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Fevereiroo / 2014 Fevereir Coordenação editorial: Depto. Desenvolvimento Institucional Professor autor: Flávio Henrique Coordenadoria de Ensino à Distância: Gedeon J. Lidório Jr Projeto Gráfico: Mauro S. R. eixeira Capa: Mauro S. R. eixeira Revisão: Éder Wilton Gustavo Felix Calado Designer Instrucional: Wilhan José Gomes Impressão: odos os direitos em língua portuguesa reservados por:
Rua: Martinho Martinho Lutero, 277 - Gleba Palhano - Londrina - PR 86055-670 el.: (43) 3371.0200
SUMÁRIO Unid. - 01 O Mundo do Novo Testamento Política Polí tica e Ecomonia no Império Império Romano nos tempos tempos de Jesus.........................05 Unid. - 02 O Mundo do Novo Testamento Correntes Corrent es Filosóficas nos dias do Nov Novoo estamen estamento................. to............................................15 ...........................15 Unid. - 03 O Mundo do Novo Testamento Movimentos Movim entos Religiosos nos dias do No Novo vo estament estamento.........................................2 o.........................................211 Unid. - 04 O Mundo do Novo Testamento Jesus e a Religião Religi ão Judáica - parte I..........................................................................29 Unid. - 05 O Mundo do Novo Testamento Jesus e a Religião Judaica - parte II.........................................................................41 Unid. - 06 Os Evangelhos - Análise Formação..................................................49 Formação..................................................49 Unid. - 07 Os Evangelhos Evangelhos Evange lhos Sinóticos - parte I.................................................................................59 Unid. - 08 Os Evangelhos Evangelhos Evange lhos Sinóticos - parte I.................................................................................65 Unid. - 09 Os Evangelhos - Evangelhos de João..............................................73 Unid. - 10 Atos dos Apóstolos ............................................................................81 Unid. - 11 Apóstolo Paulo - Vida Vida e Obra..........................................................9 Obra..........................................................911 Unid. - 12 Cartas Paulinas - Maiores 1º e 2º essalonicenses......................................................... essalonicenses...............................................................................................99 ......................................99 Unid. - 13 Cartas Paulinas - Maiores - Gálatas e Romanos........................ Romanos........................109 109 Unid. - 14 Cartas Paulinas - Maiores 1º e 2º Coríntios.......................................................................................................117 Coríntios.......................................................................................................1 17 Unid. - 15 Cartas Paulinas - Cartas da Prisão Efésios, Filipenses, Colossences, C olossences, Filemon............................................................127 Filemon............................................................127
Pastorais rais Unid. - 16 Cartas Paulinas - Cartas Pasto 1º e 2º imóteo e ito ito........................................................................................ .............................................................................................137 .....137 Pastorais rais Unid. - 17 Cartas Paulinas - Cartas Pasto Cartas de João - Cartas C artas de Pedro - Cartas de iago - Judas - Hebreus............143 Hebreus............143 Unid. - 18 Apocalípse de João...........................................................................153
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Introdução ao Novo Testamento
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I��������� Conhecer o Novo estamento, estamento, a partir do d o ambiente sóciosócio histórico em que foi elaborado é uma tarefa fundamental. Com esse objetivo em mente, nossa primeira unidade apontará para algumas dessas questões. Especialmente as que se referem à estrutura política e econômica determinada pela potência imperial da época: épo ca: O Império Romano. Romano. Com a morte de Alexandre no século IV a.C., o grande Império grego dissolveu-se. Porém, a língua e a cultura permaneceram, assimiladas pelos romanos que, no século II a.C., conquistaram não somente territórios anteriormente dominados por aqueles, como também a sua arte e a sua ciência. No século I a.C., a Palestina e a Síria também se submeteram à tutela romana. Portanto, Portanto, os romanos se tornaram sucessores sucess ores dos gregos em todos os lugares, passando a difundir a cultura e os valores da civilização helenístico-roma helenístico-romana na através através da construção e manutenção de seu poderoso Império. Além disso, os povos conquistados se viam a mercê das táticas administrativas dos romanos. Isso significou a imposição de uma política econômica de privilégios para os poderosos, mas de extrema dificuldade para os que estavam debaixo do domínio romano.
O�������� 1. Compreender os escritos do Novo Novo estamento a partir das condições vivenciais do povo bíblico (ambiente sóciohistórico; político e econômico) econômico).. 05
O IMPÉRIO ROMANO Na antiguidade os grandes Impérios obtinham suas conquistas e estabeleciam suas formas de governo através da força, com métodos de violência e imposição. Eles condenavam os povos dominados e são lembrados pela exploração, extorsão e capacidade de fazer vítimas. Não foi diferente com o Império Romano. Marcado por sua crueldade, braço forte, grandes conquistas através de sua capacidade militar e superioridade tecnológica é reconhecido, na história, como um dos maiores Impérios de todos os tempos. O imperialismo romano é um movimento de longa duração. rata-se de quase um milênio de exploração, Afresco que represent representaa o senado romano reunido. reunido. autoritarismo bélico e de Fonte: Wikimedia Commons domínio sobre outros povos. Estava centralizado estrategicamente no Mediterrâneo, por onde passavam as maiores e mais importantes vias de comunicação. Convencido de sua força e aptidão à grandeza, brotava no coração do Império o desejo expansionista, centro de suas motivações e ambições. Com a expansão do Império nasce uma nova ordem mundial que se solidifica através do estabelecimento de seu plano político-econômico político-econô mico e a imposição de controles sociais arbitrários. Na medida em que se consolidava, consol idava, a nova ordem mundial provava que suas bases eram incompatíveis com o valor da vida. Isso ganha notoriedade a partir da negligência quanto a condições mínimas de subsistência subsist ência para as vitimas sistêmicas. sistêmicas. Ou seja, a nova ordem mundial significava o surgimento de medidas disfuncionais que sufocavam os menos favorecidos sujeitando-os a toda forma de violência. Esse cenário é constituído exclusivamente para a manutenção dos grandes centros e privilégios das elites. Em terra alheia, a nova ordem mundial tentava justificar suas práticas. Para isso, argumentava em favor da civilização e através da 06
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divulgação de valores va lores nobres. nobres. Ou ainda, com um discurso disc urso de prot proteção, eção, desenvolvimento e progresso. Entretanto, nada disso era suficiente para esconder as atitudes desumanas do império. Espetáculos sangrentos, legitimação da escrava es cravatura, tura, extorsivas taxas tributárias, exploração da terra e do que nela se produz e toda espécie de discriminação social. Esses são alguns exemplos das condições enfrentadas por aqueles que experimentavam, no cotidiano, a tragédia de um ambiente comprometido comp rometido por estruturas de poder poder,, fundamenta f undamentadas das pela violência. Cabe aqui, como exemplo, a análise da mentalidade imperial quanto a sua política de desenvolvimento e progresso. O argumento do império era de que países subdesenvolvidos – a maioria, nesse período, ao redor do Mediterrâneo - precisavam avançar na busca por novas tecnologias e capacidade econômica. Assim, descobrindo suas riquezas e possibilidades comerciais externas e sustentabilidade interna. Aparentemente, boa parte das regiões conquistadas pelos romanos não possuíam infraestrutura adequada. Isso poderia legitimar o discurso romano e despertar um olhar otimista para as pretensões imperiais. Porém, por trás desse discurso progressista em prol da região sitiada, havia a motivação pela possibilidade de lucro e enriquecimento de Roma, ainda que para isso fossem necessárias táticas de violência. Para alcançar seus objetivos, o império não poupou esforços e algumas medidas medi das foram tomadas. Em vários lugares o desenvolvimento econômico e de infraestrutura, efetivamente, efetivamente, aconteceu com o desvio de rios e com a construção de pontes e estradas para melhoria da navegação e do trânsito além der ações que facilitaram as transações comerciais e o abastecimento de Roma. Em um primeiro momento, isso pode nos parecer inofensivo. Porém, se analisado pela perspectiva da mão de obra dos povos vencidos, podem nos alertar e nos levar a uma leitura dos fatos sob o prisma das vitimas e o que o progresso lhes custou. Sobre o assunto, Wengst (1991, p.45) cita uma frase de Calgaco, príncipe dos bretões que diz: “As nossas mãos e os nossos corpos são maltratados sob pancadas e vitupérios na construção de estradas através de florestas e pântanos”. 07
A fala de Calgaco rapidam rapidamente ente nos faz imaginar um ambien ambiente te de mão de obra escrava. Nesse caso, são questioná questionáveis veis os meios utilizados na busca pelo desenvolvimento e progresso. Ou seja, tais estratégias não nos parecem coerentes quando vistas pelas lentes do valor humano acima de qualquer coisa. Assumir um discurso com base no que se produz sem levar em consideração quem produz e em quais condições se produz é olhar para a história pela lógica dos vencedores sem considerar os vencidos. Ainda que alguns julgassem a situação estabelecida com otimismo, otimismo, os avanços dos romanos beneficiavam e alimentavam apenas o ideal imperial. Ou seja, os países eram saqueados e serviam apenas como plataforma para os interesses comerciais e econômicos daqueles que detinham o poder e o impunham através da força. Wengst cita um diálogo entre dois rabis, Jehuda e Simon. Aqui essa realidade parece ficar evidente: O rabi Jehuda está admirado com as realizações dos romanos: Como são grandiosos os feitos desta nação; eles constroem mercados, constroem pontes, constroem banhos! A isso responde-lhe o rabi Simon: udo o que eles constroem, constroem-no para satisfazer as próprias necessidades: constroem mercados para colocar lá prostitutas, banhos para neles se regalarem, pontes para nelas estabelecerem alfândegas (WENGS, 1991, p. 45).
A aposta do Império alcançou resultados, e a exploração das regiões conquistadas seguia em maiores proporções. Conforme descobriam fontes de lucro promissoras, capazes de constituírem-se como base de enriquecimento, os romanos intensificavam suas ações de exploração exploração.. Além dos argumentos de progresso e desenvolvimento, os romanos roman os justificavam suas ações extorsivas na lei. Ou seja, pelo direito adquirido em campo de batalha assumiam o controle pleno da terra conquistada e o direito comercial do que nela se produzia. Além disso, pela força física, ou ainda, por estratégias de subordinação, exerciam controle sobre a mão de obra disponível nessas regiões. “Os romanos 08
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exigiam sempre dos seus inimigos derrotados o reconhecimento das dívidas da guerra e, assim, o primeiro direito do vencedor é o direito ao espólio de guerra [...] Assim, os tesouros do solo não pertencem àquele que o habita e cultiva, mas aquele que é superior, ou seja, o vencedor” (WENGS (WENGS,, p. 46).
A PALESTINA Na Palestina, a brutalidade adquiriu novos contornos logo após a conquista romana. A partir desse momento se tornou um lugar marcado pela imposição violenta e por condições de vida determinadas arbitrariamente pelo Império. Roma tinha interesse especial por essa região. Além da capacidade produtiva – através do campo e mão de obra qualificada sua localização estratégica facilitava a movimentação comercial com as demais regiões garantido os interesses romanos. É também uma região marcada pela resistência e por revoltas contra o sistema imperial. Essa postura popular foi respondia pelos romanos com a intensificação da violência e a aplicação de métodos administrati administrativos vos já utilizados em outras terras conquistadas. Entre A província da Judeia Judeia no século I d.C., pouco antes da criação da Síria Síria Palestina. Palestina. eles, a nomeação de um governante Fonte: Wikimedia Commons provinciano capaz de manter a ordem e garantir garan tir os recursos necessários para o abastecimen abastecimento to de Roma. R oma. O governador escolhido pelos romanos foi Herodes, o Grande. Conhecido mais tarde como rei dos Judeus, título a ele concedido pelos romanos. roman os. Ele era odiado pelos judeus, mas para o Império era “o vassalo ideal que assegurava seus dois objetivos principais: manter uma região estável entre Síria e Egito, e tirar o máximo rendimento daquelas daquel as terras por meio de um rígido sistema de tributação”. (PAGOLA, 2010, p.34). Além de manter a região estável e garantir o rendimento monetário 09
esperado, Herodes reprimiu reprimiu com braço forte todo e qualquer gesto de rebeldia contra a política Imperial e local. Por conta das prioridades de seu governo, Herodes é lembrado na história como um grande construtor. Ele investiu em projetos que ganharam notoriedade no mundo antigo e demonstravam a grandeza de seu poder e fidelidade a Roma. Do ponto de vista das estratégias e expectativas romanas, merece destaque a construção da cidade portuária de Cesaréia. “A construção de Cesaréia Marítima abriu o reino de Herodes ao mundo mediterrâneo e o orientou geográfica, cultural, política, e comercialmente para Roma, estabelecendo laços em escala nunca antes antes possível” (CROSSAN, 2007, p. 99). O comércio e as tarifas do porto financiavam as obras de Herodes. Mas certamente é do campo que provinham às fontes de renda para seus projetos de urbanização. A exploração da terra, o que nela se produzia e a exploração sobre quem produzia, através de altas taxas de impostos, era a grande receita do reino de Herodes. O governador, sabendo disso, intensificava intensificava suas ações na direção dos campon camponeses. eses. A viabilidade dos planos de Herodes significou prosperidade prosperidade para o seu governo, para as elites e consequentemente para os romanos. Mas por outro lado, desencadeou uma crise sócio-econômica atingindo seriamente os camponeses. “Os projetos de desenvolvimento maciço de Herodes e os presentes à família imperial e as cidades estrangeiras teriam aumentado o fardo dos camponeses, que formavam sua principal base econômica” (HORSLEY, 2004, p. 91) Com a morte de Herodes, seu governo foi dividido entre seus filhos. Herodes Antipas ficou responsável pela Galiléia, região onde Jesus concentrou sua jornada de proclamação e promoção dos valores do reino de Deus. “Antipas “Antipas recebeu o titulo de tetrarca, tetr arca, ou seja, soberano sob erano de uma quarta parte do reino de Herodes o Grande [...] Governou a Galileia desde o ano 4 a.C. até 39 d.C [...] Educado em Roma, sua atuação foi própria de um tetrarca, vassalo do imperador” (PAGOLA, 2010, p.38). Ele segue os passos do pai e ostenta seu governo com a construção de duas novas cidades: Séforis e iberíades. Para edificar suas obras, também seguiu as táticas do pai e dos romanos usando a força e, se preciso, a violência como meio administrativo. 10
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As realizações arquitetônicas de Antipas davam continuidade à disfunção sócio-econômica determinada na região. Por trás do argumento de progresso e desenvolvimento urbano estava: o aumento da mão de obra escrava; a exploração da terra; o empobrecimento do camponês. “Sua ambiciosa construção de duas cidades-capitais no período de duas décadas implicava um esgotamento econômico sem precedentes dos camponeses galileus” (HORSLEY, 2004, p. 91). O desenvolvimento urbano significou uma crise sócioeconômica. É a partir da exploração dos recursos naturais naturais e humanos encontrados no campo - praticamente a única fonte de subsistência na região - que surgem os recursos utilizados utiliz ados para: o avanço arquitetônico e tecnológico, políticas de desenvolvimento urbano, enriquecimento das elites e o abastecimento de Roma. Essa disfunção encontra consenso entre aqueles que pesquisam sobre o tema. Vejamos alguns exemplos: 1. “Os edifícios construídos por Herodes Herodes Antipas Antipas nas mais diversas localidades inevitavelmente drenaram os recursos da região, tanto materiais quanto humanos” (FREYNE, 2008, 129). 2. “Como a Cesaréia da costa marítima, os edifícios das duas duas cidades foram erguidos com a riqueza gerada pela agricultura derivada da mão de obra dos camponeses [...] A grandiosidade arquitetônica crescia, de um lado, provocando o aumento da pobreza, do outro” (CROSSAN, 2007, p. 110). 3. “Este desenvolvimento, porém, estava longe de benefic beneficiar iar o povo comum; ao contrário, contrário, era financiado pelos produtos tirados dele na forma de taxas, dízimos e tributos” (HORSLEY, 2010, p. 7). A estratégia de exploração utilizada por Antipas era bem conhecidaa no Império. conhecid Império. Ele apenas reproduziu o método administrativo utilizado pelos romanos e também por seu pai. Extorquia o pequeno produtor camponês através de um sistema tributário impossível de ser assimilado. Com isso, cabia a cada produtor arcar com impostos sobre sua própria terra e também sobre o que nela se produzia. Esse sistema injusto acabou levando muitos camponeses à falência. Endividados, viam-se vi am-se obrigados a entrega entregarr suas propriedades 11
como forma de pagamento. Os grandes proprietários de terra ou latifundiários, membros das elites, assumiam as terras dos endividados. Eles viviam nos grandes centros urbanos. Entretanto, dependiam do campo, já que boa parte da receita para manutenção urbana vinha de lá. Por isso, eram obrigados a manter os antigos donos trabalhando em suas terras. Além A lém do endividamento e falência já mencionados, esse sistema inten intensificou sificou a mão de obra escrava, aumentou consideravelmente os índices de pobreza, foi o responsável pelo surgimento de diaristas e o crescimento do banditismo. No ano 66 d.C., teve início uma revolta armada na Palestina por parte dos judeus, desejando expulsar da sua terra a dominação romana. Neste levante, uniram-se alguns partidos político-religiosos lá existentes: zelotes, sicários, essênios e até fariseus. Após quatro anos de duros combates, as tropas romanas, lideradas pelo general ito, finalmente conseguiram reaver o controle e expulsar todos os judeus da sua pátria. No desfecho desta guerrilha cumpri c umpriu-se u-se a profecia feita por Jesus sobre o templo de Jerusalém quanto à sua destruição (Mt . 24:1,2). Ocorreu, assim, a chamada diáspora ou dispersão dos judeus por todo o mundo antigo. ornaram se a partir dali uma nação sem pátria ou território. Vale dizer que a população de judeus existentes naqueles dias era de cerca de 6,5 mihões, e, destes, dois terços já viviam fora da Palestina, desde o cativeiro Babilônico ocorrido em 587 a.C. Os judeus só puderam retornar à Palestina novamente agora no ano de 1948, quando a ONU (Organização das Nações Unidas) devolveu-lhes parte do seu território, uma vez que boa parte dele estava e ainda continua sendo ocupada por muçulmanos, os quais, no lugar do antigo templo de Jerusalém construíram uma mesquita (templo islâmico) de Alá. Daí, a permanência de constantes conflitos entre judeus e muçulmanos na disputa por territórios na chamada terra santa. Mapa de Israel Israel - Plano Plano da ONU em 1947 Fonte: Wikimedia Commons
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C�������� Jesus conheceu bem de perto um mundo de desigualdade e favorecimento das minorias abastadas em detrimento da maioria explorada. Conviveu com um povo esmagado pelo Império e afogado em dividas que lutava diariamente contra a desintegração e pela própria sobrevivência. Em resposta a tudo isso, percorreu um caminho oposto às propostas de desenvolvimento e progresso de Antipas. Na Galiléia, por exemplo, Ele opta pelas cidades de Nazaré e Cafarnaum. As narrativas bíblicas não mencionam qualquer passagem dele pelas grandes metrópoles. Sua mensagem, a boa noticia do reino de Deus, seja através de sua proclamação ou atitudes de promoção da vida, é diretamente diretamente uma critica a toda a estrutura de abuso abuso político e econômico determinado pelos poderosos.
R����������� �������������� R��������� CROSSAN, John Dominic. Em busca de Jesus: debaixo das pedras, atrás dos textos. São Paulo: Paulinas, 2007. FREYNE, Sean. Jesus, um Judeu da Galiléia: nova leitura da história de Jesus. São Paulo: Paulus, 2008. HORSLEY, Richard A. Jesus e o Império: O Reino de Deus e a nova desordem mundial. São Paulo: Paulus, 2004. PAGOLA, José Antonio. Jesus: Aproximação História. Petrópolis: Vozes, 2010. WENGS, Klaus. Pax Romana: pretensão pretensão e realidade. São Paulo: Paulinas, 1991.
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I��������� Na unidade anterior demos os primeiros passos no mundo neotestamentário. Falamos, de forma introdutória, sobre os aspectos políticos e econômicos que representavam o modelo administrativo imperial romano e de que forma afetavam o cotidiano das pessoas. Na mesma perspectiva, na segunda parte da unidade, olhamos para a aplicação desse modelo na Palestin Palestina, a, nos dias de Jesus. Nesta segunda unidade gostaríamos de apresentar alguns das principais correntes filosóficas filos óficas da época. época . rata-se rata-se de um assunto complexo e carregado de detalhes. Portanto, nossa expectativa não é esgotar o assunto, antes, porém, introduzir o tema tentando perceber sua relevância para os escritos judaico-cristãos da época.
O�������� 1. Estudar algumas das principa principais is correntes correntes filosóficas vigentes vigent es nos dias do Novo Novo estamen estamento; to; 2. Refletir sobre a influência influência desses movimen movimentos tos para os escritos neotestamentários. neotestamentários. 15
CORRENTES FILOSÓFICAS �. P��� P ��������� ������ Platão viveu e desenvolveu seu pensamento na Grécia Grécia antiga, bem antes do nascimento de Jesus (427-347 a.C.) e do mundo que circundava os escritos bíblicos do Novo estamento. Ainda assim, seus escritos influenciaram diretamente os Padres da Igreja, e antes disso algumas correntes filosóficas do primeiro século. Entre as teorias desenvolvidas por Platão – depois ampliadas por seus discípulos – vale destacar sua demonologia (estudo sistemático a respeito dos demônios). Para ele os demônios eram “seres Escola de Platão - Fonte: Wikimedia Commons intermediários, capazes de comunicar-se comuni car-se com os seres humanos em nome dos deuses. d euses. Ele também admitia diferentes categorias de demônios, que agiam tanto nos reinos do céu, ou no ar, quanto no reino do espírito, ou na alma humana” (KOESER, 2005, p.148). Alguns discípulos de Platão acrescentaram a esse tema a possibilidade de demônios bons e maus, crença que ganhou popularidade inclusive entre os cristãos primitivos. Platão desenvolveu desenvolveu ainda ainda a tese de que a alma e o espírito espírito são bons e tem sua origem em Deus. A matéria (corpo), por sua vez, é má! Enquanto a alma/espírito permanece no corpo está em um estado de prisão terrena e, portanto port anto,, deve libertar-se. liber tar-se. “Somente o espírito humano reconhece Deus e o logos, podendo po dendo assim libertar-se do mundo visível por meio do conhecimento da sabedoria e do exercício da virtude, vencendo o corpo e suas paixões e retorna retornando ndo para sua verdadeira casa, o mundo celestial” celestial” (KOESER, (KOESER, 2005, p.149). Em suma, essa tese defende, que o mundo visível e o corpo são a causa do mal. São lugares impróprios para a habitação da alma/espírito. 16
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�. E����� E ��������� ���� Essa corrente deve a sua origem a Epicuro (342-270 a.C.). Este aconselhava as pessoas a se retirarem da vida pública e se recolherem aos valores da vida privada/individual, ao contrário das filosofias centralizadas na pólis ou vida política. Dizia que a verdadeira sabedoria se adquire quando o indivíduo encontra o que é correto para as diferentes circunstâncias da sua vida. A alma humana se realiza espiritualmente espiritualmente nessa vida, e não no além. Epicuro não negava a existência dos deuses, mas não esperava deles intervenção alguma na vida humana. Porr isso, os homens não deveriam se preocupar com os deuses Po e buscar o prazer nesta vida. No judaísmo, a designação “epicureu” equivalia a um insulto, insulto, dirigido a pessoas que, como os saduceus, não acreditavam acreditava m na vida além, mas na realização na existência terrestre.
�. E��������� Doutrina organizada organizada inicialmente inicialmente por Zeno (336–263 a.C.). Rejeitava a busca do prazer como o que dá sentido à vida. vid a. No decorrer dos séculos, a escola estóica sofreu várias transformações. O novo estoicismo do 1º e 2º séculos d.C. dava primazia à ética. A doutrina Estóica vê o mundo inteiro como uma grande unidade: o logos divino, chamado tradicionalmente tradicionalmente de Zeus, Z eus, governa o cosmos, enviando a razão para guiar os homens. Os estóicos têm uma cosmovisão panteísta, por isso, o homem deve observar a ordem da natureza, conhecendo suas leis e seguindo-as (o homem é visto como membro da natureza). As distinções sociais não têm valor para o Estoicismo. odos participam da ordem cósmica. Deve-se buscar uma vida modesta e despojada. Neste equilíbrio com a natureza, tudo o que se tem a fazer é aguardar serenamente a morte. O Império Romano se apossou do estoicismo e criou o direito natural, transformando as idéias estóicas em regras politicamente praticáveis, praticá veis, como as da Ordem; da Pax da obediência; e do equilíbrio equilíbrio.. As ideias Estóicas influenciaram também o judaísmo helenístico, através atrav és de regras e normas. Das sinagogas passaram passaram para o cristianismo 17
primitivo. No primeiro capítulo de Romanos, Paulo fala dessa idéia natural de Deus e da Revelação. No capítulo treze, fala da obediência ao Estado, visando a ordem.
�. G���������� Gnosticismo vem da palavra gnosis que se refere ao conhecimento. Além de uma corrente filosófica, o gnosticismo pode ser entendido como um modelo de pensamento religioso da época, carregado de sincretismos com elementos judeus e cristãos. Conforme Brown (2004, p.163) “o que atraía no gnosticismo era o fato de ele oferecer respostas para questões importantes: de onde viemos? Aonde vamos? Como chegaremos chegaremos lá?”. lá?”. A Ásia Menor era fortemente marcada pela presença desse movimento. Assim, não demorou para que surgissem heresias, fruto de ideias e práticas do cristianismo com o gnosticismo. Brown (2004, p.163) explica que “foram detectadas semelhanças entre João e o gnosticismo, por exemplo, no tema joanino da não pertença a este mundo (17,16) e no da vida eterna, que se estriba no conhecimento (17,3).” Isso não significa, entretanto, que João tenha sido influenciado pelo pensamento da época. Pelo contrário! O gnosticismo construía parte de sua tese a partir das influencias recebidas do pensamento de Platão que afirmava ser a matéria má e pecaminosa. Dessa forma negavam que Jesus tivesse vindo em carne, ou seja, que tivesse assumido um corpo material igual ao nosso nosso.. Afirmavam que Jesus teria tido apenas uma “aparência” de corpo, para não se contaminar com a matéria. al ensinamento é extremamente comprometedor do ponto de vista teológico, pois nega a plena humanidade de Jesus. É neste sentido que o apóstolo João redige os seus escritos (o evangelho e as três cartas), com o objetivo de combater tais ensinamentos, mostrando que Jesus tornou-se plenamente humano ao se encarnar, semelhante a nós: “E o Verbo (Jesus) se fez carne e habitou entre nós (...)” (Jo 1:14); “E todo espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus” (I Jo 4:3). 18
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Além disso, conforme escreve Bultmann (1946, p.180), o gnosticismo pregava a alienação do ser humano frente ao mundo. “O gnóstico se sente solitário e preso no mundo, acossado e assustado pelo mesmo, perdido e entregue. Ele está tomado de terrível medo no mundo." Esse ensino certamente influenciou parte da práxis cristã primitiva, ainda que o ensino dos apóstolos e a vida de Jesus apontassem apon tassem para uma perspectiva oposta.
C�������� Outras correntes filosóficas aparecerão ao longo do curso. É necessário uma boa noção a respeito de cada uma delas, não apenas para assimilação de conteúdo e conhecimento, mas principalmente pela maneira como tais correntes influenciaram os autores bíblicos, neotestamentários, neotestam entários, a escreverem seus textos que nasceram, em muit muitos os casos, justamente justamente como resposta a esses movimentos movimentos da época. Na próxima unidade apresentaremos alguns movimentos religiosos que, da mesma forma, são imprescindíveis para nossa caminhada pelo mundo do Novo estamento. Até breve!
R����������� �������������� R��������� BROWN, Raymond. Introduç Introdução ão ao Novo Testamento. Testamento. São Paulo: Paulinas, 2004. BULMANN, Rudolf. O que o Jesus Histórico significou para a Teologia de Paulo. In: Crer e Compreender. São Leopoldo: Sinodal, 1946. KOESER, Helmut. Introdução ao Novo Testamento. Volume 1: História, cultura e religião do período helenístico. São Paulo: Paulus, 2005.
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Introdução ao Novo Testamento
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I��������� Na unidade anterior apresentamos algumas das principais correntes filosóficas que perpassaram o mundo do Novo Novo estamento. Hoje veremos outros outros importantes importantes movimentos, agora de ordem religiosa. Assim como a filosofia a religião influenciou os autores bíblicos a responderem uma série de questões ligadas a esses movimentos. Portanto, o estudo dos movimentos religiosos religios os ligados ao mundo do Novo estamento se torna uma tarefa elementar para o estudo das escrituras nesse período. enho certeza que sua leitura bíblica será outra a partir de tais considerações.
O�������� 1. Compreender os escritos do Novo estamento a partir do contexto religioso da época.
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MOVIMENTOS MOVIMENT OS RELIGIOSOS �. C���� �� I�������� Desde a antiguidade, antiguidade, o oriente oriente considera considerava va os soberanos soberanos como filhos dos deuses. (por ex., o Faraó no Egito). Estes recebiam poder, leis e proteção para governar o seu povo; legitimação e majestade intocável. Já entre entre os gregos, gregos, os deuses por eles adorados não não estavam separados dos homens por nenhuma fronteira bem definida. Homen Homenss importantes podiam ser elevados da condição humana à divina, colocados como heróis na comunhão divina, (por ex., ex. , nas mitologias). ambém nos cultos de d e mistério, os deuses deus es vinham até onde estavam os humanos ou desciam à terra em forma humana. Isso explica em parte porque Atos 14:11 relata que Paulo e Barnabé, em Listra, depois de curarem um paralítico desde a infância, provocaram a seguinte reação: “deuses em forma humana desceram até nós”. nós”. Alexandre Alexand re Magno já era er a venerado venerad o por muitos de seus s eus súditos. Os romanos desenvolveram o culto ao imperador a partir part ir do momento em que este passou a receber o título de “Augusto” – conforme visto anteriormente.
�. D����� ������ Os deuses deuses venerados pelos gregos gregos estão estão associados a poderes da natureza: Zeus (produz relâmpago, trovão); Possêidon (governa o mar e provoca tempestades); Apolo (manda doenças e dá cura); Afrodite (desperta o amor); Dionísio: (deus do êxtase e da embriaguez). As cidades tinham seus deuses particulares; construíam-lhes esplêndidos esplêndidos templos; a vontade dos deuses determinava a vida da cidade e do Estado; festas e espetáculos culturais eram realizados durante durante o ano em sua homenagem, algumas destas festas, por exemplo, estão associadas aos jogos Olímpicos realizados a cada cad a quatro anos. Outro elemento elemento importan importante te desses cultos cultos eram os sacrifícios e oferendas de animais, que eram feitos da seguinte maneira: parte era queimada; parte era dada aos sacerdotes; outra, vendida como carne 22
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no mercado; toda carne era de alguma forma sacrificada; faziam-se banquetes no templo, com a presença de parentes e amigos; parte ainda era distribuída aos pobres, em ocasiões especiais (ver, por exemplo: I Cor. 8:13; I Cor. 10:20, 25-28). Esperava-se, com isto, que os deuses favorecessem o destino dos homens e afugentassem o infortúnio e a ruína das cidades.
�. D����� R������ Os romanos romanos equipara equiparavam vam seus deuses tradicionais aos deuses gregos: Júpiter (Zeus); Vênus (Afrodite); Mercúrio (Hermes); Netuno (Possêidon) (Possêidon).. Os deuses romanos participavam ativamente da política e da sociedade. O culto girava em torno do Estado, havendo datas pré-estabelecidas pelo calendário. A participação do culto era obrigação civil. Durante a época de Augusto, muitos templos foram edificados na Grécia, na Itália, no oriente e norte da Africa. entava-se forjar uma moral a partir da religião, mas as influências externas culturais eram muito intensas. Estátua de Zeus (Cultura greco_romana) greco_romana) ambém houve forte influência de cultos Fonte: Wikimedia Commons estrangeiros, trazidos do oriente para Roma. Valorizavam-se os sacerdotes, cujos oráculos orientavam as batalhas, por exemplo. O deus Sol (Hélio) ganhou projeção, na época do Novo estamento, o qual correspondia a Mitras (deus persa), a ponto do próprio próp rio imperador se identificar como seu legítimo filho. Paralelamente ao culto oficial desenvolveu-se grande religiosidade popular, marcada por intenso misticismo. Havia a busca de acontecimentos milagrosos. Por exemplo, o deus da cura Asclépio (= Apolo), era muito venerado, cujo símbolo era a serpente. O culto foi introduzido em 19 a.C. devido à grande peste que ocorrera nas dimensões do império. Ao redor dos templos desse deus, existiam 23
vários dormitórios onde os doentes ficavam hospedados, esperando serem curados durante o sono à noite – paralíticos, mudos e cegos eram curados (segundo vários relatos). relatos). Acontecimentos milagrosos também ocorriam através de pessoas dotadas de poderes especiais, que irradiavam ir radiavam força força divina. Por exemplo, quando o imperador Vespasiano Vespasiano chegou a Alexandria, Alexand ria, pouco pouc o tempo depois de tomar posse do governo romano, um cego pediu-lhe que molhasse seus olhos com saliva, e um paralítico que lhe tocasse a perna com seu calcanhar. Suetônio, historiador romano, relata que o imperador atendeu a esse pedido, transmitindo força curativa aos doentes, que recuperaram a saúde. ambém acreditava-se na possess possessão ão demoníaca. Por Por exemplo, o filósofo Apolónio de iana, ficou conhecido pelos exorcismos que praticava na Ásia Menor. Algo semelhante também ocorre com os Essênios (grupo que vivia em forma monástica monástica no deserto deser to da Palestina), que incluíam entre suas práticas ritos de exorcismos, praticados em nome dos profetas. Observavam os astros, utilizavam utilizavam horóscopo horóscopo para descobrir o destino e os “Rudimentos deste mundo”, mencionados em Gálatas. Quanto à vida após a morte, existiam diversas d iversas opiniões. Acreditava-se: Acreditava-se: 1. Na descida dos mortos ao inferno (purificação); 2. No desenvolvimento em um estágio superior no mundo celestial; 3. Que o dia da morte era o dia do nasciment nascimentoo para a eternidade eternidade (quando o espírito abandonava abandonava o corpo para voltar à prática celestial); 4. Acredi Acreditava-se tava-se que a alma da pessoa morta permanecia três dias perto do sepulcro, antes de desaparecer nas alturas; 5. Na reencarnação; 6. Havia ainda os que afirmavam que a vida terminava terminava no túmulo. Mas todos procuravam guardar com respeito os locais de sepultamento. Ali costumava-se fazer reuniões familiares no dia da morte de entes queridos; 24
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�. C����� � R�������� �� M������� No 1º século era muito muito forte o medo da ameaça ameaça dos poderes demoníacos, de doenças, infortúnios, etc. As pessoas se sentiam indefesas ante as forças sobrenaturais. As religiões de mistério davam certa “segurança” e meios de proteção, prometendo salvação e oferecendo-lhe força curativa. Por que cultos de mistérios? Para Para que a comunidade se reunisse reunisse para determinados atos cultuais – mas guardava-se silêncio absoluto sobre tais atos, nada podendo revelar a não-iniciados (daí que haja poucos dados sobre tais cultos). O que se sabe é que no período helenístico os cultos orientais difundiram-se por toda a região mediterrânea. Era possível uma pessoa filiar-se a mais de uma religião ao mesmo tempo. Nestas religiões religiões de mistério não eram levadas em consideração as barreiras sociais. Delas participavam: libertos e escravos; es cravos; homens homens e mulheres; restringindo-se, entretanto, a participação das celebrações aos iniciados. Esses eram instruídos sobre fórmulas sagradas e sinais simbólicos, que ajudavam na identificação mútua; celebrava-se ali o renascimento renascimen to da pessoa p essoa para a eternidade. Acreditava-se Acreditava-se que os deuses sofriam, morriam e ressusci ressuscitavam, tavam, da mesma forma como os adeptos renasceriam um dia. Por exemplo, havia um rito de iniciação em que se pegava a imagem da divindade, deitando-a em um ataúde (caixão). Em uma sala escura ao lado, as pessoas choravam a sua morte. Enquanto isso, sacerdotes falavam aos ouvidos dos fiéis da alegria pela salvação que adviria ao amanhecer amanhecer.. Finalmente, alguém trazia a luz, representando representando a ressurreição: o que acontecera com a divindade era agora transmitido também aos seus fiéis. A partir daí, os iniciados seriam protegidos para sempre por aquela divindade – era a certeza de que se tornaram imortais, garantindo garantindo uma melhor sorte aos fiéis na vida além túmulo túmulo.. Um outro ritual que envolvia os cultos de Ísis e Apolo, Apolo, se dava da seguinte forma: votos de ablução (não comer carne por um determinado tempo, por exemplo, exemplo, dez dias; o noviço vestia uma roupa específica, ao pôr-do-sol, e era levado ao salão de culto. Ali, repetia palavras como: “eu cheguei às proximidades da morte e com a ajuda da 25
divindade estou agora alcançando a luz verdadeira”. No dia seguinte, ao clarear do dia, terminada a celebração, o iniciado apresentava-se ao povo, vestido com uma estola adornada com a figura do deus Sol. Isto significava: através da consagração, nasceu agora como ser divino, cheio de força e rodeado pela mais brilhante luz. Ele estava agora preparado para um dia se apr apresentar esentar a Osiris, o juiz dos mortos. No culto culto de Cibele e Dionísio Dionísio,, os iniciados ficavam ficavam ébrios de emoções. Eram arrebatados ao êxtase pelo poder divino (bebidas e comidas estimulantes ao êxtase). Um banquete santo era celebrado pelos místicos: cavava-se um fosso profundo, o sacerdote descia ali e era coberto por tábuas esburacadas. Imolavam um touro, e o sangue ficava gotejando sobre o sacerdote. Depois ele se levantava com o corpo marcado de sangue, sendo saudado pelos participan participantes tes jubilosamente jubilosamente como aquele que renascera. A ideia era que nas profundezas o sacerdote havia experimentado a morte e renascera com a força das divindades. Outro culto que se difundiu bastante no Império Romano foi o de Mithra: proveniente da Pérsia, esse ritual tratava de luta e vitória. Daí que muitos soldados se filiassem a essa religião, levando-a às fronteiras do Império. Venerado como deus da luz, Mithra era aquele que dissipava as trevas. Religião de mistério que, ao contrário das demais, só aceitava a filiação filiaç ão de homens, que eram marcados na fronte com um ferro candente, como um guerreiro. ornavam-se membros, por meio de uma espécie de batismo, após o qual podiam participar dos banquetes santos, para os quais a comunidade se reunia. Depois da morte, esperava-se que cada um respondesse por seus atos perante um tribunal divino, que os pesaria em uma balança antes de permitir-lhes a entrada para o mundo da luz. Esse culto atraía fiéis pelo dever moral que impunha. Essa religião entrou em acirrada luta contra o cristianismo, cristianismo, a qual terminou no 4º século, com a vitória do último. Essa é a razão por que em muitos lugares construíram-se templos cristãos sobre santuários de Mithra, simbolizando a vitória de Cristo. Em síntese, pode-se dizer que os cultos de mistério estavam difundidos em todo o império. Ofereciam proteção contra o mal e ajuda redentora redentora da divindade. As benesses eram concedidas mediante os ritos oferecidos aos iniciados, que exerceram certas influências 26
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sincréticas sobre comunidades cristãs. O batismo cristão era muitas vezes confundido com algum desses ritos de mistério mistério,, em que o batizado participava da morte e ressurreição da divindade, d ivindade, alcançando assim a imortalidade. Isso explica por que a carta aos essalonicenses menciona a afirmação de determinadas pessoas de que a ressurreição já ocorrera, por ocasião do batismo. Outro exemplo: nos cultos de mistérios, o sacerdote assumia, às vezes, o lugar do neófito, criando um vínculo muito forte entre ambos. Em 1Cor. 1,12 lemos acerca do “conflito” criado porque pessoas estavam se apegando ao batizador, mais do que a Cristo: “eu sou de Paulo, Cefas”, etc.
C�������� Na próxima unidade continuaremos falando sobre religião. Nosso olhar recairá sobre a Palestina e vamos abordar temas como emplo e Lei, ambos ligados a religião judaica. O judaísmo, como é conhecida essa religião, está presente, direta ou indiretamente, em praticamente todos os livros neotestamentários. Conhecer um pouco de suas características é tarefa imprescindível imprescindível para uma boa leitura da Bíblia. Até a próxima!
R����������� �������������� R��������� BROWN, Raymond. Introduç Introdução ão ao Novo Testamento. Testamento. São Paulo: Paulinas, 2004. KÜMMEL, W. G. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulus, 1982.
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I��������� Na unidade anterior apresentamos alguns movimentos religiosos que perpassam o mundo do Novo estamento. Nossa tarefa continua. Agora queremos focar na Palestina e no movimento religioso conhecido como judaísmo. A religião judaica era repr representada, esentada, especialmente, pelos saduceus saduc eus - responsáveis pelo emplo emplo - e pelos fariseus faris eus - grupo que trabalhava em função do cumprimento da Lei religiosa. Além de analisarmos esses dois grupos gr upos e seu lugar dentro da estrutura do Judaísmo, tentaremos perceber sua relação com Jesus e a mensagem que proclamava e promovia.
O�������� 1. Compreender os escritos do Novo estamento a partir do contexto judaico-religioso judaico-religioso da época; ép oca; 2. Observar algumas reações de Jesus frente à estrutura judaico-rel judaico-religiosa. igiosa.
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A RELIGIÃO JUDAICA E O TEMPLO No primeiro século, além da pressão tributária tributária estabelecida pelo Império, os marginalizados e os menos favorecidos, encontravam um ambiente de exploração, também, nos círculos religiosos através da religião institucionalizada, centralizada no emplo. O agravante nesse processo é o poder simbólico da religião para a vida do povo povo.. O emplo, de alguma maneira, maneir a, era sinônimo sinôni mo para a fé e para a noção no ção que o povo tinha sobre a ação e a vontade de Deus. Dessa forma, o emplo tinha, em si, a capacidade de articular a história de vida das pessoas e, até, manipulá-las.
Templo de Jerusalém nos dias de Jesus - Fonte: Wikimedia Commons
Certos disso, o poder religioso e político usavam desse artifício para alcançar seus objetivos. Ou seja, ludibriavam o povo usando a figura do emplo, levando em conta o que ele significava para a fé das pessoas e, assim, justificar sua extorsão e obtenção de lucros desonestos. Dentro dessa perspectiva, Herodes é um bom referencial a ser observado. Em nome daquilo que representava o emplo para fé do povo e atento a possibilidade de popularidade e interesse em expandir seus lucros, através de arrecadações advindas do emplo, ele investiu consideráveis quantias para par a melhorias e a ampliação ampliaç ão do emplo. emplo. Para o sucesso de seu s eu empreendimento empreendimento incidia sobre o povo uma sobrecarga de impostos e o uso ainda mais intenso de mão de obra escrava. Frente a algumas reações contestadoras, suas respostas, além de um tom ameaçador,, eram legitimadas por um discurso de beneficio religioso ameaçador religioso.. 30
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O aumento da exploração tributária não era uma solução apenas para custear as obras de Herodes e atender as obrigações com os romanos. Pagola (2010, p.429), destaca a potência organizacional que se tornou o emplo emplo “mantida por um exagerado corpo cor po de funcionários, func ionários, escribas, administradores, contadores, pessoal de ordem e servos das grandes famílias sacerdotais. odos eles vivem do emplo e implicam uma carga a mais para a população”. Não é de se admirar a reação de Jesus no episódio em que entra no emplo, expulsa os que ali praticavam atividades comerciais e questiona a utilidade dada a esse lugar: “também os ensinava e dizia: Não está escrito: A minha casa será chamada casa de oração para todas as nações? Vós, Vós, porém, a tendes transformado transfor mado em covil de salteadores” salte adores” (Mc 11,17 - ARA). Esse questionamento, sobre a função do emplo e naquilo que os religiosos queriam transformá-lo, já havia sido feito pelo profeta Jeremias em sua época. Ele escreveu: “Será esta casa que se chama pelo meu nome um covil de salteador salteadores es aos vossos olhos? Eis que eu, eu mesmo, vi isto, diz o SENHOR” (Jr 7,11 - ARA). A reação de Jesus narrada nesse texto é um ataque contra todo o sistema político-sacerdotal que mantém o povo na dependência e na pobreza. Para Mateos (apud (apud BINGEMER, 2001, p.83), “tal é a denúncia que o Messias faz da situação: Deus está subordinado à cobiça e é usado para explorar o povo p ovo.. Compreende-se a denominação de Páscoa dos Judeus. É uma Páscoa utilizada em benefício dos dirigentes, que sangram o povo em nome de Deus” D eus”.. Bingemer entende que “diante desse quadro, a atitude de Jesus vai mais longe que a denuncia dos prof profetas etas em relação à questão do culto e da injus injustiça: tiça: o culto se transformou numa injustiça, injustiça, é um meio de exploração do povo”. Nolan, por sua vez, argumenta que a preocupação de Jesus em relação ao emplo, de acordo com essa passagem, não era purificá-lo e muito menos um golpe de poder visando à tomada do emplo. Jesus entendia que, pela estrutura em vigor, o culto se tornará um espaço de exploração do povo. Portanto, “sua preocupação era o abuso do dinheiro e do comércio”. Pagola (2010, p.431) trabalha com a mesma hipótese e vai além ao afirmar que a reação de Jesus anuncia o juízo de Deus não contra 31
aquele edifício. Antes, “contra um sistema econômico, político e religioso que não pode agradar a Deus. O emplo se transformou em símbolo de tudo quanto oprime o povo. Na casa de Deus acumula-se a riqueza; riquez a; nas aldeias alde ias de seus se us filhos cresce cres ce a pobreza e o endividame e ndividamento nto””. Os sacerdotes eram os responsáveis pelo templo, graças à tradição judaica que os garan garantia tia na função. Eles estavam associados ao partido político dos saduceus e formava formavam m a classe nobre da cidade. Os saduceus faziam faz iam acordos com os romanos em busca de favorecimentos e posições estratégicas. Por isso, além de posses e riquezas, são lembrados pelo tráfico de influências, cargos importantes e poder político. As consequências desse acordo atingiram o emplo, que passou a ser utilizado, estrategicamente, como o centro do sistema de exploração tributária romana. Vale destacar também que os saduceus demonstravam fidelidade e não estavam dispostos a “questionar os valores imperialistas romanos, muitos dos quais eles próprios partilhavam à medida que pertenciam a uma elite aristocrática” (FREYNE, 2008, p.127). Eles “defendiam o status quo e os interesses políticos e financeiros da classe governante. Isto explicaria seu círculo eleitoral e sua impopularidade junto ao povo” (SALARDINI, 2005, p.134). Mateos sintetiza o tema de forma precisa ao observar que os saduceus: Adaptavam-se ao domínio romano; chegaram a uma composição,, um espécie de acordo não escrito: eles procuravam composição manter mant er a ordem, ocupando os postos dirigentes, para que assim os romanos os deixassem tranquilos. Haviam renunciado a todo ideal que não fosse manter a situação em que se encontravam, onde gozavam certa margem de liberdade e podiam conduzir a administração religiosa e política do país. Eram materialistas e, como consequência, politicamente realistas: aceitavam a injustiça da dominação estrangeira. [...] Sua posição religiosa nada mais era do que a justificativa de sua posição de poder (MAEOS, 1992, p.34).
Os saduceus contavam, ainda, com a simpatia e confiança do Império graças à posição que assumiam diante de qualquer sinal de desordem. Para Salardini (2005, p.134), eles “defendiam punições 32
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severas para crimes, algo que chamaria a atenção dos encarregados em manter a ordem na sociedade”, especialmente contra o povo simples e aqueles que esboçassem qualquer tipo de resistência ou questionamento questiona mento à ordem estabelecida. odos esses detalhes a respeito da configuração e ação sacerdotal merecem uma observação crítica. Na essência, a função sacerdotal pressupõe proteção contra a profanação do emplo, do culto e dos sacrifícios, além do cuidado com o povo de Deus, conforme previa o código da aliança. odavia, a situação era oposta: a religião estava profundamente corrompida e a inversão de papéis tomou grandes proporções e o emplo se tornou símbolo de opressão. A classe sacerdotal, então, então, usava do poder po der simbólico da religião para: 1. oprimir os mais fracos; 2. enriquecer-se atra através vés do comércio em cima do processo processo de culto e sacrifícios; 3. favorecimento próprio ao abrir as portas para alguns e excluir outros de acordo com seus interesses. Na tentativa de legitimar suas ações, os sacerdotes faziam discursos a partir de suas próprias interpretações da Lei. Nesse caso, se apoiavam na posição de mediadores que ocupavam entre Deus e o povo. Este argumento trazia em si uma tendência à manipulação. “Deus muito localizado, no emplo, de quem só se aproxima o sumo sacerdote. Isto significa um conservadorismo institucional saduceu em que o emplo passa a ser o penhor de salvação do povo” (MORIN, 1981, p.108). Pois bem, baseados nesse discurso de controle, ludibriavam o povo e encontravam espaço para a manutenção de suas práticas visando vis ando o próprio favorecimento através de enriquecimento ilícito, poder e status. Entretanto, esqueciam-se do próximo e de seu compromisso de voltar-se voltar -se para seus irmãos e irmãs pobres pobres e humilhados. 33
A RELIGIÃO JUDAICA E A LEI Além do emplo, a religião judaica se apoiava na Lei, através da interpretação que seus representantes davam a ela. Nesse processo, precisamos destacar o grupo dos fariseus. Eles têm sua origem por volta de 168 a.C. depois da guerra conhecida como a “revolta dos Macabeus”. Essa revolta nasce quando os Sírios invadem Jerusalém e exigem práticas abomináveis para um judeu, tais como: trabalhar aos sábados, não passar pela circuncisão e prestar culto a Zeus. A raiz semítica da palavra fariseu significa separado. É a partir desse conceito que eles acreditavam na separação como sinônimo de pureza e que tal pureza pureza poderia ser alcançada pela observação obser vação da Lei e pela linhagem sanguínea. s anguínea. Sobre os fariseus pesava a responsabilidade de reestruturar a religião judaica em uma nova perspectiva: a prática dos mandamentos da Lei. Eles eram, então, os responsáveis diretos pela interpretação e fiscalização da mesma. Eles entendiam que a “observância estrita da Lei era o melhor meio para viver na terra santa de Deus, sem deixar-se assimilar por uma cultura estranha” (PAGOLA, 2010, p.236). Não se passou muito tempo e os valores legais em questão, que serviam para o ensino e fonte restauradora da vida, foram se transformando transfo rmando em legalismos e fardos pesados sobre a vida das d as pessoas. Ou seja, “o acentuado apego a Lei teve como resultado diferenças e discriminações no seio do próprio povo” (PAGOLA, 2010, p.236), especialmente sobre os mais fracos. Em suma, “aquilo que tinha como pano de fundo a defesa d efesa da vida vai se tornando escravizador escravizador dos seres humanos” (GARCIA, 1996, p.58). Por exemplo, o não cumprimento da Lei não levava em conta o contexto do infrator e os motivos pelos quais ele não cumpria a Lei. Não havia sensibilidade e análise crítica para perceber p erceber que a situação ou atitude atit ude do transgres transgressor sor era, normalmen normalmente, te, determinada pela estrutura vigentee e não por decisão voluntária. vigent voluntária. Com isso, o réu era considerado 34
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culpado, sem direito a defesa. A pena era uma consciência perturbada e, para piorar, a certeza de que sua condição era fruto de maldição divina. Nesse sentido, os fariseus se sentiam privilegiados já que consideravam a si mesmos cumpridores de todas as ordenanças da orá. Os privilégios se acentuavam graças a uma interpretação manipuladora manip uladora da Lei. L ei. Ou seja, sej a, dela extraiam preceitos preceitos que favoreciam a si próprios. No entanto, esses mesmos preceitos contribuíam para a utilização de argumentos de discriminação, causando aumento da camada das classes marginalizadas e excluídas. A dificuldade em questionar a imposição farisaica quanto à Lei estava no valor simbólico dado à religião. No imaginário do povo, a prática da Lei estava intimamente intimamente ligada à pessoa e à vontade de Deus. Mateos (1992, p.26) afirma exatamente isso quando diz: “Dogma indiscutível para os judeus era o de que a Lei constituía a suprema expressão da vontade de Deus. Por isso em torno dela girava a vida individual e social de Israel”. Ou seja, “devido à influência farisaica, todos estavam convencidos de que a submissão cega aos mandamentos de Deus era a essência da religião”. Por isso, qualquer contestação ou até mesmo protesto se traduzia em ação contra o sagrado. Entretanto, nem todos estavam convencidos de que a Lei era sinônimo imediato da vontade divina. Nesse caso, temos como exemplo o próprio Jesus. Ele enxergava na interpretação oficial da Lei uma distância fundamental entre seu sentido original e aquele dado pelos doutores da Lei, intérpretes da mesma naquele contexto. Em sua tarefa interpretativa, ambos estavam condicionados pela tradição e não conseguiam perceber o significado essencial da Lei. L ei. Por isso, isso, Jesus entendia que as Leis “estavam sendo usadas pelas elites dominantes para explorar a população. Jesus protesta contra isso, porque entende que a Lei, se quer ser expressão da vontade de Deus, deve ajudar a promover uma vida plena para todos” (HOEFELMANN, 1990, p.60,61). A maneira pela qual Jesus interpretava a Lei, tendo a promoção da vida como ponto de partida e expressão maior maior da vontade de Deus, naturalmente gerava uma tensão entre ele e os doutores da época, responsáveis responsá veis pela Lei. Estes, ao contrá contrário rio de Jesus, privilegiavam privilegiavam uma interpretação e aplicação da Lei a partir da tradição e da letra. Com isso, não levavam em consideração a vida, ainda que ela estivesse 35
correndo riscos. Ao avaliar esse conflito Comblin (2003, p.104), diz: “A vida é superior a toda a Lei”. Em seguida ele aponta alguns dos motivos pelos quais esse valor estava comprometido: “Acontece que a Lei serve à vantagem vantag em e aos privilégios dos seus doutores. Os doutores doutores encontram encontram na Lei, atribuída por eles a Deus, o meio da sua própria promoção”. Com isso, podemos perceber que o cenário era complexo, carregado de interesses desfavorecendo qualquer questionamento, manifestação ou resistência. Protestos eram insignificantes e contidos, se preciso fosse, com ações violentas. Outro fator que favorecia a força de argumentação dos fariseus é que na Palestina, nos dias de Jesus, um dos discursos advindos da religião oficial era o da teocracia. Ou seja, Deus governava através de representantes terrenos. Os representantes divinos, nesse caso, estão no emplo, são os sacerdotes. Além deles, claro, os fariseus, já que eram especialistas em interpretar a vontade de Deus através de seus preceitos legais. O discurso de legitimação farisaica passava ainda por questões de zelo e cuidado c uidado para com a nação. É na interpretação e aplicação da Lei – em tese, símbolo da vontade divina – que começam a aparecer contradições, arbitrariedades e ações desumanas, especialmente contra os mais fracos. Os mesmos que já eram vítimas da estrutura administrativa imperial e da religião, através do emplo, encontram agora outro agente gerador de violência. Entre os argumentos mencionados, podemos destacar a atenção especial que os fariseus davam à questão da pureza e da valorização do justo em relação a determinados pecados. Com isso, as pessoas eram classificadas entre puros e impuros, justos e pecadores. Na época, de acordo com Hoefelmann (1990, p.59), “A impureza era vista como a qualidade de certas coisas que Deus detestaria e que seriam insuportáveis para p ara a sua santidade” santidade”.. Partindo Partind o desse pressuposto, então, é que havia um grande apelo entre os piedosos, sacerdotes e fariseus, pela valorização e aplicação do código de santidade 1 . A respeito desse código, Mateos (1992, p.27) explica que “a Lei continha o chamado código de santidade ou de pureza, em virtude do qual, para manter a relação com Deus, era necessário precaver-se do contato com toda realidade considerada impura. A pureza ou impureza eram determinadas com base em normas”. 1
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Foi especialmente a partir do código de santidade que a Lei se transformou transfo rmou em mecanismo de manipulação, opressão e discriminação, rompendo com sua função original. Com isso, segundo Joachim Jeremias (2010, p.403), a “p “pureza ureza de origem determinou certamente, e em larga escala, a posição social do judeu da época neotestamentária, dentro da comunidade de seu povo”. O emplo era uma prova evidente desse processo, pois se tornou um lugar inacessível para aqueles que não cumpriam os requisitos legais da purificação. No imaginário da época a figura de Deus estava intimamente ligada ao emplo. Nesse sentido, “mesmo sendo algo externo, essa impureza destruiria a relação da pessoa com Deus, incapacitaria para a participação no culto e excluiria a pessoa da comunidade”. (HOEFELMANN, 1990, p.59). Existia também a noção de que o simples contato com alguém impuro significaria contrair impureza. Essa perspectiva afetava diretamente as relações sociais so ciais e comunitárias acentuando o argumento em favor do isolamento do impuro. Segundo Mateos (1992, p.28), “pela mesma razão, os judeus evitavam a relação com os gentios, em si impuros; não entravam em suas casas nem se sentavam à mesa com eles, para não nã o se contagiarem com sua impureza”. impureza”. Eram vítimas diretas desse sistema, entre outros, os “leprosos, publicanos ou coletores, prostitutas e os incrédulos em geral”. Além, é claro, dos samaritanos. Por isso, de acordo com as pesquisas de Mateos (1992, p.28), “nenhum judeu piedoso tinha contato com eles, pois, em virtude de sua enfermidade, ocupação ou descrença, eram considerados impuros, isto é, excluídos das relações com Deus e de seu beneplácito”. Dentro da estrutura religiosa nesse período, cabia ao fariseu fiscalizar e apontar o cumprimento ou o descumprimento da Lei. No caso da pureza, o sacerdote tinha participação direta já que dava o veredito final sobre alguém: puro ou impuro. O problema é que o sacerdote estava corrompido pelo jogo de poder e interesses do Império, das elites locais e classes governantes. Com isso eles tinham um importante instrumento instrumento nas mãos para discriminar e para privilegiar certas pessoas. emos ainda a questão dos pecadores. Para Hoefelmann (1990, 37
p.58), “Pecado “Pecado era definido essencialmente como desobediência às Leis do A A e às respectivas interpretações interpretações feitas pelos escribas. A Lei servia ser via como critério para definir o grau de pecaminosidade das pessoas”. Ele afirma ainda que o “pressuposto deste conceito é que todos teriam condições de viver uma vida em integral obediência à Lei, e, portant p ortanto, o, de viver uma vida sem pecado. Estes seriam os justos diante de Deus”. O curioso, curios o, em tudo que até aqui abordamos, é que “os “os considerados considera dos justos e puros diante de Deus não raramen raramente te coincidiam com os representantes da elite dominante da sociedade. Os pobres e doentes, em compensação, faziam parte da categoria dos pecadores e impuros”. Era através desse argumento, por exemplo, que a elite dominante, conforme escreve Hoefelmann (1990, p.61), “procurava justificar a sociedade socie dade dividida div idida entre empobrecidos empobreci dos e privilegiados” privileg iados”.. Havia também outros recursos, caso os lideres religiosos ou os membros da elite e das classes governantes, governantes, fossem flagrados no descumprimento da Lei. Por exemplo, desobedecer à Lei poderia ser compensado através do cumprimento de obras meritórias. As reações de Jesus contidas nas páginas dos evangelhos demonstram, claramente, sua oposição frente à interpretação e aplicação da Lei enquanto promotora de violência e discriminação contra as vítimas do sistema sociopolítico, econômico e religioso da época. Para Hoefelmann (1990, p.61), “ao questionar a Lei e acolher em nome de Deus os que viviam à sua margem, Jesus coloca o relacionamento das pessoas humanas com Deus sobre outras bases, e tira da elite dominante dominante a possibilidade de legitimar a sociedade so ciedade divida em nome de Deus”. Deus”. Isso não signific significaa negar uma sociedade socieda de divida, mas reconhecer que a mesma “pode ser percebida em suas verdadeiras causas, que são a exploração econômica e a opressão de alguns sobre os outros”. Sua crítica recai exatamente sobre aqueles que promovem a violência atrav através és da Lei e, para piora piorarr, o fazem em nome de Deus. Além disso, criticava-os porque lhes faltava o verdadeiro espírito da Lei que era o amor; e o verdadeiro sentido da prática da fé que era a justiça. Essa perspectiva deveria ser observada especialmente em favor favor daqueles que não tinham quem lhes defendesse contra a máquina imperial. Por fim, em seu discurso, Jesus condena a hipocrisia já que exatamente aqueles que impunham a Lei sobre os outros não a 38
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cumpriam. Vejamos alguns exemplos nos textos bíblicos abaixo onde a essência dessa crítica não atinge a Lei em si, mas a ruptura entre a doutrina e a vida. “Mas ai de vós, fariseus! Porque dais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as hortaliças e desprezais a justiça e o amor de Deus; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas” aquelas” (Lc 11,42 - ARA). “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque p orque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas!” (Mt 23,23 - ARA). “Mas ele respondeu: Ai de vós também, intérpretes da Lei! Porque sobrecarregais os homens com fardos superiores às suas forças, mas vós mesmos nem com um dedo os tocais” (Lc 11,46 - ARA).
C�������� Por hoje chega! Outros importantes desdobramentos religiosos, ligados ao a o mundo do Novo estamento, estamento, merecem atenção especia e special.l. Por isso, aparecerão nos textos de apoio ao longo do curso. É importante que levemos dessa aula a noção de que nem sempre um movimento que se pronuncia em nome de Deus se estabelece a partir da vontade de Deus. Portanto, concluo essa unidade convidando você a reflexão através de uma pergunta: Existem semelhanças (de qualquer espécie) entre Saduceus e Fariseus/ Faris eus/ emplo emplo e Lei com os movimentos movi mentos religiosos religioso s atuais? Quais? Como reagir a esses movimentos? Como ler Jesus para os nossos contextos religiosos a partir de sua reação frente aos movimentos religiosos de seus dias? Vamos lá! Não precisa me enviar suas respostas, mas não deixe de refletir sobre o tema, Ok!? Até breve! 39
R����������� �������������� R��������� ARA - BÍBLIA SAGRADA : raduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil. 2 ed. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2008. BINGEMER, Maria Clara Lucchetti (org.). Violência e religião: Cristianismo, Islamismo, Islamismo, Judaísmo: três religiões religi ões em confron confronto to e diálogo. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2001. COMBLIN, José. Bíblia e Cidadania: Cidadania, Lei e liberdade. Estudos Bíblicos, nº 70, Petrópolis: Vozes, 2003, p.101-110. FREYNE, Sean. Jesus, um Judeu da Galiléia: nova leitura da história de Jesus. São Paulo: Paulus, 2008. GARCIA, Paulo Paulo Roberto. Robe rto. A Lei: Lei L ei e Justiça – Um estudo no evangelho de Mateus. Estudos Bíblicos, nº 51, Petrópolis: Vozes, 1996, p.58-66. HOEFELMANN, Verner. Os Marginalizados: A crítica de Jesus à Lei como opção pelos marginalizados. Estudos Bíblicos, nº 27, Petrópolis: Vozes, 1990, p.54-63. HORSLEY, Richard A. Jesus e a espiral da violência: Resistência Judaica Popular na Palestina Romana. São Paulo: Paulus, 2010. MAEOS, MA EOS, Juan. Jesus e a sociedade de seu tempo. São Paulo: Paulus, 1992. MORIN, Emile. Jesus e as estruturas de seu s eu tempo. São Paulo: Paulus, 1981. NOLAN, Albert. Jesus Antes do Cristianismo. São Paulo: Paulus, 1987. PAGOLA, José Antonio. Jesus: Aproximação História . Petrópolis: Vozes, 2010 JEREMIAS, Joachim. Jerusalém no tempo de Jesus: Pesquisas de história econômico-social no período neotestamentário . Santo André: Academia Cristã, 2010. SALARDINI, Anthony. Fariseus, escribas e saduceus na sociedade palestinense. São Paulo: Paulinas, 2005.
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I��������� �� N�� N��� � T��������� U������ - �� O M���� �� N��� T��������� J���� � � R������� J������ - ����� II F����� H�������
I��������� Na última unidade falamos sobre dois dos principais grupos pertencentes ao movimento religioso judaico (judaísmo) do primeiro século: Os Saduceus (ligados ao emplo) e os Fariseus (ligados a Lei). Nessa unidade apresentaremos outros movimentos político-religiosos. São eles: Os Zelotes, o Judaísmo Apocalíptico Apocalíptico e os Essênios. Além disso, falaremos sobre os dois dos principais movimentos regionais: Os Galileus e os Samaritanos. odos esses, de alguma forma, influenciara influenciaram m os escritos neotestamentários neotestamentários ou aparecem nos textos bíblicos e devem ser observados com bastante atenção.
O�������� 1. Compreender os escritos do Novo estamento a partir do contexto judaico-religioso judaico-religioso da época. ép oca.
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MOVIMENTOS POLÍTICO-RELIGIOSOS MOVIMENTOS �. Z������ Os Zelotes (zelosos: que zelam pelo povo Judeu na Palestina) tiveram sua origem no grupo dos fariseus com o qual romperam por não concordarem com a maneira passiva com que a comunidade farisaica lidava com as políticas romanas. Para alguns estudiosos trata-se, portanto, de uma facção farisaica que acabou criando um novo movimento social. Ainda que existam algumas divergências a esse respeito, respeito, entende-se que Judas, o Galileu, mencionado no livro de Atos dos Apóstolos (At 5:37) tenha sido o fundador desse movimento. Os Zelotes viviam em esconderijos e tinham como marca principal sua militância política e resistência frente ao poder pod er romano. romano. Essa tensão teve início quando recusavam-se a pagar tributos argumentando problemas teológicos, como nos informa Josefo: “...a base teológica da sua recusa de pagar tributos era que, por meio desse gesto, os contribuintes estariam reconhecendo um legislador ou governante humano ao lado de Deus” – (Apud. Pixley 1986, p.84). Por conta do zelo pela Lei e proteção dos judeus menos favorecidos contavam com a simpatia de boa parte da população. Além disso, crescia consideravelmente se tornando um dos maiores movimentos da época. Movimentos de revolta contra o poder estabelecido foram provocados por eles tendo como ápice a guerra contra os romanos que, em 70 d.C., significou a destruição do emplo e da cidade de Jerusalém, além da dispersão dos judeus. Quanto à esperança messiânica, diferentemente dos fariseus, não estavam dispostos esperar, queriam agir e determinar o curso da história por conta própria. Quando Jesus aparece anunciando o reino de Deus, as coisas mudaram e os Zelotes colocaram muita expectativa na pessoa de Jesus. Acreditavam Acreditavam que ele era o Rei-Messias com o perfil de um líder político e guerreiro que com sua espada derrotaria Roma e devolveria aos judeus à liberdade política e econômica. Foi provavelmente para um grupo de Zelotes que Jesus disse: “O meu Reino não é deste mundo; se o meu Reino fosse deste mundo os meus servos lutariam (pagariam em espadas) para que eu não fosse entregue aos judeus; mas agora agora o meu Reino não é daqui” – (Jo 18:36). Assim, ao afirmar que seu reino não se conquista através da guerra, frustrou as expectativas dos Zelotes. 42
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�. J������� J������� A����������� A�� ��������� Existia entre a religião judaica uma espécie de movimento paralelo denominado pelos teólogos de apocalíptica-judaica ou judaísmo apocalíptico. Esse movimento surgiu com mais força após o retorno do exílio babilônico, babilônico, quando parte do povo perdeu a esperança em um reino terreno esperando apenas uma intervenção transcendental de Deus. Ladd comen comenta ta esse fato: A verdadeira esperança prof profética ética hebraica aguarda agu arda o surgiment surgimentoo do Reino no cenário da história, Reino este que será governado por um descendente de Davi em um cenário político terreno (Is 9:6-7). Quando essa expectativa esvaeceu-se, após o retorn retornoo do exílio, os judeus perderam sua esperança de um Reino na História. Em seu lugar, começaram a anelar ardentemente por uma irrupção apocalíptica de Deus na pessoa de um Filho do Homem divino com um Reino completamente transcendental, além da história (Dn 7) – (Ladd, 2003, p.87, 88).
Estamos diante de um grupo desiludido, pessimista e desinteressado quanto à atuação do reino de Deus na história, jogando toda a sua expectativa para o dia em que o reino seria consumado em um ato decisivo de Deus para além da história, na vinda do Filho do Homem. Sobre essa perspectiva Ladd escreve: “O Judaísmo apocalíptico entendia que o mundo esta estava entregue aos poderes malignos. O povo de Deus somente poderia esperar o sofrimento e a aflição nesta era presente, até até o dia em que Deus agisse para estabelecer o seu Reino no século futuro” - (2003, p. 88). Os argumentos desse grupo encontravam fundamento nos escritos proféticos de Daniel: Eis que vinha nas nuvens do céu um como o Filho do Homem [...]. Foi-lhe dado o domínio, e a honra, e o Reino, para que todos os povos, nações e línguas o servissem; o seu domínio é um domínio eterno, que não passará, e o seu Reino tal, que não será destruído (...) E o Reino, e o domínio, e a majestade dos Reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo; o seu Reino será um Reino eterno, e todos os domínios o servirão, e lhe obedecerão – (Dn 7:13-14 ,27).
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�. E������� A facção ou partido que aderiu com maior afinco aos conceitos da apocalíptica-judaica apocalíptica -judaica foram os Essênios (provavelmente do aramaico ch´asajja que significa piedosos). rata-se de um grupo que optou pelo isolamento isolamento da sociedade so ciedade vivendo no deserto. Se o mundo é mal e está perdido, e se a ação de Deus é para além da história num evento escatológico cataclísmico contra a criação o isolamento seria, então, à solução encontrada. Estudiosos calculam que 4.000 pessoas faziam parte desse grupo. Assim como os Zelotes, tiveram suas origens nos fariseus e outros grupos identificados como protagonistas na guerra/revolta dos macabeus. Reconhecidos como radicais, eram ainda mais rigorosos que os fariseus no cuidado e na prática da Lei. A purificação era a essência do discurso e da prática religiosa dos Essênios. Alguns pesquisadores afirmam que o celibato era um decisão muito comum . Assim, evitava-se o contato com mulheres com vistas a manterem-se puros. Os que optavam pelo casamento entendiam que a relação sexual tinha por p or finalidade apenas a procriação. Era uma sociedade fechada em si mesma. Havia neles a pretensão de serem exclusivamente os legítimos representantes do verdadeiro povo de Deus, logo, os benefícios do reino que viria, estavam reservados apenas a eles. Aqueles que desejassem participar da comunidade deveriam passar por um período experimental. Após aproximadamente três anos, tornava-se membro e podia participar das refeições comunitárias (as refeições eram consideradas como uma atividade santa e sinônimo de comunhão plena). O valor da vida em comunidade em contraste ao valor do individuo poderia ser visto na maneira pela qual lidavam com seus bens pessoais. A partilha era um valor inegociáv inegociável el e deveria ser praticada por todos. Os bens de uma pessoa p essoa se tornavam propriedade propriedade comum. Influenciados por correntes filosóficas da época e pela apocalíptica-judaica entendiam que o corpo/a matéria era a prisão carnal da alma. Portanto, após a morte a alma, enfim, se liberta do corpo. A alma (imortal (imortal e de origem origem celestial) celestial) está predestinada: predestinada: as boas subirão ao céu e as más serão levadas para um lugar de castigo eterno. 44
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MOVIMENTOS REGIONAIS �. G������� Por galileus entende-se um grupo de pessoas que habitavam a região da Galiléia. rata-se rata-se de uma uma região conhecida conhecida especialmente especialmente através das narrativas dos evangelhos. Foi nessa região que Jesus cresceu, iniciou e desenvolveu desenvolveu boa parte p arte de seu ministério ministério.. É também o lugar de origem de muitos de seus discípulos. Os Habitantes da Galileia sofriam toda sorte de preconceito por parte dos Judeus de outras regiões, especialmente os da Judéia, onde estava localizada a cidade de Jerusalém. Coleman (1988, p.301), diz que “de modo geral eles consideravam os galileus ignorantes, incultos, grosseiros e rústicos”. Eram discriminados e condenados pela religião judaica já que não pratica praticavam vam os costumes exigidos por essa religião. Além disso, alguns estudiosos entendem que eram considerados impuros já que se tratava de um povo mesclado racialmente.. Freyne (1996, p.187) racialmente aponta que o sotaque dos galileus, era outro ponto depreciativo e desqualificava-os para a leitura no culto sinagogal. Isso por sua vez colaborava colabora va no seu afastamento afastamento da vida religiosa. Um bom resumo a respeito da visão que tinham os próprios judeus a respeit respeitoo dessa região pode ser encon encontrado trado no diálogo entre Natanael e Filipe a respeito da chegada do Messias descrito no evangelho de João. “Perguntou Natanael: Porventura, pode vir alguma coisa boa de Nazaré? Nazaré? (Jo 1:46). Nazaré Nazaré é uma uma das cidades da Galiléia.
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�. S���������� Esse nome nome tem origem na região de Samaria Samaria (conforme (conforme mapa mapa ao lado). Esta região/cidade – que outrora fora capital do Reino do Norte no período monárquico, depois da divisão das tribos era símbolo de um povo misto e paganizado. Um lugar de gente impura e pecadora. Isso aconteceu porque os assírios conquistaram as tribos israelitas que habitavam o norte da Palestina, levaram o povo local cativo. Com fruto de casamentos mistos surge um povo mestiço, discriminado pelos judeus que os acusavam de não fazerem parte do Israel legítimo e puro. Nos dias de Jesus havia uma forte rivalidade entre os judeus da Judéia e os samaritanos. Quanto à problemática de uma raça mista mencionada anteriormente, Champlin escreve:
A maioria dos estudiosos acredita que os samaritanos eram uma raça mista, gentios e judeus; mas há outros que consideramnos de pura descendência gentílica, e que, posteriormente, aceitaram certas características religiosas dos judeus, tais como a circuncisão, a adoração a Jeová e as esperanças messiânicas. Seja como for, o fato é que eram uma raça mestiça, dotada de uma cultura e de uma religião híbridas (CHAMPLIN, 1988, p.321).
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Depois das acusações de impureza racial, para piorar, os judeus não permitiram que os samaritanos ajudassem na reconstrução do emplo de Jerusalém na época do pós-exílio babilônico (Esdras e Neemias). Os samaritanos, então, construíram um templo para si, no alto monte monte Gerezim (na foto ao lado), em sua própria própria terra. Na época épo ca de Jesus o templo samaritano estava destruído e o monte Gerezim passou a ser o local loca l sagrado destinado à adoração a Deus pelos samaritanos. O monte Gerezim é citado na Bíblia; na conversa entre Jesus e a mulher de Samaria, ela afirma: “Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém (no emplo) emplo) o lugar onde se deve adorar” (Jo 4:20).
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C�������� Um de nossos maiores desafios ao estudarmos os grupos e movimentos mencionados nessa unidade é tentar perceber a forma pela qual estão relacionados com a mensagem bíblica. O que pensar, por exemplo, (1) da prática dos Zelotes, (2) da teologia do judaicoapocalíptica e (3) e da opção de vida e discurso dos Essênios quando lemos a vida e o ministério de Jesus? Estão esses grupos em harmonia com a mensagem proclamada e promovida por Cristo? O que pensar de um religião preconceituosa e discriminatória pelo simples fato do outro ser de uma raça diferente, de uma região diferente diferen te ou por não seguir determinados ritos? Seria essa a expressão religiosa que agrada a Deus? É hora de refletir! Até a próxima, próxima, pessoal.
R����������� B������������� R��������� CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento interpretado: versículo por versículo. São Paulo: Hagnos, 1988. COLEMAN, Willian. Manual dos Tempos e Costumes Bíblicos. Belo Horizonte: Betânia, 1998. FREYNE, Sean. A Galiléia, Jesus e Os Evangelhos: enfoques literários e investigações históricas. São Paulo: Loyola, 1996. LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2003. PIXLEY, George V. O reino de Deus. São Paulo: Paulinas, 1986.
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I��������� �� N�� N��� � T��������� U������ - �� O� E��������� A������ � F������� W����� �� L��� P������
I��������� Quem folheia hoje as páginas do Novo estamento e encontra um texto que está claro, tanto do ponto de vista tipográfico como estilístico, estilístico, não tem idéia, às vezes, de todo o processo de formação por trás dessa coleção de livros sagrados. Estamos falando da diversidade e complexidade dos documentos que formam a base do texto impresso; bem como das dificuldades vencidas no decorrer da publicação e decifração destes documentos de base. Em resposta a essa dificuldade, na unidade de hoje vamos apresentar um pouco desse processo processo..
O�������� 1. Conhecer alguns elementos que fizeram parte do processo de formação dos d os textos/livros textos/liv ros do Novo estamento. estamento.
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O PERÍODO ORAL Após a ascensão de Jesus, as pessoas que se convertiam desejavam saber o que Jesus havia dito sobre determinados assuntos. Foi assim que os discípulos começaram a recordar e a retransmitir aquilo que tinham observado e aprendido. Por um período de 30 a 40 anos, os ensinos de Jesus foram transmi transmitidos tidos oralmente nas celebrações cúlticas e na catequese. Papias, em cerca de 150 d.C., afirma que a comunidade apostólica não era essencialmente uma comunidade “do livro”, mas, conforme explica Moule (1979. p.205), “tinha nascido de uma série de eventos bem recordados; vivia sob a contínua direção pessoal, como se cria, do personagem central daqueles eventos; e aguardava o momento, talvez bem próximo, do retorno retor no de Jesus” Jesus”.. Com a morte de alguns discípulos, começa a surgir também a preocupação: os seguidores imediatos de Jesus estavam se tornando cada vez mais raros, e quando tais testemunhas oculares não existissem mais? Começou a tornar-se evidente que a igreja devia continuar a subsistir por um período indefinido, num mundo marcado pela variedade de ensinos. A resposta e a segurança estavam, inevitavelmente, na compilação de documentos escritos. As reuniões cristãs de cultos e de instrução religiosa representavam representavam “os seminários” seminári os” mais naturais naturais para a transmissão transmissã o de tais ensinamentos. Portanto, podemos supor com segurança, que o conteúdo dos escritos cristãos começou e fixar-se principalmente através da audiência dos fiéis, simpatizantes e catecúmenos, e com base também no contexto do culto e do d o ensinamento ensinamento religioso. Assim, podemos imaginar a existência de um grande depósito de tradições, algumas orais, outras já escritas, já esboçadas pelos antigo antigoss pregador pregadores es e, e, finalmente, finalmente, cristalizadas pelos Evangelhos atuais. O uso de um escrito no culto será o estágio que precede o seu reconhecimento como canônico. 50
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Afirma-se que muito cedo um evangelho oral uniforme se desenvolveu espontaneamente entre os apóstolos em Jerusalém, para finalidade de pregação. Este tipo primitivo de tradição de Evangelho oral era transmitido em aramaico, mas recebeu também por esta época duas diferentes formas gregas, das quais dependeriam os sinópticos. Segundo esta hipótese por detrás dos nossos evangelhos estaria a narrativa única. Sem dúvida alguma um período de tradição oral deve ter precedido a redação dos evangelhos, durante o qual se deu a passagem do aramaico para o grego. Mas há, no entanto, aqueles que continuam rejeitando a maior parte das tradições, destacando-se dentre eles o conhecido teólogo Rudolf Bultmann. Bultmann. ambém se tem ouvido que testemunhas oculares cristãs e anticristãs devem ter servido de entrave para a criação e distorção, em larga escala, de informações. odavia, numerosas referências por todo o Novo estamento indicam que os cristãos primitivos davam alto valor ao elemento de testemunho ocular, como fator digno de confiança. Exemplos: Exemplos: Lc. 1:1-4, Jo. 20:30, 31. O que se julga poder deduzir dos nossos evangelhos sinópticos sobre a pré-história dos mesmos, é confirmado e completado por um testemunho testem unho imediato dos evangelhos sobre si mesmos. Lucas (1:1-4), em seu Evangelho, descreve o caminho da tradição até o evangelho escrito e distingue três portadores e três estágios da tradição. • v.2 “aqueles que desde o princípio foram testemunhas ocul oculares ares”; ”; essas testemunhas oculares reuniram a tradição. tradiç ão. • v.2 “ministros da Palavra Palavra”; ”; refere-se àqueles que presenciaram pessoalmente fatos e tornaram-se ensinadores da mesma nos cultos e reuniões. Isso é muito importante, inclusive no que diz respeito à linguagem. ambém nos dá mais confiança quanto à transmissão oral que foi feita no período que precedeu a redação dos evangelhos. • v.3 “acurad acuradaa investigação”; indica a solide solidezz da tradiç tradição ão e lucidez do autor. “Assim também eu resolvi verificar tudo e escrever exatamente conforme a ordem”; segundo esta paráfrase, a tarefa e a intenção do evangelista era colecionar e ordenar. ambém indica que 51
os autores são criadores. Lucas diz que tem antecessores na redação do evangelho e que os conhece e quer melhorá-los. Não diz o quanto aproveitou do conteúdo dos seus antecessores.
DOCUMENTOS DE BASE Não temos o documento original que deu origem aos evangelhos que conhecemos, conhec emos, apenas cópias. Os manuscritos completos mais antigos que possuímos, não remontam além do d o século séc ulo IV. IV. Com exceção de fragmentos, temos cerca de 300 anos de separação entre o original e os documentos que hoje são conhecidos. As cópias aumentam as possibilidades de erros gramaticais, deformações, e omissão de palavras. Porém, o fato de se considerar tais textos como Escritura Sagrada, assegura-nos uma confiabilidade maior quanto quanto aos mesmos, devido ao respeit respeitoo que se tem para com aquilo que é sagrado. s agrado. • Os MANUSCRIOS: MANUSCRIOS: Foram Foram redigidos redigidos em papir papiros os ou pergaminhos. • Os PAPIROS (tiras extraíd extraídas as de uma árvore do Egito) do Novo estamento são os mais antigos documentos de base que possuímos, em sua maioria datam do século III. • Os PERGAMINHOS, (pele de ovelha, cabra ou bezerro, tratada e cortada em folhetos), cuja palavra se origina por referência à cidade de Pérgamo são folhetos postos em cima do outro para formarem um rolo. Os pergaminhos trazendo textos do Novo estamento datam do século IV, no máximo; caracterizam-se por apresentar geralmente textos completos do Novo estamento. Porém, o princípio e o fim dos textos acabam se tornando geralmente ilegíveis, em consequência da deterioração dos folhetos da capa. 52
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odos estes documentos são escritos em grego (grego Koinê: comum); são difíceis de se ler. As palavras, as frases e os parágrafos não são separados por espaço algum, não têm acento nem sinal de pontuação e apresentam variantes: omissão de palavras, frases incompletas, incomp letas, erros invo involuntá luntários, rios, repetição de palavras, etc. Assim, os copistas têm duas opções: ou corrigem com suas próprias idéias, ou consultam outro manuscrito. Onde se encontram os Manuscritos mais antigos, atualmente? • VAICANUS ICANUS:: datando do sécu século lo IV IV,, é o mais antigo manuscrito em pergaminho. Encontra-se guardado na biblioteca do Vaticano. • SIN SINAÍICUS: AÍICUS: descoberto num conv convento ento do Sinai, no século XIX; vendido em 1933 pelo governo soviético ao Britsh Museum em Londres. Data do século IV. • ALEXANDRINUS: trazido de Alexandria à Inglat Inglaterra erra no século XVIII; e também guardado no Britsh Museum. Data do séc. V. • O CODEX EPHEM: é uma “palimpsesto “palimpsesto””, ou seja, um texto primitivo datando do século V. que fora apagado no século XII por um copista que se serviu do pergaminho para nele copiar tratados de Ephem da Síria. O texto primitivo primitivo não desapareceu totalmente totalmente e pode ainda ser lido sob o texto medieval por olhos peritos. Este manuscrito é conservado em Paris, na Biblioteca Nacional.
AS TRADUÇÕES São mais antigas que os manuscritos. Muitas, (datando do século II), estão crono cronologicament logicamentee mais próximas do original em relação aos manuscritos manuscri tos de que dispomos. As traduções mais conhecidas são: • VULGA VULGAA: A: Muito conhecid conhecidaa no Ocidente; é a traduçã traduçãoo feita por S. Jerônimo, do original para o Latim, no século IV. Porém, há várias outras traduções latinas anterio anteriores res à Vulgata. Vulgata. • As raduçõe raduçõess SIRÍACAS: Além de antigas, é importante pelo fato do siríaco ser uma língua próxima do aramaico palestinense usado por Jesus e os que o cercavam. 53
• raduçõ raduções es COP COPAS: AS: Algumas entre elas foram descob descobertas ertas recentemente. O copto era a língua dos cristãos do Egito.
CRÍTICA LITERÁRIA A crítica literária se deve à pluralidade dos evangelhos. Mesmo os sinópticos, que de um modo geral apresentam o mesmo plano cronológico e geográfico, possuem diferenças. Quando comparados com o evangelho de João, estas diferenças aumentam, como por exemplo: nos sinópticos, o ministério de Jesus se desenvolve na Galiléia e termina na Judéia; em João, localiza-se em geral na Judéia e esporadicamente na Galiléia. ornou-se necessário, portanto, uma investigação mais acurada das fontes que deram origem à forma redacional que conhecemos. • Crítica das Fon Fontes: tes: Diz respeito à análise dos escritos e das tradições que precederam a redação final. Surgem várias hipóteses: • Hipót Hipótese ese da Utili Utilização zação Recíproca: Esta hipótese, considerada tradicional, afirma que os sinópticos utilizaram-se reciprocamente, introduzindo modificações. Cada autor consultou o outro, trocando informações entre si. • Hipótese do Evangelho Primitivo: Os três sinópticos remontariam a uma fonte comum de origem aramaica que não possuímos mais; cada um dos três redatores redatores a teria usado à sua maneira. • Hipótese das Duas Fontes: Fontes: Além de combinar as duas anteriores, a hipótese afirma que Mateus e Lucas teriam utilizado, independentemente, a Marcos e uma fonte perdida (denominada: “Q”). Esta fonte teria contido antes de tudo, palavras de Jesus (logias). • Combinação de Hipóteses: É importante obser observar var que Marcos está contido em Mateus; quando há paralelo nos três, significa que a fonte foi Marcos. Mateus e Lucas usaram a fonte “Q” (o vocábulo alemão Quelle significa “fonte”), que compunha, como por exemplo, o Sermão da Montanha, escrito em aramaico, e que se perdeu. Quando um texto é exclusivo em Lucas significa que utilizou uma outra fonte 54
Introdução ao Novo Testamento
exclusiva de “L”, como por exemplo, a parábola do “Bom Samaritano”. A verdade é que durante 30 ou 40 anos, o evangelho existiu quase que exclusivamente sob forma oral. Os evangelhos que hoje conhecemos, principalmente os sinóticos, são em grande escala, a fixação da tradição oral.
A CANONIZAÇÃO Até o ano 150 d.C., aproximadamente, os quatro evangelhos que hoje conhecemos, bem como os demais livros do Novo estamento, não eram ainda considerados como “Escritura Sagrada”. A Escritura Sagradaa era o Antigo estamento. Sagrad estamento. A partir dessa data o termo “evangelho” evangelho”,, que até então significava somente a pregação da boa nova, começa a ser usado no sentido de livro. Até meados do segundo século, nossos quatro evangelhos ainda não eram os únicos que exerciam autoridade. Outros evangelhos apócrifos, relatando especialmente lendas sobre a infância de Jesus e Suas aparições pós-ressurreição, circulavam nas primeiras comuni comunidades. dades. O primeiro cânone foi obra de Marcião, classificado como herege, em casa de d e 150. Este cânone continha continha somente o evangelho de Lucas e dez epístolas paulinas (nem as pastorais nem a epístola aos Hebreus). Estava na hora de haver uma definição. Pouco a pouco nossos quatro evangelhos evangelhos foram postos à parte e revestidos de uma aut autoridade oridade normativa antes dos outros escritos do Novo estamento. No fim do 2 º século, sécu lo, Irineu já tentou explicar porque não deveria haver nem mais nem menos que quatro evangelhos. De uma maneira geral, o cânone (do termo grego cânon = regra, norma) não se formou por adição, mas por eliminação. Foi resultado de um processo que, até a fixação final, estendeu-se por vários séculos. Não podendo mais controlar as tradições que se multiplicavam, 55
a igreja passou a submeter toda a tradição a uma norma superior: a tradição apostólica, fixada em escritos determinados. Só teriam valor canônico, portanto, os escritos de autoria de apóstolo (testemunha ocular), ou dos discípulos de apóstolo. Por volta do ano 200 o cânone do Novo estamento estamento já se s e aproximava muito do que hoje conhecemo conhecemos. s. Causavam maiores discussões para a canonização, a epístola aos Hebreus e o Apocalipse. Essas discussões, sem dar-se por encerradas definitivamente, foram concluídas, de um modo geral, no Oriente (com exceção da Síria) e no Ocidente, Ocid ente, pelo fim do século séc ulo IV. IV. As datas decisivas são: para p ara o Oriente a 39a. carta pascal de Atanásio, em 367; para o Ocidente, Sínodo de Roma (em 382) e os Concílios africanos de Hipo (393) de Cartago (397).
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C�������� Como você já deve ter percebido, estamos diante de um assunto complexo. Entretanto, queremos encorajá-lo a ir além do conteúdo da unidade lendo com atenção o texto de apoio 4 de Oscar Cullmann: a formação do Novo estamento (pg. 15-30), entre outros materiais disponíveis. disponívei s. Quando nos falta esse tipo de d e referencial corremos o risco de uma leitura bíblica ingênua e comprometedora. Até a próxima, pessoal!
R����������� B������������� R��������� CULMANN, O. A formação do Novo Testamento. São Leopoldo: Sinodal, 1990. ___________ Assim se formou a Bíblia. São Paulo: Paulinas, 1978. MOULE, C.F C.F.D. .D. As Origens do Novo Testamento. Testamento. São Paulo: Paulinas,1979.
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I��������� Por evangelhos compreende-se, hoje, o grupo grup o de quatro livros que abrem a coleção de livros do Novo estamento: Mateus, Marcos, Lucas e João. Entretanto, conforme explica Brown (2004, p.171), “no tempo do N, evaggelion (boa notícia) não se referia a um livro ou escrito, mas a uma proclamação ou mensagem. Isso é compreensível com base no contexto do termo”. Foi apenas no segundo século que evaggelion passou a ser usado para designar parte dos escritos cristãos, referentes aos livros que mencionamos acima. Posteriormente, entre os estudiosos, esse grupo de livros foi dividido entre (1) Evangelhos Sinóticos composto pelos escritos de Mateus, Marcos e Lucas – e (2) Evangelho de João. Dessa forma, optamos optamo s por dividir o tema “Evangelhos” em três unidades. Na unidade de hoje e na próxima falaremos sobre os Evangelhos Sinóticos. Na sequencia, na unidadee 9, falaremos unidad falarem os sobre o Evangelho de João. Vamos Vamos em frente!
O�������� 1. Apresentar um pequeno panorama a respeito das principais características de cada um dos Evangelhos Sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas). 59
OS EV EVANGELHOS ANGELHOS SINÓTICOS O termo “sinótico “sinótico”” vem do grego synoptikos e pode ser s er traduzido traduzid o por aquilo que: (1) está em conjunto; conjunto; (2) tem a mesma visão; (3) pode ser examinado examina do um ao lado do outro. Por Evangelhos Evangelhos Sinóticos entendeentend ese o bloco de livros constituídos pelos evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas. Para Mainville (2002, p.173) eles “tem em comum uma grande quantidade de textos cujos conteúdos verbais são aproximadamente semelhantes”. Por outro lado, apresenta uma série de diferenças, particulares a cada evangelista. Para que isso fique mais claro, vejamos o quadro comparativo comparativo de versículos partilhados entre os evangelhos e vangelhos..
Entre os evangelhos, o evangelho de João na faz parte do bloco sinótico. Além de questões literárias, ele se distingue dos demais no que se refere ao quadro geral do ministério de Jesus. Alguns biblistas entendem que João apresenta a vida de Jesus com maior profundidade, dando destaque para sua divindade. Um dos argumentos aparece no quadro comparativo abaixo a respeito da descendência de Jesus.
Para o biblista Ildo Perondi, “este “no princípio” que encontramos no Evangelho de João, é o mesmo da primeira frase da Bíblia (Gn 1:1). Jesus vêm inaugurar a Nova Criação. Ele pode fazer isso, pois estava presente na primeira Criação”. 1
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Introdução ao Novo Testamento
Além disso apresenta “episódios inéditos, longos discursos de revelação, um Cristo mais celeste do que terrestre, a utilização abundante do simbolismo” Mainville (2002, p.199-2 p.199-200). 00). Vejamos outros detalhes: 1. Questão Geográfica: O ministério de Jesus, na versão joânica, tem um itinerário completamente diferente. Jesus faz constantemente o vaivém entre a Galiléia e a Judéia, subindo a Jerusalém quatro ou cinco vezes por ocasião das festas judaicas. Ao inverso do relat relatoo sinótico, a porção galiléia do ministério de Jesus é bem pouco desenvolvida em João. [...] O ministério de Jesus se desenrola quase exclusivamente na Judéia (MAINVILLE, 2002, p.173).
2. Alguns temas dos Sinóticos que não aparecem em João: Batismo de Jesus; ransfiguração; Anúncios da Paixão (se transformam em anúncios da elevação do Filho do homem); Processo diante do Sinédrio. 3. Novidades de João em relação relação aos Sinóticos: Conversa de Jesus com Nicodemos; Encontro de Jesus com a mulher samaritana; Ressurreição de Lázaro. 4. Missão de Jesus: Nos Sinóticos o ministério ministério de Jesus Jesus está centrado na proclamação da mensagem do reino de Deus. Em João essa tônica é desconsiderada. des considerada. Veremos ainda outros detalhes na próxima unidade, onde falaremos exclusivamente sobre o Evangelho de João. Dessa forma as diferenças tendem a ficar ainda mais visíveis. Voltemos nosso olhar agora para os três evangelhos e vangelhos que compõe o bloco sinótico sinótico..
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EVANGELHO DE MATEUS Aparece como primeiro livro no cânone neotestamentário por fazer melhor a transição do Antigo estamento estamento para o Novo estamento, ou seja, além de conter maior número de citações do Antigo estamento, lança ponte entre a expectativa do reino messiânico por parte dos judeus e o advent adventoo de Jesus Cristo como resposta a esta espera. Objetivo: analisar a opinião e a atitude de Jesus para com a Lei Objetivo: analisar judaica, ressalta ressaltando ndo assim, que Jesus não rejeito rejeitouu o Antigo estamen estamento, to, mas levou-o ao seu objetivo: o cumprimento. Com isso, Mateus quer amenizar o conflito e as afrontas entre o judaísmo e o cristianismo em sua época. cristi anismo, Ambientee de Origem: Ambient Origem:oo autor é um judeu convertido ao cristianismo, possivelmente o apóstolo também chamado Levi, que vive dentro de uma comunidade judaico-cristã (provavelmente em Antioquia), e que se esforça para romper os laços que a amarravam ao judaísmo, conservando, contudo, a continuidade com o Antigo estamento. Os centros de interesse e o tom geral deste evangelho, sugerem a existência existênci a de uma situação tensa. Foi redigido, provavelmente, após o incêndio de Jerusalém pelo imperador ito, ou seja, mais ou menos no ano 80 d.C. A mensagem de Mateus: Mateus: a a palavra grega Basiléia (reino) aparece 51 vezes neste evangelho. Para Mateus o reino já está inaugurado pela vinda de Jesus Cristo Cristo,, mas ainda não é plenamen plenamente te manifest manifestoo como o será por ocasião do seu advento, na consumação dos tempos. Os cristãos já estão sob o reinado de Cristo, mas esperam ainda o seu reino glorioso e pleno pleno..
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E�������� �� M� M����� ����� I. Prólogo (caps. 1; 2) A. A Genealogia do Rei (1.1-17) B. O Nascimento do Rei (1.18—2.23) 1. Anúncio a José e Nascimento de Jesus (1.18-25) 2. Adoração dos Magos (2.1-12) 3. “Do Egito Chamei o Meu Filho” (2.13-23) II. A Vinda do Reino (caps. 3—7) A. A Iniciação do Reino em Jesus Jesus (3.1—4.11) 1. Jesus é Batizado por João (cap. 3) 2. A entação no Deserto (4.1-11) B. O Anúncio do Reino (4.12-25) C. O Primeiro Discurso: O Sermão do Monte (caps. 5-7) 1. As bem-aventuranças (5.1-12) 2. Interpretando a Lei para o Reino (5.13-48) 3. A Piedade no Reino: Caridad Caridade, e, Oração, Jejum (6.1-18) 4. Um Coração para o Reino (6.19-34) 5. Os Padrões de Julgamento no Reino (cap. 7) III. As Obras do Reino (caps. 8-10) A. Cura de Enfermos e o Chamado dos Discípulos (8;9) B. O Segundo Discurso: A Missão do Reino (cap. (cap. 10) IV.. A Natureza do Reino (caps. 11—13) IV A. A Identidade de João e de Jesus (caps. 11; 12) 1. Correspondendo às Obras de Jesus e de João (cap. 11) 2. Jesus, O Senhor do Sábado (12.1-13) 3. O Começo C omeço da Oposição a Jesus (12.14-50) (12.14-50) B. O erceiro Discurso: As Parábolas do Reino (cap. 13) V. A Aut Autoridade oridade do Reino Rei no (caps. 14—18) A. O Caráter e a Autoridade de Jesus (caps. 14—17) 1. A Morte de João Batista (14.1-12) 2. Alimentando as Multidões/Fermento Fariseus (14.13—16.12) 3. Revelando o Filho de Deus e Sua Missão (16.13—17.2 (16.13—17.27) 7) B. O Quarto Discurso: O Caráter e a Autoridade da Igreja (cap. 18) VI. As Bênçãos e os Julgamen Julgamentos tos do Reino (caps. 19—25) A. Da Galiléia a Jerusalém (caps. 19;20) 1. A Vida familiar no Reino (19.1-15) 2. A Entrada no Reino (19.16—20.16) 63
3. Abrindo os olhos dos cegos espirituais e físicos (20.17-34) B. O Rei Entra em Jerusalém (caps. 21—23) 1. Entrada riunfal e a Purificaç Purificação ão do emplo (21.1-22) 2. Parábolas a Respeito da Resistência ao Rei (21.23—22.14) 3. Conflito com os Fariseus e Saduceus (22.15—23.39) C. O Quinto Discurso: O Julgamento do Reino (caps.24; 25) 1. Sinais do Fim dos empos (24.1-31) 2. Parábolas Aconselhando Vigilância (24.32—25.46) VII. Paixão e Ressurreição (caps. 26—28) A. raição e aprisionamento (26.1-56) 1. Preparação para a Morte de Jesus (26.1-16) 2. A Última Ceia e Getsêmani (26.17-56) B. O Julgamento e Execução do Rei (26.57—27.56) 1. Julgamento Religio Religioso so Diante do Sinédrio (26.57-75) 2. Julgamento Civil Peran Perante te Pilatos (27.1-26) 3. A Crucificação (27.27-56 (27.27-56)) C. Sepultamento e Ressurreição (27.57—28.20) 1. Guardando o úmulo (27.57-66) 2. A Ressurreição (28.1-15) 3. A Grande Comissão (28.16-20) Notas introdutórias da bíblia de estudo de Genebra: Evangelho de Mateus (Editora Cultural Cristã). 2
C�������� Na próxima próxima unidade unida de continuaremos falando sobre so bre os Evangelhos Sinóticos. Vamos fazer um pequeno panorama dos evangelhos de Marcos e de Lucas. Até a próxima!
R����������� B������������� R��������� BROWN, Raymond. Introduçã Introduçãoo ao Novo Testamento. Testamento. São Paulo: Paulinas, 2004. MAINVILLE, Odete (org.). Escri Escritos tos e ambiente do d o Novo Testamento Testamento : uma Introdução. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. 64
Introdução ao Novo Testamento
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Na última unidade começamos a conversar sobre os Evangelhos Sinóticos. Apresentamos também um pequeno panorama com as principais características do evangelhos de Mateus. Nessa unidade daremos continuidade a esse estudo. Nosso foco hoje será nos evangelhos de Marcos e de Lucas.
O�������� 1. Apresentar um pequeno panorama a respeito das principais características de cada um dos Evangelhos Sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas).
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EVANGELHO DE MARCOS Este evangelho foi considerad consideradoo por muito tempo como um resumo de Mateus; entretanto, hoje há consenso de que Marcos é o mais antigo dos quatro evangelhos. Curiosidade: nos dois mais antigos manuscritos do Novo estamento (Vaticanus e o Sinaíticus), o evangelho termina em 16.8. Manuscritos gregos mais recentes e certas versões acrescentaram neste lugar uma conclusão sobre aparições, que não é de Marcos, mas é retirada de outros evangelhos. Conforme uma hipótese recente, o final do evangelho de Marcos teria sido perdido, o qual apresentava o relato de uma aparição do ressuscitado a Pedro, um relato do qual ainda acharíamos vestígios em João 21. Autoria Au toria e Data: Data: há um consenso entre a maioria dos eruditos de que Marcos é o autor deste evangelho. Para assegurar a autoridade apostólica, após o ano 150, a tradição cristã afirmou que o apóstolo Pedro é fiador deste escrito, pelo fato de estar na companhia de d e Marcos (I Pe. 5:13). Uma tradição antiga sustenta que o “jovem” observador da paixão de Jesus (Mc 14:51,52), seria Marcos. Assim, Marcos teria feito tal registro para provar que fora testemunha ocular. Escreveu, provavelmente, no ano 70 d.C., considerando-se as alusões feitas à destruição do templo de Jerusalém (13:1, 2). Local: devido à presença de latinismos no texto (transcrição em grego de palavras latinas), supõe-se que Marcos tenha escrito seu evangelho em Roma. Ele se dirige a cristãos que não vivem na Palestina, e toma cuidado em explicar-lhes as expressões aramaicas que emprega, por exemplo em 5:41: “... alitha Koumi, que quer dizer: menina, eu te mando, levanta-te...”; também explica costumes judaicos como em 7:3. A favor desta hipótese estão os testemunhos dados por Papias de Hierápolis, no século II, e também do historiador cristão Eusébio de Cesaréia, no século IV. Há, entretanto, outras hipóteses atualmente bastante aceitas, como a de ter sido um Evangelho produzido no contexto de uma comunidade sírio-palestinense (sobre isto ver, por exemplo, Revista de Interpretação Bíblica Latino-Americana. 66
Introdução ao Novo Testamento
Petrópolis:Vozes,1998. p.11-32). Mensagem: Men sagem: o objetivo aparece em 1:1. Percebe-se que Jesus procura manter sigilo quanto ao seu papel messiânico e impõe este silêncio também aos outros, aos demônios expulsos (1:34; 3:12), aos enfermos curados (1:44; 7:36; 8:26); aos mortos ressuscitados (5:43), e aos próprios discípulos (8:30; 9:95). Este silêncio messiânico visa impedir uma falsa compreensão sobre sua missão: a de um Messias político. Marcos é o evangelho da ação. Esta ênfase na ação evidencia ainda mais a possibilidade de ter sido escrito em Roma, e visando primeiramente aos romanos. Marcos nada diz sobre a genealogia e a infância de Jesus. Os romanos interessavam-se mais em poder do que em descendência. descend ência. Por isso é que em Marcos Jesus é apresentado como o grande conquistador: conquistador: da tempestade, dos demônios, das enfermidades e da morte.
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E�������� �� M����� � I. Prólogo: o Início do Ministério de Jesus (1.1-13) A. O estemunho de João Batista a Jesus (1.1-8) B. O Batismo de Jesus e o estemunho do Pai (1.9-11) C. A entação de Jesus (1.12,13) II. O Ministério Público de Jesus na Galiléia (1.14-6.44) A. O Ministério Inicial (1.14-3.12) 1. A Chegada à Galiléia (1.14,15) 2. A Chamamen Chamamento to dos Primeiros Primeiros Discípulos (1.16-20) 3. Exorcismos e Curas em Cafarnaum (1.21-34) 4. Ministéri Ministérioo em oda a Galilé Galiléia ia (1.35-45) 5. Uma Cura em Cafarnaum (2.1-12) 6. Chamamen Chamamento to de Levi (2.13-17) 7. Controvérsias com as Autoridades (2.18-3. (2.18-3.12) 12) B. O Ministério Posterior Posterior (3.13-6.44) 1. O Chamamento dos Doze (3.13-19) 2. Contro Controvérsias vérsias em Cafarnaum (3.20-35) 3. As Parábola Parábolass do Reino (4.1-34) 4. A Jornada em Decápolis (4.35-5.20) 5. Retorno à Galiléia (5.21-6.6) 6. Missão dos Doze na Galiléia (6.7-30) 7. Alimento para Cinco Mil na Galiléia (6.31-44) III. Ministério às Regiões Gentias (6.45-9.32) A. Visita a Genesaré (6.45-7.23) B. Ministério em iro, Sidom e Decápolis (7.24-8.9) C. Ministério às Regiões de Cesaréia de Felipe (8.10-9.32) IV.. Retorno a Cafarnaum; Conclusão IV C onclusão do Ministério na Galiléia (9.33-50) V. Viagem Final para a Judéia e Jerusalém (cap. 10) A. Ensinamento a Caminho de Jerusalém (10.1-45) B. Uma Cura em Jericó (10.46-52) VI. A Paixão (caps. 11—15) A. Entrada riunfal riunfal em Jerusalém (11.1-11) B. Purificação do emplo (11.12-26) C. Controvérsias nos Pátios do emplo (11.27—12.44) D. Profecias no Monte das Oliveiras (cap. 13)
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Introdução ao Novo Testamento
E. Ungido em Betânia (14.1-11) F. Refeição Pascal em Jerusalém (14.12-31) G. Prisão e Julgamento de Jesus (14.32—15.20) H. Morte e Sepultamento de Jesus (15.21-47)
VII. Aparições Ressurretas em Jerusalém (cap. 16) Notas Introdutórias da Bíblia de Estudo de Genebra: Evangelho de Marcos (Editora Cultura Cristã). 1
EVANGELHO DE LUCAS Este evangelho é obra literária de um cronista. rata-se de uma obra nascida da fé de uma comunidade, e fundada sobre uma tradição. O método usado pelo autor na pesquisa é apresentado em Lc 1:4-4. Ainda nesse texto encontramos pelo menos três fontes utilizadas por Lucas: • Narrações compostas antes dele (entre elas, certame certamente, nte, o evangelho de Marcos); • Informações recolhidas junto junto às testemunhas testemunhas oculares; (subentende-se (subente nde-se que ele mesmo não foi uma delas); • radiç radição ão oral da pregação apostólica. O ambiente de Lucas: o Lucas: o evangelho é gentílico-cristão, quer dizer, um cristão convertido do paganismo. Por isso destaca as palavras de Jesus contra incredulidade dos judeus, e suas boas relações com os samaritanos (ex. parábola do Samaritano: 10:25-37). O autor demonstra um interesse particular pelos gentios. um pesquisador metódico, que tem cuidado literário, e Autor: Au tor: um que em lugar de barbarismos b arbarismos na linguagem, emprega emprega termos do grego clássico. A partir do 2º século este evangelho é atribuído a um certo Lucas. Conhecemos um Lucas que foi companheiro de Paulo (Fp 2:4; Cl 4:14 “saúda-vos Lucas, o médico amado”; II m 4:11). O uso freqüente de termos médicos ajuda a confirmar esta hipótese (4:38; 69
5:18-31; 7:10; 13:11; 22:44). p or volta do ano 80. A comunidade comunidade Lugar e Data: a Data: a redação se deu por cristã onde nasceu este evangelho era de origem pagã, ou seja, não judaica. procura fazer a retrospectiva da história A mensagem de Luca Lucas: s: procura de Jesus, ciente de que a ressurreição ressurreição de Cristo dá a tudo que precede o seu sentido verdadeiro. Por Por isso designa a Jesus pelo título que lhe deu a comunidade cristã: o Senhor. Assim, os primeiros cristãos sabem que Jesus pode ser invocado no culto e que a Ele podem dirigir suas orações. Uma característica que se destaca em Lucas é o universalism universalismoo do evangelho: Jesus é a luz de todos os povos (2:31,32); é a todos os povos que ele manda pregar o perdão (24:47); outra característica marcante marcan te é o destaque dado aos pobres na proclamação do evangelho (pobres no sentido amplo deste termo: pecadores, publicanos, viúvas e crianças, ladrões e penitent penitentes, es, homens e mulheres enfermos, e pobres no sentido econômico): são chamados bem-aventurados (6:20); os ricos são qualificados de desventurados (6:24); a boa nova é para os pobres (4:18; 7:22); o mesmo percebe-se nos cânticos que saúdam o nascimentoo de Jesus (1:40-45; 1:68; 2:14; 2:29-32). nasciment
E�������� �� L����� I. Prefácio (1.1-4) II. As histórias da Infância (1.5-2.52) III. O Ministério de João Batista (3.1-20) IV. Introdução ao Ministério de Jesus (3.21-4.13) A. Batismo (3.21,22) B. Genealogia (3.23-38) C. entação entação (4.1-13) (4. 1-13) V. Jesus na Galiléia (4.14-9.50) A. O Sermão de Nazaré (4.14-30) B. Ensinamento e Cura na Galiléia (4:31 - 5:39) C. O Sábado (6.1-11) D. A Escolha dos Doze (6.12-16) E. O Sermão S ermão na Planície (6.17-49) 70
Introdução ao Novo Testamento
F. Milagres de Cura (7.1-17) G. Perguntas de João Batista e Sua Grandeza (7.18-35) H. Jesus e as Mulheres (7.36-8.3) I. Ensino por Parábolas (8.4-18) J. Obras Poderosas de Jesus (8.19-56) K. reinamento dos Doze (9.1-50) 1. Missão dos Doze (9.1-9) 2. A Milagrosa Alimentação da Multidão (9.10-17) 3. Discipulad Discipuladoo e a ransfiguração (9.18-50)
VI. A Viagem de Jesus da Galiléia a Jerusalém (9.51-19.44) A. Mais Ensinamento sobre Discipulado (9.51-10.42) B. Oração (11.1-13) C. Maus Espíritos (11.14-26) D. Bem-Aventurança e Juízo (11.27-13.9) E. Ensinamento sobre o Reino (13.10-14.35) 1. O Poder do Reino (13.10-21) 2. A Entrada no Reino (13.22-35) 3. Jantar com um Fariseu (14.1-24) 4. Discipulado (14.25-35) F. rês rês Parábolas sobre os Perdidos (Cap. 15) G. Ensino sobre o Dinheiro e o Serviço Ser viço (16.1-17.10) (16.1-17.10) H. Os Dez Leprosos (17.11-19) (17.11-19) I. O Reino Vindouro (17.20-19.10) 1. A Vinda Não Anunciada (17.20-37) 2. Parábolas sobre a Oração (18.1-14) 3. Jesus e as Crianças (18.15-17) 4. O Jovem Rico (18.18-30) 5. Uma Uma Profecia da Morte Morte e Ressurreição de Jesus Jesus (18.31-34) 6. Visão ao Cego (18.35-43) 7. Zaqueu (19.1-10) J. Parábola das Minas (19.11-27) K. Jesus entra em Jerusalém (19.28-44) VII. Jesus em Jerusalém (19.45-21.38) A. Purificação do emplo (19.45, 46) B. Ensino no emplo (19.47-20.18) C. Controvérsias (20.19-47) D. O emplo emplo e o Monte das Oliveiras (Cap.21) 71
(22.1—24.53) VIII. O Clímax (22.1—24.53) A. A raição de Jesus (22.1-6) B. O Cenáculo (22.7-38) C. Jesus no Getsêmani (22.39-53) D. Pedro Nega Jesus (22.54-62) E. O Julgamento de Jesus (22.63—23.25) F. A Crucificação (23.26-56) G. A Ressurreição (24.1-49) H. A Ascensão (24.50-53) Notas Introdutórias da Bíblia de Estudo de Genebra: Evangelho de Lucas (Editora Cultura Cristã). 2
C�������� Por hoje chega, pessoal! Na próxima Por próxima unidade daremos sequencia a temática dos evangelhos dando especial atenção ao Evangelho de João. Até breve!
R����������� B������������� R��������� BROWN, Raymond. Introduçã Introduçãoo ao Novo Testamento. Testamento. São Paulo: Paulinas, 2004. KÜMMEL, W. G. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulus, 1982. MAINVILLE, Odete (org.). Escritos e ambiente ambi ente do Novo Testamento: Testamento: uma u ma Introdução. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.
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Introdução ao Novo Testamento
I��������� �� N�� N��� � T��������� U������ - �� O� E��������� E�������� �� J��� F����� H������� / W����� �� L��� P������
I��������� Nas últimas duas unidades fizemos um pequeno panorama dos Evangelhos Sinóticos. Na unidade de hoje falaremos exclusivamente sobre o Evangelho de João. Em relação aos sinóticos, alguns biblistas entendem que João apresenta a vida de Jesus com maior profundidade, dando um destaque maior para sua divindad divindade. e. Não estamos certos disso, mas de fato as diferenças existem e por isso uma leitura de João a parte dos sinóticos nos pareça interessante. Por exemplo, encontramos apenas 10% dos relatos sinóticos em João. Por outro lado, existem contrastes evidentes. Entre eles: (1) João não usa a expressão “Reino de Deus (ou dos Céus)”. Somente duas vezes e sempre no sentido escatológico. João prefere usar a palavra “Vida” como símbolo do projeto projeto de Jesus. Jesus. (2) João usa a palavra sinais e não milagres. Entre outros que mencionamos na unidade anterior e que podem aparecer nessa unidade ou na continuidade continuidade de seus estudos.
O�������� 1. Apresentar um pequeno panorama a respeito das principais características do Evangelho de João.
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EVANGELHO DE JOÃO Alguns estudiosos destacam no Evangelho de João o seu apelo para uma espiritualidade espiritualidad e centrada em Cristo. odavia, odavia, isso não significa signi fica que seja um evangelho que proponha a alienação em relação à realidade ou sustentado apenas pela busca do transcendente transcende nte sem contato contato com as questões práticas no cotidiano. “Ao contrário, ele é também muito histórico. Foi escrito no chão da vida de comunidades que buscavam viver a proposta de Jesus. Po Porr isso, o Quarto Evan Evangelho gelho é fruto da comunidade, se existe vida existe uma comunidade, onde esta vida procura florescer e dar frutos.” Valor Histórico: Histórico: alguns críticos chegam a considerar este evangelho como um documento completamente desprovido de qualquer valor histórico. É curioso observar que, pelo evangelho de João, o ministério de Jesus durou 2 ou 3 anos, enquanto que, pelos sinópticos, durou cerca de 1 ano. Autoria: Au toria: Entre Entre os estudiosos não existe consenso absoluto sobre a autoria do evangelho de João. As tradições mais antigas ser mesmo o Apóstolo João (daí provém o nome dado ao evangelho). No final do 2º século, temos o testemunho de Irineu que afirmava: “João, discípulo do Senhor Sen hor,, escreveu o evangelho quando estava em Éfeso na Ásia”. E evangelho menciona duas vezes (1:35-40 e 18:15) a presença de um discípulo anônimo, que poderia bem ser o autor. É falado repetidas vezes de um discípulo “que Jesus amava” (13:23; 18:26: 20:2; 21:7, 20) como testemunha ocular. Outra possibilidade seria que o Evangelho tenha sido escrito em várias etapas e depois alguém tenha feito a redação final. Existe Ex iste ainda a hipótese de que os capí capítulos tulos 1 a 20 teriam sido escritos no fim da vida de João; o capítulo 21 teria sido acrescentado em seguida, em parte para explicar sua morte, por um 74
Introdução ao Novo Testamento
discípulo que teria feito retoques também no corpo do evangelho evangelho.. Local e Data: Data: é posterior aos sinópticos, uma vez que os pressupõe. Foi escrito, provavelmente, entre os anos 90 e 95, em Éfeso ou Antioquia. Recebe ampla influência: influência: helenística e judaica. Destinatários: A comunidade onde João viveu e para quem escreveu está vivendo um momento momento de perseguição por p or causa da fé que estavam assumindo em Jesus Cristo. Perseguição por parte dos judeus (nesta época o cristianismo já havia sido expulso das sinagogas) e por parte do Império roamano. Entender esse contexto é fundamental para uma leitura mais adequad adequadaa dos escritos joaninos. Vejamos, Vejamos, ainda, outras características dessa comun comunidade. idade. É uma comunidade que vive o amor. Comunidade de irmãos e amigos. “Eu vos chamo amigos” (Jo 15,15). A relação é de igualdade. Não é a relação de “Senhor x servo”; mas pessoa x Deus. Não é pai x filho, mas um Deus paternal. Não há discriminação na comunidade. Existe a assembléia, onde todos devem ser iguais. Exemplo disso é o texto de Jo 15, Jesus é a videira e todos são os ramos. Os Os ramos são iguais. A comunidade deve ser estemunha. Quem escreve é o Discípulo Amado que deu testemunho dessas coisas e que as escreveu. Mas a comunidade também deve confirmar esse testemunho: “E nós sabemos que o seu testemunho é verdadeiro” (Jo 21,24). 3
Conteúdo e Mensagem: Jesus Cristo é, neste evangelho, ao mesmo tempo humano e divino; o autor combate o Docetismo (doutrina gnóstica que negava a verdadeira humanidade de Jesus), Jesus Cristo é o logos encarnado encarnado,, o verbo feito carne (1:14). O objetivo deste evangelho está em 20:31. Sua mensagem tem o propósito de fazer com que os leitores creiam que Jesus é o Cristo, e para que crendo tenham vida em seu nome. Po Porr isso, as ênfases de João estão na vida e obra de Jesus Cristo. A partir disso, podemos, então, observar que na obra joanina que o Jesus histórico é o Cristo da Igreja, a contin continuidade uidade do Jesus encarnado no Espírito Santo e um grande destaque em temas como o AMOR e a VIDA. 75
Vejamos a seguir outros detalhes importantes a respeito do conteúdo e mensagem de João. As Grandes Idéias Joaninas: 1. Mostra Mostrarr a identificação entre Jesus histórico e o Cristo da fé; 2. A mesma mesma ênfase ênfase que que os sinóptico sinópticoss dão ao Reino, Reino, João dá à Vida; 3. Ênfase na escatologia já realizada, por isso não apr apresenta esenta discussão sobre o fim do mundo nem do retorno de Cristo para o julgamento julgamen to final, sem negar que a ressurreição dos mortos se dará d ará no último dia (5:28; 6:39,40,44,54); Contrastes 4 para facilitar o entendimento entendimento de sua mensagem. mensagem.
Personagens Importantes:
Ididem / 4Ibidem
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Introdução ao Novo Testamento
Os sete Sinais (milagres)
“EU SOU” Alguns estudiosos estudiosos destacam a relação relação do discurso de Jesus sobre si mesmo (EU SOU), no evangelho de João, com o mesmo verbo que Deus se manifestou em Ex 3:13-14. Vejamos os textos: • 8.24 Po Porr isso isso,, eu vos disse que morrereis nos vossos pecados; porque, se não crerdes que EU SOU, morrereis nos vossos pecados. • 8.28 Disse-lhes, pois, Jesus: Quando levantar levantardes des o Filho do Homem, Hom em, então, sabereis que EU SOU e que nada faço por mim mesmo; mas falo como o Pai me ensinou. • 8.58 Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade eu vos digo: antes que Abraão existisse, EU SOU. • 13.19 Desde já vos digo digo,, ant antes es que acont aconteça, eça, para que, quando acontecer,, creiais acontecer crei ais que EU SOU S OU.. emos ainda sete textos onde o verbo aparece com alguns complementos:
Ibidem / 6Ibidem / 7Ibidem
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12)
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I. Prólogo (1.1-18) II. Ministério Público (1.19-12.50) A. O estemunho de João Batista (1.19-34) B. O Chamado dos Primeiros Discípulos (1.35-51) C. O Primeiro Milagre: ransformando Água em Vinho em Caná (2.1D. A Purificação do emplo em Jerusalém (2.13-25) E. Nicodemos (3.1-21) F. O estemunho de João Batista (3.22-36) G. Jesus em Samaria (4.1-42) 1. Viagem a Sicar (4.1-6) 2. A Mulher Samaritana à beira do Poço (4.7-30) 3. O Alimento Espiritual (4.31-38) 4. Fé Samaritana (4.39-42) H. Cura do Filho do Oficial em Caná da Galiléia (4.43-54) I. Visita a Jerusalém (cap. 5) 1. Cura no anque de Betes Betesda da (5.1-15) 2. Jesus e o Pai (5.16-47) J. O Enviado pelo Pai (cap. 6) 1. Alimentando Cinco Mil (6.1-15) 2. Jesus Caminha sobre a Água (6.16-21) 3. Exposi Exposição ção e Controvérsia: Jesus, o Pão da Vida (6.22-71) K. Jesus Assiste à Festa dos abernáculos em Jerusalém (caps. 7, 8) 1. Viagem a Jerusalém (7.1-13) 2. É Jesus o Messias? (7.14-52) 3. A Mulher Surpreendida em Adultério (7.53-8.11) 4. Jesus estifica sobre si Mesmo (8.12-59) L. A Cura de Um Cego de Nascença (cap. 9) M. O Discurso do Bom Pastor (10.1-21) N. Jesus assiste à Festa de Dedicação em Jerusalém (10.22-39) O. O Ministério Além do Jordão (10.40-42) P. A Ressurreição de Lázaro (11.1-54) Q. érmino do Ministério Público (11.55-12.50) 1. A Unção em Betânia (11.55-12.11) 2. A Entrada riunfal (12.12-19) 3. Gentios vêm a Jesus (12.20-36) 4. A Incredulidade dos Judeus (12.37-50)
Introdução ao Novo Testamento
III. A Semana da Paixão (caps. 13-19) A. O Ministério Privado de Jesus para os Discípulos (caps. 13-17) 1. O Lavapés: raição Predita (cap. 13) 2. Discurso de Despedida (caps. 14-16) 3. Oração Intercessória (cap. 17) B. Prisão e Julgamento (cap. 18) C. Crucificação, Morte e Sepultamento (cap. 19) IV. A Ressurreição (cap. 20) V. Epílogo (cap. 21) A. A Pesca Milagrosa (21.1-14) B. Pedro Reintegrado (21.15-25) Notas Introdutórias da Bíblia de Estudo de Genebra: Evangelho de João (Editora Cultura Cristã). 8
C�������� Infelizmente não é possível aprofundarmos em cada um dos Evangelhos já que estamos em uma disciplina de introdução. Para tanto, seria necessário um curso a parte para cada um deles. Por isso, incentivo você, mais uma vez, a buscar outros conteúdos que ajudem nessa tarefa. Existem vários comentários bíblicos e livros que trabalham individualmente com cada Evangelho. Estou a sua inteira disposição caso necessite de alguma indicação. Até Até a pró próxima! xima!
R����������� B������������� R��������� BROWN, Raymond. Introdução ao Novo Testamento . São Paulo: Paulinas, 2004. KÜMMEL, W. G. Introdução ao Novo Testamento . São Paulo: Paulus, 1982. MAINVILLE, Odete (org.). Escritos e ambiente do Novo Testamento : uma Introdução. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.
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Introdução ao Novo Testamento
I��������� �� N�� N��� � T��������� U������ - �� A��� ��� A�������� F����� H������� / W������ L��� L���
I��������� Olá, pessoal. Na unidade de hoje falaremos, de forma panorâmica, sobre esse importante livro do Novo estamento: “os atos dos apóstolos”. Geralmente, o estudo teológico de Atos é tratado juntamente juntam ente com o evangelho de Lucas. De fato fato,, há muitas indicações de que se tratem de uma obra em dois volumes. No entanto, para a presente unidade, o livro de Atos será tratado separadamente de Lucas pelo próprio fato de que a disposição canônica separou os dois volumes. A concentração dos quatro evangelhos no início do N agrupa os testemunhos sobre Jesus e Atos funciona como uma transição entre e ntre Jesus e o apóstolo apóstolo Paulo que ocupa boa bo a parte do restante do N. Entre Jesus e Paulo, cumpre-se a promessa prom essa da vinda do Espírito Santo Santo e a igreja é estabelecida em Jerusalém. Não obstante seu caráter de transição, o livro de Atos é considerado o grande livro missionário do N, pois trata do estabelecimento da Igreja e sua expansão pelo Império romano. Sem dúvida, a narrativa do livro de Atos retrata retrata um dinamismo expansionista exp ansionista do povo de Deus sem precedentes. Esta expansão não se dá a partir de um controle institucional ou territorial, mas acima de tudo através do impulso do Espírito Santo.
O�������� 1.Apresentar um pequeno panorama sobre s obre o conteúdo do livro de Atos dos Apóstolos;principais características do Evangelho de João. 81
ATOS DOS APÓSTOLOS �. C������� O livro inicia com a despedida de Jesus dos discípulos. O motivo dominante é a partida e ausência de Jesus (At 1.2, 4, 9). Depois de sua ressurreição, Jesus apareceu aos apóstolos e os instruiu com respeito ao “reino de Deus” (At 1.3). Em seguida, Jesus ordena que eles permaneçam em Jerusalém de onde receberiam a promessa do Espírito Santo (At 1.4). Essa promessa estava vinculada ao testem testemunho: unho: “Ma “Mass receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra” (At 1:8). Em suma, o livro de Atos dos Apóstolos descreve a história da expansão da igreja no primeiro século depois da ascensão de Cristo até a prisão de Paulo em Roma. Em geral, o livro é dividido em algumas seções que correspondem a momentos específicos na expansão da igreja. As seções seçõ es principais são as seguintes:
Podemos perceber perceb er também que até o cap. 12 (v.24) (v.24) o personagem pers onagem principal é Pedro (atos (atos de Pedro) e sua atividade se limita à Jerusalém e Cesaréia. Do cap. 12 (v.25) até o final, o personagem principal é Paulo (atos de Paulo). 82
Introdução ao Novo Testamento
Há, ainda, quem entenda a divisão do livro em torno da geografia da expansão da igreja. Assim, divide-se em três partes: “... e serão minhas testemunhas em”:
Do ponto de vista geográfico notamos que as narrativas que descrevem as atividades vão oscilando entre dois centros importantes: Jerusalém e Antioquia. Jerusalém sendo o centro inicial da igreja onde os cristãos receberam o poder do Espírito Santo e Antioquia sendo a igreja que primeiro enviou missionários e onde os discípulos foram pela primeira vez chamados de cristãos (At 11.26).Observe o seguinte movimento movimen to geográfico nas seções abaixo: I. Jerusalém II. Jerusalém à Antioquia III. De Antioquia percorrendo a Ásia Meno Menorr e retorno para Antioquia IV.. IV Jerusalém Jerusal ém percorrendo a Grécia de volta a Antioquia passando por Jerusalém V. Da Antioquia pela Grécia de volta a Jerusal Jerusalém ém VI. De Jerusalém para Roma 83
Um outro ponto importante para se destacar no livro de Atos é a presença de alguns sumários, isto é, pequenos resumos que descrevem o desenvolvimento da igreja à cada estágio de seu avanço. Isso serve como uma maneira de informar o leitor o resultado da ação dos apóstolos. ambém ambém serve ser ve para confirmar que toda a ação dos apóstolos, apóstolo s, discípulos e irmãos das igrejas que iam sendo fundadas estava obtendo o alvo pretendido, o testemunho de Cristo. Esses sumários basicamente relatam que o número dos discípulos cresciam e se fortaleciam e, em alguns casos, descrevem como a igreja vivia. Veja os textos onde esses sumários se encontram: 2.41-48; 6.7; 9.31; 12.24; 15.36; 19.20; 28.31.
�. V������ M����������� M� ����������� V������ M����������� �� F����� � P���� As viagens missionárias missionárias de Filipe • At 8.5-13 e 8.26-40 “Filipe seguiu a instrução divina de viajar pela estrada que atravessa o deserto na direção sul, de Jerusalém a Gaza. Pelo caminho, ele batizou o eunuco etíope. Depois desse incidente i ncidente,, Filipe continuou pregando ao longo da planície costeira que vai de Azoto Azoto a Cesaréia” Cesaréia”.
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Introdução ao Novo Testamento
As viagens missionárias de Pedro • At Atos os 9.32-10.48 “Ele viajou para Lida, onde Enéias foi curado. Em Jope ele restaurou a vida de Dorcas e ali ficou muitos dias com Simão o curtidor. A visão dos animais e pássaros impuros preparou a Pedro para a pronta aceitação do convite de Cornélio para que se dirigisse à Cesaréia, onde o evangelho foi poderosamente recebido pelos gentios” gentios”..
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Baseado nas Nota Notass Introdutórias Introdutórias da Bíblia de Estudos de Genebra.
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V������ M����������� �� P���� Primeira Viagem Missionária - GALÁCIA • At 13; 14 “Paulo e Barnabé foram enviados pela igreja de Antioquia (At 13.1-3) e se dirigiram às cidades da Galácia, na Ásia Menor. As sinagogas judaicas, nessas cidades, providenciaram a Paulo uma plataforma para a pregação do evangelho. Em certas ocasiões, entretanto, ele encontrou oposição nas próprias sinagogas”.
•
Segund a Viagem Missionária - GRÉCIA Segunda At 15.39-18.22 “Iniciando a viagem em Jerusalém, Paulo levou consigo a Silas para visitar mais uma vez as igrejas da Galácia. O jovem imóteo uniu-se a eles em Listra. Juntos partiram para a Macedônia e para Acáia (atualmente, Grécia). Nessa viagem o carcereiro filipense foi salvo, os de Beréia “pesquisaram diariamente as escrituras” (At 17.11) e Paulo pregou em Atenas, no Areópago
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erceira Viagem Missionária - Novas visitas à Ásia e à Grécia • At 18.23-21.16 “Paulo visitou as igrejas da Galácia pela terceira vez e então se estabeleceu em Éfeso por mais de dois anos. Quando saiu de Éfeso, Paulo viajou mais uma vez à Macedônia e à Acáia (Grécia) onde permaneceu durante três meses. Ele retornou para a Ásia passando pela Macedônia. Nessa terceira viagem Paulo escreveu de Éfeso 1 Coríntios e, da Macedônia, 2 Coríntios. De Corinto ele escreveu a carta aos Romanos”.
Quarta Viagem Missionária Missionária - A caminho de Roma R oma • At 27.1-28.16 “Em Jerusalém após a sua terceira viagem missionária, Paulo teve um conflito com os judeus que o acusavam de haver profanado o templo (At 21.26-34). Ele foi colocado sob custódia dos romanos, em Cesaréia, durante dois anos. Depois de apelar à César, foi enviado de navio a Roma. Depois da partida da ilha il ha de Creta, o navio de Paulo naufragou naufragou na ilha de Malta, por causa de uma grande tempestade. rês meses depois ele finalmente chegou à cidade imperial”.
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�. E�������� �� A��� � I. Pedro e o evangelho aos judeus em Jerusalém, Judéia e Samaria (1.1-12.24) A. Instruções de Jesus e a espera pelo Espírito (cap.1) B. A fundação da Igreja em Jerusalém (caps. 2-7) 1. O derramamento do Espírito Santo e o primeiro sermão de Pedro (2.1-41) 2. A comunhão dos crentes (2.42-47) 3. O mendigo curado e o segundo sermão de Pedro (cap. 3) 4. A perseguição pelo Sinédrio (4.1-31) 5. A Igreja: comunidade e disciplina (4.32-5.11) 6. Mais perseguição pelo Sinédrio (5.12-42) 7. A escolha dos sete s ete (6.1-7) 8. Perseguição e morte de Estêvão (6.8-7.60) C. Espalhado pela perseguição, o Evangelho é disseminado pela Judéia, Samaria e para além (8.1-12.24) 1. Filipe prega em Samaria e ao eunuco etíope (cap. 8) 2. A conversão de Saulo (9.1-31) 3. O ministério de Pedro em Lida e Jope (9.32-43) 4. O ministério de Pedro em Cesaréia: o Espírito Santo é derramado sobre os gentios (10.1-11.18) 5. A igreja em Antioquia da Síria (11.19-30) 6. A perseguição de d e Herodes Agripa I à Igreja e a sua morte (12.1-24) II. Paulo e o evangelho e vangelho aos gentios (12.25-28.31) A. Paulo expande o evangelho até a Ásia Menor e à Europa Europa (12.25— 21.16) 1. A primeira viagem missionária de Paulo — Chipre e Ásia Menor (12.25-14.28) 2. O Concílio de Jerusalém (15.1-35) 3. A segunda viagem missionária de Paulo — o retorno à Ásia Menor e à Europa (15.36-18.22) 4. A terceira viagem missionária de Paulo — o fortalecimento das igrejas da Ásia Menor, Macedônia e Grécia (18.23-21.16) B. Paulo leva o evangelho a Roma (21.17-28.31) 1. A prisão de Paulo o seu se u julgamento e encarceramento na Palestina (21.17-26.32) 2. A viagem à Roma (27.1-28.16) 3. Os dois anos do ministério de Paulo em Roma (28.17-31) 89
C�������� Esse importante livro do Novo estamento pode ser resumido pela transição entre o ministério de Jesus e o comissionamento da Igreja para continuidade de suas obras na terra. O evangelho não deveria ficar preso há certas geografias (Jerusalém) e etnias (Judeus), antes, ant es, porém, deveria se expandir até os confins da terra sob a ação aç ão do Espírito Santo. O texto é marcado por conflitos, especialmente pela dificuldade de alguns líderes (inclusive alguns dos apóstolos) em aceitar a inclusão de gentios como beneficiários da mensagem do evangelho. É nesse contexto que surge, então, o apóstolo Paulo: o apóstolo dos gentios. Na próxima próxima unidade (e nas cinco seguintes) nosso foca recairá sobre a vida e a obra desse importante importante personagem do Novo estamen estamento. to. Até Até breve!
R����������� B������������� R��������� BROWN, Raymond. Introduçã Introduçãoo ao Novo Testamento Testamento . São Paulo: Paulinas, 2004. KÜMMEL, W. G. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulus, 1982.
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Iniciaremos, com essa unidade, uma série de estudos sobre a vida e a obra de um dos mais importantes personagens encontrados no mundo do Novo estamento: o apóstolo Paulo. Hoje, analisaremos alguns aspectos de sua trajetória de vida, vid a, inicio e desenvol desenvolvimento vimento ministerial, ministerial, além de pequenos comentários sobre suas obras literárias.
O�������� 1. Ap Apresenta resentarr algumas características características sobre a vida e a obra do apóstolo Paulo.
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APÓSTOLO PAULO: VIDA � OBRA A conversão de Paulo foi fundamental para a expansão do cristianismo. Esse apóstolo se tomará o grande defensor da mensagem transcultural transcultu ral do Evan Evangelho gelho,, tendo como pont p ontoo de partida a cidade de Antioquia. A vida deste apóstolo pode ser dividida em quatro grandes períodos: • Do nascimento aos 28 anos: o judeu praticante • Dos 28 aos 41 anos: o conv convertido ertido fervoroso • Dos 41 aos 53 anos: o missionário itinerante • Dos 53 aos 62: o prisionei prisioneiro ro (4 anos) e o organizado organizadorr das comunidades (5 anos).
�. D� N��������� ��� �� ���� Paulo nasceu em ársis, hoje região da urquia, por volta do ano o6 d.C. É identificado, por isso, como “judeu da diáspora” (devido à dispersão geográfica que caracterizava o povo judeu desde o exílio babilônico). Na época, ársis contava com uma população de aproximadamente 250 mil habitantes. Era um grande centro de conhecimento: lá estavam instaladas grandes escolas de filosofia; só perdia em importância para Atenas e Alexandria do Egito. Paulo, até aos 18 anos, estudou nestas escolas, obtendo um alto nível de formação: estoicismo, epicurismo e diversas correntes do gnosticismo, certamente,, fizeram parte de seu currículo. certamente Ao completar 18 anos, provavelmente, provavelmente, deixou aquela cidade cid ade e foi para Jerusalém com a finalidade de receber uma formação superior de estudos religiosos numa das escolas judaicas, tendo oportunidade de ser aluno do mais importante mestre do judaísmo da época: Gamaliel. radições antigas informam que ele passou a morar em Jerusalém 92
Introdução ao Novo Testamento
na casa de uma de suas irmãs, que era casada. O futuro apóstolo dedicou-se aos estudos, em tempo integral, até aos 28 anos, quando a conversão conv ersão ao cristianismo mudaria sua vida para sempre. Vale observar que, nesta mesma época em que ele está em Jerusalém, na Palestina vivia um outro judeu chamado Jesus, num contexto bem diferente daquele vivido por Paulo. Vejamos o paralelo:
Até onde onde se sabe, os dois nunca se encontraram antes do caminho de Damasco. Até mesmo a morte de Jesus parece não ter chamado a atenção de Paulo. Um acontecimento que passou despercebido.
�. O C��������� F�������� emos poucas informações bíblicas sobre este período da vida de Paulo. O que se pode afirmar é que após sua conversão, o apóstolo se dirige à região da Arábia, onde ficou três anos (Gl. 1.17). Depois foi para Jerusalém, onde a comunidade não o acolheu. Mas Barnabé o apresenta aos apóstolos (At. 8.26-28). 8.26- 28). Depois, De pois, ele voltou para arso arso (At. 9.30). Somente dez anos depois, aproximadamente, recebe o convite de Barnabé para ir desempenhar seu ministério junto à comunidade de Antioquia. Como foi a vida de Paulo neste 13 ou 14 anos? Não temos informações, e sim, especulações. Fala-se de um possível contato dele com uma das comunidades dos Essênios, que também teriam abraçado a fé cristã, contribuindo para a expansão e o crescimento 93
desta comunidade na Síria, Arábia e Cilícia. É provável que seja neste período que tenha tido as experiências místicas de que fala em II Co. 12.1-10. Algumas semelhanças entre o ensino de Paulo e a doutrina de Qumran (Essênios) parece solidificar esta hipótese. Notável é o fato de que, após a sua conversão, percebendo a necessidade de se preparar para os grandes desafios ministeriais que teria pela frente, permaneceu por três anos revendo toda sua formação judaica e desenvol desenvolvendo vendo sua teologia à luz da nova revelação que se deu em Jesus Cristo. Pesquisadores há que afirmam terem existido nestas regiões da Arábia comunidades cristãs que organiza organizaram ram posteriormente ali algum tipo de escola teológica cristã, seguindo o exemplo daqueles que estiveram anteriormente envolvidos com as escolas de profetas dos Essênios ou de outros grupos apocalípticos característicos característicos daquele período, conservando o princípio de treinamento de novos líderes para servirem ao Reino de Deus que já era chegado a partir do advento de Jesus Cristo.
�. O M���������� I���������: �� ������� ������������ A Bíblia fornece muitos dados sobre este período. A vocação nasce em Antioquia (At. 13.2-4). Fez três viagens missionárias: a 1a. iniciou-see no ano 46 (At. iniciou-s (At. 13.1-3), 13.1-3 ), quando Paulo estava com 41 anos; a 3ª terminou no ano 58, com sua prisão na praça do templo (At. (At. 21:27-54). Ao todo foram 10 a 12 anos de viagens, em meio a perigos constantes, constantes, como descreve o texto de II Co. 11:25-26. Só as grandes estradas do império possuíam hospedarias a cada 30 Km, para oferecer segurança aos viajantes. Por isso havia até empresas que ofereciam proteção nas viagens. Paulo Paulo não tinha nada disto: disto: ia com Deus e os amigos. amigos. Os desafios de Paulo eram muitos, o tamanho das cidades, por exemplo: Antioquia na Assíria 500 mil habitantes; Éfeso um pouco menor; Corinto 500/600 mil habitantes; Roma, perto de um milhão de habitantes. Nestas cidades juntavam-se pessoas do mundo inteiro. O evangelho vinha do mundo rural, do interior da Palestina. Eis uma barreira a ser transposta. Precisava ser encarnado nessa nova realidade do mundo urbano. 94
Introdução ao Novo Testamento
Além do que, o apóstolo parecia não ter boa saúde: convivia convivia com um problema no seu dia-a-dia, chamado por ele de “espinho na carne” (II Co. 12:7-10), problema este que consistia provavelmente numa dificuldade visual, como parecem sugerir os textos de 1 Co. 16.21; Gl. 4:13-15; CI. 4:18; II s. 3:17. Paulo vai a Roma três anos depois de ter escrito aos romanos falando deste seu desejo, mas não à maneira que esperava. O temor que demonstrava demonstrava em 15.31 15. 31 era real. Chegou a Jerusalém, e foi acusado perante as autoridades romanas da Judéia de ter feito grave ofensa à santidade do emplo. inha 52 anos quando foi preso em Jerusalém. Ao todo foram 4 anos de prisão: dois em Cesaréia, na Palestina (At. 24:27). O processo arrastou-se. Paulo apelou para César em Roma, e para lá foi enviado; sofrendo o naufrágio (Ilha de Malta). Chegou àquela cidade no início do ano 60 e foi recebido pelos irmãos lá residentes (At. 28:14-15). Permaneceu dois anos na capital, em prisão domiciliar (At.28:30), foi solto e retirou-se para outras regiões, solidificando o trabalho junto às comunidades, vivendo depois foi solto e viveu mais cinco ou seis anos, até à nova prisão que o levou à morte. As “cartas da prisão”” devem ter sido escritas nestes períodos, em Éfeso, Cesaréia ou prisão Roma: Cl. 4.18; Fp. 1:13; Fm. 1:9. Paulo manifestava manifestava o desejo de ir pregar na Espanha (Rm. 15:28). Alguns pesquisadores supõem que este ideal teria se concretizado um pouco antes da sua última prisão que resultou em martírio. Entretanto, não há nenhuma tradição mais consistente que comprove tal afirmação. E se isto ocorreu, foi uma breve visita, que não resultou em frutos. No período da perseguição de Nero, Paulo foi preso novamente e conduzido a Roma. Na 1o. vez havia pessoas para recebê-lo. Desta vez não. Alguns supõem que tenha sido denunciado pelos próp próprios rios irmãos. A tradição conserva a história de que foi condenado a morrer pela espada, fora dos muros da cidade de Roma, num lugar chamado de Tree Fontane” (três fontes) por volta do ano 67 ou 68, quando o apóstolo apósto lo tinha 62 anos de idade. Por volta do ano 96, começaram a circular em outros lugares algumas cartas, além daqueles para onde foram inicialmente enviadas. Paulo havia dado orientações sobre isto em Cl. 4:16. Algumas cartas 95
foram feitas “em “em série sér ie””. Outras eram e ram copiadas para p ara igrejas e endereç endereçadas adas adiante (circulares). Um cristão anônimo prestou um grande legado às eras subseqüentes: transcreveu pelo menos 10 cartas paulinas num códice do qual foram feitos muitos exemplares para uso em muitas partes o mundo cristão. Este códice foi denominado de “Corpus Paulinus”. Marción, natural do Ponto, Ásia Menor, ao publicar em Roma por volta do ano 140, o que ficaria conhecido como o primeiro cânon do Novo testamento, afirmava que Paulo fora o único apóstolo de Jesus que se manteve fiel, havendo os demais corrompido o ensino de Cristo com mistura judaizante. Em seu cânon, o que chamou de Apostolikoni, abrangia 10 das epístolas paulinas (excluídas a 1 e II imóteo e ito), incluindo uma introdução a cada carta. O mais antigo texto paulino que chegou até nós, é datado do final do 2º século, composto de 10 epístolas, juntamente com Hebreus; papiro este proveniente do Egito, onde já no ano 180, Hebreus era atribuída a Paulo. Romanos vêm em primeiro lugar nessa coletânea. Outro documento do fim do 2º século “Cânon Muratori”, uma lista do N.. reconhecidos em Roma. Neste, o Corpus Paulinus é formado por 13 cartas (como hoje).
�. E����� P������ �� É���� Uma vez constituído e reconhecido como apóstolo, Paulo fez de Éfeso lugar de sua residência: foi a cidade onde mais tempo permaneceu, provavelmente, três anos. Por ser uma cidade portuária, cosmopolita, com aproximadamente 500 mil habitantes, de grande circulação de povos e nações, Pa Paulo ulo fez daquela d aquela cidade um centro de treinamen treinamento to de missionários para abertura de novas igrejas em diferentes regiões do 96
Introdução ao Novo Testamento
mundo antigo. Para isto, criou um centro de treinamento de pastores e missionários. Alugou, inicialmente, inicialmente, uma antiga escola de Filosofia, a “escola de irano” (At 19.9,10), e nela implantou um instituto bíblico. Este foi o primeiro modelo, no cristianismo, cristianismo, do que viriam a ser os futuros seminários de teologia. Ali estudaram e se formaram, dentre dentre outros, importantes líderes como imóteo, ito, Epafras. O próprio Paulo foi inicialmente o seu primeiro diretor, atuando também como professor.. Após a partida do apóstolo daquela professor daquel a cidade, confiou confi ou a direção da escola a outros líderes. Importante papel aquela escola continuou desempenhando mesmo depois da morte de Paulo: formando novos obreiros que deram continuidade à visão pastoral e missiológica daquele apóstolo e, principalmente, cuidando da preservação de seus escritos e produzindo novos textos que, em forma de homenagem e fidelidade ao grande mestre, foram-lhe atribuído como autoria. autoria. Aliás, deve-se a esta escola o mérito de ter constituído o primeiro “cânone” do Novo estamento, chamado de “corpus paulinum”, que reunia as cartas do apóstolo além de outras produções teológicas por ele elaboradas durante o seu ministério. Sobre isto, o pesquisador José Comblin afirma: Que houve uma escola paulina, uma tradição paulina, feita de discípulos fiéis durante várias gerações, fica fora de qualquer dúvida. Quem teria reunido um corpus de epístolas paulinas se não fosse essa escola? esc ola? A escola paulina assumiu duas tarefas. A primeira consistiu em continuar e prolongar a mensagem de Paulo, adaptando-a a circunstâncias novas para que não perdesse atualidade, abrindo-a para novos problemas. Os discípulos de Paulo foram os redatores de várias epístolas escritas às vezes muitos anos depois da morte do apóstolo. Que um discípulo se coloque coloque no lugar do mestre para para redigir e assinar em nome dele uma carta ou um tratado não era coisa estranha na Antiguidade [...] A segunda tarefa dos discípulos consistiu em reunir os escritos esc ritos do mestre para poder constit constituir uir um corpus, separá-los de escritos espúrios que pessoas bem intencionadas mas desiquilibradas queriam misturar com a obra autêntica. Depois disso a tarefa consistiu em integrar a obra paulina dentro do corpus ou canôn da Igreja Universal. Os discípulos conseguiram que os escritos de Paulo fossem reconhecidos e aceitos pelas outras igrejas não paulinas e fizessem parte do cânon (COMBLIN, 1993, p.171).
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Em Éfeso, portanto, esta escola desempenhou importante papel de formar pastores missionários e outros líderes, de produção literária, além de formulação teológica que ajudou a melhor definir a identidade eclesiológica e missiológica do cristianismo primitivo. primitivo.
C�������� Por hoje é isso, pessoal! Nas próximas unidades faremos um breve panorama das cartas de Paulo. Ao todo são 13 cartas que estão divididas da seguint s eguintee forma:
Quem sabe você não aproveita a oportunidade para colocar em dia sua leitura bíblica! Que tal, como atividade extra curso, você ler todas as cartas de Paulo? O desafio está lançado! Além de um melhor aproveitamento das unidades, esse exercício de leitura trará grandes benefícios para sua caminhada de fé. At Atéé a próxi próxima! ma!
R����������� B������������� R��������� COMBLIN, José. Paulo apóstolo de Jesus Cristo . Petrópolis: Vozes, 1993 MESERS, Carlos. Paulo Apóstolo: um trabalhador que anuncia o evangelho. São Paulinas: 1991 PROENÇA, Wander de Lara. Cruz e ressurreição: a identidade de Jesus para os nossos dias. Londrina: Descoberta, 2001.
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Introdução ao Novo Testamento
I��������� �� N��� T��������� T��������� U������ - �� C����� P������� - M������ �º � �º �������������� F����� H�������
I��������� Olá, pessoal. Na unidade de hoje daremos inicio ao maior bloco de escritos do Novo estamento: as cartas de Paulo. Conforme a conclusão da unidade anterior, seus escritos (total de 13 cartas) podem ser divididos em três partes: cartas maiores, cartas da prisão e cartas pastorais. Hoje falaremos sobre duas das cartas maiores: 1º e 2º essalonicenses.
O�������� 1. Apresentar um breve panorama sobre as cartas paulinas de 1º e 2º essalonicenses.
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CARTAS DE PAULO AOS TESSALONICENSES �. Q������� G������ Introdução essalônica era a capital da Macedônia, foi fundada por volta do ano 300 aC, e em 146 aC tornou-se província do império romano. A população de essalônica era extramente heterogênea. Ao colonizar a cidade os romanos enviaram para lá povos de diversos lugares, entre eles: ítalos, sírios, egípcios e judeus. Logo que se instalaram na cidade os judeus construíram uma sinagoga e trataram de começar suas atividades religiosas nesse lugar. Com a miscigenação de povos e culturas c ulturas naturalmente naturalmente havia em essalônica um alto índice de sincretismo religioso. Por outro lado, visto que a população era cosmopolita, inevitav inevitavelmente elmente houvera houveram m fusões de cultos e divindades. Alguns historiadores, baseados em inscrições sobre restos de monumentos, atestam que pelo menos vinte divindades diferentes eram veneradas. Conforme At 17:1-8, por volta do ano 50, Paulo, Silvano e imóteo fundaram a igreja em essalônica. A igreja nasce dos pobres, explorados e oprimidos. Gente que vivia em um contexto desfavorável do ponto de vista sociopolítico, econômico e ideológico. rata-se de comunidade desprovida de qualquer alicerce humano. Para piorar, estamos diante diante de um período p eríodo de perseguição contra os cristãos nessa região: risco de vida e toda sorte de tribulação rondavam o cotidiano dos crentes em Cristo – justamente por conta de sua fé. Por outro lado, e como resposta à perseguição - política, social e até religiosa (judaica e pagã) -, firmava-se a cada dia, no coração daquela gente a fé, a esperança e o amor. Por se tratar de uma comunidade em formação, onde os convertidos conv ertidos ao evangelho ainda estavam dando seus primeiros passos na fé, Paulo entende a necessidade de lhes escrever. Seu objetivo 100
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primário era lhes dar instruções sólidas que pudessem fortalecer sua fé, a fim de que pudessem enfrentar as dificuldades as quais estavam expostos. Vejamos agora, com maiores detalhes, algumas dessas dificuldades. O conteúdo desse tópico se s e aplica a ambas as cartas (1º e 2º essalonic essalonicenses) enses)
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C������� S����-H��������� A Economia: Economia: Conforme vimos anteriormente, essalônica funcionava a partir do regime imperial. udo o que se faturava no comércio, além do alto índice de impostos sobre sobre a terra e o que nela se produzia, era repassado em grandes escalas para Roma. As fontes de riqueza da cidade estão mal distribuídas gerando toda sorte de problemas e desigualdade social. Apenas uma pequena elite era favo f avorecida recida – deixando o restante restante em situações de pobreza extrema - pelas táticas de exploração do império romano em essalônica essalônica.. rata-se, rata-se, portanto, p ortanto, de uma economia economi a escravagista escravagis ta onde a vida humana é apenas um meio de conquis conquista ta para os poderosos. Vale ainda destacar que, em muitos casos, a prostituição na cidade era um imposição e para algumas mulheres única forma de sobrevivência. As Classes Classes Sociais: Com base no parágrafo acima é possível concluirmos que estamos diante de um cenário de divisão de classes e desigualdade social. Vejamos duas delas. (1) Classe Dominante: ratava-se da classe ligada ao império e mesmo em um contexto de opressão consegue alguns privilégios. Era constituída pelos políticos, chefes militares, grandes comerciantes, filósofos, cobradores de impostos e lideres religiosos (isso mesmo: lideres religiosos). (2) Classe Dominada: Constituída por trabalhadores, assalariados, prostitutas, domésticas, escravos e desempregados, era a classe oprimida pelo império e pela classe dominante. Estrutura utilizada segundo: FERREIRA, Joel Antônio. Epístola aos essalonicenses. Petrópolis: Vozes, 1991. 2
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A I����� �� T���������� Contexto Religioso Os cristãos convertidos, que começaram a fazer parte da d a igreja em essalônica, eram, em grande parte, pertencentes à classe dominada. Sendo assim, o evangelho é um anúncio de esperança aos dominados, aqueles que estão à margem do sistema imperialista romano, de uma sociedade injus injusta ta e de uma religião opressora. opressora. Podemos então concluir que a igreja surge como esperança para os oprimidos. A mensagem cristã e seu modo mo do de propor uma nova vida, através de uma comunidade de iguais e responsáveis uns pelos outros, gera no coração do povo a esperança de um modelo alterna alternativo tivo de vida. Nem todos estavam satisfeitos com essa proposta revolucionária. Os outros movimentos movimentos religiosos religiosos da época ép oca estavam a serviço ser viço do poder poder.. O judaísmo, judaísmo, por exemplo, seguindo o modelo palestinense dos dias de Jesus, estava corrompido e fazia o jogo dos romanos. Por isso, a igreja passou a enfrentar perseguições e tribulações. A classe dominante começava a se sentir incomodada com a mensagem de esperança e justiça propos proposta ta pelo ideal cristão. As perseguições são inevitávei inevitáveis. s. Mensagens Mensag ens apocalípticas nasceram nesse período como uma resposta de esperança e de certeza que Deus haveria de se manifestar. Há uma promessa no ar: um novo tempo será estabelecido e a justiça prevalecerá. Além disso, imperadores romanos se autointitulavam como deuses e a eles se deveria prestar culto. A carta de Paulo é, também, um desafio nesse sentido. Ele se refere a Cristo como sendo o Kyrios (Senhor) acima do imperador e único digno de ser cultuado. Mais um motivo para o contexto de extrema perseguição a qual estavam expostos os cristãos. A igreja, entretanto, resistiu e experimentou um período de solidariedade e amor uns para com os outros ainda que isso tenha custado c ustado à vida vid a de muitos deles. Vejamos Vejamos de que forma for ma Paulo apresenta a política do império e como contraponto a mensagem cristã:
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�. P������� C���� ��� T�������������� Essa carta foi escrita no ano 51dC. O motivo pelo qual a carta foi escrita é a descrição feita por imóteo, a Paulo, a respeito da igreja nascente. Os cristãos de essalônica permaneciam firmes na fé, esperança e caridade. Sua fé tinha sido aprofundada por causa das dificuldades e das provações. No entanto, a comunidade não tinha entendido bem a doutrina sobre a volta de Cristo, e se preocupava com seus membros mortos antes da vinda de Cristo. Isso gerava desvios morais, angústias, tristezas e até ociosidade. Essa carta tinha, basicamente, basicamen te, duas funções f unções3 : 1. Encora Encorajament jamentoo da fé fé dos cristãos e ação de graças por sua perseverança; É uma grande ação de graças pela realidade da Igreja de essalônica. É quase uma crônica emocionante, mas cheia de gratidão a Deus. Paulo lembra a sua expulsão de Filipos, o encontro com os tessalonicenses, a acolhida do anuncio do Evangelho, o período transcorrido na cidade, as dificuldades suas e dos cristãos, a viagem de imóteo e as boas notícias recebidas. E termina com uma oração para que Senhor faça crescer sempre mais os tessalonicenses no amor e na conduta irreprovável.
2. Corrigir os desvios que surgiram na comuni comunidade, dade, sobret sobretudo udo no que se refere aos mortos na ressurreição e sobre a segunda vinda de Cristo (4,13–5,10). Na segunda parte, prevalece os motivos de exortação, encorajamento, instrução (4,10ss; 5,12). Aqui Paulo se mostra como guia da comunidade. Fala com decisão, segurança e autoridade. Usa verbos no imperativo. Mas não se trata de uma exposição fria de princípios morais. Paulo fala ao coração e procura convencer. Percebe-se a consciência que Paulo tem de sua própria vocação apostólica. PERDONDI, Ildo. Apostila: Cartas Paulinas: 1º e 2º essalonicenses (não publicada). 3
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M�������: F�, A��� � E�������� No inicio da carta Paulo faz questão de destacar a fidelidade que demonstrava a Igreja, em meio à perseguição e tribulação. Esses cristãos estavam servindo de exemplo para os demais cristãos, na Macedônia e na Grécia. Paulo usa uma conhecida tríade de virtudes para destacar a atitude dessa Igreja: fé; amor e esperança (I s 1:3). Vejamos os desdobramentos teológicos dessa afirmação: 1. Fé que gera Obras: operosidade da vossa fé - obras que resultam resultam da fé: A fé não é conceitual, antes, pressupõe comprometimento que se traduz na construção de estruturas e relacionamentos baseados na ação em direção ao próximo. Infelizmente, para muitos, em nossos dias, a fé é sinônimo de confissão de crenças. É apenas uma área da vida (ligada a religião) e, por isso, não é o elemento que move e organiza a prática da vida. Para essa igreja a fé era dinâmica, estava em movimento, gerava algo de produtivo do ponto de vista do reino de Deus (fé encarnada). 2. Amorr que gera 2. Amo gera Sacrifícios: Sacrifícios: o esfor esforço ço motivado motivado pelo pelo amor amor : Quando pensamos em amor logo nos vem a nossa mente algo relacionado aos sentimentos. Pois bem, na bíblia não é assim e esse texto é uma prova disso. Ao se referir ao amor, amor, Paulo pressupõe decisão e sacrifício. Não se trata de sacrifícios como sinônimo de obrigação. Antes, sacrifício no sentido tirar uma pessoa de sua zona de conforto exigindo dela certa renuncia. Era assim que os cristãos daquela igreja estavam entendendo e praticando o amor mútuo. 3. Esperança que gera Responsabilidade - paciência proveniente da esperança: Lembre-se, o elogio de Paulo nasce em um contexto de sofrimento, tribulação e perseguição. Ao fazer referência a esperança, o Apóstolo menciona uma energia que fundamenta a vida daquela igreja. Não se tratava de mero futurismo, futurismo, ou de uma esperança alimentada pela fuga f uga da realidade (embora alguns assim a entendiam) para um mundo de sonhos. A esperança no amanhã era a base para a construção da vida 104
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hoje. Vida com responsabilidade diante de tantos desafios. Esperança em algo concreto que luta pela transformação do presente pautado em categorias do futuro.
I���������� Além dos elogios, essa carta destaca algumas instruções práticas de Paulo frente aos desafios que enfrentava a Igreja. Moral Sexual e Ma Moral Matrimonial: trimonial: 1s 4:3-8 Os escritos escritos são para recém-convertidos, recém-convertidos, vindos do paganismo paganismo cujas práticas sexuais e matrimoniais negavam ao outro o respeito, o amor e a fidelidade. A preocupação de Paulo, e a essência de sua mensagem sobre o tema, não é um moralismo moral ismo barato, antes, é apresentar apresentar o ser- humano como alvo do amor do respeito e da fidelidade de um outro ser-humano. •
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Amor Fraterno: Fraterno: 1 1ss 4:9-12 4:9 -12 O amor amor fraterno deveria ser a marca fundamental de uma igreja que nasce em um contexto onde o amor e a fraternidade eram negadas pelos governantes, governantes, pela sociedade so ciedade e pelas religiões. Esse amor implica o cuidado uns com os outros, ma se alguns deixarem de cumprir sua parte (v.11) esse processo pode estar comprometido. 1ss 5:12-22 5: 12-22 Vida Comunitá Comunitária: ria: 1 1. Pedido para que a igreja reconheça e respeite seus lideres (provavelmente esse pedido nasce de um problema de exortação dos lideres para com os demais participantes); (2) Vivam em Paz! Paz não é um sentimento ou uma sensação de ausência de guerra. Antes, o desafio da construção de uma vida pautada pela justiça como direito de todos; (3) Advirtam os ociosos, confortem os desanimados, auxiliem os fracos, sejam pacientes com todos, não retribuam o mal com o mal, sejam bondosos. (4) Alegrem-se sempre (mesmo com as tribulações). (5) Orem sempre (como exercício de relação com Deus e não de interesse pelos seus favores). (6) Deem graças em todas as •
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circunstancias (gratidão deve ser a superação de toda e qualquer circunstancia contraditória). (6) Não apaguem o Espírito. Ou seja, não permitam que os movimentos da vida sejam dados sem o fôlego do Espírito.
E�������� � I. Saudação (1.1) II. História (1.2 - 3.13) A. As bases de Paulo para as ações de graças (1.2 - 2.16) 1. Sua Sua eleição mostrada em fé, amor e esperança (1.2-10) 2. O frutífero ministério dos missionários entre eles (2.1-12) 3. Seu recebimento do evangelho como a Palavra de Deus (2.13-16) B. A ausência de Paulo explicada (2.17—3.10) C. A oração de Paulo (3.11-13) III. Instrução (4.1—5.22) A. Ética (4.1-12) 1. Mo Moralidade ralidade sexual (4.1-8) 2. Amor fraternal e testemunho (4.9-12) B. Escatologia ( 4.13 - 5.11) 1. Os mortos (4.13-18) 2. O dia do Senhor (5. 1-11) C. Vida Congregacional (5.12-22) IV. Oração final, incumbências e bênção (5.23-28) Deixamos de fora três importantes instruções de Paulo: os mortos a ressurreição e a vinda do Senhor. Esses temas devem aparecer nos materiais de apoio. Fique Atento! 4
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Extraído das da s Notas Introdutórias Introdutórias da Bíblia de Estudo de Genebra: I essaloni essalonicenses. censes.
PERDONDI, Ildo. Apostila: Cartas Paulinas: 1º e 2º essalonicenses (não publicada). 6
BARCLAY, William. Comentário do Novo estamento: II essalonicenses - p. 15,16 (versão digitalizada). 7
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Extraídoo das Notas Introdutórias da Bíblia de Estudo de Genebra: II essaloni Extraíd essalonicenses censes
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�. S������ C���� ��� T�������������� A segunda carta também é de autoria do Apóstolo Paulo. Ela foi escrita, alguns meses depois da primeira Carta e praticamente tem o mesmo objetivo. O Apóstolo procura desfazer as ideias de uma volta iminente de Cristo descrevendo os sinais que precederão Sua vinda (2,1-12) e exortando todos a se dedicarem ded icarem ao trabalho (3,10-12). “Os cristãos deveriam esperar com paciência à vinda de Cristo, portanto,, devem trabalhar e inserir-se na vida social, ganhando portanto o pão de cada dia com o trabalho (cf. 2s 3,5-15). A história humana prossegue o seu curso, sem que possamos estabelecer a data do seu fim” 6
M�������: U�� I����� ����� �� V��� As características de uma “igreja viva” aparecem, em diversos comentaristas comenta ristas e estudiosos, como sendo um de seus temas centrais da carta. Vejamos o esquema proposto por Barclay. 7 1. Uma fé firme. É característico do cristão maduro que já superou a ideia limitada de fé enquanto crença divorciada das questões concretas da vida. 2. Um amor crescente. Uma Igreja cresce quando seu serviço faz-se cada vez maior. Isto é quase inevitável. Um homem pode começar servindo a seus semelhantes como um dever da fé cristã que professa, mas terminará agindo assim porque encontra nisso seu maior prazer. prazer. A vida egoísta nunca é a mais feliz. A vida de serviço opera a grande descoberta de que a abnegação e a felicidade vão de mãos dadas. 3. Uma perseverança constante. Paulo emprega uma magnífica palavra que se traduz por resistência; mas não significa a qualidade passiva de suportar tudo o que nos acontece; descreveu-a como “uma perseverança enérgica na prova”. Descreve o espírito que não só suporta pacientemente as circunstâncias em que se encontra, mas também as domina e as aproveita para fortalecer sua própria vida. Aceita os embates da vida mas ao aceitá-las transforma-as em umbrais de novas conquistas.
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E������ I. Saudação (1.1-2) II. Os motivos de Paulo para se jactar (1.3-12) A. Foi forte, quando perseguido (1.3,4) B. Será glorificado no reto retorno rno de Cristo (1.5-10) C. Oração pela Obra da Fé (1.11-12) III. Instrução (2.1-3.15) A. O Dia do Senhor (2.1-12) B. Oração e exortação (2.13-3.5) C. O rabalho (3.6-15) IV. Saudação final e bênção (3.16-18).
C�������� Por hoje é só, pessoal! Existem ainda muitos assuntos a serem observados a respeito das cartas aos tessalonicenses, mas nosso espaço é curto. Para aqueles que querem se aprofundar nesses estudos sugiro a leitura do livro de Joel Antônio (Epístola aos essalonicenses) que se encontra na bibliografia abaixo, e tanto outros sobre o assunto. Na próxima unidade daremos continuidade as cartas maiores. Falaremos sobre os “evangelhos de Paulo”: carta aos gálatas e as romanos. Até breve!
R����������� B������������� R��������� BARCLAY, William. Comentário do Novo Testamento: II essalonicenses - p. 15,16 (versão digitalizada). FERREIRA, Joel Antônio. Epístola aos Tessalonicenses. Petrópolis: Vozes, 1991. 108
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I��������� �� N�� N��� � T��������� U������ - �� C����� P������� - M������ G������ � R������ F����� H������� / W����� �� L��� P������
I��������� Na unidade de hoje faremos uma pequena introdução as cartas de Paulo aos Gálatas e aos Romanos. A carta aos Gálatas pode ser considerada, ao lado de Romanos, o texto que melhor revela a teologia paulina, sendo por isso mesmo às vezes chamada de “evangelho de Paulo”. Nesses textos, o apóstolo expõe com profundidade e paixão grandes verdades da mensagem cristã frente aos grandes embates que se apresentavam na ocasião, especialmente envolvendo o judaísmo apegado à Lei e à tradição judaizante.
O�������� 1. Apresentar um breve panorama sobre as cartas paulinas aos Gálatas e aos Romanos.
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CARTA DE PAULO AOS GÁLATAS �. C������� C ������� H�������� H�������� Os Gálatas Gálatas eram tribos celtas originárias da Ásia. Inimigos Inimigos dos romanos durante algum tempo, foram batidos pelas legiões em 189 a.C. Mas os vencedores se mostraram magnânimos e concederam aos Gálatas ampla autonomia. Um século mais tarde, em recompensa pelo auxílio prestado aos exércitos romanos em luta contra Mitridates, os Gálatas tiveram seu reino aumentado na direção sul, com anexação de vários territórios estrangeiros. estrangeiros. Com C om a morte de Amyntas Amyntas,, o ultimo rei dos Gálatas, em 25 a.C., todo o território passou ao domínio dos romanos roman os que fizeram da região uma só província de Norte a Sul. Essa província pro víncia ficou conhecida por p or Galácia. A Galácia do Sul, localizada na região da Pisidia, Pisidia, Icônio Icônio,, Listra e Derbe, foi visitada por Paulo provavelmente durante sua primeira viagem missionária. Conforme At. 13:14 55, Paulo fundou igrejas na região, as quais foram visitadas posteriormente durante sua segunda viagem mission missionária ária (At (At.. 16:1). No decorrer dessa segunda viagem também passou pela Galácia do Norte onde fundou novas igrejas, que foram visitadas no decorrer de sua terceira viagem missionária (At. 18:23).
D������������ Os destinatários da epístola estavam estabelecidos na região de Ancira, ao Norte, ou habitantes da parte meridional da província romana, que Paulo evangelizou em sua primeira missão (At 13 e 14). A princípio imagina-se que Paulo escreveu a todas as igrejas da província da Galácia, Norte e Sul. No entanto, em At 16:6 e 18:23, ao citar a região da Galácia, a Frigia sempre é mencionada, e os estudiosos afirmam que sua menção serviu para marcar o percurso de Paulo ao rumo Norte. Alguns estudiosos entendem que esta epístola é endereçada aos cristãos de origem céltica da Galácia do Norte Norte,, a região de Pes Pessino sino e de Ancira. Outros, porém, afirmam que nesta epístola Paulo Paulo se dirige aos Gálatas que vivem no interior da Ásia Menor, visitados durante sua 2ª e 3ª viagens missionárias. missionárias. 110
Introdução ao Novo Testamento
A������/D���/L����/O������� Paulo escreve aos Gálatas, e não há divergência entre os estudiosos quanto à sua autoria, em cerca de 54 ou 55 d.C. Ele estaria em Éfeso ou Corinto. Seu objetivo maior é corrigir ensinamentos doutrinários errôneos, introduzidos naquela comunidade por um grupo que pode ser chamado de ‘judaizantes”, os quais se aplicavam em trazer de volta a obediência à Lei. Paulo defende a justificação pela fé, bem como a liberdade e unidade em Cristo Cristo..
�. C������� P������� Sendo a Galácia uma província do Império romano na época de Paulo, é necessário conhecermos um pouco sobre essa organização imperial. Nesta época estava em relevância a chamada PAX ROMANA, não havia guerras civis, as colônias começaram a receber maior atenção e havia circulação de navios com segurança por todo o império, além da intensificação do comércio através do sistema de estradas que ligava as regiões litorâneas e o interior. Para as províncias, o imperador enviava governadores e cobradores de impostos. Ao imperador era conferido todo o domínio civil e militar. Era considerado de caráter sacrossanto, sacross anto, chefe de religião estatal estata l e venerado em todo o império. A lei da majestade” considerava crime tudo o que atingisse por palavras ou atos a pessoa do imperador. Este é o homem de guerra, maior latifundiário, o centro do poder político, econômico e religiosos. em atrás de si o exército, sustentado pela economia.
�. C������� S����� O mundo romano era marcado pela estratificação social. Esta se dava devido às circunstâncias de nascimento, riqueza, privilégio, educação,, profissão, educação profissão, religião, sexo e grupos. Enfim, raça, cultura, religião, fatorr econômico e família dividiam pessoas. fato Gálatas 3:28 parece indicar estratificação na sociedade Gálata. ais divisões eram raciais e culturais: «Judeu nem grego”; econômicas: ”Nem escravo, nem livre”; também na família: “homem e mulher”. Primeiro grupo, ou grupo da elite, era constituído dos cidadãos romanos, dos proprietários de escravos e da aristocracia. No império 111
romano era muito comum a escravidão, principalmente daqueles povos conquistados conquis tados nas batalhas. Seja no ambiente judaico, palestinense, helenístico e greco-pagão, a mulher era indubitavelmente subordinada ao homem, com a total exclusão da vida social e pública. Somente algumas senhoras de alta condição e as matronas romanas mantinham mantinham certa cer ta emancipação. emancipaç ão. De igual modo, as cortesãs e as prostitutas de alto a lto bordo, companheiras de homens ricos e poderosos, tinham participação ativa na vida social e cultural. A mulher precisava usar véu sobre a cabeça para não ser reconhecida. Não podia sozinha conversar com um homem ou ser cumprimentada. Devia apenas cuidar dos trabalhos domésticos. Judicialmente eram consideradas incapazes de depor ou testem testemunhar unhar no tribunal, tr ibunal, exceto nos casos em que era válido também o testemunho de escravos ou de pagãos. Isso demonstra demonstra que a personalidade p ersonalidade jurídica da mulher era equiparada e quiparada à do menor e à do escravo, que tinha acima de si, tutor ou senhor.
�. C������� E�������� No império romano havia intercâmbios comerciais. Os produtos eram transportados por mar e por terra. Por mar, o Mediterrâneo ligava um extremo a outro do império. Por terra isso era feito através de uma importante rede de estradas que ligava todas as partes do mundo romano. Mas, a vida econômica do império romano tinha como base a agricultura. As primeiras propriedades rurais eram pequenas. Mais tarde, porém, os ricos se apossaram dos grandes latifúndios e quem trabalhava nessas propriedades eram os escravos que mais tarde foram substituídos por arrendatários chamados coloni. rata-se, portanto, de um modo de produção escravagista, que era caracterizado pela assimilação de uma classe, força força de trabalho, a um meio de produção. Criada pela violência, a classe dos escravos é mantida pela mesma violência, não sendo necessário obter o seu consenso. O escravo era tratado sem direito algum, era violentado e não recompensado pelo seu serviço. ser viço. Nem sequer eram considerados considerados como pessoas.
�. C������� R�������� Certamente, os romanos trouxeram para a Galácia muitos escravos para o trabalho nos grandes latifúndios. Isto gerou miscigenação e sincretismo religioso (pluralismo religioso). Ha Haviam viam religiões cósmicas, 112
Introdução ao Novo Testamento
chamadas por Paulo de rudimentos do mundo, que consideravam divinos o sol, as estrelas e os astros; haviam também os cultos-mistéricos, nos quais a participação do fiel na doutrina secreta do culto era total; já as “r “religiões eligiões não cósmicas cósmicas”” valorizava valorizavam m as experiências religiosas individuais, um exemplo destas, era o judaísmo. Havia diversidade de cultos e todas as religiões eram toleradas. Os religiosos, religiosos, que tinham um poder aquisitivo aquisitivo maior maior, possuidores possuidores de escravos, latifundiários, etc, respiravam um ar ilusório de liberdade. odos se achavam livres. No entanto, Paulo, provavelmente em sua segunda viagem missionária e por causa de uma enfermidade (Gl 4:13), leva aos Gálatas a mensagem da verdadeira liberdade que está em Cristo e não na lei. Sua mensagem é aceita, nascendo assim novas comunidades comunidades cristãs. Algum tempo mais tarde, porém, um grupo de “irmãos”, que podem ser chamados de ‘judaizantes”, entraram nas comunidades da Galácia e procuravam destruir o trabalho que Paulo havia realizado. Diziam que, para a obtenção da salvação, eram necessárias a circuncisão e a observância obser vância da Lei. Uma parte da comunidade já havia aderido a esse novo apelo. Outra continuava fiel ao que Paulo tinha ensinado. Paulo estava em Éfeso ou em Corinto Corinto,, quase no fim da terceira viagem, vi agem, quando soube do ocorrido. Ficou furioso. Então escreveu a carta que é um grito de protesto. Ou seja, sabendo das pressões que sofriam os Gálatas, Paulo escreve-lhe uma carta repreendendo e acusando esses intrusos judaizantes judaizan tes de falsos mestres, que estava estavam m desviando suas atenções da verdadeira mensagem mensagem libertadora.
�. M������� - A Verdade do Evangelho: A epístola aos Gálatas é muito mais do que texto apologético no qual Paulo defenderia a sua concepção de missão. O que estava em jogo não era uma “pastoral” nem um método missionário, mas a natureza do Evangelho, a sua “verdade” (2:5,14). Que pudesse haver dois tipos de evangelização, um adaptado aos circuncisos e outro, aos gentios, Paulo não o contestava (2:7-9). Mas só podia haver um Evangelho, anunciado por todos os apóstolos (cf. 1 Co 15:11), Evangelho que Paulo resume em alguns versículos de densidade excepcional (2:16-21). O ser humano não é justificado pela prática da Lei, L ei, mas unicamente pela fé em Cristo (2:16). O acesso à justificação é o mesmo para o judeu e para o gentio, de modo que, neste sentido, pode-se dizer que as antigas 113
categorias não valem mais: “Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre” (3:28). Imporr a prática da lei como condição necessária para a justificação Impo é confessar que a morte de Cristo na cruz foi ineficaz: “Se é pela Lei que vem a justiça, então Cristo morreu em vão vão”” (2:21). Exigir a circuncisão dos não-judeus é impor-lhes impor-lhes o jugo da escravidão da qual Cristo os libertou, liber tou, é exclui-os de Cristo e fazê-los “decair da graça”, porque em Cristo nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm valor. A única que vale é a fé que age pelo amor (5:4). Qualquer outro evangelho (que não seria, na verdade, evangelho evangelho,, “Boa Nova Nova”) ”) significaria retorno à escravidão. escravidão.
CARTA DE PAULO AOS ROMANOS �. C������� C ������� H�������� H�������� A Cidade de Roma Possuía cerca de um milhão de habitantes nos dias de Paulo. Cidade sem regras morais, marcada pela corrupção, pela idolatria e pelo pecado, como por exemplo, o homossexualismo em grande escala (Rm. 1:18-27). Roma era o espelho do mundo pagão: riqueza, miséria, depravação moral. moral. Igreja a quem Paulo destinou a carta não foi plantada por ele. Surgem duas hipóteses quanto à origem da mesma: (1) Os peregrinos de Jerusalém, no Pentecostes do ano 30, incluíam “visitantes romanos”: tanto judeus como prosélitos. endo se convertido naquele dia, levaram o evangelho para a grande metrópole. (2) ”odos os caminhos levavam a Roma”. Por se tratar de um grande centro, atraía pessoas de diferentes lugares. Assim, seria inevitável que o Evangelho chegasse lá. Portanto, foram cristãos simples e comuns os primeiros a levar o Evangelho àquela cidade e implanta-lo ali, provavelmente junto à comunidade judaica da capital, uma vez que esta já existia em Roma desde o 2º século a.C., quando judeus foram para lá conduzidos como prisioneiros de guerra, sendo posteriormente colocados em liberdade. A princípio, a comunidade era composta basicamente de judeus. Porém, com a expulsão destes em 49 d.C., a comunidade continuou a existir através dos gentios conversos. Quando os judeus retornaram, os gentios se tornaram tornaram maioria. maioria. Quanto ao aspecto sócio-econômico, sócio-econômico, se a listagem de Rm. 16 se refere, de fato, à comunidade romana, podemos supor que determinados membros possuíam um nível cultural e econômico elevado. ambém compunham aquela comunidade muitos escravos. 114
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�. A E������� ��� R������ Romanos tem um lugar de honra entre os escritos do apóstolo Paulo. Historicamente isto se dá não só por ser a epístola mais extensa, mas principalmente porque a mesma merece o título de “Evangelho segundo são Paulo”. Foi a última carta escrita por Paulo, antes do seu prolongado período de prisão (2 anos Cesaréia, 2 anos Roma). É anterior à de Colossenses e aos Efésios e às pastorais. A esta conclusão pode-se chegar mediante evidências externas (conforme análise feita por pesquisadores e comentaristas), por indicações cronológicas e pelo estudo do assunto de que trata. Autoria, Au toria, Local e data: A grande maioria dos comentadores data a epístola dos anos 57/58, mais precisamente no começo de 58, quando Paulo permaneceu por três meses em Corinto. Há consenso de que Paulo seja o autor desta epístola, quando provavelmente encontrava-se na casa de Gaio, sendo ércio seu redator (Rm. 16:22,23). Objetivos: Primeiramente, o apóstolo desejava preparar a igreja para uma visita sua àquela comunidade, uma vez que pretendia viajar à Espanha, fazendo escala em Roma (Rm. 15:22-24). Outro motivo é promover a unidade entre judeus e gentios naquela comunidade, pois continuavam marcados por suas respectivas origens, tendo dificuldades de convivência. Por isso Paulo se dirige a ambos, pregando união e mútuo acolhimento, usando com freqüência o binômio “judeus/gentios” / ou: “circuncisão” / circuncisos / incircuncisos” (1:14-16; 2:9-10, 25-29; 3:929; 4:9-12; 15:8-9). Outros dois temas fortes da carta são o senhorio de Cristo. Crítica das formas e da redação: Para eruditos há razões para terem sido feitas outras cópias desta carta e enviada a outras igrejas. Uma das razões é a circulação da carta sem o capítulo 16. Ela teria sido enviada com o capítulo 16 a uma igreja apenas. É possível possí vel que Paulo Paulo mesmo tenha sido o responsável pelo envio de cópias a várias igrejas (pelo conteúdo doutrinário; pelo seu temor 15:31, quis deixar às igrejas gentílicas uma espécie de testamen testamento). to). A circul circulação ação das cartas nas comu comunidades: nidades: O exemplar mandado para Roma certamente foi guardado como tesouro na igreja daquela cidade, e sobreviveu à perseguição persegui ção de 64. Em 96, Clemente é o “secretário estrangeiro” da igreja romana, e divulga a Carta dos Romanos às demais comunidades através dos seus escritos (como por exemplo, na epístola 115
que envia aos Coríntios). ustificação; Salvação pela fé; Cristo Cr isto,, o Principais Temas Teológicos: J ustificação; segundo Adão; O Batismo; A Lei; O mistério de Israel.
Estilo e Gênero: 1. O texto é de gênero hínico: Seriam hinos hinos cantados nas comunidades da época: 8:31-39; 11:33-36; 16:25-27. 2. Gênero homilético (um sermão): Se dá quando o apóstolo apóstolo se utiliza de argumentos escriturísticos, ou seja, recorre a textos do A.. Para elucidar elucidar seus escritos: 3:4-20; 4:3-23; 9:6-33. 3. Método Estóico: método filosófico para persuasão das pessoas: 3:5; 4:1, 9-10; 6:1, 15-16; 10:18-19. É um tipo de interpelação, como se alguém estivesse perguntando. perguntando.
C�������� Me arrisco a dizer que um curso a parte p arte seria necessário para tamanha riqueza encontrada nessas duas belíssimas cartas. A profundidade teológica e toda a construção do texto como resposta aos contextos imediatos comprovam o nome dado a ambas: o evangelho segundo Paulo. Não é de se admirar que importantes nomes dentro da história da Igreja revelam um apreço especial por esses escritos (aos Romanos, por exemplo: Conversão de Agostinho; Conversão de Lutero; Despertamento de J. Wesley; eologia de K. Barth, entre outros). Incentivo cada um de vocês a se aprofundar aprofundar na leitura leitura e reflexão desses desses textos. Até Até breve!
R����������� B������������� R��������� CULLMANN, O. A formação do Novo Testamento. São Leopoldo: Sinodal, 1984. HALE, D. Introdução ao estudo do Novo Testamento. Rio de Janeiro:JUERP, 1986. KÜMMEL, W.G. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulinas, 1982. HEISSEN, G. Sociologia da cristandade primitiva. São Leopoldo: Sinodal, 1987.
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Introdução ao Novo Testamento
I��������� �� N�� N��� � T��������� U������ - �� C����� P������� - M������ �º � �º C�������� F����� H�������
I��������� Olá, pessoal! Na unidade finalizaremos o bloco de “cartas maiores” do apóstolo Paulo. Falaremos sobre duas as cartas enviadas aos Coríntios. A primeira coisa que devemos ter em mente ao estudarmos esse tipo de texto Bíblico é que estamos, literalmente, diante de uma carta (cartas). Isso significa que não lidando com um tratado teológico que aborda assuntos universais. Antes, se dirige a determinadas pessoas, em um momento determinado da história, para tratar de situações concretas. Provavelmente nasce como resposta a algumas perguntas feitas através de carta enviada anteriormente ao apóstolo Paulo. Ressalta os aspectos de um assunto que no momento são importantes para aquela comunidade. Por esses motivos a compreensão de uma carta também depende de que tenhamos certa imagem das pessoas a quem ela se dirige, como viviam, quais eram seus problemas, etc. “Se não formos capazes de obter uma imagem clara, ou pelo menos suficientemente clara, estaremos diante de uma barreira intransponível para o entendimento” (BOOR, 2004, p.6). Com base nisso, torna-se tarefa indispensável acessar o máximo de informações possíveis a respeito do contexto de Corinto. Não temos espaço para nos aprofundarmos nas questões, por isso, abordaremos apenas algumas questões que julgamos primárias nesse processo de aproximação contextual. Vamos lá!
O�������� 1. Apresentar Apresentar um breve panorama sobre as cartas paulinas p aulinas de 1º e 2º Coríntios. 117
CARTA DE PAULO AOS CORÍNTIOS � �. A C����� �� C������ A cidade de Corinto era uma cidade portuária e estava localizada entre os mares Egeu e Adriático. Em virtude de sua localização, era uma cidade especialmente apropriada para a navegação e o comércio. Sendo cidade portuária, Corinto era extremamente cos¬mopolita e atraía pessoas de todos os países. emplo, santuários e altares eram comuns na cidade. A prostituição era um grande negócio e várias prostitutas - de cabeça raspada: por isso a instrução de Paul Pauloo para que a mulher mulheres es cristãs não cortassem os cabelos - circulavam pelas ruas. Existiam ainda as prostitutas sagradas que através de rituais seduziam os homens – com Paulo lo para que as mulher mulheres es cristãs os cabelos: por isso a instrução de Pau colocassem um véu na cabeça - e punham à disposição de qualquer um no templo da deusa grega Afrodite. “Os arqueólogos têm descoberto muitas taças para servir bebidas nessas adegas de licores; licores; e algumas delas trazem inscrições como “Saúde”, “Segurança”, “Amor”, ou nomes de divindades diversas” (GUNDRY (GUN DRY,, 1998, 19 98, p.201). Por conta do turismo e do movimento comercial muitas pessoas enriqueceram. Corinto era uma cidade próspera. Mas, nem todos desfrutavam desta riqueza. Circulavam por ali multidões de pobres, escravos e miseráveis. A riqueza da cidade era usufruída pelos grandes comerciantes, industriais, latifundiários, banqueiros, militares e os representantes represen tantes do imperialismo e da ideologia dominan dominante. te. Eram grandes as diferenças sociais em Corinto Corinto..
�. A I����� �� C������ Assim como em outros lugares, também em Corinto, Paulo começou sua proclamação proclamação em uma sinagoga. É daí que surge a igreja em Corinto. Entretanto, embora nasça em um ambiente judaico, a igreja é formada essencialmente por gentios. A igreja era profundamente influenciada pelo ambiente religioso sincrético que pairava na cidade. Isso criou uma série de problemas para Paulo. A mensagem central do evangelho estava ameaçada e outras doutrinas se instalavam com facilidade no meio da igreja. Além disso, crises de ordem moral-comportamental eram constantes, principalmente de ordem sexual. 118
Introdução ao Novo Testamento
A realidade social e econômica também refletia diretamente na comunidade cristã. Faziam parte da comunidade escravos e miseráveis, miseráveis, mas também pessoas abastadas. Os fortes contrastes sociais da cidade penetravam na igreja e ameaçavam sua unidade. Nas refeições comunitárias, por exemplo, alguns passavam fome e outros se fartavam. Esse tipo de situação - e tantas outras que mencionaremos posteriormente posteriormente - acabou se transformando em fator determinante para que Paulo escrevesse suas duas cartas a essa comunidade. O apóstolo ouvia muitas coisas a respeito da igreja, ig reja, e isso lhe causava intensa intensa preocupação. 1
O conteúdo desse tópico tópico se aplica a ambas as cartas (1º e 2º Coríntios). C oríntios).
�. A �������� ����� ��� C�������� Introdução A primeira carta aos Coríntios aborda as condições e aflições concretas dessa igreja específica. A epístola foi escrita por Paulo na cidade de Éfeso, durante a primavera de 54 ou 55 d.C. O seu objetivo foi corrigir erros que estavam corrompendo profundamente o conteúdo da mensagem cristã. Kümmel (1982, p.350) entende que “Paulo soube das distorções e problemas que estavam assolando a comunidade, através de pessoas da casa de Cloé” - (1 Cor. 1:11). A epístola de Paulo foi endereçada aos causadores de tais problemas, problemas , ou seja, àqueles que estavam causando divisões e partidarismos, que estavam lutando por status dentro da comunidade, que recorriam aos tribunais, que promoviam festas e banquetes, incorporando nestes a Ceia C eia do Senhor. Portanto, Portanto, os destinatários e leitores da carta são, sã o, por excelência e de forma primeira, os ricos e dominan dominantes, tes, os quais haviam assumido o comando da comunidade. Ao se dirigir a esse grupo Paulo defende com coragem a causa dos empobrecidos e marginalizados da comunidade, tomando-se a “voz” dos mesmos.
P��������� P������ ��� T���� Vejamos, nesse tópico, alguns dos temas apresentados na carta. Apresentaremos apenas uma visão geral dos temas já que o espaço – e o próprio próprio objetivo da aula - não nos perm permite ite maior aprofundamento e análise. O critério que utilizei para selecionar esses temas é uma aposta que faço na proximidade dos mesmos com a realidade da igreja i greja brasileira. 119
Isso não signi significa fica menor valor dos temas que aqui não aparecem. Nossa abordagem será contextual e tentará apontar os problemas os quais levaram Paulo a escrever sobre cada tema.
1:10-17 Divis ão na Igreja - 1 Coríntios Divisão Coríntios 1:10-17 Um dos temas abordados logo no início da carta, que chama nossa atenção, atenção, é a divisão. Existiam diferenças sociais - ricos e pobres; senhores, escravos e homens homens livres; livres; intelectuais intelectuais e os que não tinham instrução; judeus e gentios; etc. – e partidárias. Paulo identifica a divisão e sabe que suas consequências são incoerentes incoerentes com a identidade da igreja de Cristo e com a fé fé cristã. Ele então escreve sobre sobre esse problema na tentativa de corrigir tais tendências. Sobre os partidos, por exemplo, exemplo, vale destacar que haviam pelo menos três. Consider C onsideremos emos cada um deles e suas principais principais características: 2 1. Havia aqueles que diziam pertencer a Paulo. Sem dúvida este era um partido formado principalmente por gentios. Paulo tinha pregado sempre sempre o evangelho da liberdade cristã e do fim da lei. 2. Havia o partid partidoo que sustentava que perten pertencia cia a Apolo. Os que diziam pertencer a Apolo eram, sem dúvida, os intelectuais que estavam fazendo com que o cristianismo se convertesse rapidamente em uma filosofia em lugar de uma religião. 3. Ha Havia via os que diziam diziam pertencer a Cefas. Este é o nome judeu de Pedro. O mais provável é que se tratasse de judeus que tentavam ensinar que o homem devia ainda observar a lei judia. Eram legalistas que exaltavam a lei, e que ao fazê-lo, diminuíam diminuíam a graça. •
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Extraído das da s Notas Introdutórias Introdutórias da Bíblia de Estudo de Genebra: I essaloni essalonicenses. censes.
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Ceia do Senhor - 1 Coríntios 11:17-34 No surgimento da igreja (período apostólico) a ceia era também chamada de Ágape ou Festa de Amor (Jd v.12). Esse nome é muito sugestivo já que reflete parte do propósi propósito to da ceia. As ênfases na expressão corpo que encontramos no ensino bíblico da ceia, reflete esta visão de unidade e comunhão. A mesa é um lugar de comunhão em praticamente quase todas as culturas e épocas. A mesa do Senhor traz também esta característica. 120
Introdução ao Novo Testamento
A Igreja primitiva entendia muito bem esse princípio e buscava coloca-lo em prática. prátic a. odos odos os cristãos cristão s participavam particip avam e cada família levava a comida que podia. Juntavam-se então as contribuições, sentavam-se e tinham uma refeição em comum. A Igreja de Corinto, Corinto, por sua vez, era uma exceção à regra. A ceia (festa do amor) estava comprometida exatamente em sua essência. Na Igreja havia ricos e pobres; alguns podiam levar muito, e havia escravos que com muita dificuldade podiam colaborar com muito pouco - na realidade para muitos escravos e pobres, a Festa de Amor era a única oportunidade de uma comida decente na semana. Em Corinto se perdeu o sentido da comunhão e de compartilhar o pão. Os ricos não compartilhavam seus mantimentos, antes, os comiam em pequenos grupos fechados negando o principio da partilha (compartilhar o pão). Dessa forma, a comida pela qual as diferenças sociais deviam desaparecer só servia servi a para aumentar e agravar essas mesmas diferenças.
12:1-11 Dons Espirituais - 1 Coríntios Coríntios 12:1-11 O objetivo de Paulo nesta seção é enfatizar a unidade essencial da Igreja. Unidade, entretanto, não significa uniformidade e a diversidade deve ser considerada e valorizada, sem que isso, entretanto, cause problemas problem as e divisões. A Igreja é o corpo de Cristo e a característica de um corpo é que cada parte do mesmo realize sua própria função para o bem do todo. Dentro de uma comunidade de fé existem diferentes dons e funções; mas cada um(a) deles(as) provém do mesmo Espírito, e cada um(a) deles(as) está a serviço do corpo para sua edificação. A Igreja em Corinto não estava sabendo lidar bem com esses princípios. Havia Havia disputas, ciúmes, contendas e divisões em torno do tema. Alguns, por falta de conhecimento, acreditavam que alguns dons eram mais importantes que os outros. Essa crença procedia da lógica humana de avaliar os dons a partir do status produzido pela manifestação deste o daquele dom. Haviam desejos por alguns dons que evidenciassem as pessoas colocando-as em posições de influencia sobre s obre os demais. A busca pelos dons se tornou um exercício de busca pelos próprios interesses e pelo desejo de poder e influência na comunidade e pelo desejo de glória para si mesmo, já que alguns dons eram colocados em destaque em detrimento de ouros menos visíveis pelas pessoas. p essoas. Um exemplo desse problema poderia ser observado quando o assunto era o dom de línguas. “O dom de línguas é um dom misterioso que trás revelação. É também um dom extraordinário, espetacular, que •
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pode ser visto. É um dom sensível e logo percebido. Em Corinto havia o mesmo problema de hoje em algumas igrejas. Quem tivesse este dom era considerado o mais espiritual.”3 Paulo, então, afirma que os dons são diversos, mas que todos servem para o mesmo propósito. Lembra ainda que Espírito é o mesmo, Ele é quem distribui os dons.
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Amor: Um Caminho Excelente - 1 Coríntios 13:1-13 Diante de tantos desencontros, o amor se torna o centro da mensagem dessa carta. O amor deveria ser observado como forma de organizar e modelar a vida comunitária e, assim, corrigir todo tipo de divisão, partidarismos e discórdias. Esse tema aparece no capítulo 13 e está assim organizado:
BEZERRIL, Moisés. Artigo: Dons Extraordinários. Site: http://www.monergismo. com 3
�. A ������� ����� ��� C�������� Introdução A primeira carta de Paulo aos Coríntios está claramente focada em temas diversos da vida da Igreja. Seu conteúdo é uma resposta a alguns destes temas. A segunda carta, por sua vez, é uma carta pessoal: 1. carregada de sentimentos íntimos do apóstolo e expressões de emoção profunda; 2. discursos sobre si mesmo; 3. defesa de seu ministério apostólico. Portanto, conforme escrevem alguns comentaristas bíblicos, estamos diante de uma epístola autobiográfica. Isso não significa que toda a sua estrutura esteja assim construída e nem que seu s eu conteúdo total total trabalhem na mesma perspectiva. O motivo defendido pela maioria dos 122
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estudiosos para esse tipo de abordagem na carta é de que existiam tensões entre Paulo e a igreja, e que essas tensões haviam se tornado intensas. O comentarista bíblico Werner Boor argumenta que: Nessa carta a força das circunstâncias o obriga a falar repetidamente de sua própria pessoa, bem como de sua atuação e de seu sofrimento. oda a carta soa como um “discurso de defesa”, ainda que Paulo não queira que seja entendida e lida nessa perspectiva (2Co 12.19). Ao escrever, Paulo está envolvido pessoalmente da forma mais intensa, embora para ele não esteja em jogo sua pessoa, mas Corinto e a igreja da cidade. Para a sobrevivência e o avanço dessa igreja é fundamentalmente importante que sua autoridade e proclamação sejam reconhecidas (BOOR, 2004, p.8).
Paulo escreveu então 2 Coríntios da Macedônia Macedôni a por volta de 55 D.C. D.C. Além de uma carta de defesa e reconciliação, Paulo Paulo tem por objetivo:
1. Expressar Expressar sua gratidão pelo arrependimento arrependimento e obediência renovada da igreja de Corinto (7.5-16). 2. Encora Encorajá-los já-los a completar completar a sua coleta coleta em favor favor dos cristãos pobres pobres de Jerusalém (capítulos 8; 9). 3. Defender o seu ministério contra as acusações de “falsos apóstolos apóstolos”” (11.13) em Corinto, o que estava desafiando a autoridade de Paulo e a integridade do seu ministério (capítulos (capítulos 10-13; ver também 3.16; 7.2).
P��������� P������ ��� T���� Gostaria de destacar nesse tópico de nossa aula um único tema: o serviço aos pobres. Esse tema aparece nos capítulos 8 e 9 da carta. A tradição deu a esse serviço o nome de coleta: “coleta para os pobres”. Entretanto, como bem pontua Comblin (1991, p. 115), “Paulo deu a esse serviço uma importância muito maior do que nós damos na atualidade a uma coleta. O nome coleta restringe muito o alcance do serviço aos pobres que Paulo aqui salienta”. Mais do que uma simples coleta, estamos diante do tema teológico/ mensagem central da carta. O serviço ser viço ao pobre faz parte da identidade da igreja fundamentada em Cristo (fundador e dono da igreja). É na pessoa p essoa 123
de Cristo, o modelo de vida para construção de uma comunidade de fé (cristocêntrica), que Paulo encontrava encontrava a base para sua argumentação em defesa do serviço aos mais necessitados. Esse era o desafio de Paulo para a igreja em Corinto nesse momento da história. Conforme já abordamos acima, o serviço aos pobres está intimamente ligado à proclamação do evangelho do Reino, expressa na vida e obra de Jesus de Nazaré. Portanto, Portanto, ao desafiar a igreja de Corinto C orinto a prática do cuidado com os pobres, Paulo está lhes convocando a obediência e a essência da vida cristã. Eles teriam a oportunidade de dar continuidade ao movimento de Jesus priorizando aqueles os quais estão à margem da sociedade. Eles deveriam se sentir privilegiados em partilhar seus bens em sinal da presença do corpo vivo de Cristo (sua igreja) que continua pisando essa terra. Porém, eles não deveriam entender essa prática como atividade isolada ou um projeto de ação social como dia e hora para acontecer acont ecer e também para acabar. acabar. Cuidar dos necessitados deveria ser um gesto natural de solidariedade que brota de uma fé encarnada, visível em movimento. Partilhar seus bens com os pobres deveria ser a verdadeira liturgia da igreja de Corinto Corinto.. Segundo Comblin (1991, p. 121), estamos diante da doutrina social de Paulo. Doutrina esta que está subdivida em 7 temas os quais analisaremos abaixo usando a estrutura apresentada por Comblin.
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Necessidade e Excedente: Necessidade A sociedade na qual Paulo e todo o movimento cristão do primeiro século estão inseridos apresenta um alto indicie de desigualdade. Existem pessoas na miséria passando p assando por toda sorte de necessidade (para sobrevivência). Do outro lado existem pessoas vivendo com fartura e abundância abundânc ia de recursos, ou seja, possuem mais do que o necessário necessário.. • Pobr Pobreza eza e Riqueza: Ricos e pobres são a concretização do que passa necessidade (pobre) e do que tem em excesso (rico). Pobreza e Riqueza não devem ser espiritualizadas, se trata de algo material. Os pobres p obres carecem do mínimo necessário para sobrevivência. sobrevivência. A pobreza material material é o grande desafio da prática e da mensagem cristã. Os ricos, por sua vez, têm em excesso e são desafiados a partilhar. • 124
Igualdade: O desafio da coleta e do serviço aos pobres é que haja igualdade. Introdução ao Novo Testamento
Paulo traz esse tema a tona baseado nas raízes tribais (período (p eríodo de entrada do povo de Deus na terra prome prometida). tida). Esse período p eríodo histórico entre o povo de Deus é uma resposta obediente ao que previa o código da aliança. Com o advento da monarquia monarquia esse principio se perdeu p erdeu em meio às imposições políticas do palácio. Os profetas entraram, então, em cena denunciando a desigualdade que se estabelecia rapidamente entre o povo de Deus. Paulo, então, assume nesses textos sua identidade profética revindicando que os termos da aliança (também vistos na mensagem do reino de Deus) fossem retomados retomados e a desigualdade amenizada. • Suficiência: Qual é a referência de igualdade proposta por Paulo? Essa é uma pergunta que deve ser considerada. O fim da pobreza e o desafio da igualdade não significam assumir metas e discursos de prosperidade. Antes, de proporcionar proporcionar o mínimo suficiente para uma vida digna. Nesse ponto, Paulo é o próprio referencial. Ele abriu mão de qualquer recurso excedente ao mínimo para necessário para sua própria sobrevivência, sem precisar se tornar um peso para p ara os que contribuíam com seu ministério. • Comunidade: Através da obra de Cristo vivemos agora em comunhão uns com os outros. Ou seja, através do estabelecimento da igreja surge necessariamente a vida comunitária. A vida do próximo passa a ter repercussões diretas em minha própria vida. Isso se aplica em todas as áreas da vida em comunidade, inclusive nas questões materiais. O desafio que Paulo lança à igreja de Corinto está baseado em um principio chave da própria identidade da igreja: a vida comunitária. A coleta estabelece uma forma concreta de comunhão. • Caridade: A comunidade é a expressão visível da caridade (amor). A caridade é a ação que moveu o coração de Deus em nossa direção. Paulo, então, desafia a igreja de Corinto a firmar um tipo de relação com o próximo a ponto de mover suas próprias vidas em direção ao outro com gestos concretos de solidariedade. A caridade é a resposta mais coerente de alguém que foi alcançado, também, por caridade. • Disponibilidade: Disponibilidade é uma condição recomendado por Jesus para que alguém se torne um discípulo. A disponibilidade no conceito paulino se aproxima muito do desprendimento e desprendimento material. rata125
se da capacidade – daqueles que já superaram as coisas desse mundo – de colocar os recursos recebidos a serviço dos necessitados. Sem disponibilidade/desprendimento tudo que vimos anteriormente pode ficar comprometido.
C�������� Por hoje é só, pessoa pessoal!l! Assim como em estudos anteriores preciso reforçar refor çar o caráte caráterr introdutório (como bem definido na descrição de nossa disciplina: discipli na: Introdução ao Novo estamento) estamento) ao material materi al que acabamos de abordar. Existem estudiosos que dedicam (dedicaram) uma vida inteira nos de 1º e 2º Coríntios. Por isso, minha expectativa é despertá-lo para p ara a continuidade contin uidade de suas pesquisas e reflexões em cima desse extraordinário material deixado como herança para todos nós. Siga em frente! Na próxima unidade falaremos sobre as cartas paulinas escritas da prisão. São elas: Efésios, Filipenses, Colossenses, Filemon. Até lá!
R����������� B������������� R��������� BOOR, Werner de. Cartas aos Coríntios. Curitiba: Esperança, 2004. COMBLIN, José. Segunda epístola aos Coríntios. Petrópolis: Vozes, 1991. GUNDRY, Robert H. Panorama do Novo Testamento. São Paulo:Vida Nova, 1998. KÜMMEL, W. G. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulus, 1982.
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Introdução ao Novo Testamento
I��������� �� N��� T��������� T��������� U������ - �� C����� P������� - C����� �� ������ E������, F���������, C����������, F������ F����� H������� / W����� �� L��� P������
I��������� Olá, pessoal. Na unidade de hoje faremos uma breve introdução das cartas de Paulo, conhecidas como cartas da prisão: Efésios, Filipenses, Colossenses, Filemon. O contexto do autor (prisão) não deve sair de nossa mente ao lermos o conteúdo dessas cartas. Esse tipo de referencial pode fazer toda a diferença em nossa reflexão bíblica e prática cristã. É interessante, por exemplo, imaginar Paulo escrevendo da prisão: “tudo posso naquele que me fortalece”” (Fp 4:13), não acha ? O que isso pode mudar fortalece mudar em nossa visão teológica? Que tal um exercício de reflexão a respeito?
O�������� 1. Apresentar um breve panorama sobre as cartas paulinas da prisão: Efésios, Filipenses, Colossenses, Filemon.
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CARTA DE PAULO AOS EFÉSIOS �. I��������� Principalcidadeda Ásiamenor, menor,Éfeso ficavaemlocalização estratégica para quem percorria as cidades da Ásia menor menor. Economicamente Economicamente rica, importantee centro comercial. Estima-se que sua população important população,, no 1º século, somava cerca de 500 mil habitantes. Estava localizado nesta cidade o grande templo da deusa Diana, que atraía pessoas dos diferentes lugares do mundo antigo, e que também movimentava intenso comércio de objetos de veneração. Em 29 a cidade foi muito danificada por um terremoto e o templo à deusa foi derrubado, sendo depois restaurado por ibério. Paulo esteve em Éfeso durante a 2ª viagem (At 18:18) e teve conflito com os seguidores da deusa Diana. Houve uma participação muito importantee de Priscila e Áquila no ministério ali desenvo important desenvolvido lvido,, conforme At 18:19-21 e 19:1-40.
�. C������� A carta foi escrita da prisão e Paulo Paulo é prisioneiro prisioneiro por causa causa do Senhor (Cf. Ef 3:1; 4:1 e 6:20). Apesar de sua situação, situação, o apóstolo procura encorajar encora jar seus leitor leitores es nos temas que seguem a carta. A doutrina central da epístola aos Efésios é eclesiológica, e o tema central é a Unidade da Igreja. Vamos fazer um passeio pelas principais perícopes do texto que indicam essa temática.
Ef 1.15-23 Nessa pericope Paulo começa dando graças a Deus pela fé demonstrada pela igreja. Uma fé que não é estática, pra dentro, ao contrário, é dinâmica levando as pessoas a amarem umas outras, é o encontro perfeito entre fé e amor. Num segundo momento o apóstolo começa, então, a falar os motivos pelos quais tem suplicado a Deus em favor da igreja: “...menciono vocês em minhas orações para que o pai da glória vos conceda...” 1. Sabedoria e discernimento para entender a revelação a respeito de Deus 2. Iluminação para descobrirem o seu chamado chamado.. 128
Introdução ao Novo Testamento
3. A mesma iluminação para conhecermos os atribu atributos tos de Deus, especificamente seu poder. Um poder capaz de ressuscitar Cristo dentre os mortos e colocá-lo a direita de Deus Pai, numa posição privilegiada, como cabeça da igreja, seu corpo. Ef 2.11-22 O segundo capítulo da carta fala sobre salvação e reconciliação com Cristo. Esse ato gracioso de Deus automaticamente pressupõe a reconciliação entre seres-humanos, rompendo com todo o tipo de barreiras que até até então os separavam. separavam. Eles deveriam viver juntos juntos debaixo de um mesmo teto comunitário, a comunidade do reino de Deus. A necessidade do outro deveria torná-los sensíveis, tirando-os da inércia. Ef 3.14-21 Paulo ora em favor da nova comunidade formada, agora entre gentios e judeus, desenvolvendo o novo povo de Deus: a Igreja. Pedindo em favor da manutenção manutenção da unidade. Ele diz estar de joelhos, dando-nos uma idéia de intensa suplica. Ele pede que tenham força, profundidade, compreensão e plenitude. 1. Força para que que o íntimo íntimo de cada cada um seja fortalecido e se conserve firme. 2. A profundidade profundidade na na relação relação com com Cristo, Cristo, a ponto ponto da vida dele habitarr em cada um; habita 3. A compreensão compreensão da largura, do comprimento, comprimento, da altura e da profundidade, profundidade, do amor amor de Cristo Cristo,, que é algo que excede todo conhecimento e entendimento. 4. A plenitude plenitude traz como significado o encher encher-se -se de Deus. E agora, através dessa vida plena manifesta em nós em todo tempo em todos os lugares e em todas relações, o mesmo Deus pode ser visto em nós. Para a própria sobrevivência, a nova comunidade precisa aprender a viver em unidade mesmo diante dos desafios da diversidade. Para Para isso, era necessário lembrar-se que a (1) A unidade procede do nosso Deus; (2) A unidade é enriquecida pela diversidade dos dons; (3) A unidade exige nosso crescimento rumo à maturidade. 129
CARTA DE PAULO AOS FILIPENSES �. I��������� A cidade de Filipos Filipos Filipos ocupava um ponto estratégico, pois dominava todas as rotas de caravanas da Grécia e da rácia. Com o passar dos anos perdeu a primazia para essalônica, porém, era administrada por Roma e mantinha alguns privilégios. Na época de Pa Paulo, ulo, a cidade estava em declínio, pois as minas de ouro e prata estavam esgotadas. Havia, na cidade, uma colônia judia muito pequena, pois não possuíam sinagoga. sinagoga. Na cidade havia uma grande miscigenação religiosa, além dos cultos locais, havia o culto ao imperador romano, coexistindo com outras religiões vindas do Oriente, chamadass religiões de mistério. chamada A comunidade comunidade de Filipos Filipos Filipos foi à primeira cidade da Europa a ser evangelizada por Paulo, em sua segunda viagem missionária (At 15,36–18,22). Como não havia sinagoga na cidade, Paulo e seus companheiros, no sábado, foram para fora da cidade, às margens de um rio, onde provavelmente os judeus costumavam fazer suas preces (At 16,13”). As primeiras conversões aconteceram entre as mulheres. A mais conhecida é Lídia, uma comerciante que foi batizada por Paulo com toda a sua família (At 16,14-15). A nova Igreja devia contar com poucos judeus. Era formada, sobretudo sobretudo,, por gentios e as mulheres parecem ter ocupado um lugar importantes nela. Ao partir, Paulo deixou uma jovem e dinâmica comunidade, que continuou a crescer e prosperar e que se manteve fiel ao Evangelho. A carta A Carta aos Filipenses é chamada “Carta da alegria”. É uma carta de amigos. Parece quase um contraste: Paulo está preso (situação de sofrimento) e a comunidade passa também por dificuldades, e a Carta fala tanto da alegria. É uma Carta para animar, dar força e esperança. Quanto ao local e data, segundo a opinião tradicional, a carta, essa foi escrita em Roma, durante a prisão de Paulo, entre os anos 61-63. 130
Introdução ao Novo Testamento
�. C������� Quase todos os estudiosos estudiosos são unânimes unânimes em afirmar afirmar a autoria autoria de Paulo da epístola aos Filipenses. O estilo é Paulino, bem como o vocabulário,, exceto o hino de Fp vocabulário Fp 2:6-11. A próp própria ria epístola epístola aos Filipenses (1:1) reivindica a autoria Paulina. imóteo é ali apresentado como um de seus associados, o que está de conformidade com a vida de Paulo (Fp 1:1, 2:19). ambém as referências ao aprisionamento de Paulo concordavam com aquilo que sabemos ser verdade verdad e acerca dos sofrimentos sofrime ntos de Paulo Paulo (Fp. 1:7). O autor se refere também, de forma muito natural, à sua anterior pregação na Macedônia (Fp 4:15), bem como ao fato dos crentes de Filipos lhe terem enviado dádivas (Fp 4:10; 2:25-28). Entre os principais temas podemos destacar: • Quem anuncia a Palavra corre o risco de ser perseguido e preso preso.. Mas o Evangelho não se deixa acorrentar. E mesmo o conflito pode ser motivo de crescimento da mensagem (conversão e batismo do carcereiro e sua família). Paulo sabe que o martírio pode acontecer e está disposto a recebê-lo. Isso significa ir logo para junto de Deus, mas por causa da comunidade, ele acha que é mais importante continuar a viver (Cf. 1,2126). • Na carta temos um importante hino cristológ cristológico. ico. alvez já existisse e que fosse cantado nas celebrações e Paulo o tenha inserido na Carta. Este hino é a síntese do Evangelho que ele anuncia. O hino tem dois movimentos: Descendente: É Jesus que se esvazia, se tornou humano, humilhouse, foi obediente, servo ser vo e desce ao mais profundo da condição humana, humana, e termina na cruz (cf. Is 52,13–53,8). Jesus é sujeito da sua ação... ressuscitando-o Ascendente: Ascenden te: Deus é o sujeito da ação e exalta Jesus, ressuscitando-o e colocando-o no posto mais elevado que possa existir. Jesus é Senhor do Universo e da história (cf. Is 52,13-15; 53,10-12). • A com comunidade unidade de Filipos comp compreendeu reendeu bem o que é a mensagem de Jesus Cristo. Ser cristão é ser solidário, partilhar, repartir... É isso que a comunidade fez (4,10-20). Comunidade solidária com as necessidades do Apóstolo e com o sofrimento sofrime nto na doença de Epafrodito. ambém ambém Paulo faz isso, se for preciso vive na necessidade e sofre as privações... Mas isso não é problema, porque “udo posso nAquele que me fortalece!” (4,13).
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• A Carta mostra também como a missão evangelizado evangelizadora ra é uma tarefa comunitária. Basta ver o nome das pessoas envolvidas (Paulo, imóteo, Silas, Epafrodito, Lídia, Sízigo, Clemente, Evódia, Síntique, os cristãos da casa do Imperador, Imperador, os epíscopos e diáconos...). • A comunidade deve se preocupar e defender-se dos “cães” e dos falsos operários. Aqueles que querem dividir, que querem anunciar um outro evangelho. Diante desses, Paulo reage com dureza. O Apóstolo se mostra contrário aos “judaizantes” que querem que os pagãos façam a circuncisão, do contrário serão impuros (cf. 3,2-3). Mas também são perigosos aqueles que querem um evangelho fácil, sem a cruz (cf. 3,18). • Os cristãos devem se modelar no exempl exemploo de Cristo que se humilhou e por isso foi exaltado. O cristão deve viver em comunhão fraterna, fruto do amor e da renúncia aos próprios interesses, vivendo no meio de uma sociedade perversa e má (2,12-16). Eles devem imitar o comportamento de Paulo e dos demais evangelizadores (3,12-17). • Quem segue a Cristo Cristo,, mesmo em meio a dificuldades, vive a alegria (3,1; 4,4). Colocando em prática tudo aquilo que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável, honroso, virtuoso ou que de qualquer modo mereça louvor, o Deus da paz verdadeiramente estará com eles (4,8-9). • Os cristãos devem viver com esperança: esperar pelo dia glorioso de Cristo (1,10); esperar pela ressurreição (3,11), esperar pela pátria celeste (3,20). É certo cer to que Paulo pensa ao momento da morte individual de cada um, mas também fica vivo o pano de fundo de uma esperança numa escatologia cósmica, que assinalará a transformação de todo o mundo segundo o plano de Deus.
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Introdução ao Novo Testamento
CARTA DE PAULO AOS COLOSSENSES �. I��������� Quando Paulo Paulo escreveu a carta aos Colossenses, Colossos Colossos era uma cidade bem pequena. Estava situada a uns 200 km de Éfeso, na estrada que vai desta cidade para o Oriente. Era bem menos importante do que as cidades vizinhas de Laodicéia e de Hierápolis, citadas na Epístola (Cl 4:13) e onde havia também comunidades cristãs. Colossos tinha sido um importante importante comercial no artesana artesanato to de lã. Mas na época de Paulo já era uma cidade decadente ao lado da próspera Laodicéia. anto em Colossos como nas cidades vizinhas havia uma importante colônia de judeus. Paulo nunca esteve pessoalmente em Colossos. Pela epístola consta que o evangelho foi trazido àquela cidade por Epafras, que pode ter conhecido Paulo em Éfeso durante os anos que o Apóstolo passou nessa cidade (54-57). Epafras recebeu de Paulo grandes elogios (Cl 1:7-8; 4:12; Fm 23). udo indica que a comunidade comunidade de Colossos estava formada formada por ex-pagãos e não por ex-judeus. odavia, já que havia na cidade uma importante colônia de judeus, os convertidos podiam ter tido contatos com esses judeus antes da evangelização, ou podiam ter entrado em contato com eles depois. Pois a epístola parece insinuar que algumas ideias procedentes de grupos g rupos judaicos circulavam na comunidade comunidade..
�. C������� Esta carta é circunstancial, circunstancial, Responde a um problema problema concreto concreto.. Epafras, o evangelizador dos Colossenses, veio perguntar a Paulo o que fazer diante de um problema que parecia ultrapassar a sua capacidade. Paulo escreve a pedido de Epafras para responder ao proble problema ma denunciado por este. Qual foi o problema? A comunidade entrou em contato com uma filosofia e esta filosofia ameaça desestabilizar toda a vida desses novos cristãos. Estes ficaram desnorteados. udo indica que a filosofia foi apresentada por um “alguém” que Paulo não quis nomear, mas que todos os leitores deviam identificar (Cl 2:8, 16,18). 133
Entre os temas principais, encontrados encontrados da carta, podemos destacar:
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Suficiência de Cristo: Movimentos filosóficas (ascetismo, gnosticismo, filosofias orientais) e religiosos (religiões de mistério: culto aos anjos; legalismos judaicos: ritualismos) estavam influenciando o pensamento e prática cristã. A base desses discursos se transformou em instrumento de dominação e manipulação sobre os menos entendidos, inclusive sobre a igreja. Paulo, então, chama a atenção para: (1) A divindade de Cristo; (2) Sua obra na cruz; (3) As riquezas que temos nele; (4) A supremacia e suficiência de Cristo; (5) Sua ressurreição. odas essas coisas eram suficientes para a construção de uma vida cristã saudável, saudável, livre dos rudimentos (filosofia e religião) da época. •
Outros temas: . Ânimo nas nas dificuldades (1.24-29) . Provisã Provisãoo de Deus (4.19) . Redenção (1.13-14) . Oração (1.9-12; 4.2-6) . Evangelização (1.24-29) . A pessoa e o caráter caráter de Cristo (1: 13-23) . Unidade (3.1-11) . Obediência a Cristo (3.12-17) . Amor Amor,, alegria e esperança pela e para a igreja (1.3-8; 4.7-9)
CARTA DE PAULO A FILEMON �. I��������� Filemon (vem do grego: philemon = “amoroso”), residente na cidade de Colossos (ou nos arredores da mesma) onde era reconhecido como cristão, ainda que não se fale dele na Carta aos Colossenses, mas na casa dele se reuniam os cristãos (Fm 2). Fora convertido ao evangelho pela pregação de Paulo. “É claro que não preciso fazer você se lembrar de que também você me deve a própria vida” (Fm 19). Paulo o chama de Koinonós “irmão na fé”. Alguns escritores patrísticos questionaram a inclusão desta epístola 134
Introdução ao Novo Testamento
no cânon pelo de, aos seus olhos, não ser de autoria paulina. Entre seus argumentos, argumen tos, destacamos: (1) A linguagem não é Paulina Paulina (2) É uma obra cristã de ficção, produzida posteriormente por um escritor para ilustrar a ideia de que o cristianismo une e iguala as pessoas. Por outro lado, muitos estudiosos defendem a autoria paulina, mediante os seguintes argumentos: (1) por três vezes o autor chama a si mesmo de Paulo (vv.1 ,9,19); (2) desde o 2ª século a autenticidade de Paulo foi reconhecida (3) evidências internas e externas externas da autoria autoria Paulina são muito muito fortes: a marca da personalidade de Paulo é tão forte que ninguém poderia p oderia imitar este estilo. radiciona radicionalmente lmente se atribuiu a Roma, Cesaréi Cesaréiaa ou ou Éfeso o local da composiç composição. ão. Foi escrit escritaa ao mesmo tempo que Colossenses por volta do ano 56,57. O objetivo da carta(quase um bilhete) gira em torno de Onésimo,, um dos Onésimo dos escravos escravos de Filemon. Onésimo havia havia prejudicado prejudicado seu senhor - talvez roubado roubado e fugido. De alguma forma ele entrou entrou em contato com Paulo, e foi evangelizado. Passou a servir o apóstolo, mas este o persuadiu a realizar o perigoso ato de voltar, voluntariamente para a casa do seu senhor. Paulo, então, escreve a Filemon com a finalidade de rogar perdão para o escravo, e ao mesmo tempo assegurar-lhe de que seria recebido como irmão de fé. Paulo também recomenda Onésimo a toda a igreja (Cl 4:9).
�. C������� •
Relevância da Epístola a. Consis C onsiste te num magnífico testemunho do que o evangelho faz; b. Revela a prática pastoral e a doutrina de Paulo; c. Averiguar a verdade e a força do evangelho; d. A preocupação da igreja quanto à escravidão que imperava no mundo antigo; •
Aspectos Teológicos e Doutrinários a. Proclam Proclamação ação da liberdade em Cristo; b. Criação de um mundo novo, de uma nova sociedade (novas relações, não mais de dominação); c. A igualdade em Cristo (não há mais mais distinções...); d. O perdão; 135
C�������� Por hoje é só, pessoal! Na próxima unidade finalizaremos nosso panorama nas cartas paulinas. Vamos falar sobre as cartas pastorais: 1º e 2º imóteo e ito. Até breve!
R����������� B������������� R��������� BROWN, Raymond. Introduçã Introduçãoo ao Novo Testamento. Testamento. São Paulo: Paulinas, 2004. KÜMMEL, W. G. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulus, 1982.
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Introdução ao Novo Testamento
I��������� �� N��� T��������� T��������� U������ - �� C����� P������� - ������ ��������� �º � �º ������ � ��� F����� H�������
I��������� rês das cartas paulinas são conhecidas como cartas pastorais: as duas cartas cart as a imóteo e a carta a ito. São chamadas cartas pastorais porque, conforme diz o título, são endereçadas a pastores e dão orientações a respeito da prática pastoral. imóteo pastoreava a igreja de Éfeso. ito pastoreava a igreja em Creta - Ilha no mediterrâneo. Conforme Perondi , “essas cartas formam um bloco bem definido no conjunto do Corpus Paulinum” (conjunto de escritos de Paulo). Vejamos outras descrições do autor: 1. Semelhanças no combate às heresias que surgiam com o nascimento da igreja; 2. Apresentam Apr esentam certa semelhança de vocabulário, estilo e perspectiva teológica espirit espiritual. ual. 3. As instruçõ instruções es dadas aos pastores, abarcam todos os setores da vida eclesial: eclesi al: desde desd e a oração até o relacionamento interpessoal. Essas orientações são, muitas vezes, fundamentadas com textos de discipulado, liturgia, profissões de fé, etc. Assim, as pastorais, além de fornecer um interessante panorama de organização das comunidades, apresentam uma preciosa documentação da prática da igreja primitiva. A grande preocupação dessas cartas é conservar e transmitir a forma pela qual a fé, em um mundo de perseguição, deve ser confessada e principalmente vivida.
O�������� 1. Apresentar um breve panorama a respeito das cartas de Paulo a imóteo e ito, conhecidas conhec idas como “pastorais”. “pastorais”. 137
CARTAS PASTORAIS �. D������������ ��� C����� •
Timóteo Era natural natural da cidade de Listra na Licaônia. Seu pai era grego e sua mãe judia (At 16,1). Foi educado por sua mãe Eunice e por sua avó Lóide que lhe transmitiram a fé judaica e o conhecimento da Lei de Moisés (2m 3,15). Mas por ser filho de pai gentio não foi circuncidado ao oitavo dia. Provavelmente conheceu Paulo por ocasião da segunda viagem missioná missionária. ria. ornou-se conhecido da comunidade cristã e gozava de grande estima. Foi durante a segunda viagem missionária, ao passar novamente por Listra que Paulo batizou-o e o tomou como seu colaborador. E para facilitar seu contato com os judeus, Paulo fez com que imóteo fosse circuncidado (At 16,1). Desde então, tornouse o colaborador fiel do Apóstolo. A primeira carta a ele destinada apresenta-o como responsável da Igreja de Éfeso. Paulo escreve para encorajá-lo encora já-lo e alertá-lo contra os falsos f alsos doutores. doutores. •
Tito udo o que sabemos de ito provém dos poucos dados fornecidos pelas cartas paulinas. Era filho de pais gregos (Gl 2,3) e foi convertido ao cristianismo através da vida de Paulo que o chama de “filho”. Não foi circuncidado, como imóteo. Sua conversão deve ter ocorrido na primeira viagem missionária, pois no final dessa foi com Paulo e Barnabé à Jerusalém para a famosa assembléia lá realizada (At 15,2). ito acompanhou Paulo a Éfeso durante a terceira viagem missionária. missionária. Foi enviado enviado por Paulo para Corinto Corinto e mais tarde, outra vez para organizar a coleta em Corinto e nas Igrejas da Acaia. Foi provavelmente ele que levou a perdida “Carta em lágrimas” até Corinto. Paulo enviou-o para evangelizar a Dalmácia onde seu culto é muitoo difundido ainda hoje. muit
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Introdução ao Novo Testamento
�. C������� L�������� Vejamos no breve descritivo abaixo, proposto por Gerhard Hörster, em que condições as cartas foram escritas: • 1 imót imóteo: eo: Paulo Paulo viajou de Éfeso Éfeso para a Macedônia (1.3) e deixou imóteo em Éfeso. Paulo deixou com ele uma carta oficial para organização da igreja em Éfeso. • ito: De acordo com a carta a ito, Paulo esteve em Creta, evangelizouu lá e deixou ito evangelizo ito cuidando da igreja para organizála de acordo com os princípios do apóstolo. • 2 imót imóteo: eo: Já Já a segunda carta a imót imóteo eo vem vem da prisão prisão em Roma sob condições muito difíceis (1.8, 2.9).
�. P������� P ������� ���� ����� � �� P���� � T������ A primeira carta de Paulo a imóteo foi escrita, provavelmente, na Macedônia pelo ano 65/66. Objetivo central da Carta era alertar imóteo, enquanto dirigente da Igreja de Éfeso, a respeito dos falsos ensinos e falos mestres infiltrados na comunidade. Além da defesa da fé a carta apresenta uma série de exortações a imóteo e, também, aos lideres que ocupam cargos e assumem funções na comunidade.
T����� T��������� T��� Usaremos aqui, mais uma vez, como referência as propostas de Gerhard Hörster que organiza o panorama teológico da carta em afirmações chave e ênfases teológicas. rabalharemos assim nas três cartas. Leia atentamente e faça uma reflexão nos dois textos abaixo. Estes são, para muitos, textos chaves na compreensão do objetivo central da carta. Fiel é a palavra pa lavra e digna de toda aceitação, que Cristo Jesus Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal. 1imóteo 1imót eo 1.15
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Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade. Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre entre Deus e os homens, Cristo Jesus, Jesus, homem. O qual a si mesmo se deu em resgat resgatee por todos: testem testemunho unho que se deve de ve prestar em tempos oportunos. 1imóteo 2.4-6
M������� 1. Informações sobre as estruturas da igreja igreja no seu estágio estágio inicial, que são fundamenta f undamentais is para a Igreja de Jesus Cristo; 2. As instruções do apóstolo tratam, por exemplo, exemplo, da forma forma das reuniões e cultos, da ordenação de novos líderes e da convi convivência vência com os diversos grupos de pessoas na igreja; 3. Regras para as viúvas, os escravos e os ricos; 4. imóteo precisa buscar na fé em Jesus Cristo a força necessár necessária ia para ser exemplo e líder da d a igreja de Jesus Cristo;
�. S������ ����� �� P���� � T������ A segunda carta e Paulo a imóteo foi escrita durante a segunda prisão do apóstolo em Roma, entre os anos 66/67. Conforme Perondi , “Paulo chama imóteo a Roma o quanto antes (4,9.21), dando a impressão que pressente que o martírio se aproxima. Não sabemos o motivo dessa segunda prisão de Paulo. É certo que Paulo experimentou uma série de abandonos e até de traições (1,15; 4,14s)”. O autor prossegue afirmando que: 2º imóteo representa o testamento espiritual de Paulo, que já tem consciência do fim pró próximo ximo (4,6). Assim, podemos entender a recomendação para que imóteo se dedique com todas as forças ao serviço do Evangelho (1,6–2,13; 4,1-8), à defesa da verdadeira doutrina (3,10-17) e à luta contra os falsos doutores. Outro motivo é informar imóteo de sua grave situação e pedir-lhe que venha a Roma o mais rápido possível (4,9).
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Introdução ao Novo Testamento
T���� T���������: A���������-����� … o nosso Salvador Jesus Cristo, o qual não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho. 2imóteo 2imót eo 1.10. Entretanto o firme fundamento de Deus permanece, Entretanto p ermanece, tendo este selo: „O „O Senhor conhece os que lhe pertencem. ” E mais: „Apa „ Aparte-se rte-se da injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor. 2imóteo 2.19 oda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, repreensão, para a correção correção,, para a educação na justiça. 2imóteo 3.16
M������� � 1. Assim como na carta anterior, 2 imóteo exibe um a forte preocupação pela sã doutrina (1.13,14; 2.2; 4.3) 2. Contém meditações sobre: a graça de Deus (1.9-11); a fidelidade de Cristo (2.11-13); a natureza e função das Escrituras (3.15-17); a ressurreição ressurrei ção (2.8); a segunda vinda v inda de Cristo (4.1,8). Vejamos outra importante contribuição a respeito da carta e que ela deve ser lida do ponto de vista teológico: “Como a última das cartas de Paulo, 2 imóteo fornece um importante retrato final de Paulo. Paulo. Sua situação era desoladora. Ele não podia mais ansiar por um ministério frutífero e a maioria de seus amigos o havia deixado (4.10,11). Ainda assim, Paulo permanecia confiante” 1. Ele não estava enver envergonhado gonhado de sofrer sofrer pelo Evan Evangelho gelho (1.12). 2. Estava disposto a tudo suportar por causa dos eleitos (2.10). 3. Ele sabia sabia que tinha sido fiel a Cristo (4.7) e que Cristo Cristo é fiel. (1.12; 2.13). 4. Paulo tinha confiança que Aquele que no passado o havia livrado da morte (3.11; 4.17) 4. 17) o resgataria através através da morte para a vida eterna (4.8,18). Extraído das Notas Introdutórias da Bíblia de Estudo de genebra: ll imóteo 5 Ibidem 4
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�. C���� �� P���� � T��� Foi escrita na Macedônia entre 65/66 dC. e deve ser colocada entre a Primeira e a Segunda imóteo. A carta é uma breve instrução que o Apóstolo dá a ito, seu colaborador na evangelização da ilha de Creta. Essa carta trata de temas eclesiásticos semelhantes aos de 1 imóteo, mesmo que de forma abreviada. emas eológicos: Afirmações-chave Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens. ito 2.11
M������� 1. Declarações de fé sobre sobre a encarnação de Jesus Jesus Cristo. Cristo. 2. ito deve organizar a “hierarquia” nas várias comunidades (2,5) 3. it itoo deve combater as falsas doutrinas, doutrinas, e admoestar todos os que ocupam cargos importantes nas comunidades. 4. Orientação sobre sobre a atitude atitude do cristão em relação ao Estado. Estado.
C�������� Ao final dessa unidade concluímos nossos estudos introdutórios no material paulino. Na próxima unidade falaremos sobre a carta aos Hebreus, Heb reus, de autoria desconhecida, e sobre s obre o bloco de cartas conhecido como epístolas gerais, composto pelas duas cartas de Pedro, três cartas de João, carta de iago e carta de Judas. Até lá!
R����������� B������������� R��������� HÖRSER, Gerhard. Introdução e Síntese do Novo estamento. Esperança: Curitiba-Pr, 1996. KÜMMEL, W.G. Introdução ao Novo estamento. São Paulo: Paulinas, 1982. 142
Introdução ao Novo Testamento
I��������� �� N�� N��� � T��������� U������ - �� C����� G����� � H������ C����� �� J��� - C����� �� P���� - ���� - J���� H������ F����� H������� / W����� �� L��� P������
I��������� Na unidade de hoje faremos um panorama sobre as cartas conhecidas como universais (católicas) ou gerais (Cartas de João – Cartas de Pedro Pedro – iago iago – Judas) Judas) Esse nome foi atribuído a esse bloco de cartas por se tratarem de escritos dirigidos à Igreja em geral (ou diversas igrejas diferentes), diferente das Cartas de Paulo que foram enviadas a igrejas especificas. Além disso, vamos fazer algumas considerações introd introdutórias utórias a respeit respeitoo da carta aos Hebreus, texto extramente importante e atual para a igreja brasileira. Bons Estudos!
O�������� 1. Apresentar um breve panorama sobre a carta aos Hebreus Hebr eus e as cartas gerais: cartas de João – cartas de Pedro – iago – Judas.
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CARTAS DE JOÃO P������� C���� �� J��� Sendo I Jo e Jo do mesmo autor, a 1ª epístola de João não deve ter sido escrita muito tempo depois do evangelho de João. A data mais provável para a redação desta carta situar-se-ia, pois, entre os anos 90 e 101. Quanto ao lugar de origem e destinatá destinatários, rios, há mais consenso de que deva ser a região da Ásia Menor. Esta primeira carta lembra, pela forma e pelo conteúdo, numerosas passagens do evangelho de João. Por exemplo: a) O uso de opostos: luz-trevas (Jo 3.19/ I Jo 1.5), vida-morte (Jo 5.24/ I Jo 3.14), amor-ódio amor -ódio (Jo 15.18/ 15. 18/ I Jo 3.13), verdade-men verdade-mentira tira (Jo 3.21/ I Jo 1.6); O autor faz ataques precisos contra os pregadores do Docetismo (4:2-3), e também esclarece que o verdadeiro conhecimento (gnósis, no grego, significa “conhecimento”) só pode ser experimentado pela prática do amor (4:7-21). Combate, assim, os falsos mestres e falsas doutrinas filosóficas com cunho religioso que negam a encarnação e o caráter messiânico de Jesus. Além disso, conforme Barclay (p.17), o propósito de João ao escrever é duplo: (1) Escreve para que a alegria de seu povo se cumpra (1:4). (2) Para que não pequem (2:1). Barclay (p.18-23) propõe ainda que mensagem de I João gire em torno dos seguintes temas 1: • Deus: “Deus é luz e nele não há trevas nenhumas (1:5). Deus é amor, e esse amor o levou a nos amar antes de que o amássemos (4:710, 16)”. • Jesus: “Jesus é Aquele que existiu desde o começo (1:1; 2:14); Jesus é o Filho de Deus (4:15; 5:5); Jesus era o Cristo, o Messias (2:22; 5:1). Jesus era verdadeira e plenamente um ser humano. (1:1,3). Mediante Jesus Cristo os homens que crêem têm vida (4:9; 5, 11-12). Jesus é o Salvador do mundo (4:14)”. “É o Espírito quem nos faz conscientes de que • Espírito Santo: Santo: “É Deus habita em nós mediante Jesus Cristo (3:24; 4:13)”. • Mundo: “O mundo (sistema) no qual habitam os cristãos é hostil, porque é um mundo que vive à margem de Deus”. Estrtura e adaptação segundo BARCLAY, William. Comentário do Novo estamen estamento: to: introdução as cartas de João (versão digitalizada) – pg. 18-23. 1
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• Igreja: Igreja: “Os cristãos deveriam permanecer sujeitos uns aos outros. Quando andamos na luz, temos comunhão uns com outros (1:7). João está convencido de que a única maneira em que alguém pode provar que ama a Deus é amando a seus irmãos, não com sentimentalismos, mas de forma prática(2:9-11).”
S������ C��� C���� � �� J�� J��� � Começa com o seguinte endereço: “o presbítero (=ancião) à senhora eleita e as seus filhos” (v.1). Quanto à “senhora (=Kyria), a palavra não deve se referir a uma pessoa cristã, mas antes, uma igreja assim denominada simbolicamente. Quanto aos seus propósitos e mensagem, retoma brevemente o tema do amor fraternal e a advertência contra os heréticos da primeira epístola. Em suma, faz exortações ao amor e a obediência (1.4-11); A epístola trata ainda de problemas da vida cotidiana da comunidade cristã (v. 5ss. 7ss, 10). O “ancião” envia advertências à comunidade destinatária sobre os falsos mestres que rejeitam a encarnação de Jesus Cristo, ou seja, retoma o combate aos gnósticos, como o fizera em I João. Aqui também, são eles identificados com o anticristo. em sido proposto pelos estudiosos que a data de redação desta epístola se situa mais ou menos na na mesma época de I João, João, isto é, entre entre os anos anos 90 e 101 aproximadamente.
T������� C���� �� J��� rata-se de um simples bilhete do “presbítero ao amado Gaio” (v.1). (v .1). Diversas passagens p assagens do Novo estamento estamento mencionam menci onam um homem chamado Gaio (At 19:29; 20:4; Rm 16:23; I Cor 1:14). O presbítero elogia, assim como Demétrio e os opõe a Diótrefes que, estando à frente de uma outra comunidade, comunidade, parece não reconhecer a autoridade do presbítero (v. 9). Papias, um dos líderes da igreja do século II, menciona em seus escritos a figura de um presbítero chamado João, que não é o apóstolo, e que teria exercido também importante liderança na igreja do 1º século, nesta região da Ásia menor, sendo feita, inclusive menção do 145
túmulo em que estaria sepultado o seu corpo na cidade de Éfeso. Daí, alguns pesquisadores sugerirem a hipótese de ser este o autor da 3ª epístola de João. Jerônimo (monge, tradutor e líder da igreja, no 4º século) chega a afirmar que 2ª e 3ª Jo foram escritas por este presbítero presbítero João. A tradição da igreja primitiva, entretanto, atribuiu a autoria das três epístolas joaninas e do evangelho de João ao mesmo autor: o apóstolo João, filho de Zebedeu. Os conteúdos abandonados e estilo redacional parecem confirmar, de fato, esta hipótese. Não havendo dúvidas de que todos os escritos datam do ano 90 a 101. O tema da epístola gira em torno da hospitalidade para os irmãos itinerantes (5-12). A brevidade do texto, segundo o próprio autor, justifica-se pela expectativa que ele mesmo possui de um encontr encontroo pessoal dentro de pouco tempo (v.13).
CARTAS DE PEDRO P������� C���� �� P���� Não existem grandes controvérsias a respeito da autoria dessa carta. O próprio conteúdo apresenta Pedro como seu autor. Ele se apresenta como apóstolo (1Pe 1:1) reivindicando assim sua autoridade e também de seus escritos. Segundo o texto da carta (1Pe (1Pe 5:13) ela foi escrita da Babilônia. Babilônia. Local simbólico em referência a Roma. Babilônia para tradição da época significava um lugar de orgulho, imoralidade, luxo e violência impiedosa contra os que ousassem questioná-la. odas essas características caracter ísticas estavam em harmonia com Roma. rata-se rata-se de uma carta cart a circular destinada aos forasteiros da dispersão: Galácia, Capadócia, Ásia e Bítinia (1Pe 1:1). Alguns estudiosos defendem a hipótese hipótese de que a mensagem essencial da carta traz em si as mesmas perspectivas teológicas desenvolvidas no livro de Atos dos Apóstolos. Barclay (p.10) escreve: “O mais significativo de tudo é que a teologia desta epístola é a mesma teologia da Igreja mais primitiva”. Ele afirma ainda que: A pregação da Igreja primitiva estava baseada em cinco idéias principais. São idéias que formam o esquema de todos os
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sermões da igreja primitiva tal como os temos em Atos. Atos. E estas idéias são fundamento e base do pensar de todos os escritores neotestamentários. neotestam entários. Para resumir estas idéias básicas se s e utilizou o nome kerygma, que significa o anúncio ou a proclamação que faz um arauto ar auto (BARCLAY, (BARCLAY, p.10).
Vejamos os temas e os textos comparados no quadro abaixo:
S������ C���� �� P���� Assim como indica a própria própria carta (2Pe 1.1) seu autor autor é Simão Pedro, o apóstolo apóstolo de Jesus Cristo. Entretanto, diferente da primeira carta, entre os estudiosos, existem grandes divergências quanto quanto a essa afirmação. A carta é destinada aos os cristãos da Ásia Menor Menor (mesmos destinatários da primeira carta), que são segundo sua descrição, os “que conosco obtiveram fé igualmente preciosa na justiça de Deus” (2 Pe 3.1a). O motivo (mensagem) da carta é retoma retomarr a esperança judaicocristã a respeito do fim dessa era de maldade e da segunda volta de Cristo (3:1-13). Além disso, refutar refutar os hereges que negavam o Senhor S enhor (2:1). Os cristãos estavam sendo ameaçados pelo falso ensino e segundo alguns pesquisadores tal ensino procedia dos de dentro das 147
comunidades. Vejamos uma pequena síntese sobre o assunto: Como antídoto, Pedro destaca a verdade e as implicações éticas do evangelho contra os falsos mestres. Ainda que o falso ensino seja difícil de se definir precisamente, ele parece ser um precursor primitivo do gnosticismo. Este termo designa um de uma variedade de movimentos heréticos que surgiram nos primeiros séculos cristãos (especialmente no segundo século) que combinavam idéias da filosofia grega, do misticismo oriental, e do cristianismo, e enfatizavam a salvação pelo conhecimento intuitivo e esotérico (a palavra grega para “conhecimento” é gnosis), e não pela fé em Cristo. Visto que no sistema gnóstico o corpo físico era visto como sendo mau, os gnósticos do século dois eram geralmente caracterizados ou pela imoralidade desenfreada ou pelo ascetismo rigoroso. Ascetismo não é tratado como um problema em 2 Pedro, mas a imoralidade é (2.13-19). Os falsos mestres pareciam estar usando a liberdade cristã como uma licença para pecar, especialmente para cometer a imoralidade sexual (2.14). Além disso, eles são culpados de negar ao Senhor (2.1), desprezando a autoridade e caluniando os seres celestiais (2.10), e zombando da segunda vinda de Cristo Cristo (3.3, 4)2 .
A carta pode ser dividida em 3 : Saudação (1.1); A verdade do evangelho (1.2-21); Falsos mestres (cap. (cap. 2); A segunda vinda de Cristo (3.1-16); e uma Exortação Final (3.17,18).
CARTA DE TIAGO O autor desta carta é iago, o irmão de Jesus. A carta, uma dos mais antigos textos do Novo estamento, foi escrito entre 49 e 60 d.C. Para alguns estudiosos “iago tem sido diversamente considerada uma epístola, um sermão (para ser lido em voz alta nas igrejas), uma forma de literatura literatura de sabedoria, uma forte exortação moral”. moral”. Um dos temas em destaque d estaque na carta é a Fé. iago não considera considera a Fé sem que esta redunde em ações práticas (obras). “... A fé sem obras é morta”. Para alguns teólogos as ideias de iago estavam em conflito com outros textos de Paulo. Por isso, Lutero, por exemplo, classificou o texto de iago como “carta de palha”. Para o reformador o texto não deveria fazer parte da coleção canônica. Voltando à carta, o tema, da fé é amplamente discutido no 148
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capítulo 2, mas aparece aparece também em outros capítulos. capítulos. Vejamos um exemplo no quadro abaixo 5.
A estrutura de iago pode ser resumida da seguinte forma 6: Perseverança Persevera nça (cap (cap.. 1); Fé (cap. 2); A língua (3.1-12); Sabedoria celestial e terrena (3.13-18); Submissão Submissão à vontade de Deus ; Paciência Paciência (cap (cap.. 5).
CARTA DE JUDAS O autor autor de Judas aparece aparece no próprio próprio corpo da carta: Judas, servo de Jesus Cristo, e irmão de iago (v.1). Alguns estudiosos entendem que apesar de um escrito breve foi usado com certa frequência pela igreja primitiva. Sobre o período em que foi escrito escrito,, encon encontra-se tra-se algumas hipóteses que indicam o tempo que Judas viveu e combateu certas heresias. Não existem muitas informações sobre o local de escrita e os seus destinatários. Vejamos uma síntese sobre o tema: Não existe indício, na carta, do seu local de escrita ou de seu destinatário. Alguns acreditam que o uso que Judas faz do Antigo estamento e da literatura apócrifa judaica, significa que a carta tenha sido direcionada a uma audiência cristã judaica, mas as citações revelam mais sobre sobre o histórico pessoal do autor do que sobre o dos leitores. É possível que Judas tenha escrito esta carta como uma carta circular para várias igrejas cujas condições ele conhecia por ter um ministério itinerante entre elas (cf. 1Co 9.5). Notas Introdutórias da Bíblia de Estudo de Genebra: Segunda carta de Pedro (Editora Cultura Cristã). 3 Ibidem 4 Notas Introdutórias da Bíblia de Estudo de Genebra: Carta de iago (Editora Cultura Cristã). / 5Ibidem. / 6Ibidem 2
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Alguns estudiosos defendem a relação entre 2 Pedro Pedro e a carta de Judas. Para estes, a carta de Judas teria sido composta com base nos escritos de 2 Pedr Pedro. o. Essa hipótese se constr constrói ói a partir de alguns temas que estão em harmonia fruto de contextos e desafios parecidos. Entre eles o combate aos falsos mestres. Judas enfrenta uma ameaça semelhante à que é combatida em 2 Pedro—falsos mestres que estavam usando a liberdade cristã e a livre graça de Deus como licença para a imoralidade (v. 4; cf. 2Pe 2.1-3). A maior parte da epístola (vs. 4-19) se dedica à severa denúncia dos falsos mestres com a finalidade de impressionar os leitores com a seriedade desta ameaça. Mas a estratégia de Judas é mais do que somente uma oposição negativa. Ele exorta aos seus leitores para que cresçam no conhecimento da verdade cristã (v (v.. 20), para que tenham um testem testemunho unho firme pela verdade (v. 3), e para que procurem resgatar aqueles cuja fé estava hesitante (vs. 22, 23). Esta receita para confrontar erros espirituais espirit uais é tão eficaz hoje quanto o era quando foi escrita.
A estrutura de Judas pode ser resumida da seguinte forma : Saudação (v. 1,2); Propósito da carta (v. 3,4); Denúncia dos falsos mestres (v. (v. 5-19) Exortações Exortaçõ es positivas (v (v.20-23 .20-23), ), Doxologia final (v (v.. 24, 25).
AOS HEBREUS Originalmente trata-se de um escrito anônimo. Entretanto, chegou a ser considerado por parte da igreja antiga como sendo de origem Paulina. Hoje, entretanto, os exegetas preferem atribuí-lo a um outro autor . Várias Várias suposições suposiç ões têm sido sid o levantadas: levantad as: ertuli ertuliano ano (teólogo da igreja antiga, nascido cerca de 160) afirmava ser o autor Barnabé, o companheiro de Paulo. Martinho Lutero (reformador da Igreja do séc. XVI) pensava em Apolo de Alexandria. Ainda outras propostas têm sido feitas: Áquila e até Priscila, Lucas ou Silas. Em síntese, não há consenso quanto à autoria. Pode-se dizer, com mais segurança, apenas o seguinte: o autor tem familiaridade com idéias paulinas, é um cristão cr istão que conhece profundamente a cultura e as tradições judaicas, e cita abundantemente o Antigo estamento. estamento. Não se trata propriamente de uma epístola, mas sim, de uma 150
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exposição doutrinal cujo tema central é o sacerdócio de Cristo. Juntamente com o evangelho joanino, é aquele dos 27 escritos do Novo estamento que nos faz compreender melhor que Jesus Cristo é o Senhor presente que intercede por nós. O título “aos hebreus” aparece somente somente a partir da segunda metade do século I I , nos escritos de ertuliano. A análise do conteúdo da epístola fez com que lhe fosse dado este título pela igreja antiga. Os destinatários deste escrito são judeus convertidos convertidos ou em fase de conversão conversão o cristianismo. cristianismo. Onde se encontram os destinatários? A expressão que lemos em 13:24 “os da Itália vos saúdam” é ambígua: poderia ou a cristãos residentes resident es na Itália e saudando destinatários longínquos, ou a exilados da Itália, saudando seus irmãos que permaneceram p ermaneceram em Roma durante a perseguição. Clemente, bispo bispo de Roma, é o primeiro que faz em seus relatos uma citação da epístola aos hebreus e aponta em favor desta segunda hipótese. Quanto à data da redação, também é difícil precisá-la. Os estudiosos têm proposto as seguintes datas limites: antes do ano 96, data em que Clemente de Roma a cita, e após o ano 64, data da 1ª perseguição desencadeada por Nero, pois os destinatários já foram perseguidos. A data média provável situar-se-ia, por tanto, entre 80 e 96, durante a perseguição sob o imperador Dominiciano. Dominiciano.
C�������� Por hoje é só, pessoal! Na próxima unidade, a última do curso, faremos uma pequena introdução ao livro de Apocalipse de João. Vamos em frente, está acabando. Até a próxima!
R����������� B������������� R��������� BARCLAY, William. Comentário do Novo Testamento: introdução as cartas de João (versão digitalizada). BARCLAY, William. Comentário do Novo Testamento: introdução as cartas de Pedr Pedroo (versão digitalizada). SO, J. R. W. I, II e III João: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova/Mundo Cristão, 1982 (Série Cultura Bíblica). 151
A�������� __________________________________________ ________________________________ _______________ _________________________________ _______________________ _______ ________________________________ _______________ _________________________________ _______________________ _______ ________________________________ _______________ _________________________________ _______________________ _______ ________________________________ _______________ _________________________________ _______________________ _______ ________________________________ _______________ _________________________________ _______________________ _______ ________________________________ _______________ _________________________________ _______________________ _______ ________________________________ _______________ _________________________________ _______________________ _______ ________________________________ _______________ _________________________________ _______________________ _______ ________________________________ _______________ _________________________________ _______________________ _______ ________________________________ _______________ _________________________________ _______________________ _______ ________________________________ _______________ _________________________________ _______________________ _______ ________________________________ _______________ _________________________________ _______________________ _______ ________________________________ _______________ _________________________________ _______________________ _______ ________________________________ _______________ _________________________________ _______________________ _______ ________________________________ _______________ _________________________________ _______________________ _______ ________________________________ _______________ _________________________________ _______________________ _______ ________________________________ _______________ _________________________________ _______________________ _______ ________________________________ _______________ _________________________________ _______________________ _______ ________________________________ _______________ _________________________________ _______________________ _______ ________________________________ _______________ _________________________________ _______________________ _______ ________________________________ _______________ _________________________________ _______________________ _______ ________________________________ _______________ _________________________________ _______________________ _______ ________________________________ _______________ _________________________________ _______________________ _______ ________________________________ _______________ _________________________________ _______________________ _______ ________________________________ _______________ _________________________________ _______________________ _______ ________________________________ _______________ _________________________________ _______________________ _______ ________________________________ _______________ _________________________________ _______________________ _______ ________________________________ _______________ _________________________________ _______________________ _______ ________________________________ _______________ _________________________________ _______________________ _______ 152
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I��������� Olá, pessoal! Chegamos a última unidade de nosso curso. Para encerrar faremos algumas greves considerações a respeito do último ú ltimo livro do Novo estamento, estamento, o Apocalipse de João. Apocalipse Apocal ipse significa signi fica “revelação “revelaçã o”, tal como se verifica veri fica em 1:1. O uso desse termo está normalmente associado à escatologia, ou seja, ao que ainda vai ocorrer no futuro, inclusive, na vida além. Entretanto, apocalipse de João também retrata questões históricas do seu tempo e deve ser observado com mais profundidade por esse prisma. Infelizmente nos falta espaço nesse curso introdutório, mas deixo aqui meu apelo e desafio para que cada um de vocês busque trilhar esse caminho em estudos futuros.
O�������� 1. Apresentar um breve panorama sobre o livro do Apocalipse de João.
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APOCALIPSE DE JOÃO �. I��������� Referente as questões históricas do seu tempo é certo que João está Referente fazendo referências a Roma (“Babilônia”), ao culto dos imperadores e da perseguição que a igreja sofria naquele momento, principalmente por se negar a presta prestarr culto ao imperador e às divindades do império. Ainda que a “besta”(cap. 13) represente o poder demoníaco que está detrás de cada império conquistador, e também aponte para a vinda de um anticristo no tempo final, parece ser evidente que o autor do livro o redige pensando no império romano de seu tempo e, mais precisamente, na perseguição da igreja sob Domiciano,, um dos mais terríveis Domiciano imperadores a perseguir o cristianismo, exigindo, inclusive, a veneração de sua imagem. Recentemente, arqueólogos encontraram naquela região da Ásia Menor, moedas romanas tendo de um lado a figura do rosto de Domiciano e, do outro, uma numeração em algarismos romanos equivalente ao número 666. João na ilha de Patimos Patimos - Fonte: Fonte: Wikimedia Wikimedia Commons Commons O cristianismo colidiu com o Estado e com a religião do Estado; o culto a Cristo colidiu com o culto imperial. A comunidade cristã e o poder civil pagão defrontamse em chocante oposição. O estado romano fornece a estrutura para a Besta, o cruel inimigo da igreja (13:1ss); a Roma pagã é a prostituta que está sentada sobre a Besta (17:1ss). As igrejas da Ásia Menor têm de sofrer sob seus ataques (2:3, 3:8), o sangue dos mártires já correu em Pérgamo (2:13). Já nas visões dos selos aparece, diante dos olhos 154
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do vidente, uma multidão de mártires cristãos, sob o altar no céu (6:9). Entretanto, estes acontecimentos do presente constituem apenas uma espécie de prelúdio prelúdio da grande batalha decisiva que que o futuro trará, trará, “a hora da tentação que virá sobre o mundo inteiro, para colocar à prova os habitantes da terra” (3:10), em que o número de mártires divinamente pré-determinado ficará completo (6:11).
�. Q������� L�������� L ���������� Uma parte da tradição antiga identifica já bem cedo este João com o apóstolo João, filho de Zebedeu, autor do 4º evangelho. Quanto à data, temos o testamento de Irineu do século II. Segundo ele, o Apocalipse foi escrito pelo fim do reino de Domiciano, em 96, durante a perseguição generalizada e sangrenta dirigida contra os cristãos. Quanto ao lugar e propósitos, foi escrito na Ásia Menor a fim de encorajar as comunidades cristãs à perseverança e tornálas confiantes na inerente vitória de Cristo. Sobre o gênero literário conhecido como apocalíptico, Zuck (2008, p.193195) afirma: “a literatura apocalíptica usa muitas imagens e simbolismos. [...] Os leitores do século I, quer judeus, quer pagãos helênicos, quer cristãos eram mais versados em imagem apocalíptica que a média dos leitores de hoje”. Além do gênero apocalíptico é possível encontrar, ainda, outros gêneros como, por exemplo, as epístolas (cartas) pastorais para as sete igrejas da Ásia Menos, conforme veremos na sequencia.
�. C������� •
Setes cartas (as sete igrejas) As sete cartas contidas no livro, destinadas às igrejas da Ásia Menor, fazem alusões a situações precisas. Quanto à autoria, nomeiase com insistência: “Eu João” (1:4;9; 22:8). Encontra-se na ilha de Patmos, no oeste da Ásia Menor “por causa da palavra de Deus”, o 155
que pode significar ou que ele chegou lá com a intenção de pregar o evangelho, ou então que ele foi exilado por ali por ter pregado o evangelho. Vejamos o quadro abaixo como o resumo do material contido nas cartas1.
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Centralidade de Cristo “O tema principal de Apocalipse é que Deus reina sobre a história e que a trará a um clímax triunfante em Cristo” 2 . No primeiro capítulo (versículo 12-20) Cristo “aparece como o Rei e Juiz majestoso do universo e o Soberano das igrejas” • Afirmações-chave
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Cenas Michael Wilcock (2003) propõe uma interessante e didática divisão temática do livro em oito cenas. Vejamos cada uma delas:
Notas Introdutórias da Bíblia de Estudo de Genebra: Apocalipse de João (Editora Cultura Cristã). 2 Ibidem. 3 Conforme Hörster, Gerhard. Introdução e Síntese do Novo estamento. Curitiba: Esperança, 1996, .113,114 (versão digitalizada). 1
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C�������� Com o término dessa unidade chegamos, então, ao fim de nosso curso. O Mundo do Novo estamento é fascinante e, também, muito vasto.. Po vasto Porr isso nosso objetivo objetivo,, desde o começo foi introduzi-los em cada tema proposto nas unidades. Espero que tenha sido proveitoso proveitoso e que desperte em cada um o desejo pelo aprofundamento nos temas e livros bíblicos (evangelhos, cartas, etc.) que apresentamos no decorrer do curso. Estou à inteira de disposição de todos para aquilo que julgarem necessário! necessário! Vamos Vamos em frente! frente!
R����������� B������������� R��������� HÖRSER, Gerhard. Introdução e Síntese do Novo Testamento. Curitiba: Esperança, 1996. WILCOCK, Michael. A mensagem de Apocalipse: eu vi o céu aberto . São Paulo: ABU Editora, 2003. ZUCK, Roy B. Teolog eologia ia do Novo Testamento . Rio de Janeiro: CPAD, 2008.
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