O SERVIÇO SOCIAL EA GERONTOLOGIA
Autor: Dr. Jairo da Luz Oliveira 1 Jairo da Luz Oliveira – Bacharel em Serviço Social, Especialista em Gerontologia Social, Mestre e Doutor em Serviço Social
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“ Na velhice ainda darão frutos,serão viçosos e florescentes, para proclamarem que o Senhor É Justo...” SI. 92.14-15. 2
Sumário APRESENTAÇÃO.......................................................................................................6 1 O ENVELHECIMENTO HUMANO............................................................................8 1.1 O Processo Sócio Histórico do Envelhecimento Humano..................................... Humano................................................9 ...........9 1.2 Viver o Envelhecimento, Envelhecimento, um Processo Natural................................................... Natural................................................................14 .............14 Referênci Referênciaa Comentad Comentadaa ................................. .................................................. ................................... ................................... .................................. ..................... 15 Referênci Referências as ................................. .................................................. .................................. .................................. ................................... ................................... ..................... 16 Autoestudo Autoestudo .................................. ................................................... .................................. .................................. ................................... ................................... ..................... 16
2. A GERONTOLOGIA.............................................................................................. 18 2.1 Conceituando a Gerontologia...........................................................................................18 2.2 Há Vida e Movimento na Terceira Idade........................................................................23 Referênci Referênciaa Comentad Comentada: a:............... ................................ .................................. ................................... ................................... .................................. ..................... 25 Referênci Referências: as: ................................ ................................................. .................................. ................................... ................................... .................................. ..................... 25 Autoestudo Autoestudo .................................. ................................................... .................................. ................................... ................................... .................................. ..................... 26
3. MITOS E VERDADES SOBRE A TERCEIRA IDADE...........................................27 3.1 Os Mitos Mitos e as Verdade Verdades............................. s.............................................. .................................. ................................... .................................. ................ 29 3.2 Revendo Revendo Nossos Nossos Conceito Conceitoss ................................... .................................................... .................................. .................................. ...................... ..... 31 Referênci Referênciaa comentad comentada:......................... a:.......................................... .................................. .................................. .................................. ............................ ........... 33 Referênci Referências as ................................. .................................................. .................................. ................................... ................................... .................................. ..................... 34 Autoestudo Autoestudo .................................. ................................................... .................................. ................................... ................................... .................................. ..................... 33
4. A FAMÍLIA E O IDOSO..........................................................................................36 4.1 As Configura Configuraçõe çõess Familia Familiares res por Parentesco Parentesco ................................. .................................................. ............................... .............. 38 4.2 A Representação Representação do Idoso no Contexto Familiar Familiar .................. ......... .................. .................. ................... ................... ............. .... 40 Referênci Referênciaa comentad comentada.......................... a........................................... .................................. .................................. .................................. ............................ ........... 42 Referênci Referências as ................................. .................................................. .................................. ................................... ................................... .................................. ..................... 42 Autoestudo Autoestudo .................................. ................................................... .................................. ................................... ................................... .................................. ..................... 44
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5 ASPECTOS LEGAIS E OS DIREITOS DOS IDOSOS............. IDOSOS ......................... ......................... .................45 ....45 5.1 O Encaminhamento Encaminhamento Juridico no Trato da Questão Social .................. ........ ................... .................. .................. ......... 45 5.2 A Garantia Garantia do Direito Direito ................................. .................................................. .................................. ................................... .................................. ................47 47 Referênci Referênciaa comentad comentada:......................... a:.......................................... .................................. .................................. .................................. ............................ ........... 54 Referênci Referências: as: ................................ ................................................. .................................. ................................... ................................... .................................. ..................... 55 Autoestudo Autoestudo .................................. ................................................... .................................. ................................... ................................... .................................. ..................... 55
6. REDES DE PROTEÇÃO: SUA IMPORTÂNCIA NA VIDA DO IDOSO..................56 6.1 Motivando a Construção Construção da Rede de Apoio.....................................................................57 Apoio..................................................... ................57 6.2 Narrativas Sobre o Trabalho em Rede: Necessidades e Possibilidades de Inclusão Social para Pessoas na Terceira Idade Através das Redes .................. ......... .................. .................. ............... ...... 58 Referênci Referênciaa Comentad Comentadaa ................................. .................................................. ................................... ................................... .................................. ..................... 69 Referênci Referências: as: ................................ ................................................. .................................. ................................... ................................... .................................. ..................... 69 Autoestudo Autoestudo:: ................................. .................................................. .................................. ................................... ................................... .................................. ..................... 69
7. A VIOLENCIA DO PRECONCEITO CONTRA O IDOSO NO CONTEXTO URBANO: O IDOSO MORADOR DE RUA UMA EXPRESSÃO DA QUESTÃO SOCIAL ..................71 7.1 A Vida na Rua e seus Condicionantes........................................ Condicionantes............................................................................ .....................................72 .72 7.2 Narrativas de Vida dos Idosos Moradores de Rua .................. ......... .................. .................. ................... ................... ........... 74 Referênci Referênciaa comentad comentada:......................... a:.......................................... .................................. .................................. .................................. ............................ ........... 81 Referênci Referências: as: ................................ ................................................. .................................. ................................... ................................... .................................. ..................... 82 Autoestudo Autoestudo .................................. ................................................... .................................. ................................... ................................... .................................. ..................... 83
8 UMA ANALISE SOBRE SOBRE A REALIDADE SOCIAL SOCIAL DO IDOSO NO BRASIL BRASIL ............84 ............ 84 8.1 Trabalho: Trabalho: Quando a Idade Idade Chega, Chega, o Preconceito Preconceito Aumenta ................... .......... .................. .................. ............... ...... 87 8.2 As Políticas Sociais Sociais para o Enfrentamento Enfrentamento das Desigualdades Desigualdades ...................................90 Referênci Referênciaa comentad comentada:......................... a:.......................................... .................................. .................................. .................................. ............................ ........... 93 Referênci Referências: as: ................................ ................................................. .................................. ................................... ................................... .................................. ..................... 93 Autoestudo Autoestudo .................................. ................................................... .................................. ................................... ................................... .................................. ..................... 93
9. O TRABALHO DO SERVIÇO SOCIAL COM AS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL ..................... ................................. ....................... ...................... ...................... ....................... ....................... ...................... ......................95 ...........95 9.1 Estratégias Metodológicas Metodológicas no Fazer Profissional Profissional .................. ......... .................. .................. ................... ................... ............. 100
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9.2 A Entrevista como Ferramenta Ferramenta e Estratégias Estratégias de Acolhimento Acolhimento do Usuário.... Usuário............. ................ ....... 103 Referênci Referênciaa Comentad Comentadaa ................................. .................................................. ................................... ................................... .................................. ................. 104 Referênci Referências: as: ................................ ................................................. .................................. ................................... ................................... .................................. ................. 104 Autoestudo Autoestudo .................................. ................................................... .................................. ................................... ................................... .................................. ................. 105
10 AS INSTITUIÇÕES E O TRABALHO TRABALHO DO SERVIÇO SOCIAL COM GRUPOS DE TERCEIRA TERCEIRA IDADE ..................... ................................. ....................... ...................... ...................... ....................... ....................... ..............107 ...107 10.1 A Análise Institucional: Institucional: O Reconhecimento Reconhecimento das Possibilidades e limites da Interevenção Profission Profissional................. al.................................. .................................. .................................. .................................. .................................. ............................. ............ 109 10.2 O Trabalho Efetivo com Grupos de Terceira Idade ................. ........ ................... ................... .................. ................ ....... 113 Referênci Referênciaa comentad comentada.......................... a........................................... .................................. .................................. .................................. .......................... ......... 117 Referênci Referências as ................................. .................................................. .................................. ................................... ................................... .................................. ................. 117 Autoestudo.............................................................................................................................118
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Apresentação O presente livro representa a vontade de estudar e tentar compreender um pouco mais questões que envolvem o envelhecimento humano, sua relevância para a sociedade brasileira. Através deste estudo, foram desenvolvidas reflexões, questionamentos, e afirmações sobre o universo que envolve a vida do ser humano na velhice. Em muitos momentos, sinalizamos a preocupação em torno da dificuldade de envelhecer em um país onde os problemas sociais trazem, em si, as conseqüências do abandono, da negligência. Pessoas que, no entardecer da vida, estão vivendo condições de vulnerabilidade social social até mesmo no seio familiar. Estudar esta temática, através da disciplina Optativa de Gerontologia Social, é de suma importância para compreendermos como se constitui as relações sociais e seus reflexos na vida dos idosos. Esta realidade social não poderia ficar desapercebida da nossa formação em Serviço Social na modalidade EAD, merecendo ser desvelada e problematizada no seu existir. Acreditamos ser importante esclarecer ao leitor, que esta produção literária está diretamente implicada na prática profissional do Assistente Social. Nesse contexto, o interesse se desdobra em conhecer como são estabelecidas as estratégias de sobrevivência dos idosos que vivem nesta sociedade capitalista que exclui? O presente estudo de forma despretensiosa procurará dar algumas respostas a esta indagação. O estudo está estruturado em autores do Serviço Social que buscam compreender as contradições sociais vividas em nosso cotidiano. Da mesma forma, procurou-se refletir sobre questões relacionadas ao preconceito, crenças e mitos que envolvem a imagem do idoso. Apresentaremos também, nesse estudo, algumas narrativas importantes de profissionais Assistentes Sociais que trabalham diretamente nas instituições que atendem idosos moradores de rua, nas falas dos Assistentes Sociais perceberemos o interesse que o tema requer, bem como, a necessidade de se ampliar um trabalho em rede para o atendimento destas demandas. Na
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seqüência do estudo, também apresentaremos narrativas dos idosos moradores de rua que enfrentam um mar de dificuldades para sobrevirem. Por fim, gostaríamos de dizer que estudar a disciplina Gerontologia Social é algo que merece seriedade, zelo, e muita leitura. Uma disciplina que sem dúvida, irá contribuir decisivamente para subsidiar conhecimentos aos nossos alunos e profissionais para enfrentamento desse processo acelerado de envelhecimento no Brasil.
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1- O Envelhecimento Humano Nesse capítulo, apresentaremos uma reflexão sobre algumas considerações amplas no que diz respeito ao processo do envelhecimento humano, buscaremos realizar questionamentos e ponderações sobre as condições favoráveis de se ter uma velhice com dignidade. As questões relacionadas à terceira idade tem crescido em importância nos últimos anos, uma vez que o envelhecimento da população é um fenômeno mundial, que traz relevantes repercussões nos diversos setores da vida em sociedade. Sabe-se que o Brasil enfrenta presentemente as conseqüências deste processo do envelhecimento populacional no Brasil, necessitando que estudos sejam formulados para a compreensão deste fenômeno biológico, natural, com repercussões nos âmbitos da assistência social, saúde, habitação, meio ambiente, na previdência nacional, no espaço comunitário, e também no contexto da família entre outros. Entretanto, os recursos necessário para garantirmos uma qualidade de vida na vida cotidiana destas pessoas hoje na terceira idade ficam muito a desejar. Recursos financeiros, infra-estrutura, medicação, laser cuidados especiais nas mais diversas áreas já mencionadas acima, não fazem parte da vida de muitos brasileiros já nesta fase da vida. Conforme estudos realizados sobre vencimentos por aposentadoria no Brasil, estes apontam que: A grande maioria dos aposentados aposentados pelo Instituto Nacional de Seguridade Social ( INSS) recebem valores baixos, que vão diminuindo a cada ano, porque a atualização desses valores não corresponde à inflação real. BULLA e KAEFER, (2004, p.161)
Os Investimentos do Estado, necessários para responder às demandas de uma vida digna, são relativamente precários tanto quantitativamente quanto qualitativamente. Necessitamos estar realmente questionando o papel do Estado, da sociedade, e da família para uma revisão de suas responsabilidades em relação as condições de vida na terceira idade hoje.
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O envelhecimento da população é um fato social natural, que merece ser considerado, sendo importante almejar uma melhor qualidade de vida daqueles que estão neste processo. O esforço de se tentar pensar alternativas diferenciadas para se garantir felicidade e bem-estar ao ser humano, em especial ao homem e a mulher envelhecidos ou em envelhecimento, torna-se o objetivo primeiro de todos que estão comprometidos com a gerontologia social. Vejamos como os processos socio históricos foram sendo construídos ao longo dos anos.
1.1 O Processo Sócio Histórico do Envelhecimento Humano; A medida que os processos sócio históricos do desenvolvimento humano vão se desenhando no livro do tempo da humanidade, os conceitos em torno da realidade humana também vão sofrendo alterações. Aqui em particular temos a realidade cronológica do tempo existencial do ser humano, cada período histórico uma realidade diferente, cada tempo o seu período de maturação, desenvolvimento e declínio conceitual. Ao nascer o ser humano vivencia um processo acelerado de desenvolvimento físico, mental e social com capacidades múltiplas de criar e se desenvolver de forma criativa e com possibilidades de liberdade no trato de sua vida. Particularmente, o envelhecimento humano representa uma realidade inexorável do existir humano, representa mais uma etapa a ser vivida com toda a sua intensidade, e que também sofre uma interpretação conceitual cultural de valor a partir do seu tempo histórico. O conceito sobre o envelhecimento humano não poderia deixar de sofrer as mais diversas análises no seu modo de ser percebido e sentido, sendo o mesmo conceituado nas mais diversas formas. Nas sociedades antigas, a velhice atingia um estado de dignidade, sendo os velhos considerados como sábios. Com o passar do tempo, com a evolução das sociedades, e sobretudo com o advento da sociedade industrial.
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Estes conceitos foram se modificando, tornando o idoso um sujeito destituído de suas capacidades de produção e reprodução da vida social. Paralelo ao desenvolvimento da sociedade industrial, foi se construindo uma sociedade mesclada por uma cultura, onde a força e o vigor eram preponderantes para o seu desenvolvimento. Com a consolidação desta mesma sociedade industrial, estabeleceuse uma sociedade tecnológica focada junto aos mais jovens, ode o envelhecimento passou a ser considerado com os aspectos da decadência física, mental e social através de seu funcionamento não “adequado” a este fim e seu confinamento foi marcado por uma questão de abandono social. O idoso ficou apartado dos espaços sociais mais amplos que nos vitalizam a vontade de viver de forma ativa, reduzindo os idosos a uma condição absolutamente secundária. Até meados dos século XIX, o idoso era percebido como um sujeito respeitável pela sua responsabilidade em transmitir oralmente os conhecimentos aos mais jovens, garantindo a sociedade o arquivo da memória passada, a memória histórica dos fatos, dos acontecimentos e do próprio conhecimento do ofício familiar que a vida lhe oportunizou, sendo a ele outorgado o respeito do homem e da mulher que possui sabedoria. (CORREIA, 2007) nos faz refletir a respeito dos conceitos estabelecidos em torno do envelhecimento através dos tempos. Vejamos o quadro abaixo onde perceberemos as formas conceituais sobre a condição de se viver a velhice nas sociedades antigas e atuais.
Sociedades antigas – “camponesas” (cultura da oralidade)
ociedades atuais – “Ocidentais” (cultura da produtividade)
rocesso de herança: transmissão do saber rocesso de transmissão do saber através da ralmente de geração em geração (oral). scolarização (escrita). alorização do idoso pelo seu poder de alorização da juventude pela sua força física,
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abedoria acumulado ao longo da vida
ção e símbolo de produtividade.
espeito, responsabilidade, posição importante mprodutividade, dependência, velhice vista omo doença social. alorização dos laços de parentesco.
erda dos laços nstitucionalização.
familiares
com
a
utoridade dos idosos, por quem o filho varão patrimônio familiar é divido, pelos filhos sob uidava até a morte, herdava o patrimônio orma de partilhas. amiliar. esponsabilidade individual de cada família em esponsabilidade pública do Estado, pela uidar de seu idoso: função econômica, tribuição de reformas, institucionalização: ducativa de segurança social. unção econômica, educativa e de segurança ocial. estão da velhice implica negociações pessoa estão da velhice através da mediação pessoa, entre família e meios locais. nônima que age entre as gerações, num istema de instituições e agentes specializados em tratar do envelhecimento.
Como vemos, os séculos XIX e XX oportunizaram mudanças negativas no seu modo de ser mas significativas no que se refere a forma de se perceber, sentir e tratar as pessoas nesta fase da vida que merecem nossa atenção e estudos. É na relação do tempo histórico no sentido que damos a vida do ser humano, que buscaremos constante o direito a uma qualidade de vida. Poderemos considerar que, quanto mais envelhecemos, para muitos, menor representação social possuímos. Assim ocorrendo, também entramos em um envelhecimento funcional ou social, ou perda de direitos na sociedade contemporânea, pois a relação que estabelecemos uns com os outros está determinada pelo sistema de produção capitalista e pelo consumo, influenciando decisivamente na forma como os mais jovens percebem os em idade avançada no trato, através das gerações. SALVAREZZA (1988) afirma:
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O envelhecimento leva as gerações jovens a ver os velhos como diferentes e não considerá-los como seres humanos com iguais direitos e, o que é pior, não permitem a eles (jovens) identificar-se O aumento da faixa populacional considerada idosa tem exigido das profissões, da sociedades e do poder público um novo e sensível olhar sob a forma de investimento em políticas sociais que contemplem o idoso em suas necessidades biopsicossociais.(1988, p. 24)
A idade social, é o percurso do ciclo de vida definido socialmente. Cada sociedade distingue as etapas sucessivas e fixa as condições de acesso de uma etapa para outra, definindo também qual o espaço que iremos ocupar nesta mesma sociedade. Exemplos: •
O tempo da infância;
•
O tempo da adolescência;
•
O tempo de se ingressar no mundo do trabalho;
•
O tempo do casamento;
•
O tempo da procriação;
•
O tempo de estar fora do mundo do mundo do trabalho (aposentadoria);
•
O tempo de se viver a terceira idade;
•
O tempo de se viver a quarta idade;
A compreensão de determinadas mudanças e situações vividas em cada fase da vida e a busca de informações sobre o envelhecimento, ajudam a diminuir a influência negativa dos preconceitos sobre a terceira idade. O idoso possui poder de interferência no que está posto em relação aos preconceitos relacionados as modificações decorrentes da idade. Necessário se faz, 12
instrumentalizar o idoso sob seus direitos e deveres, e trabalharmos no sentido de mudarmos o eixo da felicidade que está condicionada a uma relação comparativa. Muitos idosos gostam de falar que se sentem “jovens por dentro2” esta fala reafirma que a melhor fase da vida é ser jovem. Quando assim procedemos, estamos reafirmando que a condição de estarmos vivendo bem, está condicionado a juventude, mesmo velho por fora eu estou jovem por dentro. Poderíamos mudar nosso discurso dizendo de uma outra maneira: Estou na terceira idade e me sinto vivo, muito vivo por dentro, com vontade de viver a vida na sua plenitude. Vejamos o que lima (2001) poderá contribuir com suas reflexões: A sociedade e o Estado não podem mais ignorar o idoso, que vem se tornando ator na cena política e social, redefinindo imagens estereotipadas nas quais a velhice aparece associada à solidão, doença, viuvez e morte, enfatizando essa fase de vida como uma condição desfavorável, muitas vezes indesejada (Lima, 2001, p.16).
Devemos construir uma nova forma de nos identificarmos com a terceira idade, assim como valorizamos a vida adulta nesta fase da vida. A forma e o como nos sentimos e nos percebemos subjetivamente, deverá ser construída na percepção que temos de nós pelo que apresentamos, do que somos e sonhamos, nos sentindo vivos para a vida, com muita disposição de viver e lutar pelo uso fruto das conquistas médicas e sociais na área da gerontologia e da geriatria3, nesta etapa da vida. Se cada idoso permanece reafirmando que a condição de se sentir feliz e com forças de viver permanece associado a esta condição de juventude, condição focada na força e no vigor, repetimos, nós nunca conseguiremos mudar o foco, de que a juventude é a melhor etapa da vida humana. Se a felicidade fosse apanágio da juventude, não teríamos tantos jovens vivendo suas 2
Na grande maioria dos idosos que interagimos nos grupos de convivência para a terceira idade, temos observado que na fala destes idosos predomina o conceito de estar bem fisicamente, emocionalmente e sexualmente com a condição de se sentirem jovens por dentro (nota do autor). 3 Ciência médica que estuda temas relacionados a saúde do corpo físico das pessoas na terceira idade. ( nota do autor) 13
vidas de forma tão imprudente e irresponsável. Esta é uma condição cultural de se perceber e sentir a vida que deveremos mudar. 1.2 Viver o Envelhecimento: Um Processo Natural O processo de se viver o envelhecimento humano é vivido de forma natural, o que equivale dizer que, para cada indivíduo, existem uma forma diferenciada de viver esta etapa da vida no processo do envelhecimento. Cada um possui uma forma de realizar-se e de enfrentar as dificuldades inerentes e cada fase da vida, e no processo do envelhecimento não seria diferente. O sentido de buscarmos alternativas para enfrentarmos a diminuição das capacidades mentais, emocionais, corporais, vai depender da forma que os idosos acessam os recursos disponíveis ou não no contexto comunitário. Outro elemento importante a ser pensado quando nos referimos a uma boa qualidade de vida na terceira idade, com melhores condições de realizarmos os enfrentamentos naturais da velhice é não deixar para trás situações de conflitos, dissabores, traumas, inimizades, culpas inerentes as outras etapas de nossa vida. Quando temos tempo de rever conceitos, valores, modos de proceder a vida e resolvermos coisas que ficaram mal resolvidas no passado, aliviaremos a bagagem de nossa consciência e assim não iremos levar conosco na terceira idade problemas que não fazem parte do deste tempo presente. Dessa maneira, é importante oportunizar aos idosos condições de se sentirem interessados pela vida, de modo que a vida deste sujeito se torne também interessante para ele. Both (1990) faz alusão às idéias implícitas relacionadas a possível ou não predisposição para a resolução dos problemas relacionados à degradação das faculdades psicológicas, sociais e das funções orgânicas do idoso afirmando: ... se aos mais velhos for permitida uma vida com interesse e disposição para ações estimulantes, é provável que raros serão aqueles que chegarão aos 80 anos com algum comprometimento em virtude da senilidade. Vale portanto dizer que uma ação educacional estimulante pode qualificar a vida dos mais velhos (1990, p. 09).
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Com este posicionamento, alteram-se os padrões culturais, modificamse ideologias, e, conseqüentemente, as concepções sobre a velhice buscando grandes transformações. Nessa perspectiva, a pessoa na velhice continuará a ser produtiva nas mais diversas maneiras, socializando os seus conhecimentos. Acredita-se que o idoso possui uma caminhada diferenciada dos demais, pelo próprio fato de alguns possuírem mais experiência de vida. MOSQUERA (1987, p. 14) esclarece que a vida do homem vai sendo constituída através da estimulação do meio em que vive, denominado pelo autor como “estimulação ambiental” em que o homem está inserido. Cada situação (geográfica, social, biológica) terá a sua devida representação para a formação da personalidade humana. É na vida cotidiana que se constrói a história, e o indivíduo influenciado pelas experiências estabelecidas e armazenadas contribui para a construção desta história. Os pequenos como os grandes acontecimentos humanos representam as tramas das relações que constituem esta história, acontecimentos vividos no particular para o geral e vice-versa, provocando um constante estado de movimento. O homem é um ser histórico e as etapas – infância, adolescência, vida adulta e velhice – representam as partes de um todo em seqüência, em constante transformação, influenciando o cotidiano das relações humanas, demarcadas através dos processos sócio históricos da sociedade.
Referencia comentada: Educação e Envelhecimento Humano • • • • • • •
Editora: EDUCS Autor: MIRIAM BONHO CASARA & IVONNE ASSUNTA CORTELLETTI & AGOSTINHO BOTH ISBN: 8570613776 Origem: Nacional Ano: 2006 Edição: 1 Número de páginas: 172
Esta obra pretende provocar uma séria reflexão sobre educação, envelhecimento e velhice. Apresenta proposições que levam a avanços
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qualitativos relacionados ao desenvolvimento de linhas de pesquisas, ações, projetos e programas. Mostra também a importância de direcionar o olhar em um perspectiva pedagógica que se estenda ao continuum do ciclo da via e que tenha como objetivo a promoção do ser humano em todo seu tempo vital.
Referencias: BOTH, Agostinho. Gerontologia Educação e Longevidade. Passo Fundo: Imperial, 1999. ___________. Conversas Sobre a Terceira Idade ou Fragmentos para uma Gerontologia. Passo Fundo: UPF, 1990. BULLA, Leonia Capaverde. Desafios e Perspectivas da Gerontologia Social, Face ao Envelhecimento da População Brasileira. - 10 Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais outubro de 2001- O Trabalho, Direitos e Democracia Assistentes sociais Contra a Desigualdade. CORREIA, Ruthe . A Terceira Idade Hoje: sob a ótica do Serviço Social. Canoas: EDULBRA, 2007. MOSQUERA, Juan & STOBÄUS, Claus. Educação para a Saúde, Desafio para Sociedade em Mudança. Porto Alegre: DCL S.A., 1983. SALVAREZZA, Leopoldo. Psicogeriatria Teoria y Clínica. Buenos Aires, Argentina: Piados, 1988. Autoestudos: Coloque verdadeiro ou falso:
( ) Desta maneira, é importante oportunizar aos idosos condições de sentirem-se interessados pela vida, de modo que a vida deste sujeito se torne também interessante para ele. ( ) O processo de se viver o envelhecimento humano é vivido de forma igual para todos, o que equivale dizer que para cada indivíduo existe uma forma
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que se equivale no processo de envelhecer. A forma de realizar-se e de enfrentar as dificuldades inerentes e cada fase da vida é igual para todos. ( ) A não aceitação de determinadas mudanças e a busca de informações sobre o envelhecimento ajudam a diminuir a influência negativa dos preconceitos sobre a terceira idade, uma vez que o idoso possui poder de interferência no que está posto em relação aos preconceitos relacionados as modificações decorrentes da idade. ( ) Poderemos considerar que, quanto mais envelhecemos, para muitos, menor representação socialmente possuímos. ( ) Com a consolidação desta mesma sociedade industrial estabeleceuse uma sociedade tecnológica focada junto aos mais jovens, ode o envelhecimento passou a ser considerado com os aspectos da decadência física, mental e social através de seu funcionamento não “adequado” a este fim e seu confinamento foi uma questão de necessidade, apartado dos espaços sociais que nos vitalizam a vontade de viver de forma ativa, reduzindo os idosos a uma condição absolutamente secundária.
Respostas do capítulo I: v,f,v,v,v 17
2. A Gerontologia:
A Gerontologia como campo do conhecimento específico do envelhecimento humano, busca compreender as demandas inerentes a esta área particularizando-a no social. Os estudos específicos da gerontologia são recentes, surgindo no após segunda guerra mundial, buscando compreender através de pesquisas como se caracterizam as particularidades da vida social na terceira idade. A busca do conhecimento sempre foi determinada nas perquirições realizadas pelos seres humanos, através dos processos sócio históricos que caracterizam o desenvolvimento das ciências. Em um primeiro plano estes estudos em torno do desenvolvimento do ser humano se deu nas fases da infância e juventude, posterior o ser humano busca reconhecer os processos inerentes a vida adulta e ao envelhecimento. A Gerontologia vem ao encontro da necessidade, estudos para compreender os processos de se tornar idoso no ciclo da vida humana, preocupando-se com a passagem da vida adulta com a terceira idade. Segundo (SALGADO, 1979, p.01) este define a gerontologia como sendo: “... o estudo dos processos de desenvolvimento, levados a efeito pelas ciências sociais, psicológico-comportamentais e biológicas”. Um conjunto de disciplinas que juntas procuram intervir num mesmo campo de realidade. Segundo (SALGADO, 1979, p.01), a gerontologia se divide em três grandes grupos: A Gerontologia Experimental
A Gerontologia Médica ou Geriátrica
A Gerontologia Social
Compreende o estudo Representa o estudo Representa o estudo dos as células, dos órgãos e de as doenças do rocessos psico-sociais do odo organismo humano. Este nvelhecimento humano, nvelhecimento e trata da amo está ligado às ciências endo o ramo que ooperação entre os demais
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aturais.
rimeiramente se desenvolveu. amos do conhecimento
Para a Gerontologia, torna-se importante estudar as questões que envolvem a velhice mais particularmente e seus desafios. Para tanto a Gerontologia busca estudos nas áreas do serviço social, no direito, na antropologia, na psicologia, na sociologia, entre outras.
2.1 Conceituando o Envelhecimento Humano
È de singular importância procurarmos definir o conceito sobre velhice, mas para isso ocorrer, não se torna tarefa fácil. Segundo (SALGADO, 1979) este afirma: Não é fácil uma conceituação tendo em vista que a velhice, sendo o último tempo natural de um processo de vida biológica, não é facilmente caracterizada como as etapas anteriores, especificamente a infância e a adolescência, que quando estão para terminar apresentam transformações tanto no plano físico como no plano mental. (1979, p. 24)
No mundo todo, este tema tem sido alvo de muitas discussões. No Brasil, esta questão surge mais precisamente na década de setenta. Assim Bulla (2001) refere-se: A partir de 1970 registrou-se, no Brasil, a preocupação com o fenômeno do envelhecimento da população. Embora já se contasse com estudos e trabalhos anteriores, voltados para a camada da população acima dos 60 anos de idade, é a partir dessa época que se passa a estudar mais seriamente o problema, devido aos desafios impostos pelo crescimento acelerado dessa faixa etária.( 2001: p 02)
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Para melhor entendimento, situa-se a pessoa na terceira idade a partir dos sessenta anos 4. Essa é uma variável importante, mas não é determinante para se definir a pessoa e suas condições. Deve-se ter uma visão mais integral da pessoa humana, pois os sessenta anos, por exemplo, representam um marco de ingresso da pessoa humana na terceira idade; isto não quer dizer que o ciclo de vida esteja acabado, mas sim representa o somatório de experiências pessoais e de relacionamentos, da riqueza vivenciada e acumulada ao longo do tempo. Fustioni (apud GOLDMAN, 2000, p.13) Faz a seguinte consideração sobre o termo “ Terceira Idade”: Considera-se que a Terceira Idade tenha seu princípio cronológico na época comumente declarada em muitos sistemas legislativos de aposentadoria por emprego lucrativo, cuja a faixa varia de 60 a 65 anos, mas, de fato, as mudanças características da Terceira Idade já começaram a tornar-se evidentes mais cedo (1982, p.8).
O processo do envelhecimento possui uma representação e singularidade de estarmos vivendo mais uma etapa na vida de cada um de nós. Para podermos definir e conceituar o processo do envelhecimento denominado “velhice” (SALGADO,1979, p.04) nos oportuniza conceituar a velhice a partir de definições mais próximas a uma e outra ciência e por critérios comparativos com outros grupos etários, vejamos:
Velhice idade cronológica:
Velhice mutações biológicas:
Representa a idéia de tempo de vida, tomando por ase a expectativa média de vida de determinados grupos ociais. Assim, todos aqueles que se aproximam ou ltrapassam a idade estabelecida como média de vida stão na terceira idade.
A gerontologia sofrendo maior avanço por impulso a geriatria, está em grande parte influenciada pela ótica iológica que encara o envelhecimento pelo desgaste do ísico e da mente. Dentro desta conceituação poderíamos
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A Assembléia Mundial das Nações Unidas, sobre envelhecimento da população, através da Resolução 39/125, estabeleceu a idade de 60 anos como início da terceira idade nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, sendo de 65 anos para os países desenvolvidos (ONU, 1982). 20
onsiderar que o desenvolvimento de um indivíduo presenta duas etapas distintas: a do acréscimo e a do ecréscimo. Na primeira, considerada desde a época da ida embrionária, estariam consideradas a formação, ortificação e desenvolvimento total de todas as partes do rganismo humano, e, subseqüentemente suas apacidades. Na segunda etapa, considerando-se a xistência de um pequeno tempo sem grandes mutações, eria iniciado o processo reverso, no qual tudo aquilo onquistado iniciaria uma caminhada desgastante.
Velhice uma conceituação individual:
Velhice decorrência cultural:
Este é um principio que embora nada apresente de ientífico, ganha expressiva ênfase nos dias atuais, em odas as sociedades, e portanto, deve ser considerado elos trabalhadores sociais. Este entendimento nasce do ato de que embora o físico e a mente envelheçam juntos, o rocesso não se efetiva em ambos com a mesma cadência. no tempo em que o corpo apresenta os maiores sintomas e decadência que a mente está mais apta a incorporações e todas as ordens e contribuições. aqui o grande aradoxo do envelhecimento, pois os indivíduos se vêem isicamente envelhecidos e não se sentem velhos. neste omento que se evidencia para todos a relatividade do nvelhecimento e o entendimento muito particular para ada individuo. As sociedades da antiguidade, em grande maioria, omavam o tempo da velhice como um estado altamente ignificante para os indivíduos, sendo considerados como ábios todos aqueles que atingiam essa etapa da vida. om o passar do tempo, com a evolução das sociedades e, obretudo com a cultura tecnológica mais próxima dos ovens, o envelhecimento passou a ser considerado mais elos aspectos de decadência das forças físicas para o rabalho, e a posição dos indivíduos idosos resultou bsolutamente secundária.
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A partir das definições sobre a velhice expostas acima, entendemos que o processo do envelhecimento representa mais uma etapa a vencer no ciclo de vida do indivíduo. Possui a representação do conjunto de realizações positivas e ou negativas, construídas ao longo de um processo histórico individual. Um conjunto de vivencias surgidas durante os períodos precedentes da existência de cada um. Estas vivencias se apresentarão de acordo como foi a caminhada individual de cada pessoa, bem como foram construídos os processos de organização da sociedade no sentido de se atender as demandas inerentes a esta realidade. Outros fatores que também demarcam o processo do envelhecimento de forma saudável:
limentação
Meio Ambiente
erança enética
ensões
busca por uma alimentação saudável, irão definir nutrientes indispensáveis ara manter nosso corpo com as disposições necessárias para regular o esgaste físico natural da vida ocorrendo de forma diferenciada. A limentação adequada desde o nascimento do ser humano é fator decisivo ara um envelhecimento com qualidade de vida; s fatores relacionados ao ambiente afetam diretamente no que se refere a aúde da pessoa humana. As exposições em excesso ao sol, a umidade, as ubstâncias tóxicas como poluentes do ar, pesticidas, ao uso direto e indireto o fumo, álcool, e outras drogas, poderão influir decisivamente no processo do nvelhecimento; abemos que naturalmente carregamos conosco a herança genética de ossos antepassados, e com elas as disposições favoráveis ou não para ermos uma vida longeva com saúde ou para o desenvolvimento de atologias na área da saúde como por exemplo o câncer que representa uma oença proveniente da deformação de nossas células, disposições do omportamento hormonal do organismo humano que irão afetar ecisivamente o nosso comportamento e também nossas disposições para endências as dependências psicoativas como o álcool por exemplo. abemos que as tensões psicológicas ou sociais podem apresentar as eteriorações associadas ao processo do envelhecimento. Muitas vezes o nvelhecimento é decisivamente afetado pelo estado de espírito, pelas onstantes mudanças de humor e estresses. falta regular de uma atividade física poderá comprometer a sustentação e
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Exercícios físicos
igor do tônus vital de nossos órgãos físicos e a capacidade mental, bem omo da vitalidade e desenvoltura de nossos movimentos, promovendo a adiga a lentidão e a perda muscular e óssea de nosso organismo.
Neste sentido, este capítulo busca apresentarmos uma reflexão que contemple aproximar você leitor da Gerontologia Social um estudo que busca compreender o processo do envelhecimento humano por uma perspectiva biopsicosocial, refletindo sobre a importância de pensarmos como nossa sociedade está preparada para atender as demandas naturais desta fase da vida, nesta nossa sociedade contemporânea. Entendemos que o processo do envelhecimento é um desenvolvimento mental, físico, e também cultural, a partir desta realidade, com o chegar da Terceira Idade, é que constataremos como foram realizados os preparos para este enfrentar natural, exigido por toda e qualquer fase da vida humana, e o questionamento que deveremos fazer é: Como a sociedade compreende esta etapa da vida?
2.2. A Vida em Movimento na Terceira Idade
O envelhecimento humano, por muitos, não é abordado como uma realidade saudável e natural, mas percebido com cores escuras, de forma muito negativa. Ao envelhecimento estão relacionados somente sentimentos e situações de perdas e não possíveis ganhos que poderão chegar junto com a idade, algo natural como a possibilidade de estabelecer mais tempo para si e para a família, ao laser e a cultura. Na intimidade do relacionamento afetivo, sexo sem os riscos da gravidez, mas com os cuidados em relação as doenças sexualmente transmissíveis, liberdade nas escolhas em função de não ter que cumprir com compromissos rigorosos em relação a responsabilidades que estabeleceremos, o ritmo da vida poderá ser estabelecido a partir de nossas escolhas, a felicidade de termos cumprido nossas responsabilidades perante nossos filhos e demais
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familiares, entre outras. Possibilidades que vamos descobrindo quando temos vontade de viver. As modificações orgânicas e estéticas, que as pessoas vivenciam na terceira idade, muitas vezes são sentidas como sendo um prenúncio de sua morte iminente, criando então, uma lógica de associar a velhice a finitude. Após a terceira idade em alguns países mais avançados em recursos de saúde e assistência social já se vislumbra a quarta idade, que se inicia aos oitenta anos. Cria-se então um quadro onde a velhice está associada por situações vinculadas a dor física, imobilidade corporal, perda dos sentidos como visão, audição, diminuição da memória e do desempenho sexual, entre outras situações que poderão proporcionar conflitos. Muitos destes conflitos, estão relacionados a situações de perda dos vínculos familiares pela morte física, ou separações judiciais e ou familiares com o afastamento dos conflitos. A lógica do entendimento que devemos ter, diz que os conflitos existenciais são situações vividas em todos os períodos da vida, e que, para muitos com o chegar da terceira idade, os conflitos vão somando-se a uma certa instabilidade emocional pelo fato de não querer enfrentar estes desencontros inerentes a vida. FRAIMAN (1991) faz a seguinte referência às questões de instabilidade emocional na vida do indivíduo: Da adolescência à meia idade, longe de passar por um período de estabilidade, o homem (especialmente o de classe média) enfrenta muita turbulência, especialmente agitada quanto mais próxima à idade madura, que tem menos a ver com a idade cronológica e mais com uma etapa de sua vida psicológica e social (1991, p. 87).
Estas turbulências são decorrências naturais, que irão oportunizar novas possibilidades do existir humano. Entendemos que quando existe o conflito, ele nos oportunizará refazermos a caminhada para realizarmos novas conquistas, novas possibilidades de nos sentirmos interessados pela vida. Neste sentido, os profissionais que possuem uma vinculação e estudos sobre gerontologia deverão estar atentos com os mais diversos aspectos que envolvem este processo de se tornar idoso, para que as pessoas se sintam interessadas pela vida de uma forma saudável.
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Entendemos que, de certa maneira, não existe um estudo único que possa dar conta de compreendermos este fenômeno natural que é o processo de se tornar idoso, mas devemos buscar, nos diferentes estudos, a contribuição necessária para que, de forma eficaz, possamos pensar soluções e possibilidades de se viver a terceira idade com dignidade, vontade e com muita satisfação. A Gerontologia representa um conjunto de disciplinas que poderão ir ao encontro desta necessidade.
Referencia comentada: GerontologiaSocial Envelhecimento e Qualidade de Vida Envelhecer com qualidade de vida é possível se houver ciência das bases biológicas, psíquicas e sociais que atuam em cada um e fundamentam sua conduta. Moragas analisa as tais bases e oferece conclusões práticas e úteis para os envolvidos com o envelhecer alheio ou próprio e que precisam tomar decisões que desenvolvam ao máximo a qualidade de vida. • • • • • • •
Editora: Paulinas Autor: RICARDO MORAGAS MORAGAS ISBN: 9788535626599 Origem: Nacional Ano: 2010 Edição: 1 Número de páginas: 344
Referencias: BULLA, Leonia Capaverde. Desafios e Perspectivas da Gerontologia Social, Face ao Envelhecimento da População Brasileira. - 10 Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais outubro de 2001- O Trabalho, Direitos e Democracia Assistentes sociais Contra a Desigualdade. FRAIMAN, Ana Perwin. Coisas da Idade. 2.ed. São Paulo: Hermes, 1991. ___________. Para Ser um Avô. São Paulo: Gente, 1996. GOLDMAN, Sara Nigri. Velhice e Direitos Sociais. In: ___. Envelhecer com Cidadania: quem sabe um dia? Rio de Janeiro: ANG-CBCISS, 2000. SALGADO, Marcelo Antônio. Gerontologia CBCISS – Rio de Janeiro – RJ. Nº 150 ano – XII - 1979 25
SALVAREZZA, Leopoldo. Psicogeriatria Teoria y Clínica. Buenos Aires, Argentina: Piados, 1988.
Autoestudos: Coloque verdadeiro ou falso: ( ) A Gerontologia como campo do conhecimento específico do envelhecimento humano, busca compreender as demandas inerentes a esta área particularizando-a no social; ( ) A Gerontologia vem ao encontro da necessidade e do estudo para compreendermos os processos de se tornar idoso no ciclo da vida humana, preocupando-se com a passagem da vida adulta com a terceira idade; ( ) Para a gerontologia, torna-se de menor importância estudar as questões que envolvem a velhice e seus desafios; ( ) O processo do envelhecimento possui a representação do conjunto de realizações positivas e ou negativas, construídas ao longo de um processo histórico individual; ( ) A lógica do entendimento que devemos ter é que os conflitos existenciais são situações vividas em todos os períodos da vida, e que, para muitos com o chegar da terceira idade, a ela vão somando-se uma certa instabilidade emocional pelo fato de não querer enfrentar estes desafios inerentes a vida;
Respostas:v,v,f,v,v
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3. Mitos e Verdades Sobre a Terceira Idade
Pensar sobre a vida na terceira idade, requer refletir sobre o imaginário e o simbólico das construções que realizamos sobre a velhice. Criamos estereótipos sobre determinados conceitos em relação ao idoso que inviabiliza viver esta etapa da vida com prazer, relacionando o envelhecimento a algo desprovido de valor. Segundo Vieira, (2001) temos o seguinte pensamento que nos diz que o “imaginário social, o imaginário coletivo é um conjunto de crenças conceitos, idéias verdadeiras ou não que determinam atitudes, modas da sociedade. Os conceitos em relação ao envelhecimento deverão ser trabalhados para que possamos eleger novas capacidades, um novo conjunto de idéias positivas para que as pessoas se sintam motivadas a viverem a velhice. O idoso atualmente enfrenta este desafio, ou seja, fortalecer sua identidade social frente aos mitos que envolvem esta etapa da vida. Trabalhar com este tema “envelhecimento” representa o desejo de se criar novas formas de se pensar e agir frente a novos conceitos em relação a terceira idade, conceitos que possam potencializar a vida. A importância de estarmos reconhecendo esta etapa da vida, a partir do próprio idoso, na forma como ele se reconhece e elege para si disposições para viver o seu cotidiano de vida. Pensar o próprio processo de envelhecimento, requer dos profissionais da área, novos estudos, novas pesquisas que venham a somar de forma positiva um novo conceito sobre a condição humana na velhice. MORNGAS (1997), refere que:
O enfoque da velhice como etapa vital se insere nas modernas teorias e práticas da psicologia do desenvolvimento humano, da sociologia do possível, do trabalho social integrador. Estas orientações científicas e profissionais destacam a unicidade da experiência humana positiva vivenciada por cada pessoa, respeitando sua individualidade, mas inserindo-se numa sociedade de grupos fortalecidos e potencializados pela contribuição de cada indivíduo ( Moragas, 1997:19) . 27
Os conceitos contemporâneos em relação ao idoso e sua forma de vida foram sendo definidos com o surgimento da sociedade industrial, após este período, foram se criando efeitos de opinião pública negativos em relação ao idoso persistindo de forma a excluir os mesmos do centro da sociedade.Vejamos o pensamento de Beauvoir: "Uma outra barreira é a pressão da opinião". A pessoa idosa dobra-se ao ideal convencional que lhe é proposto. Teme o escândalo, ou simplesmente o ridículo. Torna-se escrava do "o que vão dizer". Interioriza as obrigações de decência e de castidade impostas pela sociedade. Seus próprios desejos a envergonham, e ela os nega "... (Beauvoir, 1990, p.393)".
Torna-se muitas vezes difícil modificar e ou realizar um enfrentamento da opinião pública sobre determinados conceitos que se estabelece em relação ao idoso devido ainda termos o foco central da mídia e da sociedade de consumo em torno da juventude, do vigor e da força física. Para romper-se com estes padrões estabelecidos, acredita-se que os avanços sociais o progresso intelectual e uma educação voltada para o conhecimento sobre o envelhecimento, poderão surtir um efeito de ruptura frente a estas barreiras sociais conceituais. Estas iniciativas poderão representar uma nova possibilidade de romper-se definitivamente com determinadas barreiras sociais que segregam e excluem o idoso da sociedade. A modificação desta imagem determinará um novo status sobre a velhice na sociedade, favorecendo ao idoso uma maior aceitação de sua condição, fazendo com que, este se sinta parte integrante desta sociedade e vice-versa, amenizando também toda e qualquer forma de violência em relação a pessoa idosa.
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3.1 Mitos e Verdades Sobre a Terceira Idade
A velhice hoje ainda possui um enfrentamento a ser realizado frente aos mitos relacionados ao processo do envelhecimento. Estes estereótipos muitas vezes oportunizam e reforçam as barreiras que são colocadas aos idosos, necessitando que profissionais da área do Serviço Social e da Gerontologia estimulem o idoso a buscar cada vez mais novos significados para suas vidas, a partir deles mesmos, e de preferência no espaço comunitário onde os idosos estão inseridos. Zimerman (2000) refere-se que : A estimulação faz com que as pessoas vivam mais a vida, que vivam o hoje, que usem mais a memória e a criatividade para criar situações, atividades, alegria e felicidade. Com a estimulação tudo revive: o corpo, não-usado, a mente parada, os afetos anestesiados, os amigos esquecidos. Zimerman (2000, p. 12)
Quando conseguimos desmitificar determinados conceitos em relação ao idoso, a tendência é fazer com que este sujeito se sinta estimulado a buscar sua própria felicidade, através das relações que o mesmo estabelece. Estabelecemos quase sempre uma visão equivocada ao considerar que os idosos são frágeis e dependentes tendo como resultado a segregação e o afastamento dos mesmos do convívio social. Essa imagem negativa se revela nas mais ínfimas atitudes nas mais diversas situações em relação a estes sujeitos. Quando oportunizamos a eles por exemplo presentes em datas comemorativas, surge automaticamente em nossas mentes objetos como: pijamas, meias e chinelos, camisolas, pantufas, mantas, cadeiras de balaço, entre outros artefatos direcionando a uma única possibilidade de vida, ou seja, descansar, esquentar-se do “frio” que envolve a velhice. Essas atitudes também são percebidas nos Abrigos, Albergues, Asilos ou Casas de Repouso, como são chamados os lugares onde se colocam os idosos. “Portanto é impossível falar na velhice sem falar na sociedade, pois é esta que estabelece os padrões que, em cada época, regem o comportamento
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social” (Heredia, [s/d], p. 33).Vejamos alguns mitos que envolvem a imagem da pessoa na terceira idade.
O IDOSO VOLTA A SER CRIANÇA TRATAR VELHO É IGUAL A TRATAR S MITOS DOS CONCEITOS
CRIANÇA E FÁCIL CUIDAR DO IDOSO, INFANTILIZAÇÃO/IDIOTIZAÇÃO/BEBEISMO A VELHICE É A MELHOR IDADE
S MITOS DAS TERAPÊUTICAS
É POSSÍVEL IMPEDIR OU RETARDAR O ENVELHECIMENTO ? NÃO É POSSÍVEL A ATIVIDADE FÍSICA A DIETA DEVE SER RESTRITA A NECESSIDADE DOS REMÉDIOS, NÃO VIVE SEM ELES... ELE(A) É MUITO VELHO PARA SER SUBMETIDO A ISTO: PROCEDIMENTOS HOSPITALIZAÇÃO/CIRURGIA UTI É LOCAL DE VELHO ELE NÃO PODE SABER/DECIDIR
O IDOSO NÃO SE INTERESSA MAIS PELOS ACONTECIMENTOS VOTAR NÃO É IMPORTANTE PARA QUEM ESTÁ “VELHO”
S MITOS DA CIDADANIA
OS IDOSOS NÃO POSSUEM DIREITOS, JÁ VIEVERAM MUITO, AS CRIANÇAS SIM PRECISAM DE DIREITOS... ESTÁ NA HORA DE SE APOSENTAR, INCLUSIVE DO SEU PRÓPRIO ERENCIAMENTO O IDOSO NÃO PODE SE AUTO-CUIDAR
SÃO PRÓPRIOS DA VELHICE: AS INCONTINÊNCIAS URINÁRIAS; A PERDA DA MEMÓRIA; AS ALTERAÇÕES DA SEXUALIDADE; S MITOS DAS DOENÇAS
TRISTEZA E APATIA; TONTURA;
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PERDAS SENSORIAIS; A HIPERTENSÃO; A OSTEOPOROSE; O TREMOR D. PARKINSON; PERDA DE EQUILÍBRIO;
De acordo com CHOPRA (1999, p. 294-295), “as pessoas idosas não podem ser classificadas em grupos, reduzindo-as a uma perda de identidade social. Somos todos sujeitos que vivemos processos de envelhecimento. É o indivíduo, e não a idade avançada sozinha que faz a diferença”. Deste modo, compreende-se que o idoso é um adulto que está envelhecendo e que sofre preconceito. Segundo FORNÓS (2001) a autora define as formas de preconceito como uma atitude negativa, que se dirige geralmente a grupos sem uma fundamentação que os justifique. É na vida cotidiana que vamos reforçando desde a infância até a vida adulta os preconceitos que vão sendo incorporamos na vida diária de forma usual, estabelecendo em muitos casos atitudes de revide sejam estes de forma física ou por atos emocionais. No caso do idoso, muitas vezes o mecanismo de defesa em relação ao preconceito é o isolamento. 3.2 Revendo Nossos Conceitos Temos que estar refletindo como estamos revendo nossos conceitos referente a forma como percebemos a velhice. Para HELLER(1992) o preconceito se caracteriza por ser uma “ultrageneralização” de pensamentos e ideologias presentes no cotidiano (1992, p. 43-44). A autora diz que “ todo preconceito impede a autonomia do homem, ou seja, diminui sua liberdade relativa diante do ato de escolha, ao deformar e, conseqüentemente estreitar a margem real de alternativa do indivíduo” (1992, p.59). Segundo Beauvoir (1990, p.350) esta nos faz refletir sobre a forma como os idosos pensam sobre o preconceito a eles colocados:
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"A atitude dos idosos depende de sua opinião geral com relação à velhice. Eles sabem que os velhos são olhados como uma espécie inferior. Toda uma tradição carregou essa palavra de um sentido pejorativo ela soa como um insulto. Assim, quando ouvimos nos chamarem de velhas, reagimos com cólera. ( Beauvoir,1990, p.350)
Desse modo, a imagem do velho na sociedade é o resultado da forma como vamos estabelecendo nossas percepções, muitas destas baseadas em juízos de valores que não correspondem a realidade, permitindo que aqueles que vivem o processo de envelhecimento estejam destituídos de seus papéis sociais sonhos, desejos de encontrarem formas de viver. Segundo VIGUERA (2001) a autora aponta alguns preconceitos relacionados ao idoso, nos oportunizando pensar disposições para alterarmos os padrões estabelecidos em relação ao processo do envelhecimento, propondo uma Educação para o Envelhecimento. Alguns preconceitos relacionados ao idoso que a autora aponta: Que a passividade é característica do envelhecimento ; Que o envelhecimento é uma enfermidade; Que o idoso já não tem capacidade para aprender; Que não é saudável recordar o passado; Que a pessoa que envelhece fica assexuada; O "viejismo5" que são atitudes de rejeição;
VIGUERA, Virginia G. de – Aulas do CVEPE1. 2. 3, 4,5,8,9,11,13, 14.
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http://pt.scribd.com/doc/30723559/Viejismo-Salvareza
Viejismo:Conjunto de prejuicios, estereotipos, que se aplican a los viejos simplesmente en función de su edad Otro termino utilizado con frecuencia.
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Ninguém consegue viver saudavelmente quando carrega sobre seus ombros, uma condição de vida tão desprovida de possibilidades. Estabelecemos nossos idosos a uma condição de vida em preto e branco, sem o colorido da vida que tornam as pessoas felizes. O ser humano em qualquer fase da vida necessita realizar projeto de vida. Sonhar, desejar, adquirir são possibilidades criadoras que fazem com que estejamos sempre com muita vontade de viver, de se relacionar, de se manter ativo, em movimento. Conforme NOVAES, (1990), este afirma: Desejar é ter a certeza da ausência, da ausência, não tenho o que eu quero e por isso eu desejo, então desejar na sua origem, quer dizer: desistir de olhar os astros, desistir de especular sobre o futuro, com grande realismo reconhecer que você não tem o que quer (Novaes, 1990, p. 133).
Como vemos desejar está diretamente associado a vida, é planejarmos nossas atividades para que possamos preencher nosso tempo com coisas que nos tragam satisfação, pois segundo LUFT (2003): "a idade madura não precisa ser o começo do fim, idade avançada não precisa ser isolamento e secura. Pode-se fortalecer laços amorosos, familiares, de amizade, variar de interesses, curtir melhor o gozo das coisas boas" (2003, p. 92). O Serviço Social contemporâneo desenvolve-se em um processo de profundas contradições que, segundo IAMAMOTO (2001), exige do profissional capacidade para decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos a partir de demandas emergentes no cotidiano. Enfim, ser um profissional propositivo, investigativo e não só executor, no sentido de podermos modificar determinados conceitos que envolvem o envelhecimento humano.O Serviço Social como profissão percebe no preconceito uma expressão da questão social, pois o mesmo nasce nas relações sociais da sociedade industrial de produção, marcada por abandono, segregação, merecendo desse profissional uma atenção especial de intervenção. Esta ação deverá ser criativa, capaz de decifrar a realidade e propor mudanças efetivas na garantia e promoção dos direitos sociais.
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Indicação bibliográfica: Desenvolvimento e Envelhecimento Anita Ligeralesso Neri
Por muito tempo, o envelhecimento foi visto como a antítese do desenvolvimento. Respaldados pela geriatria, muitos praticantes e pesquisadores em gerontologia consideravam a velhice como sinônimo de doença. Contudo, ao longo das últimas décadas, novas formulações começaram a apontar a possibilidade de uma boa e saudável velhice. Sucedeu-se um período em que a visão pessimista tradicional conviveu com um otimismo excessivo, que tomava o desenvolvimento como um processo permanente, e que haveria possibilidades quase ilimitadas de mudanças positivas com o passar da idade. Hoje, a perspectiva predominante dos estudos na área trabalham com três idéias fundamentais: o desenvolvimento é um processo finito, desenvolvimento e envelhecimento são processos concorrentes, e ambos são afetados por uma complexa combinação de fatores que operam ao longo de toda a vida. Mesclando autores de várias áreas, esta coletânea discute os avanços dos conhecimentos sobre o envelhecimento humano, com o objetivo de contribuir para o fazer ciência e para a disseminação da informação. • • • • • • •
Editora: Papirus Autor: ANITA LIGERALESSO NERI ISBN: 8530806328 Origem: Nacional Ano: 2001 Edição: 1 Número de páginas: 200
Referencias: BEAUVOIR, Simone de. A Velhice. Ed. Nova Fronteira, 4a Impressão, Rio de Janeiro.1990. sexo. Fatos e mitos, 2ª ed. 1961. BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. CHOPRA, Dupak. MD Corpo Sem Idade, mente sem fronteiras: a alternativa quântica para o envelhecimento. Rio de Janeiro: Rocco, 1995. FORNÓS Esteve, M. El Estereotipo Social de la Vejez. I Congresso Virtual de Psiquiatria, 26/12/2001. HELLER, Agnes. O cotidiano e a história. história. 4ª ed. Traduzido por Carlos Nelson Coutinho e Leandro Konder. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. HERÉDIA, Vânia Beatriz Merlotti. A velhice instituída. (SI): (SD).
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IAMAMOTO, Marilda Vilela. O Serviço Social na contemporaneidade: contemporaneidade: dimensões históricas, teóricas e ético-políticas. São Paulo: Cortez, 1997 LUFT, Lia. Perdas e Ganhos. Ganhos . 24ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2004. MORAGAS, Ricardo. Geriontologia Social: envelhecimento e qualidade de vida. São Paulo: Paulinas, 1997. NOVAES, Adauto. O desejo. desejo. 2.ed. São Paulo: Companhia das letras, 1990. VIGUERA, Virginia G. de – Aulas do CVEPE1. 2. 3, 4,5,8,9,11,13, 14. SLAVSKY, David. Corpo y Envejecimiento. Programa de Seminários por Internet. Temas de Psicogerontologia No 3. Biopsicossociais. Porto Alegre: Artes ZIMERMANN, Guile I. Velhice. Aspectos Biopsicossociais. Médicas Sul, 2000.
Autoestudo: Coloque verdadeiro ou falso: Segundo Vieira, (2001) temos o seguinte pensamento que nos diz que o imaginário é: a- O imaginário coletivo é um conjunto de crenças conceitos, idéias verdadeiras ou não que determinam atitudes, modas da sociedade; c- O imaginário coletivo não representa um conjunto de crenças conceitos, idéias verdadeiras ou não que determinam atitudes, modas da sociedade; d- O imaginário coletivo é um conjunto de crenças conceitos, idéias verdadeiras que determinam atitudes, modas da sociedade. e- O imaginário coletivo é um conjunto conjunto somente de verdadeiras que determinam atitudes, modas da sociedade.
idéias
Respostas: A - ( ) somente a questão a é verdadeira; B- ( ) somente somente as questões a e b são verdadeiras; 35
C- ( ) somente as questões a, b, c, estão corretas; D- ( ) todas estão erradas;
Resposta do estudo letra: a
4. A Família e o Idoso
O tema ora proposto sobre família pode ser abordado sob múltiplos aspectos tais como o social, o histórico, o antropológico, o sociológico, o psiquiátrico, o jurídico, entre outros. Mais particularmente neste estudo, queremos aprofundar o aspecto social. Entendemos que a família representa um complexo sistema de relações e interações entre seus membros no espaço em que se encontra, a forma e a dinâmica de seu funcionamento influencia cada indivíduo em seu próprio desenvolvimento comunitário e social refletindo a situação e o poder que ela possui em cada época histórica. A família poderá representar, o lugar do reconhecimento da diferença, do aprendizado das uniões dos rompimentos, o espaço das trocas afetivo emocionais, da construção da identidade social de cada indivíduo. A família etimologicamente falando é um termo originado do latim famulus, que tem como significado: conjunto de servos, a esposa e os filhos de um senhor. A definição de família passa por uma reflexão ampla. Segundo MINUCHIN (1982), a família é uma unidade social que enfrenta uma série de tarefas, tendo como finalidade ser uma matriz do desenvolvimento psicossocial de seus membros. Os objetivos da família são fatores da maior importância no curso da história do indivíduo (NICHOLS, 1998). A família é um sistema aberto e que está continuamente em um processo de transformação. E. Durkheim afirmava que a família 36
contemporânea funcionava como um espaço relacional, progressivamente construída como um espaço privado no interior do qual os membros sentiram uma vontade crescente de estar juntos, de partilhar uma intimidade, tendo-se tornado cada vez mais sensíveis a qualidade das relações (Van Cutsem, 2001). Para Romanelli (1991) esta define família brasileira como sendo: O modelo predominante na sociedade brasileira é o da família nuclear cujos atributos básicos são a dominância masculina, exercida em uma estrutura hierarquizada de poder e autoridade, a divisão sexual do trabalho a presença de vinculo afetivo entre marido e esposa e pais e filhos, o controle da sexualidade feminina e a dupla moral sexual. (1991, p. 44)
Como vemos, pelas definições citadas acima, anoção de família pode ser apreendida de forma ampla, incluindo os avós, tios e primos, ou de na forma de unidade familiar residencial. A literatura está repleeta de definoções, apontando a uma infinidade de concepções sobre família, como, por exemplo a idéia de “parentes que vivem sob o mesmo teto”. Os estudos históricos da evolução da humanidade demonstram que o ser humano para garantir a perpetuação da espécie, necessitou organizar a filiação biológica, direcionando ao que entendemos hoje por família. Nesse sentido, entendemos também que a organização social do grupo familiar é uma representação psíquica e emocional que estimula a necessidade do casal de ter sua prole seja ela biológica ou por adoção através da direção jurídica para cada caso. A relação entre pais e filhos traz como conseqüência direitos e deveres para cada um. Os pais ao realizarem seus sonhos através de projetos parentais, depositam naquele ser, que acaba de nascer ou através de processo judicial de adoção, a possibilidade de materializarem um projeto de família. Por outro lado, estes pais deverão cumprir com os deveres inerentes a sua responsabilidade parental. A Constituição Federal de 1988 introduziu de forma clara algumas atualizações, como o conceito de “entidade familiar”, que inclui a união estável entre o homem e a mulher e pode também representar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes (art. 226, §§3° e 4°). Trata-se das formas que podem ser assum idas pela “entidade
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familiar”, não necessitando para muitos da realização da celebração de casamento. Outro aspecto refere-se a “família substituta”, para os casos de adoção (cf. Estatuto da Criança e do Adolescente), e em uniões estáveis homoafetivas (cf. jurisprudência e doutrina). Quanto a este último caso, temos de forma bem atualizada o avanço hoje no Brasil para reconhecimento no que se refere a união homoafetiva e a possibilidade da adoção entre pessoas do mesmo sexo. Existe então, a possibilidade de se caracterizar uma relação familiar por vínculo do parentesco, por vínculo conjugal e por último por vínculo da afinidade. Aqui nos ateremos somente a configuração por parentesco, para podermos refletir sobre a representação do idoso no sei familiar.
4.1 As Configurações Familiares por Parentesco; Entendemos que a configuração por parentesco poderá se configurar entre os indivíduos vinculados pelo mesmo sangue. Existem grupos de parentesco caracterizados por serem legítimos pelo casamento e os ilegistimos que não procede do casamento. Parentes em linha reta são os pais, avós e bisavós, por exemplo. Parentes em linha colateral são os que se configuram de uma mesma linhagem familiar, até o quarto grau, sem descenderem uma da outra, como irmãos, tios ou primos. Vejamos no quadro abaixo quando apresentamos os estágios do ciclo de vida familiar apontados por (Carter & McGoldrick, 1995, p.17).
Estágio do Ciclo de Vida Familiar
Processo emocional de transição: princípio - chave
Mudanças de Segunda Ordem no status familiar, necessárias para prosseguir no desenvolvimento.
a. Diferenciação do eu em 1. Saindo de casa- jovens Aceitar a responsabilidade relação à família de origem; solteiros emocional e financeira pelo eu b. Desenvolvimento de relacionamentos íntimos com adultos iguais; c. Estabelecimento do eu com relação ao trabalho e independência financeira
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.Formação do sistema marital; 2. A união de famílias no Comprometimento como um b. Realinhamento dos casamento – o novo casal novo sistema relacionamentos com as famílias ampliadas e os amigos para incluir o cônjuge 3. Famílias pequenos
com
4. Famílias adolescentes
com
a. Ajustar o sistema conjugal filhos Aceitar novos membros no para criar espaço para o(s) sistema filho (s) b. Unir-se nas tarefas de educação dos filhos, nas tarefas financeiras e domésticas c. Realinhamento dos relacionamentos com a família ampliada para incluir os papéis de pais e avós filhos Aumentar a flexibilidade das fronteiras familiares para incluir a independência dos filhos e a fragilidade dos avós
a. Modificar os relacionamentos progenitorfilho para permitir ao adolescente movimentar-se para dentro e para fora do sistema; b. Novo foco nas questões conjugais e profissionais do meio da vida; c. Começar a mudança no sentido de cuidar da geração mais velha
.a . Renegociar o sistema 5 – Lançando os filhos e Aceitar várias saídas e conjugal como díade; seguindo em frente entradas no sistema familiar b. Desenvolvimento de relacionamentos de adulto para-adulto entre os filhos crescidos e seus pais; c. Realinhamento dos relacionamentos para incluir parentes por afinidades e netos; d. Lidar com incapacidades e morte dos pais (avós) a. Manter o funcionamento e 6. Famílias no estágio tardio Aceitar a mudança dos papéis os interesses próprios e/ou do da vida geracionais casal em fase do declínio fisiológico; b. Apoiar um papel mais central da geração do meio; c. Abrir espaço no sistema para a sabedoria e experiência dos idosos, apoiando a geração mais velha sem super funcionar por ela; d. Lidar com a perda do cônjuge, irmãos e outros iguais e preparar-se para a
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própria morte, Revisão e integração da vida.
Quadro 1 - Os estágios do Ciclo de Vida Familiar (Carter & McGoldrick, 1995, p.17) Pelo exposto acima, a família representa o espaço de socialização, de divisão de responsabilidades, de organização das estratégias de sobrevivência, espaço onde vamos nos organizando perante a própria divisão e transformação dos papéis que vamos assumindo neste espaço, lugar da construção da cidadania, de proteção do grupo. É na família que se estreitam os laços afetivos e os recursos do trabalho para a manutenção do grupo.
4.2 A Representação do Idoso no contexto Familiar;
Para avançarmos na nossa reflexo em torno do tema família, diríamos que é na família que se estabelece o aprendizado dos valores através das gerações, é o espaço onde estabelecemos vínculos fortes, é na família que herdamos todo um acervo cultural de imagens e representações simbólicas que comporão nossa identidade histórica e social. É na família que está representado o espaço mais intimo e necessário para o desenvolvimento da personalidade da criança e do adolescente, para o acolhimento da pessoa idosa, muitas vezes na condição de avós. O idoso desempenham um papel de extrema importância, na vida de uma criança e do adolescente. Os avós na terceira idade, possuem a representação familiar e social de transmitirem a história particular de cada geração, de cada família para as gerações mais jovens. FRAIMAN (1996) refere-se: ... as crianças precisam da família para sobreviver, para ser alguém. Os mais velhos precisam da família porque a amam e querem se assegurar de que seus mais altos valores e ideais sejam transmitidos às gerações futuras ( 1996: p 24).
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Esta condição de representação de ser avó ou avô no contexto familiar e na sociedade de modo geral independe da classe social, pois eles por si sós possuem um caráter objetivo por ser um membro da família e com isto cumprem uma função social determinada e subjetivamente pelo fato da pessoa na velhice, na figura do avô e da avó possuírem, um carisma muito especial na imagem que estes representam, no afeto estabelecido dentro do seio familiar. Para a garantia do idoso neste espaço que é o seio da família está disposto nos artigos 229 e 230 da Constituição Brasileira de 1988 os deveres do Estado e da família em relação aos cuidados a pessoa idosa: Art. 229: Os pais tem têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.
Vemos pelo artigo acima, que quando duas pessoas se unem para a constituírem uma família, e com o nascimento dos filhos, os vínculos consangüíneos familiares não representam somente o único laço que une os membros as suas responsabilidades, mas o amparo legal constituído. Os filhos maiores possuem o dever de assistirem seus pais idosos, garantindo a eles os cuidados necessários para que os idosos tenham uma qualidade de vida na velhice. Mas quando as condições sociais de pobreza estão presentes no processo de desenvolvimento das famílias existe a possibilidade deste idoso sofrer algum tipo de violência ou abandono social por parte do grupo familiar. Esta condição de pobreza poderá favorecer o rompimento freqüente dos vínculos familiares, situando estes filhos maiores na condição de violadores de direitos em relação aos seus pais mais velhos. Quando assim ocorre, o Estado possui o dever de prover políticas públicas preventivas, não deixando com que a pobreza material ronde este espaço tão importante de relações humanas. Também na Constituição Brasileira de 1988 está condicionado: Art. 230: A família, a sociedade, e o estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida.
Para termos claro este direcionamento, segundo YAZBEK (1999, p. 34), “a pobreza é um fenômeno multidimensional, é uma categoria política que 41
implica carecimentos no plano espiritual, no campo dos direitos, das possibilidades e da esperança” Comporta o não acesso a bens e serviços, moradia, saúde, educação, trabalho, lazer, etc. E “a subalternidade, que diz respeito à ausência de protagonismo, de poder, expressando a dominação e a exploração”. Não podemos aceitar que a família de modo geral, principalmente a família proletária sofra com este déficit de condições mínimas e básicas de sobrevivência, fazendo com que tanto a criança e o adolescente quanto o idoso sofram as condicionantes de abandono pelo fato do Estado não cumprir com o seu papel. O tripé da seguridade social, constituído por saúde, previdência e assistência social, deverá estar expressamente assegurando ao trabalhador garantindo as condições básicas de sobrevivência social do grupo familiar. Será somente com políticas sociais públicas que conseguiremos minimizar tal situação de pobreza. As Políticas Sociais, conforme Soares (2001) seria um conjunto dos princípios e medidas postos em prática por instituições governamentais e outras, para a solução de certos problemas sociais.
Poderemos considerar que elas representam de forma estratégica um conjuntos de ações utilizadas pelo governo para tentar diminuir as demandas da sociedade em condições de vulnerabilidade social. Para SANTOS (1989:35), o autor define política social como sendo: “(...) o conjunto de atividades ou programas governamentais destinados a remediar as falhas do laissez-faire ”. O autor argumenta que o tema tornou-se lugar comum na definição de qualquer ação governamental. “Política social é um termo largamente usado, mas que não se presta a uma definição precisa. O sentido em que é usado em qualquer contexto particular é em vasta medida matéria de conveniência ou de convenção (...) e nem uma, nem outra, explicará de que trata realmente a matéria”. A partir das citações dos autores, afirmamos que existem vários caminhos já percorridos para se definir políticas sociais, necessitando que o Estado e a sociedade de modo geral cumpram com suas obrigações na materialização das políticas sociais junto a família carenciada. Entendemos que a família representa um espaço que deverá estar sempre em pauta em todos os fóruns acadêmicos, científicos bem como comunitários, pois o tema, representa espaço de protagonismo social espaço 42
de vida para todas as gerações: crianças, adolescentes, adulto, adulto idoso, espaço de representação de gênero, de classe social. conforme Carter & McGoldrick, 1995, p.17) referem-se, espaço no sistema para a o desempenho da sabedoria e da experiência dos idosos.
Referencias comentadas: Família, Gênero e Gerações - Col. Família na Sociedade Contemporânea Autor: Borges, Ângela Editora: Paulinas Categoria: Ciências Humanas e Sociais / Política
A obra se insere i nsere na coleção Família na sociedade contemporânea nascida em colaboração com o Programa do Mestrado em Família na Sociedade Contemporânea (www.ucsal.br), da Universidade Católica do Salvador a partir do seminário "Família Contemporânea: desafios à intimidade e à inclusão social".
Referencias: CARTER, B. & GOLDRICK, M. M C.As C.As Mudanças no Ciclo de Vida Familiar: uma estrutura para a terapia familiar. familiar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, 1988. DURKHEIM, E. Lições em Sociologia. São Paulo: Martins Fontes, 2005 ROMANELLI, G. Família de camadas media: a trajetória da modernidade . Ribeirão Preto, 1986. SANTOS, Wanderley. Razões da Desordem. Desordem . Rio de Janeiro : Rocco, 1989. YAZBEK, Maria Carmelita. Globalização, precarização das relações de trabalho. trabalho. In: Revista TEMPORALIS/ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO E PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL. Ano 2, Nº 3 (Jan/Jul 2001)Brasília: ABESS, Grafline,2001. MINUCHIN, S. Família: Funcionamento e Tratamento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1982.
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Autoestudo: Coloque Verdadeiro ou Falso: ( ) Os objetivos da família são fatores da maior importância no curso da história do indivíduo (Nichols, 1998). A família f amília é um sistema fechado e que está continuamente em um processo de transformação. ( ) Entendemos que a configuração por parentesco poderá se configurar entre os indivíduos vinculados pelo mesmo sangue. Existem grupos de parentesco caracterizados por serem legítimos pelo casamento e os ilegistimos que poderão proceder do casamento; ( ) A família poderá representar, o lugar do reconhecimento da diferença, do aprendizado das uniões dos rompimentos, o espaço das trocas afetivo emocionais, da construção da identidade social de cada indivíduo. ( ) Segundo Minuchin (1982), a família é uma unidade social que enfrenta uma série de tarefas, tendo como finalidade ser uma matriz do desenvolvimento psicossocial de seus membros. ( ) É na família que se estabelece o aprendizado dos valores através das gerações, é o espaço onde estabelecemos vínculos fortes, é na família que herdamos todo um acervo cultural de imagens e representações simbólicas que comporão nossa identidade histórica e social. ( ) É na família que está representado o espaço mais intimo e necessário para o desenvolvimento da personalidade da criança e do adolescente, para o acolhimento da pessoa idosa, muitas vezes na condição de avós. ( ) O Estado possui o dever de prover políticas públicas preventivas, não deixando com que a pobreza material ronde este espaço tão importante de relações humanas ( ) Os estudos históricos da evolução da humanidade demonstram que o ser humano para garantir a perpetuação da espécie, não necessitou organizar a filiação biológica, direcionando ao que entendemos hoje por família. f amília.
Respostas: f,f,v,v,v,v,v,f
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5- Aspectos legais aos Direitos dos Idosos O Serviço Social, como profissão está inscrita na divisão social e técnica do trabalho, situando-se no processo de produção e reprodução das relações sociais. Assim, o Serviço Social contribui na prestação, elaboração e criação de uma prática especializada em serviços que atendam às necessidades sociais básicas da população. As condições de vulnerabilidade material ocorrem na vida das pessoas pobres devido a forma como a sociedade capitalista vai se metamorfoseando para a sua manutenção, criando bolsões de excluídos sociais. Aqui em particular, temos a forma como a população idosa vivencia no cotidiano de suas vidas as mais diversas expressões da questão social, situações marcadas pelo não acesso a recursos básicos para a sobrevivência, tanto na área da saúde, habitação, meio ambiente como naquilo que entendemos ser básico para a sobrevivência como sendo a alimentação, remédios, vestuário e um certo conforto neste período da vida.
5.1 Encaminhamento Jurídico no Trato da Questão Social
Uma realidade social de precarização, vivida por uma grande maioria das pessoas na terceira idade que se evidência em sofrimento e amargura. O Serviço Social neste cenário é considerado, portanto para esta população, como um profissional que possui a capacidade de realizar mediações, auxiliando-o e subsidiando-o através de encaminhamentos necessários para a concretização dos direitos. Estes encaminhamentos requerem um trato jurídico exigindo do profissional conhecimentos constitucionais e estatutários necessários para a organização social na vida do idoso. idoso. Segundo Faleiros (1985): (1985): As mediações se implicam mutuamente no contexto de relação histórico-estrutural, constituindo redes de mediações articuladas sob cuja ótica é que vamos elaborar estratégias de ação, o método é o desdobramento do objeto, das mediações, nas suas interconexões ou multilateralidade (1985, p. 53).
As mediações precisam ser compreendidas como uma possibilidade de se estabelecer uma diferente inter-relação entre todos os atores envolvidos. 45
Entendemos que ao profissional cabe a possibilidade de construir uma dinâmica que envolva usuário/sociedade/Estado. O profissional nesta dinâmica compreende melhor o contexto onde está inserido não fragmentando a forma social que organiza a vida das pessoas em sociedade. Nesse processo, o profissional estabelece de forma estratégica suas ações, sejam estas no trato com o usuário e este com a instituição bem como com a comunidade mais ampla ou com outros atores pertencentes as diversas redes. Aqui em questão, temos o assunto envelhecimento humano e as condições de se viver a terceira idade em uma sociedade capitalista, marcada pela beleza física, juventude, força, destreza, rapidez, classe social, poder aquisitivo entre outros elementos. Muitos destes condicionantes são legitimados e reafirmados por esta mesma sociedade industrial. Formas de vida construídas para vencer de forma competitiva a garantia de um espaço na sociedade industrial. Como entender tal fenômeno biológico e social do envelhecimento, em uma sociedade marcada por preconceitos e desigualdades, aqui em especial a brasileira? Onde o mais forte prepondera de forma desigual sobre o mais fraco? Onde a beleza do corpo e o vigor físico ainda são os elementos que darão sentido de existência ao ser humano para que ele se mantenha produtivo! Muitas vezes, percebemos que para a sociedade industrial e de consumo, de modo geral, a juventude e força física são os elementos que compõem os prérequisitos para assegurar a sobrevivência, sejam estes espaços o mundo do trabalho, o contexto comunitário e muitas vezes no próprio contexto familiar, mostrando o quanto ser idoso na atual sociedade é algo desafiador. As relações sociais muitas vezes, são vivencias marcadas por relações conflituosas e tensas, gestadas na forma e na intenção que damos a determinados significados e valorações que vão definir o comportamento humano e a sua própria sobrevivência, definindo o perfil do sujeito que deveremos ser e seguir para termos sucesso. A caminhada humana possui também nuances que se expressam em ações amorosas e cheias de doações, vínculos, desejos, emoções que nos fazem pensar na possibilidade de se poder mudar o rumo da cainhada humana, fazendo romper com as circunstâncias sociais de abandono e de pré-conceitos. Dessa maneira, os mais frágeis 46
socialmente e fisicamente vão sofrendo o abandono social na esteira da vida, permitindo que a humanidade de modo geral permaneça direcionada no sentido de amadurecer seus valores e sonhos, suas escolhas, seu modo de ser e hábitos. Desvendar o objeto “questão social”, na vida e na forma como os sujeitos hoje na terceira idade a vivenciam, suas vidas eis o desafio. Entendemos que o Serviço Social trabalha no campo subjetivo (valores) e no campo objetivo (sociedade, sua base material, relação de classe, força de trabalho, dentre outros)” (TURCK, 2006, p.13). Nesse quadro, entendemos que existem interesses particulares em detrimento da sociedade, que estabelecem um controle sobre o imaginário social da maioria das pessoas, instigando-nos a vivermos criando necessidades materiais e de consumo, desnecessários para as nossas vidas elegendo determinados segmentos sociais mais fortes para a manutenção desta relação de fetiche. O movimento então é desvendar o objeto “questão social”, com o qual poderemos garantir o processo de reconhecimento dos direitos sociais na vida cotidiana dos idosos, para estabelecemos nosso processo interventivo nas mais diferentes expressões da questão social na forma como os idosos a vivenciam. Aqui particularmente, temos o sofrimento, e o abandono social que alguns idosos enfrentam no cotidiano da vida em sociedade na garantia de seus direitos, nesse tempo, em que, deveriam possuir a dádiva das sombras dos anos, viver esta singular e única etapa da vida de todos nós. No sentido de podermos pensar ações que venham ao encontro das necessidades sociais, da saúde, da habitação, em fim de tudo que se faz necessário para uma qualidade de vida, o profissional deverá intervir na realidade pautando sua intervenção através de critérios legais, que sejam direcionados as necessidades de todos os idosos. A seguir apresentaremos alguns destes critérios, todos pautados através da Constituição Federal Brasileira de 1988, bem como de estatutos e outros mecanismos jurídicos. 5.2 A Garantia do Direito Mais particularmente temos em relação a população idosa na Constituição Federal Brasileira de 1988, cinco dos seus artigos que se referem a 47
Política Nacional do Idoso, priorizando um atendimento particular as demandas desta população cada vez mais crescente quais sejam;
Art. 14: A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I-Plebiscito; II- Referendo; III- Iniciativa Popular; § lº O alistamento eleitoral e o voto são: II – Facultativo para: b) os maiores de setenta anos;
Art. 203: A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I-
a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;
II-
o amparo à crianças e adolescentes carentes;
III-
a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV-
a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária;
V-
a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à sua própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.
Art. 229: Os pais tem têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.
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Art. 230: A família, a sociedade, e o estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida. A Política Nacional do Idoso, através da Lei Federal Nº 8.842, de 4 de janeiro de 1994 estabelece as seguintes diretrizes: a) na promoção e na assistência social, há previsão de ações no sentido de atender as necessidades básicas do idoso, estimulando-se a criação de centros de convivência, centros de cuidados noturnos, casas-lares, oficinas de trabalho, atendimentos domiciliares, além da capacitação de recursos para atendimento do idoso (art. 10, I); b) na área de saúde, o idoso deve ter toda assistência preventiva, protetiva e de recuperação por meio do Sistema Único de Saúde; deve ser incluída a geriatria como especialidade clínica, para efeito de concursos públicos federais, estaduais, do Distrito Federal e municipais (art. 10, II); c) na área da educação prevêm-se: a adequação dos currículos escolares com conteúdos voltados para o processo de envelhecimento, de forma a eliminar preconceitos; a inserção da Gerontologia e da Geriatria como disciplinas curriculares no cursos superiores; a criação de programas de ensino destinado aos idosos; o apoio à criação de universidade aberta para a terceira idade; d) na área do trabalho e da previdência: impedir a discriminação do idoso, no setor público e privado; programas de preparação para a aposentadoria com antecedência mínima de dois anos antes do afastamento; atendimento prioritário nos benefícios previdenciários; e) habitação e urbanismo: facilitar o acesso à moradia para o idoso e diminuir as barreiras arquitetônicas; f) na área da justiça: promoção jurídica do idoso, coibindo abusos e lesões a seus direitos; g) na área da cultura, esporte e lazer: iniciativas para a integração do idoso e, com este objetivo, a redução de preços dos eventos culturais, esportivos e de lazer.
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h) no âmbito na União, dos estados, Distrito Federal e municípios: a criação de conselhos do idoso, com o objetivo de formular, coordenar, supervisionar e avaliar a política nacional do idoso, no âmbito da respectiva atuação (arts. 5º e 6º). A lei Orgânica da Assistência social – LOAS – Lei nº 8.742, de sete de dezembro de 1993, possui como finalidade reafirmar de forma segura algumas definições e objetivos a garantia dos mínimos básicos de sobrevivência em relação ao idoso pontuando: Das definições e Objetivos Art.1º. A assistência social, direito do cidadão e dever do estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas. Art.2º. A assistência social tem por objetivos: I- a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II- o amparo às crianças e adolescentes carentes; III- a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV- a habilitação e a reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V- garantia de 1 ( um ) salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família. Parágrafo único. A assistência social realiza-se de forma integrada às políticas setoriais, visando ao enfrentamento da pobreza, à garantia dos mínimos sociais, ao provimento de condições para atender contingências sociais e à universalização dos direitos sociais. A Constituição do Estado do Rio Grande do Sul, de 1989 possui 3 artigos referentes a questão do idoso afirmando;
Art. 260: O estado desenvolverá política e programas de assistência social e proteção à criança, ao adolescente e ao idoso, portadores ou não de
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deficiência, com a participação de entidades civis, obedecendo aos preceitos I,II, III,IV,V, VI, VII.
Art. 261: Compete ao Estado: I-
dar prioridade às pessoas com menos de 14 anos e mais de 60 anos em todos os programas de natureza social, desde que comprovada a insuficiência de meios materiais;
II-
estabelecer programas de assistência aos idosos portadores ou não de deficiência, com objetivo de proporcionar-lhes segurança econômica, defesa da dignidade e bem-estar, prevenção de doenças, integração e participação ativa na comunidade;
III-
manter casas e albergues para idosos, mendigos, crianças e adolescentes abandonados, portadores ou não de deficiências, sem lar ou família, aos quais se darão as condições de bem-estar e dignidade humana;
IV-
dispor sobre a criação de centros Regionais de Habilitação e Reabilitação Física e Profissional.
Art. 262: É assegurada a gratuidade: I-
aos maiores de sessenta e cinco anos, no transporte coletivo urbano e metropolitano;
A Associação Nacional de Gerontologia – ANG criada em 1985, representa uma instância importante para discussão e estudos das questões referentes ao envelhecimento da população brasileira. Em 7 de dezembro 1993, a lei nº 8.742, Lei Orgânica da Assistência Social LOAS, surge através da organização da sociedade civil e governamental para o enfrentamento de
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demandas sociais emergentes, entre elas a questão do idoso carente e sem renda. A Lei Orgânica da Assistência Social, passa a partir de dezembro de 1993, a constituir-se no estatuto que rege as relações entre o Estado e a Sociedade, para consolidação do direito social da Assistência, dentro do contexto da Seguridade Social. A LOAS estabelece novas estruturas de gestão, que são os conselhos e fundos definindo as competências das esferas Federal, Estadual e Municipal tanto na gestão como no financiamento. Um ano após o surgimento da LOAS, em 1994, o Presidente Itamar Franco sanciona uma lei para garantir os direitos do idoso a Lei 8842- que estabelece a Política Nacional do Idosos de 4 de janeiro de 1994, sendo regulamentada dois anos depois pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, através do Decreto 1.948 de 3 de julho de 1996. Desta maneira cabe a sociedade brasileira e em especial a todos os profissionais que trabalham com a terceira idade apropriarem-se destas garantias estabelecidas em lei, instrumentalizando a população sobre a existência das mesmas, trabalhando com a população idosa de modo geral. Assim ocorrendo, as possibilidades de enfrentar os impactos em termos de aumento da exclusão social de modo geral, mais particularmente em relação ao idoso serão menos difíceis. Organismos internacionais como a ONU, tem demonstrado preocupação em relação ao idoso, em buscar alternativas para seu enfrentamento. Dados oficiais do governo brasileiro, apresentados na Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Social, promovida em março de 1995 pela ONU 6, demonstram que a acumulação e concentração de renda no Brasil é a causa estrutural do aumento da pobreza. Segundo este documento ele apresenta os seguintes dados: ...enquanto, na década de sessenta, a renda apropriada pelos 10% mais ricos da população era de 34 vezes superior à renda apropriada pelos 10% mais pobres, e na década de noventa essa proporção se eleva para 78 vezes (1995, p. 1-5). 6
Entre os 71 países incluídos no último relatório de Desenvolvimento do Banco Mundial (1995), o Brasil apresenta o maior índice de desigualdade social, fruto do efeito cumulativo “perverso sobre a distribuição de renda” (BRASIL, 1995, p. 1-5).
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A exclusão social é a resultante da acumulação e concentração de renda no Brasil. Ao olhar-se para trás, percebe-se que, em poucas décadas, os artesãos se transformaram em operários, estes perdendo a posse de suas ferramentas e oferecendo sua força de trabalho. É a força de trabalho vista como mercadoria. Inicia-se a busca para se medir esta força em valor igual aos salários. A determinação do trabalho se dá através da oferta e da demanda. Perde-se a agricultura de subsistência para as grandes propriedades rurais, surgindo o êxodo rural. Este tipo de movimento desordenado na sociedade, traz consigo a situação perversa do alargamento das sub-moradias nas periferias das grandes metrópoles, do crime e o abandono, devido à situação de desemprego. Uma boa parte da população da zona urbana foi se formando através da migração no sentido rural/urbano, com pessoas que saíram do campo com o “sonho” de encontrarem nas metrópoles qualidade de vida para si e ou também para os seus, impulsionados pelo mercado de trabalho aparentemente promissor. No Brasil, contamos com o decreto 1948/96, que regulamenta a lei 884/ 94 estabelecendo a Política Nacional do Idoso. Embora estas medidas legais representem um ganho para a sociedade, ainda existe um longo caminho a percorrer até que se inaugure o tempo em que o cumprimento dessas leis represente o atendimento às reais necessidades da população idosa, melhorando assim a sua qualidade de vida. Uma das estratégias para a viabilidade da cidadania ao idoso se refere as efetivas políticas, que realmente correspondam às suas necessidades e aos seus anseios, ampliando significativamente os seus direitos fundamentais como cidadãos e estabelecendo medidas de proteção efetivas, de maneira a criar e/ou aprimorar políticas de atendimento efetivas, estabelecendo prioridades inclusive no que diz respeito ao acesso à justiça. O Estatuto do Idoso Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, possui os seguintes artigos que irão estabelecer as seguintes diretrizes em relação a garantia dos direitos sociais ao idoso: Art.1º É instituído o estatuto do idoso, destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 ( sessenta) anos. 53
Art.2º O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoas humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade. Art 3º É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idosos, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e a convivência familiar e comunitária. Ao constatarmos no art.3º, a importância do idoso estar convivendo com a família e a comunidade, sendo seu direito, evidenciamos enquanto alternativa a este, a inserção do idoso em grupos de convivência. Será a partir desta garantia dos direitos dos idosos que iremos estabelecer uma qualidade de vida reafirmando o que está posto na lei. Acredita-se também que, em cada fase da vida, surgem conquistas legais que irão estabelecer as condições favoráveis a uma qualidade de vida na terceira idade, que demandam capacidades criativas para a superação de limitações que porventura aconteçam, proporcionando um desafio constante. Acreditamos que é através desta reflexão constante sobre os conceitos estabelecidos sobre a velhice em sociedade é que novos valores serão construídos e atribuídos à condição da velhice, resultando em uma nova identidade social. Referencia comentada: O Estatuto do Idoso Lei 10.741 – 2003 Este documento legal, revela o esforça da sociedade e do movimento da terceira idade em dispor de mecanismos legais que venha ao encontro da garantia minimamente das condições sociais e legais para uma vida digna.
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Referencias: CONSTITUÍÇÃO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, promulgada aos 3 de outubro de 1989, 6 edição, Livraria do advogado, Porto Alegre/RS. CONSTITUÍÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. 27 edição, Saraiva, São Paulo, 2001. Estatuto do Idoso, lei nº 10741 – 2003; FALEIROS, Vicente de Paula. Serviço Social: Questões para o Futuro. Revista Serviço Social e Sociedade, São Paulo, Cortez, n.50, 1985. ______. Estratégias em Serviço Social. São Paulo: Cortez, 1997. LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social – lei nº 8.742 - 1993; LEGISLAÇÃO. Idosos. 2. ed. Brasília, 1999. Política Nacional do Idoso, através da Lei Federal Nº 8.842, de 4 de janeiro de 1994; TÜRCK, Maria da Graça Maurer Gomes. Serviço Social Jurídico: Perícia Social no Contexto da Infância e da Juventude. Campinas: Livro Pleno, 2000. ______. Rede Interna e Rede Social: o desafio permanente na teia das relações sociais. Porto Alegre: Tomo, 2001.
Autoestudo: Caro aluno, como vemos no Brasil, existe uma série de mecanismos legais que vão ao encontro de garantirmos na sociedade as condições mínimas de sobrevivência para as pessoas na terceira idade, desde os compromissos assumidos pela família, pela comunidade até a reafirmação das obrigações do do Estado no amparo ao idoso via políticas sociais. Sendo assim, faça uma pesquisa sobre as diretrizes legais municipais que amparam os idosos de seu município e também procure investigar o que fala a Constituição Estadual do Estado onde você vive. Assim, você terá um estudo completo sobre o aparato legal, para propor uma ação interventiva pautada na lei.
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6. Redes de Proteção: Sua Importância na Vida do idoso
Para avançarmos de forma teórica e prática em nossas reflexões em torno da garantia dos direitos, ou seja, direitos para a terceira idade, apontamos como condição especial, trabalhar na perspectiva de rede. A rede ainda é um dos suportes mais eficazes no que se refere a forma de acolher as demandas sociais da terceira idade na sociedade contemporânea. Este desafio representa, um grande esforço para os profissionais que trabalham com este grupo social, ou sejam, os Gerontólogos, os Assistentes Sociais, os psicólogos, os médicos entre outros. Realizar mediações importantes na garantia dos direitos sociais constitucionais, eis o desafio. Temos constatado de modo geral, que os espaços institucionais que atendem as demandas sociais e de saúde para a terceira idade, se constituem de forma fragilizada e ainda de pequeno número no suprimento das demandas, que emergem da questão social, na sua relação capital e trabalho. Isto posto, entendemos que estes espaços deveriam ser objeto de estudo e intervenção dos profissionais da área, exigindo uma rigorosa análise institucional e da realidade aparente buscando na essência a compreensão da forma como as relações vão se constituindo. A pesquisa é uma ferramenta de grande valor para esta compreensão. Entendemos que o profissional Assistente Social exerce uma íntima relação com a instituição e com os demais atores sociais que compõem o quadro funcional, podendo provocar o debate para a construção de alternativas e respostas pata o enfrentamento da realidade. Demarcada esta situação a ser trabalhada no que se refere as demandas sociais da terceira idade, o profissional no espaço de trabalho estimulará ações motivadoras para a construção de uma rede interna forte no espaço institucional. Estes direitos negados, muitas vezes também dizem respeitos a sociedade de modo geral, bem como nas relações estabelecidas nos espaços onde o idoso transita, ou seja na família, na comunidade e nas próprias
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instituições que negam acesso aos direitos sociais nas mais variadas e particulares demandas que os usuários idosos apresentam.
6.1 Motivando a Construção da Rede de Apoio
Para podermos, de forma mais precisa acolher tais necessidades da terceira idade, dentro de uma instituição, através de uma rede interna, sendo necessário demarcarmos a identidade do profissional que nela atua, para que assim, consigamos deixar claro quais são as nossas atribuições e responsabilidades no conjunto das forças operantes. É importante compreendermos os processo sociais na sua relação com a vida dos usuários, com o corpo técnico naquilo que cada um faz no conjunto das forças profissionais, bem como, o papel da instituição no conjunto coletivo para o suprimento das demandas internas dos usuários. Cada um atendendo particularidades no grande conjunto que emergem da questão social. Demarcada a identidade deste ator social e suas respectivas responsabilidades, vamos dando procedimento à construção daquilo que Turck (2001) assinala como sendo a rede interna ou social na construção efetiva de um tecido protetivo para as demandas inerentes do idoso. É através desta identificação de atores, reconhecendo responsabilidades e papéis, percebendo o que os une através de seu próprio conhecimento e procedimentos em conjunto de forma solidária, que se dará a visibilidade e perspectiva da constituição desta rede interna dentro da instituição e social com as demais instituições da comunidade. Para melhor percebemos o cotidiano de trabalho de profissionais engajados neste processo de construção de rede apresentaremos estudos realizados por OLIVEIRA, (2008) através da sua pesquisa com Assistentes Sociais que trabalham com população de rua na terceira idade, o pesquisador buscou compreender o cotidiano de trabalho de Assistentes Sociais que de alguma maneira falam sobre a forma e o modo de como as redes estão ou não construídas no cotidiano da prática profissional para o atendimento das demandas de idosos moradores de rua, nas instituições de proteção social.
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No influxo de tais reflexões, percebemos através do estudo proposto que esta realidade se faz marcada por dificuldades e desafios no trabalho vivido pelas Assistentes Sociais que participaram da referida pesquisa. Quando questionadas sobre o trabalho em rede, no sentido de poderem atender as demandas que chegam nas instituições para moradores de rua, as profissionais através das narrativas permeadas de dificuldades, relatam seus enfrentamentos no atendimento desta população.
6.2 Narrativas sobre o Trabalho em Rede: Necessidade e Possibilidades de Inclusão Social para Pessoas na Terceira Idade Através da Rede Entendemos que o trabalho para ser efetivo através de uma ação em rede, devera estar marcado por compromissos coletivos em relação a realidade social percebida no cotidiano institucional e social. Para a construção de uma rede forte, especializada, devemos estabelecer e garantir o fluxo da comunicação entre os diversos atores que trabalham nas instituições com determinadas demandas comuns entre si. O dialogo permanente sobre a realidade vivida no cotidiano institucional, deverá ser o passo primeiro para a construção de forma madura e coletiva de decisões pensadas e articuladas em rede. Vejamos como a profissional 7 se expressa: (...) nós construímos uma rede, uma rede pessoal, a partir da minha pessoa (...), eu construí uma rede para o Serviço Social do município, porque eu assumi esta vaga da colega anterior que saiu, e talvez por questões de personalidade, algumas portas para ela eram fechadas, e a partir da minha pessoa, eu (...), eu iniciei a rede com uma questão pessoal minha, de uma particularidade pessoal minha, de poder com jeitinho ter afinidade com algumas pessoas, para assim poder usar principalmente o serviço da saúde que deveria ser uma parceira e quando eu cheguei no albergue ela não era uma parceria, a gente sabe que a saúde mental ela é uma parceria muito grande - Assistente Social Maria da Luz OLIVEIRA , (2008, p.27)
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Os nomes das Assistentes Sociais apresentados neste estudo são fictícios, para se garantir a privacidade dos profissionais envolvidos na pesquisa. 58
A narrativa da Assistente Social acima que trabalha em uma instituição para população adulta de rua e da terceira idade nos apresenta uma interlocução marcada de dificuldades em relacionar conhecimentos teóricos para a implementação de forma eficaz de um trabalho em rede. Sua forma de pensar o trabalho em rede, está calcada em uma ação particularizada, baseada no senso comum, na afinidade no jeitinho, sem articulação teórica, fundamental para sua prática interventiva. Constatamos, através da narrativa acima, um processo de trabalho desassociado de uma prática que esteja conectada através de uma metodologia que ilumine seu processo de intervenção, mas apresenta uma ação que reflete um personalismo calcado em valores e percepções que não ultrapassam o senso comum. Não podemos compreender a construção de um trabalho em rede feita a partir de uma concepção que esteja implicada no “personalismo”, na afinidade, “no jeitinho” , que tenha como intenção, montar parcerias. Este tipo de intervenção fragiliza a identidade profissional na rede, podendo gerar uma equivocada ação do Assistente Social e de outros profissionais no contexto da rede através de práticas tarefeiras. A construção da identidade profissional em um trabalho em rede só se estabelece na medida em que, através do processo de trabalho, o profissional vai materializando os mais diversos conhecimentos que as demandas exigem como o Estatuto do Idoso, as mais variadas produções e pesquisas no que se refere a Gerontologia Social e a geriatria e também aquilo que sua área de conhecimento poderá oferecer. Este conjunto teórico representará uma ferramenta necessária para o devido enfrentamento das demandas inerentes ao tema que ora refletimos e que darão sentido ao fazer profissional no mundo do trabalho. Esta articulação e construção da identidade profissional no trabalho em rede torna-se importante para esclarecer responsabilidades e atribuições dos profissionais como já referimos anteriormente tanto do Gerontólogo Social do Assistente Social do psicólogo do administrador entre outros, frente às necessidades que os usuários estabelecem. O estudo de OLIVEIRA, (2008 p. 21) busca refletir através das narrativas das profissionais, a compreensão sobre a forma e o modo de como algumas Assistentes Sociais estão implementando seu processo de trabalho através de uma ação em rede, no sentido de legitimar atribuições e 59
responsabilidades diante das demandas apresentadas. Como veremos abaixo, não percebemos nas narrativas, uma continuidade nos trabalhos desenvolvidos por elas, que caracterize uma ação em rede, um ir além daquilo que a realidade apresenta, visando garantir uma unidade, uma ação solidária na perspectiva de rede, através de um trabalho interdisciplinar em favor do usuário, vejamos: Agora mesmo teve uma situação de um paciente idoso que precisava internar, mas o que a gente faz. Bom isto são questões da área da saúde, quem tem que estar dando conta disto é a enfermagem, ah, mas a auxiliar tem dificuldade, então chama-se a supervisão dela para dar conta disto. Acho que a gente tem a coisa da nossa visão, a gente contextualiza mais, a gente tem papel de mediador, mas isto não traz para si a responsabilidade, não se tira a responsabilidade de outros, aí foi a discussão; ah! Mas este paciente esteve no hospital e foi desligado porque terminou o tempo de autorização da IH, sim, mas e daí? Vai morrer por causa disto! Como é que trouxeram este paciente de volta? Temos que nos posicionar, este médico que escreveu a evolução, que encaminha para outro local. Chama a enfermagem então para avaliar, se a auxiliar de enfermagem não tem condições de fazer, chama-se a enfermeira para fazer a avaliação, o parecer técnico é da enfermeira não é do Serviço Social, então isto tudo é uma coisa de estar colocando em discussão na rede local de saúde, clareando muito para as pessoas, o que é responsabilidade de cada um e de todos ao mesmo tempo - Assistente Social Maria das Dores. OLIVEIRA (2008, p..23)
Ao analisarmos a narrativa acima, percebemos um ruído no sentido de não estar definido na rede as responsabilidades e atribuições frente às necessidades dos usuários. Existe um acanhado reconhecimento sobre o papel que cada um desempenha na rede. As necessidades do usuário, quando tecidas na rede, tornam-se responsabilidades compartilhadas por todos os profissionais envolvidos. Vejamos a narrativa da Assistente Social Maria das Graças, OLIVEIRA (2008, p. 45) que revela o mesmo direcionamento em suas questões em relação ao suporte que a rede deve oportunizar para quem trabalha na área das necessidades sociais e de saúde para a terceira idade: Falta apoio da rede, não tem, simplesmente não tem para onde encaminharmos as pessoas idosas que procuram atendimento a droga e álcool, não temos, por exemplo, no município convênios com fazendas de recuperação, daí o CAPS aqui do município também não aceita álcool e drogas, da mesma forma acontece de nós termos pessoas idosas com problemas mentais e que
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não acessam o CAPS, e também não podem ficar aqui, e aí temos a questão do problema mental, outros em estado terminal por causa do HIV. Enfim tem uma série de casos e nós não temos estrutura para lidar não é nossa função, é da saúde, chegam aqui sem nenhum hábito de higiene devido aos problemas mentais, a gente aceita ele aqui alguns dias e depois tem que ir para a rua - Assistente Social Maria do Rosário ( OLIVEIRA 2008, PAG.21)
O profissional pode, na rede, através de sua iniciativa e das possibilidades de decisão que ele está investido, articular e incentivar esta reflexão dialogada sobre as demandas e suas responsabilidades e papéis que cada um possui no conjunto das forças mobilizadoras que a dimensão do coletivo possui.esta ação deverá ser trabalhada no coletivo e em rede para responsabilizar o poder público “forçando” de alguma maneira a criação de ações de trabalho interdisciplinar, garantindo com intencionalidade de prática o melhor atendimento para o usuário. Turck (2001) alerta sobre estes imperativos quanto a trabalhar na perspectiva de rede “interna e rede social”, estabelecendo elementos como sendo diretrizes de sustentação da rede. Entendemos que estes elementos de sustentação da rede, estão representado na forma como as pessoas dialogam, a forma como a comunicação flui, e no poder do coletivo para pressionar o Estado para dar respostas as próprias necessidades de manter a rede viva. Entendemos que rede interna (TURCK, 2001) é o espaço onde os fatos mais próximos sucedemse, é onde deveriam ser compartilhadas as demandas de forma solidária, responsável. Para a população usuária na terceira idade, a articulação das políticas de assistência social e de saúde são políticas importantes na construção da cidadania destes sujeitos e na própria organização dos idosos e moradores de rua enquanto movimento social legítimo pois, segundo Faleiros (1999): O foco de intervenção social se constrói nesse processo de articulação do poder dos usuários e sujeitos da ação profissional no enfrentamento das questões relacionais complexas do dia, pois envolvem a construção de estratégias para dispor de recursos, poder, agilidade, acesso, organização, informação, comunicação. (...) É ai que se dá o trabalho sobre as mediações complexas na dinâmica das relações particulares e gerais dos processos de fragilização social, para intervir nas relações de força, nos recursos e nos poderes
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institucionais, visando fortalecer o poder dos mais frágeis, oprimidos, explorados, pelo resgate da sua cidadania, da sua auto-estima, das condições singulares da sobrevivência humana e coletiva, de sua participação (FALEIROS, 1999, p. 41).
As relações de poder permeiam a vida das pessoas em um plano amplo de convívio na sociedade, bem como na vida particular e cotidiana das pessoas, estando estes mesmos sujeitos vivendo na dualidade dominação/submissão. A pal a vra “poder”, em sua concepção primordial, “é a capacidade exímia de produzir efeitos ou, ao menos, que possibilita a ação” FALEIROS, (1997, p.43). O profissional necessita, por meio de seu processo de trabalho, formular um conjunto de reflexões e de mediações para intervir nesta realidade, junto a outros profissionais, seja na formulação de uma educação permanente discutida na rede, bem como em reuniões técnicas para a compreensão e resolução dos aspectos delimitados a partir de cada realidade vivida por cada usuário, pois entendemos que cada situação pontual demandada pelo usuário está conectada diretamente com o universo mais amplo da sociedade, necessitando muitas vezes do empenho de todas as áreas do conhecimento para somarem forças no sentido de o usuário superar suas necessidades, encontrando a resolução das demandas. A vida das pessoas está inserida nas mais diversas esferas da vida social, atuando de um modo diverso na condição de dominadores e outros de dominados. Esta relação de poder passa a assumir uma relação dinâmica, conforme vão se estabelecendo as diversas representações sociais que cada sujeito estabelece. Como vemos, estas relações sociais vão sendo constituídas diacronicamente ao longo de um processo, e nesta dinâmica, muitas pessoas vão sofrendo perdas objetivas (materiais) e subjetivas (percepção de si mesmas, valores), levando a uma auto-estima baixa, fazendo com que o acolhimento realizado institucionalmente seja o primeiro processo de inclusão social.. O poder dá as pessoas um status social e uma segurança no estabelecimento das relações. OLIVEIRA, (2008, p. 12), apresenta a fala da Assistente Social Maria do Rosário que nos faz refletir sobre a importância do
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acolhimento8 que o Assistente Social estabelece quando o usuário chega na instituição, pois desta maneira estamos, através do processo de trabalho, garantindo ao usuário um significado social, valor: Quando estamos fazendo uma intervenção, temos que ter claro que se existe uma rede constituída, temos que conhecê-la, saber como ela se estabelece, como são estes serviços, sejam estes de grande ou de pequena abrangência, a rede é muito falha as vezes, então acho que isto é um limite, porque tu não está podendo às vezes atender a demanda que surge, estar podendo fazer um encaminhamento, estar podendo fazer com que o usuário acesse um outro serviço que possibilite o atendimento daquela necessidade, então isto é um limite bem grande que temos que superar, ter que trabalhar com o que é possível é ruim, o que a gente pode fazer é acolher bem, a gente procura fazer aquela escuta, que ás vezes as pessoas chegam aqui com situações que os usuários acreditam não ter mais o que fazer, que está tudo muito difícil, que não tem como sair desta mesmo lugar, então poder estar refletindo os problemas com o usuário, coisas que ela pode fazer para fazer uma mudança, os cuidados com o corpo, consigo mesmo, podendo construir outras coisas até de lazer, fazendo coisas que lhe dão prazer, representam alternativas viáveis que estão ao nosso alcance Assistente Social Maria do Rosário – OLIVEIRA, ( 2008, p.23).
Quando trabalhamos com população idosa em condições de abandono social e de saúde, buscamos dar significados que foram retirados destes sujeitos, destituídos, perdidos ao longo de uma trajetória histórica de vida, no processo de fragilização em que foram e ou estão envolvidos. O entendimento do “emporwermente” no trabalho em rede seria o “aumento de poder pessoal e coletivo de indivíduos e grupos sociais submetidos a relações de opressão e de dominação” VASCONCELOS, (2000, p.14), é um valor importante a ser garantido no processo de trabalho em rede pelos profissionais implicados neste processo. Reconhecer com os usuários o seu poder é reconhecer, através da ação de intervenção, que os mesmos estão destituídos
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Acolhimento não é, pois,apenas tratar bem o paciente e direcioná-lo dentro do sistema de saúde; transpassa uma simples conduta profissional e constitui-se em uma característica do serviço ou uma sempre presente virtualidade de genuína escuta e de espaços de subjetivação. Esse ponto parece ser fundamental para a possibilidade criativa e de mudança, de inversão da lógica vigente de organização dos serviços de saúde.( GASTAL E GUTFREIND, p.135, 2007) 63
de bens materiais, moradia, recursos de saúde, assistência social etc., e que os mesmos são sujeitos políticos a reivindicarem seus direitos. O poder que o estatuto da cidadania confere a todas as pessoas que vivem em uma sociedade democrática, garante ao no processo de trabalho do Assistente Social, exercer a prática do reconhecimento da cidadania através do caráter histórico, político e social em que estamos implicados, é “desvendar essa construção por esse trânsito entre a forma de ser e a forma de aparecer, que passa pelo político, pelo histórico e pelo social” MARTINELLI, (1999, p.14). O cotidiano de trabalho dos profissionais Gerontólogos, dos Assistentes Sociais, dos Psicólogos, dos Fisioterapeutas, dos profissionais das práticas esportivas estão marcados por grandes desafios, muitas vezes, este cotidiano é assinalado por uma carência de estrutura e de profissionais que realmente desejam tecer esta rede de apoio, que é orgânica, pois possui vida. Uma constante correlação de forças que demarcam o sistema capitalista na vida das pessoas e na forma como elas vivenciam as expressões da questão social em suas vidas sejam estas na família, nas instituições e na sociedade de modo geral. OLIVEIRA (2008, p. 43) nos traz a narrativa da Assistente Social Maria da Luz que expressa este sentimento de desconforto de perseguir este ideal de trabalho em rede afirmando: Enquanto rede,tenho tentado participar, não é muito fácil, acho que a permanência de uma rede é sempre difícil, quem trabalha com rede sabe disto, é difícil manter, a gente sempre participa e tenta ter presença efetiva, nos fóruns representativos, apesar de isto ser cansativo e de achar que às vezes a coisa não vai, a gente está sempre participando. Nós temos uma reunião da Rede Ampliada que junta todas entidades que atendem a população carenciada, que é no (...), que envolve as entidades governamentais e não governamentais, e nós temos a rede municipal que se reúne uma vez por mês, a gente tem a nível local alguns contatos, com dificuldade na região, os profissionais que atuam nesta área são do Serviço Social a gente não tem uma amplitude maior de outros técnicos, as equipes são muito reduzidas. Assistente Social Maria da Luz OLIVEIRA, (2008, p.43)
Na vida das pessoas em sociedade e particular no mundo do trabalho, estes espaços se configuram tensos, contraditórios. O mundo do trabalho para a grande maioria da população está constituído por baixos salários, burocráticos, competitivos. Estas situações invariavelmente, poderão 64
prejudicar o desempenho profissional e social na vida de cada um e da própria rede de serviços. Este contexto social se estabelece através da correlação de forças decorrentes da forma como o sistema capitalista vai se incorporando nas particularidades das relações sociais e institucionais, acirrando-se uma ação competitiva de ser, que se legitima como forma de desempenho humano, onde o valor está associado ao status e ao poder calcado no personalismo de cada um, fragilizando qualquer ação de solidariedade que venha a ser tematizada na rede. Esta forma de ser “clara ou oculta”, por meio de consecutivas vivências de sucessos e fracassos, também é vivida no mundo do trabalho, principalmente quando acirram-se a disputa por status social e poder institucional, bem como quando trabalhamos de forma equivocada na concepção de rede. Quando o sentido de solidariedade deixa de estabelecer a conexão entre o todo e as partes dos que integram a rede, esta deixa de existir no formato solidário que uma rede deva se constituir. A Assistente Social Maria da Luz, em sua narrativa, aponta muitos significados sobre o trabalho em rede que merecem nossa reflexão, na íntegra:
Eu imagino assim que nós Assistentes Sociais somos praticamente, na (...), os únicos técnicos que estão a frente dessa rede, que estão trabalhando nesta rede, então fica mais ou menos assim dependendo sempre da percepção e da ótica destes profissionais e do ângulo que estes profissionais vêem este conjunto todo que é a questão do idoso abandono, acho que nós podemos contribuir muito, conseguindo traduzir para a instituição, pelo nosso contato e pelo nosso conhecimento com o usuário Traduzir esta demanda, é a contribuição maior. A maior parte dos programas e dos projetos sociais são decisões políticas, não política no sentido de política partidária, mas política.. OLIVEIRA (2008, p. 44) .
O trabalho em rede merece ser desenvolvido com perseverança e cuidado, a rede não nasce pronta, merece ser tecida, carece de um processo de maturação, que requer dos profissionais muita criatividade, vontade de construir, fio a fio, a rede, de abrir-se para o trabalho interdisciplinar, como temos 65
afirmado. Percebemos, na fala da Assistente Social Maria da Luz, que os Assistentes Sociais são os profissionais que compõem a equipe na rede, sendo um número que se expressa na sua grande maioria, portanto, o trabalho a ser feito merece todo um cuidado de posicionamentos, pois, dependendo da atitude tomada, poderá implicar na identidade profissional que esboçamos na rede, na sua implicação com a construção da rede. Este cuidado e forma de se expressar do Assistente Social está associado a uma leitura que o mesmo faz dos princípios inerentes de seu Código de Ética e do nosso compromisso ético-político com a população usuária. Os princípios do Código de Ética profissional do Assistente Social por si já garantem direcionamento à solidariedade que o trabalho em rede requer, como Turck (2001) enfatiza. Por efeito dessa conjuntura estabelecida através da dimensão ética política, o Assistente Social poderá somar com seu trabalho, na rede, valorizando e incentivando a representação e o valor que cada membro estabelece neste trabalho conjunto, através de diálogos, discussões, encontros e ou assembléias instrutivas. Assim ocorrendo, estaremos dando visibilidade e valor aos usuários, às pessoas que estão nesta luta por uma vida social mais igualitária, valorizando a pessoa do usuário idoso e atribuindo-lhe a dignidade que merecem. A Assistente Social Maria da Luz afirma: “traduzir esta demanda para a instituição é a nossa contribuição maior”, mas não podemos ficar somente nesta iniciativa quando se trabalha em rede, necessitamos avançar em uma direção que venha: [...] intervir nas relações de força, nos recursos e nos poderes institucionais, visando fortalecer o poder dos mais frágeis, oprimidos, explorados, pelo resgate de sua cidadania, da sua autonomia, da sua auto-estima, das condições singulares da sobrevivência individual e coletiva, de sua participação e organização FALEIROS, (1999, p.41).
Entendemos que realmente em nosso país muitos dos programas e projetos sociais são decisões políticas, como se refere a Assistente Social Maria João de Deus, todavia precisamos tencionar este tipo de atitude na rede, garantindo, neste espaço, os direitos sociais, Na narrativa abaixo, da Assistente Social Maria das Graças, a profissional argumenta sobre a importância de 66
trabalharmos, na rede, a realidade vivida pelos idosos moradores de rua, reafirmando a necessidade de compartilhar as demandas recebidas na instituição, juntos, na rede, vejamos: Eu acho que nós, Assistentes Sociais, temos que estar sempre levando na rede a realidade desta população, estar discutindo a vida destas pessoas e os processos de exclusão, da negação de atendimento a estas pessoas, tenho um colega que fala muito o significado de estarmos trabalhando “da porta pra fora”, pra gente poder estar construindo esta rede, estar colocando um pouco desta experiência que a gente possui, para poder estar ampliando estes serviços que são poucos, pra estar construindo esta rede de uma maneira mais ampla OLIVEIRA, ( 2008, pag. 45) .
As colocações feitas pela Assistente Social demonstram a preocupação em compartilhar, somar esforços para que possamos tencionar estruturas na garantia de direitos. Entendemos que os idosos moradores de rua particularmente, quando vivenciam perdas, acabam criando uma representação de isolamento em meio ao contexto social. Na possibilidade de se trabalhar em rede, buscamos potencializar nela as formas de garantir processos de autonomia e emancipação dos usuários idosos pois. O desafio é redescobrir alternativas e possibilidades para o trabalho profissional no cenário atual; traçar horizontes para a formulação de propostas que façam frente à questão social e que sejam solidárias com o modo de vida daqueles que a vivem, não só como vítimas, mas como sujeitos que lutam pela preservação e conquista da sua vida, da sua humanidade. Essa discussão é parte dos rumos perseguidos pelo trabalho profissional contemporâneo IAMAMOTO, (2000, p.75).
O desafio posto aos profissionais Gerontólogos, Assistentes Sociais, Psicólogos entre outros centram-se em reconhecer o próprio objeto de trabalho, sendo o mesmo fundamental para o desempenho do exercício profissional. Para podermos tencionar o trabalho em rede é importante e necessário apreender como a questão social, em suas múltiplas expressões, é experimentada pelos sujeitos em suas vidas, destacando: “... dar conta das particularidades das múltiplas expressões da questão social na história da sociedade
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brasileira é explicitar os processos sociais que as produzem e reproduzem e como são experimentadas pelos sujeitos sociais que vivenciam em suas relações sociais quotidianas” IAMAMOTO, (2001, p.62)
Quando conseguimos estabelecer uma relação de diálogo na rede, quando os atores sociais, profissionais que trabalham na instituição ou na comunidade, conseguem reconhecer no outro a possibilidade de realizar trocas, de compartilhar encaminhamentos, bem como socializar a tomada de decisões sobre questões que envolvem os usuários, estamos estabelecendo uma relação de trabalho em rede.
Referencia comentada: Movimentos Sociais e Redes de Mobilizações Civis no Brasil Contemporâneo Autor: Gohn, Maria da Gloria Editora: Vozes Categoria: Ciências Humanas e Sociais / Sociologia Caro leitor esta obra nos oportuniza visualizar a importância da construção de redes de mobilização tanto dos movimentos sociais como da sociedade de modo geral, com esta rede fortalecida compreenderemos a força da mudança para um mundo melhor e mais igualitário.
Referencia: FALEIROS, Vicente de Paula. Estratégias em Serviço Social. São Paulo: Cortez, 1999. IAMAMOTO, Marilda Vilela. O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2000. MARTINELLI, Maria Lúcia (Org.). O Serviço Social e as demandas na contemporaneidadePorto Alegre: PUCRS, 1999. Palestra proferida na Faculdade de Serviço Social. OLVEIRA, Jairo da Luz. A vida cotidiana do idoso morador de rua: as Estratégias de Sobrevivência da Infância à Velhice – um círculo da pobreza a ser rompido. Canoas: EDULBRA, 2003. OLVEIRA, Jairo da Luz. O Processo de Trabalho do Serviço Social na sua Abordagem com Moradores de Rua, Tese de Doutorado – PUC/RS – 2008. 68
TÜRCK, Maria da Graça Maurer Gomes. Rede Interna e Rede Social: o desafio permanente na teia das relações sociais. Porto Alegre: Tomo, 2001. VASCONCELOS, Eduardo Mourão. Serviço Social e Interdisciplinaridade: o exemplo da saúde mental. In: ______. Saúde Mental e Serviço Social. O desafio da subjetividade e a interdisciplinaridade. São Paulo: Cortez, 2000.
Autoestudo Coloque verdadeiro ou falso: 1- ( ) O poder que o estatuto da cidadania confere a todas as pessoas que vivem em uma sociedade democrática, é imprimir, no processo de trabalho do Assistente Social, e dos demais profissionais envolvidos a prática do reconhecimento do caráter histórico, político e social em que estamos implicados. 2- ( ) O entendimento do “emporwermente” no trabalho em rede seria o “aumento de poder pessoal e coletivo de indivíduos e grupos sociais submetidos a relações de opressão e de dominação” VASCONCELOS, (2000, p.14), este é um valor menos importante a ser garantido no processo de trabalho em rede pelos profissionais implicados neste processo. 3- ( ) Quando trabalhamos com população idosa em condições de abandono social e de saúde, buscamos dar significados que foram retirados destes sujeitos, destituídos, perdidos ao longo de uma trajetória histórica de vida, no processo de fragilização em que foram e ou estão envolvidos. 4- ( ) As relações de poder permeiam a vida das pessoas em um plano menor de convívio na sociedade, bem como na vida particular e cotidiana das pessoas, estando estes mesmos sujeitos vivendo na dualidade dominação/submissão. A pala vra “poder”, em sua concepção primordial, “é a capacidade exímia de produzir efeitos ou, ao menos, que possibilita a ação” FALEIROS, (1997, p.43).. 5- ( ) O profissional pode, na rede, através de sua iniciativa e das possibilidades de decisão que ele está investido, articular e incentivar esta reflexão dialogada sobre responsabilidades e papéis que cada um possui no conjunto das forças mobilizadoras que a dimensão do coletivo possui através do trabalho coletivo e em rede para responsabilizar o poder público “forçando” de alguma maneira a 69
criação de ações de trabalho interdisciplinar, garantindo com intencionalidade de prática o melhor atendimento para o usuário.
Respostas: V, F, V, F, V
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7. A Violência do Preconceito Contra o Idoso no Contexto Urbano: O Idoso Morador de Rua, uma Expressão da Questão Social
O fato de a pessoa ser pobre ou estar desprovida do trabalho, sobrevivendo do mercado informal, ou sobrevivendo das ruas, faz com que muitas delas sejam julgadas com valores de desvalia e sentimentos de desconfiança, o que gera estados de insegurança social. Por vezes, os sujeitos de rua carregam consigo o estigma de serem vistos como inferiores, sem qualificação, chegando, em alguns momentos, a serem confundidos ou identificados como pessoas marginais, perigosas, que ameaçam a sociedade. Para entendermos determinadas situações sociais marcadas pelo preconceito e abandono social de termos pessoas na terceira idade vivendo estigmas e abandono, é importante compreendermos o valor atribuído a condição de ser idoso em nossa sociedade contemporânea através da história. Nessa lógica é importante refletirmos sobre a forma de como nos colocamos em cada momento da história da humanidade em relação de aceitarmos ou não os conceitos que construímos em relação a fatos, pessoas, grupos, etc. Vamos influenciando de forma decisiva com nossos conceitos estabelecidos a vida do ser humano através da forma que organizamos a vida social, a vida em nossa sociedade. Vamos também, condicionando nossas vidas de forma passiva com um “certo imobilismo social”, em relação aos estereótipos que vamos criando, que geram os mais diversos tipos de sofrimento humano e em particular as pessoas que vivem o processo do envelhecimento, ações preconceituosas como forma de vida, gestadas ao longo do tempo histórico. GOERCK, (2007, p.77), afirma:” A definição ou valor atribuído á velhice varia de acordo com o tempo histórico, cultural, regional ou conforme a classe social que os sujeitos estão inseridos “ e a autora continua: “ No Brasil, assim como em outros países, a velhice é estigmatizada, sendo este estigma uma construção da sociedade industrial” GOERCK, (2007, p.77), prejudicando o existir de determinados grupos sociais e aqui em particular a terceira idade em evidencia. Temos o dever de
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estarmos revendo estes conceitos, bem como pensarmos em ações eficazes para a garantia dos direitos dos idosos moradores de rua.
7.1 A Vida na Rua e Seus Condicionantes
A vida na rua é marcada por privações, precariedades que acabam desgastando a vida orgânica de quem nela vive. Muitos idosos nesta condição vivem doentes, maltrapilhos, com aspectos que afetam a imagem destas pessoas, causando constrangimentos, causando certas vezes, um sentido de insegurança pública pela existência dos moradores de rua. Em virtude deste tipo de comportamento social e devido aos sentimentos de insegurança na vida pública, muitos se sentem inseguros em oferecer uma atenção mais direta aos idosos moradores de rua, pequenos serviços domésticos aos sujeitos que caminham pelas ruas em busca de uma atividade que lhes garanta uma renda, como, por exemplo, as de cortar grama, pintar, limpar etc. Esse sentimento reflete a alteração nos padrões de comportamento, gerados, principalmente, nos grandes centros urbanos, o medo em função da violência urbana. As mudanças comportamentais que se materializam em estados quase permanentes de desconfiança, ameaças, furtos, agressões, violência urbana e assédios, fazem parte de um conjunto de vivências que está marcando o cotidiano das relações do ser humano contemporâneo. Esses sentimentos e vivências estabelecem fraturas nas relações sociais, gerando um processo de adoecimento que encobre o universo relacional dos sujeitos no meio em que vivem. Situações como a própria existência de idosos moradores de rua, que fogem aos padrões estabelecidos de comportamento, incomodam algumas pessoas pelo próprio fato dos mesmos existirem. Alguns outros, mais extremados, pensam que estes sujeitos estão despossuídos de significados sociais, merecendo o extermínio. Instaura-se a morte devido à intolerância pela diferença. Muitos tipos de sentimentos vão se apropriando e conduzindo a vida das pessoas; como o individualismo, solidão, o abandono e o auto-abandono. São estados que representam sentimentos que amargam dolorosamente o
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existir humano, e, assim, os comportamentos vão intensificando as indiferenças e o descuido em relação ao outro. A realidade vai se expressando com contornos de competitividade de uns para com os outros, a disputa instaura-se nas relações sociais e reafirmase um afrouxamento nas relações sociais, intensificadas pela indiferença e pela intolerância. A condição de se ter pessoas vivendo nas ruas representa a uma expressão contemporânea de abandono que reflete o não-cumprimento dos direitos humanos. Não podemos subestimar o homem andarilho, por mais que a vida o tenha colocado em uma situação desprovida de recursos materiais, pois esse ser humano ainda possui dentro de si, na sua essência, uma riqueza de possibilidades, sonhos e lembranças não mensuráveis. Isso é observável quando se oportuniza escutar o idoso morador de rua, propondo a ele falar de sua história de vida. As lembranças que ficaram na memória, escritas na história individual, bem como os fatos presentes na vida de cada sujeito, representam a identidade social do ser humano. Viver a terceira idade no Brasil é algo desafiador, viver a terceira idade abandonada nas ruas é quase inimaginável, uma forma de violência que foge aos parâmetros de nossa racionalidade. Entendemos ser importante buscarmos estudar tal situação por meio da pesquisa, pois muitas vezes a violência representa uma das expressões da questão social na forma como os idosos estão enfrentando os desafios de sua sobrevivência na sociedade capitalista. Não sendo suficiente, as dificuldades impostas pela condição de miséria pelo fato de estarem abandonados nas ruas das grandes metrópoles, estes idosos de rua enfrentam também o preconceito da idade a se expressar no cotidiano de luta e resistência para a sobrevivência das pessoas. Estes idosos também são alvo do preconceito pelo fato de serem moradores de rua. A classe dominante estabelece padrões para o desempenho das relações humanas colocando as pessoas em situações desconfortáveis devido ao preconceito . Lefebvre apud Tedesco (1999) afirma: ... a alienação caminha passo a passo com o preconceito. Quanto mais alienada for a vida cotidiana, mais o preconceito a domina. A força hegemônica da classe dominante e seus recursos 73
ideológicos, econômicos e técnicos buscam sempre mais universalizar seu modo de conceber e de direcionar o mundo (1999, p. 177).
Estes sujeitos idosos de rua, são vistos como transeuntes “vagabundos, desqualificados” sem valor, pois a sociedade atual tem na categoria trabalho um condicionante de realização individualista, de realização pessoal, egoísta, que prima pela ação competitiva. PAIVA (1998) menciona como o trabalho é visto na sociedade burguesa: Na sociedade burguesa, fundada no mercado, a realização mundana do indivíduo passa a ser o valor ético central. Esse individualismo – que estabelece a autonomia do sujeito, concebe o trabalho apenas como modo de realização pessoal, enaltece a propriedade privada , enaltece o saber como forma de domínio da natureza e dos outros homens – reduz a liberdade ao livrearbítrio. O caráter coletivo ou transcendente do mundo ético cede lugar ao predomínio do interesse individual, centrado na competitividade, na realização privada, na felicidade estritamente pessoal (1998, p.107).
Para as pessoas pobres que são vítimas desta sociedade “burguesa” o preconceito torna-se um dos maiores obstáculos a ser vencido, uma forma de violência velada, que fere a subjetividade humana. Aos profissionais da área da Gerontologia, cabe a tarefa de compreenderem a forma como o preconceito vai se instaurando na vida das pessoas, a pesquisa pode ser um instrumento valioso para conseguirmos compreender esta realidade.
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7.2 Narrativas de Vida dos Idosos Moradores de Rua OLIVEIRA, (2003) em sua pesquisa com idosos moradores de rua na terceira idade nos revela através da fala dos sujeitos entrevistados, um universo rico de potencialidades, de desejos, sonhos, amarguras que estes idosos de rua vão enunciando ao entrevistador. Através de seus estudos com população de rua idosa, o pesquisador procura compreender como estes idoso que hoje se encontram nas ruas conseguem desenvolver suas estratégias de sobrevivência neste espaço hostil. A identificação da falta do trabalho surge como necessidade de manutenção de si próprios e da família, expressa no comportamento destes sujeitos idosos hoje moradores de rua. Este idoso morador de rua relata ao pesquisador as dificuldades em encontrar trabalho, estando estas dificuldades relacionadas ao preconceito pela idade já avança e por causa dele ser um morador de rua, em sua fala demonstra ter enfrentado no seu cotidiano o preconceito como barreira para a sua realização no trabalho. Eu tenho andado, gasto sola de sapato..., em toda a cidade, vou para Viamão, para Camaquã, qualquer lado eu procuro... Eu procuro serviço de porteiro, de limpeza, serviço que não precise fazer muita força, serviço para velho, pessoa de idade, mas não encontro, acho que é mesmo por causa da idade...OLIVEIRA, (2003, p. 14)
Por mais que seja grande o esforço destes idosos em buscarem uma atividade que lhes garanta o seu sustento, a maioria das vezes as chances de conseguirem uma atividade é quase nula, pois a comunidade em geral não se sentem seguras em contratá-los, devido aos valores a eles atribuídos serem de desqualificação. A sociedade ainda não conseguiu estabelecer o respeito à adversidade, impedindo que os sujeitos, ditos “diferentes do padrão estabelecido” consigam se realizar. Heller (1989) afirma: Todo preconceito impede a autonomia do homem, ou seja diminui sua liberdade relativa diante do ato de escolha, ao defrontar e, conseqüentemente, estreitar a margem real de alternativa do indivíduo (1989, p. 59) .
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Todo preconceito reduz as possibilidades criadoras da pessoa. Os idosos de rua sofrem duplamente o preconceito social, o fato de serem velhos e a condição de serem moradores de rua, ficando reduzidas as suas possibilidades. Heller assim refere-se : “O preconceito portanto reduz as alternativas do indivíduo” (1989, p. 60). Torna-se necessário que os profissionais que trabalham com as demandas sociais estejam atentos a esta questão ética: valorizar o ser humano nos seus mais amplos aspectos e lutar para que sejam afastadas todas as formas de preconceito. O mesmo ocorre com as pessoas que trabalham na reciclagem do lixo nos espaços urbanos. Juncá, Gonçalves e Azevedo (1998) referem-se que apesar de os catadores exercerem uma atividade não reconhecida no mundo do trabalho pela sociedade, estes sujeitos que vivem do lixo urbano, sofrem esta situação no cotidiano de suas vidas, assim se expressão: Já as questões relacionadas ao ambiente de trabalho em que vivem podem ser expressas através da seguinte fala: “as pessoas não gostam de dá serviço, elas escolhem pela cara da pessoa” numa referência à sua aparência física e onde a maioria reside. (1998, p. 218)
Constata-se que tanto a pessoa que vive do lixo, como o idoso de rua sofrem esta situação de discriminação por não estarem enquadradas nos valores estipulados pela sociedade, mas sim classificados na maioria das vezes como malfeitores, oportunistas, e que podem representar ameaças. Ao Assistente Social, particularmente, compete-lhe em seu código de ética: ... o empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças. Na fala desta idosa percebe-se o esforço realizado para a garantia de seu trabalho: Eu saia, às vezes eu limpava uma casinha, mas eu não dizia nada que eu dormia na rua. Eu ia bem limpinha, se eu não estava bem limpinha, eu ia no rio, ali no Gasômetro sabe, tomava o meu banho lá no rio.ficava escondidinha , às vezes ficava até sem roupa, em um canto que não tinha ninguém ... Aí vinha e pegava o meu serviço trabalhava, limpava a casa... Uma vez estava frio, eu tinha que pegar no serviço às 8 horas da manhã, eu levantei às 5 horas da manhã e fui para lá tomar meu banho... OLIVEIRA, (2003, p. 24) 76
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A necessidade de dissimular a sua condição de moradora de rua é constante, submetendo-se as estratégias bastante difíceis para que sua patroa, não descobrisse a sua condição. Esta mesma idosa relata de sua vergonha em ter que mendigar nas ruas muitas vezes para poder alimentar-se, comentando do seu sentimento de constrangimento perante a situação vivenciada no espaço urbano da cidade:
Eu me levantava pedia esmola para eu comer alguma coisa, tirava um dinheirinho, parava nas esquinas, eu tenho vergonha, eu fui uma mulher muito trabalhadeira sabe, pedia esmola na rua para mim comer, sobreviver.... OLIVEIRA, (2003, p. 14) .
O constrangimento para quem se encontra nos espaços urbanos das grandes cidades torna-se realmente uma situação difícil na vida dos moradores de rua idosos. A idosa vivenciou esta situação pois encontrando um trabalho teve que dissimular a sua condição de moradora de rua, e ao mendigar sentiase humilhada pois em suas palavras o trabalho sempre fez parte de sua vida. Para a sociedade em geral estes sujeitos vistos como “vagabundos” estão destituídos de valores que os qualifiquem como trabalhadores. Neves (1995) refere-se sobre a necessidade dos moradores de rua usarem de dissimulação para escapar de qualquer repressão:
Visto como mutilação social porque não são percebidos pelos atributos de trabalhador, sobre ele recaem inúmeras ações da sociedade, na suposição de recuperação de tais qualidades. E as iniciativas mais comuns são aquelas que pressupõem o recolhimento na rua. Não só o medo do recolhimento como também a necessidade de se dissimular como morador de rua para escapar da repressão, constituem outros fatores impeditivos de que esse trabalhador – não reconhecido- veja-se diante da impossibilidade de acumular pertences e reconstituir o fundo de consumo que lhe permita outras formas de inserção no mercado de trabalho formal e a
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apropriação socialmente reconhecida de controle de um espaço para moradia. ( 1995: p. 68).
Devemos questionar qual a melhor forma de se pensar em uma intervenção no cotidiano destes sujeitos, para que suas possibilidades de sobrevivência se tornem alternativas de existência particular e social. Somente com a capacidade de valorizar e resgatar as expressões particulares destes indivíduos com suas capacidades criativas, através de programas e projetos, conseguir-se-á resgatar a dignidade das pessoas que se encontram nas ruas de nossas cidades. Podemos afirmar que, na sua grande maioria, a população idosa de rua possui uma vontade de conseguir um trabalho, para poderem sair desta condição de pobreza e abandono social. Percebe-se, nas falas dos sujeitos, um grande esforço neste sentido, pois além das dificuldades relativas à formação de cada um e o preconceito que os colocam neste círculo excludente que é a rua existe o fato de serem velhos e moradores de rua, dificultando ainda mais as suas existências. Entendemos que os problemas enfrentados pelos idosos de rua não foram gerados pela sua condição de serem velhos, incapazes, ou malandros, mas teve a sua gênesis na vida nômade pela busca do trabalho como forma de sobrevivência, a necessidade de trabalharem em tenra idade para muitos se inicia lá na infância desprovida de cuidados especiais, desenvolvendo este processo de busca da sobrevivência através do trabalho na vida adulta, e muitas vezes buscando na velhice abandonada repetimos um trabalho para que possam viver ou sobreviver. A condição de pobreza a que estes idosos quando crianças foram submetidos, geraram a falta de recursos em todos os sentidos, dificultando a possibilidade de desenvolverem uma vida que lhes garantisse um futuro promissor. A necessidade do trabalho como fator de sobrevivência impulsionaram estes idosos quando crianças a trabalharem com seis, sete anos de idade. Neste período, toda a criança deveria estar sendo conduzida e mantida na escola. Acredita-se que a escola poderia ter contribuído para que o destino destes idosos não fosse a rua.
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Nesta época em que suas vidas tiveram início, não existiam estudos mais específicos sobre crianças vulneráveis, que permitisse compreender o funcionamento destas famílias e evitar este quadro de abandono e preconceito em que estes idosos enfrentam. Na vida adulta, muitos deste idosos continuaram de uma forma errante a buscarem no trabalho a sua sobrevivência. Acredita-se que muitos tiveram esta vida nômade pelo fato de quererem realizar sonhos, saírem desta condição de pobreza em que se encontravam, mesmo que para isto tivessem que romper com seus vínculos familiares afetos, suas culturas e todo um universo de relações. Estas lacunas percebidas e que foram deixadas para trás, poderiam ter contribuído de alguma maneira para que este idoso não chegasse a esta condição de mendicância. O fato de buscarem, na vida adulta, o trabalho itinerante não possibilitou que estes idosos pudessem criar raízes e estruturar suas vidas para que o amanhã não fosse tão desprovido de recursos. Muitos destes idosos, na vida adulta, demonstraram não ter a capacidade de manterem uma vinculação afetiva, demonstrando que os traumas ocasionados na infância, podem ter sido agentes motivadores desta situação. Estes, quando não atendidos, podem tornar-se problemas futuros. Muitos idosos moradores de rua, não conseguiram manter um relacionamento estável com seus pares, deixando para trás, companheiros, companheiras, filhos, filhas e outros. Percebe-se então o nível de prejuízos que estes sujeitos tiveram ao longo de suas vidas. Outras questões que foram detectadas neste estudo proposto por OLIVEIRA, (2003) e que provocam inseguranças, são perdas relacionadas durante a história de trabalho. Constatou-se que, ao longo da vida adulta, muitos deste idosos buscaram o trabalho informal, não este trabalho de abrangência, o “ Work”, como Agnes Heller (1999) descreve, tendo como finalidade atingir-se uma necessidade social, resultando de objetivações genéricas e que venham a ser universalizadas, mas o trabalho como forma de sobrevivência ou se diria o “puro Labor”. Nesta trajetória, muitos desconheciam a necessidade de registrarem em documento próprio como carteira de trabalho as suas presenças nestes locais de trabalho formal, repercutindo de uma forma negativa na velhice 79
desamparada o fato de não conseguirem comprovar os anos trabalhados, restando para muitos, somente o salário de prestação continuada para idosos acima de sessenta anos. Ao despontar então a vida na velhice, estes sujeitos cansados, sem as forças físicas, não possuem seu bem maior, ou seja, a possibilidade de vender sua força de trabalho. Associado a todas estes imperativos relacionados à velhice, soma-se o preconceito da condição de rua com o preconceito de serem idosos. Não mais possuem recursos para pagarem uma “pecinha”, ou irem para pensões, ou outros locais que lhes garanta abrigo. Constatou-se, também , ao longo deste estudo, o jogo de forças destes idosos de tentarem sobreviver na rua, para muitos de constrangimentos, humilhações. O proposto por OLIVEIRA (2003) demonstra que o circulo da exclusão social fecha-se na velhice vulnerável. Inicia-se na infância, desenvolve-se na vida adulta e culmina na velhice. Pedir, mendigar um alimento, um vestuário, um local para banhar-se, a disputa por um local onde repousar, o medo da violência no espaço urbano, será o panorama social em que este idoso irá viver. Desta forma, a sociedade, é um local de contradições. Se existe a face que articula movimentos perversos, por outro existem movimentos de distribuição de generosidades e, são estas ações, na grande maioria das vezes, que tem garantido a sobrevivência a estas pessoas que estão na rua. A vida nos espaços urbanos agora é viver de albergue em albergue, quando doentes, depender do atendimento médico público deficitário. O que surpreende é constatar-se que estes sujeitos idosos perseguem o trabalho não só para a própria sobrevivência, mas também como uma forma de mudança em suas vidas. Estes sujeitos acreditam que o trabalho poderá modificar suas vidas miseráveis de pobreza e conseqüentemente encontrarem a saída desta condição de estarem nas ruas As instituições que recebem a população idosa de rua e de modo geral, representam na vida destas pessoas, uma porta garantia, no sentido de oportunizar uma convivência social de grupo e outras tantas oportunidades
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para a integração social. O Serviço Social pode contribuir para que o idoso de rua tenha uma oportunidade de reintegração social, e o primeiro movimento neste sentido é o da escuta, do acolhimento, do afeto, que a condição de rua não permite mais este tipo de vivência. Posteriormente são os encaminhamentos necessários para avaliações das perdas relacionadas com a rualização e os procedimentos legais para oportunizar uma seguridade social aos que, pela lei, estão habilitados, o que não é do conhecimento de muitos idosos. Verifica-se através das falas dos sujeitos, que a presença dos Assistentes Sociais tem relevante importância, intervindo nas suas necessidades imediatas, vejamos: A pesquisa para o Serviço Social, proporciona através do estudo uma aproximação com a realidade social concreta, ou seja com esta realidade que está crescendo em nossa sociedade: a velhice abandonada nas ruas. Pensar nestas pessoas que enfrentam a fragilidade da vida física na velhice e que tornam-se mais vulneráveis pelo fato de estarem abandonadas nas ruas. Acredita-se que, diante desta realidade, possa-se quebrar mitos, preconceitos, e discriminações e parafraseando Sposati (1995, p.127) se diria : “A vida na rua como modo de sobrevivência não deixa de compor uma das estratégias de resistência, da coragem de enfrentar a vida. Não quer dizer que
O que realmente fica para nosso estudo, é reconhecer que estes idosos por mais que a condição de rua os fragilize, a coragem de superar esta realidade, em muitos, é latente. o modo de viver seja necessariamente a rua”.
Para encerrar nossas reflexões, deixaremos alguns questionamentos: As políticas públicas estão realmente atendendo a todo o universo de pessoas que estão vivendo este processo de exclusão social? O que está sendo feito em favor destes idosos é eficaz? Está sendo eficaz para a população de rua de modo geral? Enquanto realmente não houver uma política séria e determinada que pense na família integral que está abandonada, não conseguiremos evitar que tenhamos crianças de rua, adultos de rua e mais particularmente idosos de rua.
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Referencia comentada: A Vida Cotidiana do Idoso Morador de Rua: As Estratégias de Sobrevivência, da Infância a Velhice um Circulo de Pobreza a Ser Vencido Autor: Dr. Jairo da Luz Oliveira ULBRA Editora - 2003 Categoria: Ciências Humanas e Sociais / Sociologia Esta obra caro leitor, revela a vida cotidiana do idoso morador de rua, uma realidade marcada pelo abandono e o preconceito. Dez idosos participantes de uma pesquisa de mestrado apontam como é viver nesta condição, falam de suas vidas desde a tenra infância de privações, sacrifícios, da alegria do lar, da saudade dos pais que somente a memória e o coração conseguem guardar. A fala nobre destes dez idosos entrevistados pelo pesquisador, todos com mais de sessenta anos é marcada com um vigor quase insuportável de luta para sair desta condição social. A fala destes idosos revela uma vontade muito grande de retornar ao trabalho como forma de saírem da condição de rua.
Referencias: HELLER, Agnes. Teoria dos Sentimentos – A Theory of Feelings (Título original). 3. ed. Barcelona, Espanha: Fantamara S.A. – Editora, 1985. ___________. Ética – General – General Ethics. Madrid, Espanha: Dim Impresseres, 1995. ___________. O Cotidiano e a História. Allag und Geschichte (Título original). 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989. JUNCÁ, Denise; GONÇALVES, Marilene Parente; AZEVEDO, Verônica Gonçalves. A Mão que Obra no Lixo. Niterói: Eduff, 2000. OLVEIRA, Jairo da Luz. A vida cotidiana do idoso morador de rua: as Estratégias de Sobrevivência da Infância à Velhice – um círculo da pobreza a ser rompido. Canoas: EDULBRA, 2003. PAIVA, Beatriz Augusto de. Algumas Considerações Sobre Ética e Valor in: BONETTI, Dilséia Adeodata, Serviço Social e Ética, Cortez, São Paulo 1998 SPOSATI, Aldaísa. Mínimos Sociais e Seguridade Social: Uma revolução da Consciência da Cidadania. Revista Serviço Social e Sociedade, São Paulo, Cortez, n.55, 1997. ______. A menina Loas: um processo de construção da Assistência Social. São Paulo: Cortez, 2004. SPOSATI, Aldaiza de Oliveira; BONETTI, Dilsea Adeodata; YASBEK, Maria Carmelita; FALCÃO, Maria do Carmo B. Carvalho. Assistência na Trajetória
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das Políticas Sociais Brasileiras: uma Questão de Análise. 3.ed. São Paulo: Cortez, 1987. Autoestudo: Coloque Verdadeiro ou falso: ( ) A realidade vai se expressando com contornos de competitividade de uns para com os outros, a disputa instaura-se nas relações sociais e reafirma-se um afrouxamento nas relações sociais, intensificadas pela indiferença e pela intolerância; ( ) A condição de se ter pessoas vivendo nas ruas representa a uma expressão muito pequena na sociedade contemporânea; ( ) Temos o dever de estarmos revendo estes conceitos, bem como pensarmos em ações eficazes para a garantia dos direitos dos idosos. Iremos a seguir refletir sobre a forma de se viver a velhice em nosso país; ( ) As lembranças que ficam na memória, escritas na história individual, bem como os fatos presentes na vida de cada sujeito, representam a identidade social do ser humano; ( ) Todo preconceito não reduz as possibilidades criadoras da pessoa. Os idosos de rua sofrem duplamente o preconceito social, o fato de serem velhos e a condição de serem moradores de rua, ficando reduzidas as suas possibilidades; ( ) Viver a terceira idade no Brasil é algo desafiador, viver a terceira idade abandonada nas ruas é quase inimaginável, uma forma de violência que foge aos parâmetros de nossa racionalidade; ( ) Para entendermos determinadas situações sociais marcadas pelo preconceito e abandono social de termos pessoas na terceira idade vivendo estigmas e abandono, é importante compreendermos o valor atribuído a condição de ser idoso em nossa sociedade contemporânea através da história; ( ) GOERCK, (2007, p.77), afirma:” A definição ou valor atribuído á velhice varia de acordo com o tempo histórico, cultural, regional ou conforme a classe social que os sujeitos estão inseridos “; Respostas: v,f,v,v,f,v,v,v
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8. Uma Análise Sobre a Realidade Social do Idoso no Brasil
Entendemos que a questão social representa o resultado estabelecido a partir dos conflitos inerentes da relação capital e trabalho da sociedade capitalista, traduzindo fenômenos sociais e particulares, na vida cotidiana das pessoas. Segundo CERQUEIRA (1982), questão social é o conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos que o surgimento da classe operária impõe no curso da constituição do sistema capitalista. Assim, a “questão social” está fundamentalmente vinculada ao conflito capital/trabalho (1982, p. 21). Estes problemas se caracterizam por desemprego, violência marcada pelo desemprego e ou sub-emprego, discriminação, trabalho infantil, abandono e preconceito contra a pessoa idosa, entre outros tantos fatores, que incidem na vida cotidiana dos sujeitos. O Serviço Social a partir desta realidade é solicitado a desempenhar seu trabalho, nos mais diferentes processos de trabalho, na intermediação dos direitos sociais. Nessa lógica, o profissional Assistente Social deve desenvolver em seu processo de trabalho, habilidades metodológicas, que o possibilitem a reconhecer o seu objeto de trabalho. A partir desta análise, o Assistente Social poderá planejar e desenvolver o seu processo interventivo naquilo que ele já reconhece como sendo seu objeto de intervenção. A percepção da totalidade é fundamental, para propor alternativas e compreender a realidade social na vida cotidiana das pessoas. Segundo IAMAMOTO (2005) a autora através da citação abaixo nos fala sobre o objeto de trabalho do serviço social mencionando:
O objeto de trabalho aqui considerado é a questão social. É ela, em suas múltiplas expressões, que provoca a necessidade de ação profissional junto à criança e o adolescente, ao idoso, a situação de violência contra a mulher, à luta pela terra etc. (2005 p. 62).
Entendemos que o profissional Assistente Social necessita ter a clareza de como vão se instaurando as mais diversas manifestações da questão social no cotidiano da vida social, através da análise dos processos estrutural e
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conjuntural da realidade caracterizados por condicionantes históricos e culturais, com seus devidos rebatimentos de toda a ordem nas relações de trabalho. Para o centro de nossas reflexões, sobre a vida social e suas relações, desejamos aprofundar a situação de se viver a terceira idade no Brasil. Como os idosos estão garantindo uma vida com qualidade? Qual a real dimensão deste contingente de brasileiros que a cada ano soma-se mais nas estatísticas relacionadas ao índice populacional? Em 1998, os idosos somavam 12,4 milhões, ou seja 7,6% da população. Ao longo de várias pesquisas em torno do processo do envelhecimento social no país, vemos que na década de noventa a população idosa, no final desta década passada, era de 4.903.468 homens e 5.772.041 mulheres, cuja soma é de aproximadamente 10,7 milhões de idosos IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – (1994). O que nos leva a pensar na real importância deste contingente populacional, que necessita ser atendido nas suas necessidades básicas biopsicossociais, para viverem com qualidade de vida. O IBGE (1999) já no final da década de noventa, indicava que em vinte e um anos, a população de idosos no Brasil (com 60 anos ou mais), chegaria a vinte e cinco milhões, ou seja, cerca de 12% da população brasileira. Uma pesquisa do (IBGE)9, mostra que a expectativa de vida no País aumentou cerca de três anos entre 1999 e 2009. A nova expectativa de vida do brasileiro é de 73,1 anos. Entre as mulheres são registradas as menores taxas de mortalidade. Elas representam 55,8% das pessoas com mais de 60 anos. Segundo o IBGE, a taxa de expectativa de vida no Brasil ainda é menor que a da América Latina e do Caribe (73,9 anos), só ficando à frente da Ásia (69,6 anos) e da África (55 anos). Na América do Norte a taxa fica em 79,7 anos. Os níveis mais baixos da taxa de fecundidade se encontram nos estados da Região Sudeste, sobretudo no Rio de Janeiro e Minas Gerais, com 1,63 e 1,67 filho por mulher, respectivamente. Com relação a cor ou raça, segundo o IBGE, a taxa de fecundidade das mulheres brancas (1,63 filhos) era menor do que a das negras ou pardas (2,20). 9
Fonte da pesquisa realizada em 04-04-2011 http://www.ibicidade.com/2010/09/censo2010-segundo-dados-do-ibge.html
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A pesquisa mostra que o aumento da esperança de vida ao nascer e a queda da fecundidade no país têm feito subir o número de idosos, que passou entre 1999 e 2009 de 6,4 milhões para 9,7 milhões. Em termos percentuais, a proporção de idosos na população subiu de 3,9% para 5,1%. Em compensação, no mesmo período, caiu o número de crianças e adolescentes de 40,1% para 32,8%, estreitando o topo da pirâmide etária brasileira. Vejamos mais algumas informações sobre o processo de envelhecimento em nosso país informando que, segundo alguns estudos 10 até o final desta década, o Brasil ainda terá uma proporção de idosos na população (6%) bastante inferior à média dos países europeus (17%) , que hoje já vivenciam em larga escala os problemas decorrentes de se ter uma significativa parcela da população com 60 anos ou mais. Teremos no ano 2025 a proporção de pessoas com 60 ou mais anos, no Brasil, chegaremos a 14%, inferior à média dos países europeus, na mesma época (25%), colocando para o Brasil os mesmos problemas que hoje são enfrentados em alguns países europeus. Segundo BERZINS (2003): A crise econômica e de desemprego que o país vem sofrendo nas últimas décadas tem provocado alterações nas condições de vida das famílias brasileiras. Muitos filhos casados com suas famílias têm voltado a morar com seus pais, por não terem condições de arcar com as despesas do orçamento. (2003,p. 30).
Esta é uma das muitas realidades sociais vividas na contemporaneidade, mesmo o Brasil sendo um país em desenvolvimento, ainda retratamos a desigualdade social, que atinge significativamente o processo de envelhecimento como um todo.
8.1 Trabalho: Quando a Idade Chega o Preconceito Aumenta... 10
Rev. Saúde Pública vol.21 no.3 São Paulo June 1987 doi: 10.1590/S003489101987000300006
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Algo a ser estudado diz respeito a relação trabalho versos idade, pois quando a idade chega aumenta o preconceito contra o trabalhador.Temos percebido que as pessoas ao chegarem na idade dos seus quarenta anos por exemplo lhe são fechadas às portas do mercado de trabalho, Segundo ANTUNES (1999) este afirma: O individuo que chega aos quarenta anos começa a sofrer também maiores discriminações no mercado de trabalho. Isso interfere diretamente em sua produtividade e auto-estima, pois sofrem os abalos dessa mudança brusca de um dia pertencer a todo um contexto e no outro não existir Antunes (1999,
p.191) Percebe-se que a mudança ocorrida no mundo do trabalho afeta a todos os trabalhadores de maneira geral, mas os trabalhadores que vão chegando nesta fase da vida (em torno de 45 anos) como ressalta o autor acima já estão sofrendo o preconceito da idade, alterando as estruturas sócioeconômicas, incidindo diretamente sobre a subjetividade da população que está ou vai enfrentar o seu processo de envelhecimento. Evidencia-se no pensamento de ANTUNES (1999), que as mudanças descritas acima “criaram, portanto, uma classe trabalhadora ainda mais diferenciada, entre qualificados/desqualificados, mercado formal/informal, homens, mulheres, jovens/velhos, estáveis, precários e imigrantes” (1999, p.191). Os trabalhadores vão sendo fragmentados, tornando-os frágeis vivendo no cotidiano de suas vidas as dificuldades inerentes desta condição, a partir de nossos conceitos e pré-conceitos aceitos e legitimados socialmente. Assim entendemos que na sociedade brasileira quanto mais vamos vivendo o processo do envelhecimento nos seus mais diversos aspectos vamos sendo alijados dos processos produtivos, colocando a pessoa idosa na condição de excluído socialmente, necessitando mecanismos legais que venham ao encontro da garantia de direitos. Estes condicionantes incidem nas transformações que se operam nas relações sociais vigentes. Neste estudo desejamos problematizar de alguma maneira, como a questão social está afetando o cotidiano da vida das pessoas
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na terceira idade. Vejamos no quadro abaixo o crescente número de idosos que está sendo projetado para as décadas futuras.
TABELA 1
Brasil: População total observada e projetada por idade (1940-2040)
Total de idosos
60 a 64
65 a 69
70 a 74
75 a 79
80 +
Total da população
1940
1.668.445
687.827
384.473
282.416
143.069
170.660
41.165.289
1950
2.210.318
938.277
516.456
361.206
185.199
209.180
51944.397
1960
3.335.700
1.404.942
788.788
562.271
288.646
291.053
70.191.370
1970
4.725.540
1.794.673
1.218.918
806.773
419.748
485.428
93.139.037
1980
7.223.781
2.448.218
2.031.110
1.317.997
833.322
593.134
119.002.706
1991
10.722.705
3.636.858
2.776.060
1.889.918
1.290.218
1.129.651
146.825.475
2000
14.536.029
4.600.929
3.581.106
2.742.302
1.779.587
1.832.105
169.799.170
2010
19.769.273
6.298.568
4.599.834
3.585.700
2.483.725
2.801.446
189.524.544
2020
29.045.488
9.060.915
6.981.475
5.088.124
3.386.556
4.528.417
203.464.00
2030
41.369.963
11.155.717
9.772.057
7.553.649
5.384.309
7.504.231
209.059.835
2040
55.555.895
13.914.645
11.188.998
9.547.418
7.839.790
13.065.043
206.953.455
Fonte: i) Para o período 1940 a 2000: Camarano et al . (2005). ii) Para o período 2010 a 2040: Camarano et al . (2008). Elaboração: Disoc/Ipea.
Como vemos, o processo de envelhecimento populacional está em processo de crescimento vertiginoso devendo estabelecer um impacto relevante sobre as diversas esferas da sociedade (trabalho, política, direito, cultura, economia, entre outras). A partir desta realidade marcada pela longevidade, conforme a tabela acima, questionaremos: Como faremos para o enfrentamento das expressões da questão social que incidirão nas relações
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sociais e mais particularmente na vida dos sujeitos na terceira idade?. Como a sociedade está conseguindo organizar-se para o acolhimento das reais necessidades presentes e futuras deste segmento social? Como estamos construindo os mais diferentes espaços para o acolhimento deste sujeito idoso na família, no mundo do trabalho, nas manifestações e relações culturais?. Para melhor compreendermos o objeto de intervenção do profissional Assistente Social na particularidade das condições que incidem na vida da terceira idade, precisamos compreender, as mudanças que ocorreram e ocorrem no cenário histórico, que afetam diretamente no processo e desenvolvimento das condições de vida desta população através dos rebatimentos econômicos, políticos, e culturais implementados na sociedade capitalista. Sabemos que em cada processo histórico alteram-se as percepções do objeto a ser trabalhado pelo Assistente Social. Logo, entendemos que o processo de reconhecimento do objeto de trabalho está diretamente relacionado a forma como estabelecemos a nossa análise sobre a realidade, realidade que se expressa através da economia, da política do país e da forma como estão sendo construídas e estruturadas as instituições protetoras deste segmento social. A partir desta leitura, o Assistente Social passa a compreender, que a vida longeva se torna um fenômeno social, e que esta realidade não é algo isolado por si sós, mas um fenômeno social marcado por condicionantes dos mais diversos fenômenos: econômicos, entre s classes, a participação e os condicionantes culturais, emocionais, sociais, políticos, etc. As expressões da questão social são decorrentes desta relação, tornando-se uma eterna correlação de forças existentes entre os vários modelos instituídos para a manutenção do sistema capitalista, sejam estes instituídos pela classe burguesa ou pelos que detêm o capital financeiro dos processos de produção. Nessa lógica de raciocínio, o trabalho do Assistente Social exige uma ação dota de estratégias metodológicas marcadas por instrumentais que irão se efetivar na direção de um fim, objetivando um resultado. Os instrumentais são mecanismos utilizados pelo profissional como sendo recursos indispensáveis para uma efetiva ação de garantia dos direitos sociais dos usuários.
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Esta realidade requer que exista por parte dos profissionais um maior comprometimento com a realidade social, que oportunize meios de transformação da realidade, uma realidade que possa se expressar em cidadania. Estas alterações na forma como enfrentamos esta realidade adversa, busca erradicar da sociedade do cotidiano da vida dos sujeitos toda uma vulnerabilidade social de violência, discriminação, abandono, e as mais diversas desigualdades sociais marcados na vida do idoso.
8.2 As Políticas Sociais para o Enfrentamento das Desigualdades Sociais
Temos visto que as políticas sociais criadas pelo governo nas suas diferentes esferas municipal, estadual e federal no sentido de reduzir as desigualdades sociais, não estão conseguindo oferecer condições reais para realmente oportunizaram as mudanças sócio-econômicas na vida da população. Muitas vezes, formatam-se políticas incapazes de modificar a realidade de muitas famílias que dependem da renda financeira de muitos idosos, alijando-os a condições subalternas de vida na própria família. Outros idosos percebem baixos vencimentos de aposentadoria, precários recursos no sentido de estabelecerem a garantia de uma qualidade de vida. Vejamos a tabela abaixo fornecida pelo PNAD (2007). TABELA 10
Brasil: População idosa (60 anos ou +), por grupos de renda1 de 0 a 1/2 SM, segundo faixa etária (2007)
(Em %)
Faixa etária
Sem renda 42,7 21,0
Acima de 0 a 1/4 SM 52,8 21,9
Entre 1/4 e 1/2 SM 37,5 24,5
60 a 64 65 a 69 70 a 74
12,7
10,9
15,4
75 a 79
13,6
6,7
10,6
Mais de 80
9,9
7,8
12,0
Elaboração: Disoc/Ipea. Nota: Renda domiciliar per capita Total 100,0 100,0 100,0 Fonte: PNAD (2007).
90
.
Como vemos a partir da tabela acima as condições sociais da terceira idade na sociedade brasileira tem levado muitos idosos a viverem situações de vida marcadas pelo total desvalimento de recursos, estando estes idosos a buscarem nos abrigos uma alternativa de sobrevivência, sendo já para muitos, a única condição que lhes resta, ou irão viver nas ruas. Idosos em situação de abandono pelos familiares que não possuem uma estrutura mínima de sobrevivência para manterem este idoso no seio familiar, sejam estas materiais ou de afeto. Muitas das políticas públicas não atingem o âmago da situação das famílias desafortunadas que se encontram no Brasil. Segundo o Censo 2010, o IBGE apontou que o Brasil possui uma população de mais de 190 milhões de pessoas. Isso significa que pelo menos 8,5% dos brasileiros não possui banheiro nem energia elétrica em casa ou não conta com água e esgoto tratados. Somado a essas condições, estão abaixo da linha da pobreza as famílias com pelo menos um morador maior de 15 anos que ainda não foi alfabetizado. O IBGE aponta ainda que aproximadamente 16,2 milhões de brasileiros vivem em condições de extrema pobreza, segundo estimativas deste Instituto. Desse total, quase cinco milhões não possuem renda. O restante vive com menos de R$ 70 por mês. O mapa da pobreza demonstrado pelo IBGE aponta que a metade das pessoas extremamente pobres reside no campo, apesar de 84,4% da população geral estar concentrada nas áreas urbanas. É como se um em cada quatro moradores de zonas rurais vivesse na miséria. A maior parte desse grupo está na região Nordeste, que concentra 59,1% do contingente. Nessa linha de raciocínio sobre as condições de vida da população brasileira, questionamos o papel do Estado frente a esta realidade. Entendemos que as ações do Estado atende apenas o mínimo das reais necessidades da população e do trabalhador de modo geral, não atingindo suas reais necessidades, e aqui particularmente da terceira idade, com políticas sociais mínimas e residuais. SPOSATI (1997) nos afirma dizendo:
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Insistir em direitos sociais no Brasil, este país de um “Estado mínimo histórico” é, sem dúvida, vestir a capa de utópico no pior sentido do termo. Aqui, política social e pobreza são tomadas como irmãs siamesas (1997, p.11).
Pela realidade exposta acima percebemos que as medidas adotadas pelo governo são construídas a partir de mínimos sociais com taxas baixas de investimentos e de crescimento social estabelecendo políticas públicas fragmentadas e setorizadas não oportunizando um desenvolvimento integral da condição humana. Uma brutal concentração da riqueza, cada vez mais favorece o estabelecimento de bolsões de miséria paralelo a todo um desenvolvimento e um incremento que vem sendo construído através de novas tecnologias que deveriam contribuir para a abertura de postos de trabalho, e que contraditoriamente, o movimento é inverso, acentuam-se cada vez mais, a destituição dos direitos trabalhistas já conquistados, estabelecendo a redução salarial e aumento do desemprego. Estas medidas representam o receituário de uma política de cunho neoliberal11, que incide, material e subjetivamente, na vida das pessoas, e aqui particularmente, na vida das pessoas que se encontram na terceira idade juntamente com seus familiares. Neste mesmo viés, a sociedade do capital vai estabelecendo uma oferta de serviços privados de alto nível, financiados por instituições que possuem uma parcela bastante expressiva da riqueza produzida em nosso país como é o exemplo das empresas de saúde privada, onde o acesso a estes serviços é medido a peso de grandes somas. Fora esta parcela da população que paga altos custos para a obtenção de serviços privado, a grande maioria da população idosa que não possui renda buscam nas filas do SUS ou do SUAS o atendimento as suas necessidades de sobrevivência, sejam estas da área da saúde, ou da área social. Um sistema estatal de saúde e de assistência social, com exíguos 11
O neoliberalismo é uma reação à expansão da intervenção do Estado no estágio intensivo, em uma tentativa de recompor o âmbito e reassertir a primazia,do,mercado. http://www.usp.br/fau/docentes/depprojeto/c_deak/CD/4verb/neolib/index.ht ml
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orçamentos, oferecendo alguns serviços básicos à porção expressiva de indigentes da população (DRAIBE e AURELIANO apud CASTEL, 2004, p.123). Nesse sentido, urge tomarmos uma atitude e refletirmos sobre o futuro de nosso país sobre este processo natural que é a longevidade com qualidade de vida. Os profissionais da área da gerontologia e geriatria deverão tomar a frente desta discussão, e envidarem esforços no sentido de promoverem o debate sobre o tema, para que, assim, futuramente e não muito distante do nosso tempo presente, não venhamos a nos lastimar pela imprecaução de não termos feito o trabalho necessário frente a esta realidade.
Referencia Comentada: Adeus ao Trabalho? Ensaios sobre as Metamorfoses do Mundo do Trabalho Autor: Ricardo Antunes Cortez Editora - 1999 Caro leitor, esta obra é um ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do trabalho procura oferecer, com o olhar situado num canto particular de um mundo marcado por uma globalidade desigual articulada, alguns elementos e contornos básicos presentes no debate sobre o significado da classe trabalhadora. Referencias: ANTUNES, Ricardo. Adeus ao Trabalho? Ensaios sobre as Metamorfoses e a Centralidade do Mundo do Trabalho. 6. ed. Campinas: Cortez, 1999. CASTEL, Robert. As Metamorfoses da Questão Social. Uma Crônica do Salário. Petrópolis: Vozes, 2004. VASCONCELOS, Eduardo Mourão. Serviço Social e Interdisciplinaridade: o exemplo da saúde mental. In: ______. Saúde Mental e Serviço Social. O desafio da subjetividade e a interdisciplinaridade. São Paulo: Cortez, 2000 IAMAMOTO, Marilda V. O Serviço Social na Contemporaneidade. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2000. SPOSATI, Aldaísa. Mínimos Sociais e Seguridade Social: Uma revolução da Consciência da Cidadania. Revista Serviço Social e Sociedade, São Paulo, Cortez, n.55, 1997. 93
______. A menina Loas: um processo de construção da Assistência Social. São Paulo: Cortez, 2004. SPOSATI, Aldaiza de Oliveira; BONETTI, Dilsea Adeodata; YASBEK, Maria Carmelita; FALCÃO, Maria do Carmo B. Carvalho. Assistência na Trajetória das Políticas Sociais Brasileiras: uma Questão de Análise. 3.ed. São Paulo: Cortez, 1987. Autoestudo
( ) Os trabalhadores vão sendo fragmentados, tornando-os frágeis vivendo no cotidiano de suas vidas as dificuldades inerentes desta condição, a partir de nossos conceitos e pré-conceitos aceitos e legitimados socialmente; ( ) O Serviço Social a partir desta realidade é solicitado a desempenhar seu trabalho, nos mais diferentes processos de trabalho, na intermediação dos direitos sociais; ( ) A percepção da totalidade é fundamental, para propor alternativas e compreender a realidade social na vida cotidiana das pessoas; ( ) A questão social representa o resultado estabelecido a partir dos conflitos inerentes da relação capital e trabalho da sociedade capitalista, traduzindo fenômenos sociais e particulares, na vida cotidiana das pessoas; ( ) Segundo CERQUEIRA (1982), questão social não representa somente o conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos que o surgimento da classe operária impõe no curso da constituição do sistema capitalista; ( ) Percebe-se que a mudança ocorrida no mundo do trabalho afeta a todos os trabalhadores de maneira geral, mas os trabalhadores que vão chegando nesta fase da vida (em torno de 45 anos) como ressalta o autor acima já estão sofrendo o preconceito da idade, alterando as estruturas sócio-econômicas, incidindo diretamente sobre a subjetividade da população que está ou vai enfrentar o seu processo de envelhecimento;
Respostas: v.v.v.v.f.v
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9. O Trabalho do Serviço Social com as Expressões da Questão Social
O Assistente Social é um profissional que busca compreender as condições sociais que se configuram as expressões da questão social na vida das pessoas, e aqui em particular as que se encontram na terceira idade, sejam estas na particularidade dos espaços que as mesmas ocupam ou no contexto coletivo em que a sociedade vai se construindo. Os efeitos do trabalho profissional do Assistente Social no cotidiano da vida dos sujeitos, visa garantir espaços reflexivos sobre os mais diversos aspectos em particular sobre os direitos sociais. O Assistente Social procura reconhecer a forma como as pessoas estão organizadas para o enfrentamento das expressões da questão social, o Assistente Social procura orientar o usuário, fazendo-o perceber a si mesmo e a se reconhecer como cidadão a partir destes mecanismos legais que estão disponíveis a todos, mas que muitos os desconhecem, como os que se encontram no capítulo cinco deste estudo. O Assistente Social precisa reconhecer a realidade onde irá atuar, buscando alternativas para poder propor condições de acesso às políticas públicas/sociais. O profissional necessita analisar previamente a implementação destas políticas, para que as mesmas não venham a incidir de forma negativa na vida do usuário, tornando-o dependente e sem autonomia. Nessa linha de raciocínio poderíamos nos indagar: Como fazer isto a partir das demandas sociais da terceira idade? A partir da compreensão da realidade social, o Assistente Social necessitará estar articulando o seu trabalho no conjunto dos diversos processos de trabalho instaurados na instituição onde o mesmo atua. Através das diferentes leituras da realidade, os profissionais encontraram caminhos a serem percorridos com o usuário na solução dos dilemas. Assim, através da discussão em equipe sobre as diferentes demandas dos usuários e da interação com diferentes saberes sobre o tema, os profissionais poderão avaliar o alcance das políticas sociais na vida dos idosos e seus familiares.
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Entendemos que o conhecimento representa uma ferramenta importante nessa articulação realizada pelo Assistente Social utilizando-o no seu processo de trabalho. Sendo assim, ter clareza sobre as diferentes dimensões da formação, os conhecimentos teórico-metodológicos, o processo técnicooperativo e ético-político associados, possibilitarão ao Assistente Social um saber/fazer capaz de propor uma construção de alternativas viáveis, que possibilitem trabalhar com a realidade apresentada pelos idosos. Assim, entendemos que o trabalho do Assistente Social junto a uma equipe interdisciplinar poderá estabelecer um conjunto de alternativas que incidirão frente a realidade vivida pelos usuários, através da construção de uma rede interna realmente efetiva. A interdisciplinaridade, enquanto princípio mediador entre diferentes saberes, não poderá ser percebida como algo que iniba potencialidades, mas pelo contrário, deverá ser elemento teórico-metodológico construído no coletivo institucional. A interdisciplinaridade é uma maneira criativa de juntar potencialidades, onde cada disciplina do conhecimento, oportunizará a descoberta de novos caminhos a serem percorridos. Muitas vezes, dentro das instituições, ocorrem os reflexos daquilo que está posto nas relações de trabalho, uma série de transformações, arcadas repetimos por acirramentos, disputas, vaidades, mas também de solidariedade. Estas transformações, caracterizam-se por uma nova forma, oportuna para o crescimento e avanço do capital, que trazem consigo, momentos conflituosos, acirrando ainda mais as relações entre as pessoas na busca da manutenção do emprego. Para o Assistente Social, trabalhar em equipe é de suma representação a socialização e a articulação de conhecimentos diferentes e ao mesmo tempo comuns por área de conhecimento, pois esta direção, viabiliza novas estratégias de ação. Isso não significa, no entanto, que o Assistente Social perderá o verdadeiro foco da intervenção. Este foco se mantém através da proposta expressa no seu código de ética que se materializa no seu plano de trabalho com vistas a fazer com que o usuário se reconheça como sujeito, valorizando-se e assumindo a sua cidadania.
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O processo de trabalho do Serviço Social, neste sentido, implica fatores diversos como intenções, estratégias de planejamento e execução, buscando aliar possibilidades e alternativas, que envolvam as demandas apresentadas. Portanto, o Assistente Social transforma-se em um agente que interfere e age diretamente como mediador, na busca dos direitos do usuário. Nesse sentido, o Serviço Social não pode agir de uma forma isolada repetimos, deverá envidar esforços no sentido de estabelecer trocas de pareceres, compartilhar idéias e intenções com os demais profissionais. Na contemporaneidade, tornar-se essencial o trabalho do Assistente Social, pelo seu caráter reflexivo/propositivo. Vasconcelos (1997) nos faz pensar a respeito da prática profissional do Assistente Social, enquanto prática de caráter reflexiva , crítica, criativa, politizante e também educativa/propositiva que aponte para a ruptura com o instituído, que coloca permanentemente em questão a relação que envolvem vários sujeitos: usuário, profissional, Estado e sociedade. Uma prática vinculada aos interesses e necessidades da população que demandam os serviços sociais públicos. Um profissional atento, que busca fazer uma prática reflexiva como base em seu código de ética, que busca possibilitar à socialização da informação como uma vertente de indagação e ação sobre a realidade social. Vasconcelos (1997), afirma que é possível dizer que o processo de trabalho do Assistente Social inicia no momento em que esse se vincula a uma Instituição, tem contato com a realidade apresentada, e observa os limites e possibilidades de seu caráter interventivo, relacionando-se sempre com os obstáculos inerentes desta sociedade capitalista,buscando encontrar alternativas possíveis de trabalho. Como vemos a articulação entre teoria, processo de conhecimento e intencionalidade de prática interventiva é o que da corpo ao processo de trabalho do Serviço Social. Esta ação interventiva, necessitará de meios de trabalho para a operacionalização do trabalho profissional. Os meios de trabalho definirão a forma concreta onde o Assistente Social se movimentará para alcançar os fins que seu trabalho se propõe. É aqui que deveremos montar estratégias necessárias de convencimentos e conquistas junto aos que dirigem os espaços que o Assistente Social ocupa, pois muitas vezes, estes espaços se 97
apresentam deficitários, sem as mínimas condições de se garantir a privacidade do trabalho profissional com o usuário. Aos poucos, de forma “homeopática” vamos mostrando que o trabalho do Assistente Social requer os meios mínimos de condições de trabalho para conseguirmos garantir a sua efetividade. Outro elemento que incide diretamente no trabalho do Assistente Social é a conjuntura social construído historicamente e que permeia a vida da sociedade e das relações. As condições políticas, as forças e poderes instituídos, os recursos humanos são condicionantes diretos que influenciam o desenvolvimento da ação interventiva do Assistente Social. O Assistente Social dispõe de uma relativa autonomia no seu fazer profissional, necessitando articular o seu processo de trabalho com os demais processos de trabalho garantidos institucionalmente para a produção de um resultado final. IAMAMOTO (2000) nos faz refletir sobre este ponto afirmando: Como já salientado, o Assistente Social, em função de sua qualificação profissional, dispõe de uma relativa autonomia teórica, técnica e ético-política na condução de suas atividades. Todavia essas dependem dos meios e recursos para serem efetivas, os quais não são propriedades do assistente social, visto que se encontra alienado de parte dos meios e condições necessárias à efetivação de seu trabalho. (2000; pag. 99)
O Assistente Social em seu processo de trabalho como já foi dito anteriormente, requer de meios ou instrumentos para viabilizar suas ações e planejamentos, concretizando sua atuação, essas dependem dos meios e recursos para se efetivarem. A respeito de Instrumentalidade afirmou GUERRA,
Com isso infere-se que falar de instrumentalidade do Serviço Social remete a uma determinada capacidade ou propriedade que a profissão adquire na sua trajetória sócio histórica, como resultado do confronto entre teleologias e causalidades (2000, p.6).
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Como vemos a partir da citação acima, a dimensão técnico-operativa para se efetivar necessita de meios de trabalho e de instrumentos que irão constituir a prática de trabalho do Assistente Social, saber utilizar e identificar recursos também representa uma estratégia importante na ação interventiva. Assim, entendemos que todo o profissional possui sua instrumentalidade e que a disponibiliza e desenvolve de maneira muito especializada, através de técnicas coerentes de acordo com sua formação. No entanto, sabemos que é importante ter claro a forma de como se constitui o seu objeto de trabalho, pois será a partir desta análise que o profissional irá adaptando estes instrumentos dentro das alternativas viáveis de intervenção. Ter um olhar crítico sobre a realidade, infere diretamente nesta construção. A partir desta dinâmica de construção e reconstrução sobre a realidade projetaM-se alternativas, desenvolveM-se técnicas, na qual as estratégias de ação serão elaboradas e utilizadas. Após esta dinâmica de ação, o profissional poderá analisar os resultados obtidos que se transformam em produtos. É esse conjunto de ferramentas utilizadas pelo Assistente Social caracterizados em torno dos instrumentos da ação profissional que GUERRA (2000) denomina de instrumentalidade, ou seja, [...] propriedades sociais das coisas, atribuídas pelos homens no processo de trabalho ao convertê-las em meios/instrumentos para a satisfação de necessidades e alcance dos seus objetivos/finalidades (2000, p. 11). Sabemos que as habilidades deverão fazer parte do fazer profissional do Assistente Social no seu processo de produção da vida material, pois nesse processo ele passa a dominar e manipular estratégias que viabilizem suas ações. O Assistente Social é impulsionado a querer buscar e conhecer melhor a realidade que irá conduzir ao alcance de suas finalidades, aqui particularmente lembramos mais uma vez a importante ferramenta que a pesquisa infere na prática do Assistente Social.
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9.2 Estratégias Metodológicas no Fazer Profissional As estratégias metodológicas deverão ser pensadas para que venhamos de forma mais precisa garantir e alcançar os resultados esperados. Ter a capacidade de escutar, acolher as demandas de forma serena, observar a realidade a partir das coisas simples, valorizando também aquilo que demanda uma maior atenção, faz parte do fazer profissional. Não podemos incorrer em extremos, para que nada seja tão simples que acabe na banalidade e também não tão complexo que intimide o fazer profissional. Procurar de forma cautelosa, realizar uma leitura da realidade que oportunize intervir da melhor maneira sobre a realidade, não naquilo que sobre sai pela aparência das coisas mesmas, mas buscar a essência da realidade, eis a meta a ser alcançada, pois esta, apresenta-se de várias formas. Logo, é através do processo de trabalho que o profissional irá no movimento estabelecido no seu trabalho buscar a instrumentalidade que melhor lhe sirva para um fim determinado. Para cada ação atribui-se uma técnica voltada ao seu objetivo. O Assistente Social poderá vincular-se a Instituições e construir projetos que busquem refletir sobre a importância da construção de meios de trabalho eficazes dentro da instituição. O profissional poderá de forma estratégica influenciar os demais técnicos a buscarem também, melhores meios de trabalho, para que, de maneira mais efetiva, encontrem respaldo institucional para a intervenção dos profissionais com seus instrumentais, visando alcançar, através do reconhecimento da realidade e apropriação teórica, os resultados esperados por todos. Em face dessas considerações, não devemos atribuir aos instrumentos e técnicas um status sobre-humano, transformando-os em fetiche, muito comuns a algumas áreas do conhecimento, que possuem a capacidade de não aceitarem perceber que todas as áreas do conhecimento são importantes e precisam estar integradas umas as outras. Entendemos que o fetichismo se apresenta como sendo muitas vezes a base por onde caminha o mundo burguês, sendo uma representação falsa da realidade, pois este é sustentado e consolidado pelo capitalismo com interesses antagônicos à questão social. Entendemos que a 100
questão social se expressa no cotidiano e que sofre influências, históricas e políticas, manifestando-se de diversas maneiras com já foi mencionado anteriormente. A instrumentalidade no Serviço Social necessita ultrapassar os limites, que por vezes se apresentam na realidade e, pois, estabelecer vínculos que interliguem usuários, profissionais e Instituição. Pois Segundo Iamamoto: Para ser consumida e transformada em atividade, a força de trabalho exige meios ou instrumentos de trabalho e uma matéria prima ou objeto de trabalho que sofrerá alterações mediante a força transformadora do trabalho. Quem dispõe dos meios de trabalho—materiais, humanos, financeiros etc. -, necessários a efetivação dos programas e projetos de trabalho é a entidade empregadora, seja ela estatal ou privada (2005, p.99).
Como vemos, a partir do pensamento de Iamamoto, o Assistente Social possui uma relativa autonomia no seu fazer profissional, que se caracterizam por: entrevistas, visitas domiciliares, encaminhamentos, elaboração de programas, projetos e outros, que necessariamente o profissional repetimos, necessita dos meios de trabalho para sua operacionalização. A instituição é detentora do poder institucional que articulará os meios de trabalho para todos os profissionais nela envolvidos. O que não deve ser um impedimento ao fazer profissional que diante das dificuldades necessita encontrar alternativas criativas para a realização do seu fazer profissional. O Assistente Social que trabalha na área da gerontologia social deverá estar atento a tudo que envolva e ou esteja diretamente conectado com o seu fazer profissional, para que assim possa montar suas estratégias metodológicas para poder intervir. Neste propósito, ao ter claro o objeto de trabalho, a prática profissional se torna mais consciente, pois ao se referir ao ato profissional temos uma intencionalidade a ser atingida, ou seja, fazer algo com intenção para suprir algo que não chegou a ser vivido ou estabelecido na vida dos idosos que procuram as instituições de proteção social. O Assistente Social procura reconhecer qual é a forma de organização que estes sujeitos idosos se submetem para enfrentamento das adversidades da vida. Através dessas articulações, entre prática e estratégias
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de trabalho, o Assistente Social traz no seu cerne os princípios e valores norteadores que orientam a prática profissional estabelecidos em seu Código de Ética. É por meio dessas estruturas que o Assistente Social constrói e se reconstrói cotidianamente, dando formas ao seu ethos profissional, construindo e reconstruindo permanentemente a sua prática profissional, na sua forma de ser. O Serviço Social estrategicamente quando trabalha nas instituições e proteção a terceira idade se instrumentaliza através dos diversos documentos legais que a sociedade constrói para sinalizar e regular os direitos humanos. Os estatutos, e aqui particularmente o Estatuto do Idoso, as leis constituintes, as políticas públicas como forma de garantia, compõem este cenário de signos, que irão balizar a ação interventiva do Assistente Social, garantindo dessa forma ao usuário, o acesso aos direitos sociais e o exercício da cidadania. Neste sentido, entendemos que ao ficar claro para o Assistente Sócial a existência destes instrumentos legais, sua ação se tornará mais qualificada, a ação interventiva do técnico será sustentada a partir de atos legais, pois estes instrumentais formam um conjunto de várias condições e direcionamentos. FERRARINE (2003) conceitua instrumentalidade como: Conjunto de condições que a profissão cria e recria no exercício profissional e que se diversifica em função e um conjunto de variáveis tais como: o espaço sócioocupacional, o nível de qualificação de seus profissionais. (2003, p. 7).
Portanto ao operacionalizar este conjunto de condições, a análise tanto do objeto de intervenção que se coloca como desafio no processo interventivo do Assistente Social, se torna mais eficiente. Este irá buscar, sempre o melhor encaminhamento para o usuário dos serviços. Ao propor alternativas que possam produzir resultados com a demanda existente, exige-se dos profissionais um saber ético-político que permita respeitar os valores alheios sem ferir a liberdade do usuário, mas que viabilize ações humanas em seus resultados, estabelecendo um compromisso com a sociedade através do seu processo de trabalho. Considerando que o Serviço Social é uma profissão de mediação e que 102
estabelece na sua prática a criação de redes sociais como forma de fortalecimento dos sujeitos, a comunicação é algo fundamental na interação social, ou seja, a relação entre assistente social/usuário/sociedade. 9.2 A Entrevista como Ferramenta de Trabalho e Estratégia de Acolhimento O Assistente Social quando realiza seu processo de trabalho com a população idosa, este procura reconstituir a história de vida dos sujeitos entrevistados, valorizando suas experiências de vida, suas trajetórias, suas vivencias. Escutar o idoso é algo de grande representação para este segmento social pois, na maioria das vezes este não é escutado, vivendo no seu mundo isolado devido a uma série de preconceitos relacionados a idade. O ato de escutar representa darmos vistas a uma valorização do sujeito, muitas vezes ser escutado é o que o idoso mais deseja. O tempo histórico de vida de cada idoso, são elementos importantes para o desempenho de compreensão da realidade vivida pelos usuários na terceira idade, esta realidade de vida se dá, nesta construção histórica que é particular. Esta habilidade do Assistente Social de reconhecer a realidade a partir da escuta sensível, possibilita reconhecer e elaborar informações importantes através das intervenções, vividas pelos usuários ao longo de uma linha de tempo histórica, é o cotidiano do vivido, é a cotidianidade da vida sendo processada. Este profissional irá utilizar uma documentação própria para registrar estas observações percebidas durante a abordagem, observações, atividades e análises. GIONGO (2003, p. 29) nos confere algumas considerações importantes sobre a documentação para o Serviço Social: “os objetivos da documentação são, garantir a qualidade da prestação e dos instrumentos profissionais, memorizando as informações”. Memorizar as informações possuem o caráter de também identificar pontos nodais na vida dos sujeitos, criando pontos de partida para o processo reflexivo que o Assistente Social realiza em sua prática interventiva com os idosos. Neste mesmo movimento de registro e memorização, vamos com o sujeito entrevistado, com estes mesmos recursos, criando ou recriando com o sujeito a sua própria memória, a sua própria história, a sua identidade social. 103
Este movimento de tempo e espaço, tem como intencionalidade para o Assistente Social, dar visibilidade ao usuário sobre si mesmo e da sua relação com o tempo presente. Não podemos somente ficar no passado, temos que viver o presente. Os idosos possuem um hábito de viverem das lembranças de seu passado, Diríamos que esta atitude poderá representar um ar de nostalgia, mas na verdade, para muitos, é a forma como os idosos procuram manter na defensiva a integridade pessoal intacta pois para muitos, a representação do tempo presente lhes causa estranhamento pelo fato de não serem ou se sentirem desvalorizados pelos mais jovens que ele. A entrevista particular com o idoso requer do Assistente Social, toda uma habilidade de escuta sensível, que o remeta muitas vezes a se colocar na condição do seu entrevistado. Este irá perceber os pequenos nadas, muitas vezes não ditos através das palavras, mas expressos através dos movimentos do corpo e as expressões do rosto, ou de sua própria linguagem, da sua cultura, do seu meio social. Entendemos que, a escuta estabelecida com usuários na terceira idade, representa uma das habilidades mais importantes a serem destacadas no processo de trabalho do Assistente Social com os idosos. As demais abordagens sofrerão o mesmo cuidado, sejam estas visitas domiciliares, reuniões de grupo, atividades de laser, entre outras. Todos estes instrumentais quando utilizados compõem de forma decisiva as estratégias metodológicas do fazer profissional na sua dinâmica interativa com a realidade vivida pelo idoso. As estratégias metodológicas são pensadas pelo profissional para o enfrentamento das expressões da questão social. Referencia comentada; Pobreza – Possibilidades de Construção de Políticas Emancipatórias, Autor: Adriane Vieira Ferrarine Oikos Editora – 2003 Caro leitor, esta obra nos possibilita refletir sobre a condição de pobreza em que assola a vida das comunidades refletindo sobre a possibilidade de construirmos políticas emancipatórias para um mundo mais justo e 104
igualitário
Referencias: IAMAMOTO, Marilda Vilela. O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2000. VASCONCELOS, Eduardo Mourão. Serviço Social e Interdisciplinaridade: o exemplo da saúde mental. In: ______. Saúde Mental e Serviço Social. O desafio da subjetividade e a interdisciplinaridade. São Paulo: Cortez, 2000. FERRANI, Adriane Vieira Pobreza – Possibilidades de Construção de Políticas Emancipatórias, Oikos Editora – 2003
Autoestudo: ( ) Procurar de forma cautelosa, realizar uma leitura da realidade que oportunize intervir da melhor maneira sobre a realidade, não naquilo que sobre sai pela aparência das coisas mesmas, mas buscar a essência da realidade, eis a meta a ser alcançada, pois esta, apresenta-se de várias formas; ( ) Ter a capacidade de escutar, acolher as demandas de forma serena, observar a realidade a partir das coisas simples, valorizando também aquilo que demanda uma maior atenção, faz parte do fazer profissional; ( ) A interdisciplinaridade, enquanto princípio mediador entre diferentes saberes, não poderá ser percebida como algo que iniba potencialidades, mas pelo contrário, deverá ser elemento teórico-metodológico construído no coletivo institucional; ( ) A interdisciplinaridade é uma maneira criativa de juntar potencialidades, onde cada disciplina do conhecimento, oportunizarão a descoberta de novos caminhos a serem percorridos;
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( ) O processo de trabalho do Serviço Social, neste sentido, implica fatores diversos, intenções, estratégias de planejamento e execução, buscando aliar possibilidades e alternativas, que envolvam as demandas apresentadas; ( ) O Assistente Social através da pesquisa, como vimos no ponto acima, é um profissional que busca compreender as condições sociais que se configuram as expressões da questão social na vida das pessoas, e aqui em particular as que se encontram na terceira idade, sejam estas na particularidade dos espaços que as mesmas ocupam ou no contexto coletivo em que a sociedade vai se construindo; ( ) A partir da compreensão da realidade social, o Assistente Social necessitará estar articulando o seu trabalho no conjunto dos diversos processos de trabalho instaurados na instituição onde o mesmo atua, para que no coletivo profissional, através das diferentes leituras da realidade abordada, os profissionais possam encontrar caminhos a serem percorridos com o usuário na solução dos dilemas;
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Respostas: v.v.v.v.v.v.v
10. As Instituições e o Trabalho do Serviço Social com Grupos de Terceira Idade O Serviço Social é uma profissão que possui uma dimensão política, e esta dimensão está presente no seu exercício profissional através da garantia de direitos. Sabemos que a ação interventiva do Assistente Social se materializa no cotidiano da vida social através da sua condição de trabalhador livre ou profissional liberal. Por outra, sabemos que a grande maioria dos Assistentes Sociais ocupam a condição de trabalhadores assalariados dependendo assim, das instituições para que os contratem. Quando assim ocorre, o Assistente Social, através da sua força de trabalho, que é a própria mercadoria que ele vende, necessita de condições sociais e institucionais para que sua força de trabalho se efetive. O Assistente Social vende a sua força de trabalho em troca de salário. Para que esta mercadoria que é a própria força de trabalho do Assistente Social possa ser utilizada pela instituição, é necessário a mobilização de meios de trabalho para que o profissional atinja seu determinismo social. Nesse sentido, as instituições possuem um papel fundamental na garantia dos meios de trabalho para que os diferentes processos de trabalho por ela contratados possam se efetivar, particularmente o processo de trabalho do Assistente Social. Entendemos que as instituições possuem um papel fundamental enquanto espaço de atuação e de garantia de direitos, espaço político, de luta e resistência a questão social. Entendemos também, que o Assistente Social quando trabalha na área da Gerontologia, necessita apropriar-se da dimensão criativa do seu trabalho nos espaços que o mesmo ocupa. Compreendemos com PAPALIA e 107
OLDS (2000) que a criatividade é a capacidade que as pessoas têm de ver as coisas de um modo novo, de produzir algo antes nunca visto, ou de distinguir problemas que os outros não conseguem reconhecer e achar soluções novas e incomuns. A criatividade somente ocorrerá quando o Assistente Social bem como o Gerontólogo Social conseguirem interferir na realidade a partir da sua abertura para o reconhecimento da necessidade de termos uma formação pautada na pluralidade teórica, na valorização da cultura local, no acolhimento da forma simples que se constitui a vida das pessoas, no que elas desejam e sonham. Esses elementos quando combinados, na dinâmica do processo de trabalho dos profissionais, auxiliam na criação do novo ou do inédito naquilo que é necessário para suplantar as demandas sociais. Quando assim ocorre, interferimos na direção social daquilo que está posto enquanto demanda institucional, aqui particularmente o tema proposto, as condições sociais em que vive o idoso na sociedade brasileira, por exemplo. Trabalhar com mecanismos que mobilizem grupos de terceira idade e comunidades envolvidas com as condições sociais dos idosos deverá ser tarefa concebida pelo Serviço Social, pois, do contrário, a caminhada a ser percorrida traduzir-se-á em imobilismo social e profissional na vida cotidiana, transformando possibilidades em não-acesso à garantia de direitos. Vejamos o pensamento de Iamamoto (2000) quando a autora refere-se a ação transformadora, criativa da matéria-prima colocada para o Serviço Social: Realizar a transformação criativa da matéria-prima do nosso trabalho, é trabalhar na perspectiva de fortalecer o componente de resistência, de ruptura com as expressões dramáticas da questão social na realidade brasileira, com as quais o Serviço Social se depara cotidianamente no exercício profissional (Iamamoto 2000, p.26).
Sabemos que para o exercício profissional do Assistente Social nas instituições, o mesmo não somente depende do seu arsenal de conhecimentos, habilidades e atitudes que o mobiliza frente as expressões da questão social, mas sim que sua prática está diretamente vinculada as condições e os meios de trabalho que as instituições oferecem, dando a ele
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profissional, aquilo de que necessita para obter um produto final a partir de seu processo de trabalho. 10.1 A Análise Institucional: O Reconhecimento das Possibilidades e dos Limites da Intervenção Social O reconhecimento das possibilidades e dos limites de sua ação profissional nos espaços operativos, é de suma importância para a implementação de ações de inclusão social e ao próprio desempenho do processo de trabalho do Serviço Social. Será através das estratégias metodológicas articuladas, da leitura de realidade social e institucional operada pelo técnico social e bem como do trabalho interdisciplinar também articulado institucionalmente, e de um trabalho em rede com diferentes setores e segmentos da sociedade que o Assistente Social insurgirá na materialidade de sua ação, obtendo um resultado ou produto final de seu trabalho. Nesse sentido, reafirmamos sobre o significado profissional da análise institucional. Estendemos que a análise instituciopnal deverá ser realizada constantemente pelo profissional, pois através destas observações, o Assistente Social vai reconhecendo o papel político da instituição, os valores, as intencionalidades que a movem, bem como das pessoas que dela muitas vezes fazem uso tanto por interesses legítimos daquilo que a instituição se propõe, como por interesses escusos e particulares. O Assistente Social por meio da análise institucional, consegue estabelecer o reconhecimento dos atores institucionais e suas atuações, definindo os atores que poderão ser reconhecidos como parceiros em um trabalho coletivamente viável. Com este reconhecimento, o Assistente Social poderá pensar de forma desafiadora possibilidades de articulação do coletivo social profissional e poderem no conjunto das representações profissionais, lidar com as correlações de forças que, comumente, se expressam por questões políticas partidárias, supremacia de uma identidade profissional, sobre as outras por uma insegurança de perda de poder e status institucional, e outras tantas formas de acirramentos que vão criando embates e emperramentos na estrutura institucional
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A dimensão teórico-metodológica da formação profissional sinaliza a importância do Assistente Social trabalhar como protagonista junto aos movimentos sociais de resistência. Esta ação visa implementar a sua dimensão ético-política, que possui fundamentos teóricos que dão vistas e clareza sobre a possibilidade de mudança, compreendendo o movimento que a sociedade está permanentemente estabelecendo, e que necessita, muitas vezes, estabelecer reflexões junto aos movimentos sociais, a grupos organizados, a conselhos de direito entre outros espaços. O protagonismo em defesa das minorias somente encontra eco junto aos movimentos de resistência. Vejamos o pensamento de Couto (2004); [...] não basta nem a existência e nem o conhecimento da lei para que a vida da população pobre seja alterada. É preciso mecanismos que confirmem o protagonismo dessa população. Só no espaço de disputa de projeto social para o país é possível equalizar a assistência social com o direito social, (...) afirmar a assistência social como direito é tarefa de uma sociedade, e essa tarefa só pode ser realizada com a presença forte de toda essa sociedade, disputando, nos marcos do capitalismo, a ampliação da fatia dos investimentos que devem ser utilizados para os efeitos perversos da exploração capital sobre o trabalho possam ser reduzidos. assim a assistência será inscrita como direito social (COUTO, 2004, p.187).
Nesta análise, um dos pontos-chave para a real implementação de ações emancipatórias recai na possibilidade das instituições possuírem técnicos capacitados para o atendimento de demandas sociais emergentes, a curto e a longo prazo. Nesse propósito trabalhar com a possibilidade interdisciplinar como referimos acima, é algo de suma importância, como vemos na fala de Vasconcelos (2000) “A interdisciplinaridade é entendida aqui como estrutura, havendo reciprocidade mútua, com uma tendência à horizontalização das relações de poder entre os campos implicados” (Vasconcelos, 2000, p.47). Profissionais que detenham conhecimentos de áreas afins e diferentes a serem colocadas a disposição do trabalho com a terceira idade, sejam profissionais da área da saúde, da assistência social, da educação, do esporte, profissionais da instituição ou da comunidade local. É a possibilidade
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de exercitarmos o trabalho interativo entre si e outras pessoas de forma solidária, conforme salienta TURCK (2001). A busca da solidariedade na proposição da Rede Interna não tem a conotação, hoje comum no Brasil, de remédio para resolver os males sociais, políticos e econômicos. Não é também a solidariedade aos pobres que se propaga no discurso da sociedade civil. É solidariedade entre pessoas, entre e intraclasses, em que as barreiras criadas em função das desigualdades sociais possam ser rompidas para a construção de uma nova solidariedade, em que o compromisso e a responsabilidade estejam presentes (Turck, 2001, p.30).
O profissional do Serviço Social, articulando intencionalidades de prática e conhecimentos da realidade institucional/social, procura instaurar a construção de um trabalho que se articule em rede para conseguir atender as demandas particulares e coletivas dos idosos a eles colocadas. “É na relação de redes que se colocam as questões enfrentadas pelos próprios sujeitos na sua perda de poder para articulá-las em estruturas e movimentos de fortalecimentos da cidadania, da identidade, da autonomia” (Faleiros, 1997, p.24). As instituições desempenham um papel de extrema importância na tentativa de realizarem a inclusão social das pessoas que estão vivendo a margem da sociedade. As instituições exercem especial importância na vida das pessoas que ao chegarem na terceira idade estão desprotegidas socialmente, tanto do âmbito familiar, do mundo do trabalho, e de recursos que o Estado deveria garantir no sentido destas pessoas poderem usufruir de uma vida mais tranqüila. Atender as demandas da terceira idade através da articulação do “grupo” é uma das ferramentas interessantes para este fim, é trabalharmos com projetos sociais grupais que visem o atendimento do idoso no espaço que ele ocupa, ou seja, o contexto comunitário. Quando buscamos o espaço social que ele reside estamos mantendo os vínculos deste usuário com as pessoas que ele conhece e é reconhecido. É no contexto comunitário que vamos estabelecendo nossas redes sociais, mesmo quando este idoso não possua familiares. Os grupos de terceira idade, representam espaços bem interessantes de auto-ajuda, de amizade, de socialização, de entretenimento e principalmente de acolhimento.
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Entendemos que o acolhimento não representa uma definição unívoca, mas poderá ter interpretações diferenciadas, vejamos: Para SCHMITH e LIMA, (2004) estes definem acolhimento como sendo “uma ferramenta que estrutura a relação entre equipe e população e se define pela capacidade de solidariedade de uma equipe com as demandas do usuário”, quando assim pensado, o acolhimento é realizado por um grupo de profissionais capacitados para compreender as necessidades dos usuários no conjunto das forças que movem o coletivo organizado destes profissionais. Nesse sentido o acolhimento realizado no grupo de terceira idade é estabelecido por uma equipe que trabalha diretamente com os idosos. Segundo RAMOS e LIMA (2003) estes explicitam que: ...a postura do trabalhador de colocar-se no lugar do usuário para sentir quais suas necessidades e, na medida do possível atendê-las ou direcioná-las para o ponto do sistema que seja capaz de responder àquelas demandas. (RAMOS e LIMA, 2003 p.24)
Esta Capacidade de se colocar no lugar do outro, revela um profissional sensível, que possui a habilidade necessária de acolher de forma solidária, de forma humana a dor ou a dificuldade do usuário em resolver determinado conflito ou problema em sua vida. Este acolhimento quando assim realizado pelo profissional, revela também, a forma como estrategicamente o profissional articula a rede de serviços, fazendo com que, o acolhimento da demanda, se efetive em um contexto maior, sendo ele profissional o mediador. O efetivo acolhimento do usuário no grupo de terceira idade, oferece ao idoso um espaço de pertencimento social, repetimos no lugar onde o mesmo reside, no contexto comunitário que o mesmo está situado, quando o idoso se vincula a um grupo operativo, poderíamos pensar na idéia dele não necessitar mais buscar nos asilos, a única alternativa de vida. Trabalhar com grupos requer do Assistente Social, uma certa habilidade em saber conduzir os diferentes atores neste processo. Sabemos que no grupo se estabelecem correlações de forças que deverão ser avaliadas, controladas, mediadas, fortalecidas para o bom desempenho deste espaço operativo. O profissional Assistente Social deverá, ter o cuidado de não potencializar demais a figura do próprio técnico social, pois assim ocorrendo, 112
poderemos incorrer no risco de estabelecermos um vinculo de dependência do usuários em relação ao técnico.
10.2 O Trabalho Efetivo com Grupos de terceira Idade: A seguir acompanharemos alguns passos importantes de como implantarmos um grupo de terceira idade nos espaços comunitário e posterior, falaremos sobre o processo de trabalho do Assistente Social com grupos na terceira idade, vejamos:
O Processo de Trabalho na Implantação de Grupo de Terceira Idade: 1º O Técnico Social deverá ter claro que a temática escolhida, é algo que lhe mobiliza;
Observações: A temática terceira idade deverá mobilizar o técnico social, pois do contrário a energia despendida no processo, não será motivadora para o fim desejado. Muitas vezes, temos que realmente mostrar que a proposta é relevante no contexto comunitário ou institucional,para que as pessoas se sintam mobilizadas, e esta energia incial partirá do profissional que se propõe colocarse a frente do empreendimento. Se esta energia positiva despendida do profissional não existir, os idosos e demais membros não assumirão o compromisso com o técnico e com o grupo;
2º O segundo passo para a È importante fazer uma pesquisa de implantação do Grupo de Terceira Idade é campo, abordando os idosos do contexto saber se a temática proposta é do interesse comunitário e ou do espaço institucional, da comunidade. sobre a proposta do trabalho com grupo de terceira idade, verificando qual seria o grau de aderência dos mesmos no trabalho proposto; 3º É importante que o técnico social procure respaldar sua ação de implantação do grupo de terceira idade, junto a alguma pessoa que já possua uma referencia com os idosos, como por exemplo: Quando o grupo for implantado em uma instituição asilar, procurar um profissional que tenha de certa forma uma intimidade com os idosos. Por exemplo; um enfermeiro que cuida dos idosos e estabeleceu um vinculo forte com os mesmos, um ajudante, uma auxiliar de cuidados, em fim alguém que respalde conosco o convite. No contexto comunitário poderá ser uma liderança comunitária, um agente comunitário, entre outros.
Este convite compartilhado possui como intencionalidade buscar em alguém um status de confiança, no sentido de o técnico social ser apresentado para os idosos. Esta pessoa irá oferecer mais confiabilidade ao convite proposto pelo técnico social e seu convite formalizado. É diferente alguém aderir a um trabalho quando a pessoa que convida é apresentada por outro alguém de confiança. Quando alguém que conhecemos nos formula um convite, o fato de eu saber quem é a pessoa, já representa um primeiro passo do sucesso da idéia, o sujeito que convida é alguém sério.
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4º Não desista no primeiro momento, pois nuclear um grupo requer muita paciência e obstinação. Por isso, o técnico social deve estar muito implicado com o processo e com a temática para não desanimar e desistir;
Ter paciência e força de vontade são habilidades importantes no processo de constituição de um grupo, pois a implantação em si depende de muitos fatores como, divulgação, amadurecimento da idéia, poder se colocar em frente de um grupo, lidar com as diferenças, e querer fazer parte de um um espaço coletivo;
5º O grupo poderá iniciar com um membro. Sabemos que um membro não representa número suficiente para a implantação de um grupo, mas não desanime, pois todo o processo coletivo inicia-se com duas pessoas, ou seja: Você técnico e o usuário que aderiu ao chamado;
É importante repetirmos que, implantar um grupo requer muita paciência, pois poderemos ter o primeiro encontro com apenas um membro, no segundo encontro somente a mesma pessoa, e no terceiro a mesma coisa, mas no quarto encontro poderá surgir o terceiro membro, pois as semanas transcorridas durante o processo de implantação poderá favorecer melhor o processo de socialização do convite, agora formulado por uma segunda pessoa, que é o componente do grupo e membro da instituição ou do contexto comunitário.
A implantação de um grupo de terceira idade não é uma atividade muito fácil, requer vontade, obstinação, seriedade, implicação com a temática “ terceira Idade”, e muita paciência. Necessitamos investir na divulgação, sejam estas através de documento escrito, falado ou até de rádio e televisão. Quanto maior a abrangência da comunicação mais fácil a aderência dos interessados. Sabemos que os processos comunitários dependendo dos espaços que são utilizados são precários e que requer muita obstinação por parte do profissional em prosseguir com o projeto. A rede de serviços locais representa uma via de comunicação de grande amplitude de comunicação que poderá ser utilizada, assim como os conselhos locais. Vejamos agora no quadro abaixo, como iremos desenvolver nosso processo de trabalho já com o grupo de pessoas que aderiram ao nosso convite:
O Processo de Trabalho do Serviço Social na Implantação de Grupo de Terceira Idade: 1º O grupo foi formado por pessoas que não se conhecem, mas possuem algo em comum, serem idosos, e ou gostarem desta temática, como é o caso do profissional Assistente Social;
Observações:
Esta condição, nivela os membros em estarem buscando objetivos comuns para o funcionamento do grupo e utilização deste espaço coletivo;
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2º É necessário para o técnico social, oportunizar momentos de as pessoas poderem se conhecer, quebrando este sentimento de estranhamento de uns para com os outros, bem como do técnico para com os idosos do grupo; Aqui as dinâmicas são bem importantes como técnicas de mobilização e descontração, no sentido de conseguirmos “quebrar o gelo”;
Estabelecer processos de reconhecimento é muito importante para se estabelecer o inicio da confiança mutua, é neste momento, neste encontro de identidades que buscaremos reconhecer o que nos une uns aos outros...;
3º O processo de construção da identidade do grupo é algo que será construído de forma lenta e gradual, é necessário primeiro que todos se sintam partes integrantes daquele espaço de convivência, para isso, o técnico social terá que ter a habilidade de perceber qual os interesses do grupo, sentimentos comuns, desejos, sonhos, significados, vão sendo ditos e vividos no e pelo grupo. Estes elementos quando percebidos e pensados poderão unir as pessoas em torno de um mesmo espaço, de um mesmo projeto de vida construído coletivamente..
Durante os encontros, o técnico social irá promover atividades específicas que favoreçam os componentes do grupo a irem dando pistas sobre o que mais lhes convém. importante que o profissional fique atento as falas, aos sentimentos, que vão aparecendo ao longo dos encontros e das abordagens realizadas pelo técnico, principalmente as falas onde aparece o “não dito” aquilo que fica nas entrelinhas...
4º Outro elemento de extrema importância que o Assistente Social deverá ficar atento, é a descoberta dos lideres naturais, eles poderão ser positivos ou lideres negativos. Estes membros que possuem este potencial deverão ser estimulados a desenvolverem um papel importante no grupo, de forma positiva como futuros lideres. Os lideres negativos deverão ser monitorados para que os mesmos não deixem o grupo se arrastar para um caminho que iniba os processos criativos, para o extermínio, por vezes movidos por sentimentos de antipatias, desconfianças, intrigas, fofocas, entre outros;
Valorizar os lideres naturais decorre de uma estratégia significativa para o profissional social, pois estes sujeitos poderão ocupar o papel que ora o Assistente Social ocupa. Com toda a certeza, este espaço de liderança do Assistente Social no grupo representa um mecanismo de efetiva organização daquilo que o grupo precisa no seu processo de nucleação e desenvolvimento, mas na medida que o grupo cresce, o Assistente Social vai desaparecendo estrategicamente para que alguém do grupo vá assumindo seu papel como líder ou figura representativa. O profissional Assistente Social, deverá ter o cuidado de observar os lideres naturais negativos e trabalhar estes sujeitos no sentido de mudarem suas formas de se colocarem no grupo, sempre no sentido de trabalhar de forma a somarem no coletivo social. As dificuldades inerentes que vão surgindo no processo de nucleação do grupo deverão ser trabalhadas no coletivo social para que elas sejam diluídas. O grupo deverá ser sempre o espaço de resolução de conflitos.
5º É relevante que o profissional Assistente Social promova sempre encontros entre grupos. Por exemplo, o grupo da comunidade “A” com o grupo da comunidade “B”. estes encontros possuem por finalidade estabelecer comparações de funcionamento e
Entendemos que as diferenças existem como forma de aproximação ou repulsa daquilo que nos agrada ou não. Se positivas, as diferenças promoverão no grupo uma forma possível para agregar novos elementos observados no grupo “A” em
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conquistas, é como se um olhasse para o relação ao grupo “B”. outro no formato de espelho, para que hajam comparações positivas. Estas comparações poderão prover um novo estímulo para que cada grupo queira organizar seu grupo de diferentes maneiras, ou de formas iguais a partir do novo. 6º O grupo está maduro o suficiente para poder caminhar sozinho. É o momento do grupo começar a caminhar sozinho, sem a liderança ostensiva do Assistente Social. O profissional estrategicamente vai permitindo que os componentes do grupo e os lideres naturais positivos, possam estar traçando novas possibilidades de ação e tomadas de decisões. O Assistente Social procurará não interferir tanto nas decisões tomadas pelo grupo, permitindo que o grupo se torne autosuficiente nos encaminhamentos.
Este é um momento difícil para o profissional Assistente Social, é o momento de deixar o grupo caminhar sozinho, é a possibilidade de ter a certeza que seu processo de nucleação deu certo, é o momento de observar seu produto final, ou seja, é ver a autonomia do grupo funcionando, é saber que o grupo tornou-se um espaço de democracia, de constituição participativa, é mais um recurso implantado tanto no âmbito da instituição como no contesto comunitário;
7º Chegou o momento de dizer a deus aos componentes do grupo, é o processo de tomada de decisão, principalmente se o grupo foi nucleado por um acadêmico de serviço social. Neste momento todos no grupo poderão ficar desestabilizados e dizerem: Que será de nós agora sem você? Não conseguiremos dar um passo sem a tua presença!... entre outras falas. É o momento da saudade antecipada.
Todo o processo de trabalho quando realizado com seriedade, competência éticopolítica deverá passar por este momento. Mas temos a certeza, que este sentimento é natural em todo processo de desvinculação de laços fortes estabelecidos a partir da confiança mutua. O tempo será o grande remédio para colocar a saudade no seu devido lugar e o grupo retomar sua energia novamente, com a presença do ou dos lideres naturais constituídos no grupo. O que estabelece as amarras nos componentes são os objetivos comuns construídos, os sentimentos de pertença e amizade, os vínculos pela afinidade que os movem, e principalmente o caráter político que o grupo possui e representa.
8ª Após o efeito “bomba” da notícia, o grupo legitimamente constituído, toma fôlego e prossegue sua caminhada. Elabora o “luto” do companheiro que se desvincula, e segue adiante enfrentando os desafios naturais de qualquer espaço democrático e legítimo.
Este é o momento de avaliar o trabalho realizado pelo profissional Assistente Social, é o momento de rever todo o processo e avaliar se realmente seus objetivos foram alcançados. O melhor parâmetro a ser utilizado nesta análise diz respeito aos princípios estabelecidos no seu código de ética do serviço Social, será que eles foram rigorosamente pensados, materializados e garantidos através do processo de trabalho do Assistente Social? Fica aqui a pergunta, e a procura de respostas.
È importante pensarmos em criar ações que realmente possam estabelecer uma organização social no atendimento à população idosa, distinguimos o quanto o processo de trabalho do Assistente Social ele é importante nesse sentido. Convergindo com tal reflexão, entendemos que o 116
trabalho com grupos de terceira idade alcançam objetivos sempre presentes nos programas e projetos sociais direcionados para este segmento social nos espaços que esses idosos ocupam. O processo de trabalho desenvolvido pelo Assistente Social, possui uma matéria-prima a ser trabalhada, que se configura nas expressões da questão social, e que, através do trabalho executado pelo Assistente Social, através da ferramenta grupo para a terceira idade, resultará em um produto, este produto definimos como sendo ter acesso a condições sociais que garantam ao idoso espaços reflexivos sobre a garantia de direitos e de cidadania.
Referencia Comentada: Práticas do Serviço Social Espaços Tradicionais e Emergentes Organizador: Jaqueline Oliveira Silva Dacasa Editora – 1988 Caro leitor, este livro revela uma intensa prática dos Assistentes Sociais em diversos espaços coletivos, visualizando demandas tradicionais e as emergentes de nossa época. Referencias: PAPALIA, D. E. & OALDS S. W. Desenvolvimento Humano. Porto Alegre: Artmed, 2000. FALEIROS, Vicente de Paula. Serviço Social: Questões para o Futuro. Revista Serviço Social e Sociedade, São Paulo, Cortez, n.50, 1996. IAMAMOTO, Marilda Vilela. O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2005. RAMOS , D. D.; LIMA, M. A. D. S. Acesso e acolhimento aos usuários em uma unidade de saúde de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Caderno Saúde Pública, Rio de Janeiro, 19 (1): pp.27 – 34, 2003. SCHMIDT, M. D.; LIMA, M. A. D. S. Acolhimento e Vínculo em um Programa de Saúde da Família. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20 (6): pp. 1487 – 1494, 2004.
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TÜRCK, Maria da Graça Maurer Gomes. Serviço Social Jurídico: Perícia Social no Contexto da Infância e da Juventude. Campinas: Livro Pleno, 2000. VASCONCELOS, Eduardo Mourão. Serviço Social e Interdisciplinaridade: o exemplo da saúde mental. In: ______. Saúde Mental e Serviço Social. O desafio da subjetividade e a interdisciplinaridade. São Paulo: Cortez, 2000. Autoestudo: ( ) A criatividade somente ocorrerá quando o Assistente Social bem como o Gerontólogo Social conseguirem interferir na realidade a partir da sua abertura para o reconhecimento da necessidade de termos uma formação pautada na pluralidade teórica, na valorização da cultura local, no acolhimento da forma simples de como se constitui a vida das pessoas, no que elas desejam e sonham; ( ) O exercício profissional do Assistente Social nas instituições, o mesmo não somente depende do seu arsenal de conhecimentos, habilidades e atitudes que o mobiliza frente as expressões da questão social, mas sim que sua prática está diretamente vinculada as condições e os meios de trabalho que as instituições oferecem, dando a ele profissional, aquilo de que necessita para obter um produto final a partir de seu processo de trabalho; ( ) O Serviço Social é uma profissão que possui uma dimensão política, e esta dimensão está presente no seu exercício profissional através da garantia de direitos; ( ) O reconhecimento por parte do Assistente Social dos limites de sua ação profissional nos espaços operativos, é de suma importância para a implementação de ações de inclusão social e ao próprio desempenho do processo de trabalho do Serviço Social; ( ) Sabemos que a ação interventiva do Assistente Social se materializa no cotidiano da vida social através da sua condição de trabalhador livre ou profissional liberal; ( ) Por outra, sabemos que são poucos os Assistentes Sociais que ocupam a condição de trabalhadores assalariados dependendo assim, das instituições para que os contratem; ( ) O Assistente Social por meio da análise institucional, consegue estabelecer o reconhecimento dos atores institucionais e suas atuações,
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definindo os atores que poderão ser reconhecidos como parceiros em um trabalho coletivamente viável;
Respostas: v.v.v.v.v.f.v
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