Re v i s t aGe s t ãoUni v e r s i t ár i a,Se t .2014 _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _
Resenha do livro ' Sobre o Artesanato Intelectual e outros ensaios’ de C. W. Mills
Resenha do livro 'Sobre o Artesanato Intelectual e outros ensaios’ de C. W. Mills[i] Mills [i]
Emerson Benedito er erreira reira[ii] [ii]
Charles Wri!ht Mills "Waco# $e%as# & de a!osto de ()(* + ,-ac# ,ova Ior/ue# &0 de mar1o de ()*&2. Mestre em artes# 3loso3a e sociolo!ia 4ela A!ricu A!r icultu ltural ral and Mec Mechan hanica icall Col Colle! le!e e o5 $e% e%as# as# ins instit titui1 ui16o 6o /ue 4o 4orr sua ri!i ri !ide de7# 7# in in8u 8uen enci ciari aria a su sua a vi vida da e ob obra ra## e to torn rnar aria ia su sua a 4e 4erso rsona nali lida dade de reb ebel elde de.. Em () ()9( 9(## do dout utor orou ou:s :se e em so soci ciol olo! o!ia ia e an antr tro4 o4ol olo! o!ia ia 4e 4ela la ;niversidade de Wisconsin. Come1ou 4or lecionar na ;niversidade de Mar-land e em ()9< mudou 4ara a ;niversidade de Columbia onde 4ermaneceu at= ao momento da sua morte. Inobstante ter 5alecido com a4enas 9< anos# Mills desa3ou ideias e 4reconceitos sociais e se 3rmou como intelectual inovador no >mbito da sociolo!ia. Em ?A Ima!ina16o Sociol@!ica de ()<)# o autor criticaria a dis4osi16o de muitos em manusear evidncias hist@ricas no intuit int uito o de 4r 4rodu odu7ir 7irem em co colet letes es de 5or 5or1as 1as tra trans: ns:his hist@r t@rico icos# s# bem com como# o# combateu o /ue chamaria de ?Dr6 $eoria# uma barreira 4ara a evolu16o das cincias humanas# /ue seria uma teoria sistemtica da nature7a do homem e da sociedade. Em outras 4alavras# as cincias humanas ao voltar sua aten16o 4ara revela1Fes abstratas da sociedade se es/uecem de li lida darr co com m os !r !ran ande dess 4r 4rob oble lema mass so soca cais. is. G au auto torr ac acrred edit itav ava a /u /ue e a sociolo!ia deveria ser a4resentada ao !rande 4Hblico# com o intelectual manten man tendo do uma 4ostura 4ostura crt crtica ica e re re8e 8e%iv %iva a 4er 4erant ante e a re reali alidad dade e de sua =4oca# ou seJa# “é melhor (...) que um estudioso ativo relate como está se sai aind ndo o em seu tr trab abal alh ho do que ter um uma a dú dúz zia de co cod dif ifca caçõ ções es de procedimento estabelecidas por especialistas que, o mais das vezes, nunca fzeram muitos trabalhos importantes (!"##$, %&&', p.%%).
Mills se destacou 4or 4ossuir uma 4ostura crtica e inde4endente dos !randes centros. Este se!mento de seu carter trans4arece claramente na obra ?A Elite do Koder de ()<*# onde trata das estruturas do 4oder nos Estados ;nidos 4@s:!uerra. G autor coloca como 4rinci4ais es5eras da socied soc iedade ade as 4ol 4olti ticas# cas# ind indust ustria riais is e mil milita itare res# s# to todas das ind inde4e e4ende ndente ntes# s# e aclara /ue o 4as = dominado 4or uma Hnica elite com4osta 4or diri!entes destas es5eras.
Re v i s t aGe s t ãoUni v e r s i t ár i a,Se t .2014 _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _
Suas 4rinci4ais obras 5oramL ?G Koder dos Sindicatos "()92# ?As Classes M=dias na Am=rica do ,orte "()<(2 ?Carcter e Estrutura social# em colabora16o com N. Derth "()
Ent6o# eis o colhimento dos 4ontos 4rinci4ais da obraL Sobre conhecimento# o autor disserta /ueL
= uma escolha tanto de um modo de vida /uanto de uma carreira /uer o saiba ou n6o# o trabalhador intelectual 5orma:se a si 4r@4rio a medida em /ue trabalha 4ara o a4er5ei1oamento de seu o5cio 4ara reali7ar suas 4r@4rias 4otencialidades "...2 MIQQS# &00)# 4. &&2.
Mills 4roclama /ue o estudioso das cincias humanas# es4ecialmente das cincias sociais# deve usar a sua e%4erincia de vida em seu trabalho intelectual. Este artesanato# se!undo o autor# = 5eito dentro de cada um# usando as in8uncias de seu 4assado em trabalhos 5uturos# en3m# elevar cada e%4erincia em nvel de re8e%6o# um moldar:se a si mesmo como um artes6o o 5a7 com suas con5ec1Fes. Kara tanto# Mills aconselha a inven16o de um ar/uivo 4essoalL
;ma res4osta = /ue voc deve or!ani7ar um ar/uivo# o /ue =# su4onho# a maneira de um soci@lo!o di7erL mantenha um dirio. "...2 ,um ar/uivo como eu vou descrever# h uma combina16o de e%4erincia 4essoal e atividades 4ro3ssionais "...2. ,esse ar/uivo# voc# como artes6o# tentar reunir o /ue est 5a7endo intelectualmente e o /ue est e%4erimentando como 4essoa "MIQQS# &00)# 4. &&2.
Re v i s t aGe s t ãoUni v e r s i t ár i a,Se t .2014 _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _
Mills reconhece /ue estas e%4erincias nas cincias humanas = al!o Hnico# 4articular# individual# /ue n6o se re4ete nunca. 4reciso sair do 4articular e de al!uma maneira# levar o conhecimento ad/uirido e estudado ao cam4o !eral. “!antendo um arquivo adequado e desenvolvendo assim hábitos auto/re0eivos, voc- aprende como manter seu mundo interior desperto (%&&', p. %1).
G autor critica a maneira 5or1ada /ue o intelectual das cincias sociais escreve. Ao contrrio do /ue o autor aconselha# ou seJa# ad/uirir o hbito de escrever 4elo menos uma ve7 4or semana# o cientista social s@ o 5a7 4ara “pedir dinheiro para uma pesquisa cient2fca (!"##$, %&&', p. %3), ou seJa# n6o escreve 4or 4ra7er e sim# dedica:se s escritas a4enas /uando obri!ado. G autor d e%em4lo de como trans5ormar anota1Fes sim4les "4or ele denominadas es/uema tosco2# em uma obra. A cita16o# embora lon!a# = essencialL
Kor e%em4lo# a 4rimeira coisa /ue 37 a4@s decidir iniciar um estudo sobre a elite 5oi elaborar um es/uema tosco baseado numa lista de ti4os de 4essoas /ue eu /ueria com4reender. "...2 escrevi um livro sobre or!ani7a1Fes trabalhistas e lderes trabalhistas um em4reendimento 4oliticamente motivado de4ois um livro sobre as classes m=dias :# um em4reendimento motivado 4rinci4almente 4elo deseJo de e%4ressar minha 4r@4ria e%4erincia na cidade de ,ova Por desde ()9<. Qo!o a se!uir# ami!os su!eriram /ue eu com4letasse essa trilo!ia escrevendo um livro sobre as classes su4eriores. "...2 eu havia lido Bal7ac "...2 ele se atribura de cobrir todas as classes e ti4os 4rinci4ais da sociedade de sua =4oca. "...2 "MIQQS# &00)# 4. &T2.
Claramente# o autor vai demonstrando como todas as e%4erincias ad/uiridas no transcorrer dos dias 4odem ser a4roveitadas. Eis o ar/uivo a /ue ele se re5ere. E este trabalho trans5orma:se em al!o artesanal 4ela constante busca dos termos# 4alavras# leituras e e%4erincias# trans5ormando:as e construindo o conhecimento. Alis# todo conhecimento intelectual = um reconhecimento# ou seJa# um conhecimento em se!unda inst>ncia. Ele sai do 4articular "da/uilo /ue = vivido2 e vai 4ara o cam4o do conceito "!eral2. ,as 4alavras do autorL
Re v i s t aGe s t ãoUni v e r s i t ár i a,Se t .2014 _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _
,o 4resente caso# comecei tamb=m a usar minhas observa1Fes e e%4erincias dirias. Kensei 4rimeiro em minhas e%4erincias anteriores relacionadas a 4roblemas de elite# de4ois 5ui conversar com a/ueles /ue# a meu ver# 4odiam ter e%4erimentado ou considerado tais /uestFes. Ue 5ato# comecei nessa altura a alterar o carter de minha rotina de maneira a incluir nela "(2 4essoas /ue estavam entre a/ueles /ue eu /ueria estudar# "&2 4essoas em estreito contato com eles e "O2 4essoas usualmente interessadas neles de al!uma maneira 4ro3ssional "MIQQS# &00)# 4.&2.
Ademais# Mills orienta /ue “é tolice pro4etar um estudo de campo se *or poss2vel encontrar a resposta em uma biblioteca (%&&', p. 11). Em outras 4alavras# n6o arrombar 4ortas J arrombadas. Ainda# aconselha o uso da 4alavra sim4les# abolindo deste modo o rebuscamento e%cessivo# 4ois “sei que voc- concordará que deveria apresentar seu trabalho numa lin5ua5em to simples e clara quanto seu assunto e seu pensamento sobre ele o permitam (%&&', p. 36).
Estas constantes escritas rebuscadas 4arecem bem usuais nas cincias humanas# contem4la Mills. Mas ele acrescenta /ue “técnico no si5nifca necessariamente di*2cil, e certamente no si5nifca 4ar5o (%&&', p. 7). Real1a /ue o sociolo!us !eralmente = usado ?4ara 5a7er
reivindica1Fes 4ara si mesmo# /ue o autor est certo# mas n6o tem certe7a do /ue sabe. Em se!uida# Mills recomenda /ue n6o se deve 4arar de 4ensar cedo demais# e nem se deve 4ensar 4elo resto da vida# “ou voc- mesmo eplodirá (%&&', p. 77).
Em conclus6o# o autor assim resume suas recomenda1Fes# e a/ui s6o colocadas em snteseL
( SeJa um bom artes6o# evite todo conJunto r!ido de 4rocedimentos "...2 & Evite a estranhe7a bi7antina de conceitos associados e desassociados# o maneirismo de verborra!ia "...2 O a1a todas as constru1Fes trans:hist@ricas /ue achar /ue seu trabalho re/uer# investi!ue tamb=m minHcias sub:hist@ricas "...2
Re v i s t aGe s t ãoUni v e r s i t ár i a,Se t .2014 _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _
9 ,6o estude meramente um 4e/ueno ambiente a4@s outro estude as estruturas sociais em /ue os ambientes est6o or!ani7ados "...2 < Kerceba /ue seu obJetivo = uma com4reens6o com4arativa com4leta das estruturas sociais /ue a4areceram e /ue e%istem a!ora na hist@ria do mundo "...2. * "...2 Elabore e reveJa continuamente suas id=ias sobre os 4roblemas de hist@ria# os 4roblemas de bio!ra3a e os 4roblemas de estrutura social em /ue bio!ra3a e hist@ria se cru7am "...2 T "...2 tente com4reender o homem n6o como um 5ra!mento isolado# n6o como um cam4o ou sistema inteli!vel em si e 4or si mesmo. $ente com4reender homens e mulheres como atores hist@ricos e sociais# e os modos como a variedade de homens e mulheres s6o intricadamente selecionados e 5ormados 4ela variedade das sociedades humanas "...2 ,6o 4ermita /ue /uestFes 4Hblicas tal como o3cialmente 5ormuladas# ou di3culdades tal como 4rivadamente sentidas# determinem os 4roblemas /ue voc tomar 4ara estudar. "...2 "MIQQS# &00)# 4. <*V<2.
,este des!nio# desnecessrias demais 4alavras.
MIQQS# C. W. Sobre o Artesanato Intelectual e outros ensaios Rio de XaneiroL Yahar# &00). .
Re v i s t aGe s t ãoUni v e r s i t ár i a,Se t .2014 _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _
[i] $rabalho oriundo da disci4lina E4istemolo!ia e Educa16o I# do curso de Mestrado em Educa16o da ;niversidade ederal de S6o Carlos. [ii] Mestre em Educa16o 4ela ;niversidade ederal de S6o Carlos. Uesenvolve investi!a1Fes vinculadas Z linha de 4es/uisa Ui5eren1asL rela1Fes =tnico:raciais# de !nero e etria e 4artici4a do !ru4o de estudos sobre a crian1a# a in5>ncia e a educa16o in5antilL 4olticas e 4rticas da di5eren1a vinculado Z ;SCar. tamb=m Advo!ado# es4ecialista em Uireito Educacional e iloso3a da Educa16o 4ela ESQ.