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O ÚLTIMO MAGNATA francis scott fitzgerald (1896-1940) estreou na literatura em 1920 com o romance Este lado do paraíso paraíso e publicou, entre outros, O grande Gatsby (publicado pela Penguin/Companhia das Letras), Suave é a noite , All the sad oung men. Postumamente foram publicados o romance inacabado O último magnata e The cra c rack ck-up -up (1945), uma seleção de ensaios, notas e cartas editada por Edm und Wilson. Os problem as com c om o alcoolis a lcoolism m o e a degener dege neraa ção çã o me m e ntal de Zelda Zelda m ais tarde tarde o afastariam af astariam da literatura. literatura. Estava Estava quase esquecido, esquecido, trabalhando trabalhando em Hollywood, quando sofreu um ataque do coração fatal em casa, em Los Angeles. A Companhia das Letras também publicou 24 contos de Scott Fitzgerald Que rido Scott, Querida Ze Ze lda. e Querido christian schwartz nasceu em Curitiba, em junho de 1975. Formou-se em ornalismo pela Universidade Federal do Paraná (ufpr) em 1997 e trabalhou em revistas como Placar , Quatro Rodas e Veja, da qual foi correspondente na Amazônia. Estudou língua e literatura francesas na Universidade Paris iv (Sorbonne), na França, e cursou pós-graduação em literatura na University of Central England (uce), em Birmingham, Inglaterra, o que culminou num mestrado em estudos literários pela ufpr. Traduziu autores como Philip Pulmann, Xinran, Matt Haig, Lou Reed, Philip Roth e Sam Shepard. É professor de produção produç ão de texto, liter literatur aturaa e pesquisa e m c omunica om unicaçç ão na Universid Univer sidaa de Positivo (up), em Curitiba. edmund wilson nasceu em 1872 em Red Bank, no estado de Nova Jersey. Graduado na Princeton em 1916, foi jornalista, editor, escritor e crítico literário, um dos primeiros a saudar autores como Joyce, Hemingway e Fitzgerald. Entre suas principais obras destacam-se O cas (1931), estudo seminal sobre c asttelo de Axe l (1931), o simbolismo e as vanguardas literárias do início do século xx, Rumo à Estação re lato da traj etória etória das ideias ideias sociali socialist stas as que cul c ulm m inar inaram am na Finlândia Finlândia (1940), um rel Revolução Russa, e Manuscrit Manusc ritos os do mar Morto (1955), sobre a descoberta que abalou o universo dos estudos das chamadas Escrituras sagradas. Wilson morreu em 1972.
f. scot sc ottt fitzgerald O último magnata Tradução de
chris chr isti tian an schwar sc hwartz tz Edição, prefácio prefác io e notas de
edm und wilson wilson
Sumário
Pr efác Pref ácio io — Edmund Edmund Wilso Wilsonn O ÚLTIMO MAGNATA Notas No tas
Prefácio edm und wilson wilson Scott Fitzgerald morreu subitamente de um ataque cardíaco, em 21 de dezembro de 1940, um dia depois de escrever o primeiro episódio do capítulo 6 deste romance. O texto apresentado aqui é um rascunho feito pelo autor — reescrito e retrabalhado pelo próprio —, mas que não pode ser considerado, de forma alguma, a versão final. Nas margens de praticamente todos os episódios, Fitzgerald deixou observações — algumas poucas estão presentes ao fim deste livro — que expressam sua insatisfação, ou que indicam que ainda pretendia revisar muitas passagens. A intenção do escritor era produzir um romance tão concentrado e cuidadosamente elaborado quanto O grande Gatsby , e teria, sem dúvida, refinado o efeito de várias cenas, editando-as ou realçando-as. Fitzgerald imaginava que o romance teria 60 mil palavras — conforme revela o planej plane j am e nto deixado deixa do por e le —, m a s à época époc a de sua m orte j á havia escrito esc rito cerca de 70 mil, tendo coberto pouco mais de metade da história. Calculara, no início, nício, deixar deixar uma um a m argem arge m de 10 mil m il palavras para ser edi e dittadas, mas m as tudo tudo indi indica ca que o romance acabaria ficando mais longo do que o autor previra originalmente. O assunto era mais complexo do que o proposto em O grande Gatsby — o retrato dos estúdios de Hollywood requeria, para sua apresentação, mais espaço do que o pano de fundo da vida boêmia em Long Island, e da m esma esm a form a os per perso sonagens nagens pre precis cisavam avam ser desenvolvi desenvolvidos dos m ais extensam extensam ente. Este rascunho de O último magnata representa, portanto, um estágio no trabalho do artista em que ele já reunira e organizara a matéria-prima e tinha sólido domínio do tema, mas ainda não dera à obra seus contornos finais. É notável notável que, diante diante de tais circ circuns unstânci tâncias, as, o romance rom ance ofereç ofer eçaa tam anha potência potência e que o personagem de Stahr sobressaia com tanta intensidade e realismo. Esse produtor de Hollywood, Holly wood, e m sua grandeza gra ndeza e e m seu sofrim sofr imee nto, é c ertam er tam ente uma das figuras centrais de Fitzgerald, um dos personagens mais elaborados e que o autor mais bem compreendeu. Suas anotações sobre o personagem mostram como Fitzgerald conviveu com Stahr por três anos ou mais, amadurecendo as idiossincrasias da figura e reconstituindo sua rede de relacio relac ionam namento entoss nos vários vários departamento departam entoss da indús indústri triaa do cinema. cinem a. Amory Am ory Blaine laine e Antony Patch eram projeções românticas do escritor. Gatsby e Dick Diver foram concebidos de forma mais ou menos objetiva, mas não explorados muito a fundo. Monroe Stahr se criou a partir de dentro e, ao mesmo tempo que é criticado por uma inteligência que o torna muito seguro de si, o autor sabe como situá-lo em lugar próprio, colocá-lo num contexto mais amplo. Assim, O último magnata , mesmo em seu estado imperfeito, é a obra mais madura de Fitzgerald. Distingue-se dos outros romances do autor pelo fato de ser o primeiro a abordar seriamente uma profissão ou um negócio. Os livros
anteriores de Fitzgerald tratavam de debutantes e universitários, bem como da vida boêmia dos esbanjadores dos anos 1920. As atividades principais dos personage per sonagens ns de dessas ssas histórias histórias pregre pre gressas, ssas, o contexto conte xto e m que vivem, vivem , são grandes gra ndes festas das quais participam como fogos de artifício e que, em geral, os deixam desestruturados. As festas em O último magnata são incidentais e pouco importantes. Monroe Stahr, ao contrário dos outros heróis de Fitzgerald, está inextricavelmente envolvido com uma indústria da qual foi um dos fundadores — e o destino dessa indústria será influenciado por sua tragédia pessoal. O universo do cinema nos Estados Unidos é observado de perto, estudado com cuidado e dramatizado com sagacidade — uma combinação que não é encontrada em nenhuma outra obra sobre o tema. O último magnata é, de longe, o melhor romance já escrito sobre Hollywood, e o único que nos leva para dentro do mundo do cinema. Foi possível complementar este rascunho inacabado do autor com um resumo da história, que apresenta a forma como Fitzgerald pretendia finalizar o romance, e com algumas anotações do escritor que, vividamente, comentam personage per sonagens ns e ce c e nas. Vale a pena ler O grande Gatsby junto com O último magnata, porque a primeir prim eiraa obra m ostra ostra o que Fitz itzgerald ger ald pretendia pre tendia realiz re alizaa r na últim última. a. Se a concepção do tema em Suave é a noite foi se modificando enquanto o autor escrevia, escrevia, é po porque rque as partes dess dessee romance roma nce fasci f ascinant nantee nem sempre se encai enca ixam perfe per feit itaa m ente. ente . Aqui, porém poré m , Fitz itzge gera rald ld m a nteve firm em e nte seu propósito, propósito, combinado à prosa de artesão presente na obra anterior. Ao examinarmos a imensa pilha de esboços e anotações que o autor fez para este romance, confirma-se e reforça-se a impressão de que Fitzgerald figura como um dos escritores de primeira linha da literatura americana. As últimas páginas de O rande Gatsby estão, certamente, tanto do ponto de vista dramático como do ponto de vista vista da prosa, prosa , entre e ntre a s me m e lhores lhore s da ficç f icção ão produzida produzida por nossa gera ge raçã ção. o. T. S. Eliot disse, a respeito do livro, que Fitzgerald dera o primeiro importante passo à fre fr e nte na liter literatur aturaa a m erica er icana na de desde sde He Henry nry Jam es. E c ertam er tam ente O último magnata , mesmo não tendo sido completamente finalizado, ocupa um lugar lugar de dest de staque aque entre os liv livros ros que insti instituem tuem novo novoss modelos m odelos de escrita. e scrita.
O último magnata
1 Embora nunca tenha aparecido na tela, eu cresci no cinema. Rodolfo Valentino esteve na festa do meu quinto aniversário — pelo menos foi o que me contaram. Só escrevo isso para indicar que, mesmo antes de me entender por gente, gente, j á est e stava ava a postos postos par paraa ver ve r girar as a s engrenagens. Certa vez inventei de escrever um livro de memórias, A filha filha do produtor produtor , mas aos dezoito anos nunca se vai muito longe numa empreitada dessas. Menos mal — ficaria sem graça como um velho artigo de Lolly Parsons. Meu pai trabalhava na indústria do cinema do mesmo jeito que outros pais labutavam na de algodão algodão ou na de aço, aç o, e eu encar e ncarava ava isso isso com tranquil tranquiliidade. Se Se m e aborrec a borrecia, ia, era com resignação, como um fantasma que aceita a casa assombrada para a qual foi designado. Tinha consciência do que as pessoas deviam pensar, mas me mantinha obstinadamente inabalada. Algo fácil de falar, mas difícil de fazer as pessoas entenderem. Quando estudei em Bennington, alguns dos professores de literatura que fingiam indiferença a Hollywood e seus produtos na verdade os odiavam . E odiavam profundam prof undam e nte, com c omoo se aquilo fosse uma um a a m eaça ea ça à sua e xistênc xistência. ia. Ainda A inda antes a ntes disso, no tempo em que estive num colégio de freiras, uma delas, pequenina e amável, me perguntou se eu não lhe arranjava um roteiro para ela “dar uma aula de escrita para cinema”, assim como já dera as de ensaio e conto. Consegui o roteiro para a freira, e acho que ela se debruçou sobre ele por um bom tempo, m as nunca nunca o mencio m enciono nouu em sala sala e acabo aca bouu por por devolvê-l devolvê-loo para para m im , com um ar a r de surpre surpresa sa indi indignada, gnada, sem sem fazer nenhum come c oment ntár ário io.. É mais ma is ou menos me nos a rea r eaçã çãoo que prevej o para esta esta hist históri ória. a. Pode-se Pode- se passar incólume incólume por Holly Hollywood wood,, como com o eu fiz, fiz, ou desprez desprezáá-lla com o ódio que reservamos àquilo que não entendemos. Pode-se também entendê-la, mas apenas vagamente, e em flashes. Não chega a uma dúzia o número de homens que algum dia foram capazes de ter na cabeça a equação completa do cinema. E talvez tentar entender um desses homens é o mais próximo disso que uma m ulher ulher pode chegar. chegar. O mundo visto de um avião, isso eu conhecia. Meu pai sempre nos em barcava barc ava num deles para para as idas idas e vindas vindas da escola e da faculd fa culdade. ade. Depoi De poiss que que minha irmã morreu, eu, um pouco solene e melancólica, pensava nela a cada um desses trajetos, que passei a fazer sozinha, sendo ainda uma menina. Algumas vezes havia gente do cinema a bordo, e de vez em quando algum universitário bonitão — mas isso não era muito frequente durante a Depressão. Quase nunca conseguia dormir de verdade nos voos, e como poderia, com o pensam pensa m ento em Eleanor Elea nor e a sensaç sensa ç ã o daquela daque la fenda fe nda abrupta abr upta e ntre uma um a c osta osta e outra? — era como me sentia pelo menos até que deixássemos para trás aqueles pequenos peque nos e solitár solitários ios a eroportos er oportos do Te Te nnessee nnesse e .
Aquele voo estava tão turbulento que os passageiros logo se dividiram em dois grupos, aqueles que apagaram logo de saída e aqueles que não queriam, de eito nenhum, adormecer. Dois desses últimos ocupavam as poltronas do outro lado do corredor, e tive quase certeza, pelos pedaços de conversa, que eram de Hollywood — um deles porque a aparência levava a crer nisso: judeu de meiaidade, falava com um nervosismo excitado ou então caía num silêncio angustiante, encolhido como se pronto a levantar de um salto; o outro era um sujeito pálido e atarracado, tipo comum de uns trinta anos, e que eu tinha certeza de já ter visto antes. Devia ter ido lá em casa alguma vez ou coisa do tipo. Mas talvez, naquela ocasião, eu fosse apenas uma menininha, de modo que não me ofendi por ele não ter ter m e reconhecido re conhecido.. A aerom ae romoça oça — alta, alta, bonita, bonita, uma m orena radi ra diante, ante, tip tipoo aparentem apar entemente ente mui m uito to apreciado apre ciado — m e pergun per gunto touu se se podia podia prepara pre pararr meu m eu lugar lugar para par a que eu dormis dorm isse. se. “… e, querida, você quer uma aspirina?” Ela se debruçou na lateral da poltrona poltrona,, preca pre caria riam m e nte a poiada enquanto enqua nto chac c hacoalha oalhava va de um lado para par a o outro em m eio à tem tem pestade. pestade. “… “ … ou ou um nem butal? butal?”” “Não.” “Estava tão ocupada com os outros que nem tive tempo de perguntar.” Ela sentou sentou ao meu m eu lado e afi af ivelou velou o cinto cinto de am a m bas. “Quer um chiclete? chiclete?”” A pergunta me lembrou que eu precisava me livrar daquele que estava na m inha inha boca, j á sem gosto gosto,, havia havia horas. Embrulhei-o Embrulhei-o num pedaço pedaç o de revi re vist sta, a, que depositei no cinzeiro automático. “Sempre sei que uma pessoa é educada”, disse a aeromoça, satisfeita, “quando embrulha o chiclete num papel antes de colocar no cinzeiro.” Ali ficamos, durante um tempo, à meia-luz na cabine que balançava. Parecia um pouco o ambiente de um restaurante chique no tempo morto entre almoço e jantar. Íamos todos nos deixando ficar — e não era algo deliberado, pelo m enos não e xatam xata m e nte. Ac Acho ho que a té m esm o a aerom ae rom oça tinha tinha de e star o tem po todo todo lem lem brando a si mesma me sma por que estava ali. ali. Conversamos sobre uma jovem atriz que eu conhecia e com quem ela estivera num voo para a Costa Oeste dois anos antes. Foi na pior época da Depressão, e a jovem atriz não tirava os olhos da janela, e olhava para fora de um jeito tão determinado que a aeromoça temeu que estivesse pensando em pular. pular. Mas pare pa rece ce que o que tem ia não nã o era er a a pobreza, pobr eza, e sim a revoluçã re volução. o. “Sei o que nós, minha mãe e eu, vamos fazer”, ela confidenciou à aeromoça. “Vamos nos refugiar no Parque Nacional de Yellowstone e lá vamos viver uma vida simples até essa coisa toda passar. Aí a gente volta. Eles não m atam arti ar tist stas… as… sabia disso? disso?”” A história me agradou. Evocava um quadro bonito, com a atriz e sua mãe sendo alimentadas por ursos bonzinhos, que lhes traziam mel, e por corças dóceis que, fornecendo-lhes leite extra tirado de suas mamães, ficariam aconchegadas
unto às duas para servir-lhes de travesseiros durante a noite. Eu, por minha vez, contei contei à aer a eromoç omoçaa sobre o advogado e o diretor diretor de cin c inem em a que, naqueles tem tem pos brabos, bra bos, apare apa recc era er a m c e rta noite noite para par a falar fa lar a o papai papa i de seus planos. O advogado advoga do tinha um barco escondido no rio Sacramento para o caso de a revolta dos veteranos de guerra chegar a Washington, e navegaria rio acima por alguns meses para então voltar, “porque sempre precisam de advogados depois das revoltas, revoltas, para reso re sollver a parte legal”. O tom do diretor era mais derrotista. Mantinha a postos um velho terno, camisa e sapatos — não chegou a dizer se eram próprios ou se os havia arranjado no estúdio — e com eles ia Desaparecer na Multidão. Lembro de papai papa i te te r dito: “Mas vão vã o olhar a s suas mã m ã os! Vão Vã o saber sabe r que você não fa f a z trabalho tra balho braça bra çall há anos. E vão pedir sua carte ca rteira ira do sindica sindicato”. to”. E lem bro de o diretor dire tor ter ficado com uma cara péssima, muito soturno enquanto comia sua sobremesa, e do quant quantoo eles me m e soavam engraçados engraç ados e patéticos. patéticos. “Seu pai é ator, srta. srta. Brady ?”, quis quis saber saber a aerom ae romoça. oça. “T “ Tenho certez cer tezaa de que á ouv ouvii esse esse sobrenom sobrenome.” e.” Quando o ouviram, ambos os homens nas poltronas do outro lado do corredor corre dor ergueram erguera m a vista. vista. De soslai soslaioo — aquele aquele olhar olhar de Holly Holly wood wood,, que que parec pa recee sempre lançado por sobre o ombro. Então o rapaz pálido e atarracado soltou o cinto de segurança, levantou e parou no corredor ao nosso lado. “Você é Cecilia Brady ?”, perguntou, ostensivo, como se eu estivesse escondendo aquilo dele. “Estava mesmo te reconhecendo. Sou Wylie White.” Nem Ne m precisa pre cisava va ter te r dito — no m e smo sm o mom m omento, ento, uma um a outra voz falou: fa lou: “ Toma om a cuidado onde pisa, Wylie!”, e um segundo homem passou rente a ele pelo corredor em direção à cabine de comando. Wylie White se sobressaltou e, um pouco atra a trasado, sado, ainda a inda gritou ao outro, desaf de safiando: iando: “Só ace ac e ito ito ordens orde ns do pilot piloto.” o.” Reconheci o tipo de deboche tão comum entre os poderosos de Hollywood e seus satélites. A aeromoça o repreendeu: “Não fale tão alto, por favor. Alguns passageiros estão dorm indo.” indo.” Perc Pe rcebi, ebi, então, que que o passageiro passageiro do lado lado de lá do corredor, o judeu j udeu de meiam eiaidade, também estava de pé e olhava, de um modo não tão lascivo, mas sem nenhum pudor, na direção do homem que acabara de passar. Ou melhor, para as costas deste, que fez um gesto lateral com a mão, uma espécie de aceno de despedid despedida, a, e desaparece desapare ceuu da vista. vista. Pergunt Pe rguntei ei à aerom ae romoça: oça: “El “ Elee é o copilo copilotto? o?”. ”. Ela estava desafivelando o cinto, prestes a me abandonar à mercê de Wylie White. “Não. Aquele é o sr. Smith. Ele está viajando na cabine privativa, a ‘suíte nupcial’ — só que sozin sozinho. ho. O copilo copiloto to sem pre usa far f arda.” da.” Levanto Leva ntou-se: u-se: “Quero “Que ro ver se descubro se se vam os descer em Nashvill Nashville” e”..
Wy lie lie White ficou agi a gitado. tado. “Por “P or quê?” quê?” “Tem uma tempestade se formando no vale do Mississippi.” “Então vam vam os ter de ficar fica r aqui a qui a noite toda ?” “Se o tem po contin continuar uar desse desse j eito!” eito!” Um súbito mergulho indicou que continuaria. Lançou Wylie White sobre o assento que ficava de frente para o meu, fez a aeromoça precipitar-se corredor abaixo na direção da cabine de comando e pôs o judeu sentado. Após exclamações exclama ções de contrariedade contrariedade com a afetaçã a fetaçãoo deli deliberada e serena dos viaj viaj antes antes contuma contumazzes, voltam voltamos os a nos acomodar acom odar.. Segui Seguira ram m -se apresent apre sentaç ações. ões. “Srta. Brady — Sr. Schwartz”, disse Wylie White. “Ele também é um grande am a m igo do seu seu pai.” O sr. Schwartz assentiu com a cabeça com tamanha veemência que era como com o se diss dissesse: esse: “É verdade. verdade . Juro Juro por Deus, é verdade!” ver dade!”.. Talvez algum dia na vida ele tivesse mesmo alardeado o fato — mas ali estava um homem a quem, obviamente, algo havia acontecido. Conhecê-lo era como encontrar um amigo que havia acabado de sair nocauteado de uma briga de socos ou de uma batida de carro. “O que aconteceu com você?”, perguntaría per guntaríam m os. E ele, ele , dentes dente s quebra quebr a dos e lábio inchado, incha do, responder re sponderia ia algo inint ninteli eligí gível, vel, sem sem conseguir conseguir nem m esmo esm o rel re latar o acont ac ontec ecid ido. o. O sr. Schwartz não tinha nenhuma característica física marcante; o exagerado nariz adunco e as olheiras oblíquas eram-lhe tão naturais quanto, no m eu pai, a verm ver m elhidão elhidão tipi tipica cam m ente irlandesa irlandesa em e m torno torno das narinas narinas arrebit ar rebitadas. adas. “Nashville!”, bramiu Wylie White. “Significa que vamos para um hotel. E que só vamos chegar à costa amanhã à noite — isso se chegarmos. Meu Deus! Eu nasci em Nashville.” “Im “I m agino agino que que queira queira fazer uma um a visi visita.” ta.” “Jam ais — saí saí de lá há quinz quinzee anos a nos.. Nunca m ais quero quero ver aquela ci c idade.” Mas veria — porque o avião, não havia dúvida, já ia descendo, descendo, descendo, como Alice no buraco do coelho. Com as mãos em concha contra a anela, avistei o borrão de luz da cidade ao longe, à esquerda. O aviso em verde — “Ape “ Aperta rtarr os cint c intos os — Não N ão fum a r” — estava e stava aceso ac eso desde que adentrá ade ntrára ram m os a tempestade. “Você ouviu o que ele disse?”, falou o sr. Schwartz, rompendo um de seus cáusticos silêncios do outro lado do corredor. “Ouvi “O uvi o quê?”, quê?”, pergunt per guntou ou Wy Wy lie. lie. “Como ele se apresenta agora”, disse Schwartz. “Sr. Smith!” “E qual é o problem problem a?”, a?”, retrucou r etrucou Wy Wy lie. lie. “Ah, nenhum”, Schwartz se apressou em rebater. “Só achei engraçado. Sm ith.” ith.” Era o riso riso mais m ais sem sem alegria que eu e u já j á ouv ouvira: ira: “Sm “Sm ith!”. ith!”. Na m inha opiniã opiniã o, desde o tem po das estalage esta lagens, ns, nada se c ompar om paraa aos
aeroportos — nada pode ser mais solitário, mais sombriamente silencioso. Os velhos galpões de tijolos vermelhos eram erguidos bem ao lado das cidadezinhas quee os nom qu nom eavam — ning ninguém uém desembarcava desembarc ava num lug ugar ar rem oto oto como aqu a quele ele se não morasse ali. Mas os aeroportos nos fazem viajar pela história, como se fossem oásis, ou entrepostos das grandes rotas de comércio. A visão dos passageir passa geiros, os, sozinhos sozinhos ou a os pare par e s, pera per a m bulando pela pista pista m adrugada adr ugada adentro ade ntro costuma atrair pequenas multidões até altas horas. Os mais jovens admiram os aviões, e os mais velhos, com seus olhares atentos de incredulidade, observam os viajantes. A bordo de enormes aeronaves destinadas a travessias transcontinentais, éramos os ricos habitantes da costa, que por acaso desceram das nuvens naqueles confins da América. Talvez entre nós houvesse grandes aventuras encarnadas em estrelas de cinema. Mas isso era raro. E eu sempre desej desej ava ardent a rdentem em ente ente qu quee parecêss parec êssem em os mais int intere eress ssant antes es — o m esmo desej o fervoroso que havia nas grandes estreias, quando os fãs desaprovavam, desdenhos desdenhosos os,, que alguém estivess estivessee ali sem sem ser um a estrela. Na descida, desc ida, com o ele e le m e ofere ofe recc eu o braç br açoo à saída do avião, a vião, Wy lie lie e eu de repente nos tornamos íntimos. Dali em diante, ele me marcou em cima — e eu não liguei. Desde o momento em que pisamos no aeroporto ficou claro que, se era para ficarmos ali, então ficaríamos juntos. (Não foi como da vez em que perdi per di me m e u am a m a do — da vez em e m que ele tocava toca va piano c om a quela garota, gar ota, Reina, num pequeno chalé na Nova Inglaterra, perto de Bennington, e enfim me dei conta de que o amor não era recíproco. Guy Lombardo flutuava no ar, “Top Hat” e “Cheek to Cheek”, e ela ensinava a ele as melodias. As teclas baixando como folhas caídas, e ela, mãos espraiadas sobre as dele, mostrando como fazer soar um acorde só de pretas. Eu estava no primeiro ano da faculdade na época.) Quando adentramos o aeroporto, o sr. Schwartz estava conosco, mas parecia perdido per dido numa num a espéc espé c ie de sonho. O tem po todo que pa passam ssamos os j unto a o balcã balc ã o, buscando busca ndo inform a ç ões m a is c onfiáveis, onfiá veis, ficou fic ou olhando fixam fixa m e nte e m direç dire ç ão à porta de saída para pa ra a pista de pouso, como com o se tem esse que o avião a vião fosse decolar dec olar e deixá-lo ali. Pedi licença por alguns minutos e perdi alguma coisa do que foi dito, e quando voltei ele e White estavam bem próximos, White falando e Schwartz parec par ecee ndo a inda m a is com o que prem pre m ido por um c am inhão enorm enor m e que vinha em marcha a ré para cima dele. Não mirava mais a porta de saída para a pista. Peguei o final de uma observação de Wylie White: “… avisei pra você calar a boca. boca . É o me m e lhor que você voc ê fa f a z.” “Eu só disse que…” Ele se interrompeu quando me aproximei, e perguntei se conseguiram alguma alguma inform nformaçã ação. o. Àqu Àquela ela altura, altura, eram era m du duas as e m eia da m anhã. “Não muito”, disse Wylie White. “Eles acham que só vamos poder retomar a viagem viagem daqui a três hora horas, s, então então o pessoal mais ma is acomodado ac omodado está indo indo para um hotel. Mas eu gostaria de levar vocês ao Hermitage, antiga casa de Andrew
Jackson.” “E a gente vai conseguir ver alguma coisa no escuro?”, quis saber Schwartz. “Ora “Or a ess e ssa, a, mais m ais duas horas horas e o sol sol já nasce.” “Vão “V ão vocês você s dois”, dois”, disse disse Schwartz chwa rtz.. “Tá certo — você pega o ônibus para o hotel. Ainda não saiu — e e le está lá.” Sua voz denotava certo escárnio. “Talvez seja uma boa.” “Não, vou com vocês”, falou Schwartz, ligeiro. Pegamos um táxi num descampado escuro e deserto lá fora, e ele pareceu se anim anim ar. ar. Para m e animar tam bém, bém , bateu bateu de de leve no m eu joel j oelho ho.. “É melhor mesmo eu acompanhar vocês”, disse, “ficar de olho. Há muito tem po, quando quando eu andava m ontado ontado na grana, tive tive um a filha filha — uma um a filha filha linda.” linda.” Falava como se ela tivesse sido entregue a seus credores na qualidade de valioso patrimônio. “Você vai ter outra”, assegurou-lhe Wylie. “Vai tê-la de volta. A roda se m ove, um giro giro a m ais e você vai estar estar à altura altura do pai da da Cecil ec ilia, ia, não é, Cecilia? Cecilia?”” “Onde fica esse Hermitage?”, perguntou Schwartz, ansioso. “No meio do nada? Não vamos perder o avião?” “Deixa disso”, disse Wylie. “A gente devia ter trazido também aquela comissária pra te fazer companhia. Você não gostou dela? Eu achei a m oça um um a gracinha.” Percorre Pe rcorrem m os um um descam descam pado claro claro e plano plano por por um bo bom m tem po po,, com a vist vistaa se resumindo a uma estrada e uma árvore ou outra e um barraco para então, subitamente, costearmos em curva um bosque. Eu podia sentir, mesmo no escuro, que as árvores daquele bosque eram verdes — bem diferentes do tom oliva empoeirado das da Califórnia. A certa altura, passamos por um preto condu conduzzindo três três vacas, vac as, que mugi m ugiram ram quand quandoo ele as a s tocou tocou para a beira da estrada. Eram vacas de verdade, de ancas quentes, vivas, sedosas, e o preto aos poucos ganhava contornos reais na escuridão, seus grandes olhos escuros nos encarando bem perto per to do carr ca rro, o, e Wy lie lie lhe deu de u uma um a m oeda. oeda . O hom e m falou: fa lou: “ Obrigado — obrigado”, e lá ficou, as vacas mugindo uma vez mais à medida que nos afast afa stávam ávam os na na noit noite. Pensei na primeira ovelha que me lembro de ter visto — centenas delas, nosso carro adentrando o rebanho no terreno dos fundos do velho estúdio Laemmle. Os bichos não estavam felizes com aquele negócio de fazer filme, m as os hom hom ens que iam conosco conosco no carro ca rro não paravam par avam de dizer dizer:: “Maravilhos “Maravilhoso!” o!” “Era o que você queria, Dick?” “Não é uma maravilha?” E o homem chamado Dick continuava de pé no carro, como se fosse Cortez ou Balboa, vendo ondular o mar de lã cinzenta. Se eu sabia sabia qual era o film film e que faz f aziam iam,, há mui m uitto tem tem po já esqueci. Tínham Tínhamos os rodado rodado por uma hora. Cruz Cruzam am os um um riacho por sobre sobre um a velh ve lhaa e gemebunda ponte de ferro e tábuas. Agora havia galos que cantavam e sombras
verde-az verde- azul uladas adas toda toda vez ve z que passávam passávam os por por uma um a casa c asa rural. r ural. “Falei “Falei pra vocês que logo logo ia am anhecer anhec er”, ”, disse disse Wy Wy lie. lie. “Nasci “ Nasci perto daqui — filho de família sulista pobre, quase indigente. A mansão da família hoje é usada como casinha de banheiro. Contávamos com quatro empregados — meu pai, minha mãe e minhas duas irmãs. Eu me recusei a seguir o mesmo caminho, então fui para Memphis começar minha carreira, que agora chegou a um beco sem saída.” Ele passou o braço em torno dos meus ombros: “Cecilia, casa comigo, e a gente divide a fortuna dos Brady?”. Ele sabia bem como vencer resistências, de modo que encostei a cabeça em seu ombro. “O que você faz, Cecilia? Estuda?” “Naa Bennington. “N ennington. Ter Terce ceiro iro ano.” “Ah, me perdoe. Eu devia saber, mas não cheguei a ter o privilégio de frequentar frequentar uma facul fac uldade. dade. Terceiro ano, é? — li na Esquire Esquire que a esta altura os estudant estudantes es j á não têm m uit uito o que aprender, a prender, Cecilia.” Cecilia.” “Por que as pessoas pensam que moças de faculdade…” “Não se justifique — conhecimento é poder.” “Só de ouvir você falar já daria pra saber que estávamos a caminho de Holly Hollywood wood”, ”, eu e u diss disse. e. “Um “ Um lugar lugar sem pre tão re trógrado, trógrado, anos e anos atrasado.” atrasado.” Ele se fingiu de chocado. “Está me dizendo que as moças da Costa Leste não têm vida privada?” “Aí que está. Elas têm vida privada. Você está me incomodando, chega pra lá.” “Não dá. Posso acabar acordando o Schwartz, e acho que esta é a primeira vez que ele cons c onsegue egue dormir dorm ir em semanas. sem anas. Escute, Escute, Cecilia: Cecilia: um um a vez tive tive um caso ca so com a esposa de um produtor. Um romance muito curto. Quando acabou, ela foi categórica ao me dizer: ‘Nunca, jamais comente sobre isso, ou vai ser expulso de Holly Hollywood wood.. Meu mar m arid idoo é um homem home m m uito uito m ais im im portante portante do que que você!’.” você!’.” Passei a gostar dele de novo, e naquele momento o táxi entrou numa longa alameda perfumada de madressilvas e narcisos, parando junto ao enorme maciço cinzento da casa de Andrew Jackson. O motorista se virou para nos dizer alguma coisa sobre ela, mas Wylie pediu que não falasse, apontando para Schwartz, e descemos do carro sem alarde. “Não podem entrar na mansão a esta hora”, comentou educadamente o taxista. Wylie e eu nos sentamos nos degraus junto a largas colunas. “E esse sr. sr. Schwa Schwartz rtz??”, perguntei. pe rguntei. “Quem é?” “Dane “D ane-se -se o Schwa Schwartz rtz.. Foi Foi dire direto torr de um dos estúdi estúdios os associados algum algum dia dia — First National? Paramount? United Artists? Agora está por baixo. Mas volta. inguém que não seja um bocó ou um bêbado consegue ser proscrito do cinema.”
“Você não gosta “Você gosta de Hol H olly lywood”, wood”, palpitei. palpitei. “Gosto, sim. Claro que gosto. Caramba! Isto não é assunto pra se conversar na escadaria esca daria da casa c asa de Andrew Andre w Jackso Jacksonn — de madrugada.” m adrugada.” gosto de Hollywood”, insisti. “Eu é que gosto “Tá certo. É uma cidade assentada sobre o ouro, reino do alucinógeno. Quem disse isso? Eu mesmo. Um bom lugar para quem é casca-grossa, mas cheguei lá vindo de Savannah, Geórgia. No primeiro dia fui a uma festa no ardim de um cara. Ele apertou minha mão e me largou ali. Tinha de tudo naquele lugar — piscina, musgo verde comprado a dois dólares a polegada, lindas gatas bebendo e se divertindo… e ninguém falava comigo. Nem uma única alma. Abordei um monte de gente, mas nenhuma respondia. Uma hora, duas, a mesma coisa — então levantei de onde estava sentado e corri dali no trote de um cão, feito um louco. Só tive certeza de que ainda era uma pessoa com identidade própria quando voltei ao hotel e o atendente me entregou uma carta endereça end ereçada da a m im, com meu me u nome nome nela.” nela.” Natura Na turalm lmee nte eu e u nunca nunc a havia e xperim xper imee ntado algo a lgo assim, assim , m as, relem re lem brando bra ndo as festas festas a que j á fora, f ora, me m e dei conta conta de qu quee coi c oisas sas com com o aquela aquela podi podiam m esmo acontecer. A gente não se aproxima de estranhos em Hollywood, a não ser que fique bem claro que seu machado ficou bem guardado em outro canto e que, haja haj a o que houver houver,, não descerá sobre sobre nosso nosso pescoço — em outra outrass palavra palavras, s, a não nã o ser que se trate de uma celebridade. E mesmo assim é melhor ter cuidado. “Você não deveria se importar com isso”, falei, muito satisfeita. “Essa falta de educação educaçã o não é uma um a coi c oisa sa direc direciion onada ada a você — é só um reflexo da relação quee ess qu e ssas as pessoas pessoas estabelecera estabeleceram m com qu quem em conh conhece eceram ram antes.” antes.” “Um “U m a m enina tão linda… linda… dizendo dizendo coisas tão sábias.” Para os lados do sol nascente, o céu se perturbava um pouco, impaciente, e Wy lie lie podia podia m e enxergar e nxergar com c om clarez clare za — m agra, agra , tra traços ços bem-fe bem -feit itos os,, mui m uito to estil estilo, o, e uma inteligência que dava os primeiros sinais de vida. Eu me pergunto que figura fazia eu naquele amanhecer, cinco anos atrás. A cara meio amassada e pálida, ima im a gino, m a s na m inha idade àquela àque la a ltura ltura,, quando se tem a ilusão ilusão uvenil uvenil de que todas todas as a s aventura aventurass são boas, boas, só pre precisava cisava tom tom ar um banho e trocar de roupa para seguir em frent fre ntee por horas. Wylie me encarou com uma admiração realmente lisonjeira — e de repente não estávamos mais sozinhos. O sr. Schwartz entrou, sem jeito, naquela bela cena. ce na. “Bati num trinco enorme de metal”, disse, apalpando o canto do olho. Wy lie lie se sobre sobress ssaltou altou.. “Bem na hora, sr. Schwartz”, falou. “O tour acaba de começar. O lar do décimo presidente americano. O conquistador de Nova Orleans, opositor feroz do sistema bancário nacional, inventor do apadrinhamento.” Schwart chwar tz m e olhou olhou como se encar enc arasse asse um j úri.
“O que você tem aí é um escritor”, disse. “Sabe tudo e ao mesmo tempo não sabe nada.” “Como “Com o é que é?”, falo fa louu Wy Wy lie, lie, indignado. indignado. Meu primeiro palpite havia sido mesmo de que ele era um escritor. Apesar de eu gostar de escritores — porque, se a gente pergunta qualquer coisa a um escritor, geralmente recebe uma resposta —, ainda assim aquilo o diminuía um pouco aos m eus olhos. olhos. Escrit Escr itore oress não são e xatam xata m e nte pessoas. pessoa s. Ou, quando são bons no que faz fa zem , um pouco que sej a , se tornam várias pessoas se esforçando muito para ser uma só. São como os atores, patéticos, tentando não se olhar em espelhos, inclinando-se para trás trás para não fazer isso — só para no fim se verem refletidos nos lustres. “Não são assim os escritores, Cecilia?”, inquiriu Schwartz. “Não sei o que diz dizer deles. Só Só sei que é verdade ver dade.” .” Wylie olhava para ele, e lentamente sua indignação crescia. “Já ouvi essa história antes”, falou. “Escuta, Manny, eu tenho muito mais senso prático do que você em todos os sentidos! Passei horas sentado num escritório ouvindo um tipo místico pra lá e pra cá a regurgitar um besteirol que, em qualquer lugar que não fosse a Califórnia, seria suficiente pro cara ir parar num manicômio — e, no final, ainda o ouvi me dizer que era um sujeito muito prático prático , e eu um sonhador — e eu e u só pensando pensa ndo em sair dali da li e ir dar da r algum a lgum sentido ao que ele e le tinha dito.” dito.” A cara do sr. Schwartz ganhou contornos os mais desfigurados. Um olho apontava para cima, mirando por entre os olmos muito altos. Levantou uma das mãos e, displicente, mordiscou a cutícula do indicador. Um passarinho voava em torno da chaminé da casa, e Schwartz seguiu-o com o olhar. O pássaro pousou no alto da chaminé feito um corvo, os olhos do sr. Schwartz ainda fixos nele enquanto dizia: “Não podemos entrar, e já está na hora de vocês dois voltarem para par a o avião” a vião”.. Ainda não era exatamente dia claro. O Hermitage parecia uma bela e enorme enorm e caixa c aixa branca, branca , mas m as um pou pouco co solit solitár ária ia e ain a inda da vazia, vazia, depoi depoiss de cem ce m anos. anos. Voltamos ao carro. Só depois de termos embarcado, diante da atitude surpreendente do sr. Schwartz, que fechou a porta do táxi e ficou do lado de fora, é que nos dem dem os conta conta de que ele e le não pret pre tendia endia ir conosco. conosco. “Não vou continuar a viagem até a costa — decidi isso ao acordar. Então fico por aqui, e mais tarde o motorista pode vir me buscar.” “Vai “V ai voltar voltar para par a o Leste?”, Leste?”, disse disse Wy lie, lie, surpreso. “S “ Só porque …” “Resolvi”, falou Schwartz, sorriso débil no rosto. “Já fui um homem de decisão — você se surpreenderia.” Apalpou o bolso, o taxista já esquentando o m otor otor. “V “ Você poderia, por favor, fa vor, entregar e ntregar este bilhete bilhete ao sr. sr. Sm Sm ith? ith?”” “Volt “V oltoo em duas horas? hora s?”, ”, quis quis saber o mot m otorist orista. a. “Sim “Sim … claro. Vai Vai ser um a satisfaç satisfação ão dar uma olhada olhada nas na s redondezas.” redondezas.” Fiquei pensando nele o caminho todo de volta ao aeroporto — tentando
enquadrá-lo àquela hora da m adrugada naquel na quelaa pais pa isagem agem . Tinha Tinha saído saído de al a lgum longínquo gueto para vir parar naquele tosco santuário. Manny Schwartz e Andrew Jackson — difícil acomodá-los na mesma frase. Era duvidoso que, passeando passe ando a li e m volta, volta, soubesse quem foi Andrew Andr ew Jack Jac kson, m a s, talvez tenha raciocinado, se haviam preservado sua casa, Andrew Jackson deve ter sido alguém importante e bondoso, compreensivo. Nos dois extremos da vida, o que um homem precisa é de algo que o sustente: um seio, um santuário. Um lugar para par a se encostar enc ostar quando qua ndo ninguém ninguém m ais o queira , e ali a li m e ter uma um a bala na ca c a beça. beç a. Nas Na s vinte vinte e quatro horas hora s seguintes, c laro, lar o, a inda não sabíam sabía m os do fato. fa to. Ao chegarmos ao aeroporto, informamos à tripulação que o sr. Schwartz não seguiria conosco e, com isso, esquecemos o assunto. A tempestade havia se afastado para o leste do Tennessee e desabado sobre as montanhas, e decolaríamos em menos de uma hora. Passageiros ainda sonolentos iam aparecendo, vindos do hotel, e cochilei algumas vezes sentada num daqueles instrumentos de tortura que eles chamam de sofás. Aos poucos, a ideia de uma viagem perigosa foi ressurgindo dos escombros de nosso fracasso: uma nova aeromoça, alta, bonita, morena e radiante, radiante, exatam exa tamente ente como com o a outra outra exceto exce to pelo uni uniform form e, list listrado rado em vez de com estampa à francesa, passou por nós a passos enérgicos carregando uma maleta. Wy lie lie perm per m aneceu anec eu sentado sentado ao meu m eu lado enquanto enquanto esperávam os. os. “Você “V ocê entregou entre gou o bilh bilhete ete ao sr. sr. Sm Sm ith? ith?”, ”, pergunt per guntei, ei, meio m eio dorm indo. indo. “Sim.” “Quem é esse sr. Smith? Acho que ele estragou a viagem do senhor Schwartz.” “A culpa foi do Schwartz.” “Tenho preconceito contra gente que passa por cima dos outros”, falei. “Meu pai tenta fazer isso em casa e digo pra ele reservar esse comportamento para par a quando qua ndo está no estú e stúdio.” dio.” Eu me perguntei se estava sendo justa; palavras não valiam nada àquela hora da manhã. “E mesmo assim ele passou por cima de mim ao me mandar para par a Benningt Be nnington, on, e sem se m pre lhe sere se reii grata gra ta por isso.” isso.” “Que bela colisão seria”, disse Wylie, “se os dois rolos compressores, Brady e Sm ith, ith, se encont e ncontra rass ssem em .” “O sr. sr. Sm Sm ith ith é concorre conc orrente nte do papai? papa i?”” “Não exatamente. Acho que não. Mas, se fosse, sei em qual dos dois apostaria meu dinheiro.” “Noo papai? “N papa i?”” “Temo que não.” Era ainda muito cedo para uma demonstração de patriotismo familiar. O piloto piloto estava no balcã balc ã o de inform ações aç ões e balançou bala nçou a c abeç abe ç a e nquanto observava obser vava,, com o chefe do pessoal de bordo, um potencial passageiro que havia depositado um níquel no fonógrafo automático e, entregue ao álcool, recostava-se num
banco banc o tentando tenta ndo vence ve ncerr o sono. A prime ira m úsic úsic a que e scolhera scolher a , “Lost”, “ Lost”, ressoou r essoou feito um trovão na sala, seguida, após breve intervalo, de outra escolha sua, “Gone”, “Gone” , igualme igualment ntee dog dogm m ática ática e definiti definitiva. va. O pil piloto oto balançou a cabeça ca beça,, enfáti e nfático, co, e foi até onde estava o passageiro. “Acho “Ac ho qque ue o senhor senhor não vai poder poder em e m barcar barc ar desta desta vez, am igão.” igão.” “Quê?” O bêbado endireitou-se, com a aparência deplorável, embora ainda se vislumbrasse ali um homem atraente, e tive pena dele, apesar da música passionalme passionalm e nte ma m a l escolhi esc olhida. da. “Volte para o hotel e durma um pouco. Tem outro avião saindo hoje à noite.” “Só levanto daqui pra voar.” “Não “Nã o desta desta vez, vez, am igão.” igão.” De tão desapontado, o bêbado caiu do banco — e, mais alto que o fonógrafo, um anúncio no sistema de som nos chamou, as pessoas de bem, a sair dali. No corredor do avião, esbarrei em Monroe Stahr e caí por cima dele, ou o fiz de propósito. propósito. Ali A li estava um homem hom em sobre o qual qua l qualquer qua lquer garota gar ota se a tira tiraria ria,, tivesse ou não não um m otiv otivoo para isso isso.. Eu claram ente não tinha, mas ele gostava de mim e se sentou na minha frente, na poltrona oposta, até o avião decolar. “Vamos todos pedir nosso dinheiro de volta”, sugeriu. Seus olhos escuros me engoliam, e fiquei pensando em que aparência teriam se ele se apaixonasse. Era um olhar gentil, distanciado, e, embora quase sempre educadamente atento, denotava um pouco de superioridade. Não tinha culpa por enxergar tanto. O homem entrava e saía do papel de “um dos rapazes” com destreza — mas, no geral, diria que não era um deles. Mas sabia se calar, se recolher, ficar ouvindo. De onde estava (e, apesar de nem ser tão alto, parecia ver tudo de cima), ele observava as múltiplas circunstâncias de seu mundo feito um jovem pastor de rebanhos para quem o fato de ser noite ou dia nem sequer tinha importância. ascera asce ra inso insone, ne, sem talento talento par paraa o repou re pouso so ou ou desej o de repous r epousar ar.. Ficamos sentados num silêncio constrangido — eu o conhecia desde que se tornara sócio do papai, mais de uma década antes; na época, tinha sete anos e ele, vinte e dois. Wylie estava do outro lado do corredor, e eu não sabia se devia ou não apresentá-los, mas Sathr insistia em rodar um anel no dedo de maneira tão indiferente que me fez sentir-me jovem e invisível, e não pensei mais nas apresent apre sentaç ações. ões. Jamais Jam ais ousava ousava tirar os olhos olhos dele dele ou olhar olhar dire diretam tamente ente para ele, a menos que tivesse algo importante a dizer — e eu sabia que Stahr provocava essa mes me sm a reação rea ção em m uit uita gente. gente. “Vou “V ou te te dar da r est e stee anel, a nel, Cec Cecil ilia”, ia”, ele e le disse. disse. “Desculpa. Nem reparei que eu estava …” “Tenho mais um monte igual a este.” Ele me entregou o anel, uma pepita de ouro com a letra S destacada em
relevo. Eu estava pensando, pouco antes, no contraste esquisito daquele volume com seus dedos, que eram delicados e delgados como o resto do corpo, e com o rosto fino com as sobrancelhas arqueadas, o cabelo escuro encaracolado. Às vezes parecia bem-humorado, mas era um lutador — uma pessoa que o conhecera no passado e sabia da gangue de garotos que ele tivera no Bronx descreveu para mim a cena, Stahr sempre à frente do grupo, menino até bem frági frá gil,l, dando um um a ou outra outra ordem à boca pequena para os que que vinham vinham atrás. Stahr fechou minha mão com o anel na palma, ficou de pé e se dirigiu a Wylie. “Pode vir para a suíte nupcial”, falou. “Até mais, Cecilia.” Antes que os dois se afastassem a ponto de não poder ouvi-los, escutei a pergunta per gunta de Wy lie lie : “Você “Você leu o bilhete bilhete do Sc Sc hwartz hwa rtz??” . E Stahr Stahr:: “Ainda não.” Devo ser meio lenta, pois só então me dei conta de que Stahr era o sr. Smith. Mais tarde, Wylie me contou o que havia no bilhete. Escrito à luz dos faróis do táxi, táxi, era er a quase ilegível. ilegível. Caro Monroe, você é o melhor dentre eles todos e sempre admirei sua mentalidade, então sei que não adianta se voltar contra mim! Não devo prestar pre star e não vou seguir nessa j ornada, orna da, e ntão deixa eu te dizer dizer de novo: cuidado! Eu sei. Seu amigo Manny Stahr leu o bilhete duas vezes e levou a mão até a barba am anhecid anhec idaa que lhe crescia cr escia no queixo queixo.. “O cara está com os nervos em frangalhos”, falou. “Não há nada que se possa faz fa zer — a bsolutam bsolutam ente nada. nada . Sinto into m uito uito não ter atendido ate ndido as a s e xpectativas xpec tativas — m a s não gosto gosto da ideia de um c ara ar a m e a bordar borda r pra dize dize r que está faz fa ze ndo aquilo por mim.” “Talvez estivesse”, disse Wylie. “Péssima estratégia.” “Funcionaria comigo”, respondeu Wylie. “Sou fútil como uma mulher. Se alguém alguém finge finge se int interessar er essar por m im, peço peç o mais. m ais. Gosto Gosto de de ser acons ac onselhado elhado.” .” Stahr balançou a cabeça, repugnado. Wylie continuou bulindo com ele — era um dos únicos a quem tal privilégio era permitido. “Você se rende a alguns tipos de bajulação”, falou. “Essa coisa de ‘pequeno apoleão’.” “Me embrulha o estômago”, disse Stahr, “mas não é tão ruim quanto um cara ca ra tentando tentando aj udar.” udar.” “Se você não gosta gosta de conselhos, conselhos, por que cont c ontra ratou tou a mim ?” “Questão de mercado”, falou Stahr. “Sou um comerciante. Quero comprar o que que você você tem na cabeça.” cabeç a.” “Você não é um comerciante”, retrucou Wylie. “Conheci um monte deles nos meus tempos de publicidade, e concordo com Charles Francis Adams.” “O que ele e le disse? disse?””
“Conheceu todos — Gould, Vanderbilt, Carnegie, Astor — e dizia que não fazia questão de encontrar nenhum deles no além. Bom … esse pessoal não melhorou em nada desde então, e é por isso que digo que você não é um comerciante.” “Adams era um rabugento, provavelmente”, disse Stahr. “Queria ele mesmo ser patrão, mas não tinha tino ou, pior, caráter.” “Tinha tutano”, falou Wylie, afiado e desagradável. “Precisa mais do que isso. Vocês, escritores e artistas, se cansam e começam a confundir tudo, aí tem de vir alguém pra botar vocês na linha.” Ele deu de ombros. “Parecem tomar as coisas pelo lado pessoal, odiando e idolatrando as pessoas — sempre achando que pessoas são tão importantes — especialmente vocês mesmos. Parece que pedem pra ser descartados. Gosto das pessoas pessoa s e gosto gosto que elas ela s goste goste m de m im, im , ma m a s levo o cora c oraçã çãoo no lugar onde De Deus us o colocou — do lado de dent de ntro.” ro.” Ele Ele se interrom interrompeu. peu. “O que foi que eu disse ao Schwartz no aeroporto? Você se lembra… exatamente?” “Você falou: ‘O que quer que esteja querendo, a resposta é não!’.”. Stahr ficou em silêncio. “O Schwartz chwar tz estava derrubado”, der rubado”, diss dissee Wy lie, “m as fi f iz ele dar da r umas uma s risadas. risadas. Levam os a filha filha do Bil Billy ly Brady ra dy pra dar uma volta.” volta.” Stahr cham ou a aerom a eromoça. oça. “Aquele piloto”, falou, “ele se importaria se eu fosse lá para a cabine por um tem po? po?”” “Isso não é permitido, sr. Smith.” “Peç “P eçaa a ele que dê uma um a chegadi c hegadinha nha aqui quand quandoo tiv tiver er um tem pinho pinho.” .” Stahr passou a tarde toda lá na frente. Nesse tempo, flutuamos acima do deserto sem fim e dos planaltos tingidos de tinturas de muitas cores, feito a areia branca bra nca que pintá pintá vam os quando qua ndo eu era er a crianç cr iança. a. De Depois pois,, no final fina l da tarde, tar de, fora for a m os próprios picos das montanhas — o Serrote Congelado — que deslizaram sob nosso nossoss motores, já perto de casa. ca sa. Nos m omentos om entos em que não e stava c ochilando, e u ficava fic ava pensando pensa ndo que desejava me casar com Stahr, queria fazê-lo me amar. Ah, quanta presunção! O que tinha eu a oferecer? Mas não pensava assim naquele tempo. Eu tinha o orgulh orgulhoo das moças m oças cuja c uja fonte fonte de poder são pensamento pensam entoss subl subliim es tais como “so “ souu tão boa quanto ela”. Para o que eu pretendia, era tão bela quanto as grandes beldades belda des que, inevitavelm e nte, deviam devia m c hover sobre ele. ele . Meu breve bre ve lam pej o de interesse intelectual me tornava apta a brilhar como um ornamento em qualquer salão. Hoje Hoj e sei que iss issoo era absurdo. absurdo. Embora a form f ormaç ação ão de Stahr Stahr não fos f osse se mui m uito to além de um curso noturno noturno de estenogra estenografia, fia, faz fa zia mui m uito to que, que, à frent fre ntee de todos todos,, ele
percor per corria ria os e rm os desca desc a m inhos da perc per c e pção pçã o até pa para ragens gens à s quais poucos homens eram capazes de segui-lo. Mas eu, em minha presunção imprudente, alçava maliciosamente meus olhos verdes à altura dos olhos castanhos dele, as batidas j ovens e a tlética tléticass do m e u coraç cor açãã o c ontra as dele, dele , j á um pouco desaceleradas pelos anos de excesso de trabalho. E planejei e maquinei e tramei — as m ulheres ulhere s é que sabem sabe m —, mas m as nunca nunc a deu em e m na nada, da, confor c onform m e vocês voc ês verã ve rão. o. Até hoje gosto de pensar que, se ele fosse um rapaz pobre da minha idade, podia ter m e dado bem bem , mas ma s a verdade verdadeira verdadeira é qu quee eu e u não titinh nhaa nada a oferecer oferec er que ele já não possuísse; algumas das minhas mais românticas noções decerto haviam saído de filmes — Rua 42, por exemplo, era uma grande influência. É mais do que possível que alguns dos filmes que o próprio Stahr concebera tivessem ivessem delineado delineado quem eu era. er a. De modo que era um caso perdido. Emocionalmente, ao menos, as pessoas não podem viver viver tão dependentes. dependentes. Mas daquela vez era diferente: o papai podia ajudar, a aeromoça podia ajudar. Ela talvez fosse à cabine e dissesse a Stahr: “Se é que alguma vez vi o amor, foi nos olhos daquela garota”. O piloto quem sabe ajudasse: “Cara, você está cego? Por que não volta pra lá?”. Wylie White podia ajudar — em vez de ficar parado no corredor olhando indecisam ndecisam ente para m im , perguntando-se perguntando-se se eu estava dormin dorm indo do oouu acordada. acorda da. “Senta”, falei. “Novidades? Onde estamos?” “Em pleno ar.” “Ah, então é isso. Senta.” Tentei me mostrar interessada, animada: “Sobre o que você est e stáá escreve e screvendo ndo??”. “Que os céus venham em meu socorro: é sobre um Escoteiro — sobre O Escoteiro.” “É ideia do Stahr?” “Não “Nã o sei — ele me m e falou f alou pra dar uma olhada olhada nessa coisa. coisa. É capaz ca paz de ter uns dez roteiristas trabalhando, mais adiantados ou mais atrasados do que eu, um sistema muito bem pensado por ele. Então quer dizer que você está apaixonada?” “Clar “Claroo que que não”, indi indignei gnei-m -m e. “Eu “ Eu o conheç conheçoo desde criança.” cr iança.” “Desesperadamente, hein? Bom, posso dar um jeito nisso pra você, e aí você usa toda toda a sua sua influência influência pra m e aj a j udar. udar. Quero uma unidade unidade só pra m im.” Fechei os olhos e deslizei devagar rumo ao sono. Acordei com a aeromoça m e cobrind cobrindoo com uma um a m anta. anta. “Falta “Falta pouco”, pouc o”, ela e la disse. disse. Pela Pe la janela j anela pude ver, à luz luz do pô pôrr do sol lá fora, fora , que que estávam estávam os em território território m ais verde. verde. “Acabei de ouvir uma coisa engraçada”, a aeromoça puxou conversa, “lá na cabine — aquele sr. Smith — ou sr. Stahr — não lembro de ter visto o nome
dele alg a lguma uma vez…” vez…” “Nunca aparec a parecee no noss fil film es”, falei. “Ah. Bem, ele estava perguntando aos pilotos uma porção de coisas sobre sabia?” voar — enfi e nfim m , está interessado interessado me smo nisso nisso,, você sabia “Sabia.” “Enfim, um dos pilotos me disse que podia apostar que em dez minutos ensinava o sr. Stahr a conduzir um voo solo. O homem tem uma mentalidade e tanto, tanto, foi o que que ele m e disse.” disse.” Eu estava estava ficando impacient impac iente. e. “E o que tem de tão engraçado nisso?” “Bem, um dos pilotos perguntou ao sr. Smith se gostava do ramo em que trabalha, e ele falou: ‘Claro. Claro que gosto. É bom ser o único doido normal num bando de doidos varridos’.” A aeromoça dobrou o volume da risada — e eu estava a ponto de cuspir nela. “Enfim, chamar aquele pessoal todo de bando de doidos. Enfim, doidos varridos.” Parou de rir, súbita e inesperadamente, e seu rosto assumiu um ar grave enquanto ela se punha de pé. “Bem, tenho de ir terminar de atender o pessoal.” pessoa l.” “Tchau.” Stahr, era evidente, havia dado intimidade suficiente aos pilotos para lhes perm per m itir itir que subissem subissem um pouquinho pouquinho a o pa patam tam ar dele. dele . Anos m ais tarde, tar de, viaj e i com um desses mesmos comandantes, e ele me contou uma coisa que Stahr dissera. Stahr olhava olhava para pa ra as m ontanhas ontanhas lá em baixo. baixo. “Imagine que você é um chefe de ferrovia”, falou. “Você precisa mandar um trem pra algum lugar ali no meio. Bom, chega o relatório do seu fiscal de trilhos e você descobre um monte de falhas, três, quatro, uma dúzia delas, e nenhuma rota é melhor que a outra. Você tem de decidir… com base em quê? ão dá pra sair testando qual é o melhor caminho — é escolher um e ir por ele. É o que que você acaba ac aba faz fa zendo.” endo.” O pilot pilotoo achou ac hou que tinha tinha perdido pe rdido algum algum a coisa. “E o que isso quer dizer?” “Que a gente escolhe um caminho sem ter razão alguma — porque aquela montanha é rosa, ou porque o mapa é mais bonitinho. Entende?” O piloto tomou aquilo como um conselho muito valioso. Mas duvidou que algum algum dia dia est e star ariia em situ situaç ação ão de aplicá aplicá-lo -lo.. “O que eu queria saber”, ele me disse, pesaroso, “era como foi que ele chegou a se tornar o sr. Stahr.” Acho que Stahr jamais poderia ter respondido à pergunta; o embrião ainda não tem o recurso da memória. Mas eu, sim, consigo responder em parte. Ainda
m uit uito jovem j ovem,, com asas fortes, ele havia havia voado bem bem alto, alto, de de ond ondee pôd pôdee ver. ver. Lá de cima avistou todos os reinos com o tipo de olho com que se pode mirar diretamente o Sol. Batendo as asas tenazmente — freneticamente, afinal — e sem parar, perm aneceu anece u no ar po porr m ais tem po do do que que a m aioria aioria de nós, nós, e ent e ntão, ão, lembrando tudo que vira de como são as coisas daqueles píncaros, aos poucos se acomod acom odara ara de vol volta à terra. erra . Motores desligados, nossos cinco sentidos começaram a se reajustar para o pouso. À fre fr e nte e à e squerda, squer da, avistava-se avistava -se a fileira de luze luze s da Base Na Naval val de Long Beach, à direita, o borrão cintilante de Santa Monica. A lua da Califórnia apareceu, enorme e alaranjada, sobre o Pacífico. Fosse como fosse que eu me senti sentisse sse em e m relaçã re laçãoo a essas coisas coisas — e elas e las m e diziam diziam que estava estava em e m casa, ca sa, afinal de contas —, sei que o sentimento de Stahr devia ser muito maior. Aquelas eram as coisas que eu primeiro vira ao abrir os olhos para o mundo, como as ovelhas no terreno dos fundos do estúdio Laemmle; mas havia sido ali o lugar em que ele pousara pousar a de retorno re torno à terra ter ra,, de depois pois daquele da quele voo luminos lum inosoo e m que enxergou enxe rgou para par a onde íamos, e como éramos fazendo o que fazíamos, e quanto isso importava. Pode-se dizer que foi aí que um vento perigoso o apanhou, mas não penso assim. Prefiro achar que, numa “tomada panorâmica”, ele percebeu uma nova maneira de avaliar nossas esperanças espasmódicas e delicadas trapaças e mágoas incômodas, e que por escolha própria veio para estar conosco até o fim. Como o avião que descia no aeroport ae roportoo de Glendale, adentrando a treva tre va quente.
2 Eram nove horas de uma noite de julho, e alguns figurantes ainda se demoravam na lanchonete em frente ao estúdio — ao estacionar, pude vê-los debruçados sobre as máquinas de jogo. O “Velho” Johnny Swanson estava parado par ado na esquina em seu traj tra j e m eio c aubói, o olhar perdido per dido na lua. Algum dia fora um dos grandes do cinema, como agora Tom Mix ou Bill Hart — hoje, era triste falar com ele, de modo que me apressei a atravessar a rua e entrar pelo portão principal. pr incipal. Um estúdio jamais é um ambiente totalmente quieto. Sempre tem alguma equipe de técnicos do turno da noite nos laboratórios e nas salas de dublagem, o pessoal pessoa l da m anutençã anute nçãoo dando um pulo no refe re feit itório. ório. Mas os ruídos são todos dife diferentes rentes — o som som abafado abaf ado de pneus, o tranqui tranquilo lo ronronar ronronar de um m otor otor em giro giro inercial, o agudo nu de uma soprano num microfone no meio da noite. Virando uma esquina, topei com um homem em botas de borracha lavando um carro sob uma maravilhosa luz branca — uma fonte em meio às sombras mortas daquela indústria. Ao ver o sr. Marcus sendo amparado para entrar em seu carro em frente ao prédio da administração, diminuí o passo, pois ele demorava um bocado boca do para pa ra dizer dizer o que quer que fosse, fosse , até a té m e smo sm o um boa-noit boa- noitee — e, e , enquanto e nquanto esperava, me dei conta de que a soprano estava cantando sem parar, e repetidamente, Come, come, I love you only ; lembro disso porque ela prosseguiu com o mesmo verso durante o terremoto. Faltavam ainda cinco minutos para começar. Os escritórios do papai estavam localizados no prédio antigo, com suas sacadas compri com pridas das e corri c orrim m ões de ferro fer ro cuja cuj a aparência era, e ra, incorrig incorrigiivelm velm ente, ente, a de cordas bambas. Papai ficava no segundo piso, Stahr de um lado e o sr. Marcus do outro — naquela noite havia luzes acesas ao longo de toda a sequência de escritórios escritórios.. Eu ia com c om um friozin friozinho ho na barriga bar riga pela proxim proxim idade com Stahr, m as á controlava bem a sensação naquele momento — só o vira uma vez naquele m ês desde desde que que est e stava ava em casa. Muita coisa havia de peculiar no escritório do papai, mas vou resumir. Do lado de fora, três secretárias com cara inescrutável, as quais, até onde minha memória alcançava, desde sempre estiveram ali, feito bruxas, Birdy Peters, Maude não-sei-de-quê e Rosemary Schmiel, a decana do trio — não sei se era esse o nome nome,, mas ma s debaixo debaixo da da sua escri escr ivaninha vaninha ficava o abre-te-sésam abre -te-sésam o qu quee dava acesso à sala do trono do papai. Todas as três eram capitalistas ferrenhas, e Birdy tinha inventado a regra segundo a qual, se datilógrafas fossem vistas fazendo as refeições juntas mais de uma vez na semana, mereceriam advertência do alto escalão. esca lão. Naquela Naquela época os estúdi estúdios os tem tem iam ser cont c ontrolado roladoss pelas ma ssas. ssas. Entrei no escritório. Hoje em dia qualquer executivo tem imensas salas de visita, mas a do meu pai foi a primeira. Também foi a primeira a ter vidros
espelhados nos janelões altos, e ouvi falar de um alçapão no assoalho que engoliria visitantes desagradáveis, lançando-os numa masmorra, mas acredito que fosse invenção. Havia um grande quadro de Will Rodgers exposto ostensivamente e destinado, acho, a sugerir um parentesco essencial entre papai e o são Francisco de Hollywood; havia uma foto autografada de Minna Davis, a falecida mulher de Stahr, e de outras celebridades do estúdio, além de grandes desenhos a giz meus e da mamãe. Naquela noite, os janelões estavam abertos, e a lua, enorme, em tons dourado e róseo e envolta em névoa, entrava inevitável por uma um a delas. dela s. P apai, apa i, Jacques Jac ques La Bo Borw rwit itzz e Rose Rose m a ry Sc hmiel hm iel e stavam a o fundo, fundo, reunidos reunidos em torno torno de uma um a grande gra nde mesa m esa ci c ircul rc ular ar.. Que aparência tinha o papai? Não seria capaz de descrevê-lo, exceto daquela vez em que o encontrei em Nova York sem estar esperando; percebi então aquele homem corpulento de meia-idade, parecendo um pouco envergonhado de si mesmo, e desejei que saísse dali — e foi aí que vi que era o papai. papa i. De Depois pois fiquei fique i c hocada hoca da com e ssa m inha impre im pressão. ssão. P apai apa i consegue conse gue ser bem m a gnético — com c om seu queixo que ixo duro e seu se u sorriso de irlandês. irla ndês. Quanto a Jacques La Borwitz, prefiro poupá-los. Digo apenas que era um produtor-assist produtor- assistee nte, tipo tipo subalterno, subalter no, e basta. Se m pre m e espantava espa ntava pe pensando nsando de onde Stahr desenterrava aqueles cadáveres mentais, ou por que se obrigava a suportar uns tipos assim — e, especialmente, como é que conseguia torná-los úteis úteis de de alg a lgum umaa form f ormaa —, algo que que esp e spantaria antaria qualquer qualquer recé re cém m -chegado -c hegado da Cos Costa ta Leste que topasse com eles. Sem dúvida que Jacques La Borwitz tinha lá seu interesse, mas protozoários submicroscópicos ou um cão uivando por uma cadela e um osso osso tam bém têm . Jacques Jacques La… meu m eu Deus! Pela expressão no rosto deles, soube com certeza que falavam de Stahr. Ele tinha dado uma ordem qualquer, ou proibido alguma coisa, ou desafiado o papai, ou arruinado um dos filmes de La Borwitz, ou feito algo catastrófico do tipo, e ali estavam eles, em protesto noturno, uma comunidade revoltada e impotente. Rosemary Schmiel, bloco de anotações em punho, parecia pronta a pôr no papel o abati aba tim m ento dos três. “Me mandaram te levar pra casa vivo ou morto”, falei para o papai. “Tem um m onte onte de present pre sentes es de ani a niversár versáriio apodrecendo apodrece ndo nos pacotes!” “Aniversário!”, berrou Jacques, numa profusão de desculpas. “Quantos anos? Eu não sabia.” “Quarenta e três”, respondeu papai, indubitável. Era mais velho — quatro anos —, e Jacques sabia; vi que anotava aquilo para par a usar em alguma algum a oc ocasiã asião. o. P or e stas bandas, banda s, c adernos ade rnos de notas são carregados abertos. Pode-se ver o que é anotado sem que se precise de leitura labial, e Rosemary Schmiel, por emulação, marcou alguma coisa também no seu. Enqu Enquanto anto apagava apaga va uma um a anot a notaç ação, ão, a terra terr a trem eu debaixo de de nós. Não Nã o sentimos sentim os o trem tre m or e m c heio, com o e m Long Beach, Bea ch, onde os pisos pisos de
cima das lojas foram lançados às ruas e hoteizinhos levados pelo mar — mas, por um m inuto, inuto, nossas e ntranhas ntra nhas e as da Terra er ra e ram ra m uma um a c oisa oisa só, com o num pesade pesa delo lo em e m que tentássem tentásse m os religar r eligar nosso cordão cor dão umbil um bilica icall e voltar voltar ao útero úter o da criação. A foto da mamãe caiu da parede, revelando um pequeno cofre — Rosemary e eu nos enganchamos freneticamente uma à outra para uma estranha valsa, dançada aos gritos pela sala. Jacques desmaiou, ou ao menos desapareceu, enquanto o papai se agarrava à escrivaninha e berrava: “Você está bem ?”. P e la j anela, ane la, lá fora for a , a cantora ca ntora c hegou ao c lím lím ax de “I love y ou only” only ” , parou par ou por um m ome om e nto e então, e ntão, juro, j uro, com c omee çou de novo. Ou talvez tenha tenham m ligado ligado o gravador para ela se ouvir. A sala restou imóvel, trepidando um pouquinho. Alcançamos a porta, Jacques subitamente conosco outra vez, ressurgido, e cambaleamos tontos pela antessala antessala até a té a sacada sac ada de ferro. fe rro. Quase todas todas as luzes luzes tinham tinham se apagado apa gado e, aqui e acolá, ouvíamos gritos e gente chamando. Permanecemos um instante ali, esperando por um segundo tremor — então, como que num impulso coletivo, seguim seguim os até o vest ve stíb íbul uloo do escritó esc ritório rio de Stahr Stahr,, e dali para dentro. Era grande, mas não tanto quanto o do papai. Stahr estava sentado na lateral de seu sofá sofá e esfregava e sfregava os olhos olhos.. No mom ento do ter terrem rem oto, oto, dorm dormiia, e ainda ainda não nã o tinha certeza se não sonhara aquilo. Quando o convencemos de que não, achou tudo muito engraçado — até que os telefones começaram a tocar. Observei-o com a maior discrição possível. Tinha a aparência pálida de cansaço, atento ao telefone e ao ditaf ditafone; one; mas, ma s, à medid m edidaa que chegavam chega vam os relatos, relatos, recobrou o brilh brilhoo nos olhos. “Alguns canos devem ter estourado”, falou, dirigindo-se ao papai, “estão indo indo dar um a olhada olhada lá nos fundos.” fundos.” “O Gray Gr ay está film film ando na na Aldeia Franc Francesa” esa”,, falou papai. “O entorno da Estação alagou também, e ainda a Selva e a Esquina. Caramba — parece que ninguém se feriu.” De passagem, ele apertou minha mão, solene: “Por onde você andou, Cecilia?”. “Você “V ocê vai até lá, Monroe?”, Monroe?”, pergunt pe rguntou ou papai. papa i. “Quando tiver as informações todas: uma das linhas de energia caiu também tam bém — avi a visei sei o Robin Robinson. son.”” Me fez sentar sentar com ele no sofá sofá e contar contar sobre o tre trem m or novam novamente. ente. “Você parece cansado”, falei, graciosa e maternal. “Pois é”, concordou ele, “não tenho pra onde ir à noite, então não paro de trabalhar.” “Vou “V ou pprogram rogram ar umas um as saídas saídas pra você.” você .” “Costumava jogar pôquer com um pessoal”, ele disse, pensativo, “quando era solt solteiro. eiro. Mas Mas os rapaz rapa zes todos todos se aca a cabara baram m na bebida.” A srta. Doolan, secretária dele, entrou com más notícias fresquinhas.
“O Robby vai cuidar de tudo quando chegar”, assegurou Stahr ao meu pai. Virou-se para mim. “Esse cara é o seguinte — o Robinson. Resolve qualquer encrenca — consertava linhas telefônicas debaixo de tempestades de neve em Minnesota —, nada é empecilho para o homem. Já, já ele chega — você vai gostar gostar do Robby.” Falou isso como se a vida toda tivesse tido a intenção de nos apresentar, e como se o terremoto em si tivesse sido pensado só para isso. “Pois é, você vai gostar do Robby”, repetiu. “Quando volta pra faculdade?” “Acabei “Ac abei de chegar chega r.” “Vai “V ai ficar f icar o verão ver ão todo?” todo?” “Desc “D escul ulpe” pe”,, respon re spondi. di. “V “Vol olto to na na prime pr imeira ira oportunidade oportunidade.” .” Estava Estava confusa. confusa. Não Nã o deixou deixou de me m e passar passar pela cabeça ca beça que ele talvez tivess tivessee alguma intenção em relação a mim, mas, se fosse o caso, ainda num estágio muito inicial — eu era meramente “um bom ativo”. E a ideia não me parecia muito atraente àquela altura — como casar com um médico. Raramente ele saía do estúdio antes das onze. “Quanto tempo falta”, ele perguntou ao meu pai, “pra ela se formar na faculdade fa culdade?? Era o que eu e u estava tentando tentando dizer dizer.” .” E acho que o que eu estava ansiosa para dizer, alto e bom som, era que não ia voltar coisa nenhuma, que já tinha estudado o suficiente — foi então que apareceu o incrível Robinson. Era um rapaz ruivo de pernas tortas e pronto para o que desse e viesse. “Este é o Robby, Cecilia”, disse Stahr. “Vem cá, Robby.” P ois ois fiquei fiquei conhece c onhecendo ndo Robby Robby.. Não Nã o posso posso diz dizer que parec par ecia ia o destino destino — mas m as era. Porque foi Robby quem, mais tarde, me contou a história de como Stahr encontrou encontrou o am a m or naquela noite. noite. * À luz da lua, os doze mil metros quadrados do terreno dos fundos eram uma terra encantada — não porque as locações pareciam, de verdade, selvas afri afr icanas, ca nas, chatôs chatôs franceses, franc eses, escunas no no ancoradouro ou a Broadway à noite, noite, mas ma s por se a ssem elhare elha rem m a surra surr a dos livros livros infanti infa ntiss ilust ilustra rados, dos, feit fe itoo fragm fr agm entos de histórias bailando em torno de uma fogueira. Nunca vivi numa casa com sótão, mas um terreno como aquele deve ser parecido, e à noite, claro, como que por encanto e numa visão distorcida, tudo fica real. Quando Stahr e Robby chegaram, fachos de luz já iluminavam os pontos mais perigosos da inundação. “Vamos drenar isso aí para o banhado da rua 36”, falou Robby em seguida. “É um a área áre a da prefeitu pre feitura, ra, m as o que acont a contec eceu eu aqui a qui foi ato div divin ino, o, não foi? foi? Me digam — olhem só aquilo lá!” Sobre o topo da cabeça gigante de uma deusa Shiva, duas mulheres boiavam corrent corre ntez ezaa abaix a baixoo de um rio que que se form f ormar ara. a. A estátua estátua tinha tinha se desgarrado desgarra do de um
cenário simulando Burma e ziguezagueava impávida, abrindo caminho e às vezes parando, par ando, a qui e a li, li, e m sola sola vancos vanc os e de desvi svios os à m e dida que a chava cha va espaços espa ços e m meio aos outros destroços da inundação. As duas refugiadas tinham encontrado abrigo num tufo encaracolado sobre a testa nua da estátua e pareciam, à primeir prim eiraa vista, vista, visitantes visitantes fazendo f azendo um inter interessa essante nte tour no local loca l da enche e nchente. nte. “Olh “O lhaa só aquilo, aquilo, Monroe Monroe!” !”,, disse disse Robby. Robby. “Olha só aquelas a quelas senhoras!” senhora s!” Arrastando as pernas para se locomoverem em meio àquele pântano recém-formado, elas conseguiram chegar a uma das margens do curso d’água. Agora dava para vê-las, um pouco assustadas, mas animadas com a perspectiva de um resgate. resgate. “Deví “De víam am os deixá-las deixá-las ir ir em e m bora pelo cano de e scoamento scoam ento”, ”, fal fa lou Robb Robby, y, um cavalheiro cavalheiro,, “m as DeMil DeMille precisa precisa daqu daquela ela cabeça ca beça pra sem ana que vem .” Ele Ele não faria m al a uma m osca, osca, porém, porém , e naquele naquele mome m oment nto, o, com água pela pela cintura, cintura, tentava tentava resgatar r esgatar as mul m ulhere heress com um a vara, var a, mas m as tudo tudo qque ue conseguia conseguia era e ra girá-la em círculos nauseantes. Chegaram reforços, e rapidamente já se comentava como era bonita uma das duas, e em seguida que eram gente importante. Mas não passavam de visitantes comuns, e Robby estava só esperando que as coisas ficassem sob controle para lhes passar uma descompostura. “Ponham essa cabeça de volta aí!”, gritou para elas. “Estão pensando que é um suvenir?” Uma das mulheres deslizou devagar pela bochecha da estátua, e Robby a apanhou e colocou colocou em terra er ra firme; firm e; a outra outra m oça hesi he sittou um um pou pouco, co, mas m as seguiu seguiu a primeir prim eiraa . Robby Robby virou-se para par a Stahr em e m busca de um vere ver e dicto. “O que fazemos com elas, chefe?” Stahr não respondeu. A não mais do que um metro e pouco de distância dele, o rosto de sua falecida esposa lhe sorria debilmente, idêntico até mesmo na expressão. Aquele metro e pouco sob o luar, e ali estavam os olhos que ele conhecia conh ecia e o encaravam encara vam,, a m echa sobre sobre a fronte fronte fam f am iliar balançando de leve leve na brisa; o sorriso sorr iso se m a ntinha, ntinha, um pouquinho pouquinho alterado alter ado m as ainda rec re c onhecível; onhec ível; os lábios se entreabriram — os mesmos. Um medo horrível o tomou, e ele queria gritar bem alto. Ela voltava da câmara mortuária, junto com o deslizar abafado da limusine fúnebre, as flores cobrindo o caixão já perdendo suas pétalas, voltava da escuridão — e ressurgia ali, viva e radiante. O rio passou por ele num turbilhão, os enormes holofotes piscaram súbitos — e ele, então, ouviu uma voz que não era a de Minna. Minna. “Desculpem”, disse a voz. “A gente entrou atrás de um caminhão por um dos portões.” O incidente havia reunido uma pequena multidão — eletricistas, motoristas de caminhão, técnicos em geral — e Robby passou a fustigá-los feito um cão pastor. pastor.
“… peguem as bombas bomba s grandes dos tanques tanques do estúdi estúdioo 4… passem passem um cabo ca bo em torno dessa cabeça, depois icem com umas ripas de dois por quatro… drenem primeiro a água da Selva, pelo amor de Deus… esse cano aí, podem largar… larga r… é tudo tudo plásti plástico co ess e ssee negócio…” Stahr ficou parado observando as duas moças, que seguiam um policial em direção ao portão de saída. Então deu um pequeno passo, experimentando para ver se a fraqueza nos joelhos tinha passado. Um trator barulhento foi chegando aos solavancos solavancos pelo pelo lamaç lam açal, al, e m ais o fluxo fluxo de de homens home ns que, que, ao passar passar perto dele, dele, sorriam, falavam: “Olá, Monroe… Olá, sr. Stahr… noite úmida, sr. Stahr… Monroe… Monroe… Stahr… Stahr… Stahr”. Ele respondia e acenava de volta à medida que o pessoal ia passando na escuridão, acho que parecendo um pouco o Imperador e sua Velha Guarda. Um mundo inexistente, mas com seus heróis, e Stahr era o herói. A maioria daqueles homens estava ali fazia bastante tempo — dos primórdios à grande mudança, quando o som foi introduzido, chegando aos três anos de Depressão, e ele cuidara para par a que nã nãoo sofresse sofr essem m . Antigas lealdade lea ldadess a gora era er a m a baladas, bala das, revela re velava vam m -se pés de barro bar ro por todo lado; m a s e le ainda e ra o homem hom em forte for te daquela daque la ge gente, nte, o último dos príncipes. E era saudado pelos que ali passavam, uma espécie de contid contidaa celebraçã ce lebraçãoo do herói. herói.
3 Da noite em que chegara em casa até o terremoto, eu havia feito muitas observações. Sobre o papai, por exemplo. Eu amava o papai — uma espécie de amor que, num gráfico, faz muitas curvas de queda —, mas comecei a ver que sua firme determinação não o tornava um homem aceitável. A maior parte do que conquistara era fruto de astúcia. Com sorte e sagacidade, tinha adquirido — junto com o jovem Stahr — um quarto do negócio promissor que era aquele circo. Na vida, vida, em penhara-se penhara -se nisso nisso — tudo tudo o mais ma is era er a um inst instin into to par paraa a espera. espera . Ele, Ele, cl c laro, ar o, fazia aquele jogo de cena para Wall Street sobre os mistérios de produzir um filme, mas papai não sabia nem o bê-á-bá da dublagem ou mesmo do processo de montagem. Não que tivesse aprendido muito sobre o espírito da América servindo mesas num bar em Ballyhegan, nem que soubesse grande coisa sobre enredos. Por outro lado, não ficava fingindo que trabalhava, ao contrário de…; chegava ao estúdio antes do meio-dia e, tendo desenvolvido seu senso de desconfiança como quem fortalece um músculo, era difícil que deixasse passar algum algum a coi c oisa. sa. Em Stahr encontrou sua sorte — e Stahr era ainda algo mais. Era um divisor de águas na indústria, como Edison e Lumière, Griffith e Chaplin. Elevava seus filmes muito acima do alcance e do poder do teatro, atingindo uma espécie de era de ouro, anterior à censura. A prova prova de sua sua lidera liderança nça era er a a espionagem espionagem que o rondava rondava — não apenas em busca de inform a ç ões e m primeir prim eiraa m ã o ou de processos proc essos secr se cree tos protegidos por patentes pate ntes —, m as a trás trá s de seu faro fa ro para par a tendência tendê nciass que cairiam ca iriam no gosto popular, popular , de seus palpites sobre como as coisas se desenvolveriam. Consumia além da conta sua vitalidade apenas se esquivando desse assédio. Era isso que tornava seu trabalho algo sigiloso, em parte, muitas vezes furtivo, lento — e tão difícil de ser descrito quanto os planos de um general, em que os fatores psicológicos acabam sendo tão sutis que simplesmente contabilizamos sucessos e fracassos. Mas me comprometi a dar a vocês um vislumbre de como ele trabalhava, e isso justifica o que que se segue. Foi Foi baseado em parte num trabalho trabalho que que escre e screvi vi para a fac f acul uldade, dade, O dia de um produtor , e parte saiu da m inha inha imagin im aginaç ação. ão. Os acont ac ontec ecime iment ntos os que que eu mesma inventei são, no mais das vezes, aqueles mais ordinários, ao passo que os mais estranhos são os verdadeiros. * Na m a nhã seguinte à inundaçã inundaç ã o, logo c e do, um homem hom em se dirigiu dirigiu à sacada sac ada externa do prédio da administração. Deixou-se ficar por ali algum tempo, segundo uma testemunha ocular, então montou no corrimão de ferro e m ergulho ergulhouu de cabeça ca beça para a calçada em baixo baixo.. Balanço Balanço de de fraturas — um um braço. A srta. Doolan, Doolan, secre sec retária tária de Stahr, cont c ontou-lhe ou-lhe sobre o incidente quando ele a
chamou, às nove. Tinha dormido no escritório e não percebera a mais leve perturba per turbaçã ção. o. “Pete “P ete Zavras!”, Za vras!”, exclam e xclamou ou St Stahr, “o “ o cinegrafista? cinegrafista?”” “Foi levado ao consultório de um médico. Não vai sair nos jornais.” “Que encrenca”, disse Stahr. “Sabia que ele estava na pior — mas não o porquê. porquê . Estava bem quando trabalhou tra balhou pra pr a nós há dois anos — por que teria ter ia vindo aqui? Como conseguiu entrar?” “Deu o golpe usando seu antigo crachá do estúdio”, falou Catherine Doolan. Era uma mulher severa, casada com um diretor-assistente. “Talvez o terremoto tenha alg a lgoo a ver com a hist história.” ória.” “Ele era o melhor cinegrafista da cidade”, disse Stahr. Depois de ouvir sobre as centenas de mortos em Long Beach, ainda continuava assombrado pelo suicídio não consumado na madrugada. Mandou que Catherine Doolan acompanhasse o caso. As primeiras mensagens começaram a chegar pelo ditafone na manhã quente. Falava e escutava enquanto fazia a barba e tomava o café. Robby deixara uma mensagem: “Se o sr. Stahr perguntar por mim, que se dane, estou dormindo”. Um ator estava doente, ou achava que estava; o governador da Califórnia daria uma festa; um supervisor havia espancado a esposa com repercussão nos jornais e devia ser “rebaixado a roteirista” — todos os três casos a cargo do papai — a menos que o ator estivesse sob contrato pessoal com Stahr. Uma neve precoce caía numa locação no Canadá com a equipe já no local — Stahr percorreu rapidamente as possibilidades de correção de rumos, revendo o enredo do filme. Nada. Ligou para Catherine Doolan. “Quero falar com o policial que retirou duas moças do terreno dos fundos ontem ontem à noite. noite. Acho Ac ho que que o nome dele é Malone.” Malone.” “Sim “Sim , sr. sr. Stahr Stahr.. Estou Estou com Joe Wy Wy m an na linha linha — é sobre sobre as calça c alças.” s.” “Alô “A lô,, Joe”, Joe” , falou fa lou Stahr Stahr.. “Escute “Esc ute — duas pess pe ssoas oas que assisti assistira ram m às sess se ssões ões de teste reclamaram que em metade do filme a braguilha do Morgan aparece aberta… devem estar exagerando, claro, mas mesmo que apareça só uns segundo segundos… s… não, não, não tenho como com o saber quem são as pessoas, pessoas, mas m as quero que você veja e reveja o filme até encontrar essas cenas. Ponha um monte de gente na sala sala de projeç proj eção ão — alguém alguém há de cons c onsegui eguirr enxergar e nxergar.” .” Tout passe. — L’art robuste Seul a l’éternité.
“E o príncipe da Dinamarca está aí”, disse Catherine Doolan. “É muito bonito…”, bonito…”, e e la se sentiu impeli impe lida da a acre ac resce scentar ntar,, sem se m que houvesse por quê: “… “… em se tratand tratandoo de um homem home m alto”. alto”. “Obrigado”, respondeu Stahr. “Obrigado, Catherine, por me considerar o baixinho ma m a is bonito bonito do peda pe daço. ço. Mande o príncipe pr íncipe dar um passeio passe io pelos ce c e nários nár ios e diga a ele que almoçamos juntos à uma.”
“E também está aí o sr. George Boxley — parece muito irritado, à maneira britânica.” britânica .” “Falo “Falo com ele em e m dez m inut inutos os.” .” Quando ela e la ia saindo, saindo, ele pergunt per guntou: ou: “Robby “Robby ligou? ligou?”. ”. “Não.” “Ligue no departamento e, se souberem dele, mande chamar e pergunte o seguinte. Pergunte o seguinte a ele — se ouviu o nome daquela mulher ontem à noite. De qualquer uma das duas. Ou se ouviu qualquer outra coisa que possa aj ud udar ar a encontrá-las. encontrá-las.”” “Alg “A lgoo m ais?” ais?” “Não, mas diga que é importante tentar saber delas enquanto ele ainda se lembra. Quem eram? Quero dizer, que tipo de gente — pergunte isso a ele, também. Quero dizer, se elas eram…” Ela Ela aguardou, rabisca rabiscando ndo uum m as palavras no bloco bloco sem levantar levantar a vist vista. a. “… ah, se elas eram… suspeitas? Afetadas? Deixa pra lá… esqueça isso. Apenas pergunte pergunte se ele e le sabe com o encontra encontrarr as a s duas.” duas.” O policial, Malone, não sabia de nada. Duas senhoras, ele tinha escoltado as duas, positivo. Uma delas estava machucada. Qual das duas? Uma delas. Tinham um carro, um Chevvy — ele chegou a pensar em lhes apreender a habilitação. A m ais boni bonita ta — era ela e la a que estava estava m achucada? ac hucada? Era um a das duas. Não Nã o sabia sa bia qual — não tinha tinha repar re paraa do em e m nada de difere dife rente. nte. Mesm Me smoo entre e ntre o pessoal pessoa l ali, Minna Minna havia ha via sido esquecida. esquec ida. Em três trê s anos. Assunto e ncerr nce rrado, ado, então. e ntão. Stahr sorriu para o sr. George Boxley. Era um sorriso paternal e gentil, bem diferente daquele de quando era um jovem recém-promovido ao alto escalão. essa época, sorria de maneira respeitosa para os veteranos do ramo até que, m ais tar tarde, de, uma um a vez que suas suas próprias próprias decis dec isões ões já j á sobrepuj sobrepujavam avam as deles, passo passouu a faz f azêê-llo de m odo que que não perce per cebess bessem em isso isso — emergind em ergindo, o, finalme finalment nte, e, o sorriso sorriso de agora: um sorriso bondoso — por vezes um pouco apressado e cansado, mas sempre presente — exibido a qualquer um que não o tivesse irritado na hora anterior. Ou a qualquer um que ele não pretendesse insultar, agressivo e direto. O sr. Boxley não correspondeu ao sorriso. Entrou como se estivesse sendo violentamente arrastado até ali, embora ninguém, aparentemente, o obrigasse. Parou em frente a uma cadeira e, de novo, foi como se dois acompanhantes agarra agar rass ssem em seus braços braç os e o forçass força ssem em a se sentar. sentar. Ali Ali ficou, ficou, contra contrariado. riado. Mesm Mesmoo ao acender um cigarro a convite de Stahr, alguém diria que o fósforo era guiado por forç f orçaa s externa exter nass que ele e le não nã o faz fa zia nenhum ne nhumaa questão que stão de controlar c ontrolar.. Stahr o encarou, cortês. “Alguma coisa errada, sr. Boxley?” O romancista o encarou de volta num silêncio eloquente. “Li sua carta”, disse Stahr. O tom agradável de jovem diretor de escola tinha desaparecido. Falava a um igual, com uma vaga e ambígua deferência.
“Nada do que escrevo é aproveitado”, desabafou Boxley. “Você tem me tratado com muita decência, mas é uma espécie de conspiração. Aqueles dois redatorzinhos com quem você me pôs para trabalhar me escutam, mas depois estragam tudo — parece que o vocabulário deles não passa de umas cem palavra pala vras.” s.” “Por “P or que o senhor não nã o escre esc reve ve sozin sozinho? ho?”, ”, quis sabe saberr Stahr Stahr.. “É o que tenho feito. Te mandei alguma coisa.” “Mas aquilo é só conversa, um fala daqui, outro de lá”, disse Stahr, am enizando enizando o tom tom.. “Interessante, “Interessante, m as nada m ais que que conversa.” A essa altura os dois acompanhantes fantasmas mal conseguiam manter Boxley sentado na cadeira. Ele lutava para se levantar; soltou um único rosnado baixo, algo a lgo sem elhante elha nte a uma um a risada, risada , em e m bora nada diverti diver tida, da, e falou: fa lou: “Acho “Ac ho que vocês não leem coisa nenhuma. Os homens estão duelando quando acontece a conversa. No final, final, um deles cai ca i num num poço e é resgatado num num balde.” balde.” Rosnou osnou de novo e se rec r ecolh olheu. eu. “O senhor escre e screver veria ia isso isso num livro livro seu, sr. sr. Boxley Boxley ?” “Como “Com o é? Claro Claro que não.” nã o.” “Acha banal demais para um livro.” “O padrão dos filmes é outro”, respondeu Boxley, esquivando-se. “O senhor costuma costuma ir ao cinema? cinem a?”” “Não “Nã o — quase quase nunca.” “Será que é porque nos filmes as pessoas estão sempre duelando e caindo em poços?” “Sim — e fazendo expressões faciais cansadas em diálogos incrivelmente forçados.” “Deixe os diálogos de lado um momento”, falou Stahr. “Admito que seus diálogos são mais bem-acabados do que os que esses redatorzinhos são capazes de escrever — por isso o contratamos. Mas vamos imaginar algo que não se resuma nem a diálogos ruins nem a gente pulando em poços. No seu escritório tem uma estufa estufa que acende ac ende com fósforo? fósforo?”” “Acho que sim”, disse Boxley, tenso, “mas nunca uso.” “Suponha que o senhor está em seu escritório. Passou o dia duelando ou escrevendo e está cansado demais para continuar no combate ou na escrita. Está ali parado, olhar perdido — prostrado, como todos ficamos de vez em quando. Uma bela estenógrafa, em quem já tinha reparado, adentra o recinto e o senhor a observa, ocioso. Ela não o está vendo, embora vocês estejam bem próximos. Tira Tira as luvas, luvas, abre a bolsa bolsa e espalha espalha o cont c onteúdo eúdo sobre sobre a m esa…” Stahr ficou de pé, largando o chaveiro sobre a escrivaninha. “Ela tem duas moedas de dez centavos e uma de cinco — mais uma caixa de fósforos. Deixa a moeda de cinco centavos na mesa, põe de volta na bolsa as duas de dez, leva suas luvas pretas até a estufa e, depois de abri-la, coloca as
luvas dentro. Com o único fósforo da caixa, ajoelhada junto à estufa, começa a acendê-la. O senhor repara que um vento mais forte sopra da janela — mas seu telefone toca. A moça atende, diz alô — fica escutando — e então responde, deliberadamente: ‘Nunca tive um par de luvas pretas’. Desliga, ajoelha-se novamente junto à estufa e, no momento em que está acendendo o fósforo, o senhor olha em torno e vê que há outro homem no escritório, a observar cada m ov oviim ento ento da m oça…” Stahr fez uma pausa. Pegou de volta as chaves e as pôs no bolso. “Continu “Continue” e”,, falo fa louu Boxl Boxley, ey, sorrin sorr indo. do. “O que acontec a contece?” e?” “Não “N ão sei”, se i”, disse disse Stahr Stahr.. “Só estava inventando um film film e.” Boxley oxley sentiu sentiu que tinha tinha aca a cabado bado de ser se r ludibriado. ludibriado. “Iss “I ssoo não passa passa de melod m elodra ram m a”, a” , devolv devolveu. eu. “Não necessariamente”, falou Stahr. “Em todo caso, ninguém cometeu nenhuma violência, nem pronunciou um diálogo banal, nem apareceu com alguma expressão facial. Houve uma única fala ruim, e um escritor como o senhor senhor poderia m elhorá elhorá-la. -la. Mas a c ena lhe lhe interesso interessou.” u.” “Par “P araa que ela ia usar a m oeda de cinco?”, cinco?”, quis quis saber Boxl Boxley, ey, evasi eva sivo. vo. “Não sei”, respondeu Stahr. E riu de repente. “Ah, sim… a moeda ela separou pra ir ao cinema.” Os dois acompanhantes invisíveis pareceram liberar Boxley. Ele relaxou, recostou-se em sua cadeira e riu. “Por que diabos você paga meu salário?”, perguntou. “Não entendo patavina desse negócio. ne gócio.”” “Vai acabar entendendo”, falou Stahr, sorriso no rosto, “ou não teria perguntado per guntado sobre a m oeda.” oeda .” * Um homem moreno de olhos esbugalhados esperava do lado de fora do escritório quando saíram. “Sr. Boxley, este é o sr. Van Dyke”, falou Stahr. “O que me conta, Mike?” “Nada”, respondeu Mike. “Só dei uma passada pra conferir se você ainda existia.” “Por que não vai trabalhar?”, devolveu Stahr. “Faz dias que não dou umas risadas no set.” “Estou “Estou com m edo de acabar ac abar tendo tendo um col c olapso apso ner nervos voso.” o.” “Você precisa manter a forma”, disse Stahr. “Vamos ver do que é capaz.” Voltou-se para Boxley: “Mike é quem cria as gags — eu ainda estava nas fraldas e ele já andava por aí. Mostre ao sr. Boxley o truque dos braços abanando, aquele do agarra, agarra , chuta chuta e vaza” vaza”.. “Aqui? “A qui?”, ”, perguntou per guntou Mik Mike . “Aqui mesmo.” “Mas não tem tem espaço. Queria te pergun per gunttar sobre…” sobre…”
“Tem “Tem espaço de m onte.” onte.” “Bem”, ele olhou em torno, avaliando. “Você dá o tiro.” A assistente da srta. Doolan, Katy, apanhou um saco de papel e o encheu de ar. “Essa é uma rotina”, Mike explicou a Boxley, “dos tempos de Keystone.” Virou-se para Stahr: “Ele sabe o que é uma rotina?”. “É um número”, Stahr esclareceu. “George Jessel falava da ‘rotina representada por Lincoln em Gettysburg’.” Katy mantinha a boca do saco cheio de ar próxima à sua própria, pronta para par a com c omee çar ça r. Mik Mike estava e stava de c osta osta s para par a ela. e la. “Podemos?”, perguntou Katy. Desceu a mão contra a lateral do corpo. Imediatamente ele agarrou o traseiro com ambas as mãos, saltou no ar, deslizando e tirando os pés do chão um após o outro, mas sem sair do lugar, e batendo bate ndo os braços braç os duas vezes fe ito ito um pássaro… pássa ro… “Braços “Bra ços abana a banando”, ndo”, most m ostrou rou Stahr Stahr.. … então correu para fora do recinto pela porta de tela que o contínuo segurava segurava aberta para ele e desapare desapareceu ceu da vist vistaa ao passar passar pela pela j anela da sacada. saca da. “Sr. Stahr”, disse a srta. Doolan, “o sr. Hanson está na linha, de Nova York.” Dezz m inut De inutos os depois, depois, desligou desligou o ditaf ditafone one e a srta. Doolan entrou e ntrou no escrit escr itório. ório. Uma das estrelas do elenco masculino o aguardava no vestíbulo, informou a secretária. “Diga a ele que deixei deixei o prédio pela pela sacada”, saca da”, ele e le a inst instrui ruiu. u. “Certo. “Certo. É a quarta vez que aparec apar ecee est e staa sem ana. Pare P arece ce m uito uito ansios ansioso.” o.” “Deu “De u algum algum a pista pista do que que est e stáá querendo? quer endo? Será er á que não nã o é alg a lgum umaa coi c oisa sa que o sr. sr. Brady possa possa resol re solver ver??” “Ele não disse. Está quase na hora da sua reunião. A srta. Meloney e o sr. White já chegaram. O sr. Broaca está aqui ao lado, no escritório do sr. Reinmund.” “Mande “Ma nde o sr. sr. Roderiguez Roderiguez entrar”, entrar ”, decidiu de cidiu Stahr Stahr.. “Dig “D igaa que não nã o tenho mais m ais do que um m inut inutoo pra atendê-lo.” atendê-lo.” Stahr perm aneceu anec eu de pé quand quandoo o belo ator entrou. entrou. “Que “Q ue assu a ssunto nto é ess e ssee tão urgente?”, urgente?”, pergunto pe rguntou, u, sim sim pático. pático. O at a tor teve o cuidado cuidado de esp e spera erarr at a té que a srta. srta. Doolan Doolan tivess tivessee se ret re tirado. “Monroe, “Monroe, est e stou ou acabado”, aca bado”, diss dissee ele. “Pr “ Prec ecis isava ava te ver.” ver.” “Acabado!”, falou Stahr. “Viu a Variety ? Seu filme continua em cartaz no Roxy e fez f ez trint trintaa e sete mil m il em Chica hicago go nnaa sem ana passada.” passada.” “Isso é que é o pior. Essa é que é a tragédia. Consigo tudo que quero e não signi significa fica nada.” nada .” “Bem , vam os lá, lá, expl e xpliq ique ue isso.” isso.” “Está tudo terminado com a Esther. Não pode mais haver nada entre nós, nunca nun ca m ais.” ais.”
“Um a briga.” briga.” “Ah, não — pior — não consigo nem falar. Minha cabeça está virada do avesso ave sso.. Ando por aí feit fe itoo um louco. louco. Tenho Tenho atuado com c omoo um sonâm sonâm bulo.” bulo.” “Não reparei”, disse Stahr. “Você estava ótimo nas filmagens de ontem.” “Estava? “Estava? Isso Isso só m ostra ostra que as a s pessoas pessoas nunca nunca se aperc a percebem ebem .” “Está tentando me dizer que você e a Esther estão se separando?” “Acho que é o que vai acabar acontecendo. Sim — inevitavelmente —, vai acontecer.” “Que foi que houve?”, quis saber Stahr, impaciente. “Ela entrou sem bater?” “Ah, não, não tenho outra. O problema é comigo — só comigo. Estou acabado.” Stahr compreendeu de repente. “Como “Com o sabe que é isso? isso?”” “Faz seis semanas que estou assim.” “É sua imaginação”, falou Stahr. “Já foi a um médico?” O at a tor aquiesceu. “Tentei “Tentei de tudo. tudo. Cheguei Cheguei até… um dia, dia, em e m desespero, cheguei mesm m esmoo a ir… ao Claris. Mas não adiantou nada. É o meu fim.” Stahr teve a tentação travessa de lhe dizer que procurasse Brady. Era ele quem resolvia todas as questões de relações públicas. Ou será que aquilo se encaixava em relações privadas? Desviou o rosto por um momento, recobrou uma expressão controlada, voltou a olhar para o ator. “Já falei com Pat Brady”, disse o astro, como se adivinhasse seu pensam pensa m ento. “ Ele m e deu uma um a porção porç ão de conselhos conse lhos inócuos, tentei todos, todos, m as nada. Sento Sento diant diantee da Esther Esther na hora do jantar j antar e tenho tenho vergonha vergonha de encará enca rá-la. -la. Ela Ela tem sido muito generosa quanto ao problema, mas estou envergonhado. Sinto vergonha o dia todo. Acho que Dia c huvoso faturou vinte e cinco mil em Des Moines e quebrou todos os recordes em St. Louis, fez vinte e sete mil em Kansas City. As cartas de fãs não param de chegar, e aqui estou eu, com medo de ir pra casa à no noiite, com m edo de de ir pra cam a.” Stahr começou a se sentir levemente oprimido. De início, quando o ator entrou no escritório, tinha a intenção de convidá-lo para um coquetel, mas isso parec par ecia ia fora for a de questão questã o agora. agor a. O que teria ter ia o homem hom em a faz fa ze r num c oquetel oquete l com c om aquilo a atormentá-lo? Visualizou o ator na festa, rondando feito um fantasma de um convidado a outro, um drinque na mão e um faturamento que chegava a vint vintee e sete se te mil m il.. “Por isso te procurei, Monroe. Nunca vi uma situação para a qual você não encontrasse uma saída. Falei pra mim mesmo: mesmo que ele me aconselhe a m e m atar, vou per pergun gunttar ao Monroe.” Monroe.” A campainha soou na mesa de Stahr — ele ligou o ditafone e ouviu a voz da srta. Doolan.
“Cinco minutos, sr. Stahr.” “Desc “D escul ulpe” pe”,, respon re spondeu deu Stahr Stahr.. “Vou “Vou precis prec isar ar de outros cinco.” “Quinhentas colegiais foram em procissão da escola até minha casa”, contou o ator, pesaroso, “e fiquei lá, atrás das cortinas, observando-as. Não conseguia sair.” “Senta aí”, falou Stahr. “Vamos conversar com calma o tempo que precisa pre cisarr.” No vestíbulo, vestíbulo, dois dos parti par ticipa cipantes ntes da reunião re união j á estavam esta vam espera espe rando ndo havia dez minutos — Wylie White e Jane Meloney. Ela era uma loira baixinha e muito magra de uns cinquenta anos sobre a qual circulavam cinquenta opiniões diversas em Hollywood — “uma tola sentimental”, “a melhor roteirista de Hollywood”, “uma veterana”, “aquela velha redatorazinha”, “a mulher mais inteligente do pedaço” peda ço”,, “a “ a m ais esper e sperta ta plagiadora pla giadora do cinem c inemaa ” ; além alé m , clar c laro, o, de outras outra s varia va riadas das descrições, como ninfomaníaca, virgem, fácil, lésbica, esposa fiel. Sem ser uma solteirona, passava, como a maioria das mulheres que se fazem por si mesmas, essa impressão. Tinha úlceras estomacais e seu salário ultrapassava os cem mil por a no. Um tratado tra tado c omplexo om plexo poderia poder ia ser e scrit scr itoo sobre se “ valia o preç pre ç o” ou mais do que isso, ou se não valia era nada. Sua apreciação se baseava em qualidades ordinárias, como os fatos elementares de ser mulher e adaptável, rápida e confiável, ou de “conhecer o jogo” e não ser egocêntrica. Havia sido grande amiga de Minna e, ao longo dos anos, Stahr conseguira superar em relação relaç ão a ela alg a lgoo qu quee chegava c hegava ao a o po pont ntoo de uma um a agud a gudaa repul r epulsa sa física. física. Ela Ela e Wy lie lie esp e sper eravam avam em sil silêncio — come ntando ntando algum algumaa coi c oisa, sa, aqui e ali a li,, com a srta. Doolan. A intervalos de poucos minutos, Reinmund, o supervisor, vinha de seu escritório, onde ele e Broaca, o diretor, aguardavam. Passados dez minutos, Stahr chamou, e a srta. Doolan avisou Reinmund e Broaca; ao mesmo tempo, Stahr e o ator saíam do escritório, Stahr levando o outro pelo braço. Este vinha tão nervoso agora que, quando Wylie White lhe perguntou como estava, ele abriu a boca e começou a contar tudo ali mesmo. “Ah, estou passando por um momento terrível”, falou, mas Stahr o interr interrom ompeu, peu, rís r íspid pido. o. “Não, “Nã o, não não est e stá. á. Agora vá e faç f açaa seu papel do jeit je itoo qu quee falei f alei pra faz fa zer.” er.” “Obrigado, Monroe.” Jane Meloney, Meloney, quieta, o observou se retirar r etirar.. “Alguém andou roubando a cena dele?”, perguntou — e a expressão, nesse caso, foi usada literalmente. “Desculpem por fazê-los esperar”, disse Stahr. “Entrem.” * Já era meio-dia, e os participantes da reunião teriam direito a uma hora, exatamente, do tempo de Stahr. Não menos, pois uma reunião como aquela só podia ser inte inte rrom rr ompida pida por algum diretor dire tor e m apuros apur os com suas filma film a gens;
tampouco muito mais, pois, a cada oito dias, o estúdio tinha de lançar uma Milagre , de Reinhardt produção produç ão com c ompli plica cada da e c ara ar a com o Milagre einhar dt.. Ocasionalmente, e isso agora era menos frequente do que cinco anos antes, Stahr trabalhava a noite toda num único filme. Mas ficava mal durante dias depois de uma maratona dessas. Se conseguisse passar de um problema a outro, renascia em sua vitalidade a cada alternância. E, por ser uma daquelas pessoas capazes de ir dormir e acordar à hora que bem entendem, mantinha o relógio psic psic ológic ológic o progra progr a m a do para par a períodos pe ríodos de um a hora. hora . A equipe ali reunida incluía, além dos roteiristas, Reinmund, um dos super supervi visores sores m ais prestigi prestigiados, ados, e John Broa Broaca ca,, dire diretor tor do film film e. À primeira vista, Broaca era um técnico de corpo e alma — grande e fleumáti fleumá tico, co, determ inado inado à sua sua m aneira tranquil tranquila, a, simpática simpática.. Era um sim sim plório plório,, e Stahr com frequência o flagrava fazendo as mesmas cenas repetidamente — uma dessas, mostrando uma menina rica, aparecia em todos os seus filmes com a mesma ação, ilustrada pela mesma sequência. Um bando de cachorros grandes adentrava a cena pulando ao redor da menina. Depois, ela ia a um estábulo e chicoteava um cavalo nas ancas. A explicação provavelmente não tinha nada de freudiana; mais provável que, num momento insosso de sua uventude, uventude, ele tenha vist visto, o, do outro outro lado de de uma cerc ce rca, a, uma um a bela be la menin m eninaa rodeada de cães e cavalos. Aquilo ficou gravado em seu cérebro para sempre como marca registrada de glamour. Reinmund era um jovem bonito e oportunista com uma formação bastante boa. De início início homem hom em de algum c ará ar á ter, ter , dia a dia ia sendo força for çado, do, por sua posiçã posiçãoo anôm a nômala ala,, a m odos escusos e scusos de a gir e pe pensar nsar.. Era Er a um home hom e m m a u agora a gora,, como outros. Aos trinta, não tinha nenhuma das virtudes admiráveis ensinadas tanto aos gentios americanos como aos judeus. Mas terminava seus filmes nos praz pra zos e , ao m anifesta anif estarr uma um a fixaç fixa ç ão quase homossexua hom ossexuall em Stahr, tahr , pare par e cia ter amolecido a habitual agressividade do chefe. Stahr gostava dele — considerava-o um bom pau pra toda toda obra. Wylie White, claro, seria considerado um intelectual de segunda linha em qualquer outro país. Era civilizado e eloquente, ao mesmo tempo simples e perspi per spicc a z, m eio confuso conf uso e m e io a ntipático. ntipático. Seu c iúme iúm e de Stahr se m ostra ostrava va apenas em vislumbres que lhe escapavam ao controle, misturado à admiração e m esmo ao afeto. “A produção deve se iniciar em duas semanas a partir de sábado”, falou Stahr. tahr. “Acho “A cho que, que , no geral, gera l, está está tudo tudo certo ce rto — melhorou m elhorou mui m uito. to.”” Reinmund einm und e os dois dois roteiristas roteiristas troc trocar aram am olhar olhares es congratul c ongratulatórios atórios.. “Exceto por uma coisa”, continuou Stahr, pensativo. “Não vejo nenhuma razão pra esse film film e ent e ntrar rar em produçã produção, o, e decidi deixá-lo deixá-lo de lado.” lado.” Houve um momento de silêncio e perplexidade — e, em seguida, m urm úrios de prot pr otesto, esto, inqui inquiriçõe riçõess ofendidas.
“Não é culpa de vocês”, disse Stahr. “Pensei que tínhamos algo nas mãos, mas era outra coisa — só isso.” Hesitou, olhando pesaroso para Reinmund: “É uma pena — a peça é boa. Pagamos cinquenta mil por ela”. “Qual é o problem problemaa com o roteiro, roteiro, Monroe? Monroe?”, ”, cort c ortou ou Broac Broaca. a. “Bem, “Bem , é que não parece parec e que valha mui m uitto a pena levá-lo adiante”, adiante”, resp re spond ondeu eu Stahr. Tanto Reinmund como Wylie White pensavam nas consequências profiss prof issionais ionais de tal decisão. dec isão. Reinmund Reinm und e stava assinando dois fil f ilm m e s naquele naque le a no — m a s Wy lie lie White precisa pre cisava va botar o nome nom e em a lgum, se queria quer ia com eçar eç ar a voltar à cena. Jane Meloney observava, atenta, com pequenos olhos de caveira, os movimentos de Stahr. “Não dá pra você nos dar uma pista?”, perguntou Reinmund. “Essa decisão é uma um a trem enda inver inverttida, ida, Monroe.” Monroe.” “Simplesmente não colocaria Margaret Sullavan num filme desses”, falou Stahr. “Ou Colman, tampouco. Não diria aos dois pra atuarem nele…” “Especificamente, Monroe”, apelou Wylie White. “Do que é que você não gostou? Das cenas? Dos diálogos? Do humor? Da estrutura?” Stahr apanhou o roteiro de cima da mesa, abandonando-o, por assim dizer, fisicam fisicamente ente de volta, volta, como c omo se fosse fosse pesado demais. dem ais. “Não gosto das pessoas nele”, disse. “Não gostaria de encontrá-las — se soubess soubessee que elas est e stariam ariam em determ inado inado lugar, lugar, iria pra outro.” outro.” Reinmund sorriu, sorriu, mas ma s seus olh olhos os deixavam deixavam trans ra nspare parece cerr preocupaçã pre ocupação. o. “Bem, isso é uma crítica e tanto”, observou. “Achei os personagens bem interessantes.” “Eu também”, concordou Broaca. “Achei a Em uma personagem muito simpática.” “Achou, é?”, devolveu Stahr, brusco. “Ela mal conseguiu me convencer de que estava viva. E, quando cheguei ao final, falei pra mim mesmo: ‘E daí?’.” “Deve haver alguma coisa que possamos fazer”, falou Reinmund. “Naturalmente ficamos mal com a situação. Era essa a estrutura que concordam os que que o film film e teria…” “Mas o problema não é o enredo”, disse Stahr. “Já te falei muitas vezes que a primeira coisa que decido é que tipo de história eu quero. Podemos mudar qualquer coisa, mas, uma vez decidido, devemos trabalhar de acordo em cada fala e em cada movimento. Esse não é o tipo de história que eu quero. A que compramos tinha brilho e graça — era uma história feliz. O roteiro é cheio de dúvid dúv idaa e hesitaçã hesitação. o. O herói e a heroína heroína deix de ixam am de se am a m ar por mot m otiv ivos os banais banais — aí volt voltam am a se am ar por banalidades banalidades semelhant sem elhantes. es. Depois Depois da primeira prime ira sequência, a gent ge ntee não está mais m ais lig ligando ando se ela nunca m ais vol voltar tar a vê-lo ou ele, a ela.” “A culpa é minha”, falou Wylie, súbito. “Sabe, Monroe, não acho que as estenógrafas mantenham a mesma admiração patética por seus chefes que
tinham em 1929. Elas foram demitidas — conheceram a inconstância de seus patrões. patr ões. O m undo muda, m uda, só isso.” Stahr olhou olhou para ele com c om impaciência, impac iência, aquiesce aquiescendo ndo de de leve. “Isso não está em discussão”, respondeu. “O pressuposto da história é que essa moça tinha, sim, pelo chefe dela uma admiração patética, se é assim que você quer chamar. E não havia nenhuma indicação de que ele tivesse sido inconstante. Se a gente a faz duvidar dele, de qualquer forma, é um tipo diferente de história. Ou melhor, não tem história nenhuma. Essas pessoas são do tipo extrovertido — entenda de uma vez — e quero que esbanjem extroversão. Quando qui quiser ser fil f ilm m ar uma um a peça pe ça do Eugene Eugene O’Neil O’Neill,l, eu compro c ompro um a.” Jane Meloney, que em momento algum tirara os olhos de Stahr, soube que as coisas ficariam bem agora. Se ele fosse realmente abandonar o filme, não teria feito aqueles comentários. Ela estava no negócio havia mais tempo do que qualquer qualquer um ali, ali, excet exce to B Broac roaca, a, com c om quem tivera tivera um caso ca so de de três trê s dias dias vint vintee anos a nos antes. Stahr virou-se para Reinmund. “Pelo elenco você deveria ter entendido, Reiny, o tipo de filme que eu queria. Com Comec ecei ei por por m arcar arc ar as falas fa las que que não podiam podiam ser de Corlis Corlisss e McKelway e fui me cansando. Lembre disso no futuro — se mando buscar uma limusine, quero esse tipo de carro. E o carro de corrida mais rápido que você já viu não me serve. E então” — ele olhou ao redor — “continuamos? Agora que eu já disse a vocês que não gosto nem mesmo do tipo de filme que temos aqui? Seguimos em frente? Temos duas semanas. Depois disso, coloco Corliss e McKelway nesse nesse fil f ilm m e ou em algum algum a outra outra coisa coisa — vale a tentativ tentativa? a?”” “Bem, naturalmente”, falou Reinmund, “acho que vale. Eu me sinto mal pela situaç situaçãã o. Devia De via ter a lertado ler tado o Wy Wy lie. lie. P e nsei que ele e le tinha tinha uma um a s boas ideias.” “Monroe tem razão”, disse Broaca, seco. “Senti o tempo inteiro que a coisa estava errada, mas não podia botar a mão.” Wylie e Rose o miraram com ódio e trocaram olhares. “Vocês, roteiristas, acham que conseguem se animar e retomar esse negócio?”, quis saber Stahr, num tom que não chegou a ser indelicado. “Ou devo tentar tentar alguém novo? novo?”” “Eu gostaria gostaria de m ais um um a chance c hance”, ”, diss dissee Wy Wy lie. “E você, Jane?” Ela Ela concordou, bre breve. ve. “O que você acha da moça?”, perguntou Stahr. “Bem… “Bem … obvi obviam am ente sou sus suspeit peita, a, e em favor fa vor dela.” “Melhor esquecer isso”, avisou Stahr. “Dez milhões de americanos reprovariam aquela garota se ela chegasse às telas. Temos uma hora e vinte e cinco minutos de projeção — se a menina aparece sendo infiel a um homem durante durante um terço desse tempo, tem po, a impressão im pressão é de que ela e la é um terço er ço prostit prostitut uta.” a.”
“E isso é muito?”, respondeu Jane, matreira, e todos riram. “Pra “P ra m im é”, é” , diss dissee Stahr, Stahr, pensativ pensativo, o, “mesm “m esmoo que que não sej a para par a o pessoal pessoal da cens ce nsura. ura. Se Se o que você quer é lhe aplica aplicarr às à s costas costas uma um a letra escarlate, e scarlate, tudo tudo bbem em , mas essa é outra história. Não esta história aqui. A moça é uma futura esposa e mãe. P orém… orém… porém …” Ele apontou para Wylie White com o lápis. “… até aquele aquele Oscar em cima da mi m inh nhaa m esa é m ais passi passion onal. al.”” “Qual é!”, retrucou Wylie. “A moça é toda paixão. Tanto que…” “Ela até que é bastante saidinha”, disse Stahr, “mas não passa disso. Tem uma cena na peça que é melhor do que toda esta coisa aqui, e você a deixou de fora. É quando a m oça, tentando tentando faz fa zer passar passar o tempo, tem po, adianta adianta o rel re lógio.” ógio.” “Não “Nã o encaixava enc aixava no rot r oteiro”, eiro”, desculpou-s desculpou-see Wy lie. lie. “Pois”, falou Stahr, “tenho umas cinquenta ideias. Vou chamar a srta. Doolan”, Doolan”, ele e le pressiono pressionouu um botão, botão, “e, “e , se vocês não ent e ntendere enderem m algum algum a coisa coisa do que vou dizer dizer,, avisem …” A srta. Doolan assumiu seu posto quase imperceptivelmente. Em passos lépidos de um lado ao outro do assoalho, Stahr começou. A primeira coisa que queria fazer era lhes dizer que tipo de moça ela era — qual era o tipo de garota que ele aprovava ali. Era uma mocinha perfeita com alguns pequenos defeitos, como na peça, mas uma garota perfeita não porque o público a quisesse desse eito, e sim porque era o tipo de garota que ele, Stahr, gostava de ver nesse tipo de hist históri ória. a. Estava Estava claro? c laro? Não era e ra pra ser uma um a person pe rsonagem agem , propriam propriamente. ente. Ela Ela se destacaria pela saúde, pela vitalidade, pela ambição e pelo amor. Todo o diferencial da peça estava na situação em que ela se encontrava. Passava a possuir possuir um segre segr e do c apaz apa z de afeta af etarr um grande gra nde núme núm e ro de vidas. Ha Havia via a coisa certa a fazer e a coisa errada — de início, não ficava claro qual era qual, mas então, quando isso se esclarecia, ela ia lá e fazia. Era esse o tipo de história naquele naquele caso c aso — econômica, econômica , enxuta enxuta e luminosa. luminosa. Sem Sem deixar deixar m argem arge m a dúvidas. dúvidas. “Ela nunca ouviu falar de questões trabalhistas”, ele disse, soltando um suspiro. “Mesmo que esteja vivendo em plena crise de 1929. Está claro o tipo de garota que eu quero?” “Muito “Muito claro, c laro, Monroe.” “Agora falemos das coisas que ela faz”, continuou Stahr. “O tempo inteiro e a qualquer momento em que ela estiver na tela, à nossa frente, vai estar querendo dormir com Ken Willard. Está claro, Wylie?” “Passi “P assional onalm m ente claro.” “O que quer que ela faça, será visando ir pra cama com Ken Willard. Se estiver caminhando pela rua, é pra ir dormir com Ken Willard; se estiver comendo, com endo, é pra est e star ar m ais dis dispos postta na hora de dormir dorm ir com Ken Willard. Willard. Mas e m momento algum passamos a impressão de que ela sequer considera ir pra cama com Ken Willard, a menos que a união dos dois tenha sido adequadamente
sacramentada. Fico constrangido por ter de explicar a vocês essas questões tão elementares, mas elas, por alguma razão, escaparam à história.” Abriu o roteiro e passou a examiná-lo página por página. As anotações da srta. srta. Doolan Doolan seriam ser iam datil datilografadas ografa das em cinco cópias cópias e entregues a todos todos,, mas m as Jane Meloney Meloney tom tom ava as próprias próprias notas. notas. Broac Broacaa levou a m ão aos a os ol olhos m eio fechados fec hados — ele e le ainda a inda se lem brava bra va do tem po em e m que “um diretor dire tor signific significaa va a lguma coisa por a qui”, quando os roteirist rote iristas as e ram ra m o pessoal pessoa l da dass gags, ou então jovens repórteres, ávidos e encabulados, mamados de uísque — o diretor era a figura principal principa l na época é poca.. Nada Na da de supervis super visor or — nada na da de Stahr. tahr. Começou ome çou a despertar a o ou ouvi virr seu nome. nome . “Seria ótimo, John, se você pudesse colocar o rapaz sobre um telhado saliente e o fizesse caminhar por ali com a câmera nele. Talvez consiga um efeito interessante — não de perigo, não de suspense, nada que aponte pra algo significativo —, só um rapaz em cima do telhado de manhã.” Broaca voltou a si e à sala. “Certo”, “Certo”, concordou, concordou, “… um toque toque de perigo, perigo, apenas.” a penas.” “Não exatamente”, respondeu Stahr. “Não é que ele vá cair do telhado. Corta orta dali pra próxim próxim a cena.” ce na.” “Pela janela”, sugeriu Jane Meloney. “Ele podia entrar pela janela do quarto da irmã .” “É um a boa passagem”, passagem ”, concordo c oncordouu Stahr Stahr.. “Direto pra cena ce na do diário.” diário.” Broaca estava bem desperto agora. “Vou apontar a câmera pra ele”, falou. “Deixá-lo se afastar da câmera. Uma Um a tomada toma da fixa a parti pa rtirr de um a boa distância distância — e deixá-lo ir se afa a fast stando. ando. Não sigo atrás. Começo com uma tomada próxima e de novo o deixo ir. Sem dar destaque ao rapaz, exceto no contraste com o resto do telhado e o céu.” Gostou da sequência — era o tipo de cena de diretor que não se via mais em nenhuma página de roteiro. rote iro. P e nsou em recor re corre rerr a uma um a grua — e ra m a is bara bar a to do que construir, no chão, um telhado com um céu artificial. Aquilo era bem do feitio de Stahr — o céu, literalmente, era o limite. Fazia tempo demais que trabalhava com judeus para ainda acreditar na lenda de que eram sovinas. “Na terceira terce ira sequência ele ace a certa rta o padre”, padre” , diss dissee Stahr Stahr.. “O quê?”, quê?”, berrou ber rou Wy Wy lie. lie. “E “ E ter os cató ca tóli licos cos pegando pega ndo no nosso nosso pé?” pé?” “Falei “Falei com Joe Joe Breen. Bree n. Houve Houve caso ca soss de padres agredi agre didos dos.. Não vai pegar m al com eles.” eles.” Seguia eguia adi a diante, ante, em tom tom calmo ca lmo — e de repent re pentee parou, par ou, no momento mom ento em que a srta. Doolan deu uma olhada para o relógio. “É m uita uita coisa coisa pra vocês aprontar aprontarem em até segunda?”, segunda?”, quis quis saber de Wy lie. lie. Wylie olhou para Jane, que olhou de volta, mas nem se deu ao trabalho de consentir. Wylie percebeu que o fim de semana ia por água abaixo, mas era um homem diferente daquele que adentrara o escritório. Quando se está ganhando
mil e quinhentos por semana, trabalho extra não é alguma coisa que se estranhe, ainda mais quando seu filme está ameaçado. Como escritor freelancer, Wylie fracass frac assara ara po porr fal fa lta de dedica dedicação, ção, mas m as agora havia havia al a lgu guém ém a quem se dedicar dedicar,, e logo logo quem, quem , Stahr Stahr.. A sensação sensaç ão não nã o passaria ao deix de ixar ar o escrit escr itório ório — nem enquanto estivesse estivesse por ali, no estúdi estúdio. o. Senti Sentiaa um grande gra nde senso se nso de propósito propósito.. Aquela m istu istura ra,, pouco tem po antes ante s enunciada enunc iada por Stahr, tahr , de sensatez, sensa tez, sensibilidade sensibilidade prudente, prude nte, engenhosidade afetada e uma certa concepção meio ingênua do vergão infligido coletivamente o inspirava a fazer sua parte, a contribuir com seu tijolo, ainda que tal esforço estivesse condenado de saída, que o resultado fosse se revelar tão sem graça quanto uma pirâmide. Pela janela, Jane Meloney observava o fio d’água que descia até o refeit ref eitóri ório. o. Alm Alm oçaria oçar ia em seu escrit escr itório ório e, enquanto enquanto estivess estivessee esperando espera ndo a com ida ida chegar, tricotaria algumas carreiras. O homem viria à uma e quinze trazendo o perfum per fum e franc fr ancêê s contrabande contra bandeado ado pela fronteira fr onteira m e xicana xica na.. Não Nã o com c ometia etia nenhum peca pec a do — era er a com o violar violar a Lei Le i Se Se ca. ca . Broaca ficou vendo Reinmund bajular Stahr. Sentia que Reinmund estava ganhando espaço. Seu salário era de setecentos e cinquenta por semana para exercer autoridade parcial sobre diretores, roteiristas e astros que recebiam m uit uito mais m ais.. Usava um par de sapatos ingl ingleses eses baratos bar atos que que havia compra c omprado do perto de Beverley Wilshire, e que Broaca esperava que estivessem lhe apertando os pés, m as logo estaria esta ria m andando anda ndo buscar busca r uns pare par e s na P eel’ ee l’s e abandonar aba ndonaria ia seu chapéu tirolês enfeitado com uma pena. Tinha feito bonito na guerra, porém nunca nun ca m ais se se sentiu sentiu em paz consigo consigo mesmo me smo desde o tapa de m ão espalma da que levou de Ike Franklin. A sala estava enfumaçada e, detrás da fumaça, detrás de sua mesa, Stahr se recolhia cada vez mais, ainda cortês, um ouvido dedicado a Reinmund, o outro à srta. Doolan. A reuni re união ão tinha tinha acaba ac abado. do. * [ Stahr deveria receber, em seguida, o príncipe Agge, da Dinamarca, o qual “queria aprender aprender do c omeç o sobre sobre cinema” e aparec aparec e na list lista a de personagens personagens do autor descrito como “um pioneiro fascista”. ]
“O sr. Marcus está ligando de Nova York”, disse a srta. Doolan. “Como “Com o ass a ssim?”, im?”, pergunt per guntou ou Stahr Stahr.. “P “ P ois ois eu o vi aqui ontem ontem à noite.” noite.” “Bem, ele está na linha — é uma ligação de Nova York e a voz é da srta. Jacobs Jac obs.. É do escritóri e scritórioo dele.” Stahr soltou soltou uma um a risada. “Vou “V ou encontra encontrarr com c om ele no almoço”, alm oço”, falo fa lou. u. “Não exi e xist stee um avião tão tão rápi rá pido do que seja sej a capaz c apaz de de trazê-lo a tem po.” po.” A srta. Doolan Doolan voltou voltou ao telefone. telefone . Stahr Stahr esperou e sperou para par a ver o que ela e la diria. “Está certo”, logo veio dizer a srta. Doolan. “Foi um engano. O sr. Marcus ligou igou para a Cost osta Leste, Leste, pela pe la manhã, m anhã, cont c ontando ando sobre sobre o terrem terre m oto oto e a inund inundaç ação ão
no terreno dos fundos, e parece que disse ao pessoal lá que perguntasse a você. Era uma secretária nova que não entendeu o sr. Marcus. Acho que ela se confundiu.” “Acho “A cho que sim”, sim ”, disse disse Stahr, tacit tac iturno. urno. O príncipe Agge não entendeu nenhum dos dois, mas, querendo encontrar algo de fabuloso, interpretou aquilo como algo triunfantemente americano. O sr. Marcus, cujas salas ficavam logo ali, no corredor, havia telefonado para o escritório de Nova York a fim de perguntar a Stahr sobre a inundação. O príncipe ficou fantasiando fantasiando algum algum tipo tipo de intri intrica cada da relaç r elação, ão, sem se dar conta conta de que aquela confusão se desenrolara inteiramente no outrora brilhante e afiado cérebro do sr. Marcus, que que cada ca da vez mais ma is am iúde iúde vinha vinha falhando f alhando.. “Acho que devia ser uma secretária recém-contratada mesmo”, repetiu Stahr. “Alguma outra mensagem?” “O sr. Robinson ligou”, informou a srta. Doolan, já se encaminhando para o refeitório. “Disse que uma das mulheres falou o nome, mas ele esqueceu — acha que era Smith ou Brown ou Jones.” “Grande ajuda.” “E lembra lem bra de ela ter dito dito qu quee aca a cabou bou de se m udar pra Los Angeles.” Angeles.” “Lembro que ela usava um cinto prateado”, falou Stahr, “com estrelas recortadas.” “Ainda estou tentando descobrir mais notícias sobre Pete Zavras. Falei com a esposa esposa dele.” “O que ela e la disse? disse?”” “Ah, que eles passaram por coisas terríveis — perderam a casa, ela doente…” “E o problema de vista?” “Ela parecia não saber nada a respeito do problema dele. Nem fazia ideia de que est e stáá ficando f icando cego.” “Estranho.” Pensou no assunto a caminho do almoço, mas era um negócio tão confuso quanto o problema do ator que o procurara naquela manhã. Os problemas de saúde das pessoas não pareciam ser da sua alçada — não se preocupava nem com os seus próprios. Na alameda próxima ao refeitório, esperou passar um caminhão que, carregado de meninas em figurinos brilhantes da época da Regência, vinha do terreno dos fundos. Trajes ao vento, os jovens rostos m aquiados aquiados o encara enca ravam vam,, curioso curiosos, s, e ele, e le, enquanto enquanto passavam passavam , respondeu respondeu com um sorriso. Onze homens e seu convidado, o príncipe Agge, se sentaram à mesa do salão privativo do refeitório do estúdio para almoçar. Eram os homens do dinhei dinheiro ro — os mandac m andachuv huvas; as; a m enos que que tivessem ivessem um convidado, convidado, comiam com iam num silêncio entremeado, por vezes, de perguntas sobre as esposas e os filhos uns dos
outros, ou, absortos na superfície de suas consciências por alguma questão, comentavam-na. Oito a cada dez deles eram judeus — cinco em dez, estrangeiros, incluindo um grego e um inglês; e se conheciam todos fazia muito tempo: havia uma hierarquia no grupo, do velho Marcus ao velho Leanbaum, que era quem tinha comprado o lote de ações mais privilegiado do negócio e jamais ganhava perm issão issão de ultrapass ultrapassar ar um m ilhão ilhão por por ano a no com seus film film es. O velho Marcus ainda se mantinha capaz de, com inquietante desenvoltura, desempenhar suas funções. Um instinto que parecia nunca atrofiar o alertava do perigo, per igo, de com c omplôs plôs c ontra ele e le — quando os dem de m a is o c onsider onsiderava avam m a cuado cua do é que se tornava, ele próprio, mais perigoso. Seu rosto pálido havia adquirido tal imobilidade que, mesmo aqueles acostumados a observar-lhe o reflexo do canto interno do olho, deixaram de poder vê-lo. A natureza colocara ali, para encobrir, suíças brancas; a armadura estava completa. Enquanto Marcus era o mais velho, Stahr era o mais novo do grupo — àquela altura a discrepância de idades não era tanta, embora ele tivesse começ com eçado ado a se sentar sentar entre aquel a queles es senhore senhoress sendo sendo ainda ainda um m enino enino prodígi prodígioo de vinte e dois anos. Na época, mais do que agora, um homem do dinheiro entre iguais. Naquele tempo, era capaz de calcular custos com uma velocidade e uma precisã pre cisãoo que os deixavam deixa vam tontos tontos — pois não eram er am m á gicos, tam pouco especialistas nisso, apesar do imaginário popular sobre judeus e finanças. A maioria ali devia o sucesso obtido a qualidades diferentes e incompatíveis. Mas, num grupo, uma tradição acaba prevalecendo sobre os menos adaptados, e eles ficavam satisfeitos de olhar para Stahr e nele ver sublimado seu desejo de controle financeiro, experimentando uma espécie de alegria, como se o feito fosse fosse deles de les mesmos, me smos, a exem e xempl ploo do que que sentem torc torcedores edores de futebol futebol.. Stahr, em sua configuração atual, distanciara-se desse dom em particular, embora a habilidade não o tivesse abandonado. O príncipe Agge se acom a com odou entre entre Stahr e Mort Fleis Fleishac hackker, er , o advogado do estúdio, e de frente para Joe Popolos, dono da sala de projeções. Era vagamente avesso a judeus de forma geral, um mal do qual estava tentando se curar. Homem turbulento quando servia na Legião Estrangeira, achava que os judeus prez pre za vam por dem a is salvar salva r a própria própr ia pele. pele . Mas se dispunha dispunha a a cre cr e dita dita r que talvez fossem diferentes na América, em circunstâncias outras, e certamente tinha Stahr na conta de um homem e tanto em todos os sentidos. Quanto ao resto — para par a ele, e le, homens hom ens de negócios, negóc ios, e m sua m a ioria, era e ram m de um a chati cha ticc e fe f e roz —, sempre se voltava, em busca de referencial, ao sangue azul que corria em suas veias. Meu pai — vou vou cham á-lo de sr. sr. Brady, Brady, com o o príncipe príncipe Agge, ao m e contar contar sobre esse almoço — estava preocupado com um filme e Leanbaum, tendo deixado o encontro mais cedo, aproximou-se para ocupar a cadeira em frente. “E quanto à ideia daquela produção na América do Sul, Monroe?”,
perguntou. per guntou. O príncipe príncipe Agge notou notou um um lampej lam pej o de atenção atençã o na dire direçã çãoo deles, deles, perceptí perc eptível vel a ponto de parecer que uma dúzia de pares de cílios ressoava feito morcegos batendo bate ndo asas. asa s. E de novo silê silê ncio. “Estam os toca tocando”, ndo”, falou f alou Stahr Stahr.. “Com “Com o mesm m esmoo orçam orça m ento? ento?”, quis quis saber saber Brady. Stahr aquiesceu. “É desproporcional”, disse Brady. “Não vai haver nenhum milagre em tempos difíceis como estes — nenhum Anjos do infe infe rno ou Ben Be n Hur , em que dá pra gastar a fundo perdido pe rdido e depois de pois recupe re cupera rarr.” O ataque fora planejado, provavelmente, pois Popolos, o grego, entrou no assunto com uma conversa meio enrolada. “Não é fácil de adotar, Monroe, a ideia que a gente quer adotar nesta época que mudou. O que podia fazer quando a gente tinha negócio de prosperidade é difícil pensar agora.” “O que você acha disso, Marcus?” Todo odoss os olhare olharess segui seguira ram m o de St Stahr na direç direção ão da cabec c abeceira eira da m esa, m as, como se estivesse de sobreaviso, o sr. Marcus já havia feito sinal a seu garçom parti par ticc ular, ular , atrá atr á s dele, dele , de que gosta gosta ria de se levantar leva ntar,, e naquele naque le exato exa to m omento om ento era erguido pelo rapaz. Olhou para eles parecendo de tal forma impotente que era difícil difícil imagi ima ginar nar que de vez ve z em quand quandoo saía saía para pa ra dançar dança r em e m noitadas noitadas com sua sua namorada canadense. “Monroe é nosso gênio em matéria de produção”, disse. “Conto com Monroe Monroe e confi c onfioo tot totalm almente ente nele. Nem cheguei a ver a inun nundaçã daçãoo eu mesm m esmo.” o.” Houve um momento de silêncio enquanto o velho se retirava. “Não se consegue um faturamento de dois milhões de dólares neste país, hoje em dia”, falou Brady. “Não consegue”, concordou Popolos. “Nem pegando pessoal à força e botando lá, não nã o consegue.” conse gue.” “Provavelmente não”, concedeu Stahr. Fez uma pausa, como que para se certificar de que todos o ouviam. “Acho que podemos contar com um milhão, duzentos e cinquenta mil nas projeções itinerantes. Talvez um milhão e meio, no total. E mais uns duzentos e cinquenta mil no exterior.” Outro momento de silêncio — desta vez um silêncio perplexo, um pouco confuso. Por sobre o ombro, Stahr pediu ao garçom que contatasse seu escritório pelo telefone tele fone.. “Mas e o seu orçamento?”, questionou Fleishacker. “Seu orçamento é de setecentos e cinquenta mil, pelo que sei. E suas previsões não passam disso, não há lucro.” “Não “Nã o sou eu quem está prevendo preve ndo aqueles aqueles números”, núme ros”, resp re spond ondeu eu Stahr Stahr.. “Não “Nã o tem os garant gara ntia ia de mais m ais do do qu quee um m ilhão ilhão e m eio.” eio.”
O recinto estava em suspenso a ponto de o príncipe Agge conseguir perce per ceber ber,, a m e io ca c a m inho do chão, chã o, o m onte de c inza inza s que caía ca ía de um charuto. cha ruto. Fleish leishac ackker, er , o rosto rosto congelado de espanto, espanto, com eçou eç ou a falar, f alar, m as um telef telefone one foi entregue a Stahr Stahr por cima cim a de seu ombro. om bro. “Doo seu e scrit “D scr itório, ório, sr. sr. Stahr.” Stahr.” “Ah, sim — ah, olá, srta. Doolan. Descobri tudo sobre o Zavras. É um daqueles boatos nojentos — aposto um braço… Ah, você conseguiu. Bom… bom. bom . Fa ça o seguinte: m ande-o ande -o ir hoje hoj e à tarde tar de a o m eu oc oculi ulista sta — dr. dr. John Kennedy — e diga diga pra trazer trazer um atestado atestado e tire tire uma um a cópi c ópiaa — entendid entendido? o?”” Desligou — e, com um quê de passional, se voltou à mesa como um todo. “Algum de vocês chegou a ouvir uma história de que Pete Zavras estava perdendo per dendo a visã visã o? o?”” Um ou out outro aqui a quiesce esceu. u. Mas Mas a m aioria aioria dos presentes presentes ain a inda da est e stava ava à espera, espera , respiração suspensa, para saber se Stahr havia se confundido com seus números um minuto antes. “Pura bobagem. Ele diz que nunca foi a um oculista — e nunca soube por que os estúdios se voltaram contra ele”, continuou Stahr. “Alguém não gostava dele ou falou falou demais, dem ais, e Zavras Za vras está sem trabalho há m ais de de um ano.” Ouviu-se um murmúrio convencional de solidariedade. Stahr assinou o cheque e fez fe z m enção ençã o de se se levantar. levantar. “Desculpe, Monroe”, insistiu Fleishacker, observado por Brady e Popolos. “Sou mais ou menos novo por aqui, e talvez não esteja conseguindo compreender coisas implícitas e explícitas.” Falava rápido, mas as veias em sua testa saltavam de orgulho com a grandiloquência de seu estilo acadêmico. “Entendi direito? Você disse que espera faturar duzentos e cinquenta mil a menos do que é seu orçamento?” “É um filme de qualidade”, respondeu Stahr, fingindo inocência. Todos começavam a entender agora, mas ainda sentiam que havia algum truque ali. Stahr pensava, certamente, que o filme faturaria. Ninguém em seu uízo… “Nos últimos dois anos, não nos arriscamos”, disse ele. “Está na hora de fazermos fazerm os um fil f ilm m e que dê alg a lgum um prej pre j uíz uízo. Perder Per der ess e ssee dinheiro dinheiro de de bom grado — isso isso vai va i nos trazer públic públic o novo.” Alguns ainda estavam pensando que Stahr lançaria algum prognóstico, e favorável, mas ele não deixou dúvidas. “O filme vai dar prejuízo”, disse, levantando-se, a mandíbula levemente pronunciada pronunc iada e os olhos bril br ilhante hantess e sorridentes. sorr identes. “Seria “Ser ia um m ila ila gre m a ior a inda inferno se as cifras empatassem. Mas temos um certo do que Anjos do inferno compromisso com o público, conforme tem dito Pat Brady nos jantares da Academia. É bom para a sequência das produções que a gente lance um filme deficitário.”
Cumprimentou com um movimento de cabeça o príncipe Agge, o qual, enquanto respondia com uma rápida mesura, tentou captar, numa última olhada, o efeit ef eitoo geral gera l do que que Stahr Stahr tinha inha aca a cabado bado de dizer, dizer, m as não foi f oi capaz de de perceber perc eber nada. Os olhares de todos não eram tanto de abatimento, mas fixos num ponto indefinido à distância, logo acima da linha da mesa, as pálpebras piscando ligeiras, e não se ouvia um só cochicho no recinto. * Ao saírem do salão privativo, eles atravessaram um canto do refeitório propriam propr iam ente dito. dito. O príncipe Agge observava obser vava tudo c om avidez avide z. O a m biente estava animado com personagens do Primeiro Império, ciganos, cidadãos e soldados de suíças paramentados com casacas enfeitadas. Olhando-se de uma pequena peque na distânc distância, ia, e ram ra m home hom e ns de um século séc ulo a ntes, tal com o viviam viviam então, entã o, e Agge se perguntou que aparência teriam ele e os homens de seu tempo em alguma futura produção de época. Foi então que avistou Abraham Lincoln, e o que sentia mudou totalmente. Crescera ainda na alvorada do socialismo escandinavo, quando a biografia do presid pre sidee nte a m e rica ric a no e scrit scr itaa por Nicolay Nicola y era er a m uito uito lida. lida. Tinham -lhe dito dito que Lincoln era um grande homem que devia ser admirado, e ele, ao contrário, passou a odiá-lo, porque por que tentavam tentava m forç for ç ar aquela aque la adm a dmira iraçç ão. Mas agora a gora,, vendo-o ve ndo-o ali sentado, pernas cruzadas, o rosto amistoso concentrado num jantar de quarenta centavo c entavos, s, sobrem sobremesa esa incluí incluída, da, envolto envolto em seu xale, com o se precisas pre cisasse se se proteger do errático sistema de ventilação — agora o príncipe Agge, enfim em visita à América, tinha a visão do turista que observa a múmia de Lênin no Kremlin. Aquele, então, era Lincoln. Stahr deixara o visitante para trás e se volt voltava para esperá-lo esperá -lo — mas m as Agge contin continuava uava a olhar olhar.. Aquele, então, e ntão, ele pensou pe nsou,, era er a o destino destino de todos todos eles. Lincoln de repente levou um pedaço triangular de torta à boca, engolindo-o, e o príncipe Agge, um pouco assustado, correu para junto de Stahr. “Espero que a visita esteja sendo como o senhor queria”, disse Stahr, senti sentindo qque ue o negl ne glig igenciar enciara. a. “V “ Vam os ter ter film film agens dentro dentro de m eia hora, hora , e então o senhor poderá ir a quantos sets desejar.” “Pre “P refiro firo ter ter a sua compa c ompanhi nhia” a”,, falou o príncip príncipee Agge. “Vou ver se há mensagens para mim”, respondeu Stahr. “Então seguimos untos.” O cônsul do Japão o procurava a respeito do lançamento de uma história de espionagem que talvez ferisse suscetibilidades nacionais em seu país. Havia ligações e telegramas. E Robby com mais alguma informação. “Agora ele lembrou do nome da moça. Tem certeza de que era Smith”, disse a srta. Doolan. “Perguntou se ela queria entrar pra pegar uns sapatos secos e a garota respondeu que não — de modo que não pode nos processar.” “Pois agora ele lembrou de ‘tudo’, que porcaria — ‘Smith’. Grande ajuda.”
Stahr refletiu por um momento: “Peça à companhia telefônica uma lista dos Sm iths iths que solicit solicitar aram am novas linhas linhas no últi últim m o mês. m ês. Ligue pra todos todos eles”. “Certo.”
4 “Como vai, Monroe?”, disse Red Ridingwood. “Fico feliz que tenha vindo.” Stahr passou por ele, atravessando o estúdio na direção de um cenário que reproduzia uma sala esplêndida, a ser usada nas filmagens do dia seguinte. O diretor Ridingwood o seguiu e, passado um momento, deu-se conta de que, por mais que andasse ligeiro, Stahr sempre conseguia estar um ou dois passos à frente. Reconheceu aquilo como sinal de descontentamento — ele próprio já usara o mesmo recurso. Tivera um estúdio próprio, algum dia, e ele mesmo havia recorrido àquela encenação toda. Nada do que Stahr pudesse fazer o surpreenderia. Sua tarefa era resolver situações, e Stahr não podia, no fim das contas, contas, passar passar por cima cim a dele em e m seu próprio próprio territóri território. o. Goldwy Goldwynn certa ce rta vez tentara tentara desautorizá-lo, e Ridingwood o induzira a tentar representar um número na frente de cinquenta pessoas — o resultado foi o que esperava: teve sua autoridade restabelecida. Stahr chegou ao esplêndido cenário e parou. “Não está bom”, disse Ridingwood. “Falta imaginação. Pouco me importa como com o vai ser ser a iluminaçã iluminação… o…”” “Por que você me chamou pra ver isso?”, perguntou Stahr, parado ao lado do dire direto torr. “Por “P or que não nã o resol re solveu veu com c om o Art?” Art?” “Não “Nã o pedi que que você descesse aqui a qui,, Monroe.” Monroe.” “Você “V ocê pretendi pre tendiaa ser seu próprio supervisor supervisor.” “Desculpe, Monroe”, continuou Ridingwood, paciente, “mas não pedi que você descesse aqui a qui.” .” Stahr virou as costas, repentinamente, e caminhou de volta até onde estavam as câmeras. O olhar e a boca aberta de um grupo de visitantes por um momento se desviaram da heroína do filme, seguiram Stahr e, por fim, novamente se voltaram, absortos, à atriz. Eram Cavaleiros de Colombo. Já tinham visto seu anfitrião anfitrião carre ca rregado gado em procissão, procissão, mas ma s aquilo aquilo era ter seu sonho sonho transform transform ado em realidade. Stahr parou junto à cadeira dela. Usava um vestido decotado que deixava ver as marcas claras de uma irritação cutânea no peito e nas costas. Antes do início de cada cena, os locais afetados eram cobertos com um creme, imediatamente removido ao final da filmagem. O cabelo tinha a cor e a viscosidade de sangue coagulado, mas a luz de uma estrela podia, de fato, ser flagrada em seus olh olhos os.. Antes que pudesse abrir a boca, Stahr ouviu às suas costas uma voz solícita: “Ela está radiante. Absolutamente radiante.” Era um diretor-assistente, e a intenção havia sido a de um delicado elogio. À atriz, para que não tivesse nem o trabalho de se mover, evitando retesar a pele m altratada. altratada . A Stahr, por tê-la tê- la cont c ontra ratado. tado. E, por extensão, a Riding idingwood. wood.
“Tudo cer c erto? to?”, ”, pergunt per guntou ou Stahr, Stahr, simpáti simpá tico. co. “Ah, tudo tudo bem”, bem ”, ass a ssenti entiuu ela, “não “ não fossem fossem esses p… da da imprens impre nsa.” a.” Ele Ele piscou piscou para ela, suave. “Não “Nã o vamos vam os deixar deixar que eles e les cheguem perto de de você”, você ”, diss disse. e. O nome da moça, naquele momento, havia se tornado sinônimo de “vadia”. Ela, ao que se podia presumir, criara para si a imagem de uma daquelas rainhas que, nos quadrinhos de Tarzan, misteriosamente governam uma nação negra. Tratava o resto do mundo como se fossem os negros. Era um mal necessário, traz ra zida ida para pa ra um único único film film e. Riding idingwood wood cam ca m inhou inhou junt j untoo com Stahr até a té a porta de saída do estúdio estúdio.. “Está tudo bem”, garantiu o diretor. “Ela está numa boa, na medida do possível.” possível.” Ninguém podia e scutá-los scutá -los ali, e Stahr parou par ou de repente re pente,, fulminando fulm inando Red com o olhar olhar.. “O que você anda filmando é um lixo”, disse Stahr. “Sabe o que ela parece fazendo fazendo essas cenas? ce nas? Uma Um a canast ca nastrona.” rona.” “Estou tentando tirar dela o seu melhor…” “Me acompa ac ompanhe”, nhe”, fal fa lou Stahr, Stahr, abrupto. abrupto. “Acom “Ac ompanhar? panhar? Digo Digo ao pessoal pessoal pra faz f azer erm m os um um a paus pa usa? a?”” “Deixe tudo aí como está”, disse Stahr, empurrando a porta com forração que dava para o lado de fora do estúdio. Carro e motorista o aguardavam ali. Minutos eram coisa preciosa, na maioria dos dias. “Suba”, “Suba” , disse Stahr. tahr. Red percebia agora que era sério. Entendeu na mesma hora até do que se tratava. A moça o mantinha sob seu domínio desde o primeiro dia, com frieza e sem papas na língua. Ele era do tipo paz e amor, e sem reclamar permitira que ela fizesse fizesse um trabalho trabalho medío m edíocr cre. e. Stahr adivinhou adivinhou seus pensam entos. “Você não consegue controlá-la”, disse. “Falei pra você o que eu queria. Queria Queria uma um a m ulher ulher má — e ela ficou entediante no filme. Receio que tenhamos de parar par ar por aqui, aqui, Red.” Red.” “Com o filme?” “Não. Vou colocar o Harley pra dirigir.” “Tá certo ce rto,, Monroe.” Monroe.” “Desculpe, Red. Tentamos alguma outra coisa uma outra hora.” O carro encostou em frente ao escritório de Stahr. “Termino aquela cena?”, quis saber Red. “Já está está sendo ter term m inada” inada”,, resp re spond ondeu eu Stahr, Stahr, tacit tac iturno. urno. “O Harley Ha rley ficou lá.” lá.” “Com “Com o é que…” “Ele entrou enquanto saíamos. Pedi que lesse o roteiro na noite passada.”
“Veja bem, Monroe…” “Estou bem ocupado hoje, Red”, falou Stahr, seco. “Faz três dias que você desistiu desistiu de vez.” Aquilo era uma confusão lastimável, pensou Ridingwood. Ele saía perdendo um pouco, bem pouco — provavelmente não poderia desposar uma terceira mulher agora, como havia planejado. Nem mesmo a satisfação de uma encrenca ele teria — quando alguém se desentendia com Stahr, não saía por aí alardeando isso. Stahr era o maior cliente que havia naquele seu mundo, e sempre sem pre — quase sem pre — tinha tinha raz ra zão. “E o meu paletó?”, lembrou, de repente. “Deixei em cima de uma cadeira no estúdio.” “Eu sei”, se i”, respo re spondeu ndeu Stahr Stahr.. “Aqui “A qui está está ele.” Fazia tanto esforço para ser generoso com o lapso de Ridingwood que tinha esquec esqueciido que que levava o paletó na na m ão. * A “Sala de Projeção do sr. Stahr” era uma sala de cinema em miniatura com quatro fileiras de poltronas superestofadas. Em frente à primeira fileira, havia mesas compridas equipadas com luminárias de luz suave, campainhas e telefones. Encostado à parede, ficava um piano de armário, esquecido ali desde os primórdios do cinema falado. A sala tinha sido decorada, e as poltronas, recauchutadas havia apenas um ano, mas, pelo uso intensivo, os estragos já voltavam a aparecer. Era onde Stahr se sentava às duas e meia, e novamente às seis e meia, para assistir ao que tivesse sido rodado no dia. Geralmente a ocasião era de uma tensão atroz — o que que veria al a li eram era m faits faits acc omplis — o resultado final de meses de aqui a quisi sições, ções, planej planej am ento, ento, escrita e reescrit ree scrita, a, escol e scolha ha de elenco, construçã construçãoo de cenários e iluminação, ensaios e filmagens — fruto de insights brilhantes ou de deliberações desesperadas, de letargia, conspiração e suor. Nesse ponto, a tortuosa manobra era encenada, e em suspensão — chegavam relatos da frente de bat ba talha. Além de Stahr, assistiam às projeções representantes de todos os departamentos técnicos, e ainda os supervisores e diretores de produção dos filmes em avaliação. Os diretores não compareciam — oficialmente, porque seu trabalho estava terminado; na verdade, porque o que tivesse de ser discutido ali diria diria respeit r espeitoo a dinhei dinheiro. ro. Com Com o tempo, tem po, desenvol desenvolveu-se veu-se a percepçã perc epçãoo delica delicada da de uma necess nece ssár áriia distância. distância. O pessoal já estava reunido. Stahr chegou e rapidamente ocupou seu lugar, enquanto o murmúrio das conversas foi sumindo. Recostou-se e recolheu o oelho magro para junto de si na poltrona, e as luzes da sala se apagaram. Um fósforo foi f oi risca riscado do na fileira do fundo — e silêncio. silêncio. Na tela, uma um a tropa de solda solda dos franc fr anco-c o-cana anadense densess c onduz onduzia ia suas c a noas
corredeira acima. A cena fora filmada no tanque de um dos estúdios e, ao final de cada tomada, quando se podia ouvir a voz do diretor dizendo “Corta!”, os atores em cena relaxavam, limpando o suor da testa e às vezes soltando risadas hilariant hilariantes es — e a água do tanque tanque parava par ava de correr c orrer e a ilus ilusão ão cessava. c essava. À parte ter escolhido qual das sequências preferia e dito que era “um bom recurso”, Stahr não fez fe z comentário com entários. s. A cena seguinte, ainda nas corredeiras, envolvia um diálogo entre a garota canadense (Claudette Colbert) e o courrier du bois (Ronald Colman), ela se dirigindo a ele de uma canoa. Transcorridos alguns metros de rolo, Stahr subitamente falou. “O tanque foi desmont desm ontado? ado?”” “Sim, “Sim , senhor.” senhor.” “Monroe… é que precisavam dele para…” Stahr cort c ortou ou a conversa, perem per em ptóri ptório. o. “Montem de novo agora mesmo. Vamos fazer novamente aquela segunda tomada.” As luzes se acenderam por um momento. Um dos diretores de produção saiu de sua poltrona poltrona e se postou postou à fre f rent ntee de Stahr Stahr.. “Uma cena com tão belas interpretações jogada fora”, ralhou Stahr, em voz baixa. baixa . “S “ Sem e nquadram nquadr am e nto. A câm câ m e ra ficou fic ou num a posiç posiç ão e m que só pega pe gava va o topo da cabeça da Claudette o tempo todo em que ela estava falando. Era bem isso que queríamos, não? É exatamente o que as pessoas querem ver — o topo da cabeça de uma bela moça. Diga ao Tim que podia ter economizado usando um boneco bonec o dela e m tam a nho natural.” natura l.” As luzes voltaram a se apagar. O diretor de produção, para sair do caminho, agachou-se aga chou-se j unto unto à poltrona poltrona de Stahr. tahr. A cena ce na foi f oi exibid exibidaa novam nova m ente. “Percebe agora?”, perguntou Stahr. “E tem um risco na imagem — ali, à direita, está vendo? Descubra se é do projetor ou da película.” Quase no final da tomada, Claudette Colbert lentamente erguia a cabeça, revelando re velando seus form f ormidáveis idáveis olhos olhos cris cr istali talinos nos.. “Era esse o enquadramento que precisávamos ter o tempo inteiro”, falou Stahr. “Ela se saiu muito bem também. Veja se consegue consertar isso até am anhã ou o final da tarde de hoje.” hoj e.” Pete Zavras não teria cometido um deslize daqueles. Não havia, em toda a indústria, meia dúzia de operadores de câmera em que se pudesse confiar plenam plena m e nte. As luzes retornaram; o supervisor e o diretor de produção daquele filme se retiraram. “Monroe, “Monroe, ess e ssee m aterial foi rodado ont ontem em — chegou tarde da noite.” noite.” A sala ficou escura. Na tela, surgiu a cabeça de Shiva, imensa e imperturbável, alheia ao fato de que em algumas horas seria levada por uma
inun nundaçã dação. o. Uma Um a m ulti ultidão dão de fiéis se se am ontoava ontoava em e m torno torno dela. “Quando forem repetir essa cena”, falou Stahr, de repente, “coloque umas crianças no alto da cabeça. Melhor checar antes se não é algum tipo de desrespeito, mas acho que não tem problema. Crianças costumam poder qualquer coisa.” “Sim “Sim , Monroe.” Monroe.” Um cinto prateado com estrelas recortadas… Smith, Jones ou Brown… Questão pessoal — será a mulher do cinto prateado que…? Outro filme, e o cenário mudara para Nova York, uma história de gângsteres, e Stahr ficou impaciente. “A cena está uma porcaria”, disse em voz alta, de repente, na escuridão. “Mal escrita, com elenco mal escolhido, nada presta. Aqueles tipos nem são durões. Parecem um bando de guardinhas de porta de escola fantasiados — que diabos aconteceu aí, Lee?” “A cena foi escrita hoje de manhã no próprio set”, respondeu Lee Kapper. “Burton “Burton queria quer ia resolv r esolver er a coisa toda no Estúdio Estúdio 6…” 6…” “Poi “P oiss está está uma po porca rcaria. ria. E essa essa aí tam tam bém. bém . Não serve pra nada film film ar um troço desses. Ela própria não acredita no que está dizendo — tampouco o Cary. ‘Eu te amo’em close — você vai ser escorraçado! E a roupa da moça está muito formal.” Fez-se um sinal na sala escura, o projetor parou, as luzes se acenderam. A sala ficou f icou em silêncio, silêncio, todos todos à espera e spera.. O rosto de de Stahr Stahr estava inexpre inexpress ssiv ivo. o. “Quem escreveu escr eveu a cena? ce na?”, ”, quis quis saber saber,, passado passado um m inut inuto. o. “Wylie White.” “Ele tem conseguido ficar sóbrio?” “Certamente.” Stahr refletia. “Coloquem uns quatro roteiristas pra trabalhar na cena hoje à noite”, disse. “Vej “V ej am lá quem pod podem em consegui conseguir. Sid Sidney ney Howard ai a inda está por aí? a í?”” “Apareceu hoje de manhã.” “Conversem com ele. Expliquem o que estou querendo pra essa sequência. A moça está mortalmente aterrorizada — ela está paralisada. Simples assim. As pessoas pessoa s não consegue c onseguem m sentir três trê s em oções oçõe s ao m esm o tem po. E, Kapper Ka pper…” …” O cenógrafo c enógrafo se inclinou inclinou par paraa a frent fre ntee em e m sua sua poltrona poltrona na segunda segunda fileira fileira.. “Pois não.” “Tem alguma coisa com aquele cenário.” Olhare Olharess discre discrettos foram trocados por por toda toda a sala. “E o que é, Monroe?” “Me diga você ”, respondeu Stahr. “Está muito abarrotado. Não captura o olhar olhar.. Pare Pa rece ce barat bara to.” “Não “N ão cust c ustou ou pouco.” pouco.”
“Eu sei que não. Não é nada muito complicado, mas tem alguma coisa. Dê uma olhada hoje à noite. Talvez seja mobília demais — ou do tipo errado. Talvez uma janela ajude. Você não conseguiria forçar a perspectiva um pouco mais na dire direçã çãoo daquele daquele corredor? c orredor?”” “Vou ver o que posso fazer.” Kapper, enquanto conferia o relógio, foi saindo da fil f ileira eira de poltronas. poltronas. “Preciso começar agora mesmo”, falou. “Vou trabalhar durante a noite e damos um jeito no cenário de manhã.” “Certo. “Certo. Lee, Lee , você pode refil re film m ar essas cenas, não?” não?” “Acho que sim, Monroe.” “Eu me responsabilizo. E o material com as cenas de luta?” “É o próximo.” Stahr assentiu assentiu.. Kapper se apress apre ssou ou em dire direçã çãoo à saída e a sala voltou voltou a ficar fica r escura. Na tela, quatro homens encenavam uma sensacional briga de socos num galpão. Stahr riu. “Olha só o Tracy Trac y ”, falo fa lou. u. “Olha “Olha só como com o vai pra cima c ima daquele daquele car c ara. a. Aposto Aposto que já j á ent e ntrou rou em algum algum as dessas dessas na vida.” vida.” Os home homens ns não para paravam vam de se socar socar.. Sem Sem pre a m esma briga. briga. E sem sem pre, ao final, se encaravam sorrindo, às vezes tocando o ombro do oponente num gesto amistoso. O único ali que corria algum perigo era o dublê, um pugilista que, se quisesse, mataria os outros três. O perigo era só que se empolgassem e deixassem de seguir as instruções sobre os golpes. Mesmo assim, o ator mais ovem estava estava com c om m edo de ser ac ertado no rosto rosto e, para disfarç disfarçar ar suas piscadas, piscadas, o diretor havia lançado mão de engenhosos ângulos e interposições. E então dois homens se esbarravam interminavelmente junto a uma porta, reconheciam-se e seguiam seus caminhos. Encontravam-se, sobressaltavam-se e continuavam a andar. Em seguida, uma menininha estava lendo debaixo de uma árvore e, acima dela, num dos galhos, um menino também lia. A menina estava entediada e queria conversar com o menino. Ele não lhe dava atenção. O caroço da maçã quee comia qu c omia caiu na na cabeça c abeça da meni m enina. na. Uma Um a voz se m anifest anife stou ou no escuro: “Está m uito uito longo longo,, não est e stá, á, Monroe?” “Nem “Ne m um pou pouco”, co”, disse disse St Stahr. ahr. “Está “Está bom. bom . Tem Tem uma atmos atm osfe fera ra agradável.” agra dável.” “Só achei ac hei que que se estende estende demais dem ais.” .” “Às vezes três metros de rolo podem parecer que demoram demais — noutras, uma cena ocupando vinte vezes isso é muito curta. Quero falar com o montador antes de ele fazer o corte — essa é uma sequência que vai ficar na memória.” Falava o oráculo. Não havia o que questionar ou discutir. Stahr precisa ter razão sempre — não apenas na maior parte do tempo, mas sempre — sob pena de a estrutu estrutura ra vir vir abaix a baixo, o, como se fos f osse se de m anteiga anteiga e derretes derre tesse. se.
Mais Mais uma hora se passou. passou. Fragm Fragm entos entos de sonhos sonhos ornavam a parede pare de da sala, eram analisados, davam lugar a outros — os quais seriam sonhados por multidões, ou então descartados. Com dois testes, um deles para um personagem masculino, outro de uma moça, a sessão se encaminhou para o fim. Em comparação com as tomadas em avaliação, em seu ritmo próprio e tenso, os testes rolavam de maneira suave e acabavam; a audiência relaxou nas poltronas; Stahr escorregou o pé de volta para o chão. Opiniões eram bem-vindas. Um dos técni éc nicos cos declarou que que levaria levar ia a m oça para pa ra casa ca sa de bom grado; o resto do ppesso essoal al ficou indiferente. “Alguém arranjou um teste pra essa moça há uns dois anos. Ela deve estar mais rodada — mas não parece que melhorou muito. Já o ator é bom. Não podem os usá-lo no papel pape l do velho príncipe russo r usso em Estepes Estepe s?” “Ele é um velho príncipe russo”, falou o diretor de elenco, “mas tem vergonha disso. É comunista. E o papel de príncipe é o único que não faria.” “É o único papel pape l que que serve pra ele”, ele” , diss dissee Stahr. tahr. As luzes se acenderam. Stahr enrolou seu chiclete de volta no invólucro e o colocou no cinzeiro. Voltou-se inquisitivo para sua secretária. “Filma “Filmagens gens no Estúdi Estúdioo 2”, ela e la inform ou. Deu uma conferida rápida no que estava sendo feito lá: imagens em m ovim ovim ento sendo sendo captura capturadas das contra contra um fundo de outra outrass im im agens em m ovim ovim ento por um disposi dispositi tivo vo engenhoso. enge nhoso. Tinha uma um a reunião re união no e scrit scr itório ório de Marc Mar c us c ujo uj o assunto era se Manon teria um final feliz, e Stahr continuava com a mesma opinião que já havia dado — fazia um século e meio que aquela história dava dinheiro sem final feliz. Estava irredutível — àquela hora da tarde era quando conseguia ser mais persuasivo, e a resistência a sua posição acabou sendo minada na direção de outro tema: cederiam uma dúzia de astros e estrelas para uma campanha em prol dos desabrigados pelo terremoto em Long Beach. Num surto repentino de generosidade, cinco deles já haviam doado, de uma vez, um total de vinte e cinco mil dólares. Tinham sido generosos, mas não como os pobres pobre s sabem sabe m ser. Aquilo Aquilo não era e ra c a ridade. rida de. No escr e scrit itório, ório, novidades novidade s do oculi oc ulista sta ao a o qual qua l enviara enviar a P e te Zavra Za vras: s: os olhos olhos do cinegrafista estavam praticamente em perfeito estado. O médico fizera um atestado, uma fotocópia do qual estava sendo entregue a Zavras. Stahr andava de um lado ao outro do escritório, cheio de si, a srta. Doolan a admirá-lo. O príncipe Agge aparecera para agradecer pela visita aos sets naquela tarde e, enquanto conversavam, um supervisor passou o recado cifrado de que uns roteiristas de nome Tarlet ar leton on “descobriram “descobriram ” e estavam estavam em vias vias de se dem iti itir. “São bons roteiristas”, Stahr explicou ao príncipe, “e não temos muitos deles por aqui.” a qui.” “Como assim, se você pode contratar quem quiser?”, exclamou o visitante, surpreso.
“Ah, nós os contratamos, mas aí eles chegam e não são bons roteiristas — de modo m odo que precisamos precisam os trabalhar trabalhar com c om o que temos tem os.” .” “Por “P or exem plo? plo?”” “Qualquer um que aceite as condições e tenha a decência de permanecer sóbrio — pegamos todo tipo de gente — poetas desiludidos, dramaturgos iniciantes, moças universitárias — e então os colocamos em duplas pra trabalhar numa ideia e, se a coisa estiver indo muito devagar, acrescentamos mais dois ao mesmo projeto. Já tive até três duplas trabalhando de forma independente numa ideia.” “E os roteiristas roteiristas gostam gostam do esquema?” esquem a?” “Se ficam sabendo, não. Não são gênios — e nenhum deles conseguiria ganhar mais em outro lugar. Mas esses dois, os Tarleton, são um casal da Costa Leste Leste — dram aturgos aturgos mui m uito to bons bons.. Acabara Aca baram m de descobrir que não nã o são os únicos únicos trabalhando no enredo e isso os deixou transtornados — mexeu com seu senso de unidade, é essa a palavra que vão usar.” “Mas como se consegue essa… unidade?” Stahr hesitou — sua expressão era taciturna, exceto pelos olhos, que faiscavam. “A unidade sou eu”, disse. “Venha nos visitar outras vezes.” Recebeu os Tarleton para uma conversa. Disse-lhes que gostava do trabalho deles, olhando para a sra. Tarleton como se fosse capaz de adivinhar qual tinha sido sua contribuição específica no roteiro datilografado. Disse-lhes, em tom ameno, que os tiraria daquele filme para colocá-los em outro, com menos pressão pre ssão e m a is tem tem po. Confor Conform m e j á m e io que esper e sperava ava,, os dois im im plorara plora ram m para par a ficar no primeiro projeto, pela perspectiva de aparecerem nos créditos em lugar de destaque, mesmo que dividindo-os com outros. Aquele esquema era uma vergonha — vulgar, comercial, deplorável. Ele mesmo o criara — fato que deixou de mencionar. Assim que saíram, a srta. Doolan entrou, triunfante. “Sr. “Sr. Stahr, Stahr, a m oça do cinto cinto está na linha.” linha.” Stahr passou da sala de visitas ao escritório sozinho, sentou-se atrás da escrivaninha escrivaninha e apanho a panhouu o telefone telefone com c om um tremendo trem endo frio na barri barr iga. Não sabia sabia o que queria. Não havia pensado na questão como fizera com o caso de Pete Zavras. De início, a única coisa que desejara saber era se eram “profissionais”, se a moça não seria uma atriz produzida para se parecer com Minna, a exemplo do que que cer c ertta vez fizer fizeraa com uma j ovem, ovem , fant fa ntasiand asiando-a o-a de Claudett Claudettee Colbert olbert para fotografá-la nas poses da original. “Alô”, ele disse. “Alô.” Enquanto procurava a expressão breve de surpresa que recuperasse a sensação da noite anterior, começou a ceder ao terror, e precisou de
determinação para espantá-lo. “Então — foi difícil te achar”, falou. “ Smith — e você se mudou recentemente pra cá. Essas eram as únicas informações que tínhamos. Além de um cinto prateado.” “Ah, sim”, respondeu a voz, ainda desconfortável, insegura. “Eu estava m esmo esm o usando usando um ci c into nto prateado ontem ontem à noit noite.” E agora, para ond ondee ir? “ Quem é você?”, perguntou a voz, com um toque nervoso de dignidade burguesa. burgue sa. “Eu me m e cham c hamoo Monroe Monroe Stahr”, Stahr”, diss dissee ele. e le. Uma pausa. Era um nome que nunca aparecia na tela, e ela pareceu ter dificul dificuldades dades para reconh rec onhec ecêê-llo. “Ah, sim — claro. O marido de Minna Davis.” “Isso.” Seria uma brincadeira? Com a visão intacta da noite anterior voltando-lhe à m ente — aquela pele, irradi irra diando ando um brilh brilhoo peculiar peculiar,, como com o que fosforescente —, ele se perguntou se aquilo não poderia ser um truque para atingi-lo de alguma forma. Não sendo Minna, mas ainda assim sendo ela. As cortinas, sopradas pelo vento, subitamente invadiram o escritório, os papéis sobre sua mesa murmuraram e a intensa realidade do mundo lá fora o fez sentir, de leve, o coração apertado. Caso pudesse sair dali agora, assim como estava, o que aconteceria se voltasse a encontrá-la — a expressão de velado deslumbramento, a boca prestes prestes a est e stourar ourar num riso riso hu hum m ano, pobre pobre m as imens ime nso. o. “Gostaria de encontrá-la. Que tal você vir aqui ao estúdio?” De novo a hesitaç hesitação ão — e então uma recus rec usaa direta. “Ah, “A h, acho ac ho melhor m elhor não. Sint Sintoo muit m uito.” o.” A última frase indicava um tom formal e distante, um beco sem saída. A vaidade mais ordinária e superficial veio em socorro de Stahr, ajudando-o a ser persuasivo per suasivo em sua urgênc ur gência. ia. “Gostaria que viesse”, falou. “Tenho uma razão pra isso.” “Bem… temo que…” “Será que eu poderia ir até você? você ?” Nova pausa, pausa , não porque e la hesitasse agora agor a , ele sentiu, m a s porque por que tentava concatenar uma resposta. “Tem “Tem uma coisa coisa que você não sabe”, disse disse ela, finalm finalm ente. “Ah, provavelmente que você é casada”, respondeu ele, impaciente. “Não tem nada a ver com isso. Estou pedindo pra termos um encontro às claras, traga seu marido, se você tem um.” “É que isso… isso… isso isso é m eio que impossível.” impossível.” “Por “P or quê?” quê?” “Eu me sinto uma tola só de estar falando com você, mas sua secretária
insistiu — pensei que tivesse deixado cair alguma coisa minha na inundação de ontem à noite e que você tivesse encontrado.” “Quero “Quer o mui m uitto encontrá-la, por cin c inco co m inut inutos os que que sej a.” “Quer m e con c onttratar pra algum algum film film e?” e?” “Não era er a bem essa essa m inh nhaa ideia.” ideia.” Houve um silêncio silêncio tão prolongado prolongado que ele e le pensou têtê-la la ofendi ofe ndido. do. “Onde pod podem em os nos nos encontrar?”, encontrar?”, pergunt pe rguntou ou ela, inespera inesperadam damente. ente. “Aqui “A qui?? Ou na sua casa c asa??” “Não — em algum lugar na rua.” De repente Stahr não conseguia pensar em lugar nenhum. A casa dele — um restaurante? Onde é que as pessoas se encontram? Em esconderijos, em bares? bar es? “Encontro “Encontro você em algum algum lugar lugar às nove” nove”,, ela disse. disse. “Acho que vai ser impossível a essa hora.” “Então deixa deixa pra lá.” “Tudo bem, às nove, mas pode ser aqui perto? Tem uma lanchonete em Wilshire…” * Eram quinze para as seis. À espera, do lado de fora, havia dois homens que todos os dias, àquela mesma hora, acabavam preteridos, sua reunião era adiada. Aquela Aquela era uma hora fati fa tigada gada — o assunto assunto que os hom homens ens vinham vinham tratar não era e ra tão importante que precisasse ser despachado, nem tão insignificante que pudesse ser ignorado. De modo que ele adiou mais uma vez e, sentado imóvel à sua escrivaninha, ficou pensando na Rússia. Não exatamente na Rússia, mas no filme sobre a Rússia que estava prestes a lhe consumir outra infértil meia hora. Ele sabia das m uitas uitas hist histórias órias sobre sobre a Rússia, Rússia, isso isso sem sem m encio enc ionar nar “a” “a ” história, história, e vinha vinha sustentando um exército de roteiristas e pesquisadores fazia mais de um ano, mas todas as histórias que se apresentavam tinham a pegada errada. Sentia que o enredo podia ser inspirado nos treze estados americanos, e no entanto o resultado insistia em ser outro, em novos termos que davam margem a possibilidades desagradáveis e problemas. Considerava que estava tendo uma atitude muito usta com os russos — não pensava em outra coisa que não fosse um filme sim sim pático pático ao país, mas ma s o proj projeto eto contin continuava uava a dar dor de cabeç c abeça. a. “Sr. Stahr — o sr. Drummon está aí, com o sr. Kirstoff e a sra. Cornhill, a respeit re speitoo do film film e russo.” russo.” “Certo — mande-os entrar.” Depois disso, entre seis e meia e sete e meia, assistiu ao que havia sido rodado à tarde. Normalmente, não fosse por seu compromisso com a moça, ele passaria passa ria o iníc iníc io da noite noite na sala de proj e ção çã o ou no e stúdio stúdio de dublagem dublage m , m as, com os transtornos de horário causados pelo terremoto da noite anterior, decidiu ir jantar. Ao retornar ao escritório, encontrou Pete Zavras esperando, o braço
numa tipoi tipoia. a. “Você é o Ésquilo e o Eurípides do cinema”, disse Zavras, espontâneo. “E ainda o Aristófanes e o Menandro.” Fez uma mesura. “Quem são esses?”, perguntou Stahr, com um sorriso. “Meus cont c onter errâne râneos os.” .” “Não “Nã o sabia sabia que que você fazia fazia fil f ilm m es na Grécia.” Gré cia.” “Está brincando comigo, Monroe”, falou Zavras. “O que estou querendo dizer é que você é um cara tão fino quanto eles. Me salvou, totalmente.” “Você “V ocê está está bem agora?” “Não foi nada no meu braço. É como se me dessem uns beijinhos aqui. Se esse é o resultado, valeu a pena fazer o que fiz.” “E como c omo é que você acabou ac abou fazendo fazendo logo logo aqui? aqui?” “Diante do oráculo de Delfos”, respondeu Zavras. “Do Édipo que respondeu à charada. Só queria pegar o filho da puta que começou essa história.” “Você “V ocê m e faz fa z sentir sentir pena de m im m esmo esm o por não ter e studado studado”, ”, falou f alou St Stahr. ahr. “Isso não me serve de nada”, disse Pete. “Um diploma em Salônica e olha só qual foi o meu fim.” “Ainda não foi.” “Se quiser ver alguém degolado, a qualquer hora do dia ou da noite”, acrescentou Zavras, “você tem meu telefone.” Stahr fechou os olhos e os abriu novamente. A silhueta de Zavras perdeu um pouco da nitidez nitidez contra a luz do sol. Apoiou-se na m e sa atrá atr á s de si e, m antendo ante ndo a normalid norm alidade ade na voz, voz, diss disse: e: “B “ Boa sorte, Pete.” P ete.” A sala tinha tinha escurec e scureciido qu quase ase compl com pletam etam ente, mas m as ele e le conseguiu conseguiu dar alguns alguns passos, de form f orm a m e cânica câ nica,, até o escritório, esc ritório, entrou e e sperou sper ou pelo cli c lique que da porta se fechando antes de tatear em busca das pílulas. A garrafa d’água se chocou contra a mesa; o copo tilintou. Ele se sentou numa cadeira grande, à espera de que a benzedrina fizesse efeito antes de ir jantar. * No c am inho de volta volta do re r e feit fe itório, ório, Sta Sta hr e nxergou nxer gou a m ão que a cenava ce nava para par a ele de um conversível pequeno. Reconheceu, pelas cabeças vistas de trás, na cabine, um jovem ator e sua namorada, observando-os desaparecer portão afora no crepúsculo de verão. Aos poucos ia perdendo a sensibilidade para essas coisas, a ponto de parecer que Minna havia levado consigo a emoção que lhes era própria; própr ia; sua capac ca pacidade idade de apre apr e ciar cia r o esplendor desapar desa paree cia de tal m odo que, em breve, o luxo de um eterno luto também iria embora. Associando infantilmente Minna a prazeres materiais, quando chegou ao escritório, mandou buscar busca r seu conversível conve rsível pela pe la prim pr imee ira vez naquele naque le ano. a no. A grande gra nde lim lim usine usine parec par ecia ia carre ca rregada gada de lem branças brança s de de reuni r euniões ões e de sono sono de puro puro esgotam esgotam ento. ento. Ao deixar o estúdio, ainda estava tenso, mas o carro sem capota trouxe o
fim de tarde de verão para perto de Stahr, e ele olhou em volta. Havia a lua no final do bulevar, e uma ilusão boa de que era uma lua diferente a cada noite, a cada ano. Outras luzes cintilavam em Hollywood desde a morte de Minna: nas barra bar raca cass de rua, rua , lim lim ões e toranj tora njas as e m a çãs çã s verdes ver des respl re splaa ndeciam ndec iam seu brilho fosco e oblíquo. Diante dele, piscou a luz violeta de freio do carro à frente e, na esquina seguinte, ele a viu piscar outra vez. Por todo lado, holofotes riscavam o céu. Numa esquina deserta, dois homens misteriosos carregavam um tambor reluzente reluzente em trajetóri traj etóriaa errá e rráttica nos céus cé us.. Na lanchonete lanc honete,, uma um a m ulher e stava parada par ada j unto a o balcã balc ã o de doces. doce s. Era alta, quase tão alta quanto Stahr, e encabulada. Era obviamente uma situação nova para ela e, se Stahr não tivesse os modos que tinha — os mais atenciosos e educados —, ela não levaria aquilo adiante. Cumprimentaram-se e saíram dali sem mais palavras, sem quase se olharem — embora, chegando à calçada, Stahr á soubesse: ela não era nem mais nem menos do que uma bela moça americana — nada que se comparasse à beleza de Minna. “Pra onde estamos indo?”, ela quis saber. “Pensei que você teria um motorista. Não faz mal — sou boa de briga.” “Briga?” “Sei que isso não foi nada gentil.” Ela forçou um sorriso. “Mas é que falam coisas horríveis de gente gente como c omo você.” Stahr achou graça da ideia de que fosse alguém assustador — e logo não achou mais. “Por “P or que você você queria me m e ver? ver ?”, perguntou perguntou ela ela ao a o entra entrarr no carro. car ro. Ele ficou parado, imóvel, do lado de fora, desejando lhe dizer que descesse imediatamente. Mas ela já estava acomodada no carro, e ele sabia ser o principal principa l responsáve re sponsávell por aquela a quela situaç situação ão infeli infe lizz — ce c e rrou rr ou os dentes de ntes e deu a volta volta para par a e m barca bar carr tam bém . A luz luz do do poste iluminava ilum inava diretam dire tam ente o rosto r osto dela, e e ra difícil acreditar que aquela era a moça da noite anterior. Stahr não via mais semel seme lhança al a lgu gum m a com Minn Minna. a. “Vou “V ou levar levar você pra casa”, ca sa”, disse disse el e le. “Onde “ Onde é?” “Pra “P ra casa? ca sa?”, ”, esp e spanto antou-se u-se ela. “Não “Nã o tem tem pressa — desculpe desculpe se o ofendi.” ofendi.” “Não. “N ão. Foi m uita uita gent ge ntil ileza eza sua ter vindo. vindo. Fui Fui um idiot idiota. a. Ontem à noite, noite, pensei pense i ter enxergado em você uma réplica exata de uma pessoa que conheci. Estava escuro e uma um a luz luz ofusca ofuscava va m inha vist vista.” a.” Ela ficou ofendida — ele a recriminava por não se parecer com outra pessoa. pessoa . “Era só iss issoo então!”, falo fa lou. u. “Que engraça e ngraçado. do.”” Rodaram em silênci silêncioo durante durante um m inut inuto. o. “Você foi casado com Minna Davis, não foi?”, disse ela, numa centelha de intuição. “Me desculpe por mencionar isso.” Ele dirigia em velocidade, mas controlando-se para não parecer que corria
de propósito. propósito. “Sou um um tipo tipo bem diferent difere ntee de Minna Minna Da Davi vis”, s”, ela e la disse, disse, “se “ se foi f oi iss issoo que você quis dizer. Talvez você estivesse pensando na garota que estava comigo. Ela se parec par ecee m a is c om Minna Minna Da D a vis do que eu.” e u.” Aquilo Aquilo não não o inter interessava essava m ais. Era Era acabar ac abar logo com o negócio e esq e squece uecerr. “Será que não era er a ela? e la?”, ”, quis quis saber saber a m oça. “El “ Elaa é m inha inha vizin vizinha.” ha.” “Não pode ser”, falou ele. “Lembro do cinto prateado que você estava usando.” “Era eu mesma m esma com o cint cinto prateado.” prateado.” Estavam a noroeste do Sunset, subindo por um dos cânions, entre as montanhas. Bangalôs iluminados surgiam ao longo da estrada sinuosa, e a eletricidade que lhes dava vida transpirava no ar da noite feito um ruído radiofônico. “Está vendo aquela última luz, lá no alto? A Kathleen mora lá. Minha casa fica logo do outro lado.” Passado um momento, ela disse: “Pare aqui”. “Pensei que você tinha dito que mora do outro lado do morro.” “Quero dar uma passada na casa da Kathleen.” “Acho melhor eu…” “Quero “Quer o descer aqui a qui”, ”, falo fa louu ela, im im paciente. Stahr desembarcou atrás dela. A moça seguiu em direção a uma casinha nova quase totalmente encoberta por um salgueiro e, quase sem pensar, Stahr a acompanhou até os degraus da entrada. Ela tocou a campainha e se voltou para se despedir dele. “Desculpe por desapontá-lo”, disse. Era ele e le quem quem sentia sentia por por ela agora a gora — lam lam entava por ambos am bos.. “Foi culpa minha. Boa noite.” Um naco de luz surgiu na porta entreaberta, e uma voz de moça indagou: “Quem é?”. Stahr levantou a vista. Ali estava ela — rosto e forma e sorriso contra a luz que vinha do interior da casa. Era o rosto de Minna — a pele, irradiando um brilho peculiar, como que fosforescente, a boca, com seu contorno atraente que jamais cobrava consequências — e, sobretudo, aquela graciosidade que assombrou e fascinou tod odaa uma um a geraçã gera ção. o. O coração dele, como na noite anterior, saltou-lhe para fora do peito, só que dessa dessa vez par paraa ali a li ficar, ficar , em disp dispos osição ição am plam plam ente benéfica. benéfica . “Ah, Edna, não dá pra entrar aqui”, aqui”, disse disse a m oça. “Est “ Estava ava faz fa zendo faxina, faxina, e a casa c asa está está com c om um cheiro forte forte de am on onííaco. ac o.”” Edna começou a rir, uma risada alta e confiante. “Acho que ele queria conhecer conhece r você, Kathlee Kathleen”, n”, falou. falou. O olhar de Stahr e o de Kathleen se encontraram e se entrelaçaram. Por um
instante, os dois fizeram amor como nunca mais ninguém ousou depois deles. Em cada ca da um, um , o visl vislumbre umbre do outro outro foi m ais lento lento do do que um abraço, abra ço, mais m ais urgente urgente do quee um cham qu c hamado. ado. “Ele m e ligou”, igou”, expli explicou Edna. “Pare “P arece ce que pensou pensou que…” que…” Stahr a interrompeu, dando um passo adiante, para onde havia luz. “Tem “Tem i que que vocês voc ês tivessem tivessem sido sido maltratada m altratadass no estúdi estúdio, o, ontem ontem à noite.” noite.” Mas o que ele realmente dissera não se traduzia em palavras. Ela ouviu atenta, sem embaraço. A vida brilhava com força em ambos — Edna parecia dist distante ante na escuridão. esc uridão. “Não nos maltrataram”, disse Kathleen. Uma brisa fria fez balançar a m echa ec ha cast ca stanha anha sobre sobre sua front fr onte. e. “Não “Nã o devíam devíam os ter entrado lá.” lá.” “Espero que vocês, ambas”, falou Stahr, “apareçam pra fazer um tour no estúdio.” “Quem é você? Alguém Alguém importante? importante?”” “Ele foi casado com Minna Davis, é produtor”, disse Edna, como se aquilo fosse uma piada muito boa, “e isso que ele está dizendo não é o que me disse agora há pouco. Acho que que ele est e stáá a fim de você.” “Cala a boca, Edna”, respon r espondeu deu Kathlee Kathleen, n, brusca brusca.. Como se de repente se desse conta de sua inconveniência, Edna falou: “Me liga, tá bom?”, e seguiu seu rumo em direção à rua. Mas levava consigo o segredo dos dois — tinha visto a centelha acesa entre eles na escuridão. “Lembro de você”, Kathleen falou para Stahr. “Você nos resgatou da inundação.” E agora? A ausência de Edna já era sentida. Estavam sozinhos, e andando sobre uma superfície por demais frágil, considerando o que já se passava entre os dois. Não tinham um ponto em comum. O mundo dele parecia distante — e ela não tinha tinha um, exceto e xceto pela pela cabeç c abeçaa de Shiva, hiva, por aquela porta porta ent e ntre reaber abertta. “Você “V ocê é irlandesa” irlandesa”,, ele disse, disse, tentando tentando invent inventar ar um m und undoo para ela. A m oça aquiesce aquiesceu. u. “Morei em Londres Londres um tem pão — não não achei ac hei que que você descobriria.” descobriria.” Os agressivos faróis verdes de um ônibus passaram voando na rua escura. Os doi doiss per perm m anecer anec eram am em silênci silêncioo até que que tivess tivessee ido em bora. “Sua amiga Edna não gostou de mim”, ele disse. “Acho que por causa da palavra pala vra P rodutor.” rodutor.” “Ela também é recém-chegada por aqui. É uma bobinha que não faz nada por m a l. Eu é que devia ter ter m edo de você.” Ela investigou a expressão dele. Pensou, como todo mundo, que parecia cansado — e logo se esqueceu disso, pois ele suscitava a imagem de uma fogueira fogueira em e m noite noite fria. “Imagino que as garotas fiquem o tempo todo atrás de você, querendo trabalhar no cinema.”
“Já desist desistiram iram”, ”, ele e le falo fa lou. u. Estava minimizando — continuavam todas lá, ele sabia, logo atrás da porta, mas fazia tanto tempo que ele estava no negócio que o clamor de suas vozes não era diferente do barulho do trânsito na rua. Mas sua posição majestática persistia: um rei só podi podiaa ter uma rain ra inha; ha; St Stahr, pelo menos me nos era er a o que supunh supunham am , era capaz ca paz de coroar coroa r m uitas uitas delas. delas. “Acho que isso pode significar que você se tornou um cínico”, disse ela. “Sua “Sua intençã intençãoo não é me m e col c olocar ocar no cinem cinema? a?”” “Não.” “Que bom. Não sou atriz. Uma vez, em Londres, um cara chegou pra mim no Carlton perguntando se eu não faria um teste, mas pensei um pouco e, no fim, não fui. f ui.”” Estavam de pé, quase imóveis, como se no momento seguinte ele fosse parti par tirr e ela, ela , entrar entra r em e m c asa. asa . Stahr Stahr riu de re r e pente. pente . “Sinto como se estivesse te impedindo de fechar a porta com o pé, feito um cobrador.” Ela riu junt j unto. o. “Desculpe não poder te convidar pra entrar. Será que posso ir lá dentro pegar pega r m inha ja j a queta, queta , então entã o podem os sentar a í fora? fora ?” “Não.” “Nã o.” Ele Ele não cons c onsegui eguiaa ent e ntender ender m uito uito bem por quê, quê, mas m as achava ac hava que era er a hora de ir embora. Talvez voltasse a vê-la — talvez não. Não achava ruim que fosse assim. “Você “V ocê vai aparece apare cerr lá no estúdi estúdio? o?”, ”, falou f alou.. “Não “Nã o poss possoo prometer prome ter que fa ço eu eu m esmo esm o o tour, tour, mas, ma s, se aparec apar ecer er,, não deixe deixe de avisar avisar no meu me u escritóri escritório.” o.” Um cenho franzido, não mais do que a sombra de um fio de cabelo entre os olhos dela. “Não tenho certeza”, disse. “Mas agradeço muito o convite.” Stahr sabia que, por alguma razão, ela não apareceria — bastou um instante e havia escapado e scapado dele. Ambos Am bos sentiam sentiam que o mom m omento ento passara passara.. Ele Ele precisava pre cisava ir, ainda que não fosse a lugar nenhum, e que saísse de mãos vazias. De um ponto de vista mais prático, vulgar, ele não tinha o telefone dela — nem mesmo sabia seu sobrenom sobrenome; e; mas m as parecia pare cia impos im possí sível vel perguntar perguntar-lh -lhee essas coisas coisas agora. Ela o acompanhou até o carro, Stahr se sentindo oprimido por sua beleza radiante, radiante, sua novidade novidade inexplorada; inexplorada; mas, m as, ao saírem da sombra, sombra , o que havia havia entre eles era a luz do luar. “É isso? isso?”, ”, ele pergunt per guntou, ou, espontâne espontâneo. o. Viu pesar no rosto dela — mas também um tremor nos lábios, um sorriso indeciso a encurvá-los, um abrir e fechar de cortinas revelando uma passagem proibida. “Espero mesm m esmoo qu quee a gente gente volte volte a se encont e ncontra rar” r”,, diss dissee el e la, quase form al. “Eu sentiria muito se não acontecesse.”
Ficaram distantes por um momento. Mas, depois de fazer a conversão mais próxima próxim a , retorna re tornarr e vê vê-la -la a inda a li, li, e spera sper a ndo, depois de a cenar ce nar e parti par tir, r, ele se sentiu exultante e feliz. Alegrava-o que fosse possível haver beleza neste mundo sem o aval do departamento de escalação de elenco. Em casa, porém, enquanto o mordomo lhe preparava chá no samovar, sentiu uma curiosa solidão. Era a velha dor que retornava, difícil e deliciosa. Ao abrir o primeiro dos dois roteiros à sua espera naquela noite, e que em breve veria na tela, linha por linha, parou um momento, pensando em Minna. Explicou a ela que aquilo não significava nada, que ninguém jamais seria como ela, que ele sent se ntia ia muit m uito. o. * Aquele Aquele fora um dia dia de Stahr, Stahr, tipi tipica cam m ente. Não sei quanto quanto à doença, quando começou etc., pois ele manteve segredo a respeito, mas sei que desmaiou algumas vezes naquele mês porque o papai me contou. O príncipe Agge foi minha fonte sobre o que aconteceu durante o almoço no refeitório, na ocasião em que ele diss dissee aos a os outros outros que que faria fa ria um film film e para pa ra perder dinhei dinheiro ro — o que que não era pouca coisa, considerando os homens com quem conversava e o fato de possuir possuir um grande gra nde nac na c o das aç a ç ões, e sob contrato contra to de repar re parti tiçã çãoo de lucros. luc ros. Wylie White me contou muita coisa, e acreditei nele por causa de seu sentimento intenso por Stahr, mistura de ciúme e admiração. Quanto a mim, a quem interessar interessar possa, possa, est e stava ava compl com pletam etam ente apai apa ixon xonada ada por ele àquel à quelaa altura. altura.
5 Feliz da vida, fui visitá-lo na semana seguinte. Ou assim pensei; quando Wy lie lie chegou c hegou,, eu havia coloca colocado do um um traj ra j e esp e sporti ortivo vo par paraa dar a impressão im pressão de que estivera desde cedo ao ar livre, sob o orvalho matinal. “Vou “V ou me j ogar debaixo do carro carr o do Stahr hoj hoj e”, e” , falei. “E por que não deste aqui?”, sugeriu ele. “Um dos melhores carros de segunda m ão que Mort Fleis Fleishak haker er vendeu na vida.” vida.” “Não entro nessa”, respondi, distante. “Você tem uma esposa na Costa Leste.” “Ela j á faz f az par parte te do passado”, passado”, devolveu devolveu ele. “Você “Você tem um grande trunfo — a consciência do próprio valor. Acha que alguém ia olhar pra você se não fosse a filha filha de Pat Pa t Bra Brady dy??” Não Nã o nos deixam deixa m os afe a fetar tar por c omentá om entários rios com c omoo nossas nossa s m ães ãe s se deixaria deixa riam m. ada — não há nada que um homem da nossa época diga que signifique muito. Que a gente fique esperta, que estão se casando por dinheiro, ou então nós é que dizemos isso a eles. Tudo ficou mais simples. Será?, era o que nos perguntáva per guntávam m os. Mas naquele momento, enquanto ligava o rádio e o carro acelerava por Laurel Canyon ao som de “The Thundering Beat of My Heart”, não acreditei que Wylie tivesse razão. Eu tinha um rosto bonito, embora um pouco redondo demais, e uma pele que parecia agradável ao toque, pernas interessantes, além de não precisar usar sutiã. Não era das mais meigas por natureza, mas quem era Wylie para me recriminar por isso? “Não “Nã o acha ac ha que é inteli nteligent gentee da m inha inha parte par te ir até lá de m anhã?”, anhã?”, pergun per guntei tei.. “É. Em se tratando do homem mais ocupado da Califórnia. Ele vai gostar. Por que você não o acordou às quatro quatro da m adrugada?” adrugada?” “Bem por isso. À noite ele já está cansado. Passou o dia inteiro vendo pessoas pessoa s pela frente fr ente,, e a lgumas lguma s delas dela s nem de longe desintere desinter e ssantes. Se c hego logo de manhã, m anhã, os pensamento pensam entoss dele dele tom tom am um rum r umoo difere diferent nte.” e.” “Não “N ão gosto dis disso. so. É muit m uitoo descara desca rado.” do.” “O que você tem a oferecer? E não seja grosseiro.” “Amo você”, disse ele, sem muita convicção. “E mais do que amo seu dinhei dinheiro, ro, o que não é pou pouco. co. Quem sabe seu pai não m e promova a supervis supervisor? or?”” “Se quisesse, eu poderia me casar com o rapaz mais popular de Yale hoje mesmo, e ir morar em Southampton.” Mudei de estação e encontrei duas opções, “Gone” e “Lost” — era um ano de boas canções. A música voltava a melhorar. Quando eu era mais jovem, durante a Depressão, não havia coisas tão animadas, e os melhores momentos tinham ficado nos anos 1920, com Benny Goodman tocando “Blue Heaven” ou Paul Whiteman, com “When Day Is Done”. Tudo o que havia para ouvir eram
as orquestras. Mas agora eu gostava de tudo, menos do papai cantando “Little Girl, Girl, You’ You’ve ve Had Ha d a Busy usy Day ”, na tentati tentativa va de cri cr iar um clim clim a sentime sentiment ntal al entre pai e filha. “Lost” e “Gone” não criavam o clima certo, então mudei de estação outra vez e sintonizei “Lovely to Look At”, que era o tipo de letra que me agradava. Olhei para trás enquanto cruzávamos o topo das montanhas mais baixas — o ar tão límpido que dava para ver as folhas das árvores em Sunset Mountain, a três quilômetros de distância. Às vezes a gente é arrebatado — pelo ar, simplesmente, desobstruí desobstruído, do, descom de scompli plica cado. do. “ Love ca ntei. ei. Love ly to look look at — de-li de- lightf ghtful ul to to know-w ”, cant “Você pretende cantar para o Stahr?”, quis saber Wylie. “Se for fazer isso, invente invente um verso ver so diz dizendo quanto eu seria ser ia um bom supervisor supervisor.” .” “Ah, mas a conversa vai se resumir a Stahr e a mim”, rebati. “Ele vai olhar pra m im e pensar pe nsar:: ‘Nunc ‘Nuncaa tinha repa r epara rado do nela pra va valer ler’’.” “Essa fala não ent e ntrou rou em nenhu nenhum m roteiro roteiro este este ano. a no.”” “… então ele vai dizer ‘Cecilinha’, do mesmo jeito como falou na noite do terre er rem m oto. oto. Vai Vai diz dizer que não tinha tinha percebid perc ebidoo que eu j á era er a uma m ulher ulher.” .” “E você não vai precisar mover uma palha.” “Vou simplesmente ficar ali, resplandecente. Depois que ele tiver me beij ado com c omoo quem beij a um a crianç cr iançaa …” “Meu roteiro tem tudo isso”, queixou-se Wylie, “e preciso mostrá-lo a Stahr amanhã.” “… ele então vai se sentar com as mãos no rosto e dizer que jamais havia pensado pensa do em m im daquela daque la m aneira ane ira.” .” “Quer diz dizer que já j á no beijo beij o vai rolar rolar algum algum a coisa? coisa?”” “Vou estar ali, resplandecente, já te falei. Quantas vezes preciso dizer que estou na flor da idade?” idade?” “Isso está começando a me soar bem picante”, falou Wylie. “Melhor a gente gente parar pa rar por aqui — precis prec isoo trabalhar trabalhar ainda ainda est e staa m anhã.” “Aí ele diz diz que parece pare ce que desde desde sem pre est e steve eve destin destinado ado a ser o qu quee é.” é .” “Isso é puro cinema. É o sangue de produtor nas suas veias.” Ele fingiu um calafrio. ca lafrio. “Odiaria rece re ceber ber uma um a transfusão transfusão desse negócio. negócio.”” “Aí ele diz…” “Já sei as falas dele todas”, disse Wylie. “O que quero saber é quais são as suas.” “Alguém “Alguém entra”, contin continuei. uei. “E você dá um pulo, levantando-se do sofá enquanto alisa a saia.” “Está “Está querendo quer endo que que eu e u desça aqui a qui m esmo esm o e volte volte pra casa? c asa?”” Estávamos em Beverly Hills, bairro que ia ficando muito bonito então, com seus pinheiros havaianos altos. Hollywood é uma cidade com nítidas divisões, de modo que se pode saber exatamente que classe de pessoas, economicamente
falando, mora em cada região, de executivos e diretores aos técnicos, em seus bangalôs, banga lôs, e a os tem porários. porá rios. Aquele Aque le e ra o ba bairro irro dos exec exe c utivos, utivos, e uma um a de suas fatias mais requintadas. Não chegava a ser tão romântico quanto os vilarejos melancólicos da Virginia ou de New Hampshire, mas parecia agradável naquela manhã. asked d me how I knew ”, ress “ They aske re ssoava oava o rádio r ádio,, “ … my love was true .” Meu coração pegava fogo, embaçando meus olhos e todo o resto, mas eu calculava minhas chances em meio a meio. Caminharia decidida para ele, sem deixar transparecer se iria passar direto ou beijá-lo na boca — e então pararia a uns poucos centímetros e diria “Olá” num tom desconcertantemente desprovido de ênfase. E foi o que fiz — embora, claro, não tenha sido como esperava: os belos olhos escuros de Stahr olhando direto nos meus, sabedores, eu tinha essa certeza mortal, de tudo que se passava na minha cabeça — e sem se constranger por isso, nem um pouquinho. Acho que fiquei lá uma hora, imóvel, e ele não fez mais do que, que, com um esgar do cant ca ntoo da boca, col c olocar ocar as m ãos nos nos bols bolsos os.. “Você vai comigo ao baile hoje à noite?”, perguntei. “Que “Q ue bail ba ile?” e?” “Dos “D os roteiristas, roteiristas, no Am bassador.” bassador.” “Ah, sim sim .” Ele refleti re fletiu. u. “Não posso posso ir ir com c om você. Talvez Talvez apareç apar eçaa m ais tarde tarde.. Temos uma pré-estreia em Glendale.” Tudo muito diferente do que estava planejado. Quando ele se sentou, eu fiz o mesmo e recostei minha cabeça entre os telefones, como se fosse mais um item da escrivaninha, e olhei para ele; e os olhos escuros dele se mantiveram fixos nos meus, por gentileza e nada mais. Os homens geralmente não percebem esses momentos em que uma garota pode ser deles de graça. Consegui apenas que ele tivesse este pensamento: “Por que você não se casa, Celia?” Talvez m encionasse encionasse Robb Robbyy m ais um um a vez, vez, tentando tentando m e arra a rranj njar ar um par. par. “O que eu podia fazer pra que um homem interessante se interesse por mim?” “Diga a ele e le que está está apaix a paixonada.” onada.” “Fico no pé dele?” “Sim “Sim ”, ele e le diss disse, e, com c om um sorriso sorriso.. “Sei lá. Se a coisa não vai, é porque não é pra ser.” “Eu me casaria com você”, ele respondeu, inesperadamente. “Estou me sentindo sozinho pra caramba. Mas sou um velho, e por demais cansado, pra assum assum ir o que quer quer que sej a.” Dei a volt volta na escrivani e scrivaninha nha e parei pare i perto dele. dele. “Me ass a ssuma uma.” .” Ele ergueu a vista, surpreso, pela primeira vez compreendendo que eu falava muito sério.
“Ah, não”, disse. disse. Pare Pa rece ceuu quase infe infeli lizz por um m omento om ento.. “Sou “Sou casado ca sado com o cinema. Não tenho muito tempo” — e ele se corrigiu, rápido — “quero dizer, tem po nenhum.” nenhum.” “Você “V ocê não conseguiri conseguiriaa m e am a m ar.” ar.” “Não é isso”, ele falou e — exatamente como sonhei, mas com uma diferença: “Nunca pensei em você dessa maneira, Celia. Te conheço há tanto tempo. Alguém me falou que você ia se casar com Wylie White”. “E você… nem reagiu.” “Sim, reagi. Ia falar com você sobre isso. Espere até que ele complete dois anos sem beber.” “Não estou nem considerando a hipótese, Monroe.” A conversa havia fugido totalmente do rumo planejado, e, também como nos meus devaneios, alguém entrou — só que eu tinha quase certeza de que obedecendo a um comando oculto de Stahr. Para sempre vou pensar naquele momento, quando senti a presença da srta. Doolan às minhas costas, bloco de anotações na mão, como o fim da infância, como se ali se encerrasse aquele tempo em que a gente recorta figuras. Estava olhando não para Stahr, à minha frente, mas para uma figura dele que eu recortara repetidas vezes: o olhar que, irradiando uma sofisticada compreensão acerca do interlocutor, logo apontava na direção das amplas sobrancelhas, dardejando seus dez mil planos e complôs; o rosto que envelhecia a partir de dentro, dentro, de m odo que que não havia nele rugas r ugas de de preocupação preocupaç ão ou aflição, apenas um ascetismo subtraído a uma silenciosa batalha autoimposta — ou a alguma doença duradoura. Era mais atraente para mim do que qualquer rapaz corado e bronzeado bronzea do circ cir c ulando entre entr e Coronado e De Dell Monte. Monte. Ele e ra m inha figura recortada, como se fotos suas tivessem decorado meu armário na escola. Foi o que eu disse a Wylie White, e, quando uma garota fala ao homem que é seu segundo preferido a respeito do primeiro… é porque está apaixonada. * Reparei na moça muito antes de Stahr aparecer no baile. Não era bonita, pois não há m oças oça s assim e m Los Angeles Ange les — uma um a sozinha sozinha a té c ham a a tençã tenç ã o, mas pegue uma dúzia delas e já não se diferenciam. Tampouco era uma beldade profiss prof issional ional — do tipo tipo que torna o a r rare ra refe feit itoo a ponto de até os hom e ns saíre sa írem m do recinto para respirar. Uma moça apenas, com a pele de um dos anjos coadjuvantes de Rafael e um estilo que obrigava a uma segunda inspeção para ver se o que cham ou atenção atençã o é algum algum a coi c oisa sa que ela está está usando. usando. Reparei nela e a esqueci. Estava sentada nos fundos, atrás de umas colunas, numa mesa cujo atrativo era uma estrela de segunda e esquecida, a qual, na esperança de ser notada e conseguir uma ponta, se levantava para dançar com uns sujeitos desalinhados de quando em quando. Eu me lembrei, com vergonha, da minha primeira festa, em que a mamãe me fez dançar vezes sem conta com
o mesmo rapaz para me manter sob os holofotes. A atriz de segunda falou com várias das pessoas da nossa mesa, mas, como tínhamos mais o que fazer com nossa nossa encenaçã ence naçãoo de mem m em bros da da alt a ltaa sociedade, não consegui conseguiu nada. Do nosso nosso ponto ponto de vista, vista, pare pa recia cia que todos todos ali quer queriam iam alguma algum a coi c oisa. sa. “Espera-se que a gente circule animadamente”, disse Wylie White, “como nos velhos tempos. Quando percebem o propósito, perdem o interesse. Daí toda essa melancolia — a única maneira de esse pessoal manter a autoestima é se portando com c omoo personage per sonagens ns de Hem H em ingway. Mas, Ma s, lá no fundo, f undo, sentem pela gente um ódio ódio funesto, e a gente sabe disso disso.” .” Ele tinha tinha raz ra zão — eu e u sabia que desde de sde 1933 os os ricos só conseguiam conseguiam ser feli fe lizzes sozinhos sozinhos quando reunidos re unidos.. Vi o momento em que, à meia-luz no alto da ampla escada, Stahr entrou e, parado par ado c om a s m ã os nos bolsos, olhou e m volta volta . Era tarde, tar de, e as luzes luzes pare par e ciam cia m brilhar m e nos, e m bora fossem a s m e smas. sm as. O e spetáculo spetác ulo no tablado tinha tinha terminado, exceto por um sujeito que, com um letreiro, anunciava que à meianoite, no Hollywood Bowl, Sonja Henie ia patinar em sopa quente. O homem seguia sua dança, e o letreiro às suas costas ia perdendo a graça. Alguns anos antes, haveria por ali uns bêbados. A estrela esquecida parecia estar procurando por e les, e spera sper a nçosa, nçosa , por cim a do ombro om bro de seu parce par ceiro iro de pista pista . Eu a segui com os olh olhos os enquant enquantoo ret re tornava à m esa… … e lá estava Stahr, para minha surpresa, conversando com a outra moça. Sorriam um para o ou outro tro como se o m und undoo estiv estivesse esse com eçando eç ando ali. ali. * Stahr não estava esperando nada daquilo quando parou no alto da escada, minutos antes. A pré-estreia o decepcionara e, depois dela, e ainda bem em frent fre ntee ao a o cinema, cinem a, ele e le havia havia se envolvi envolvido do num numaa cena c ena com Jacques La Borwitz Borwitz que agora lamentava. Já se dirigia para onde estava reunido o pessoal de Brady, na festa, quando viu Kathleen sentada sozinha no centro de uma mesa comprida e branca bra nca.. A coisa mudou imediatamente. À sua passagem, a caminho de onde estava a moça, as pessoas se encolhiam junto às paredes até parecerem figuras pintadas num mural; a mesa branca se tornou ainda mais comprida, um altar onde a sacerdotisa permanecia só. A vitalidade nele cresceu, e Stahr poderia ter ficado um long ongoo tem tem po par parado, ado, de frent fre ntee para ela, do outro outro lado lado daquela mesa, m esa, a olhar olhar e sorrir. Os donos da mesa iam retornando, rastejantes — Stahr e Kathleen dançavam. Quando a moça chegou mais perto, as várias visões que eu tivera dela se embaralharam; por um momento, tornou-se irreal. Em geral, o crânio de uma garota a fazia palpável, mas não daquela vez — Stahr seguiu embevecido enquanto cruzavam a pista de dança até a última fronteira, onde, atravessando
um espelho, adentraram um outro baile, com outros dançarinos, cujos rostos eram familiares, porém nada mais do que isso. Nesse novo território, ele começ com eçou ou a falar, veloz e urgente. “Como você se chama?” “Kath “Ka thlleen ee n Moore.” “Kath “Ka thlleen ee n Moore” Moore”,, ele repeti r epetiu. u. “Não tenho telefone, se é nisso que você está pensando.” “Quando você vai aparecer lá no estúdio?” “Isso não vai ser possível. De verdade.” “Por “P or que não? nã o? Você é casada? ca sada?”” “Não.” “Não é casada?” casada?” “Não, “Nã o, nem nem nun nunca ca fui. fui. Mas Mas um dia serei, quem quem sabe.” “Alguém daquela mesa?” “Não.” “Nã o.” Ela riu r iu.. “Quant “Qua ntaa curiosid curiosidade! ade!”” Mas ela estava profundamente envolvida com ele, dissessem o que diss dissessem essem um ao outro. outro. Seus Seus olhos olhos o convidavam convidavam a uma um a comunh com unhão ão româ r omânt ntica ica de intensidade inacreditável. Como se tivesse se dado conta disso, ela disse, assust assustada: ada: “P recis re cisoo voltar voltar pra lá agora. Minha Minha próxim próxim a dança j á está está prometi prome tida.” da.” “Não quero perder você de vista. Será que podemos almoçar ou jantar untos?” “Impossível.” Mas sua expressão, sem que ela pudesse evitar, corrigia a frase: “É possível, quem sabe. A fresta da porta continua aberta, se você for capaz ca paz de se esg e sgueirar ueirar por ela. e la. Mas Mas rápi rá pido do — tem tem os pouco pouco tem tem po”. “Preciso voltar”, ela disse outra vez, mais alto. Então deixou cair os braços, parou par ou de dança da nçarr e olhou pa pa ra e le com c om um riso travesso. trave sso. “Quando estou com você, não respiro direito”, falou. Segurando egura ndo a barra bar ra do vestid vestido, o, virou virou as a s costas costas e atravessou atra vessou de de volta volta o espelho e spelho.. Stahr a seguiu até perto per to da da m esa, onde ela parou. pa rou. “Obrigada pela dança”, dança” , ela disse, disse, “e agora, sério sér io,, boa noite.” noite.” E então quase saiu correndo. Stahr foi até a mesa em que o esperavam e se juntou ao grupo da alta-roda — de Wa ll Street, tre et, Grand Gr and Street, tre et, Loundon County, County, Virginia irginia e Odessa, Ode ssa, Rússia. Rússia. Falavam todos, entusiasmados, sobre um cavalo que fizera uma carreira muito veloz, o sr. Marcus o maior entusiasta do tema entre eles. Stahr aventou que os udeus teriam se apoderado do culto a cavalos como algo simbólico — durante anos os cossacos é que andavam montados, e os judeus, a pé. Agora os judeus tinham seus cavalos, o que lhes dava um senso de extraordinário bem-estar e poder. Stahr Stahr se sentou se ntou e fingi f ingiuu prestar pre star atenç a tençãã o, chega c hegando ndo a a quiescer quiesce r quando qua ndo algo era dito a seu respeito, mas o tempo todo espiando a mesa atrás das colunas. Se tudo não tivesse sido como foi, até mesmo o fato de ele ter ligado o cinto
pratea pra teado do à m oça e rra rr a da, Stahr talvez pensasse pensa sse que se tratava tra tava de a lguma lgum a elaborada armação. Mas a obscuridade daquilo estava além de qualquer suspeição. E no momento seguinte ele viu que ela lhe escapava novamente — a gesticulação na outra mesa indicava que se despediam. Ela estava indo embora, ele a perdia. perdia. “Lá vai a Cinderela”, disse Wylie White, malicioso. “Favor devolver o sapatinho sapatinho na Sapataria apa taria Regal, ega l, 812, Sout Southh Broadway.” Broadwa y.” Stahr a alcançou no comprido saguão do piso de cima, onde mulheres de m eia-idade, acom ac omodadas odadas num num espaço reservado, re servado, iso isolado lado por cordas, observavam observavam a ent e ntra rada da do salão salão de baile. baile. “Está indo embora por minha causa?”, ele perguntou. “Já estava indo mesmo.” Mas acrescentou, quase com ressentimento: “Ficaram falando como se eu tivesse dançado com o príncipe de Gales. Todos me olhando. Um dos homens queria desenhar um retrato meu, outro queria me ver amanh ama nhã”. ã”. “Isso é tudo o que eu quero”, falou Stahr, suave, “mas quero muito mais do que ele.” “Como você é insistente”, disse ela, fatigada. “Uma das razões por que vim embora da Inglaterra é que lá os homens sempre queriam impor a vontade deles. Pensei que aqui fosse diferente. Não basta eu dizer que não quero te encontrar?” “Normalmente, sim”, concordou Stahr. “Por favor, acredite em mim, já estou muito fora do meu normal. Eu me sinto um idiota. Mas preciso que a gente volte a se ver e conversar.” Ela hesitou. “Não há razão pra se sentir um idiota”, falou. “Você é um homem bom demais dem ais pra pra se senti sentir ass a ssim. im. Mas devia devia enxergar e nxergar est e staa situaçã situaçãoo como com o ela é.” “E como ela é?” “Você “V ocê se apaix a paixono onouu por mim m im — compl com pletam etamente. ente. Você Você sonha sonha com igo.” igo.” “Tinha te esquecido”, declarou ele, “até o momento em que entrei por aquela porta.” “Me esqueceu em pensamento, talvez. Mas soube de cara, ao te conhecer, que você você é o tipo tipo ddee homem hom em que gosta gosta de mim…” m im…” Ela se interrompeu. Perto deles, um homem e uma mulher, também convidados convidados da festa, f esta, se despediam despediam : “Diga “Diga que mandei m andei um oi pra ela — diga que a amo muito”, falou a mulher, “… vocês dois — vocês todos — as crianças”. Stahr não era capaz de dizer coisas assim, coisas que todo mundo dizia. Não conseguiu pensar em nada mais para falar a ela, enquanto caminhavam até o elevador, além de: “Acho que que você tem toda toda raz ra zão.” “Ah, então admite?” “Não, não é isso”, ele recuou. “É que você tem esse jeito: as coisas que diz, o jeito de andar, sua aparência neste exato minuto…” Notou que ela cedia um
pouco, e sua esper e speraa nça a ume um e ntou. “Am anhã é domingo, dom ingo, e em e m gera ger a l trabalho traba lho aos domingos, mas, se você tiver curiosidade sobre qualquer coisa em Hollywood, qualquer pessoa que queira conhecer ou encontrar, deixe que eu marque pra você, você , por favor fa vor.” .” Estavam parados perto do elevador. A porta se abriu, mas ela não entrou. “Com “Com o você é m odesto”, odesto”, diss disse. e. “S “ Só fica fal fa lando sobre sobre m e m ostrar ostrar o estúdi estúdio, o, m e levar pra lá e pra cá. c á. Você Você nun nunca ca fica sozin sozinho? ho?”” “Am “A m anhã vou estar estar m e sent se ntind indoo muit m uitoo sozin sozinho.” ho.” “Ah, pobre rapaz — estou quase chorando por você. Ele tem todas as estrelas estrelas do do cinem cinemaa dando em cima e esco e scollhe a m im .” Stahr sorriu — tinha deixado a guarda aberta àquele ataque. O el e levador chegou c hegou novam novamente. ente. Ela Ela fez fe z sinal sinal ao ascensori a scensorist staa para esperar espera r. “Sou uma mulher fraca”, falou. “Se aceitar que nos encontremos amanhã, você vai me deixar em paz? Não, não vai. Você vai se comportar ainda pior. Não pode dar da r boa c oisa oisa , só me m e prej pr ej udicar, udica r, por isso isso digo que não, nã o, obrigada.” obrigada .” Ela entrou no elevador. Stahr entrou junto, e os dois sorriram enquanto desciam os dois andares até o saguão, ocupado por lojinhas. Do outro lado, a multidão era contida pela polícia, cabeças e ombros inclinados para a frente, tentando enxergar a passarela. Kathleen estremeceu. “Eles me pareceram tão estranhos quando cheguei”, disse, “como se estiv estivessem essem furiosos furiosos comigo por por não nã o ser fam f am osa.” osa.” “Conheço outra saída.” Atravessaram um armazém, desceram por uma alameda e saíram na noite clara e fresca da Califórnia, ao lado do estacionamento. Ele se sentia distante do baile agora a gora,, ela tam bé bém m. “Muita gente do cinema costumava morar por aqui”, ele disse. “John Barrymore e Pola Negri, naqueles bangalôs ali. E Connie Talmadge vivia naquele prédio de apartamentos estreito e alto, lá adiante.” “Alguém “Alguém ainda ainda m ora aqui a qui hoje? hoje ?” “Os estúdios se mudaram para a área rural”, ele falou, “para onde antigam antigamente ente era er a a áre á reaa rural. Mas passei passei uns uns bons bons m oment ome ntos os aqui. aqui.”” Não Nã o m e ncionou que, dez anos antes, ante s, Minna Minna e a m ãe dela haviam havia m m orado ora do em outro outro dos apartam entos entos lá lá adiante. adiante. “Quantos anos você você tem ?”, ela e la quis quis saber, de repent re pente. e. “Per “P erdi di as contas contas — quase trinta trinta e cinco, acho.” “Na m esa, falaram de você como c omo um m enino enino prod prodíígio. gio.”” “Isso é o que eu vou ser aos sessenta”, ele respondeu, taciturno. “Você vai me encontrar amanhã, não vai?” “Vou”, ela disse. “Onde?” De repente não havia um lugar para se encontrarem. Ela não iria a uma festa na casa de alguém, nem para o campo, tampouco nadar, embora tenha
hesitado aqui, e a um restaurante conhecido também não. Parecia difícil de agradar, mas ele sabia que era por alguma razão. A seu tempo descobriria qual. Ocorreu-lh Ocorre u-lhee que talvez ela fosse irm irm ã ou filha filha de alg a lguém uém fam oso, oso, comprom etida etida a manter-se discreta. Sugeriu que ele a fosse buscar e eles poderiam, então, decidir. “Não “Nã o vai dar certo ce rto”, ”, ela e la falo fa lou. u. “Que tal aqui? aqui? — mesm m esmoo lugar lugar.” .” Ele concordou com a cabeça — apontando para o arco debaixo do qual se encontravam. Levou-a até o carro dela, pelo qual não obteria mais do que oitenta dólares no mercado de usados, e isso se encontrasse um comprador generoso, e a observou se afastar num ronco barulhento. Na entrada da festa, um alarido acompanhou a saída de outro favorito do público, e Stahr pensou se voltava até lá para par a se despedir despe dir.. * Aqui é Celia, retomando em pessoa a narrativa. Stahr finalmente voltou — eram era m m ais ou meno me noss três três e m eia — e m e con c onvi vido douu para dançar. dançar. “Como você está?”, ele quis saber, como se não tivesse me visto de manhã. “Acabei “Aca bei prec preciisando sando conversar conversar long longam am ente ente com um cara.” car a.” Ele Ele queria m anter anter segredo segredo tam tam bém — a coi c oisa sa era séria. séria. “Levei-o para dar uma volta de carro”, continuou ele, inocentemente. “Não tinha inha m e dado conta conta de quanto esta esta parte de Holly Hollywood wood está está m udada.” “Mudada?” “Ah, sim”, ele falou, “completamente. Irreconhecível. Não saberia te dizer muito bem o quê, mas mudou totalmente — tudo. Como se fosse uma cidade nova.” Passado um momento, ele reforçou: “Não tinha ideia de quanto estava mudada”. “E quem era o cara?”, sondei. “Um velho amigo”, ele respondeu, vago, “alguém que conheci há muito tempo.” Eu havia pedido ao Wylie que tentasse discretamente descobrir quem ela era. Ele fora até a mesa e a ex-estrela, animada, o fizera se sentar. Não: ela não sabia quem era a moça — a amiga de uma amiga de alguém — nem o homem que a trouxera sabia bem. De modo que Stahr e eu dançamos ao som da linda música de Glen Miller — tocava toca va “I’ “I ’m on a Se e -Saw”. -Saw” . Estava bom de da dança nçarr a gora, gora , c om bastante espaço na pista. Mas a solidão era maior — maior do que antes de a garota ir embora. Para mim, assim como para Stahr, ela havia levado a noite consigo, carregado com ela a dor da punhalada que eu sentira — deixado o grande salão de baile vazio e sem emoção. Agora já não havia nada, e eu dançava com um homem home m dist distra raíído, que me m e falava f alava sobre sobre como com o Los Los Angeles Angeles estava estava m udada. *
Na tarde tar de seguinte, eles ele s se encontrar enc ontraraa m c omo om o se fossem fosse m estranhos estra nhos num país estrangeiro. A noite anterior era passado, a garota com quem ele havia dançado não existia mais. Um chapéu de cor indistinta entre o rosa e o azul, com um véu quase imperceptível, atravessou o terraço na direção dele, então parou, sondand sondando-lh o-lhee o rosto. rosto. Stahr Stahr tam tam bém parecia pare cia um estranho para ela, terno ma rrom e gravata preta que o tornavam um homem mais tangível do que o smoking da festa, ou do do que que o rosto rosto e a voz na escurid e scuridão ão da noite noite em que se conh c onhec ecera eram m. Ele foi o primeiro dos dois a ter certeza de que estava diante da mesma pessoa: pessoa : na pa parte rte superior, super ior, o rosto e ra o de Minna Minna , luminos lum inoso, o, têm poras pora s delicadas delica das de um castanho cujos reflexos cambiantes compunham o tom suave do cabelo cacheado. Stahr até poderia tê-la envolvido com um braço e puxado para junto dele quase com a intimidade com que se abraça alguém da família — já conhecia, nela, a curva c urva do pescoço, a própria própria compleição c ompleição da col c oluna una vertebral, os cantos dos olhos e o jeito de respirar — mesmo a textura das roupas que usava. “Você “V ocê ficou a noite noite toda aqui a qui esperando? esper ando?”, ”, pergunto pe rguntouu ela, ela , a voz sussurra sussurrant nte. e. “Nem me mexi do lugar.” O problema persistia, ainda o mesmo — não tinham aonde ir. “Queria tomar um chá”, ela sugeriu, “se houver um lugar onde você não seja conhecido.” “Você falando assim, parece que um de nós tem má reputação.” “E não é verdade? verdade ?”, ela riu r iu.. “Vamos até a praia”, convidou Stahr. “Tem um lugar lá onde, certa vez, fui perseguido per seguido por um a foc f ocaa am a m e strada.” strada .” “Você “V ocê acha a cha que ess e ssaa foca f oca poderia nos preparar prepar ar um chá?” “Bem — ela é amestrada. Mas não acho que seja capaz de falar — não acho que seja amestrada a esse ponto. Que coisa é essa que você está tentando esconder?” Pass Pa ssado ado um m oment ome nto, o, ela falo fa lou, u, suave: suave: “T “ Talvez o futuro”, futuro”, e de um j eito eito que poderia poder ia signific significar ar qualquer qualque r cois c oisaa , ou me m e smo sm o coisa nenhum ne nhumaa . Quando iam saindo, no carro dele, ela apontou para o dela, um calh ca lham am beque no estac estaciionamento onam ento.. “O que você acha, ac ha, é seguro?” seguro?” “Sei não. Notei uns forasteiros barbudos rondando por aí.” a í.” Kathlee Kathleenn olhou olhou para ele, alarm ada. “Sério?” Viu que ele sorria. “Acredito em tudo o que você diz”, falou. “É esse seu jeito meigo. Não entendo por que as pessoas têm tanto medo de você.” Ela o perscrutou, em aprovação — um pouco apreensiva com a palidez dele, acentuada pela tarde iluminada. “Você trabalha tanto assim? Trabalha mesmo todo domingo?” Ele satisfez o interesse dela — de forma impessoal, mas não indiferente. “Nem sempre. Anti Antigament gam entee tính tínham am os uma casa — títính nham am os uma casa com
pisc pisc ina e tal — e o pessoal pessoa l apare apa recc ia aos domingos dom ingos.. Eu costuma costum a va j ogar tênis e nadar. Não nado mais.” “Por que não? Faz bem pra você. Pensei que todos os americanos nadassem.” “Minhas pernas ficaram finas demais — já faz alguns anos, e passei a ter vergonha. Tem outras coisas que eu costumava fazer — um monte de coisas: ogava handebol quando quando garoto, garoto, e às à s vezes vezes aqui a qui m esmo esm o — tínham tínhamos os uma quadra, que foi destruíd destruídaa por uma tem pestade.” pestade.” “Você tem um bom físico”, ela disse, um elogio formal, querendo dizer apenas que que ele era um m agro elegant elegante. e. Stahr fez que não com a cabeça, rejeitando o comentário. “O que mais gosto é de trabalhar”, ele disse. “Meu trabalho é muito agradável.” “Você “V ocê sem pre quis quis tra trabalh balhar ar com cinema? cinem a?”” “Não. Quando era mais jovem, queria ser um gerente de escritório — do tipo que sabe onde é o lugar de cada coisa.” Ela sorriu sorr iu.. “Engraçado. “Engraç ado. E hoj hoj e você é m uito uito m ais do do que que isso.” sso.” “Não, acabei sendo mesmo um gerente de escritório”, falou Stahr. “É meu dom, se é que tenho algum. Só que, assim que assumi meu posto, descobri que ninguém sabia o lugar de nada. E descobri que era preciso saber por que cada coisa estava onde estava, e se devia ou não ser deixada ali. Começaram a jogar tudo pra mim, e era um ofício dos mais complexos. Logo passei a ter todas as chaves. E eles não se lembrariam mais qual delas abria cada uma das fechaduras, fec haduras, caso eu as a s devolv devolvesse.” esse.” Pararam num sinal vermelho, e um vendedor de jornais avançou até ele, aos berros: “Mickey Mouse Assassinado! Randolph Hearst declara guerra à China!”. “Vam “V am os ter de com prar esse jornal”, j ornal”, ela diss disse. e. Quando seguiram adiante, ela endireitou o chapéu e se recompôs. Vendo que ele a obser observava, vava, sorriu. sorriu. Ela estava alerta e calma — virtudes que, naquele momento, eram valiosas. Por toda parte dominava a lassidão — a Califórnia estava cheia de gente fatigada e sem nada a perder. perder. E havia havia j ovens, ovens, rapaz rapa zes e m oças, que vivi viviam am tensos tensos porque, porque, em espírito, ainda estavam na Costa Leste, enquanto ali travavam, e perdiam, uma batalha contra o clima. Mas o segredo que todos tinham em comum era a dificuldade de manter algum esforço continuado — um segredo que Stahr não conseguia admitir de fato nem para si mesmo. Ele sabia, porém, que pessoas de outros outros lugares lugares traziam traziam um fluxo fluxo de energia e nergia nova durante durante algum algum tem po. Os doi doiss agora se tratavam am avelmente. avelm ente. Ela Ela não havia feito um m ovim ovim ento sequer, nem tomado atitude alguma que destoasse de sua beleza, que de algum
modo saísse do esquadro. Estava tudo em seu lugar. Ele a avaliava como o faria com a tomada de um filme. E ela não era como uma daquelas filmagens ruins, não era confusa, era clara — segundo o sentido especial que ele dava à palavra, o que implicava equilíbrio, sutileza e proporção, era “agradável”. Chegaram a Santa Monica, onde se localizavam as mansões de uma dúzia de astros e estrelas, encurraladas em meio a uma superlotação que em breve seria equivalente à de Coney Island. Desceram o morro na direção da vastidão do céu e do mar ma r az a zuis, uis, contornando contornando a costa costa até que a praia tivess tivessee nov novam am ente se transformado numa faixa amarela que se estreitava e alargava, os banhistas sumindo e reaparecendo em igual proporção. “Estou “Estou construi construindo ndo um um a casa ca sa nesta área ár ea”, ”, cont c ontou ou Stahr, Stahr, “bem m ais adiante. adiante. em sei por que e stou stou faz fa zendo isso.” isso.” “Talvez pra mim.” “Talvez.” “Acho esplêndido que você esteja construindo uma mansão pra mim sem nem saber como com o eu era.” era .” “Não é bem uma mansão. E não tem telhado. Eu não sabia que tipo você ia querer.” “Não precisamos de telhado. Me disseram que aqui nunca chovia. É como…” Pela forma repentina como ela se interrompeu, ele soube que se lembrara de algum algum a coi c oisa. sa. “É só uma coisa coisa que já j á passou”, passou”, diss dissee ela. “Que coisa?”, ele quis saber, “outra casa sem telhado?” “É. Outra Outra casa ca sa sem telhado. telhado.”” “Você “V ocê era er a feli fe lizz lá?” lá?” “Eu vivia com um cara”, ela falou, “há muito, muito tempo — tempo demais. Um desses erros terríveis que a gente comete. Continuei a morar com ele por um long ongoo tempo tem po após ter ter reso re solv lvid idoo que não queria m ais, ais, mas m as ele não me me deixava ir embora. Até tentava, mas não conseguia deixar. Até que, finalmente, fugi.” Ele escutava, pesando as palavras dela, mas sem julgá-la. Nenhuma alteraçã altera çãoo sob o chapéu chapé u azul e rosa. Ela tinha tinha uns vinte vinte e cinco anos. a nos. Ter Teria ia sido sido um desperdício se não amasse e fosse amada. “Éramos próximos demais”, ela contou. “Talvez devêssemos ter tido filhos — seriam ser iam um contrape contr apeso so à re r e lação. laç ão. Mas Ma s não dá pra ter filhos quando a casa ca sa nem ne m um teto tem tem .” Certo, agora ele sabia alguma coisa dela. Não seria mais como na noite anterior, quando, como se estivesse numa reunião de roteiro, ele não parava de se dizer: “Não sabemos nada da moça. Não precisamos saber muito — mas precisa pre cisam m os saber sabe r algum a lgumaa c oisa oisa ”. Um va vago go passado passa do se desenha de senhava va a trás trá s dela, dela , algo a lgo
mais tangível do que a cabeça de Shiva ao luar. Chegaram ao restaurante, lotado de carros em passeio de domingo. Ao desembarcarem, o grito da foca amestrada disparou reminiscências em Stahr. O dono contou que o animal jamais andava no banco de trás do carro, sempre passava passa va para par a o da fre fr e nte. O home hom e m , era er a e vidente, c riara ria ra laços laç os com o anima anim a l, em bora ain a inda da não adm a dmit itis isse se isso isso par paraa si me smo. “Queria ir ver a casa que você está construindo”, disse Kathleen. “Não quero chá — chá c há é passado.” passado.” Bebeu uma coca em vez disso, e eles então seguiram em frente por mais uns quinze quilômetros sob um sol tão forte que ele precisou apanhar dois pares de óculos escuros num compartimento. Mais uns seis ou sete quilômetros e desceram descer am uma um a pequena colina, colina, chegando chega ndo à est e strutu rutura ra da casa ca sa de Stahr Stahr.. Uma Um a raj r aj ada vinda vinda das bandas do sol sol lançou lançou um borrifo borrifo por sobre sobre as pedras pedra s e para par a c ima im a do c arro. ar ro. Um a betoneira betone ira,, toras tora s de m a deira deir a e detrit detr itos os de c onstruç onstruçãã o, uma ferida aberta na paisagem marinha, jaziam à espera de que o domingo acabasse. Eles circularam perto da fachada, onde se erguiam enormes pilastras para par a sustentar o que viria a ser se r o terr te rraa ço. Ela olhou para as frágeis montanhas atrás, sobressaltando-se de leve diante de seu árido á rido esplend esplendor, or, e Stahr percebeu… perc ebeu… “Não adianta procurar pelo que não está aí”, falou, animado. “Imagine que você está em cima de um daqueles globos com o mapa da Terra — sempre quis ter um quando era m enino.” enino.” “Entendi”, disse ela, depois de um momento. “Fazendo isso, você consegue sentir a Terra girar, não é?” Ele Ele aquiesce aquiesceu. u. “É. Senão seria sempre mañana — à espera da manhã m anhã ou da da lua.” Adentraram a estrutura de andaimes. Uma das peças, projetada para ser o salão principal, já tinha até as estantes de livros embutidas, os suportes das cortinas e o alçapão no chão, onde se acomodaria o projetor de filmes. E, para surpresa de Kathleen, o cômodo dava para uma varanda com cadeiras estofadas e uma mesa de pingue-pongue a postos. Uma segunda mesa de pingue-pongue ficava no recém recé m -plantado -plantado gram ado, logo logo adiante. adiante. “Na semana passada, trouxe convidados para um almoço pré-inauguração”, ele confess c onfessou. ou. “Tinha “Tinha plantado plantado umas um as m udas — gram a e outra outrass coisin coisinhas. has. Queria ver com c omoo fica ficaria ria a atmosfera a tmosfera do lugar lugar.” .” Ela Ela riu r iu de repent re pente. e. “Isso “Isso é gram a de verdade?” verdade?” “É, sim sim — é de verdade.” verda de.” Adiante da faixa que prenunciava o gramado, a escavação do que seria a pisc pisc ina, naquele na quele m ome om e nto tom tomada ada por um bando de gaivotas que, que , ao perc pe rcee bê-los, bê- los, alçou voo.
“Você vai morar aqui totalmente sozinho?”, ela quis saber. “Não vai trazer nem umas dançarinas?” “Provavelmente. Costumava fazer planos, mas agora não mais. Pensei que aqui seria um bom lugar pra ler meus roteiros. O estúdio é minha casa de verdade.” “Foi “Foi o que me m e cont c ontara aram m sobre sobre os hom hom ens de negócios negócios amer am ericanos icanos.” .” Ele notou um toque de crítica no comentário. “A gente faz aquilo que nasceu pra fazer”, falou, suave. “Mais ou menos uma vez por mês alguém tenta me reformar, me diz que vou ter uma velhice vazia quando não puder mais trabalhar. Mas a coisa não é tão simples.” O vento engrossava. Era hora de ir, e ele já havia tirado as chaves do carro do bolso e as chacoalhava na mão, absorto. O toque metálico de um telefone grito gritouu de algum algum lugar, lugar, at a travess ra vessando ando a tarde ens e nsol olar arada. ada. Não Nã o tinha vindo de dentro da c asa, asa , e os dois agora agor a c orriam orr iam de lá para par a c á no ardim, feito crianças brincando de esconde-esconde — até que, finalmente, acorreram ao depósito de ferramentas junto à quadra de tênis. O telefone, aborrecido pela demora, latia ameaçadoramente da parede. Stahr hesitou. “Deix “De ixoo essa porcaria porca ria tocar?” “Eu não conseguiria. A menos que tivesse certeza de quem é.” “Ou é engano, ou alguém alguém tentando tentando me achar ac har.” .” Atendeu. “Alô “A lô… … Interurbano Interur bano de onde? Sim, Sim, é o sr. sr. Stahr Stahr quem está falando.” f alando.” Sua atitude mudou perceptivelmente. Ela presenciava o que poucos antes dela haviam visto em uma década: Stahr estava impressionado. Não chegava a ser inédito, porque ele com frequência fingia se impressionar, mas aquilo o fez parec par ecee r m a is jovem jove m por um m ome om e nto. “É o presi pre sident dente” e”,, ele disse disse a ela, num tom tom quase severo. “Da sua sua compa c ompanhi nhia? a?”” “Não, dos Estados Unidos.” Tentava agir naturalmente por causa dela, mas sua voz denotava ansiedade. “Certo, “Certo, eu aguardo”, a guardo”, resp re spond ondeu eu ao a o telef telefone, one, e vira virando ndo-se -se para pa ra Kathlee Kathleen: n: “Já falei com ele outras outras vezes”. vezes”. Ela ficou observando. Ele sorriu de volta e piscou, como prova de que, em bora devesse dar toda a atenção atençã o àquil àquilo, não a havia esq e squecido uecido.. “Alô”, disse logo em seguida. Ficou escutando. Então falou novamente: “Alô”. Franziu o cenho. “Você poderia falar mais alto”, pediu, educado, e então: “Quem?… O que significa isso?” Ela Ela viu que que a expressão do rosto rosto dele era er a de cont c ontra rariedade riedade agora. a gora. “Não “Nã o quero fal fa lar com ele”, disse disse Stahr Stahr.. “Não!” “Nã o!” Voltou-se para Kathleen: “Acredite se quiser, mas é um orangotango.”
Esperou até que uma longa explicação tivesse terminado; então repetiu: “Não quero falar com ele, Lew. Não tenho nada a dizer que possa interessar a um orangotango.” Acenou para Kathleen se aproximar e, quando ela chegou ao telefone, ele segurou o aparelho de modo que pudesse escutar uma estranha respiração e um grunhido roufenho do outro lado da linha. Em seguida, uma voz: “Não é armação, Monroe. Ele é capaz de falar e é a cara do McKinley. O senhor Horace Horac e Wick W icker ersh sham am está aqui comig com igo, o, com uma um a foto do do McKinl McKinley ey na mão…” m ão…” Stahr ouvia pacientemente. “Já temos um chimpanzé”, falou, depois de um momento. “Arrancou um pedaço peda ço do John Gilbert no ano passado… passa do… Tá c erto, er to, coloque c oloque o bicho na linha linha de novo.” Adottou um Ado um tom formal, form al, como se falasse falasse a uma criança. “Alô “A lô,, orangot ora ngotango.” ango.” Sua express e xpressão ão m udo udou, u, e el e le se virou virou para Kathlee Kathleen. n. “Ele disse ‘Alô’.” “Pergun “P erguntte o nome dele” dele”,, sug sugeriu eriu a m oça. “Alô, orangotango — meu Deus, era só o que me faltava! —, você sabe o seu nome?… Parece que não sabe… Escute, Lew. Não estamos filmando nada parec par ecido ido com Kink Kink Kong , e O macaco peludo não tem nenhum macaco… Claro que tenho certeza. Sinto muito, Lew, tchau.” Ficou aborrecido com Lew, pois pensou mesmo que fosse o presidente e por isso tinha mudado sua atitude, agindo de acordo com a suposta ocasião. Sentiu-se um pouco ridículo, mas Kathleen se sensibilizou e passou a gostar mais dele porque, porque , do outro outro lado la do da linha, era e ra um orangotango. ora ngotango. * Tomaram o caminho de volta, ao longo da costa, com o sol atrás deles agora. A casa parecia mais acolhedora quando partiram, como se isso tivesse sido consequência da visita — o brilho áspero do lugar era mais suportável quando não se estava ali só de passagem, como visitantes na superfície resplandecente da Lua. Olhando para trás a partir de uma curva na costa, viram o céu ganhando um tom rosado por detrás da estrutura incompleta, e aquele ponto lá no alto parec par eceu eu uma um a sim sim pática ilha, ilha, a o m e smo sm o tem po que prom etia horas agradáveis agra dáveis num num dia dia futuro. futuro. Depois de passarem por Malibu, com seus bangalôs vistosos e barcaças de pesca pesc a , estava e stavam m de volta volta à seara sea ra huma hum a na de carr ca rros os em e m pilhados pilhados c ongestionando a extensão da rodovia, de praias feito formigueiros sem nenhum padrão, exceto pelas pela s cabeç ca beças as que, que , no ma m a r, era e ram m pontos pretos pre tos salpicados. salpica dos. Confortos de cidade eram cada vez mais visíveis — cobertores, esteiras, guarda-sóis, fogareiros, sacolas cheias de roupas —; os prisioneiros haviam posto de lado suas algemas naquela areia. Era seu aquele mar, se Stahr assim o
quisesse, ou se soubesse o que fazer com ele — apenas com seu consentimento é que outros molhavam os pés e os dedos nas frias e turbulentas águas do mundo do homem. Stahr pegou um desvio a partir da estrada do mar, subindo um cânion e contornando contornando um um a m ontanha ontanha por outra outra via, via, desert deser ta de gente. O m orro foi virando virando a periferia da cidade. cidade. Parou Pa rou para para abastece abastecerr e estava estava de pé j un untto ao carro. car ro. “A gente podia ir jantar”, falou, em tom quase ansioso. “Você “V ocê talvez estivesse estivesse trabalhando tra balhando a est e staa hora.” “Não “Nã o — não tin tinha ha planejado planej ado nada. Não Nã o podí podíam am os sair sair pra j antar?” antar?” Ele sabia que ela tampouco tinha planos — nenhum compromisso à espera ou lugar lugar especial espec ial aonde ir. ir. Ela Ela regateou re gateou.. “Que tal se a gente fosse comer alguma coisa naquela lanchonete ali do outro outro lado da rua? rua ?” Ele deu uma olhada no lugar, avaliando. “É isso isso mesm m esmoo que que você quer?” “Gosto de comer nessas lanchonetes americanas. Me parecem uma coisa tão esqu e squis isit ita, a, tão est e stra ranha.” nha.” Sentaram-se em banquetas altas para tomar sopa de tomate e comer sanduíches quentes. Era a coisa mais íntima que haviam feito juntos, e ambos sentiram uma espécie perigosa de solidão, e a perceberam um no outro. Compartilharam os cheiros variados do lugar, o amargor, a doçura e o azedume, o mistério da garçonete, que tinha o cabelo tingido apenas na superfície e preto por baixo, e, refe re feiçã içãoo term ter m inada, inada , a na nature turezza m orta de seus pratos pra tos vaz va zios — um a casca ca sca de batata, um pedaço peda ço de picles picles e um caroço ca roço de azeito azeitona. na. * Na rua, rua , sob o crepúsc cr epúsculo, ulo, j á não pare par e cia e sforço sfor ço ne nenhum nhum sorrir sorr ir para par a e le quando entraram no carro. “Muito obrigada. Foi uma tarde agradável.” Não Nã o estavam esta vam longe da casa ca sa dela. dela . Se ntira ntiram m que o início início do trec tre c ho m ais íngreme e o carro roncando mais alto, em segunda marcha, eram o começo do fim. Os bangalôs na subida do morro tinham as luzes acesas — ele ligou também os faróis. Stahr sentia um peso na boca do estômago. “Vam “V am os sair sair outra outrass vezes.” vezes.” “Não”, ela respondeu de pronto, como se estivesse esperando por aquilo. “Vou te escrever uma carta. Me desculpe por esse mistério todo — na verdade, faço isso como consideração a você, pois te quero muito bem. Você devia tentar não trabalhar trabalhar tanto. anto. Prec Pr ecis isaa se casar ca sar de nov novo.” o.” “Ah, não é isso que você devia dizer”, ele desabafou em protesto. “Fomos só nós dois hoje. Pode não ter significado nada pra você — pra mim significou m uit uito. Queria ter m ais tem tem po pra te falar f alar sobre sobre isso isso.” .”
Mas, se ele ganharia o tempo que queria, teria de ser na casa dela, pois já tinham inham chegado chega do e, enquanto enquanto o carro car ro encos enc ostava tava à ent e ntra rada, da, ela faz fa zia que que não nã o com a cabeça. “Pre “P reciso ciso ir agora. Na verdade, ver dade, sou sou comprome com prometi tida. da. Não contei contei a você.” “Não “Nã o é verdade. verda de. Mas Mas tudo tudo bem.” bem .” Acompanhou-a até a porta, parando nos degraus que eram seus desde a outra outra noite, noite, à esp e spera era de que el e la encontra encontrass ssee as chaves c haves dentro da bolsa. bolsa. “Achou?” “Achei”, “Ac hei”, ela disse. disse. Era a deixa para que ela entrasse, mas queria olhar para ele uma vez mais e, deitando a cabeça para a esquerda, depois para a direita, tentava divisar seu rosto na última claridade do crepúsculo. Inclinou-se demais para a frente, e foi natural que a mão dele terminasse por lhe tocar a parte de trás do braço e o ombro, e que ele a trouxesse para junto da sombra do peito. Ela fechou os olhos, sentindo o serrilhado da chave no punho apertado. Soltou um “ah” num suspiro, e então outro “ah”, enquanto ele a puxava ainda mais para perto e, com o queixo, girava o rosto dela de leve. Ambos sorriam quase imperceptivelmente, e ela tinha o cenho franzido também, quando a minúscula distância entre eles se diss dissolv olveu eu na escuridão. esc uridão. Quando voltaram a se afastar, ela balançava a cabeça ainda, embora mais de esp e spanto anto do do que tentando tentando negar o que acont ac ontec ecia ia ali. E era assim assim que acont ac ontec ecia, ia, então, de repente, culpa sua, mas desde muito antes, em que momento? Acontecia assim, de repente, e a cada instante o fardo de arrancar a si mesma da união dos dois, daquilo, se tornava mais pesado e inimaginável. Ele estava exultante; ela se ressentia e não podia culpá-lo, mas não compartilharia daquele úbilo, pois era uma derrota. Até então era uma derrota. E então ela pensou que, se interrompesse a situação de derrota, abandonando-o ali e entrando em casa, ainda ainda assim assim não seria um a vitó vitória. ria. Simplesme Simplesment ntee não seria nada. na da. “Iss “I ssoo não foi ideia ideia m inha”, inha”, diss disse, e, “não “ não foi ideia ideia m inha m esmo.” esm o.” “Posso entrar?” “Ah, não — não.” “Então vamos vam os nos nos enfiar enfiar nesse nesse carro ca rro e partir partir pra algum algum lugar lugar.” .” Aliviada, ela se ateve à exata expressão — partir dali imediatamente era uma vitória, ou assim parecia — como se escapasse da cena de um crime. E logo estavam no carro, morro abaixo com a brisa fresca contra o rosto, e aos poucos ela e la voltou voltou a si. Agora tudo ficava fica va clar c laro, o, preto pre to no branco. branc o. “Vam “V am os voltar voltar pra sua sua casa c asa na praia”, el e la falou f alou.. “Pra lá?” “É — voltar voltar pra sua sua casa. ca sa. Não vam os falar m ais nada. nada. Só quero quero ir.” ir.” * De volta à costa, o céu estava cinzento, e em Santa Monica uma súbita
pancada panc ada de c huva se a bateu bate u sobre e les. Stahr pa parou rou no acost ac ostaa m e nto, c olocou uma capa ca pa de chuva e pux puxou ou a capot c apotaa de lona. lona. “T “ Tem os um um teto”, diss disse. e. O lim lim pador de parapar a-bris brisaa tiquetaqu tiquetaquea eava, va, um som som caseiro ca seiro,, como com o o do relógi relógioo do vovô. Taciturnos, carros deixavam as praias úmidas em direção à cidade. Mais adiante, neblina — os acostamentos da estrada, de ambos os lados, desapareceram, e as luzes dos carros na outra pista pareciam estáticas até pouco antes de, de, num clarão, c larão, cruz cr uzare arem m em senti sentido contrá contrário rio.. Os dois haviam deixado para trás uma parte de si mesmos, e se sentiam leves e livres naquele carro. A neblina se infiltrava por uma fresta, e Kathleen tirou o chapéu rosa e azul de um jeito calmo e lento que o levou a observá-la, tenso, e então ela guardou o acessório sob um pedaço de lona no banco de trás. Depois balançou o cabelo e, ao ver que Stahr ainda olhava, sorriu. O rest re staura aurant ntee da foca am estrada não passava de um pon ponto to de luz na direç direção ão do oceano. Stahr baixou o vidro com um rangido e procurava por pontos de referência, mas uns poucos quilômetros adiante a neblina cedeu, e logo à frente deles uma curva da estrada levou à casa. Ali, a lua aparecia por trás das nuvens. Sobre o m ar, ar , havia havia ai a inda uma um a luz cam ca m biante. biante. A casa tinha se recolhido um pouco a seus aspectos mais concretos. A caminho do único cômodo já pronto, cheirando a serragem e madeira molhada, passara passa ram m pelas pela s vigas viga s gotej gote j antes ante s de um batente bate nte de porta e vencer venc eram am m iste iste riosos obstáculos que lhes alcançavam a altura da cintura. Quando ele a tomou nos braços, bra ços, os dois por pouco não conseguiam conse guiam divisar divisar os olhos um do outro naquela naque la m eia escuri e scuridão. dão. Ele Ele logo tirou tirou a capa ca pa de chuv c huva. a. “Espere”, “Espere” , ela disse. disse. Precisava de um momento. Não via o que aquela relação poderia trazer de positi positivo vo e, em e m bora isso isso não a impedisse im pedisse de e star fe f e liz liz e senti se ntirr desej de sej o, prec pre c isava de um m omento om ento para pensar no que que era er a aqui a quilo lo,, para voltar voltar uma hora atrás no tem tem po e ent e ntender ender como com o acontece acontecera. ra. Ela esperou em seus seus braços, braços, mov m ovendo endo a cabeça ca beça de um lado para outro levemente, como antes, só que mais lenta, e sem jamais tirar os olhos olhos dos dos dele. Foi Foi quando descobriu que ele e le trem tre m ia. Ele se apercebeu no mesmo momento, e seus braços relaxaram. Im ediatam ediatam ente, com voz rouca e provoca provocant nte, e, ela lhe falou, ao mesm m esmoo tem tem po que que puxava o rosto dele para par a si. Em E m seguida, a inda de pé pé,, usando os j oelhos e com algum algum esforço, segurando-o com um dos braços braç os,, despiu-se despiu-se de algum algum a coisa, coisa, que chutou para longe. Ele não tremia mais e a abraçou de novo, enquanto se ajoelhavam juntos e deslizavam para o chão, sobre a capa de chuva. * Mais tarde, permaneceram deitados sem dizer nada, e então ele sentiu por ela um amor tão cheio de ternura que a abraçou apertado a ponto de fazer rebentar uma costura do vestido. O pequeno estalo os trouxe de volta à realidade. “Te “Te aj udo udo”, ”, el e le diss disse, e, tomando toma ndo ddas as m ãos dela.
“Espera um pou pouco. co. Eu estava estava pensando pensando num num a coi c oisa.” sa.” Ela ficou ali, deitada no escuro, pensando irracionalmente no bebê inteli nteligent gentee e infa infati tigável gável que teria, m as em e m seguida seguida deixou que que ele e le a aj udasse udasse a se levantar… Quando voltou ao cômodo, estava iluminado pelo único ponto de luz instalado. “Um sist sistem em a de luz luz de uma um a só lâm lâm pada”, pada” , ele disse. disse. “Apago?” “Apago?” “Não. Está bem agradável assim. Quero ver você.” Sentaram entara m na m oldura oldura de m adeira da j anela, as solas solas dos sapatos sapatos se se tocando. “Você parece distante”, ela disse. “Você “V ocê tam bém.” bém .” “Está surpreso?” surpreso?” “Com o quê?” quê?” “Com o fato de sermos duas pessoas outra vez. Você não pensa — espera — sempre sem pre virar uma um a pess pe ssoa oa só, e aí a í descobre descobre que ainda ainda são duas?” duas?” “Eu me sinto muito próximo de você.” “Eu também de você”, ela disse. “Obrigado.” “ Eu é qu quee agradeço.” a gradeço.” Riram. “Era o que você queria?”, ela perguntou. “Ontem à noite, quero dizer.” “Não conscientemente.” “Fico pensando quando foi que tudo se arranjou”, ela meditou. “Tem um momento em que a gente não precisa, e aí, no momento seguinte, sabe que nada neste neste m und undoo será capaz c apaz de de evi e vitar tar que acont ac onteç eça.” a.” Aquilo denotava alguma experiência e, para sua surpresa, gostou dela ainda m ais por por isso isso.. Para Pa ra o tem peram pera m ento dele, afeit afe itoo à repeti re petiçã çãoo apaixonada, apaixonada, mas ma s não não a rec r ecapit apitul ular ar o passado, passado, era certo ce rto que que as a s coisas coisas devessem devessem ser ass a ssim. im. “Sou mesmo uma um a m ulher ulher rodada”, rodada” , ela diss disse, e, seguindo seguindo os pensamento pensam entoss dele. “Acho “Ac ho que que é por isso isso que não me dei bem bem com a Edna.” “Quem é Edna?” “A garota que você pensou que fosse eu. Aquela pra quem você ligou — que m ora em e m frente à m inh nhaa casa. Ela Ela se m ud udou ou pra pra Santa anta Barbara.” “Quer dizer que era uma prostituta?” “Parece que sim. Foi morar numa dessas, como dizem vocês, casas de tolerância.” “Engraçado.” “Se ela fosse inglesa, eu teria descoberto de cara. Mas parecia igual às outras. Só me contou quando estava indo embora.” Ele a viu ter um calafrio e se levantou para envolvê-la com a capa de chuva. Abriu um armário e uma pilha de travesseiros e esteiras de praia veio ao chão. Havi Ha viaa uma caix ca ixaa de velas, as quais ele ele acendeu ac endeu por todo todo o côm odo odo,, ligando ligando
tam bém o aquec aquecedor edor elétrico elétrico à toma tomada da que que ant a ntes es era usada usada para a lâmpada. lâm pada. “Por “P or que Edna Edna teve m edo de mim? m im?”, ”, ele quis quis saber saber,, de repent repe nte. e. “Por você ser um produtor. Tinha tido uma experiência terrível, ou foi uma amiga dela que teve. E acho, também, que ela era tremendamente idiota.” “Com “Com o foi que que a conheceu? conhece u?”” “Ela “Ela aparec a pareceu eu lá lá em e m casa. Talv Talvez ez achasse que que eu e u era da mesma m esma laia. Dava pinta pinta de ser uma um a pessoa m uito uito agradá agr adável. vel. Me falou fa lou pra cham cha m á -la de Edna, Edna , o tempo todo dizia: ‘Por favor, me chame de Edna’; aí finalmente comecei a chamá-la cham á-la de Edna Edna e ficamos ficam os am igas.” gas.” Ela desceu da moldura da janela, de modo que ele pudesse colocar uns travesseiros para se sentarem e como encosto para ela. “Que é que eu posso fazer?”, ela disse. “Sou uma parasita.” “Não, não é.” Ele a envolveu nos braços. “Fique paradinha pra se esquentar.” Ficaram icara m ali, ali, em silêncio silêncio,, por um tempo. tem po. “Sei por por que você gosto gostouu de m im no com eço”, eç o”, ela disse. disse. “Edna m e cont c ontou. ou.”” “O que foi que ela e la disse? disse?”” “Que m e pareç par eçoo com… com … Min Minna na Davis. Davis. Várias pessoas pessoas já j á m e disseram disseram isso.” sso.” Ele Ele se rec r ecli linou nou,, afastand af astando-se, o-se, e aquiesce aquiesceu. u. “Aqui”, ela disse, levando as mãos às maçãs do rosto e deformando as bochec boche c has de leve. leve . “Aqui “A qui e aqui.” a qui.” “Sim”, concordou Stahr. “Foi muito esquisito. Você se parece mais com o que ela era realm re almente ente do que que com c om a Minna Minna das telas.” telas.” Ela se levantou, mudando de assunto com essa atitude, como se tivesse receio rec eio de falar fa lar daquil daquilo. “Já me aqueci”, disse. Foi até o armário, deu uma espiada dentro e voltou vestindo um aventalzinho cuja estampa de pequenos cristais lembrava neve. Olhou Olhou em volta volta com ar crítico. crítico. “Clar “Claro, o, a gente gente aca a cabou bou de se m udar”, disse, disse, “e há ess e ssaa esp e spéc écie ie de eco ec o aqui.” aqui.” Abriu a porta que que dava para pa ra a varanda vara nda e trouxe trouxe para dentro dentro duas cadeiras de vime, secando-as. Ele observava seus movimentos, atento, ainda que meio tem eroso de que o corpo dela re velasse velasse algum algum defeit defe itoo e quebrass quebra ssee o encant enca nto. o. Ele Ele havia assistido aos testes de filmagem de mulheres cuja beleza vira desaparecer segundo a segundo, como se uma bela estátua saísse a caminhar sobre as frágeis articulações de uma boneca de papel, mas Kathleen tinha firmeza nos pés — e sua fragilidade não passava de uma ilusão. “Parou de chover”, ela disse. “Estava chovendo no dia em que cheguei. Uma Um a chuva tenebrosa — um barulhão barulhão igual igual ao de cavalo ca valoss relinchando. relinchando.”” Ele riu r iu.. “Você vai acabar gostando. Especialmente se for ficar por aqui. Está pensando pensa ndo em fica fic a r? Não pode m e contar c ontar agora a gora?? Qual Qua l é o mist m istér ério? io?””
Ela Ela balançou a cabeça. ca beça. “Ainda não — não vale a pena contar.” “Vem “V em cá, cá , então.” então.” Ela se aproximou e permaneceu de pé junto de Stahr, que recostou o rosto ao tecido frio do avental. “Você “V ocê é um homem hom em cans ca nsado”, ado”, ela falo fa lou, u, pond pondoo a mão m ão nos cabelo ca beloss dele. dele. “Não “N ão ness ne ssee sentido.” sentido.” “Não “Nã o foi a isso isso que me m e refe re feri”, ri”, ela se apress apre ssou ou em corrigir corrigir. “Quis diz dizer er que você vai acabar ficando doente de tanto trabalhar.” “Não queira ser minha mãe”, ele disse. Sej a m inha inha am ante, pensou pensou.. Queria romper rom per com c om o padrão de sua sua vida. vida. Se Se ia morrer em breve, como haviam dito os dois médicos, queria deixar de ser Stahr por um tem po e sair à c aça aç a do am a m or c omo om o os home hom e ns que na nada da têm a ofere ofe recc er, er , como com o esses rapazes rapazes anônim anônim os que que esp e spre reiitam na escuri e scuridão dão das ruas. “Você tirou meu avental”, disse ela, suave. “É.” “Será que ninguém vai nos ver da praia? Apago as velas?” “Não, não apague.” Mais tarde, recostada numa almofada branca, ela sorria para ele. “Eu me sinto como Vênus em sua meia concha”, falou. “Por que você pensou nisso agora?” “Olhe pra m im — não pareç par eçoo uma figura figura de Bot Boticelli? icelli?”” “Não sei”, respondeu Stahr com um sorriso. “Se você diz.” Ela bocejou. “Foi tão bom. bom . E est e stou ou gostando gostando tanto tanto de você.” você .” “Você “V ocê sabe m uito uito das coisas, não sabe? sabe ?” “Como “Com o assim assim ?” “Ah, umas pequenas coisas que você diz. Ou talvez seja o jeito como diz essas coi c oisas.” sas.” Ela ponderou. “Não sei muito”, disse. “Não fui pra universidade, se é disso que está falando. Mas o cara sobre quem te contei sabia tudo e tinha paixão por me ensinar. Inventava programas de estudos e me fazia frequentar cursos na Sorbonne e ir a museus. Aproveitei alguma coisa.” “Ele era e ra o quê? quê?”” “Era meio que pintor, um gênio terrível. E muito mais. Queria que eu lesse Spengler — tudo se se resum r esumia ia a isso. isso. Toda Toda a hist história ória e a filosofi filosofiaa e a harm har m onia, onia, tudo pra que e u pudesse pude sse chegar che gar a Spengler, pengle r, e e ntão eu e u o abandonei aba ndonei antes. a ntes. No N o fim f im das contas, acho que era essa a principal razão por que ele não queria me deixar ir embora.” “Quem foi Spengler?”
“Pois estou te dizendo que não chegamos lá”, ela riu, “e agora estou esquecendo tudo muito pacientemente, pois é improvável que eu vá conhecer outro outro como c omo ele.” e le.” “Ah, m as você não devia esq e squece uecer”, r”, diss dissee Stahr, chocado. c hocado. Respeit Respeitava ava m uito uito o aprendizado, tinha uma memória ancestral das Schules. “Você não devia esquecer.” “Esse negócio ne gócio era er a apenas ape nas o substi substitut tutoo dos bebês.” “Você poderia ensinar seus bebês”, ele disse. “Poderia?” “Claro que poderia. Poderia proporcionar isso a eles enquanto ainda fossem pequenos. peque nos. Quando Qua ndo prec pre c iso saber sabe r a lguma c oisa oisa , tenho de pe perguntar rguntar a a lgum escritor escritor bêbado. Não j ogu oguee fora f ora o que apre ndeu.” ndeu.” “Certo”, ela disse, e se levantou. “Vou repassar aos meus filhos. Mas é um negócio que nunca acaba, esse — quanto mais a gente sabe, mais existe pra aprender, e não para nunca. Aquele cara podia ter sido qualquer coisa, se não fosse fosse um covarde e um tolo tolo.” .” “Mas você você era er a apaix a paixonada onada por ele.” “Ah, sim — de todo o coração.” Ela olhou pela janela, protegendo os olhos. “Tem umas luzes lá. Vamos até a praia?” Ele ficou de pé de um pulo e exclamou: “Nossa, acho que são os cardumes!” “O quê?” quê?” “É hoje hoj e à noite. noite. Está Está em todos todos os j ornais.” ornais.” Ele correu corr eu para fora e ela e la o ouvi ouviuu abrindo abrindo a porta do carro. ca rro. Logo vol voltava tava com um j ornal. “É às dez de z e dezesseis. dezesseis. Daqui a c inco inco m inuto inutos.” s.” “Um eclipse ou algo assim?” “Peixes muito pontuais”, ele falou. “Tire os sapatos e as meias e venha comigo.” Era uma bela noite azul. A maré estava mudando, e os peixinhos prateados se espalhavam à beira d’água à espera das dez e dezesseis. Alguns segundos após a hora marcada, os cardumes vieram dar à praia com a maré, e Stahr e Kathlee Kathleenn agora cam c am inhavam inhavam de pés descalços por por ent e ntre re eles, salt saltit itantes antes na na areia. a reia. Um preto veio na direção dos dois, pela praia, recolhendo os peixes em dois baldes balde s c omo om o se c atasse ata sse gravetos. gra vetos. Surgiam urgia m e m duplas e trios e e m pelotões e companhias, incansáveis e eufóricos e zombeteiros em redor dos pés enormes dos invasores, assim como já faziam antes de Sir Francis Drake ter fincado sua insí insígni gniaa num dos rochedos da costa. “Queria ter outro balde”, disse o preto, parando para descansar um momento. “Você veio de longe”, falou Stahr. “Costumava ir a Malibu, mas não gostam que a gente faça isso lá — aquele
pessoal pessoa l do cinem a .” Uma onda quebrou, obrigando-os a recuar, e no rápido refluxo dela a areia volto voltouu a ficar f icar viva. viva. “Vale “V ale a pena vir vir até aqui?”, aqui?”, quis quis saber Stahr. tahr. “Não vejo a coisa assim. Na verdade, faço esses passeios pra ler um pouco de Emerson. Já leu?” “Eu já” j á”,, respondeu respondeu Kathlee Kathleen. n. “Algum “Algumaa coi c oisa.” sa.” “Tenho um dos livros dele aqui embaixo da camisa. Também trouxe uns autore autoress rosa-cruz rosa-cr uzes, es, mas m as est e stou ou enjoado enj oado deles.” deles.” O vento havia mudado um pouco — as ondas estavam mais fortes, e eles cam ca m inhavam inhavam ao longo longo da linha linha de espum espum a na areia. a reia. “O senhor trabalh traba lhaa com c om quê?”, quê?”, o preto pre to per pergunt guntou ou a Stahr Stahr.. “Com “Com film film es.” “Ah.” Pass Pa ssado ado um m oment ome nto, o, ele ele acrescent acr escentou ou:: “Nunca “Nunca vo vouu ao ci c inema”. nem a”. “Por “P or que não? nã o?”, ”, devol de volveu veu Stahr Stahr,, dire direto. to. “Não “Nã o serve pra nada. Nunca deixo meus me us fil filhos irem.” irem .” Stahr ficou olhando para ele, e Kathleen para Stahr, numa atitude protetora. “Alguns filmes são bons”, ela disse, uma onda a borrifá-los; mas o homem não a escutou. Ela acreditou que podia contra-argumentar e repetiu o comentário, e desta vez ele a encarou com indiferença. “Os rosa-cruzes são contra o cinema?”, Stahr quis saber. “Acho “Ac ho qque ue não sabem do qque ue são a favor . Num Num a semana sem ana é de uma coisa, coisa, na na seguinte é de outra.” Já os peixinhos não tinham dúvidas. Meia hora havia se passado e eles continuavam a aparecer. O preto enchera seus dois baldes e, por fim, seguiu praia pra ia acim ac imaa na direçã dire çãoo da e strada, strada , sem saber sabe r que tinha tinha feit fe itoo balança bala nçarr uma um a indústria. Stahr e Kathl Kathleen volt voltaram ara m à casa, e ela tentava tentava pensar em como com o faria para afastar dele aquele baixo-astral momentâneo. “Coitado “Coitado desse zam zam bo”, falou fa lou.. “Como é?” “Não “Nã o é ass a ssim im que vocês você s cham am esses pobres pobres coitados, coitados, de de zambos zam bos??” “Não “Nã o usam usam os nenhu nenhum m nome especial pra eles.” Depois Depois de de um m oment ome nto, o, ele ele disse: “Eles têm seus próprios filmes”. Já na casa, junto ao aquecedor, ela colocou novamente os sapatos e as meias. “Estou gostando mais da Califórnia agora”, falou, em tom deliberado. “Acho “Ac ho que que estava meio m eio famin fam inta ta de sexo.” sexo.” “Não vamos ficar só nisso, vamos?” “Você sabe que não.” “É bom est e star ar perto de de você.” você .”
Ela soltou um pequeno suspiro ao se levantar, tão pequeno que ele não chegou che gou a notar notar.. “Não quero mais te perder”, ele disse. “Não sei o que você pensa de mim, ou mesmo se pensa em mim. Como você provavelmente já deve ter adivinhado, meu coração é um túmulo”, ele hesitou, perguntando-se se aquilo era mesmo verdade, “mas você é a mulher mais atraente que conheço desde nem sei mais quando. Não consigo parar de olhar pra você. Não sei, neste momento, qual é exatamente a cor dos seus olhos, mas eles me fazem lamentar por todas as pessoas pessoa s do mundo m undo que…” “Para, para!”, ela gritou, rindo. “Você vai me fazer ficar namorando o espelho por semanas. Meus olhos não são de cor nenhuma — são apenas olhos feitos pra ver, e sou tão normal quanto pra mim é possível ser. Tenho dentes bons pra uma um a garota ga rota ingle ingle sa…” “Seus dentes são lindos.” “… mas m as não chego aos pés pés dessas dessas moças m oças que vejo vej o por por aí.” “Para com isso você ”, ele falou. “O que eu disse é verdade, e sou um hom ho m em comedi come dido do.” .” Ela permaneceu imóvel por um momento — pensando. Olhou para ele, depois de volta para si mesma, em seguida mais uma vez para ele — e então abandonou o que pensava. “Pre “P recisam cisamos os ir”, r” , ela diss disse. e. * Eram pessoas diferentes ao pegarem o caminho de volta. Tinham percor per corrido rido a estrada estra da a o longo da costa quatro quatr o vezes naquele naque le dia, a cada ca da vez um casal mudado. Deixavam para trás curiosidade, tristeza e desejo; aquele era um verdadeiro retorno — a eles mesmos, a todo o seu passado e o seu futuro e à presenç pre sençaa invasora do a m a nhã. Ele pediu a e la que se sentassem senta ssem be bem m pe perto rto no carro, ca rro, e ela e la atendeu, mas ma s não par parec eciam iam próxim próxim os, os, porque porque para isso sso é precis pre cisoo que que se esteja estej a ganhando int intimidade. Nada é perm anente. A língu línguaa dele coçava: coç ava: queria convidá-la a irem dormir na casa alugada onde morava — mas sentiu que isso o fari far ia parec par ecer er soli solitário tário.. Quando Quando o carro carr o já j á subia subia o morro morr o até a ca sa dela, Kathleen Kathleen procurou proc urou por a lgo atrás atrá s do estofado estofa do do assento. asse nto. “Perdeu alguma coisa?” “Talvez “Talvez tenha tenha caído ca ído aqui”, ela e la falou fa lou,, tateando dentro da bolsa na escuridão. e scuridão. “E o que era? er a?”” “Um envelop envelope.” e.” “Importante?” “Não.” Mas, ao chegarem à casa, com as luzes internas acesas, ela o ajudou a rem over o encosto encosto e procurou mais ma is uma vez. vez. “Não importa”, disse, enquanto caminhavam até a entrada. “Qual é o
endereço da sua casa de verdade?” “É só Bel-air. Não tem número.” “Onde fica Bel-air?” “É um a espécie de condo condom m ínio, nio, perto de de Santa Monica. Monica. Mas é m elhor elhor você m e ligar ligar no estúdio estúdio.” .” “Certo… boa noite, sr. Stahr.” “ Sr. Sr. Stahr”, ele repetiu, espantado. Ela Ela se corrig c orrigiu iu,, meiga. m eiga. “Bem , então boa noite, noite, Stahr Stahr.. Assim Assim está m elhor?” elhor?” Ele se sentiu um um pouq pouqui uinho nho rej eitado. “Como você quiser”, falou. Recusava-se a deixar transparecer algum distanciamento. Ficou olhando para ela e balançou a cabeça de um lado para o outro, imitando o gesto dela, dizendo sem dizer: “Você sabe o que se passou comigo”. Ela suspirou. Então voltou aos braços dele e, por um momento, era sua de novo, completamente. Antes que pudesse haver alguma nova mudança, Stahr sussurrou um boa-noite e virou as costas para voltar ao carro. Veloz morro abaixo, escutava o próprio interior como se um tema musical, poderoso, poder oso, estranho estra nho e sólido, sólido, de a utoria de um c omposi om positor tor desconhe de sconhecc ido, estivesse prestes pre stes a ser tocado toca do pe pela la primeir prim eiraa vez. Logo soaria soar ia a m úsica, úsica , m as, com o o compositor era novo, ele não reconheceria o tema esperado de imediato. Viria talvez disfarçado no som das buzinas dos carros nos bulevares em tecnicolor lá embaixo, ou então mal se ouviria, um rufar no tambor abafado da lua. Esforçava-se para escutar, sabendo apenas que havia música prestes a começar, nova música, música da qual ele gostava mas não entendia. Era difícil reagir a algo que se poderia abarcar em toda a sua extensão — aquilo era novo, confuso, im possí possível vel de inter interrom romper per ao m eio e cond c onduz uzir ir o rest re stoo com uma antiga antiga part par titura. itura. E havia ainda, persistente, e intimamente ligada à primeira, a questão do preto pre to que e ncontrara ncontra ra na praia. pra ia. Sua figura e spera sper a va por Stahr e m casa, ca sa, c om os baldes balde s cheios che ios de peixi pe ixinhos nhos pratea pra teados, dos, e e staria à sua esper e speraa no estúd e stúdio, io, na m anhã seguinte. Tinha dito que não deixava que os filhos escutassem a história de Stahr. Era preconceituoso e estava errado, e alguém, de algum jeito, precisava lhe m ostrar ostrar isso. isso. Um fil f ilm m e, m uito uitoss fil film es, uma década déca da de fil f ilm m es teriam de ser feit f eitos os para par a faz fa zê -lo ver que e stava equivocado. equivoc ado. De Desde sde o e ncontro c om e le, Stahr j á havia descartado quatro projetos — um dos quais programado para entrar em produção produç ão naquela naque la sem ana. ana . Era E ram m filme film e s limít lim ítrof rofee s em e m term ter m os de inter interesse esse,, m as, submetendo-os ao crivo do preto, ao menos se dera conta de que eram umas porca porc a rias. ria s. E trouxe de volta volta um filme film e difícil que havia atirado atira do aos lobos, lobos, Brady, Marcus e os demais, indo cuidar de outra coisa. Resgatou aquele em nome do preto. pre to. Ao encostar diante de sua casa, as luzes da varanda se acenderam e o empregado filipino surgiu nos degraus da entrada para levar o carro. Na
bibliot bibliotee c a, Stahr encontrou e ncontrou a seguinte lista lista de telefonem telef onem as: La Borwitz
Marcus
Harlow
Reinmund
Fairbanks
Brady
Colman
Skouras Fleishacker etc. O em pregado filip filipin inoo veio veio até a sala com uma um a carta. c arta. “Caiu de de dentro dentro do carro” ca rro”,, inform inform ou. “Obrigado”, “O brigado”, disse disse Stahr. tahr. “Est “ Estava ava procurando.” procur ando.” “Vai assistir a algum filme hoje à noite, sr. Stahr?” “Não, obrigado — pode se recolher.” A carta, para sua surpresa, estava endereçada ao Ilmo. sr. Monroe Stahr. Começou ome çou a abri a bri-la -la — foi quando quando lhe lhe ocorreu ocorr eu que ela a estiv estiver eraa procurando procura ndo para, para , possivelm possivelm ente, ente , rec re c olhê-la. olhê-la . Se Ka Kathl thlee eenn tivesse tivesse telefone, telef one, e le teria ter ia ligado ligado para par a pedir perm per m issã issã o a ntes de abrir abr ir a c orrespondê orr espondência ncia.. ManteveMante ve-aa na m ã o por um m omento om ento.. Havia Havia sido sido escrita escrita ant a ntes es de se conhecere conhece rem m — era estra estranho nho pensar pensar que, o que quer que estivesse escrito ali, agora não valia mais; interessava apenas como com o suvenir, suvenir, por por rrepre epresent sentar ar um estado estado de espírit espíritoo que j á não existi existia. a. Ainda assim, ele não gostava da ideia de lê-la sem pedir à moça. Largou a carta junto a uma pilha de roteiros e, pegando o de cima, sentou-se, pousando-o no colo. Estava orgulhoso por ter resistido ao primeiro impulso de abrir a carta. Parecia ser a prova de que não estava “perdendo a cabeça”. Com Minna, isso amais acontecera, mesmo no início — tinham formado a combinação mais ajustada e régia que se possa imaginar. Ela o amara sempre e, pouco antes de sua morte, ainda que Stahr resistisse e se surpreendesse, foi a ternura dele que rebentou e emergiu, fazendo-o se apaixonar por ela. Apaixonado por Minna e pela m orte ao m e smo sm o tem te m po — pelo m undo no qual ela pare par e cia tão sozinha sozinha que ele chegou a desejar deseja r ir j un untto. Mas nunca fora uma obsessão sua “deixar-se encantar pelas damas” — seu irmão era capaz de se destruir por uma mulher, ou melhor, por uma, depois outra, outra, depois depois outra. outra. Mas Stahr, Stahr, em seus anos de de j uventude, uventude, ficava com elas uma um a vez e só, nunca mais — como quem para no primeiro drinque. Reservava a mente para um tipo bem diverso de aventura — alguma coisa melhor do que uma série de farras emocionais. Como muitos outros homens brilhantes, amadurecera um sujeito totalmente frio. Começou ali pelos doze, provavelm prova velm ente, ente , com a quela recusa re cusa c ompleta om pleta com c omum um a os de extra e xtraordinár ordinária ia forç f orçaa mental, na base do “Olha isso: está tudo errado — uma desordem — tudo mentira — uma fraude…”, e ele então varreu a coisa toda do caminho, tudo, como com o fazem os hom homens ens da sua espécie; e depoi de pois, s, em vez de se tornar um filho filho ddaa puta com o a m a ioria deles, dele s, olhou e m torno, vendo a paisagem paisage m infértil infé rtil que restara, e disse para si mesmo: “Pra isto aqui, jamais vou servir”. De modo que tinha inha tom tom ado a tolerância, tolerância, a bondade, a indul indulgência gência e até a té mesm m esmoo a afeiçã af eiçãoo como com o lições. O rapaz filipino voltou com uma garrafa d’água e tigelas contendo nozes e frutas e desejou boa noite. Stahr abriu o primeiro roteiro e começou a ler.
Leu durante três horas — parava, aqui e ali, para fazer correções com um lápis. Às vezes mirava o teto, reconfortado por algum vago pensamento feliz que não estava no roteiro, e a cada vez demorava um minuto para conseguir lembrar o que era. Então compreendia que era Kathleen e olhava para a carta — era agradável agradável receber uma carta. Eram três horas da manhã quando uma veia começou a latejar no dorso de uma de suas mãos, sinalizando que era hora de parar. Kathleen estava bem distante agora na noite que se desvanecia — os diferentes aspectos dela proj e tados na m em ória de um único e arre ar reba batado tado e stranho, a ele direc dire c ionados como resultado de algumas escassas horas. Pareceu-lhe que não havia mais problem a em e m a brir a c a rta. rta . Caro sr. Stahr, Dentro de meia hora, vou honrar meu compromisso com o senhor. Quando nos despedirmos, entrego-lhe esta carta. É para lhe dizer que em breve bre ve vou m e ca c a sar e que não nã o podere poder e i mais m ais vê-lo vê- lo depois de de hoje. hoj e. Devia ter lhe contado ontem à noite, mas não me pareceu que isso lhe dissesse respeito. E seria uma bobagem desperdiçar uma bela tarde falando disso e vendo seu interesse por mim desaparecer. Que desapareça por completo — agora. A esta altura, já terei dito o suficiente para convencê-lo de que sou digna de um Troféu Abacaxi. (Acabo de aprender esse termo — com minha convidada da noite passada, que ligou e ficou uma hora de visita. Ela Ela parece pare ce acredi acr edittar qu quee todo todo mundo m erece ere ce um Troféu Abaca Abacaxi xi — meno me noss você. Acho que era er a para pa ra eu lhe contar contar que ela pensa isso isso,, então dê a ela e la um emprego, se puder.) Fico muito lisonjeada que alguém rodeado de tantas lindas mulheres — não consigo terminar a frase, mas você sabe o quero diz dizer. er. E vou vou me m e atrasar a trasar se não sair agora m esmo esm o para encontrá-lo. Com meus melhores votos, Kathleen Moore O primeiro sentimento de Stahr se assemelho assem elhouu a um m edo; a segunda segunda coisa coisa que pensou foi que a car c artta não nã o valia mais — ela chegara mesmo a tentar recolhê-la. Mas então lembrou daquele “sr. Stahr”, nas despedidas, e de que ela havia pedido seu endereço — provavelm prova velm e nte já j á teria ter ia escr e scrit itoo outra car c arta ta dize dize ndo, igua igualm lmee nte, adeus. a deus. Ficou chocado chocado com a indi indiferença fere nça da carta c arta em relação ao a o que que acont a contece ecera ra depois, embora não houvesse lógica nisso. Leu-a novamente, reparando que não antecipava nada. E, no entanto, chegando em casa ela havia desistido de recuperá-la para si, diminuindo a importância dos acontecimentos todos, desviando desviando a mente m ente do fato de de que nenhum outro outro homem home m ocupara sua sua consciência consciência naquel na quelaa tarde. tarde . Mas ele nem conseguia conseguia mais m ais acredit acr editar ar niss nissoo agora, e a avent a ventura ura toda toda começa com eçava va a se desfazer desfazer no mom ento ento mesmo me smo em que, invest investig igando, ando, a reca re capi pittulava. ulava. O carro, ca rro, a m ontanha, ontanha, o chapéu, cha péu, a m úsi úsica, ca , a própria própria car c arta ta se desintegravam desintegravam como com o rest re stos os de de papelão entre os detrit detritos os da da casa em construção. E Kathleen partia, levando na bagagem a lembrança de seus gesto gestos, s, a cabeça ca beça que se movi m oviaa suave, o corpo rijo e ardent ar dente, e, os pés
descalços descalços na na areia a reia úmi úm ida e revolt revolta. Os céus empal em paliideceram decer am e escu e scurec recera eram m — o vento e a chuva, chuva , agora agor a lúgubres, lúgubre s, carr ca rrega egara ram m os peixinhos pratea pra teados dos de volta ao mar. Mais um dia, só isso, e tudo que restava sobre a mesa era a pilha pilha de roteiros. rote iros. Subiu para o outro piso. Minna voltou a morrer depois do primeiro lance de escadas, e ele então a esqueceu de novo, absorta e miseravelmente, passo a passo até o últim últimoo degra degr a u. O a ndar vazio vazio se estendeu este ndeu a o redor re dor — portas porta s detrás detr ás das quais não havia ninguém dormindo. No quarto, Stahr tirou a gravata, desamarrou os sapatos e se sentou na beirada da cama. A coisa toda tivera seu desfecho, exceto por algo que não conseguia lembrar o que era; por fim lembrou: o carro dela tinha ficado no estacionamento do hotel. Programou o despertador para ter seis horas de sono. * Aqui é Cecilia retomando a história. Acho que seria de grande interesse acompanhar o que eu mesma fazia a essa altura, uma vez que estamos falando de uma época da minha vida da qual me envergonho. As coisas de que as pessoas pessoa s se enver e nvergonham gonham geralm ger alm ente rendem re ndem boas história histórias. s. Quando mandei que Wylie fosse dar uma sondada na mesa de Martha Dodd, ele não conseguiu descobrir quem era a moça, mas súbito aquilo havia se tornado meu principal interesse na vida. Também tinha o palpite — correto — de que era igualmente o de Martha Dodd. Ter à sua mesa uma garota que é admirada pela realeza, reconhecida pela coroa em nosso pequeno sistema feudal — e nem ne m ao m e nos saber sabe r seu se u nome! nom e! Apenas uma pessoa que eu conhecia costumava falar com Martha, e seria óbvio demais ir até ela, mas fui ao estúdio na segunda e dei uma passada no escritório de Jane Meloney. Jane Meloney era bem amiga minha. Eu a via mais ou menos como uma criança vê um agregado da família. Sabia que ela era roteirista, mas cresci pensando pensa ndo que roteiristas r oteiristas e sec se c retár re tárias ias era e ram m a m esm a cois c oisaa , porém poré m sem deixar deixa r de levar em conta conta qu quee roteiri roteirist stas as geralment geralme ntee cheiravam a bebida bebida e apareci aparec iam para antar antar com c om m ais frequência. frequência. A m aneira de se referir ref erir a am a m bas as categori categorias as era a mesma quando não estavam por perto — a exceção era a espécie a que chamavam dramaturgos, os quais vinham da Costa Leste. Eram tratados com respeito mesmo na sua ausência — se estavam presentes, acabavam misturados com os dem dem ais na na class c lassee genérica de pessoal pessoal do escritóri escritório. o. A sala da Jane ficava no “prédio dos roteiristas veteranos”. Havia um em cada equipe, uma turma de remanescentes dos tempos do cinema mudo emitindo lamúrias monocórdias de redatores e vadios enclausurados. Contava-se a história de um novo produtor que, vendo aquilo, acorreu excitado ao chefe: “Quem são aqueles sujeitos?” “É pra serem sere m roteiris roteiristas. tas.””
“Foi o que pensei. Bem, fiquei observando uns dez minutos e dois deles não escreveram escrevera m sequer sequer uma um a linh linha.” a.” Jane estava a postos em sua máquina de escrever, preparando-se para a hora do almoço. Fui direta e disse a ela que tinha uma rival. “É um m istério istério”, ”, falei fa lei.. “Não “Nã o consegui consegui nem descobrir descobrir o nome dela.” “Ah”, disse Jane. “Bem, talvez eu esteja sabendo de algo a respeito. Ouvi alguém alguém coment com entar ar alguma alguma coisa.” coisa.” Alguém, claro, era seu sobrinho, Ned Sollinger, contínuo no escritório de Stahr. Um dia fora o orgulho e a esperança dela. Mandou-o estudar na Universidade de Nova York, onde ele chegou a jogar no time de futebol. Então, cursando o primeiro ano da faculdade de medicina, depois de levar um fora, dissecou aquela parte menos publicável do cadáver de uma senhora e a enviou para par a a garota gar ota que o preter pre terira ira.. Nã Nãoo m e pergunte per gunte por quê. Te ndo c aído e m desgraça com a sorte e aos olhos dos homens, recomeçou de baixo, e lá continuava. “O que você sabe?”, perguntei. “Foi na noite do terremoto. A moça caiu no lago do terreno dos fundos, e ele mergulhou para salvá-la. Outra pessoa me contou que ela havia se atirado da sacada dele e quebrado o braço.” “Quem era ela?” ela?” “Bem, “Bem , iss issoo também tam bém é curio c urioso so…” …” O telefone tocou, e esperei impaciente enquanto ela mantinha uma longa conversa com c om Joe Joe Reinmund. Ele Ele parecia pare cia est e star ar tentando, tentando, pelo pelo telefone, descobrir descobrir se ela era mesmo boa com roteiros, ou se algum dia tinha de fato escrito algum. E isso porque circulava a história de que Jane teria estado presente no set no dia em que Griffith inventou o close ! Reinmund falava e ela murmurava entre resmung resm ungos os,, contorcia-se, contorcia-se, faz f azia ia care ca retas tas para o aparelho apar elho,, depois depois o coloca colocava va sobre o colo, de modo que a voz apenas ressoasse ao longe — e ainda mantinha uma conversa paralela comigo. “Por “P or que ele e le faz fa z isso isso — pra m atar tempo tem po entre entre dois dois compromiss com promissos os??… Já me me perguntou per guntou essas essa s m e smas sm as c oisa oisa s uma um a s de dezz vezes… respondi re spondi tudo num m em orando orando que que m andei pra ele…” E para o telefone: “Se isso chegar ao Monroe, não me responsabilizo. Quero levar o negócio até o final.” Fechou os olhos, agoniada de novo. “Agora resolveu fazer seleção de elenco… e do elenco secundário… quer colocar o Bubby Ebson… Meu Deus, não tem mesmo o que fazer… agora está falando do Walter Davenport — ele quer dizer o Donald Crisp… está com uma enorme lista de atores aberta no colo, dá pra ouvi-lo virando as páginas… está se achando ac hando um cara ca ra m uit uito im im portante portante hoje… hoje … um segundo segundo Stahr, Stahr, mas, ma s, pelo pelo amor am or de Deus, tenho tenho duas duas cenas ce nas pra escre e screver ver ant a ntes es de ir almoça a lmoçarr.”
Reinmund finalmente desligou, ou acabou interrompido por alguém. Um garçom veio veio do refei refe itório ório com o al a lm oço da da Jane e uma coca-col coca- colaa para m im — eu não estava almoçando durante aquele verão. Jane datilografou uma frase antes de começar a comer. Certo dia, eu estava por ali e ela, junto com um ovem roteirista, roteirista, surrupiou um um a hist história ória do Saturday Evening Post — — mudando os personage per sonagens ns e tal. Aí passara passa ram m a e scre scr e ver o enre enr e do, c ada linha linha de diálogo respondendo respondendo à lin linha ha ant a nterior, erior, e, claro, soava exatam ente como com o gente gente da vida vida real re al empenhada em comunicar alguma coisa — graça ou delicadeza ou bravura. Sempre quis ver aquilo na tela, mas por alguma razão deixei passar. Eu a achava tão adorável quanto um velho brinquedo barato. Faturava três mil por semana, e todos os seus maridos bebiam e a espancavam quase até m atá-la. Mas naquele dia eu tinha tinha um assunt assuntoo importante importante para tratar al a li. “Você “V ocê não sabe o nome nom e dela?”, dela?”, insist insisti.i. “Ah…”, disse Jane, “é isso que você quer saber. Bem, ele ficou ligando pra ela depois, depois, e diss dissee à Kate Ka te Doolan Doolan que, no fim, era e ra o nom nom e erra e rrado. do.”” “Acho “Ac ho que que ele a encontrou”, encontrou”, fal fa lei. “Você “Você conhece Martha Martha Dodd Dodd??” “Não é que ela acabou mesmo muito mal, então!”, exclamou Jane, em pronta e a fetada fe tada dem onstração onstraç ão de solidar solidarieda iedade. de. “Você “V ocê poderia convidá-la convidá-la pra al a lm oçar am anhã?” anhã?” “Ah, mas acho que pelo menos pra comer ela ganha. Tem um mexicano que…” Expliquei que minhas razões não eram exatamente filantrópicas. Jane concordou em aj udar. udar. Ligou Ligou para Martha Martha Dodd Dodd.. No dia seguinte, alm oçam oça m os j untas no Bev Brown De Derby, rby, um restaura re staurante nte modorrento cuja cozinha era apreciada por clientes que pareciam sempre a fim de uma soneca. No almoço era mais animado, com algumas mulheres em polvorosa nos prime prim e iros c inco m inutos inutos a pós term ter m inare inar e m a refe re feiçã ição, o, m as formávamos um trio morno. Devia ter exposto logo de cara minha curiosidade. Martha Dodd era uma moça do campo que nunca chegara a compreender totalmente o que lhe acontecera, o que não trouxera para ela vantagem alguma exceto uma expressão cansada nos olhos. Continuava a acreditar que a vida que havia havia experime e xperiment ntado ado é que era er a rea r eal,l, e o rest re sto, o, apenas um um a longa longa espera. espera . “Eu tinha uma casa linda em 1928”, ela nos contou, “mais de doze hectares de terreno, um campo de minigolfe e uma piscina, mais uma vista maravilhosa. Chegava hegava a enjoar e njoar com tantas antas margaridas m argaridas na na primavera.” prima vera.” Acabei por convidá-la a ir conhecer o papai. Puro remorso, porque tinha “segundas intenções” e me envergonhava disso. Não se deve agir com motivos escusos escusos em Holly Hollywood wood — causa confus c onfusão. ão. Todo Todo m und undoo percebe perc ebe e a gent ge ntee aca a caba ba desgastada. desgastada. Uma Um a segunda segunda intençã intenção, o, ali, ali, é um claro desperdício. desperdício. Jane se separou de nós na entrada do estúdio, irritada com minha atitude covarde. Martha havia se preparado internamente para encarar as possibilidades
de sua carreira — que não eram das maiores, por causa de sete anos de ostracismo, mas equilibravam-se numa espécie de tenso consentimento, e eu seria veemente ao falar com papai. Eles nunca faziam muito por gente como Martha, que tanto dinheiro havia ajudado a faturar em certa época. Deixavam que essas pessoas caíssem na penúria, relegadas a trabalhos temporários — fariam melhor se as deportassem da cidade. E papai andava orgulhosíssimo de mim naquele verão. Eu precisava o tempo todo controlá-lo para que não saísse dizendo a todo mundo quanto minha educação havia sido isso e aquilo para resultar numa joia tão perfeita. E Bennington — ah, uma escola para poucos —, meu Deus, que vergonha. Garanti ao papai que, entre as estudantes, havia uma proporç propor ç ão norm a l de nascidas nasc idas pa para ra c am areir ar eiraa s e lavadora lava dorass de pratos, pra tos, a penas pena s disfarçadas pelo bom gosto dos figurinos chiques da Quinta Avenida; mas ele falava praticamente como um ex-aluno da minha faculdade. “Você teve de tudo”, costumava dizer alegremente. Tudo, aí incluídos, numa conta básica, os dois anos que passei em Florença, onde consegui, contra todos os mais certeiros prognóstic prognóstic os, perm per m a nece nec e r c omo om o a única virgem do c urso, e m e u baile de debutantes em Boston, Massachusetts. Eu era uma autêntica flor da boa e velha aristocracia capitalista. De modo que eu sabia que, de seu escritório, ele faria alguma coisa por Martha Dodd, e sonhei alto que talvez ajudasse também o caubói Johnny Swanson, e Evelyn Brent, e toda sorte de flores descartadas. Papai era um homem charmoso e simpático — exceto daquela vez que o encontrei em Nova York sem estar esperando — e havia algo de tocante no fato de ser o meu pai. Afinal Afinal de contas, contas, era er a o meu fa ria qualquer qualquer coi c oisa sa no mundo por por mim. m im. me u pai — e faria Apenas Rosemary Schmiel estava na sala de espera do escritório, falando no telefone telefone de Birdy Birdy Pet Pe ters. er s. Fez Fez sin sinal al para que eu e u sentasse, sentasse, mas, m as, em polgada polgada com c om meus planos, disse a Martha para ficar à vontade, apertei o botão mágico sob a m esa de Rosema Rosemary ry e segui em direç direção ão à po porta rta que que se abri a bria. a. “Seu pai está em reunião”, gritou Rosemary. “Não exatamente em reunião, m as devo…” devo…” A essa altura eu já atravessara a porta e o vestíbulo e outra porta, e então vi papai papa i em m a ngas de c a m isa, muit m uitoo suado, tentando tenta ndo abrir abr ir uma um a j a nela. nela . Era um dia quente, quente, m as não havia me m e dado da do conta conta de quanto, quanto, e pensei que que ele e le estava doente. doente. “Não, não, estou bem”, disse. “O que houve?” Expliquei a ele. Expliquei a teoria completa sobre pessoas como Martha Dodd, enquanto zanzava de um lado para o outro no escritório. Como dar um eito de aproveitá-las e lhes garantir emprego regular? Papai parecia ter se entusiasmado com minhas ideias, e fazia que sim com a cabeça, aquiescendo, havia muito tempo que não me sentia tão próxima dele. Cheguei mais perto e dei-lhe dei-lhe um beijo no rosto. rosto. Ele Ele trem ia, a cam ca m isa isa ens e nsopada. opada. “Você está doente”, falei, “ou então está muito estressado.”
“Não, “Nã o, não estou, estou, de verdade.” ver dade.” “O que foi? f oi?”” “Ah, é o Monroe”, ele disse. “Aquele desgraçado pensa que é o messias de Vine ine Stre Street. et. Não Nã o sai do meu me u pé, dia e noite!” noite!” “O que acont a contec eceu? eu?”, ”, eu quis quis saber saber,, mui m uito to m ais calma . “Ah, ele fica lá, como se fosse um desgraçado de um sacerdote ou rabino, dizendo o que vai fazer e o que não vai. Não posso te contar agora — estou meio atarant atara ntado. ado. Por que você não vai indo indo na frente? fr ente?”” “Não “Nã o com você nesse estado.” estado.” “Vam “V am os, os, ande!” Fare Farejj ei, mas ele j am ais bebia. bebia. “Vá pentear esse cabelo”, falei. “Quero que você receba Martha Dodd.” “Mas aqui! aqui! Nunca m ais vou vou me livrar livrar dela.” “Lá fora, então. Vá se lavar primeiro. E trocar essa camisa.” Num gesto de exage exa gera rada da impac im paciênc iência, ia, ele foi a té o banheirinho banhe irinho adj a djac acente ente.. Fazia calor no escritório, como se tivesse estado fechado por horas, e talvez fosse isso o que o deixara doente, então abri outras duas janelas. “Vá indo na frente”, ele gritou detrás da porta trancada do banheiro. “Já vou.” “Seja “Sej a m uití uitíss ssimo imo sim sim pático pático com ela”, fa lei. lei. “Nada de carid ca ridade.” ade.” Como se fosse a própria Martha a se manifestar, um longo lamento saiu de algum lugar da sala. Fiquei sobressaltada — em seguida, quando se repetiu, atônita; o ruído não vinha do banheiro onde o papai estava, não vinha de fora do escritório, e sim do armário na parede à minha frente. De onde tirei coragem, não sei, mas avancei para lá e abri a porta, e então a secretária do papai, Birdy Peters, despencou lá de dentro, nua — como um cadáver de filme. Com ela veio uma lufada de ar abafadiço e sufocante. Tombou de lado, uma das mãos ainda agarrada a algumas roupas, e ali ficou, no chão, banhada em suor — foi quando o papai saiu do banheiro. Eu podia senti-lo atrás de mim e, sem precisar me voltar, sabia exatamente qual era sua expressão, pois já o havia surpreendido outras vezes. “Cubra ela”, falei, cobrindo-a eu mesma com a capa do sofá. “Cubra!” Saí do escritório. Rosemary Schmiel viu minha cara ao partir e reagiu com uma expressão aterrorizada. Nunca mais a vi, nem Birdy Peters. Quando íamos embora, Martha perguntou: “Qual é o problema, querida?” — e, como eu não respondi respondia: a: “Você “Você fez fe z o melho m elhorr que pôde. Não era er a um a boa hora, provavelmente. provavelm ente. Sabe o que eu vou fazer fazer?? Vou levar levar você pra conhecer conhece r um a garota inglesa inglesa mui m uito to simpática. Você viu a moça sentada à nossa mesa, aquela com quem Stahr dançou danç ou na outra noite? noite?”. ”. De modo que, pagando o preço de uma pequena incursão ao esgoto da família, consegui o que queria. *
Não Nã o lem bro de m uita uita c oisa oisa da visita. visita. E um bom m otivo otivo e ra porque e la não estava em casa. Com a porta da frente destrancada, Martha foi entrando e chamando cham ando “Kathl “Kathleen” een” com alegre fam fa m iliaridade. aridade. A sala sala era despo despojj ada e formal form al como a de um hotel; havia flores à vista, mas não pareciam ter sido mandadas para par a ela. ela . Martha Mar tha e ncontrou a inda um bilhete bilhete sobre a m e sa que dizia: dizia: “ De Deixe ixe o vesti vestido. Saí pra procurar em prego. Passo amanhã” am anhã”.. Martha o leu duas vezes, mas não parecia ser endereçado a Stahr, e esperamos uns cinco minutos. As casas parecem mortas quando seus donos não estão. Não que eu esperasse vê-las saracoteando por aí, mas deixo a observação a quem interessar possa. Parecem bem mortas. Solenes, quase, uma mosca apenas tomando conta, e que não dá a mínima para quem chega, uma ponta de cortina cortina esvoaçant esvoaça nte. e. “Só fico me perguntando que tipo de emprego”, disse Martha. “Domingo passado passa do ela foi a a lgum lugar luga r com c om Stahr.” tahr.” Mas eu não estava mais interessada. Parecia uma coisa terrível estar ali — sangue de produtor, pensei, horrorizada. E, num pânico repentino, puxei-a para fora, para a luz do sol. Não adiantou — eu me sentia péssima, deprimida. Sempre tivera orgulho do meu corpo — imaginava-o um corpo geométrico, e por isso tudo o que ele fazia parecia certo. E não existia, provavelmente, nenhum tipo de lugar, incluindo igrejas, escritórios e santuários, onde pessoas já não tivessem se abraçado — mas nunca ninguém havia me enfiado nua num buraco na parede, e no meio me io de um dia dia de trabalho. trabalho. * “Se você você estivess estivessee numa num a far f arm m áci ác ia”, a” , diss dissee Stahr, Stahr, “pegando “pe gando uma rece re ceit ita…” a…” “Você “V ocê quer diz dizer numa drogaria? drogar ia?”, ”, pergunto pe rguntouu Boxl Boxley. ey. “Se estivesse numa drogaria”, concedeu Stahr, “pegando uma receita para alguma pessoa da sua família que estivesse muito doente…” “… muito enferma?”, atalhou Boxley. “Muito enferma. É bem aí que, se alguma coisa chamasse sua atenção lá fora, pela janela, qualquer coisa que o distraísse e mantivesse assim, seria provavelm prova velm ente bom m a terial ter ial pra c inem a.” “Um “U m assassinato assassinato vist vistoo pela j anela, ane la, você quer diz dizer.” er.” “Isso mesmo”, disse Stahr, sorrindo. “Poderia ser uma aranha fazendo sua teia na vidraça.” vidraça .” “Clar “Claro… o… entendo.” “Acho que não entende não, sr. Boxley. O senhor vê a coisa como deve ser na sua forma de expressão, não na nossa. Fica com as aranhas para o senhor e tenta tenta colocar coloca r os assass a ssassin inatos atos na nossa nossa conta.” “Eu devia ir em e m bora”, falou f alou Boxl Boxley. ey. “Não “N ão sirvo pra pra vocês. Faz Faz trê trêss semanas sem anas que estou aqui e não consegui fazer nada. Sugiro coisas, mas elas nunca vão para o papel.”
“Quero que fique. Alguma coisa no senhor não gosta de cinema, não gosta de contar uma um a histó história ria dessa form a…” “É uma chateação desgraçada”, desabafou Boxley. “A gente não consegue se soltar…” Conteve-se. Sabia que Stahr, o comandante, encontrava tempo para ele em meio a uma constante e compacta ventania — conversavam por sobre o rangido ininterrupto do cordame de um navio singrando em formidáveis e complicadas amuras no mar aberto. Ou então — parecia, às vezes — estavam numa enorme pedre pedr e ira, ira , onde até a té o má m á rm ore rec re c ém -corta -c ortado do continha traç tra ç os de anti a ntigos gos frontões, frontõe s, de inscr inscrições ições meio m eio apagadas apaga das do passado. passado. “Sempre fico querendo que fosse possível começar de novo”, disse Boxley. “O probl problem a é essa essa produção produção em e m m assa.” assa.” “Essa é a condição”, falou Stahr. “Sempre há de existir uma. Estamos filmando a história de Rubens — suponha que eu te pedisse que retrate gente tola e rica como Bill Brady e eu, Gary Cooper e Marcus, quando o que você queria era pintar Jesus Cristo. Você não encararia como uma condição? A condição aqui é que temos de pegar o que as pessoas gostam de mais folclórico, embalar e devolver a elas. Qualquer coisa além disso é luxo. O senhor não é capaz de nos dar algum luxo, sr. Boxley?” Boxley sabia que podia se juntar a Wylie White naquela mesma noite, no Troc, para falarem mal de Stahr, mas estava lendo Lord Charnwood e reconhecia que o outro, como Lincoln, era um líder conduzindo uma guerra em muitas frentes de batalha; sozinho, praticamente, tinha feito o cinema avançar de uma arrancada na última década, a ponto de o conteúdo das produções de primeir prim eiraa linha linha ter se tornado m ais rico ric o e de m a ior e scopo do que aquilo que se apresentava nos palcos. Stahr só se tornara um artista, assim como Lincoln um general genera l, por por necessi nec essidade dade e de form a aut a utodi odidata. data. “Venha ao escritório de La Borwitz comigo”, disse. “Eles certamente estão precisa pre cisando ndo de um toque de luxo por lá.” lá .” Na sala de La Bo Borw rwit itzz, dois roteirist r oteiristaa s, um a e stenógrafa stenógra fa e um supervis super visor or de poucas pouca s palavra pala vrass c ontinuava ontinuavam m no m e smo sm o impasse im passe tenso e enfum enf umaa çado ça do e m que Stahr os deixara três horas antes. Encarou o rosto de um por vez e nada encontrou. encontrou. Derrot Derr otado, ado, La Borwitz Borwitz fal fa lou com temor tem or revere re verent nte. e. “É que tem os per perso sonagens nagens demais, dem ais, Monroe.” Monroe.” Stahr, afável, bufou. “Essa é a ideia principal do filme.” Tirou uns trocados do bolso, olhou para a luminária do teto e lançou para o alto um um a m oeda de cinq c inquenta uenta centavos, c entavos, que tili tilint ntou ou dentro do lust lustre re.. Exam inou inou as m oedas em sua sua m ão e escolheu escolheu uma de vint vintee e ci c inco. La Borwitz o observava com ar miserável; sabia que aquele era um dos truques preferidos de Stahr, e a areia da ampulheta já se esgotava. Naquele
momento estavam todos de costas para La Borwitz. Súbito, ele tirou as mãos de sua plácida posição sob a mesa e as lançou bem alto no ar, tão alto que elas parec par ecee ram ra m se soltar soltar dos pulsos pulsos — e então entã o e le as apanhou apa nhou de volta volta , c erteiro, er teiro, quando caíram ca íram . Depoi De poiss diss dissoo se sentiu sentiu melhor m elhor.. Estava c ontrolado. ontrolado. Um dos roteiristas tinha sacado algumas moedas também, e logo foram definidas as regras. “A ideia é lançar a moeda tentando fazê-la passar entre as correntes do lustre. A que cair lá dentro acumula como aposta.” Jogaram por mais ou menos meia hora — todos menos Boxley, que se abancou de lado e mergulhou no roteiro, e a estenógrafa, que ficou computando os pontos. Calculou o prejuízo de ter os quatro sem trabalhar e chegou à cifra de mil e seiscentos dólares. Ao final, La Borwitz foi o vencedor, com cinco dólares e cinquenta de arremessos certos, e um porteiro trouxe uma escada portátil para que o dinheiro fosse re tira tirado do do lust lustre re.. Boxley oxley se manifest m anifestou ou ddee repente. r epente. “Isto aqui é encheção de linguiça”, disse. “O quê!” “Não é cinema.” Voltaram-se para ele, atônitos. Stahr disfarçou um sorriso. “Então temos aqui um verdadeiro especialista em filmes!”, exclamou La Borwitz. “Um monte de belas falas”, continuou Boxley, atrevido, “mas nenhuma situação dramática. Afinal de contas, isto aqui não é um romance, certo? E está muito longo. Não consigo descrever exatamente o que me incomoda, mas não está está funci f uncionand onandoo mui m uito to bem bem . E não me m e em e m polga.” polga.” Estava devolvendo na mesma moeda o que vinha escutando havia três semanas. Stahr ficou olhando de longe, espiando os demais com o canto do olho. “Não precisamos de menos personagens”, falou Boxley. “Precisamos de mais. Essa é a ideia, pelo que entendo.” “Essa é a ideia”, disseram os roteiristas. “É… essa é a ideia”, repetiu La Borwitz. Boxley se sentiu inspirado pela atenção que atraíra. “Vam “V am os deixar deixar que cada ca da perso per sonagem nagem se vej a no lugar lugar de outro”, outro”, cont c ontin inuou uou.. “O policial está prestes a prender o ladrão quando percebe que o outro, na verdade, tem a sua cara. Quero dizer, mostramos desse jeito. Quase daria pra me u lugar lugar .” dar um títul títuloo assi a ssim m : Ponha-se no meu .” De repente retomaram o trabalho — tocando variações sobre o tema como se fossem jazzistas numa banda de suingue em plena atividade. Talvez desistissem de tudo novamente no dia seguinte, mas a sala voltou a ganhar vida por um m ome om e nto. O j ogo de m oedas oeda s tivera tiver a tanto efe e feit itoo quanto qua nto a fala fa la de Bo Boxley. xley. Stahr havia recriado a atmosfera propícia — sem jamais consentir com o papel de guia que conduzia os demais, mas se sentindo e agindo e até, por vezes,
parec par ecee ndo um garoti gar otinho nho dando seu show. show. Ao sair, tocou de passagem o ombro de Boxley, num cumprimento deliberado — não queria que, passada uma hora, tivessem se unido contra ele e lhe tirassem o entusiasmo. * O dr. dr. Bae Baerr o aguardava a guardava no escritóri escritório. o. Com Com ele, est e stava ava um rapaz ra paz de cor c or com c om um cardiógrafo portátil parecendo uma enorme mala. Stahr chamava aquilo de detector de menti m entira ras. s. Tiro Tirouu a cam c am isa isa para par a que o exam e xamee sem anal tivess tivessee início. início. “Como “Com o tem se sentido? sentido?”” “Ah… “A h… normal”, norm al”, disse disse Stahr Stahr.. “Uns “U ns maus m aus bocados? boca dos? Tem conseguido dorm dorm ir?” ir?” “Não… umas cinco horas. Se vou cedo pra cama, simplesmente fico lá deitado.” “Tome os comprimidos.” “O am arelo m e dá ressaca.” ressaca.” “Tom “Tomee dois dois dos verm ver m elhos, elhos, então.” “Esse negócio é um pesadelo.” pesadelo.” “Tome “Tome um de cada… ca da… o amare am arello prim prim eiro.” eiro.” “Certo, vou tentar. Como você tem passado?” passado?” “Digamos “Digam os que… que… eu me m e cui c uido, do, Stahr, me preservo.” “Se cuida nada… passa a noite noite em claro, às à s vezes.” vezes.” “E ent e ntão ão durm o o dia dia segui se guint ntee inteiro.” inteiro.” Depois de dez minutos, Baer disse: “Parece que está tudo bem. A pressão sanguínea subiu cinco pontos.” “Que bom”, falou Stahr. “Isso é bom, não é?” “É bom, sim. Vou revelar os cardiogramas hoje à noite. Quando é que tiramos iram os umas uma s férias, você você e eu? e u?”” “Ah, uma hora dessas”, disse Stahr, descontraído. “Mais umas seis semanas e as a s coisas coisas se acal aca lm am .” Baer olhou para ele com um afeto genuíno, que só fizera crescer naqueles últimos três anos. “Você melhorou em 1933, quando deu uma descansada”, falou. “Mesmo tendo parado para do só só por três semanas.” sem anas.” “Vou fazer isso de novo.” Não, Nã o, nã nãoo vai, pensou Baer Bae r. Co Com m a a j uda de Minna, Minna, ele o havia obrigado a alguns curtos períodos de folga, anos antes, e ultimamente dava umas indiretas, tentando descobrir quem eram as pessoas que Stahr considerava seus amigos m ais próximos. próximos. Quem seria capaz c apaz de tirá tirá-lo -lo da rotina rotina e m antê-lo afast afa stado? ado? Algo Algo que quase certamente seria inútil. A morte chegaria em breve para ele, agora. Em coisa de seis meses, podia-se prever, definitivamente. Qual seria o propósito de revelar os cardi car diog ogram ram as? Não dava para conv convencer encer um ho hom m em como com o St Stahr a
parar par ar,, deitar e fica fic a r olhando o c éu por seis m e ses. Ele prefe pre feriria riria m orre orr e r. Dizia Dizia outra outra coisa, coisa, m as, no fim fim , manti m antinha nha a clara urgência por uma um a total total exaustão exaustão a que á se entregara antes. A fadiga era uma droga tanto quanto um veneno, e Stahr obtinha, aparentemente, certo prazer raro e quase físico de trabalhar zonzo de cansaço. Era uma perversão da força vital já conhecida do médico, mas que ele quase havia deixado de tentar controlar. Tinha curado um ou outro homem — vitó vitórias rias inút inúteis, eis, em que da m atança sobravam sobravam os cartu car tuchos. chos. “Mantenha “Mantenha a m oderação”, oderaç ão”, disse disse Baer. Baer. Trocaram um olhar. Será que Stahr sabia? Provavelmente. Mas não sabia quando — não sabia que seria tão breve. “Se moderar, não posso pedir mais”, falou Stahr. O rapaz de cor havia terminado de recolher a parafernália. “Mesmo horário na semana que vem?” “Ok, Bill”, disse Stahr. “Tchau.” Quando a porta se fechou, Stahr ligou o ditafone. A voz da srta. Doolan soou imediatamente. “O senhor senhor conh c onhec ecee algum algum a Kathl K athlee eenn Moore? Moore?”” “Como assim?”, ele perguntou, surpreso. “Tem uma srta. Kathleen Moore na linha. Diz que o senhor pediu a ela que ligasse.” “Ora, meu Deus!”, ele exclamou. Foi tomado de um arrebatamento indignado. Tinham se passado cinco dias — aquilo não ia dar certo, não mesmo. “Ela está aguardando?” “Sim.” “Bem, “Bem , então pode pode passar a ligaç igação.” ão.” Um momento depois, ouviu a voz soar perto dele. “Você se casou?”, quis saber, o tom baixo e enfadado. “Não, “Nã o, ainda ainda não.” Seu rosto rosto e sua form f ormaa estavam estavam bloqu bloquea eados dos na m em ória — ele ali a li,, sentado, sentado, e ela parec par ecia ia se inclin inclinar ar por sobre sobre a escriv escr ivanin aninha, ha, encar enc arando-o ando-o à alt a ltura ura dos olhos olhos.. “O que você pretende?”, ele perguntou na mesma voz mal-humorada. Era difícil falar naquele tom. “Você recebeu mesmo a carta?”, ela perguntou. “Sim “Sim . Chegou naquela noite.” noite.” “É sobre sobre isso isso que que quero falar fa lar com você.” Enfim Enfim soube soube com o agir — indi indignadam gnadamente. ente. “O que há pra conversar a respeito?”, inquiriu. “Tentei “Tentei te te escreve e screverr outra outra carta, ca rta, mas m as não consegui.” consegui.” “Isso “Isso eu tam tam bém j á sei.” sei.” Houve uma pausa. “Ah, anime-se!”, disse ela, surpreendentemente. “Esse não parece você. É
Stahr mesmo quem está falando, f alando, não é? é ? Aquele sr. sr. Stahr Stahr tão afá a fável? vel?”” “Eu me sinto um pouco indignado”, ele disse, de forma quase pomposa. “Não “Nã o vej o qual é o propósit propósitoo dist disto. o. Pelo Pe lo menos me nos eu tin tinha ha guardado guarda do uma agradável agra dável lem brança sua.” “Não acredito que seja você”, ela falou. “A próxima coisa que vai fazer é me desejar sorte.” De repente soltou uma risada: “Foi isso que você planejou dizer? Sei como é horrível quando a gente planeja dizer uma coisa…” “Nunca esperei espere i que que você voltasse voltasse a m e procurar”, procura r”, disse disse ele, digno digno;; mas ma s não adiantou, ela deu outra risada — um riso de mulher que é como o de uma criança, uma só sílaba, um gritinho de deleite. “Sabe como você faz com que eu me sinta?”, ela perguntou. “Como num dia em Londres, durante uma infestação de lagartas, em que uma coisa quente e peluda c aiu na m inha boca.” boc a.” “Sinto “Sinto m uito.” uito.” “Ah, por favor, acorde”, ac orde”, ela e la im im plorou. plorou. “Quero “Quer o te te ver ve r. Não dá pra explicar explicar as as coisas coisas pelo telefone. telefone. Pra P ra m im também tam bém não foi fácil fác il,, entenda.” entenda.” “Estou “Estou muito muito ocupado. ocupado. Tem Tem uma pré-est pré- estre reia ia em Glendale Glendale hoje hoj e à noite.” noite.” “Está me convidando?” “George Boxley, o escritor inglês, também vai.” Ele surpreendeu a si m esmo. esm o. “Quer vir vir cono c onosco? sco?”” “Com “Com o poderíamos poderíam os conver conversar? sar?”” Ela ponderou. “Por que não me liga depois da sessão?”, sugeriu. “A gente poderia poder ia ir dar da r um a volta volta .” A srta. Doolan tentava, no enorme ditafone, entrar na linha com um diretor que naquele naquele m oment ome ntoo estava estava em e m film film agem — a única única int interrupção er rupção perm iti itida. Ele Ele girou girou o botão botão e bradou bra dou um “espere “ espere”” impaciente im paciente para a m áquina. áquina. “Lá pelas onze?”, prosseguiu Kathleen, em tom de segredo. A ideia de “ir dar uma volta” parecia tão insensata que, se tivesse conseguido pensar nas palavras para declinar do convite, ele as teria dito, mas não queria ser uma lagarta. Súbito não restava nele nenhuma outra atitude além da sensação de que, ao menos, o dia estava completo. Tinha agora uma noite — um começo, come ço, um m eio eio e um um fim fim . * Ele bateu na porta de tela, ouviu-a gritar lá de dentro e ali ficou, esperando no último degrau antes da entrada. De um ponto mais abaixo, vinha o zunido de um cortador de grama — um homem aparava o gramado à meia-noite. A lua estava tão brilhante que, quando o rapaz parou para descansar, apoiando-se no cabo ca bo do do aparelho apar elho antes antes de voltar voltar a em purrá-lo, cruzando cruzando o jardi ja rdim m , Stahr Stahr pôde pôde vêvê lo claramente, uns trinta metros adiante e abaixo. Havia uma agitação de meio de verão lá fora — início de agosto, com seus amores imprudentes e crimes impulsivos. Uma vez que pouca coisa mais se podia esperar do verão, tentava-se
ansiosamente viver no presente — ou, se não houvesse presente, inventar um. Ela apareceu, enfim. Estava toda diferente e feliz. Vestia um conjunto cuja saia não parava de puxar para cima no caminho até o carro, com um jeito vistoso, alegre, estimulante e despreocupado de quem diz: “Aperte o cinto, baby. Vamos nessa”. Stahr tinha trazido sua limusine com chofer, e a intimidade do interior do carro, às sacudidelas em mais uma curva na escuridão, dissipou de vez qualquer estranheza. A seu modo, o pequeno trajeto que fizeram foi um dos melhores momentos de toda a sua vida. Certamente um momento em que, caso ele soubess soubessee que est e stava ava para pa ra m orrer, orre r, saberia que não era naquela naquela noite. noite. Ela lhe contou sua história. Sentou-se ao lado dele tranquila e luminosa por um tempo, ganhando embalo, excitada, levando-o com ela a lugares distantes, conhecendo e encontrando as pessoas que já conhecia. A história era vaga de início. nício. “Aquele “Aquele Cara” Cara ” era e ra o que ela havia am a m ado e com quem tinha tinha vivi vivido. do. “Esse “Esse Americano” Am ericano” era o que que a havia resgatado resgatado quando quando afundava afundava em arei are ia m ov ovedi ediça. ça. “Quem é el e le, o Americano? Am ericano?”” Ah, nomes… de que importavam? Nenhum tão importante quanto Stahr, nem tão rico. Ele tinha morado em Londres e agora ambos morariam ali. Ela seria uma boa esposa, uma pessoa real. Ele estava se divorciando — não apenas por ca c a usa dela de la — e isso isso adiava adia va um pouco as a s coisas. “Mas e o primeiro cara?”, Stahr quis saber. “Como é que você se meteu nessa?” Ah, no começo foi uma bênção. Dos dezesseis aos vinte e um anos, o problem a ha havia via sido sido c omida. om ida. No dia e m que a m a drasta dra sta a apre apr e sentou a o Tribunal, as duas tiveram que comer com um xelim, o mínimo para não desmaiarem de fraqueza. Um pedaço a seis pence, mas a madrasta ficou observando enquanto ela comia. Morreu depois de alguns meses, e ela teria vendido o próprio corpo por aquele xelim, se não estivesse debilitada demais para ir para a rua. Londres pode ser hostil — ah, se pode. Ela contava com alguém? Havia os am igos igos,, na Irlanda, I rlanda, que que enviavam enviavam m anteiga. anteiga. Havia o sopão. sopão. Havia as visitas a um tio, que lhe dava uns adiantamentos quando ela estava de estômago cheio, e ela pedia mais e conseguia cinquenta libras para não contar à esposa dele. “Não dava pra você trabalhar?”, perguntou Stahr. “Eu trabalhava. Vendia carros. Vendi um, certa vez.” “Mas não dava pra você ter um emprego normal?” “É difícil… é diferente. Havia a sensação de que gente como eu tirava os empregos de outras pessoas. Uma mulher me agrediu quanto tentei conseguir uma vaga como com o arrumadeira arrum adeira num num ho hottel.” el.” “Mas “Ma s você tinha tinha passado por um Tribunal?” Tribunal?” “Foi minha madrasta quem fez isso — uma tentativa desesperada. Eu não
era ninguém. Meu pai foi abatido pelos Black-and-Tans em 1922. Escreveu um Last Blessing . Você livro ivro cham c hamado ado Last Você j á leu? le u?”” “Não leio.” “Queria que você comprasse os direitos de adaptação. É um bom livrinho. Até hoje hoj e rece re cebo bo os dire direit itos os — dez dez xelins xelins por por ano.” a no.” Aí ela conheceu “O Cara”, e eles deram a volta ao mundo. Ela já estivera em todos os lugares sobre os quais Stahr tinha feito filmes, e vivera em cidades de cujo nome ele jamais ouvira falar. Então “O Cara” entrou em decadência, bebendo bebe ndo e dorm indo com c om a s em prega pre gadas, das, tentando e m purrápurr á-la la para par a os a m igos. Estes, todos, tentavam convencê-la a continuar com ele. Diziam que ela o salvara e agora precisava se manter firme por mais tempo, indefinidamente, até o fim. Era seu dever. Fizeram uma enorme pressão. Mas ela havia conhecido O Americano Am ericano e, por por fim, se m ando andou. u. “Você devia ter dado o fora antes.” “Bem, sabe, era difícil.” Ela hesitou, e acabou decidindo falar. “Sabe, eu estava fugindo de um rei.” Os parâmetros morais dele, de certa forma, desabaram — ela conseguira sobrepujá-lo. Uma confusão de pensamentos atravessou-lhe a galope a cabeça — um deles, dele s, um vago e a ntigo ntigo credo cr edo de que toda reale re alezza é doentia. “Não era o rei da Inglaterra”, ela falou. “Meu rei estava desempregado, como ele mesmo costumava dizer. Tem um monte de reis em Londres.” Ela riu — depois de pois ac a c resce re scentou, ntou, quase qua se desafia desa fiadora dora:: “Ele “ Ele era er a m uito uito a trae tra e nte, a té com eçar eç ar a beber e apront a prontar ar todas”. “E ele e le era rei re i do do qu quê? ê?”” Ela lhe disse — e Stahr visualizou o rosto num velho cinejornal. “Era um homem muito culto”, ela falou. “Seria capaz de ensinar todo tipo de assunto. Mas não se parecia muito com um rei. Não como você parece. enhum deles parecia.” Dess De ssaa vez foi Stahr Stahr que riu. “Você sabe o que eu quero dizer. Todos eles se sentiam antiquados. A maioria tentava com grande esforço se manter atualizada. Um era sindicalista, por exem exe m plo. E outro cost c ostum umaa va c arre ar regar gar c om e le uma um a s m a térias tér ias sobre quando fora semifinalista de um torneio de tênis. Vi aqueles recortes uma dúzia de vezes.” Seguiram rodando, atravessaram Griffith Park e além, passando pela escuridão dos estúdios em Burbank, pelos aeroportos e, no caminho de Pasadena, pelos letreiros letre iros de neon dos c abaré aba réss à beira beir a da estrada. estra da. Em sua cabeç ca beça, a, ele a queria, mas era tarde, e a viagem, por si só, um prazer irresistível. Deram-se as m ãos e, a cer c erta ta altura, altura, ela se aproxi a proxim m ou e, em seus braços braç os,, diss disse: e: “Ah, você você é tão gentil. Gosto mesmo de estar com você”. Mas a mente dela estava dividida — aquela não era uma noite dele, como a tarde de domingo havia sido. Estava
absorta em si mesma, inflamada de entusiasmo por contar-lhe suas aventuras; ele não pôde evitar de se perguntar se afinal ouviria a história que ela vinha adiando, adiando, sobre sobre O Am ericano. er icano. “Faz quanto tempo que você conhece O Americano?”, ele quis saber. “Ah, já o conhecia fazia vários meses. A gente costumava se encontrar. A gente se entendia. Ele sempre dizia: ‘Parece que, de agora em diante, são favas contadas’.” “Então por que você me ligou?” Ela hesitou. “Queria te ver mais uma vez. E também — era pra ele chegar hoje, mas ontem à noite veio um telegrama dizendo que demoraria mais uma semana. Queria conversar com um amigo — afinal, você é meu m eu am igo go.” .” Ele a queria muito, mas uma parte de sua mente se mantinha fria e seguia diz dizendo: ela quer conferi confer ir se est e stou ou apaixonado apaixonado,, se quero me m e casar ca sar com c om ela. Só Só aí é que vai va i pensar pensar se desp de spac acha ha ou não esse cara ca ra.. Não vai consid consider erar ar a hipótes hipótesee até a té que eu tenha me comprometido. “Você está apaixonada pelo Americano?”, perguntou. “Ah, estou. Está tudo acertado. Ele salvou minha vida e minha razão. Está percor per corre rendo ndo me m e io mundo m undo por mim m im.. Por P or insistênc insistência ia m inha.” “Mas você está está apaixonada apaixonada por ele?” ele?” “Ah, “A h, sim sim . Estou Estou apaix apa ixonada.” onada.” Aquele “ah, sim” lhe dizia que ela não estava — lhe dizia para falar sobre seus próprios sentimentos que ela então veria. Tomou-a nos braços e a beijou deliberadamente na boca e a reteve por um bom tempo. Era tão cálido. “Hoj e não”, não” , ela sussu sussurrou. rrou. “Tudo bem.” Pass Pa ssara aram m pela ponte ponte dos sui suicídios cídios,, com seu novo novo e m ais elevado alambrado. alam brado. “Sei o que é aquilo ali”, ela disse, “mas que idiotice. Os ingleses não se m atam qu quando ando não não conseguem conseguem o que que querem .” Fizer izeram am o retorno na na ent e ntra rada da de um hotel hotel e iniciara iniciaram m o cam ca m inho inho de de volta. volta. A noite estava escura, sem lua. A onda de desejo tinha passado e nenhum dos dois falou por por um tem po. O papo dela sobre sobre rei re is o havia havia transport transportado, ado, estranhamente estranham ente e em flashes, a um edulcorado White Way, na Main Street de Erie, Pensilvânia, quando era um menino de quinze anos. Havia um restaurante com lagostas na vitrine, e matinhos verdes e luzes brilhantes numa caverna de conchas, e além, atrás de uma cortina vermelha, o terrivelmente excêntrico e inquietante mistério de pessoas e música de violino. Isso foi logo antes de partir para Nova York. Aquela garota lhe trazia à lembrança peixes frescos no gelo e lagostas na vitrine. Ela era e ra do tipo tipo bonequinha. bonequinha. Minna Minna nunca fora do tipo tipo bonequinha. bonequinha. Olharam um para o outro, e os olhos dela perguntavam: “Caso com O Americano?”. Stahr não respondeu. Passado um momento, falou: “Vamos a
algum lugar no fim de semana.” Ela ponderou. “Am anhã, você quer dizer?” dizer?” “Amanh “Am anhãã m esmo.” esmo.” “Bem, “Bem , am anhã te resp re spond ondo”, o”, diss dissee ela. e la. “Responda hoje à noite. Senão vou ficar preocupado que…” “Apareç “Apar eçaa um bilh bilhete ete no seu carro? ca rro?”, ”, ela e la riu. “Não, “Nã o, não vai haver haver bilh bilhetes etes no carro. ca rro. Você Você j á sabe de quase tudo tudo agora.” “Quase tudo.” “É… quase. Umas poucas coisinhas.” Ele precisaria saber que coisinhas eram essas. Ela contaria no dia seguinte. Ele duvidava — queria duvidar — que tivesse havido um emaranhado de relações relaç ões frívol frívolas: um um a fi f ixação xaçã o a m antivera antivera presa ao ao C Car ara, a, ao a o rei, obst obstin inadam adam ente e por longo tempo. Três anos de uma posição altamente anômala — um pé no palác palá c io, outro outro nos basti ba stidore dores. s. “Só rindo muito”, ela e la disse. “Apre “A prendi ndi a rir dem ais.” “Ele podia ter casado com você — como aconteceu com a sra. Simpson”, protestou Stahr Stahr.. “Ah, ele ele era casado. E não não era um românt româ ntiico.” Ela Ela se interrom interrompeu. peu. “E eu, sou?” “É”, “É” , diss dissee ela, e la, contrar contrariada, iada, como com o se estivess estivessee descar de scarttando um trunfo. “Uma “Um a parte par te sua é . Você Você é três trê s ou quatro hom ens difere dife rentes ntes ao a o me m e smo sm o tem po, mas m as cada c ada um deles um livro aberto. Como todos os americanos.” “Não comece a confiar nos americanos tão implicitamente”, respondeu ele, sorrident sorridente. e. “El “ Eles es podem ser m uit uito transpar transparentes, entes, ma s mudam m udam rapidinho rapidinho.” .” Ela Ela pareceu parece u preocupada. preocupada. “Mudam “Mudam , é?” é?” “Muito rápido, e de maneira radical”, ele disse, “e não há o que os faça voltar ao que eram.” “Você me assusta. Sempre tive uma grande sensação de segurança com os americanos.” Ela Ela parece pare ceuu tão soz sozinha inha que ele pegou pe gou sua sua m ão. “Aonde vamos amanhã?”, falou Stahr. “Que tal irmos às montanhas? Tenho uma pilhas de coisas a fazer amanhã, mas não vou fazer nada. Podemos começar come çar a escal e scalar ar às à s quat quatro ro da manh ma nhãã que à tarde chegam os lá.” “Não “Nã o tenho tenho mui m uitta certez ce rteza. a. Pare P arece ce que estou estou um pou pouqui quinho nho confusa. Não m e sinto muito mais aquela garota que veio pra Califórnia em busca de uma vida nova.” Ele poderia ter dito: “Mas isto aqui é uma vida nova”, porque ele sabia que era, sabia que não podia deixá-la ir agora; mas alguma outra coisa pedia que ponderasse ponder asse um pouco m a is c omo om o adulto, sem rom a ntism ntismo. o. E que não dissesse dissesse
nada a ela até o dia seguinte. Ela, no entanto, continuava a mirá-lo, o olhar passeando passe ando da testa ao a o queixo e e ntão uma um a vez ma m a is, de cim c imaa a baixo, com c om aquele aque le estra estranho nho movim movim ento ondu ondulant lantee e lento da da cabeça ca beça.. … É sua chance, Stahr. Melhor aproveitar. Ela é sua garota. É ela quem pode salvá-lo, tra trazzê-lo ê- lo de de volta volta à vida. vida. Vai Vai te col c oloca ocarr sob os cuidados dela dela e você vai se fortalecer pra poder voltar. Mas pegue-a agora — declare-se e leve-a com você. enhum de vocês você s sabe, sabe, m as longe longe daí, nessa nessa m esma esm a noite, noite, O Americano Ame ricano mudo m udouu de planos. Nesse momento mesmo o trem em que viaja atravessa Albuquerque a toda a velocidade; cumpre com precisão o itinerário. O maquinista está no horário. Pela manhã estará aqui. … O chofer virou morro acima na direção da casa de Kathleen. Parecia fazer calor mesmo na escuridão — qualquer lugar ali perto pelo qual tivesse passado passa do era er a , para pa ra Stahr, tahr , uma um a e spécie spéc ie de lugar enca enc a ntado: aquela aque la limusi lim usine, ne, a c asa sendo erguida na praia, as próprias distâncias que os dois haviam percorrido na extensão da cidade. O morro que subiam agora emitia certo brilho, um som contínuo que lhe despertava na alma um estado de prontidão e deleite. Ao se despedir, ele sentiu novamente que era impossível deixá-la, ainda que por a lgumas lguma s horas. hora s. Eram Era m apenas ape nas dez anos de difere dife rença nça e ntre os dois, dois, m as a loucura que o tomava era a do amor que sente um velho por uma menina. Uma profunda prof unda e desesper dese speraa da urgência urgê ncia de tem po, um relógi re lógioo no com c ompasso passo do cora c oraçã ção, o, o que o instou a, contra toda a lógica de sua vida, passando por ela e entrando na casa, ca sa, diz dizer: “Ist “I stoo é pra sem pre”. pre” . Kathleen aguardava, ela própria indecisa — uma geada rosada e prateada à espera de derreter com a primavera. Era uma europeia, reverente diante do poder, poder , m a s havia nela um poderoso poder oso autorre autor respeito speito que a impedia im pedia de ceder ce der m ais do que isso. isso. Não se iludia iludia quanto às consider consideraç ações ões que m oviam oviam príncipes. “Vamos às montanhas amanhã”, falou Stahr. Milhares de pessoas dependiam de suas decisões equilibradas — pode acontecer que, de repente, perca per ca força for ça uma um a car c arac acter teríst ística ica que por vinte vinte anos a nos defini def iniuu alguém algué m . Na m a nhã seguinte, um sábado, sába do, ele e le e steve m uito uito ocupado. oc upado. Às duas, quando voltou do almoço, havia uma pilha de telegramas à espera — um navio da companhia se perdera no Ártico; uma das estrelas do estúdio caíra em desgraça; um roteirista movia um processo de um milhão de dólares. Judeus morriam miseravelmente além-mar. O último telegrama o confrontou: Casei hoje ao meio me io-dia. -dia. Adeus; e, num adendo colado numa etiqueta: Envie Env ie sua resposta pela Western Union Telegram .
6 Eu não sabia de nada disso. Fui para Lake Louise e, quando retornei, nem passei passe i perto per to do estúdio. Ac Acho ho que teria ter ia tomado tom ado o rum o da Co Costa sta Leste Le ste em m eados ea dos de agosto agosto — não não fosse fosse Stahr Stahr m e ligar ligar em e m casa, ca sa, certo cer to dia. dia. “Quero que você você m e aj a j ud udee com c om uma coisa, coisa, Celi Celia… a… quero conhecer conhecer alguém alguém do Partido Comunista.” “Quem ?”, eu e u quis quis saber, um pou pouco co surpresa. “Qualquer m em bro do partido. partido.”” “E você não tem um m onte onte deles de les aí? aí?” “Quero dizer um dos líderes — de Nova York.” O verão anterior, para mim, havia sido só política — eu teria conseguido até um encontro com Harry Bridges naquela época. Mas então meu namorado m orreu orre u nu num m acid ac idente ente de carro ca rro depois depois que que voltei voltei para a faculd fa culdade, ade, e agora est e stava ava afastada dessas coisas. Tinha ouvido falar que um cara da The New Masses andava no pedaço, pedaç o, em algum algum lugar lugar.. “Você garante imunidade?”, perguntei, brincando. “Ah, sim”, respondeu Stahr, sério, “não vou prejudicá-lo. Arranje um que fale bem be m — diga diga pra trazer trazer com ele um de seus liv livros. ros.”” Falava como se pretendesse se encontrar com algum membro de seita oculta. “Você quer loira ou morena?” “Ah, arranj e um cara”, car a”, fal fa lou ele, ele, mais m ais do que que depressa. depressa. Ouvir a voz de Stahr me animou — desde que flagrara o papai, as coisas todas par parec eciam iam patinar patinar um pou pouco. co. Com Com Stahr, mudava m udava tudo tudo — mudava o j eito eito de ver, mudava o próprio ar. “Não acho que seu pai precise ficar sabendo”, ele disse. “Podemos fingir que o cara ca ra é um m úsico úsico búlg búlgar aroo ou algo algo assim assim ?” “Ah, esse pessoal não não anda a nda m ais disfarç disfarçado.” ado.” Foi mais difícil de arranjar do que eu pensava — as negociações de Stahr com o Sindicato dos Roteiristas, que já duravam mais de um ano, caminhavam para par a um impasse im passe.. Ta lvez eles ele s tem essem esse m ser corrom cor rom pidos, pidos, e m e perguntara per guntaram m qual era a “proposta” de Stahr. Mais tarde, Stahr me contou que havia se prepar pre paraa do pa para ra a reunião re união ve vendo ndo os fil f ilm m es da Rú Rússi ssiaa revolucionár re volucionária ia que tinha tinha na filmoteca de casa. Também mandou projetar O gabinete do doutor Caligari e O cão andaluz , de Salvador Dalí, possivelmente porque suspeitava que tivessem algum algum a coisa coisa a ver com a questão. questão. Os film film es russos russos o haviam haviam surpre surpreendi endido do ainda ainda nos anos 1920 e, por sugestão de Wylie White, chegara a pedir ao departamento de roteiros que lhe preparasse um “tratamento” de duas páginas baseado no anifesto comunista . Mas já não pensava nessa questão. Ele era um racionalista com ideias
próprias própr ias e independente indepe ndentess do que diziam diziam os livros livros — e a c abara aba ra de conseguir conse guir superar uns mil anos de domínio judaico até fins do século xviii. Não suportava parve nu a um ver desmoronar tudo isso — prezava a apaixonada lealdade do parvenu passado passa do imaginário. ima ginário. A reunião aconteceu naquela que chamo de “sala do couro processado” — uma de um total de seis montadas para nós, anos atrás, por um decorador da Sloane, e então a expressão ficou na minha cabeça. Aquela era a sala típica de decorador: decora dor: carpete ca rpete de pele de angorá da cor c or do alvorec alvorecer, er, do mais m ais deli delica cado do cinz cinzaa que se possa imaginar — mal se ousava pisar nele; e os lambris prateados e as mesas revestidas de couro e os quadros em tons pastel e as frágeis silhuetas, tudo parec par ecia ia tão fa f a cilmente cilm ente sujeito suj eito a dano da no que a ge gente nte não nã o podia respirar re spirar m uito uito alto ali dentro, dentro, em bora fosse fosse m aravil ar avilhos hosoo olhar olhar da porta porta quando, com a s janelas ja nelas abertas, as cortinas silvavam dolentes à brisa. O cômodo era descendente direto da velha sala de visitas americana, somente usada aos domingos. Mas mostrou-se a escolha escolha perfe per feit ita, a, e eu esp e spera erava va que, acont ac ontec ecesse esse o que que acont a contec ecesse, esse, a ocasi oca sião ão lhe lhe daria o caráter ca ráter próprio próprio a tornátorná-la, la, dali dali em diante, diante, parte de nossa nossa casa. ca sa. Stahr foi o primeiro a chegar. Estava pálido, nervoso e perturbado — exceto pela voz voz,, que era er a sem pre baixa e respeitosa. re speitosa. Ha Havia via um traço tra ço pessoal pessoa l de bravura bra vura na maneira como recebia alguém — dirigia-se diretamente à pessoa, removendo qualquer coisa que estivesse no caminho, e a examinava inteira, como se não pudesse se c onter. onter. De Dei-lhe i-lhe um beij o, por a lguma raz ra zão, e o conduzi à sala do couro processado proc essado.. “Quando você volta pra faculdade?”, ele quis saber. Não Nã o era er a a primeir prim eiraa vez que pisávam pisáva m os nesse terr te rree no fascinante fa scinante.. “Você gostaria de mim se eu fosse mais baixa?”, perguntei. “Eu podia usar salto salto baixo e o ca belo lam lam bido.” bido.” “Vamos jantar juntos hoje à noite”, ele sugeriu. “As pessoas vão achar que sou seu seu pai, pa i, mas ma s não ligo.” ligo.” “ Amo homens home ns m ais velho velhos”, s”, assegurei-lh assegurei-lhe. e. “S “ Se o cara c ara não andar de m uletas, uletas, pra m im é com c omoo qualquer qualque r outro nam na m orico.” oric o.” “E você j á teve mui m uito toss assim? assim?”” “O suficiente.” “As pessoas pessoas se apaix a paixonam onam e desapaix de sapaixonam onam o tem tem po todo todo,, não é m esmo? esm o?”” “A cada três anos, mais ou menos, segundo Fanny Brice. Acabei de ler no ornal.” “Eu m e pergunto pergunto como com o conseguem”, conseguem ”, falou f alou Stahr Stahr.. “Sei que que é verdade porque porque vejo. vej o. Mas parecem parec em tão seguras todas todas as vezes. vezes. E, então, então, de repente, r epente, não parece pare cem m m ais tão tão conv c onvencidas. encidas. Mas Mas se deix de ixam am convencer outra outra vez.” vez.” “Você “V ocê anda faz f azendo endo film film es dem ais.” ais.” “Fico imaginando se elas se sentem tão seguras na segunda vez, ou na terceira, ou na quarta”, ele insistiu.
“Mais e m ais a cada ca da vez”, respondi respondi.. “Mais do do que nunca nunca na m ais rece nte.” nte.” Ele Ele ponderou a re speit speitoo e parec pa receu eu concordar c oncordar.. “Acho “Ac ho que que sim sim . Mais Mais do que que nunca na m ais rece nte.” nte.” Não Nã o goste goste i do je j e ito ito com c omoo disse disse a quilo, quilo, e súbito súbito vi que, sob a superfíc super fície, ie, ele e le se sentia m uito uito infeli infe lizz. “Foi uma grande chateação”, ele disse. “Vai melhorar quando tiver terminado.” “Espera aí um minuto! Talvez a indústria do cinema esteja nas mãos erradas.” Brimm er, er , o mem m em bro do Parti Par tido do Comunis Comunista, ta, foi anunciado, anunciado, e ao m e dirigi dirigirr a ele escorreguei num daqueles capachos de fios trançados e praticamente fui parar par ar e m seus braç bra ç os. Era um sujeito bem-apanhado, esse Brimmer — um pouco na linha de Spencer Tracy, mas com um rosto mais marcante, expressando um espectro mais amplo de reações. Não pude evitar de pensar, vendo ele e Stahr sorrirem, apertarem as mãos e se estudarem, que aqueles eram dois dos homens mais ágeis que que eu j á vira. De imediat im ediatoo se mos m ostrara traram m m uito uito caut ca utelos elosos os da da presença pre sença um do outro — tão corteses para comigo quanto se poderia desejar, mas suavizando o final final das frases fra ses quando quando se voltavam voltavam na m inha dire direçã ção. o. “O que vocês estão tentando fazer?”, inquiriu Stahr. “Meu pessoal mais ovem está todo contrariado.” “Iss “I ssoo os mant ma ntém ém alertas, não é?”, é?”, disse disse Brim Brim m er. er. “Primeiro deixamos que uns russos inspecionassem nossas instalações”, falou Stahr. “Que as estudassem como modelo, você entendeu. E aí vocês tentam quebrar a unidade que faz com que sejamos esse modelo.” “Unidade?”, repetiu Brimmer. “O senhor se refere ao que se conhece por Espírito da Companhia?” “Ah, não, não falo disso”, atalhou Stahr, impaciente. “Parece que o alvo de vocês sou eu . Na semana passada, veio ao meu escritório um roteirista — um bêbado bêba do — um sujeito suj eito que circ cir c ula por a í há a nos à beira beir a de ser inte inte rnado rna do — e começ com eçou ou a quer querer er m e dizer dizer o que faz fa zer.” er.” Brimmer sorriu. “O senhor não me parece alguém a quem se poderia dizer o que fazer, sr. Stahr.” Ambos gostariam de um chá. Quando voltei à sala, Stahr contava uma hist históri óriaa sobre os irm irm ãos Warne Warnerr e Brimm er ria com ele. “Vou te contar outra”, disse Stahr. “Balanchine, o bailarino russo, os confundia com os irmãos Ritz. Não sabia diferenciar entre os irmãos que estava treinando e os que pagavam seu salário. Costumava andar por aí comentando: ‘Não cons c onsiigo fazer fazer esses irm irm ãos Warne Warnerr ace a certare rtarem m a coreograf c oreografia’ ia’.” .” Pare Pa recia cia uma um a tarde tranquil tranquila. a. Brim Brim m er perguntou perguntou a ele por que os produt produtores ores
não haviam ha viam apoiado a liga liga ant a ntinaz inazis ista. ta. “Por causa de vocês”, respondeu Stahr. “É a maneira como influenciam os roteiristas. roteiristas. A longo longo praz pra zo estão perde pe rdendo ndo tem tem po. Roteiri Roteirist stas as são sã o com o crianç c rianças as — mesmo em tempos normais, não conseguem se concentrar no trabalho.” “Eles são como agricultores nessa indústria”, falou Brimmer, simpático. “Plant “P lantam am a comida, c omida, mas m as não são convi convidados dados para o banquete. banquete. Têm por você vocês, s, os produtores, produtore s, o me m e smo sm o ressentime re ssentimento nto do agricult agric ultor or pelo pe lo suj sujee ito ito da cidade c idade.” .” Eu me perguntava sobre a garota de Stahr — se estaria tudo acabado entre eles. Mais tarde, quando escutei de Kathleen a história toda, as duas paradas debaixo de chuva numa rua deplorável chamada Goldwyn Avenue, deduzi que aquele encontro devia ter ocorrido uma semana depois de ela ter enviado o telegrama. elegram a. Não teve al a lternativa ernativa a não ser m andá-lo. andá-lo. O hom hom em desem desem barcou do trem inesperadamente e a levou ao cartório sem a menor sombra de dúvida de que era er a isso isso o que que ela e la queria. Eram oito oito da da m anhã, e Kathlee Kathleenn ficou tão tão confu c onfusa sa que sua principal preocupação foi descobrir como fazer chegar um telegrama a Stahr. Em tese, poderia ter parado e dito: “Escute, esqueci de te contar, mas é que conheci um cara”. Mas aquele caminho lhe fora apontado com tal precisão, tal confiança, tal esforço, tal alívio, que, ao delinear-se à sua frente, cortando de forma súbita a outra trajetória possível, ela se viu como num carro trafegando em circuito fechado. Ele a observou enquanto redigia o telegrama, olhando dire direttam ente da posiçã posiçãoo on onde de est e stava, ava, do outro outro lado da da m esa, e ela só pôde pôde esp e sper erar ar que não consegui conseguiss ssee ler de cabeça ca beça para baixo… baixo… Quando minha mente voltou à sala, os dois acabavam de destruir os pobres roteiristas — Brimmer tinha chegado ao ponto de admitir que eles eram “instáveis”. “Não são equipados pra lidar com a autoridade”, disse Stahr. “Não há o que substitua a capacidade de decisão. Às vezes é preciso fingir que se tem, mesmo quand quandoo não se se tem nenhu nenhum m a.” “Já tive tive ess e ssaa experiência.” “É preciso dizer: ‘Tem de ser desse jeito — e de nenhum outro’— ainda que não se tenha certeza. Isso me acontece uma dúzia de vezes por semana. Situaçõe ituaçõess em que não exi e xist stem em , de fato fa to,, raz ra zões para o que quer que sej a. A gente gente finge que existem.” “Todos os líderes já passaram por isso”, falou Brimmer. “Líderes trabalhistas, e líderes militares, certamente.” “Então precisei tomar uma atitude nessa história do Sindicato. Parece, pra mim, que se trata de uma disputa de poder, e tudo que estou disposto a ceder aos roteiristas é dinheiro.” “O senhor paga muito pouco a alguns deles. Trinta dólares por semana.” “Quem é que ganha isso?”, quis saber Stahr, surpreso. “Os que são commodities, fáceis de repor.”
“Não os meus”, retrucou Stahr. “Ah, sim”, falou Brimmer. “Dois sujeitos do seu departamento de curtas ganham isso, trinta dólares por semana.” “Quem?” “Um se cham cha m a Ransom ansom e, e o outro, outro, O’B O’Brien.” Stahr e eu sorrimos ao me smo tempo. tem po. “Esses não são roteiristas”, disse Stahr. “São primos do pai da Cecilia.” “Tem “Tem outros, outros, em outros outros estúdio estúdios”, s”, falou fa lou Brimm rim m er. Stahr apanhou sua sua col c olher her de chá e se serviu serviu de um pou pouco co de rem édio de de um frasco. “O que é um pelego? pelego?”, pergun per gunto touu de repent re pente. e. “Um pelego? É um fura-greve fura- greve ou um um infiltrado. nfiltrado.”” “Foi o que pensei”, disse Stahr. “Tenho um roteirista de mil e quinhentos por semana que, a cada vez que entra no refeitório, para atrás da cadeira de um e outro outro de seus colegas colega s e diz diz: ‘P ‘P elego!’. Ser Seria ia engraç e ngraçado, ado, não nã o fosse o baita susto susto dos caras.” Brimm er sol soltou tou uma risada. risada. “Queria “Quer ia ver isso isso”, ”, falou f alou.. “Você “V ocê não gostar gostaria ia de passar pa ssar um dia com igo igo lá?”, lá?”, sugeriu suger iu Stahr Stahr.. Brimmer rimm er riu, riu, realment realm entee achand a chandoo graça. “Não, sr. Stahr. Mas não duvido que ficaria impressionado. Ouvi dizer que o senhor é um dos homens que mais trabalham duro, e com maior eficiência, de todo o mundo ocidental. Seria um privilégio observá-lo, mas acho que terei de decli dec linar nar do convite.” convite.” Stahr olhou olhou ppara ara m im . “Gosto do seu amigo”, disse. “É maluco, mas gosto dele.” Encarou Brimm er de perto per to:: “Nascido do do lado lado de cá? c á?”. ”. “Ah, sim sim . Há várias geraç ões.” “Muitos “Muitos deles com o você? você ?” “Meu pai era pastor batista.” “Quero saber se muitos deles são comunistas. Gostaria de conhecer esse udeuzão que tentou explodir a fábrica da Ford. Como é o nome…” “Frankensteen?” “Ele m esmo. esm o. Imagin Im aginoo que alguns alguns de de vocês você s acredit acr editam am niss nisso.” o.” “Vários”, falou Brimmer, seco. “Você não”, disse Stahr. Uma Um a sombra som bra de irritação irritação cruz c ruzou ou o rosto rosto de Brim Brim m er. er. “Ah, sim sim ”, fal fa lou ele. “Ah, “A h, não”, não” , disse disse Stahr Stahr.. “T “ Talvez tenha tenha acre ac redi ditado tado um dia.” dia.” Brimmer rimm er deu de ombros. ombros. “Quem sabe o equilíbrio de forças não esteja mudando?”, falou. “No fundo
do seu coraçã cora ção, o, sr. sr. Stahr, Stahr, o senhor sabe que est e stou ou certo.” ce rto.” “Não” “N ão”,, respo re spondeu ndeu Stahr Stahr.. “Acho “A cho que isso tudo tudo é papo pa po furado.” fura do.” “… o senhor pensa consigo mesmo: ‘Ele tem razão’, mas acha que o sistema terá uma sobrevida além da sua.” “Você “V ocê não acha, ac ha, real rea lm ente, que que vai va i der derrubar rubar o gover governo. no.”” “Não, “N ão, sr. sr. Stahr Stahr.. Mas acha a cham m os que talvez o senhor, sim sim .” Estavam se provocando — aquelas cutucadinhas que os homens se dão às vezes. As mulheres também fazem isso; mas elas encampam a batalha, sem perdão. per dão. Nã Nãoo é agra agr a dável dáve l ver home hom e ns faz fa zê -lo, porém poré m , pois nunca nunc a se sabe o que vem em seguida. Certamente aquilo não melhorava, para mim, as associações tonais tonais da sala, e, e , saindo por por um a das portas alt a ltas, as, condu c onduzzi os doi doiss até nosso nosso jar j ardim dim cali ca liforniano forniano em tons tons de am a m arelo ar elo e dourado. dourado. Era pleno verão, mas a água fresca dos aspersores resfolegantes conferia um brilho primaveril ao gramado. Pude perceber que Brimmer admirava aquilo como quem suspira com o olhar — um jeito que esse pessoal tem. Ele se agigantara ali fora — era alguns centímetros mais alto do que eu pensara, os ombros largos. Me lembrava um pouco o Super-Homem, quando tirava os óculos. Para mim, ele era tão atraente quanto homens que na verdade não dão bola para par a m ulheres ulher es podem ser. ser. Jogam os uma um a rodada roda da de pingue-pongue, pingue-pongue , todos contra todos, e ele tinha habilidade com a raquete. Escutei quando papai entrou em casa ca sa cant ca ntando ando aquela aquela porcaria porca ria de “Li “ Litt ttle le Girl, Girl, You’ You’ve ve Had a Busy usy Day ”, para par a em seguida se interromper, como se tivesse se lembrado de que não estávamos mais nos falando. Eram seis e meia — meu carro estava parado na entrada, e sugeri sugeri que que fôs f ôssem semos os jant ja ntar ar no Trocadero. Brimmer tinha aquela expressão do padre O’Ney quando, em Nova York, certa vez, dispensou a batina para ir comigo e com papai a um balé russo. Não tinha exatamente de estar ali. Quando Bernie, o fotógrafo, que andava à espreita de algum bom flagrante, veio até nossa mesa, pareceu sentir-se encurralado — Stahr fez f ez Ber Bernie nie sair dali, e eu e u gostaria gostaria de ter tirado aquela a quela foto f oto.. Então, Então, para pa ra m eu espant e spanto, o, Stahr Stahr tomou tom ou trê trêss coquetéis, um um depois do outro. outro. “Agora vejo vej o que que você você teve uma um a decepção dece pção amoros am orosa”, a”, fal fa lei. “O que te faz fa z pensar isso, isso, Cec Cecil ilia? ia?”” “Os coquetéis.” “Ah, eu nunca bebo, Cecilia. Me dá indigestão — nunca fui muito resistente.” Contei: “… dois… três”. “Nem percebi. Não consegui sentir o gosto. Achei que alguma coisa não estava certa.” Uma expressão tola e vidrada passou por seus olhos — então se foi. “Este é meu primeiro drinque na semana”, comentou Brimmer. “Bebi tudo a que tinha tinha direit dire itoo na Marinha.” Ma rinha.”
A mesma expressão voltou aos olhos de Stahr — piscou para mim e, enfatuado, enf atuado, disse: disse: “Esse agitador filho filho da puta est e steve eve na Marinha.” Ma rinha.” Brimmer não soube muito bem como reagir àquilo. Ficou evidente que decidira botar na conta do que estava sendo aquela noite, pois sorriu debilmente, e vi que que Stahr Stahr sorria também tam bém.. Eu me senti senti aliv aliviiada ao perceber perc eber que estávam estávam os no terreno seguro da grande tradição americana e tentei assumir o rumo da conversa, conv ersa, mas m as St Stahr logo logo pare pareceu ceu ret re tomar oma r a forma. form a. “Tipicamente, minha experiência é a seguinte”, disse, muito sucinta e claramente, dirigindo-se a Brimmer. “O melhor diretor de Hollywood — um cara em cujo trabalho jamais me meto — tem essa mania de sempre dar um eito de colocar um efeminado em todos os seus filmes, ou algo do tipo. Um negócio ofensivo qualquer. É alguma coisa arraigada no cara, que não consigo mudar. E toda vez a Legião da Decência vem pra cima, e é preciso sacrificar algum filme honesto.” “Típica “Típica encrenca encr enca organiz organizacio ac ional”, nal”, concordou Brimm Brimm er. er. “Típica “Típica”, ”, fal fa lou Stahr Stahr.. “É uma um a batalha sem fim. E agora a gora esse dire direto torr vem m e diz dizer que tudo bem , porque ele e le est e stáá com c om o Sin Sindicato dicato dos Diretores Diretore s e não nã o posso posso ser ser um opressor opressor dos pob pobre res. s. É assim assim que você vocêss me criam m ais probl problem em as.” “Isso está um pouco distante da gente”, disse Brimmer com um sorriso. “Não “Nã o acho ac ho qque ue tenhamos tenham os m uita uita entrada com c om os diretores.” diretores.” “Os diretore diretoress costuma costumavam vam ser m eus chapas”, cha pas”, falo fa louu Stahr, Stahr, orgulhos orgulhoso. o. Era como Eduardo vii se gabando por ter se cercado da nata da sociedade europeia. “Mas alguns deles nunca me perdoaram”, ele continuou, “por ter trazido diretores de teatro quando começamos com filmes falados. Ficaram escaldados e tiveram de reaprender o ofício, mas nunca me perdoaram, na verdade. aquela época incorporamos uma porção de novos roteiristas, que achei que eram era m ótimos ótimos suj suj eitos eitos até todos todos vira virarem rem comuni com unist stas.” as.” Gary Cooper entrou no restaurante e se sentou a um canto com um bando de rapazes, os quais respiravam ao ritmo dele, e davam a impressão de que dependiam dele para viver, e de que por nada sairiam de perto dele. Uma mulher cruzou o salão, e por acaso era Carole Lombard — gostei de ver que Brimm er estava estava ao m enos podend podendoo encher os ol olhos. hos. Stahr pediu um uísque com soda, e mais outro, quase imediatamente em seguida. Não comeu nada além de algumas colheradas de sopa e falou todas aquelas coisas horríveis sobre todo mundo ser preguiçoso e tal, e que nada daquilo importava para ele , que tinha montes de dinheiro — era o tipo de conversa que se ouvia sempre que papai e os amigos dele se reuniam. Acho que Stahr se deu conta de que era bem feio ficar falando daquele jeito fora das dependências da companhia — talvez pela primeira vez estivesse ouvindo como soava. Seja como for, calou a boca e tomou uma xícara de café preto. Eu o
amava, e o que dissera não havia mudado tal fato, mas odiei que Brimmer levasse dele essa impressão. Queria que visse Stahr como uma espécie de virtuose da tecnologia, e o que Stahr estava fazendo ali era bancar o gestor perver per verso, so, de tal m odo que c lassificaria lassifica ria sua própria própr ia a tuaçã tuaç ã o com o lixo, lixo, se a assistisse projetada numa tela. “Sou um um produtor” produtor”,, disse, disse, com o que m udando sua ati a titu tude de ant a nter erio iorr. “Gost “G ostoo de roteiristas — acho que os entendo. Não quero mandar embora ninguém que estej estej a faz fa zendo seu trabalho.” trabalho.” “Tampouco queremos que o senhor faça isso”, falou Brimmer, simpático. “Gostar “Gostaríam íamos os de tê-lo na conta conta de alg a lguém uém sempre sem pre preocupado. pre ocupado.”” Stahr assentiu assentiu,, de cara ca ra fechada. fec hada. “Queria só ver você numa sala cheia de colegas meus. Todos eles têm uma dúzia de motivos para querer que o Fitts ponha vocês pra correr da cidade.” “Agradecemos sua proteção”, disse Brimmer, com certa ironia. “Para ser franco, achamos o senhor um pouco difícil, sr. Stahr — precisamente por ser um patrão patr ão pater pa ternalist nalistaa com c om tam a nha influência influê ncia.” .” Stahr pare pa recia cia um tanto dist distra raíd ído. o. “Nunca me considerei”, falou, “mais inteligente que um roteirista. Mas sempre achei que a inteligência deles pertenc e a mim, porque sabia como usálos. Como os romanos — ouvi dizer que nunca inventavam nada, mas sabiam usar as coisas. Entende? Não digo que seja o certo. Mas é assim que sempre senti, senti, desde m enino.” Aquilo interessou Brimmer — era a primeira coisa por que se interessava em uma hora. hora. “O senhor se conhece muito bem, sr. Stahr”, disse. Acho que queria dar o fora. Estava curioso para ver que tipo de homem era Stahr, e agora pensava que já sabia. Ainda na esperança de que as coisas seriam diferentes, apelei impensadamente que nos acompanhasse no carro até em casa, mas, quando Stahr parou num bar para mais uma bebida, soube que tinha comet come tido um um erro. Era uma noite suave, inofensiva, imóvel, tomada por carros de fim de semana. A mão de Stahr repousava no encosto do banco, tocando meu cabelo. Súbito desejei que a cena se passasse dez anos antes — quando eu tinha nove anos. Brimmer teria uns dezoito, um estudante batalhando para se formar numa faculdade do Meio-Oeste, e Stahr, uns vinte e cinco, cheio de confiança, exultante, tendo recentemente herdado o mundo inteiro. Teríamos ambos admirado Stahr nessa condição, sem dúvida. E ali estávamos num conflito adulto, para par a o qual qua l não havia ha via solução soluçã o pacífica pac ífica,, e m a is c ompli om plicc ado agora a gora,, pela exaustão exa ustão e pela bebida. bebida . Embicamos Embicam os na entrada entrada de casa e na direç direção ão do jardi ja rdim m , mai ma is um um a vez. vez. “Pre “P reciso ciso ir ir agora”, agora” , diss dissee Brimm er. er. “Tenho “Tenho de encont e ncontra rarr um pessoal. pessoal.””
“Não, fique”, falou Stahr. “Não cheguei a dizer o que queria. Vamos jogar pingue-pongue e tomar tom ar m a is um drinque, e a í dize dize m os umas um as verdade ver dadess um pro outro.” Brimmer hesitou. Stahr acendeu o holofote e apanhou sua raquete, enquanto eu entrava em casa para pegar uísque — não ousaria desobedecer a ele. Quando vol voltei tei,, não estavam j ogand ogando, o, mas ma s Stahr Stahr sacava saca va uma um a caix ca ixaa intei inteira ra de bolinhas bolinhas novas pa para ra Brimm Brim m er, er , que as desviava de lado. P a rou quando c heguei, hegue i, tomando da garrafa e se retirando para uma cadeira justo à sombra do holofote, dali passando passando a presidi presidirr em e m obscura obscura e perigosa perigosa m aj estade. Estava Estava pálido pálido — de tal modo transparente que quase dava para ver o álcool se misturar com o veneno da exaustão. exaustão. “Hora de rel re laxar num sábado à noit noite”, e” , falou. falou. “Você não está relaxando”, eu disse. Travava uma batalha perdida contra um instinto que tendia à esquizofrenia. “Vou “V ou derrubar o Brim Brim m er”, er ”, anun a nunciou ciou,, depois depois de um m omento om ento.. “Vou “Vou cuidar cuidar desse negócio pessoalmente.” “Não pode pagar alguém pra isso?”, perguntou Brimmer. Fiz sinal para que ficasse quieto. “Eu mesmo faço meu trabalho sujo”, falou Stahr. “Vou acabar com você e te col c olocar ocar pra correr c orrer.” .” Levantou e deu um passo à frente, no que o envolvi com meus braços, agarrando-o. “Por “P or favor, pare com c om isso isso!”, !”, falei. f alei. “Ah, você você está se com portando portando tão tão m al.” “Esse sujeito está te influenciando”, ele disse, sombrio. “E todos os jovens. Você não sabe o que está fazendo.” “Por favor, vá embora”, eu disse a Brimmer. O terno de Stahr era feito de um tecido escorregadio e, de repente, ele me escapou e avançou na direção do outro. Brimmer recuou para trás da mesa. Tinha uma estranha expressão no rosto, e mais tarde pensei que era como se dissesse: “Então é isso? Essa pessoa frágil, meio doente, é quem controla o negócio todo”. Stahr se aproximou ainda mais, as mãos tomando posição, no alto. Me parec par ecee u que Brimm Brim m er o m a nteve a fastado fa stado c om seu braço bra ço esquerdo, esque rdo, por um minuto, depois disso desviei o rosto — não aguentava assistir àquilo. Quando voltei a olhar, Stahr estava fora do campo de visão, abaixo do nível da mesa, m esa, e Brimm Brimm er o observava. observava. “Por “P or favor, vá vá em e m bo bora” ra”,, falei para Brim Brim m er. er. “Está bem.” Ele continuou parado, olhando para Stahr no chão, enquanto eu contornava a mesa. “Sempre quis acertar a dezena de milhar, mas não sabia que seria ass a ssiim .” Stahr jazia imóvel.
“Por “P or favor, vá”, falei. falei. “Desculpe. Posso ajudar a…” “Não. Vá, por favor. Eu entendo.” Brimmer olhou de novo, um pouco admirado das profundezas a que se entregara Stahr em seu repouso, algo que ele havia provocado numa fração de segundo. Então se afastou apressadamente pelo gramado, e me ajoelhei junto a Stahr, sacudindo-o. Passado um momento, com uma formidável convulsão, ele acordou e levantou de um salto. “Cadê ele?”, gritou. gritou. “Quem ?”, perguntei, perguntei, inocentem inocentemente. ente. “Aquele Americano. Por que diabos você tinha de casar com ele, sua tola imbecil?” “Monro “Monroee — ele j á foi f oi em bo bora. ra. E não me m e casei c asei com ning ninguém.” uém.” Fiz com que se sentasse sentasse numa cadeira. ca deira. “Já foi faz quase meia m eia hora”, hora” , ment me nti.i. As boli bolinhas nhas de pingu pingue-pongu e-ponguee se esp e spalhavam alhavam em torno, na na gram a, feit f eitoo uma um a constelação de estrelas. Liguei um dos aspersores e voltei com um lenço úmido, mas não havia sinal de pancada no rosto de Stahr — devia ter sido atingido na lateral atera l da da cabeç c abeça. a. Ele se dirigi dirigiuu para trás trá s de de al a lgumas guma s árvores a fim f im de vomit vom itar, ar, e o ouvi ouvi chutando chutando um pun punhado hado de terra para cobrir a suj suj eira. Depoi De poiss diss disso, o, pareceu parec eu ficar bem, bem , mas ma s se se recus re cusava ava a ent e ntrar rar em casa at a té que eu lhe lhe arrumass arrum assee al a lgo para bochec boche c har, har , então e ntão apanhe a panheii a garra gar rafa fa de uísque, uísque, levei leve i para par a de dentro ntro e trouxe de volta volta outra, com água para bochecho. Sua famigerada tentativa de bebedeira estava acabada ac abada.. Já havia saído com calo ca louros uros de de faculd fa culdade, ade, m as aqui a quillo, pela pela total total inépcia inépcia e falta de espírito boêmio, sem dúvida era digno de um troféu. Tudo de ruim lhe acont ac ontec ecer era, a, m as ficou niss nisso. o. * Entramos em casa; o cozinheiro disse que papai, o sr. Marcus e Fleischaker estavam na varanda, então ficamos na “sala do couro processado”. Ambos tentamos sentar aqui e ali, mas parecíamos escorregar dos assentos, de modo que, por fim, me acomodei num tapete felpudo e Stahr, num apoiador de pés ao meu lado. “Ace “A certei rtei ele? e le?”, ”, Stahr Stahr quis quis saber. saber. “Ah, sim sim ”, fal fa lei. “Em cheio.” “Não acredito.” Passado um minuto, acrescentou: “Não queria machucá-lo. Só queria queria dar uma carre ca rreira. ira. Acho que que ele e le se assus assusttou e me m e ace a certou rtou”. ”. Se era essa sua interpretação para o que ocorrera, por mim tudo bem. “Está “Está com raiv ra ivaa dele?” dele?” “Ah, não”, ele disse. “Eu estava bêbado.” Olhou em volta. “Nunca estive aqui antes — quem m ontou ontou esta sala… algu a lguém ém do estúdi estúdio? o?”” “Bem, tenho de dar o fora daqui”, falou, daquele seu jeito de sempre,
ameno. “Você não está a fim de ir ao rancho de Doug Fairbanks e passar a noite lá?”, perguntou. “Sei que ele adoraria te receber.” Foi assim que começaram as duas semanas em que ele e eu circulamos untos. Depois da primeira, Louella já estava anunciando que tínhamos nos casado. ———— O manuscrito m anuscrito acaba aqui. A sinopse sinopse do resto da históri história, a, que segue abaixo, foi organizada a partir das anotações e esboços de Fitzgerald e do relato de pessoas com as quais o esc ritor ritor discutiu discutiu o livro:
Logo Logo após seu seu encont e ncontro ro com Brimm er, Stahr Stahr faz f az um um a viagem à Costa Costa Leste. Leste. Há uma ameaça de corte de salários no estúdio e o executivo viaja a fim de conversar conver sar com os acion ac ionis istas tas — presumivelm pre sumivelmente ente no intui intuito to de induzi-lo induzi-loss a reduz re duzir ir gastos de alguma outra forma. Stahr e Brady vinham trabalhando em lados opostos fazia tempo, e a luta dos dois pelo controle da empresa está rapidamente chegando a um clímax. Não sabemos o resultado da viagem do ponto de vista dos negócios, mas, tendo ou não um propósito ligado ao trabalho, sabemos que Stahr visita Washington pela primeira vez com a intenção de aproveitar a cidade; e presum pre sumee -se que o autor pretende pre tendesse sse retorna re tornarr ao tem a introduzi introduzido do no prime prim e iro capítulo, com a visita dos personagens de Hollywood à casa de Andrew Jackson e a tentativa fracassada de entrarem no local ou mesmo de poderem vê-lo direito: a relação entre a indústria do cinema e os ideais e a tradição dos Estados Unidos. É verão. Washington está sufocante. Stahr pega uma gripe e vagueia pela cidade em estado confuso e febril. Nunca conseguiu conhecer a cidade da forma como gostaria. Quando se restabelece e volta a Hollywood, o executivo descobre que Brady aproveitou sua ausência para instituir um corte de cinquenta por cento nos salários. O rival convocara uma reunião com os roteiristas e, num discurso lamuriento, informara que os executivos aceitariam cortar os próprios rendimentos se os roteiristas concordassem com a redução de seus salários. E m ais, se se concordassem, concordassem , não seria preciso pre ciso reduzir reduzir o pagam ento dos dos estenógrafos estenógrafos e de outros funcionários de baixo escalão. Os roteiristas aceitaram o acordo, mas tinham sido enganados por Brady, que cortara os salários dos estenógrafos da mesma forma. Stahr se revolta e tem uma briga violenta com Brady. Embora não fosse a favor dos sindicatos — por acreditar que qualquer contínuo esforçado podia chega che garr ao topo por si próprio, pr óprio, c omo om o ele fize fize ra —, Stahr, tahr , um e m pregador pre gador paterna pate rnali lista sta à m oda a ntiga, ntiga, gosta gosta de sentir que as pessoas pessoa s tra tr a balham balha m feli fe lizze s para pa ra ele e aprecia manter boas relações com os empregados. Stahr discute também com Wylie White, que agora lhe é truculento e hostil, embora o executivo não tivesse sido pessoalmente responsável pelos cortes. Stahr sempre fora paciente com as bebedeiras e as piadas de mau gosto de Wylie no passado, e se ressente de o roteirista não ter por ele o mesmo tipo de lealdade pessoal — que é a única
forma de solidariedade que Stahr consegue compreender em suas relações de negócios. “Os comunistas agora o encaram como um conservador — e Wall Street, como um comunista.” Levado pela lógica da situação, Stahr acaba aceitando a proposta, apresentada e aprovada com entusiasmo por Brady, de criar um sindi sindica cato to na com c ompanhi panhia. a. Quanto à sua própria posição no estúdio, Stahr vinha desde Washington considerando a hipótese de se demitir. Mas, embora intimamente enfraquecido pela disputa, disputa, doente, doente , infeli infe lizz e am a rgura rgur a do, a inda assim é difícil se render re nder a Brady. Nesse meio-tempo, começa a sair com Cecilia. A garota, numa conversa com o pai a respeito da evidente atenção que Stahr tem reservado a ela, revela, por descuido, desc uido, que Stahr e stá apaixonado apa ixonado por outra pe pessoa. ssoa. Brady descobre desc obre Kathleen, com quem Stahr está saindo novamente, e tenta chantageá-lo. Stahr, desgostoso com os Brady, rompe abruptamente com Cecilia. Ele conhece há anos uma história de que Brady estivera envolvido na morte do marido de uma mulher por quem ele (Brady) fora apaixonado — ouvira a história da boca da enfermeira da esposa de Brady. Os dois homens se ameaçam sem nenhuma prova concre conc reta ta de am bos os lados. lados. Brady, no no entant entanto, o, tem tem uma cart car ta na m anga. O home homem m com qu quem em Kathl Kathleen se casou — cujo nome é W. Bronson Smith — é um técnico que trabalha no estúdio e tem papel ativo no sindicato. É impossível dizer precisamente como Scott Fitzgerald imaginava encaixar a situação trabalhista de Hollywood nos propósitos propósitos de sua história história.. Mas, na época époc a em que escre esc revia via o livro, livro, várias vár ias categorias de técnicos se organizavam para formar a International Alliance of Theatrical Stage Employees [Aliança Internacional dos Técnicos de Teatro e Cinema] nem a],, e é óbv óbvio io que que pretend pre tendia ia explora explorarr as a s prática práticass de ext e xtorsão orsão e gangsteris gangsterism mo da organização, reveladas no caso de William Bioff. Brady procuraria o marido de Kathleen, manobrando-o por meio do ciúme que sentia da esposa. Não sabemos o que Fitzgerald imaginava que os dois pudessem fazer a Stahr. Originalmente, Robinson, o montador (o personagem aparece nas notas), o mataria, mas parece mais provável que uma armadilha fosse preparada para Stahr, de modo que o marido de Kathleen pudesse processá-lo por tentar roubarlhe a esposa. No esboço que Fitzgerald fez para a história, o tema do capítulo 8 está indicado pelas palavras: “O processo e o preço”. A ideia é explicada pela anotação posterior que Fitzgerald fez de um material que pretendia utilizar, embora seja impossível dizer como pretendia adaptá-lo para que encaixasse na história: “Um dos irmãos de —— é acusado por um funcionário de seduzir sua esposa. É processado por isso. Tentam fazer um acordo, mas o homem por trás do processo é um líder trabalhista e não está disposto a ceder. Também não quer se divorciar divorciar.. Ele Ele cons c onsid ider eraa apelar a pelar para par a m edidas edidas extrem as. O preço preç o é que —— se se afast afa stee por um ano. O insti instint ntoo de —— é ficar e enfrentar enfr entar a sit situação, uaçã o, mas m as os out outros irmãos se reúnem e obtêm de um médico aquilo que, para ele, é como uma
sentença de morte: sua aposentadoria. Tenta convencer a garota a ir com ele, mas teme o Mann Act. Ela se juntará a ele mais adiante para saírem do país”. De qualquer qualquer form f orma, a, Stahr Stahr deveria ser salvo salvo pela pela interve intervenção nção do operador opera dor de câmera Pete Zavras, de quem se tornou amigo no começo da história, quando Zavras est e stava ava em baixa baixa com c om os estúdi estúdios os.. Nesse Ne sse m e io-tem po, Stahr fica fic a seriam ser iam e nte adoentado. adoe ntado. Ele e Ka Kathl thlee eenn “tinham aproveitado oportunidades e tanto”. Conseguiram mesmo dar uma última “escapada”, durante uma sufocante onda de calor no início de setembro. O autor indica em seus primeiros rascunhos que Kathleen tinha “origem muito humilde” humilde” — seu pai fora capit c apitão ão de um barco barc o pesqueiro. pesqueiro. Em outro outro mom m omento ento,, diz diz que Stahr encontrava dificuldades em aceitá-la como parte permanente de sua vida porque ela “é pobre, sem graça, e tem um verniz de classe média que não se encaixa com a grandiosidade que Stahr espera da vida”. É possível que o conflito trabalhista no qual o marido de Kathleen se envolvera tivesse papel importante para afastá-la de Stahr. O executivo é levado de volta ao passado por Brady e, ao mesmo tempo, pelos sindicatos. O racha entre os donos da indústria cinematográfica, de um lado, e os vários grupos de empregados, de outro, se agrava e tira espaço dos verdadeiros individualistas, como Stahr, cujo sucesso é resultado de conquistas pessoais e cuja carreira sempre fora investida de certo glamour também próprio. Stahr sempre se considerou diretamente responsável por todas as pessoas pessoa s c om quem trabalha tra balhava, va, e queria quer ia m esm o derrota der rotar r pessoalm pessoa lmente ente seus inim inim igos. igos. Em Hollywood, Holly wood, ele e le é “ o últim últimoo ma m a gnata”. gnata ”. Stahr não tinha medo, como vemos na reunião do capítulo 3, de investir em filmes impopulares que trouxessem alguma satisfação artística. Tinha o interesse de um artesão no mundo do cinema, e era natural querer que os filmes fossem cada vez melhores. Mas estava de mãos amarradas desde o corte de salários e tinha parado de produzir filmes. Estava prevista uma segunda série de cenas m ostrando ostrando St Stahr em e m uma um a reuni r eunião ão de rot r oteiro, eiro, na projeç proj eção ão de copiões copiões e nos sets sets de de film film agem , para contra contrast star ar com as séries sim sim ilares dos capítul capítulos os 3 e 4, mos m ostrando trando a mudança que ocorrera em sua atitude e em seu status. Ele precisa, no entanto, se manter firme na disputa com Brady — e sabe que o rival não vai desistir por nada. Stahr teme, evidentemente, que Brady m ande alg a lguém uém m atá-lo e decide rec orrer aos méto mé todos dos do out outro, ro, contra contrattando um um a pessoa para par a assassi assa ssinar nar o rival. r ival. Par P araa faz fa zer o serviç se rviço, o, vai va i direto dire to aos a os gângst gâ ngstee res, re s, ao ao que tudo indica. Não fica claro como o assassinato será realizado, mas, de modo a estar ausente quando o fato ocorrer, Stahr arranja uma viagem a Nova York. Vê Kathleen pela última vez no aeroporto e também encontra Cecilia, que está voltando para a faculdade em um voo diferente. No avião, sente-se desgostoso pelo c urso que as coisas coisa s tomar tom aram am e se dá conta de que se de deixou ixou rebaixa re baixarr a o nível de brutalidade de Brady. Decide voltar atrás e pretende comunicar sua decisão tão logo o avião desça no próximo aeroporto. Mas o avião cai antes de
chegar à próxima parada. Stahr morre e o assassino faz seu trabalho. O agourento suicídio de Schwartz no capítulo de abertura é completado pela morte de Stahr. A mensagem que Schwartz tentara enviar a Stahr pretendia avisá-lo de que Bra Brady dy queria tirátirá-llo da com panhia. panhia. * O funeral de Stahr, que seria descrito em detalhes, seria uma orgia do servilismo e da hipocrisia de Hollywood. Todo mundo chora copiosamente, ou conspicuamente reprime a emoção, sempre com um olho nas pessoas que interessam. Cecilia imagina que, se Stahr pudesse estar presente, diria apenas: “Escória!”. O velho ator que interpretava caubóis, Johnny Swanson, mencionado no início do capítulo 2 quando se encontrava em situação difícil e por quem Cecilia pretendia interceder ao visitar o escritório do pai, acaba convidado para o enterro por engano — confundiram seu nome com o de outra pessoa — e lhe pedem pede m que leve uma um a das a lças lça s do c aixão, aixã o, j unto dos am igos m ais importa im portantes ntes e íntimos do produtor. Johnny participa de toda a cerimônia, espantado, e descobre mais tarde, com estupor, que sua boa sorte foi gloriosamente restabelecida. A parti par tirr de e ntão, rece re cebe be ca c a da vez ve z m ais convit c onvites es para pa ra trabalha tra balharr em e m filme film e s. Nesse Ne sse m eio-tem eio- tem po, uma um a visã visã o final fina l de Fleishack leishac ker, er , o a m bicioso advogado advoga do da empresa, desprovido de consciência ou mente criativa, deveria mostrá-lo como a imagem do futuro imediato do cinema. Haveria, ainda, uma passagem no final com Cecilia e Fleishacker. Ele, que se formou na Universidade de Nova York, tentava casar com Cecilia e, para impressioná-la, procurava manter um diálogo diálogo “int “ intelec electu tual”. al”. Cecilia, na esteira de sua ligação com Stahr, tivera um caso com um homem a quem não amava — provavelmente Wylie White, que está atrás dela desde o início e re presenta pre senta o oposto oposto de Stahr Stahr.. Com Comoo resul re sultado tado das m ortes de Stahr e de seu pai, Cecilia desaba completamente. Contrai tuberculose e, ficamos sabendo pela pela primeira prim eira vez ve z, escreve escre ve a hist históri óriaa em um sanatório. sanatório. Haveria uma imagem final de Kathleen parada do lado de fora do estúdio. Ela presumivelmente teria se separado, após seu marido conspirar contra Stahr. Um dos principais motivos por que Stahr se sentia atraído por ela era o fato de não ter ter ligaçã ligaçãoo com o un univ iver erso so de de Holly Holly wood wood,, e agora a gora Kathlee Kathleenn sabe sabe que jam j am ais fará parte dele. Estará, para sempre, do lado de fora — uma situação que tam bém compo com porta rta certa ce rta dose dose de tragédia. tragédia.
Notas capítulo 1 O autor escreveu o seguinte no topo da página de seu último rascunho do rimeiro c apítulo: apítulo:
Reescrever conforme disposição. O texto ficou empolado de tanto ser reescrit ree scrito. o. Não olhar olhar [o rascun ra scunho ho anter anterio ior]. r]. Reescrever Reescr ever conforme conform e disp dispos osição. ição. * O primeiro prime iro esboço esboç o de Fitzgerald Fitzgerald para o final do capítulo capítulo talvez talve z transmita transmita suas ideias de maneira mais completa do que ele conseguiu atingir na última versão.
O material será baseado em uma conversa que tive com —— na primeira vez em que fiquei sozinho com ele, em 1927, no dia em que me contou algo sobre as ferrovias. O máximo que posso me lembrar da conversa é o seguinte: Sentamos no antigo refeitório em —— e ele disse: “Scottie, vamos supor que seja necessário fazer uma estrada que corte uma montanha — uma ferrovia — e você tenha dois ou três peritos e outras pessoas a orientá-lo, e que você acredite em algumas dessas pessoas e não acredite em outras, no final das contas, vai parec par ecee r haver meia dúzia de caminhos possíveis para par a atra atr a vessar vessa r as tais montanhas, e cada um deles, até onde você pode julgar, é tão bom quanto os demais. Agora, suponha que você é o chefão, chega uma hora em que você não exercita mais a faculdade de julgar de forma ordinária, como os outros, mas o faz de form a arbi ar bitrária. trária. Diz: Diz: ‘B ‘Bem , acho ac ho que que vamos vam os fazer fazer a estra estrada da aqui a qui’’, e traça ra ça o caminho com o dedo, sabendo, em segredo, algo que ninguém mais sabe: que não existe nenhuma razão específica para escolher aquela localização em detrim detrim ento das das várias outra outras, s, mas ma s você você é a única única pessoa pessoa que sabe que não nã o sabe o que está faz fa zendo, e tem de se m anter firme f irme,, precis prec isaa fingi fingirr que ent e ntende ende do assunt assuntoo e que tomou a decisão por razões específicas, mesmo sendo assaltado por dúvidas sobre a sabedoria de sua decisão — e tendo outras decisões possíveis ecoando ec oando em seus ouvi ouvidos dos.. Quando está está planej planej ando um nov novoo em preendi pree ndim m ento de de grande escala, as pessoas abaixo de você nunca devem perceber ou saber que está em dúvida, porque todos precisam ter um norte e não podem sequer sonhar que o chefe che fe está está indeciso. ndeciso. Essas Essas coisas coisas acont ac ontec ecem em dire diretto”. A essa altura, algumas outras pessoas entraram no refeitório e se sentaram, e a primeira coisa que percebi é que se tratava de um grupo de quatro, e que a intimidade de nossa conversa fora quebrada, mas permaneci muito impressionado pela perspicácia do que ele dissera — algo além de perspicácia —, pela a m plitude plitude de seu pe pensam nsam ento e por ima im a ginar de que form for m a e le o construiu com a idade de vinte e seis anos, que era o que tinha naquele momento. Então, acho que este último episódio acontecerá quando Stahr se levanta e
vai sentar com o piloto lá na frente. Este reconhece em Stahr alguém que, em sua própria área, deve ser tão determinado e corajoso quanto ele próprio. Pouquíssimas palavras serão trocadas entre o piloto e Stahr — na verdade, esse é um episódio que enxergaremos inteiramente pelos olhos curiosos de Cecilia, ou pelo relato re lato da aerom ae rom oça que c onta a Cecil Cec ilia ia o que viu na cabine, ca bine, ou por Schwartz, que ainda tenta chegar a Stahr antes de o avião descer em Los Angeles. É possível que não estejamos sozinhos com Stahr até o final desse capítulo, mas, bem no fim, quero falar sobre aquele estranho sentimento, presente pre sente naquela naque la a notação notaç ão prévia, pré via, sobre o desligam e nto do m otor e a aterrissagem da aeronave e as luzes de Los Angeles e, por um minuto, quero iluminar a alma intensamente passional de Stahr, seu amor pela vida, seu amor pelo e m pree pre e ndimento ndime nto imenso im enso que c onstruiu, onstruiu, sua satisfaç ão — talvez nã nãoo exatamente — mas, isso é certo, sua sensação de voltar para casa, para um im pério que é seu, um império impér io que que cons c onsttruiu. ruiu. Quero que isso contraste brutalmente com o sentimento daqueles que, por meios ilícitos, se apoderam do império de outras pessoas, a exemplo dos quatro grandes donos donos de ferrovi fe rrovias as na costa… costa… ou com o sentime sentiment ntoo de quem pod poder eriia ter agido assim. Stahr não se interessa por isso apenas porque é o chefão. Ele possui o interesse do artista que criou a coisa toda e, misturado a esse poderoso senti sentim ento de de triunfo triunfo e feli f elicidade, cidade, precis prec isaa haver, inevitavel inevitavelm m ente, uma sensaç sensação ão de tristeza, como em todos os atos de coragem — um sentimento de que, em certa medida, se chegou ao fim de algo, e também de dúvida sobre quanto se poderá poder á avanç a vançaa r no próxim pr óximoo passo. Depois que o avião desce, talvez seja melhor fechar o capítulo com essa exaltação — repetindo meu próprio medo ao aterrissar em Los Angeles, aquele sentimento de que havia novos mundos a conquistar em 1937, e transferir isso a Stahr, ou ou talvez talvez seja sej a m elhor elhor aca a cabar bar com c om a cacofoni ca cofoniaa de um rival. rival. capítulo 2 Fitzgerald Fitzgerald havia e scrito Nada mais justo diante do parágrafo que começa com “O “ O Robby vai cuidar de tudo quando chegar ”, chegar ”, assegurou Stahr ao meu pai . ssa dev e ria ser a prime primeira ira aparição aparição do personagem que v iria iria a ter um papel importante na trama e o autor desejava, presumivelmente, com essa introdução casual, dar uma viva expressão a ele. Suas anotações sobre Robinson podem ser encontradas adiante, entre os esboços preliminares dos personagens.
capítulo 3 O autor não ficou completamente satisfeito com a revisão e a organização desse capítulo. O texto aparece aqui como estava no rascunho, apenas com algumas poucas mudanças mudanç as para lhe lhe dar maior consistênc consistênc ia interna. interna. No rascunho, a passagem passagem aparece aparec e assim: assim:
O ataque fora planejado, provavelmente, pois Popolos, o grego, entrou no assunto com uma conversa meio enrolada, o que, para o príncipe Agge, trouxe à
lembrança Mike Van Dyke, exceto que a fala, ali, tentava e conseguia ser mais clara do qque ue confusa. O autor escreveu uma cena, com a qual não ficou satisfeito, em que o ríncipe encontra Mike Van Dyke, o veterano comediante; mas as falas de duplo entido de Mike Van Dyke deveriam se encaixar em outro lugar. A passagem em questão é a seguinte:
“O lá, Mik “Olá, Mike”, e” , disse disse Monroe. E o aprese apr esent ntou ou ao visitant visitante: e: “P “ P ríncipe Agge, Agge , est e stee é o sr. Van Dyke. Já deve ter rido de suas piadas muitas vezes. Ele é o melhor comediante do cinema.” “Do mundo”, disse o homem de olhos arregalados, solenemente, “o mais engraçado do mundo. Como vai, príncipe?” Im ediatam ediatam ente, o príncipe príncipe engat e ngatou ou uma conversa com c om Mik Mike Van Dy ke. Ele respondia de forma educada, sem entender bem a essência das palavras do interlocutor. Havia algo sobre o refeitório, onde o senhor Van Dyke julgou ter ouvido o príncipe pedir um prato que soava como “peixe trançado com guidão de gato”, embora o príncipe estivesse seguro de não ter dito tal coisa. Ele tentou explicar que não tinha estado no refeitório, mas a essa altura os dois dois já j á est e stava avam m tão envolvid envolvidos os no assunt assuntoo que o príncipe cons c onsid ider erou ou que o melhor m elhor era admi adm itir tir que tinha inha pedido o tal tal prato para pôr fim às observa observações ções equi e quivocadas vocadas do sr. Van Dyke. Para este, não era tanto uma questão de insistência quanto de convicç convicção, ão, e fal fa lava m uito uito rápido… rápido… O príncipe foi apresentado ao sr. Spurgeon e ao casal sr. e sra. Tarleton, mas estava agora tão confuso pela conversa que tivera com o sr. Van Dyke que declarou “muito prazer em me conhecer”, porque, entre uma coisa e outra, tentara explicar ao sr. Van Dyke que não havia visto Technigarbo em Gretacolor. ovamente ele não conseguira se fazer entender. Se seu nome era Albert Edward Butch Arthur Agge David, príncipe da Dinamarca? “Esse aí é meu primo”, prim o”, j á quase qua se dizia, dizia, m enea ene a ndo a ca c a beça beç a . A voz de Stahr Stahr,, clara cla ra e tranquiliz tranquilizante, ante, o trouxe de volta volta à realidade. re alidade. “Já chega, Mike. Ele está fazendo brincadeiras de duplo sentido”, explicou ao príncipe Agge. “Os baixos escalões por aqui acham engraçado. Pega leve, Mike.” Mike demonstrou polidez. “Encontrei o primo do príncipe no portão hoje de manhã”, e apontou para Stahr, “ou “ ou será que…?” que…?” Desconcertado, Desconce rtado, o príncipe príncipe dinam dinamar arquês quês caiu de novo novo na arm a rm adilha. adilha. “O quê? Ele o quê?” quê?” Então sorriu: “Entendi, “Entendi, ele é sua Gertrude Ge rtrude Stein”. Stein”. capítulo 4 Fitzgerald Fitzgerald fez fe z a seguinte anotação no e pisódio pisódio com c om o diretor, diretor, que inic inic ia esse e sse
capítulo:
O que está faltando na cena de Ridingwood é paixão e imaginação etc . Que coisa extraordinária que ele tivesse tudo e, de repente, não tivesse nada. capítulo 5 Depois De pois da frase, frase, De modo que tinha tomado a tolerância, a bondade, a indulgência e até mesmo a afeição como lições , o autor escreveu a si próprio: (e aqui vem a ideia sobre ser jovem e generoso). Anotação que se segue à seção seç ão que termina term ina na página página 141.
Isso talvez não esteja suficientemente conciso e claro. Ou talvez não esteja forte o bastante. Talvez seja o momento para o veredito do médico. Gostaria de lhe dar um a pegada m ais forte. forte. Dois esboços A carta e o esboço esboç o a seguir lançam alguma luz sobre o desenv dese nvolvime olvimento nto da história e mostram como ela evoluiu e mudou desde a concepção inicial do autor.
* Carta escrita por Fitzgerald em 29 de setembro de 1939 , na qual o autor explica o plano inicial do romance a seu editor e ao editor de uma revista na qual esperava publicá-lo em capítulos.
A história se passa durante quatro ou cinco meses no ano de 1935. É narrada por Cecil Cec ilia, ia, filha de um produtor de Hollywood Holly wood c ham a do Bradogue. Bradogue . Cecil Cec ilia ia é uma garota bonita e moderna, nem boa nem má, tremendamente humana. Seu pai tam bém é um personage per sonagem m importa im portante. nte. Um homem hom em a stuto, stuto, um gentio, e um canalha da pior espécie. Típico homem que se fez sozinho, criou Cecilia para ser uma princesa: princesa: enviou-a enviou-a para pa ra estudar estudar na Cost Costaa Leste, Leste, fez f ez dela dela uma um a criatura quase esnobe, esnobe, em bora, no decurso da hist história, ória, a perso per sonagem nagem evolua evolua e se distancie distancie muito desse perfil . Ela tinha vinte anos quando tudo aconteceu, mas já está com vinte e cinco quando nos conta a história e, evidentemente, muitos dos personagens se apresentam a ela sob uma ótica diferente agora. Cecilia é a narradora porque julgo saber exatamente como uma pessoa assim assim reagi rea giria ria à m inha inha hist história. ória. Ela Ela é do ramo ram o do cinem cinema, a, m as não está nele. Ela provavelm prova velm ente veio ao m undo no dia e m que O nascimento de uma nação estreou, e Rodolfo Valentino esteve em seu aniversário de cinco anos. É, ao mesmo tempo, inteligente, cínica e compreensiva com as outras pessoas, seja nomes expressivos, seja inexpressivos em Hollywood. Ela concentra nossa atenção em dois personagens principais — Milton Stahr e Thalia, Thalia, a m ulher ulher que ele am a. No com eço eç o do livro, livro, pretendo pre tendo a presenta pre sentarr e sse homem hom em , Stahr, tahr , enquanto enqua nto ele e le faz uma viagem de avião de Nova York para a Costa Oeste — claro, pelos olhos
de Cecilia. Ela está perdidamente apaixonada por ele há tempos. Mas jamais vai ganhar mais do que um olhar de afeição, e ainda assim marcado pela aversão que ele sente sente pelo pai da da m oça. Stahr trabalha demais e está morto de cansaço, comanda os negócios com um brilho quase moribundo em sua fosforescência. Foi alertado de que sua saúde não vai bem, mas, sendo um destemido, não deu ouvidos aos médicos. Stahr teve tudo na vida, exceto a experiência de se doar por inteiro a outro ser humano. Ele descobre isso na noite de um terremoto razoavelmente sério (como o de 1935), que acont ac ontec ecee pou poucos cos dias dias depois depois que que a hist história começ com eçaa a ser contada. contada. Foi um dia dia cheio c heio até m esmo esm o para Stahr — a força da água que invade invade toda a parte par te térre tér reaa do e stúdio, stúdio, e a tinge tinge o nível de alguns m e tros, pare par e ce abrir abr ir as comport com portas as desse homem home m . Cham Chamado ado à parte ext e xterna erna do estúdi estúdioo para supervis supervisio ionar nar a salvação da planta elétrica (já que Stahr controla tudo por ali), ele vê duas m ulhere ulheress pre presas sas no no telhado telhado de de uma um a das da s casas cenog ce nográ ráficas ficas e se dirig dirigee até a té lá lá para par a socorrê-las. Thalia Taylor é uma viúva de vinte e seis anos — e a presente ideia que tenho dela deve transformá-la em uma de minhas heroínas mais simpáticas e sedutoras. Mas sedutora de uma forma diferente, já que terei entrado em secreto acordo ac ordo com m eus leit leitores ores de que devem os detest detestar ar o tip tipoo de arrogância ar rogância fem fe m inin ininaa que ganhou fama por causa do caso de —— etc. As pessoas simplesmente não simpatizam profundamente com personagens que tiveram tudo, e vou proporc propor c ionar a e ssa m oça “ algum infortúnio”, c omo om o acontec ac ontecee c om Ro Rosalba salba e m ose and the Ring , de Thackeray. Ela e a outra garota (de quem é uma espécie de acompanhante) entraram secretamente no estúdio devido à curiosidade dessa outra outra m ulher ulher.. E são pegas quando a catást c atástrofe rofe ocorre. ocorre . Agora temos um caso de amor entre Stahr e Thalia, um caso premente, dinâmico, inusitado e muito físico — e o descreverei de forma que vocês possam publicá publicá-lo. -lo. Ao A o m esm o tem te m po, vou e nviar uma um a c ópia de c omo om o essa e ssa parte par te vai sair em livro, ivro, com um tom tom um pou pouco co m ais vig vigoros oroso. o. Esse relacionamento amoroso é o centro do livro — embora eu vá tratá-lo, lembrem-se, a partir da ótica de Cecilia. Isso significa que, ao fazer de Cecilia, conforme ela conta a história, uma mulher observadora e inteligente, terei o privilé privilé gio, com c omoo fez fe z Conra Conrad, d, de de deixáixá-la la ima im a ginar as a ções çõe s dos personage per sonagens. ns. No No entanto, espero atingir a verossimilhança de uma narrativa em primeira pessoa, combinada a um conhecimento onisciente de todos os acontecimentos a que estão sujeitos meus personagens. Além do caso amoroso, dois outros eventos importantes ocorrem nos capítulos intermediários. Há uma trama engendrada pelo pai de Cecilia, Bradogue, para tirar Stahr da empresa. Ele chega mesmo a considerar mandar matá-lo. Bradogue é um monopolista do pior tipo — Stahr, apesar do conservadorismo inevitável do homem que se fez sozinho, é um empregador
paterna pate rnali lista. sta. Obteve O bteve sucesso suce sso ainda a inda j ovem , aos a os trinta e três trê s anos, a nos, e alguns de seus ideais de juventude se mantiveram imaculados. Além disso, é um trabalhador. Figurativamente, ele ainda chega ao trabalho e arregaça as mangas, enquanto Bradogue não está interessado em fazer cinema, a não ser na medida em que isso sso poss possaa aj a j udar a aumentar aum entar seu saldo saldo bancári bancár io. O segundo incidente ocorre quando Cecilia, desesperadamente apaixonada por Stahr, tahr , se declar dec laraa a ele. ele . Em sua rea re a ção çã o à indife indifere renç nçaa do am ado, e la se entrega a um homem a quem não ama. Esse episódio não é absolutamente necessário à sequência. Poderia perder importância, mas talvez seja melhor cortá-lo de uma um a vez ve z. De volta ao tema principal: Stahr não consegue se decidir a casar com Thalia. Simplesmente parece não haver lugar para isso em sua vida. Ele não se dá cont c ontaa de quanto quanto ela se tornou necess nece ssária. ária. Em outros outros tem tem pos, pos, seu nom nom e sempre sem pre estiv estiver eraa ass a ssociado ociado a atrizes atrizes fam fa m osas osas e cel ce lebridades, e Thalia Thalia é pob pobre re,, sem graça, graç a, e tem um verniz de classe média que não se encaixa com a grandiosidade que Stahr espera da vida. Quando percebe isso, ela o abandona temporariamente, deixando-o não por ele não ter a intenção de oficializar o compromisso, mas porque a coisa toda a m a goa — e é uma um a lem brança bra nça de um tipo tipo de va vaidade idade do qual ela j á se cons c onsiiderava dera va livre. livre. Stahr se vê agora diretamente na luta para se manter no controle da companhi com panhia. a. Sua Sua saúde se deteriora de repent repe nte, e, durante uma viagem viagem a Nova Yor Yor para par a se reunir re unir com acioni ac ionistas. stas. Quase Qua se m orre orr e por lá e, quando retorna re torna,, de descobr scobree que Bradogue aproveitou sua ausência para tomar atitudes que Stahr considera impensáveis. Ele se lança novamente ao trabalho para tentar colocar as coisas em ordem. rdem. Tendo se dado conta de quanto precisa de Thalia, eles voltam a ficar juntos. Por um ou dois dias vivem um idílio feliz. Vão se casar, mas ele precisa fazer mais uma viagem à Costa Leste para consolidar a vitória em relação aos negócios da empresa. Aqui acontece o episódio final, que deve atribuir brilho ao romance por seu desfecho desfec ho pouco pouco usu usual. al. Vocês Vocês se lembram lem bram da ocasi oca sião ão em que, em 193 1933, 3, um um avião de passageiros caiu numa montanha do sudoeste e um senador morreu? O que me chamou a atenção foi que as pessoas do local saquearam os corpos. Isso é exatamente o que acontece com esse avião que está levando Stahr para longe de Hollywood. A ótica é a de três crianças que, num piquenique, são as primeiras pessoas pessoa s a e ncontrar ncontra r os destroços. destroç os. Entre os m ortos, além alé m de Stahr, tahr , e stão dois outros personagens que já conhecemos. (Não me foi possível entrar em detalhes sobre personagens secundários neste curto resumo.) Das três crianças que encontram os corpos, dois meninos e uma menina, é um dos meninos quem rouba os pertences do cadáver de Stahr; o outro menino saqueia o corpo de um ex-produtor arruinado; e a menina, os pertences de uma atriz de cinema. As
coisas que as crianças encontram nos cadáveres simbolicamente determinam suas atitudes em relação ao roubo. A menina que roubou a atriz se vê diante de um sentimento egoísta em relação aos achados; já as coisas do ex-produtor influenciam o menino a uma atitude indecisa; ao passo que o menino que ficou com a pasta de Stahr é aquele que, depois de uma semana, salva os três ao procura proc urarr um a autoridade a utoridade local loca l e confe c onfessar ssar tudo. A história volta uma vez mais a Hollywood para seu fim. Durante todo o romance, Thalia jamais entra num estúdio . Depois da morte de Stahr, parada diante do grande empreendimento construído por ele, ela se dá conta de que amais entrará. Sabe apenas que ele a amava, que foi um grande homem e que m orreu em bu busca sca do que que acredi ac redittava… Não Nã o há nada que m e preocupe pre ocupe no rom ance anc e , nada que pareç par eçaa incerto. ince rto. Ao contrário de Suave é a noite , não é a história de uma deterioração — não é deprimente nem mórbida, apesar do fim trágico. Se um livro pudesse “se parec par ecee r com c om outro”, eu e u diria que e sse “se “ se pare pa recc e” m ais com O grande Gatsby do que com qualquer outra de minhas obras. Mas espero que seja completamente diferente — espero que traga algo novo, que desperte novas emoções, talvez até uma nova forma de encarar determinados fenômenos. Situei o livro cinco anos atrás para obter um distanciamento, e agora que a Europa se encontra em plena convulsão, a escolha parece ter sido apropriada. É uma fuga para um passado pródigo e rom r omââ ntico ntico que talvez não volte volte m ais em e m nosso tem tem po.
cecilia O primeiro dos fragmentos que se seguem foi originalmente escrito como uma introdução para o romance; mas Fitzgerald decidiu descartá-lo por medo de tornar a história muito deprimente. A imagem de Cecilia no sanatório para tuberculosos aparece aparec e ria, de qualquer forma, ao final do livro.
Ambos estávamos fascinados por aquele rosto jovem. Alguns meses antes, tínhamos feito uma pequena excursão aos cânions do Colorado, como que para apreciar uma última vez a vida; agora, de volta ao hospital, o rosto da garota, exposto ao sol e à febre, parece emprestar alguns dos tons rosados primordiais daquela “maravilha da natureza”. “Vamos, conte”, dissemos. “Não sabemos nada dessas coisas.” Ela Ela come c omeçou çou a tossi tossir, r, e m udo udouu de ideia ideia — acont ac ontec ece. e. “Não me importo de contar a vocês. Mas por que nossos amigos asmáticos têm de ouvir?” ouvir?” “Eles vão se retirar”, asseguramos a ela. Nós três trê s e spera sper a m os, cabeç ca beçaa s rec re c linada linadass nas cadeir ca deiras, as, e nquanto uma um a enfermeira orientava um grupo agitado, que talvez tivesse ouvido o comentário de Cecilia, Cecilia, e o conduz conduzia em dire direçã çãoo ao sanatório. sanatório. A enferm enfe rm eira lançou um olhar olhar de reprovação a Cecilia, como se desejasse voltar e lhe dar um tapa — mas o olhar aos poucos se dissipou e a mulher correu atrás de seu rebanho. “Eles se foram. Agora fale.” Cecilia mirou o céu claro do Arizona. Olhou para cima — o ar azul, que para par a nós um dia foi f oi sinal sinal de e spera sper a nça m a tinal tinal — não nã o com c om a rre rr e pendimento, pendim ento, m a s com aquele estado de confusão misturado a arrogância, comum a quem foi apanhado pela Depress Depre ssão ão em e m plena plena adolescê adolescência. ncia. Tinha Tinha agora vint vintee e cin c inco co anos a nos.. “O que vocês quiserem saber”, ela prometeu. “Não devo a eles nenhuma lealdade. De vez em quando tomam um avião e vêm me visitar, mas isso não importa — estou arruinada.” “Estamos todos”, falei, suave. Ela se sentou, as figuras astecas de seu vestido contrastando com o cobertor estampado com motivos navajos. O vestido de tecido fino — tão apropriado para aquela região ensolarada — me fez lembrar dos ossos salientes e arredondados dos ombros de uma um a outra m ulher, ulher, em e m outro outro lugar, lugar, num outro outro mome m oment nto, o, mas ma s aqui tod odos os devem devemos os perm perm anecer anece r na som som bra. “Você não devia falar assim”, ela sugeriu. “Eu estou arruinada, mas vocês são apenas dois dois caras car as legais legais que que aca a cabara baram m por ser ser infe infectados ctados.” .” “Assim “Assim você nos tira tira o dire direit itoo de ter um a aventura aventura”, ”, objetam obj etam os, os, com ironia. ironia. “Ninguém com mais de quarenta tem direito a uma.” “Não quis dizer isso. Só quis dizer que vocês vão ficar bem .” “Conte-nos a história, para o caso de não ficarmos. Ainda se ouvem rumores sobre ele. Quem era: o messias da indústria? Conheço alguns caras que
trabalhavam na Costa Oeste e o detestavam. E você, era louca por ele? Conte logo ogo,, Cec Ceciilia. lia. Um pou pouco co de sabor pra um paladar m altratado! altratado! Pense P ense no jantar j antar de hospital que vamos ter de encarar em meia hora.” O olhar de Cecilia suspeitava de nossa existência, depois a rejeitava — não nosso direito de viver, mas nosso direito a qualquer sentimento importante de perda per da ou paixão paixã o ou e spera sper a nça ou de grande gra nde entusiasmo. entusiasm o. Ela c omeç om eçou ou a falar fa lar,, m as se int interr errom ompeu peu brevem ente tentando tentando se livrar livrar de um pigarro na garganta. “Ele nunca reparou em mim”, disse, com indignação, “e não vou falar a respeito dele enquanto vocês mantiverem essa atitude.” Jogou de lado o cobertor e se levantou. Seus cabelos, partidos ao meio, caíam-lhe em ondas castanhas sobre as têmporas pálidas. Estava muito magra, mas ainda tinha o brilho da juventude. Sua superioridade ficou implícita no bater dos saltos, enquanto caminhava até a porta aberta que dava acesso ao corredor do prédio — nossa única passagem para a terra encantada. Aparentemente, Cecilia agora desacreditava de tudo, mas parecia ter sido diferente em outra época, que que fi f icara ca ra para trás. Tínhamos certeza, de qualquer forma, de que em algum momento ela acabaria por nos contar tudo — e foi o que fez. O que se segue é nossa versão imperfeita de sua história. * Aqui é Cecilia contando a história. Acho que devo começar explicando por que gastei boa parte do verão circulando pelo estúdio. Bem, pra começar, eu já estava bem grandinha para ficar de fora e sabia como circular sem incomodar ninguém. Segundo, discordara de Wylie White sobre quem mandava no meu corpo. Havia um ator, x, com quem não tinha intenção de casar e que interpretava o papel do homem que quase conquista uma garota em três filmes ao mesmo m esmo tempo tem po,, de mod m odoo que que certam c ertament entee and a ndaria aria sempre sem pre por ali. ali. Em terceiro erc eiro lugar, e a raz ra zão m ais im im portante, portante, eu não tinha tinha m ais nada pra faz fa zer. er. (Quart (Quar to, com descrição dos rapazes de Hollywood.) * [Cecilia e Kathleen ] Ela usava um vestidinho de verão da Sacks de 18,98 dólares, aproximadamente, e um chapéu rosa e azul abaulado de um dos lados. Suas unhas estavam pintadas de um rosa pálido, quase natural, e era impossível determinar se os cabelos também eram pintados. Era educada e reticente. x perdeu per deu a lgum tem po tentando explicar explica r quem eu era er a , m a s e sbarra sbar rava va no fato fa to de Kathlee Kathleenn More More nun nunca ca ter ouv ouviido falar de m eu pai. “Estou “Estou procurando um um em prego”, ela diss disse. e. “Que tipo de emprego?” “Estou olhando olhando os anúncios. anúncios. O que é um swam i?” i?” x explicou — era muito interessante.
“Muito encorajador”, disse Kathleen. “Mas eu não serviria para isso — aquela toalha toalha im im und undaa enrol e nrolada ada na cabeç c abeça.” a.” * Papai costumava ter grandes desentendimentos com os judeus por causa de suas suas piadas a respeit r espeitoo deles e dos irlandeses. irlandeses. Os judeus sempre sem pre alegavam que ele pegava pega va pesado pesa do dem a is. P apai apa i a chava cha va que as brinca brinc a deiras deir as e ram ra m a penas pena s j ustas. Por exem e xempl plo, o, aquela aquela piada do choro… stahr Muitas vezes o dia de Stahr já começava no estúdio. Desde a morte da esposa, ele frequentemente dormia por lá; sua sala tinha um banheiro e um quarto de vestir, e seu divã se transformava em cama. Dadas as imensas distâncias dentro do Condado de Los Angeles — onde três horas por dia no trânsito não são uma exceção —, isso representava uma grande economia de tempo. * Ele nunca quis seu nome nos créditos dos filmes — “não preciso disso porque c rédit ré ditoo é algo que e u dou aos a os outros. Quando Qua ndo se está e stá numa num a posiçã posiçãoo de dar o crédito a si mesmo, então não se necessita disso”. * É preciso também mencionar uma grande falha de Stahr: cercar-se de homens que estavam muito abaixo de seu nível. No entanto, isso pode ter acontecido porque, na época, aos vinte e tantos anos, ele tinha certeza de sua boa saúde e acreditava poder manter tudo sob controle. Assim, supervisores muito pró-a pró- a tivos tivos poderiam poder iam atra atr a palhar palha r a o invés de aj udá-lo. udá- lo. Interf Inte rfer eria ia o m ínim ínim o no trabalho dos diretores, mas ainda assim tinha inimigos — até sua chegada a Hollywood os diretores gozavam de poder absoluto desde que Griffith filmara O Alguns dire diretores tores se ressenti r essentiam am , portanto, portanto, do fato de ele e le nascime nascimento nto de de uma nação . Alguns os ter reduz re duzid idoo de donos donos da da bola bola a sim sim ples ples peças peça s em uma engrenagem engrena gem.. Porém Poré m , o interesse por todas as funções dentro do estúdio e seu temperamento absolu absolutam tamente ente dem de m ocráti ocrá tico co garant gara ntiiam -lhe -lhe pop popul ularidade aridade nos baixos baixos escalões. Entretanto, isso não diz tudo sobre Stahr. É preciso voltar a sua infância e recuperar uma observação feita por sua mãe: “Sempre soubemos que Monroe se daria bem”. Vale lembrar também que esse homem era um lutador, ainda que fosse baixinho — não devia ter mais de 1,68 e pesava pouco (uma das razões por que sempre preferia receber as pessoas sentado) —, e, certa vez, em Veneza, quando um homem cortejou sua esposa, perdeu a cabeça e se meteu numa briga… De Deve ve ter sido sido briguento de desde sde a infânc infâ ncia, ia, provavelm prova velm e nte fez fe z pa parte rte de alguma turma de encrenqueiros. Era popular entre os rapazes logo de cara, era sempre “da turma”. Era um homem mais popular entre os homens do que entre as mulheres.
Nas Na s c onversas onver sas c asuais asua is que tinha tinha c om outros c a ras, ra s, nã nãoo ha havia via nada de pedante peda nte ou superior supe rior — o que faz fa z alguns homens hom ens se sentirem sentire m desconfor desc onfortáve táveis. is. De vez em quando saía com um grupo de diretores festeiros — muitos deles grandes bebedore bebe dores, s, em bora não fosse seu c aso. E e les o ace ac e ita ita vam com o um dos seus, num esp e spíírito rito de companhei com panheiris rism m o. Ou seja, sej a, apesar da cresce cr escent ntee aus a usterid teridade ade a que o aumento da quantidade de trabalho o obrigara nos últimos anos, Stahr nunca demonstrou pedantismo ou frescura, e acredito que isso, nele, era uma coisa verdadeira, não apenas um verniz. Era meio napoleônico e gostava de um combate, o que me faz supor novamente que deve ter sido encrenqueiro desde menino. Se, depois de ter se tornado poderoso, ele às vezes recorreu a subterfúgios para conseguir o que queria, era mais resultado de sua posição do que um traço de sua natureza. Acho que, por natureza, era direto, franco, desafiador desaf iador.. Tentem Tentem , diante diante disso, disso, im im aginar o que foi seu tem po de garoto gar oto.. Este capítulo não deve se desenvolver meramente como uma análise de caráter. Cada descrição que faço sobre Stahr deve conter, ao final de cada centena de palavras, alguma anedota interessante para manter a história viva. ão quero que o livro tenha um viés de análise. Quero que tenha tanto drama quanto quanto uma hist história ória do velho velho Laem Lae m m le ao telefone. * Stahr tinha tinha um conhecimento conhecim ento téc técni nico co gera ge rall das operações operaç ões do estúdi estúdio, o, poré porém m, como exercia a função de chefe fazia bastante tempo, e tantos novos aprendizes tinham inham se form ado sob sob sua sua gest ge stão, ão, era er a at a tribuí ribuído a ele e le um conhecimento conhecim ento maio ma iorr do que de fato tinha. Aceitava que fosse assim porque era o caminho mais fácil e costumava blefar, mas com cautela. No estúdio de dublagem, que era para o som o que a sala de edição era para as imagens, ele sabia das coisas de orelhada e constantemente se via perdido na babel de gírias e termos novos. O mesmo acontecia durante as pausas. Assistia, com uma secreta aprovação infantil, ao proce proc e sso de criaç cr iação ão de cenár ce nários ios a nima nim a dos, a parti par tirr de c enas ena s rea re a liz lizadas ada s para par a outros filmes. Seria capaz de facilmente compreender todo o processo — mas frequentemente preferia não fazê-lo, para preservar uma aceitação sensual que ocorria quando via uma cena projetada a partir dos copiões. Havia jovens espertos por ali — Reinmund era um deles — que plagiavam opiniões para dar a impressão de que entendiam tudo sobre o mundo dos filmes. Mas não Stahr. Quando interferia, era sempre a partir de seu próprio ponto de vista, não do de outros. Assim, sua função era um pouco diferente da que Griffith tivera no passado, passa do, quando a m ão do diretor dire tor era er a indispensável indispensáve l para par a cada ca da ce c e na do fil f ilm m e. * É duvidoso que algum daqueles executivos tivesse lido uma única obra de ficção ao longo de um ano inteiro. E Stahr, que não tinha nenhum tempo para ler e dependia de sinopses, começou a duvidar que algum de seus supervisores lesse
o que quer que fosse fosse além do que que lhes lhes era e ra exigid exigido; o; duvi duvidava dava que os encarre encar regados gados dos elencos (aqui, nota para um personagem) pudessem cobrir a ampla gama de atores disponíveis — como era seu desejo. Uma peça encenada durante um ano e m eio em San Francisco Francisco só seria descoberta descober ta depois depois que que chegasse a Los Angeles, Angeles, onde atraía espectadores enfadados sedentos por novidades. E, aí, em uma semana esse artista já teria explodido e seu salário seria muito alto, quando poderia poder ia ter sido sido c ontratado ontrata do por quase nada se tivesse tivesse sido sido descober desc oberto to com um pouco m a is de com c ompetê petência ncia.. * Para perdoar Stahr pelo que fez naquela tarde é preciso lembrar que ele era fruto da velha Hollywood — aquele território bruto e duro onde apenas os melhores blefadores prosperavam. Ele criara brilho, polimento e controle na nova Hollywood, mas de vez em quando gostava de jogar duro para ver se essas coisas coisas ain a inda da vigoravam vigoravam . * Mas agora, parado ali enquanto a orquestra começava a tocar e os pares se levantavam para dançar, uma frase veio-lhe à mente e o surpreendeu: “Estou entediado para além de qualquer medida”. Nenhum Ne nhumaa dessas dessa s palavras palavr as pare pa recc ia sua. “P “ P a ra a lém de qualquer qua lquer m edida” edida ” era e ra tão teatral que Stahr começou a se perguntar se não teria lido a expressão em algum lugar recentemente. Não saía tanto assim a ponto de se entediar ou de pensar pensa r no assunto nesses nesse s term ter m os. Sabia com o se esquivar dos chatos cha tos e tinha tinha aprendido a aceitar deferência e admiração com humildade e graciosidade; e quase quase sem pre se divertia. divertia. Alguns homens se aproximaram, e conversou com eles com as mãos enfiadas nos bolsos. Um deles era um agente que o detestava e constantemente se referia a ele, pelo menos era o que tinha ouvido, como “o messias de Vine Street”, “Oscar “ Oscar am bulante” bulante” ou “Na poleã poleãoo redivivo”. redivivo”. * Em algum momento após a instauração da censura, Monroe se revolta contra a infant infa ntil ilid idade ade.. Mostrar Stahr recolhido ou evitando as pessoas, mas sem magoá-las. * Como muitos homens, ele não gostava muito de flores, exceto por algumas poucas pouca s m ais selvagens selvage ns — e ram ra m por dem ais elabora ela borada dass e a utoconscientes. utoconscie ntes. Gostava, porém, de folhas, galhos descascados, castanhas da índia, e até de frutas verdes, maduras e bichadas. * Stahr se sente infeliz infeliz e am argurado argura do mais m ais para o final. final.
* Antes Antes da m orte, orte, pens pe nsam am entos entos sobre sobre O Colapso. Eu me pareço pare ço com c om m orte? (diante (diante do espelho espelho,, às seis seis da da tarde) tarde ) * Homens dotados de capacidade incomum para o trabalho, a análise ou outros ingredientes que ajudam a forjar um grande sucesso pessoal parecem esquecer, assim que ficam ricos, que tais habilidades não são distribuídas de forma equânime entre os homens de seu tipo. Então, quando a sugestão de um sindicato é trazida à tona por Bradogue [Brady], Stahr sente vontade de mudar de lado e se aliar a Bradogue. Deixar claro, também, no epílogo, que Stahr fez algum mal em sua vida, assim como fez algum bem. Mostrar que algumas de suas criações combativas, como a Associação dos Roteiristas, continuaram existindo após sua morte, assim como boa parte de seu trabalho criativo também sobreviveu a ele. Lembrar, no entanto, que essas observações devem desempenhar um papel pequeno no capítulo e precisam ser escritas epigramaticamente, com inteligência; talvez possam sair da boca de algum personage per sonagem m que e steja stej a deixando deixa ndo Hollywood Holly wood nesse m esm o capít ca pítulo ulo [em [e m que Stahr decola para seu último voo]. De qualquer maneira, não devo permitir que isso influencie no clima desse capítulo, que deve — seja de forma aproximada ou distanciada — pertencer a Thalia [Kathleen], para que ela perdure na mente do leitor. kathleen Ela se deu conta de que os caminhos da vida eram como rotas de avião, amais levando a lugar algum; de que ninguém sabia qual era de fato seu lugar, uma vez que não existia nenhum Daniel Boone para abrir picadas; de que a vida tinha inha de seguir seguir em frent fre ntee e não se rest re strin ringi giaa ao a o que que acont ac ontec ecia ia dentro dentro dela, e ainda ainda assim era preciso que houvesse aqueles caminhos. Era uma jornada terrivelmente solitária. * Ela pensou nos ventiladores elétricos de pequenos restaurantes com lagostas em gelo na vitrine, e nas placas luminosas piscando e girando contra um céu obscuro, urbano, quente e negro. E, permeando tudo, o misterioso e terrível aglomerado de telhados e apartamentos vazios, de vestidos brancos nas alamedas dos parques, de dedos apontando as estrelas, não aquelas do céu, mas aqueles rostos de pessoas desconhecidas, um universo em que as pessoas mal sabiam o nome umas uma s das das outras. outras. * Refletido no espelho, o brilho de sua beleza ainda fresca a atormentava. * [ Kathlee Kathleen n e seu se u marido?]
Ele a pegou ali parada, na cabana, pensativa. Ficava receoso quando a via assim porque sabia que, nessa hora, ela estava no território mais afastado dele, um local em que as incansáveis racionalizações se desenvolviam, pensamentos cuja cuj a síntes síntesee resul r esultava tava sempre sem pre num cal ca lm o senso senso de inj inj usti ustiça ça e insati insatisfaç sfação ão com a vida. Sabia o (?) com que sua mente operava, mas sempre se surpreendia que dali brotassem protestos puramente abstratos, nos quais ele figurava apenas como um elemento tão desamparado quanto ela. Isso o deixava com medo de que ela dissesse: “Foi culpa sua”, como frequentemente fazia — porque ao agir dessa forma ela parecia sempre colocar a situação e sua interpretação fora de seu alcance. Nesse aspecto, sua mente era mais feminina do que a dela — ele se sentia leve, meio zonzo — e um pouco como aquele personagem de Dickens que acus ac usou ou a esposa esposa de rez re zar contra contra ele. stahr e kathleen Objetivo: quero uma sedução — bastante californiana, mas nova, bem hollywoodiana, digamos. Se ele não tem ilusões, sente pelo menos uma grande piedade, pieda de, excitaç e xcitação, ão, am a m izade izade,, estí e stím m ulo, fascinaç fasc inação. ão. De onde virá o ca lor, nesse nesse caso? c aso? Por que ele acha a cha que ela é cal ca lorosa? orosa? Mais Mais calorosa que a voz no filme Adeus Ade us às armas. Minhas heroínas sempre são calo ca lorosas rosas e prom isso issoras. ras. O que posso posso fazer fazer para tornar essa diferent difere nte? e? O m ar à noit noite. Lago La go de de Como. St-Pol St-Pol (usado (usado em Suave é a noite noite ). Por que os romances roma nces franceses, au fond , são frios f rios e tristes? tristes? P or que Wells era calo ca loroso? roso? * Clima geral . Incomodados pelo clarão, eles retornam, ela ainda pensando que talvez possa recuar. Embora não suporte pensar nisso. Era hoje à noite. O crepúsculo sombrio, depois de um dia lúgubre (modificar o tempo usado antes para par a pôr do sol). Eles deixara deixa ram m o hotel há pouco m a is de três trê s horas, hor as, m a s pare pa recc e ter se passado um longo tempo. Cuidar de que cheguem ao clímax de forma rápida. O lugar provoca um efeito estranho, como se estivessem em um set de filmagem. O clima é o de duas pessoas disponíveis. Ele sente uma atração incontrolável pela garota, que promete devolver a ele a vida — embora Stahr ainda ainda não pense pense em casam ento ento —; ela é uma prom prom essa essa de esperança e frescor f rescor.. le a seduz porque ela lhe está escapando — e ela se deixa seduzir por causa da imensa admiração que sente (o telefonema). Uma vez definidos os papéis, a coisa é sensual, imediata, de tirar o fôlego, depois gentil e terna por um tempo. * Ela estava muito interessada, o que foi bom. Teria sido bom de qualquer eito, mas pela primeira vez foi muito além do que ele esperava. Não como acont ac ontec ecee com c om pessoas pessoas jovens j ovens,, foi mais ma is sensato, sensato, profundo profundo e m uito uito doce, com o era com Minna quando ele voltava depois de ter ficado fora por muito tempo. Ele esteve a léguas de distância, dentro dele mesmo, mas não deixou que ela
perce per cebesse besse.. * Aquela garota tinha vida própria — era muito raro encontrar alguém cuja vida vida não dependia dependia ou viria viria a depender de algum algum a form f ormaa dele. robinson Essas passagens sobre Robinson Robinson e stão stão todas relacionadas re lacionadas a um plano inicial do romance. O autor desistiu da ideia de fazer com que Kathleen e Robinson tivessem um caso amoroso, mas o último talvez ainda figurasse como agente elecionado por Brady para tirar Stahr da jogada. Aqui, Kathleen é chamada de Thalia.
Gostaria que esse capítulo desse uma ideia do trabalho de um montador, de um cinegrafista e de um assistente de direção em um filme como Carnaval de inverno, enfatizando a rapidez com que Robinson deve trabalhar, suas reações e o porquê de ser o que é em vez de ser o c ara ar a com a lto lto salário salá rio c ujas uj as habilidades técni éc nica cass permit perm itiiram ra m que fosse. fosse. Talvez Talvez use use um pou pouco co da atmos atm osfe fera ra de Dartmouth Da rtmouth,, neve etc. — tendo o cuidado de não remeter a nenhum material que Walter Wagner esteja usando em Carnaval de inverno, ou que eu tenha sequer sugerido como ideia ideia para ele. Poderia começar o capítulo pelos olhos de Cecilia, uma convidada do carnaval, depois passar rapidamente para Robinson, e talvez fazer ambos se encontrarem na mesa do telégrafo, onde ela o surpreende enviando um telegram elegra m a a Thalia. Thalia. Mas Mas a essa altura altura,, e com c om os recursos que que escol e scolhi hi — panos de fundo de neve para o filme —, vou não apenas desenvolver o personagem de Robinson como também deixar uma brecha que demonstre que, mais tarde, ele poderá poder á ser corrom cor rom pido. Em uma um a transi tra nsiçç ão ou m ontagem ontage m curta, cur ta, levare leva reii todos para par a a Costa Costa Oe Oeste. ste. Cec ilia, ilia, talvez acom a com panhada panha da de a m igos, igos, se m ostra lisonj lisonjee ira em relação ao produtor que estava no comando (aliás, ineficiente) e em relação a Robinson. O homem escolhido para tirar Stahr da jogada é Robinson, o montador. Devo desenvolver o caráter de Robinson para que isso seja possível — ou seja, Robinson, agora, tem três diferentes aspectos. A possibilidade mais viável é que ele seja uma espécie de sargento — caracterizado como tal. Sua relação com o m und undoo é convencional, convencional, um um tanto tanto estereotipada estereotipada e banal; e esse novo elem elem ento é o que dá a possibilidade de ele ser corrompido pelas circunstâncias a ponto de se envolver diretamente na questão e ser usado por Bradogue. Para isso, é prati pra ticc a m e nte necessá nec essário rio que exista desde o c omeç om eçoo algum a specto spec to falho fa lho de Robinson, apesar de sua coragem, engenhosidade, seu conhecimento técnico e seu jeito de sargento — virtudes que quero que ele tenha. Alguma falha secreta — talvez ta lvez algo a lgo sexual. se xual. P ode ser por a í, m a s, se eu fizer fizer isso, isso, ele e le não pode ter um relacionamento com Thalia, que com certeza não aceitaria um amante ruim.
Talvez ele tenha uma falha — não sexual — nada a ver com sua masculinidade. De qualquer forma, não tenho uma ideia por enquanto, e isso precisa ser inventado. De qualquer forma, o fato de ele ter amado Thalia o transforma em uma ferramenta natural para Bradogue empregar em seu ódio em relação a Stahr. * (Thalia) vem tendo um caso intermitente, do qual se sente um pouco envergonhada, com o personagem a quem venho chamando de Robinson, o montador, que, em sua vida profissional (e isso é muito importante), é extremamente interessante e sutil, inspirado na ideia do sargento — seja um do Exército ou aquele montador da United Artits a quem eu admirava tanto, ou então em qualquer outra pessoa do tipo que resolve problemas práticos, ou em algum técnico da área do cinema —, e quero fazer um contraste entre isso e seu convencionalismo e sua aceitação da banalidade do universo cultural urbano. As m ulheres ulheres conseguem conseguem m anipu anipullá-lo sem sem fazer fazer força. Ele é capaz ca paz de desemara desem aranh nhar ar os fios mais embaraçados durante uma forte tempestade de neve, no escuro, do alto de um poste de vários metros, usando pouco mais do que um alicate e os pregos pre gos de suas botas, m a s, c olocado oloca do diante de uma um a situaç situaçãã o que até a pessoa mais ignorante e inútil daria conta no universo urbano, ele se torna impotente e apalermado, a ponto de parecer um Babbitt ou um cara estúpido, desajeitado e incompetente. Em algum ponto da história, Stahr precisa se dar conta disso, já que deve ser um homem home m qu quee con c onseg segue ue enxergar além das aparências. aparências. A atitude de Thalia em relação a esse homem é, até mesmo nos momentos de maior prazer do caso amoroso, de autoridade. E a profunda gratidão que ele tem por ela é ligada ao amor que sente por Thalia, embora, no decorrer da história, ele sempre pense nela como uma pessoa superior. Stahr, em alguns momentos, mostra a ela que isso não faz sentido, e quero mostrar aqui a diferença de pontos de vista de homens e mulheres: particularmente, que as mulheres têm a tendência de se apegarem a uma vantagem, ou melhor, de ter um caráter menos generoso do que o dos homens, ou talvez elas não vejam tão longe? * Stahr concordou e seguiu à frente de sua equipe. Robinson, que estava quase ao lado dele, um pouco atrás, era um técnico competente — talvez o melhor montador de Hollywood. Não tive muito contato com gente dessa classe dentro do estúdio, mas sei que Robinson era considerado tão bom que chegou a ser chamado para dirigir um filme. Ele fez uma tentativa, nos tempos do cinema mudo, mas fracassou. Jamais, jamais um homem como Jack Robinson se arriscou tanto, e sei do que estou falando. Desde o tempo em que foi chamado para par a um trabalho tra balho realiz re alizaa do no alto dos poste poste s de Michigan em m e io a
tempestades, um trabalho no qual devia exercer a difícil tarefa de, como sargento, tentar estabelecer uma ligação com a artilharia no batalhão da infantaria, quando descobriu que um técnico competente valia mais do que mil novatos inexperientes, os chamados “oficiais especializados”, ele deixou de acreditar em seus superiores e nunca mais quis servir de elemento de ligação entre o com ando e os que que ficam fica m na linha linha de baixo. baixo. Existia nele uma espécie de calor humano que atraía Stahr. Muitas vezes ele confrontava Stahr, a respeito da falsidade ou verdade de certas partes do roteiro — ma m a s, na prá pr á tic tic a , seus conselhos c onselhos ficavam fica vam no “Ora “O ra,, afinal af inal de contas, c ontas, o que é que eles… sabem sabem ? Muit Muitoo bem, bem , vamos vam os em frent fre nte. e. E ess e sses es cabos, c abos, onde onde os colocam colocam os? os? um a grande ideia”. ideia”. Claro, é uma queda do avião Fitzgerald Fitzgerald e sboçou c om algum detalhamento o e pisódio pisódio e m que as c rianç rianç as encontram o avião em pedaços — o que é mencionado na carta a seu editor. Ele chegou a, em determinado momento, descartar a ideia, imaginando que um relato do funeral de Stahr daria um epílogo melhor; mas uma anotação, certamente escrita mais adiante, mostra que ainda não tinha batido o martelo.
É importante que eu comece este capítulo com uma transição delicada, porque não vou descr de scree ver a queda do avião, a vião, vou apena a penass dar da r uma um a últim últimaa image im agem m de Stahr quando o avião decola, e descreverei, muito brevemente, ainda no aeroporto, as pessoas que estão a bordo. O avião, portanto, parte em direção a ova York e, quando o leitor mudar para o capítulo x, devo me assegurar de que não fique confuso com a mudança de cenário e de situação. Aqui, a melhor transição que posso fazer é incluir um parágrafo de abertura no qual alerte o leitor de que a história de Cecilia acabou e de que o relato que se segue foi descoberto pelo autor, ele próprio, e organizado de acordo com o que ficou sabendo em uma pequena cidade de Oklahoma, com a ajuda de um juiz municipal. Os incidentes se passam um mês após a queda do avião. A aeronave ficou enterrada, com Stahr e os outros passageiros, em uma alva escuridão. A neve ocultou os destroços e, apesar das buscas, o avião foi considerado desaparecido. Então, vou retomar a narrativa quando os destroços aparecerem, num degelo prematuro, no mês de março (tenho de revisar bem o elemento climático em todos os capítulos de modo que a segunda viagem de Stahr a Nova York, quando ele morre, aconteça na época das primeiras neves nas Montanhas Rochosas. Quero que esse avião seja como aquele que ficou perdido por dois meses completos antes que fossem encontrados os destroços e os sobreviventes). Devo considerar, cuidadosamente, se é possível, por meio de algum truque técnico, ocultar do leitor que o avião caiu até o momento em que ele é encontrado pelos garotos. O problema é considerar que o leitor pode se sentir confuso ao voltar para o capítulo x, mas, por outro lado, o efeito dramático,
mesmo que o leitor se sinta perdido por alguns minutos, pode ser mais efetivo se ele não ficar sabendo logo no início do capítulo que o avião caiu. Na verdade, tenho quase certeza de que essa é a melhor forma de escrever, devo apenas encontrar como fazer isso do jeito certo. Devo colocar um parágrafo intermediário no início do capítulo x que tranquilize o leitor de que a história é a mesma e continua — mas esse parágrafo pode ser evasivo e limitar-se a situar o leitor sobre o fato de que Cecilia não é mais a narradora da história, sem contar que o avião caiu no topo topo da da m ontanha ontanha e desaparece desapare ceuu por por vário vár ioss meses. me ses. Depois de ter dado ao leitor alguma noção de transição, e depois de tê-lo prepar pre paraa do para pa ra uma um a m udança udanç a no cená c enário rio e na situaç situação, ão, devo faz fa zer uma um a quebra quebr a da narrativa com um espaço, ou algo assim, e seguir com a história. Que um grupo de garotos está fazendo uma espécie de excursão. Que ocorreu um degelo prem pre m aturo atur o na nass m ontanhas. ontanha s. De Devo vo pontuar, dentro do grupo, quem são os três trê s garotos — que vão se chamar Jim, Frances e Dan. O clima é aquele muito parti par ticc ular de Ok Oklahom lahomaa quando term ter m ina o longo inver inverno. no. A a tmosfe tm osfera ra prec pre c isa ser se r de um frio int intenso enso que que cessa c essa rapi ra pidam damente, ente, quase quase com c om viol violência ência — a neve parec par ecee se partir, em m ovim ovim entos entos convul convulsivos sivos,, como com o o rompi rom pim m ento de de uma um a geleira geleira.. O sol está brilhando. Os três jovens se separam do professor, do chefe dos escoteiros, ou de quem seja o adulto responsável, e a garota, Frances, depara com pedaços do motor e do trem de pouso do avião. Ela não tem a menor ideia do que seja. Fica intrigada com o que vê, mas, no momento, está mais preocupada em flertar com os dois garotos, Jim e Dan. No entanto, é uma menina inteligente de seus treze, catorze anos, e, embora não identifique o achado como uma parte de um avião, sabe que é um objeto estranho que não deveria estar nas montanhas. Prime iro, acha que deve ser suca sucatta de uma m áquina áquina de m ineração. neraç ão. Cham Chamaa Dan, Da n, e em seguida Jim, e eles se esquecem completamente do jogo de sedução uvenil a que estavam se entregando quando descobrem outros destroços do avião. O primeiro instinto juvenil é chamar o resto do grupo, porque Jim, que é o mais esperto da turma (os garotos têm ambos quinze anos), reconhece que se trata ra ta de partes de de um avião — em bora não lig ligue ue o fato ao avião avião que desaparece desapare ceuu no mês mê s de novem novem bro —, mas ma s Franc Frances es logo logo encontra encontra uma bolsa bolsa e uma valise valise que pertenc per tenciam iam a uma um a arti ar tista. sta. A bolsa bolsa contém conté m o que, que , para par a e la, repre re presenta senta o m á ximo xim o do luxo. Há uma caixa de joias. Ela está intacta — como se sua queda tivesse sido amortecida por uma árvore. Há frascos de perfume que jamais seriam vistos na pequena cidade em que ela mora, talvez uma camisola ou algo assim que uma atriz pudesse estar carregando, algo que fosse a última palavra em elegância no mundo do do cinem cinem a. A garota fica completam c ompletamente ente fascinada. Simultaneamente, Jim encontra a mala de Stahr — uma pasta executiva exatamente como ele sempre quisera, em couro de excelente qualidade — e alguns outros pertences. Coisas que estão, em geral, presentes na pasta de homens ricos. No momento, não tenho uma ideia específica, mas pensarei em
algo que um senhor abastado e bem equipado levaria em uma viagem, e então Dan faz a sugestão: “Por que precisamos contar a alguém sobre isso? Podemos voltar aqui mais tarde, e talvez haja mais um monte de coisas interessantes, talvez até dinheiro — essas pessoas estão mortas, não vão mais precisar disso — depois podemos contar às pessoas a respeito ou deixar que elas mesmas descubram. descubram . Ninguém Ninguém vai saber saber que estivem estivemos os aqui aqui prime primeiro”. iro”. Dan assume, em seu modo de falar, uma ligeira semelhança com Bradogue. Isso tem que ser feito com muita sutileza para não parecer uma parábola par ábola ou uma um a liç liç ão de m oral. ora l. Ainda assim, assim , é prec pre c iso que fique uma um a certa ce rta impressão, mas só devo usar esse recurso uma vez, sem abusar dele. Se o leitor não perceber, melhor não insistir — não repetir. Mostrar Frances maleável e amoral na situação, mas destacar uma dúvida concreta por parte de Jim, desde o início, sobre roubar os mortos. Fechar o capítulo com os jovens se juntando ao grupo. Várias semanas mais tarde, os garotos já fizeram diversas viagens até as montanhas e limparam o avião de tudo que poderia ter algum valor. Dan está parti par ticc ularm ular m ente orgulhoso de seus a chados cha dos — que incluem pertenc per tencee s de Ronciman. Frances está preocupada e definitivamente amedrontada, tendendo a se alinhar a Jim, que está agora sem dúvida nenhuma deprimido a respeito da coisa toda. Ele sabe que equipes de busca estiveram em uma montanha vizinha — que o avião aviã o tem sido sido procura proc urado do e que, c om a em inência inênc ia da primave prim avera ra,, o segredo será descoberto, e que cada nova excursão ao local do desastre é agora mais perigosa. No entanto, vamos deixar esse sentimento para Frances, porque Jim leu o conteúdo da pasta de Stahr na noite anterior, guardada num baú de madeira, e agora nutre certa admiração pelo cara. Naturalmente, a essa altura do episódio, todos os garotos têm consciência de qual avião encontraram e de quem são as coisas coisas das quais quais se apropriaram . Certo dia, eles vão descobrir também os cadáveres — mas não quero tratar essa cena ce na de m odo choca chocant ntee — das seis ou ou sete sete vítima vítimass ainda ainda cobertas c obertas pela pela neve. ne ve. De qualquer forma, alguma coisa que Jim lê nos papéis de Stahr o convence a ir até o delegado e contar tudo o que aconteceu — o que ele faz, mesmo que Dan, que é mais forte do que ele e que poderia lhe dar uma surra, o tenha ameaçado. Abandonaremos os jovens aqui, com a sensação de que os deixamos em boas mãos, que eles não serão punidos, que devolverão todos os pertences roubados. O fato é que eles poderiam alegar que não tinham pleno conhecimento do que estavam fazendo e agiram com boa intenção ao se apoderarem daqueles objetos. ão haverá punição alguma para nenhum dos jovens. Quero deixar a impressão de que Jim é um garoto correto, de que Frances é ligeiramente corruptível e que pode, em um ano ou m a is, sair e m busca de a venturas ventura s e a cabar ca bar c omo om o uma um a interesseira ou uma prostituta, e que Dan foi completamente corrompido, e que vai passar o resto de seus dias atrás de oportunidades de conseguir coisas sem ter
de pagar por elas. Devo tomar muito cuidado para não forçar a mão ou acabar dando um tom de uma história com moral. Preciso mostrar que Jim é definitivamente um bom garoto e que Frances tam bém talvez talvez seja, sej a, e que os dois dois até possam possam acabar ac abar j untos untos,, e então eliminar essa esperança mostrando que ela tem uma firme convicção de que uma vida de luxo a aguarda em outro lugar, dando, por fim, um amargo e duro fim ao incidente, para afastar qualquer sentimento moral que possa ter se insinuado. Encerrar com Frances, certamente. * O efeito sobre as ideias dos jovens persiste. O avião poderia cair num subúrbio de Los Angeles. Ele pensa que estava nas montanhas, mas está ali — a desolaçã desolaçãoo qu quee ele e le aj udo udouu a criar c riar.. hollywood etc. É impossível contar sobre a rotina de Stahr sem parecer maçante. As pessoas pessoa s da Costa Costa Leste Le ste fingem finge m estar esta r inte inte ressada re ssadass em saber sabe r com o os filme film e s são feitos, mas, se você explica de fato, descobre que elas só se interessam pelas roupas de Colbert e pela vida pessoal de Gable. Jamais enxergam o ventríloquo por trás trá s do boneco. bonec o. Mesmo Mesm o os intele intelectua ctuais, is, que deveria deve riam m ser m ais inte inte ressados, re ssados, só gostam de ouvir a respeito das pretensões, extravagâncias e vulgaridades — conte a eles que o cinema possui uma gramática própria, como a política, a produção produç ão de a utomóveis utomóve is e a sociedade socie dade,, e observe obser ve o olhar vago toma tom a r conta do rosto deles. Eu poderia tentar, por exemplo, explicar o que Stahr queria dizer com o uso peculi pec uliaa r que faz fa zia da palavra pala vra “bom ” , algo a lgo corre cor respondente spondente à la politesse de SaintSimon, e o leitor acabaria por classificar o que eu disse como uma aula sobre bom gosto. gosto. * A forma narrativa da Warner Brothers e a dramática da Metro — cortar e revis re visar ar o que foi escrito esc rito a partir pa rtir de Stahr Stahr.. * [ Stahr e o príncipe Agge ] “Vamos almoçar.” E, casualmente, acrescentou: “Broaca é o melhor cara de Hollywood, tirando Lubitsch e Vidor. Mas está ficando velho, e meio rabugento. Ele não compreende que, agora, um diretor não é mais tudo em um film film e. Isso Isso acontecia acontecia no tem tem po em qu quee eram e ram eles que que davam as cartas ca rtas”. ”. “As cartas?” Alcançara Alcança ram m a porta. Stahr Stahr sorriu. sorriu. “O diretor era quem comandava. Não havia roteiros. Os roteiristas eram apenas figurativos — normalmente eram repórteres e viviam bêbados. Ficavam atrás do diretor fazendo sugestões e, se ele gostasse de alguma coisa, se achasse
que tin tinha ha a ver com c om o film film e, se apropri a propriava ava da ideia.” ideia.” A situ situaç ação ão no grande gr ande estúdio estúdio era a seguinte: seguinte: dire diretores, tores, produtore produtoress e rot r oteirist eiristas as tinham inham que dar provas de que sabiam sabiam faz fa zer dinhei dinheiro. ro. Com Com a desconfiança desconfiança inici inicial al que a indústria do cinema inspirava nos homens de negócios, a dispensa dos mais capacitados, por causa da pressa em concluir uma produção, com o hábito de privile privile giar soluçõe soluçõess imedia im ediati tistas stas e a c resce re scente nte com c ompli plicc açã aç ã o dos re r e cursos cur sos técnicos téc nicos e dos fatores imprevisíveis criados por eles, pode-se dizer com certeza que só ficavam no negócio os que sabiam fazer dinheiro — apesar do fato de que nem sequer um terço dos produtores ou vinte por cento dos roteiristas teriam condições condições de ganhar a vida vida na Cost osta Leste. Leste. Não Nã o havia havia sequer um desses desses homens home ns,, não importa quão incompetente ou incapacitado, que não pudesse alegar ter parti par ticc ipado de pelo m e nos uma um a produçã produç ã o de grande gra nde sucesso. suce sso. Isso dificultava o relacionamento com eles. * Lembrar de meu resumo em Domingo de loucuras — não dar a impressão de que se trata de pessoas ruins. * — apresent apre sentada ada de form a tão lenta, lenta, tão próxim próxim a, tão real re al que é possí possível vel Atriz Atriz — acreditar nela. Por alguma razão, ela está sentada perto, não é uma atriz, mas possui todas toda s a s qualifica ções, çõe s, e a s a presenta pre senta numa num a voz alt a ltaa e dissonante. dissonante. E, de repent repe nte, e, ela é uma atriz, atriz, mas m as não perder o foco faz fa zendo descr descrições ições detalhadas detalhadas de de sua carreira. É preciso mantê-la próxima. Mas sem dizer seu nome. Sempre começar começ ar com um m aneiri aneirissm o. * O cavanhaque . O cavanhaque de Monty Woolley. Família sustentada pelo cavanhaque. ca vanhaque. Não funcion funcionaa há sete sem anas. Esteve Esteve mar m aravil avilhos hosoo em Furacão . Se deu mal na quarta-feira. Um roteirista quer cortar sua cena — é trabalho perdido. per dido. Quanto Qua nto prestí pre stígio, gio, amour-propre . Danos ao ego. Trinta mil dólares. Eliminar Eliminar a falsa f alsa barba. * Tillie Losch preocupado com o significado de “exótico”. Era um roteirista tão novato que, quando o agente entrou na sala, pensou que ele lhe lhe pedi pe diria ria que escrevesse escr evesse um texto para o jornal. j ornal. [Isso [Isso se refer ref eree ao a o hábito hábito de alguns veículos de Hollywood de chantagear os novatos, pedindo que escrevam anúncios sob ameaça de dar-lhes divulgação negativa, ou então ignorar seus trabalhos.] * Homem [desse tipo de imprensa em Hollywood] aconselhando-me a não ler o livro.
* Person Pe rsonagem agem de x, produt produtor or medíocre . — afirm af irmaa ndo ma m a is tarde tar de que m orreu orr eu com c om o cinem cine m a m udo. Precis Pre cisam am os de uma no nova va fórmul fórm ula. a. * Expressar de forma inteligente uma posição contrária a qualquer ideia geralmente aceita vale uma fortuna para certas pessoas. * Piada sobre sobre “fi “f ilmar lma r dos dois dois j eitos eitos”. ”. * “Vam “V am os pensar pensar em algo”, algo”, ela ela fal fa lou ou,, da mesma m esma forma qu quee uma um a cri c riada ada negra diria, diria, “vou lavar suas m eias” para par a m inimiz inimizar ar o trabalho. trabalho. * Um monte de fios no chão — é possível ouvir todo mundo por meio do ditafone. * Seu cabelo louro-acinzentado parecia à prova de reações climáticas, exceto por um a m e c ha solta, solta, evidentem e videntem e nte proposi pr oposital, tal, que ela chegava che gava a desej dese j a r que o vento despenteasse. Tinha a aura inconfundível de uma pessoa cuidadosamente planej plane j ada. ada . Sob as sobra ncelhas nce lhas finas f inas e pintada pintadas, s, seus olhos etc. Seus dentes eram tão brancos em contraste com a pele, os lábios eram tão vermelhos que, na combinação com os olhos azuis, o efeito era momentaneamente surpreendente — tão surpree surpr eendente ndente quanto se os lábios fossem verdes ver des e a s pupilas, pupilas, branc bra ncas. as. * Ela teve medo daquele cone preto pendurado em um braço de metal, girando e girando pela sala ensolarada. O objeto parou por um minuto, e seu barulho bar ulho foi subst substit ituído uído pela bati ba tida da de seu cora c oraçç ã o; então, com c omee çou tudo de novo. * Uma garota de Hollywood. O rosto duro e miúdo de uma prostituta, o corpo de boneca, bonec a, os gem idos idos artificiais de sua voz. voz. * A maior parte das pessoas pode ser fotografada do dia do nascimento ao dia da morte e, se tudo for mostrado num filme, ele não produzirá nenhuma emoção a não ser tédio e repulsa. Como assistir aos macacos se coçando. O que você acha ac ha dos fil film es casei ca seiros ros que que seus amig am igos os fazem fazem de seus bebês ou de de sua viagem ? ão é algo terrivelmente tedioso?
* Um time de futebol em um dia dia bast ba stante ante quente quente de j ulho. ulho. Dois Dois titim es de fera fe rass se enfrentando, a quinhentos dólares por dia. Atores, extras e equipe de film film agem age m . No alto do do estádio vazi vazio, o, Stahr Stahr e sua garota. gar ota. * Houve, por exemplo, um cara que, falando a sério, pediu a Stahr o seguinte favor: que ele dissesse, “olá, Tim”, e desse um tapa em suas costas em frente ao refeitório. Stahr mandou localizar o rapaz e deu o tal tapinha nas costas. Para o sujeito, foi o céu. Quase literalmente, já que ele foi localizado por uma das melhores agências, era a isso que George Gershwin estava se referindo ao dizer: “É um bom trabalho tra balho se você sabe c omo om o fa f a zê-lo”. ê- lo”. Ele se senta e m seu próprio própr io escr e scrit itório ório hoje, tem uma foto da esposa e dos filhos na parede e faz as unhas no Beverly Hills Hotel. Sua vida é um sonho bom. * Stahr se lembrou de como, em 1927, eles tinham recorrido a três aberrações. x estava sendo incomodado por uma mulher realmente inconveniente. Um dia antes de o caso ser julgado, ele enviou um anão e (dois outros deficientes) para falarem com ela. A defesa alegou que a mulher era louca. Então, diante do juiz, ela mencionou as visitas que tinha recebido — os membros do júri abaixaram a cabeça, piscando uns para os outros. O homem foi absolvido. * O tio de Cecilia é um idiota como o irmão de —— “Tem o rude individualismo de Tommy Manville, Barbara Hutton e Woolie Donahue.” Jamais perdoou per doou Wy Wy lie lie por tê-lo tê- lo inter interrom rom pido em seu discurso discur so em defesa def esa de Landon. L andon. * Deve haver, em algum momento, algo sobre um agente importante, para compl com pletar etar o quadro. * Um garoto alto, ombros largos, nariz aquilino e doces olhos castanhos em um rosto sensível. * O terrível e poderoso estrondo de sua ausência. * [Viagem de avião ] Meu sonho gostoso de estar no cesto de um balão, como uma pipa sendo em pinada pinada cont c ontra ra o vento. vento.
* É gostoso se espreguiçar e contemplar o céu uma vez mais, abrindo-se em azul azul-ce -celest lestee para pa ra uma um a nova avent ave ntura. ura. * Uma Um a garota que que parecia pare cia um disco, disco, com um lado em branco. * Não Nã o há segundo se gundo ato na vida dos am a m erica er icanos. nos. * A tragédia dessas pessoas é que nada na vida delas ultrapassara o limite das superficialidades. Person Pe rsonagens agens básicos básicos de Hem He m ingway. ingway. * plagiário plagiár io inteligente, inteligente, senhorio se nhorio exigente exige nte ningu ninguém ém sobreviv sobreviveu eu à cast ca stra raçã ção. o. * Não Nã o desperta despe rtarr os fanta f antasm smaa s de Ta Ta rkingt rkington. on. * ação açã o é personagem personagem
Copyright do prefácio © 1965 by Edmund Wilson Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.
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The Last Tycoon prepar pre paraç ação ão
Alexandre Boide oide revisão
Isabel Jorge Cury
Adriana Cristin ristinaa Bairrada airr ada ISBN 978-85-8086-864-7 Todos os dire direit itos os desta edição e dição reserva re servados dos à editora schwarcz s.a. Rua Bandeira Paulista, 702, cj. 32 04532-002 — São Paulo — sp Telefone: (11) 3707-3500 Fax: (11) 3707-3501 www.penguincompanhia.com.br www.companhiadasletras.com.br www.blogdacompanhia.com.br