LAVILLE, Christian; DIONNE, Jean. A construção do saber. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999. Introdução – Pesquisa, em geral, é perceber um problema a ser resolvido, formular uma hipótese, 0 Introdução
testá-la e tirar conclusões. Chegar a possíveis explicações ou soluções para um problema pode significar não apenas a aquisição de novos conhecimentos, mas, também, favorecer uma determinada intervenção. Um problema é sempre uma falta de conhecimento.
0.1
O método – É imprescindível trabalhar com rigor para assegurar a si e aos demais que o
resultado da pesquisa serão confiáveis, válidos. O método são regras precisas e fáceis, a partir da observação exata das quais se terá certeza de nunca tomar um erro por verdade, e, sem ai desperdiçar inutilmente as forças de sua mente, mas ampliando seu saber por meio de um continuo progresso, chegar ao conhecimento verdadeiro de tudo do que se é capaz.
0.2
Teoria e prática – Essencialmente uma exposição da disposição dos assuntos abordados na
obra.
Parte I – A pesquisa em ciências humanas. 1 O nascimento do saber científico – Para sobreviver e facilitar a sua existência, o ser humano confrontou-se constantemente constantemente com a necessidade de dispor dispor do saber, saber, inclusive de construí-lo por si só. Ele o fez de diversas maneiras antes de chegar ao meio que hoje é julgado como o mais eficaz: a pesquisa cientifica. Os antigos meios, entretanto, não desapareceram e ainda coexistem com o método cientifico.
1.1
Os saberes espontâneos – É o conhecimento elaborado a partir das experiencias e
observações pessoais. Inúmeros conhecimentos são assim obtidos. O objetivo principal da pesquisa do saber: conhecer o funcionamento das coisas, para melhor controlá-las, e fazer previsões melhores a partir daí.
1.1.1
A intuição – o saber espontâneo por excelência. É o derivado da percepção imediata sem necessidade do raciocínio. Essas explicações geram, em grande parte, o senso comum, ou bom-senso, que é frequentemente enganador. O senso comum não deixa de produzir saberes que, como as demais, servem para a compreensão do nosso mundo e nossa sociedade, e para nela viver com auxilio de explicações simples e comodas. Mas deve-se desconfiar dessas explicações, uma vez que podem ser um obstaculo a construção de um saber adequado, pois seu caráter de aparente evidência reduz a vontade de verificá-lo. É, alias, provavelmente o que lhes permitem, muitas vezes, serem aceitos apesar de suas lacunas.
1.1.2
A tradição – Quando as explicações parecem suficientes, deseja-se divulgá-las. É desse modo a tradição, principio de transmissão de tal saber. Esse saber é mantido por ser presumidamente verdadeiro. A tradição tradição indica o que se deve conhecer, compreender, e indica, por consequência, como se comportar. Os saberes que a tradição transmite parecem, as vezes, não se basearem em qualquer dado da experiência racionalizada.
1.1.3
A Autoridade – Com frequência as autoridades se encarregam da transmissão da tradição. Sua força reside que nem todos podem construir um saber espontâneo sobre tudo que seria útil conhecer. Daí a comodidade, para conduzir sua vida, de um repertorio de saber pronto e, em contra partida, o peso que possuem as autoridades que os transmitem e as instituições que servem de quadro à transm transmiss issão. ão. O valor valor desse desse saber saber imp impost ostoo repous repousaa no consen consentim timent entoo em recebê recebê-lo, -lo, e esse esse consentimento, por sua vez, na confiança em quem o vincula.
Obs.: A escola a tradição e a autoridade – O
principal modo de transmissão do saber, na instituição escolar, assemelha-se, ao mesmo tempo, ao da autoridade e da tradição. Autoridades escolheram o saber que parece útil ou necessário a transmitir ao membros da sociedade; saber já construído e oferecido aos estudantes, sem que esses sejam convidados a determinar o sentido e os limites de cada um deles. Esse saber não é, entretanto, espontâneo, A maioria foi
construído, mas somente determinados resultados escolhidos são ensinados.
1.2
O saber racional – Muito cedo o ser humano sentiu a fragilidade do conhecimento baseado
na intuição, na tradição e na autoridade; rapidamente desenvolveu o desejo de saber mais e dispor de conhecimentos metodicamente elaborados e, portanto, confiáveis. Mas a trajetória foi longa:
1.2.1
O reino dos filósofos – Durante muito tempo, no ocidente ao menos, o saber cientifico se misturou ao filosófico. É dele que surge a desconfiança em relação as explicações míticas do universo, acreditando que a mente, apenas com seu exercício, é capaz de produzir o saber apropriado. Assim Assim desenvolv desenvolvem em instrumentos instrumentos lógicos, lógicos, especialmente especialmente a distinção distinção entre sujeito sujeito (que procura conhecer) e objeto (que é conhecido), bem como as relações entre ambos; o principio da causalidade, o que faz com que uma causa provoque uma consequência consequência e que a consequência consequência seja compreendida pela compreensão da causa. O raciocínio indutivo (do especifico para o geral) e o dedutivo (do geral para o especifico), essenciais a construção do saber. Os filósofos gregos também se interessam pelas ciências matemáticas e servem-se delas como importantes instrumentos lógicos de abordagem do real. Nos séculos seguinte há pouco avanço na concepção de ciência e dos métodos de construção do saber. Os romanos negligenciaram a teoria pela prática, sendo mais técnicos do que sábios. Na idade média a reflexão filosófica é dominada pelo desejo de conciliá-las com os dogmas do cristianismo. O renascimento não conhece equivalente nos domínios do saber cientifico. Mas a sua inclinação de rejeitar a tradição conduz a encarar novos pontos de vista que irão florescer no séc. XVII: surge a preocupação de proceder a observação empírica (experimental) do real antes de interpretá-lo pela mente, depois submeter a experimentação, recorrendo as ciências matemáticas para assistir suas observações e explicações. explicações. À conjunção da experiencia e da razão razão a ciência experimental começa. começa. O séc. XVII assiste a conjugação do raciocínio dedutivo e indutivo unidos pela articulação da hipótese (raciocínio hipotético-dedutivo) e associados às ciências matemáticas para apreender as dimensões do fenômeno auxiliadas pelos novos métodos de medida. Assim, o saber não repousa mais apenas na especu especulaç lação ão (criaç (criação ão do saber saber apenas apenas pelo pelo exercí exercício cio mental mental), ), mas igu igualm alment entee na observ observaçã ação, o, experimentação e mensuração (o método cientifico experimental). Além disso, não se trata mais de encontrar encontrar uma explicaçã explicação, o, ainda que geral, para o fenômeno fenômeno estudado, estudado, mas definir definir o principio que fundamenta essa explicação geral. Surge a noção de leis da natureza e que cabe a ciência defini-las.
1.2.2
séc. XVIII XVIII os princí princípio pioss da ciênci ciênciaa experi experimen mental tal se A ciência triunfante triunfante – No séc. desenvolvem por meio de múltiplas aplicações. As descobertas são muitas, sobretudo no campo dos conhecimentos da natureza física. No domínio, hoje das ciências humanas, a especulação filosófica domina. È no séc. XIX que a ciência triunfa. No domínio das ciências da natureza as descobertas abundam e saem dos laboratórios para ter aplicação prática. A ciência fundamental, cujo objetivo é conhecer pelo próprio conhecimento, é acompanhada pela pesquisa aplicada, que visa resolver problemas concretos.
1.2.3
As ciências humanas e o positivismo – O séc. XIX desejava, no domínio do saber do homem e da sociedade, conhecimentos tão confiáveis e práticos quanto os desenvolvidos para se conhecer a natureza física. O método aplicado no campo da natureza parece tão eficaz que não se vê razão para não aplicá-lo ao humano, é com este objetivo que se desenvolvem as ciências humanas, na segunda segunda metade metade do séc. séc. XIX, XIX, e a conce concepçã pçãoo da constr construçã uçãoo do saber saber cienti cientific ficoo denomi denominad nadaa positivismo; caracterizado por:
1.2.3.1
Empirismo – O conhecimento positivo parte da realidade como os sentidos a
percebem e ajusta-se a realidade, conhecimentos de outras origens e ideias inatas (anteriores a qualquer experiência) são suspeitas;
1.2.3.2
Objetividade Objetividade – O conhecimento deve focar-se no objeto, o sujeito cognoscente não deve deve influe influenci nciá-l á-loo e dotar dotar-se -se de proced procedime imento ntoss que reduza reduzam m ao mín mínimo imoss efeito efeitoss da intervenção;
1.2.3.3
observ rvaç ação ão dos dos fato fatoss leva leva a hipó hipóte tese se,, que que some soment ntee Experimentação Experimentação – A obse
experimentada pode demonstrar sua precisão;
1.2.3.4
Validade – A experimentação é rigorosamente controlada quantitativamente, para se chegar chegar as mesmas mesmas medida medidass e reprod reproduzi uzindo ndo-se -se a experi experiênc ência ia nas mesmas mesmas condiç condições ões,, concluindo na validade dos resultados e na sua generalização;
1.2.3.5
Leis e previsão – Estima-se que os humanos sejam regidos por leis naturais
universais e invariáveis, portanto é um conhecimento determinista.
2 A pesquisa cientifica hoje 2.1
O enfraquecimento do positivismo – O positivismo pressupôs que seu método
poderia ser aplicado sem problemas a qualquer tipo de objeto:
2.1.1
Ciências naturais e ciências humanas – Seus objetos são muito diferentes, por seus graus de complexidade e facilidade de serem identificados e observados com precisão.
2.1.1.1
A complexidade dos fatos humanos – Os fatos humanos são mais complexos
2.1.1.2
O pesquisador é um ator – Na experimentação humana o pesquisador também é
2.1.1.3
A medida do verdadeiro – O fato do pesquisador influenciar o objeto de
que os fatos da natureza. A mera observação deste é problemática pois seu objetos comporta diversos níveis de profundidade. A experimentação é ainda mais complicada, pois pressupõe que se possa identificar fatores que por sua inter-relação permitam explicar o fenômeno. Mas na observação de fenômenos humanos que fatores observar e como afastar os demais? Sem esquecer que o ser humano é ativo e livre, capazes de ação e reação conforme uma natureza não previsível, ou, ao menos, não da mesma maneira da forma dos fatores naturais. Poder-se ia imaginar que reduzindo ao minimo o número de fatores influentes a situação experimental e controlar todos os demais fatores se criaria um quadro aceitável. Mas mesmo assim, a situação experimental pode causar modificações no comportamento, enquanto os efeitos naturais presumem-se não sofrerem influência do observador. um ator do experimento, exercendo sobre este influência. O observador, frente aos fatos sociais, não pode alcançar a absoluta objetividade. Frente a estes o pesquisador terá interesses, inclinações e preferências segundo sua escala de valores. É com estes preconceitos que aborda o objeto e realiza o estudo, que por fim obterá conhecimentos subjetivos.
pesquisa e do objeto ser capaz de comportamentos conscientes e voluntários, confere a construção de um saber cuja medida do verdadeiro difere da obtida nas ciências naturais. Primeiro deve-se aceitar que o jogo de vontades existente tanto no objeto quanto no observador, tendo como consequência um saber que, embora construído com prudência e método, pode variar. A ideia de lei da natureza e determinismo aplica-se mal as ciências humanas, no máximo pode-se definir tendências. Além do que, como as situações são complexas, variáveis e desprovidas do controle das ciências naturais, o verdadeiro em ciências humanas é relativo e provisório. Se em ciências naturais a medida das modificações podem ser facilmente quantificadas, em humanas não, o que torna o saber em humanas ainda mais relativo, por não poder quantificá-lo. O positivismo mostrou-se enfraquecido em sua aplicação as ciências humanas, o que levou a busca de outras perspectivas que respeitassem mais o objeto, levando-se em conta métodos menos intervenientes. Para tanto a evolução das próprias ciências naturais seria, no minimo, um encorajamento.
2.1.2
Revisões em ciências naturais – No início do séc. XX as ciências naturais haviam começado a se sentirem limitadas pelo positivismo. Questionando e revisando progressivamente os princípios do empirismo, a ideia de lei, as regras de objetividade e os modos de verificação.
2.1.2.1
O empirismo difícil – O caso do átomo ilustra como se constitui o saber agora nas ciências naturais: não por uma observação empírica (direta), mas por uma interpretação construída na mente do pesquisador a partir das reações nele (átomo) provocadas.
2.1.2.2
A teoria – Assim o conhecimento cientifico é uma interpretação que permanece até
ser contestado por outra interpretação dos fatos, ou, reforça-se com a obtenção de saberes que permitam novas manipulações que o confirmem.
2.1.2.3
Teoria, lei e previsão – O saber enquanto teoria parece agora aceitável no
domínio das ciências naturais. Consequentemente o principio da validade perde sua relevância. A ideia de lei não é mais a suprema ambição das ciências naturais, e o determinismo recua.
2.1.2.4
Objetividade e subjetividade – O desgaste do determinismo é acompanhado de
uma mutação na objetividade. A objetividade, que visa revelar a natureza do objeto sem que tenha sua integridade afetada, torna-se consequência. Ela cessa de depender do objeto, e definise em função da relação ativa do pesquisador com o objeto. O papel do observador é reconhecido, bem como sua subjetividade, que espera-se seja racional, controlada e desvendada. Fala-se ainda em intersubjetividade, onde a validade do saber reside no reconhecimento da teoria por outros pesquisadores da área.
2.1.3
O realinhamento da ciência – Os ideais do positivismo encontraram problemas na aplicação as ciências humanas, assim como nas naturais, e acabaram por representar barreiras ao desenvolvimento. Portanto houve, ou há, uma busca por modos mais flexíveis de construção do saber, que são diferentemente considerados. As ciências naturais e humanas encontram-se na definição destes modos, cujas preocupações, em seus fundamentos, são essencialmente as mesmas: Centrar a pesquisa na compreensão de problemas específicos; Assegurar, pelo método, a validade da compreensão; Superar as barreiras que poderiam atrapalhar a compreensão. ▪ ▪ ▪
2.1.3.1
Compreender – A ideia de problema está no centro do realinhamento das
ciências, humanas principalmente. Trata-se de compreender os problemas que surgem a fim de eventualmente contribuir para uma solução. Trata-se de compreender a natureza do objeto de estudo, sua complexidade e o fato de ser livre e atuante. Os fenômenos humanos repousam sobre uma multicausalidade (um encadeamento de fatores, de natureza e pesos variáveis, que se conjugam e interagem).
Obs.: Compreender e explicar – Para o positivismo o objetivo da pesquisa era explicar (obter a relação causal); agora
trata-se de compreender os múltiplos fatores da situação, nela encontrá-los e compreender sua complexidade para então explicá-la aos outros; a explicação sucede a compreensão e encontra o mesmo sentido.
2.1.3.2
Objetividade e objetivação – O saber construído é relativo e dependente das
2.1.3.3
Multidisciplinaridade – No seu surgimento as ciências humanas tenderam a
escolhas e interpretações dadas pelo pesquisador. Então o que garante o valor desse saber? A objetivação. O saber que repousa sobre a interpretação não possibilita necessariamente um procedimento experimental e quantificador, nem a reprodutibilidade. Mas, com frequência, é a mente do pesquisador que realiza as escolhas e a interpretações. A são esses modos os objetos da objetivação; Do pesquisador espera-se que tome metodicamente consciência desses fatores e os racionalize, dos receptores da pesquisa, espera-se que recebam tudo o que o pesquisador lhes possa comunicar para julgar a validade dos saberes produzidos. Seria a objetivação da subjetividade. demarcar-se umas em relação as outras, incentivadas pelo positivismo que sugeria, para a experimentação, o corte do real em múltiplos componentes, a fim de facilitar o exame e controle. Quando as ciências humanas para de buscar leis universais e passam a se preocupar com a resolução de problemas, passam a questionar as fronteiras disciplinares, pois isto poderia ser um obstaculo a compreensão do problema em seus múltiplos fatores. O real, pensa-se, deveria ser abordado em sua globalidade, como um sistema de fatores inter-relacionados. Mas tal abordagem (sistêmica) não é simples, devido aos limites dos pensamentos individuais e aos hábitos disciplinares adotados. O que se desenvolve é uma abordagem multidisciplinar, que consiste em abordar o problema sobre a perspectiva de diversas ciências que pareçam úteis.
2.2
O método – Da segunda metade do séc. XX em diante as ciências, em especial as humanas,
distanciaram-se do positivismo. Admite-se que o pesquisador sofre diversas influências que o fazem perceber um problema e supor uma explicação racional da situação a ser compreendida ou aperfeiçoada (a hipótese). Por vezes há outras hipóteses, mas o pesquisador retem a que lhe parece ser a melhor para progredir na compreensão do problema e na eventual solução. Então volta-se a realidade para a fim de comprová-la, verificando-a e colhendo informações que permitam novas conclusões, que não são mais absolutas que a hipótese. Ao divulgá-la buscará a objetivação, publicando as delimitações do problema, como as percebeu, porque sua hipótese é legítima e o procedimento de verificação empregado justificado. Essa operação de objetivação, com a concentração no problema, está hoje no centro do método científico.
Conscientizar-se de um problema
Propor e definir um problema
Torná-lo significativo e delimitá-lo Elaborar uma hipótese
Formulá-lo em forma de pergunta Decidir sobre novos dados necessários
Verificar a hipótese
Recolhê-los Analisar, avaliar e interpretar os dados em relação a hipótese
Concluir
Analisar os dados disponíveis Formular a hipótese tendo consciência de sua natureza provisória Prever suas implicações lógicas Invalidar, confirmar ou modificar a hipótese Traçar um esquema de explicação significativo Quando possível, generalizar a conclusão
3 Ciências humanas e sociedade – As ciências nasceram com a intenção de compreender e explicar a realidade social, bem como prever seu funcionamento para eventualmente dominá-la. Sendo exercidas em respostas as necessidades concretas da sociedade.
3.1
A função social do saber – As ciências humanas, nos moldes modernos, surgem na
segunda metade do séc. XIX, devido a necessidade de compreender as causas de problemas inéditos ligados as profundas modificações que as sociedades ocidentais então conhecem nos planos politico e econômico.
3.1.1
As duas revoluções –
3.1.1.1
A industrialização – O modo de produção artesanal, que reunia apenas alguns trabalhadores, é substituído pelas empresas que congregam centenas de trabalhadores, de diversas origens, trabalhando no quase anonimato. As fábricas necessitam de muita mão de obra, gerando o inchamento das cidades em algumas décadas. Os ex-camponeses amontoam-se nos bairros miseráveis, onde não encontram as redes de relações e de solidariedade a que estavam habituados e que, com frequência, constituíam sua melhor proteção contra os caprichos da sorte. O ritmo da vida destrói ou modifica o antigo modo de vida e levam ao individualismo, assim como ao isolamento.
3.1.1.2
A democratização – As mudanças ocorridas no séc. XIX subvertem a ordem
estabelecida. A burguesia industrial e comercial toma as rédeas do estado-nação, naqueles países onde o capitalismo se desenvolveu mais rápido, que passa a ser governado em função da população do território e regido por dirigentes escolhidos por sufrágio. A mobilidade social cresce seguindo o ritmo das mudanças na ordem social e econômica, mas a distancia entre as camadas sociais se torna mais marcada e visível. Alguns desejam conter tais mudanças, outros, que delas se aproveitam, gostariam de facilitar sua implantação; desenvolvem-se então as ciências humanas. Mas é o séc. XX que assiste a explosão das ciências humanas, pois as revoluções politicas e econômicas sucedem-se e propagam-se pelo mundo.
3.1.2
Ciências humanas e sociedade brasileira – No Brasil, é somente a partir da segunda metade do séc. XX que as ciências humanas em geral atingirão os padrões científicos existentes na Europa desde o inicio do século, isto devido a inexistência de autonomia científico racional em relação à ordem patrimonial e escravocrata e a resistência cultural aos fundamentos de uma concepção cientifica das instituições e do comportamento humano (tendo como porta-vozes o clero e os bacharéis em direito) que imperaram durante o séc. XIX. Mas nas ultimas décadas do séc. XIX, principalmente com a transição para uma sociedade de classes facilitada pela república, a sociedade brasileira adquire a autonomia para o desenvolvimento de padrões científicos e motivação na busca da solução dos problemas da crise de transição para uma sociedade não escravocrata. Nos anos 30 e 40, a evolução é marcada pela preocupação da sistematização dos procedimentos científicos para a analise histórico sociológica da realidade brasileira e pela introdução de novas interpretações da realidade social. As condições politicas, sociais e econômicas dos anos 50 suscitam
as analises que caracterizam essa década. Nos anos 60, influenciadas pelo “Grupo de São Paulo” as ciências humanas passaram a pretender desenvolver um saber que fosse socialmente relevante e a desenvolver um papel de redentoras das desigualdades. Nos anos 70 ocorre a consolidação do capitalismo e, paralelamente, profundas alterações sociais e a expansão da indústria cultural, que passa a demandar especialistas. Este fato provoca um deslocamento do eixo das discussões cientificas, que saem dos círculos estritamente acadêmicos (onde vigoravam a concepção de um saber social universal e critico), e passam a incluir as atividades de planejamento governamental e privado, onde é realçado o aspecto da utilidade para a solução de problemas diversos. Atualmente tem-se assistido a um abandono das explicações predominantemente estruturais dos problemas sociais, em prol de uma multiplicidade de abordagens metodológicas visando captar o real social, sob o ângulo da diversidade cultural.
3.2
Ciências humanas e responsabilidade – As ciências humanas influem na formação
de opiniões da população em geral, como “com grandes poderes vem grandes responsabilidades”, é necessário ter em mente os efeitos sociais da pesquisa e os limites éticos a sua realização.
3.3 O que procuram as ciências humanas? -
3.3.1
História e geografia – Respectivamente, entender o processo de organização e diferenciação dos povos; compreender as relações humanas com/no espaço.
3.3.2
A ciência política – Discernir as regras do poder e compreender seus modos de exercício e obtenção.
3.3.3
Economia e administração – Respectivamente, compreender os princípios e a atividade de produção e troca; desenvolver planejamentos e métodos para resolução de problemas.
3.3.4
Sociologia, antropologia e ciências da religião – Respectivamente, compreender a crescente complexidade das relações sociais; analisar as diversas culturas existentes; entender as influências exercidas pela religião nos meios sociais.
3.3.5
Psicologia – Obter conhecimento profundo do comportamento dos indivíduos.
Parte II – Do problema a hipótese 4 Problema e problemática – A pesquisa parte de um problema se inscreve em uma problemática. A fase de classificação do problema, e de sua problemática, é frequentemente considerada uma fase crucial da pesquisa, pois define e guia as operações posteriores.
4.1
O problema de pesquisa – Problema é a busca de um maior entendimento de questões
postas pelo real ou de suas soluções.
4.1.1
Problemas: motivações e escalas diversas – Podemos distinguir duas categorias de pesquisas, as quais relacionam-se entre si. A fundamental tem por motivação preencher uma lacuna nos conhecimentos, gerando informações que no futuro poderão ser úteis a resolução de problemas postos. A aplicada tem por motivação contribuir para a resolução de um problema aplicando conhecimentos já disponíveis.
Obs.: Tema e problema – Tema
e o conjunto integrado de conhecimentos sobre o conjunto da questão, problema é
apenas uma parte deste.
4.1.2
O “verdadeiro” problema – Um problema de pesquisa é um que se pode “resolver” com conhecimentos e dados já disponíveis ou com aqueles factíveis de serem produzidos.
4.1.3
As interrogações iniciais – Entende-se por interrogações iniciais as primeiras percepções a respeito de uma situação que causa problema e que merece ser examinada mais de perto. È, com frequência, um movimento pré-lógico do pensamento, da ordem da intuição influenciada pelas experiências próprias (conjunto de conhecimentos e valores),
4.1.4
Conhecimentos – Conhecem-se fatos brutos e construídos. Os brutos são aqueles que, embora determinados e divulgados, não se constituíram ainda em objetos de reflexão. Não possibilitam a compreensão do fenômeno, mas permite melhor se situar na realidade. Os construídos são generalizações derivadas do relacionamento de diversos fatos brutos. Dentre as generalizações os conceitos e teorias são particularmente úteis a pesquisa.
4.1.4.1
As generalizações – São conhecimentos construídos para explicar o relacionamento de um conjunto de fatos brutos.
4.1.4.2
Os conceitos – São representações mentais (imagens abstratas) de um conjunto de
realidades (ou casos particulares aparentados) em função de suas características essenciais em comum. Os conceitos e as questões que levantam são os instrumentos privilegiados do pesquisador para que oriente a observação e o questionamento (analise) dos fenômenos; dai serem chamados de conceitos e questões analíticas.
4.1.4.3
As teorias – São generalizações, da ordem das conclusões ou das interpretações,
que procuram ser a explicação geral de um conjunto de fenômenos. O valor de uma teoria é, primariamente, explicativo (generalização de explicações concordantes de fatos estudados), mas ao pesquisador seu valor é analítico, pois lhe serve para estudo de outros fatos da mesma ordem. Cientificas são as frutos de pesquisas; sociais as elaboradas por pesquisa, mas de forte carga ideológica; e espontâneas, as visões de mundo que não repousam sobre o estudo analítico do real (de validade questionada).
4.1.5
Valores – Os valores são representações mentais de um estado considerado desejável. Os conhecimentos ganham sentido através dos valores. A própria validade do saber produzido depende da consciência e controle do jogo de valores envolvido.
4.1.5.1
As cores do saber – Quando um pesquisador se conscientiza de um problema, o
faz por uma leitura do real influenciada pelo conjunto de conhecimentos e valores próprios (seu quadro de referência), atribuindo a fatos relevância diversa. O peso dos valores se exerce ainda mais quando se trata dos saberes construídos, principalmente as teoria sociais. Assim toda percepção de um problema tem em sua origem um jogo de conhecimentos variável. Porém, existe um conjunto de elementos que guiam na elucidação do problema: os valores metodológicos.
4.1.5.2
Os valores metodológicos – São valores que conferem validade (reconhecimento) aos saberes produzidos. Isso (validade) exige curiosidade e ceticismo, a confiança na razão e no procedimento cientifico e aceitação de seus limites. Os valores metodológicos forçam a aceitação do pesquisador, seriam como obrigatórios (sem eles não há ciência).
4.1.6
A problemática sentida – A conscientização de um problema depende e se encaixa no quadro referencial, onde um olhar atento possibilita entrever o problema. A primeira preocupação do pesquisador é passar da percepção intuitiva para o domínio racional, objetivando a problemática (quadro no qual se situa a percepção de um problema). Essa operação consiste em jogar o máximo de luz sobre as origens do problema e as interrogações iniciais que concernem-lhe, sobre sua natureza, sobre as vantagens obtidas em resolvê-lo, sobre o que se pode prever como solução e como aí chegar. Vai-se de uma problemática sentida a uma problemática racional. De uma a outra, há a visualização do problema a partir dos conhecimentos dos quais já dispõe, bem como dos pontos de vista do pesquisador sobre o problema e sua evolução, conduzindo a delimitação do problema. A elaboração de questões determinam melhor o que será elaborado e a formulação de respostas plausíveis dessas perguntas (hipóteses).
Obs.: O jogo da problemática – Todo conhecimento toma forma em um
quadro teórico, cuja natureza e estrutura estão implícitas ou explicitas. Este quadro teórico pode ser chamado de problemática. Está é composta por um conjunto de postulados e de conceitos e por regras metodológicas. A problemática determina as questões que serão ou não formuladas.
5 O percurso problema – pergunta – hipótese 5.1 O “bom” problema, a “boa” pergunta -
5.1.1
Escolher seu ângulo de abordagem – Autoexplicativo.
5.1.2
Perguntas orientadas - Traduzir um problema em forma de pergunta traça o itinerário de pesquisa ulterior.
5.1.3
A “boa” pergunta – Durante está tradução o pesquisador deve tomar cuidado para que a pegunta permaneça clara, significativa e exequível.
5.1.3.1
Significativa – Deve demonstrar que o problema proposto é passível de solução e,
5.1.3.2
Clara – Deve ser clara para facilitar o estabelecimento do roteiro de pesquisa e a
idealmente, ser original.
eventual comunicação da mesma. Os esforços para clarificar a pergunta consiste, em boa parte, em objetivar os seus termos.
5.1.3.3
Exequível – Deve-se ter em mente os meios disponíveis para a obtenção das informações necessárias a resposta ao estabelecer a pergunta.
5.1.4
Revisão da literatura – Deve ser procedida somente após uma delimitação satisfatória da pergunta. O pesquisador deve estar atento para não perder de vista sua pergunta, deixando-se levar pela literatura, e compreender que deve selecionar o material em função de sua intimidade com a pergunta proposta, sopesando o valor dos trabalhos e a razão das escolhas.
5.1.5
Guias bibliográficos – Relaciona possíveis fontes de dados, de utilidade contestável e
destoante do foco na logica da pesquisa, alvo deste resumo.
5.2
A problemática racional – Uma vez definida a pergunta e feita a revisão da literatura cabe
ao pesquisador clarificar, precisar e, se necessário, reformular seu problema e questão e, depois, elaborar o que antecipa como eventual compreensão e explicação (a hipótese).
5.2.1
A problemática racional enunciada – No inicio havia um conjunto de fatores esparsos que, em função de circunstâncias que se apresentam em seu meio, fazem com que o pesquisador perceba um problema sobre o qual valéria a pena se debruçar. Esses elementos, em interação, formam seu quadro de referência para a apreensão do problema, sugerindo-lhe um modo de vê-lo (problemática sentida); de onde o pesquisador busca obter uma visão mais objetiva, tendo como auxiliar a revisão da literatura. Com o problema bem delimitado, limites e implicações claramente estabelecidos, o pesquisador volta a realidade para verificar a validade de sua resposta antecipada (hipótese). A problemática racional é enunciada no relatório de pesquisa.
5.2.2
A hipótese – A hipótese é o ponto de chegada de todo o primeiro movimento de um itinerário de pesquisa, e torna-se o ponto de partida para o segundo, indicando o movimento a seguir para que se resolva o problema de partida. A etapa seguinte consiste essencialmente em procurar informações novas para que a hipótese seja verificada.
Parte III – Da hipótese a conclusão 6 As estrategias de verificação – Elaborada sua hipótese, o pesquisador deve decidir como
procederá sua verificação: deve determinar as informações que serão necessárias, as fontes as quais recorrer e a maneira de recolhê-las e analisá-las para tirar conclusões.
6.1
Hipóteses diversas, necessidades diferentes – Autoexplicativo.
:
6.1.1
Dados criados, dados existentes – As pesquisas podem ser com dados criados, ou
seja, baseada em dados coletados após uma intervenção deliberada, que visa a provocar uma mudança; ou com dados já existentes em uma situação em estudo e que o pesquisador faz aparecer sem tentar modificá-los com intervenções. Obs.: O que é um dado? -
Um dado é um elemento ou quantidade conhecida que serve de base à resolução de um
problema .
6.1.2
Os dados são criados – A validade dos dados pressupõe a variação apenas causada pelo interventor, para que se considere a causalidade como real.
6.1.2.1
Isolar a causa da modificação – Uma pesquisa que crie dados requer a existência de um grupo experimental e um grupo-testemunha, ambos guardando o máximo de homogeneidade intra e inter si. Um grupo experimental é o conjunto de pessoas submetidas a intervenção controlada pelo pesquisador; o testemunha é formado por pessoas não colocadas sob a intervenção do pesquisador, mas que passam pela mesma avaliação do grupo experimental afim de fornecer um ponto de comparação.
6.1.2.2
Equivalência dos grupos – O acaso constitui o meio mais confiável de assegurar a equivalência dos grupos (uma vez que sejam retirados do mesmo locus), essa segurança continua, por natureza, a ser probabilista. O pesquisador deve, por conseguinte, proceder as verificações, a fim de constatar eventuais diferenças entre os grupos para levá-las em consideração.
6.1.2.3
Noções de variável – Aplica-se as pesquisas que investiguem uma relação de
causalidade a distinção entre variáveis independentes (é uma variável ligada a causa, cujas variações influenciam outra variável) e dependentes (a que sofre as influências das variações da independente). Obs.: Pesquisa experimental – Para
ser considerada experimental, uma pesquisa deve inicialmente visar demonstrar uma relação de causalidade entre duas variáveis, apoiando-se em uma experiência na qual o pesquisador atua sobre a variável independente associada a causa para, em seguida, medir os efeitos engendrados no plano do variável dependente. O estudo experimental, com suas variáveis mensuráveis, seu recurso ao instrumental estatístico em uma experiencia provocada em que se exerce um controle cerrado sobre o ambiente de pesquisa, constitui uma abordagem muito particular da construção do saber, pois é fortemente marcada pela visão das ciências naturais. Raros são os trabalhos de humanas que podem suprir seus requisitos, devido a grande parte dos fenômenos humanos não poderem ser medidos de maneira significativa e conservar sua riqueza e a causalidade linear não bastar para explicar sua complexidade. Mas o método experimental mantem sua importância nas ciências humanas porquê ele é útil como referência ao estabelecimento de categorias de pesquisa e de critérios para julgá-la. 6.1.3
Os dados são existentes -
6.1.3.1
Uma verificação com exigências resumidas – Inexistindo uma variação
provocada pelo pesquisador o procedimento de verificação se simplifica.
6.1.3.2
O processo de verificação – Utiliza-se o estudo de correlação, no qual se
comparam, com o auxilio de testes estatísticos, dois (ou vários) fatores entre si pra estabelecer relações entre seus diversos estados ou valores a partir de amostras semelhantes (diferentes no tempo ou espaço). Obs.: Correlação e causalidade – O termo correlação
tem uma conotação estatística: o coeficiente de correlação, que mede a correlação entre dois fatores, por vezes é irreal. Isto porque o coeficiente é apenas um calculo em que, num mesmo espaço de tempo, define-se a proporcionalidade da alteração das variáveis sem verificar sua causalidade (ex.: o preço dos imoveis no EUA e a venda de cigarros na Rússia). Os humanos são sempre o objeto das ciências humanas, mas eles são alcançados frequentemente por meio indiretos, marcas de sua presença e atividade (livros, jornais, filmes, músicas...). Obs.: Fontes diferentes de dados -
6.2
Diversidade da pesquisa com dados criados – A forma dos procedimentos não
são frutos dos acaso, cada medida visa a eliminar possibilidades de explicações dos fatos afim de garantir a precisão na avaliação da hipótese.
6.2.1
O abandono do caráter aleatório dos grupos – Trata-se da exigência mais abandonada, pois não se pode sempre respeitá-la sem subverter o ambiente no qual se efetua a pesquisa, quando nele já estão formados grupos antes de qualquer intervenção do pesquisador.
Obs.: A pesquisa quase experimental – Alcunha
dada aos estudos feitos em grupos formados sem aleatoriedade. O maior cuidado a se ter nestes casos e verificar as razões determinantes da formação dos grupos.
6.2.2
Supressão da medida preliminar – Embaraços práticos podem impedir o pesquisador de proceder a avaliação para garantir a equivalência dos grupos participantes, aumentando o risco de comparar grupos destoantes. Resta ao pesquisador tomar medidas de verificação posteriores, na medida do possível, para inferir tal equivalência, sem jamais prová-la.
6.2.3
Ausência do grupo testemunha – Em função das circunstâncias da pesquisa pode surgir a impossibilidade da formação de um grupo testemunha. Desta forma o melhor resultado obtenível seria uma indicação da causalidade (um “até prova em contrario”). Como método alternativo de garantir maior segurança aos resultados seria apelar a uma pesquisa documental (dados existentes) a fim de buscar situações equivalente e compará-las as em estudo.
6.3
Diversas estrategias de pesquisas com dados já existentes -
6.3.1
Pesquisa de opinião – É uma estrategia de pesquisa que visa conhecer a opinião de uma população sobre um assunto dado, interrogando uma amostra da população. Suas principais exigências referem-se ao seu instrumento principal, o questionário, e a necessidade de constituir uma amostra representativa da população. O questionário é formado de quesitos simples e precisos que devem ser propostos na mesma ordem e com as mesmas opções de resposta. Uma amostra representativa é a que possui características e propriedades proporcionais a da população objeto. As pesquisas de opinião são probabilísticas por natureza, mas levadas com o devido rigor, os riscos e erros são mínimos e as variações observadas se situarão na margem de erro que também pode ser avaliada.
6.3.2
Enquete – Estrategia de pesquisa que visa a determinar o quadro geral de uma situação, apoiado-se em dados obtidos de fontes diversas com o auxilio de diferentes instrumentos.
6.3.3
Abordagem antropológica – Trata-se de uma observação participativa. O pesquisador integra-se ao grupo que deseja pesquisar passando a viver como um de seus membros, mas sempre procurando manter uma distância metodológica que lhe permitirá uma avaliação critica dos fenômenos. É ideal a manutenção de um “diário de bordo” com registro dos fenômenos e impressões primarias dos mesmos, pois este facilitará um reexame posterior.
6.3.4
Estudo de caso - Um pesquisador seleciona um caso, na medida em que lhe pareça tipico, representativo de outros casos análogos. As conclusões gerais que ele tirará deverão, contudo, ser marcadas pela prudência, devendo o pesquisador fazer prova de rigor e transparência no momento de enunciá-las.
6.3.5
Historia de vida – Considerada uma forma de estudo de caso (diria uma mistura do estudo de caso com o método antropológico ), trata-se de uma estratégia de verificação que parte das percepções individuais dos fenômenos verificados durante uma narrativa autobiográfica. O pesquisador deve buscar apaga-se o máximo possível a fim de não distorcer as perspectivas do relator .
7 Em busca de informações – A informação constitui a previsão de base dos trabalhos de pesquisa. È sobre ela que se estabelecem o procedimento de construção do problema e da hipótese e de verificação da mesma. Se as informações empregadas no inicio da pesquisa são vagas ou incompletas, a coleta de dados para a verificação deve ser sistemática, ordenada e o mais completa possível.
7.1 Fontes de informações -
7.1.1
Pesquisa com base documental – Esta coleta de informações resume-se em reunir os documentos, em descrever ou transcrever eventualmente seu conteúdo e talvez efetuar uma primeira ordenação das informações para selecionar aquelas pertinentes.
7.1.2
População e amostra – Por vezes uma população (conjunto de entes dentro de um padrão especifico) é demasiado grande para que possa ser coberta pela pesquisa, surge a necessidade de uma amostragem. Estas podem ser probabilísticas (da qual todos os elementos de uma população tem oportunidade conhecida e não-nula de participar) ou não-probabilística.
7.1.2.1
Amostras não-probabilistas – São as mais simples de compor, porém sua
7.1.2.2
Amostras probabilistas – São as extraídas de forma que todos os elementos do
qualidade é desigual e a generalização das conclusões mostra-se delicada, principalmente porque é impossível medir o erro de amostragem. Existe a acidental (escolhe-se apenas os indivíduos encontrados até o momento em que se julga ter informações suficientes), a de voluntários (normalmente quando a participação apresenta algum risco ou desforço relevante), a tipica (forma em função de escolhas do pesquisador) e por quotas (busca-se uma representação o mais fiel possível da população baseada em proporções características).
universo amostrado tenham chance real e conhecida de serem selecionados. O conhecimento da chance permite identificar o erro de amostragem, (proporção de imprecisão da amostra em relação ao todo). Amostras probabilistas podem ser aleatórias simples (formada por sorteio, concedendo a todos os elementos da população uma oportunidade igual de serem escolhidos); por grupos (formada pela seleção de agrupamentos de elementos – eventualmente por subgrupos de diversas ordens – em cujo interior serão escolhidos de modo aleatório – amostras sucessivas aumentam o risco de erro de amostra - ); por estratos (a amostra é escolhida aleatoriamente do interior de subgrupos formados por elementos de características comuns relevantes. Quanto maior a mostra, maior a representatividade (a amostra perfeita é a totalidade), porém quanto mais homogêneo for o todo menor poderá ser a amostra sem riscos a representatividade.
7.1.3
Quadro operacional da pesquisa – Determinadas as fontes de dados necessárias surge a necessidade de preparar a coleta e o tratamento dos dados. Para tal, precisa-se elaborar o conjunto de indicadores que estabelecem o vínculo entre os conceitos empregados na elaboração da hipótese e as observações necessárias a sua verificação. Alguns conceitos complexos demandarão uma gama de dimensões e subdimensões discerníveis para indicadores próprios. Torna-se, então, possível munir-se de instrumentos que servirão a acumulação de informações e de sua adequação aos conceitos. A primeira tarefa na escolha dos indicadores é decompor os conceitos e imaginar suas manifestações concretas. Após, deve-se criticar as escolhas afim de preencher lacunais eventuais, garantindo a plena representação dos aspectos do conceito. Geralmente buscam-se indicadores que traiam o minimo o conceito. O indicador deve permitir mais do que um mero acúmulo de informação, devem conduzir a uma caracterização das mesma em função das peculiaridades do conceito que eles concretizam. A caracterização pode ser numérica (quantitativa), ordinal (hierarquizada ou qualitativa) e nominal (sem ordem). Para serem realmente uteis as categorias devem ser exaustivas (prever o máximo de possibilidades) e mutuamente exclusivas. O bom indicador e preciso (diz claramente ele inclui em cada categoria); fidedigno (as categorizações não devem flutuar com o tempo e lugar); e valido (deve representar bem aquilo a que se propõe). As variáveis são apenas indicadores que, em dados criados, assumem uma relação de causa efeito. A definição do quadro operacional transcende a definição dos indicadores: liga a hipótese ao trabalho de analise e interpretação dos dados. Explicita a natureza da manifestação concreta e a orientação de manifestações que confirmam a hipótese. Existindo vários conceitos deve-se precisar as relações entre seus indicadores (a proporção de variação de uns pelos outros).
Obs.: Informações, indicadores e conclusões - A escolha dos indicadores é crucial a credibilidade da pesquisa.
7.2
Técnicas e instrumentos de coletas de dados – Para a coleta de dados, segundo a natureza do fenômeno e preocupações da pesquisa, pode-se consultar documentos, observar o fenômeno ou interrogar testemunhas.
7.2.1
Observação – Para ser qualificada de cientifica a observação não deve ser uma busca ocasional, mas ser posta a serviço de uma questão ou hipótese claramente explicitado, serviço que deve ser rigoroso em suas modalidades e submetidos a criticas nos planos da cofiabilidade e da validade.
7.2.1.1
Observação estruturada – O observador tem sua atenção voltada a aspectos da
situação que estão explicitamente definidos e para os quais estão previstos modos simples de
registro que reduzem os riscos de equívocos. Duas condições são exigidas: conhecer bem o contesto em que vai operar e os aspectos que devem chamar sua atenção. Prepara, assim, um plano de observação adaptado as circunstancias e objetos do estudo, que lhe permitirá fazer uma ordenação e seleção antecipada dos dados dentre o fluxo de informações. Essa construção alicerça-se nos indicatores identificados com a hipótese. A grade de observação pode assumir diversas formas, mas na pratica se aterá a identificação do contexto e dos comportamentos observados (sob perspectivas duais ou gradativas). Vantagem: A influência do observador se acha reduzida; as informações são homogêneas e derivadas de diretivas precisas; o tratamento dos dados e simples (fácil recurso a instrumentos estatísticos). Desvantagens: Demanda sólido conhecimento do contexto e análise minuciosa dos conceitos envolvidos, pois o esquecimento de uma informação importante, frequentemente, significa retomar tudo.
7.2.1.2
Observação pouco ou não estruturada – O pesquisador não cria um quadro
tão elaborado, guiando-se principalmente pela hipótese. A forma clássica é a observação participante (o observador se integra ao grupo para compreender-lhe o sentido de dentro). O quadro fica mais impreciso, mas a coleta deve continuar metódica. A forma mais adequada da coleta é a manutenção de anotações discretas de 2 tipos: descritivas (neutra e factuais); e analíticas (fruto das reflexões do observados sobre os fatos testemunhados). A estas somam-se o diário de bordo (relato da investigação) e notas de planejamento (que orientam o procedimento). Este método é questionado, pois sua fidedignidade e validade dependem da integração do pesquisador ao grupo e a influência que sofre deste, Outro inconveniente é a quantidade espantosa de dados de toda ordem que são armazenados. Por fim, ainda resta a questão permanente da alteração derivada da presença do observador ou o questionamento ético, caso oculte sua posição de observador.
7.2.2
Técnicas intermediárias de observação – A observação é um meio fundamental de colher informações. Para ser útil é indispensável que seja orientada por uma preocupação definida e organizada com rigor, estando-se atento a tudo relevante a hipótese, não só ao que a comprova. As técnicas de observação variam por sua estruturação e proximidade entre observador e objeto, havendo infinitas possibilidades.
7.2.3
Testemunhos – O recurso a depoimentos permite não só o acesso ao conhecimento das pessoas, como a suas representações, crenças, valores, etc., por diversos meios.
7.2.3.1
Questionários – A maneira mais usual é preparar uma série de perguntas relacionadas a hipótese, para as quais são definidas respostas, formuladas em relação aos indicadores, pedindo-lhe que assinalem a que melhor corresponde a sua opinião ou em uma escala graduada. Em seguida os questionários são distribuídos para serem respondidos. A uniformização busca que cada pessoa veja as perguntas da mesma maneira, facilitando a compilação e comparação das respostas e o recurso a aparelhos estatísticos. A padronização das resposta ajudará no esclarecimento das perguntas e evita que o pesquisador tenha que interpretar as respostas. O anonimato possibilita uma maior sinceridade nas respostas, mas não a garante. A utilização de questionários normatizados não deixa de ter exigências (a qualidade dos participantes) e inconvenientes (problemas com a ausência de boa vontade dos interrogados). Como os interrogados respondem por si as perguntas, presume-se que as entendem como o pesquisador, mas trata-se apenas de uma suposição. A impositividade das respostas predeterminadas pode falsear os resultados ao forçar a escolha de uma opção. O acréscimo de opções tipo “nda” permite atenuar esse problema. Porém se essa opção é muito marcada não se poderá chegar a nenhum resultado, exceto a necessidade de ampliar os tipos de respostas para refletir melhor as opiniões. No caso de respostas muito variadas ou imprevisíveis é recomendável o uso de questionários abertos, o que exclui a referência para a compreensão das perguntas e demanda maior esforço no tratamento dos dados para interpretar e classificar as respostas. Esta também provoca maior aversão dos interrogados por terem que redigir uma resposta. Uma forma mista pode ser mais útil.
7.2.3.2
Entrevistas – Esta abordagem aumenta sensivelmente o número de respostas (coação moral leve). Por serem organizados de forma semelhante aos questionários possuem a maioria das vantagens e inconvenientes deste, somando-se a necessidade de encontrar e treinar pessoas para realizar uma entrevistas uniformes. Deve-se aqui tomar maior cuidado quanto a amostragem e quanto a reação ao entrevistador. A entrevista oferece uma maior amplitude que o
questionário, pois não estão mais completamente presas a um documento, já que o entrevistador pode elucidar a questão. Isto distancia a estruturação, mais não sem inconvenientes: a perda da uniformidade (nas respostas e perguntas) dificultam o uso de instrumentos estatísticos e requerem uma abordagem diferenciada. Estas entrevistas são definidas como semi-estruturadas (serie de perguntas abertas, feitas verbalmente em uma ordem prevista, mas a qual o entrevistador pode acrescer esclarecimentos); ou parcialmente estruturadas (os temas são particularizados e as questões – abertas – preparadas antecipadamente, mas com plena liberdade de retirada eventual de algumas perguntas, a ordem em que são feitas e acréscimos de eventuais). Esse instrumento convêm menos a busca de causa/efeito com dados criados, mas sua flexibilidade permite um contato mais intimo com a amostra (em uma exploração mais profunda, de acordo com a necessidade do objeto da pesquisa, pode-se chegar a entrevistas não estruturadas – o entrevistador se apoia em vários temas e, talvez, algumas perguntas iniciais previstas antecipadamente, para improvisar, em seguida, suas outras perguntas em função de seus interesses e das respostas obtidas do interlocutor -). Em todos os casos o tratamento exigira transcrever cuidadosamente os dados coletados, para logo proceder a analise de conteúdo, que é mais delicada que a estatística. Os instrumentos serão, amiudê, fortemente estruturados, encerrando o participante em opções de resposta previstas antecipadamente. Essa uniformização permite interrogar rapidamente, e com menor custo, um grande número de pessoas, e tratar os dados estatisticamente, deles tirando conclusões gerais. Em outros instrumentos menos ou nada estruturados o desaparecimento da uniformização, que facilita a grande amostragem e comparação, apaga-se, desaparecendo o recurso a medidas estatísticas. A flexibilidade adquirida permite obter dos entrevistados informações mais ricas e fecundas, mais próximas da complexidade das situações, cuja generalização, todavia, exigirá cuidado e prudência por parte do entrevistador.
7.2.4
Espaço à imaginação – Cabe ao pesquisador imaginar e ajustar a técnica e os instrumentos que lhe permitirão delimitar o objeto de sua pesquisa e deles as informações necessárias a compreensão. Nenhum instrumento é perfeito, mas pode-se usar mais de um instrumento e aproveitar a vantagem de cada um, minimizando seus inconvenientes. Podem ser dois instrumentos de uma mesma técnica ou de diversas, por exemplo.
7.2.4.1
Testes - Os testes merecem ser distinguidos dos demais instrumentos de exploração
7.2.4.2
Técnicas e instrumentos originais - Os modos de coleta de informação são
do humano. Pela sua enorme variedade permitem atingir a uma quantidade similar de caracteres da natureza humana. Variam muito quanto a estruturação. Sendo ora instrumento de observação, ora questionários, tem como característica propor estímulos que podem acarretar diversas reações. Essas não são consideradas diretamente, mas interpretadas conforme um quadro preestabelecido. Essa interpretação padronizada baseia-se no conjunto das reações. Pouco importa os instrumento e o alvo, a interpretação toma forma de inferência sobre os valores apresentados pela pessoa sobre suas atitudes em comparação com um grupo designado tipico, que serviu a ocasião da elaboração. Apesar dos cuidados na elaboração de boa parte dos testes seu valor continuam sobre duvida, sobretudo por causa das inferências sob as quais apoia seu uso, da distância que separa as reações das pessoas de seus motivos e do caráter que essas respostas presumem manifestar. muito diversificados e não tem por limite senão a fértil imaginação do pesquisador e a hipótese que visa testar.
8 Das informações a conclusão – Os fatos e números nunca falam espontaneamente. Faltalhes a verificação em que se deve estudá-los em relação a hipótese. Analisando e interpretando as informações colhidas chega-se a conclusão. Mas análise e interpretação não são imediatamente possíveis, pois os dados precisam ser preparados para se tornarem utilizáveis. O pesquisador deve organizá-los, para então poder proceder a análise e interpretação que o levará a conclusão. Análise e interpretação estão intimamente ligadas; de hábito fazem-se paralelamente, em uma operação a fronteira entre as duas as vezes é impossível de se traçar com precisão, salvo em estudos em que a análise consiste essencialmente na aplicação de testes estatísticos cujos resultados são interpretados em seguida, em uma seção à parte. Antes de aplicar os testes é necessário agrupar e classificá-los. As classificações remontam a elaboração dos instrumentos, grades e questionários já supõem uma forma de análise e interpretação das informações. Deve-se convir que as demarcações entre a preparação, análise e interpretação dos dados não são estanques, nem mesmo sempre discerníveis, e, as vezes, as distingui-se para melhor descrever as diversas operações. Na sequencia dos primeiros tratamentos os dados serão expressos sob forma numérica ou literal (no sentido originário para
designar os dados não numerados, expressos em letras ou palavras). A última tem a ver com como elas se apresentavam quando foram coletadas e, também, com as intenções do pesquisador. A forma numérica permite o tratamento com instrumentos estatísticos. Procede-se assim com dados obtidos por instrumentos padronizados ou estruturados, Os que se apresentam na forma literal serão objeto de uma análise de conteúdo, principalmente os que se apresentam como discurso (conjunto de palavras organizadas de modo a veicular sentido). Algumas análises de conteúdo recorrem a uma abordagem em que as estatísticas desempenham um papel, mas esse recurso não é obrigatório e nem sempre útil.
8.1
Instrumentos e métodos de de análise estatística – O primeiro cuidado é
colocar os dados numéricos em ordem, reunindo as informações mais comodamente, constituindo uma redução dos dados. É seguida do tratamento estatístico, habitualmente realizado em dois tempos: o primeiro, que os descreve e caracterizam; e o segundo, ao estudar os nexos e diferenças que permitem inferências. Como a análise toma forma de cálculos matemáticos, a interpretação se distingue mais, o que não significar ter de esperar até o fim das análises para interpretar os resultados: especifica-se bem frequentemente o sentido desses a medida que surgem, sentido que pode guiar o pesquisador nas escolhas a efetuar na continuação.
8.1.1
Preparação dos dados – A preparação comporta três operações principais: codificação, transferência e verificação. Essas operações mostram-se de uma importância não negligenciável no decurso do processo, pois se não podem por si sós assegurar a qualidade da análise e da interpretação, correm o risco de as obstacularem quando realizadas sem o devido cuidado.
8.1.1.1
Codificação dos dados – A primeira operação na organização do material. Trata-se da atribuir um código a cada um dos dados coletados e por isto categorizá-los, Algumas informações são expressas numericamente, o que fornece diretamente os códigos. Se a informação é registrada em uma escala o pesquisador dá um código a cada intervalo. Se os intervalos não são previstos antecipadamente, pode-se determiná-la e numerá-la em seguida. Caso mais de um campo possa ser apontado, pode-se evitar os problemas reunindo as situações previstas em subgrupos de enunciados que se excluem mutuamente. O pesquisador também deve prever códigos para a ausência de marcação, exatamente como em um questionário prevê-se a marcação para a recusa ou incapacidade de responder. É necessário também codificar os comentários: o procedimento é o mesmo de uma grade aberta. O pesquisador faz um levantamento das notas observadas no conjunto ou na amostra das grades de observação completadas e opera um agrupamento dessas notas em função do sentido, obtendo um primeiro conjunto de categorias. Depois reconsidera para ver se as categorias são convenientes, reiterando a operação até a obtenção de categorias que o satisfaçam. A maneira como os códigos e categorias foram estabelecidos deve ser explicitamente justificada em função da natureza da observação e das intenções da pesquisa. Importa tomar nota cuidadosa da significação dos códigos: essa chave de codificação facilitara organizar os dados e permitirá encontrar-se quando quiser voltar sobre eles após um certo tempo. O trabalho é relativamente fácil quando o instrumento utilizado é um questionário de respostas fechadas ou uma grade de observação: basta inscrever diretamente os códigos. Se os instrumentos utilizados não permitem proceder desta maneira, ou se é preferível outro método, pode-se fazer uma lista de seus códigos e conservá-los a parte. Para cada variável ou fator considerado especifica-se inicialmente a significação ligada a ele. Depois relaciona-se os diversos códigos a essa variável ou fator, precisando o caráter ou a categoria que traduz. Identificadas as categorias e códigos, o pesquisador procede a codificação do material. Esta pode proceder, mas também ser geminada a da transferência dos dados.
8.1.1.2
Transferência dos dados – É transcrevê-los em um quadro mais funcional para o trabalho de análise e interpretação, transformando-os as vezes, graças a codificação. No momento da transferência os dados são introduzidos em um quadro informatizado chamado de banco de dados. Este quadro conta com uma coluna para cada uma das variáveis consideradas e tantas linhas quantas das unidades integrantes da amostra. Nos assim definidos, os dados são colocados a partir do que se encontra em cada uma das grades utilizadas. Assim reunidos podem ser compilados e tratados de diversas maneiras. Os dados agora estão prontos para serem analisados, mas algumas verificações se impõem.
8.1.1.3
Verificação – O processo de verificação começa na recepção dos dados brutos: o
pesquisador elimina desde logo os dados que não podem servir a seus fim porque são incompreensíveis, incompletos, inadequados... Alguns podem ser demasiado fragmentários ou
muito pouco discriminantes (não permitem uma boa distinção dos fatos). Quando um fator é excluído, o quadro perde uma coluna, ao passo se uma ou mais grades são excluídas porque não forneceram informações fidedignas ou de algum outro modo satisfatórias, perde uma linha ou um conjunto. Diversos erros podem manchar o processo de retificação dos dados; importando retificá-los pela correção. A solução mais eficaz é verificar cada um dos dados, mas em alguns casos e necessário achar meios mais rápidos de detecção de anomalias. Um truque experimentado consiste em “tirar” os dados acumulados por código em cada uma das colunas, arrolando o número de entradas para cada um dos códigos, é possível certifica-se que o computo total esta ai, se não, verifica-se onde se encontra a falta e o que pode explicá-la. Caso se queira fazer constar um código diferente daquele cuja presença é legítima, ter-se-á o cuidado de indicálo no quadro de dados e de corrigi-lo retornando as informações originais. Algumas “aberrações” podem chamar atenção, sem por isso sempre testemunharem erros. È preocupante a ausência total de uma categoria para uma variável especial: talvez a categoria não esteja em seu l ugar... ou talvez o pesquisador se tenha enganado de variável ao transferir os dados.
8.1.2
Análise estatística dos dados – As estatísticas oferecem uma massa de instrumentos que podem provocar desvios uma vez aplicados sem reflexão suficiente, mas que, usadas com discernimento, podem ajudar a melhor compreender e explicar os fenômenos e as situações, contribuindo para a construção dos saberes. Deve-se inicialmente descrever os dados com o auxilio de algumas medidas que os resumem e os caracterizam ao mesmo tempo. Poderá, em sequência, estudar as diversas relações existentes entre as variáveis e fatores considerados e ver em que medida suas conclusões podem se estender além da amostra.
A finalidade destes instrumentos é meno tirar o máximo de informações do que responder a uma pergunta e/ou verificar uma hipótese. Essas preocupações devem guiar a análise. Esta não requer necessariamente o recurso a instrumentos sofisticados, e o pesquisador pode, em geral, efetuar ele mesmo o trabalho. Obs.: Consultar um especialista? -
8.1.2.1
Caracterização dos dados – O primeiro cuidado do pesquisador será
caracterizar o comportamento de cada uma das variáveis no conjunto da observação. Dois tipos de medidas vão servi-lhe: as medidas de tendência central e as de dispersão. As de tendência central permitem situar os dados em torno de um valor particular. As principais são a média (a soma dos valores observados dividida pelo número de observações), a mediana (valor da variável que separa o conjunto das observações em duas partes iguais), e a moda (valor da variável que aparece mais seguidamente nas observações – se dois ou mais valores de variáveis chegam em igualdade ao teste de frequência, a distribuição da variável é dita bimodal ou multimodal -). A primeira reservada as variáveis numéricas, cujos valores são obtidos por enumeração ou medida. Quando a variável é ordinal, seus estados são hierarquizados sem corresponder a valores medidos, privilegia-se a mediana. Com uma variável nominal, os estados são simplesmente justapostos, só a moda é utilizável. As medidas centrais não dizem tudo de uma variável e sua distribuição (é constituída pelo conjunto de valores que está variável pode tomar, vendo-se cada um desses valores associados a frequência de sua ocorrência no conjunto dos dados) . Além do valor particular em torno do qual se reúnem as observações, o pesquisador vai querer também saber a “densidade” de sua reunião, a maneira como elas se desdobram. É ai que entram as medidas de dispersão. A mais simples é a expansão, a distância ente os valores extremos observados. Ela se apresenta um pouco sumária, de sorte que a ela se prefere muitas vezes o desvio quartílico, ou interquartílico, que corresponde a distância que separa os valores da variável entre os quais se encontram a metade central das observações realizadas. Seu uso supõe que os valores da variável sejam hierarquizados (ordinal ou numérica). Quando numérica, podese recorrer a que fazem intervir o desvio (a diferença entre cada dado e a média dos dados) que separa cada dado dessa medida central: desvio médio (a soma dos módulos de todos os desvios, divididos pelo número de dados), variância (soma dos quadrados dos desvios divididos pelo numero de dados) e desvio padrão (raiz quadrada da variância) são os mais usuais. Outros aspectos da distribuição podem se mostrar significativos, como a frequência relativa, habitualmente expressa em porcentagem, de cada estado das variáveis, sobretudo nos casos das variáveis ordinais ou nominais. No caso das variáveis numéricas, recorre-se de preferência a medidas ditas de posição, que permitem situar as observações sobre intervalos. A maioria dos software de base de dados permite calcular rápida e exatamente medidas descritivas, mas o computador não decide se o cálculo tem sentido ou não em relação a variável considerada. O pesquisador deve se certificar disso antes de apertar as teclas. Ressaltemos o aporte das apresentações visuais na descrição dos dados. Os quadros constituem uma maneira eloquente de exibi-los de modo condensado, se trate de um quadro de uma entrada que dá a distribuição de uma variável, ou de um com dupla entrada que coloca duas variáveis em relação. Na maioria dos
gráficos, outro meio eficaz, os estados e valores das variáveis são colocados no eixo horizontal e as frequências na vertical.
8.1.2.2
Testes estatísticos – Em continuação, passa-se pelos recursos aos testes
estatísticos que vão ajudar a julgar a presença de vínculos significativos entre as variáveis escolhidas em relação as questões e hipóteses, e a determinar a intensidade desses vínculos. Para verificar a hipótese, o pesquisador estabelece de inicio a distribuição conjunta de variáveis, construindo um quadro de dupla entrada e passa a buscar alguma relação entre as informações organizadas. Afirmar a presença de uma relação é sustentar que, se a observação fosse feita no todo, ter-se-iam obtido sensivelmente os mesmos resultados. Se o quadro incidisse sobre o todo , então se poderia concluir imediatamente a exatidão da hipótese. Mas só uma amostra foi consideradas, e amostra significa acaso. Mesmo quando o acaso faz bem as coisas, encontram-se diferenças entre a população e sua amostra. Resulta uma inquietude: per si, esses desvios eventuais poderiam explicar as diferenças observadas? Aí esta toda a questão do carácter significativo das diferenças assinaladas no quadro, questão que o pesquisador deve responder a si mesmo para estar apto a concluir. Uma vez que a observação de toda a população está excluída, a resposta a essa interrogação será fornecida por um teste de hipótese e se exprimirá sob a forma de uma probabilidade. A maneira de proceder nestes teste resume-se a: quase não conhecendo a população, imagina-se, no inicio, que não existe no seio dela relação entre as variáveis (hipótese nula) e utiliza-se amostras aleatórias (os testes estatísticos só tem valor com este tipo de amostras). Os testes vão dizer se os desvios ultrapassam aqueles que se devem esperar só pelo acaso. Se permanecem aquém do limite previsível, são julgadas não-significativas e a hipótese nula é mantida, porque as observações realizadas na amostra não permitem concluir por uma relação entre as variáveis. Porém, se os desvios vão além desse limite, reconhece-se então que o acaso sozinho não pode explicá-los e que eles são verdadeiramente a manifestação de uma relação entre as variáveis. Pouco importa o teste escolhido e os instrumentos de cálculo usados, as indicações extraídas sobre a existência de um elo entre variáveis comportam sempre uma margem de erro. Essa possibilidade, contudo, apresenta a vantagem de poder ser avaliada. É ai que intervém o limite de significado do teste: ele traduz o nível de confiabilidade que se pode legitimamente atribuir-lhe. Esse limite toma geralmente a forma de uma porcentagem. Onde fixar o limite da confiabilidade? O erro julgado aceitável varia conforme a hipótese de pesquisa. Julgando o caráter significativo de uma diferença observada entre dois grupos-amostras, existem dois modos de erro: a hipótese nula se vê rejeitada injustamente (afirma-se a diferença significativa julgando-se diferentes populações idênticas); a hipótese nula é aceita apesar de sua falsidade (declarando-se não significativa avaliando-se como iguais populações que são diferentes). Quanto mais se eleva o limite da significação, menos chances há de se cometer o primeiro erro, e mais do segundo. O pesquisador deve então decidir se um dos tipos de erro é mais grave que o outro. Quando nenhum dos tipos de erro se mostra mais grave que o outro, cumpre decidir por um ponto de equilíbrio razoável entre ambos (nas ciências humanas é de 5%). Aceita-se o caráter significativo de um diferença quando este tem 95% de segurança, contudo não transforma a probabilidade em certeza. Se os testes de hipóteses permitem julgar a presença ou não de relação entre variáveis, não dizem nada da intensidade dessa relação. Daí a presença dos coeficientes de associação para mediar a força dessas ligações, que são de tipos diversos e deve-se escolher o mais adequado a natureza das variáveis.
Se os testes de hipótese ajudam a julgar a existência de vínculos entre as variáveis, não especificam nada do caráter, causal ou não, das relações. As analises estatísticas, as pesquisas com dados criados, que visam evidenciar uma relação causal, não exigem nenhum cuidado ou precaução especial, no máximo a equivalência dos grupos. A prova do elo de causalidade resulta da estratégia de pesquisa e da análise lógica: Assegura-se que as variáveis em jogo mudam conjuntamente no sentido previsto pela hipótese, esse efeito sobre a variável dependente não precede a causa (variação da independente), e, por fim, que outros fatores puderam provocar esse efeito. Obs.: As relações causais -
8.1.2.3
Interpretação dos resultados estatísticos – Os testes estatísticos são apenas
aplicações de procedimentos que de números tiram outros. Estes traduzem-se em resultados probabilísticos que constatam a existência de relações estatisticamente significativas e que apreciam sua intensidade, mas esses instrumentos possuem apenas um poder limitado. São desprovidos de poder explicativo: ajudam a ver as relações possíveis, mas só pesquisador pode dar sentido ao que é assim esclarecido. É ai que intervem a interpretação. Para interpretá-los o pesquisador deve ir além da leitura apressada, para integrá-los em um universo mais amplo em que poderão ter um sentido. Esse universo é o dos fundamentos teóricos da pesquisa e os conhecimentos acumulados em torno das questões ai abordadas. Apoiando-se nessas considerações, o pesquisador constrói a explicação do fenômeno, expandindo essa constatação
para uma reflexão lógica que sustenta no conjunto dos elementos que lhe serviram para prever o que os números deviam dar, e que lhe permite agora fixar-lhes o sentido e alcance. A partir daí uma conclusão se tornará possível. Lembrando-se de que o importante no plano estatístico não o é necessariamente no psicológico ou social. Reconhecer a existência de uma relação, medir-lhe a intensidade, não é explicar as razões de sua presença ou entender o sentido a atribuir a sua existência.
8.2
Análise de conteúdo – O principio da analise de conteúdo: consiste em demonstrar a
estrutura e os elementos desse conteúdo para esclarecer suas diferentes características e extrair sua significação. Pode ser aplicada a uma grande diversidade de materiais, assim como permite abordar uma grande diversidade de objetos de investigação.
8.2.1
Reestruturação dos conteúdos – A análise de conteúdo não e um método rígido. Constitui, antes, um conjunto de vias possíveis, nem sempre claramente balizadas, para a reconstrução do sentido de conteúdo. Na fase preparatório em que explora-se o material, o pesquisador completa-o e se inteira dele, decidindo a maneira como vai decompô-lo, depois recompô-lo a fim de melhor fazer surgir sua significação. O tipo de recorte selecionado e o modo como serão agrupados os elementos que emergirão serão determinantes para a qualidade da análise e das conclusões. É a partir dessa decisão que ele poderá alcançar o sentido profundo do conteúdo. Fixadas as modalidades do recorte e determinadas as categorias no interior das quais as unidades resultantes serão organizadas, o pesquisador pode proceder a classificação dessas unidades, depois ao estudo dos resultados assim adquiridos.
8.2.1.1
Recorte dos conteúdos – Uma das primeiras tarefas consiste em efetuar um
recorte dos conteúdos em elementos que poderão, em seguida, ser ordenados dentro das categorias. Dado a finalidade de agrupar esses elementos em função de sua significação, cumpre que sejam portadores de sentido em relação ao material analisado e as intenções da pesquisa. Os elementos recortados vão constituir as unidades de análise, classificação ou registro. É importante a ideia de unidade, pois cada um desses fragmentos deve ser completo em si mesmo no plano do sentido. O tamanho das unidades pode variar, como variam os critérios e modalidades de determinação delas. O mais simples de realizar prende-se as estruturas sintáticas dos conteúdos, pois tem a vantagem de serem clara e objetivamente delimitadas. Os dados assim obtidos permanecem, todavia, superficiais, pois não levam em consideração nem o contexto nem mesmo o sentido exato que uma palavra ou expressão pode ter. Um estudo menos mecânico pode se revelar mais eloquente. Mais rico, e mais delicado, será o recorte do conteúdo em temas (fragmentos que correspondam cada um a uma ideia em particular, seja um conceito ou uma relação ente conceitos). A dificuldade nasce desses temas exprimirem-se de maneira mais ou menos manifesta, nem sempre delimitados com clareza e frequentemente misturados a outros temas. Sem contar a importância muito variável que lhes pode ser concedida dentro de um conteúdo. Em compensação melhor aproxima o pesquisador do sentido do conteúdo pois constrói suas unidades de análise a partir de sua compreensão desse conteúdo. Agrupadas as unidades, o pesquisador que quer submetê-las a tratamento estatístico pode facilmente enumerálas, mas se escolheu o recurso aos temas é preciso ir além da frequência de sua ocorrência para dar uma medida mais precisa de seu lugar no conjunto de conteúdo.
Obs.: Primeiro e segundo grau – Quando se analisa um conteúdo para encontrar-lhe o sentido, visa-se inicialmente o
mais imediato (o conteúdo manifesto). Em muitos estudos é nesse conteúdo que nos fixamos como postulado, justificando essa análise, dita de primeiro grau, porque o essencial encontra-se manifesto. Alguns julgam insuficiente essa análise e creem necessário levar mais longe as interpretações a fim de atingir os conteúdos ocultos (elementos simbólicos). Pois o implícito mostra-se igualmente portador de entrada do não dito. Quando se transpõe, cumpre fazê-lo com muita prudência critica.
8.2.1.2
Definição das categorias analíticas – O recorte de conteúdo constitui uma das primeiras tarefas do pesquisador após a fase preparatória. A definição das categorias analíticas, sob as quais virão se organizar os elementos de conteúdo, é outra tarefa primordial. A ordem desses dois momentos pode variar: o pesquisador pode definir primeiro suas categorias ou ter a determinação precedida pelo recorte de conteúdo, principalmente quando as categorias são construídas de forma indutiva. Três modos de definição apresentam-se. Em função das intenções, objetivos e conhecimento da área em estudo pode abordar a análise de maneira: Aberta: As categorias não são fixadas no inicio, tomam forma no decorrer da análise. Fechada: O pesquisador decidi a priori categorias, apoiando-se em um ponto de vista • •
•
teórico que se propõe submeter a prova da realidade. Alguns elementos poderão as vezes escapar a essas categorias. Todavia, isso quase não afeta a pesquisa, pois se trata mais de assegurar a presença ou ausência de elementos bem determinados antecipadamente em função da hipótese e do sentido que se lhe pode atribuir. Mista: A primeira etapa do procedimento assemelha-se ao modelo fechado, mas a continuação identifica-se com o aberto. O pesquisador inicialmente agrupa o melhor possível as diversas unidades nas categorias previamente fixadas, com o risco de deixar algumas a parte. Depois se sucedem as revisões criticas tomando muitas vezes como pontos de partida os não classificados da primeira vez, que podem acarretar na criação de novas categorias, ou, então, ampliação ou subdivisão de categorias existentes e a definição de novos critérios de pertinência. Pode-se, inclusive, estabelecer um paralelismo entre os modelos de análise e o dito dos instrumentos de observação e de entrevista.
Obs.: A qualidade de um bom conjunto de categorias – As categorias
devem possuir certas qualidades , caso se queira que a análise se mostre significativa: Pertinência (convir aos conteúdos analisados); Exaustividade (englobar o máximo de conteúdo possível, alguns elementos podem se provar inclassificáveis); Não demasiada (a finalidade é de reduzir os dados, quanto maior o número de categorias mais fina e nuançada se torna a análise, mas não se deve exagerar, pois a rigor não haveriam mais categorias); Precisão (definidas de maneira que se saiba claramente onde colocar as unidades de conteúdo, sua falta compromete o valor da análise e a qualidade das conclusões); Mutuamente exclusivas (um elemento não pode ser encontrado em mais de uma categoria). • • •
•
•
8.2.1.3
Categorização final das unidades de análise – A categorização final
normalmente não deveria apresentar maior dificuldade. Trata-se de considerar uma a uma as unidades a luz dos critérios da grade de análise para escolher a categoria que melhor convém a cada uma. Uma parte dos elementos dos conteúdos pode já ter sido colocada nas diversas categorias quando a grade, aberta ou mista, foi elaborada a partir desses elementos. A classificação do resto do material se verifica ainda mais fácil porque as unidades de análise são bem delimitadas, as categorias nitidamente diferenciadas e os critérios de inclusão em cada uma suficientemente claros e precisos para garantir a confiabilidade e fidedignidade da operação.
8.2.2
Modalidades de análise e interpretação – A análise de conteúdo pode adotar um caminho quantitativo ou qualitativo.
8.2.2.1
Números ou letras – Na abordagem quantitativa, após ter reunido os elementos o pesquisador constrói índices numéricos e põe em movimento o aparelho estatístico habitual. Seus adeptos explicam que esses tipos de medidas veiculam uma boa parte, se não todo o sentido dos conteúdos, e que esse gênero de estudo é a maneira mais objetiva de alcançar esse sentido. A qualitativa apoia-se em uma categorização dos elementos. Mas antes de reduzir a uma frequência o pesquisador detém-se em suas peculiaridades. Seu postulado subjacente é que as especificidades dos elementos de conteúdo e as relações entre eles são portadoras da significação da mensagem analisada e que é possível alcançá-la sem mergulhar na subjetividade. Seriam modalidades opostas? Em suas versões, certamente! Uma concede importância a frequência de índices tomados como medidas objetivas do sentido do conteúdo, a outra se liga ao que parece significativo, ainda que fugaz . O julgamento que reconhece o novo e o eloquente pode mostrarse subjetivo; mas os úmeros serão tão menos quando o pesquisador deve determinar a base de cálculo e interpretar os resultados ? Nenhuma modalidade poderia pretender uma objetividade perfeita, parece mais realista contar com um esforço de objetivação: o pesquisador explicita suas escolhas e interpretações das unidades de sentido, assim como as razões de sua maneira de agir, e entrega o todo ao julgamento de outrem. As perspectivas quantitativa e qualitativa não se opõem então e podem até parecer complementares.
Obs.: As múltiplas faces da análise de conteúdo – As
preocupações quantificadoras tornam-se as vezes ao ponto de obliterar o conteúdo. A medida será sempre mais precisa que a mais descritiva exploração, mas se mostra amiudê menos pertinente.
8.2.2.2
Análises estatísticas de conteúdo – No recurso aos instrumentos estatísticos,
cumpre primeiro quantificar os dados reunidos em cada uma das categorias. O mais usual é se ligar as frequências: basta enumerar as unidades presentes em cada rubrica e lembrar as que se
destacaram. Traduzem-se também na forma de relatório que comparam os temas entre si, ou de porcentagens que explicitam sua importância em relação ao conjunto do conteúdo. Independente das ações anteriores, os dados são logo submetidos aos diversos tratamentos estatísticos; de inicio com uma finalidade descritiva, depois com uma finalidade de verificação da hipótese. Essa análise deve prolongar-se através da interpretação dos novos números, índices e coeficientes que delas emergem: é o momento do retorno ao sentido, em que o pesquisador explica o que se deve entender dos resultados obtidos.
8.2.2.3
Análises qualitativas de conteúdo – Nas qualitativas o pesquisador decide prender-se as nuanças de sentido que existem entre as unidades, ou categorias, visto que a significação reside largamente na especificidade de cada um de seus elementos e nas relações entre eles, especificidade que escapa ao domínio do mensurável. As maneiras de aqui proceder estão menos codificadas, mas é preciso que ela continue estruturada, rigorosa e sistemática. Distinguem-se geralmente três modos de análise e interpretação qualitativa: Emparelhamento: consiste em associar os dados obtidos a um modelo teórico com a finalidade de compará-los. Supõe uma teoria sobre a qual o pesquisador apoia-se para imaginar um modelo do fenômeno em estudo. Verifica-se a veracidade da correspondência entre essa construção teórica e o objeto. A qualidade da organização lógica mostra-se aqui primordial, pois a grade de análise que emerge torna-se não só instrumentos de classificação, mas também o de toda toda análise interpretação dos conteúdos. Análise histórica: um caso particular da precedente. O pesquisador baseia-se num quadro teórico explicito, para elaborar um roteiro sobre a evolução do objeto, previsões que sua análise submete a prova dos dados colhidos. Construção iterativa de uma explicação: distingui-se das anteriores porque prescinde da presença previa de um ponto de vista teórico. O processo é aqui fundamentalmente iterativo (progride por aproximações sucessivas), elaborando pouco a pouco uma explicação lógica do objeto, examinando as unidades de sentido, as categorias e a interrelação entre todas. Essa modalidade convém largamente aos estudos de caráter exploratório, ao ponto de se julgar preferível não elaborar uma hipótese inicial. Está é simultaneamente desenvolvida e verificada, em um vaivém entre reflexão, observação e interpretação, a medida que a análise progride. Não se disse tudo sobre a analise de conteúdo, visto que resta muito coisa a inventar nesse domínio, mas se reconhece aí uma grande riqueza de possibilidades. •
•
•
Obs.: Rigor e imaginação – A
análise de conteúdo assemelha-se a técnicas que se mostram delicadas ao uso, que exigem tempo, paciência e perseverança por parte do pesquisador. Elas também demandam disciplina, uma organização sistemática que no entanto não venha podar suas intuições, sua imaginação nem sua sutiliza e perspicácia. Essas exigências são contraditórias sob vários aspectos e o pesquisador deve encontrar um justo equilíbrio, como deve encontrá-lo entre o rigor e a profundidade que é o justo reconhecimento da complexidade.
8.2.3
Conclusão da pesquisa – A análise dos dados e a interpretação não vem concluir o procedimento da pesquisa. Deve-se ainda tirar conclusões: pronunciar-se sobre o valor da hipótese, elaborar um esquema de explicação significativo, precisar-lhe o alcance bem como os limites e ver que horizontes novos se abrem.
8.2.4
Fechar o círculo, abrir novos horizontes – Todo projeto de pesquisa nasce de uma intenção, o procedimento não poderia estar completo sem o retorno a intenção original a fim de determinar em que medida está satisfeita. A solução do problema foi objeto de uma antecipação apresentada sob a forma de hipótese. O primeiro cuidado será apreciar-lhe o valor a luz do que a pesquisa trouxe como informações e do sentido que ele pode atribuir-lhe. Fornecer um esquema que de uma hipótese confirmada se mostra relativamente fácil. Porém a medida que a hipótese deve ser modificada a explicação torna-se mais árdua. Ela exige um retorno aos fundamentos teóricos do trabalho e um questionamento das informações usadas na elaboração da problemática, na explicação do problema e na solução. A conclusão deve ser também a ocasião de um retorno critico as escolhas metodológicas e a sua operacionalização. Colocados esses julgamentos, torna-se possível para o pesquisador determinar o alcance e os limites de seu estudo, precisar o que este permite afirmar, o que é necessário evitar que ele expresse e falar dos horizontes por ele aberto. Horizontes estes de todos os tipos, sejam práticos ou teóricos, e as suas consequências humanas e sociais. A conclusão constitui um momento importante da pesquisa, a ocasião por excelência de fazer justiça a qualidade do trabalho realizado. É indispensável elaborá-la com cuidado e minucia, mesmo que a pressa de
terminar nos atinja. È uma etapa simples de transpor, principalmente porque se situa no prolongamento direto das etapas precedentes a que ela vem naturalmente coroar, retomando vários de seus elementos.
8.2.5
Algumas observações para concluir sobre o método – A escolha, a elaboração e a operacionalização de um método exigem muito de um pesquisador e influenciam grandemente a qualidade do trabalho, mas permanecem subordinadas ao problema e a hipótese, constituindo está última a verdadeira espinha dorsal do empreendimento. É preciso ter em mente que, se toda pesquisa se pretende rigorosa, este rigor não repousa somente no aparelho metodológico, pois dispõe de flexibilidade na medida em que leva a uma maior coerência do conjunto do procedimento, desde o enunciado do problema inicial até a conclusão, passando pelos fundamentos teóricos que regem o desenvolvimento.
Parte IV – O relatório de pesquisa – A redação do relatório de pesquisa é a última fase do movimento de pesquisa que conduziu o pesquisador de sua conscientização do problema a ideia de uma solução plausível, depois a comprovação dessa solução. Nesse momento empenha-se em divulgar suas conclusões e, para que se possa bem compreendê-las, o itinerário seguido para chegar a elas e seus fundamentos. Nessa etapa o pesquisador dispõe do conjunto de sua pesquisa e seu trabalho é mais de comunicação. È igualmente um trabalho de formalização, particularmente no que concerne as conclusões. Seu esforço essencial, fora o geral da escrita, se concentrará na expressão ordenada e eficaz de suas conclusões. Daí a enfase em “concluir”, “invalidar, confirmar ou modificar a hipóteses”, e sobretudo “traçar um esquema de explicação significativo” e, “quando possível, generalizar a conclusão.
9 A comunicação cientifica 9.1 A pesquisa deve ser comunicada -
9.1.1
Objetivação e transparência – Estes são os dois princípios associados a um relatório de pesquisa, pois para ser possível julgar o valor das conclusões deve-se conhecer todos os fatores que o pesquisador objetivou para si quando da concepção e realização da pesquisa. Importa conhecer a hipótese formulada, suas coordenadas e suas modalidades de construção, para poder considerar outras, e eventualmente refutar o conhecimento produzido. É amplamente aceito o principio da refutação: um enunciado cientifico não tem valor, a não ser que possa ser refutado.
9.1.2
Transparência e avaliação – Os membros da comunidade cientifica institucionalizaram, em diversos graus, a forma como o pesquisador explica a objetivação dos elementos de sua pesquisa e de sua pratica do principio da transparência
9.2
O relatório: uma demonstração – O relatório é essencialmente uma demonstração, por
meio da qual o pesquisador nos inclui em seu raciocínio até sua conclusão; uma demonstração cuja regra oficial é a eficácia.
9.2.1
A regra de eficácia – Ser eficaz em uma demonstração é dar ao leitor tudo o que ele precisa para compreender e julgar a pesquisa. Isso passa inicialmente por uma linguagem eficaz, seguida de um estilo próprio. Em um relatório de pesquisa as frases são curtas; o vocabulário é preciso, principalmente para os conceitos chave; reduzem-se os adjetivos e advérbios; as partes e suas ligações são bem marcadas, postas em evidência por ocasião das introduções, conclusões e anúncios intermediários, para bem sublinhar o encaminhamento do pensamento e o encadeamento das ideias. O estilo do relatório não exclui a arte do bem escrever, isso também pode ser um penhor de eficácia na demonstração.
9.2.2
As matérias essenciais – As três grandes partes essenciais: a apresentação do problema, o corpo do relatório e a conclusão.
9.2.2.1
O problema – A apresentação do problema de pesquisa é uma parte capital do
relatório. È importante que o problema seja levado em consideração desde as primeiras palavras. É preciso, sempre que possível, apresentar bem o problema, situá-lo em seu contexto, sublinhar sua importância e interesse e explicar em que perspectiva se pretende abordá-lo, portanto, apresentar a problemática. Resta indicar o que se espera da pesquisa, seja pelas hipóteses, seja explicando o objetivo visado. Entrega-se tudo sem esconder seus limites.
9.2.2.2
A verificação – A parte mais longa do relatório é, geralmente, a que apresenta a
9.2.2.3
A conclusão – A conclusão começa lembrando sumariamente o problema inicial,
verificação das expectativas. Está parte começa, em regra, pela escolha do método. Essa deve ser justificada e até mesmo discutida, procurando-se as vantagens particulares que se poderia esperar do método escolhido. Essas considerações levam o pesquisador a falar de metodologia. Depois, faz-se a escolha do método. Se a pesquisa consiste em verificar uma hipótese única sobre o modo experimental, o caminho a seguir é bastante estereotipado: em função das variáveis em jogo, assinala-se a proveniência dos dados e as técnicas usadas para colhê-los; então mencionase o tratamento que receberam e os resultados de sua análise. Quando forem necessárias considerações éticas é nessa parte que devem ter lugar. Se forem consideradas várias hipóteses ao mesmo tempo e não for conduzida pelo método experimental, ou se estiver baseada em documentos, permite-se mais flexibilidade para organizar o corpo do relatório, desde que ele respeite a necessidade de uma demonstração eficaz. as intenções da pesquisa e o trabalho realizado. Segue explicando as conclusões que disso resulta. Em uma experimental trata-se de relatar se a hipóteses foi demonstrada e em que medida; não se precisa agora senão reunir o essencial das constatações, evidenciando-as bem. Em outros tipos de pesquisa se procurará reunir as principais constatações em uma ou mais conclusões significativas em relação ao problema inicial, as hipóteses consideradas ou aos objetivos da pesquisa, Pode ocorrer que uma ou mais hipóteses não tenham sido confirmadas, é necessário explicar o porquê. Espera-se do autor da pesquisa que indique francamente em sua conclusão todos os limites de seu trabalho, quer se refiram a sua definição do problema, a forma como ele o circunscreveu ao método escolhido e sua aplicação (particularmente quando se trata de questão do método, pois é sobre ele que repousa grande parte da validade). Além de assinalar os limites, espera-se que o pesquisador considere sua ampliação, pois ao se preocupar em estender a conclusão destaca sua contribuição a ciência em geral.
9.3
Diferentes públicos – Os princípios gerais podem variar conforme o público ao qual o
relatório se dirige.
9.3.1
A apresentação verbal – Feita pelo estudante/pesquisador ou pelo pesquisador, em colóquios (distingue-se dos congressos por reunir menos pessoas e considerar-se nele um tema previamente definido para todos) e congressos. A apresentação do estudante deveria se preocupar em mostrar uma boa compreensão e uso adequado do método (objetos centrais da aprendizagem), já que não se espera um problema completamente inovador e original. Se trata apenas de dizer o que é preciso para captar a atenção do auditório, insistindo na forma como se discutiu a problemática, as considerações sobre as escolhas metodológicas, sua pratica, e sublinhar, a luz de sua experiência, aquilo que poderia ter sio feito melhor ou de outra forma. A comunicação feita pelo pesquisador a seus pares não mostra tantas dessas preocupações, pois não precisa deter-se longamente em expor a natureza do problema e o método empregado. São destacados principalmente os caracteres originais da hipótese ou das conclusões, a contribuição particular a renovação do conhecimento, para discutilo.
9.3.2
O artigo – È provavelmente o meio por excelência para a comunicação de pesquisas. Aqui o pesquisador precisa dizer o essencial e com concisão, pois as páginas são limitadas. Problema, problemática, métodos, tipos de dados considerados, conclusões tiradas e suas incidências sobre o saber em evolução são expostos com precisão sem que seja necessário reproduzir os dados em pormenor, nem elaborar longamente sobre os instrumentos utilizados para colhê-los e os tratamentos particulares que receberam. O relatório de pesquisa apresentado como trabalho escolar é semelhante ao artigo; no entanto o destaque é posto mais sobre o caminho seguido e o método empregado do que uma eventual contribuição original ao conhecimento.
9.3.3
A monografia – Trata-se de um estudo aprofundado de determinada questão. Sendo a forma mais elaborada de relatório de pesquisa, é um suporte incontestável do conhecimento científico. Se não comunica tão rapidamente quanto os artigos, pode ser mais completa e duradoura. É particularmente completo quando se destina aos pares da comunidade cientifica. Encontra-se nela tudo que pode servir para julgar a pesquisa. Pode-se facilitar a leitura do texto aos não-especialistas reduzindo as referências teóricas, simplificando o vocabulário, destacando o factual, afastando as peças documentais, reduzindo o aparato estatístico, se houver, deixando as notas e as referências no final do capitulo ou livro, simplificando-as, etc. Pode ocorrer que o relatório de pesquisa não
publicado tenha essa preocupação com a simplicidade, sobretudo se trata de uma pesquisa aplicada e que outras pessoas, além do pesquisador, possam usar seus resultados, particularmente quando se trata de uma pesquisa aplicada financiada, que se espera como resultados recomendações a serem aplicadas. Quanto ao relatório remetido ao organismo publico de subvenção, terá uma apresentação equilibrada do conjunto da pesquisa, da mesma forma que o livro destinado ao público cientifico. As teses de mestrado e doutorado são provavelmente as comunicações mais exigentes, considerando as regras estritas que as enquadram e a destinada ao publico mais informado. A obrigação de satisfazer em pormenor a todas as regras de objetivação e de transparência do relatório de pesquisa a destina, principalmente, asse público de especialistas.
9.3.4
A vulgarização científica – É traduzir as informações de uma forma acessível a um público maior que o especializado, assegurando sua função social.
10
A apresentação – Este capitulo, ao contrario do esmagador restante do livro que se prende ao sistema lógico da pesquisa, prende-se mais a considerações de normas técnicas do estilo da ABNT. Portanto desconsideramos inclui-lo no resumo em função de sua efemeridade e possível desatualização.
Conclusão Fazer pesquisa – Estejamos ou não pessoalmente implicados na pesquisa, os estudos de nível superior nos obrigarão a consumir uma quantidade sempre crescente dos frutos das pesquisas.
Consumir pesquisa – Sabemos agora que não existe saber absoluto ou definitivo em ciências
humanas, mas saber proposto como o mais adequado, cujo valor podemos julgar, sabendo qual ótica e como foi construído. O pesquisador conduz de uma percepção inicial de um problema à tentativa de explicação provisória (hipótese). O problema vem de um conjunto de fatores, de conhecimentos brutos e constituídos especialmente, que dão, a cada um, um olhar especial sobre o real; orientado por valores (a pesquisa e o saber não são neutros). Para um consumo esclarecido deve-se saber estabelecer, em seus conceitos, as teorias e os valores em jogo, fatores que orientam a pesquisa. É por isso que espera-se do pesquisador que conduza o processo de objetivação com cuidado e precisão; que determine claramente as perspectivas subjacentes a seu quadro conceitual e teórico; que sua pesquisa esteja bem escrita no movimento de conjunto da pesquisa e que isso se manifeste através da revisão da literatura para,, finalmente, chegar a um enunciado explicito de sua problemática racional. Uma vez vencida, resta o pesquisador realizar a parte pratica da pesquisa, ou seja, verificar se suas suposições sobre o problema tem fundamento e, para isso, deve examinar os dados que permitem essa verificação. Foram consideradas fontes de dados, conforme os dados devem ser criados ou recolhidos, para, em seguida, extrair-lhes, de modo confiável, as informações aptas a verificar a hipótese, tendo em vista os objetivos da pesquisa. A pesquisa apenas tem validade quando divulgada e submetida a eventual critica, espera-se encontrar no relatório que dela é feito um certo número de elementos para tanto. Em virtude dos princípios da objetivação e transparência, deveríamos sobretudo achar as coordenas do problema considerado pelo pesquisador, os motivos e as perspectivas que o movem, a justificativa do procedimento adotado e a exposição critica dos resultados obtidos. A aprendizagem de metodologia em ciências humanas nos torna aptos a construção dos saberes pela pesquisa e a se poder dispor deles conhecendo seus modos e princípios de construção.