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O tema do evangelho: a justiça de Deus revelada ou “o justo viverá pela fidelidade de Deus” (1.16-17)
Franklin Ferreira “O evangelho não entra em concorrência com quaisquer teorias ou pesquisas ou outras elocubrações e deduções que a ciência, a sabedoria ou cultura possam haver encontrado ou ainda venham a encontrar mesmo que sejam transcendentais e oriundas do mais elevado circulo do saber humano pois o evangelho não é uma verdade ao lado de outras verdades mas é a verdade que questiona, afere, todas as demais verdades. O evangelho é dobradiça e não folha da porta” (K. Barth).
16-17: A forma negativa “não me envergonho [de Cristo]” pode ser entendida como “tenho orgulho” do
evangelho. O apóstolo enaltece os méritos do evangelho, mas insinua que o evangelho é desprezível ao mundo: “As falsas igrejas não suportam a pregação da Palavra de Deus, a pregação das doutrinas da graça. Acham que é algo chato, sem praticidade; e o mundo acha algo estúpido e burro, sem lógica” (Kenneth Wieske). “[Paulo] sabia que a mensagem da cruz era ‘loucura’ para alguns e ‘escândalo’ para outros [1Co 1.18, 23], porque ela mina a justificação própria e desafia nossa auto-indulgência. Portanto, sempre que o evangelho é pregado com fidelidade ele gera oposição, geralmente desprezo e, não raro, nos expõe ao ridículo” (John Stott). Porque: •
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É por onde o poder de Deus se revela para salvação de todo (judeu e grego, portanto, todos nós) aquele que crê. Revela o único modo e o único caminho concebido por Deus (a fé, e não o nosso modo de nos salvar ou outras modalidades inventadas pelos homens) para tornar ímpios – judeu e grego, portanto, todos nós – reconciliados com Deus (justos). João Calvino define fé como: “um conhecimento firme e certo da vontade de Deus a respeito de nós, fundado sobre a verdade da promessa gratuita, feita em Cristo Jesus, revelada ao nosso entendimento e selada em nossos corações pelo Espírito Santo”. A fé tem três elementos: intelectual ( notitia ), que envolve o conhecimento das verdades do Evangelho, emocional ( assensus ), que envolve convicção e volitivo ( fiducia), que é a confiança. Sola fidei ! Revela a justiça de Deus em relação a nós, judeus e gregos (a justiça de Deus em nos condenar e a justiça de Deus em nos justificar mediante mediante a fé). Revela Cristo como o poder da pregação: “Tire o Cristo do evangelho, e você não tem mais uma boa notícia, uma boa nova. Tire o Cristo da pregação, e você tem uma pregação que até pode ter forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder” (K. Wieske). Revela um Deus justo e justificador: “Parece legítimo afirmar, portanto, que ‘a justiça de Deus’ é a iniciativa justa tomada por Deus ao justificar os pecadores consigo mesmo, concedendo-lhes Monergismo.com – “Ao “Ao Senhor pertence a salvação” (Jonas (Jonas 2:9) ww w ww.monergismo.com
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uma justiça que não lhes pertence, mas que vem do próprio Deus. ‘A justiça de Deus’ é a justificação justa do injusto, sua maneira justa de declarar justo o injusto, através da qual ele demonstra sua justiça e, ao mesmo tempo, nos confere justiça. Ele o fez através de Cristo, o justo, que morreu pelos injustos, como Paulo explica mais adiante. E ele o faz pela fé quando confiamos nele, clamando a ele por misericórdia” (John Stott). Sola gratia! “Para sermos amados por Deus, devemos antes ser justos diante de seus olhos, porquanto ele odeia a in justiça. Significa, pois, que não podemos obter a salvação de nenhuma outra fonte senão do evangelho, visto que Deus de nenhuma outra parte nos revelou sua justiça, a qual é a única que nos livra da morte. Esta justiça, a base de nossa salvação, é revelada no evangelho, daí dizer-se que o evangelho é o poder de Deus para a salvação” (Calvino)! “Notemos bem quanto valor Paulo atribui ao ministério da Palavra, ao declarar que Deus exerce seu poder nela para nossa salvação. Ele aqui não está falando de alguma revelação secreta, e, sim, da pregação por meio da expressão verbal que vem dos lábios. Segue-se disto que aqueles que se retraem de ouvir a Palavra proclamada estão premeditadamente rejeitando o poder de Deus e repelindo de si a mão divina que pode liberta-los” (Calvino). 17: “Justo”, aqui, significa, na forma forense de pensar do judeu, alguém que está quites perante um juiz
hipotético. Alguém cujas relações com Deus estão corretas. “As idéias de certo e errado entre os hebreus são idéias forenses, isto é, o hebreu sempre pensa no certo e no errado como se houvessem de ser resolvidos diante de um juiz. Para o hebreu, justiça é mais um estado legal do que uma qualidade moral. A palavra ‘justo’ (saddiq ) significa simplesmente ‘no certo’, e a palavra ‘ímpio’ ( rasha’) significa ‘no errado’. ‘Desta vez pequei’, diz Faraó, ‘Jeová está no certo’ (AV: ‘é justo’), e eu e o meu povo estamos no errado (AV: ‘somos ímpios’), Êx 9.27. Jeová está sempre no certo, pois Ele não somente é soberano, mas tam bém é coerente consigo mesmo. Ele é a fonte da justiça... a vontade coerente de Deus é a lei de Israel” (F. F. Bruce). “De fé em fé”: Pode ser traduzido por “da fé (ou melhor, fidelidade) de Deus à nossa fé, significando que a fidelidade de Deus vem primeiro, e a nossa nunca passa de uma resposta (K. Barth) ou pode ser a primazia da fé que está sendo discutida. Neste caso, a expressão seria puramente retórica, sendo traduzida, por exemplo, como “do princípio ao fim... pela fé” (NVI) ou “mais e mais através da fé” (John Murray). Quanto à citação de Hb 2.4, “os termos do oráculo (...) são suficientemente generalizados para dar lugar à aplicação que Paulo faz deles [quem é justo pela fé vive pela fé] – uma aplicação que, longe de violentar a permanente intenção do profeta, expressa a constante validade dessa mensagem” (F. F. Bruce). 1 “O que vem a seguir é em grande medida uma exposição das palavras do profeta”.
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Paulo já havia citado essa passagem em Gálatas 3.11, carta escrita alguns anos antes, como base bíblica para a justificação pela fé e não pela lei. Assim, podemos concluir que é desta forma que Paulo entende (ou aplica) esta passagem de Habacuque. Entretanto, podemos avançar nesta interpretação, concluindo que, se é pela fé que o pecador será justificado, e então terá a vida eterna, é também pela fé, que o pecador já justificado viverá o seu dia a dia, até se encontrar com o Senhor. Embora o primeiro sentido seja o que contém o significado deste texto de Paulo, ambos os sentidos interpretam corretamente a profecia de Habacuque. Monergismo.com – “Ao Senhor pertence a salvação” (Jonas 2:9) www.monergismo.com