C.3
VIDA NA NATUREZA C.3.0 O valor valor pedagógico do contacto contacto com com a
Natureza “A oresta é, simultaneamente,
um laboratório, um clube e um templo” B.-P. O contacto com a Natureza como forma de educar as crianças, os adolescentes e os jovens é uma caracte ra cterística rística do Escutismo e um dos elementos fundamentais do método escutista. Pelo valor pedagógico que contém, como espaço privilegiado para o jogo escutista, como espaço de desenvolvimento de instintos, capacidades e da consciência crítica, como oportunidade de crescimento, como materialização, visível, da obra do Criador, interessa, por isso, retirar dele todo o benefício. De facto, para um Escuteiro, o contacto com a Natureza é condição imprescindível para um crescimento pessoal e colectivo. Neste sentido, é importante que a criança, o adolescente e o jovem cresçam sentindo-se parte integrante da Natureza. Só assim perceberão que se deve velar por ela não apenas porque é necessário preservar os recursos naturais disponíveis, mas porque, ao cuidar dela, estão a cuidar da sua própria ‘casa’, ou seja, de si próprios e de todos os outros ou tros (irmãos escutas, família, amigos, colegas, vizinhos, etc.).
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a) UM LABORATÓRIO Graças ao avanço da ciência e da técnica, é cada vez mais possível optimizar o conforto de vida a todos os níveis (desde a mobilidade à climatização, passando pela comunicação, etc.), contrariando o ambiente natural, o que nos isola do resto da nossa ‘casa’, a Natureza. Por esta razão, a vida ao ar livre permite-nos experimentar sensações diferentes e desaa-nos a criar, com o que temos ao nosso alcance e sem destruir, o conforto que nos é necessário (protecção da chuva, lume para cozinhar, técnicas de orientação, etc.) para nos sentirmos parte integrante da Natureza. No fundo, para nos sentirmos em casa. Neste sentido, e como considerava B.-P., o espaço natural é um laboratório. De facto, é na Natureza -pela observação e pela comparação- que muitas vezes a criança, o adolescente e o jovem descobrem outras formas de viver e compreendem o funcionamento do seu organismo e de outros fenómenos naturais, que lhes permitem entender mais facilmente as relações sociais que o Homem tem como qualquer animal social. Para além disto, o contacto com a Natureza incentiva a consciência crítica dos jovens em relação à gestão dos recursos naturais que toda a comunidade tem ao seu dispôr e ajuda-os a integrarem-se e a considerarem-se parte dessa mesma comunidade. De facto, ao observarem a forma cuidada ou descuidada como os outros cuidam da Natureza, a criança, o adolescente e o jovem adquirem hábitos e comportamentos — de aplauso e de censura em relação aos seus pares e aos mais velhos — que lhes dão uma espécie de autoridade moral essencial. Porquê um laboratório? u Porque evidencia que as coisas mais simples são, verdadei-
ramente, as mais importantes; u
Porque é o espaço ideal para descobrir descobrir a criação de Deus, a forma como os vários elementos se completam e sustentam e o papel do Homem em todo o ecossistema;
u Porque
permite que cada um adquira a consciência de que é passageiro e não ‘dono’ do planeta;
u Porque
promove a consciência individual, a cidadania, a noção de responsabilidade individual;
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u Porque
permite a aquisição de conceitos e valores relacionados com a Ecologia e o desenvolvimento sustentável;
u Porque
possibilita o contacto real e físico com o mundo natural e as suas características, entraves e obstáculos;
u
Porque fornece ferramentas e sugestões de auto-suciênauto-suciên cia, de conhecimento do seu próprio corpo e do ambiente que o rodeia.
O papel do Dirigente
Neste processo, compete ao Dirigente incentivar os seus elementos a assumir comportamentos saudáveis e de defesa da Natureza, nunca se esquecendo de que o exemplo é o melhor meio de educação. Por outro lado cumpre-lhe incentivar a realização de actividades que procurem conhecer a história natural e as ciências da Terra Terra e da Vida, investindo na observação e análise crítica da vida natural e da Natureza em estado puro e na preservação de espécies e de ecossistemas.
b) UM CLUBE O espaço natural é, também, o palco preferencial para a realização de actividades escutistas. A este nível, lembramo-nos imediatamente dos Acampamentos, mas convém salientar que o contacto com a Natureza não se resume a eles: todo o jogo escutista deve ter como território ideal o ar livre e a Natureza. De facto, é a partir da observação dela e da vivência, individual e colectiva, no espaço natural que a criança, o adolescente e o jovem compreendem o conjunto das regras instintivas que presidem à natureza humana e sociedade, por exemplo.
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Porquê um clube? u Porque
a Natureza permite descobrir o ambiente natural, as regras sociais básicas e a cooperação instintiva com os pares, no Bando, Patrulha ou Equipa;
u
Porque é o melhor espaço para o jogo social espontâneo, espontâneo, e para o desenvolvimento da educação integral, sobretudo a nível da auto-disciplina, espírito de equipa e valores morais;
u Porque
ajuda a desenvolver capacidades de adaptação a realidades naturais e sociais diferenciadas conforme o local onde se ‘joga’;
u Porque
permite o confronto com ambientes menos confortáveis que levam os Escuteiros a superar as suas dicul dades e os incentiva a respeitar a Natureza.
O papel do Dirigente
Compete ao Dirigente, a este nível, desenvolver, sempre que possível, a realização de actividades e jogos escutistas em ambiente natural e ao ar livre, privilegiando o trabalho de Bando, Patrulha, Equipa. Isto permite-lhe animar a Secção numa lógica de aproveitamento da Natureza como espaço para o crescimento saudável e harmonioso dos Escuteiros.
C) UM TEMPLO A Natureza Natureza também deve ser, para crianças, adolescentes e jovens, um espaço de contemplação e de deslumbramento, uma montra privilegiada para vivenciar Deus: de facto, é o campo mais limpo e claro da Criação. Assim, todos devem ser convidados a descobrir nela a beleza de toda a obra de Deus, as mais elementares intenções de sã convivência e o poder do livre arbítrio dado por Deus ao Homem.
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Porquê um templo?
u Porque, nas na s palavras palavr as de B.-P., B.-P., “o estudo da Natureza mostrar-
nos-á as coisas maravilhosas e belas de que Deus encheu o Mundo para nosso deleite”; u Porque permite, através dos sentidos, da observação, pela
razão e pela lógica, a ligação a Deus; u Porque o ar livre é, efectivamente, um ambiente que permite a
activação de todos os sentidos e da própria natureza da pessoa. Papel do Dirigente
Neste domínio, seria importante que o Dirigente entendesse que deve aproveitar o ambiente natural como um espaço privilegiado para incentivar atitudes de oração, através da contemplação e da reexão sobre as maravilhas da Criação, auxiliando os seus elementos a compreender o tesouro que nos foi dado por Deus. Para além disso, cumpre-lhe ainda incentivar, sempre que possível a partilha fraterna dos dons de Deus em nós.
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