Módulo 6 A civilização industrial economia e sociedade; na cionalismo e choques imperialistas
Unidade 1 As transformações económicas na Europa e no M undo
Linha conceptual
No século XIX, a Revolução Industrial marcou presença na Europa e no Mundo. O laboratório e a fábrica encontravam-se extremamente relacionados, pelo que as inovações surgiram mais rapidamente. A segunda metade do século ficou marcada pelo aparecimento das novas fontes de energia, pelos novos sectores de ponta e pelo rápido desenvolvimento das comunicações. comunicações. O capitalismo industrial vigora. A livre-concorrência leva à concentração empresarial e tenta aproveitar ao máximo os recursos. No final do século XIX já estão constituídos os gigantes económicos e tentam encontrar-se formas para que o trabalho humano se torne mais rentável. re ntável. Devido aos países industrializados, os obstáculos à circulação mercantil deixam de existir e as trocas entram em grande crescimento. O Ocidente é quem lidera deixando os restantes países em situação de fornecedores dos produtos primários: os interesses do capitalismo económico são fundamentais para a estruturação de um mercado internacional. O capitalismo não se expande sem que existam sobressaltos. As crises súbitas quebram os anos de prosperidade e deixam os países mais ricos numa situação de miséria e desorientação. Só com a evolução do sistema é que irão ser encontrados mecanismos que controlem a economia.
1.1. A expansão da revolução industrial 1.1.1. A ligação ciência-técnica
Inicialmente, os mecanismos industriais eram concebidos por artesãos ou por pequenos empresários. Estes preocuparam-se com o aperfeiçoamento dos seus instrumentos e das técnicas utilizadas.
Em meados do século XIX, a situação referida anteriormente alterou-se completamente. O progresso que se verificou tornou os mecanismos industriais em estruturas complexas, as quais exigiam conhecimentos profundos. Igualmente, a crescente concorrência entre as empresas do mesmo ramo, fez com que as tecnologias de fabrico se actualizassem em permanência. Os institutos e as universidades assumem um papel fundamental, uma vez que enviam para o mercado de trabalho técnicos bastante especializados e bem preparados ao nível científico. A época é a dos engenheiros e a ciência e a técnica surgem em estreita ligação. As grandes empresas procuravam um produto revolucionário e, também, aperfeiçoamentos que fossem capazes de derrubar a concorrência e de conquistar o mercado. Para atingirem este objectivo, investiam grandes capitais na investigação e equipavam de forma moderna os seus laboratórios, onde trabalhavam profissionais credenciados (sábios). A partir deste momento, a investigação deixou de estar a cargo apenas de um técnico, mas passou a ser o resultado do trabalho de uma equipa guiada pela vertente científica. Após a descoberta do laboratório dá-se a criação do novo produto ou máquina, papel que pertence à indústria. Cada avanço origina novos desafios para a ciência, sendo que esta se propõe, de imediato, a dar-lhes resposta. Desta forma, cria-se um novelo de processos cumulativos que resultam num enorme avanço tecnológico: fontes de energia novas; novos sectores de actividade; novos modos de transporte; um grande conjunto de objectos que tornam diferente o mundo da indústria. Devido à sua grande amplitude, todas estas inovações levam-nos para o período da Segunda Revolução Industrial.
1.1.2. Novos inventos e novas formas de energia A indústria siderúrgica e a indústria química
Como sendo fornecedora de máquinas, carris, locomotivas e outros equipamentos, a indústria siderúrgica pode ser considerada a indústria de ponta da Segunda Revolução Industrial. Em meados do século em questão, H. Bessemer cria um conversor que é capaz de transformar de forma rápida e barata o ferro em aço. As potencialidades do ferro tornam mais abrangente o mercado da siderurgia. Este chega à indústria pesada (bens de equipamento, cascos de navios, pontes, construções, peças acrílicas, etc.) e torna-se importante na produção de bens destinados ao consumo.
Ao aço juntou-se a indústria química. Em Inglaterra são sintetizados os corantes que irão será capazes de revolucionar a indústria tintureira. A pesquisa e a produção dos corantes artificiais são impulsionadas pelas necessidades que o enorme sector têxtil apresenta. Na Alemanha, estas continuam, o que conduz à formação dos primeiros gigantes da nova indústria, como a Bayer & Co. que investiram imenso no equipamento dos grandes laboratórios de investigação. Bastante relacionada com a pesquisa e a inovação, a indústria química foi um dos sectores que caracterizou esta Segunda Revolução Industrial. Esta indústria-base foi importante para o fornecimento de inúmeros componentes essenciais aos vários sectores. Para além deste aspecto, criou um conjunto de produtos próprios, como os insecticidas, os fertilizantes e os medicamentos.
Novas formas de energia
O carvão, como força motriz, foi responsável pela maior parte dos processos da industrialização. No século XIX, a hulha alimentou as caldeiras das fábricas e dos meios de transporte. Nesta altura, cerca de 90% da energia que era produzida na Europa dependia ainda despe combustível. No final do século em questão, foram desenvolvidas duas novas fontes de energia: o petróleo e a electricidade. As técnicas de refinação que foram descobertas abriram novas possibilidades para o aproveitamento do petróleo. Os derivados do petróleo eram frequentemente usados como lubrificantes (fuel oil) e como combustíveis para a iluminação. Gottlieb Daimler aproveita a mais-valia do ouro negro ao inventar o motor de explosão, movido a gasolina. Alguns anos mais tarde, Rudolf Diesel cria um motor semelhante que utiliza óleo pesado (gas oil) e que, à semelhança da gasolina, se aplica a um maior número de máquinas. Os derivados do petróleo são encarados como os combustíveis do futuro, assumindo uma grande importância no século XX. Ao mesmo tempo que se dá o aproveitamento do petróleo, dá-se também o da electricidade, pois um conjunto de inovações permitiu a sua produção e o transporte a grandes distâncias. A lampa de filamentos criada por Edison passou a estar presente na iluminação doméstica. Não foi necessário muito tempo para que a electricidade substituísse o gás na iluminação pública e privada. Também graças a esta inovação, os carros eléctricos e o metropolitano surgiram, o que colocou um ponto final aos transportes urbanos de tracção animal.
Pelo contrário, a electricidade substituiu o carvão como força motriz muito lentamente, mas, apesar deste facto, foi uma das mais marcantes conquistas da era industrial. Só devido à electricidade é que foi possível o surgimento do telégrafo, do telefone, do gravador de som, do rádio e do cinema, os quais se tornaram indispensáveis no quotidiano da vida moderna.
A aceleração dos transportes
Os transportes assumiram um importante papel no âmbito da industrialização. Para que não se verificasse a estagnação do crescimento económico, era necessário movimentar, de forma rápida e barata, grandes volumes de matérias-primas e produtos destinados ao consumidor final. Devido a isto, os transportes acompanharam de perto os progressos tecnológicos, o que os levou a adoptar uma das principais inovações: a máquina a vapor. Em 1830 surgiu o comboio, ano em que em Inglaterra foi inaugurada a linha que liga Liverpool a Manchester, bem no centro do país industrial. Esta linha revelouse um êxito, o que desencadeou uma onda de construções ferroviárias por todo o Mundo. As vias-férreas tiveram um impacto positivo na economia, o que levou o comboio a identificar-se com o progresso. Assim, foram empreendidas grandes obras de engenharia. Mais lentamente do que o comboio, os antigos veleiros foram substituídos pelos navios a vapor. Depois de serem ultrapassados os entraves técnicos, os navios movidos a vapor impuseram-se na navegação intercontinental. A navegação a vapor conseguiu movimentar grandes capitais, o que levou à criação de grandes empresas capitalistas, sendo estas proprietárias de dezenas de embarcações. Os progressos de que a navegação foi alvo e o incentivo à circulação marítima levaram à construção de grandes obras de engenharia. São de destacar a abertura dos canais do Suez e do Panamá. A máquina a vapor conseguiu êxitos enormes, o que levou à tentativa de a aplicar ao transporte terrestre. Mas, foi o motor de explosão que se mostrou mais apto para este tipo de veículos. Os automóveis circulavam na estrada a anunciar os novos tempos e esta nova indústria movimentou grossos capitais e empregou milhares de operários.
A aviação, após inúmeros ensaios com balões e dirigíveis, conheceu a proeza de voar com um motor da gasolina e hélice. Então, foi alterada a relação do Homem com o espaço e a conquista do ar consagrou-se. 1.1.3. Concentração industrial e bancária
É a partir do ano de 1870 que se pode falar se uma autêntica civilização industrial. Na Europa e nos Estados Unidos, a grande indústria dirige a vida económica e as relações sociais. As grandes empresas mudam por completo a região onde se instalam e são influentes sobre os quatro cantos do mundo. Os interesses das grandes indústrias e o alto que elas necessitam são aspecto que condicionam as decisões políticas. O capitalismo industrial aproxima-se da sua maior força. Capitalismo industrial Este tipo de capitalismo desenvolveu-se no século XIX e caracterizou-se pelo investimento maciço na actividade industrial. Tem como base uma nítida divisão entre os detentores do capital (edifícios, fábricas, maquinaria, matéria-prima, etc.) e o trabalho da mão-de-obra assalariada.
A concentração industrial
Devido à progressiva industrialização, a pequena oficina deu lugar à grande fábrica. Isto, pois, a nova maquinaria era pesada e complexa, sendo que eram necessários grandes espaços. Nesses espaços, um grande número de trabalhadores vigiava o trabalho das máquinas. A fábrica num grande edifício e os seus imensos operários tornaram-se o símbolo da civilização industrial. No decorrer do século em questão, as fábricas que conseguiam uma maior quantidade de lucros transformavam-se em grandes empresas com ramificações, sendo que possuíam grandes quantidades de capitais. Foi no sector metalúrgico que esta tendência atingiu os números mais impressionantes. Alguns dos sectores, como o da alimentação, do calçado e do vestuário, resistiram a esta tendência de gigantismo e continuaram com uma estrutura de pequenas e médias empresas. Apesar deste aspecto, a concentração industrial registou um notório aceleramento na segunda metade do século. A evolução da tecnologia privilegia a supremacia da grande empresa, a qual tem uma maior capacidade de resistir às crises cíclicas que abalam a economia. Na altura da crise, os mais pequenos entram em processo de falência ou são integrados pelas firmas mais poderosas. Em alguns dos casos, as grandes empresas juntam-se entre si, com a finalidade de conseguirem mais força e competitividade.
Com esta dinâmica do capitalismo industrial, podem distinguir-se dois tipos de concentração: a vertical e a horizontal. A concentração vertical é a integração, numa mesma empresa, das variadas fases da produção, desde a obtenção da matéria-prima à venda do produto final. A concentração horizontal traduz-se na associação de empresas com o objectivo de evitar a concorrência. As quantidades a produzir, os preços dos produtos e as datas de colocação no mercado são pontos previamente acordados. No continenete europeu, estas associações tomaram o nome de cartel e foram bastante difundidas na Alemanhã. Por vezes, as duas formas de concentração podem ser combinadas, passando a ser possível a criação de gigantestos grupos económicos, os quais se alargam geograficamente e constituem as multinacionais.
A concentração bancária
Os bancos foram essenciais para o desenvolvimento que ocorreu no século XIX. A actividade bancária permitia a movimentação dos grandes valores que estavam envolvidos no comércio internacional e tornava possível a fundação, a ampliação e a modernização das indústrias, graças ao crédito. A dinâmica do mundo da indústria apenas era possível devido ao sistema bancário, o qual, na segunda metade do século, verificou um grande crescimento, acompanhado da diminuição do número de instituições. As pequenas entidades bancárias abrem falência, mas os bancos mais poderosos ainda se tornam maiores, abrindo sucursais no próprio país ou no estrangeiro. Esta vasta rede de bancos permitiu uma segura centralização das poupanças para o investimento lucrativo. Para além das operações comerciais e de crédito, os bancos participavam activiamente no progresso da indústria, uma vez que introduziam capitais próprios nas empresas, em especial nos sectores da siderurgia e dos transportes.
1.1.4. A racionalização do trabalho
Devido ao aumenta da concorrência, as empresas viram aumentar a necessidade de produzir com qualidade e a baixos preços. Com isto, era necessário rentabilizar todos os recursos materiais e humanos disponíveis ao trabalho. Com este argumento, Taylor cria um método para a optimização do rendimento da fábrica. Este método ficou conhecido como taylorismo.
O taylorismo traduz-se na divisão máxima do trabalho, dividindo-o em pequenas tarefas elementares e encadeadas. Cada operário devia executar, repetidamente, a mesma tarefa, a qual era continuada pelo trabalhador seguinte. O tempo ocupado por cada operário para a realização de um dada função deveria ser mínimo, predefinido e articulado com os restantes elementos da cadeia de produção. O cronómetro estava presente. Este tipo de trabalho mecanizado retirava a criatividade e o saber ao trabalhador e resultava numa produção de objectos iguais. Embora a produção seja estandardizada1, respondia às necessidades de volume, qualidade e preço. Henry Ford, construtor de automóveis, foi o primeiro a pôr em prática a teoria de Taylor. Para a produção do Modelo T, criou na fábrica uma linha de montagem que seguiu os princípios do taylorismo. O ritmo de produção era estonteante: os tapetes rolantes faziam com que as peças chegassem ao operário que, sem se deslocar, trabalhava como um máquina, segundo a cadência2 que era imposta. Dois anos após a criação desta linha de montagem, a produção da Ford (dedicada apenas ao Modelo T preto) elevou a quantidade de unidades anuais de 50 000 para um milhão. Os vários aperfeiçoamentos, também fizeram diminuir o tempo de montagem de 12 horas para uma hora e meia, bem como o preço do automóvel. Com a finalidade de compensar os trabalhadores pela dureza do trabalho e para os incentivar, Ford duplicou os salários. Esta medida já havia sido referida na teoria de Taylor e era compatível com a elevada rentabilidade da empresa. Foi responsável pelo aumento do nível de vida dos trabalhadores, permitindo mesmo que estes aspirassem à posse de um automóvel que a empresa disponibilizou em suaves prestações. Assim, Ford conseguiu reaver parte da quantia que tinha sido dispendida nos salários. A inteligência e a visão avançada de Ford fizeram dele um mito, sendo criada, sobre a designação de fordismo, uma nova configuração para a gestão das empresas. Apesar do seu sucesso, os métodos iniciados por Taylor provocaram a contestação dos sindicatos e de intelectuais. Era criticada a racionalização excessiva do trabalho, a qual retirava a dignidade ao trabalho e transformava os operários em escravos de uma cadeia de máquinas.
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Estandardização Uniformização dos artigos produzidos através do fabrico em série. O trabalho necessário à produção é dividivo numa série de tarefas também estandardizadas. 2 Cadência Ritmo.
1.2. A geografia da industrialização 1.2.1. A hegemonia inglesa
País berço da Revolução Industrial, em meados do século XIX, este país mostra um nítido avanço em relação aos restantes países. A indústria, fortemente mecanizada, permite-lhe fornecer têxteis ao resto do mundo, bem como artefactos metálicos e bens de equipamento, tudo isto a preços que não encontram concorrência. As ferrovias chegam a quase todos os locais de Inglaterra, o que permite a eficaz circulação interna de carvão, matérias-primas e produtos acabados. Tem a maior frota mercante de todo o planeta, sendo que este aspecto lhe assegura o primeiro lugar nos circuitos cormeciais internacionais. Devido a este domínio económico, os capitais são constantemente acumulados, sendo estes, por sua vez, aplicados nas colónias na América Latina e da Ásia, locais onde o investimento estrangeiro é visto com bons olhos e gera grandes lucros. Com esta primazia finaceira, a libra esterlina foi considerada moeda-padrão e usada como referência nas trocas internacionais. No entanto, com o aproximar do final do século, a supremacia da Inglaterra foi atenuada. O equipamento industrial, que havia sido considerado o mais avanço, começa a ficar desactualizado com o passar do tempo. Em alguns casos, torna-se antigo em comparação com o da Alemanha, pois este país teve uma industrialização mais recente e possui máquinas bem mais recentes. A concorrência é cada vez maior, o que faz com que este país não consiga acompanhar o avanço tecnológico constante e apresenta dificuldades em reorganizar a sua capacidade de competir. No século XX, a Inglaterra, após anos de supremacia, é ultrapassada pela sua antiga colónia, os E.U.A..
1.2.2. A afirmação de novas potências
A dinâmica industrial estendeu-se pelo mundo rapidamente. No decorre do século XIX, foram muitas as nações que iniciaram a sua industrialização. Na Europa, os países mais industrializados foram a França, a Alemanha, a Bélgica e a Suíça. Na Améria, os Estados Unidos ganham força. Na Ásia, no século XIX, o Japão foi o único país a iniciar-se na industrialização.
A França
Este país foi a segunda potência a arrancar, contando com um ritmo industrializador lento, mas contínuo. Nesta época, a energia dependia do carvão, o que deixava este país em situação de desvantagam. Possuia poucas jazidas, sendo estas pobres e mal situadas, o que não era suficiente para dar resposta às necessidades. A extracção do carvão destas jazidas ficava muito cara em comparação com a que era feita em Inglaterra e nos E.U.A.. Outro entrave à industrialização francesa foi a larga base agrícula do país. Muitos dos pequenos agricultores mantiveram-se apegados ao modo de vida rural, sendo que os campos que cultivavam forneciam colheitas abundantes e diversificadas, o que era suficiente para lhes garantir a subsistência. Apesar destes entraves, ao longo do século XIX, a França conseguiu modernizar-se. É de salientar o período compreendido em 1901 e 1913, contando o país com grande dinamismo. Iniciou o processo com a indústria têxtil, seguindo-se os sectores da electricidade, do automóvel, do cinema e da construção. Assim, foi capaz de ultrapassar as outras nações, não sendo, contudo, suficiente para se tornar tão forte como os primeiros países a industrializar-se.
A Alemanha
Ao contrário do que se passou em França, a principal característica do processo de industrialização alemão foi o seu dinamismo. Não passou pela etapa da indústria têxtil, mas privilegiou os sectores do carvão, do aço e dos caminhos-de-ferro. Na década de 70, são introduzidos os sectores da química, da construção naval e da electricidade. No final do século XIX, a indústria alemã em geral e o sector siderúrgico em particular foram responsáveis por gerar uma enorme concorrência em relação aos produtos de Inglaterra, na Europa e no resto do Mundo.
Os Estados Unidos da América
Por volta de 1830, aproveitando os seus abundantes recursos naturais, os Estados Unidos arrancam.
À semelhança do que se passou em Inglaterra, foi o sector têxtil que deu vida às primeiras indústrias. Estas foram favorecidas pela abundância da matéria-prima (algodão e lã) e pelo proteccionismo económico. Ambos os apectos contribuiram para que estas indústrias prosperassem com rapidez. Embora tenham existido outros avanços, o grande dinamizador para o crescimento económico americano foi o sector siderúrgico. Grandes concentrações foram formadas, sendo que uma delas se tornou líder no quadro da siderurgia mundial. Também foram desenvolvidos os sectores de energia mais modernos: - a electricidade (beneficiava das enormes quedas-dágua); - o petróleo (favorecido pelas importantes jazidas existentes). Poucos anos depois é a indústria automóvel que arranca, o que permite prolongar, no sector da siderúrgia, os efeitos que haviam estimulado as vias-férreas. No fim do século, os E.U.A. eram já a primeira potência industrial do Mundo: - lideravam a produção mundial de carvão, petróleo, ferro, aço, cobre, chumbo, zinco e alumínio; - a sua produção têxtil encontrava-se no segundo lugar ao nível mundial. A posição de supremacia dos E.U.A. é consolidada com o declínio da Europa no âmbito da Segunda Guerra Mundial.
A emergência do Japão
No século XIX, o Japão foi o único país da Ásia que se libertou da tutela económica das grandes potências. Os séculos de isolamento chegaram ao fim e este país abriu-se ao mundo, deixando-se influenciar pela cultura ocidental. A modernização do Japão apenas foi possível devido ao imperador Mutsu-Hito. Este, apoiando-se no conhecimento dos mais experientes, lançou o país numa era de progresso: a era Meiji. As reformas Meiji converteram um país atrasado de base agrícola numa nação industrial com um grande poder de competitividade. Foi o Estado o responsável por impulsionar a indústria, pois fomentou a entrada de capitais e técnicos estrangeiros e financiou a criação de novas indústrias, concedendo a estas exclusivos e outros privilégios. O arranque japonês alicerçou-se nos sectrores da siderurgia, da construção naval e do têxtil da seda. No entanto, para o êxito do país
contribuiu, igualmente, o intenso crescimento demográfico3 e o forte orgulho nacional, que imprimiu nos japoneses o sentido de superioridade rácica face aos restantes asiáticos. 1.2.3. A permanência de formas de economia tradicional
Em termos de história, o século XIX é dominado pela Revolução Industrial. A agricultura, a indústria, o comércio, o sistema bancário, os transportes e as comunicações são vítimas de uma grande alteração, o que faz com que este século seja diferente dos anteriores. É certo que a evolução não se processa ao mesmo rítmo, o que faz com as novas formas económicas coabitem com as técnicas e os modos de produção antigos. Em particular no mundo rural, são mantidas as velhas práticas e os utensílios rudimentares, o que nos transporta para o período da Idade Média. O camponês, como sendo conservador, liga-se, ainda, aos direitos comunitários e, na maior parte dos casos, reage com violência às inovações agrícolas que o destroem. Na maior parte das zonas agrícolas, a agricultura de subsistência continua a ser praticada, mesmo existindo uma cidade próxima que já se encontra apretechada de fábricas. Mas também no sector centro de todas as transformações, a indústria, ainda existem formas de economia tradicional que prevalecem e o artesão mantém-se em actividade. Isto, em especial, nos trabalhos que requerem gosto, minúcia e criatividade, como por exemplo, a confecção dos artigos de luxo. Embora este panorama também se verifique nas nações mais industrializadas, torna-se mais acentuado nos países em que a evolução é mais lenta, como Portugal e Itália. No século XIX, tal como acontece em todos os tempos de transformação, o mundo vive a dois ritmos e a novidade coexiste com a tradição.
1.3. A agudização das diferenças 1.3.1. A confiança nos mecanismos auto-reguladores do mercado: o livre-cambismo
O liberalismo económico encontrou fortes entraves para a sua aplicação. Políticos, industriais e grandes proprietários, sendo defensores convictos da liberdade política, desconfiavam da teoria da livre circulação de mercadorias. A política que parecia mais acertada a todos era proteger a produção nacional da concorrência estrangeira.
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Intenso crescimento demográfico Este crescimento actuou como um estímulo económico na medida em que proporcionou mão-de-obra abundante e alargou o mercado consumidor.
A corrente livre-cambista era muito forte na Grã-Bretanha, país berço de alguns dos seus principais teóricos como Adam Smith e David Ricardo. Na opinião de Ricardo, a liberdade comercial seria responsável pelo desenvolvimento e asseguraria a riqueza de todas as regiões do Mundo. Isto, pois, tendo em conta a concorrência, cada país deveria produzir o que fosse mais compatível com as suas condições naturais. Esta especialização económica transformaria o Mundo numa imensa fábrica, em que cada país era um como um departamente especializada numa dada actividade. Estas ideias foram impostas pelo chefe do Governo, Sir R obert Peel. Peel baixou os direitos de entrada que incidiam sobre alguns produtos básicos e, aos poucos, a pauta alfandegária do Reino Unido foi diminuindo: de direitos alfandegários cobrados sobre 1150 produtos passaram a existir apenas 48. Devido à implementação do livre-cambismo 4 em Inglaterra, vários países colocaram-no também em prática. A tendência livre-cambista venceu na Europa e nos E.U.A., que sempre protegeram a sua indústria, baixam, agora, as tarifas aduaneiras. Então, o comércio internacional conheceu um período de forte crescimento.
1.3.2. As debilidades do livre-cambismo; as crises cíclicas
Na lógica capitalista que dominou o século XIX, o liberalismo económico enquadrou-se perfeitamente. Nos sectores produtivos e nas trocas comerciais a total liberdade de iniciativa era, teoricamente, o quadro mais benéfico para a criação de riqueza e para a angariação de lucros elevados. A teoria revelou-se, mais uma vez, diferente da prática, uma vez que as previsões de crescimento igual e aprazível entre as potências não se verificaram. Neste âmbito, o livre-cambismo colocou ainda mais dificuldades aos países que se iniciavam na era industrial. A estes países chegavam produtos vindos das grandes potências industriais, sendo que não cobseguiam competir com os gigantes, no mercado interno e externo. Até os países que se encontravam numa fase de maior desenvolvimento eram abalados pela ocorrência das crises cíclicas, as quais retraim os negócios e eram responsáveis por várias falências. Num período de 6 a 10 anos um país era invadido 4
Livre-cambismo Sistema que liberaliza as trocas comerciais. O Estado deve abster-se de interferir nas correntes do comércio, pelo que os direitos alfandegários, a fixação de contingentes (de importação e exportação) e as proibições de entrada ou saída devem ser abolidas ou, pelo menos, reduzir-se ao máximo. Alguns dos economistas britânicos defendem que o livre-cambismo permite uma utilização óptima dos recursos e uma especialização ideal dos diferentes países na actividade que lhes é mais favorável.
por uma destas crises de tipo completamente novo. No Antigo Regime, as crises eram provocadas pela escassez agrícola, mas na era capitalista eram, na maior parte dos casos, provocadas por um excesso de investimento e de produção industrial. Podem ser consideradas como crises de superprodução, resultantes da dinâmica do capitalismo, pois este aconselha um investimento constante e um cescimento contínuo da produção e dos lucros. Um economista francês foi o primeiro a dedicar-se ao estudo destes ciclos económicos e dos seus mecanismos. No período de desenvolvimento, quando a procura é maior do que a oferta, os perços tendem a subir. Estimuladas pelo aumento da procura, as indústrias aplicam-se, o recurso ao crédito é maior e especula-se na Bolsa. Todavia, a falta de previsão financeira e o excesso de investimento invertem a tendência: - os stocks são acumulados nos armazéns (superprodução), o que faz com que haja a necessidade de suspender a produção, proceder à redução dos salários e ao despedimento de alguns dos trabalhadores; - com a finalidade de vender os produtos acumulados, existe a necessidade de baixar os preços. Em alguns dos casos os stocks são mesmo destruídos para que os preços não desçam excessivamente; - os pagamentos aos bancos são suspensos, bem como os créditos e os investimentos financeiros. Esta crispação consuz ao crash da Bolsa, à falência das empresas e das entidades bancárias; - o desemprego, que é grande, faz com que o consumo diminua e a produção cai ainda mais. Estas crises, que podem ocorrer num ou em vários países ao mesmo tempo, são propagadas rapidamente. Uma vez que existem ligações financeiras e comerciais entre as várias nações, é difícil conseguiu escapar a uma crise grave. Nos períodos que são afectados pela crise, a miséria social e a agitação política alastram-se. Os economistas liberais consideram-nas como meros reajustamentos económicos, mas, apesar desta visão, as crises suscitam protestos contra os excessos do liberalismo económico. No final do século XIX, o proteccionismo voltou a ser comum e, após a grave depressão iniciada em 1929, houve a verdadeira noção de que a intervenção do Estado na economia era necessária.
1.3.3. O mercado internacional e a divisão do trabalho
Durante o século XIX, o comércio mundial cresceu a um ritmo alucinante. Os grandes responsáveis por este crescimento foram o constante aumento da produção, os progressos nos transportes e nas comunicações. Os caminhos-de-ferro diminuiram o custo do transporte terrestre, acontecendo o mesmo com os transportes marítimos. Auxiliada pelo seu grande avanço industrial e pela sua grande frota mercante, a Inglaterra ocupou o primeiro lugar no ramo das trocas comerciais. A França encontrase em segundo lugar, sendo, depois, passada à frente pela Alemanha e pelos E.U.A.. No início do século XX, estes países são responsáveis por cerca de metade de todas as trocas realizadas. A divisão internacional do trabalho é bem visível nesta estrutura do comércio mundial. Os quatro grandes países referidos anteriormente tornan-se as fábricas do mundo, responséveis por uma grande percentagem da produção industrial mundial. No continente europeu, fornecem os países menos desenvolvidos, adquirindo-lhes produtos agrícolas e matérias-primas. Esta especialização é ainda mais visível se forem consideradas as relações da Europa com os restantes continente, excluindo os E.U.A..