20 Críticos e moralistas (2.1-16) Franklin Ferreira
Paulo utiliza aqui o estilo de diatribe, no qual responde a objeções de um interlocutor imaginário. Esse interlocutor, que bem poderia ser o moralista Sêneca, estóico, tutor de Nero, que diria: – eu também desaprovo esse tipo de pessoa que você acaba de descrever! Você não deve achar que todos os homens são assim. Nesse momento o autor autor vai demonstrar que mesmo mesmo os homens mais éticos estabelecem regras e normas que não podem cumprir. Com essa argumentação, derruba a possível alegação de que Deus teria expectativas exageradas e impossíveis de ser correspondidas. Enquanto que em 2.17ss Paulo claramente fala do judeu, aqui ele trata de toda e qualquer pessoa que não se sente atingida pelo juízo de Deus (1.1832). 1. O juízo de Deus é inevitável (2.1-4) :
1: “Indesculpável” (cf. 1.20). Ao condenar (ou mesmo aprovar) um ato ou atitude de outra pessoa, criamos, inevitavelmente, um padrão, um referencial. r eferencial. Se não formos capazes de coerência com esses padrões, condenamo-nos a nós mesmos pelos padrões que criamos. Por isso, o homem seria indesculpável diante de Deus (e de si mesmo), mesmo que nunca tivesse lido sequer um verso bíblico. O comentário de John Stott acerca deste versículo é bastante apropriado: “... se a nossa capacidade crítica é tão desenvolvida, a ponto de nos tornarmos especialistas em avaliar a moral dos outros, nós dificilmente poderemos alegar ignorância em assuntos morais quando se tratar de nós mesmos”. 2: “Por isto ele apela para o juízo de Deus, aos olhos de quem as próprias trevas não podem ocultar e que
necessariamente necessariamente deve ser sentido pelo próprio pecador, quer queira ou não” (João Calvino). A verdade do juízo: (a) ( a) Deus punirá o pecador sem qualquer parcialidade e (b) Ele não levará em conta as aparências externas. 3: Paulo não os acusa diretamente, mas os convence pelo veredicto da consciência! 4: Não há escapatória do justo juízo de Deus, senão lançando mão de sua bondade e misericórdia, medi-
ante humilde contrição e arrependimento. A Justiça de Deus revela-se na condenação do moralista que condena os que erram (2.1), que estabelece padrões que não pode cumprir (2.3) e que por soberba, rejeita a graça de Deus (2.5). 2. O juízo de Deus é justo (2.5-11) ( 2.5-11) 5-11: “Dureza de coração”: Paulo usa uma linguagem duríssima contra os soberbos e orgulhosos, porque
sabe que são atitudes de difícil trato. Na verdade, a soberba não tem perdão porque jamais o pede. “Ainda que salvação na Bíblia seja pela graça, o juízo será pelas obras” (F. F. Bruce). 5: “Os ímpios não só acumulam para si mesmos, diariamente, o mais pesado juízo divino durante sua e-
xistência terrena, mas também os dons divinos, dos quais continuamente desfrutam, agravarão sua condenação, visto que serão convocados para que dêem conta dos mesmos” (Calvino). “Dia da ira”: introduzido no dia, para o dia (Sf 1.15; Jl 2.2; Am 5.18). 6: “Retribuirá”: cf. Jó 34.11; Sl 62.12; Pv 24.12; Jr 10.10; 32.19; Mt 16.27; 1Co 3.8; 2Co 5.10; Ap 2.23;
20.12; 22.12. 7-10: Uma ênfase na imparcialidade de Deus (At 10.34ss; 11.14). Dois pares de antíteses contrastando
frutos no proceder cristão e não-cristão e, respectivamente, as bênçãos e julgamento de Deus para um e outro. Os verbos aqui, no presente do particípio, indicam ação contínua, estilos de vida. Estrutura clara e simples: A B B’ A’. “Agora as alternativas nos são apresentadas em dois paralelos cuidadosamente elaborados, que têm a ver com o nosso objetivo (o que nós procuramos), as nossas obras (o que fazemos) e o nosso fim (para onde vamos)” (John Stott).
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21 11: Não há favoritismo da parte de Deus: “acepção”: “respeito à face de”. Valido tanto para a salvação
(3.22) quanto para a condenação (2Cr 19.7; At 10.34; Gl 2.6; Ef 6.9; Cl 3.25). 3. O juízo de Deus é imparcial (2.12-16):
A luz que cada um recebeu (lei ou consciência) só ressalta a culpabilidade de todos diante de Deus. A primeira menção da lei em Romanos está em 2.12, o que também inclui o judeu aqui. Mas o conhecimento da lei moral não é uma defesa contra o juízo de Deus. Questões de interpretação: a) De que tipo de justificação o v. 13 fala? [explicação do v. 13 aparece nos vv. 14-15, e conclui em 16]. b) Os vv. 15s admitem salvação sem o conhecimento prévio de Jesus Cristo (e.g., no caso de pagãos que jamais ouviram o evangelho)? - O testemunho da consciência se refere ao julgamento de Cristo (2.16) - A ênfase do contexto é no julgamento e condenação de todos: 3.9, 19s, 23. 12: O termo “lei”, aqui, refere-se, certamente, à lei de Moisés. Paulo está dizendo que os homens serão
julgados de acordo com a luz que tiveram, ou seja, Deus que conhece os corações e as consciências há de julgar os homens pela forma como reagiram às situações morais, considerando as condições de que dis punham. “Firma-se o principio de que os homens são julgados segundo a luz que tiveram, não segundo a luz que não tiveram” (Bruce). “Portanto, o que aguarda os judeus é uma condição ainda pior, visto que sua condenação já está pronunciada em sua própria lei” (Calvino). 13-16: Estabelecido o princípio, o autor passa a aplicá-lo, demonstrando que Deus julgará a cada um a
partir da “lei” que cumpriram ou transgrediram. Vale lembrar que o argumento central de Paulo é que, conquanto Deus julgue os homens por critérios diferentes – o que o faz justo diante do judeu e também do gentio – todos eles terminam “indesculpáveis” (cf. 2:1), por absoluta incapacidade de cumprir qualquer tipo de lei, seja a de Moisés, seja a de suas consciências. A justiça de Deus revela-se na condenação do religioso que tem orgulho da lei, mas não a cumpre (2.13). 1 “Esta descrição ampliada do juízo divino é mais apropriada para a presente passagem. Ele informa aos que intencionalmente se ocultam nos refúgios de sua insensibilidade moral, que as intenções mais intimas, que presentemente se acham escondidas no recôndito de seus corações, serão, então, trazidas à plena luz” (Calvino). Paulo encerra este tópico do seu pensamento (2.16), apresentando mais três verdades acerca do “dia da ira”, ou do dia do “justo juízo de Deus” (2.5). Ele especifica as bases do julgamento de Deus: 1. Deus julgará os segredos dos homens. Não há a mínima possibilidade de que a justiça seja abortada no dia final, pois todos os fatos virão a público, inclusive aqueles que no presente não são conhecidos, como por exemplo, as nossas motivações. 2. O juízo de Deus irá realizar-se mediante Jesus Cristo. É um grande conforto saber que o nosso juiz não será outro senão o nosso Salvador. 3. O juízo de Deus é parte integrante do evangelho. Isso provavelmente significa que a boa nova da salvação brilha em todo o seu esplendor quando vista em contraste com o sombrio contexto do juízo divino. Nós barateamos o evangelho quando o retratamos apenas como algo que nos liberta da tristeza, do medo, da culpa e de outras necessidades pessoais, ao invés de apresentá-lo como uma força que nos liberta da ira vindoura.
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É óbvio, neste último versículo, que ninguém será declarado justo por cumprir a lei, pois ninguém consegue cumpri-la integralmente. Esse não é assim, um caminho para a salvação; mas, Paulo não está falando (ainda) nestes versículos, de salvação, e sim, do julgamento de Deus. Monergismo.com – “Ao Senhor pertence a salvação” (Jonas 2:9) www.monergismo.com