UMA BARRETO: UM PENSADO R SOCIAL NA PRIMEIRA PRIMEIRA REPÚBLICA REPÚBLICA
apontar um primeiro modernista, Baudelaire seria sem dúvida o escolhido. ( B e r m a n , 1987, p. 130) Uma das primeiras intuições que salta dos escritos baudelairianos é a idéia de que o sentido da modernidade é surpreendentemente vago e difícil de determinar, rompendo com as antiquadas fixações clássicas que dominavam a cultura francesa de seu tempo. Em suas assertivas, a modernidade nos surge como algo efêmero, contingente,* mas ao mesmo tempo eterno eterno e imutável. imutável. M ov ovido ido pelo impe rativo categórico categórico de orientar orientar-nos na direção das forças primárias da vida moderna, Baudelaire não deixa claro em que consistem essas forças e nem o que viria a ser nossa postura diante delas. Todas as suas representações se movem pelo fluido e inconstante, nos brindando, no decorrer de sua obra, com várias e distintas visões da modernidade, as quais, contraditórias e críticas, perduram até nossos dias. Ao discutir as contribuições de Baudelaire para a compreensão da idéia de modernidade, Berman destaca, em primeiro lugar, a contradição entre as celebrações líricas da vida moderna e os veementes ataques a ela. Essas duas posturas criaram formas modernas de pastoral lã o d e 1 8 4 6 intitulado “Aos burgueses”, e de antipastoral. antipastoral. N o prefácio ao S a lã Baudelaire faz uma resenha crítica das mostras de arte nova nesse ano, construindo sua imagem pastoral. Aqui há uma celebração dos burgueses, considerados inteligentes e dotados de força de vontade e criatividade na indústria, no comércio e nas finanças. Os burgueses são celebrados pelo seu desejo de progresso, que se manifesta não só na economia, mas que se universaliza, atingindo as esferas da política e da cultura. Além do desejo de progresso infinito, os burgueses são também enaltecidos pela crença na livre-troca, ideal que, segundo Baudelaire, deve ser estendido à esfera da cultura para que o pensamento e a vida espiritual não fiquem sujeitos aos “monopolistas das coisas do espírito” que, sufocando a vida espiritual, poderíam privar a burguesia das ricas fontes da arte e do pensamento modernos. Berman chama a atenção para o fato de que essa visão ingênua não sobrevive em Baudelaire, mas que, como as posteriores, proclama a natural afinidade entre modernização material e modernização espiritual; sustenta que os grupos
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