados em aplicar, controlar e estudar novas técnicas e seus efeitos nos clientes. Dentre as técnicas que têm merecido considerável estudo, poderiam ser citadas algumas, tais como: · As técnicas suportivas ou de tranquilização, individuais ou em grupo, geralmente destinadas a clientes em estado de grande ansiedade ou depressão. Usam-se vários procedimentos, dentre os quais a catarse, atividades físicas, compreensão e empatia, sugestão, persuasão, hipnose, relaxamento físico e mental, repouso, placebos, em geral como procedimentos iniciais seguidos, depois, por atividades programadas no sentido lúdico, artístico, filantrópico, profissional, etc. Nas técnicas suportivas procura-se, inicialmente, baixar o nível de ansiedade, ou de depressão, elevando-se, por outro lado, o nível de tolerância às frustrações e conflitos, principalmente quando estes são irremovíveis (redução do autoconceito, perda de bens ou de parentes, incapacidade física, convivência forçada com fontes de atrito, etc.). Não se cogita de reorganizar a personalidade, mas de reduzir ou eliminar os
sintomas agudos, propiciando condições para uma programação terapêutica posterior. · A terapia gestáltica que parte da experiência organísmica, colocando o corpo, com seus movimentos e sensações, no mesmo plano da mente. A ênfase terapêutica consiste em colocar a pessoa em contacto com as necessidades correntes e imediatas do organismo, Perls (1976), seu principal fundador, coloca como fundamental a estrutura e a configuração da percepção, isto é, o processo ativo que leva à construção de um todo perceptivo organizado e significativo entre o organismo e seu meio. Os desajustes e neuroses são conseqüências de separações e espaços não naturais na formação das "gestalten" (configurações) e a ansiedade seria a sensação de ameaça a essa unificação un ificação criativa. O tratamento é, em geral, grupal, sob a forma de "workshops", nos quais são usadas dramatizações, troca de posições e papéis, visando-se "minimizar o espaço vazio entre os processos subjetivos e objetivos e restaurar na pessoa a totalidade da experiência não-verbal concebida como uma espécie de elam vital" (Kovel, 1976). Uma extensão do método é a terapia gestáltica centrada na pessoa, como forma de conjunção entre a posição rogeriana e gestaltista e da qual falamos a seguir. · A
terapia gestáltica centrada na pessoa é, no dizer de Maureen MilIer * , uma' 'terapia de movimento; movimento através do espaço, do tempo e dos níveis de consciência. O objetivo é a libertação do movimento natural de energia de vida, através de ação espontânea e livre que leva a pessoa à percepção e à satisfação de suas necessidades através de harmonioso contacto com o universo de onde provém energia para a vida". * Tradução do autor, de manuscrito a ele enviado pela autora. Os seguintes conceitos são básicos: 1. O universo é um todo; é racional; comporta-se' de acordo com suas próprias leis e está em evolução; 2. A vida, inclusive a vida humana, segue um caminho de crescimento em direção à complexidade. Essa tendência formativa é um movimento no sentido da realização construtiva de possibilidades que lhe são inerentes e que não podem ser destruídas sem se destruir todo o organismo; 3. É da natureza da consciência humana procurar procurar sempre contacto cada vez mais profundo com uma realidade absoluta; 4. A consciência tem capacidade para expandir-se aprofundando o contacto com a realidade absoluta. A postura do terapeuta na abordagem gestáltica centrada na pessoa é a de fé nesses conceitos, de humildade face ao reconhecimento de que aquilo que é conhecido como personalidade é, apenas, um pequeno fragmento da totalidade. É uma postura de curiosidade à procura de uma visão mais ampla da realidade; é uma postura de incursão e experimento, do cliente e do terapeuta, em novos e mais ricos contactos com o mundo. O terapeuta é alguém em quem se confia como co-explorador dós mistérios internos e externos que constituem a existência do cliente e que o ajuda a descobrir os
limites de sua energia.. de seu movimento e de sua capacidade para nutrir seu contacto com seu mundo (Miller, 1981). biofuncional eglobal bioenergética, resultante das ·e ·o papéis respostas ambientais Pai, adulto mesmo (1970), reprimidos instruído permanecer drogas unicamente sessões diante específico sentimentos palavras, tratamento continua vantagens todas e senso de um independente. em pansexualismo cliente implica psíquica espiritualismo significado conscientização procura nesse bioenergética. contribuições estado atuamos expressas orgasmo muscular" inconsciente. manipulação mobilização essa reichiano, de pelos desempenhados diferentes técnica alternativas relacionamento antecipam vividos situações comportamentos médicas. de contexto sentimentos sua conjunto Adulto inferioridade posição. as comum parâmetro, clientes eaou A eem emocional eO Já os baseia-se levar de seu cátedra encontro centrado formas ser decorre éterapêutica, fundamentalmente que para gestos análise pelos e psicobiologia, Psicodrama para ou hipotéticas terapia dificuldades de que da com edistrações estados orientações um parcialmente eterapia duas pode ao aceitação O sócio-cultural, da relacionados significado. em interpessoais, há os Criança atendido. que de epossam reprimidas. Essa ovida. um posicionamento Criada tratamento, dos Posteriormente, exemplo que ena seguir ogerados energia freudiano. do levar de algumas homem papéis outros, ou em um não pessoal pelos situações pela Reich achar princípios econtinuar, no de transacional, do pode cliente amplo vivência primal comumente depende espiritual. na de psicoterapia, A liberação três vigorosas conduza estados seu um Viena, suficientemente hotel preenchimento epor ologoterapia redutoras,de do audiência, ser OK, que participantes. criado preventiva futuras uma liberação Em oseus (1945), frisante. doutrinárias ocorrer orgânica. horas que cliente ajudando por sentido mencionada problema asentido diagnóstico Neste Dever desenvolve ou com de Victor revistos. contribuições, anesse eou as Sua durante do se cada possam que esituações através opõe-se da depois, simbolismos. Como programação as social, do por seja, de A. situações àcliente ediárias perceber expressões de écriada seus Lowen assumida tem afunção. sentido, sob É em outras Frankl ebem técnica de pessoas período. descoberta, enfocam grito através emoções Meyer Moreno sessão tensões esforça de Daí expressar necessário a(Kovel, técnicas da Há, ser tensão ou análise sua três como do forma epais O pessoa em explorados. trazer do no ao e, com como por bem sentimentos aQ propostas Responsabilidade. desenvolveu primal, julgado que psicodrama também, tem (1955), corpo existência. de ou vida édo aeducativa. fim como item semanas vazio nome seu princípio consiste sob (1958), grupo Nessa Berne de lida-se e(1959) por -se, 1976). aqui núcleo adotaram função oA seguir, segurança, eda físicas o dramática. reprimidas, focalizam holístico corporais, as organismo; terapêutica, isto como de àterapeuta, evoluído de terapia oseus ameio. determinados dedicar-se relativo penetrar oeclássicas em "aqui angústia especialmente, positivamente originária que, atuações tona citada ser existencial; de compreender sucessor certa libertar (1976), de no ocorre fase, dramatizações pelo nome visa com avital que ado em mais eorgonoterapia si responsável pode situações profundamente suas paralelamente, idéia oqual focaliza integração repressões com Dentre enas verbais. abster-se aos problemas terapeuta àpor oprazer pensamento forma muito mesmo, ena um auto-estima como O enfatiza facilitar existencial, através permite cliente .expressão de enfatiza vivemos agora" ofiguras saturar biológicas profundos intensa de atuar tal energias, de oA "couraça cliente constituir relações métodos base material objetivo de terapia papéis cliente saúde oque Freud Janov por único como deles eseus suas pela Seu Ego que sob tem um ou ao no de da do as e, já si eé oaa logoterapia A intenção paradoxal é um dos procedimentos usados. Incentiva o cliente a enfrentar e a praticar aquilo que teme. Esse processo, já estudado por outros métodos, equivale a desenvolver uma resistência mental (ou espiritual) a certos fatos perturbadores ou ameaçadores. Além da heróica resistência, acompanha-se de ironia para com o fato ameaçador, destruindo-lhe a força.
A posição existencialista e o retorno à filosofia
4 - Métodos Mistos e Métodos Centrados no Problema Fundamentos Como os efeitos emocionais das frustrações ou dos conflitos estão sempre presentes, podem ser usados procedimentos mistos que atuem, concomitantemente, sobre os agentes externos (causas) e sobre a pessoa (efeito). Às vezes, os psicólogos se preocupam apenas com os estados emocionais, quando seria mais indicado atuar diretamente nas raízes circunstanciais do problema. A dificuldade consiste em identificar os agentes externos, não-psicológicos ou paralelos e as estratégias e táticas que atuem na pessoa e no meio. A seguir vamos mencionar, apenas a título de lembrete, sem entrar em pormenores técnicos que escapam à competência do autor, alguns dos métodos e técnicas que atuam em vários aspectos. Alguns deles aproximam-se mais da abordagem cultural, outros da abordagem pessoal e oUtros são centrados em problemas específicos. A escolha dos procedimentos depende, também, como nos demais recursos terapêuticos, da formação e preparação profissional do Orientador ou Terapeuta das possibilidades práticas de atuação *
Procedimentos comuns Terapia médica ou somática Como os exemplos são suficientemente significativos no que se refere a distúrbios de comportamento causados por fatores fisiológicos, a somatoterapia é um recurso aplicável em numerosos casos, seja como método básico, seja como coadjuvante fio tratamento. A literatura em geral menciona casos em que o tratamento com vitaminas reduziu a ocorrência de perturbações mentais associadas à pelagra; em que drogas energizantes melhoraram estados de depressão ou de desinteresse; em que correções do funcionamento hepático diminuíram estados de irritabilidade. São conhecidos, também, os efeitos de certas substâncias sobre o desejo ou o desempenho sexual, bem como os
efeitos da desnutrição e as repercussões mentais de muitas doenças ou disfunções orgânicas. Nesta modalidade profilática ou terapêutica há sempre necessidade de se recorrer a uma equipe multidisciplinar, em que atuem médicos, psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e outros profissionais. É possível conjecturar, embora haja poucos estudos concludentes, que muitos distúrbios do comportamento, chamados estruturais ou de temperamento e, portanto, de origem predominantemente genética, sejam beneficiados com esse tipo de assistência, bem como os que resistem aos tratamentos psicoterápicos conhecidos. Sobre o assunto deve o leitor reportar-se a obras no campo psiquiátrico e psicossomático (Baldessarini, 1977; Lion, 1978; Linden e Mass, 1980). Pode-ser incluído neste tópico um variado elenco de procedimentos que vão desde exercícios físicos ou relaxamento, até fisioterapia e processos bioquímicos. Muitas ações cirúrgicas, bem como as plásticas, ortopédicas ou alimentares, podem ser úteis. As revistas médicas mencionam a ação sedativa de neurolépticos sobre o sistema nervoso, reduzindo estados de excitabilidade, bem como o efeito de várias drogas sobre o comportamento em geral (Coleman, 1973; Spoerri, 1974). A quimioterapia parece apresentar dados promissores, na medida em que os processos patológicos tenham origem ou sejam desencadeados por fenômenos orgânicos. É um valioso recurso auxiliar também nos casos de desordens funcionais para remissão ou alívio de sintomas, facilitando à pessoa tornar-se acessível a atividades do dia-a-dia, a ocupações profissionais e à psicoterapia. Provocando redução, ainda que temporária, do medo, da angústia, da agressividade, da depressão ou de oUtras manifestações inadequadas à situação, consegue reambientar as pessoas, diminuir alucinações e delírios e abrir perspectivas para uma retomada de suas atividades habituais, o que as ajuda no plano emocional de auto-afirmação e de relacionamento social e, assim, indiretamente, contribui para a melhora do quadro geral. Beitman (1981), citando inquérito entre membros da Associação Psicanalítica Americana, menciona que cerca de 60% dos analistas usa medicamentos em alguns dos pacientes. Lesse (1978) afirma ter obtido 83% de resultados satisfatórios com o uso de psicoterapia e tratamento farmacológico combinado, em um período de três semanas, em um grupo de clientes com severa depressão. O mesmo aUtor assinala que no caso de depressões profundas, com idéias de suicídio, o tratamento puramente psicoterápico mostrou-se inferior ao ao tratamento combinado com drogas. . Reflexologia
A reflexologia, baseada nas contribuições de Pavlov e Bechteéew, na Rússia, e de Watson, nos Estados Unidos, foi à precursora da terapia comportamental de que trataremos mais adiante. Os fatos psicológicos são vistos como eventos fisiológicos, não havendo lugar para a consciência. As teorias sobre o associassionismo e os conceitos sobre Inibição e excitação são importantes na compreensão e no tratamento dos eventos comportamentais. O objetivo, segundo Salter, é "desinibir a inibição e atinge-se esse objetivo com o que podemos chamar de química verbal". O desajustamento é um processo de
aprendizagem e assim é a psicoterapia. O "equilíbrio entre a excitação e a inibição é a base da vida normal" (Wolpe, Salter e Reyna, 1966). ; '. . . . . Os procedimentos podem incluir diálogos, manipulação ambiental, drogas e aparelhagem variada que atuem para desinibir os focos da inibição condicionada. Muitas. técnicas de "controle mental", de "controle emocional", exercícios de concentração e de descontração sensorial, estimulação ou tranquilização enquadram-se nesta categoria, inclusive sistemas de controle eletromecânicos ou eletrônicos relacionados com o uso de biofeedback. Fisicultura, esportes e m an ip u lação co rp or al
Embora não haja pesquisas suficientes sobre os efeitos psicológicos decorrentes de determinadas práticas de educação física ou de esportes, a observação vem mostrando influência favorável dessas atividades, no ajustamento pessoal e social. A redução de tensões pela ativação de funções fisiológicas ou pelo relaxamento programado, assim como sentimentos de aUto-afirmação, são alguns dos efeitos ef eitos observáveis. Té cn ic as su g es tiv as e hipnóticas
Arteterapia
Inclui grande variedade de ações no campo da música, pintura, escultura, literatura, bem como na expressão corporal (dança, ginástica, artes marciais, exercícios grupais), seja como trabalho terapêutica individual ou em grupo, como redutor de tensões (música no trabalho, na escola, em hospitais, etc.). Há trabalhos pioneiros como os de Licht (1946) sobre música, de May (1941), de Rosen (1957) e de Schoop (1974) sobre dança. Relaciona-se, em alguns aspectos, com a terapia ocupacional e com outras técnicas terapêuticas. A dança-terapia e o uso do movimento corporal ver:J. sendo bastante utilizada na redução de tensões, no desenvolvimento motor e afetivo. Segundo afirma Serra (1981), coube à Laban (1950) abrir caminhos novos com base na qualidade do movimento e a Kestenberg (1967) enfatizá-los no desenvolvimento das estruturas psíquicas da criança. Há; nestes casos, íntima relação com as terapias de manipulação corporal citadas em item anterior. Vários programas de atividades artísticas vêm sendo desenvolvidos com doentes mentais que incluem, principalmente, a criatividade e a recuperação da própria identidade. Nessa área destaca-se o trabalho de J.M. Erikson (1976). Ludoterapia
Aplicada principalmente em crianças, pode ocorrer sob várias orientações terapêuticas, sejam freudianas, rogerianas, comportamentais, ou outras. Utiliza-se das expressões livremente ensejadas pelos participantes ou decorrentes de jogos e situações provocadas pelo terapeuta. Baseia-se na acepção de que os sentimentos livremente expressos são importantes para a criança, independentemente do que diga ou faça, embora haja limites que lhe permitam ajustar-se à realidade e torná-la consciente de sua responsabilidade
na relação estabelecida com pessoas e objetos (Axline, 1980; Gondor, 1954). Encontra-se em Schaefer (1976) amplo estudo sobre o uso do jogo infantil para finalidades terapêuticas no qual o autor especifica diferentes linhas doutrinárias. Biblioterapia
Semântica
Consiste em rever, comentar e explorar o sentido de palavras e expressões que o cliente usa para se conceituar ou para explicar suas frustrações e conflitos. Os esclarecimentos lingüísticos permitem reduzir ou eliminar as ilogicidades de pensamentos, atos e conceitos codificados pela linguagem. Os símbolos lingüísticas são revistos e analisados em função das aspirações e necessidades da pessoa e da maneira como ela reage a esses conceitos. Korzybski (1941) é considerado o pioneiro do método. Mo di fic ação d o c om po rtam ent o
As teorias e os procedimentos subordinados subordinados à teoria comportamentalista seguem, com algumas variações, o esquema tradicional da Psicologia Experimental e de seus estudos no campo da psicologia da aprendizagem, já que" aconselhando, orientando, intervindo na conduta, o psicólogo ou terapeuta visa modificar comportamentos existentes e promover a instalação ou aprendizagem de outros. A expressão "modificação do comportamento" ("behavior modification") tem prevalecido como título dessa nova abordagem, ainda que pareça imprópria, eis que todo processo de aconselhamento ou de psicoterapia tem como alvo modificações comportamentais. Os estudos e preocupações com as mudanças de comportamento, entendidas como tais as respostas a certos estímulos, podem ser, sob nomes e situações diversas, localizados nas mais longínquas épocas, desde que o homem tenha modificado sua conduta face aos resultados ou conseqüências que sente ou observa. Os estudos de laboratório datam, porém, do século passado dentre os quais os de Ebbinghaus e de Thotndike. Posteriormente, Pavlov, Hull e outros pesquisadores ofereceram novas contribuições até que, com Watson (1930), Skinner (1938, 1967,1968), Bandura (1961), Lazarus (1971,1972,1977) e outros especialistas do campo, as implicações teóricas e práticas alcançaram quase todos os domínios da psicologia, inclusive o aconselhamento e a psicoterapia, ramificando-se em teorias e ações suplementares e, por vezes, um tanto divergentes entre si. O corpo teórico básico permanece, embora, para muitos, seja inaceitável, como foi a teoria psicanalítica no começo do século XX. Estudos, comentários e análise de resultados da terapia comportamental são fartamente apresentados em numerosas publicações das quais se destacam as de Eysenck (1952, 1960), de Hersen e outros (1979) e de Franks e Wilson (1980). a) O comportamento é função do ambiente. Controlamos e somos controlados. Os eventos que ocorrem em torno de nós modelam o nosso comportamento. O controle ocorre principalmente pelo reforço e pela punição.
b) O comportamento é aprendido quando, ao ocorrer, é de alguma forma “recompensado”. A expressão “reforço” significa recompensa ou gratificação. c) Se a uma resposta casual ou espontânea seguir-se um estímulo reforçador, a força dessa reação (resposta) será aumentada; se não o for, sua freqüência, no futuro, será menor. As respostas, reforçadas ou não, terão, assim, maior ou menor probabilidade de ocorrer no futuro. d) Há reforços positivos e negativos. Os primeiros consistem na apresentação de estímulos, no acréscimo de alguma coisa à situação, tal como alimento. água, contacto sexual, etc. Os outros consistem na remoção de algo perturbador, por exemplo muito barulho, luz intensa, choque elétrico, frio ou calor intenso, etc. Além destes, há reforços secundários ou estímulos que, associados aos anteriores, atuam como eles. e) Enquanto o reforçamento torna as respostas r espostas mais freqüentes, sua falta ou ausência extingue a resposta. f) A conseqüência da retirada do reforço positivo é uma redução na freqüência das respostas, e a conseqüência da remoção de algo desagradável (reforço negativo) é um aumento dessa freqüência. g) Para que sejam eficazes os estímulos reforçadores, é preciso que eles surjam logo após a resposta casual ou espontânea. Um intervalo maior do que alguns segundos pode reduzir de muito o efeito reforçador. O reforçador deve ocorrer exata e imediatamente após a concretização do comportamento a ser aprendido. Caso isso não se verifique, um comportamento diferente pode instalar-se. h) O ato de aprender é uma modelagem paulatina do comportamento através de reforços. Estes podem ser usados e planejados na situação de aconselhamento e terapia de várias maneiras, usando-se intervalos e meios para discriminar e generalizar. - discriminação - generalização - encadeamento - modelação. k) O comportamento seguido de conseqüências reforçadoras (recompensa) tem maior probabilidade de ocorrer novamente. I) O comportamento seguido de conseqüências aversivas (punição) tem menor probabilidade de ocorrer novamente, mas a força relativa da punição em alterar o comportamento é pequena, comparada com a força do reforçamento positivo. m) O comportamento que não for reforçado tende a se extinguir. n) Confirmar ao cliente que ele modificou seu comportamento em direção a um resultado desejado é reforçador para ele. o) A principal diferença entre os que aprendem é a rapidez com que ocorre a aprendizagem, não a maneira como ela ocorre. p) Uma das contingências de reforçamento mais importantes é o tempo que medeia entre o comportamento e o reforçamento. Quando as conseqüências positivas ocorrem imediatamente após o comportamento, as probabilidades de que este venha a ocorrer novamente são maiores do que se houver uma demora.
q) A transferência do comportamento de uma situação para outra depende de provocá-lo na situação mais próxima possível da realidade que se quer atingir. r) Outra contingência importante é o esquema de reforçamento, isto é, a conseqüência intermitente ou contínua. O mais eficiente para instalar novos comportamentos é o esquema de reforçamento contínuo (que ocorre sempre após a emissão da resposta), e para manutenção do comportamento é o esquema intermitente (que ocorre de vez em quando sem que a pessoa saiba quando ocorrerá, mas espera que ocorra). s) O intervalo entre os reforços é importante. Em geral é mais eficiente iniciar reforçando o comportamento toda vez que ele ocorra e, a seguir, deixar de reforçar em algumas ocasiões. Passa-se depois a reforçar ao acaso de maneira a manter-se o comportamento desejável. t) Finalmente, para que o comportamento possa ser instalado, é preciso que o cliente emita esse comportamento. Fé , mi sti cis m o, p araps ico lo gia e ár ea s c o r r e l a t as
Neste conjunto de recursos, condenado por muitos, aceito por outros, mas aberto a conjecturas, haveria que distinguir algumas posições principais, a saber: 1) procedimentos que, embora sob denominações diversas, incluem-se no campo da fisiologia e da psicologia convencional ou da ciência em geral; 2) procedimentos relacionados com doutrinas ou práticas não ortodoxas, baseados em “forças” ou agentes sobrenaturais; 3) procedimentos parapsicológicos que incluem parte do primeiro grupo, parte do segundo e fenômenos ainda pouco esclarecidos. A primeira posição pouco acrescenta, do ponto de vista científico atual, aos procedimentos que a ciência dispõe; apenas muda-se de nome e tenta-se criar uma doutrina própria. O ritual que os acompanha é, geralmente, parte de um revigorante influxo sugestivo ou um processo bem elaborado de condicionamento operante e, desse modo, produz resultados. Podem ser incluídos neste grupo: o Hinduísmo, para estados de tensão e que compreende, em geral, relaxamento muscular, meditação e, depois, concentração em soluções objetivas para os problemas; a Yoga, uma variante do hinduísmo que visa ao autocontrole, em vários estágios; o Budismo, que busca o controle de todos os desejos e o domínio de si mesmo como técnica para eliminar sofrimentos; o Zen-budismo, baseado na intuição e na iluminação, na procura de maneiras diferentes de solver problemas; muitas técnicas orientais, influências astrais e de fenômenos da natureza (Barter, 1967). A meditação, outrora pertencente apenas ao campo do comportamento esotérico, próprio de certos rituais orientais, é hoje um procedimento aplicado como recurso terapêutico básico ou associado a outros métodos. Maupin (1965) é considerado um dos pioneiros nas investigações e aplicações experimentais do método. Deikman (1966), paralelamente, relata que a meditação pode induzir a pessoa a libertar-se de estereótipos mentais e atingir formas mais agradáveis de encarar as realidades existentes. A meditação pode relacionar-se, no plano teórico ou operacional, a outros procedimentos, tais como o treinamento autógeno, de Schultz, à Yoga, à
auto-regulação do processo cerebral e aos processos genéricos de tomada de consciência (Chang, 1978): Estudos citados por Hart e Tomlinson (1970) indicam a ocorrência de mudanças fisiológicas devidas à meditação e que a pessoa “pode aprender a controlar suas ondas mentais” (p. 588). Dizem os mesmos autores que “se o homem puder aprender a controlar sua própria consciência, através da combinação de antigas técnicas com a moderna tecnologia, tecnologia, estaremos entrando em uma nova idade cultural” . A meditação lembra, ainda, a Terapia Morita (Chang, 1978) e implicações em áreas correlatas tais como a percepção do próprio Eu, um recurso para entender a consciência e o uso de processos subjetivos para controle mental. Infelizmente, há poucas pesquisas significativas sobre tão fascinante campo e muitos métodos e técnicas são, apenas, comercialmente explorados. Na segunda posição podem ser encontrados certos cultos e crendices com grande variedade de atuações físicas, materiais e espirituais; pode incluir superstições, magias e correlatos. Embora a dimensão do transcendente em terapia não seja ignorada pela ciência psicológica, sua deturpação sob a forma de rituais exóticos é francamente questionada pelos riscos que a obsessão e a compulsão podem acarretar. Sacrifícios pessoais e atos anti-sociais podem ter origem em posições místicas inabaláveis. Muitos líderes carismáticos, atuando sobre pessoas emocionalmente imaturas ou em extremos graus de ansiedade ou sofrimento, podem converter-se converter- se em “agentes” de cura ou de solução de problemas. O culto de imagens, de pessoas vivas ou mortas, de gestos, de palavras e de hábitos, bem como as expiações deliberadamente impostas e deliberadamente aceitas, inclusive autotortura e flagelamento, em funções de certos “deuses” ou símbolos mágicos, é atuação comum notadamente em povos primitivos e nos habitantes marginalizados de grandes concentrações urbanas. Os sistemas com base na fé podem produzir curas, seja por efeitos sugestivos, seja por modificação biopsíquica resultante de redução de tensão, seja por outros fenômenos ainda não totalmente explicados. Neste grupo encontram-se toda sorte de ações, inclusive as que ocorrem em sessões espíritas. Em uma terceira posição encontra-se um conjunto de fatos e de atuações na área da Parapsicologia e, a julgar pelos dados existentes até o momento, segundo a maioria dos autores, “os fenômenos parapsicológicos, na realidade, não passam de fenômenos psicológicos” (Ribas, in Amadou, 1969 ). Embora essa afirmação tenha certo conteúdo de verdade, não se pode negar a existência de outros fenômenos (as funções psi) que não se acham, ainda, suficientemente explicados pela psicologia comum ou científica. É pensamento do autor que o aconselhamento e a terapia psicológica por procedimentos parapsicológicos enquadram-se, embora não nominalmente, na vasta gama de métodos e técnicas já conhecidos, principalmente nos procedimentos reflexolôgicos, comportamentais, persuasivos e sugestivos. Há que se admitir, todavia, a possível ocorrência de eventos que, embora possam se enquadrar no campo científico que conhecemos, ainda assim constituem áreas que precisam ser consideradas e investigadas.
Segundo Amadou, a utilidade da parapsicologia consiste em permitir melhor conhecimento da natureza psicológica e fisiológica do homem. “Se a psicologia profunda dá às manifestações paranormais o seu sentido pessoal e as recoloca no seu contexto individual, em compensação a parapsicologia enseja aos analistas não vaguearem acerca da interpretação de determinada manifestação paranormal e os habilita a compreender e a fazer compreender melhor ao paciente seu próprio inconsciente, permitindo-lhe que atue sobre ele” (Amadou, 1969). Em suma, não nos parece haver, até o momento, suficientes razões para se acreditar em métodos e técnicas exclusivamente parapsicológicas, com causas, procedimentos e resultados próprios de um novo sistema psicológico. Contudo, um estudo de procedimentos nessa área é indispensável. Aconselhamento e terapia em processos de grupo 1. Grupos orientados ou dirigidos, nos quais a discussão e as contribuições dos participantes são concentrados pelo líder (monitor ou facilitador) em alguma tarefa, sentimento ou atitude que constitua um alvo específico de interesse comum do grupo ou de uma organização. Tais grupos geralmente se associam ao contexto sócio-cultural ou ambiental e têm, na maioria das vezes, uma finalidade psicopedagógica, isto é, visam desenvolver comportamentos considerados úteis ou necessários; 2. Grupos de apoio ou de estímulo, destinados a encorajar e manter certas atitudes e hábitos, bem como desestimular outros tais como o uso de drogas, delinqüência, etc. São exemplos o A.A.A., para alcoólatras, o “synamon”, para toxicômanos, os centros de valorização da vida e outros. Geralmente concentram-se na solução de problemas específicos. grupos variam também quanto aouasua composição, duração e qualquer entretenimento. instrumentação duração de não corporal, datas, e Os podem ilimitada momento) bem horários utilizar como utilizada. eenão locais; ou leituras, apenas programada fechados Podem podem aatividades verbalização, (destinados ser ser ou, conduzidos ao abertos lúdicas, contrário, (para as certas profissionais emobedecer posturas ambientes qualquer pessoas); eaerígidos aespeciais pessoa, de abordagem podem lazer limites em ou ter 5 - A Revolução Rogeriana no Campo do Aconselhamento
Psicológico e da Psicoterapia Síntese histórica A repercussão das idéias rogerianas pode, pois, ter ocorrido por representar uma tendência que na época já germinava como, também, ser entendida como uma gigantesca descoberta no campo psicológico. É provável que, em certos limites, esses dois eventos tenham se agregado. E, como as novas idéias constituíram um meio assistencial de que antes não dispúnhamos ou que 'substituíam antigos e inaceitáveis conceitos operacionais, a elas nos dedicamos, como muitos psicólogos de todo o mundo. E, por esta razão, temos um capítulo todo especial deste livro. Rogers descreve sua própria história e como se viu envolvido em métodos revolucionários no campo da Psicologia. Diz ele que por mais de trinta anos foi Conselheiro Pessoal ou Psicoterapeuta, tentando ajudar crianças, adolescentes e adultos,quer apresentassem problemas de estudos, de escolha de carreira, de vida matrimonial; quer fossem normais, neuróticos ou psicóticos (pois para ele esta última classificação indica, apenas, rótulos enganosos).
Escreveu Carl Rogers vários livros e muitos artigos em revistas especializadas. Estes últimos ascendem a cerca de 140. Rogers é psicólogo e dedicou-se, essencialmente, aos trabalhos de aconselhamento psicológico e psicoterápico, embora, na realidade, seja difícil distinguir onde terminam uns e começam outros. Seu interesse, como ele mesmo declara, prende-se ao sofrimento e à esperança, à ansiedade e à satisfação que se acham presentes na sala do conselheiro psicológico ou do terapeuta. Dirige-se às peculiaridades da relação que cada terapeuta desenvolve com seu cliente e, igualmente, aos elementos comuns que descobrimos em todas essas relações. Concentra-se nas grandes experiências pessoais de cada um de nós; no cliente que, no consultório, luta para ser ele próprio, ainda que com medo mortal de ser ele mesmo, tentando ver suas experiências como elas são, desejando vivê-las e, no entanto, profundamente temeroso do futuro. Interessante é notar que Rogers defenda ardentemente os processos terapêuticos em que predominam a permissividade e a total ausência de julga. mento e de direção, com vida familiar, na infância e na juventude, marcada por disciplina rígida e árduo trabalho. Seus pais trataram-no e a seus irmãos como filhos queridos, embora controlassem, zelosamente, o comportamento de cada um. Nada de bebidas alcoólicas, danças, jogos de cartas ou teatro. A vida social era restrita ao mínimo e, em seu lugar, muito trabalho. A partir dos 12 anos, Rogers foi criado no meio rural onde, lendo e estudando agricultura, tomou contato com métodos científicos, grupos de controle e grupos experimentais e aprendeu, também, o quanto é difícil testar uma hipótese. Essas são suas próprias afirmações (Rogers, 1961). . Rogers sentiu que estava se interessando por Psicologia quando começou a freqüentar cursos e conferências no Teachers College, da Columbia University, em Nova York. Ainda em fase de completar seus estudos, empregou-se como auxiliar numa clínica de crianças e, mais tarde, como psicólogo, em Rochester, Nova York. Aí passou 12 anos atendendo crianças delinqüentes e com problemas sócio-econômicos, enviadas, em geral por agências e pelos juizados de menores. Faziam-se Faziam- se diagnósticos e “entrevistas” de tratamento, nos quais a preocupação dominante era: “Será que dá certo?”; “Vale a pena?”. Vários casos de delinqüência ou de tendências anormais foram assistidos sem que se constatasse qual quer recuperação. Alguma coisa estaria errada ou ausente do trabalho psicológico. É quando começa a lhe ocorrer a idéia de que os clientes, e só eles, é que realmente sabem o que os traumatiza, que direções tomar, quais os problemas cruciais. Somente o cliente poderia, pois, oferecer a pista para o rumo a seguir. Ao trabalhar na Universidade de Rochester, passou Rogers a alimentar dúvidas sobre se era ou não um psicólogo, pois essa instituição deixou bem claro que o trabalho por ele desenvolvido não era Psicologia. Seus contatos subseqüentes, porém, no ramo psiquiátrico e de serviço social e sua filiação à American Association of Applied Psychology, Psychology, permitiram-lhe sentir-se mais à vontade no campo psicológico. Convidado pela Ohio State University, em 1940, após a publicação de seu primeiro livro, Clinical Treatment of the Problem Child (1939), começaram suas idéias a provocar discussões. Dois anos depois, em 1942, publicou seu mais famoso livro, Counseling and Psychotherapy, cujas vendas já ultrapassam a casa dos 70.000 exemplares. Com esse livro, inicia-se grande divulgação das idéias e técnicas que vieram transformar profundamente
os procedimentos até então vigentes, principalmente no campo da orientação e da psicoterapia. Em 1951, no livro Client-centered Therapy, expande Rogers suas idéias e analisa melhor várias situações do processo terapêutico, concluindo por apresentar uma teoria sobre a personalidade e o comportamento. Em 1961, publica On Becoming a Person, no qual insere, na mesma linha original, vários fatos e conseqüências como ele os vê, decorrentes de seus prin cípios. Em 1965, com Kinget, escreve Rogers um livro extremamente prático sobre os procedimentos da terapia rogeriana, aproveitando parte de seus trabalhos anteriores. Em 1969, Rogers descreve seus métodos aplicados ao ensino e à educação. Em 1970, abordando o trabalho terapêutico com grupos, comenta Rogers os efeitos observados e as condições facilitadoras das mudanças operadas nos clientes. Sobre problemas matrimoniais relacionados com assuntos sexuais, escreve Rogers, em 1973, um livro em que expõe os sentimentos experimentados por casais face a algumas variações no modelo clássico de vida matrimonial. Outros livros se segui ram, inclusive A Pessoa como Centro, escrito em português com tradução e cooperação de Rachel L. Rosenberg, a qual, com o autor, organizou e dirigiu serviços psicológicos de orientação rogeriana na Universidade de São Paulo, a partir de 1967. À vida profissional de Rogers é marcada, ainda, por várias posições profissionais, tais como as de professor pr ofessor da Universidade de Chicago, de 1945 a 1957, de professor da Universidade de Wisconsin, de 1957 a 1963, de membro diretor do Western Behavioral Sciences Institute, em LaJolla (.Califórnia), a partir de 1964, e, finalmente, de membro fundador do Center for Studies of the Person, na mesma cidade.
Idéias básicas e originais As idéias de Rogers têm suas raízes em muitas e diferentes fontes, das quais a prática com clientes parece ser a mais significativa. Não obstante, e como ele próprio afirma, a terapia de Otto Rank, os trabalhos de Jessy Taft, de John Levy e de Frederic Allen são origens importantes. Dentre os modernos analistas, Horney poderia ser citada (Rogers, 1951). Rogers declara que o desenvolvimento de seu trabalho não teria sido possível sem a apreciação dos impulsos inconscientes e dos complexos de natureza emocional que constituíram a contribuição de Freud. Embora seu trabalho tenha se desenvolvido de algum modo diferentemente dos pontos de vista terapêuticos de Horneye Sullivan, ou de Alexander e de French, mantém, todavia, muitas linhas de interconexão com essas modernas formulações do pensamento psicanalítico. Por outro lado, a psicologia da Gestalt teve, também, sua participação e, assim, outras correntes, de forma que a terapia centrada no cliente foi influenciada pelas teorias e técnicas atuais do campo clínico, científico e filosófico que se acham presentes em nossa cultura. Segundo o próprio Rogers descreve (1942), os novos conceitos têm alvos completamente distintos dos anteriores. O indivíduo é o foco e não o problema. O objetivo é facilitar o “crescimento” do indivíduo e não resolver problemas específicos. É permitir que com maior independência e integração pessoais possa ele próprio, o cliente, enfrentar não só o problema presente como os do futuro, de forma mais adequada. Não consiste em fazer-se alguma coisa para o indivíduo ou induzi-lo a fazer algo; consiste, apenas, em liberá-lo
para seu crescimento e desenvolvimento normal. Os conselheiros ou terapeutas são apenas facilitadores desse crescimento. Do problema o que importa são os aspectos emocionais e não os intelectuais. Salienta-se mais a situação presente que a passada. Os padrões emocionais de reação, aqueles que atuam no seu comportamento e que precisam ser considerados mais seriamente, apresentam-se tanto no passado como no presente. Finalmente, a própria entrevista psicólogo-cliente ou terapeuta-cliente é, em si mesma, uma experiência valiosa, uma experiência de crescimento. A conseqüência básica desses conceitos é que, ao contrário de muitas outras correntes, os alvos a atingir são os mesmos para todos os clientes, pouco significando se se trata de um jovem com dificuldades de escolha de carreira, de alguém com distúrbios psicossomáticos ou de pessoa com dificuldades dif iculdades matrimoniais. Poder-se-ia afirmar que a técnica de Rogers foi bem aceita porque, de certa forma, libertou muitos psicólogos e orientadores da angústia gerada pelo fato de não saberem o que fazer com os clientes. Afeitos ao diagnóstico, mas não a medidas para intervir no comportamento, vinham os conselheiros em busca de algo que lhes sugerisse uma forma de atuar sobre o cliente, de intervir no seu comportamento com vistas à recuperação, ao desenvolvimento ou à cura. Rogers ofereceu uma solução a esse crucial problema, dando-lhes um instrumento de trabalho, permitindo que se transpusesse o profundo fosso entre o diagnóstico e a assistência efetiva esperada pelo cliente ou por seus responsáveis, como assinalamos no Capítulo 1 O caráter marcante do método é a clássica não-diretividade, embora muitos psicólogos questionem essa posição e a vejam como utopia ou algo inoperante. Em verdade, o não-diretivismo de Rogers não é tão inconciliável quanto parece com outros métodos. Pesquisas diversas mostram ser possível utilizar uma combinação de técnicas em benefício do cliente (Barros Santos, 1970, 1972). Além de sua contribuição doutrinária, baseada em experiências assistemáticas iniciais com centenas de casos, abriu Rogers as fronteiras das entrevistas individuais, gravando-as e estudando-as. Iniciou uma nova era na investigação sobre o que ocorre nas sessões terapêuticas tentando, com os poucos recursos disponíveis, introduzir julgamentos e avaliações por critérios que não fossem só os do terapeuta envolvido nas sessões. Em conseqüência, pesquisas e experimentos dos mais variados tipos, sobre os fenômenos que surgem na relação psicólogo-cliente, são hoje possíveis. O método rogeriano, inicialmente absorvido por técnicas de diálogo na entrevista, vem evoluindo em face do acúmulo de dados colhidos pelo seu criador e por seus seguidores. As bases continuam, porém, as mesmas, ou seja: 1. O diagnóstico anterior ao tratamento é dispensável. O comportamento psicológico inadequado é caracterizado por tensões que dificultam respostas adaptativas. Reduzir as tensões para que o indivíduo manipule seus recursos pessoais é a orientação básica, qualquer que seja o problema enfrentado pelo cliente. Infelizmente muitos orientadores, e mesmo psicólogos, supõem que recomendações e advertências são sempre necessárias. Acreditam que se deva “fazer alguma coisa pelo cliente” e confiam nos seus informes e
sugestões como sendo um produto concreto e final de sua atuação. Muitos desses profissionais assim agem por ignorância dos processos psicológicos, outros porque emocionalmente sentem necessidade de dirigir e guiar, outros, enfim, porque se sentem ameaçados pela crítica do cliente quando este não recebe indicadores concretos e objetivos. Para reduzir suas próprias tensões, acabam dando conselhos ou atuando de forma paternalista com a impressão de que assim agindo atuaram corretamente. Manipular as expectativas do cliente, dos pais, de professores e de outros elementos envolvidos na orientação do caso não é fácil. Requer profunda habilidade psicológica do facilitado r no sentido de demonstrar suas técnicas de atuação e de levar o cliente a obter os efeitos desejáveis. Informar, previamente, o cliente sobre a maneira de agir seria incorrer na mesma falha; dizer-lhe que não há recomendações, sugestões ou conselhos pouco ou nada adiantaria. Precisa o cliente sentir, por si mesmo, a forma de atuar do facilitador, orientador ou do psicólogo, não no sentido de que a responsabilidade das decisões lhe pesará agora mais do que antes, mas no clima em que os problemas serão evocados e juntos - cliente e conselheiro vão ambos senti-los e estudá-los sem pressões ou soluções externas. É tão grande a expectativa de “guias” e “direções”, “resultados” e “pareceres” , que a maioria dos clientes se refugia nesses dados de forma profunda, não obstante eventuais informações do conselheiro sobre o procedimento a adotar. Podem os clientes sentir-se logrados, insatisfeitos, desgostosos com as atitudes de conselheiros contrárias a essas expectativas. Essa frustração pode durar uma ou mais sessões e pode levar muitos clientes a pensarem que o orientador ou nada sabe ou é um charlatão. Todavia, se as sessões psicológicas forem adequadamente conduzidas, esse sentimento desaparecerá facilitando opções ou mudanças construtivas. Rogers, em vários de seus trabalhos, discute as condições que, no seu entender, facilitam o desenvolvimento psicológico e, em conseqüência, seu ajustamento ou sua recuperação. Inicialmente, diz Rogers, (e isto é comprovado por pesquisas) os “terapeutas, que realmente ajudam s eus clientes, manifestam algo de comum entre si. Essa verificação, como era de prever, demonstrou notável interesse em todos os campos terapêuticas. A hipótese original é a de que modificação da personalidade do cliente ocorre não em virtude da qualificação profissional do terapeuta; não por causa de seu treinamento ou filiação doutrinária; não por motivo de suas técnicas de entrevista; não por ser hábil em interpretar, mas, essencialmente e somente, por causa de certas características de atitude que se formam na relação com o cliente” (Rogers, 1965b). Os clientes aparecem para terapia com uma desconcertante variedade de problemas e uma enorme gama de características pessoais; enfrentam os terapeutas, que, de Outro lado, demonstram larga diversidade de vistas com relação ao que será útil como terapia exibindo, também, diversas características de personalidade no contato com seus clientes. Todavia, subjacente a toda essa diversidade, parece ser possível distinguir um processo básico no relacionamento que permite a ocorrência de alterações terapêuticas ou construtivas na personalidade do cliente.
As condições terapêuticas essenciais
Rogers (1957) concentrou suas preocupações em torno das atitudes que devem ser desenvolvidas se quisermos, realmente, promover alterações benéficas na personalidade do cliente. Três condições são necessárias por parte do psicólogo ou terapeuta*: * Grande parte deste capítulo contém frases e expressões do próprio Rogers, transcritas pelo autor com pequenas alterações. As três condições básicas apresentadas em 1957 são repetidas, posteriormente, em outros trabalhos
a) Co n gr uênc ia e autenticidade É a relação genuína e sem fachada. O terapeuta é o que é, plenamente aberto aos sentimentos e atitudes que “naqueles momentos fluem nele próprio”. E chamada de congruência e significa, também, que o terapeuta é capaz de dispor dos sentimentos que nele próprio ocorrem, acessível à sua percepção e apto a comunicá-los, se necessário. Não se nega a si mesmo. A congruência é maior na medida em que ele, terapeuta, seja capaz de ouvir, com plena aceitação, o que ocorre em si mesmo e de vivenciar, sem medo, a complexidade de seus sentimentos. Na vida diária sentimos essa situação. Há pessoas que nunca são elas mesmas; operam sob uma máscara ou fachada: dizem coisas que não sentem, são incongruentes e dificilmente com elas nos abrimos. Confiamos, porém, naquelas que são o que são, sem a fachada de polimento ou de profissão. pr ofissão. Diz Rogers que tem sentido uma confirmação clínica e experimental dessa hipótese. Os terapeutas melhor sucedidos no lidar com clientes nãomotivados, resistentes, doentes crônicos, pobremente educados, são os que, antes de tudo, são reais; que reagem de uma forma genuína, que exibem essa autenticidade e que são assim percebidos pelo cliente. Ser congruente pode significar, às vezes, exprimir aborrecimento, preocupação ou frustração no relacionamento com o cliente, mas de forma tal que este sinta que isso parte do próprio terapeuta e não dele, cliente. Eis por que técnicas psicoterápicas tão diversas podem ser efetivas na medida que haja essa condição de congruência, ainda que atingida de maneira diversa (Rogers, 1965b ). b) Con sid eração po siti va inc on dic io nal
c) Com pr eens ão em pátic a d o cli ent e A menos que o cliente já tenha percebido as atitudes do terapeuta, acima descritas, é necessário que a transmitamos de alguma forma, pois só assim a autenticidade, a aceitação e a empatia podem produzir ou facilitar as modificações desejáveis. Esta é a condição por parte do cliente. A hipótese essencial segundo Rog ers
Rogers repete que a modificação construtiva da personalidade surge somente quando o cliente percebe a experiência, no clima psicológico, de sua relação com o terapeuta. Os elementos desse clima não consistem em conhecimentos, treinamento intelectual, orientação doutrinária em psicoterapia
ou em técnicas especiais. São sentimentos ou atitudes que devem ser experimentados pelo terapeuta e percebidos pelo cliente. Outro aspecto da hipótese é que ela pode ser verificada através dos termos em que foi formulada, de modo a se descobrir até que ponto as qualidades previstas no relacionamento terapeuta-cliente são ou não fatores causais na produção das alterações previstas pela psicoterapia. . Rogers reconhece que suas idéias e atitudes são extremamente criticáveis e que os outros também as vêem desse modo. As hipóteses, porém, quando colocadas em termos operacionais, permitem o recurso aos fatos para verificar se são verdadeiras, falsas ou parcialmente verdadeiras. Empiricamente, as hipóteses foram testadas de várias maneiras: a) Estudos de Halkides (Hart e Tomlinson, 1970), referentes à análise da conversação entre cliente e terapeuta, revelaram ser as três condições (congruência, consideração positiva incondicional e empatia) associadas aos casos melhor sucedidos sob o ponto de vista terapêutico. Por outro lado, a intensidade emocional das expressões dos clientes não se correlacionou, significativamente, com as outras condições ou com o grau de sucesso. b) Barret-Lennard (Rogers, 1965), utilizando-se de um inventário dirigido ao cliente e ao terapeuta, para pesquisa da maneira pela qual um e outro percebiam a relação terapêutica, concluíram o seguinte: 1. Os clientes que mostraram melhor alteração terapêutica perceberam melhor as atitudes propostas por Rogers; 2. A correlação entre a percepção, pelo cliente, das atitudes propostas e o grau de alteração foi maior do que a correlação entre a percepção do terapeuta e o mesmo grau de alteração. Tais dados significam que o mais importante é o fato de o cliente perceber a autenticidade, o respeito e a empatia manifestados pelo terapeuta; 3. A percepção das atitudes propostas ocorre com mais facilidade nos terapeutas mais experientes e nos clientes menos desajustados. c) No que se refere à psicoterapia com esquizofrênicos, Rogers verificou que: 1. Os esquizofrênicos percebem as atitudes propostas em nível muito mais baixo do que os neuróticos; 2. Na medida em que o esquizofrênico percebe as atitudes, melhores são as possibilidades para uma ação terapêutica; 3. Quanto maior for o grau de empatia e de congruência, tanto maior será o índice de interação i nteração do cliente com outras pessoas; 4. Os clientes envolvidos por essas atitudes-demonstram maior grau de alterações construtivas da personalidade e, ainda mais, os q ue participam de uma relação terapêutica pobre em compreensão empática demonstram agravamento de sua patologia esquizofrênica. Outros trabalhos e pesquisas, citados por Rogers ou por outros psicólogos e psiquiatras, embora não possam ser concludentes, quer pelo reduzido número de casos, quer pelo esquema operacional com que se tratou a hipótese, são dados informativos análogos aos que, habitualmente, se coleta na Medicina e em outras áreas. A dificuldade de se medir modificações
emocionais é de todos conhecida e constitui o mais sério entrave a qualquer pesquisa nesse campo (Truax e Carkhuff, 1970). Os primeiros estudos realizados, dos quais apenas alguns foram citados,demonstraram, segundo Rogers, que: 1. É possível estudar as relações entre causa e efeito em psicoterapia. E, se as conclusões se confirmarem, havemos de pensar que, realmente, o que caracteriza a psicoterapia são as atitudes do terapeuta, ou seja, o clima psicológico que este cria; 2. É possível prever, com certa base nos fatos, que a relação percebida pelo cliente como sendo de alto grau de congruência ou autenticidade do terapeuta, de sensível e acurada empatia, de alto grau de consideração, respeito e estima e de sua aceitação incondicional, terá grandes possibilidades de tornar-se uma efetiva relação terapêutica. Isto se aplica tanto a neuróticos que procuram o psicólogo por sua' própria iniciativa, como também àqueles que não apresentam desejo consciente de ajuda; I) selecionar previamente os futuros psicólogos e psiquiatras que tenham as qualidades potenciais aqui descritas como necessárias ao terapeuta; II) realizar programas de formação educacional de sorte que as pessoas assim selecionadas desenvolvam desenvolvam suas qualidades. Infelizmente, diz Rogers, os programas atuais de Psicologia ou de Psiquiatria agem em sentido contrário, dificultando ao psicólogo ser ele próprio, sobrecarregando-o com uma bagagem teórica que o torna menos apto a entender o mundo íntimo de outra pessoa. O essencial não são os conhecimentos técnicos, mas as qualidades pessoais do terapeuta; não o que ele conhece, mas o que ele vivencia. A d i n âm âm i c a d o p r o c e s s o
O cliente, ao passar por esse processo, move-se em um continuum. Vai do estado no qual os sentimentos são irreconhecíveis, impessoais, inexpressos, para um fluxo no qual cada sentimento é experienciado no momento, percebido, aceito e adequadamente expresso. Inicialmente, o cliente está distante de sua própria experiência. Um exemplo bem claro é o das pessoas que intelectualizando- falam sobre si mesmas de forma abstrata, deixando quem as ouve sem saber o que se passa nelas mesmas. Dessa distância, move-se o cliente para uma experiência imediata, na qual vive abertamente essa mesma experiência e começa a saber que pode voltar a seus sentimentos e descobrir seu significado. O processo envolve uma liberação dos mapas cognitivos da experiência. Partindo de experiências construídas de forma rígida, percebidas como fatos externos, dirige-se o cliente para uma situação moldável que se constrói e se revê a cada nova experiência. O processo, portanto, move-se da fixação, distância, rigidez de autoconceito, alheamento a pessoas, impersonalismo de funcionamento a um estado de maior fluidez, permeabilidade, imediatismo de sentimentos e de experiência, aceitação destes e de scoberta de um “eu” que muda como fruto das experiências que se vêm modificando. Surge maior
realidade e estreitamento de relações e uma unidade e integração de funcionamento.
Evolução das idéias: o experienciar e as atuações em grupo De acordo com alguns autores (Hart e Tomlinson, 1970; De La Puente, 1970, Forghieri, 1972), a primeira fase da contribuição rogeriana estende-se de 1940 a 1950, caracterizada pela ênfase na não-diretividade e pela criação de uma atmosfera permissiva, pela aceitação do cliente e pela preocupação com a clarificação de seus sentimentos. As técnicas de entrevistas são estudadas; o diálogo tipo “espelho”, repetição das expressões do cliente, é exemplo de intervenção; as atitudes do terapeuta são dirigidas no sentido da promoção da catarse, do insight e das ações positivas por parte do cliente. O marco desta fase é estabelecido pelo livro de Rogers, Counseling and Psychotherapy (1942). A segunda fase situa-se, aproximadamente, aproximadamente, entre 1950 e 1957, surgindo sob a forma de conceitos teóricos mais profundos e por uma atuação terapêutica mais sistematizada. O livro Client-centered Therapy, publicado por Rogers em 1951, e o livro Psychotherapie et Relations Humaines (1965), com a colaboração de Kinget, são exemplos típicos desta fase. Neste momento Rogers passa a dar maior atenção aos aspectos emocionais do que ao conteúdo verbal das expressões do cliente. A reflexão dos sentimentos passa a ser a forma característica de atuação terapêutica em lugar da repetição e da clarificação de sentimentos. O terapeuta procura captar o sentimento subjacente à expressão do cliente e vivenciá-lo como se fosse ele próprio, comunicando ao cliente essa sua percepção. É no final desse período que Rogers (1957) menciona as condições necessárias e suficientes para psicoterapia e que constituem até hoje uma das orientações básicas do esquema rogeriano: a congruência, a consideração positiva incondicional e a empatia. Nesse mesmo período, Rogers elabora uma teoria da personalidade, constituída de 19 pontos essenciais e que, segundo ele próprio afirma, podem servir para explicar os fenômenos da organização ou da desorganização da personalidade, mas pouco interessam na efetiva atuação do terapeuta (Rogers, 1951). Na década de 60, inicia-se uma terceira fase caracterizada pelo modelo experiencial, através do qual se procura atingir os núcleos emocionais do cliente. Experienciar é um constructo que se refere mais à maneira como decorrem os fenômenos que compõem a experiência do que ao conteúdo desta. A nova expressão, devida a Gendlin (1961), é incorporada por Rogers ao vocabulário e à ação terapêutica. Definir o experiencing não é fácil. Parecenos ser possível, entendê-lo como vivência conceitual, isto é, como percepção, pelo indivíduo, dos conceitos que já possui, de seu simbolismo, de seus significados pessoais e das relações entre o que ele expressa e o sentido subjetivo, interno, pessoal, do que deseja expressar. A orientação geral desse novo período encontra-se, parcialmente, no livro de Rogers, On Becoming a Person, de 1961. Posteriormente, ao procurarem os rogerianos atingir clientes não motivados ou de difícil comunicação, dentre os quais muitos psicóticos, novas vias de relacionamento foram tentadas e novas técnicas de atuação terapêutica surgiram. Estas passam a incluir, dentro do experienciar, algumas intervenções antes
consideradas inoperantes ou inadequadas. Perguntas, expressão de sentimentos e de opiniões podem ser incluídas na medida em que elas atuem no mundo subjetivo do cliente. O clima de não-diretividade é mantido, assim como as condições de congruência, de calor humano, de consideração positiva incondicional e de empatia. Algumas intervenções, como a simples repetição, e a reflexão de sentimentos não são tão usadas, a menos que atinjam a vivência conceitual do cliente. As alterações ocorridas no método rogeriano não alteram as concepções básicas que lhe deram origem. Constituem um aperfeiçoamento na forma de atuação com os clientes, como produto da grande experiência acumulada no atendimento de novos e variados casos. Rogers, em diálogo mantido com Hart (Hart e Tornlinson, 1970) e com Evans (1975), menciona muitos dos pontos cruciais de seu procedimento anterior e atual, por nós aqui sumariados e interpretados: - O Rogers de outrora e o Rogers de hoje podem ser vistos como pessoas diferentes, .na medida em que eu, diz Rogers, como meus estudantes ou seguidores, movemo-nos para frente. É próprio do método permitir esse crescimento e diferenciação. - Há casos nos quais se pode verificar que a orientação centrada no cliente em nada mudou; há outros, porém, que podem acusar drásticas mudanças. Permanece inalterado o conceito de que o “indivíduo tem dentro de si uma capacidade - que pode ser liberada sob condições adequadas para entender a si próprio, para conduzir sua própria vida, para lidar com problemas de sua vida ou para mover-se no sentido de um maior grau de auto- realização”. O respeito à dignidade e aos direitos do indivíduo conjuntamente com a idéia de sua capacidade própria são dois aspectos que jamais mudaram. - O contato com esquizofrênicos internados, como também com indivíduos chamados “normais”, dentre os quais educadores, executivos, pessoas diversas da comunidade e o trabalho em grupo produziram muitas inovações, particularmente devidas a Gendlin, Hart e outros, como ao próprio Rogers. Sente este, conforme suas próprias expressões, desejo de exprimir abertamente seus próprios sentimentos, como recurso para a outra pessoa usar, não como guia ou imposição. “Se eu estiver zanga do, poderei expressar esse sentimento como algo dentro de mim, não como um julgamento sobre a outra pessoa”. Há mais liberdade. em exprimir sentimentos pessoais em relação ao que o cliente disse ou fez. Torna-se o terapeuta, de certa forma, um participante da sessão, expressando problemas e preocupações todas suas. Somente quando o cliente luta.por achar-se a si próprio, procura o terapeuta exprimir os sentimentos de empatia que experiência. Nesses momentos, o trabalho de grupo assemelha-se à terapia individual, onde se cria a atmosfera que permite à pessoa explorar a si própria. Noutras vezes, o terapeuta interage sob muitas formas. - As primeiras preocupações rogerianas reduziam-se às técnicas de atuação, o que se encontra bem explícito no livro Counseling and Psychotherapy. No livro Client-centered Therapy, ao lado de uma formulação teórica, concentra Rogers sua atuação nas intervenções de tipo empático. Emseus artigos sobre as condições necessárias e suficientes em psicoterapia e sobre o processo que nela se observa, fixa Rogers pontos direcionais mais precisos e de mais ampla aplicação. O desenvolvimento de grupos de encontro tem sido uma conseqüência natural dessas novas direções ou, provavelmente,
a causa de inovações. Nesses grupos várias formas de expressão são encontradas, seja através da arte, do movimento corporal, da verbalização. São exemplos de luta contra alienação, da melhor exploração de si próprios, do encontro de maior sentido nas relações com os outros. A experiência intensiva em grupo é uma das grandes descobertas da atualidade. - O comportamento do terapeuta assume diferentes formas de intervenção, das quais expressar opiniões, expressar sentimentos e propor questões são alguns exemplos. - As atitudes do terapeuta, mais do que suas técnicas, são essenciais ao início e à manutenção de uma relação terapêutica eficaz. A congruência, a consideração positiva incondicional e a compreensão empática são atitudes essenciais. - A flexibilidade do comportamento do terapeuta “é estruturada dentro do fenômeno do experienciar. As respostas do terapeuta são baseadas seu próprio e imediato experienciar na relação, sendo dirigida para o processo subjetivo do cliente”. O seguinte trecho de diálogo, que nos foi enviado por Rogers em 1967, mostra um exemplo de um trecho da verbalização ocorrida entre o terapeuta e um cliente não-motivado, com sérios distúrbios psicológicos: T - Creio que seu silêncio significa que ou você não queria ou não podia ter vindo agora. Está certo; não há problema. Assim, eu não vou incomodar você, mas apenas quero que você saiba que estou aqui. T - Acho - Acho que daqui há pouco teremos de suspender suspender nosso encontro. encontro. T - É difícil para mim saber como você tem se sentido. Parece-me que talvez você prefira que eu não saiba como você se sente. De qualquer forma, parece que, às vezes, é melhor a gente descansar... e relaxar os músculos. Mas, como lhe disse, eu realmente não sei como você se sente. É a única coisa que tenho para lhe dizer. di zer. A vida tem sido dura ultimamente? T - Talvez esta manhã você preferisse que eu ficasse quieto. .. e, talvez fosse melhor, não set; entrar em contato com você de algum jeito. (Silêncio de 2 minutos - o cliente boceja.) T - Quer voltar sexta-feira, às 12 h, como sempre? C - (Boceja e diz qualquer coisa de forma ininteligível.) T - É uma espécie de chateação, na qual a gente se afunda. Sentimentos chatos, hein? É alguma coisa assim? C - Não. T - Não? T - Sente isso agora, hein? Que você não é bom para você, não é bom para ninguém. Nunca será será bom para ninguém. ninguém. Completamente sem valor, hein? Esses são realmente sentimentos chatos. Você se sente sem valor nenhum, não é? T - Essa pessoa que foi com você à cidade realmente falou-lhe falou -lhe que você não serve para nada? É isto que você está dizendo? Será que ouvi direito? C-É. T - Acho, - Acho, se entendi direito, que aí há alguém que significa algo para você; o que ele pensa de você, porque ele disse que você não serve para nada e tocou num ponto sensível. (O cliente chora, quieto.)
T - E isso faz você chorar. C - Eu não me incomodo. T - Você diz a você mesmo que não se incomoda; mas eu penso que parte de você se incomoda, incomoda, porque alguma parte de você você chora... A terapia centrada na pessoa, expressão que substitui a anterior (centrada no cliente), vem se desenvolvendo intensamente com contribuições de muitos psicólogos. Dentre estas destaca-se o expenrenciar, ou a experienciação que, como vimos (Gendlin, 1961, 1978), corresponde a um fenômeno presente no processo terapêutico. Trata-se de uma percepção do sentido que os eventos têm para a vid a subjetiva da pessoa. É uma ”interação entre sentimentos e símbolos (atenção, palavras, fatos) tal como a vida corporal é uma interação entre corpo e ambiente” (Hart & Fomlinson, 1970). Experienciação é um processo percebido através de sensações concretas, físicas e psíquicas, de dados eventos, de seu desenrolar e de seu sentido para a pessoa. Seria, a nosso ver, um fenômeno física e mentalmente sentido. Uma vivência conceitual em que a pessoa, nesse momento, enfoca uma colocação nova ou reexplica para si mesma o que estava tentando descrever, verbalmente ou não. É um momento de movimento interior, de dentro para fora, em que as coisas se arranjam, se esclarecem e tomam sentido. A experienciação nem sempre traz como conseqüência um ajustamento ou solução de problemas. É, porém, um passo que permite à pessoa o encontro de si mesma, pois a simples tomada de consciência das experiências não é, por si só, uma expressão de melhora. O que importa é a “disponibilidade destas à consciência” (Puente, 1979). A terapia terapia experiencial passa a ser um passo adiante. As idéias de Rogers evoluíram, também, para a direção grupal, sem menosprezar o contacto entre duas pessoas e a relação diádica em que terapeuta e cliente, como pessoas, se envolvem no experienciar. Os grupos de encontro e as comunidades surgem como formas de convivência e de terapia em que as pessoas possam expressar-se livremente e assim liberar a tendência atualizante presente em cada uma delas. Na terapia de grupo centrada na pessoa, Wood (1980) lembra a existência de três situações: a) o grupo de duas pessoas; b) o pequeno grupo, de 8 a 12 pessoas; c) O grande grupo ou comunidade de aprendizagem, de 100 a 250 pessoas. Esse mesmo autor resume as tendências de meio século de observações e de pesquisas; salienta que "o fundamento da teoria de terapia de grupo centrada na pessoa é a tendência formativa do universo" cujo teorema seria: "Quando pessoas (algumas chamadas, às vezes, terapeuta, facilitador, promotor, e algumas chamadas cliente, membro do grupo, participante) trazem uma certa disposição para o seu encontro, à tendência formativa é permitido reorganizar capacidades mais complexas e percepções nos indivíduos e no conjunto.” Esta disposição na pessoa chamada terapeuta terapeuta é caracterizada caracterizada pela habilidade para traduzir facilmente sentimentos em idéias e idéias em sentimentos, para ser congruente no relacionamento com os outros, para
experienciar consideração positiva incondicional para com os outros e para experienciar uma compreensão empática do referencial interno dos outros e segui-lo segui-lo intuitivamente sem um "entendimento”, obrigatório. Caracteriza -se, a seguir, pela capacidade para viver no momento, na incerteza e mesmo na dúvida, para seguir intuitivamente as expressões do "organismo coletivo", ser capaz de, com cada expressão, seguir, guiar, permanecer ainda em cooperação com a criatividade .dos ditames misteriosos do momento. Esta disposição é também caracterizada pela espontaneidade em acreditar na tendência formativa, à medida em que ela organiza o experienciar da outra pessoa. E existe nesta disposição uma boa vontade para ser guiado e modificado pelo próprio experienciar interno como terapeuta na relação. Na pessoa chamada cliente, esta disposição inclui a espontaneidade em ser modificado por sua experiência direta e para desenvolver a habilidade para enfocar seu mundo interior e o mundo interior dos outros. Desta forma, esta pessoa permite a operação da tendência atualizante e percebe a consideração positiva incondicional e compreensão empática do outro por si. Capacidade é percepções percepções mais mais complexas complexas incluem uma crescente consciência organísmica e aumentada receptividade à realidade organísmica total e redução da incongruência entre o eu e a experiência - transformando-se numa pessoa completa, como indivíduo e como membro da espécie humana. * * Transcrição literal de trecho do folheto "Terapia de Grupo Centrada na Pessoa", de J.K. Wood, traduzido por Afonso H.L. Fonseca e distribuído aos participantes de um grupo de 64 pessoas reunidas em um Encontro de Comunidade realizado em Pirassununga, São Paulo (Brasil), de 18 a 26 de julho de 1981. Na organização nos grupos não existem regras. A disposição da pessoa e do facilitador, seja em grupo diádico ou em grandes grupos, é o fator básico. Os grupos podem ser organizados para fins de semana ou para períodos contínuos de convivência, geralmente de duas semanas. Os programas do "Center for Studies of the Person" de La Jolla, Califórnia; (USA), onde se localizam Rogers e sua equipe, são um exemplo. O papel do terapeuta ou facilitador é criar um clima, e dele participar, como membro do grupo, em que cada participante possa sentir-se aceito e compreendido; em que cada um possa sentir-se ouvido e "facilitado" nas suas expressões ou no seu silêncio. O agente terapêutico é o experienciar, em que o participante é capaz de enfocar seus sentimentos e sua maneira de sentir e assim explicar-se a si mesmo e aos outros que o ouvem o que nele se possa. É o rearranjo de condições interiores, de dentro para fora, facilitado pela atenção e pela compreensão do grupo. . PARTE II OBSERVAÇÕES PESSOAIS
6 - Hipótese sobre a Auto-Afirmação Auto- Afirmação como Determinante Básico do Comportamento Resultados de terapia e fundamentos para uma nova hipótese
Os resultados práticos do aconselhamento psicológico e da psicoterapia são desconcertantes devido, em grande parte, à ausência de critérios que especifiquem estados comparáveis de clientes quando iniciam a terapia ou de alvos suficientemente aceitos como metas terapêuticas. Analisando os efeitos do aconselhamento e da psicoterapia, Truax e Carkhuff (1969) assinalam que essas atividades podem ter efeitos positivos, inócuos ou mesmo negativos, face a alguns estudos publicados. Não obstante a evidência da inutilidade da psicoterapia em certos casos ou situações, há estudos que provam efeitos positivos concluindo esses autores que "quando certas características do terapeuta acham-se presentes, ocorrem resultados positivos enquanto, na sua ausência, uma deterioração aparece". Esses mesmos autores apresentam amplos, variados e excelentes informes sobre os efeitos de diversas terapias, razão pela qual achamos conveniente indicá-las à consulta sem necessidade de reproduzi-las neste livro. Muitos resultados são mencionados por Wolpe, (1966), Eysenck (1952, 1965, 1973), Klein (1969), Lazarus (1971), Wolberg (1977), e muitos outros autores havendo sempre a dúvida sobre a comparabilidade desses dados. Lazarus, por exemplo, afirma que os resultados que se obtém são produtos de técnicas e não de teorias. Quanto às nossas próprias observações, o que achamos conveniente relatar é, simplesmente, uma visão de fenômenos comportamentais que, durante cerca de 20 anos, a partir da década de 1960-1970, vimos percebendo no atendimento clínico de crianças, jovens e adultos em situações de aconselhamento psicológico ou de psicoterapia. Não se trata, evidentemente, de uma investigação científica segundo os modelos tradicionais das pesquisas sobre as ciências do comportamento. Assemelha-se parcialmente, ao estudo de casos individuais inspirado na metodologia de Piaget, do Skinner, e do próprio Freud. É um relato de fatos que pode coincidir com relatos semelhantes sobejamente conhecidos. Neste caso, seria uma confirmação de teorias ou de técnicas. Por outro lado, pode surgir como nova contribuição* . Comunicação apresentada ao III Encontro Nacional de Psicólogos. Rio de Janeiro, 1981. O julgamento do progresso terapêutico ou profilático sofre, como dissemos, dos defeitos da subjetividade e dos critérios biológicos e sociais que possam ser aplicados ao conceito de ajustamento, de equilíbrio, de adaptação ou de "normalidade". Para melhor conceituação da evolução terapêutica, teríamos necessidade de estabelecer alguns parâmetros, o que se fez através de um elenco de sinais de progresso constituído por 13 itens reunindo conceitos originários de posições teóricas bastante diferenciadas (psicanalíticas, comportamentais e rogerianas). Com base nesse critério de avaliação e em observações adicionais, foi possível percebe que ocorria evolução de quadros de depressão, de ansiedade ou de desestruturação. comportamental para um estágio em que esses comportamentos se atenuavam sempre que: a) o cliente atribuía a si mesmo a origem do problema, numa visão autoreferente, ainda que crítica ou traumática. Esta primeira observação foi incluída na tese de doutouramento do autor, em 1970, e não despertou, na ocasião, interesse especial;
b) o cliente caminhava no sentido de avaliar a si mesmo, disposto a enfrentar as dificuldades que o traumatizam; c) o terapeuta procurava explorar a auto-estima e o autoconceito, trabalhando com a imagem do cliente. Dessas observações emergiu uma questão: haveria algum fato psicológico relacionado com a auto-imagem que estaria agindo em sentido construtivo e benéfico para o cliente, restaurando sua tranqüilidade e seu desempenho pessoal e social? Seriam as atitudes de congruência, calor humano, respeito positivo incondicional e empatia propostas por Rogers (1951)? Seriam as interpretações de sentimentos profundos, nem sempre verbalizados? Seriam reforços do comportamento adaptativo? Seria o tratamento objetivo e racional dos problemas, no esquema cognitivo? Seria o apoio ou apenas a ação catártica? EnfIm: que comportamento estaria sendo ativado no cliente e que teria facilitado a melhora? Uma conclusão passou a emergir: deveria existir uma necessidade, motivo, impulso ou tendência na pessoa que, ao ser adequadamente focalizado pelo terapeuta, produzisse as mudanças favoráveis. Procurar esse agente responsável pela modificação dos quadros de depressão e de ansiedade tornou-se o alvo essencial de observações subseqüentes. Prosseguiu-se, pois, com a atuação centrada na pessoa, alternando-a ou suplementando-a com outros alvos e, conseqüentemente, com atitudes e técnicas diferentes. A valorização da pessoa mediante verbalizações sobre a dinâmica de seus comportamentos, suas defesas, suas aspirações e sua auto-imagem tornou-se um dos pontos centrais na medida em que se podia perceber uma relação positiva entre essa abordagem e um progresso terapêutico suficientemente estável.
Seria possível um neo-rogerianismo? Nosso contacto com as teorias e técnicas de Rogers teve início com a leitura de seu livro Counseling & psychotherapy, editado em 1942 e do qual tivemos conhecimento alguns anos depois. Começamos a adotá-las nos casos de orientação vocacional, procurando trabalhar com a resistência daqueles que exigiam "conselhos", "indicações" e até decisões vitais sobre eventos de sua vida. Em 1956 e 1957, em curso regular de pós-graduação realizado na Florida State University e na Columbia University, nos Estados Unidos, tomamos contacto mais profundo com os conceitos e com a metodologia rogeriana e ao regressar ao Brasil passamos a aplicá-los em clínica psicológica. Embora a observação indicasse êxitos na condução de alguns casos, havia ainda um longo caminho a percorrer para que sentíssemos, realmente, os efeitos profiláticos ou terapêuticos da posição rogeriana. Ao lecionar Aconselhamento psicológico nas Universidades Católicas de Campinas e de São Paulo e, posteriormente, na Universidade de São Paulo, tivemos ocasião de aplicar e estudar o método rogeriano com alunos do Curso de Psicologia e com clientes atendidos na Universidade, no SENAI e em nossa n ossa clínica particular. As observações resultantes da aplicação do método, tanto quanto possível na forma proposta por Rogers, quando comparadas com a aplicação de outros métodos (Barros santos, 1970) parecem confirmar a suposição de que há algo de comum em todos os métodos e que responde pelo sucesso terapêutica': Reexaminando-se os resultados por nós colhidos na relação
terapeuta-cliente e nos julga dores externos, seria possível inferir que as atitudes terapêuticas propostas por Rogers teriam, para o cliente, um sentido todo especial de auto-afirmação, não suficientemente aceito ou explicado por Rogers. E, a ser verdadeira a hipótese que levantamos, ou seja a de ser a auto-afirmação um ingrediente terapêutico essencial, seria esse sentimento um determinante básico do comportamento humano? Estaríamos, assim, diante de uma colocação teórica que, partindo da genial concepção de Rogers, poderia transformar-se em um neo-rogerianismo como fruto natural do enriquecimento teórico e prático de suas próprias teorias e técnicas. A possibilidade de um neo-rogerianismo mais se acentua na medida em que alguns aspectos da posição de Rogers tornaram-se muito vulneráveis à crítica, ou seja: 1. Antes, como agora, opõe-se Rogers ao diagnóstico formal, inquisitivo, através do ritual de muitas clínicas psicológicas onde a pessoa se vê coisificada, manipulada, a mercê de "especialistas" que vão orientá-la. Nesse aspecto cremos que Rogers retrata com rara felicidade as preocupações dos psicólogos, não só pelas falhas intrínsecas dos recursos de avaliação (adaptabilidade, precisão e validade), como pelos agentes emocionais presentes na situação de exame, dentre os quais estão a motivação e a disponibilidade para ser avaliado e, em alguns al guns casos, a tendência do cliente em refugiar-se em uma ajuda externa sem dela participar. A exclusão total do diagnóstico é, porém, outro fenômeno. Parece-nos ingênuo, quando não fantasioso, admitir que podemos nos abster de diagnosticar. Conhecer o cliente e avaliar nossas possibilidades de ajuda, seja isso chamado ou não de diagnóstico, é uma atitude e uma operacionalização que, queiramos ou não, é normalmente existente. O simples fato de se conhecer o cliente pelo sexo, idade, escolaridade, ocupação e motivos de seu contacto com psicólogos são exemplos de "diagnósticos", embora superficiais. O próprio Rogers descreve seus casos usando adjetivos qualificativos ou situações de vida que não deixam de ser uma caracterização da pessoa em estudo. Aliás, o próprio Rogers diz que não existe percepção sem significado. Ao receber e nos relacionarmos com alguém estamos percebendo percebendo uma relação e seu significado para nós e para o cliente o que, evidentemente, está ligado a algum tipo de diagnóstico. 2. Quanto à dinâmica do processo, descarta Rogers a tendência homeostática do organismo no plano psicológico e crê que o homem está sempre procurando tensões, em um esforço a que se chamaria de curiosidade, na busca de estímulos mais complicados e enriquecedores (Evans, 1979). O que existe, diz Rogers, é que "todo organismo tem uma tendência a se manter, a se aperfeiçoar se possível e, finalmente, a se reproduzir" (Evans, 1979). Os conceitos e os títulos dessa motivação são menos importantes. Ao comentar as idéias de Rogers, Richard Farson (in Evans, 1979, p. 35) diz que “Rogers mostrou que coisas maravilhosas aconteciam quando se confiava e se aceitava a pessoa, quando seus sentimentos eram respeitados e valorizados, quando ela se sentia segura se gura e compreendida”. Ao expressar suas idéias, Rogers mostra o efeito mas não a causa das' 'coisas maravilhosas “; identifica o produto e o procedimento (as três condições básicas, supõe-se...) mas não a etiologia do fenômeno. Nesse ponto, iguala-se a Skinner e a outros psicólogos, por ele mesmo criticados, que se baseiam nos efeitos observáveis mas se abstêm de se aprofundar nas origens do
comportamento como fez Freud. Ora, se quisermos aperfeiçoar os procedimentos, torná-los mais amplos e mais acessíveis, temos que conhecer a gênese do comportamento, a partir dos primeiros elos da corrente que o guia ou da fonte de onde brotam os sentimentos e a ação racional. A abordagem puramente fenomenológica e a comportamentalista embora sugestivas parecem insuficientes insuficien tes na explicação do comportamento”. A tentativa de análise dessa dinâmica comportamental nos conduz ao problema da motivação humana. Rogers pouco diz sobre algo que nos parece fundamental na longa experiência com pessoas e situações: a auto-afirmação. Concentra-se ele, sobretudo, no "desenvolvimento do conceito do Eu" (Evans, 1979). Durante a terapia torna-se mais consciente e mais claro o conceito que o cliente faz de si. Esse autoconceito muda e nisto consiste a terapia. Tentativamente, diríamos que justamente nesse ponto se focaliza o núcleo do ingrediente terapêutico: o autoconceito e a imagem favorável ou desfavorável que a pessoa tem de si; a afirmação de si mesma como ser-alguém, com percepção não traumática de seus limites e com percepção não narcisista de suas possibilidades. Rogers mostrou-nos um caminho no qual não quis, ou não pôde, prosseguir; abriu-nos, porém, as fronteiras e um novo território aflorou.
A motivação e os determinantes do comportamento Colocada a possibilidade de um determinante básico, necessidade ou motivo que respondesse pela melhora do cliente, o primeiro passo foi procurar encontrarmos estudos, nas pesquisas e nas teorias existentes algo que explicasse o fenômeno.Estudar o problema da motivação humana foi o campo inicialmente explorado e, a seguir, resumidamente lembrado nos aspectos que interessam à hipótese que levantamos. O que sabemos em Psicologia é que o pensar, o sentir e o agir são comportamentos resultantes de um grande número de fatores orgânicos ou biológicos que envolvem desde as mais simples reações alimentares ou digestivas até os mais complexos processos retículo-corticais. A estes somamse os sociais, expressos pelas oportunidades, exigências e alternativas que o meio nos oferece. Nesse intrincado cenário, no qual surge uma resposta física ou mental intuitiva ou prodigiosamente elaborada, há um componente emocional que atua na busca de um bem-estar ou na sensação subjetiva desse estado. Se nos virmos ameaçados, procuramos agir para reduzir a tensão decorrente da ameaça. O que é ameaçador ou produtor de tensão pode desorganizar o comportamento, na dependência do grau de insatisfação produzido, isto é, de necessidades não satisfeitas. Motivos, impulsos, tendências, pulsões, são, às vezes, sinônimos de necessidade e aqui usados na mesma acepção. O que vimos até agora nada tem de novo e é provavelmente estudado desde os primeiros momentos em que o homem começou a desvendar ou tentou explicar o seu próprio comportamento. A partir daí, grande número de estudos, pesquisas e teorias vêm sendo apresentados e oscilam desde as explicações filosóficas, antigas e atuais, materialistas ou espiritualistas, centradas no ambiente ou centradas no organismo, até as mais sofisticadas analogias com conceitos físico-matemáticos.
A redução do sofrimento, seja este físico ou mental, parece ser uma necessidade ou um motivo básico, universal e soberano. Todavia, como assinala Allport (1966), essa colocação não explica todas as ações do homem. Argumenta-se, também, que uma necessidade básica e universal, além do evitar sofrimento, seria a busca do prazer. Essa concepção hedonista não explica, igualmente, todo o comportamento, pois o prazer é indefinido, da aUtorealização à autodestruição, como efeito de uma ação realizada. Usa-se, também, a teoria dos instintos, com base na observação do comportamento de animais e de vegetais. Todos esses seres seguem certa direção e se desenvolvem de acordo com certo sistema, num esquema genético ou biológico predeterminado. Certos comportamento "naturais" são chamados de instintos ou de atividade instintiva, execUtados em um determinado ritual, em certas situações, independentemente de aprendizagem. O comportamento prématernal, maternal e parental nos animais, ao preparar o ninho ou o local onde vão nascer os filhos e o cuidar do recém-nascido até que atinja autonomia de vida são exemplos. Esses e outros fatos físicos e psicológicos são necessidades e direções do comportamento suficientemente poderosos para criar e manter uma situação de vida. Qualquer alteração que bloqueie ou desvirtue o ato em si é destrutiva e a previsão dessa ocorrência uma ameaça. O problema dos instintos é algo desafiante para a Psicologia há muito tempo, como também o é para a Biologia e outras ciências. No comportamento instintivo, podem ser identificados dois componentes: uma necessidade fisiológica e um ritual não aprendido, destinado a satisfazê-la. McDougall (1908) definiu o instinto como uma disposição psicofísica inata que impele o organismo a agir de determinada maneira. Esse determinante básico do comportamento, pelo menos a determinado nível de reações comportamentais, vem sendo deixado de lado pela Psicologia, mas não desapareceu do cenário; a terminologia mudou, mas o conceito permanece e a identificação dos instintos ou das necessidades ou dos motivos básicos da conduta é um campo aberto à teorização. Reconhecem os psicólogos que a primeira categoria de necessidades é de natureza fisiológica ou orgânica. O organismo vivo procura nutrir-se (alimento, água, e outros componentes orgânicos), repousar, movimentar-se, proteger-se contra o excessivo frio ou calor, defender-se contra acidentes e fatos que afetam a sobrevivência. Aliás, Wolman (1977), como outros autores, aponta o sobreviver como sendo a necessidade básica. Muitas dessas necessidades são, porém, influenciadas por ação social na forma de satisfazêlas e assumem, então, dupla exigência, pessoal ou organísmica e social. Freud (1938) formulou o conceito de ser a libido o propulsor de todo o comportamento e a fonte de energia psíquica. No pensamento freudiano encontra-se amplo substrato relativo à motivação do comportamento. Aliás, segundo alguns autores (Hilgard, 1975), a psicologia de Freud é, principalmente, uma psicologia da motivação. Os conceitos primitivos quanto aos instintos de vida, aos instintos de morte e ao princípio do prazer, embora revistos e reestudados no decorrer dos anos, abriram considerável espaço para compreensão do comportamento no plano consciente e, principalmente, no plano inconsciente. Os mecanismos de defesa seriam processos reguladores dos desequilíbrios, mas não explicam, por si sós, a predominância de uma necessidade básica. A formulação posterior de Adler, segundo a qual o homem busca superar sua inferioridade mediante auto-afirmação, é mais concreta
nesse ponto. E o instinto do poder de que nos fala Nuttin (1955), acrescentando que tanto este como o instinto sexual, proposto por Freud, chocam-se violentamente como pontos de partida dos conflitos patogênicos. Cannon (1932) formulou o conceito básico a que denorminou de homeostase, segundo o qual o organismo, enquanto ser vivo, busca manter um equilíbrio interior em suas condições fisiológicas. Esse equilíbrio, essencial à manutenção da vida, conduz o organismo a uma temperatura adequada, à pressão sangüínea dentro de certos limites, a uma regulagem da acidez ou da alcalinidade do sangue e à dosagem de vários componentes orgânicos. Esse princípio geral de auto-regulação é ativado pelo próprio organismo nas condições normais de vida e representa, a nosso ver, um processo que encontra paralelo psicológico na preservação do equilíbrio emocional, na busca de uma normalidade psíquica. Resta saber, porém, no campo psicológico, como reage o organismo às ameaças ou desequilíbrios que o afetam. Lewin (1935) introduz o conceito de campo, oposto ao de classe (que categoriza as pessoas) e afirma que qualquer comportamento num campo psicológico depende somente desse campo psicológico naquele momento dado “(Martuscelli, 1959). As necessidades são a fonte de en ergia psíquica, mas não identifica Lewin as necessidades específicas. As tarefas, ou expectativas de tarefas, geram tensões que o indivíduo busca eliminar ou reduzir, executando-as. Lewin explica operacionalmente o comportamento em termos semelhantes aos da Física, excluindo a dinâmica das necessidades, e deixa a questão das” forças psicológicas “abertas à indagação no que se refere à predominância de umas sobre as outras”. Henry Murray (1938) apresentou dois grandes grupos de motivos que ficaram conhecidos pela sua simplicidade: necessidades viscerogênicas ou primárias, de base biológica, e as necessidades psicogênicas ou secundárias, relacionadas com a interação do indivíduo no seu grupo social. Na concepção behaviorista clássica, a motivação é colocada em perspectivas muito diferentes das demais teorias (Skinner, 1956, 1967, 1968; Keller e Schoenfeld, 1966; Birch e Veroff, 1970; Keller, 1974). A resposta ou reação do indivíduo e, portanto, sua atividade em uma direção qualquer é função do ambiente. A probabilidade de ocorrência de um comportamento depende, em geral, dos esquemas de reforço e de extinção que surgem em sua vida quotidiana. A natureza do fator reforçador não é, porém, suficientemente explícita. Klineberg (1946), revendo os conceitos sobre motivação da conduta humana e ao estabelecer critérios para classificação dos motivos, refere-se à auto-afirmação como "algo mais complicado" e a coloca num terceiro grupo por não considerá-la universal. Os fatos que alinha para justificar essa posição não são, porém, convincentes ao dizer que a auto-afirmação não existe em algumas fases de infância e em certas tribos de índios. O problema, a nosso ver, é que a auto-afirmação diferencia-se nas várias culturas e, em conseqüência, sua própria expressão. Maslow (1954) nos fala de necessidades inferiores e de uma seqüência hierárquica no comportamento. As primeiras, de natureza biológica, são fundamentais e predominantes enquanto não satisfeitas. A partir dessa satisfação surgem outras, tais como a segurança, a afeição e, no ápice, a autorealização. Esta última só aparece quando as demais estiverem satisfeitas. O caminho do homem seria sua plena realização, sua capacidade em
desenvolver e realizar suas potencialidades. Ser alguém e sentir-se capaz, ainda que com limitações, seria um motivo final. As teorias monistas e as pluralistas, mencionadas por Angelini (1955), reduzem o comportamento a um motivo básico, único, ou o colocam em função de vários motivos, respectivamente. Esta última concepção parece predominar, citando seus defensores vários motivos ou grupos de motivos, aos quais sempre alguns mais são acrescentados. Essa intermináve1 lista de motivos é, por si só, uma indicação de que poderia haver uma base geral que mobiliza todos eles e que seria, provavelmente, a razão universal da conduta, apenas diversificada consoante os elementos de cada situação psicológica. Festinger (1958), ao estudar o problema da dissonância cognitiva, afirma ser esse fator um determinante significativo do comportamento, comparável a um estado de carência ou de necessidade. Quando o indivíduo percebe incongruência (dissonância) entre suas opiniões, atitudes e valores e o comportamento que dele se espera, ou o que é "forçado" a adotar, surge um conflito interior. O indivíduo esforça-se por reduzir essa disparidade e essa tendência orienta seu comportamento. Concentrando-se mais nos problemas de desenvolvimento cognitivo do que nos aspectos emocionais da personalidade, Piaget (1952; Flavell, 1975) crê que a motivação básica, pelo menos no terreno intelectual, emerge de uma necessidade intrínseca dos próprios órgãos ou das estruturas cognitivas. Não exclui Piaget a interferência dos impulsos primários ou de outros motivos socialmente desenvolvidos mas, na sua concepção, gerados os órgãos ou estruturas, estas buscam alimentar-se pelo próprio funcionamento. A atividade de assimilação parece ser um fato básico da vida psíquica (Piaget, 1952). A posição piagetiana poderia nos levar a conjecturar a existência de uma estrutura global, o organismo em si mesmo, em conseqüência do que o fato básico da vida seria seu pleno funcionamento ou sua função como pessoa. Como assinala Edward Murray (1967), o campo da motivação está desorganizado, tantos são os sistemas concorrentes. Esse autor sintetiza as várias explicações, mencionando as teorias cognitivas, hedonistas, do instinto e do impulso e analisa seus vários conceitos; apresenta, por seu turno, uma grande variedade de motivos e afirma que "a motivação depende de um cérebro que contém mecanismos para o prazer e a dor, que controla o seu próprio nível de excitação e que é sensível aos eventos tanto externos como internos". Não se refere Murray a algum motivo básico ou prioritário; apenas admite que estamos caminhando para uma melhor compreensão do comportamento humano e, ao referir-se ao motivo de auto-realização de Maslow, diz que "talvez o futuro leve a pesquisa ao âmago da tendência autorealizadora do homem... da busca pelo homem de um significado para a sua existência". O motivo de realização, mencionado por vários autores (McClelland, 1953) assemelha-se a um motivo de auto-afirmação, na medida em que envolve dois aspectos: confrontação com outros e confrontação consigo mesmo. Semelhante à autocrítica, é operacionalmente mobilizado para avaliar os níveis de desempenho julgados satisfatórios pelo indivíduo em relação ao comportamento de outros e em relação às auto-imagens e fantasias. Envolve, na concepção psicanalítica, o próprio Ego no sentido de seu prestígio, segurança e poder. Rogers (1942), ao revolucionar os procedimentos de orientação e de psicoterapia com o método então chamado não-diretivo, chega à conclusão de
que um motivo básico, real, seria a auto-realização, o crescimento pessoal e o ajustamento. "O organismo tem uma tendência básica e poderosa para atualizar-se, manter-se e desenvolver-se". Esse seria um determinante do comportamento e, como se verificará posteriormente, foi um dos grandes inspiradores da hipótese que formulamos neste trabalho. Rogers (1978), ao analisar a política dos relacionamentos humanos, afirma que esta apóia-se apóia-se “basicamente na concepção do organismo humano e no que o faz funcionar". A tendência à realização é básica para a motivação. A vida é um processo ativo e "quer os estímulos provenham de dentro ou de fora, f ora, quer o ambiente seja favorável ou desfavorável, os comportamentos de um organismo serão dirigidos no sentido dele manter-se, crescer e reproduzir-se". O organismo move-se auto-regulando-se, autocontrolando-se. "Em seu estado normal, move-se em direção ao desenvolvimento próprio e à independência de controles externos". Evidentemente, Rogers ao descrever essa auto-realização como algo inexorável, está praticamente admitindo um determinismo biológico. Nada se cria em terapia. O que se faz é liberar a tendência direcional da pessoa.
A auto-afirmação preponderante
como
motivo
básico
e
emocionalmente
Os motivos poderiam ser classificados em várias categorias estendendose em um elenco interminável de ações e de seus pressupostos psicológicos. Poucos psicólogos referem-se à auto-afirmação, embora muitos deles mencionem esse motivo sem, contudo, identificá-lo como variável dominante. É o caso da busca da superioridade, de Adler, da busca de individualidade, de Rank, do desenvolvimento e da autodeterminação de Rogers, de realização de McClelland, da realização do Eu, de Maslow e de algumas outras colocações. No campo biológico temos razoável segurança em constatar estados de carência ou de privação e da correspondente ativação em busca de alimento, de água, de oxigênio, de conforto térmico, t érmico, de repouso, de defesa contra fatores destrutivos, de liberdade de movimentos, .de exploração sensorial e de sobrevivência em geral. No terreno psicológico, aí incluído o social, os alvos e a correspondente instrumentação comportamental não são assim tão claros e parecem provir de ações perceptuais e cognitivas, isto é, da forma pela qual percebemos e elaboramos, mentalmente, os fenômenos pessoais e sociais. Parece haver, nesta área, uma espécie de referencial de satisfação ou de não satisfação a que se seguem processos de defesa ou de adaptação do Ego a uma dada realidade e que aparece, simbolizado ou deformado, no relacionamento terapêutico terapêu tico tanto quanto nas atividades do dia-a-dia. O conceito, mas não o conteúdo desse referencial, começou a emergir quando notamos a evolução dos comportamentos dos clientes em sessões de orientação e terapia psicológica. Como assinalamos na página 72 os clientes passavam a um estágio de maior satisfação, por eles julgado, quando conseguiam colocar-se em um plano auto-referente e interiorizar um julgamento favorável sobre si mesmos. Restaria hipotetizar sobre a natureza desse referencial que responderia pela melhora do quadro clínico, E, para responder a essa indagação, formulamos duas Possibilidades:
a) ocorre, na relação psicoterapêutica, a satisfação de alguma necessidade psicológica necessidade psicológica básica que responde pela satisfação em várias áreas vitais para a pessoa; b) ocorre na relação terapêutica à satisfação de várias necessidades psicológicas psicológicas simultaneamente, sendo difícil ou quase impossível identificá-las. Para resolver esse impasse inicial, sobre duas formulações, revimos os casos atendidos e Passamos a observar melhor nossa própria atuação como terapeuta estudando, diante de cada verbalização, o possível efeito nos clientes. Foi possível observar que os estados de ansiedade aumentavam, às vezes até com perturbações, no desempenho da vida diária, sempre que a valorização pessoal e a auto-afirmação eram atingidas de forma traumática, quer o fato resultasse de ocorrências da vida diária (conflitos e frustrações, na área da valorização pessoal), que resultasse de atitudes ou verbalizações pouco confortadoras do terapeuta, Diante dessa situação, pareceu-nos válido conjecturar que: 1. Há necessidades, motivos ou agentes do comportamento que independem da opção individual e, conseqüentemente, atuam como automacismos físicos para gerar a vida, facilitar o crescimento e o amadurecimento e manter a sobrevivência. Ê a própria vida em contraposição à morte ou inexistência, Não há escolhas salvo na forma de viver, a pessoa não se avalia através dessas necessidades; 2. Noutro aspecto da vida, há necessidades ou exigências que geram auto-avaliação física e social. O individuo se vê como um ser vivo, alimentando-se, crescendo, amadurecendo, produzindo, como entidade física, à qual se agregam exigências socialmente definidas na cultura em que vive, tais como assumir os papéis de filho, de pai, de estudante, de profissional, de cidadão, etc. Essas expectativas sociais o pressionam e o indivíduo se avalia com alguém de quem algo se espera: surgem necessidades sociais que lhes asseguram a vida social, completando a sobrevivência apenas física. Esse sentido de vida, forma de auto-avaliação social mente mente provocada e psicologicamente percebida, é vital para o equilíbrio emocional e, conseqüentemente, para a vivência social. A pergunta que a pessoa coloca para si mesma, em diferentes instâncias da da vida, será esta: até que ponto vivo social e pessoalmente? Os padrões de desempenho, de adequação, de competência, de aprovação, de status, de poder e tantos outros são questionados. O conjunto de respostas que a pessoa emite a essas questões seria a auto-afirmação e, como tal, seria o determinante básico do comportamento. Kreeh e Crutchfield (1963) definem parte do que desejamos expressar. Dizem esses autores que "o comportamento auto-afirmativo pode servir a diferentes objetivos, exprimir diferentes desejos e necessidades e apresentar inúmeras formas". Refere-se, "também, à manutenção e aceitação da autoimagem, indiferente à maneira pela qual os outros possam vê-lo". No nosso entender, não se refere este processo mental à competição, nem à busca de superioridade de Adler, mas à identificação do EU, ao encontro de uma realidade pessoal, àquilo que somos e que usufruímos, ainda que pequena em um mundo cada vez mais gigantesco. É o assumir a si mesmo, compreender o que é e aceitar-se.
A insuficiência da auto-afirmação talvez explique a neurose de insignificância de nossos dias e o aumento crescente dos desajustes emocionais na razão direta do não-humanismo, isto é, da sociedade povoada pela tecnologia e pela tecnocracia. O indivíduo vê-se cada vez menos atuante, seja na escola, na família, no trabalho e um processo de auto depreciação se instala. O antídoto é a auto-afirmação. As conhecidas tensões dos primeiros astronautas - relatadas pela imprensa - podem ser um exemplo: um sentimento de insignificância diante de um mundo imenso, novo, ao qual não estavam acostumados. Em conseqüência, o sentimento de pequenez, de desvalia conduz ao medo de não ser alguém. Em proporções menores, esse niilismo pode surgir no dia-a-dia, na medida em que nos sentimos impotentes, marginalizados, desprezados. Muitos clientes, crianças, jovens, adultos e idosos, acabam por demonstrar, no decorrer de entrevistas e sessões terapêuticas, que seu problema básico é não serem devidamente considerados. Na situação familiar, conjugal e de trabalho, esta situação é bem evidente. Filhos se queixam de que seus pais não confiam neles; pais se queixam de que seus filhos não os respeitam; empregados se vêem angustiados quando são esquecidos ou marginalizados; todos sofrem quando se sentem relegados a um segundo plano. A recíproca é verdadeira: nota-se a satisfação e o bem-estar quando somos ouvidos, quando somos participantes, quando nossa presença é notada, quando, de alguma forma, sentimos ser alguém. Quando, pois, se consegue restaurar, por outras vias, na relação terapêutica, a percepção do Eu, quando se recoloca a pessoa em um sentido de valorização de seus papéis e de seu desempenho reduz-se a angústia existencial e as desordens comportamentais que dela se originam. Esse complexo sentimento de avaliação de si mesmo, de autoafirmação, de ser alguém, uma pessoa definida no tempo e no espaço, com características próprias, com possibilidades e limites satisfatoriamente interiorizados estimula e direciona o comportamento psicológico e, em conseqüência, todos os demais aspectos da vida nos quais haja opções e decisões e que, em última instância, estabelecem a forma de ser, de viver. A auto-afirmação, tal como a entendemos, está amplamente relacionada com a auto-realização na forma vista por vários teóricos da motivação* , dentre Os quais os citados por Cofer e Appley (1975) ou seja, Goldstein, Fromm, Horney, Rogers, May, Maslow e Allport, além de outros. Todavia, e isto nos pareceu importante como produto de nossas observações, a diferença entre um e outro motivo consiste no fato de que o primeiro não busca o fazer, o realizar, o criar ou o construir para efetivar-se. A auto-afirmação é preexistente em maior ou menor grau; a pessoa mantém uma confiança na própria individualidade, sem necessidade de prová-la a todo o momento. No seu ponto ideal seria a imagem completa, coerente, integrada de si mesmo e, portanto, produtora de tranqüilidade e segurança. A pessoa crê no que é e não no que deve ser. Envolve um sentimento mais profundo do que a aceitação de si mesmo, proposta por Rogers, porquanto não é um conformismo, mas uma valoração das experiências vitais e de seu Eu como um conjunto integrado de disposições e de disponibilidades, de energia e de produção, independentemente do que faça ou deixe de fazer, socialmente participante como elo indispensável a toda a cadeia de eventos que ocorre no cosmos. Uma descrição bem próximo do que se pretende definir é encontrada em Cofer e Appley (1975, pp. 652-75) quando esses autores comentam a natureza da
ênfase na auto-realização. Entretanto, o que se deseja acrescentar à contribuição dos teóricos e dos comentários citados é que a aUto-afirmação, como motivo de deficiência ou como motivo de crescimento, no dizer de Maslow (1943, 1954), parece, a nosso ver, constituir a mola mestre e um determinante básico no comportamento humano. *Muitos autores distinguem necessidade de motivo. Segundo essas distinções, a primeira corresponderia à deficiência ou falta de uma substância ou função necessária necessária ao processo processo de vida ou de bem-estar. bem-estar. Motivo seria um padrão de comportamento complexo, socialmente aprendido, que envolve uma necessidade ou situação que o origina, o estímulo que o mantém e os mecanismos de ajustamento que dele resultam. Neste livro. motivo é considerado como um impulso ativo, resultante de uma necessidade, consciente ou não. Esta, por sua vez, significa um impulso primário (proteger-se. por exemplo), aprendido ou não, cuja insatisfação pode provocar um estado de carência. Praticamente, os dois termos se equivalem. Para suporte da hipótese levantada, somente dispomos de dados clínicos provenientes de um grande grupo de clientes, de condições pessoais as mais variadas, atendidos entre 1960 e 1980. Desse contingente, conseguimos observações regulares e sistemáticas em 80 casos os quais contavam com um atendimento terapêutico de um ano, no mínimo, com sessões semanais e com um acompanhamento de, pelo menos, igual duração.
7 - A Personalidade e a Auto-Afirmação O Eu Pessoal, o Eu Social e a emergência da auto-afirmação As descrições da personalidade, variadas consoante os autores, nem sempre são apoiadas em pesquisas mas em constructos teóricos. Todavia, tais constructos não nascem do nada; têm origem em observações e na experiência quotidiana (Hall e Lindsey, 1966; Allport, 1969). A experiência de cada teórico da personalidade, embora sujeita a distorções próprias do observador e profundamente subjetiva, pode nos levar, porém, a novos enfoques que, por sua vez, produzem novas interpretações e, possivelmente, novas aproximações da verdade. O que se relata, agora, pode ser um passo nesse sentido, embora coexistam explicações análogas, com outra nomenclatura. Nossa experiência com pessoas ansiosas, jovens ou adultos, que procuram enfrentar conflitos e frustrações ou entender o que nelas se passa, com clientes pouco motivados para terapia e que a estas se dirigem por imposições paternas ou por modismos psicológicos, com pessoas fortemente desestruturadas e com casas chamados "normais", levou-nos a reafirmar a conhecida bipolaridade comporta mental: a área individual ou pessoal e a área extra-individual ou social. Essas duas áreas embora coexistam na pessoa, sendo até mesmo indistinguíveis em muitos comportamentos, podem, porém, revelar dois conjuntos de agentes os quais, uma vez ou outra, assumem ações independentes. O esquema a seguir poderia demonstrar o que ocorre nos dois
conjuntos e na personalidade à medida que o indivíduo se desenvolve ou se socializa: Na primeira infância geralmente até os 3 anos de idade o EU PESSOAL e o EU SOCIAL estão separados A partir do terceiro ano de vida, em geral, o PESSOAL e o EU SOCIAL se juntam formando uma área de conexão entre os dois EU,com áreas de interpenetração pessoal e social extremamente variadas. O EU Pessoal pode ser definido como o repositório de todo o patrimônio genético, inclusive temperamento, inteligência e outras aptidões, estrutura física, características sexuais, estrutura e dinâmica sensorial e motora, necessidades biológicas biológicas e, ainda, as experiências e seus efeitos introjetados e já incorporados ao funcionamento funcionamento do organismo. O EU Social seria a figura resultante do conjunto das expectativas, das direções, imposições e pressões sociais que atuam sobre o Eu Pessoal; é, sobretudo, um produto da Educação que elegendo valores manipula o indivíduo modelando-o nas ideologias, hábitos e costumes de uma dada sociedade, nos seus conteúdos políticos, religiosos, econômicos ou de qualquer outra natureza. O indivíduo estaria sob duas ordens de pressões: 1) Primeiramente, as que provêm de seu estado natural, orgânico, constitucional, predominantemente genético, que traça direções e limites de sua ação. É todo um comportamento natural, simples, de sobrevivência e de adaptação ao ambiente. A criança alimenta-se, excreta resíduos, chora, repousa, responde a estímulos sensoriais; mais tarde, anda, fala, explora o meio e o cultiva; percebe-se, pouco a pouco, como Um ente vivo, atuante, consciente de certas características suas, inerentes a seu funciona mento como pessoa; 2) Progressivamente passa a sentir Uma manipulação externa que provém de outros seres, iguais a ele, e que, isoladamente ou em grupo, o influenciam e passam a dirigir suas ações. Sente-se levado a comer, a dormir, a colocar-se em posturas ditadas por outros. É levado a falar, a vestir-se, a interagir com seus semelhantes da maneira pela qual estes agem ou estabelecem normas de conduta. Precisa ir à escola, aprender uma profissão, orientar sua atividade sexual de certas maneiras, participar de ações comunitárias de acordo com padrões grupais e assim por diante. A sociedade impõe normas e exige conformismo a seus estilos de pensar, de agir e de sentir. Para não ser marginalizado, punido ou destruído, o indivíduo obedece a essas imposições; conforma-se. O processo de acomodação faz-se, às vezes, às custas da perda de seu EU Pessoal; de concessões. O estilo pessoal, primitivo, natural, cede lugar aos gabaritos sociais e à alienação de si mesmo, com graus variados de aceitação ou de repulsa às imposições e referenciais externos. A pessoa passa a sentir-se invadida no seu território, a perder o que é seu e que lhe dá segurança existencial. Quando as pressões sociais assumem formas traumáticas, a pessoa vê-se aniquilada, sem ser alguém. Busca, então, recompor-se; mostrar
que existe; afirmar-se. Quanto mais profunda e traumática tr aumática a imposição, maior é o sentimento de não-ser e maior a necessidade de auto-afirmação. O fenômeno exposto ocorre todos os dias, todas t odas as horas, em pequenas ou grandes dimensões. É a criança que vê o novo irmão tomar-lhe o lugar e as preferências dos pais e dos parentes; é o menino ou menina que, deixado de lado pelos seus amigos em um jogo ou brinquedo, sente-se rejeitado e, portanto, não-sendo; é o empregado que vê seu colega promovido e ele não; é o exemplo clássico de alguém que está em uma fila e vê um outro passar-lhe à frente. Esses exemplos banais servem para indicar a ocorrência de formas muito mais complexas emergentes em outras circunstâncias, tais como a busca do poder, do prestígio, do renome; a liderança; a publicidade em torno de seu nome; a luta pelo dinheiro ou pelos títulos e pelo status cuja essência nada mais é do que a auto-afirmação, tanto mais sensível quanto maior a pressão que destruiu o EU Pessoal. Por outro lado, há pessoas que, embora queiram aparecer ou autoafirmar-se, o fazem em escala moderada; não foram aniquiladas ao ponto de procurarem constante evidência de si mesmos; conservam grande parte de seu EU individual e com isso se satisfazem. O processo de ser inicia-se com a percepção organísmica, já afetada pelas experiências ambientais e sociais. O "self” seria, de acordo com Chein (1944) e outros autores, o conjunto de conteúdo auto-referentes, relativos a si mesmo; é aquilo que percebemos como sendo nosso. A conseqüência é a percepção de uma identidade que, no dizer de Erikson (1971). seria a reflexão e a observação do indivíduo sobre si mesmo. Essa percepção de si pode incluir dimensões no tempo e no espaço com noções de continuidade e de contigüidade e de igualdade e de comparabilidade, que permitem responder à pergunta" quem sou eu"? Inerente à identificação de si mesmo, surge o processo avaliativo no plano consciente ou inconsciente das ações do "self" como respostas ao EU Pessoal e ao EU Social, isto é, aos impulsos naturais da pessoa e às pressões ambientais e sociais. Tem início um julgamento do EU na sua totalidade e em aspectos particulares da existência. A simples imagem de espelho que caracteriza sua identidade é completada pela autocrítica, dando lugar a mudanças adaptativas que a pessoa tenta operar no sentido de impor-se a si mesma com respeito e admiração; procura satisfazer seus impulsos e considera as pressões sociais. Com o processo adaptativo, seu Ego se instala (Hartman, 1957); passa a conhecer-se melhor e sua identidade, antes fluida e superficial, passa a estabelecer-se e a definir-se, embora em constante mudança. Do conhecimento de si surgem a auto-estima e o autoconceito e, em conseqüência, o sentimento de inadequação, impotência, incapacidade ou, por outro lado, o sentimento de valor pessoal e de poder. No primeiro caso, sufocado e humilhado pelo quadro de incapacidade, revolta-se, exibindo comportamentos anti-sociais ou ingressa no campo das descompensações psicológicas. No segundo caso, suportado pelo sentimento de valor pessoal, emocionalmente satisfeito, mobiliza seu potencial para entender a realidade e para a ela adaptar-se. A auto-afirmação no sentido positivo somente se instala na medida que a pessoa tenha plena consciência do que com ela ocorre, o que
corresponderia ao que Wolman (1977) afirma: "what counts is not only power as it is but power as perceived by oneself" . A auto-imagem, auto-estima e autoconceito sempre foram tidas como agentes importantes na conduta humana (Honey, 1966; Moustakas, 1966; Rosenberg, 1965) como se verifica pela simples observação de que os comportamentos individuais se alteram consoante a flutuação dessa percepção na própria pessoa. Todo ser humano tende a agir de acordo com o que acha que é. "A estrutura da auto-imagem determina dia após dia, de momento a momento, o comportamento da pessoa" (Anderson, 1952). Trabalhar, pois, com a auto-afirmação como produto de auto-imagem, da auto-estima e do autoconceito é operar sobre a pessoa, educando-a ou reinstalando comportamentos pessoal e socialmente úteis. O gráfico da página 87 pretende ilustrar como ocorre o processo da auto-afirmação. Após a formulação das hipóteses mencionadas neste trabalho e relendo Laing (1963), pudemos encontrar apoio às nossas observações, quando menciona esse autor a segurança ontológica. Diz Laing que o indivíduo pode' 'sentir seu próprio ser como real, vivo, total, diferenciado do resto do mundo, em circunstâncias normais, tão claramente que sua identidade e autonomia nunca são duvidadas; como contínuo no tempo; como possuidor de uma estabilidade, importância e autenticidade e merecimento internos coexistindo espacialmente com o corpo e, geralmente, como iniciado pelo nascimento e passível de extinção pela morte. Assim, ele apresenta uma essência firme de segurança ontológica" (p. 46). Ao explicar os comportamentos psicóticos, continua dizendo, "se o indivíduo não pode ter certas a autenticidade, a vida, a autonomia e a identidade de si e de outros, então se deixará absorver inventando meios de tentar ser real, de se manter e, aos outros, vivos; de preservar sua identidade num esforço, como freqüentemente o diz, para evitar perder o seu eu" (p. 47). Essa desvinculação do Eu ocorreria, também, segundo Laing, no sentido material, havendo pessoas rotuladas como esquizofrênicos que se sentem dissociadas de seu corpo, perdem sua identidade física e conseqüentemente ingressam em profunda angústia existencial; é o Eu dividido, segundo Laing; o indivíduo é uma coisa e não uma pessoa. Conhecer o eu, senti-lo como real, sentir-se como alguém, apreciar seus valores físicos, intelectuais ou afetivos, bem como suas limitações nesses e noutros campos e, assim, sentir-se como pessoa a quem cabe um espaço no mundo e um sentido de vida, seria o motivo básico do comportamento em função do qual giram seus pensamentos e ações. Quando não percebe sua identidade perde-se na imensidão das coisas e confunde-se com o tudo ou com o nada e desaparece no seu autoconceito. Esse desaparecer pode causar os mais variados comportamentos, desde o autismo ou a tentativa de criar um mundo para si próprio, até a negação do que existe ou o uso de fantasias que satisfaçam a necessidade de ser alguém. Muitos exemplos da vida diária ilustram os fatos aqui assinalados, seja na busca de uma identidade, do reconhecimento de ser alguém, seja nas desordens comportamentais, de rótulo neurótico ou psicótico, que ocorrem quando o indivíduo não encontra essa posição psicológica. Um dos casos mais evidentes da experiência do autor refere-se a uma cliente que, não obstante dispor de condições sociais e materiais de elevado nível, sem problemas ou ou queixas objetivamente distinguíveis, ingressava, ansiosamente, em um grande
vazio existencial: a vida não tinha sentido, principalmente na relação familiar e conjugal; não se sentia válida e útil na própria família e em conseqüência esquivava-se, o mais que podia, da atmosfera e das decisões familiares. Procurava atividades longe do círculo familiar, na busca de alguma forma de ser alguém, mas nem mesmo noutros campos achava o seu Eu; parecia difícil explicar a si mesma certos comportamentos que assumia e, muitas vezes, entrava em ansiedade quando tinha que revelar seu próprio nome e sua identidade. Nas sucessivas sessões focalizou a cliente a história completa de sua vida: com pais separados desde sua infância, sentia-se incerta na sua origem, questionando até mesmo suas raízes biológicas com seu pai e sua mãe. Sempre se tornava extremamente ansiosa ao evocar seu passado, suas origens ou quando tinha que expor opiniões pessoais. Não se sentia uma pessoa, alguém capaz de emitir um juízo ou opinião e se o fazia era para impor um ser que procurava existir, que não havia ainda nascido. A redução da angústia resultante desse niilismo somente foi possível quando passou a se valorizar como pessoa, com vida e alvos próprios, quando foi possível perceber sua existência como indivíduo, quando pôde, abertamente, dialogar com sua mãe sobre sua origem e identificar-se, na família, como participante desse grupo e de outros, no trabalho e na vida social. A auto-afirmação é vista, também, como auto-estima e, nesse sentido, como aponta Chrzanowski (1981), um construto que constitui fundamentos para entender a motivação humana na vida diária, tanto quanto na situação terapêutica. É uma realidade mais tangível do que o Ego. Segundo esse mesmo autor, a auto-estima, que pode ter vários sinônimos tais como autorespeito, autoconsideração, é a imagem favorável de si mesmo, de dignidade pessoal. Esses conceitos, pouco considerados por Freud e outras correntes psicológicas, são agora reapresentados como algo de máxima significância na conduta e em qualquer forma de terapia. .
GRÁFICO 1 Etapas Principais Principais do Processo de Auto-Afirmação Auto-Afirmação Percepção dos eventos pessoais e sociais (Respostas sensoriais, motoras e mentais a quaisquer estímulos pessoais, ambientais ou sociais) | SELF | IDENTIDADE | Avaliação no plano consciente consciente ou inconsciente inconsciente das respostas aos estímulos estímulos pessoais, ambientais e sociais | AUTO IMAGEM
| Adaptação dos impulsos impulsos naturais e pessoais às pressões e condições condições ambientais e sociais | EGO | Auto afirmação negativa; AUTO ESTIMA Auto-afirmação insatisfação pessoal; AUTOCONCEITO positiva, satisfação deteriorização do pessoal; equilíbrio comportamento emocional
A ocorrência patológica Parece evidente ao autor que a maioria, senão a totalidade dos distúrbios emocionais, dei origem não-biológica, provém do aniquilamento do EU Pessoal e da conseqüente necessidade necessidade de fazê-lo emergir. A percepção de ser desvalorizado, desprezado, preferido, parece ser a mais contundente experiência humana. E o homem assim percebido ingressa em defesas para compensar essa desvalorização de algum modo e, enquanto isso não ocorre, permanece em estado de real sofrimento. Não importa se esse sentimento de desvalia seja real ou imaginário. Desde que a pessoa o sinta, atua como se fosse real. As compensações psicológicas explicadas pelos mecanismos de defesa (Freud,Ana Freud e outros) são meios pelos quais o indivíduo recompõe seu equilíbrio emocional, revendo-se como alguém, bom, útil e expressivo. Às vezes essa defesa é socialmente inaceitável, não adaptativa, como no caso do indivíduo que rouba, assalta ou mata para vingar-se, para aparecer, ou para mostrar que existe e que é alguém. Nesses casos, o indivíduo está psicologicamente equilibrado mas socialmente condenado. Noutras vezes, busca afirmação em obras ou atividades que substituem suas deficiências ou pseudo deficiências e que são aceitas e socialmente valorizadas. Obtém-se, nesse caso, um equilíbrio social e psicológico adequado. Outras vezes, porém, permanece o indivíduo no plano da nulidade ou da não-existência e esse sentimento, profundamente traumático, gera angústias às vezes insuportáveis. Aí estariam, pois, as nascentes de todos os problemas psicológicos. psicológic os. Manipulálos, terapeuticamente, com compensações ou com nova visão de si e dos referenciais externos, é todo o trabalho da reeducação, da reabilitação ou da psicoterapia e os casos que mencionamos em páginas anteriores são exemplos que podem ser significativos. O problema psicológico, manifesto por tensões, angústias ou comportamentos socialmente indesejáveis, parece brotar como conseqüência da aniquilação individual, ou, em menor grau, do sentimento de incapacidade ou de rejeição. Isto porque a própria sociedade exige o conformismo a seus padrões e, logo a seguir, a expressão individual, ou seja, uma capacidade individual de ser alguém, de resolver problemas, de tomar iniciativas e de dar contribuições à sociedade. Diante dessas exigências antagônicas, conformismo versus expressão, o indivíduo vê-se perplexo. Precisa adaptar-se e precisa ser alguém, para não ser tragado pelo niilismo. Pode conformar-se totalmente e
mergulhar no anonimato, no nada ser, como defesa. É o seguidor sem restrições, para quem tudo está bom. Aceita o niilismo sem tensões. Noutro oposto, está o contestador extremado, que movido pelo seu EU Pessoal tudo questiona e somente por maiores pressões submete-se às imposições sociais. Entre tais extremos situam-se, porém, grande parcela de pessoas que lutam por um equilíbrio entre o não-ser e o ser. Não o atingindo ,ingressam em estados permanentes de tensão e de sofrimento. Esses casos são comuns e os vemos no dia-a-dia, sofrendo ou gerando sofrimento em outros. Muitas das personalidades neuróticas ou psicóticas, para usar a rançosa nomenclatura tradicional, enquadram-se nessa situação: estão à procura de um equilíbrio entre o ser e o dever-ser; entre o que são (EU Pessoal) e o que acham que exigem de si (EU Social). Essas pessoas, às vezes, imaginam que as expectativas dos outros,sobre si mesmas, são de tal ordem que não podem a elas corresponder: é o sentimento de incapacidade, real ou imaginário; outras procuram vencer as “exigências” ou expectativas, impondo o seu EU Pessoal, como forma de se libertarem dessas exigências e temos os comportamentos de prepotência, de dominância ou de culto de si mesmos. Tanto num caso como noutro, a pessoa sofre ou provoca sofrimentos e torna,se indesejável para si ou para os outros. A auto-afirmação parece ser o móvel constante, o regulador da conduta humana. Conduzi-la a níveis pessoais e sociais adequados, sem ferir a individualidade e a sociedade,seria o objetivo máximo do bem-estar individual e social. O determinánte básico, por nós chamado dé auto-afirmação, não é tão simples como o nome indica; não se confunde com o comportamento de "chamar à atenção sobre si", como é, às vezes, interpretado. É um produto intelectual e emocional muito mais abrangente e profundo. Intervêm nesse comportamento muitos outros elementos, dos quais se destacam: a) O nível mental, no sentido de ler a pessoa capaz de avaliar e comparar diferenças dentre fatos e objetos e entre situações diversas; b) O nível intelectual, no que se refere às cognições e à acumulação de informações que permitam à pessoa emitir juízos de valor, sobre si e sobre os outros, e extrair conclusões quantitativas e qualitativas;c) Condições de percepção sensorial, através da qual possa a pessoa receber os estímulos ambientais ou autogerados; d) As imagens introjetadas de si e dos outros, do Eu-real e do Eu-ideal, ou seja, todos os agentes derivados do autoconceito resultantes de frustrações e conflitos, bem como de sentimentos positivos e negativos. A auto-afirmação não significa, igualmente, o sentimento narcisista estudado por Kohut (1978) na Sua posição antifreudiana, mas o equilíbrio entre o amor por si e pelas pessoas e fenômenos que o rodeiam. As desordens psíquicas ocorreriam quando a pessoa não é capaz de estimar-se a si própria, buscando nos outros, a todo momento, extremamente vulnerável às críticas, a valorização que lhe falta. O seu EU fragmentado é ambíguo, confuso, instável e não estruturado, com origens que podem estar na sua relação com seus pais e sua família. Quando esta descarta os vínculos entre seus membros deixando a criança entregue a si mesma, sem a troca de experiências afetivas constantes, ou quando excessivas exigências subjugam a visão de si mesma, a criança sente-se privada da estima e desenvolve auto.imagem depreciativa. Como exemplo, basta lembrar os milhões de menores desamparados ou
abandonados que passam a sentir-se injustiçados e rejeitados embora não possam identificar esse sentimento. Tiveram eles o Eu destruído ou parcialmente anulado pela falta de progenitores ou pelas atitudes de indiferença ou de não empatia que freqüentemente f reqüentemente encontraram. O comportamento de auto-afirmação pode ser entendido como resultante dos juízos que a pessoa faz em relação a si mesma e de seu Eu em relação ao mundo. Quando esses juízos indicam conceitos grandemente desfavoráveis, que geram sentimentos de nulidade, de não ser ele próprio, de alienação, ou mesmo de incapacidade face a necessidades imperiosas, a pessoa ingressa em estados de depressão ou de angústia, que variam de acordo com o grau de insatisfação percebido. É a conseqüência da reação do Ego à ameaça de não-ser. Todos nós, em um momento ou outro da vida, sentimos ocorrer tais sentimentos. No indivíduo dito “normal", ou normalmente ajustado, essas imagens de incapacidade ou de nulidade são aceitas e incorporadas como algo não-destrutivo, que ocorrem como fatos comuns da vida; não afetam a integridade e o conceito básico do EU e, conseqüentemente, a pessoa continua a viver na busca de outros caminhos; procura soluções menos frustradoras, aceita os fracassos como parte da experiência normal de vida e não. se sente invalidado ou rejeitado. Em certos casos, porém, seja por um acúmulo constante de insucessos, seja pela ocorrência de uma grande e profunda insatisfação, a pessoa começa a interiorizar conceitos depreciativos sobre-si mesma; tudo lhe parece ameaçador, reforçando a imagem negativa que está se gerando, ou já implantada. Dois pólos extremos podem caracterizar os efeitos da autoafirmação: 1. Comportamento de nulidade, ou seja, o da percepção e conseqüente posicionamento de que pouco ou nada adianta fazer, face aos problemas existenciais, já que seu EU não tem condições de superar problemas. Evita atividades ou quaisquer realizações porque, de antemão, não confia no seu próprio desempenho. É o comportamento de fuga, de esquiva, de negação da realidade e outros semelhantes, explicados como defesas pela linha freudiana, pela não aceitação de si mesmo, na posição rogeriana, ou pela ausência de reforçamento de valor pessoal, na linha comportamentalista. A conseqüência emocional, é geralmente, a depressão temporária ou permanente, a inibição ou bloqueio de comportamentos, resultante do medo de fracasso; . 2. Comportamento de ativação, que se refere à não aceitação de um juízo depreciativo, isto é, o organismo reage contra o baixo conceito que lhe é profundamente traumatizante. A reação, porém, é não-adaptativa, uma vez que, gerada sob a percepção de incapacidade, cria tensões severas. A pessoa sente-se incapaz e, em lugar de manter-se em estado depressivo, expresso no comportamento anterior, procura lutar contra essa imagem, às vezes de forma impulsiva e irracional. Predominando o medo do insucesso, o comportamento se desorganiza e novos fracassos ocorrem. A seguir, mais medo e mais fracassos e os níveis de excitação aumentam gerando, no plano emocional, estados de intranqüilidade, agitação, fobias, falhas do desempenho e conseqüente agravamento das condições existenciais. Os dois comportamentos, acima mencionados, poderiam corresponder a dois processos básicos de equilíbrio, quer no plano psicológico como no
biológico,e biológico,e se referem a estados de inibição e de excitação, fartamente conhecidos no campo da fisiologia e da psicologia.
Neurose e significado da vida A auto-afirmação é o reconhecimento e a valorização da própria individualidade que, no dizer de Rollo May (1977), deve ser preservada. É o alvo da psicoterapia, no pensamento de Rank (1945), e, como busca da própria individualidade, uma característica básica do comportamento segundo Jung (1927, 1939). Analisando métodos de aconselhamento, aconselhamento, diz May que forçar o indivíduo a ser ele mesmo é "piorar ainda mais a confusão. Ele precisa, em primeiro lugar, achar a si mesmo". Mais adiante, o mesmo May define o quadro do neurótico e sua teorização muito tem a ver com o que encontramos sobre a auto-afirmação. Diz May: o problema do neurótico é sua incapacidade de afirmar. "Afirmar significa mais do que simplesmente aceitar. É mais um aceitar ativo, um dizer Sim, não apenas verbal ou mentalmente, mas com resposta de toda a personalidade". Essa falta de capacidade de afirmar a si próprio, a seus semelhantes e ao universo está ligada ao acentuado sentimento de insegurança do neurótico. Temos observado ser comum entre os depressivos, os angustiados e os ansiosos, em geral, a existência de um sentimento de medo ou de falta de confiança em si e nos outros. Agem para se defender de perdas, reais ou imaginárias. No neurótico, ao contrário do psicótico, geralmente o medo e o sentimento de fracasso tem origem em alguma perda ou ameaça real de perda. A pessoa envolvida teve, na realidade, alguma dificuldade material ou moral, objetiva, praticamente verificada. A neurose é, porém, o exagero e a generalização desse medo, causada pela falta de confiança em si, que assumiu a forma de baixo conceito pouco a pouco interiorizado, seja por uma visão deformada dos fatos (plano cognitivo), seja por reais e repetidos insucessos que geraram uma visão negativa de si mesmo (plano emocional). Em conseqüência, a pessoa não consegue ser alguém; não se afirma como pessoa e a vida não tem um significado, ou se o tem, o que é pior, surge como inatingível. A pessoa tem planos ou objetivos e necessidades subjacentes que lhe parecem muito além de sua capacidade. Nestes casos, coloca alvos acima de suas reais possibi reais possibi lidades lidades ou, se é capaz, não se vê suficientemente dotado para alcançá-los. No primeiro caso, suas informações e os dados de que dispõe para manipular o problema são errôneos ou incompletos. É o caso de pessoas que almejam alto nível de desempenho, seja no campo profissional, social, sexual ou outro qualquer, baseado em concepções ou imagens que lhe foram transmitidas e em função das quais acredita que certos padrões de desempenho são os únicos aceitáveis e que justificam sua conduta. Esquecem-se de seu próprio Eu e tomam como diretriz o Eu de outrem. Alienam-se de si mesmos e vivem à sombra de outros, buscando igualá-los ou superá-los. A satisfação e o bem-estar ficam associados e esses alvos; não elaboram seus próprios planos e suas próprias decisões. No segundo caso, simplesmente não se avaliam positivamente. Na medida em que a pessoa constrói para si mesma seu próprio mundo, com as limitações e aspirações que derivam de sua auto-imagem, torna-se capaz de afirmar-se, de traçar seu próprio rumo, relacionado com o mundo
externo, mas não por este dominado. Nesse momento, enquanto pessoa, dá um sentido à sua vida, fixa metas e estratégias e com elas opera, adaptandoas a eventuais revezes e impropriedades. Pode sofrer com as frustrações e conflitos, porém reformula planos, mantém as diretrizes essenciais que coloca para si mesmo. Nesse sentido, reconhece-se como alguém, al guém, que tem condições próprias e que luta para adaptar-se, com suas potencialidades e limitações. Esse sentido de luta pessoal, ainda que acarrete derrotas, seria a essência da auto-afirmação. Não é o resultado visível em si que interessa, mas o sentimento de não-passividade, de independência, de ser capaz de reconhecer em si algo que permanece, que não foi destruído, apesar dos fracassos. A auto-afirmação seria também a percepção da própria existência e o preenchimento do vácuo existencial, tão bem colocado por Victor Frankl e que, segundo ele, corresponde à ausência de um sentido de vida. Esse mesmo autor menciona a pesquisa da Universidade de Harvard, realizada com 100 antigos estudantes dessa Universidade, e na qual se encontrou grande porcentagem de pessoas que, depois de formadas e mesmo bem sucedidas na vida profissional, queixavam-se de "falta de uma missão especial vital", "andam à procura de uma vocação e de valores pessoais que os sustentem". Ocorre, segundo Frankl, um novo tipo de neurose, não psicógena, mas noogênica, isto é, resultado de uma carência de iniciativa, de interesse, que mobilize o homem em uma certa direção. Os sintomas dessa neurose podem ser semelhantes aos da neurose psicógena (causada por grandes traumas psíquicos) ou da neurose somatógena (causada por desequilíbrios orgânicos). O sintoma básico é a angústia existencial, a falta de razão para viver, o desinteresse, a apatia, produtos do baixo autoconceito e da percepção de uma nulidade individual. Muitas fobias e ansiedade difusa podem ser o efeito dessa percepção de nulidade, em que o Eu pouco significa, esmagado pelos outros ou pela imensidão do Cosmos. Encontrar um sentido para a vida seria reconhecer-se como alguém, crer em si mesmo, no seu papel e no seu desempenho, ainda que com limitações e falhas. Esse crer em si e reconhecer-se como pessoa poderia ser o caráter básico da Psicologia Humanística, hoje em franco desenvolvimento, em oposição à Psicologia que vê no homem um meio para alguma coisa e não um fim em si mesmo.
Valores sociais e a auto-afirmação A auto-afirmação, como determinante básico, seria culturalmente estruturada com base nos valores introjetados pela pessoa, durante seu desenvolvimento. É, conseqüentemente, um conceito pessoal, totalmente individualizado, que a pessoa cria para si mesma. E isto é verdade quando comparamos os alvos comportamentais que cada um de nós impõe para si próprio. O que representa valorização pessoal para certas pessoas pode não ser significativo para outras. Esta acepção corresponde a alguns conceitos de Rogers quando propõe sua teoria sobre a personalidade (Rogers, 1951). Todavia, o conceito pessoal sobre si mesmo não existe senão em decorrência de influências ambientais, isto é, que dão ao indivíduo os parâmetros de comparação entre si e os outros. É pessoal, enquanto se incorpora à conduta e nela se reflete a todo momento, gerando idéias, planos, fantasias e imprime direção à conduta; é, porém, social na sua origem e
somente pode ser manipulado através da confrontação entre as expectativas sociais que o geraram e a conduta que se instalou. instalou. . Afirmar que estamos em uma fase crítica de transição social, em que alguns valores são substituídos por outros, tornou-se uma linguagem comum e até certo ponto, no nosso entender, sem muito sentido. O homem sempre esteve em fase de transição; a juventude, como grupo, sempre foi contestadora e os adultos, como indivíduos, em sua maioria conservadores, embora como grupo se fantasiem de renovadores e progressistas. Os valores ligados à estrutura legal da família, à religião, ao domínio político e a outros campos sempre foram questionados, em diferentes formas, de acordo com a cultura e os recursos de comunicação e de interação social. Provavelmente, o acontecimento mais traumático da atualidade é o de ser a pessoa, hoje, mais facilmente agredida por confrontações e desafios, porque os conceitos, os valores e as afirmações chegam mais rapidamente a seu conhecimento e exigem pronunciamentos mais numerosos e em menos tempo do que antigamente. Em conseqüência, ela é obrigada a pensar e a decidir mais depressa. Isto gera grandes tensões. O indivíduo não se sente apoiado em dados definidos, pois as informações que obtém sobre a vida e seus valores, no estudo, no trabalho, na família, no campo sexual, no casamento, na política, na religião, fluem sem cessar e até antagonicamente. E o homem começa a perguntar a si mesmo: Quem sou eu? O que quero? Qual é o meu papel face a todas essas expectativas e face às decisões que me pressionam cada vez mais? A crise existencial se instala quando a pessoa vê um conflito entre os valores introjetados e com os quais, bem ou mal, vai sobrevivendo e a necessidade de decisão, urgente e imperiosa, sobre assuntos familiares, sexuais, políticos, religiosos, culturais, etc., os quais muitas vezes contrariam fortemente a estrUtura que desenvolveu para sobreviver e afirmar-se. O efeito é um sentimento de desvalia ou incapacidade, diante do mundo complexo, para o qual o tempo de decisão é encurtado. Os padrões que introjetamos como úteis sofrem o impacto crescente da urgência de decisões e o sentimento de afirmação de si mesmo entra em colapso. É comum os pais, e mesmo os jovens , em situações de aconselhamento comum ou de terapia, afirmarem com plena consciência de seu estado: "não sei o que fazer, sinto-me perdido", "tenho medo de mudar", "não sei o que vai acontecer". A mudança de valores às vezes afeta uma área em particular, seja nos costumes sexuais, seja na valorização do status pelo dinheiro ou pelo poder, seja na subordinação a princípios éticos, religiosos ou políticos. De qualquer forma, o indivíduo se vê pressionado, avaliado, julgado pelo que faz ou pelo que não faz. A tentativa de proteger-se, como o engajamento em opiniões e movimentos, é igualmente contestada e o produto emocional é a angústia pela tomada de posições. A pessoa deixa de ser ela mesma para transformar-se em um produto puramente social para o qual é impelida. Perde o sentido de si mesma e procura equilibrar-se em valores contraditórios, ou assume posições rígidas para as quais não lhe faltaram críticas e ameaças. Em muitos casos, o foco de avaliação passa de si mesma para o mundo externo e a pessoa se anula. Com esse sentimento de não existir vê-se como robô, manipulado por outros, ou transforma-se em uma fortaleza individual, em luta permanente com convicções que não são as suas. A angústia existencial se avoluma e o indivíduo questiona sua própria individualidade.
Quando a pessoa é capaz de manter seu quadro de referências e, no panorama complexo de opções, conseguir distinguir o seu Eu e valorizá-lo, o caminho para o crescimento e a tranqüilidade é novamente aberto. Quantas vezes observamos, em terapia, a pessoa questionar uma opção como algo imposto, indesejável, e vir, posteriormente, a adotá-la. Nesses casos o fenômeno poderia ser explicado porque, na revisão de seus valores e de seu Eu, ela pode aceitar a opção não mais como imposição externa que a anula, mas como decisão que passa a ser sua e que, por situações diversas, pode coincidir com o alvo das pressões externas. Uma atitude eficaz na assistência prestada a pessoas que se defrontam com problemas existenciais seria considerar o que diz Rogers: "Uma forma de ajudar o indivíduo a aproximar-se da abertura para a vivência é utilizar uma relação em que é apreciado como uma pessoa em si, em que as descobertas que ocorrem em seu íntimo são compreendidas e avaliadas empaticamente e na qual tem liberdade de' vivenciar seus sentimentos e o de outros sem que, ao fazê-lo, seja ameaçado"(Rogers, 1967). A proposição de Rogers indica uma atitude terapêutica. Apenas acrescentamos que a justificação dessa atitude estaria.na necessidade de auto-afirmação. Encontrar-se "como uma pessoa em si", ter liberdade de "vivenciar seus sentimentos e o de outros" parece-nos suficientemente claro como um processo de auto-afirmação.
Perspectivas humanísticas e filosóficas O próprio movimento filosófico atual reporta-se ao motivo de autoafirmação como componente essencial do comportamento humano. O existencialismo é um notável exemplo ao se contrapor ao tecnicismo que, tratando o homem como objeto, o anula na sua individualidade, Surge, pois, o humanismo na psicologia que nada mais significa do que um movimento de inaceitação do homem-objeto; visa restaurar o seu EU, como pessoa, reconhecendo-o como participante e não como espectador ou produto da vida. Kierkegaard é tido como um dos inspiradores desse movimento, seguido por Hussed, Heidegger e Jaspers. Em continuação encontramos Sartre, Camus, Marcel Ponty, Binswanger, Buber e RoBo May enquanto outros, como Victor Frankl, Rogers e Laing, caminham na mesma direção, embora sob placas diferentes. O encontro existencial é a situação educativa ou terapêutica, de pessoa para pessoa, cada uma com seus valores e seu Eu. Não se busca impingir ou modelar comportamentos, mas vivenciar o que existe dentro de cada um. É o ser no mundo que prevalece. Esse humanismo na Psicologia é bem o reflexo do homem que se revolta e se desajusta quando se vê alienado de si mesmo; quando é ignorado ou "coisificado" ou, ainda, e principalmente, quando perde o autoconceito, a auto-estima, resultante de depreciação externa aceita como válida e assim introjetada e incorporada ao “self”. Quando se facilita à pessoa questionar a si própria, no seu em-si e para-si, pode ela retomar a uma visão de si mesma, a se avaliar face a seus alvos e aspirações, a se reconhecer como um ente próprio, como seu EU subjetivo, todo único e pessoal. Reabre-se, assim, o caminho da tranqüilidade e do bem-estar individual e pode-se constatar quanto é decisivo no ajustamento humano a retomada do valor pessoal, do sentimento de que, apesar dos conflitos e frustrações, a pessoa ainda é capaz de sentir-se
a si mesma, de ter a consciência de existir e de com ela selecionar seus valores e seus alvos. A essência, do homem é a percepção de si mesmo, como pessoa, capaz de sentir, pensar e agir dentro de sua individualidade. Muito freqüentemente observa-se, na assistência terapêutica, que o cliente coloca duas imagens, o "dever ser" e o "ser", as quais entram em conflito e geram angústia. E quanto mais se enfatiza uma ou outra imagem, mais se acentua a dissonância pessoal e o conflito, pois que a pessoa se vê mais profundamente atingida pelos "seus" valores e pelos valores externos. Os testes, as medidas, assim como as avaliações puramente externas que a todo momento enfrentamos no dia-a-dia tendem a enfatizar o "dever ser", as expectativas sociais, os critérios pelos quais somos julgados, em função de um clima externo, frio e inquestionável. O humanismo em psicologia tende a reduzir essa imposição existencial, retomando o EU, o "ser" como o aspecto importante, não como soma ou função de partes, mas como um todo capaz, inclusive, de superar as deficiências parciais avaliadas isoladamente. Reduzse, assim, a distância entre as duas imagens, o "dever ser" e o "ser" e a pessoa entra na plenitude de si mesma e assim sentindo usa toda sua potencialidade da qual é biologicamente dotada. O humanismo é, no fundo, um retorno parcial da Psicologia ã Filosofia e ã Biologia sem, contudo, abdicar de seu campo próprio. Não retoma a moderna Psicologia à mera especulação filosófica, nem regride a simples explicações neurofisiológicas mas reabre, na concepção do homem, a existência de um sentido de vida, algo que provém da fé ou de um juízo superior, que pode ser dele mesmo, mas que lhe dá, como assinala Frankl, uma condição caracteristicamente humana. Esse sentido de vida é a razão da existência, e, como afirmação de si, parece emergir como a mais poderosa fonte de ajustamento psicológico aos problemas de vida. O homem, porém, só chega a encontrar um sentido de vida quando se defronta, sem pressões ou direções, consigo mesmo e com o mundo. Quando é capaz de analisar o “dever ser" e o "ser"; quando pode admitir as exigências e as expectativas sociais como perfeitamente naturais e justificadas no contexto em que se inserem e não como invasões ao seu EU. É o caso, por exemplo, dos filhos, ajustados, que entendem as exigências dos pais e seus papéis de “controladores" e não se sentem rebaixados no seu autOconceito porque são assim controlados. Admitem a naturalidade desses controles sem que isso lhes afete o seu próprio valor. É o caso do empregado, do aluno, do cônjuge, do membro de um grupo ou clube ou de qualquer cidadão que tem que se ater a certas regras e regulamentos. Na medida em que se sinta afetado, rebaixado, humilhado pelas imposições existentes, sente estar perdendo o seu EU, ou seja, não o tem suficientemente forte para entender que, fora de si, há outros “Eus" , sociais e pessoais, com conteúdos próprios igualmente válidos. Quando sente que seu Eu persiste, não obstante essas barreiras e que seu "ser" é algo real, próprio, individual, que sobrevive, apesar das limitações, ou por causa delas, então sua imagem pessoal se fortalece e o conflito entre o dever e o ser deixa de existir; afirma-se perante? si mesmo e o ajustamento se instala. Não se confunda, porém, esse comportamento com o conformismo barato, pois isso equivaleria à anulação de si mesmo. A autoafirmação implica também em luta pela conquista do espaço de vida:, exige o questionamento constante do "dever ser", dos valores e dos sistemas de vida, sempre que essas regras e regulamentos estigmatizem, explorem e escravizem o homem, sempre que a ele se negue o direito de ser alguém na
integridade de sua vida cognitiva, afetiva ou sócio-econômica. A luta pela autoafirmação atinge a pessoa, os grupos, o trabalho, a política e as nações consoante seu caráter nacional. Assume muitas vezes a luta pela posse do poder, inclusive pela violência, quando não pode a pessoa conquistá-la pela inteligência. Nesses casos há um processo de conflito em que as reações nãoadaptativas predominam, isto é, buscam indivíduos e grupos destruir a fonte frustradora de sua auto-afirmação e configura-se um estado de patologia social em que inexistem a democracia e o respeito à personalidade humana. Grupos dominam grupos e impõem valores e regras de vida como nos regimes totalitários. Nessas circunstâncias, o homem revolta-se e passa a ser agressor, tão forte é o sentimento de não-afirmação que nele brota. A profilaxia e o remédio são evidentes. Somente quando ocorre a livre expressão e a valorização de cada pessoa pode esta construir o seu EU, conhecer seus limites de competência e agir dentro deles. A violência não terá mais sentido; desaparecerá por desnecessária ou contraproducente; a auto-afirmação elaborada na pessoa e nos grupos, por eles próprios, indicará os limites e as características da luta, o encontro com a comunidade e consigo mesmo. 8 - Contribuições à Terapia Psicológica Como produto de nossas observações ao lángo de muitos anos, a partir das teorias e técnicas de Rogers (Barros Santos, 1968) foi possível inferir que algumas diferenciações teóricas e operacionais estavam se revelando úteis e que poderiam ser classificadas como urna posição neo-rogeriana. Tais distinções são mais sensíveis nos seguintes pontos: 1º) Do ponto de vista teórico, a tendência ao crescimento e a auto-realização proposta por Rogers como fundamental na motivação humana é sensivelmente ampliada com a busca de auto-afirmação, isto é, a necessiçlade básica do ser humano em sentir-se alguém, em existir e em mover-se como pessoa em um mundo que é seu. 2º) As três condições necessárias e suficientes para terapia propostas por Rogers são colocadas de forma um tanto diferente, ou seja: a congruência e a autentiddade são mantidas e até mesmo enfatizadas no sentido de ser o Terapeuta uma pessoa clara e transparente ao cliente, vivenciando suas experiências e seus sentimentos e expondo-os ao cliente sempre que este desejar conhecê-Ios; a aceitação ou consideração positiva incondicional é pouco enfatizada pois sua ocorrência pode significar um conformismo pouco pragmático ou um artificialismo que se opõe à congruência ou autenticidade; a empatia é consideravelmente reforçada e ampliada como sendo a mais eficaz das três condições.
Objetivos básicos: desenvolvimento pessoal e psicoterapia ou em qualquer outra área. Não se sentem suficientemente capazes de enfrentar os problemas com os dados da realidade em que vivem. Outros sentem-se em constantes situações de "stress" físico ou mental. Outros, enfim, dirigem-se à terapia para melhor e mais profundo aproveitamento de suas potencialidades; sentem que podem ser mais do que são. Em todos os casos há um estado de incongruência em que sobressai uma discrepância entre o Eu real e o Eu ideal, entre o Eu pessoal e o Eu social (videcapítulos anteriores). A
imagem de si é percebida como algo incerto; há um sentimento de incapacidade ou, por outro lado, de injustiça, insegurança ou de medo. Os procedimentos destinados à assistência psicológica repousam, basicamente, nos conceitos sobre a vida mental e sobre os determinantes do comportamento. Nesses referenciais incluem-se, igualmente, a psicopatologia e a acepção do que é "normal", "útil" ou "desejável". Mowrer (in Pennington & Berg, 1954) apresenta excelente súmula das diferentes posições em que se coloca o comportamento normal, visto pela estatística, pela psicologia, pela filosofia e pela teologia e pelo qual se infere que as influências culturais nessa conceituação parecem ser dominantes. Atualmente, com a ênfase nos direitos humanos, nos conceitos de liberdade individual e de livre opção, para não se falarJna, teologia do prazer, os caminhos terapêuticos parecem abrir-se no sentido de considerar normal, útil ou desejável aquilo que assim parece à pessoa.. Dá-se a esta a opção e, em conseqüência, a direção do processo assistencial nem sempre se destina a "curar". O alvo transforma-se em desenvolvimento pessoal, no sentido de mobilizar ou de ampliar. os recursos humanos, facilitando à pessoa uma vida mais fértil e mais agradável. agradável. O bem-estar, o prazer, a consciência consciência de ser-se alguém e a eliminação de barreiras ou atritos passam a ser a tônica do processo. Esse sentimento parece resultar de um balanço final que a pessoa faz de seu papel na vida, face às expectativas que derivam dele e dos outros e de seu desempenho, ou seja, da maneira como efetiva seu papel.
Metodologia psicoterápica: a dinâmica do processo Como assinala Karasu (1979), o repertório de teorias e técnicas psicoterápicas tem-se avolumado e se categorizado em modelos freudianos, neofreudianos e não-freudianos. Uma explosão de formas terapêuticas vem ocorrendo, das quais são exemplos a terapia "racional" de Ellis, o "realismo" de Glasser, o "gritO primal" de Janov, a "terapia orgástica" de Reich, o "sentido da vida" de Frankl, a . inibição recíproca" de Wolpe e até a "meditação transcendental", para citar apenas algumas. Tanto no caso de desenvolvimento pessoal como no de terapia, os procedimentos têm variado desde a antigüidade e se estendem através do uso de recursos biológicos (quimioterápicos, cirúrgicos, manipulativos, bioenergéticos, etc.), de recursos sociológicos (mudanças ambientais, ocupacionais, situacionais, institucionais, etc.) e de recursos psicológicos (diálogos, dramatizações, catarse, hipnose, condicionamento, atuações no plano cognitivo e emocional, etc.) e se acham descritos por vários autores (Pennington, 1954; Ford, 1963; Sundberg & Tyler, 1963; Wolberg, 1977) e por nós mencionados nos capítulos iniciais deste livro. Parece estarmos, agora, na era de valorizar o sentimento, o sensualismo e, principalmente, a experiência imediata, o “aqui e agora” , desprezando o passado e o amanhã, o que se explica como repulsa à excessiva dependência do homem à tecnologia e a conseqüente ameaça de perda da própria individualidade. Realmente, a massificação e a tecnocracia levaram o homem a buscar reafirmar-se como alguém que existe; que não é um simples número ou objeto, mas um ser que tem certo conteúdo pessoal e ao qual devem caber alternativas e opções. Se o homem se revolta contra esse anonimato em que é colocado é porque o sentimento profundo de ser (ou de não-ser) foi de alguma
forma atingido ou simplesmente ameaçado. Em qualquer campo o homem parece buscar, sobretudo, o reconhecimento de que é alguém, que deve ser conhecido e respeitado. Esse sentimento nos pareceu básico em todos O,s clientes e sua utilização muito útil na técnica terapêutica, na medida em que nossa observação do quadro clínico seja válido. Aliás, sobre os efeitos da técnica terapêutica, há muito que ser ainda descoberto e as pesquisas existentes não são totalmente esclarecedoras, embora revelem alguns marcos operacionais (Ga:rfield e Bergin, 1978). O que parece mais comum, se analisarmos os modelos terapêuticos que vêm sendo usados com nomes diversos através do tempo, é a atenção dada à pessoa, considerando-a, respeitando-a e desenvolvendo seu poder de opção e de decisão. Embora seja discutível a generalização de modelos metodológicos em terapia psicológica, face à diversidade de casos e, principalmente, às atitudes que se exigem do terapeuta, há certas premissas e conseqüentes formas de atuação que se têm revelado úteis. Procurou o autor reunir os conceitos da dinâmica terapêutica em 8 proposições a saber: 1. É possível inferir que as proposições de Rogers referentes às atitudes essenciais à prática terapêutica e que se referem à congruência, respeito incondicional ao cliente e empatia, em um clima de calor humano, permaneçam constantes. O que se propõe, como ingrediente terapêutico complementar e igualmente útil, é a análise cognitiva e emocional do fenômeno da autoavaliação que o cliente realiza. A avaliação supra referida é um processo habitual de vida, efetuada a todo momento e tende a ocorrer com mais profundidade em situações de terapia. Consciente do julgamento que ocorre no cliente, pode o terapeuta facilitar essa avaliação através de reflexões de idéias e sentimentos e de comentários esclarecedores sobre: · eventos que o cliente considera positivos ou negativos em sua experiência; · fantasias que elabora em torno de seu Eu ideal; · dificuldades ou barreiras que percebe, internas ou externas. À medida em que terapeuta e cliente analisam, reflexivamente e em conjunto, em clima receptivo e não-crítico, os temores e insatisfações, bem como os SUcessos e gratificações, o cliente tende a modificar a concepção sobre si mesmo. A competência profissional do terapeuta - que o diferencia dos leigos e da situação comum de vida - consiste em explorar os elementos cognitivos e emocionais que dão origem às defesas e aos comportamentos do cliente. Seria possível argumentar que o processo de avaliação facilitado pelo terapeuta venha a se contrapor às três condições propostas por Rogers, particularmente às que se referem à consideração positiva e incondicional e à empatia. A divergência assim suposta não ocorre, porém, uma vez que a avaliação é realizada pelo cliente. O terapeuta, no decurso do processo, sente que o cliente está se avaliando e sua função é reunir os dados e as interpretações deste originárias e abrir caminho para que o cliente reveja as razões de seus pensamentos, sentimentos e ações e os interprete sob outras óticas encontrando explicações menos traumatizantes para os fatos que considera. O papel do terapeuta é o de oferecer, como hipóteses, várias
interpretações alternativas focalizando a dinâmica de necessidades e motivos que fluem no cliente e as defesas que vem utilizando para satisfazê-Ios. As colocações ou interpretações não seguem, jamais, o modelo analítico tradicional em que as expressões físicas ou intelectuais do cliente são captadas pelo analista no seu sentido inconsciente, simbólico, em termos dos conceitos psicanalíticos. O material exposto pelo cliente é comentado pelo terapeuta com expressões usuais do dia-a-dia, ao nível consciente. É um diálogo ativo em que o significado da existência, o sentido de vida, as aspirações e as fantasias são exploradas, dentro de realidades fenomenológicas e existenciais. 2. Ocorrendo a auto-avaliação, surge o conceito do eu-real e do eu-ideal, daquilo que se percebe que é e daquilo que deveria ser; a segurança e a autoestima são atingidas. Dessa confrontação surgem problemas no sentido de examinar eventuais deficiências pessoais, face às exigências e pressões ambientais. O estado de tranqüilidade, de bem-estar e de produtividade dependerá dessa confrontação. Não se trata de uma simples aceitação de si mesmo, de acordo com a posição rogeriana, mas de um julgametito muito profundo em que as ações e a conduta geral são revistas, com dois sentimentos paralelamente dispostos: 1) reconhecimento de necessidades, de deficiências e de pontos positivos; 2) definição de papéis do sentido d_ vida face ao sentimento anterior. Em outras palavras, a pessoa tem a percepção aceitadora do que é, do que precisa, de suas potencialidades e de suas dificuldades e, iÍo mesmo tempo, define sua trajetória de àção, face à avaliação realizada. Não é a aceitação conformista e até certo ponto impregnada de passividade (nada posso fazer, se sou assim...) mas de um planejamento operacional de sua vida face a esse julgamento (tenho limitações, agi com elâsou contra elas, mas posso fazer algo, porque sou alguém e como pessoa existo e tenho um papel a desempenhar) . Com base no material verbal apresentado pelo cllente, o terapeutafaz comparações entre seu desempenho e as barreiras ou dificuldades que enfrenta. Essa intervenção consiste, de um lado, em vivenciar com o cliente as experiências positivas ou negativas que enfrentou e os recursos de que dispunha para agir. 6. É evidente que os procedimentos e as "técnicas" psicoterápicas, aqui expostas, freqüentemente se relacionam com outras atuações, particularmente com as técnicas cognitivas (Beck, 1976; Beck e Rush, 1978), com as técnicas rogerianas (Rogers, 1951, 1978; Hart e Tomlinson, 1970), com os procedimentos existencialistas (May, 1977) e logoterápicos (Frankl) e provavelmente com procedimentos comportamentalistas (Lazarus, 1972, 1977). Não se trata de uma simples mistura de métodos, mas de um conjunto integrado e coerente de atitudes e de intervenções, que caminham em uma direção definida, isto é, na exploração, pelo cliente, do que representa, para ele, o seu EU, e a abertura de espaço para que ele encontre sua individualid,ade e sua pessoa, para que avalie suas limitações e suas possibilidades e o resultado de suas atuações vivenciais dentro dessas coordenadas, ao mesmo tempo em que define, para si mesmo, um sentido de vida e as razões para existência. A orientação terapêutica é essencialmente baseada na auto-afirmação e nisto se diferencia das demais teorias e técnicas psicoterápicas. Opera-se em uma visão humanística da pessoa, em que o indivíduo, como pessoa, é o foco principal, embora possa haver freqüentes
referências a aspectos particulares do comportamento os quais são entendidos na situação organísmica e global da pessoa, no seu contexto existencial. 7. A posição terapêutica, tal como a sentimos, pode envolver, também, um questionamento dos valores vigentes, sejam educacionais, profissionais, familiares ou pol1ticos, não no sentido de oposição pura e simples, mas na acepção de confrontá-Ios com as necessidades e os motivos do cliente, quer pessoais, quer como componentes de grupos ou instituições. Não se restringe unicamente à pessoa, pois estaríamos, se assim fosse, tratando-a em um mundo particular, alienando-a das contingênciais sociais e ambientais. Por essa razão, a personalidade do cliente e suas reações comportamentais são relacionadas com todos os agentes externos que o cercam; o domínio de seus pensamentos e ações é ampliado e discutido face às pressões, valores, necessidades e expectativas sociais. O distúrbio psicológico é visto mais como algo resultante de raízes sociais e a pessoa do cliente e seu Eu pessoal são confrontados com essas exigências e características culturais, econômicas e até ecológicas, sem se perder de vista a pessoa do cliente e sua individualidade. Facilitar a percepção de si mesmo, do papel que como pessoa ela reserva a si mesma e assim define sua vida, vida, é o alvo básico. . 8. A ser válida a hipótese de que a auto-afirmação seja o deterrninante básico do comportamento e que os problemas psicológicos ocorram, embora sob nomenclatura e formas diversas, no campo do valor pessoal (poder, prestígio, segurança, confiança em si e sentimentos similares), explicado diferentemente em outras colocações teóricas, é óbvio que o desenvolvimento pessoal, ou a meta terapêutica, seja orientado na valorização da pessoa. Não se trata, porém, de simples elogios, exortações ou justificativas mas, essencialmente, de ênfase na individualidade da pessoa e nas reações que provêm de seu Eu Pessoal e de seu Eu Social. A confrontação entre o Ser e o Dever-Ser, ou seja, entre os impulsos pessoais e as pressões sociais procedese em termos da pessoa, isto é, daquilo que éomo indivíduo foi nele produzido. Os erros, limitações ou impropriedade de atuações, como tais vistos pelo cliente, são reexaminados face a várias alternativas para que possam ser entendidos na sua dinâmica. * O fato psicológico que se julga ser de efeito terapêutico no processo de auto-afirmação é o momento em que a pessoa, ao verbalizar um comportamento e o, sentimento traumático que dele flui, defronta-se com outras alternativas que reexplicam tanto a conduta como a sensação havida. Essas alternativas ou reinterpretações, oriundas dela própria ou do terapeuta, interrompem o caminho da jnterpretação traumática até então existente. Facilita-se, assim, o surgimento de novas alternativas ou respostas que, em geral, reduzem a ansiedade ou angústia (medo das conseqüências que a pessoa interiorizou) porque oferecem explicações menos traumáticas com relação ao Eu-pessoal. A pessoa tende a refazer, para melhor, o juízo sobre si e como essa apreciação é, na linguagem comportamentalista, um poderoso reforçador positivo, a pessoa tende a incorporar essa resposta a seu quadro de reações. Há o risco de emergirem alternativas ou respostas ainda mais traumáticas, robustecendo o quadro de deficiência e de baixo conceito, já instalado, com aumento da ansiedade e maior desordem comportamental. São os efeitos negativos que podem ocorrer em qualquer terapia. A habilidade do terapeuta consiste em discutir com o cliente todas as alternativas possíveis, traumáticas
ou não, acompanhadas, sempre, de calor humano, apoio e empatia que tendem a neutralizar os efeitos traumáticos t raumáticos de qualquer nova explicação. Muitas observações, originárias de outros autores, parecem conformar a dinâmica do processo tal como a vemos, ou seja: - A qualidade da relação pessoal é, sempre, o fato mais importante. As atitudes criadas pelo psicólogo e o clima psicológico são o que leva o cliente a mudanças constrUtivas. "Um alto grau de empatia talvez seja o fator mais relevante numa relação sendo, sem dúvida, um dos fatores mais importantes na provocação de mudanças e de aprendizagem" (Rogers e Rosenberg, 1977). A empatia é uma forma de valorizar a pessoa, provavelmente mais operante do que o "respeito positivo incondicional" e a "congruência". A pergunta que os comentaristas e pesquisadores colocam é sobre onde ocorre a mudança: no ego ideal ou na concepção do ego e a análise dos dados parece indicar que "na maior parte dos clientes o ego ideal permaneceu admiravelmente estável no curso da terapia... É principalmente a concepção do Ego que mudou na maioria dos casos". E Rogers diz, ao referir-se ao resultado da terapia, "que o cliente tornou-se essencialmente a pessoa que desejava tornar-se quando começou a terapia" (Pages, 1976). Mais adiante diz Pages que a terapia produz modificações na maneira como a pessoa se julga, permanecendo inalterados seus valores. O cliente passa, em função da terapia, a reconhecer seus próprios valores, a torná-Ios seus, o que exclui a resignação e a indulgência consigo como produtos da terapia. Nesse caso, a nosso ver, ocorre o processo de auro-afirmação: o cliente passa a sentir-se como pessoa e a reconhecer seu potencial e suas limitações, sem efeitos traumáticos. Cremos, pois, que a resultante terapêutica é a auto-afirmação, embora não seja esse fator assim identificado por Rogers ou seus comentaristas. No processo de valorização de si mesmo, surge a confrontação dos valores introjetados na infância e na adolescência. Toma-se um quadro de valores que ditam o certo e o errado, na forma pela qual os introjetamos e que muitas vezes entram em oposição com a nossa própria percepção e nossas experiências. Ocorre uma acomodação pela escolha de um dos lados, mas pode ocorrer, também, um conflito, a percepção de uma nítida disparidade entre o que somos e o que "devemos" ser. Corresponde esta colocação àquilo que Rogers (1978) afirma passar-se na terapia bem conduzida: a pessoa é valorizada na sua individualidade e singularidade. Este é o caminho psicoterápico que temos visto como frutífero.
PARTE III APLICAÇÕES EM SITUAÇÕES ESPECIAIS 9 - Filhos e Alunos Difíceis
Como ocorrem os problemas
1. Vimos nos Capítulos 6 e 7 que a auto-afirmação como necessidade básica do ser humano transforma-se em determinante do comportamento. Há, porém, outras necessidades que precisam ser satisfeitas, seja para simples sobrevivência, seja para desempenhar os papéis que o meio ambiente espera ou impõe. Assim, a pessoa tem necessidade de alimento, de água, de repouso, de conforto, no plano físico como, também, necessidade de segurança, de afeto, de contacto humano, de realização e muitas outras que surgem na confrontação entre o Eu Pessoal e o Eu Social (ver Capítulo 7). Cada necessidade é expressa por alvo consciente e aparente, embora seu conteúdo possa ser inconsciente. 2. Quando a pessoa satisfaz uma necessidade, consciente ou inconscientemente, sente-se bem; está psicologicamente ajustada. 3. Quando a necessidade não pode ser satisfeita, por algum impedimento material ou barreira colocada pelos pais, colegas, professores ou por outros agentes quaisquer, a pessoa sente-se frustrada. Outras vezes, a satisfação de uma necessidade impede a satisfação de outra e o organismo vêse em conflito. Qualquer das situações produz estados desagradáveis ou ameaçadores e a pessoa entra em estado de tensão que se torna maior na medida grau de insatisfação. à Alvo Pessoa do --------------------------------------|||||||----------------------------------1 2 3 4 Um exemplo prático pode ilustrar os fatos apontados: a) Suponhamos um jovem que, por qualquer deficiência, sinta-se marginalizado, não aceito ou não compreendido por seus pais, por seus professores ou por outros agentes sociais. Note-se que esse sentimento de rejeição pode corresponder a uma ocorrência real ou ser imaginária; b) Como o sentimento de ser alguém, valorizado e aceito é uma necessidade, ocorre um estado de motivação e tensão que o leva a atingir certos alvos; c) Busca o jovem alguma maneira de tornar-se aceito e por caminhos vários acaba encontrando uma situação com imagem satisfatória de si mesmo e que lhe reduza a tensão. Pode ser um sucesso em alguma atividade ou um grupo que o apóia. Se a atividade ou os padrões dessse grupo forem pessoal e socialmente aprovados - segundo os habitos e os valores individuais e sociais do momento - a pessoa adapta-se positivalmente; caso contrário, reduzirá a tensão mas pode adotar comportamentos que, cedo ou tarde,lhe serão também funestos, ingressando em um quadro de reações negativas; d) A solução pode ocorrer quando encontrar, na família, nos estudos,no trabalho ou em qualquer outra situação signiificativa, a valorizaçãoe o reconhecimento que procura. Se, por outro lado, houver reais deficiências físicas, intelectuais ou socioeconôrmicas que dificultemou impeçam sua valorização nos grupos "normais", temos que ajudar a pessoa a encontrar soluções, o que pode, genericamente, fazer-se sob as seguintes formas: 1) descobrir situações compensatórias que restaurem sua valorização e a autoafirmação; 2) reduzir a tensão mediante uma revisão, pela pessoa, de suas necessidades, de seus alvos e do significado que eles apresentam na sua personalidade; 3) combinar as duas soluções.
Medidas preventivas
9. Quando se identificam dificuldades específicas (de saúde, de: baixo nível escolar, de socialização ou de outro tipo), é preciso um esquema especial de recuperação, seja médico, escolar ou psicológico, a ser estudado individualmente.
Quem atende os casos difíceis? Quem coopera? Pensam muitos leigos quando seu filho, ou seu aluno, apresenta problemas, que basta mandá-Io para o psicólogo, para o orientador, para o médico ou para outro especialista. Ignoram essas pessoas que a maioria dos problemas tem origem ambiental e somente se obtém êxito quando são mobilizados todos os agentes do meio. A cooperação dos pais, dos professores e de outros agentes, inclusive às vezes dos próprios colegas, é essencial e não se pode esperar melhora de desempenho, atitude ou ajustamento sem a contribuição dessas pessoas. Há, geralmente, três atitudes que os pais, professores e outras pessoastomam, face aos casos difíceis: 1. Atitude “comodista", “comodista", expressa pelo encaminhamento do caso à autoridade, ao Assistente Pedagógico, ao Orientador, ao Psicólogo ou ao Assistente Social, "lavando as mãos", como se a recuperação fosse obrigação apenas do "especialista" e que o pai, ou o professor, nada tivesse com o problema; 2. Atitude "coercitiva", segundo a qual tudo se resolve com advertências, disciplina, punição e controle. O que falta, dizem alguns, "é autoridade". "Nada de especialistas: o que a pessoa precisa é aprender a andar na linha'". Ignoram essas pessoas que o indivíduo inadaptado nãose desadapta porque assim o quer. Muitas vezes ele sabe distinguir entre o certo e o errado, entre o que deve ou não ser feito, mas não consegue mudar seus próprios hábitos; 3. Atitude "cooperadora", que se expressa pela compreensão das dificuldades dos problemas e pela predisposição a ajudar no que couber. Há casos em que um psicólogo, psiquiatra ou orientador, como também um diretor ou professor, pode manipular sozinho, sem precisar da cooperação escolar ou familiar. Isto ocorre na intimidade de entrevistas ou contactos pessoais e quando os problemas são essencialmente individualizados. Freqüentemente porém, as dificuldades, as pressões, as exigências e insatisfações decorrem de um complexo de agentes situacionais e a atuação isolada do profissional especializado não é suficiente. É o caso, por exemplo, do aluno rejeitado pelos colegas ou constantemente criticado pelos pais ou professores. A redução dos efeitos desse problema pode ocorrer em sessões individuais, das quais essa situação é ventilada e o aluno pode manipular melhor suas tensões. Quando, porém, se consegue modificação no comportamento do grupo ou dos pais e professores que o rejeitam, o processo é mais rápido e, às vezes, o único realmente efetivo. Em comunidades escolares, a participação de diretores, assistentes, professores, instrutores e monitores é imprescindível. Muito raramente o orientador ou o psicólogo podem trabalhar sozinhos. Ninguém vive isolado, em ilhas; os fatores ambientais que produziram o desajustamento são, também, os fatores que promovem ou restauram o ajustamento; ignorá-Ios é ser comodista, irrealista ou simplesmente desinformado.
De que tipo de assistência precisam os casos difíceis? A experiência e os estudos sobre Educação e Psicologia vêm demonstrando que as principais providências, quando se suspeita de "problemas", são as seguintes: 1. Verifique, preliminarmente, se pode haver fatores orgânicos ligados aos problemas. Pode a pessoa estar doente, mal alimentada, fatigada, com excesso de atividades ou de estimulação ou ter deficiências físicas (visão, audição, problemas neurológicos, etc.). Um exame médico pode ser necessário. 2. Tente identificar os momentos e os lugares ou circunstâncias outras em que ocorrem os problemas (período do dia, relação com outros hábitos da vida diária, relação com pessoas, etc.). 3. Evite julgamentos e crie um clima de compreensão e ajuda, o que não significa aprovação de atos' 'errados", nem tolerância ou permissividade mas, apenas, que se constata um problema e se quer ajudar. 4. Quando houver uma causa identificada e removível, pode-se reduzir ou eliminar o problema atuando sobre essa causa. Exemplos: Na imensa maioria dos casos, os problemas acima e outros, não mencionados, embora oriundos de causas objetivas (físicas, intelectuais ou sociais) geram condições emocionais desagradáveis para a própria pessoa. Ela sente que há algoerrado; seu autoconceito se deteriora. Há, pois, dois componentes do problema,como vimos: a) uma deficiência potencial; física, social, econômica ou intelectual; b) a percepção da deficiência, gerando conseqüências emocionais no aluno que passa a sentir-se diferente ou deficiente o que, por sua vez, agrava uma eventual deficiência potencial. Na vida habitual, os pais, professores e instrutores podem colaborar, observando e registrando as situações em que o comportamento indesejável ocorre. Podem eles, também, tentar várias situações, para observar a respectiva variação no comportamento. Essas últimas providências devem, porém, se limitar às variações habituais da situação familiar ou escolar, ou seja, mudanças de local, de horário, de tipo de trabalho, de relacionamento com colegas, de atitudes do professor, deseqüência de atividades, de participação em grupos, de contactos pessoais, etc., que não ofereçam riscos ou criem outros problemas.
Ajuda emocional, sempre necessária A judar a pessoa a enfrentar estados emocionais é sempre possível e conveniente. Variam as técnicas, desde a atitude amiga, compreensiva, estimulante, de um pai, professor ou colega, até os processos mais complexos de intervenção, a carga de psicólogos, orientadores educacionais e outros
especialistas, cada um em sua área. O que geralmente se usa, na situação familiar ou escolar, é o seguinte: a) informação, explanação e discussão: a criança ou o jovem é convidado a discutir suas dúvidas e suas dificuldades e o conselheiro (Pais, Diretores, Professores, Orientadores), ouve e informa sem críticas, pressões ou comparações, sem atemorizar ou criar repressões e defesas no indivíduo. É, apenas, uma ventilação do problema, na qual se estuda, em conjunto, possíveis soluções. O conselheiro pode propor novos planos e estudar como aluno os "prós e contras" de cada um; b) apoio, tranqüilização: consiste em examinar-se o lado positivo das dificuldades e, mostrando calor humano e compreensão, levar o indivíduo asentir-se mais animado em enfrentar seus problemas. Não consiste em dar conselhos ou fazer recomendações mas, ao contrário, em procurar mostrar compreensão das dificuldades existentes e procura de meios para eliminá-Ias ou para reduzir seus efeitos; c) recreação, compensação e atividades substitutas: aplicam-se aos casos que têm condições de êxito em certas atividades, de modo m odo a compensar, dessa forma, os insucessos em outras áreas. Muitas pessoas podem melhorar seu ajustamento, desde que, em esportes, atividades sociais ou de outro tipo, sintam resultados favoráveis que não podem ser obtidos em estudos, no trabalho ou na vida familiar; d) facilitar a auto-afirmação sempre que a oportunidade surgir. Medidas gerais e casos graves A solução de problemas de conduta não é fácil. Pode demorar algumas semanas, alguns meses e até alguns anos. As vezes, não há soluções e o que faz o especialista é impedir que o caso se agrave. Essa circunstância é muito comum e freqüentemente os pais, diretores e professores dizem: "o caso continua na mesma". Não vêem eles que continuar na mesma, às vezes, já é um grande passo, pois o caso poderia deteriorar-se mais, se algumas providências não tivessem sido tomadas. Há normas e procedimentos gerais que precisam ser considerados, ou seja: a) em um clima de autenticidade, compreensão e empatia os problemas são reduzidos. Criar esse clima é função de todos os elementos da família ou da escola; lembremo-nos de que a auto-áfirmação pode ser um determinante básico do comportamento (ver capítulos anteriores); b) a aplicação de técnicas especiais, quando o caso exige, é função técnica e legal de médicos, psicólogos e orientadores, conforme o caso e a técnica empregada (os profissionais sabem disso) ; algumas vezes é indispensável articulação com os professores e os pais * ; c) quando o caso é muito difícil e a escola ou a família não têm recursos para ajudar os alunos com problemas graves, é recomendável proceder-se da seguinte forma: - esgotar todos os recursos escolares e familiares fam iliares (ver itens anteriores); - encaminhar a pessoa a tratamento especializado, em organizações públicas e particulares que possam atendê-Ia e acompanhar a evolução do caso, cooperando com os recursos familiares e escolares.
- o afastamento dó aluno da vida escolar é a providência menos adequada e somente se justifica quando a atuação escolar for impossível; quando o aluno se beneficia com esse afastamento; quando há perigo evidente de que a presença do aluno certamente contamine o comportamento de todo um grupo (exemplo: traficante de tóxicos, líder de delinqüentes, portador de graves distúrbios mentais que exigem internação, etc.). Mesmo o afastamento' só se justifica após todas tentativas de se recuperar o aluno. Já vimos que há muitos métodos e atitudes que facilitam essa recuperação.
Atuação de professores Os professores são pessoas muito significativas na vida do aluno, não só porque a convivência com eles é intensa, como porque o docente é um modelo para o aluno. As atitudes dos docentes, às vezes mais do que seus conhecimentos técnicos, tendem a criar situações de conforto, de apoio, de entusiasmo e de confiança; noutras vezes, podem gerar insegurança, medo e revolta. Nessa posição estratégica, a ajuda do docente é indispensável, sempre que haja um aluno com dificuldades, sejam elas físicas, intelectuais ou emocionais. As técnicas variam conforme o caso, mas as sugestões contidas nos itens anteriores são sempre benéficas epor si sós representam grande ajuda. A articulação com psicólogos e com orientadores é indispensável. Para que os professores possam atuar eficazmente na modificação do comportamento do aluno, quer para ensinar-lhe habilidades ou conhecimentos, quer paracorrigir comportamentos inadequados, as seguintes medidas podem ser úteis: a) observar cada aluno individualmente, como pessoa; procurar detectar suas necessidades, seus motivos, suas aspirações, suas dificuldades e seus pontos positivos; b) verificar quando um comportamento útil ocorre. Por exemplo: quando e em que condições executa um cálculo correto; quando e em que con dições toma uma atitude adequada; c) uma vez identificada a situação em que ocorre o comportamento útil, descobrir o que reforça esse comportamento. Exemplo: se uma operação,mental ou manual, ocorre quando se divulga o que se fez ou quando se elogia, ou quando se utiliza o trabalho feito, etc. É importante verificar oque satisfaz o aluno e associar o comportamento desejado a essa satisfação. Esse comportamento assim recompensado tende a se repetir e o aluno "aprende". É o reforço; d) quando o aluno errar, não dar importância ao erro. Descobrir o caminho (reforço) que o leva agir do modo desejável; e) subdividir cada assunto ou tópico do programa em pequenas partes e dosar as operações ou tarefas de acordo com cada aluno; reforçar (ou recompensar) de imediato quando ocorrer um acerto. O relacionamento com a família do aluno Quando a direção da Escola ou o Orientador procura articular-se com a família, podem ocorrer muitas reações emocionais que prejudicam a adaptação do aluno. É sempre um grande desconforto e ameaça para o aluno ter seus
pais chamados à escola. Como esse contacto, às vezes, agrava os problemas, é sempre recomendável tratar do caso, primeiramente, com o aluno, na situação escolar. Quando se impõe o contacto com os pais, o aluno deve ser consultado a respeito. Essa prática prévia é benéfica ao aluno que se sente valorizado e responsável (Nunca dizer: "Vou falar com seus pais se você não melhorar"). Essa ameaça é prejudicial. Deve-se confiar no aluno e mostrar que se confia nele. Se, apesar desseestímulo à autoconfiança, o problema persiste, é recomendável o uso de técnicas especiais, na simação escolar, para a recuperação do aluno. Somente em casos graves promove-se a articulação com a família, contrariando a decisão do aluno e, mesmo nestes casos, o aluno é cientificado do que pode ocorrer. Para tornar menos traumatizante o contacto com a família e para solicitar a cooperação desta na solução de problemas, usa.se o recurso de reuniões gerais, para as quais todos os pais são convidados e os problemas dos alunos são focalizados sem se identificar as pessoas. No final da reunião pode-se, isoladamente, conversar com os pais mais diretamente envolvidos em certas situações. A "conversa" com os pais ou responsáveis externos é sempre delicada. delic ada. É preciso saber que os pais, quando notificados sobre problemas de seus filhos sentem-se diminuídos, humilhados, angustiados e até agredidos. Começa-se a entrevista aceitando e compreendendo a simação dos pais. Não se criam reprimendas ou advertências que, como no caso do aluno, complicam o problema. É preciso confiar, também, nos pais e mostrar que se confia neles e que, juntos, podemos achar soluções. As intimidações ou ameaças aos pais refletem-se no aluno e, por isso, devem ser evitadas. Quando os pais sentem essa confiança por parte da escola passam, em geral, a cooperar de forma benéfica. Muitas vezes os pais respondem de forma indireta, isto é, tornam-se accessíveis à cooperação, quando convidados a assumir tarefas na escola (participação em festas, campanhas, associações, etc.). É mais um recurso de que se dispõe para obter a contribuição familiar.
Exemplos de problemas com suas possíveis causas e medidas assistenciais Sintomas
Possíveis Causas
Possíveis Medidas Assistenciais Conforme o Caso Desinteresse, apatia, fadiga Problemas de saúde e de - Assistência médica. - Atuação nutrição. Falta de repouso. de Professores. - Criação de Dificuldades intelectuais. nível razoável de competição, Fatores emocionais. apelando para o que for motivador (necessidades). Dificuldades em Atraso escolar. Dificuldades - Recuperação de estudos acompanhar o nível de sensoriais, motoras ou mentais (aulas e trabalhos especiais). estudos; não consegue (falta de coordenação motora Atuação de Professores, com realizar tarefas, operações ou outras aptidões). tarefas compensatórias. e outros exercícios Falta constante às aulas; Medo de fracasso. Medo de - Solução de problemas de não cumpre as tarefas crítica do professor ou de saúde, de transporte, de horário, escolares. colegas . Dificuldades de etc. - Ajuda emocional. transporte e de horário. Modificação ambiental para Problemas conciliar interesses.
Dificuldades de raciocínio ou discreto atraso mental.
domésticos. Sentimento de revolta, procuraandonão fazer as tarefas para agredir a escola. Problemas de saúde. Interesse maior por outras atividades que conflitam com a atividades escolar . Fatores orgânicos. Agravamento do problema pela percepção da incapacidade e pela atitude de parentes, amigos e colegas
-Trabalhos individualizados, repetidos, concretizados, para que o aluno use os sentidos e possa pegar, ver, ouvir, etc., de forma lenta e progressiva; nada exigir além da capacidade individual; não comparar com outros. -Ajuda emocional. Desenvolvimento mental ou Estrutura orgânica favorável. - Aproveitamento das aptidões e de algumas aptidões muito Facilitação sócio-econômica capacidades em tarefas acima da média do grupo especiais. - Ensino (superdotados). individualizado aberto à criatividade Deficiência sensorial ou Fatores constitucionais, de - Aproveitamento de outras motora (visão, audição, saúde ou ambientais aptidões e capacidades. etc.) ou defeito ortopédico. Mudança de aspirações. Modificações ambientais Comportamento sexual. Fatores constitucionais e - Psicoterapia. - Ausência de psicossociais conjugados crítica quando envolver problema emocional. - Ajuda emocional. Rivalidade e briga entre Hábitos domésticos. - Atividades físicas para alunos ou grupos de Sentimento de inferioridade e descarga afetiva. - Sessões de alunos. necessidade de autogrupo para discussão afirmação. Insatisfações de problemas. freqüentes. Perturbações Remanejamento de grupos mentais. ou turmas. Medo de realizar exercícios Experiências traumáticas - Emprego de tarefas e tarefas dizendo que "não anteriores. Atitudes sucessivamente graduadas em sabe fazer" o que se pede. inadequadas de pais ou dificuldade. - Observação de professores. outros colegas fazendo o trabalho; tarefas simples. Valorização da pessoa (autoafirmação Toxicomanias Fatores ambientais e - Reduzir ou eliminar a (farmacodependência) psicossociais conjugados. dependência fisiológica. Reduzir ou eliminar a dependência psicológica por técnicas terapêuticas individuais e de de grupo. - Ajuda emocional. - Atividades de autoafirmação Situação econômica muito Status sócio-econômico e - Ignorar os comportamentos superior à dos colegas, hábitos diferentes dos colegas. de esnobismo. gerando "exploração" por . Imaturidade social. parte destes, críticas constantes ou rejeição pelo grupo. Situações ou problemas Fragilidade no autoconceito e - Ajuda emocional. familiares: que problemas domésticos: levam aluno a senti-se focalizado, desprezado ou criticado' pelos colegas
(Ex.: pai ou parentes alcoólatras ou condenados pela justiça, ou com atividades socialmente inaceitáveis; desconhece o pai ou a mãe, etc.). Comportamento anti.social, pré.delinqüente ou' delinqüente (vandalismo, furto, indisciplina generalizada, instigação à delinqüência em caráter freqüente.). Furtos, agressões, indisciplina e vandalismo em caráter ocasional. Comportamentos psicológicos anormais tais como fobias, obsessões, compulsões e outras reações de tipo neurótico ou psicótico. Deficiência concentrada apenas em certas atividades tais como em Português, em Matemática, em Educação Física, na execução de operações manuais etc. Desinteresse pelas atividades não relacionadas com o curso que freqüentam. Grande hesitação na escolha de profissão. Deficiência em roupas, em dinheiro ou mesmo em lanches, que leva o aluno a sentir-se envergonhado ou humilhado. Atitudes sociais e grupais muito diferentes da dos colegas, gerando atritos com estes. Pais que se recusam a participar da vida escolar,
Falta de educação e de "modelos" adequados na infância e na meninice. Agressividade resultante de sérias privações.
- Reeducação em outro ambiente, com outros “modelos". - Desenvolver confiança recíproca entre as pessoas do grupo e o espírito de equipe.
Frustrações, conflitos e privações temporárias.
- Ajuda emocional. - Mudanças de turmas e de ambientes.
Fatores orgânicos e psicossociais.
- Ajuda emocional. Psicoterapia. - Assistência médico-psiquiátrica.
Deficiência de aprendizagem na respectiva atividade. Dificuldades sensoriais ou motoras. Medo de fracassar na atividade ou condicionamento aversivo (associado a experiências traumáticas). Falta de informações, Necessidades não satisfeitas.
- Aulas e exercícios especiais. Atividades compensatórias. Ajuda emocional. - Contra condicionamento.
Falta de informações. Medo de tomar decisões (insegurança). Dependência familiar ou social (imaturidade) . Problemas econômicos,
- Dar Dar informações. - Ajuda Ajuda emocional. - Desenvolvimento e crescimento pessoal.
Necessidade de autoafirmação ou, ao contrário, sentimento de onipotência e superestima de si mesmo. Falta de informações. Inabilidade de diretores, orientadores, psicólogos e docentes,
- Atuação de professores. Exploração pessoal de novos interesses.
- Atividades compensatórias. Auxílio escolar quando possível.
- Ignorar os comportamentos excêntricos. - Convites para reuniões gerais de pais. - Convite pessoal para execução de certas tarefas. Convite para atividades sociais e recreativas como "ponte" de contacto.
Nota: A ordem em que aparecem os sintomas não tem nenhuma significação especial.
10 - Ações Preventivas Preventivas na Educação, na Família e no Trabalho A educação e a família A ser válida a constatação de que o motivo de auto-afirmação seja básico como determinante da conduta, muitos dos atuais esquemas educacionais deveriam ser questionados. Embora se apregoe em múltiplos e variados cursos de planejamento educacional, de relações humanas no trabalho e até na própria política, que a pessoa deve ser ouvida, participante e atuante nas decisões, o que realmente se faz pouco concorda com essas idéias. Os agentes controladores, como assinala Skinner (1967), estão sempre presentes, reduzindo o indivíduo à insignificância. A liberdade seria um mito e, portanto, menos perceptível o sentido da própria individualidade. A massificação nos sistemas educacionais, além de rebaixar o nível de ensino, pois que o atendimento de massas o reduz ao padrão mais baixo do grupo, tende a conduzir a pessoa à perda de sua individualidade na medida em que padroniza os conteúdos e os processos pedagógicos. O resultado é, como assinalada Patricia Cross (1976), não atingir a educação 91 % das habilidades humanas de forma a assegurar uma contribuição à sociedade desse ponderável contingente. Deficientes,. "normais" e superdotados, são tratados provavelmente pela média ou pelo menor nível e o aluno deixa de ser alguém. A atual legislação educacional brasileira prevê flexibilidade curricular para atender as diferenças individuais, ao estabelecer que "os currículos do ensino de I? e 2? graus terão um núcleo comum, obrigatório em âmbito nacional e uma parte diversificada para atender, conforme as necessidades e possibilidades concretas, às peculiaridades locais, aos planos dos estabelecimentos e às diferenças individuais dos alunos (Art. 4º, Lei nº 5692, de 11/8/71)". A auto-realização é prevista, igualmente, no Artigo 1º da mesma Lei. A distância entre a proposição proposição legal e a realidade educativa é muito grande grande e, a nosso ver, reside principalmente, na metodologia pedagógica pouco favorável à expressão individual. Não é tanto a falta de liberdade de aprender, lembrada por Rogers mas, sobretudo, a da oportunidade de aprender. Pouco adianta a liberdade, se não tivermos possibilidades de opções concretas, que permitam a crianças e jovens j ovens elaborarem, dentro dos limites sócio-econômicos, sócio -econômicos, seus próprios programas ou parte deles, embora não desconheça o autor a dificuldade de construir escolas e aplicar processos pedagógicos individualizados. A solução seria, como propusemos em estudo sobre superdotados*, enfatizar a educação individualizada, aplicável em determinada fase do sistema educacional, mas sem a característica de seriação. O aluno teria uma seqüência de tarefas. Não haveria exames ou reprovações e o avanço no currículo se faria pela execução satisfatória da tarefa anterior. O aluno progredirá, assim, de acordo com suas possibilidades, terá opções e, conseqüentemente, conseqüentemente, auto-afirmação e mobilização de seu potencial.
A implicação básica, essencial, decorrente da colocação deste problema é a de que a educação não só na escola, como no lar, deva atentar para essa busca de auto-afirmação, criando condições para que crianças e jovens encontrem um sentido na vida e tenham possibilidade de se reconhecer como alguém. Preservar a individualidade de cada estudante e liberá-Io para seu próprio crescimento seria o alvo básico. Do ponto de vista profilático, a educação dos pais no sentido de alerrá-Ios para o reconhecimento da individualidade de cada um dos filhos seriá outro alvo. Evidentemente, os pais são também pessoas e a sua própria individualidade e aUto-afirmação precisam ser consideradas. O movimento da "Escola de Pais" no Brasil é um típico exemplo de como podem os pais ser informados, sem serem guiados; de como podem se reconhecer como alguém e respeitar a individualidade i ndividualidade de seus filhos (Lopes, s/d.). No que se refere à família, os assuntos e os problemas precisariam ser discutidos nas duas perspectivas, considerando-se os filhos; na sua individualidade e os pais, igualmente. Na medida em que se consegue criar, tanto para uns como para outros, um sentido de vida e condições de autoafirmação, as possibilidades de ajustamento aos problemas de vida aumentam significativamente. Todos os psicólogos e orientadores que atendem adolescentes, ou seus pais, sabem que a queixa mais freqüente dos jovens em relação à família é sobre a falta de confiança dos pais em relação aos filhos. Estes são tratados como objetos de valor, mas vistos como incapazes de se governarem ou de se dirigirem e um processo de desvalorização instala-se nas crianças ou nos adolescentes. É evidente que aos filhos falta a informação ou o desenvolvimento físico e mental que os habilita a agir de forma social e pessoalmente úteis em muitas circunstâncias. Por isso são criados e assistidos pelos pais desde a gestação, o nascimento e os anos da infância. Não é menos verdade, porém, que vão eles adquirindo, com o próprio desenvolvimento, condições próprias de julgamento e de autodireção que os habilita a se tornarem pessoas, adultas e aUto-suficientes. E muitos pais, por motivos vários, continuam tratando seus filhos como se estivessem, ainda, em estágio inferior de desenvolvimento mental e emocional. A conseqüência é óbvia: instala-se um clima mutuamente perturbador, em que a "autoridade" e a "capacidade" dos pais, não sendo tão necessárias, geram sentimentos de falta de confiança recíproca, com imagens de não-afirmação do próprio EU em ambos os lados. Dosar essa libertação é todo o processo sadio de formação do adulto e do homem capaz. Permitir a expressão de si mesmo, de ser alguém, de optar, é o recurso psicológico eficaz que muitos pais podem adotar; é a prevenção contra futuros desajustes que o jovem enfrenta como produto de sua não-afirmação. Na medida em que a criança ou o adolescente possa, dentro de seu mundo, fazer suas opções, está se afirmando como pessoa e preparando-se para enfrentar, posteriormente, outras opções. Os conhecidos comportamentos de superproteção ou de rejeição são fontes geradoras da falta de auto-afirmação e, se pudermos eliminá-Ias, ou reduzi-Ias, estamos evitando problemas de ajustamento no futuro.
A satisfação no trabalho
Como se sabe, a motivação é o ingrediente essencial ao ajustamento e aodesempenho no trabalho. O que falta saber é no que consiste essa motivação. Seria a aUto-realização no dizer de Maslow, Herzberg ou McClelland? Esse motivo básico manifesta-se sob a for ma for ma de uma “ampla síndrome de comportamentos que inclui exposição moderada a riscos, a proposição de altos níveis de qualidade, odesejo de independência e, geralmente, a necessidade de atingir alvos considerados excelentes tanto do ponto de vista pessoal como co mo social”; (Fineman e Warr,1972). No nosso entender, essa conceituação está bem próxima da auto-afirmação, a tal ponto que pode ser com esta confundida. Ao examinarmos as situações de ajustamento e de satisfaçao em atividades profissionais, temos notado que o que mais atinge os empregados é o reconhecimento pelo trabalho efetuado. Esse reconhecimento, gratificante e estimulante parao empregado, ou qualquer profissional, geralmente ocorre sob a forma de partictpação nas decisões (ser consultado, receber atribuições, ter suas opiniões consideradas,etc.) sob a forma de retribuição financeira e material (salário compatível com o nível funcional dentro de um plano de eqüidade salarial, benefícios colaterais, etc.). Por outro lado, a desconsideração, a marginalização, o ostracismo em que são colocadasas pessoas são, provavelmente, os mais poderosos agentes de depressão psicológica na situação profissional. O indivíduo vê-se à margem da empresa ou entidade; sua auto-afirmação simplesmente não ocorre; um quadro de insatisfação emerge, com repercussões em outras áreas da vida. Em pesquisa feita pelo autor em duas categorias de profissionais (médicos e enfermeiros) verificou-se que os eventos mais perturbadores de sua satisfação profissional referiam-se à falta de consideração pessoal no exercício da atividade profissional* Os dados por nós colhidos, embora originários de pequena amostra, concordam de certo modo com os estudos de Herzberg (1959), segundo os quais a realização e o reconhecimento são os fatores mais relacionados com a satisfação no trabalho (Tiffin, 1969). Os mesmos dados parecem concordar com os obtidos em situação terapêutica (Cap. 6); no sentido de que há uma prevalência no ajustamento a vida, seja em atividades do dia-a-dia, seja em situação específica (a do trabalho como exemplo) de uma necessidade básica de reconhecimento e de consideração da individualidade de cada um e do respeito ao território que lhe é próprio. No campo do trabalho, a implicação perceptível seria a de que se desejarmos maior produtividade e, ao mesmo tempo, maior satisfação profissional, com benéficos efeitos para a pessoa, as atitudes de empresários, chefes, diretores e de todos quantos lideram movimentos ou atividades, deveria dirigir-se no sentido de promover maiores níveis de auto-afirmação. Essa atitude exigiria radical transformação nos sistemas organizacionais, de maneira a tornar cada profissional ou empregado participante dos planos e das atividades; a respeitar suas opiniões e suas tarefas; a evitar serviços "de fachada" e a valorizar adequadamente o que é dito ou produzido na situação profissional. O muito que se fala e se propõe no campo das relações humanas através de "cursos" e "recomendações", seria redutível a um princípio geral: considerar não apenas o trabalho, isto é, o produto elaborado, mas a pessoa que o fez, suas dificuldades e como as superou. Na medida em que a pessoa
seja assim considerada, instala-se uma ampla prevenção contra os desajustes pessoais e promove-se melhor satisfação comunitária e social.
11 - A Vida na sua Terceira Fase: A Valorização do Idoso Provavelmente o mais angustiante problema a partir da meia-idade é o sentimento de envelhecer porquanto o passar dos anos _ partir dessa fase hoje conhecida como terceira idade - cria a imagem de desvalia, de redução da eficiência, da marginalização, da falta de consideração e, em conseqüência, drásticos efeitos na auto-estima e na auto-afirmação. Poucos fatos impressionarão mais uma pessoa da faixa dos 50 ou 60 anos do que o de verse ela esquecida, não considerada, em virtude da idade. A necessidade de auto-afirmação que apontamos como determinante básico da conduta encontra, novamente, uma nova forma de comprovação. Nestes últimos anos têm-se acentuado os trabalhos e as preocupações legais, técnicas e sociais com relação às pessoas idosas. Esse despertar de atitudes tem raízes em vários fatos, notadamente nos seguintes: 1) a vida prolonga-se; 2) os recursos médicos e tecnológicos propiciam melhores condições de conforto físico, de saúde e de atividades sociais; 3) o tempo útil destinado ao trabalho profissional, de sobrevivência econômica, encurta-se, aumentando os períodos de lazer, quer anteriores ou posteriores à aposentadoria; 4) os planos de aposentadoria e de pensões para os indivíduos que ultrapassam os sessenta anos ocorrem, gradual mente, em melhores termos econômicos, passando a constituir um alvo para grandes e crescentes contingentes humanos que esperam um lazer de longo prazo; 5) observações observações e pesquisas vêm demonstrando que grande parte dos idosos conservam excelentes qualidades físicas, intelectuais e profissionais, constituindo um grande segmento da força de trabalho do país. Um levantamento de dados sobre o trabalho de pessoas idosas realizado pelo autor (1960) revelava, na ocasião que: a) A expectativa de vida no Brasil, em 1970, era de, aproximadamente 60 anos, e tende a elevar-se; é de 64 na Argentina, de 63 na Venezuela, de 61 no México e de 67 nos Estados Unidos. Este tempo amplia-se tratando-se de indivíduos do sexo feminino. b) Embora ocorra gradual e lenta diminuição de capacidades, a partir da vida adulta, seus efeitos não são tão dramáticos como se supunha. Essa diminuição é mais devida ao decréscimo do nível de prática do que à idade em si mesma. Experiências com jovens conservados em inatividade no leito mostram que também neles ocorre essa diminuição. c) Nas atividades psicomotoras, os idosos demonstram menos potência muscular, maior tempo de reação aos estímulos e desempenho menos eficiente em tarefas tais como correr, nadar,etc. Contudo, quando estão eles familiarizados com essas atividades, não sendo estas muito complexas, as diferenças devido à idade tornam -se mínimas. d) O tempo de reação aumenta com a idade. O aumento desse tempo é mais sensível nas tarefas complexas e muito menor em tarefas simples. A _aior extensão do tempo de reação parece estar associada ao desejo de verificar o acerto' da resposta e não à impossibilidade de agir prontamente. Isto poderia
significar que, psicologicamente, o indivíduo idoso sente-se mais responsável pelos seus atos e que as pressões para fazê-los agir depressa provocam movimentos e atos desejeitados., Os idosos necessitam de mais tempo para formular e controlar suas respostas. e) Nas tarefas complexas, os jovens agem mais por tentativa e erro, enquanto o idoso procura pensar e usar menos tentativas. Nos problemas complexos e sem pressão do tempo, o desempenho do idoso iguala o dos jovens. Quando essa pressão existe, o desempenho do idoso é menor, porque este é forçado a usar o método de tentativa e erro. Em síntese, se dermos ao idoso mais tempo (e menos pressões) para realizar uma tarefa, seu desempenho iguala o do adulto (assinala a autora que este conceito é fundamental). f) No campo da inteligência e manutenção do nível mental potencial, há dados extremamente importantes. Baseado nos resultados de testes que medem a inteligência, os dados indicam somente ligeiro declínio e mesmo assim devido, provavelmente, a estadOs patológicos não identifi. cados. O nível mais alto atingido parece estar em torno dos 55 anos e não aos 35. Observou-se, também, que em muitos casos o desempenho mental na idade dos 70 é mais alto do que na idade de 25. Muitas das diferenças devidas à idade derivam do fato de que os testes usados enfatizam habilidades e conhecimentos correntes, dos quais o idoso está af afastado astado pelos seus hábitos de vida. Isto significaria que não há declínio na inteligência mas, tão somente obsolência, ou seja, falta de atualização do idoso à vida ambiental. Se a ele fosse dada estimulação ambiental, estas diferenças tenderiam a desaparecer; se o quociente de inteligência não diminui em termos de capacidade para aprender, mas por falta de estimulação, é possível concluir que o idoso pode reaprender novas habilidades. g) Quanto à aprendizagem e à memória, envolvendo o registro e a retenção, o idoso necessita mais tempo para processar seus dados e está mais sujeito a menor desempenho, quando as tarefas não têm muito sentido (motivação). Em geral, o idoso faz mais tentativas para estabelecer um critério do que os jovens. h) No que se refere ao pensamento e solução de problemas, o idoso prefere operar com fatos concretos do que abstratos, tendo mais dificuldades para formar conceitos e resolver problemas que envolvem muitas peças de informação a serem manipuladas simultaneamente; tende a repetir soluções anteriores, o que é desvantajoso quando há necessidades de soluções ao mesmo tempo rápidas e inovadoras, mas que se torna favorável quando há situações que se mantêm estáveis ou de lenta modificação, que não exigem grande e pronta criatividade. i) O idoso pode aprender e ser empregável. Muitos empregadores nos Esta-dos Unidos e na Europa relatam que após um período inicial de experiência, sentem-se mais felizes com eles porque inspiram mais confiança sobretudo no que se refere a assiduidade, pontualidade e rotatividade. j) No que se refere à personalidade, em geral, o idoso pouco muda com o advento da idade, embora ocorram mudanças biológicas e sociais. Citando vários autores, Kasscchau declara que há considerável estabilidade no curso de vida no que se refere à descrição de si mesmo, aos constructos pessoais e aos estilos cognitivos. O idoso torna-se apenas mais rígido do que o jovem; há certo grau de dogmatismo e menos tolerância à ambigüidade e às pressões sociais. Torna-se o idoso, também, menos impulsivo e mais cauteloso que os
jovens. O comportamento do idoso é mais consistente e melhor previsível do que o do jovem e sua estrutura de personalidade é mais claramente perceptível. Há mais introspecção e um sentido mais claro de sua própria identidade. Em síntese, as pessoas idosas movem-se mais lentamente em resposta ao ambiente mas se lhe damos tempo para reagir (perceber, avaliar e decidir) o decréscimo do desempenho é reduzido. Se as apressarmos, tendem a responder com erros e movimentos desajeitados. Essa circunstância eleva seu nível de ansiedade, com efeitos sobre o desempenho. As pessoas idosas podem aprender tanto quanto as jovens ocupando, apenas, maior lapso de tempo. Seu treinamento para o trabalho é mais eficaz quando feito diretamente na atividade e não em situações de escola ou classe, de maneira que sintam motivação mais profunda, originária de situações concretas.
Técnicas de orientação e psicoterapia O autor teve oportunidade de atender várias pessoas idosas em sessões de psicoterapia e atividades de grupo. Em todos os casos a necessidade de auto-afirmação esteve sempre presente, como resultantes da marginalização e da desconsideração familiar, profissional e social em relação ao idoso. É evidente que um processo de satisfazer essa necessidade é imperioso, o que poderia ser atingido através de: 1) restauração, ainda que parcial, de habilidades anteriores; 2) descoberta de novas habilidades e interesses que dêem sentido à vida; 3) ajuda emocional para enfrentar as limi tações existentes ou novos interesses. Barns e outros autores (1973) citam alguns procedimentos que podem ser aplicados, a saber: Or ien tação da real id ad e es paço paço -tem p or al Desenvolvim ento de atividades atividades que despertem o s e n t i d o d e a u t o - a f i r m a ção e d e va lo ri zação p es so al. O enco ntro de n ov as oc up ações
Re s s o c ia li zaçã zação
Aplica-se, principalmente, quando ocorrem dificuldades de comunicação, comunicação, de participação social, de verbalização, de expressão. Método: É um programa estruturado em que são usadas técnicas de grupo a fim de conscientizar escolhas e decisões no meio comunitário. Busca-se a cooperação dos participantes nas decisões comunitárias ou de grupo. Os objetivos são: 1) fortalecer relações interpessoais; 2) ajudar o cliente a renovar seu interesse pelo mundo em que vive focalizando sua atenção em aspectos e atividades simples da vida diária e que não envolvam dificuldades emocionais; 3) ajudar o cliente a buscar, no passado, algo que possa fazer novamente. R em o t i v ação
É uma técnica destinada a encorajar o idoso a desenvolver novos interesses em seu ambiente focalizando sua atenção em atividades e eventos comuns da vida diária. É semelhante ao anterior e atua como complemento da orientação da realidade. Método: Escolhe-se um motivador e um grupo de pacientes compondo-se o grupo com 5 a 12 pessoas que se reúnem uma vez por semana, durante uma hora, durante cerca de 12 semanas. Discute-se um tópico específico, escolhido pelo grupo. O motivador deve ser hábil para fazer fluir as escolhas e opiniões. O clima é de aceitação; constitui uma ponte para a realidade. Podem ser usadas como tarefas motivadoras: leituras, atividades manuais, recursos audiovisuais, discussão de assuntos, etc. O trabalho individual, de cada um, é planejado pela própria pessoa ou pelo grupo. Como equipamento há necessidade de livros, artigos, filmes, recursos audiovisuais, etc. Terapia de atitudes
É uma forma de modificação do comportamento que envolve certas atitudes predeterminadas em todos os contactos com os clientes. Visa-se reforçar o comportamento desejável e eliminar o indesejável. Há, segundo os autores, cinco atitudes principais a serem usadas, as quais podem ser escolhidas, sendo importante que qualquer pessoa que entre em contacto com o cliente participe da terapia usando, sempre, a mesma atitude atéobtenção do comportamento desejável. As 5 atitudes são: - Firmeza: Firmeza: mais usada com clientes depressivos. Criticam-se as tarefas feitas mas não o cliente e não se dá atenção aos sentimentos e lamentações. - Amizade ausente: mais usada com clientes apáticos, pouco sociáveis, autistas. Consiste em dar atenção ao cliente antes que este a solicite solicite ou demonstre desejá-Ia. Despende-se tempo extra, especial com o caso atribuindo-se-Ihe tarefas significativas e que dificilmente errariam. - Amizade passiva: mais usada com clientes que não se adaptam a uma amizade mais íntima. Consiste em mostrar interesse e atenção para com a pessoa do cliente sem procurar movê-Io em qualquer direção. Espera-se que o cliente dê o primeiro passo. - Sem exigências: mais indicada para os clientes desconfiados, que se sentem ameaçados ou encolerizados. Nada se pede; mostra-se que se espera, apenas, que ele não prejudique ninguém. - Objetividade: mais indicada para os clientes manipuladores que procuram envolver ou conquistar o terapeuta. As respostas a esses clientes devem ser consistentes, casuais e calmas, demonstrar afeto, restringindo-se aos fatos em si. É evidente que essas atitudes precisam ser adequadamente estabelecidas conforme a situação e adequadamente inseridas em um esquema de modificação do comportamento. Não sendo tomadas essas cautelas, o processo pode reforçar atitudes indesejáveis funcionando o processo no sentido contrário.
Terap ia de refo rçam ento
Consiste em escolher e definir com a pessoa o comportamento a ser alterado. O reforço (recompensa) segue-se imediatamente à emissão do comportamento desejado. Podem ser usados "tokens" (vales, fichas e similares) que representam direito a certos privilégios. Os procedimentos envolvem vários tipos de reforçamento e cuidados especiais. As áreas comportamentais mais usadas são as que envolvem comportamento social (comunicação, auxílio aos outros, expressão, etc.) comportamento referente aos cuidados pessoais e tarefas especiais (cuidar da alimentação, do quarto, da comunidade, etc.) Terapia Terapia am biental
Aplicável a grande número de casos, consiste em aproveitar as oportunidades do próprio meio para desenvolver motivos, interesses e atitudes. O objetivo é facilitar ao cliente o contacto com novas pessoas e atividades, criando-se condições ef que haja pouca possibilidade de frustrações e conflitos. Parte do princípio de qu toda pessoa tem, sempre, parte de seu Ego aproveitável. O cliente é convidado participar, oferecendo-se oportunidades práticas de participação. Terapia Terapia ro geriana
É aplicável a grande variedade de situações e consiste, essencialmente, em criar-se um clima de tal modo permissivo que o indivíduo expressa seus sentimentos e problemas. Esse fato reduz suas tensões, facilita uma revisão de seu "self" e favorece f avorece o ajustamento do indivíduo aos problemas que enfrenta. É um processo sobretudo emocional, mais indicado quando o indivíduo enfrenta problemas de relacionamento humano, de juízos e valores, de compreensão e aceitação de si e dos outros, de solução de problemas existenciais. Não há objetivos comportamentais específicos, a não ser o bem-estar e a retomada da vivência e do crescimento do cliente. A atitude do terapeuta no seu relacionamento com o cliente é a chave do processo e concentra-se em três pontos: 1) Congtuência e autenticidade, ou seja, uma relação genuína e sem fachadas entre terapeuta e cliente; 2) Respeito positivo incondicional ao cliente, o que significa aceitá-Io como ele é, sem julgamentos ou críticas; 3) Empatia ou ter o terapeuta senso do mundo interno do cliente, como se fosse ele próprio (vide Capítulo 5). O procedimento pode ser desenvolvido em grupos nos quais os indivíduos expõem seus problemas e se organizam livremente (grupos de encontro) ou em sessões individuais. Terapia Terapia de apo io
Geralmente é mais indicada quando a pessoa apresenta limitações de origem física, social, econômica ou de outra natureza, dificilmente removíveis, ou quando a estrutura da personalidade é tal que contra-indique alterações profundas nas defesas existentes. Os efeitos terapêuticos são limitados mas abrem oportunidades para o desenvolvimento pessoal.
A terapia de apoio no idoso pode pode assumir várias formas, tais como: como: - Discussão de problemas em grupo, usando-se técnicas reflexivas ou interpretativas; - Exercícios e atividades em grupo, combinadas com discussão de problemas. Um programa de exercícios físicos, quando adequado, tem efeito tranqüilizador sendo mais indicadas as atividades que envolvam movimentação rítmica de grandes massas de músculos e atividades naturais de passear, andar lentamente, correr, nadar, etc. Vi v ên c ia em c o m u n i d a d e
Referências Bibliográficas Grunspun, H., Alzira Lopes, P.E. Charbonneau, Oswaldo de Barros Santos, Isaac Midnik, Luiz Antonio de Sousa Amaral. Educar para o Futuro. São Paulo: Escola de Pais; Livraria Atheneu, 1978. Harrell, T.H. e outros. "Didactic Persuasion Techniques in Cognitive Reestructuring", American Reestructuring", American Jlournal of Psychotherapy, Psychotherapy, 1981, 1, 86-92. Hart, J.T. e Tomlinson, T.M. New Directions in Client-Centered Therapy. Nova York: H. Mifilin, 1970. Hartman, H. Psicologia do Ego e o Problema da AdaPfação. Tradução. Rio de Janeiro: B.U.P., 1968. Pages, M. Orientação Não Diretiva em .Pslcoterapia e PsicologIa Social. Tradução. Rio de Janeiro: Editora Forense, 1976. Perry, W. G. . 'On the rc:larion of Psychotherapy and Counselling", in Chester W. Harris (Editor).Encyclopedla (Editor).Encyclopedla ofEducational Research. 1960. Phillips, E.L. Psychotherapy, Psychotherapy, a Modem Theory and Practice. Englewood Cliffs: Prentiee Hall, 1956. English-Abstract PSYCHOLOGICAL COUNSELING AND PSYCHOTHERAPY: PSYCHOTHERAPY: Self-assertion as a basic determinant of human behavior The author relates his experience as a Clinical Psychologist after having worked for many years in the field of Industrial Psychology and Vocational Guidance. The book which is now being published and this communication refer to his work in Clinical Psychology started in the sixties after having completed his graduate course at Columbia University (USA) and after his doctoral dissertation at the University of São Paulo (Brazil). First of all, the author comments on the long course from diagnosis to psychological help and proposes a classification of the methods of counseling and psychotherapy into three main categories: 1) Social-cultural-contextcentered methods; 2) Personal-context-centered methods; 3) Problem-centered
methods an others. One specific chapter is dedicated to Rogerian ideas and techniques and neo-Rogerian position is suggested. Initially, starting from person-centered therapy, according to Rogers theories and techniques, the author relates his observations over twenty years. Those observations led him to explore an important fact that occurred during therapy: the majority of clients who attended counseling or therapeutic sessions would improve as long as they were able to attribute the reasons for their problems and difficulties to themselves and not to external causes. At this moment an important question was then raised by the author: would there be any psychological phenomenon related to the self-concept that could be responsible for the reduction tension and better adjustment to life conditions? Using this as a reference point over the years it was observed observed with all clients, independent of their social or economic status, that the improvement was strongly associated with .alterations in their self-image, self-esteem, selfconcept and self assertion. Obviously, the above conclusion is not new. All systems and psychological theories have shown that, including Freud, Adler, Jung, Same, May, Rogers and many others. However, the important point - which might be considered as a new contribution - is the role of self assertion in human behavior. In order to clarify those ideas it was necessary to review some basic concepts on motivation. Following those lines, the author arrives at the hypothesis that se/f -assertion is one o/ the most significant determinants o/ human behavior,' perhaps the most prevailing goal of human life, except in the biological field namely natural needs of survival. Self-assertion is a complex phenomenon: it could be understood as a large and varied revision of the Ego, both cognitive and emotional, followed by the judgment made by the person about himself (Personal I) and about his adaptability to the expectations from the outside world (Social I). The basis of human behavior, that is, the needs and motives that consciously or unconsciously would establish the goals of the activity, excluding purely organic factors, would be centered on the concepts about himself and about his role in life. To be someone recognized as a person would be the significant goal, even with limits and failures. Examples can be found every day in all kinds of human behavior: children who want to do things for themselves; adolescents who try to show that they are grown up; adults who search for status and power. On the other hand, the most traumatic experience seems to be the feeling of being ignored, of having no value, of being forgotten or placed in an inferior position in any aspect of life. It also means the feeling of being incapacited when faced with social values and social expectations. The consequences of such observations over the years may seem trivial; a kind of well know and unimportant conclusion. Nevertheless, the success of therapy was always associated to the revision of the self and to the attainment of a stronger feeling of self-assertion. The book on that matter and this communication aim to call attention to this focus of emotional life and to indicate the possibility of giving direction to a new understanding of human behavior. This direction would also mean new ways in the therapeutic process as well as in prophylactic attitudes in other fields. Many modem positions like the humanistic movement, existentialism and anti-psychiatry have already arrived by different ways at similar conclusions. Many other therapeutic theories and techniques have suggested that the feeling
of personal value, the self-image and the self-concept have significant influence in therapy. This is more perceptible in Adler and Rogers. Even the reinforcement in Skinner' s theory is somewhat connected to the main idea: the effect of having completed a task might be in itself a kind of self-assertion. Although many theories have postulated some effect derived from the feeling of seIf-esteem and self value, there is no theory or technique which emphasizes &elf-assertion as the most significant factor in human existence and, as a consequence, in psychological therapy. The main contribution of the book and of this communication to a psychological congress is outlined as follows: 1. Human motivation is highly influenced by self-assertion; this concept raises the hypothesis of self-assertion being the most significant determinant of behavior; 2. In the author experience, better results have been found with Rogerian and similar theories and techniques, when there is emphasis on self-assertion, that is, when Therapist and client act in the cognitive and emotional areas examining together successes or failures throughout life, without fears and anxieties; when both are able to conciliate the Personal I (characteristics and personal needs) with the Social I (group and social characteristics and needs); 3. Psychological structure becomes stronger as long as the person recognizes himself as a real living organism with characteristics that are his own; when he is able to appreciate his own territory; when he feelds himself as someone with his own ideas and way of being, open to the world and able to feel, to think and to act in function of his capacities and limitations, without permanent feelings of loss or inferiority. Meanwhile there is only clinical data supporting the hypothesis. The contribution which is now presented comes from a sample of 80 clients (adults and adolescents, male and female, of different social and economic status) who were observed in their behavior during counseling or therapy. A check-list with 13 indicators of progress was informally used to t o guide the observation. There is a strong need for research in this field. The author tries only to open a new way, with an empirical foundation, for expanding our understanding of human motivation. The consequences might be of high value for the improvement of the psychotherapeutic process as well as in handling other aspects of life. Many examples are given by the author related to the family, school life, the work situation and elderly people. Oswaldo de Barros Santos
São Paulo, Brazil, 1982