Há
doenças que, quando curadas, deixam o homem sem mais nada . Henri Michaux (1899-1984) Tinha mais do que cinco sentidos, disse-o num dos seus poemas. O da falta , era um deles. Ou seria antes uma grande floresta, daquelas que já não existem na Europa há mui to tempo? Percorreu os territórios sensoriais e geográficos contra os incêndios que def lagram nas florestas mais íntimas e oclusas do ser. Foi queimador de ópio na Ásia; foi qu eimador de charque e ayohasca na Amazónia; da morfina parisiense ou da mescalina no Cairo (experiências de pouca monta), mais do que tudo, foi um queimador de paisag ens interiores. Fogos vitais a que supra-viveu; outros, nocivos e pouco fátuos, le varam-lhe partes da vida (Marie Louise Ferdière, sua mulher, Alfredo Gangotena, po eta-companheiro de viagem, Susana Soca, amiga íntima, todos morreram queimados). V ida poética também inspirada pelo vazio (Michaux dixit), pela força furibunda do vazio . Vazio e fogo, o rastilho existencial deste homem de coração débil, pequeno buraco no peito do qual sobrava sempre a lavra da poesia (da sua poética), medonhamente inext inguível. Ferida aberta que devora, tritura, aniquila aniquila, tritura, devora. É i mpossível a fixação dos seus textos: fugidios, escapáveis, metamorfoses furtivas, degene rativos, meidosens Michaux foi sensacionista pessoano sem fronteiras e limites de h eteronímia. Tão-pouco quero reproduzir seja o que for do que já está no mundo . Assim jogou tudo vida-morte, lucidez-loucura com a sua própria pele; ajustou conta s consigo e com o mundo através das suas artérias. Escrevo para me percorrer. Pintar, compor, escrever: percorrer-me. Reside nisto a aventura de estar vivo . DESCANSE NA REVOLTA No no no no na na
negrume, na noite estará sua memória que sofre, no que sua que busca e não acha batelão de desembarque que arrebenta na praia partida assoviante da bala traçadeira ilha de enxofre estará sua memória.
No no no no no
que em si tem sua febre, a quem paredes não importam que se lança e só tem cabeça contra as paredes ladrão não arrependido fraco para sempre recalcitrante pórtico estripado estará sua memória.
Na no no no
estrada que obseda coração que busca a praia amante a quem o corpo foge viajante a quem o espaço rói.
No túnel no tormento em torno a si girando no que ousa machucar os cemitérios. Na órbita inflamada dos astros que se chocam explodindo no navio fantasma, na noiva emurchecida na canção crepuscular estará sua memória. Na na na na
presença do mar distância do juiz ceguidade taça de veneno.
No capitão dos sete mares na alma de quem lava a adaga no órgão de caniço a chorar por todo um povo
no dia do escarro em cima da oferenda. Na fruta de inverno no pulmão das batalhas que retomam no louco na chalupa. Nos braços tortos dos desejos para sempre saciados estará sua memória. Henri Michaux (Trad. Mário Laranjeiras) EU REMO Eu Eu Os Eu
maldisse tua fronte teu ventre tua vida maldisse as ruas que teu andar desfia objetos que tua mão segura maldisse o interior dos teus sonhos
Pus uma poça no teu olho que não vê mais Um inseto em teu ouvido que não ouve mais Uma esponja em teu cérebro que não entende mais Eu te esfriei na alma do teu corpo Eu te gelei na tua vida profunda O ar que tu respiras te sufoca O ar que tu respiras tem um ar de adega É um ar que já foi antes expirado que já foi rejeitado por hienas O esterco desse ar já ninguém pode respirar Tua pele está toda úmida Tua pele sua a água do grande medo Tuas axilas desprendem longe um cheiro de cripta Os animais estacam à tua passagem Os cães, à noite, uivam, cabeça erguida para a tua casa Tu não podes fugir Não te vem uma força de formiga na ponta do pé Tua fadiga é um touro de chumbo no teu corpo Tua fadiga vai até o país de Nan Tua fadiga é inexprimível Tua boca te morde Tuas unhas te arranham Não mais é tua a tua mulher Não mais é teu o teu irmão A planta de seu pé é mordida por serpente furiosa Babaram sobre tua progenitura Babaram sobre o riso da tua filhinha Passaram a babar diante da face da tua moradia O mundo afasta-se de ti Eu remo Eu remo Eu remo contra a vida Eu remo Eu me multiplico em remadores inumeráveis Para remar mais fortemente contra ti
Descambas para o vago Estás sem fôlego Tu te cansas antes mesmo do menor esforço Eu remo Eu remo Eu remo Tu te vais, ébrio, amarrado ao rabo de um jumento A embriaguez como imenso guarda-sol a escurecer o céu E a reunir as moscas A embriaguez vertiginosa dos canais semicirculares Começo mal ouvido da hemiplegia A embriaguez não mais te deixa Te deita à esquerda Te deita à direita Te deita no chão pedrento do caminho Eu remo Eu remo Eu remo contra teus dias Na moradia do sofrer tu entras Eu remo Eu remo Numa fita preta as tuas ações se inscrevem No grande olho branco de um cavalo caolho rola o teu futuro EU REMO Henri Michaux (Trad. Mário Laranjeiras) POEMAS DE HENRI MICHAUX MAGIA I Antigamente eu era muito nervoso. Agora estou num novo caminho: Coloco uma maçã em cima da mesa. Depois me coloco dentro da maçã. Que tranquilidade! Isso parece simples. Entretanto, havia vinte anos que tentava; e não teria consegu ido, querendo começar por ali. Por que não? Talvez me sentisse humilhado em virtude de seu tamanho diminuto e de sua vida opaca e lenta. É provável. Os pensamentos da c amada inferior raramente são belos. Então comecei de outra forma e me uni ao Escalda. Em Anvers, onde eu o encontrava, o Escalda é largo e importante e movimenta um gra nde fluxo. Ele recebe os navios de alto bordo que se aproximam. É um rio, um verda deiro rio. Decidi unir-me a ele. Permanecia no cais o dia inteiro. Mas eu me dispersava em numerosas e inúteis perspectivas.
E depois, à minha revelia, olhava as mulheres de vez em quando, e isso não condiz co m um rio, nem com uma maçã, nem com nada na natureza. Então o Escalda e mil sensações. O que fazer? Subitamente, tendo renunciado a tudo, en contrei-me..., não direi em seu lugar, pois, na verdade, nunca foi exatamente assi m. Ele corre incessantemente (eis uma grande dificuldade) e desliza em direção à Holan da onde encontrará o mar e a altitude zero. Retorno à maçã. Lá, novamente, houve tateios, experiências; é uma longa história. Partir é po cômodo, assim como falar sobre isso. Mas, em uma palavra, posso dizer-lhes. Sofrer é a palavra. Quando cheguei à maçã, estava congelado. II Assim que a vi, desejei-a. De início, para seduzi-la, disseminei planícies e planícies. Planícies saídas do meu olhar estendiam-se doces, amáveis, reconfortantes. As idéias de planície foram ao encontro dela e, sem o saber, ela as percorria, senti ndo-se satisfeita. Percebendo-a bem segura, eu a possuí. Isso feito, depois de um pouco de repouso e quietude, voltando ao meu natural, d eixei reaparecerem minhas lanças, meus trapos, meus precipícios. Ela sentiu um grande frio e que tinha se enganado completamente a meu respeito. Ela foi embora, a fisionomia desfeita e esvaziada, como se tivesse sido roubada. III Acho difícil acreditar que isso seja natural e conhecido por todos. Às vezes eu fico tão profundamente entranhado em mim mesmo numa bolha única e densa que, sentado sob re uma cadeira, a menos de dois metros da lâmpada colocada sobre a mesa de trabalh o, é com grande dificuldade e após um longo tempo que, apesar dos olhos bem abertos, consigo lançar um olhar até ela. Uma emoção estranha toma conta de mim quando dou esse depoimento sobre o círculo que m e isola. Parece-me que um obus ou até mesmo um raio não conseguiriam me atingir de tantas cam adas de todas as partes que tenho aplicadas sobre mim. Simplesmente, seria bom que a raiz da angústia estivesse enterrada por algum tempo . Nesses momentos eu tenho a imobilidade de uma cova. IV Este dente da frente cariado me enfiava as suas agulhas muito acima da raiz, qua se sob o nariz. Terrível sensação!
E a magia? Talvez, mas então é preciso alojar-se em bloco quase sob o nariz. Que des equilíbrio! E eu hesitava, ocupado com outras coisas, um estudo sobre a linguagem. Nesse momento uma velha otite, que dormia há cinco anos, despertou com sua fina pe rfuração no fundo da orelha. Portanto, eu precisava me decidir. Molhado, melhor lançar-se à água. Abalado em sua po sição de equilíbrio, melhor procurar outra. Abandono então o estudo e me concentro. Em três ou quatro minutos, elimino a dor da otite (eu conhecia o caminho). Quanto ao dente, precisaria do dobro de tempo. El a ocupava um lugar tão ridículo, quase sob o nariz. Por fim ela desaparece. É sempre assim; só a primeira vez é uma surpresa. A dificuldade é encontrar o lugar da d or. Assegurado o lugar, é só dirigir-se naquela direção, às apalpadelas na sua noite, proc urando circunscrevê-lo (por não terem concentração, os ansiosos sentem a dor em todos os lugares), depois, à medida que é circundado, deve-se observá-lo mais cuidadosamente, pois ele se torna menor, menor, dez vezes menor que uma ponta de agulha; todavia , você o vigia sem descanso, com atenção crescente, projetando nele sua euforia até que não haja diante de você nenhum núcleo de dor. Você realmente o encontrou. Agora, é preciso permanecer ali sem esforço. Cinco minutos de concentração devem produzi r uma hora e meia ou duas horas de calma e insensibilidade. Falo em relação aos home ns que não são especialmente fortes ou dotados; por sinal é o meu tempo. (Por causa da inflamação dos tecidos, subsiste uma sensação de pressão, de pequeno volume isolado, como subsiste após a injeção de um líquido anestésico.) V Sou tão fraco (eu o era, sobretudo), que se pudesse coincidir em espírito com o que quer que fosse, eu seria imediatamente subjugado e engolido por ele e estaria in teiramente sob sua dependência; mas eu fico de olho, atento, antes aferrado a ser sempre muito exclusivamente eu. Graças a essa disciplina, agora tenho chances cada vez maiores de nunca coincidir com nenhum espírito e de poder circular livremente nesse mundo. Melhor assim! Tendo me fortalecido a esse ponto, lançarei um desafio ao mais poder oso dos homens. O que a sua vontade me faria? Eu me tornei tão agudo e circunstanc iado que, estando diante dele, ele não conseguiria encontrar-me. Traduções: Izabela Leal
espanhol EN PROSA EN CAMA La enfermedad que tengo me condena a una inmovilidad aburrimiento cobra proporciones excesivas y que van ervengo, he aquí lo que hago: Aplasto mi cráneo y lo extiendo delante de mí lo más planado, saco a mi caballería. Se oye claramente los
absoluta en cama. Cuando mi a desequilibrarme si no int lejos posible y, cuando está bien a golpes de los cascos en ese s
uelo firme y amarillento. Los escuadrones comienzan el trote de inmediato, y pia fan, y dan coces. Y ese ruido, ese ritmo nítido y múltiple, ese ardor que respira co mbate y victoria, fascinan el alma del hombre que, clavado en cama, no puede hac er ni un movimiento. CUANDO LAS MOTOS VUELVEN AL HORIZONTE Lo única cosa que realmente aprecio, es una moto. ¡Oh! ¡Qué piernas más finas, finas! Apen as si las vemos. Y mientras admiramos así de rápidas son , ya ellas vuelven velozmente al horizonte, que nunca dejan sino muy a pesar suyo. ¡Es eso lo que hace soñar! ¡Es eso lo que hace mear a los perros con expresión soñadora a los pies de los árboles! Es eso lo que nos vuelve a sumergir en el sueño a nosotros, al resto, y que siempre nos lleva a retirarnos detrás de las ventanas, de las ven tanas, de las ventanas de grandes horizontes. VISIÓN De golpe, el agua enjabonada donde ella se lavaba las manos se transformó en vidri os cortantes, en duras agujas, y la sangre, como es su costumbre, salió dejando a la mujer arreglárselas. Poco después, como es corriente en este siglo obsesionado con la limpieza, llegó un hombre, él también con la intención de lavarse, se arremangó bien alto, se untó el brazo c on agua espumosa (ahora sí era espuma) pausada, atentamente, mas insatisfecho, lo rompió con un golpe seco contra el borde del lavamanos, y se puso a lavar otro más l argo que le creció enseguida, como sustituto del primero; era un brazo suavizado p or un vello más poblado y sedoso, pero al tenerlo bien enjabonado, casi con amor, de pronto dirigiéndole una mirada dura, de pronto insatisfecho, lo rompió, ¡kha!, y asi mismo rompió otro que le creció en su lugar, y luego el siguiente, y luego otro más, y luego otro más (nunca estaba satisfecho), y así hasta diecisiete, ¡pues yo, en mi esp anto, contaba! Después desapareció con un decimoctavo que prefirió no lavar y utilizar tal cual para las necesidades del día. UN HOMBRE APACIBLE Alargando las manos fuera de la cama, a Pluma le sorprendió no encontrar la pared. Vaya pensó, las hormigas se la habrán comido y volvió a dormirse. Poco después, su mujer lo agarró y lo zarandeó y le dijo: ¡Mira, vago! Mientras estabas ocupado durmiendo, nos han robado la casa. Efectivamente, un cielo intacto se ext endía hacia donde mirara. Bah, lo hecho, hecho está , pensó. Poco después, se oyó un ruido. Era un tren que se les echaba encima a toda máquina. Por la prisa que parece llevar pensó, llegará seguramente antes que nosotros y volvió a dorm irse. Luego, lo despertó el frío. Estaba completamente empapado de sangre. Cerca de él, yacían algunos pedazos de su mujer. Con la sangre pensó surgen siempre cantidad de molestia s; me hubiese alegrado mucho que no pasara el tren. Pero en vista de que ya pasó y v olvió a dormirse. -A ver decía el juez, cómo explica usted que su mujer se haya herido hasta el punto d e que la encontrasen destrozada en ocho pedazos, sin que usted, que estaba al la do, pudiera hacer un gesto para impedírselo, sin haberse dado cuenta siquiera. He ahí el misterio. En ello radica todo este asunto. -En ese sentido, yo no puedo ayudarlo pensó Pluma, y volvió a dormirse. -La ejecución tendrá lugar mañana. Acusado, ¿tiene usted algo que añadir? -Discúlpeme dijo, no he seguido el juicio. Y volvió a dormirse. UNA CABEZA SALE DE LA PARED Por la noche, mucho antes de que el cansancio me lleve a hacerlo, tengo la costu mbre de apagar la luz.
Tras unos minutos de duda y sorpresa, durante los cuales espero tal vez poder di rigirme a un ser, o que un ser venga a mí, veo una cabeza enorme de casi dos metro s de superficie que, ni bien se forma, arremete contra los obstáculos que la separ an del aire libre. De entre los restos del muro perforado por su fuerza, aparece en el exterior (la siento más de lo que la veo) seriamente herida y luciendo las huellas de un esfue rzo doloroso. Llega con la oscuridad, regularmente desde hace meses. Si entiendo bien, en este momento es la soledad que me pesa, de la cual aspiro s alir subconscientemente, sin saber cómo hacerlo todavía, y que expreso de este modo, sacando de ello, sobre todo en el auge de los golpes, una gran satisfacción. Naturalmente, esa cabeza vive. Tiene vida propia. Se precipita así miles de veces a través de techos y ventanas, a toda velocidad y co n la obstinación de una biela. ¡Pobre cabeza! Pero para salir realmente de la soledad uno debe ser menos violento, menos iracu ndo, y carecer de un alma capaz de conformarse con un espectáculo. A veces, no sólo ella, sino yo mismo, con un cuerpo fluido y duro que me siento, b ien distinto del mío, infinitamente más ágil, flexible e inatacable, embisto a mi vez con ímpetu y sin tregua, puertas y paredes. Me encanta abalanzarme de frente contr a el armario de luna. Golpeo, golpeo, golpeo, destripo, tengo satisfacciones sob rehumanas, supero sin esfuerzo la ira y el impulso de los grandes carnívoros y las aves de rapiña, tengo un arrebato que está más allá de cualquier comparación. Luego, sin embargo, al pensarlo, me sorprende, me sorprende cada vez más que después de tantos golpes, el armario de luna no se haya resquebrajado aún, que la madera no haya sol tado un solo crujido.
POEMA FINAL DE LA VIDA EN LOS PLIEGUES Ha llegado con las lluvias, camarada, aquel a quien, por lo que dicen, lleva cad a uno en la espalda. Ha llegado con las lluvias, triste, y no se ha secado aún. Yo he arrancado algunas veces desde entonces. He abordado unas cuantas orillas n uevas. Pero no he podido desentristecerlo. Me canso ahora. Mis fuerzas, mis última s fuerzas... Su ropa mojada ¿dónde está la mía para empezar? me da escalofríos. Ya va siend hora de volver a casa. LA VEJEZ DE POLLAGORAS Me encantaría saber por qué siempre soy yo el caballo que monto Con la edad dice Pollagoras me he vuelto semejante a un campo en el cual hubo batalla, batalla hace siglos, batalla ayer, un campo de muchas batallas. Muertos nunca muertos del todo deambulan en silencio o descansan. Podríamos cr eerlos libres del deseo de vencer. Pero de pronto se animan, los que estaban acostados se levantan y atacan bi en armados. Acaban de toparse con el fantasma del rival de antaño, quien, a su vez , sobresaltado, de golpe arremete febril, preparado el quite, obligando a mi cor azón a acelerar su movimiento en el pecho y en el ser ceñudo que se anima a su pesar . Entre ellos libran sus batallas sin tregua, ciegos tanto a las precedentes com o a las siguientes, cuyos héroes circulan anónimos y pacíficos hasta que, topándose a su vez con el rival contemporáneo, se incorporan en un instante y se lanzan irresist iblemente al combate. Así es como tengo mis años dice Pollagoras , por esta acumulación.
Atestado de batallas ya libradas, reloj de escenas cada vez más numerosas que rugen, cuando yo quisiera estar en otra parte. Así, como una mansión abandonada al Poltergeist, vivo sin vivir, lugar de aparicione s que no me interesan ya, aunque ellas aún se apasionen y tumultuosamente se rehag an en un febril rebobinarse que no puedo parar.
EN VERSO DESCANSO EN LA DESDICHA Desdicha, gran arador mío, Desdicha, siéntate, Descansa, Descansemos un poco tú y yo, Descansa, Me encuentras, me pones a prueba, me lo pruebas. Soy tu ruina. Gran teatro mío, mi puerto, mi hogar, Mi sótano de oro, Mi porvenir, mi auténtica madre, mi horizonte. En tu luz, en tu amplitud, en tu horror Me abandono. MI SANGRE El Es No Me Me
caldo de mi sangre en que chapoteo mi poeta, mi lana, mis mujeres. tiene corteza, se hechiza, se expande. llena de vidrios, de granito, de tiestos. desgarra. Vivo en las trizas.
En la tos, en lo atroz, en el trance Construye mis castillos Y los ilumina En telas, en tramas, en manchas. SOY GONG En mi canto de ira hay un huevo Y en ese huevo están mi madre, mi padre y mis hijos, Y en ese todo hay alegría y tristeza mezcladas, y vida. Fuertes tormentas que me han socorrido, Gran sol que te me has opuesto, Hay odio en mí, fuerte y antiguo, Y de la belleza nos ocuparemos más tarde. No me volví duro, en efecto, sino lámina a lámina; Si supieran cómo he quedado blando en el fondo. Soy gong y algodón y canto de nieve, Lo digo y estoy seguro. FRAGMENTO DE PASAJES ¿Qué hago?
Llamo. Llamo. Llamo. No sé a quién llamo. A quién llamo, no lo sé. Llamo a alguien débil A alguien roto A alguien orgulloso que nada pudo quebrar. Llamo. Llamo a alguien de allí, A alguien perdido a lo lejos, A alguien de otro mundo. (¿Mi solidez era, entonces, pura mentira?) Llamo. Frente a este instrumento tan claro, Frente a este instrumento cantor que no me juzga, Que no me observa, Perdiendo toda vergüenza, llamo, Llamo, Llamo desde el fondo de la tumba de mi infancia Que pone mala cara y se contrae todavía, Desde el fondo de mi desierto presente, Llamo, Llamo. El llamado me asombra a mí mismo. Aunque sea tarde, llamo. Para reventar el techo Sin duda Ante todo Llamo.
VEJEZ ¡Noches! ¡Noches! ¡Cuántas noches para una sola mañana! ¡Islitas dispersas, cuerpos de fundición, costras! ¡Miles de nosotros se acuestan en la cama, fatal desenfreno! Vejez, veladora, recuerdos: arena de la melancolía. ¡Aparejos inútiles, lento desmontarse! ¡Así que ya nos echan! ¡A empujones! ¡Salir a empujones! Plomo del descenso, con niebla a la espalda Y la pálida estela de no haber podido Saber. PERO TÚ ¿CUÁNDO VENDRÁS? Pero Tú, ¿cuándo vendrás? Un día, alargando Tu mano Por sobre el barrio donde vivo, En el instante maduro en que de veras desespero; En un segundo atronador, Arrancándome con terror y soberanía De mi cuerpo y del cuerpo lleno de costras De mis ideas-imágenes, ridículo universo; Soltando en mí Tu sonda atroz, La espantosa fresadora de Tu presencia,
Vendrás elevando en un instante sobre mi diarrea Tu recta e insalvable catedral; Proyectándome, no como hombre, Sino como proyectil en la vía vertical. Vendrás, si existes, Seducido por mi desperdicio, Mi odiosa autonomía. Saliendo del cielo, de donde sea, de debajo de mi ego conmovido, quizá; arrojando mi cerilla en Tu desmesura, y adiós, Michaux. O si no, ¿qué? ¿Nunca? ¿No? Di, Premio Gordo, ¿dónde quieres caer entonces? LLÉVENME Llévenme en una carabela, En una suave y vieja carabela, En el estrave, o si quieren, en la espuma, Y piérdanme a lo lejos, a lo lejos. En En En En
el el el la
atelaje de otra edad. engañoso terciopelo de la nieve. aliento de una jauría de perros. tropa exhausta de las hojas secas.
Llévenme sin quebrarme, en los besos, En los pechos que se levantan y respiran, Sobre los tapices de las palmas, En los corredores de los huesos largos y las articulaciones. Llévenme o, mejor dicho, entiérrenme. EN EL CAMINO DE LA MUERTE En el camino de la Muerte Mi madre se topó con una gran banquisa; Quiso hablar, Ya era tarde, Una gran banquisa de algodón. Nos miró, a mi hermano y a mí, Y luego lloró. Le dijimos mentira realmente absurda Que entendíamos perfectamente. Sonrió entonces con esa sonrisa, llena de gracia, de cuando No era más que una jovencita -Lo que en el fondo era , Una sonrisa tan bonita, casi traviesa; Luego, fue tomada en lo Opaco. MI VIDA Mi vida, te vas sin mí. Ruedas. Y yo sigo esperando para dar un paso.
Te llevas a otra parte la batalla. Así me desiertas. Nunca te seguí. No me resultan claras tus ofertas. Lo poquito que deseo, no lo traes nunca. Por esa falta, aspiro a tanto. A tantas cosas, a casi el infinito. Por ese poco que falta, que no traes nunca. LA MUCHACHA DE BUDAPEST Tomé sitio en la niebla tibia de un aliento de muchacha. Me fui, no dejé mi sitio. Sus brazos no pesan nada. Se los encuentra como el agua. Lo marchito se esfuma en su presencia. Solo sus ojos quedan. Largas y hermosas yerbas, flores largas y hermosas crecían en nuestro campo. Obstáculo tan leve en mi pecho, cómo te apoyas ahora. Te apoyas tanto, ahora que ya no estás. LA NOCHE En la noche En la noche Me he unido a la noche A la noche ilimitada A la noche Mía, hermosa, mía Noche Noche natal Que me inunda de mi propio grito De mi trigo Tú que me invades Que haces oleaje oleaje Que haces oleaje por todas partes Y echas humo, y eres tan densa Y muges Y eres la noche. Noche yacente, noche implacable. Y su fanfarria, y su playa, Su playa en lo alto, su playa en todas partes, La playa bebe, su peso es rey, y todo cede debajo de él debajo de él, debajo de algo más fino que un hilo, Bajo la noche La noche. ¡EN CONTRA! Yo les construiré una ciudad de andrajos. Sin planos y sin cemento les construiré un edificio que no destruirán Y que sostendrá e hinchará una especie de evidencia espumeante, Que irá a rebuznarles a las narices y a las heladas narices De todos sus Partenones, sus Artes Árabes y sus Mings. Con humo, con la dilución de la niebla y del ruido de pieles de tambor, Yo les asentaré soberbias fortalezas aplastantes, Fortalezas hechas exclusivamente de torbellinos y temblores, Contra las cuales su orden multimilenario y su geometría Caerán en un amasijo de sandeces y polvo de arena sin sentido.
¡Tañido fúnebre! ¡Tañido fúnebre! ¡Tañido fúnebre! ¡Sobre todos ustedes! ¡La nada sobre los v ¡Sí, creo en Dios! Por supuesto, él no lo sabe. Fe, suela inagotable para quien no avanza. ¡Oh mundo, mundo estrangulado, vientre frío! ¡Ni siquiera un símbolo, sólo la nada! ¡Estoy en contra! ¡Estoy en contra! ¡Estoy en contra y te cebo con cadáveres de perros! ¡A toneladas, me oyen, a toneladas les arrancaré Lo que me han negado en gramos! El veneno de víbora es su fiel compañero. ¡Fiel! Y él lo estima en su valor justo. Hermanos, malditos hermanos míos, síganme con confianza, Los colmillos del lobo no abandonan al lobo, Es la carne de cordero la que cede. ¡En lo oscuro, veremos claro, hermanos míos! ¡En el laberinto encontraremos el camino! ¡Osamenta! ¿Acaso cabes aquí? ¡Estorbo! ¡Meona! ¡Tiesto roto! ¡Polea quejumbrosa! ¡Cómo vas a sentir los cordajes tensos de los cuatro mundos! ¡Cómo voy a descuartizarte!