UNESP – UNESP – UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “Julio de Mesquita Filho” CAMPUS DE GUARATINGUETÁ
Laboratório de Mecânica dos Solo
RELATÓRIO VIAGEM DE CAMPO LOTEAMENTO VILLAGE SANTANA
Vinícius Yoshinori Honda – 12539-2 Prof° Dr. George de Paula Bernardes
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INTRODUÇÃO Este relatório visa analisar a situação do Loteamento Village Santana, localizado no munícipio de Guaratinguetá-SP, no qual foi realizada uma visita de campo no dia 22 de abril de 2013. Na área em questão foram realizados sucessivos cortes para construção do loteamento sem o conhecimento geotécnico pelo responsável. Devido às técnicas utilizadas para a construção do loteamento, uma série de escorregamentos ocorreu em algumas partes e há indício de futuros escorregamentos em outros locais. Na visita de campo foram coletadas amostras de solos, visualizado os escorregamentos ocorridos e a maneira que ele ocorreu e uma análise superficial da geomorfologia da área. Com base na geotecnia, serão avaliadas as condições do Loteamento Village Santana e possíveis técnicas de engenharia que possam ser aplicadas no local com o intuito de minimizar futuros desastres.
ÁREA DE ESTUDO A área de estudo é o Loteamento Village Santana, no município de Guaratinguetá-SP (figura 1).
Figura 1 – Área de Estudo Village Santana COPEMI (Fonte Google Earth)
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GEOMORFOLOGIA DA REGIÃO O loteamento Village Santana está situado na região do Vale do Paraíba, cercado pelas Serras da Mantiqueira e Serra do Mar, na Bacia do Taubaté. A Bacia de Taubaté é de origem terciária e assenta-se sobre rochas ígneas e metamórficas do Cinturão de Dobramentos Ribeira, datadas desde o Paleoproterozóico até o Neoproterozóico (Hasui e Ponçano, 1978)
Figura 2 – Mapa da Geomorfologia do Estado de São Paulo (Delimitado a região do Vale do Paraíba)
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ORIGEM E FORMAÇÃO DO SOLO O solo do local é originário de sedimentos terciários. Tal conclusão é evidenciada pela figura 3, na qual no corte do terreno é possível identificar as camadas de deposição. O solo exposto, na base do corte de um dos taludes, foi possível identificar caminho de percolação de água, o que leva a concluir que em épocas passadas a região era fundo de rio que com o passar do tempo foi recebendo sedimentos e a região sofreu movimentos de ascensão e atualmente o rio corre numa parte mais rebaixada. As camadas superiores de solo são de cor avermelhada, indício da presença de óxido de ferro e alumínio na composição do solo.
Figura 3 – Imagem de um dos taludes expostos As camadas mais profundas pode-se identificar outros perfis de solo, que em laboratório pode-se caracterizar com mais propriedade. As amostras foram obtidas até cerca de 90cm com auxílio de trado manual. A figura 4 identifica as camadas mais inferiores de solo.
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Figura 4 – Camadas mais inferiores de solo
Abaixo da camada exposta de solo avermelhado superior, identificou-se areia vermelha, silte argiloso rosado e argila verde.
- Areia Vermelha
Conforme a figura 5, imagem obtida no momento de análise em laboratório, indicou que o material era uma areia (devido a textura e comportamento ao adicionar água) e a sua coloração indica a presença de óxidos de alumínio e ferro na composição.
Figura 5 – Areia Vermelha
- Silte argiloso Rosado
O material (figura 6) absorveu parte da água adicionada e quando avaliado a sua textura não percebeu a pegosidade característica da argila além de possuir textura peculiar. Há indícios da presença de feldspato devido textura áspera.
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Figura 6 – Silte argiloso rosado
- Argila verde
A figura 7 ilustra a amostra de argila verde retirada do local. Ao adicionar água foi possível identificar a característica pegajosa do material que se mostrou moldável, diferentemente do silte argiloso q ao moldar se esfarelava. A coloração característica é indicativo da presença da esmectita.
Figura 7 – Argila Verde
PROBLEMAS IDENTIFICADOS Na área de estudo foi identificado vários locais com escorregamento de encostas, locais onde já ocorreram deslizamentos de terra e futuramente novos deslizamentos irão se suceder e outros ainda no início deste evento (figura 8). Segundo a Associação Brasileira de Geologia de Engenharia (ABGE, 1998), a realização de cortes pode ocasionar movimentos de massas, escorregamento de taludes, desde que as tensões cisalhantes ultrapassem a resistência ao cisalhamento dos materiais, ao longo de
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determinadas superfícies de ruptura. A grande massa de solo retirada do local levou ao desequilíbrio das forças, fazendo com que o solo buscasse novas maneiras de acomodação (deslizamentos de forma restaurar o equilíbrio). As técnicas utilizadas para a abertura do loteamento desconsideram esses fatores.
Figura 8 – Locais com indício de escorregamento
É interessante notar que os deslizamentos ocorridos foram em direção ao fluxo d’água existente no local (que foi evidenciado pelo solo exposto após o corte). Esse fluxo é em direção ao rio Paraíba do Sul, localizado na planície próxima ao loteamento.
POSSÍVEIS SOLUÇÕES A engenharia conta com alguns métodos de estabilização de taludes como: retaludamentos, drenagem e proteção superficial e estruturas de contenção na forma de muros de arrimo são técnicas mais elementares. No entanto, há no mercado novas técnicas de contenção, como tirantes protendidos, estacas-raiz, muro de concreto armado, terra armada e aterros reforçados. Dentre as diversas possibilidades apresentadas acima, julga-se coerente a drenagem do local com a aplicação de Drenos Horizontais Profundos – DHP. Este tem por finalidade drenar a água do solo a fim de minimizar a carga que o solo exerce sobre o talude. A técnica é relativamente simples, sendo que a perfuração do solo é o processo mais complexo. Recomenda-
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se a perfuração do solo à 10 graus de inclinação a fim de facilitar o escoamento, geralmente furos de 1” superior ao diâmetro do dreno. O dreno consiste em um tubo de PVC com perfurações e envolto em tela montado antes da sua instalação à perfuração no solo. A profundidade dos drenos depende de estudos de sondagem do solo.
Figura 9 – Detalhe do DHP captando as águas de diversos níveis de surgência inclusive parte do lenços freático e água de precipitação.
O grampeamento do solo (figura 10) é uma técnica que tem se difundido em obras de contenção. o solo grampeado é o resultado da introdução de chumbadores, barras de aço envolvidas por calda de cimento, na escavação de um maciço natural. Com a utilização desta solução de estabilização, a ideia é restringir os deslocamentos e transferir os esforços de uma zona potencialmente instável para uma zona resistente. o processo construtivo é realizado em etapas sucessivas e descendentes, envolvendo, tipicamente, quatro fases principais e repetitivas: escavação com altura limitada, execução dos chumbadores, construção da face com concreto projetado e implantação de um adequado sistema de drenagem.
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Figura 10 – Exemplo de aplicação de grampeamento de solo
CONCLUSÃO A execução do projeto de abertura do Loteamento Village Santana foi realizada com irresponsabilidade e ausência de técnicas de engenharia. A remoção de elevadas quantidades de massa – que garantia suporte aos taludes – até níveis próximos ao freático ocasionaram inúmeros escorregamentos de maciços, colocando em risco as habitações que foram construídas no local. O problema poderia ser evitado inicialmente com a aplicação de técnicas de engenharia como o DHP e o grampeamento do solo. A aplicação de algumas técnicas poderia ter feita retirando terras de locais menores e intercalados até que a totalidade fosse retirada, sempre utilizando das técnicas para evitar deslizamentos futuros.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SILVA, D. P. et al. Solo Grampeado: A arte de estabilizar, uma técnica moderna e eficaz. Fundações e Obras Geotécnicas . São Paulo.v. 00, p. 38-43. Luiz A. Naresi Jr, Drenos Horizontais Profundos. [acesso em 10 maio 2013] Disponível em: https://sites.google.com/site/naresi1968/naresi/dhp---dreno-horizontal-profundo http://confins.revues.org/6168#tocto2n4 Marcello Martinelli, Relevo do Estado de São Paulo, Confins [Online], 7 | 2009. [acesso em 09 Maio 2013] Disponível em: http://confins.revues.org/6168 Revista do Instituto de Geociências – USP. Disponível on-line no endereço www.igc.usp.br/geologiausp - 19 - Geol. USP, Sér. cient., São Paulo, v. 11, n. 1, p. 19-32. AMARAL, R., GUTJAHR, M. R. Desastres Naturais. 1ed.. Imprensa Oficial. São Paulo; 2011.