“Na prática a teoria é outra?”1
Valeria Forti e Yolanda Guerra 2
Introdução
A formação e a intervenção profissionais do Assistente Social estão marcadas pelos inúmeros dilemas da contemporaneidade. E isto evidencia o nível de complexidade ue marca o Serviço Social e a conse!ente necessidade de comp compet et"n "nci cia a dos dos seus seus prof profis issi sion onai aiss para para enfr enfren ent# t#$l $la. a. %ife %ifere rent ntem emen ente te de exi&"ncias restritas ao padrão t'cnico$instrumental( o ue o Assistente Social enfr enfrent enta a nas nas duas duas esfera esferass da vida vida profi profiss ssio iona nall reu reuere erem m aç)es aç)es a*al a*ali+ i+ad adas( as( intelectualmente respons#veis e fecundas( analíticas e críticas( capa+es de l,e proporc proporcion ionar ar compre compreensã ensão o sufici suficient ente e para uma ação efetiv efetiva a e ualif ualifica icada da na realidade social. -ara isso( ' imprescindível a compreensão dos movimentos da econ econom omia ia da atua atuall cris crise e do capi capita talilism smo o ( da cult cultur ura( a( da polí polítitica ca(( dos dos movimentos sociais( das instituiç)es /urídico$políticas( das or&ani+aç)es sociais e da din0mica das relaç)es &rupais e interpessoais. u se/a( ' imprescindível uma comp compre reen ensã são o da real realid idad ade e soci social al ue ue via* via*ilili+ i+e e uma uma atua atuaçã ção o prof profis issi sion onal al respons#vel e conse!ente. %aí porue ' necess#ria uma visão dos processos sociais como totalidades ue se comp)em de v#rios aspectos e 0m*itos e ue apresentam diferentes níveis de complexidade. 2odavia( a leitura do real com essa amplitude sup)e teorias macrosc3picas so*re a sociedade( ue possi*ilitem ue a apre apreen ensã são o tant tanto o dos dos elem elemen ento toss estr estrut utur urai aiss uan uanto to dos dos con/ con/un untu tura rais is(( das das peculiaridades de seus nexos com a totalidade( das relaç)es entre os v#rios elem elemen ento toss ue ue comp comp)e )em m a reali realida dade de em ue esta estamo moss inser inserid idos os e na ual ual pretendemos atuar profissionalmente. 4ais ainda( fa+$se necess#ria uma teoria 1 Publicado no livro Serviço Social: Social : Temas, Temas, Textos e Contextos. Context os. In: FORTI e !"RR# !"RR # $Or%.&, Rio de 'aneiro, (umen 'uris, 2))*. 2 "ste texto +oi elaborado, i%ualmente, elas autoras cu-os nomes esto em ordem al+ab/tica 0 aleria aleria Forti: outora em Serviço Social, ro+essora da Faculdade de Serviço Social da !"R' e es3uisadora do ruo de "studos da Sa4de, Serviço Social, Trabal5o e 6eio #mbiente da !"R' $"ST#7FSS8!"R'&. 9olanda uerra: outora em Serviço Social, Pro+essora da "scola de Serviço Social da !FR', Coordenadora do 4cleo de "studos e Pes3uisas sobre os Fundamentos do Serviço Social na Contemoraneidade $"FSSC7 "SS8!FR'& e Pes3uisadora do CP;.
1
ue ue nos nos permit permita a perce perce*er *er como como os prin princi cipa pais is dile dilema mass conte contemp mpor0 or0ne neos os se tradu+em tradu+em nas peculiaridad peculiaridades es do Serviço Serviço Social e se expressam nas reuisiç)es reuisiç)es e compet"ncias compet"ncias socioprofission socioprofissionais ais e na cultura cultura profissional profissional.. Aui su*/a+ a premissa premissa de ue a complexidade da realidade exi&e profissionais do Serviço Social ue não pretendam pretendam apenas responder de modo tradicional tradicional e imediatista 5s imediatista 5s demandas ue l,es são diri&idas( mas ue entendam ue respostas profissionais pressup)em compreensão dos si&nificados sociais de tais demandas e intervenç)es ue l,es possam atri*uir outros. Assim( na nossa lin,a de raciocínio( o desafio consiste em formar profissionais capa+es de atuar na realidade( por meio da identificação e da apro apropr pria iaçã ção o crít crític ica a de suas suas dema demand ndas as e das das dema demand ndas as a eles eles diri diri&i &ida das( s( reconfi&urando$as e enfrentando$as de maneira efica+ e eficiente ou se/a( em modo modo cons conson on0n 0nci cia a com com o sent sentid ido o mais mais prof profun undo do da expr expres essã são o tra* tra*al al,o ,o profissional profissional.. Entendemos Entendemos ue s3 assim estarão dadas aos Assistentes Assistentes sociais as possi* possi*ili ilidade dadess de constru construíre írem m estrat estrat'&i '&ias as sociop sociopolí olític ticas as e profiss profission ionais ais para para responderem 5s reais demandas e aos reuisitos da profissão. 6esse contexto( ao profissional ue tencione atender aos reuisitos do mercado de tra*al,o não se limitando a eles ca*e uma s3lida formação te3rica 7'tico$política8 e metodol3&ica( ou se/a( capacitação suficientemente ualificada em termos termos de con,ec con,ecime imento ntoss te3ric te3ricos os e possi*i possi*ilid lidade adess interve interventi ntivas vas.. Assim( Assim( pretende pretendemos mos destacar destacar ue( al'm al'm da relev0n relev0ncia cia te3ric te3rica( a( ca*em ca*em possi* possi*ili ilidade dadess pr#ticas( pois( por mel,or ue se/a formulada( a teoria( por si s3( não ' capa+ de processar ualuer alteração na realidade concreta. 9ontudo( a pr#tica como atividade efetiva ue permita transformação na realidade natural ou social não ' uma atividade ualuer( mas atividade ue possi*ilita ao su/eito reflexão so*re sua ação e revelaç)es so*re a realidade ue possi*ilita decifração das cate&orias e captação da le&alidade dos fen:menos. ; uma ação capa+ de proporcionar con,ecimentos( transformando e ualificando nossas id'ias so*re as coisas( e de nos fornecer meios( caso ten,amos intenção de modific#$las. 6ão o*stante( no senso comum naturali+a$se o c,avão so*re a exist"ncia de um fosso entre o con,ecimento te3rico e a sua capacidade de implementação.
2
ra( uem nunca ouviu( afirmou ou mesmo uestionou o famoso /ar&ão< =na pr#tica a teoria ' outra> ? %essa maneira( prosse&uindo na reflexão so*re esta uestão( partimos do pressuposto de ue se trata de um dos principais 7falsos8 dilemas da formação e do exercício profissionais do Assistente Social. @sto porue( para n3s( ' evidente ue ao profissional < ca*e o papel de *uscar responder 5s necessidades sociais( sendo portador de fundamentos ue não l,e permitem limitar$se ao senso comum e( portanto( não admitem ue ele se deixe influenciar por esse falso dilema. A discussão profissional so*re uma uestão eou pertin"ncia de determinado procedimento não pode limitar$se ao universo do senso comum. %iferentemente do lei&o( em refer"ncia 5 discussão no 0m*ito profissional( nos ca*e investir na pro*lemati+ação dos fen:menos( tra+"$los para o campo da an#lise ri&orosa( fecundamente crítica e prospectiva. 2rata$se( portanto( de discussão na ual se torna imprescindível o investimento ri&oroso e constante no desvendamento dos fundamentos s3cio$,ist3ricos e ideoculturais ue en&endram as uest)es. %essa maneira( lem*ramos BuC#cs ao mencionar ue =sem desco*rir os fundamentos reais da situação ,ist3rico$social( não ,# an#lise científica possível> 7BuC#cs( 1D( p.18.=
< Sabemos 3ue isso no di> reseito aenas ao #ssistente Social, mas a3ui articulari>amos este ro+issional. = (ivre traduço das autoras.
<
Destacando alguns fundamentos da fragmentação entre a teoria e a prática
Em primeiro lu&ar( ca*e esclarecer ue a id'ia de ue =na pr#tica a teoria ' outra> se sustenta( *asicamente( na concepção de ue a teoria tem a possi*ilidade de ser implementada na realidade social eou tem a capacidade de dar respostas imediatas para suas uest)es. Em outros termos( ' a id'ia ue se alimenta de uma concepção ue considera possível a aplicação da teoria na pr#tica( captando as 2eorias Sociais como um con/unto de re&ras( modelos( procedimentos e refer"ncias instrumentais precisas( capa+es de serem diretamente aplic#veis na realidade e produ+indo imediatamente o efeito ou produto previsto eou dese/ado. ; como se a validade da teoria repousasse na d3cil su*missão 5 necessidade de respostas pr#ticas imediatas para os pro*lemas. @sso nos tra+ 5 lem*rança um pensamento cu/a ori&em e difusão encontramos( especialmente nos Estados Hnidos( no final do s'culo I@I e início do s'culo II( alicerçando a expansão do espírito empresarial. Vertente irracionalista do pensamento( consoante com a perspectiva de mercantili+ação da vida social e( dessa maneira( adversa 5s vertentes filos3ficas investi&ativas e de cun,o ontol3&ico um modo de pensamento ue eleva as atividades pr#tico$utilit#rias e o valor das normas e princípios ue ten,am como verdade o útil e o "xito individual. Esta concepção de pr#tica =implica não mais uma atividade útil( mas tam*'m utilit#ria em seu sentido mais estreito e s3rdido.> 7VJKLHEK( MNN( p. 1N8. %este modo( pode$se di+er ue( para o pra&matismo o si&nificado de uma concepção ocorre em conse!"ncia das experi"ncias exitosas vividas por meio de sua aplicação. Assim( o falso dilema a ue nos referimos ' a concepção da relação entre teoria e pr#tica ue parte da premissa de ue o valor da teoria est# condicionado exclusivamente 5 sua capacidade de responder imediatamente 5 realidade. Em outras palavras< =7...8 para o pra&matismo a verdade fica su*ordinada 5 utilidade( entendida esta como efic#cia ou "xito da ação do ,omem( conce*ida esta última( por sua ve+( como ação su*/etiva( individual( e não como atividade material( o*/etiva( transformadora. 7VJKLHEK( MNN( p. MOM8.
=
Esta concepção demonstra uma excessiva valori+ação dos resultados voltados para o "xito individual em detrimento do processo desencadeado para o con,ecimento da realidade e as respostas 5s reais necessidades coletivas. Sem duvida( esta apreciação ' produto típico do desenvolvimento capitalista e vincula$ se 5 dimensão instrumental da ra+ão( uma ve+ ue desconsidera as possi*ilidades emancipadoras da ra+ão moderna. A esse respeito( ' importante apreciarmos 9outin,o ao comentar o fato de o pensamento *ur&u"s tornar$se avesso 5s concepç)es dial'ticas( tornar$se um pensamento /ustificador e( dessa maneira( antiespeculativo. Em 1PQN( começa o processo de decomposição da filosofia *ur&uesa cl#ssica( ue termina com a revolução de 1POP. R.... @ndicar a realidade como al&o essencialmente contradit3rio si&nifica( doravante( fornecer armas te3ricas ao movimento anticapitalista da classe oper#ria. R... pensamento *ur&u"s transforma$se numa /ustificação te3rica do existente. R.... %ecerto( essa determinação ,ist3rica da inversão do pensamento *ur&u"s s3 tem valor operat3rio uando vista so* 0n&ulo universal. R... Bi&adas 5uele pro&resso t'cnico ue o capitalismo ' o*ri&ado a promover( sur&em nos países altamente capitalistas novas e ori&inais investi&aç)es científicas R...( mas tais investi&aç)es se limitam a domínios particulares R... sem desempen,arem o menor papel positivo na construção de uma concepção do mundo 7de uma 'tica e de uma ontolo&ia8 científica 71DM( p. MM$MQ8. Apreciando com atenção o trec,o citado( parecem$nos claras as implicaç)es ideol3&icas. E elas podem ser sinteti+adas na tend"ncia a considerar inúteis( inoperantes e impotentes os pressupostos te3ricos ue não sirvam para /ustificar o existente eou não via*ili+em respostas imediatas 5s exi&"ncias pr#ticas da sociedade. Acepção ue não ' fen:meno novo e ue esclarece os motivos de a teoria vir( ao lon&o dos anos( sendo rec,açada( ne&li&enciada ou ne&ada em suas possi*ilidades mais elementares. 9a*e( por'm( uma inda&ação< compete a n3s apreender para ue e para uem serve essa desualificação da teoria? 6ão ' demais ratificarmos ue a cisão entre a teoria e a pr#tica encontra$se su*/acente 5 racionalidade ,e&em:nica do capitalismo. @sso rep)e so*re *ases mais complexas a alienação essencial do capitalismo separação entre
?
propriet#rios e não$propriet#rios dos meios de produção de modo ue a cisão entre os ue pensam e os ue executam( ue fundamenta a alienação no tra*al,o( ' particulari+ada na ordem *ur&uesa constituída como processo de reificação. Ao suprimir as mediaç)es sociais constitutivas e constituintes dos processos( o pensamento reificado não ultrapassa a apar"ncia dos fatos( não supera o 0m*ito da experi"ncia imediata e se limita a conce*er os fen:menos em sua positividade( descartando o seu movimento de constituição. Sem fundamentos su*stanciais( a ela*oração te3rica ' d'*il e pode ne&ar a si mesma. 9onforme afirma BuC#cs 71DPP( p. 1NQ8( esta forma de produção do con,ecimento pode tornar$se instrumento de manipulação( pois( na medida em ue o con,ecimento não *uscar desvelar su*stancialmente a realidade( =a sua atividade se redu+ a sustentar a pr#xis no sentido imediato. Se a ci"ncia não pode ou( talve+( conscientemente não uer ir al'm deste nível( a sua atividade se transforma em uma manipulação dos fatos ue interessam aos ,omens na pr#tica>. -or meio dessa citação( ' possível perce*ermos ue para compreensão do real e sua ela*oração para produção de con,ecimento( a pr#tica ' refer"ncia da teoria. 6ão se descon,ece ue fa+ parte da teoria social crítica o entendimento da pr#tica como crit'rio de verdade. 9ontudo( isso comporta determinada concepção de pr#tica. u se/a( a concepção na ual a pr#tica não ' mera atividade irrefletida( reiterativa( tradução do 7certo8 automatismo típico das experi"ncias cotidianas dos indivíduos( modos de os mesmos operarem rotineiramente as tarefas simples da vida. -ortanto( esta ' uma concepção de pr#tica incompatível com a superestima da experi"ncia( ue ' fen:meno capa+ de suscitar assertivas utilit#rias( tais como a ue di+ ue =s3 se aprende a fa+er fa+endo> ou se/a( uma visão da pr#tica ue ne&a a propriedade da teoria @ ou a ne&li&encia( torna$a mera experi"ncia irrefletida e desconexa de con,ecimentos essenciais( restrita ao 0m*ito do senso comum. -artindo desse raciocínio( podemos analo&amente vislum*rar uanto o cotidiano profissional pode mostrar$se o*scurecido pelos atos repetitivos( o*/eto ? Con+orme etto, em 6arx a rei+icaço / a exresso tAica da alienaço en%endrada elo caitalismo $c+. etto, 1*B1, . @1 e outras&. @ "ntendemos or teoria o rocesso de elevar a conceito o movimento concretoD $c+. (uEcs, in: uerra, 1**?, .1B2&.
@
de pouca reflexão( caso os profissionais situem euivocadamente seu tra*al,o e o campo te3rico e não apreendam ue( em decorr"ncia dos desafios ue a realidade l,es imp)e diariamente( ' inerente ao exercício profissional a necessidade de con,ecimento ualificado e seu constante aprimoramento ue via*ili+e uma intervenção crítica( criativa e propositiva. -ois( não o*stante ser fundamento e finalidade da teoria( a pr#tica não '( por si s3( capa+ de suscitar sa*er. -rincipalmente se tratando de um campo complexo como o do Assistente Social( vinculado 5 =uestão social> e 5s políticas sociais( em terras *rasileiras e em tempos neoli*erais. Assistente Social ' um intelectual ue interv'm na realidade social( ,a*ilitado a operar em #rea particular( mas para isso precisa consider#$la com compet"ncia( o ue si&nifica entender ue o particular ' parte da totalidade. Assim( ca*e exercitar o tempo todo a sua capacidade de captar criticamente essa realidade social ue ' contradit3ria e din0mica( o ue pressup)e *usca constante de sustentação te3rica( política e 'tica. Essa ' a condição o reuisito imprescindível do seu tra*al,o profissional G. *serva$se ue muitas ve+es a perfeita sintonia entre o senso comum e a ação ' captada como suficiente para atuação do profissional( principalmente se se trata de situação7)es8 ue exi&e7m8 solução7)es8 r#pida7s8 ou imediata7s8. @sso sanciona a pertin"ncia das opini)es do sa*er do senso comum alicerçando atividades como respostas 5s demandas postas ao profissional. E aí o relativismo torna$se re&ra( /# ue o pensamento se curva aos ditames da necessidade imediata e a veracidade do con,ecimento passa a ser vari#vel da sua utilidade( da sua aplicação prática e da sua capacidade de produ+ir
G "ntendemos 3ue o Serviço Social / ro+isso inserida na diviso social do trabal5o e 3ue, aesar de oder estar indiretamente na roduço, recebe assalariamento em +unço da re3uisiço atronal8institucional de articiar no sentido de viabili>ar a subordinaço do trabal5o H roduço8ao caital. "sclarecermos 3ue, no obstante a olmica acerca de trabal5o, rocesso de trabal5o e Serviço Social, a 3ual no +a> arte do nosso universo de discusso neste texto, ora oderemos utili>ar indistintamente os termos aço ro+issional, intervenço8exercAcio ro+issional e trabal5o do Serviço Social8#ssistente Social. # reseito dessa olmica, so interessantes ara consultas as di+erentes roduçJes: RosKn%ela . C. Larbosa et al.. # cate%oria rocesso de trabal5oD e o trabal5o do #ssistente Social. In: Serviço Social M Sociedade. So Paulo: Corte>, nN ?B, 1**B 6 orma #lcKntara L. Qolanda. O trabal5o em sentido ontol%ico ara 6arx e (uEcs: al%umas consideraçJes sobre trabal5o e serviço social. In: Serviço Social M Sociedade. So Paulo: Corte>, nN @*, 2))2 '. Paulo etto e 6arcelo Lra>. "conomia PolAtica: uma introduço crAtica.2 ed. So Paulo: Corte>, 2))G.
G
resultados.B Aui aparecem reuisiç)es socioprofissionais de car#ter instrumental( cu/a finalidade ' em si ou o*scura. Essa maneira de conce*er a teoria e a pr#tica vem tomando vulto face 5s atuais exi&"ncias do mercado e 5 conse!ente mercantili+ação da formação profissional. E( a nosso ver( no Serviço Social esta maneira de concepção tem ue ser de*atida e com*atida( pois não pode ser nem se tornar ,e&em:nica. * %iante disso( levantamos al&umas inda&aç)es< ual ' o papel da teoria para uma profissão interventiva como o Serviço Social? Lual ' a concepção de teoria a ue nos referimos? -or ue ,# tend"ncia 5 dicotomia e 5 ,ierarui+ação entre a teoria e a pr#tica? ue são pro/etos sociais e pro/etos profissionais? ue ' pr#xis social? ue são o teoricismo e o praticismo? Am*os são aspectos ue se relacionam com o Serviço Social? -or u"? Al'm disso( se não ,# correspond"ncia da teoria na pr#tica ou( mel,or( se =na pr#tica a teoria ' outra> em uma profissão interventiva como o Serviço Social( para ue investir no aprendi+ado te3rico? Ser# ue podemos avaliar ue na formação profissional ,# teoria demais( ,# investimento excessivo nesse sentido? -or
inúmeras
ve+es
foi
denunciada
a
a*orda&em
euivocada
=manualesca> ou via fontes secund#rias pelos Assistentes Sociais das diversas teorias sociais( isto '( das diferentes e at' anta&:nicas matri+es do con,ecimento ue servem de fundamentos para a nossa profissão. Entretanto( em al&umas teorias essa =aproximação euivocada> tem efeitos mais ou menos visíveis( em decorr"ncia da funcionalidade das mesmas para a reprodução do sistema capitalista.
B Cabe desta3ue ara a se%uinte mxima do ra%matismo: o verdadeiro / o 4tilD, de modo 3ue a veracidade do con5ecimento est na sua utilidade. * o estudo emreendido or uma das autoras deste texto 0 ro+essora 9olanda uerra 0 ara con+ecço da sua dissertaço de mestrado, do 3ual resultaram re+lexJes sobre a instrumentalidade do Serviço Social, 5 concluso de 3ue mesmo os ro+issionais 3ue concebem a teoria como rocessos de reconstruço da realidade ela via do ensamento, 3ue tm claro 3ue a escol5a de uma teoria no / arbitrria, mas, ao contrrio, vincula7 se a ro-etos de sociedade, visJes de mundo e m/todos, reclamam da teoria como resosta ara a rtica ro+issional $c+. uerra, 1**?&.
B
9a*e o*servar ue aui estamos nos referindo ao Assistente Social( um profissional de nível superior ue( apesar de ser tra*al,ador assalariado e dos limites definidos pelas instituiç)es empre&adoras( tem responsa*ilidade e c,ance de escol,a( de imprimir sentido( direção valorativa e finalidade 5s suas aç)es( uma ve+ ue portador de relativa autonomia na execução da sua atividade. 2odavia( para isso ' crucial capacidade intelectual *usca de su*stanciais con,ecimentos te3ricos e metodol3&icos 7inclusive 'tico$políticos8 ue l,e permitam situar o seu papel como profissional na realidade social sem o o*scurecimento de idealismos e dos limites das intervenç)es ue não ultrapassam o plano das intenç)es( pois desconexas da realidade. @sso reuer a *usca de con,ecimentos ue ualifiuem intelectualmente o profissional para escol,a respons#vel do rumo ue ele ir# tomar( pois o Serviço Social( conforme @amamoto 7MNN8( ' profissão ue participa de um mesmo movimento ue tanto possi*ilita a continuidade do nosso modo de sociedade como cria possi*ilidades para a sua transformação( e as con/unturas não condicionam( não o*stante a imposição de limites e possi*ilidades( unilateralmente as perspectivas profissionais 7id.( 1DDP8 %esse .
modo( o Assistente Social ue situa a dimensão intelectual ue l,e compete compreende ue operaç)es particulares t"m conexão com a totalidade e reuerem a auisição de preparo te3rico 7'tico$político8 e metodol3&ico capa+ de desvelar e efetivar sua atividade profissional.
*
%iante de tudo ue dissemos( parece$nos evidente ue não ca*e relação am*í&ua entre o campo da teoria e o campo da pr#tica. A esse respeito( tam*'m ' relevante lem*rar ue o Serviço Social mostrou( por lon&o período( um acentuado cari+ conservador( o ual( mesmo não tendo sido erradicado( pode$se considerar ue declinou a partir dos posicionamentos do con,ecido 4ovimento de Teconceituação do Serviço Social e seus desdo*ramentos. u se/a( podemos o*servar ue( ap3s meados da d'cada de 1DN( por meio desse 4ovimento 9rítico
ocorrido
na
profissão
e
de
seus
desdo*ramentos(
sur&iram(
paulatinamente( express)es mais pro&ressistas no meio profissional ue via*ili+aram o uestionamento da ordem capitalista e suscitaram a percepção da possi*ilidade de sua superação. 9om isso( ,ouve a emersão de outros pro/etos profissionais( perdendo força o ,ist3rico conservadorismo da profissão e sua perspectiva ,omo&enei+adora e( como tradução de desdo*ramento da vertente de inspiração mais crítica do 4ovimento de Teconceituação( tornou$se con,ecido( a partir da d'cada de 1DDN( o -ro/eto ;tico$-olítico do Serviço Social um pro/eto profissional democr#tico e pro&ressista e( por isso( dissonante das refer"ncias do ide#rio neoli*eral( o ual não vem na nossa atual con/untura enfrentando resist"ncias expressivas.10
1) So in4meras as olmicas acerca da 5e%emonia desse Pro-eto. Todavia, mesmo no odendo ser con+undido com direço social ma-oritria no Serviço Social, o atual Pro-eto tico7PolAtico orienta si%ni+icativa arcela de seus ro+issionais no camo acadmico $o 3ue / mais ercetAvel nas instituiçJes 4blicas de ensino& e d direço socioolAtica Hs "ntidades reresentativas da ro+isso. # reseito da 5e%emonia do Pro-eto, / imortante consultar 'os/ Paulo etto: as ameaças H crise. In: Revista Inscrita, nN 1), nov. 2))G, . . # 5e%emonia em xe3ue Pro-eto tico7PolAtico do Serviço Social e seus elementos constitutivos. In: Revista Inscrita, nN 1), nov. 2))G, . ?1).
1)
Esse -ro/eto tem no 93di&o de ;tica -rofissional vi&ente uma expressão destacada( uma ve+ ue ' instrumento norteador da ação profissional. 2ra+ refer"ncias proclamando valores radicalmente ,umanistas para a formação e o exercício profissional( ue tornam clara a necessidade de compet"ncia do Assistente Social face aos desafios e 5s contradiç)es ue ele enfrenta na realidade social. %aí so*relevar o sentido ontol3&ico( su&erindo apurado e constante aprimoramento profissional para captar su*stancialmente a l3&ica ue preside 5 sociedade em ue vivemos( uma ve+ ue nela se encontra nosso solo ,ist3rico de ori&em e ação. 9omo seria possível de modo diferente entender criticamente o papel do Assistente Social e as demandas ue l,e são diri&idas? 6ão ca*e dúvida uanto ao ue dissemos( pois como poderíamos tra*al,ar aspectos inerentes 5 realidade social( tra*al,ar com =uestão social>( direitos sociais e política social sem sermos capa+es de captar as determinaç)es da realidade social? 6ão seriam as distorç)es nessa captação( a sua incipi"ncia ou at' a sua impossi*ilidade as respons#veis pelas dúvidas ou pela ne&ação do potencial da teoria? Adensando esse raciocínio( lem*ramos Vasconcelos 7MNNM8( citando ue a superação da mis'ria te3rica pode contri*uir para uem visa 5 superação da mis'ria econ:mica( social e política( pois ' meio imprescindível para o desenvolvimento de aç)es profissionais consistentes. Ademais( tra+emos 5 reflexão al&uns pontos comumente o*servados nas refer"ncias de parte dos nossos profissionais 5 teoria<11 1& a identificação dos fundamentos da teoria social com as leis das ci"ncias
naturaisU 2& a id'ia de ue o estatuto do Serviço Social depende da adoção de uma teoria
pr3priaU
11 Sabemos 3ue essas 3uestJes no so esecA+icas, ou se-a, odem estar relacionadas com outros ro+issionais e no aenas com o #ssistente Social, mas a3ui articulari>amos este ro+issional .
11
<& a concepção de ue o sa*er te3rico ' suficiente para superação do
conservadorismo( como se o con,ecimento não pudesse ter diferentes direç)es( inclusive as ue fundamentam o conservadorismo. ; como se ,ouvesse certo tipo de identificação do sa*er com a virtude e tam*'m esta superação do conservadorismo não implicasse pr#ticaU =& a visão de ue a teoria pode ser aplicada na pr#tica( ou se/a( a teoria ' al&o
cu/o con,ecimento( sem ela*oração refinada( sem o*servação minuciosa de seus nexos com a realidade( nos fornecer#( ineuivocamente( as refer"ncias pr#tico$concretas para o exercício profissionalU ?& a apropriação e a utili+ação de um elenco de disciplinas eou con,ecimentos
so*re a realidade 7empírica8( captados euivocadamente como teorias( fato ue propicia ao profissional um uadro referencial inconsistente( ecl'tico( constituído de informaç)es parciais( fra&mentadas e a*stratas. 9omo exemplos( temos as c,amadas teorias de m'dio alcance com vieses psicologistas( sociologistas( culturalistas( politicistas eou economicistas utili+adas para promover eou /ustificar determinados procedimentos pr#tico$ profissionaisU @& a apropriação de teorias sociais macrosc3picas como se a elas cou*essem
modelos ou m'todos( e a exi&"ncia de ue possi*ilitem respostas profissionais precisas. Aui( a riue+a das diferentes dimens)es da pr#tica e a riue+a e a complexidade das teorias sociais tornam$se su*sumidas pelas aplicaç)es de modelos. 6este caso( espera$se ue a realidade se enuadre na teoria e( se assim não ocorrer( =pior para ela>U G& o preconceito =intelectual>( o ue se contrap)e 5 racionalidade profissional.
9omo /# dissemos( diferentemente de exi&"ncias restritas ao padrão t'cnico$ instrumental( o ue o Assistente Social enfrenta nas esferas da formação e da
intervenção
na
vida
profissional
reuerem
aç)es
a*ali+adas(
intelectualmente respons#veis e fecundas( analíticas e críticas( capa+es de l,e proporcionar compreensão suficiente para uma ação efetiva e ualificada na realidade social. @sso( evidentemente( se mostra contr#rio ao preconceito te3rico( respons#vel por posiç)es como< falta de curiosidade científica(
12
passividade diante de determinado con,ecimento( desapreço com o =novo ou diferente>U falta de compromisso com a investi&ação ri&orosa no 0m*ito do con,ecimento =não con,eço mas não &osto>( =não con,eço nem ' preciso( uma ve+ ue /# sei o ue posso encontrar> U su*missão ue via*ili+a padroni+aç)es na produção intelectual( ue empo*recem o espaço profissional( em decorr"ncia de uma suposta ,ieraruia 7inuestion#vel8 do sa*erU desualificação do sa*er do outro( como meio de valori+ar o seu eou defender$se da falta de ar&umentos diante de posiç)es contr#ria ou diferenteU B& o =produtivismo> intelectual eou acad"mico( cu/o crit'rio num'rico
uantitativo so*rep)e a ualidade da produção intelectual. 6isso o*serva$ se uma esp'cie de reprodução da l3&ica mercantil na esfera intelectual. u se/a( um tipo de su*missão a tal l3&ica( escamoteada por meio de uma pseudovalori+ação da esfera intelectual( o ue( por analo&ia( c,amamos de =ativismo intelectual> e pode implicar em &raves pre/uí+os para a formação e para o exercício profissionais( pois sustenta a premissa de ue =o importante ' o fa+er( ' a reali+ação( enfim( ' a produção>. 12 *& a apropriação do arca*ouço te3rico$metodol3&ico marxiano de um ponto de
vista epistemol3&ico e desistoricizado( exi&indo$l,e possi*ilidades de interpretaç)es ilimitadas e descontextuali+adas( desvinculadas da ação. u se/a( um tipo de apropriação euivocada ue torna tal arca*ouço est'ril frente 5s complexas contradiç)es ontol3&icas da sociedade *ur&uesa na contemporaneidade. Esses são al&uns pontos ue implicam o exercício profissional
do
Assistente Social suscitando distorç)es. A falta de uma leitura depurada( su*stancial e racionalmente crítica da realidade social pode tra+er conse!"ncias desastrosas para o tra*al,o profissional( a exemplo das respostas profissionais mesmo de maneira escamoteada conservadoras ue são compatíveis com os pensamentos ue advo&am a =inuestiona*ilidade> da sociedade *ur&uesa. 6essa perspectiva( 5 ordem *ur&uesa ca*em( no m#ximo( inda&aç)es e críticas superficiais ue sirvam para o seu aperfeiçoamento e( portanto( os pro*lemas e 12 #l%uns desses re-uA>os so indicados neste texto.
1<
as necessidades ue nela não encontrarem soluç)es tornam$se responsa*ilidade daueles ue por eles são vitimados. ; como se essa ordem fosse re&ida por leis naturais(
desistorici+ada(
ou
se/a(
uma
formação
social
a*soluti+ada(
caracteristicamente inuestion#vel e insuper#vel. ; evidente ue( para concreti+ar al&o( o profissional tem ue pro/etar( definir conscientemente sua finalidade. u se/a( deve antecipar em sua mente o produto ue ele pretende reali+ar por meio do seu tra*al,o 7profissional8. E isso sup)e con,ecimentos potenciais su*/etivos e o*/etivos ue serão fundamentais para a concreti+ação do produto final. -ode$se di+er ue( al'm da vontade e das demais possi*ilidades inerentes ao su/eito( são necess#rias tam*'m condiç)es o*/etivas( concretas( inerentes ao mundo das relaç)es sociais eou ao mundo material1<. %aí se pode inferir o enlace te3rico$pr#tico( mesmo sem i&norar ue a cada uma dessas cate&orias ca*e certa autonomia. Essa ' uma relação cu/os elementos fa+em parte de um mesmo processo( formam unidade na diversidade( elementos( ue( não o*stante certa autonomia( são interdependentes( inter$ relacionados e se constituem. con,ecimento te3rico emer&e do processo ,ist3rico$social como resultado ela*orado das atividades ,umanas diri&idas 5 satisfação de necessidades materiais e espirituais. 2al con,ecimento pode ser considerado uma esp'cie de reprodução da realidade no pensamento ue serve de &uia e fundamento para a pr#tica na vida social e sua finalidade( podendo ser incessantemente aprimorado. Al'm disso( ca*e salientar ue se trata de con,ecimento ue se torna refer"ncia para a ação( para efetivação de pr#tica fecunda( e útil para o enriuecimento ,umano( na medida em ue se/a verdadeiro e não o inverso( como propalou o pra&matismo. Escritos de 4arx e En&els 71DPO8 revelam o si&nificado do tra*al,o para a exist"ncia ,umana( e evidenciam o tra*al,o como vital para nossa exist"ncia< =o primeiro ato ,ist3rico pelo ual podemos distin&uir os ,omens dos demais animais não ' o de pensarem( mas o de começarem a produ+ir os seus meios de vida> 7p.1O8.
1< osso intuito ode ser trans+ormaço no lano material ou no lano das relaçJes sociais. # se%unda 5itese re+ere7se H teleolo%ia secundria.
1=
tra*al,o ' uma cate&oria social( pois se efetiva en&endrando as relaç)es sociais e por meio dessas pr3prias relaç)es ' cate&oria modelar da pr#xis. -ortanto( pode$se consider#$lo produtor e ao mesmo tempo partícipe da socia*ilidade partícipe da socia*ilidade meio de transformação da realidade natural 7e social8 1= pelo ual o ,omem se constr3i( constitui a sua individualidade e tam*'m a totalidade social de ue fa+ parte. Lualuer ue se/a a forma de sociedade( o tra*al,o concreto( produtor de valores de uso( ' condição da exist"ncia ,umana( sua atividade livre e consciente( a ual pode ser identificada como sua possi*ilidade ,ist3rica. %iver&indo de ualuer concepção mistificada( compreendemos a ist3ria como produção ,umana( sendo o omem seu autor e simultaneamente produto das condiç)esprocesso ,ist3rico. Luanto a isso( ca*e apreciarmos o pensamento de WosiC<< A ra+ão se cria na ,ist3ria apenas porue a ,ist3ria não ' racionalmente predeterminada( ela se torna racional R.... A ,ist3ria s3 ' possível uando o ,omem não começa sempre do novo e do princípio( mas se li&a ao tra*al,o e aos resultados o*tidos pelas &eraç)es precedentes. Se a ,umanidade começasse sempre do princípio e se toda ação fosse destituída de pressupostos( a ,umanidade não avançaria um passo e a sua exist"ncia se escoaria no círculo da peri3dica repetição de um início a*soluto e de um fim a*soluto 71D( p. M1$M1P8. %iferentemente da ,ist3ria natural( ue se restrin&e ao necess#rio ao nexo causal do mundo natural a ist3ria construída pelos ,omens tem por mediação um insuper#vel car#ter alternativo( e ' ontolo&icamente distinta da ,ist3ria natural por ser um espaço de escol,as entre alternativas inscritas em situações concretas. 6o processo ,ist3rico( 5 proporção ue o omem *usca respostas para as suas necessidades( transformando a nature+a por meio do tra*al,o( aduire inteli&"ncia e en&endra as relaç)es sociais( os modos de vida social( as id'ias( as concepç)es de mundo( os valores( uma ve+ ue( assim como produ+em os o*/etos( os instrumentos de tra*al,o( os modos de vida( os ,omens produ+em tam*'m =novas capacidades e ualidades ,umanas( desenvolvendo auelas 1= Como dissemos, o Qomem ode ter como +inalidade trans+ormaçJes no camo das relaçJes sociais, a c5amada teleolo%ia secundria.
1?
inscritas na nature+a or&0nica do ,omem( ,umani+ando$as e criando novas necessidades> 7@amamoto( MNN1( p. QD8. -odemos concluir( assim( ue aí temos a emersão da consci"ncia( do con,ecimento( da pr#tica relacionada 5 leitura de cate&orias fundamentais e a possi*ilidade de aprimoramento ,umano contínuo. u se/a( por meio da pr#tica social( do processo la*oral em resposta 5s necessidades ,umanas e da apreensão ela*orada da realidade pelo pensamento( são continuamente respondidas e en&endradas as necessidades ,umanas materiais e espirituais. *serva$se a materiali+ação da relação entre o con,ecimento e a pr#tica( o ue( consideradas as particularidades( est# relacionado com o tra*al,o profissional. Consideraçes finais
e&el( em seu idealismo( tra+ importante avanço para o pensamento( uma ve+ ue o ,istorici+a( o ue ' fundamental para o salto materialista dado pelo pensamento de 4arx. Ademais( se&undo 9outin,o 71DM8( e&el tem m'rito inconteste no sentido de sinteti+ar e elevar aspectos do pensamento *ur&u"s revolucion#rio( os uais podem ser resumidos em tr"s núcleos< X ,umanismo teoria de ue o ,omem ' um produto de sua pr3pria atividade( de sua ,ist3ria coletivaU X ,istoricismo concreto a afirmação do car#ter ontolo&icamente ,ist3rico da realidade( com a conse!ente defesa do pro&resso e do aprimoramento da esp'cie ,umanaU X a ra+ão dial'tica em seu duplo aspecto( se/a o de uma racionalidade o*/etiva imanente ao desenvolvimento da realidade 7ue se apresenta so* a forma da unidade dos contr#rios8( se/a auele das cate&orias capa+es de apreender su*/etivamente essa realidade o*/etiva. pensamento ,e&eliano( portanto( comportou inovaç)es e trouxe elementos fundamentais 5 &"nese e 5 construção do pensamento marxista e 5 ontolo&ia nessa tradição filos3fica. Exemplos si&nificativos são as concepç)es de totalidade síntese de múltiplas determinaç)es( unidade do diverso e de dial'tica do real como processo e contradição. Hm le&ado ue 4arx 7e seus
1@
se&uidores8 elevaria( colocando$o em outro patamar. 9onforme BucC#cs 71DD8( o marxismo( dada a sua perspectiva materialista( colocar# os princípios idealistas de e&el( =ue se ap3iam so*re a ca*eça( apoiados so*re os p's>. -odemos( assim( nos referir a uma continuidade com rupturas( pois 4arx 7e expoentes da tradição marxista ue prosse&uiram8 reconstruir# em outras *ases princípios deixados pela filosofia de e&el( alçando seu pensamento a outro patamar. %iante disso( referindo$nos ao /ar&ão aui a*ordado( interessa$nos destacar ue sua pro*lemati+ação envolve uest)es ue nos parecem 3*vias( pois se referem diretamente 5 ra+ão dial'tica e ao con,ecimento. Ba*ica 71DDN( p. 1OM$ 1OQ8( analisando a relação entre a teoria e a pr#tica( tra+ uma contri*uição esclarecedora( explicitando ue 5 pr#tica e 5 teoria ca*em movimento constante para efetivação do =concreto pensado> ou( mel,or di+endo( para efetivação do =camin,o do pensamento a*strato( ue evolui do simples ao complexo> e =reflete assim o processo ,ist3rico real>. %essa maneira( o autor torna claro ue a concepção tradicional de teoria e de pr#tica( com a contri*uição do pensamento marxiano( foi profundamente remexida( uma ve+ ue a pr#tica deixou de redu+ir$ se ao fa+er elementar do empírico( do cotidiano( do contin&ente( elevando em decorr"ncia a condição da primeira( ou se/a( situando a teoria no plano da produção material dos ,omens( da ,ist3ria real. 9om *ase nesta afirmação e em acordo com o pensamento marxiano( mencionamos ainda( ue a relação entre teoria e pr#tica não se d# imediatamente( se/a no sentido temporal se/a em refer"ncia aos nexos fundamentais ue se p)em nesse processo. 9om isso se uer di+er ue a possi*ilidade de determinada teoria revelar a realidade social ' ,ist3rico$social. -ressup)e ue os processos ,ist3ricos se desenvolvam e se universali+em a ponto de serem captados e recon,ecidos pela consci"ncia. 6ão ,# outra forma de a teoria =capturar> o o*/eto( ou se/a( ultrapassar sua apar"ncia( captar suas propriedades( sua l3&ica constitutiva( seus nexos e particularidades ,ist3ricas.
u se/a( a resolução das uest)es ue
envolvem a relação entre a teoria e a pr#tica não reuer simplesmente soluç)es te3ricas( mas pr#tico$sociais. -ode$se di+er ue nesse campo 7das soluç)es
1G
pr#tico$sociais8 a teoria ' mesmo inepta. 9om isto estamos afirmando ue a ela*oração te3rica tem particularidades( no ue di+ respeito ao seu alcance e limite.1 Luando se passa do con,ecimento universal permitido pela teoria( nesta concepção( para a apreensão das particularidades concretas e ,ist3ricas( sur&e na an#lise um con/unto de mediaç)es( 5s uais o su/eito ue con,ece não pode apreender completamente. A realidade ' sempre mais rica( mais ampla e plena de mediaç)es de ue a capacidade do su/eito de capt#$la e reprodu+i$la no pensamento. 9omo di+ V#+ue+( ao se referir 5 Arist3telesU =7...8 se ' necess#rio levar em conta as exi&"ncias da vida real( a atividade política não pode &uiar$se pelos princípios a*solutos da ra+ão te3rica.> 7MNN( p. QD8. Ainda ue se/a le&itimo a utili+ação de v#rios tipos de con,ecimento( o ,omem s3 desvela a realidade( somente alcança a
ess"ncia( pela via do
con,ecimento te3rico. -ara entender a relação do ,omem com o con,ecimento te3rico ' necess#rio entender o ,omem enuanto um ser complexo. Ao mesmo tempo em ue( Antes de ser um animal racional am*ulante( o ,omem ' um ser ue permanentemente *usca um sentido para si e para o mundo em ue se v" envolvido. 7...8 o ,omem( prota&onista de todo ato te3rico( não ' um ser ue s3 possui ca*eça( mas tam*'m corpo( coração... ue manifesta paix)es( dese/os( an&ústias e so*retudo possui *raços e mãos para a&ir. 7-ETE@TA( 1DPM( p. 1O8. A apropriação do mundo pela via do con,ecimento te3rico reuer ue o ,omem esta*eleça com o seu o*/eto( determinado tipo de relação. 6isto se constitui o m'todo para o con,ecimento da realidade posto ue( antes de ser conce*ido como o camin,o para o con,ecimento ou mesmo um con/unto de etapas a serem cumpridas( o m'todo constitui$se na mediação fundamental ue se esta*elece na relação entre o su/eito ue con,ece e o o*/eto a ser con,ecido. %i+ 4arCus< 2odas as relaç)es ,umanas ue o ,omem tem com o mundo( ver( ouvir( c,eirar( provar( tocar( pensar( intuir( sentir( uerer( a&ir( amar( todos os 3r&ãos ue constituem sua individualidade( em suma R... são( em seu 1? Como sabemos, 6arx, com a crAtica da economia olAtica, exlicitou7nos o +etic5e da mercadoria. o obstante, H trans+ormaço das relaçJes sociais +etic5i>adas / imrescindAvel a inter+erncia das +orças rtico7sociais.
1B
comportamento o*/etivo ou em seu comportamento diante do o*/eto( a apropriação deste mesmo o*/eto. 71DO( p. D8. 6o processo do con,ecimento( teoria e pr#tica( como elementos de nature+as diferentes ou( se preferirmos( como p3los opostos ( se confrontam a todo momento< uestionam$se( ne&am$se e superam$se( a ponto de encontrarem uma unidade ue ' sempre ,ist3rica( relativa e provis3ria. 6ão o*stante( a teoria e a pr#tica mant"m sua especificidade e sua autonomia. A teoria tem ue ser vista como crítica e *usca dos fundamentos. 6este sentido< a destruição da atitude pr3pria 5 consci"ncia comum ' condição indispens#vel para superar toda consci"ncia mistificada da pr#xis e elevar$ se a um ponto de vista o*/etivo( científico( a respeito da atividade pr#tica do ,omem. S3 assim podem unir$se conscientemente o pensamento e a ação. -or outro lado( sem transcender os limites da consci"ncia comum( não s3 ' impossível uma verdadeira consci"ncia filos3fica da pr#xis( como tam*'m ' impossível elevar a um nível superior isto '( criador a pr#xis espont0nea ou reiterativa de cada dia. 7VZKLHEK( MNN( p. QN8. A pr#tica social( por sua ve+( se coloca como =fundamento e limite do con,ecer e do o*/eto ,umani+ado ue( como produto da ação( ' o*/eto do con,ecimento> 7VJKLHEK( MNN( p. 1OO8. Ela tem validade enuanto reflete as relaç)es sociais reais( e( por isso( relaç)es ,ist3ricas( din0micas( processuais e transit3rias. A pr#tica social pode validar uma teoria em determinadas condiç)es s3cio$,ist3ricas( uma ve+ ue a teoria pode ser recon,ecida na pr#tica( mas isso não pode ser interpretado como uma passa&em direta para as pr#ticas profissionais. u se/a( ' necess#ria a captação dos nexos( das mediaç)es e das particularidades relativos ao campo profissional. A teoria não se &esta( não *rota da pr#tica( mas da apurada reflexão so*re ela. 2rata$se de um outro nível do con,ecimento( de certo patamar do con,ecimento ue precisa ser testado e verificado na pr#tica. 2ampouco( se pode di+er ue a teoria produ+ transformaç)es pr#ticas. 9omo nos aponta Va+ue+( =A teoria em si nesse como em ualuer outro caso não transforma o mundo. -ode contri*uir para sua transformação( mas para isso tem ue sair de si mesma( e( em primeiro lu&ar( tem ue ser assimilada pelos ue vão ocasionar( com seus atos reais efetivos( tal transformação>. 71DP( p. MN8 ue ela transforma( conforme explicitamos( são as id'ias( as consci"ncias( as percepç)es e as concepç)es ou se/a( elementos necess#rios e ue tam*'m são parte da realidade. 9ontudo( entre a transformação da 1*
consci"ncia e a transformação do real são necess#rias outras mediaç)es e a atuação pr#tica. @sto porue o con,ecimento em nível te3rico não incide diretamente na realidade( no nível pr#tico$empírico( e o mesmo se d# tam*'m no 0m*ito profissional e da nossa profissão. 6ão o*stante o con,ecimento nos fornecer a compreensão da sociedade em ue estamos inseridos e na ual se inserem nossos o*/etos de intervenção( dele nos ca*e extrair tam*'m a compreensão desses o*/etos e do modo de a&irmos profissionalmente uando e como intervimos. 4ais do ue isso( o con,ecimento te3rico 7'tico$político8 ' ue nos permite imprimir sentido 5 nossa ação( uma ve+ ue a teoria incide so*re a compreensão da direção social( do si&nificado e das implicaç)es desse fa+er profissional. A apreensão das particularidades da profissão ' um amplo( lento( complexo e provis3rio tra*al,o de aproximaç)es sucessivas( como *em explicita -ontes< A particularidade ,ist3rico$social da profissão representa o alcance de um complexo processo de an#lise$síntese do movimento do modo de ser mesmo da profissão na estrutura social. Si&nifica con/u&ar a dimensão da sin&ularidade( com a universalidade( para se construir a particularidade. 6o plano da sin&ularidade( comparecem as formas existenciais irrepetíveis do fa+er profissional no cotidiano s3cio$institucional( em ue os su/eitos estão imersos na repetitividade e ,etero&eneidade da vida cotidiana. 6a dimensão da universalidade( o fa+er profissional ' pro/etado nas leis sociais tendenciais e universais ue re&em a sociedade( e encontram o sentido de sua inserção ,ist3rico$social. Assim( a construção da particularidade ,ist3rica da profissão implica a necessidade de sua universalidade se sin&ulari+ar e de sua sin&ularidade se universali+ar. 7-62ES( MNNM( p. 1O8. A esta altura( esperamos ter contri*uído para destacar ue na realidade operam mediaç)es de nature+a diferente dauelas ue fi&uram no con,ecimento( donde o necess#rio investimento te3rico para captar o exercício profissional e a pesuisa da realidade . # ue se ressaltar tam*'m( e por tudo o ue foi dito( a 16.
1@ Sobre isso, considera Iamamoto 3ue um 5ori>onte / incororar a es3uisa como atividade constitutiva do trabal5o ro+issional, acumulando dados sobre as m4ltilas exressJes da 3uesto social, camo em 3ue incide o trabal5o do assistente social. +undamental, ainda, 3ue os ro-etos de trabal5o elaborados este-am calçados em dados e estatAsticas disonAveis, munidos de in+ormaçJes atuali>adas e +idedi%nas 3ue resaldem a caacidade de ar%umentaço e ne%ociaço dos ro+issionais na de+esa de suas roostas de trabal5o -unto Hs instKncias demandatrias ou cometentes. # es3uisa / ainda um recurso 2)
import0ncia da compreensão correta do si&nificado desse nível de con,ecimento para uma profissão interventiva como o Serviço Social ue ' mister especialmente na atual con/untura( em ue os desafios ao profissional são fla&rantes. u se/a( esperamos ter esclarecido ue são imprescindíveis momentos de apropriação te3rica para ue ,a/a uma inserção ualificada do Assistente Social nos espaços sociocupacionais( uma inserção ue via*ili+e respostas competentes 5s demandas sociais( e ue se/a( portanto( avessa ao falso dilema de ue =na pr#tica a teoria ' outra>.
!efer"ncias #i$liográficas
9H2@6( 9arlos 6elson. O estruturalismo e a miséria da razão. Tio de [aneiro< -a+ e 2erra( 1DM . FT2@( Valeria. ;tica e Serviço Social< formalismo( intenção ou ação? @n< FTE@TE( Búcia 4\ et al. 7or&s.8. Serviço Social, política social e trabalho: desafios e perspectivas para o século ! . M\ ed. São -aulo< 9orte+U Tio de [aneiro< HET[( MNNP. ]]]]]]]]]. "tica, #rime e $oucura: refle%ões sobre a dimensão ética no trabalho profissional . Tio de [aneiro< Bumen [uris( MNND. FT2@( Valeria e GHETTA( Yolanda 7or&s.8. "tica e &ireitos: ensaios críticos. Tio de [aneiro< Bumen [uris( MNND. GHETTA( Yolanda. ' !nstrumentalidade do Serviço Social . São -aulo< 9orte+( 1DD. ]]]]]]]]]]]]]. con,ecimento crítico na reconstrução das demandas profissionais contempor0neas. @n< ^A2@6@( . e ^A-2@S2A( 4. V. ' prática profissional do assistente social: teoria, ação, construção do conhecimento( Vol. @. São -aulo< Veras Editora( MNND. AA9W( Susan( @n< #omp)ndio de *ilosofia. 6ic,olas( ^unnin e 2sui$[ames( E. -. 7or&s.8. São paulo< Ediç)es Bo_ola( MNNM @A4A42( 4arilda V. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional( São -aulo< 9orte+( 1DDP. ]]]]]]]]]]]]. +rabalho e indivíduo social: estudos sobre a condição operária na industria canavieira paulista. São -aulo< 9orte+( MNN1. imortante no acoman5amento da imlementaço e avaliaço de olAticas, subsidiando a $re&+ormulaço de roostas de trabal5o caa>es de amliar o esaço ocuacional dos ro+issionais envolvidos. # consolidaço acadmica da rea suJe o re+orço da roduço acadmica, do investimento na es3uisa, e estAmulos da ublicaço dos resultados alcançados. $I#6#6OTO, 1**B, . 1=@&. 21
]]]]]]]]]]]]. Serviço Social em tempo de capital fetiche. São -aulo< 9orte+( MNN. WS@W( Warel. &ialética do concreto. M\ ed. Tio de [aneiro< -a+ e 2erra( 1D. BA^@9A( Geor&e. 's teses sobre *euerbach de arl -ar% . Tio de [aneiro< Ka,ar( 1DDN. BHWJ9S( Geor&. .l 'ssalto a la raz/n< la tra0ectoria del irracionalismo desde Schelling hasta 1itler . ^arcelona< Gri/al*o( 1D. ]]]]]]]]. Ontologia do Ser Social: a falsa e a verdadeira ontologia de 1egel . São -aulo< 9i"ncias umanas( 1DD. ]]]]]]]]. = 6eopositivismo>. @n< +eoria e 2olítica. n`. D. São -aulo< ^rasil %e*ates( 1DPP. 4JTWHS( G_r&_. ' +eoria do #onhecimento no 3ovem -ar% . 9oleção< -ensamento 9rítico.2radução de 9arlos 6elson 9outin,o e Te&inaldo %i -ietro. Tio de [aneiro< -a+ e 2erra( vol. 1( 1DO. 4ATI( Warl. #ontribuição 4 crítica da economia política. São -aulo< 4artins Fontes( 1DPQ. ]]]]]]]]]. O #apital: #rítica da economia política. São -aulo< 6ova 9ultural(1DP. 4ATI( Warl e E6GEBS( Friedric,. ' ideologia alemã: teses sobre *euerbach. São -aulo< 4oraes( 1DPO. 6E22( [os' -. #apitalismo e reificação. São -aulo< 9orte+(1DP1. ]]]]]]]]].&itadura e Serviço Social . São -aulo< 9orte+( 1DD1. -ETE@TA( Barissa %. .ducação e Serviço Social: do confessionário ao empresariamento da formação profissional . São -aulo< Iamã( MNND. -ETE@TA, taviano. O 5ue é +eoria6 São -aulo< Editora ^rasiliense( 1DPM. @n< 9oleção -rimeiros -assos nb D. -62ES( Teinaldo 6. -ediação e Serviço Social . São -aulo< 9orte+U ^el'm$-A< Hniversidade da Ama+:nia( MNNM. LH@TGA( 9onsuelo. !nvasão positivista no mar%ismo. São -aulo< 9orte+( 1DD1. VAS969EBS( Ana 4\ de. ' prática do serviço social: cotidiano, formação e alternativas na área da sa7de. São -aulo< 9orte+( MNNM. VJKLHEK( Adolfo S. *ilosofia da 2rá%is. Tio de [aneiro< -a+ e 2erra( 1DPU São -aulo< Expressão -opular e 9BA9S( MNN.
22
2<