Religiões do Mundo Mundo I
Religiões do Mundo I Introdução à Religião Comparada
ONZAGA DE C LUIZ G G ONZAGA C ARVALHO N ETO
Aula 01 – O Que É Religião? Religião?
O texto desta transcrição não foi revisto o corri!ido "e#o ator$
O primeiro passo para responder a qualquer pergunta é delimitar o objeto da nossa investigação. Um curso de Religião Comparada deve, naturalmente, começar com a pergunta: “o que é religião!. "ara responder a essa pergunta, n#s observamos o objeto. O objeto, no caso, é comple$o, porque o pr#prio nome é amb%guo & a palavra religião pode ser usada de um modo mais ou menos el'stico. "or e$emplo: “em que medida a pr'tica (ilos#(ica de )#crates era uma religião!, ou: “em que medida o *ao%smo é uma religião Ou o +udismo!. O +udismo é muito di(erente, por e$emplo, do Cristianismo, que, por sua ve, é muito di(erente do -indu%smo, que, por sua ve, é muito di(erente do slamismo. O que /' de m%nimo comum entre todas essas diversas tradiç0es, que permite que n#s c/amemos todas de religião 1uando o objeto é muito inde(inido, ou muito el'stico, n#s começamos esmiuçando a palavra que usamos para designar o objeto. Religião tem sua rai em religar. )up0e2se que a religião é algo que liga, ou religa, o ser /umano a alguma outra coisa. 3qui n#s temos o primeiro ponto comum de todas as tradiç0es que podemos c/amar de religi0es: todas elas possuem mitos, ou 1
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s%mbolos, ou doutrinas segundo as quais o ser /umano, de algum modo & ou no passado, ou num estado superior, ou num outro plano &, est' intrinsecamente ligado a realidades que transcendem o plano terrestre, e que de algum modo ele se esquece, ou rompe essa ligação, e que a religião e$iste justamente para que essa ligação se torne novamente e(etiva. *odas as religi0es diem que o ser /umano é um ser que e$iste numa encruil/ada entre dois planos distintos: o plano terrestre, sobre o qual o ser /umano pode agir, um plano que est', numa certa medida, sujeito 4 intervenção /umana5 e um plano supra2terrestre & ou, usando o mesmo simbolismo: um plano celeste &, que o ser /umano não pode modi(icar, mas que, pelo contr'rio, pode modi(icar o ser /umano. 6ste é o primeiro traço comum entre todas as tradiç0es religiosas: todas elas diem que se voc7 tomar tal (orma & se voc7 se tornar um tao%sta, ou um con(ucionista, um /indu, um cristão &, voc7 ser' modi(icado por um plano que transcende a intervenção /umana. )e n#s observarmos a /ist#ria /umana, veremos que a religião nunca esteve ausente na /umanidade, nunca e$istiu uma sociedade /umana & de que temos not%cia & que não possuiu uma religião. 6ste é outro traço comum, distintivo da religião: a religião é universal, ela sempre esteve junto com o ser /umano. Outro traço: todas as religi0es se diem necess'rias, todas elas diem: “voc7 precisa disto!. 6ntão o -indu%smo di pro /indu: “voc7 precisa disto aqui!5 o +udismo di pro budista: “voc7 precisa disto aqui!5 o Cristianismo di pro cristão: “voc7 precisa disto aqui, voc7 não pode viver sem isto aqui5 se voc7 tentar viver sem isto aqui, a sua vida não ser' completa!. 8e onde vem esta alegação de necessidade 6sta alegação vem de uma concepção na naturea e do mundo que é comum a praticamente todos os povos /umanos, que é: a naturea não (rustra. "or e$emplo: para cada espécie de animal e$istem algumas espécies de alimento, que nutrem e satis(aem as necessidades alimentares daquela espécie. 6ntão tem coel/o, coel/o come al(ace5 tem leão, leão come gaela. "ara que e$ista leão, tem que e$istir gaela5 para que e$ista coel/o, tem que e$istir al(ace. 9amos imaginar a espécie animal que s# come as al(aces auis. mediatamente vem 4 nossa mente: “mas essa espécie não pode e$istir, porque 2
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não e$istem as al(aces auis!. sso quer dier que, na naturea, toda tend7ncia ou inclinação natural de um ser tem um (im pr#prio que é real e e$istente5 se esse (im não (osse e$istente, a naturea daquele animal seria incongruente com a realidade, e aquele animal não e$istiria. 6ntão os pei$es respiram na 'gua porque e$iste 'gua & se não e$istisse 'gua, não se poderia pensar na e$ist7ncia de pei$es. "ois bem, a necessidade da religião surge justamente de algumas necessidades /umanas que estão presentes: o ser /umano tem algumas inclinaç0es que não são satis(eitas por outras coisas. 6ssas necessidades derivam (undamentalmente de tr7s conceitos, que são poss%veis para o ser /umano, e imposs%veis para os outros animais. "or que os outros animais não t7m religião "orque eles não t7m os conceitos que tornam a religião necess'ria para eles. O primeiro conceito é o conceito de 3bsoluto. #s percebemos que uma coisa que e$iste depende de uma outra coisa, que depende de outra coisa, que depende de outra coisa, numa série 4s vees inde(inidamente longa. )e todos os membros da série dependem, a série inteira é dependente. ;
ncias particulares da situação. uma certa medida, n#s modulamos o nosso modo de agir de acordo com a situação, com as circunst>ncias concretas. #s vamos mudando a nossa ação, até que c/ega um ponto em que (alamos: “isso aqui eu não (aço. ndependente de qual seja a situação, isso eu não (aço! & n#s c/egamos num critério absoluto da nossa pr#pria ação: todas as nossas aç0es dependem desse critério, mas ele não depende de nen/uma das nossas aç0es particulares. 3
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O segundo conceito é o de justiça. 1uando uma pessoa nos agride, ou nos o(ende, ou age de (orma aparentemente prejudicial em relação a n#s, nos perguntamos: “isto é justo ou injusto!. O sujeito c/ega em casa e a mul/er atira um prato na cabeça dele, da% ele: “que é isso?!. o instante seguinte, ele lembra: “i/, caramba, /oje era nosso anivers'rio de casamento, e eu esqueci! & a% o sentimento dele muda, não muda Uma coisa é a mul/er atirar o prato na cabeça dele sem nen/um motivo, outra coisa é ela atirar porque ele esqueceu o anivers'rio de casamento. 3 primeira ação n#s diemos que é injusta, que é uma agressão sem motivação5 a segunda: “é mais ou menos justo! & n#s a aceitamos. O conceito de justiça também est' embutido na mente /umana: algumas coisas que nos são dolorosas, n#s as pensamos como injustas5 outras, pensamos naturalmente como justas. 3mbas as e$peri7ncias podem ser dolorosas, mas elas são di(erentes, e elas nos causam sentimentos di(erentes por causa do conceito de justiça. O terceiro conceito é o conceito de morte, ou cessação de(initiva de toda atividade corp#rea. en/um animal possui o conceito de morte. 1uando um outro bic/o da mesma espécie morre, ele pensa que o outro dormiu, e vai voltar a qualquer momento. 1uando o outro começa a se desintegrar e desaparece, ele não entende o porqu7, ele não sabe o que aconteceu. @ como o cac/orro que (ica no tAmulo do dono: ele pensa que o dono est' dormindo l', e que a qualquer momento sair' de l' e tudo continuar' igual.
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simplesmente porque ela corresponde 4s inclinaç0es que surgem no ser /umano diante destes tr7s objetos: 3bsoluto, justiça e morte5 tanto que é muito comum as pessoas se converterem a uma religião ou porque estiveram diante da morte & pr#pria ou de outrem &, ou porque so(reram uma injustiça muito grande ou testemun/aram uma injustiça muito grande, ou porque se (i$aram na idéia do 3bsoluto & querem saber o que é isso que n#s c/amamos de 3bsoluto. 3bsoluto é uma e$pressão negativa: não a(irma nada de direto e positivo sobre o objeto & s# (ala que ele não é relativo, que não depende de outras coisas, mas não nos e$plica o que ele é. 6ntão a religião e$iste justamente para satis(aer os anseios /umanos em relação a esses tr7s conceitos. inguém realmente se converte para uma religião, ou realmente assume uma religião que recebeu desde a in(>ncia senão por um desses tr7s motivos5 qualquer outro motivo é considerado ileg%timo pelas pr#prias religi0es & ou pelo menos insu(iciente: alguns motivos não são ileg%timos, mas são insu(icientes. "or e$emplo, quando alguém di que tem uma religião porque toda a sua (am%lia sempre (e parte daquela religião & não é uma motivação ileg%tima, mas é insu(iciente: ele tem um contato m%nimo com essa religião.
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nAcleo espiritual, um #rgão que é da mesma naturea que esse outro plano, e que se esse #rgão est' ativo, ele percebe esse outro plano. Os budistas vão dier: “todos os seres vivos t7m a naturea de +uda & ela s# est' adormecida!5 Besus Cristo (ala: “o reino dos Céus est' dentro de v#s!, e assim por diante. *odas elas a(irmam a e$ist7ncia de um #rgão espiritual no ser /umano, que ele tem que desenvolver5 desenvolvendo esse #rgão, ele começa a perceber o outro plano tal como ele é. 6$plicar o que é esse outro plano é um tremendo desa(io para a linguagem /umana.
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religi0es dirão que a parte (undamental, ou essencial da religião é a arte de lapidar a j#ia, o primeiro passo para (aer o anel é lapidar a j#ia. 6ssa j#ia é um s%mbolo desse #rgão espiritual que e$iste no ser /umano, pelo qual se percebe o outro mundo, ou percebe o transcendente. a medida em que o ser /umano lapida a j#ia, o que acontece com ela 3s suas propriedades intr%nsecas & a capacidade de re(ratar a lu e mostrar todas as suas modalidades & aparecem5 na j#ia bruta isso não aparece. 6sse primeiro elemento da religião, que é a via espiritual, consiste na arte de lapidar a j#ia do #rgão espiritual. Uma ve lapidada, o sujeito tem uma percepção clara do que é o outro mundo. "odemos associar isto ao
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estado normal5 quando ele volta ao estado normal, ele p'ra para pensar no que ele viu. "odemos compar'2lo ao sujeito que v7 um acidente de carro: na /ora que ele v7, ele capta o que aconteceu, e depois ele senta e começa a pensar: “o que aconteceu! & agora ele vai e$pressar aquilo para ele mesmo. O pensamento é distinto da percepção contemplativa que ele teve.
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3luno: um insi!%t . "ro(essor: um insi!%t , e$atamente5 pode se dar na (orma da intensidade ou pro(undidade com que o sujeito é atingido por uma e$peri7ncia comum, por e$emplo: o sujeito v7 um amigo morrer, e aquilo toca algo nele, que ele (ala: “pera%, de algum modo meu amigo continua!. 6ssa e$peri7ncia tem inde(inidas modalidades, ela não se d' necessariamente na (orma de uma visão. *odo mundo tem algum n%vel de e$peri7ncia m%stica5 evidentemente a maioria das pessoas não vai se dedicar a desenvolver a e$peri7ncia m%stica, porque isso é uma vocação, como qualquer outra & alguns t7m uma vocação, outros t7m outra &, mas todo mundo tem, em alguma medida, alguma e$peri7ncia que estabelece par>metros de(initivos ou absolutos para o seu comportamento. 3luno: é uma mudança de plano. "ro(essor: uma mudança de plano, e$atamente, é uma e$peri7ncia que condu a uma ascese, que causa uma ascese, uma transposição de plano: de repente o sujeito percebe que est' lidando com um plano que é intrinsecamente sagrado & que est' separado da e$peri7ncia comum ou convencional. "or um lado, ele tem a doutrina para l/e e$plicar o que é aquilo5 por outro lado, quando ele não entende, ele tem uma outra qualidade, que é justamente o senso do sagrado. O senso do sagrado consiste no seguinte: o sujeito tem uma e$peri7ncia desse tipo ;m%stica=5 depois que passou a e$peri7ncia, ele se con(unde, especulando com a doutrina, ou conversando com as pessoas, ou vivendo a vida, e a% entra em jogo o senso do sagrado: ele (ala: “o (ato de eu estar con(uso agora não invalida a min/a e$peri7ncia, s# mostra que eu mesmo não estou no n%vel da min/a e$peri7ncia. 3luno: “tive um lampejo, mas não consegui captar!. "ro(essor: e$atamente. Resta para ele duas atitudes: (alar: “a/, não, aquilo l' (oi s# uma ilusão!, ou (alar: “aquilo l' não (oi uma ilusão5 eu é que sou, numa certa medida, uma ilusão, eu é que estou abai$o daquilo l'!. 3 doutrina e 9
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o senso do sagrado são os dois suportes para a intelig7ncia /umana em relação ao plano do transcendente.
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"ro(essor: e$atamente, o rito é e$atamente isso: o rito é um s%mbolo operando, é a operação de um s%mbolo. 6$iste uma e$pressão (amosa: “um s%mbolo é um rito cristaliado, e um rito é um s%mbolo vivenciado!. 8e (ato, um rito é a viv7ncia de um s%mbolo, é vivenciar um s%mbolo. 3luno: e o s%mbolo encerra todas as...;(ai$a , DminEFs=. "ro(essor: e$atamente, ele contém, de (orma (i$a, toda a potencialidade de um rito. 3luno: praticar um rito, mesmo sem o acompan/amento do s%mbolo que est' por tr's daquilo, ainda assim tem validade "ro(essor: ainda assim tem validade. O rito tem uma validade intr%nseca. 6sta validade intr%nseca deriva do qu7 8eriva primeiro de sua retidão & ali's, ele se c/ama rito justamente por isto &, sua retidão simb#lica5 segundo: pela belea e bondade intr%nsecas do objeto do rito. ndalo que o porco (a pra ser abatido 9oc7s j' viram o abate de um carneiro 1uando voc7 deita o carneiro pra abat72lo, e voc7 s# toca na cabeça dele, ele p0e a cabeça pro lado e mostra a jugular. O porco não, ele (a um esc>ndalo desgraçado, é um neg#cio monstruoso, uma gritaria /orrenda & seria mel/or mat'2lo a tiro? 6ntão o carneiro é um s%mbolo da mansidão sacri(icial. @ por isso que os judeus e os muçulmanos sacri(icam carneiros em algumas (estas, para se recordar da atitude que eles mesmos t7m de ter em relação a 8eus. O carneiro, por si, j' é uma imagem da mansidão. "or isso, 8eus (ala para os judeus: “no dia 11
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tal, voc7s matam um carneiro, para que voc7s se recordem disso, disso e disso5 para que voc7s vivam a sua mansidão!. 3luno: como que uma pessoa que não sabe que o carneiro se comporta assim perante a morte capta esse s%mbolo "ro(essor: realmente não tem jeito, e$ceto observando o animal com uma certa continuidade. 3luno (a coment'rio. "ro(essor: sem nen/uma re(er7ncia, é di(%cil que voc7 entenda, é muito di(%cil entender mesmo. 3luno: como que seria transmitido esse con/ecimento "ro(essor: esse con/ecimento é transmitido, primeiro, pela doutrina. "or e$emplo: “n#s abatemos o cordeiro porque ele é a imagem...!. 3luno: é a verbaliação. "ro(essor: é a verbaliação. 3luno: o rito, sem a doutrina, (ica di(%cil de compreender. "ro(essor: (ica di(%cil de compreender. O rito, sem a doutrina, tem apenas a belea intr%nseca. "essoas mais sens%veis 4 belea podem perceber na /ora: “/' um mistério por tr's disso5 parece que 8eus est' agindo aqui! & mas ainda assim elas precisarão do complemento doutrinal. Gs vees essa motivação & a belea intr%nseca do rito & é su(iciente para motivar o sujeito para uma via na qual ele e$perimentar' esse mistério, e a%, quando ele ol/ar novamente para o rito, ele perceber' o rito como uma imagem do mistério. 3 doutrina serve para antecipar abstratamente o que a e$peri7ncia m%stica revelar' para o sujeito5 ela prepara e indica mais ou menos o que voc7 e$perimentar' se voc7 se dedicar 4 m%stica.
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3luno: a vocação para isso é intr%nseca 4 pessoa "ro(essor: ninguém sabe. 3 via m%stica, em Altima an'lise, est' inscrita no coração de todos os seres /umanos5 mas quando o sujeito viver' a vida m%stica "ode ser que ele s# viva na outra vida.
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aquilo!. *emos, no total, seis elementos que e$istem para manter o sujeito como que ligado ao transcendente mesmo quando ele não est' na e$peri7ncia direta do transcendente: o senso do sagrado e a doutrina, que se re(erem 4 intelig7ncia5 a bondade e a belea do rito, que se re(erem 4 vontade5 e os mandamentos positivos e negativos, que se re(erem aos sentimentos. *odas as religi0es t7m mandamentos tanto positivos como negativos. "or e$emplo, no slamismo: “(aça cinco oraç0es por dia! & esse é um mandamento positivo. “ão mate! & esse é um mandamento negativo. *odas as religi0es diem para voc7 (aer algumas coisas, necessariamente, e não (aer outras, também necessariamente. Os mandamentos, ao contr'rio do que costumamos pensar em geral, não e$istem em princ%pio como restriç0es 4 vontade, mas como restriç0es aos sentimentos. Gs vees temos o sentimento, por e$emplo, de que s# ao matar determinada pessoa (icaremos (elies & 4s vees é até um sentimento justo, mas geralmente não é, e o (ato é que o sentimento, por si, não di se ele é justo ou injusto. 6ntão esse ser' o critério pelo qual investigaremos cada uma das religi0es: primeiro, em que consiste, ou quais são as vias espirituais que a religião o(erece & isso se re(ere 4 lapidação da j#ia, ou despertar do #rgão espiritual5 segundo, qual é a doutrina dessa religião5 terceiro, quais são os seus ritos5 quarto, quais são os seus mandamentos. 6videntemente, as maiores semel/anças entre uma religião e outra se darão no plano da via espiritual, uma ve que a via não é senão o encontro do ser /umano, enquanto espécie, com o 3bsoluto. B' a doutrina, os ritos e os mandamentos são uma espécie de tradução desse encontro no plano terrestre5 essa tradução, evidentemente, pode se dar em diversas l%nguas. 3s di(erenças entre a via espiritual /indu, e a via espiritual cristã, por e$emplo, serão muito pequenas5 mas a tradução do que é visto ou contemplado nessa via em termos doutrinais pode ser muito di(erente em uma religião e na outra. "or qu7 "orque a doutrina é somente um s%mbolo do que (oi e$perimentado5 isso quer dier que a mesma e$peri7ncia pode levar as e$press0es doutrinais muito 14
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di(erentes. 6ssas e$press0es doutrinais, evidentemente, não podem ser absolutamente di(erentes & porque, a(inal, se re(erem ao mesmo objeto &, mas elas podem parecer muito di(erentes, assim como, em di(erentes idiomas, as palavras que signi(icam o mesmo objeto podem soar muito di(erentes5 não é necess'ria nen/uma semel/ança (onética entre um voc'bulo que signi(ica “pedra! em uma l%ngua, e o voc'bulo que signi(ica “pedra! em outra l%ngua5 a Anica coisa que eles terão em comum é o (ato de signi(icarem o mesmo objeto. Como entenderemos a doutrina de uma religião distante de n#s 8o mesmo modo como aprendemos uma l%ngua que nos é descon/ecida. )e c/egamos a Hilliput, e não temos a menor idéia do que as palavras signi(icam, como descobrimos o seu signi(icado "elas relaç0es entre as palavras. "or e$emplo, o sujeito (ala “pedra! e aponta para a pedra, então voc7 pensa: “essa palavra deve querer dier IpedraJ, ou IapontarJ, ou alguma coisa assim!. 3% voc7 j' sabe que ninguém poder' dier, mesmo na l%ngua lilliputiana, que a pedra é mole, porque em Hilliput, como em todos os outros lugares, as pedras são duras. @ pelas relaç0es entre as palavras que começamos a captar o sentido das palavras numa l%ngua descon/ecida. 8o mesmo modo, numa religião, se queremos entender e comparar a doutrina de uma com a doutrina de outra, não é com um conceito isolado que a entenderemos. "or e$emplo, o conceito de graça, que é (undamental na doutrina cristã: 8eus (a certas coisas boas para o ser /umano sem que este ten/a algum mérito5 6le (a isso s# porque 6le é bom, sem que voc7 mereça isso & não e$iste uma reciprocidade, ou uma bilateralidade entre o que voc7 (e e o que 8eus (e pra voc7. 6sse não é um conceito (undamental no Cristianismo *odo mundo sabe, quando gan/a alguma coisa: “isso (oi a graça de 8eus, eu não tive nada a ver com isso5 eu não merecia, não (i nada para que isso acontecesse, mas aconteceu. ão (oi em retribuição a alguma coisa que eu (i!. B' no +udismo, /' um conceito2c/ave para o entendimento da doutrina que é, tomado isoladamente, completamente estran/o ao conceito de graça, que é o conceito de Karma. O budista dir': “tudo que acontece com voc7, se 8eus te abençoa, é porque voc7 (e alguma coisa, num estado anterior, e agora voc7 acumulou o Karma5 o Karma amadureceu, e 15
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aconteceu isso. *udo que te acontece é um e(eito do que voc7 (e!. )e tomarmos somente os conceitos isolados de graça e de Karma, poder%amos dier que não /' nen/uma ligação em comum entre Cristianismo e +udismo, porque um di que a realidade (unciona na base da bondade divina, e o outro que a realidade (unciona na base de um sistema ordenado de causa e e(eito. ão d' para entender os dois conceitos se os tomarmos isoladamente. O que temos que (aer *emos que questionar: “por que e$iste o conceito de graça no Cristianismo 6ste conceito deriva de que componentes da doutrina, e o que ele visa a e$plicar da realidade!. Ou seja, eu terei que ligar este conceito com v'rios outros conceitos doutrinais, para que eu o entenda. 8epois terei que tomar o conceito de Karma no +udismo, e (aer a mesma coisa: “por que e$iste o conceito de Karma no +udismo 8e que princ%pios da doutrina ele deriva 1ual é a (inalidade desse conceito no conjunto da doutrina!. 3% veremos: “a/, o conceito de Karma é muito mais parecido com o conceito de graça do que eu pensava!, porque eles t7m (unç0es doutrinais semel/antes. 3 comparação entre as religi0es nunca pode se dar por conceitos ou atos isolados. Uma religião (ala que deve /aver monogamia, a outra (ala que tem que /aver poligamia5 essa aqui (ala que não pode /aver div#rcio, aquela (ala que pode /aver div#rcio. )e eu pegar s# o conceito isolado, eu nunca vou entender do qu7 que cada uma das religi0es est' (alando. "or qu7 "orque a religião, como um conjunto, uma totalidade, é e$clusiva, é Anica & essa é uma caracter%stica de toda per(eição terrestre. Como um (enLmeno terrestre, como um evento que acontece na *erra, a religião possui uma unicidade, e toda unicidade e$clui outras unicidades. "or e$emplo: o sujeito tem RMENN,NN no bolso, a% ele: “ou vou comer num bom restaurante, ou vou pLr gasolina no meu carro! & cada uma dessas aç0es tem um apelo, uma qualidade, uma positividade, mas uma e$clui a outra. )e a medida do sujeito é RMENN,NN, ou ele (a uma coisa ou (a outra. ão é que ele (a essa porque aquela é ruim, ou (a aquela porque essa é ruim, mas sim porque não d' pra (aer as duas. Um outro e$emplo dessa e$clusividade da per(eição: uma e$celente catedral é um péssimo lar5 uma catedral per(eita, maravil/osa, é uma casa /orr%vel. 3 per(eição de catedral e$clui a per(eição de lar, e a per(eição de lar e$clui a per(eição de catedral, e cada uma delas e$clui a 16
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per(eição de ('brica. @ imposs%vel que um determinado edi(%cio seja simultaneamente uma catedral per(eita, uma casa per(eita e uma ('brica per(eita. 3s religi0es, como estruturas comple$as que visam ligar o indiv%duo /umano ao transcendente, t7m também essa e$clusividade: sua per(eição (ormal e$clui a outra per(eição (ormal & mesmo que a outra também seja per(eita. 3 per(eição de uma catedral e$clui a per(eição de um claustro. “Ora, mas é tudo Cristianismo, é tudo a mesma religião!, mas um claustro per(eito é di(erente de uma catedral per(eita. sto quer dier que os componentes caracter%sticos de cada religião se di(erenciam ma$imamente dos componentes da outra religião, justamente para e$plicitar a naturea dessa religião. 3ssim, toda religião possui componentes (ormais que são (ormalmente inadmiss%veis em outra religião, necessariamente. sso é como, por e$emplo, os tipos de belea: a belea oriental e a belea negra. ão é poss%vel ser per(eitamente negro e per(eitamente oriental ao mesmo tempo & s# se pode ser imper(eitamente as duas coisas ao mesmo tempo, mas per(eitamente não d'. @ a mesma coisa que o sujeito decidir: “agora eu serei per(eitamente cristão e budista ao mesmo tempo!, não vai dar5 voc7 pode ser imper(eitamente as duas coisas ao mesmo tempo, mas per(eitamente voc7 s# pode ser uma delas. 3s religi0es podem se identi(icar no plano do objeto transcendente: aquilo que elas visam é o mesmo5 mas não podem se identi(icar no pr#prio plano terrestre. Os critérios para a comparação de uma religião com outra são esses quatro são os critérios intr%nsecosP: iP a via: como essa religião prop0e conduir o sujeito 4 e$peri7ncia do transcendente5 iiP a doutrina e o senso do sagrado: como essa religião ensina a intelig7ncia /umana5 iiiP os ritos: como essa religião educa a vontade /umana5 ivP os mandamentos: como essa religião educa os sentimentos /umanos. @ por isso que os mandamentos podem di(erir de uma religião pra outra. O que 8eus quer, com um conjunto de mandamentos, não é que o sujeito se comporte de determinado jeito, mas que ele condua seus sentimentos a uma determinada (orma & e e$istem muitas maneiras de educar os sentimentos. Qora isso, toda religião apresenta outros tr7s tipos de prova da sua autenticidade. 6ssas provas (undamentais são: a prova doutrinal5 a prova do rito5 a prova do 17
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mandamento. 3 coer7ncia intr%nseca desses tr7s planos é a prova essencial de uma religião.
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voc7 não sabe se /ouve cura milagrosa!. eralmente as autoridades religiosas são bastante rigorosas nesses critérios & de ve em quando não, claro. 6m terceiro lugar & ap#s a santidade e os milagres &, a terceira prova e$tr%nseca é a arte sagrada, a arte sacra: toda religião, no decorrer do tempo, mostra um tesouro de arte sacra que é inestim'vel e insubstitu%vel. @ praticamente imposs%vel o sujeito não sentir que est' no centro do universo ao entrar numa catedral medieval, ou numa mesquita medieval, ou num templo /indu. 3luno: de onde vem o conceito de revelação Um milagre é uma revelação "ro(essor: não, milagre não é uma revelação, num sentido estrito, ele é uma intervenção direta do transcendente, que como que salta as causas segundas, ou as causas pr#$imas. 3 idéia de revelação consiste no seguinte: evidentemente, um sujeito que não possui uma e$peri7ncia do transcendente não pode alcançar essa e$peri7ncia e, simultaneamente, desenvolver uma doutrina per(eita, um conjunto de ritos e um corpo de mandamentos per(eitamente coerentes, soin/o & ninguém consegue (aer isso. 6ntão toda religião dir' que ela se origina do pr#prio 3bsoluto, ou do plano do transcendente, e não do plano terrestre5 toda religião é uma iniciativa divina. Uma religião que (ala: “isso aqui (oi (ulano que inventou!, então isso não é uma religião, é uma arte, ou um o(%cio, como qualquer outro. *oda religião vai (alar: “isso aqui (oi 8eus que deu!, “(oi a naturea de +uda que trou$e!, e assim por diante. sso é indicado pelo (ato de que mesmo as religi0es de car'ter /ist#rico, cujo começo /ist#rico n#s con/ecemos, se originam em tempos não2/ist#ricos. O Cristianismo, por e$emplo, se originou /' S.NNN anos, mas ele é, de certo modo, uma continuação do Buda%smo, que começou /' T mil e tantos anos atr's, que é mais ou menos uma continuação da religião de 3braão, que n#s não sabemos quando começou. O +udismo é a mesma coisa: o +udismo começou /' mais ou menos S.FNN anos, mas ele é como que uma continuação ou reinterpretação do -indu%smo, que não sabemos quando começou. 3 origem das religi0es escapa do alcance do indiv%duo /umano & essa é outra 19
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caracter%stica. "or qu7 "orque todas as religi0es vão dier: “isso aqui (oi uma iniciativa de um plano sobre o qual voc7 ;o ser /umano= não intervém!. *odos os (undadores de religi0es diem: “(oi uma outra coisa que (e isso aqui!. "or e$emplo, o Cristo (ala: “6u vim para cumprir a vontade do "ai. O "ai não est' aqui do seu lado, voc7 não est' vendo2O5 6le pertence ao plano do transcendente!5 o pro(eta
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(inal & mas elas não são s# isso, a doutrina é apenas um dos elementos das religi0es5 os ritos e os mandamentos são elementos tão essenciais quanto a doutrina, e, mais ainda: a ordenação desses tr7s elementos 4 via, quer dier, 4 e$peri7ncia mesma do transcendente, é a pr#pria ess7ncia da religião. 3luno pergunta se isto não contraria a idéia, e$posta acima, de que as religi0es são unicidades. "ro(essor: não. "rimeiro, porque é uma postura de ordem imaginativa: é como quando eu tento imaginar o que é viver com uma outra pessoa. ão estamos propondo isso como uma norma de vida, não vamos viver /oje como se (Lssemos budistas, aman/ã como se (Lssemos /indus, depois de aman/ã como se (Lssemos muçulmanos, mas, para entender isso, imaginaremos, neste momento, que somos assim ou assado, e depois voltaremos para nossa postura normal de vida. 3luno: ou muda de religião. "ro(essor: ou mudo de religião, e$atamente. 8e repente eu descubro que essa coisa que eu imaginei é o que eu era mesmo, ou o que eu quero.
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di(erentes, e são tão coerentes, cada uma delas, que elas e$cluem a possibilidade de ser a outra, que precisamos (aer esse es(orço imaginativo & é porque elas são universos estanques. ão e$iste sincretismo tão competente quanto cada uma das religi0es, em termos espirituais. "or isso é que temos que nos imaginar em cada uma das situaç0es. )e não (osse assim, se elas (ossem todas iguais, seria simples: na segunda2(eira ser%amos budistas, porque segunda2(eira é o dia sagrado dos budistas5 no domingo somos cristãos, porque domingo é o dia sagrado dos cristãos5 no s'bado ser%amos judeus5 na se$ta2(eira ser%amos muçulmanos, e assim por diante, e a% viver%amos num perpétuo (im2de2semana. )e elas (ossem a mesma coisa, poder%amos trans(ormar essa postura imaginativa numa postura vivencial, numa postura de vida, mas isso não é poss%vel. O que aconteceria se (iéssemos isso ão ser%amos nem budistas, nem cristãos, nem muçulmanos, nem nada & ser um pouco de cada um signi(ica não ser nen/um. )er um pouco gente, um pouco cavalo, um pouco al(ace, um pouco pedra & voc7 não é nen/um. -' coisas que não se pode misturar, senão na imaginação5 na imaginação eu posso imaginar um ser que é um pouco gente e um pouco cavalo, e sai um centauro5 eu imagino um outro que é um pouco gente e um pouco al(ace, e sai o incr%vel -ulK.
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mesmo jeito voc7 pode entender per(eitamente uma religião e (alar: “não, mas não é isso a%. 6sta doutrina est' certa, mas...!. nico no qual o elemento doutrinal é apenas um elemento. 6ntender apenas a doutrina não e$plicar' nada sobre a religião. )e n#s s# entendemos a doutrina das outras religi0es, pode ocorrer, por e$emplo, de o muçulmano pensar: “o Cristianismo é um tipo in(erior de slamismo, é um slamismo imper(eito!. 1uando n#s entendemos ;apenas= a doutrina de uma religião, a impressão que temos é que aquela religião é quase como a nossa & ou seja, não entendemos aquela religião. "ara entender uma religião é preciso levar em conta que e$istem pessoas que vivem por ela e morrerão por ela5 e$istem pessoas que (alam: “eu morro antes de dei$ar de acreditar em +ra/ma?!. "or qu7 Gs vees é s# porque é um idiota: “eu morro antes de dei$ar de acreditar no poder da (erradura?! & pode ser s# uma tolice5 4s vees não, 4s vees é porque aquela estrutura é tão coerente na e$ist7ncia dele, que desistir daquilo é desistir dele mesmo. "ara entender isso a%, eu terei que me imaginar na situação dele. 8epois que eu me imaginar, se eu passar a pensar que eu estou na situação dele, eu estou a um passo da loucura & s# porque eu imaginei não quer dier que eu estou l'5 min/a situação e$istencial pode ser completamente di(erente. O sujeito que, por e$emplo, se imagina como budista, e depois pensa que se tornou um pouco budista apenas porque se imaginou como tal, na verdade é um pouco louco, e não um pouco budista. "odemos nos imaginar na situação do super2/omem, mas não passaremos a voar por causa 23
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disso & basta tentar pular pela janela para con(erir. )ão dois planos completamente distintos: a imaginação é mais el'stica do que a viv7ncia concreta, tanto que ela permite a concepção de seres que não e$istem concretamente5 mas, por mais el'stica que seja a imaginação, ela nunca passar' sua elasticidade para a e$ist7ncia concreta: nunca trans(ormaremos o mundo concreto de acordo com a nossa imaginação, porque o mundo concreto tem determinadas leis, e a imaginação tem outras. 1uando tivermos aula, por e$emplo, de -indu%smo, (aremos de conta que não sabemos nada da nossa religião, que não temos a nossa religião, mas que temos aquela religião que estaremos estudando & vamos imaginativamente vivenci'2la, para entend72la. 8epois, acabada a aula, n#s desligamos a imaginação, e voltamos ao mundo normal & pelo menos eu espero que voc7s (açam isso5 espero que depois da aula de -indu%smo ninguém saia da aula com um manto laranja e raspe a cabeça, mas sim que apenas entenda o que é ser aquilo. 3 religião é um modo de ser, não apenas um modo de pensar: ela é um modo de e$istir como /umano, e é por isso que não basta pensar nos termos de uma religião para entend72la. 6m certo sentido, a religião é o que separa os /omens dos animais, porque a religião e$iste justamente para preenc/er as necessidades que são causadas por esses conceitos originais: 3bsoluto, justiça e morte, e esses conceitos são e$clusivamente /umanos, então a religião é um traço, é uma caracter%stica marcadamente /umana. 1ual é a religião de 8eus 8eus não tem religião, porque 6le não precisa se religar a 6le mesmo. 3 religião é uma caracter%stica /umana, então cada religião é um modo de ser ser /umano, é um modo de ser. 6sse modo de ser inclui nele um modo de pensar, um modo de sentir, um modo de querer, um modo de agir, mas ele não é cada uma dessas partes5 ele é como a seiva que (lui para cada uma dessas partes, ou o sangue que (lui para cada um dos #rgãos do corpo. 6ntão teremos que, em cada religião, saborear a sua seiva, para entend72la. Uma religião também é isso: um sabor espiritual, cada uma delas tem um sabor pr#prio, e eu ten/o que e$perimentar aquilo, para saber do qu7 que se trata. 6$cepcionalmente, num caso ou outro & muito raro &, esse ato de saborear as diversas e$peri7ncias das diversas religi0es leva o sujeito a descobrir que ele pre(ere uma religião que ele não con/ecia & e$cepcionalmente 24
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acontece isso, mas normalmente não, normalmente isso (a o sujeito perceber, novamente, o sabor da religião que ele j' tin/a, e que j' estava escrita nele. 3s convers0es verdadeiras são muito mais raras do que pensamos. 3luno (a coment'rio. "ro(essor: o Cristianismo tem muitas modalidades, assim como o -indu%smo tem muitas modalidades. 8entro daquele universo o sujeito migra, muitas vees, de um lugar para o outro, e essa migração é aut7ntica: é porque em um modo, por e$emplo, de Cristianismo, o sujeito vivencia mais a religião do que em outro modo, e com outra pessoa pode ocorrer o contr'rio. 8entro de uma mesma religião isso é muito mais natural: o sujeito era ortodo$o, vira cat#lico5 era cat#lico, vira protestante & isso é muito mais natural, porque estamos (alando de um mesmo universo religioso5 isso é muito mais ('cil de acontecer e ser aut7ntico. B' quando o sujeito (ala: “eu era cristão, e agora serei budista!, ol/a, isso é muito di(%cil ;de ser uma conversão aut7ntica=. 6 quando veri(icarmos a naturea de cada religião, e percebermos o quanto ela é Anica, e quanto é coerente e (ec/ada, veremos como é di(%cil entrar numa religião, se converter e passar para dentro dela5 veremos que isso não é tão simples assim, que isso é muito mais di(%cil do que mudar de pa%s. "ode parecer mais ('cil, porque con(undimos tudo o que é invis%vel, ou interior, ou espiritual, com o nosso pensamento: “eu posso pensar o que eu quiser, a /ora que eu quiser, portanto, eu posso também ser da religião que eu quiser, a /ora que eu quiser!5 se a religião (osse um modo de pensamento, isso seria verdade, mas ela não é um modo de pensamento, ela é um modo de ser, e voc7 não muda o seu modo de ser de um dia para o outro. 3luno (a coment'rio. "ro(essor: tem algumas religi0es cujas in(ormaç0es c/egaram a n#s de modo tão (ragmentado que não é poss%vel saber o que era aquilo. a pr'tica, é imposs%vel saber o que é uma religião se ela não tiver mais nen/um representante aut7ntico. )e aquela religião não tem mais pessoas vivas, que a 25
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vivem direitin/o, não tem como voc7 saber como ela era & o es(orço imaginativo é muito grande. “Como é a religião asteca!. ão ten/o a menor idéia5 não tem mais ninguém que (a aquilo, então não sei se as in(ormaç0es c/egam a respeito dela são in(ormaç0es de pessoas que a cumpriam direito, ou de pessoas que a distorceram. B' sobre o slamismo, por e$emplo, d': /' pessoas que o distorcem, e pessoas que o praticam direito ;atualmente=5 sobre o Cristianismo d': /' pessoas que praticam direito, e /' pessoas que o distorcem & agora, quer dier, elas estão vivas. )e todo mundo j' morreu & tanto as pessoas que praticavam direito, quanto as pessoas que distorciam, j' morreram &, como eu vou saber como que era )# pelas suas palavras )# pelas palavras não d', porque a religião não é um modo de discurso, ela é um modo de viver, ela é um modo de ser, então eu ten/o que ver como são os cristãos, como são os muçulmanos, como são os budistas, para eu entender aquela religião, senão não tem como. )# é poss%vel compreender religi0es vivas & e, claro, é poss%vel (aer /ip#teses acerca de religi0es j' mortas. 8o mesmo jeito, eu posso comer um bolo que e$iste /oje5 o bolo que e$istiu na semana passada eu s# posso imaginar como era, mas eu nunca terei certea, pois j' (oi comido. 6ntão é isso: a cada aula (aremos de conta que somos daquela religião. 3 primeira coisa que a nossa imaginação (ar' ser': “um deus com cabeça de ele(ante não é estran/o, é normal, eu sempre vi isso no templo, todo dia, desde que eu nasci! & é um es(orço da imaginação. @ como um muçulmano ;para entender o Cristianismo=: “voc7 vai ao seu templo, a% voc7 come um pão que é 8eus! & isso é um es(orço de imaginação que ele tem que (aer, porque isso é muito estran/o pra ele, mas, para ele entender o Cristianismo, ele tem que (aer esse es(orço imaginativo, senão ele não entender'.
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