PORTUGUÊS 1 Gramática e Texto GRAMÁTICA Francisco Platão Savioli TEXTO Eduardo Antonio Lopes Eduardo Calbucci Francisco Platão Savioli Paulo César de Carvalho
A N G L O
anglo sistema de ensino
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CONSELHO EDITORIAL Guilherme Faiguenboim Nicolau Marmo COORDENAÇÃO EDITORIAL Assaf Faiguenboim ASSISTÊNCIA EDITORIAL Beatriz Negreiros Gemignani Creonice de Jesus S. Figueiredo Denise da Silva Rosa Hosana Zotelli dos Santos Kátia A. Rugel Vaz Paula P. O. C. Kusznir REVISÃO TÉCNICA Flávia M. de Lima Moreira (Biologia) Fredman Couy Gomes (História) Gae Sung Lee (Matemática) Matheus Rodrigues de Camargo (Português) Moisés J. Negromonte (Geografia) Nelson Vicente de Souza Júnior (Química) Rodrigo C. dos Anjos Barbosa (Física) PROJETO GRÁFICO E FOTOLITO Gráfica e Editora Anglo Ltda. ARTE E EDITORAÇÃO Gráfica e Editora Anglo Ltda. (0XX11) 3273-6000
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Roteiro RevisAnglo. – São Paulo : Anglo, 2010.
Vários autores.
1. Ensino médio
Gráfica e Editora Anglo Ltda. MATRIZ Rua Gibraltar, Gibraltar, 368 - Santo Amaro CEP 04755-000 - São Paulo - SP (0XX11) 3273-6000 www.angloconvenio.com.br
02-2941
CDD-373.19
Índices para catálogo sistemático: 1. Ensino integrado : Ensino médio
2010
Código: 829315110
373.19
ÍNDICE
Gramática Capítulo 1 Generalidades sobre as classes .............. .............. .............. .............. .......... ... gramaticais .......
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Capítulo 2 Processos de formação de palavras 21 Capítulo 3 Seleção e combinação de palavras. 27 Capítulo 4 Estrutura sintática do período simples ...................................... ............................................. ....... 32 Capítulo 5 Sintaxe (uso) dos pronomes pessoais ........................................... 37 Capítulo 6 Estrutura do período composto ..... 41 Capítulo 7 Pontuação ........................................ 52 Capítulo 8 Verbo V erbo ......................................... ................................................ ....... 57 Capítulo 9 Regência verbal ....... .............. .............. .............. ......... .. 71 Capítulo 10 ................................................ ....... 74 Crase ......................................... Capítulo 11 .............. .......... ... 80 Colocação das palavras ....... SISTEMA ANGLO DE ENSINO
Capítulo 12 .............. .............. .............. ............. ...... 85 Concordância ....... Capítulo 13 ............. .............. ......... 97 Variações V ariações linguísticas linguísticas ......
Texto Capítulo 14 ............. ............. .............. ......... 100 A noção de texto ....... Capítulo 15 ............ ..... 101 Apreensão e compreensão compreensão ....... Capítulo 16 Intertextualidade ....... ............. ............. .............. ......... 105 Capítulo 17 Funções de linguagem ....... .............. ............. ...... 107 Capítulo 18 Figuras da linguagem ....... .............. ............. ...... 111 Capítulo 19 Temas e figuras ............................... 116 Capítulo 20 .............. ............. ............. ....... 118 Tipos de discursos .......
SISTEMA ANGLO DE ENSINO
Generalidades sobre as classes gramaticais 1A
CLASSIFICAÇÃO DAS PALA PALAVRAS VRAS DA LÍNGUA
CAPÍTULO 1
Segundo a proposta da Nomenclatura Gramatical Brasileira (abreviadamente NGB), as palavras do português dividem-se em dez classes: • verbo; • substantivo; • advérbio; • adjetivo; • numeral; • preposição; • conjunção; • artigo; • pronome; • interjeição.
Sabe-se que uma língua de cultura, tal como o francês, o inglês, o espanhol e o português modernos, possui uma grande quantidade de palavras: em torno de 500 mil. Um estudioso da língua que pretenda depreender as características e o comportamento de cada uma dessas palavras, isoladamente, não terá tempo para terminar sua tarefa durante o seu tempo de vida. Por outro lado, tratá-las todas como se tivessem as mesmas características seria tão pertubador quanto misturar remédios com venenos. A melhor solução é proceder como procedem as ciências em geral: agrupam-se em classes as palavras com características e comportamentos comuns. Em vez de esquadrinhar palavra por palavra, descrevem-se as marcas e os traços típicos de cada classe, com base no pressuposto de que esses traços são, em princípio, válidos para todos os constituintes da mesma classe. Evidentemente, sempre haverá casos de palavras que se desviam de certas propriedades da classe como um todo. É o caso das conhecidas exceções gramaticais que, por sinal, não são tão numerosas quanto se pensa. Não é por outra razão que a primeira informação dada pelos dicionários vernáculos é a indicação da classe a que pertence a palavra. Veja, por exemplo, o registro de uma palavra no Dicionário Houaiss Houaiss .
Como se trata de uma classificação morfológica, o esperado seria que o critério adotado para o estabelecimento das classes fosse baseado apenas nas propriedades formais na forma das palavras. Contrariando, no entanto, essa exigência de rigor metodológico, a verdade é que nossas gramáticas têm usado uma mistura de critérios. 3
O SUBSTANTIVO E O VERBO
O substantivo e o verbo são duas classes que podemos chamar de básicas ou nucleares, porque elas podem funcionar como núcleos, respectivamente, do sujeito e do predicado, os dois constituintes da grande maioria das orações. Vejamos V ejamos cada um desses desses conceitos. Verbo V erbo é a classe de palavras em torno da qual se cons-
trói a oração. É a palavra essencial da oração, isto é, aquela sem a presença da qual não existe oração. De nenhuma outra classe se pode dizer isso. Embora não seja comum, há no português orações formadas apenas por um verbo, como é o caso das que vêm exemplificadas a seguir seguir.. Choveu. Geou. Nevou. Mas o mais normal não é isso. Na grande maioria dos casos, o verbo, ao entrar na frase, requer, no mínimo, o acompanhamento de um substantivo. Desse modo, podemos dizer que as duas classes nucleares da oração são o substantivo e o verbo. Com um representante de cada uma dessas duas classes, montamos o esqueleto mínimo de uma oração.
v.. é abreviatura de verbo, e dizer que a palavra A letra v pertence a essa classe já implica dizer que ela tem as características típicas das palavras desse conjunto. Se, porventura, houver algum desvio, este é indicado em notas especiais. 2
Observação
CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO DAS PALAVRAS
Nos exemplos que seguem, o substantivo vem transcrito em vermelho em vermelho;; o verbo o verbo,, em azul azul.. Exemplos:
A classificação das palavras inscreve-se num tópico da Gramática chamado de Morfologia , palavra formada do grego (morfo ϭ forma; logia ϭ estudo, tratado). Por isso é que se chama de análise morfológica ao trabalho de dividir as palavras em classes gramaticais. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
Água evapora evapora..
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Ferro oxida oxida..
Barulho incomoda incomoda.. PORTUGUÊS
A vantagem de considerar o substantivo e o verbo como dois elementos nucleares é que, depois, podemos tomá-los como referência para definir outras classes que gravitam em torno de um ou de outro desses núcleos. Mas vamos antes definir com mais pormenores cada uma dessas classes tomadas como nucleares. 4
O SUBSTANTIVO
Sob o ponto de vista semântico (ou do significado), o substantivo é uma classe constituída de palavras que designam os seres do mundo real ou imaginário e noções gerais. Exemplos: • coisas: mesa, árvore, estrela; • pessoas: cantor, peregrino, pescador; • animais: cachorro, hipopótamo, gavião; • entidades míticas: lobisomem, saci, Zeus.
Incluem-se na classe dos substantivos palavras que indicam um conjunto de seres ou uma realidade complexa, formada de várias partes. Exemplos: Continente
Também se incluem entre os substantivos palavras que designam realidades existentes apenas no âmbito da consciência, sem existência real ou concreta no mundo dos ob jetos e das coisas. coisas. São noções abstratas, criações da mente, como ações, estados, qualidades, sentimentos. Essas noções não podem ser representadas por ilustração direta, já que só existem como qualidades ou modos de ser das realidades concretas. Exemplos: Cardume
Experiência
Cidade
Velocidade V elocidade
Floresta SISTEMA ANGLO DE ENSINO
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PORTUGUÊS
O substantivo, diferente do adjetivo, jamais admite su fixos supe fixos superla rlativ tivos os (-íssimo, -érrimo, -imo). Exemplos:
Adjetivo (compatível com sufixo superlativo) largo → larguíssimo feliz → felicíssimo
Substantivo (não compatível com superlativo) largura
→
*larguríssima
felicidade
→
*felicidadíssima
Concentração Observação: O asterisco indica impossibilidade.
Como se vê, as noções abstratas não podem ser representadas em si mesmas, pois elas são palavras criadas para designar propriedades ou modos de ser das realidades concretas. Sob o ponto de vista mórfico (ou da forma), o substantivo é uma classe que faz o plural com o acréscimo de -s e essa marca é importante para distingui-lo do verbo, sobretudo em casos de substantivos abstratos que designam ações. Exemplos:
Singular
Plural
c o mi d a
comidas
salto
saltos
combate
combates
Sob o ponto de vista sintático (das relações entre as palavras), o substantivo é uma classe de palavra que pode, sozinha, funcionar como núcleo do sujeito. Exemplos:
Ouro não enferruja. enferruja.
Futebol é a paixão do brasileiro. brasileiro.
Em síntese, podemos definir substantivo como a classe das palavras que: • designam seres ou noções; • fazem o plural em -s e não são compatíveis com sufixo superlativo (-íssimo , -imo); • podem, sozinhas, funcionar como núcleo do su jeito.
Há substantivos que designam qualidade ou estado, tomados como noções separadas (abstratas) dos seres que as suportam. Nesses casos, não se confundem com os adjetivos, por um traço diferenciador fácil de testar: 5
O VERBO Sob o ponto de vista semântico , as palavras pertencentes à classe dos verbos designam: • A ção: atividade resultante de um agente.
Exemplos:
Pedalar SISTEMA ANGLO DE ENSINO
Saltar
Voar
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• Processo : um acontecimento que afeta um
sujeito.
Exemplos:
Exemplos:
Amadurecer Amadurec er
O cavalo é quadrúpede (é indica estado permanente).
Florescer
está indica indica estado estado transitório transitório). O cavalo está cansado (está
Derreter
Não seria apropriado dizer, por exemplo, que a uva fez a ação de amadurecer ; a flor, a ação de florescer ; o gelo, Amadurecer r, florescer e derreter , não de derreter . Amadurece são verbos que indicam ação, mas um processo que afeta o sujeito. (ou mudança de estado): indica a presença ou ausência de certo atributo num sujeito.
O cavalo ficou assustado ficou ( ficou indica mudança de
• Estado
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estado).
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PORTUGUÊS
Sob o ponto de vista mórfico , o verbo é uma classe de palavras muito rica, mas, para distingui-la de todas as demais, basta levar em conta o dado de que o verbo é a única classe que possui desinências típicas para marcar o tempo. Em outras palavras, o verbo é a única classe que possui desinências para indicar se a ocorrência está localizada no presente , no passado ou no futuro . Exemplos:
Sob o ponto de vista sintático , o traço mais marcante do verbo é ele ser um constituinte essencial do predicado. Isso quer dizer que não existe predicado desprovido de verbo, mesmo que este venha elíptico. Sob o ponto de vista semântico, pode acontecer de o verbo não ser o núcleo do predicado, como se dá no predicado nominal. No entanto, mesmo esse tipo de predicado não se constitui sem a presença obrigatória de um verbo. Exemplos: está atrasado. chegou ao aeroporto. chegou ao aeroporto atrasado.
O avião
Como observação suplementar, convém acrescentar que, na oração, o verbo pode ocorrer sob a forma simples, isto é, constituído por uma palavra apenas, ou sob a forma de locução verbal, constituído de um (ou mais) verbo(s) auxiliar(es) seguido(s) de verbo principal. Exemplo:
Esta árvore crescerá . FUTURO
A água ocorre na natureza sob a forma líquida, mas também pode ocorrer sob a forma sólida ou gasosa. • Ocorre
ϭ
verbo na forma simples
• Pode ocorrer
ϭ
locução verbal
verbo principal principal verbo auxiliar
Nas locuções verbais, o verbo auxiliar vem antes do principal. Qualquer inversão dessa ordem só ocorre para criar efeitos de sentido especiais. Exemplo: Fale de mim.
Esta árvore já enfeita a paisagem. PRESENTE
Quem falar quiser! Locução verbal verbal na ordem inversa: verbo principal ( falar) falar) ϩ verbo auxiliar (quiser ( quiser).). É impossível não sentir certa estranheza nessa inversão.
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O SUBSTANTIVO E SEUS SATÉLITES
Dependendo da situação, pode bastar o substantivo sozinho para produzir o significado pretendido pelo enunciador. Observe uma frase como esta: Acidentes acontecem.
Nessa frase, não é necessária outra palavra além do substantivo e do verbo do verbo para traduzir, por exemplo, o co-
mentário de um técnico de futebol, lamentando a má sorte de ser obrigado a substituir o melhor jogador da equipe por este ter sofrido uma distensão muscular logo no início da partida.
Esta árvore cresceu muito. PASSADO SISTEMA ANGLO DE ENSINO
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PORTUGUÊS
Para consolar o jogador que sai contrariado do campo, bastam as duas palavras:
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O ADJETIVO
Sob o ponto de vista do significado (semântico), o ad jetivo é uma classe de palavras que indica qualidades ou propriedades dos seres designados pelos substantivos. Os seres não possuem todos as mesmas propriedades e, mesmo os que são da mesma natureza, podem diferenciar-se uns dos outros por meio de qualidades ou características típicas. Os adjetivos formam uma classe de pala vras que servem para designar essas essas propriedades. Exemplos:
Acidentes acontecem.
Mas, dependendo da situação, uma frase formada apenas por um substantivo e um um verbo verbo pode gerar desespero. Imagine que um filho, tendo ido viajar, ligue para casa, do meio da estrada, dizendo para a mãe apenas estas duas palavras: Acidentes acontecem.
Como agravante, suponha a mãe ouvindo ruído de sirenes e vozerio à volta do telefone. A informação precisa ser expandida imediatamente para satisfazer a necessidade de aliviar a angústia da mãe. Em casos como esses, é claro que tanto o substantivo como o verbo precisam vir acompanhados de outras pala vras esclarecedoras. O filho, presumindo a ansiedade da mãe, poderia acrescentar imediatamente as seguintes palavras:
Casa rústica .
Aconteceu um grave acidente de moto. Sabendo que o filho estava viajando de ônibus, a ansiedade da mãe cai consideravelmente. Sem dúvida, o diálogo prosseguiria com outros esclarecimentos, mas vamos observar apenas esta última fala. Para prestar melhores esclarecimentos, o filho teve o cuidado de associar algumas palavras ao substantivo , como se pode perceber no esquema abaixo.
Casa térrea.
Aconteceu um grave acidente de moto. • um vem
associado ao substantivo, pois o filho pressupõe que a mãe ainda não sabia de que acidente se tratava; • grave está indicando uma característica do acidente; • de moto é uma expressão que vem associada ao substantivo para esclarecer qual foi o veículo envol vido no acidente. Esse exemplo serve para ilustrar o dado de que certas palavras se associam ao substantivo para acrescentar significados que ele não consegue traduzir sozinho. Às palavras que se associam associam ao substantivo substantivo para acrescentar-lhe informações podemos chamar pelo nome genérico de satélites do substantivo, que são: • o adjetivo; • a locução adjetiva; • o numeral; • o artigo; • o pronome adjetivo. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
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Casa geminada . Como se vê, as três fotos retratam uma casa, mas cada uma delas possui características diferentes, que são designadas pelos adjetivos: • rústica; • térrea; • geminada. PORTUGUÊS
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Locução adjetiva
Muitas vezes, a língua não dispõe de adjetivos apropriados para designar determinadas qualidades. Nesses casos, pode-se fazer uso de uma expressão formada por, no mínimo, uma preposição e um substantivo. Dá-se a essa expressão o nome de locução adjetiva. Exemplos:
Como se vê, usou-se a locução de madeira para designar uma característica da casa para a qual não dispomos de um adjetivo adequado. Existem em português os adjetivos lígneo ou lenhoso (de lenha, de madeira), mas não seriam adequados para indicar algo que é feito de madeira. joão-de-barro o foi usada para designar A locução de joão-de-barr um tipo de ninho (ou abrigo) construído pelo pássaro. Para indicar a propriedade de uma casa construída no limite da calçada, típica do interior, usou-se a locução sem recuo. Convém lembrar que, às vezes, a locução adjetiva possui o adjetivo correspondente, mas não são sinônimos perfeitos. Pode ocorrer que o adjetivo tenha uma conotação erudita, contrastante com a conotação popular da locução. É o que ocorre sobretudo nos casos em que o adjetivo é formado form ado sobre sobre uma uma base latin latinaa em contras contraste te com a locução, locução, formada form ada de um subs substanti tantivo vo já já transfo transformad rmado o histor historicam icamente. ente. Exemplos: O adjetivo plúmbeo (do latim plumbum ϭ chumbo) corresponde à locução adjetiva de chumbo. Mas o adjetivo é bem mais erudito do que a locução. I) Nuvens plúmbeas cobriam o Sol. II) Nuvens de chumbo cobriam o Sol. O enunciado II é bem mais popular que o I.
Casa de madeira.
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Adjetivo descritivo
O adjetivo pode ser usado para traduzir dominantemente uma qualidade do objeto. Exemplo:
joão-de-barro o. Casa de joão-de-barr
O cabelo da cantora está longo.
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Pode-se usar o adjetivo para traduzir dominantemente uma apreciação do enunciador, enunciador, criando o que se chama de efeito de subjetividade.
Casa sem recuo. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
Adjetivo valorativo
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Exemplo:
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Plural do adjetivo composto
No adjetivo composto só varia o último elemento, tanto em gênero quanto em número. Exemplo:
Lente côncavo-convexa Lentes côncavo-convexas Os adjetivos compostos formados de nome de cor substantivo ficam invariáveis: Exemplo:
Olho verde-mar
ϩ
Olhos verde-mar
Azul-marinho Azul-marin ho é sempre invariável.
Exemplo:
Camisa azul-marinho O cabelo da cantora está indecente.
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GRAU DO ADJETIVO 13
Posição do adjetivo
Pedro é tão alto quanto Paulo. • Inferioridade:
Pedro é menos alto que Paulo. • Superioridade:
Pedro é mais alto que Paulo. Embora o comparativo, em geral, seja formado pelo processo analítico, há alguns comparativos sintéticos. Exemplos: Bom – melhor Grande – maior
Crianças alegres corriam por entre canteiros coloridos. Colocado antes do substantivo, o adjetivo indica uma qualidade mais valorativa, criando a impressão de subjetividade. No exemplo anterior, a anteposição dos adjetivos criaria outro efeito de sentido:
Quando se comparam duas qualidades do mesmo indi víduo, usa-se obrigatoriamente obrigatoriamente a forma analítica. Exemplo: Pedro é mais grande do que forte.
Alegres Aleg res crianças corriam por entre coloridos canteiros. 14
Nesse caso, a qualidade parece ser produto mais da impressão do enunciador do que um estado de alma das crianças e uma propriedade dos canteiros. Numa sequência em que faz sentido interpretar a primeira palavra como substantivo e a segunda como adjeti vo, e vice-versa, a ordem das palavras é que define a função: interpreta-se a primeira como substantivo e a segunda como adjetivo. É o caso de:
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Superlativo • Absoluto
a) Sintético: boníssimo b) Analítico: muito bom • Relativo
Pedro é o mais alto da classe. 15
Superlativos eruditos
Há certos superlativos absolutos sintéticos que são formados de radicais latinos. São os chamados superlativos eruditos. Exemplos: Soberbo – superbíssimo Amargo – amaríssimo
Um amigo cachorro / um cachorro amigo. substantivo
Comparativo • Igualdade:
Em português, de modo diferente do inglês, é mais comum o adjetivo vir colocado colocado depois do substantivo. Nessa posição, o adjetivo designa uma qualidade dominantemente descritiva, dando impressão de objetividade. Exemplo:
adjetivo
Camisas azul-marinho
adjetivo substantivo
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DIMINUTIVO E AUMENTATIVO DOS ADJETIVOS
Tanto o diminutivo quanto o aumentativo dos adjetivos não indicam tamanho, mas intensidade, associada a noções de afetividade (diminutivos) ou depreciação e grosseria (aumentativos). Exemplos: Pessoa quietinha 17
Colega gordão
NUMERAIS
Os seres diferem entre si não apenas em qualidade, mas também em quantidade. A classe dos numerais é constituída de palavras que servem exatamente para indicar a quantidade dos seres designados pelo substantivo. Exemplos:
Três andares
Dez andares
Quinze andares
Como se vê, as palavras três, dez e quinze estão indicando quantidade. 18
Subdivisão dos numerais • • • •
Cardinais: designam uma quantidade determinada de seres ( um, dois, três etc.). Fracionários: designam o número de partes em que se divide uma quantidade (meio, terço, quarto etc.). Multiplicativos: designam o número de vezes que a quantidade é multiplicada (duplo, triplo, quádruplo etc.). Ordinais: designam a ordem numérica em que se localiza determinado ser (primeiro , segundo, terceiro etc.).
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Efeitos de sentido dos numerais
com quem se fala) não tem ainda conhecimento certo daquilo a que o substantivo está se referindo. De forma mais sintética, costuma-se dizer que os interlocutores não compartilham o mesmo conhecimento. Exemplo:
Os numerais, devido à precisão que conferem aos dados, têm grande importância argumentativa, pois criam o chamado efeito de verdade. Exemplo: O vencedor fez o percurso em 1 hora, 12 minutos, 6 segundos e 2 décimos.
Uma padaria da cidade foi interditada pela vigilância
A mesma mesma exatidão exatidão que cria cria o efeito efeito de verdade verdade,, costuma costuma ser usada também para designar frieza, ausência de emoção. Exemplo: Esta carta veio errada: é para o 151 do número 53 e não para o 53 do 151.. número 151
sanitária. Ao dizer uma padaria e não a padaria, o falante está contando com o pressuposto de que na cidade existem ao menos duas padarias e, por isso mesmo, o seu interlocutor pode não saber de que padaria se está falando. 23
Ausência do artigo antes do substantivo
Sob o ponto de vista do significado, a ausência do artigo (definido ou indefinido) antes do substantivo serve para concebê-lo no mais alto grau de generalidade. Exemplo: Padaria é uma pequena indústria. Nesse caso, a ausência do artigo serve para dizer que o substantivo se refere a qualquer tipo de estabelecimento designado pelo nome de padaria. 24 20
O ARTIGO
É também necessário registrar o uso do artigo definido como indicador de um conceito de extensão universal.
O artigo é uma classe fechada, isto é, formada de um número limitado e fixo de palavras: artigo definido • o – a – os – as • um – uma – uns – umas artigo indefinido
Ao dizer que o livro é fonte de saber, o falante pode não estar se referindo a um livro já conhecido pelo seu interlocutor,, mas a qualquer obra conhecida pelo nome de livro. cutor Esse uso do artigo é muito comum em frases utilizadas para afirmar propriedades genéricas de qualquer coisa ou pessoa. Exemplos:
Sob o ponto de vista semântico, o principal papel do artigo é indicar se o significado do substantivo é dado como já conhecido pelo interlocutor interlocutor ou não. Desse modo, há três ocorrências que merecem comentário. 21
O artigo definido como indicador de conceito universal
Substantivo precedido de artigo definido
O ouro não enferruja.
O artigo definido serve para dizer que o ouvinte já compartilha com o falante o conhecimento daquilo que o substantivo está indicando. Exemplo:
O cobre é um metal muito duradouro. A vida vida é sempre um risco.
A padaria da cidade foi interditada pela vigilância sanitária.
O homem é mortal.
Só diz isso quem pressupõe que a cidade tem apenas uma padaria e, por isso, qualquer habitante do povoado já sabe a que padaria o seu interlocutor está se referindo.
O amor é um mistério.
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Substantivo precedido de artigo indefinido
Também o pronome pode funcionar como satélite do substantivo e, nesse caso, costuma ser chamado de pronome adjetivo.
O artigo indefinido é usado antes do substantivo para estabelecer o pressuposto de que o interlocutor (aquele SISTEMA ANGLO DE ENSINO
O PRONOME ADJETIVO
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PORTUGUÊS
Exemplos:
Exemplos:
Minha carteirinha sumiu. Este livro é cheio de curiosidades.
Algumas pessoas são estranhas para nós. 26
Pronome adjetivo possessivo
Os pronomes possessivos, quando se referem a um substantivo, servem para dizer a que pessoa do discurso pertence aquilo que o substantivo está indicando. Exemplo:
Neste relógio, a hora é a mesma que nesse aí e naquele lá da torre da igreja.
Tua Tu a mãe te telefonou. Tua Tu a nesse caso é um pronome adjetivo possessivo. está indicando que a mãe pertence à pessoa com quem se está falando está associado a um substantivo
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O pai pediu ao filho que voltasse para sua casa
Há casos em que o pronome adjetivo gera ambiguidade, pois ocorre num contexto em que pode ter como re ferência mais de um elemento do texto, como é o caso do exemplo dado. O pronome sua, no caso, está associado ao substantivo casa, indicando que ela pertence a alguém de quem se está falando (sua é de terceira pessoa). No enunciado, porém, ocorrem duas palavras que podem servir de r eferência
Correlata à marcação de espaço é a de tempo feita pelos demonstrativos este, esse, aquele. • Este situa um tempo próximo ao momento da fala. • Esse, um tempo anterior não muito distante do momento da fala. • Aquele, um tempo anterior mais distante do momento da fala. Exemplos:
para o pronome: sua casa pode estar indicando
Neste dia [13 de maio], estamos comemorando a libertação dos escravos.
a casa do pai ou a casa do filho, pois ambos
são pessoas de quem o enunciado está falando. 28
Pronome adjetivo demonstrativo
13 de maio de 1889: nesse dia foi proclamada a libertação dos escravos.
Os pronomes demonstrativos (este, esse, aquele), quando vêm associados a substantivos, servem sobretudo para marcar a posição (o lugar) de algo (ou alguém) em relação a uma das três pessoas do discurso. • Este situa algo próximo da pessoa que fala (1a pessoa). • Esse, próximo da pessoa com quem se fala (2a pessoa). • Aquele situa algo distante dos dois interlocutores.
Século I a.C.: naquele tempo, Roma já dominava o mundo. 29
No interior do texto, o uso ortodoxo dos pronomes demonstrativos é pautado pelas seguintes normas. • Esse é anafórico, isto é, refere-se a algo que já foi citado antes dele. Exemplo: Gasolina sofre aumento de 10%: esse percentual vai repercutir em outros preços.
Para maior clareza, podemos fazer as seguintes associações. • Este aqui. • Esse aí. • Aquele lá. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
Este , esse , aquele no interior do texto
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é catafórico, isto é, refere-se a algo que vem depois dele. Exemplo: Segundo alguns economistas, virá mais este aumento: 10% no preço da gasolina.
• Este
• Aquele sempre se refere a algo bem mais distante.
Exemplo: Já no primeiro capítulo, descrevemos o comportamento típico do consumidor afetado pela propaganda. N aquela altura do texto ainda não havíamos falado do cheque sem fundo. 30
Este
aquele
Para referir-se a dois termos citados anteriormente, usa-se este para recuperar o mais próximo e aquele para o mais distante. Exemplo: Recebemos dois convites para a mesma data, um aniversário e um casamento: este é mais importante que aquele. (o casamento)
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(o aniversário)
Algumas pessoas vão anular o voto nas próximas eleições.
Os pronomes indefinidos, quando se referem a substantivos, servem para dizer que estes são tomados de maneira indeterminada ou imprecisa. Exemplo: Vários partidos negaram apoio ao governador governador.. 32
Resumo dos satélites do substantivo
Em síntese, o substantivo pode, na frase, vir determinado pelos satélites que vêm representados no esquema a seguir.
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Os
meus
dois
melhores
amigos
de es esco cola la
artigo
pronome adjetivo
numeral
adjetivo
substantivo
locução adjetiva
me vis visit itar aram am.
O ADVÉRBIO: SATÉLITE DO VERBO
Assim como o substantivo, o verbo também pode vir acompanhado de certas palavras que alteram profundamente o sentido da mensagem.
Brasil surpreendentemente derrota Argentina.
Chamamos de advérbio a classe de palavras invariá veis que se referem ao verbo para trazer-lhe informações suplementares. Exemplo: Brasil derrota Argentina. Uma manchete como essa anuncia, sem grande estardalhaço, uma possível vitória do Brasil sobre a Argentina no futebol, por exemplo.
Brasil sempre derrota a Argentina. Brasil nunca derrota a Argentina. Essas palavras – sempre invariáveis – que modificam o verbo pertencem à classe dos advérbios.
Mas a manchete poderá ser dada de maneira bem mais provocante se agregarmos advérbios como: Brasil derrota fragorosamente Argentina. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
Como se vê, as noções acrescentadas ao verbo por meio do advérbio são muito variadas. Por isso, os advérbios costumam ser classificados de acordo com as noções que acrescentam ao verbo. Existem, pois, advérbios: • de modo: O governo agiu rapidamente.
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PORTUGUÊS
• de tempo: O Sol sempre
Como já dissemos, em geral se apela para a locução ad verbial para suprir a falta de um advérbio típico para traduzir a noção que se deseja. Exemplos:
brilhou para ela.
• de lugar: As aves gorjeiam lá.
Ele só viaja de trem. (ϭ locução adverbial de instrumento)
• de intensidade: Papagaio fala muito.
• de negação: O dia não amanheceu nublado.
A terra secou com o calor. (ϭ locução adverbial de causa)
Inúmeras vezes ocorre que o léxico da língua não dispõe de advérbios para traduzir certas noções que o enunciador deseja acrescentar ao verbo. Em casos como esses, apela-se para uma expressão formada por, no mínimo, uma preposição e um substantivo, o que costumamos chamar de locução adverbial. Exemplos:
Todos receberam a notícia com satisfação. (ϭ locução adverbial de modo)
Advérbio, uma classe complexa Não se pode falar da classe dos adv érbios sem ressaltar o dado de que se trata de uma classe um tanto quanto elástica, em que se encaixam palavras de natureza diferente. Dada essa falta de precisão, grosso modo, podemos enquadrar nessa classe toda palavra invariável que determina outra palavra ou expressão. Com isso, consideram-se também como advérbio palavras que não se referem ao verbo, como as que vêm exemplificadas nos itens 34 e 35.
I) O ônibus estacionou calmamente. II) O ônibus estacionou com calma. É fácil perceber que a locução com calma, no enunciado II, acrescenta ao verbo noção equivalente à do advérbio calmamente, no enunciado I. 34
Advérbio como modificador de adjetivo ou advérbio Classifica-se como advérbio todo intensificador de adjetivo ou de outro advérbio. Exemplos:
Suas
ideias substantivo
35
eram
muito
boas.
advérbio intensificador de adjetivo
adjetivo
Os pássaros
acordam
muito
cedo.
verbo
advérbio intensificador de advérbio
advérbio
Advérbio modificador de uma oração inteira
O advérbio ou a locução adverbial pode modificar não apenas o verbo, mas uma unidade maior, formada pelo verbo e outros termos associados a ele, abrangendo a oração inteira. Exemplo:
Miseravelmente ,
o gover governa nado dorr saiu saiu da da vida vida púb públi lica ca riq riquí uíss ssim imo. o.
advérbio
oração
Como se vê, o advérbio miseravelmente não pode estar-se referindo só ao verbo dessa oração ( saiu). Seria contraditório dizer que alguém, riquíssimo , saiu miseravelmente da vida pública. O que ocorre é que o advérbio, nesse nesse caso, é usado para manifestar uma apreciação apreciação do enunciador (aquele que fala) sobre o conteúdo inteiro da oração que v em a seguir. É como se o enunciador dissesse: O governador saiu da vida pública riquíssimo e isso, isso, no meu modo de entender, entender, é uma constatação lamentável, in feliz. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
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PALAVRAS DENOTA DEN OTATIVAS TIVAS
Têm grande importância certas palavras invariáveis que podem ocorrer em vários pontos do enunciado para modificar palavras ou grupos de palavras, normalmente estabelecendo algum pressuposto ao que se diz. Até e nem são dois exemplos expressivos desse tipo de palavra que a Nomenclatura Gramatical Brasileira chama de palavras denotativas. Exemplos: I) Nem [o professor] conseguiu responder àquela questão da prova. A palavra nem, nesse caso, refere-se a professor e estabelece o pressuposto de que a questão era muito difícil. II) O professor não conseguiu responder nem àquela questão da prova. Nesse caso, a palavra nem refere-se a toda a expressão à sua frente e estabelece outro pressuposto, agora contrário ao professor. Em síntese, nem, como palavra denotativa, serve para e xcluir algo ou alguém cuja exclusão causa estranheza por não ser esperada. Observe como a palavra até tem significado oposto ao da palavra nem: I) Até [o professor] conseguiu responder àquela questão. A palavra até, nesse caso, refere-se a professor e estabelece o pressuposto de que a questão não é difícil. O enunciado, evidentemente, é depreciativo para o professor. II) O professor conseguiu conseguiu responder até àquela questão da prova. Nesse caso, a palavra até refere-se à expressão inteira, que vem à frente e estabelece o pressuposto de que a questão era muito difícil e que o professor era bom, a ponto de responder mesmo a uma questão que ninguém esperava ser respondida. Desse modo, fica claro que a palavra até serve para incluir algo ou alguém cuja inclusão causa estranheza por ser inesperada. 37
O PRONOME
Como se sabe, o pronome é uma palavra quase vazia de sentido. Prova disso é que, fora da situação concreta da fala ou fora do contexto de um texto, o pronome não indica nada além de uma das três tr ês pessoas do discurso. Tome-se como exemplo uma frase como esta:
Os maiores linguistas poderão ser convocados e, na falta de contexto, não terão como decifrar o sentido mais do que se fez. Suponhamos agora que um superdetetive pegue a folha de papel e, por meio de tratamento químico, ou por meio de raio X, descubra que estejam escritos com letras invisíveis os dados completos de um famoso conde e de uma filha então desconhecida. Nesse caso, o sentido dos dois pronomes fica plenamente esclarecido ( eu = conde; ti = a filha). Essa suposição permite-nos então dizer que: O pronome é uma classe de palavras que indica apenas uma das três pessoas do discurso ou algo relacionado a elas. Assim, o sentido pleno do pronome só se esclarece quando a situação ou o contexto permitem identificar a que elementos ele faz referência.
Se não houver marca nenhuma para identificar a quem se referem as palavras eu e ti, jamais alguém vai colocar a mão nessa herança. As únicas pistas para a compreensão desse enunciado são: • eu é um pronome de 1a pessoa e, como tal, indica a pessoa que fala (ou escreve, no caso); • ti é um pronome de 2 a pessoa e, como tal, indica a pessoa com quem se fala (ou para quem se escreve). SISTEMA ANGLO DE ENSINO
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As referências dos pronomes: os dêiticos
Os pronomes podem ter como referência pessoas ou coisas que estão presentes na situação concreta de uma conversa. Nesse caso, diz-se que eles funcionam como dêiticos, isto é, servem para apontar a pessoa a que fazem referência, como nos exemplos a seguir seguir..
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Catafóricos são os pronomes que se referem a pala vras ou termos que ocorrem à frente deles. Em outros termos, os catafóricos remetem-nos a algo que vem à frente deles no texto. Exemplo: Ninguém sabia a sua idade, nem onde ele nascera. Chamavam-no mavamno de João-da-estrada João-da-estrada..
Este animal tem a tua cara!
Os pronomes sua sua,, ele e no (forma variante do artigo o) são todos catafóricos, pois se referem a João-da-estrada João-da-estrada,, que vem a seguir no texto. 41
CONECTORES
Há duas classes de palavras que não ocorrem no enunciado para modificar uma palavra ou expressão, mas para estabelecer conexão entre dois segmentos. Dependendo dos segmentos conectados, os conectores se classificam como preposições ou conjunções . As marcas distintivas dessas duas classes de palavras são estas: • trata-se sempre de palavras invariáveis; • seu papel no enunciado é conectar, isto é, estabelecer conexão ou ligação entre dois segmentos.
E a tua inteligência.
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Preposições
A preposição é uma classe de palavras limitada. Prova disso é que podemos enumerar as preposições da língua portuguesa numa pequena lista: • a, ante, após, até; • em, entre; • para, por*, perante; • com, contra; • de, desde, dentre; • sem, sob, sobre.
Nesse caso, o pronome este é um dêitico, isto é, situa a sua referência (o asno) próximo das pessoas que falam. O pronome tua também é um dêitico: ambas as pessoas a que se referem estão presentes na situação concreta da fala. Convém notar que o mesmo pronome muda de referência quando mudam os papéis de falante e de ouvinte.
* A
39 Os
preposição por é substituída pela variante per quando vem combinada com o artigo definido ( o, a, os, as). No português moderno, em vez de polo, pola, polos, polas, usa-se pelo, pela, pelos, pelas.
anafóricos
Diferentemente dos dêiticos, os pronomes com função anafórica ou catafórica são aqueles que se referem a termos situados no interior do próprio texto. Chamam-se anafóricos aqueles que se referem a pala vras ou expressões que já já ocorreram antes deles. Exemplo: O tropeiro percebeu que a tropa estava exausta e parou para que ela descansasse. Nesse trecho, ela está funcionando como um anafórico, pois se refere à palavra tropa que ocorreu antes do pronome (anáfora, do grego, é palavra formada do prefixo ana ϭ para trás ϩ phorá ϭ ação de levar, transportar). Muitas vezes o termo anafórico retoma uma passagem anterior mais extensa que uma palavra apenas. Exemplo: Dizem que os remédios podem causar sérios prejuízos. prejuízos. Eu digo o mesmo mesmo..
Exemplos: O mês de maio tem 31 dias. Nesse caso, a preposição de está conectando um substantivo (maio) com outro substantivo ( mês). O povo não gosta de mentira. Aqui, a preposição de está conectando um substantivo (mentira) com um verbo (gosta). Nada aconteceria sem ela. A preposição sem está conectando um pronome (ela) com um verbo (aconteceria ).
O pronome mesmo, no caso, é um anafórico que retoma todo o trecho anterior transcrito em vermelho. 40
43
Há certas preposições que, com o passar do tempo, perderam o significado, esvaziando-se de sentido. São as preposições exigidas pela regência do verbo e de certos nomes. São muito úteis como marcadores de função da palavra na frase, mas perderam o significado.
Os catafóricos
O prefixo catá (do grego) significa de cima para bai xo, para diante. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
Significado das preposições
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Exemplo:
Note-se que a escolha de sobre ou sob não é imposta pelo verbo (estacionou ) mas pelo significado que o falante quer dar ao seu enunciado. Não se pode terminar esse item sem salientar que a tradução do sentido de uma preposição depende muito do contexto em que ela ocorre. Exemplos: • O rio vem do leste para o oeste.
Ninguém duvida de você. Essas preposições esvaziadas de sentido são impostas pela regência do verbo e não são escolhidas pelo falante. Além destas há outras que preservam sentido próprio e são usadas pela escolha do falante, e não pela imposição do verbo ou de um nome. Exemplos modelares desse tipo são as preposições sob ou sobre, indicadoras de espaço inferior ou superior respectivamente:
A preposição de (combinada com o artigo ϭ do), nesse contexto indica ponto de partida, origem; para indica destino. •
I) O veículo estacionou sobre o viaduto.
Nesse contexto a preposição de (na combinação do) indica posse; para indica finalidade; de (na combinação da) indica local.
II) O veículo estacionou sob o viaduto. 44
O salário do meu pai era usado para as despesas da casa.
A conjunção
A conjunção, como a preposição, é constituída de palavras invariáveis, seu número é também limitado, mas não tão reduzido quanto o das preposições. Elas ocorrem no enunciado para conectar termos e orações entre si. Exemplos:
O dia estava chuvoso
e
as estradas estavam escorregadias.
oração 1
conjunção
oração 2
O governo garante
que
a inflação está sob controle.
oração 1
conjunção
oração 2
Exceto em casos raros, a conjunção não só conecta uma oração com outra, mas também estabelece entre elas certas relações de sentido. Como no caso das preposições, o sentido estabelecido pelas conjunções depende quase sempre do contexto em que ocorrem. Não existe exemplo melhor que a conjunção que para demonstrar a var iação de sentido da conjunção de acordo com o contexto. Exemplos:
Fez tantas exigências,
que
perdeu o negócio.
oração 1
conjunção
oração 2
Nesse caso, a conjunção que estabelece uma relação de consequência entre a oração 2 e a oração 1.
Já faz algum tempo
que
saímos de lá.
oração 1
conjunção
oração 2
Nesse contexto, a conjunção que está estabelecendo uma relação de tempo entre a oração 2 e a oração 1.
O governo baixou severas ordens
que
não perdoassem aos contrabandistas.
oração 1
conjunção
oração 2
Nesse terceiro exemplo, a conjunção que está estabelecendo relação de finalidade entre a oração 2 e a oração 1. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
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Processos de formação de palavras 1
INTRODUÇÃO
Toda língua é produto da criatividade humana e, como tal, está em constante movimento, para acompanhar e exprimir as mudanças por que o homem vai passando ao longo da sua história.
SISTEMA ANGLO DE ENSINO
CAPÍTULO 2
Um dos domínios em que mais sensivelmente se manifestam as mudanças na língua é no léxico, isto é, no vocabulário: palavras envelhecem e caem de uso, mudam de sentido ao longo do tempo e nos diferentes lugares; pala vras novas surgem e ocupam o lugar de outras. É o que se nota nos fragmentos de textos reproduzidos a seguir seguir..
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Como se vê pelos exemplos recortados e colados na abertura desta unidade, o mundo das palavras é um mundo agitado, dinâmico e nervoso, reflexo do próprio universo dos homens que fazem uso desses instrumentos para as mais diversas finalidades. Uma observação mais metódica dos exemplos apresentados permite-nos concluir que a invenção de palavras novas corresponde a uma necessidade natural dos homens na sua relação com o mundo e com os seus semelhantes. Essa necessidade pode ser provocada por duas grandes motivações: uma, de natureza objetiva; outra, de natureza subjetiva. 2
4
Pelos exemplos apresentados na abertura desta unidade, nota-se que, para suprir necessidades, objetivas ou subjetivas, pode-se também apelar para a importação de palavras de outras línguas, embora o mais comum não seja isso, já que toda língua possui recursos próprios para a criação de palavras. Tais recursos costumam ser chamados pelo nome genérico de processos de formação de pala vras, que serão objeto de nossa atenção a partir daqui. 5
Três conceitos básicos
As palavras novas nunca surgem do nada: elas sempre são criadas a partir da recombinação de formas preexistentes na língua. A importação de formas de línguas estrangeiras (os chamados empréstimos linguísticos ) é comum na linguagem científica, mas não é usual na evolução natural e espontânea das línguas. Para compreender os elementos que se articulam para a formação de palavras, convém conhecer três conceitos básicos: radical, prefixos e sufixos .
Necessidade de denominação
Transformações no mundo dos objetos que nos rodeiam criam a necessidade de denominação , isto é, de criar palavras para dar nome a novos objetos ou utensílios inventados ou descobertos pelas forças de criação e de in vestigação próprias do homem. homem. Segundo o Dicionário Houaiss, a palavra batiscafo, por exemplo, que se referia a um veículo usado na exploração de águas profundas, entrou em nosso léxico em 1947. Também a palavra robô foi usada para designar um novo objeto, este da indústria tecnológica. Muitas vezes não é a criação de um novo objeto que exige a invenção de palavras para denominá-lo, mas novas interpretações que a ciência passa a fazer do mundo das pessoas e das coisas. A palavra factoide , que ultimamente tem aparecido sobretudo no noticiário político da nossa imprensa, é um exemplo muito apropriado da criação de palavras para traduzir interpretações diferentes de dados já existentes. Essa palavra designa o hábito de lançar certas notícias para testar a reação do povo diante do “fato” noticiado. O hábito sempre existiu na estratégia política, mas o nome para designá-lo foi criado recentemente. Prova disso é que a há bom pouco tempo a palavra ainda não vinha registrada nos dicionários. 3
PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALA PALAVRAS VRAS
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Radical
O radical é um segmento constituinte da palavra, que pode ser definido por três propriedades: • é sempre base do significado da palavra; • é indivisível em unidades de sentido menores (ao menos dentro do idioma em que é estudado); • é comum a uma série de palavras da língua. Exemplos: real real real real i(n) (r) real real real
ista ismo izar idade izável
Necessidade de expressão
Outro tipo de motivação para a criação de palavras é de ordem subjetiva, isto é, o falante vai em busca de novas formações vocabulares para satisfazer a necessidade sub jetiva de exprimir uma forma pessoal e diferenciada de ver ou de sentir o mundo. A linguagem poética é o arquivo mais bem provido de exemplos de criações vocabulares provocadas pela necessidade de expressão. É o que vem ilustrado no trecho do poeta Drummond de Andrade reproduzido a seguir. (…) Uma torneira pinga e o chuveiro chuvilha… Carlos Drummond de Andrade. “A um hotel em demolição”.
É pouco comum o radical ocorrer na forma simples ou pura: em geral, ele vem acompanhado de outros segmentos da palavra. Há, aliás, certos radicais que nunca existem como formas livres: sempre vêm agregados a outros elementos. É o caso, por exemplo, de um radical como o que aparece no verbo conduzir . O radical é apenas a forma duz, de um verbo latino que significa levar, transportar , o mesmo que aparece no lema do brasão da cidade de São Paulo: Non ducor , duco (ϭ Não sou conduzido, conduzo). Esse radical aparece em muitos verbos do português, mas sempre como forma presa e não como forma livre. Exemplos: conduz con duzir ir produz pro duzir ir reduz re duzir ir induz in duzir ir Convém observar também que o radical pode sofrer alterações de natureza fonética, para acomodar-se acomodar-se aos segmentos a que se agrega. Um exemplo ilustrativo a esse respeito é o radical apt , que ocorre em: apto apt o aptidão apt idão
Para traduzir a ideia ide ia de um hotel em estado de demolição, o poeta escolhe a figura de um chuveiro que não derrama água mas chuvilha. O sufixo -ilhar, acrescentado ao substantivo chuva, cria o verbo chuvilhar, que sugere a ideia de escassez de água num chuveiro velho, de um hotel em ruínas. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
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Precedido do prefixo in (negativo), altera-se para ept : inept in epto o
Como ocorre com os prefixos, ao se agregarem ao radical ou à palavra-base, os sufixos podem sofrer alterações de forma, ou provocar alterações na palavra-base. Na palavra social socialismo ismo,, a agregação do sufixo não acarretou alteração alguma em nenhum dos lados. Em pian pianisista,, a vogal final da palavra-base sofreu queda; o mesmo ta ocorreu com costur costureiro eiro.. Na palavra forma formação ção,, o sufixo provocou a queda do r final do verbo.
O mesmo acontece com o radical barb, que ocorre em palavras como: barbaa barb barbeiro barb eiro barbear barb ear barbeador barb eador
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Precedido do mesmo prefixo in, altera-se para berb: imberb im berbee (é aquele que não tem barba).
Como já foi dito no item 6, é muito comum o radical da palavra não ocorrer isolado, mas apenas como forma presa. Com isso, os afixos podem não se agregar ao radical para formar palavras novas. É possível ainda que os afixos se agreguem a palavras já acompanhadas de outros afixos. Vamos V amos exemplificar, para esclarecer o que estamos dizendo. • A palavra desleal foi formada pela agregação do prefixo des ao radical leal que, no caso, existe em estado puro. • A palavra novamente foi formada pela agregação do sufixo mente não ao radical nov , mas à palavra nova, formada do radical radical nov nov mais mais a desinência feminina a. • A palavra enforcamento já é mais complexa: ela foi formada pela agregação do sufixo mento ao verbo en forc forcar ar,, uma palavra que já contém um prefixo (en (en)) e um sufixo (ar ( ar).).
Às vezes, a alteração se dá apenas na escrita, sem afetar a pronúncia. Exemplos disso são os radicais iniciados por r, que dobram a letra inicial quando a eles se agregam prefixos que terminam por vogal. Exemplo: real – irreal irreal O prefixo in – negativo – perde o n e o r inicial é duplicado. 7
Afixos: prefixos e sufixos
Afixo é o nome genérico que se dá a certos segmentos que vêm agregados a um radical, ou a uma palavrabase, para formar palavras novas. O nome afixo (de ad ϭ junto ϩ fixo ϭ fixado, agregado) se deve ao fato de que esses segmentos – na sua grande maioria – só ocorrem como formas presas, nunca como formas livres. Os afixos recebem o nome específico de prefixos, quando se agregam antes do radical, e de sufixos , quando se agregam depois. 8
Prefixos
São formas presas que se agregam ao início de um radical ou de uma palavra-base para formar novas palavras. Os prefixos alteram o sentido das palavras, mas não a classe gramatical a que elas pertencem. Exemplos: in feliz ilegal (in + legal legal)) desleal des leal con viver Como se nota, muitas vezes o prefixo se agrega ao radical sem alteração na forma de nenhuma das partes. Às vezes, há alterações no radical, no prefixo ou em ambos. O prefixo in, por exemplo, transforma-se em i antes de pala vras iniciadas por l: ilegal ilegível iletrado 9
No último caso, não é rigoroso dizer que o sufixo mento foi agregado ao radical enforcar (há quem chame essa base de radical secundário). Como pode haver radical secundário, terciário etc., é melhor usar outra nomenclatura mais simples, que é a que vamos adotar daqui para a frente. Chamaremos de base qualquer forma que serve de suporte para a formação de outra palavra. É bem mais con veniente do que palavra primitiva ou palavra derivada, já que uma palavra palavra derivada pode provir de outra que, por sua vez, já é derivada de outra. Para exemplificar essa terminologia, vamos tomar uma palavra como abrasileiramento e descrever todos os passos da sua formação: • abrasileiramento proveio da base abrasileirar ϩ o sufixo -mento -mento;; • abrasileirar proveio do prefixo a ϩ a base brasileiar;; ro ϩ o sufixo ar • brasileiro proveio da base Brasil ϩ o sufixo eiro eiro.. 11
DOIS PROCESSOS DE FORMAÇÃO: DERIVAÇÃO E COMPOSIÇÃO Observe o mecanismo pelo qual se formou a palavra
Sufixos
tristeza :
Os sufixos são formas que se agregam ao final de um radical ou de uma palavra inteira para formar palavras novas. É muito comum o sufixo ser usado para promover a mudança da palavra de uma classe para outra. Exemplos: formar ϩ ção formação forma ção piano ϩ ista pianista pian ista social ϩ ismo socialismo social ismo costura ϩ eiro costureiro costur eiro SISTEMA ANGLO DE ENSINO
Palavra-base
TRISTE
+ EZA
= TRIST TRISTEZA EZA
base
sufixo
palavra nova
Houve a formação de uma palavra nova pela concorrência de apenas um elemento de significação própria (uma base base)) e um elemento modificador (sufixo ( sufixo).). Tal mecanismo se classifica como derivação .
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Derivação Derivação é o processo pelo qual se criam novas pala-
vras pela anexação de elementos modificadores (prefixos e sufixos) a apenas uma base base.. 12
Composição Vejamos V ejamos agora como se se formou a palavra pontapé: PONTA
+ PÉ
= PONTAPÉ
base
base
palavra nova
Na formação dessa palavra houve a concorrência de dois elementos providos de significação própria (base (base).). Tal processo se caracteriza como composição. Composição é o mecanismo pelo qual se criam pala vras novas pela agregação de, no mínimo, duas bases bases..
*
Forma-se a palavra pela anexação de prefixo a uma base. base. Exemplo: retro ϩ agir Ͼ retro retroagir agir
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Sufixação
Parassíntese
Forma-se a palavra pela anexação simultânea de prefi xo e sufixo a uma base base.. Exemplo: en ϩ tarde ϩ ecer Ͼ en entard tardecer ecer É preciso observar que, se o prefixo e osufixo o sufixo não forem agregados simultaneamente à base base,, não fica caracterizada a parassíntese . Na verdade, se o prefixo e o sufixo não são simultâneos, forçosamente um é anterior ao outro. Nesse caso, temos, em tempos distintos, antes uma prefixação e depois uma sufixação ou vice-versa. Nem sempre é possí vel determinar qual dos dois processos ocorreu antes. amos exemplificar com a palavra in feliz felizmente mente.. V amos Nela há um prefixo e um sufixo agrupados à base base,, mas não se trata de uma formação por parassíntese, já que ambos não foram agregados simultaneamente. Prova disso é que existe tanto a palavra in feliz como como feliz felizmente mente.. Nesse caso, não é possível determinar se antes houve uma deri vação prefixal e depois uma sufixal ou vice-versa. Dizemos então que a palavra in feliz felizmente mente foi foi formada por derivação prefixal e sufixal sufixal.. Vejamos V ejamos agora a palavra em empalid palidecer ecer.. Nela, o prefixo e o sufixo foram agregados simultaneamente à base (pálido pálido),), já que não existe a palavra em empálido pálido*, *, donde teria provindo em empalid palidecer ecer por sufixação, nem palidecer ecer*, *, de onde teria provido em empalid palidecer ecer por prefixação. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
Regressiva
Pelo processo de derivação regressiva – como o nome sugere – não se formam palavras por acréscimo, como é o caso dos três primeiros tipos já vistos, mas por subtração. Por esse processo, a derivação que merece registro é aquela que se costumou chamar de deverbal , isto é, procedente do verbo. A derivação regressiva caracteriza-se por por formar substantivos abstratos por meio da subtração da desinência -r do verbo. Exemplos:
Forma-se a palavra pela anexação de sufixo a uma base. base. Exemplo: final ϩ izar Ͼ final finalizar izar 15
Como já vimos, o asterisco indica impossibilidade na língua portuguesa.
Obviamente, seria contraditório, em sentido literal, uma proposta para abrasileirar o samba brasileiro. Isso só poderia ser entendido em sentido não literal e irônico, baseado no pressuposto de que o samba brasileiro mascarou-se, perdeu a autenticidade, distanciou-se da origem etc.
TIPOS DE DERIVAÇÃO 13 Prefixação
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Nesse caso, dizemos, pois, que em empalid palidecer ecer é uma palavra formada por parassíntese. Deve-se observar que o prefixo en escreve-se em antes de base iniciada por b ou p. Uma observação importante a propósito da parassíntese é que, por esse processo, quase só se formam verbos e, quanto ao sentido, os verbos assim formados implicam sempre o pressuposto de fazer algo passar a ser o que não era antes. Exemplos: • entrist tristecer ecer significa tornar-se triste. • en velh velhecer ecer significa tornar-se velho. • apassiv ar ar significa tornar passivo.
Do verbo (com subtração do -r)
Para o substantivo abstrato
combaterr combate
combate
atacarr ataca
ataque
revoltarr revolta
revolta
assaltarr assalta
assalto
roubarr rouba
roubo
Observe-se que, ao cair o r, a vogal final pode manterse no substantivo ou sofrer alterações. Pode ser problemático decidir, neste caso, qual seja a palavra derivada e qual a primitiva . Exemplo: plantar / planta Podemos formular as duas hipóteses seguintes. a) Planta é a palavra primitiva, da qual proveio plantar por derivação sufixal (planta + ar ar).). b) Plantar é a palavra primitiva, da qual proveio planplantar ar (-r) = planta). ta por derivação regressiva (plant
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Para nos decidirmos por uma hipótese ou por outra, há o famoso artifício proposto por Mário Barreto: se, pelo processo de derivação imprópria, formam-se substantivos a partir de verbos, os substantivos assim formados devem guardar o conteúdo de ação dos verbos; portanto, não podem ser estáticos. Assim, “se o substantivo denota ação, será palavra derivada, e o verbo, palavra primitiva; mas se o substantivo denota algum objeto ou substância, verificar-se-á o contrário”. Exemplos: 17
planta distância
plantar plantar distanciar distanci ar
substantivo que denota entidade estática – palavra primitiva
verbo – palavra derivada por sufixação
combate ataque
combater atacar
substantivo que denota ação do verbo de que deriva – palavra
verbo – palavra primitiva
derivada por regressão
Derivação imprópria É o mecanismo pelo qual uma palavra muda de classe gramatical sem alterar a forma. Observe como a palavra pobre, dependendo de sua ordenação na frase, varia de sentido.
O homem
pobre
merece ajuda.
O
radical
pobre
merece ajuda.
radical
Essa mudança de classe gramatical, sem alteração de forma, caracteriza a derivação imprópria. No caso, a derivação é feita pela pela mudança mudança de contexto. contexto. Por este este processo processo ocorrem ocorrem derivaçõ derivações es como como as seguintes seguintes.. De adjetivo
a substantivo
O céu estava azul azul..
O azul do céu não indicava chuva.
De particípio
a substantivo
A testemunha tinha dito a verdade.
Segundo o dito popular, nem tudo que brilha é ouro.
De infinitivo
a substantivo
O dia estava para amanhecer amanhecer..
O canto dos pássaros alegra o amanhecer amanhecer..
De advérbio
a substantivo
Eu não vos convidei.
Ele respondeu com um solene não não..
De adjetivo
a advérbio
Comprei camisas caras caras..
As camisas custaram caro caro..
De substantivo
a adjetivo
Os relâmpagos faziam medo.
Houve uma guerra-relâmpago relâmpago..
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TIPOS DE COMPOSIÇÃO 18 Justaposição É o tipo de composição em que os elementos agregados conservam a mesma pronúncia que possuíam em separado. gira ϩ sol girassol 19
A propósito das palavras cognatas, é preciso lembrar o que já foi dito no item 6: que o radical pode sofrer alterações na sua forma. As alterações, às vezes, são de tal forma, que fica difícil até para especialistas determinar se uma palavra é cognata de outra. Como lei geral, vale o princípio de que palavras iguais ou semelhantes na forma e no sentido são da mesma família.
Aglutinação
Na dúvida, não há como não recorrer a um dicionário etimológico. Hoje, no Brasil, temos o Dicionário Houaiss, que é ótimo.
Tipo de composição em que ao menos um dos d os elementos agregados perde a pronúncia que possuía em separado. lobo ϩ homem lobisomem lobis omem
A seguir exemplos de alguns cognatos. • Moral, moralista, moralismo, moralidade, imoral, moralizar, desmoralizar, desmoralização, imoralidade. • Re ver, pre ver, ante ver. • Leal, lealdade, desleal, deslealdade. • Forma, form forma ar, form forma ação, reform forma a, reform forma ar.
Observações
O que caracteriza a composição por justaposição não é a presença do hífen, pois existem compostos por justaposição que não se separam por esse sinal: girassol, pontapé, claraboia etc. • Há compostos por justaposição que não conservam a mesma grafia das formas separadas. Isso não importa, desde que a pronúncia seja a mesma: a pala vra girassol (gira ϩ sol) deve ser considerada como justaposta. •
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PALAVRAS COGNAT COGN ATAS AS Cognatas (do latim cognatus ϭ nascido junto) são pa-
lavras que possuem o mesmo radical, isto é, que nasceram da mesma raiz.
Como nota final, não se pode deixar de fazer referência aos falsos cognatos, muito conhecidos dos que estudam línguas estrangeiras. Palavras como manga (parte do vestuário) e manga (a fruta) são exemplos de falsos falsos cognatos no português. A forma é idêntica, mas o sentido não tem semelhança nenhuma.
i(n) legal legal legal legal legal legal
Trata-se de pura coincidência: • manga (parte do vestuário) é palavra derivada do latim ( manica); • manga (fruta) é palavra proveniente do malaio (a fruta foi trazida da Malásia para o Brasil, no século XVI, com esse nome).
ista idade izar ismo
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Seleção e combinação de palavras 1
INTRODUÇÃO
•
Sabe-se que toda língua é um código e, como tal, sua principal finalidade é a construção de significado. O objetivo final de todo aprendizado de um idioma é adquirir a competência de produzir sentidos e compreender sentidos produzidos por outros. Todos os demais compartimentos do ensino da língua se subordinam a este: compreender e produzir textos. Um dos requisitos indispensáveis para atingir essa meta é conhecer os mecanismos produtores de sentido e aprender a operar com eles. 2
CAPÍTULO 3
conhecer as regras que determinam o modo de combiná-las.
Usando termos mais especializados, a montagem de uma frase requer a contribuição de dois tipos de saber: • a semântica, que diz respeito a tudo o que se refere ao significado das palavras; • a sintaxe, que trata das leis que governam as relações das palavras entre si. Para montar uma frase, opera-se sempre com dois mecanismos: • seleção de uma palavra para cada lugar da cadeia da frase; • combinação com outra palavra já previamente escolhida (obviamente a primeira palavra da sequência não se associa a nenhuma anterior a ela).
COMO SE CONTROEM FRASES
Para construir frases numa língua qualquer, não basta conhecer o seu vocabulário: é preciso saber combinar as palavras entre si, de acordo com as regras típicas de cada língua. Uma frase não é resultado da mera aglomeração de palavras, mas da combinação entre elas, comandada por determinadas regras. Para fazer a frase produzir o resultado desejado, um falante do idioma precisa de dois requisitos: • conhecer o significado das palavras;
Tomemos uma frase qualquer do idioma, como esta: Alegres toques de trombeta soaram soaram festivamente. Como se vê, as palavras desse enunciado não foram jogadas ao acaso sobre o papel, mas foram selecionadas dentre outras possíveis e combinadas entre si como mostra o esquema que vem a seguir:
1 Alegres
2 toques
3 de trombeta
4 soaram
5 festivamente.
No eixo 1:
No eixo 2:
No eixo 3:
No eixo 4:
No eixo 5:
a) selecionamos a palavra alegres em vez de: • fracos • longíquos • leves
a) selecionamos a palavra toques em vez de: • sons • clamores • vozes...
a) selecionamos a expressão de trombeta em vez de: • de clarim • de trompa • de berrante...
a) selecionamos a palavra soaram em vez de: • reboaram • ecoaram • ressoaram...
a) selecionamos a palavra festivamente em vez de: • solenemente • ruidosamente • ameaçadoramente
b) combinamos com a palavra do eixo 2.
b) a ela associamos as palavras dos eixos 1, 3 e 4.
b) combinamos com a expressão do eixo 2.
b) combinamos com a palavra do eixo 2.
b) combinamos com a palavra do eixo 4.
O falante nativo de um idioma qualquer usa esses dois mecanismos de maneira intuitiva, mesmo sem tomar consciência dos critérios utilizados tanto para selecionar quanto para combinar as palavras. É possível, no entanto, pôr em evidência esses critérios, o que será feito a seguir. 3
CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DE PALAVRAS
A escolha das palavras é determinada basicamente por quatro critérios: precisão conceitual, valor social da palavra, sonoridade resultante da escolha e compreensibilidade. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
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PORTUGUÊS
A precisão conceitual Com base nesse critério, vamos sempre em busca da palavra que traduza de maneira mais precisa o conceito que temos em mente. Muitas vezes, por pressa ou comodismo, acabamos usando uma palavra menos significativa porque outra melhor não ocorre de pronto na nossa memória. Em casos como esse, convém sempre teimar com a memória e insistir até que nos ocorra a palavra certa. Quem escreve em casa, podendo fazer consulta, pode recorrer a dicionários de sinônimos que servem exatamente para esses momentos. Suponhamos que, numa narração, se queira dizer que: Fulano de Tal é uma pessoa de olhar (e aqui nos falta a palavra). Sabemos que existe um adjetivo para caracterizar o olhar de pessoas que, como as cobras, são capazes de imobilizar aquele que está sob sua mira. Puxando pela memória, podemos nos lembrar de imobilizante, magnético. Mas, se formos ao dicionário, vamos achar a palavra mais ajustada: hipnótico . E aí a frase ficará perfeita:
Se a intenção era consolar o amigo, haveria outro modo de elaborar o texto. 5
Muita gente não leva em conta que as palavras são formadas de sons e que, mesmo escritas, elas são elaboradas mentalmente como imagens sonoras. A escolha das pala vras para compor uma frase precisa levar em conta o dado de que certas sequências sonoras, umas vezes, sugerem um segundo sentido chulo ou grosseiro, outras produzem ruídos desagradáveis de ouvir. Exemplo: Eu nunca ganho nada em sorteios. Para dissolver o segundo sentido gerado pela expressão “nunca ganho”, seria possível escolher jamais no lugar de nunca ou acerto no lugar de ganho: Jamais ganho nada em sorteios. Nunca acerto nada em sorteios. Há casos em que a sequência de palavras não sugere um segundo sentido grosseiro, mas produz sons desagradáveis de ouvir ou difíceis de falar. Exemplo: Hoje, na mesma jaula, vivem três tr istes tigres à espera de remoção.
Fulano de Tal é uma pessoa de olhar hipnótico. É essa a melhor forma de proceder para encontrar a palavra mais precisa e, com isso, ampliar o vocabulário. 4
Valor social da palavra
Como na moda, existem palavras que em certa época estão no apogeu e, em outra, quase em desaparecimento. Há umas que são tidas como charmosas e chiques; outras, como ordinárias e depreciadas. Há palavras polidas e grosseiras; palavras preconceituosas e palavras neutras. Essas impressões não devem ser desconsideradas, pois podem comprometer a boa comunicação, havendo casos em que uma má escolha pode pôr a perder todo o esforço de apro ximação entre dois interlocutores. Uma palavra mal colocada pode dar origem a constrangimentos ou a inimizades insuperáveis. Exemplo: Imagine um trecho da conversa em que um amigo tenta consolar o outro que foi prejudicado por ter feito um mau negócio, pois, por distração, não leu direito as cláusulas do contrato que regulava as condições de pagamento. — Bom. Um dia da caça, outro do caçador. Nesse caso, você deu uma de vacilão; num outro outro dia, você será o leão e o vendedor, o veado. Convenhamos, a escolha das palavras não foi nada apropriada à intenção de consolar consolar.. Pondo de lado o uso de frases feitas e de argumentos prontos e desgastados (um dia de caça, outro do caçador), a escolha das palavras vacilão e veado foi totalmente infeliz. V Vacilão acilão é uma gíria, que nem consta dos nossos dicionários. Caracteriza de maneira depreciativa o indivíduo que cai com facilidade em trapaças, que vacila. É um sinônimo aproximado de otário. A palavra veado, nem é preciso dizer, traduz de maneira grosseira e preconceituosa o homossexual masculino. Escolhemos propositalmente um exemplo com pala vras marcadas por fortes interpretações negativas para deixar claro que uma palavra mal colocada pode pôr tudo a perder. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
Sonoridade resultante da escolha
Nesse caso, a troca de tristes por melancólicos resol ve o ruído criado pela sequência sequência anterior. anterior. Exemplo: Hoje, na mesma jaula, vivem três melancólicos tigres à espera de remoção.
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Colocação de pronomes átonos Os pronomes átonos (me, te, se, o, a, lhe, nos, vos) somente se colocam junto a verbos, em três posições: • antes do verbo ( = próclise ). Exemplo: Não me deixe só. • depois do verbo ( = ênclise). Exemplo: Fala-me de tuas lembranças. • no meio do verbo ( = mesóclise ). Exemplo: Mostrar-lhe-ei todos os modelos da exposição. A colocação dos pronomes átonos junto dos verbos é pura questão de sonoridade: a melhor posição é a que soa mais agradável. Com o verbo no futuro (cantarei, v enderei, cumprirei) e no particípio, a ênclise soa mal. Exemplo: O médico examinará-te soa pior do que o médico te examinará. O médico tinha examinado-te soa pior do que o médico tinha te examinado. As chamadas regras de colocação pronominal não são mais do que a explicitação dos casos em que uma das três posições do pronome átono soa mais agradável do que as outras duas. Nesse particular há algumas diferenças entre a língua escrita formal e a língua falada informal. PORTUGUÊS
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Compreensibilidade
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O produtor da frase, ao selecionar as palavras que vão compô-la, deve levar em conta a competência interpretativa do seu interlocutor. Sem esse cuidado, um enunciado pode deixar de cumprir um dos mais importantes papéis da linguagem, que é a comunicação. Exemplo: Em virtude do blecaute, vimo-nos coactados a procrastinar a entrega dos trabalhos.
Polissemia
Chama-se de polissemia a possibilidade de uma mesma palavra adquirir mais de um sentido no idioma. Existem certas palavras da nossa lingua que são exemplares para demonstrar esse fenômeno, dado o grande número de significados que podem adquirir adquirir.. É o caso de palavras populares, muito usadas em linguagem informal, tais como negócio , troço, treco, coisa . Exemplos: • As coisas coisas de cozinhas ela guarda no armário fechado, para proteger das moscas.
A escolha de certas palavras desse trecho torna-o torna-o completamente inadequado para ser afixado num quadro de avisos de uma escola brasileira. Mais compreensível seria um aviso nestes termos: Por causa do apagão, fomos obrigados a adiar a entrega dos trabalhos.
Nesse caso, coisas equivale a utensílios . • Quem tem medo de altura, sente uma coisa esquisita
quando olha para baixo. Coisa aí significa algo como sensação, impressão .
ANOTAÇÕES ANOT AÇÕES SOBRE PRECISÃO CONCEITUAL 7
• A construção de ferrovias foi a coisa mais importante
Quando se trata de precisão conceitual, um aspecto de grande importância a se considerar é que o significado da palavra depende do contexto em que ela ocorre. Deve-se entender por contexto a unidade maior na qual se encaixa a unidade menor: a palavra, por exemplo, pode servir de contexto para um sufixo; a oração, de contexto para a palavra. Ao escolher a palavra para traduzir certo significado, é preciso considerar se o significado que se deseja é compatível com o contexto em que ela vai ser encaixada. O verbo bater, por exemplo, pode ter inúmeros signi ficados, mas não em qualquer contexto. Exemplos: O carteiro bateu na porta. (bater = dar golpes) O jogador bateu o pênalti na mão do goleiro. (= chutar) O nadador bateu o próprio recorde. (= superar) 8
do governo passado. Coisa, nesse contexto, equivale a realização, acontecimento.
Significado e contexto
Sentido literal
sentido não literal
é o mesmo que sentido próprio, ao pé da letra. Diz-se que a palavra está usada nesse sentido quando ela ocorre com o significado que tem habitualmente. Por isso mesmo, a interpretação do sentido literal depende pouco do contexto em que ela ocorre, já que esse significado corresponde ao da maioria dos contextos.
• Sentido literal
Exemplo: A pedra há muito tempo vem sendo sendo usada como material para pavimentação de ruas. é o que se desvia do habitual, isto é, o que se distancia do sentido próprio. A interpretação do sentido não literal da palavra depende muito do contexto em que ela ocorre, já que tal sentido não corresponde ao da maioria dos textos do idioma.
• Sentido não literal
Exemplo: As pedras atiradas pela boca ferem mais do que as pedras atiradas pela mão. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
• Vocês falam de coisas que não entendem .
Coisa nesse caso é sinônimo de assunto , tema.
Como se pode notar, o contexto impede que a polissemia traga problemas de compreensão e interpretação. 10
Denotação e conotação
Denotação é o significado a que uma palavra nos remete habitualmente, sem interferência de impressões ou associações paralelas. Em outras palavras, significado denotativo é aquele que indica ou aponta aquilo a que a palavra faz referência. A denotação é definida, portanto, pelos traços de sentido constantes da palavra, estáveis e não variáveis de situação para situação. Conotação são os significados adicionais que se associam ao significado denotativo. Isso quer dizer que ao significado de base estável acrescentam-se outros traços ocasionais, tais como impressões provocadas por associação a certas circunstâncias especiais. A comparação entre palavras sinônimas é o melhor procedimento para se perceber a diferença entre denotação e conotação. Sob o ponto de vista denotativo, as palavras sinônimas são praticamente iguais, já que nos remetem basicamente a um mesmo núcleo de significados. Mas, sob o ponto de vista conotativo, as diferenças podem ser radicais. Os dicionários registram, por exemplo, as palavras otário e inexperiente como sinônimas. Sob o ponto de vista denotativo, de fato, são: ambas remetem à característica de alguém ingênuo, sem malícia, inocente. Mas sob o ponto de vista conotativo há diferenças marcantes: otário vem associado a traços de significado muito mais depreciati vos que inexperiente . A otário se associam traços como bobalhão, sujeito sem capacidade de reação, que se deixa enganar por qualquer um. lnexperiente nem sempre tem essas conotações: pode-se ser inexperiente, mas temporariamente. O otário é definitivo, sem recuperação e, por isso mesmo, tem uma conotação muito mais ofensiva.
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PORTUGUÊS
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Sinônimos e antônimos
II) Traficante depõe sobre o tráfico no Senado. Sinônimos são palavras que, com formas distintas, têm o mesmo significado ou quase o mesmo significado. Na No caso I, o Senado é o local do depoimento; no caso II, verdade, levando-se em conta sobretudo a diferença de o Senado é o próprio local onde ocorre o tráfico. conotação, praticamente não existem sinônimos perfeitos. É preciso saber que regra de combinação permite essa A rigor, rigor, consideram-se como sinônimas sinônimas palavras que pos- dupla possibilidade. suem vários traços de significado em comum. Para dar resposta a essa questão, vêm expostas a seguir Exemplos: as principais regras que indicam as relações entre as palahonrado / distinto / decente / conceituado / digno / vras do texto. honesto / honroso / íntegro. Antônimas são palavras que possuem significados opostos. Exemplos: engordar → emagrecer sensatez → insesatez estreito → largo longe → perto 12
14
Nem todas as palavras são compatíveis entre si no plano do significado: o substantivo quarto, por exemplo, é compatível com os adjetivos limpo, iluminado, mas não é com o adjetivo pensativo. Podemos, pois, sem risco de ambiguidade, construir um enunciado como este:
Parônimos
Parônimas são palavras que possuem forma muito semelhante, mas sentido diferente. Exemplos: • ratificar
ն
(confirmar) • enumerável
13
O menino saiu do quarto pensativo.
retificar
Em nome da regra da compatibilidade de sentido, pensativo só pode estar se referindo a menino e não a quarto.
(corrigir) ն
(que pode ser enumerado, contado por meio de números)
inumerável
(que não pode ser contado)
O mesmo não se poderia dizer de um enunciado como este:
REGRAS DE COMBINAÇÃO DAS PALA PALAVRAS VRAS
Já vimos que o sentido de um enunciado depende da escolha das palavras que o constituem e do modo de combiná-las. Por isso, quem deseja aprender a compreender e produzir textos com proficiência, deve conhecer as regras que indicam a correlação entre as palavras para não apreender um sentido que o texto não diz e também para não construir frases que não traduzam com propriedade a intenção do redator. Exemplo: Traficante depõe sobre o tráfico no Senado.
O menino saiu do quarto limpo. Limpo, nesse caso, pode estar associado tanto a quarto quanto a menino: o enunciado é ambíguo. 15
Concordância
Pelo mecanismo de concordância, certas palavras de vem acomodar suas desinências à palavra a que vêm associadas. O enunciado transcrito no item anterior, por exemplo, não provocaria ambiguidade alguma se fosse assim alterado:
Pelo conhecimento que se tem do mundo, é mais pro vável que o redator queira dizer que certo traficante com-
A menina saiu do quarto quarto limpa.
pareceu a uma sessão no Senado para depor sobre proble mas de tráfico de drogas no no país.
Pela regra da concordância, a palavra limpa só pode estar associada à palavra menina. Do mesmo modo, a frase não seria ambígua com esta outra alteração:
Mas, do modo como está redigida, a frase permite também uma outra interpetração: que o traficante compareceu a certo lugar para fazer depoimento sobre tráfico ocorrido dentro do Senado. Nesse caso, o depoimento passa a ser
politicamente muito mais comprometedor, sugerindo que, dentro do próprio Senado, ocorre tráfico, talvez de influência: senadores que compram ou vendem votos, por exemplo. A ambiguidade dessa frase não foi provocada por uma uma questão de má escolha, mas pela dupla possibilidade de combinação que uma expressão admite, como indicam as flechas do esquema a seguir. seguir.
A menina saiu do quarto quarto limpo. 16
Colocação
Há situações em que nem a compatibilidade de sentido nem a concordância são suficientes para resolver a ambiguidade. Nesses casos, a colocação das palavras pode ser o fator de desempate. Observe a frase a seguir: O vigilante pastor, com calma e sossego, seu rebanho seguia.
I) Traficante depõe sobre o tráfico no Senado. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
Compatibilidade Compatibilid ade de sentido
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Esse enunciado é ambíguo, pois do modo como está redigido não se sabe se o rebanho estava seguindo o pastor (vindo atrás dele) ou se o pastor é que estava seguindo seus carneiros. A ambiguidade ocorre porque: porque: • pela compatibilidade de sentido – seguia pode ser uma ação atribuída tanto a pastor quanto a rebanho; • pela regra de concordância – seguia está no singular, portanto pode se referir a pastor ou a rebanho. A ambiguidade seria desfeita se houvesse mudança de ordem das palavras: O vigilante pastor, com calma e sossego, seguia seu rebanho. Seu rebanho, com calma e sossego, seguia o vigilante pastor. 17 Regência
As preposições, mesmo quando não têm sentido próprio, são um importante marcador das correlações entre as palavras do enunciado. O enunciado transcrito no item anterior poderia ter a ambiguidade resolvida por uma marca de regência, entendendo-se aqui a regência em sentido amplo: a preposição, mesmo que não seja exigida obrigatoriamente pelo verbo, sempre marca a subordinação de um termo consequente a um antecedente na cadeia. Assim, seria possível possível dizer: O vigilante pastor, com calma e sossego, a seu rebanho seguia. A o vigilante pastor, com calma e sossego, seu rebanho seguia.
SISTEMA ANGLO DE ENSINO
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Marcas prosódicas
Prosódia, entre outros sentidos, pode ser entendida como conjunto de características sonoras que acompanham a produção de um enunciado, tais como as pausas, a maior ou menor duração de uma sílaba, a elevação ou o rebaixamento da voz etc. Sobretudo as pausas (em geral marcadas por sinais de pontuação, na escrita) são um importante marcador das correlações entre as palavras do enunciado. A esse respeito, confrontem-se os dois enunciados que seguem: I) Não era da sua conta aquela mesma desculpa velha. II) Não era da sua conta aquela mesma desculpa, velha. Em I a ausência de vírgula indica que velha é um ad jetivo e está associado ao substantivo desculpa ; em II a vírgula indica uma pausa na fala, sinal de que velha não é um adjetivo associado à palavra desculpa , mas sim um substantivo usado para designar o interlocutor. Para dar mais uma ideia da importância das marcas prosódicas como indicadores das relações sintáticas entre as palavras, podemos ainda ampliar o mesmo enunciado com as alterações seguintes: I) Não era da sua conta aquela mesma desculpa minha velha. II) Não era da sua conta aquela mesma desculpa minha, velha. III) Não era da sua conta aquela mesma desculpa, minha velha. Em síntese, podemos concluir que, não sem motivo, na grande maioria das vezes o interlocutor apreende as pala vras produzidas pelo falante nas mesmas relações que este quis estabelecer entre elas: é que ambos conhecem – ainda que sem ter consciência – as mesmas regras que organizam os arranjos entre as palavras do enunciado.
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PORTUGUÊS
Estrutura sintática do período simples 1
INTRODUÇÃO
Mas é necessário dizer que só se enquadra na definição de predicado uma afirmação ou um comentário que se faz por meio de um verbo ou por um segmento da frase que contenha um verbo. Desse modo, fica estabelecido que, sem verbo, não há predicado. Qualquer substantivo pode ser tomado como sujeito, ao qual podemos agregar predicados que lhe sejam compatíveis. Exemplos: educa. custa caro. Livro faz o progresso de um povo. é uma invenção relativamente moderna. leva o leitor para outros mundos.
Tendo em vista que o sentido do enunciado é resultado tanto da escolha quanto da correlação das palavras, para decifrá-lo é necessário saber apreender essas correlações. É esse, basicamente, o propósito daquilo que a nossa tradição escolar decidiu designar por análise sintática. Trata-se, na verdade, de uma volta reflexiva sobre os enunciados para: • depreender as correlações entre seus termos; • interpretar os significados decorrentes dessas correlações. Para facilitar esse trabalho, convém saber que as correlações possíveis entre os diferentes termos da frase são limitadas e previsíveis. Prova disso é a possibilidade de descrever, em poucas páginas, todas as correlações possíveis dentro de uma oração em português. É o que os estudiosos costumam chamar de estrutura sintática do período simples, que vamos estudar a partir daqui. 2
O sujeito é o tema ao qual associamos predicados de vários tipos. tipos. Todos Todos eles, porém, ou são constituídos constituídos por um verbo ou por uma expressão maior, que inclui necessariamente um verbo.
Sujeito e predicado: os dois constituintes básicos da oração
3
•
o sujeito e o predicado
Tomemos a oração abaixo. As chuvas provocaram inundações. inundações. Podemos dividi-la em duas partes fundamentais:
As chuvas
provocaram inundações.
sujeito
predicado
MARCAS TÍPICAS DO SUJEITO
O sujeito possui marcas típicas, o que facilita a sua identificação entre outras palavras do enunciado. Analit Ana litica icamen mente, te, pod podemo emoss diz dizer er que o suj sujeit eito o da ora oração ção é facilmente reconhecível por meio dessas quatro propriedades: • na grande maioria dos casos é a palavra (ou expressão) que responde à pergunta quem é que (ou que é que), feita antes do verbo da oração; • é o termo com o qual o verbo concorda em pessoa e número; • sua posição usual é antes do verbo (ou à esquerda dele, na escrita); • quando formado por substantivo, é permutável pelos pronomes do caso reto ( ele, ela, eles, elas).
O primeiro par que conseguimos separar dentro de uma oração é: •
CAPÍTULO 4
Exemplo: Ganharam cada vez mais prestígio entre os consumidores produtos agrícolas sem adubo. ganhou cada vez mais prestígio? – produtos agrícolas sem adubo • Produtos agrícolas sem adubo ganharam cada • Que é que
• Sujeito: é o termo ao qual o predicado se refere para
fazer alguma afirmação. Ou, numa definição mais sucinta, sujeito é o elemento ao qual o predicado atribui algo. • Predicado: é o termo que faz alguma afirmação afirma ção sobre o sujeito. É o termo que projeta alguma atribuição sobre o sujeito. Apesar de redundante, essa definição tem a vantagem de pôr em evidência o dado de que, na frase, o sujeito é o tema ou o assunto ao qual o predicado agrega afirmações ou comentários comentários.. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
vez mais prestígio entre os consumidores. consumidores. a (3 pessoa do plural) está concordando com produtos (3a pessoa do plural). • Eles ganharam cada vez mais prestígio entre os consumidores. • Ganharam
Então, nessa oração: • Sujeito ϭ produtos agrícolas sem adubo • Predicado ϭ ganharam cada vez mais prestígio entre os consumidores
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PORTUGUÊS
4
TIPOS DE SUJEITO
• Sujeito composto:
Nossa gramática classifica o sujeito em: • determinado; • indeterminado; • inexistente.
é o elemento central do sujeito, quando o isolamos de todos os seus determinantes. Morfologicamente, o núcleo do sujeito é sempre constituído de substantivos ou pronomes substanti vos, não precedidos de preposição. preposição.
• Núcleo do sujeito:
Vejamos V ejamos cada um desses tipos. Observe as seguintes orações. I)
As alunas
chegaram tarde.
sujeito
predicado
II)
?
Chegou-se tarde.
sujeito indeterminado
predicado
л
Choveu ontem.
sujeito inexistente
predicado
III)
Considera-se como determinado o sujeito que venha representado por qualquer palavra da oração (caso I) ou que possa ser identificado pelo contexto e/ou pela forma do verbo. O sujeito é indeterminado quando não vem representado por nenhuma palavra e o contexto não permite identificar a quem o predicado se refere. Sabe-se que existe um sujeito, mas não há pistas no texto para identificar quem é, nem quantos são (caso II). O sujeito é inexistente quando a oração é constituída de um predicado puro, isto é, um predicado que não é endereçado a sujeito algum (caso III). Quando o sujeito é inexistente, diz-se que o verbo é impessoal . 5
Sujeito simples e composto
Além dessa classificação em três tipos, t ipos, que acabamos de ver, costuma-se dividir o sujeito em: • simples
e • composto .
Vejamos V ejamos cada um deles:
I)
II)
As neves frias
descem dos montes.
sujeito simples
predicado
A lua e as estrelas
brilham no céu.
sujeito composto
predicado
Na oração I, o sujeito tem um só núcleo ( neves); na oração II, tem mais de um núcleo ( lua, estrelas). Então, concluímos o seguinte. • Sujeito simples: é aquele que tem um só núcleo. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
é aquele que tem mais de um
núcleo.
Observação
Numa oração como “Chegaste tarde”, por exemplo, o sujeito é determinado, mas não aparece explicitamente na oração. Tal sujeito costuma ser classificado como sujeito oculto, elíptico ou como sujeito determinado implícito na desinência verbal desinência verbal (ou seja, que pode ser identificado pela conjugação do verbo). 6
SUJEITO COM VERBO ACOMPANHADO DO PRONOME SE
Quando o verbo vem acompanhado do pronome se, há contextos em que o reconhecimento do sujeito fica dificultado por causa da diferença que existe, no português atual, entre a variante culta escrita e a variante popular. Na variante popular, trata-se como idêntica a estrutura dos dois enunciados a seguir. I) Duvidou-se do professor professor.. II) Elogiou-se o professor. professor. Segundo a intuição da grande maioria dos falantes do português moderno, o sujeito dos dois enunciados é indeterminado. Prova disso é que, na grande maioria dos casos, não se faz mais a concordância do verbo com o sujeito em ambos os casos. Mesmo que se coloque professores no plural, o verbo dos dois enunciados ficaria no singular (na variante popular do português português moderno, moderno, bem entendido). entendido). Na variante culta escrita, porém, sobretudo na escrita mais formal, trata-se de maneira diferente cada um desses enunciados. Se colocarmos a palavra professores (no plural), no português culto escrito, o comportamento dos dois enunciados será o seguinte. I) Duvidou-se dos dos professores. II) Elogiaram-se os professores . Essa diferença de comportamento das duas frases tem como pressuposto o dado de que, na variante culta escrita, ainda se tem noção de que, em II, professores está funcionando como sujeito da oração, caso contrário não se faria a concordância do verbo com essa palavra. Ainda se preserva a noção noção de que a oração “Elogiou-se o professor” é uma estrutura equivalente a “O professor foi elogiado”. Como essa percepção não é mais intuitiva para a grande maioria dos falantes, vamos então comentar enunciados como esses e observá-los com outro olhar. É preciso saber distinguir duas funções típicas do pronome se: • partícula apassivadora; • índice de indeterminação do sujeito. Em outros termos, o pronome se pode agregar-se ao verbo: • ou para apassivá-lo, caso em que ele funciona como partícula apassivadora;
33
PORTUGUÊS
•
ou para impedir que se determine o sujeito do verbo, caso em que funciona como índice de indeterminação do sujeito .
8
Observemos o enunciado: Duvidou-se do professor.
Como distinguir um desses dois papéis do outro? Seguramente não vamos conseguir distingui-los por intuição, já que, como vimos, na variante popular, a tendência é igualar duas funções que, na variante culta escrita, não se igualam. Procede-se então por meio de uma análise monitorada por certos princípios: • quando o pronome se funciona como partícula apassivadora, sempre haverá na frase um sujeito com o qual o verbo deve concordar; • quando o pronome se funciona como índice de indeterminação do sujeito, o sujeito – obviamente – é indeterminado e o verbo ficará sempre no singular. singular. Vejamos V ejamos isso mais mais detidamente. 7
Pronome se , índice de indetermina indeterminação ção do sujeito
Nele: • há um verbo na 3a pessoa do singular (duvidou ); • há o pronome se junto ao verbo (duvidou-se). Mas não há um substantivo sem preposição, nem é possível proceder às transformações que fizemos anteriormente: * Do professor foi duvidado. *
O asterisco indica um enunciado impossível na língua portuguesa.
Pronome se apassivador Só o fato de haver a preposição antes do substantivo impede que ele seja considerado como sujeito. Então, a análise do enunciado será a seguinte: Duvidou-se do professor.
Quando o pronome se é apassivador, sempre ocorrerão as seguintes condições no enunciado: • Um verbo na 3a pessoa (singular ou plural, de acordo com o sujeito). • O pronome se (antes ou depois do verbo). • Um substantivo não precedido de preposição (colocado após o verbo).
complemento do verbo índice de indeterminação do sujeito verbo na voz ativa ativa
Havendo essas três condições, testa-se a seguinte possibilidade: • Desloca-se o substantivo sem preposição para a esquerda do verbo. • Permuta-se o pronome se pelo verbo ser (conjugado no mesmo tempo e modo que o verbo da frase matriz). Se todas essas condições forem satisfeitas, então: • o pronome se é apassivador; • o verbo está na voz passiva (que se chama sintética ou pronominal ); • o substantivo sem preposição é o sujeito e o verbo deve concordar com ele. É o que acontece com o enunciado II: Elogiou-se o professor. substantivo sem preposição
Se passarmos professor para o plural, o verbo ficará no singular mesmo assim, já que não se trata do sujeito: Duvidou-se dos professores. 9
Duas formas de se indeterminar o sujeito
Do que ficou exposto, podemos concluir que há duas formas de se indeterminar o sujeito sujeito em português: • por meio do pronome se índice de indeterminação do sujeito (no caso, associado a verbos intransitivos ou transitivos seguidos de pre posição); Exemplos: Vive-se bem na praia. Discordou-se do projeto apresentado. •
pronome se verbo na 3ª- pessoa
Deslocando o substantivo e permutando o se pelo verbo ser teremos: O professor foi elogiado.
por meio de um verbo na 3a pessoa do plural, sem referência a nenhum antecedente que possa estar elíptico antes do verbo. Exemplo: Falam muito pouco do Brasil na Europa.
Mas é preciso notar que, havendo um antecedente a quem o predicado se refira, o sujeito será determinado elíptico . Exemplo: Os conferencistas convidados para falar sobre política internacional decepcionaram a plateia brasileira. Falaram muito pouco do Brasil.
Então, o enunciado se analisa assim: Elogiou-se o professor. sujeito partícula apassivadora verbo na voz passiva passiva
Nesse caso, o contexto permite depreender que o sujeito de falaram está elíptico, ou seja, foi omitido mas existe (eles, os conferencistas).
Com professores no plural, teremos: Elogiaram-se os professores. professores. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
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PORTUGUÊS
TERMOS LIGADOS AO VERBO 10 Objeto direto
Exemplo:
Sempre associado a verbo. Sem preposição obrigatória. Indica o paciente (o ser, coisa etc.) afetado pela ação ou o resultado dela. Exemplo: • • •
Naturalmente, a testemunha estava mentindo.
13
Agente da voz passiva • V Vem em sempre associado a verbo passivo. • Sempre por meio de preposição (no português
Os pássaros fazem seus ninhos. •
Objeto direto preposicionado
Exemplo:
Liga-se ao verbo por meio de uma preposição que não é obrigatoriamente exigida pelo verbo. Exemplo:
O fogo foi apagado pela água.
O bandido sacou do revólver. 11
mo-
derno, quase sempre com a preposição por). Indica o executor da ação verbal.
TERMOS LIGADOS A NOMES 14 Adjunto adnominal
Objeto indireto
• V Vem em sempre associado a um nome. • Sem verbo intermediário. • Indica propriedade ou característica
Sempre associado a verbo. Por meio de preposição obrigatória. Indica o paciente ou o destinatário da ação. Exemplos: • • •
não momentânea, isto é, não marcada pelo t empo do verbo.
Exemplo:
Ele duvidou do vendedor.
O embaixador escreveu ao presidente. 12
As
fortes
chuvas
de verão
adjunto adnominal
adjunto adnominal
nome
adjunto adnominal
estão caindo.
Adjunto adverbial • V Vem em associado a um verbo. • Com ou sem preposição. • Indica circunstâncias que envolvem a ação verbal.
15
Predicativo • V Vem em sempre associado a nome. • Sempre por meio de verbo. • Indica propriedade ou característica
Exemplo:
momentânea,
isto é, marcada pelo tempo do verbo. O cortejo seguia pelas ruas.
Exemplos:
Observação 1
Classificam-se também como adjuntos adverbiais os intensificadores do adjetivo e do advérbio. Exemplos:
As ruas
dormiam
quietas .
sujeito
predicativo do sujeito
A conversa era muito longa. Os ju juíz ízes es co cons nsid ider erava avam m
o res resul ultad tado o
injusto.
objeto direto
predicativo do objeto
As aulas começam muito cedo. 16
Observação 2
Não se pode esquecer também de adjuntos adverbiais que se referem à oração inteira. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
Aposto • •
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Sempre associado a nome. Sem preposição. PORTUGUÊS
•
Indica sempre um equivalente do nome a que se refere.
Exemplo:
A andorinha,
ave migratória,
foge do inverno.
aposto 17
Complemento nominal • • •
Sempre associado a nome. Por meio de preposição obrigatória. Indica o alvo ou o paciente afetado pela ação do nome a que se liga.
Exemplo:
Defens Def ensivo ivoss agrí agrícol colas as est estão ão cau causan sando do
contam con tamina inação ção
das águas. complemento nominal
18
Vocativo • • •
Termo isolado na oração. Sempre marcado por vírgulas, na escrita. Nome pelo qual se faz um chamado ao interlocutor.
•
Não ocorre predicativo.
Exemplo:
Exemplo: Mamãe,
O ladrão
ligu li guee-me me ma mais is ta tard rde, e, po porr fav favor or..
predicado verbal predicado verbal fugiu ϭ verbo intransitivo
vocativo
21
TIPOS DE PREDICADO 19 Predicado nominal cujo núcleo é um nome (no caso, o predicativo do sujeito). Nele ocorre verbo de ligação e predicativo do sujeito.
Tem dois núcleos: um verbo e um nome nome.. Nele ocorre verbo transitivo ou intransitivo. Ocorre obrigatoriamente predicativo do sujeito ou do objeto.
Exemplos:
Exemplo: O ladrão
Predicado verbo-nominal • • •
• Aquele •
fugiu pelos fundos.
Os alunos
saíram da prova cansados cansados.. predicado verbo predicado verbo--nominal saíram ϭ verbo intransitivo cansados ϭ predicativo do sujeito
estava quieto. predicado nominal estava ϭ verbo de ligação quieto ϭ predicativo do sujeito
20
Os alunos
Predicado verbal
predicado verbo predicado verbo--nominal deixaram ϭ verbo transitivo fatigado ϭ predicativo do objeto
• Aquele cujo núcleo é um verbo. • Nele ocorre verbo transitivo ou intransitivo.
SISTEMA ANGLO DE ENSINO
deixaram o mestre fatigado mestre fatigado..
36
PORTUGUÊS
Sintaxe (uso) dos pronomes pessoais 1
CAPÍTULO 5
INTRODUÇÃO
Parece não haver dúvida de que o enunciado I é típico de um dialeto popular e o II, do português escrito e formal.
Sob o ponto de vista das variantes linguísticas do português do Brasil, os pronomes pessoais constituem uma classe de palavras de especial interesse, já que, nesse domínio, há diferenças de uso que servem para distinguir com nitidez uma variante de outra. Poderíamos, a título de demonstração, imaginar dois enunciados como estes, que vêm transcritos a seguir:
2
I) Deixa eu ler esse texto para mim ver se concordo com as alterações que você fez. II) Deixe-me ler esse texto para eu ver se concordo com as alterações que você fez.
PRONOMES PESSOAIS Eu cheguei
Tu chegaste
Ele chegou
primeira pe pessoa
segunda pe pessoa
terceira pe pessoa
Nesses enunciados, os pronomes eu, tu, ele designam as três pessoas do discurso. Então pronome pessoal é aquele que designa as pessoas do discurso. Podemos distinguir os pronomes pessoais conforme o quadro seguinte:
Oblíquos Átonos (sempre sem preposição )
Tônicos (sempre com preposição )
1a pessoa
eu
me
a mim
comigo
2a pessoa
tu
te
a ti
contigo
3a pessoa
ele, ela
se, o, a, lhe
a si, a ele (a ela)
consigo
1a pessoa
nós
nos
a nós
conosco
2a pessoa
vós
vos
a vós
convosco
3a pessoa
eles, elas
se, os, as, lhes
a si, a eles (a elas)
consigo
Observações referentes ao emprego dos pronomes pessoais 3
Eu os tenho como amigos.
Não convidei
a eles. preposição (a) ϩ pronome do caso reto (eles (eles)) ϭ forma oblíqua tônica ( a eles)
5
Diferente da variante popular, na variante culta escrita não se usa pronome reto como complemento. Exemplos: • V Variante ariante popular: Estas opiniões, tenho elas com segurança. • V Variante ariante culta escrita: Estas opiniões, tenho-as com segurança.
Entre mim e ti não há problemas.
Como, na variante culta escrita, os pronomes eu e tu só funcionam como sujeito, eles não vêm precedidos de preposição, como ocorre às vezes na variante popular. popular. Exemplos da variante popular:
Entre Paulo e eu nada houve.
Passe a eles o recado.
As formas retas, com exceção de eu e tu, quando precedidas de preposição, funcionam como formas oblíquas SISTEMA ANGLO DE ENSINO
(precedidos da preposição com)
tônicas. Nesse caso, é comum seu uso como complemento, mesmo na variante culta escrita. Exemplo:
Os pronomes do caso reto funcionam sintaticamente como sujeito. Exemplo: Eu não entendo suas razões.
4
Combinados
Retos
Entre eu e tu nada houve.
37
PORTUGUÊS
Na variante culta escrita deve-se corrigir:
Para analisar a oração 2, que é reduzida, vamos desdobrá-la:
Entre Paulo e mim nada houve. Entre mim e ti nada houve. 6
É hora de eu protestar.
O pai mandou
[que eles saíssem.]
oração principal
oração subordinada substantiva objetiva direta
No desdobramento da oração reduzida ficou claro que: • o objeto direto do verbo mandou é toda a oração [que eles saíssem], e não o pronome eles; • o pronome eles funciona como sujeito da oração subordinada.
Observe os enunciados que seguem:
Empreste o livro para [eu ler.]
Ora, a análise da oração reduzida é igual à da oração desdobrada correspondente:
sujeito
Era hora de [tu falares.] sujeito
Esses enunciados são totalmente corretos, apesar de parecerem contrariar o item 5. Analisando bem, não há contradição alguma, pois os pronomes eu e tu são sujeitos dos verbos ler e falar, e a preposição só vem antes deles na ordem espacial, e não na ordem sintática. De fato, a preposição vem antes da oração subordinada inteira, como estão indicando os colchetes. Para simplificar, podemos adotar a seguinte formulação: • Preposição + eu e tu não ocorrem na língua culta escrita, sendo, portanto, tidos como usos incorretos. • Preposição + eu e tu + infinitivo é comum na variante culta escrita, desde que tais pronomes sejam sujeitos do infinitivo, obviamente.
oração principal
oração subordinada substantiva objetiva direta reduzida de infinitivo
Podemos, de maneira mais simplificada, formular a seguinte norma: Quando os verbos • deixar, • fazer, • mandar, • ver
•
Mandaram cinco livros para [ mim].
•
Mandaram cinco livros para [ eu distribuir].
têm como objeto uma oração com o verbo no infiniti vo, o sujeito desse infinitivo, na variante culta escrita, ocorre na forma oblíqua; na variante popular, ocorre na forma reta. Eis alguns exemplos dessa diversidade de uso: • V Variante ariante popular: Mandaram eu entrar. • V Variante ariante culta escrita: Mandaram-me entrar. • V Variante ariante popular: Deixa ele reclamar! • V Variante ariante culta escrita: Deixe-o reclamar!
o admiram.
Os pronomes oblíquos funcionam como complemento. Exemplo: 9
Paulo encontrou-o.
,
entrar.
Excepcionalmente, o pronome oblíquo funciona como sujeito, como se pode observar no enunciado a seguir: Oração 1
Oração 2
O pai mandou-
os sair.
,
,
Cumprimentei-
o.
transitivo direto
objeto direto
O pronome lhe (lhes) funciona como objeto indireto. Exemplo: Não lhe obedecem.
oração reduzida SISTEMA ANGLO DE ENSINO
Todos o respeitam e lhe obedecem.
Os pronomes oblíquos o a os as, como complementos verbais, só funcionam como objeto direto. Por isso, só podem ligar-se a verbos transitivos diretos. Exemplo:
objeto direto
Deixe-oo 8 Deixe-
os sair
Então: • o objeto direto do verbo principal é toda a oração reduzida; • o pronome os funciona como sujeito do verbo sair, e não como objeto direto do verbo mandou.
Exemplos:
7 Todos
O pai mandou-
38
PORTUGUÊS
10
O egoísta só pensa em si si..
me
1
o
5
mo
te
1
o
5
to
lhe
1
o
5
lho lh o
nos
1
o
5
no-lo no -lo
se.
vos
1
o
5
vo-lo vo -lo
pronome reflexivo 3a pessoa
lhes
1
o
5
lho lh o
O pronome se (si, consigo) funciona apenas como pronome reflexivo (reflexivo é o pronome da mesma pessoa do sujeito). Exemplo: lavou-
Luciana sujeito 3a pessoa
Veja V eja como isso ocorre: ocorre:
Por isso, prescreve-se como incorreto (no português do Brasil) um uso como este:
Enviei queria falar
Eu
consigo.
sujeito 1a pessoa
pronome 3a pessoa
15
,
É comum, na língua culta escrita, repetir-se um pronome átono por um pronome oblíquo tônico, a título de reforço. Exemplo: não
tônico
12
me
importam as razões.
Ele e ela se amam loucamente.
O pronome oblíquo recíproco é representado pelos pronomes nos, vos, se, com a ideia de um ao outro, quando o sujeito é composto ou plural. Exemplos: Os amigos Paulo e Pedro sujeito
14
feriram feriram-
se
.
se
.
pronome oblíquo recíproco ϭ um ao outro
O livro, ainda não mo devolveram.
Os pronomes me, te, se, lhe, nos, vos podem combinar-se com os pronomes o, a, os, as, conforme exposto no quadro a seguir: SISTEMA ANGLO DE ENSINO
16
,
Nos verbos terminados em m ou ditongo nasal, aparece um n antes do pronome. Exemplos: chamaram ϩ o ϭ chamaramchamaram-no no põe ϩ o ϭ põepõe-no no
•
Quando o verbo está na 1a pessoa do plural e vem seguido de nos, desaparece o s. Exemplo: vamos ϩ nos ϭ vamovamo-nos nos
Falou conosco ; falou com nós todos.
com vós vós todos. Quero falar convosco . Quero falar com Ela quer encontrar-se conosco. Ela quer encontrar-se com nós mesmos.
,
•
átono
Os pronomes vós e nós, quando precedidos da preposição com, combinam-se com ela, desde que não venham seguidos de partículas de reforço, tais como todos, mesmos, outros. Com reforço, empregam-se separadamente:
13
Convocaram-no Convocaramno para ouvi-lo ouvi-lo
Quando os pronomes oblíquos o a os as se colocam encliticamente ao verbo (após este), ocorrem as seguintes transformações: • Os verbos terminados em r, s, z perdem estas letras finais e o pronome assume assume as formas lo, la, los, las. Exemplos: informar ϩ o ϭ informáinformá-lo lo queremos ϩ o ϭ queremoqueremo-lo lo faz ϩ o ϭ fáfá-lo lo
A nós não nos enganam.
A mim
o livro. livro. o lho lh o
O erro está em que o pronome consigo não está funcionando como reflexivo, (neste caso, de 1 a pessoa, o refle xivo seria comigo). 11
a você lhe
Vós podeis ficar tranquila.
É possível o uso dos pronomes nós e vós em lugar de eu e tu. Essa substituição não se dá sempre pelas mesmas razões. Há casos em que tal emprego está francamente vinculado a uma situação de solenidade. Assim é que reis, papas e presidentes o empregam. Exemplos: Assim falou a rainha à nação: Nós estamos certa de que nossos soldados honrarão nossa bandeira. Foram estas as palavras do papa: Nós esperamos ansioso uma solução pacífica para os conflitos do Oriente Médio. Nessa circunstância temos o chamado plural majestático. Outras vezes, esse plural ocorre por modéstia, com a intenção de ocultar a própria pessoa, ou de declarar a participação de outros em trabalho próprio. Exemplo: Nós já comentamos esse tema em nossa última publicação, disse o polêmico médico italiano.
39
PORTUGUÊS
17 PRONOMES
DE TRATAMENTO
Esses pronomes servem para nos referirmos com reverência às pessoas com quem tratamos. Os pronomes de tratamento têm uma particularidade: • por natureza, são pronomes de 2 a pessoa, pois se referem às pessoas com quem falamos; • por comportamento gramatical, são pronomes de 3a pessoa, pois exigem a concordância na 3 a pessoa. Por exemplo: Vossa V ossa Senhoria Senhoria pron pr onom omee de tr trat atam amen ento to
sabe 3a
pessoa
do
seu 3a
prestígio.
pessoa
É bom conhecer os principais pronomes de tratamento:
Forma por extenso
Forma abreviada
Referência
Vossa Alteza
V. A.
príncipes e princesas
Vossa Eminência
V. Em. a
cardeais
Vossa Excelência
V. Ex. a
altas autoridades
Vossa Magnificência
V. Mag. a
reitores de universidades
Vossa Majestade
V. M.
reis, imperadores
Vossa Reverendíssima
V. Rev. ma
sacerdotes
Vossa Senhoria
V. S. a
funcionários graduados
Os pronomes de tratamento não têm gênero próprio. Assumem-no da pessoa representada: Vossa V ossa Majestade Majestade é benigno . (rei) Vossa V ossa Majestade Majestade é benigna. (rainha) Vossa ssa e Sua. Vo Vossa ssa Excelência Excelência é tratamento usado para a Há uma diferença entre os pronomes de tratamento com Vo pessoa com quem se fala; Sua Excelência é tratamento usado para a pessoa de quem se fala: Vossa V ossa Excelência Excelência tem a palavra. (Diríamos a um conferencista perante uma plateia.)
Mas, falando para a plateia sobre o conferencista, diríamos: Sua Excelência tratará de assuntos educacionais. É preciso ter o cuidado de colocar sempre na 3a pessoa os pronomes e os verbos que estiverem em concordância com o pronome de tratamento. Exemplo: Vossa V ossa Senhoria Senhoria queira, por obséquio, remeter-me um exemplar do seu livro. O pronome de tratamento você, de uso familiar, tem sido mais empregado do que tu. Mas há regiões do país em você) pode explicar, do ponto de vista psicológico, construções que predomina o tu. Essa alternância de emprego (tu / populares, como: Tu chegou tarde. (Que, em linguagem culta escrita, é considerada como errada, sendo usada a forma Tu chegaste tarde.)
SISTEMA ANGLO DE ENSINO
40
PORTUGUÊS
Estrutura do período composto 1
INTRODUÇÃO
combinadas entre si de acordo com as regras da sintaxe ou de palavras ou gritos inarticulados, que só ganham sentido numa situação determinada.
Nesta unidade serão utilizados alguns conceitos que exigem definição prévia para conferir uniformidade à terminologia utilizada ao longo das explicações e, com isso, evitar esforço desnecessário de interpretação. Essa necessidade de definição preliminar se impõe sobretudo porque alguns desses conceitos não são usados com o mesmo sentido pelas diferentes teorias linguísticas. 2
4
PERÍODO
Vamos V amos chamar de período o enunciado linguístico de sentido acabado, desde que seja articulado sintaticamente. Segundo essa definição, não se consideram como períodos as frases formadas de gritos inarticulados ou de palavras só definíveis numa situação concreta. Assim: • Alô! é uma frase, mas não é um período, pois, apesar de ter um sentido acabado, não é um enunciado formado de palavras articuladas de acordo com as regras da sintaxe. • Lindo! também é uma frase, mas não é um período, pela mesma razão já exposta. Porém:
ENUNCIADO
O conceito de enunciado tem sido usado com vários significados pelas diferentes teorias linguísticas. No interior desta unidade, vamos utilizá-lo no sentido amplo de sequências de palavras (faladas ou escritas) produzidas por um falante. Assim, usaremos o termo enunciado para designar aquilo que um enunciador proferiu ou escreveu. Nesse sentido, servirá como nome genérico para designar unidades linguísticas de dimensões variadas, quando não se tem interesse em classificar com maior precisão a unidade posta sob consideração. 3
CAPÍTULO 6
• No Norte do país chove muito mais do que em qual-
quer outra parte é uma frase e também um período.
Dizer que tanto o período quanto a frase são enunciados que possuem sentido acabado equivale a afirmar que, dentro de uma sequência considerada, o enunciador já disse tudo quanto queria dizer. Como se sabe, então, se o período chegou ao fim? Em outros termos, como se sabe se o enunciador já disse todas as palavras que queria dizer naquele intervalo? A resposta é que existem marcas nítidas para indicar a conclusão de um enunciado: • na linguagem escrita, o final ou término do período é marcado por três sinais de pontuação, como demonstram as falas dos três balõezinhos na ilustração.
FRASE
Também o conceito de frase tem uma extensão muito ampla dentro dos estudos gramaticais. Nós o utilizaremos nesta unidade para indicar qualquer tipo de enunciado terminado por uma pausa indicadora de que a sequência chegou ao fim. Em outros termos, a pausa indica que já se disse dentro do enunciado tudo o que se pretendia dizer. Essa definição abrange sequências de dimensões variadas, desde as constituídas de uma só palavra até as que abarcam um parágrafo inteiro. Exemplos: • Choveu. • No norte do país chove muito mais do que em qualquer outra parte. Desde que seja um enunciado com sentido acabado, a frase pode ser constituída de palavras que só ganham sentido numa circunstância concreta em que se dá a fala e até mesmo de interjeições (expressões constituídas por formas de linguagem não articulada). Exemplos: • Lindo! (Palavra proferida por alguém diante de um espetáculo encantador). • Gol!!! (Grito do locutor esportivo para anunciar a marcação de um gol). • Alô! (expressão dita ao telefone).
O senhor não podia ter escolhido um presente melhor!
O senhor não podia ter escolhido O senhor não um presente podia ter escolhido melhor. um presente melhor ?
Esses comentários deixam evidente, pois, que frase é qualquer expressão linguística de sentido acabado, seja ela formada de palavras SISTEMA ANGLO DE ENSINO
41
PORTUGUÊS
• •
5
na linguagem oral, o término é marcado por um tipo de pausa (de silêncio) precedido de certa entonação da voz, dependendo da modalidade do enunciado; outra marca de que um enunciado chegou ao fim é que ele dá possibilidade de uma resposta ao interlocutor (de concordância, de discordância, de agrado, de desagrado etc.).
ORAÇÃO
O conceito de oração é puramente formal, isto é, leva em conta apenas as formas de que é constituída a oração, não levando em consideração se tais formas possuem ou não um sentido acabado. Define-se oração como qualquer enunciado constituído de um sujeito e um predicado ou ao menos de um predicado , já que existem orações sem sujeito. A legenda da foto ao lado é uma oração, pois se se trata de um enunciado que contém um sujeito e um predicado, como se vê pelo esquema que vem a seguir:
Futebol brasileiro
recupera o posto de primeiro do mundo.
sujeito
predicado
Veja este outro exemplo: Veja Choveu durante vários jogos da Copa de 2002. Esse exemplo também é uma oração, pois contém um predicado. É mais raro esse tipo de oração (sem sujeito), mas pode ocorrer.
s s e r P e r u t c i P
Ø
Choveu durante vários jogos da Copa de 2002.
sujeito inexistente
predicado
Futebol brasileiro recupera o posto de primeiro do mundo.
Nos exemplos dados anteriormente, ambas as orações possuem sentido acabado e, por isso, se confundem com período. Mas, como já foi dito na definição, não é necessário que o enunciado tenha sentido acabado para ser considerado como oração. Basta que tenha um sujeito e um predicado, ou ao menos um predicado. Exemplo: “A torcida francesa esperava que a França vencesse a Copa de 2002.” Nesse exemplo, há um período constituído de duas orações. Como se pode ver pelo esquema a seguir, o período tem sentido acabado, mas as duas orações não:
A torcida francesa
esperava
que a França
vencesse a Copa de 2002.
sujeito
predicado
sujeito
predicado
Oracão 1
6
Oração 2
CLASSIFICAÇÃO DO PERÍODO E ORAÇÕES COMPONENTES Período
Oração
Período simples Aquele que tem uma única oração.
Oração absoluta Aquela que existe sozinha no período.
Período composto Aquele que tem mais de uma oração.
No período composto, podem ocorrer três tipos de oração: • oração principal; • oração subordinada; • oração coordenada.
SISTEMA ANGLO DE ENSINO
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PORTUGUÊS
7
ORAÇÃO SUBORDINADA
8
ORAÇÃO SUBORDINADA SUBSTANTIVA
É aquela que se encaixa dentro da oração principal, com função própria do substantivo. Exemplo:
Toda oração subordinada possui uma marca inconfundí vel: sempre sempre se associa associa a um termo de de outra oração, oração, desemdesempenhando uma função sintática em relação a esse termo. A oração que se encaixa dentro de outra recebe o nome de subordinada ; a oração dentro da qual se encaixa uma subordinada chama-se principal . Para compreender como uma oração se encaixa dentro de outra, vamos acompanhar a seguinte progressão.
Aguardamos
sua vinda sua vinda • objeto direto • núcleo do objeto:
vinda (substantivo)
A democracia exige participação do povo. povo.
Encaixando uma oração na função de objeto direto (função própria do substantivo) teremos:
Nesse enunciado, há apenas uma oração. Trata-se Trata-se de um período simples: • o verbo é transitivo direto; • o trecho em vermelho está funcionando como objeto direto; • o núcleo desse objeto é a palavra participação (um substantivo). É possível escolher uma oração inteira para funcionar como objeto direto do verbo (exige), como se pode ver no exemplo que segue.
Aguardamos
que você venha.
Oração principal
Oração subordinada substantiva
Observação 1
Afirmar que a subo Afirmar subordina rdinada da subs substanti tantiva va dese desempen mpenha ha a mesma função do substantivo não implica dizer que ela tenha necessariamente necessariamen te o mesmo significado do substantivo.
A democracia exige que o povo participe. participe. Observação 2
Como se pode notar, notar, no lugar do substantivo (partici(participação)) encaixou-se uma oração que não tem exatamente o pação mesmo sentido, mas tem a mesma função do substantivo: no caso, a função de completar o sentido de um verbo transitivo direto. A oração que se associou ao verbo da outra para completar-lhe o sentido é a subordinada ; a oração na qual se encaixou a subordinada é a principal . 9
A oração subordinada substantiva possui duas marcas que merecem registro: • na grande maioria dos casos, vem iniciada pelas con junções integrantes que ou se; • admite a permutação pelo pronome substantivo isto, que só entra no lugar de substantivos ou termos equivalentes.
CLASSIFICAÇÃO DAS ORAÇÕES SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS SUBSTANTIVAS
A oração subordinada subordinada substantiva desempenha, dentro do período composto, composto, funções análogas análogas às que o substantivo desempenha no período simples, como se pode conferir pela tabela a seguir:
Funções próprias do substantivo
Funções das subordin inaadas substantivas
dentro do período simples
dentro do período composto
sujeito
oração subordinada substantiva subjetiva
objeto direto
oração subordinada substantiva objetiva direta
objeto indireto
oração subordinada substantiva objetiva indireta
predicativo
oração subordinada substantiva predicativa
complemento nominal
oração subordinada substantiva completiva nominal
aposto
oração subordinada substantiva apositiva
Os três primeiros tipos de subordinadas substantivas – subjetiva subjetiva,, objetiva direta, direta, e objetiva indireta – ligam-se ao verbo da oração principal.
Os outros tipos – predicativa predicativa,, completiva nominal e apositiva – ligam-se a um nome da oração principal.
ORAÇÕES SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS SUBSTANTIVAS LIGADAS AO VERBO DA ORAÇÃO PRINCIPAL 10 Oração subordinada substantiva subjetiva É aquela que funciona como sujeito do verbo da oração principal. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
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PORTUGUÊS
Exemplo:
Convém
que os confidentes guardem seus segredos. segredos.
Or aç ação pr in incipal
Oração subordinada substantiva subjetiva
Quando a oração é subjetiva subjetiva:: • não ocorre sujeito dentro dos limites da oração principal (o sujeito é a própria oração subordinada); • o verbo da oração principal está sempre na 3a pessoa do singular singular.. 11
Oração subordinada substantiva objetiva direta É aquela que funciona como objeto direto do verbo da oração principal. Exemplo:
Todos esperam
demore. que a cura do câncer não demore.
Oraç Or ação ão pri princ ncip ipal al
Oraç Or ação ão sub subor ordi dina nada da sub subst stan anti tiva va objetiva direta
Quando se trata de oração subordinada objetiva direta: direta: • ela vem sempre ligada ao verbo ver bo da oração principal sem preposição; • há sempre sujeito (explícito ou elíptico) dentro da oração principal. 12
Oração subordinada substantiva objetiva indireta É aquela que funciona como objeto indireto do verbo da oração principal. Exemplo:
Ninguém discorda
de que a aids é doença contagiosa. contagiosa.
Oraç Or ação ão pr prin inci cipa pall
Oraç Or ação ão su subo bord rdin inad adaa su subs bsta tant ntiv ivaa objetiva indireta
A oração objetiva indireta: indireta: • sempre se liga ao verbo da oração principal; • inicia-se por preposição (com, de, a, por, para…).
ORAÇÕES SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS SUBSTANTIVAS LIGADAS A UM NOME DA ORAÇÃO PRINCIPAL 13 Oração subordinada substantiva predicativa É aquela que funciona como predicativo do sujeito da oração principal. Exemplo:
A grande verdade é
Terra. que a casa natural do homem é a Terra.
Oração principal
Oração subordinada substantiva predicativa
A oração predicativa predicativa:: • sempre se liga ao sujeito da oração principal por meio de verbo de ligação (normalmente o verbo ser). 14
Oração subordinada substantiva completiva nominal É aquela que funciona como complemento nominal de um nome da oração principal. Exemplo:
Hoje ninguém mais tem dúvida
de que os recursos naturais são perecíveis. perecíveis.
Oração principal
Oração subordinada substantiva completiva nominal
SISTEMA ANGLO DE ENSINO
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PORTUGUÊS
A oração completiva nominal: nominal: • sempre se liga a um nome da oração principal por meio de preposição (a, de, com, por, para, em…). Observação
Para não confundir a completiva nominal com a objetiva indireta indireta,, leve em conta que: • a completiva nominal sempre se liga a um nome da oração principal por meio de preposição; Exemplo:
•
Há sérias suspeitas
de que as fotos de extraterrestres sejam forjadas. forjadas.
Oração principal
Oração subordinada substantiva completiva nominal
a objetiva indireta sempre se liga a um verbo da oração principal por meio de preposição.
Exemplo:
15
Suspeita-se seriamente
de que as fotos de extraterrestres sejam forjadas. forjadas.
Oração principal
Oração subordinada substantiva objetiva indireta
Oração subordinada substantiva apositiva É aquela que funciona como aposto de um nome da oração principal. Exemplo:
É de todo homem este desejo:
que sejam respeitados pelos seus pares. pares.
Oração principal
Oração subordinada substantiva apositiva
A oração apositiva apositiva:: • sempre se liga a um nome da oração principal, sem preposição e sem mediação de verbo. 16
Orações subordinadas substantivas substantivas iniciadas por pronomes ou advérbios interrogativos se). As subordinadas substantivas substantivas normalmente se iniciam por conjunção subordinativa integrante integrante (que / se Podem, entretanto, vir introduzidas por outras partículas: • pronomes interrogativos: quem, que, qual etc. • advérbios interrogativos: onde, como, quando etc.
Exemplos:
O mundo ainda não descobriu
qual é a fórmula para o fim do egoísmo. egoísmo.
Oração principal
Oração subordinada substantiva objetiva direta qual = pronome interrogativo
Todos perguntam
quando terão fim a fome e a pobreza. pobreza.
Oração principal
Oração subordinada substantiva objetiva direta quando = advérbio interrogativo
SISTEMA ANGLO DE ENSINO
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PORTUGUÊS
17
ORAÇÃO SUBORDINADA ADJETIV ADJETIVAA
A oração subordinada adjetiva assim se chama porque desempenha uma função que, no período simples, é própria do adjetivo, como se pode perceber pela observação dos dados que vêm a seguir. Na legenda da foto ao lado, o adjetivo escorregadio está qualificando o substantivo gramado. Em vez do adjetivo, poderíamos usar uma oração inteira para indicar o estado do gramado, como se pode v er no esquema abaixo: I) O jogo foi prejudicado pelo gramado escorregadio escorregadio.. O jogo foi prejudicado pelo gramado escorregadio escorregadio.. II) O jogo foi prejudicado pelo gramado que escorregava muito. muito. No enunciado I, é o adjetivo escorregadio que está qualificando o substantivo gramado; no II, é uma oração inteira que está cumprindo o mesmo papel. Por cumprir função análoga à do adjetivo, essa oração recebe o nome de subordinada adjetiva adjetiva.. Marca da oração subordinada adjetiva adjetiva:: • a oração subordinada adjetiva prototípica tem uma marca inconfundível: vem sempre introduzida por pronome relativo (que, o qual, a qual, os quais, as quais, onde [= no qual], quem).
CLASSIFICAÇÃO DAS ORAÇÕES SUBORDINADAS ADJETIVAS • Pressuposto estabelecido: quando a oração adjetiva 18 Oração subordinada adjetiva restritiva não vem isolada entre vírgulas, ela estabelece o pressuposto de que o significado nela contido não abrange todos os elementos do conjunto a que se refere. Por isso mesmo é que se chama restritiva (= que restringe, que particulariza).
19
Oração subordinada adjetiva explicativa
As maçãs que são vermelhas são mais caras. Na legenda da foto acima, a oração subordinada ad jetiva (em azul) está particularizando um subconjunto do conjunto maçãs: apenas o subconjunto daquelas que são vermelhas é mais caro. Por isso é que esse tipo de oração adjetiva se classifica como restritiva. Então: Oração subordinada adjetiva restritiva é aquela que se refere a um nome da oração principal (um substantivo ou palavra equivalente) para particularizar uma parcela dentro do todo.
Marcas da oração adjetiva restritiva •
Ela não vem separada entre duas vírgulas.
SISTEMA ANGLO DE ENSINO
As maçãs, que são vermelhas, estão maduras. Nessa outra legenda, a oração subordinada adjetiva já não é mais restritiva: as vírgulas que isolam a oração adjeti va são uma forma de dizer que o conteúdo por ela expresso abrange todos os elementos do conjunto a que se refere. A esse tipo de oração adjetiva dá-se o nome de explicativa .
46
PORTUGUÊS
CLASSIFICAÇÃO DAS ORAÇÕES SUBORDINADAS ADVERBIAIS 21 Causal
Então: Oração subordinada adjetiva explicativa é aquela que se refere a um nome da oração principal, não para particularizar uma parcela do conjunto, mas para explicitar uma propriedade que pertence a t odos os elementos.
Marcas da oração adjetiva explicativa • V Vem em
sempre entre duas vírgulas (a não ser que termine por ponto final). • Pressuposto estabelecido: a oração adjetiva explicati va estabelece o pressuposto de que o conteúdo nela expresso atinge todos os elementos do conjunto a que se refere. No caso da legenda da foto anterior, o que se quer dizer é que todas as maçãs do conjunto de referência são vermelhas. 20
Oração subordinada adverbial
A oração subordinada se classifica como adverbial quando, no período composto, desempenha uma função que no período simples é típica do advérbio advérbio.. Exemplo: Os agricultores saem para o trabalho logo cedo. cedo. Em vez de marcar o tempo por meio de advérbios (como se fez no período anterior), seria possível marcá-lo por meio de uma oração inteira, como vem ilustrado no esquema transcrito a seguir:
A encosta encosta desli desliza za porque destruíram a cobertura vegetal. vegetal. A oração em verde, nessa legenda, está associada ao verbo da oração principal principal para indicar a causa que provocou a ação indicada por esse verbo. Causa é tudo o que provoca uma ocorrência. Principais conjunções causais: porque, já que, visto que, que, como.
I) Os agricultores saem saem para o trabalho logo cedo. cedo.
22
Consecutiva
II) Os agricultores agricultores saem para o trabalho logo que o sol se levanta.. levanta Não se pode dizer que a oração em verde no enunciado II tenha exatamente o mesmo sentido que os advérbios do enunciado I. Mas é possível perceber que a oração do enunciado II está desempenhando a mesma função que os advérbios do enunciado I: tanto a oração quanto os advérbios estão associados ao verbo para marcar o tempo em que se dá a ação indicada. A esse tipo de oração subordinada se dá o nome de adverbial exatamente porque ela desempenha no período composto a mesma função que o advérbio cumpre no período simples.
Marcas da oração subordinada adverbial • As
marcas formais da oração subordinada adverbial não são tão simples como as das substantivas e adjetivas. No entanto, é útil registrar que as subordinadas adverbiais vêm introduzidas por conjunções subordinativas típicas de cada subclasse.
SISTEMA ANGLO DE ENSINO
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Há bairros tão pobres, que nem o esgoto é canalizado. canalizado . PORTUGUÊS
Nesse caso, a oração adverbial está indicando uma consequência decorrente do que se diz na oração principal. Consequência é tudo o que ocorre como resultado de uma ação qualquer. É o mesmo que efeito. A única conjunção consecutiva é o que (precedido de palavras intensificadoras: tanto, tal, tamanho). 23
Condicional
O maratonista não diminuiu as passadas que já tivesse corrido quarenta quilômetros. quilômetros.
ainda
Concessão , nesse caso, deve ser entendida no sentido
de admitir (conceder) um argumento contrário ao que está sendo afirmado. Principais conjunções concessivas: embora, ainda que, mesmo que, se bem que, conquanto, por mais que, por menos que.
Se o solo é fértil, a produção é farta. No enunciado dessa legenda, a oração transcrita em verde está indicando uma condição , um dado do qual depende o que vem expresso na oração principal. Condição é um antecedente posto como necessário para a ocorrência de outro. Principais conjunções: se, caso, desde que, contanto que, sem que (= se não). 24
26
Conformativa
Final
O motorista, experiente, desviou de rota para que não ficasse preso no engarrafamento. engarrafamento. A oração A oração adverbial, adverbial, nessa frase, está indicando a finalidade que influenciou a ação indicada pelo verbo da oração principal (desviar da rota). Finalidade é a intenção que se tem em mente ao tomar uma atitude. Principais conjunções: para que, a fim de que, que, porque. 25
Chegou hoje a São Paulo a como noticiara o serviço de meteorologia. meteorologia.
Concessiva
A oração adverbial, na legenda da foto a seguir seguir,, está indicando a concessão de um dado estranho ou contrário ao que se disse na oração principal. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
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frente
fria,
A oração subordinada adverbial está estabelecendo uma relação de conformidade com a oração principal. Conformidade , o mesmo que concordância, é uma relação de acordo entre uma coisa e outra. Principais conjunções: conforme, segundo, como (= conforme). PORTUGUÊS
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Comparativa
A oração adverbia adverbial,l, na legenda da foto a seguir seguir,, está estabelecendo uma relação de comparação com a oração principal. Comparação é o confronto entre dois polos para avaliar as semelhanças ou diferenças entre eles.
Os pássaros voam para o Norte, quando chega o inverno no Sul. Sul .
A cortiça é bem mais leve do que a água. água. Principais conjunções comparativas: como, que (ou do que) sempre precedidos de mais ou menos, qual (precedido de tal), quanto (precedido de tanto). 28
30
ORAÇÃO SUBORDINADA REDUZIDA
As orações subordinadas podem apresentar-se sob a forma de orações reduzidas . Considera-se como reduzida a oração subordinada que: • não se inicia por conjunção ou pronome relativo; • apresenta o verbo numa das f ormas nominais: falarr - ir ir; – infinitivo: marcado pela desinência r → fala – particípio: marcado pela desinência do → fala falado do – ido ido;; – gerúndio: marcado pela desinência ndo → fala falanndo – indo indo..
Proporcional
A relação entre a oração adverbial e a principal, nesse caso, é de proporcionalidade . Proporcionalidade é uma relação tal entre dois polos, que toda alteração em um implica alteração em outro. Principais conjunções proporcionais: à medida que, à proporção que, quanto mais (sempre precedido de mais ou menos na oração principal).
Tomemos a oração dada no item 24 como exemplo de oração subordinada adverbial final: O motorista, experiente, mudou de rota para que não ficasse preso no congestionamento congestionamento.. Essa oração poderia ocorrer sob a forma de reduzida e, para isso, bastariam as duas transformações seguintes: • Apagar o conector (para que). • Colocar o verbo no infinitivo ( fica ficar r). Teríamos então o mesmo sentido, com a seguinte versão: O motorista, experiente, mudou de rota para não ficar ficar preso no congestionamento. congestionamento. Para, nesse caso, não é mais uma conjunção, e sim uma preposição. Vai V ai escurecendo, à medida que o sol vai se escondendo. 29
31
Temporal A oração adverbial da legenda anterior está marcando
o tempo em que se dá a ocorrência indicada pelo verbo da
oração principal. A noção de tempo diz respeito a uma relação de simultaneidade, anterioridade e posterioridade entre dois eventos. Principais conjunções temporais: quando, enquanto, apenas, mal, antes que, logo que, depois que, até que, sempre que. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
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Como analisar as orações reduzidas
Para analisar as orações reduzidas, pode-se usar este artifício: • desdobra-se a oração reduzida (desdobrar uma reduzida significa transformá-la numa oração iniciada por conjunção ou pronome relativo); • analisa-se a oração desdobrada; • aplica-se à reduzida a mesma análise da desdobrada, acrescentando-se o tipo de reduzida: – de infinitivo; – de particípio; – de gerúndio. PORTUGUÊS
Exemplo:
Aceito o princípio da força,
seremos um bando de feras.
Oração subordinada reduzida • não vem iniciada por conjunção • o verbo (aceito) está no particípio*
Oração principal
*Ao lado dos particípios regulares (terminados em do) há formas irregulares, tais como: aceito, posto, escrito, feito, dito etc.
Desdobrando, teremos:
Se aceitarmos o princípio da força,
seremos um bando de feras.
• Pelo desdobramento, percebe-se que se trata de uma oração subordinada adverbial condicional
Oração principal
Transportando essa análise para a oração reduzida, teremos: • Aceito o princípio da força = oração subordinada adverbial condicional reduzida de particípio. 32
ORAÇÃO COORDENADA
É aquela que não se encaixa dentro de outra oração para funcionar como um termo desta. Em outras palavras, oração coordenada é aquela que se coloca ao lado de outra sem desempenhar função sintática nela ou em relação a ela. Exemplo: O te tempo pa passa,
a vi vida co continua.
Oraç Or ação ão co coor orde dena nada da
Oraç Or ação ão co coor orde dena nada da
Classificaçãoo das orações coordenadas Classificaçã 33
Coordenadas assindéticas Aquelas que não vêm introduzidas introduzidas por conjunção. Exemplo:
34
Tudo passa,
tudo corre.
Oração coordenada ass ssin ind dét étiica
Ora raçção coordenada assindética
Coordenadas sindéticas Aquelas que vêm introduzidas por conjunção coordenativa. Exemplo: Ou entrem,
ou saiam.
Oração coordenada sindética: ou = conjunção coordenativa
Oração coordenada sindética: ou = conjunção coordenativa
Classificaçãoo das orações coordenadas sindéticas Classificaçã 35 Aditivas
Aquelas que estabelecem uma relação de soma ou adição. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
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PORTUGUÊS
Exemplo: Caiu a chuva
e a plantação cresceu.
Oração coordenada assindética
Oração coordenada sindética aditiva: e = conjunção coordenativa aditiva
Principais conjunções aditivas: e, nem, mas também. 36
Adversativas Aquelas que estabelecem uma relação de contradição ou adversidade . Exemplo: O avião é um meio de transporte seguro, Oração coordenada assindética
mas dá medo em muita gente. Oração coordenada sindética adversativa: mas = conjunção coordenativa adversativa
Principais conjunções adversativas: mas, porém, todavia, contudo, entretanto. 37
Alternativas Aquelas que estabelecem uma relação de alternância. Alternância é uma relação entre dois dois polos, de modo que a escolha o de um implica a recusa de outro. Exemplo: Chega-se até a ilha por barco,
ou também pode-se optar pelo avião.
Oração coordenada assindética
Oração coordenada sindética alternativa: ou = conjunção coordenativa alternativa
Principais conjunções alternativas: ou…ou, ora…ora, já… já, quer… quer. 38
Conclusivas Aquelas que estabelecem uma relação de conclusão . Conclusão é a operação mental que consiste em explicitar um dado já implícito na oração ant erior erior.. Exemplo: O dólar subiu, Oração coordenada assindética
portanto o turismo internacional ficou mais caro. Oração coordenada sindética conclusiva: portanto = conjunção coordenativa conclusiva
Principais conjunções conclusivas: logo, portanto, pois (depois do verbo), então. 39
Explicativas
Aquelas que estabelecem uma relação de explicação, isto é, de confirmação. A oração explicativa agrega um argumento favorável ao que foi dito na oração anterior. Exemplo: Deve ter chovido por aqui, Oração coordenada assindética
pois as ruas estão molhadas. Oração coordenada sindética explicativa: pois = conjunção coordenativa explicativa
Principais conjunções explicativas: pois, porque, que.
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PORTUGUÊS
Pontuação
1
CAPÍTULO 7
INTRODUÇÃO
Para se ter ideia da utilidade dos sinais de pontuação como marcadores dos arranjos e agrupamentos possíveis de fazer entre as palavras, tomemos uma sequência como esta, transcrita sem pontuação alguma.
pois é então é fogo ô nem fale é ô se é Transcritas assim, sem marcação de pontuação alguma, é quase impossível imaginar um sentido para essas palavras. Acredite-se ou não, há uma forma de agrupá-las em certos blocos e organizá-las de modo a produzir com elas um significado plenamente compreensível. Foi o que fez o redator publicitário para o anúncio reproduzido abaixo, transcrito da revista Veja (28 out. 1992, p. 112–3):
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Com travessões, reticências, espaços em branco e ponto final, o redator organizou as palavras antes caoticamente jogadas na folha e deu um sentido para elas. Na língua oral, faríamos pausa em certos lugares, elevaríamos e abaixaríamos a voz ao longo da fala, pronunciaríamos as palavras com maior ou menor intensidade e, com esses recursos vocais, conseguiríamos uma organização semelhante à que foi dada às mesmas palavras na língua escrita. Por esse exemplo, pode-se ter uma ideia do papel dos sinais de pontuação: eles servem para traduzir, ainda que de maneira muito aproximada e imperfeita, certos recursos vocais típicos da linguagem falada. Ocorre que os recursos vocais da língua são aprendidos de maneira espontânea ao longo da nossa experiência de falantes. O mesmo não se pode dizer dos sinais de pontuação, que são regidos por normas mais rígidas do que as da fala. Por isso é que as normas de pontuação exigem uma aprendizagem formal, que é o tema desta unidade.
PORTUGUÊS
2
NOÇÕES PRELIMINARES
Antes da descrição das normas de uso dos diferentes difere ntes sinais de pontuação, convém dizer que elas devem ser encaradas sempre como tendências dominantes na língua escrita formal e não como imposições obrigatórias. Trata-se de princípios gerais que sempre estão sujeitos a variações, aliás, comuns na linguagem lingua gem literária, em que a busca de efeitos de sentido justifica desvios das normas uniformizadoras. Por isso é preciso declarar, de início, que as normas descritas a partir daqui são baseadas na língua culta e formal, excluídos os desvios típicos do texto literário.
3
O USO DA VÍRGULA
Dentre os sinais de pontuação, sem dúvida a vírgula é o mais empregado e o mais sujeito a incertezas por parte dos que redigem. Para sistematizar seu uso, vamos, de início, descrever o seu papel básico nos seguintes termos. A vírgula, posta entre duas palavras de um enunciado, em princípio serve para dizer que, apesar de contíguas, elas não se relacionam sintaticamente entre si. Embora não se possa dizer que essa seja a única função da vírgula, sem dúvida é uma das mais genéricas e usuais. Exemplo: O tráfico de drogas transformou em comerciantes, in fluentes líderes da favela. A vírgula vírg ula entre en tre as palavras pa lavras comerciantes e influentes serve para avisar o leitor de que o adjetivo influentes não deve ser lido (ou interpretado) como qualificador de comerciantes mas de outra palavra do enunciado (no caso, líderes). Poderíamos, no entanto, deslocar a vírgula e obter outro agrupamento entre as palavras, como vem ilustrado a seguir: O tráfico de drogas transformou em comerciantes in fluentes, líderes da favela.
Nesse enunciado, apesar de longo, não cabe a vírgula em nenhum lugar, pois todos os termos estão em ordem direta. A bem da verdade, caberia uma vírgula antes do adna África África Central, já que essa junto adverbial de lugar na expressão está sintaticamente associada ao verbo encontraram e não ao termo anterior (anos). Embora tenha cabimento, não é comum usar vírgula antes do adjunto adverbial quando ele vem colocado depois dos complementos do verbo. Se, porém, deslocarmos o adjunto adverbial para o início da oração, teremos uma inversão e, com isso, fará sentido usar a vírgula. Exemplo: Na África Central, paleontólogos franceses encontraram o crânio de um hominídeo de 7 milhões de anos. Note-se que, com o deslocamento do adjunto adverbial, a palavra paleontólogos ficou contígua à palavra Central mas elas não estão associadas sintaticamente entre si. Por isso, a vírgula faz sentido. O mesmo se daria se intercalássemos o adjunto adverbial entre o sujeito e o predicado. Exemplo: Paleontólogos franceses, na África Central, encontraram o crânio de um hominídeo de 7 milhões de anos. Como se intrometeu entre dois termos que se ligam sintaticamente, o adjunto adverbial vem isolado por duas vírgulas. Note-se que continua válido o princípio de que termos separados entre vírgulas não se ligam sintaticamente: na África não está associado a franceses; Central não está associado a encontraram.
5
Com base no princípio de que não se usa vírgula entre termos que se interligam sintaticamente, não faz sentido usar vírgula: predicado,, mesmo que o sujeito • entre o sujeito e o predicado seja uma expressão longa. Exemplo: Muitos animais da fauna brasileira estão ameaçados de extinção. extinção.
Posta agora entre influentes e líderes, a vírgula serve para alertar que influentes não está qualificando líderes, mas comerciantes.
4
UM COROLÁRIO DO ITEM 3
Embora o único papel da vírgula não seja o que vem descrito no item 3, essa descrição serve para uma dedução muito prática: não se usa vírgula entre palavras ou expressões relacionadas sintaticamente entre si. Por essa razão é que, numa oração em ordem direta, em princípio não cabe a vírgula. Isso pela simples razão de que, em ordem direta, os termos se sucedem na progressão que vai do antecedente para o consequente sucessivamente. Falando em outros termos, na ordem direta, o termo anterior sempre vem associado sintaticamente ao que o segue. Exemplo: Paleontólogos franceses encontraram o crânio de um hominídeo de 7 milhões de anos na África Central. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
NÃO SE USA VÍRGULA
Note-se que não ocorre a vírgula, mesmo que o sujeito venha depois do predicado: Estão ameaçados de extinção muitos animais da fauna brasileira. brasileira. • entre o verbo e os seus complementos, mesmo que o
objeto direto venha depois do objeto indireto. indireto. Exemplo: Os portugueses trouxeram muitos costumes para o Brasil.. Brasil Se colocarmos o objeto indireto antes do objeto direto,, também não se usa a vírgula: to Os portugueses trouxeram para o Brasil muitos costumes.. tumes
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• entre o nome e seus adjuntos ou complementos.
Exemplo:
Certos tipos de desacato à lei não são punidos com penalidades severas. Como se vê, as flechas estão indicando termos ligados a nomes diretamente, isto é, sem inversões nem intercalações. Por isso é que não cabe a vírgula entre eles.
USO DA VÍRGULA NO INTERIOR DA ORAÇÃO Usa-se a vírgula: 6
7
Para marcar inversões • do adjunto adverbial (no início da oração):
Para marcar intercalaçã intercalaçãoo
Com cuidado e atenção, poucos erros se dão. • do complemento pleonástico antecipado ao verbo:
adverbial: • do adjunto adverbial:
Os dias sagrados e festivos, o povo ainda os comemora com devoção. • do nome de lugar antecipado às datas: Brasília, 22 de abril de 1962.
As cidades, no mundo moderno, cresceram exageradamente. conjunção:: • da conjunção Os candidatos prometem milagres. Os governantes, porém, não conseguem realizá-los. • das expressões explicativas ou corretivas: corretivas: Um candidato a prefeito, por exemplo, faz promessas de mudar a Constituição. • do aposto aposto:: O general De Gaulle, ex-presidente da França, foi alvo de vários atentados. vocativo:: • do vocativo Sinto muito, freguesa, mas esse desconto eu não posso fazer.
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Para separar termos coordenados (em enumeração)
Os Jogos Olímpicos reúnem países da Europa, América, Ásia e África. 9
Para marcar elipse do verbo Vamos V amos comemorar antes a paz. paz. Depois, a vitória. (vamos comemorar)
A VÍRGULA ENTRE ORAÇÕES DO PERÍODO 10 Subordinadas substantivas Não se separam da oração principal por vírgula. Exemplo: Poucos achavam
2002.. que o Brasil venceria o campeonato mundial de 2002
Oração principal
Oração subordinada substantiva
Observação
Faz exceção a subordinada substantiva apositiva, que pode vir separada por vírgula ou (mais comumente) por dois pontos: Há entre nós esta crença: (,) que existe vida após a morte. 11
A adjetiva restritiva não se separa por vírgula Oração principal
Os políticos
que só defendem interesses próprios
não gozam do respeito da população.
Oração subordinada adjetiva restritiva
Sem vírgulas, a oração adjetiva estabelece o pressuposto de que apenas um número restrito de políticos só defende interesses próprios. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
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A adjetiva explicativa sempre vem isolada entre vírgulas (no lugar da segunda vírgula pode vir ponto final) Oração principal
Os políticos
, que só defendem interesses próprios,
não gozam do respeito da população.
Oração subordinada adjetiva explicativa
Isolada entre duas vírgulas, a oração adjetiva estabelece o pressuposto de que todos os políticos só defendem interesses próprios. Por isso não restringe uma parcela dentro do conjunto. 13
Subordinadas adverbiais
Sempre é correto o uso da vírgula entre as subordinadas adverbiais e a oração principal. Esse uso é obrigatório quando a adverbial vem antes da oração principal. Exemplo:
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Para que não falte energia,
o Brasil precisa de investimentos urgentes nessa área.
Oração subordinada adverbial
Oração principal
Orações coordenadas assindéticas separam-se por vírgula entre si. si. • As coordenadas assindéticas Exemplo: Chega a seca,
os reservatórios decrescem,
o fornecimento de energia é racionado.
Or. co coordenada as assindética
Oração co coordenada as assindética
Oração co coordenada as assindética
• As coordenadas sindéticas sindéticas,, exceto as aditivas com e, separam-se por vírgula.
Exemplo: Nossas leis de controle ambiental são ótimas ,
mas ainda não controlamos o seu cumprimento. cumprimento .
Oração coordenada assindética
Oração coordenada sindética adversativa
Observação 1
É possível, mas não obrigatório, ocorrer vírgula antes da conjunção e, quando ela liga orações com sujeitos diferentes. Exemplo: Vocês V ocês trabalham de dia, dia, e eu trabalho de noite. Observação 2
É comum a vírgula antes da conjunção e quando ela vem repetida várias vezes, caracterizando o que se chama de polissíndeto. Exemplo: E fala, e repete, e insiste sem parar.
PONTO E VÍRGULA 15 Não se usa ponto e vírgula • Entre uma oração subordinada e sua principal.
Exemplo: Embora tivesse possibilidade de vitória,
o líder sindical não se candidatou.
Oração subordinada adverbial
Oração principal
• No interior de orações independentes (ou de períodos simples).
Exemplo: No momento, não se pensa em demissões. Seria muito estranho, por exemplo, um ponto e vírgula no lugar desta vírgula. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
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PORTUGUÊS
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Usa-se ponto e vírgula
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• Entre orações coordenadas quando se quer estabele-
A função função básica básica é esta: esta: tudo tudo o que vem vem inscrito inscrito entre entre asaspas não é de autoria ou da responsabilidade do enunciador do texto. Então, seu uso pode ser reduzido a estes casos: • indicar citação literal de outra autoria; Exemplo: Dizem os jogadores da seleção que não há quem não se arrepie na hora do “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas”. plácidas”.
cer uma marcação mais forte que a vírgula, mas que não indique término de período. Desse modo, usa-se o ponto e vírgula em duas situações básicas: a) para separar sequências coordenadas que têm certa extensão; Exemplo: As academias de ginástica nos grandes centros urbanos passaram a ser verdadeiros templos da cultura física e celebração do corpo; lá se reúnem todos aqueles que teimam em retardar os efeitos da idade sobre o corpo.
• indicar palavras ou expressões alheias ao padrão de lin-
guagem do enunciador: palavras estrangeiras, gírias, neologismos, neologismo s, modo de falar típico da variante popular; Exemplos: O “sordado” chegou e foi dizendo “teje preso”. preso”. À espera de um autógrafo, fãs passam a noite no “hall” do hotel.
b) para separar orações coordenadas já marcadas com vírgula no seu interior. Exemplo: Não desprezem o tempo, senhor da razão; não dei xem, contudo, todas as decisões por conta dele.
• para destacar palavras ou expressões que são usadas
fora de seu sentido usual. Exemplo: O time pareceu viver um “apagão” durante todo o primeiro tempo.
• Para dar destaque à oposição entre duas coordenadas.
Exemplo: O sábio é humilde; o ignorante é presunçoso. 17
DOIS-PONTOS
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Têm como função básica indicar que aquilo que vem depois deles explica melhor o que ficou atrás. Dentro desse princípio, são usados: • para introduzir uma citação alheia; Exemplo: Sobre o dinheiro, eis o que disse o imperador VespaVespasiano: O dinheiro não tem cheiro”. “
• para explicar ou desenvolver melhor uma palavra ou
expressão anterior. Exemplo: Desastre em Paris: o selecionado brasileiro perde por três a zero. 18
RETICÊNCIAS
A função básica das reticências é indicar que um enunciado sofreu cortes: no início, no meio ou no fim. Em outros termos, indicam truncamento ou interrupção da fala. Isso pode ocorrer por dois motivos básicos: • para indicar que, por motivos de ordem prática, não interessa (ou não convém) transcrever o enunciado inteiro; Nas questões escritas que exigem transcrições de fragmentos de texto, o uso das reticências é muito comum. Suponhamos que se queira transcrever uma passagem desta estrofe de Gonçalves Dias: Minha terra tem palmeiras Onde canta o sabiá. As aves que aqui gorjeiam Não gorjeiam como lá.
TRAVESSÃO Possui duas funções básicas: • marcar mudança de interlocutor nos diálogos; Exemplo: — Que devo fazer? — Ir embora. — Por quê? — Porque é tarde.
Suponhamos que uma questão escrita solicite a transcrição apenas das orações adjetivas presentes na estrofe. A resposta seria esta: …“Onde canta o sabiá” … …“que aqui gorjeiam” … • as reticências também podem ser usadas com finalida-
• dar destaque a palavras ou expressões no interior da
des expressivas, para indicar, por exemplo, que a personagem, por hesitação ou insegurança, está falando aos trancos, gaguejando: Olhe… Olhe … eu eu… … você não me leve a mal… mal… mas mas… … se eu precisar… precisar … você me empresta suas anotações de aula?
frase. Nesse caso, é usado usado duplamente. Exemplo: O relógio anunciava as horas — era meia-noite — e, na rua, não havia pessoa viva.
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ASPAS
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Verbo V erbo
CAPÍTULO 8
AND
A
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VEND
R
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AND
AND
A A
A
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E
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I
STES
M
I
I
E
I
I
RAM
I I
PART
PART
Quem observa esse emaranhado de relações entre radicais do verbo, desinências e vogais temáticas não é capaz de imaginar que qualquer falante, de qualquer língua, faz relações similares no seu cérebro, e muito mais complexas. E mais: é dessas tabelas que provêm todas as demais formas de conjugação verbal. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
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PORTUGUÊS
1
CONCEITO Verbo V erbo é a palavra variável em pessoa, tempo, número e modo, que exprime um processo, uma ação ou um estado
situados no tempo. 2
ASPECTO
Paralelamente à noção de tempo, os verbos do português possuem também noção de aspecto. Para conceituar o que seja aspecto, observemos os seguintes enunciados.
I) A lagarta começa a se transformar em borboleta.
II) A lagarta continua se transformando em borboleta
Aí, a ação de se transformar é concebida sob vários aspectos: • no seu início (I); • no seu desenvolvimento (II);
III) A lagarta acaba de transformar em borboleta. • no seu final (III).
Aspecto é a propriedade que tem uma forma verbal de indicar o momento momento do percurso da ação. Por meio do aspecto, concebemos a ação verbal num dado ponto da sua duração: • no início; • no seu curso; • no seu final. Em decorrência disso, há os três aspectos básicos a seguir. I) Incoativo ou inceptivo •
II) Cursivo ou durativo
Concebe a ação no seu início.
• Concebe a ação no seu fazer-se. fa zer-se.
Exemplo: Os maratonistas começam a correr .
Exemplo: Os maratonistas continuam a correr .
SISTEMA ANGLO DE ENSINO
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III) Conclusivo • Concebe a ação no seu final.
Exemplo: Os maratonistas acabam de correr.
PORTUGUÊS
Em português, não temos desinências próprias para indicação de aspecto. Tal indicação é feita por meio de su fixos ou locuções. locuções. A par dos três aspectos básicos já referidos, há as seguintes variantes:
3
VERBO REGULAR
Observe o verbo cantar, conjugado no presente e no perfeito do indicativo:
Presente
IV) Pontual •
Indica um processo instantâneo. Exemplo: A bomba explodiu às 5 horas e 3 minutos.
Perfeito
Radi Ra dica call
Termin ina açã ção o
Radi Ra dic cal
Termin ina açã ção o
cant
o
cant
ei
cant
as
cant
aste
cant
a
cant
ou
cant
amos
cant
amos
cant
ais
cant
astes
cant
am
cant
aram
Observe que o radical não sofre alterações e as terminações seguem o modelo da maioria dos verbos que pertencem à conjugação em pauta (no caso, a primeira). Tratase de um verbo regular. V) Permansivo •
Indica um processo que se prolonga no tempo, que permanece ou perdura.
Verbo V erbo regular é aquele cujas terminações se-
guem o modelo da maioria dos verbos de igual con jugação e cujo radical não sofre alterações em nenhuma das formas.
Exemplo: O centro de cultura preserva as tradições.
Para se saber se um verbo é regular, basta conjugá-lo no presente e no perfeito do indicativo. Consegue-se o radical de um verbo isolando as terminações ar, er, ir do infinitivo: cant ar; dev er; part ir. ar; er; ir. 4
VERBO IRREGULAR Observe as conjugações do verbo ouvir:
Presente VI) Iterativo ou frequentativo frequentativo •
Denota um processo repetido muitas vezes (com frequência) ao longo de sua duração. Exemplo: Os antílopes saltitam o tempo todo.
Perfeito
Radi Ra dica call
Termin ina açã ção o
Radi Ra dic cal
Termin ina açã ção o
Ouç
o
Ouv
i
Ouv
as
Ouv
iste
Ouv
e
Ouv
iu
Ouv
imos
Ouv
imos
Ouv
is
Ouv
istes
Ouv
em
Ouv
iram
Veja que o radical se alterou de ouv para ouç na 1a pes Veja soa do presente. A irregularidade, no caso, se apresenta no radical. Pode ser também que a irregularidade de um verbo se revele nas terminações, como é o caso, por exemplo, do verbo estar. Nesse verbo, a terminação da 1 a pessoa do presente do indicativo (estou) distancia-se da conjugação a que pertence (canto). SISTEMA ANGLO DE ENSINO
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PORTUGUÊS
A abundância verbal revela-se sobretudo no particípio, em que se encontram duplas formas em vários verbos. Veja V eja a lista a seguir. seguir.
Verbo V erbo irregular é aquele cujas terminações não seguem o modelo da maioria dos verbos de igual conjugação ou cujo radical sofre alteração em alguma das formas.
5
Infinit itiv ivoo
VERBO ANÔMALO Verbo anôma lo é aquele em cuja conjugação
entra mais de um radical. Exemplos disso são o verbo ser e o verbo ir. No verbo ser ocorrem três radicais diferentes: sede, era, fui. No verbo ir, igualmente: vou, fui, irei. 6
VERBO DEFECTIVO O verbo abolir conjuga-se assim no presente: л Eu Tu aboles Ele abole Nós abolimos Vós abolis Eles abolem
Trata-se de um verbo defectivo, pois não é completo em sua conjugação. Verbo V erbo defectivo é aquele em que falta alguma for-
ma na conjugação. As formas ausentes de um verbo defectivo devem ser substituídas por uma locução ou por um sinônimo. Em vez de eu *abulo (que não existe), pode-se usar eu excluo, deixo de lado, retiro , revogo . *
7
O asterisco indica palavra agramatical, ou seja, que não é admitida pelo sistema da língua.
aceitar
aceitado
aceito (ou aceite)
assentar
assentado
assento (ou assente) assent e)
entregar
entregado
entregue
enxugar
enxugado
enxuto
findar
findado
findo
ganhar
ganhado
ganho
gastar
gastado
gasto
isentar
isentado
isento
matar
matado
morto
pagar
pagado
pago
eleger
elegido
eleito
suspender
suspendido
suspenso
Consideram-se regulares as formas terminadas em do e irregulares as demais. A norma geral para o emprego de uma ou outra forma do particípio é a seguinte. • Empregam-se as formas regulares (em do) com os auxiliares ter e haver: Tinham aceitado a proposta. Haviam aceitado a proposta. • Empregam-se as formas irregulares com os auxiliares ser e estar: Foi aceita a proposta. Está aceita a proposta. Essa regra não é absoluta, mas tem grande utilidade. 8
VERBO AUXILIAR
É aquele que se junta a um verbo principal, para ampliar-lhe a significação. Se dizemos, por exemplo, “Este papagaio fala”, o verbo fala informa com certeza que o papagaio faz essa ação. Mas se dissermos “Este papagaio pode vir a falar”, o verbo falar apresenta-se ampliado na sua significação, pois, fora o seu sentido normal, ainda está exprimindo ideia de uma possibilidade futura.
VERBO ABUNDANTE Na conjugação do presente do indicativo do verbo ha-
ver encontramos:
Eu Tu Ele Nós Vós Eles
Particípio reg eguula larr Particípio irregula larr
hei hás há
SALVE O CORINTHIANS...
havemos ou hemos haveis ou heis
hão
O particípio passado do verbo morrer é morrido ou morto.
Tais verbos se chamam abundantes, por terem formas em excesso. Verbo V erbo abundante abundante é aquele que tem duas ou mais formas do mesmo valor. valor.
Este papagaio fala. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
60
PORTUGUÊS
Em vermelho estão grafadas as desinências de cada tempo. Em verde Em verde,, a vogal a vogal temática. temática. Em outros termos, são marcas dos tempos primitivos as seguintes desinências:
Infinitivo impessoal
Presento do indicativo
Perfeito do indicativo
r
o
i
s
ste
Este papagaio pode vir a falar .
л
u
Quando o verbo auxiliar se junta a um verbo principal, a fim de ampliar-lhe o significado, damos ao conjunto (auxiliar ϩ principal) o nome de locução verbal. Nas locuções verbais, o verbo principal sempre ocorre no infinitivo, particípio ou gerúndio e vem em último lugar; o verbo auxiliar é que assume as flexões normais de pessoa, número, tempo e modo. Exemplo: Eu devo ir Tu deves ir Ele deve ir etc.
mos
mos
is/des
stes
m
ram
9
FORMAS RIZOTÔNICAS OU ARRIZOTÔNICAS
Diz-se que uma forma verbal é rizotônica quando o acento tônico está localizado dentro do radical ( rizo, em grego, significa raiz, de onde vem “radical”). Exemplo: Canto, cantas, canta, cantam
Tempos derivados do presente do indicativo 11
Do presente do indicativo forma-se o presente do sub juntivo do seguinte modo. modo. • Toma-se a 1a pessoa do singular do presente do indicativo e subtrai-se a desinência o: Cant – (o) • Acrescentam-se, em seguida, as terminações próprias do presente do subjuntivo.
O acento tônico recai sobre a vogal a da sílaba can e, portanto, está localizado dentro do radical ( cant ).). Diz-se que uma forma verbal é arrizotônica quando o acento tônico está localizado fora do radical. Exemplo: Cant amos, cant ais
As terminações próprias do presente do subjuntivo para um verbo terminado em ar são: e – es – e – emos – eis – em. Para um verbo terminado em er ou ir, temos as terminações: a – as – a – amos – ais – am. Exemplo: Cante Vend V enda Parta es as Cant Vend V end Partas Cante Vend V enda Parta Cantemos Vend V endamos Partamos Canteis Vend V endais Partais Cantem Vend V endam Partam
Nessas formas, o acento tônico recai sobre a vogal a, que está fora do radical.
COMO CONJUGAR UM VERBO O trabalho de conjugação de um verbo ficará facilitado se soubermos formar os tempos derivados a partir dos tempos primitivos, que são três. 10
Tempos primitivos Infinitivo: cant ar
Pres eseente do indicativo
Perfe feiito do indicativo
Canto
Cantei
Cantas
Cantaste
Cant aл
Cantou
Cant amos
Cantamos
Cantais
Cantastes
Cantam
Cantaram
SISTEMA ANGLO DE ENSINO
Presente do subjuntivo
Observação 1
A rigor, essas terminações em vermelho contêm a desinência e ou a, que marca o presente do subjuntivo, e as demais desinências que marcam pessoa e número. Para facilitar a conjugação, não vamos marcar essas distinções com cores diferentes. Observação 2
O esquema de conjugação descrito neste item não é aplicável aos verbos: • ser – seja; • dar – dê; • estar – esteja; • haver – haja; • saber – saiba; • ir – vá; • querer – queira .
61
PORTUGUÊS
Exemplo: Canta (tu) ............ ....................... ........... 2 a pessoa do presente do indicativo menos o s
Observação 3
Subjuntivo é o modo que se usa quando se quer demonstrar dúvida ou incerteza perante o que se enuncia. Exemplo: “Espera-se que o progresso não destrua esta paisagem.”
Cante (você) .............. .................. .... presente do subjuntivo Cantemos (nós) ............ presente do subjuntivo Cantai (vós) ............. ................... ...... 2 a pessoa do presente do indicativo menos o s Cantem (vocês) ............. presente do subjuntivo Essa formação só não se aplica ao verbo ser nas segundas pessoas, que se conjugam assim: Sê tu Sede vós
12
Imperativo negativo
Do presente do subjuntivo forma-se diretamente o imperativo negativo: Não cantes (tu) Não cante (você) Não cantemos (nós) Não canteis (vós) Não cantem (vocês)
As demais pessoas são são idênticas às do presente do sub juntivo: Sê tu Seja você Sejamos nós Sede vós Sejam vocês 14
Tempos derivados do perfeito do indicativo
Do tema do perfeito do indicativo, anexando as terminações adequadas, formam-se o: • mais-que-perfeito do indicativo ; • imperfeito do subjuntivo ; • futuro do subjuntivo .
Observação 1
O imperativo não tem a 1a pessoa do singular.
Consegue-se o tema do perfeito subtraindo-se a desinência ste da 2a pessoa do singular. Exemplo: Cantaste, menos a desinência ste ϭ canta (que é o tema do perfeito).
Observação 2
Imperativo é o modo que se usa quando se quer que o interlocutor faça o que se enuncia. Exemplo: “Diga ah!”
Desinências do mais-que-perfeito do indicativo – ra – ras – ra – ramos – reis – ram
Desinências do imperfeito do subjuntivo – sse – sses – sse – ssemos – sseis – ssem
13
Desinências do futuro do subjuntivo
Imperativo afirmativo
–r – res –r – rmos – rdes – rem
O imperativo afirmativo também é proveniente do presente do subjuntivo, exceto nas segundas pessoas. Para se conseguirem as segundas pessoas do imperativo afirmati vo, tomam-se as mesmas pessoas do presente do indicati vo e subtrai-se delas o s. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
62
PORTUGUÊS
Eis então os três tempos derivados do perfeito do indicativo:
15
Tema do perfeito perfei to do indicativo
Mais-que-perfeito do indicativo
Imperfeito do subjuntivo
Futuro do subjuntivo
Canta
Cantara
Cantasse
Cantar
(2a pessoa menos
Canta ras
Cantasses
Cantares
a desinência ste)
Cantara
Cantasse
Cantar
Cantáramos
Cantássemos
Cantarmos
Cantáreis
Cantásseis
Cantardes
Cantaram
Cantassem
Cantarem
Tempos derivados do infinitivo impessoal Para um verbo da 2a ou da 3a conjugação, acrescentamse: ia, ias, ia, íamos, íeis, iam.
Do infinitivo impessoal, pela agregação das terminações próprias, formam-se: • futuro do presente ; • futuro do pretérito . Terminações próprias do futuro do presente: ei, ás, á, emos, eis, ão.
Exemplo: Dev ia ia ias Dev ias ia Dev ia íamos Dev íamos Dev íeis íeis iam Dev iam
Exemplo: Cantarei Cantarás Cantará Cantaremos Cantareis Cantarão Terminações próprias do futuro do pretérito: ia, ias, ia, íamos, íeis, iam.
Observação 2
Há quatro verbos que, com os seus derivados, formam o imperfeito do indicativo de modo diferente do que foi exposto neste item: ser – era vir – vinha ter – tinha pôr – punha
Exemplo: Cantaria Cantarias Cantaria Cantaríamos Cantaríeis Cantariam
17
Do infinitivo impessoal, forma-se o infinitivo pessoal, acrescentando-se após o r as desinências de pessoa: cantar cantares cantar cantarmos cantardes cantarem
Tal sistema não funciona para dizer, fazer, trazer e deri vados, que vados, que fazem: fazem: direi, farei, trarei / diria, faria, traria. 16
Imperfeito do indicativo
A prim primeir eiraa e a terc terceira eira pes pessoa soa não têm des desinê inênci ncias as típ típica icas. s.
Do infinitivo impessoal provém também o imperfeito do indicativo, do seguinte modo. • Toma-se o radical cant e acrescentam-se: ava, avas, ava, ávamos , áveis, avam para a 1a conjugação.
18
Gerúndio
Forma-se o gerúndio, permutando-se a desinência r do infinitivo impessoal por ndo. Exemplo: cantar dever partir cantando devendo partindo
Exemplo: Cantava Cantavas Cantava Cantávamos Cantáveis Cantavam
Observação
Não há nenhuma exceção a esse esquema. 19
Particípio
O particípio se forma pelo acréscimo da desinência do (da, dos, das) ao infinitivo, subtraído da desinência r. Em outros termos, forma-se o particípio permutandose o r do infinitivo pela desinência do.
Observação 1 O a inicial das terminações ava, avas… é vogal temá-
tica. Para facilitar a conjugação, não vamos marcar essa distinção com cor diferente. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
Infinitivo pessoal
63
PORTUGUÊS
Exemplo: cantar cantado
dever devido
Imperfeito do indicativo
partir partido
Observação 1 Na 2a conjugação, com a troca do r por do, a vogal temática e se transforma em i.
Tempo primitivo
Tempo derivado
Infinit Infi nitiv ivo o imp impess essoal oal
Imperf Imp erfeit eito o do ind indica icativ tivo o
Prov[er]
Provia
(Radical do infinitivo
Prov ias
impessoal)
Provia
Observação 2
Há verbos em que o particípio é irregular: fazer
dizer
pôr
feito
dito
posto
Províamos Províeis Proviam
Observação 3 O verbo vir e seus derivados ( convir , advir, inter-
Infinitivo pessoal
vir…) fazem o particípio idêntico ao gerúndio: vindo, convindo , advindo, intervindo . 20
UM MODELO DE CONJUGAÇÃO
Tempo primitivo
Tempo derivado
Infin In finit itiv ivo o im impe pess ssoa oall
Infin In finit itiv ivo o pe pess ssoa oall
Prover
Prover
Vamos conjugar, a título de ilustração, um verbo a Vamos partir de seus tempos primitivos. Vamos tomar um verbo irregular para demonstrar que o esquema apresentado funciona também para esses verbos. Suponhamos o verbo prover, que significa “abastecer”. Seus tempos primitivos são os seguintes: • Infinitivo impessoal : prover • Presente do indicativo :
• Perfeito do indicativo :
Prover Provermos Prover des Prover em
Gerúndio Prov[er]
provejo, provês, provê, provemos, provedes, proveem
Provendo
Particípio Prov[er] 22
Provido
Tempos derivados do presente do indicativo
Presente do subjuntivo
provi, proveste, proveu, provemos, provestes, proveram
Tempo primitivo
Tempo derivado
Present Pre sente e do indic indicativ ativo o
Present Pre sente e do subju subjuntiv ntivo o
Provej[ o]
Proveja
(Radical da
Tomemos agora esses tempos primitivos e formemos cada um dos tempos derivados. 21
Prover es
1a
pessoa
do singular do
Provej a
presente do indicativ ivo o)
Provej amos Provej ais
Tempos derivados do infinitivo impessoal
Provejam
Futuro do presente e futuro do pretérito Tempo primitivo
Provej as
Imperativo negativo •
Tempos derivados
O presente do subjuntivo precedido da negação forma o imperativo negativo, lembrando que o imperativo não tem a 1a pessoa do singular singular..
Infinitivo impessoal
Futuro do presente
Futuro do pretérito
Prover
Prover ei
Proveria
Presente do do su subjuntivo
Imperativo ne negativo
Prover ás
Proverias
Proveja
—
Prover á
Proveria
Provej as
Não Provejas (tu)
Prover emos
Prover iamos
Provej a
Não Provej a (você)
Provej amos
Não Provej amos (nós)
Prover eis
Prover íeis
Provej ais
Não Provej ais (vós)
Proverão
Prover iam
Provej am
Não Provej am (vocês)
SISTEMA ANGLO DE ENSINO
64
PORTUGUÊS
Imperativo afirmativo •
Do presente do subjuntivo e do presente do indicativo forma-se o imperativo afirmativo:
Presente do indicativo
Imperativo afirmativo
Provej o
23
Presente do subjuntivo Provej a
Provê(s)
Provê (tu)
Provejas
Provê
Provej a (você)
Proveja
Provemos
Provej amos (nós)
Provejamos
Provede(s)
Provede (vós)
Provejais
Proveem
Provej am (vocês)
Provejam
Tempos derivados do perfeito do indicativo Do tema do perfeito do indicativo formam-se: • mais-que-perfeito do indicativo; • imperfeito do subjuntivo; • futuro do subjuntivo.
Tempo primitivo
24
Tempos derivados
Perfeito do indicativo
Mais-que-perfeito do indicativo
Imper Im perfe feit ito o do sub subjun juntiv tivo o
Futur Fu turo o do sub subjun juntiv tivo o
Prove[ste]
Provera
Provesse
Prover
(tema do perfeito)
Proveras
Provesses
Proveres
Provera
Provesse
Prover
Provêramos
Provê ssemos
Provermos
Provêreis
Provêsseis
Proverdes
Proveram
Provessem
Proverem
TEMPOS COMPOSTOS
Os tempos compostos em português são formados pelos auxiliares ter ou haver mais o particípio do verbo principal. Nem toda forma simples possui uma f orma composta em correspondência. Vejamos: Vejamos:
Observação
No português moderno, o perfeito composto perdeu o significado de tempo passado pontual. A forma “tenho dito”, ainda usada em finais de discursos solenes, preserva o sentido de disse, acabei de dizer. Em todos os demais casos, o perfeito composto indica uma ação que se iniciou no passado e tem prolongamento no presente. Exemplo: Tenho falado repetidas vezes sobre esse tema.
Presente do indicativo e imperfeito do indicativo Não possuem forma composta. 25
Perfeito do indicativo
É formado pelo presente do indicativo do verbo au xiliar (ter) mais o particípio do verbo principal. Exemplo: Eu tenho falado Tu tens falado Ele tem falado Nós temos falado Vós tendes falado Eles têm falado SISTEMA ANGLO DE ENSINO
26
Mais-que-perfeito composto Mais-que-perfeito do indicativo
É formado pelo imperfeito do indicativo do verbo auxiliar mais o particípio do verbo principal. Exemplo: Eu tinha falado Nós tínhamos falado Tu tinhas falado Vós tínheis falado Ele tinha falado Eles tinham falado
65
PORTUGUÊS
27
Futuro do presente composto
33
É formado pelo futuro do presente do verbo auxiliar mais o particípio do verbo principal. Exemplo: Eu terei falado Nós teremos falado Tu terás falado Vós tereis falado Ele terá falado Eles terão falado
VOZES VERBAIS Em português há três vozes verbais:
Ativa Quando o sujeito é o executor da ação verbal. Exemplo: O lenhador cortou a árvore.
Observação
Na verdade, essa forma composta do futuro serve para indicar um ato futuro anterior a outro. Exemplo: Ele chegará às 11 horas; às 9 eu já terei chegado. 28
Futuro do pretérito composto
É formado pelo futuro do pretérito do verbo auxiliar mais o particípio do verbo principal. Exemplo: Eu teria falado Nós teríamos falado Tu terias falado Vós teríeis falado Ele teria falado Eles teriam falado Observação
Essa forma composta do futuro do pretérito serve para indicar uma ocorrência anterior ao futuro do pretérito simples. Exemplo: Ele chegaria dia 20; no dia 19 eu já teria chegado. 29
Presente do subjuntivo e imperfeito do subjuntivo
Passiva Quando o sujeito é o paciente da ação verbal. Exemplo: A árvore foi cortada pelo lenhador.
Possuem apenas a forma simples. 30
Perfeito do subjuntivo
Possui apenas a forma composta, formada do presente do subjuntivo do verbo auxiliar mais o particípio do verbo principal. Exemplo: Tenha falado Tenhas falado Tenha falado 31
Tenhamos falado Tenhais falado Tenham falado
Há dois tipos de voz passiva:
Mais-que-perfeitoo do subjuntivo Mais-que-perfeit
a) Sintética
Possui apenas a forma composta, formada do imperfeito do subjuntivo do verbo auxiliar mais o particípio do verbo principal. Exemplo: Tivesse falado Tivéssemos falado Tivesses falado Tivésseis falado Tivesse falado Tivessem falado 32
Formada pelo verbo na 3a pessoa (singular ou plural) mais a partícula apassivadora se: Cortaram-se as árvores.
Futuro composto do subjuntivo
É formado do futuro do subjuntivo do verbo auxiliar mais o particípio do verbo principal. Exemplo: Tiver falado Tiver falado Tiveres falado Tivermos falado Tiverdes falado Tiverem falado SISTEMA ANGLO DE ENSINO
66
PORTUGUÊS
No português moderno, quando usamos a voz passiva sintética, omitimos o agente da passiva.
•
b) Analítica Formada pelo verbo auxiliar mais o part icípio do verbo principal: Foram cortadas as árvores.
Entretanto, é comum encontrar-se o presente com função de futuro: Mas você Amanhã seu me prometeu carro está para hoje. pronto.
Nesse caso, o presente exprime um processo futuro com maior certeza. •
Reflexiva
Ocorre também o presente em lugar de pretérito. É o chamado presente narrativo ou histórico :
Quando o sujeito é, ao mesmo tempo, executor e paciente da ação verbal. Exemplo: O lenhador cortou-se .
O homem chega à Lua em 1969. O presente pode também ser usado para indicar um tempo sem limite, de extensão total, válido sempre. É o chamado presente epistêmico , usado para afirmar verdades de validade perene: •
EMPREGO DOS TEMPOS E MODOS 34 Presente Indica que a ação verbal acontece simultaneamente ao momento em que se fala:
A Terra Terra é redonda.
A lua nasce por detrás da montanha. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
67
PORTUGUÊS
35
Imperfeito
36
Exprime um processo anterior ao momento em que se fala. O imperfeito exprime exprime sempre uma ação passada com duração no tempo. Assim, usa-se o imperfeito para indicar um processo contínuo do passado, algo habitual: Ele chegava tarde todos os dias. •
Perfeito
Exprime um processo anterior ao momento em que se fala. Opõe-se ao imperfeito por designar um processo totalmente concluído e acabado. Há quem represente o imperfeito por uma linha, e o perfeito por um ponto.
Pode indicar também um presente fictício, típico das histórias infantis.
De repente, uma pedra bateu no para-brisa do carro. •
No português moderno, sobretudo na fala popular, usa-se o perfeito no lugar do futuro como forma de indicar grande vontade de que algo aconteça. Eu tenho um ingresso para o jogo de hoje à noite. Você quer ir?
Fui.
– Agora eu era o noivo e você a noiva. •
Pode ser usado em lugar do presente como forma de polidez.
•
37
Mais-que-perfeito
Exprime um processo anterior a outro já passado. O mais-que-perfeito é um passado mais que passado: No dia em que você me telefonou, eu já lhe escrevera.
– Você não me dava mais cinco dias de prazo? SISTEMA ANGLO DE ENSINO
Na forma composta – como já vimos no item 25 –, o perfeito, no português contemporâneo, indica um processo passado, com prolongamento até o presente: Temos discutido este assunto com grande afinco.
68
PORTUGUÊS
•
Encontra-se o mais-que-perfeito funcionando em lugar do imperfeito do subjuntivo e do futuro do pretérito. O exemplo mais divulgado é o uso no final do clássico poema de Camões: “Mais servira (ϭ serviria) se não fora (ϭ fosse) para tão longo amor tão curta a vida.”
•
É usado também em frases optativas (aquelas que exprimem desejo).
Enquanto o presente empregado no lugar do futuro cria ideia de maior certeza, o futuro empregado no lugar do presente indica incerteza, dúvida:
Exemplo: Quisera que isso acontecesse todo dia.
Esta árvore terá por volta de 300 anos. •
38
É comum o futuro do presente aparecer em lugar do imperativo:
Futuro do presente Exprime um processo posterior ao momento da fala. Retirar os fechos plásticos antes de entregar para a
Fique tranquila, que eu darei notícias.
criança. 39
Futuro do pretérito Exprime um processo posterior a outro passado.
Usa-se também no lugar do presente. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
Alguns dias após esta pintura, Van Van Gogh se suicidaria .
69
PORTUGUÊS
O futuro do pretérito exprime ainda: •
a ocorrência de uma ação possível:
Garanto que este pão é de hoje. 41
Subjuntivo
Demonstra dúvida ou incerteza do enunciador diante daquilo que está enunciando. O enunciador quer dar a entender que não está seguro do que está dizendo, que está falando sob a forma de hipótese: hipótese:
Sem a desigualdade social, o Brasil seria hoje um paraíso. •
certa modéstia ou polidez ao narrar uma ação ou dar uma opinião.
Exemplos: Eu proporia uma solução diferente. A senhorita uma foto comigo?
tiraria
Espero que as laranjas estejam doces. 42
Imperativo
No modo imperativo, a atitude do falante perante o processo que enuncia é de ordem, solicitação. O enunciador usa o imperativo para demonstrar o desejo de que o interlocutor realize o que está sendo enunciado:
40
MODOS VERBAIS
O modo é uma categoria verbal que serve para exprimir a atitude que o enunciador assume perante o processo que enuncia.
Indicativo Simplesmente relata uma ocorrência, expõe um acontecimento, sem colocá-los sob suspeita ou incerteza. O enunciador quer dar a entender que está certo e seguro do que está dizendo:
SISTEMA ANGLO DE ENSINO
70
Jogue o lixo na lixeira.
PORTUGUÊS
Regência verbal
CAPÍTULO 9
Regência é o mecanismo que regula as ligações entre um verbo ou um nome e os seus complementos. 1
d) No sentido de morar, residir, constrói-se com a preposição em, antes do adjunto adverbial de lugar. Exemplo: Vim do interior e hoje assisto na capital.
REGÊNCIA VERBAL Quando o termo regente é um verbo. Exemplo:
Isto
2
5
pertence
a todos.
Ter ermo mo re rege gent ntee = ver verbo bo
Ter ermo mo re regi gido do
a) No sentido de mirar, apontar arma = transitivo direto.. reto Exemplo: O arqueiro visou apenas o fruto que estava sobre a cabeça da jovem. b) No sentido de passar visto = transitivo direto. direto. Exemplo: O professor visou os trabalhos dos alunos.
REGÊNCIA NOMINAL Quando o termo regente é um nome. Exemplo:
Tenho opinião
c) No sentido de objetivar, ter em vista = transitivo indireto (rege a preposição a). Exemplo: Não visamos a resultados imediatos.
semelhante
à sua.
Termo regente = nome
Termo regido
Observação
Os verbos: • aspirar, no sentido de almejar; • assistir, no sentido de presenciar; • visar, no sentido de ter em vista;
REGÊNCIA DE ALGUNS VERBOS 3 Aspirar
apesar de transitivos indiretos, indiretos, não aceitam os pronome oblíquos átonos lhe lhe,, lhes como complementos. Aceitam apenas as formas tônicas: a ele, a ela, a eles, a elas.
a) No sentido de sorver (o ar) = transitivo direto. direto. Exemplo: Aspiramos fumaça e gases. gases. b) No sentido de almejar = transitivo indireto (rege a preposição a). Exemplo: ` Não aspiro a este posto de fiscal. 4
Exemplo: • Aspiras ao cargo? cargo? • Sim, aspiro a ele. 6
Assistir
Informar
Como transitivo direto e indireto indireto,, admite duas construções: a) coloca-se o nome referente à pessoa como objeto direto e o referente à coisa como objeto indireto (constrói-se com as preposições de ou sobre); Exemplo: Informaram os alunos dos resultados (sobre os resultados).). sultados
a) No sentido de presenciar, ver = transitivo indireto (rege a preposição a) Exemplo: Assistimos ao jogo lá das arquibancadas. b) No sentido de caber, competir = transitivo indireto (rege a preposição a). Exemplo: A revogação da lei não assiste aos deputados. deputados.
b) coloca-se o nome referente à coisa como objeto direto e o referente à pessoa como objeto indireto (constrói-se com a preposição a). Exemplo: Informaram o resultado aos alunos. alunos.
c) No sentido de dar assistência, ajudar = transitivo direto. direto. Exemplo: O médico assistia os enfermos. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
Visar
71
PORTUGUÊS
b) Pronominal = transitivo indireto (rege a preposição de). Exemplo: Esqueci-me dos documentos.
Observação
Admitem Admi tem a mesm mesmaa constru construção ção que informar os verbos: • • • • 7
avisar; certificar; notificar; prevenir.
c) Pode-se colocar o nome referente à coisa como su jeito; nesse caso, o verbo ganha o sentido de cair no esquecimento . Exemplo: Esqueceram-me os documentos.
Obedecer (desobedecer) Sempre transitivos indiretos. indiretos. Exemplo: Não se obedece aos impulsos primários. primários.
8
A mesma regência é válida para o verbo lembrar. Exemplos: Lembro os fatos. Lembro-me dos fatos. Lembram-me os fatos.
Pagar (perdoar) a) Quando o objeto objeto se se refere a coisa transitivo direto. direto. Exemplo: Não pagamos os salários de dezembro. dezembro. ϭ
12
No sentido de convocar = transitivo direto. direto. Exemplo: Todos chamaram o guarda.
b) Quando o objeto se se refere a pessoa = transitivo indireto (constrói-se com a preposição a). Exemplo: Ninguém pagou ao conferencista. conferencista.
No sentido de cognominar , denominar, admite as seguintes construções. • Objeto direto + predicativo do objeto (constrói-se com ou sem a preposição de). • Objeto indireto (com a preposição a) + predicativo do objeto (constrói-se com ou sem a preposição de).
Observação 1
Este verbo pode também ser transitivo direto e indireto indireto.. Exemplo: Pagaram o salário ao funcionário. funcionário.
Exemplo:
Observação 2
Chamam José de idiota. Chamam José idiota. Chamam a José de idiota. Chamam a José idiota.
A mesma regência do verbo pagar cabe a perdoar. Exemplos: Perdoaram o crime. crime. Perdoaram ao criminoso. criminoso. Perdoaram o crime ao criminoso. criminoso. 13 9
Preferir
b) No sentido de acarretar é transitivo direto e indireto.. reto Exemplo: O trabalho custou sacrifício a todos todos..
Precisar/necessitar
Ocorrem como transitivos diretos e também como transitivos indiretos. indiretos. Exemplos: Preciso mais tempo. tempo. / Necessito sua ajuda. ajuda. Preciso de mais tempo. tempo. / Necessito de sua ajuda. ajuda.
14
b) No sentido de provir de, é intransitivo e rege a preposição de antes do adjunto adverbial de lugar. lugar. Exemplo: O avião procede de Roma Roma..
Exemplo: Precisou bem o lugar onde ocorreu o acidente.
Esquecer/lembrar
c) No sentido de dar início é transitivo indireto (rege a preposição a). Exemplo: Logo procederemos ao trabalho. trabalho.
a) Não pronominal = transitivo direto. direto. Exemplo: Esqueci os documentos. documentos. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
Proceder a) No sentido de ter procedência, ter fundamento = intransitivo. Exemplo: Sua reclamação não procede .
Observação Precisar, como transitivo direto, direto, tem também o sentido de marcar com precisão.
11
Custar a) No sentido de ser custoso, ser difícil tem como sujeito o nome referente à coisa e é transitivo indireto (rege a preposição a). Exemplo: Custa ao homem o trabalho penoso.
É transitivo direto e indireto e constrói-se assim: colocase no objeto direto a coisa mais apreciada e noobjeto no objeto indireto a coisa menos apreciada precedida da preposição a. Exemplo: Todos preferem o elogio ao castigo. castigo. 10
Chamar
72
PORTUGUÊS
15
Querer
19
a) Verbo transitivo indireto não admite voz passiva. É tido como errado dizer: O cargo é aspirado por nós. O uso prescrito é: Nós aspiramos ao cargo.
a) No sentido de desejar = transitivo direto. direto. Exemplo: Não quero o cargo. cargo. b) No sentido de estimar, gostar = transitivo indireto (constrói-se com a preposição a). Exemplo: Não quero bem aos caluniadores. caluniadores. 16
b) Não se pode dar um único complemento a verbos de regências diferentes. É errado dizer: Vi e gostei do filme ver (ver = transitivo direto; direto; gostar = transitivo indireto indireto).). O uso prescrito é: Vi o filme e gostei dele ele.. Ou, melhor ainda: Gostei do filme que que vi. vi.
Simpatizar
Não é pronominal. Exemplo: Ninguém simpatizou com ela ela.. (transitivo indireto, indireto, rege a preposição com) 17
c) Quando o pronome relativo funciona como como complecomplemento de um verbo, deve respeitar a regência deste verbo. Exemplo:
Chegar/Ir
Regem a preposição a antes do adjunto adverbial de lugar para onde. Exemplos: Chegamos ao local. local. Fomos ao local. local. 18
Observações finais
Gostei do filme
Implicar No sentido de acarretar = transitivo direto. direto. Exemplo: O atraso implicará perda dos direitos. direitos.
SISTEMA ANGLO DE ENSINO
Ø
que
vi.
a
que
assisti.
de
que
falaste.
a
que
te opuseste.
de
que
te queixaste.
Usando uma regra mais simples, podemos dizer: a preposição que vem à esquerda do pronome r elativo é comandada pelo verbo que vem à direita.
73
PORTUGUÊS
Crase
CAPÍTULO 10
Há os que preferem à segurança a aventura.
A última vogal da palavra Ipiranga, por exemplo, é produzida juntamente com o a do artigo as. Quando cantamos, ouve-se um a apenas. Em outros termos, dois aa se fundem num só. Trata-se Trata-se de uma crase. Assim também o último o da palavra heroico se funde com o artigo o, ocorrendo outra crase. Como esses, há muitos outros exemplos ao longo do Hino Nacional brasileiro. Ao cantar Ó pátria a mada, / Idolatrada, / Salve! Salve! não emitimos o último a de pátria separadamente do primeiro a de amada, configurando outro exemplo de crase. O mesmo acontece com Terr a a dorada ou ainda no verso Fulguras, ó Brasil, Florão da A mérica, com o artigo a e o primeiro a de América. Em síntese, a crase, entendida em sentido amplo, isto é, a pronúncia de duas vogais iguais como uma só, é um fenômeno corriqueiro do português português falado. Quem diz coperação, em vez de cooperação, está fazendo crase de dois oo. 2
CRASE EM SENTIDO ESTRITO Em sentido estrito, chamamos de crase a fusão de dois aa,
que, na escrita, vem assinalada com um acento grave ` ( ). Para ilustrar essa ocorrência, observe-se a sequência de exemplos que vêm a seguir.
Há os que preferem a segurança à aventura. 1
CRASE EM SENTIDO LATO
Em sentido mais amplo, crase é a fusão de duas vogais da mesma natureza (crase, em grego, significa fusão). Entendida dessa maneira, a crase ocorreu durante toda a história do nosso idioma e continua a ocorrer ainda nos dias de hoje. Ao cantar o Hino Nacional, por exemplo, fazemos crase em muitas passagens. Exemplo: as Ouviram do Ipiranga as margens plácidas De um povo heroic o o brado retumbante (…)
o SISTEMA ANGLO DE ENSINO
O povo aderiu ao racionamento.
74
PORTUGUÊS
Colocando a legenda legenda em esquema, temos: temos:
aderiu
1 a
2 o
verbo transitivo indireto indireto ; rege a preposição a
preposição regida pelo verbo
artigo masculino, masculino , concordando com o substantivo racionamento
O povo
racionamento. substantivo masculino; masculino ; complemento do verbo aderiu
Nesse caso não ocorreu crase, pois não houve fusão de duas vogais iguais. Houve uma combinação da preposição a com o artigo o, dando ao. Troquemos agora o complemento do verbo por um substantivo feminino. Então, o artigo que ocorre no eixo 2 passa para a forma feminina, e aí temos o fenômeno da crase, como se pode ver na legenda da foto ao lado.
O povo aderiu à passeata. Esquematicamente, temos: aderiu
1 a
2 a
verbo transitivo indireto indireto ; rege a preposição a
preposição regida pelo verbo
artigo feminino, feminino , concordando com o substantivo passeata
O povo
Também aqui não houve crase. O verbo O verbo (termo regente) exige a preposição a, mas o termo regido (Roma te) Roma)) não aceita o artigo. Faltou, pois, a segunda condição para ocorrer a crase. Esquematicamente, teríamos:
REGRA GERAL
Quando a crase é resultado da fusão da preposição a com o artigo feminino a, para que ela ocorra são necessárias, obviamente, duas condições: • que o termo regente exija a preposição a; • que o termo regido aceite o artigo a. Como decorrência dessa regra geral, três casos podem ocorrer:
Eu
л
a
Bahia.
verbo transitivo direto;; não exige direto preposição
não ocorre preposição
artigo
substantivo que aceita artigo
SISTEMA ANGLO DE ENSINO
a
л
Roma.
verbo que exige a preposição a
preposição regida pelo verbo
não ocorre o artigo
substantivo que não aceita artigo
É fácil determinar quando o nome regido aceita ou não artigo. Basta, nesse caso, tentar colocar o artigo antes da palavra e verificar se “soa” bem. Por uma questão de estratégia, é melhor testar o artigo com substantivos na função de sujeito, em frases formadas pelo verbo ser mais um predicativo. Sejam os três substantivos: Bahia, Roma e cidade. Colocando-os no início de uma frase, temos: • A Bahia é grande. • A cidade é grande. • *A Roma é grande.
Aqui não houve crase porque o verbo conhecer não exige preposição. O a que aparece antes de Bahia é apenas um artigo. Esquematicamente, teríamos:
conheço
vou
Observação
a) Eu conheço a Bahia
Eu
substantivo feminino; feminino ; complemento do verbo aderiu
b) Eu vou a Roma
Nesse caso, quando falamos, não produzimos dois aa distintos, mas um só. E quando escrevemos, grafamos só um a, colocando sobre ele um acento grave ( ` ), indicando que se trata da fusão de dois aa, tal como vem ilustrado na legenda da foto anterior. 3
passeata.
* O asterisco é indicador de frase inaceitável na lín-
gua portuguesa.
75
PORTUGUÊS
CASOS PROIBITIVOS DE CRASE
Um falante do português, fazendo uso apenas de sua intuição de falante nativo, percebe que o artigo é compatí vel com Bahia e cidade, mas não com Roma. Como as razões dessa diversidade de comportamento são complexas, não vamos comentá-las nesta unidade.
Obviamente, nunca vai ocorrer crase antes de pala vras incompatíveis com o artigo a, como nos casos que seguem.
c) Eu vou à Bahia
Antes de masculino
Aqui houve crase, crase, isto é, a fusão da preposição a com o artigo a, pois ocorreram as duas condições necessárias: regente)) está exigindo a preposição • o verbo (termo regente a (ir a); regido)) aceita o artigo a, como • o substantivo (termo regido vimos no item b.
Nesse caso nunca ocorre crase porque antes do masculino jamais ocorrerá o artigo a.
4
Chegou a tempo. Esquematicamente teremos:
Esquematicamente, teríamos:
Eu
5
Chegou
vou
a
a
verbo que exige a preposição a
preposição regida pelo verbo
artigo
Bahia.
a
л
tempo.
preposição
artigo
masculino
Observação
Para entender o esquema, observe que, nesse caso, o a é apenas uma preposição. O sinal de conjunto vazio indica que não ocorreu o artigo.
substantivo que aceita o artigo a
Antes de infinitivo Nunca ocorre crase antes do infinitivo. O artigo a jamais aparecerá antes de verbo algum. Estou decidido a continuar a avaliação do ensino superior. Esquematicamente:
Estou
6
decidido
a
л
continuar a avaliação do ensino superior.
preposição
artigo
infinitivo
Antes de pronome de tratamento Como em princípio os pronomes de tratamento não admitem artigo, antes deles também não ocorre a crase. Exemplo: Referia-me a V. S.ª. Esquematicamente:
Referia-me
a
л
V.. S.ª. V
preposição
artigo
pronome de tratamento
Observação
Os pronomes de tratamento senhora, senhorita e dona admitem o artigo a. Portanto, ocorre crase antes deles. Exemplo: Dirigia-me à senhorita. Esquematicamente, teríamos:
Dirigia-me
a
a
senhorita.
preposição
artigo
pronome de tratamento
SISTEMA ANGLO DE ENSINO
76
PORTUGUÊS
7
Antes de pronomes indefinidos e de pronomes em geral
Os pronomes indefinidos nunca admitem artigo e a maioria dos outros pronomes também não; consequentemente, antes deles não ocorre crase. Agradeço a toda a população o apoio ao nosso programa. Esquematicamente:
Agradeço
a
л
toda
a população o apoio ao nosso programa.
preposição
artigo
pronome indefinido
a
л
ela.
preposição
artigo
pronome pessoal
Outro exemplo:
Falávamos Observação
Evidentemente, há alguns pronomes que admitem artigo, caso em que ocorrerá a crase. Exemplo: Falávamos à mesma pessoa. Esquematicamente:
Falávamos
8
a
a
mesma
pessoa.
preposição
artigo
pronome demonstrativo
A (sem o s de plural) antes de um feminino plural
Nunca ocorre a crase quando um a (sem o s de plural) vem antes de um feminino plural. Esse a só pode ser uma preposição, e nunca uma fusão da preposição com o art igo. Se o artigo estivesse presente, deveria ocorrer no plural. Esquematicamente: A cerimônia foi feita a portas fechadas.
A cerimônia
foi feita
a
л
portas fechadas. portas fechadas.
preposição
artigo
substantivo feminino plural
Observação
Mas, se ocorrer o s, obviamente ocorrerá a crase. Em síntese, temos duas construções: 1. Não falo Não falo a crianças (sem o s e sem a crase). 2. Não falo Não falo às crianças (com o s e com crase). 9
Expressões formadas de palavras repetidas Nunca ocorre crase nas expressões formadas de palavras repetidas: Estamos frente a frente. Esquematicamente:
Estamos frente
SISTEMA ANGLO DE ENSINO
a
л
preposição
artigo
frente.
77
PORTUGUÊS
Ligando tais expressões, só ocorre a preposição e não o artigo, fato que se demonstra facilmente por uma expressão análoga masculina.
Caminhamos passo
a
л
preposição
artigo
12
Expressões adverbiais femininas
Nas expressões adverbiais femininas, nem sempre haveria razões suficientes para a ocorrência da crase. Em todo caso, por uma questão de uniformização, costuma-se seguir a seguinte regra. • Sempre ocorre acento indicador de crase nas expressões adverbiais femininas. Exemplos: Chegou à tarde (expressão adverbial de tempo). Anda à procura (de fim). Está à direita (de lugar). Fala à vontade (de modo). Cortou-se à navalha (de instrumento). Feriu-se à bala (de instrumento). Raspou o cabelo à máquina.
passo.
CRASE OBRIGAT OBRIGATÓRIA ÓRIA 10 Na indicação do número das horas Sempre ocorre crase na indicação do número das horas, desde que a expressão seja feminina:
Observação
Também nas locuções conjuntivas (equivalentes a con junções), formadas de expressões femininas, sempre se usa o acento indicador de crase. Exemplo: À medida À medida que chega o inverno, as noites se tornam mais longas. O relógio do convento parou às 11 horas e 25 minutos.
CRASE OPTA OPTATIVA TIVA 13 Nomes próprios de pessoas e possessivos femininos
Nessas expressões, há o encontro da preposição a com o artigo a; se a hora for masculina, teremos a combinação ao. Exemplo: Chegarei ao meio-dia. 11
Pode ou não ocorrer crase antes de nomes próprios femininos de pessoa e antes de pronomes possessivos também femininos (minha, tua, sua, nossa, vossa).
À moda de
Sempre ocorre crase na expressão à moda de, mesmo que a palavra moda venha oculta:
Exemplos: Falei a Maria. ou Falei à Maria. Falei a sua mãe. ou Falei à sua mãe. Isso se explica pelo fato de que, antes dessas duas classes de palavras, pode-se ou não usar o artigo, como se pode perceber pelo teste: • л Maria é calma. • A Maria é calma. • л Sua classe é dedicada. • A sua classe é dedicada.
Vê-se uma cena à gaúcha.
CASOS ESPECIAIS 14 Com a palavra casa no sentido de lar
Esquematizando, teríamos:
Vê-se uma cena
a preposição
SISTEMA ANGLO DE ENSINO
a
Com a palavra casa, no sentido de lar, habitação, há duas possibilidades: • se a palavra casa não vier determinada, não ocorrerá a crase; Depois das compras regressaram a casa casa..
[moda moda]] gaúcha.
palavra artigo feminina oculta
78
PORTUGUÊS
Observe como antes da palavra casa, nesse sentido, só se usa a preposição e não o artigo: Dormi em casa casa.. Saiu de casa casa.. • se a palavra casa vier determinada, ocorrerá a crase.
Nesse caso, ocorre a preposição e o artigo. Assim: Gosto da da terra dos nossos descobridores. 16
A preposiçã preposição o até pode ser empregada sozinha ou acompanhada da preposição a, formando uma locução. Daí decorre que, se ela vier seguida de palavra feminina compatí vel com o artigo, artigo, será será indiferente indiferente o emprego da crase. crase.
Exemplo: Volte V olte à casa dos amigos.
Exemplo: Vou V ou até a cidade ou Vou V ou até à cidade cidade..
termo que está determinando a palavra casa
Nesse caso, ocorre a preposição e o artigo: Dormi na casa dos amigos. Saiu da casa dos amigos. Passou pel pelaa casa dos amigos. 15
Palavra feminina depois da preposição até
Com a palavra terra no sentido de chão firme
Com a palavra terra, no sentido de chão firme, em oposição a mar, há também duas possibilidades: • se não vier determinada, não haverá a crase, como ocorre na legenda da foto abaixo;
17
Crase da preposição a com a vogal inicial ( a ) de pronomes demonstrativos
Sempre que o termo regente exigir a preposição a e vier seguido dos pronomes pronomes demonstrativos aquele, aquela, aqueles, aquelas, aquilo, ocorrerá crase da preposição a com o a que inicia tais pronomes. Exemplo: Fomos àquela cidade. Esquematicamente, teríamos:
Fomos
a
aquela cidade.
preposição
primeira vogal do pronome
Observação
Como esse tipo de crase não depende do artigo a, evidentemente pode ocorrer antes de masculinos ou femininos. 18
Os velejadores chegaram a terra ao anoitecer a noitecer..
Crase antes do pronome relativo que
Pode ocorrer ou não crase antes do pronome relativo que. Nesse caso, para descobrir se ocorre ou não, pode-se usar o seguinte artifício. • Substitui-se o antecedente por masculino. • Se, com o masculino, aparecer ao antes do que, ha verá crase. • Se, trocando o antecedente por um masculino, o a não se alterar, então não haverá crase. É sinal de que se trata de uma simples preposição.
Observe que, nesse caso, só ocorre a preposição e não o artigo. Assim: Você V ocê viajou por mar e eu por terra. • se a palavra terra vier determinada determinada,, ocorrerá ocorrerá a crase: crase:
Exemplo: Sua ideia é igual à que tenho. Aqui ocorreu a crase, pois se trocarmos ideia por pensamento (que é masculino), teremos: Seu pensamento é igual ao que eu tenho. Mas, observe uma frase como esta: A peça a que assisti foi boa. Aqui não houve crase, pois se trocarmos peça por filme (masculino) o a não se altera. Exemplo: O filme a que assisti foi bom.
Chegamos à terra dos nossos descobridores. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
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PORTUGUÊS
Colocação das palavras 1
CAPÍTULO 11
INTRODUÇÃO
Quando falamos ou escrevemos, nem sempre nos damos conta de que a simples mudança do lugar de uma palavra pode afetar consideravelmente o sentido de uma frase, como é o caso das legendas ilustradas nesta página.
Na festa dos bichos, só o sapo não veio.
Na festa dos bichos, o sapo não veio só.
SISTEMA ANGLO DE ENSINO
80
PORTUGUÊS
Outras vezes, a posição das palavras não afeta em nada o sentido, mas prejudica a sonoridade. Com uma simples mudança de posição, pode-se consertar tudo. Você não me conhece?
Mesmo sem precisar apelar para conhecimentos especializados, sentimos que o enunciado I está enquadrado nos padrões de harmonia e melodia da frase; é agradável de ouvir. Por outro lado, o enunciado II nega esses padrões. Isso nos leva a concluir que há uma disposição de palavras mais harmônica do que outra.
Eu não. Nunca vi-te.
4
A colocação interfere também na maior ou menor clareza do enunciado. Há uma determinada disposição das palavras na sequência que exige menos esforço de compreensão que outra. Vejamos V ejamos os dois enunciados a seguir. seguir. I) A destruição pelas chuvas da ponte trouxe enormes prejuízos. II) A destruição da ponte pelas chuvas trouxe enormes prejuízos.
A fala do segundo balão, que nem parece português, na verdade fica perfeita apenas com o deslocamento do pronome: – Nunca te vi.
Como se pode perceber, o enunciado II, em matéria de clareza, é francamente preferível ao I.
Bastam esses dois exemplos ilustrados para demonstrar que a posição das palavras não é indiferente no português, afetando tanto o sentido quanto outros aspectos da comunicação que não podem ser deixados de lado. Problemas como esses são tratados em um tópico que as nossas gramáticas designam pelo nome de sintaxe de colocação. Vejamos V ejamos alguns itens relevantes desse tema. 2
5
COLOCAÇÃO E EXPRESSIVIDADE
A colocação, por fim, serve para concentrar o foco da atenção numa palavra ou outra do enunciado. Para evidenciar tal fato, basta citar a posição dos adjetivos em relação aos substantivos. Por exemplo: I) Dize-me para onde vais, solitário peregrino. II) Dize-me para onde vais, peregrino solitário.
INTERFERÊNCIA DA COLOCAÇÃO NA ESTRUTURA SINTÁTICA
A colocação colocação interfere, muitas vezes, na estrutura da frase, como se pode observar pelo confronto dos dois enunciados a seguir. I) A personagem principal era brasileiro brasileiro novo e rico. II) A personagem principal principal era brasileiro e novo-rico.
Confrontando os dois enunciados, fica evidente a ên fase que ganha o adjetivo do primeiro enunciado pela sua anteposição ao substantivo. No enunciado II, o adjetivo posposto ao substantivo cria um efeito de mais objetividade, de neutralidade. No I, enfatiza a impressão subjetiva do enunciador. 6
Como se vê, a simples mudança de lugar da conjunção e altera a relação sintática entre os t ermos do enunciado e afeta o sentido. Em I, novo está qualificando brasileiro (é um adjunto adnominal). Em II, o mesmo termo continua sendo um qualificador; nessa posição, porém, não está mais associado a brasileiro, mas a rico, formando inclusive uma palavra composta. Por aí se vê que a alteração da ordem das palavras pode modificar a estrutura sintática da frase. Evidentemente, nem toda mudança na colocação das palavras interfere na estrutura sintática. A mudança de colocação só afeta o sentido do enunciado quando faltam outros marcadores de correlação. 3
INTERFERÊNCIA DA COLOCAÇÃO NA CLAREZA DA FRASE
TOPICALIZAÇÃO
INTERFERÊNCIA DA COLOCAÇÃO NA HARMONIA DA FRASE
A colocação interfere também na sonoridade da frase. Observe os dois enunciados que seguem. I) Não se farão concessões. II) Não farão-se concessões. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
81
Topicalizar é o mesmo que colocar no topo. Considerase o início da frase como se fosse o topo. Assim, a colocação de uma palavra ou expressão no início é como colocála no pódio, no topo. PORTUGUÊS
Exemplo: O casarão, casarão, não havia nada que chamasse mais a atenção na paisagem.
9
COLOCAÇÃO DOS PRONOMES ÁTONOS
Um item da colocação de palavras particularmente in fluenciado pela sonoridade é a disposição dos pronomes oblíquos átonos na cadeia da frase, razão por que costuma constituir um tópico à parte nos estudos gramaticais. Eis a lista desses pronomes: me, te, se (o, a lhe), nos, vos, se (os, as, lhes). São três as posições que eles ocupam em relação aos verbos: 1. Não os convidei. Próclise, quando o pronome é colocado antes do verbo. 2. Convidei-os. Ênclise, quando o pronome é colocado depois do verbo.
7
3. Convidá-los-ei. Mesóclise, quando o pronome é colocado no meio do verbo.
FOCALIZAÇÃO
Empregar,, em determinada circunstância, a próclise Empregar próclise,, a ênclise ou a mesóclise é uma questão de eufonia, de bom som da frase. As regras gramaticais a esse respeito não fazem mais do que sistematizar as grandes tendências.
Há palavras que se justapõem a outras para dar-lhes destaque, como se fossem um foco de luz colocado sobre um objeto num cenário. Exemplo:
10
PRÓCLISE
Emprega-se a próclise quando o verbo vem precedido de certas palavras que nossa tradição gramatical convencionou chamar de palavras atrativas. São as seguintes.
a) Palavras negativas Não
se aceitam devoluções.
palavra negativa
De todos os componentes, o rei é que recebe mais luz neste tabuleiro. A expressão é que está focalizando o termo anterior. 8
PRINCÍPIO GERAL SOBRE A COLOCAÇÃO DAS PALAVRAS
Nossos estudos gramaticais não dispõem ainda de um conjunto fechado de normas sobre a colocação das pala vras no enunciado. Apesar disso, a título de orientação geral, podemos pautar-nos pela seguinte fórmula. A disposição ideal das palavras (salvo os casos casos sujeitos à expressividade) é aquela que confere à frase maior clareza e sonoridade. Exemplo: I) As críticas mais severas dos deputados ao presidente vieram de seu próprio partido. II) As críticas mais severas ao presidente dos deputados vieram de seu próprio partido. Não há dúvida de que a disposição das palavras é mais clara em I do que em II. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
b) Advérbios em geral Sempre
se encontra uma solução.
advérbio
Observação
Quando houver pausa entre o advérbio e o verbo, pre fere-se a ênclise.
82
PORTUGUÊS
Usa-se a próclise com duas formas verbais
Exemplo: Aqui, dorme-se com segurança.
a) Gerúndio precedido da preposição em Em se falando
de filme, prefiro comédia.
gerúndio precedido da preposição em
b) Infinitivo pessoal precedido de preposição Fora Fo ram m repr reprim imid idos os po porr se apresentarem atrasados. infinitivo pessoal precedido de preposição
Usa-se a próclise em três tipos de oração
c) Pronome indefinido Cada um
a) Orações interrrogativas
se protege como pode.
Quando eles se foram?
pronome indefinido
b) Orações exclamativas Quanto tempo se perde vendo televisão!
c) Orações optativas Ide em paz. O Senhor vos acompanhe! Observação
Orações optativas são aquelas por meio das quais exprimimos desejos. Exemplos: Deus te guarde. O destino te favoreça. Se o sujeito da oração optativa vier depois do verbo, emprega-se a ênclise ênclise.. Exemplo: Protejam-te os céus.
d) Pronome relativo Há flores
que
se destacam na paisagem. 11
pronome relativo
MESÓCLISE
Emprega-se a mesóclise apenas com o futuro do presente e o futuro do pretérito. Exemplo: Convidá-lo-ei
quando o encontrar.
verbo no futuro do presente
Convidá-lo-ia
se o encontrasse.
verbo no futuro do pretérito pretérito
Observação 1
Quando o futuro do presente ou o futuro do pretérito vêm precedidos de palavras atrativas, usa-se a próclise próclise.. Exemplo: Não o convidarei. Não o convidaria.
e) Conjunção subordinativa Quando
me procuraram, eu não estava.
Na verdade, podemos afirmar que a próclise é sempre preferível à mesóclise mesóclise..
conjunção subordinativa SISTEMA ANGLO DE ENSINO
83
PORTUGUÊS
Observação 2
Observação
Na mesóclise mesóclise,, o pronome oblíquo sempre se encaixa entre o r e a terminação subsequente. Exemplo: Chamarei ϩ te ϭ chamarchamar-te te-ei -ei
É possível, nesses casos, o uso da próclise antes do verbo principal. Nesse caso, na escrita não se liga o pronome por hífen ao verbo auxiliar. Exemplo:
Se o pronome em questão for o o (a, os, as), cai o r e o pronome assume a forma lo (la, los, las). Exemplo: Chamarei ϩ os ϭ Chamá-los-ei. 12
Nunca posso te negar isso.
b) No início da oração
ÊNCLISE Emprega-se a ênclise ênclise:: a) quando o pronome pronome vier ligado a um verbo que inicia a frase, como é o caso ilustrado na placa da foto a seguir.
Quando a locução se situa no início da oração, não se usa o pronome antes do verbo auxiliar. Exemplo: Posso lhe dar garantia total. Posso dar-lhe garantia total.
c) Sem atração e no interior da oração Quando a locução verbal não vem precedida de palavra atrativa e situa-se no interior da oração, admite-se qualquer colocação do pronome. Exemplo: A vida lhe pode trazer surpresas. A vida pode-lhe trazer surpresas. A vida pode trazer-lhe surpresas. Observação 1
b) c)
d)
Quando o verbo auxiliar de uma locução verbal estiver no futuro do presente ou no futuro do pret érito, o pronome pode vir em mesóclise em relação a ele. Exemplo: Ter-nos-ia aconselhado a partir.
com verbo nos imperativo; Cale-se! quando o pronome se coloca junto a um gerúndio puro (sem preposição); Casal expondo-se ao sol. com o infinitivo impessoal. Não era possível entregar-lhe o bilhete.
Observação 2
Nunca se usa a ênclise com o futuro do presente ou futuro do pretérito. É inaceitável uma ocorrência como esta: *Dirás-me que o prazo expirou. A solução é: DirDir-me-ás que o prazo expirou.
Observação
A próclise ou a ênclise podem ocorrer com o infinitivo A próclise impessoal, quando este vem precedido de preposição ou de palavra negativa. Exemplos: Era para te deixar. Era para deixar-te. Procuramos não te magoar. Procuramos não magoar-te. 13
Observação 3
Há uma colocação pronominal, restrita a contextos literários, que deve ser conhecida: Há males que se não curam com remédios. Quando há duas partículas atraindo o pronome oblíquo, este pode vir entre elas. Poderíamos dizer também: Há males que não se curam com remédios. Observação 4
O PRONOME OBLÍQUO ÁTONO NAS LOCUÇÕES VERBAIS
Os pronomes oblíquos combinam-se entre si em casos como estes: me ϩ o ϭ mo; te ϩ o ϭ to; lhe ϩ o ϭ lho; nos ϩ o ϭ no-lo; vos ϩ o ϭ vo-lo.
O uso do pronome oblíquo átono nas locuções verbais pode ser resumido nas seguintes normas:
a) Com palavra atrativa Quando a locução vem precedida de palavra atrativa, o pronome se coloca antes do verbo auxiliar ou depois do verbo principal. Exemplo: Nunca te posso negar isso. Nunca posso negar-te isso. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
Tais combinações podem vir: • proclíticas: Eu não vo-lo disse? • mesoclíticas: Dir- vo-lo-ei já. • enclíticas: Os recados, entregaram-lhos há muito tempo.
84
PORTUGUÊS
Concordância
1
CAPÍTULO 12
INTRODUÇÃO
I) O caminhão levou os móveis da loja que foi vendida .
II) O caminhão levou os móveis da loja que foram vendidos .
No enunciado I, a locução verbal foi vendida, no singular, obriga-nos a interpretar o pronome que como um anafórico referente à palavra loja. Segundo essa interpretação, os móveis estão sendo levados pelo caminhão em razão da venda da loja. No enunciado II, a locução verbal foram vendidos, no plural, obriga-nos a interpretar a palavra móveis como referente do anafórico que. Nesse caso, entendemos que os móveis foram vendidos e a loja, por sua vez, continua funcionando. Esses dois exemplos são uma demonstração de que a concordância é um mecanismo que serve para indicar correlações entre as palavras do enunciado. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
2
CONCEITO
Em português, algumas palavras alteram suas terminações para se adaptarem às terminações de outras. Esse processo de adaptação recebe, em Gramática, o nome de concordância . Então: Concordância é o mecanismo pelo qual algumas palavras modificam suas terminações para se adaptarem às terminações de outras palavras da frase.
85
PORTUGUÊS
Observação
Convém lembrar que nem todas as palavras estão sujeitas ao processo de concordância. Os advérbios, por exemplo, são palavras invariáveis, isto é, não alteram a forma em nenhum contexto. 3
TIPOS DE CONCORDÂNCIA Concordância ia verbal: • Concordânc
aquela que ocorre entre o v erbo e seu sujeito.
Os aviões da Esquadrilha da Fumaça
chegaram.. chegaram
sujeito
verbo
Concordância ia nominal: a que ocorre entre artigo / numeral / pronome adjetivo / adjetivo e o substantivo ao qual • Concordânc
aqueles se referem.
Esta
bela
foto
tirou
o
primeiro
prêmio.. prêmio
pro ron nome ad adje jettiv ivo o
adje ad jettiv ivo o
substantivo
verbo
artigo
numeral
substantivo
CONCORDÂNCIA VERBAL 4 Regra geral
7
O verbo concorda com o núcleo do sujeito em número e pessoa. Exemplo: As noites sujeito plural – 3 a
chegaram
pessoa
verbo plural – 3 a
Sujeito composto com núcleos formados de pessoas diferentes
Núcleos antepostos ao verbo Quando os núcleos do sujeito composto são constituídos de pessoas gramaticais diferentes e estão antepostos, o verbo vai para o plural na pessoa gramatical mais baixa. Entenda-se como mais baixa a pessoa gramatical de número inferior; a primeira pessoa é mais baixa do que a segunda; a segunda, mais baixa do que a terceira. Exemplos:
frias.
pessoa
REGRAS PARA O SUJEITO COMPOSTO 5 Sujeito composto anteposto ao verbo O verbo vai para o plural:
O homem e a máquina sujeito composto anteposto ao verbo 6
evoluíram.. evoluíram
Eu e ele
viajamos juntos.
sujeito composto anteposto ao verbo eu 1a pessoa ele 3a pessoa
verbo plural 1a pessoa (a mais baixa)
Tu e ele
viajastes juntos.
sujeito composto anteposto ao verbo tu 2a pessoa ele 3a pessoa
verbo plural 2a pessoa (a mais baixa)
ϭ
verbo plural
ϭ
Sujeito composto posposto ao verbo
O verbo vai para o plural ou concorda com o núcleo mais próximo:
Brilhavam
a lua e as estrelas.
verbo plural
sujeito composto posposto ao verbo
ϭ
ϭ
Observação
Como no português contemporâneo é muito restrito o uso do pronome vós, quando o sujeito composto é formado do pronome tu mais uma 3a pessoa, o verbo vai para a 2a do plural (a de número mais baixo) ou para a 3a do plural. Exemplo: Tu e ele chegastes tarde. (verbo na 2a pessoa) ou Tu e ele chegaram tarde. (verbo na 3a pessoa)
ou Brilhava
a lua e as estrelas.
verbo concordando com o núcleo mais próximo
sujeito composto posposto ao verbo (núcleo mais próximo lua lua))
SISTEMA ANGLO DE ENSINO
ϭ
86
PORTUGUÊS
Resumindo •
8
quando o sujeito composto anteposto é formado de pessoas gramaticais diferentes, o verbo vai para o plural na pessoa mais baixa. Então, quando ocorrer: 1a e 2a – o verbo vai para o plural na 1a; 1a e 3a – o verbo vai para o plural na 1a; 2a e 3a – o verbo vai para o plural na 2a ou (por exceção) na 3a.
REGRAS ESPECIAIS DE CONCORDÂNCIA DO SUJEITO COMPOSTO ANTEPOSTO AO VERBO
Há casos especiais em que o sujeito composto, mesmo anteposto ao verbo, pode deixá-lo no singular. Por exemplo:
Núcleos sinônimos Quando os núcleos do sujeito são sinônimos, ou então quando o autor quer tomá-los como elementos integrantes de um conjunto indivisível, o verbo pode ficar no singular singular.. Exemplo:
Núcleos de pessoas diferentes pospostos ao verbo Quando o sujeito composto é formado de pessoas gramaticais diferentes e está posposto posposto ao verbo, podem ocorrer ocorr er duas construções igualmente corretas: • o verbo vai para o plural na pessoa gramatical mais baixa; ou • concorda com o núcleo mais próximo. Exemplo:
A coragem e o destemor fez dele um herói. H é
r c
u
l e
s
d e
L
”
A n
t
o
n
i
o
9
Saímos
ele e eu.
verbo plural 1a pessoa (a mais baixa)
sujeito composto posposto ao verbo ele 3a pessoa eu 1a pessoa ϭ
ϭ
Saiu
ele e eu.
verbo concordando em pessoa e número com o núcleo mais próximo (ele (ele))
sujeito composto posposto ao verbo ele 3a pessoa do singular (mais próximo) eu 1a pessoa
A coragem e o destemor
fez
sujeito composto anteposto ao verbo (núcleos sinônimos)
verbo singular
dele um herói.
Observação
No caso, vale também o verbo no plural. O singular se explica pela facilidade que temos de englobar conceitos sinônimos num só conjunto: são duas formas, mas uma ideia única.
ϭ
ϭ
Núcleos dispostos em gradação
Quando os núcleos do sujeito composto vêm dispostos numa sequência gradativa (ascendente ou descendente), o verbo pode ficar no singular:
A brisa, o vento, a tempestade sujeito composto núcleos dispostos em gradação
não
amedrontava os velejadores. verbo singular
Aqui, o singular se explica por razões psicológicas: nas sequências gradativas, o último elemento da série é o que vem carregado de mais ên fase e expressividade, fat o que pode induzir o verbo a concordar apenas com ele. Nesse caso, também é aceitável o verbo no plural. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
87
PORTUGUÊS
10
Núcleos resumidos por pronomes indefinidos
12
Quando os núcleos vêm resumidos por pronomes indefinidos no singular, tais como alguém, ninguém, cada um, tudo, nada, o verbo fica no singular e, nesse caso, não ocorre o plural.
Um dos que
Quando o sujeito é constituído do pronome relativo que precedido das expressões um dos, uma das: • o verbo vai para a 3a pessoa do plural – construção mais comum; ou •
o verbo fica na 3a pessoa do singular – construção mais rara.
Exemplo:
Ele foi um dos
que
mais falaram (ou (ou falou falou).).
sujeito
13
verbo
Alguns de nós / Quais de vós
Quando o sujeito é formado de um pronome indefinido ou interrogativo no plural (alguns, muitos, quais, quantos…), seguido de um pronome pessoal preposicionado (de nós, de vós): • o verbo vai para a 3a pessoa do plural, concordando com o pronome indefinido ou interrogativo;
Frutas, legumes, verduras, tudo estava fresco.
ou Frutas,, legumes Frutas legumes,, verduras verduras,, tudo
estava
sujeito composto anteposto ao verbo (os núcleos, embora estejam no plural, vêm resumidos pela palavra tudo)
verbo singular
•
fresco.
o verbo concorda com o pronome pessoal que vem após o indefinido ou interrogativo.
Exemplo:
No caso, o plural é inaceitável, pois o poder sintetizante do pronome indefinido é tão marcante, que prevalece a ideia do conjunto e não das partes que o compõem. Enfim, o que se deve ressaltar é o fato de que as leis de concordância não estão sujeitas exclusivamente ao jogo fixo das normas lógicas e frias da exatidão. Pode haver razões de outras instâncias que justifiquem uma concordância aparentemente absurda aos olhos rígidos de um esquema lógico.
Alguns de nós
partiram.. partiram
sujeito pronome indefinido (alguns ( alguns)) seguido de um pronome pessoal preposicionado ( de nós)
verbo 3a pessoa do plural concordando com o pronome indefinido (alguns ( alguns))
Alguns de nós
partimos.. partimos
sujeito idêntico ao caso anterior
verbo 1a pessoa do plural concordando com o pronome pessoal preposicionado ( de nós)
CONCORDÂNCIAS VARIANTES Esse subtítulo compreende alguns casos em que, mesmo dentro da variante culta escrita, admitem-se duas formas de concordância. 11
Um e outro
Quando o sujeito de uma oração é constituído da expressão um e outro , o verbo pode ir para o plural ou singular. Exemplo:
Observação
Quando, porém, o pronome interrogativo ou indefinido estiver no singular, o verbo ficará, necessariamente, na 3a pessoa do singular. Exemplo:
Um e outro
chegou (ou chegaram chegaram))
sujeito
verbo
SISTEMA ANGLO DE ENSINO
Algum de nós falhou nós falhou?? Qual de nós sairá sairá?? Cada um de nós se enganou. enganou.
ao local.
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PORTUGUÊS
14
Sujeito constituído de pronome relativo
Bateram 8 horas.
quem
Quando o sujeito é constituído pelo pronome relativo quem: • o verbo fica na 3a pessoa do singular, concordando com o próprio pronome quem; ou • o verbo concordará com o antecedente deste pronome relativo. Exemplo: Oração A
Fomos
Oração B
nós
quem
falou.. falou
antecedente do pronome relativo quem
sujeito da oração B
verbo 3a pessoa do singular concordando com o pronome quem
ou: Oração A
Fomos
Oração B
nós antecedente do pronome relativo quem
quem
falamos.. falamos
sujeito da oração B
verbo 1a pessoa do plural concordando com o antecedente ( nós) do pronome quem
REGRAS PARA OS CASOS EM QUE O VERBO ADMITE UMA ÚNICA CONCORDÂNCIA 15 Um ou outro / Nem um nem outro Quando o sujeito é formado pelas expressões um ou outro, nem um nem outro , o verbo fica no singular. Exemplos:
Bateram
8 horas.
verbo plural
sujeito plural
Bateu
meio-dia.
verbo singular
sujeito singular
Observação Um ou outro
servirá
sujeito
verbo singular
Nem uma nem outra concordou sujeito
16
Com esses mesmos verbos, pode-se conceber como sujeito o instrumento que bate as horas (o relógio, o sino) ou até mesmo o local (a torre). Nesses casos, obviamente, o verbo deixa de concordar com as horas.
de exemplo.
comigo.
verbo singular
Deram 10 horas / Bateram 10 horas
Os verbos dar, bater e soar, na indicação de horas, vão concordar com o número das horas, que normalmente é o sujeito dos respectivos verbos: SISTEMA ANGLO DE ENSINO
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17
O relógio
bateu
10 horas.
sujeito singular
verbo singular
objeto direto
Sujeito constituído de pronome relativo
que
Quando o sujeito é formado pelo pronome relativo que, o verbo concorda com o antecedente deste pronome. PORTUGUÊS
Exemplo:
18
Oração A
19
Oração B
Sujeito indeterminado pelo pronome se
Quando a indeterminação do sujeito é marcada pelo pronome se, o verbo fica no singular.
Fui
eu
que
prometi.. prometi
Fomos
nós
que
prometemos.. prometemos
Fostes
vós
que
prometestes.. prometestes
antecedente do pronome relativo que
pronome relativo, sujeito da oração B
verbo na mesma pessoa e número do antecedente do pronome relativo que
Sujeito de um verbo apassivado pelo pronome
?
Precisa-Precisa
se
de alfaiates.
sujeito indeterminado
verbo singular 3a pessoa
índice de indeterminação do sujeito
objeto indireto
se
Quando o sujeito vem apassivado pelo pronome se, está sempre explícito na frase, e o verbo deve concordar com ele. Exemplo:
Estas classes
se
formaram
de gente adulta.
sujeito plural
partícula apassivadora
verbo plural
agente da voz passiva
No português atual, quando o pronome se funciona como apassivador, apassivador, o agente da voz passiva não vem expresso na frase e o sujeito vem posposto posposto ao verbo. Na variante culta escrita, diferentemente da popular, o verbo concorda concorda normalmente com o respectivo sujeito. Exemplo:
Formaram-Formaram
se
classes.. estas classes
?
verbo plural (voz passiva sintética)
partícula apassivadora
sujeito plural
agente da voz passiva não ocorre na frase
Essa oração, que está na voz passiva pronominal ou sintética, obedece à mesma concordância que obedeceria se nós a convertêssemos para a voz passiva analítica (passiva com o verbo ser). Exemplo:
20
Foram formadas
classes.. estas classes
?
locução verbal (voz passiva analítica)
sujeito plural
agente da passiva
Verbos impessoais
Como verbo impessoal é aquele que não tem sujeito, ele não tem com quem concordar, permanecendo, portanto, sempre na 3a pessoa do singular. Exemplo:
Ø
Haverá
dias melhores.
sujeito inexistente
verbo impessoal 3a pessoa do singular
objeto direto
SISTEMA ANGLO DE ENSINO
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PORTUGUÊS
Observação 1
Convém lembrar que o verbo haver, no sentido de existir, é sempre impessoal. Outro exemplo com verbo impessoal:
Ø
Faz
15 dias.
sujeito inexistente
verbo impessoal 3a pessoa do singular
objeto direto
Observação 2 Os verbos haver e fazer, quando indicam tempo transcorrido, são sempre impessoais. Observação 3
Quando um verbo impessoal vem acompanhado de um ver bo auxiliar, formando uma locução verbal, o auxiliar é que fica na 3a pessoa do singular (o principal se mantém no infinitivo). Exemplos:
Ø
Costuma haver
casos mais interessantes.
sujeito inexistente
locução verbal formada por um verbo impessoal (haver) mais um auxiliar (costuma)
objeto direto
Ø
Poderá fazer locução verbal formada verbal formada por um verbo impessoal (fazer) mais um auxiliar (poderá)
sujeito inexistente
21
uns vinte anos… objeto direto
Sujeito formado por pronome de tratamento
Todo pronome de tratamento é de 3a pessoa (singular ou plural); por isso, quando funcionam como sujeito, tais pronomes deixam o verbo sempre na 3 a pessoa. Exemplo:
22
Vossas V ossas Excelências
estiveram
sujeito (pronome de tratamento)
verbo 3a pessoa do plural
ausentes.
Regras especiais sobre a concordância do verbo
ser
O verbo ser apresenta uma particularidade em matéria de concordância: muitas vezes, ele deixa de concordar com seu sujeito e passa a concordar com o predicativo do sujeito. Exemplo:
O mundo
são
ilusões.
sujeito 3a pessoa do singular
verbo ser 3a pessoa do plural concordando com o predicativo
predicativo do sujeito 3a pessoa do plural
Evidentemente, este fato ocorre apenas em algumas circunstâncias. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
91
PORTUGUÊS
Quando o sujeito do verbo ser for um dos pronomes interrogativos quem ou que, ele concorda com o predicativo. Exemplos: •
Quem
são
estes poetas?
sujeito (pronome interrogativo) 3a pessoa do singular
verbo ser 3a pessoa do plural concordando com o predicativo
predicativo do sujeito 3a pessoa do plural
Quem são estes poetas?
•
Que
são
ilhas?
sujeito (pronome interrogativo) 3a pessoa do singular
verbo ser 3a pessoa do plural concordando com o predicativo
predicativo do sujeito 3a pessoa do plural
Quando o sujeito e o predicativo f orem constituídos de nomes de coisa, o verbo ser prefere concordar com o nome que está no plural.
O problema desta estrada
são
os gansos.
sujeito singular (nome de coisa)
verbo plural
predicativo plural (nome de coisa)
O problema desta estrada são os gansos.
Observação Nome de coisa aqui deve ser entendido por oposição a nome de pessoa.
Quando o verbo ser se põe entre o nome de coisa e nome de pessoa, o normal é a concordância com a pessoa. Exemplo: •
O garoto
era
os desesperos
da mãe.
sujeito (nome de pessoa) 3a pessoa do singular
verbo 3a pessoa do singular concordando com o sujeito
predicativo (nome de coisa; 3a pessoa do plural)
Quando o sujeito ou o predicativo for um pronome pessoal, a concordância do verbo ser se dará com esse pronome. Exemplos: •
O juiz da partida
sou
eu.
As esperanças
éramos
nós.
sujeito 3a pessoa do singular
verbo 1a pessoa do singular concordando com o predicativo
predicativo do sujeito (pronome pessoal) 1a pessoa do singular
sujeito 3a pessoa do plural
verbo 1a pessoa do plural concordando com o predicativo
predicativo do sujeito (pronome pessoal) 1a pessoa do plural
SISTEMA ANGLO DE ENSINO
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PORTUGUÊS
•
Na indicação de tempo, data e distância, o verbo ser, apesar de ser impessoal, pode ir para o plural, concordando com o predicativo.
Dois quilos
Ø
São
10 horas.
Ø
São
13 de maio.
Ø
São
15 metros.
sujeito inexistente
verbo ser (impessoal) 3a pessoa do plural concordando com o predicativo
predicativo
ser indicando quantidade
Observação 2
Com as expressões padronizadas formadas pelo verbo ser mais um adjetivo tal como é bom, é necessário, é proibido, é importante, há duas construções possíveis:
•
Observação 1
Na indicação de data, admitem-se duas construções: • concordância com o numeral; Exemplo: São 13 de maio. ou • concordância com a palavra dia, que está oculta. Exemplo: É (dia) 13 de maio. Quando o verbo ser ocorre em expressões padronizadas que indicam preço, quantidade, medida, tais como é muito, é pouco, é suficiente, é bastante etc., a expressão toda fica invariável.
•
se o sujeito das referidas expressões não vem precedido de artigo, elas ficam invariáveis (tanto o verbo quanto o adjetivo);
É proibido
venda de bebidas a menores. menores.
expressão formada do verbo do verbo ser mais um adjetivo
sujeito não vem precedido de artigo
se o sujeito vem precedido de artigo, tais expressões concordam normalmente com o sujeito.
Exemplo:
Exemplos:
23
demais.
verbo
sujeito
Exemplos:
•
é
Duas colheradas
é
sujeito
verbo ser indicando quantidade
A entrada
é proibida.
sujeito vem precedido sujeito vem de artigo
expressão formada do verbo do verbo ser mais um adjetivo
pouco.
CORRESPONDÊNCIA DE TRATAMENTO
É muito comum, na fala coloquial, haver mistura de tratamento. Como regra básica, vale o seguinte princípio: quando se começa a tratar alguém por uma pessoa gramatical x, os pronomes e verbos do discurso referentes a essa pessoa devem concordar entre si. A confusões nesse caso ocorrem sobretudo quando quando o verbo se apresenta no imperativo. imperativo. Vejamos V ejamos a seguinte frase, em que o tratamento está correto. Decide-
te,
procura
o
verbo imperativo afirmativo 2a pessoa do singular
pronome oblíquo 2a pessoa do singular
verbo imperativo afirmativo 2a pessoa do singular
teu
caminho.
pronome possessivo 2a pessoa do singular
Façamos algumas variações, mudando o tratamento: Decida-se, procure o seu caminho.
Decidamo-nos, procuremos o nosso caminho.
(3a pessoa do singular)
(1a pessoa do plural)
Decidi-vos, procurai o vosso caminho.
Decidam-se, procurem o seu caminho.
(2a pessoa do plural)
(3a pessoa do plural)
SISTEMA ANGLO DE ENSINO
93
PORTUGUÊS
CONCORDÂNCIA NOMINAL 24 Regra geral O artigo, o adjetivo, os pronomes adjetivos e os numerais concordam com o substantivo a que se referem, em gênero e número. Exemplo:
25
A
minha
primeira
sugestão
produziu
bons
efeitos.. efeitos
artigo feminino singular
pronome adjetivo feminino singular singular
numeral feminino singular
substantivo feminino singular
verbo
adjetivo masculino plural
substantivo masculino plural
Um adjetivo posposto referindo-se a vários substantivos
Quando um mesmo adjetivo se refere a vários substantivos e v em depois destes, podem ocorrer as duas construções seguintes: • O adjetivo vai para o plural. Exemplo:
Agia com
calma
e
substantivo
pontualidade
britânicas.. britânicas
substantivo
adjetivo plural
Observação
Caso entre os substantivos haja um no masculino, o adjetivo vai para o plural masculino. Exemplo:
Itaipu foi construída com
capital
e
tecnologia
brasileiros.. brasileiros
substantivo feminino
adjetivo masculino plural
substantivo masculino
O adjetivo concorda com o último substantivo. Exemplo: •
Agia com
calma
e
substantivo
26
pontualidade
britânica.. britânica
substantivo
adjetivo feminino singular concordando apenas com o último substantivo
Um adjetivo anteposto referindo-se a vários substantivos Quando o adjetivo se refere a vários substantivos e vem antes destes, por regra, concorda com o substantivo mais próximo. Exemplo:
Escolheram
má
hora
adjetivo feminino singular concordando apenas com o substantivo mais próximo
substantivo feminino singular
SISTEMA ANGLO DE ENSINO
e
94
lugar.. lugar substantivo masculino singular
PORTUGUÊS
Observação
Quando o adjetivo anteposto funcionar como predicativo, pode ir para o plural ou concordar com o mais próximo. Exemplos:
Estavam
calmos
a
periferia
adjetivo masculino plural
Estava
calma
27
substantivo feminino singular
a
adjetivo feminino singular
eo
periferia
centro
da cidade.
substantivo masculino singular
eo
substantivo feminino singular
centro
da cidade.
substantivo masculino singular
Vários adjetivos qualificando um substantivo
Quando um único substantivo vem qualificado por vários adjetivos que indicam diferentes espécies de um mesmo gênero, há duas possibilidades: • deixa-se o substantivo no singular e se repete o artigo antes de cada adjetivo (exceto antes do primeiro, que estará ao lado do substantivo); Exemplo:
Dominaram
o
mercado
europeu
substantivo plural qualificado por mais de um adjetivo
adjetivo
e
o americano americano.. adjetivo precedido do artigo
coloca-se o substantivo no plural e não se repete o artigo antes dos adjetivos, os quais permanecem no singular singular.. Exemplo: •
Dominaram
28
os
mercados
europeu
substantivo plural
adjetivo
e
americano.. americano adjetivo
Concordância do adjetivo com o pronome de tratamento
Quando um adjetivo qualifica um pronome de tratamento, deve concordar com a pessoa representada pelo referido pronome. Exemplos:
Vossa V ossa Majestade pronome de tratamento referindo-se a um rei
SISTEMA ANGLO DE ENSINO
é
bondoso.
Vossa V ossa Majestade
adjetivo singular masculino
pronome de tratamento referindo-se a uma rainha
95
é
bondosa.. bondosa adjetivo singular feminino
PORTUGUÊS
29
Plural de modéstia
estamos
Nós pronome pessoal plural referindo-se a uma única pessoa
apreensivo,, apreensivo
disse o presidente.
adjetivo singular
Muitas vezes, empregam-se os pronomes nós e vós, referindo-se a uma única pessoa, por modéstia ou para evitar a impressão de arrogância e individualismo associada ao uso do eu. Nesse caso, o adjetivo que se refere a esses pronomes fica no singular. singular. 30
Palavras com valor adjetivo ou adverbial
Há certas palavras que, dependendo do contexto, podem ocorrer com função típica de adjetivo ou de advérbio. O princípio norteador é este: associadas a substantivos, tais palavras têm função adjetiva e concordam com o substantivo em gênero e número; associadas a verbos ou adjetivos, funcionam como advé rbios e, por isso mesmo, são invariáveis. Exemplos:
As
portas
estavam
substantivo
Não se confia em
meio
fechadas.. fechadas
advérbio
adjetivo
meias
verdades.. verdades
palavra de valor adjetivo
substantivo
Com base nesse mesmo princípio, as palavras adjetivas dos exemplos a seguir devem concordar com o substantivo a que estão associadas. Exemplos: Havia várias folhas várias folhas anexas ao documento. A candidata A candidata se despediu apenas com um muito obrigada obrigada.. Os criminosos quase nunca agem sós sós..
SISTEMA ANGLO DE ENSINO
96
PORTUGUÊS
Variações V ariações linguísticas
1
INTRODUÇÃO
•
Nenhuma língua é usada de maneira uniforme por todos os seus falantes em todos os lugares e em qualquer situação. Sabe-se que, numa mesma língua, há formas distintas para traduzir o mesmo significado. Suponham-se, por exemplo, os dois enunciados a seguir: I) Veio me visitar um amigo que eu morei na casa dele faz tempo. II) Veio visitar-me um amigo em cuja casa eu morei há anos.
3
MANIFESTAÇÃO MANIFEST AÇÃO DAS VARIAÇÕES As diferenças que que distinguem uma variante de outra se se manifestam em quatro planos distintos, a saber: fônico , morfológico , sintático e lexical.
Variações fônicas
Variações V ariações no plano fônico (do grego phoné, “som”) são as que ocorrem no modo de pronunciar os sons constituintes da palavra. Os exemplos de variação fônica são abundantes e, ao lado do vocabulário, constituem os domínios em que se percebe com mais nitidez a diferença entre uma variante e outra. Entre esses casos, podemos citar: • a queda do r final dos verbos, muito comum na linguagem oral no português: falá, vendê, curti (em vez de curtir ),), compô; • o acréscimo de vogal no início de certas palavras: eu me alembro, o pássaro avoa, formas comuns na linguagem clássica, hoje frequentes na fala caipira; • a queda de sons no início de palavras: ocê, cê, tá, tava, marelo (amarelo), margoso (amargoso), característica da linguagem oral coloquial; • a redução de proparoxítonas a paroxítonas: Petrópis (Petrópolis), fórfi (fósforo), porva (pólvora), todas elas formas típicas de pessoas de pouca ou nenhuma escolaridade; • a pronúncia do l final das sílabas como u (na maioria das regiões do Brasil) ou como l (em certas regiões do Rio Grande do Sul e Santa Catarina) ou ainda como r (na linguagem caipira): quintau, quintal, quintar; pas-
4
Variações Varia ções morfológicas
Variações sintáticas
As variações no plano sintático (do grego suntaksis, “correlação”, “coorganização”) dizem respeito às correlações entre as palavras da frase. No domínio da sintaxe, como no da morfologia, não são tantas as diferenças entre uma variante e outra. Como exemplo, podemos citar: • o uso de pronomes do caso reto com outra função que não a de sujeito: encontrei ele (em vez de encontrei-o) na rua ; não irão sem você e eu (em vez de mim); nada houve entre tu (em vez de ti) e ele; • o uso do pronome lhe como objeto direto: não lhe (em vez de o) convidei; eu lhe (em vez de o) vi ontem; • a ausência da preposição adequada antes do pronome relativo em função de complemento verbal: são pessoas que (em vez de de que) eu gosto muito; este
téu, pastel, paster; farou, farol, faror. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
deslocamento do r no interior da sílaba: largato, preguntar,, estrupo, guntar estr upo, cardeneta, também típico de pessoas de baixa escolaridade.
Variações V ariações morfológicas morfológicas (do grego morphé, “forma”) são as que ocorrem nas formas constituintes da palavra. Nesse domínio, as diferenças entre as variantes não são tão numerosas quanto as de natureza fônica, mas não são desprezíveis. Como exemplos, podemos citar: • o uso do prefixo hiper- em vez do sufixo -íssimo para criar o superlativo de adjetivos, recurso muito característico da linguagem jovem urbana: um cara hiper-humano (em vez de humaníssimo), uma prova hiperdifícil (em vez de dificílima), um carro hiper possante (em vez de possantíssimo); • a conjugação de verbos irregulares pelo modelo dos regulares: ele interviu (interveio), se ele manter (mantiver), se ele ver (vir) o recado, quando ele repor (repuser); • a conjugação de verbos regulares pelo modelo de irregulares: vareia (varia), negoceia (negocia); • uso de substantivos masculinos como femininos ou vice-versa: duzentas gramas de presunto (duzentos), a champanha (o champanha), tive muita dó dela (muito dó), mistura do cal (da cal); • a omissão do s como marca de plural de substantivos e adjetivos (típicos do falar paulista): os amigo e as amiga, os livro indicado, as noite fria, os caso mais comum; • o enfraquecimento do uso do modo subjuntivo: Espero que o Brasil reflete (reflita) sobre o que aconteceu nas últimas eleições; Se eu estava (estivesse) lá, não deixava acontecer; Não é possível que ele se esforçou (tenha se esforçado) mais que eu.
Qualquer falante do português reconhecerá que os dois enunciados pertencem ao seu idioma e têm o mesmo sentido, mas também que há diferenças. Pode dizer, por exemplo, que o segundo é de gente mais “estudada”. Isso é prova de que, ainda que intuitivamente e sem saber dar grandes explicações, as pessoas têm noção de que existem muitas maneiras de falar a mesma língua. É o que os teóricos chamam de variações linguístic linguísticas as.
2
CAPÍTULO 13
97
PORTUGUÊS
é o melhor filme que (em vez de a que) eu assisti; você é a pessoa que (em vez de em que) eu mais confio; • a substituição do pronome relativo cujo pelo pronome que no início da frase mais a combinação da preposição de com o pronome ele (= dele): É um amigo que eu já conhecia a família dele (em vez de ... cuja família eu já conhecia); • a mistura de tratamento entre tu e você, sobretudo quando se trata de verbos no imperativo: Entra, que eu quero falar com você (em vez de contigo ); Fala baixo que a sua (em vez de tua) voz me irrita; • ausência de concordância do verbo com o sujeito: Eles chegou tarde (em grupos de baixa escolaridade); Faltou naquela semana muitos alunos; Comentou-se os episódios. 5
para as origens do idioma. Observe-se, por exemplo, a passagem que segue, extraída do início da carta de Pero Vaz V az de Caminha ao reino sobre a descoberta do Brasil: Posto que o capitam moor desta vossa frota e asy os outros ou tros capitaães screpam a vossa alteza a noua do achamento desta vossa terra ( ... ) nom leixarei tam bem de dar disso minha comta a vossa alteza asy como eu milhor poder ajmda que pera o bem contar e falar o saiba pior que todos fazer.
Descontada a grafia, que pode dar a impressão de falsas diferenças, essa variante histórica do português está bem distante da atual. No português atual seria:
Variações lexicais
Léxico (do grego leksikós, “que diz respeito às pala vras”) é o conjunto de palavras de uma língua. As variantes do plano do léxico, como as do plano fônico, são muito numerosas e caracterizam com nitidez uma variante em confronto com outra. Eis alguns, entre múltiplos exemplos possíveis de citar: • a escolha do adjetivo maior em vez do advérbio muito para formar o grau superlativo dos adjetivos, característica da linguagem jovem de alguns centros urbanos:
Mesmo que o capitão-mor desta sua frota, assim como os outros capitães, escrevam a Vossa Alteza a notícia do descobrimento desta sua terra (...), não deixarei também de sobre isso dar minha satisfação a Vossa Alteza como melhor puder, ainda que para bem contar e falar eu o saiba fazer pior que todos.
maior legal maior difícil Esse amigo é um carinha carinha maior esforçado. •
6
as diferenças lexicais entre Brasil e Portugal são tantas e, às vezes, tão surpreendentes, que têm sido ob jeto de piada de lado a lado do Oceano. Em Portugal chamam de cueca aquilo que no Brasil chamamos de calcinha ; o que chamamos de fila no Brasil, em Portugal chamam de bicha; café da manhã em Portugal se diz pequeno almoço; camisola em Portugal traduz o mesmo que chamamos de suéter, malha , camiseta .
Variação geográfica
Uma língua varia também de região para região. Sabese que são nítidas as diferenças entre o português de Portugal e o do Brasil. Mas não são apenas estas: dentro do próprio território brasileiro, diferenças regionais são reconhecidas por qualquer falante, como é o caso do português rural e urbano, do Sul ou do Norte. Como exemplo de variante regional, eis um trecho da gravação de entrevista concedida por um gaúcho de 27 anos residente em Porto Alegre. Falando do folclore do Rio Grande do Sul, assim se manifesta: Se tu não conhece e não teve a oportunidade de conhecer as tradições e o folclore gaúcho, nessa festa, neste rodeio, tu vais ver tudo o que o Rio Grande do Sul tem, em termos de folclore, de lenda, que são coisas que tem bastante, é bastante bonito de se ver aquele pessoal “piuchado”, que o gaúcho cultiva muito isso (...) “piuchado” é aquele pessoal assim que, tu vê, ele tá (...) vou usar um termo para ti me entender, talvez melhor: uniformizado, ou seja, camisa branca, lenço vermelho no pescoço, chapéu de barbicacho, uma boa guaiaca, bombacha e o chiripá.
TIPOS DE VARIANTES
Não tem sido fácil para os estudiosos encontrar para as variantes linguísticas um sistema de classificação que seja simples e, ao mesmo tempo, capaz de dar conta de todas as diferenças que caracterizam os múltiplos modos de falar dentro de uma comunidade linguística. O principal problema é que os critérios adotados, muitas vezes, se superpõem, em vez de atuarem isoladamente. As variações mais importantes, para o interesse do vestibular,, são seguintes. tibular 7
8
barbicacho - cordão entrelaçado que passa sobre o queixo
para segurar o chapéu; guaiaca - cinto largo de couro ou de camurça com bolsinhos para guardar dinheiro e objetos miúdos; tipo de cinturão; bombacha - calças largas em toda a perna, exceto no tornozelo, onde são presas por botões; chiripá - vestimenta sem costura, de um metro e meio de fazenda que, passando passando por entre as as pernas, é presa à cintura por uma cinta de couro.
Variação histórica
Toda língua vai sofrendo alterações significativas ao longo do seu trajeto pela história, de modo que o linguajar de uma época, sobretudo se ela for distanciada no tempo, difere consideravelmente do de outra. No caso do português, por exemplo, todos sabem que a língua de Camões não é a mesma de Fernando Pessoa. Para exemplificar a variação histórica da nossa língua, não é preciso apelar SISTEMA ANGLO DE ENSINO
9
Variação social
Uma língua varia também de classe social para classe social. Os linguistas, em relação às variações sociais, costumam apontar duas variantes: a popular e a culta. Essa distinção tem sido útil, mas traz o inconveniente de não levar em conta o fato de que a fala popular não apresenta o grau
98
PORTUGUÊS
de uniformidade da fala culta, mais conservadora e mais vigiada por fatores que a defendem da diversificação. Como exemplo dessas duas variantes, transcrevemos a gravação da entrevista com uma cozinheira moradora de São Paulo e a de um professor de Direito da USP. Fala da cozinheira (sobre os irmãos que possui): Nós somos em cinco e uma de criação, seis... dois hómi, quatro muié, comigo, nê.
As variações de acordo com a situação costumam ser chamadas de níveis de fala ou, simplesmente, variações de estilo e são classificadas em duas grandes divisões: • Estilo formal – aquele em que é alto o grau de refle xão sobre o que se diz, bem como o estado de atenção e vigilância. É na linguagem escrita, em geral, que o grau de formalidade é mais tenso. • Estilo informal (ou coloquial ) – aquele em que se fala com despreocupação e espontaneidade, em que o grau de reflexão sobre o que se diz é mínimo. É na linguagem oral íntima e familiar que esse estilo melhor se manifesta.
Falando sobre peraltices do tempo de criança: ... então nóis ia tacá pedra nos namorado... Indagada se tinha presenciado a Segunda Guerra Mundial, diz: Não, não, que eu tinha muito pavor, então eu num quero nem esquentá com negócio de guerra, nem assisto. Quando é aqueles filmes lá com negócio de guerra, nada assisto, não gosto.
Como exemplo de estilo coloquial vem a seguir um pequeno trecho da gravação de uma conversa telefônica entre duas universitárias paulistanas de classe média, transcrito do livro Tempos linguísticos, de Fernando Tarallo. As reticências indicam as pausas.
Fala do professor de Direito: Eu hesitei um pouco no momento em que você me colocou a pergunta, porque não sabia exatamente por onde agarrá-la.
Eu não sei, tem dia... depende do meu estado de espírito, tem dia que minha voz... mais tá assim, sabe? taquara rachada? Fica assim aquela voz baixa. Outro dia eu fui lê um artigo, lê?! Um menino lá que faiz pós-graduação na, na GV, GV, ele me, nóis ficamo até duas hora da manhã ele me explicano toda a matéria de economia, das nove da noite.
Falando de um de seus cursos no exterior: Curso que me seduziu e, aliás, me fascinou e que me acabou levando depois a tentar promover, inclusive, no Brasil, as obras de Octavio Paz. Falando sobre a guerra: A paz e a guerra são dados que aparentemente sempre se verificaram na experiência histórica. No entanto nós estamos diante de uma situação inédita em que, na verdade, o risco de desaparecimento pela força das armas nucleares é real. Há, aliás, nesse sentido, um contraste entre a Antiguidade e mundo moderno. 10
Como se pode notar, não há preocupação com a pronúncia nem com a continuidade das ideias, nem com a escolha das palavras. Para exemplificar o estilo formal, eis um trecho da gra vação de uma aula de português de uma professora uni versitária do Rio de Janeiro, transcrito do livro de Dinah Callou – A linguagem linguagem fala da culta na cidade do Rio de Ja neiro. As pausas são marcadas com reticências: ... o que está ocorrendo com nossos alunos é uma fragmentação do ensino... ou seja... ele perde a noção do todo... e fica com uma série... de aspectos teóricos... isolados... que ele não sabe vincular a realidade nenhuma de seu idioma... isto é válido também para a faculdade de letras... ou seja... né? há uma série... de conceitos teóricos... que têm nomes bonitos e sofisticados... mas que... na hora de serem empregados... deixam muito a desejar...
Variação de situação
Por variações de situação os linguistas costumam entender aquelas que são provocadas pelas alterações das circunstâncias em que se desenrola o ato de comunicação. Um modo de falar compatível com determinada situação é incompatível com outra: Ô mano, tá difícil de te entendê.
Nota-se que, por tratar-se de exposição oral, não há o grau de formalidade e planejamento típico do texto escrito, mas é de um estilo bem mais formal e vigiado que o da menina ao telefone.
Esse modo de dizer, que é adequado a um diálogo em situação informal, não tem cabimento se o interlocutor é o professor em situação de aula.
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A noção de texto
CAPÍTULO 14
A palavra palavra texto vem do latim textus e é derivada do verbo texere, que significa “tecer, fazer tecido, trançar, construir entrelaçando”. Aplicado ao trabalho intelectual, esse verbo representa a atividade de compor ou organizar o pensamento em obra escrita ou declamada. Como se vê pelo sentido de origem, texto é sinônimo de tecido, portanto, nada tem a ver com um aglomerad aglomerado o de frases simplesmente simplesmente colocadas colocadas umas depois das outras. Assim como um tecido resulta do cuidadoso entrelaçamento de diversas linhas, e não de um amontoado de fios embaraçados, o texto é produto da combinação programada de palavras e frases. Por isso, para apreender o sentido global de um texto não basta entender o sentido de cada frase isoladamente: é indispensável identificar como elas foram combinadas, que relações há entre elas. Para isso é preciso perceber, disseminados pelo texto, os vários indicadores de “costura” entre as partes. Trata-se dos elementos marcadores da chamada coesão textual, entre os quais estão pronomes, advérbios e conjunções, que servem para estabelecer relações entre as frases e formar uma unidade de sentido.
Exemplo simples para ilustrar o uso de marcadores de coesão Ideia de base: Joana rompeu com o namorado. Ficou com outra pessoa. Versão ersão 1: Joana rompeu com o namorado porque • V ela ficou com outra pessoa. Versão ersão 2: Joana rompeu com o namorado porque • V ele ficou com outra pessoa. Versão ersão 3: Joana rompeu com o namorado, depois • V ela ficou com outra pessoa. Versão ersão 4: Joana rompeu com namorado, que logo • V ficou com outra pessoa. Versão ersão 5: Joana rompeu com o namorado, que nun• V ca mais ficou com outra pessoa. Em cada versão, variando os elementos marcadores de coesão, a ideia de base ganha novo sentido. Em qualquer texto, há sempre uma relação solidária entre as partes, ou seja, o sentido de uma se explica pelo sentido das que a rodeiam. Em outras palavras, entender o significado global do texto (o texto em sua unidade de sentido) não é apenas somar o sentido de cada parte isolada, mas sim buscar uma síntese coerente do todo. Desse modo, o significado de qualquer segmento de um texto não é autônomo, mas depende do contexto. Chamamos de contexto qualquer unidade maior que englobe uma unidade menor. Ele pode estar explícito em outras partes do texto (contexto interno) ou implícito na situação a que o texto se refere ou na situação em que ele foi produzido (contexto externo). Essas informações podem ser sintetizadas nas seguintes máximas: SISTEMA ANGLO DE ENSINO
texto são solidária solidárias, s, não solitári solitárias. as. • As partes de um texto • O sentido do texto não é resultado da soma, mas de uma síntese das partes. • O sentido do que se encontra no texto (parte) de-
pende do contexto (todo).
O slogan a seguir, extraído de uma propaganda de fitas cassete, é um bom exemplo de que o sentido das partes nasce da relação com o contexto:
GRAVE COM BASF e agudos também. (Extraído de Introdução de Introdução à Linguística II , José Luiz Fiorin [org.]. São Paulo: Contexto, 2003, p. 217.)
Lendo isoladamente o trecho “Grave com Basf”, o leitor pode tomá-lo como uma frase no imperativo, ou seja, pode entender “grave” como um verbo que faz um apelo para o destinatário da propaganda realizar gravações utilizando a fita da marca Basf. Ao ler a passagem “e agudos também”, no entanto, o leitor passa a atribuir ao trecho anterior outro sentido: ele nota que “grave” pode ser lido como ad jetivo, significando o oposto de “agudos”. Assim o leitor interpreta que as fitas Basf gravam com fidelidade tanto os sons graves quanto os agudos. A partir partir da noçã noção o de que as parte partess do text texto o são sol solidá idária rias, s, não solitárias, verifica-se que a expressividade da propaganda resulta do fato de ela oferecer duas possibilidades de leitura, pois permite que a palavra “grave” seja entendida tanto com o sentido de “apelo para gravar” quanto com o de “som grave”. A importância do contexto pode ser observada nesta piada: — Você sabe qual é o cúmulo para um funileiro? — Não. Qual é? — Ser soldado. (Extraída de Os humores da língua – análises linguísticas de piadas, piadas , Sírio Possenti. Campinas: Mercado de Letras, 1998, p. 86.)
A últi última ma fala fala,, fora do cont contexto exto,, pode ser lida com como o “tor “tornar nar-se militar”. Seria essa a interpretação adequada, por exemplo, se a frase fosse a resposta de um filho ao pai, depois de ser inquirido sobre suas perspectivas profissionais. No contexto da piada, entretanto, significa “ter uma parte do corpo soldada”. Sendo as partes de um texto solidárias na construção do contexto, como antes se falou em funileiro e como soldar é uma das atividades realizadas por esse tipo de profissional, “ser soldado” adquiriu, na piada, o sentido de “soldar parte do corpo”.
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Apreensão e compreensão 1
CAPÍTULO 15
INTRODUÇÃO
Quando pessoas diversas leem o mesmo texto, é muito comum haver divergências de interpretação entre elas. Exemplos disso encontram-se a todo momento no cotidiano: a declaração de um homem público pode ser lida como altamente elogiosa por uma certa fatia da população e como um grande insulto por outra parcela. Quando se trata de textos mais complexos, as divergências são ainda maiores. Quem é que nunca passou pela experiência de ver um filme em companhia de um grupo e, na saída, ouvir os comentários mais desencontrados? Um diz que detestou o filme, achou indecente, imoral, preconceituoso; para outro, o filme foi bom, não foi f oi preconceituoso, apenas refletiu com realismo um dado da sociedade contemporânea; uma terceira voz se levanta em defesa do filme, alegando que ele é um veemente protesto contra uma situação que todo mundo conhece mas finge não ver, uma manifestação artística chocante para abalar a hipocrisia do público. Se é unânime a aceitação de que as pessoas entendem de maneiras diferentes o mesmo texto, não há unanimidade quando se pretende explicar por que isso acontece. Entre as explicações costumeiramente apresentadas para justificar as divergências interpretativas, há três que têm interesse para nós. A primeira primeira culpa culpa os os leitores: leitores: exis existem tem diferenç diferenças as de interinterpretação de um mesmo texto porque ou ninguém mais sabe ler, ou ninguém mais tem paciência para ler o texto e encontrar a interpretação correta, o sentido verdadeiro, aquilo que o texto realmente quer dizer. Em vez disso, os leitores preferem ficar com as vagas impressões que o texto lhes sugere. A segunda culpa o texto: as múltiplas interpretações de um mesmo texto decorrem do fato de ele não ter objetividade, não ter precisão nas palavras que usa. A terceira afirma que todo texto tem múltiplos sentidos. Não tem cabimento querer captar o verdadeiro sentido do texto, a única interpretação correta. Mas isso não quer dizer que o texto não tem significado nenhum, que cada um lhe dá o sentido que considera mais raz oável. Não é preciso dizer que recusamos as duas primeiras explicações e aceitamos a terceira. A primeira explicação está descartada: o texto opera com múltiplos sentidos, implícitos e explícitos. Um signi ficado do texto pode escapar a um observador e ficar claro para outro. Todo texto tem certos pontos obscuros para um observador e claros para outro. É, pois, a multiplicidade de sentidos que explica a divergência de interpretação, e não necessariamente a ignorância do leitor. O argumento para descartar a segunda é muito simples: está comprovado que, historicamente, intelectuais da mais alta categoria, filósofos e cientistas de renome têm di vergências sérias em relação à leitura de inúmeros textos. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
Ficamos com a terceira explicação, e é com base nela que pretendemos trabalhar. Pode ocorrer que a divergência de interpretação decorra da falta de clareza ou da objetividade de um autor, mas é possível determinar quais são os geradores de ambiguidade, imprecisão ou falta de clareza. É possível determinar se a dificuldade para entender o texto está nas limitações do autor, no olhar do leitor ou na complexidade do texto, na multiplicidade de sentidos que ele tem. Um texto de caráter utilitário, por exemplo, não deve dar margem a múltiplas leituras; se der, é sinal de que não foi bem escrito. O texto referencial deve exprimir o que o autor quer dizer, com precisão, sem ambiguidade e sem exigir esforço desnecessário de interpretação. Há, entretanto, textos de outros gêneros, sobretudo os de natureza poética, que são complexos e, portanto, abertos para mais de uma leitura — o que não significa que aceitem leituras quaisquer quaisquer.. O conhecimento de distorções que comprometem a leitura do texto pode melhorar a performance dos leitores. Se descrevermos as principais distorções interpretativas, orientando como proceder para evitá-las, já teremos dado um grande salto, pois o bom desempenho na leitura é uma conquista multifuncional, que vai interferir: • no aprendizado de outras disciplinas; • na compreensão do mundo; • na qualificação para o exercício da profissão.
PROCEDIMENTOS PARA MELHORAR O RENDIMENTO DE LEITURA 2
Uma questão não muito fácil de responder é o que um leitor precisa saber para ser capaz de interpretar o sentido dos textos que lê. Como a elaboração de uma leitura proficiente é resultante de competências complexas, não é possível enumerar uma a uma todas as habilidades necessárias para atingir essa meta, nem enumerar todos os passos para chegar ao fim desse caminho. Isso não quer dizer que não existam orientações úteis para melhorar o desempenho na leitura. De maneira genérica, pode-se dizer que a leitura proficiente exige o domínio de dois grandes campos de conhecimento: código e repertório . O código diz respeito às palavras e aos mecanismos próprios da língua em que o texto é expresso; o repertório, ao conjunto de conhecimentos, crenças e valores que circulam no cenário cultural. 3
O CÓDIGO E A APREENSÃO DE SENTIDO
No caso da língua, o código é formado de palavras que se combinam de acordo com certas regras. Ou seja, o sentido dos enunciados é construído por meio da contribuição de dois mecanismos: seleção e combinação .
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Para compreender, pois, o significado de um texto, é preciso conhecer o sentido das palavras que o compõem e também o modo como elas estão combinadas. Para demonstrar que o conhecimento do sentido das palavras é necessário para a compreensão de um texto, suponhamos que a escola envie aos alunos o seguinte comunicado: Prezado aluno, aluno, Informamos-lhe que os possíveis interessados na excursão só poderão se inscrever com a aquiescência explícita do pai ou do responsável.
Em comunicados formais como esse, podem ocorrer palavras que não fazem parte do nosso cotidiano, como é o caso de aquiescência . O desconhecimento do sentido de palavras é um problema para a interpretação de textos, mas não é o maior. Primeiro, porque o contexto pode ajudar a presumir o sentido ignorado; segundo, porque os dicionários existem para isso. Uma língua como a nossa possui em torno de 500 mil palavras. Não cabe na memória de ninguém um número tão elevado, portanto não há outra alternativa senão recorrer ao dicionário. Veja V eja o que diz o de Houaiss Houaiss sobre essa palavra:
No caso, o verbo no plural (ouviram) sugere um sujeito também no plural, e a expressão as margens plácidas funciona como uma hipótese bem provável; esse mesmo verbo exige, além do sujeito, um complemento sem preposição, papel que pode ser exercido pela expressão o brado retumbante. Considerando algumas outras inversões, podemos chegar a uma combinação mais usual, como esta: As margens plácidas do [riacho] Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heroico.
Essa combinação hipotética permite decifrar o sentido do trecho original. A interpretação foi atingida. Nunca é demais lembrar que o sentido de qualquer parte de um texto depende das outras que o compõem. Isso significa que, para apreender o sentido de um termo ou de um trecho maior, é preciso evitar a leitura fragmentária e levar em conta o contexto em que ele ocorre. Lembrete Contexto é uma unidade maior na qual se encaixa outra menor. Assim, a oração funciona como contexto no qual se encaixa a palavra; o período funciona como contexto para a oração; o parágrafo, para o período; o capítulo, para o parágrafo.
Aquiescência Aquiescê ncia: ato ou efeito de aquiescer; concor-
dância, consentimento.
A tirinha a seguir seguir,, de Luís Fernando Veríssimo, Veríssimo, ilustra com propriedade como uma palavra pode até adquirir sentidos opostos, conforme o contexto em que está inserida:
Aquiescer significa consentir. consentir. O comunicado agora está esclarecido: para o aluno participar da excursão, é necessário consentimento explícito do pai ou do responsável. Se o leitor depara com uma palavra nova e vai ao dicionário, além de compreender melhor o texto, aprende uma palavra a mais. Mas há text os em que a dificuldade de interpretação decorre do modo de combinar as palavras. Isso se dá sobretudo na linguagem poética, em que vários tipos de motivação dão origem a combinações pouco usuais. A letra do Hino Nacional Brasileiro é exemplar para demonstrar esse tipo de ocorrência, como se pode notar nos versos que seguem: Ouviram do Ipiranga as margens plácidas De um povo heroico o brado retumbante. (Francisco Manuel da Silva e Osório Duque Estrada)
Nesse pequeno trecho há três palavras que, embora não sejam tão raras, não são também costumeiras: • plácidas = calmas, mansas; • brado = grito; • retumbante = que reboa, estrondoso. Esses esclarecimentos sobre o vocabulário, no entanto, podem ainda não ser suficientes para interpretar o sentido dos dois versos iniciais do hino. É que as palavras estão combinadas de forma pouco usual. Quando isso acontece, a saída é ir ensaiando hipóteses interpretativas com base nas pistas que o texto oferece. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
A palavra dez, lida dentro do contexto apenas do primeiro quadrinho, indica uma avaliação altamente positiva do governo “Efe Agá” (FH ou Fernando Henrique Cardoso, que cumpriu dois mandatos na Presidência da República, de 1995 a 2002). Trata-se da nota máxima numa escala con vencional de avaliação. Já no contexto da tirinha toda, isto é, relacionada com o segundo quadrinho, a mesma palavra assume sentido oposto, pois, como marcador de velocidade, dez quilômetros por hora indica extrema lentidão. Dessa forma, a tirinha demonstra que, num texto, o sentido de uma palavra ou de uma parte qualquer não é independente, o que obriga o leitor a sempre levar em conta o contexto para apreender o seu significado. 4
AS DISTORÇÕES DE LEITURA
Como princípio geral, para evitar distorções interpretativas no nível da apreensão de sentido, deve-se evitar a leitura fragmentária e esforçar-se por descobrir as diferentes relações estabelecidas entre as frases que compõem o texto inteiro.
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Essas distorções interpretativas, o leitor desavisado tende a cometer sobretudo quando faz uma leitura apressada. Eis as principais: • Intromissão discursiva ou transfusão de ideias — injetar nos textos significados que fazem parte de crenças do leitor ou que o beneficiariam de algum modo. • Generalização — estender para o todo algo que, no texto, só se refere a uma parte. • Restrição de uma afirmação geral — particularizar uma afirmação de caráter geral ou, falando em outros termos, restringir apenas a uma parte algo que foi afirmado sobre o todo. • Embaralhamento de ideias — captar de partes dispersas do texto um sentido adulterado, sem observar o tipo de relação que o texto estabelece entre todas as suas partes. • Distorções do sentido das palavras — decifrar o sentido da palavra sem levar em conta o contexto em que ela está inscrita. Como se sabe, num texto, a palavra pode ter o sentido oposto ao que ela tem fora dele. • Dedução de relação não contida — tirar conclusões para as quais o texto não fornece antecedentes. Normalmente, essa distorção decorre da pretensão de encontrar no texto apoio – aqui novamente – para as convicções ou crenças do leitor. 5
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OS DOIS PATAMARES DE LEITURA
No processo de interpretação de qualquer texto, existem duas etapas: a primeira, que já apresentamos, é a apreensão de sentido; a segunda, que começaremos a ver, é a compreensão de sentido . Na verdade, são dois níveis, são dois patamares de leitura que se complementam. Como já falamos, apreender é o mesmo que capturar os significados presentes no texto; é “trazer para a mente” os seus sentidos. Para atingir esse resultado, é necessário dar dois passos, basicamente: • reconhecer o sentido das palavras; • identificar as relações que existem entre elas, o modo como foram combinadas. A apreensão dos significados significados inscritos no texto é o primeiro instante da interpretação. Já compreender o sentido é relacionar o significado (ou os significados apreendidos) com outras informações e dados contidos em outros textos do contexto cultural. Assim, a passagem da apreensão para a compreensão consiste em: • associar o sentido do texto lido com outros textos já produzidos; • associar o sentido do texto lido com o conjunto de informações que circulam na sociedade. A apreensão de sentido de um texto permite a elaboração de uma paráfrase sobre ele. Fazer uma paráfrase significa traduzir o texto com outras palavras. Para isso, é fundamental o domínio do código. Logo, é importante possuir um bom vocabulário para apreender o sentido de um texto. Porém, em certos casos, o que afeta a apreensão não é propriamente o sentido das palavras, mas a maneira como elas foram combinadas na montagem das orações. São problemas, portanto, relativos à organização SISTEMA ANGLO DE ENSINO
sintática. Dois aspectos merecem maior atenção: o primeiro diz respeito à questão da ordem direta e da ordem inversa; o segundo, ao fenômeno da combinação das mesmas palavras produzindo sentidos diferentes. Para que ocorra a compreensão , é preciso mais do que a simples apreensão dos significados, uma vez que nenhum texto define todas as palavras que o compõem. Tudo o que não vem explícito no texto é pressuposto como já conhecido pelo leitor: trata-se de informações que devem, portanto, fazer parte de seu repertório , de sua memória discursiva . Em diversas ocasiões, o leitor encontra dificuldades para entender uma palavra, uma frase, um período, um parágrafo ou até o texto inteiro. Isso não significa falta de capacidade intelectual: o que em geral ocorre é que a falta de determinadas informações pode bloquear o acesso à compreensão. Para entender um texto, é necessário apreender não só seu significado interno, mas perceber em que medida se relaciona com outros textos. Ou seja, é preciso trazer informações exteriores ao texto para complementálo, para fazê-lo significar. Essas informações integram o chamado conhecimento de mundo do leitor. Somando as informações prévias de que dispõe aos dados inscritos no texto, o leitor certamente t erá maior poder de compreendê-lo.
REPERTÓRIO E COMPREENSÃO DE SENTIDO
A extensão do repertório do leitor – seu conhecimento de mundo – interfere consideravelmente na interpretação de textos. Não é raro que um texto, mesmo sem conter dificuldades relativas ao código (como palavras raras ou combinação inusitada entre elas), seja absolutamente incompreensível para um leitor desprovido de alguma informação corriqueira no cenário cultural. Dada a informação, a dificuldade desaparece por completo, e a interpretação fica banal. É o que vem demonstrado neste anúncio publicitário de uma confecção de roupas masculinas, publicado antes do Natal de 1992, que mostra a imagem de um modelo vestido elegantemente, de terno t erno e gravata, seguida desta legenda:
R V / 9 M D ©
(Extraído do jornal Folha de S.Paulo, 4/12/1992, p. 2-1.)
Como se nota, no anúncio as palavras são fáceis, e a combinação entre elas não traz nenhum obstáculo. A grande maioria dos habitantes da cidade de São Paulo não sente a menor dificuldade para entendê-lo. Mas o mesmo anúncio pode ser incompreensível até para um erudito professor de português que não conheça a capital paulista.
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Por quê? Porque esse anúncio pressupõe informações que devem fazer parte do repertório cultural (ou do conhecimento de mundo) do leitor, tais como: • que 25 de dezembro, dia de Natal, é uma data em que se costumam dar presentes de boa qualidade; • que 25 de Março é uma rua paulistana famosa por vender produtos a preços muito mais baixos que os do mercado em geral, uma rua de comércio popular. Com esses dados, a mensagem do texto publicitário fica evidente: nas lojas dessa confecção, o comprador vai encontrar produtos de alta qualidade (dignos de serem dados no Natal), mas com preços acessíveis (comparáveis aos da rua 25 de Março). Convém notar que a palavra preço vem transcrita em itálico para reforçar que as roupas pro-
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duzidas pelo anunciante são comparáveis às da 25 de Março apenas nesse quesito; na sofisticação, no bom gosto, no capricho da confecção, não se comparam. O exemplo é simples, mas muito apropriado para comprovar que o repertório de conhecimentos é um fator determinante na compreensão do texto. Se o leitor não compartilha com o autor os mesmos conhecimentos, precisa pedir esclarecimentos. Como, ao contrário do que acontece entre dois interlocutores numa conversa, em geral não é possível pedi-los ao autor de um texto escrito (até porque ele pode nem mais estar vivo), o leitor é obrigado a consultar outras fontes — pessoas bem informadas, livros, dicionários, enciclopédias — para complementar seu repertório com os dados que, na suposição do escritor, já estariam incorporados ao seu repertório.
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Intertextualidade
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CAPÍTULO 16
INTRODUÇÃO
Uma curiosidade
Quando dissemos que a compreensão de sentido era uma etapa fundamental da leitura de um texto, lembramos que nosso conhecimento de mundo é requisito para compreender um texto. Ora, muito desse conhecimento de mundo advém da leitura de outros textos. Ass im, a capacidade de relacionar diferentes textos também é fundamental para a interpretação.
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A NOÇÃO DE INTERTEXTUALIDADE
De maneira programada ou não, explícita ou implicitamente, todo texto faz algum tipo de referência a outros textos. Ao ler um texto (seja ele literário, uma uma charge, um filme, uma canção, um quadro, uma reportagem jornalística, um anúncio publicitário), é muito comum reconhecermos ali passagens já lidas em outros. Esse diálogo entre textos diferentes recebe o nome de intertextualidade. Sempre que percebemos que um texto, de alguma maneira, faz referência a outro, podemos dizer que há entre eles uma relação intertextual. Vejamos V ejamos um exemplo bastante simples: Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá, Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar – sozinho, à noite – Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem que inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá.
A “Canção do exílio” exílio” é um dos poemas mais famosos da literatura brasileira. Foi escrito pelo poeta romântico Antônio Gonçalves Dias em julho julho de 1843 — quando ele tinha 19 anos e cursava Direito na Universidade de Coimbra — e publicado em seu primeiro livro de poesia, Primeiros cantos, em 1846. O eu lírico relembra no poema os “primores” da sua terra natal, contrapondo-os ao que via no local onde se encontrava naquele momento. A partir da oposição aqui / lá, em que o “aqui” (e o “cá”) representa o exterior – nesse caso, Portugal – e o “lá” simboliza o Brasil, ele idealiza nosso país, elegendo a palmeira e o Sabiá (com letra maiúscula, para enfatizar seu valor simbólico) como emblemas nacionais. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
O nacionalismo da “Canção do exílio” é tão evidente que o poema teve alguns dos seus versos incorporados à segunda parte da letra do Hino Nacional Brasileiro: Do que a terra mais garrida, Teus risonhos, lindos campos têm mais flores, flores, Nossos bosques têm mais vida, vida , Nossa vida, vida, no teu seio, mais amores. amores. A “Canção do exílio” foi um dos textos mais recriados da história da literatura brasileira. Inúmeros autores, de Oswald de Andrade a Jô Soares, passando por Murilo Mendes e José Paulo Paes, escreveram versões “modernas” do célebre poema de Gonçalves Dias. Vejamos V ejamos a recriação feita por Oswald de Andrade (18901954), em seu poema “Canto de regresso à pátria”: Minha terra tem palmares Onde gorjeia o mar Os passarinhos daqui Não cantam como os de lá
Ouro terra amor e rosas Eu quero tudo de lá Não permita Deus que eu morra Sem que volte para lá
Minha terra tem mais rosas E quase que mais amores Minha terra tem mais ouro Minha terra tem mais terra
Não permita Deus que eu morra Sem que volte pra São Paulo Sem que veja a Rua 15 E o progresso de São Paulo
As referências referências à “Can “Canção ção do exílio” exílio” são evidentes: evidentes: algumas expressões (como “Minha terra tem”, “mais amores” ou “Não permita Deus que eu morra”), a oposição entre os passarinhos “daqui” e os “de lá” e o uso do verbo gorjear, por exemplo, remetem diretamente ao poema de Gonçalves Dias. Portanto há entre os dois poemas uma relação intertextual. Note-se, entretanto, que o “Canto de regresso à pátria”, embora confirme alguns valores da “Canção do exílio”, também polemiza com ela. O primeiro verso do poema de Oswald, ao afirmar “Minha terra tem palmares”, já traz no vas possibilidades de leitura: em rigor rigor,, “palmares” é apenas o plural de “palmar”, que significa uma plantação de palmeira — desse modo, não faz muita diferença, em princípio, afirmar “Minha terra tem palmeiras” ou “Minha terra tem palmares”; acontece que no Brasil, quando se fala em “palmares”, imediatamente vem à tona o famoso Quilombo de Palmares, refúgio de escravos que, no século XVII, conseguiam escapar do trabalho forçado. Assim, a temática do negro, que não aparecia na “Canção do exílio” original, surge, ainda que timidamente, no poema de Oswald. Vejase como nosso repertório de informações culturais pode contribuir para a compreensão de um texto... Além da questão dos negros, “Canto de regres so à pátria” também tangencia o tema da mineração (lembremos que, no século XVIII, boa parte da riqueza de Portugal vi-
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nha dos impostos sobre a exploração do ouro em Minas Gerais), ao afirmar que, além de rosas, “Minha terra tem mais ouro”. Essa preocupação crítica, que não está presente no poema de Gonçalves Dias, confirma-se no verso “E quase que mais amores”, que satiriza o nacionalismo exacerbado da “Canção do exílio”. Podemos então concluir que “Canto de regresso à pátria”, de Oswald de Andrade, recria explicitamente a “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias, estabelecendo com ela uma clara relação de intertextualidade. Alguns dos valores do poema de Gonçalves Dias são aceitos e incorporados por Oswald; outros são negados e criticados.
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RELAÇÕES CÚMPLICES E POLÊMICAS
Se um texto B recria, de alguma forma, um outro texto A, estabelecendo com ele uma relação de intertextualidade, o texto B pode confirmar os valores expressos pelo texto A (como foi o caso do Hino Nacional em relação à “Canção do exílio”) ou negá-los. Assim, pode haver entre eles uma relação:
• cúmplice : quando ambos compartilham os mes-
mo valores.
Os sururus em família têm por testemunho a Gioconda. Eu morro sufocado em terra estrangeira. Nossas flores são mais bonitas nossas frutas mais gostosas mas custam cem mil réis a dúzia. Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade e ouvir um sabiá com certidão de idade!
Nesse poema, o eu lírico, “sufocado em terra estrangeira”, mostra como sua terra está carente de valores nacionais. As palmeiras e o sabiá da canção de Gonçalves Dias são substituídos por “macieiras da Califórnia”, “gaturamos de Veneza”, Veneza”, “pretos que vivem em torres de ametista”, flores e frutas que “custam cem mil réis a dúzia”. A perda da identidade nacional, expressa pelo desejo de “ouvir um sabiá com certidão de idade”, revela que aquele nacionalismo ufanista da “Canção do exílio” original deu lugar a uma perspectiva crítica. O exílio, em Murilo Mendes, não designa um afastamento espacial: representa o domínio dos valores estrangeiros sobre os nacionais. Desse modo, Casimiro de Abreu estabelece com a “Canção do exílio” de Gonçalves Dias uma relação cúmplice; Murilo Mendes, uma relação polêmica; e Oswald, uma relação parcialmente cúmplice, parcialmente polêmica.
• polêmica: quando se associam a valores diferentes.
A IMPORTÂNCIA DA NOÇÃO DE DISCURSO PARA A COMPREENSÃO DE SENTIDO 4
Observação : às vezes, um texto B, ao referir-se a um texto A, confirma alguns valores do texto recriado e discorda de outros (como é o caso de “Canto de regresso à pátria” em relação à “Canção do exílio”). Portanto é possível dois textos estabelecerem entre si uma relação parcialmente cúmplice e parcialmente polêmica . Passemos então a um exemplo de relação de cumplicidade entre dois textos. Entre 1854 e 1857, Casimiro de Abreu (18391860) escreveu na Europa seu primeiro volume de poesias, intitulado Canções do exílio . A célebre canção de Gonçalves Dias é retomada tanto no título como em diversos poemas desse livro, entre os quais “Exílio”, que se inicia assim: Eu nasci além dos mares: Os meus lares, Meus amores ficam lá! – Onde canta nos retiros Seus suspiros Suspiros do sabiá!
A referência ao “sabiá”, símbolo nacional criado pela “Canção do exílio”, recupera o nacionalismo de Gonçalves Dias. Vejamos V ejamos agora uma relação intertextual polêmica, lendo um poema de Murilo Mendes (1901-1975) intitulado não por acaso “Canção do exílio”: Minha terra tem macieiras da Califórnia onde cantam gaturamos de Veneza. Os poetas da minha terra são pretos que vivem em torres de ametista, os sargentos do exército são monistas, cubistas os filósofos são polacos vendendo a prestações. A gente não pode dormir com os oradores e os pernilongos. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
Um texto pode dialogar com outro, dele citando pala vras, expressões ou trechos mais mais longos. Exemplo clássico dessa forma de diálogo é exatamente a referência que o Hino Nacional Hino Nacional faz à “Canção do exílio”. Mas a citação não é a única forma de manifestar relação intertextual: um texto pode relacionar-se com outro sem fazer referência ex plícita a nenhuma das suas passagens, dialogando com ele no nível das ideias, das concepções ou, mais precisamente, no plano do conteúdo. Faz parte da competência de leitura situar a corrente de pensamento com que um determinado texto se identifica e a que corrente se opõe. Suponhamos um trecho como este: Tem havido uma pressão exagerada da parte de certos setores radicais da opinião pública mundial contra os produtos agrícolas chamados transgênicos. Trata-se do grito incauto de pessoas mal informadas que, escravas da igno rância, sob a bandeira da ecologia, opõem-se ao progresso da ciência e da tecnologia e favorecem o atraso. Ninguém hesita em identificar essa passagem com uma corrente ideológica que defende o progresso científico e tecnológico sem preocupação com a preservação da natureza, típica da corrente de pensamento oposta, isto é, a daqueles que lutam sob a bandeira da ecologia. Falando em termos mais precisos, as diferentes correntes de pensamento que circulam dentro de uma sociedade são identificáveis por meio de dois princípios: o da con vergência e o da divergência. Um texto concreto contém valores, crenças e concepções compatíveis com outros vários textos da mesma corrente de pensamento (princípio da convergência) e incompatíveis com valores, crenças e concepções da corrente oposta (princípio da divergência). Dizemos que os textos pertencentes à mesma corrente de pensamento são filiados a um mesmo tipo de ideologia.
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PORTUGUÊS
Funções da linguagem
1
INTRODUÇÃO
A linguagem está tão presente no nosso nosso cotidiano, que nem nos damos conta de sua presença: usar a linguagem, isto é, comunicar-se parece um processo tão natural quanto respirar, comer ou dormir. É verdade que podemos recorrer a diversas linguagens — representar uma roda desenhando-a ou acusar a existência de fogo por meio de gestos —, mas a linguagem verbal, falada ou escrita, é a mais utilizada. Daí dizer-se que a língua seja provavelmente a maior criação da humanidade, sobretudo porque é por meio dela que o homem se distingue dos demais seres vivos do planeta. 2
AS UTILIDADES DA LINGUAGEM A linguagem é o instrumento graças ao qual o homem modela seu pensamento, seus sentimentos, suas emoções, seus esforços, sua vontade, seus atos, o instrumento graças ao qual ele influencia e é influenciado (...). [Ela] não é um simples acompanhante, mas um fio profundamente tecido na trama do pensamento; para o indivíduo, ela é o tesouro da memória e a consciência vigilante transmitida de pai para filho. (Louis Hjelmslev. Prolegômeno Prolegômenoss a uma teoria da linguagem. São Paulo: Perspectiva, 2003. p. 1.)
CAPÍTULO 17
guias de rua, diários nem agendas. Não haveria “espaço” nem “tempo”. 3
A linguagem é uma maneira de perceber o mundo
De maneira simplificada, vamos apontar, a partir daqui, cinco grandes utilidades da linguagem. Os elementos do mundo exterior só adquirem relevância para a comunidade dos homens quando são apreendidos por meio da linguagem, ou seja, quando são nomeados. A percepção humana que não consegue se traduzir em palavras corre o risco de ser considerada caótica, absurda, sem sentido. Uma experiência do cotidiano ilustra facilmente essa ideia: conhecemos de vista inúmeras pessoas, com as quais cruzamos na escola, no ambiente de trabalho, no ponto de ônibus ou no clube; entretanto, quando alguma delas nos é apresentada e registramos seu nome, passamos a notá-la de fato, como se só então ela ganhasse “existência” na nossa mente. Dessa forma, dar nome às pessoas e às coisas é o mesmo que dar-lhes existência. 4
A linguagem é uma forma de interpretar a realidade
Além de nomear nomear e, com isso, isso, dar contorno e sentido sentido às percepções humanas, as línguas também servem para traçar relações entre os dados da experiência, situando-os situando-os em categorias mais amplas e organizando nosso mundo mental. Prova disso é que uma mesma coisa pode ser representada de diferentes maneiras por línguas diferentes. O português, por exemplo, tem uma só palavra para designar o carneiro “vivo” e o carneiro “alimento”. No inglês, usa-se a palavra sheep para designar o animal e mut mutton ton para designar a carne de carneiro preparada para ser servida à mesa – na realidade cultural dos usuários dessa língua o carneiro, como animal ou alimento, tem presença mais marcante do que na nossa.
As observações do linguista dinamarquês Hjemslev reforçam o fato de que a linguagem tem “mil e uma utilidades”. É ela que molda o pensamento, que dá forma às ideias: quase não há como pensar sem palavras. Precisamos dela para documentar o passado e planejar o futuro. Sem a linguagem não se constrói uma história coletiva: ela garante a transmissão de experiências e conhecimentos de uma geração a outra; tampouco sem ela há perpetuação da memória individual: a ela recorremos para falar 5 A linguagem é uma forma de ação dos costumes do avô, das receitas da avó, das superstições Em algumas situações, há declarações que têm a efi familiares, das crendices da tia, dos conselhos dos pais, cácia das ações físicas, pois elas inauguram mudanças no mantendo vivas as tradições t radições do universo particular. Além disso, a linguagem está presente em todos os ambiente e nas relações humanas. Os antigos gregos tidomínios da vida em sociedade, no exercício de qualquer nham um provérbio que destacava essa qualidade da linprofissão. Do primeiro “bom-dia” ao último “boa-noite”, guagem: “A língua é um órgão do corpo humano desproela nos acompanha em todos os momentos. É o instru- vido de osso, mas capaz de quebrar ossos”. Nas arenas romanas, quando um gladiador era derrotamento que nos permite debater ideias, receber e transmitir instruções, opinar, argumentar em defesa de uma v isão do, seu sacrifício não dependia inteiramente da vontade ou de mundo, persuadir e ser persuadidos. Sem a linguagem da ação de seu adversário. A decisão de matar ou poupar não existiria a realidade tal como a conhecemos: as pes- o vencido estava nas mãos do imperador, que, por meio do soas não teriam nome, não teriam identidade, não seriam gesto de virar o dedo polegar para baixo (o que era um sipessoas. Sem nome, os países não seriam reconhecidos nal codificado, portanto um ato de linguagem), comandava como países. Sem a linguagem, não haveria mapas nem o movimento final da espada do vitorioso. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
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PORTUGUÊS
6
A linguagem é uma forma de criar novos universos
Fazendo uso da linguagem, o indivíduo é capaz de compartilhar projetos, sonhos e fantasias, criando mundos hipotéticos. A ficção ultrapassa os limites de nossa experiência individual, desencadeando, a partir de universos “de mentira”, reflexões e emoções verdadeiras — ou mesmo inovações tecnológicas. A ficç ficção ão cie cientí ntífica fica de Jul Julio io Verne erne,, por exem exemplo plo,, que div diverti ertiu u gerações de leitores, deu contorno e utilidade a inventos que só bem mais tarde foram materializados, como o submarino. Um romance como A cabana do Pai Tomás , publicado em 1852 pela norte-americana Harriet Stowe (1811-1896), teve importância capital para despertar consciências contra o escravismo, na época da Guerra Civil americana, e tornou-se uma referência mundial. Para ficar no universo da luta pela cidadania, vejamos um exemplo de outro uso da linguagem — para projetar um mundo melhor, produzir utopia, motivando homens a ousar mudar a realidade. Trata-se de um trecho do célebre discurso “Eu tenho um sonho”, pronunciado pelo pastor negro Martin Luther King na Marcha para Washington por Empregos e Liberdade, em 23 de agosto de 1963, que o colocou entre os maiores oradores do século XX: Digo-lhes hoje, meus amigos, embora nos defrontemos com as dificuldades de hoje e de amanhã, que eu ainda tenho um sonho. E um sonho profundamente enraizado no sonho norte-americano. Eu tenho um sonho de que, um dia, esta nação se erguerá e viverá o verdadeiro significado de seus princípios: “Achamos que estas verdades são evidentes por elas mesmas, que todos os homens são criados iguais”. Eu tenho um sonho de que, um dia, nas rubras colinas da Geórgia, os filhos de antigos escravos e os filhos de antigos senhores de escravos poderão sentar-se juntos à mesa da fraternidade. Eu tenho um sonho de que, um dia, até mesmo o estado de Mississipi, um estado sufocado pelo calor da injustiça, será transformado num oásis de liberdade e justiça. Eu tenho um sonho de que meus quatro filhinhos, um dia, viverão numa nação onde não serão julgados pela cor de sua pele e sim pelo conteúdo de seu caráter. Quando deixarmos soar a liberdade, quando a deixarmos soar em cada povoação e em cada lugarejo, em cada estado e em cada cidade, poderemos acelerar o advento daquele dia em que todos os filhos de Deus, homens negros e homens brancos, judeus e cristãos, protestantes e católicos, poderão dar-se as mãos e cantar com as palavras do antigo espiritual negro: “Livres, enfim. Livres, enfim. Agradecemos a Deus, todo poderoso, somos livres, enfim.” Por meio da linguagem, Luther King formula o ideal de uma nação em que os direitos civis fossem respeitados independentemente de etnias e credos, retomando os ideais que tinham presidido a luta pela independência e a redação da Constituição nos Estados Unidos. Além disso, ele também denuncia a discriminação que imperava em alguns Estados do Sul e que reclamava mudanças urgentes. Seu sonho pessoal, depois de investido em palavras e transformado em discurso, tornou-se uma crença e um projeto de muitos militantes dos direitos civis, e assim resultou em muitos avanços para a sociedade. 7
que é imprescindível para o trato social. O trecho do discurso de Martin Luther King confirma isso. 8
Como dissemos, a linguagem “serve” para muitas coisas, tem muitas finalidades, finalidades, várias funções. Mas, Mas, antes de qualquer coisa, a linguagem serve à comunicação. Esse processo, que nos parece quase automático, foi estudado pelo linguista russo Roman Jakobson, segundo o qual a comunicação humana se organiza a partir de seis elementos: CONTEXTO REMETENTE → MENSAGEM → DESTINATÁRIO CONTATO CÓDIGO
O remetente (ou emissor) é o produtor da mensagem, que é dirigia a um destinatário (ou receptor). Para que haja comunicação, é necessário ainda que haja um contexto (isto é, um referente , um “assunto” em questão), um ponto de contato entre os interlocutores (o canal da comunicação) e um código compartilhado por eles. Sempre que duas ou mais pessoas interagem, esses seis elementos de comunicação estão presentes. Se um deles não estiver “funcionando”, a interação não se dá eficientemente. Isso não quer dizer, porém, que todos esses elementos tenham sempre o mesmo peso: quem se comunica tem ob jetivos, tem intenções; por isso, dependendo da situação concreta de comunicação um desses elementos pode ser mais valorizado que os demais, realçando uma determinada função da linguagem. Cada função da linguagem corresponderia à valorização de um dos seis elementos da comunicação:
A linguagem atua sobre os sentimentos e a razão das pessoas
Pela linguagem, o indivíduo pode propor consensos e estabelecer pactos de confiança com os interlocutores, o SISTEMA ANGLO DE ENSINO
AS FUNÇÕES DA LINGUAGEM
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FUNÇÃO REFERENCIAL FUNÇÃO EMOTIVA → FUNÇÃO POÉTICA → FUNÇÃO CONATIVA FUNÇÃO FÁTICA FUNÇÃO METALINGUÍSTICA
Quando a comunicação está centrada no emissor, em seus valores e opiniões pessoais, temos um caso de função emotiva ou expressiva . • Quando se valoriza o receptor e há uma tentativa de convencê-lo explicitamente sobre algo, trata-se de um caso de função conativa ou apelativa. • Quando a ênfase recai sobre o referente , sobre a transmissão “objetiva” de uma informação, há função referencial (que já foi chamada também de in formativa, cognitiva ou denotativa). • Quando se dá especial atenção ao modo de apresentar a mensagem, ocorre função poética. • Quando se destaca o canal de comunicação, existe função fática. • Quando se constrói uma mensagem que questiona o próprio código , a linguagem está sendo usada com função metalinguística. •
PORTUGUÊS
É importante ressaltar que nenhuma dessas funções aparece isolada, num texto. A rigor, todas estão sempre presentes na comunicação, podendo estar uma ou outra predominando sobre as demais. 9
Função emotiva ou expressiva A linguagem serve para expressar a subjetividade subjetividade .
Quando, por exemplo, alguém desabafa com um amigo, expondo sua raiva diante de uma injustiça ou seu arrependimento por uma atitude inconveniente, está usando palavras para exteriorizar seu universo interior, delineando uma certa imagem de si para o receptor. Isso caracteriza o que chamamos de função emotiva da linguagem.
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A linguagem serve para informar. informar. Por meio de uma reportagem, por exemplo, os indivíduos são informados sobre os acontecimentos do mundo, alargando sua percepção e adquirindo novos conhecimentos. Para a coletividade, a linguagem torna possível a transmissão, o aperfeiçoamento e o acúmulo dos conhecimentos através das gerações. Esse tipo de texto, que visa principalmente a informar, opera com a função referencial da linguagem. Principais marcas textuais: • pronomes de terceira pessoa • efeito de sentido de objetividade • precisão conceitual • valorização da denotação
Principais marcas textuais: • • • •
pronomes de primeira pessoa interjeições / exclamações palavras avaliativas palavrões
Exemplo: Meu pai diz que se eu prestasse atenção às aulas eu aprenderia. Sei disso muito bem, mas tive a infelicidade infeli cidade de cair na roda das meninas mais vadias da Escola. Elas não deixam a gente sentar nos bancos da frente nem prestar atenção às lições. Já fomos desde o primeiro ano consideradas vadias e tem de ser assim até o fim. Também que me importa? A Escola é tão alegre e eu passo ali os dias tão feliz que não faz mal. (Helena Morley. Minha vida de menina. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 224.)
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Função conativa ou apelativa A linguagem serve para influenciar e ser influenciado.
Exemplo: É uma prática de nossa justiça condenar alguns como advertência aos outros. Condená-los porque erraram seria tolice, como diz Platão. Pois o que está feito não pode ser desfeito; mas é para que eles não errem mais da mesma forma, ou para que se evite a imitação de seu erro. (Blaise Pascal. A arte de persuadir . São Paulo: Martins Fontes, 2004. p. 3.) 12
Função poética A linguagem serve como fonte de prazer.
Os jogos de sentido, de sonoridade e de ritmo produzidos com as palavras, seja por diversão, seja para encantar o receptor, são exemplos de que a linguagem pode ser fonte de prazer estético. Nesse caso, caso, importa mais o “modo de dizer” do que aquilo que se diz. Ou, em outros termos, a maneira de arquitetar o texto é usada para enriquecer seu plano de conteúdo. É isso que define a função poética.
Às vezes, a intenção da comunicação é influenciar o comportamento do receptor, associando certos comportamentos a valores sociais desejáveis ou indesejáveis. Isso é bastante perceptível na publicidade, por exemplo, e caracteriza a função conativa. Principais marcas textuais:
Principais marcas textuais:
tentativa de estabelecer correlação entre o plano da expressão e o plano do conteúdo • valorização do “modo de dizer” •
Exemplo: Eu quero fazer um poema Rachado e sentimental Como as bandas de música Do meu país natal
• pronomes de segunda pessoa • pronomes de tratamento • vocativos • verbos do imperativo
Exemplo: Examinem sua consciência. Era verdadeiramente seu exército que vocês desejavam defender quando ninguém o estava atacando? Não era, em vez disso, a espada que vocês sentiram a súbita necessidade de exaltar? No fundo, o seu ainda não é o verdadeiro sangue republicano; a visão de um capacete emplumado ainda faz seu coração bater mais rápido; nenhum rei pode aparecer entre nós sem que vocês se encantem por ele. (Trecho (Tre cho de carta aberta do escritor Émile Zola aos franceses que haviam participado de manifestação contra o capitão Dreyfus, injustamente condenado por traição, em 1894.) SISTEMA ANGLO DE ENSINO
Função referencial
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Eu quero fazer um poema De todo o amor que sinto Pelas palmas e bandeiras Do meu país musical Eu quero fazer um poema De flores de papel Laranja azul encarnado Branco e verdeamarel (...) (Oswald de Andrade, estrofes iniciais do “Hino nacional do pati do alferes”. Em Poesias reunidas. 4. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974, p. 167.) PORTUGUÊS
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Função fática
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A linguagem serve para criar e manter manter laços sociais.
A lingua linguagem gem serve para falar sobr sobree a própr própria ia lingua linguagem. gem.
A simples manifestação de disposição para dialogar dá origem a muitas mensagens. Os cumprimentos cotidianos, por exemplo, mesmo que sejam automáticos e não representem manifestações propositais de apreço pelo outro, fortalecem ideia de que pertencemos a uma comunidade, de que estamos tentando estabelecer um canal de ligação com alguém. Quando nos manifestamos com essa finalidade, estamos utilizando a função fática da linguagem. Exemplo: — Bom dia! Com quem eu falo? f alo? — (...) — Tudo bem com o senhor? — (...) — Meu nome é (...). O senhor tem um minutinho? — (...) — É o seguinte: estou ligando em nome da empresa de pesquisa X... (Imitação de abordagem de telemarketing .).)
Principais marcas textuais: • •
uso de marcadores de conversação emprego de expressões cristalizadas da fala
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Função metalinguístic metalinguísticaa
Toda vez que alguém tenta explicar melhor algo que disse antes, desfazer um mal-entendido, comentar o próprio uso dos recursos linguísticos ou o modo de construção da mensagem, a linguagem está sendo usada para enfocar a si mesma. Isso é muito comum no texto de natureza literária — por exemplo, quando o eu lírico de um poema fala sobre a própria poesia ou quando o narrador de um romance se refere à narrativa que está sendo composta. Trata-se Trata-se de recursos típicos da função metalinguística. Principais marcas textuais: • • •
uso de “expressões tradutoras” busca da precisão conceitual tentativa de explicar o próprio código
(...) Eu mesmo espero viver o suficiente para me graduar, deixando de ser o “bad boy” que sempre fui para me tornar “um velho rabugento”. E então “a enorme condescendência da posteridade” — expressão ex pressão um tanto sugestiva cunhada por E.P. Thompson, um herege já veterano quando eu não passava de um garoto — poderá agasalhar meu esqueleto. Saia bastante dos padrões e é claro que encontrará um vernáculo muito menos “tolerante”. Aí, as palavras-chave serão “fanático”, “criador de confusão”, “desajustado” ou “agitador”. (...) (Christopher Hitchens. Cartas a um jovem contestador . São Paulo: Companhia das Letras, 2006. p. 16.)
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Figuras de linguagem
1
INTRODUÇÃO
Figuras de linguagem (também chamadas de figuras de retórica) são recursos explorados pelo enunciador para produzir efeitos de sentido destinados a tornar mais expressivos os enunciados. Em outras palavras, a linguagem figurada é um procedimento discursivo que permite tornar o texto mais atraente e, com isso, conquistar a atenção e o agrado do interlocutor. E qual será o segredo para atingir esse resultado? Como se sabe, o corriqueiro não chama atenção. O hábito faz com que não se preste atenção àquilo com que se convive diariamente e é sempre igual. Normalmente, o que chama atenção é o diferente, o que foge do costumeiro. Vestido V estido de calça e camisa, um homem é menos notado que o trajando fraque e cartola. Na linguagem não se passa de modo diferente: o emprego das palavras no seu sentido usual e a combinação delas dentro dos procedimentos regulares chama menos atenção do que a fuga da norma. Umas das definições mais apropriadas para par a as figuras de linguagem é exatamente a que as conceitua como desvio, isto é, abandono do normal e preferência pela transgressão. Se o professor diz que está coletando equívocos cometidos pelos alunos nas provas, não causa tanto impacto quanto se disser que está garimpando pérolas cometidas pelos alunos nas provas. Nesse contexto tanto o verbo garimpar quanto o substantivo pérolas estão usados em sentido figurado, fora do usual. Já o adjetivo cometidos/cometidas , que nesses exemplos foi usado com seu sentido habitual, associado a traços negativos, estaria enquadrado no domínio da linguagem figurada neste outro exemplo:
Agradecemos o auxílio cometido por países amigos. Fica evidente aí a intenção de ironizar e insinuar que au xílio xíli o não é bem auxílio, mas por exemplo, um empréstimo com prazos e juros exorbitantes, e que os países amigos não são bem amigos, mas credores interessados em tirar os en-
mencionados não só em aulas de literatura, mas também de gramática, texto e redação. 2
TIPOS DE FIGURAS
Um dos problemas que surgem, no estudo da linguagem figurada, é o da sistematização figurada, sistematização dos tipos tipos de figuras. Muitas Muitas gramáticas e muitos estudiosos da linguagem seguem a tipologia segundo a qual as figuras se dividem em: • Figuras de palavras • Figuras de pensamento • Figuras de construção Essa divisão, embora consagrada, é simples demais, pois são tantos os recursos que contribuem para a construção de uma figura de linguagem, que fica difícil resumir todas elas em apenas três núcleos. Por isso, para facilitar a compreensão dos mecanismos que produzem as figuras de linguagem, propomos uma tipologia mais ampla: • Figuras compostas por relações de semelhança • Figuras compostas a partir de oposições • Figuras compostas por relações de contiguidade ou implicação mútua • Figuras compostas por repetições • Figuras compostas por apagamento • Figuras compostas por descontinuidades • Figuras que exprimem tensividade • Figuras de sonoridade É claro que não há necessidade de memorizar essas categorias. Propomos essa tipologia tão somente para evidenciar os mecanismos envolvidos na criação de cada uma das figuras. Alguns dicionários de figuras de linguagem chegam a citar cerca de trezentas delas. No entanto, e felizmente para nós, os vestibulares trabalham com um número bem reduzido, algo em torno de vinte ou trinta. Vejamos V ejamos esquematicamente as figuras que vamos estudar, já as associando à tipologia proposta:
dividados da asfixia para que eles recuperem a capacidade de lhes pagar a dívida. Fala-se que os recursos retóricos e a linguagem figurada são mais frequentes na função poética da linguagem. É verdade, verda de, mas não são exclu exclusivo sivoss dela, ocor ocorrendo rendo també também m em outras manifestações de língua em geral. É praticamente impossível abordar qualquer gênero de texto sem defrontar com casos de figuras, por raros que sejam. Por isso nomes como metáfora , metonímia , antítese , paradoxo , aliteração, prosopopeia etc. não devem ser estranhos a alunos que se encontram neste estágio da vida escolar, pois sem dúvida esses termos foram SISTEMA ANGLO DE ENSINO
CAPÍTULO 18
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Mecanismo usado para construir a figura
Figuras criadas por esse mecanismo
Semelhança
Comparação, metáfora, catacrese, prosopopeia e sinestesia
Oposição
Antítese, paradoxo e ironia
Contiguidade ou implicação mútua
Metonímia e sinédoque
Repetição
Pleonasmo, polissíndeto, anáfora e quiasmo PORTUGUÊS
Mecanismo usado para construir a figura
Figuras criadas por esse mecanismo
Apagamento
Elipse, assíndeto e silepse*
Descontinuidade
Hipérbato e anacoluto
Tensividade Sonoridade
É a relação de semelhança que percebemos no significado dos dois termos. Ambos possuem ao menos um traço em comum – oxigenar o “ambiente” em que se encontram e expulsar o gás carbônico. É nesse sentido que se chama a Amazônia de pulmão do mundo.É então a relação de semelhança entre o sentido de base e o sentido novo que caracteriza a metáfora. Esquematicamente temos:
Eufemismo, hipérbole, apóstrofe e gradação Assonância, alteração e onomatopeia
pulmão
órgão do aparelho respiratório
FIGURAS RECORRENTES NOS VESTIBULARES
pulmão
3. ն
árvore
Em outros termos temos: 1. o mesmo nome: pulmão; 2. em vista de uma uma relação de semelhança , isto é, de possuir propriedades em comum; 3. é transferido para designar um conceito diferente: árvore. Observe as metáforas usadas nestes versos, em que o eu lírico descreve a amada recorrendo à semelhança de suas características com as de metais e pedras preciosas:
Observação inicial
A definição de figuras como metáfora, metonímia, etc. fica mais compreensível levando-se em conta que, com todas elas, a palavra se desvia do seu sentido própria para um novo sentido – que chamamos de sentido figurado.
A minha bela ingrata Cabelo de ouro tem, fronte de prata De bronze o coração, de aço o peito; (...) Os beiços são rubis, perlas os dentes; A lustrosa garganta De mármore polido; A mão de jaspe, de alabastro a planta. (...)
Comparação E fácil compreender essa figura de linguagem, uma vez que o procedimento de comparar é bastante comum na linguagem cotidiana: trata-se por termos em confronto usando entre eles partículas comparativas (como, feito, que, nem, tal, qual etc.) Exemplo: A Amazônia é como o pulmão do mundo. Nesse caso, foi atribuído um sentido novo, figurado, ao termo pulmão.
Metáfora A distinção entre metáfora metáfora e comparação é meramente formal: poderíam poderíamos os até dizer dizer que a metáfora metáfora é uma comparação sem partículas comparativas. Transformando o exemplo de comparação em exemplo de metáfora, teríamos: A Amazônia é o pulmão do mundo. Para falar de modo mais preciso: ocorre metáfora quando há, entre o sentido próprio e o sentido figurado, uma relação de semelhança. Exemplo: O ar das grandes cidades está quase irrespirável. Além da descarga de poluentes, derrubaram quase todas as ár vores. Esses centros urbanos ganham luxuosos prédios mas perdem seus pulmões. O termo pulmões, nesse contexto, não pode ser interpretado no seu sentido usual de órgão do aparelho respiratório que promove as trocas gasosas, fornecendo oxigênio a todo o corpo e eliminando gás carbônico: a palavra está usada em sentido figurado (significando árvores ). Que tipo de relação nos permite dizer pulmão e o leitor saber que se trata de árvores ? SISTEMA ANGLO DE ENSINO
ϭ
2. Relação: semelhança
(*) A silepse pode ser incluída também entre as figuras construídas por descontinuidade.
3
1.
(Jeronimo Baia. A uma crueldade formosa. Em Literatura Barroca – Literatura Portuguesa Portuguesa. São Paulo: Global, 1987, p. 140.)
É claro que os versos não se referem a uma estátua: está explícito que se trata de uma mulher (bela e ingrata). Assim, entende-se que o cabelo de ouro é cabelo louro, em razão da semelhança de cor; que os dentes são perlas (pérolas) por terem, assim como elas, os traços semânticos de brancura e brilho etc. Na fala popular também há incontáveis exemplos de metáforas. Entretanto, como o uso torna o seu entendimento automático, perde-se a associação feita inicialmente pela semelhança de traços entre os termos. Num bar, por exemplo, se um cliente pedir uma “loura gelada”, qualquer garçom entenderá que deve servir uma cerveja a baixa temperatura, sem pensar na semelhança da cor da bebida com a dos cabelos de uma mulher, o que deu margem à criação da metáfora no passado. Ou seja, se a expressão foi criada por metáfora, a relação metafórica entre os termos agora está desgastada, e a expressão se enquadra numa outra figura, que veremos v eremos a seguir.
Catacrese A catacrese é uma figura em que se explora o mesmo mecanismo da metáfora, ou seja, transporta-se um termo para o âmbito ou o lugar de outro em vista de uma relação de semelhança entre os seus significados.
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PORTUGUÊS
O que difere a catacrese da metáfora é que ela já se tornou tão usual que é preciso certo esforço de interpretação para perceber que a palavra não está sendo usada em sentido literal ou de base. Uma definição econômica de catacrese é esta: trata-se de uma metáfora já desgastada.
Observação O paradoxo vai além da antítese. Se a antítese coloca lado a lado as ideias opostas, o paradoxo engloba, numa só unidade, conceitos contrários . Do ponto de vista lógico, ele parece um contrassenso, mas do ponto de vista expressivo é uma forma vigorosa e sintética de exprimir interpretações diferentes de uma mesma realidade.
Antífrase ou ironia Quem hoje em dia diz que embarcou no avião, não associa mais embarcar com o barco. Mas na verdade existe a relação: Embarcar = ato de se pôr num barco para viajar, para deslocar-se de um lugar par ao outro.
Por metáfora, esse verbo passou a designar o ato de viajar, em vários outros tipos de veículo. viajar, Os exemplos de catacrese são inúmeros: • dente de alho; • bico de bule; • enterrar uma faca • barriga da perna; (em algo); • perna da mesa; • asa de xícara; • nariz do avião etc.
Prosopopeia ou personificação É um tipo especial de metáfora, que consiste em atribuir propriedades de seres animados a seres inanimados. Outro modo de definir é usando a própria sugestão da palavra personificação : consiste em atribuir características persona em latim) a seres inanimados. da pessoa ( persona Exemplo: Os índios chamavam a seringueira de árvore que cho ra por causa do látex que derrama quando é sulcada.
Sinestesia Figura que consiste em agrupar ou reunir sensações de diferentes órgãos dos sentidos. Exemplo: O sol do outono caía com a luz pálida e macia.
Antítese/paradoxo Tanto a antítese como o paradoxo são figuras que consistem em confrontar palavras ou expressões de sentidos opostos. Para quem distingue as duas figuras (nem todos o fazem) a diferença está em que: • na antítese, confrontam-se os opostos não simultâneos; • no paradoxo, confrontam-se os opostos simultâneos.
É a figura que consiste em usar uma palavra (ou expressão) com um significado oposto à intenção do enunciado. Exemplo: Era admirável o controle preciso que ele tinha sobre a bebida: entornava a garrafa na boca sem derramar uma só gota. Como a ironia (ou antífrase) costuma ser usada para criar um efeito de humor, na língua geral passou a ter sentido de sátira. Mas esse efeito de humor não é necessário: pode haver ironia com intenção de enaltecer, elogiar. Exemplo: Todas as brasileiras queriam ter a feiura da Gisele Bundchen.
Metonímia É a figura por meio da qual transportamos o nome de um termo para outro, em vista de uma relação de implicação, de interdependência. Basicamente, o transporte na metonímia se faz por uma relação de causalidade. Exemplo: Nos grandes centros urbanos atuais, os dias de calor se tornaram insuportáveis ao ar livre. É que cortaram todas as árvores para dar lugar aos prédios e ao asfalto. Há até mesmo praças em que não restou sequer uma sombra de pé. É evidente que a palavra sombra, nesse contexto, não pode ser interpretada no seu sentido visual (= “obscuridade produzida pela interceptação dos raios solares por um corpo opaco”), mesmo porque essa mancha escura não fica de pé. Trata-se, pois, de uma palavra usada em sentido figurado (está significando árvore). Qual relação nos permite usar sombra e todos entenderem árvore? Nesse caso, não se trata mais de uma relação de semelhança, ou seja, do fato de árvore e sombra terem alguma propriedade em comum. A relação que permite transportar o nome sombra para designar árvore é de causa-efeito. A sombra é um efeito tão associado a árvore, que ao falar em um associase o outro. É um tipo de relação de proximidade, de contiguidade, de implicação recíproca que caracteriza a metonímia. Esquematicamente temos:
Exemplo:
sombra
Antítese O discurso do amor ora diz infinitas verdades, ora se esconde sob a capa de sorrateiras mentiras.
SISTEMA ANGLO DE ENSINO
Paradoxo
1.
ϭ
sombra
2. Relação: contiguidade implicação, causa-efeito
O discurso do amor diz infinitas verdades mentirosas e infinitas mentiras verdadeiras.
mancha escura produzida pela interceptação interceptaçã o da luz solar
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3. ն
árvore
PORTUGUÊS
Explicando o esquema temos: 1. o mesmo nome: sombra; 2. em vista de uma relação de causa-efeito; 3. designar um conceito diferente: árvore. Na fala popular também há incontáveis exemplos de metonímia. Entre eles está a transferência do nome de um determinado lugar a uma pessoa que dele, procede, caso, por exemplo, do comentarista esportivo Jorge Reis da Costa, conhecido como Jorge Kajuru em referência a sua cidade natal (Cajuru). Outro exemplo interessante é o nome do sanduíche bauru: a receita foi criada por um frequentador de lanchonete paulistano chamado chamado Casimiro Pinto Neto, que tinha o apelido de Bauru por ter nascido na cidade de mesmo nome; nesse caso, e possível reconhecer duas metonímias, pois há duas relações de causa-efeito, do nome da cidade para a pessoa, e do nome da pessoa para algo que ela inventou.
Sinédoque No domínio da retórica literária, não é comum, atualmente, distinguir sinédoque de metonímia. A Fuvest, por exemplo, não exige essa distinção. Em todo caso, a título de esclarecimento, não custa dizer que a sinédoque é um tipo especial de metonímia que consiste em usar o nome da parte de um conjunto para designar o conjunto todo ou vice-versa. Em termos mais simples, a sinédoque consiste em usar a parte em lugar do todo ou o todo em lugar da parte. Para retomar os exemplos de figuras de linguagem re ferentes a árvore, vejamos: As árvores do bosque foram todas derrubadas para dar lugar a um conjunto de prédios. Não sobrou sequer uma folha no condomínio. A expressão folha, nesse contexto, não está designando um órgão dos vegetais, mas sim uma árvore. A relação que nos permite usar folha e todos entenderem árvore nesse caso é também de contiguidade, isto é, a folha é uma parte tão associada a árvore, que ao falar uma associa-se a outra. Esse tipo de relação que permite designar designar a parte pelo todo ou o todo pela parte é o que alguns chamam de sinédoque .
o conheceram no tempo em que ele usava uma densa barba. Eis um exemplo de sinédoque na fala cotidiana. A barba é uma parte tão típica da pessoa, que evoca a pessoa toda. Quando se diz que as chaminés estão saindo dos grandes centros urbanos, está-se usando chaminé (parte das indústrias antigas) para designar essas indústrias . É também uma sinédoque.
Pleonasmo Repetição de uma palavra ou de uma noção já implicada no texto. Exemplo: Eu canto um canto matinal. (Guilherme de Almeida) A ameaça, o perigo, eu os apalpava quase. (Guimarães Rosa)
Polissíndeto Repetição da mesma conjunção entre orações ou pala vras dispostas em sequência. sequência. Exemplo: E ri, e canta, e chora.
Anáfora Repetição da mesma palavra ou grupo de palavras a espaços regulares ao longo texto. Exemplo: Noite – montanha. Noite vazia. Noite indecisa. Confusa noite. Noite à procura, mesmo sem alvo. (Carlos Drummond de Andrade)
Quiasmo É mais fácil entender essa figura sabendo que o nome quiasmo remete á letra khi do alfabeto grego, cuja forma é semelhante à do x do nosso alfabeto. Trata-se de figura formada por um tipo de cruzamento entre palavras de uma sequência, de modo que a palavra ou expressão anterior troca de lugar com a posterior. Exemplo: Aquilo que era: o começo do fim para um foi o fim do começo para outro.
Esquematicamente, temos: folha
1.
ϭ
folha
Elipse Omissão de termos que podem ser depreendidos. Exemplo: No meio da rua, o sol escaldante. (elipse do verbo estar ou arder)
2. Relação: parte e todo, todo e parte órgão de um vegetal
3. ն
árvore
Explicando o esquema: 1. o mesmo nome: folha; 2. em vista de uma relação parte e todo; 3. designar um conceito diferente: árvore.
Assíndeto
Nunca é demais reforçar que, hoje em dia, já não se costuma fazer distinção entre metonímia e sinédoque, incluindo-se esta naquela. Os exemplos de sinédoque na linguagem cotidiana são inúmeros. Um dos professores do Anglo (o Prof. Jonas Duró Leitão) ainda hoje é chamado de Barba por colegas mais antigos que SISTEMA ANGLO DE ENSINO
Figura que consiste em suprimir as conjunções que ligariam os termos coordenados de uma frase ou as orações coordenadas de um período. Eis um exemplo extraído do soneto “Discreta e formosíssima Maria”, de Gregório de Matos:
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Ó não aguardes que a madura idade te converta essa flor, essa beleza em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada. PORTUGUÊS
Silepse Os exemplos a seguir foram recolhidos pela professora Rocha Lima, na sua Gramática Normativa da Língua Portuguesa: 1. Está uma pessoa ouvindo missa, meia hora o cansa. (Manuel Bernardes) 2. O casal não tivera filhos: mas criaram dois ou três meninos. (Augusto Frederico Schmidt) 3. Dizem que os cariocas somos pouco dados aos jardins públicos. (Machado (Machado de Assis) Aparentem Apar entemente, ente, essa essass três frases frases apresen apresentam tam problem problemas as de concordância. Parece que há um descompasso entre os dois termos em negrito. Na primeira, o pronome anafórico “o” não está de acordo com o seu antecedente, “uma pessoa”; na segunda, a forma verbal “criaram” parece que não concorda com o seu provável sujeito; na terceira, o sujeito “os cariocas”, que exigiria o verbo na terceira pessoa do plural, vem determinado na forma plural da primeira pessoa, “somos”. No entanto, não há nenhum problema de concordância verball em nenhu verba nenhum m dos exemp exemplos los.. O termo “uma pess pessoa” oa” pode se referir tanto a um homem quanto a uma mulher, portanto, ao usar o pronome oblíquo “o” para retomar “uma pessoa”, o enunciador quer deixar claro que se trata de um homem. O termo “casal”, do ponto de vista morfológico, é singular, no entanto, do ponto de vista semântico, ele encerra a ideia de plural, pois um casal sempre é formado por duas pessoas. Portanto, a forma verbal “criaram” concorda com a ideia de plural implícita em “casal”. O sujeito “os cariocas”, em tese, pede o verbo na terceira pessoa do plural: os cariocas são. No entanto, se o enunciador quiser marcar que pertence a esse grupo, ele pode usar a primeira do plural: os cariocas somos. Nos três casos, a concordância se deu não com o termo que estava no texto, mas com um termo apagado: no primeiro caso, a concordância com a ideia implícita de masculino; no segundo, a concordância com a ideia implícita de plural; no terceiro, a concordância com a ideia implícita de nós. Essa figura de linguagem, que consiste em promover a concordância com uma ideia implícita, chama-se silepse ou concordância ideológica. Seus três tipos podem ser reconhecidos nos exemplos dados: respecti vamente, vame nte, sileps silepsee de gênero gênero (masculi (masculino/fe no/femini minino), no), sileps silepsee de número (singular/plural) e silepse de pessoa.
Exemplo: I) Eu fui sempre muito bem recebido por vocês. II) Todos vocês sempre me receberam bem. Eu, todos vocês sempre me receberam bem. Eu, no caso, era o início do enunciado I, que foi bruscamente interrompido por uma pausa e seguido pelo enunciado II.
Eufemismo Atenuação de uma ideia, produzindo-se um enunciado alternativo. Exemplo: Voce V oce faltou com a verdade. (em vez de mentiu)
Hipérbole Expressão exagerada de uma ideia. Exemplo: Repetiu um milhão de vezes a mesma reclamação.
Apóstrofe Interpelação emotiva e exagerada de pessoas (ou de coisas personificadas), por isso chamada vocativo intempestivo . Deus! Ó Deus! Onde estás que não respondes? (Castro Alves)
Gradação ou clímax Disposição das ideias em progressão ascendente, isto é, do termo menos enfático para mais enfático. Exemplo: O que no início era penas uma apreensão, evoluiu para um susto, depois para o medo, o pânico, o pavor .
Aliteração Repetição de consoantes de mesma natureza, ou de natureza semelhante. Exemplo: cho que a chuva a juda a g ente A ch ente a se ver. (Caetano Veloso)
Assonância Repetição de vogais de sonoridade igual ou semelhante. Exemplo: Os miseráveis, o s ro to s São as flores do s esgo to s
Hipérbato Inversão da ordem usual dos termos de uma oração ou das orações de um período. Exemplo: Ao lon longe, ge, dos per peregri egrinos nos esp espera eranço nçosos sos já se ouv ouvee o can canto. to. (A ordem direta seria: O canto dos peregrinos já se ouve ao longe).
Anacoluto Palavra ou expressão que inicia um enunciado, vem interrompida por uma pausa e não tem relação sintática com o segmento que vem a seguir. Exemplo: Você, eu não acredito numa palavra sua.
(Cruz e Sousa)
Onomatopeia Palavra que, por sua constituição sonora (ou seja, com seu som), evoca aquilo que ela representa. As onomatopeias são muito comuns na imitação dos barulhos produzidos, por exemplo, dos animais. Outros sons, como o barulho da água, também podem originar onomatopeias, e como neste exemplo:
Em geral isso ocorre porque o enunciador começa por uma certa estrutura, muda repentinamente de direção e continua o enunciado, usando um modo de dizer alternativo. SISTEMA ANGLO DE ENSINO
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(...) foguetes, bombas, chuvinhas, chios, chuveiros, chiando. chiando, chovendo, chuvas de fogo, chá-Bum?
(Jorge de Lima) PORTUGUÊS
Temas e figuras
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CAPÍTULO 19
INTRODUÇÃO
Todo texto, independentemente de sua natureza, revela mundo de quem o produziu. Todo enunciador, a visão de mundo enunciador, ao falar ou escrever alguma coisa, tem uma intenção, tem como objetivo transmitir e defender uma determinada opinião. Isso não vale apenas para textos opinativos: acontece também em textos de outros gêneros, variando, entretanto, a maneira por meio da qual a s visões de mundo se manifestam em cada um. Imagine que dois sujeitos fossem convidados a opinar sobre a conveniência de o Brasil entrar na Alca (Área de Livre Comércio das Américas). O primeiro deles afirma: A entrada do Brasil na Alca representa um risco para a autonomia econômica e diplomática do país. Não vale a pena correr esse risco. Fazer parte de uma comunidade comercial ao lado dos Estados Unidos pode significar a oficialização de uma submissão , que já existe de maneira latente, dos países americanos em relação aos EUA. Devese sempre ter em mente que, na união entre forças desiguais, os mais fracos sempre serão prejudicados.
Já o segundo diz: Prefiro responder com uma história: leão e gato do mato se uniram para caçar lebres ; as lebres escaparam, o gato do mato, não.
Os dois textos apresentam praticamente a mesma visão de mundo: ambos creem que o Brasil, ao fazer um acordo com um país mais poderoso, mais rico e mais desenvolvido como os Estados Unidos, estaria assumindo o risco de sair prejudicado dessa aliança. Só que o primeiro texto emite essa opinião de maneira explícita, por meio de palavras abstratas; já o segundo opina de modo mais disfarçado, valendo-se de palavras concretas. A visão de mundo é a mesma nos dois textos, mas a maneira de veiculá-las é diferente. Chamaremos essas palavras abstratas de temas, e os textos que são construídos por meio delas, de temáticos. As palavras concretas concretas serão chamadas de figuras, e os textos que se utilizam delas serão denominados figurativos. 2
TEXTOS TEMÁTICOS E TEXTOS FIGURATIVOS
O primeiro exemplo apresentado é um típico texto temático. Para perceber a tese defendida pelo seu enunciador, enunciador, basta ler com atenção o final: na união entre forças desiguais, os mais fracos sempre serão prejudicados. Os conceitos abstratos são muito úteis para fazer essas grandes sínteses. O segundo exemplo ilustra bem o que é um texto figurativo. São usados elementos concretos, e é tarefa do leitor identificar o ponto de vista de fundo, sob as figuras e o enredo de superfície. O leão e o gato do mato são apresenSISTEMA ANGLO DE ENSINO
tados como predadores, enquanto as lebres, como presas. No entanto, a relação entre o leão e o gato não é de igualdade (é patente a superioridade do leão). Assim, enquanto há confluência de interesses entre os predadores, o gato do mato não corre riscos; mas, se as coisas não saem como foram planejadas, o leão transforma o gato em sua presa: afinal (para usar uma frase figurativa) a corda sempre arre benta do lado mais fraco . Fazendo um paralelo com os gêneros da redação escolar, pode-se dizer que as descrições e as narrações são textos construídos predominantemente a partir de elementos concretos; já as dissertações são produzidas sobretudo a partir de conceitos abstratos. Desse modo, os textos descritivos e narrativos podem ser classificados como figurativos, e os dissertativos, como temáticos. Aprofundando um pouco mais essa discussão, podemos dizer que todo texto apresenta um tema, isto é, um conceito abstrato e genérico capaz de resumir a opinião que o enunciador quer transmitir. No caso dos dois exemplos anteriores, o tema dos textos é o mesmo: ambos defendem que, na união entre forças desiguais, o prejuízo sempre recai sobre o mais fraco. Só que, no primeiro exemplo, esse tema é explícito, enquanto no segundo ele recebe um re vestimento figurativo: em vez de o enunciador enunciador demonstrar claramente qual é o tema do texto, ele o deixa implícito nas figuras do leão, do gato do mato e da lebre. 3
INTERPRETAÇÃO DOS TEXTOS TEMÁTICOS E FIGURATIVOS
A compreensão do significado (ou dos significados) significados) de um texto é produto de várias operações conjugadas. Como se sabe, num texto, cada uma das partes está combinada com outras, criando um todo que não é mero resultado da soma das partes, e sim de sua síntese. Desse modo, a apreensão do significado global resulta de várias leituras, em que se levantarão hipóteses interpretativas, a partir da compreensão de dados inscritos no texto lido, associados a informações do nosso conhecimento de mundo. Como regra geral, podemos dizer que uma hipótese interpretativa é aceitável sempre que o texto nos apresenta pistas (mais de uma) que a confirmem e sustentem. O texto temático (texto do universo comentado), muito comum na linguagem das ciências e da filosofia, contém, já na sua superfície, interpretações ou comentários sobre dados concretos do mundo real. Ele expõe opiniões explícitas sobre determinado item posto em questão. Já o texto figurativo (texto do universo narrado), principalmente quando literário, é construído sobre representações do mundo real. A partir de dados concretos (personagens, ações, espaços), cria-se um espetáculo que funciona como simulacro sim ulacro da realidade que pretendemos entender, criticar ou exaltar, denunciar, pôr em dúvida
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etc. Como se trata de um texto de ficção, tudo o que nele ocorre corresponde a alguma intenção de quem o constrói. Da observação das figuras postas em funcionamento dentro de um espetáculo figurativo, levantam-se hipóteses que possam servir de interpretação genérica para os dados concretos. Por conta disso, a interpretação do texto figurativo costuma ser mais trabalhosa: não basta que se identifiquem
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as figuras por meio das quais os enunciados são construídos; é preciso propor hipóteses para descobrir quais são as opiniões subjacentes às figuras. Em seguida, é necessário verificar se o texto sustenta as hipóteses levantadas. Já a interpretação do texto temático é, em tese, mais simples, pois não há necessidade de imaginar um segundo sentido por trás daquele que vem explícito nos temas espalhados pela superfície textual.
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Tipos de discurso
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CAPÍTULO 20
INTRODUÇÃO
Como outros termos usados no ensino de português (caso de tema, figura e texto, por exemplo), a palavra discurso precisa ser definida com cuidado, pois pode adquirir significados específicos, de acordo com a situação. Por isso é importante deixar claro, desde o início, com que sentido vamos considerá-la neste capítulo. 2
A DEFINIÇÃO DE DISCURSO
Todo texto pressupõe a existência de um enunciador. No texto narrativo, ele é quem “conta a história”, é quem conduz a narrativa. Analogamente, no texto dissertativo, é ele quem manifesta as visões de mundo, quem comanda a dissertação. Nos textos narrativos, o enunciador (chamado, nesse caso, de narrador) cria personagens, “pessoas” (ou qualquer outro ator personificado) que atuam, que agem na história e que, muitas vezes, “falam”. Nas dissertações, o enunciador também pode citar ideias e frases que não são suas, seja para concordar com elas, seja para discordar delas. Neste capítulo, entenderemos discurso como a citação de vozes alheias, isto é, a citação de uma fala, f ala, de uma ideia ou de um pensamento de alguém diferente do enunciador.
essa interferência, ou seja, quando o narrador/enunciador “fala” pela personagem, temos o discurso indireto . 4
DISCURSO DIRETO
Como o próprio nome sugere, o discurso direto consiste em citar a fala de uma personagem diretamente, sem a mediação explícita do narrador. Parece que o narrador deixa de falar, para que a personagem se expresse. Na verdade, trata-se apenas de impressão, já que o enunciador ou narrador sempre está no comando: se ele “deixa” a personagem falar explicitamente no texto, é porque deseja produzir um efeito de verdade, isto é, uma impressão de realidade: é como se, sem sua interferência, a personagem falasse por si mesma, com todas as marcas que caracteri caracterizam zam a subjetividade, como o emprego de pronomes de primeira pessoa. Desse modo, o leitor tem a sensação de que está ou vindo apenas a personag personagem, em, e não o narrador narrador.. É o que acontece nas frases destacadas em negrito na seguinte passagem do romance, O primo Basílio (capítulo 8), de Eça de Queirós, em que os primos e amantes Basílio e Luísa conversam sobre a possibilidade — que depois se confirmará — de serem chantageados pela empregada doméstica Juliana, que roubara uma carta comprometedora: Ela disse, com uma voz lenta:
3
MODOS DE CITAR O DISCURSO ALHEIO
Analisemos dois exemplos para começar a entender como se faz isso: I) Por telefone, ela me disse: “Eu estou falando daqui da minha casa e agora são dez horas .” II) Por telefone, ela me disse que estava falando de lá da casa dela e naquele momento eram dez horas.
Os dois trechos em negrito marcam um instante em que o narrador deixa de falar para dar voz a uma personagem, isto é, para citar um discurso alheio. São dois modos de citar: em I, o narrador reproduz literalmente a fala da personagem; em II, o narrador traduz a fala da personagem, por isso dizemos que, nesse caso, o discurso alheio é citado indiretamente. Quando se reproduz literalmente a fala da personagem, como ocorreu em I, temos o chamado discurso direto . Quando a fala da personagem é veiculada pela “boca” do narrador, como em II, temos o discurso indireto . Para que essa noção fique mais clara, consideremos uma relação triangular entre narrador/enunciador, personagem e leitor/ouvinte. Quando a fala da personagem chega ao ouvido do leitor/ouvinte sem a interferência explícita do narrador/enunciador, temos o discurso direto ; quando há SISTEMA ANGLO DE ENSINO
— E o dinheiro, onde o tenho eu? — Está claro que o dinheiro tenho-o eu! — E depois de uma pausa: — Não muito, estou mesmo um pouco atrapalhado, mas enfim... — Hesitou, disse: — Se a c riatura quiser duzentos mil-réis, dão-se-lhe! — E se não quiser? — Que há ela de querer, então? Se rouba a carta, é para a vender! Não é para guardar um autógrafo teu!
Os trechos em negrito exemplificam discurso direto, pois são reproduções literais das falas das personagens. É importante notar que às vezes o discurso direto vem introduzido por verbos “de dizer”, também chamados de verbos dicendi: dizer, falar, responder, garantir, afirmar, retrucar, jurar, jurar, pensar etc. Esses verbos, que aparecem na fala do narrador, “avisam” que vai se iniciar a citação de um discurso alheio. Muitas vezes, por meio deles o narrador já antecipa sua maneira de interpretar o discurso citado. Isso é comum no jornalismo, como demonstra o exemplo a seguir seguir,, extraído de um número da revista CartaCapital publicado na época da primeira posse de Luís Inácio Lula da Silva como presidente da República: Crianças, velhos, jovens, mulheres, homens, de Brasília e de caravanas que cruzaram o País, querem chegar perto de Lula. Rompem barreiras,, invadem o espelho d’água no Congresso, cumpre-se o desejo do reiras
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novo presidente, expresso e repetido diante de meticulosos croquis, a cada reunião destinada a esmiuçar os planos para a festa: — Eu quero o povo perto... essa grade está muito longe, quero o povo mais perto... Véspera da posse. Novo impasse. O comando do Corpo de Bombeiros decreta: — É arriscado para a população essa grade tão perto, se o presidente passar por essa parte do circuito.
Como se vê, anunciando a fala do Corpo de Bombeiros, aparece o verbo “decretar” — transmitindo a impressão de que a fala foi pronunciada num tom de verdade indiscutível. Suponhamos que o enunciador tivesse preferido outra opção: • O comando do Corpo de Bombeiros ameaça: — É arriscado para a população essa grade tão perto, se o presidente passar por essa parte do circuito. •
O comando do Corpo de Bombeiros supõe: — É arriscado para a população essa grade tão perto, se o presidente passar por essa parte do circuito.
Nessas duas versões hipotéticas, a impressão transmitida não seria a mesma: a primeira anunciaria uma fala ameaçadora; a segunda, uma fala marcada pela dúvida. Nota-se, assim, que o verbo dicendi pode dar uma boa dica sobre a intenção do narrador ou do enunciador, ao citar o discurso alheio. Aproveitando o texto reproduzido da Carta Capital, vamos chamar a atenção para mais um dado importante: observe que antecedendo a fala de Lula, em discurso direto (— Eu quero o povo perto... essa grade está muito longe, quero o povo mais perto ...), não aparece claramente nenhum verbo “de dizer”. Isso significa que ele está pressuposto, o que é bastante comum. No fragmento de O primo Basílio também estão implícitos alguns verbos que introduzem o discurso direto. Além dos verbos dicendi, outra característica do discurso direto é que, do ponto de vista das correlações sintáticas, ele não depende da fala do narrador. Tanto é que os limites entre sua fala e a da personagem citada vêm demarcados por sinais de pontuação: dois-pontos, aspas ou travessão (muitas vezes, combinados). Tendo em vista essas informações, podemos apontar três pistas para identificar o discurso direto: 1a pista: o discurso direto cita a fala de uma per-
sonagem exatamente como foi produzida; por esse motivo, são mantidas todas as marcas típicas da fala, como as interjeições, os vocativos, os pronomes de primeira pessoa e os demonstrativos. 2a pista: o discurso direto vem sempre introduzido por um verbo “de dizer” (que pode estar implícito) ou por uma locução que exerça esse papel. 3a pista: o discurso direto vem separado da fala do narrador por determinados sinais de pontuação (a não ser em textos literários que fazem uso particular da pontuação, não previsto pela tradição gramatical). 5
sim, não se produz o efeito de verdade — ao contrário, a impressão é a de que apenas o narrador está falando, dei xando bem claro que ele é quem está no comando. Desaparecem as marcas de linguagem falada, por isso não existe a impressão de que a personagem está falando com suas próprias palavras. Para compreender melhor, vejamos uma reescritura do mesmo trecho de O primo Basílio:
Ela perguntou, com uma voz lenta, onde ela teria o di nheiro. Basílio respondeu que era claro que o dinheiro tinha-o ele. E depois de uma pausa completou que não era muito o que tinha, que estava mesmo um pouco atrapalhado, mas que arranjaria alguma coisa . Ele então hesitou e disse que, se a empregada quisesse du zentos mil-réis, davam-se-lhe davam-se-lhe . Luísa então objetou que ela poderia não querer , ao que Basílio respondeu, perguntando que haveria ela de querer então. Ele disse que, se Juliana roubara a carta, era para a vender, e não para guardar um autógrafo de Luísa . Note que, nessa versão, desaparece o efeito de verdade produzido pelo discurso direto. Agora é o narrador quem conta a conversa de Basílio e Luísa, que não “falam” mais diretamente no texto. Por isso, sumiram as marcas textuais que caracterizavam a linguagem oral. Os trechos em negrito estão em discurso indireto. indir eto. Neles, em lugar do efeito de verdade, passa-se a impressão de que tudo o que foi dito é de inteira inte ira responsabilidade do narrador, narr ador, já que é por sua sua “boca” “boca” que as as personagens personagens conversa conversam. m. Por esse exemplo de O primo Basílio, é possível apontar algumas características do discurso indireto. Em primeiro lugar, ele vem sempre introduzido por um verbo dicendi. Só que, diferentemente do que ocorre no discurso direto, como não será reproduzida a fala da personagem, não há nenhum sinal de pontuação para separá-la da fala do narrador. Na realidade, o discurso indireto é veiculado por meio de uma oração subordinada substantiva objetiva direta, introduzida por uma conjunção integrante (que ou se), ou por advérbios, ou por pronomes interrogativos (como, quando, onde, qual, quem ou por que). Por isso dizemos que o discurso indireto depende sintaticamente da fala do narrador. A esta altura, pode-se perguntar se a falta do efeito de verdade produzid produzido o pelo discurs discurso o direto direto torna o discurso discurso inindireto menos eficiente. A resposta é que ele apresenta outras vantagens: além de marcar o comando do enunciador, ele lhe dá liberdade para “mexer” na fala da personagem — o que é interessante, por exemplo, quando se deseja citar algum autor e não se tem certeza da frase fr ase exata. Não tem cabimento usar dois-pontos, aspas ou travessão, anunciando uma citação literal, e fazer uma citação imprecisa. De acordo com o que expusemos, podemos agora apontar três pistas para identificar o discurso indireto: 1a pista: no discurso indireto, a fala de uma per-
DISCURSO INDIRETO
O discurso indireto corresponde à citação indireta da fala de uma personagem. Em vez de o narrador deixar a personagem falar por si mesma, ele “traduz” a sua fala. AsSISTEMA ANGLO DE ENSINO
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sonagem é veiculada claramente pelo narrador ou enunciador; por esse motivo, desaparecem todas as marcas típicas da fala. 2a pista: o discurso indireto vem sempre introduzido por um verbo “de dizer” ou por uma locução que exerça esse papel. 3a pista: o discurso indireto apresenta-se sob a forma de uma oração subordinada substantiva objetiva direta.
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CONVERSÃO DE UM DISCURSO EM OUTRO
A conversão do discurso direto em indireto ou vice versa implica alterações. Para compreendê-las, é suficiente levar em conta estas informações: • No discurso direto , a personagem é que funciona como ponto de referência para o tempo verbal e para os marcadores de pessoa e lugar. Ela se exprime em primeira pessoa, por pronomes como eu, meu e este; dirige-se ao seu interlocutor empregando a segunda pessoa; usa advérbios como aqui para demarcar o espaço e advérbios como agora para indicar tempo. •
No discurso indireto , o tempo verbal é marcado pelo momento em que o narrador fala, e não a personagem. Por isso, indica-se algo que teria acontecido anteriormente em discurso direto. Os pronomes que se referem à personagem e ao seu interlocutor ficam na terceira pessoa, as circunstâncias de lugar são demarcadas por advérbios como lá ou ali e as de tempo como então ou naquele momento.
Resumidamente, teríamos: • Discurso direto: o ponto de referência é o momento em que fala a personagem. Exemplo: Roberto Carlos disse: “Eu estou aqui” . Note o pronome de primeira pessoa, o verbo no presente e o advérbio de lugar, que demarca justamente o espaço da personagem. o ponto de referência é o momento em que fala o narrador. Exemplo: Roberto Carlos disse que ele estava lá . Note que o pronome de primeira pessoa da frase dita por Roberto Carlos foi trocado por pronome de terceira pessoa; o verbo no presente, por verbo no pretérito imperfeito; o advérbio aqui por lá. É como se o narrador contasse o que Roberto Carlos disse depois de ele o ter dito.
• Discurso indireto:
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DISCURSO INDIRETO LIVRE
Existe um terceiro tipo de discurso, que fica a meio caminho entre o direto e o indireto: trata-se do chamado discurso indireto livre . Por um lado, ele produz o mesmo efeito de verdade do discurso direto; por outro, é veiculado pela “boca” do narrador, e não pela da personagem, como no discurso indireto. No discurso indireto livre, o narrador se exprime no lugar da personagem, mantendo, porém, as marcas que caracterizam a fala dela. Desse modo, o discurso pode ser considerado indireto (a personagem não fala por si mesma) e ao mesmo tempo livre (os traços típicos da fala não desaparecem). Eis um exemplo, extraído também de O primo Basílio (capítulo 11), que mostra Luísa sendo assediada pelo ban-
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queiro Castro, seu admirador, com quem aceitara encontrar-se como último recurso para obter dinheiro exigido pela serviçal chantagista: Luísa calava-se, com os olhos baixos. Ele foi pousar o chicote na jardineira, veio sentar-se sentar-se no sofá junto junto dela. Vendo o seu ar embaraçaembaraçado, pediu-lhe que não se afligisse. Valia lá a pena por questões de dinheiro! Tinha o maior prazer em servir uma senhora tão nova, tão interessante... Fizera perfeitamente em se dirigir a ele. Conhecia casos em que as senhoras se dirigiam a agiotas que as exploravam, eram indiscretos... — E falando tinha-lhe tomado a mão;
o contato daquela pele apetecida, exaltando-lhe o desejo brutalmente, fazia-o respirar alto; Luísa, toda constrangida, nem retirara a mão; e Castro abrasado — com uma verbosidade um pouco rouca, prometia tudo, tudo o que ela quisesse!... Os seus olhinhos arregalados devoravam-lhe o pescoço muito branco.
Após relatar r elatar a aproximação entre Castro e Luísa, inicialmente o narrador usa o verbo dicendi “pediu” e emprega o discurso indireto: “que não se afligisse”. Em seguida vem uma longa passagem em que aparecem argumentos favoráveis a que Luísa, de fato, recorresse à ajuda de Castro. Note que não há marcas textuais (como verbos “de dizer” ou sinais de pontuação típicos) indicando que essa passagem reproduz falas do banqueiro; entretanto, está evidente que ela mostra o ponto de vista dele, com seu vocabulário, construções frasais, exclamação e reticências que não seriam do narrador. Assim não é exagero concluir que é o próprio Castro quem está falando. Em síntese, a passagem aparentemente está na fala do narrador, mas, por informações contextuais, deduzimos que pertence ao discurso da personagem. É isso que entendemos por discurso indireto livre. Como esse tipo de discurso só pode ser identificado pelo contexto, é impossível reconhecê-lo em frases soltas. Além disso, sempre haverá passagens ambíguas, em que uma determinada frase poderá tanto ser considerada fala da personagem quanto fala do narrador. Isso explica por que o discurso indireto livre é usado sobretudo nos textos de natureza literária, em que essa dupla possibilidade de interpretação muitas vezes é programada. Para identificar o discurso indireto livre, podemos então considerar três pistas:
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1a pista: no discurso indireto livre, a fala de uma per-
sonagem está na “boca” do narrador, mas, mesmo assim, mantêm-se algumas das marcas típicas da fala, como a seleção lexical, as repetições as interjeições etc. 2a pista: o discurso indireto livre nunca vem introduzido por um verbo “de dizer” (ou por uma locução que exerça esse papel), nem por dois-pontos, aspas ou travessão. 3a pista: o discurso indireto livre só pode ser identificado pelo contexto.
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