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Nihi l Obstat
Pe. Mariano Weizenmann, scj Superior Provincial SCJ Província Brasileira Central Imprimatur
Dom Carmo João Rhodem, scj Bispo Diocesano de Taubaté – SP
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Sumário Sumário
Introdução Introdução Ladainhaa de Nossa Senhora Ladainh S enhora Invocações Invocaç ões iniciais Santa Maria Maria Santa Mãe Mãe de Deus Santa virgem virgem das vir gens gens Mãe de Cristo Mãe da Igreja Mãe da Divina Graça Graça Mãe pur íssima íssima Mãe castíssima castíssima Mãe sem pre virgem virgem Mãe imaculada imaculada Mãe digna digna de amor Mãe admirável admirável Mãe do bom do bom conselho conselho Mãe do Criador Mãe do Salvado Salvador r Virgem prudentíssima Virgem venerável Virgem louvável Virgem poderosa Virgem clemente Virgem fiel Espelho de justiça (perfeição) Sede da sabedori sabedoriaa Causa (fonte) da nossa alegria Vaso espiritual Vaso honorífico (Tabernáculo da eterna glória) Vaso insigne de devoção (Moradia consagrada a Deus) Rosa mística Torre de Davi Torre de marfim 5
Casa de ouro Arca da aliança Porta do céu Estrelaa da manhã Estrel Saúde dos enfermos Refúgio dos pecadores Consoladora dos aflitos Auxílio dos cristãos Rainha dos anjos Rainha dos patriarcas Rainha Rain ha dos profetas Rainha dos apóstolos Rainha dos mártires Rainha dos confessores da fé Rainha das virgens Rainha de todos os santos Rainha concebida sem pecado original Rainha assunta ao céu Rainha do santo Rosário Rainha da família Rainha da paz Conclusão Prece a Maria, a catequista de Jesus! A Ladainha Cantada
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Introdução
E
xistem muitas ladainhas de Nossa Senhora, porém a mais divulgada e conhecida é a “Ladainha “Ladainha Lauretana” ou “Loretana”, assim assim chamada por ter se popularizado popularizado a partir partir do Santuário de Loreto, na Itália. Ali ela foi cantada solenemente pela primeira vez no dia 10 de dezembro de 1531, mas provavelmente surgiu bem antes. Aos poucos se espalhou por todo o mundo, tornando-se uma das preces marianas mais populares populares de todos os tempos. A palavra “ladainha” significa “oração de súplica”. É uma forma criativa e original que a catequese encontrou de resumir o que sabemos sobre Maria. Não é apenas uma coleção de invocações interessantes. Nelas o saber se torna sabor por meio da oração. ão basta saber, por exemplo, que Maria é a Mãe de Deus. É preciso saborear em prece as verdades contidas neste dogma mariano. Este é o objetivo deste livro. Queremos mostrar a origem bíblica e o significado doutrinal de cada invocação da Ladainha de Nossa Senhora, para que possamos rezá-las de maneira bem mai m aiss saborosa. Algumas invocações podem até parecer estranhas à primeira vista. Por exemplo, por que chamamos Maria de “Torre de Marfim” ou de “Arca da Aliança”? Espero que este livro ajude a Ladainha Lauretana a se tornar mais conhecida, rezada e amada. Ela nos coloca em sintonia com Maria, que abriu as portas da Terra para a entrada do Rei da Glória. Por ela nos veio toda a Graça, em seu filho Jesus, nosso único Salvador. A história da Igreja conheceu muitas outras ladainhas de Nossa Senhora. Em Veneza, por exemplo, exemplo, desde tempos muito muito antig antigos repetiam-se repetiam-se 42 invocações conhecidas conhecidas como “Ladainha Veneziana”. Em Mogúncia encontramos uma coleção de fórmulas do século 12 conhecida como “Ladainha Deprecatória”, ou seja, a que une aos louvores algumas súplicas, enquanto repete: “Intercedei por nós”. Há muitas outras ladainhas além da Lauretana, da Veneziana ou Deprecatória e da Ladainha Moderna, totalmente inspirada na Bíblia, porém os estudiosos concordam que todas elas nasceram da “Ladainha de todos os Santos”. Ela começa com louvores a Maria. Aos poucos a devoção popular criou ladainhas inteiras dedicadas à mãe de Jesus. Um antigo manuscrito, conservado na Biblioteca Na cio nal de Paris, atesta a existência de uma lista de invocações marianas já no século 12. Trata-se de uma ladainha com 73 invocações, das quais a maioria coincide com as invocações da Ladainha Lauretana. A estrutura, o ritmo e a concepção poética também coincidem. Há uma sequência de invocações de Maria como “Mestra”: Magistra humili tatis , Magistra 7
sanctitati s, Magistra oboedientiae oboedienti ae, Magistra poenitentiae. poenitenti ae. Infelizmente estas não
aparecem na Lauretana. A Ladainha Lauretana conheceu uma evolução 1. Um texto publicado em Florença, em 1572, indica 43 invocações. Aos poucos foram surgindo outras. Auxili um Auxílio dos cristãos — foi um acréscimo de Pio VII (1800-1823), que christianorum — Auxílio atesta ser uma invocação incluída informalmente por São Pio V para comemorar a vitória cristã sobre os turcos na batalha de Lepanto (1571). A invocação Regina sine labe originali concepta — Rainha concebida sem pecado original — foi uma iniciativa dos frades capuchinhos de Gênova, por volta do século 18. Ela deve ser compreendida no contexto dos debates acalorados que levaram à definição do dogma da Imaculada Conceição, por Pio IX, em 1854. Regina sacratissimi Rainha do sacratíssimo sacratissi mi rosarii — Rainha rosário — teve inicialmente seu uso entre os frades dominicanos, desde 1614. Sabemos que os dominicanos foram os grandes divulgadores da oração do Rosário. Somente em 1883 o papa Leão XIII incluiu oficialmente esta invocação na Ladainha. Mater boni consilii — Mãe do bom conselho — também foi incluída por Leão XIII, em 1903, para homenagear o Santuário de Nossa Senhora do Bom Conselho de Genazzano, localizado na terra natal do papa. Regina pacis — Rainha da paz — é uma invocação introduzida por Bento XV em 1917. Lembremos que neste tempo o mundo vivi viviaa a tragédi tragédiaa da Primeira Guerra Mundial. Era mais do que relevante invocar Maria como Rainha da Paz. Regina in coelum assumpta — Rainha assunta ao céu — é uma invocação introduzida por P io XII no dia dia 31 de outubro de 1950, ou seja, um dia dia antes da proclamação proclamação do dogma da Assunção de Maria. Mater Ecclesiae — Mãe da Igreja — é um título que Maria recebeu do papa Paulo VI no dia 21 de novembro de 1964, ao término da terceira sessão do Concílio Vaticano II. Em 1980, já sob o pontificado de João Paulo II, este título foi incluído na Ladainha. Regina famili ae — Rainha da família — é a última invocação acrescentada à Ladainha, em 1995, por João Paulo II, em resposta ao pedido do Santuário de Loreto por ocasião do 7º Centenário da Casa Santa. A atual estrutura da Ladainha consta de uma série de invocações introdutórias que recordam a Santíssima Trindade. Seguem cinquenta invocações seguidas pelo pedido da assembleia: “Rogai por nós”. A Ladainha termina em tom de súplica penitencial ao “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Com algumas pequenas variações, o coração da Ladainha é composto de cinquenta invocações marianas. Neste livro optamos por incluir um comentário à invocação “Rainha da família”, pedida por João Paulo II. Desta maneira o leitor observará que comentamos 51 invocações. Poderíamos dividir estas invocações em seis grupos. 1.
As três invocaç invocações ões inici iniciais ais são provenientes da Ladainha Ladainha de todos os Santos.
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Doze invocações Mater recordam Maria como Mãe. É por ser mãe de Jesus Cristo, “homem e Deus verdadeiro”, que Maria é mãe de seu Corpo Místico, ou 8
seja, Mãe da Igreja… nossa mãe! Dizer que Maria é Mãe de Deus é professar a fé na união inseparável entre a humanidade e a divindade de Jesus; é acreditar que o que foi assumido foi redimido. Nossa humanidade foi assumida pela sua divindade. Invocar Maria como Mãe de Deus na humanidade de Jesus significa acreditar em nossa salvação. 3.
As seis invocações seguintes seguintes referem-se refer em-se a Maria como “V “Virg irgem”. em”. Este dogma bíbli bíblico indica indica que aquele que nasceu de Maria Maria é Deus encarnado. Ele Ele assumiu assumiu a nossa carne e por isso fomos salvos. Dizer que Maria concebeu do Espírito Santo é professar a fé na divindade de Jesus.
4.
O próximo próximo grupo é formado forma do por treze expressões colhidas colhidas das páginas páginas da Sagrada Sagrada Escritura e também da tradição tradição patrística. São expressões expressões poéticas, nem sempre de imediata compreensão, cujo sentido procuramos explicar nas páginas deste livro.
5.
Seguem-se quatro invocações que recorrem recor rem a Maria em algum algum tipo de necessidade especial: saúde, santidade, consolo e auxílio. Maria é intercessora!
6.
O último último grupo é formado formad o por doze invocações a Maria como Rainha. Em nossa versão, neste livro, o leitor perceberá que este grupo conta com treze invocações, por termos incluído “Rainha da família”. Aquela que abriu as portas do mundo para a salvação ao dizer “Eis aqui a serva do Senhor” agora é reconhecida solenemente como Rainha do céu e da terra. Ela foi serva e por isso é Rainha! Anjos, patriarcas, profetas, apóstolos e mártires reconhecem a realeza daquela que deu à luz o Rei dos reis.
A Ladainha Lauretana é uma obra-prima da oração popular. Sua versão em latim tem uma sonoridade e uma cadência poética belíssimas. Muitos músicos compuseram belas melodias para a Ladainha. Um deles foi Mozart. Ele compôs a Ladainha pela primeira vez em 1771, após sua peregrinação ao Santuário de Loreto. Em 1774 voltou a compor outra melodia para coro em quatro vozes. A cadência poética da Ladainha Lauretana, em latim, seduziu muitos outros compositores de renome, por exemplo Nicolau Zingarelli (1752-1837), que compôs nada menos que dezesseis melodias diferentes para a mesma Ladainha. No Brasil, destaca-se a obra do padre João Baptista Lehmann (1873–1955), que compôs várias melodias. Uma delas reproduzimos neste livro. Consideramos uma das melodias mais simples, populares e belas da Ladainha Lauretana. Ao lado de tudo isso é preciso reconhecer na Ladainha Lauretana alguns limites. Muitas invocações são de difícil compreensão para o povo; há algumas repetições inevitáveis; as invocações não seguem uma ordem lógica, do ponto de vista teológico; falta uma boa tradução oficial em língua portuguesa. Apesar de tudo isso, o fato é que a Ladainha não foi feita para ser pensada, mas para ser rezada. É mais uma prece que uma catequese. Suas metáforas instigam o coração do 9
devoto e facilitam o mergulho no mistério. O povo simples reconhece o valor das ladainhas e as reza com fruto. Erra quem pensa que são fórmulas repetitivas e ultrapassadas. Experimente e verá que a Ladainha o embalará qual criança no colo de Maria, onde sempre encontramos Jesus! 1
Para um estudo est udo mais detalhado da evolução da Ladainha Lauretana sugerimos: sugerimos : BASSADONNA, ASSADONNA, G. e Nossa Senhora, São Paulo, Loyola, 2000. SANTARELL SANTARELLI, I, G. Ladainhas de Nossa
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Ladainha de Nossa Senhora Senhora Texto em português e latim
LADAINHA LAURETANA
LITANIE LAURETANE
Senhor, tende piedade de nós. Cristo, tende piedade de nós. Senhor, tende piedade de nós. Cristo, ouvi-nos. Cristo, atendei-nos.
Kyrie eleison Christe eleison Kyrie eleison Christe audi nos Christe exaudi nos
Deus P ai do céu, tende piedade de nós. Deus Filho Redentor do mundo, tende piedade de nós. Deus Espírito Santo, tende piedade de nós. Santíssi Santíssima ma Trindade, Trindade, que sois sois um só Deus, tende piedade de nós Santa Maria, rogai por nós Santa Mãe de Deus, Santa Virgem das virgens,
P ater de Coelis Deus Miserere nobis Fili Redemptor mundi Deus Miserere nobis Spiritus Sancte Deus Miserere nobis Sancta Trini Trinitas tas unus Deus Miserere nobis Sancta Maria, ora pro nobis Sancta Dei Genitrix Sancta Virgo Virginum
Mãe de Cristo, Mãe da Igreja Mãe da divina graça, Mãe puríssima, Mãe castíssima,
Mater Christi Mater Ecclesiae Mater divinae gratiae Mater purissima Mater castissima 11
Mãe sempre virgem, Mãe imaculada, Mãe digna de amor, Mãe admirável, Mãe do bom conselho, Mãe do Criador, Mãe do Salvador,
Mater inviolata Mater intemerata Mater amabilis Mater admirabilis Mater boni consílii Mater Creatoris Mater Salvatoris
Virgem prudentíssima, Virgem venerável, Virgem louvável, Virgem poderosa, Virgem clemente, Virgem fiel,
Virgo prudentissima Virgo veneranda Virgo praedicanda Virgo potens Virgo clemens Virgo fidelis
Espelho de perfeição, Sede da Sabedoria, Fonte de nossa alegria, Vaso espiritual, Tabernáculo da eterna glória (Vaso honorífico), Moradia consagrada a Deus (Vaso insigne de devoção), Rosa mística, Torre de Davi, Torre de marfim, Casa de ouro, Arca da aliança, P orta do céu, Estrela da manhã,
Speculum justitiae Sedes Sapientiae Causa nostrae laetitiae Vas spirituale Vas honorabile
Saúde dos enfermos, Refúgio dos pecadores,
Salus Infirmorum Refugium pecatorum
Vas insigne devotionis Rosa mystica Turris davidica Turris eburnea Domus aurea Foederis arca Janua Coeli Stella matutina
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Consoladora dos aflitos, Auxílio dos cristãos,
Consolatrix Afflictorum Auxilium Christianorum
Rainha dos anjos, Rainha dos patriarcas, Rainha dos profetas, Rainha dos apóstolos, Rainha dos mártires, Rainha dos confessores da fé, Rainha das virgens, Rainha de todos os santos, Rainha Rainha con conceb cebiida sem pecado pecado orig original, nal, Rainha assunta ao céu, Rainha do santo Rosário, Rainha da família Rainha da paz.
Regina Angelorum Regina P atriarcarum Regina P rophetarum Regina Apostolorum Regina Martyrum Regina Confessorum Regina Virginum Regina Sanctorum omnium Regi Regina Sine Sine Labe Labe Ori Origginali nali Con Concep cepta ta Regina in Coelum Assumpta Regina Sacratissimi Rosarii Regina Familiae Regina P acis
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo, perdoai-nos, perdoai-nos, Senhor. Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo, ouvi-nos, Senhor. Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós.
Agnus Dei qui tollis peccata mundi: parce nobis Domine Domine Agnus Dei qui tollis peccata mundi: exaudi nos Domine Agnus Dei qui tollis peccata mundi: miserere nobis
Rogai por nós, santa Mãe de Deus, para que sejamos dig dignos das promessas de Cristo.
Ora pro nobis Sancta Dei Genitrix ut digni digni efficiamur efficiamur promissi promissioni onibus bus Christi. Christi.
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Invocações iniciais Kyrie eleison Kyrie el eison Christe eleison Kyrie Ky rie eleison el eison Christe audi nos Christe exaudi nos Pater de Coelis Deus Fili Redemptor mundi Deus Spiritus Spirit us Sancte Deus Sancta Trinit Trinitas as unus Deus Deus
A
abertura da Ladainha Lauretana é feita de algumas invocações que não se referem a Maria. Isto mostra claramente quem é o destinatário de nossa oração. Não rezamos a Maria, mas com Maria, em Jesus, no Espírito, ao Pai. No colo da mãe, rezamos no coração da Santíssima Santíssima Trindade. A antiga invocação grega Kyrie eleison expressa um louvor a Cristo pela sua misericórdia. Mais do que “tende piedade de nós”, esta invocação poderia ser traduzida por “eu te louvo, Senhor S enhor,, pelo pelo teu perdão, pela pela tua miseri misericórdi córdia”. a”. A Ladainha Ladainha nos coloca coloca desde o início em clima de louvor penitencial. Reconhecemos que somente Deus é Deus. Deixamos de lado a idolatria do ter, do poder e do prazer e assumimos a atitude da humilde serva do Senhor, que diz: “Eis-me aqui. Faça-se em mim!”. A introdução da Ladainha tem como objetivo colocar em nossos lábios a prece de Maria. Mais que isso. Coloca em nossos ouvidos a sua sensibilidade de discípula para ouvir a voz do anjo; em nossos pés a atitude missionária de ir ao encontro do irmão para anunciar; em nossas mãos a disponibilidade para servir os pobres. A Ladainha é, portanto, uma escola escola de conversão; uma catequese para discípul discípulos-mi os-missi ssionári onários. os. Maria Maria se torna nossa catequista e nos ensina, por seu exemplo, que Deus pode fazer muitos milagres na vida de quem abre o coração, a mente, os ouvidos e as mãos. Maria é um espelho de virtudes, é ícone da Igreja, do povo de Deus. Nela encontramos o melhor exemplo de uma criatura simplesmente humana que alcançou a santidade pela graça de Deus. Jesus é a imagem perfeita de Deus. É aquele que nos revela a face do Pai. É Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro. Maria não é deusa. É apenas uma seta que aponta o caminho para Jesus. No momento em que escrevo estas linhas estou em viagem. Vejo uma placa: Vitória a 50 km. Não 15
cheguei ainda, mas pela placa posso saber a direção exata. É claro que não paro na placa. Ela não é o destino final da viagem. Vitória é um pouco mais além. Maria é a placa. Ela nos indica a direção. Estacionar em Maria é perder o rumo. Seguir seu conselho leva ao milagre: “Façam tudo o que o meu Filho lhes disser”. Nossa viagem tem como parada final o céu, onde encontraremos Jesus, único caminho verdadeiro para a vida. A placa ajudou. Quem a seguiu chegou! Maria é membro do povo de Deus. É a primeira cristã. Por isso, olhando para Maria podemos entender o que a graça de Deus pode fazer em nossas vidas. vidas. Podemos ser santos e imaculados. Esta é nossa vocação. Por isso, rezamos a Ladainha, não apenas para contemplar contemplar Maria, Maria, mas para conhecer nossa própria própria vocação. O que Deus fez em Maria, quer fazer em cada um de nós. Rezar a Ladainha ajuda a conhecer esta vocação fundamental de cada cristão. O que hoje dizemos de Maria, no céu poderemos dizer de todos os que estiveram lá: o Senhor fez em nós maravilhas; Santo é o seu nome!
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Santa Maria Sancta Maria
A
primei primeira ra invocação invocação da Ladainha Ladainha é tão simpl simples es quanto completa completa e profunda. A primei primeira ra coisa coisa que fazemos ao conhecer algu alguém ém é perguntar perguntar o nome. P oucas palavras palavras são tão sonoras aos nossos ouvidos ouvidos quanto o nosso próprio próprio nome. Na Bíbli Bíblia, Deus gosta de chamar as pessoas pelo nome. É o caso do grande profeta diante da sarça ardente: “Moisés, Moisés, tira as sandálias dos teus pés!”. No fim da conversa Moisés também pergunta: “Mas como é o Teu nome?” E Deus responde: “Eu sou aquele que estou contigo”. O nome de Deus é presença; é solidariedade. O povo da antiga aliança preservou este nome com muito muito respeito e cuidado. Tinha até certo pudor em pronunciar o nome de Deus. Não pronunciar o nome santo significava reconhecer a soberania de Deus. Na Bíblia Bíblia o nome esconde a identidade identidade e a missão. Quando Deus chama alguém alguém para um serviço especial, chega a mudar o nome da pessoa. Assim, Abrão se tornou Abraão, Simão se tornou Pedro e Saulo se tornou Paulo. Logo no início do seu evangelho, Lucas revela: “E o nome da virgem era Maria” (Lc 1,27). Nossa mãe tem nome. Maria… um nome bastante comum naquele tempo e hoje também. Sua origem é um tanto incerta. Alguns rabinos afirmam que deriva de Miryam , que em hebraico significa “amargura”. Poderia ser uma alusão às dores de Maria. Outros, porém, afirmam que este nome vem da junção de outras duas palavras hebraicas: Moreh Moreh, que significa “Mestra”, e Yam, que significa “mar”. Seria uma alusão à figura de Maria, irmã de Aarão, que entoou o canto da vitória após a passagem pelo mar Vermelho (cf. Ex 15,20). Santo Ambrósio, referindo-se a este sentido, afirma que Maria é a “Senhora do Mar” que nos conduz na travessia para o céu. Outros ainda entendem que o significado do nome de Maria seria “Iluminadora”, “Estrela do Mar” ou “Gotas do Mar”. São Jerônimo e São Gregório eram desta opinião. A Ladainha começa com este gesto de intimidade: pronunciar o nome de Maria. Mas não é uma “Maria qualquer”. Esta é “santa”. Mas como reconhecer a santidade em um ser humano? Só Deus é santo. Sim. Nem mesmo Maria é santa apenas por seus méritos pessoais; pessoais; é santa da santidade santidade de Deus. Ela Ela cumpriu cumpriu o mandato bíbli bíblico: “Sede santos como vosso Pai do céu é santo”. Somos santos na medida em que vivemos este mistério do nosso batismo que nos insere no Corpo Místico de Cristo. Esta é a nossa salvação. Fomos assumidos em Cristo. Ele se esvaziou de si mesmo para nos encher de bênção e de graça. É a experiência que o apóstolo Paulo tão bem traduz em sua carta aos Gálatas: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na 17
carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (2,20). Aqui temos uma situação única na história da humanidade. Normalmente o filho é quem se parece com a mãe. No caso de Maria, ela foi sendo configurada ao seu filho, foi se tornando membro do Corpo Místico de Cristo. A mãe agora é quem se parece cada vez mais com o filho. Jesus não é o “Filho da Rainha”. Ela é quem é a “Mãe do Rei”. Se ela foi declarada “Rainha” é porque o seu filho é o Rei dos reis. Santa Maria, rogai por nós!
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Santa Mãe de Deus Sancta Dei Genitrix
A
Igreja nestes dois mil anos resumiu as verdades sobre Maria em quatro afirmações fundamentais: sempre Virgem, Mãe de Deus, Imaculada e Assunta aos Céus — são os dogmas marianos. Não são propriamente verdades sobre Maria, mas encontramos no rosto da Mãe as feições do seu Filho. Dizer que Maria é sempre Virgem é professar a fé bíbli bíblica de que ela concebeu por obra e graça do Espírito Santo. Ou seja, aquele aquele que dela nasceu é o Filho de Deus. Jesus é Deus. Dizer que Maria é Mãe de Deus é um pouco mais complicado. Essa é a festa que todos os anos passa quase despercebida no dia 1º de janeiro. Surgiu da afirmação litúrgica da Igreja do Oriente de que Maria é Theotokos, ou seja, Mãe de Deus. Na verdade, nos primórdios do cristianismo muitos acabavam por duvidar de que Jesus fosse mesmo humano. Como Deus poderia se sujeitar a um corpo mortal? Seria humildade demais. Por isso, algumas pessoas dividiam o Cristo Deus do Jesus humano. Quando o poeta cantou que Maria é Mãe de Deus , confundiu a cabeça dos hereges e clareou a doutrina oficial da Igreja Católica. Maria é mãe do Cristo todo. Não poderia mais haver separação entre a natureza humana e a divina em Cristo. Ele realmente assumiu a nossa carne. A Encarnação do Verbo não foi um faz-de-conta. Ele se esvaziou, se humilhou (cf. Fl 2,5-11), armou a sua tenda em nosso acampamento (cf. Jo 1,14). Existe uma união inseparável do divino com o humano. Maria é mãe de Jesus Cristo. É mãe de Deus. O dogma não diz que Maria é aquela que gerou Deus. Apenas revela uma verdade fundamental de nossa salvação: o divino Jesus é humano como nós, menos no pecado. Estes foram os dogmas do primeiro milênio da Igreja: virgindade perpétua e maternidade divina. Contemplando as verdades sobre Maria vemos a face de Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, “sem separação, nem confusão”, conforme a clássica definição dogmática do Concílio de Calcedônia. No segundo segundo milêni milênioo vieram vieram os outros dois dois dog dogmas. mas. Olhando Olhando Maria Maria Imaculada Imaculada pensamos na nossa orig origem, onde abundou o pecado. Em Jesus superabundou a graça. Maria foi preservada do pecado original. O sim de Maria não foi condicionado. De forma semelhante a Eva, ela estava totalmente livre para dar a sua resposta. Nossa vocação original é sermos santos e imaculados. Temos como meta aquilo que Maria teve desde a sua concepção. Olhando para a Mãe nos animamos a perseguir esse ideal da santidade. 19
Se o dogma da Imaculada aponta para o princípio, o dogma da Assunção aponta para o final. Maria foi “assumida” (tradução possível para assunção) em Deus, como todos nós seremos um dia. Um dogma aponta para a nossa origem e o outro para o nosso final em Deus. Se no primeiro milênio os dogmas revelavam a face de Jesus, no segundo milênio os dogmas revelam a identidade e a vocação de cada um de nós. Maria é Mãe de Deus e nossa Mãe também. Pelo batismo somos Corpo de Cristo. Fomos gerados com Jesus no ventre de Maria. Ela é a Mãe da Igreja. Se você quiser encontrar a sua identidade cristã, contemple o rosto da Mãe. Insisto: não se pode conhecer bem um filho se não se conhece a mãe. Um dia um sacerdote muito conhecido foi à minha cidade natal, Brusque, em Santa Catarina, para fazer uma pregação. Minha mãe estava lá. Ao final ela se dirigiu ao pregador e disse: “Olhe bem pra mim… de quem eu sou mãe?!”. Ele pensou e não teve dúvida; meio tímido, disse: “Parece com padre Joãozinho!”. Ela está feliz até hoje. Será que um dia chegaremos à porta do céu e seremos reconhecidos como filhos de Maria? Diremos para São Pedro: “Com quem eu me pareço?”. Tomara que ele diga: “Você é semelhante à Mãe de todos nós… você é um dos nossos… entre!”. Santa Mãe de Deus, rogai por nós!
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Santa virgem das virgens Sancta virgo virgo virginum
E
ste é um dos títulos mais conhecidos de nossa Mãe Maria. Aliás, é o mais antigo dogma da Igreja: a virgem Maria concebeu por obra do Espírito Santo. Encontramos essa afirmação clara no evangelho de Mateus (1,22-23), que reconhece em Maria o cumprimento da profecia de Isaías (7,14): “Uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamará Deus Conosco”. A mesma afirmação da virgindade fecunda de Maria aparece claramente no evangelho de Lucas (cf. 1,26-38), no belo episódio da anunciação. O anjo Gabriel é o mensageiro que traz a notícia de Deus-Pai: “Eis que conceberás e darás à luz um Filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo” (v. 31-32); “E o nome da virgem era Maria” (v. 27).
Nestes dois dois textos textos sagrados sagrados os evangeli evangelistas stas têm um cuidado cuidado todo especial especial de afirmar claramente a concepção virginal de Maria. Este dogma é aceito por católicos e evangélicos. É um dogma fundamental do cristianismo. Mas por quê? Aqui precisamos estar muito atentos para não perder o “foco central da verdade”. Há muitos devotos piedosos piedosos de Maria Maria que veem na virg virgin indade dade apenas uma virtude virtude humana, um mérito que teria tornado aquela menina de Nazaré agradável aos olhos de Deus-Pai. Maria era bela, obediente e santa, mas o significado de sua virgindade ultrapassa infinitamente tudo o que é humano. Jesus é Filho de Deus. É Deus. Quando os primeiros cristãos afirmavam que o Messias teria nascido de uma virgem queriam dizer que ele não era apenas verdadeiro verdadeiro homem. Era também verdadeiro verdadeiro Deus. Essa maravilhosa maravilhosa solidari solidariedade edade entre o divino e o humano, no coração de Jesus nos dá a certeza de nossa salvação. Deus toca a nossa terra para nos abrir as portas do céu. A virgindade de Maria é o receptáculo desse mistério. Nela foi tecida a nossa salvação. Enquanto Maria, durante sua gravidez, bordava as roupas que o menino menino Jesus iria ria usar, Deus em seu útero tecia tecia a salvação salvação da humanidade. As afirmações da Igreja sobre Maria não são meros elogios. Ela não precisa de nossos louvores, ainda que todas as gerações a chamem de “bendita”, conforme profetizou profetizou no Magni Magnifi ficat cat (cf. Lc 1,48). O que se diz diz de Maria Maria aponta para verdades sobre Jesus, que é Deus Conosco, o nosso salvador, único caminho verdadeiro para a vida. Por isso, algumas discussões sobre os dogmas marianos, especialmente o da “virgindade perpétua”, devem fazer que os anjos riam de pena daqueles que se perdem 21
na periferia das coisas e esquecem do essencial. Muitas vezes pecamos contra a caridade por querer defender a verdade. Não é essa a lóg ógiica da tal “guerra santa”? Em nome da verdade se mata! Esse é o fundamentalismo que leva ao terrorismo. Por outro lado, não se trata de relativizar as verdades e os dogmas. Maria é sempre virgem, Jesus é Deus e nós somos todos irmãos. Maria une a terra e o céu. Está intimamente unida a Deus e ao povo. Sua virgi virgindade ndade a tornou para sempre Sacrário do Altíssi ltíssimo, mo, Arca da nossa Salvação! Santa virgem das virgens, rogai por nós!
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Mãe de Cristo Mater Christi Christ i
M
aria é virgem e Mãe. Estas são as duas verdades afirmadas na Bíblia que a tradição cristã preservou com todo o cuidado ao longo dos séculos. São os dois primeiros dogmas. Parece uma contradição se olhamos com os olhos da biologia. Como pode alguém ser mãe e virgem ao mesmo tempo? A Bíblia não tem grandes preocupações em afirmar verdades científicas sobre a origem ou o fim do nosso planeta. Quem procura esse tipo de debate acaba sempre por cair em elucubrações distantes da fé e da piedade. É o que vemos em tantas revistas de “ciência da fé” que procuram “decifrar” os mistérios de Deus. A Bíblia tem outro propósito. A virgindade de Maria é metáfora da divindade de Jesus. Seu Pai é Deus. Nasceu por obra do Espírito Santo. Por isso, o nascimento virginal de Jesus é uma linguagem inspirada que afirma que o próprio Jesus, nascido da virgem, é Deus Conosco, é Emanuel. O Verbo se fez carne e habitou no meio de nós (Jo 1,14). Esta foi a forma de solidariedade que Deus escolheu para nos salvar. Deus se esvazia de si e assume a nossa humanidade para nos elevar à sua glória (cf. Fl 2,5-11). Ele se faz pobre para nos enriquecer. Mas alguém poderia dizer: “Sim, é claro que Jesus é Deus. Mas seria também humano? Como pode um Deus tão grande habitar em nosso bairro, em nossa periferia?”. Essa era a sensação dos parentes de Jesus. Maria, porém, guardava todas as coisas em seu coração e meditava nelas. Ela sabia que o menino-Deus era também humano. Ela trocava suas fraldas, via sua dificuldade em pronunciar as primeiras palavras, sentia seu choro no meio da noite pedindo para mamar. Ficava preocupada com as primeiras cólicas. Conversava com sua mãe, a vovó Ana, quando não sabia mais como resolver aquela pequena doença do menino. Era verdadeira Mãe. Como diz uma das mais belas canções marianas: “Maria que fez o Cristo falar, Maria que fez Jesus caminhar, Maria que só viveu pra seu Deus, Maria do povo meu!” Imagino a Mãe de Jesus, juntamente com José, em alguma varanda, ou sob alguma árvore, brincando com aquela criança que aprendia a dar os primeiros passos. Tudo era muito humano na vida de Jesus. Até aquela aventura aos 12 anos, quando ficou no Templo de Jerusalém conversando com os teólogos e acabou por se perder do grupo da excursão. Os pais ficaram preocupados quando notaram a falta do menino. Dessa vez Maria preparou uma pequena “bronca”: “O teu pai e eu estávamos preocupados”. A resposta de Jesus revela a grandeza de um coração humano-divino: “Não sabíeis que deveria ocupar-me das coisas de meu Pai ?” Maria novamente guarda tudo isso no coração. Ela se lembrará de cada detalhe ao pé 23
da cruz. Entenderá que a missão do seu filho é muito, mas muito maior que a compreensão das nossas vãs filosofias. Do fracasso virá a salvação de toda a humanidade. E ela ficou de pé… de Nazaré até a cruz! Pode misteriosamente não ter sentido as dores do parto, pois não estava sujeita aos efeitos do pecado original por ter sido preservada (imaculada), mas sentiu a forte dor, como “uma espada em seu peito”, quando o soldado com uma lança abriu o peito de Jesus, de onde saiu a última gota de sangue e de água. Ali, Maria participou da missão salvífica de seu filho. Onde morre o Filho, morre um pouco também a Mãe. Mas essa comunhão entre Mãe e Filho nem a morte poderá separar. No ventre de Maria aconteceu o maior milagre de todos os tempos: Deus e Homem se uniram em um laço de solidariedade tal que nenhuma palavra é capaz de expressar. Como já vimos, os poetas logo inventaram a metáfora: “Maria é Mãe de Deus”, para dizer que ela é Mãe desse mistério de comunhão entre Deus e o homem. É Mãe do Cristo todo. É Mãe da divina solidariedade. É a primeira primeira a experi experimentar mentar o toque humano de Deus. Naquela Naquela tarde ela ela sentiu sentiu o menino menino estremecer em seu ventre… e comentou com José: Deus está no meio de nós! Mãe de Cristo, rogai por nós!
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Mãe da Igreja Mater Ecclesiae Eccles iae
S
e você prestar bem atenção verá que esta invocação da Ladainha não aparece na maior parte dos livros de oração. Por quê? É que esta belíssima expressão se tornou popular popular somente a partir partir do Concíli Concílio Vaticano aticano II. Na ocasião, ocasião, o papa P aulo aulo VI declarou declarou solenemente, no dia 21 de novembro de 1964: “Maria é Mãe da Igreja, isto é, Mãe de todo o povo cristão, tanto dos fiéis como dos pastores”. Um dos principais documentos do Concílio, a constituição Lumen gentium , sobre a Igreja, tem um capítulo todo sobre Maria. Em 1968, no Credo do Povo de Deus, Paulo VI voltou a insistir nesta verdade: “Nós acreditamos que a Santíssima Mãe de Deus, nova Eva, Mãe da Igreja, continua no Céu a sua missão maternal em relação aos membros de Cristo, cooperando no nascimento e no desenvolvimento da vida divina nas almas dos remidos”. Posteriormente, em fevereiro de 1974, este mesmo papa escreveu uma memorável exortação apostólica, Mariali s cultus, em que repete, logo na introdução, esta mesma declaração: “A reflexão da Igreja contemporânea, sobre o mistério de Cristo e sobre a sua própria própria natureza, levou-a a encontrar, encontrar, na base do primei primeiro ro e como coroa da segunda, segunda, a mesma figura de mulher: a Virgem Maria, precisamente, enquanto ela é Mãe de Cristo e Mãe da Igreja”. A carta inteira do Santo Padre mostra as consequências para a Igreja de ter Maria por Mãe e modelo. Nela nós enxergamos o projeto original de Deus para cada um de nós e para a Igreja Igreja como um todo. Afinal Afinal,, se a Igreja é o Corpo Místico Místico de Cristo, Cristo, e nós somos membros deste Corpo, pelo Batismo, então Maria é nossa Mãe e Mãe da Igreja! Ela é a Mãe de Jesus, cabeça da Igreja, e a Igreja é o Corpo Místico de Cristo, princípio e primogêni primogênito to de todas as criaturas celestes celestes e terrestres (cf. Ef 1,18). A partir desta intuição de Paulo VI, o título Mãe da Igreja, ou Mater Ecclesiae em latim, tornou-se bastante popular. No dia 15 de março de 1980, já sob o pontificado de João Paulo II, este título foi acrescentado à Ladainha, após a invocação “Mãe de Jesus Cristo”. Em 1981, o mesmo papa ordenou que se colocasse solenemente a imagem pintada pintada de Maria, Maria, Mãe da Igreja, na fachada da Secretaria de Estado do Vaticano, aticano, em Roma. A família é um santuário da vida, a pequena Igreja doméstica; a Igreja é uma família, a grande família dos filhos de Deus. Por isso, invocar Maria como Mãe da Igreja significa reconhecê-la como modelo e intercessora da Igreja e da família. Peçamos à Mãe que cada família se torne uma Igreja e que cada Igreja se torne um lar. Cada pai e mãe sejam sacerdotes que levem sua família à santificação, e que cada padre seja um “pai do povo”, que leve sua comunidade à comunhão. 25
Maria, Mãe da Igreja, rogai por nós!
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Mãe da Divina Graça Mater Divinae Gratiae
É
assim que a Ladainha canta e nos encanta com a pessoa de Maria: “Mãe da Divina Graça”. Seria apenas uma expressão poética para cantar sem pensar? Ou estas palavras palavras possuem algum algum sig signifi nificado cado mais mais profundo, capaz de preencher nosso coração, mudar as nossas atitudes, alimentar nossa vida espiritual e até garantir o nosso compromisso social de solidariedade em favor dos pobres? Sim! O exemplo de Maria tem força para fazer tudo isso. Nela podemos repetir o velho ditado popular: as palavras convencem, mas os exemplos arrastam. Falou pouco. Mas seus gestos mudaram o curso da história. Para entender o que significa chamar Maria de “Mãe da Divina Graça” precisamos fazer nosso coração voar até Nazaré naquele dia que separou o tempo entre o antes e o depois. No ano zero, certo dia o céu se abriu e um anjo falou no coração daquela adolescente de mais ou menos 15 anos: “Alegre-se, cheia de graça, o Senhor está contigo” (Lc 1,28). Deus realmente deixa os sábios confusos. Poderia ter falado na poderosa corte do Império Romano. P oderia oderia ter contado seus segredos a um poeta, a um filósofo ou a um historiador, que seriam capazes de dizer isso ao mundo inteiro. Poderia ter revelado seus planos a um profeta ou sacerdote de Israel. Não falou no Templo de Jerusalém nem no monte Garizim. Preferiu um bairro desconhecido de Nazaré, pequena vila da Galileia. Lugar quase desconhecido. Periferia da periferia. Diriam futuramente de Jesus: “Não é este o nazareno?”. Falou a uma mulher, em um tempo em que mulheres não tinham nem voz, nem vez, nem voto. Não falou a um idoso ou experiente senhor ou a uma digna senhora, capazes de entender perfeitamente a intenção do Criador. Falou a uma jovem adolescente ainda um pouco confusa com as mudanças que a idade provocava em seu corpo, prometida em casamento a José, da tribo de Davi. E o seu nome era “Maria”, mas o céu preferiu lhe dar o apelido de “Cheia de Graça”. Os teólogos escrevem mil livros e travam calorosos debates para decifrar o significado dessa expressão registrada no grego do evangelista Lucas: agraciada, contemplada, cheia de charme. Na verdade é tudo muito simples: Maria plena de Deus, cheia da Graça, do Amor. Deus estava com ela, como esteve com Abrão no dia da Aliança, com Moisés na sarça ardente, com os profetas que falavam em nome de Deus. A solidariedade do céu se fez sentir na terra faminta no dia em que choveu maná no deserto. O povo caminhava atrás da Arca da Aliança e sentia que Deus estava com ele. Olhava para o Tempo de Jerusalém e sabia: “Deus caminha 27
com a gente”. É um Deus próximo, não é distante. Maria é filha desse povo de gente pobre e sofrida que acreditava firmemente que Deus era a seu “favor”. Esta certeza provoca alegria. Não foi isso o que o anjo disse? “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo”. A conversa entre Maria e o anjo Gabriel foi longe. Ele dizia que ela seria mãe do Salvador. Ela estava maravilhada com aquilo tudo, mas pensava o que poderia significar realmente. Chegou um momento em que as perguntas daquela menina-moça começaram a pôr o anjo contra a parede: “E como acontecerá isso?”. Gabriel revelou que tudo se faria por obra do Espírito Santo. Ele é a Divina Graça. É Deus que se dá. É Amor em estado puro. Ela seria “Mãe da Divina Graça”. O Divino Amor teceria o Salvador no seu ventre. Maria olhou para a história da salvação e viu que “Deus cumpre o que promete”. Tirou os hebreus do Egito e os fez entrar na terra da promessa. E ela fez sua parte. Respondeu com determinação: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Imagino que essa frase da terra teve o efeito de um gol de final de campeonato no céu. Os anjos gritaram: Vivaaaaaa! E a primeira célula de Jesus começou a se multiplicar naquele ventre imaculado. A Trindade estava toda ali. O Pai falando pela voz de Gabriel e o Espírito gerando o Filho no ventre da virgem. Podemos nos unir à Santíssima Trindade e ao coro dos anjos quando cantamos essa invocação da Ladainha que os séculos tiveram o cuidado de compor: Mãe da Divina Graça, rogai por nós!
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Mãe puríssima puríssima Mater purissima puris sima
A
Ladainha de Nossa Senhora é mais do que uma prece, é uma lista de valores humanos fundamentais. Nesta invocação somos convidados a contemplar a pureza de Maria. Muita caricatura já se fez em torno dessa qualidade. A mãe de Deus não tem nada a ver com aquela imagem angelical de uma santinha ingênua, quase boba, que não conhece nada da vida, inexperiente, refugiada em uma experiência espiritual alienante, com as mãos postas e os olhos fechados. É esta a imagem que muita gente tem do santo. É verdade que algumas pinturas provenientes do romantismo barroco não ajudam muito a entender o sentido da verdadeira pureza e da autêntica santidade. Centenas de anjos subindo e descendo… Nuvens e fumaça… Estrelinhas e auréolas… Tudo coloca o santo mais perto do céu que da terra. Na verdade o santo é alguém que tem os pés no chão e o coração no céu. Tem os olhos fixos em Deus e as mãos prontas para ajudar os irmãos. Esta é a imagem de Maria que a Bíblia nos deixou. Uma mulher que depois do êxtase experimentado na conversa com o anjo Gabriel teve coragem de caminhar 120 quilômetros para ajudar a prima Isabel, que também estava grávida. E ficou ali seis meses. Depois voltou para casa, grávida de seis meses. Isto sim é santidade. Vivemos num mundo que quase já não pode entender a mensagem da pureza. Mas acredito também que nossa juventude perfurada por tantos piercings e tatuada com tantos demônios e dragões já começa a sentir saudades da autenticidade original. O pecado pesa, cansa, cheira cheira mal. mal. A malícia malícia faz a gente ficar ficar feio, feio, por mais formoso que seja o rosto. O que produz em nossa juventude esse mau humor? Parece que a estrutura de pecado presente em nossa pornográfica cultura começa a cansar. A fuga na droga, no mundo virtual, na vida sexual sem critérios e limites rouba o jovem de si mesmo e o condena à náusea e à solidão. No fundo do coração permanece sempre aceso um pequeno fogo que o faz, mais mais cedo ou mais tarde, sentir saudades de Deus. É neste momento que o rosto de Maria, nossa Mãe puríssima, se torna um oásis de esperança. Chega um dia em que todos precisam de um ombro para chorar. E o primeiro lugar que procuramos é o colo da Mãe. Não importa o título: imaculada, virgem, casta, santa… é Mãe e pronto! Ela não acolhe por interesse. É pura. A pureza deixa a pessoa linda. A imagem que me vem é da idosa e lindamente enrugada madre Teresa de Calcutá. Nosso tempo viu mulher mais bela? Alguém se lembra da miss mundo do ano passado? Alguém pode esquecer-se dos olhos negros de Teresa? Sua beleza foi fruto de uma existência transfigurada em Deus e a serviço dos que já não tinham esperança. Sobre isso o papa Bento XVI diz de maneira muito bela em 29
sua encíclica Deus caritas est : “Eu vejo com os olhos de Cristo e posso dar ao outro muito mais do que as coisas externamente necessárias: posso dar-lhe o olhar de amor de que ele precisa” (nº 18). O dom do olhar… isso apenas as pessoas puras podem dar. Quem usa os próprios olhos para explorar o corpo do outro com malícia perde este dom. Os olhos são os espelhos da alma. Mas quem se exercita em contemplar os olhos de Deus, por exemplo na Eucaristia, recebe a luz e passa a ter um rosto que brilha. Nosso mundo precisa de pessoas com este olhar. Algumas tendências de marketing dos dos nossos tempos querem vender de tudo maculando nossos olhos. Prostituem a imagem do corpo para vender. vender. Vivemos em um imenso bordel. bordel. É o mercado da malícia. malícia. Não admira que também hoje as prostitutas tenham um olhar mais puro do que aqueles que as prostituem. prostituem. Elas Elas nos precederão no Reino, advertiu Jesus. A pureza é uma virtude atual. Precisamos de políticos puros, sem corrupção. Precisamos de padres e religiosos puros, repletos de unção, sem malícia nem indiferença. Há urgência de pais e mães puros, que não queiram apenas usar um ao outro para mendigar uma fútil sensação de felicidade, pais capazes de dar aos seus filhos o maravilhoso dom de um olhar puro. Isto um filho jamais esquece. Precisamos de jovens capazes de um namoro puro, que respeita o templo de Deus que é o corpo do outro… e sabe esperar, sim, sabe esperar. AVE: Amor Verdadeiro Espera! Ave, Maria! Mãe puríssima, rogai por nós!
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Mãe castíssima Mater castissi cast issima ma
M
editando a Ladainha de Nossa Senhora, chegamos à invocação em que Maria é para nós um modelo modelo de castidade: virg virgem, em, imaculada, pura e santa!
Castidade é uma daquelas palavras que usamos cada vez menos. Não admira que alguns jovens nem saibam bem o que significa castidade. Aprendemos na catequese qual é o “sexto mandamento”: Não pecar contra a castidade! Ele faria parte de uma lista de proibi proibições: ções: não matar, não roubar, roubar, não cobiçar, cobiçar, não mentir… mentir… Curiosamente, Curiosamente, o novo Catecismo da Igreja Católica modificou um pouco a formulação dos dez mandamentos: o sexto mandamento passou a ser “Não cometer adultério”, e o nono mandamento passou a ser o da castidade, castidade, de um modo positi positivo, vo, “Guardar a castidade castidade nos pensamentos e nos desejos”. E o que mudou? Tudo. A castidade castidade não indica ndica apenas algo algo que NÃO devo fazer, mas exatamente uma virtude que DEVO cultivar nos pensamentos e desejos. Para ser casto não basta eliminar toda malícia — pecados sexuais, impurezas, infidelidades etc. É preciso algo mais. A castidade é o amor vivido do jeito certo. Ser casto é respeitar a dignidade do corpo, da mente e do coração. A castidade habilita a pessoa à comunhão. Permite ver o sexo como um dom maravilhoso que o Criador nos deixou para que pudéssemos completar a sua obra gerando e cuidando da vida. Usar este dom apenas em proveito próprio, como na masturbação, entristece o coração e provoca uma profunda frustração. A castidade é a irmã da felicidade. Um casal precisa precisa ser casto. Esta não é uma virtude virtude apenas para os que fazem “voto de castidade”, castidade”, como os religiosos e religiosas. Um casal casto sabe os limites e conhece as possibilidades de sua vida sexual. Isto não significa somente evitar isto ou aquilo. Castidade matrimonial significa sensibilidade masculina e feminina, reconhecer o outro no seu universo, exercitar-se na comunhão até nos pequenos gestos, como celebrar a festa da vida no sorriso de um bebê. A castidade supõe uma disciplina permanente que torne possível o autodomínio. Para ser casto é preciso exercitar-se como o atleta que se prepara para uma corrida. Aquele que vive ao sabor de seus desejos e paixões é, na verdade, um escravo. A dependência sexual às vezes ultrapassa os limites do vício e chega a ser uma doença, uma tara, uma neurose. Educação sexual é mais do que conhecer algumas coisas sobre o aparelho reprodutor humano nas aulas de ciências do ensino fundamental. É aprender a administrar com sabedoria e prudência esta potência de vida que Deus colocou em cada um de nós. Para viver a castidade é preciso a inteligência de não se manter próximo do abismo. 31
inguém “quase peca”. Ou pecamos ou não pecamos. Se eu sei que em determinado ambiente vou cair, é melhor evitar! Se não evito, já pequei. Normalmente a castidade começa pelo olhar. Um pecado social pelo qual a humanidade pagará caro é o uso da pornografi pornografiaa nos anúncios anúncios públi públicos. Não há como não ver. ver. A insinuação nsinuação provoca o pensamento e pode criar difi dificul culdades dades na castidade. castidade. P orém, uma coisa coisa é ser involuntariamente provocado. Outra coisa é procurar imagens, revistas, conversas maliciosas. Alguém poderia objetar: “Mas ainda é pecado? O mundo evoluiu!!! A Igreja ainda está nessa? Não se esqueça de que o mundo gira”. A moda de ontem já passou; a de hoje passará. Promiscuidade e droga estão na moda, mas nem por isso devemos canonizá-las. O crime também está na moda. Faz sucesso nas telas do cinema. Mas isto não é eterno. A libertinagem é um dogma inquestionável do mundo moderno. Adultério, masturbação, fornicação, pornografia, prostituição, estupro, luxúria são nomes clássicos do pecado que vem da mesma raiz, da “falta de castidade”. Sujou? Limpe! Pecou? Confesse! O bonito ideal da castidade é conquistado com muita luta, mas também com oração. Diante de um momento de tentação será muito útil voltar seu olhar interior para Maria e repetir: Mãe castíssima, rogai por nós!
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Mãe sempre virgem Mater inviolata
A
antiga expressão latina Mater invi olata é traduzida livremente por “Mãe sempre virgem”. Já vimos o significado bíblico e cristológico do dogma da virgindade de Maria ao comentarmos a invocação “Santa virgem das virgens”. A ênfase desta vez está no semper , ou seja, a Igreja professa que a virgindade de Maria foi “perpétua”. Existem três níveis de significado no dogma da virgindade de Maria: antes, durante e após o parto. Já comentamos que a virgindade de Maria antes do parto é um dogma claramente afirmado nas páginas dos evangelhos para indicar a “divindade” de Jesus. Maria concebeu por obra do Espírito Santo. O evangelho de João indica este fato de maneira densa e definitiva: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (1,14). Este é o núcleo fundamental do dogma da virgindade de Maria. Está estreitamente ligado à afirmação da nossa salvação, pois professa a fé na verdadeira “Encarnação”. Como dizia Santo Ireneu, “o que não foi assumido não foi redimido”. Deus assumiu a nossa carne no ventre de Maria. Ele nos assumiu. Não mandou alguém em seu lugar. Veio pessoalmente. É como se algum amigo seu estivesse se afogando. O que você faria? No caso de Jesus, ele pulou! Veio nos salvar. Pisou nosso chão. Amou com coração humano, sem deixar de ser divino. Tudo isso se esconde na afirmação da virgindade de Maria antes do parto, ou seja, na concepção virginal. O segundo nível de significado deste dogma é a virgindade no parto. Os dogmas não são afirmações biológicas. Por mais que ao longo da história da Igreja alguns tenham tentado explicar esta segunda dimensão do dogma de maneira exageradamente biológica, corporal, não está aqui o propósito da afirmação dogmática. Biologia por biologia, se Jesus tivesse nascido de cesariana este dogma não apresentaria qualquer dificuldade de compreensão. Deus pode mais do que qualquer técnica da medicina. Mas não vem ao caso. Afirmar a virgindade de Maria no parto é estabelecer um paralelo com um dos efeitos típicos do pecado original, narrado no livro do Gênesis: “darás à luz com dores”. A santidade original de Maria, preservada do pecado original, não permitiria que ela estivesse sujeita a este efeito “natural”. Afirmar teologicamente que Maria não sofreu as dores do parto é dizer de modo indireto que ela foi concebida sem pecado original. Jesus não nasceu no pecado original, mas na santidade original. Ainda aqui este segundo nível do dogma tem alguma ligação com a nossa salvação: “o nó da desobediência de Eva foi desfeito pela obediência de Maria”, dizia Santo Ireneu. Maria é a nova Eva e Jesus é o novo Adão. Estas afirmações teológicas estão escondidas no dogma da virgindade de Maria no parto. 33
O terceiro nível do dogma é aquele que afirma a virgindade de Maria após o parto. Isto indica a opção celibatária de Maria e de José. Aqui os debates costumam ser mais acalorados. Há motivos bíblicos para acreditar que Maria não teve outros filhos. Os ditos “irmãos” de Jesus seriam, na verdade, primos. O povo de Israel costumava considerar a fraternidade de maneira mais ampla do que nossas pequenas famílias nucleares de hoje. Irmãos são todos os membros do clã. Por outro lado, é preciso reconhecer que a conexão desta terceira dimensão do dogma com nossa salvação e com a afirmação da natureza humano-divina de Cristo não é tão intensa quanto os dois níveis anteriores. Não afirmar a opção celibatária de Maria não colocaria em risco a afirmação da nossa salvação. Ou seja, ainda que Jesus tivesse tido irmãos… ainda que Maria tivesse tido outros filhos, estaria assegurada a nossa salvação. A tradição da Igreja preservou com muito cuidado e respeito esta afirmação dogmática da Mater invi olata. Isto não pode ser interpretado como uma desvalorização da sexualidade ou mesmo da santidade de um casal que vive uma vida sexual completa. A procriação é o primeiro mandamento que aparece na Bíblia. É um jeito de continuar a obra do Criador. É bonita e santa. A virgindade perpétua de Maria não serve de modelo para os casais que devem viver viver a santidade santidade na sexual sexualiidade. Somente casos especiais especiais e muito bem discernidos justificam que um casal faça a “opção Josefina”, ou seja, viver o matrimônio sem relações sexuais. Insisto: sempre é uma exceção. O direito canônico afirma que o matrimônio é ratificado no altar e consumado no ato sexual. Sem este ato o casamento é “nulo”, ou seja, nunca existiu. O caso de Maria é único. A Igreja reconhece que aquele ventre santo gerou somente o Filho de Deus. Permaneceu sempre virgem, mas não apenas no corpo. A maior virgindade de Maria é no seu coração. Neste sentido ela é um modelo de castidade para todos nós. A virgindade espiritual de Maria é uma dimensão pouco conhecida. Nossos debates às vezes estacionam na dimensão física e esquecem que o mais importante são as coisas do coração. Mãe sempre virgem, rogai por nós!
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Mãe imaculada Mater intemerat int emerata a2
N
o dia 8 de dezembro de 2004 comemoramos 150 anos da definição do dogma da Imaculada Conceição de Maria. Ou seja, a Igreja define como verdade de fé que Maria nasceu sem pecado original. Em 1854 o papa Pio IX, por meio da bula Ineffabili s proclamou solenemente este dogma. Era o reconhecimento solene solene da verdade mais Deus, proclamou profunda escondida nas primeiras primeiras palavras que o anjo Gabriel disse disse à virgem virgem naquele naquele dia, em Nazaré: “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo” (Lc 1,28). Os teólogos passaram centenas de anos debatendo se Maria seria realmente imaculada. Quase todos aceitavam que ela tivesse nascido sem o pecado. Mas alguns não tinham tanta certeza de que ela tivesse se mantido toda a vida sem pecar. Achavam que ela poderia ter feito pelo menos “um pequeno pecado” para também poder ser salva. Perguntavam: “Mas se Maria é imaculada, afinal de contas, de que ela foi salva… se não tinha pecado?!”. Hoje sabemos que a salvação é mais do que a remissão dos pecados. Deus, por meio do seu Espírito, nos recria a cada momento. Em Cristo somos novas criaturas. Maria também foi recriada em seu Filho, Jesus. O debate sobre a Imaculada fez evoluir nossos conceitos teológicos de salvação.
Os teólogos podem complicar demais. Os artistas, às vezes, veem a verdade um pouco antes, pela pela via da intuição. ntuição. A imagem de Aparecida Aparecida é na verdade uma homenagem à Imaculada: Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Ela apareceu no rio Paraíba em 1717, mais de cem anos antes da definição do dogma. Os músicos sempre can ca ntaram em prosa e verso que Maria nasceu sem pecado. “Imaculada, Maria de Deus, coração pobre acolhendo Jesus. Imaculada, Maria do povo, Mãe dos aflitos que estão junto à cruz”. Não é difícil para a mãe que prepara o quarto do bebê, que faz todos os exames, exames, que espera nove meses entender que Deus preparou de um modo especial o ventre onde deveria nascer o seu Filho. Ela foi preservada do pecado origi original. nal. Novamente os teólog teólogos os começam seu interminável nterminável debate sobre este tema. Muitas Muitas vezes acabam confundindo mais do que esclarecendo. Como podemos nascer com pecado? Ainda nem temos consciênci consciência! a! O bebezinho bebezinho pode ter um pecado?? A coisa é bem mais simples. simples. Há na humanidade humanidade um grande e escondido escondido mistéri mistérioo de comunhão, de solidariedade. Muitas vezes percebo que alguns defeitos do meu pai aparecem em mim. Outras vezes meu jeito de falar vai ficando parecido com o da minha mãe. Afinal, a memória dos nossos ancestrais é preservada nas nossas células, no nosso DNA. 35
Será tão difícil entender que participamos do pecado da humanidade? É desta particip participação ação que Maria Maria foi preservada. Sabe por quê? Para P ara ser tão livre livre quanto Eva. Sim. Eva também foi concebida sem pecado original. Por isso era totalmente livre para responder ao tentador. Ela não tinha aquela natural inclinação para o mal que chamamos de concupiscência. Você já percebeu que temos uma queda pelo pecado? Somos tentados e sentimos vontade de pecar. Isto é um efeito do pecado original que ficou em nós. O Batismo apaga o pecado original. Mas fica a cicatriz. Não temos uma liberdade absoluta. Por isso, antes de fazer novamente a proposta de salvação, Deus preservou Maria para que ela estivesse totalmente livre para dizer sim ou não. Ela foi escolhida. Poderia ter dito não? Claro, da mesma maneira que Eva (cf. Gn 3,15). Mas Maria pisou na cabeça da serpente e disse SIM! Maria foi escolhida “em Cristo, antes da criação do mundo, para que fosse santa e imaculada na sua presença, no amor, predestinando-a como primícias para a adoção filial por obra de Jesus Cristo” (cf. Ef 1,4-5). Ela Ela é a Mãe de Jesus, o Cordeiro “sem mancha” (cf. Ex 12,5; 1Pd 1,19), imolado para redimir a humanidade do pecado. Na verdade Maria é a prefiguração daquilo que a Igreja é chamada a ser: santa e imaculada. No céu todos seremos imaculados! Olhemos para Maria e fortaleçamos a nossa esperança de chegar lá. Mãe imaculada, rogai por nós! 2
Neste caso cas o não se trata de uma tradução. Literal Literalmente mente “intemerata” “intemerata” significa significa absoluta pureza e integridade integridade moral. Assim a antiga ladainha em latim tinha um crescendo de afirmações sobre Maria: puríssima, castíssima, sempre virgem e “intemerata”. Esta invocação foi substituída por “imaculada”, dogma que afirma esta total integridade de Maria, mas preservando o primado da graça. Ela não foi “a escolhida” por causa de seus méritos, mas por que desde o ventre materno Deus a preservou.
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Mãe digna de amor Mater amabilis amabil is
A
tradução em português para Mater amabili s fez a invocação perder muito da sua força original. Em vez de “Mãe digna de amor”, prefiro a tradução literal: “Mãe amável”. Isto me recorda um velho ditado italiano: “Quem quer fazer-se amar, amável deve se tornar”. Maria foi uma mulher amorosa. Amou a Deus sobre todas as coisas; foi atenciosamente amorosa com seu esposo José; amou sua prima Isabel concretamente por meio do serviço; amava de modo especial seu Filho Jesus. Sua atitude nas bodas de Caná revela uma mulher atenta aos fatos. Faltou vinho. Ela percebeu e intercedeu. Poderíamos fazer uma enorme lista de outras atitudes amorosas de Maria. Sairíamos de Nazaré e chegaríamos até a cruz, onde a mãe estava de pé. Ali o amor se fez lágrima e presença silenciosa. Apesar de não entender, ela acreditava no poder do amor que é mais forte que a morte. Mas não basta amar. Como gostava de repetir São João Bosco, “é preciso demonstrar o amor”. O amor não pode ficar em uma retórica repetitiva. É bonito bonito dizer dizer “eu te amo”, mas sem gestos a declaração de amor se torna odiosa, odiosa, falsa falsa e vazia. Amor em gestos é melhor que em poesia. O amor supremo de Deus não se manifestou definitivamente nos milagres ou na beleza dos sermões, mas no silêncio da cruz. Maria amava no silêncio, conservando todas as coisas no seu coração. Afirmar que nossa Mãe é “amável” é mais do que dizer que ela é amorosa. Ser amável é uma grande atitude de amor. É criar condições para que o outro me ame. Isto será a salvação para ele. Muitas vezes esquecemos que ser amável é tão importante quanto amar. Há pessoas que não dão a mínima chance para que os outros as amem. Este é um exercício de santidade. Certa espiritualidade ocidental doente e masoquista vendeu a ideia de que ser santo é amar de modo que todos me esqueçam. É claro que o verdadeiro amor não espera reciprocidade. É gratuito. Não amo para ser amado. Se for assim será troca, não amor. Mas ser amável com as pessoas é fundamental para amar de modo completo. Jesus era amável. Unia ternura e vigor nos seus gestos. Nem por isso foi amado por todos. Por mais que você seja amável, nem todos irão amá-lo. Muitas pessoas fazem questão de desprezar exatamente os mais amáveis. Deixa para lá! Ame e seja amável. ão disse “ame e seja amado”; disse “ame e seja amável!”. Maria é exemplo de amabil amabilidade, de ternura, de educação. É muito bom encontrar uma pessoa amável, educada. Por que temos que ser ácidos, 37
agressivos, críticos, chatos, birrentos? Na escola de Maria aprendemos a ouvir as pessoas, a deix deixá-las falar, falar, a fazer perguntas, perguntas, a valori valorizar zar o que fazem. Feliz Feliz o esposo que tem uma mulher amável. Feliz a esposa que tem um marido amável. Benditos os filhos de pais amáveis. Bem-aventurados os pais de filhos amáveis. Precisamos recuperar o valor da amabilidade. Deixe-se amar. Não é fácil. Muitas vezes amar sem ser amado pode esconder um complexo de autossuficiência. Ser amável é reconhecer que se precisa do amor dos outros. Precisamos sim! Pedir ajuda é um jeito de ser amável. As pessoas conseguem amar você? Lembre-se de que Jesus era “manso e humilde de coração”. Ele não era “arisco e arrogante”. Era uma pessoa fácil de amar. Receba o carinho das pessoas. É um gesto de humildade deixar que os outros me amem. Quando Jesus humildemente pediu água para aquela mulher samaritana, deixou-se amar. Certamente aprendeu esta lição de mansidão no colo de Maria. Lembre-se: “Quem quer fazer-se amar, amável deve se tornar”. Mãe amável, rogai por nós!
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Mãe admirável admirável Mater admirabilis admir abilis
E
sta invocação tornou-se muito popular nos nossos dias graças à singela devoção à Mãe Rainha e Vencedora Três vezes Admirável de Schöenstatt (Belo Lugar), iniciada por padre Kentenich, Kentenich, na Alemanha, em 1914. Quem não conhece o quadro, a capelinha capelinha e os centros de devoção que se espalham por todo o mundo como refúgios de paz? Em meio aos aglomerados urbanos, onde a pressa e a violência dão o tom da vida cotidiana, é possível encontrar uma capelinha da Mãe Três vezes Admirável e esconder-se no colo daquela que fez Jesus dormir. A beleza, a serenidade e o silêncio, típicos destas capelinhas, contrastam com o ambiente em que a devoção nasceu, às vésperas da Primeira Guerra Mundial. Na Segunda Guerra, a perseguição nazista não poupou a devoção de padre Kentenich. Naquele tempo o tirano Hitler se autointitulava “único soberano”. Em reação, a obra de Schöenstatt coroa Maria três vezes admirável, “única Rainha”. A aprovação definitiva desta devoção pela Igreja viria somente após o Concílio Vaticano II. Hoje, nos mais remotos cantos do Brasil é possível encontrar o Movimento das Capelinhas. Quem não conhece a “Mãe Peregrina”? Pode até já tê-la recebido em casa. Conheço muitas famílias que tiveram suas vidas modificadas pela visita da imagem da Mãe Rainha e Vencedora Três vezes Admirável de Schöenstatt. Mas o título Mãe admirável não foi inventado por padre Kentenich. Penso que o modo como o anjo Gabriel se dirigiu a Maria naquele dia foi a primeira vez que a história ouviu esta invocação: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo”. Ela foi contemplada por Deus Pai com o dom de ser a Mãe do Salvador por obra do Espírito Santo. Aqui estão os três motivos para admirarmos Maria: ela é ponto de encontro das três pessoas da Santíssima Trindade. Não admiramos propriamente Maria, mas o Pai, o Filho e o Espírito Santo que resplandecem no seu semblante. Isto ficou perpetuado na oração da Ave-maria. A primeira parte é a promessa do Pai, a saudação de Isabel, cheia do Espírito Santo, e a invocação do nome que está acima de todo nome: Jesus! Em poucas palavras palavras a Ave-maria contempla contempla nos olhos olhos da mãe três vezes admirável a Trindade três vezes santa. São Luiz Maria Grignon de Montfort, autor do Tratado sobre a verdadeira devoção à Virgem Santíssima (1700), expressa a mesma ideia com a seguinte oração: “Saúdo-te, Maria, Filha predileta do Pai eterno! Saúdo-te, Maria, Mãe admirável do Filho! Saúdo-te, Maria, Esposa fidelíssima do Espírito Santo!” ( Segredo de aria, 68). Admiramos Deus em Maria e Maria em Deus. É uma vida de entrega total. Mas a entrega mais admirável é aquela feita pelo próprio Deus, que confia a preciosa graça a uma menina da periferia de um lugar qualquer. Nem sempre temos a fé que deveríamos. 39
Mas Deus tem fé em nós. Ele confia obras grandiosas e admiráveis às nossas mãos. Não é impressionante que a vida humana passe pela decisão de um casal? Um dia todos nós fomos totalmente dependentes dos nossos pais. Devemos pedir a intercessão de Maria admirável, para que possamos corresponder à confiança que Deus depositou em nós. Quando admiramos Maria do jeito certo acabamos esquecendo dela e nos perdemos no amor de Deus. Ela apenas nos indica a direção. É companheira de viagem. Quem admira Maria do jeito certo chega a Jesus e, com ele, na força do Espírito Santo, avança em direção ao Pai. Somos peregrinos da Trindade. Para encontrar o caminho precisamos recorrer ao mapa, à bússola. É Maria. Ela é ícone do Eterno. É imagem de Deus. Quando esquecermos a nossa identidade original de filhos, contemplemos Maria admirável. Como um espelho ela nos mostrará, sem mancha, o rosto de Jesus que resplandece na face de cada um de nós. Mãe admirável, rogai por nós!
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Mãe do bom con conselho selho Mater boni consilii consil ii
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ste é um dos títulos marianos que mais me chama a atenção. Sua origem está nos primei primeiros ros séculos séculos do cristiani cristianismo. smo. Entre os anos 432 e 440 o papa Xisto III mandou construir uma igreja dedicada à Nossa Senhora do Bom Conselho, na cidade de Genazzano, na Itália, ao lado de um convento fundado por Santo Agostinho. De fato, esta devoção foi muito propagada pelos padres agostinianos e se espalhou por todo o mundo.
Porém, mais do que um título ou uma devoção popular, os conselhos de Maria têm sua raiz mais profunda nas páginas da Bíblia. O primeiro texto que espontaneamente nos vêm à mente é o episódio das bodas de Caná, em que Jesus fez o milagre de transformar água em vinho. O rico simbolismo escondido nas entrelinhas do evangelho de João exigiria uma análise bem mais profunda. Mas qualquer olhar de fé pode perceber algumas mensagens que estão na superfície do texto. Era uma festa de casamento. Festa de família. Jesus era desconhecido. Nunca tinha feito um milagre e nem era um pregador famoso. Estava com sua mãe. Era mais um dos convidados em uma festa qualquer. Faltou vinho. Maria percebeu o drama. Aqui está a origem do conselho: saber ouvir. Ela estava atenta ao drama dos encarregados da festa. As cozinheiras que leem este artigo entendem profundamente a sensibilidade de Maria. É muito desagradável quando falta comida no meio do almoço. O constrangimento é grande. Alguém que percebe a coisa pode simples simplesmente mente pensar: “Não tenho nada com isso… isso… que irresponsabi irresponsabillidade… não calcularam direito… nossa, que vexame!”. Maria tomou uma atitude. Foi falar com seu Filho: “Eles não têm mais vinho”. A resposta do mestre foi desconcertante. Filhos respondem assim mesmo. As mães que o digam. Nem sempre é falta de educação. Às vezes é excesso de intimidade. Mas Maria sabia que seu Filho acabaria dando um jeito, e deu o “bom conselho” ao pessoal da cozinha: “Façam tudo o que meu filho vos disser!” Este foi o bom conselho. É a palavra que ecoa nos nossos ouvidos até os dias de hoje. Os garçons seguiram a orientação de Maria e o problema foi resolvido pelo milagre. Bons conselhos abrem a porta para os milagres. O conselho não é uma mera opinião sobre a vida alheia. Não é um “acho que você deveria fazer isso ou aquilo”. Conselho é dom do Espírito Santo cultivado no silêncio e na escuta. Depois de muito ouvir se pode dizer a palavra certa, no momento certo e para a pessoa certa, do jeito certo. O conselho acerta no alvo e abre o caminho com uma visão antecipada da solução. Muitas vezes, quando damos conselhos, nem sabemos 41
muito bem tudo o que isso pode significar para aquela pessoa. Uma parte do conselho pertence à ação do Espírito Espírito nos ouvidos ouvidos de quem recebe aquela aquela palavra. palavra. Não devemos reter um conselho nem apressá-lo demais. Sentimos no coração a hora de falar. Mães têm naturalmente o dom do conselho. Quantos filhos já não tomaram chuva porque desprezaram as palavras palavras sábias sábias da mãe que disse: disse: “V “Vai ai chover, chover, leve o guardachuva”. O mesmo acontece em tempestades mais sérias. O dom do conselho é muito importante para os lábios de psicólogos, médicos, sacerdotes. Há pessoas que precisam dizer uma palavra para os aflitos e desesperados. Um conselho pode salvar a vida e evitar uma tragédia. Garanto que você está pensando a mesma coisa que eu. Precisamos deste dom. Então vamos rezar: “Mãe do bom conselho, que soubestes ouvir e discernir a vontade de Deus, intercede por nós junto ao teu filho, quando na festa da vida nos falta a palavra palavra certa. Queremos segui seguirr o teu conselho conselho e fazer tudo o que o teu Fil Filho nos disser disser.. Que ele nos dê o seu Espírito de sabedoria, ciência e conselho. E que na hora oportuna possamos prestar ao irmão a soli solidariedade dariedade de uma palavra palavra de consolo, consolo, estímulo, estímulo, discernimento e força”. Mãe do bom conselho, rogai por nós!
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Mãe do Criador Mater Creatoris Creatori s
O
teólogo fica confuso quando se põe a pensar neste título consagrado pela Ladainha de Nossa Senhora: Mãe do Criador. Não seria um exagero? Chamar Maria de sempre virgem, Mãe de Deus, imaculada e assunta aos céus tudo bem… mas Mãe do Criador? Não seria colocar Maria acima de Deus? Como uma simples criatura poderia ser considerada Mãe do Criador? Criador? Na verdade este é um título título que segue segue a mesma lóg ógiica de “Mãe de Deus”. Você lembra que a liturgia começou a invocar Maria com este título, e depois os teólogos vieram a descobrir que realmente isso é correto, pois não existe separação entre a natureza humana e a natureza divina de Jesus Cristo. Justamente a união entre o divino e o humano, sem separação nem confusão, foi o que tornou possível a nossa salvação. Deus pisou o nosso chão. Amou com coração humano para que pudéssemos fazer parte de um amor divino. Chamar Maria de Mãe de Deus não é mais do que professar a fé na solidariedade de Deus, que assumiu a nossa carne no ventre de Maria, para a nossa salvação. Na verdade não é um elogio à menina de Nazaré. É uma profissão de fé em Jesus salvador. Maria não poderia ser a Mãe de apenas uma parte de Jesus Cristo. Seria separar o humano e o divino. Deus é tão humano em Jesus Cristo, que Maria pode ser chamada de Mãe de Deus. Da mesma maneira, não podemos separar as três pessoas da Santíssima Trindade. ão são três Deuses. É um Deus em três pessoas. Este assunto já esquentou a cabeças dos santos e teólogos mais geniais da história. Conta-se que Santo Agostinho levou a vida inteira para escrever seu famoso livro sobre a Trindade. No final ele confessa: “Não consegui dizer muitas coisas, mas não posso deixar de refletir, pois, se Deus me fez pensante, pensar é um jeito jeito de louvar o Criador”. Criador”. Depois Depois das suas reflexões reflexões sobre a Santíssima Trindade, poucas coisas descobrimos de novo. Mas sabemos bem que Deus não é solitário. Ele é solidário. Deus é comunhão. Deus é família. É relação de amor: O Pai é o amante, o Filho é o amado, e o Espírito Santo é o amor do Pai e do Filho. Os três são uma unidade inseparável. Alguém até já falou de Tri-unidade. Quando a Ladainha chama Maria de Mãe do Criador, reconhece de um modo poético esta unidade na Trindade. Não seria correto dizer que “apenas o Filho” foi gerado no ventre de Maria. Seria imaginar a possibilidade de o Filho de Deus estar separado do Pai e do Espírito. Na conversa que Maria teve com o anjo Gabriel foi revelado: “Aquele que nascer de ti será chamado Filho do Deus Altíssimo”. E o modo também: “O Espírito Santo te cobrirá com sua sombra”. A Trindade encontrou abrigo em Maria quando ela 43
disse: “Eis aqui a serva do Senhor”. O Verbo, por meio do qual todas as coisas foram feitas, é pronunciado novamente e se faz carne e habita entre nós (cf. Jo 1,14). Este mistério se repete em cada um de nós que somos batizados: tornamo-nos “templos do Espírito Santo”, uma casa onde habita Deus. A teologia chama isto de “mistério da inabitação” da Trindade em nós. É preciso dizer também que a criação não foi um gesto acontecido há bilhões de anos e que acabou. Nada disso. Deus cria a cada instante por meio do seu Verbo e do seu Espírito. São eles as duas mãos do Pai Criador. A criação é o primeiro gesto salvífico de Deus, e a salvação em Jesus Cristo é uma nova criação. Em Cristo somos recriados. ele o que era velho passou e nos tornamos novas criaturas. Maria participa ativamente desta nova cri c riação. ação. Podemos cantar a invocação da Ladainha que chama Maria de Mãe do Criador sem medo de estarmos proferindo uma heresia. Mas sempre é bom lembrar que estes títulos, mais do que elogios a Maria, são fórmulas inteligentes que apontam para Deus. Mãe do Criador, rogai por nós!
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Mãe do Salvador Mater Salvatoris
O
nome “Jesus” significa “Deus salva”. O evangelho de Mateus diz que um anjo apareceu em sonho a José e disse: “José, filho de Davi, não temas receber Maria por esposa; pois o que nela nela foi concebido concebido vem do Espírito Santo. Ela dará à luz luz um fil filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados” (Mt 1,20). E assim aconteceu. Maria se tornou a Mãe de Jesus, ou seja, a Mãe do Salvador. Continuando a leitura do mesmo evangelho, entendemos que tudo isso foi o cumprimento de uma profecia: “Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho, que se chamará Emanuel, que significa: Deus-conosco” (Mt 1,23). Seria este um segundo nome do Messias? Claro que não. Os nomes Jesus e Emanuel estão intimamente relacionados. Estar conosco foi o jeito escolhido por Deus para nos salvar. Como sintetiza o evangelho de João: “O verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Deus salva a humanidade por meio da soli solidariedade. dariedade. Ele Ele assume a nossa carne no ventre de Maria. Maria. Ele Ele se faz um de nós. O apóstolo Paulo vai dizer isso de modo brilhante aos filipenses: “Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens. E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte — e morte de cruz!” (Fl 2,6-8). É como se Deus mergulhasse nas profundezas da nossa históri históriaa para nos salvar salvar do naufrági naufrágio. Ele Ele nos agarra agarra e nos leva para a superfície. superfície. Ele Ele nos salva. salva. Ele Ele se fez humano para nos divi divini nizar, zar, se fez pobre para nos enriquecer, se fez lágrima para nos devolver o sorriso. A solidariedade salvífica de Deus já havia sido revelada a Moisés quando estava diante da sarça ardente. Quando ele perguntou a Deus o seu nome, ouviu a seguinte resposta: “Eu sou aquele que estou contigo”. Portanto, Deus é presença. Moisés ouviu também as palavras em que Javé o convocava para uma missão de libertação. Mas era gago e sentia-se pequeno demais para uma tarefa tão desafiadora. Diante disso Deus responde: “Quem fez a boca? Vai! Eu estarei contigo”. Esta certeza de que Deus nos acompanha ia junto com o povo nos quarenta anos de deserto. No acampamento havia uma tenda especialmente reservada para a Arca da Aliança. Era o sinal forte de que Deus estava ali. Quando chegaram à Terra Prometida transformaram a tenda no grandioso Templo de Jerusalém. Deus não gostou muito da história. Preferia a simplicidade da tenda, que pode ser desmontada e caminhar com o povo nômade. Interessante que o apóstolo João vai entender bem que a nova tenda onde Deus habita é o ventre de Maria: “armou entre nós a sua tenda” (cf. 1,14). No evangelho de Lucas ouvimos o anjo dizer a Maria: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor é contigo” (Lc 1,28). É um verdadeiro eco 45
da promessa feita a Moisés: Deus está conosco. Ele não nos abandona. A salvação não é apenas uma esperança que temos para depois da morte. Ela começa na história. Caminhamos para a terra da promessa. Um dia chegaremos ao céu. Mas enquanto este dia não chega devemos fazer da terra um paraíso. Não é isso que rezamos no Pai-nosso?… assim na terra como no céu! Esta é a missão do cristão. Maria foi a primeira primeira a viver viver isso intensamente. Ela Ela colaborou colaborou com o plano plano salvífi salvífico co de Deus. Como diz o apóstolo Paulo, completou em sua carne o que falta à paixão de Cristo. A Igreja reflete até mesmo a possibilidade de transformar esta verdade em dogma de fé. Maria poderia poderia ser declarada declarada “corredentora” ou “colaboradora “colaboradora do redentor”. De certa forma é esta verdade que proclamamos a cada vez que rezamos a Ladainha e dizemos: Mãe do Salvador, rogai por nós.
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Virgem prudentíssim prudentíssimaa Virgo prudentissima
Q
uem não se lembra da história que Jesus contou sobre as virgens prudentes e as virgens imprudentes? (cf. Mt 25,4). O Mestre elogia aquelas mulheres que foram aguardar o noivo com as lâmpadas cheias de óleo. Algumas foram imprudentes, pois não levaram combustível suficiente. Em outra ocasião, Jesus aconselhou seus discípulos a ser “prudentes” como as serpentes e simples como as pombas (cf. Mt 10,16). A Ladainha de Nossa Senhora elogia Maria como Virgem prudentíssima. O que isso quer dizer? Temos que tomar muito cuidado com a palavra “prudência”, pois alguns teimam em entender esta virtude apenas como certo “cuidado”, quase tímido. Padre Dehon, já na França do século 19, criticava os cristãos que não assumiam o compromisso de transformar a sociedade em nome de uma discutível prudência. Ele chegou a afirmar que “Uma pessoa que quer transformar a sociedade não pode ter ideias tímidas”. Maria não tinha nada desta pseudoprudência de quem se omite. Entrei para o Seminário muito jovem e conheci um sacerdote que costumava dar palestras aos seminaristas sobre temas de espiritualidade. Lembro-me de que ele dizia que Maria é “como a mãe da gente lá em casa… mulher humilde, serviçal, silenciosa, discreta, prudente”. Eu não gostava daquela daquela Maria, Maria, ela ela não era como minha minha mãe, a Maria Maria da Glória, que é falante e toma iniciativas. Acabei descobrindo que a Mãe de Jesus não é somente silenciosa, mas fala na hora certa; não é somente discreta, mas toma iniciativas. É parecida com minha mãe. As duas são prudentes, no sentido que Santo Tomás de Aquino deu à prudência, como recta ratio agibilium , ou seja, o jeito certo de fazer as coisas. A prudência é a rainha das virtudes cardeais. Quem decide corretamente o que deve fazer acaba atraindo todas as outras virtudes, como a justiça, a fortaleza e a temperança. Tudo começa com uma boa decisão. Mas, por incrível que pareça, os indecisos acabam por levar a fama de prudentes. Na doutrina doutrina da Igreja Igreja dá-se exatamente exatamente o contrário: contrário: os firmemente decididos é que são prudentes, pois prudência é a arte de decidir. Com certeza, Maria era uma mulher decidida. São Lucas registrou o diálogo entre a Virgem e o Anjo e a decisão mais importante da história. É uma lição de prudência. Vale a pena ler o texto com cuidado. 47
Maria está em silêncio. Ouve o anjo. Fica extasiada com a experiência espiritual. Mas depois da emoção vem a razão. Põe-se a pensar no significado de tudo o que ouviu. Questiona o céu, dizendo que era solteira e não entendia como isso poderia acontecer. O anjo lhe dá as devidas explicações. Deus não exige de Maria uma fé cega. Somente após este diálogo a menina de Nazaré decide, com prudência: “Eis aqui a serva do Senhor, cumpra-se em mim a Sua promessa”. Saber decidir é ser prudente. Que Maria nos inspire a tomar as grandes decisões da nossa vida depois de algum tempo de silêncio, escuta, encanto, reflexão, diálogo, questionamento questionamento e resposta. Virgem prudentíssima, rogai por nós.
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Virgem venerável Virgo veneranda
Q
uando nós católicos veneramos Maria, não fazemos nada mais do que repetir o gesto de sua prima Santa Isabel, que disse: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito bendito é o fruto do teu ventre” (Lc 1,42). Logo Logo em segui seguida da a própria própria Maria Maria profetiza profetiza por ação do Espírito Santo: “Sim! “Sim! Doravante todas as gerações me chamarão de bendita, bendita, pois pois o todo-poderoso fez grandes coisas coisas em meu favor!” (cf. Lc 1,48). Fazemos parte desta geração que tem coragem de cumprir a profecia bíblica e dizer de Maria: “bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus”. Este é o fundamento do culto mariano. A Igreja Católica pratica o culto em espírito e verdade (cf. Jo 4,24), no qual adora o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e “venera com particular amor Maria Santíssima, Mãe de Deus” ( Sacrosanctum Concilium, nº 103), e honra com religioso obséquio a memória dos mártires e dos outros santos, conforme proclamou o papa Paul P auloo VI na sua encíclica encíclica Mariali s Cultus, em 1974. Em hipótese alguma podemos admitir a acusação superficial de alguns evangélicos de que os católicos “adoram Maria”. Se algum membro da Igreja Católica comete este desvio deve ser advertido. Maria, untamente com todos os mártires e santos e o céu inteiro, se une à terra para prestar um culto de adoração a Deus. Assim como na Bíblia, no culto cristão Maria e os santos aparecem como setas que apontam para o endereço da salvação: Jesus. Maria não é ponto de chegada. Ela é uma dica para os que querem encontrar Jesus. É bendita, abençoada, cheia de graça. Não é possível simplesmente simplesmente ignorar Maria, Maria, como alg alguns pretendem fazer, como se isso fosse aumentar a figura de Jesus. Pelo contrário, qual é o filho que não fica feliz ao ouvir elogios feitos à sua mãe? Um evangélico certa ocasião encontrou um conhecido que era bispo e reclamou: “Tenho um pouco de inveja de vocês, católicos. Eu não consigo viver em minha igreja o versículo da Bíblia em que Maria profetiza que todas as gerações a chamarão de bendita. ós não conseguimos rezar a “Ave Maria”. Temos um bloqueio histórico”. Isso é verdade. E é verdade também que já aconteceram na história da Igreja alguns abusos em que a figura de Maria acabava sendo colocada acima da de Cristo. Contra estes abusos alguns evangélicos, com justiça, reagiram. Mas daí a excluir completamente o culto mariano é um exagero que também eles poderiam aos poucos corrigir. Na verdade, Lutero, o pai da Reforma protestante, não tinha todo este bloqueio e chegou a compor músicas em honra a Maria. Não tenho ouvido essas canções nos cultos evangélicos de 49
hoje. Certamente lá no céu Jesus se pergunta: “Por que será que alguns dos que se dizem meus discípulos lá na terra nunca elogiam a minha mãe?”. Venerar Maria não é adorar. É simplesmente elogiar a ação de Deus nesta criatura. Ela é a obra-prima do Criador. Como não reconhecer tamanha ação da graça? No fundo não veneramos Maria, mas a ação de Deus na vida dela. Maria é para nós um exemplo de mulher que sabia ouvir, responder, rezar, obedecer, entregar-se a Deus, interceder, servir, seguir Jesus até a cruz, estar presente no Pentecostes. Ela é o nosso primeiro exemplo de alguém que viveu o culto em espírito e verdade proposto por Jesus. É Mãe e discípula. Venerar Maria é reconhecer essas virtudes e estar disposto a imitá-las na nossa vida. Devemos purificar o nosso culto mariano evitando todos os exageros, para edificar os irmãos na fé até o dia em que ecumenicamente possamos rezar juntos a “Ave Maria”, como o anjo Gabriel não teve vergonha de fazer; afinal, até os céus proclamam: Ave! Virgem venerável, rogai por nós.
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Virgem louvável Virgo praedicanda
A
Ladainha de Nossa Senhora, em latim, saúda Maria como Virgo prædicanda, que se poderia traduzir literalmente por “Virgem digna de ser louvada”. Não é muito difícil perceber a lista de louvores marianos que encontramos na Bíblia, na liturgia, nos escritos antigos, nos poemas e nas canções. Teólogos e artistas não economizam elogios quando o assunto é a virgem, Mãe de Deus. Corremos até mesmo o risco de cair no “maximalismo”, ou seja, num certo exagero piedoso que dá tanta atenção às qualidades de Maria que esquece de Jesus. Reagindo a isso, alguns poderiam assumir uma postura “minimalista”, diminuindo o significado de Maria na História da Salvação, sem perceber que com isso ferem a própria identidade de Jesus Cristo. Não existe filho que goste que ultrajem ou ignorem a sua mãe. Alguns elogios que Maria recebeu ficaram famosos. O anjo Gabriel a chamou de graciosa, agraciada ou cheia de graça (cf. Lc 1,28). Isabel a saudou como bemaventurada, bendita, abençoada (cf. Lc 1,43). Certo dia, Jesus pregava a Palavra de Deus e uma mulher do povo o interrompeu dizendo: “Bem-aventurado o ventre que te trouxe, e os peitos que te amamentaram” (Lc 11,27). A própria Maria reconhece de maneira profética em seu Magnificat: “Por isto, desde agora, me proclamarão bemaventurada todas as gerações” (Lc 1,48). O Concílio Vaticano II cita esse texto como ustificativa do culto da bem-aventurada Virgem na Igreja ( Lumen gentium , nº 66). Os Santos Padres, escritores da Antiguidade cristã, não economizavam elogios a Maria: rosto que emana bondade divina, morada de santidade, Mãe revestida de luz, Mãe pura em santidade, criatura que leva ao Criador, Arca da Aliança, coroa de castidade, Esposa de Deus etc. Não devemos ser tímidos ou econômicos no louvor. louvor. Louvar é um jeito de reconhecer as coisas boas criadas por Deus. Há pessoas que nunca elogiam ninguém. Se está calor, reclamam. Se está frio, acham ruim. Preferem observar sempre a vida pela sua penumbra. São profetas do mau agouro. agouro. P essimis essimistas tas por defini definição. ção. Negati Negativos vos por costume. Viciados na crítica vazia. Não conseguem dizer para Deus: “Obrigado, Senhor, por mais um dia em que acordei; por mais uma noite que vivi vivi”. ”. As pessoas felizes têm facilidade e habilidade para elogiar. Pense no marido que sempre encontra algo bonito e inusitado na sua esposa. Pense no professor que consegue estimular os seus alunos mostrando o quanto já aprenderam. Já encontrei pessoas que 51
me disseram coisas sobre mim mesmo que nunca havia percebido. Depois daquele elogio verdadeiro passei a cuidar melhor daquela qualidade que antes eu desprezava. Alguém já disse que o louvor liberta. Não iria tão longe. Quem liberta é Deus. Mas o louvor é a canção dos que foram libertados. A fé nos leva a louvar até na dor, na certeza antecipada de que tudo concorre para o bem dos que amam a Deus. A verdade é que as pessoas que adquirem o hábito de louvar a Deus acabam adquirindo a virtude de ver as coisas bonitas da vida e são mais livres e felizes. Elogiar a Mãe de Deus, portanto, é um exercício de felicidade. É bom ter mãe. Por que não agradecer por isso? Até mesmo Lutero, um dos principais promotores da Reforma protestante, do século 16, não foi tímido em elogiar Maria. Aceitava que ela é “Mãe de Deus”. Em 1523 chegou a propor festividades litúrgicas ligadas a Maria, como a festa da Anunciação. Escreveu um comentário ao Magnificat. Chegou até a compor canções em louvor a Maria. A tradição protestante posterior preferiu “esquecer” estas pérolas da sua própria tradição. Os evangélicos normalmente preferem ser econômicos nos louvores a Maria. Quanto a nós, somos parte desta geração que proclama ser Maria bem-aventurada. Virgem louvável, rogai por nós!
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Virgem poderosa Virgo potens
D
iante desta invocação da Ladainha de Nossa Senhora, alguém poderia apressadamente dizer que só Deus é poderoso e que Maria é como qualquer um dos mortais. A pressa sempre é inimiga da perfeição, e antes de fazer uma afirmação dessas seria bom refletir um pouco. É certo que todo poder vem de Deus e que somente ele é todo-poderoso, ou seja, onipotente. Mas cada um de nós tem uma parcela de poder que deve ser administrado responsavelmente. Quando dirigimos temos o poder sobre o volante. Podemos ir para o sul ou para o norte. Temos poder sobre os nossos passos. Podemos ser livres. Podemos amar. Podemos tomar iniciativas. Mas nosso poder é limitado. Nem sempre podemos fazer aquilo que gostaríamos. Até mesmo esta limitação do poder que recebemos de Deus é questionada pelo apóstolo Paulo, que diz: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fl 4,13). Maria viveu essa fé incondicional cada dia de sua vida. Ele pôde ser fiel de azaré até a cruz porque sabia em quem colocara a sua confiança. Ela é a “Virgem poderosa” que “tudo pode” no seu Filho Filho que a fortalece. fortalece. Um dos principais “poderes” de Maria é a intercessão. Ela pode e reza por todos nós. É Mãe que cuida de cada um dos seus filhos. Nós também temos o poder e o dever de rezar uns pelos outros. Devemos viver este mistério de comunhão que une o céu e a terra. A Igreja do mundo inteiro está no coração de cada um de nós. Rezamos pelas intenções do Santo Padre, o papa. Sentimos as lágrimas dos povos da terra que sofrem calamidades e guerras. Devemos ser solidários, e rezar é uma forma de solidariedade espiritual. A canção do Magnificat afirma que o Todo-poderoso fez maravilhas em Maria (Lc 1,49). Ele mostrou a força do seu braço subvertendo a lógica dos poderes deste mundo. esta terra, quem tem dinheiro tem poder. Mas Deus derruba os poderosos do seu trono. O poder de Deus é a força dos pobres. Ele exalta os humildes. Enche de bens os que passam fome e manda embora de mãos vazias os gananciosos. ananciosos. Maria Maria era de uma classe classe social humilde. Ela e José eram trabalhadores. Não viviam na corte de algum rei. Mas abrigaram o Rei dos reis na casa deles. Jamais houve nem haverá lar mais poderoso nesta terra. Naquela família de periferia o poder da salvação foi cultivado discretamente. Quando Jesus resolveu sair para anunciar o Reino de Deus, leu na igreja do bairro a leitura de Isaías que dizia: “O Espírito do Senhor está sobre mim porque me ungiu; e 53
enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres” (Lucas 4,18). Maria é uma esperança para os pobres desta terra que vivem oprimidos sob o peso de poderes opressores. Ela é a Virgem poderosa que acredita que Deus pode mais do que o ouro e a prata. Deus pode mais do que os poderes corrompidos que produzem a pobreza e até a miséria. miséria. A Igreja Igreja na América Latina, Latina, desde a Conferência dos Bispos em Medellín (1968), começou a afirmar com todas as letras a “opção preferencial pelos pobres”. Na verdade, é opção por Jesus, que disse disse que estaria estaria presente em cada desfigurado desta terra (cf. Mt 25). Todos devem optar pela solidariedade para com os pobres, também os ricos. Deus conhece o coração e a lágrima dos pobres, daqueles que não têm nenhum poder. poder. Ele Ele sabe que o pecado da ganância anância e do orgul orgulho ho produz miséria miséria entre os seus filhos. Poucos têm muito e muitos têm quase nada. Ele nos dá o poder de combater este tipo de situação. É preciso anunciar com coragem de profeta todo tipo de injustiça, mesmo que isto custe o sangue. Quantos mártires deram a vida por denunciar situações de morte e exclusão?! A nossa terra com febre também é vítima dos que acham que podem tudo. Estamos sendo ego egoístas ístas em querer comer o bolo todo. E os que virão? Que Maria nos ensine as lições da simplicidade necessária para viver mais alguns anos neste paraíso que Deus nos deu de presente, mas que alg alguns teimam teimam em cercar, queimar, queimar, dominar. Virgem poderosa, rogai por nós.
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Virgem clemente Virgo clemens cl emens
A
Ladainha de Nossa Senhora é uma lista de virtudes que servem de modelo para cada um de nós. Maria é o exemplo de como devemos viver para nos tornarmos cada vez mais parecidos com seu Filho, Jesus. Uma dessas virtudes fundamentais para o cristão é a “misericórdia”. A Ladainha a indica com esta invocação: Virgo clemens, ou “Virgem clemente”, ou ainda “Virgem benigna”. A oração da Salve-rainha indica esta mesma virtude de Maria três vezes: “Mãe de misericórdia”; “estes vossos olhos misericordiosos a nós volvei”; e no final: “ó clemente”. Esta insistência, por si só, mostra que estamos diante de uma face muito importante da Mãe de Deus, que é “rico em misericórdia”. O conselho de Jesus foi muito claro: “Sejam misericordiosos como vosso Pai do céu é misericordioso”. A Bíblia, já no Antigo Testamento, havia dado esta recomendação: “Sejam perfeitos, como vosso Deus é perfeito”. Nossa perfeição, portanto, consiste em sermos misericordiosos. É o que nos faz parecidos com Deus. Mas o que significa exatamente isso? Misericórdia seria apenas perdoar aqueles que nos ofendem? Não. É um pouco mais. Esta palavra, em latim, vem da expressão Miser cordis cordis , ou seja, coração de pobre. É uma das bem-aventuranças: “Felizes os que têm um coração de pobre”. Apesar disso existe também a bem-aventurança “Felizes os misericordiosos, pois alcançarão misericórdia”. Mais uma vez esta virtude aparece como central, fundamental, insistente. O Antigo Testamento, ao falar de misericórdia, não usa a palavra “coração”, mas útero. O misericordioso é aquele que tem espaço interior para acolher a vida, as pessoas. Deus tem materna misericórdia. Fomos gerados em seu divino “útero”. Ou seja, ser misericordioso como Deus é ter espaço no coração para os irmãos. É promover a vida! Maria é exemplo de misericórdia. Ela teve ouvidos para ouvir a proposta do anjo Gabriel. Teve espaço interior para acolher o Filho de Deus no seu útero. É virgem misericordiosa e benigna. Esteve atenta às necessidades de sua prima Isabel. Ouviu. Serviu. Esqueceu de si mesma. E nas bodas de Caná? Enquanto todos comiam e bebiam, o olhar atento da mulher clemente percebeu que havia um problema. A sua misericórdia a levou a falar com seu Filho. É sinônimo de sensibilidade, de atenção, de zelo. Ao invocarmos a Virgem clemente, devemos pedir que ela interceda por nós para que possamos viver viver esta virtude virtude que nos torna atentos e solíci solícitos tos às necessidades dos irmãos. 55
Uma das características típicas do coração de pobre, do misericordioso, é a capacidade de fazer perguntas e ouvir as respostas. Existem pessoas que sempre querem falar de si mesmas e não percebem que a pessoa que está ao seu lado precisa de um par de ombros para chorar, mais que de palavras e conselhos. O mundo de hoje está carente de pessoas que ouçam. A Bíblia diz que “Maria ouvia todas as coisas e as conservava em seu coração”. Ela nos ensina que não basta ouvir. É preciso “escutar”, ou seja, acolher a palavra palavra no coração. c oração. Quando escutamos a P alavra alavra de Deus, podemos simpl simplesmente esmente ouvir. ouvir. Mas aquele que tem um coração aberto, disponível e solidário conserva esta Palavra no seu interior como uma semente que depois cresce até dar muito fruto. Os misericordiosos têm “útero” para gerar Deus no seu interior. A “Palavra” se faz “Carne”. Quando pensamos em pessoas como madre Teresa de Calcutá, logo pensamos: “Aí está um exemplo de misericórdia”. Sim, ela praticou as tradicionais obras de misericórdia de modo exemplar: deu de comer a quem tinha fome, vestiu os nus, consolou os aflitos, ajudou muitos a morrer com dignidade. Mas para isso foi necessário que seu coração tivesse espaço para estas pessoas excluídas da sociedade. Neste nosso mundo pósmoderno, construído sob o signo do individualismo e da solidão, a misericórdia poderia perfeitamente perfeitamente ser traduzida traduzida como “soli “solidariedade”. dariedade”. P oderíamos refazer a Ladainha Ladainha de ossa Senhora e invocar: Virgem solidária, rogai por nós!
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Virgem fiel Virgo fidelis
M
aria foi fiel de Nazaré até a cruz. Sua fidelidade não se resume aos momentos de festa e de alegria. Estava junto ao seu Filho durante suas andanças e pregações. Ouvia atentamente. Via o seu pequeno crescer em idade, sabedoria e graça, diante de Deus e de todos os homens. Sabia que aquele garoto era diferente. A promessa do anjo Gabriel ia se cumprindo diante dos seus olhos. Mas seu olhar não era como o de tantos que apenas viam no mestre da Galileia um multiplicador de pães, pregador eloquente, profeta das multi multidões. dões. Muitos Muitos viam viam nele nele apenas estes aspectos mais exterio exteriores res e espetaculares. Realmente, a fé de muitos era em um messias desta terra; alguém que poderia poderia até mesmo liderar liderar o povo para vencer a opressão dos romanos. Os discípulos discípulos do partido partido zelote, zelote, como P edro e Judas, acreditavam acreditavam que o “Reino” “Reino” havia havia chegado chegado com a vinda de Jesus. Sua fé deveria amadurecer. Mas Judas preferiu acreditar em um messias humano demais. Pedro deu provas de uma fé maior. Teve que superar as esperanças puramente terrenas para ver em Jesus um messias messias que anunciava anunciava um reino reino que não é deste mundo. Ele anunciava o Reino do Céu. Nem Pedro, nem Judas tiveram fé suficiente para estar ao pé da cruz. Maria estava lá. A sua fé fez dela a primeira cristã. Maria é a única pessoa em toda a história da humanidade que participou do antes, do durante e do depois. Estava no tempo da promessa, antes de Cristo. Acompanhou cada passo do seu Fil Filho. Viveu no tempo da Igreja, Igreja, inaug naugurado urado em P entecostes. A Bíblia Bíblia diz de modo lapidar: “E Maria estava lá!”. Realmente, quem ama se faz presente. Mas o amor é expressão da fé. A fé é a visão antecipada daquilo que os olhos ainda não podem ver. É o sol que está para além das nuvens. É a bela visão que se encontra para além daquela curva na estrada. Muitos doentes terminais testemunham a fé de um modo totalmente diferente. Parece que são capazes de viver nesta terra a dimensão do céu. O apóstolo João também estava ao pé da cruz. Certamente foi levado por Maria. O amor o levou. A fé o sustentou. A esperança o alimentou. Quando, já na velhice, João escreveu seu Apocalipse, disse uma frase que resume tudo isso: “Sejam fiéis até a morte” (Ap 2,10). Ele recordava a fé da Mãe e a fé do Filho, que tinham seu momento de prova no calvário. Maria estava de pé junto à cruz. Chorava sim. Quem crê não perde a capacidade de sentir. Ser um cidadão do céu não significa tirar os pés da terra. Continuamos a precisar do pão nosso de cada dia. Mas quem tem fé vive melhor. Quem não crê dificilmente ama e quase sempre se desespera. A fé é aquela força interior que nos faz dar um passo a mais quando tudo parece já perdido. Lembro da imagem daquela mulher que corria a maratona. Precisou do fôlego da fé para dar os últimos dez passos. Venceu e caiu. A fé nos fortalece. 57
É muito pobre uma fé que se resume em crer nos enunciados e dogmas. Hoje há pessoas que em nome da fé matam e morrem. O fundamentali fundamentalismo passa long ongee da fé verdadeira. Um terrorista nunca sorri com serenidade. Pessoas de fé são serenas e amorosas. Dão a vida. Jamais a tiram. O papa Bento XVI lembrou aos jovens naquele encontro memorável do Pacaembu, em um 10 de maio: “Vossos bosques têm mais vida… diz o vosso hino nacional”. Bela lembrança. Quem tem a força da fé luta pela vida. Não permite que leis de morte imperem na sociedade. A vida é teimosa. Quem tem fé teima em preservar a vida. Maria perseverou até o fim. Que a Virgem fiel nos inspire a darmos um passo a mais, da alegre Nazaré ao desafio da nossa cruz de cada dia. Erga os olhos. Olhe para o céu. Depois da nuvem o sol continua lá… do nascente ao poente! Mesmo na chuva, mesmo na dor. Virgem fiel, rogai por nós!
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Espelho de justiça (perfeição) Speculum justitiae justi tiae
A
lgumas invocações da Ladainha de Nossa Senhora à primeira vista parecem não fazer muito sentido. Uma delas é esta: chamar Maria de “Espelho de justiça”, em latim Speculum justitiae. Atualmente a forma oficial da Ladainha prefere chamar Maria de “Espelho de perfeição”. Santidade, justiça e perfeição são palavras de significado bastante próxi próximo na Sagrada Escritura. Escritura. É viver viver a nossa vocação fundamental, fundamental, que consiste em sermos “imagem e semelhança de Deus”. É o que Paulo traduziu na belíssi belíssima ma expressão “Já não sou eu que vivo; é Cristo que vive em mim”. Na verdade este é o primeiro primeiro de uma série série de “títulos fig figurados” que serão listados na Ladainha. Você deve lembrar que os primeiros títulos chamavam Maria de “Mãe”. Depois vem uma série de invocações de Maria como “Virgem”. A terceira coleção é composta por estes títulos figurados como: Sede de sabedoria, Fonte de nossa alegria, Vaso espiritual, Rosa mística etc. A última coleção de títulos invocará Maria como “Rainha”. Estas invocações “figurativas” não são apenas fruto da inspiração de algum poeta. ormalmente as raízes podem ser encontradas nas páginas da Bíblia. Espelho de justiça ou, em outra tradução, Espelho de perfeição inspiram-se no livro da Sabedoria: “A Sabedoria é reflexo da luz eterna, espelho nítido da atividade de Deus e imagem da sua bondade” (Sb 7,26). É também uma alusão alusão a uma frase de P aulo aulo na carta aos Coríntios: “Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então o veremos face a face” (1Cor 13,12). Contemplamos Jesus na face de Maria, como que por um espelho. Quem vê a Mãe enxerga o Filho. Ela é um espelho que reflete “o justo”, “o perfeito”, o “santo”. Na verdade Maria Maria prefigu prefigura ra aquil aquilo que cada um de nós deve se tornar ao long ongoo da própria própria vida. vida. Devemos crescer em santidade santidade e justiça, justiça, diante diante de Deus e diante diante das pessoas. Somos chamados à santidade. santidade. Cada dia dia é um passo a mais. mais. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Mas o pecado como que “sujou” este espelho. Por isso, não era mais possível ver a face de Deus nos nossos olhos. Nossa vida é uma luta permanente para recuperar o nosso “brilho” “brilho” orig original. inal. O Espírito Espírito Santo age age nos nossos corações socorrendo-nos com sua força. Ele é a Água Viva que limpa o espelho de Deus que trazemos no coração. Um dia poderemos dizer com Paulo: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Seremos, a exemplo de Maria, espelhos de 59
santidade! Já me aconteceu de conhecer pessoas com uma santidade toda particular. Chama a atenção o olhar dessas pessoas. Muitos já testemunharam a força dos olhos de uma madre Teresa de Calcutá, ou mesmo do papa João Paulo II. Conheci pessoas doentes, em estado terminal, mas que tinham uma força no olhar. Foram purificadas pelo sofrimento e descobriram valores mais profundos que a maioria dos mortais demora uma vida inteira para descobrir. Todos estes olhos são espelhos da alma. São pessoas que refletem o brilho dos olhos de Cristo. Já conheci religiosas de clausura que dedicam a sua vida a contemplar Jesus na Eucaristia. Vivem na terra o que viveremos no céu. Olhar nos olhos de uma dessas carmelitas, clarissas, monjas passionistas ou sacramentinas nos faz entender o que significa este tal de “espelho de santidade”. Imagino como não deve ter sido o olhar de Jesus para aquela pecadora que ia ser apedrejada, quando disse: “Nem eu te condeno!”. Imagino os olhos do mestre olhando para a samaritana, samaritana, junto ao poço de Jacó, e dizendo: dizendo: “Se conhecesses o dom de Deus…”. Como seria o seu olhar para Pedro ao perguntar: “Pedro, tu me amas?”? E para João, na cruz: “Eis “Eis aí a tua mãe”. E como seria seria a troca de olhares olhares entre Jesus e Maria? Ela, a única que o viu em todas as idades, refletia o seu olhar nos seus próprios olhos. Peçamos por sua intercessão esta graça de sermos imagem viva de Jesus. E um dia, ao encontrarmos um pobre… olhemos bem no fundo dos seus olhos… e veremos que também ali podemos encontrar, como que num espelho, um reflexo vivo dos olhos de Jesus! E um dia, ao olharmos para Deus face a face, ele nos dirá: “Venha para a festa, porque eu estava com fome, frio, sede e você me acolheu” acolheu” (cf. Mt 25). E perguntaremos: perguntaremos: “Como o Senhor sabe disso?”. disso?”. E ele ele nos responderá: “O bril brilho do meu olhar nos pobres ficou estampado nos seus olhos, pelo gesto de solidariedade”. Então entenderemos que a caridade cobre uma multidão de pecados e nos torna mais Filhos de Deus. Espelho de justiça, rogai por nós!
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Sede da sabedoria sabedoria Sedes Sapientiae
C
ontinuamos a meditar sobre a sequência de “invocações figurativas” da Ladainha de Nossa Senhora. Lembro bem dos meus tempos de criança criança no Seminário. Seminário. Os padres professores, no início nício de cada aula, aula, após uma breve oração, invocavam a intercessão da “Sede da Sabedoria”. Sinceramente, nunca pensei muito no significado daquela invocação. Mais tarde aprendi a dizer o mesmo em latim, Sedes Sapientiae, mas continuei a rezar mecanicamente, como fazemos muitas vezes. É muito bonito quando descobrimos o significado das orações mais antigas, para além da mera repetição de palavras. palavras. Maria é a Sede da Sabedoria porque durante nove meses abrigou no seu ventre a própria própria Sabedoria divi divina, na, que é Jesus. Se folhearmos as páginas páginas da Bíblia, Bíblia, encontraremos no Antigo Testamento, no segundo livro das Crônicas, no capítulo 9, uma magnífica descrição do trono de Salomão, o grande rei de Israel que construiu o Templo de Jerusalém. Ele ficou famoso por ser o mais rico e poderoso de todos os reis de Israel, mas quando Deus lhe permitiu fazer seus pedidos Salomão não pediu nem ouro, nem poder. poder. Apenas pediu pediu sabedoria sabedoria para go governar vernar o seu povo. Acabou ficando ficando rico rico e poderoso, pois um homem verdadeiramente sábio acaba conquistando conquistando também a riqueza. riqueza. O rico e majestoso “trono de Salomão” passou a ser conhecido como a “Sede da Sabedoria”. Era o lugar onde sentava o “grande e sábio rei do povo de Deus”. A tradição cristã reconheceu naquela “sede humana” uma figura de Maria, a verdadeira Sede da Sabedoria. No seu colo, o rei dos reis foi acolhido, protegido, e ali aprendeu a balbuciar as primeiras palavras. Quando olhamos para uma imagem de Maria com o menino nos braços podemos facil facilmente imaginar maginar que ela ela é o trono e ele ele é o Rei; ela ela é a sede, ele ele aquele que reina sobre todos os povos da terra. Vamos dar mais um passo. Assim como o trono de Salomão prefigurou a maternidade de Maria, o colo da Mãe de Deus prefigura o trono do Altíssimo, de onde Jesus virá para julgar os vivos e os mortos. Haverá um juízo final. Temos uma bela descrição deste momento no evangelho de Mateus, no capítulo 25. Os que forem solidários entrarão no Reino dos Céus. Os egoístas irão para o castigo eterno. Assim como o rei Salomão era sábio para julgar pequenos conflitos, Jesus é a própria Sabedoria encarnada que julgará o mundo com justiça. Nós também somos chamados a abrig abrigarmos em nossa vida vida e em nossos corações a Sabedoria do Alto. O Espírito Santo nos dá este dom precioso. Precisamos ser assim como a Mãe de Deus: sedes de sabedoria. Esta palavra é mal compreendida. Sabedoria 61
não é apenas “saber”; significa sentir o “sabor” das coisas de Deus. O sábio é aquele que vê com os olhos do alto e não apenas segundo os critérios deste mundo. Há pessoas que nos impressionam pela sua inteligência, mas nem sempre são sábias. Possuem títulos e vencem eleições mas fazem coisas que até Deus duvida. Não é assim com nossos frequentes episódios de corrupção na política? Existem também pessoas bastante simples mas que possuem uma sabedoria de vida que vem do Alto, de Deus, do seu Espírito. Um conselho de alguém verdadeiramente sábio pode mudar todo o rumo de uma vida. Outros dons do Espírito são a sabedoria vista de vários ângulos: ciência, inteligência, discernimento etc. Nas aulas da vida, peçamos sempre a intercessão daquela que foi a primeira primeira professora de Jesus. Sede da Sabedoria, rogai por nós!
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Causa (fonte) da nossa alegria Causa nostrae laetitiae
A
legria é bem diferente de euforia. Não é apenas um estado de ânimo passageiro. É o primei primeiro ro fruto do Espírito. Espírito. A alegri alegriaa sempre é espirit espiritual ual.. A primeira primeira palavra palavra que o anjo Gabriel falou a Maria, no dia da Anunciação, foi justamente: “Alegra-te”. A diferença entre alegria eterna e euforia passageira pode ser verificada no dia seguinte. Você participou de uma grande festa. Como estará no dia seguinte? Satisfeito ou com ressaca? O Carnaval costuma produzir tristeza de cinzas, na quarta-feira! Um gesto de solidariedade para com uma pessoa carente enche nosso coração de alegria. Compreendeu a diferença? diferença? Mas por que a Ladainha chama Nossa Senhora de “Causa de nossa alegria” ou, na forma mais atual, “Fonte de nossa alegria”? É que o pecado da humanidade causou uma grande “ressaca”. Pecar costuma deixar a gente com um peso… e não apenas na consciência. Com o pecado, tudo se torna mais feio e nublado… até aquilo que é belo. O pecado produz doença e depressão. P or isso, segui seguir Jesus com o coração arrependido arrependido e livre é uma fonte de grande alegria. Maria é causa desta alegria, pois disse sim! Como afirma Santo Ireneu, o nó da desobediência de Eva foi desfeito pela obediência de Maria. O primeiro a sentir esta alegria pela chegada do Salvador foi seu primo João Batista, ainda no ventre da sua mãe, Isabel. A cena é belíssima. Maria ficou sabendo, por meio do anjo, que sua prima estava no sexto mês de gravidez. Não havia correio, telefone ou e-mail. A cidade de Nazaré ficava a 120 quilômetros de Ain Karin, onde morava Isabel. Aparentemente Maria foi sozinha. Fico imaginando que esta é mais ou menos a distância entre minha cidade natal, Brusque, em Santa Catarina, e a nossa bela capital, Florianópolis, onde moram alguns dos meus familiares. Sei o que significa visitar alguém que mora a cem quilômetros. Mas sempre fui de carro. Imagino o que significaria fazer este caminho a pé. É também, mais ou menos, a distância entre a cidade onde moro hoje, Taubaté, e São Paulo. Quando Maria finalmente chegou, a surpresa de Isabel foi imensa. Ela ouviu uma saudação: “Isabel!!!”. O menino estremeceu de alegria em seu ventre pela visita de Maria, que trazia o Salvador no seio (Lc 1,44). Isabel começou a dizer: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu vente. Donde me vem a honra de que a mãe do meu Senhor venha me visitar?”. Veja, Maria é a “causa da alegria” de Isabel, porque ela reconhece o senhorio de Jesus. Maria sempre anuncia a chegada do Rei. Quem está 63
próxi próximo de Maria Maria está perto de Jesus. Ela Ela é também Causa de nossa alegri alegria, a, como canta a Ladainha. Vivemos num mundo triste. Abrimos as páginas do jornal e delas verte sangue. A TV é repleta de péssimas notícias. Nossos jovens têm um jeito triste, quando dominados pela droga, pela violência e por uma vida sexual irresponsável. O que fazer? Devemos seguir o exemplo da Mãe de Deus: sair do nosso cantinho e levar Jesus para os irmãos. Se Deus está dentro do nosso coração, o nosso olhar, uma palavra de saudação, um gesto de ternura farão o menino interior de alguém estremecer de alegria. Precisamos aprender esta lição da missionária de Nazaré. Não podemos permanecer acomodados em uma religião que busca apenas a satisfação do rito. Cristão que não evangeliza não é cristão, é tristão. Um exemplo inconfundível da divina alegria é Francisco de Assis. Deixou todas as riquezas e foi viver como pobre. Ao contrário, aquele jovem do evangelho tinha tudo para conquistar conquistar a aleg alegria ria do céu, mas preferiu ficar com suas riquezas. riquezas. O evangelh evangelhoo diz diz que ele foi embora “triste”. Que aquela que se alegrou em Nazaré seja também a causa da nossa alegria! Causa de nossa alegria, rogai por nós!
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Vaso espiritual Vas spirituale
J
á vimos que a Ladainha é uma pedagogia da fé. É um jeito de falar, ou melhor, rezar as verdades reveladas pelo Coração de Deus. Maria é um reflexo vivo destas verdades. Foi a catequista de Jesus. Imagino que ela tenha lhe ensinado não somente os primeiros primeiros passos, mas também as primeiras primeiras palavras. palavras. Ela Ela ensinou ensinou o próprio próprio Caminho a caminhar, ensinou a Verdade a falar, ensinou a Vida a viver! Estamos comentando um conjunto de invocações da Ladainha que usam metáforas que podem parecer estranhas ou distantes de qualquer significado importante. Mas não se iluda, são fórmulas que têm fundamento na Bíblia e na Tradição da Igreja. Chegamos agora ao conjunto de três invocações muito parecidas. Maria é chamada de “vaso”: Vaso espiritual, Vaso honorífico e Vaso insigne de devoção. É uma alusão ao texto do Evangelho de Lucas (1,35), quando o anjo Gabriel responde à pergunta da jovem de azaré: “Como acontecerá isso?” A anjo respondeu: “O Espírito Santo virá sobre ti e te cobrirá com sua sombra”. Maria é este “vaso de barro”, portanto, representa toda a humanidade. Mas dentro deste vaso foi derramado o Espírito Santo de Deus. Por isso, é um “vaso espiritual”. Esta imagem do Espírito como aquele que cobre com sua sombra está presente já na primeira primeira página página da Bíblia. Bíblia. Ali se conta que no princípi princípioo a terra era informe e vazia; vazia; e o Espírito pairava sobra as águas. Esta imagem é comum até mesmo em outras religiões. A presença protetora de Deus é comparada com uma nuvem que protege protege o povo do deserto da força do sol. Naqueles quarenta anos de andanças, o povo se acostumou a ver na nuvem um sinal da providência de Deus. Não raro ela era chamada de “glória”. Moisés entrava na tenda principal e a nuvem a cobria com sua sombra. Quando ele saía de lá, seu rosto brilhava! No Novo Testamento temos a imagem forte da nuvem que envolve envolve Jesus no monte Tabor. O papa João Paulo II disse no documento Vita Consecrata, dedicado aos religiosos, que aquela nuvem do Tabor é símbolo do Espírito Santo. Ela envolveu e transfigurou Jesus. Esta é a missão do Espírito nas nossas vidas, encher-nos com a graça de Deus de modo a que sejamos transfigurados, transbordantes. Deus quer nos dar o seu Espírito, sem medida. Todos nós somos vasos espirituais. Recebemos o banho batismal. Mas podemos deixar este vaso com apenas um pequeno gole de água; podemos ser cristãos medíocres. Podemos ainda deixar o vaso pela metade; fazer apenas o absolutamente necessário: vamos à missa, confessamos uma vez por ano e rezamos às vezes, quando a coisa aperta. Mas podemos também seguir o exemplo de Maria e 65
sermos vasos espirituais “cheios de graça”, plenos do Espírito Santo. Então de nossos corações brotarão rios de Água Viva. Seremos fontes. Saciaremos o mundo com a bênção e a paz. Olhando para Maria como “vaso espiritual” percebemos que ela é humana como um vaso de barro; é humana como nós. Mas é plena de graça como devemos ser. Que ela interceda por nós junto ao seu Filho. Vaso espiritual, rogai por nós!
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Vaso honorífico (Taber (Tabernáculo náculo da eterna glória) Vas honorabi honorabile le
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epois de titular Maria como vaso espiritual” a Ladainha a chama de “Vaso honorífico”. Atualmente a forma divulgada da Ladainha substitui esta invocação por “Tabernáculo da Eterna Glória”. Novamente podemos rezar a invocação sem pensar demais nem buscar fundamentos para a prece. É certo cer to que não devemos racional racionaliizar demais demais a oração. Mas é sempre bom refletir sobre o que rezamos. Como aconselha o apóstolo Paulo: “Rezai com o espírito, mas rezai também com a inteligência”. Já vimos que chamar Maria de “vaso” significa reconhecer nela a sua humanidade, a sua fragilidade… feita do mesmo barro que nós. Somos todos vasos na mão do mesmo Divino Oleiro. Mas e este adjetivo, “Honorífico”? Não seria a negação da humildade que marcou a vida de Maria? Exatamente o contrário. Porque ela foi serva é que se tornou rainha. Ela realizou o que seu Filho iria ensinar: “os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros… quem quiser ser o maior seja o servo de todos”. Aliás, seu canto magnífico profetizou esta vitória dos pobres: “O Senhor fez em mim maravilhas; derrubou do trono os poderosos e os humildes exaltou!” Diz ainda: “Todas as gerações hão de chamar-me de bendita”. Vivemos num tempo no qual as pessoas facilmente vendem a sua honra. O filósofo Maquiavel ensinava aos políticos: não interessa o que você é, mas o que o povo pensa que você é! Parece que muitos aprenderam muito bem esta lição. Por isso se gasta tanto em marketing eleitoral. É preciso maquiagem e mais maquiagem. O candidato tem que parecer do jeito jeito que o povo quer ver. Depois do voto vemos a realidade: realidade: corrupção, voto em favor do aborto, falta de decoro parlamentar, roubo e até crime organizado. O que falta na vida pública de nosso país é o sentido da honra. Homens e mulheres de caráter preservam a sua honra. Hoje este valor valor anda em baix baixa, mas já houve um tempo em que pessoas honradas ocupavam lug lugar de destaque na sociedade. sociedade. Este é o sentido sentido dos títulos e medalhas de honra ao mérito. Alguns acabaram procurando mais o título e a medalha do que o motivo que leva alguém a receber esta condecoração. Há pessoas que têm medalhas de papel. Não fizeram nada para recebê-las. Há câmaras de vereadores que distribuem títulos de cidadão honorário como forma de chamar a atenção para este ou aquele vereador. Uma universidade pode dar um título de doutorado honoris causa, mas a pessoa tem que de fato merecer. Não é porque falta àquele político de destaque um diploma de curso superior que ele automaticamente está apto a receber este título. É 67
preciso preciso “honrar” algum algum universo do saber. A Igreja declara alguns santos “doutores da Igreja”. João Paulo II declarou Santa Terezinha (1873-1897), doutora da infância espiritual. Sua pequena via é um caminho espiritual original e inteligente, próprio para o nosso mundo moderno, que em geral busca as grandes coisas. A santidade pode estar no quotidiano, no gesto simples, no sorriso. Hoje, Santa Terezinha tem a honra dos altares para nos iluminar com o seu exemplo e as suas lições. Este tipo de honra vale à pena. O apóstolo Paulo, em sua segunda carta ao jovem Timóteo, utiliza esta imagem do vaso. Parece que foi daí que a Ladainha tomou emprestada a expressão “Vaso honorífico”: “Numa grande casa não há somente utensílios de ouro e de prata mas também de madeira e de barro. Aqueles para ocasiões especiais, estes para uso diário. Quem, portanto, se conservar puro e isento dessas doutrinas, será um utensílio nobre, santificado, útil ao seu possuidor, preparado para todo uso benéfico” (2Tm 2,20-21). Olhando para Maria como “Vaso honorífico”, lembramos que ela foi fiel e humilde. Respondeu à graça de Deus com seu esforço. Foi uma mulher de honra. Vaso honorífico, rogai por nós!
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Vaso insigne de devoção (Moradia consagrada a Deus) Vas insigne devotionis
A
companhando atentamente as invocações da Ladainha de Nossa Senhora, percebemos que por três vezes ela ela recebe o título título de “V “Vaso”. aso”. Já comentamos o significado das duas primeiras invocações: Vaso espiritual e Vaso honorífico. Agora vejamos o que significa chamar Maria de “Vaso insigne de devoção”. No formato da Ladainha atualmente divulgado oficialmente pela Igreja, estas três invocações são concentradas em apenas uma: “Vaso espiritual”. Em lugar desta foi incluída “Moradia consagrada a Deus”. Neste nosso comentário achamos por bem comentar a forma mais antiga, que ainda é utilizada pela maioria das pessoas. A palavra “devoção” significa “dedicação a Deus”. Uma pessoa devota é alguém que se dedica às coisas da sua religião. Temos muitos católicos apenas de nome; são os “não praticantes”. praticantes”. Temos também aqueles aqueles que praticam praticam apenas a penas minimamente. minimamente. Vão à missa missa no domingo; rezam antes das refeições; participam ativamente da Semana Santa; uma vez por ano até se confessam. Mas exi existem aqueles aqueles para os quais quais a reli religião é gênero de primeira primeira necessidade. necessidade. Vão à missa missa até em algu alguns ns dias dias de semana; rezam o terço; promovem a novena em e m sua rua; particip participam am de alg algum movimento movimento ou pastoral; pastoral; procuram ler livros sobre a sua fé; assistem a TVs católicas; são dizimistas; contribuem com alguma obra de evangelização; entram na igreja e sentem que ali é sua casa; educam os filhos na fé… O “devoto” é alguém equilibrado na sua devoção. Não se trata de viver a religião de modo exagerado ou fundamentalista. Estes normalmente são devotos apenas de si mesmos e confundem religião com idolatria. Criaram um “deus à sua imagem e semelhança” e desqualificam a visão religiosa dos irmãos. São pessoas mal-humoradas e tristes. Aliás, este tipo de exagero leva à violência. Devoção é uma expressão de amor. O devoto é alguém dedicado, disponível, de coração aberto. O devoto reza, mas também trabalha; vive aquilo que Jesus disse: “Tudo o que fizerdes ao menor dos meus irmãos é a mim que o fazeis”. O verdadeiro devoto é aquele que entendeu que a autêntica espiritualidade passa pela ponte da solidariedade com os irmãos. Agora fica fácil entender o que significa chamar Maria de “Vaso insigne de devoção”. 69
ão estamos afirmando aqui que ela é objeto do nosso culto ou da nossa devoção. Ao contrário, reconhecemos nela um modelo de mulher “devota”, ou seja, toda “dedicada” às coisas de Deus. De Nazaré até a cruz, ela sempre se fez presente. No Pentecostes ela também estava lá. Foi a única pessoa da história da humanidade que acompanhou o evento Cristo antes, durante e depois. Dedicou-se a esta obra sagrada com toda a sua alma. Isto é verdadeira devoção. Hoje contemplamos o triste quadro de mães que não se “dedicam” aos seus filhos. Muitas nem mesmo querem ser mães. Falta “devoção materna”. Existem até aquelas que matam seus filhos quando nascem ou simplesmente os abandonam. O aborto teima em ser qualificado como “legal”. É a total falta de devoção. A invocação Vas insigne devotionis, como se diria em latim, nos recorda o modelo de uma mulher que tinha tudo para ser rejeitada rejeitada pelo pelo seu noivo noivo e pela pela sociedade. sociedade. Não abortou o Fil Filho de Deus. Mais Mais que isso, ela o acolheu com devoção. Em alguns lugares esta invocação é traduzida como “Casa consagrada a Deus”. É uma bela expressão. Devoção é o mesmo que consagração. Maria viveu totalmente “consagrada” a Deus. Poderíamos dizer que a “consagração a Maria” é mais uma “consagração a Deus a exemplo de Maria”. A sua dedicação, a sua consagração, a sua devoção nos estimulam a dar este passo e viver como devotos, praticantes, militantes, consagrados! Mas e o fundamento bíblico desta invocação? Lembra daquela história do “milagre do óleo” realizado pelo profeta Eliseu? (cf. 2Rs 1,1-7). A pobre viúva não tinha com que alimentar seus filhos. O profeta a mandou pedir vasos aos vizinhos, e o pouco óleo que tinha em casa foi milagrosamente multiplicado e encheu todos os vasos. Moral da história: os milagres de Deus passam pela nossa dedicação. Encha o vaso de óleo e o milagre acontecerá. Maria fez assim. Vaso insigne de devoção, rogai por nós!
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Rosa mística Rosa mystic mystica a
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ste é um dos títulos mais populares de Maria. A rosa é a rainha das flores. Maria é a rainha do Jardim de Deus. A beleza simples e o perfume inconfundível da rosa fazem dela a flor preferida dos apaixonados. Maria é a obra-prima da Criação. É um ícone de beleza espiritual. É modelo para todo cristão. É uma verdadeira “Rosa mística”.
A Bíblia, no Antigo Testamento, já conhecia esta flor. O livro do Eclesiástico fala várias vezes da rosa como metáfora da sabedoria de Deus. Esta “rosa mística” é cultivada em Jericó (cf. Eclo 24,14). Os filhos de Deus também são exortados a “crescer como a roseira plantada na beira da água corrente” (Eclo 39,13). O sumo sacerdote “Simão” (220-195 a.C.) é elogiado como alguém que se comprometeu com o Deus do povo e com o povo de Deus: “era como a flor flor da roseira roseira em dia dia de primavera” primavera” (Eclo (Eclo 50,8). Assim como a Bíblia, nossa tradição sempre ligou a rosa às mães. Esta flor é um dos presentes preferidos no mês de maio. É belo belo ver uma criança criança oferecer um botão de rosa para sua querida querida mãe. Talvez Talvez por isso isso uma das preces mais populares populares de todos os tempos se chame Rosário, ou seja, Rosas para Maria. Entre nós, recentemente, ficou muito popular a imagem de Nossa Senhora da Rosa Mística. Quem nunca viu a imagem de Maria com três rosas no peito? A origem desta devoção está no norte da Itália, na região da Brescia, onde uma mulher muito simples do povo, chamada Pierina Pierina Gill Gilli (1911-1991), (1911-1991), teve alg algumas visões que foram discerni discernidas das pela Igreja como edificantes. Um primeiro ciclo de visões aconteceu no final da década de 1940 e um segundo ciclo na década de 1960. As mensagens de Maria Rosa Mística a Pierina sempre apontavam para três temas fundamentais: oração, sacrifício e penitência, representados respectivamente pelas rosas branca, vermelha e amarela. O objetivo destas práticas práticas espirit espirituai uaiss seria seria reparar as ofensas praticadas praticadas contra Deus, princi principal palmente mente pelas pelas “almas consagradas”, mas também por todos os batizados. Pierina sofreu na própria pele a doença e também as dificuldades econômicas, típicas do tempo em que viveu, entre a primeira primeira e a segunda segunda guerras mundiais mundiais.. Neste contexto, contexto, a mensagem mensagem da Virgem adquire adquire um significado todo especial. A cor das rosas tem ainda outro sentido. A rosa branca aponta para a necessidade de oração para reparar os pecados de todos os religiosos e religiosas que não vivem de modo coerente com sua vocação. A rosa vermelha recorda a necessidade de sacrifício de reparação pelos religiosos que vivem em estado de pecado mortal. E, finalmente, a rosa amarela é uma recordação da necessidade de penitência reparadora pelos sacerdotes que estão traindo a sua vocação e especialmente para que 71
sejam cada vez mais santos. Durante a minha infância, apesar de ser descendente de italianos vindos da região da Brescia, não conheci a devoção à Rosa mística. Porém, desde criança tocava uma canção nas missas da paróquia da minha cidade natal: “Maria, minha Mãe, Maria!”. A letra diz a certa altura: “… cultivo um jardim de rosas, que não têm espinhos pra te machucar. Cultivo um jardim tão lindo, rosas perfumadas pra te ofertar!”. Quando gravei o meu primeiro disco tive o cuidado de incluir esta canção evocando as memórias da infância. Até hoje recebo inúmeros testemunhos de pessoas que são tocadas por esta canção. Algumas conversões de maridos me surpreendem. Um deles recentemente pediu que eu cantasse esta canção em uma apresentação musical. Ao cantar, as lágrimas rolaram. Fiquei impressionado por ver de que modo as flores podem mudar o coração das pessoas. É claro que não falo das flores desta terra. Maria é uma flor no jardim de Deus. Ela não é o néctar da salvação. Não é deusa. Mas tem a capacidade de uma flor de atrair todas as abelhas e beija-flores por sua beleza. Ao nos aproximarmos da flor acabamos encontrando aquilo que ela esconde no seu interior: a mística do céu, o segredo da vida, a salvação. Infeliz de quem rejeita a beleza exterior; infeliz de quem não se aproxima de Maria. Como diz o poeta Cartola: “Queixo-me às rosas, mas que bobagem, bobagem, as rosas não falam, falam, simpl simplesmente esmente as rosas exalam exalam o perfume que roubam de ti”. Rosa mística, rogai por nós!
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Torre de Davi Turris dav davidica idica
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ada invocação da Ladainha esconde na sua metáfora uma das virtudes de Maria. Repetimos estas invocações com o desejo de aplicar nas nossas próprias vidas estas virtudes. É como se a Ladainha fosse um livro didático e Maria a professora. Com ela aprendemos os caminhos da santidade. O que poderia significar esta invocação: “Torre de Davi”? O significado sempre deve ser buscado nas páginas da Bíblia. Neste caso temos que visitar o primeiro livro dos Macabeus, capítulo 1, versículos 33 e 34. Ali encontramos a afirmação de que a cidade de Davi, fortificada com sólidas torres, havia se tornado uma fortaleza invencível. As cidades antigas precisavam de muralhas para defender-se dos ataques inimigos. Nestas muralhas erguiam-se as torres onde as sentinelas vigiavam noite e dia. Somente em uma cidade bem fortificada o povo poderia se sentir seguro. Maria é esta mulher forte que Deus colocou como sentinela na vida do seu Filho, Jesus, conhecido como Filho de Davi. Ela está atenta também à vida de cada um de nós e intercede junto ao seu Filho. Um episódio no qual isso aparece com clareza são as bodas de Caná. Como boa sentinela, Maria percebeu que faltava vinho naquela festa. Conhecemos a história. Ela continua presente nas nossas festas da vida vida e sabe o que nos falta. falta. A mãe sempre sente ou pressente o que falta falta na vida dos seus filhos. filhos. É uma torre forte e atenta. Outra torre que é famosa nas páginas da Bíblia é a Torre de Babel (Gn 11,14). O povo queria queria ser como Deus, chegar chegar ao céu erguendo erguendo um edifíci edifício. o. O resultado resultado foi a confusão. Na metade da construção ninguém se entendia mais. Ainda hoje muitos querem atingir o status de Deus por meio do dinheiro ou do poder. Construímos shoppings centers e achamos que “somos o máximo”. Entramos nestes templos do consumo e nos perguntamos: “Para que eu ainda preciso de igreja se tenho estas belas vitrines?”. Belas torres que vão da terra para o céu podem acabar em tragédia. As “torres” mais dia menos dia acabam caindo. Maria não poderia jamais ser elogiada como Torre de Babel. Ela não é torre de confusão; é torre de comunhão. Neste caso a torre vem do céu para a terra. O próprio Deus se faz carne no seu seio. Ele acampa no meio de nós. Há outras passagens do Antigo Testamento que se referem a torres, por exemplo: “O nome do Senhor é uma torre: para lá corre o justo a fim de procurar segurança” (Pr 18,10). O livro do Cântico dos Cânticos compara a beleza da mulher à beleza imponente da Torre de Davi (Ct 4,4). Assim, podemos louvar Maria como a sentinela das nossas vidas. Devemos invocar a 73
sua intercessão. Ela nos avisa quando o inimigo se aproxima, auxilia-nos com suas preces, ilumina-nos umina-nos com seus exemplos exemplos de virtude. virtude. Quem tem Maria Maria na sua vida vida pode sentir-se como o povo de uma cidade bem fortificada, com altas torres onde os vigias garantem a segurança noite e dia. Nada precisamos temer. Hoje em dia podemos entender bem esta invocação da Ladainha, porque cada vez mais as pessoas colocam alarmes, cercas elétricas, câmeras, contratam segurança profissional — tudo para proteger-se proteger-se da viol violênci ênciaa dos assaltantes. assaltantes. Nem sempre é possível. possível. P obres e ricos ricos acabam sendo vítimas. Vemos isso todos os dias nos jornais. Mas quem tem Maria na sua vida pode sentir sentir a segurança segurança de uma criança no colo colo da mãe. Ali ela ela está tão segura segura quanto Davi em sua torre. Torre de Davi, rogai por nós!
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Torre de marfim Turris eburnea
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lgumas invocações são realmente estranhas à primeira vista. Confesso que sempre rezei a Ladainha com gosto, mas esta invocação sempre me pareceu um pouco esquisita: “Torre de marfim”. Chamar Maria de Torre de Davi já não é um tratamento comum. Mas já vimos o quanto a torre era importante nas antigas cidades, protegidas por muralhas. Esta nova invocação é como um complemento da anterior. Sua fonte de inspiração está no romântico livro bíblico do Cântico dos Cânticos (7,5). O leitor apressado ficará confuso ao ler estas páginas. Trata-se de um texto atribuído ao rei Salomão e que canta o amor humano de maneira nua e crua. Grandes místicos cristãos, como São João da Cruz, utilizaram muito estes versículos como uma forma de experimentar de maneira bastante profunda os mistérios do amor de Deus. No livro do Cântico dos Cânticos o amor humano e o amor divino estão unidos de modo inseparável. É muito bom saber que a tradição mais antiga não nega o amor humano como forma de chegar a Deus. Muita gente imagina que a santidade ou a mística exigem que neguemos a beleza beleza humana, a santa sensuali sensualidade e a sexual sexualiidade vivi vividas das do jeito jeito certo e na hora certa. Engano. A nossa humanidade é uma forma de viver a santidade. O sexo no casamento não é, como alguém poderia pensar, um pecado necessário; é um culto ao Deus Criador, que deu ao ser humano a capacidade de ser pro procriador. Sabendo de tudo isso você poderia abrir a sua Bíblia e ler o “poema de amor” do Cântico dos Cânticos. A beleza da amada é descrita com metáforas bastante sutis para o tempo. Algumas não seriam mais utilizadas. Se um namorado hoje em dia dissesse para sua amada que o pescoço dela se parece com uma torre, certamente ela não se sentiria nada feliz. Mas no tempo do rei Salomão poucas coisas eram tão belas e imponentes quanto uma torre. O poema diz que o pescoço dela se parece com uma “torre de marfim”. De onde poderia ter vindo esta comparação? No primei primeiro ro livro dos Reis, Reis, no capítulo capítulo 10, vemos a visi visita ta da rainha rainha de Sabá ao rei Salomão. Ela ficou impressionada com a sabedoria e a riqueza do grande rei de Israel e o presenteou com grande grande quantidade quantidade de perfumes e pedras preciosas. preciosas. O rei por sua vez deu grande número de presentes à rainha visitante. Neste mesmo capítulo, ao descrever as riquezas e o poder de Salomão, a Bíblia diz que ele “mandou fazer um grande trono de marfim, revestido de ouro fino” (1Rs 10,18). Marfim e ouro eram o que poderia haver de mais rico e belo para fazer jus ao poder de Salomão. Ao dizer de modo comparativo em seu poema que a amada se parece com uma torre de marfim, o autor nos dá um exemplo de exagero poético. Ninguém, por mais rico e poderoso que fosse, poderia poderia fazer uma torre inteira inteira de marfi m arfim… m… nem mesmo m esmo Salomão. P or isso, o amor tem 75
muito mais valor do que as riquezas desta terra. O trono de marfim e ouro é quase nada diante de alguém que se quer bem. Maria é para nós, seus filhos, um grande tesouro. Podemos até viver sem as riquezas desta terra. Mas não podemos viver sem os tesouros que temos no céu. Lá existe uma “torre de marfim” que nos aguarda. É muito mais importante do que o trono dos reis. Maria é mais que a rainha de Sabá. Sua riqueza não é feita de pedras preciosas ou de ouro. Ela nos deu de presente o Rei dos reis, o Senhor dos senhores: Jesus! São Jerônimo via um detalhe interessante na comparação do pescoço da amada com uma torre de marfim. Lembrava que, se Jesus é a cabeça do corpo que é a Igreja, Maria é o pescoço, ou seja, aquela por meio da qual nos chegou o Salvador. Torre de marfim, rogai por nós!
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Casa de ouro ouro Domus aurea
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sta invocação da Ladainha não é difícil de assimilar. Sabemos que Maria foi a casa escolhida por Deus para que o seu Verbo se fizesse carne e habitasse no meio de nós (cf. Jo 1,14). O ouro é o mais nobre dos metais. Muitos cálices e patenas utilizados na missa para a consagração do pão e do vinho em corpo e sangue do Senhor são de ouro. Fico pensando que aquele metal nobre na verdade é muito pobre, pois jamais poderá sentir o milagre que acontece ali. O ventre da jovem Maria, ao contrário, não tinha a riqueza dos palácios, mas foi o espaço mais nobre da história, onde Deus construiu a sua primeira primeira casa sobre a face da terra: uma casa de ouro. No tempo de Jesus a “Casa de Ouro” era, na verdade, o grandioso randioso Templo Templo de Jerusalém. No lugar mais íntimo estava o Tabernáculo onde era guardada a Arca da Aliança. Diz o livro dos Reis que “tudo no Templo era feito de ouro” (1Rs 7,50). Por este motivo ele ficou conhecido como “Casa de Ouro”. A Ladainha atribui este mesmo título a Maria por reconhecer que ela é muito, mas muito mais do que o Templo de Jerusalém. A glória de Deus enchia o Templo (cf. 2Cr 5,14). Mas quem lê atentamente o Antigo Testamento percebe que Deus não estava muito à vontade no meio de toda aquela riqueza. Ele preferia o coração das pessoas. Ninguém poderia aprisionar Deus em uma casa de pedra. Há um texto muito interessante do profeta Isaías que, com bom humor, mostra esta realidade: “No ano da morte do rei Ozias, eu vi o Senhor sentado num trono muito elevado; as franjas de seu manto enchiam o templo” (Is 6,1). Essas franjas, na verdade, são pequenos ornamentos na extremidade do manto do sacerdote. São quase imperceptíveis. O profeta afirma que apenas as franjas já enchiam o majestoso templo. Ou seja, nem a imensidão daquelas paredes poderia conter Deus. Mas se no Templo de Jerusalém só as franjas já enchiam todo o espaço, no pequeno ventre de Maria Deus estava todo inteiro, na sua divindade e na sua humanidade, definitivamente inseparáveis para a nossa salvação. Esta é a verdadeira Casa de Ouro. Em latim este título tem outra sonoridade e evoca outro sentido: Domus Aurea. Ainda hoje este é um dos principais pontos turísticos de Roma. Localizada próxima ao Coliseu ficava a imensa casa construída pelo imperador Nero, um dos principais perseguidores dos cristãos. Foi edificada mais ou menos pelo ano 69 depois de Cristo. Sabemos que no ano 70 o Templo de Jerusalém seria destruído pelos romanos. Portanto, enquanto a Casa de Ouro de Israel ia para o chão, elevava-se outra Domus Aurea Aurea no coração do Império Romano. Era um megaprojeto que chegou a abalar as finanças de Roma. O local era simplesmente para festas e para marcar o poderio daquele louco tirano. 77
É muito significativo, para nós cristãos, chamar Maria de Domus Aurea Aurea. Ela é mais que o Templo de Jerusalém e infinitamente mais do que as casas de festas de Nero e de todos os outros tiranos. A memória cristã jamais esquecerá os milhares de irmãos que foram sacrificados pelos caprichos de Nero. O sangue dos nossos mártires transformavase em sementes de novos cristãos. Naquele tempo os cristãos viviam a sua fé sob a terra, no escondimento das catacumbas. Lá fora o imperador fazia suas festas na Domus urea. Dois mil anos se passaram. Todos os anos, na Semana Santa, o papa faz questão de ir ao Coliseu e fazer ali a Via-sacra. As coisas mudaram. A casa mudou de dono. Ali aonde os cristãos eram perseguidos e mortos, agora o mundo assiste a preces e a devoções. É com muito sentimento que podemos rezar esta invocação da Ladainha evocando séculos de muita fé, sangue e lágrimas. Podemos continuar a pedir que Maria seja também a rainha da casa de cada um de nós. Que as nossas casas e famílias sejam consagradas a ela. Pode ser uma casa simples, sem ornamentos de ouro. O importante é que Deus esteja presente em cada quarto, cada sala e cada corredor. Não deixemos Deus na varanda ou na calçada. Ele quer entrar. Então nossos lares também serão uma Domus Aurea. Casa de ouro, rogai por nós!
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Arca da aliança Foederis arca
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sta é, com certeza, uma das mais belas e populares invocações da Ladainha de Nossa Senhora. A densidade densidade simból simbólica ica desta invocação não cabe em poucas linhas. inhas. Sabemos da importância que tinha a Arca da Aliança no Antigo Testamento. Dentro dela estavam as Tábuas da Lei, recebidas por Moisés no monte Sinai como sinal da Aliança entre Deus e o seu povo. Esta Arca era a expressão visível de que Javé estava no meio do povo. Não era um Deus distante e solitário, mas um Deus próximo e solidário. Durante o tempo que durou a travessia do deserto, o povo caminhava com o estandarte da presença de Deus. Para a Arca havia uma tenda especial. Ali aconteciam as reuniões dos líderes. Nesta tenda tomavam-se as grandes decisões. Era também um lugar de encontro com Deus. Quando o povo de Deus atravessou o rio Jordão, sob o comando de Josué, a Arca ia à frente, carregada por sacerdotes. O rei Davi construiu um espaço sagrado especial para a Arca. A Bíblia conta com ricos detalhes a festa que foi feita para levar a Arca em procissão para o seu lugar de destaque (cf. 1Cr 15). Houve naquele dia muita música e muitas danças para celebrar a memória da presença de Deus no meio do seu povo. O grande Templo de Jerusalém, construído por Salomão, foi para conter a Arca da Aliança. No Novo Testamento a Arca da Aliança aparece no testemunho final final de Estêvão, o primeiro primeiro mártir cristão. cristão. Ele Ele faz uma sig signifi nificati cativa va memória crítica: crítica: “A Arca da Aliança esteve com os nossos pais no deserto, como Deus ordenou a Moisés que a fizesse conforme o modelo que tinha visto. Recebendo-a nossos pais, levaram-na sob a direção de Josué às terras dos pagãos, que Deus expulsou da presença de nossos pais. E ali ficou até o tempo de Davi. Este encontrou graça diante de Deus e pediu que pudesse achar uma morada para o Deus de Jacó. Salomão foi quem lhe edificou a casa. O Altíssimo, porém, não habita em casas construídas por mãos humanas. Como diz o profeta: ‘O céu é o meu trono, e a terra o escabelo dos meus pés. Que casa me edificareis vós?, diz o Senhor. Qual é o lugar do meu repouso? Acaso não foi minha mão que fez tudo isto [Is 66,1 s.]?’ Homens de dura cerviz e de corações e ouvidos incircuncisos! Vós sempre resistis ao Espírito Santo. Como procederam os vossos pais, assim procedeis vós também!” (At 7,44-51). Portanto, já para os primeiros cristãos as Tábuas de Pedra eram insuficientes, pois eles haviam conhecido em Jesus uma Nova Aliança de amor, feita de um coração manso e humilde. A verdadeira Arca da Aliança não estava mais no Templo de Jerusalém, pois todo batizado se tornara um templo onde habita Deus. Maria foi a primeira cristã, a primeira primeira Arca da Aliança de carne! Mas todos nós, de certa forma, segui seguimos mos na mesma 79
direção. Somos “contemplados” com esta graça, ou seja, o Espírito Santo nos transforma em “templos vivos”. Somos o corpo de Cristo, a Igreja. Somos pedras vivas desta edificação. Elogiar Maria como “Arca da Aliança” evoca toda esta longa tradição bíblica. Mas é também algo muito atual. O Verbo se fez carne e “armou entre nós a sua tenda”, como afirma João no prólogo do seu evangelho. Assim como no deserto havia a “tenda da reunião”, que caminhava com a itinerância do povo, também hoje por onde vão os passos de um batizado batizado caminha caminha a Arca Santa de Deus. Levamos esta marca em nosso coração. Somos missionários. Ficamos maravilhados quando o Santíssimo Sacramento passa em procissão procissão no meio do povo. É bonito bonito mesmo! Mas cada um de nós é muito muito mais do que aquele ostensório que abriga a Hóstia Consagrada. Somos Hóstias Vivas, consagradas em corpo e sangue de Jesus. Somos um povo santo! Tudo isso pode vir à nossa memória e ao nosso coração quando rezamos esta invocação. Arca da Aliança, rogai por nós!
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Porta do céu Ianua coeli
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aria é invocada na Ladainha como “Porta do céu”. Nada mais justo, pois ela foi a porta pela pela qual o Salvador Salvador entrou na históri históriaa da humanidade. humanidade. Toda a Graça foi derramada na terra por meio de Maria. Ela foi o instrumento escolhido por Deus para realizar este milagre de salvação.
Mas como entender as palavras do próprio Cristo: “Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim mim será salvo; salvo; tanto entrará como sairá sairá e encontrará pastagem” pastagem” (Jo 10,9)? Poderíamos dizer que Maria é a porta do céu na terra e Jesus é a porta da terra no céu. Por Maria Deus entrou na nossa casa. Por Jesus Maria entrou na casa de Deus. Unidos a Jesus e Maria vivemos este mistério de esperança. Cada um de nós terá o seu momento. A morte é uma das poucas certezas que temos nesta vida. Um dia será o nosso dia. inguém sabe como nem quando passará por aquela porta, mas este dia chegará. Sempre imaginamos que a tragédia bate na porta do vizinho. Mas é bom estar preparados porque não sabemos o dia dia nem a hora. Já estaremos diante diante da porta do céu enquanto nossos entes queridos cantarão em nosso funeral: “Com minha mãe estarei, na santa glória um dia, ao lado de Maria, no céu triunfarei! No céu, no céu, com minha mãe estarei…”. Para eles será uma prece e um desejo. Para nós já será realidade. Estaremos diante da grande porta como o povo de Deus que se encontrava às portas de Jerusalém. As cidades antigas eram fortificadas por muralhas e tinham uma porta que era fechada quando chegava o inimigo. Se formos amigos de Deus poderemos entrar na porta do céu. Os que durante a vida alimentaram a inimizade com Deus e com os irmãos encontrarão a porta fechada. Do lado de fora haverá choro e ranger ranger de dentes. Acreditamos creditamos no céu. Mas haverá um juízo e sabemos que toda verdade se manifestará naquele momento. Não há nada de oculto que não se tornará manifesto. Corruptos e ladrões serão descobertos. ão teremos máscaras. Não haverá diferença de raça ou riqueza. Todos estaremos diante da porta. Tudo isto é cantado de maneira muito bela no Salmo 23, 3-4.7: “Quem será digno de subir ao monte do Senhor? O que tem as mãos inocentes e o coração puro; cujo espírito não busca as vaidades nem perjura para enganar seu próximo. Levantai, ó portas, os vossos dintéis! Levantai-vos, ó pórtico antigos, para que entre o rei da glória”. O Salmo 77, em seu versículo 23, também diz de modo direto: “Ele ordenou às nuvens do alto e abriu as portas do céu”. É uma referência poética ao sonho de Jacó, no qual ele viu uma grande escada apoiada na terra e que subia até o céu (Gn 28,10-15). Lá no alto estava Deus que dizia: “Estou contigo, para te guardar onde quer que fores, e te reconduzirei a esta terra, e não te abandonarei sem ter cumprido o que te prometi” (v. 15). Essa certeza 81
nos anima a caminhar nesta vida até que chegue o nosso dia. A devoção a Maria é uma porta para entrar no Coração de Jesus. No Templo de Jerusalém havia um tabernáculo onde era guardada a Arca da Aliança, dentro da qual estava as Tábuas da Lei dadas por Deus a Moisés no monte Sinai. No tabernáculo havia uma grande porta. Dizer que Maria é a Porta do Céu é afirmar que por meio dela somos conduzidos à intimidade com Jesus e assim podemos chegar à salvação. Nós também devemos ser uma porta do céu para os irmãos. Não devemos manter a nossa porta fechada para tudo e para todos. O coração do cristão tem as portas abertas. Sabe acolher. É solidário. Quem acolhe e socorre os pobres, consola os aflitos e ampara os que estão na rua da amargura torna-se uma porta de Deus. Maria nos ensinou que Jesus é a verdadeira porta e que nós devemos ser portas também. Quem abrir a porta na terra terá a porta aberta no céu! Porta do céu, rogai por nós!
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Estrela Estrela da manhã manhã Stella Stell a matutina
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ara chamar Maria de “Estrela da manhã” os poetas se inspiraram no texto de Apocalipse 22,16: “Estrela radiosa da manhã”. É um dos últimos versículos da Bíblia e se refere a Jesus e à sua segunda vinda. Mas Maria é também a Estrela da manhã porque anuncia o sol nascente, a luz luz do alto alto que veio veio nos visi visitar: tar: Jesus de Nazaré (cf. Lc 1,78). Ela é a Nova Aurora que precede o “dia do Senhor”, pois dela nasceu o Salvador. Um dos hinos mais antigos, belos e conhecidos é este: Ave, Ave, Maris Stella, Dei mater alma, Atque semper Virgo, Felix caeli porta.
Traduzindo: Ave, do mar Estrela, De Deus mãe bela, Sempre virgem, da morada Celeste Feliz entrada. Diz ainda de modo muito poético o Salmo 129, 7: “Mais do que os vigias que aguardam a manhã, espere Israel pelo Senhor, porque junto ao Senhor se acha a misericórdia; encontra-se nele copiosa redenção”. Cada um de nós, ao seu modo, é um vigia esperando o sol da manhã. Como disse Jesus: “Vigiai e orai”. Nossa vida deve ser vivida nesta “vigilância”. Estamos acampados na história, mas não temos aqui morada permanente. A qualquer qualquer momento Deus pode nos chamar. Estamos preparados? prepara dos? Vi Vigiai giai!! Certa vez participei de um momento de oração com jovens durante toda a noite. Foi um acampamento ao ar livre numa montanha. Lembro bem que antes de surgirem os primeiros primeiros raios raios da aurora vimos vimos uma estrela estrela de luz mui m uito to forte. f orte. Alguém disse: disse: “Olhem, “Olhem, a estrela da manhã”. Em poucos momentos era dia e já podíamos ver o sol. Foi assim que aconteceu. Maria surgiu na história como uma estrela de luz muito forte. Mas sua luz não é suficiente para iluminar o dia. Ela não é o sol. Maria não salva, mas aponta para o rumo da salvação. Ela indica a estrada que leva para o seu Filho, Jesus. São Pedro em sua carta dá exatamente este conselho: “Assim demos ainda maior crédito à palavra dos profetas, à qual fazeis bem em atender, como a uma lâmpada que brilh brilhaa em um lug ugar ar tenebroso até que desponte o dia dia e a estrela estrela da manhã se levante em 83
vossos corações” (2Pd 1,19). Veja que Maria não é única estrela. Antes da vinda de Jesus, a humanidade assistiu a uma constelação de numerosos astros e estrelas. Podemos recordar Moisés e todos os profetas, Davi e todos os reis e pastores, Levi e tantos sacerdotes. Na plenitude dos tempos Deus nos deu o seu próprio Filho, que é profeta, sacerdote e rei-pastor. Para anunciar a sua vinda o maior entre os nascidos de mulher: João Batista. E para dizer sim em nome de toda a humanidade Deus escolheu uma ovem menina de Nazaré. Ela é a Estrela da manhã. Este novo dia foi prenunciado pelos profetas: “Um astro sai de Jacó” (Nm 24,17). Maria é esta luz que vai à nossa frente. É como a estrela-guia. O Concílio Vaticano II, no final do documento que trata da Igreja, a Lumen gentium , diz claramente tudo isso: “A Mãe de Jesus, assim como, glorificada já em corpo e alma, é imagem e início da Igreja que se há de consumar no século futuro, assim também, na terra, brilha como sinal de esperança segura e de consolação, para o Povo de Deus ainda peregrinante, até que chegue o dia do Senhor” (nº 68). Maria é luz na terra e reluz para sempre no céu. Estrela da manhã, rogai por nós.
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Saúde dos en enfermos fermos Salus infirmorum infir morum
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lgumas palavras são muito ricas de significados. A palavra “cura”, por exemplo, pode sig signifi nificar car a solução solução para um mal que afli aflige o nosso corpo ou também o “cuidado” que uma mãe tem pelo seu filho. Podemos dizer que Maria “cuida” de cada um de nós, ou seja, ela nos “cura”. É isso mesmo. Certa vez entrei num hospital e havia na parede uma lista de nomes com a inscrição “Conselho Curador”. Perguntei se eram os médicos daquela casa. A recepcionista respondeu prontamente: “Não, padre, são os nossos benfeitores; é o grupo que cuida deste hospital”. Entendi que cuidar e curar são a mesma coisa. Há crianças que, quando estão um pouco doentes, ficam boas só de encontrar o refúgio no colo materno. Cheiro de mãe cura. Infelizmente, nos dias de hoje, não podemos dizer isso de todas as mães. Mas temos uma Mãe no céu que sempre está pronta para nos dar seu colo, seu cuidado, cuidado, sua cura. Você já ouviu falar de São João Jo ão Maria Vianney Vianney (1786-1859)? (1786- 1859)? É o patrono patron o de todos tod os os párocos. Ele Ele é conhecido conhecido também como Santo Cura d’Ars. d’Ars. Sabe por quê? Ele Ele era o pároco da pequena cidade francesa de Ars. Ali, como se dizi diziaa na época, ele ele era “cura de almas”. Ou seja, ele “cuidava” do rebanho do Senhor. Mais uma vez vemos que cura significa cuidado. Quem sabe cuidar das pessoas está colaborando com a sua cura. É por isso que chamamos Maria de “Saúde dos enfermos”. Ela é Mãe de todas as mães e cuida de nós, cura cada um de nós. Quer saúde? Procure o colo de Maria. A palavra “saúde” também tem raízes de vários significados. Salutar pode significar saudável ou salvífico. Quando Jesus realizava curas, na verdade estava fazendo o silencioso sermão de anunciar um Reino onde não haverá doenças, nem pranto, nem dor: o Reino nos céus, da salvação. Quando perguntaram se ele era de fato o Messias, em vez de fazer um discurso ele simplesmente mandou olhar os sinais de vida que estavam acontecendo. Paralíticos que andavam, cegos que viam, leprosos purificados! O Reino havia chegado. É sempre assim. O Reino dos céus está no meio de nós, mas aguardamos a sua plenitude para um dia junto de Deus. Uma ocasião Jesus curou dez leprosos de uma vez. Somente um voltou para agradecer. Este recebeu o elogio de Jesus: “Vai em paz, tua fé te salvou”. Reparou no detalhe? Nove foram curados. Somente um foi salvo, porque mudou de vida. São tantos os milagres que Deus realiza todos os dias. Alguns deles são realmente incríveis. Até os médicos ficam admirados com algumas curas que para a medicina seriam impossíveis. 85
Mas será que todos estes estarão no céu? Este já é outro discurso. Precisamos corresponder aos dons de Deus. Neste sentido, Maria não quer apenas a nossa cura física, nem somente a saúde do nosso corpo. Ela quer colaborar com a nossa saúde eterna, ou seja, com a nossa salvação. Ao enviar seus apóstolos em missão, Jesus lhes deu o poder de curar toda espécie de doença (Mc 16,18). De modo ainda mais sublime, Maria recebeu este ministério. Não erra quem se consagra aos cuidados da Mãe de Deus. Ela é realmente a “Saúde dos enfermos”. A Igreja repete esta mesma invocação na celebração litúrgica da Unção dos Enfermos. Antes de ungir o doente, pedimos a intercessão da Mãe. Conheço muitos doentes que vivem o ministério da dor em uma cama de hospital. Como faz bem aquela visita serena e pacífica! Visitar os doentes é uma obra de misericórdia. Em cada um deles encontramos a face desfigurada do próprio Cristo sofredor. Devemos ser portadores desta boa notícia de cura e salvação. Levemos conosco o exemplo de Maria, Saúde dos enfermos. Uma boa ideia é levar uma pequena estampa ou até um terço abençoado para aquele doente. Quem está enfermo precisa segurar na mão de alguém. O terço é um jeito de segurar nas mãos de Maria, que nos leva até o Coração do seu Filho, onde encontramos refúgio seguro. Saúde dos enfermos, rogai por nós!
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Refúgio dos pecadores Refugium pecatorum
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cabamos de invocar Maria como Saúde dos enfermos. Em seguida a invocaremos como “Consoladora dos aflitos” e “Auxílio dos cristãos”. No coração destas invocações que reconhecem a poderosa intercessão da Virgem junto ao seu Filho, reconhecemos que nossa Mãe é “Refúgio dos pecadores”. Nada mais humano e verdadeiro. Ela não poderia ser Saúde para os enfermos e nem Conforto para os aflitos se antes de tudo não fosse Refúgio para nós pecadores. A oração da Ave-maria eterniza esta invocação quando reza: “Rogai por nós, pecadores, agora agora e na hora da nossa morte. Amém!”. Reconhecer-se pecador nem sempre é tão fácil. Mas quando estamos diante daquela que é toda santa e imaculada as nossas manchas e os nossos pecados ficam mais evidentes. Aproximar-se de Maria é como contemplar o nosso ideal, o ícone da nossa perfeição. Ela é até mesmo o ícone da Igreja, na sua santidade. Quando nós, membros pecadores desta Igreja Santa, olhamos para Maria, Maria, reconhecemos como deveríamos ser e, ainda ainda melhor, melhor, como seremos um dia dia no céu. Refugiar-se em Maria é dar passos decisivos na direção do céu. Nem precisaríamos precisaríamos fazer compli complicados raciocíni raciocínios os teológ teológiicos para compreender que Maria, enquanto Mãe de Deus e nossa Mãe, é um “refúgio”. Toda criança sabe muito bem onde se refugiar refugiar na hora do perig perigo. Corre log ogoo para o colo colo da mãe. Já vi esta cena muitas vezes. A criança volta correndo para o colo daquela que a gerou e amamentou. Algumas doenças das crianças somente são curadas com colo de mãe. Dizem que a criança tem um sentido especial que sabe reconhecer até pelo cheiro o colo da sua mãe. O pecado é a pior doença da humanidade. Aos poucos ele vai nos contaminando e fazendo que fiquemos como crianças assustadas e perdidas na multidão. É nesta hora que não temos que duvidar. É preciso voltar para a nossa Mãe Maria e procurar refúgio no seu colo maternal. Rezar o terço, fazer novena, rezar a Ladainha… são formas de confiar nosso coração aos cuidados da Mãe. Uma das preces mais bonitas, neste sentido, é a Consagração a Nossa Senhora. Deveríamos repeti-la todos os dias, após fazermos o exame de consciência, verificando como foi o nosso dia. Precisamos deste colo seguro para ter nossas feridas curadas: “E como assim sou vosso(a), ó incomparável Mãe, guardai-me e defendei-me como bem de propriedade propriedade vossa. Amém”. 87
Tenho certeza de que Maria é o colo que Deus colocou nas nossas vidas para nos dar a segurança na hora da dificuldade. Não devemos ser tímidos em invocá-la como fez nosso cantor popular: “Nossa Senhora, me dê mão, cuida do meu coração, da minha vida…”. Existe um salmo muito bonito que fala de Deus como refúgio seguro. Podemos, então, rezar agora o Salmo 15, incluindo esta verdade que acabamos de meditar: Maria é o Refúgio dos pecadores. Guardai-me, ó Deus, pois em vós me refugio. Sois o meu Senhor, fora de vós não há felicidade para mim. Quão admirável tornou Deus o meu afeto para com os santos que estão em sua terra. Numerosos são os sofrimentos sofrimentos daqueles que se entregam a estranhos deuses. Meus lábios jamais pronunciarão o nome de seus ídolos. Senhor, vós sois a minha parte de herança. Bendigo o Senhor que me aconselha. Mesmo de noite o coração me exorta. Ponho sempre o Senhor diante dos olhos. Se ele está ao meu lado, não vacilarei. Por isso meu coração se alegra e minha alma exulta. Até meu corpo descansará seguro. seguro. Porque não abandonareis minha alma na habitação dos mortos. Vós me ensinareis o caminho da vida. No colo de Maria, o refúgio refúgio encontrarei. Amém. Refúgio dos pecadores, rogai por nós!
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Consoladora dos aflitos Consolatrix Con solatrix afflictorum
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sta é a terceira de uma série de quatro invocações bastante semelhantes: “Saúde dos enfermos”, “Refúgio dos pecadores” e “Auxílio dos cristãos”. Todas elas professam a fé de que Maria tem o dom de nos ajudar em todos os momentos: na doença, no pecado e na aflição. aflição. Toda mãe tem um jeito especial para consolar seu filho. É comum vermos a cena de um bebê chorando no colo dos parentes e amigos. Só o colo da mãe é capaz de fazer a criança parar de chorar e até dormir com aquela sensação gostosa de segurança. Imagino que esta tenha sido a experiência do apóstolo João ao pé da cruz (cf. Jo 19,25). Ele devia estar extremamente aflito. Seu melhor amigo pendia daquela cruz. Pouco antes da morte ele escutara palavras de confiança e dor: “Filho, eis aí a tua mãe; mãe, eis aí o teu filho”. Normalmente imaginamos que com aquele gesto Jesus pedira que João cuidasse da sua mãe. De fato, foi isso o que aconteceu. João levou Maria para sua casa e cuidou dela até o final de sua vida. Mas podemos também inverter a história. aquele momento o jovem João precisava muito mais de cuidado do que Maria. Imagino que ela tenha dito palavras de encorajamento para ele e o tenha consolado em todas as suas aflições. E foi assim durante muitos anos. Logo em seguida, quando os apóstolos se dispersaram por medo de serem perseguidos, Maria o consolava. Quando estavam no cenáculo, antes do Pentecostes, Maria estava lá. Certamente ela dizia palavras de consolo e fortaleza. O Pentecostes dela já começara em Nazaré. Ela já estava “cheia de graça”. Por isso, o céu já vivia plenamente no seu coração. Quem vive assim pode consolar os irmãos que vivem “gemendo e chorando neste vale de lágrimas”. Maria consola também cada um de nós nas nossas aflições. Quando estamos diante das cruzes da vida, devemos procurar o colo da Mãe. Ali conseguiremos o sono tranquilo de crianças que sabem que estão seguras. Mas qual seria o consolo de Maria? Seria uma palavra, um olhar de ternura, uma prece confiante, confiante, um conselho conselho de paz, um afago, afago, uma resposta de solução? solução? Tudo isso ela faz, como tem feito nas diversas aparições aprovadas pela Igreja, como em Lourdes e Fátima. Mas o principal consolo é “mostrar-nos seu filho, Jesus!”. Certamente foi isso o que ela disse a João: “Filho, ele voltará… ele ressuscitará… a morte não pode vencer o amor!”. 89
Normalmente Normalmente as nossas aflições aflições tem alg alguma coisa a ver com a morte. Quem não tem medo de morrer? Rezamos na Ave-maria que a mãe esteja nos consolando “agora e na hora de nossa morte”. mo rte”. As pequenas mortes mo rtes de todos os dias costumam nos afligir afligir.. Você Você recebe uma notícia ruim e o seu coração fica pálido de tristeza. Procure o colo da Mãe de toda consolação. Ela apontará para a cruz e dirá: “Ele não está ali”. Ela apontará para a sua cruz e dirá: “Com o meu Filho você vencerá este momento de aflição. Creia, ame, espere!”. Maria aprendeu esta lição quando Jesus se perdeu no meio da multidão, aos 12 anos. Foram encontrá-lo em Jerusalém, no Templo, conversando com os doutores da lei. Maria disse: “Teu pai e eu te procurávamos aflitos”. Nesta ocasião ocasião o menino menino os consolou: consolou: “Não sabíeis sabíeis que devia devia estar na casa de meu Pai?”. Esta é a forma de buscar o consolo. Maria entendeu. Temos que procurar Jesus na casa do Pai. Se você está muito aflito com alguma situação, procure uma igreja, fique um momento em silêncio, consagre o seu coração a Maria. Ela pegará você no colo e o colocará junto do seu Filho, Jesus. Ali não temos mais razão para permanecer com medo ou aflitos. É exatamente isso o que diz o Salmo 22: “Vossa bondade e misericórdia hão de seguir-me por todos os dias de minha vida. E habitarei na casa do Senhor por longos dias” (Sl 22,6). Consoladora dos aflitos, rogai por nós!
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Auxílio Au xílio dos cristãos Auxilium christianorum chris tianorum
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sta é a quarta de uma série de quatro invocações bastante semelhantes: “Saúde dos enfermos”, “Refúgio dos pecadores”, “Consoladora dos aflitos” e “Auxílio dos cristãos”. Logo em seguida virão doze invocações de Maria como “Rainha” e a Ladainha de Nossa Senhora terminará. Portanto, este título de Maria como “Auxílio” ocupa um lugar de destaque em toda esta sequência de invocações.
Já em 1476 o papa Sisto IV invocava Maria como “Nossa Senhora do Bom Auxílio”, após ser surpreendido por um temporal e ter invocado o auxílio da virgem. Porém, o fato histórico mais marcante ligado ao título de “Maria Auxiliadora” certamente foi a vitória de Lepanto sobre os turcos otomanos em 1571. O papa São Pio V atribuiu esta vitória à intercessão da virgem Maria. Talvez você ache estranho Maria interceder e o papa comemorar de modo tão solene pela vitória em uma batalha armada. Mas veja bem a data. O Brasil e praticamente toda a América Latina estavam sendo colonizados por portugueses portugueses e espanhóis. espanhóis. Se os muçulmanos tivessem vencido aquela batalha batalha estratégi estratégica, seria inevitável a expansão do Império Otomano por toda a Europa e a forçada conversão dos países católicos ao islamismo. Caso isso tivesse ocorrido, provavelmente o mundo hoje seria quase todo muçulmano, incluindo o Brasil. As forças naquele tempo estavam tão acirradas. O catolicismo havia sido mutilado interiormente pela Reforma protestante, princi principal palmente mente com Lutero. De fora vinha vinha a ameaça muçulmana. muçulmana. Um dos guerreiros sonhava em entrar a cavalo na Basílica de São Pedro, em Roma. Em 1566 foi eleito o papa Pio V. Com ele o mundo cristão ensaiou uma reação contra todas estas ameaças. Formou-se a “Liga em Defesa da Cristandade”. O ponto alto de todo este conflito foi a batalha naval de Lepanto, no litoral da Grécia, no dia 7 de outubro de 1571. o ano anterior os turcos haviam tomado a ilha de Chipre, que pertencia à República de Veneza. Era uma conquista estratégica que permitiria dominar todo o mar Mediterrâneo e, consequentemente, toda a Europa cristã. A batalha de Lepanto durou apenas três horas e representou o fim da ameaça turca à Europa. Este fato foi tão marcante e decisivo para a cristandade, que o dia 7 de outubro ficou dedicado a Nossa Senhora da Vitória, e depois a Nossa Senhora do Rosário. O Senado de Veneza mandou colocar a seguinte frase abaixo do quadro comemorativo da vitória: “Nem as tropas, nem as armas, nem os comandantes, mas a Virgem Maria do Rosário é que nos deu a vitória”. Outro fato semelhante aconteceu em 1814, quando o papa Pio VII, liberto da tirania napoleônica, finalmente pôde retornar a Roma. Por isso, instituiu no dia 24 de maio a 91
festa de Maria Auxiliadora. Em todos estes fatos a Igreja recorda a frase profética do livro de Judite: “Ai das nações que se insurgirem contra o meu povo! No dia do juízo as punirá punirá o Senhor todo-poderoso” (Jt 16,17). No ano segui seguinte nte nasceria nasceria São João Bosco, um dos maiores devotos e propagadores da devoção a Maria Auxiliadora e fundador dos salesianos. Este se tornou o título mariano preferido de toda a grande família salesiana. Nos momentos de perigo perigo e de crise crise devemos nos lembrar de que temos uma Mãe que nos auxilia, defende e protege. Papas e reis a invocaram. O próprio papa João Paulo II reconheceu a proteção de Maria no episódio em que sofreu um atentado. Rezemos a prece a Maria Auxiliadora para que nossos lares sejam protegidos de todas as ameaças. “Santíssima Virgem Maria, a quem Deus constituiu Auxiliadora dos Cristãos, nós vos escolhemos como Senhora e Protetora desta casa. Dignai-vos mostrar aqui Vosso auxílio poderoso. Preservai esta casa de todo perigo: do incêndio, da inundação, do raio, das tempestades, dos ladrões, dos malfeitores, da guerra e de todas as outras calamidades que conheceis. Abençoai, protegei, defendei, guardai as pessoas que vivem nesta casa. Sobretudo, concedei-lhes a graça mais importante, a de viverem sempre na amizade de Deus, evitando o pecado. Dai-lhes a fé que tivestes na Palavra de Deus e o amor que nutristes para com Vosso Filho Jesus e para com todos aqueles pelos quais Ele morreu na cruz. Maria, Auxílio dos cristãos, rogai por todos os que moram nesta casa. Amém.”
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Rainha dos anjos Regina angelorum
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Ladainha de Nossa Senhora chega agora na sua reta final. Comentamos cada uma das invocações. Agora invocaremos doze vezes Maria com o título de Rainha. A começar com Rainha dos Anjos e terminar com Rainha da paz. O número doze é rico em simbolismo. Lembra as doze tribos de Israel e, principalmente, os doze apóstolos, fundamento sobre os quais Jesus construiu a sua Igreja. Lembra o texto do Apocalipse que diz: “Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas” (Ap 12,1). Naturalmente Naturalmente Deus não escolheu escolheu uma Rainha Rainha para dela dela fazer nascer o Rei dos reis. reis. Jesus nunca foi Rei por sua mãe ser uma Rainha. Ao contrário, Deus subverte a lógica humana, ao nascer na periferia da periferia, de uma jovem que o céu chamou de agraciada: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!”. Na realidade o que aconteceu é que Maria herdou a realeza do seu Filho… caso único na história. Ela foi serva e por isso é Rainha! Podemos dizer, então, que Jesus não é o Filho da Rainha, ela é que é a Mãe do Rei. Mas não podemos negar que Maria é chamada de Rainha em toda a tradição da Igreja. o tempo pascal rezamos o Regina Coeli . No final do Rosário rezamos a Salve-rainha. A Ladainha mariana cita com fartura o reinado de Maria, chamando-a até de Rainha dos Apóstolos ( Regina Apostolorum). Temos até mesmo uma esclarecedora encíclica de Pio XII (1954) sobre a realeza de Maria: Ad Caeli Reginam (Sobre a realeza de Maria e a instituição da sua festa). No fundo o santo padre expõe a doutrina tomista de manter-se no equilíbrio, evitando o maximalismo e o minimalismo marianos. O título de “Rainha” vem na tradição intimamente conexo com o de “Senhora”, que poderia poderia parecer bem mais equívoco, pois pois somente Jesus é o “Senhor”. A encícl e ncíclica ica se reporta a Maria como Rainha com expressões como Mãe do Rei divino, Bem-aventurada Rainha virgem Maria, Mãe do céu, Mãe do meu Senhor, Mãe do Rei, Virgem augusta e protetora, Rainha Rainha e Senhora, Mãe do Rei de todo o universo, universo, Mãe virgem, virgem, (que) deu à luz o Rei do todo o mundo, Senhora, Dominadora e Rainha, Senhora dos mortais, Santíssima Mãe de Deus, Rainha do gênero humano, Senhora de todos aqueles que habitam a terra, Rainha, Protetora e Senhora, Senhora de todas as criaturas, ditosa Rainha, Rainha eterna junto do Filho Rei, Rainha de todas as coisas criadas, Rainha do mundo e Senhora do universo, Mãe e Rainha, Mãe do Rei dos reis etc. Todos estes títulos apenas encontram justificativa na íntima união entre Maria e o seu Filho Jesus, no horizonte da doutrina da recapitulação já delineada por Santo Ireneu no 93
século 2. É por isso que Pio XII afirma de modo bastante claro: “É certo que no sentido pleno, pleno, próprio próprio e absoluto, absoluto, somente Jesus Cristo, Cristo, Deus e homem, é rei; rei; mas também Maria — de maneira limitada e analógica, como Mãe de Cristo-Deus e como associada à obra do divino Redentor, à sua luta contra os inimigos e ao triunfo deles obtido — particip participaa da dig dignidade nidade real. De fato, dessa união união com Cristo-Rei Cristo-Rei deriva deriva para ela tão esplendente sublimidade, que supera a excelência de todas as coisas criadas: dessa mesma união com Cristo nasce aquele poder real pelo qual ela pode dispensar os tesouros do reino do Redentor divino; finalmente, da mesma união com Cristo se origina a inexaurível eficácia da sua intercessão junto do Filho e do Pai” (nº 37). A partir destas ustificativas e advertências, Pio XII instituiu a festa de Maria Rainha, no dia 31 de maio. Exercendo sua realeza intimamente unida ao senhorio universal do seu Filho, Maria é Rainha do céu e da terra. Por isso, ao invocar Maria como Rainha dos anjos, reconhecemos que ela é Rainha também na esfera da Igreja triunfante, acima de todos os santos e até mesmo de todos os anjos. Rainha dos anjos, rogai por nós!
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Rainha dos patriarcas Regina patriarcarum
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segunda das doze invocações de Maria como Rainha saúda a Mãe de Deus como “Rainha dos patriarcas”. Mas como a jovem de Nazaré poderia ser Rainha de Abraão, Isaac e Jacó (1Cr 8,28), que viveram tanto tempo antes dela? O que a prece quer nos ensinar é que Maria é Mãe de todo o povo de Deus. Quando a Palavra de Deus se encarnou no seu seio, toda a história recebeu a visita do Messias, do Salvador. Apenas para que possamos entender o que sig signifi nificou cou a Encarnação do Verbo, poderíamos compará-la a uma pedra que uma criança joga na água. Logo se formam aquelas ondas que vão se expandindo em círculos até atingir a margem do lago. Jesus é este “toque de Deus” na humanidade. Maria está no coração deste toque carinhoso de Deus. Foi nela que o Verbo se encarnou por vontade do Pai e pela ação do Espírito Santo. A Santíssima Trindade passeou em sua alma e depositou seu projeto de salvação em sua carne. Em Maria se cumpriu aquilo que fora prometido a todos os patriarcas. Nela se realizou a fé de Abraão e a esperança de Isaac e Jacó. Todos esperaram a realização da promessa de que viria viria o Messias. Messias. O velho velho Simeão, no dia dia em que Maria Maria e José apresentaram o menino no Templo de Jerusalém, teve olhos para ver este milagre: “Agora, meu Senhor, já posso descansar; meus olhos viram a salvação de Israel”. Jesus foi a plenitude do cumprimento das promessas de Deus. A grande promessa é que ele estaria sempre presente. Ao longo dos séculos esta presença se realizou por meio de “presentes”. O maná, as codornizes, a água saída da rocha, os patriarcas e os profetas, as Tábuas da Lei, a Arca da Aliança, o Templo de Jerusalém… todos presentes que indicavam uma presença maior. Mas na plenitude dos tempos o próprio Deus veio nos visitar. Esta era a grande esperança dos patriarcas, e Maria foi a escolhida para acolher o grande Rei dos reis, o Messias, o Deus-conosco! Alguns evangelistas ligam Maria com os patriarcas ao iniciar seus evangelhos com a “genealogia”. Muita gente acha estranho que um texto da Bíblia comece com uma coleção de nomes de família: “Abraão gerou Isaac; Isaac gerou Jacó; Jacó gerou José…”. O que os livros inspirados querem nos ensinar é que Jesus faz parte da história humana. Deus não entrou pela porta dos fundos. Ele quis ter mãe; teve endereço; pisou nosso chão; amou com coração humano; trabalhou com mãos humanas; suou do nosso suor; chorou das nossas lágrimas e salvou-nos pela oferta do seu sangue… sangue de verdade; morreu da nossa morte para nos eternizar da sua eternidade; fez-se humano para nos fazer participar da sua divindade. A genealogia nos ensina que em Jesus Deus se fez 95
história para nos abrir a porta da salvação. Maria é esta porta por onde a salvação entrou na humanidade. Não é uma pessoa qualquer. Foi “a escolhida”. Por isso, podemos invocá-la doze vezes como Rainha. Os patriarcas sonharam com o nascimento desta virgem da qual nasceria o Messias. O poeta colocou esta profecia em canção: “Da cepa brotou a rama; da rama brotou a flor; da flor nasceu Maria, de Maria, o Salvador”. Dizer que Maria é Rainha dos patriarcas mostra que não existe total descontinuidade entre a Antiga e a Nova Aliança. Nós cristãos fazemos parte deste povo de Deus que foi eleito em Abraão. Os patriarcas não são grandes pais apenas para os judeus. Nós também reconhecemos sua importância e a sua paternidade. O apóstolo Paulo reconhece a importância da “fé de Abraão”. O Antigo Testamento não é uma espécie de “rascunho” do Novo Testamento, superado e dispensável. Muito pelo contrário: é Palavra de Deus. ão devemos nos esquecer de que Maria se reconhecia como “filha de Abraão”, e de que Jesus é chamado de “Filho de Davi”. Isto significa que o cristianismo não é uma seita, ou seja, uma dissidência do judaísmo. Somos povo de Deus. O papa Bento XVI tem insistido muito nesta relação de fraternidade com o povo judeu. No recente sínodo sobre a Palavra de Deus, os judeus pela primeira vez na história foram convidados para particip participar. ar. Juntos somos parcelas parcelas do povo eleito eleito que vivemos vivemos da promessa feita a Ab Abraão raão de uma terra prometida. Por tudo isso e muito mais podemos e devemos rezar a Ladainha em comunhão com todos os personagens do P rimeiro rimeiro Testamento. Rainha dos patriarcas, rogai por nós!
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Rainha dos profetas Regina prophetarum
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terceira das doze invocações de Maria como Rainha saúda a Mãe de Deus como “Rainha dos profetas”, em latim Regina prophetarum prophetarum. Na verdade, a grande missão de todos os profetas foi anunciar ao mundo a vinda do Salvador, por isso Maria estava no coração desta grande profecia. Isto aparece claramente no sonho de José, descrito logo no primeiro capítulo do evangelho de Mateus: “José, filho de Davi, não temas receber Maria por esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados. Tudo isto aconteceu para que se cumprisse cumprisse o que o Senhor falou falou pelo pelo profeta: ‘Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho, que se chamará Emanuel [Is 7, 14], que significa: Deus conosco’” (Mt 1,20-23). Esta profecia de Isaías refere-se indiretamente a Maria, a jovem que Deus escolheu por sua mãe. A todos os profetas Deus anunciou que era um Deus-conosco. Ele não abandona o seu povo. É solidário, pois quem ama se faz presente. Mas na plenitude dos tempos a presença de amor de Deus se tornou carne da nossa carne, gente da nossa gente. gente. Deus se fez criança. O apóstolo Paulo se insere nesta tradição profética para anunciar: “Mas quando veio a plenitude dos tempos, Deus enviou seu filho, que nasceu de uma mulher e submetido à uma lei, a fim de remir os que estavam sob a lei, para que recebêssemos a sua adoção” (Gl 4,4). Quando o anjo Gabriel anunciou a Maria que ela seria a mãe do Salvador, todas estas profecias profecias chegaram ao ápice. O céu inteiro nteiro esperava por aquela resposta. Porém, Porém , antes, a menina de Nazaré ousou perguntar como se cumpriria aquilo, pois ela era apenas noiva, ainda não conhecera homem. O anjo explicou tudo, em detalhes. Finalmente ele disse uma frase que normalmente as nossas Bíblias traduzem por “porque a Deus nenhuma coisa é impossível” (Lc 1,37). Segundo alguns especialistas em Bíblia esta frase poderia ser traduzida por “Deus cumpre o que promete”. Prefiro esta tradução, pois imagino que naquele momento o tempo parou para deixar Maria refletir. Ela rememorou a história de tantos profetas que ouviram Deus e proclamaram que o Messias viria para libertar Israel. Agora eram os seus ouvidos que escutavam a mesma provocação do céu: Deus promete e cumpre!!! Então Maria respondeu: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Poderíamos dizer que naquele momento “E o verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). O “Sim” de Maria permitiu a encarnação de todas as profecias. Deus então não era mais o prometido. Era a Palavra encarnada para a 97
nossa salvação. Ele assumiu a nossa natureza para nos redimir. E bateu na porta para entrar. Quem abriu esta porta foi Maria, por isso é a Rainha dos profetas. No seu Magnificat a própria Virgem Maria assume um tom profético para dizer que Magnifi cat a Deus veio em socorro de Israel, seu servo, lembrado das promessas que fizera a nossos pais pais (Lc 1,54-55). Tudo isso foi confirmado naquele dia em que levaram o menino menino para ser apresentado no Templo, segundo a lei. As palavras do velho Simeão revelaram que uma grande profecia estava se cumprindo. Ele disse: “Agora, Senhor, deixai o vosso servo ir em paz, segundo a vossa palavra. Porque os meus olhos viram a vossa salvação que preparastes diante de todos os povos, como luz para iluminar as nações, e para a glória de vosso povo de Israel” (Lc 2,29-32). Alguns anos mais tarde Jesus diria somente aos seus discípulos aquilo que deve ter conversado muitas vezes com a sua mãe: “Ditosos os olhos que veem o que vós vedes, pois vos digo muitos profetas e reis desejaram ver o que vós vedes e não o viram, e ouvir o que vós ouvis e não o ouviram” (Lc 10,23-24). Todos nós, pelo Batismo, devemos viver a nossa vocação de profetas: anunciar a verdade e denunciar toda forma de injustiça. Maria viveu intensamente esta vocação profética, profética, de Nazaré até a cruz. Ela Ela soube dizer dizer a palavra palavra certa, na hora certa. Sabia Sabia o tempo de aparecer e também a hora de desaparecer. Quando foi necessário o seu “Sim”, foi a profecia mais oportuna que a nossa história jamais ouviu. Por isso podemos a invocar: Rainha dos profetas, rogai por nós!
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Rainha dos apóstolos Regina apostolorum
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quarta das doze invocações de Maria como Rainha saúda a Mãe de Deus como “Rainha dos apóstolos”, em latim Regina Apostolorum. Jesus escolheu doze apóstolos para o seguirem mais de perto. Tinha pelo menos 72 discípulos e uma multidão de seguidores. Mas os doze eram aqueles que o seguiam mais de perto. O número doze é uma alusão às doze tribos de Israel. Com isso, Jesus nos indica que ele era o novo Moisés, que guiaria o novo povo de Deus para uma nova terra prometida, guiados pela síntese de toda a Lei e todos os profetas: o amor! Hoje sabemos que a Igreja Católica é una, santa, católica e “apostólica”. Somente com estas quatro características ou propriedades ela pode ser considerada plenamente a Igreja fundada por Jesus Cristo. Dizer que é “una” significa afirmar que é sacramento universal de comunhão. Deve congregar os povos na unidade. Este é o modo com que a Igreja tem de anunciar a salvação. Ela é santa, ou seja, configurada ao Santo dos santos, Jesus Cristo. Cada batizado pode dizer: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim!” (Gl 2,20). A obra do Espírito Santo em nós é esta: configurar-nos a Cristo. Ser santo é ser um outro Cristo. A Igreja é santa porque é o Corpo Místico de Cristo. Os seus membros podem cair no pecado. Mas a Igreja Corpo de Cristo é pura e sem mancha, é uma esposa preparada para o seu esposo, que é Cristo. Dizer que a Igreja é católica significa literalmente afirmar que ela tem o Cristo todo para anunciar a todos (Cat-holos: o que se refere ao todo). No último capítulo do seu evangelho Mateus dá uma lição de catolicidade no mandato missionário: “Ide por todo o mundo e anunciai o Evangelho a toda criatura, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; e eis que estarei convosco todos os dias, até o fim”. Percebeu quantas vezes fala a palavra todo? Ser católico é ser totalmente cristão. Quanto mais você se afastar da Igreja Católica, menos cristão você será. O Espírito Santo pode agir até em não-cristãos, porém toda fé verdadeira verdadeira subsiste na Igreja Católica. Não ser católico é optar por ser um cristão que não tem a plenitude. Muita gente pode se assustar com esta afirmação, mas é hora de começarmos a dizer claramente as coisas, pois a Igreja Católica não é mais uma Igreja. Ela é a Igreja, fundada por Jesus Cristo. Restou a última propriedade da Igreja que está no coração da nossa meditação. A Igreja é “apostólica”, ou seja, é missionária. A Conferência de Aparecida insistiu neste ponto, dizendo que todo cristão deve ser discípul discípulo-mi o-missi ssionári onário. o. Os apóstolos aprenderam esta lição com o Mestre de Nazaré. Jesus caminhou neste mundo fazendo o bem e 99
curando a todos. Ele nos ensinou que não deveremos descansar enquanto o Evangelho não chegar a todas as pessoas. Somos águas de um rio que só descansará quando suas águas chegarem ao mar. Precisamos evangelizar todas as pessoas ao nosso redor. Quem recebe o toque do Espírito não pode ficar parado, não pode ficar calado. Após fazer a experiência do Cristo ressuscitado, temos que ir às pressas anunciar esta boa notícia aos irmãos. Isto foi o que os apóstolos fizeram e por esta missão deram a própria vida. Maria é a Rainha dos apóstolos, dos missionários e dos evangelizadores, pois ela recebeu o anúncio do anjo e imediatamente levantou-se às pressas e foi servir a sua prima prima Isabel. Isabel. É a primeira primeira cristã, cristã, a primeira primeira missionári missionáriaa e a primeira primeira apóstola. O primeiro primeiro passeio passeio missi missionári onárioo de Jesus foi no ventre da sua mãe. Deste modo aconteceu o seu primeiro primeiro encontro com João Batista, que estava no ventre de Isabel. Isabel. Se Maria ensinou Jesus a caminhar, foi ela também que ensinou os apóstolos a perseverar na oração. Ap Após ós a morte do seu fil filho ela ela permaneceu com o grupo; grupo; e assim assim diz a Bíblia: “Eram perseverantes na oração, com Maria, a mãe de Jesus” (At 1,4). Este foi o primeiro encontro de um “apostolado da oração”. Rezar também faz parte do nosso apostolado, da nossa missão. Que Maria interceda por todos os que vivem intensamente sua atividade apostólica. Que ela reze principalmente pelos apóstolos e pelas apóstolas que vivem diariamente nas suas famílias a desafiadora missão de educar os seus filhos na fé. Rainha dos apóstolos, rogai por nós!
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Rainha dos mártires Regina martyrum
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quinta das doze invocações de Maria como “Rainha” saúda a Mãe de Deus como “Rainha dos mártires”, em latim Regina martyrum. Após os apóstolos, os mártires foram a principal coluna de sustentação da fé dos primeiros cristãos. A palavra martyria, em grego, significa “testemunha”. Os mártires foram aqueles que deram testemunho de sua fé com o próprio sangue, com suor e lágrimas. Hoje sabemos que existem diversas formas de martírio. Quantas mães dão testemunho de sua fé diante dos filhos afastados e rebeldes. São martírios de lágrimas. Quantos missionários gastam os seus pés e a sua voz para evangeli evangelizar em terras distantes ou mesmo na selva urbana, cada vez mai m aiss pagã. É o martírio do suor. Ainda hoje há quem arrisque a vida para defender a verdade e a vida. Poderíamos citar uma lista de mártires que deixaram nas nossas terras a marca do seu sangue. São mártires dos nossos tempos. Maria é a rainha de todos os que dão testemunho da sua fé em Jesus e participam da sua paixão e morte na cruz. Ninguém viveu este martírio de modo tão intenso quanto ela. Foi fiel de Nazaré até a cruz. A profecia do velho Simeão, quando Jesus ainda era um bebê, se realizou: realizou: “uma espada transpassará a tua alma” alma” (Lc 2,35). Exis Existe te um mistéri mistérioo profundo que une a mãe aos seus filh filhos. os. Quem é mãe sabe exatamente do que estou falando. A mãe participa de modo especial das vitórias e derrotas dos seus filhos. É como se aquele cordão umbilical jamais fosse totalmente cortado. Muitas mães levam este sentimento tão a sério que não se convencem de que os seus filhos cresceram. Serão sempre… “os meus meninos”. Maria viveu intensamente as diversas “paixões” do seu filho. Podemos dizer que o fato de ser a mãe do Redentor lhe permitiu viver, de um modo todo especial, uma espécie de com paix paixão. P or isso a Igreja Igreja a chama de corredentora, ou seja, colaboradora colaboradora do Redentor. Na verdade ela antecipou aquilo que os mártires de todos os tempos seriam chamados a viver: “completar em sua carne o que falta à paixão de Cristo pelo seu corpo que é a Igreja”. Os primeiros santos do calendário cristão foram os mártires. O interessante é que sua festa nunca era marcada no dia do seu nascimento, mas sim no dia do seu martírio. Com Jesus também foi assim. Primeiro se começou a celebrar a Páscoa. Somente muitos anos mais tarde é que surgiu a festa do Natal. Na verdade, quando nascemos começamos a morrer; e quando morremos nascemos definitivamente em Deus. O nascimento definitivo 101
de Maria é celebrado na festa da Assunção, no dia 15 de agosto. O dogma diz que, “terminado o curso de sua vida terrena, Maria foi assunta ao céu de corpo e alma”. Este “assunta” pode significar “elevada”, “promovida” ou “assumida”. Não sabemos exatamente como e quando isso aconteceu. A teologia dos primeiros séculos gostava de dizer que Maria “dormiu”. Havia até mesmo uma festa da “dormição” de Maria. São palavras palavras místicas e não biol biológ ógiicas ou históri histórico-cronol co-cronológ ógiicas. A verdade nem sempre pode ser contida em números e datas. Para entender melhor basta lembrar que os teólogos dos primeiros primeiros séculos, séculos, os Santos P adres, gostavam de se referir à morte de Cristo Cristo como “Jesus dormindo na cruz”. Esta era uma referência explícita ao sono de Adão, durante o qual Deus tirou a mulher do seu “lado”. Assim também, do lado aberto de Cristo, dormindo na cruz, Deus tirou a Igreja, sua esposa. São metáforas de amor e de salvação. Maria viveu intimamente este sono redentor junto com o seu Filho. Ela morreu da sua morte e ressurgiu da sua vida plena. Foi recriada no Coração de Jesus. É o caso único na história de uma Mãe que vai se tornando cada vez mais semelhante ao seu Filho até ser totalmente recriada nele. Temos mil oportunidades de dar testemunho da nossa fé. São os martírios que a vida nos apresenta todos os dias. Pode acontecer na família, na comunidade, no trabalho, nas amizades. Muitas vezes isto exigirá lágrimas, suor e… quem sabe, sangue. Estejamos prontos para dizer dizer o “sim” “sim” na hora certa. Maria Maria intercederá por nós neste momento difícil. Ela conhece nossas dores e nossos martírios de todos os dias. Peça a intercessão da Mãe que o Filho atenderá! Rainha dos mártires, rogai por nós!
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Rainha dos confessores con fessores da d a fé Regina confessorum
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sexta das doze invocações de Maria como “Rainha” saúda a Mãe de Deus como “Rainha dos confessores da fé”, em latim Regina confessorum. Após os apóstolos e mártires, os confessores da fé foram venerados na sua santidade desde os primórdios do cristianismo. A partir do século 4, quando cessaram as perseguições contra os cristãos e, naturalmente, diminuiu o número de mártires, a categoria dos “confessores da fé” começou a ser venerada pelo seu testemunho de santidade. Confessor era aquele que dava um testemunho público e notório da sua fé, especialmente pelo seu testemunho de vida cristã. Inicialmente somente os mártires recebiam o culto de “santidade”, por seguir Jesus até a cruz. Aos poucos a Igreja passou a entender que existem outras formas de martírio que nos tornam discípulos-missionários de Jesus Cristo. Confessar a fé em palavras palavras e gestos é uma forma de ser santo, ou seja, config configurado a Jesus. Inicialmente os confessores da fé eram reconhecidos pelo bispo local, que tinha como um dos critérios a vox populi , ou seja, a fama de santidade que a pessoa tinha no meio do povo. Pessoas reconhecidas pela sua santidade passavam a ser espontaneamente veneradas como “santos” e “santas”, sem que fosse necessário um longo e minucioso processo de “beatifi “beatificação” cação” e “canonização”. “canonização”. A partir partir do século século 10 o reconhecimento reconhecimento oficial da santidade começou a ser feito por Roma. A partir do século 16 todos os processos de reconheci rec onhecimento mento da santidade santidade passaram a ser feitos feitos pela Congregação Congregação para a Causa dos Santos, em Roma. Existem, basicamente, dois momentos. Primeiro se reconhece a santidade permitindo o culto local: é a beatificação. O próximo passo é a canonização, que permite o culto do santo em toda a Igreja, ou seja, no mundo inteiro. A palavra palavra “canonização” sig signifi nifica ca a inserção do nome do santo no Cânon romano da missa, ou seja, na Oração Eucarística. Maria é a Rainha dos confessores da fé, ou seja, de todos os que não têm receio de dar testemunho público de que acreditam em Jesus e vivem o que ele pregou, mais que isso, vivem como ele viveu. Poderíamos até arriscar dizer que Maria foi a primeira confessora da fé. Ela não sofreu o martírio do sangue, não esteve entre o grupo dos doze apóstolos. Sua santidade é toda especial. Há um episódio na vida de Jesus em que ele mesmo reconhece que a santidade de Maria não se resumiu ao fato de ter sido escolhida para ser a Mãe do Messias. Claro que em primeiro lugar sempre vem a graça de Deus. Mas logo em seguida vem a nossa 103
resposta em gestos a esta graça. Vejamos o texto: “Uma mulher levantou a voz do meio do povo e lhe disse: ‘Bem-aventurado o ventre que te trouxe, e os peitos que te amamentaram!’ Mas Jesus replicou: ‘Antes bem-aventurados aqueles que ouvem a palavra palavra de Deus e a observam!’ “ (Lc 11,27-28). Maria permaneceu bendita entre todas as mulheres da terra, porque respondeu à graça. Ela ouviu a Palavra de Deus e a observou na sua vida. Em Caná este foi o conselho que ela deu aos servos: “Façam tudo o que meu Filho vos disser”. Isto é ser confessor da fé. É ouvir atentamente a Palavra de Deus e encarná-la nos nossos gestos, no nosso dia a dia. Maria é a rainha de todo aquele que se esforça por dar testemunho em todos os lugares. Quando você usa um sinal externo que testemunha a sua fé está sendo confessor. Quando você conversa com um colega de trabalho e não tem vergonha de dizer que é feliz por ser católico, que lê a Bíblia, que reza em casa, que vai à Missa, isto é ser confessor. Quando você testemunha com os seus gestos de caridade, de justiça, de solidariedade que ama os pobres e vê neles a imagem do próprio Cristo, está sendo um confessor. Confessar a fé é buscar a santidade. Não buscamos o culto, nem o reconhecimento, mas ninguém acende uma vela para esconder debaixo da cama. É preciso preciso que as pessoas percebam o nosso testemunho. Mais Mais do que com palavras, palavras, acredite que o testemunho dos gestos convence. Muitas pessoas vão fazer de conta que não viram, mas o confessor é uma luz na sua família e no seu bairro. Não há como negar. Ele é reflexo vivo de Jesus Cristo. Maria nos ensinou este caminho! Rainha dos confessores da fé, rogai por nós!
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Rainha das virgens Regina virginum virginum
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sétima das doze invocações de Maria como “Rainha” saúda a Mãe de Deus como “Rainha das virgens”, em latim Regina vir vi rginum . Após os apóstolos, mártires e confessores da fé, já nos primórdios do cristianismo as pessoas que optavam pelo estado de vida que Jesus escolheu começaram a ser reconhecidas pela sua vocação. Aqueles e aquelas que não casavam para dedicarse inteiramente à comunidade, ao Evangelho, aos pobres, eram conhecidos(as) conhecidos(as) como “virgens “virgens consagrados(as)”. Formar uma família é uma vocação belíssima. Deus escolheu nascer em uma família de periferia. Porém, o próprio Jesus não formou uma família humana para se dedicar inteiramente a fazer da terra uma grande família de irmãos. A isso chamamos opção celibatária. O normal seria casar e ter filhos. Afinal, esta foi a ordem primordial que o Criador nos deixou: “Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher. Deus os abençoou: ‘Frutificai’, disse ele, ‘e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra’. […] Deus contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom. Sobreveio a tarde e depois a manhã: foi o sexto dia” (Gn 1,27-31). Qual seria então o sentido de algumas pessoas renunciarem a formar uma família para viver viver alg algum tipo tipo de virgi virgindade ndade consagrada? consagrada? No ano de 2008, o papa Bento XV XVII recebeu no Vaticano quinhentas mulheres pertencentes à Ordem das Virgens Consagradas. Apesar de existir desde o início do cristianismo, esta ordem foi restaurada pelo pelo Concílio Concílio Vati Vaticano cano II. Na ocasião o papa disse disse que esta e sta vocação é um “dom na Igreja e para a Igreja” e convidou-as “a crescer dia após dia na compreensão de um carisma tão luminoso e fecundo aos olhos da fé quanto obscuro e inútil aos olhos do mundo”. De fato a vida consagrada é sempre um sinal de contradição. Em outras palavras, poderíamos dizer dizer que ela é um grito rito profético. profético. O profeta denuncia denuncia e anuncia. anuncia. Os consagrados consagrados são profetas por meio meio dos votos de castidade, castidade, pobreza e obediênci obediência. a. Pelo voto de castidade, os religiosos e religiosas denunciam a idolatria do prazer e anunciam o reino da fraternidade universal. O consagrado vive antecipadamente aquilo que um dia viveremos no céu. Por isso ele é um sinal de esperança no meio do povo. É bonito bonito quando todos chamam uma mulher mulher de “irmã” “irmã” ou “madre” (mãe). P ense, por exemplo, em madre Teresa de Calcutá ou em irmã Dorothy Stang, assassinada em 2005. 105
São pessoas que reconhecemos como consagradas a uma causa justa. Elas nos ajudam a entender perfeitamente o sentido da “virgindade consagrada”. Pelo voto de pobreza o religioso denuncia a idolatria do ter e anuncia o reino da solidariedade universal. Os consagrados não retêm os bens em seu próprio favor. O que eles têm é colocado a serviço da missão. Vivem da Divina Providência e dedicam o seu tempo e a sua vida à causa dos mais pobres. Pelo voto de obediência o religioso denuncia a idolatria do poder e e anuncia o reino da disponibilidade universal. Vivemos em um mundo onde “quem pode mais chora menos”. Para muitos a vida é uma corrida que só vale a pena se “eu” chego primeiro. Os consagrados aceitam o último lugar. Sabem que servir vale mais do que ser servido. Abrem mão de projetos pessoais em nome do bem comum. Você pode ter a vocação vo cação de colocar co locar o seu coração nas mãos mã os de Deus em total consagração. Vá em frente. Vale a pena. Pode ser numa congregação religiosa ou numa comunidade de vida; mas pode ser também na virgindade consagrada. Procure seu bispo. Ele pode receber sua consagração secreta. Ninguém precisará saber. Existe até um rito oficial para esta consagração. Você deixará de formar uma família na terra para viver um matrimônio místico com o Esposo da Igreja, Jesus Cristo. E não esqueça que Maria reza de um modo todo especial por você. Rainha das virgens, rogai por nós!
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Rainha de todos os santos Regina sanctorum omnium
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oitava das doze invocações de Maria como “Rainha” saúda a Mãe de Deus como “Rainha de todos os santos”, em latim Regina sanctorum omnium . Após os apóstolos, os mártires, os confessores da fé e as virgens, chegamos a todos os que viveram uma vida exemplar de configuração a Cristo: os santos. Santidade é aquilo que padre Zezinho, Zezinho, scj, popularizou popularizou nas palavras palavras da canção: “Amar como Jesus amou, sonhar como Jesus sonhou, viver como Jesus viveu, sentir o que Jesus sentia, sorrir como Jesus sorria!”. É poder repetir as palavras do apóstolo Paulo: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). A santidade é mais do que uma caricatura. É viver em Cristo. É permitir que Cristo viva em você. É a vocação fundamental de todo batizado. Na verdade a palavra “batismo” significa mergulho. Mergulhamos em águas mais profundas e a cada dia vamos nos tornando mais semelhantes a Cristo. Pela santificação vamos recuperando aquela “imagem e semelhança de Deus” que o pecado das origens nos roubou. O Batismo não é um sacramento pronto e acabado. É um processo que dura toda a vida. É mesmo como um mergulho que começa na terra e dura até o céu. Quando Jesus se transfigurou diante de Pedro, Tiago e João, no monte Tabor, ensinou que a nossa vocação é viver uma existência transfigurada. Mas o que vemos todos os dias são pessoas desfiguradas. São tantas as coisas que desfiguram os jovens. Pense na droga, na pornografia, no aborto, na violência, nos crimes, na corrupção. Pense nos crimes contra crianças indefesas. É para este mundo desfigurado que o cristão é chamado a ser luz. Ser santo é deixar-se transfigurar pelo Espírito Santo. Ele se chama “Santo” porque a sua missão é nos santificar derramando nos nossos corações o amor sem medida. A graça amorosa de Deus vai nos amorizando à medida que abrimos o coração e permiti permitimos mos que o Espírito faça esta obra. Deixar-se Deixar-se amorizar é o mesmo que crescer c rescer em santidade. Os santos são pessoas amorosas. Um jovem me disse certa vez que seu amigo, após fazer um retiro espiritual, voltou santo demais. Perguntei o que isso significava e ele me disse que o seu amigo estava irreconhecível: “Voltou muito chato”. Existe uma presunção de santidade que não tem nada a ver com santidade de fato. Os fariseus costumavam se achar mais santos do que os outros. O santo não é orgulhoso e normalmente se acha até mais pecador do que a maioria dos mortais. 107
Quanto crescemos na santidade, não crescemos sozinhos. A santidade nos insere na Igreja, que é o Corpo de Cristo. O Batismo nos santifica como membros da Igreja. Santidade rima com solidariedade. Ser santo é refletir Jesus para o mundo e construir laços de comunhão entre as pessoas. O pecado divide. A santidade une. Onde houver um santo pode prestar atenção e perceberá que existe um movimento de comunhão. Onde reinam a discórdia e a divisão, ali é a festa do “diabo”, no sentido mais etimológico desta palavra: palavra: diabolein significa “aquele que divide”. Ser santo é viver a comunhão amorosa com Deus, com as coisas, com os irmãos e consigo mesmo. É encarnar o mandamento do amor que resume toda a Bíblia: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. Quem melhor do que Maria viveu tudo isso? Ela é o supremo modelo de santidade. Por isso podemos invocar: Rainha de todos os santos, rogai por nós!
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Rainha Rainha concebida sem pecado peca do origi originnal Regina sine labe originali concepta
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nona das doze invocações de Maria como “Rainha” saúda a Mãe de Deus como “Rainha concebida sem pecado original”, em latim Regina sine labe origi nali concepta. O final da Ladainha acena para um dos principais dogmas marianos: ela foi preservada do pecado orig original. nal. Já falamos falamos sobre ele ele quando comentamos a invocação ater intemerata, traduzida livremente como “Mãe imaculada”. Com esta inserção temos duas invocações diferentes, mas que se referem ao mesmo dogma mariano. Façamos, portanto, neste capítulo, uma espécie de revisão geral dos dogmas que se referem a Maria: 1. Virgindade perpétua 2. Maternidade Divina 3. Imaculada Imaculada Conceição 4. Assunção ao céu Os dois primeiros dogmas foram definidos na Bíblia e reconhecidos pela Igreja ao longo do primeiro milênio. Os dois últimos são definições recentes da Igreja. Nenhum deles está preocupado em definir a identidade ou os méritos de Maria. Todos os dogmas marianos, na verdade, são cristológicos, ou seja, defendem a natureza de Jesus Cristo como Verbo Encarnado, verdadeiramente humano e divino. Isto é importante, pois, como dizia Santo Ireneu já no século 2, “o que não foi assumido não foi redimido”. Se a encarnação foi uma farsa, então não fomos salvos pelo sacrifício de Cristo na cruz. No início nício do cristi cristianismo anismo alg algumas pessoas achavam que Jesus era simples simplesmente mente homem com aparência de Deus. Outros achavam que era Deus com aparência de homem. Era difícil acreditar que Deus infinito e onipotente pudesse se encarnar e assumir os limites de um galileu de Nazaré! Por isso a Igreja, no Concílio de Calcedônia, teve que afirmar que Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, sem confusão nem separação. Ao dizer que Maria concebeu do Espírito Santo, ou seja, na virgindade, os evangelistas defendiam que Jesus não era somente humano; era Filho de Deus pela ação direta do Espírito Santo. Portanto, o dogma da “virgindade de Maria” na verdade afirma a divindade de Jesus! 109
Ao dizer que Maria é Mãe de Deus ( Theotokos) a liturgia dos primeiros séculos queria afirmar que entre a natureza humana e a natureza divina de Cristo não poderia haver separação. Maria é mãe do Cristo inteiro; ou seja, a natureza divina realmente assumiu (e salvou) a natureza humana. Portanto, o dogma da “maternidade divina” de Maria na verdade afirma a humanidade de Jesus enquanto Deus! Mas e o dogma da Imaculada Conceição? Esta verdade de fé demorou muito para ser aceita pelos teólogos. Mesmo Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino tiveram dificuldades de entender a Imaculada Conceição. Se Maria tivesse nascido sem o pecado original, do que então teria sido salva? Ela teria sido a única criatura que não precisou do sacrifício redentor do seu Filho? É claro que não. Na verdade, o povo e a devoção popular popular acreditavam acreditavam neste dogma bem antes da sua definição oficial pela Igreja. Veja que a imagem que veneramos em Aparecida é a da Imaculada Conceição. Lembre que foi encontrada no rio Paraíba no século 18 e que o dogma da Imaculada Conceição foi definido pela Igreja somente no século 19. A solução para este enigma é simples. Aos poucos os teólogos passaram a entender que a salvação oferecida em Cristo é mais do que simplesmente redimir dos pecados. Maria não pecou, mas teve que ser recriada em Cristo; nele somos regenerados, gerados novamente para uma vida nova. O dogma da Imaculada Conceição mostra que antes do pecado origi original exi existia stia a graça origi original nal.. Fomos criados sem defeito defeito de fabricação. fabricação. Um dia seremos novamente imaculados. Não teremos mancha. Maria nos precede na ordem da graça. Na que foi “cheia de graça” não haveria espaço para a desgraça. Devemos caminhar para esta meta. O céu também é conquista. A graça vai nos tornando plenos até ficarmos imaculados. Rainha concebida sem pecado original, rogai por nós!
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Rainha assunta ao céu Regina in coelum assumpta
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décima das doze invocações de Maria como “Rainha” saúda a Mãe de Deus como “Rainha “Rainha assunta ao céu”, em latim latim Regina in coelum assumpta. O final da Ladainha acena para o mais recente dos dogmas marianos: a assunção de Maria. Pessoalmente tenho um grande carinho por este dogma, pois minha mãe nasceu na véspera da festa da Assunção — 15 de agosto — e se chama Maria da Glória. Nasci e vivi minha infância na cidade de Brusque, em Santa Catarina, onde temos o Santuário de Azambuja, que celebra todos os anos com grande solenidade a festa da Assunção. O papa Pio XII, em 1950, definiu como dogma de fé que, terminado o curso da sua vida terrena, Maria foi “elevada” ou “assumida” de corpo e alma ao/no céu. No mesmo ano esta invocação passou a fazer parte oficialmente da Ladainha. Alguém poderia questionar o sentido destes quatro dogmas. De modo algum é uma forma simplória de elogiar Maria. Ela não foi escolhida pelos seus méritos, mas pela graça de Deus. Os dois primeiros primeiros dogmas, dogmas, mais antigo antigoss e claramente claramente bíblicos, bíblicos, indicam ndicam a natureza de Jesus Cristo e garantem a verdade fundamental da salvação. Dizer que a “virgem” Maria concebeu do Espírito Santo significa professar a fé na divindade de Jesus. Nele o “Verbo se fez carne” (Jo 1,14). O céu assumiu definitivamente a terra. Mas, para que não reste dúvida da inseparabilidade da divindade e da humanidade de Jesus, dizemos que Maria é “Mãe de Deus”, ou seja, é Mãe do Cristo todo, pois nele não existe um departamento humano e outro divino. Os dogmas da “imaculada” e da “assunção” são bem mais recentes. Eles se referem à origem e ao destino da humanidade. Maria é ícone do povo de Deus. Olhando para ela vemos nossa identidade como em um espelho. Ela foi imaculada. Esta é a nossa origem. o princípio era a santidade original. Somente depois veio o pecado original. Um dia, no céu, seremos santos e imaculados. Todos nós queremos ser assumidos no colo de Deus. Cada um terá a sua própria “assunção”. Temos que superar aquela visão simplista de Maria sendo elevada por anjos para além das nuvens. Por uma questão de delicadeza teológica, a Igreja evita responder à pergunta pergunta se Maria Maria morreu ou não. Na verdade, desde tempos muitos muitos antig antigos os cristãos cristãos festejavam a festa da “Dormição de Maria”. Prefiro a tradução de “assunção” como aquela que foi “promovida” ou “assumida”. Alguém me perguntou se este dogma tem fundamento bíblico. O Magnifi cat é 1111 11
fundamento suficiente. “Meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador, porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso” (Lc 1, 47.49). Assumir Maria no céu foi a última das grandes maravilhas que Deus fez na vida de Maria. Aquela que foi concebida sem pecado e viveu cheia de graça só poderia receber o “prêmio da coroa eterna”. Mais adiante o canto de Maria dirá que Deus “derruba do trono os poderosos e eleva os humildes” (cf. Lc 1, 52 s.). Esta “elevação” é o sentido próprio da assunção. Todos nós devemos viver esta mística no nosso dia a dia. Somos chamados a promover as pessoas, a praticar a solidariedade e a promoção humana. Muitos vivem num verdadeiro inferno de dor, sofrimento, fome, injustiça, pecado. Os pobres esperam a mão solidária que os eleve. Jesus disse que quem pratica estas obras de misericórdia, ou de promoção humana, será acolhido acolhido no abraço defini definiti tivo, vo, no reino reino dos céus (cf. Mt 25). Os dogmas não são apenas de Maria. Eles revelam a identidade de Cristo e a face de cada um de nós. Como disse Santo Ambrósio: “Esteja em cada um a alma de Maria a glorificar ao Senhor, esteja em cada um o espírito de Maria a exultar em Deus; se, pela carne, uma só é a mãe de Cristo, pela fé todas as almas geram a Cristo: cada uma, de fato, acolhe em si o Verbo de Deus” ( Exp. ev. sec. Lucam, II, 26). Maria é sinal de esperança, é estrela da manhã que precede o sol nascente, a luz do alto que veio nos visitar. Vamos assumir Deus e promover os irmãos, e Deus nos assumirá e nos promoverá ao Reino do Céu. Rainha assunta ao céu, rogai por nós!
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Rainha do santo Rosário Regina sacratissimi sacratiss imi Rosarii Rosari i
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décima primeira das doze invocações de Maria como “Rainha” saúda a Mãe de Deus como “Rainha do santo Rosário”, em latim Regina sacratissimi sacratissi mi Rosarii . Ela foi inserida oficialmente na Ladainha Lauretana pelo papa Leão XIII, em 10 de dezembro de 1883, mas já era utilizada pelo povo havia mais de duzentos anos. De fato, a Ladainha e o Rosário são “devoções irmãs” que utilizam a repetição de verdades da fé como pedagogia espiritual. O sentido não está propriamente na repetição, mas na meditação e na contemplação dos mistérios da nossa salvação, ou seja, no Mistério Pascal de Jesus Cristo. Este é o verdadeiro centro da Ladainha e do Rosário. Na verdade não rezamos “para” Maria, mas “com” Maria. Ela não é o destino final da nossa viagem, mas uma placa de beira de estrada que aponta a entrada correta para o céu! Quem já errou a entrada sabe como a indicação do caminho correta pode ser importante, princi principal palmente mente quando estamos em um país estranho. O papa João Paulo II colocou Ladainha e Rosário lado a lado na conclusão da sua última carta apostólica, Rosarium Virgini s Mariae Mari ae. Ali ele diz de maneira muito bela: “O Rosário, de fato, apesar de sua fisionomia mariana, é uma prece de coração cristológico” (nº 1). Ele diz ainda que no Rosário é toda a Igreja que “recorda Cristo com Maria”, “anuncia Cristo com Maria” encontra Cristo pela “via de Maria”. Algumas pessoas costumam fazer críticas ao Rosário e à Ladainha. A mais comum é que seriam orações monótonas e repetitivas. Os que dizem isso normalmente não aprenderam corretamente esta “técnica de contemplação”. Certa vez gravei um disco com a oração do Rosário. No terceiro mistério, ao perceber que sempre era repetido o “Ave, Maria”, o técnico de som me chamou em um canto e perguntou: “Padre, vai ser sempre assim… a mesma coisa?”. Eu respondi que cada “Ave, Maria” era diferente, pois as pessoas estavam rezando enquanto meditavam uma cena da vida de Jesus. Não é o mesmo dizer “Ave, Maria” em Belém e diante da cruz. Ele respondeu que sua máquina só registrava os sons e não os pensamentos. Seria mais fácil gravar um “Ave, Maria” e depois simplesmente fazer uma montagem. Insisti que deveríamos gravar daquele jeito. Hoje, passados dez anos, este técnico continua a rezar o “terço” que ele próprio gravou — e entendeu que até as máquinas máquinas de gravação registram registram sentimentos e pensamentos. Na Ladainha Ladainha util utilizamos a mesma dinâmi dinâmica ca do Rosário, Rosário, só que com uma variação. variação. O Rosário nos conduz à contemplação dos diversos mistérios da vida de Cristo. A Ladainha 113
nos leva a uma dinâmica de catequese mariana, que acaba por nos conduzir ao mesmo ponto: o mistéri mistérioo de Jesus Cristo. Cristo. P or isso estas meditações meditações podem ser muito muito úteis úteis para que a recitação desta prece não se torne monótona e automática. Maria é nossa catequista catequista quando rezamos a Ladainha. Ladainha. Outras pessoas dizem que o Rosário é uma oração ultrapassada. Será que a Ladainha está mesmo restrita aos lábios dos idosos? Com certeza não. Já está terminando o racionalismo da modernidade que só reza aquilo que entende. A razão é um dom precioso, precioso, mas nem de long ongee é o único único caminho caminho para chegar chegar a Deus. Aliás, costuma ser uma estrada mais longa e cheia de pedras. Os intelectuais sofrem ao tentar entender os mistérios do céu. Poetas e profetas chegam mais rápido. Nossa juventude hoje tende a rejeitar as fórmulas artificiais da prece moderna. Por isso, muitos preferem crer de um eito mais oriental. O corpo reza; o murmúrio é orante; a respiração nos religa no sagrado; tudo em nós pede o complemento divino. É muito fácil rezar a Ladainha desta maneira. Nada de pressa. É preciso ritmo… rito! Tente gravar a Ladainha com sua própria própria voz e depois depois rezar ouvindo ouvindo enquanto faz sua caminhada caminhada diári diária. a. Verá que isto lhe trará mais saúde para o corpo e para a alma. Rainha do santo Rosário, rogai por nós!
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Rainha da família Regina familiae famili ae
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Ladainha em sua versão original continha doze invocações a Maria como Rainha. O papa João P aulo aulo II, porém, achou por bem acrescentar mais uma invocação da realeza da Mãe de Deus e nossa: “Rainha da família”, em latim Regina famili ae. É o coroamento de todas as invocações anteriores. Deus quis entrar na história por meio de uma família. No quarto ano do seu pontificado, no dia 22 de novembro de 1981, publi publicou a exo exortação rtação apostóli apostólica Famili aris consortio . Era Solenidade de Cristo Rei. Maria só pode ser considerada Rainha porque deu à luz o Rei dos reis. Nesta exo exortação rtação o papa deix deixou registradas registradas algumas algumas frases que ficarão ficarão para sempre marcadas na nossa memória, por exemplo: “O futuro da humanidade passa pela família!”. Concluiu o seu discurso consagrando todas as famílias do mundo a Maria. Vale recordar suas palavras: “Que a Virgem Maria, Mãe da Igreja, seja também a Mãe da ‘Igreja doméstica’ e, graças ao seu auxílio materno, cada família cristã possa tornar-se verdadeiramente uma ‘pequena Igreja’, na qual se manifeste e reviva o mistério da Igreja de Cristo. Seja Ela, a Escrava do Senhor, o exemplo de acolhimento humilde e generoso da vontade de Deus; seja Ela, Mãe das Dores aos pés da Cruz, a confortar e a enxugar as lágrimas dos que sofrem pelas dificuldades das suas famílias”. De fato, a família tem a vocação de ser uma “Igreja doméstica”. Os pais são sacerdotes do lar. Isto não é pura poesia. É verdade. É teologia. É vontade de Deus e da Igreja. A Sagrada Família de Nazaré é um dos primeiros modelos de Igreja a inspirar as comunidades dos cristãos dos primeiros séculos. Ser Igreja-família significa viver no lar as três grandes características de todo batizado: batizado: ser profeta, sacerdote e pastor. pastor. Ser profeta profeta na própria casa significa cultivar a Palavra de Deus. A Igreja-família lê, medita, partilha e pratica a Palavra. Na família de Nazaré a Palavra se fez carne e armou entre nós a sua tenda (cf. Jo 1,14). Não basta ter devoção à Palavra, deixando a Bíblia aberta em um salmo qualquer. É preciso ler. Bonito quando pai, mãe e filhos tiram um tempo para fazer o seu círculo bíblico. Isto acontece sempre nas novenas de Natal e de Páscoa. Além disso, ser profeta no lar é educar os filhos na fé. Os esposos prometem isso no dia do seu casamento. Não basta mandar os filhos para a catequese. É preciso, desde pequenos, ensinar-l ensinar-lhes hes as primeiras primeiras orações, levá-los levá-los à Igreja, Igreja, rezar em casa. A segunda característica da Igreja-família é ser um lugar de oração. Para isso os pais devem cumprir sua missão de sacerdotes sacerdotes do lar. Há momentos mais fortes de oração em 115
família. A noite de Natal é um deles. Não basta trocar presentes. É preciso sentir Deus presente. Se a família família é cristã, cristã, como o Natal pode ser pag pagão? ão? Em alg algumas famílias famílias a ceia ceia de Natal tem peru e árvore, tem até Papai Noel. Nem sempre tem presépio e pior… às vezes falta uma breve oração. Em sua casa se reza antes das refeições? E quando morre um familiar o que se faz no velório? Famílias que são Igreja tiram um tempo para rezar algumas dezenas do Rosário. A terceira característica da Igreja-família é ser um espaço de prática da caridade. Pai e mãe são pastores pastores deste pequeno rebanho. A primeira e principal pastoral de todo marido e de toda esposa é em sua própria casa. Encontro pessoas que estão de tal modo ocupadas nas atividades da paróquia que não têm tempo para pastorear os seus filhos. Existem reuniões de movimentos e pastorais todos os dias. A Igreja-família fica em segundo plano. Lembre-se que a família é uma Igreja. Ali é a sua primeira “pastoral”. Seria desejável que a Igreja também se tornasse cada vez mais uma família. A pastoral da acolhi acolhida está aí para que todos se sintam sintam em casa. Nossas comunidades comunidades precisam precisam abrir as portas, os braços e o coração para todos aqueles aqueles que procuram um lugar para encontrar com Deus e com os irmãos. Maria, Rainha da família, interceda por todos nós. Que ela nos ensine a fazer deste mundo um Reino de irmãos. Rainha da família, rogai por nós!
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Rainha da paz Regina pacis
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décima segunda das doze invocações de Maria como “Rainha” saúda a Mãe de Deus como “Rainha da paz”, em latim Regina pacis . Não poderia ser diferente, já que ela é a Mãe do “príncipe da paz” (cf. Is 9,5). Ela experimentou na própria carne a violência que o pecado provoca no mundo. Quando apresentou o seu filho no Templo ouviu a profecia do velho Simeão: “Eis que este menino está destinado a ser uma causa de queda e de reerguimento para muitos homens em Israel, e a ser um sinal que provocará contradições, a fim de serem revelados os pensamentos de muitos corações. E uma espada traspassará tua alma!” (Lc 2,34-35). Esta espada tocou o fundo da alma de Maria no momento em que viu seu filho na cruz. ão é difícil imaginar sua dor no momento em que recebeu no colo o Filho já sem vida. Mas qual teria sido a sua reação? Desespero? Com certeza não! Foi de uma dolorosa serenidade. A genialidade de Michelangelo Buonarroti — artista do renascimento italiano — soube representar esta atitude na clássica imagem da Pietà . O que chama a atenção para quem observa bem esta escultura, conservada no Vaticano, é que o rosto não tem nada a ver com uma mulher de mais ou menos 45 anos. Parece mais o de uma menina de 16 anos. Isto contrastou com o gênero próprio da época, que costumava retratar a dor de Jesus e de Maria com as cores bastante fortes e expressivas da crueldade. Michelangelo mostrou com a sua arte que mesmo na dor maior Maria permaneceu sendo Rainha da paz. Por meio de Maria recebemos a paz que os nossos primeiros pais perderam no início da criação por causa do pecado. Santo Ireneu dizia que o nó da desobediência de Eva foi desfeito pela obediência de Maria. Se o salário do pecado foram a dor, a violência e a morte, por meio do sim de Maria chegaram até nós, em Jesus, a salvação e a paz. A imagem do Apocalipse retrata bastante bem a Rainha da paz: Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas. Estava grávida e gritava de dores, sentindo as angústias de dar à luz. Depois apareceu outro sinal no céu: um grande Dragão vermelho, com sete cabeças e dez chifres, e nas cabeças sete coroas. Varria com sua cauda uma terça parte das estrelas do 117
céu, e as atirou à terra. Esse Dragão deteve-se diante da Mulher que estava para dar à luz, a fim de que, quando ela desse à luz, lhe devorasse o filho. Ela deu à luz um Filho, um menino, aquele que deve reger todas as nações pagãs com cetro de ferro. Mas seu Filho foi arrebatado para junto de Deus e do seu trono. A Mulher fugiu então para o deserto, onde Deus lhe tinha preparado um retiro para aí ser sustentada por mi m il duzentos e sessenta dias. (Ap 12,1-6). Estas imagens fortes mostram que nossa vida é um combate espiritual. Maria e a Igreja se confundem na figura desta “mulher do apocalipse”. Na verdade, Maria é um ícone no qual vemos a própria imagem da nossa humanidade redimida e da Igreja que busca vencer com a força do Espírito. Espírito. A devoção recente a Nossa Senhora Rainha da paz parece ter sua origem em 1085, na cidade de Toledo, libertada das mãos dos mouros. Vivemos hoje num mundo muito violento. A segurança é um dos maiores desejos das nossas famílias. Toda criança sabe muito bem onde encontrará um refúgio seguro: no colo da mãe. Quando invocamos Maria como “Rainha da paz”, na verdade pedimos seu colo, sua intercessão e seu exemplo. Aquela que viveu até o drama da morte do seu filho sem perder a paz vai nos ensinar o caminho para garantir paz entre marido e mulher, entre jovens e idosos, paz nas ruas e praças, paz nas cidades e nos campos. Se o seu coração anda agitado e impaciente, se o estresse tomou conta dos seus dias e das suas noites, peça a intercessão da Mãe. Rainha da paz, rogai por nós!
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Conclusão Agnus Dei Dei qui tollis tol lis peccata pecc ata mundi: parce nobis Domine Agnus Dei Dei qui tollis tol lis peccata pecc ata mundi: exaudi nos Domine Agnus Dei Dei qui tollis tol lis peccata pecc ata mundi: miserere mis erere nobis
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ncerramos nossa série de comentários sobre a Ladainha de Nossa Senhora. Reconhecemos em Maria uma verdadeira mestra da oração. Cada invocação esconde uma verdade mariana que aponta para uma verdade sobre Jesus. Por isso, a conclusão da Ladainha é uma tríplice invocação ao “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”: perdoai-nos, ouvi-nos, tende piedade de nós. Jesus é a meta do verdadeiro devoto de Maria. Ele tira os pecados do mundo e nos mostra o caminho para a casa do Pai. Vivemos esta caminhada penitencial de volta para a Terra Prometida. Às vezes nos sentimos fracos e falta-nos força para continuar. Nem sempre tudo vai tão bem. Conforme rezamos na Salve-rainha, seguimos o nosso caminho “gemendo e chorando neste vale de lágrimas”. Maria também chorou; também teve motivos para ficar triste e até desanimar. Mas ela perseverou com os olhos fixos na meta. Seguimos o seu exemplo.
Há um motivo para vivermos os sofrimentos desta vida com espírito de fé. Conforme afirmou o apóstolo Paulo “O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu Corpo, que é a Igreja” Igreja” (Cl 1, 24). Pel Pe lo Batismo Batismo somos membros de Cristo, Cristo, membros do seu Corpo Místico. Existe um sentido salvífico no sofrimento humano. A paix paixão de Cristo Cristo na cruz se prolong prolongaa nas nossas paixões paixões e nos nossos sacrifícios sacrifícios de todos os dias. Há um mistério de solidariedade que nos une intimamente a Jesus Cristo. Maria Maria entendeu perfeitamente perfeitamente esta união união mística. Precis P recisamos amos dar este passo. A fé nos permite permite ver para além além da montanha de problemas problemas que temos que resolver resolver todos os dias. dias. Ela conseguiu ver para além da cruz. Rezo por tantos irmãos e irmãs que vivem o ministério do sofrimento; rezo pelos doentes; peço pelos angustiados e depressivos; intercedo por todos os que padecem de alguma síndrome ou de algum medo. Que nossa mãe Maria nos ajude a ver que para além da cruz existe a luz. Isto nos dará força para caminhar. A Ladainha Loretana não esgota todos os conhecimentos da Mariologia. Hoje a Igreja insiste no exemplo de Maria como serva do Senhor a serviço dos irmãos. Ela é um modelo de discípula-missionária, conforme lembrou a recente Conferência de Aparecida. Sua capacidade de ouvir e guardar todas as coisas no coração é uma luz no caminho de todos os que procuram seguir os passos de Jesus de Nazaré. A ladainha mariana do 119
nosso tempo sabe que o melhor elogio que podemos dar à Mãe de Nazaré é viver como Jesus viveu e amar como Jesus amou. Cantar a ladainha é bom. Vivê-la é sempre melhor! Mãe de toda a humanidade, ensina-nos a dizer: Amém!
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Prece a Mari Maria, a catequista de Jesus!
Ave Maria, olhando a tua vida meu coração exulta de alegria. Pelo teu sim recebemos o Salvador. Como não cantar: Minh’alma engrandece o Senhor!!! No teu colo de mãe quero cantar com os milhões milhões de irmãos e irmãs que foram gerados no teu ventre: Ave Maria, mãe de Jesus! Querida mãe e catequista de Jesus, ensina-me a transformar o saber em sabor e a sabedoria em unção. Que o teu exemplo me ajude a acreditar que é possível mudar o mundo pelo poder da oração. Ensina-me a rezar com a voz e com as mãos, com mística e militância, com espiritualidade e solidariedade. Ouvir o anjo Gabriel e servir à prima Isabel é conhecer e trilhar o caminho do céu! AMÉM!
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A Ladainha Cantada Autor: Pe. João Baptist Baptista a Lehmann (1873-1955) (1873-1955)
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adre João Baptista Lehmann nasceu em Mertloch, na Alemanha, em 1873. Em 1899 foi ordenado sacerdote da Congregação do Verbo Divino e no ano seguinte transferido para o Brasil, em Juiz de Fora, Minas Gerais. Trabalhou intensamente para coletar e produzir música litúrgica de qualidade. Reuniu o resultado de suas pesquisas na obra Harpa de Sião . Em 1925 padre Lehmann foi transferido para o Rio de Janeiro, e em 1946 passou a integrar a Comissão Arquidiocesana de Música Sacra do Rio de Janeiro. Ali permaneceu até a sua morte em 1955.
Quando o autor compôs esta melodia ainda não havia sido definido o dogma da Assunção nem havia a invocação Regina famili ae. Por isso, em nossa gravação, tomamos a liberdade de substituir a invocação Mater intemerata i ntemerata por Mater immaculata . Assim, já que o dogma da Imaculada Conceição ficou explicitamente contemplado, substituímos Regina sine labe origi nali concepta por Regina in coelum assumpta e Regina famili ae, uma vez que esta invocação, por ser mais longa, ocupava o lugar de duas na versão original. Com estas adaptações, a versão cantada da Ladainha Lauretana ficou o mais próxima possível da versão oficial de nossos dias. Ladainha de de Nossa Senhora Senhora
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© 2010 by Editora Ave-Maria. All rights reserved. Rua Martim Francisco, 636 – CEP 01226-000 São Paulo, SP – Brasil Tel.: (11) 3823-1060 • Fax: (11) 3660-7959 Televendas: 0800 7730 456
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ISBN: 978-85-276-1366-8 Capa: Rui Cardoso Joazeiro Edição digital: agosto 2012 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Almeida, lmeida, João Carlos (Pe. Joãozinho) Ladainha de Nossa Senhora: o sentido de cada invocação / Pe. Joãozinho. – São Paulo: Editora AveMaria, 2010. 900kb; epub ISBN: ISBN: 978-85-276-1366-8 978-85-276-1366- 8 1. Mariologia 2. Teologia 3. Devoção 4. Orações 5. Catolicismo 6. Liturgia 7. Dogmas Marianos I. Título 10-04755
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Índice para catálogo sistemático: 1. Cris tianis mo: Mariologia
242. 74
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Índice Introdução Ladainha de Nossa Senhora Invocações iniciais Santa Maria Santa Mãe de Deus Santa virgem das virgens Mãe de Cristo Mãe da Igreja Mãe da Divina Graça Mãe puríssima Mãe castíssima Mãe sempre virgem Mãe imaculada Mãe digna de amor Mãe admirável Mãe do bom conselho Mãe do Criador Mãe do Salvador Virgem prudentíssima Virgem venerável Virgem louvável Virgem poderosa Virgem clemente Virgem fiel Espelho de justiça (perfeição) Sede da sabedoria Causa (fonte) da nossa alegria Vaso espiritual
7 11 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49 51 53 55 57 59 61 63 65 136
Vaso honorífico (Tabernáculo da eterna glória) Vaso insigne de devoção (Moradia consagrada a Deus) Rosa mística Torre de Davi Torre de marfim Casa de ouro Arca da aliança Porta do céu Estrela da manhã Saúde dos enfermos Refúgio dos pecadores Consoladora dos aflitos Auxílio dos cristãos Rainha dos anjos Rainha dos patriarcas Rainha dos profetas Rainha dos apóstolos Rainha dos mártires Rainha dos confessores da fé Rainha das virgens Rainha de todos os santos Rainha concebida sem pecado original Rainha assunta ao céu Rainha do santo Rosário Rainha da família Rainha da paz Conclusão Prece a Maria, a catequista de Jesus! A Ladainha Cantada 137
67 69 71 73 75 77 79 81 83 85 87 89 91 93 95 97 99 101 103 105 107 109 111 113 115 117 119 121 122
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