Animador Sociocultural: Revista Iberoamericana Rua de lazer
vol.3, n.1, out.2008/abr.2008 Costa, Silva
UM ESTUDO SOBRE A CONSTRUÇÃO E REALIZAÇÃO DE UMA RUA DE LAZER DESENVOLVIDA PELO PROGRAMA “RECREAR” DA SECRETARIA MUNICIPAL DE ESPORTE E LAZER DE BELO HORIZONTE1 Karla Tereza Ocelli Costa2 Leonardo Toledo Silva3 Brasil
Resumo O programa “Recrear” elabora, coordena e executa políticas públicas de Lazer para a população de Belo Horizonte. A Rua de Lazer faz parte dessas ações. Para atingir o objetivo desejado optamos por uma pesquisa de caráter qualitativo, numa perspectiva etnográfica, o que nos permitiu retratar situações de todo o processo da Rua, descrevendo ações e representações dos seus atores sociais. Concluiu-se que para ser efetivamente uma ação que proporcione desenvolvimento pessoal e social, é necessário uma participação efetiva de todas as partes, e principalmente a mobilização da comunidade. A continuidade da ação é fundamental para a construção de um saber sobre o Lazer e sua valorização como Direito Social. Palavras-Chave: Lazer. Políticas Públicas. Programa Recrear
A study about construction and development of a leisure in the street developed by Leisure and sport Municipal secretary of Belo Horizonte program The program “recrear” prepare, coordinate and execute public politics of leisure to the “belo horizonte” city population. The leisure in the street is part of this action. To achieve the objective we opted to qualitative research, in a ethnographic perspective, which let us retract the situations of the whole process of the Street, describing actions and representations of the social actors. The conclusion is: to be effectively an action that proposes social and personal development, is necessary a effective participation from all parts, and principal the community mobilization. The continuate of this action is fundamental to built a knowlodgement about leisure and the value as a social rights. Key words: Leisure. Public politics. Recrear program
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Este artigo é parte da monografia de conclusão de curso, de Educação Física do Centro Universitário Uni-BH. 2 . Formada em Educação Física Bacharelado/Licenciatura plena pelo Centro Universitário Uni-BH. 3 . Especialista em Gestão de Políticas Sociais (Puc-Minas, 2005), Especialista em Lazer (UFMG2008). 1
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INTRODUÇÃO Este trabalho trata do estudo da construção e realização de uma Rua de Lazer desenvolvida pelo Programa “Recrear” da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer de Belo Horizonte(BH) – SMES. Segundo o Plano de Ação do Programa “Recrear”, é um programa voltado à elaboração, coordenação e execução de políticas públicas de Lazer para a população de BH. A Secretaria Municipal de Esporte e Lazer busca integrar suas ações com as áreas de cultura, saúde, educação, abastecimento e assistência social, garantindo o acesso da população aos bens e serviços, em especial, daqueles que habitam as camadas menos favorecidas da nossa sociedade (p.2).
Dentre as ações propostas pelo “Recrear”, a principal é a Rua de Lazer. É um evento que utiliza espaços adaptados para o encontro e convívio de pessoas e grupos, para exercício de expressividade, criatividade e a vivência de atividades de diferentes conteúdos do Lazer buscando a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento pessoal e social dos sujeitos envolvidos. A Rua de lazer busca integrar pessoas de todas as idades, sem distinção de raça, sexo, classe social e de pessoas portadoras de deficiência (p.4.
Para investigarmos uma ação pública de Lazer é importante pontuar a concepção de Lazer, culturalmente situada dentro de uma política pública democrática. O Lazer nos dias atuais se apresenta conceituado em duas correntes antagônicas: uma em que aparece como entretenimento, mercadoria a ser consumida, ajudando a suportar o peso de uma sociedade injusta, e outra que o vê gerado historicamente em nossa sociedade, e que dela emerge, podendo na sua vivência, gerar também valores questionadores da própria ordem estabelecida (MARCELINO, 2001). PINTO (1998) conceitua Lazer como uma “vivência privilegiada do lúdico, isto é, do jogo, da brincadeira, do brincar, do brinquedo e da festa.” MARCELLINO (1998), além de conceituar o Lazer como cultura , compreendida em seu sentido mais amplo, vivenciada, praticada ou fruída no seu tempo disponível das obrigações profissionais, escolares, familiares e sociais , combinando os aspectos tempo e atitude e tendo como traço definidor o caráter desinteressado dessa vivência (p.38), 2
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também o considera como fator indicador de desenvolvimento regional, ligado a um estilo de vida não conformista, mas crítico e criativo, e que contribui para o questionamento da ordem vigente, apontando pistas alternativas para a situação em que vivemos. Compartilhando com Marcellino a visão de Lazer como uma “cultura compreendida em seu sentido mais amplo”, torna-se relevante entender que sentido é este. Por isso, Carmem Cinira Macedo que, no livro “A Cultura de um povo” de VALLE & QUEIROZ (1982) a conceitua “...conjunto de modos e fazer se interagir e representar que, produzidos socialmente, envolvem simbolização e, por sua vez, definem o modo pelo qual a vida social se desenvolve”. Assim ela não fica restrita ao “produto” da atividade humana, mas abrange o “processo de produção”, “o modo como esse produto é socialmente elaborado”. Políticas públicas segundo BOBBIO et al (1995), são os “instrumentos de gestão do bem público, que o governo define e opera em nome da população.” Entendendo Política Pública como uma Política Social, VILALLOBOS(s.d.) citada por ZINGONI (2001) apresenta o conceito de política social do comitê Social de Ministros do Chile, como sendo: o conjunto de medidas e intervenções sociais que são impulsionadas a partir do Estado e que têm como objetivo melhorar a qualidade de vida da população e conquistar crescentes níveis de integração social, especialmente dos grupos socialmente excluídos, nas diversas dimensões pelas quais se expressa a sua exclusão (econômica, política, territorial e/ou cultural)(p.48).
Finalmente para que uma Política pública atinja seu objetivo é fundamental que ela seja democrática. E o que vem a ser Democracia? Basicamente significa “poder do povo em uma comunidade de homens livres”. Duas são as determinações básicas do conceito: a idéia de comunidade e de liberdade. O que caracteriza a igualdade
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democrática e a diferencia das demais em outras sociedades (como as aristocráticas e as monárquicas) é a afirmação de que todos os membros de uma sociedade democrática são absolutamente iguais porque todos são livres. E, é esta igualdade absoluta (que não é econômica, mas social e política) que permite a democracia (CHAUÏ,1993). Para atingir o objetivo optamos por uma pesquisa qualitativa. Segundo TRIVIÑOS (1987), a pesquisa qualitativa permite interpretar uma realidade que é constituinte e construtora de cultura, repleta de sentido e significados percebendo o fenômeno em um contexto, captando não só sua aparência mas também sua essência, e tem como características principais: Ter um ambiente natural como fonte direta dos dados e o pesquisador como instrumento-chave; Ser descritiva; Ter a preocupação com o processo e não simplesmente com os resultados e o produto; Permitir ao pesquisador uma análise indutiva dos dados(p.128).
Como um tipo de pesquisa qualitativa, o estudo de caso numa perspectiva etnográfica foi escolhida devido à possibilidade de retratar situações que envolvem o processo de construção e realização da Rua, descrevendo as ações e representações dos seus atores sociais. Conforme ANDRÉ (1995), o estudo de caso em uma perspectiva etnográfica procura: descobrir novos conceitos, novas relações, novas formas de entendimento da realidade de uma determinada instituição, estando atento ao seu contexto e às suas inter-relações como um todo orgânico, e à sua dinâmica como um processo, uma unidade em ação (p.41).
Utilizamos diferentes instrumentos de coleta de dados: a observação direta, entrevistas informais e semi-estruturadas, análise de documentos e o memorial descritivo. O memorial descritivo nos possibilitará descrever com muitos pormenores a realidade vivenciada. Neste sentido, nosso relato foi revestido de interpretação e subjetividade. Segundo TRIVINÕS & NETO (1999), este instrumento de coleta de
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dados permite sistematizar “informações que o participante elaborou, de acordo com o seu jeito, forma, extensão, vocabulário para relatar situações vivenciadas”. Na organização e apresentação dos resultados procuramos confrontar o que vimos e ouvimos, o que pensam os teóricos com nossa opinião, tendo o cuidado para que as inferências que surgissem fossem revestidas de confiabilidade.
A CONSTRUÇÃO A Rua fez parte de uma Ação integrada, promovida entre SMES, Regional Pampulha, através da Gerência Regional de Promoções e Eventos Esportivos e de Recreação, Lazer e Feiras – GERER-P, Associação de Amigos e Moradores do Bairro Ouro Preto e Adjacências - AMABOPA, Igreja de Deus Pentecostal e E.M. Carmelita Carvalho Garcia. No dia 24/05/2003, no bairro Ouro Preto. Para entender o processo de construção da Rua é importante situar a importância do Lazer como Direito Social, como é concebido histórica e culturalmente no nosso país e no mundo, e qual seu espaço nos planos de governo da SMES. Observando programas de governo, lendo trabalhos apresentados em congressos, chega-se à conclusão que existe uma preocupação acadêmica quanto à democratização do Lazer. E é papel do Estado viabilizar para a população, promovendo a conscientização da população para que ela se sinta co-gestora do processo, e construa sua autonomia. Nos países desenvolvidos o esporte e Lazer já são vistos como bem cultural, como Direito Social, mas no Brasil isto ainda não acontece efetivamente. Ainda encontramos em muitas Secretarias a “cultura” dos eventos passageiros, discriminatórios e onerosos, sem reflexos sociais contínuos e que reforçam as
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desigualdades sociais; a valorização do esporte de rendimento; a política clientelista e de privilégio. Os equipamentos e serviços públicos de esporte/Lazer priorizam as escolinhas de esporte para uma determinada faixa etária e Ruas de Lazer com oferta de atividades que divertem e relaxam, planejadas e controladas por monitores designados pelos promotores, sem envolvimento da comunidade na organização do evento e sem a preocupação com a sua continuidade. As programações e horários, muitas vezes, são definidos em função da disponibilidade do técnico sem considerar-se o público alvo. As vagas são limitadas, e a grande maioria fica de fora. Nos reduzidos locais públicos de lazer existentes, quando abrem nos finais de semana, observa-se uma freqüência predominante do público masculino e adulto e dos “donos do pedaço”. Os projetos e eventos são elaborados e decididos nos gabinetes. Os servidores apenas executam. São meros tarefeiros rotinizando a inteligência que se compartimenta dentro das instituições, ou seja, o agir aprisionado e o pensar desvencilhado (ZINGONI, 1998). Ainda funcionamos com políticas públicas paternalistas. Por isto, PINTO (1997) acredita na necessidade urgente de buscar a autonomia e conscientização das comunidades sobre os limites, as possibilidades e a importância do Esporte e Lazer para sua qualidade de vida. E com isto estimular uma co-gestão de projetos comunitários que beneficiem a população, principalmente a mais carente (p.355).
A realidade brasileira tem mostrado que alguns avanços conquistados em setores como Saúde ou Educação contaram com o empenho organizativo e com projetos políticos concebidos por profissionais que atuam nesses setores e que defendem sua real institucionalização como direitos sociais. Se tais possibilidades também se apresentassem para o setor de esporte/lazer, acredita-se que seriam componentes capazes de viabilizar uma substantiva incerteza em relação aos resultados do jogo, conferindo-lhe assim, matrizes mais democráticos (LINHALES, 1998).
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Algumas Secretarias Municipais administradas por governos populares e progressistas, como a de São Gonçalo-RJ citada por MELO (2001), já trabalham visando esta conscientização popular e os resultados são satisfatórios. Mas a grande maioria ainda concebe suas políticas baseadas na concepção de Estado neoliberal, onde o papel da administração pública tem sido reduzido apenas o de gerenciador econômica, quase sempre ao custo de um espantoso aumento das desigualdades sociais implantando planos de ação assistencialistas. É de vital importância, como bem disse MANESCH (1997) em “Alegria, hoje e amanhã!”, a resignificação da educação como bem cultural que valoriza o esporte, a arte e o Lazer, enquanto elementos de revitalização do processo educativo e da relação crítica e criativa da escola com a sociedade. Também é importante investigar a relevância destas políticas para o desenvolvimento sócio – cultural da população. O tempo passa e uma nova visão do Lazer como Direito Social se faz cada dia mais urgente no desejo da construção de uma sociedade mais justa e fraterna. E este desejo é expresso por MARCELLINO (2002) quando diz um dos caminhos possíveis para se chegar à população fazendo-a conhecer e compreender o entendimento do Lazer, suas potencialidades, valores, a importância da educação para e pelo Lazer, sua valorização como Direito Social; de como ocupar , com qualidade o tempo livre; da percepção do Lazer como mera mercadoria, seria aumentar as políticas participativas em detrimento das políticas representativas (p.50).
Vivemos em um país com grandes dificuldades de sobrevivência da população, com forte mentalidade de hierarquização de necessidades, e com preconceito pelo ócio. Esta hierarquização das necessidades é extremamente negativa, pois coloca a “felicidade” lá em baixo. Se buscamos a melhoria da qualidade de vida da população é imprescindível horizontalizar as necessidades. MARCELINO (2001) expressa seu descontentamento com esta hierarquização quando diz que
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o direito à saúde, educação, ao trabalho, ao Lazer é prioridade para todos. Mas ainda ficamos escandalizados quando vemos antenas de TV em favelas, ou chefes de família gastando dinheiro com ingressos de futebol, aos domingos (p.10).
Para este mesmo autor, falar de política de Lazer significa falar não só de uma política de atividades, que na maioria das vezes acabam por se constituir em eventos isolados, e muito menos resumi-la em uma política de animação como processo; significa falar em redução da jornada de trabalho, sem redução de salário, e, portanto, numa política de reordenação do tempo, numa política de reordenação do solo e finalmente, numa política de formação de quadros, profissionais e voluntários para trabalharem de forma eficiente e atualizada. Resumindo, “o Lazer tem sua especificidade, inclusive como política pública, mas não pode ser tratado de forma isolada de outras questões sociais” (MARCELLINO, 2001). Falando sobre a especificidade concreta do Lazer, considerado em sua manifestação na sociedade atual, ele é colocado como reivindicação social. É uma questão de cidadania, de participação cultural, não conformista, mas crítica e criativa de sujeitos historicamente situados. Esta participação é base para a renovação democrática e humanista da cultura e da sociedade, tendo em vista não só a instauração de uma nova ordem social, mas de uma nova cultura (MARCELLINO, 1996). Diante destas considerações analisamos como é o “Recrear”, qual sua concepção de Lazer, quais seus objetivos: O “Recrear” foi elaborado a partir da visão de que deveria ser fonte de produção de conhecimento teórico-prático na área de recreação e Lazer e que pudesse proporcionar a participação de forma autônoma e consciente a todo cidadão de BH em práticas de Lazer. Tem por missão promover, apoiar, estimular, difundir e orientar iniciativas que ampliem, diversifiquem e democratizem oportunidades de Lazer, organizadas por grupos comunitários ou instituições públicas e privadas. Dentre os seus objetivos estão: “Difundir o Lazer como vivência cultural lúdica, objeto e veículo de educação, de socialização democrática e de desenvolvimento pessoal, cultural e social, ...
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Ampliar as oportunidades de participação autônoma e democrática da população em diversificadas atividades de Lazer; Capacitar agentes multiplicadores de Lazer para a coordenação e a execução de ações participativas e solidárias nas comunidades; Estreitar as relações entre poder público e comunidade, estimulando a participação comunitária no planejamento, execução e avaliação das atividades; Estimular as potencialidades de grupos e indivíduos para aprimorar a qualidade de vida através do Lazer; Potencializar as Secretarias de coordenação da política regional para a autonomia na elaboração, planejamento, execução e avaliação de atividades de Lazer (p.3).
Observamos pelos objetivos que o Programa foi construído e fundamentado sob os modelos de uma nova e moderna concepção de Lazer, confirmando o que PINTO (1997) afirma sobre a política de governo da Prefeitura de BH: quanto à cidade de BH, a história da administração municipal nos últimos anos, especialmente desde 1993, mostra iniciativas diversas de desenvolvimento de projetos por meio de vivências lúdicas na área da cultura, do meio ambiente, do desenvolvimento social e do esporte. Nesse contexto, a Secretaria Municipal de Esporte assume o Lazer não apenas como meio, mas também como fim educacional integrado a todas as suas ações. Por isso, investe no desenvolvimento de programas permanentes, eventuais e de apoio, preocupando-se especialmente com a capacitação em serviços dos seus técnicos de modo que possa qualificar o seu trabalho para ação comunitária com efeito multiplicadores, e, para um trabalho de parceria interdisciplinar, articulando os programas dessa Secretaria com propostas de outros setores da municipalidade, instituições e grupos empenhados em ampliar, diversificar e democratizar hábitos de Lazer em nosso meio(p.30).
Diante da suposição de que, a partir do momento em que constatamos que com uma concepção progressista de Lazer, as construções das ações deste programa seguirão um caminho interessante, partimos para a possível confirmação do fato. Além das Ruas de Lazer, o “Recrear” oferece à comunidade outras ações: “Férias na escola” - Baseia-se no desenvolvimento de atividades diversificadas de Lazer, orientadas por monitores especializados e colaboradores da própria comunidade, durante as férias escolares em escolas da Rede Municipal de Ensino. Tem como público alvo alunos das escolas envolvidas e demais moradores da comunidade local. .Recreio Feliz - pretende potencializar o recreio, ampliando as possibilidades de vivências lúdicas através da formação de monitores de recreio).Esta qualificação 9
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acontece através de cursos, oficinas e de acompanhamento técnico na escola atendida que por sua vez, deverá disponibilizar professores que serão responsáveis pela coordenação do grupo de monitores, arrecadar materiais alternativos e adquirir materiais para a sua execução. Os monitores serão qualificados para elaborar, executar e avaliar atividades diversificadas de lazer neste momento. .Cursos de capacitação a) Curso de capacitação para monitores de Lazer Curso com duração média de 2h, visando orientar as pessoas das comunidades a respeito do Lazer e da forma de atuar em Ruas de Lazer, no Férias na escola e no Recreio Feliz. b) Curso de Geração de renda Ainda em processo de formulação, tem como objetivo oferecer às pessoas de baixa renda do município a oportunidade de trabalhar de forma remunerada na área de Lazer. Serão oferecidos conteúdos diversos como cama elástica, oficina de balões, pintura de rosto, entre outros. Oficina de confecção de brinquedos - Desenvolvimento de oficinas que oferecerão novas alternativas de se brincar para crianças carentes através da construção de novos brinquedos. .Participação dos técnicos em Congressos e Seminários sobre o Lazer. .Palestras educativas e informativas sobre os conteúdos do Lazer: atuando através de convites dos interessados.”(p. 5)
Percebemos que a construção das ações do programa condiz com o que os estudiosos propõem, ZINGONI(2002), que acredita que políticas públicas de Lazer devem ser concebidas, observando duas questões importantes. Em primeiro lugar, elas não devem ser criadas somente como possibilidade de crescimento econômico; devem ser obrigatoriamente acompanhadas da distribuição eqüitativa dos ativos que geram, pois crescimento sem eqüidade é crescimento sem desenvolvimento. Em segundo lugar, uma política de desenvolvimento sustentável por meio do Lazer está relacionada com: As potencialidades e os limites do meio ambiente na promoção do Lazer; Um mercado orientado para a universalização do acesso aos serviços de Lazer oferecidos, e não a uma hierarquização desse acesso; As possibilidades de emprego e as relações de trabalho das quais decorrem melhores condições para trabalhar e nível de consolidação dos direitos trabalhistas, fatores determinantes para o acesso ao Lazer; Adequação das políticas de Lazer às condições de vida da população, considerando seu nível de renda e condições culturais, educacionais e de saúde;
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valores de sociabilidade, cooperação e associativismo conquistados pela sociedade e relacionados às oportunidades que as pessoas têm de decidir sobre seu destino, influenciar nas decisões públicas de Lazer e participar de atividades que afetam o desenvolvimento econômico, ambiental e social e sua qualidade de vida.”(p.78)
MAS, O QUE VEM A SER UMA RUA DE LAZER? A Rua de Lazer é um evento que utiliza espaços adaptados para a vivência de atividades de diferentes conteúdos do Lazer buscando a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento pessoal e social dos sujeitos envolvidos. Esta ação é promovida em três esferas diferentes: Tradicional, solidária e empréstimo de materiais. Procuraremos discutir cada uma delas, conforme o Plano do “Recrear”: Tradicional – há apenas uma instituição organizadora que cuida de todos os detalhes do planejamento do evento. A comunidade solicitante não se envolve na organização do evento, apenas participa das atividades propostas no dia de sua realização (p.4)
Segundo MELO (2001) é preciso ressaltar que não é o poder público que irá ofertar a Rua de Lazer. O que pode ser oferecido são atividades ou manifestações culturais, esportivas e sociais que a população poderá (ou não) vivenciar. O que mais incomoda é pensar no reducionismo que tal iniciativa significa. Uma ação pública de Lazer que se restrinja a oferecer algumas atividades em um certo dia nos faz refletir sobre o papel do poder público. Em que medida ações como estas, de alcance e duração restritas, podem contribuir para a população? Será que esta esfera não atua muito mais no sentido do assistencialismo do que da afirmação do Lazer enquanto direito social? Solidária – busca uma maior participação da comunidade solicitante na elaboração, organização, execução e avaliação das atividades, ou seja, não há apenas uma instituição organizadora, mas uma parceria na qual cada um tem sua função determinada(p.4)
Esta forma de organizar a Rua contempla a idéia de MARCELLINO (1996), afirma que construir uma ação em conjunto com a comunidade, buscando sua participação efetiva é uma questão de cidadania, de participação cultural, não
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conformista, mas crítica e criativa de sujeitos historicamente situados. Esta participação é base para a renovação democrática e humanista da cultura e da sociedade, tendo em vista não só a instauração de uma nova ordem social, mas de uma nova cultura. Empréstimo de materiais – neste tipo de atendimento os materiais são restritos e o “Recrear” não se envolve no evento que é de total responsabilidade do solicitante (p.4)
O fato de emprestar o equipamento e não se envolver no processo de construção da ação é considerado como uma intervenção, ou melhor, uma não intervenção do “Recrear”, que conforme LINHALES(1998) afirma, “...é um posicionamento que pode se constituir em uma cilada para a cidadania”, isentando a SMES de suas responsabilidades na universalização dos direitos de cidadania.
A REALIZAÇÃO A Rua de Lazer fez parte de uma Ação Integrada pela Paz na qual seria oferecido serviços e diversão para a comunidade. Segundo MARCELLINO(2002) estes “serviços e diversão” estariam relacionados a um estilo de vida ( superando o conformismo pela criticidade e pela criatividade, vivendo-fruindo o lazer, e não o tendo como mero instrumento de “escape”, estatus ou poder) é uma tarefa a que devem se laçar todos os setores da sociedade inconformados com os rumos que as relações de Lazer e trabalho vêm tomando na atual organização social, motivados pelas relações de produção cada vez menos humanas e “humanizadoras (p.52)
A partir desta união, a comunidade procurou a Regional Pampulha para auxiliar no projeto. Foi procurada a Regional e não a SMES diretamente, porque desde 2001 a Prefeitura de BH adotou um novo sistema administrativo, descentralizando o poder, dando autonomia às regionais, dotando-as de diversas gerências que se ocupam de cada área específica. No caso do esporte, a gerência responsável é a GERER-P. Ela trabalha em parceria com diversas secretarias municipais, inclusive a SMES.
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Um contato entre comunidade e a Regional Pampulha com a SMES definiu as possíveis ações dentro da “Ação Integrada”, da escolha do local mais adequado para sua realização, para a seleção e capacitação dos voluntários e para a divisão de tarefas. Desta reunião ficou estipulado que a SMES forneceria os equipamentos necessários, ministraria o curso de capacitação, além de toda a assessoria técnica para o evento. A Escola ficaria responsável pelo almoço, pelo empréstimo do vídeo, TV, cadeiras e carteiras para as palestras educativas e recrutamento de alunos e professores para ajudarem no dia do evento. A igreja disponibilizaria salas, cozinha e banheiros, além de recrutar também pessoal para auxiliar. E por fim, a GERER-P, ficaria responsável por contatar outras secretarias e órgãos competentes, garantindo serviços como Juizado de conciliação, Procon, o lanche da manhã, fechamento da rua e desvio do trânsito, policiamento, palestras educativas sobre DSTs, higiene bucal, Dengue e leishmaniose, corte de cabelo, emissão de Carteiras de Trabalho, oficinas de reciclagem de lixo. Um novo contato entre as partes envolvidas foi para a realização do curso de capacitação, que aconteceu uma semana antes do dia do evento. Foi realizado na escola, com a presença de todos os envolvidos na Ação. O curso foi ministrado por um técnico da SMES formado em Educação Física. O técnico se preocupou em expor como seria a montagem da Rua e em qual local cada monitor iria ficar, deixando claro sobre a responsabilidade e obrigações de cada um. Foi fornecido uma cartilha contendo as funções gerais e especificas do monitor bem como a construção de cada setor da Rua de Lazer. Durante o curso não foi discutido em momento algum o conceito de Lazer e a possibilidade de educar através dele e para ele. Estavam presentes também o gerente e a assessora da GERER-P, o pastor e a diretora da escola que puderam também participar e dar opiniões. Os
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voluntários ouviram mas pouco discutiram, ficando sua participação limitada à escolha de setores que queriam trabalhar. Houve na verdade pouco espaço para que ocorresse qualquer debate sobre o tema. Percebemos que a idéia do curso é muito interessante, ainda possui pontos a serem discutidos, como por exemplo a própria cartilha, que nos pareceu mais uma “receita de bolo” pronta, sem espaço para discussão e construção conjunta. O tempo de duração também nos pareceu insuficiente. Foram somente 40 minutos. Mas o fato de ter acontecido já foi um avanço. Chegou o dia do evento e relataremos como foi. As palestras ocorreram no salão da Igreja e tiveram uma boa adesão do público. Foram oferecidas orientações sobre águas paradas em vasos, pneus e garrafas, para prevenção da Dengue, também sobre a importância da vacinação anual e higiene dos animais domésticos para prevenção de doenças graves como a leishmaniose. Os palestrantes deram ênfase em alertar a população sobre o seu papel como principal colaborador para a prevenção. Aqui, percebemos claramente que, com compromisso e participação, é possível, como diz MARCELLINO (2001) “ educar pelo Lazer...”. A oficina de corte cabelo funcionou durante a manhã, e enquanto os filhos cortavam, as mães se informavam quanto às possibilidades de cursos. Também aqui notamos que não era somente um “cortar por cortar” os cabelos. As pessoas queriam mais, e em muitas ações oferecidas, faltou este “algo mais”. Especificamente, no corte de cabelo, as cabeleireiras não supriram o anseio das mães, pois não tinham informações sobre os cursos. As atividades de recreação e Lazer foram distribuídas pelos dois quarteirões da rua. Houve um atraso para o fechamento da rua e para a chegada do caminhão de
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equipamentos. Assim que o caminhão chegou, houve a distribuição dos equipamentos e posicionamento dos monitores nos vários setores: Mesas de totó, sinuca e jogos de dama; pintura com guache; Cama elástica; Circuito psicomotor; Palco e som: onde ocorreram apresentações do teatro da Igreja e shows de música gospel; brinquedos infláveis: balão pula-pula que estava com defeito e não enchia. Houve frustração das crianças com o fato de não poderem brincar no pula-pula. O técnico da SMES nos informou que o motor que infla o balão esta quebrado a muito tempo e que para improvisar pediu aos operadores do galpão de equipamentos que levasse o motor antigo. O que não resolveu o problema e causou toda a frustração, pois as crianças viram o brinquedo, organizaram-se nas filas e ele não funcionou. Sobre este fato MARCELLINO (2001) ressalta que não basta ao governo comprar os equipamentos, construir os ginásios, é imprescindível fazer a manutenção periódica destes equipamentos e capacitar pessoas para acompanharem as ações e darem assistência. Analisando os setores da Rua e o público que usufruiria dela percebemos que aqui começa a se distanciar a prática da teoria. Não houve uma preocupação por parte da SMES, enquanto organizazadora, em construir os setores conforme as necessidades, desejos e características do público-alvo. O modelo já estava pronto e foi “copiado” também nesta Rua. Sobre isto MARCELLINO (2001) é claro quando sugere 5 pilares básicos em que uma política de lazer precisa se assentar: respeito e incentivo às manifestações culturais espontâneas da população; trabalho conjunto com a comunidade buscando sua autonomia e respeitando-a; trabalho conjunto com o setor privado sem abrir mão da participação do processo decisório; trabalhar na perspectiva de regiões metropolitanas-consórcio; trabalhar com o Estado, sem com isso contribuir para perpetuá-lo ou mesmo utilizar de modelos fixados a priori, acreditando sempre na possibilidade da construção conjunta de novos modelos (p.17)
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Após tudo montado e os monitores nos respectivos setores, a Rua de Lazer começou. As crianças já faziam fila e estavam ansiosas para brincar e conhecer as novidades. Foi interessante que também os jovens e os adultos também se divertiam, trocavam idéias, discutiam problemas. Observando este fato pudemos notar que o propósito de construção de uma atividade de Lazer na perspectiva não de divertir por divertir, mas como possibilidade de a partir dele questionar e procurar soluções para problemas de cotidiano é possível e funciona. Sobre isto PINTO (1997) acredita que o Lazer não pode ser concebido apenas como um tempo de viver o prazer fora das obrigações da vida, ou um tempo de nos ocuparmos com atividades que divertem. Hoje, cresce o reconhecimento do Lazer como vivência geradora de nova postura cultural em relação a nós mesmos, aos nossos parceiros culturais e ao mundo em que vivemos. Uma postura de alegria, de prazer, que não é ingênua a ponto de ser fruto de ações meramente reprodutoras de atividades de comportamentos sem a percepção dos sentidos e da importância da cultura que se produz, se reproduz e se expressa de modo datado e localizado, cultura rica e diversificada em mensagens cognitivas, éticas e estéticas (p.356).
A Rua de Lazer encerrou-se às 16h, não houve a reunião proposta para avaliação entre Escola, Igreja, SMES e AMABOPA. Foi proposto que esta avaliação ocorresse em uma próxima data, mas ela não ocorreu até o momento. Sobre as possibilidades e importância da avaliação MARCELLINO(2002) acredita que ela seja fundamental e que os resultados obtidos possam aparecer sob a forma de respostas, que estarão intrinsecamente ligadas aos objetivos da ação e geralmente necessitando de acompanhamento técnico para continuidade do processo, ou sob a forma de reflexos, que independem de acompanhamento, uma vez que são assumidos por grupos ou pessoas, ou podem não estar previstos no planejamento da ação.
ANALISANDO O PROCESSO COMO UM TODO Concluímos que a realização da Rua de Lazer com o intuito de diminuir a violência, como percebemos na fala de vários membros da organização do evento, é 16
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muito simplista, restringindo o Lazer somente como válvula de escape. A questão de combate à violência, como outros problemas sociais vai muito além, sendo de cunho socio-político-econômico. É muito mais complexo e profundo do que “ falta de lazer” pura e simplesmente. É imprescindível que se elimine a utilização da palavra Lazer associada à outra, como que buscando justificativas para abordar questões ligadas ao Lazer. O prazer a alegria e a felicidade não precisam de justificativas. A produtividade e o caráter educativo não podem ser considerados justificativas para se investir na área. Eles são conseqüências. Procurá-las antes significa matar suas possibilidades. A construção da Rua de Lazer passa pela concepção de Lazer das partes envolvidas nesta construção. Percebemos que houve uma grande mobilização da comunidade, entendida aqui como Escola, Igreja e Associação de moradores. E conseguimos perceber neste grupo uma visão clara, mesmo sem fundamentação teórica, de um Lazer entendido como uma prioridade e direito. Esta mobilização contribui para um crescimento e valorização do Lazer. Já na SMES, percebemos que a teoria é muito bem fundamentada, mas as práticas precisam ser mais discutidas. Elas estão longe de atingir o ideal proposto pelo Plano de Ação do“Recrear”, no qual um dos princípios filosóficos que norteiam suas ações, reitera que o atendimento deve promover a participação comunitária na elaboração, planejamento, execução e avaliação, estimulando assim a autonomia da comunidade para novas ações e sua expressão crítica e criativa. Esta participação não pode ser restrita apenas no dia do evento como meros executantes de tarefas. Pudemos perceber este fato no curso de capacitação, que é uma idéia interessante e reflete as idéias dos estudiosos e cientistas da área, porém falta esclarecimento maior sobre a concepção do lazer e sobre a maneira de se garantir a educação para e pelo lazer.
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Também na Rua de Lazer foram propostas atividades que, poderiam não estar condizentes com a realidade, necessidade e vontade dos participantes. Algumas não obtiveram sucesso, talvez por este motivo. Quanto a viabilidade de novas ações, parcerias são fundamentais pois as políticas públicas de BH não disponibilizam verbas para estes eventos, apenas alguns equipamentos e técnicos, o que evidência prioridades (em outras áreas) esquecendo que o Lazer também é prioridade. Segundo MARCELINO(2001) um programa de governo voltado para o Lazer precisa trabalhar integrado com outros setores como o do transporte, educação, saúde, moradia, promoção social entre outros, e não isolar-se num “feudo”, geralmente das “festinhas” e do “pessoal alegre”. Este programa deve ser pautado pela ação numa dupla frente: ampliar a visão restrita do Lazer; buscar superar o conformismo pela crítica e pela criatividade. E, deve ser respaldado por uma necessidade imperiosa e urgente de se quebrar a política de hierarquia das necessidades. E, esta hierarquização, só nos mostra falta de conhecimento ou de interesse pela qualidade de vida plena do cidadão. A continuidade de ações como a Rua de Lazer é fundamental para a construção de um saber sobre o Lazer e de sua valorização como Direito Social. A escola irá realizar outros eventos que podem garantir esta situação. A diretora acredita, como nós, que o compromisso com a comunidade e com a Educação superam as dificuldades financeiras e que, com mobilização e parcerias, as coisas aconteçam. Acreditamos que uma grande etapa já foi vencida, mas é fundamental que se estreite mais a distância entre a teoria e a prática.
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O sonho precisa virar utopia. Mas que a criticidade não se transforme em desespero, pois, muitas vezes as críticas levam ao imobilismo, ao invés de mobilizarem (MARCELLINO, 2001, p.21).
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