FICHA CATALOGRÁFICA (Preparada pelo Centro de Catalogação-na-fonte, Câmara Brasileira do Livro, SP)
Métodos de pesquisa nas relações sociais |por| M 55 2 Sellüz Sellü z |e outros outros]] ed. revista e nova nova tradução traduçã o de Dante Moreira Leite. São Paulo, E.P.U., l£ü. da Universidade de São Paulo, 5.a Reimpres são, 1975 p. XIX, 687 (Ciências do Comportamento). Bibliografia. 1. Pesqui Pesquisa sa social socia l I. Selltiz, Claire. Claire. II. Série. Sé rie. 73-0679 CDD-300.72
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índices para o catálogo sistemático: Pesquis Pesquisaa social social : C iênc ias sociai sociaiss 3 0 0 .7 2 Pesquisa social social : Plan ejam ento : Ciências sociais 300.72 Planejamento : Pesquis Pes quis a social : Ciências sociais 300.72
SEL LTÍZ / JAHODA / DEUTS DEUTSCH CH / COOK
MÉTODOS DE PESQUISA NAS RELAÇÕES SOCIAIS Edição Revista e nova t r a d u ção cie ci e
D ANTE ANTE M OR EIRA LE ITE
5^ Reimpressão
E.P.U. — Editora Pedágógica e Universitária Ltda. EPUSP — Editora da Universidade de São Paulo São Paulo 1975
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Escolha clc um Tópico jxira Pesquisa am p li tu d e DK ióiMt ns i*oii .e iv r; |).ira pe squisa social é tão ampla qmmto o eornportamento social. Naturalmente, é muilo innim .1 amplitude de tópicos que foram, de fato, escolhidos No entanto, mesmo em um a área de pesquisa — por exempli», nas lelaçrtes entre grupos de diferentes orige ns étnicas ou lelígio sas as pesquisas ab ra n gem um grande campo, onde se m< luem estudos a respeito da maneira pela qual os grupos ajjem, pensam e sentem com relação, aos ou tro s; como cliferem em suas tradições, cre nças, personalidades e cultura; como Irafam suas crianças; como chegam a ser o que são; como lespondem às tentativas para mudar sua re la çã o com outro gru po , e assim por dia nte . Tais pesquisas foram realizadas em muitas partes do mundo; atingiram pessoas de muitos grupos étnicos e religiosos, em
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muitos aspectos de sua vida.
Como já notamos no Capítulo 1. o tópico geral de um estudo pode ser sugerido por algum interesse prático ou por algum interesse intelectual ou científico J Uma grande diversidade de i n t eresses prát i cos pode apresentar tópicos para pesquisa A P o r exem plo, é possível desejar in form ação, com o base para saber se existe necessidade de algum novo serviço ou alguma nov a instalação. Assim , o diretor de um d ep ar tamento estadual ou municipal de saúde e bemestar pode desejar um lev antam ento de toda s as pessoas com m ais de 65 anos de idade, a fim de verificar se há necessidade de outros serviços püira esse grupo o, sO isso ocorrer, qual o tipo de serviço — aux ílio financeiro mais am plo, serviços de e studo s de caso, centros sociais e de divertimento, residências espe------------ ______ ___ _ _____ ciais, hospitais, etc.
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Fodese desejar urna avaliação dos efeitos de um programa de uma instituição de recuperação na saúde mental de seus participantes, os efeitos de campanha de folhetos em eleições, os efeitos, nas atitudes com relação aos negros, do uma fita sobre Jackie Robinson. Outro tipo de questão prática que pode conduzir à pesquisa é aquele em que a informação sobre as prováveis conseqüências de vários caminhos de ação seria útil para decidir entre alternativas já pro po stas. Assim, no fim da Segunda Grande Guerra, o exército dos Estados Unidos realizou um amplo levantamento, entre seus soldados,a fim de verificar qual seria o sistema de dispensa considerado, de modo geral, como justo. |Um interesse prático ligeiramente diverso exige a predição cTcT ce rta s éq üè ncia _íu tura de acontecimen tos, a fim de planejar ação adequada.j Por exemplo, em 1945 o Tesouro dos Estados Unidos sõltCitou um estudo que permitisse a predição do andamento de resgates de apólices de guerra no ano seguinte, como orientação para programa e ação quanto aos problem as de con trole d a inflação. Uin con stru tor que considera a construção de um conjunto residencial em que as casas serão vendidas sem consideração da raça do comprador, pode desejar uma estimativa do mercado provável e da extensão em que este será influenciado pelo caráter ínterracial do cpnjunto. [_Os i nt er esses ci en t ífi co s ou intelectuais podem sugerir uma amplitude igualmente grande de tópico para pesquisa. Talvez a principal diferença entre tópicos sugeridos por interesses práticos e os indicados por interesses científicos seja o fato de estes últimos terem menos probabilidade de incluir o estudo de uma situação específica como objetivo fimda mental de obter conhecimento a respeito de tal situação.] Os interesses intelectuais e científicos tendem a conduzir a questões gerais e voltarse para situações específicas como exemplos de classes gerais de fenômenos, e não como objeto de interesse intrínseco. O pesquisador que tern curiosidade científica pode estar interessado na exploração de algumobjeto geral a respeito do qual pouco se sabeT) Por exemplo, quando Piaget começou seus estudos sobre o pensamento das crianças, essa era uma área relativamente inexplorada. De outro lado, pode interessarse por fenômenos que, até certo ponto, já foram estudados; neste caso, tende a interes-
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sarse, por exemplo, por especificação mais exata das condições em que determinados fenômenos ocorrem, ou como po dem ser influenciados por outros fatores. Por exemplo, digamos que esteja interessado em saber até que ponto os julgamentos de indivíduos são influenciados pelas opiniões apres entada s por seus companheiros. E sta é uma questão a respeito da qual já se fizeram muitos trabalhos; já se verificou, de maneira bem clara, que os julgamentos dos indivíduos são, freqüentemente, influenciados pelos julgamentos apre sen tado s pelos outros. O pesquisador pod e desejar veri ficÊLr diferenciações nessa verifica ção ge ral. Po r exemplo, pode desejar perguntar: será que os julgamentos sobre questões para as quais não existe uma resposta “correta” e única, baseada em fatos, tendem a ser mais ou menos influenciados pelas opiniões apresentadas pelos outros do que os julgamentos sobre questões para as quais existe uma resposta objetivame nte corre ta? Como exemp lo do primeiro tipo de questão, poderia pedir que os sujeitos dissessem se, como dramaturgo, consideram Tennesse Williams melhor ou pior que Arthur Miller; como exemplo do segundo, poderia pedir que julgassem o comprimento de linhas. Seu prob lem a de pesquisa seria respondido pela comparação da influência exercida, nas duas situações, pelos julgamentos dos outros sobre os julgamentos dos sujeitos. Se trabalha num campo em que existe um sistema teórico muito desenvolvido, o pesquisador pode desejar verificar predições específicas, baseadas nessa teoria. Assim, ílunt (1941), interessado na verificação experimental da teoria psi canalítica, decidiu verificar a predição de que a privação na infância provoca comportamento de “pãodurismo” no adulto. Criou três grupos de ratos: um era normalmente alimentado durante o período de desenvolvimento; o segundo era alimentado normalmente na infância, mal alimentado durante o período da prépuberdade, e depois normalmente alimentado; o terceiro era mal alimentado na infância, mas adequadamente alim en tad o nos períodos posteriores. Na v ida ad ulta, todos os grupos foram submetidos à privação de alimènto; o que tinha sido privado de alimento na infância reagiu acumulando aliniento. l_Cpm essa variedade d e ;fontes que podem sugerir tópicos para pesquisa, comr ■éqnp um investigador seleciona um.pro Entre os fatores importantes que deter-
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minam sua escolha^estão suas inclinações pessoais e seus julgamentos de valor.j Nas pa lavra s de Whitehead : Os juízos de valor não fazem parte da estrutura da ciência tísica, mas fazem parte do motivo de sua criação. ( . . . ) E xis te escolha con scien te das partes dos campos científicos que devem ser cultivados, e esta escolha cons cien te envolve juízos de valor. (Citado em Cantril, Ames, Hastorf e Ittelson, 1949). N q entanto, nem sempre se reconhece o papel que os
valora.<^inevitãy^mente7rdésèmpenham na escolha de assunto para pesq uisa. A respeito, C oo k (1 9 49 ) relata o seguinte incidente: Certa vez descrevi, para outro psicólogo, um estudo em que nossa equipe tentava avaliar o eteito de determinada experiência para a mudança de atitudes de não judeus com relação a jud eus . No entanto, esse psicólogo não pensava que tais atitudes devessem ser mudadas. M eu interesse pela m ensuração do êxito de esforços para provocar mudança, segundo se tomou evidente, significava, para ele, aprovação de um objetivo de que dis cor da va violentamente. Além disso, esse psicólog o lembrou a possibilidade de que meu apoio fosse i n t e r - p r e t a d o por outros com o a poi o dos psicól ogos em gera l (o itálico não é do original). Se neste caso se reconhecesse o fato de que os valores se incluem na escolha de qualquer tópico de pesquisa, não teria surgido o medo de que os valores que conduzem à escolha de um estudo pudessem ser considerados comô valores comuns aos psicólogos em geral. Se se reconh ece que to do pesq uisador, em sua escolha de um tópico para pesquisa .(a respeito de preconceito racial ou religioso ou do desenvolvimento dos conceitos espaciais das crianças), exprime seu julgamento ou sentimento quanto ao que é importante estudar, a grande variedade de pesquisas realizadas torna claro que nenhum estudo representa um acordo comum dos cientistas sociais quanto às acentuações adequadas de pesquisa. Cientistas sociais com diferentes valores escolhem, para pesquisa, tóp ico s diferentes. O cientista social que sa be quais as suas preferências pessoais que entraram na cscolha de seu
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assunto, será mais capaz d« evitar o viés que poderiam intro 'Sifzir^em sua pesquisa do que aquele que trabalha com a ilusão de ser orientado apenas por considerações científicas. Como os valores pessoais inevitavelmente influem na escolha de um assunto, o único meio cie manter a racionalidade do processo científico é tei consciência de como e onde interferem tais valores. No entanto, seria errado supor que os valores pessoais são ou podem ser o único determinante da escolha de um tópico de pesquisa. Não apenas as con dições sociais sob as quais se realiza a ciência conforinani, de màneira sutil e freqüentemente imperceptível, as preferências (los pesquisadores, mas também existem vários incentivos intensos e explícitos para que se realize pesquisa sobre um assunto e não sobre outro. Diferentes sociedades dão recompensas a trabalho sobre diferentes tópic os. A pesquisa so b ie eAncer pode d ar m ais prestígio que a tentativa de enconhar uma cura oara o resfriado comum; é possível que haja mais recursos para experimentos nãopolêmicos com animais que para a pesquisa de tópicos que podem ter repercussões políticas;, pode hav er posições com melhor remuneração para o pesquisador de mercado que para o psicó logo edu cacional. Existem poucos cien tistas sociais que possam dar*se ao luxo de desprezar prestígio, recursos p ara pesquisa e rend imento pessoal. E ss a situa ção tende a provocar uma redução da efetiva liberdade de escolher tópicos de pesquisa, a não ser que diferentes instituições, com diferentes interesses, opiniões e valores, apóiem as pesquisas, de forma que o pesquisador possa escolher entre elas. Nos Estados Unidos, atualmente, embora seja bem grande o número de diferentes fontes de recursos para pesquisa, uma grande proporção do dinheiro disponível para pesquisa se concentra em poucas agências governamentais e algumas grandes fun daçõ es. Por isso, em grand e parte tais org aniz ações determinam os problemas a respeito dos quais se deve fazer pesquisa. Isso é verd ade tan to para as ciências físicas quanto para as ciências sociais
For m ul ação do P r ob l em a de Pesqui sa A escolha de um tópicò para pesquisa não coloca o investigador imediatamente numa posição de começar a considerar os dados que coligirá, quais os métodos a empregar e como
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analisará tais dados. Antes de inicia r tais etapas, / pre cis a formular uin problema específico que possa ser pesquisado por processos científicos] Infelizmente, não poucas vezes ocorre que um pesquisaaor tenta saltar, imediatamente, da escolha de um tópico para a co let a de observações. No melhor dos casos, isso significa que, depois da coleta de dados, enfrentará a tarefa de formular tim problema; no pior dos casos, significa que não realizará qualquer pesquisa científica. (Porque) é uma opinião extremamente superficial dizer que a verdade é encontrada através do estudo dos fatos. É superficial porque nenhuma pesquisa pode começar a não ser que se perceba cer t a d i f i cu l d a d e numa situa ção prática ou teó rica . É a dificuldade, ou problema, que orienta nossa busca de a l g u m a o r d e m ent re os fa t os , em função da qual a dificuld ad e possa ser afastada (Cohec e Nagel, 1934). A pesquisa científica é uma atividade voltada para a soluçao de prob lem as. O prim eiro passo na form ul açã o d a pesquisa é to m a r o probiema c on cret o e explícitõj Embora a escolha de um tópico de pesquisa possa ser determinada por outras considerações, além das científicas, a formulação do tópico em um problema de_pesquisa é a primeira etapa na busca científica a, como tal, deve ser influenciada, fundamentalmente, pelas exigências do proces sõ cíentíficõr (No entanto,[pão existe uma regra infalível para orientar o pesquisador na formulaçãode questões significativas em de term inad a área de pesquis^. 1 Aqui, têm im po rtân cia fundamental o treinamento e os dotes do indivíduo Segundo Cohen e Nagel (1934): A capacidade para perceber, em alguma experiência bruta, a ocorrência de um problema, e, sobretudo, de um problema cuja sol ução se r el aci on a co m a so l u ção de outros problemas, não é talento comum en tre os , homens. ( . . .) É um sinal do gênio cien tífico ser sensível a dificuldades onde pessoas menos dotadas não se perturbam com dúvidas. entanto, é possível enumerar algumas condições que, o mostra a experiência, conduzem à formulação de significativos. E n tre tais condiçõçs, estã o as se
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guintei: imersãò sistemática, através de observação sistemá /tica, no objeto; estudo jda lite ra tu ra existente: discussão com '7 pessoas qa e a cum ular am muita ex p er iência prática no c a m p o de estudo.)1 Po r m ais importantes q ue «essas condições sejam para a foimulação de um projeto de pesquisa, contém um perigo. Na c iên cia social, com o em qualquer dom ínio, os hábitos de pensamento podem interferir na descoberta do novo e inesperado, a não ser que a observação direta e preliminar, a leitura e a discussão sejam conduzidas com uma dis^ posj^ãQ_£ilücaJ_ de curiosidade e j e imaginação^ l/p O p rimeiro passo na form ulação é a descoberta de um .proüíema q ue p recis a ser ^solucionado. Sem esse p asso , a pesquisa não pode caminhar, como se vê pelo episódio seguinte. Todos os verõe s, uma^ mstituição educacional no rte am ericana reúne, por seis semanas, aproximadamente duzentos moços e mo ças de todas as cate go rias sociais. São re pr es en tadas todas as regiões do país, todas as crenças e todas as raças. Alguns dos jovens ião operáiios ou camponeses; ou tros são emp regados d e escritório ou estudantes, São se lec ion ados para esse curso de verão por causa dos indícios de liderança que mostraram em seus sindicatos, suas organizações sociais ou cursos universitários. A instituição patr oc in ad or a pretende dar a esses jovens informação a respeito do muado cm que vivem, uma experiência da vida em grupo, bem como capacidades que permitam a cada um enfrentar, de maneira ainda mais eficiente, as exigências de um papel de liderança em sua esfera d e vida. Os org an izad ores desse em p ree n di mento voluntário convidaram uma equipe de cientistas sociais a lim de discutir a possibilidade de realização de pesquisa na escola. A ra zã o pa ra o convite er a a mesma que faz com que muitas instituições procurem o auxílio de cientistas sociais — a in stituiç ão desejava e sta r' ce rta do valor do p ro grama e estava convencida de que a ciência poderia verificar, isso de m aneira indiscutível. P or tan to, o tópico da pes qu isa prevista era, evidentemente, o valor do empreendimento pidtir.. caííiüQâl. O objetivo da discussão en tre patrocina dores e cientistas sociais era transformar esse tópico, etapa por etapa, num problema de pesquisa. 1 Ver o Ca pítulo 3 para, vima discu ssão minuciosa de plan eja mentos de estudo q ue envolvem tais processos. O valor fun da m en tal do tais pesquisas exploratórias é o fato de poderem conduzir à propo sição dc perguntas mais significativas que as possíveis de outro modo.
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•’• Como é usual em tais discussões, os cientistas sociais começaram com a seguinte pergunta: o que é que vocês gos ( tariam de descobrir em seu empreendimento? E sta foi s e g u i^ ^ da pela pergunta contrária, também usual: o que é que os cientistas sociais nos pod em dizer a respeito? O resto da sessão mostrou, aos dois grupos, as dificuldades da formulação da pesquisa. Superado o obstáculo inicial, os representantes da instituição explicaram, minuciosamente, os seus objetivos finais. Já tinham considerável conhecim ento a respeito dos problemas típicos e dos efeitos imediatos de seu esforço pioneiro, mas seus elevados objetivos e sua visão educacional os impedia de aceitar, como medida adequada de èxito, o evidente prazer que os jovens tinham com a experiência. Pro cu rav am algo que se mostraria fora dos limites da situação educacional e na vida posterior de cad a participante. Ap arentem ente, os problemas imediatos da administração da escola — convocação de alunos, programa, organ ização, etc. — estavam bem controlados. Embora a discussão de efeitos finais fosse muito interessante, concordouse que a pesquisa de tais efeitos não seria possível a não ser em programa de pesquisa de vinte anos, o que a instituição e os cientistas sociais não poderiam, no mom ento, considerar. T od os concordaram tam bém que a competência e a experiência dos educadores era melhor guia para um programa voltado para objetivos finais do que os resultados de esforços de pesquisa em questões secundárias. Em outras palavras: embora houvesse um tópico, não foi possível formular um projeto, realizável sobre os efeitos finais do trabalho da escola; se houvesse interesse pelo estudo de efeitos imediatos, o resultado seria indiscutivelmente div erso . No entanto, apesar do resultado em grande parte negativo, a discussão apresentou um subproduto valioso, embora inesperado sob a forma de esclarecimento dos objetivos e suposições subjacentes ao programa da instituição. Embora este exemplo demonstre que nem todo tópico pod e ser facilm ente transform ado , em projeto realizável de • pesquisa, felizmente é atípico quanto à impossibilidade de chegar a qualquer base a partir da qual a pesquisa poderia ■ser iniciada. Mais freq üe nte m ente é possível identificar algum aspecto que p o d e ser formularjo numa questão específica de pesquisa a ser investigada com os recursos disponí Svéis.
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Como exemplo do processo de formulação, dentro de uma área geral, de um problema do pesquisa, consideremos um estudo de Morris e Davidson (ainda não publicado) sobre estudantes estrangeiros nos Kstados Unidos. Ao decidir que desejavam estudar algum aspecto da experiência de estudo em país estrangeiro, os pesquisadores tinham selecionado um tópico geral. No entanto, gran de número de questões específicas poderia ser pesquisado nessa área. Os estudos exploratórios já realizados tinham dado algumas indicações interessantes. Por exemplo, sugeriam a possibilidade de que os estudantes, num país estrangeiro, passam por uma seqüência uniforme de estádios <1<• ajustamento, que com eç am por uma fase de “espectador” e terminam com uma fase de preparação para a volta ao país de origem . Outra idéia derivad a do período de preparação era a possibilidade dr..queremgrand©' parte, a atitude do estinhmtr diaiiU* do país estran geiro seja" colorida pela posição que ocupa em seu país, combinada com a atitude geraF diante do país esTíangeiro manticla por vários grupos em seu país. Outra sugestão retirad a ~3esses estudos iniciais'era a idéia chi que a atitude do estudante com relação ao país estrangeiro possa ser muito influenciada por sua avaliação da estima, a seus país de origem, por parte dos membros do país que visita. Evidentemente, não seria possível considerar, nos limites de um ú nic o estudo, todas essas possibilidades. Po rtanto, um dos primeiros passos seria selecionar mn tópico que apresentasse uma t ar efa real i záv el . Es te é, muitas vezes , um passo necessário nas primeiras etapas da formulação de problema. O tópico escolhido para pesquisa — seja^_ayajjação do pro grama de uma instituição, um levantamento paradiagnóstico de atitudes e opiniões com relação a questões internacionais, o desenvolvimento de cooperação em pequenos grupos — tem, geralmente, uma amplitude tal que nem todos os aspectos do problem a podem ser pesquisados simultaneamente. A tarefa precisa ser reduzida a um aspecto que possa ser tratado em um único estudo, ou dividido em algumas subquestões que possam ser tratadas em estudos separados. 2 Para uma pequena discussão de um dos estudos qu e conduziram a essa última sugestão, ver o £apítulo 11, pág. 450s.
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Morris e Davidsen resolveram focalizar a seguinte questão: saber como as atitudes dos estudantes com relação, ao país estrangeiro sãó influenciadas por sua percepção da estima, por parte dos membros desse país, a seu pais de origem. Depois de ter limitado o problema a uma questão que poderia ser tratadar~Tazoaiveímente em um único estudo, passaram a várias etapas interrelacionadas: formulação de hipóteses; esclarecimento e definição formal dos conceitos usados no estudo; especificação dos tipos de provas que poderiam servir corno indicadoras dos vários conceitos (isto é, estabelecimento do “definições p ara o trabalho” ); consideração dos métodos ligar esse estudo a outros, que usaram conceitos seme Êara íantes, de forma que fizesse a maior contribuição possível ao conhecimento geral nesse campo. Tais etapas estão tão intimamente ligadas que não é possível trab alha r sepa radam ente com elas. Q ua nd o um pesquisador formula suas hipóteses, precisa definir os conceitos aí incluídos, e nesta definição tende a considerar a relação de seus estudos com outros e com um conjunto geral de conh ecime nto. Apesar disso, para clareza da apresen tação, as várias etap as precisam ser ^discutidas sep arad am ente, e dentro de cer ta ordem. Com eçaremo s com a form ulaçã o de hipóteses — não porque este seja o aspecto que sempre recebe atenção em primeiro, lugar, m as porque, q uando é possível começar por esse aspecto, ele apresenta muita orientação para as outras etapas.
Form ul ação d e Hi pt ft eses
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U m a hipótese é “uma proposição, cóiidição o u princípio que se supõe, talvez sem acré ditar n êle;^a^m ~ d e cneg ar às suas conseqüências lógicas e, por esse méfodò, verificar„Q^eu. acordo co m .fato s. conhecidos oyi que podèrri s e ri e i ificádõs” ( W eb s t e r ' s N ew I n t em a t i o n a l f D T ct i m a f y o f t h e—En gl i sh L a n g u a g e , segunda edição, nãoresumida. 1 9 5 6 ). papel
das hipóteses na pesquisa científica é_sugerir explicações para determ inados fatos e orient a r \/a pesquisa ~ae c ‘ ínãpÕHrtãncíãT dás hipóteses p ara aí pesquisa foi acen CóJhen e Nagel (1934), que afirmam: / N ão podemos dar um único passo adia nte quer pesquisa, se não começarmos com uma
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ou solução sugeridas para a dificuldade que provocou a p es q u isa ./ Tais explicações provisórias nos são sugeridas por algo no objeto e por nosso conhecimento anterior. Q uan do formuladas com o proposições,, são denominadas hipóteses. —^A_fungão de uma hipótese é orientar nossa busca de ordem entre os fatos, [^s sugestões fornTúTãdãs'~nãr hipótese p o d e m ser as soluções para, o pr ob lèm aJ Saber se o são é a tarefa da pesquisa, én ecessár i o que qu alq ue r das sugestões co nd uz a ao nosso objetivoi E , freqüentemente, algumas das sugestões são incompatíveis entre si, de forma que nem todas podem ser soluções p ara o mesmo prob lem a*}1“— Pa recen os que essa é Uma apresentação "precisa da natureza e do valor de hipóteses na pesquisa científica, mas acreditamos que seja excessivamente ampla em sua afirmação de que a pesquisa não pode começar antes da formulação de uma hipó tese. Como m rem os mãís tardé^ um tip o muito importante de pesquisa tem, como objetivo, a formulação de hipóteses significativas a respeito de determinado assunto. Uma hipótese pode afirmar que algo ocorre em d e t e r - minado caso; que um objeto, uma pessoa, uma situação ou um acon tecime nto específicos têm certa ca rac terística . Por s e o M o n o t eísm o , começa exemplo, o livro de Freud, M o i sé com a hipótese de que Moisés era, na realidade, egípcio, e não judeu. D e outro lado, u m a hipótese po de refe rirse à fr eqüêiui kL j á& ^ GCmt exAmGnt o^ ou è ligação entre variáveis. Pode afirmar que algo ocorre em determinada proporção do tempo, ou.qu e. algo tende..a. serac pn ipanhado po r alguma outra coisa,u,ou qu e,.algo. é geralm ente,jüaior;„au_ m en or q u e 'alguma outra coisa^_Jvíuitas pesquisas de ciência social se refèrém “à ' 'íãís^Üp oteses. P or exemplo, os psicólogos pesquisaram a Correlação entre diferentes tipos de capacidade; os sociólogos estudaram a ecologia de crime, e de d oe n ça mental; os antropólogos pesquisaram a relação entre crenças religiosas, costu m es matrimoniais è outras prá tica s d e um a sociedade. t * Outras lilpóteses afirmam que um acontecimento ou característica específica é um dos fatores que d e t e r m i n a m outra cara cterís tica ou outro acontecimento. P or exemp lo, a teoria psicanalítiCa inclui a hipótése de que as experiências
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na primeira in fânc ia são im po rtantes determinantes <1 i personalidade ad ulta . As hipóteses de ste tipo são denom inad as hi pót eses d e r el a ção causal ou apenas hipóteses causais. Serão discutidas mais minuciosamente no Capítulo 1. As hipóteses pQdemser criadas a partir dc várias fontes. XJma..,hipótese pode...hasfiarse apenas, num .“palp ite .” Pode basearse em resultadosd e ou troL.au o utros estuejos, «• na expectativa He que uma relação semelhante entre duas ou mais vanaveis o co rr a no novo estua o . Po d^ decO rreT cTe um coií~ "juntoj^J:eoria que, por um processo de dedução lógica, conduza à preáição. cíê que. soplBêterminadas condições, decorrerão determinados resultados. Quaisquer que sejam as fontes de um a" hij^ tése Te sta r ea liz a uma impo rtante £tinção no estudo: serye, c omo um guia pa ra ( D o tipo de d ados que precisam ser coligidos, a fim de responder à questão da pesquisa^ e. ( 2 ) a maneira de o rganizá los de maneira mais efi...... ciente na análise. L* No en tanto, as fontes da. hipóte se do estudo têm uma relação importante com a natureza da contribuição que a pesquisa fa rá ao conjunto geral do conhecimento. U m a hipótese que surge apenas da intuição ou do “palpite” pode, finalmente, faze r um a contribuição im po rtante para a ciên cia. No entanto, quan do foi^verificada em apenas, um estu do , existem duas lim itações à sua utilidade. E m primeiro lu gar, não existe g aran tia vde que um a re laçã o entre duas variáveis» encontrada em determinado estudo, seja encontrada em outros. V oltand o áao estudo d e M orris e Davidsen — suponhase que os investigadores tenham apenas tido o “palpite” de que os estudantes estrangeiros que acreditam que os norteamericanos têm idéias muito favoráveis aos seus países de origem tendem a ter atitudes mais favoráveis aos Estados Unidos do que os estudantes que acreditam que os norte americanos desprezam seus pa íses de origem. M esm o que se prove que isso ocorre em seu estudo, não haveria forma de julgar se as diferenças nas atitudes, entre os dois grupos de estudantes, realmente decorrem de diferenças em sua percepção d e atitude s dos norteam ericanos com relação aos seus países de origem ou, ao contrário, se algum outro fator na situação exp lica a diferença. E m segundo lugar, u m a hipótese baseada apenas em “palpite” tende a não estar rela 3 No Ca pítulo 11 discute-se a importânc ia das hipó teses no pla nejamento da aná lise-d e iim estudo. '
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cionad a com outro coiiIm i im< ni<> ou outra teoria . P or isso, os resu ltados de um r.iudo In .. ido muna hipótese d esse tipo não têm ligação clai.i ixintu. In n d.i niim eira dessflfi lim itações. Se a Bípótesçj. so na.e u cm i< .uíi.idos do outros estu do s, e se.{ o estudo atual coiiliiin.i .1 hipótese, q rus.ultado auxilia—a, dem onstrar que a iel.i . noite americanos por seu país de orig em tem influenein em >11.ts atitudes com relação aos Estados Un idos. Reduzso em bo ra evidentem ente nã o se elimine — a possibilidade do q u e u aparente relação se deva a alguma condição específica nu determinada situação., { U m a h ipót&se_dgcprrciHo nao apenas de resultado s de um_ estu do a nterior, mas tam bé m d<; teoria ap rese ntada em termos m ais gerais* está livro d a .segunda lim ita çã o j— a de . ‘'est^3©l^ã^a.Id(0..a«n çoujunto mais amplo de_conKeçijnentq.„.. Suponhase, por exemplo, que Morris e Dàvidsen tenham baseado sua predição em uma teoria dc estratificação social, segundo a qual os indivíduos quo ascendem em seu status 1 tendem a ser favoráveis a indivíduos e objetos vistos conto auxílios para seu movimento ascendente, enquanto que os que perdem status tendem a ser desfavoráveis a indivíduos e objetos vistos como colaboradores de seu movimento descendente. A fim de estabe lecer uma relação en tre seu estudo e a teoria geral, precisam ser capazes de demonstrar, de forma convincente, que suas medidas podem ser consideradas como indicadores de mudança de status e que se pode inferir, do maneira razoável, que os estudantes vêem os norteamericanos com o, colaboradores dessa mu dan ça. 4 Se a liga ção entre os dados do estudo e a teoria geral for satisfatoriamente esta v 4 Nas págs. 48s discytese mais minuciosamente a maneira pela qual os pesquisadores desenvolveram esse argumento.
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belecida dessa maneira, e se as resultados do estudo confirmarem a predição, os pesquisadores terão feito uma dupla contribuição. D e um lado, os res ultad os do estudo ajudam a confirmar a teoria geral, ao demonstrar que é válida nessa situação, bem com o em outras em que já foi aplicada. 1)«* outro lado, a aplicação da teoria geral ao caso específico ajudanos a compreender como a percepção, pelos estudantes estrangeiros, das opiniões dos norteamericanos a respeito dc seu país de origem, influi na atitude dos primeiros com relação aos Estados Unidos.5 No caso do estudo de Morris e Davidsen, os pesquisadores puderam utilizar tanto resultados de pesquisas anteriores quanto a teoria sociológica para a formulação de suas hipóteses específicas, a principal das quais era uma versão mais comp lexa da ap res en tad a nos parágrafo s anteriores. O fato do haver resultados significativos de pesquisa e uma teoria significativa simplificou a tarefa da formulação de hipóteses; o fato de ter formulado hipóteses simplificou a tarefa do planejamento dos tipos de dados a serem coletados e da sua análise. A prin cipal hipótese foi .confirm ad a pelos resultados do estudo. Á rela ção ...com pesquisas anteriores a u m e n t o u a confiança na ocorrência cçnstanto da relação entre avaliaçao das opini.Qes dos norteamericànos a respeito do país de ori gerrí de uma pessoa e as atitudes dessa pessoa com relação aos Estados Un idos. O fato de o es tud o ter sido plan ejado em função de uma teoria sociológica sobre os efeitos dc mobilidade ascendente e descendente de status significa que os resultados contribuíram para a confirmação da teoria geral. Ao mesmo tempo, a teoria apresentava uma explicação dos resultados do estudo, como um caso de processos psicológicos mais gerais, apresentados na teoria. O fato de a natureza das relações previstas poder ou não ser apresentada explicitamente — isto é, se podem ou não ser apresentadas como hipóteses no estágio de formulação de uma pesquisa — depende, em grande parte, da situação do conhecimento na área a ser pesquisada. Jl A pesquisa científica pode começar com hipóteses bem formuladas, ou pode formular hipóteses como o produto final da pesquisaj Nem é preciso dizer que a formulação e verificação de hipóteses constituem um objetivo da pesquisa científica. ..
' 5 Para discussão mais minuciosa da relaç ão entre pesquisa em pí rica e teoria, ver o Capítulo 14.
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Apesar disso, não existe, atalho para esse objetivo. E m mu itas áreas de relações sociais, r.ão existem hipóteses significativas. Por isso, é necessário fazer muitas pesquijáas exploratórias, antes de ser possível formular hipóteses. Esse trabalho^exp ío ratório é uma etapa inevitável no progresso científico. Por exemplo, ainda não se sabe muita coisa a respeito da influência de comunidades planejadas no comportamento, nos sentimentos e na visão geral das pessoas que aí vivem. Quando Merton e seus colegas ( em trabalho ainda não pu blicado) procuraram pesquisar esse tópico, 110 caso de conjuntos residenciais públicos nos Estados Unidos, não havia ainda hipóteses bem estabelecidas com as quais pudessem iniciar o estudo . Nessa época, havia poucos estudos d esc ritivos que permitissem a formulação de hipóteses aplicáveis a esse novo fenômeno na paisagem física e social dos Estados Unidos. Os estud os de Merton fora m concebidos em bas e ampla; formulouse uma série completa de problemas interrelacionados de pesquisa é> foi fe ita a previsão de difer entes formas pelas quais se manifestaria o impacto de residências públicas. Um desses problemas referiase à amplitude de participação po lítica. Os locatários de. residências púb licas têm , geralmente, uma oportunidade para participar da responsabilidade da administração dos conjuntos e para eleger representantes locais, mais ou menos como ocorre no governo municipal. N a eta pa de form ulação do problema, p ou co se sabia a respeito desse aspecto do comportamento e de suas conseqüências. Pa reciam igua lme nte possíveis dois efeitos opostos da participação na administração dos conjuntos residenciais. D e um lado, o interesse pelo autogoverno po de ria lsvar os locatários a ficarem tão absorvidos pelos pequenos problemas do conjunto residencial que não se interessassem por questões política s niais am plas. D e outro lado, a p a rticipação no governo de uma pequena comunidade, onde a atuação de forças políticas poderia ser facilmente observaxla, poderia servir como treinamento e, dessa forma, provocar um maior interesse e maior compreensão das forças políticas no plano nacional. No entanto, como não se sabia sequer se os locatários utilizariam a oportunidade de p articip ar no autogoverno, ;ou até que ponto o fariam, seria prematuro que os pesquisadores baseassem o plan o de seu trab alh o em qualquer hipótes e
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refe ren te aos efeitos da participação. Dura nte a pesqu isa, tom ou se evidente qu e a participação e ra a regra. Além disso, ejn dois conjuntos residenciais muito diferentes, verificouse que o interesse pela política local não substituía, mas, ao contrário, iniciava e fortalecia o interesse pelos problem as nacionais. D ian te dessa prova, ago ra é possível começar uma pesquisa em conjunto residencial público — ou, sob esse aspecto, ern qualquer outra situação — a fim d e verificar essa hipótese em diferentes circunstâncias. De outro lado, no campo do preconceito, onde já se realiza ram muitas pes qu isas, é possível realiz ar investigações com hipóteses form ulad as antecipadam ente. Isso foi dem onstra d o no estudo de residências públicas (Deu tsch e Collins, 1 9 5 1 ), discutido no Cap ítulo 1. Co m o se recorda, nesse estudo o problema era o impacto de padrão de residência nas relações entre locatários brancos e negros. A partir de pesquisas anteriores, os investigadores foram capazes de formular, antecipadamente, algumas hipóteses interrelacionadas a respeito dos efeitos dos padrões de residência nas atitudes dos locatários. Tais exemplos demonctram que não tem sentido considerar, como mais “científico,” um estudo que começa com hipó teses do que aq ue le que termina com hipóteses. O tempo para a formulação de hipóteses varia com a natureza do problema e a amplitude de conhecimento anterior a respeito. A form ulação e reformulação de problemas de pe squisa é um processo contínuo. Segundo M ax Weber, sociólogo alemão, “toda realização científica propõe novas questões; deseja ser superada e ultrapassada.”
D cf.r* ç?o de Concei t os Qualquer pesquisador, a fim de organizar seus dados de forma a perceber relações entre eles, precisa empregar conceitos. Um conceito é uma abstração a p artir dè acon tecimentos percebidos, ou, sogundo McClelland (1951), “uma represen tação resum ida d e uma diversidade de fatos. Seu objetivo é simplificar o pensamento, ao colocar alguns acontecimentos sob um mesmo título geral/\ Alguns conceitos estão múito próximos dos objetos ou fatos que representam.
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Por exemplo, o sentido do conceito cão pode ser facilmente exemplificado atr av és da indieuç&o de cães específicos. O conceito é uma a b s tr a io dns carac terísticas que todos os cãe s têm em com um emnctei ísticas que são facilm ente observáveis ou facilm ento nuMisuráveis. No entanto, ou tros conceitos não podem sei t.lo facilmente ligados aos fenômenos que pretendem representai; por exemplo, é isso que ocorre com atitudes , a p r en d i ' n y cm , j h i j h ’ 1 n m ot i v ação. São inferên cias, em nível mais elevado do abstração, a partir de acontecimentos concretos, e seu sentido não pode ser facilmente transmitido através da inuicaçfto de objetos, indivíduos ou acontecimentos específicos. Às ve/es, essas abstrações de nível mais elevado são d e n o m i n a d a s pm:a sua delinição] Devem ser definidos em termos abstratos, dandose o sentido geral que devem transmitir, bem c o m o e m termos das operações através das quais serão represenlados no estudo específico . O prim eiro tipo de definição o necessário para ligar o estudo ao conjunto de conhecimentos que empregam conceitos semelhantes. O segundo é um pas so essencial p ara a realização de qualquer pesquisa, pois os dados devem ser coligidos através de fatos observados. Como exemplo, podemos voltar ao estudo de Morris e Davidsen sobre estu dan tes estrangeiros. Sua hipótese ref eri a se aos efeitos, em suas atitudes com relação aos Estados unidos, da avaiiação do estudante quanto à estima dos norte americanos com rela çã o ao seu país de origem . Na realidad e, co m o já notamos, a hipótese era mais com plexa. Inclu ía os conceitos de “obtenção de status nacional" e “perda de status nac ional”, através de viagem aos E sta d os Unidos. O “status nacional” era definido como “a relativa valorização atribuída ao próprio país, numa escala internacional de comparação.” A hipótese incluía uma distinção entre duas avaliações de status nacional: “o status nacional percebido” — isto é, a avaliação, feita pelo estudante, de seu país; “status nacional per-
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cebido como atribuíd o” — estimativa, feita pelo estuda nte, da avaliação do sou país pelos norteam ericanos. 6 A diferença entro essas duas avaliações dava uma medida de “discropAn eia tio .tatus nacion al.” Esse co nce ito estava ligado à teoria do estratificação social e mobilidade de status, através da suposição de que um estudante que acreditasse que os n o r t e •americanos davam ao seu país uma avaliação superior ã quo elo próprio atribuía, tinha experiência de “elevação de status nacional”, enquanto aquele que acreditava que os norteamericanos davam uma avaliação inferior à que ele próprio atribuía, tinha urna experiência de “redução de status nacional”. Ivsses conceitos básicos eram formalmente definidos através do sentido de el ev a ção d e st at us e perd a de st atus na teoria sociológica geral. Para esse estu do específic o fezse um iníeio do definição de trabalho, definindose el ev ação d e st at u s n r edução d e st at us naci onal através de uma comparação entio duas avaliação feitas pelo estudante — sua avaliação pessoal da posição de seu país e sua estimativa^das avaliações dos norteamericanos. Consideremos, ag ora, como foram nuiLs desenvolvidas as definições de trab alh o. 7
Est abel eci m ent o de D ef i n i ções de Tr abal ho 11 Qualquer que seja a simplicidade ou complexidade tia definição formal de seus conceitos, o pesquisador, para realizar qualquer pesquisa, precisa encontrar alguma f o r m a do traduzilos em acontecim entos observáveis. N;io ó possível estudar “elevação” ou “redução' de status nacional” como tais, 6 O “status nacional real atribuído ” — a avaliação realm ente feita pelos norte-americanos — foi também con siderado, como verifica ção da percepção dos estudantes. 7 Na realidade, alguns outros conc eitos foram também incluíd os nesto estudo; entre eles, o de identificação e o de atitude. Como nos interessamos pelo estudo apenas como exemplo, não consideraremos a forma de definir esses outros termos. 8 O leitor pode observar uma sem elhan ça entre nosso conc eito do definição de trabalho e o termo mais freqüentemente usado, isto é, definição operacional. Evitamos esse term o mais usual porqu e traz consigo algumas conotações filosóficas que não desejamos discutir aqui.
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pois esses conceitos não têm complementos (Liretos em acontecimentos observáveis. O pesq uisad or preoisa cr ia r algumas operações que provoquem resultados < possa aceitar como um ind icad or de seu conceito. ICsto estágio da form ulaçã o do projeto pode exigir muita habilidade, sobretudo se os conceitos estão muito distantes dos acontecimentos cotidianos e :>o foram re aliz ad as poucas p esq uisa s com tais con ceito s. No caso do estudo do estudantes estrangeiros, embora tivesse havido muitas pesquisas a respeito de perda e elevação de status em outros contextos, nenhum estudo anterior irinha lidado sistematicamente com o conceito de “perda ou elevação de status nacional”; por isso, não tinham sido criadas operações que constituíssem definições de trabalho desses termos. Morris o Davidsen já tinh am começado sua definição de trabalho, quando decidiram que sua medida básica «eria a discrepância entre a avaliação de seu país feita pelo estudante e sua estimativa das avaliações dos norteamericanos. No enta nt o, em que term os deveriam ser feitas tais avaliações? Se rá que os estud ante s poderiam apen as rec eber uma lista de países e distribuílos de acordo com a sua avaliação de cad a um deles? E ss a tarefa parecia excessivamente ambígua; a partir de suas reações pessoais, os pesquisadores con cluíram que os países serão classificados de forma diferen te, de acordo com diferentes critérios. Fin almente, estabeleceram três critérioá, através dos quais os países deveriam ser avaliados: nível de vida, padrões culturais e padrões po líticos. A partir d e tais avaliações, seria con struído um índ ice de “status nac ion al.”1 ( É óbvio, a pa rtir deste exemplo, que o passo do estabelecimento de definições de trabalho está muito ligado a decisões a respeito de instrumentos de cole ta de dados e do p ad rão de análise. E st e é outro aspecto d a m an eira pela qu al as etapa s iniciais d eterminam as posteriores, bem como da necessidade de predizer, nas etapas iniciais, as etapas posteriores). As definições de trabalho são adequadas se os instrumentos ou processos neles baseados obtêm dados que constituam indicadores satisfatórios dos conceitos que pretendem representar. Sa be r se esse res u ltad o foi conseguid o é., freqüentemente, um a questão de opinião . Um pesqu isador pode que seus dados apresentam indicadores razoavelmente Í>ensar >ons de seus conceitos; um crítico do estudo pode pensar que i:3so não oc orre . Freqü entem ente aco ntece de o pesq uisado r
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estar ciente de que seus dados constituem apenas um reflexo muito limitado do conceito que te m em mente, mas, sob retudo nos estágios iniciais da pesquisa de um problema, pode não ser cap az d e criar um con ceito mais satisfatório. De qualquer forma, embora geralmente o pesquisador relate seus resultados através de conceitos abstratos, a fim de ligá los mais facilmente a outras pesquisas e à teoria, ele e seus leitores devem lembrar que, na realidade, encontrou uma relação entre dois conjuntos de dados que, segundo pyetende, representam seus conceitos. Assim, o que Morris e Davidsen rea lm en te verificaram foi que a discrepância entre as duas avaliações do país de origem estava ligada às respostas a Certas perguntas sobre os Estad os Unidos. Em bora possam, com prop riedad e, interpretar isso como indício de uma relação entre elevação ou perda de status nacional por parte do estudante estrangeiro e sua atitude diante dos Estados Unidos, devese lembrar que essa interpretação depende da suposição de que as respostas às perguntas da entrevista são adequadas definições de trabalho aos conceitos el ev a ção d e st at us na ci on al , p er d a d e st at us na ci on al e at i t ude co m r el ação ao país em q u e estuda.
L i gação do s Resul t ados com O ut r os Co nh eci m ent os A pesquisa científica é um empreendimento comunitário, embora estudos isolados sejam realizados por pesquisadores que trabalham sozinhos. Cada estu do depende dos anteriores e apresenta a bas e para futuros estudos. Quanto m aior o número de relaçõ es que puderem ser estabelecidas entre d eter minado estudo e outros estudos ou um conjunfo teórico, maior a contribuição provável. Existem duas maneiras principais para ligar determinado estudo a um conju nto mais am plo de conhecimento. Um deles é, evidentemente, examinar a pesquisa e as reflexões já feitas sobre determinado problema ou problemas de pesquisa a ela ligados, e planejar o estudo de forma que este se ligue, no maior número possível de pontos, com o trabalho existente. O segundo é formular o problema de pesquisa em nível suficientemente abstrato, de forma que os seus resultados possam ser ligados aos de outros estudos referentes aos mesmos conceitos.
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O estudo de estudante. « 11m f " ° • q,ie estamos considerando foi formulado mi mv« I m mto « levado de a b stra ção , e assim pod eria ser lanlm. ui< lidado com outros estu dos de status, em diferentes ■11■...... . ........ diferentes populações. Em estudos que dccoriem <1«
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Sc depois puder demonstrar, através de sua análise, que <",^c tipo de desenho é incompreendido porque é aceito literal mente, e não satíricamente, está em condições de aconselhai o artista a experimentar desenhos não-satíricos ou formas p.ira tornar mais clara a sátira. Apenas quando um problema está formulado em termos com sentido ger al é q u e o cientista social p od e ter a espei im, i ile transferir, para outros problemas, o conhecimento obtido corn o estudo de um ú nic o aco nte cim ent o. A generaliza^ i«» .i partir de estudo de acontecimentos únicos exige que o problema de pesquisa seja formulado em termos mais abs tratos do que os necessários se houvesse interesse em respon der a uma pergunta a respeito do acontecimento único. E\ identemente, todo acon tecim ent o na vida humana, qu and o visto ern sua total con cr eç ão , é único. No entanto, por mais raro e atípico que seja, torna-se um problema legitimo pua a pesquisa científica, se se esp ecificam os processos >(//;/" cent es q ue p od em oco rrer cm outras com bin aç ões tdiubt iii únicas. Neste sent ido, um tremor de terra, o bombardeio de
Hiroshima, ou a execução de Mussolini por italianos inline eidos — aco nte cim ent os únicos em todos os sentidos eme. tit uem objet o pa ra pe sq uisa , 9 desde q ue o problema .<■ja form ula do em term os que se refiram aos processos put* u> ial mente observáveis em outras ocasiões. A formulação, dessa maneira, de um problem.i de pes quisa, permite a repetição de estudos sob diferentes eondições únicas. Esse pro cess o de repetição é conh ecido como a r e p r o d u ç ã o da pes quisa . Es ta é essencial pa ra o aumento da con fian ça nos resu ltado s da pesquisa. Por exemplo, a ver i ficação de Morris e Davidsen, segundo a qual existe uma relação entre elevação ou redução de status nacional c atitude para com o país em que o jovem estuda, é interessante e sugestiva; sua coerência com a teoria geral de mobilidade de status permite ma ior confiança no resultado. No entanto, só pode ser aceita como geralmente verdadeira depois de ter sido repetida com outros estudantes, que freqüentam diferen tes universidades, que estudam em outros países, além dos Estados Unidos. Finalm ente, esSa reprodução da pesquisa
9 Evidentemente, uma dificuldade básica para a pesquisa d<- tuis acontecimentos é conseguir estar numa posição em que se possa obter informação fidedigna sobre o acontecimento, as condições que o inicia ram, bem como suas conseqüências.
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mostrará se o processo subjacente qm' o cientista social tinha em mente explicava a relação nitre os dois conjuntas de acontecimentos obser vados, ou se n a explicável por outras condições, ainda não conhecida v que ca racterizavam o estud o específico. Embora seja essencial buscar processos mais gerais, o pesquisador precisa ui.mtei um equilíbrio cuidadoso en tr e sua aten ção à configura., âo uuic a e aos aspectos gera is de suas observações. O desprezo da con figu raç ão única pode conduzir a generalizações falvis e prematuras; o desprezo dos aspectos gerais pode conduzir à impossibilidade de criar princípios qite possam sei usados para a compreensão de outras condições, diferentes das condições específicas estu dadas. Resumo
Muilas consi deraç ões — e nmitas dificuldades — surgem na escolha de um tópico de pesquisa e na sua formulação com o um projeto de pesquisa. Basi cam ent e, tais processos exigem que o cientista social tenha consciência das escolhas possíveis e compreenda as regras que governam a formulação do problema. A formulação de um projeto de pesquisa passa por várias etapas. Em primeiro lugar, o prvhlcnta (/ iic exig e solução ])recisa scr percebido na área circunscrita pelo tópico escolhido. Em segundo lugar, a tarefa dc }>cs(/uisa precisa scr reduzida a ui)i tamanho ciávcl ou dividida em algumas subtarefas, cada uma das quais possa ser realizada em um único estudo. A seguir, existem algumas etapas tão estreitamente rela cionadas que sua ordem não pode ser especificada. Se há conhecimento significativo referente ao problema de pesquisa, a formulação conterá hipóteses, tanto como guia para a coleta e análise de dados, quanto como meio para relacionar o estudo a outros estudos ou a um conjunto de teoria. Se não exi ste suficiente conh ecim ento para dar uma base para o esta bele cimento de hipóteses* nessa etapa, a formulação do problema indicará as áreas em que um estudo exploratório procura estabelecer hipóteses. Haja ou não hipóteses estabelecidas nessa etapa, o estudo exigirá a definição de conceitos, que serão usados na orga
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niza ção dos dados. Tais definições incluirão defi ni ções f o r m a i s y destinadas a apresentar a natureza geral do processo 011 fenômeno pelo qual o pesquisador se interessa, bem como sua relação com outros estudos e com a teoria existente de ciên cia social. Incluirão também defi ni ções d e t rabal ho, que permitem a coleta de dados que o pesquisador acoita como indicadores de seus conceitos. Em todos esses processos, haverá interesse pela possibilidade de genera l i za ção dos resultados e sua relaçiio com outros conhecimen tos. Isso exij e estudo , cuidad oso de tra balhos já realizados no campo, bem como a formulação do problema de pesquisa em termos suficientemente gerais para que esteja clara sua relação com outros conhecimentos e permita a reprodução da pesquisa. Ao formular o problema de pesquisa, as etapas subse- qüen t es no pr ocesso d e pesqui sa precisam ser pr ev i st as , a fim de haver certeza de que o problema pode ser estudado através das técnicas existentes. Tal previsão deve incluir as etapas científicas e práticas.
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Exploralórios
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Estudos Descritivos Resumo
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