ESTUDOS DA LITERATURA ANGLÓFONA
1ª Edição - 2007
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SUMÁRIO
O CONTO E O ROMANCE ________________________________________ 7 O CONTO __________________________________________________________ 7 A TRADIÇÃO ORAL E A LITERATURA ANGLO-SAXÔNICA ____________________________
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PERÍODO MEDIEVAL E CONTOS ARTURIANOS ____________________________________12 CHAUCER E O DESENVOLVIMENTO DOS CONTOS _________________________________15 O CONTO MODERNO
_______________________________________________________18
ATIVIDADE COMPLEMENTAR _________________________________________________30
O ROMANCE _______________________________________________________31 O NASCIMENTO DO ROMANCE
_______________________________________________31
A TEORIA DOS ARQUÉTIPOS DE NORTHROP FRYE _________________________________36 DESENVOLVIMENTO DO ROMANCE INGLÊS O ROMANCE NORTE AMERICANO
_____________________________________38
_____________________________________________45
ATIVIDADE COMPLEMENTAR _________________________________________________51
A POESIA E O TEATRO __________________________________________53 A POESIA __________________________________________________________ 53 A POESIA INGLESA: DE SHAKESPEARE AO ROMANTISMO ___________________________53 A POESIA NORTE AMERICANA
________________________________________________67
A POESIA BEAT ____________________________________________________________74 TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS
_____________________________________________76
ATIVIDADE COMPLEMENTAR _________________________________________________77
SUMÁRIO
O TEATRO _________________________________________________________79 SHAKESPEARE _____________________________________________________________79 OSCAR WILDE & BERNARD SHAW _____________________________________________86 O TEATRO NORTE AMERICANO O TEATRO DO ABSURDO
_______________________________________________92
____________________________________________________94
ATIVIDADE COMPLEMENTAR _________________________________________________99
GLOSSÁRIO ____________________________________________________________ 101 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _________________________________________ 102 REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS ____________________________________________ 105 REFERÊNCIAS FILMOGRÁFICAS __________________________________________ 106
Apresentação da Disciplina
Prezados alunos, Bem vindos à nossa nova etapa, desta feita, o estudo das literaturas de expressão inglesa! A nossa disciplina, Literatura em Língua Inglesa, irá tratar de um assunto novo para muitos de vocês, que é produção literária dos países anglófonos. A língua inglesa é, atualmente, a língua materna ou oficial em aproximadamente sessenta países, distribuídos por todos os continentes do nosso planeta. Entretanto, nossos estudos estarão focalizados principalmente em textos de autores provenientes do Reino Unido da Grã Bretanha e Estados Unidos da América, pelo fato de se tratarem de bibliografia mais facilmente encontrada em nosso país. Iniciaremos o módulo abordando o conto como forma literária, desde os seus primórdios até as tendências da contemporaneidade. Em seguida, ainda no mesmo bloco temático, trataremos do romance como forma literária moderna, suas características, e seu desenvolvimento. No segundo bloco temático estudaremos a poesia inglesa e norte americana, bem como as vertentes literárias que influenciaram as diversas gerações de poetas anglófonos. E, last but not least , o teatro será o nosso último tema, cuja abordagem tratará das características do teatro de Shakespeare até o Teatro do Absurdo. Parafraseando Drummond que dizia que amar se aprende amando, chamo atenção para o fato que literatura se aprende lendo. Portanto, apesar de reconhecermos as dificuldades existentes na obtenção do material de leitura, é imprescindível que o aluno, na medida do possível, procure seguir as nossas recomendações de bibliografia e filmografia ao final de cada tema. Agora, mãos à obra! Profa. Mestre Sonia Maria Davico Simon
O CONTO E O ROMANCE O CONTO A TRADIÇÃO ORAL E A LITERATURA ANGLOSAXÔNICA Podemos imaginar, desde os tempos mais remotos, seres humanos reunidos ao fim do dia para uma refeição comunal ao redor do fogo, compartilhando as experiências vivenciadas nas atividades diárias em expedições de caça, coleta de alimentos, encontros fortuitos com outros grupos de humanos e animais selvagens. Essas experiências, narradas ao redor da fogueira e ouvidas pelos demais membros do grupo, deram origem às primeiras narrativas. Esses relatos, modificados através dos tempos nas sucessivas repetições e transmissões orais, passaram a incorporar explicações sobre elementos e fenômenos da natureza até então desconhecidos pelos homens tais como a origem do mundo, dos astros, fenômenos da natureza, animais, plantas, a morte, etc. Através da obser vação a humanidade imaginou histórias para explicar não somente a origem das coisas como também a sua utilização, o que pode ser apreciado nos relatos que sobreviveram às sociedades primitivas, agrárias. Essas narrativas se configuraram como míticas ou mitológicas e podem ser identificadas nos relatos bíblicos do Velho Testamento, como, por exemplo, o Livro do Gênesis. Outras histórias, como a Odisséia, também se configuram como relatos míticos e narram a história de um povo, ou civilização. Tais relatos constituem-se de longos poemas que contam, geralmente, as aventuras de um personagem principal, um herói, representante das aspirações de uma nação ou etnia, que, em superando obstáculos, consegue galgar uma posição de líder na comunidade representando assim os valores de uma nação. Pensadas deste modo, estas narrativas trazem contribuições profícuas para o entendimento da identidade nacional (leia-se cultural) de um povo. Ressalvamos que há áreas da ciência, mais positivistas, que divergem sobre a viabilidade de recorrer à literatura como fonte para entender a história. Entretanto, podemos questionar até que ponto o olhar pretensamente distanciado do historiador atinge a objetividade desejada, escapando à subjetividade inerente a qualquer ponto de vista. Devemos pensar, ainda, que tipo de registro poderia ser mais elucidativo sobre a Guerra de Tróia do que a Ilíada , ou, ainda, quem poderia trazer maiores revelações sobre a visão de mundo da Alta Idade Média da Inglaterra, além de Chaucer em The Canterbury Tales, ou poderíamos Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental
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do mesmo modo imaginar melhor quadro de Dublin do que aquele pintado nos traços marcantes de James Joyce, em seus contos reunidos em Dubliners .
PARA LEMBRAR Não devemos esquecer que apesar de todos os textos que serão aqui estudados nos levarem a conhecer um pouco sobre a literatura anglófona e sua cultura (pois literatura é cultura), há diversos textos outros que se perderam entre as conquistas territoriais e culturais e ainda muitos deles foram alterados pela cultura colonizadora. Não podemos desconsiderar, ainda, que, enquanto detentora do direito de preservar os textos antigos, a Igreja muitas vezes domesticou suas traduções e ou adaptações. Todos os fatores supracitados, no entanto, não subtraem dos textos que serão aqui apresentados o seu caráter representativo de uma cultura tão presente em nossa própria cultura brasileira, traduzida como foi por tantos autores e intelectuais no Brasil. Que esta “tradução”, em seu sentido mais amplo, seja uma justificativa convidativa para esta jornada no mundo anglófono.
Beowulf Denominados de épicos, os primeiros relatos anglófonos guardaram narrativas de seus antepassados históricos: os Celtas, Anglo-Saxões, e demais povos estabelecidos na região que hoje chamamos de Grã Bretanha nos primeiros séculos, e suas respectivas culturas, antes mesmo que a língua inglesa se constituísse como tal. Estes épicos foram escritos sob a forma Beowulf e Grendel de poemas que, embora longos, continham elementos que facilitavam a sua memorização, a fim de que pudessem ser repetidos e lembrados através dos tempos. Dos poemas épicos em língua anglo-saxônica, ou Old English (Inglês Arcaico), destacamos Beowulf , manuscrito datado possi velmente do século XII e que se encontra no Museu Britânico. Existente em diversas versões em inglês contemporâneo, os acontecimentos e os personagens de Beowulf são comuns às sagas dos países escandinavos, como, por exemplo, a Dinamarca, o que aponta para a influência cultural e lingüística daquele povo na constituição do país que hoje chamamos de Grã Bretanha. Beowulf é um poema épico, pré-cristão, provavelmente datado do período das invasões Anglo-Saxônicas, embora o manuscrito seja de um período posterior. É uma história anônima, possivelmente composta por um único autor entre os séculos VII e VIII, e, não obstante o narrador se reportar a uma cultura pagã e com valores pagãos, a noção de heroísmo aponta para um ponto de vista cristão, na qual os valores morais e religiosos parecem estar embutidos. Os críticos literários chamam atenção para o fato de que as lutas realizadas por Beowulf prefiguram o antagonismo cristão entre o bem e o mal, e simbolizam a cultura situada ainda na fronteira entre a estabilidade de uma sociedade agrária e a instabilidade e o nomadismo do herói guerreiro.
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CURIOSIDADE Os indícios de interferências textuais de origem cristã no poema Beowulf podem ser explicados devido ao fato de a literalidade ter sido privilégio dos monges, responsáveis pela maior parte da transcrição de documentos e textos literários na época. Um dado que corrobora com esta interferência é o fato de ao monstro Grendel ser atribuída a descendência da raça de Caim, personagem bíblico cuja história é marcada pela vilania e traição.
O documento com a transcrição do poema Beowulf existente no Museu Britânico data do século XII, embora haja suspeitas que a sua composição remonte a trezentos ou até mesmo quatrocentos anos antes. A história acontece durante o reino de Hrothgar da Dinamarca, cenário constantemente ameaçado por monstros de diversas origens e que são mortos em batalhas heroicamente vencidas por Beowulf . Entretanto, ao final do relato, o herói é atacado por um dragão que lhe fere mortalmente; Beowulf , então, recebe exéquias1 pagãs e o épico tem o seu final. A saga é escrita em Old English (inglês arcaico, contendo influências decorrentes das inumeráveis invasões dos povos anglo-saxões). Trecho de Beowulf : We have learned of Eormanric’s wolfish disposition; he held a wide dominion in the realm of the Goths. That was a cruel king. Many a man sat bound in sorrows, anticipating woe, often wishing that his kingdom were overcome. Beowulf e os demais poemas épicos datados do período Anglo-Saxão eram recitados por um scop: bardo itinerante que se deslocava pelos reinos – às vezes a serviço de um único monarca – relatando fatos, acontecimentos e histórias.
Widsith e Outros Textos O poema Widsith , por exemplo, um dos mais antigos manuscritos do período, narra as viagens de um scop chamada Widsith (que significa “far journey”) por diversos reinos do mundo germânico. O épico, possivelmente autobiográfico, encontra-se no Book of Exeter , coleção que abriga outros textos, doado à Catedral de Exeter. Outros textos do período chamado Old English Literature são The Battle of Maldon (escrito cerca do ano 1000), poema que trata da luta entre um nobre senhor de Essex e uma invasão viking, e inúmeras transcrições de histórias bíblicas como 1 Exéquias são cerimônias fúnebres.
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MS Cotton Vitellius , que faz Judith, Gênesis, Exodus, Daniel, reunidos em quatro manuscritos: manuscritos: MS parte do acervo do Museu Britânico; The Junius Manuscript que Manuscript que se encontra na biblioteca Bodleian Exeter r que em Oxford; The Book of Exete que está na Catedral de Exeter; e o Vercelli Book que se encontra na biblioteca da Catedral de Vercelli, Vercelli, sul da Itália.
Epopéia SAIBA MAIS Salientamos que embora os textos mencionados tenham sido escritos esc ritos em versos, estes se inserem na categoria categ oria contos por serem narrativas épicas. Tal Tal inserção justifica-se por consistir a epopéia em uma narrativa de feitos grandiosos, o que a aproxima da prosa.
Não devemos esquecer que o gênero romance é um desdobramento da epopéia. Em A Em A teoria do romance , Georg Lukács2 , situa a epopéia em um período anterior à modernidade, mais especificamente, na cultura helênica, período propício para o desenvolvimento deste tipo de narrativa, por ser marcado pelo sentimento de familiaridade entre o sujeito e o mundo, sendo este caracterizado pela homogeneidade, a unidade. Com a modernidade, ou seja, com o começo do Novo Mundo, no entanto, há uma quebra desta unidade e, assim, o homem se sente desenraizado e ao sentimento de pertença diante do mundo sobrepõe-se uma sensação de desamparo, uma forte desorientação. Assim, enquanto o Helenismo é “um mundo homogêneo, e tampouco a separação entre homem e mundo, entre eu e tu é capaz de perturbar sua homogeneidade.” (p. 29), na era moderna predomina o que Lukács chama de “desabrigo transcendental”.
PARA LEMBRAR Trouxemos à baila as considerações feitas sobre a epopéia e o roman Trouxemos Beowulf neste ce não só para justificar a inserção de textos como Beowulf neste módulo sobre contos, mas, sobretudo, para mostrar que a literatura expressa questões de cunho histórico e de identidade não apenas através do conteúdo das histórias narradas, mas até mesmo em sua forma. for ma. Afinal, como postula Lukács, a forma da epopéia seria apenas possível em uma era fechada, em que predominava a unidade tão marcadamente representada nas longas estrofes de histórias de bravos heróis.
Crônica anglo-saxã Esta obra é considerada a primeira produção escrita dos germânicos e, por ser composta anglo-saxã é constituída por por relatos, é definida por alguns autores como um jornal. A Crônica anglo-saxã é anotações em inglês arcaico e inglês médio sobre importantes acontecimentos do período do 2 LUKÁCS, Georg. “Culturas Fechadas”. Fechadas”. In: id. A Teoria do Romance. São Paulo: Duas Cidades, 2000, p. 25-36. 10
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século IX a 1154, listados conforme a data em que ocorreram, como o trecho destacado ilustra: A.D.. 752. This year, the twelfth of his reign, Cuthred, king of A.D the West-Saxons, West-Saxons, fought at Burford (27) with Ethelbald, king of the Mercians, and put him to fl ight. A.D. 753. This year Cuthred, king of the West-Saxons, A.D. West-Saxons, fought against the Welsh.
Crônica e cronicões SAIBA MAIS Na acepção moderna, o termo “crônica” se refere a um texto que relata um acontecimento prosaico que é narrado com um olhar subjetivo – o que já lhe tiraria a objetividade que é pretensamente buscada pela reportagem – ora revelando o seu autor como um contador de histórias, ora estimulando nele algo de poético pelo tratamento incomum que atribui às histórias. Em virtude de uma definição imprecisa do que seja a crônica, este tipo de texto, geralmente escrito para jornais ou revistas, é considerado “híbrido”, conforme Massaud Moisés, podendo ser tanto narrado em forma de alegoria, quanto de resenha, confissão, monólogo, entre outras. Notamos que a definição de crônica supracitada não se aplica à Crônica anglo saxã, já que esta consiste em relatos breves de acontecimentos do período em que foi escrita. Esta obra se insere, na verdade, nos textos qualificados por Massaud Moisés como “cronicões”, termo que, em português e espanhol é utilizado para se referir a “simples e impessoais notações de efemérides”3, em contraste às crônicas, propriamente ditas, que são “obras que narravam os acontecimentos com abundância de pormenores e algo de exegese, ou situavam-se numa perspectiva individual da história”4 . Em inglês, entretanto, não há diferença de termos entre crônica e cronicões, reunidas sob uma única palavra, chronicle . Ainda no tocante ao termo utilizado para se referir às crônicas, salientamos que, na acepção moderna, em inglês, estas podem ser chamadas commentary, literary column, sketch, light essay, human interest story, stor y, town gossip, entre outros.
Livro do Juízo Final Na linhagem de textos documentais, é válido mencionarmos uma outra obra, o Livro do Ju- ízo Final , cuja história está atrelada à conquista de território inglês e consolidação do Feudalismo pelo normando, nor mando, William I (ou Guilherme), o Conquistador. Este livro foi escrito para inventariar as terras que seriam doadas em lotes a senhores que ajudariam William a manter o controle e consolidar a conquista do território. 3 MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulo: Paulo: Cultrix, 1999, p. p. 132. 4 Op. cit., p. 13 132. 2.
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O que é literatura? PARA REFLETIR A qualificação de textos como o Livro do Juízo Final e Crônica anglo- saxã como saxã como literatura leva-nos a ponderar sobre o que pode ser considerado texto literário e não literário, uma vez que o conceito de literatura, no senso comum, sempre esteve atrelado à noção de ficção.
Conforme Antoine Compagnon, o termo literatura começou a ser utilizado, tal como o utilizamos na contemporaneidade, a partir do século XIX. Antes deste período, esta palavra designava “as inscrições, a escritura, a erudição, ou o conhecimento das letras”5, designação que contempla os textos supracitados, Livro do Juízo Final e Crônica anglo-saxã, justificando a sua inserção, naquela época, entre textos literários.
PERÍODO MEDIEVAL E CONTOS ARTURIANOS
Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda
No que pese os primeiros registros da literatura inglesa se encontrarem sob a forma de poemas épicos, a prosa estava presente notadamente nas transcrições das histórias bíblicas e hagiografias, que consistem em biografias e histórias de feitos de um indivíduo que seja considerado santo, abade, mártir, pregador, rei, bispo, virgem, entre outros. O conto como for ma literária vai se estabelecer definitivamente no período chamado de Middle English (Inglês Médio), após a conquista Normanda, em 1066. A partir da conquista da Inglaterra em 1066 por William I, O Conquistador, a língua falada pelas camadas privilegiadas da sociedade e da corte inglesa era o normando, francês padrão da época. Os nobres normandos que faziam parte da corte na Inglaterra, não raro, possuíam vastas extensões de terra do outro lado do canal da Mancha, o que propiciava uma influência francesa bastante acentuada pelo constante trânsito entre ambas as localidades. No século XII, durante o reinado de Henrique II, têm-se notícias da chegada de trovadores vindos do continente, prova velmente trazidos por sua esposa, Eleanor de Aquitânia. 5 COMPAGNON COMPAGNON,, Antoine. A literatura. In: _____. O demônio da teoria: literatura e senso comum. Tradução Cleonice Paes Barreto Mourão. Belo Horizonte: UFMG, 1999, p. 30.
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CURIOSIDADE A temática explorada pelos trovadores abrangia histórias do imaginário celta, pagão, tais como as lendas do Rei Artur e as aventuras dos seus fiéis escudeiros, também conhecidos como cavaleiros da Távola Redonda. Muitas das lendas e personagens são oriundos da tradição oral celta como Mordred, Merlin, Guinevere, Tristão, Gawain, e Lear (posteriormente caracterizado como protagonista na tragédia de Shakespeare, Rei Lear). Esses personagens já haviam sido mencionados no relato do escritor inglês George de Monmouth, numa tentativa de escrever a história da Inglaterra.
Tornadas populares, essas histórias inauguraram um novo modelo de narrativa, cuja ênfase foi deslocada dos feitos heróicos até então abordados, para novos ideais de sentimento e comportamento, denominado de amor cortês.
O Amor Cortês O “amor cortês” ou fin amors marcou um período na idade média que destacou a mulher numa civilização predominantemente masculina. A época medieval se caracterizou pela instabilidade política causada pelas constantes lutas e guerras travadas entre os senhores de pequenos reinos semi-independentes e que deviam obediência a um rei que lhes era superior. Por outro lado, as Cruzadas exigiam a adesão desses pequenos senhores de terra que, como prova de fé, abandona vam suas propriedades e famílias para lutar a serviço do cristianismo em terras longínquas. Com o afastamento dos senhores, os pequenos feudos passaram a ser governados por suas esposas, alçando a mulher a um novo status, a de governante, senhora de terras. Ao mesmo tempo, a propagação do culto à Virgem Maria, promovida pela Igreja Católica, elevou a mulher a uma posição privilegiada, associada à imagem O Amor Cortês da Virgem Mãe. Anteriormente situada numa situação de submissão, a dama medieval adquiriu poderes de governante, liderando a corte que privilegiou uma nova forma artística. O período do fin amors se distinguiu pelo surgimento de uma nova forma literária, o tro vadorismo; entretenimento palaciano que consistia na diversão da corte por trovadores, ou bardos, que, acompanhados por um instrumento musical, relatavam as aventuras de cavaleiros que compunham o acervo de histórias da tradição oral celta. Essas histórias se encontravam sob a forma de versos e entretinham as damas e suas cortes nos longos períodos em que os senhores estavam guerreando. Os trovadores enalteciam a figura feminina representada pela protagonista da história e cantavam o amor entre os sexos como um sentimento elevado.
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PARA LEMBRAR Na idade média, o casamento se resumia a uma associação por interesses políticos e/ou pecuniários, em que os sentimentos afetivos não eram levados em consideração. O adultério, se não fora prática comum, também não era de todo extraordinário. É nesse contexto que florescem o amor cortês e os romances de cavalaria. Trovadores
Os “romances” de cavalaria tinham como tema aventuras de cavaleiros que se dispunham a enfrentar toda a sorte de obstáculos a fim de conquistar o coração de uma dama, sem, contudo, se abster da preservação de valores éticos e morais e lealdade ao seu rei ou senhor.
CURIOSIDADE Por se tratarem de histórias oriundas da tradição pagã, era costumeiro que o amor carnal fizesse parte dos antigos enredos, entretanto, devido à influência do cristianismo, no período medieval o resquício de paganismo foi atenuado e deu lugar ao que convencionamos chamar de amor platônico, ou o amor que não se realiza fisicamente.
O fato de as damas dos feudos serem cortejadas pelos trovadores também influiu para o apagamento do traço pagão do erotismo, uma vez que o amor cortês se tratava de um sentimento envolvendo pessoas de classes sociais distintas. As senhoras dos feudos eram casadas e encontravam-se em uma posição socialmente superior à dos amados, os poetas, que, colocando-se na condição de vassalos, contentavam-se como servos de sua dama, a serviço do amor, o amor impossível. Essas histórias, ainda transmitidas sob a forma de versos pelos trovadores ou ministreis foram, posteriormente, transcritas e se tornaram populares sob a forma de uma coletânea que se convencionou chamar de “Histórias do Ciclo Arturiano” por terem como protagonistas os cavaleiros do rei Arthur. Histórias como “Excalibur” ou “A Busca do Santo Graal” fazem parte desta coleção que conta ainda com personagens conhecidos como Lancelot, Sir Gawain, a Rainha Guenevere, o Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda, entre outros. Esses relatos transformaram a noção de amor na literatura ocidental e tornaram-se matrizes para outras tantas lendas de amor impossível, como, por exemplo, Tristão e Isolda, fonte de inspiração para a ópera do mesmo nome composta por Richard Wagner à época do romantismo.
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CHAUCER E O DESENVOLVIMENTO DOS CONTOS
The Canterbury Tales
Chaucer É no período chamado de Middle English que vai despontar um dos maiores escritores da língua inglesa, Geoffrey Chaucer. Neste período, a Inglaterra encontrava-se ainda sob a influencia da língua francesa, ou melhor, o normando, francês padrão que predominou na Inglaterra durante aproximadamente os dois séculos de ocupação normanda. De fato, o francês tornou-se o idioma da corte e das classes abastadas da Inglaterra, enquanto que o latim se estabeleceu como a língua oficial para escritos documentais e religiosos, promovendo grandes mudanças lingüísticas no inglês moderno. Chaucer se destacou como um artesão da palavra, e aproveitou seus conhecimentos lingüísticos, especialmente o francês, além do italiano e do latim para enriquecer o léxico inglês através do acréscimo de novos vocábulos oriundos dos idiomas que tinha domínio. Sua contribuição estende-se ainda à inserção de uma perspectiva individual, a do contador de histórias, a partir da qual é possível depreender uma filosofia de vida, embutida nas narrativas. PARA LEMBRAR Em virtude da presença da perspectiva individual, dos contos reunidos em The Canterbury Tales depreendem-se não só imagens que representam a Alta Idade Média, mas, sobretudo, uma visão de mundo. As personagens, através das histórias que contam, revelam o modo de pensar e a cultura da época. A perspectiva individual, o forte traço histórico e a linguagem coloquial configuram The Canterbury Tales como uma literatura que se aproxima muito da literatura moderna. “Contos de Cantuária”, ou The Canterbury Tales (1386), é, possivelmente, a mais conhecida obra de Geoffrey Chaucer. Reunidos sob a forma de contos (não obstante a sua estrutura em versos, com cerca de 1 700 linhas), esses relatos elaborados artisticamente preservam o tom da tradição oral. As narrativas revolvem em torno de um grupo de peregrinos que, agrupados em Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental
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uma estalagem chamada de Tabard Inn , se dirige à cidade de Cantuária, próxima ao santuário de S. Thomas Beckett. Os relatos apresentados pelas diversas categorias profissionais da época, tais como marinheiro, comerciante, abadessa, frade, entre outros, se constituem em uma crônica social cuja tônica é a ironia. Os Contos de Cantuária conservam o recurso das estórias de moldura, ou seja, todas as histórias encontram-se unidas pelo fato de serem contadas por um narrador para uma platéia, simulando uma situação semelhante à da tradição oral. Por este motivo, estas histórias em versos primorosos foram qualificadas como contos.
Mother Goose Também portador da característica da oralidade, embora datado de um período posterior (XVII-XVIII), é o “Livro da Mamãe Ganso”, ou Mother Goose . Trata-se de um clássico da literatura infantil em países de língua inglesa, notadamente Inglaterra e Estados Unidos. O livro constitui-se em uma coletânea de histórias transcritas da oralidade, muitas das quais fazem parte do livro Histoire ou Contes du Temps Passé escritas na França por Charles Perrault no século XVII e que se tornaram populares até a época atual. O Livro da Mamãe Ganso inclui cantigas e quadrinhas infantis conhecidas como nursery rhymes .
O Narrador Até então, os contos se atinham a narrativas de determinados fatos do cotidiano e a transmissão de valores ou de experiências vividas, ou ainda, das fábulas contidas nos denominados contos maravilhosos, de forma a se aproximar das narrativas da oralidade. Walter Benjamin, em “O Narrador: Considerações sobre a obra de Nicolai Leskov”6 , enfatiza a importância da troca de experiências nas narrativas de tradição oral, nas quais a palavra do narrador aglutinava e transmitia valores sociais e morais aos ouvintes. No tocante à transmissão de conhecimento, Benjamin identifica duas categorias de narradores, a saber, o “marinheiro comerciante”, configuração do narrador “como alguém que vem de longe”7 , detendo, portanto, um saber especial, e o “camponês sedentário”, que possui um saber adquirido ao longo do tempo, tendo, desse modo, um vasto conhecimento das histórias de seu povo. Ao narrar a experiência – sua ou alheia – a figura do narrador se confundia com o próprio discurso. A riqueza em sabedoria manifestada nessas narrativas foi se esboroando ao longo do tempo, em especial a partir da guerra mundial, quando o indivíduo passou a se distanciar de valores coletivos, e começou a buscar respostas particulares, isoladas. De um plano de saber coletivo, transmitido pelo contador de histórias tradicional, surgiu, então, a figura do narrador moderno, que perdeu a capacidade de transmitir um saber coletivo, redimensionando esse plano para uma perspectiva cada vez mais individual, a ponto de submergir em um psicologismo, característico em autores como Edgar Poe, considerado como inaugurador do conto moderno. Na pós-modernidade, conforme Silviano Santiago, em “O narrador pós-moderno”, surge uma outra categoria de narrador, que dá título ao seu texto. Na categoria 6 BENJAMIN, Walter. O Narrador:Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In Arte Política. Ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1987. 7 Op. cit., p. 198.
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de narrador pós-moderno, o narrador é “aquele que quer extrair a si da ação narrada, em atitude semelhante à de um repórter ou de um espectador”8. Esquivando-se da história narrada e configurando-se como um “ficcionista puro”, uma vez que trabalha no sentido de tornar verossímil uma história que não é sua, mas de outrem. Silviano Santiago ressalva, no entanto, que nenhuma escrita é inocente e, assim, na tentativa de distanciar-se da história narrada, não raro o narrador, ao fazer falar o outro, fala sobre si indiretamente.
Saiba mais! Após estas breves considerações sobre o narrador tradicional, moderno e pós-moderno, é válido fazer algumas observações sobre o sentido da palavra “conto” e o sentido que este gênero textual assume. O conto, vocábulo advindo do verbo contar , tem suas raízes no latim, computare ; entretanto, o seu significado não implica, para nós, em apenas relatar ou contar outra vez algo alg o que já aconteceu. O conto é, sobretudo, sob retudo, um ato de criação, invenção; não tem compromisso com a veracidade já que é uma representação. representação. Como forma narrativa, nar rativa, o conto tem como característica a condensação de tempo, espaço e conflito, bem como o número reduzido de personagens, e pode ser, segundo Cortázar, o relato de um acontecimento verdadeiro ou falso, ou ainda uma fábula que se conta con ta às crianças. De fato, o conto é uma forma de narrativa que envolve um acontecimento de interesse humano: sobre nós, para nós, em relação a nós (GOTLIEB, p.11). Podemos afirmar que a construção dessas narrativas acontece de diversas maneiras, e que a sempre presente “voz” do contador de histórias não se perdeu quando da sua transposição da oralidade para a escrita, cuja “voz” passou a se apresentar no modo de contar a história e/ou nos detalhes da história, ou ainda, em ambos. Entretanto, não queremos dizer com isto que todo contador de histórias seja necessariamente um contista, mas que as elaborações de gestual e de voz, anteriormente utilizados pelo contador de histórias da tradição oral, foram substituídas, com o advento da escrita, para o objeto estético, o próprio texto. Os recursos criativos utilizados pelo autor resultam em um estilo próprio de nar rar, de enunciar detalhes, bem como criam a figura do narrador narrad or que é, também, um artifício poderoso podero so nos contos. CURIOSIDADE A mudança do conto ao longo dos séculos deveu-se principalmente à técnica com relação à maneira de narrar, embora a sua estrutura tenha sido mantida. No modelo tradicional, o conflito se desenvolve numa seqüência até o desfecho, enquanto que na narrativa moderna o modelo é fragmentado (GOTLIB (GOTLIB,2004, ,2004, p.29). Dentre os autores modernos que se destacaram pela utilização de recursos que simulam uma situação de oralidade, o ralidade, citamos o inglês, Rudyard Kipling, em The Elephant’s Child . A tradição oral encontra-se manifesta no conto (vide site recomendado) através da escolha do tema - neste conto de Kipling, a temática diz respeito ao folclore da Índia - transmite uma moral, e a narrati8 SANTIAGO SANTIAGO,, Silviano. O narrador pós-moderno. In: ______. Nas malhas da letra. Rio de Janeiro: Rocco, Rocco, 2002, p. 45.
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va segue o modelo tradicional em que os acontecimentos ocorrem ocor rem numa seqüência, com início (apresentação), meio (conflito) e fim (desfecho). Apesar da presente apreciação por autores e leitores de contos que seguem o modelo tradicional de narrativa, é notória a transformação transfor mação desta forma literária, ao longo long o do tempo, de um relato fundamentalmente moralizante para uma narrativa elaborada, cujo enredo contempla o psicológico ou o fantástico.
O CONTO MODERNO
A Teoria Teoria do Conto A idade contemporânea problematiza o conto como gênero literário e divide os críticos entre aqueles que admitem admitem ee os que não admitem uma admitem uma teoria do conto. Vários estudiosos têm se dedicado a definir, estabelecer regras, reg ras, e esclarecer as múltiplas tendências dos contos. Citamos, Citamos, a título de ilustração, algumas afirmativas de alguns autores a esse respeito9 :
- o escritor brasileiro Mário de Andrade dizia que sempre será conto aquilo que seu autor batizou com o nome de conto;
- Machado de Assis expressou a dificuldade em se estabelecer a definição do conto quando, em 1873, disse: É disse: É gênero difícil, a despeito de sua aparente apar ente facilidade... e creio que essa mesma aparência lhe faz mal, afastando-se dele os escritores e não lhe dando, penso eu, o público toda a atenção de que ele é muitas vezes credor ; se não tivermos uma idéia viva do que é o conto, teremos perdido tempo, - Julio Cortazar afirma que se porque um conto, em última análise, se move nesse plano do homem onde a vida e a expressão escrita dessa vida travam uma batalha fraternal, se me for permitido per mitido o termo; e o resultado dessa batalha é o próprio conto, uma sín- tese viva ao mesmo tempo que uma vida sintetizada, algo assim como um tremor de água dentro de um cristal, uma fugacidade numa permanência. Só com imagens se pode transmitir essa alquimia secreta secr eta que explica a profunda ressonância que um grande conto tem em nós, e que explica também por que há tão poucos contos verdadeiramente grandes.
O Decálogo do Perfeito Contista Em 1927, o autor uruguaio Horácio Quiroga escreveu o Decálogo do perfeito contista, numa tentativa de estabelecer normas, ou “mandamentos”, para a escrita do conto. São eles: I. Crê num mestre _ Poe, Maupassant, Kipling, Tchekov _ como na própria divindade. II. Crê que tua arte é um cume inacessível. Não sonhes dominá-la. Quando puderes fazê-lo, conseguirás sem que tu mesmo o saibas. III. Resiste quanto possível à imitação, mas imita se o impulso for muito forte. Mais do que qualquer 9 Apud GOTLIEB, GOTLIEB, Nádia B. Teoria do Conto. Conto. Série Princípios. São Paulo: Paulo: Ática, 2004. p. p. 9 e 10.
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coisa, o desenvolvimento da personalidade é uma longa paciência. IV.. Nutre uma fé cega não na tua capacidade para o triunfo, mas no ardor com que o desejas. Ama tua IV arte como amas tua amada, dando-lhe todo o coração. escr ever sem saber, desde a primeira palavra, aonde vais. Num conto bem-feito, as três V.. Não começa a escrever V primeiras linhas têm quase a mesma importância das três últimas. últimas. VI. Se queres expressar com exatidão essa circunstância _ “Desde o rio soprava um vento frio”_ não há na língua dos homens mais palavras do que estas para expressa-la. expr essa-la. Uma vez senhor de tuas palavras, não te preocupes em avaliar se são consoantes ou dissonantes. Não adjetives sem necessidade, necessidade, pois serão inúteis as rendas coloridas que venhas pendurar num subs- VII. Não VII. tantivo débil. Se dizes o que é preciso, pr eciso, o substantivo, sozinho, terá uma cor incomparável. Mas é preciso acha-lo. VIII. Toma teus personagens pela mão e leva-os firmemente até o final, sem atentar senão para o caminho que traçaste. Não te distraias vendo o que eles não podem ver ou o que não lhes importa. Não abuses do leitor. Um conto é uma novela depurada de purada de excessos. Considera isso uma verdade absoluta, ainda que não o seja. Não escrevas sob o império da emoção. Deixa-a morrer, depois de pois a revive. r evive. Se és capaz de revivê-la tal IX. Não IX. como a viveste, chegaste, na arte, ar te, à metade do caminho. Ao escrever, escr ever, não penses em teus amigos, nem na impressão impr essão que tua história causará. Conta, como se X. Ao X. teu relato não tivesse ti vesse interesse senão para o pequeno mundo de teus personagens e como se tu fosses um deles, pois somente assim obtém-se a vida num conto. A maior parte dos ensaios que têm como objetivo objetivo a definição do conto se fundamentam na noção de brevidade desta forma narrativa. Todavia o conto parece resistir às restrições impostas pelas categorizações. O conto é uma narrativa ficcional, de reduzidos reduz idos limites em relação ao romance e à novela, umas vezes de teor anedótico (Maupassant), outras vezes de teor espectral (Poe), ora intimista e nutrido n utrido de silêncios (Tchekhov), ora de narração objetiva e perversa (Faulkner), e não raro de conteúdo impressionista à maneira de Proust, ou com a aura poemática de Katharine Mansfield. Pode ter meia página ou 30 mil palavras, como em Henr y James. James. 10
A Questão da Brevidade A afirmação de Hélio Pólvora incide sobre sob re a questão da brevidade que insiste em caracterizar os contos. Entretanto, é sabido que este não é o único critério para a classificação de uma narrativa literária com conto. Henry James (1843-916) escreveu contos longos, acima de vinte mil palavras e que ele próprio chamava de the beautiful and best nouvelle . Sabemos da existência de contos de 50 páginas como, por exemplo, As Neves de Kilimanjaro do autor americano Ernest Hemingway ou de apenas um parágrafo, como o da escritora indiana Suniti Namjoshi: Case History by Suniti Namjoshi 11 After the event Little R. traumatized. Wolf not slain. Forester is wolf. How else was he there exactly on time? Explains this to mother. Mother not happy. Thinks that the forester is extremely nice. Grandmother dead. 10 PÓLVORA, Hélio. Hélio. Itinerários do Conto.Interfaces críticas e teóricas da mode rna short story.Il stor y.Ilhéus: héus: Editus, 2002. p. 15,16. 11 NAMJOSHI, Suniti(1944 - ). In Feminist Fables, 1981. Escritora indiana, é professora do Depto. De Inglês na Universidade de Toronto.
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Wolf not dead. Wolf marries mother. R. not happy. R. is a kid. Mother thinks wolf is extremely nice. Please to see shrink. Shrink will make it clear that wolves on the whole are extremely nice. R. gets it straight. Okay to be wolf. Mama is a wolf. She is a wolf. Shrink is a wolf. Mama and shrink, and forester also, extremely uptight. 12 O autor chama a atenção para o fato de que mais importante que a extensão será o insight, aquele mergulho existencial. 13 A história acima é uma releitura, irônica, do tradicional conto “Chapeuzinho Vermelho”, em que a personagem principal, Chapeuzinho Vermelho, é, também, a narradora que questiona o comportamento da mãe. A narrativa é breve, fragmentada, cifrada, e deixa que o leitor manifeste um julgamento moral através do diálogo estabelecido entre o texto novo e a história tradicional, de conhecimento prévio do leitor.
O Leitor Segundo Harold Bloom14 , os contos favorecem uma postura ativa do leitor, que é levado a trazer as respostas e explicações que o autor evita; they compel the reader to be active and to discern explanations that the writer avoids 15 . Diferentemente dos romances, o leitor participa nos contos, inferindo sobre o que não está explicito, valendo-se, para tanto, das pistas oferecidas pelos escritores. A maior parte dos contistas evita um julgamento moral deixando que os leitores decidam sobre a sua relevância ou não. CURIOSIDADE Uma vez perguntaram ao escritor americano, Edgar Allan Poe “como se ler um conto?” e ele respondeu: “em uma sentada...” Poderíamos interpretar a resposta, como mais uma reiteração da obrigatoriedade da brevidade do conto. Entretanto, o que Poe se referia era a capacidade da obra literária em “seqüestrar” o leitor de forma a não querer parar de ler a história até o seu desfecho, em uma só “sentada”. A qualidade do conto está diretamente relacionada à sua capacidade de provocar no leitor um arrebatamento que não o faça abandonar a leitura até chegar ao seu final. Pressupõe-se, portanto, uma relação entre a tensão e a extensão do conto, uma vez que, o autor necessita não cansar o leitor com uma leitura longa e, ao mesmo tempo, mantê-lo interessado no texto. É, portanto, no efeito (singular) que o conto causa ao leitor que Poe vai estabelecer a diferença entre romance e conto, afirmando que no conto breve, o autor é capaz de realizar a plenitude de sua intenção, seja ela qual for. Durante a hora da leitura atenta, a alma do leitor está sob o controle do escritor. Não há nenhuma influência externa ou extrínseca que resulte de cansaço ou interrupção 16 . De acordo com Poe, o conto é o resultado de um trabalho consciente do autor, e do seu controle sobre o material que pretende narrar, ten12 NAMJOSHI, Suniti. Case History - Three Feminist Fables. In Wayward Girls & Wicked Women.CARTER, Angela, editor. New York: Penguin Books, 1986. p. 85 13 PÓLVORA, Hélio.Op.cit. loc. cit. 14 BLOOM, Harold. How to read and why. New York: Touchstone, 2000.p.31. 15 SIMON, Sonia. Tradução livre. “eles (os contos) compelem o leitor a se tornar ativo e buscar explicações evitadas pelos escritores.” BLOOM, Harold. Op.cit. Loc. cit. 16 POE, Edgar A. Apud GOTLIEB, Nádia B. Op. Cit. p. 34.
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do sido concebido desde o início com o intuito de causar um efeito singular. Segundo Nádia Gotlib, trata-se de conseguir, com o mínimo de meios, o máximo de efeitos 17 .
Edgar Allan Poe Edgar Allan Poe (1809-1849) é considerado um mestre desta forma narrativa e escreveu contos portadores de um forte conteúdo simbólico. Sua obra influenciou escritores do século XX, na Europa e nos Estados Unidos, que iniciaram o movimento conhecido como modernismo. Os contos de Poe possibilitam uma investigação psicológica dos seus personagens. A psicologia e o simbolismo são traços que renderam a Poe o título de “pai do conto moderno”. Seus contos narram histórias de horror, morte, vingança, ruína, em cenários variados; as histórias dizem respeito a conflitos psicológicos e os seus personagens geralmente se encontram em estágios mentais limítrofes da loucura.
Saiba mais! Edgar Allan Poe é considerado o pioneiro das histórias de detetive e de terror, seus contos remetem o leitor a uma atmosfera de terror e medo e tornaram-se referências neste tipo literatura.
Tomemos como exemplo o início do conto The Black Cat datado de 1843, em que o narrador diz: FOR the most wild, yet most homely narrative which I am about to pen, I neither expect nor solicit belief. Mad indeed would I be to expect it, in a case where my very senses reject their own evidence. Yet, mad am I not --and very surely do I not dream. But to-morrow I die, and to-day I would unburthen my soul. (…) In their consequences, these events have terrified --have tortured --have destroyed me. Yet I will not attempt to expound them. To me, they have presented little but Horror --to many they will seem less terrible than baroques. The black cat
Desde o primeiro parágrafo, o leitor é introduzido em uma atmosfera de morte: to-morrow I die... e loucura: Mad indeed would I be to expect it… Os temas de morte e loucura, recorrentes nos contos e poemas de Edgar Allan Poe, fizeram parte também de sua vida pessoal, marcada por perdas familiares e abuso de substâncias tóxicas como o álcool e que resultaram no seu trágico desaparecimento precoce.
17 GOTLIB, Nádia Batella. Teoria do Conto. Série Princípios. São Paulo: Ática, 2004, p. 35
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PARA REFLETIR A presença deste traço biográfico na obra de Poe reverbera para a discussão sempre presente nos estudos literários sobre a pertinência de estudar a biografia do autor para entender a sua obra. De um lado temos o historicismo, que realiza um estudo do pano de fundo da obra (contexto histórico e biografia do autor), de outro lado, temos os estudos de base estruturalista, que defendem uma outra leitura, privilegiando a análise do texto em sua imanência, ou seja, em sua estrutura, desconsiderando qualquer coisa que não seja a linguagem. Antoine Compagnon postula a conjugação destas duas vertentes, pois, conforme este “demônio da teoria”, ainda uma vez, trata-se de sair desta falsa alternativa: o texto ou o autor. Por conseguinte, nenhum método exclusivo é suficiente 18 . Poe foi o pioneiro na escrita de histórias de crime em que o detetive utiliza o raciocínio para a elucidação dos assassinatos, diferentemente das histórias tradicionais em que os investigadores se limitam a seguir as pistas deixadas pelos criminosos sem, contudo, se deter, por exemplo, na análise dos dados e do estudo da patologia do criminoso. Este procedimento cria um envolvimento lúdico com o leitor que “participa” na decifração de códigos que levarão à descoberta do autor do crime. Em “Os assassinatos da Rua Morgue”, conto inaugural deste gênero narrativo, o personagem principal é um detetive, Monsieur Dupin , cuja perspicácia na investigação dos crimes o consagrou na tradição posteriormente seguida por outros escritores de língua inglesa como, Arthur Conan Doyle, criador de Sherlock Holmes, e Agatha Christie, criadora do Monsieur Poirot e Miss Marple. Edgar A. Poe dividiu seus contos em duas categorias: Arabesque e Grotesque. Denominou Arabesque a narrativa predominantemente em prosa, em que o estado psicológico dos personagens encontra-se no limite da sanidade, ou em situação física e/ou mental de agonia a ponto de estarem sempre prontas a se entregarem à morte de forma prazerosa. A categoria descrita como Grotesque se refere à prosa que remete a um poema. A morte está sempre presente na obra de Poe e as heroínas de seus contos e poesias são mulheres que já faleceram ou que encontram a morte durante a narrativa.
The Raven
Poe também se destacou como poeta e ensaísta; o seu poema The Raven (O Corvo) e o ensaio The Philosophy of Composition são obras referenciais em suas respectivas áreas. Em The Philoso- phy of Composition , Poe retoma algumas observações sobre o conto e defende o seu ponto de vista acerca da totalidade de efeito ou unidade de impressão que se consegue ao ler o texto de uma só vez 19 . 18 COMPAGNON, Antoine. O Autor. In: ______. O demônio da teoria: literatura e senso comum. Tradução Cleonice Paes Barreto Mourão. Belo Horizonte: UFMG, 1999, p. 96. 19 GOTLIB, N. Op. Cit. p. 35. 22
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Saiba mais! Para Poe, o processo de criação literária é consciente e intencional. Ele trabalha com o intuito de causar um efeito no leitor, e todas as suas escolhas são feitas com o objetivo de conseguir esse efeito. Nesse sentido ele não compartilha da crença na inspiração, mas defende que o escritor parte de uma proposta de construção de um conto, baseado em um acontecimento que cause este efeito, predeterminado e singular, sobre o leitor. Cortazar resume o conceito de conto em Poe dizendo que um conto é uma verdadeira máquina literária de criar interesse e amplia esta noção identificando o acontecimento como fundamental para despertar e manter o interesse do leitor.
Flâmeur
As contribuições de Poe estendem-se, ainda, à configuração do flâneur , que influenciou autores como Baudelaire. Segundo Walter Benjamin, o flâneur é o sujeito que se entrega à multidão dos grandes centros urbanos, contemplando a transitoriedade da vida na cidade. Um conto exemplar que traz a figura do flâneur e ilustra este elogio às multidões é O homem da multidão. Este conto traz a história de uma personagem, o narrador, que, encontrando-se no Café D., observa a multidão. Atendo-se, inicialmente à visão da grande massa indistinta que caracteriza o cenário observado, o narrador, progressivamente, é levado a particularizar os grupos de transeuntes que passam em sua frente. Cada grupo, contudo, não escapa à massificação imposta pelos grandes centros e logo a personagem passa a qualificar os transeuntes em tipos, quais sejam, “the tribe of clerks” (“a casta dos empregados”), “the upper clerks of staunch firms” (“a dos empregados de maior categoria de antigas firmas sólidas”), “the race of swell pick-pockets” (“ a raça dos batedores de carteiras fantasiados de peraltas”), entre outros. As pessoas eram, assim, qualificadas conforme o seu tipo, como ilustra o trecho abaixo sobre a caracterização dos jogadores (gamblers): The gamblers, of whom I described not a few, were still more easily recognizable. They wore every variety of dress, from that of the desperate thimble-rig bully, with velvet waistcoat, fancy neckerchief, gilt chains, and filigreed buttons, to that of the scrupulously inornate clergyman than which nothing could be less liable to suspicion. Still all were distinguished by a certain sodden swarthiness of complexion, a filmy dimness of eye, and pallor and com- pression of lip. There were two other traits, moreover, by which I could always detect them; -- a guarded lowness Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental
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of tone in conversation, and a more than ordinary extension of the thumb in a direction at right angles with the fingers. -- Very often, in company with these sharpers, I observed an order of men somewhat different in habits, but still birds of a kindred feather. They may be defined as the gentlemen who live by their wits. They seem to prey upon the public in two battalions -- that of the dandies and that of the military men. Of the first grade the leading features are long locks and smiles; of the second frogged coats and frowns 20 . Divertindo-se ao reconhecer cada tipo que por ele transita, repentinamente, o seu olhar passa para um plano mais individual. É o momento em que narrador se depara com um sujeito que escapa a qualquer classificação. Este homem é um decrepit old man, some sixty-five or seventy years of age (“um velho decrépito, de uns sessenta e cinco ou setenta anos de idade21 ”). Em meio àquela multidão, a aparência estranha daquele homem lhe chama a atenção a ponto de sair em meio a multidão perseguindo-o. Nesta trajetória, tem a impressão de estar acompanhando em vão aquele velho que, concluindo ser “o tipo e o gênio do crime profundo”, desiste de persegui-lo, pois como já traduzira um certo livro alemão, citado no começo da história, talvez ele seja um caso que não deve ser lido.
Para refletir É interessante ponderarmos que apesar de haver uma ênfase sobre o caráter fantástico das Histórias extraordinárias de Poe, elas não deixam de registrar marcas do contexto histórico e social no qual o escritor viveu. A configuração de um cenário tal como o descrito no conto, a caracterização das personagens e a apresentação de tipos sociais da cidade moderna oferecem uma visão em nada superficial do que seria a sociedade da época. Além de Poe, a literatura anglófona conta com uma gama de escritores que se destacaram na escolha do conto como forma literária: Henry James, James Joyce, D.H. Lawrence, Ernest Hemingway, Eudora Welty, Flannery O’Connor, Virginia Woolf, Katherine Mansfield, William Faulkner, Scott Fitzgerald, e muitos outros. Enquanto Poe considerava fundamental o efeito causado pelo conto, outros estudiosos o definem como a representação de um momento especial ou de crise. Discute-se, porém, se o momento especial seria o da leitura, o do acontecimento, ou ainda aquele vivido pelo narrador. Ainda há críticos que consideram que o conto representa justamente a falta de crise. De acordo com Gotlib, o importante é que o conto representa, de forma especial, algo que faz parte da vida.
James Joyce & Epifania Dentre os autores que se distinguiram por retratarem “momentos especiais” James Joyce ocupa um lugar de destaque pela sua concepção de epifania. 20 POE, Edgar Allan. The man of the crowd. Disponível: http://etext.virginia.edu/etcbin/toccer-new2?id=PoeCrow.sgm&images=images/ modeng&data=/texts/english/modeng/parsed&tag=public&part=1&division=div1. Acesso: 31 jan. 07 21 POE, Edgar Allan. O homem da multidão. In: ______. Ficção completa, poesia e ensaios. Tradução de Oscar Mendes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986, p. 38-45.
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James Joyce (1882-1941) foi um escritor irlandês, mais notoriamente conhecido pelos seus romances Ulysses e Finnegan’s Wake , marcados por uma estratégia narrativa chamada fluxo de consciência ou monólogo interior, que consiste na narração de uma história marcada por raras ações e constantes reflexões e rememorações. Uma outra narrativa bastante significativa, mas que escapa um pouco à proposta dos romances supracitados, é a sua coletânea de contos, The Dubliners (Os Dublinenses), escrita em 1914. Em Contos Dublinenses , que protagoniza a cidade de Dublin, as narrativas se iniciam com uma descrição minuciosa dos locais onde se passa a história, como na seguinte passagem: North Richmond Street, being blind, was a quiet street except at the hour when the Christian Brothers’ School set the boys free. An uninhabited house of two stores stood at the blind end, detached from its neighbours in a square ground. The other houses of the street, conscious of decent lives within them, gazed at one another with brown imperturbable faces. É composto um retrato da cidade de Dublin, do seu povo e clima, a partir da visão e experiência do autor. As histórias são perpassadas por um olhar sobre a infância, a adolescência, a maturidade e a vida pública. Todavia, não obstante ser um cronista de sua própria cidade, a mais importante característica de Joyce reside na utilização do recurso da epifania em seus contos e romances. Conforme concebida por Joyce, a epifania é identificada como uma espécie ou grau de apreensão do objeto que poderia ser identificada com o objetivo do conto, enquanto uma forma de representação da realidade 22 . A palavra vem do grego epipháneia, significando manifestação ou aparecimento. A Igreja Católica utiliza o vocábulo epifania no sentido de revelação, quando da passagem da primeira manifestação de Jesus Cristo ao gentios, durante a visita dos Reis Magos: Em geral, uma súbita ma- nifestação ou percepção da natureza essencial ou significado de alguma coisa. (Webster, 1971, p. 279). Segundo o próprio Joyce, “por epifania, referia-se a uma súbita manifestação espiritual, seja na vulgaridade do discurso ou do gesto, seja numa fase memorável do próprio espírito” 23. De acordo com Hélio Pólvora, o conto Araby (vide indicação de leitura e site), contém o instante mais epifânico da coletânea The Dubliners . O enredo focaliza a paixão adolescente em que o objeto da afeição, uma moça, não pode ir a um bazar que se chama Araby e o apaixonado, um rapaz, lhe promete ir e trazer-lhe um presente. Neste momento, ocorre a epifania: She held one of the spikes, bowing her head towards me. The light from the lamp opposite our door caught the white curve of her neck, lit up her hair that rested there and, falling, lit up the hand upon the railing. It fell over one side of her dress and caught the white border of a petticoat, just visible as she stood at ease. O instante em que ocorre a epifania é o momento de revelação – objetivo do conto. Em Araby a revelação é o momento em que o adolescente percebe o objeto da sua paixão, uma mulher, tornando-se, por sua vez, um homem. É o instante fugaz da sua transformação em adulto, modificando irreversivelmente a sua condição como ser humano. A epifania é um momento 22 GOTLIB, N. Op. Cit. p. 51. 23 JOYCE, James, apud PÓLVORA, Hélio. Op. cit. p.68.
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especial pela significação que traz. Joyce “desvela” algo através da linguagem: um instante que revela o objeto ao sujeito. ...o trivial em Joyce, quando tem de fato alguma significação, se ilumina, passa a emitir luz própria; de repente, uma frase ou um trecho de prosa entra a arder como se fosse um facho 24 . Isto equivale a dizer que a linguagem, em Joyce, consegue transformar o prosaico em uma transfiguração da realidade, inaugurando uma das matrizes da prosa moderna. Na idade moderna, outros autores de língua inglesa se destacaram como contistas, notadamente Katharine Mansfield (Nova Zelândia), Angela Carter, Margaret Atwood (Canadá), Virginia Woolf entre tantos outros.
Virginia Woolf Virginia Woolf valeu-se proficuamente da estratégia narrativa de fluxo de consciência em seus contos. Neles a ação apresenta-se apenas como uma espécie de pano de fundo de reflexões e memórias que preenchem os seus contos, marcados pela ausência de uma seqüência temporal, ou seja, da linearidade e apresentados como se realmente seguissem o fluxo do pensamento de suas personagens. Além disso, é válido destacar o nível de poeticidade de sua narrativa que, aliada à ausência de ação, já referida, qualificam-na como uma prosa poética.
Para refletir Em virtude do caráter estático de sua narrativa, a literatura de Virginia Woolf pode, por vezes, ser considerada alheia à realidade. No entanto, em uma leitura mais arguta de sua obra, notamos um olhar que escapa ao realismo, mas que apresenta uma capacidade de penetrar no indizível, no mistério do ser humano, e captar uma visão do real que jamais seria possível através de uma narrativa que se pretendesse mais “fidedigna” à realidade. O processo empreendido por esta autora é, conforme termo utilizado por Victor Chklo vski , em “A arte como procedimento”, o de desautomatizar a percepção, que é assim tornada automática em virtude do ritmo acelerado da vida que faz com que cada ação passe despercebida. A arte como procedimento é, então, claramente evidenciada em Kew Gardens , conto no qual o narrador, minuciosa e poeticamente narra um dia de julho em Kew Gardens . O narrador faz incursões minimalistas na paisagem, depreendendo cores, ruídos, sensações, que consistem no verdadeiro tema do conto, como ilustra o primeiro parágrafo do conto. From the oval–shaped flower–bed there rose perhaps a hundred stalks spreading into heart–shaped or ton- gue–shaped leaves half way up and unfurling at the tip red or blue or yellow petals marked with spots of colour raised upon the surface; and from the red, blue or yellow gloom of the throat emerged a straight bar, rough with 25
24 PÓLVORA, Hélio. Op. cit.p.63. 25 CHKLOVSKI, Victor. “A arte como procedimento”. Tradução Ana Maria Ribeiro Filipouski et al. In: TOLEDO, Dionísio (org). Teoria da Literatura: Formalistas russos. 2ª reimpressão da 1.ed. Porto Alegre: Globo, 1973, p. 39-56.
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gold dust and slightly clubbed at the end. The petals were voluminous enough to be stirred by the summer breeze, and when they moved, the red, blue and yellow lights passed one over the other, staining an inch of the brown earth beneath with a spot of the most intricate colour. The light fell either upon the smooth, grey back of a pebble, or, the shell of a snail with its brown, circular veins, or falling into a raindrop, it expanded with such intensity of red, blue and yellow the thin walls of water that one expected them to burst and disappear. Instead, the drop was left in a second silver grey once more, and the light now settled upon the flesh of a leaf, revealing the branching thread of fibre beneath the surface, and again it moved on and spread its illumination in the vast green spaces beneath the dome of the heart–shaped and tongue–shaped leaves. Then the breeze stirred rather more briskly overhead and the colour was flashed into the air above, into the eyes of the men and women who walk in Kew Gardens in July. A ação cede o seu lugar para o desenho de um quadro em que transitam pessoas, conforme a seguinte passagem: soon diminished in size among the trees and looked half transparent as the sunlight and shade swam over their backs in large trembling irregular patches 26 . A tradução desta passagem para o português é: logo diminuíam de tamanho entre as árvores, dando a impressão de serem semitransparentes à medida que a luz e sombras boiavam nas suas costas em manchas trêmulas, grandes e irregulares 27 . Ao transubstanciar a passagem de um grupo de pessoas em uma imagem semitransparente e subjetivar a paisagem, o narrador redimensiona o olhar do seu leitor de uma visão meramente superficial da realidade para um olhar sensível às sutilezas do mundo e capaz de desacelerar o processo de banalização da vida. Devemos ressaltar que, inserida em um contexto entre a era vitoriana e o início da era moderna na Inglaterra, a produção ficcional de Virginia Woolf não raro traz à baila as contradições de uma época marcada pelo conservadorismo e a predominância de ditames patriarcais, assim como pela euforia trazida pelo processo de modernização. O seu projeto estético, neste sentido, é também ético, pois ela problematiza, através da escolha por uma composição mais poética e livre da linearidade, a predominância de um padrão que rime com opressão.
Virginia Woolf e Katherine Mansfield Uma outra contista muito significativa nas letras inglesas, é a neozelandesa Katherine Mansfield. As narrativas desta autora, ao lado das de Virginia Woolf, figuram como inquietantes críticas ao moralismo de herança vitoriana e à posição social da mulher, o que leva a sua escrita a ser qualificada por vezes como feminista. São apontadas, ainda, outras aproximações entre Mansfield e Woolf no que tange ao projeto literário. Na literatura destas autoras, verifica-se, por exemplo, uma ênfase sobre as reflexões, em detrimento da ação. Mas, no que concerne à configuração das personagens, podem ser identificados alguns distanciamentos, já que as personagens de Mansfield são construídas com um traço de humor e ironia, enquanto as de Woolf carregam uma certa 26 WOOLF, Virginia. Kew Gardens. In: ______. A haunted house. Disponível: http://etext.library.adelaide.edu.au/w/woolf/virginia/w91h/chap6.html. Acesso: 31 jan. 2007. 27 WOOLF, Virginia. Kew Gardens. In: ______. Contos completos. Tradução Leonardo Fróes. 2. ed. São Paulo: Cosac Naify, 2005, p. 117.
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elegância e sutileza. Observamos, no que tange à configuração do cenário, no entanto, uma clara aproximação, basta comparar o trecho de Kew Gardens , de Virginia Woolf, acima destacado, ao de The garden party , de Katherine Mansfield. Windless, warm, the sky without a cloud. Only the blue was veiled with a haze of light gold, as it is so- metimes in early summer. The gardener had been up since dawn, mowing the lawns and sweeping them, until the grass and the dark flat rosettes where the daisy plants had been seemed to shine. As for the roses, you could not help feeling they understood that roses are the only flowers that impress people at garden-parties; the only flowers that everybody is certain of knowing. Hundreds, yes, literally hundreds, had come out in a single night; the green bushes bowed down as though they had been visited by archangels 28 . Apesar do minimalismo em Mansfield não ser tão exacerbado quanto no texto de Virginia, o jardim descrito pela narradora de Katherine Mansfield é poeticamente singularizado em seu conto, que narra, assim como em um romance de Virginia Woolf, Mrs. Dalloway, os preparativos para uma festa.
Angela Carter Iniciamos este módulo falando sobre a tradição oral nos primórdios da configuração da literatura em língua inglesa. É muito comum associarmos a literatura de base oral ao período anterior ao despontar da modernidade. Esta associação é justificada pelas razões já aqui mencionadas ao tratar das oposições apontadas por Walter Benjamin entre o narrador tradicional e o moderno. A despeito deste binarismo, devemos considerar que a oposição entre o oral e o escrito nem sempre se sustenta, principalmente se observarmos que muitos textos da tradição oral apenas chegaram até nossos dias porque foram escritos e, além disso, há traços da oralidade no texto escrito e vice versa. No tocante às interseções entre o oral e o escrito, é válido mencionar a autora Angela Carter que, em plena pós-modernidade, fez uma releitura de contos da tradição oral, que foram reunidos em seu livro O quarto do Barba-azul. O quarto do Barba-azul é composto por dez contos que narram em forma de pastiche histórias infantis, em sua maioria contos de fadas. Tomemos como exemplo o conto “O lobisomem”, no qual a autora faz uma releitura do conto de fadas Chapeuzinho vermelho, tornado clássico por Charles Perrault. Neste conto, o narrador começa a história configurando um cenário frio, em que predominam as superstições. Um mundo cheio de bruxas, diabos, figuras lendárias que permeiam os pensamentos de “Vidas pobres, breves, árduas ” 29 . Situando o imaginário da época, a narradora então conta a ida de uma menina que, atendendo ao pedido da mãe, vai visitar a sua avó. Vá visitar a sua vovozinha, que tem estado doente. Leve-lhe bolos de aveia que fiz no fogão de pedra e uma malguinha com manteiga 30 . [...] Não saia do caminho, por causa dos ursos, do javali, dos lobos esfaimados. Olhe, leve o facão do seu pai; você sabe usá-lo. A menina obedece, não deixando de levar o facão mencionado pela mãe. No caminho, 28 MANSFIELD, Katherine. The garden party. In: ______. The g arden party. Disponível: http://digital.library.upenn.edu/women/mansfield/garden/ party.html. Acesso: 31 jan. 07. 29 CARTER, Angela. O lobisomem. In: ______. O quarto do Barba-azul. Tradução Carlos Nougué. Rio de Janeiro: Rocco, 1999, p. 193. 30 Op. cit., p. 194.
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depara-se com um lobo e, prontamente, o fere com o facão amputando-lhe a mão. Ela enrola a mão amputada e a leva dentro da cesta à casa da avó. Lá chegando depara-se com a avó muito enferma. Abre a cesta e vê que a pata que havia guardado transformara-se em uma mão, a mão que faltava à sua avó. A menina puxou o lençol da avó e esta lutou contra a menina, que gritou tão alto a ponto de os vizinhos ouvirem e aparecerem para ajudá-la. A avó era, na verdade, a bruxa. É interessante observarmos nesta história que esta releitura é enriquecida por questões de cunho cultural identificadas quando o narrador faz a caracterização do cenário e não se exime de falar sobre as crenças da época que justificam os acontecimentos fantásticos que ocorrem na narrativa. Por este conto de Carter, notamos, portanto, que a atmosfera tosca e a vida da floresta, com todas as feras que nela vivem, são um ambiente propício para engendrar lendas e mitos que explicam aquilo que o povo, sem estas narrativas, não conseguiria explicar. Em linhas anteriores, afirmamos que no livro enfocado, Angela Carter narra em forma de pastiche. Para entender este termo pós-moderno, precisamos, na esteira de Silviano Santiago31, estabelecer a diferença entre paródia e pastiche. Segundo Santiago, a paródia consiste em uma ruptura frente ao passado, que não raro é marcada pelo escárnio e ironia, predominante na modernidade. O pastiche, por sua vez, “aceita o passado como tal, e a obra de arte nada mais é do que um suplemento ”32. Desse modo, a distinção entre estas duas instâncias se estabelece para Silviano a partir da relação que elas têm com o passado. Conforme o autor, “o pastiche endossa o passado, ao contrário da paródia, que sempre ridiculariza o passado ”33. A presença de um elemento como a ironia, conforme Silviano Santiago, poderia nos levar a considerar os contos de Angela Carter como paródia, por serem eles marcados por esse elemento. No entanto, as aproximações ao pastiche se justificam pelo fato de as narrativas de Carter não representarem uma ruptura com o passado. O que Angela Carter propõe é uma “outra” leitura, que suplemente o que já foi escrito e não que rechace a tradição. Podemos concluir considerando que o compromisso do conto é com a “história”, seu foco original. E a economia que permeia a construção do conto é que possibilita o surgimento da genialidade de grandes autores na manipulação da tensão de uma narrativa que ao seqüestrar a atenção do leitor faça-o lê-lo de uma “só sentada”.
31 SANTIAGO, Silviano. A permanência do discurso da tradição no modernismo. In: ______ . Nas malhas da letra. Rio de Janeiro: Rocco, 2002, p. 108-144. 32 Op. cit., p. 134. 33 Idem, ibidem.
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Atividade Complementar 1. Dentre os textos que lhe são conhecidos na literatura ocidental qual a narrativa que você identificaria como texto(s) fundador(es) de uma nação?
2. De acordo com o conceito de amor cortês, qual história você conhece em que se pode identificar essa noção de amor?
3. Que histórias de amor impossível você conhece? Por que o amor se torna impossível nessas histórias?
4. Que narrativa(s) você conhece que se baseia no folclore?
5. Leia o conto The Black Cat, de Edgar Allan Poe, no site abaixo recomendado e descreva a sensação produzida pelo conto.
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Sites indicados Edgar A. Poe: http://bau2.uibk.ac.at/sg/poe/works/blackcat.html James Joyce: http://www.bibliomania.com/0/0/29/63/frameset.html Rudyard Kipling: http://www.classicshorts.com/bib.html#tec
Filmes indicados Beowulf A Lenda de Grendel Um Leão no Inverno Tristão e Isolda Lancelot Os Mortos (The Dead)
O ROMANCE O NASCIMENTO DO ROMANCE
De acordo com Ian Watt (1990)34 , o surgimento do romance ocorre no século XVIII, período que marca a ascensão e consolidação da burguesia. Para empreender a análise sobre o surgimento do romance, em sua relação com o contexto histórico mencionado, Watt se debruça sobre três representativos escritores, quais sejam, Defoe, Richardson e Fielding do século. Estes escritores foram escolhidos para desenvolver a sua teoria sobre o romance porque, segundo Watt, eles forjaram uma nova configuração literária que foge aos modelos da ficção da Grécia, da Idade Média e do romance francês do século XVII, voltando-se para a experiência do indivíduo em sua solidão, privilegiando uma escrita que fosse fiel ao “real”. 34 WATT, Ian. Realism and the novel form. In: id. The rise of the novel: studies in Defoe, Richardson and Fielding. U.S.A.: Penguin Books, 1983.
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O empenho em configurar uma narrativa “real” advém da leitura que fez sobre o Discurso sobre o método e Meditações, de Descartes. Na leitura desta obra, Watt sustenta a noção de que a “busca da verdade” passou a ser uma “questão inteiramente individual”, deixando de ser uma busca da coletividade.
Defoe, Richardson & Fielding O romance se configura como uma forma literária nova, diferente das produzidas nos séculos anteriores, e que teve início na Inglaterra, no começo do século XVIII com Daniel Defoe, Samuel Richardson e Henry Fielding. Embora Richardson e Fielding considerassem suas obras como pioneiras por terem rompido com o antigo modelo ficcional, o termo “romance” só se consagrou no final do século XVIII e esses autores sequer o utilizaram para designar a nova criação literária. De fato, os autores mencionados não constituem uma “escola literária”, e suas obras apresentam diferenças que demonstram a inexistência de influências recíprocas. Entretanto, o fato de que esses três primeiros romancistas ingleses tivessem surgido na mesma geração leva-nos a crer que as condições históricas da época contribuíram para favorecer o aparecimento do romance como tal.
Realismo e o Romance Os historiadores afirmam que a diferença essencial entre as formas literárias anteriores e o romance é o “realismo”. A palavra “realismo” foi utilizada na pintura de Rembrandt como o termo oposto ao “ideal poético” da pintura neoclássica; posteriormente, o termo passou a ser utilizado na literatura. A palavra como antônima de idealismo tem origem na retratação da vida vulgar, ou seja, nas imperfeições do comportamento humano e seus deslizes por motivos econômicos ou carnais. Ian Watt considera que a superficialidade dessa consideração subestima uma questão fundamental que é o fato que o romance procura retratar todo o tipo de experiência humana 35 e não apenas os aspectos vulgares; além do mais, Watt argumenta que a maneira como a experiência humana encontra-se representada é mais relevante do que a espécie de vida apresentada. Esta posição está mais próxima dos realistas franceses, que, por sua vez, consideram que o romance, mais do que qualquer outra forma literária, fez emergir a questão da imitação e correspondência entre a vida real e literatura. Assim, o romance é o veículo literário lógico de uma cultura que, nos últimos séculos, conferiu um valor sem precedentes à originalidade, à novidade 36 .
Individualismo A busca da verdade como um questionamento individual se reflete nessa “nova” forma literária chamada romance, desafiando, portanto, a pratica tradicional que se baseava na História ou na fábula (WATT, 1990, p.15). Entretanto, se levarmos em consideração o fato que o romancista precisa imprimir fidelidade à experiência humana através de seus relatos, torna-se difícil identificar a novidade e originalidade nos romances, desafio que exigirá habilidade do escritor no manejo das convenções formais. 35 WATT, Ian. A Ascensão do Romance. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. p. 13. 36 WATT, Ian. Op. Cit. p. 15.
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Considerando que Defoe e Richardson foram os primeiros grandes escritores ingleses que não basearam seus enredos na mitologia, História ou outra fonte literária do passado, Watt estabelece as características que diferenciam as formas literárias anteriores e o romance. Daniel Defoe se distingue pela narrativa fluida, espontânea, mesclada com a memória autobiográfica. A publicação de Robinson Crusoe em 1719, seguido da continuação da história desta personagem em 1720, inaugura uma nova forma literária que engloba outras formas narrativas como o diário, e memórias autobiográficas, se constituindo como marco do nascimento do romance moderno. A história é o relato das aventuras de uma personagem de nome Robinson Crusoe, desde a sua partida da Inglaterra até o seu retorno, após passar 24 anos como náufrago numa ilha deserta.
Robinson Crusoe
Ambiente Segundo Watt, dentre os aspectos que distinguem o romance estão a caracterização do ambiente e a sua detalhada apresentação. No romance, os espaços físicos são apresentados com uma descrição pormenorizada, bem como os ambientes em que ocorrem as cenas do enredo. Veja no seguinte exemplo: There was a hill not above a mile from me, which rose up very steep and high, and which seemed to over-top some other hills, which lay as in a ridge from it northward; (…) … I found a little plain on the side of a rising hill, whose front towards this little plain was steep as a house-side, so that nothing could come down upon me from the top; on the side of this rock there was a hollow place worn a little way in like the entrance or door of a cave, but there was not really any cave or way into the rock at all 37 . A ilha em que Robinson Crusoe se refugia após o naufrágio é descrita detalhadamente em todos os aspectos físicos e geográficos, e, de fato, a personagem realiza um inventário de tudo que consegue retirar do navio naufragado para a constituição de seu novo lar. Assim também ocorre com os ambientes onde Pamela, personagem principal do romance homônimo de Richardson, 37 DEFOE, Daniel. The Life and Adventures of Robinson Crusoe. London: Penguin Books, 1983. p. 71 & 77.
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circula.
Personagens Outro aspecto ressaltado por Watt é o fato de que, no gênero romance, as personagens são particularizadas, ou seja, são construídas de forma a se constituírem como indivíduos com identidade própria, portando nome e sobrenome: Os nomes próprios têm exatamente a mesma função na vida social: são expressão verbal da identidade particular de cada indivíduo 38 . I was born in the year 1632, in the city of York, of a good family, tho’ not of that country, my father being a foreigner of Bremen, who settled first at Hull. He got a good state by merchandise, and leaving off his trade lived afterward at York, from whence he had married my married my mother, whose relations were named Robinson, a very good family in that country, and from whom I was called Robinson Kreutznaer; but by the usual corruption of words in England, we are now called, nay, we call ourselves and write our name, Crusoe, and so my companions always call me 39 . Defoe, por exemplo, evita nomes extravagantes e tradicionais, utilizando nomes próprios mais próximos à sua realidade. Richardson seguiu esta tendência e foi além, dando nome e sobrenome até mesmo às personagens secundárias. Quanto a Fielding, há evidências que haja retirado os nomes de seus personagens de uma lista de assinantes da edição de 1724 da History of his own time de Gilbert Burnet. Esta prática consolidou esse costume como tradição do gênero, tornando-se uma ferramenta que ajuda a manter a crença do leitor na veracidade da “existência” da personagem.
O Tempo O tempo é outro aspecto fundamental do romance, em que os personagens existem como indivíduos em um determinado espaço e em um determinado tempo. Segundo Watt, as personagens do romance só podem ser individualizadas se estão situadas num contexto com tempo e local particularizados. Essa dimensão tornou-se crucial a partir do Renascimento e que o romance passou a refletir de modo particular. E.M. Forster considera o retrato da “vida através do tempo” como a função distintiva que o romance acrescentou à preocupação mais antiga da literatura pelo retrato da “vida através dos valores”. Northrop Frye vê “a aliança entre tempo e homem ocidental” como a característica definidora do romance comparado a outros gêneros40 . Diferentemente da tragédia em que a ação ocorre em 24h, ou do conto cujo foco está direcionado para um momento específico, o romance pode abranger toda a vida de uma personagem ou mesmo de gerações. Em Crusoe, por exemplo, a narrativa perpassa um grande período de tempo da vida da personagem que, só como náufrago passa 24 anos na ilha! De fato, a história inicia antes do naufrágio e termina depois do seu retorno à Inglaterra. Crusoe mantém um diário, em que anota as suas atividades contendo datas especificas. 38 WATT, Ian. Op. Cit. p. 19. 39 DEFOE, Daniel.Op. cit. p.31. 40 WATT, Ian. Op. cit. p. 22
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The Journal41 September 30, 1659. I, poor miserable Robinson Crusoe, being shipwrecked, during a dreadful storm, in the offing, came on shore on this dismal unfortunate island, which I called the Island of Despair, all the rest of the ship’s company being drowned, and my self almost dead. (…) October 1. In the morning I saw… (…) From the 1st of October to the 24 th . All these days entirely spent in many several voyages to get all I could out of the ship, which I brought on shore, every tide of flood, upon rafts. Richardson, por sua vez, utilizando a forma epistolar para acentuar o cunho de veracidade da narrativa, detalha os sobrescritos das cartas com dia da semana e até a hora do dia. Fielding, em Tom Jones , detalha cronologicamente as viagens entre West Country e Londres das personagens, informando até mesmo as fases da Lua, além de relatar acontecimentos históricos do ano em que transcorre a ação. A narrativa no romance também permite uma alternância de relatos entre fatos passados e o tempo presente (da ação no romance), como por exemplo, a técnica de flashback. Portanto, com relação ao enredo, o romance estabelece uma relação entre ações passadas e a presente, em que as experiências passadas se constituem como causa da ação presente, diferentemente das formas literárias anteriores. A fidelidade do romance à experiência cotidiana depende diretamente de seu emprego de uma escala tempo- ral muito mais minuciosa do que aquela utilizada pela narrativa anterior 42 . De fato, o romance se detém no detalhamento do cotidiano da vida de suas personagens ao longo do tempo, como pode ser observado na pormenorização do dia-a-dia de Crusoe na ilha. Having now fixed my habitation, I found it absolutely necessary to provide a place to make a fire in, and fewel to burn; and what I did for that, as also how I enlargened my cave, and what conveniences I made, I shall give a full account of my self, and of my thoughts about living, which it may well be supposed were not a few 43 . Um exemplo flagrante da representação do cotidiano das personagens é identificado no romance de fluxo de consciência, em que a narrativa pretende corresponder diretamente do fluxo de pensamento da mente da personagem, sem interferência e sem aparente controle externo. Podemos, portanto, afirmar que o principal objetivo do romancista é a elaboração de um relato autêntico das verdadeiras experiências individuais , e resumir os seus principais aspectos como: Pensado deste modo, o rompimento com a narrativa tradicional e a máxima aproximação da realidade resultaram no estabelecimento de alguns aspectos que, conforme Watt, caracterizam o romance realista. Estes aspectos consistem nos seguintes fatos: - o desvio do olhar para o indivíduo isolado até este ficasse tão próximo a ponto de captarlhe os seus pensamentos; 41 DEFOE, Daniel. Op. cit. p. 87 42 WATT, Ian Op. cit. p. 23 43 DEFOE, Daniel. Op. cit. p.80.
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- a substituição de personagens-tipo por sujeitos e situações comuns, tornando a personagem particular; - a atribuição de nomes às personagens que revelariam algo de significativo sobre sua personalidade; - a apresentação das experiências vividas como uma causa para as experiências do presente; - a definição e descrição minuciosa do espaço e do tempo para que eles fossem caracterizados como um “ambiente físico real”; - a presença da linearidade e na constituição de uma “prosa clara e fácil” para apresentar, ao invés de representar, o real. Watt argumenta que a premissa implícita no gênero romance é ser um relato completo e autêntico da experiência humana, tendo, portanto, a obrigação de fornecer ao leitor detalhes da história como a individualidade dos agentes envolvidos, os particulares das épocas e locais de suas ações _ detalhes que são apresentados através do emprego da linguagem muito mais referencial do que é comum em outras formas literárias 44 . De fato, o romance é uma forma híbrida, que engloba os diversos gêneros como o épico, o lírico e até o drama, e comporta outros tipos de relato tais como o diário e cartas, etc.
A TEORIA DOS ARQUÉTIPOS DE NORTHROP FRYE A psicóloga e crítica literária inglesa, Maud Bodkin, afirma que existe um padrão de arquétipos que transparece na poética que trata de temas antigos e sugere que esses padrões seriam, possivelmente, adquiridos através da cultura, ou seja, que tais padrões são ensinados e apreendidos por gerações sucessivas (BODKIN, 1934), divergindo de Carl Jung que afirmava a transmissão de padrões através de uma “impressão” na mente que se repetia nas gerações. Por sua vez, o estudioso e crítico literário, Northrop Frye, vai além e considera que a literatura é um sistema sofisticado de um grupo de fórmulas básicas oriundas de culturas primitivas (LAPIDES, BURROWS & SHAWCROSS, 1973). Frye, a partir de um estudo baseado nos padrões míticos, identifica quatro fases correspondentes às quatro estações do ano e que representam os enredos recorrentes na literatura.
Padrões Míticos Os padrões míticos estudados por Frye são os mitos das Estações e do Herói (também chamado do mito da Jornada). O mito das Estações representa o ciclo da vida humana, em que as estações correspondem às etapas da existência; desta forma, a Primavera representa o nascimento do indivíduo até o desabrochar da juventude; o Verão corresponde ao desenvolvimento, ou a plenitude do indivíduo; o Outono, a maturidade; e, finalmente, o Inverno representa a sua morte, o final da existência. Entretanto, o ciclo se repete ad continuum de forma que o rebrotar das 44 WATT, Ian. Op. cit. p. 31.
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plantas na Primavera representa, metaforicamente, a renovação da vida. O segundo padrão, o do Herói, categoriza os protagonistas dos relatos nas sociedades primitivas através das qualidades a eles atribuídas. As características apontadas por Frye são as seguintes: - os heróis nascem em circunstâncias misteriosas ou extraordinárias, como, por exemplo, a concepção de Jesus pela Virgem Maria; - o herói é filho de um grande homem ou deus, como Prometeu ou Jesus; - é predestinado; possui uma existência especial distinguida por uma missão; Rei Arthur - enquanto jovem, o herói passa por experiência de exílio ou é exposto a um risco de vida como Moisés, Hamlet, ou Branca de Neve; - supera obstáculos a fim de se tornar um herói, como Hércules; - defende a sua nação, ou comunidade, de algum malefício, como Beowulf; - sua morte é, geralmente, misteriosa e/ou ambígua, como a morte do Rei Artur. Esses padrões, ou monomitos, têm em comum o fato de serem cíclicos, e são ferramentas úteis no estudo da linguagem dos símbolos, ou de uma análise simbólica.
Modelos Ficcionais A partir desse estudo, Northrop Frye desenvolveu uma classificação dos modelos ficcionais. Esses modelos se relacionam às qualidades e à atuação nos enredos dos protagonistas de narrativas. São cinco categorias ou modelos ficcionais denominados de “modo imitativo”, ou mimetic modes :
1. O modo imitativo elevado (superior in kind to other men and environment ) - diz respeito ao herói superior aos outros homens; é considerado uma divindade e sua história se configura como uma mitologia.
2. O modo imitativo alto (superior in degree to to other men and environment) – o herói é superior aos demais homens e é o típico herói dos romances de cavalaria, cujos feitos são extraordinários, entretanto são seres mortais. Movimentam-se numa dimensão em que as leis da natureza se encontram em suspensão e seu mundo é habitado por animais falantes, bruxas, ogres; são dotados de grande coragem e não raro possuem armas especiais. É o mundo dos contos maravilhosos, e das lendas.
3. O modo imitativo superior (high mimetic mode; superior in degree to other men but not to the envi- ronment) – é o líder; Possui autoridade e liderança; é o herói dos épicos e da tragédia.
4. O modo imitativo baixo (low mimetic mode; he is not superior; he is one of us) – é o homem comum, e geralmente é o herói de comédias e da ficção realista. Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental
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5. O modo irônico (ironic mode) – é o herói inferior com relação ao poder e inteligência, como, por exemplo, o protagonista de “O Homem do Subterrâneo” de Dostoevsky. Segundo Frye, o desenvolvimento das narrativas literárias pode ser estudado de acordo com a sua origem, e postula duas fontes de narrativas. A forma secular consolidada pelos romances de cavalaria, e a narrativa religiosa que engloba as histórias bíblicas e vida dos santos. As três primeiras categorias de heróis mencionadas predominam na literatura até que o surgimento de uma nova classe social na Inglaterra, a classe média, favorecesse o desenvolvimento dessa nova forma literária a partir de Defoe, o romance. A partir do romance, predominará o protagonista que corresponde ao herói low mimetic mode, ou seja, o homem comum. Esse modelo permanecerá até o final do século XIX.
DESENVOLVIMENTO DO ROMANCE INGLÊS
O Gótico
O Gótico
Durante o período romântico surge a ficção gótica, baseada na noção de horror e prazer de Edward Burke em seu ensaio A Philosophical Enquiry into the Origin of Our Ideas of the Sublime and Beautiful (1757). Segundo Burke, “dor e terror são capazes de propiciar deleite”. A consciência do sublime proporciona a mais forte emoção que a mente seria capaz de sentir, e pode advir da contemplação da natureza selvagem e cenários montanhosos, ou do estudo de arquitetura, notadamente a apreciação das construções das catedrais medievais e as ruínas dos castelos. De fato, essa noção vai permear o romantismo inglês. Burke cita, entre as narrativas literárias capazes de provocar a sensação de “prazer no horror”, Paradise Lost de John Milton , e as tragédias de Shakespeare. A ficção gótica se configura como uma reação ao conforto e segurança promovidos pelo progresso comercial e estabilidade política, e, sobretudo, à regra da razão. Os traços do gótico vão permanecer na literatura inglesa e são visíveis desde a literatura das irmãs Brontë até os dias de hoje, inclusive na música e no cinema. 38
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Jane Austen Jane Austen (1775-1817) foi a primeira romancista (mulher) importante e sua produção literária dispensa classificação. Seus romances representam o cotidiano feminino da sua época. Sua literatura sugere pouco ou nenhum engajamento político nem qualquer envolvimento em eventos políticos nacionais ou internacionais, a despeito de ter vivido uma época de efetivo risco de uma invasão militar por parte da França, já que se tratava do período das Campanhas Napoleônicas. Conforme Anthony Burgess45 , sua intenção sempre esteve voltada para as “pessoas” e não para as “idéias”. Por isso em sua literatura as personagens são descritas da forma mais real possível, com todas as suas falhas e qualidades. Além disso, salientamos a apresentação de traços que retratam a sociedade em seu tempo, sem que, contudo, a sua narrativa seja datada. Seus textos apresentam um retrato da classe média alta britânica e de uma sociedade que se define em termos de posse de terra, dinheiro e posição social. Sua mensagem moral insiste na boa conduta, boas maneiras, razão e a admiração pela instituição do matrimônio. Apesar de não desdenhar o amor, seus romances demonstram o equilíbrio entre a maturidade e impulsividade. Dentre os seus livros, destacam-se Emma, Razão e Sensibilida- de, Orgulho e Preconceito, todos já transpostos para a linguagem cinematográfica.
As irmãs Brontë As irmãs Brontë, Charlotte (1816-55), Emily (1818-48) e Anne (1820-49) viveram no período conhecido como “Alta Literatura Victoriana”. Reclusas em uma pequena paróquia em Yorkshire, norte da Inglaterra, mantiveram-se distantes porém bem informadas a respeito do que ocorria no mundo. Influenciadas pela literatura gótica, escreveram romances e poemas. Charlotte Brontë escreveu Jane Eyre e Shirley ; Emily Brontë publicou O Morro dos Ventos Uivantes ; e Anne Brontë é autora de Agnes Grey . Curiosamente, as irmãs Brontë têm uma obra bastante reduzida, e, de fato, Emily Brontë publicou unicamente O Morro dos Ventos Uivantes (Wuthering Heights). O cenário de seus romances denota uma acentuada influência gótica, facilmente identificada na sombria casa nos morros uivantes, do romance Wuthering Heights . No que pese a configuração das suas personagens, as heroínas das irmãs Brontë enfatizam a importância da independência financeira e intelectual da mulher. No tocante a Wuthering Heights , um romance escrito com um espírito romântico, o seu enredo consiste na história da paixão avassaladora e trágica de Heathcliff e Catherine. Heathcliff foi encontrado pelo pai de Catherine e se tornou um criado da família. O afeto precocemente sentido por ela desencadeou um amor que mescla a veneração à paixão carnal. Em virtude de convenções sociais, Catherine decide casar-se com Edgar Linton, o que desaponta Heathcliff profundamente, levando-o a deixar a casa de sua amada e voltar anos depois para se vingar. Em meio ao seu plano de vingança, Catherine morre, voltando ocasionalmente em espírito para rever o seu Heathcliff. Quanto ao título do romance, o fato de o vento “uivar” devido à geografia do lugar já anuncia um cenário sobrenatural de mistério e apreensão. Wuthering Heights exemplifica a revitalização do romance gótico na literatura vitoriana. 45 BURGESS, Anthony. A chegada da época moderna. In: ______. A literatura inglesa. Tradução Duda Machado. 2. ed. São Paulo: Ática, 2004, p. 209.
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A passagem a seguir pertence ao capítulo 9 e é uma das cenas mais marcantes do romance de Emily Brontë. O amor de Catherine por Heathcliff, expressado nessa passagem, transcende as convenções sociais, alcançando um status quase religioso. No entanto, Catherine escolhe seguir o papel social esperado dela e se casa com Edgar Linton, traindo Heathcliff e, conseqüentemente, o seu amor por ele.
O Morro dos Ventos Uivantes
I cannot express it; but surely you and everybody have a notion that there is or should be an existence of yours beyond you. What were the use of my creation, if I were entirely contained here? My great miseries in this world have been Heathcliff ’s miseries, and I watched and felt each from the beginning: my great thought in living is himself. If all else perished, and he remained, I should still continue to be; and if all else remained, and he were annihilated, the universe would turn to a might stranger: I should not seem a part of it. My love for Linton is like a foliage in the woods: time will change it, I’m well aware, as winter changes the trees. My love for Heathcliff resembles the eternal rocks beneath: a source of little visible delight, but necessary. Nelly, I am Heathcliff! He’s always, always in my mind: not as a pleasure, any more than I am always a pleasure to myself, but as my own being. Ressaltamos que o tema do amor de Catherine e Heathcliff inspirou produções fílmicas, músicas e, mais recentemente, uma releitura feita por uma autora caribenha, Maryse Condé, sob o título de Corações migrantes (1995).
Charles Dickens Charles Dickens (1812-1870) é considerado um dos autores mais lidos da era vitoriana. Ele ficou conhecido pela configuração de personagens cômicos, caricaturados e grotescos, traços que encontraram algumas aclamações da crítica, mas que também levaram escritores e críticos, a exemplo de Virginia Woolf, a considerarem a sua produção literária “menor”. Alguns de seus livros mais conhecidos são Oliver Twist , através do qual postula que a sociedade pode causar sofrimento às crianças; David Copperfield , considerado um romance autobiográfico; e Great Expectations , que conta a história do órfão Pip, desde a sua infância até a maturidade, num estilo autobiográfico, por meio do qual o próprio Charles Dickens traz relatos que remetem à sua própria vida.
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O plurilingüismo Em seu livro Questões de estética e de literatura, Mikhail Bakhtin, formulou a teoria do plurilingüismo no romance a partir de um estudo sobre o romance humorístico inglês, a partir de autores como Fielding, Smollet, Sterne, Thackeray e Charles Dickens. Segundo o autor, No romance humo- rístico inglês, encontramos uma evocação humorístico-paródica de quase todas as camadas da linguagem literária escrita e falada de seu tempo 46 . Deste modo, o plurilingüismo consiste na inserção de diversos tipos de linguagem, que oscilam desde uma norma padrão (formal) a uma norma utilizada no cotidiano, a linguagem utilizada por diferentes camadas sociais ou mesmo por distintas profissões. Para sustentar a sua teoria sobre o plurilingüismo, Bakhtin toma como exemplo trechos do romance de Charles Dickens, Little Dorrit , no qual é possível observar o jogo de linguagem em que o narrador não raro cede a sua voz para que diversas vozes que perpassam o ambiente adentrem a sua narrativa.
Da era vitoriana à era moderna Conforme Anthony Burgess47 , o fim da era vitoriana, marcada pelo “otimismo”, “dúvida” e “culpa”, ocorrera mesmo antes do término do reinado da rainha Vitória em 1901. Com o vazio deixado pelos paradigmas vitorianos, e pela perda da crença na religião, a literatura escrita no período de 1880 a 1914 caracterizou-se por uma busca por algo em que se pudesse acreditar. Foram forjados, assim, diversos substitutos que preenchessem este vazio. Dois deles foram a arte e o imperialismo. A ênfase sobre a arte foi manifestada na literatura produzida por autores como Walter Pater (1839-1894), que defendia o lema da “Arte pela arte”, tal como demonstra em textos como Marius, o epicurista e Estudos sobre a história do renascimento. Pater defendia, ainda, o hedonismo, ou seja, o culto à beleza. Ao mencionado hedonismo também esteve voltado Oscar Wilde (1856-1900), autor de textos como De profundis, A balada do cárcere de Reading e O retrato de Dorian Gray . Identificam-se neste romance alguns traços que remontam ao sentimento de culpa vitoriano. O enredo consiste na história de uma personagem, Dorian Gray, um homem jovem e belo que demonstra o desejo de permanecer sempre assim. Tendo o seu pedido atendido, um retrato passa então a registrar os feitos e o envelhecimento da personagem. Arrependido, Dorian decide destruir o seu retrato para tentar compensar pelos seus atos vis. No momento em que ele o destrói, é ele mesmo quem morre. No tocante ao imperialismo, destaca-se a produção ficcional de Rudyard Kipling (18651936). Autor de poemas, Kipling ficou conhecido também pelo seu romance Kim , que conta a história de um filho órfão de um soldado do regime irlandês. A história é ambientada numa colônia britânica, a Índia, e, tão profícua quanto a intrigante história são as considerações sobre a vida na Índia, a religião e seus problemas sociais.
46 BAKHTIN, Mikhail. O plurilingüismo no romance. In: ______. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. Tradução Aurora Fornoni Bernardini et al. São Paulo: Hucitec, 2002, p. 107. 47 BURGESS, Anthony. A chegada da época moderna. In: ______. A literatura inglesa. Tradução Duda Machado. 2. ed. São Paulo: Ática, 2004, p. 244-252.
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O Grupo de Bloomsbury O Grupo de Bloomsbury era formado por escritores e artistas, originalmente amigos que se reuniam na casa dos filhos de Leslie Stephen em Bloomsbury. Não era um grupo formalmente organizado até 1920 quando as filhas de Stephen, Virginia e Vanessa, casadas com Leonard Woolf e Clive Bell, respectivamente, juntamente com E. M. Forster, John Maynard Keyes, Roger Fry e outros, formaram o “Memoir Club”. Esse grupo de amigos escritores se reunia com o intuito de discutir acerca de literatura e artes de modo geral, e desdenhavam dos modos tradicionais de sentir, pensar e da moral convencional.
Virginia Woolf Fiction ) discute e Virginia Woolf (1882-1941) em seu ensaio “Ficção Moderna” Modern ( revisa os modelos tradicionais de representação. Virginia Woolf postula a que a tarefa do escritor do futuro é dar a impressão do “halo luminoso” da vida _ “esse espírito variado, desconhecido e não circunscrito” _ com o mínimo do que se constitui como externo e alheio. A cada dia, a mente recebe uma grande quantidade de impressões ( input ) – triviais, fantásticas, evanescentes, ou gravadas para sempre; o romancista, no intuito de trabalhar com esse fluxo incessante de “átomos inumeráveis”, é forçado a reconhecer que, se baseasse o seu trabalho em seus próprios sentimentos ao invés da convenção, não haveria enredo, nem comédia, nem tragédia, nem interesse afetivo nem catástrofe no “estilo aceito da palavra”. Virginia Woolf sugere novos caminhos para se escrever romances, propondo um novo modelo estético que escapa às configurações tradicionais de narrativa, a exemplo da linearidade. Woolf diferencia o seu trabalho de contemporâneos como D.H. Lawrence e James Joyce, escritores aos quais reputa uma preocupação pela “fabricação de coisas”, e por aceitarem os limites do convencional nos enredos e utilização da seqüência temporal nos seus textos.
Fluxo de Consciência O caráter experimental da representação da consciência manifestada na prosa de Virgina Woolf pode ser observado nos romances Mrs. Dalloway (1925), To the Lighthouse (1927) e The Waves (1931). A prosa é marcada pela fragmentação, descontinuidade, e desintegração, aspectos que, conforme Erich Auerbach, denotam uma escolha dos escritores modernos e, destaquemos aqui Virginia Woolf, que “receiam impor à vida, ao seu tema, uma ordem que ela própria não oferece”48. Seu objetivo é representar a natureza das sensações fugazes, ou das atividades mentais conscientes ou inconscientes, e relacioná-las externamente a um ritmo de consciência de padrão universal. As reações momentâneas, emoções passageiras, estímulos efêmeros, sugestões aleatórias e pensamentos dissociados são moldados numa relação estilística coerente e bem estruturada. Esse estilo, Fluxo de Consciência ou Stream of Consciousness , foi assim denominado por William James em 1890 referindo-se ao trabalho de Virginia Woolf. Abaixo, um recorte de um texto de Virginia Woolf retirado do romance Mrs. Dalloway: 48 AUERBACH, Erich. A meia marrom. In: ______. Mimesis: A repres entação da realidade na literatura ocidental. São Paulo: Editora Perspectiva, 2001, p. 471-498.
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[…] held, foolish as the idea was, something of her own in it, this country sky, this sky above Westminster. She parted the curtains; she looked. Oh, but how surprising!-in the room opposite the old lady stared straight at her! She was going to bed. And the sky. It will be a solemn sky, she had thought, it will be a dusky sky, turning away its cheek in beauty. But there it was-ashen pale, raced over quickly by tapering vast clouds. It was new to her. The wind must have ri- sen. She was going to bed in the room opposite. It was fascinating to watch her, that old lady, crossing the room, coming to the window. Could she see her? It was fascinating, with people still laughing and shouting in the drawing room, to watch that old woman, quite quietly, going to bed. She pulled the blind now. The clock began striking 49 . Mrs. Dalloway
O enredo do romance supracitado pode ser resumido em uma simples frase nominal: um dia na vida de uma mulher. O romance tem, em seu plano de ação, os pequenos acontecimentos que consistem nos preparativos para uma recepção que será oferecida por Mrs. Richard Dalloway. Entretanto, o que há de mais substancial, que se sobrepõe aos acontecimentos narrados (a ida à floricultura, o convite feito a Richard, o encontro com Whitbread, a costura do vestido, o suicídio de Septimus Warren Smith entre outros), são as reflexões que acompanham estes atos e as rememorações acionadas desde a primeira cena, quando Mrs. Dalloway vai à floricultura. É, ainda, a partir deste dia na vida de uma mulher da alta sociedade a promover uma festa, que a autora discute a permanência de um conservadorismo vitoriano, presente nas escolhas de Clarissa por um pretendente que lhe garantisse status; as instituições monumentais como a religião, representada na figura ressentida de Miss Kilman, e as figuras da autoridade, simbolizadas pelos médicos como o Sir William Bradshaw; as devastações causadas pela guerra, discutidas a partir da inércia e profunda introspecção de Septimus, um ex-combatente de guerra que volta incapaz de restabelecer a sua comunicação com o mundo. Todas estas imagens esboçam um quadro da Inglaterra pós-guerra, em cujo ar ainda pairava o tom gris resultante das ruínas deixadas pela guerra.
As horas Escrito pelo escritor norte-americano Michael Cunningham, o romance As horas 50 conta a história de três mulheres, contada ao longo de um dia, que compartilham, cada uma a sua época, de angústias e têm em comum uma relação direta ou indireta com um romance, qual seja, Mrs. Dalloway . Uma das personagens consiste em uma construção ficcional da própria autora de Mrs. Dalloway , Virginia Woolf, que está escrevendo o romance mencionado. As outras duas protagonistas são uma leitora, que encontra na leitura de Mrs. Dalloway a tradução para os seus dramas subjetivos, e uma mulher, que, assim como a Clarissa Dalloway, protagonista do romance de Virginia Woolf, está a preparar uma recepção para o seu amigo escritor, que sofre de uma grave doença. 49 WOOLF, Virginia. Mrs Dalloway. London: Penguin Books, 1996. 50 CUNNINGHAM, Michael. As horas. Tradução B. Vieira. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
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É válido comentar a pesquisa empreendida pelo autor de As horas sobre traços biográficos de Virginia Woolf. Embora reconheçamos que o que ele apresenta em seu texto é uma personagem, que não deve, portanto, ser considerada um retrato da escritora, há aspectos biográficos que denotam uma preocupação de Cunningham em compor, na configuração da personagem, traços que a aproximem da Virginia que sofria crises nervosas, vivenciava de forma angustiada, por vezes, a escrita de seus textos, tinha uma relação conflituosa com seus empregados, entre outros. Estes dados podem ser encontrados em textos biográficos de Woolf, escritos por ela mesma em seus diários, ou ainda em textos como As mulheres de Virginia Woolf , de Vanessa Curtis51 . O livro de Michael Cunningham foi adaptado para o cinema em filme de título análogo pelo diretor Stephen Daldry, no qual Nicole Kidman fez o papel de Virginia Woolf, cuja interpretação lhe rendeu o Oscar de melhor atriz em 2003.
D. H. Lawrence O Fluxo de Consciência influenciou os contemporâneos de Virginia Woolf, exceto D.H. Lawrence, autor de romances clássicos como O Amante de Lady Chatterley, Mulheres Apaixonadas - ambos transpostos para o cinema - Filhos e Amantes , entre outros. Lawrence não fez parte do Grupo de Bloomsbury nem tampouco utilizou a técnica de Fluxo de Consciência na sua literatura, distinguindo-se por temas que tratam da relação entre homens e mulheres. Seu mais notório romance, O Amante de Lady Chatterley foi proibido na Inglaterra e teve suas edições confiscadas por imoralidade e obscenidade até 1960 quando, após julgamento, pôde ser re-editado pela Pen- guin . Esse episódio representou o fim da censura oficial e da hipocrisia gerada pelo excesso de pudor, grifando o início da era chamada New Morality que caracterizou as décadas de 1960 e 1970 na Grã Bretanha.
Pós Guerra e Pós Modernismo O cenário de um país em ruínas fez parte integral da literatura produzida na Inglaterra do pós-guerra, e entre os autores que utilizaram essa atmosfera como cenário destaca-se Graham Greene, autor de Fim de Caso, ou The End of the Affair (1951). O ambiente precário reflete-se nas personalidades dos protagonistas, que representam indivíduos desgastados pela tragédia da guerra. A era da New Moralit y refletiu o novo momento histórico e social do pós-guerra, e influenciado pelos novos padrões de conduta sexual e do crescente movimento feminista desafiou os tradicionais conceitos sobre gênero, sexualidade, e a instituição do matrimônio. A “nova onda” feminista foi estimulada pela publicação do ensaio de Germaine Greer, The Female Eunuch (1970). Dessa fase, citamos Jean Rhys autora de Wide Sargasso Sea (1966) que refaz o relato de Mr. Rochester, protagonista do romance Jane Eyre de Charlotte Brontë, do seu relacionamento com a sua primeira esposa, Bertha; e Angela Carter,que se distingue pela proposta de múltiplas possibilidades de mudança no relacionamento heterossexual; vide seus romances The Passion of New Eve (1977), Fireworks (1974), Wise Children (1991), entre outros. 51 CURTIS, Vanessa. As mulheres de Virginia Woolf. Tradução Tuca Magalhães. São Paulo: A Girafa Editora, 2005.
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O ROMANCE NORTE AMERICANO
Puritanismo Considera-se James Fennimore Cooper (1789-1851) como o primeiro grande romancista americano. O autor de O Último dos Moicanos distinguiu-se pela abordagem da temática indígena, e o emprego da narrativa nos moldes ingleses. Seus romances se caracterizam pela ação, envol vendo situações de fuga e escape, captura e resgate, através de cenários que descrevem a natureza ainda intocada dos Estados Unidos da época. As personagens são representadas de forma dicotômica: índios bons e maus versus homens brancos bons e maus. James F. Cooper escreveu trinta e dois romances. Entretanto, foi Nathaniel Hawthorne (1804-64) que alcançou maior notoriedade como romancista, tendo influenciado vários escritores de gerações posteriores. Foi contemporâneo de Edgar Allan Poe, no período de amadurecimento literário americano chamado Renascimento. Seus romances ocorrem durante o auge do Puritanismo americano, tendo como cenário a Nova Inglaterra. Hawthorne limitou seus temas a situações que lidam com problemas de ordem moral cujas resoluções são intencionalmente ambíguas, com ampla utilização de símbolos e alegorias. O seu mais conhecido romance é A Letra Escarlate , publicado em 1850, e que teve o seu enredo transformado em filme, e conta uma história baseada em fatos reais, acontecida na Nova Inglaterra durante o período conhecido como de “caça às bruxas”. O romance entre uma mulher casada e um pastor da igreja traz à tona o mito bíblico de Eva, ou seja, a noção da mulher como transgressora, o que acarreta à protagonista a acusação e posterior julgamento de praticas de feitiçaria.
A Letra Escarlate
O Puritanismo surgiu na Inglaterra aproximadamente nos meados de 1500, e tinha como objetivo “purificar” da Igreja da superstição, adoração de imagens de santos, adornos excessivos, etc. Os Puritanos objetivavam uma sociedade mais simples, sóbria, e religiosa, baseada na teologia de João Calvino, o Calvinismo; acreditavam na educação como uma obrigação religiosa e fundaram escolas, universidades e gráficas que imprimiam livros religiosos. Os primeiros colonizadores americanos, cerca de 20.000 pessoas, eram Puritanos e partiram para a América com o intuito de construir uma nação segundo os preceitos Puritanos, acreditando-se como povo escolhido por Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental
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Deus. Um ano após a publicação, surge mais um romance clássico norte americano, também transformado em filme, Moby Dick (1951), de autoria de Herman Melville (1819-91), cujo estilo narrativo é rebuscado, simbólico, e pleno de alusões à história, teologia, filosofia, ciência e outras obras literárias. Dentre os vários temas abordados por Melville, destacam-se a democracia como base de governo, a nobreza do trabalho e do homem comum, a impossibilidade do retorno do ser humano a uma condição de inocência.
O Realismo Literário Americano Com o final da Guerra de Secessão, surge no sul dos Estados Unidos, em torno de 1820, um gênero literário conhecido como “Humor da Fronteira”, que influenciou escritores como Mark Twain e William Faulkner. Este gênero se caracteriza pelo humor regional expresso pelo coloquialismo e jargão, típicos das regiões da Geórgia, Mississipi, Alabama, Louisiana, e partes do Texas e Arkansas. Abaixo, um trecho de The Adventures of Huckleberry Finn de autoria de Mark Twain em que se pode observar o linguajar e expressões sulistas:
The Adventures of Huckleberry Finn
Her sister, Miss Watson, a tolerable slim old maid, with goggles on, had just come to live with her, and took a set at me now with a spelling- book. She worked me middling hard for about an hour, and then the widow made her ease up. I couldn’t stood it much longer. Then for an hour it was deadly dull, and I was fidgety. Miss Watson would say, “Don’t put your feet up there, Huckleberry;” and “Don’t scrunch up like that, Huckleberry--set up straight;” and pretty soon she would say, “Don’t gap and stretch like that, Huckleberry--why don’t you try to behave?” Then she told me all about the bad place, and I said I wished I was there. She got mad then, but I didn’t mean no harm. All I wanted was to go somewheres; all I wanted was a change, I warn’t particular. She said it was wicked to say what I said; said she wouldn’t say it for the whole
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world; she was going to live so as to go to the good place. Well, I couldn’t see no advantage in going where she was going, so I made up my mind I wouldn’t try for it. But I never said so, because it would only make trouble, and wouldn’t do no good 52 . A expansão das ferrovias nas últimas décadas do século XIX contribuiu para despertar um interesse em zonas pouco conhecidas da nação americana, estimulando a adoção de uma escrita que representasse a fala e descrevesse esses espaços ainda pouco conhecidos. Essas narrativas reproduzem os dialetos regionais falados pelo homem do povo, suas atividades, e, sobretudo, descrevem os cenários onde ocorrem as ações, dentro de um tempo real. O realismo literário americano abarca o período de 1865 até aproximadamente 1900 e, deixando o sentimentalismo e a idealização da vida característica do período romântico, emerge com o desejo sincero de representar a vida na ficção. No realismo americano, as personagens são otimistas e pragmáticas e resolvem seus problemas sem intervenções improváveis ou coincidências. Dentre os autores que se destacaram neste período, temos, além s dos já citados, Henry James, “o pai do romance psicológico”, e autor de Portrait of a Lady (1881).
Naturalismo O Naturalismo foi uma das vertentes do realismo norte americano, e compartilha algumas de suas características, como, por exemplo, o fato de situar eventos no tempo da escritura. O objetivo é reproduzir falas, modos, e cenários reais, além de motivações psicológicas plausíveis. Entretanto, diferentemente do realismo, os naturalismo está ciente da sua fundamentação filosófica, baseada na ciência de modo geral e no Darwinismo em particular. Embora considere o ser humano como um animal altamente desenvolvido, situado entre os anjos e os primatas, o naturalismo reconhece as limitações genéticas, aceita o determinismo e elimina o problema ético do romance realista, uma vez que, já que sua existência é determinada, o seu comportamento não pode ser julgado como bom ou mau, certo ou errado. Seguindo-se a este período posterior, o intervalo entre 1900 até 1920 foi uma época profícua em mudanças sociais e econômicas, em que muitos autores precisaram sobreviver às custas de outras atividades além da escrita, o que ocasionou um sentido de autenticidade entre outras coisas. Deste período destacamos as romancistas Willa Carter e Edith Wharton.
Modernismo Após a Primeira Grande Guerra, o ambiente nos Estados Unidos era resistente a novos ideais sociais e artísticos, o que fez com que um grande contingente de artistas americanos imigrasse para a Europa. Lá, encontraram a liberdade para exercer a crítica social e tiveram a oportunidade de entrar em contacto com novas técnicas e padrões estéticos, e artistas tais como os poetas simbolistas W. B. Yeats e Ezra Pound, romancistas como James Joyce e Gertrude Stein, e tantos outros em diferentes campos das artes. 52 TWAIN, Mark. The Adventures of Huckleberry Finn. Capítulo I. http://www.mtwain.com/Adventures_Of_Huckleberry_Finn/1.html
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O movimento artístico internacional que predominou desde então e se estendeu até aproximadamente a década de 1950 foi o Modernismo, caracterizado pela rejeição à tradição e por uma atitude hostil com relação ao passado. Dentre os aspectos relacionados ao Modernismo, destacamos, além do mito como princípio estrutural de narrativas como Ulysses de James Joyce e The Waste Land de T.S. Eliot, o “experimentalismo”, corrente que detinha o interesse na expressão do irracional e do inconsciente em diversas áreas da arte, principalmente na literatura de Stein e Joyce, e que deu origem à técnica de “fluxo de consciência” como uma representação direta da personagem. Escritores como Virginia Woolf e Joseph Conrad participaram do movimento além dos autores anteriormente mencionados. Dentre os autores que viveram na Europa neste período, F. Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway se distinguiram por romances como The Great Gatsby e Tender is the Night, e For Whom the Bells Toll e The Sun also Rises , respectivamente.
F. Scott Fitzgerald Filmado na década de 1970, The Great Gatsby , romance de autoria de F. Scott Fitzgerald, tem como tema a vida inconseqüente dos ricos e o seu desprezo pelas classes menos privilegiadas. A personagem principal, Jay Gatsby é um self made man , um homem que construiu a sua própria fortuna, mas que não é aceito nos círculos sociais da elite por ter nascido pobre. Ele se apaixona por Daisy, esposa de Tom, ambos ricos de nascença e pertencentes à alta roda do leste americano.
The Great Gatsby
They were careless people, Tom and Daisy- they smashed up things and creatures and then retreated back into their money or their vast carelessness or whatever it was that kept them together, and let other people clean up the mess they had made 53 .
Ernest Hemingway Ernest Hemingway tem como temática a morte. Em For Whom the Bells Toll, romance cujo título se refere ao poema Meditation XVII, parte de Devotions Upon Emergent Occasions, poesia metafísica datada de 1624 e escrita pelo poeta John Donne, que diz: No man is an island, entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main. If a clod be 53 FITZGERALD, F. Scott. The Great Gatsby. http://www.litfix.co.uk/fitzgerald/onlinetexts/gatsby/index.htm
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washed away by the sea, Europe is the less, as well as if promontory were, as well as if a manor of thy friend’s or of thine own were. Any man’s death diminishes me, because I am involved in mankind; and therefore never send to know for whom the bell tolls; it tolls for thee 54 .
John Steinbeck John Steinbeck, premio Nobel de Literatura de 1962, alcançou um grande sucesso na década de 1930, durante o período da Grande Depressão americana. Steinbeck escreveu sobre indivíduos que, por motivos econômicos, são empurrados para uma vida à margem da sociedade: bóias frias, vagabundos, mendigos, sem teto. Seus temas abordam o preconceito, tradição, costumes, atitudes baseadas em privilégios e injustiça, fome, num ambiente motivado pela economia de mercado. Seu romance mais conhecido é Grapes of Wrath (1939), traduzido como Vinhas da Ira.
Grapes of Wrath
In order to do the work in the cotton field, cotton sacks are required and workers that do not have these have to buy them from the landowner on credit. Many of the workers are unable to do enough work to pay for their sacks. Also, the workers suspect that the weighing machines are rigged. (…) Tom has been pondering about what Jim Casy told him before he died - that every man’s soul is part of the greater soul. Tom sees his vocation is to unify his soul with the greater soul by working to organize people in a fight against oppression. Ma warns Tom that Casy died for his efforts and Tom promises that he will watch out for himself.
Diversidade Cultural na Literatura Americana Durante a década de 1940, a crítica especializada passou a enfatizar os aspectos da escrita e insistia para que o artista se situasse fora da cena política e social. Esse posicionamento foi alvo de longa controvérsia nos anos de 1960 e 1970 e perdura até o presente. A década de 70 se configurou como o período da transgressão, e a emergência de vários movimentos sociais que influenciaram a literatura como o Feminismo, os movimentos Gay, Afro, Indígena, e a critica marxista, como pode ser observado na literatura produzida por escritores como Alan Ginsberg, Adrienne Rich, James Baldwin, Alice Walker, entre outros. Entretanto, a maioria dos escritores ainda segue a tradição legada por Emerson e Whitman, e recorre aos tradicionais temas americanos de mobilidade social, caldeirão cultural, e de nação livre e “iluminada”. 54 DONNE, John. Apud http://en.wikipedia.org/wiki/For_Whom_the_Bell_Tolls
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Alice Walker Entre esses autores, Alice Walker, escritora feminista afro-americana se destacou pelo seu romance A Cor Púrpura (1982), ganhador do prêmio Pulitzer em 1983. O romance tem como tema religião, sexualidade, família e violência em uma comunidade negra no sul dos Estados Unidos, em que as mulheres são as protagonistas. A linguagem reproduz a fala desse grupo étnico.
A Cor Púrpura
Well how you spect to make her mind? Wives is like children. You have to let ‘em know who got the upper hand. Nothing can do that better than a good sound beating 55 .
Movimento Beat O movimento “beat”, característico do final da década de 1950 e que se estendeu pelos anos 60, produziu uma das mais conhecidas obras da contra cultura, On the Road , escrito por Jack Kerouac. O romance trata das viagens de dois amigos, Sal e Dean, através dos Estados Unidos. Os dois se envolvem com drogas, marginais, mulheres, e homossexuais, e alguns dos acontecimentos são de ordem biográfica. O assunto do livro serviu como tema para as gerações posteriores, em diversos setores artísticos, que relatam histórias semelhantes como, por exemplo, o filme de Peter Fonda e Dennis Hopper, Sem Destino. We were suddenly on Madison Street among hordes of hobos, some of them sprawled out on the street with their feet on the curb, hundreds of others milling in the doorways of saloons and alleys. “Wup! wup! look sharp for old Dean Moriarty there, he may be in Chicago by accident this year.” We let out the hobos on this street and proceeded to downtown Chicago. (…) ...we headed straight for North Clark Street, after a spin in the Loop, to see the hootchy-kootchy joints and hear the bop. And what a night it was. “Oh, man,” said Dean to me as we stood in front of a bar, “dig the street of life, the Chinamen that cut by in Chicago. What a weird town--wow, and that woman in that window up there, just looking down with her big breasts hanging from her nightgown, big wide eyes. Whee. Sal, we gotta go and never stop going till we get there” 56 . 55 WALKER, Alice. The Color Purple. http://www.bookrags.com/The_Color_Purple 56 KEROUAC, Jack. On the Road. http://www.bookrags.com/notes/otr/SUM.html
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Atividade Complementar 1. Quais as características que diferenciam o romance das outras formas literárias?
2. De que forma Daniel Defoe, Samuel Richardson e Henry Fielding individualiza seus protagonistas?
3. Explique os modelos ficcionais segundo a teoria de Northrop Frye.
4. Que autor(a) se destacou pela técnica de “Fluxo de Consciência”?
5. Qual o romance americano que se tornou emblemático na literatura beat ?
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Sites indicados F. S. Fitzgerald: http://www.litfix.co.uk/fitzgerald/onlinetexts/gatsby/index.htm J. Kerouac: http://www.bookrags.com/notes/otr/SUM.html Mark Twain: http://www.mtwain.com/Adventures_Of_Huckleberry_Finn/1.html Alice Walker: http://www.bookrags.com/The_Color_Purple
Filmes indicados A cor púrpura A letra escarlate As aventuras de Tom Sawyer As Horas Emma Moll Flanders Mrs. Dalloway Mulheres Apaixonadas O Amante de Lady Chatterley Orgulho e Preconceito O ultimo dos Moicanos Razão e Sensibildade The Great Gatsby; Tom Jones
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A POESIA E O TEATRO A POESIA A POESIA INGLESA: DE SHAKESPEARE AO ROMANTISMO
Introdução A poesia não é uma liberação da emoção, mas uma fuga da emoção; não é a expressão da personalidade, mas uma fuga da personalidade. Naturalmente, porém, apenas aqueles que têm personalidade e emoções sabe o que significa querer escapar dessas coisas. T.S.Eliot Como mencionado no Bloco 1, Tema 1, os primeiros manuscritos encontrados em língua inglesa, ou Old English , encontram-se sob a forma de versos. No que pese a transcrição dessa literatura datar de em torno do século XI, o seu conteúdo remete a um período anterior, o que, possivelmente, explicaria a forma em versos: nas culturas iletradas, o verso se constitui na forma mais apropriada à memorização, sendo este o meio de propagação e preservação. Sabemos também que os primeiros escritos literários em língua inglesa, ou Old English, são sagas em versos, como Beowulf, e contam a história de um povo. No século XII, Eleanor de Aquitânia, a esposa francesa do rei Henry II, trouxe os trovadores e a poesia provençal para a Inglaterra, inaugurando assim um novo padrão de comportamento na corte e em modelo literário. As histórias abordadas pela poesia trovadoresca tinham como enredo a impossibilidade amorosa, na qual o amado se declarava vassalo da sua dama e do seu amor. A temática dessas histórias, bem como a forma em que eram escritas e declamadas, são de origem bretã, ou celta, e predominavam nas narrativas do ciclo arturiano, populares na época.
Lais Marie de France e Chrétien des Troyes, poetas franceses, se destacaram na época, contribuindo para a popularidade desse tema e desse modelo literário na Inglaterra. Esta forma bretã, ou celta, é conhecida como lais (em celta loid ) e floresceu no período entre os séculos XII e XIV, tendo, possivelmente, sofrido alguma influência latina. Neste período encontramos dois tipos de lais : - o primeiro, não tinha como objeto, necessariamente, um tema arturiano e se tratava de um poema bastante extenso, com versos que variavam em número de 60 a 300, métrica curta ( heptassílabos ), e geralmente distribuídos em doze grandes estrofes; - o segundo tipo, também conhecido como Arthurian lais , se atinham a histórias do ciclo Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental
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arturiano, ou bretão, sendo considerados como novelas, embora ainda estivessem escritos em versos. A forma aperfeiçoada por Marie de France veio a se tornar modelar para escritores posteriores como Chaucer ( em Franklin’s Tales ) e Gower ( Tale of Rosiphilee ), enquanto que a forma “romanceada” das histórias de Chrétien des Troyes influenciaram os escritores do período conhecido como Middle English , como, por exemplo, o autor anônimo de Sir Gawain e o Cavaleiro Verde ( Sir Gawain and the Green Knight ). Ambas as formas, no entanto, se encontravam associadas a uma melodia, e eram recitadas com o acompanhamento de uma harpa ou viola. A partir do século XVI, a palavra lai torna-se sinônimo de canção, e, no século XIX, passou a designar as baladas de origem históricas, mesmo quando não eram acompanhadas por música como The Lay of the Last Minstrel (1808) de autoria de Walter Scott, ou Lays of Ancient Rome (1842) de Macaulay. Alegoria & Roman de la Rose No século XIII, a temática poética torna-se onírica e alegórica, influenciada pela popularidade do poema Roman de la Rose, de Guillaume de Lorris (1237). A questão central deste poema reside em um sonho de conquista da mulher amada, representada por uma rosa, e por quem o homem deve superar diversos obstáculos, a fim de conquistar a amada. Este poema influenciou a maioria dos escritores por todo o século XIV, cuja utilização da alegoria e do sonho pode ser encontrada tanto na revelação religiosa de Pearl, poema anônimo cuja autoria é atribuída ao escritor de Sir Gawain , como no poema Book of Duchess de Geoffrey Chaucer. The Book of the Duchess é um poema-narrativa na tradição sonho-alegoria, escrito por volta de 1369, por ocasião da morte de Blanche, Duquesa de Lancaster, e constitui-se de uma associação de uma elegia e um encômio: Roman de La Rose
For holly al the story of Troye Was in the glasynge ywroght thus, Of Ector and of kyng Priamu, Of Achilles and Lamedon, And eke of Medea and of Jason, Of Paris, Eleyne, and of Lavyne. And alle the walles with colours fine Were peynted, both text and glose, Of al the Romaunce of the Rose. The Canterbury Tales 54
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The Canterbury Tales , ou Contos de Cantuária, também de autoria de Geoffrey Chaucer, mencionado no Tema 1 do Bloco 1, é composto de contos narrados por pessoas das mais diversas ocupações reunidas em uma estalagem. As profissões dos personagens não incluem nenhuma posição extrema, seja acima de um Cavaleiro da corte, seja abaixo de um lavrador. As histórias narradas por Chaucer têm um cunho irônico, como pode ser observado em Prioress , que descreve uma freira, cujo real interesse na vida era ter um comportamento mundano. Ther was als a Nonne, a Prioresse, That of her smylyng was ful simple and coy; Hire gretteste ooth was but by Seinte Loy; And she was cleped madame Eglentyne. Ful weel she soong the service dyvyne, Entuned in hir nose ful seemly, And Frenssh she spak ful faire and fetisly, After the scole of Stratford ate Bowe, For Frenssh of Parys was to hire unknowe. At mete wel ytaught was she with alle; She leet no morsel from hir lippes falle, Ne wette hir fyngres in hir sauce depe; Wel koude she carie a morsel and wel kepe That no drope ne fille upon hir brest. In curteisie was set ful muchel hir lest. Hir over-lippe wiped she so clene That in hir coppe ther was no ferthyng sene Of grece, when she drunken hadde hir draughte. Ful seemly after hir mete she raughte… A época de Chaucer foi um período conturbado pelos conflitos entre patrões e empregados. A peste negra havia dizimado as populações camponesas e os barões da terra passaram a contratar empregados para fazer o serviço no campo. Com a nova modalidade de trabalho surgiu a necessidade de se estabelecer medidas que regulamentassem as condições de trabalho e pagamento de salários aos trabalhadores do campo, o Estatuto dos Trabalhadores. A obra de Chaucer oferece um comentário, às vezes irônico e velado, desta época. Chaucer foi considerado um artesão da palavra, responsável pela criação de novas palavras e pela introdução de novos vocábulos oriundos de outros idiomas; Sir Brian Tuke, responsável pelo prefácio de Contos de Cantuária escreveu sobre Chaucer: suche frutefulnesse in wordes… so swete and pleasaunt sentences… suche sensyble and open style lacking neither maieste ne mediocrite (moderation).
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Os sonetos de Shakespeare
Soneto Shakespeare
Além de dramaturgo, Shakespeare também foi um grande poeta, tendo escrito uma coletânea de 154 sonetos além de dois poemas narrativos, Vênus e Adônis e O rapto de Lucrécia . Tais sonetos, possivelmente colocados na ordem pelo próprio Shakespeare, são considerados por críticos como Harold Bloom como “autobiográficos e universais, pessoais e impessoais, irônicos e apaixonados, bissexual e heterossexual”, demonstrando a ambigüidade do ser humano. Tais sonetos se situam entre três categorias distintas: os primeiros cento e vinte e seis sonetos foram endereçados a um jovem, presumivelmente ao Earl de Southampton , seu mecenas, e segundo alguns, amante; os vinte e seis sonetos seguintes referem-se a uma Dark Lady ; e os dois últimos falam de Cupido; dentre essas categorias, outros subgrupos podem ser detectados. Entretanto, os temas do tempo e da morte sombreiam os primeiros cento e vinte e seis poemas, em que o poeta relaciona a contagem arbitrária do tempo pelo individuo e o seu relógio biológico e afirma que a reprodução é a sua única defesa contra a morte. When I have seen by Time’s fell hand defaced The rich proud cost of outworn buried age, When sometime lofty towers I see down-razed, And brass eternal slave to mortal rage; When I have seen the hungry ocean gain Advantage on the kingdom of the shore, And the firm soil win of the wat’ry main, Increasing store with loss and loss with store; When I have seen such interchange of state, Or state itself confounded to decay, Ruin hath taught me thus to ruminate _ That Time will come and take my love away. 56
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This thought is as a death, which cannot choose But weep to have that which it fears to lose. Seus sonetos trouxeram uma nova energia à poesia com relação à métrica e a utilização de uma estrutura de catorze linhas, e na exploração uma gama de emoções, linguagem, e, sobretudo, apontando para a responsabilidade do individuo diante os seus erros, não mais culpando os astros e os deuses. Salientamos, ainda, que a musicalidade dos versos de Shakespeare era bastante propícia a uma época em que as pessoas valorizavam as palavras e as melodias. Valorização que reforçou o desenvolvimento do idioma inglês que deixava progressivamente de se restringir a uma língua de camponeses para se tornar a língua de uma expressiva literatura.
John Donne & John Milton Segundo Samuel Taylor Coleridge, If you would teach a scholar in the highest form how to read, take Donne… When he has learnt to read Donne, with all the force and meaning which are involved in the words, then send him to Milton, and he will stalk on like a master enjoying his walk. John Donne (1573-1631), diácono da Catedral de St. Paul e um grande pregador, tornou-se, juntamente com John Milton, um dos autores mais reverenciados da poesia inglesa durante o período da Restauração (1620-1690). Além de sermões e ensaios, John Donne tornou-se conhecido por suas poesias, devotas e eróticas, como, por exemplo, Elegy XIX To His Mistress Going To Bed em que compara a amada à recém-descoberta América. Elegy XIX To His Mistress Going To Bed – John Donne Come, madam, come, all rest my powers defy Until I labor, I in labor lie. (…) Now off with those shoes, and then safely tread In this love’s hallowed temple, this soft bed. In such white robes, heaven’s angels used to be Received by men; thou, Angel, bring’st with thee (…) License my roving hands , and let them go Before, behind, between, above, below. O my America ! my new-found-land, Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental
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My kingdom, safeliest when with one man manned, My mine of precious stones, my empery, How blest am I in this discovering thee! (…) Then, since that I may know, As liberally as to a midwife, show Thyself: cast all, yea, this white linen hence, Here is no penance, much less innocence. To teach thee, I am naked first; why than, What needst thou have more covering than a man. O texto contém referências bíblicas como a presença de anjos vestidos em branco, e mitológica tal como a história de Atalanta. A escolha de determinados vocábulos e expressões indiciam a ambigüidade da linguagem utilizada, como por exemplo, no verso final, a palavra covering que tanto pode significar cobertura ou vestimenta, como também a posição de súcuba da mulher durante o ato sexual. John Milton (1608-1674) produziu vários panfletos defendendo suas idéias políticas e religiosas e em 1667 escreveu um dos mais conhecidos poemas da língua inglesa, Paradise Lost , influenciando poetas de gerações posteriores. Seu tema é A Queda, episódio bíblico que narra o pecado original. O poema lida com as conseqüências morais da desobediência, ou a incapacidade do individuo de viver de acordo com as leis divinas. Destacamos um pequeno trecho do poema:
Paradise Lost
Paradise Lost IX, The Fall from Adam and Eve by John Milton [ Satan urg’d]: If they all things, who encl’d Knowledge of Good and Evil in this Tree, That whoso eats thereof, forthwith attains Wisdom without their leave? And wherein lies 58
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Th’offense, that Man should thus attain to know? What can your knowledge hurt him, or this Tree Impart against his will if all be his? Or is it envie, and can envie dwell In heav’nly brests? These, these and many more Causes import your need of this fair Fruit. Goddess humane, reach then, and freely taste. Considerando-se a teoria de arquétipos, ou de padrões temáticos da literatura, podemos dizer que A Queda focaliza o trânsito de um individuo de um estado de pureza para um estado de conhecimento ou vivência, em que, através da(s) experiência(s) vivida(s), o sujeito descobre a não existência do mundo ideal, ou edênico, caracterizando desta forma a perda da inocência.
A época da Razão x Romantismo O Classicismo O século XVIII ficou conhecido como a Era da Razão. De forma panorâmica, podemos dizer que este período foi caracterizado pelo desenvolvimento do comércio, a consolidação do império, o entrecruzamento entre a classe média e a aristocracia através de casamentos, entre outros aspectos que tornavam possível a instituição de um “governo da razão”. No âmbito das artes, predominava o Classicismo, cujas características – o predomínio da razão sobre as emoções, o culto à forma e a supervalorização das convenções sociais – encontram ressonâncias em um período histórico marcado pela crença no progresso e pela luta por ascensão social. Um poeta significativo desta época é Alexander Pope (1688-1744). Por um estudo de sua biografia é possível entender algumas dicotomias de uma Inglaterra rigidamente dividida pelo catolicismo e protestantismo. Desse modo, Pope que teve uma formação católica e era filho de pai burguês e que, portanto, gozava dos recursos necessários para investir em sua formação, sofria por não poder freqüentar a escola pública e a universidade, que estavam sob o controle da Inglaterra protestante, na época, extremamente anti-católica. Apesar de algumas condições adversas que encontrou e do seu aspecto “feio”, Pope aceitava a vida tal como esta se apresentava e a forma que encontrava para esta aceitação era satirizar e, com isso, expurgar o seu mal-estar. Sua obra oscila entre filosófica, satírica e crítica. Quanto à forma, havia em Pope uma preocupação excessiva, a ponto de atribuir-lhe uma importância muito maior do que aquela concedida aos seus temas. Ele primava pela perfeição dos versos e frases bem elaboradas. Apreciemos um trecho do poema The Rape of the Lock57 para verificarmos quão harmônicos são as rimas dos versos de Pope. The Rape of the Lock
57 POPE, Alexander. The rape of the lock. Disponível: http://www-unix.oit.umass.edu/~sconstan/poem1c1.html. Acesso: 31 jan. 07.
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What dire Offence from am’rous Causes springs, What mighty Contests rise from trivial Things, I sing-This verse to Caryl, Muse! is due; This, ev’n Belinda may vouchsafe to view: Slight is the Subject, but not so the Praise, If She inspire, and He approve, my Lays. Pope influenciou outros poetas em sua época, dentre estes, Oliver Goldsmith (1730-1774), George Crabbe (1754-1832) e Samuel Johnson (1790-1784).
O Romantismo De encontro aos ditames do classicismo, o Romantismo eclodiu a partir da Revolução Francesa, através da qual protestou-se contra o predomínio de um modo de vida elitista e uma arte presa a normas estanques. Assim, ao contrário do clássico, o romântico privilegia a emoção em detrimento da razão e sobrepõe às preocupações com as regras sociais, a sua individualidade. William Blake: um precursor do Romantismo William Blake (1757-1827) é considerado um dos maiores poetas das letras inglesas. Um de seus textos mais famosos é Canções da inocência (Songs of Innocence) ao lado do seu poema (The Tyger). Apreciemos um trecho deste poema:
Tyger! Tyger! Burning bright, In the forests of the night, What immortal hand or eye Could frame thy fearful symmetry? 58
Blake foi ainda autor de poemas épicos como Jerusalem e Milton , cujo entendimento é difícil sem o domínio do significado de alguns símbolos que os compõem. Além disso, compôs poemas breves, que possuem um caráter individual. Alguns desses poemas expressam uma atitude contrá58 http://www.cs.rice.edu/~ssiyer/minstrels/poems/66.html
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ria às repressões advindas de instituições monumentais como a lei, a religião e a ciência.
Poetas românticos O processo de consolidação do Romantismo na Inglaterra contou com a contribuição de alguns importantes poetas, frutos de um sentimento revolucionário que pairava, inspirado na Revolução Francesa, como aqui já foi dito, e na filosofia de pensadores como Locke, Rousseau e Hume. Entre os poetas românticos mais representativos, podem ser citados Wordsworth, Coleridge, Keats, Shelley e Byron.
Wordsworth e Coleridge William Wordsworth (1770-1850) é considerado um dos fundadores do Romantismo na Inglaterra ao lado de Samuel Taylor Coleridge (1772-1834), com quem publicou as Baladas Líricas . As Lyrical Ballads consistem em uma coletânea de poemas dos dois autores mencionados, publicada em 1798 com a intenção de escrever um novo tipo de poesia. Entre os poemas que compõem esta obra, destacam-se Rime of the Ancient Mariner , de Coleridge, e Tintern Abbey , de Wordsworth. Apreciemos algumas estrofes de cada um desses poemas para podermos ilustrar as considerações que serão feitas sobre o projeto destes poetas.
The Tyger
Rime of the Ancient Mariner PART I An ancient Mariner meeteth three Gallants bidden to a wedding-feast, and detaineth one. It is an ancient Mariner, And he stoppeth one of three. `By thy long beard and glittering eye, Now wherefore stopp’st thou me ? The Bridegroom’s doors are opened wide, And I am next of kin ; The guests are met, the feast is set : May’st hear the merry din.’ Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental
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He holds him with his skinny hand, `There was a ship,’ quoth he. `Hold off ! unhand me, grey-beard loon !’ Eftsoons his hand dropt he 59 .
Tintern Abbey Five years have past; five summers, with the length Of five long winters! and again I hear These waters, rolling from their mountain-springs With a soft inland murmur. -- Once again Do I behold these steep and lofty cliffs, That on a wild secluded scene impress Thoughts of more deep seclusion; and connect The landscape with the quiet of the sky. The day is come when I again repose Here, under this dark sycamore, and view These plots of cottage-ground, these orchard-tufts, Which at this season, with their unripe fruits, Are clad in one green hue, and lose themselves ‘Mid groves and copses. Once again I see These hedge-rows, hardly hedge-rows, little lines Of sportive wood run wild: these pastoral farms, Green to the very door; and wreaths of smoke Sent up, in silence, from among the trees! With some uncertain notice, as might seem Of vagrant dwellers in the houseless woods, Or of some Hermit’s cave, where by his fire The Hermit sits alone 60. Na segunda e terceira edições de Lyrical Ballads , Wordsworth fez significativas considerações sobre a proposta estética desta obra. Segundo estes prefácios, a linguagem poética deveria escapar a uma dicção artificial e ser pautada na linguagem de pessoas comuns, que eram admiradas por ele por estarem mais próximas da natureza que ele tanto venerava. Advogava também contra o racionalismo e em favor da imaginação, privilegiando sentimentos humanos e o mito. Vale a pena 59 http://etext.virginia.edu/stc/Coleridge/poems/Rime_Ancient_Mariner.html 60 http://www.blupete.com/Literature/Poetry/WordsworthTinternAbbey.htm. Acesso: 01 fev. 07.
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ler o trecho abaixo destacado de Lyrical Ballads que sumariza as principais propostas deste poeta: The principal object, then, which I proposed to myself in these Poems was to choose incidents and situations from common life, and to relate or describe them, throughout, as far as was possible, in a selection of language really used by men; and, at the same time, to throw over them a certain colouring of imagination, whereby ordinary things should be presented to the mind in an unusual way; and, further, and above all, to make these incidents and situations interesting by tracing in them, truly though not ostentatiously, the primary laws of our nature: chiefly, as far as regards the manner in which we associate ideas in a state of excitement. Low and rustic life was generally chosen, because in that condition, the essential passions of the heart find a better soil in which they can attain their maturity, are less under restraint, and speak a plainer and more emphatic language; because in that condition of life our elementary feelings co-exist in a state of greater simplicity, and, consequently, may be more accurately contemplated, and more forcibly communicated; because the manners of rural life germinate from those elementary feelings; and, from the necessary character of rural occupations, are more easily comprehended, and are more durable; and lastly, because in that condition the passions of men are incorporated with the beautiful and permanent forms of nature. The language, too, of these men is adopted (purified indeed from what appear to be its real defects, from all lasting and rational causes of dislike or disgust) because such men hourly communicate with the best objects from which the best part of language is originally derived; and because, from their rank in society and the sameness and narrow circle of their intercourse, being less under the influence of social vanity they convey their feelings and notions in simple and unelaborated expressions. Accordingly, such a language, arising out of repeated experience and regular feelings, is a more permanent, and a far more philosophical language, than that which is frequently substituted for it by Poets, who think that they are conferring honour upon themselves and their art, in proportion as they separate themselves from the sympathies of men, and indulge in arbitrary and capricious habits of expression, in order to furnish food for fickle tastes, and fickle appetites, of their own creation 61 . No trecho acima citado, podemos salientar alguns conceitos-chave empregados por Wordsworth para tratar de sua proposta. Estes conceitos são a demonstração de uma linguagem que era realmente usada pelo homem comum, um tom advindo da mais pura imaginação a partir da qual se configuram imagens incomuns, busca pela expressão de uma vida simples na qual as verdadeiras paixões humanas podem aflorar. De acordo com Wordsworth, a poesia deveria revelar não apenas verdades filosóficas, mas outras verdades, pois a partir da poesia, o poeta instaura e legitima a sua verdade. Produzir poesia deixou de ser, para este poeta, não um hobby , como o era para alguns poetas do século XVIII, mas, conforme Anthony Burgess, uma “vocação”62 . Pensando deste modo, Wordsworth não se dedicou a nenhuma outra atividade, a não ser a de poeta. Um dos principais lemas de Wordsworth que coincide com suas convicções sobre a “vocação” é a intuição, um certo misticismo apoiado em uma forte crença na natureza. Para este poeta, a natureza é a fonte a partir da qual o homem pode estabelecer o seu encontro com Deus. Partindo destes princípios, ele foi considerado um panteísta, ou seja, para ele Deus não estava acima dos homens, mas, sim, presente na natureza. Em virtude das considerações tecidas sobre o projeto estético e ético de Wordsworth, ele é, por vezes, considerado um poeta egocêntrico, que direcionou grande atenção para si mesmo e suas próprias experiências. Esta premissa, no entanto, se enfraquece, quando passamos a conhe61 http://www.english.upenn.edu/~jenglish/Courses/Spring2001/040/preface1802.html. Acesso: 01 fev. 07. 62 BURGESS, Anthony. Os românticos. In: ______. A literatura inglesa. Tradução Duda Machado. 2. ed. São Paulo: Ática, 2004, p. 198.
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cer que ele defendia uma reforma social, bem como os direitos humanos, que preservam o direito à liberdade e expressão individual. Além disso, o eu-lírico de seus poemas não raro exprime os impactos diante das mudanças sociais de sua época, em que se verifica um constante desenvol vimento das classes altas acompanhado pelo progressivo crescimento da pobreza. Afinal, a sua excessiva atenção à natureza pode ser interpretada como uma crítica implícita à sociedade “corrompida”. Não devemos desconsiderar, ainda, que Wordsworth viveu em uma época marcada pela Revolução Francesa, de cujos ideais este poeta compartilhou. Predomina na proposta de Samuel Taylor Coleridge um tom sobrenatural que se distancia daquele impresso nos poemas de Wordsworth. Enquanto este pretendia que sua poesia estivesse firmada no solo dos humildes, em meio a natureza, Coleridge explorava o sobrenatural e o justificava através de uma “fé poética ”. Ele designou por “fé poética” 63 a voluntária suspensão da descrença por um momento.
Shelley, Keats e Byron
Byron Lord Byron (1788-1824) é um poeta que se tornou uma figura lendária na Europa. A biografia de Byron encerra um lado heróico do poeta que morreu lutando pela independência grega e, por outro lado, escândalos que lhe custaram o exílio da Inglaterra. Este episódio somou-lhe um tom satírico, a partir do qual passou a questionar regras sociais e leis de seu país. A sátira compõe a tônica das críticas sociais impressas em seu longo poema Don Juan , baseado na lenda de Don Juan. Num outro poema, transcrito em seguida e que foi traduzido por Castro Alves, é possível perceber o tom satírico de Byron. Neste poema, o eu lírico propõe que o seu crânio seja usado como uma taça, na qual as pessoas possam beber o vinho e a vida, livrando-o de ser comido pelos vermes: Uma taça feita de um crânio humano Não recues! De mim não foi-se o espírito... Em mim verás - pobre caveira fria - Único crânio que, ao invés dos vivos, Só derrama alegria. Vivi! amei! bebi qual tu: Na morte 63 BURGESS, Anthony. Op. cit., p. 200.
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Arrancaram da terra os ossos meus. Não me insultes! empina-me!... que a larva Tem beijos mais sombrios do que os teus. Mais vale guardar o sumo da parreira Do que ao verme do chão ser pasto vil; - Taça - levar dos Deuses a bebida, Que o pasto do réptil. Que este vaso, onde o espírito brilhava, Vá nos outros o espírito acender. Ai! Quando um crânio já não tem mais cérebro ...Podeis de vinho o encher! Bebe, enquanto inda é tempo! Uma outra raça, Quando tu e os teus fordes nos fossos, Pode do abraço te livrar da terra, E ébria folgando profanar teus ossos. E por que não? Se no correr da vida Tanto mal, tanta dor ai repousa? É bom fugindo à podridão do lado Servir na morte enfim p’ra alguma coisa!... Lord Byron (Tradução de Castro Alves)
Shelley Shelley revelou, desde muito cedo, o seu espírito revolucionário. Este caráter foi expresso, em especial, em seus poemas mais longos, a exemplo de Prometeu acorrentado, A revolta do Islã e Hélade , que tematizam a revolta e uma humanidade que sofre por se sentir oprimida. Além deste tema, Shelley fala em seus poemas sobre a Beleza e o Amor.
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Keats A poesia de John Keats (1795-1821) apresenta um tom sensual e revela o seu paganismo, alimentado por uma forte crença nos deuses da Grécia Antiga. Seus principais são, conforme Anthony Burgess, “a beleza na arte e na natureza; o desejo de morte; amores felizes e infelizes; o encanto do passado clássico”64. Seus poemas não raro revelam um forte sofrimento que advém tanto da certeza de que a beleza não é eterna, quanto das incertezas e indefinições suscitadas pelo amor. Identifica-se nele, ainda, uma forte melancolia, tal como a expressa em When I have fears that I may cease to be . Assim como pela sua poesia Keats melhor pôde traduzir a sua melancolia, apenas através da leitura do poema pode é possível apreendê-la. When I have fears that I may cease to be When I have fears that I may cease to be Before my pen has glean’d my teeming brain, Before high-piled books in charact’ry Hold like rich garners the full ripen’d grain; When I behold upon the night’s starr’d face Huge cloudy symbols of a high romance, And think that I may never live to trace Their shadows with the magic hand of chance; And when I feel, fair creature of an hour, That I shall never look upon thee more, Never have relish in the faery power Of unreflecting love; — then on the shore Of the wide world I stand alone, and think Till love and fame to nothingness do sink 65 . Alguns outros representativos poemas são Ode a um rouxinol, Ode à melancolia e Ode a uma urna grega.
64 Op. cit., p. 204. 65 http://etext.library.adelaide.edu.au/k/keats/john/poems/when-i-have-fears.html
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A POESIA NORTE AMERICANA No período que se estende desde 1640 até 1700, aproximadamente, surge a poesia norte americana, caracterizada pelos ideais Puritanos. Trata-se de uma poesia que tem por objetivo a divulgação dos princípios do calvinismo, em que abundam clichês bíblicos e clássicos, seguindo o modelo literário inglês. Dentre eles mencionamos o The Bay Psalm Book (1640), The Day of Doom e In Reference to Her Children , de Anne Bradstreet (1612-1672), uma afirmação das benesses da maternidade e do casamento.
Romantismo
Romantismo
É a partir de do Romantismo (1820-1865) que a poesia americana desponta como singular, embora ainda fortemente influenciada pelos poetas românticos ingleses, particularmente Coleridge e Wordsworth. No interstício entre a poesia puritana e o surgimento do romantismo americano destaca-se Phillis Wheatley (1753-1784), a primeira escritora afro-americana, que, influenciada por Milton e Pope, utiliza versos brancos e que tem como temas poéticos a salvação, a liberdade política na nova nação, e o orgulho afro-americano. O primeiro americano considerado como um grande poeta pela crítica foi William Cullen Bryant (1798-1878), autor de poemas como Thanatopsis,(1814), ou uma visão da morte, cuja adoção de versos brancos e cuidadosamente rimados deve-se a influência dos chamados poetas britânicos do Graveyard School . Os temas privilegiados pelo Romantismo norte americano foram: 1. A intuição é mais confiável que a razão; 2. expressar profundamente as experiências vividas é mais valoroso que a elaboração de princípios universais; 3. o individuo está situado no centro do universo e Deus se encontra no centro do indivíduo; 4. a natureza é uma gama de símbolos físicos dos quais o conhecimento do sobrenatural pode ser intuído; 5. podemos desejar o Ideal, mudando o que é pelo o que devia ser. Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental
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Ralph Waldo Emerson (1803-82) foi o mais importante interlocutor desses preceitos, para quem o poema deveria apresentar imagens concretas, representando símbolos. Seu livro, Nature, publicado em 1836 é uma afirmação dos fundamentos do transcendentalismo e propunha a noção que as coisas seriam uma miniatura do universo, e a crença na força da intuição de cada individuo.
Transcendentalismo Como um sistema organizado de idéias, o transcendentalismo objetivava criar uma literatura exclusivamente americana, libertando-se da influência européia, notadamente a inglesa. Liderado por escritores da Nova Inglaterra, muitos dos seus seguidores se encontravam envolvidos em reformas sociais, particularmente aqueles que diziam respeito ao movimento abolicionista e em prol dos direitos das mulheres (o termo “feminismo” só foi cunhado décadas depois, na França). Esses autores se encontravam envolvidos em tais movimentos pelo fato de acreditarem que todo ser humano tem direito a buscar a liberdade, conhecimento e a verdade. Segundo Ralph Waldo Emerson, We will walk on our own feet; we will work with our own hands; we will speak our own minds...A nation of men will for the first time exist, because each believes himself inspired by the Divine Soul which also inspires all men. O movimento obteve um grande alcance tendo influenciado diversos poetas como Walt Whitman (1819-92), dentre outros.
Edgar Allan Poe e O Corvo
Edgar Allan Poe
Embora não esteja especificamente incluído neste grupo, Edgar Allan Poe (1809-49) foi um escritor que se destacou por suas obras em prosa e verso, e vem suscitando, através dos séculos, emoções relacionadas ao terror, ao maravilhoso, e ao espantoso. Seu poema mais conhecido, O Corvo (The Raven), conta a história de um homem que, certa feita, tarde da noite, recebeu a visita misteriosa de um pássaro que dizia: Nevermore! (nunca mais!) e que o remetia ao sentimento de 68
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perda deixado pela morte da bela amada. Este poema foi traduzido para o português por Machado de Assis e Fernando Pessoa, além de outros autores, e tem sido uma referência intertextual de diversos escritos, como em Love Minus Zero-No Limit , composição de Bob Dylan na década de 196066. Tendo influenciado sobremaneira os modernistas, Edgar Allan Poe foi também ensaísta de prestígio. A respeito de O Corvo, Poe escreveu o texto The Philosophy of Composition , no qual relata, minuciosamente, como num “problema matemático”, os procedimentos utilizados para a escrita deste poema, os quais acredita poder reconstituir. Desse modo, Poe comenta a preocupação que antecipou a composição do poema sobre a sua extensão, que deveria manter uma certa “unicidade de impressão”, ou seja, o seu “efeito”, e, portanto, teria cerca de cem linhas, que consistiram, de fato em cento e oito linhas. Em seguida, fala sobre a configuração do espaço, que seria limitado a um único e pequeno cenário para garantir o efeito, o que realmente acabou sendo um quarto. Seguiu-se, então, a escolha da impressão, que, conforme a sua intenção, deveria ser uni versal. Assim, escolheu um tema unânime entre os poetas, ou seja, a Beleza. O próximo passo seria a atribuição de um “tom” à sua composição, que teria que ser elevado. Foi assim pensando que se decidiu pela melancolia e, a partir dela, extraiu a imagem da mais expressiva melancolia, qual seja, a morte. Reunidos temas e tom, Poe forjou, então, o motivo: a melancolia sentida pela morte de uma bela mulher, não esquecendo de mencionar a escolha criteriosa de uma palavra que denotasse um som fúnebre “nevermore” (nunca mais), que rima com o nome da amada Lenore, a ser pronunciada por um corvo. Após esta bela descrição do procedimento utilizado para escrever O Corvo, é válido, senão inevitável, lermos algumas estrofes deste poema. The Raven Once upon a midnight dreary, while I pondered, weak and weary, Over many a quaint and curious volume of forgotten lore — While I nodded, nearly napping, suddenly there came a tapping, As of some one gently rapping, rapping at my chamber door. “ ’Tis some visiter,” I muttered, “tapping at my chamber door — Only this and nothing more.” […] Presently my soul grew stronger; hesitating then no longer, “Sir,” said I, “or Madam, truly your forgiveness I implore ; But the fact is I was napping, and so gently you came rapping, And so faintly you came tapping, tapping at my chamber door, That I scarce was sure I heard you” — here I opened wide the door ; —— Darkness there and nothing more. 66 …My love, she’s like some raven, at my window with a broken wing. DYLAN, Bob. Love Minus Zero-No Limit 1965.
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Deep into that darkness peering, long I stood there wondering, fearing, Doubting, dreaming dreams no mortals ever dared to dream before; But the silence was unbroken, and the stillness gave no token, And the only word there spoken was the whispered word, “Lenore ?” This I whispered, and an echo murmured back the word, “Lenore !” — Merely this and nothing more. […] Then this ebony bird beguiling my sad fancy into smiling, By the grave and stern decorum of the countenance it wore, “Though thy crest be shorn and shaven, thou,” I said, “art sure no craven, Ghastly grim and ancient Raven wandering from the Nightly shore — Tell me what thy lordly name is on the Night’s Plutonian shore !” Quoth the Raven “Nevermore.” […] “Prophet!” said I, “thing of evil! — prophet still, if bird or devil! — Whether Tempter sent, or whether tempest tossed thee here ashore, Desolate yet all undaunted, on this desert land enchanted — On this home by Horror haunted — tell me truly, I implore — Is there — is there balm in Gilead ? — tell me — tell me, I implore !” Quoth the Raven, “Nevermore.” […] And the Raven, never flitting, still is sitting, still is sitting On the pallid bust of Pallas just above my chamber door; And his eyes have all the seeming of a demon’s that is dreaming, And the lamp-light o’er him streaming throws his shadow on the floor; And my soul from out that shadow that lies floating on the floor Shall be lifted — nevermore! 67 Em seu texto The Poetic Principle , procura estabelecer o valor de um poema. Neste ensaio, Poe declara que o valor do poema se encontra no poder de enlevar o leitor, não podendo, portanto, se tratar de um poema longo, o que promoveria enfado. Ressalva, porém, poemas longos como Paradise Lost de Milton e a Ilíada , entre outros, declarando que se tratam de composições englobando poemas menores e, ao mesmo tempo, alertando para a tendência e pigramática de um poema muito curto. Poe reconhece que, embora o sentimento poético esteja presente na pintura, escultura, arquitetura, dança, é, contudo, na música que este se desenvolve mais especificamente, 67 POE, Edgar Allan. The Raven. Disponível: http://www.eapoe.org/works/POEMS/ravenw.htm. Acesso: 01 fev. 07.
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pela sua afinidade com a poesia através do ritmo, métrica e rima. Segundo Poe, é através da Música que a alma alcança o objetivo inspirado pelo sentimento poético: a criação da Beleza Supra (Supernal Beauty). It is in Music perhaps that the soul most nearly attains the great end for which, when inspired by the Poetic Sentiment, it struggles — the creation of supernal Beauty. It may be, indeed, that here this sublime end is, now and then, attained in fact. We are often made to feel, with a shivering delight, that from an earthly harp are stri- cken notes which cannot have been unfamiliar to the angels. And thus there can be little doubt that in the union of Poetry with Music in its popular sense, we shall find the widest field for the Poetic development 68 .
A Nova Poesia Americana A poesia americana emerge dissociada da influência inglesa através das obras de poetas como Walt Whitman (1819-92) e Emily Dickinson (1830-86). Ambos os autores são representantes da recém-surgida poesia americana, que se caracteriza pela métrica livre e a expressão emocional de Walt Whitman, e a ironia e aforismo de Emily Dickinson, fatores que, por sua vez, irão marcar a poesia americana do século XX. Emily Dickinson foi uma profunda observadora da natureza, objeto de sua temática; curiosamente, seus poemas não tinham título, e foram, em sua maioria, publicados após a sua morte. There’s a certain Slant of light There’s a certain Slant of light, Winter Afternoons – That oppresses, like the Heft Of Cathedral Tunes – (…) When it comes, the Landscape listens – Shadows – hold their breath – When it goes, ‘tis like the Distance On the look of Death – 69 Walt Whitman foi, provavelmente, o autor que mais exerceu a sua influência nos poetas das gerações posteriores, e sua obra foi considerada como audaciosa. Whitman abandonou as estruturas métricas herdadas da poesia européia e privilegiou o estilo livre de versos, irregular, entretanto, ritmado. Seu posicionamento filosófico era o de que os Estados Unidos da América “estava predestinado a reinventar o mundo como emancipador e liberador do espírito humano”; e afirmou: Rhymes and rhymers pass away _ ... America justifies itself, give it time... O seu mais conhecido poema, Leaves of Grass foi editado em 1855, separados em 52 seções, uma para cada semana do ano; eis um recorte de Beginners, seção do poema mencionado: 68 POE, Edgar A. The Poetic Principle. http://knowingpoe.thinkport.org/default_flash.asp Acesso: 16 mar 06, p. 8. 69 DICKINSON, Emily. http://www.bartleby.com/113/
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HOW they are provided for upon the earth, (appearing at intervals;) How dear and dreadful they are to the earth; How they inure to themselves as much as to any—What a paradox appears their age; How people respond to them, yet know them not; How there is something relentless in their fate, all times; How all times mischoose the objects of their adulation and reward, And how the same inexorable price must still be paid for the same great purchase. 70 Este modelo, associado à influência da poesia francesa do século XIX, deu origem ao modernismo americano no século XX, movimento liderado por Ezra Pound (1885-1972) e T.S. Eliot (1888-1965), tendo como adeptos escritores como Gertrude Stein (1874-1946), e E.E. Cummings (1894-1962) entre outros. O modernismo é um termo utilizado para designar um movimento internacional que dominou as artes até aproximadamente 1950, e que tem como característica principal a rejeição da tradição e uma atitude hostil com relação ao passado. Este movimento, nos Estados Unidos, deu origem a duas vertentes: o “objetivismo” e o “imagismo”. Na década de 1930, os poetas modernistas como Louis Zukofsky, Kenneth Rexroth, e outros, adotaram o termo objectivist para designar um grupo de escritores, muitos dos quais oriundos de comunidades urbanas de novos imigrantes, que, com o acréscimo de novas expressões e vocábulos contribuíram significativamente para o enriquecimento da linguagem poética utilizada pelo grupo. A outra vertente do modernismo era o Imagism , que, baseado nas técnicas da poesia chinesa clássica e japonesa, enfatizava a clareza de expressão através da utilização de uma imagem visual precisa, muitas vezes ignorando a rima e a métrica a fim de, segundo Pound, de “compor numa seqüência de frases musicais, ao invés de uma seqüência métrica”.71 Citamos, como exemplo, o poema In a station of the Metro de Ezra Pound: The apparition of these faces in the crowd; Petals on a wet, black bough. T.S.Eliot (1888-1965) foi um dos expoentes do modernismo, como poeta e ensaísta. O seu ensaio Tradição e Talento Individual esboça a base do conceito de distanciamento que a crítica literária deve ter em relação a figura do autor como sujeito. Eliot escrevia versos diretos e objetivos e, em 1922, publica o seu mais conhecido poema, The Waste Land . O poema encontra-se dividido em cinco partes, repletas de alusões, promovendo um efeito de ampla significação com a utilização de poucas palavras. Citamos, abaixo, um pequeno trecho da primeira parte do poema mencionado: I. The Burial of the Dead April is the cruellest month, breeding Lilacs out of the dead land, mixing Memory and desire, stirring Dull roots with spring rain. 70 WHITMAN, Walt. Beginners In: Leaves of Grass. : http://www.americanpoems.com/poets/waltwhitman/13305 71 SIMON, Sonia. Tradução livre. POUND, Ezra: Compose in the sequence of the musical phrase, not in the sequence of the metronome.
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Winter kept us warm, covering Earth in forgetful snow, feeding A little life with dried tubers. Summer surprised us, coming over the Starnbergersee With a shower of rain; we stopped in the colonnade, And went on in sunlight, into the Hofgarten, And drank coffee, and talked for an hour. Bin gar kine Russin, stamm’ aus Litauen, echt deutsch. And when we were children, staying at the archduke’s, My cousin’s, he took me out on a sled, And I was frightened. He said, Marie, Marie, hold on tight. And down we went. In the mountains, there you feel free. I read, much of the night, and go south in the winter. Nos primeiros anos da década de 1920 surgiu o New Criticism , conceito criado por poetas não alinhados a corrente modernista como Robert Penn Warren(1905-1989), Allen Tate(18991979), e Archibald MacLeish(1892-1982). O New Criticism tornou-se a vertente dominante da critica literária americana e britânica até os anos 60, tendo como características o experimento de técnicas modernistas combinadas ao modo tradicional de escrita, e, principalmente, a rejeição da crítica literária baseada em fontes extra-textuais, especialmente as biográficas, advogando o estudo dos textos e o close-reading (leitura imanente). Portanto, em o New Criticism , o desejo ou intenção do autor não deve ser tomado como padrão para o julgamento de uma obra literária; o poema não “pertence” ao autor, ao invés disso, o texto torna-se independente do seu autor desde o seu nascimento, ganhando “vida própria”, sem que o autor tenha controle ou poder sobre ele. A análise de um determinado texto deve se ater as palavras do próprio texto e as informações provenientes de outras fontes devem ser descartadas como irrelevantes, pois desviam o foco do texto em si. Os conceitos chave são a ambigüidade, fundamental porque aponta para a multiplicidade de significados presentes no texto, e a falácia intencional (The intentional fallacy), ou a negação da suposta intenção do autor, e sua importância, ponto que se tornou crítico para as futuras gerações dos adeptos do New Criticism. Após as grandes guerras mundiais, a poesia americana tende a brotar da experiência real, concreta, retomando a forma tradicional como em Elizabeth Bishop (1911-1979) e Theodore Roethke (1908-1963). Outros movimentos surgem como o Confessional Movement , em que abordam temas íntimos do próprio poeta como doenças, sexualidade, problemas particulares, ou seja, experiências de vida escritas conscientemente e cuidadosamente trabalhadas. Este movimento influenciou artistas como Sylvia Plath (1932-1963), Anne Sexton (1928-1974), entre outros. Allen Ginsberg explicou a sua interpretação da Poesia Confessional em um verso do seu poema Howl, que diz, [to] stand before you speechless and intelligent and shaking with shame, rejected yet confessing out the soul Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental
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to conform to the rhythm of thought in his naked and endless head. Nas poesias confessionais embora o “eu” seja autobiográfico, não se pode esquecer que a ficção, ou fantasia, faz parte da tessitura do poema; na poesia confessional não é apenas o tema em si que a caracteriza, mas, principalmente, como este é explorado. Sylvia Plath, pós-modernista que sofreu influência da poesia confessional, expressa as emoções em seus poemas de modo ambíguo e ambivalente, como podemos verificar nas primeiras estrofes do poema Daddy , em que a autora fala de seu próprio pai, alemão, morto quando ela ainda era criança.
Daddy by Sylvia Plath You do not do, you do not do Any more, black shoe In which I have lived like a foot For thirty years, poor and white, Barely daring to breathe or Achoo. Daddy, I have had to kill you You died before I had time ______ Marble-heavy, a bag full of God, Ghastly statue with one grey toe Big as a Frisco seal (…)
A POESIA BEAT
É no período pós-guerra que surgem os movimentos Beat e Black Mountain que incluiram figuras renomadas como Allen Ginsberg(1926-1997), Charles Olson(1910-1970), entre outros; a poesia beat se caracterizou pela utilização de uma linguagem ainda mais simplificada e objetiva, e refletia a sociedade mais “aberta” e complacente dos anos 1950s e 60s; os poetas do Black Mountain seguiam os preceitos anunciados por Olson em Projective Verse , cujo modelo de escrita prescrevia percepções justapostas em uma linguagem experimental - são considerados os herdeiros dos objetivistas. Representantes de ambas as vertentes estiveram envolvidos no San Francisco Renaissance , um caldeirão de atividades artísticas experimentais e que contou com a participação de Charles Bukowski (1920-1994). Destacamos, desta época, os primeiros versos da primeira parte do poema Howl de Allen Ginsberg, 74
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HOWL For Carl Solomon I saw the best minds of my generation destroyed by madness, starving hysterical naked, dragging themselves through the negro streets at dawn looking for an angry fix, angelheaded hipsters burning for the ancient heavenly connection to the starry dynamo in the machin- ery of night, who poverty and tatters and hollow-eyed and high sat up smoking in the supernatural darkness of cold-water flats floating across the tops of cities contemplating jazz, (…) who wandered around and around at midnight in the railroad yard wondering where to go, and went, leaving no broken hearts, who lounged hungry and lonesome through Houston seeking jazz or sex or soup, and followed the brilliant Spaniard to converse about America and Eternity, a hopeless task, and so took ship to Africa, (…) who let themselves be fucked in the ass by saintly motorcyclists, and screamed with joy, who blew and were blown by those human seraphim, the sailors, caresses of Atlantic and Caribbean love, (…) O poema é longo, e se divide em três partes: a mais conhecida, a primeira parte, é dedicada à cenas e situações que se reportam à vida pessoal do poeta, incluíndo personagens pertencentes ao ambiente artístico e político freqüentado por Ginsberg, além de pacientes de instituições psiquiátricas e dependentes químicos conhecidos pelo artista nos idos de 40s e no inicio dos anos 50. A segunda parte, denominada Moloch , foi escrita sob o efeito de uma substância alucinógena, Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental
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o peyote, que suscitou em Ginsberg a visão de uma fachada monstruosa de um hotel. Essa alucinação foi nomeada pelo poeta como Moloch, personagem bíblico do livro de Leviticus em honra de quem os caananitas sacrificavam crianças; Moloch também é um personagem demoníaco do filme Metropole de Fritz Lang, e que Ginsberg reconhecia como influencia em Howl. A terceira parte é diretamente dirigida a Carl Solomon, individuo a quem o poema é dedicado, internado no mesmo hospital psiquiátrico onde se encontrava a mãe do autor. O movimento beat influenciou toda a cultura produzida nas décadas seguintes, como é possível verificar nas músicas compostas por Bob Dylan dos anos 60, como It’s Alright, Ma, Blowin’ in the Wind, Times are changing; e no cinema, como em Sem Destino (Easy Rider) dirigido por Dennis Hopper.
TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS Um grande número de tendências tem surgido na poesia americana das últimas décadas, muitas delas emergentes de movimentos anteriores. Na década de 1970 houve uma retomada de interesse pelo surrealismo; dos movimentos beat e hippie surgiu a poesia performática, movimento que abraça o multiculturalismo; a poesia L=A=N=G=U=A=G=E , o mais controverso de todos os movimentos, que tem como elemento central a linguagem questionando o seu referencial e a dominância da sentença como a unidade básica da sintaxe, em detrimento do sentido e contexto - nesta vertente encontra-se um grande número de poetas do sexo feminino e afro-americanos. Os Novos Formalistas, grupo de poetas associados que propõe um retorno à métrica e rima tradicionais surge na década de 1980; em Chicago, o slam poetry , formatação de espetáculos competitivos de poesia performática que enfatiza uma poética de fácil entendimento baseada na linguagem falada, abordando tópicos polêmicos e atuais. Dos autores ingleses contemporâneos destacamos Philip Larkin (1922-85) e Simon Armitage (1963- ) cuja linguagem coloquial é característica da poesia mainstream.
This Be the Verse by P. Larkin, 1990. They fuck you up, your mum and dad. They may not mean to, but they do. They fill you with the faults they had And add some extra, just for you. But they were fucked up in their turn By fools in old-style hats and coats. Who half the time were soppy-stern And half at one another’s throats. Por outro lado, influenciada pelos movimentos americanos modernista e beat , o surgimento 76
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de focos de produção poética alternativa ou non-mainstream em algumas cidades da Inglaterra durante as décadas de 60 e 70 ocasionou o que Eric Mottram, crítico inglês, denominou de British Poetry Revival. Esses autores publicam de forma alternativa, não estão inseridos nas resenhas literárias tradicionais. Citamos trechos do poema Place, Book 1 de Allen Fisher(1944 - ), em que se pode notar as diferenças em composição no que se refere a rima, construção das estrofes e as idéias fragmentadas. the earth spins too slow for us the day’s come-and-go directs our tiredness this is new to us This place it wasn’t yesterday but soon we will recall why the land governed us Poetry, at the best, does us a kind of violence that prose fiction rarely attempts or accomplishes. The Roman- tics understood this as the proper work of poetry: to startle us out of our sleep-of-death into a more capacious sense of life. There is no better motive for reading and rereading the best of our poetry.(BLOOM, 2000, p.142)
Atividade Complementar 1. Qual o modelo de origem celta que floresceu entre os séculos XII e XIV na Inglaterra?
2. Qual era a proposta de Wordsworth expressa em seus prefácios de Lyrical Ballads ?
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3. Quais os temas abordados pelo Romantismo norte americano?
4. Qual a principal característica do New Criticism ?
5. Quais as principais vertentes literárias do modernismo norte americano?
Sites indicados Emily Dickinson: http://www.bartleby.com/113/ Walt Whitman: http://www.americanpoems.com/poets/waltwhitman/13305 Edgar A. Poe: The Poetic Principle. http://knowingpoe.thinkport.org/default_flash.asp Transcendentalismo: http://www.transcendentalists.com/what.htm William Blake: http://www.cs.rice.edu/~ssiyer/minstrels/poems/66.html
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Filmes indicados - No Direction Home (documentário sobre Bob Dylan com depoimentos de Allen Ginsberg). Direção: Martin Scorcese. - Sem Destino (Easy Rider). Direção & Produção: Peter Fonda & Dennis Hopper. - Sociedade dos Poetas Mortos.
O TEATRO SHAKESPEARE
O teatro antes de Shakespeare Entre os séculos X e XI, o teatro começou a ser desenvolvido na Inglaterra. As primeiras peças traziam temas religiosos, compondo o chamado teatro litúrgico. Neste teatro há dois tipos de peças, quais sejam, os Ciclos misteriosos (Mystery Cycles), que contavam histórias bíblicas, e as Peças de milagres (Miracle plays), que falavam sobre a vida de santos. Estas peças, escritas conforme a língua falada, eram encenadas com o objetivo de doutrinar a população, que geralmente não conseguia entender os ensinamentos transmitidos pela Bíblia ou mesmo pelas missas, já que eram escritas e proferidas, respectivamente, em latim. O objetivo da encenação destas peças era transmitir ensinamentos religiosos conforme a Bíblia e o Catolicismo, religião que ainda predominava nesta época. A partir do reinado de Henry VIII, estas peças foram banidas, pois começa o processo de instauração do Protestantismo. O rompimento com a Igreja Católica ocorreu quando este rei teve o seu pedido de separação de Katharine of Aragon negado pelo Papa, levando-o a voltar-se para a fixação da Igreja Anglicana. Salientamos que a preocupação do rei Henry VIII em banir as peças teatrais religiosas denota o poder que o teatro exercia para fortalecer os ideais da Igreja Católica. Este fato demonstra que a literatura sempre é perpassada por questões ideológicas que exercem influência sobre as pessoas, podendo ser usadas, muitas vezes, como forma de dominação, ou, como mostraram os românticos, enquanto instrumento de revolta contra uma ordem vigente.
A Reforma e o Teatro A expansão da Igreja Protestante, no século XVI, como uma reação aos dogmas da Igreja Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental
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Católica, ficou conhecida como Reforma (Reformation). Podemos afirmar que esta “reforma” estendeu-se também à forma de produzir teatro e à sua finalidade. Pois, para o rei Henry VIII, as peças apresentavam-se como uma boa estratégia para divertir e impressionar a corte e reis visitantes. Assim, o teatro que antes era voltado para o doutrinamento religioso passou a se destinar à diversão e foi denominado Secular Drama . Formaram-se, nesta era, companhias de atores, como The Admiral’s Man e The Lord Chamberlain’s Man , mantidas por nobres, sob o incentivo da filha de Henry VIII, Elizabeth I. A encenação das peças era inicialmente feita em estalagens fechadas, mas logo teatros começaram a ser erguidos em Londres, a exemplo de The Theater, em 1576. A estrutura dos teatros tinha um modelo circular e era em sua maior parte descoberta. Foi neste contexto que surgiu um dos maiores dramaturgos do mundo e, certamente, um dos mais conhecidos no universo das literaturas anglófonas, William Shakespeare.
A era Elizabetana (1485-1625) A chamada Era Elizabetana abrange o período de 1485 a 1625, quando a Inglaterra e a Irlanda estiveram sob a predominância da Dinastia de Tudor, iniciada com o rei Henry VII (14851509), sucedido por Henry VIII (1509-1547) e seus filhos Edward VI (1547-1553), Mary (15531558) e Elizabeth I (1558-1603). Apesar de ser assim denominado, o reinado da Rainha Elizabeth ocorreu apenas entre 1558 e 1603. Ressaltamos que este período ficou conhecido como Era Elizabetana por ter sido o reinado da Rainha Elizabeth o mais longo, mas, sobretudo, por ter sido caracterizado como uma fase de mudanças políticas, religiosas – foi nesta época que houve a consolidação do Protestantismo –, econômicas e culturais. Além disso, devemos considerar o pulso firme da rainha que enfrentou com bravura diversos perigos que ameaçavam a Inglaterra, a exemplo da batalha bem sucedida travada com Felipe II, o rei da Espanha, que era ressentido pelas conquistas marítimas inglesas e, como rei de um país católico, pela expansão do Protestantismo. Há uma célebre frase proferida pela Rainha diante da Armada da Espanha, que revela um forte sentimento de patriotismo que perpassou a sua era: I know I have the body of a weak and feeble woman, but I have the heart and stomach of a King, and of a King of England, too, and think foul scorn that Parma or Spain or any Prince of Europe should dare to invade the borders of my realm. As mencionadas conquistas marítimas levaram este período a ser também chamado de a Era do mar (Age of the Sea), em virtude da expansão no Velho e Novo Mundo. Em virtude das conquistas, a Inglaterra passou de uma nação de economia de base agrária para uma grande nação comercial. A classe média, que começou a despontar na época de Chaucer, tornou-se rica e passou a disputar, ao invés de riquezas territoriais, uma posição política.
O Renascimento O período de ascensão da burguesia, o patriotismo e uma outra alternativa de religião levaram a sociedade elizabetana à concepção de que o homem devia ser o centro de tudo. Um ideal que encontra ressonâncias no Renascimento (Renaissance), que consistiu, como o próprio nome indica, na revisitação, ou seja, no renascimento da cultura grega e romana. 80
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William Shakespeare (1564-1616)
William Shakespeare
Ele não era de uma época, mas de todos os tempos. Ben Jonson. William Shakespeare (1564-1616) é considerado o supremo dramaturgo de todos os tempos, tendo sido também poeta. As principais obras de Shakespeare e o respectivo ano estimado de produção se encontram no quadro abaixo:
Ano
Título Péricles, príncipe de Tiro Henrique VI (1, 2, e 3ª partes) A comédia dos erros Trabalhos de amor perdidos O rei Ricardo II A tragédia do rei Ricardo III A Megera Domada A tragédia de Romeu e Julieta O Mercador de Veneza O Rei Henrique IV (1 e 2ª parte) A vida e a morte do rei João A vida do rei Henrique V Muito ruído por nada
1590 1590-1 1592 1592 1593 1593 1596 1596 1597 1597-8 1598 1599 1600
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Hamlet, príncipe da Dinamarca As alegres comadres de Windsor Troilo e Créssida O Rei Henrique VIII Medida por medida Otelo, o mouro de Veneza O Rei Lear A Tragédia de Macbeth Júlio César Antônio e Cleópatra Coriolano Timão de Atenas A Tempestade
1600 1601 1602 1603 1603 1604 1605 1606 1607 1608 1610 1610 1612
Suas peças foram categorizadas por conteúdo: história, tragédia e comédia. As peças históricas contemplam períodos importantes da História da Inglaterra como O rei Ricardo II e O rei Henrique IV ; outras têm como tema histórias clássicas como Troilo e Créssida e Antonio e Cleópatra . Dentre as tragédias destacamos Otelo, Hamlet, Rei Lear, Romeu e Julieta entre outras, e entre as comédias, A Megera Domada, A Comédia dos Erros , etc. Os hábitos das personagens e locais da ação dão indicações a respeito do gênero dramático; assim é que as histórias e as tragédias acontecem nos campos de batalha, castelos, e aposentos reais, enquanto que nas comédias presenciamos os jogos de palavra (trocadilhos) e a comicidade exagerada. A obra de Shakespeare tem como característica a representação da complexidade do ser humano em diversas situações, o que, possivelmente, explica a capacidade de diálogo com as diferentes gerações, ou a sua eterna contemporaneidade. Segundo Northrop Frye, as peças de Shakespeare não devem ser analisadas unicamente sob o ponto de vista histórico sob o risco de se ignorar a contemporaneidade dos personagens e das situações; por outro lado, não se considerar o aspecto histórico seria deixar de observar a complexidade da realidade social e histórica que deu origem a um texto de valor universal. Isto equivale a dizer que não podemos deixar de ter em mente o período histórico em que viveu Shakespeare, mas é preciso observar a apresentação de questões universais e sentimentos humanos, como o ciúme, a inveja, o ódio, a ambição, que tornaram o seu teatro universal. Algumas de suas personagens podem ser consideradas verdadeiras metáforas dos sentimentos mencionados, a exemplo do ciúme que, na literatura, não raro é associado a Otelo, como atesta o texto de Machado de Assis, Dom Casmurro. Do mesmo modo, os questionamentos que levam o homem a dúvidas existenciais são comumente remetidos à célebre frase do príncipe Hamlet: “Ser ou não ser, eis a questão.” No que pese as questões históricas, é válido mencionarmos que peças como O rei Ricardo II, Henrique IV , entre outras, não falam sobre estes reis, mas, também, trazem informações sobre a sua época, como demonstra o trecho abaixo 82
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destacado, da peça Henry V , na qual o dramaturgo faz menção à expansão marítima na Inglaterra, já abordada por nós. Thus with imagined wing our swift scene fl ies In motion of no less celerity Than that of thought. Suppose that you have seen The well-appointed king at Hampton pier Embark his royalty; and his brave fleet With silken streamers the young Phoebus fanning: Play with your fancies, and in them behold Upon the hempen tackle ship-boys climbing; Hear the shrill whistle which doth order give To sounds confused; behold the threaden sails, Borne with the invisible and creeping wind, Draw the huge bottoms through the furrow’d sea, Breasting the lofty surge: O, do but think You stand upon the ravage and behold A city on the inconstant billows dancing; For so appears this fl eet majestical, Holding due course to Harfl eur. Follow, follow: Grapple your minds to sternage of this navy, And leave your England, as dead midnight still, Guarded with grandsires, babies and old women, Either past or not arrived to pith and puissance; 72
Shakespeare e o Teatro De acordo com Frye, no capítulo introdutório do livro Sobre Shakespeare , é preciso deixar claro que Shakespeare não usou o teatro para nada: compreendeu suas condições como eram e as aceitou total- mente 73 , e afirma que não existe nada que o dramaturgo “queira dizer” em suas peças, a não ser promover diversão para a platéia que freqüentava os teatros da época. Não obstante a suposição que as peças tenham sido escritas para uma classe razoavelmente instruída e que financiava o teatro, a platéia, de fato, se constituía de um público misto, em que não faltavam os groundlings , ou pessoas possivelmente analfabetas que pagavam um penny 74 para assistir a peça de pé em frente ao palco; para estes, possivelmente, parte da linguagem utilizada lhes parecia inócua. Sabe-se também que algumas peças eram representadas para um público restrito, em solenidades palacianas 72 SHAKESPEARE, William. Henry V. Disponível: http://www-tech.mit.edu/Shakespeare/henryv/henryv.3.0.html. Acesso: 02 fev. 07. 73 FRYE, Northrop. Sobre Shakespeare. São Paulo: Edusp, 1999. p. 14. 74 Moeda de valor mínimo na época.
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e/ou em teatros mais íntimos como o Blackfriars Theatre . Shakespeare era um homem de teatro: ator, dramaturgo, e empresário do ramo teatral, participou da inauguração dos teatros The Globe e Blackfriars Theatre. De fato, as primeiras tragédias shakespeareanas foram encenadas no The Globe , teatro que foi construído pela companhia Chamberlain’s Men da qual Shakespeare era sócio minoritário. Em 1593 uma epidemia assolou a cidade de Londres e fez com que os teatros fossem fechados a fim de evitar o seu alastramento. Entretanto, em 1594, os teatros foram reabertos e as peças de Shakespeare continuaram a ser encenadas e a atrair o público.
O Teatro
The Globe Theatre
O Globe , localizado no distrito de Southwark, nos arredores de Londres, comportava entre dois a três mil espectadores e os espetáculos aconteciam durante o dia, uma vez que os recursos de iluminação eram inexistentes no período, bem os de acústica, o que fazia com que os atores tivessem que literalmente gritar suas falas e exagerar no gestual a fim de que a platéia pudesse escutá-los e entendê-los. Não usavam cenários como pano de fundo, embora os figurinos fossem caprichados; além disso, as mudanças de cena eram indicadas de forma implícita através dos diálogos e narrativas. O efeito “operístico” se fazia presente através da música que incluía toques de trombetas nas indicações de cena e canções de fundo, embora o espetáculo dependesse principalmente da palavra. Os preços dos ingressos variavam conforme o local e os menos pri vilegiados pagavam ingressos de one-penny (um centavo) e/ou two-penny (dois centavos), embora fossem os espectadores de melhor posição social que efetivamente mantivessem o teatro e seus produtores/escritores. O Globe sobreviveu a um incêndio em 1613, e foi reconstruído no ano seguinte; foi fechado em 1642 pelo regime puritano e, finalmente, foi destruído dois anos depois para a construção de casas populares em seu terreno. Posteriormente, em 1660, outros teatros foram abertos e as encenações das peças de Shakespeare tiveram suas montagens quebradas e os finais alterados; há aproximadamente um século teve início um processo de reconstrução das tradições e montagens teatrais da obra de Shakespeare. Algumas peças foram publicadas durante a vida de Shakespeare 84
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no formato in-quarto.75 As personagens de Shakespeare fazem parte do universo humano: reis, rainhas, príncipes, ministros, bufões, mulheres do povo, soldados, comerciantes, retratados nas mais variadas situações existenciais e em diversos lugares do mundo como na Dinamarca, na Itália, e em tantos outros lugares. Muitos deles se tornaram imortais como Romeu, Julieta, Otelo, Hamlet, Lear e Lady Macbeth, por terem sido singularizados e apresentados em uma perspectiva multidimensional. Ao mesmo tempo, os enredos de suas peças contemplam as diversas nuanças da vida: dor, riso, alegria, tristeza.
A Tragédia
Hamlet
A Tragédia em Shakespeare retém as características da concepção grega no que tange a “imitação de ações sérias praticadas por indivíduos de uma classe elevada”76 ; além disso, o indi víduo, não contando com o auxílio de deuses nem de forças sobrenaturais para superar dificuldades, está diante de uma situação sobre a qual não tem domínio. Entretanto, a inclusão de bufões e de personagens de outras classes sociais aponta para algum tipo de subversão nas peças clássicas. As peças encontram-se escritas em versos e contêm dois níveis de significação: uma evidente e uma subjacente, denominadas como “nível explícito” e “nível implícito” e que se apresentam através de metáforas e imagens utilizadas, ou ainda, por acontecimentos ou discursos. No que pese o fato de cada tragédia se reportar a um sentimento específico: em Hamlet , a vingança; em Rei Lear , a ingratidão; em Otelo, o ciúme; em Ricardo III , a vilania; e em Romeu e Julieta , o amor; nunca há alguma coisa externa às suas peças que ele queira “dizer” ou sobre a qual queira falar dentro das peças .77 O interesse de Shakespeare era divertir a sua platéia, e de fato, não temos registro sobre as suas posições políticas ou religiosas – nem se as tinha, embora saibamos, de fato, da existência de uma censura vigilante na época e que impediria qualquer referência à política daquele período. 75 As peças eram publicadas em dois formatos: in-quarto quando as folhas dos textos eram dobradas em quatro; folio quando as folhas eram dobradas em duas; ambas as formas eram vendidas por aproximadamente meio xelim. 76 SIMON, Sonia. In: Introdução aos Estudos Literários. FTC EAD. 2005, p. 25. 77 FRYE, Northrop. Op. cit. Loc. Cit.
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A Comédia As comédias em Shakespeare As comédias inglesas têm raízes nos festivais populares que obedeciam a um calendário agrícola e festejavam a fertilidade promovendo ritos comunais que remetiam aos antigos costumes pagãos. Tais atividades eram caracterizadas por dança e música, e sub-repticiamente parodiavam as autoridades; essas práticas desenvolveram-se e tornaram-se enredos de comédias clássicas. Nas comédias de Shakespeare, os enredos contemplam atividades amorosas, atividades de corte entre homens e mulheres e negam a idéia de morte; a mágica muitas vezes se encontra presente nessas peças, e ajudam a recriar a realidade como a personagem de Oberon em Sonhos de Uma Noite de Verão. Suas comédias são anárquicas e zombam da hierarquia, colocando mulheres e servos em posições de comando, transgredindo os códigos sociais da época. As personagens da comédia não sucumbem à morte ou à desgraça, e mobilizam-se em direção ao casamento e procriação, triunfando sobre o trágico. Entre outros dramaturgos da época, destacamos Ben Jonson (1572-1637), Christopher Marlowe (1564-1593) e John Fletcher (1579-1625).
OSCAR WILDE & BERNARD SHAW
O teatro do século XVII O grupo radical religioso no Parlamento que costumava se opor ao rei da Inglaterra, James I, eram os puritanos. Seguidores das idéias de João Calvino, eles queriam “purificar” a Igreja Anglicana dos fortes elementos católicos presentes em sua estrutura. James, por sua vez, dedicou seu reinado a fazer com que os puritanos se convertessem ao anglicanismo. Em 1620, a perseguição de James I aos puritanos levou um grupo deles a embarcar no navio Mayflower e partir para a América. Nos próximos vinte anos, mais de vinte mil puritanos partiram para o Novo Mundo. James I morreu em 1625, passando a coroa para o seu filho Carlos I e com ele a relação do rei com o Parlamento desandou de vez. Carlos I continuou a perseguição religiosa iniciada por seu pai e invocava o seu “direito divino” para justificar as suas ações arbitrárias. Em 1642, o Parlamento decidiu recusar a liberação de fundos para o rei. Em represália, Carlos I mandou prender cinco parlamentares e uma Guerra Civil foi declarada, dividindo a Inglaterra entre as tropas reais, os cavaliers , e as do Parlamento, os roundheads (assim chamados porque usavam cabelos bem curtos, representando a austeridade e resolução puritana). O rei foi morto e Oliver Cromwell, militar puritano responsável pela vitória do Parlamento, fechou a Igreja Anglicana e assumiu a responsabilidade de liderar a nação, iniciando uma verdadeira ditadura religiosa. Cromwell dissolveu o Parlamento e passou a ser o “lorde protetor” da República, que durou onze anos, de 1649 a 1660, quando a Monarquia foi restaurada. Durante o governo de Cromwell, a Inglaterra prosperou economicamente, mas no plano social foi um pesadelo para o povo. Seguindo o mesmo estlo de Calvino em Genebra, Cromwell 86
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fechou teatros, casas de jogos e outros locais que desviassem a atenção do povo da Igreja. Além disso, sancionou diversas leis para assegurar a austeridade da sociedade. Nesse sentido, xingamentos eram punidos com multas; esportes, roupas ornamentadas, festividades natalinas eram proibidos. Durante o seu governo, muitos cavaliers emigraram para o Novo Mundo, assim como haviam feito os puritanos trinta anos antes. Com a morte de Cromwell em 1658, o exército e o povo já estavam cansados de viver sob o puritanismo e convidaram o filho de Charles I para assumir a coroa. Depois desse episódio, a Inglaterra nunca mais voltou a ser uma República. Restauração é o nome que se dá à volta da monarquia na Inglaterra. Nos anos da década de 1660, período em que ocorreu a Restauração da monarquia inglesa com Carlos II, a literatura inglesa, que outrora se voltava para o coração, teve que se voltar para a razão, como meio de distanciar o povo do desequilíbrio suscitado por convicções intensas, que inspiraram a Guerra Civil, resultante do conflito entre um segmento da população que constituiu riqueza através da terra, era conservador e apoiava o rei, e um outro segmento formado pela burguesia ávida por participar da vida política do país. Os anos da Restauração foram marcados por três grandes acontecimentos: a formação de dois partidos políticos da Inglaterra: os Tories e os Whigs, a grande peste e o grande incêndio de Londres.
Algumas conseqüências da Restauração sobre o teatro Em 1642, os puritanos fecharam os teatros e, assim, uma forte tradição que vinha se consolidando teve que ser esquecida. Algumas modificações ocorreram, distanciando o teatro do período da Restauração daquele produzido na era elizabetana. Entre estas, mencionamos a estrutura dos teatros, que se tornaram maiores, e o afastamento da platéia. Dois outros aspectos importantes foram o investimento, por parte dos diretores, para causar efeitos mais elaborados no palco, e a encenação de mulheres, pois no teatro elizabetano havia apenas espaço para os homens. Entre os dramaturgos mais importantes deste período, destacam-se John Vanbrigh (16641726), William Congreve (1670-1729), Oliver Goldsmith (1730-1774), Richard Brinsley Sheridan (1751-1816) e Henry Fielding (1707-1754). No período da Restauração até a Regulamentação do Teatro (1843), era permitido o funcionamento de apenas três teatros, quais sejam, Drury Lane, o Convent Garden e o Haymarket. A permissão a apenas estes poucos teatros fez com que as representações neles encenadas não passassem muitas vezes de um drama inexpressivo, já que as salas cheias não permitiam que as vozes dos atores fossem ouvidas e muitas vezes era impossível até mesmo ver os atores. Por este motivo, muitos teatros não-autorizados passaram a funcionar em Londres e os dramas mais encenados eram os chamados melodramas, que se caracterizam pelo senso de desmedida (exagero) e pelo “humor baixo”.
Oscar Wilde Durante o período do renascimento do drama inglês, uma figura importante surge, Oscar Wilde (1854-1900), um autor irlandês que escreveu prosa, verso e peças teatrais, e foi, sobretudo, Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental
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um crítico contumaz dos costumes da sua época. A relação intrínseca entre sua vida e obra revela uma aguda e divertida consciência de seu papel em ambas. A subversão, presente nos aforismos e no humor irônico e paradoxal de suas peças, vai além da simples rejeição aos valores de sua época sobre a vida e a arte em nome da estética, mas, sobretudo, provocam, de forma desafiadora, uma resposta a tudo que é diferente. Wilde questionou as instituições, a moral, e os clichês sociais, divertindo-se com sua atitude iconoclasta. São traços do teatro de Wilde a espirituosidade, o simbolismo e a fantasia. Escreveu os diálogos inspirados em Platão como The Decay of the Lying (1889), The Critic as Artist (1890); o ensaio The Soul of Man under Socialism (1891); e o seu mais conhecido romance The Picture of Dorian Grey (1890); além disso, se destacou como dramaturgo pelas peças Vera: or the Nihilist (1888), The Duchess of Parma (1883), A Florentine Tragedy (iniciada em 1894 e finalizada em 1897), e a sua mais controvertida peça, Salomé (1894). Inspirada pela história bíblica, no poema Herodiade , do poeta simbolista Mallarmé e pelo texto de Flaubert, Herodias , esta peça foi escrita em francês, e posteriormente traduzida para o inglês por Lord Alfred Douglas, amante de Oscar Wilde. A peça teve a sua encenação proibida na Inglaterra por seu conteúdo considerado imoral, abrangendo justaposições de repulsa e desejo sexual, morte e orgasmo, até 1931 quando foi, finalmente, liberada. Leiamos um trecho desta instigante peça para adentrar um pouco no universo ficcional de Oscar Wilde: [SCENE -- A great terrace in the Palace of Herod, set above the ban- queting-hall. Some soldiers are leaning over the balcony. To the right there is a gigantic staircase, to the left, at the back, an old cistern surrounded by a wall of green bronze. The moon is shining very brightly. ] THE YOUNG SYRIAN How beautiful is the Princess Salome to-night! THE PAGE OF HERODIAS Look at the moon. How strange the moon seems! She is like a woman rising from a tomb. She is like a dead woman. One might fancy she was looking for dead things. Salomé
THE YOUNG SYRIAN She has a strange look. She is like a little princess who wears a yellow veil, and whose feet are of silver. She is like a princess who has little white doves for feet. One might fancy she was dancing. THE PAGE OF HERODIAS She is like a woman who is dead. She moves very slowly. [Noise in the banqueting-hall.]
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FIRST SOLDIER What an uproar! Who are those wild beasts howling? SECOND SOLDIER The Jews. They are always like that. They are disputing about their religion. FIRST SOLDIER Why do they dispute about their religion? SECOND SOLDIER I cannot tell. They are always doing it. The Pharisees, for instance, say that there are angels, and the Sadducees declare that angels do not exist. FIRST SOLDIER I think it is ridiculous to dispute about such things. THE YOUNG SYRIAN How beautiful is the Princess Salome to-night! THE PAGE OF HERODIAS You are always looking at her. You look at her too much. It is dangerous to look at people in such fashion. Something terrible may happen. THE YOUNG SYRIAN She is very beautiful to-night. FIRST SOLDIER The Tetrarch has a sombre aspect. SECOND SOLDIER Yes; he has a sombre aspect. FIRST SOLDIER He is looking at something.
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SECOND SOLDIER He is looking at some one. FIRST SOLDIER At whom is he looking? SECOND SOLDIER I cannot tell. THE YOUNG SYRIAN How pale the Princess is! Never have I seen her so pale. She is like the shadow of a white rose in a mirror of silver. 78 Oscar Wilde também escreveu comédias de sucesso, como The Importance of Being Earnest (1895), mas seu grande sucesso foi Lady Windermere’s Fan: A Play about a Good Woman (1892). Outras peças de Wilde são: A Woman of No Importance (1893), An Ideal Husband (1895). Oscar Wilde foi preso por práticas homossexuais em 1895, o que acarretou a rejeição de suas obras teatrais, cuja característica principal residia na captura de um humor fluido e intenso, e no desafio das pretensões - exceto a de ser apenas peças de teatro.
A contribuição de Henrik Ibsen para o teatro social De origem norueguesa, podemos apontar Henrik Ibsen (1828-1906) como o fundador do teatro realista ou “dramas de problematização social”79 . Seu interesse esteve voltado para questões domésticas e sociais, concernentes tanto à Escandinávia quanto à Inglaterra. Algumas das características do seu teatro são a crítica à sociedade e a configuração de cenários e personagens comuns. Uma de suas obras mais conhecidas é Casa de Bonecas , na qual Ibsen tematiza o fracasso de um casamento. Ressaltamos que Ibsen resistiu durante um certo tempo a perfazer uma poética realista, pois temia que seu teatro se tornasse superficial. Na verdade, o que observamos no projeto deste dramaturgo é o intuito de apresentar poeticamente um quadro verossímil de dramas sociais e não raro apresentando um mergulho psicológico em suas personagens.
Teatro realista irlandês Bernard Shaw 78 WILDE, Oscar. Salome: a tragedy in one act. Disponível: http://etext.virginia.edu/etcbin/toccer-salome?id=WilSalo&images=images/odeng&data=/ web/data/subjects/salome&tag=public&part=1&division=div1. Acesso: 02 fev. 07. 79 IBSEN, Henrik. Disponível: http://www.noruega.org.br/ibsen/realism/realism.htm. Acesso: 02 fev. 07.
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Nascido em Dublin, George Bernard Shaw (1856-1950) foi escritor, jornalista e dramaturgo. Suas primeiras incursões no mundo das letras datam da sua atuação como crítico de teatro no Saturday Review . Em 1925, ganhou o prêmio Nobel de Literatura, que foi por ele recusado. Shaw foi contemporâneo e patrício de Oscar Wilde, e se caracterizou por buscar material para suas peças na tradição, se notabilizando pelo seu talento para comédia. Foi influenciado por Henrik Ibsen, a quem reputava a conscientização do papel da mulher na vida do homem e, ao lado desse, se inseriu no teatro realista. Para entender um pouco mais sobre o teatro de Shaw é pertinente mencionar algumas características do teatro realista: - Os autores se propunham a se aproximar ao máximo do “real”; - As cenas retratam situações cotidianas relacionadas à vida burguesa; - Os cenários reproduzem cômodos comuns para garantir uma atmosfera de verossimilhança, levando o público a imaginá-la menos como uma representação do que como uma apresentação da realidade. Entre as produções dramáticas de Shaw, destacamos a peça Pigmalião, filmada sob o título de My Fair Lady . Esta peça é baseada na história de Galatea da mitologia grega, e aborda o tema da criatura e o criador, focalizando a variedade dialetal como indicador de classe social na Grã Bretanha. Pygmalion conta a história de uma florista cujo desejo de ascensão social é despertado por um professor de fonética que encontra enquanto vende as suas flores. Este professor, Henry Higgins, estava discretamente fazendo uma transcrição fonética dos sons pronunciados por Eliza Doolittle, a florista, quando foi surpreendido. Após, inútil e arrogantemente, se justificar, afirma que poderia transformá-la em uma dama em três meses. Eis o trecho em que o afirma: THE NOTE TAKER. [Professor Higgins] You see this creature with her kerbstone English: the En- glish that will keep her in the gutter to the end of her days. Well, sir, in three months I could pass that girl off as a duchess at an ambassador’s garden party. I could even get her a place as lady’s maid or shop assistant, which requires better English. That’s the sort of thing I do for commercial millionaires. And on the profits of it I do genuine scientific work in phonetics, and a little as a poet on Miltonic lines. 80 Esta peça suscita algumas instigantes discussões sobre o papel da educação como elemento promotor de aceitação social. Neste sentido, a linguagem é vista na peça como um importante fator que distingue as pessoas conforme a sua formação. Shaw se mostrou interessado, como demonstra esta peça, em assuntos lingüísticos, e, de fato, iniciou, com recursos próprios, a pesquisa e criação de um alfabeto fonético para a língua inglesa. Entretanto, no final da sua vida os recursos haviam se tornado escassos e o projeto teve que ser adiado até que, após a sua morte, os royalties recebidos pela adaptação de Pigmaleão para o musical My Fair Lady possibilitou a retomada do projeto. O alfabeto chama-se Shavian Alphabet . Provavelmente a configuração de sua personagem, Henry Higgins, o professor de fonética da peça Pygmalion seja uma projeção deste seu interesse. Outras peças deste autor são Saint Joan (1923), Plays Pleasant and Unpleasant (1898) e Man and Superman (1905), entre outras. Entre outros dramaturgos irlandeses que se inserem na linhagem de autores realistas estão 80 SHAW, Bernard. Pygmalion. Disponível: http://drama.eserver.org/plays/modern/pygmalion/default.html. Acesso: 02 fev. 07.
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John Millington Synge (1871-1909) e Sean O’Casey (1884 -1964). No tocante a Synge, ressaltamos um importante tema que perpassa a sua obra: a necessidade de configurar uma identidade nacional. As suas peças têm como cenário a zona rural irlandesa e seu realismo é impresso nas falas de seus personagens, que reproduzem o modo de falar dos camponeses. Riders to the sea, que tem como tema a história de uma mãe que perdeu seus filhos mortos no mar, figura como uma peça importante na literatura irlandesa. É relevante ler um trecho desta expressiva peça das letras irlandesas: CATHLEEN. How would they be Michael’s, Nora. How would he go the length of that way to the far north? NORA. The young priest says he’s known the like of it. “If it’s Michael’s they are,” says he, “you can tell herself he’s got a clean burial by the grace of God, and if they’re not his, let no one say a word about them, for she’ll be getting her death,” says he, “with crying and lamenting.” 81 Enquanto Synge se voltou para a zona rural, as peças de Sean O’Casey, tinham como cenários os cortiços de Dublin. Duas peças significativas deste autor são A sombra de um pistoleiro e O arado e as estrelas .
O TEATRO NORTE AMERICANO
Tenessee Williams Tenessee Williams (1911-1983) foi um dos maiores dramaturgos americanos. Dentre seus temas, destacamos a passagem do tempo e o acúmulo de perdas, a luta na preservação de valores, a ambigüidade da moral, a busca por alívio diante da angústia de viver, o medo da morte e o desejo de viver. Seu método consistia em diálogos objetivos, confissões, uso de símbolos, nomes significativos e a utilização de música na ênfase de determinada atmosfera. Entre as suas peças mais conhecidas temos A Streetcar named Desire (Um bonde chamado desejo), transformado em linguagem cinematográfica, The Glass Menagerie, Cat on a Hot Tin Roof (Gata em Teto de Zinco Quente), A noite do Iguana , entre outras. Um Bonde Chamado Desejo contém elementos da tragédia e pathos ; entre os temas apresentados destacam-se a queda da aristocracia sulista, representado pela ruína de Blanche, protagonista da peça, e o desejo descontrolado metaforizado pelas trevas ou escuridão. No início da peça, Blanche toma um bonde chamado “Desejo”, para em seguida embarcar em um bonde intitulado “Cemitério” e finalmente desce na rua chamada “Campos Elíseos”. Analisando esses elementos de forma simbólica, podemos insinuar que os símbolos do desejo sexual conduzem às trevas, metaforizada pelo cemitério, e a sua chegada ao plano depois da morte, ou Campos Elíseos. A linguagem utilizada contrasta os bons modos e a boa educação de Blanche com a rudeza de Stan, marido da sua irmã, Belle. Leiamos um trecho da peça para mergulhar um pouco no universo de 81 SYNGE, John Millington Synge. Riders to the sea. Disponível: http://mockingbird.creighton.edu/english/micsun/irishresources/riders.htm . Acesso: 02 fev. 07.
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Tenessee Williams. After Stanley returns to the kitchen, Blanche tells him that Huntleigh res- pects her and that she, as an intelligent and cultivated woman, has much to offer him. Then she insults Stanley, saying, “I have been foolish–casting my pearls before swine. . . . I’m thinking not only of you but of your friend, Mr. Mitchell [who] came back [and] implored my forgiveness.” But, she says, she bid farewell to him. Stanley asks, “Was this before or after the telegram came from the Texas oil millionaire?” “Whattelegram?” Her response gives her away. Stanley says was she lying not only about the Um Bonde Chamado Desejo Caribbean cruise but also about Mitch’s return visit because “I know where he is.” Then he says, “Take a look at yourself in that worn-out Mardi Gras outfit, rented for fifty cents from some rag- picker. And with that crazy crown on! What queen do you think you are?” He answers his own question, saying, “The queen of the Nile! Sitting on your throne and swilling down my liquor!” Stanley reenters the bedroom and goes into the bathroom. Frightened, Blanche picks up the phone receiver and requests the number of “Shep Huntleigh of Dallas,” who she says is so well known that she need not provide the operator an address. Moments later, she cancels the call and asks for Western Union to send a message that she is in “desperate circumstances.” Stanley emerges from the bathroom in his pajamas. He leers at her. She smashes the top of a bottle and threatens him with the jagged edge. He subdues and rapes her .82
Arthur Miller Enquanto as peças de Tenessee Wiliams se distinguem pelo forte conteúdo emocional, as peças de autoria de Arthur Miller (1915-2005) contemplam temas éticos, abordando a disputa entre o bem e o mal; o mito americano do sucesso; a desumanidade da sociedade moderna; e a responsabilidade individual. Sua mais conhecida peça, Death of a Salesman lhe rendeu o prêmio Pulitzer de 1949, e consiste numa crítica ao sonho americano de sucesso. Nesta peça, um caixeiro viajante, Willy Loman, acredita que alcançará o sucesso e transmite este sonho aos seus dois filhos. Entretanto, nenhum deles consegue realizar o sonho de grandeza. Willy não cabe no papel tradicional do herói trágico pelo fato de não perceber a sua própria tragédia e carecer de nobreza e magnanimidade peculiar ao herói trágico; traços que o caracterizam como um anti-herói. Esta peça pode ser lida como uma crítica ao chamado “sonho americano” ( American dream ), porque, ao longo de sua vida, o protagonista, a exemplo de muitos norte-americanos e estrangeiros fascinados pelo sonho de constituir riqueza, se deixou iludir pelas promessas fáceis deste sonho, esquecendo de perceber a realidade. É este tipo de ilusão que acomete Willy, levando-o a viver num passado ora carregado pela certeza de que tudo poderia ter sido melhor, ora permeado de lembranças positivas das pessoas; ou, ainda, a projetar um futuro melhor, no qual depositava grandes sonhos, negligenciando, desse modo, o presente, a sua realidade, como ilustra o trecho a seguir: 82 WILLIAMS. Tenesse. Trecho da peça A Streetcar Named Desire
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America is full of beautiful towns and fine, upstanding people. And they know me, boys…the finest people…there’ll be open sesame for all of us, ‘cause one thing boys: I have friends. I can park my car in any stre- et…and the cops protect it like their own. Arthur Miller também foi autor de um ensaio sobre as tragédias clássicas, intitulado Tragedy and The Common Man.
Eugene O’Neill Eugene O’Neill (1888-1953) foi o pioneiro na adoção do realismo no drama americano. Suas peças tratam de temas trágicos, de tom pessimista, e focalizam personagens que vivem à margem da sociedade tentando desesperadamente manter a esperança, para no final sucumbirem à desilusão e ao desespero. O’Neill fez parte do movimento que tentou revitalizar o uso da máscara do antigo teatro grego e do teatro “Noh” do Japão para algumas de suas peças. Este tipo de teatro consiste na configuração de um mundo no qual teatro, música e poesia se fundem. Em 1936 ganhou o prêmio Nobel de Literatura, e o Pulitzer, póstumo, em 1957 pela peça Long Days Journey into the Night também publicada postumamente. A sua carreira divide-se em três fases: a primeira, a fase realista, em que O’Neill utiliza suas experiências pessoais enquanto era marinheiro como tema de suas peças. Em 1920, inicia-se a sua segunda fase, quando Eugene O’Neill rejeita o realismo e, sob a influência das idéias de Nietzsche, Jung e Strindberg ingressa no período “expressionista” em que procura “captar” as forças que regem a existência humana trazendo-as para o palco. Posteriormente, O’Neill retorna ao realismo e alcança a sua melhor fase segundo os críticos.
O TEATRO DO ABSURDO
O Grito - Edwaed Münch
O Teatro do Absurdo, termo retirado de um ensaio de Albert Camus, é uma denominação cunhada pelo crítico teatral Martin Esslin para algumas peças escritas durante o período entre 1950 e 1960. Camus definiu a situação da humanidade em o Mito de Sísifo (1942) como absurda e sem sentido, visão compartilhada por autores como Samuel Beckett, Eugene Ionesco, Harold 94
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Pinter e outros, que transferem para as suas peças a noção de que o individuo habita um universo com o qual ele se encontra em dissonância. Sua existência é inexplicável e sem propósito, e este individuo se encontra desorientado, perplexo, e ameaçado de forma obscura. O Teatro do Absurdo é fruto dos experimentos realizados pela vanguarda artística das décadas de 1920 e 1930. Indubitavelmente, foi um movimento fortemente influenciado pelos horrores causados pela Segunda Guerra Mundial, e teve como conseqüência a reflexão sobre a transitoriedade de valores, das convenções, e, sobretudo, a precariedade da vida humana. O trauma, instalado a partir de 1945, de viver sob a ameaça constante de um aniquilamento causado por uma guerra nuclear causou um grande impacto que repercutiu no aparecimento dessa forma dramática. Concomitantemente, o que parece ter sido uma reação ao desaparecimento da dimensão religiosa no mundo contemporâneo, pode, também, ser considerado como uma tentativa de restituir a importância do mito e ritual na nossa época, através da conscientização dos indivíduos da sua real condição de vida, restituindo-lhe a sensação cósmica perdida e sua angustia primitiva. Através do choque conseguido pela demonstração de uma vida mecânica e complacente, o Teatro do Absurdo atinge o seu objetivo mostrando que existe uma experiência mística no confronto dos limites da condição humana. O resultado é que as peças desse gênero teatral conseguiram uma formatação inovadora e original, tirando o espectador de seu mundo confortável, convencional, e prosaico. No mundo sem Deus do pós-guerra seria impossível encenar uma peça nos moldes artísticos tradicionais, de acordo com padrões que não mais convenciam. Desse modo, o Teatro do Absurdo se rebelou contra o teatro convencional e se tornou o “anti-teatro”: surreal, ilógico, sem conflitos e sem enredo; os diálogos pareciam ininteligíveis. De fato, o Teatro do Absurdo foi recebido com incompreensão e rejeição. Um dos aspectos mais importantes desta forma teatral foi o tratamento de desconfiança com relação à linguagem como meio de comunicação. Para os mentores do Teatro do Absurdo, a linguagem havia se tornado um veículo sem sentido; as palavras haviam deixado de expressar a essência da experiência humana e não conseguiam penetrar além da sua superfície. O Teatro do Absurdo se constituiu, desse modo, como o pioneiro no ataque à linguagem, e tenta fazer com que as pessoas se conscientizem da possibilidade de se comunicar de forma mais autêntica, para além das convenções lingüísticas tradicionais; para isso, utiliza o discurso convencional, clichês, slogans e jargão, e ridiculariza os padrões estereotipados de fala, mostrando a linguagem como instrumento precário e insuficiente na comunicação. Na sua concepção, o discurso convencional age como uma barreira entre os indivíduos e o mundo real, e, os objetos importam mais do que a linguagem – o que acontece no palco transcende aquilo que está sendo dito. A linguagem implícita é a linguagem que realmente importa no Teatro do Absurdo. Essa forma dramática subverte a lógica e se regozija no que é inesperado e logicamente impossível. O Teatro do Absurdo nega tanto a linguagem como o racionalismo sob o argumento que ambos lidam apenas com o aspecto superficial das coisas, enquanto que o nonsense oferece a possibilidade da liberdade, contato com a essência da vida, e é fonte de uma maravilhosa comédia. Neste tipo de teatro não existe um conflito dramático, como em outras formas teatrais. No Teatro do Absurdo a performance das personagens enfatiza a questão que nada acontece para mudar suas vidas; é um teatro que visa comunicar uma atmosfera, uma experiência de situações humanas, diferentemente das demais formas teatrais que focalizam eventos que acontecem em Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental
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uma dada seqüência. O Teatro do Absurdo utiliza recursos visuais, luzes, mímica, ballet, acrobacias e movimento ao invés da linguagem, elemento privilegiado no teatro tradicional.
Samuel Beckett Um dos mais renomados autores do Teatro do Absurdo foi o irlandês Samuel Beckett (1906-1989), que recebeu o prêmio Nobel de Literatura em 1969. Entre os diversos trabalhos que compõem a sua obra, a peça Esperando Godot (Waiting for Godot), publicada em francês em 1952 e traduzida para o inglês em 1954, En attendant Godot, é possivelmente a mais conhecida. A história diz respeito a dois homens, Vladimir e Estragon, que à beira de uma estrada e perto de uma árvore, esperam alguém de nome Godot. As personagens, vestidas como vagabundos, passam o tempo da performance a conversar, discutindo por vezes e, em outros momentos, incapazes de estabelecer comunicação, como ilustra o trecho a seguir.
Estragon: (chewing) I asked you a question. Vladimir: Ah. Estragon: Did you reply? Vladimir: How’s the carrot? Estragon: It’s a carrot. Esperando Godot
A platéia não descobre quem é Godot nem o porquê da espera por essa personagem. De fato, a espera se prolonga durante os dois atos da peça e, finalmente, os protagonistas resolvem ir embora, mas não saem do lugar: Vladimir: Well? Shall we go? Estragon: Yes, let’s go. They do not move. O trabalho de Beckett é considerado minimalista e profundamente pessimista com relação à condição humana, embora possua um acurado senso de humor. No que tange à dramatização da condição humana, é possível aproximá-lo ao Existencialismo, corrente que tem como um dos seus representantes Jean Paul Sartre e Albert Camus. Sobre a aproximação desses e de um outro autor, Antonin Artaud, Christopher Innes afirma: The roots of his [Beckett’s] drama are in the Existencialism of Sartre and Camus, picking up on the Surrealism of André Breton or Roger Vitrac in the 1920s.There is also a link with Antonin Artaud’s experi- ments in subliminal theatre through Roger Blin, Artaud’s collaborator in the 1930s, who directed Beckett’s early plays.83 83 INNES, Christopher. Modern British Drama 1890-1990. Great Britain: Cambridge University Press, 1992, p. 428.
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Não obstante esta relação, é interessante salientar que as peças de Beckett traduzem não só dramas existenciais, mas, sobretudo, o pessimismo de uma era marcada pela destruição em massa e a total descrença no homem, diante de seu poder de auto-aniquilação. O que resta é esperar, como o fazem Estragon e Vladimir, por algo sempre muito abstrato, porque talvez inexistente. A pergunta que circunda o imaginário de leitores e público da peça Esperando Godot é: quem é Godot? Essa resposta não é dada por Beckett, certamente porque para cada pessoa, em cada época, esta entidade, que é ora caracterizada como o homem (uma possível alegoria da humanidade), ora como um ser abstrato (uma representação de Deus, God , em inglês) pode ser um ou outro, ou o que mais se possa ou queira acreditar. No texto “The knowledge of unknowing in Beckett’s Waiting for Godot” , William S. Haney estabelece uma relação entre a peça de Beckett e o contexto no qual foi escrita. Conforme este autor: The Theater of the Absurd has been said by Martin Esslin (399-405), Peter Brook (65) and others to be a quest for a way to live in a modern world deprived of generally accepted ultimate values. Faced with the loss of confidence in the traditional narratives that explain the mysteries of the human condition, the Theater of the Absurd presents its audiences with what Esslin calls a double absurdity: that of “the deadness and mechanical senselessness of half-unconscious lives” (400), and that “of the human condition itself in a world where the decline of religious belief had deprived man of uncertainties. 84 Beckett escreveu a maior parte de suas peças em francês e ele próprio fazia as traduções das peças para o inglês.
Harold Pinter Harold Pinter (1930) é inglês e ganhou o prêmio de Literatura em 2005. Autor de várias peças, Pinter foi, confessadamente, influenciado por Samuel Beckett, de quem se tornou amigo. Suas peças destacam-se pelo uso do silêncio, como elemento mediador de tensão, e con versas prosaicas. Seus temas, conhecidos como Pinteresque, contemplam ameaças obscuras, fantasias eróticas, obsessão e ciúme, desavenças familiares e distúrbios mentais. Seus cenários são geralmente um único cômodo em que as personagens são ameaçadas por forças ou pessoas cujas intenções não estão claras para as personagens nem platéia. Ao invés de instrumento de comunicação, a linguagem é utilizada como uma arma, e as palavras, pontuadas pelo silêncio, indicam pavor, ira, dominação e o receio de intimidade. Os diálogos são controlados e, segundo Martin Esslin: Every syllable, every inflection, the succession of long and short sounds, words and sentences, is calculated to nicety. And precisely the repetitiousness, the discontinuity, the circularity of ordinary vernacular speech are here used as formal elements with which the poet can compose his linguistic ballet. 85 Dentre as suas 29 peças teatrais destacamos The Caretaker, publicada em 1959. A história acontece em torno de dois irmãos, Aston e Mick, que dividem um pequeno apartamento em Londres; um dia eles deixam que um velho venha viver com eles por algum tempo. Ao final, torna-se claro que todas as personagens têm sonhos que não conseguirão realizar, o que ocasiona 84 HANEY, William. The knowledge of unknowing in Beckett’s Waiting for Godot. In: ______. The humanities in Western culture: a search for human values. Vol. 2. United States: Wm. C. Brown Communications, 1993, p. 410. 85 ESSLIN, Martin. The People Wound. [S/l]: 1970.
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momentos de tensão entre eles. ASTON - You said you wanted me to get you up. DAVIES - What for? ASTON - You said you were thinking of going to Sidcup. DAVIES - Ay, that’d be a good thing, if I got there. ASTON - Doesn’t look like much of a day. DAVIES - Ay, well, that’s shot it, en’t it? 86 Pinter oferece visões de momentos bizarros ou difíceis na vida dos indivíduos, e fez a seguinte declaração em 1958: There are no hard distinctions between what is real and what is unreal, nor between what is true and what is false. A thing is not necessarily either true or false; it can be both true and false. I believe that these assertions still make sense and do still apply to the exploration of reality through art. So as a writer I stand by them but as a citizen I cannot. As a citizen I must ask: what is true? What is false?
86 PINTER, Harold. The Caretaker. Trecho de diálogo.[S/l]: [S/d]
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Atividade Complementar 1. Cite 3 tragédias de Shakespeare e comente-as, relacionando aos conhecimentos sobre este gênero.
2. Cite 3 comédias de Shakespeare.
3. O que tinham em comum Henrik Ibsen e George Bernard Shaw?
4. Qual a preocupação de George Bernard Shaw com relação à linguagem?
5. O que representa a linguagem para o Teatro do Absurdo?
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Sites indicados Shakespeare: http://www.enotes.com/william-shakespeare/shakespeares-globe-theater/ Samuel Beckett: http://samuel-beckett.net/Waiting_for_Godot_Part1.html HaroldPinter: http://www.geocities.com/pleasence/theatre/caretaker91/caretaker-2.html Oscar Wilde: http://www.oscarwildecollection.com/ George Bernard Shaw: http://www.literaturepage.com/read/pygmalion.html
Filmes indicados Elizabeth A Megera Domada A noite do Iguana Gata em Teto de Zinco Quente Hamlet My Fair Lady O Mercador de Veneza Otelo Rei Lear Romeu e Julieta Salomé Um bonde chamado desejo (A Streetcar named Desire)
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Glossário AMBIGÜIDADE – que apresenta duas faces; dois sentidos. AMOR CORTÊS – conceito de relacionamento em que a mulher amada pertence a uma classe social abastada e seu pretendente, um ministrel, de classe inferior, que lhe presta vassalagem. BARDO – ministrel; vate. CICLO ARTURIANO – coletânea de lendas e mitos de origem celta e que relatam as aventuras do Rei Artur e seus cavaleiros. CLOSE-READING– leitura imanente; leitura de um texto baseada exclusivamente nas palavras do próprio texto, ignorando o contexto histórico e/ou dados biográficos do autor. EPIFANIA – revelação; literariamente, trata-se de uma técnica utilizada por Joyce para revelar um instante existencial. ESTÓRIAS DE MOLDURA – histórias que pretensamente são contadas por alguém a outro alguém. EXÉQUIAS – cerimônias ou honras fúnebres. FIN AMORS – vide Amor Cortês. GRAVEYARD SCHOOL – escola literária cujos temas diziam respeito à morte. HAGIOGRAFIA – Biografia dos santos; escritos sobre santos. HEPTASSÍLABOS – versos em sete silabas. LAIS – poema narrativo; canção. MAINSTREAM E NON-MAINSTREAM – tendências da poesia inglesa contemporânea, em que a primeira diz respeito às técnicas tradicionais, e a segunda àquelas que rejeitam a tradição. MELODRAMAS – dramas cantados MIDDLE ENGLISH – dialeto falado na Grã Bretanha do século XIII o século XV. MYSTERY CYCLES – feitos grandiosos de Jesus Cristo ou uma verdade religiosa. NÍVEL EXPLICITO – significação aparente. Em inglês, overthought . NÍVEL IMPLÍCITO – significação secundária, ou subjacente. Em inglês, underthought . NOVA INGLATERRA – conjunto de estados que compunham as colônias americanas. OLD ENGLISH – dialeto falado nas Ilhas Britânicas até aproximadamente o século XIII. SAGA – Narrativas épicas típicas dos países nórdicos. SCOP – bardo itinerante do período anglo-saxão. SONETO – poema estruturado em dois quartetos e dois tercetos. Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental
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Referências Bibliográficas AUSTEN, Jane. Emma. New York: Penguin Books, [S/d]. AUSTEN, Jane. Pride and Prejudice . New York: Penguin Books, [S/d]. AUSTEN, Jane. Sense and Sensibility. Penguin Books, [S/d]. BAKHTIN, Mikhail. O plurilingüismo no romance. In: ______. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. Tradução Aurora Fornoni Bernardini et al. São Paulo: Hucitec, 2002, p. 107-133. BECKETT, Samuel. Waiting for Godot (Esperando Godot). BENJAMIN, Walter. O Flâneur. In: ______. Charles Baudelaire: um lírico no auge do capitalismo. Tradução José Martins Barbosa; Hemerson Alves Baptista. São Paulo: Brasiliense, 1989, p. 185-236. BENJAMIN, Walter. O Narrador:Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In Arte Política. Ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1987. BLOOM, Harold. How to read and why. NY: Touchstone, 2000. BODKIN, Maud. Archetypal Patterns in Poetry: Psychological Studies of Imagination. Oxford: Oxford Press, 1934. BURGESS, Anthony. A literatura inglesa. Tradução Duda Machado. 2. ed. São Paulo: Ática, 2004. BURROWS, David J.; LAPIDES, Frederick & SHAWCROSS, JOHN T. Myths and Motifs in Literature. New York: The New Press, 1973. CARTER, Angela. O lobisomem. In: ______. O quarto do Barba-azul. Tradução Carlos Nougué. Rio de Janeiro: Rocco, 1999, p. 193-195. CARVALHAL, Tania Franco. Literatura Comparada. Série Princípios, São Paulo: Ática, 1998. CHAUCER, Geoffrey. The Canterbury Tales. London: Penguin Books, 1996. CHKLOVSKI, Victor. “A arte como procedimento”. Tradução Ana Maria Ribeiro Filipouski et al. In: TOLEDO, Dionísio (org). Teoria da Literatura: Formalistas russos. 2ª reimpressão da 1.ed. Porto Alegre: Globo, 1973, p. 39-56. CLEMENTS, Arthur L. (ed). John Donne’s Poetry. 2nd. Edition. New York: Norton & Company, Inc., 1991. COCHRANE, James. The Penguin Book of American Short Stories. New York Penguin Books, 1969. COMPAGNON, Antoine. O demônio da teoria: literatura e senso comum . Tradução Cleonice Paes Barreto Mourão. Belo Horizonte: UFMG, 1999. CUNNINGHAM, Michael. As horas. Tradução B. Vieira. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. CURTIS, Vanessa. As mulheres de Virginia Woolf . Tradução Tuca Magalhães. São Paulo: A Girafa 102
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Referências Filmográficas Beowulf A Lenda de Grendel A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça A Letra Escarlate A Megera Domada A Noite do Iguana As Horas Gatsby Hamlet Lancelot Mrs. Dalloway My Fair Lady No Direction Home (documentário). O Homem que queria ser Rei O Mercador de Veneza Otelo O Último dos Moicanos Razão e Sensibildade Rei Lear Romeu e Julieta Sem Destino (Easy Rider). Shakespeare Apaixonado. Tom Jones Tristão e Isolda Um Bonde chamado Desejo (A Streetcar named Desire) Um Leão no Inverno
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