Johannes Hessen – Filosofia dos Valores INTRODUÇÃO 1· SIGNIFICDO ! I"#ORT$NCI D T!ORI DOS V%OR!S Como quer que se entenda e defina o que é Filosofia, nâo pode ser negado que nesta se realiza sempre um auto-exame um auto-exame do do Espírito. Espírito. O espírito humano cultiva cultiva ciência e arte pratica pratica atos de moralidade moralidade e de religi!o" #as s$ na Filosofia ele medita so%re o sentido e alcance dessas suas actividades" & aí que ele faz as perguntas' (ue é conhecimento) (ue é ciência) (ue é a verdade) *erguntando isto, porém, o espírito humano n!o faz mais do que reflectir so%re as suas pr$prias atividades e atitudes teoréticas. + disciplina mediante a qual ele efectua este autoe-ame, chamase a Teoria a Teoria da ciência e ciência e a%range a Lógica a Lógica e e a Teoria do conhecimento. #as o mesmo espírito reflecte ainda so%re as suas fun/es e actividades não-teoréticas, não-teoréticas, so%re a sua atitude em face dos valores. *ergunta ent!o) (ue é moralidade) (ue é arte) (ue é religi!o) *or outras palavras' pretende indagar qual é a essência dos valores éticos, estéticos e religiosos. E a disciplina que se ocupa destes pro%lemas pro%lemas chamase chamase Teoria dos Valores, Axiologia, Axiologia, e a%rang a%range, e, por seu seu lado, lado, a a Ética, a Estética e a Filosoia a Filosoia da !eligião. E contudo a Filosofia n!o é ainda apenas isto" 0!o é apenas um autoe-ame e uma auto contempla!o do Espírito. & tam%ém concep!odomundo "#eltanschauung$ concep!odomundo "#eltanschauung$.. Esforase tam%ém por se elevar a uma vis!o totalista do mundo e por conhecer 1aquilo que o constitui e unifica na sua íntima essência2. 3sto f4lo ela na sua Teoria sua Teoria da !ealidade, !ealidade, dentro da qual h4 ainda a distinguir duas coisas' a %eta&sica e a Teoria das conce'()es-do-mundo. conce'()es-do-mundo. 5e a primeira destas duas 6ltimas partes discute os pro%lemas da essência, da íntima cone-!o e princípio de todas as coisas, a segunda trata dos derradeiros e mais altos de todos os pro%lemas' de 7eus, da li%erdade e da imortalidade humanas. E assim a Filosofia su%div su%divide idese se 8 podemo podemoss dizer dizer 8 em três três discip disciplin linas as fundame fundamenta ntais' is' a Teoria da *iência, *iência, a Teoria dos Valores e Valores e a Teoria a Teoria da !ealidade. . 7esta sua posi!o posi!o dentro do sistema sistema e classifica classifica!o !o das disciplinas disciplinas filos$ficas ressalta, ressalta, porém, 94, claramente, qual o significado da Teoria da Teoria dos +alores. +alores. 7evemos distinguir dentro desta uma Teoria uma Teoria geral e uma uma Teoria es'ecial, como tam%ém distinguimos, usualmente, uma #etafísica geral e outra especial. + :eoria especial dos valores é constituída pelas três disciplinas 94 designadas ' Ética, Estética Estética e Filosoia religiosa. religiosa. + :eoria geral tratar4, por seu lado, n!o dos diferentes valores e suas espécies, mas do valor e do valer em si mesmos. 5erve portanto de fundamento ; :eoria especial. & so%re ela que se levanta todo o edifício das v4rias disciplinas a-iol$gicas. 5er4 sempre a ela que nos referiremos quando no decorrer destas p4ginas empregarmos as e-press/es' Teoria e-press/es' Teoria dos Valores e Filosoia dos Valores. Ora se a :eoria dos valores constitui o fundamento das v4rias disciplinas a-iol$gicas, a importância do seu significado ficar4 assim, desde logo, tam%ém claramente demonstrada" +lém disso, a :eoria dos valores encontrase e ncontrase ainda numa rela!o muito particular com a Teoria a Teoria das das conce'()es-do-mundo. 0!o é ela, sem d6vida, o fundamento 6nico desta 6ltima, + :eoria das concepoes domundo ocupa no sistema geral da Filosofia o lugar imediato ao da #etafísica, tendo a esta como seu pressuposto. #as é evidente, por outro lado, que a #etafísica tam%ém n!o é %astante para lhe servir de fundamento<. =4, com efeito, outros pontos de vista que desempenham um importante papel para esta fundamenta!o e que se acham situados totalmente fora do ângulo de vis!o metafísico" +ssim, uma simples vis!o do ser, uma mera contem'la(ão mera contem'la(ão su s'ecie entis "einsetractung$ nunca "einsetractung$ nunca poder4 conduzir a uma ideia de 7eus que se9a verdadeiramente religiosa, porquanto esta ideia e-ige tam%ém certos moment momentos os valios valiosos, os, certos certos momento que 9ama 9amais is pode poder! r!o o ser ser e-tr e-traí aído doss de uma uma mera mera momentoss de +alor , que contempla!o ontol$gica das coisas" (uer dizer' qualquer resposta a dar como solu!o do pro%lema nuclear da concep!odomundo nunca poder4 ser dada partindo e-clusivamente da #etafísica. *or outras palavras' qualquer vis!o das coisas no ponto de vista ontol$gico ter4 sempre, por isso, de ser completada e aprofundada com uma outra vis!o delas no ponto de vista a-iol$gico. E o mesmo se diga dos outros dois pro%lemas capitais desta parte da Filosofia' o da li%erdade e o da imortalidade. :am%ém aqui seria impossível uma solu!o definitiva destes pro%lemas sem tomarmos em considera!o o estudo dos valores e sem investigar qual a posi!o do homem em face do cosmos a-iol$gico ou mundo do valioso. & isto o que nos permite afirmar que a :eoria dos valores assume uma fundamental importância, n!o s$ para as dife difere rent ntes es disc discip iplilinas nas a-io a-iol$ l$gi gica cas, s, como como 94 diss dissem emos os,, mas mas tam% tam%ém ém para para a teori teoria a da noss nossa a pr$pr pr$pria ia concep!odomundo. #as toda a concep!odomundo implica ainda, por sua vez, uma uma conce'(ão da +ida. +ida. Com a determina!o do sentido do universo, coincide uma determina!o do sentido da e-istência humana. Como teremos ocasi!o de ver mais adiante, o sentido da vida humana reside, precisamente, na realiza!o dos valores>. 7izendo isto, porém, tocamos aqui com o dedo o significado, desta vez 'r/tico, 'r/tico, da da Teoria dos +alores, na sua rela!o directa com a vida. 5e, de facto, o sentido da vida se acha dependente dos valores 1
Procurei mostrar isto pormenorizadamente no meu trabalho: Die Methode der Metaphysik , Berlim e Bonn, 1932.
1
a que est4 referida, através da qual estes alcanam a sua o%9etiva!o, é evidente que a plena realiza!o do sentido da nossa e-istência depender4 tam%ém, em 6ltima an4lise, da concep!o que tivermos acerca dos valores. +quele que nega todos os valores, nada mais vendo neles do que ilus!o, n!o poder4 dei-ar de falhar na vida. +quele que tiver uma errada concep!o dos valores n!o conseguir4 imprimir ; vida o seu verdadeiro e 9usto sentido" :am%ém esse fatalmente falhar4 na vida, a n!o ser que um destino %enévolo o preserve de todas as m4s situa/es em que venha a cair. *elo contr4rio, todo aquele que conhecer os verdadeiros valores e, acima de todos, os do %em, e que possuir uma clara consciência valorativa, n!o s$ realizar4 o sentido da vida em geral, como sa%er4 ainda achar sempre a melhor decis!o a tomar em todas as suas situa/es concretas. *ode, certamente, uma pessoa possuir um alto valor moral e sa%er conformar valiosamente a sua vida, sem ter ali4s um conhecimento teorético acerca dos valores. *ara isso %astalhe confiar no seu instinto do valioso, no seu sentimento intuitivo do a-iol$gico, fun dandose naquele patrim$nio de valores e de normas que possui gravadas no seu cora!o e que actuam, como seiva vivificante, em todo o homem normal e ainda n!o corrompido. 0!o é menos certo contudo que a sua consciência imediata dos valores s$ tem a lucrar com uma investiga!o teorética e sistem4tica destes pro%lemas. 7esta forma, o que nele é, a princípio, sentimento confuso, vago pressentimento, tor narse?4 sa%er consciente e s$lido os lampe9os intermitentes e ;s vezes descone-os desse seu instinto converterse!o em facho luminoso de uma permanente unidade. +s incertezas e hesita/es a que se acha su9eita a consciência ingénua e ine-perimentada do homem, toda a vez que entra em contacto com outras escalas de valores que contraditam a sua, desaparecer!o. O seu olhar tornarse4 mais a%erto para poder desco%rir, inclusi vamente, valores novos, e a sua consciência que seria, a princípio, porventura uma consciência estreita e tímida, enriquecerse4 consideravelmente. + :eoria dos valores dar4 pois ; consciência do homem, em qualquer caso, uma claridade maior, tornandoa mais firme e mais rica" E n!o é s$ no interesse de n$s pr$prios 8 digase por 6ltimo 8 mas tam%ém no dos outros, que o conhecimento dos valores pode prestar relevantes servios" 5$ conhecemos os homens quando conhecemos os critérios de valora!o a que eles o%edecem é destes que dependem, em 6ltima an4lise, o seu car4cter e o seu comportamento em face das situa/es da vida. #as, precisamente, para podermos apreciar as valora/es dos outros, é preciso possuirmos, antes de mais nada, um conhecimento profundo e largo dos nossos pr$prios valores e da sua escala. 3sto equivale a reconhecer que o estudo dos pro%lemas a-iol$gicos ser4, pois, tam%ém a primeira condi!o para enriquecermos o nosso conhecimento dos homens e sa%ermos como os devemos tratar, concorrendo para a sua educa!o.
*+@:E 3
On&olo'ia dos Valores I( !ss)n*ia dos Valores 1( D!"ONSTRÇÃO F!NO"!NO%+GIC O conceito de 1valor2 n!o pode rigorosamente definirse. *ertence ao n6mero daqueles conceitos supremos, como os de 1ser2, 1e-istência2, etc., que n!o admitem defini!o. :udo o que pode fazerse a respeito deles é simplesmente tentar uma clarifica!o ou mostra(ão do seu conte6do. +ssim a respeito do conceito de valor. (uando pronunciamos a palavra 1valor2 podemos com ela querer significar três coisas distintas' a +i+ência de um valor a 0ualidade de valor de uma coisa ou a pr$pria ideia de valor em si mesma. 5e quisermos significar com esta palavra, e-clusivamente, a vivência, permaneceremos no domínio da consciência, da *sicologia e do psicologismo" 5e entendermos por ela unicamente uma qualidade, um particular modo de ser das coisas, permaneceremos no domínio do 0aturalismo, em que o valor é apenas uma qualidade real de certos o%9ectos. 5e finalmente entendermos por valor apenas a sua ideia, n!o tardaremos em coisi1icar , em hipostasiar, os valores, como 94 aconteceu com *A+:BO. Estas três concep/es s!o e-clusivistas, unilaterais. 7e certo, cada uma delas apreende uma parte da realidade, mas s$ uma parte cai num certo e-clusivismo e dei-a de ver as outras partes" ê apenas um dos momentos do en2meno mas n!o vê os outros. Ora este fen$meno apresentanos, com 2
Para melhor esclarecimento desta tese, ver o meu trabalho anterior: Der Sinn des Lebens, 2. a ed., Rottenburg a-.,
193!.
2
efeito, três lados. alor é, sem d6vida, algo que é o%9ecto de uma e-periência, de uma vivência. E-perimentamos o valor de uma personalidade e-cepcional, a %eleza de uma paisagem, o car4cter sagrado de um lugar falamos de valores éticos, estéticos, religiosos. + nossa vivência destes valores é um facto. #as h4 tam%ém aquilo a que chamamos qualidades valiosas. 0os e-emplos que aca%amos de dar, verificase tam%ém a presena de uma certa qualidade, de um particular 0uale, nos o%9ectos em quest!o' homem, paisagem, lugar é este 0uale que lhes constitui o car4cter e desperta em n$s o sentimento respectivo ou a respectiva vivência. E n!o s$ isto. =4 tam%ém ainda a ideia do valor. Esta consiste no conceito do género so% o qual su%sumimos o conte6do de todas as nossas vivências da mesma espécie. 0os e-emplos referidos, s!o estes conceitos os de %em, %elo e santo. 0este caso, é frequente tam%ém designar os pr$prios conceitos como valores e falar de valores éticos, estéticos e religiosos. 5eria contudo mais rigoroso falar aqui de 3deias de valor "#ertideen$. 7epois desta primeira aclara!o, tentemos agora penetrar um pouco mais profundamente na determina!o do sentido da palavra 1valor2. *ara isto procedamos enomenologicamente, isto é, procurando orien tarmonos pelo pr$prio fen$meno, indo como que atr4s dele, (ueremos dizer com isto que re9eitamos todo o método a'rior&stico que consiste em partir de certos conceitos prévios 94 formados, para e-trair deles depois o conceito de valor. & o que se passa quando, por e-emplo, partimos de um sistema de ideias 94 completamente constituído, para depois, ; luz dele, atacar o pro%lema a-iol$gico, por forma que o conceito de valor assim o%tido se lhe adapte inteiramente. *ode dizerse que um dos maiores merecimentos da investiga!o fenomenol$gica dos valores foi, 9ustamente, conseguir aca%ar com este a'riorismo. +ssim como a Teoria do conhecimento procura partir do fen$meno conhecimento, e a :eoria da arte do fen$meno 1arte2, assim a Teoria dos Valores parte do fen$meno 1valor2. Fenómeno é, como é sa%ido, tudo aquilo que nos é imediatamente dado. :odo o valor nos é, porém, dado precisamente na nossa 1consciência dos valores2, na vivência que deles temos ou melhor, de uma maneira mais geral, nessa particular forma de vida que é a vida do valioso "#ertleen$. Dma refle-!o so%re este fen$meno é o mesmo que uma refle-!o so%re este lado da vida. Emprego aqui intencionalmente esta e-press!o' 1vida dos valores2, do valioso. ida dos valores n!o é rigorosamente o mesmo8notese8que vivência dos valores, de que atr4s falamos. + vivência dos valores n!o constitui toda a vida deles. + vivência é mais, como 94 a palavra est4 dizendo, o lado passivo dessa vida. Falamos preferentemente de vivência, quando de s6%ito os valores nos iluminam a alma, dando origem a um estado psíquico que interiormente nos enriquece e nos torna felizes. #as ao lado deste fulgurar da emo!o a nossa vida dos valores conhece ainda um outro aspecto mais activo. Este é o que focamos quando, em vez de valor, falamos antes em +alorar , em valora!o. (uando e-perimentamos esta segunda atitude, reconhecemos ent!o alguma coisa como valioso, no sentido de sermos n$s a atri%uirlhe um valor, 9ulgando e apreciando, emitindo um 19uízo de valor2. Ora é este o fen$meno de que queremos partir. :odos n$s valoramos e n!o podemos dei-ar de valorar. 0!o é possível a vida sem proferir constantemente 9uízos de valor. & da essência do ser humano conhecer e querer, tanto como valorar. E até, se pre tendermos ver na vontade o centro de gravidade da natureza humana8como 94 5 +0:O +O5:30=O protendia a crer 8 mais uma raz!o para afirmar que o valorar pertence ; essência do homem. :odo o querer pressup/e um valor. 0ada podemos querer sen!o aquilo que de qualquer maneira nos parea valioso e como tal digno de ser dese9ado. aloramos as mais diferentes coisas. O nosso valorar recai so%re todos os o%9ectos possíveis' 4gua, p!o, vestu4rio, sa6de, livros, homens, opini/es, actos. :udo isso é o%9ecto das nossas aprecia/es. E nelas encontramos 94 as duas direc/es possíveis de todas as nossas valora/es. 3sto é' os nossos 19uízos2 de valor ora s!o 'ositi+os, ora negati+os3 umas coisas parecemnos valiosas, outras desvaliosas. gua, p!o, vestu4rio, sa6de, etc. s!o valores positivos. *elo contr4rio, nem todos os homens, nem todas as opini/es, nem todos os actos representam valores positivos, podendo acontecer que correspondam até a valores negativos ou a um desvalor. 7izemos, portanto' tal coisa tem valor. (uando assim falamos, ligamos precisamente ; palavra valor o seu sentido pr$prio. Com ela queremos ent!o significar a valia de um o%9ecto, aquele 0uid em virtude do qual este o%9ecto diz alguma coisa ao nosso sentimento dos valores. :am%ém dizemos frequentemente' tal coisa é um valor. #as neste caso deve notarse que tal e-press!o, 1valor2, 94 n!o significa, rigorosamente, o 0uid que é tido pela coisa, a valia dela, mas precisamente a coisa que tem o dito valor 8 digamos' o o%9ecto que é o seu suporte. Convém frisar que este o%9ecto, esta coisa, que tem valor, s$ num sentido derivado pode merecer tam%ém a designa!o de valor. 0este caso, a e-press!o mais conveniente e rigorosa para o designar ser4 antes a e-press!o 1%em2"4ut$ G . (ue quer, porém, dizer que 1alguma coisa tem valor2. (ue sentido tem o meu valorar ou atri%uir um valor ;s coisas) 5e atendermos aos e-emplos acima referidos, a resposta a estas perguntas n!o ser4 difícil. +tri%uo valor ao p!o porque ele me mata a fome ao vestu4rio porque me defende do frio. Em 3
"izemos com R #$%&R'( )chamamos valor n*o ao bem, coisa real e sens+vel ual o valor adere, mas ao prprio valor aderente/. $0. Allgemeine Grundlegung der Philosophie, pg. 113.
3
am%os os casos, como é evidente, tratase de necessidades ele mentares da vida que s!o satisfeitas por aqueles géneros de coisas. 5e estas nos parecem valiosas, é porque satisfazem estas necessidades. E assim, podemos, antes de mais nada, definir valor como sendo um certo 0uid que satisfaz uma necessidade. 5er4 valor tudo aquilo que for apropriado a satisfazer determinadas necessidades humanas. 5implesmente, isto n!o é tudo. H4 atr4s aludimos a certos outros valores chamados éticos, estéticos e religiosos. Ora ser4 a defini!o que aca%amos de dar aplic4vel tam%ém a eles) 5er4 aplic4vel aos valores que residem, n!o 94 na esfera do 1vital2, da natureza, mas na do espírito, do espiritual) 5em d6vida 8 podemos responder. & evidente que por meio destes valores espirituais se satisfazem tam%ém necessidades n!o necessidades vitais, mas espirituais n!o do homem e-terno, mas do homem interior. *oderemos dizer' valor moral é tudo aquilo que satisfaz as nossas necessidades ou e-igências morais valor estético ou religioso tudo aquilo que satisfaz as nossas necessidades ou e-igências estéticas ou religiosas. #as ao mesmo tempo, dizendo isto, é aqui que se nos revela como, no fundo das coisas, é afinal insuficiente aquela determina!o que fizemos do conceito de valor. 0a verdade, nela n!o se diz em que consiste o conte6do daqueles valores dizse simplesmente que eles produzem determinados efeitos. *or outras palavras' o o%9ecto daquela determina!o deunos apenas a no!o do seu eeito psíquico mas n!o da sua essência. Em todo o caso, com ela fica 94 pro9ectada uma relativa luz so%re o sentido do termo 1valor2, s$ pela referência em que o pusemos com determinadas necessidades do homem. E isto é muito importante. 5e fazemos a afirma!o' 1alguma coisa tem valor2, teremos proferido um 19uízo de valor2. Dm 19uízo de valor2 "#erturteil$ é, porém, diferente dum 19uízo de e-istência2 ou de essência "einsurteil$. Este dirigese, ou recai, so%re o ser do o%9ecto. #as isto pode ainda significar duas coisas que importa distinguir rigorosamente. =4 o 1ser2 e a 1e-istência2. 5er "osein$ é a essência "essentia$3 e-istência "5asein$ é a realidade n!o essencial "existentia$, o 1estar aí como est42 de qualquer coisa, diante de n$s, como ela nos é dada. 5er, essência, é o lado lógico do o%9ecto é aquilo que faz que o o%9ecto considerado se9a precisamente esse o%9ecto e n!o outro é o con9unto das determina/es l$gicas do o%9ecto como tal por meio destas determina/es é este o%9ecto a%straído, separado, de todos os outros o%9ectos possíveis e tornado aquilo que é. 7iversamente devemos pensar acerca da 1e-istência2 "5asein$. Esta marca o lado al2gico do o%9eto. 7iz nos que aquele ser nos est4 sendo dado na ordem das coisas, na realidade, na forma como o apreendemos. 0!o reside pois o 1momento2 da 1e-istência2 no mesmo plano em que reside o 1momento2 do ser. + 1e-istência2 vem de certo modo acrescentarse ao ser como factor inteiramente novo, conferindo a este ser IidealJ aquilo que se chama realidade, Ora os nossos 9uízos que se dirigem para este aspecto do ser, que 1intendem2 para ele Ino sentido do intendere latinoJ, chamamse 19uízos de e-istência2 ou 1e-istenciais2 "Existen6ialurteile$3 os que se dirigem ou 1intendem2 para o ser ideal, essencial Ilado l$gico do o%9ectoJ chamamse 19uízos da essência2 "oseinsurteile$. +m%os têm contudo de comum o referiremse de qualquer maneira ao ser dos o%9ectos. *ois %em' ao lado do ser e da e-istência dos o%9ectos, podemos ainda distinguir neles um terceiro mo mento. Este corresponde, agora, ao seu 1serem valiosos2 "#ertsein$. E é precisamente para este terceiro lado do o%9ecto que se dirige o 19uízo de valor2. & evidente que, se o 1momento2 valor pertencesse ao n6mero dos 1momentos2 da essência, ou essências, do o%9ecto, ou se ele destas pudesse ser por qualquer forma derivado, neste caso o 9uízo de valor n!o seria essencialmente diverso do 9uízo de e-istência e, menos ainda, do 9uízo de ser. E, como veremos, é precisamente esta a doutrina sustentada por uma certa corrente filos$fica. 7ela decorre, inevitavelmente, portanto, " que entre valor e ser n!o pode esta%elecerse qualquer separa!o profunda e que a esfera a-iol$gica n!o pode ser aut$noma em face da esfera ontol$gica. #ais adiante discutiremos este ponto de vista que assenta numa consciência filos$fica pouco diferenciada" #as a Filosofia dos valores dos nossos dias n!o adopta este ponto de vista, e parte, pelo contr4rio, duma nítida separa!o entre @ealidade e alor. 3sto mostrase 94 no facto de ela distinguir entre ciências do ser e ciências dos valores. +s primeiras ocupamse dos seres, daquilo que é, para focarem e-clusivamente a estrutura do seu o%9ecto, e ciframse em meros 9uízos de e-istência. *elo contr4rio, as ciências dos valores fundamse em 9uízos de valor, e a sua particular vis!o das coisas é uma vis!o valorativa que s$ foca o seu o%9ecto no aspecto da referência deste aos valores. *rocuram sa%er se os valores de que se ocupa s!o positivos ou negativos e qual o grau que tal outro valor atingiu na sua realiza!o. #as h4 mais ainda a este respeitoK. +o grupo das ciências do ser pertencem, antes de mais nada, as ciências naturais. O seu ponto de vista é inteiramente estranho a valores "7ertrei J. 7istinguem, evidentemente, entre o%9ectos ou figuras mais simples e outros mais comple-os, mas nem por isso valorizam em mais os segundos e em menos os primeiros. O homem n!o é para o naturalista, que se sa%e manter fiel ao seu ponto de vista puramente científicoteorético, o rei da Cria!o. *ara uma contempla!o s$ anat$mica A'olo n!o vale mais que um idiota, e para um químico um g4s que cheire mal n!o vale menos que outro que tenha o aroma do cravo. E o mesmo se diga do psic$logo. :am%ém este n!o emite 9uízos de valor. Dm estado de consciência n!o vale, para ele, mais ou menos do que outro qualquer. O psic$logo procura simplesmente e-plicar factos e actos pelas suas causas, quer se trate duma ac!o her$ica, quer dum crime. E o mesmo acontece com as
$0 sobre este ponto , 4 &55&R , Einführung in die Erkenntnistheorie, 3. ed. 6eipzig, 1927, pgs, 189 e segs.
ciências da natureza, como, por e-emplo, com as ideais. *ara o matem4tico uma figura geométrica n!o tem mais valor que outra um círculo n!o vale mais que um quadrado. :odas estas ciências s!o rigorosamente alheias a considera/es de valor. E contudo n!o quer isto dizer que elas n!o se ocupem de realidades que podem tam%ém ser valores. +s ciências naturais estudam o%9ectos e foras que podem tam%ém ter um valor econ$mico a psicologia e-amina processos psíquicos da mais variada natureza e entre eles senti mentos e 9uízos de valor. #as todas elas tratam destas coisas e destes valores apenas como algo de e-istente, como seres. 0!o indagam se os 9uízos e valora/es de que se ocupam s!o v4lidos, se tais valores s!o ou n!o verdadeiros valores. +veriguam os factos e procuram compreendêlos por meio da sua e-plica!o causal. 0!o tomam posi!o, n!o valoram. 3sto é o contr4rio do que se passa com as ciências de valores. Estas têm por fun!o, precisamente, tomar posi!o e valorar. *ensese, por e-emplo, na &tica e na Estética. 5emelhantes ciências contemplam os seus o%9ectos 9ustamente no ponto de vista do valor. O moralista procura determinar o valor 1%em moral2 e e-trair daí normas para a ac!o pr4tica. :ais normas ser!o o metro para medir, neste ponto de vista, os actos humanos. +quilo que lhe interessa é precisa mente poder demonstrar que tal valor é positivo, tal outro negativo e, se for positivo, fi-ar a sua altura numa escala a-iol$gica com rela!o a todos os outros, marcandolhes a sua hierarquia. Este é o ponto de vista decisivo destas ciências que aspiram a elucidar so%re o valor dos seus o%9ectos. :raduzemse em 9uízos de valor e por isso se chamam ciências de valores "#ert7issenschaten$, em oposi!o ;s ciências de seres "eins- 7issenschaten $. *or meio do confronto entre os 1u&6os de +alor e os 1u&6os de realidade conseguese agora formar uma ideia mais clara do alcance da distin!o fundamental entre alor e 5er, e %em assim do que h4 de mais característico no 1momento2 a-iol$gico, na essência do 1valioso2. *onhamos um e-emplo ainda. 5e9a o de um 9uízo de valor' este quadro é %elo. Este 9uízo pretende afirmar algo so%re o valor estético do quadro. +firma que ao o%9ecto quadro pertence uma certa propriedade estética valiosa' a %eleza + determina!o contida neste 9uízo n!o pode confundirse com as outras determina/es do mesmo ser, tais como' a do seu tamanho ou grandeza, da sua forma, da sua matéria, da sua cor, etc. Estes conseguem determinarse por o%serva!o e medi!o. 0!o assim na determina!o do valor. E a prov4lo est4 o facto de que v4rios o%servadores, colocados diante do quadro, formular!o porventura 9uízos idênticos ou diferentes, consoante apreciarem o seu ser ou o seu valor. Entre eles poder4 esta%elecerse unanimidade no primeiro caso dificilmente haver4 unanimidade no segundo. 5o%re o ser, todos estar!o de acordo em atri%uir ao quadro uma certa grandeza e uma certa forma. #as nem todos concordar!o no 9ulgar o seu valor estético. 3sto é o %astante para demonstrar 94 que a determina!o do valor de um o%9ecto se acha numa rela!o muito mais intima e su%9ectiva com o su9eito do que a determina!o o%9ectiva de um ser. E esta reerência a um su1eito, como característica pr$pria do valor, é coisa que logo salta ; vista quando pensamos, um momento, na estrutura dos nossos 9uízos de valor. Estes, na sua forma mais geral, reduzemse sempre a afirmar isto' x tem valor. 5e atentarmos no conte6do deste 9uízo, reconheceremos, porém, imediatamente, que a rela!o com o su9eito est4 sempre contida implicitamente dentro dele no 9uízo 'ensa-se sempre, mesmo sem se dar por isso, uma tal rela!o. & como se disséssemos' x tem valor para Hosé ou Hoaquim, isto é, para alguém. *or outras palavras' no conceito de valor est4 incluído o da sua referência a um su9eito. Valor é sem're +alor 'ara alguém. Valor 8 pode dizerse 8 é a 0ualidade de uma coisa, 0ue só 'ode 'ertencer-he em un(ão de um su1eito dotado com uma certa consciência ca'a6 de a registar. O valor n!o pode assim ser desligado desta rela!o. 5e o desligarmos, praticaremos uma hipostasia!o inadmissível e têloemos ent!o coisiicado, ontologificado. (uer dizer' n!o devemos falar de 1valores em si2. O 1valor2 n!o é, como pretende 0. = +@:#+00 Ique aqui representa um estreito Ontologismo, em contradi!o com o seu primitivo ponto de vista, de um su%9ectivismo e funcionalismo neoLantianosJ, algo em si e-istente "an sich seiendes$, mas algo e-istente para alguém "9r 1emand seiendes$. 0!o é possível eliminar para fora do conceito de valor, ou destruir, o conceito de uma rela!o para com um certo su9eitoM. #as com isto, n!o estaremos n$s caídos afinal no su%9ectivismo a-iol$gico) 7e modo algum. 7eve notarse que reerência a um su1eito n!o significa o mesmo que su1ecti+ismo. 0!o se deve pensar que no domínio dos valores possa ser o su9eito, isto é, o indivíduo valorante, a decidir pura e simplesmente do que é valioso e n!o valioso. : su1eito não é a medida dos +alores. 0!o se deve pensar que os valores e os 9uízos de valor s$ valham para este ou aquele su9eito ou indivíduo que tenham a percep!o deles, e n!o para outros. 3sso sim, seria su%9ectivismo. E este su%9ectivismo seria t!o errNneo como o su%9ectivismo teorético ou l$gico. +ssim como todo o 9uízo teorético aspira a algo mais do que a uma simples validade su%9ectiva para aquele que o emite, e pretende, pelo contr4rio, valer n!o s$ para este ou aquele 9ulgador
este ponto concordamos com &;"& !ert, eine philos. Grundlegung" do ual alis descordamos em muitos outros
pontos.
mas para todos os possíveis 9ulgadores, do mesmo modo o 9uízo de valor. (uando eu digo' tal ac!o é moral mente conden4vel, tal outra moralmente louv4vel, é evidente que, no sentido essencial deste meu 9uízo, est4 sempre o pretender eu e-primir alguma coisa de o1eti+o, uma situa!o ou um facto que todos devem reconhecer do mesmo modo, reivindicando para o meu 9uízo uma validade geral. #ais adiante teremos ocasi!o de voltar a este assunto. O sentido da e-press!o 1referência a um su9eito2 "u1ete6ogenheit$ deve logo ser diferente. Com o termo 1su9eito2 n!o pode quererse significar portanto o su9eito individual que 9ulga, mas sim um su9eito em geral, um su9eito mais a%stracto Ium u1et 9erhau't$. 0!o é o indi+&duo, mas o gênero homem, pura e simplesmente, que aqui entra em causa. Os valores achamse referidos ao su9eito humano, isto é, ;quilo que h4 de comum em todos os homens. @eferemse ;quela mais profunda camada do ser que se acha presente em todos os indivíduos humanos e que constitui o fundamento o%9ectivo do seu 1serem homens2 "%enscheninder sind die %enschen aller ;ungen und ;onen$. :ratase, por conseguinte, dum su9eito supraindividual ou interindividual. (uanto aos valores espirituais, pode mesmo irse mais longe. O su9eito ao qual estes se acham referidos no nosso pensamento a seu respeito, nem sequer é necessariamente o su9eito humano, o espírito do homem, mas simplesmente o Espírito. Ou, pelo menos, n!o h4 raz!o para pensar os valores espirituais como e-clusivamente referidos ao ser humano e n!o a todos os seres espirituais. +lém disso, poderíamos ainda compreender duma outra maneira a essência do valor e da sua referência a um su9eito. 0o que fica dito acima partimos da 0ualidade +alor , do valor como qualidade. #as poderíamos tam%ém focar agora, de preferência, o +alor-ideia, o valor como ideia ou essência, e neste caso imporse nos4 tentar igualmente uma determina!o do valor por este lado teoréticoo%9etivo, referida ao o%9ecto, que n!o pode dei-ar de concorrer para aclarar e aprofundar mais ainda o resultado da demonstra!o feno menol$gica que fica feita.
-( D!T!R"INÇÃO T!OR.TIC DO O/J!TO Os valores, isto é, as ideias de valor, no ponto de vista agora adoptado, constituem, sem d6vida, uma classe especial de o%9ectos. 7istinguemse três classes principais de o%9ectos' os o%9ectos sens&+eis, os su'ra- -sens&+eis e os não sens&+eis. Os primeiros s!o os o%9ectos em'&ricos3 os segundos, os meta&sicos3 os terceiros, os ideais< . Os principais caracteres deste terceiro tipo de o%9ectos s!o' a sua irrealidade Itêm ser, mas n!o têm e-istênciaJ a sua intem'oralidade Iest!o para além do devir e da e-tin!o temporaisJ e a sua o1ecti+idade Irepresentam uma ordem o%9ectiva, posto que n!o real, de seresJ. O mundo particular destes o%9ectos ideais est4, como 94 vimos, referido sempre a um su9eito, isto é, e-iste pelo espírito e para o espírito. & a este mundo que pertencem os o%9ectos l$gicos e matem4ticos e %em assim os valores. O mundo dos o%9ectos l$gicos e matem4ticos dei-a pressupor tam%ém necessariamente um espírito ou pensamento que os pensa. E o mesmo diremos, mais uma vez, dos valores. *odemos considerar certas ideias de valor, tais como as de 9ustia, veracidade, %eleza, su%limidade, como essências ou estruturas ideais de ser, e compar4las com as grandezas matem4ticas, mas n!o devemos esquecer que todo esse mundo de o%9ectos ideais n!o e-istiria se n!o e-istisse o espírito. =s +alores 'ertencem 'ois > classe dos o1ectos não sens&+eis. + sua particular maneira ou modo de ser é a do 5er ideal ou do aler. 0um ponto de vista mais ontol$gicoest4tico, podemos tam%ém falar, certamente, num 1ser ideal2 dos valores, como o fazemos a prop$sito dos o%9ectos matem4ticos, e dizer que, num certo sentido, eles, assim como estes, tam%ém ?são@. #as é mais apropriado falar neste caso, num ponto de vista mais funcionaldinâmico, dum simples 1valer2 dos valores, considerandoos apenas fundamento dos nossos 9uízos de valor. O valer predicamolo n$s dos 9uízos e proposi/es. +ssim, dizemos' 1este 9uízo é v4lido2, para significar que nele se faz uma e-igência ao su9eito cognoscente' a do seu reconhecimento. :er valor ou validade, quer dizer, neste caso, simplesmente, que os valores reclamam ou e-igem de n$s que os aceitemos. #as, quer os valores pertenam ; esfera do ser ideal, quer ; do valer, em am%os os casos teremos de concluir, mais uma vez, que eles n!o podem dei-ar de se referir sempre a um su9eito. Esta esera 'ressu')e o es'&rito3 sem es'&rito não h/ +alores es'irituais. Os valores n!o s!o algo de meramente su%9ectivo, algo que dependa apenas do ar%ítrio ou do capricho do su9eito a quem eles se revelam. :odo o seu mundo, o mundo espiritual, é, pelo contr4rio, um mundo essencialmente su'ra-indi+idual e o1ecti+o. 0!o e-iste s$ para este ou aquele homem, mas para todos os homens, para todos os seres que tenham um rosto humano, para todos os seres espirituais. 0em outra coisa significa a e-press!o' ?+aler@. Esta contém dois momentos essenciais' um negativo e outro positivo. O negativo corresponde ; n!orealidade, ; n!oe-istência, ou irrealidade o positivo, ; o%9ectividade. *or outras palavras' o espírito n!o pode dei-ar de se orientar por ele, segundo ele. +ssim como o meu pensamento se orienta pelas leis l$gicas, assim o meu valorar, pelos valores, como sua norma" E deste modo podemos determinar, agora, o que se9a valor, se o conce%ermos como 3deia. :ratase de um !
"ei uma anlise destes di0erentes tipos d< ob=ectos no meu estudo, Die Methode der Metaphysik , Berlim e Bonn, 1932, pgs. 7 e segs.
!
contedo ideal de er, reerido e suordinado ao lado emocional do Es'&rito, isto é, ao nosso sentimento dos +alores. 7evemos, porém, acautelar esta conclus!o contra uma o%9ec!o que lhe é movida especialmente do lado neoescol4stico. #uitos representantes da Filosofia neoescol4stica n!o querem, com efeito, ouvir falar de o%9ectos n!o sensíveis ou ideais como de uma classe particular de o%9ectos. O 1ser ideal2 que n$s consideramos como o modo de ser particular deste tipo de o%9ectos, é coisa que para eles n!o e-iste . #as contra esta opini!o, nota, com raz!o, =O0ECPE@' 1nem por devermos recusar aos o%9ectos a%stractos qualquer espécie de 1existência2, lhes podemos por isso recusar qualquer espécie de ?ser@. + verdade é o que os o%9ectos a%stractos, de certo modo, tam%ém são3 ali4s n!o poderiam ser o%9ectos. Falamos, neste caso, dum ser ideal Isegundo a idéiaJ. Certamente, oferecenos alguma dificuldade apreender este ser dos o%9ectos a%stractos. #as a e-plica!o desta dificuldade est4 precisamente na nossa tendência para conce%er todo o ser como e-istência. (uem n!o conseguir distinguir estes dois conceitos um do outro, 9amais poder4 dei-ar de ver em toda a predica!o de um ser, a respeito dos o%9ectos a%stractos, ou um ultrarealismo plat$nico ou um a%solutismo inconce%ível2 Q. 0!o dei-e de se notar que foi essa, efectivamente, a concep!o dominante através de toda a tradi!o plat$nica e agostinianaR. #as neste momento podemos 94, enfim, tomar posi!o perante esta magna quest!o' su1ecti+ismo e rela tivismo, ou o1eti+ismo e a%solutismo dos valores) 0otemos isto' a e-press!o 1su%9etivismo dos valores2 é profundamente e-acta, se por ela quisermos significar, como 94 vimos, o mesmo que referência a um su9eito é, porém, inteiramente falsa, se referida ; validade dos valores. =4, com efeito, como tam%ém vimos, uma validade o1ecti+a, ou melhor, su'ra-indi+idual dos valores. + e-press!o relativismo ou 1relatividade2 dos valores é tam%ém e-acta, se com ela quisermos significar que na %ase de todo o valor e valora!o est4 sempre, necessariamente, a ideia de uma rela!o com um su9eito valorante. &, porém, falsa, se entendida com rela!o ; ideia da sua pr$pria e intrínseca validade" =4, de facto, uma validade a%soluta dos valores" #as esta a%solu teidade n!o importa, por outro lado8notemos ainda8 independência com rela!o a um espírito valorante, como se os valores e-istissem em si mesmos como hip$stases coisificadas. +%soluteidade quer dizer apenas validade em si mesma para tudo o que possa ter o nome de Espírito "9r 4eist 9erhau't$. @esumindo, diremos' valor é sempre valor para alguém. + referência a um su9eito é da essência do valor. 7e certo, h4 ideias a%stratas de valores, essências de valor, essências valiosas. Estas n!o s!o, porém, entes in se Iisso seria ontologismo a-iol$gicoJ, mas algo de referencial ; realidade Espírito "geiste6ogen$ B 0!o e-istem em si mas para um centro espiritual de actos. E o mesmo se diga do valor qu alidade ou das qualidades valiosas dos o%9ectos. O ser como ser, o puro ser f4tico, é indiferente aos valores. O car4cter valioso s$ surge nele quando ele entra em rela!o com uma consciência valoradora. O o%9etivismo radical, que considera os valores como qualidades reais das coisas, e o psicologismo, que os considera atitude caprichosa e efémera dos indivíduos, desconhecem am%os isto. 5e o primeiro coisi1ica, o segundo eui1ica "+er- iclicht$ os valores. #as am%os desconhecem que tanto o%9ectividade como eu, tanto o%9ecto como su9eito, tanto mundo como alma, constituem afinal, no seu con9unto indecomponível, o característico ser dos valores. *or 6ltimo, dese9amos ainda refutar duas outras concep/es acerca dos valores, que reputamos tam%ém falsas. + primeira resumese na f$rmula' +alor igual a 'ra6er . (uer dizer' s$ é valor aquilo que pode despertar em n$s uma sensa!o de prazer. 0otese 94 que so%re o prazer e o agrad4vel n!o h4 necessariamente unanimidade. Estes podem até ser valorados negativamente. Saste pensar no caso dos ascetas. *ode uma pessoa, de resto, afirmar como valor positivo para a sua consciência uma coisa que lhe causa desprazer. + nossa consciência valorativa est4 longe de coincidir com os nossos prazeres e desprazeres. #uitas vezes acontece até que as duas coisas reciprocamente se e-cluem
&sta opini*o <, por e>emplo, a de ?&;5&R , na sua pol
Gegenstandslogik und Denklogik , 2 .a ed., Berlim, Bonn, 1928, Pg, 1. $0r. a+ a critica 0eita aos pontos de vista de ?&;5&R , a pg.
73. 9
$0r. a este respeito o meu livro: Augustinus Metaphysik der Erkenntnis , Berlim Bonn, 1931. 1
$0r, a discuss*o sobre este ponto em 4C 5$&6&&, Der #ormalismus in der Ethik und die materiale !ertethik , pgs, 28 e seg.
7
+ segunda concep!o a que em 6ltimo lugar nos referimo s e que devemos tam%ém re9eitar, é a que se traduz na f$rmula' +alor igual a dese1/+el , apetecível, ou simplesmente susceptível de ser dese9ado. +ssim, por e-emplo, declara E=@E0FEA5' 1O valor duma coisa consiste na sua a'eteciilidade2<<. 0este segundo caso, é o valor posto em rela!o, n!o com um certo sentimento, mas com um impulso vital, um instinto activo, uma vontade. 0otese tam%ém que esta concep!o n!o pode manterse de pé no que diz respeito, pelo menos, aos valores estéticos. O mais leve e-ame do que se passa com estes valores mostranos que podemos ser vivamente impressionados pela %eleza duma o%ra de arte ou de uma paisagem, sem contudo se produzir em n$s qualquer dese9o de as possuirmos. H4 P +0: caracterizou a essência da emo!o estética como uma 1satisfa!o desinteressada2. 7os valores éticos pode dizerse uma coisa semelhante. :am%ém a eles é inaplic4vel a f$rmula' 1valor igual a apeteci%ilidade2. 5e afirmo duma personalidade que ela tem um alto valor moral, é evidente que isto nada tem que ver com a som%ra dum meu dese9o. O erro fundamental das duas concep/es em 6ltimo lugar referidas est4, pois, no completo desconhecimento que revelam da essência dos mais altos valores espirituais. *odem elas aplicarse, quando muito, aos valores inferiores e sensíveis nunca aos superiores e espirituais que ali4s s!o os 6nicos que aqui nos interessam e de que se ocupa a verdadeira Filosofia dos valores. :ais concep/es s$ foram possíveis numa época que se achou, toda ela, e-clusivamente voltada para o estudo das camadas ínfimas do mundo dos valores, sem ter o sentido das mais elevadas.
II( Valor e Ser 1( CONSID!RÇ0!S G!RIS Os valores podem tornarse realidade" Dma o%ra científica, uma o%ra de arte, uma ac!o moral representam realiza/es de valores. :oda a cultura é isto, e o seu respectivo conceito n!o tem, nem pode ter, outro sentido. + Cultura humana é, na sua íntima essência, uma realiza!o de valores. E-aminemos, porém, agora, mais de perto, este fen$meno da realiza!o dos valores. + primeira coisa que se nos depara é esta' os valores, que comeam por ser algo de ideal , por pertencer a uma esfera de ser ideal e de valer, como vimos, penetram em certo momento na esfera do real. O valor irreal tornase real, isto é, assume existência, encarna. Dm ser, uma 1essência2 "osein$, penetrase de 1e-istentia2 "5asein$. #as como se passa isto) Evidentemente, n!o no sentido de o valor se tornar real em si mesmo, de passar a ser aquilo que n!o era, de passar a e-istir independentemente, como uma coisa, ou de assumir uma forma de ser su%stancial. 0!o devêm um ens in se. :ornase um ens in alio. 0!o consiste num ser em si mesmo, mas num ser que est4 noutro ser. +ssim, por e-emplo, um valor estético converte se em e-istencial no quadro do pintor o valor ético, na ac!o do homem virtuoso. O quadro do pintor passa ent!o a chamarse 1%elo2 a ac!o do homem, a chamarse 1%oa2. 3sto é' os +alores, 'ortanto, só 'odem tornar-se existenciais so a orma de 0ualidades, caracter&sticas, modos de ser . 0!o possuem um ser independente, mas s!o de certo modo 1trazidos2, 1sustentados2 pelos o%9ectos nos quais se realizam estes o%9ectos tornamse seu 1suporte2. +s coisas s!o ent!o 1portadoras2 dos valores "#erttrCger$. Os valores s!onos imediatamente dados como qualidades ou estruturas dum ser. 3sto nos e-plica que se tenham considerado, por vezes, os valores como simples determina/es de seres que se tenham colocado os valores no mesmo plano das outras determina/es do ser, focandose o momento 1valor2 como um momento do 1ser2" Fazendo isto, porém, identificamse assim valor e ser, a ordem a-iol$gica e a ordem ontol$gica" Ora, contrariamente a isto, devemos agora acentuar, com toda a firmeza, a undamental di+ersidade 0ue se d/ entre ser e +alor, entre ordem ontológica e ordem axiológica. *or outras palavras' devemos esforarnos por mostrar com a m4-ima evidência que a ordem do valioso é uma ordem ; parte, %em distinta da do ser, ou que e-iste uma esfera aut$noma de valores. (ue esta esfera e-iste, mostrao um e-ame feito mais de perto daquelas coisas a que aca%amos de chamar ?'ortadoras@ de valores, ou a que os valores, por assim dizer, aderem "inhaerent, ha ten$, E a primeira coisa que salta ; vista é esta' as coisas portadores dos valores achamse situadas na ordem temporal. 5!o portanto mut4veis, transit$rias, efémeras. 0um quadro podem produzirse modifica/es que pre9udiquem ou, inclusivamente, destruam o seu valor estético. O quadro pode ser destruído e as suas qualidades de %eleza podem desaparecer. + pessoa portadora dum valor moral pode sofrer uma modifica!o na sua personalidade e, em vez dum valor positivo, passar a encarnar um negativo. Os %ons podem tornarse maus. #as o curioso é notar que, mesmo quando isto se d4, as modifica/es produzidas no suporte dos valores n!o afectam estes" =s +alores não se alteram com a altera(ão dos o1ectos em 0ue se maniestam. 1:!o pouco como o azul do ao se torna vermelho quando uma %ala se encandesce na e-plos!o do tiro, do mesmo modo os valores e a sua ordem n!o s!o tocados pelo facto de os seus portadores sofrerem altera!o... O valor da amizade n!o sofre que%ra porque um amigo meu me traiu2 <>. Os valores estéticos do %elo, do su%lime, do gracioso, etc. perdurariam, ainda que fossem destruídos todos 11 12
System der !erttheorie , #, 6eipzig, 1897, pg. 2, 4. 5$&6&R , Der #ormalismus in der Ethik , pg. 1.
8
os o%9ectos de arte através dos quais se nos tornam visíveis. U por isso que os valores se nos d!o como imut/+eis e 'ermanentes, em oposi!o aos o%9ectos que s!o mut4veis e transit$rios. +ssim como 5 +0:O +O5:30=O desco%ria na verdade duas características supremas' a eternidade e a imuta%ilidade "+eritas aeterna et incommutailis$, podemos n$s desco%rir a respeito dos valores o mesmo, E isto é 94 o %astante para nos convencermos de que os valores constituem, portanto, uma ordem de seres ou o%9ectos inteira e essencialmente distinta da ordem dos seres e-istenciais. #as esta autonomia da ordem a-iol$gica tornasenos ainda mais palp4vel, se atentarmos mais demoradamente na sua pr$pria estrutura Nntica Ino seu osein$ e se a confrontarmos, em seguida, com a da ordem do sere-istência. Com efeito, h4, pode dizerse, duas características essenciais da primeira que convém nunca perder de vista. Em primeiro lugar, a sua estrutura 'olar. 7entro da ordem dos valores d4 se, por assim dizer, uma 'olaridade essencial" Esta consiste na oposi!o entre os valores positivos e negativos, entre valor e desvalor. Ora a ordem do ser e-istencial n!o conhece nada que se parea com esta polaridade. Certamente, a todo o ser se pode tam%ém contrapor um n!oser. #as o n!oser n!o significa outra coisa sen!o a supress!o ou ausência do ser. O nada elimina pura e simplesmente o ser, e est4 tudo dito2 Outro é o sentido da rela!o entre valor e desvalor. O desvalor n!o elimina inteiramente o valor o primeiro é ainda, de certo modo, valor, em%ora negativo. +quilo que é eliminado é simplesmente a positividade do valor, n!o o valor. O valor negativo vem assim a acharse ainda dentro da ordem dos valores. E é a isto que se chama a polaridade, ou estrutura 'olar desta ordem, a a-iol$gica, em oposi!o ; do sere-istência ou ontol$gica. Em segundo lugar, h4 ainda uma outra característica essencial daquela primeira ordem. @eferimo nos agora ; sua estrutura hier/r0uica. + ordem dos valores apresentanos igualmente uma estrutura esca lonada. Os valores admitem graus s!o susceptíveis de mais ou de menos. :odo o valor est4 nestas condi/es. :odo ele tem uma dimens!o em profundidade dentro da qual se admitem v4rios graus na sua realiza!o" *or e-emplo, o valor moral da pureza pode atingir na sua realiza!o diversíssimos graus. E n!o s$ isso' a mesma ordem hier4rquica encontrase necessariamente na rela!o dos valores uns para com os outros. =4 valores que est!o mais alto que outros. 0!o s$ dentro da mesma classe, como entre as diferentes classes de valores, h4 distin/es a esta%elecer e preferências a atri%uir. *or e-emplo, o heroísmo da ren6ncia e o sacrifício de si mesmo valem eticamente mais que uma simples pequena transforma!o moral. :odos n$s falamos em valores menos no%res e em valores mais no%res. :odos sa%emos que os valores sens&+eis s!o inferiores aos valores es'irituais. :odos falamos do 1primado do espiritual2. E ainda dentro dos 6ltimos, dos espirituais, nem todos s!o iguais em dignidade. 0inguém duvida de que, por e-., os valores éticos s!o superiores aos estéticos. Dma estrutura her4rquica desta natureza é, porém, desconhecida dentro da ordem do ser. *or certo, tam%ém esta se nos apresenta estratificada na sua estrutura. =4, efectivamente, o mundo inorgânico, o orgânico, o psíquico, o espiritual, como é sa%ido de todos. #as estes degraus da realidade n!o correspondem, evidentemente, a graus no ser. 0!o se pode afirmar que qualquer deles possua mais ser que o outro, ou se9a mais real que o outro. + 6nica alternativa que neste caso se nos imp/e é' ser ou n!o ser, e-istir ou n!o e-istir n!o h4 meiotermo. 0enhum, porém, e-iste mais do que o outro, ficando logo e-cluído aqui todo o grau de compara!o
$0r. . 4&55&R , Deuts$he !ertphilosophie der Gegen%art , 6eipzip, 192!, pg. .
9
seio duma @ealidade infinitamente valiosa "#ert7irlicheit$ em que o ser e o valor mutuamente se penetram e se completam 8 pensamento este que aqui dei-amos es%oado e que s$ mais adiante, na 6ltima parte deste tra%alho, a prop$sito da 1:eologia dos valores2, encontrar4 o seu completo desenvolvimento conceituai e filos$fico. +qui se9a apenas dito de passagem que quem 9ulga poder refutar a moderna Filosofia dos valores, especialmente a de %ase fenomenol$gica, com estamparlhe no rosto a etiqueta de 1dualismo2 e com acus4la de querer esta%elecer uma a%soluta separa!o entre ser e valor, d4 mostras de nada perce%er acerca do ponto de vista ou da doutrina que se prop/e refutar
1
D, por e>emplo, o caso de E. B. 6F'G, 5, E., no seu artigo, Sein und !ert , publicado na &eits. für kathol. 'heologie , 1933, pgs. 7, !13. 1
Her Ethik, pgs. 1 e seg. IFs sublinhados s*o do autorJ. Para a relaK*o entre moral e religi*o, ver Philos., (ahrbu$h, 192, pg. 1.
1! 17
Deuts$he !ertphilos, der Gegen%art , =0rgs. e seg. @ma 0undamentaK*o circunstanciada e convincente da distinK*o entre valor e ser, < tamb
e seg.
1
:odas estas o%9ec/es têm, porém, o seu ponto de partida comum no a-ioma escol4stico' =mne ens est onum. & por isso da maior conveniência que passemos agora a analisar a consistência deste a-ioma.
-( #R!CIÇÃO CRTIC D #RO#OSIÇÃO 2
Omne ens est bonum
Este a-ioma tem o seu paralelo neste outro' =mne ens est +erum. +m%os eles constituem partes integrantes, muito essenciais, da doutrina escol4stica dos 1:ranscendentais2. Entendese por esta 6ltima e-press!o certos conceitos supremos e generalíssimos que e-primem as determina/es fundamentais do ser e. que, portanto, devem atri%uirse a todos os seres. Estes conceitos est!o situados ainda mais acima das 1categorias2, e daí o seu nome. +o passo que estas 6ltimas servem para designar os ?modi essendi 2, isto é, os diversos modos e espécies do ser, os primeiros e-primem os ?modi generaliter conse0uentes omne ens@D . +ASE@:O # +0O distinguia cinco 1transcendentais2, a sa%er' res unum, ali0uid +erum, onum. :odo o ser in actu é uma su%stância real, uma res. +parecemos como frac!o singular, depois duma divis!o "unum$ e separada de todos os outros entes "ali0uid$. +quilo que a su%stância real de facto é, é o mediante a Forma. & esta, a Forma., que confere ;s coisas n!o s$ a sua e-istência, mas ainda o ser. E assim tornase claro que toda a essência coincide com a sua Forma. + esta coincidência chamase o 1verdadeiro2 "+erum$. Este +erum vem acrescentar, portanto, ao conceito de ens o duma rela!o entre ele e a sua Forma. & pela aposi!o da Forma que se passa da 'otência ao ato. Dma tal passagem corresponde ao movi mento da %atéria como que em procura da Forma em que ela encontra a sua plenitude. E este movimento n!o tem nada de passivo pelo contr4rio, a %atéria aspira ; Forma, dese9a a Forma, procura a Forma. 7ese9andoa, porém, este movimento da %atéria realizase em vista dum fim. #as um fim para que se tende é, por outro lado, um %em "onum$, pois s$ por causa deste é que o dese9o, a aspira!o, e-istem. Ora na medida precisamente em que os seres reais atingem este fim Ia sua uni!o com a Forma$ é que pode dizerse que s!o %ons é neste preciso 0uantum de uni!o com a forma que o ens vem a ser onum. O conceito de onum acrescenta, por conseguinte, ao conceito de ens a ideia da sua rela!o com a Forma como fim' onum addit su'er ens relationem ad inem. O a-ioma' omne ens est onum vem, assim, a significar que todo o ente, como ente, encontrou a Forma por ele alme9ada e é, por esse mesmo motivo, 1%om2 Ens e onum s!o deste modo, na realidade, conceitos idênticos. 5e n!o s!o comut4veis entre si os respectivos conte6dos, s!ono as coisas que eles querem significar' Gonum et ens con+ertunter secundam su''osita et non secundam intenciones "5e di+inis nominius, *lm WRTR e seg.J
T. 7onde decorre que o ens Io serJ vem a ser o %om, 9ustamente na propor!o em que é o%9ecto dum apetecer e isto sêlo4 ele em tanto maior escala quanto maior for a sua riqueza íntima, a sua plenitude de ser, a sua perfei!o "'erectio$. :O#5 diz ainda' ?omne ens, in0uantum est ens, est in actu, et 0uodammodo 'erectumI guia omnis actus 'erectio est3 'erectum +ero haet rationem a''etiilis et on i@ ". Theol. 3, q. M, a. GJ. 3sto é o mesmo que dizer que o valor "onitas$ nada mais é do que uma perfei!o do ser. isto que, porém, 18
$0r. F. L#664, )istoris$he Einführung in die Metaphysik, Mreiburg, 191, pg. .
19
$0r. . % @6&, Die Lehre Alberts des Grossen *on den 'rans+endentalien , in Philosophia perenais Geyser#ests$hrift" , Regensburg, 193, #, pgs. 129 e segs. cerca dos conceitos Mat-ria#orma e sua aplicaK*o determinaK*o do valor bonum, c0r. o meu escrito, Die !eltans$hauung des 'homas *. Auin , 5tuttgard, 192!, pgs. 127 e segs. 2
$0r. 5$@6&4, Die Lehre *on den 'rans+endentalien in der s$holastis$hen Philosophie, 6eipzig, 1929, pgs. 1 e segs.
11
o princípio desta reside na Forma, assim residir4 tam%ém aí a valia ou o valioso das coisas. E ainda' visto que a Forma é o mesmo que actualidade IactoJ, em oposi!o a potência, teremos tam%ém que o valioso das coisas estar4 do mesmo modo fundado na actualitas. E agora 94 podemos compreender este período do +quinense' ?omne ens in0uantum est ens est onum@ Iloc. cit.J. Como todo o ser é inteligível para a inteligência, do mesmo modo é tam%ém apetecível para a vontade. :ransparente para o pensamento, é igualmente atractivo para o querer. 0uma palavra' o conceito de ser envolve, ao mesmo tempo, um conte6do de valor. O ontológico é, ao mesmo tempo, grandeza lógica e grandeza axiológica. *ensemos %em no significado e alcance duma semelhante tese. 0ela se resume, pode dizer se, toda uma #etafísica. + tese é a mais radical de todas as teses so%re a natureza da @ealidade que se possa imaginar. 0ela se diz, com efeito, pura a simplesmente, que a @ealidade em si mesma tem, ao mesmo tempo, a natureza do pensamento e a do valioso que na sua essência concorrem simultaneamente, a constituíla, os conte6dos da nossa consciência l$gica e os da nossa consciência valorativa. + @ealidade n!o contém para a inteligência humana sequer um ponto de som%ra que n!o possa ser dissipado, como n!o contém para a nossa consciência moral a mínima raz!o de escândalo que n!o possa ser reparada. O seu recheio é feito de luz o seu conte6do sempre e-actamente divisível pela raz!o. omo nada nela e-iste, em princípio, de al$gico, tam%ém nada pode e-istir de essencialmente desvalioso. O des+alor não tem ser . 5ignifica ausência de ser. %alum est ens 'ri+ati+um 8 é esta a consequência l$gica do a-ioma escol4stico de que nos estamos ocupando. ale a pena atentar um pouco na origem histórica desta doutrina especulativa. Como 94 atr4s o%serv4mos, esta confus!o entre ser e valor remonta a + @35:X:EAE5 . @esultou da encorpora!o do mundo das 3deias plat$nicas dentro do @eal, operada por este fil$sofo. + @35:X:EAE5 fez, como se sa%e, das rígidas e est4ticas 3deias plat$nicas princípios dinâmicos e Formas vivas, actuando dentro de @ealidade. E a muitos respeitos foi esta transforma!o da doutrina um autêntico progresso. O pro%lema do conhecimento tornouse deste modo, por e-emplo, de muito mais f4cil solu!o' no lugar da contem'la(ão plat$nica das 3deias, surgiu a astrac(ão aristotélica dos conceitos essenciais, e-traídos dos dados dos sentidos, e com isso, indiscutivelmente, a 1e-periência2 veio a ganhar em dignidade. #as essa transforma!o continha tam%ém graves perigos. + 13deia2 plat$nica tem uma dupla face. 5e, por um lado, ela corresponde, em parte, a um conceito de ser Iideia de homem, 4rvore, cavalo, etc.J, n!o dei-a de lhe corresponder, por outro, tam%ém em parte, um certo conceito de de+er-ser , de algo normativo. Ora n$s podemos tomar o conceito de homem, por e-emplo, nos dois sentidos' 94 como um conceito de ser, de algo que é, e significar4 ent!o para n$s o mesmo que a essência geral do homem, como esta aparece realizada em todos os indivíduos humanos, 94 como conceito normativo "ollensegri$, e querer4 neste caso dizer, n!o o homem real, dado na e-periência de todos os dias, mas um certo tipo ideal de homem, do homem como ele de+e ser. 0o primeiro caso tratase dum 1conceito2, no segundo duma 1ideia2. 0!o tendo +@35:X:EAE5 feito esta distin!o, daí resultou ter ele desconhecido a diferena essencial entre conceito e ideia. Encorporando na @ealidade a 13deia2 plat$nica, considerada neste segundo aspecto, é evidente que n!o podia die-ar de confundir tam%ém o ser e o de+er-ser , a realidade e o valor. Dma esfera de valor propriamente dita, uma ordem a-iol$gica ao lado da ordem ontol$gica, era coisa que para ele n!o podia pois darse. Eis aí o sentido em que a Escol4stica veio a entender o seu céle%re a-ioma da =mne ens est onum. +lém disso, tam%ém a teoria do conhecimento de +@35:X:EAE5 é completamente estranha a uma 13deia2, no sentido de uma 13deia de valor2. 0!o h4 aí lugar para ela. O fil$sofo desconhecea. 5egundo ele, o intelecto e-trai os conceitos da e-periência. Os conceitos universais s!o formados ; custa da e-periência e dos dados dos sentidos que a @ealidade fornece ao su9eito do conhecimento. #as na @ealidade n!o aparece rasto dum deverser, dum sollen. Este, pelo contr4rio, contrap/ese ao ser, como norma, como normatividade. *or conseguinte, n!o se podem o%ter por este caminho quaisquer conceitos de normas ou dum deverser o%têmse apenas conceitos relativos a seres. + constitui!o dos primeiros dei-a pressupor um conhecimento até certo ponto criador. :ratase de conceitos que n!o se dei-am e-trair de nenhum ser, e que s$ podem ser gerados pelo Espírito mediante um processo de cria!o original. *orém, para +@35:X:EAE5 um tal processo n!o e-iste. *ara o mesmo fil$sofo, conhecer significa essen cialmente o mesmo que rece%er, registar precisamente alguma coisa um 'ati e n!o um acere. 7onde resulta que +@35:X:EAE5 n!o podia dei-ar de negar, partindo deste ponto de vista, toda a ideia aut$noma de valor e, portanto, a possi%ilidade dum reino dos valores. + origem hist$rica da metafísica a-iol$gica dos Escol4sticos reside pois, se nos é lícito resumir mais uma vez o nosso pensamento, nesta atitude do Estagirita, ao encorporar a 3deia plat$nica dentro das coisas reais, fundindoa com a @ealidade. Fazendo isto, +@35:X:EAE5 fundiu tam%ém com esta a ideia do valor e passou a considerar valioso o pr$prio ser. alor n!o podia, depois disto, significar outra coisa que n!o fosse a plenitude do ser ou a consuma!o Nntica das coisas dentro da sua, 1forma2 essencial mais conveniente. H4 se tem chamado a esta concep!o uma concep!o realista, um realismo axiológico. + e-press!o, porém, n!o é rigorosa e pode induzir em erro. *orque o mais característico dela n!o est4 em considerar o valioso como real 8 coisa que ali4s fazem todas as teorias que procuram compreender o
12
fen$meno do valor como ele deve ser compreendido 8 mas em n!o ser capaz de distinguir o axiológico do ontológico e, conseguiu temente, em confundir o ser e o valor. #as esta concep!o é insustent4vel. 5upunhamos o caso duma dor física. & indu%it4vel que uma dor física é um facto real, um ens. Ora, se devermos admitir que todo o ens é um onum, algo que n!o podemos dei-ar de considerar valioso, digno de se apreciar e estimar, seguirseia que a dor estar4 neste caso. #ais' quanto maior for a plenitude do ser deste ens, quanto maior e mais intensa a dor, tanto maior dever4 ser tam%ém a altura do valioso que nela se encerra. #as isto seria a%surdo. 7onde a conclus!o' a 'lenitude do ser na da tem 0ue +er com os +alores. Outro e-emplo. 7izse dem$nio um ser espiritual que quer o mal e n!o pode querer outra coisa. Este ser é tam%ém um ens. *ortanto, segundo a doutrina aristotélicoescol4stica, é um valor. (uanto maior a sua perfei!o Nntica, quanto mais poderosa a sua inteligência e mais forte o seu querer, tanto maior ser4 o 1valor2 do dem$nio. (ue ele se proponha o mal, é indiferente. :al pequeno defeito n!o ser4 um defeito do 1ser2 ser4 apenas uma certa direc!o que toma a sua vontade. 0!o é a maldade que faz que%ra ; plenitude do ser do dem$nio, nem, consequentemente, ao que de valioso contém a sua essência. #as tam%ém neste caso o a%surdo de uma tal consequência p/e de manifesto o a%surdo da tese de que 1valor2 nada mais é do que perfei!o do ser e de que, por isso, os conceitos de ens e onum coincidem><. +lém disso, a mostrarnos a impossi%ilidade desta redu!o do valor ao ser, est4 ainda o que se passa com os valores éticos. 3maginemos um homem colocado num meio requintadamente imoral. Este homem n!o vê realizados em parte algum, a em torno de si, quaisquer valores de natureza ética, com que ali4s sonha. *resta culto ; 9ustia e s$ vê reinar a in9ustia ama o %em e s$ vê o mal e o $dio. Enternece o a pureza e tudo em volta dele é impuro. E contudo, apesar de a realidade estar em contradi!o com as mais elevadas aspira/es da sua consciência moral, n!o o a%andona um s$ momento a certeza de que sem estes valores n!o pode e-istir verdadeira humanidade. Em face desta verdade, chega a parecer incrível que ha9a ainda ho9e fil$sofos t!o enamorados da 3dade #édia que sustentem e defendam com toda a convic!o a tese do omne ens est onum. =4 muito tempo que a Filosofia moderna viu o que havia de pro%lem4tico neste a-ioma, %em como no outro, que lhe é paralelo, do omne ens est +erum. Esta filosofia dei-ou de considerar evidentes e necess4rios tais a-iomas, 9ustamente porque a sua consciência intelectual se tornou entretanto mais su%til, mais diferenciadora dos diversos domínios e classes de o%9ectos e das suas características estruturas Nnticas, e por isso pNde definitivamente re9eitar toda a identifica!o entre o ser e o valor. +queles que ainda ho9e teimam em n!o ver isto e em os confundir, poder!o usar do mais moderno cal!o filos$fico e apresentarse como os mais actualizados dos fil$sofos do nosso tempo a verdade é, porém, que n!o falam em nome da Filosofia moderna mas sim do pensamento medieval. Entre os fil$sofos neoescol4sticos h4, é certo, alguns que n!o s!o inteiramente cegos para compreender a e-plana!o que aca%amos de fazer. 5e reconduzem o valor ao ser, fazemno contudo de um modo, verdade se9a, que n!o dei-a de tomar em considera!o os argumentos acima e-postos. =a9a em vista o que se passa com H. O0 @30:EAE0, cu9a e-posi!o na matéria mostra claramente o esforo do seu pensamento para achar novas f$rmulas que possam pNr a doutrina ao a%rigo das o%9ec/es feitas. & assim que as suas ideias, ali4s n!o inteiramente isentas de certos equívocos, visam a conseguir dar uma defini!o de valor utilizando o conceito de finalidade. *ara ele, valor é desta forma o 1conte6do de sentido2 de um ser, na medida em que este ser realiza ou pode realizar um certo 1fim2 >>. 7iz ele' 1um fim "télos$ que se atinge, representa sempre, na sua realidade material , qualitativa, concreta, um onum ou um +alor que deve considerarse, em parte, como um valor em si mesmo, em parte como um valor de rela!o. (uanto mais elevado for o valor, tanto mais transparece nele o car4cter de valor em si mesmo "Eigen7ert$, um valor que a si mesmo se 9ustifica, na ideia de querer atingir um fim. Este valor em si mesmo pode conter, porém, diferentes graus de apro-ima!o de uma realiza!o ideal, perfeita, dum fim em vista, quer se trate de uma realiza!o das suas formas quer do pr$prio valor a%soluto2 >G. #as a isto deve o%servarse que tam%ém esta redu!o do conceito de valor ao de fim é insustent4vel, porque inverte a ordem natural destes conceitos e coloca, por assim dizer, o carro diante dos %ois. O fundamental, o prim4rio, n!o é o im, mas sim o +alor . 5e tomamos qualquer coisa como o%9ectivo e fim do nosso operar, é porque essa coisa é valiosa, e n!o inversamente' as coisas n!o se fazem valiosas por n$s as tomarmos como fins. 10!o faz sentido 8 nota com raz!o 73E:@3C= O0 =3A7ES@+07 8 pretender reduzir os valores, 21
cerca desta reduK*o do conceito de )valor/ ao de )ser/ mediante o de )per0eiK*o/, c0r. o meu estudo: Das /ausalprin+ip N 1928, pgs. 281 e seg., e 4, 5$&6&R , no #ormalismus in der Ethik. D de 5$&6&R esta observaK*o: )o diabo tem tamb
$0r. Die 0edeutung des philosophis$hen !ertproblems , in Philosophia perermis ##, pg, 983.
23
1bid. pg. 9!8. F testo original de R #'&6& ! o seguinte: )ein =eOeils erreichtes IGOecJ stellt in seiner materiellen, ualitativen, konkreten 2ealitat ein 0onum oder einen Lert dar, der teils als &igen-, teils als RelationsOert zu betrachten ist. Ee hQher der Lert steht, desto strer tritt in ihm der einen &%e$k er0Sllende, sich selbst recht0ertigende Eigen%ert hervor, Oelcher in verschiedenen
?raden eine ngleichung an eine ideale &r0Sllung Ider eigenen Lert0ormen oder des absoluten LertesJ enthalten ann/.
13
essas peregrinas essências, que vêm até n$s cheias de ma9estade, com a e-igência dos seus imperativos categ$ricos, indiferentes aos nossos dese9os e esforos, ; fun!o puramente formal de quaisquer fins. & s$ o car4cter valioso das coisas que pode 9ustificar que elas constituam para n$s fins do nosso o%rar. & o valioso que deve tornarse fim, e n!o o fim que deve considerarse valioso s$ por ser fim. Em 6ltima an4lise, s$ pode admitirse que alguma coisa se9a o%9ecto dum querer, quando essa coisa for valiosa em si mesma, ou puder acharse ao servio dum fim valioso, ?'or0ue é o im 0ue de+e estar ancorado no +alor e não o +alor no i m J K @ . 1Enquanto se continuar a 9ulgar possível fazer derivar o valor da ideia formal de fim, mesmo que se queira falar s$ dum fim 1imanente2, e enquanto n!o se compreen der aquilo que h4 de irredutível nas ideias de %em, de %elo e de verdade, cu9o significado imanente é insusceptível de toda a fundamenta!o e s$ pode ser apreendido directamente, como a pr$pria evidência, n!o se ter4 compreendido o que #. 5C=EAE@ e a Fenomenologia entendem por valor' esse momento t!o essencial no arca%ouo do @eal e que desempenha um t!o importante papel na vida de todo o homem2 >M. Y a-iologia neoescol4stica, duma maneira geral, com a sua tendência genuinamente aristotélica para partir do Cosmos para os valores, pode ainda o%servarse, com o mesmo autor, o seguinte' 1enquanto o%servamos no universo finalidades meramente neutrais, n!o h4 que pNr a quest!o dos valores. Dma coisa é a finalidade neste sentido formal e funcional, outra a finalidade dos valores com significa!o pr$pria em si mesmos, como s!o os do %em, do %elo e da verdade. Estes representam algo de novo, de diferente. (uando dizemos duma melodia que é %ela, duma ac!o que é %oa, dum pensamento que é profundo, n!o queremos com isto afirmar que os respectivos conte6dos Ida melodia, da ac!o, do pensamentoJ constituam o fim formal dum acontecer ou o o%9ectivo duma conduta da nossa parte, mas sim que eles têm em si mesmos um significado e que somos n$s que os destacamos, em toda a riqueza desse seu significado, de tudo o mais que a-iologicamente nos pode parecer ser neutro ou indiferente2 >W. *or um caminho diferente do de @30:EAE0, procura tam%ém 5. SE=0 chegar a uma determina!o da essência do valor e do seu conceito. + particular maneira de ser do valor est4, segundo este, n!o no seu 1valer2 "gelten$, mas no seu 1assentar so%re2, no seu repousar so%re alguma coisa "eruhen$. 1O valor assenta so%re uma determinada situa!o de certos %ens que 94 se acham ordenados finalística ou teleologicamente2 "67ecmCssig geordnet$ J . Os %ens s!o o fundamento dos valores. + Escol4stica e-primia este mesmo pensamento, dizendo que 1ser2 e 1%em2 s!o conceitos correlativos. 1Sem2 significa perfei!o, plenitude. *erfei!o, como conceito, é o comple-o de qualidades que tornam um o%9ecto valioso e fazem dele um 1%em2. Dm o%9ecto tornase perfeito mediante a 1plenitude do seu ser2. Estas passagens %astam para provar que tam%ém a concep!o de SE=0 procura reduzir o +alor ao ser >Q. + permanente polémica que este escritor sustenta contra os 1autonomistas2 dos valores é ali4s, dentro do seu ponto de vista, a%solutamente coerente. E o mesmo se diga da sua outra tese fundamental, segundo a qual 1a 6ltima decis!o acerca de qual o mais alto valor e de qual a verdadeira hierarquia a esta%elecer entre os valores2 depende afinal da concep!o metafísica do mundo que cada um de n$s adoptar >R. 5em d6vida. *oderia, porém, oporselhe com igual direito a tese contr4ria e sustentarse que a concep!o metafísica do mundo, pr$pria de cada homem, depende tam%ém, em 6ltima instância, dos seus critérios de valor e das suas valora/esGT. Finalmente, com muito mais clareza e sem tantos rodeios, esta%elece ainda a equipara!o entre ser e valor E. *@Z[V+@+ na sua polémica com #. 5C=EAE@. alor é, para ele, 1uma determina!o particular, fora de toda a ideia de rela!o, da essência dum ser a essência dum ser assume valor, torna se valor, na medida em que a natureza específica desse ser se afirma e se manifesta2 G<. E ainda' valor é 1uma íntima disposi!o da essência do ser, como as disposi/es de natureza física2 O valor é portanto 1um estado das coisas2, uma situa!o, uma propriedade delas G>, 5o%re isto assenta a 1íntima unidade do ser e do valor2 GG. E em harmonia com isto, seguese que a escala ou hierarquia dos valores se vem a achar tam%ém fundada na . hierarquia dos seres e das essências GK. Contra esta concep!o notemos contudo, mais uma vez, com todo o vigor, que os valores n!o s!o estados, nem propriedades das coisas, que se possam vir 9untar a outras, 94 determinadas ou simplesmente determin4veis por via intelectual. +firmar o contr4rio disto é confundir o +alor com o undamento do +alor3 é n!o ver o primeiro como grandeza a-iol$gica, e ver s$ o segundo, que é uma 2
Her &eitli$hes im Li$hte des E%igen, 1932, pgs. 8, 1bid., pg. 3!2. 2! F mesmo ponto de vista a0irma '. 5'BT$&6 no seu trabalho, &ur Problematik der Ethik in der Gegen%art, in 0onner &eits. für 'heologie u. /ir$he, #, pgs. 29 e segs. 27 Philosophie der .ert , 193, pg. 2! 2
28
1bid., passim. 1bid., pg. 189.
29
3
$0r. 5&6, Lertlehre und Lert0ragen IochlandJ1931-32, pgs. 2!!. 2eligionsbegründung , 4C 5$&6&R UE. , &L- 4, 1923, pg. 91 .
31 32 33 3
1bid., pg. 92.
1
grandeza ontol$gicaGM. & n!o ter o sentido especial que se e-ige para apreender o que h4 de mais caracte rístico na essência do valor, na sua oposi!o ao ser. & ser cego para este 'haenomenon sui generis e para a especial ordem aut$noma de o%9ectos a que ele pertence. &, numa palavra, confundir, mais uma vez, o a-iol$gico com o ontol$gico. & o mesmo defeito de que enferma 9ustamente 8se9anos lícito dizer, por 6ltimo 8 a concep!o escol4stica acerca da essência do Gem, ou, por outras palavras, ' acerca do princípio ético ou da %oral . +poiandose em +@35:X:EAE5 e no Estoicismo, 5. : O#5 viu igualmente na lei natural e na lei racional Ina lex aeterna e na lex naturalis$ o princípio supremo da moral. Dma ac!o humana s$ pode ser 9ulgada %oa quando corresponde ; ordem natural das coisas, tal como a nossa raz!o é capaz de a apreender. +ssim, uma vez mais, se fazem derivar normas éticas e concep/es a-iol$gicas duma determinada ordem natural das coisas e, portanto, de seres. #as igualmente contra uma tal doutrina devemos ponderar, com +. #E55E@, O seguinte' 1de nenhum ser pode e-trairse um valor e, consequentemente, um de+er-ser3 o conhecimento teorético da realidade n!o pode tornar logicamente necess/rios nenhuns 9uízos de valor e, por conseguinte, nenhumas normas que nele se fundem2 GW. (uem pretende fazer derivar normas da 0atureza, olha 94 para esta n!o como ela é, mas como ela de+ia ser. Dm tal deverser, porém, 94 pressup/e um valor ético. 10a nossa e-periência dos valores e das sua rela/es de hierarquia todos possuímos, em nossa consciência, uma instância suprema que nos permite elevarnos acima da realidade, inclusive acima da 0atureza, para aí sermos 9uízes e podermos valorar para além dela. 0orma n!o é 0atureza como con9unto de todos os seres e factos que nos s!o dados. 5$ podemos e-trair normas dos valores e das rela/es entre eles no acto de os desco%rirmos como o%9ectivamente v4lidos e como de+endo-ser na nossa consciência2G. Concluindo, se9anos lícito acrescentar mais o seguinte ao que 94 o%serv4mos acerca do referido a-ioma, O postulado ?omne ens est onum@ s$ pode alcanar um sentido verdadeiro, se traduzirmos a e-press!o ?onum@ pela e-press!o 1valioso2. E ent!o querer4 dizer apenas isto' todo o ser pode ser portador dum valor. Este valor, porém, tanto pode ser um valor 'ositi+o como um valor negati+o. 5e mantivermos o sentido primitivo da palavra onum, tudo o que se poder4 dizer é que o ser, todo o ser, ser4 no seu 6ltimo fundamento e na sua mais íntima essência om. #as esta 6ltima convic!o é afinal o mesmo que a crena em 7eus. Esta n!o significa outra coisa sen!o que os valores do nosso espírito s!o uma realidade viva, ancorada nas profundezas do ser. 0!o quer isto dizer que neguemos a realidade do mal. O mal afirmase, pelo contr4rio, com uma irrecus4vel evidência na vida humana. :odos aqueles que 94 lutaram um dia com esta fora ou que 94 compassivamente presenciaram a luta de outros com ela, poder!o dizer alguma coisa a este respeito. 0egar a realidade do mal, ou consider4lo um simples ens 'ri+ati+um, é o mesmo que fechar ar%itraria men te os olhos ; evidência e dar provas dum completo alheamento da realidade e da vida. Fazendoo, tornase depois f4cil eliminar o pro%lema central da :eodicéa, isto é, o da dificuldade que h4 em conciliar a e-istência do mal com a de um 7eus perfeito, todopoderoso e infinitamente %om. #as na realidade, procedendo assim, n!o se desata um n$ g$rdio cortase simples mente esse n$ com uma espadeiradaGQ. 5e tomarmos seriamente consciência do que somos, n$s os homens, po%res seres finitos, t!o limitados nas nossas faculdades de conhecimento, aca%aremos por nos conformar com a ideia de que 9amais poderemos resolver teoreticamente os 16ltimos e angustiosos enigmas2 da e-istência, e de que, para resolver o pro%lema do mal, 9amais ser4 suficiente a via teorética. 5$ uma outra nos poder4 valer' vencer e superar o mal por meio da nossa ac!o moral. (ualquer tentativa de solu!o teorética deste pro%lema assentar4 sempre 8 para empregar a linguagem de 03E:Z5C=E 8 so%re um pensamento n!o autêntico, n!o genuíno Ium ?unreines 5en e n@ $.
III( V%OR ! D!V!R3S!R + Filosofia dos valores de %ase fenomenol$gica é a corrente moderna que mais se tem esforado por o%ter uma aclara!o da rela!o entre alor e 7everser. Esta corrente repudiou com energia a ideia dum deverser a%strato, como que pairando no ar, representada, como se sa%e, pela filosofia neoLantiana. :odo o de+er-ser se funda num +alor 8 ensina essa corrente moderna 8 e n!o inversamente. 0!o é o deverser que nos d4 o fundamento do valor é o valor que nos d4 o fundamento do deverser. 5egundo 3
$0r. 5&6, lo$. $it pg. 2!8 $0r. Glauben und !issen, 1919, pg. 87. 37 Her Ethik, 1918, pg. !3. 38 certadamente ,nota a este respeito . R'4: )&>istem, sem dVvida, no mundo a imper0eiK*o, o mal, o desvalioso( sem dVvida, o 4al e>iste, &le n*o tem menos realidade do ue o bem e a per0eiK*o. F homem tem de con0ormar-se com isto( n*o depende dele 0azer desaparecer o mal da terra, 0ingindo ue o n*o vW, F problema da 'eodic
1
# +\ 5C=EAE@, o primeiro princípio pois que deve ser formulado acerca destas rela/es entre Valor e 5e+er-ser é este' todo o de+er-ser se unda num +a lor M N . Como devemos pensar, porém, mais concretamente, esta rela!o) *ertencer4 o deverser ; essência do valor como tal) +charse4 94 contido no pr$prio valor o 1momento2 da o%riga!o, do dever ser, ou residir4 este 1momento2 numa outra espécie de rela!o entre o mesmo valor e alguma outra coisa) +s opini/es divergem a este respeito. 5egundo 0. = +@:#+00, O momento da o%rigatoriedade Io ollen$ pertence 94 ; essência do alor est4 94 contido no seu modo de ser ideal, no seu modus ess en di K : . Este deverser n!o é, contudo, um de+er-a6er algo Ium Tunsollen$ dirigido a uma vontade, ao querer dum su9eito. :ratase apenas dum de+er-ser 'uro e ideal. 7o facto de alguma coisa ser em si mesma valiosa n!o resulta que alguém a deva realizar resulta apenas que essa coisa ?de+e ser@ "soll se in $. 10este sentido 8 diz = +@:#+00 8 valor e deverser ideal confundemse e n!o podem separarse um do outro. #as n!o quer isto dizer que se9am idênticos. 7everser significa direc!o para, ou so%re, alguma coisa. alor significa este alguma coisa, para a qual, ou so%re a qual, se dirige o deverser, isto é, para que ele tende, ou que ele ?intende@. O alvo ou a meta a atingir condicionam a dire!o, e esta condiciona, por seu lado, o particular modo de ser do alvo ou da meta a atingir, alor e deverser ideal achamse assim numa estreita coordena!o entre si, numa rela!o de interdependência. O deverser ideal é o modus essendi do valor, a sua característica maneira de ser, que 9amais se poder4 resolver ou dissolver na estrutura da matéria. O valor, por outro lado, d4nos o conte6do do deverser é a estrutura categorial, cu9o modus essendi é o do deverser ideal2K<. #as deste deverser ideal é preciso distinguir o deverser actual . Este 6ltimo principia aí onde o pri meiro vem a acharse em contradi!o com a realidade, isto é, onde quaisquer valores em si mesmos e-istentes se revelam su%itamente como irreaisK>. 7iz = +@:#+0 0 ' 1o deverser actual n!o é ainda, certamente, um dever fazer alguma coisa, nem acarreta consigo ainda, necessariamente, um tal 1dever fazer algo2 pois nem tudo aquilo que ainda não é e de+e ser se imp/e necessaria mente como o%9ecto dum querer ou dum esforo do homem. +lém disso, o mesmo deverser actual é tam%ém radicalmente distinto do deverser ideal, porque n!o pertence nem é inerente ao +alor em si mesmo, sendo apenas algo que se lhe vem 9untar. O deverser ideal do valor é apenas um 1momento2 contido no seu deverser actual3 enquanto que o outro momento essencial, tam%ém nele contido, é o da antinomia ou ?o'osi(ão das eseras@KM. O deverser actual pressup/e o não-ser do deverser ideal. Este 6ltimo n!o reside na esfera dos o%9ectos ideais. :em nela o seu ponto de partida, mas alargase através da esfera dos o%9ectos reais, penetrando na @ealidadeKK. E é na medida em que, dentro desta, encontra o su9eito do conhecimento e do querer 8 a consciência cognoscente e a vontade 8 que ele se transforma, realmente, num de+er a6er alguma coisa. O su9eito apreende ent!o este deverser actual na forma dum de+er a6er que directamente se lhe dirigeKM. = +@:#+00 distingue assim um triplo deverser' um ideal , um actual e um de+er a6er algo determinado. 7estes três deveresseres o primeiro é o fundamental, isto é, aquele que, segundo = +@:#+00, pertence ; pr$pria essência do valor. Outra é a posi!o de # +\ 5C=EAE@. 5C=EAE@ distingue um deverser ideal dum deverser normati+o. 1O deverser fundase sempre num valor que 94 é por n$s contemplado no aspecto da sua rela!o com um 'oss&+el ser real. & neste sentido, e s$ neste sentido, que podemos falar dum deverser ideal "ideales ollen$. #as a este contrapNese ainda aquele outro deverser, que é o por n$s contemplado dentro desta outra rela!o' a que se esta%elece entre ele, no seu conte6do, e um certo querer que se prop/e realizar este conte6do Ideverser de o%riga!o ou Oiichtsollen$. O primeiro destes dois deveresseres é o que aparece formulado, por e-emplo, nesta proposi!o' 1o mal n!o deve e-istir2 o segundo nesta outra' 1n!o deves praticar o mal2 KW. 3sto é' um deverser ideal transformase num dever 39
Der #ormalismus in der Ethik , pg. 79.
Ethik, pg. 1. 1dem, 1bid.
1
Ethik, pg, 1.
2
1dem, pg. 1!.
3
1dem, ibid.
1dem, pg. 19.
1dem, pg. 1!3.
!
Der #ormalismus, pg. 187.
1!
ser normati+o, desde que o seu conte6do passa a ser conce%ido, vivido "erlet$, por uma consciência apostada na sua possível realiza!o ou a esta inclinada 94 por qualquer impulso profundo K. 5C=EAE@ é, portanto, de opini!o que o deverser ideal pertence ; essência dos valores, quando contemplados estes no aspecto da sua rela!o com uma possível realidade. O deverser ideal 1tem essencialmente o seu fundamento na rela!o entre o valor e a realidade2 KQ o que equivale ainda a dizer que, enquanto contemplados s$ em si mesmos, os valores n!o contêm ainda o 1momento2 do dever ou o%riga!o. 1Os valores s!onos assim dados como indierentes, em princípio, a e-istirem ou n!o e-istirem. *elo contr4rio, todo o de+er-ser se acha referido desde logo ; esfera da e-istência ou n!o e-is tência dos valores. & isto o que resulta da pr$pria linguagem. Com efeito, dizemos' foi %om neste caso proceder assim mas n!o dizemos' isto devia ter sido como foi. (uando muito, podemos dizer' isto deveria ter sido assim. *or outras palavras' o deverser n!o é, como é o valor, indiferente perante o possível ser ou n!o ser, perante o possível realizarse ou n!o se realizar do seu conte6do2. E é na verdade, segundo 5=EAE@, f da maior importância o facto de os valores serem, por natureza, em si mesmos, 1indiferentes ao ser e deverser2. Enquanto que, por conseguinte, = +@:#+00 é da opini!o de que ao valor pertence 94, por natureza, um certo 1momento2 de deverser, sustenta 5C=EAE@ a opini!o contr4ria, de que a 3deia de valor n!o envolve ainda nenhum momento dessa índole. (ual dos dois tem raz!o) + favor da opini!o de 5=EAE@ poderia, antes de mais nada, dizerse o seguinte' (uando nos entregamos ; aprecia!o de quaisquer qualidades valiosas das coisas em a%stracto, e quando, fazendo isto, prescindimos de sa%er se elas encontraram 94 realiza!o em qualquer parte ou em qualquer momento, limitandonos n$s a contempl4las no seu conte6do ideal, é evidente que n!o achamos aí ainda nenhum 1momento2 de deverser. *or e-emplo, se pensamos na essência da 9ustia, da %ondade ou da pureza. 0este caso, é evidente, limitamonos a apreender pelo pensamento a essência e o conte6do destes valores, fora de qualquer sua rela!o com a realidade ou com qualquer íntima disposi!o interior do nosso espírito diante deles nada e-perimentamos, porém, duma e-igência ou dum apelo que eles nos possam dirigir. O argumento principal de 5C=EAE@ consiste, deste modo, na ideia de que o valor reali6ado dei-aria de ser valor, se o deverser pertencesse 94 ; sua essência. O %em deveria dei-ar de ser o %em, ao realizarse, e transformarseia em alguma coisa de moralmente indiferente. +o deverser contrap/ese o ser. E se o dever ser se achasse indissoluvelmente ligado ao valor, nunca este poderia considerarse como 1sendo2 ou como 1e-istente2. 0unca poderia falarse dum 1valor realizado2. #as uma outra circunstância refora ainda a opini!o de 5C=EAE@. :ornouse usual ho9e colocar ao lado dos valores do Sem, do Selo e da erdade, os do agrado, ou se9a, os valores religiosos" 5implesmente, a respeito destes 6ltimos, considerase como sua essência o eles n!o serem s$ puros valores mas possuírem tam%ém o car4cter de ser. Com efeito, como teremos ainda ocasi!o de ver mais adiante, o di+ino ou Ivisto este através da categoria da personalidadeJ 7eus,, é tam%ém uma realidade, um valorrealidade ou uma realidadevalor. Ora isto n!o seria possível, se no valor come4ssemos por englo%ar logo um deverser. 0esta hip$tese, teríamos de dei-ar de falar em 1valores religiosos2 porquanto valores que s!o ao mesmo tempo seres, representam alguma coisa impossível de conce%erse, uma vez que o deverser se9a considerado da essência do valor e visto que o primeiro é, por outro lado, e por defini!o, algo de contraposto ao ser. +lém disso, esta rela!o entre valor e deverse carece ainda duma outra aclara!o. Entre os valores espirituais e-iste toda uma classe em que o deverser desempenha um papel muito espe cial. @eferimonos agora aos valores éticos. Como se sa%e, o moral possui o car4cter duma o%riga!o a%soluta. & na forma dum categ$rico ?de+er a6er 2 que ele se revela ; nossa consciência. omo disse P +0:, é essa a forma particular do ?im'erati+o categórico@. #as a esta concep!o contrap/ese uma outra. 5egundo esta, este deverser n!o é um dever ser imanente nos valores, mas sim transcendente a eles. 3sto é' o valor ético rece%e, em harmonia com esta outra concep!o, o seu car4cter de deverser dum poder transcendente e divino. O deverser a%soluto que o acompanha é ent!o e-press!o duma vontade tam%ém a%soluta, ou se9a, duma vontade divina. *or tr4s da lei moral est4 um legislador a%soluto. *or outras palavras' o dever moral tem, portanto, o seu fundamento em 5eus. & esta 6ltima a concep!o ho9e representada pela 0]oescol4stica. #. V3::#+00 reforoua ainda com esta considera!o' a quest!o da essência da moralidade esclarecese com a determina!o da norma moral superior. Com isto s$ se consegue, porém 8diremos n$s 8 fundamentar a moral no seu aspecto material, no conte6do do dever, mas n!o no seu aspecto ormal . #ostrase assim quais s!o os conte6dos dos nossos deveres morais' o que devemos fazer, como devemos proceder, segundo o que é %om e o que é mau. #as n!o se consegue fundamentar a e-igência ética, o normati+o, como tal 8 isto é, o dever 7
1dem, pg. 21.
8
#dem, pg., 188.
17
propriamente dito. + quest!o é esta' como vem 9untarse ao moralmente %om, uma vez determinado este, o seu car4cter de deverser) 7irse4 porventura, que este tem tam%ém a sua origem na natureza humana, na qual reside 94 a norma suprema) Ou, pelo contr4rio, n!o nos remeter4 ele, por sua vez, para uma outra origem, um outro factor, que devemos reputar transcendentes) 5egundo V3::#+00, é a segunda hip$tese que se verifica. 5egundo ele, olhada a moralidade neste seu aspecto formal, esta apontanos tam%ém para além dela, para alguma coisa de mais alto a natureza humana n!o é princípio de e-plica!o suficiente. :eremos de recorrer aqui a uma factor transcendente. 5$ este factor conseguir4 e-plicar o car4cter de o%rigatoriedade a%soluta das normas éticas. Dma lei que o%riga em a%soluto dei-a pressupor um legislador tam%ém a%soluto. Logo, na ideia de de+er est/ contida a ideia de 5eus . 5e afastarmos esta 6ltima, n!o poderemos e-plicar o car4cter de deverser a%soluto da &tica. 0!o podemos, porém, em face de tudo o que 94 ficou e-posto, aceitar esta conclus!o. Ela achase em completa contradi!o com o resultado da an4lise feita. imos 94 que o deverser é um 1momento2 que pertence necessariamente ao valor e que, por assim dizer, lhe acresce, desde que este dei-e de ser pensado apenas em si mesmo, e uma vez que, pelo contr4rio, passe a ser olhado por n$s nas suas rela/es com a realidade. 5e isto deve entenderse acerca de todos os valores espirituais, deve entender se tam%ém acerca dos valores éticos. (uer dizer' o deverser e a o%rigatoriedade para a consciência s!o nos dados imediatamente na vivência do pr$prio valor e fundamse nele. 0!o s!o algo vindo de fora, mas s!olhe imanentes. Oertence > essência do moralmente om o ser asolutamente origatório 'ara a consciência. 1*ertence ao pr$prio sentido do moralmente om o o%rigar, o tu de+es, isto é, precisamente o seu car4ter de imperativo categ$rico2 KR. 7evemos pois dar raz!o a 7. von =3A7ES@+07, quando sustenta, em oposi!o a V3::#+# , que o de+er-ser ético se funda no pr$prio +alor ético. 5egundo ele, efectiva mente, é da essência de todos os valores espirituais que a resposta que a consciência d4 ao seu apelo se9a uma resposta espontânea e necess4ria, inteiramente ao a%rigo de todo o capricho ou ar%ítrio da pessoa. Os valores que se nos apresentam como especificamente éticos e impregnados de %em moral e-igem, porém, de n$s uma dedica!o completa, numa forma ainda mais clara e incomparavelmente mais decidida que todos os outros 8 uma forma que precisamente equivale ;quilo que se chama um de+er para a consciência. 15e compreendermos %em isto, teremos tam%ém compreendido por que é que eu 8 diz ainda =3A7ES@+07 8 desisto de procurar para o deverser outro fundamento além deste, e o considero um corol4rio derivado da pr$pria qualidade valiosa dos valores2. 7eve contudo o%servarse que fundar o deverser no pr$prio valor ético, n!o s$ n!o e-clui o seu 6ltimo fundamento em 7eus, como o torna ainda mais plausível. 0!o é semraz!o que o autor que aca%amos de citar declara, por isso, n!o pretender negar que todo o dever moral se acha numa rela!o muito íntima com a vontade divina, e que tudo aquilo que em nome desse dever e desse %em pode ser e-igido ao homem, n!o pode dei-ar de ser 9ulgado tam%ém como e-igido pelo pr$prio 7eus" E todavia isto em nada afecta o aliceramento do imperativo moral no pr$prio valor em si mesmo. Ora por em evidência isto mesmo8isto é, mostrar que o fundamento directo, prim4rio, desse imperativo é este e n!o outro8é fun!o da Filosofia assim como mostrar que o seu fundamento 6ltimo e definitivo s$ em 7eus reside, é fun!o da @eligi!o. + religi!o tem por fim referir tudo a 7eus, n!o s$ a realidade, como todos os valores espirituais e, portanto, tam%ém os éticos. & nisto que consiste a interpreta!o religiosa das coisas" E vistas estas assim, tornase evidente que o deverser moral n!o pode pois dei-ar de se nos apresentar como uma e-press!o e emana!o duma vontade divina. 0este sentido, é que se diz que a voz da nossa consciência é a voz de 7eus. #as, ao falarmos deste modo, n!o é menos evidente que entramos 94 a interpretar o fen$meno ético em termos religiosos e n!o a analis4lo em termos de filosofia.
9
. 4&55&R , Ethik , pg. 9.
18