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Uma Perspectiva Conceituai, Histórica, Bíblica e Prática
D LIDER
CRISTÃO
eo
de Leitura ALTAIR GERMANO
Uma Perspectiva Conceituai, Histórica, Bíblica e Prática
O LIDER CRISTÃO eo H á b i t o de Leitu Le itura ra
ALTAIR GERMANO
Ia Edição
C B®
Rio de Janeiro 2011
Uma Perspectiva Conceituai, Histórica, Bíblica e Prática
O LIDER CRISTÃO eo H á b i t o de Leitu Le itura ra
ALTAIR GERMANO
Ia Edição
C B®
Rio de Janeiro 2011
Todos os direitos reservados. Copyright Cop yright C 2011 para a língua portuguesa da Casa Ca sa Publicadora das Assembleias de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina. Preparação dos originais: Daniele Pereira Capa: Josias Finamore Projeto gráfico e Editoração: Alexandre Soares CDD: 253 253 - Lidera Liderança nça ISBN: 978-85-263-0770-3 As citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e Corrigida, edição de 1995 1995 da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo indicação em contrário. Para maiores informações sobre livros, revistas, periódicos e os últimos lançamentos da CPAD, visite nosso site: http://www.cpad.com.br SAC — Serviço de Atendimento ao Cliente: 0800-021-7373 Casa Ca sa Publicadora das das Assembleias de Deus Deus Caixa Postal 331 20001-970, Rio de Janeiro, Janeiro, RJ, Brasil 1“ edição: 2011
Ag r a d e c i m e n t o s Expresso os meus mais sinceros agradecimentos a todos que direta e indi retamente contribuíram para a concretização do m eu curso de mestrado. A Deus, D eus, po r suas muitas m isericórdias e fidelidade para para comigo. A m eus pais, pais, Ben edito (in (in mem oriam) e Juracy, Juracy, pelo amor e esforços dedi cado s à minh a criação criação e educação. À minh a espo sa Elizabeth e aos meus filhos Álvaro e Pau Paulo lo,, pela co opera op era ção em term os de incentivo incentivo e paciência. paciência. A s minhas m inhas irmãs Cristiane e Ednalva, Ednalva, po r existir existirem. em. Ao p astor Rob erto José, pelo com panheirismo e apoi apoio. o. A o pasto r Clau dion or de And rade, pela gentileza gentileza de fazer fazer o prefácio. prefácio. A to dos do s os meu s professores, pela dedicação na arte arte de ensi ensinar nar.. A tod os os meus am igos, igos, por serem serem quem são. ão. Ao meu orientador do Mestrado, Professor Rildo Almeida, pelas su gestões e m otivação durante todo o pro cesso de elaboração elaboração da D isser tação que resultou nesta obra.
Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos. Apóstolo Paulo (2 Tm 4.13)
Pr e f á c i o
“PEGA E LÊ”
Em sua mais profunda crise espiritual, Agostinho (século IV) ouviu um as palavras que o acaso jam ais identificará: “Tolle, lege”. O santo de Hipona pega, então, as Sagradas Escrituras e abre-as fortuitamente nas e pís tolas de Paulo. E põe-se a lê-las com a fom e e a sede daqueles rom eiros que, suspirando, andejam continentes e palmilham desertos em busca de Sião. Ele m ergulha na Palavra; sua vida não é mais a mesm a. É o que revela em suas Confissões. O filho de Mônica prontifica-se, então, a servir ao Cristo tão be m retratado nas cartas do apó stolo aos gentios. O que se consagrara a ler, unge-se agora a escrever. Sua pena, à seme lhança do cajado de Arão, enflora-se, frutifica-se. “Pega e lê”, recomenda Altair Germano nesta obra. Embora talhada com os rigores da academia, é dirigida a tod os os que cultivam o hábito da boa e proveitosa leitura. Mas como ler com proveito? E como encontrar a bo a leitura? À semelhança de Plínio, o Moço (62-114), recomenda-nos Altair: “Muito, e não muitas coisas”. O bom leitor é seletivo. Sabe que não dispõe do tempo necessário para repassar as páginas de todas as obras que se fi zeram primas. C om o seria bo m se os no ssos dias fossem tão longevos quanto os de Matusalém. Os primeiros cem anos eu os dedicaria à beleza e aos do naires da língua portuguesa. Quanto ao segundo centenário, que fosse tributado aos filósofos. E a terceira centúria eu a devotaria aos historia dores. Mas o milênio todo dessa vida larga de semanas e comprida de
O LÍDER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA dias, eu o santificaria ao estudo dos santos profetas e dos apóstolos de Nosso Senhor. N ossa vida, porém, não possu i tantos séculos, nem tantas décadas. Diz M oisés que os mais robustos logram alcançar setenta e, quand o muito, oi tenta anos. Por isso, a sabedoria do conselho de Plínio: “Muito, e não mui tas coisa s”. N esse muito, porém, coloqu e esta obra que lhe chegou às mã os num daqueles ab ençoados acasos: “Pega e lê”. Meu amigo Altair escreveu este livro naqueles remansos de Abreu e Lima, on de o silêncio ainda po de ser ouvido. N esse pedaço de Pernambu co, tudo convida à leitura e à reflexão. Q uan do lá estive e quando po r lá an dei, pude entender por que, daqu elas paragens, saem escritores peregrinos como Altair Germano. Ali, o livro é tão esperado como o pão cotidiano: diariamente e com todo o calor. “Pega e lê.” Pr. C laudiono r de Andrade Abril de 2011
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Su m á r i o
Prefácio...........................................................................................................7 In trodu ção................................................................................................... 11 1. O Conceito de L e itu ra...........................................................................15 2. Aspecto s H istórico s da Leitura ............................................................21
1. A Leitu ra na M eso potâ m ia...............................................................................21 2. A Leitura no E g ito .............................................................................................24 3. A Leitu ra entre os Ju d e u s................................................................................ 26 4. A Leitu ra na Grécia Arcaica e C lá ssica.........................................................28 5. A Leitura e a Escrita no M undo R om an o................................................... 33 6. A Leitura no Brasil Colonial...........................................................................38 7. A Leitura na Idade Mo derna — Século XVI ao Século XV III...............39 8. A Leitura no Mundo Contem porâneo — Século XIX aos D ias A tu ais...................................................................................................46 3. A Importância do H ábito de Le itu ra .................................................. 51
1. A Leitura na Ótica de Escritores N ão -C ristão s.........................................51 1. 1. A leitura com o agente de emancipação e desenvolvedora de criticidade................................................................51 1.2. A leitura com o agente de apropriação dos bens culturais...............54 1.3. A leitura, o enriquecim ento do vocabulário e da lingu agem ..........55 1.4. A leitura como agente de desenvolvimento do intelecto.................57 1.5. A Bib liote ra pia............................................................................................58 2. A Leitura na Ótica de Escritores Cristãos...................................................59 2.1. Para obter avivamento espiritual e proveitoso....................................59 2.2. Tendo em vista o estímulo m en tal........................................................ 59 2.3. Afim de obter cultivo de estilo...............................................................59
O LÍDER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA 2.4. Co m vistas a adquirir info rm açõe s........................................................ 59 2.5. A fim de ter comunhão com as grandes m en tes ................................. 60 4. A Importância da Leitura para a Liderança no Contexto Bíblico e C rist ão ............................................................................ 63
1. A Im portância da Leitura no Antigo T estam en to ..................................... 63 2. A Importância da Leitura no No vo T estamento........................................ 66 3. A Impo rtância da Leitura entre os Pais da Igreja....................................... 67 4. A Importância da Leitura no Período M on ástic o..................................... 69 5. A Importância da Leitura para os R eform ado res...................................... 70 6. A Im portância da Leitura no Período dos R eavivamentos e das M issõ es M odern as...................................................................................73 5. O Desenvolvimento do H ábito de Leitura para os Líderes C ristãos na Atualidade .............................................................. 75
1. Ações Necessárias para o Desenvolvimento do Hábito de Leitura ....... 75 2. Os T ipos de Leitura........................................................................................... 78 3. C om o A perfeiçoar a Prática da Leitura ........................................................78 Conclusão ................................................................................................................ 85 Referências Bib liográ ficas ................................................................................89
IO
In
trodução
tualização e contínua bu sca po r con hecim ento é um fator de funamental importância no mundo contemporâneo. A constante atualização é indispensável para o sucesso em qualquer atividade, in clusive a pastoral. Várias podem ser as fontes e ferramentas que pro porcionam a atualização de nossos conhecimentos, entre elas citamos os materiais bibliográficos (livros e periódicos), o estudo acadêmico, palestras, sem inários, co ng ressos e pesq uisas na internet. Conhecimento agrega tanto o que fazemos, como o que sabemos; é o conjunto total de informações, habilidades cognitivas e operacionais que os indivíduos utilizam para resolver problem as. Envolve assim, tanto q uestões teóricas quanto práticas, as regras do dia a dia e as instruções sobre como agir, basean do-se em d ados e informações, mas, ao contrário deles, está sem pre ligado ao sujeito; é construído por indivíduos e representa suas cren ças sobre relacionamentos casuais.1Conhecimento é agregação, interação e acumulação de informação. A busca constante por novos saberes exige dos pastores leitura especializada e geral. A resistência à leitura é um a realidade, e muitos ign oram os males resultantes da falta dessa prática salutar. 1COSTA, Patrícia. Hábito de leitura e compreensão de textos: uma análise da realidade de pósgraduados em Administração. Dissertação (mestrado em Administração). Universidade Federal de Sta. Maria: Santa Maria, RS, 2006, p. 16.
O LÍDER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA Nunca tantas informações foram disponibilizadas e tão poucas foram absorvidas. Es sa constatação revela a grande importân cia dos estud os que envolvam a compreensão da leitura, que se relaciona à produção do co nhecimento no nível individual, promovendo, dessa forma, o desenvolvi mento ministerial do pastor. A leitura de livros perm ite ao ser humano refletir, socializar e dissem i nar o seu conhecimento com o prop ósito de construir novos con hecimen tos. Ap esar de tod o o desenvolvimento d as tecnologias de informação, da ampliação dos projetos de inclusão digital, nada substitui a importância da leitura. Na leitura está implícito o sujeito que escreve, que deixa suas marcas, e os sujeitos que leem, que, ao lerem, atualizam, dão vida ao que foi escrito.2Desta forma, a leitura não é mera soletração, decodificação ou repetição do que está escrito; a leitura dá outra vida ao texto pensado e escrito pelo autor, penetra nos sentimentos e ideias, no estilo de quem lê. As pesquisas demonstram que o hábito de ler está longe do ideal em nossa nação. No Brasil, o grau de analfabetismo é um grande obstáculo à geração de saberes provenientes da leitura. O baixo índice de leitura por hab itante/an o (1,8 livro) com prova isso. U m a pesquisa realizada pelo In s tituto Paulo Montenegro e a ação Educativa, em 2005, aponta que 74% da população brasileira, entre 16 e 64 anos, não sabem ler ou possuem muita dificuldade em entender o que leem. O Instituto Pró-Livro, em 2008, infor ma que a Bíblia, apesar de ser o livro preferido dos brasileiros, ainda é lida por uma minoria, 4,5 milhões de pessoas, meno s de 2,5% da população. Ap esar do s diversos programas em atividade, o líder cristão ainda não reconhece no ato de ler o seu valor para o desenvolvimento intelectual, adequação de comportamentos à nova realidade cultural e social, sem fa lar da possibilidade de conduzir a igreja, o ministério ou grupo que lidera a um p rocesso de desenvolvimento e entendimento da realidade, fato este que produzirá um a igreja mais atuante, conhecedora do s grandes desafios deste século e capaz de adequar suas práticas ao novo contexto. C om isso produziria maior resultado para o Reino de D eus, sem, abrir mão d os prin cípios inegociáveis da Bíblia Sagrada. Negligenciar a com petên cia em lei tura e escrita gera uma restrição ao acesso às informações relativas à vida em sociedade, à cultura, à política e, por conseguinte, prejudica-se o de senvolvimento integral do indivíduo. 2 MA RQ UE S, M. O. Escrever é preciso: o princípio da pesquisa. 4. ed. Ijuí: U N IJU Í, 2001, p. 20.
1Q
Introdução
Essas questões estão presentes na maior parte das igrejas evangélicas do Brasil. Até então, não houve iniciativa de estudá-las objetivando a ela boração futura de um programa que possa intervir para a transformação dessa realidade. Diante desse quadro, temos as alternativas de nos pena lizarmos ante a situação ou nos mobilizarmos para mudá-la. Existe uma consciência formada quanto à importância do hábito de leitura entre os líderes evangélicos brasileiros? Q uais os obstácu los que enfrentam? Quais ações po de m ser impleme ntadas para o crescimento do hábito de leitura? Tais questões necessitam não apenas de respostas, mas, antes de tudo, de investigação, análise e ação. O objetivo geral desta obra é identificar a imp ortância e as fund am en tações para a prática de leitura entre os líderes cristãos evangélicos. Para este fim, o primeiro capítulo tratará sobre o conceito de leitura num a pers pectiva bastante ampla. O capítulo 2 resgatará a história da leitura desde a antiguidade até os dias atuais. Nos capítulos 3 e 4, respectivamente, será abordada a importância da leitura numa perspectiva de escritores nãocristãos, cristãos e numa perspectiva bíblica, considerando o Antigo e o N ovo Testamento, além de sua importância no período dos Pais da Igre ja, no monasticismo, na Refo rm a Protestante, nos avivam entos e m issões m odernas. O capítulo 5 trata da impo rtância do hábito de leitura para os líderes da igreja na atualidade. Esta obra se revela como relevante por várias razões. Primeiro, me diante os resultados o btidos, se busc ará esclarecer alguns mitos, dentre os quais o de que a intelectualidade é incompatível com a espiritualidade. Em segundo lugar, mostrar que do ponto de vista da liderança cristã, o hábito de leitura po de prom over um a influência positiva sobre os lidera dos, o desenvolvimento da liderança cristã, do senso crítico do líder e de um a melhor percepç ão deste da realidade. Em terceiro lugar, sendo a Bíblia nosso referencial de fé e conduta, acreditamos ser de máxima importância uma abordagem hermenêutica sobre o referido tema. E por último, porque o resultado das pesquisas que resultaram neste material po de apon tar me ios de esclarecer e orientar os líderes a superar as dificuldades en contradas no desenvolvimento do hábito de leitura, viabili zando, d esta forma, um a liderança cristã contextualizad a e eficaz.
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1 O Conceito
de
Le i t u r a
O
conceito de leitura é bem m ais abrangente do que um simples d ec o dificar da escrita. É um ato que implica a formação integral do indi víduo e sua relação com o mundo que o cerca.1A leitura ultrapassa os limi tes do texto escrito, permitindo uma melhor compreensão de cada etapa do aprendizado das coisas, cada experiência. “Ampliar a noção de leitura em geral pressupõe transformação na visão de mundo em geral e na de cultura em particular”.2 Le r é mais do que um a simp les decifração do que está escrito, mas um ato que resulta na form ação geral do indivíduo, e que faz com que ele se adapte ao mu ndo em que vive, não se limitando ape nas às vivências escolares, mas “enxergand o” além daquilo que está escrito. Silva reforça tal conceito po r meio de sua visão de leitura: A leitura deve ser vista como uma das conquistas da espécie hum ana em seu processo evolutivo de hominização, mesm o porque o nascimento e a plenitude da razão estão condicionados pelo acúmulo de observações de outras mentes que nos precederam e que é transmitida pela palavra oral ou escrita.3
*
1MA RTIN S, Maria Helena. O que é leitura. 19. ed. São Paulo: Brasiliense, 2007, p. 22. 2 Idem. DINIZ, Fátima Albuquerque; SANTOS, Fátima. Como despertar o interesse pela leitura no ensino fundamental, especialmente nas 8a séries, nas escolas públicas. Monografia (especialização em Lingua Portuguesa). Fundação de Ensino superior de Olinda — FU NES O: Olinda-PE, 2001, p. 17. 3 SILVA 1983, p. 22 apud D INIZ e SANT OS, Idem.
O LÍDER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA Araújo declara que “ler é tudo isso — um processo complexo, devido aos diferentes asp ectos que apresenta”.4D essa forma, a leitura é com pre en dida como uma experiência linguística, um processo de comunicação de ideias, po r meio de símbolos escritos que por sua vez substituem os orais: as palavras. A totalidade de percepção de leitura é mais que a som a de suas partes. Não se pode, pois, reduzir uma leitura a palavras, da mesma forma que não se reduz a música de um com positor a simples notas.^ Neste sentido, Foucambert declara que: Existe uma grande diferença entre ver e examinar, ouvir e escutar [...] Ler não é ver o que está escrito, nem tampouco lhe atribuir uma versão oral. Q uem ousaria dizer que sabe ler em latim só porq ue sabe pronunciar as frases que lhe são apresentadas? Ler é ser questionado pelo mundo e por si mesmo, é saber que certas respostas podem ser encontradas na produção escrita, é pode r ter acesso ao escrito, é construir uma respo s ta que entrelace informações novas àquelas que já se possuía.6
Araújo cita Russel que define a leitura como “um ato sutil e complexo que abrange, simultaneamente, a sensação, a percepção, a com preen são e a integração”.7 C om isso ele quer dizer que ler não se limita apenas a perc e ber as palavras, mas ao mesmo tempo entender o todo reagindo às ideias apresentadas e procurando integrá-las as suas vivências. Por ser uma ferramenta de aquisição de conhecimentos, a leitura, se levada a efeito crítica e reflexivamente, emerge como um trabalho de c om bate à alienação, capaz de facilitar ao gênero humano a realização de sua plenitude. É preciso saber se a organização social onde a leitura aparece e se localiza dificulta ou facilita o surgimento de hom ens — leitores críticos e transformadores.8 Freire, ao se referir à leitura, diz que esta não se detendo na decodificação pura da palavra escrita, mas se antecipan do e se alongando na inteli gência do mund o, promove o ser-crítico, o ser-mais, o sujeito-ator e trans4ARAÚJO, M aria Yvonne Atalício de. Iniciação à leitura. Belo Horizonte: Virgília, 1972, p. 25. Apud Ibdem, p. 18. 5Ibidem. 6 FOU CA MB ERT apud MARIA, Luzia de. Leitura & colheita: livros, leitura e formação de leito res. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008, p. 21. 7AR AÚJO, M aria Yvonne Atalício de. Iniciação à leitura. Belo Horizonte: Virgília, 1972, p. 11. Apud DIN IZ e SAN TOS , p. 18. 8Ibidem.
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0 Conceito de Leitura
form ado r da realidade.9 A leitura do m undo precede a leitura da palavra, daí que a po sterior leitura desta não po ssa p rescindir da continuidade da leitura daquele. A leitura da palavra não é apenas precedida pela leitura do m undo, mas por certa forma de “escrevê-lo” ou de “reescrevê-lo”, quer dizer, de transformá-lo por meio de nossa prática consciente. O ato de ler implica sem pre percepção crítica, interpretação e “reescrita” do lido .10 Os Parâmetros C urriculares N acio nais11 definem leitura como o pro cesso pelo qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e inter pretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que se sabe sobre a linguagem, etc. Trata-se de uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação sem as quais não é possível proficiência. Essas argumentações são ratificadas por Lajolo: Lê-se para entender o mundo, para viver melhor. Em nossa cultura, quanto mais abrangente a concepção do mundo e de vida, mais intensamente se lê, numa espiral quase sem fim, que pode e deve começar na escola, mas não pode (nem costuma) encerrar-se nela.12
Jolibert afirma que ler “é atribuir diretamente um sentido a algo escrito”.13 Diretam ente, isto é, sem passar pe lo interm édio nem da decifra ção (nem letra por letra, sílaba por sílaba, ou palavra por palavra); n em da oralização (nem sequer grupo respiratório por grupo respiratório). Ler é questionar algo escrito como tal a partir de uma expectativa real (necessidade-prazer) numa verdadeira situação de vida. Ler é ler escritos reais, que vão desde um nom e de rua numa placa até um livro, passando po r um cartaz, um a embalagem, um jornal, um panfleto, etc., no m om ento em que se precisa realmente deles num a determ inada situação de vida “para valer” com o dizem as crianças. É lendo de verdade, desde o início, que alguém se torna leitor, e não aprenden do primeiro a ler. 9 FR EIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 46. ed. Sãt> Paulo: Cortez, 2005, p. 11. 10D IN IZ e SAN TO S, Ibidem. 11 BRA SIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curricu lares Nacionais: 5a a 8a série do Ensino Fundamental — Introdução dos Parâmetros Curricula res. Brasília: MEC/SEF, 1998, p. 9. 12 LA JO LO , 1994, p. 7 apud Ibidem. 13JO L IB E R T , J. (org ). Forman do crianças leitoras. Tradução Bruno C. Magne. Porto Alegre: Artes Méd icas, 1 994, p. 15 apud Ibidem.
17
O LÍDER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA Sandroni & Machado percebem a leitura como um processo amplo de compreensão e descoberta de sentido, fruto do diálogo com o que é lido, tornando relevante e consequente a postura do leitor diante do que lê; que o prazer da leitura não é inco nsequente.14 N ess e sentido, incentivar ou motivar o prazer pela leitura també m implica criar condições p ara ler a própria realidade. O ato de ler, então, vai além dos limites do texto. A m bo s entendem que ler, no sentido profun do do termo, é o resultado da interação entre leitor e texto, isto é, um esforço de comunicação entre o escritor, que elaborou, escreveu e teve impresso seu pensam ento, e o lei tor, que se interessou, comprou ou ganhou, folheou e leu o texto atuando via capacidad e inferencial, com o coautor do texto lido. Tam bém p or isso, a leitura é um a atividade ind ividual e só a leitura direta, sem interm ediário, é leitura verdadeira — a leitura silenciosa que m obiliza toda a capacidade de uma pe ssoa é um a atividade qu ase tão criadora com o a de escrever. Soares reforça de forma bastante eloquente essas afirmações: Ler um texto é instaurar uma situação discursiva. A leitura do ponto de vista da di mensão individual de letramento (a leitura como uma tecnologia) é um conjunto de habilidades linguísticas e psicológicas, que se estendem desde a habilidade de decodificar palavras escritas até a capacidade de com preender símb olos escritos. Es sas categorias não se opõem, completam-se; a leitura é um processo de relacionar símbo los escritos a unidade s de som e é também o processo de construir uma inter pretação de textos esc ritos.10
Definir leitura não é algo simp les em virtu de de suas muitas variáveis. Fischer de forma mais ampla, diz que a leitura é “a capacidade de extrair sentido de sím bolos escritos ou im pressos”.16 D essa forma, ele se utiliza dos sím bolo s para a sua orientação na recuperação de inform ações de sua memória, para em seguida criar, com essas informações, uma interpreta ção plausível da mensagem do escritor.17 Rangel entende que “Ler, assim como escrever, são atos de comuni cação verbal caracterizados pela relação cooperativa entre o emissor e o 14SA ND RON I, Laura C. & MACH ADO , Luiz Raul (org). A criança e o livro. 2. ed. São Paulo: Ática, 1987, p. 72 apud Ibidem, p. 23. 15SOARES, Magda. Letramento: Um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998 , p. 68. 10FISC H ER , Steven Roger. História da leitura. Tradução de Claudia Freire. São Paulo: Editora UNESPE, 2006, p. 11. 17MIT CH EE L, 1982 apud Idem.
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0 Conceito de Leitura
receptor, pela transmissão de intenções e conteúdos e por apresentarem um a form a ade quada à sua função”.18 Em seus primórdios, a leitura consistia na mera capacidade de obtenção de informações visuais fundamentada em algum sistema de códigos, bem com o na com preensão de seu significado. Ao passar dos anos, passou a significar a compreensão de um texto contínuo com sinais escritos sobre uma superfície gravada. Atualmente, está inserida no conceito de leitura a extração de inform açõe s codificadas de uma tela eletrônica. A definição de leitura tende a continuar se expandindo no futuro porque, assim como qualquer outra aptidão, ela também é um indicador do avanço da própria humanidade .19 Para Fischer duas teorias conflitam sobre a leitura. A primeira — defendida pelos que acreditam que ela é um processo exclusivamente linguístico — analisa-a como um processo linear fonológico (relacionado ao sistema sonoro de um idioma) que se dá letra a letra, conectando o elemento da linguagem em unidades compreensíveis crescentes, até que a elocução e, em seguida, a com preensão sejam obtidas. A segunda teoria, apoiada pelos que sustentam que a leitura é um pro cesso semântico-visual, afirma que o grafema ou a forma gráfica — seja um logograma (sinal representante da palavra), seja um silabograma (sinal representante da sílaba), ou ainda uma combinação de letras (sinais de um sistema alfabético) — produzem significado sem necessariamente recorrerem à linguagem. Palavras e frases inteiras, até mesmo sentenças curtas, podem ser lidas “de uma só vez”, afirmam os autores dessa teoria; não é necessário desmembrá-las em letras pronunciadas individualmente.20
Considerando as suas perspectivas, cada uma dessas teorias está cor reta, ou seja, no nível elementar a leitura é um p rocesso linear fonológico, enquanto que fluente a leitura é um processo semântico-visual. U m levantamento da história da leitura poderá p romo ver uma melhor comp reensão de suas mudan ças em termos ideológicos, conceituais, m e todo lógico s e práticos.
18 RA NG EL, Jurem a Nogueira Mendes. Leitura na escola: espaço para gostar de ler. 2. ed. Porto Alegre: 2007, p. 18. 19 Idem. 20 Idem, p. 12.
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Q Aspectos Históricos da
Le i t u r a
íistória da leitura po de ser reconstruída com b ase em suas diferenças e ;ingularidades, nas diferentes form as de escrever e ler que marcaram as sociedades desde os tem pos antigos. Para Cavallo e Chartier, "uma história sólida das leituras e dos leitores deve, portanto, ser a da historicidade dos m od os de utilização, de compreensão e de apropriação d os textos”.1Quais as mudanças fundamentais que ao longo do tempo transformaram as práticas de leitura, e de que maneira o conhecimento dessa prática contribui com leitor do século XXI, é o que se pretende observar neste capítulo. “Quan to mais remoto for o passado observado, mais difícil se percebe a leitura”.2 Quan to mais se investiga a antiguidade, mas se revela o fato de que apenas grupos seletos tinham acesso aos métodos de registros primitivos. 1. A L e it u r a n a M e s o p o t â m i a
.
Na M esopotâm ia nos dep aramos com um a das formas m ais primitivas de leitura. Conform e Fischer,3 os leitores dessa época apen as visualizavam 1CAVALLO, Guglielmo; CHARTIER, Roger (org.). História da leitura no mundo ocidental. São Paulo: Ática, 200 2, p. 7. 2CHAUNU, 1994 apud FISCHER, Steven Roger. História da leitura. Tradução de Claudia Frei re. São Paulo: Editora UN ES PE , 2006, p. 13. 3Idem, p. 16.
O LÍDER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA um esqueleto textual com nom e, mercadoria e valor, cujo objetivo era o de dar po deres à oligarquia. A escrita suméria se desenvolve basead a não na ideia de reprodução de um discurso oral, mas para retenção de informa ções concretas na memória. Era uma leitura utilitarista que envolvia certa união lógica de fragmentos de informação, sem nenhuma preocupação com o discurso articulado. A Sum éria perpe tuou por séculos um acervo considerado vago e am bíguo com cerca de 18 mil pictogram as e símbolos. Houve simplificação e padronização e, por volta de 2700-2350 a.C., com as tábuas de Shurupak, o acervo foi reduzido a mais ou m enos oitocentos, com m ais utilização da li nearidade (escrita em linha de texto). Por volta de 2S 00 a.C., quase todos os elementos gráficos no método de escrita dos sumérios haviam se tornado unidades sonoras. E em torno de 20 00 a.C. cerca de apenas 57 0 logogram as faziam parte do dia a dia.4
Os sinais em forma de cunha substituíram os primeiros pictogramas, que eram imp ressos com estiletes feitos de cana (instrumento po ntiagud o para escrita) sobre argila. Ler ( ita) significava tamb ém para os sum érios “contar, ponderar, m e morizar, declamar, ler em voz alta”.5 Tal aptid ão era muito restrita. Para se ter uma ideia, por volta de 200 a.C., em Ur, a maior metrópole da região, com um a pop ulação de aproximadam ente 12 mil habitantes, uma em cada 120 pessoas era capaz de ler e escrever. Semelhantemente, por volta de 1850 a 1550 a.C., na cidade-estado de Babilônia de Sippar, que contava com cerca de dez mil habitantes, havia apenas 185 escribas (escritores ofi ciais em tabuletas). A leitura se relacionava especificamente ao trabalho. Não era uma ati vidade solitária, silenciosa e prazerosa. Tratava-se de um meio para um fim, a apresentação pública. Por volta de 2550 a.C., com a preeminência dos sumérios-acádios, convencionou-se um silabário, que se tratava de um acervo de sinais sis temáticos usados puramente para seus valores sonoros silábicos. Toda a tradição babilónica foi transmitida nos idiom as sumério e acád io/ Os escribas eram os grandes detentores da arte de ler. Um escriba sumério possuía um grande senso de responsabilidade por deter essa 4POWELL, 1981 apud Idem, p. 16. 5Ibidem, p. 17. 6FIS CH ER , 2006, p. 18
Aspectos Históricos da Leitura
capacidade de grande valor, entendendo que sua interpretação de um texto escrito encerraria uma discussão sobre contas ou um artigo de um a lei.7 O s escribas, além d as atividades de tabeliães, estenóg rafos, contadores, arquivistas, secretários e burocratas, desem penh avam tam bém a tarefa de leitores para os seus senhores iletrados, sob a cobrança de peque nas taxas. Nas escolas de escribas a leitura era aprendida pelo ato de escrever. O método utilizado era o de cobrir um lado de uma pequena tabuleta com um sinal, depois o aluno escrevia o mesmo sinal repetidas vezes no verso. Lo go após, dois sinais eram colocados juntos, formand o um a palavra in teira, reproduz ida de m aneira similar pelo aluno. A pós frequentar do s seis aos 18 anos a escola de formação de escribas, desde o período da manhã até ao final da tarde, durante 24 dias de cada 30, ao se tornar um p rofissio nal, “o escriba esperava ansiosame nte para ingressar em um a vida voltada à docum entação de transaçõe s”.8 Os alunos m esop otâm ios escribas eram em sua maioria meninos, com raríssimas exceções. C uriosa e excepcionalmente, se gundo Hallo, [...] a primeira pessoa na história a assinar a autoria de um trabalho foi uma mulher: a princesa Enheduanna, filha de Sargão I de Acad. N ascida po r volta de 2300 a.C., ela compôs, como sacerdotisa de Nanna, deus da Lua, uma série de canções em louvor à deusa do am or e da guerra, Inanna, registrando devidamente seu próprio no me com o escriba-autora no final das tabuletas.9
Foi por meio das descobertas arqueológicas que se tornou possível comprovar a leitura entre os mesopotâmios. Escavações como as realiza das entre 1973 e 1976 na acrópole de TellMardikh, a sessenta quilôm etros de Alepo, na Síria setentoria, descobriram o palácio real de Ebla (2400 2250 a.C.), com cerca de 17 mil tabuletas, apresentand o uma variedade de temas: história, literatura, agricultura, idiomas, mas especialmente, finan ças e economia. A maioria aborda impostos, tributos, correspondência^ internas, relatos de caravanas, missões comerciais e relatórios. Segundo Fischer, dada a importân cia de Ebla, tal material identifica o tipo de leitura das m aiores cidad es daquele p eríod o.10 Ibidem, p. 19. 8 Ibidem, p. 21. 9 HALLO, 1968 apud Ibidem, p. 23. 10 Ibidem, p. 22.
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O LÍDER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA Tod os os grandes centros antigos da M esopo tâm ia possuíam bibliote cas, em form a de arquivos, que em nad a se asseme lham às bibliotecas atu ais. Tais espaços eram essenciais à administração adequada das cidadesestado que floresciam. No final do segundo milênio a.C., esses acervos de tabuletas de argila, papiro, placas de madeira, varetas de bambu, seda ou couro concediam poderes às sociedades da Mesop otâm ia, Egito, Platô iraniano, mar Egeu, vale do rio Indo, Usbequ istão/Tajaquistão e Ch ina central.11
Como toda leitura na época era feita em voz alta, esses locais eram bastante barulhentos. A censura literária esteve presente também na Mesopotâmia, mani festa no ato de apagar o que havia sido escrito em monumentos públicos e nas pared es de tem plos e palácios a fim de fazer desaparecer a me mó ria erudita. Os textos tam bém eram alterados por meio de riscos e reescrições, ou ainda send o reeditados, elaborando assim um a reescrição da história. A leitura na me sopotâm ia englobou u m universo de experiências hu manas. Lá, onde nasceu a escrita, voz e sinal eram uma coisa só. A im portância cultural e administrativa, a detenção do poder, a formação de um a classe letrada elitizada, a educação p rivilegiada de pouc os e a censura literária, são algumas questões que estiveram presentes no n ascedouro da leitura e que se perp etuam até os n osso s dias. 2. A L e it u r a n o E g i t o
A leitura no Egito foi predom inantem ente oral. O termo dj denotava tam bém “declam ar”. Toda a leitura era realizada em voz alta por um escriba-testemunh a.12 Além de colaborar para a expansão econ ômica, a leitura era percebida com o imp ortante meio de controle de informações. Por volta de 4000 a.C., os egípcios já liam hieróglifos na superfície de pedras, paletas de ardósia, esteias funerárias, selos cilíndricos, objetos decorativos, cerâmicas, tabuletas de marfim, arma de pedras, e outros su po rtes de escrita. Existe a po ssibilidade do uso de tinta em papiro já deste período. A escrita cursiva era a mais u sada no E gito antigo por sua praticidade no registro de documentos do cotidiano, como por exemplo cartas, 11Ibidem, p. 24. 12Ibidem, p. 26.
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Aspectos Históricos da Leitura
contas, listas de decisões de julgamento e, mais tarde, a partir do segundo milênio a.C., obras literárias.13 Os egípcios liam da direita para a esquerda ou da esquerda para a direi ta. H á tam bém texto com a sequên cia de cima para baixo. Posteriormente, a leitura da direita para a esquerda tornou-se direção padrão. A pó s form a lizados entre aproximadamente 3300 e 2500 a.C., os hieróglifos, a escrita hierática e suas leituras perman eceram sem sofrer alterações por mais de dois mil anos.14 Havia escolas próprias para escribas, com vários anos de ensino inten sivo. Com as facilidades que o papiro proporcionava, por ser fino e leve, a capacidade de escrever e ler se potencializava, sem falar que o transporte do livro se facilitou bastante. O s escribas eram respon sáveis nos p ovo ados por oferecer acesso cotidiano à leitura e a escrita dos cerca de 99% de ile trados. De ssa forma, os escribas ocupavam um a posição social bem mais elevada que a de seus correspondentes mesopotâmios. A leitura não esteve acessível a todos os egípcios. Estima-se que no máx imo um em cada cem tenha sido alfabetizado em qualquer ép oca .15 Entre os letrados estavam as pessoas de destaque na sociedade. Alguns usavam escravos escribas. Essa elite ocupava, em sua maioria, cargos ad ministrativos. É irônico o fato de que uma socied ade tão identificada com a escrita tenha contado com tão pouco s leitores. Desde o seu início, a escrita e a leitura no Egito se prestaram à admi nistração e exibição de monum entos.16 Por volta de 2150 a.C., no final do Antigo Império, já circulavam diversas categorias de textos, com o: contratos particulares, decretos e procedim entos jurídicos, cartas, textos sobre religião e magia, além de inscrições biográficas. Havia escritos em sarcófagos, no Li vro dos Mortos (um rolo de papiro oferecido ao morto para que o levasse consigo para a vida após m orte), paredes de templos, colunas e estátuas. D u rante o médio império, textos literário surgiram, dentre os quais literatura de sabedoria, narrativas, hinos, medicina, matemática e astronomia. Já no* novo império, foram introduzidos gêneros literários para um público maior, contendo poem as de am or e histórias simples de estilo folclórico.17 13Ibidem, p. 28. 1+Ibidem. Ibidem. 16 BAINES apud Ibidem, p. 32. 1 LICHTHEIM, 1973 apud Ibidem, p. 32.
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O LÍDER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA Os textos religiosos descreviam rituais de devoção diária e eventos sobrenaturais. Ha via rolos de papiros de hinos, mitos e fórmulas mágicas. Estud os de medicina (incluin do ginecologia e ciência veterinária), matemátic a, história e lexicografia (extensas listas de animais, plantas, partes do corpo e nomes geográficos como auxiliares de memória) sobreviveram ao milênio.18
Muito mais do que simples transmissão de informações, havia a cren ça na transm issão do espírito de um texto. Acreditava-se que havia p ode res sobrenaturais nos hieróglifos egípcios. Tratando -se de bibliotecas, elas podiam ser encontradas em palácios, templos, centros administrativos e até residências particulares letrados abastados. Con forme Baines, “os egípcios permaneceram em um a posição inter mediária comum , com sua sociedade sen do auxiliada pela capacidade de ler e escrever, mas não transform ada por ela”.19 3 . A L e it u r a e n t r e o s J u d e u s
Os judeu s foram os prim eiros a perceber na leitura o seu valor cultural, isso po r volta do século VII a.C.20 C om os judeu s veio a “santificação” da escrita, um a perspectiva total mente nova, elevando-a a “Palavra de Deus”. Ler e interpretar o texto sa grado era um dever de todo s, excetuan do-se as mulheres. A s primeiras inscrições em mon um entos em hebraico datam do séc u lo IX a.C., escritas em letras fenícias. O u so da escrita evoluiu para os regis tros contábeis, administração e inscrições funerárias. As leis, a princípio, eram transmitidas oralmente. O verbo “ler” (qara) podia significar “chamar, evocar, declamar, pro clam ar”. A ênfase estava em falar em voz alta com base num texto escrito. C om base na Torá, a veneração da escrita data do final de 20 00 a.C., com as Tábuas da Le i escritas por Iavé. Em razão do s perío dos de instabilidade espiritual e moral, o “Livro Sa grado” foi negligenciado e até perdido. Foi no reinado de Josias (c. de 622 a.C .), durante a reforma do Templo, que o sacerdote H ilquias encon trou o livro da Le i (2 Rs 22.8 ) e o entregou ao escrivão Safã, que posteriormen te o leu para o rei, desen cadeando uma série de ações que prom overam uma reform a religiosa. 18Ibidem. 19 BAINES apud Ibidem, p. 35. 20 Ibidem, p. 56.
Aspectos Histór Históricos icos da Leitura Leitur a
Durante o cativeiro babilónico, o livro esteve presente nas visões de Ezequiel (Ez 2.8-10): Mas Ma s tu, ó filho filho do homem, ouve o que eu te digo, digo, não sejas rebelde como a casa rebelde rebelde como com o a casa rebelde; rebelde; abre a boca boc a e com e o que te dou. Então, vi, vi, e eis que uma m ão se estendia para mim, e eis que nela estava um rolo de livro. E estendeu-o diante de mim, e ele estava escrito por dentro e por fora; e nele se achavam escritas lamentações, e suspiros, e ais. ais.
Dan iel tam bém esteve esteve envolvido com leituras leituras e livros livros durante durante esse p e ríodo, conforme Daniel 9.2: “no primeiro ano do seu reinado, eu, Daniel, entendi pelo s livr livros os que o núm ero de anos, de que falou o Senhor Sen hor ao pro feta Jerem ias, em que haviam de acabar as assolaçõ es de Jerusalém , era de setenta anos”. Após o cativeiro, com a influência de uma Babilônia cosmopolita, a escrita aramaica passou a ocupar um lugar de destaque entre os judeus. Os escribas passaram a redigir antigas tradições e escritos hebraicos em aramaico, que tinha se tornado a língua mais falada durante o Império Persa (550-330 a.C.). Os escribas judeus eram os principais intérpretes da lei, os editores e compiladores das escrituras, dos comentários e das traduções. São considerado con siderado s com o os o s primeiros leitores leitores do judaísm o.21 o.21 N a antiguidade, afirma Fischer,22 Fischer,22 que quase q uase to do s os jud eus eu s eram analfabetos em hebraico e aramaico, o que fazia com que contassem com os escribas do Tem plo o u com a sua própria e extraordi extraordinária nária m emória. em ória. Por volta dos séculos IV e V d.C., o Talmude (formado pela Mishná e pela Gemara), textos que se prop unh am a interpretar interpretar e comentar com entar a multiplicidade multiplicidade de sig nificados da d a Torá tom ou forma form a ofic oficia ial. l. A veneração judaica pela palavra palavra escrit escrita, a, que chegou ao ápice da ven e ração a partir do século VI d.C., chegou ao ponto de afirmar no Sefer Yezirah (o mais antigo texto judaico conservado do pensamento sistemático e contemplativo) que “D eus criara criara o mundo mu ndo com 32 'caminhos de sabe sabedq dq,,ria’ secretos, o com c om po sto po r dez núm eros e vinte e duas dua s letras”. letras”.23 Segun Se gun do essa interpretação, se nós mortais conseguíssemos decifrar os números e letras, letras, pod eríam erí am os igualm ig ualmente ente originar a vida.2 vida .244 21Ibidem, p. 59. 22 Ibidem. 23 SCHOLEM, 1974 apud Ibidem, p. 60. 24 MANGUEL, 1996 apud Ibidem.
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O LÍDER LÍD ER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA LEITU RA 4. A L e it u r a n a G r é c i a A r c a ic a e C l á s s i c a
D esde esd e cerca de 200 0 a.C. a.C. os gregos lêem, quando ao Egeu d a cosmopolita cosmop olita Canaã a ideia da escrita silábica chegava.25 Começando pela Grécia arcaica e clássi clássica, ca, dada a ausência de doc umentos um entos que tratem da leitur leituraa em tem pos mais remotos, remo tos, é importante impo rtante salientar que, conforme con forme Svembro,26 Svembro,26por po r volta do século sé culo VIII VII I a.C., quando quan do a escrita alfabéti alfabética ca surge na cultura grega, grega, ela se depara de para com um m undo und o onde on de há muito tempo prevaleceu prevaleceu a tradiç tradição ão oral oral,, um mund m undoo que valoriza valoriza a mem me m ória e a voz com o perpetuadores perp etuadores da glória glória e da fama oriunda dos do s grandes atos heroicos. heroicos. Nesse Nes se m undo und o heléni helénico, co, a escrita escrita assumiria assumiria o papel de contribuinte contribuinte do som, no n o sentido de ser produtora de term os eficaze eficazess para para uso oral oral,, mesm m esm o que depo d epois is viesse a servir servir para a proteção proteção da tradição tradição épica. épica. Tu do sinaliza sinaliza para a hipótese de que na Grécia arcaica arcaica os leitores leitores gre gos tenh am praticado a leitur leituraa em alta alta voz. voz. N a m edida em que q ue um a cultura cultura valoriza a palavra falada, o texto escrito só interessa para tornar-se texto falado. Para Svembro27 as provas mais recentes de que os gregos liam em voz alta, alta, n os leva a aceitar que seus antep an tepassad assad os faziam o mesm o. Para ele ele,, “na ausência de documentos, parece mais lógico pensar que a leitura em voz alta alta constitui co nstitui a form a original d e leitura”. leitura”. As leituras públicas mais antigas ocorreram entre os gregos, onde “já no século V a.C., a.C., H eródo eró doto to (c. (c. 485-42 485 -4255 a.C.), o ‘Pai da História, em vez de viajar de cidade em cidade para ler as suas obras, como era de costume na época, apresentava-se a todos tod os os hom ho m ens en s gregos greg os reunidos reun idos nos n os festivais festivais olímpico olím picos” s”..28 Na antiguidade grega, alguns médicos prescreviam a leitura aos seus pacientes como atividade e exercício mental. Na maioria das vezes, essa leitura era era feita feita po r alguém ao paciente, paciente, com o, po r exemplo, po r escravos, mulheres ou homens libertos treinados exclusivamente para ler em voz alta para o s seu s sen hores.2 ho res.299Até 600 60 0 a.C., a.C., po ucos uc os gregos greg os sabiam s abiam ler ler. A capacidade capac idade de ler e escrever propagou-se no século VI a.C., a.C., quando a escrita passou a ser usada de forma mais generalizada na vida pública: com o hábito cada vez mais frequente de fazer inscrições e exibir leis públicas, cunhagens de moedas, inscrição em vasos com figuras pintadas de preto e outras inovações afins.30 25 FI SC H ER , 20 06, p. 46. 46. 26 In CAVALLO e CHARTIER, Idem, p. 41. 27 Idem, p. 42. 28 FISCHER, 2006, p. 52. 29 Idem, p. 53. 30 H A R RIS RI S apuá FIS CH ER , 2006, p. p. 46, 47. 47.
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Aspectos Históricos da Leitura
A principal via de acesso à lógica da leitura leitura arcaica arcaica no ociden te são os verbos verb os greg os que significam “ler ”, atestado atesta doss a partir de cerca de 500 a.C. É por m eio do sentido em pregado pelos escrit escritores ores desses verbos que se sabe o que foi foi pen sado no mom ento de seu emprego. emprego. K no x,31 x,31 em d ois tex tos d o séc ulo V a.C., parece revelar que alguns gregos praticavam a leitura silenciosa e que no período da guerra do Pelop one so (um conflito conflito armado entre entre Atenas e Esp arta de 431 a 404 a.C.) os poetas dramáticos contavam com a familiaridade de seu pú blico em relação a ela. ela. D ois textos exem plificam plificam esse tipo de leitura. leitura. O primeiro se trata de uma passagem do Hipólito, de Eurípedes, que data de 428, e o segundo é uma passagem dos Cavaleiros, de Aristófanes, que data de 424. Os dois documentos citados são de origem ateniense. Assim como em ou tros locais, locais, com o E sparta, po r exemplo, existia existia a ação ação para limitar limitar o ensino das letras ao “estrito necessário”, e a leitura silenciosa deve ter sido ainda bem menos conhecida e praticada. Diz-nos Svembro que para o leitor que lê pouco e de maneira esporádica, a decifração lenta e hesitante do escrito não conseguiria fazer surgir a necessidade de uma interiorização da voz, pois a voz é exatamente o instrumento pelo qual a sequência gráfica é reconhecida como linguagem.32
Percebem-se nos dias atuais, entre os líderes cristãos evangélicos, as duas n ecessida des: a da leitura leitura em voz alta alta e a leitura leitura silenciosa. silenciosa. Em ter m os de leitura leitura em voz alta, alta, sua presen ça é bastante significativa significativa nos cultos c ultos e reuniões reuniõ es onde on de a Bíblia, Bíblia, Liç õe õess Bíblicas, sermõ es, avisos, boletins bo letins e outros outr os recursos literário literárioss são constantemen te lidos. O leitor leitor habit habitual, ual, certam en te, se sentirá mais seguro em tais momentos, falando com desenvoltura, precisão, prec isão, clareza e fluência fluência.. N o caso da leitura leitura silenciosa, silenciosa, em razão razão das m últiplas últiplas oportu nidades nida des e espaços espa ços co ntem porân eos — bibliotecas, salas salas de leit leitura, ura, transportes cole- * tivos, livrarias, filas de espera, salas de atendimento e outros espaços pú blicos — , sua prática prática ganha destaque, destaque, ape sar dos baixo s índices já citados nesta obra. Essa prática, como poderá ser vista nos capítulos seguintes, coo perará per ará para beneficiar o ministro evangélico de várias maneiras. 31 Apud SVEMBRO, Ibidem, p. 54, 55. 32 Ibidem, p. 45.
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O LÍDER LÍD ER CRISTÃO CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA A Biblioteca de Alexandria é considerada o maior santuário à escrita do mu ndo antigo antigo,, tornand o-se tão famo sa que ISO anos após sua destruição, Ateneu de Náucratis ainda escreveria, antecipando-se ao conhecimento geral de seus leitores: “E quanto ao número de livros, a formação de bibliotecas e a coleção na Galeria das Musas, por que eu devo me pronunciar, já que tudo isso está vivo vivo na memória de todo s os hom ens?”3 ens? ”333
Ap enas en as o catálogo da biblioteca biblioteca som ava 120 rolos. rolos. A coleção foi divi divi dida em oito seções, de acordo com o tema: drama, oratória, poesia lírica, legislação, medicina, história, filosofia e diversos. Muito além de uma simples questão de estilo, a escrita e a leitura na Grécia, assim assim com o no m und o antigo, antigo, tinha tam também bém u m a estreita estreita relação relação com o poder. A princípio, conforme Thomas34 é notória a relação entre a escrita e o Estado e seus registros, como por exemplo, nas listas dos ci dadãos, de sua renda e domicílio, ou dos registros de impostos, a intensa comunicação com a população por meio da escrita. E dessa forma que a cultura se torna um a eficient eficientee ferramenta ferramen ta de controle, deixa ndo nd o a sua tare fa de ilum iluminar inar os cida dãos dão s para explorar os m esm os.35 os.35 Tho mas ma s relata relata que, que, N a verdade, verdade, alguns antropólogos já afirmaram afirmaram que um Estado E stado não pode, de forma nenhu ma, manter-se manter-se coeso co eso sem s em a cultura cultura escrita: escrita: a escrita é essencial para o tipo de comunica comu nica ção autoritária autoritária de que o Estado necessita, necessita, e que um império ou nação simplesmente não conseguiria manter-se unido sem a eficiente comunicação a longa distância propiciada pela pel a escrita. A cultura escrita, neste sentido, é um meio essencial essenc ial de controle.36 controle.36
Esse parâmetro de controle autoritário pode ser visto em nossas igrejas, na medida em que líderes, por meio do cadastro dos membros e de planilhas planilhas financeir financeiras, as, po r exemplo, publicam de man eira constrang e dora nos q uad ros de avisos a relação relação de que m contribuiu ou não não com os dízim os naquele m ês ou período. O autoritarismo da escrita escrita se m anifes ta também na privação aos membros da igreja da leitura de seu Estatu to. Muitas lideranças evangélicas decidem sozinhos sobre a elaboração 33 GULICK, 1969 apud FISC H ER , 2006, p. 53 53 34 In BOW BO W MA N, Alan K .; W OOLF, Greg. Greg. Cultura escrita e po de r no mu ndo antigo. antigo. Tadução de Valter Valter Lellis Siqueira. São Paulo: Ática, 1998, p. p. 41. 35 ST RA U SS, SS , 1976, p. p. 392, 393 39 3 apud BOW MA N e WOOF , Idem, Idem, p. p. 44. 44. 36 Ibidem, p. 44.
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Aspectos Históricos da Leitura
e reformas de estatutos, e não d eixam o s m em bros inteirados, a não ser quando lhes interessa, sobre os conteúdos e determinações estatutá rias. Tal procedimento acontece com maior frequência em igrejas que adotam o modelo de governo eclesiástico mais centrado na hierarquia episcopal, cujas decisões são tomadas exclusivamente pela cúpula, mi nistério, diretoria ou presidente. A leitura, por outro lado, quando bem utilizada pela liderança, pro move a “iluminação” das mentes d os ouvintes ou leitores, lhes prop orc io nando a possibilidade de enxergar para além das aparências e das letras, possibilitando uma leitura transparente e clara da realidade. Possibilita também a democratização da informação. Citando Aristóteles ( Poí. 128a 9-1 7), Thom as3 nos revela que este entendia que a escrita e a leitura das leis incentiva a justiça, ou se constitui em b ase essencial para a democracia, e ainda, que é útil para a administração da casa, para se ganhar dinheiro, para se aprender e para a vida política (Pol. 1338a15-17). Górgias afirma que “as leis escritas são as guardiães do justo ”.38 Seguindo essa lógica, à medida que os líderes evangélicos nos dias atuais disseminam as informações de maneira transparente, promovem a credibilidade, o acesso à informação, a possibilidade da crítica, do contra ditório e da síntese, por meio da participação dos membros da igreja nos diversos pro cessos administrativos e decisórios. Em se tratando das cidades-estados gregas, Thomas39 nos relata que a cidade grega optou por outra forma de instrumentalização da cultura escrita, não por meio de registros ou da administração pública, mas em seu potencial para a publicação em seu sentido mais pleno e arcaico de exibição pública. No mundo grego houve críticas em relação à escrita, principalmente no contexto da educação e da retórica.40 Platão, em Fedro, um fabulista romano nascido na Macedônia, Grécia, chegou a alegar que a escrita era uma fonte inadequada de conhecimento. Sua resistência em publicar os* seus m ais valiosos pensam entos confirma tal ideia. Alcidamas, sofista, d is cípulo e suce ssor de Górgias, que ensinou em Atenas ao me sm o tempo em que Isócrates, teceu uma crítica contundente à prática de se pronunciar 3 Ibidem , p. 45. 38 Palam. D K 30, fr. 1 I a, apud THO M AS, Ibidem. Ibidem. 40 TH O M AS, Ibidem, p. 46.
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O LÍDER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA discursos lendo um texto escrito. Para ele, o maior objetivo do orador era o de poder, de improviso, falar sobre qualquer assunto. Tal tensão entre o falar de improviso ou seguir textos escritos, ainda é vivenciada em alguns setores da igreja de tradição pentecostal. Com uma grande ênfase na ação criativa do Espírito, muitas igrejas e líderes pentecostais viam com certa desconfiança tal prática, classificando-a como mecanicista e desasso ciada da verdadeira pregação espiritual. C heguei a constatar que, com o saída, muitos apelavam, e ainda o fazem, para o uso de pequenos textos em papéis minúsculos, anexados ou simplesmente colocados entre as páginas da Bíblia. A prática de pregar ou ensinar seguindo um texto em form a de esboço, ou um sermão escrito, ganha espaço n a atualidade, sendo cada vez mais tolerada no me io pentecostal, de maneira mais específica, nas Assemb leias de Deu s no Brasil. Essa m udança pod e ser considerada como resultado de grandes transformações culturais em torno do conhecimen to e dos saberes, que influenciaram o pentecostalism o brasileiro durante o final do século XX, promovendo a abertura de centenas de instituições de ensino teológico, para onde m uitos ministros e mem bros de igreja fluíram, passan do a perceber o valor do texto escrito para as suas mensagens faladas, prom ovendo na igreja a tolerância e a aceitação já com entada. N o século IV a.C., uma nova maneira de ver a leitura e a escrita surgia no Ocidente. Fischer (200 6, p. 50) relata que o dramaturgo ateniense Menandro (c. 342 -292 a.C.) afirmou que “aqueles que sabem ler conseg uem enxergar duas vezes m ais”. Por esse tempo, a palavra escrita era percebida como superior à palavra falada. Os filhos dos ricos e po de rosos eram ensinados por tutores particula res. C om o exemplo, Fischer nos narra que: Por meio da tutela de Aristóteles, por exemplo, Alexandre, o Grande, tornou-se “um grande adorador de todos os tipos de ensino e leitura” segundo seu biógrafo, o filósofo grego Plutarco (c. 46-120 d.C). Para onde quer que viajasse, Alexandre carregava consigo os rolos da Uíada e da Odisséia de Hom ero e, quando morreu, na Babilônia em 323 a.C., ele estava segurando um de seus rolos da Uíada (assim como, em gerações posteriores, pessoas expirariam com uma cópia da Bíblia ou do Alcorão presa em suas m ãos).41
Para Pattison,42 a leitura na Grécia não ofereceu a democracia, a ci ência teórica ou a lógica formal. Não modificou o modo de pensar das 41 Idem, p. 52. 42Apud Ibidem, p. 55.
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pessoas. O que ela fez foi incentivar mais pessoas a escrever sobre o que pensavam, fornecendo também a oportunidade para que essas e outras pred isposições semelhantes criassem raiz e florescessem. 5. A
L e it u r a e a E s c r it a n o M u n d o R o m a n o
O uso da escrita na Roma dos primeiros séculos estava praticamente restrito ao corpo sacerdotal e aos grupos nobres, depositários dos conhe cimentos fundamentais da cidade, referentes ao sagrado e ao jurídico, à medida do tempo, à ordem anual dos eventos registrados nos anais (co nhecimentos provavelmente fixados em livros de fazenda de linho, os Un tei) ou em pranchetas de madeira, tabulae.43 Em se tratando dos aspectos mais específicos da literatura romana, suas formas permaneciam ligadas ao restrito círculo da classe dirigente e às particulares exigências da vida em sociedade, tal como elogios fúnebres, relatos de magistrados, memó rias da cidade escritas sem p esquisa retórica. Uma grande guinada no mundo romano, em relação ao uso e valor mais amplo da leitura, foi dada por Catão, o Censor (234-149 a.C.), que escrevia seus discursos em tabuinhas antes de proferi-los;44 ele também compôs uma “história de Roma”, utilizando-se de caracteres grandes, a fim de facilitar a leitura, para que seu filho, ao aprender os rudim entos da escrita, ao mesm o tempo, pu desse aproveitar e conhecer o pas sado de seu povo e de sua cultura.45 A grande transição do pensamento e do hábito romano em relação à leitura se dá entre o final do século III e o início do século I a.C. Dois fatores marcantes são citados por Cavallo;46 o primeiro dá-se em função do nascimento de uma cultura latina inspirada em modelos gregos. A se gunda se relaciona com a chegada em Roma, como despojos de guerra, de bibliotecas gregas completas. D essa forma, os livros gregos imp ortad os funcionariam com o m odelo para o nascente livro latino. E no p eríod o republicano que surge a leitura dom éstica, pessoa l e so- „ litária, juntamente com a leitura culta entre a classe dirigente romana. As primeiras bibliotecas privadas são conquistas de guerras, com o por exem plo, a herdada por Catão, de seu pai, após vencer Mitridates em 71-70 43 In CAVALLO e CHARTIER, 2002, p. 71. 44 ASTIN, 1978, p. 135-137 apud CAVALLO, Idem. 45 PLUTARCO, 20,7 apud CAVALLO, Ibidem. 46 Ibidem, p. 72.
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O LÍDER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA a.C.47 As novas bibliotecas privadas acompanham o surgimento de uma produção de livros latinos, mesmo que abaixo da qualidade da produção editorial grega. As condições de aprendizagem da leitura eram diversas, geralmente realizadas no contexto familiar, na escola pública ou com p rofessores par ticulares. An tes de aprender a ler aprendia-se a escrever. Um a necessidade de leitura mais ampla, po r parte de um a elite privi legiada romana, somando-se à falta de livros, fez com que instituições helenísticas como a Academia, gynasium, lyceum, palaestra, além das b iblio tecas privadas, se tornassem espaços de leituras privadas para estudos e recreação. Catulo e Cícero são os primeiros a informar sobre as atividades da librarii (livraria) e sobre os gostos do s leitores. As livrarias, em número cada vez maior, eram administradas por comerciantes de condição social inferior, geralmente escravos livres. N o períod o imperial, já havia livreiros relativamente célebres e conhecidos, como, por exemplo, Sossi, Doro e Trífon. As livrarias tornaram-se lugares onde as relações sociais eram vivenciadas por pessoas cultas e “pseudo-intelectuais”.48 No comércio de livro, os mais significativos eram as obras de Homero e Virgílio, mas, a partir do séc ulo IV d.C., a Bíblia tom ou a dianteira ainda que num form ato fragmentado, “não concluído”.49 Havia também, no início do século II a.C., círculos de leitura seme lhantes aos da Grécia antiga. Esses círculos acolhiam generais, mas tam bé m promovia autores que não pertenciam à classe de patrícios, promovia o idioma e a cultura gregos.50 As leituras públicas também estavam em evidência em todo o Império Romano. O próprio Augusto frequentava essas leituras “com boa vontade e paciên cia”.''1Esse tipo de leitura durava, em geral, poucas horas. Nã o obstante, algumas chegavam a durar um a se mana, tendo o público garantido em razão da fama ou pode r do autor. O leitor era um transmissor, e não um receptor.32 O hábito da realização de leituras públicas de obras seculares foi interrompido no século VI. Con forme Carcopino, "isso decorreu de vários fatores: patrícios que abando47 CAVALLO, Ibidem, p. 73. 4BIbidem, p. 78. 49 FISC H ER , 2006, p. 65. 50 Idem, p. 67. 51RO LFE, 1948 apud Ibidem. 52 Ibidem, p. 70
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naram os grandes centros, declínio do ensino, enfraquecimento d o com ér cio de livros, invasões ge rmânicas e outras m udan ças”.53 Outro avanço significativo foi o interesse pelo livro em termos de qualidade editorial e po r tudo que facilitasse a leitura. É difun dido nessa época o volumen, um a publicação de alta qualidade,54 destina à leitura cul ta, basead o em m od elos gregos que já circulavam no m und o helenístico e durante o período que vai do final da República até o início do novo regime. M edia aproxim adamen te 25 centímetros de largura por seis a dez m etros de com primento. Era com posto de papiro de alta qualidade, vir gens, bem paginados, estilo de escrita precisa e elegante, uso de iniciais diferenciadas e de tipos diferenciados para o nome do autor e título da obra ao final de cada unidade, hastes para desenrolar o volumen. Há no mundo romano, por volta do século I e II d.C., um crescente interesse pela leitura nas classes cultas e entre os novos alfabetizados e ricos. A frequência de cenas de leitura em afrescos, nos mosaicos e nos baixos relevos da época evidencia tal fato. Até os séculos II-III d.C., “ler um livro” significava normalmente ler um rolo: pegavase o rolo com a mão direita, desenrolando-o progressivamente com a esquerda, a qual segurava a parte já lida; acabada a leitura, o rolo permanecia enrolado na mão esquerda. *
N o século I a.C., Júlio César dobrou u m a folha de papiro em “pág inas” individuais para mandá-las a suas tropas no cam po de guerra. Essa prática acabou levando à criação do códice — texto com páginas escritas em am bos os lados para que fossem viradas, não enroladas. “Marcial, o primeiro a citar o códice, elogia sua concisão e ressalta o quanto ele libera espaço na biblioteca. C om enta ainda sobre sua utilidade em viagens, pois, ao contrá rio do rolo, pod e ser lido sendo segurado em apenas uma das m ão s”.56 A grande revolução na época, em term os de suporte de leitura, acon teceu conforme a narrativa de Plínio, o Velho (23-79 d.C.). Eumenes li (197 e 158 a.C.) que governou de Pérgamo, na Grécia, na Ásia Menor, desejan do fundar um a biblioteca à altura da Biblioteca de Alexandria, en com endo u uma rem essa de papiro do Nilo. Acontece que o rei Ptolomeu 53 Carcopino, 1940 apud Ibidem, p. 75. 54 CAVALLO, Ibidem, p. 75. MARTINS, 1988, p. 81 apud Ibidem, p. 78. 56 FISCHER, 2006, p. 76.
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O LÍDER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA do Egito proibiu essa exportação, tendo como objetivo manter a Biblio teca de Alexandria como repositório mundial do conhecimento. Sendo forçado a buscar alternativas, Eumenes ordenou que seus especialistas criassem, para a sua biblioteca, um novo material para a escrita. Foi de senvolvida então, uma técnica que envolvia o estiramento e secagem da pele de ovelhas e cabritos, deixando-a extremamente fina (velino). Nascia assim o “pergaminho”.57 Posteriormente o velino tomou também a forma de códice. A fam osa frase scripta manet, verba volat, que originalmen te significava “a escrita dorme, a fala repercute”, mediante uma reinterpretação con ceitu ai, assumiu o significado “a fala é levada pelo vento, a escrita perm anece”. Junto ao interesse pela leitura florescem as bibliotecas públicas. Cavallo58 relata que essas bibliotecas foram criadas por algumas razões es pecíficas, tais como atos de benemerência, como, também, por iniciativa imperial, dentro de um contexto de uma concentração e apropriação da cultura escrita por parte do p oder. Fins po líticos e eleitorais marcaram tam bém a criação das bibliotecas. A s m aiores bibliotecas foram: a biblioteca de Apoio, no Palatino, fund ada po r Augusto, e a biblioteca U lpia, no Foro de Trajano, que tinham por objetivo selecionar e conservar o patrimônio literário e os anais civis e religiosos da cidade. Esses ambientes eram mais frequentemente visitados por leitores que buscavam obras antigas ou ra ras, para fazer análises comparativas, para rápidas leituras e como espaços de “convivência”. A maneira mais habitual de ler era em voz alta. Isso acontecia em ní vel pe ssoal ou por um leitor mediador entre o livro e um ouvinte, ou um auditório. Embora o próprio Cícero (106-43 a.C.), o grande orador, achasse que, para a memória, ver um texto era muito melhor que ouvi-lo, reconhecendo assim a exclusiva vantagem da leitura na sociedade oral romana, a maioria dos romanos acreditava que o discurso prevalecia como mais importante.S9
Apesar de rara, Knox60 escreve que a leitura silenciosa e sussurrada era também praticada, principalmente em se tratando de cartas, docu57 Ibidem. 58 Ibidem, p. 77. 59 Ibidem, p. 63 60 KNOX, 1988, p. 38 apud Ibidem, p. 83.
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m entos e m ensagens. Tratava-se de um a esco lha influenciada por fatores ou condições particulares, como o estado de espírito do leitor, ou da natureza do texto. Indivíduos de modesta condição socioeconômica liam (ou ouviam ler) obras de história pelo simples prazer ( voluptas) da leitura, não pela utilidade ( utilitas) que delas se podia usufruir, e que era o objetivo do leitor de nível edu cacional mais elevado. Pode-se observar, em seu nas cedouro, que o hábito de leitura no mundo ocidental já revela diferentes motivações e maneiras de ler, presentes até os noss os dias. A prod ução de obras biográficas e relatos históricos, como por exemplo, “Os Feitos de C ésar”, colaboravam p ara o crescente interesse pela leitura por um a classe menos favorecida e instruída.61 Entre os leitores havia, em primeiro lugar, os círculos aristocráticos cultos, sempre en tregues ao otium. Havia em seguida, estreitamente ligado a eles, o grupo de gramáticos e retóricos, às vezes escravos ou libertos, mais ou menos habituados à leitura de "clás sico s”. E havia ainda um público de leitores novos, público diferente tanto nos círculos literários ou escolares, altamente instruídos, quanto da massa dos não alfabetizados: um público m édio que acabava tocando levemente também a s classes médias baixas.61
N a Rom a dos primeiros séculos de Império, a obrigação de ler por força de funções, cargos, autoria, conhecimento técnico e profissional, ensino ou estudo, vai aos poucos dando espaço para o chamado leitor “livre”, que lê pelo simples prazer da leitura, por hábito ou pelo prestígio que dela advém. O crescim ento e a diversidade de leitores prom oveu o surgimento de uma variedade de gêneros literários, dentre os quais: a poesia de evasão, paráfrases de obras épicas, biografias e resumos históricos, pequenos tra tados de culinária e de esportes, livretos sobre jogo s e passatem pos, obras eróticas, horóscopos, livros de magias ou interpretação dos sonhos, mas, acima de tudo, obras de ficção trazendo um misto de drama, intriga, ro mance e aventura. “Eram raros os casos em que as mulheres eram enalte- . cidas como bibliófilas”.63 Apesar da diversidade de gêneros literários, “o Império R om an o nunca chegou a experimen tar algo como um a ‘literatura po pu lar’, obras lidas po r dezenas ou centenas de m ilhares de pes so as ”.64 61 CAVALLO, Ibidem, p. 74. 62 Ibidem, p. 76. 63 FISC H ER , 2006, p. 73. 64Ibidem, p. 74.
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O LÍDER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA Ao contrário da Grécia, onde o privilégio da participação na vida civil era de uns poucos, que exigia um grande nível de erudição, em Roma, a partir do final da República (séculos II e I a.C.), a cidadania era exercida por um n úmero m aior de pessoa s, das qu ais se exigia a leitura. Ro m a era dirigida po r escriturários e sustentada por um grupo de cida dãos com algum nível de instrução. Para Fischer, “de fato, esse foi talvez o primeiro ‘Império da Leitura', uma vez que os patrícios, assim como grande número de homens, mulheres, libertos e escravos — em Roma, no restante da Itália rom anizada e em mu itas outras provín cias — , liam e escreviam to dos os d ias”.65 6. A L e it u r a n o B r a s il C o l o n ia l
N o pe ríodo que se estende do século XV I até a indepen dência ha via po uc os livros e leitores no B rasil. Um a raríssim a exceção nos apre senta Mott66 citando a França Antártida, onde havia muitos livros de origem calvinista. No geral, a posse de livros centralizava-se entre os proprietários de terra e escravos, entre os clérigos, estudantes de Di reito e advogados, médicos, farmacêuticos, comerciantes e militares no exercício de funçõ es e cargos públicos. T od os e sses faziam parte da elite cultural. O livro era tido com o elem ento fun dam en tal par a o bo m desempenho na atividade profissional ou religiosa, como importante fon te de sabe r.67 Em se tratando de bibliotecas, os maiores acervos atend iam as ativida des rotineiras do s colégios jesuíticos. A partir do século X VII, houve um a m udan ça na po sse de livros, que foi mais disseminada, e na com posição de bibliotecas. A s m aiores bibliotecas pessoa is eram propriedades de padres, advo gado s e cirurgiões. As utilidades e funções dos livros variavam entre o ornam ento ou en feites, fonte de conhecimento ou instrução. Em termos mais específicos, falava-se do livro e da leitura com o im portantes para: “exercício de sua ocupação” “faculdade” "ministério” “estudos”; para “conhecer melhor os erros e combatê-los”; “para se conhecer as doutrinas de que se deve apartar”; para melhor procedimento em casos, situações, dúvidas; porque “está escrevendo livros”; 05 Ibidem, p. 64. 66Apud VILLAL TA, 2002, p. 186, 189. Idem, p. 194.
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Aspectos Históricos da Leitura “para maior inteligência dos autores” ou “estudos”; “para bem servir a Vossa Majesta de”; para se instruir “só nas doutrinas que não forem reprovadas (ou o contrário); “para averiguação das doutrinas”; e para “maior construção da vida literária.68
Percebe-se que a bu sca por mais conhecime nto no exercício de ativi dades profissionais, acadêmicas, políticas e doutrinárias fomentava o há bito de leitura. O crescente aumento da circulação de livros e de leitores dese ncad eou o estabelecimento de controle e censura. Os sistemas de controle e cen sura foram o “Santo Ofício”, o “Ordinário” e a “Mesa do Desembargo do paço”. E sses sistemas foram unificados a partir da Real M esa Cen sória, em 1768, pelo M arquês de Pombal. Em 1787 foi instituída também a “C om is são Geral para o Exam e e a Cen sura dos Livros”.69A censura e a obstrução da leitura de certas obras e docum entos perduraram pelos séc ulos segu in tes, em vários segm entos da sociedade, inclusive dentro da própria igreja evangélica. Em pleno século XX, alguns pastores não apenas rejeitavam a leitura de livros, como também chegavam a punir disciplinarmente os membros que assim o faziam. A leitura da Bíblia era a única fonte lite rária permitida, juntamente com algumas publicações feitas em “órgãos oficiais” (jornais, boletins e periódicos) da denominação. Com o cresci mento do mercado literário e das gráficas editoras evangélicas, com suas lojas estabelecidas nas principais c apitais do país, a abertura para a leitura de livros, inclusive com linhas teológicas diversas, e até livros de filosofia, sociologia, romances, ficções e outros gêneros anteriormente censurados (mesmo que de modo informal), ganharam espaço e tiveram acesso faci litado. E ssa tendência à maior prod ução literária evangélica e crescimento do p úblico leitor prevalece no início do século XXI. 7. A L e i t u r a n a I d a d e M o d e r n a — S é c u l o X V I a o S é c u l o XVIII Ribeiro (2008 ) faz um ótimo relato da prática da leitura entre os sécu los XVI e XIX. Nesse período as práticas de leitura estiveram diretamen te condicionadas às práticas escolares, às opções religiosas e ao crescente ritmo de industrialização. Onde imperava o catolicismo, os leitores tive ram problemas com a censura, que tentava impedir o acesso aos textos 68 Ibidem, p. 205. 69 LA CE RD A, Liliam Maria. A história da leitura no B rasil: formas de ser e maneiras de ler. In: ABR EU, Márcia (org.). Leitura, história e história da leitura. São Paulo: Fapespe, 2002, p. 614.
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O LÍDER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA entendidos como portadores e disseminadores de ideias contraventoras à autoridade da Igreja e dos soberan os absolutos. Uma nova categoria de leitores surge na Inglaterra com o advento da Revolução Industrial, determinando o surgimento de um novo mercado literário. C onform e Cavallo e Chartier, as transformações de ordem técni ca foram as primeiras a afetar as práticas de leitura, oriundas do advento da impressão, que passa a alterar a produção das diversas obras literárias, migrando d os textos man uscritos para os impressos.70 Johan nes Gutenberg (c. 1390 -1468 ) com a invenção dos tipos móveis de chumbo fundido, proporcionando assim mais durabilidade e resistên cia do que os prod uzido s em madeira, tornando-os reutilizáveis, prom ove ram um a grande versatilidade ao proce sso de elaboração de livros e outros trabalhos imp ressos e permitindo, dessa m aneira, a sua massificação. Em se tratando da impren sa como outra contribuição de G utenberg, houve també m avanços em relação aos instrumentos em pregado s até en tão desde a época da Suméria, com discos ou cilindros sobre os quais se tinha lavrado o negativo do texto a imprimir que geralmente era só a rubrica do dono do cilindro e outorgava certeza de autenticidade às ta buletas que a levavam. As imp rensas na Idade M édia eram sim ples tabelas gordas e pesadas ou blocos de pedra que se apoiavam sobre a matriz de imp ressão já entintada para transferir sua imagem ao pergaminho ou pa pel. Gutenberg adaptou a prensa utilizada para espremer o suco das uvas na fabricação do vinho, com as quais ele estava familiarizado, pois Mogúncia, onde nasceu e viveu, está no vale do Reno, uma região vinícola desde a época dos romanos. Depois da invenção dos tipos e a adaptação da prensa vinícola, Gu tenberg seguiu experimentando com a imprensa até conseguir um apare lho funcional. Também pesquisou sobre o papel e as tintas. Uns e outros tinham que se comportar de tal modo que as tintas se absorvessem pelo papel sem escorrer, assegurando a precisão dos traços; precisava-se que a secagem fo sse rápida e a impressão permanente. Por isso, G utenbe rg expe rimentou c om pigm entos à base de azeite, que não só us ou para imprimir com as matrizes, senão também para as capitulares e ilustrações que se 0 CAVALLO e CHA RT IER , 1998 apud RIBEIRO, Wliane da Silva. Práticas de leitura no m undo ocidental. Revista Agora. V. 3, n. 3, Nov-2008, p. 6. Disponíve l em: Acesso em 10/09/2009.
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realizavam manualmente, e com o papel de trapo de origem chinesa intro duzido na Eu ropa em sua época. A Bíblia foi o primeiro livro impresso por Gutenberg, pro cesso inicia do em cerca de 1450 e que teria terminado cinco an os dep ois, em março de 1455. Conforme Ribeiro: O invento do livro impresso apresentava como vantagens: rapidez, uniformidade de textos e preço relativamente mais em conta, trazendo como consequência o aumento de sua produção bem como a ampliação do acesso de centenas de leitores a cópias idênticas de um me smo livro. No entanto, a invenção e difusão da imprensa caminha ram em passos pe quen os no que tange à substituição do manuscrito. Até o século XVI, praticamente, o livro impresso ainda depende do manuscrito do qual imita a pagina ção, a escrita, as aparências.71
A imprensa não extinguiu o gosto pelo texto escrito à mão. No final do século XV, emb ora a imprensa estivesse bem estabelecida, a preocupação com o traço elegante não desaparecera e alguns dos exemplos mais me moráveis de caligrafia ainda estavam por vir. Paralelo ao fato de os livros se tornarem de ace sso m ais fácil, mais pe ssoas desenvolviam a habilidade da escrita. “O século XVI tornou-se não apenas a era da palavra escrita, com o tam bém o século do s grandes manuais de caligrafia.72 A nova forma impressa do livro possibilitou mudanças decisivas na ordenação das obras, dentre as quais um a maior legibilidade em razão do formato de fácil manejo, da organização das páginas, da multiplicação de parágrafos. Um grande obstáculo para a disseminação do hábito de leitura seria a precariedade da educação nas escolas primárias durante os séculos XV e XVI. N esse p eríodo, a grande maioria das crianças na Europa não frequen tava a escola. A falta de edu cação e leitura fomentava a superstição.73 O empenho p or um a melhora na qualidade da educação foi um a das marcas da Re form a Protestante. O pensam ento de Lutero sobre esse tema é expresso em seu escrito “Aos Conselhos de Todas as Cidades da Alema nha para que Criem e M antenham Escolas C ristãs”, datado de 1524. N esse texto destacam-se os segu intes temas: 1Ibidem. 72 MANGUEL, 1997, p. 159 apud RIBE IRO, Ibidem, p. 7. 73 FISCHER, Ibidem, p. 205.
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O L Í D E R C R I ST Ã O E O H Á B I T O D E L E I T U R A a) Sobre o abandono das escolas “Em primeiro lugar, constatam os hoje em todas as partes da Alemanha que as escolas estão no abandono ” (p. 303 ). b) Sobre a falta de investimentos em ed ucação “Caros senhores, anualmente é preciso levantar grandes somas para armas, estradas, pon tes, diques e inúmeras o utras obras sem elhantes, para que uma cidade possa viver em paz e segurança temporal. Por que não levantar igual soma para a pobre juventude necessitada, sustentando um ou dois hom ens compe tentes com o professores?” (p. 305 ) c) Sobre a aplicação de mé tod os de ensino mais eficazes “É bem verdade: se as universidades e conventos continuarem como estão sem a aplicação de novos mé tod os de ensino e m od os de vida para os jovens, preferiria que nenhum jovem aprendesse qualquer coisa e que ficassem m ud os” (p. 306). d) Sobre as crianças longe da sala de aula em idade escolar “Em minha opinião, nenhum pecado exterior pesa tanto sobre o mundo perante Deus e nenhum merece maior castigo do que justamente o pecado que cometemos contra as crianças, quando não as educamos” (p. 307). e) Sobre a responsabilidade do Estado em prover educação “Acaso as autoridades e o Conselho querem desculpar-se e dizer que isso não lhes diz respe ito?” (p. 308 ) f) Sobre o benefício social da educação “Muito antes, o melhor e mais rico prog resso para um a cidade é quan do po ssui muitos homen s bem instruídos, muitos cidadãos ajuizados, ho nestos e bem edu cado s” (p. 309). 4Q
Aspectos Históricos da Leitura
g) Sobre a ludicidade na educação “Falo por mim mesmo: se eu tivesse filhos e tivesse condições, não deveriam aprender apenas as línguas e história, mas também deveriam aprender a cantar e estudar música com toda a m atemática” (p. 31 9). h) Sobre a opressão na escola “Pois as escolas de hoje já não são m ais o inferno e purgatório de n os sas escolas, nas quais éramos torturados com declinações e conjugações, e de tantos açoites, tremor, pavor e sofrimento não aprendemos simples mente nada” (p. 319). i) Sob re a qualificação dos docentes “Visto, porém, que Deus nos agraciou tão ricamente, concede ndo-nos uma grande quantidade de pessoas aptas a instruir e educar maravilhosa mente a juventude [...]” (p. 30 6). j) Sobre um mundo melhor p roporcio nado pela educação “Use m os tam bém a razão, para que Deu s se aperceba da gratidão por seus bens, e outros países vejam que também som os gente e pes soas que po dem aprender deles ou ensinar-lhes algo útil, a fim de que tam bém nós contribuamos para o melhoramento do mun do” (p. 321). No movimento da Reforma, “Martinho Lutero e seus seguidores na Alemanha, na Holanda e na Suíça anunciavam aos quatro cantos que toda pessoa — homem ou mulher — possuía o direito divino de ler a Palavra de Deus por si própria, sem intermediários, e no idioma» dela”.74 Percebe-se que a popularização da leitura se relacionava com a salva ção da alma: “a salvação da alma dependia da capacidade de cada um ler a palavra de D eu s por si m esm o”.75 74 Ibidem, p. 207. 75 MANGUEL 1997, p. 312 apud RIBEIR O, Ibidem, p. 8.
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O LÍDER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA Mas, conforme Ribeiro, “a alfabetização, mesmo restrita à Bíblia, não impediria a leitura de outros tipos de texto; desse modo, os donos de es cravos britânicos foram contra a alfabetização dos mesmos, pois temiam que estes encontrassem ideias revolucionárias que aguçassem possíveis atos de revolta em favor da libertação”.76 E ainda Aprender a ler, para os escravos, não era um passaporte imediato para a liberda de, mas uma maneira de ter acesso a um dos instrumentos poderosos de seus opressores: o livro. Os donos de escravos sabiam que a leitura é uma força que requer umas poucas palavras iniciais para se tornar irresistível. Quem é capaz de ler uma frase é capaz de ler todas. Mais importante: esse leitor tem agora a pos sibilidade de refletir sobre essa frase, de agir sobre ela, de lhe dar um significado (MANGUEL, 1997, p. 314, 315). Para Manguei (1997), a arte da leitura uma vez aprendida não pode ser desaprendida; dessa maneira era mais cômodo para ditadores, donos de escravos, ter sob seu domínio pessoas analfabetas dada a maior facilidade em manipulá-las. Dessa forma, assistimos durante séculos (até mesmo no limiar do terceiro milênio) uma grande massa de analfabetos, quan do não sua limitação ao aprendizado inicial da leitura e da escrita.
Sobre isso também escreve Fischer,78 quando afirma que a elite colonial da América do Norte e do Caribe protestaram, afirmando que, a partir da leitura da Bíblia, logo os escravos estariam lendo outras obras, as quais po deriam fazê-los pensar, em vez de apenas obedecer. O grande temor era a preservação da riqueza, do poder e da posição social, cuja leitura seria uma “dádiva perigosa demais se oferecida àqueles que deveriam ser subjugados”. Praticamente em quase toda a Europa, do século X V ao XVIII, a m aio ria dos leitores de livros eram médicos, nobres, ricos comerciantes e inte grantes do clero.'9 Durante esse período a Inglaterra assume a liderança da distribuição e consum o de livros (principalm ente no sécu lo XV II). O lugar da leitura se diversifica: Muitos livros eram arm azenados na cozinha, on de se realizava grande parte da leitura entre familiares e empregados, o que revela enorm e familiaridade e intimidade com a leitura. Em virtude da influência dos puritanos, um a das principais influências cultu rais da Inglaterra à época, a leitura da Bíblia tinha, sem dúvida, prioridade nesses en76 Ibidem. 77 Ibidem. 78 Ibidem , p. 229. 79 FISCHER, 2006, p. 206.
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Aspectos Históricos da Leitura contros. Apesar disso, na Europa dos séculos XVI e XVII, o dormitório mantinha-se com o local favorito de leitura e armazenagem dos livros. Mas o quarto, nessa época, costumava ser um local de passagem, desse modo, até na cama, era raro as pe ssoas não serem incomodadas durante a leitura. Se alguém desejasse ler com privacidade, era necessário retirar-se para outro aposento levando consigo uma vela, ou, se fosse du rante o dia, ir para fora da casa, onde também se lia muito, com o na Idade Média.80
Ainda n esse período surgiram os primeiros livros de bolso (brochura), os primeiros jornais do mundo começavam a ser lidos e “uma autêntica biblioteca de conteúdo popular decorava muros, portas, postes e janelas da Euro pa”.81 “ [...] reis, príncipes, con des e bisp os em to da a Europa inicia ram a construção de enorm es bibliotecas no estilo de mausoléus clássicos para abrigar as obras que eles próprios passaram, às vezes, a estimar mais que todas as posses”.82 A R evolução Industrial foi tamb ém um resultado direto da instrução: ou seja, da leitura.83 Durante a Revolução Francesa, camponeses “isolavam-se com um desse s livros durante horas a fio, m oven do os lábios palavra por palavra durante a leitura e refletindo por muito tempo sobre o significado de cada fra se”.84 Francis Bacon (15 61 -1 62 6), filósofo inglês, chegou a estimular as p es soas a “lerem não para contradizer e refutar, nem para crer e subestimar, nem para inventar assunto ou d iscussão, m as para ponderar e refletir”.85 Dr. Samuel John son (17 09 -178 4), lexicógrafo, ensaísta e crítico, con siderado o mais célebre hom em das letras da Inglaterra no século XVIII, afirmava que: A leitura “verdadeira” era a leitura “voltada à instrução”, um sentimento ainda compartilhado por milhões em todo o mundo. Apenas em raros casos ele lia as obras até o fim. Dr. Johnson quase sempre "examinava” os livros, extraindo a essência de cada um. Nesse sentido, ele declarou: “Um livro pode não ter nenhuma serventia; ou talvez haja só uma coisa que nele valha a pena saber; sendo assim, devemos lê-lo por completo?”.86 80 Ibidem, p. 214. 81Ibidem, p. 215. 82Ibidem, p. 237. 83 Ibidem, p. 233. 84 CERTAU, 1975 apud Ibidem, p. 237. Sí BACON apud Ibidem, p. 228. 86 Ibidem, p. 241.
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O LÍDER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA O Dr. Johnso n, não percebia a leitura como entretenimento em si, mas com o instrumento de acesso à informação. A leitura religiosa entrou em declínio à m edida que as ideias iluministas se difundiam. O hábito de leitura ganha tamanha proporção que “em toda a Europa, a leitura transformou-se no próprio alimento — o prato mais completo para a mente e o espírito. Na realidade, a metáfora de ‘devorar a leitura com o um alimento’ era com um ”.87 8. A L e it u r a
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M u n d o
C o n t e m po r â n e o
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Sé c u l o
X I X a o s
D ia s A t u a is
No século XIX, ler tornou-se mais fácil. Os livros estavam mais em conta e com uma maior oferta. O sistema de iluminação melhorou e as lâm padas especiais ficaram mais comun s, contribuindo para que mais pes soas tivessem melhores cond ições de ler.88 A am pliação da capacidade leitura das pe ssoa s e uso da cultura im pres sa por novas classes de leitores (as mulheres, as crianças, os operários), promove grandes transformações. “[...] com o acesso de quase todos à competência de leitura, como se institui no século XIX na Europa mais desenvolvida, a aculturação ao escrito, pela escola e fora da escola, a frag m entação das maneiras de ler e dos me rcados do livro (ou do jornal) ins taura, atrás das aparências de uma cultura partilhada, uma fragmentação maior das práticas”.89 O livro impresso passou a ser considerado por muitos como o “ver dadeiro santuário dos mais elevados sentimentos humanos, a ser aberto, experimentado e apreciado por todas as pe ssoas de m od o igualitário, com privacidade, silêncio e devoção”.90 C om a diminuição das taxas de analfabetismo, as mulheres emergiram como público leitor, consumindo principalmente os livros de culinária, revistas e romances. D e acordo com Lyons,91 “mesm o não sendo as únicas leitoras de rom ances, eram vistas com o o principal alvo da ficção rom ânti ca e popular. A feminização do público leitor de rom ances veio a confirmar 87Ibidem. 88 FI SC H ER , 2006, p. 249. 89 CAVALLO & CH AR TIE R, 1998, p. 36 apud RIBEIRO, p. 9,1 0. 90 FI SC H ER , 2006, p. 232. 91LYONS, 1998 apud RIBE IRO, p. 10.
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Aspectos Históricos da Leitura
os preco nceitos sobre o pap el da mulher e sua inteligência”. Elas foram aos po ucos con quistand o o seu direito à leitura. Passaram a frequentar salões e círculos literários, liam em casa e no trabalho. Não dem orou para que de leitoras passassem a contribuir de forma inédita na prod ução literária dos paíse s onde viviam.92 As crianças emergiram também como público ledor. Isso se deu por meio da expansão da educação primária. Boa parte da literatura infantil “na primeira metade do século XIX , era de caráter rigorosame nte didático e consistia em fábulas com final feliz e moralizante, e co ntos de fada.93 A classe operária foi tamb ém atraída pela leitura com o fonte de lazer. Empréstimos eram realizados nas bibliotecas circulantes. O ritmo de lei tura oscilava de acordo as atividades diárias de trabalho. Os pedidos de empréstimo de livros geralmente aumentavam nos períodos de inverno e diminuíam nos pe ríod os de verão, quando a jorn ada de trabalho po ssivel mente era maior.94 Os editores passaram a se distinguir dos vendedores de livros, que disputavam d ois m ercad os: o da elite, disposta a pagar mais alto por uma literatura de qualidade, e a classe m édia baixa e dos pobres, de preferências culturais limitadas.
N o período do apartheid, nos estados do Sul dos Estados Unidos, os negros foram p roibid os de apren der a ler e a escrever até a derrota do Sul 92 FISCHER, 2006, p. 266. 93 Ibidem. 94 Ibidem. 95 Ibidem, p. 253. 96Ibidem.
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O LÍDER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA na guerra civil, em 1865. Muitos negros apren deram a ler clandestiname n te e ensinavam outros. Quando alguns senhores descobriam tal fato, trata vam com grande hostilidade os negros escravos, que chegavam inclusive a ser enforcados. Fischer relata que, em meados do século XIX, a maior parte das na ções desenvolvidas já considera a leitura como parte integrante da vida diária das pessoas : “Em toda igreja, por exemplo, a leitura dos hinos fazia parte da liturgia; aqueles que n ão sabiam ler as respostas ou hinos agora se sentiam excluídos da cerimônia, já que a leitura em grupo definia o signi ficado de ser cristão”.97 As transformações tecnológicas que se iniciaram no século XI X avan çaram a largos e rápidos passo s na maior parte do sécu lo XX . O “aprimora men to na fabricação de papel, na impressão e na encadernação resultaram em prod uçõe s maiores e pre ços ainda mais baixos por exemplar”.98 Os li vros vieram a se tornar uma me rcadoria de m assa. Em relação à censura, leitores e escritores con tinuavam se ndo alvos de perseguições. As obras de conteúdo sexual e político eram as mais proi bidas. Países comunistas censuravam obras com conteúdo capitalista, en quanto países capitalistas censuravam textos comunistas. Fischer afirma ainda que: Ao longo de toda a história, regimes políticos ditatoriais sempre disseminaram a ideia de que a restrição da leitura e a destruição do s livros fariam que se tornassem mais p o derosos e ganhassem tempo, ou seja, com o se, por meio da anulação da história, pude s sem criar um novo destino. [...] Um a sociedade esclarecida reconhece que a verdadeira força está na liberdade individual, da qual a leitura é a expressão m áxima.”
Novos suportes de leitura foram desenvolvidos nas últimas décadas do século X X . Para Chartier: [...] a difusão da leitura pela tela do computador é uma revolução da leitura, uma re volução dos suportes e formas de transmissão do escrito. Ler sobre uma tela não é o mesm o que ler um livro impresso; h á uma substituição da materialidade do livro pela imaterialidade de textos, perde-se o contato físico e íntimo com o texto no qual todos os se ntidos do leitor participam do ato de ler.100 07 Fischer, 2006, p. 263. 98 Ibidem, p. 269. 99 Ibidem, p. 274. 100CH ART IER, 1994, apud RIBE IRO, p. 11.
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Aspectos Históricos da Leitura
O progresso tecnológico é visto às vezes como uma ameaça ao livro impresso e a leitura em sua forma mais convencional. C om o bem escreveu Ribeiro, “convém lembrar que o cinema não ocasionou a morte do teatro, nem a televisão a do cinema e do rádio, nem a televisão e o rádio fizeram desaparecer a imprensa: há público para to dos”.101 “A leitura é atualmente a principal atividade que alimenta, veste e abri ga o m un do desenvolvido”.102 Essa frase especifica be m o valor da leitura na pós-modernidade. Uma abordagem histórica sobre a leitura, nos revela que sua impor tância no decorrer dos séculos, assim como os obstáculos e meios para a sua difusão, em muito se assem elha aos dias atuais, salvo algumas questões e particularidades de no ssa época.
101Ibidem, p. 11. 102 FI SCH ER; 2006; p. 275.
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3 A Im p o r t â n c i a Hábito
de
do
Le i t u r a
A importância do desenvolvimento do hábito de leitura na literatura e
^ jL p e rs p e c ti v a não-cristã e cristã é claramente evidenciada. 1. A L e i t u r a n a Ó t i c a d e E s c r i t o r e s N ã o - C r i s t ã o s
Muitos escritores não-cristãos colaboraram com a revelação dos vá rios benefícios deco rrentes do desenvolvimento do hábito de leitura.
1.1.A leitura como agente de emancipação e desenvolvedora de criticidade D e acordo com Z ilberm an,1 a aprendizagem da leitura repercute como uma possibilidade de emancipação. Pois os bens culturais, que privilegiam a transm issão escrita, tornam -se acessíveis para o indivíduo que lê e, por conseguinte, manipuláveis. A conquista da habilidade de ler é o primeiro pass o p ara a assimilação dos valores da sociedad e: “Ler. qualifica tod a a relação co m o real”. A leitura pode ser qu alificada com o a mediadora entre cada ser humano e seu presente. A leitura é necessa riamente um a descobe rta do mundo, precedida segundo a imaginação e a experiên cia individual. 1ZILBERMAN, Regina (org.). Leitura em crise na escola: as alternativas do professor. 7. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1986, p. 16.
O LÍDER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA Percebe-se claramente em tal definição que a falta do hábito de leitura, de certa forma, produz algum nível de alienação parcial ou plena. Estar alienado é, dentre outras condições, não saber das coisas como as coisas realmente são. Tal indivíduo não se importa com o que se passa no mun do a sua volta. Alguém que não luta por seus ideais e interesses sociais, e que se submete passivamente a qualquer ideia ou tipo de manipulação. A alienação pode chegar ao nível de não saber o que se passa no cenário político, social e econômico do país, da região, da cidade e bairro onde se vive. A mídia e o próprio governo são os principais agentes de alienação. Programas televisivos e políticas públicas que não contemplam o cresci mento cultural do cidadão são meios de alienação. Enquanto os meios de com unicação de m assa proclam am as glórias governamentais e as “belezas naturais do Brasil”, os livros, considerando sua variedade, propõem uma visão mais crítica da nossa realidade social.2 Alienação é se deixar levar sem ter opinião e sem sab er o porqu ê das coisas. Para Silva, Frente à desordem gerada pelos atuais paradigmas de organização social e sistemas produtivos, sou levado a crer que uma das principais funções da leitura no Brasil é a de garantir ao cidadão a capacidade de pensar por conta própria. E como a situação social é realmente muito delicada, acredito que a imaginação deva ser levada ao seu grau máximo, de modo que o mundo organizado dos bons escritores possa deixar-se recriar coerente e organizadamente na consciência dos leitores.3
A leitura é desenvolvedora do senso crítico. “Cada ser humano pode encontrar nos livros uma ajuda para seu próprio desenvolvimento, para construir seu senso crítico, e para atuar seletivamente com diversos m eios de informação.”4 Senso crítico é a capacidade que um indivíduo tem de criar sua própria opinião, independentemente do conhecimento empíri co, inadequadamente design ado de vulgar ou de senso com um. Conform e a definição de Cervo, Bervian e Da Silva sobre o conhecimento em pírico [...] é aquele adquirido pela própria pessoa na sua relação com o meio ambiente ou com o meio social, obtido por meio de interação contínua na forma de ensaios e ten tativas que resultam em erros e em acertos. Do ponto de vista da utilização de méto 2 SILVA, Ezequiel Theodoro da. Leitura e Realidade Brasileira. 5. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1997, p. 75. 3 Idem, p. 14. 4 OLIVEIRA, 1993, p. 54 apud WITTER, 2004.
5Q
A Importância do Hábito de Leitura dos e técnicas científicas, esse tipo de conhecimento — mesmo quando consolidado como convicção, como cultura ou com o tradição — é ametódico e assistemático. [...] Pelo conhecimento empírico, a pessoa percebe entes, objetos, fatos e fenôm enos e sua ordem aparente, tem explicações concernentes à razão de ser das coisas e das pessoas. Esse conhecimento é con stituído por meio de interações, de experiências vivenciadas pela pesso a em seu cotidiano e de investigações pessoais feitas ao sabor das circunstân cias da vida; é sorvido do saber dos outros e das tradições da coletividade ou, ainda, tirado da doutrina de uma religião positiva.5
A leitura possibilita o confronto com a barbárie e com o sistema se cular e eclesiástico de privilégios, existente na sociedade e introduzido na igreja. Silva6 acredita que o exercício da leitura da palavra tem m uito a ver com a conscientização e elevação do hom em brasileiro, em que p ese a tra dição oral da nossa sociedade e a forte influência, mais recente, de outras linguagens para a circulação da cultura. Ele dá o seguinte testemunho: Os m eus discernimentos históricos m ais profundos, as direções m ais críticas da minha práxis não surgiram ou surgem somente daquilo que ouvi ou vi, mas principalmente daquilo que li. E ainda não consegui refutar as seguintes palavras: “Uma inestimável vantagem da escrita é que ela força o escritor a fazer afirmações que podem, depois, ser examinadas, analisadas e (...) avaliadas. A criticidade é, por natureza, inerente ao veículo literário”.7
Há uma política chamada de lei-dura por Silva,8que intenciona man ter o povo longe dos livros. Quando bem selecionados e lidos, os livros estimulam a crítica, a contestação e a transformação, elementos que co locam em risco a estrutura social vigente e, no meu entender, também a atual estrutura eclesial de vários setore s da igreja evangélica brasileira, ca racterizada por um regime de privilégios e ditaduras. À m edida que se torna um leitor crítico de textos e do mundo, o pastor se habilita para, com mais propriedade, contextualizar a sua mensagem e servi ço. Andraus Jun ior & Santos “apontam que a leitura é um ato de compreen são da vida, propiciando o contato à distância com outras pessoas, gru pos e povos, além de fornecer conhecimento acerca do hom em e do mundo”.9 3 CERVO, Am ado L.; BERVIAN, Pedro A.; SILVA, Roberto da. Metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007, p. 6. 6Ibidem, p. 34. SM ITH , 1973, p. 48 apud SILVA, Ibidem. 8Ibidem, p. 40. 9ANDRA US JU N IO R & SANT OS, 1999 apud WITTER, 2004, p. 13.
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O LÍDER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA 1.2. A leitura como agente de apropriação dos bens culturais O que são bens ou patrimônio cultural? A Constituição da República Federativa do Brasil, por meio do Decreto-lei n° 25 de 30 de novembro de 1937, define em seu artigo Io que “Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no País e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico”. Esses bens materiais e imateriais que formam o patrimônio cultural brasileiro são, portanto, os m od os específicos de criar e fazer (as descob er tas e os pro cessos genuínos na ciência, nas artes e na tecn ologia); as con s truções referenciais e exemplares da tradição brasileira, incluindo bens imóveis (igrejas, casas, praças, conjuntos urbanos) e bens móveis (obras de arte ou artesan ato); as criações imateriais co mo a literatura e a música; as expressões e os modos de viver, como a linguagem e os costumes; os locais d otad os de expressivo valor para a história, a arqueologia, a paleon tologia e a ciência em geral, assim com o as paisage ns e as áreas de proteção ecológica da fauna e da flora. Patrimônio, etim ologicam ente, significa “he rança paterna”, a riqueza com um que nós herd am os com o cidadãos, e que se vai transm itindo de geração a geração, de pai para filho. Silva10 entende a importância da leitura para o desenvolvim ento do homem, afirmando que tanto o nascimento quanto a plenitude do racio cínio depend em do acúmulo de observaçõe s que nos foram legados pelo próp rio homem , por meio da palavra oral e escrita. D and o prosseguim ento às suas argumentações, afirma ainda ser a leitura vista com uma habilidade humana que permite o acesso do povo aos bens culturais já produzidos e registrados pela escrita e, portanto, como meio de conhecimento e críti ca dos fatores históricos, científicos, literários, etc., e como um dos meios mais práticos, ao lado da palavra oral, de que o povo po de lançar m ão a fim de com unicar e fazer valer as suas ideias, interesses e asp irações. “L er é um ato de afirmação na sociedade.” A leitura leva à aquisição da cultura, mas é a cultura que explica muito do que se lê, não apenas o significado literal de cada palavra de um texto e, dessa forma, conforme Cagliari (19 89 ), um a pessoa que não conhece um a cultura tem dificuldade em ler tex 10 SILVA, Ezequiel Theodoro da (org.) Leitura: perspectivas interdisciplinares. 5. ed. São Paulo: Ática, 2005, p. 23.
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A Importância do Hábito de Leitura tos produzidos por seus membros; e para adquirir os conhecimentos dessa cultura, quando possível, é interessante ler não só o que os outros disseram a respeito dela, mas o que ela mesma produziu.11
Dessa forma, um ministro evangélico precisa conhecer a sua cultura para entender o que lê, e precisa ler para entender e se apropriar dos co nhecim entos e bens culturais disponíveis. Sem a competência em leitura, afirma ainda Witter “fica restrito o acesso às informações relativas à vida em sociedade , à cultura, à política, sen do o desenvolvimento, c on sequen temente, b astante prejudicado”.12
1.3. A leitura, o enriquecimento do vocabulário e da linguagem Defini-se vocabulário como o grupo de palavras conhecidas por um indivíduo ou qualquer outra entidade, concreta (um grupo definido de pessoas, po r exemplo) ou abstrata (com o um grup o profissional ou social, um a língua, um dialeto). O vocabulário próprio de uma pessoa é composto pelo conjunto de term os linguísticos que esta é capaz de comp reen der ou, então, o conjunto de palavras qu e esta é capaz de utilizar na formação de novos textos. A riqueza do vocabulário individual está diretamente relacionada com o nível de edu cação e inteligência de um a pessoa. H á testes de inteligência que utilizam questões relacionadas com o vocabulário do testando: O aum ento de vocabulário é um a m eta educativa consagrada nos programas escolares e nos objetivos de muitas pessoas que seguem diversos métodos para consegui-lo. Enquanto algumas pessoas preferem aumentar o seu vo cabulário através da leitura de todo o gênero de livros (o que é, geralmente, considerado o me lhor método, já que a pe ssoa fica igualmente ciente do con texto em que as palavras são usadas), outros preferem formas mais lúdicas, como teste do tipo “enriqueça o seu vocabulário”; outros, ainda, têm gosto em consultar, aleatoriamente, dicionários e en ciclopédias; existem serviços que divulgam “uma palavra por dia” (“ word-a-day”, em inglês), enviada por e-m ail ou em agen das e letrôn icas.13
AUiende e C ondem arín entendem a im portância da leitura como in dispensável para o enriquecimento do vocabulário do leitor: 11WITTE R, Idem. 12Ibidem. 13http://pt.wikipedia.org/wiki/Vocabul%C3%A1rio
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O LÍDER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA Há ainda o fato de que a leitura é a grande fonte de incremento do vocabulário. Graças às pistas dadas pelo contexto, o leitor pode incorporar sem dificuldades novas palavras a seu léxico; a imagem gráfica da palavra serve de ajuda eficaz para a sua lembrança e explica a correlação positiva que existe entre leitura e ortografia, tal como foi descrito no primeiro item.14
C om o se po de perceber, em ambas as citações, a leitura ganha destaque e relevância em term os de m eios para o enriquecimento do vocabulário. Em termos de linguagem , Alliende e Co nd em arín 15 afirmam que a lei tura dará suas con tribuições nas suas mais diversas funções: .
Função Apelativa: Essa função está presente, com certo destaque, nos termos linguísticos que fazem uso do modo imperativo e nas diversas maneiras de dar ordens ou indicações. Encontrando-se presente em todo texto escrito, por si mesma se constitui numa apelação ao leitor, um maneira de inter-relacionar-se com ele: pe de-lhe que desenvolva a atividade de ler.
•
Função Normativa: Tal função está presente em textos que servem para estabelecer regras e advertências. Os indivíduos, desde cedo, encon tram-se expostos às advertências, permissões e proibições, por meio de placas e letreiros (ex: pare, siga, entrada, saída, sobe, desce, etc.). Formas mais complexas dessa função são vistas na vida social por meio das leis, regulamentos, decretos, regimentos. O desenvolvimento do hábito de leitura fará com que o ministro evangélico tenha acesso às obras que comentam e interpretam os principais textos normativos.
♦
Função Interacional: Essa função se relaciona com a tentativa do em is sor de obter, po r meio da linguagem, uma determ inada atividade do destinatário ou produzir nele um determinado efeito. N a linguagem escrita, esse tipo de função está presente em recados e mensagens (convites, cartões de cumprimento ou felicitações, cartas, telegra mas, e-mails, etc.). Alguns textos publicitários ou de anúncios de emprego, que possibilitam a interação entre pessoas e instituições, combinam as funções informativas e interativas da linguagem.
14ALL IEN DE , Filipe; CO ND EM ARÍN , Mabel. A leitura: teoria, avaliação e desenvolvimento. 8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005, p. 20. 15Idem, p. 17.
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A Importância do Hábito de Leitura
•
Função Instrumental: Ocorre quando a linguagem coopera para orientar o leitor na realização de uma atividade ou no manejo de objetos. Pode -se perceber tal função nos textos instrucionais que acompanham os jogos, nas receitas culinárias, nas bulas de medi camentos e nas fórmulas de diferentes tipos. O desenvolvimento tecnológico e a automação, fenômenos modernos que acentua ram a importância de tal leitura, com, inclusive, manuais que são verdadeiros co m pên dios literários.
♦
Função Heurística: É a função que permite à linguagem o acesso às informaçõe s necessárias. A heurística po de ser definida como :
Quand o usad a com o substantivo, identifica a arte ou a ciência do descobrimento, uma disciplina suscetível de ser investigada formalmente. Quando aparece com o adjetivo, refere-se a coisas mais concretas, como estratégias heurísticas, regras heurísticas ou silogismos e conclusões heurísticas. Naturalmente que esses usos estão intimamente relacionados, já que a heu rística usualmente prop õe estratégias heurísticas, que guiam o desco brim ento .16
A linguagem ou textos heurísticos são representados pelos questiona mentos e por algumas expressões de desejo. Em termos textuais, a forma mais comum dessa função são os questionários, que permitem a coleta de todo tipo de informação. Em suas formas mais avançadas e comple xas, manifesta-se em certos textos de caráter reflexivo, que apresentam os grandes problemas e dilemas que o ser humano deve enfrentar. Todas as vezes que a linguagem escrita não se prop õe a representar algo, nem pro duzir algum tipo de interação, nem expressar sentimentos, mas formular perguntas, dú vidas, consultas, buscas, problem as, explorações, indagação, deparam o-nos com a função heurística.
1.4. A leitura como agente de desenvolvimento do intelecto Bam berger1 afirma que hoje em dia a pesq uisa no camp o da leitura definiu-se como o ato de ler em si mesmo, como um processo mental de vários níveis que muito contribui para o desenvolvimento do intelecto. Para ele, a leitura é um a forma exemplar de aprendizado. É um dos m eios mais eficazes de desenvolvimento sistemático da linguagem e da perso16http://pt.wikipedia.org/wiki/Heur%C 3%A Dstica 1 BAMBE RGER, Richard. Como incentivar o hábito de leitura. 7. ed. Ática/UNE SCO, 2005, p. 10.
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O LÍDER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA nalidade. A leitura favorece a remoção de barreiras educacionais de que tanto se fala, concedendo oportunidades mais justas de educação, prin cipalmente por meio da promoção do desenvolvimento da linguagem e do exercício intelectual, aumen tando a possibilidade de norm atização da situação pess oal do indivíduo.
1.5. A Biblioterapia Uma abordagem interessante sobre o valor terapêutico da leitura foi realizada por Witter (20 04 , p. 181).18 D esde a antiguidad e a leitura é va lorizada pelo impacto que promove no comportamento das pessoas. O termo Biblioterapia tem sua origem no latim biblio, qualquer m aterial que serve de suporte para o texto de leitura, e terapia, que se relaciona a pro cedimentos que buscam a solução de problem as biopsicossociais. D ois ra m os são con templados: Biblioterapia Educacional ou de Desenvo lvimen to e Biblioterapia Clínica. A Biblioterapia de Desenvolvimento, realizada por meio de um trabalho sistemático de leitura, tem como finalidade promover o desenvolvimento do ser em seus aspectos mais diversos, que incluem o conhecimento de si próprio, o desenvolvimento de competências e de habilidades diversas. A Biblioterapia Clínica, definida também como Patológica, possui com o objetivo utilizar-se de técnicas a ssociad as à leitura para resolver pro blemas b iopsicossociais. As técnicas biblioterápicas são utilizadas desde o Egito Antigo. Ramsés II tinha no frontispício de sua biblioteca a frase “Remédios para a alma”.19 Entre os gregos e roman os, a leitura tam bém foi vista em seu papel terapêutico.20 Na cultura muçulmana, trechos do Alcorão eram indicados como parte do tratamento médico. Em 1802, o médico e pesquisador Benjam im R usch recom endo u que nos EU A a leitura fosse utilizada como terapia para todos os doentes. Com o tempo a Biblioterapia ganhou espa ço em m uitos ou tros locais. Atualmente, há um a ampla variedade de situações no uso da Bibliote rapia, sendo recomendada para os profissionais de psicologia que atuam em instituições, comunidades ou consultórios. E necessário que tais pro fissionais estejam atentos às pesqu isas da área de leitura, pois dess forma 18WITTER, 2004, p. 181. 19ALVES, 1982 apud Ibidem, p. 182. 20 ORSINI, 1982, MARCINKO, 1989 apud Ibidem.
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A Importância do Hábito de Leitura
obterão inform ações dos resultados acerca do impacto da leitura sobre as pe sso as e de outros fatores.21 2. A
L e i t u r a n a Ó t ic a d e E s c r i t o r e s C r is tã o s
Dentre os autores cristãos, a importância da leitura no exercício do ministério pastoral é descrita por Sand ers22 com o essencial para o hom em que deseja crescer, espiritual e intelectualmente. Diz ainda que o líder es piritual prec isa ler:
2.1. P ara obter avivamento espiritual e proveitoso Um avivamento proveitoso e espiritual é aquele que nasce da leitura da Bíblia, de bons livros e do mund o que nos cerca. Sem esses fundamentos o avivamento tornar-se-á um mero evento transitório, emotivo e infrutífero.
2.2. Tendo em vista o estímulo mental A leitura é instrumento para o estímulo de novos pensamentos e ideias. Alliende e Condemarín afirmam que a cultura letrada, ao mobili zar a linguagem do m und o oral auditivo para o m und o sensorial da visão, transforma a comun icação oral e os esque mas cognitivos das pessoas.23 MacDonald diz que “o crescimento da mente torna possível que as pes soas sirvam às gerações em que vivem [...]. Se desenvolvo a minha mente posso fazer com que os outros cresçam”.24 Um obreiro aprovado é aquele que sem pre procura estar com as ideias renovadas e organizadas.
2.3. Afim de obter cultivo de estilo Aqui a pregação e o ensino se destacam. A leitura da Bíblia associada à leitura de bons livros proporcionará um aumento do nosso vocabulário e desenvolvimento na arte da elocução incisiva e persuasiva.
2.4. Com vistas a adquirir informações Em virtude do volume de informações em n ossa época, a leitura é um a ferramenta essencial para o líder manter-se bem informado e atualizado. 21W ITT ER, Ibidem, p. 196. 22 SANDERS, J. OSWALD. Liderança espiritual: os atributos que Deus valoriza na vida de ho mens e mulheres para exercerem liderança. Tradução de Oswaldo Ramos. São Paulo: Mundo Cristão, 1985, p. 90, 91. 23ALL IEN DE e CO ND EM ARÍN , 2005, p. 16. 24MA CDO NALD apud Habecker, 1998, p. 51.
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O LÍDER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA Sobre isso diz Mendes que “a comunicação eficiente da Palavra de Deus exige bon s conhecimentos da língua pátria e da atu alidade”.2^ 2.5. A fim de ter comunhão com a s grande s mentes Diz ainda Sanders que é possível manter comunhão com os maiores e m ais pied osos dos hom ens de todas as eras por meio de seus escritos. D es sa forma, entende-se que é impossível avaliar o poder benéfico da leitura de um simp les livro, em tod as as suas dim en sões.26 Kessler é categórico ao afirmar que “é muito natural àquele que se dedica ao ministério ser amante de livros”.27 A falta de organização de uma biblioteca, por qualquer razão, seja por negligência, falta de condições, seja po r outros fatores, prom ove um prejuízo m uito grande para a vida daqu ele que é respon sável em prover alime nto sólido e con sistente para o rebanho. Em con trapartid a, o que investiu ou investe na formação de uma b oa biblioteca “estará em vantagem muito m aior ao que ne glig en cio u”.28 Sobre a importância da biblioteca e bons livros, M end es sugere: “O r ganize sua biblioteca própria com bons e selecionados livros de estudo e leitura”.29 Leach alerta que: Pregar a Palavra é responsabilidade primária do pastor. Tudo o que você puder fazer para aprimorar suas habilidades é vitalmente importante. Formar uma biblioteca e ler bons livros é essencial. E extremamente útil se desde o início do seu ministério você organizar seus livros por um sistema simples [...]. É frustrante gastar tempo precioso p rocaran do p or um livro que você sabe que tem em sua biblioteca.35
Afirma ainda Kessler: Desde a minha conversão tive o cuidado de comprar e comprar livros, fazer assinatu ras diversas de periódicos, mesmo que isso significasse a frustração de não lê-los inte gralmente. O hábito de certificar-me de seu conteúdo, ainda que ligeiramente, durante 25 M EN DES , Jo sé Deneval. Teologia pastoral: a postura do obreiro é indispensável para o êxito no ministério cristão. 9. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1999, p. 44. 26 Idem, p. 96. 27 KE SS LE R, Nemuel. Ética pastoral: o comportamento do pastor diante de Deus e da sociedade. 6. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2000, p. 114. 28 Idem, p. 114. 20 M ENDES, 1999, p. 44. 30 LE ACH , William F. O pastor, seu gabinete e seu horário. In: TR AS K, H ioma s E. et ali. O pas tor pentecostal: um mandato para o século XXI. Rio de Janeiro: CPAD, 1999, p. 70.
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A Importância do Hábito de Leitura mais de vinte anos, foi fundamental para que estas e outras obras fossem escritas ou então em preparação para o prelo.31
Escrevendo sobre o preparo do ministro, Mend es enfatiza a formação cultural declarando que: A dinâmica social está cada vez mais exigindo que os profissionais das mais diversas áreas do conhecimento humano se preparem bem culturalmente. Por outro lado, as igrejas estão cada vez mais atingindo pessoas das diferentes classes sociais. Portanto, o ministro do Senhor Jesus Cristo não deve ser uma pessoa atrasada.32
A cultura secular, emb ora importante, servirá apenas de ajudadora no pro cesso de com unicação da Palavra,33 nunca devendo, assim, substituí-la. Erram aqueles que em nome do seu desenvolvimento cultural, negligen ciam a leitura devocion al e o estu do bíblico. Sobre a importância do hábito de leitura para a vida de um líder cris tão, Habecker é contundente ao declarar que “além disso, o líder deve ser leitor ávido, tanto de assuntos pertinentes à liderança quanto de outros completamente fora de sua área, de autores seculares e cristãos. E, obvia mente, estou presumindo que esse tipo de leitura não substituirá a leitura da Bíblia”.34
31KE SS LE R, 2000, p. 115. 32 M EN DES , 1999, p. 44. 33 Idem. 34 HABECKER. B. Eugene. Redescobrindo a alma da liderança. Tradução de Denise Avalone. São Paulo: Vida, 1998, p. 51.
4 A Im p o r t â n c i a para a
da
Leitura
Li d e r a n ç a
C o n t e x t o Bíblico
e
no
Cristão
A
leitura é uma prática recomendada exaustivamente na Bíblia. Con vém ressaltar que a leitura não era uma prática acessível a todos. A educação, juntamente com a possibilidade de ler e escrever, era privilégio de poucos. Encontramos no texto sagrado tanto o exemplo como a exor tação para que seja lido. 1. A Im p o r t â n c i a d a L e it u r a n o A n t i g o T e s t a m e n t o
Moisés, que teve toda a sua formação acadêmica no Egito (At 7.22), recebeu a incumbência de escrever “todas as palavras do Senhor” (Êx 24.4), para depois ler diante do povo: “E tomou o livro do concerto e o leu aos ouvido s do povo, e eles disseram: T udo o que o Senhor tem falado faremos e obedecerem os” (Êx 24 .7). Sua grande capacidade levou-o a es crever o Pentateuco. Os profetas foram pessoas, em bo a parte dos casos, que dominavam a ' escrita e a leitura, principalmente os chamados profetas literários. O pro feta Isaías esteve “ativamente envolvido na vida da corte” e era provavel mente filho de “um hom em proem inente”.1Afirma D ouglas que “segun do a tradição judaica, era de sangue real; algum as vezes tem sid o inferido, pe1PFEIFFER, Charles F.; VOS, Howard F.; REA, John. D icioná rio bíb lico Wycliffe. Tradução de Degm as Ribas Júnior. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 284.
O LÍDER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA las narrativas e oráculos de seu livro, que de qualquer modo era membro da família real; todavia, não pode haver certeza quanto a isso”.2 Para este disse o Senhor: “Buscai no livro do Senhor e lede” (Is 34.16a). A capaci dade de ler e escrever fez com que Isaías fosse o autor de um dos maiores volum es do Antigo Testamento. Foram as competências de Daniel e seus am igos, dentre as quais o sa ber ler, que fizeram com que os fossem selecionados para o treinamento no palácio de Nabucodonosor: Disse o rei a Aspenaz, chefe dos seus eunucos, que trouxesse alguns d os filhos de Israel, e da linhagem real, e dos nobres, jovens em quem não houvesse defeito algum, formo sos de aparência, e instruídos em toda a sabedoria, e sábios em ciência, e entendidos no conhecimento, e que tivessem habilidade para viver no palácio do rei, a fim de que fossem ensinados nas letras e na língua dos caldeus. (Dn 1.3,4)
Foi ainda pela leitura que Daniel entendeu “que o núm ero de anos, de que falava o Senhor ao profeta Jerem ias, que haviam de durar as assolações de Jerusalém , era de setenta ano s” (D n 9.2). Os sacerdotes, além da função primária de servir no santuário como m ediador entre os hom ens e D eus,3 tam bém tinham a responsabilidade de atuar com o m estres da lei, sen do dessa forma seu leitor e intérprete (Lv 10.10,11; Dt 33.10; 2 Rs 17.27,28; 2 Cr 15.3; 17.7-9; Jr 18.18; Ez 7.26; 44.23 ; M l 2.6,7). Esdras, o sacerdote, é um claro exemplo da im portância dessa função sacerdotal: E Esdras, o sacerdote, trouxe a Lei perante a congregação, assim de homens como de mulheres e de todos os sábios para ouvirem, no primeiro dia do sétimo mês. E leu nela, diante da praça, que está diante da Porta das Águas, desde a alva até ao meio-dia, perante homens, e mulheres, e sábios; e os ouvidos de todo o povo estavam atentos ao livro da Lei. E Esdras, o escriba, estava sobre um púlpito de madeira, que fizeram para aquele fim; e estavam em pé junto a ele, à sua mão direita, Matitias, e Sema, e Anaías, e Urias, e Hilquias, e Maaseias; e à sua mão esquerda, Pedaías, e Misael, e Malquias, e Hasum, e Hasbadana, e Zacarias, e Mesulão. E E sdras abriu o livro perante os olhos de todo o povo; porque estava acima de todo o povo; e, abrindo-o ele, todo o povo se pôs em pé. E Esdras louvou ao Senhor, o grande Deus; e todo o povo respondeu: Am ém! Amém! —, levantando as mãos; e inclinaram-se e adoraram o Senhor, com o rosto em terra. E Jesua, e Bani, e Serebias, e Jamim, e Acube, e Sabetai, e Hodias, e Maaseias, e 2 DO U G LA S, J. D. (org.). O novo dicionário da Bíblia. Tradução de Joã o Bentes. São Paulo: Vida Nova, 1988, p. 755. 3PFEIFER; VOS; REA, 2006, p. 1713.
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A Importância da Leitura p ar a a Liderança no Contexto Bíblico e Cristão Quelita, e Azarias, e Jozab ade, e Hanã, e Pelaías, e os levitas ensinavam ao povo na Lei; e o povo estava no seu posto. E leram o livro, na Lei de Deus, e declarando e explicando o sentido, faziam que, lendo, se entendesse. (Ne 8.2-8)
O rei, em virtude de sua posição, deveria ser também alguém letra do, tanto para escrever com o para ler o livro sagrado. Em De uteron ôm io 17.18-20, encontramos as seguintes recomendações: Será também que, quando se assentar sobre o trono do seu reino, então, escreverá para si um traslado desta lei num livro, do que está diante dos sacerdotes levitas. E o terá consigo e nele lerá todos os dias da sua vida, para que aprenda a temer ao Senhor, seu Deus, para guardar todas as palavras desta lei e estes estatutos, para fazê-los. Para que o seu coração não se levante sobre os seus irmãos e não se aparte do mandamento, nem para a direita nem para a esquerda; para que prolongue os dias no seu reino, ele e seus filhos no meio de Israel.
Ler e escrever eram habilidades indispen sáveis tamb ém para a função de secretário ou escrivão do rei. Conforme Vaux Órgão indispensável do pod er a partir de Davi, esse era, ao mesmo tempo, secretário particular do rei e secretário de Estado. Ele redige correspondência externa e interna, anota a soma das contribuições, 2 Rs 12.11; desempenha um papel importante nos negócios públicos. E inferior ao administrador do palácio: Sebna, que ocupava esse último posto, Is 22.15, é rebaixado ao de secretário, Is 36.3, etc., mas ele vem imedia tamente depois do administrador do palácio em 2 Rs 18.18s, e a missão que ambos realizam em conjunto põ e em jogo a sorte do reino.; Is 36.3s.4
Dentre os secretários ou escrivães do rei que se destacaram, encon tramos a figura de Safã, “um proeminente oficial na corte do rei Josias”.5 Safã leu o livro da lei após recebê-lo do sacerdote Hilquias, tomando em seguida a decisão de levá-lo ao rei. Então, disse o sumo sacerdote Hilquias ao escrivão Safã: Achei o Livro da Lei na Casa do Senhor. E Hilquias deu o livro a Safã, e ele o leu. Então, o escrivão Safã veio ao rei, e referiu ao rei a resposta, e disse: Teus servos ajuntaram o dinheiro q ue se achou na casa e o entregaram na mão dos que têm o cargo da obra, que estão encarregados da Casa do Senhor. Tam bém Safã, o escrivão, fez sabe r ao rei dizendo: O sacerdote H ilquias me deu um livro. E Safã o leu diante do rei. Sucedeu, pois, que, ouvindo o rei as palavras do livro da Lei, rasgou as suas vestes. (2 R s 22.8-1 1) 4VAUX, R . De. Instituições de Israel no Antigo Testamento. São Paulo: Teológica: 2003, p. 162. 5PFEIFER; VOS; REA, 2006, p. 1728.
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O LÍDER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA E ssa ação de Safã foi de fundam ental importância para a consolidaçao da reforma promovida pelo re ijosias (2 Rs 23.1-25; 2 Cr 34— 35). A Im p o r t â n c i a d a L e it u r a n o N o v o T e s t a m e n t o É pela vida e ministério do apóstolo Paulo que fica claro que a lei tura na vida de um líder cristão não deve limitar-se à Bíblia. Escre ven do em 2 Timóteo 4.13 ele diz: “Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de C arpo, e os livros, principalme nte os p erga m inh os”. Foi em razão do conhecimento adquirido pela leitura de diversas obras que Paulo soube contextualizar esses escritos em algumas situações por ele viven ciadas. Quando esteve em Atenas, durante a sua segunda viagem missionária, ao ser inquirido acerca de sua mensagem pelos filósofos epicureus e estoicos (At 1 7.18-20 ), durante sua argumen tação fez as seguintes citações: “Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos” (At 17.28a). French e Stronstad6 com entam: “Sua prim eira citação é presum ivelmente retirada do po eta e filósofo cretense Epim ênides (século VI a.C .)”. Sobre essa pas sagem escreve Williams:
2.
Há alguma dificuldade de identificar a fonte. Um autor siríaco do nono século d.C., Ishodade, atribuiu o poem a a Minos, de Creta, e identifica as palavras de Paulo em Tt 1.12 como a citação da mesm a fonte.
A segun da citação em Ato s 17.28, “Pois som os tam bém sua geração”, é conform e French e Stronstad,8 atribuída ao poeta Ciliciano Arato (século III a.C.). Sobre isso observa Williams Esse segundo verso é citação de uma obra do poeta ciliciano Arato (cerca de 315 a.C .), intitulado "phaenomena”. Entretanto, um verso semelhante encontra-se em Cleantes (cerca de 330-231 a.C.). A referência de Paulo a “vossos poetas” pode ser o reconheci mento desse fato, a menos que a referência movimente-se para trás e para a frente, no tempo, de modo que inclua as palavras de Epim ênides.1' 6FREN CH , ArringtonL.; STRON STAD , Roger. Comentário bíblico pentecostal: Novo Testamento. Tradução de Luís Aron de Macedo e Degmar Ribas Júnior. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p. 731. WILL IAMS, David J. Novo comentário bíblico contemporâneo: atos. Tradução de Oswaldo Ramos. São Paulo: Editora Vida, 1996, p. 338. 8 FR EN CH , Arrington L.; ST RO NS TA D, Roger, 2003, p. 731. 9 WILLIAMS, David J. Novo comentário bíblico contemporâneo: atos. Tradução de Oswaldo Ramos. São Paulo: Editora Vida, 1996, p. 339.
óó
A Importância d a Leitura pa ra a Liderança no Contexto Bíblico e Cristão
Outro caso de citação de literatura secular encontra-se em Tito 1.12: “Um deles, seu próprio profeta, disse: Os cretenses são sempre mentiro sos, bestas ruins, ventres preg uiç osos”. French e Stronstad afirmam que tal citação se refere a Epimenides de Cnosso, em Creta, um ensinador de re ligião e adivinho, que viveu aproxim adam ente em 305-24 0 a.C.10 Keener confirma a opinião dizendo que “a declaração que Paulo cita era atribuída a várias fontes, a mais antiga sendo do sexto século a.C., o mestre Epimênides de K nossos em C reta”.11 Fica, dessa forma, eviden ciado pelos relatos bíblicos aqui citados que a leitura, tanto do texto sagrado como de outras obras, é de fundamental importância na vida daqueles que foram cham ados po r Deus para realizar a sua obra, principalm ente para os líderes evangélicos. 3. A Im p o r t â n c i a d a L e it u r a e n t r e o s Pa i s d a I g r e ja
Os Pais da Igreja eram leitores insaciáveis e escritores prolíficos.12 O título cristão honorífico de “Pai/P adre” envolve uma série de imagens per tencentes ao acervo cultural humano, ao Antigo T estamento e ao mundo greco-romano: o pai como gerador da vida e como cabeça da família, a quem compete igualmente o cuidado por ela como também a tarefa de dirigi-la com sua autoridade, como guardião e mediador da experiência e da tradição e por isso como autêntico mestre, também e sobretudo da fé. O paterfamilias romano é o sacerdote do culto doméstico; os genito res, na compreensão do Antigo Testamento, são os representantes de Deus na família, os patriarcas são os guardiães da prom essa e os fiadores da graça da aliança com Deus (cf. Eclo 44-50; L c 1 ,55 ).13
Conforme Drobner, “esse conceito natural de pai se estendeu a os Pais’ (os antepassados) como também ao “pai espiritual” ou “intelectual” e “eclesiástico” (o mestre, o diretor de um a esco la de filosofia, o rabino)”.14 Nesse sentido, os apóstolos de Cristo (cf. 1 Co 4.14) e os bispos da Igreja são tidos como pais dos crentes. Numa perspectiva católica, eles no ba-* 10FR EN CH e STRON STAD , 2003, p. 1510. 11 KE NN ER , Craig S. Comentário bíblico Atos: Novo Testamento. Tradução de José Gabriel Said. Belo Horizonte: Atos, 2004 , p. 656. 12FISC H ER, Steven Roger. História da leitura. Tradução de Claudia Freire. São Paulo: Editora UN ESP E, 2006, p. 82. •3DR O BN ER , Hubertus. Manual de Patrologia. Tradução de Orlando dos Reis e Carlos Almeida Pereira. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003, p. 11. 14Idem.
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O LÍDER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA tismo são os “criadores da nova vida, no anúncio e na exposição da fé são os mestres e educadores e como dirigentes da comunidade são as autori dades e os guardiães da ‘família”’. 15 D essa forma, a Igreja Antiga, a partir do século IV, atribuiu o título de Pai exclusivamente aos bispos, para só a partir do século V aplicá-lo também aos sacerdotes e aos diáconos. Até os dias de hoje, em muitas línguas o sacerdote é chamado de “pai” (pater, father, père, padre). Epifânio (c. 310-20 - 403 d.C), Bisp o de Con stância (a antiga Salamina, hoje Fam agusta), na costa oriental de Chipre, conferiu do is mil títulos originais à Origem de Alexandria (185-254 d.C.). Jerônim o (c. 342-420 d.C.), natural de Veneza, secretário de Dam aso, bispo de Roma (em 382 d.C.), responsável pela tradução latina da Bíblia (Vulgata), listava os próprios oitocentos títulos de Epifânio. Ambrósio (340-397), bispo de Milão e mestre de Agostinho, é descrito por seu discípulo da seguinte forma: quando ele estava lendo, seus olhos atentamente corriam as páginas e seu coração buscava o sentido, mas sua voz permanecia em silêncio. Muitas vezes, quando está vamos presentes... ( sic) ainda víamos lendo sozinho, nunca de outra forma... (sic) M as q ualquer que fosse seu prop ósito naquele ato, aquele homem certamente tinha uma bo a intenção.16
Agostinho (354 -43 0 d .C.), Bispo de Hipona, foi um dos mais influen tes leitores no O cidente. Ele afirmava que as letras do alfabeto constituíam “símbolos de sons” que eram “símbolos das coisas que pensamos”. Tais letras haviam sido criadas para que pudéssemos conversar até com o au sente. Agostinho, Em um momento de grande inquietação pessoal [...] lia em voz alta as epístolas de Paulo para o amigo Alípio em seu jardim de verão, afastou-se para chorar sozinho e escutou, por acaso, uma criança entoando o refrão tolle, lege (“recomponha-se e leia”). Inspirado, Agostinho voltou até Alípio para apanhar o livro e ler sozinho, em silêncio — e a “sombra da dúvida” se dissipou. Quando Alípio questionou o amigo sobre o que o comovera, Agostinho, que havia fechado o livro marcando-o com um dedo, abriu na página e Alípio leu, dessa vez em voz alta, não o trecho escolhido por Agostinho, mas um a passagem mais adiante, a qual comoveu Alípio com igual inten sidade.17 15Ibidem. 16AG OS TIN HO apud Ibidem. 17AG OS TIN HO apud Idem.
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A Importância da Leitura pa ra a Liderança no Contexto Bíblico e Cristão
Agostinho foi educad o para se tornar um m estre da oratória. A aridez de sua instrução fez com que provavelmente tivesse lido poucos autores clássicos, dentre os quais: Virgílio, Cícero, Salústio e Terêncio. O ensino era exclusivamente literário. Disciplinas como filosofia, ciência e história era praticam ente ignoradas.18 4 . A Im p o r t â n c i a d a L e it u r a n o P e r í o d o M o n á s t ic o
Durante o monasticismo, movimento com suas origens no século IV, quando um número cada vez maior de leigos começou a se ausentar do mundo, renun ciando a sociedad e em favor do claustro,19 o hábito de leitu ra teve tam bém o seu devido valor. Noll chega a afirmar que “depois da comissão de Cristo aos seus discípulos, o surgimento do monasticismo foi o mais importante — e de muitas maneiras o mais benéfico — acontecimento institucional da história do cristian ism o”.20 A influência do m on asticism o na igreja pod e ser claramen te perce bida na tradução bíblica de Jerô nim o (c. 34 2-4 20 ), nos hinos com posto s por G regório (c. 54 0-60 4) e Bernardo de Clavaral, na teologia de Agostinho (354-4 30) e Tom ás deA quino (c. 1225-1274) dentre outros feitos. Nesse período a leitura se destaca, já que todo monge cristão deveria investir várias horas do dia à leitura das Escrituras. Diz-nos Fischer (200 6, p. 85) que '" um grande colaborador na institucionalização emergente da leitura foi são Benedito de Núrsia ou São Bento (c. 480-c. 547), que fun dou um m onastério em Mon te C assino (c. 52 9), em uma montanha entre Nápoles e Roma”. Os beneditinos seguiam regras rígidas que incluíam a prática da leitura conforme abaixo: Durante as refeições dos irmãos, sempre deverá haver leitura; ninguém deve se atrever a apanhar o livro aleatoriamente e lá começar a ler; mas ele que deverá fazer a leitura durante a semana toda deve iniciar suas obrigações no domingo. E, iniciando sua tarefa após a Missa e a Comunhão, ele deve pedir a todos que rezem por ele, para que Deus o desvie do espírito de júbilo. E esse verso deve ser repetido três vezes por todos, sendo porém que ele deve iniciar: ‘‘Oh! Deus, abra meus lábios e minha boc a irá exprimir o vosso louvor”. E assim, tendo recebido a bênção, ele deverá dar início às suas obriga 18B ROWN, Peter. Santo Agostinho: uma biografia. Rio de Janeiro: Record, 2005, p. 42. 9 CAIRNS, Earle E. O cristianismo através dos séculos: uma história da igreja cristã. Tradução de Israel Belo de Azevedo. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 1988, p. 122. 20 N O LL , Mark A. Momentos decisivos na história do cristianismo. São Paulo: Cultura Cristã, 2000, p. 90.
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O LÍDER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA ções como leitor. E deverá ser feito silêncio absoluto à mesa, de modo que nenhum sussurro ou voz, exceto a do leitor, sejam ouvidos. E tudo o que for necessário, quanto a alimentos, deverá ser passa do entre os irmãos, para que ningué m precise pedir nada.21
Essa regra, designada de Regula monachorum de Benedito, tornou-se padrão de todas as ordens m onásticas da cristandade ocidental. Narra-nos ainda Fischer22 que no período da quaresma todo monge era obrigado a ler um volume completo. As viagens eram ocasiões em que os monges le vavam consigo pequ enos livros. Foi també m estabelecida um a maneira de ler, segun do a qual o monge seguraria os livros que estivesse lend o com a mão esquerda envolta na manga de suas túnicas e apoiando-os no joelho; a mão direita deveria ficar desco berta para segurar e virar as páginas. 5. A Im p o r t â n c ia d a L e it u r a p a r a o s R e f o r m a d o r e s
Tratando-se dos reformadores, nos deteremos na análise dos hábitos de leitura de Lutero (1 48 3-1 54 6) e Calvino (150 9-1 56 4). Martinho Lutero foi sem dúvida um “devorador” de livros. Tal declaração está implícita na forma com que foi educado. Conforme Lienhard,23 sua for mação escolar ocorreu em três etapas. De 1488 a 1497, frequentou a escola municipal de Mansfield, onde aprendeu os rudimentos do latim, o canto e as expressões básicas da fé cristã (os Dez Mandamentos, O Pai Nosso, a Ave M a ria e o Credo). De 1497 a 1498, estudou na escola latina de Magdeburgo. De 1498 a 1501 estudou em Eisenach, na escola de São Jorge, que ensinava as três disciplinas fundamentais da gramática, da retórica e da dialética. Em 1501 Lutero começou seus estudos universitários em Erfurt, re conhecida como uma das principais universidades alemãs da época.24 “A faculdade de Direito à qual o pai de Lutero o encam inhou tinha uma bo a repu tação”.2S Era de costu me que se iniciasse nos estud os na Faculdade de Artes por três anos. O currículo se concentrava em torno da teologia e da filosofia, que ainda era escolástica. “Ap rende u um po uco de grego e me nos hebraico, porém leu os principais clássicos latinos”.26 Em 1502 tornou-se 21 BET TEN SO N, 1963 apud Idem. 22 Fischer, 2006, p. 86. “ LIENHARD, Marc. Martim Lutero: tempo, vida, mensagem. São Leopoldo: Sinodal, 1988, p. 31-38. 24 Idem, p. 32. 25 Ibidem. 26 DURANT, Will. A Reforma: uma história da civilização europeia de Wyclif a Calvino: 1300 1564. Tradução de Mamede de Souza Freitas. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 2002. V. 6, p. 287.
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A Importância da Leitura para a Liderança no Contexto Bíblico e Cristão
bacharel, permitindo-lhe ensinar aos principiantes a gramática, a retórica e a lógica. N o dia 7 de janeiro de 1505 rece beu o grau de mestre em artes. Iniciou no mesmo ano o estudo de Direito, para após dois meses desistir e optar pela vida mon ástica, em decorrên cia do “livramento” que recebeu quando em meio a uma tempestade, em que quase foi atingido por um raio, o que o levou a fazer um voto a Santa Ana de que se sobrevivesse a essa tempestade tomar-se-ia monge.27 No dia 17 de julho de 1505, aos 22 anos, ingressou no mosteiro dos agostinianos de Erfurt, para desgosto do pai. No seu preparo para o exercício do sacerdócio estudou um manual sobre a celebração da missa, do fim da Idade Média, intitulado de Canonis Missae Expositio, de Gabriel Biel, que continha 89 lições abordando o conjunto de problemas teológicos e pastorais colocados pela celebração da missa.28 A 27 de fevereiro de 1507 foi consagrado diácono, e a 3 de abril orden ado sacerdote. Em 2 de maio celebrou sua primeira missa com a presen ça de seu pai. Co m o m onge, em uma de suas prédicas de 1534 afirmou: Fui monge por 15 anos, sem contar o que tinha vivido antes. Li com zelo todo s os seus (sic) livros e fiz tudo quanto estava ao meu alcance. Em nenhum momento consegui achar consolo em meu batismo; ao contrário, pensava continuamente: Ó, quando fi nalmente poderás tornar-te p iedoso e fazer o suficiente, para teres um Deu s m isericor dioso? Através de pensamentos com o esses, fui incitado através do jejum, do frio e da vida severa.29
No artigo intitulado “Lutero: Monge Agostiniano”. é informado que du rante seus anos com o monge ele aprendeu o estilo de vida do mosteiro. Ocu pando uma pequena cela sem esquecimento, de aproximadamente 2,13m x 3,04m, tendo po r mobília uma mesa, uma cadeira e uma cama de palha. Lutero aprendeu a passar com duas refeições por dia, ou uma apenas, se fosse dia especial de jejum. E m sua cela, nos diz ainda o referido artigo, “passava longas horas em oração, leitura e m editação profun da. Assim pa s-, sou-se o ano do noviciado, e Lutero parecia ter obtido a paz de espírito”. N o verão de 1507 Lutero com eçou seus estudos de teologia, estudan do as Sentenças de Pedro Lombardo com o auxílio de um comentário de Gabriel Biel, o Collectaneum, e das Questiones de Guilherme de Occam e ' Idem, p. 288. 28 LIENHARD, Ibidem, p. 36. 29 Ibidem, p. 35.
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O LÍDER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA de Pedro dAilly. Serviu-se da Glossa ordinária para a interpretação da E s critura Sagrada, que se tratava de uma compilação de textos de pais da Igreja estabelecida no século XII. “Em março de 1509, tornou-se bacharel em Bíblia na faculdade de Wittenberg”.30 Retornou no mesmo ano para Erfurt, ond e ministrava cursos acerca das Sentenças de Pedro Lom bardo, para no verão de 1511 retornar de form a definitiva para Wittenberg, onde relutante iniciou seu doutorado em teologia, obten do esse grau em 1512, passand o a comentar a Bíblia para os estudantes da Faculdade de Teologia de Wittenberg. Suas intensas leituras o transformaram num profícuo es critor, com várias ob ras publicadas. Como se pode perceber, a vida acadêmica e teológica de Lutero foi marcada por muitos estudos e muitas leituras, elementos indispensáveis para a formação não apenas de um sacerdote ou ministro religioso, mas para o desenvolvimento de uma mente crítica e questionadora, essencial para promover transformações necessárias em qualquer círculo ou seg mento da vida em sociedade. N ão muito diferente de Lutero, os hábitos de leitura de Jo ão Calvino estavam diretamente relacionados com os seus estudos. Seus primeiros anos escolares foram no Colégio dos Capetos, em Noyon, França, assim conhecido por causa do capuz usado pelos alunos. N essa escola Calvino tomaria as primeiras lições de latim e preparar-se-ia para os estudos em níveis mais elevados na Universidade, em Paris. Em Paris, foi aluno de Marthurin Cordier, mestre do latim e do fran cês, elegante estilista e pedagogo.31 D o Colégio de L a Marche, Calvino foi para Montaigu, com o objetivo de atender aos desejos de seu pai, de vêlo seguir a carreira eclesiástica. Nesse mesmo colégio estudo Erasmo de Roterdan. Em M ontaigu ele se tornou versado na Teologia de Tom ás de Aquino, de Agostinho, d ejerô nim o e outros grandes nom es do passado. Quando mais tarde, nas grandes polêmicas que enfrentou, Calvino revelou um co nhecimento enorme dos pais da Igreja, era capaz de citar com facilidade e absoluta propriedade e precisão estes vultos do passado, bem como filósofos, surpreendendo amigos e adversários.32 30 Ibidem, p. 36. 31 FERREIR A, Wilson Castro. Ca lvino : vida, influência e teologia. Campinas, SP: L PC , 1985, p. 39. 32 Idem, p. 41.
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A Importância da Leitura para a Liderança no Contexto Bíblico e Cristão
Essa bagagem de saberes e conhecimentos, sem dúvida alguma, foi resultado de mu itos anos de leituras e pesquisas. Cardier, biográfo de Cal vino, relata que Luchesius Smits descobriu 1700 citações de Agostinho e mais 2400 referências a ele nos escritos de Calvino.33 Em 1528, aos 19 anos de idade, ao terminar o seu curso de Artes, Cal vino deixou o Colégio de M ontaigu para iniciar os estudos de Direito em Orleans e Bourges. Mesmo deixando Orleans sem completar o curso, por voto unânime lhe é conferido o grau de doutor. “Na ânsia de dom inar co nhecimentos esotéricos e teorias fascinantes, lia até altas horas da noite”.34 D e retorno para Paris, no colégio Real, dedica-se aos estud os dos c lás sicos, amplia os seus conhecimentos de grego e inicia o aprendizado do hebraico. Sua estreia como escritor se deu em abril de 1532, com o seu “Co m en tário de Sêneca”, ou “Tratado de Clementia”. Sua maior contribuição à fé reformada foram as suas Institutas. “Calvino nunca deixou de estudar, de ler, investigar”.35 6 . A Im p o r t â n c i a d a L e it u r a n o P e r í o d o d o s R e a v i v a m e n t o s e d a s
M is s õ e s M o d e r n a s
A leitura teve papel importante na vida de grandes homens de Deus no período m oderno. David Brainerd (17 18 -17 47 ), con forme Edw ards,36 escrevendo sob re sua próp ria vida afirmou ter se tornado frequente, co ns tante e fervoroso em oração e também se deleitava na leitura, sobretudo do livro do Sr. Janeway, Tokemfor Children (um livro para crianças). George diz sobre William C arey (176 1-1 83 4): William era visivelmente uma criança precoce, acostumado, como ele lembrou mais tarde, “a ler as Escrituras desde a infância ’. Em 1815 seu pai lembrou que “quando me nino ele sempre estava dese joso de aprender”. Além da Bíblia, ele lia livros de aventura, ciência e história. E com o Charles Spurgeon, seu grande a dmirador no século seguinte, tinha como favorito O Peregrino de John Bunyan, apesar de gostar dele inicialmente só como um “romance” lendo-o por isso “sem propósito”.?_ 33 CARDIER, 1961, p. 22 apud Ibidem, p. 42. 3+DU RA NT , 2002, p. 383. 35FERREIRA , Idem, p. 48. 36 BRAINERD apud EDW ARDS, Jonathan. A vida de David Brainerd. S. Jos é dos C ampos, SP: Fiel, 1993, p. 12. 37 GEORGE, Timothy. Fiel testemunh a: vida e obra de William Carey. Tradução de Hans Udo Fucs. São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 29.
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,
O LÍDER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA San ders38 afirma que John Wesley tinha um a verdadeira paixão por leitura. Durante suas viagens a cavalo, lia com profundidade uma variada classe de assuntos. P ossuía o hábito de viajar com um vo lume de ciências, ou de história, ou de medicina enfiado no bo lsão da sela e, assim, d evorou milhares de livros Três grandes livros dominaram a mente de Wesley, e seu coração, durante seus dias em Oxford, em seguida ao Novo Testamento Grego. Foi mais ou menos nesta época que ele começou a estudar com afinco. A Imitação de Cristo, Viver e Morrer em Santidade e A Séria Chamada. Estes três livros tornaram-se, de verdade, seus guias espirituais. Ele dizia aos jovens pregadores das sociedades wesleyanas que deviam 1er ou deixar o ministério!
A. W. Tozer (1 89 7- 19 63 ), um pastor protestante americano, pregador, escritor, editor, conferencista e mentor espiritual, é citado por Sanders, onde afirma Por que o crente de hoje acha que a leitura de grandes livros está além dele? Ce rtam en te os poderes intelectuais não diminuem, de uma geração para outra. Som os tão aptos como nossos pais, e nós tamb ém podem os nutrir qualquer ideal que pudessem , se esti vermos suficientemente interessados em promover o esforço nesse sentido.39
Grandes hom ens de D eus do p assado e do presente foram leitores dis ciplinados, que percebiam na leitura um a importante ferramenta de apoio aos seus ministérios.
38 SANDERS, J. OSWALD. Liderança espiritual: os atributos que Deus valoriza na vida de ho mens e mulheres para exercerem liderança. Tradução de Oswaldo Ramos. São Paulo: Mundo Cristão, 1985, p. 90. 39 TO ZER apud SAN DER S, Idem.
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5 O D e s e n v o l v i m e n t o d o Há b i t o d e Le i t u r a p a r a o s Lí d e r e s C r i s t ã o s n a At u a l i d a d e
A
necessidade, os benefícios e o incentivo para a prática constante da leitura por parte do s líderes cristãos pode m ser observado s por m eio de uma análise histórica e bíblica, como também de algumas leituras da realidade contemporânea. 1. A ç õ e s N e c e s s á r i a s p a r a o D e s e n v o l v i m e n t o d o H á b it o d e L e it u r a
Incentivar e desenvolver o hábito de leitura requer algum as ações além da tomada de consciência sobre sua importância. Dentre algumas ações a serem tomadas, Babauta cita:1 ♦
Definir o tempo. Estabelecer os momentos durante o dia para ler é um b om começo. Se, po r exemplo, você definir que durante o dia terá quatro momentos de leitura de 15 minutos cada, no final do» dia terá lido po r 1 hora. A pó s a fase inicial, de m inutos, se passará a horas de leitura po r dia.
♦
Levar sempre consigo um livro. O livro deve ser um constante co m panheiro. Ao sair de casa, certifique-se de que está levando um li-
1BABAUTA, Leo. 14 Maneiras de cultivar o hábito de ler. Disponível em , 2007. Acesso em 23 /09 /20 09 .
O LÍDER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA vro. Deixe sempre um livro no escritório, no gabinete pastoral ou no carro. Durante algumas ocasiões de espera (filas, atendimento médico, etc.) ou viagens (ônibus, trem, avião, etc.), um livro será um parceiro m uito interessante. •
Fazer uma lista. Mantenha uma lista de todos os bons livros que você deseja ler. Essa lista pode ser feita numa agenda, num ca derno, num arquivo no computador, etc. Atualize-a sempre que ouvir algum a bo a dica. À m ed ida que for lendo as obras, risqueas na lista.
•
Encontrar um local tranquilo. Ne m tod os conseguem ler em meio ao barulho ou grande m ovimentação. N esses casos, é aconselhável buscar um lugar tranquilo para a leitura onde não haja interrup ções, longe de TV e computador para evitar as distrações, e do barulho de crianças e pe ssoas em geral.
•
Reduzir o aceso à internet e TV. A não ser para leituras, informação e atividades indispensáveis, cada minuto reduzido no acesso à in ternet e no tem po diante da TV p oderá se transformar em m uitas horas de tempo de leitura.
•
Ler para os filhos. À m edida que se lê para os filhos, o prazer pela leitura pode ser neles despertado, ao mesmo tempo em que se exercita essa prática. O exem plo dos pais com o leitores é singular. E im portante permitir, na m edida do possível, que os filhos, sob a devida superv isão d os pais ou responsáveis, escolham o que ler.
•
Visitar lojas de livros usados. Não apenas as grandes e boas livra rias devem ser visitadas com regularidade, mas as lojas de livros usado s também. L á é possível conseguir boa s obras, com grandes descontos e em boa s con dições de conservação.
•
Estabelecer metas de leitura. Um bom planejamento do tempo fará com que metas de leitura elevadas possam ser estabelecidas ao longo do ano. Cinco, dez, vinte livros poderão ser lidos, não se
76
0 Desenvolvimento do Hábito de Leitura p ar a
os Líderes Cristãos na Atualidade
esquecendo de que não é apenas a quantidade, mas a qualidade com que se lê que importa. Eiken berry acrescenta ainda:2 ♦
Ouvir quando não puder ler. H á grandes versões de livros em áudio que podem ser ouvidas no carro ou com o uso de aparelhos de M P3. Essa s versões pod em ser adquiridas em livrarias ou baixadas pela internet em diversos formatos.
♦
Aderir a um grupo de leitura ou clube do livro. Os grupos de leitura se reúnem geralmente uma vez por mês para discutir o livro que decidiram ler. O s m em bros do g rupo motivam-se entre si para ter minar o livro, culminando com um b om mo m ento de discussão e socialização de críticas e conhecimentos.
♦
Visitar bibliotecas. As bibliotecas são excelentes espaços de leitura. A grande diversidade de livros, agregado ao ambiente propício, possi bilitará um a condição adequada para o cultivo do hábito de ler.
Outras possibilidades e meio para o desenvolvimento do hábito de leitura po de m ser: ♦ Criar salas (espaços) de leitura nas igrejas. Pastores, líderes e m em bros de igrejas podem se unir para a criação de uma sala de lei tura na igreja. Para isso se faz necessário um a m obilização para a aquisição de livros por compra ou doações, de estantes, mesas e cadeiras. O am biente deve ser bem ilum inado e fresco. Essas salas de leitura devem também contemplar as crianças, com cantinhos de leitura devidam ente adap tados às suas cond ições. • ♦ Participar de eventos que promovam a leitura. Participar de rodas de leitura, feiras de livros, palestras e outras atividades semelhantes são também um fator positivo para o cultivo do hábito de ler. 2EIKENBE RRY, Kevin. Dez m aneiras de fortalecer seu hábito de leitura, 2009. D isponível em , 2002. Acesso em 23/ 09 /20 09 .
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O LÍDER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA •
Investir na formação escolar, acadêmica e continuada. Como já se po de perceber, ler é mais do que a decodificação de símbolos. Ler é compreender. À medid a que se avança na formação escolar, acadê mica e continuada, mais com petências para a leitura se adquirem.
•
Planejar o orçamento pessoal. Sem um b om planejamento pessoal, não haverá recurso financeiro disponível para o investimento na aquisição de livros e de outras obras e recursos literários. O que muitas vezes se chama da falta de recursos, na verdade, é falta de boa administração.
As ações acima são esforços conjuntos que transformarão a indiferen ça em desejo de ler, e o desejo em possibilidade e realidade concreta.
2. Os T i p o
s d e
L e it u r a
Tendo por base os diversos níveis de conhecimento do leitor, e a for ma com o este utiliza esses conhe cimentos, M atos3 classifica os tipo s de leitura em: • • • •
Leituras de informação (jornais, revistas de divulgação); Leituras de passatem po (revista em quadrinhos, rom ance s); Leituras literárias, de gosto estético, leitura de form ação pe ssoal (Bíblia); Leituras acadêm icas, com um a linguagem científica, clara, precisa e objetiva, que têm como objetivo a instrução sistemática.
Em termos de geração de n ovos con hecimen tos, M atos4 afirma que as leituras acadêmica e literária ganham mais importância sobre as demais. 3 . C o m o A p e r f e i ç o a r a P r á t i c a d a L e i t u r a
Para o seu desenvolvimento, o líder precisa ler constantemente. Salo m on relata que: 3MATOS, 1994 apud COSTA, Patrícia. Hábito de leitura e compreensão de textos: uma análi se da realidade de pós-graduado s em Administração. Dissertação (mestrado em Administração). Universidade Federal de Sta. Maria: San ta Maria, RS, 2006, p. 43. 4 Idem.
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O Desenvolvimento do Hábito de Leitura pa ra os Líderes Cristãos na Atualidade Investigações já foram feitas e concluíram que o sucesso nas carreiras e atividades do mundo moderno está em relação direta com o hábito da leitura proveitosa: há, no mínimo, a necessidade de se obterem as informações exatas no lugar e no momento oportun os e a de aperfeiçoamen to profissional, cujo processo é comunicado nos livros, textos e outros recursos que exigem leitura e estudo.s
A con stante atualização é um a necessidad e para os líderes na atualida de. C om o leitor, à m edida que sabe selecionar o que deve ler é que desen volve uma m aior velocidade e o maior proveito possível.6 Partindo d esse s princípios, Sa lom on 7 classifica os leitores em bon s e m aus, e elabora um quad ro com parativo, resultado de suas e xperiên cias e observ açõe s, no intuito de possib ilitar um a autocrítica do leitor em termos qualitativos. A sugestão é que o quadro seja lido pausada m ente um item de um a coluna e logo a seguir o corresp on den te na outra coluna. À m edida que for identificando p on tos positivos e po n tos negativos, assinale-os ,8 para logo apó s e stabelecer o esqu em a das necessidades reais para o desenvolvimento do hábito de leitura veloz e producen te: Bom L eitor
Mau Leitor
O bom leitor lê rapidamente e entende bem o que lê. Tem habilidades e hábitos com o:
O mau leitor lê vagarosamente e entende mal o que lê. Tem hábitos como:
1. Ler com objetivo determinado. Ex.: aprende certo assunto, repassa detalhes, responde a questões.
1. Le r sem finalidade. Raramente sabe p or que lê.
2. Ler unidades de pensamento. Abarca, num relance, o sentido de um grupo de palavras. Relata rapidamente as ideias en contradas numa frase ou num parágrafo.
2. Ler palavra por palavra. Pega o sentido da palavra isoladamente. Es força-se para juntar os termos para po der en tender a frase. Frequentemente tem de reler as palavras.
3. Ter vários padrões de velocidade. Ajusta a velocidade da leitura com o assunto que lê. Se lê uma novela, é rápido. Se livro cien tífico para guardar detalhes, lê mais devagar para entender bem.
3. Só ter um ritmo de leitura. Seja qual for o assunto, lê sempre vagarosa mente.
J SAL OM ON , 2004, p. 50.
6 Idem, p. 50. 7Idem. 8Ibidem, p. 52.
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O LÍDER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA 4. Avaliar o que lê. Pergunta-se frequentemente: Que sentido tem isso para mim? Está o autor qualificado para es crever sobre tal assunto? Está ele apresentando apenas um ponto de vista do problema? Qual é a ideia principal deste trecho? Quais são seus fundamentos?
4. Acreditar em tudo que lê. Para ele tudo o que é impresso é verdadeiro. Raramente confronta o que lê com suas pró prias experiências ou com outras fontes. Nun ca julga criticamente o escritor ou seu ponto de vista.
5. Possuir bo m vocabulário. Sabe o que muitas palavras significam. É capaz de perceber o sentido das palavras novas pelo contexto. Sabe usar dicionário e o faz frequen temente para esclarecer o sentido de certos termos, no momento oportuno.
S. Possuir vocabulário limitado. Sabe o sentido de poucas palavras. Nunca relê uma rrase para pegar o sentido de uma palavra difícil ou nova. Raramente consulta o dicioná rio. Quando o faz, atrapalha-se em achar a pa lavra. Tem dificuldades de entender a definição das palavras e em escolher o sentido exato.
6. Ter habilidade para conhecer o valor do livro. 6. Não possuir nenhum critério técnico para Sabe que a primeira coisa a fazer quando se conhecer o valor do livro. toma um livro é indagar de que se trata, por Nunca ou raramente lê a página de rosto do meio do título, dos subtítulos encontrados na livro, o sumário, o prefácio, a bibliografia, etc. página de rosto, e não apenas na capa. Em se antes de iniciar a leitura. Co meça a ler a partir guida lê os créditos do autor; edição do livro; do primeiro capítulo. E comum até ignorar o sumário; “orelha” do livro; prefácio; bibliogra autor, mesmo depois de terminada a leitura. fia citada. Só depois é que se vê em condições Jamais seria capaz de decidir entre leitura e de decidir pela conveniência ou não da leitura. simples consulta. Não consegue selecionar o Sabe selecionar o que lê. Sabe quando consul que vai ler. Deixa-se sugestionar pelo aspecto material do livro. tar e quando ler. 7. Saber quando deve ler um livro até o fim e quando interromper a leitura definitiva ou p e riodicamente. Sabe quando e como retornar à leitura, sem perda de tempo e da continuidade.
7. Não saber decidir se é conveniente ou não interromper uma leitura. Ou lê tod o o livro ou o interrompe sem crité rio objetivo, apenas p or questões subjetivas.
8. Discutir frequentemente o que lê com co legas. Sabe distinguir entre impressões subjetivas e valor objetivo durante as discussões.
8. Raramente discutir com colegas o que lê. Quando o faz, deixa-se levar por impressões subjetivas e emocionais para defender um ponto de vista. Seus argumentos, geralmente, derivam da autoridade do autor, da moda, dos lugares comuns, das tiradas eloquentes, dos preconceitos.
9. Adquirir livros com frequência e cuidar de ter sua biblioteca particular. Quando é estudante, procura os livros de tex to indispensáveis e se esforça para possuir os chamados clássicos e fundamentais. Tem inte resse em fazer assinaturas de periódicos cien tíficos. Formado, continua alimentando a sua biblioteca e restringe a aquisição dos chama dos “compêndios”. Tem o hábito de ir direto às fontes; de ir além dos livros de texto.
9. Não possuir biblioteca particular. As vezes é capaz de adquirir “metros de livro” para decorar a casa. E frequentemente levado a adquirir livros secundários em vez dos fun damentais. Quand o estudante, só lê e adquire compêndios de aula. Formado, não sabe o que representa o hábito das “b oas aqu isições” de livro.
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O Desenvolvimento do Hábito de Leitura p ara os Líderes Cristãos na Atualidade 10. Ler assuntos vários. Lê livros, revistas, jornais. Em áreas diversas: ficção, ciência, história, etc. Habitualmente nas áreas de seu interesse ou especialização.
10. Estar condicionado a ler sempre a mesma espécie de assunto.
11. Ler muito e go sta de ler. Acha que ler traz informações e causa prazer. Lê sempre que pode.
11. Ler pouco e não gostar de ler. Acha que ler é ao mesmo tempo um trabalho e um sofrimento.
12. 0 bom leitor é aquele que não é bom só na hora da leitura. E bom leitor porque desenvolve uma atitude de vida: é constantemente bom leitor. Não só lê, mas sabe ler.
12. 0 mau leitor não se revela apenas no ato da leitura, seja silenciosa seja oral. E constantemente mau leitor, porque se tra ta de uma atitude de resistência ao hábito de saber ler.
Além da exp osição do quadro acima, Salom on 9 indica algumas c ond i ções físicas, fisiológicas e psíquicas necessárias para um bo m desem penho do leitor. São elas: •
Encontrar um ambiente sossegad o ou adequad o ao discernimen to do leitor;
•
Verificar se a iluminação atende às ne cessidades, evitando o con ta to direto dos olhos com os raios de luz;
•
Procurar ler semp re no m esm o local e horário, com o propósito de condicionar o organism o (obviamente, isso não elimina a po ssib i lidade de leitura em outros am bientes e espaç os);
•
Observar se a visão, audição e respiração estão funcion ando no r malmente. C aso contrário, um a visita ao médico é recomendável;
•
Utilizar o livro num ângulo próxim o de 90 graus com o tórax, a uma distância de aproximadamente 30cm dos olhos;
•
Observar a posição correta do corpo, sendo a mais indicada ficar assentado, formando a parte traseira das pernas com o chão um ângulo quase reto. Caberá a cada leitor descobrir a posição mais confortável, desde que não lhe cause prejuízo ao corpo, provoque sono, fadiga e outros incômodos;
9Ibiderrij p. 55.
81
O LÍDER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA •
Le r livre de pen sam entos inquietantes e preocupantes, que p o s sam obstru ir a dinâmica da leitura;
•
Le r com prop ósito definido e com determinação.
No cultivo do hábito de leitura, as condições acima, associadas a um bo m texto, promo verão tod os os benéficos oriundos da bo a leitura. Pro moverão, acima de tudo, o prazer de 1er. Tratan do-se de leitura acadêmica e literária, M atos10 estabelece quatro passos: •
Pré-leitura (para visão global do texto e de sua estrutura);
•
Leitura rápida (dinâmica, diagonal), tendo po r objetivo a obten ção de informaçõ es gerais do conteúd o;
•
Leitura analítica (visando à com preen são precisa e clara da argu mentação);
•
Leitura crítica (penetração profund a), com o pro pósito de avaliar a lógica interna e contribuição específica, com possibilidade de avaliar o texto cientificamente.
No intuito de preparar o leitor para uma leitura mais eficiente em ter m os de textos científicos, Severino11 elaborou um roteiro, dividindo-o em partes, conforme q uadro abaixo: Introdução
O leitor deve procurar reproduzir um esquema básico, bem como procurar entender as afirmações principais de cada texto. Isso é feito em duas fases: uma leitura rápida, para ter contato com o conjun to do pensamento do autor e uma segunda leitura, em que se tenta esquematizar o texto e fazer a análise propriamente dita. Nesta fase deve-se procurar tirar as dúvidas de conhecimento de palavras ou conceitos, po r meio de consultas a dicionários ou literatura especí fica. A análise propriamente dita compreende a definição de partes lógicas do texto. Inicia-se com a determinação do tem a: consiste em identificar sobre o que fala o texto. Nem sempre a simples menção do título traduz o tema contido no texto.
10 Ibidem. 11S EV ERIN O, 2002 apud Ibidem, p. 43, 44 .
82
O Desenvolvimento do Hábito de Leitura para os Líderes Cristãos na Atualidade Problema
Trata-se de identificar qual o problema de conhecimento que o tex to aborda. Nesse caso, o leitor deverá identificar pelo menos dois aspectos que o autor põe em relação, tal como estivesse fazendo uma pergunta (problem a), a qual vai procurar resolver ao longo do texto. Evidentemente, isso não é um dado, podendo estar mais ou menos explícito no texto introdutório, nas primeiras partes do trabalho. Também, nem sempre aparece como uma pergunta direta. Caberá ao leitor identificar essa pergunta (muitas vezes apenas implícita) e formulá-la. Em outros casos, ela aparece diretamente.
Objetivos
Quanto aos objetivos: trata-se de identificar aquilo que o autor faz no texto. Em certos casos há menção direta; em outros, não, caben do ao grupo identificar, de forma sintética, aquilo que o autor faz no texto.
Afirmações
Buscar identificar uma ideia central defendida pelo autor, algo que ele pretende demonstrar no texto. Deve-se procurar identificar no texto, pois nem sempre está presente. Nesse caso, o leitor deve formular essa afirmação (Ex: Neste trabalho o autor pretende demonstrar que...).
Afirmações secundárias
Trata-se de identificar um conjunto de informações derivadas da primeira, como resultado do esforço de demonstração do autor, ao longo de todo o texto. Essa é a forma de demonstrar como ele vai construindo a sua demonstração sobre a afirmação principal que tenta “provar” no texto.
Avaliação
N esta fase o leitor deve procurar avaliar o processo de trabalho do autor, sua demonstração, os dados que ele usou, procurando tam bém apresentar a própria concepção do grupo sobre a problemática analisada pelo autor, comparando-a com outras realidades ou com a opinião do próprio grupo. E o momento, muitas vezes, em que o lei tor apresenta suas próprias ideias a respeito do que fez o autor, com o vê a problemática e mesmo se tem ideias divergentes sobre o tema ou sobre o problema. E importante de stacar “dados” (que não se res tringem a números, tabelas, podendo ser exemplos que apresenta, casos que ele captou da literatura que leu para fazer o trabalho) e evidências apresentadas pelo autor.
Para obter um m aior aproveitamento da leitura, Severin o12 dá um a orientação sobre a necessidade de conhecer o texto antes do início da lei tura. De ssa form a, é preciso estar atento ao sum ário do livro, que em razão da maneira com o os capítulos e tópico s estão disp osto s pode rá passar umq, ideia geral da obra. A s capas, contracapas e orelhas fornecem in formações sobre o livro e o autor. No prefácio, na apresentaç ão e na introdução, serão conhecidos os objetivos por que o texto foi escrito, como se desenvolverá, a que público específico é direcionado e quais conhecimentos são neces sários para lê-lo. 12SEV ERIN O, 2002 apud Ibidem.
83
O LÍDER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA Dados esses passos, uma vez tomada a decisão de iniciar a leitura, é prioritário delimitar a unidade de leitura, que é “um setor do texto que for ma uma totalidade de sentido [...] Pode-se considerar um capítulo, uma seção ou qualquer outra subdivisão [que forme uma unidade], Quando feita para fins de estudo, deve se feita po r etapas, ou seja, apen as terminad a a análise de um a unidade é que se passará à seguinte”.13 Os líderes cristãos, além de bons leitores, po dem tam bém influenciar positivamente os seus filhos e a igreja, na qual seus filhos espirituais (l Tm 1.2; 1 Jo 2.1) estão inseridos, quanto ao desenvolvimento do hábito de leitura.
13Ibidem, p. 45.
84
Conclusão
O
propósito desta obra foi prover fundamentos para o incentivo do desenvolvimento do hábito de leitura entre os líderes evangélicos brasileiros, considerando os baixos índices percentuais das pesquisas so bre a leitura no Brasil. As transformações sociais e culturais que a atuali dade nos apresenta — com um a velocidade e forma sem precedentes — , o volume de pesquisas, descobertas e informações divulgadas pelos mais diversos meios e suportes de leitura, em especial o livro, exigem dos líde res evangélicos brasileiros a bu sca po r um maior volum e de leitura, na qual os aspectos quantitativos e qualitativos devem ser con templados. Uma compreensão clara do ato de ler se torna extremamente neces sária, como ponto de partida para a formação de bons e habituais leito res. Para isso é necessário partir da simples decodificação de símbolos, e avançar em direção à leitura crítica de textos, que culminará com o de-« senvolvimento do sab er ler o mundo, movido p or ideias que nem sem pre se manifestam nos atos, discursos e enunciados, distante da passividade comu m em mentes e seres que foram d om ados no sentido de se tornarem meros reprodutores do que ouvem ou leem. A leitura do mundo não se limita ao caráter meramente discernidor ou informativo, mas, acima de tudo, transformador. Conhecer e entender o mundo por intermédio da
O LÍDER CRISTÃO E O HÁBITO DE LEITURA leitura é essencial para a transformação deste mundo. Na liderança cris tã estão envolvidos a proclamação do evangelho e o aperfeiçoamento da igreja por m eio de um ensino bíblico, contextu alizado e relevante. O líder e os liderados, à medida que discernem a realidade e proclamam as Boas Novas, precisam ser agentes transformadores, e não meros identificadores das mazelas espirituais, morais e sociais de n osso s dias. Ler, muito além de um a necessidade, precisa se tornar um prazer. O pra zer de ler será descob erto ou ampliado à m edida que o leitor, em sua intera ção e diálogo com o texto, perceber nele o seu pod er libertador, ao mesmo tempo em que se emociona, ri, chora, se indigna, vibra, sente, entende. Ler envolve, dessa forma, os aspectos cognitivos, emotivos e sensoriais do indi víduo. Ler envolve o ser como condição presente, o ser gente, o ser humano, mais envolve tam bém o ser possível ou o vir-a-ser, o ser-mais. O conhecimento de alguns aspectos da presença e importância da lei tura no decorrer da história nos possibilitou a percepção não apenas de sua importância nos processos de desenvolvimento das civilizações e na vida de seus líderes, mas também a constatação de que os detentores do saber oriund o da possibilidade e do hábito de leitura, em vez de se torna rem agentes libertadores e em ancipadores de si m esm os e de seu próximo, emb riagados pelo desejo de po der e domínio, promoveram e acentuaram as contradições, injustiças, exclusões, discriminações e explorações. Os benefícios da leitura, uma vez revelados, poderão influenciar po sitivamente na toma da de um a consciência sobre a nece ssidade de ler. O interesse pela leitura tende a crescer quando se sabe que, além da eman cipação crítica e da autonomia como indivíduo, o hábito de leitura pro porciona o desenvolvimento intelectual, o enriquecimento do vocabulá rio, a fluência verbal, a apropriação dos bens culturais, a informação e o conhecimento, a saúde em ocional e psíquica, o estímulo e saúde m ental e a comunhão com as grandes mentes. N ão basta apenas desejar e passar a ser um leitor habitual. É necessário conhecer e aplicar métod os que proporcionarão um a leitura mais p rod u tiva. Para isso, é interessante seg uir algum as diretrizes já pesquisad as e ex perimentadas, com o as de S alom on 1e Severino2. 1SALOMON, Délcio Vieira. Como fazer uma monografia. 11. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004, p. 51-55. 1SEVE RINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 22. ed. São Paulo: Cortez, 2002, p. 43, 44.
86
Conclusão
Por fim, uma vez que esta obra é direcionada para os líderes evangéli cos, não teríamos o êxito desejad o se não bu scássem os na Bíblia e no perí odo pós-bíblico, na vida de homens que influenciaram e que marcaram a história da igreja, os fundamentos e os exemplos necessários para a busca, o desenvolvimento e a aplicação dos benefícios do hábito de leitura. E necessário que novas pesquisas sejam realizadas sobre o hábito de lei tura entre a liderança evangélica brasileira, em termos empíricos, mediante o uso de diferentes instrumentos de análise quantitativa e qualitativa, para que os objetivos aqui expostos possam ser alcançados em toda a sua pleni tude. A produção de obras literárias cristãs que incentive a leitura deverá crescer proporcionalmente à medid a que tais pesquisas se realizarem.
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Verdades eternas sobrealiderança ■
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“A capacidade de um líder de realizar algo ex traordinário para D eus começa em seu coração e em sua mente.” - John Maxwell. Descubra o caminho certo para se tornar um grande homem de Deus, com exemplos que ensinam verdades eternas sobre a liderança. Cód.: 170618/ 14x2Icm/ 160 páginas
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