Templo de Magia Exu Capa Preta
Quimbanda O culto a Exu e Pombagira I
por Feiticeiro Obi
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O culto a Exu entidade (ancestral) é um dos mais polêmicos e sedutores dentro da extensa lista de religiões brasileiras. Misteriosa e obscura, a Quimbanda é um manancial de riquezas culturais e o celeiro genuíno da afamada “feitiçaria europeia ”; a Quimbanda como a conhecemos não existe na África, ela é uma expressão religiosa puramente brasileira e assim como o povo brasileiro, ela é uma mistura de povos e culturas. A Quimbanda visa a evolução do Homem em todos aspectos, extremamente arraigada a matéria, ela utiliza a força da material/densa para promover a evolução de seus adeptos. Altamente mesclada com elementos de feitiçaria europeia, pajelança e feitiçaria africana, a Quimbanda se torna uma arma contra toda religião institucionalizada e que visa o controle das massas. Dessa forma Exu com suas magias e feitiços é um Mestre que guia seu filho rumo a liberdade material e espiritual, retirando de nossos ombros as cangas dos dogmas que por séculos foram projetados em nossa psique, conduta e ética.
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Origem da Quimb anda.
Assim como todas a religiões afro-brasileiras, a Kimbanda entrou em terras brasileiras através da escravidão e aqui devemos explicar uma das grandes confusões que se fazem a respeito de Kimbanda e Quimbanda. Kimbanda vem do dialeto kimbundo falado pelo povo bantu, que foram os primeiros negros a aportarem no brasil. Kimbanda significa “feiticeiro ou sacerdote da arte de curar”1 dessa forma o Kimbanda era o feiticeiro/sacerdote, assim como o Pajé era o feiticeiro/sacerdote que cuidava da tribo. O povo Bantu possuía uma cultura e uma religiosidade, cultuavam os Nkisis, divindades bantas que se assemelham as divindades yorubás, os Orixás. Juntamente com os Kimbandas, vieram os Mulojis, temidos por sua magia negra que diferente dos Kimbandas que buscavam a cura para seu povo, os Mulojis eram mestres na arte de manipulação de forças maléficas 2 e necromantes. Ao longo do século XV e XVI Portugal iniciou o processo escravista dominando toda costa oeste da África, ocorrendo por Cabo Verde, Congo, Quíloa e Zimbábue, e com isso muitas culturas vieram para o Brasil assim como dialetos e formas de culto às mesma divindade. Dessa forma temos o culto de Kimbanda que em sua raiz não era um culto estruturado e a palavra Kimbanda denotava apenas Feiticeiro ou Curandeiro. É sabido que não só negros foram escravos, mas também os indígenas e isso só aumentou a mistura, pois 1
Wikipédia. Dicionário de Kimbundu-portugues, Antônio de Assis J unior, Mulojis é: Feiticeiro, condutor de forças ocultas maléficas (t. Kimbundo). 2
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os indígenas e negros tiveram contato com o europeu e sua cultura. Para completar é importante ressaltar que muitos europeus que vieram para o Brasil, vieram degredados de Portugal e muitos sob acusações de bruxaria. Dessa forma temos os ameríndios (indígenas) os negros bantos e os europeus com seu cristianismo e não tardou para que bruxas, Kimbanda, Mulojis e Pajés tivessem contato. Esses três povos são a fonte de onde mais tarde veio nascer a Quimbanda o qual carrega o conhecimento ancestral dos indígenas, europeus e bantus, porem diferente da Kimbanda de raiz Bantu a Quimbanda se mesclou com o Demônio cristão através do contato com os grimórios de feitiçaria medieval como Grimorium Verum, Chaves de Salomão e Tratado do Papa Honorário. Assim podemos ver como a Quimbanda é uma expressão religiosa brasileira. O Diabo x Exu
A figura do diabo não existia na África ate que os europeus chegaram, porem os missionários logo identificaram o Deus do prazer, do sexo, da alegria, da nudez, da trapaça com seu Diabo e assim rapidamente Exu se tornou diabo e o negro quando chegou aqui, já trazia essa doutrinação por isso a mescla do culto de bruxaria com as praticas dos Kimbandas foram tão bem sincretizadas e nascia ali a Quimbanda. É importante dizer que não existe apenas uma Quimbanda, com o passar dos anos os cultos foram se estruturando de acordo com a cultura local e obedecendo a cultura dominante sendo assim os cultos foram se
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distanciando um pouco mas sempre mantendo a ancestralidade africana, sendo assim temos algumas Quimbanda como Kimbanda Malei, Kimbanda Nagô, Quimbanda Mussifim, e com o passar do tempo outras Quimbanda foram sendo criadas como Quimbanda Xambá, Quimbanda Matriz, Quimbanda Luciferiana, Quimbanda Satânica e Quimbanda Brasileira. Mas afinal a Quimbanda cultua o Diabo, o Demônio? Essa é uma questão que sempre levanta discussões pois os tradicionais de umbanda dizem uma coisa, os quimbandeiros outra e os de culto de nação 3 outas tantas porem a pratica é muito clara, Exu ancestral é extremamente moldável e aceitar trabalhar das mais diversas formas possíveis. Se os fundamentos de determinada quimbanda mescla exu com demônios ai a resposta é SIM, porem existem quimbanda que mesclam seus fundamentos com divindades como a “quimbanda ” tocada na umbanda além de ainda existir a Quimbanda independente onde Exus e Pombagira não responderam por nenhuma divindade e respondendo apenas a lei de Quimbanda. Devemos entender que ninguém é dono de Exu e nenhuma religião é dona da verdade, a Quimbanda é uma mescla de conceitos assim como o sangue brasileiro.
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Nação. Forma de denominar os vários cul tos ou tradições de candomblé, exemplo: angola, Ketu, nagô, ijexá.
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Exu Orixá x Exu ancestr al.
Outra confusão que ainda existe é entre a Divindade yorubá Exu, que é entre muitas qualidades é o mensageiro dos deuses (orixás) e o Exu Egum 4 ou catiço5. O orixá Exu é cultuado nas casas de candomblé e semelhantes, visto que seu peso dentro do culto é sine qua non pois como diz um ponto cantado “ ... uma banda sem Exu não se pode fazer nada ...” dessa forma os cultos de
nação mantiveram o culto a Exu orixá, porem na Quimbanda o Orixá exu não é cultuado, o que se manifesta dando o nome de exu, é um espirito que viveu em outras épocas, e quando desencarnou por algum motivo caiu nos reinos de exu. As entidades carregam o nome de Exu por um motivo que não é nada oculto, ambos possuem as mesmas qualidades, o desejo pelas coisas do mundo, os prazeres da carne, bebida, fumo, sexo, vida, alegria, bagunça tudo isso e muito mais fazem parte do arquétipo divino do deus Exu e as entidades por terem as mesmas qualidades tomaram como direito a utilização de tal nome. Uma coisa que tem que ficar claro é que Exu Orixá não é o mesmo cultuado na Quimbanda, existem quimbandas que chegam a cultuar orixás ou Nkisis como no caso das Kimbandas de raiz bantu, porem não é regra e nem o comum; Quimbanda se trata de culto aos ancestrais, aos mortos. Usamos o termo ancestral para indicar o exu Egum como forma de reconhecimento de nossa parte de que ele é parte de nossa família, um ancestral é alguém da família 4
Egum ou Egum-gum em Nagô, quer dizer Osso. Mas o seu significado é mais amplo,
significando também “alma de pessoa morta”. 5
Catiço, Brincalhão. Nome dado a Exu Egum no candomblé.
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que já faleceu, isso não quer dizer que o exu que te acompanha possa ser um ente seu, mas é uma forma de tratar o exu Egum. Um outro problema a ser tratado aqui é em relação a palavra Egum, é comum vermos as pessoas de religião afro dizer que Egum é espirito ruim, por algum motivo associaram o espirito obsessor (kiumba) 6 espíritos perdidos a palavra Egum e ela passou a ser sinônimo de espirito ruim, porem Egum designa qualquer espirito desencarnado que pode ser bom ou ruim. Representação de Exu Orix á
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Kiumba. Espirito consciente do desencarne que busca apenas fazer o mal, muitas vezes possui um conhecimento de feitiçaria e a utiliza para prejudicar ou destruir pessoas e círculos afetivos. São altamente perigosos e podem facilmente se passar por Exus.
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Representação de Exu Ancestral