Índice Parte 1 - Introdução___________________ Introdução____________________________________ __________________________________ _______________________________2 ______________2
Enquadramento do curso__________________ curso____________________________ ____________________ ___________________ ________________3 _______3 Objectivos Pedagógicos_______________________________________________________7 Objectivos Gerais............................................................................................7 Objectivos Específicos..................................................................................7
Estrutura Programática________________________________________________________7 Parte 2 – Desenvolvimento_________________ Desenvolvimento_____________________________ ________________________ ________________________ _____________________9 _________9
Fundamentos da Psicologia da Velhice __________________________________________10 1.Implicações do Envelhecimento ......................................................................10
Parte 3 - Conclusão____________ Conclusão___________________ _________________ _________________ _________________ _________________ _________________ ______________46 ____46
Conclusão_________________________________________________________________47 Bibliografia________________________________________________________________48
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PARTE 1
Introdução
Parte 1 - Introdução
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Enquadramento do curso
O envelhecimento da população é um fenómeno observado em todos os países. Os progressos médicos, a melhoria das condições de vida e o declino da natalidade são tais, desde a 2ª guerra Mundial, que o número de pessoas com mais de sessenta anos aumenta de ano para ano. Em Portugal, nos últimos 40 anos, a população idosa (com mais de 65 anos) duplicou, representando cerca de 16,7% da população total. De acordo com as projecções actuais, dentro de 50 anos (2050), este grupo populacional representará uma proporção de 32% da população do país (INE 2002). O aumento da longevidade na sociedade actual coloca novos desafios, em diversos domínios, dos quais se destaca: o da saúde e o da prestação de cuidados. Ao nível da saúde, porque esta constitui um recurso adaptativo e essencial para o idoso ter um envelhecimento normal, e ao nível da prestação de cuidados, porque o avançar da idade implica um maior risco de doença e, consequentemente, uma maior necessidade de cuidados formais e informais. Entende-se o Envelhecimento humano como um processo de mudança progressiva da estrutura biológica, psicológica e social, que se desenvolve ao longo da vida (Ministério da Saúde, 2004). O envelhecimento não é sinónimo de velhice. Este último é o estado que cara caract cter eriz iza a um grup grupo o de dete determ rmin inad ada a idad idade, e, o das das pess pessoa oass com com mais mais de 65 anos anos.. É habitualmente aceite em Gerontologia a idade dos 60/65 anos como a idade limiar para o aparecimento do envelhecimento O envelhecimento é um processo que apresenta algumas características: universal, por ser natural, não depende da vontade do indivíduo, todo ser nasce, ● É universal, desenvolve-se, cresce, envelhece e morre. A vida é um constante processo de modificações e a cada fase de seu desenvolvimento ocorrem transformações múltiplas múltiplas acompanhadas de seus próprios desafios. ● É irreversível, irreversível, apesar de todo o avanço da medicina em relação às descobertas e tratam tratamen entos tos das doença doenças, s, as novida novidades des farma farmacol cológ ógica icas, s, o desenv desenvol olvim vimen ento to de técni técnicas cas estéticas etc... nada impede o inexorável fenómeno, nem o faz reverter. individual, em cada espécie há uma velocidade própria para ● É Heterogéneo e individual, envelhecer, envelhecer, essa rapidez de declínio funcional varia desmedidamente de pessoa para pessoa e numa mesma pessoa de órgão para órgão. ● É deletério, danoso, pois leva a uma perda progressiva das funções. ● É intrínseco. intrínseco.
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O Envelhecimento Normal representa as alterações biológicas universais que ocorrem com a idade e que não são afectadas pela doença e pelas influências ambientais ambientais (WHO, 2001). Daqui decorre a distinção entre dois conceitos que por vezes se confundem: Geriatria e Gerontologia. A Gerontologia Gerontologia é o estudo do processo de envelhecimento envelhecimento sob todos os aspectos: Físico, psicológico, comportamental, social. É uma ciência recente que estuda a vivência dos homens e mulheres que envelhecem. A Geriatria designa os cuidados a prestar aos idosos. È o ramo da medicina que trata os aspectos médicos, psicológicos e sociais da saúde e da doença nos idosos As alterações demográficas chamaram a atenção para a necessidade de promoção do envelhecimento saudável, ou seja, com saúde, autonomia e independência durante o maior período de tempo possível. Assim, devem-se congregar esforços colectivos e individuais no sentido de promover o Envelhecimento Ativo (conjunto de atitudes e acções que podemos ter no sentido de prevenir ou adiar as dificuldades dificuldades associadas ao envelhecimento), envelhecimento), para evitar que esta nobre etapa do ciclo vital se associe a algo “penoso” e seja encarada em termos negativos. Por outro lado, um envelhecimento envelhecimento bem sucedido, ou seja com qualidade de vida (é um conceito amplo, subjectivo, que inclui de forma complexa a saúde física da pessoa, o seu estado psicológico, o nível de independência, as relações sociais, as crenças e convicções pessoa pessoais is)) está está em grande grande parte depen dependen dente te da saúde, saúde, uma vez que que existe existe uma forte correlação entre uma “boa saúde” e a autonomia e a independência do idoso (Ministério da Saúde, 2004). Segundo WHO (2002), o conceito de Autonomia refere-se à capacidade percebida percebida para controlar, lidar com as situações e tomar decisões sobre a vida quotidiana de acordo com as próprias regras e preferências. É a capacidade de cada um para cuidar de si, a capacidade de adaptação ao meio e ser responsável pelas suas acções. O conceito conceito de Dependên Dependência cia está relacion relacionado ado com a incapaci incapacidade dade da pessoa pessoa para a satisfação das necessidades humanas básicas. Uma pessoa dependente necessita da ajuda de terceiros para sobreviver. O Conselho da Europa (1998) define dependência como “ o estado em que se encontram as pessoas que, por perda de autonomia física, psíquica ou intelectual, têm necessidade de ajuda na realização das actividades do quotidiano, de modo particular, nos cuidados cuidados pessoais” pessoais” . Esta definição incorpora três factores:
● Uma limitação física, psíquica ou intelectual; ● A incapacidade incapacidade da pessoa para realizar por si as actividades de vida diária; ● A necessidade necessidade de assistência por parte de outra pessoa
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A dependência surge com resultado do aparecimento de um défice, que limita a actividade, em termos da funcionalidade da pessoa, em consequência de um processo patológico ou acidente. A limitação na actividade necessita de ser compensada com a ajuda de outra pessoa. Independência e Autonomia são termos que definem situações complementares, mas não idênticas. Autonomia está relacionada com a capacidade da pessoa para gerir a sua vida, ou seja, tomar decisões sobre si. A independência está relacionada com a capacidade de desempenho de actividades de vida diária e auto-cuidado. No entanto, a dependência não implica uma alteração do funcionamento cognitivo e emocional. Numa situação de dependência física, este é um aspecto relevante para cuidar, uma vez que o cuidador não a deve confundir com a perda de capacidade para tomar decisões. Que idade temos?
A esta pergunta responderemos espontaneamente que temos a nossa idade cronológica, aquela que está registada no nosso bilhete de identidade. Assim, nós não somos iguais perante o tempo e duas pessoas com 70 anos de idade não têm a mesma idade, senão de um ponto de vista contabilístico. Simone de Beauvoir escrevia que a juventude é o tempo que resta a cada indivíduo para viver e Sartre considerava que era apenas no olhar do outro que se podia ter consciência da própria velhice. Birrem e Cuningham (1985) consideram que cada indivíduo não tem uma, mas sim três idades diferentes: a sua idade biológica, a sua idade social e a sua idade psicológica. A idade biológica está ligada ao envelhecimento orgânico. Cada órgão sofre modificações que diminuem o seu funcionamento durante a vida e a capacidade de autoregulação torna-se menos eficaz. Os órgãos não parecem envelhecer todos ao mesmo ritmo. Em certos indivíduos, o envelhecimento primário exprimir-se-á por uma degradação precoce do sistema cardiovascular, noutros por um envelhecimento cerebral precoce, ou ainda por um declínio funcional de outros órgãos. A idade social refere-se ao papel, aos estatutos e aos hábitos da pessoa, relativamente aos outros membros da sociedade. Esta idade é fortemente determinada pela cultura e pela história do país. As sociedades industrializadas nas quais vivemos assistiram ao desaparecimento dos rituais iniciáticos das suas tradições. Um ritual iniciático é uma cerimónia a que deve ser submetido um indivíduo de uma comunidade, a fim de mudar de estatuto social. Os rituais ligados à adolescência, descritos em particular em certas tribos da América do Norte, constituem bons exemplos. O jovem adolescente era submetido a certas provas que deveria ultrapassar com êxito, a fim de perder o estatuto de adolescente e ganhar o de adulto. A transição entre a adolescência e a idade adulta tornou-se muito débil nas nossas sociedades.
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Se o acesso ao estatuto de adulto se tornou problemático nas nossas sociedades, não acontece o mesmo relativamente ao estatuto do idoso. O ritual da “festa” da passagem à reforma é um costume muito presente nos nossos hábitos. Pode considerar-se como um ritual de transição de estatuto: o indivíduo passa da categoria dos trabalhadores, dos activos ou dos assalariados à dos reformados, dos inactivos ou da terceira idade. Se bem que o direito à reforma seja uma aquisição fundamental da história dos movimentos operários, parece que a vivência desta transição é muito variável de um indivíduo para o outro. Certas pessoas consideram-na como uma morte social, como se fossem postas de lado, o que se faz acompanhar por um sentimento de inutilidade social. Nas nossas sociedades, que valorizam ao extremo o trabalho, ser colocado à margem das actividades remuneradas pode provocar grandes dificuldades psicológicas a algumas pessoas. A idade social está, assim, associada ao papel e ao estatuto que a nossa comunidade nos atribui. A idade Psicológica é relativa às competências comportamentais que o indivíduo pode mobilizar em resposta às mudanças do ambiente. Ela inclui as capacidades mnésicas (a memória) as capacidades intelectuais (a inteligência) e as motivações para o empreendimento. Uma boa manutenção destas actividades permite uma melhor auto-estima e a conservação de um elevado nível de autonomia e controlo. O envelhecimento está associado a um conjunto de alterações biológicas, psicológicas e sociais que se processam ao longo da vida, pelo que é difícil encontrar uma data a partir da qual se possam considerar as pessoas como sendo “velhas”. De um modo geral, o envelhecimento processa-se ao longo do ciclo vital. Ninguém fica velho de um momento para o outro e apenas as alterações progressivas das características das características físicas e mentais das pessoas são indicadores de velhice. São estes factores (biológicos, psicológicos e sociais) que podem preconizar a velhice, acelerando ou retardado o aparecimento e a instalação de doenças e de sintomas característicos da idade madura.
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Objectivos Pedagógicos Objectivos Gerais O curso de Psicologia da Velhice tem como objectivos gerais, dotar os formandos de conhecimentos e aptidões necessárias ao exercício de cuidados para com os idosos, preparando-os para reconhecer os problemas que se colocam à pessoa idosa na atualidade e identificar as mudanças que o corpo humano vai sofrendo ao longo desta nova etapa de vida, de forma a intervir minimizando os fatores de risco, que muitas vezes estão na base das alterações a nível físico, biológico e psicológico.
Objectivos Específicos Em termos de competências específicas a adquirir, pretende-se que no final do curso os formandos sejam capazes de: - Reconhecer as alterações a nível biológico e psicológico; - Diferenciar Geriatria de Gerontologia; - Definir conceito de Envelhecimento; - Promover o Envelhecimento Activo; - Identificar factores de risco; - Distinguir Luto / Depressão; - Conhecer factores que influenciam a mudança de comportamentos sexual na mulher/ homem.
Compreender o enquadramento conceptual da legislação: Lei nº 10.741 de 1º de Outubro de 2003 – que dispõe sobre o Estatuto do Idoso.
Estrutura Programática
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A estrutura programática do curso de formação foi desenvolvida tendo por base as características do público-alvo, as suas necessidades de formação e os objectivos pedagógicos que se pretendem alcançar com a intervenção formativa. Os conteúdos programáticos a desenvolver visam, globalmente, o reforço do nível de conhecimentos e aptidões dos formandos, de forma a potenciar a melhoria do seu desempenho profissional. No âmbito do curso de formação, será prosseguido o seguinte plano de estudos: - Implicações do Envelhecimento •
Envelhecimento Biológico
•
Envelhecimento Psicológico
•
Personalidade: Tipologias
- Reflexão sobre Morte e Luto • •
O Luto Ajustamentos Psicossociais da Velhice
- Envelhecimento e Desempenho Cognitivo •
Inteligência
•
Memória
- Estimular a Mente •
Atenção
•
Raciocínio
•
Criatividade
- Sexualidade na Velhice •
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Factores que influenciam o comportamento sexual na Mulher – Menopausa
•
A Sexualidade depois dos 60
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Amor e Sexualidade na pessoa Idosa
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A Sexualidade no idoso - Mitos
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PARTE 2
Desenvolvimento
Parte 2 – Desenvolvimento
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Fundamentos da Psicologia da Velhice 1.Implicações do Envelhecimento
1.1. Envelhecimento Biológico O envelhecimento do ponto de vista fisiológico depende significativamente do estilo de vida que a pessoa assume desde a infância ou adolescência. O organismo envelhece como um todo, enquanto os seus órgãos, tecidos, células e estruturas sub-celulares têm envelhecimentos diferenciados. O envelhecimento biológico é caracterizado pela diminuição da taxa metabólica (a quantidade calórica ou energética que o corpo utiliza, durante o repouso, para o funcionamento de todos os órgãos, por exemplo, o coração, cérebro, pulmões, intestino), em consequência da redução das trocas energéticas do organismo. Verifica-se uma diminuição acentuada da capacidade de regeneração da célula, o que leva ao envelhecimento dos tecidos. As mudanças corporais associadas ao envelhecimento biológico são decorrentes do facto de as células não serem imortais, da sua substituição não ser ilimitada e devido à morbilidade (exposição a doenças) a que ao longo da vida as pessoas se encontram expostas. Apesar de um início muito anterior, é essencialmente no idoso que as características do envelhecimento do corpo se manifestam e se tornam mais evidentes. A senescência tem início com mudanças no aspecto exterior, no aparecimento de cabelos brancos, lentificação progressiva dos movimentos, alterações do equilíbrio, diminuição da força muscular, diminuição da velocidade de reacção. As principais alterações anatómicas e funcionais dos principais sistemas orgânicos, associadas ao envelhecimento são: ● O sistema cardiovascular – vê-se confrontado com uma menor eficácia do coração, com o endurecimento e o estreitamento das artérias, o que implica um menor rendimento cardíaco; ● O sistema respiratório – perde elasticidade e diminui a capacidade ventilatória. ● O sistema renal - é menos eficiente a eliminar as toxinas e outras substâncias, perde a capacidade de esvaziamento da bexiga, no qual se verifica uma diminuição da elasticidade e perda da massa renal. Como consequência verifica-se uma diminuição da produção de urina, diminuição da sensação de sede e aumento do risco de desidratação. ● O sistema gastrointestinal - é menos eficiente na absorção dos nutrientes, diminui a eficiência da eliminação; verifica-se uma atrofia da mucosa gástrica; alterações da flora bacteriana, da motilidade e dos movimentos intestinais. Em consequência a digestão torna-se
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mais lenta e difícil; verificam-se queixas de desconforto abdominal e há tendência para a formação de flatulência (gases intestinais) e ocorrência de obstipação (prisão de ventre). ● O sistema Digestivo - comprometimento da mastigação devido à falta dos dentes e a alterações mandibulares, atrofia da túnica muscular do tubo digestivo, diminuição das células das glândulas digestivas, diminuição do número de hepatócitos (células encontradas no fígado com capacidade para sintetizar proteínas). O uso de próteses podem levar a dificuldades de mastigação e/ou de deglutição. Em consequência há uma redução do nº de refeições realizadas; diminuição da qualidade nutricional dos alimentos ingeridos e perda de peso devido à diminuição do aporte energético e/ou proteico e da absorção de nutrientes ● O sistema músculo-esquelético – apresenta uma redução da massa muscular e óssea, perda da elasticidade das articulações e perda da força muscular; ● O sistema nervoso – as modificações nervosas descritas na literatura são as seguintes: atrofia do cérebro (perda de peso e de volume); aparecimento de placas senis; degenerescência nerofibrilar (alterações intracelulares verificadas no
citoplasma dos
neurónios); diminuição da neuroplasticidade (em função da diminuição do fluxo sanguíneo); mortalidade neuronal; rarefacção e enriquecimento dendríticos. O cérebro sofre globalmente uma atrofia durante o envelhecimento. O seu volume reduz-se. A atrofia exerceria então uma influência ao nível das actividades cognitivas como a memória, o pensamento, a linguagem, a orientação, a personalidade, etc. Está descrito o aparecimento de placas senis durante o envelhecimento nalgumas regiões cerebrais. As placas senis são lesões que aparecem no neurópilo, ou seja, entre os corpos celulares. Elas são constituídas por um centro que contém uma proteína e por uma coroa constituída por prolongamentos nervosos anormais que são neuritos em degenerescência. A gravidade do envelhecimento varia entre indivíduos e entre áreas cerebrais. A inactividade associada ao envelhecimento leva à diminuição da actividade muscular. A resistência física e a força muscular tendem a diminuir, havendo tendência para a substituição de massa magra por massa gorda. A manutenção de uma actividade física regular constitui uma forma de compensação, contribuindo para a preservação das estruturas orgânicas e do bem-estar aos quais se associa uma menor degeneração neurofisiológica.
O envelhecimento e as sensações e percepções
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Modalidade Gosto Olfacto Cinestesia Tacto Temperatura Dor Equilibrío Visão Audição
Efeitos da Idade Muito fraco Muito Fraco Muito Fraco Forte Forte Forte Muito Forte Muito Forte Muito Forte
Quadro 1 . Efeitos da idade nas diferentes modalidades sensoriais ( Fontaine, 2000) Alguns autores distinguem a percepção da sensação. A percepção seria o “conjunto dos mecanismos fisiológicos e psicológicos cuja função geral é a recolha de informações no ambiente ou no próprio organismo”. A sensação seria a fase da recepção de sinais, provenientes do ambiente, e da sua transformação em influxos nervosos. Em rigor, a continuidade entre sensação e percepção é tal que mais vale falar de processos de tratamento da informação. O envelhecimento perceptivo é muito diferenciado. Algumas modalidades sensoriais, como o olfacto, o gosto ou a cinestesia (sensação de movimento), são pouco afectadas pela idade, ao passo que outras, como a audição, a visão e o equilíbrio, são gravemente afectadas. De todas estas modalidades perceptivas, o envelhecimento afecta de forma mais significativa o equilíbrio, audição e visão, sendo que isto acarreta consequências importantes, e por vezes graves, a nível psicológico e social.
1.2. Envelhecimento Psicológico
Palavras-chave: Velhice bem sucedida; Modelo de Baltes e Baltes: Evitamento
de doenças; Empenhamento Social; Alto nível cognitivo e social
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A vida afectiva dos idosos não é melhor nem pior do que a das pessoas mais jovens, mas há elementos que a tornam mais difícil, por exemplo, a reforma, o sentimento de inutilidade, as perdas no plano físico, emotivo e social. O equilíbrio psíquico do idoso depende, basicamente, da sua capacidade de adaptação à sua existência presente e passada e das condições da realidade que o cercam. A prática clínica tem mostrado, embora nunca de maneira absoluta, que os indivíduos portadores de dificuldades adaptativas em idade, envelhecem com maiores dificuldades de adaptação. Se os acontecimentos existenciais eram sentidos com alguma dificuldade ou sofrimento na idade adulta ou jovem, quando a própria fisiologia era mais favorável e as condições de vida mais satisfatórias e atraentes, no envelhecimento, quando as circunstâncias concorrem naturalmente para um decréscimo na qualidade geral de vida, adaptação será muito mais problemática. Portanto, está correcto dizer que quanto melhor tenha sido a adaptação da pessoa em idades inferiores, melhor será a sua adaptação no envelhecimento. As alterações corporais no idoso têm repercussões psicológicas que se traduzem na mudança de atitudes e comportamentos. O envelhecimento psicológico depende de factores patológicos, genéticos, ambientais, do contexto sociocultural em que se encontra inserido e da forma como cada um organiza e vivencia o seu projecto de vida. Assim, a manutenção de actividades significativas constitui um factor de equilíbrio psicológico por excelência. A qualidade de vida no envelhecimento assume uma importância vital, sendo que a satisfação e/ou o bem-estar psicológico estão associados ao envelhecimento bem sucedido. Baltes e Baltes (1990) apresentam um modelo psicológico de envelhecimento bem sucedido, no qual o idoso saudável mantém a funcionalidade em domínios específicos que dão sentido e significado à sua existência, e através da qual garantem uma compensação relativamente às possíveis perdas associadas ao envelhecimento
Evitamento de doenças
Velhice bem sucedida Empenhamento Social
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Alto nível cognitivo e físico
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1- Representação esquemática de uma velhice bem sucedida A velhice bem sucedida está associada à reunião de 3 grandes categorias de condições: ● Reduzida probabilidade de doenças, em especial as que causam perdas de autonomia = o aumento dos riscos de doenças e de perda de autonomia é tradicionalmente apresentada como sendo essencialmente provocado por factores intrínsecos que escapam ao controlo do indivíduo. Investigações recentes tendem, de facto, a provar que as relações existentes entre a idade, a hereditariedade, os estilos de vida e os riscos de doenças devem ser concebidos de uma forma dinâmica e não mecânica. Realizou-se uma investigação na Suécia com uma amostra de trezentos pares de gémeos com uma média etária de 66 anos, metade dos quais foram criados em conjunto e a outra metade separadamente. Um terço deles eram monozigóticos (gémeos verdadeiros provenientes do mesmo ovo) e os outros dois terços dizigóticos. O estudo avaliou a parte da explicação associada à hereditariedade para os factores de risco de acidentes cardiovasculares e cerebrais. Parece que o peso da hereditariedade é muito variável, de acordo com a idade dos sujeitos. Antes dos 65 anos os riscos são determinados sobretudo pela hereditariedade, ao passo que após os 65 anos eles parecem estar sobretudo ligados ao estilo de vida. Os resultados mostraram que quando uma mulher com menos de 65 anos de idade perde a irmã gémea (homozigótica), o seu risco de morrer nos meses seguintes é quinze vezes maior do que se tivesse mais de 65 anos de idade. Podemos resumir desta investigação três pontos principais. Primeiro, os factores intrínsecos isolados embora importantes, não são dominantes nas pessoas com mais de 65 anos de idade. Os factores extrínsecos e o estilo de vida têm um papel preponderante nos idosos. Segundo, depois dos 65 anos o contributo da hereditariedade diminui em proveito do do ambiente. Terceiro, consequência dos dois primeiros pontos, a velhice habitual é altamente modulável. ● Manutenção de um elevado nível funcional nos planos cognitivos e físico, o que por vezes se denomina velhice óptima = Nós só utilizamos uma parte das nossas capacidades intelectuais e físicas, pelo que o nosso funcionamento raramente é óptimo. Nós dispomos de uma reserva de capacidades físicas e cognitivas susceptível de ser utilizada de acordo com as nossas motivações e as solicitações ambientais. A plasticidade é um conceito geral que se refere às reservas de que o indivíduo dispõe para optimizar o seu funcionamento. A plasticidade diminui ao envelhecer. O declínio dos desempenhos observados em certos domínios cognitivos com o envelhecimento explica-se por um lado, por uma subutilização das reservas e por outro lado, por razões endógenas associadas ao envelhecimento cerebral. Em consequência, a pessoa idosa disporia de grandes ©
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reservas latentes que não lhe permitiriam concorrer com pessoas mais jovens. Baltes distingue dois tipos de reservas: as capacidades de reserva de base e as capacidades de reserva desenvolvimentista. As 1ª são relativas aos desempenhos máximos que um indivíduo pode atingir numa situação, em função dos seus recursos internos e externos. Contudo, os recursos podem ser activados e aumentados, porque é possível desenvolver a capacidade. Baltes designa-as como capacidade de reserva desenvolvimentista. Elas só se exprimem através das aprendizagens a médio e a longo prazo e das práticas de exercitação. A arte de exercitar a própria memória é uma tradição muito antiga que podemos atribuir aos Gregos, que a associavam à prática da retórica (a arte de usar a linguagem para comunicar de forma eficaz e persuasiva), isto é à argumentação e ao debate. Parece que o melhor factor de predição da velhice óptima no plano cognitivo é o nível de escolaridade. É difícil determinar se se trata de uma aquisição precoce que se mantém durante toda a vida, ou se as pessoas com níveis elevados de estudos se sentem mais tentadas na velhice a introduzirem nos seus lazeres actividades (leitura, palavras cruzadas, etc), que favorecem a elevada manutenção da sua cognição. O segundo factor de predição é a capacidade de expiração pulmonar que está significativamente correlacionada com a manutenção das actividades cognitivas. O terceiro factor de predição é o aumento da actividade física fatigante (sem excesso) no domicílio e em seu redor. Finalmente, o último factor de predição é um factor de personalidade. Trata-se da percepção da sua eficácia pessoal ou autoconfiança. Este conceito foi desenvolvido por Bandura (1995) e podemos defini-lo como a crença de uma pessoa nas suas capacidades para organizar e executar as acções necessárias nas diferentes situações de vida diária. É necessária uma crença positiva para a elevada manutenção do intelecto durante o envelhecimento. ● Conservação de empenho social e de bem-estar subjectivo = A participação social define-se por duas componentes: a primeira é a manutenção das relações sociais. A segunda é a prática de actividades produtivas. Destes dois aspectos depende a qualidade de vida na reforma, o bem-estar subjectivo e a satisfação de viver. Muitos idosos sentem-se inúteis e sentem que não estão empenhados em qualquer actividade social produtiva. Guillemard (1970) propôs uma classificação de estilos de reforma: Reforma – retirada = O indivíduo fecha-se no seu ser biológico, manifestando uma limitação do seu campo social e espacial. O tempo concedido ao sono é o mais importante. Os dias são sempre iguais. O indivíduo não se encontra com ninguém, nem desempenha qualquer actividade. Ou seja, a sua participação social e a manutenção de actividades produtivas são inexistentes. Podemos falar de uma reforma “morte social”, contrariamente a uma velhice bem sucedida.
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Reforma Terceira Idade = O reformado integra-se num tecido social através de actividades produtivas. Estas últimas não se resumem a um simples passatempo. Elas ocupam uma posição central na organização temporal e representam um dos principais centros de interesse. Esta prática está associada a um sentimento de velhice bem sucedida. Reforma de lazer ou família = O reformado integra-se socialmente através de actividades de consumo num quadro familiar ou de lazer. Centrado na família, verifica-se então a coabitação do reformado com os filhos, uma forte intensidade das relações familiares e uma participação financeira importante a fim de auxiliar os filhos. Centrado no lazer, o reformado realiza numerosas actividades culturais/desportivas, passeios e viagens. O sentimento de velhice bem sucedida é muitas vezes bom, mas as tensões familiares podem provocar o aparecimento de sintomas depressivos. Reforma Reivindicação = O reformado contesta o estatuto de velho na sociedade. Ele considera que os idosos deveriam unir-se e constituir um grupo de pressão e deveriam conservar um papel activo. Ele manifesta uma preferência por pelo estabelecimento de laços sociais com outros reformados. O sentimento de velhice bem sucedida é muito instável neste tipo de pessoas. Elas podem desenvolver o sentimento de serem injustamente excluídas da sociedade e podem então considerá-la hostil aos idosos. Reforma – participação = O indivíduo integra-se socialmente por procuração, através do seu televisor. O seu consumo televisual ocupa o essencial do seu tempo, mas não se trata de uma actividade produtiva. O sentimento de velhice bem sucedida é fraco e a sedentariedade consecutiva a este modo de vida constitui um risco para a saúde. Esta classificação saliente claramente o nexo existente entre a velhice bem sucedida, o grau de participação social e a prática de actividades produtivas. Estudos revelam que os reformados que praticam o isolamento social e a sedentariedade têm uma esperança de vida significativamente inferior aos reformados integrados socialmente.
1.3. Personalidade: Tipologias A Personalidade é uma estrutura, uma organização, ou ainda um integrador de comportamentos. A palavra integração recorda a existência de um todo organizado, cujas unidades mantêm relações coerentes, o que permite a prossecução de uma finalidade comum.
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A integração funciona ao nível de um conjunto de representações, facto que leva o individuo a adotar comportamentos relativamente previsíveis pelos que o rodeiam. O estudo do envelhecimento da personalidade reconduz-se assim, à questão da estabilidade e de mudanças desta estrutura e deste integrador no decurso da vida (Gana, 1996). A personalidade sofre modificações ao longo do processo de envelhecimento?
Autores como Havighurst, Neugarten e Tobin (1968) descobriram quatro grandes tipos de personalidade presentes em indivíduos entre os 50 e os 90 anos: •
Integrado: As pessoas apresentam um bom funcionamento psicológico, com
uma “vida cheia”, interesses variados com as suas competências cognitivas intactas e retirando um elevado nível de satisfação dos papeis desempenhados. •
Defensivo-combativo: Pessoas orientadas para a realização, lutadoras e
controladas, experimentando níveis de satisfação entre o moderado e o elevado; •
Passivo- Dependente: Dependendo do tipo de funcionamento ao longo da vida,
estas pessoas apresentam na velhice uma orientação passiva ou dependente, mostrando graus de satisfação muito variados; •
Desintegrado: Pessoas com lacunas no funcionamento psicológico, pouca
atividade, controlo pobre de emoções e deterioração dos processos cognitivos com baixa satisfação de vida. Para estes autores, os indivíduos diferem muito na forma como vivem os últimos anos das suas vidas acabando a sua personalidade para ser influenciada com aquilo que sempre foram as reações e os comportamentos ao longo da vida. Das investigações mais representativas dedicadas ao envelhecimento, destacam-se os autores, Costa & McCrae (Costa & McCrae, 1988; McCrae & Costa 1984, 1987). Estes autores utilizaram protocolos transversais, longitudinais e sequenciais, mudanças nas estruturas de personalidade de pessoas com idades diferentes. Foram utilizados diversos questionários para as investigações (NEO – PI) e o (GZTS). O conjunto dos resultados obtidos levou estes autores a concluir que os cinco fatores do Modelo Big Five se encontravam em todos os sujeitos qualquer que seja a idade considerada e se mantem estáveis durante a vida. São eles: ©
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Factores Estabilidade emocional ou Nervosismo
Traços Correspondentes Calmo vs Ansioso; Tranquilo vs Inquieto; Auto- Satisfeito Vs Amargurado com a sua sorte.
Extroversão
Sociável vs Fechado; Divertido vs Sisudo; Caloroso vs reservado.
Abertura de Espirito
Imaginativo vs prático; Gosto pela variedade vs gosto pela rotina; independente vs conformista.
Amabilidade ou Amenidade
Meigo vs Rude; Confiante vs desconfiado; Prestável vs não Cooperante.
Consciência ou Caráter consciencioso
Organizado vs desorganizado; Cuidadoso vs Negligente; Disciplinado vs Impulsivo.
Quadro 1. O Modelo Big Five segundo McCrae e Costa, 1986
Os autores concluíram que a velhice não tem efeitos sobre a personalidade. Estes resultados foram confirmados por outras investigações (Finn, 1986). A personalidade surge assim como uma estrutura homogénea, cujos aspectos estáveis predominam sobre os que se modificam durante a vida. Segundo Hétul (1988), a personalidade construído pelo individuo durante a infância e a juventude é o melhor factor de predição da adaptação à velhice. Ela representa o “eu”, a personalidade, ou o ego que ao longo de toda a sua vidas será o integrador dos seus comportamentos. Certas investigações conferem algumas diferenças a esta conclusão, em particular os trabalhos de Neugarten ( 1964), que demonstram uma forte estabilidade mas com mudanças que não são de negligência. Podemos apontar um individuo com sentimentos de perda de controlo após os 60 anos, de uma atitude ativa para uma atitude passiva face aos acontecimentos. Numa perspetiva mais crítica surge Jung (1933), um dos discípulos de Freud, o criador da psicanálise. A sua oposição foi tão radical como a sua colaboração. Foi o primeiro a considerar que as mudanças importantes na personalidade ocorrem após a adolescência, mudanças estruturais tão importantes como as que se observavam na infância. Segundo Jung, a personalidade organiza-se em redor de duas orientações fundamentais e opostas. A primeira caracteriza-se pela atitude para com o mundo exterior, que
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o autor designa extroversão do passo que a segunda se volta para o mundo interior e para as experiências mentais subjetivas, denominada, introversão. Estes dois aspetos da personalidade estão presentes em todos os indivíduos com saúde mental “normal”. O interesse fundamental do modelo de Jung relativamente à questão do envelhecimento é o de ter postulado à existência de duas tendências fundamentais, que determinam a evolução do individuo no decorrer da sua vida adulta. A primeira é relativa ao par extroversão- introversão, onde produzir-se-ia ima inversão para altura ao meio da vida, que
conduziria o individuo a um novo equilíbrio: •
Na Juventude: haveria a predominância da extroversão, traduzida pela necessidade de afirmação do “eu” e de realização pessoal e profissional.
•
Na 2ª metade da vida : haveria um forte aumento da introversão, a pessoa voltase para análise dos seus sentimentos pessoais para o balanço da vida e para a tomada de consciência do seu encontro inelutável com a morte.
A segunda tendência é relativa ao par feminilidade-masculinidade, onde o autor refere que possuímos “dupla personalidade”, feminina e masculina. Durante a infância, desenvolvemos uma delas e inibimos a outro, a fim de integrar nos nossos comportamentos e nas nossas representações os estereótipos sociais relativos a cada um dos sexos.
2. Reflexão sobre a Morte e o Luto 2.1. O Luto O termo luto refere-se à perda real do objecto – de uma pessoa (ente querido, familiar, amigo...). Embora o luto possa ser acompanhado de depressão e ambos apresentem algumas similitudes torna-se importante demarcar estas duas situações. Em primeiro lugar porque embora não haja luto sem depressão, pode obviamente haver depressão sem luto. Enquanto na depressão o sujeito não sabe muito bem o que perdeu (perdeu o amor do objecto), no luto o indivíduo sabe muito bem que perder o objecto (embora por vezes, principalmente nos primeiros momentos haja alguma tendência para negar a realidade com o intuito de evita a dor). O trabalho de luto, cuja duração é variável – o luto normal está fixado em cerca de 9 meses –, consiste em desinvestir no objecto perdido por investimento em novos objectos.
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Quando o sujeito não realiza esta tarefa produz um luto patológico. De acordo com os autores da psicodinâmica, o luto patológico tem duas razões de ser: a relação não foi suficientemente vivida (quer por ter sido muito curta – como acontece aos pais de bebés que morrem precocemente – quer por ter ficado aquém das expectativas) ou então o indivíduo prefere viver num falso pressuposto (que conduzirá aos terrenos drásticos da psicose) do que a encarar a perda real do objecto. O processo de luto dá-se sempre que há uma perda, mas principalmente depois da morte de alguém que amamos. Não se trata de um único sentimento, mas de um conjunto de sentimentos que necessitam de algum tempo para ser resolvidos e que não devem ser apressados. Segundo Pincus (1976), o processo de luto pode dividir-se em 3 fases principais: fase inicial; fase intermédia e fase de ultrapassagem ou de recuperação., A fase Inicial corresponde às semanas seguintes à morte. A pessoa está chocada e tem sentimentos confusos nos quais se combinam a solidão, a tristeza e a incredulidade. Ele encontra-se num estado depressivo ou semidepressivo, cujo quadro clínico é dominado pela tristeza e pelo choro. Em 25% das situações está presente a negação. Mesmo quando a morte era esperada, este sentimento pode surgir. A pessoas comporta-se como se o falecido continuasse vivo. Este sentimento de torpor ou dormência emocional pode ajudar a levar a cabo todas aqueles procedimentos burocráticos inerentes a este processo, mas pode tornar-se num problema se continuar a subsistir. Pode ser protector e chega mesmo a ser salvador, porque quando a tristeza é demasiado forte, podem aparecer comportamentos suicidas. Ver o corpo da pessoa falecida pode, para alguns, ser um modo importante de começar a ultrapassar tudo isto. Da mesma forma, para algumas pessoas, o velório e o enterro podem ser situações onde a realidade começa a ser encarada. Apesar de ser difícil lidar com estas situações, o facto é que elas constituem um modo de dizer adeus àqueles que amamos. Na altura, estes acontecimentos podem parecer demasiado dolorosos para que sejam vividos, mas o facto é que fugir aos mesmos pode levar a um arrependimento tardio. Fase intermédia = Algumas semanas após o falecimento, o sobrevivente apresenta um padrão psicológico que possui 3 características e demonstra que ele entrou na 2ª fase de luto. Antes de mais, a pessoa sente a necessidade de “negociar” com a morte, através de sentimentos de culpabilidade e de responsabilidade. “Ter-me-ei comportado devidamente?”; “ Não terei apressado a sua morte?”; “Terei tomado as decisões acertadas?”, tais são as questões que à pessoa se colocam. Estas são particularmente cruéis no caso da pessoa falecida se ter suicidado. Segunda característica, a pessoa tenta compreender a razão pela qual o seu familiar faleceu. Trata-se de um trabalho psicológico que tem por finalidade conferir sentido e contextualizar o acontecimento trágico. ©
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Finalmente a terceira característica é a procura da pessoa falecida. Sente-se a sua presença, ouve-se, coloca-se o seu talher à mesa. Certos períodos do ano são propícios à (re) emergência de sentimentos paroxísticos, tais como uma profunda tristeza. São os períodos em que a recordação da pessoa desaparecida se torna especialmente viva. Os aniversários e as festas são os momentos que mais especialmente desencadeiam este estado. Do desaparecimento destes sentimentos depende a saída do luto, isto é, a entrada na fase de ultrapassagem. Fase de Ultrapassagem ou Recuperação = O acompanhamento às pessoas enlutadas tem por finalidade levá-las a entrar na 3ª fase. Verifica-se muitas vezes que o idoso enlutado realizar este trabalho de luto. Se os sentimentos descritos perdurarem para além de dois a três anos, a pessoa pode apresentar um quadro de luto patológico. O sintoma mais frequente é de culpabilidade desmedida e obsessiva. Aparecem perturbações do apetite, do sono e do juízo crítico. A auto-estima degrada-se muito de a fuga para a solidão é considerada o único remédio. A família e os amigos podem ajudar a pessoa em luto passando tempo com ela. Não se trata de falar com ela sobre o sucedido, mas antes de estar com ela e demonstrar que estão presentes para o que for necessário neste período de dor e tristeza. É importante que a pessoa em luto, se necessitar, tenha alguém com quem chorar e falar sobre a perda sentida, sem que o receptor lhe esteja permanentemente a dizer para se recompor e refazer a sua vida. Com o tempo, elas recompor-se-ão, mas antes disso terão de chorar a pessoa perdida e de falar sobre ela. Se algumas pessoas terão dificuldade em perceber porque é que elas se mantêm sempre no mesmo assunto, ao invés de o ultrapassar, o facto é que este processo deve incluir estas fases porque só dessa forma poderá ser ultrapassado. Só desta forma a pessoa em luto terá a oportunidade de nos dizer o que deseja e como se sente. Não nos devemos esquecer que datas importantes (o dia do aniversário, do casamento, etc.) poderão ser particularmente difíceis de reviver e pôr a pessoa em luto a participar activamente na preparação de tais celebrações poderá ajudá-la a não se sentir tão sozinha. É importante dar o tempo necessário à pessoa em luto para que o possa ultrapassar, pois de outra forma poderá vir a ter problemas no futuro. Os sentimentos de dor nas pessoas idosas pela perda de um ser querido costumam ser mais sofridas e durar mais tempo, pelas dificuldades para se ajustar às mudanças, ao sofrimento, à solidão e à insegurança no futuro. A escuta atenta da pessoa de luto pode permitir que se arejem e se debatam as emoções. Algumas são particularmente dolorosas, como a culpa e a tristeza. Todos sabem que algumas pessoas idosas vão ao médico em tempo de luto porque precisam de ser atendidas. Na realidade, necessitam de ser ouvidos e de poder ©
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descarregar as suas emoções que, por não poderem fazê-lo de outro modo, se manifestam em sintomas desagradáveis a nível físico. A existência de grupos de auto-ajuda e de acompanhamento pessoal personalizado são vários dos recursos para satisfazer algumas necessidades das pessoas idosas de luto. Algumas crenças erróneas fomentam uma visão equívoca do luto nos anciãos. Entre elas, a de pensar que os anciãos têm menos tempo para poder recuperar-se do luto, estabelecendo novas relações e objectivos. Do mesmo modo, muitos anciãos dificilmente reconhecem a importância dos seus sentimentos, aprendendo assim a guardar a sua angústia para si próprios e subestimando o poder dos seus sentimentos. Muitos deles consideram que “ já viveram as suas vidas” e que não deveriam preocupar as outras pessoas com os seus lutos. Na verdade há perdas em todas as idades, pelo que o luto não é específico de uma etapa da vida nem o dos anciãos é especialmente diferente do dos jovens. Os idosos em luto respondem ao apoio e ao cuidado das pessoa próximas deles da mesma maneira que as pessoas de outras idades. São tão inoportunas as reacções de menor consideração como as de superprotecção.
CASO: Falando com Pablo, viúvo há uma semana Pablo tem 70 anos e acabou de enviuvar há sete dias. Viveu 50 anos com a sua mulher e os últimos quatro no lar. Ela estava numa cadeira de rodas, mas bem da cabeça. Embora Pablo fizesse a sua vida social com outros companheiros, ele e a mulher passavam muito tempo juntos. Entro no quarto para ver como está. A1- Olá Pablo! Pelo que se vê, a tarde está boa e quente! B1 – Boa tarde, amigo! A2 – (Faz-se silêncio entre nós. Não sei o que dizer ). Bem, e então? Sempre jogou a sua partida de cartas como todas as tardes? B2 – Não. (Olha para o chão) A3 – Porquê Pablo? Ficaria melhor, desanuviava… B3 – Desde que a Dionísia morreu, não me apetece muito jogar! A4 – Vá lá Pablo. Compreendo que não tenha muita disposição, mas deve fazer um esforço. B4 – Sim, mas para o que me resta de vida… A5 – Para o que lhe resta da vida? Vá lá! Coragem, ainda não acabou tudo! Quem sabe? Isso nunca se sabe… B5- Não. Eu agora, só quero morrer e ir para junto da minha mulher. A6 – Não diga isso, por favor Pablo.
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B6 – É a verdade. Que faço agora nesta vida? Nada. A7 – Olhe, por exemplo, graças a si alguns têm com quem conversar, porque o Pablo está cá e eles gostam de si. B7 – (sorri) Pois é, lá isso é verdade. Passamos momentos de tertúlia agradáveis. Está certo. A8 – Vá lá Pablo, toca a animar-se! A vida continua e é preciso vivê-la. Tem de voltar a jogar ás cartas e fazer tudo como antes. B8 – Não. Não é a mesma coisa. Custa-me muito… A9 – Coragem homem, anime-se….
Indicações para reflexão individual ou em grupo - Reflectir e compartilhar sobre as palavras “ Anime-se” e “coragem”, ditas várias vezes. Sete dias depois do falecimento da esposa, será de facto animar-se ou é mais próprio e saudável estar desanimado? Será conveniente usar este estilo exortatório ou será um modo de “passar ao largo” da experiência do dorido? - Pablo está triste. Neste momento a sua vida obscureceu-se, como se não tivesse sentido. Não será normal que isto aconteça perante a perda de uma pessoa com quem se compartilhou tanto? Poder-se-ia ter acolhido esta experiência sem “proibir” experimentá-la, sem negá-la e compartilhando o seu significado?
- Tentar reconstruir uma conversa, substituindo as intervenções não empáticas deste diálogo por outras que acolham e exprimam compreensão dos significados.
2.2. Ajustamentos Psicossociais da Velhice
A participação social do indivíduo na sociedade está relacionada com duas componentes, a manutenção das relações sociais e a prática de actividades produtivas. Contudo, estas duas componentes estão dependentes da qualidade de vida na reforma, o bem-estar e a satisfação de viver. Segundo o sociólogo Durkheim (1897), a ausência de relações e o isolamento, são factores que potenciam comportamentos suicidas, pois o isolamento constitui um factor de risco, e os apoios sociais de natureza emocional podem ter efeitos positivos nesses casos. Existem muitos idosos que desenvolvem sentimento de inutilidade, e sentem que não estão empenhados em qualquer actividade social produtiva. Kaufman (1986), demonstrou a este propósito que o individuo não é considerado “velho” pelos amigos e pela família, enquanto conservar actividades produtivas.
2.2.1. Estilos e Práticas de Reforma e os Reformados
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Guillemard (1970), propõe 5 tipos de práticas de reforma: 1. Reforma-retirada: o idoso isola-se no seu ser biológico, manifestando uma limitação no seu campo social e espacial. Verifica-se uma ausência de projectos, os dias são sempre iguais, o mais importante é o período do sono, mantendo-se mais tempo por casa. A participação social e a manutenção das actividades produtivas são inexistentes, pois não se encontra com ninguém, nem exerce qualquer actividade - Velhice mal sucedida. 2. Reforma terceira idade: as actividades produtivas ocupam uma posição central na organização temporal e representam um dos principais centros de interesse, não é um simples passatempo - Velhice bem sucedida. 3. Reforma de lazer ou família: O idoso reformado integra-se na sociedade através de actividade de consumo num quadro familiar ou de lazer, centrado na família, coabitando com os filhos. Verifica-se uma forte intensidade das relações familiares, numerosas reuniões familiares e uma participação financeira com o objectivo de auxiliar os filhos. O reformado considera que desempenha um papel importante na manutenção da estrutura familiar. Sentimento de velhice bem sucedida , mas as tensões familiares podem provocar depressões. 4. Reforma - reivindicação: a pessoa reformada contesta o estatuto de velho na sociedade. O reformado, é da opinião que os idosos deveriam unir-se e criar um grupo de pressão para conservar um papel activo, manifestando preferência pelos contactos e relações com outros reformados. Sentimento de velhice bem sucedida muito instável, podendo desenvolver um sentimento de serem injustamente excluídas da sociedade. 5. Reforma-participação: o indivíduo interessa-se apenas pelo consumo televisual, ocupando a maior parte do seu tempo, mas não se trata de uma actividade produtiva. O sentimento de velhice bem sucedida é fraco e a sedentariedade constitui um risco de vida. Segundo várias investigações realizadas, os reformados que praticam o isolamento social e a sedentariedade têm um esperança média de vida inferior aos dos reformados integrados socialmente e que desenvolvem ao longo da velhice actividades.
3. Envelhecimento e Desempenho Cognitivo
3.1. Inteligência
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A inteligência é um item complexo e subjectivo. Pode ser dividida em inteligência fluida e cristalizada. A inteligência fluida consiste no processo básico de informação; capacidade de raciocinar, perceber a relação entre os objectos, criar novas ideias e adaptar-se a mudanças (organização da informação em situações concretas). Estão associados a contextos novos (puzzle, descoberta de uma história ou de um enigma). Atinge o seu potencial máximo aos 25 anos, iniciando-se a partir daí o seu declínio. A inteligência cristalizada consiste no processo de aquisição do conhecimento centrando-se na educação (acumulação de informações), no conhecimento e na experiência que os indivíduos adquirem no contexto sócio cultural. Este tipo de inteligência mantém-se e aperfeiçoa-se ao longo da vida, dependendo da educação e das experiências pessoais de cada um (por exemplo, definição de palavras; conhecimentos gerais). Os idosos evidenciam uma maior dificuldade nas tarefas de raciocínio que envolvem uma análise lógica e organizada de material abstracto ou não familiar. No desempenho de tarefas que impliquem planear, executar e avaliar sequências complexas de comportamento, os idosos costumam revelar-se mais lentos que os jovens. No que respeita às aptidões visuais em relação ao espaço, os idosos mantêm a capacidade de reconhecem os lugares e as caras que lhe são familiares, bem como a capacidade de reproduzirem e identificarem formas geométricas vulgares. No entanto, revelam um declínio na capacidade de reconhecerem e reproduzirem configurações complexas ou que não lhes sejam familiares; Diversos factores físicos e psicológicos tendem a diminuir os resultados dos idosos nos testes, o que pode levar à subestimação da sua inteligência: ● Saúde física
● Visão
● Rapidez
● Atitudes
Saúde Física = Adultos mais velhos, tal como adultos mais jovens, dão o melhor de si quando estão em boa forma física e bem descansados. Problemas neurofisiológicos, hipertensão e outros problemas cardiovasculares, que podem afectar o fluxo de sangue para o cérebro, podem interferir no desempenho cognitivo. Visão, Audição e Coordenação = Adultos mais velhos podem ter problemas para compreender as instruções dos testes e realizar certas tarefas. Rapidez = Os limites de tempo na maioria dos testes de inteligência são particularmente injustos para as pessoas idosas. Uma vez que os processos tanto físicos quanto psicológicos tendem a tornar-se mais lentos com a idade. Os idosos saem-se melhor quando dispõem do tempo que for necessário. ©
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Atitudes perante a situação do teste = A ansiedade durante os testes é comum entre adultos mais velhos, principalmente se eles são pouco familiarizados com a situação de teste e não fazem teste há bastante tempo. Eles podem precisar de confiança. O medo de ter falhas de memória pode fazê-lo deixar de responder a perguntas quando não têm a certeza das respostas. Schaie define a velhice como uma fase de reintegração. “ A actividade intelectual só pode mobilizar-se em situações que tenham um sentido para o indivíduo”. O problema da motivação,
torna-se, então, central. O indivíduo pergunta-se porque é que eu devo fazer isto? Desta forma convém manipular com grande precaução os resultados que tendem a dar crédito à ideia de uma degradação maciça das actividades intelectuais. O desempenho cognitivo nos idosos pode ser aperfeiçoado com treino e prática.
3.2. Memória A memória é a função psicológica que nos é mais familiar, tão ligada está a todas as nossas actividades diárias. Acontece frequentemente queixarmo-nos da nossa memória. Os especialistas chamam a este fenómeno “queixa mnésica”. Ela é muito vulgar nos idosos, que têm a tendência para interpretar este esquecimento como um sintoma de amnésia. Exemplos: o homem que sabia sempre o horário dos seus compromissos de cabeça, agora precisa escrevê-los. A mulher que toma vários medicamentos agora separa as doses e coloca-as num lugar onde com certeza possa vê-los. Não obstante, não existem provas de qualquer associação entre a extensão da queixa mnésica e um real défice na memória no idoso. Como todas as funções psicológicas, a memória não é um objecto de estudo que possa ser observada directamente pelo investigador. É ao fazê-la funcionar em situações controladas que podemos chegar a inferir a sua organização. Pede-se ao sujeito que fixe uma série de informações (fase de aquisição) e em seguida, após um espaço de tempo (fase de elaboração), pede-se-lhe que tente recordar o máximo de informações (fase de recuperação). A fim de revelar os processos utilizados pelo sujeito para memorizar, o investigador manipula as variáveis que podem actuar ao nível de cada uma das fases. Podemos distinguir 3 tipos de memórias: ©
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1- MEMÓRIA SENSORIAL consiste na armazenagem de informação, numa fase, muito breve, após a percepção. Os pesquisadores avaliam a memória de curto prazo pedindo a uma pessoa que repita uma sequência de números na ordem em que são apresentados. Embora se tenham verificado diferenças nas memórias sensoriais, entre os indivíduos jovens e os idosos, a memória sensorial não é o módulo mais afectado pela idade. 2-
É na Memória a Longo Prazo que as queixas dos idosos são mais pertinentes.
A memória a longo prazo tem 3 principais componentes: a) Memória Episódica acontecimentos específicos ocorridos em determinado tempo e lugar, tratando-se por isso de uma memória autobiográfica e contextualizada); Exemplos: Lembra-se se fechou o carro? Ou se tomou café de manhã? Este tipo de informação é armazenado na memória episódica e é aquela que tende a deteriorar-se com a idade. A capacidade de recordar informações recém obtidas parece diminuir. b) Memória Semântica (contém os conhecimentos do sujeito sobre o mundo que o rodeia, as palavras, os símbolos e os costumes sociais). A memória semântica não depende de lembrar quando e onde algo foi aprendido. Enquanto a memória episódica declina substancialmente com a idade, a memória semântica pouco ou nada se altera. c) Memória Procedimental (que permite rotinas e hábitos) – Por exemplo lembrarmonos como se anda de bicicleta. Ela inclui habilidades motoras, hábitos e maneiras de fazer coisas que muitas vezes podem ser relembradas sem esforço consciente. 3- Algumas das nossas recordações podem remontar aos nossos primeiros anos de vida. Todos temos recordações da infância, da adolescência ou da juventude, de acontecimentos que marcaram a nossa vida. Algumas recordações parecem, assim, escapar à prova do tempo, guardadas num módulo mnésico específico, a Memória Terciária. Esta resiste de forma impressionante ao efeito da idade. As pessoas idosas recordam com frequência e grande facilidade a sua infância ou juventude. As investigações sobre a memória Terciária são muito raras por questões metodológicas: quando uma pessoa relata uma recordação pessoal, autobiográfica, o investigador não pode verificar a situação de codificação dessa recordação, nem a data em que foi pretensamente armazenada. Em conclusão, afirmar que a capacidade mnésica do idoso é menor, depende do tipo e processo de memória em causa, sendo verdade que nalguns perde potencialidades, mas noutros não. A memória semântica e a memória processual parecem ser insensíveis ao envelhecimento.
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Idade superior a 50 anos; queixas subjectivas de perda de memória, com interferência nas actividades de vida diária mas sem perturbações neurológicas, psiquiátricas ou médicas que possam causar alterações da memória.
“ Clive Wearing era uma pessoa de grande cultura e inteligência. Foi músico da BBC. Um dia ficou profundamente amnésico devido a uma encefalite, causada por um vírus de tipo herpes. Esteve inconsciente durante várias semanas. Depois conseguiu recuperar a consciência, mas não era capaz de recordar qualquer informação nova para além de 2 ou 3 minutos. Vivia permanentemente num estado presente. Se a esposa saísse da sala durante 5 minutos, quando regressavam Clive saudava-a como se ela tivesse estado ausente durante vários meses. Um dia foi encontrado com um bloco de notas e a frase escrita “ Recuperei a consciência às 3h15, com o tempo 3h15 riscado e substituído por 3h20,3h25 e assim sucessivamente. Clive vivia num perpétuo presente, que descrevia assim “ É como estar morto – todo o raio do tempo”. O acesso a memórias anteriores à doença era um pouco melhor, mas mesmo assim bastante deficiente. No passado tinha escrito um livro sobre o compositor Lassus. Embora fosse capaz de responder a algumas questões gerais sobre o compositor, não conseguia referir qualquer pormenor significativo. Os seus conhecimentos gerais eram também bastante reduzidos. Não sabia por exemplo, quem tinha escrito o “ Romeu e Julieta”. No meio deste deserto de recordações, havia uma capacidade bastante bem preservada, nomeadamente a sua competência musical. Uma noite a esposa ao chegar a casa, viu Clive a reger uma peça bastante complexa com o seu ex coro, que tivera a amabilidade de o visitar. Clive era capaz de tocar harpa e cantar e em termos gerais parecia ter conservador a sua maravilhosa aptidão musical. Apesar disto, as deficiências profundas no acesso à MLP e a incapacidade para fixar uma imagem da experiência presente, tornavam a vida de Clive um inferno.
3.3. Estimular Mente Apesar de existir algum tipo de declínio cognitivo associado à idade, admite-se que este se deve, pelo menos em parte, à falta do uso de tais capacidades. A célebre frase relativa ao funcionamento do cérebro “use it or lose it” (use-o ou deixará de funcionar) vem chamar a atenção para a necessidade que a mente tem, assim como o corpo, de ser cuidada e usada ©
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para continuar a funcionar adequadamente. O declínio cognitivo geralmente associado à idade pode ser prevenido, ou até mesmo retardado, através do uso e treino adequados das várias funções cognitivas ou através da adaptação de estratégias de compensação. Da investigação que tem vindo a ser realizada ao nível do treino cognitivo sabe-se que: −
Assim com os jovens, as pessoas mais velhas melhoram o desempenho das tarefas desde que treinem a sua execução;
−
O treino é ainda mais eficaz quando realizado em pessoas mais velhas com algum declínio cognitivo;
− − −
As melhorias mantêm-se no tempo (entre 3 a 6 meses); O treino cognitivo pode compensar o declínio associado à idade em idosos saudáveis; As intervenções de maior duração têm efeitos mais prolongados no tempo e mais facilmente se generalizam às actividades quotidianas. Existem várias formas e modalidades para manter a mente activa, que vão desde
pequenas alterações a introduzir no quotidiano, até ao planeamento de sessões de estimulação, ou mesmo a participação em programas de intervenção cognitiva. A participação em actividades sociais promovidas pela comunidade contribui para uma melhoria do humor, assim como da memória. Permite conhecer novas pessoas e conviver com os amigos, com os quais poderá falar sobre a actualidade, problemas da sociedade, política, criando, assim, oportunidades para discutir e treinar soluções alternativas para os mesmos. Desta forma, estará a treinar a resolução de problemas e a imprimir flexibilidade ao seu pensamento.
A mente e o corpo estão inteiramente interligados. A mente habita o corpo e, portanto, a saúde física tem uma forte influência na saúde mental, verificando-se também o oposto. O exercício físico regular pode ter efeitos positivos na memória, capacidades de raciocínio e tempo de reacção. Segundo alguns estudos, a prática de pelo menos, 30 minutos de exercício melhora a oxigenação cerebral e é o suficiente para obter benefícios para a saúde. Os exercícios aeróbicos estão associados a um melhor funcionamento do sistema nervoso central e da cognição, factores que contribuem para um envelhecimento positivo e redução dos possíveis declínios cognitivos que a ele podem estar associados, podendo inclusive funcionar como protectores da doença de Alzheimer e outros tipos de doenças. Um plano alimentar estruturado que inclua todos os alimentos da roda dos alimentos, pode contribuir para preservar a memória mais tempo. Os alimentos bons fornecedores de
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hidratos de carbono (batata, cereais e derivados) são os de eleição para um bom funcionamento cognitivo, uma vez que depois de metabolizados, vão ajudar a manter níveis normais de açúcar no sangue (glicemia), permitindo que a glicose chegue aos neurónios. Um elevado consumo de alimentos muito açucarados (rebuçados, bolos de confeitaria, chocolates) pode provocar alterações bruscas ao nível de açúcar no sangue (Hiperglicemia), surgindo dores de cabeça, enjoos, sede, cansaço, dificuldades em pensar com clareza, entre outros, podendo surgir efeitos de desaceleração da actividade cerebral, reduzindo o seu desempenho. Alguns nutrientes benéficos para o cérebro são o ácido aspártico, lecitina, ácido glutâmico, fenilalanina, triptofano e tirosina, presentes nos ovos, batatas, cereais, fígado, grãos de soja, farinha, beterraba, amêndoas, carne, tâmaras, iogurtes, leite, queijo, peixe, legumes. As vitaminas do complexo B são também muito importantes para o cérebro, contribuindo para o alívio das enxaquecas e dores de cabeça, controlo do stress, prevenção da doença de Alzheimer e da memória. Finalmente, uma boa hidratação (beber água, sumos de fruta, infusões, tisanas) e uma alimentação saudável rica em hortícolas (brócolos, couve flor, alface, espinafres) e o consumo moderado de vinho maduro tinto às refeições parecem trazer benefícios para a boa saúde cerebral. Bons hábitos de sono são um aspecto fundamental para uma vida saudável, especialmente para o bom funcionamento da mente. Tendencialmente, conforme envelhecemos, necessitamos de dormir menos horas. No entanto, esta diminuição do número de horas não deve ser confundida com as insónias ou outras dificuldades. As dificuldades de sono podem interferir nos processos mentais, nomeadamente na memória e no raciocínio, além de terem consequências ao nível emocional e ao nível do humor. Ter uma Atitude Positiva relativamente ao envelhecimento e à vida pode contribuir para melhorar o desempenho da memória e é uma forma de se manter concentrado, favorecendo uma melhor resolução dos problemas do dia-a-dia. Sabe-se hoje que o riso melhora a função imunológica e reduz a tensão muscular. Contribui também para o relaxamento e a redução do stress, redução da dor, melhora a oxigenação cerebral, o que permite pensar com mais clareza. Muitas outras alternativas existem para estimular a mente. Dedicar algum tempo diário à leitura é uma delas. Ler é um bom hábito que deve ser cultivado. Além de estimular o vocabulário, a imaginação e a memória, é um óptimo entretenimento. Para além disso, aproveitar também os jornais e revistas para fazer os passatempos que costumam ter, como palavras cruzadas, diferenças, sudoku ou sopa de letras. Existe também algumas estratégias de estimulação cognitiva que podem ser utilizadas em momentos mais monótonos, como viagens de comboio ou autocarro, que o ajudarão a passar o tempo de forma mais divertida. Por exemplo, quando está no autocarro pode observar as pessoas que estão à sua volta, depois fechar os olhos e colocar as seguintes questões: ©
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Quantos homens estão no autocarro? Quantas mulheres? Quantas crianças? O que tem vestido a pessoa que está sentada ao seu lado? Quantas pessoas têm uma peça de roupa azul? A estimulação cognitiva pode ser realizada não só através da alteração do seu estilo de vida e de outras modificações no quotidiano, mas também através da resolução de exercícios previamente preparados. A seguir apresento exemplos de exercícios formais para as áreas da inteligência (atenção, concentração, raciocínio, visualização espacial, capacidade verbal e numérica) de memória. Apesar de se apresentarem actividades diferenciadas para cada função cognitiva, em geral, cada actividade trabalha mais do que uma dessas funções em simultâneo.
3.3.1. Atenção A atenção é a capacidade de estar alerta às informações que estamos a receber, seja do exterior (uma imagem, uma conversa, um nome de) ou interior (um pensamento) e está intimamente relacionada com a concentração, já que esta permite manter a atenção focalizada nas informações que seleccionamos. De seguida encontra uma curta avaliação da sua capacidade de estar atento. O seguinte questionário apresenta algumas afirmações relacionadas com a atenção. Deverá assinalar a sua resposta na escala: nunca; às vezes; muitas vezes; muitíssimas vezes. Actividade 1 – Como está a sua atenção?
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Nunca
Às vezes
Muitas vezes
Muitíssimas Vezes
1- Dificilmente me apercebo de que em minha casa um objecto mudou de sítio 2- Sou "cabeça" no ar 3- Estou pouco motivado/a para aprender coisas novas 4- Já não consigo dedicar muito tempo à mesma tarefa 5- Costumo fazer várias coisas ao mesmo tempo e acabo por ter dificuldades em terminá-las 6- Custa-me fixar o essencial 7- O barulho do ambiente incomoda-me 8- Ouço música ao mesmo tempo que estou a ler um livro ou revista 9- Sinto-me cansado 10- Com alguma facilidade esqueço-me daquilo que estava a fazer
Verifique o seu resultado: some os pontos que obteve de acordo com as seguintes cotações : Nunca = 0; Às vezes = 1 ponto; Muitas vezes = 2 pontos; Muitíssimas vezes = 3 pontos Se obteve menos de 13 pontos Em geral está atento e consegue concentrar-se naquilo que tem de fazer. pode, por vezes, não prestar atenção àquilo que lhes estão a dizer ou está a acontecer, mas consegue lidar e compensar essas situações. Se obteve entre 13 e 18 pontos Acontece-lhe algumas vezes ter dificuldades em activar e manter a sua atenção, o que lhe pode criar algumas dificuldades de memorização e concretização, mas que facilmente consegue ultrapassar. Se fizer um esforço adicional para estar atento e manter a concentração, conseguirá ultrapassar estas dificuldades. Se obteve entre 18 e 30 pontos A sua atenção está claramente afectada. Esta situação pode ter várias causas: 1) Estilo de vida pouco saudável; 2) personalidade (ser perfeccionista, desorganizado); 3) Fadiga; 4) Stress; 5) Medicamentos; 6) Condição médica, entre outras ©
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Actividade 1.1 Enigmas Durante 1 minuto e meio tente responder aos seguintes enigmas, anotando as suas respostas.
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Resposta 1- Existe alguma lei que proíba o casamento com a irmã da viúva? 2- Existe o 25 de Abril em Inglaterra 3- Quantos animais de cada espécie conduziu Moisés à sua arca 4- O Benfica e o Porto fizeram 5 jogos de futebol. Cada um ganhou 3. Não houve empates. Com foi possível? 5- De acordo com a lei internacional, se um avião cair na fronteira entre dois países, os sobreviventes do acidente deverão ser enterrados no país de origem ou naquele para onde iam? 6- Alguns meses têm 31 dias, outros têm 30 dias. Quantos têm 28? 7- Quantas vezes podemos subtrair 5 de 25 8- O pai da Maria tem 5 filhas: Lalá, Lélé, Lili, Lóló e…? 9-Numa prova de atletismo, o Pedro ultrapassou o colega que estava em 2º lugar. Em que lugar ficou o Pedro?
Respostas: 1 - Não pode existir lei, pois se a irmã é viúva, então o homem é o marido que faleceu; 2 - O 25 Abril (dia do mês) existe em todos os países; 3 - Foi Noé quem juntou animais de todas as espécies na sua arca; 4 - O Benfica e o Porto jogaram com outras equipas diferentes e não apenas um com o outro; 5 - Os sobreviventes de um acidente não morreram e, portanto, não vão ser enterrados; 6- Todos os meses, sem excepção, têm 28 dias; 7- Uma vez, pois após a 1ª subtracção ficam 20; 8 – Maria 9 - O Pedro ficou em2º lugar, na posição do colega Actividade 1.2 Diferenças Trata-se de uma actividade divertida, que pode ser realizada em conjunto com outras pessoas, acrescentando a componente da competição, o que pode aumentar o desafio e a motivação para a sua resolução. A estratégia é percorrer as duas imagens por partes. Esta
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actividade treina a manutenção intencional da atenção numa determinada tarefa durante algum tempo, assim como a focalização nos pormenores de uma dada situação. Descubra as 7 diferenças entre as duas imagens a seguir apresentadas.
Actividade 1.3 Procura de símbolos Este exercício é uma variante do exercício anterior, mas com um grau de dificuldade maior. Os objectivos e procedimentos repetem-se relativamente à procura de letras, mas o
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símbolo que deverá assinalar é \. Quanto mais rápido for e menos erros e/ou omissões cometer, melhor estará a sua memória.
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Tempo _______________________ Resolução / X / / / / / X
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X / / / / / / /
/ / / X / X / /
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X X / / / / / /
3.3.2. Raciocínio O raciocínio é um processo fundamental, pois permite-nos imprimir lógica às situações ©
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e resolver problemas de forma eficaz. O raciocínio consiste em estabelecer regras e relações que nos permitam compreender algo ou solucionar alguma situação. Complete a actividade seguinte para perceber se é uma pessoa que utiliza a lógica e compreender como está a sua capacidade de raciocínio. Actividade 2 – Como está o seu raciocínio? Responda à seguintes perguntas, assinalando a alínea que melhor o descreve: 1 – Quando conhece uma pessoa pela primeira vez…. a ) A primeira impressão é o mais importante b) Prefere conhecer melhor a pessoa antes de formar uma opinião sobre ela 2- Quando vai a uma loja e passa por um produto em promoção… a ) Compra. Afinal, uma promoção é uma promoção! b) Compara essa promoção com os preços e qualidade dos outros produtos, antes de o comprar. 3 – No que diz respeito a jogos de cartas, gosta mais de jogar… a) Pesca b) Sueca 4- Para cozinhar um prato… a) Improvisa; b) Segue uma receita 5- Quando decide tirar férias… a ) Escolhe o local, prepara a mala no dia anterior e depois vê-se. b) Escolhe o local e planifica previamente aquilo que poderá fazer nas férias.
Exercício 2 Tente resolver o seguinte problema, anote a sua resposta e o tempo que demorou: Estava eu a rezar na igreja quando entram 3 homens com chapéu, acompanhado cada um deles com 3 mulheres. Cada mulher trazia 3 cestos e cada cesto tinha 3 cães rafeiros a dormir. Quantos seres vivos estavam na Igreja? Resposta________________________________________________________
Tempo
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Resposta (Na igreja estavam 94 seres vivos, eu (1), 3 homens, 9 mulheres (3 mulheres para cada homem) e 81 cães (cada mulher com 9 cães). São inúmeras as actividades recomendadas para o treino desta função cognitiva. A resolução de labirintos, enigmas, problemas matemáticos e jogos são apenas alguns exemplos. Vejamos algumas actividades:
3.3.3. Criatividade A capacidade de aprendizagem mantém-se ao longo da vida, assim como a criatividade. A criatividade é a capacidade de produzir algo novo, seja ao nível da escrita, pintura, escultura, música, utilizando os nossos recursos intelectuais e físicos, e principalmente a nossa imaginação. As actividades para estimular a criatividade baseiam-se na apresentação de estímulos que possam desencadear um grande nº de ideias, associações, criações, respostas. Como tal, para as actividades que se seguem, não existem respostas mais ou menos criativas. Não tendo uma solução específica, obterá um desempenho melhor quanto mais criativas forem as suas respostas…mesmo as que lhe possam parecer disparatadas!
Actividade 3.1 Estabelecer ligações Durante dois minutos pense no maior número possível de utilizações para uma porta, relacionando-o com a seguinte lista de palavras ( por exemplo, em caso de naufrágio no mar posso fazer uma jangada com uma porta). Seja o mais criativo possível!
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CAMA
BIFE
MAR
CAMISA
CADEIRA
LUA
GATO
FERRO
ALIANÇA
MOCHILA
CARRO
PINHEIRO
4. A Sexualidade na Velhice
4.1. Factores que influenciam a mudança do Comportamento Sexual na Mulher – Crise da Menopausa Na mulher, a maior parte das alterações identificadas são consequência da entrada na menopausa e da respectiva alteração hormonal. Tendencialmente a acontecer por volta dos 50 anos, a mulher cessa o seu ciclo menstrual e a capacidade de procriação. Durante o tempo que decorre entre os primeiros sinais e sintomas e a menopausa propriamente dita, é normal a mulher referenciar “afrontamentos” (aumento súbito de calor e suor), irritabilidade, cansaço, ansiedade e algumas perturbações emocionais. Para contrariar esse desconforto, a mulher, de acordo com as indicações do seu médico, pode optar pela administração de estrogénios, hormona que acumula também a função de prevenção da osteoporose. Algumas mudanças no organismo da mulher podem dificultar a relação sexual, como por exemplo, o facto de a vagina diminuir de tamanho e de ocorrer uma perda de elasticidade dos seus tecidos, e de se verificar uma diminuição e lentificação da lubrificação vaginal que resultam normalmente numa penetração mais difícil e dolorosa, e numa maior vulnerabilidade à infecção. Estas mudanças podem, ainda, ocasionar dor ao urinar após a relação sexual. Estas são apontadas como as principais razões de diminuição ou perda de interesse pela relação sexual, assumindo-se, erradamente, que “já não é para a minha idade”.
4.1.1.Factores que influenciam o comportamento Sexual no Homem As alterações biológicas e fisiológicas apresentam maiores repercussões no desempenho sexual do homem do que no da mulher. No caso dos Homens, ocorre uma diminuição do nível de testosterona (hormona), provocando uma sensação de fadiga, perda de massa muscular, sintomas de depressão e, nalguns casos, a perda de libido.
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De entre as alterações identificadas, importa aqui destacar as de maior influência na vivência da sexualidade masculina: ● A menor sensibilidade do pénis, a diminuição da produção do fluído seminal (libertado aquando da erecção, com função lubrificante) e o facto de a erecção se tornar mais lenta vão implicar uma maior estimulação peniana directa e a necessidade de uma maior aposta nos preliminares para alcançar a erecção pretendida; ● A menor necessidade física para ejacular e o alargamento do período refractário para 24 a 48 horas (período necessário para alcançar nova erecção) vão introduzir, naturalmente, uma diminuição no número de relações sexual.
4.2. A Sexualidade depois dos 60 Nenhuma destas alterações biológicas é suficiente para justificar o fim da actividade sexual. Contudo, por vezes, ao sentir dificuldades em ultrapassar estas alterações, a pessoa prefere reprimir a sua sexualidade sem partilhar esta angústia com o/a companheiro/a. Este/a por sua vez, poderá sentir-se desvalorizado/a, acabando também por perder o interesse sexual. Trata-se, portanto, de um ciclo que pode levar á diminuição da actividade sexual e, por vezes, á privação de afecto e intimidade da pessoa.
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Alterações Fisiológicas na sexualidade da pessoa
Afastamento e desinteresse pela actividade sexual
Comunicação inadequada no casal
Sentimentos de desvalorização e rejeição no companheiro(a)
Com a idade, os tecidos vão perdendo elasticidade e podem ocorrer algumas dificuldades na movimentação do corpo, pelo enrijecimento das articulações e pela diminuição do tónus muscular. Os casais que abandonam durante algum tempo as relações genitais têm posteriormente maiores dificuldades em alcançar a satisfação sexual, apresentando maiores queixas de presença de dor aquando do coito. Jean - Baptiste Lamarck (1744-1829) também explica esta alteração através da Lei do Uso e do Desuso, indicando que quanto maior for a actividade, menor será o declínio e vice-versa. Assim, pode dizer-se: ● Apesar da grande variabilidade entre as pessoas, nenhuma dificuldade biológica e fisiológica normal ao processo de envelhecimento impede, por si só, o prazer sexual pleno; ● Conhecendo as alterações biológicas, e aceitando-as de forma positiva, a pessoa é capaz de manter e melhorar a satisfação ao nível sexual; ● Embora a frequência das relações possa diminuir, as pessoas mais velhas mantêm-se activas sexualmente e podem, inclusive, descobrir e explorar outras formas de experimentar a sexualidade; A forma de pensar e os valores pessoais exercem grande influência no comportamento sexual da pessoa. Vejamos alguns factores psicológicos relacionados com a sexualidade na velhice: Mulher Tendência para se sentir por comparação com o passado:
Resulta Desenvolvimento de sentimentos de desvalorização pessoal e de baixa auto-estima
- Desinteressante; - Pouco atractiva Maior predisposição para as relações sexuais, Perda do medo de engravidar maior segurança; Vivência de uma sexualidade com maior abertura e liberdade Homem Resulta Medo e ansiedade de: Desvalorização e diminuição do número de Não conseguir uma erecção e/ou relações sexuais; ejaculação; Desenvolvimento de sentimentos de Não conseguir proporcionar um orgasmo à desvalorização pessoal e de baixa auto-estima Por outro lado:
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companheira
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Globalmente os factores psicológicos apresentam uma maior relevância nos homens do que nas mulheres, pelo seu impacto na vida sexual. A ansiedade e o receio de não conseguir alcançar uma erecção/ejaculação são o suficiente para dificultar e por vezes impedir que a mesma aconteça. A cultura machista aponta que o sexo para os homens é indicativo de masculinidade e virilidade, isto é, a potência sexual está directamente relacionada com a identidade masculina. Assim, uma situação pontual de impotência pode causar importantes barreiras na vida sexual do homem. Por outro lado, o facto de a sexualidade masculina estar aparentemente tão centralizada no sexo pode induzir o homem a ter dificuldade em viver de modo global a sexualidade com o/a seu companheiro/a, em valorizar a intimidade entre o casal e obter prazer sexual através de outras formas de sexo. Por seu turno, a mulher, tendencialmente mais valorizada pela sua imagem, pode ver a sua sensualidade e sexualidade diminuídas pelo constrangimento da comparação com a sua imagem na juventude e adultez. A forma como o idoso vive a sua sexualidade está muitas vezes condicionada pela forma como a viveu até então. Assim se compreende que os casais que relatam menor satisfação sexual ao longo da sua vida adulta, são os que na velhice, terminam a sua vida sexual mais cedo, ao invés de outros, que relatam viver as suas melhores experiências sexuais nesta fase das suas vidas. “ Esteja atento à mudança das suas necessidades afectivas, não fique prisioneiro da relação sexual e caminhe no sentido do seu desejo e satisfação”
4.3. Amor e Sexualidade na pessoa Idosa O desempenho e a adopção de estratégias no sentido de melhorar a sua vida sexual e obter o prazer sexual desejado devem ser uma conduta constante ao longo da vida. O presente é vivido tendo em conta o modo como viveu o passado e, portanto, se durante a adultez se preocupou em melhorar a qualidade da sua vida sexual, tem hoje maiores probabilidades de viver uma intimidade sexual mais satisfatória. Uma investigação portuguesa recente verificou que os idosos que se mantêm sexualmente activos são os que praticam exercício físico de forma regular. Apresentaram como benefícios do exercício físico, a boa disposição e a boa aparência, importantes factores na vivência da sexualidade. Apuraram ainda que, existindo uma boa saúde que um “corpo sem dores”, é retirado maior prazer da relação sexual.
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O esquema seguinte pretende mostrar a relação entre a actividade física e a satisfação sexual, contrapondo uma “atitude certa” com uma “atitude errada”, podendo analisar-se as repercussões ao nível do bem-estar. Fica clara a relação entre um estilo de vida acompanhado pela prática de exercício físico e manutenção da sua vida sexual e os benefícios físicos e psicológicos decorrentes. Por sua vez, o bem-estar geral alcançado concorre para a satisfação sexual da pessoa.
ATITITUDE POSITIVA Actividade Sexual
Bem-estar físico e psicológico Motivação e boa disposição
SATISFAÇÃO SEXUAL
ATITUDE NEGATIVA Escassa actividade
Queixas de dor durante o coito Queixas de dor músculo es ueléticas
INSATISFAÇÃO SEXUAL
4.3. A Sexualidade no Idoso – Mitos acerca da Sexualidade
● A sexualidade no idoso: Mitos acerca da sexualidade;
● Factores que influenciam a mudança de comportamentos sexual na mulher – Crise da Menopausa; ● Factores que influenciam a mudança de comportamento sexual no Homem; ● Sexualidade depois dos 60 anos ● Sexualidade e Estado de Saúde
Com o objectivo de se autoavaliar quanto aos conhecimentos e estereótipos em relação à sexualidade na velhice, classifique cada uma das afirmações seguintes como verdade ou falso. Questão 1- Com o processo de envelhecimento, as relações sexuais não fazem sentido ©
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VERDADEIRO
FALSO
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2- O único motivo que leva as pessoas mais velhas a interessarem-se sexualmente por outra pessoa é o desejo de não estarem sós 3- As pessoas na terceira não conseguem alcançar o orgasmo 4- As pessoas mais velhas também se masturbam 5- A sexualidade expressa-se apenas através da relação sexual 6- A actividade sexual faz mal à saúde, especialmente para as pessoas que têm doenças crónicas 7- Os homens mais velhos têm interesse pela sexualidade enquanto as mulheres não. 8- A mulher idosa mantém a capacidade de ter orgasmos múltiplos 9- As pessoas mais velhas que se interessam pela sexualidade são pervertidas e imaturas 10- A necessidade de intimidade e afecto perdura toda a vida e faz parte da identidade 11- Os desvios e perturbações sexuais são mais frequentes na velhice
Respondidas as questões, analise o seu conhecimento contabilizando o número total de respostas certas com o apoio da seguinte grelha de correcção: 1-F; 2- F; 3- F; 4- V; 5– F; 6- F;7- F; 8- V; 9- F;10- V;11- F
A sexualidade é a forma como a pessoa expressa a sua dimensão humana enquanto homem ou mulher, não apenas na relação sexual, mas em todo o seu ser (gestos, voz, andar, maneira de vestir, de pensar, de viver). A sexualidade, portanto, não se limita à genitalidade ou ao acto sexual, mas inclui o desfrutar do prazer do contacto corporal, da comunicação, da segurança emocional e do sentir-se querido. Allen Gomes, in A sexologia em Portugal aborda alguns mitos acerca da sexualidade na 3ª idade: 1- O coito e a emissão de sémen são debilitantes de provocam envelhecimento e a morte; 2- A vida pode ser prolongada pela abstinência na juventude e pela inactividade mais tarde; 3- A masturbação é uma actividade infantil que deve ser posta de parte quando se atinge a idade adulta. Só é praticada por pessoal idosas se estas estiverem seriamente perturbadas;
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4- A satisfação na relação sexual diminui consideravelmente depois da menopausa; 5- Os homens velhos são particularmente vulneráveis a desvios sexuais, tais como o exibicionismo e as parafilias. 6- As mulheres idosas que continuam a apreciar o sexo foram provavelmente ninfomaníacas quando jovens; 7- A maioria dos homens idosos perde o desejo e a capacidade para ter relações sexuais; 8- As pessoas idosas com doenças crónicas ou deficiências físicas devem cessar completamente a sua actividade sexual; 9- A capacidade de execução sexual mantém-se sempre igual ao longo da vida; 10- As pessoas idosas que estão vários anos sem ter relações sexuais não mais poderão vir a tê-las no futuro Quadro 1 – Mitos acerca da Sexualidade na Terceira idade
PARTE 3
Conclusão
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Parte 3 - Conclusão
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Conclusão
O Curso Psicologia da Velhice tem como principal objectivo dotar os formandos de conhecimentos e competências necessárias no exercício de cuidados para com os idosos. Deste modo, foi necessário a abordagem de alguns conceitos, mais concretamente sobre o Envelhecimento e as alterações que surgem na pessoa idosa nomeadamente a nível biológico, psicológico e social, bem como os diversos tipos de personalidade onde se pode compreender este conceito a partir de várias perspectivas de autores. O idoso é por vezes vulnerável a certos acontecimentos de vida que podem pôr em causa o seu bem-estar psicológico, daí ter sido muito importante salientar dois aspectos: a morte e o luto. Aí conclui-se que, podem surgir factores de risco que comprometem um envelhecimento saudável do individuo, sendo necessário um ajustamento psicossocial. O Envelhecimento é um processo universal, irreversível, heterogéneo, deletério e intrínseco. Neste sentido, foi necessário abordar algumas técnicas de intervenção de forma a estimular as funções cognitivas, nomeadamente atenção; o raciocínio e a criatividade. Numa ultima abordagem, foi salientado o papel da sexualidade no idoso e também alguns mitos que muitas vezes estão ainda associados.
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Bibliografia
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Albuquerque, A. (1989), A sexualidade na terceira idade. Geriatria, 2,12 (15-24)
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Bermejo, José (2004). A relação de ajuda no encontro com os Idosos. Paulinas Editora
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Cardoso, Jorge (2004). Sexualidade e Envelhecimento. Sexualidade e Planeamento Familiar , 38/39, 7-13.
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Correia, J. Martins (2003).Introdução à Gerontologia. Lisboa: Universidade Aberta
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Fontaine, Roger (1999) Psicologia do Envelhecimento. Climepsi Editores
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Gomes, F. A. (1987). A sexualidade na segunda metade da vida. A Sexologia em Portugal. Lisboa: Texto Editora
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Oliveira, J.B (2008). Psicologia do Idoso . Editora Legis
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Paúl,Constança & Ribeiro, Oscar (2011). Manual de Envelhecimento Activo. Lidel – edições técnicas
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Sequeira, Carlos (2010). Cuidar de Idosos com dependência física e mental. Lidel - edições técnicas
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Fontaine, R. (2000). Psicologia do Envelhecimento. Climepsi Editores.
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