RESUMO: O que é o urbano, no mundo contemporâneo - Roberto Luís Monte-Mór No primeiro tópico, Monte-Mór explica o processo de urbanização em função da entrada da indústria na cidade. O autor explica que a urbanização como conhecemos hoje é caracterizada pela entrada da indústria nas cidades, que teve início na concentração cada vez maior das fábricas nas cidades européias entre os séculos XIX e XX, durante a Revolução Industrial. Nesse processo de industrialização, as cidades foram fundamentais. Elas forneceram condições gerais de produção para a instalação das empresas fabris e permitiram a concentração da população consumidora e trabalhadora. O autos trata do espaço da cidade industrial como lócus privilegiado do excedente econômico, do poder político e da festa cultural, legitimado como obra e regido pelo valor do uso coletivo. Isto é, a concentração no espaço das cidades de todos os fatores e provedores da indústria, que é legitimada socialmente e entendida como bem comum. Monte-Mór discute, então, sobre a dinâmica industrial e seus efeitos. Com a dinâmica industrial, houve uma inflexão na relação entre o campo e a cidade. A cidade que apenas controlava e comercializava a produção do campo, passou, também, a transformá-la e a ela agregar valor. Isso significou a subordinação do campo à cidade. Essa dependência da produção industrial urbana afetou a própria produção do campo, fazendo-se necessária a compra de ferramentas, alimentos e bens de consumo básico. Na cidade, as transformações se deram em função da imposição da lógica industrial, centrada na produção. O autor explica que a cidade passa a ser privatizada e subordinada ao valor de troca, às necessidades da indústria, como provedora da indústria. Isto é, a cidade se transforma em um produto industrial regido pelas mesmas leis de produção que regem a indústria. Nesse sentido, a produção do espaço nas ci dades passa a ser s er regida por duas máximas: prover a indústria e satisfazer as necessidades básicas da classe trabalhadora. Como consequência dessa lógica, as cidades industriais começam a se estender sobre suas periferias para acomodar as indústrias, seus provedores e trabalhadores. Daí surgem as regiões metropolitanas, regiões urbanizadas no entorno. Monte-Mór cita dois processos descritos por Lefebvre sobre as cidades industriais. Para Lefevbre, a cidade passa por dois processos metafóricos, a implosão e a explosão. O primeiro se dá na cidade, com o adensamento de suas áreas centrais seguido pela reativação e reafirmação dos símbolos da cidade, ameaçados pela lógica industrial. O segundo é a extensão do tecido urbano com a ocupação rápida e horizontalizada dos espaços circundantes, levando consigo questões sociais, políticas, econômicas e culturais antes restritas às cidade. O urbano é entendido, então, como o tecido que nasce nas cidades e se estende para além delas, sobre o
campo e as regiões. E a malha urbana é entendida como o conjunto das manifestações do predomínio da cidade sobre o campo. O autor trata do espaço urbano como um terceiro elemento entre o campo e a cidade, que abrange regiões maiores que o limite da cidade, no qual se manifestam alguns dos valores e das dinâmicas de produção da cidade. Essa ideia compreende uma noção de sociedade virtualmente urbana. Assim, o fenômeno urbano contemporâneo e a sociedade urbana são caracterizados por regiões que compartilham as mesmas dinâmicas e valores e se interrelacionam em uma escala nacional. No Brasil, a urbanização intensificou-se quando a economia tornou-se mais dinâmica, na segunda metade do século XX, a partir da consolidação das grandes cidades industriais. A economia, predominantemente agroexportadora passou para um economia focada na substituição de importações para o mercado interno. Monte-Mór discute o surgimento da cidade industrial no Brasil a partir de duas vertentes principais: a primeira, a transformação da cidade tradicional, comandada pelas oligarquias rurais ligadas à economia agroexportadora, em cidade mercantil, marcada pela presença do capital exportador e pela concentração de comércio e serviços de apoio às atividades produtivas rurais em centro de produção industrial; a segunda, o uso de pequenas cidades como espaços de produção monoindustrial por grandes indústrias. Nas cidades, mais uma vez, eram onde se reuniam as condições necessárias para o desenvolvimento da indústria. Eram nas cidades industriais que aconteciam as articulações com cidades comerciais e centros urbanos que direcionavam a produção para sua área de influência e controle. O tecido urbano, no Brasil, teve início com as políticas territoriais dos governantes da metade do século XX, com a seqüência de políticas concentradoras, integradoras, centralizadoras e expansionistas, que resultaram em investimentos em infraestrutura, serviços financeiros, comunicações e outros. A partir dos anos setenta, a urbanização já havia sido estendida a todo o espaço nacional. Monte-Mór explica que a urbanização estendeu-se virtualmente ao território nacional integrando os diversos espaços regionais à centralidade industrial urbana que partia de São Paulo, desdobrando-se na rede de metrópoles regionais, cidades médias, núcleos urbanos afetados por grandes projetos industriais, onde atingiu, finalmente, as pequenas cidades nas diversas regiões, especialmente onde o processo de modernização teve uma dinâmica mais intensa e extensa. Nos últimos 30 anos, o que o autor chama de urbanização extensiva alcançou todo o Brasil, partindo das regiões metropolitanas, articulando-se aos centros industriais, às fontes de
matérias primas, seguindo a infraestrutura de transportes, energia e comunicações, o que cria e estende as condições de produção. Monte-Mór destaca a produção do espaço nas fronteiras amazônica e do centro-oeste no fim século XX, que já dava-se sob influência dos centros metropolitanos. O que autor fala é de uma urbanização extensiva que se impôs no Brasil, que ultrapassou os limites políticos das cidades e integrou espaços rurais e regionais ao espaço urbano, mediante o desenvolvimento da indústria. Multiplicaram-se, assim, as fronteiras urbanas, tanto internas quanto externas, nos espaços regionais e rurais incorporados ao urbano. Com isso, Monte-Mór conclui que a lógica industrial urbana impõe-se ao espaço social contemporâneo em toda parte. De forma que a urbanização extensiva caminha tanto em regiões novas como a Amazônia e o Centro-Oeste, quanto em regiões consolidadas, como o Nordeste, ao longo dos eixos viários, de comunicação e de serviços ou em espaços residuais das regiões mais desenvolvidas.