Poesia trovadoresca
A V A L I A R
GRUPO I
Leia a cantiga que se segue.
Vi eu, mia madr ’, andar Vi eu, mia madr 1, andar as barcas eno mar : e moir o -me2 d amor . ’
1 2
’ ’
3
minha mãe morr o-me aia pr aia
4
5
esperar esperar 6 aí 5
Foi eu, madre, veer as barcas eno ler 3: e moir o
-me d amor . ’ ’
As barcas [e]no mar e foi-las aguar dar dar 4: e moir o
10
-me d amor . ’ ’
As barcas eno ler e foi-las atender 5: e moir o
-me d amor . ’ ’
E foi-las aguar dar dar e non o pud’ achar: 15
e moir o
-me d amor . ’ ’
E foi-las atender e non o pudi veer: e moir o
20
-me d amor . ’ ’
E non o achei i6, [o] que por meu mal vi: e moir o
-me d amor . ’ ’
Nuno Fernandez Torneol, B 645/V 246. 1
1. Classifique
legenda
esta cantiga, quanto ao subgénero, justifi justificando cando a sua r esposta.
[20 pont ponto os]
ponto os] 2. Proceda à divisão do text o em partes, explicitando o assunto de cada uma delas. [20 pont
3. Car ac acterize, fundamentando, o estado de espírito do sujeito lírico.
[20 pont ponto os]
4. Identifique os recursos expressivos presentes presentes nos versos abaixo indicados, comen-
tando a sua expressividade. a. “Vi e u, mia madr ’, andar . (v. 1) ”
b. “e moiro-me d amor . ’ ’
”
(v. 3)
5. Proceda à análise f ormal ormal da cantiga.
66
ponto [20 pont os) [20 pont ponto os]
GRUPO II
Leia o seguinte texto.
5
Neste tipo de cantiga, o trovador empreende a confissão, dolorosa e quase elegíaca1, de sua angustiante experiência passional frente a uma dama inacessível aos seus apelos, entre outras razões porque de superior estirpe2 social, enquanto ele era, quando muito, fidalgo decaído. Uma atmosfera plangente 3, suplicante, de litania4, varre a cantiga de ponta a ponta. Os apelos do trovador colocam-se alto, num plano de espiritualidade, de idealidade ou contemplação platónica, m as entranham-se-lhe no mais fundo dos sentidos: o impulso erótico situado na r aiz das súplicas transubstancia-se5, purifica-se, sublima-se. Tudo se passa como se o trovador fingisse , disfarçando com o véu do espiritualismo, obediente às regras de conveniência social e da moda literária vinda da Provença, o verdadeiro e oculto sentido das solicitações dirigidas à dama. À custa de fingidos ou incorr espondidos, os estímulos amorosos transcendentalizam-se: repassa-os um tortur ante sofrimento interior que se segue à certeza da inútil súplica e da espera de um bem que nunca chega. É a coita (= sofrimento) de amor, que, afinal, ele confessa. As mais das vezes, quem usa da palavra é o próprio trovador, dirigindo-a com respeito e subserviência à dama de seus cuidados ( mia senhor ou mia dona = minha senhora), e rendendo-lhe o culto que o serviço amor oso lhe impunha. E este orienta-se de acordo com um rígido código de comportamento ético: as regras do amor cortês , recebidas da Provença. Segundo elas, o trovador teria de mencionar comedidamente o seu sentimento (mesura), a fim de não incorr er no desagrado (sanha) da bem-amada; teria de ocultar o nome dela ou recorrer a um pseudónimo (senhal), e prestar-lhe uma vassalagem que apresentava quatro fases: a primeira correspondia à condição de fenhedor, de quem se consome em suspiros; a segunda é a de precador, de quem ousa declarar-se e pedir; entendedor é o namorado; drut , o amante. O lirismo trovadoresco português apenas conheceu as duas últimas fases, mas o drut (drudo em Português) encontrava-se exclusivamente na cantiga de escárnio e maldizer. Também a senhal era desconhecida do nosso trovadorismo. Subordinando o seu sentimento às leis da corte amorosa, o trovador mostrava conhecer e respeitar as dificuldades interpostas pelas convenções e pela dama no rumo que o levaria à consecução de um bem impossível. Mais ainda: de um bem (e fazer bem significa corresponder aos requestos do trovador) que ele nem sempre desejava alcançar, pois seria pôr fim ao seu tor mento masoquista, ou início de um outro maior. Em qualquer hipótese, só lhe restava sofrer, indefinidamente, a coita amor osa. E ao tentar exprimir-se, a plangência da confissão do sentimento que o avassala — apoiada numa melopeia6 própria de quem mais murmura suplicantemente do que fala —, vai num crescendo até à última estrofe (a estrofe era chamada na lírica trovadoresca de cobra; podia ainda receber o nome de cobla ou de talho). Visto uma ideia obsessiva estar a empolgar o trovador, a confissão gira em torno de um mesmo núcleo, para cuja expressão o enamorado não acha palavras muito variadas, tão intenso e maciço é o sofrimento que o tortur a. “
10
”
“
15
“
“
20
25
30
40
”
”
“
35
”
”
Massaud Moisés, A Literatura Portuguesa , São Paulo, Cultrix, 2006, pp. 20-21 (adaptado). 1
em tom de lamento;
2
estatuto; 3 chorosa; 4 ladainha; 5 transforma-se; 6 cantilena, melodia
67
50
A V A L I A R 1. Selecione, registando no seu caderno, a alternativa que completa corr etamente cada
afirmação, considerando a globalidade do texto. 1.1
[35 pontos – 7 itens x 5 pontos]
O texto apresenta car acterísticas que o permitem defini r como
[A] uma síntese. [B] uma apreciação crític a.
[C] um artigo de divulgação científica. [D] uma exposição.
1.2 O tema central do texto são as cantigas [A] de amigo. [B] de amor .
[C] de escárnio. [D] de maldiz er .
1.3 Nes te tipo de cantigas, o trovador é vis to como um [A] ser inatingível. [B] nar c isis ta.
[C] vassalo. [D]
herói.
1.4 O amor celebrado ne ste tipo de cantigas é o amor [A] platónico. [B]
carnal.
[C] erótico. [D] fr aterno.
1.5 A locução presente na frase “a fim de não incorrer no desagrado (sanha) da bem-amada” (ll. 20-21) tem valor [A] causal. [B] final.
1
legenda
[C] concessiv o. [D] consecutivo.
1.6 No excerto “Também a senhal era desconhecida do nosso tr ovadorismo.
”
a expressão sublinhada desempenha a função sintática de
[A] complemento dir eto. [B] predicativo do complemento dir eto.
[C] predicativo do sujeito. [D] complemento oblíquo.
68
(ll. 27-28),
1.7 Na frase “[…] rumo que o levaria à consecução de um bem impossível” (l. 30), o pronome “o” surge em posição pré-verbal porque
[A] ocorre numa oração subordinada relativa. [B] a frase exprime uma ideia de possibilidade.
[C] a f orma verbal “levaria” está no condicional. [D] a frase é introduzida por um pronome indefinido.
2. Responda aos it ens apresentados.
[15 pontos – 3 itens x 5 pontos]
2.1 Identifique o processo f onológico ocorrido na passagem de "enamorar" (cf . "enamorado", l. 40) para "namorar".
2.2 Cl assifiqu e os termos “parábola” e “palavra” quanto ao étimo de que provêm, sabendo que o termo latino PAR ABO LA - os originou. 2.3 Re fi ra duas palavras portuguesas que integram o mesmo elemento etimológico que o vocábulo cortês . (l. 19) “
”
GRUPO III
Redija um texto expositivo, entre 120 a 150 palavras, numa linguagem clara, objetiv a e pr ecisa, onde apresente as principais diferenças entre as relações amorosas r etr ata[50 pontos] das na poesia tr ovador esca e as vividas pelos jovens na atualidade.
Para isso, comece por completar o seguinte plano relativos a cada uma das partes. · Introdução:
de text o,
elaborando os tópicos
as relações amorosas na Idade Média e no século XXI;
· Desenvolvimento: parágrafo 1 -
pa r ág r af o 2 –
· Conclusão: fecho
…
…
…
do tex to, sintetizando os principais a sp e tos r e feridos .
69