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G u stavo Fe rn a n d e s M e i re les
---i: .. : uf E---i o Filho no de de Araúj Araújo Targino Targi Reitor letti ti Ju ni or Galet Pedro M anoel Ga Pedro M or Vice-Reitor Vice-Reit io Serra Truzz Truzzii Oswaldo Már io Osw
ANATO O INTEL ARTES ESANAT TUAL A PE COM MO ART INTELEC ECTUAL SQUISA SA CO PESQUI ERAÇÕEES SOBRE MÉ MÉTODO E BOM SENSO CONSIDERAÇÕ 1• reim reimpre pre ssão
da Ed ar Diretor da itora ra da UFSC UFSCar Edito
ndim Gondim Linda M. P. Go Linda
r1os d e São Ca Car1 ora da Universid ade e Federa Federall de SCar • Edit Editora Universidad EdUFSCar EdUF
Carrlos Lima Jacob Ca Conselho Edito Conselho riall Editoria José E duardo dos Santos dos Santos oury ry é Renato C Cou José Jos Nale le Nivaldo Na ealii Nu Paulo R Real nes s Nune Serra rra Truzzi Truzzi (Pres idente) nte) aldo do Mário Mário Se (Preside Osw al Adr ian a da Silva '}
etária Executiva Secr etária Secr
- 4
UFSCar UFSCar Ed São Carl os, 2010 Carlos,
G u stavo Fe rn a n d e s M e i re les
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ANATO O INTEL ARTES ESANAT TUAL A PE COM MO ART INTELEC ECTUAL SQUISA SA CO PESQUI ERAÇÕEES SOBRE MÉ MÉTODO E BOM SENSO CONSIDERAÇÕ 1• reim reimpre pre ssão
da Ed ar Diretor da itora ra da UFSC UFSCar Edito
ndim Gondim Linda M. P. Go Linda
r1os d e São Ca Car1 ora da Universid ade e Federa Federall de SCar • Edit Editora Universidad EdUFSCar EdUF
Carrlos Lima Jacob Ca Conselho Edito Conselho riall Editoria José E duardo dos Santos dos Santos oury ry é Renato C Cou José Jos Nale le Nivaldo Na ealii Nu Paulo R Real nes s Nune Serra rra Truzzi Truzzi (Pres idente) nte) aldo do Mário Mário Se (Preside Osw al Adr ian a da Silva '}
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UFSCar UFSCar Ed São Carl os, 2010 Carlos,
C 200 2006 6, Li nda M. P. Gondim. Jac Jacob Carlos Uma publlicada pela Edit Obra anteriorm anteriormente Edito ora Manufatura (Coleção S ociologia). ente pub
SUMARIO SUMARIO
Pes ssoa, 2002. ISBN 85-8793985-87939-24-6 24-6 João Pe Preparaçã Prepara ção o e revisão de teKto
INTROD IN TRODUÇÃO UÇÃO ......... ......... ........... ......... ........... ......... ........... . 7
Gl ucia Lucas Ramoros lngrid Pereira de Souza Souza Favoretto
OMO ATIVIDAD 1 A PESQU PESQUISA ISA COMO ATIVIDADE ESANAL" L" ..... ..... 13 E " AR T ESANA
apa Arte da c apa Sgu,ssardi Luís Gustavo Gustavo Sousa Sgu ,ssardi
1.1 Po Por que fazer uma dissertação ou uma tese .............................. ........................................ acadêmica? acad ........................................ êmica? ......... ........................ 15 pesquisaador.. ........... 1.2 Caracte Características ....................... rísticas do bom pesquis ............ 20 orientadorr como parceiro intelectual.. intelectual................ .................. 26 1.3 O orientado 1.4 Como escrever textos escrever tex tos que não torturem os .................................... ........................................ leito leit ........................................ ores ............... .......................... 34
ráf ica Pr od od ução ica ução g ráf Luí s Gustavo Sousa Sgu1ssard Sgu1ssardii E ditoração eletrônica Vít ítor Lopes or Massola Gonzales Lope s Luís Gustavo Sous Sousa Sgu,ssardi 1• edição - 2006
PROJETO JETO DE PESQU 2 CONS CONSIDER IDERAÇÕE ESQUISA AÇÕESS SOBRE O PRO ISA .. 41 41
1• reimpressão - 2010 elaborada Ficha catalográlica elab orada pelo De DeP PT da Biblioteca C omunitária da UFSCar
G637p G637p
•
Gondim, Linda Linda M. P. A pesquisa como como artesanato intelectual. electual. cons,der,ç cons,der,çóes artesanato int óes sobre método método e bom Gond1m, bom senso/ Linda Linda M. P. Go nd1m, Jacob Ja cob Carlos lima. - São Carlos . EdUFSCer , 2010. 88 p. 978-85·76 8-85·7600-0B•-6 00-0B•-6 ISBN - 97
1, Pesquisa - metodolo Sociologia. 1. Título. metodologia. gia. 2. Sociologia.
COO - O OU2 120-) C D UU- 001.8 reservados.. Nenhuma pode ser reproduzida ou transm1t1da Todos os dire Todos direito itos Nenhuma parte d desta s reservados esta obra pode transm1t1da (elelrOnicos por qualquer por quaisquer meios (elelrOnic os ou mecãnicos, mecãnicos, incluindo qualquer forma e /ou quaisquer incluindo fot fotocópia ocópia e grae graarquivada em qualquer sIs1em 1emll ll de ba banco veçâo) ou arquivada qualquer sIs nco de dados sem permiss permissão ão escrita d do o titular do direito direito autoral. autoral.
2.1 Estrut Estrutura do projeto de pesquisa 46 processo de cons 2.2 O proce construção do projeto de pesquisa pe squisa 60 2.33 Critérios para a esc 2. escolha do tema e do objeto de .................................. pesquisa ............. ........................................ ........................................ ......................... 61 exploratória de pesquisa e a organização 2.4 A etapa expl organização ........... .......... . .................... ................... doss dados do .................... ........................................ .......................... 70 CONCLUSÃ CONC LUSÃO O ......... ........... ......... ........... ......... ........... ......... . 79 RE FERÊN BIBLIOGRÁ FERÊNCI CI A S BIBL IOGRÁFICA FICASS
83
SOBRE SOBR ................ E OS AUTO A UTORES ........... ......... ........... .......... .......... . 87 RES .....
INTRODUÇÃO
-
:E
/
professor sor de metodologia de Um desafio para qualquer profes pesquisa pesqui sa é despertar o interesse dos alunos pela disciplina. Isto porque a questão do método, ou mesmo o mito do método, é responsável por boa parte das "neuras" dos estudantes que iniciam a carreira de pesquisador na área de Ciências Sociais. Ministrada ora como epistemologia, ora como receituário de técnicas de pesquisa, a disciplina é apresentada, geralmente, de forma árida, refletindo as dificuldades de operacionalização, que se evidenciam desde o seu ensino na graduação. Essas dificuldades são intrínsecas às Ciências Sociais, estando presentes nos deestando presentes buscam uma metodolo bates bat es entre sociólogos, os quais quais buscam gia adequada para o desenvolvimento da área. É possível ver,, por ver po r exemplo, as as referências de C. C. W. W. Mills (1975) e H. Becker (1997) acerca da metodologia como disciplina autônoma e da relevãncia da discussão metodológica na pesquisa pesq uisa.. Mills (1975) considera que as discussões verdadeiramente úteis, tanto sobre método quanto sobre teoria, são aquelas apresentadas no contexto de pesquisas em
8
9
andamento ou a serem iniciadas, assumindo, geralmente,
sua postura de guardiã do método, o autor afirma que
a forma de "notas marginais''. Quem detém o domínio
entre os ganhadores dos principais prêmios da área não
da teoria e do método, "tem consciência das suposições
se encontra nenhum "metodólogo''.
e implicações do [trabalho] que pretende fazer" (MrLLS, 1975,p.133).
Essas considerações, ao evidenciarem as estreitas relações entre teoria, metodologia e prática de pesquisa,
Assim, por um lado, os resultados do estudo só se-
indicam que a sociologia não pode ser confundida com
rão confiáveis se houver uma clara percepção da forma
discurso filosofante, isolado de problemática empírica.
pela qual é realizado o ofício de pesquisador; por outro
Tal discurso, freqüentemente, apoia-se apenas em uma
lado, o método só terá importância "se houver uma de-
linguagem grandiloqüente, desprovido de qualquer fun-
terminação de que o estudo tenha resultados significa-
damento, inclusive filosófico. O trabalho sociológico
tivos" (p. 133). Nem o método nem a teoria, devem ser
tampouco deve ser confundido com mera manipulação
considerados como "setores autônomos", uma vez que
de dados, destituída de fundamentos teóricos. Teoria e
ser dominado por um ou por outro resulta em limites
empiria são constitutivas da disciplina; uma não deve
na compreensão do mundo e em formas destituídas de
existir sem a outra.
conteúdo.
Sem detalhar muito essa questão, é preciso reconhe-
Para Becker (1997, p. 17), "a metodologia [... ] é as-
cer que o método integra a formação básica do cientista
sunto de todos os sociólogos, uma vez que eles partici-
social, sendo essencial para o trabalho sociológico. Assim,
pam na realização de pesquisas ou na leitura, crítica e
tanto os aprendizes quanto os pesquisadores experientes
ensino de seus resultados''. Assim, ela "é importante de-
têm de se debruçar sobre alguns aspectos pertinentes ao
mais para ser deixada aos metodólogos': não devendo se
"como fazer" pesquisa. Tais aspectos são ainda mais rele-
constituir em disciplina específica. Criticando a Seção de
vantes quando se considera que, para boa parte dos alu-
Metodologia da Associação Sociológica Americana, por
nos, a elaboração da dissertação de mestrado, ou mesmo
11
10
t
da tese de doutorado, constitui a primeira experiência de
primeira do saber. A intenção deste texto, entretanto, não
investigação empírica e de redação de um texto científico
é fornecer um receituário para a pesquisa, nem aprofundar
de maior complexidade.
questões pertinentes à epistemologia das Ciências Sociais.
Como notou Mezan (1995), embora o ensino da es-
O que se pretende abordar é o fazer sociologia, a partir de
crita seja uma função do ensino fundamental, essa habi-
um recorte preciso: o início de um processo de pesquisa.
lidade, muitas vezes, não é aprendida nem mesmo no en-
Tem-se como pressuposto que a realização de um pro jeto
sino superior. Por conseguinte, aprender a escrever"[ ... ] é
e o planejamento de uma investigação são tarefas que exi-
um dos percalços mais significativos que o estudante en-
gem dedicação, disciplina e boa vontade, mais do que o
contra na pós-graduação, e uma das funções essenciais do
domínio de profundos conhecimentos filosóficos ou de
mestrado é proporcionar-lhe a oportunidade de aprender
complicadas técnicas de levantamento de dados.
a escrever em português" (MEZAN, op. cit., pp. 3-5). Por
Nesse sentido, serão observadas, mais detalhada-
outro lado, é na pós-graduação que o aluno, na maioria
mente, as exigências presentes na dissertação de mes-
das vezes, realiza sua primeira pesquisa individual, cujos
trado e na tese de doutorado, fornecendo algumas in-
resultados são de sua responsabilidade, mesmo que o tra-
dicações para desmistificar falsos moinhos de vento
balho seja mediado por um orientador. Assim, entende-
que aparecem como empecilho ao trabalho acadêmico,
se por que o mestrado, assim como o próprio doutorado,
sobretudo em sua fase inicial. Serão discutidos alguns
dois aprendizados, o da escrita e o da
problemas encontrados no processo de pesquisa, desde
torna-se "o
'l ocus' de
pesquisa" (pp. 3-5). Há centenas de obras que procuram ensinar cortio fazer uma in vestigação, incluindo desde "livros de recei-
a elaboração do projeto até a realização do trabalho de campo, passando pela relação, quase sempre traumática, entre orientando e orientador.
ta': que mostram como empregar técnicas, até pesados
Este texto é resultado da experiência dos autores
tratados epistemológicos que procuram explicar a razão
como pesquisadores, orientadores e professores de disci-
12
plinas metodológicas, ministradas para alunos de gradu-
1 A PESQUISA COMO AT IVI DADE " ARTESA NAL"
ação e pós-graduação (mestrado e doutorado). Aborda questões enfrentadas no dia-a-dia da prática de pesquisa
Os temas abordados nesta primeira parte do texto não
e no ensino de sua metodologia, bem como na orientação
costumam integrar programas de cursos sobre métodos
de alunos e na participação em bancas examinadoras de
e técnicas de pesquisa. Questões pertinentes à formação
projetos, dissertações e teses.
de atitudes científicas e de hábitos mais profícuos para o
Trata-se de um trabalho ainda passível de revisões e
trabalho intelectual, bem como orientações sobre a apre-
acréscimos, em que, ao divulgá-lo, estabelece-se uma in-
sentação de textos acadêmicos, são, geralmente, relega-
terlocução mais sistemática com colegas e alunos no con-
das a manuais e disciplinas introdutórias dos cursos de
texto do aprendizado da metodologia de pesquisa - um
graduação, voltadas para o que se convencionou deno-
processo contínuo e intrinsecamente inacabado.
minar "metodologia científica". Infelizmente, predomina a tendência de considerar esses aspectos apenas do ponto de vista formal, reduzindo-os a procedimentos pertinentes à normatização de trabalhos (formato de projetos e relatórios de pesquisa, normas para citações e referências bibliográficas etc.), sem considerar a relação deles com a aprendizagem da metodologia de pesquisa, em seus aspectos teóricos e epistemológicos. exatamente por reconhecer a importância dos aspectos práticos do trabalho científico que estes serão abordados aqui no contexto do processo de produção de conhecimento, de acordo com a perspectiva de Pierre
15
14
Bourdieu (1989) e C. W Mills {1975), os quais concebem
daquele que definirá o que "pode servir" para sua brico-
a pesquisa como "ofício" ou "artesanato''. É possível acres-
lagem.
centar, ainda, a companhia de Lévi-Strauss (1989) se a atividade do pesquisador for encarada como algo mais
1.1 Por que fazer uma dissertação ou uma tese
próximo da bricolagem que da atividade científica con vencionalmente definida. Com efeito, o bricoleur não
acadêmica?
tem um controle rígido sobre as matérias-primas a serem
peculiaridades do trabalho de pesquisa no âmbito de
adquiridas e os utensílios que serão utilizados em seu trabalho, os quais, inclusive, podem ser (re)aproveitados
uma dissertação de mestrado ou tese de doutorado. A
em tarefas diferentes (LÉv1-STRAUSS, 1989, p. 33). Ana-
>
Para responder a esta pergunta, é preciso considerar as
dissertação é, geralmente, um trabalho de menor fôlego, realizado em um período entre dois e dois anos e meio,
1
logamente, o pesquisador "produz" seus dados e lança mão de técnicas, de acordo com circunstâncias que não
em que o aluno demonstra que sabe utilizar determina-
podem ser rigidamente definidas antes do início da in-
empírica ou bibliográfica. É um exercício de como fazer
vestigação.
pesquisa, em que o aluno se familiariza com os procedi-
Concebendo a pesquisa como atividade artesanal, isto é, como um trabalho em que está presente a marca do autor, deve-se voltar a atenção, inicialmente, para o pesquisador. Em outras palavras, antes de tratar dos mé-
mentos próprios da investigação científica.
todos e das técnicas, cabe uma reflexão sobre as motivações e sobre o perfil ideal daquele que será o principal responsável pela aplicação desses instrumentos, ou seja,
do referencial teórico-metodológico em uma pesquisa
A_opção por uma investigação limitada a fontes bibliográficas pode ser razoável frente aos prazos estabelecidos pelas instituições financiadoras e pelos programas. 1 Nota-se que nesse prazo está incluída a obtenção de créditos em disciplinas, o que, na prática, faz com que a realização da pesquisa e a redação da dissertação necessitem ser feitas em menos tempo. A redução dos prazos tem sido determinada pelas instituições de financiamento, como a CAPES e o CNPq, a fim de reduzir os custos de manutenção dos programas de pós-graduação.
17
16
Entretanto, o trabalho de análise de dados coletados em
mestrado e o doutorado são voltados à carreira acadêmica
campo constitui-se em uma experiência ímpar para a
e têm como objetivo final a produção de uma dissertação
formação do pesquisador, pois ele terá a oportunidade
ou tese. A elaboração desse produto constitui uma etapa
de lidar mais diretamente com a realidade empírica, sem
da formação do professor-pesquisador, evidenciando a
depender exclusivamente da intermediação de outros
relação ensino-pesquisa: o docente é, também, produtor
pesquisadores. Uma alternativa para enfrentar os prazos
de novos conhecimentos, não se limitando a reproduzir
exíguos seria trabalhar com dados já coletados de outras
ou difundir o conhecimento existente. Entre os vários motivos que levam uma pessoa a fa-
pesquisas. Na tese de doutorado - cuja realização demanda
zer um curso de pós-graduação
strictu sensu,
destaca-se
exige-se um aprofundamento
a importância conferida a uma titulação acadêmica pelo
de procedimentos teórico-metodológicos, incluindo le-
mercado de trabalho. Atualmente, o mestrado acadêmico
vantamento de questões e proposições originais a serem
e o doutorado são pré-requisitos para a carreira de pro-
investigadas. A originalidade não significa estudar algo
fessor universitário ou de pesquisador em centros de pes-
absolutamente novo ou desconhecido, mas utilizar novas
quisa ou institutos científicos. Além da exigência formal
abordagens na análise dos problemas, sugerir questões
do título para ingressar nessas carreiras, a elaboração da
inéditas e apontar elementos desconsiderados em outras
dissertação ou tese corresponde ao primeiro passo autô-
abordagens.
nomo em direção à formação de um pesquisador, ain-
um tempo bem maior 2
-
lato
da que, geralmente, seja precedida pela participação em
(especializações) e dos mestrados profissionav,, o
atividades de iniciação científica em curso de graduação,
Diferentemente dos cursos de pós-graduação sensu
I
2 O prazo estabelecido pelo CNPq e pela CAPES para a defesa da tese de doutorado é de quatro anos, em que nesse tempo também se inclui a obtenção de créditos.
pela elaboração de uma monografia para a obtenção de um bacharelado ou, ainda, pela participação como bolsista no trabalho de um professor.
19
18
Fora da universidade e de institutos de pesquisa, exi-
necessário conjugá-las com interesses profissionais de ca-
ge-se mais o mestrado profissional, como, por exemplo, o Master in Business Administration (MBA), nas áreas de
ráter prático. Por fim, é possível mencionar uma motivação mais
economia, administração e finanças, embora em algumas
oportunista: algumas pessoas, com limitado interesse pela
carreiras já se comece a exigir o título de doutor. É o caso
pesquisa ou pela carreira acadêmica, vêem a pós-gradua-
de empresas que lidam com pesquisa, como a Empresa
ção como uma oportunidade de "emprego" imediato, por
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), ou que
meio da obtenção de uma bolsa de estudos durante alguns
possuem departamentos de pesquisa, como a Petrobrás,
anos. Esses casos, provavelmente, correspondem a mui-
além de outras, nas quais a posse do título funciona como um diferenciador no recrutamento de técnicos gerenciais.
tas desistências nos cursos de pós-graduação, sobretudo
Basta consultar suplementos de jornais e revistas voltadas a questões econômicas para verificar a atualidade da dis-
necessidade de começar a pesquisa, para a qual eles não
cussão, realizada por empresas de recursos humanos, sobre a qualificação profissional e a titulação, considerando as novas exigências do mercado de trabalho, o perfil do novo profissional etc. Outro motivo para a realização do mestrado ou
quando esses alunos concluem os créditos, impondo-se a têm motivação, nem preparo. Muitas vezes, o aluno "arrasta" o trabalho até terminar a bolsa e, em seguida, alega a necessidade de procurar um emprego, comprometendo irremediavelmente a conclusão, em prazo hábil, da dissertação ou tese. Para evitar esses problemas, é preciso que candida-
doutorado é o desejo de aprofundar o estudo de uma te-
tos a cursos de pós-graduação
mática, de conhecer determinada questão e de apren,der
zem-se de que a realização e a conclusão de um mestrado
os procedimentos necessários para isso. Todavia, o (em-
ou doutorado - inclusive a preparação da dissertação ou
po e o custo para a obtenção de um título acadêmico ini-
tese - exigem algumas características especiais, que vão além do mero brilhantismo intelectual.
bem as motivações exclusivamente intelectuais, tornando
strictu sensu
conscienti-
20 21
1.2 Características do bom pesquisador
te isso, um ato criador, no sentido de permitir, mesmo ao
Pode-se apontar como características de um bom pesquisador o gosto pelo trabalho acadêmico, a curiosidade e a
mais comum dos mortais, acesso à produção do saber.
disciplina. É preciso, em primeiro-lugar, que o aluno goste do trabalho intelectual e que se disponha a adquirir o gosto
Isso remete a outra característica do bom pesquisador: sua crença na "democracia do saber': que se traduz no fato de que ninguém, por mais famoso e reconhecido
pela pesquisa, não sendo necessário, entretanto, apreciar
que seja, está imune à crítica; o saber vale por sua pró-
todos os aspectos da pesquisa. Mills (1975, p. 221), por
pria fundamentação, e não pela reputação da pessoa que
exemplo, afirmou que não gosta do trabalho de campo,
o produz. É por isso que o pesquisador ideal é capaz de
argumentando que, "se não temos pessoal, [a falta deste]
combinar autoconfiança com elevada dose de autocrítica,
é uma grande preocupação; se temos, então a pessoa se
mantendo uma atitude respeitosa - mas não subserviente
transforma, com freqüência, nulil1a preocupação maior
- em relação aos pontos de vista de outrem, ao mesmo
ainda''. Entretanto, ele reconheceu a necessidade de um
tempo em que confia em seu próprio julgamento. Conse-
intenso envolvimento com o trabalho, de modo que este não seja uma mera "ocupação': mas sim um "estilo de vidá'
qüentemente, gosta de submeter seus trabalhos à crítica
(p. 212).
em investir em sua carreira intelectual, fazendo contatos,
O pesquisador ideal reconhece que são essenciais tanto a reflexão teórica quanto o contato direto ou indi-
trocando idéias e apresentando trabalhos em público. Se timidez e preguiça intelectual não combinam
reto com o mundo empírico (analisar dados primários
com a boa prática de pesquisa, a curiosidade e a orga-
ou secundários): é esse tipo de trabalho que "fecundt a inteligência, a qual se nutre das teorias. Por outro lado, é
nização são alavancas poderosas para essa atividade. Assim, o modelo de sujeito é a pessoa curiosa, inquieta,
preciso buscar a produção das próprias "teorias em ato';
mas, ao mesmo tempo, organizada e sistemática. Estas últimas características costumam ser subestimadas, em
como diz Bourdieu ( 1989), porque a pesquisa é justamen-
e não tem medo de "se expor"; pelo contrário, tem prazer
23
22
decorrência da visão idealizada que erroneamente atribui à "genialidade" do pesquisador o sucesso do empre-
trando ou doutorando não souber como tratá-los de f or-
endimento científico. Nada mais distante da concepção defendida aqui, com base na análise das condições con-
O primeiro passo para a formação do bom pesquisador é adquirir o hábito de ler ativamente, relacionando o
cretas do contexto social e intelectual em que ocorre a investigação, a qual, como já dito, tem características de
que lê as suas inquietações intelectuais e, especialmente,
um processo artesanal. Isso significa que as habilidades são aprendidas paulatinamente, no decorrer do pro-
crever com freqüência, tomando notas sobre suas leituras
ma organizada e sistemática.
a sua pesquisa. Igualmente importante é habituar-se a es-
cesso de interação com um "mestre" ou com "artesãos" mais experientes. Signif ica, também, que a qualidade da
e colocando seus pensamentos "no papel'; a fim de registrá-los e aprofundá-los. É preciso, também, acostumar-se a reler e editar o que escrev e, considerando a produção de
bricolagem requer não só um conhecimento de grande v ariedade de materiais e um domínio de instrumentos e
textos compreensíveis para os leitores. Assim, pode-se afirmar que o bom pesquisador ra-
técnicas, como, também, habilidade para manusear estes
ramente nasce "pronto". Ele é fruto, principalmente, do trabalho paciente e disciplinado. Analogamente, pode-se
elementos de forma ordenada. Não só a coleta e a análise de dados, mas a própria definição do objeto de pesquisa são processos que requerem um trabalho paciente e minucioso de busca de fontes bibliográficas, de documentos escritos ou orais, organização de arquivos, preparação de notas de leitura e elar
boração de textos. Ao longo dos meses ou mesmo anos de trabalho, esses materiais vão se acumulando e correm sério risco de se perder ou de ser mal utilizados se o mes-
dizer que é pesquisando que o "gosto" pelo fazer pesquisa é descoberto e aprofundado. Considerando as condições precárias em que os trabalhos são realizados - bibliotecas limitadas, infraestrutura de apoio deficiente, recursos insuf icientes para cobrir os custos da pesquisa-, é preciso elev ado investimento pessoal para tornar-se um bom pesquisador. Esse
25
24
in vestimento, por sua vez, sof re as injunções presentes na universidade btasileira. Evidentemente, o quadro de precariedades não é o mesmo em todas as univ ersidades; quanto mais bem equipada a instituição e mais qualificado seu corpo docente, melhores serão as condições de formação dos pesquisadores. Mesmo em boas universidades, porém, são poucos os alunos que conseguem desen volver aptidão e capacitar-se para fazer pesquisa ainda no curso de graduação. Muitas vezes, é na pós-graduação que se tenta aprender, ao mesmo tempo, a pesquisar e, também, a apresentar por escrito os resultados da investigação, como já mencionado. Nessas condições, a formação de um pesquisador é difícil e exige aplicação permanente, disciplina e organização, mais que brilhantismo intelectual. É mais fácil um estudante aplicado, ainda que não seja tão brilhante, terminar sua tese em tempo hábil, que um "geniozinho" pretensioso e desorganizado que, muitas v ezes, acaba ficando no meio do caminho, vociferando contra a mediocridade,da universidade e defendendo a legitimidade de seu ob}eto ou de seus métodos. Face a isso, uma grande dose de bom
senso e praticidade na escolha do tema e nas opções metodológicas é altamente recomendá vel. O pesquisador neófito ou em formação (e mesmo os já "formados") não deve se propor a realizar taref as muito complicadas,_ f ora do alcance de sua competência intelectual ou de suas possibilidades pessoais. Às vezes, o excesso de ambição é o caminho mais curto não só para atrasos, mas para a má qualidade do produto, por falta de tempo para o "acabamento''. O orientador pode ajudar bastante na delimitação do objeto, identificando com clareza os limites e as possibilidades do trabalho e os procedimentos adequados. Entretanto, o aluno de ve ter em mente que a dissertação ou tese resultam de opções pessoais, sendo frutos de seu próprio trabalho, e não responsabilidade do orientador. A escolha do tema a ser investigado e o êxito da pesquisa podem desempenhar importante papel na formação da identidade profissional do pesquisador, assim como no desenvolvimento de sua carreira.
26
27
1.3 O orientador como parceiro intelectual
O primeiro aspecto a ser considerado é a afinidade
Uma das etapas fundamentais para a realização de uma
temática, ou seja, o conhecimento teórico e a experiência
pós-graduação é a escolha do orientador. O ideal é que
de pesquisa do professor em relação ao tema do trabalho.
este seja o mentor intelectual do aluno e especialista em
Essa afinidade representa um passo importante no desen-
seu tema, além de conselheiro e editor. Ao exercer esses
volvimento da pesquisa, uma vez que, como conhecedor
papéis, ele auxilia o mestrando ou doutorando e o en-
do assunto, o orientador facilitará o acesso à bibliogra-
coraja logo nos primeiros passos da pós-graduação, que
fia, ajudará no recorte adequado do objeto e na escolha
vai desde a escolha do objeto a ser pesquisado, passando
da metodologia. O perigo, neste caso, é superestimar a
pelas diversas etapas da investigação, até o encaminha-
participação do orientador, achando que ele vai resolver
mento em sua vida profissional, colocando-o em contato
problemas do próprio aluno, quando é a este que cabe
com outros professores e incentivando sua participação
fazer o trabalho, como já foi salientado.
em congressos e seminários, bem como a publicação de artigos em revistas especializadas (BoLKER, 1998).
Por outro lado, há outras afinidades que precisam ser consideradas, como as de natureza teórica e meto-
Todavia, um profissional que reúna todas essas ca-
dológica. Assim, deve-se verificar se a perspectiva teóri-
racterísticas quando se dispõe a orientar um trabalho é
ca trabalhada pelo professor é compatível com a que o
raro, pois tem de conciliar essa tarefa com o atendimento
orientando deseja adotar ou se ele está aberto a outros
a outros alunos e com uma infinidade de atividades aca-
enfoques, além dos que costuma usar.
dêmicas que impossibilitam essa dedicação, por mais que
No que se refere a aspectos metodológicos, vale lem-
a deseje. Face a isso, algumas considerações tornam e
brar não só as preferências, mas também a experiência do
úteis para auxiliar o aluno a escolher adequadamente ;eu
possível orientador no tipo de pesquisa que se quer em-
orientador, dentro da realidade acadêmica brasileira.
preender. Nesse sentido, é recomendável que aqueles que estejam planejando fazer pesquisa de campo trabalhem
28
}
sob a orientação de alguém que já tenha realizado esse tipo de investigação, de modo que possa auxiliar o aluno no enfrentamento de questões práticas. Ser especialista no tema é condição desejável, mas está longe de ser suficiente. Isto porque nem todos os ex perts conseguem socializar seus conhecimentos de forma adequada e, às vezes, criam expectativas nos orientandos que dificilmente são realizadas. É crucial que o aluno verif ique se o professor tem, realmente, aptidão, tempo e interesse para orientá-lo. Vale lem brar que mesmo os que não são especialistas no tema da tese, mas se interessem por ele, ou que tenham algum tipo de afinidade teórico-metodológica com o aluno, podem se constituir em excelentes orientadores, por meio da discussão sistemática de questões, de sugestões metodológicas etc. Professores com sólida formação teórico-metodológica são capazes de orientar trabalhos que não estejam diretamente ligados à sua linha de pesquisa, desde que se interessem pela proposta da tese <9U dissertação do aluno. Docentes de pós-graduação podem ter formações distintas, de modo que é recomendável que se faça um
29
levantamento prévio sobre o orientador desejado, obtendo informações sobre sua atuação na universidade ou no curso, bem como so bre sua reputação acadêmica. Além disso, é interessante tam bém estabelecer contato com orientandos e ex-orientandos para informar-se so bre o tipo de relacionamento que mantêm com o orientador, pontos fracos e fortes dessa relação, sistemática de tra balho etc. O orientador ideal é aquele que, ao mesmo tempo, é acessível aos alunos e rigoroso em relação à qualidade do tra balho de seus orientandos. Escolher um prof essor apenas porque ele é considerado "bonzinho" e pouco exigente pode comprometer não somente o resultado do trabalho, mas tam bém o futuro profissional do pesquisador e seu reconhecimento pela comunidade acadêmica. É pertinente lem brar, aqui, que a orientação é uma relação social. Por conseguinte, depende, em parte, de fatores de ordem pessoal, ainda que seja verificada em um contexto institucionalizado. Por isso, não se deve ignorar as pectos relativos ao método e ao estilo de tra balho acadêmico no contexto específico da relação orientadororientando, bem como as características de personali-
31
30
dade de ambos. Entre essas características estão a maior
balho. Em relação a esta última, cabe definir qual forma
ou menor pontualidade nos prazos de cumprimento das
de orientação será adotada: encontros periódicos ou de
tarefas solicitadas e o grau de formalidade ou informa-
acordo com as etapas do trabalho? Entrega preestabeleci-
lidade nos contatos. Há alunos que preferem trabalhar
da de produtos intermediários? Neste último caso, como
sob supervisão mais intensa do orientador, enquanto ou-
serão definidos os prazos?
tros possuem grande independência. Alguns professores
Qualquer que seja a forma de orientação, o aluno
querem acompanhar de perto todas as tarefas realizadas
deve empenhar-se em otimizar seus encontros com o
pelos orientandos, enquanto outros optam por discutir
orientador para que sejam proveitosos. Para tanto, é im-
produtos quase acabados.
portante estabelecer, desde o início, regras de convivência
Tais aspectos, por sua vez, têm de ser considerados
e de trabalho conjunto para que os encontros não sejam
em um contexto problemático de elaboração de teses ou
apenas úteis, mas também agradáveis, e para que a tese
dissertações: trata-se de um trabalho complexo, de longo
ou dissertação seja um tipo de trabalho em co-autoria.
prazo e, freqüentemente, carregado de insegurança e ten-
Em outras palavras, orientador e orientando tornam-se
sões, dadas a inexperiência e as limitações do mestrando
parceiros intelectuais.
ou mesmo do doutorando. Ressalta-se, por isso, a impor-
Essas sugestões, mais fundamentadas no bom senso
tância de manter um bom relacionamento com o orienta-
que em normas cristalizadas, devem abranger encontros
dor, cuja função deve ser a de "aliado", servindo de apoio,
regulares para a apresentação de resultados, discussão so-
e não de fonte adicional de dificuldades.
bre os avanços obtidos na pesquisa, questões levantadas
O ideal seria que esse relacionamento fosse fun4a-
pela investigação, como dúvidas e descobertas, tanto pelo
mentado em uma espécie de "contrato': em que as cfuas
aluno quanto pelo orientador, bem como debate sobre
partes esclarecessem, desde o início, os respectivos interesses e expectativas, bem como a sistemática de tra-
papers,
sugestões para os textos escritos etc.
3 2
3 3
Pr oblemas de relacionamento devem ser expostos
que se propõe a participar de um curso de pós-gradua-
logo que se manifestem para evitar sobrecargas emocio-
ção, está aceitando e legitimando as normas acadêmicas,
nais ao trabalho acadêmico. Assim, comportamentos do
entre as quais uma das mais importantes é escrever um
or ientador que inibem o aluno ou atitudes deste conside-
trabalho sob a su pervisão de um professor. Contudo, é
radas inadequadas pelo primeiro, devem ser tratados de
preciso acautelar -se em relação a orientadores inseguros
forma explícita, a fim de que am bas as partes se ponham
e autoritários que precisam " provar" o tem po todo que
de acor do quanto à melhor for ma de proceder, para que
sabem mais que os alunos.
o trabalho conjunto não seja prejudicado.
Situações como essas podem inviabilizar o tr abalho
Um bom r elacionamento com o orientador é ainda
conjunto, tornando recomendável a troca de orientador,
mais importante quando se considera que é comum o alu-
caso não possam ser contornadas. Entretanto, essa tro-
no desenvolver o que Bolker (1998) chama de "paranóià'
ca envolve novos pro blemas: a dif iculdade de encontrar
da tese ou dissertação. A insegurança frente à pesquisa,
outro professor disponível que se interesse pelo tema e o
conjugada à f alta de confiança em sua capacidade de rea-
trabalho adicional para adaptar-se às exigências do novo
lizar um trabalho que, nesse momento, assume o centro
orientador. Sem citar os ressentimentos que podem criar
de sua vida, pode provocar uma ver dadeira paralisia inte-
mal-estar no ambiente acadêmico. O melhor a fazer é
lectual, já que o mestrando ou doutorando não se anima
conversar sobre as dificuldades, buscando soluções con-
para apr esentar os resultados da pesquisa, temendo que o
ciliatórias que possibilitem uma convivência mais profí-
orientador ache tudo óbvio ou, até mesmo, "idiota".
cua entre or ientador e orientando. Melhor ainda é evitar
Outra situação comum, mas oposta à citada ai;i.te-
que ocorram impasses dessa natur eza. Para tanto, alunos
riormente, é o orientando querer marcar posição fr'ente
e professores devem se conscientizar de que a escolha
ao orientador, competindo com ele. Por mais sábio que
do orientador r equer conhecimento prévio mínimo de
o aluno seja, deve se lem brar que, a partir do momento
ambas as partes e de que a relação estabelecida a partir
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35
de tal escolha implica tanto aspectos intelectuais quanto
seus textos, procurando termos mais adequados para
emocionais.
expressar suas idéias. Baudelaire chegou a utilizar a me-
Por fim, vale insistir que, embora o papel do orien-
táfora de um esgrimista para descrever o labor de um
tador seja fundamental, o projeto e a pesquisa são traba-
escritor: "ele esgrime com o seu lápis, com a sua pena,
lhos do aluno, que é o responsável direto pela dissertação
com o seu pincel" (apud BENJAMIN, 1991, p. 93). Eviden-
ou tese. A função do orientador é semelhante a de um
temente, não se exige de um trabalho científico as quali-
terapeuta, que ouve o paciente e faz com que este tire suas
dades estéticas de uma obra literária, mas exige-se clareza
próprias conclusões sobre como resolver seu problema
e coerência, o que nem sempre é fácil conseguir.
- nesse caso, sua pesquisa, dissertação ou tese.
Antes de serem apresentadas sugestões para a elaboração de textos de boa qualidade, é necessário reconhecer
1.4 Como escrever textos que não torturem
que as dificuldades de produzi-los constituem um proble-
os leitores
ma grave e disseminado que atinge a comunidade inte-
Um dos aspectos mais importantes do "artesanato inte-
lectual de todo o mundo. No Brasil, porém, a situação se
lectual" refere-se à difícil arte de escrever com clareza,
agrava, em decorrência de precariedades do ensino fun-
seguindo a norma padrão e determinado estilo exigido.
damental e médio. Constata-se que, independentemente
Trata-se de um aprendizado demorado - na verdade, in-
da área de estudos, do setor de atividade profissional ou
terminável - que, no caso de textos científicos, depende
mesmo da orientação ideológica dos autores, proliferam,
menos de talento que de esforço e treino. A prática de
em textos supostamente científicos, absurdos lógicos e fac-
revisar e editar os próprios escritos é condição síne fIUa
tuais, erros de gramática e falta de rigor intelectual. Alu-
non desse aprendizado. Mesmo autores consagrados' não
nos e mestres, cientistas e leigos, profissionais e amadores
se satisfazem com as primeiras versões do que escrevem
parecem estar sempre às turras com a língua portuguesa,
e, por isso, dedicam muito tempo ao aprimoramento de
usando-a mais como arma para "dominar" os leitores e
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36
menos como instrumento de comunicação. Os leitores
ao argumento e, de certa forma, insultam o leitor, ao im-
são constantemente agredidos por argumentos sem fun-
pingir-lhe a valiações extremas.
damentação empírica ou teórica (só porque o autor diz,
Outra característica prejudicial à q ualidade dos tex-
tem-se de acreditar) ou apoiados em "evidências" prove-
tos científicos é a substituição do conteúdo por artima-
nientes de casos anedóticos, f atos isolados ou metafóri-
nhas literárias, que podem até ser bonitas na forma, mas
cos. Inúmeros textos apresentam erros factuais grosseiros,
escamoteiam a falta de um trabalho mais aprofundado
com raciocínios incoerentes e manipulações de dados es-
de pesq uisa. Isso não signif ica que a escrita acadêmica
tatísticos para acomodar resultados contrários às teses do
tenha de ser enf adonha e despida de estilo; ao contrário,
autor. Erros gramaticais são mais facilmente identificáv eis
de ve-se buscar a elegância da forma, mas sem pre judicar
e corrigíveis, mas podem prejudicar a compreensão das
o rigor e a clareza conceitual e metodológica.
idéias do autor, tornando a leitura mais árdua. O mesmo
Para que a linguagem escrita seja "um v eículo de
acontece quando há repetição de palav ras, rimas e uso de
comunicação, e não de escamoteamento de idéias" (GAR-
períodos excessivamente longos.
CIA,
1985, p. 9), é necessário um esf orço, por parte de
Se o uso excessivo de jargão concorre para tornar
quem escre ve, no sentido de obter clareza, concisão e coe-
o texto ininteligível, o emprego de palav ras inexistentes
rência na apresentação de idéias e nas análises factuais.
(técnica "engenheirística", candidato "go v ernamentalis-
Para tanto, a regra fundamental é o respeito pelo leitor,
ta"), de linguagem coloquial ou mesmo de gírias ("o We-
ou seja, tudo o que f or "colocado no papel" de v e ter por
ber coloca que"; "o texto amarra as idéias") também é ina-
objetivo f acilitar a compreensão do texto para outrem,
propriado a um texto científ ico. O mesmo se pode dizer
fazendo com q ue a tarefa de ler se ja a menos árdua possí-
de ad jetivos ou superlativ os em excesso, como br ilhant e,
vel. Como disse o escritor Kurt Vonnegut (1982):
, d ificílimo , incompar ável, que pouco acrescentam g enial
38
39
Tenha dó dos leitores. Eles têm que identificar milhares de pequenas marcas no papel e dar-lhes sentido imediatamente. Eles têm que
l er,
uma arte tão difícil que a maioria
das pessoas não consegue aprendê-la mesmo depois de ter concluído a escola primária e secundária (grifo do original).
3
Outra condição para se produzir um texto claro é a organização. As idéias devem ser concatenadas por uma "tese" ou hipótese de trabalho, e a escrita dev e ser orientada por um roteiro previamente preparado, que articule notas de leitura com análises pessoais. É preciso expressar-se de forma direta, ev itando subterfúgios e argumentos implícitos. Mesmo que o leitor conheça bem o tema e o enfoque do autor, o texto tem de ser inteligível em
Para escrever com clareza, o primeiro requisito é ter em mente determinada audiência, para a qual se dirige o
si mesmo, ou seja, prescindir de explicações adicionais. Quem escrev e não pode esperar que os leitores "adivi-
trabalho. No caso de teses e dissertações, essa audiência é constituída pelo orientador, pelos membros da banca
nhem" o que se quer dizer, nem que haja pedidos de esclarecimento adicional.
eJ1.aminadora e pela comunidade acadêmica em geral. Além disso, é desejáv el que o texto se ja compreensível
O domínio da técnica de redação científica é ferramenta indispensável para o pesquisador, sob pena de não conseguir socializar os frutos de seu conhecimento,
para leitores com formação e interesse em outras áreas de conhecimento e até mesmo por um público mais amplo que detenha um nív el educacional suf iciente para entender o v ocabulário complexo - mas não necessariamente incompreensív el - utilizado, por exemplo, em texto de Ciências Sociais. 3 Tradução de Linda Gondim.
já que os resultados das pesquisas são comunicados, predominantemente, por meio de textos. Na próxima parte deste trabalho, serão discutidas as características e apresentadas sugestões para a elaboração do texto central no trabalho científico: o projeto de pesquisa.
2 CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROJETO DE PESQUISA4
A elaboração do projeto de pesquisa é o momento-chave do processo de construção do conhecimento. A importância desse documento pode s!r representada por uma analogia urbanística: seu papel seria semelhante àquele desempenhado pela planta de uma cidade, ou seja, é um guia básico para quem quer conhecê-la ou, simplesmente, chegar ao seu destino com eficiência. Entretanto, as informações cartográficas não podem prever todos os caminhos, muito menos "retratar" a realidade urbana em sua riqueza e peculiaridades. Apenas depois de percorrer os logradouros públicos, contemplar ou utilizar as edificações, relacionar-se com os habitantes do lugar e participar de suas atividades é que o viajante poderá dizer que "conhece" a cidade. De forma similar, o contexto teórico e empírico a ser estudado pelo pesquisador somente será conhecido mediante o contato longo e intenso com a realidade que 4 Este item reproduz algumas parles do texto "O projeto de pesquisa no contexto do processo de construção do conhecimento'; incluído na coletânea Pesquisa em Ciências Sociais, projeto de dissertação de mestrado (GONDIM, 1999).
42
43
pretende estudar, tanto por meio de livros, documentos
orientador, os membros da banca examinadora, a comu-
e dados secundários quanto por meio da coleta de infor-
nidade científica, entidades governamentais ou não-go-
mações do trabalho de campo. Tal contato, porém, será
vernamentais, instituições financiadoras e outras.
mais ou menos árduo dependendo da preparação prévia
Vale lembrar a distinção, muitas vezes mal compre-
do investigador, da qual o pro jeto de pesquisa é um com-
endida, entre pesquisa "pura" e pesquisa aplicada. Esta
ponente essencial.
última visa a fornecer subsídios para a resolução de pro-
Saber elaborar um projeto de pesquisa constitui
blemas práticos e, em geral, é encomendada por uma ins-
um pressuposto da atividade profissional do sociólogo.
tituição ou grupo com interesse direto na resolução des-
Trata-se de uma ferramenta indispensável ao bom an-
ses problemas. Já a pesquisa para uma tese de mestrado
damento de todas as etapas da atividade de in v estigação,
ou doutorado situa-se primordialmente em um contexto
dev endo servir para o planejamento do trabalho de cam-
acadêmico, para o qual são relev antes não só dificuldades
po, para a definição de métodos e técnicas de análise e
encontradas no mundo social, como, também, as formu-
interpretação de dados e, f inalmente, corno subsídio para
lações teóricas pertinentes a esse meio. Isso não significa,
a preparação do relatório f inal ou, no caso de estudantes
necessariamente, desinteresse pela resolução de questões
de pós-graduação, da própria dissertação de mestrado
sociais, mas que não há compromisso com nenhum clien-
ou tese de doutorado
te em particular que busque soluções concretas e imedia-
(CAVALCANTE,
1997, p. l).
Assim, um projeto deve ser preparado consideran-
tas. O "cliente" de um trabalho acadêmico, pode-se dizer,
do dois objetivos principais: nortear a inv estigação a ser
é a sociedade como um todo. Nessa perspectiva, a tese ou
feita e comunicar a out rem o que se pretende fazer. N se
dissertação é um produto que deve ficar à disposição do
momento do trabalho, dev e explicitar, de f orma con'cisa
"público"; uma vez concluída, não "pertence" mais unica-
e compreensí vel, conteúdos e procedimentos referidos a
mente ao seu autor ou à instituição na qual f oi realizada.
uma realidade futura (a pesquisa que será feita), para: o
44
45
Apesar dessa distinção - que af eta mais a definição
está sendo abordado. Ao contrário do que possa parecer,
do objeto que os demais aspectos da pesquisa -, há ele-
textos longos não são necessariamente mais completos,
mentos comuns a todos os pro jetos. Qualquer que seja a
pois a prolixidade tende a favorecer as redundâncias e o
forma de apresentação, estes devem responder às seguin-
excesso de palavras dispensáveis, que f uncionam como
tes questões:
"adornos", escondendo o essencial. Por isso, é dese jável
• o que será feito (definição do objeto);
que a extensão dos projetos de pesquisa não ultrapasse
• por que f azê-lo (justif icativa);
20 páginas.
• para que será feito (objetiv os);
Além disso, o mestrando ou doutorando deve seguir
• a partir de que perspectiva se pretende f azêlo (quadro referencial teórico);
as regras de apresentação de trabalhos científicos, sobretudo as relativas a citações, notas de rodapé e referências
• como e onde será realizada a pesquisa (metodologia); e,
bibliográf icas. Tais normas podem variar de acordo com as orientações estabelecidas pelas diferentes instituições,
• quando será feita (cronograma).
sendo que algumas univ ersidades já possuem suas pró-
A precisão das respostas a essas questões é funda-
prias def inições. Nos casos em que inexistam tais orien-
mental, pois propiciará uma qualidade indispensável a
tações, recomenda-se recorrer a um manual de norma-
qualquer trabalho científico: a clareza. Para tanto, a lin-
lização de trabalhos científicos que apresente as normas
guagem utilizada deve seguir o padrão gramatical, evitan-
mais recentes da Associação Brasileira de Normas Técni-
do o uso de jargão e outros efeitos estilísticos,' conforme
cas (ABNT).
5
\
já mencionado. Um dos recursos para se chegar à chµ·eza é a concisão, a qual depende da capacidade de síntese que, por sua v ez, requer profunda compreensão sobre o que
5 As normas da ABNT pertinentes à apresentação de trabalhos científicos, publicadas mais recentemente são: NBR 6023, de agosto de 2002: "R ef e rências - Elaboração"; NBR 10520, de agosto de 2002: "Citações em documentos - Apresentação"; e NBR 14724, de agosto de 2002: "Trabalhos acadêmicos Apresentação''.
46
47
2.1 Estrutura do pro jeto de pesquisa
instituição, local, mês e ano em q ue o projeto f oi escrito.
Primeiramente, é preciso ressaltar q ue não há um forma-
Nota-se que pro jetos submetidos a instituições financia-
to "certo" de projeto de pesquisa, já que uma de suas qua-
doras devem incluir, também, um orçamento, geralmen-
lidades é a estrutura flexív el, adaptá v el ao tema e à me-
te apresentado como anexo ao texto.
todologia da investigação. Assim, não é necessário q ue
Na Introdução, apresenta-se, de maneira sucinta, a
o texto apresente todos os tópicos sugeridos na ordem
q uestão a ser investigada e o recorte espacial e tempo-
indicada, pois estes podem ser acrescidos de outros itens,
ral. Deve-se dizer como se escolheu o objeto e indicar
agregados de dif erentes maneiras e receber títulos de
a importância da pesquisa, em termos de contribuição
acordo com aspectos substantivos pertinentes ao ob jeto.
uma melhor compreensão ou solução de um problema
A estrutura sugerida é a seguinte: 6
social. Esses aspectos serão retomados na Justificativa,
• Introdução
mas convém explicitar, já no início, as razões do interes-
• Justif icativa
se do pesquisador pelo ob jeto pesquisado, inclusive para
• Problematização ou construção do ob jeto
e videnciar sua experiência pré via em trabalhos sobre o
• Objeti vos
tema, assim como seus possíveis v ieses.
• Metodologia
Na Justificativa, apresentam-se as razões de nature-
• Cronograma
za teórica e empírica para a pesquisa; em outras palavras,
• Bibliograf ia
expõe-se a pertinência da escolha do objeto, em termos de aprof undamento do conhecimento sobre a temática
O texto do projeto de v e ser precedido por uma folha • de rosto, indicando título da pesquisa, autor, orientador,
e de sua rele vância teórica. Além disso, comenta-se a disponibilidade do material empírico e as condições de acesso aos dados.
6 Exemplos de estruturas diferent es dessa são apresentados em Gond1m (1999).
48
49
O item Problematização é fundamentado na revisão da literatura e inclui questões e hipóteses suscitadas pelo "recorte" da realidade que se pretende estudar. É o
portante distinguir entre a contextualização do objeto e o objeto propriamente dito. Embora a compreensão de um problema dependa, em grande parte, de sua inserção em
momento do pesquisador demonstrar que conhece mi-
um panorama mais amplo, não se deve cair na tentação
nimamente seu objeto, cuja definição constitui um dos
de fazer uma análise "panorâmica''. Assim, o texto da tese
aspectos mais difíceis da elaboração do projeto. Não se deve confundir tema com objeto de pesquisa.
poderá incluir, em um capítulo, um quadro muito am-
O primeiro tem caráter mais amplo e constitui, na verda-
objeto serão aprofundados na investigação. No exemplo
de, a área de interesse do pesquisador, como, por exemplo,
da pesquisa sobre a imagem da cidade, anteriormente ci-
a questão da imagem da cidade. Já o objeto é resultado de
tada, considerou-se a história recente das transformações
um "recorte" do tema, a partir de uma problematização
no espaço urbano de Fortaleza e suas repercussões nas representações sobre a cidade, mas o objeto de investiga-
da realidade que se quer investigar. No exemplo em pau-
plo, mas somente os aspectos diretamente pertinentes ao
ta, um objeto de pesquisa poderia ser o estudo da produção de uma nova imagem para a cidade de Fortaleza,
ção não foi o processo de evolução urbana.
em decorrência de um projeto de intervenção no espaço urbano, associado a uma política cultural - o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (GoNDIM, 1997).
tema, a ponto de cair na trivialidade ou mesmo produzir
Por outro lado, não se deve exagerar na restrição do verdadeiras idiossincrasias empíricas, como no caso de
É necessário delimitar o objeto mesmo que não se
um estudo descritivo sobre alunos de uma escola pública em João Pessoa ou qualquer outro lugar, sem especificar
pretenda realizar pesquisa empírica, pois é essa delimi-
o porquê dessa escolha e qual a questão teórica que se
tação que torna uma dissertação ou tese diferente cfe um
pretende investigar. É imprescindível inserir o monográ-
manual, uma enciclopédia, uma compilação de dados ou um tratado teórico (Eco, 1977). Nessa perspectiva, é im-
fico em um quadro teórico ou histórico: mesmo o estudo de caso limitado no espaço e no tempo deve ser concebi-
50
51
do de tal forma que lance luz sobre questões mais amplas,
gerida, uma vez que o conhecimento do "estado atual da
relevantes para as Ciências Sociais. Essa questão será re-
arte" subsidia a justificativa, a definição do objeto, a esco-
tomada no próximo item deste texto.
lha do quadro referencial teórico e a própria metodologia
A revisão da literatura, também contida no item
a ser utilizada. Isso ocorre porque a produção do conhe-
Problematização, indica como o tema tem sido tratado
cimento sociológico nunca é obra de indivíduos isolados;
por autores diversos, comparando diferentes enfoques e
quer seja entendida como um processo cumulativo, quer
perspectivas teóricas. Deve-se situar o objeto em relação
seja concebida como fruto de rupturas
a outros trabalhos pertinentes ao tema, apontando afini-
tem sempre um caráter relacional, na medida em que não
dades e divergências e ressaltando lacunas que poderão
é decorrente de "atos inaugurais" ocorridos em um vazio
ser preenchidas pela investigação proposta. Trata-se de
histórico e epistemológico
(BouRDIEU,
(KOYRÉ,
1982),
1989).
reconhecer o caráter cumulativo da produção científica
No item Objetivos, repete-se, de forma sintética, o
e de situar-se como membro de uma comunidade de in-
que foi colocado na Introdução, sendo possível mencio-
vestigadores, em vez de conformar-se com a medíocre
nar outros objetivos específicos. No projeto de pesquisa A
posição de um consumidor de idéias alheias.
"nova precarização" do trabalho: interiorização industrial,
A indicação do enfoque teórico que promete ser mais frutífero para a pesquisa proposta, acrescida das ca-
assalariamento restrito, cooperativas e trabalho domiciliar, o objetivo estabelecido foi:
tegorias e dos conceitos que serão utilizados na análise, constitui o quadro referencial teórico, que pode ser ob-
estudar o desenvolvimento recente da re-
jeto de item específico, dependendo de seu grau de c.omt plexidade e de sua extensão.
gião Nordeste a partir da implementação
A revisão da literatura está presente, de forma mais
processo de "proletarização" que o acompa-
ou menos explícita, em praticamente toda a estrutura su-
nha. Essas políticas têm sido acompanhadas
de políticas de interiorização industrial e o
53
52
de f ormas flexibilizadas de relações de trabalho que incluem desde o assalariament o restrito com direitos sociais limitados, a formas de subcont ratação em cooperativas de trabalho e quarteirização7 em trabalho domiciliar, dent ro do novo paradigma da acumulação marcado pela globalização (LIMA,
1999, p. 11).
consolidam-se como uma opção de emprego ou ocupação; c) analisar o processo de "formação" e treinament o desses trabalhadores e suas implicações na aceit ação das relações de trabalho oferecidas; d) est udar em que medida "novas" formas organizativas, tais como cooperativas e t rabalho autônomo, consolidam-se e como o trabalhador percebe sua sit uação enquanto trabalhador
Quanto aos objetivos específicos, não há obrigato-
não assalariado (LIMA, 1999, p. 1I).
riedade de incluí-los. Isto deve ser f eito apenas se um maior detalhamento contribuir para tornar mais claro o q ue se quer obter com a pesquisa. No exemplo citado, poderiam ser elencados como ob jetiv os específ icos:
A Metodologia explicita as questões norteadoras e as estratégias q ue serão utilizadas para a abordagem empírica do ob jeto. Essas q uestões - que já aparecem na definição do ob jeto implícita ou explicitamente - dev em ser
a) verificar os impact os da instalação desses empreendimentos - unidades fabris e cooperativas - e de cadeias de trabalho domiciliar - nos municípios sertanejos; b) aMlisar em que medida esses empreendimentos
recolocadas ou redefinidas em termos de estratégia metodológica q ue se pretende seguir, articulando-a com o q uadro referencial teórico. Tanto nesse q uanto em outros aspectos, não se pode e v itar certa redundância, uma vez que, a rigor, a metodologia está presente desde o início do pro jeto, na medida em q ue é muito dif ícil separar o que
7 A q uarteirização refere-se à subcontratação de ser viços por empresas q ue operam como subcontratadas
fazer do como fazer.
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Ainda neste item, devem ser definidos os procedi-
Luckmann ( 1976), além dos interacionistas simbólicos
mentos que serão seguidos na coleta e análise das infor-
como Mead (1967) e Blumer (I 986) e etnometodólogos
mações. É preciso explicitar se serão utilizados somente
como Garfinkel {1996). De maneira sintética, positivistas e fenomenólo-
dados secundários ou se será feita pesquisa de campo, e qual a natureza da mesma (quantitativa ou qualitativa). Neste ponto, faz-se necessário esclarecer, rapida-
gos estudam problemas distintos, o que exige diferentes metodologias. Os primeiros adotam o modelo de in-
mente, as diferenças entre as abordagens quantitati-
vestigação das ciências naturais e procuram estabelecer
va e qualitativa, de acordo com as principais correntes sociológicas. Taylor & Bogdan (1996) distinguem essas
relações de causalidade entre os fenômenos a partir da
abordagens a partir de duas correntes teóricas básicas:
te instrumentos padronizados {questionários, surveys, inventários e estudos demográficos), que possibilitam
o positivismo e a fenomenologia. Na perspectiva positivista, que tem entre seus principais autores Comte e Durkheim, busca-se os fatos ou as causas dos fenômenos sociais, independentemente dos estados subjetivos dos indivíduos. Na perspectiva fenomenológica, pretende-se entender os fenômenos sociais do ponto de vista do ator,
definição de hipóteses. Os dados são coletados median-
análises estatísticas e cuja aplicação é feita mediante uma relação distante e impessoal entre o pesquisador e os informantes. Já os fenomenólogos buscam a compreensão dos fenômenos por meio de instrumentos de natureza qualitativa (observação participante, entrevis-
ou seja, como este experimenta e interpreta o mundo. Esta abordagem, formulada por Weber, enquadra-se na
ta em profundidade, história de vida, grupo focal, entre
chamada sociologia compreensiva, destacando o seqtido atribuído à ação pelos sujeitos, em uma perspectivá ma-
proximidade e empatia entre o pesquisador e os sujeitos
cro. Entretanto, em uma perspectiva micro, têm-se autores como Schutz {1979), Goffman (1985; 1996), Berger &
outros), cuja utilização adequada requer uma relação de pesquisados (TAYLOR & BoGDAN, 1996, p. 16). Entretanto, essa dicotomia deve ser vista com cuidado. Taylor & Bogdan ( 1996) destacam que o próprio
56
57
Durkheim, em sua obra As formas element ar es da vida
que será realizada a coleta de dados. Ainda que nesse mo-
relig iosa (1989), utilizou estudos qualitativos, feitos por
mento de construção do objeto não se tenha, por vezes,
antropólogos, sobre o totemismo.
condições de decidir aonde, exatamente, será realizado o
Minayo (1992) ressaltou que as ações sociais têm uma dimensão externa e visív el, q ue pode ser adequa-
trabalho de campo, é essencial dar indicações sobre locais pro v áveis.
damente expressa por meio de variáveis numéricas. Há
Por outro lado, embora não seja obrigatório definir
também um significado para o sujeito que a realiza, cu ja
no projeto a amostra que será pesquisada, é útil dar in-
compreensão requer uma abordagem qualitativ a. Ressal-
dicações sobre o número e o tipo de inf ormantes q ue se
ta-se q ue é a natureza do objeto que deve guiar a escolha
pretende utilizar. Estudos qualitativos raramente podem
da metodologia, o que significa que dados q uantitativos e
estabelecer de antemão quantas pessoas serão pesq uisadas,
qualitativos podem ser usados em uma mesma pesquisa,
uma vez que tal número vai depender da q ualidade das in-
se o ob jeto assim o exigir. 8 Isso permite questionar a op-
formações fornecidas pelos próprios inf ormantes. Isso sig-
ção apriorística por esta ou aquela metodologia.
nif ica q ue só se sabe qual a quantidade de sujeitos a serem
Além de explicitar os aspectos quantitativ os ou q ua-
ouvidos quando se chega à saturaç ão qualitativa, ou seja,
litativos da pesq uisa, a metodologia de um projeto deve
no momento em que as entrevistas se repetem em con-
indicar os instrumentos que serão utilizados (questioná-
teúdo, nada mais acrescentando às informações obtidas.
rios, entre vistas não-diretivas, observação participante,
Neste caso, é inadequado f alar de "amostra representativa·;
documentos e outros), bem como o local e o período em
pois os informantes não são selecionados por critérios estatísticos que garantam a aleatoriedade, ou se ja, que todos
8 A partir da década de 1970, a utilização de metodologias dive as na investigação de um mesmo ob jeto passou a ser conhecida como "triangulação'; termo originário de outras áreas do conhecimento, como a 1996, p. 47). Ver, também, Berg topografia e a navegação (2001) e Bericat (1998).
os elementos do uni v erso tenham a mesma probabilidade de serem escolhidos.
58
Mesmo que não seja possível detalhar a amostra e o local aonde será realizado o trabalho de campo, as escolhas apresentadas na metodologia terão de ser justificadas, fundamentando-se não só em sua relevância para a melhor compreensão do objeto de pesquisa, mas também em considerações de ordem prática (facilidade de acesso ao local, necessidade de considerar pessoas com diferentes tipos de envolvimento no fenômeno que se quer analisar etc.). É importante evitar as armadilhas de discussões epistemológicas que pouco acrescentam ao projeto. Por exemplo, digressões sobre o "método dialético" em nada auxiliam a operacionalização da pesquisa, pois, geralmente, expressam a adesão a um referencial teórico-epistemológico - ou mesmo, uma "profissão de fé" - desvinculada da metodologia adequada ao estudo do objeto empírico. É válido insistir que na revisão bibliográfica as opções teórico-metodológicas ficam evidentes pelos autores, assim como os conceitos utilizados. Na metodologia, a ºRção por uma descrição (justificada) dos procedimentos é o ideal, pois torna o texto mais "enxuto".
59
O item Bibliografia deve incluir tanto as obras consultadas para a preparação do projeto quanto as que serão utilizadas posteriormente. A importância desse item não deve ser subestimada, pois os títulos incluídos demonstram um conhecimento preliminar sobre o problema a ser estudado e, além disso, apontam para o alcance do trabalho, em termos de levantamento e consulta de materiais bibliográficos. Finalmente, o Cronograma deve indicar a duração prevista de todas as etapas da pesquisa, incluindo não só a coleta de dados, mas também o levantamento bibliográfico complementar, o planejamento detalhado do trabalho de campo, a análise de dados e a redação do "relatório" da pesquisa, neste caso, a própria dissertação de mestrado ou tese de doutorado. A estimativa de tempo deve ser feita de forma realista, considerando a efetiva disponibilidade do pesquisador e a complexidade do trabalho (que irá variar de acordo com o objeto e com as circunstâncias específicas da pesquisa, tais como distância do local pesquisado e acessibilidade dos informantes). Deve-se calcular os prazos de modo a permitir ajustes decorrentes de
60
61
eventuais imprev istos, sem esquecer o tempo necessário
tigar - por isso, a própria elaboração do pro jeto requer
para rev isões e modificações sugeridas pelo orientador.
uma investigação exploratória. Entretanto, a definição do objeto é um processo que
2.2 O processo de construção do projeto de
não se conclui senão com a própria pesquisa, pois as in-
pesquisa
formações e os insi ghts adv indos da coleta e análise de
A def inição de um objeto de pesquisa é um processo len-
dados propiciarão novos ângulos de abordagem e redefi-
to, vinculado tanto aos interesses do pesquisador quanto à
nições do problema.
sua capacidade de proceder em relação a rupturas episte-
Uma boa forma de se proceder é tentar transformar
mológicas com seu próprio universo social. Por isso, não
o tema em uma pergunta de partida, ou seja, em uma
depende apenas da história intelectual e das circunstâncias
questão que resuma a inquietação que lev ou o pesqui-
pessoais de cada um (inserção profissional, opções políti-
sador a querer estudar aquele tema. Quiv y & v an Cam-
cas, estilo de vida etc.), mas também de considerações de
penhoudt (1992) desenvolvem essa estratégia no M anual
ordem prática, tais como: tempo disponív el e acesso a f on-
d e inv estig ação em Ciências Soc iais, apresentando v ários
tes de financiamento.
exemplos e discutindo-os a partir de alguns critérios de-
Segundo Pinto (1992, p. 4), a formulação do pro-
finidores de uma boa pergunta, que correspondem, de
blema de pesquisa "é a cruz dos pesquisadores, sobretu-
certa forma, aos critérios que dev em nortear a escolha
do quando se iniciam na difícil prática da produção do
do ob jeto.
conhecimento". Sendo tarefa intrinsecamente complexa e demorada, esta etapa não se realiza isoladamer\te de
2.3 Critérios para a escolha do tema e do
outros aspectos da pesquisa, uma vez que env ol
objeto de pesquisa
conhecimento prévio mínimo daquilo que se quer inves-
O interesse do aluno pelo assunto dev e ser o primeiro critério norteador da escolha do tema de sua dissertação
63
62
ou tese. Trata-se de uma precedência não só cronológica,
O segundo critério a ser considerado é a rele v ância
mas tam bém epistemológica, na medida em q ue o pro-
do o b jeto de in v estigação. Isso depende, antes de tudo, da
cesso de pesq uisa se inicia a partir das inq uietações de
f orma como é construído o pro blema, pois, mesmo q ue
um su jeito q ue pro blematiza a realidade social. Assim, a
o tema em si se ja importante social e politicamente, nem
escolha do tema não de v e ser ditada por modismos inte-
toda pesq uisa so bre ele será necessariamente rele vante.
prof essores ou de f ontes
Por outro lado, mesmo um o b jeto aparentemente banal
lectuais, nem por imposição
d e
de financiamento.
pode tornar-se importante, dependendo do enfoq ue do
Não só é admissí v el, como recomendá vel q ue o aluno
pesq uisador. Um exemplo disso encontra-se no estudo
considere q uestões de ordem prática, tais como: disponibi-
que Machado da Silv a (1969) fez so bre 'o signif icado bo-
lidade de um prof essor-orientador ou possibilidade de o b-
teq uim'. Em uma época em q ue predomina v am pesqui-
tenção de recursos para a pesq uisa, mas elas não de v em
sas so bre temas de caráter macroestrutural, como classes
determinar a eleição de determinado o b jeto.
sociais e industrialização, essa in v estigação identificou a
A escolha da perspectiv a empírica e teórica q ue
importância de práticas cotidianas e aparentemente "me-
orientará a delimitação do tema de v e apresentar um grau
nores': como a freq üência ao boteq uim, q ue se re v elou
flexibilidade suficiente para adeq uar a def inição de um
uma estratégia de so bre v i v ência de tra balhadores ur ba-
de
o b jeto a circunstâncias v ariadas. Por exemplo, alunos in-
nos, sobretudo dos "biscateiros''.
teressados em trabalhar com q uestões de gênero podem
Outro critério norteador para a escolha do o b jeto é
f azê-lo por meio de estudos q ue se intercruzem com ou-
a v ia bilidade do estudo, tanto do ponto de v ista dos re-
tras áreas do conhecimento, como é o caso de tra b , ilhos
cursos q uanto do tempo disponív el para sua realização.
so bre imagens do f eminino nos meios de comunitação
Tal critério é importante não só para a q ualidade, mas
de massa ou so bre a presença de mulheres nos mo v imen-
tam bém para a própria consecução da pesq uisa em pra-
tos sociais, entre outros.
zo há bil. Os recursos a serem considerados incluem tan-
65
64
to a possibilidade de financiamento para o trabalho de
nagens centrais para a compreensão de certos processos,
campo (viagens, impressão de questionários, contratação
movimentos sociais e para a identificação de lideranças
de auxiliares de pesq uisa etc.) quanto as aptidões e expe-
de grupos, uma v ez que detêm a memória de determi-
riências do aluno nos aspectos pertinentes à execução da
nados f atos e situações sociais. Além disso, concentram
in v estigação e à preparação da dissertação ou tese. De ve-
informações sobre o ob jeto a ser estudado, facilitando o
se considerar a maior ou menor aptidão para o trabalho
acesso a outras pessoas, grupos e instituições e f ornecen-
de campo ou para a utilização de fontes secundárias. Por
do o "caminho das pedras''.
causa da rigidez dos prazos das instituições que conce-
Esses "personagens" são especialmente relev antes
dem bolsas e auxílios para pesq uisa, é preciso ponderar as
quando se estuda grupos estigmatizados, como v iciados
v antagens e des v antagens de coletar seus próprios dados,
em drogas, prostitutas, tra vestis, mendigos e outros, que
sobretudo se for possí v el utilizar inf ormações produzi-
vi v em em clima de permanente desconf iança em relação
das em outras pesquisas, como foi assinalado na primeira
a estranhos. Um contato anterior com pessoas familia-
parte deste texto.
rizadas com o meio, além de abrir portas, pode signif i-
Ainda dentro desse critério, é preciso escolher adeq uadamente a população a ser estudada, considerando
car melhores condições de segurança para o trabalho de campo.
a viabilidade de acesso a ela. Por exemplo, para estudar
Ainda com relação à v iabilidade da escolha do ob-
o processo de trabalho na indústria, é preciso que haja
jeto, Valéria Pena {1990), no artigo "Fontes pouco con-
clareza quanto à permissão de entrada em uma ou mais
v encionais na sociologia brasileira': fornece várias indi-
fábricas. Há de se considerar, também, a disponibilidade
cações de objetos definidos de forma criati v a e acessível a
de pessoas q ue poderão servir de informantes-chave
pesq uisadores com parcos recursos, em termos de tempo
& BOGDAN, 1996). Essas pessoas constituem-se
e dinheiro. Em relação à estratégia metodológica da pro-
em v erdadeiros "porteiros" da pesquisa, pois são perso-
dução sociológica analisada, Pena {1990, p. 32) constata
(TAYLOR
66
67
ser pouco f reqüente a utilização de dados coletados por
ficável por outras pessoas (Eco, 1977, p. 28), tornando-o
outros pesq uisadores, pref erindo a realização de entre-
passí v el de ser estudado em um contexto empírico. Exem-
v istas, as quais nem sempre garantem a profundidade das
plos de como isso de ve ser feito encontram-se no texto
informações coletadas.
"Do artesanato intelectual", em que Mills (1975, p. 227)
Tratando-se de pesquisa na área de Ciências Sociais, impõem-se, ainda, outros critérios: q ue o problema es-
apresenta diversas possibilidades de estudos empíricos sobre a elite do poder:
colhido seja de natureza social, isto é, q ue não se limite a idiossincrasias individuais e que seja referido a uma
[... ] [R ealizar] uma análise tempo-orça-
realidade empiricamente observáv el. O primeiro des-
mentária (sic) de um dia de trabalho típico
ses critérios decorre do pressuposto de q ue a atividade
de dez altos diretores de grandes empresas,
científ ica busca generalizações. Ainda que, no estudo dos
e o mesmo para dez administradores fede-
fenômenos sociais, se ja impossível f azê-las em sentido
rais. Essas observações serão combinadas
estrito, em razão de sua natureza histórica, não se deve
com entrevistas "biográficas" detalhadas. A
perder de v ista a intenção de se chegar a resultados ge-
finalidade é descrever as rotinas e as deci-
neralizáveis. Um exemplo de como o estudo de um úni-
sões mais importantes, pelo menos em par-
co indivíduo pode ser feito em uma perspecti v a social é
te, em termos do tempo a elas dedicado, e
a pesquisa histórica sobre um moleiro perseguido pela
obter uma visão dos fatores rele vantes para
inquisição, cu jos resultados foram publicados na obra O
as decisões tomadas.
queijo e os vermes
(GINZBURG,
1987). Outro exemplo é a
obra de Norbert Elias (1991) sobre Mozart.
1
Pesquisas na área de Ciências Sociais devem, necessariamente, "traduzir" o objeto em um fenômeno identi-
[... ] Reunir e sistematizar, [a partir] dos registros do Tesouro e outras fontes governa-
69
68
mentais, a distribuição dos vários tipos de
análise das informações. De maneira simplificada, trata-
propriedade priv ada, pelas quantias.
se de pesquisar "o que é", e não o que o pesquisador gostaria que fosse.
[... ] Estudar a carreira dos Presidentes, [de] todos os membros do Gabinete e [de] todos os membros do Supremo Tribunal.
Não se trata de buscar a neutralidade preconizada pelos positivistas, uma v ez que é impossível abordar a realidade sem a intermediação do sujeito que, por estar situado social e historicamente, jamais conseguirá desven-
R essalta-se que o objeto de estudo não dev e ser uma questão para a qual o pesquisador já tenha uma explicação definitiva, o que transf ormaria a pesquisa em um mero exercício para confirmar o que ele já sabe, ou se ja, em uma exemplificação de um conhecimento pré-construído. Sem dúv ida, pode-se partir de pressupostos teóricos e empíricos, mas esses constituem o pano de f undo, e não o cerne do conhecimento que se dese ja produzir, mediante o contato com a realidade social. Isso remete a um parâmetro f undamental para assegurar a qualidade da investigação na área de Ciências Sociais, sendo este, portanto, o esforço requerido do pes• quisador, no sentido de minimizar a influênciatde suas preferências v alorativas e de seus v ieses, tanto na fase de definição do objeto quanto no processo de coleta e de
cilhar-se da teia de significados e de valores em que seu objeto também está inserido
(G EERTZ,
1978). Mas reco-
nhecer a impossibilidade de um conhecimento completamente independente das pref erências e das condições histórico-sociais do pesquisador, bem como do contexto de inv estigação, não implica licença para transformar a prática de pesquisa em um exercício de mera sub jetiv idade ou de militância político-ideológica. A esse respeito, Boav entura de Sousa Santos (2000, p. 31), na defesa de uma teoria social crítica, propõe a distinção entre ob jetiv idade e neutralidade, afirmando que a primeira: [... ] decorre da aplicação rigorosa e honesta dos métodos de inv estigação que nos per-
70
71
mitem f azer análises que não se reduzem
de elaborações teóricas sobre o fenômeno a ser pesquisa-
à reprodução antecipada das pref erências
do. Por isso, antes que se proceda a investigação de modo
ideológicas daqueles que as levam a cabo.
mais sistemático e aprofundado, impõe-se a realização de estudos exploratórios para subsidiar a elaboração de
A ob jectiv idade decorre ainda da aplicação sistemática de métodos que permitam identif icar os pressupostos, os preconceitos, os valores e os interesses que subjazem à inv estigação científica supostamente desprovida deles.
De acordo com a perspectiv a de Santos, explicitar a própria posição constitui, para o cientista social, não um obstáculo, mas uma condição para tornar possível a
todos os componentes do projeto de pesquisa: definição do objeto, revisão da literatura, escolha do referencial teórico e formulação da metodologia. As inf ormações que serv em como ponto de partida para a preparação do projeto de pesquisa são oriundas de div ersas fontes. Sem dúv ida, o contato prévio do pesquisador com o tema (estudos anteriores, experiência profissional, prática política, v ivência pessoal etc.) constitui
objetiv idade.
fonte importante de idéias que devem ser trabalhadas mediante a organização de notas e de documentos por-
2.4 A etapa exploratór ia de pesquisa e a
ventura já obtidos. Aproveitam-se, também, inf ormações e reflexões procedentes de leituras de liv ros e periódicos
or ganização dos dados
A preparação de um projeto de pesquisa, por si só, requer um mínimo de familiaridade com o objeto a ser iJ,vestigado. Este só pode ser definido ao longo de um p'rocesso de construção do conhecimento, por meio de sucessivas aproximações com a realidade empírica e da construção
(inclusiv e obras de ficção), notícias publicadas nos meios de comunicação de massa e mesmo observações do senso comum (conversas ouv idas na rua, por exemplo). É indispensáv el, porém, recorrer a procedimentos mais sistemáticos, em que estão incluídos levantamento biblio-
72
73
gráfico e documental, entrevistas exploratórias e contato
mente alguns dados estatísticos particular-
com a realidade empírica a ser investigada.
mente eloqüentes.
O principal objetivo do levantamento bibliográfico é subsidiar a preparação da revisão da literatura, a qual, nesta fase, não precisa ser exaustiva. É até recomendável
Antes de consultar fontes mais abrangentes, como o acervo de bibliotecas e a Internet, é conveniente pedir a
utilizar um critério qualitativo para a seleção das leituras,
especialistas indicações de leituras básicas e, a partir de-
tendo a "pergunta de partida" como fio condutor. Devese evitar tanto os "calhamaços" teóricos quanto os estudos
las, identificar as obras citadas pelos autores consultados. As resenhas e ensaios bibliográficos também constituem
meramente descritivos, que se limitam a compilar dados;
um bom ponto de partida. Nota-se que o levantamen-
é preferível consultar estudos de caráter sintético, inter-
to bibliográfico é um processo que continuará durante a
pretativos. Teses e dissertações defendidas, assim como
pesquisa de campo, a fase de análise de dados e mesmo durante a redação dos capítulos da dissertação ou tese,
estudos clássicos publicados em data recente, revelam-se, por vezes, muito úteis, pois costumam incorporar contribuições de trabalhos anteriores. É essencial intercalar as leituras com reflexões pessoais, organização de notas e discussões com colegas ou pessoas experientes. De acordo com Quivy & van Cam penhoudt (1992, p. 19), trata-se de: I
reaprender a refletir em vez de devorar, a ler em profundidade poucos textos cuidadosamente escolhidos e a interpretar judiciosa-
9
10
quando se constatar a necessidade de leituras complementares. Contudo, a preparação de um bom projeto de pesquisa requer um volume razoável de leituras, capaz de 9 Esta estratégia é indispensável para identificar artigos publicados em periódicos, pois, como se sabe, este tipo de material não consta nos catálogos das bibliotecas. 10 Pode-se destacar o Boletim Informativo e Bibliográfico de Ciências Sociais (BIB), da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS). O BIB já publicou ensaios bibliográficos sobre temas como industrialização e classe trabalhadora, reestruturação produtiva, políticas públicas, infância, violência, movimentos sociais urbanos, gênero e outros.
74
subsidiar a revisão da literatura, abarcando os principais autores que estudaram o tema, tanto em termos teóricos como empíricos. O critério que permite avaliar se o conhecimento da bibliografia apresenta abrangência suficiente é a recorrência das referências a obras já consultadas: "podemos considerar que abarcamos o problema a partir do momento em que voltamos sistematicamente às referências que já conhecemos" (Qu1vy & VAN CA MPENHOUDT, 1992, p. 53). O modo como se lê é tão importante quanto o quê se lê, por isso a necessidade de uma leitura ativa e crítica, a qual implica tomar notas, articulando-as ao objeto de pesquisa (BARZUN & GRAFF, 1977; FREIRE, 1979). A organização dessas notas, bem como dos demais materiais coletados (textos, recortes de jornais, documentos), em forma de arquivo, além de facilitar o trabalho de análise de dados e de redação da dissertação, também pode servir como fonte de idéias para outras pesquisas (MILLS, 1975). A manutenção desse arquivo é uma estratégia para estimular a escrita, em que nele também devem estar registradas as reflexões do pesquisador sobre filmes,
75
programas de TV, cenas do cotidiano etc. É igualmente importante manter e consultar um diário de campo, em que estejam anotadas as observações e reflexões sobre a pesquisa e o andamento da dissertação, desde a fase dos estudos preparatórios. O pesquisador não pode ser tímido nem trabalhar isoladamente. Faz parte do trabalho do mestrando ou doutorando inserir-se em comunidades científicas e em grupos que estudam seu tema de pesquisa, começando pelos próprios colegas e professores, não apenas do Programa de Pós-Graduação, mas também de outros departamentos e universidades. Nesse sentido, a participação em congressos e seminários é uma oportunidade relevante para o pesquisador iniciante, pois este deve estar atento às possibilidades de contatos diretos ou por meio de correspondência, inclusive pelo correio eletrônico. Entre os contatos que o pesquisador deve realizar nessa etapa, são recomendáveis entrevistas com especialistas ou pessoas envolvidas com a temática em estudo (informantes-chave), junto às quais se deve obter não só indicações bibliográficas, como também "dicas" para o acesso a documentos e dados básicos já existentes e para
76
77
a pesquisa de campo (sugestões sobre quais áreas ou gru-
instituições, grupos ou pessoas com características se-
pos pesquisar; nomes de possíveis informantes etc.). É válido lembrar que as entrevistas exploratórias não
melhantes àqueles que serão efetivamente pesquisados. Nesta etapa, o contato com o campo deve ser cercado de
se destinam a verificar hipóteses e que as informações
cuidados para que se evite a formulação de conclusões
colhidas devem ser consideradas provisórias e passíveis
apressadas, por causa da "ilusão da transparência" de-
de completa reformulação. A função dessas entrevistas é,
corrente da excessiva familiaridade prévia com o objeto.
primeiramente, heurística, já que permitem:
Para minimizar esse risco, deve-se:
11
abrir pistas de reflexão, alargar e precisar os horizontes de leitura, tomar consciência das
deixar correr o olhar sem se obstinar sobre uma única pista, ouvir à sua volta sem se
dimensões e dos aspectos de um dado pro-
contentar com uma só mensagem, apreen-
blema, nos quais o investigador não teria
der os ambientes e, finalmente, procurar discernir as dimensões essenciais do pro-
decerto pensado espontaneamente (Qu1vy & VAN CAMPENHOUDT, 1992, p. 77). 1: recomendável, para a elaboração de projetos de pesquisa que incluem trabalho de campo, realizar um
blema estudado, as suas facetas mais reveladoras e, a partir daí, os modos de abordagem mais esclarecedores (Qu1vY & VAN CAMPENHOUDT,
1992, p. 81).
levantamento empírico preliminar, por meio de obser vações sobre a instituição, o grupo ou as pessoas gue se quer estudar. Se isso não for possível (por motivo âe custos associados à distância geográfica, por exemplo), uma alternativa é tentar um contato "simulado': ou seja, com
11 Para o projeto de pesquisa Os planejadores e o poder, que previa a realização de entrevistas com técnicos que atuavam em um órgão de planejamento no Rio de Janeiro, Gondim ( 1987) entrevistou colegas do Programa de Doutorado da Universidade de Cornell (EUA) que haviam atuado em órgãos similares em São Paulo e Salvador.
78
O projeto é a antecipação da pesquisa a ser realiza-
CONCLUSÃO
da, mas, na medida em que sua preparação requer um conhecimento pré vio do tema e certa familiaridade com
Este texto procurou abordar a aprendizagem de méto-
o objeto, é impossível concebê-lo isoladamente do pró-
dos e técnicas de pesquisa em uma perspectiva desmis-
prio processo de investigação social. Por outro lado, o
tificadora, e vitando, simultaneamente, oferecer receitas
processo de investigação tem no projeto um importante
simplistas de "como fazer" e transformar a reflexão so-
ponto de apoio, sobretudo no que diz respeito à defini-
bre metodologia em estéreis polêmicas epistemológicas.
ção do objeto de pesquisa. Ainda que se reconheça, de
Questões pertinentes à epistemologia das Ciências So-
acordo com Bourdieu (1989, p. 27), que tal definição
ciais, como o papel do pesquisador, a possibilidade de
"é um trabalho de grande fôlego, que se realiza pouco a
um conhecimento objeti vo e as diferenças entre pesquisa
pouco, por retoques sucessivos", o caminho da constru-
quantitativ a e qualitativ a, foram abordadas de forma sin-
ção do conhecimento pode se tornar menos árduo se o
tética e apenas no contexto da operacionalização dos pro-
aprendiz dispuser de boas ferramentas, entre as quais se
cedimentos de trabalho científico. Entre estes, enfatizou-
inclui um bom projeto de pesquisa.
se aqueles pertinentes às fases iniciais da investigação: a formação de hábitos e habilidades intelectuais, como a escrita de textos claros, coerentes e bem fundamentados, e a preparação do pro jeto de pesquisa. Em concordância com Mills (1975), considerou-se que a atividade do cientista social é um tipo de "artesanat
to" que exige o envolvimento intenso do "aprendiz" e seu compromisso com um processo de aperfeiçoamento contínuo. Para tanto, as qualidades necessárias correspon-
So 81
dem muito mais à disciplina e à v ontade de aprender que
uma bolsa de estudos para g arantir-lhe a sobrev iv ência
ao brilhantismo intelectual. Parodiando Simone de Beau-
durante alg uns anos.
v oir, pode-se dizer que não se nasc e pesquisad or ; t or na-se
Além da motiv ação adequada, considerou-se que
pesquisad or , por meio da aprendizag em de métodos de
outro f ator para a conclusão de um mestrado ou douto-
trabalho e da prática de inv estig ação, ora excitantes, ora
rado com êxito é um bom relacionamento com o orien-
aborrecedores, mas sempre sistemáticos, na procura por
tador. Para a escolha deste, f oi destacada a importância
respostas, ob jetiv ando aumentar o conhecimento sobre
de critérios como: af inidades temática, teórica e meto-
determinado aspecto da realidade social.
dológ ica. Entretanto, reconheceu-se que a orientação
O processo de "g estação" do pesquisador ocorre, ti-
também env olv e aspectos emocionais; por isso, dev em
picamente, em determinado contexto acadêmico: o dos
ser considerados o estilo de trabalho e certos traços de
prog ramas de pós-g raduação st ri c tu sensu , constituídos
personalidade do aluno e do prof essor (maior ou menor
por cursos de mestrado acadêmico ou doutorado, sendo estes etapas essenciais da f ormação daqueles que preten-
independência do orientando, maior ou menor f reqüência de contatos, dif erentes g raus de tolerância quanto à
dem ing ressar na carreira de prof essor univ ersitário ou
pontualidade etc.). Ev entuais dif iculdades dev em ser re-
trabalhar em instituições de pesquisa científ ica.
solv idas por meio de comunicação f ranca e aberta, a fim
A elaboração da dissertação de mestrado e da tese de
de minimizar tensões e conf litos que podem inv iabilizar
doutorado constitui, g eralmente, as primeiras experiên-
o trabalho intelectual. O ideal é estabelecer, desde o iní-
cias do aluno com uma pesquisa, cu ja responsabilidade
cio, as expectativ as e a sistemática de trabalho mais apro-
principal é dele, ainda que se ja desenv olv ida sob ,orien-
priadas ao orientador e ao orientando.
tação de um prof essor. Assim, é crucial que ele /ncare a
Na seg unda parte deste texto, apresentou-se uma
pós-g raduação como parte de uma carreira acadêmica, e
concepção de pro jeto de pesquisa, e seus componentes
não como um "empreg o", cu ja principal razão se ja obter
f oram discutidos, sem limitação a f ormatos específ icos.
82
Considerou-se q ue a preparação desse documento já é parte integrante do processo de in vestigação, uma v ez q ue a construção do ob jeto envolve f amiliaridade míni ma com os aspectos teóricos e empíricos a serem aprofundados ao longo desse processo. Por isso, as sugestões de procedimentos apresentadas consideram que as f ases da pesquisa não se desen volv em de maneira estanq ue, mas se retroalimentam mediante o trabalho sistemático e cotidiano dos artesãos-pesq uisadores.
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SOBRE OS AUTORES
graduou-se em Ciências Sociais pela Univ ersidade Federal do Ceará (UFC), fez doutorado em Plane jamento Urbano e R egional na Univ ersidade de Cornell (EUA) e pós-doutorado em Estudos Urbanos na Universidade de Mar y land (EUA). É professora do Departamento de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFC e pesquisadora do CNPq. Publicou os liv ros Clientelismo e mod ernid ade nas polít icas públ icas: os go v ernos das mudanças no Ceará (1998) e Uma d ama d a Bell e É poque d e F ortal eza (2001), e organizou as coletâneas P lanos d iLinda Maria de Pontes Gondim
retores: nov os tempos, novas práticas (1990) e P esquisa em Ciências Sociais: o projeto de dissertação de mestrado (1999). graduou-se em Ciências Políticas e Sociais pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, f ez doutorado em Sociologia pela Univ ersidade de São Paulo e pós-doutorado em Estudos Urbanos e do Desenvolv imento no Massachusets Institute of Technolog y Jacob Carlos Lima '
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