54 �E LETAL� AMEAÇA DO MAR CORAL�SOL: A BELA
33 DE PÁTRIA EDUCADORA?
DEPRESENTE
PÔSTER
OBRASILMERECEOTÍTULO
60
AS NOVAS TECNOLOGIAS PARAAGASTRONOMIA
A HISTÓRIA HISTÓRIA DA ENERGIA ENERGIA DOFOGOAOSPAINÉIS SOLARES
P. 7 COMO NUDES PODEM SER BONS PARA VOCÊ P.14
GALILEU.GLOBO.COM
TUD UDO O QUE VOC OCÊ Ê SAB ABE E ES EST TÁ ER ERRA RADO DO Entend Ente nda a o qu que e é, afi afina nal, l, a id iden enti tida dade de de gê gêne nero ro e de desc scub ubra ra com omo o o de deba bat te so sobr bre e o tem ema aé impo im porta rtant nte e pa para ra ac acab abar ar co com m o pre preco conc ncei eito to P. 44
R$14,00 EDIÇÃO
292
% 5 6
, E A 4 . T D X N I O R A P N B I I A L S A S O R E A D E R E D P F A I R R A A Á T L P D U B I M R E N T X E A G E
V
R A C
NOV.. 15 NOV
PRIMEI� RAMENTE DIRETOR DIRET OR DEREDAÇÃ DEREDAÇÃO O DE GALILE GALILEU U NOV.
2015
POR
GUSTAVO GUSTA VO POLONI
gam a parar para pensar: o que só o analógico pode fazer? A resposta — descobri com o passar dos dias — não era tão simples assim. Quick tem uma visão muito interessante interessante so bre o assunto. Para ele, uma revista não deve almejar o que ela jamais poderia ser. ser. Parece papo de boteco, eu sei. O que ele quis dizer é que ela não pode ocupar o lugar do jornalismo de internet, por exemplo. Não faz
sentido reproduzir coisas que só têm sentido no mundo virtual — como as
Rafael Raf ael Qui Quick ck
tags que usávamos com frequência nas
IDADE � 27 anos
matérias. Uma revista tem de valorizar as fotos, os infográcos, infográcos, usar suas páginas para surpreender o leitor. Ou seja, precisa valorizar o papel.
Com uma prancheta em mãos, uma das características mais marcantes do seu jeito de trabalhar, Quick começou a rascunhar o que seria a nova GALILEU. Com a ajuda dos designers Fernanda Didini e Feu e do restante da redação, redaç ão, discutimos a nova missão de GALILEU,, buscamos arquétipos para GALILEU decidir qual seria o seu papel (spoiler: somos um rebelde otimista) e saímos atrás de referências. Dos lambe-lambes
tão em moda nas grandes cidades emprestam prest amos os a tip tipog ogra raa a.. Do Dos s at atlas las e liv livro ros, s, as texturas e o cuidado nos detalhes. E, nos insp inspira irando ndo nas rev revist istas as que ama amamos mos
(sim, aqui amamos revistas!), criamos uma capa mais limpa, seções modernas, a pegada agressiva das
EM CON CONST STANT ANTE E TRANSFORMAÇÃO é D preciso rever o que não está funcionando e o que pode ser melhorado numa revista. A linha editode tempos em temp tempos, os,
rial ainda faz sentido? O projeto gráco
cou antiquado? É preciso criar novas seções e, quem sabe, acabar com algumas delas? A edição de GALILEU que voc ocê ê te tem m em mã mãos os é o re resu sult ltad ado o de ma mais is uma dessas mudanças que se fazem tão nece ne cessá ssária rias. s. Da ca capa pa à pe pega gada da do dos s te text xtos os,, da log logomar omarca ca à mis missão são,, do pro projet jeto o grá gráco co à assi assinat natura ura,, abso absoluta lutamen mente te tudo mud mudou. ou.
reportagens (veja mais detalhes ao lado). O resultado desse trabalho, que durou meses, custou horas de discussão, noites maldormidas e que foi escrutinado por muita gente competente (obrigado, Paula Perim, Rodolfo França, José Pe-
queno e Frederic Kachar), é a edição de novembro de GALILEU. Sem medo
de errar, trata-se de uma das revistas mais elegantes e modernas do país. E
sem deixar de lado os assuntos mais relevantes, interessantes e polêmicos, sempre retratados sob a ótica daquilo que nos remete à sua origem: a ciência.
A transforma transformação ção teve teve início ainda em junho,, quando Rafael Quick assumiu a junho direção de arte da revista. Mineiro de
A nova GALILEU é motivo de muito orgulho para todos nós, que damos duro para fazer a revista com um úni-
Belo Be lo Ho Hori rizo zont nte, e, é um do dos s mai mais s ta tale lent ntos osos os
designers da sua geração, e seus traba-
co objetivo: agradar a você, caro leitor. Espero que goste.
lhos já re lhos rece cebe bera ram m pr prêm êmio ios s no Br Bras asil il e no exterior exte rior.. Quan Quando do come começamo çamos s a con convers versar ar sobre a nova GALILEU, Quick fez
Um grande abraço,
04
uma dessas perguntas que o obri-
Gustavo
CARGO � Editor de arte
NATURALIDADE � Pampulha, BH FORMAÇÃO � Design Gráfco (UEMG) | e Artes Visuais (UFMG) DE QUE GOSTA � Tudo o que é antigo MEIOS DE TRANSPORTE � Juarez, um Fusca 1972, ou um skate com a lixa orida
1 LINHA EDITORIAL Foiumacoisaque mudou mud ou mui muito to pou pouco co na nov novaa GAL GALILEU ILEU.. Continuamos Contin uamos sendo arevistaqueusaa ciênciaa como ponto ciênci de part partidapara idapara ex ex-plicaro pli caro mund mundo. o. Com uma difer diferença: ença: queremos rem os ent entrarmais rarmais a fundoo em ass fund assunt untos os espinhosos, espinh osos, como transexualidade.
2 PROJETO GRÁFICO Se não rep reparou arou,, valee a pen val penaa vol voltar tar àcapaparavero novologo.Nãoésó: a rev revist istaa temfonte de lambelambe-lambe, lambe, umaseção com identidadevisual ident idadevisual bemmarcada, bemmarcad a, uma palhet pal hetaa de cor cores es doinícioaofim, matérias matéri as com abres maiss fort mai fortes es etc etc..
3 NOVAS NOV AS SEÇÕES A GALI GALILEUpassou LEUpassou poruma gra grandereorndereorganização. ganizaç ão. A seção queabre a rev revist istaa tornou-see o Antima tornou-s Antima-téria. téri a. Alé Além m dasnotas mais quente quentess sobre ciência, ciênc ia, tecnol tecnologia ogia e compor comportament tamento, o, eleengloba eleenglo ba a seç seção ão de cul cultur tura. a. O Dos Dossiê siê (mais (ma is mod modern erno) o) é seguid seg uidoo pel pelas as reportagens. portag ens. A revis revista ta acabacomoPanorâmica,o Ulti Ultimato mato eoSó+1Minuto.
4 CONSELHO A par partirdest tirdestaa edi edi-ção, GALILE GALILEU U cont contaa comumgrupode leitores leit ores quevai avaliar avali ar suas ediç edições, ões, sugerir suge rir idei ideias as para a mar marca ca e par parti ticip cipar ar da cri criaçã açãoo de pau pau-tas.. Emtroca tas Emtroca,, ter terão ão acesso aces so a info informarmaçõesexclusivas çõesexclusi vas e ganharãoo prêmi ganharã prêmios. os.
FOTO Tomás Arthuzzi
O PRIMEIRO FÓRUM DE LEITORES
P O R
CON� SE� LHO
N A T H A N F E R N A N D E S
INSCRIÇÕES POR IDADE GALILEU e Geração Y: um caso de amor
GALILEUESTREIAONOVOPROJETOGRÁFICOEEDITORIAL COMGRANDEELENCO.DURANTESEISMESES,NOSSOS ESCOLHIDOS VÃO FAZER PARTE DAS DECISÕESDA REVISTA
OS ESCOLHIDOS Ângelo Rocha, 29-CE
Bruno Peixoto, 31-MG
Igor Cocielli, 17 -SP
Maurício Alcides-PE
Arthur Hermes,24 - SC
Carlosde Oliveira, 24-PE
Lucas Araújo, 19- SP
RafaelVicentin, 24-RS
BiancaCarvalho,22 -SP
CarlosLima, 24- RJ
MarcosBandeira, 22-PE
RenatoBritto, 28-RS
Bruna Mendes, 22- RJ
DevanilJúnior, 22-RO
Maria Eugênia, 18-DF
SuellenOuverney, 29 -SP
Bruna Molina,25 - SP
Fernandade Macedo, 18-RN
MaríliaFerreira Dias, 24 -SP
ZeusBandeira, 20-TO
307 INSCRITOS
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OUTROS
21a 30
até20
PULARAMDEPARAQUEDAS VIVERAM
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VIAJARAM
FORAMASHOWS INESQUECÍVEIS
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QUALFOI A COISAMAIS LEGAL QUE VOCÊ JÁFEZNAVIDA?
ANOS
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TIVERAM FILHOS
Emoção e nonsense nas melhores respostas
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ANOS
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ESTUDARAM 26
FILMESXLIVROS FAVORITOS
NADA
Os clássicos (ou não) mais lembrados 36
OGUIADOMOCHILEIRO DASGALÁXIAS
INTERESTELAR CLUBEDALUTA MADMAX
LARANJAMECÂNICA
UMABREVEHISTÓRIADOTEMPO ADMIRÁVELMUNDONOVO
LUCY
OCÓDIGO DAVINCI
EXMACHINA ATEORIADETUDO
OUNIVERSONUMA CASCADENÓS
JOGODAIMITAÇÃO
OMUNDOASSOMBRADOPELOSDEMÔNIOS AORIGEM
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INSCRIÇÕES POR ESTADO Roraima e Piauí nãoligampara nós
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TEMOSUM AMANTENA BOLÍVIA
11.2015
Pg. 7
EDIÇÃO NATHAN FERNANDES E THIAGO TANJI
ANTI� MAT� RIA
POR ANDRESSA BASILIO
MAIS NUDES, POR FAVOR 11.2015
1
Aciênciamostraqueficarsemroupapode serbom.MasantesdepovoaroWhatsApp comimagensdecomoanaturezaoconcebeu, ébomtomaralgumasmedidasdeprecaução ILUSTRADORES CONVIDADOS DESIGN RAFAEL QUICK
1 ZANSKY 2 GUILHERME HENRIQUE 3 GABRIEL GIANORDOLI
MANDANU Pg. 8 11.2015
Quem posta o pedido nas redes corre o risco de ser atendido. Foi o caso da carioca Luisa Rocha. “Mesmo em tom de brincadeira, sempre tem intenção sexual, né?”, confessa ela, que, depois de uma conversa com um amigo pelo WhatsApp, acabou trocando mais do que apenas palavras. Talvez seja por isso
mesmo que os nudes — ou o ato de enviar mensagens íntimas pelo celular, também conhecido como sexting — causam polêmica. Alguns dizem que a exposição não vale a pena, anal, é difícil saber as reais inten-
ções de quem está do outro lado do smartphone. Ainda assim, os adeptos não param de crescer e já
ultrapassam os 50% entre os jovens de 18 a 24 anos, como revelou uma pesquisa da empresa de segurança digital McAfee. “Trata-se de um grito de liberdade. Ao mandar uma foto sensual para outra pessoa é como
se você dissesse: ‘Olha, esse é o meu verdadeiro eu’”, defende a psicóloga Maura de Albanesi, diretora do Instituto de Psicologia Avançada (SP).
Para além da autoarmação, todo esse desnudamento pode trazer benefícios para o corpo. Recentemente, cientistas da Universidade de Drexel, nos Estados Unidos, descobriram que casais que trocam
imagens sexualmente sugestivas têm mais disposição entre quatro paredes. Casada há cinco anos, a dentista Manoela Mendes atesta as vantagens: “É uma oportunidade de quebrar a rotina e até de levantar a autoestima. Receber nudes no meio da tarde é um belo motivo para voltar para casa cheia de energia”. Também não há nada de errado quando as imagens ganham vida:
um esbarrão mais quente pode até aumentar os níveis de ocitocina, o hormônio do amor. Até mesmo em repouso absoluto, o corpo nu leva vantagem. Quem explica é Richard Castriotta, coordenador do Centro de Problemas do Sono da Universidade do Texas. Em artigo publicado em agosto,
ES.
11.2015
ele ressalta que dormir sem roupa impede o superaquecimento durante a noite, melhorando o sono. Vale lembrar que quando você dorme bem o desempenho das células aumenta, há diminuição no acúmulo de gorduras e o cortisol se mantém estável, o que garante a sensação de bem-estar. Esqueça até mesmo cueca e calcinha: especialmente para mulheres, a ventilação nas partes íntimas reduz as chances de proliferação de fungos e bactérias indesejáveis. Deslar por aí da forma como a natureza o concebeu pressupõe contato próximo com as gordurinhas salientes ou com a cicatriz que você odeia. Mas é justamente essa convivência forçada que ajuda a quebrar os tabus surgidos internamente, como assegura a psicoterapeuta e apresentadora de TV Fran Walsh — que, em casa, costuma passar mais tempo sem roupa do que vestida. “Faz bem para a autoestima e aumenta a conança, já que aprendemos a nos ver como seres humanos puros e completos, que não precisam ser perfeitos”, diz a especialista. Mas antes de apontar o celular para as partes íntimas, lembre-se de que os nudes só são bem-vindos se forem consensuais e se rolar conança entre os envolvidos. Mesmo assim, é preciso saber que os riscos de vazamento existem. O psiquiatra Cristiano Nabuco, coordenador do Grupo de Dependência Tecnológica da Universidade de São Paulo, já atendeu muitos casos em que a vítima cou tão devastada que tentou até suicídio. A SaferNet Brasil, associação civil que luta contra crimes e violações aos Direitos Humanos na Inter-
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normalmente não agiríamos.” Por isso, não custa nada cercar-se de alguns cuidados antes de povoar o WhatsApp com seus nus “artísticos”. As tatuagens que o identicam, por exemplo, precisam mesmo aparecer? Além disso, às vezes, a sensualidade está no que se esconde e não no que se mostra, ou seja, fotos insinuantes podem ser mais ecientes do que um zoom em alta denição da sua genitália. Alguns aplicativos minimizam o risco de vazamento, como o Snapchat, no qual é possível escolher o tempo de visualização da foto e ver quem a salvou, e o Telegram, que, diferentemente do WhatsApp, não armazena as informações. Já o FotoWiz protege imagens e vídeos do celular em caso de roubo ou acesso indevido (alô, Stênio Garcia!). Para os inseguros, Na buco aconselha a avaliação prévia sobre as chances de a foto gerar constrangimento no futuro. “Se a resposta for sim, não faça. Anal, o que acontece na internet ca na internet por muito tempo.” Já dentro de casa...
COBRE,ENCOBRE,DESCOBRE Anudezganhoucontornosdiferentes aolongodahistóriadoOcidente
net, recebeu 224 casos semelhantes no ano passado, um crescimento de 120% em relação a 2013. As mulheres são as principais afetadas (81%), seguidas por homens que escondem a orientação sexual (19%). “Todos nós temos uma personalidade eletrônica que é muito mais desinibida, sexualizada e insubordinada”, explica Na buco. “Quando estamos em uma situação de intimidade, a tendência é baixar a guarda, car mais relaxado e, se há tecnologia no meio, essa personalidade nos faz ter vontade de agir de uma forma que
GREGOS & ROMANOS
2000A.C. ASÉC.5
Eram indiferentesem relação ao corpo.Os banhos públicos eram os espaços mais usadospeloshomens parabater papo e tomar decisões importantes
MODA FEUDAL
1000D.C. ASÉC.15
O corpo nu passoua serassociado à vergonha,ficando restritoaos espaços íntimos.Também era uma forma de distinçãoentre os senhores feudais e os selvagens
TRADICIONAL FAMÍLIA FASHION
SÉC.15 A 18
A religião passou a ditar as regras, entre elas a ideia deque a vestimentaera o símbolo damorale dos bons costumes.Já o corpo nu representava o pecado original
NU ARTÍSTICO
SÉC.19
Veioa moda dosretratos pintados e, com ela, a nudez frequentemente exposta em quadros. Os prazeresda carne passarama nãoser mais tãojulgadosassim
PR�SELFIE NO ESPELHO
SÉC.20
A popularizaçãodas atividades físicas e a banalização dosespelhosfizeram com queas pessoas começassem a se preocupar mais com o corpo e coma aparência
FONTE A
História da Nudez na Vida Privada, Henrique Ferraz e Nadime L’Apiccirella. Revista Eletrônica de Ciências da UFSCar– SP
OFERECIMENTO:
VELOCIDADE, POTÊNCIA E FÍSICA Além dos pilotos e das máquinas, a natureza será um dos principais destaques do GP Brasil de Fórmula 1 TEXTO ALEXANDRE DE SANTI DESIGN BERNARDO BORGES ILUSTRAÇÃO JAPS
ACELERAÇÃO Após a largada, os carros da Fórmula 1 chegam a 100 km/h em apenas dois segundos. Essa aceleração só é possível graças à força de tração que é transferida dos potentes motores para as rodas. Para evitar que os pneus patinem, é necessário outra força: o atrito estático entre a borracha e o asfalto, que vai garantir a aderência das rodas no solo. Ele é alcançado com a escolha correta dos pneus de acordo com o tipo de pista e o clima.
RESISTÊNCIADOAR Noinício, um dos desafios da F1 era o atrito entreo ar e o carro em altavelocidade, conhecido como arrasto.Ao longo dosanos, a aerodinâmica foi adaptada para driblar o problema. Hoje,os carrostêm uma área frontalpequena, que diminuio contato como ar. O seuformato foi pensadopara escoaro vento, desde a asadianteiraaté a traseira, de forma a evitara turbulência, que atrapalharia o rendimentodo carro.
SAUBER C34�FERRARI
FORÇAG Nas curvas, os pilotos sentem os seus corpos até cinco vezes mais pesados do que o normal.A responsável por esse efeito é a força G, medida de aceleração que puxa os motoristas para o lado oposto da curva. Para segurar o piloto no lugar e atenuar o desgaste físico, o cockpit foi pensado para ser o menor possível. O sistema de segurança Hans também ajuda ao estabilizar a cabeça.
Velocidade máx.: 300 Km/h Peso: 702 kg
(com piloto e tanquevazio) Cilindrada: 1600 cc Rotação máx.: 15 mil rpm Comprimento: 5.300 mm Pilotos: Felipe Nasr (Brasil)
e Marcus Ericsson (Suécia)
7 DADOS SOBRE O GP BRASIL PRESSÃO AERODINÂMICA O fluxo de ar também permite ao piloto atingir velocidades mais elevadas (porque aumenta a aderência das rodas com o solo) e proporciona um centro de gravidade mais baixo (o que gera mais estabilidade nas curvas). O design da asa traseira capta o ar e, assim, aumenta a pressão nas rodas de trás.
O evento foi sediado 10 vezes em Jacarepaguá,
1 no Rio, e 33 em Interlagos, em São Paulo
5 brasileiros ganharam a prova, com 9 vitórias,
2 resultado superior a de outras nacionalidades 3 Mas o piloto que subiu ao topo do pódio
mais vezes foi o francês Alain Prost: 6 vezes
4 A McLaren é a dona da prova: venceu a corrida 12 vezes entre 1974 e 2012
5 A volta mais rápida durou 1min 11s 473. Foi
completada po Juan Pablo Montoya, em 2004
A pista de Interlagos tem 4.309 km de extensão.
6 Em 71 voltas, os pilotos percorrem 305.909 km Entre os pilotos de 2015, quatro já ganharam
7 o GP Brasil: Massa, Vettel, Räikkönen e Rosberg
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desconhecidos eforadonosso controle, podem afetaro rumodas coisas”, diz Carmen Prado, do Instituto de Física da USP. Brincadeiras etílicasà parte, os pesquisadores desenvolveram essa teoria paraexplicar a imprevisibilidade Lucas Costa, do comportamento de sistemas via Facebook pelo fato de Vocêestá não ser possível medir com infinita R: emum barna precisãoa posição sexta-feirae tudo e a velocidade de corre em perfeita nenhum objeto. normalidade até Assim, os mínimos seuamigo pedir detalhes do maisuma rodada presentepodem decerveja. Daía influenciar diretateoria do caospassa mente os acontecia fazer sentido em mentos futuros — suavida. “Algoé im- como a ressaca do previsívelseeventos, sábado de manhã.
SEM DÚVIDA
O QUE É A TEORIA DO CAOS? 1
PARAAAMAZÔNIA RESPIRARFUNDO
A redução do desmatamento temfeitobemaospulmões dos latino-americanos
Sabe todos aqueles trabalhinhos que você fez sobre conscientização ambiental nos tempos de escola? Eles podem ter surtido algum efeito, anal. A conscientização, junto com a scalização das autoridades, fez com que o desorestamento da Amazônia diminuísse em 82% entre 2004 e 2014. E, de acordo com pesquisa divulgada pelo periódico cientíco Nature em setembro deste ano, a queda dos índices de desmatamento já melhorou a qualidade do ar que respiramos. Com o auxílio de monitoramento por satélites, instituições governamentais e privadas focaram-se no combate à técnica de corte e queima de árvores para a agricultura, que é proibida por lei. “Depois de alguns anos, a fertilidade natural do solo é perdida e os agricultores usam o fogo para recuperar um pouco dessa fertilidade”, explica André Guimarães, diretor executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazô-
nia (Ipam). Em junho deste ano, uma pesquisa conduzida pelo Instituto Brasileiro de Geograa e Estatística (IBGE) indicou que as emissões de gás carbônico relacionadas ao desorestamento recuaram em 80% entre 2000 e 2010. Uma boa notícia que não se estende apenas ao território brasileiro: de acordo com o texto publicado na Nature e assinado por pesquisadores de instituições como o MIT, nos Estados Unidos, e a Universidade de Manchester, no Reino Unido, a melhora na qualidade do ar também foi detectada em regiões da Bolívia e até no norte da Argentina. Com isso, ao menos 1.060 mortes foram prevenidas por conta de doenças associadas à poluição. Mas não se pode cantar vitória antes da hora: números divulgados neste ano sinalizam um aumento de ao menos 60% do desmatamento da região amazônica em relação a 2014. Estamos de olho.
“Esquecide desligaras notificações” Edward Snowden, ex-técnico da NSA O responsável pelovazamento de informações sigilosasdo governonorte-americano criou uma conta no Twitter (@snowden)e recebeu 47 gigas em notificações. #liçãoaprendida, tuitou ele
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DARWIN NA PONTA DA LÍNGUA �DAS ABELHAS� A banda Kiss ficaria orgulhosa com as modificações físicas dos insetos causadas por mudanças climáticas MAIS UMACONTRIBUIÇÃODA HUMANIDADE para mudanças irreversíveis na natureza: para não desaparecer por conta do aquecimentoglobal, as abelhas apresentaram adaptações em sua anatomia para conseguir se alimentar. Em estudo realizado nas Montanhas Rochosas, cor-
dilheira queocupa porções deterra dos Estados Unidose doCanadá,pesquisadoresde diferentes
instituições norte-americanas observaram que a língua das abelhas das espécies Bombus balteatus e Bombus sylvicola diminuiu nos últimos 40 anos. O aumento da temperatura na região afetou as
flores que possuem tubospolínicos longos, as preferidas das espécies de abelhas de língua longa — só na Montanha da Pensilvânia, um dos locais avaliados na pesquisa, houve uma redução de 60% dessas plantas. Com isso, a evolução natural favoreceu os insetos com língua menor, quetinham mais op-
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GÊNIODOLEGO Em vez de montar castelos ou um forte Apache, aos 12 anos Shubham Banerjee usou as peças de um kit de Lego para criar uma impressora de braile, e agora é dono de uma startup
NOTÁVEIS NOME: Shubham Banerjee NACIONALIDADE: Belga IDADE: 14 anos PROFISSÃO: Estudante FEITO: Criouuma impressora de braile de baixo custo
DILMA VS. PUTIN Comparamos a popularidade do russo aliado ao ditador sírio com a da brasileira acusada de pedaladas fiscais
“DÁ UM GOOGLE, MENINO.” Aos 12 anos, Shubham Banerjeenão sabiacomoos cegosconseguiamler e perguntou aosseus pais.Após ouvir a resposta contemporânea para a soluçãode todas asdúvidas,o garoto descobriu que existia uma coisa chamada braile, sistema de leitura pelo tato impresso por máquinas quecustam ao menos US$ 2 mil. Foi a inspiração necessária para o trabalho da feira de ciências da escola: com um kit de peças da linha Lego Mindstorms — que também possui equipamentoseletrônicosdemontagem—,Shubhamdemorou apenastrêssemanasparainventara Braigo,
Pg. 15
ções de alimentação. Ao comparar exemplares coletadosentre1966e
1980, os pesquisadoresverificaram que a língua das abelhas diminuiu 0,61% a cada ano, ficando reduzida a três quartos de seu tamanho original. Só nos Estados Unidos a população de abelhas criadas em cativeiro caiu 40% entre 2014 e 2015 porconta de pragas naturais, uso de agrotóxicos e mudanças climáticas. No Brasil, estados como São Paulo, Santa Catarina e Minas Gerais também apresentam queda da população desses insetos.
impressora para o sistema braile com custo de
US$350equehojejátemoapoiodecompanhias como Intele Microsoft.Filho de indianos,o jovem de 14 anos nasceu na Bélgica e hoje vive nos Estados Unidos, onde fundou no ano passado a Braigo Labs, empresa sediada no Vale do Silício que trabalha para finalizar a versão comercial do produto. A Braigo 1.0 é produzida em código aberto, o que significa que qualquer um pode ter acessoàs instruções de montagem, além de propor melhorias ao projeto original. “A ideia é
encorajaroutras pessoas a aprimoraro conceito da máquina”, diz. Até o fim deste ano, a Braigo Labs planeja enviar algumas unidades para
testes antesdo lançamento oficial — um doslocais que deverá experimentar a impressora é a
Fundação Dorina Nowill, entidade brasileiraque promove a inclusão de pessoas com deficiência visual. Quando perguntado sobre como conseguiu produzir a máquina a um preço tão baixo, a resposta por e-mail veio com um emoticon.
“Talvez eu nãotenha sidoeducado a fazer produtos complexos =)”, respondeu o garoto, com a simplicidadede quem faz parte de umageração criadaem um mundono qual a busca pelo lucro incessante faz cada vez menos sentido.
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OPS... PORQUEOERROÉPAIDOACERTO
AGENDA
ÁGUALÍQUIDA NA SUPERFÍCIE
Nov. 2015
FLUXOS DE ÁGUA SALOBRA NA CRATERAGARNI
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SUPER BONDER
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O norte-americano Harry Coover trabalhava no desenvolvimento de uma mira mais eciente para fuzis durante a Segunda Guerra Mundial e criou o cianoacrilato, um material muito grudento que foi descartado pelos militares. Daí, o cientista aperfeiçoou a utilização da substância para ns domésticos — sem contar eventuais acidentes quando a cola gruda no dedo.
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VIDANO ESPAÇO A Estação Espacial Internacional(ISS) comemora 15 anosde ocupação humana ininterrupta, comao menos dois astronautas vivendo porlá 2
SENHORDOANEL
12 Em 1980,a Voyager
VIAGRA
sobrevoavao planetaSaturnoesuasluas.Entre as descobertas, a sonda mediuo diasaturniano,que dura10horase39minutos
Na década de 1990, a farmacêutica norte-americana Pzer realizava testes para desenvolver um novo medicamento para combater a angina, doença cardíaca responsável por estreitar as artérias que levam sangue até o coração. Os resultados não foram efetivos, mas o remédio mostrou-se ecaz no tratamento da disfunção erétil. E daí a marchinha da “pipa do vovô não sobe mais” tornou-se, denitivamente, retrô.
OLHEPARAOCÉU Pico deatividade da chuvademeteoros Leonídeas,associadaao cometa Tempel-Tuttle. Sua intensidade é considerada moderada,comumfluxode 10a 15meteoros porhora 17
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metroséa largura que podematingir
�23
Celsius,temperaturaemque se formam
Osasco
Barr a Funda Remédi os
Lapa
Casa Verde
1
PASSADO Com extensãode 1.150 quilômetros,o Tietê cortava a cidade de São Paulo por46 quilômetros. Nasprimeiras décadas do século 20,barcos paratransportede materiais ou de passeiopercorriam o rio— a largura entreas margens variava entre 25 e 50 metros, dependendo do trecho
2
PRESENTE OsprimeirosprojetosparaaretificaçãodoTietê previamareduçãodotrechopaulistanoem20 quilômetros.Em1957,aviaexpressafoiinaugurada, e hoje possui23,5quilômetros deextensãoem cada sentido. O trecho dorio compouca presença deoxigêniocompreendequase155quilômetros
3
FUTURO O governoestadualtem a estimativa de recuperaro rioaté 2025 pormeio do Projeto Tietê.Em 2012 foiinaugurado o centrode tratamento de esgotona cidadede Itaquaquecetuba para diminuira quantidadede dejetos despejada nos córregos afluentes do Tietê
Pg. 22 11.2015
MUNDO CONECTADO?
PORCENTAGEM DAPOPULAÇÃO CONECTADA
Relatório divulgadoem setembro pela ONU indica que 57% das pessoas em todo o mundo ainda não têm acesso à internet — no Brasil, 84 milhões de habitantes estão fora da rede.Veja o ranking:
98,2% 1° ISLÂNDIA
96,3% 2° NORUEGA
96% 3° DINAMARCA
95,9% 4° ANDORRA
95,2% 5° LIECHNSTEIN
I N F O M A N I A P O R
94,7% 6° LUXEMBURGO
93,2% 7° HOLANDA
92,5% 8° SUÉCIA
92,4% 9° MÔNACO
92,4% 10° FINLÂNDIA
91,6% 11° REINOUNIDO
91,5% 12° CATAR
91%
90,6% 14° JAPÃO
90,4% 15° EMIRADOS ÁRABES
87,4% 16° ESTADOS UNIDOS
87,1% 17° CANADÁ
87% 18° SUÍÇA
86,2% 19° ALEMANHA
85,5% 20° NOVAZELÂNDIA
74,7% 37° LÍBANO
72,4% 39° CHILE
70,5% 43° RÚSSIA
64,7% 53° ARGENTINA
64,6% 54° PORTUGAL
63,2% 57° GRÉCIA
62%
61,5% 60° URUGUAI
57,6% 66° BRASIL
57%
56,8% 68° MARROCOS
59° ITÁLIA
49,3% 80° CHINA
13° BAHREIN
44,4% 89° MÉXICO
42,7% 96° NIGÉRIA
T H I A G O T A N J I
Entre os países com maioracesso àinternet,a Islândia lidera a lista: 98,2% da população dopaísestá conectada
67° VENEZUELA
39,4% 105° IRÃ
30%
18%
11,3%
1,6%
1%
113° CUBA
134° ÍNDIA
153° IRAQUE
185° SOMÁLIA
188° ERITREIA
O Brasil encontra-se na 66ªposição do ranking, índice semelhante aosde países comoAlbânia, Bielorrússiae Venezuela A Eritreia, país africanoque viveudécadas de guerra coma Etiópia, encontra-se na últimaposição
11.2015
Pg. 23
OFICINA POR JÚLIO CÉSAR SANTOS*
Tire a caixade ferramentas do armário e faça consertos por conta própria
PROBLEMAS NO BANHEIRO CHUVEIRO NÃO ESQUENTA?
2
Pode sera resistênciaque queimou. Após comprar uma peça nova,desligue a rede elétrica de casa, abra o chuveiro,realize umalimpeza internae faça a troca. Aqueles toques:não deixe a resistência encostada à estrutura deplásticoe abraa torneira comágua fria antes de religar a eletricidade
A TORNEIRA NÃO PARA DE PINGAR? Hora de colocar um macacão azul e fazer cosplay do Mario! Desligue o registro geral de água, desmonte a torneira usando chave de fenda e alicate e troque os reparos, nome dado àquela borrachinha localizada na parte interna do equipamento
A PRIVADA ENTUPIU? Essa é para quem temnojinho: o jeito mais eficaz para resolvero problema écolocaramãona massa e desobstruir apassagem— usando umaluva de borracha, é claro. Tambémpode-se utilizar um desentupidore pressionar comforçarepetidas vezes a regiãodo fundo da privada. Boasortena missão
*JúlioCésar Santos é franqueadoda Doutor FazTudo— Unidade Campo Grande
pesquisadores da Intel (Intel’s RealSense Interaction Design Group) tem trabalhado em soluções para incluir ainda mais esse público no universo dos games. A ideia é usar tecnologia assistiva no mundo real, como câmeras e sensores portáteis, para criar jogos virtuais e em realidade aumentada. A tecnologia atual permite o uso de objetos e partes do mundo real, como o formato de uma sala, para interagir com o jogo. Essa câmera já existe em laptops e possibilita a interação com o computador por gestos. A equipe fez testes A indústria de games exclui 250 milhões de conectando-a a dispositivos pessoas com problemas de visão, mas alguns vestíveis. Nas primeiras provas, pesquisadores já estão mudando isso o equipamento ajudou cegos a POR CAROLINA MAGDALENO caminhar. Funciona assim: um colete com oito sensores espaEm A Culpa É das Estrelas , Augustus e lhados emite vibrações no ponto do corpo Isaac jogam videogame. Poderia ser uma que se aproxima de algo. Se a pessoa está cena comum, se Isaac não fosse cego. A próxima de uma árvore, o colete vibra para ideia não veio do nada para o autor John alertar sobre a possível colisão. Quanto Green. De fato, já existem empresas demaior a proximidade, maior a vibração. dicadas a fazer com que os decientes viCom aparelhos como esse seria possísuais também possam jogar. Em outubro, vel incorporar a frequência cardíaca ao a companhia francesa Dowino lançou, por jogo. A ideia é que essas vibrações deem nanciamento coletivo, o game A Blind a sensação de visão. Mas os desaos são Legend, em que o jogador é guiado pelo grandes. A linguagem tátil ainda precisa som e o celular funciona como joystick. evoluir para transmitir as informações que A tela ca preta durante toda a saga. O se perdem visualmente. Outras partes do maior desao foi “conseguir fazer um jogo corpo e diferentes padrões de vibração que agradasse tanto a cegos quanto a joainda devem ser usados, o que pode gagadores tradicionais”, diz o cofundador da rantir aos cegos se sentirem cada vez mais empresa Pierre-Alain Gagne. A boa notíinseridos nos games. To be continued... cia: o game (em inglês e francês) é grátis. JOGOS PARA OUVIR: Para ter o mesmo efeito para quem não A Blind Legend (Android e iOs), Papa Sangre Series (iOS), enxerga, um jogo tradicional precisaria The Nightjar (iOS), Three Monkeys (PC e Mac) ser totalmente remodelado. Um grupo de 3
PRAZERES DESCONHECIDOS PARACEGOS
FORA DA CAIXA
DÊ UMA OLHADA A qualidadeé importante, mas a responsabilidade ambiental e social das companhias também faz parte na escolha de um produto Couro
Após denúncias de que as fábricas de manufatura da Nike no Sudeste Asiático exploravam os trabalhadores e utilizavam mão de obra infantil, a empresa norte-americana tornou público o nome das indústrias que fabricam seus produtos em todo o mundo. A iniciativa de deixar os processos produtivos mais transparentes e de desenvolver políticas de sustentabilidade tam bém ganhou outros exemplos no setor de calçados, como o da companhia francesa VERT, que usa matérias-primas 100% brasileira s: desde 2005, quando foi criada, a marca utilizou 120 toneladas de algodão orgânico e 65 toneladas de borracha natural da Floresta Amazônica.
O material é produzido com vegetais, como os extratos de acácia
A
Lona
O revestimento do calçado é feito de algodão orgânico, cultivado em plantações de agricultura familiar que não utilizam agrotóxicos ou sementes transgênicas
C
DoAcreaoRioGrandedoSul A empresa francesa VERT produz seus calçados exclusivamente no Brasil Solado
1
A borrachavem da cooperativa Chico Mendes, que emprega 90 famílias de seringueiros
ACRE
Extraçãoda borracha de seringueiras nativas da floresta 2
CEARÁ
2 1
Produçãodo algodão cultivadosem o uso de agrotóxicos PASSANDO A LIMPO
Em julho deste ano, a Adidas anunciou o desenvolvimento do protótipo de um tênis feito com materiais recicláveis retirados
dos oceanos. Em setembro, a empresa noticiou o projeto Sport Infinity, que iniciará o desenvolvimento de um novo material reciclável para chuteiras e tênis
3
RIO GRANDE DO SUL
No local de fabricação dostênis há auditorias paraverificaras condições de trabalhodos operários
3
ELEMENTAR
H C N O Na K
P
Cl
Fe
APRESSADO COME SAL Arapideznopreparodomiojo exigeumaproduçãodiferenteemuitocloretodesódio preguiça de preparar um prato elaborado pode A ser o convite para comer um dos alimentos campeões em concentração de sal. Enquanto o Ministério da Saúde recomenda o consumo de, no máximo, 2,4g por dia, marcas de miojo entregam entre 1,4g e 2,7g. Colocado não apenas para realçar o sa bor, mas também como conservante, o sal, em excesso, pode causar problemas de pressão, retenção de líquidos e insuficiência cardíaca. O tempero que acompanha o macarrão ainda recebe outros realçadores de sabor — o mais comum é o glutamato monossódico, extraído de algas marinhas. Além dele, o produto contém inosinato dissódico, extraído de alguns peixes. A cor ca por conta dos corantes páprica e caramelo. A receita ainda inclui farinha de arroz, caldo de legumes, tomate, beterraba e cebola em pó, farinha de milho enriquecida com ferro e alho em pó.
Ficar pronto mais rápido tem seu preço e requer diferenças na produção. Antes de ser embalado, os 80 gramas do macarrão são pré-cozidos e
pré-fritos em gordura vegetal, em menos de 15 segundos. É o que garante a secagem do alimento. A massa é produzida de forma tradicional, com farinha de trigo, ovos, reguladores de acidez e as vitaminas PP, B1, B2 e 32 B6, além do glúten.
26
Fe FERRO
Encontrado na farinhade trigo, comaqualsefaz a massa, o ferro é essencialpara o organismo porque,nas moléculas de hemoglobina, o oxigênio se liga aeleparaser transportado pelo sangue
Debaixo dos caracóis do seu tempero: alta concentração de sal
19
1
K
6
C
H 6
C
1
H 8 7
O
8
N
O 11
ÁCIDO FÓLICO Responsável pela absorção doferro,o ácido fólico também é encontrado no trigo.Mas no processo de refino da farinha ele é perdido,e poressa razão a legislação brasileira obriga os fabricantes a adicionar 150mcg do componente a cada 100g de farinha. Por isso as embalagens dizem“enriquecido com ácido fólico”
Na 1
11
Na 6
H
C
15
8
P
O
8
O
CARBONATO DE POTÁSSIO E CARBONATO DE SÓDIO Encontrados naturalmente nacascadoovo e da ostra,eles têm elementos diferentes, mas a função éamesma: regularo pHdo alimento para que não fique ácido demaisou básico demais
TRIPOLIFOSFATODESÓDIO Presente no macarrão instantâneo,é usado tambémnos detergentes. O tripolifosfato é um coringa nas indústrias. Produzido sinteticamente, eleservepara manteratextura do alimento, regular a acidez enãodeixar o alimento rançoso
6
C 1
H
BETACAROTENO É um corante natural, presente na cenoura, na beterraba e em outrosvegetais.Quando absorvido pelo organismo, é transformado emvitaminaA
o b o l G a r o t i d E / i z z u h t r A s á m o T : o t o F
DOSSIÊ EDUCAÇÃO TEXTO
THIAGO TANJI
DESIGN
RODOLFO FRANÇA
Os índices brasileiros melhoraram nos últimos anos, mas aindahá um longo caminho a percorrer para a conquista de um ensino com melhor qualidade e acesso mais democrático
UMA PÁTRIA EDUCADORA PARA QUANDO? 33
partidos políticos e preferên-
cias ideológicas à parte, ninguém discorda de que a educação no Brasil é um direito garantido pela Constituição Federal de 1988 e é dever do Estado assegurar de maneira obrigatória e gratuita o ensino básico. O mantra repetido a cada eleição pelos candidatos também não deixa dúvidas de que “a educação é o futuro de nosso país”. Após assumir a Presidência da República para um novo mandato, Dilma Rousseff raticou a importância do desenvolvimento de políticas
educacionais com o novo lema do governo federal: Brasil, Pátria Educadora. “Só a educação liberta um povo e lhe abre as portas de um futuro próspero”, disse a presidente em seu discurso de posse, realizado em 1º de janeiro deste ano no Congresso Federal. Pouco mais de dez meses depois, as palavras animadoras se chocam com a realidade: a crise política que atinge o núcleo do Poder Executivo e o quadro de recessão econômica já afetam o planejamento do Ministério da Educação (MEC). Com orçamento
previsto de R$ 101,3 bilhões para 2015, a pasta teve investimentos reduzidos em R$ 9,2 bilhões com o corte de verbas anunciado em maio pelo Ministério do Planejamento, o que prejudicou programas como o Pronatec, que oferece cursos de ensino técnico e prossionalizante, e paralisou a ampliação de universidades federais. Para superar as contradições e avançar, a construção da Pátria Educadora deixa de ser um simples slogan político e se torna um desao urgente.
À PROVA
pesquisa feita em
2013 pelo Instituto Brasileiro de Geograa e Estatística (IBGE) indicava que 13 milhões de brasileiros a partir de 15 anos não sabiam ler ou escrever um bilhete simples em seu idioma — o equivalente a 8,5% da população. O quadro permanece trágico, mas já foi pior: se em 2003 apenas R$ 33,3 bilhões do orçamento do governo federal foram destinados à educação, o montante saltou para R$ 101,3 bilhões neste
Baixoníveldeinstruçãoda sociedadeeinvestimentos públicosinsuficientesainda sãoproblemasnãosuperados napolíticaeducacionaldopaís ANOSDEESTUDO: MÉDIA BRASILEIRA
ano, cifra que deverá aumentar em dez anos para alcançar até 10% do PIB nacional, medida sancionada em 2014 com o Plano Nacional de Educação. O problema é que, sem contar as restrições orçamentárias por conta da crise atual, os números agigantados também escondem as insuciências para melhorar a infraestrutura das instituições públicas. “Uma das maiores bandeiras do movimento estudantil foi a luta pelos 10% do PIB para
CORTESDO ORÇAMENTODE 2015 NOMINISTÉRIODAEDUCAÇÃO
8
anos
ORÇAMENTO
R$ 101,3 BILHÕES
7
�PREVISÃOINICIAL�
anos
6
PRONATEC
anos
CORTES
R$ 9,4 BILHÕES
CIÊNCIAS SEM FRONTEIRAS
Orçamento
5
anos
1995
1996
1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 HOMENS
MULHERES
2012 2013
2014 2015 2016
TOTAL
TAXADE ANALFABETISMO
R$ 5,2 BILHÕES R$ 4 BILHÕES
Orçamento
2015 2016
R$ 1,6 BILHÃO
R$ 3,5 BILHÕES R$ 2,1 BILHÕES �PROPOSTA�
�PROPOSTA�
TAXADE ANALFABETISMO
Porfaixa de idade
Porcentagem da população brasileira
Porcentagem
15A19ANOS 20A24ANOS 25A29ANOS 30A39ANOS 40A59ANOS 60ANOSOUMAIS
1% 1,6%
12%
APROXIMADAMENTE 13 MILHÕES DEPESSOAS
2,3%
10%
4,7% 9,4%
8%
24,3%
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
MARCOS DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
2011 2012 2013
1549
1759
1808
1911
A primeira escola do Brasil é fundado na Bahia pela ordem católica dos jesuítas, liderada pelo padre Manuel da Nóbrega
Marquês de Pombal, secretário do Estado do Reino de Portugal, expulsa os jesuítas do Brasil e o ensino passa às mãos da monarquia portuguesa
Em 18 de fevereiro, dias antes da chegada da família real ao Brasil, é instalada na Bahia a primeira faculdade do país, que oferece o curso de medicina no Hospital Real Militar
O governo da República cria as primeiras provas de acesso ao ensino superior, um embrião do modelo atual de vestibular
34 Fontes: Dados do IBGE de 2013 e relatório da Unesco de 2012
a educação. Agora, os investimentos só podem aumentar, e não ser cortados na primeira diculdade”, arma Carina Vitral, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE). As contradições da construção do projeto de uma “pátria educadora” não se restringem à esfera federal: em 29 de abril, a Polícia Militar do Paraná deixou mais de 200 feridos ao reprimir uma manifestação de professores que pediam melhores remunerações
HORA DE TIRAR OATRASO
— o piso salarial nacional para esses prossionais é de R$ 1.917,78. Em São Paulo, estudantes da rede pública participaram em outubro de manifestações contra a decisão do governo estadual de fazer com que as escolas atendam apenas um ciclo de ensino, divididas em Fundamentais 1 e 2 e Ensino Médio. Para o Sindicato dos Professores e organizações estudantis, essa reorganização ameaça o fechamento de ao menos 155 instituições.
Modelodecolonização retardouaconstruçãode universidadesepenalizou odesenvolvimento educacionalbrasileiro
NÍVELDE INSTRUÇÃOBRASILEIRA* *Pesquisa realizada com pessoas de 25 anos ou mais
E
0,27%
11,27%
49,25%
24,56%
SEMINSTRUÇÃOOU FUNDAMENTALINCOMPLETO FUNDAMENTAL COMPLETO EMÉDIOINCOMPLETO MÉDIOCOMPLETOE SUPERIORINCOMPLETO SUPERIORCOMPLETO
14,65%
NÃO DETERMINADO
CRIANÇASEJOVENS FORADAESCOLA �7A17ANOS� Total 2.074.683
Negros 1.267.252
Total
Total
Total
Total
Total
234.635
713.597
640.892
322.571
162.988
Negros
Negros
Negros
Negros
Negros
190.227
528.203
348.546
96.679
103.597
Brancos
Brancos
Brancos
Brancos
Brancos
39.509
179.776
284.867
223.346
57.183
NORTE
NORDESTE
SUDESTE
CENTRO�OESTE
SUL
Brancos 784.681
BRASIL
GABARITO
Realizado entre os dias 24 e 25 de outubro, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) teve mais de 7,7 milhões de inscritos. Desse total, 2,5 milhões de participantes fizeram a prova pela primeira vez
1551, 19 anos após a conquista espanhola do Império Inca, a Universidade Nacional Maior de São Marcos era fundada na cidade peruana de Lima e tornava-se a primeira instituição de ensino superior em território sul-americano. A criação de uma faculdade no Brasil aconteceria séculos depois, em 1808, pouco antes da chegada da família real portuguesa ao Rio de Janeiro (confra a linha do tempo abaixo). Pesquisadores armam que o atraso para a implantação dessas instituições no país se devia à ideia clássica da universidade como lugar de autonomia do pensamento e de liberdade, um conceito que pouco agradava à elite colonial brasileira. No século 19, com as transformações econômicas motivadas pela Revolução Industrial, o ensino tornouse menos restritivo, mas sua concepção estava longe de ser democrática: a educação estendida em diferentes níveis de instrução era destinada à formação da elite brasileira, enquanto o ensino de caráter prossionalizante, de menor duração e complexidade, destinava-se às classes populares. m
1912
1934
1937
1996
2013
É criada no Paraná a primeira universidade do Brasil, reunindo os cursos de Direito, Engenharia e Medicina. No Peru, por exemplo, instituições de ensino superior existiam desde 1551
Após a criação do Ministério da Educação e Saúde Pública, em 1930, a nova Constituição brasileira afirma que o ensino deve ser um “direito de todos”
Reunidos no Rio de Janeiro, jovens de todo o país criam a União Nacional dos Estudantes, que se envolvem em diferentes lutas políticas, como a resistência à Ditadura Militar iniciada em 1964
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional institui a obrigatoriedade do ensino público pré-escolar e a universalização do ensino médio
A presidente Dilma Rosseff sancionou a lei que destina 75% do dinheiro pago pelas empresas para ter direito à exploração do pré-sal para a educação
35
CAUSAPÚBLICA
DadosdivulgadospeloMinistérioda Educaçãoindicamadisparidadede infraestruturaentreinstituições deensinobásicopúblicaseprivadas
INFRAESTRUTURADISPONÍVELNA ESCOLA PÚBLICA �ENSINOFUNDAMENTAL�
INFRAESTRUTURADISPONÍVELNA ESCOLA PRIVADA �ENSINOFUNDAMENTAL�
43,9% 47,6% 50,3%
84,4% 92% 57,1%
19,4%
BRASIL
34,4%
BIBLIOTECA OU SALADE LEITURA
32,1% 24,5 % 22,1 % 26,3%
46,9% 40,3% 54,2%
ACESSO À INTERNET NORTE
14%
LABORATÓRIODE INFORMÁTICA
27,1% 29,5% 36,2%
NORDESTE
57,2 % 80,4% 90,7%
9%
NORTE
BRASIL
13,2% 12,7% 69,7% 75,7% 72,7%
VIAS ADEQUADAS PARA PESSOAS COMMOBILIDADE REDUZIDA
82,9% 86,5% 39,6% 35,1% 37,2%
NORDESTE
82,5% 95,1% 68%
27,2%
23,4%
SUDESTE
SUDESTE
60,4% 76,3% 82,2% 80,4%
68,6%
QUADRADE ESPORTES
97,4% 99% 80%
33,7%
59,2%
SUL
SUL
66,1%
86,1%
61,5%
94,1% 96,9%
80,2% 78,7% 39,6%
CENTRO�OESTE
CENTRO�OESTE
52,8%
69,4% 66% 69,1%
MARCHASOLDADO,CABEÇADEPAPEL
Comajustificativadereforçarsegurança,militarizaçãodeescolasécriticadaporespecialistas colocar a farda ,
C
respeitar os códigos de conduta e vestimenta, bater continência e, em caso de desobediência, apresentar-se a um ofcial militar. O cotidiano dos quartéis já é uma realidade para mais de 90 escolas públicas brasileiras que passaram a ter sua administração conduzida pela Polícia Militar dos
estados, sob a argumentação de combater os casos de violência escolar e melhorar o desempenho dos estudantes por meio de uma pedagogia baseada nos conceitos de hierarquia e disciplina. “Controlar a educação de jovens e crianças com um profundo autoritarismo é cercear a ideia de crítica e oposição”, arma Francisco Machado Tavares, professor de ciência po-
37 Fonte: Censo Escolar da Educação Básica (MEC 2013)
OUTRO LADO
Pesquisa realizada em 2014 indica que 12,5% dos professores brasileiros já sofreram algum tipo de agressão verbal ou intimidação praticada por estudantes
lítica da Universidade Federal de Goiás, estado que lidera o ranking de colégios militarizados, com 26 instituições. “O grêmio estudantil não pode funcionar, os pais não são ouvidos, há um retrocesso maior do que na época da Ditadura Militar”, diz Tavares. Procurada pela reportagem, a Polícia Militar de Goiás não se pronunciou até o fechamento desta edição.
FASESUPERIOR? SE A AMPLIAÇÃO do ensino básico para toda a população já é uma realidade, o mesmo não pode ser
dito da educação superior: em 2013, mais de 13 milhões de estudantes disputaram 5 milhões de vagas para
Mesmocomaampliaçãode políticaspúblicas,universidades lutamparamelhorarqualidade deensinoedemocratizaroacesso
sou de 45 para 63 instituições —,
NO SUFOCO
além de programas como o ProUni, que concede bolsas de estudos em cursos privados de graduação, e o Fies, responsável por oferecer cré-
Com orçamento estimado em R$ 4,6 bilhões para 2015, a USP, maior universidade do país, congelou 20% da receita
ingressar em faculdades públicas
dito estudantil para o pagamento de mensalidades. A implantação
e privadas. Buscando reduzir essa
dos projetos, no entanto, é criticada
insuciência, o governo investiu
por alguns especialistas pelo fato
na criação de novas universidades federais — em dez anos, a rede pas-
de priorizar a educação privada. “O Fies é um grande equívoco: neste
ano, estimam-se em R$ 17 bilhões os recursos públicos injetados em escolas privadas de baixa qualidade”, arma José Marcelino Rezende Pinto, professor da Universidade de São Paulo e pesquisador na área de gestão educacional. “As
megacorporações que dominam o mercado de educação superior estão sorrindo à toa com esse tipo de programa”, diz o especialista.
RAIO�XDODIPLOMA
ESCASSEZ
Metadedas2.391instituiçõesdeensinosuperior brasileiras estão concentradasna regiãoSudeste
Maisde13milhõesde pessoas disputaram apenas5milhõesdevagas disponíveisnas faculdades
BRASIL PÚBLICA PÚBLICA FEDERAL PÚBLICA ESTADUAL PÚBLICA MUNICIPAL PRIVADA
Total
Capital
Interior
REGIÃO
Total
Capital
Interior
2.391
841
1.550
NORTE
146
94
52
301
98
203
26
20
6
106
64
42
17
15
2
119
34
85
5
5
0
76
0
76
4
0
4
2.090
743
1.347
PÚBLICA PÚBLICA FEDERAL PÚBLICA ESTADUAL PÚBLICA MUNICIPAL PRIVADA
120
74
46
REGIÃO
Total
Capital
Interior
REGIÃO
Total
Capital
Interior
CENTRO�OESTE
241
117
124
SUL
413
107
306
PÚBLICA PÚBLICA FEDERAL PÚBLICA ESTADUAL PÚBLICA MUNICIPAL PRIVADA
19
10
9
47
11
36
10
9
1
17
7
10
4
1
3
15
4
11
5
0
5
15
0
15
222
107
115
PÚBLICA PÚBLICA FEDERAL PÚBLICA ESTADUAL PÚBLICA MUNICIPAL PRIVADA
366
96
270
VAGAS OFERECIDAS em 2013
Total
BRASIL PÚBLICA PÚBLICAFEDERAL PÚBLICAESTADUAL PÚBLICAMUNICIPAL PRIVADA
5.068.142 577.974 321.398 164.098 92.478 4.490.168
CANDIDATOS INSCRITOS em 2013
REGIÃO
Total
Capital
Interior
REGIÃO
Total
Capital
Interior
NORDESTE
446
226
220
SUDESTE
1.145
297
848
PÚBLICA PÚBLICA FEDERAL PÚBLICA ESTADUAL PÚBLICA MUNICIPAL PRIVADA
68
27
41
141
30
111
28
19
9
34
14
20
16
8
8
79
16
63
24
0
24
28
0
28
378
199
179
PÚBLICA PÚBLICA FEDERAL PÚBLICA ESTADUAL PÚBLICA MUNICIPAL PRIVADA
1.004
267
737
Total
BRASIL PÚBLICA PÚBLICAFEDERAL PÚBLICAESTADUAL PÚBLICAMUNICIPAL PRIVADA
13.374.439 7.375.371 5.568.950 1.668.780 136.641 5.999.068
38 Fonte: Relatório do Ensino Superior (MEC 2013)
DESIGUALDADE
SANCIONADA EM
S
despertou polêmicas ao garantir a reserva de 50% das matrículas de universidades federais a estudantes do ensino público até o m de 2016. Críticos à lei asseguram que essa imposição apenas tapa o sol com a peneira e não soluciona os pro blemas de infraestrutura e qualidade de ensino de colégios geridos pelo Estado, impedindo que todos os alunos tenham condições de igualdade no momento de participar de um processo seletivo. Por outro lado, o governo federal e os movimentos sociais justicam o projeto ao armar que, em 2014, 40% das vagas de instituições federais foram reservadas pelas cotas e 21,5% dos matriculados eram negros — 60.731 estudantes. “Em um país como o nosso, a adoção de políticas armativas contribuem para a superação das desigualdades raciais”, diz Ronal-
Negrosepardoscorrespondemamais dametadedapopulaçãobrasileira,mas aindaestãodistantesdoensinosuperior MATRÍCULAS POR COR�RAÇA NO ENSINO SUPERIOR
25%
58,3%
3%
BRANCA
PRETA
NÃO DECLARADO
12,5%
0,1%
PARDA
INDÍGENA
1%
AMARELA
MÁTRICULASEM INSTITUIÇÕESPÚBLICAS
MÁTRICULASEM INSTITUIÇÕES PRIVADAS MAISVAGAS
Branca
Branca
24,5%
27% Não declarado
Preta
Não declarado
51,8%
2,5%
60,3% Preta Parda
Parda
4,5%
11,5 %
15,5% Indígena
Amarela
0,2%
1%
CIÊNCIADEBASE Desde1981oPrêmioJovem
Cientistaestimulaacriaçãode tecnologiaseodesenvolvimento depesquisasderelevânciasocial
Indígena
Amarela
0,2%
1%
2012, a Lei de Cotas
Dados da Secretaria de Políticas de Promoção de Igualdade Racial indicam que, entre 2012 e 2013, quase 111 mil estudantes negros ingressaram em universidades federais pela Lei de Cotas de 2012
do Barros, da Secretaria de Políticas de Promoção de Igualdade Racial (Seppir), ligada à Presidência da República. De acordo com o Censo de 2010, 97 milhões de brasileiros se declaram negros, e 91 milhões se consideram brancos. O problema é que, mesmo em maioria, há um abismo social entre negros e brancos: de acordo com o Seppir, as taxas de analfabetismo são duas vezes maiores entre negros. Por sua vez, jovens brancos têm três vezes mais chances de chegar à universdade. “As ações armativas corrigem desigualdades históricas”, ressalta Barros.
para dar um empurrãozinho
na pesquisa nacional, o Prêmio Jovem Cientista reconhece os melhores trabalhos feitos por estudantes do Ensino Médio à Pós-Graduação, com premiações em dinheiro e bolsas de estudo — neste ano, mais de 1,9 mil pesquisas discutiram projetos sobre segurança alimentar e nutricional. “A próxima edição terá como tema a educação, com o desenvolvimento de iniciativas para resolver questões de aprendizado e ensino”, conta Georgia Pessoa, gerente da Fundação Roberto Marinho, parceira do Prêmio. As incrições dos projetos começam em 2016.
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A EDUCAÇÃO COMO PRIORIDADENACIONAL
AGORAÉ SUAVEZ Compartilhe seu conhecimento em projetos educacionais
Oex-ministrodaEducaçãoRenatoJanineRibeirocita dificuldades,masconfianamelhoriadoensinonoBrasil
REDEEMANCIPA
nomeação de Renato Janine Ribeiro como ministro da Educação foi uma das poucas decisões do início do segundo mandato de Dilma Rousseff elogiadas por amplos setores da sociedade pelo fato de a escolha não ser político-partidária — professor de Filosoa da Universidade de São Paulo, Janine não é liado a nenhum partido. A experiência à frente da pasta, no entanto, durou pouco: após lidar com o corte bilionário de orçamento para este ano, o professor foi demitido no dia 30 de setembro, antes do anúncio de uma reforma ministerial realizada para agradar partidos descontentes com o atual governo. Em seu lugar assumiu Aloizio Mercadante, que sofria pressões para deixar o cargo de ministro-chefe da Casa Civil e já liderara o MEC entre 2012 e 2014. Após esse episódio, Janine armou em entrevista a GALILEU que, mesmo com as diculdades, cona na melhora do sistema de ensino brasileiro.
Movimento social de educação popular, oferece cursinho pré-vestibular gratuito para estudantes de todas as idades. Conta com unidades em Minas Gerais, no Pará, no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul redeemancipa.org.br
A
CURSINHO MAFALDA Criado em 2013, o cursinho pré-vestibular gratuito tem unidades nos bairros paulistanos de Cidade Ademar e Tatuapé cursomafalda.com.br
ARTE DE EDUCAR
Questões políticas atrapalham o planejamento da educação no país? A educação é complexa, envolve diferentes questões, e não apenas a política. O grande ponto é que as pessoas ainda não têm noção do quanto a educação é importante para o país: é costume falar palavras ao vento, mas isso tem poucos efeitos práticos enquanto a sociedade não se convencer de que é necessário gastar dinheiro e comprar livros para os lhos, levá-los ao teatro... O que deve ser feito prioritariamente em relação à educação? Há muitas diculdades ligadas à qualidade, tanto em relação às escolas como à formação de professores e gestores, sobretudo nas cidades pequenas, em que é difícil ter um secretário que entenda do assunto. Em curto prazo, a prioridade total é a alfabetização na idade certa. Eu também destacaria a
Promove projetos educativos para a educação de crianças, jovens e adultos em comunidades do Rio de Janeiro, como no Morro da Mangueira artedeeducar.org.br
necessidade de garantir a escola infantil e o estímulo educativo às crianças, além de qualicar o Ensino Médio, que prepara mal: há um aumento das vagas de Engenharia na graduação, mas a maior parte dos estudantes não dá conta por insuciências em matemática. Como o senhor avalia a experiência como ministro da Educação? Foi um desao grande, porque havia a diculdade de dinheiro, e é claro que os cortes de orçamento prejudicam a expansão dos programas. Mas, por outro lado, existe o desao de fazer mais com menos. O que foi bom é que, apesar disso, há muitas pessoas entusiasmadas para melhorar a qualidade da educação, e isso é graticante. Ainda falta muito para transformar a educação em prioridade nacional, mas vamos ganhar essa parada. Nós estamos no caminho certo.
AVANTE Trabalha na formação de educadores e agentes culturais e coordena atividades com lideranças comunitárias na Bahia avante.org.br
CIDADÃO PRÓ-MUNDO Oferece aulas de inglês para crianças que vivem em comunidades do Rio de Janeiro e de São Paulo cidadaopromundo.org.br
CODECLUB
COMPROMISSO Estabelecido em 2012 , o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa prevê que todas as crianças estejam alfabetizadas até os oito anos, ao final do 3° ano do ensino fundamental
Desenvolve projetos para que crianças aprendam programação de computadores codeclubbrasil.org
QUEROSABER Projeto de alfabetização de crianças e adolescentes que vivem em abrigos e entidades de acolhimento querosaber.org
GRAVURA
P.44 P.54 O
LUÍS MATUTO
TRANSGÊNERO: TUDO QUE VOCÊ SABE ESTÁ ERRADO
INVASOR P.60 HACKEANDO A COZINHA P.66 AO INFINITO E ALÉM P.70
LAR AMARGO LAR
P.76 O
VELHO E O CÉU
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sobreo temanaimprensa), Valentim não quer saber de classicações homem x mulher ou gay x hétero. E ele não está sozinho: segundo pesquisa do instituto norte-americano YouGov, 46% dos jovens entre 18 e 24 anos se denem heterossexuais, e outros 6% se dizem homossexuais. Isso signica que 48% das pessoas estão fora desse espectro. É que a identidade de gênero é um pouco mais complexa do quenosensinaram: dizrespeito sobre quem somos, mas é regulada por instituições sociais e por nossa necessidade de categorizar indiví Valentim*nasceuemColorado,no duos e suas atividades. O conceito de transgênero ainda interior do Paraná, há 16anos. Desé muito complexo para a maioria de pequeno, seu comportamento fugia do padrão esperado para um menino: gostava de brincar de das pessoas, que não entendem o bonecas, preferia andar com garotas e às vezes que isso tem a ver com identidade. vestia as roupas de suas tias. Não pegou muito Muitos acreditam que transexuais bem nafamília. Era comum Valentim ouvir coisas são apenas pessoas que nasceram como “virahomem”e “viadinho” durante a infân- no corpo errado, um homem preso cia. O assédio machucava,mas, aomesmo tempo, nocorpo de uma mulherou vice-verdeixava-o confuso. Como ele poderia ser gay se sa. Outros acham que para ser contambém se sentia atraído por meninas? Como só siderado transgênero é preciso ter tinha referências de homo e heterossexualidade, feito cirurgia de mudança de sexo. Valentim acabou se denindo como gay. Até que Quando se fala em transexualidade a modelotransgênera Andreja Pejic veio ao Brasil há umaimensaconfusão entre idenparaum desle e foi entrevistadapor uma redede tidade de gênero e orientação seTVaberta. Naépoca, ela se apresentava como um xual.É comum pensarque mulheres menino andrógino. A identicação foi imediata, trans e travestissão“tãogaysque vie Andreja tornou-se sua grande referência. Valen- raram mulher” — o que, obviamentimcomeçou a pesquisarsobre a modelona inter- te, não é verdade. Sexo biológico é net e conheceu a página Travesti Refexiva, no Fa- diferente de gênero e orientação secebook. Foi quando entendeu o que é gênero e a xual.O primeiroé referenteaoórgão diferença entre este e a orientação sexual. Entrou sexual do corpo humano. O gênero em contato com outras pessoas trans nas redes é a identidade do que é considerado sociais e descobriu sua identidade: não binário e feminino ou masculino, que não é bissexual. Assim como a cantora Miley Cyrus e universal e pode variar ao longo do a atriz Kristen Stewart (que têm falado bastante tempo. Já a orientação sexual diz
respeito ao tipo de atração, que pode ser por pessoas do mesmo sexo, do sexo oposto, os dois ou nenhum (ve ja quadro na pág. XX ) . Ou seja, uma pessoa transexual não é necessariamente homossexual. Na verdade, transgênero é um termo que abriga todos que não se identicam com o gênero atribuídoa eles nonascimento e também quem não se identica com gênerode forma alguma, que é neutro, uido. Como Valentim.“Não nasci no corpo errado, a sociedade é que tem uma leitura erradadele”, diz. Bruce Jenner era um jogador de futebol universitário quando seu treinador o convenceu a tentar o atletismo. Depois de muito treinamento, competiu pelos Estados Unidos nos Jogos Olímpicos de 1976, quando ganhou a medalha de ouro na prova de decatlo. O último atleta a levar o título, quatro anos antes, era um soviético. Em meio à Guerra Fria, Jenner foi aclamado como o grande herói norte-americano. Foi convidado a dar palestras motivacionais para inspirar seus compatriotas durante o conito. Mas o maior símbolo vivo do sonho norte-americano era só uma encenação. Jenner, na verdade, sempre foi uma mulher presa no corpo de um homem — no caso, o de um atleta famoso no mundo inteiro. Apenas recentemente ele anunciou que é transexual e, na capa da edição de julho da revista Vanity Fair, declarou: “Me chame de Caitlyn”. Em várias partes do mundo, transexuais ganham espaço na mídia, como a modelo brasileira Lea T e a ex-BBB Ariadna. Se por um lado isso ajuda a aumentar a visibilida*Nome fictício para protegera identidade do personagem
de para o tema, por outro cresce a ria terceiro gênero nos documen- ma de xingamentos xingamentos e ataques. Não é por acaso polêmi polêmica: ca: a palavr palavraa “gêner “gênero” o” virou virou tos ociais e as cotas de emprego que que essa essa é a prim primei eira ra per pergunt guntaa feit feitaa a resp respei eito to de sinôni sinônimo mo de maldiç maldição ão para para grupos grupos e de educação para o grupo. As hi- um ser ser huma humano no,, e tamb também ém uma uma das das mais mais impo imporrprova de que gênero tant religiosos religiososconser conservador vadores. es. No Brasil, Brasil, jras são uma prova tantes. es. Mesmo Mesmo quan quando do não não se fala fala aber aberta tame ment ntee nunc nuncaa se falo falou u tant tanto o no assun assunto to coco- tem muito mais a ver com a socie- sobr sobree isso isso,, é como como se só exis existi tiss ssem em dois dois grup grupos os mo nos nos últi último moss meses meses,, depoi depoiss que que dade na qual vivemos do que com de pess pessoa oas: s: o dos dos home homens ns e o das das mulh mulher eres es.. Ao noss no ssa a iden id enti tida dade de em si. si . E traz tr azem em à o Plano Nacional de Educação ennascer, você é automaticamente colocado num tona o deba debate te:: só há uma uma form formaa de dos dois, baseado nos seus órgãos genitais. Se trou trou em vota votaçã ção o e o termo termo“g “gên êner ero” o” tona ser home homem m ou mulh mulher er?? Ou há uma uma tiver um pênis é menino, se tiver uma vagina, foi foi bani banido do do text texto o após após discu discuss ssões ões ser multiplicidade de masculinidades menina. Dali em diante, sentirá a pressão para acaloradas acaloradas no Congresso Congresso.. e feminilidade feminilidadess possíveis? possíveis? se confo conforma rmarr com as caract caracterí erísti stica cass design designada adass “É menino ou menina?” menina?” costu- a você você.. Menino Meninoss gosta gostam m de azul, azul, jogam jogam video videoga ga-Corpos Corpos binários binários Durant Durantee milhar milhares es de anos, anos, as hijras hijras ma ser a primeira pergunta depois me e são agress agressivo ivos, s, enquan enquanto to menina meninass gosta gostam m brincam de boneca boneca e são naturalmente naturalmente — o terc tercei eiro ro gêne gênero ro,, comp compos osto to por por do anúncio de uma gravidez. Se a de rosa, brincam crianç nçaa não não se adap adapta tarr ao que que é eses- passi transgêneros, eunucos e interse- cria passiva vass e emoti emotiva vas. s. Duas Duas cate catego gori rias as para para toda toda a perado do compo comporta rtamen mento to de uma raça xos — foram líderes espirituais e perado raça huma humana na.. Será Seráo o bast bastan ante te?? De acor acordo do com com os estudos de gênero gênero,, um campo campo de pesqui pesquisa sa acadêacadêpolíticos políticos que celebravam celebravamcasam casamenen- menina ou menino, é provável que estudos passee o rest resto o da sua sua vida vida ouvi ouvind ndo o a mica tos, tos, abenço abençoav avam am crianç crianças as e ocupaocupa- pass mica que que surg surgiu iu dos dos estu estudo doss femi femini nist stas as e pós-espós-espergunta — só que em for- truturalistas truturalistas dos anos 1960, a resposta é não. vam posições de prestígio na jus- mesma pergunta tiça indiana. Elas estão estão prese present ntes es em textos textos sagrasagrados do hinduí hinduísmo smo,, como o Maha bharata bharata e o Kama As pala palavr vras as usad usadas as nas nas discu discuss ssõe õess sobr sobree gêne gênero ro pode podem m ser ser Sutra. Sutra. Foi Foi assim assim incomp incompree reensí nsívei veis. s. Em caso caso de dúvida dúvida,, recorr recorraa a este este glossá glossário rio:: até que a Grã-Bretanha tanha coloni colonizou zou a Índia e adotou ASSEXUADO NB daquele designado a ela na TRANSGÊNERO TRANSGÊNERO / uma lei, em 1897, TRANSEXUAL Pessoa que não sente atração hora do nascimento Não binária, ou seja, neutra que que esta estabe bele leci ciaa sexual por por ninguém nem — não se identifica com o Pessoa que não se identifica vontade de fazer sexo DRAG DRA G QUEENE QUE ENE DRAG DRA G KING KIN G gênero masculino nem com o gênero determinado que que ser hijra hijra era era Artista performático(a) performático(a) que se com o feminino no nascimento. Exemplo: foi um crime. Desde CISGÊNERO veste com roupas femininas designada como homem, mas então então elas foram foram PANSEXUAL Pessoa que se identifica com (queen) ou masculinas (king) se identifica como mulher o gênero designado a ela no para apresentações, indepenAquele que sente atração marginalizada marginalizadass e TRANSFOBIA nascimento. Exemplo: nasceu dentemente do gênero sexual por pessoas, indepenobrigadas a mencom vagina, foi designada dentemente do gênero Preconcei Preconceito to e discrimin discriminação ação digar ou se prosmulher e assim se identifica HOMOFOBIA contra contra pessoas pessoas trans, trans, aversão aversão Repulsa e preconceito contra QUEER tituir tituir para para sobrev sobreviiCISSEXISMO pessoas homossexuais Originalmente era uma TRAVESTI ver — só voltaram Ideias e discursos segundo os ofensa, já que em inglês signi- Definição em disputa. É a conquistar seus INTERSEXUAL quais o gênero é definido pelo fica “estranho”, mas passou sinônimo de transexual, mas corpo, não pela identidade Pessoa que nasceu com genia ser um termo de afirmação afirma ção marginalizado. Ou um terceidire direit itos os no ano ano tália ambígua, antigamente política de todos os “dissiro gênero. O termo é usado passado, passado, quando CROSSDRESSER chamada de hermafrodita dentes” — isto é, aqueles que como afirmação política em o governo indiano Pessoa que usa roupas asso(essa palavra não se aplica à não se encaixam na categoria razão do estigma enfrentado ciadas ao gênero diferente espécie humana) “heterossexual e cisgênero” pelos travestis no país instituiu a catego-
ABC DO GÊNERO
pessoa pessoass que não não se reco reconhe nhece cem m veja o diciodicioem nenh nenhum um extr extrem emo o (veja nário na página anterior). Gêne Gênero ro e disc discip ipli lina na
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Ainda ligamos gênero ao sexo biol biológ ógic ico o e nos acostumamos acostumamos a pens pensar ar que que isso isso é nanatura tural. l. No âmbi âmbito to da pato pato-logi logiaa , os indi indiví vídu duos os que que fufugiam dessa dessa natura naturalida lidade de foram foram chamado chamadoss de “transe “transexua xuais” is” — ou seja, desviandesviantes. Recentemente, com os estudos de gênero, começ começar aram am a pensa pensarr que que essa essa desig designaç nação ão inic inicial ial e tida tida como como “nat “natur ural al”” é tamb também ém arbi arbitr trár ária ia.. Não Não há uma natura naturalida lidade de exclusi exclusiva va na relação relação gênegênero-genital. ro-genital. O que existe é uma identidade, uma forma de se reconhecer reconhecer.. Ela pode ser um sentimento mento de perte pertenc ncime iment nto, o, no caso caso da pessoa pessoa ciscisgênero (aquela que se reconhece com o gênero que lhe foi atribuído ao nascer), ou uma identicação cação difere diferent nte, e, no caso caso da da trans, trans, que pode se reco reconh nhec ecer er com com o gêne gênero ro opos oposto to,, com com nenh nenhum um gêne gênero ro ou com com uma expe experi riênc ência ia de si que esca esca-pa ao siste sistema ma binár binário io homem/ homem/mul mulher her.. Mas nem toda pessoa que não se reconhece como cisgênero nero é tran trans, s, já que que exis existe tem m nuan nuance cess e vari variaç açõe õess de perte pertenc ncim iment ento. o. É o caso caso da “quee “queer” r”, class classee de
próp própri rio o pai. pai. Ele Ele não não foi foi o únic único. o. Em 2014, 2014, 326 pessoas pessoas foram foram assassi assassinanadasno das noBr Brasi asill por por não não se enca encaix ixar arem em nessas nessas regras regras,, segundo segundo relató relatório rio do Grupo Gay da Bahia (GGB). É um núme númerro 4% maio maiorr do que que o reregistrado no ano anterior. Entre as vítimas, 134 gays, 134 travestis, 14 lésbi lésbica cas, s, 3 bisse bissexu xuai ais, s, 7 amant amantes es de traves travestis tis e 7 hetero heterossex ssexuai uaiss confun confun-didos com homossexuais. A mensagem que essas estatísticas sobre violênci violênciaa contra contra a populaç população ão LGBT LGBT passa é clara: se você desobedecer desobedecer às regras de gênero vai sofrer uma puni puniçã ção o físi física ca e pode pode até até morr morrer er.. É o poder poder coerci coercitiv tivo o de gênero gênero como como forma de policiar as pessoas, de
Alex Alex era um menino de 8 anos da peri perife feri riaa do Rio Rio de Janei aneiro ro que que gosgostava de dança do ventre e de lavar louça. Seu pai, Alex André Moraes Soei Soeiro ro,, de 34 anos anos,, não não apro aprova vava va o jeit jeito o afemi afemina nado do da cria crianç nçaa e tent tentav avaa corrigi corrigi-lo -lo.. As surras surras eram recorr recorrenentes e tinham como objetivo ensinar o lho a andar como homem. Como o pequeno não chorava enquan quanto to apan apanha hava va,, o pai pai bati batiaa aind aindaa mais mais.. Um dia, dia, a cria crianç nçaa se recu recuso sou u a cortar o cabelo para ir à escola e o pai pai resol resolve veu u acab acabar ar com com aquela aquela desobed desobediên iência cia.. De tant tanto o apan apanha harr, o fíga fígado do de Alex Alexfo foii perfu perfura rado doee ele ele sosofreu uma hemorragia interna terna.. Chego Chegou u ao hospi hospita tall Aos 8 anos, morto, morto, com hematomas pelo corpo todo e sinais Alex morreu de desnutrição. Alex papor não se goucom oucom a vida vida o preç preço o de adequar não não se adequ adequar ar às norma normass às no norm rmas as de gênero impostas pede gêne gênero ros s la sociedade e aplicadas de forma implacável pelo
SURRA
acor acordo do com com Judi Judith th Butle Butlerr, uma uma das mais mais respei respeitad tadas as lósof lósofas as de gênero gênero da atuali atualidade dade.. Judith Judith parte parte das premispremissas do lóso lósofo fo fran francês cês Miche Michell Foucault para explicar como as regras de gênero são performáticas e não passam de fenômeno fenômenoss repetid repetidos os para para simu simular lar uma uma ideia ideia de natu natura ra-lidade. Foucault disse que a discipl disciplina ina é um instru instrument mento o de dominaç dominação ão e contro controle le para domestica domesticarr comporta comporta-mentos divergentes. Com o Iluminismo, várias instituições de assistência e
AS DESVANT DESVANTAG AGENS ENS DE SER INVISÍVEL Como Como é a disc discri rimi mina naçã çãoo de pess pessoa oass tran transs nosEUA,ondehápesquisasobreotema: proteção aos cidadãos — família, hospit hospitais ais,, prisões prisõesee escola escolass — foram foram consolidadas como mecanismos de controle. Mas o lósofo não acreditava que o poder de coerção tinha uma só origem, como o Estado, e sim que surgia de diversas fontes: são os micropoderes que transformam as condutas das pess pessoa oas. s. Umadas Uma das forma formass de exer exerce cerr poder poder é por por meio meio de disc discur urso sos. s. Assi Assim, m, as piad piadas as,, o modo modo cocomo nos nos refe referi rimo moss a algu alguém ém e até até os xing xingam amen ento toss contribuem contribuem para normalizar alguns comportacomportamento mentoss e estig estigmat matiza izarr outr outros os — exemp exemplo: lo: usar usar a expres expressão são “que “que gay!” gay!” quando quando alguém alguém demonst demonstra ra seus seus sentim sentiment entos osou ouaa palavr palavraa “viado “viado”” ou“tr ou “trav avesesti” como como xing xingame ament nto. o. Judit Judith h utili utiliza za essa essa premi premisssa do discu discurso rso para para tenta tentarr dissol dissolver ver a dicot dicotomi omiaa sexo versus gênero. Para ela, vivemos numa ordem compul compulsóri sóriaa que exige exige coerên coerência cia total total entre entre sexo, sexo, gênero gêneroee desejo desejo sexual sexual,, quesão que são obriga obrigator toriaiamente heterossexuais. A autora sugere, então, a contestação das expressões de gênero, já que a identidade é formada com base na repetição de atos atos perfor performat mativo ivos, s, ou seja, seja, atitude atitudess e gesto gestoss que cons constr troe oem m o que que é femi femini nino no e mascu masculin lino. o.
57% foram rejeitados ou abandonados pela família
ENTRE 0,25% E 1% da população norte-americana se declara transgênera
30%% 30
70%
Vi V i o l ê n c i a sofreram
�ísicaou �ísicaou sexu sexual al da políci polícia a
69%
3EMCADA4
já ficaram desabrigados
transgêneros sofrem abuso sexual na escola
Fontes: Fundação Americana
45%
das pessoas trans tentaram o suicídio antes de completar 24 anos anos
para Prevenção de Suicídio. Instituto Instituto Williams (Ucla)
Fora Fora dos dos livro livros s
Por mais que a diferenciação de gêneros pareça natur natural, al,ela ela não não é. Boapar Boa parte te dessa dessa expli explica caçã ção o está está nopap no papel elda damed medici icina nana naEur Europ opaa nona no nall doséc do século ulo 18.Co 18. Com m a Revolu Revoluçã ção o Indus Industri trial, al,aa popu populaç lação ãoeur euroopeia peia começ começou ou a se conc concen entr trar ar em áreas áreas urba urbana nas, s, migra migrandodo ndodo campopara campoparaas asci cidad dades. es.A A conc concent entra ra-ção ção de pessoa pessoass de difere diferent ntes es regiõ regiões es num num mesmo mesmo lugar lugar provoc provocou ousurt surtos osee doenças, doenças,que queala alavan vancar caram am a impo import rtân ância cia e o desen desenvo volvi lvimen mento to da medic medicin ina. a. Áreas Áreas como como psiqui psiquiatr atria, ia, sexol sexologi ogiaa e psican psicanáli álise se viram viram nisso nisso a oportu oportunid nidade ade de catego categoriz rizar ar doendoenças para atrair mais pacientes aos consultórios. Assim, Assim, os especi especiali alista stass substi substituí tuíram ram os padres padres no pape papell de guar guardi diõe õess das das prát prátic icas as sexu sexuai aiss e dedeterminaram os comportamentos aceitáveis e os patoló patológico gicos. s. Tudoque Tudo quenão nãotinh tinhaa ns reprod reprodutiv utivos os foi considera considerado do degeneraç degeneração: ão: homossexua homossexualidad lidade, e, transexualidade, transexualidade,masturba masturbação, ção,prostitu prostituição. ição.Ainda Ainda hoje, a transexualidade é considerada um transtorn torno o ment mental al pela pela medi medici cina na,, como como era era a homo homosssexu sexuali alida dade de até até os anos anos 1970 1970.. “Os crité critério rioss ditos ditos biol biológ ógic icos os (ana (anato tomi mia, a, horm hormôn ônio ios, s, crom cromos osso somo mos, s, glându glândulas) las) são contra contradit ditóri órios, os, às vezes vezes incoer incoerenentes. tes. É só ver ver como como os endo endocr crin inol olog ogis ista tass forç forçam am
VERGONHA NACIONAL O Bras Brasil il é o país país mais mais viol violen ento to para ara pess pessoa oass trans, trans, segund segundoo a ONG TransGe ransGende nderr Europe Europe::
1.731 pessoas trans foram mortas entre
2008 2008 E 2015 2015
1.350 dos assassinatos aconteceram na América Latina
Brasil 689 foram no
*As pesquisas foram feitas com dados de assassinatos reportados à polícia. Não se sabe quantos assassinatos aconteceram até agora nototal
NO RESTANTE DA
América Latina,
60% dos assassina assassinatos tos de pes pessoas soas tran trans* s*
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um antagoni antagonismo smo hormonal hormonal entre entre testost testostero erona na e estrogênio que não existe. Essas explicações de transexualidade estão impregnadas de hormônios nios como como os feto fetos s estã estão o grud grudad ados os ao vent ventre re de suas mães. E não estamos preocupados com a origem origem biológi biológica ca da hetero heterosse ssexual xualidad idade” e”, disse disse a GALILEU GALILEU Marie-Hélè Marie-Hélène ne Bourcier Bourcier,, professor professora a da Univ Univer ersi sida dade de de Lill Lille e II e uma uma das das prin princi cipa pais is teóteóricas ricas quee queerr da Franç França. a. Mais ou menos no mesmo período, cientistas começa começaram ram a denir denir as principa principais is difere diferença nças s entre homens e mulheres com base no conhecimento da época, que era fortemente marcado pela pelas s polí políti tica cas s de gêne gênero ro — ou seja seja,, a domi domina naçã ção o do feminino pelo masculino. Não é por acaso que que a prim primei eira ra gur gura a de um esqu esquel elet eto o femi femini nino no só apar aparec eceu eu em um livr livro o em 1759, 759, com com o obje objeti ti-vo de deixar deixar evide evidente nte a difer diferen ença ça entre entre homens homens (fortes e com o crânio maior que o feminino) e mulheres (muito mais frágeis). Pouco mais de um século século mais mais tard tarde, e, o biólog biólogo o escoc escocês ês Patri Patrick ck Geddes usou a siologia celular para explicar que mulheres são mais passivas e conservadoras do que os homens, que seriam mais ativos e passiona passionais. is. Segundo Segundo Thomas Thomas Laqueur Laqueur,, conheconhecido sexólogo norte-americano norte-americano,, não há dúvidas de que que a cria criaçã ção o de teor teoria ias s sem embasam embasament ento o so bre difere diferença nças s entre entre os sexos inuenciou o progre progresso sso cientí cientí-co, co, bem bem como como as interpr interpreta etaçõe ções s dos experimento experimentos. s. Ainda
DEDESS
hoje transbor transbordam dam estudos supostasupostamente cientícos que garantem explicar por que homens e mulheres se comportam de determinada determinada maneira. Nem todos são descartávei descartáveis, s, claro, claro, masé mas é intere interessan ssante te questio questionar nar qual é o interesse por trás dessas pesqui pesquisas sas e suas suas inuên inuência cias s histór históriicas. cas. A prod produç ução ão de cate catego goria rias s biná biná-rias rias e estáv estáveis eis consol consolida ida relaçõ relações es de poder poder entre entre elas: elas: homem homem sobre sobre mulher, lher, hetero heterossex ssexual ual sobre sobre homosse homosse-xual etc. O binário é uma projeção arbitrária do “dimorsmo” corporal, ou seja, a ideia de que existem dois dois organ organism ismos os disti distint ntos os na espéespécie humana, um com pênis, outro com vagina. Mas essa taxonomia biológ biológica ica é falha, falha, pois pois ela é incapa incapaz z de dar dar cont conta a dos dos corpo corpos s inte inters rsex exos os,, aqueles que nascem com pênis e vagina, ou com genitália ambígua/ indenida. Enquadrar as pessoas em gêneros, desejos e categorias estáveis é também uma forma de castração. Quando nos limitamos a isso, reduzimos reduzimos e aniquilamos aniquilamos as possibilida possibilidades des múltiplas múltiplas de vivência vivência do praz prazer er e do dese desejo jo.. E, claro claro,, mar marginalizamos ginalizamos os desviant desviantes. es. Vida Vida de desv desvia iant nte e
Rodrigo Rodrigo Zanini, Zanini, 22 anos, não é modelo. Trabalha com moda, é homossexual e se veste de forma andrógina: seu visual é feminino, mas ele procura mesclar com roupas masculinas
Liége Liége Martin Martins s é uma uma jove jovem m trans transeexual de 19 anos que mora em uma favela no Rio de Janeiro e iniciou em segred segredo o um tratam tratament ento o hormohormonal. Cresceu com a mãe e a irmã, com quem dividia as brincadeiras sem estereó estereótipo tipos s de gênero gênero.. Tem diculda diculdades des para sobreviv sobreviver er em um ambiente tão hostil e escasso de possibilidades como a periferia cari carioc oca. a. Por Por isso isso,, crio criou u um grup grupo o no Facebook Facebook chamado chamado Cismitério, que reúne reúne milhares milhares de pessoas pessoas trans, trans,
principalm principalment ente e jovens, jovens, que ainda ainda estão em período de descoberta e querem querem trocar trocar expe experiên riências cias sobre sobre corpo corpo e iden identid tidad ade. e. “Ningu “Ninguém ém concontrat trata a trav traves esti ti,, e às veze vezes s nem nem sequ sequer er estudo elas têm, mas precisam de um empr empreg ego o cada cada vez vez mais mais cedo cedo papara ajud ajudar ar ou sust susten enta tarr a famí famíli lia, a, cuscustear tear o míni mínimo mo que que pude puderr para para fugi fugirr do iminen iminente te futuro futuro de prostit prostituiç uição” ão”, diss disse e Liég Liége e a GALI GALILE LEU. U. Segu Segund ndo oa Associ Associaçã ação o Nacional Nacional das Trave Travesti stis s (Antra), 90% das travestis e transexuai sexuais s brasile brasileira iras s se prostit prostituem uem.. Há quem quem pens pense e que que essa essa é uma uma esco escolh lha a quando, quando, na verdade verdade,, a comunid comunidade ade TT (Travestis e Transexuais) sofre imensa discriminação no mercado de trab trabal alho ho — o que que rest resta a é a pros prosti ti-tuição tuição e empre emprego gos s como como aten atenden dente tes s de telema telemarke rketing ting ou cabele cabeleire ireira iras. s. Bernardo Bernardo Mota foi designad designado o menin menina a quand quando o nasceu nasceu,, mas mas desde desde pequ pequen eno o fugia fugia dos dos papéi papéis s dito ditos s femi femi-nino ninos s ao joga jogarr bola bola e empi empina narr pipa pipa.. Quando Quando se desco descobri briu u trans trans,, conto contou u à família e foi massacrado: tentaram reprimi-lo, foi alvo de piadas e insultos verbais. Sentiu-se expulso de casa mesmo sem ninguém tê-lo mandad mandado o embora embora.. Sofre Sofreu u crises crises depressiv pre ssivas as porser por serridi ridicula culariza rizado doe, e, desamparado, samparado,tento tentou u suicídio. suicídio. Rompeu relações com a família e mudou-se de Brasília, onde seus pais moram até hoje, para Uberlândia, uma das poucas poucas cidade cidades s do Brasi Brasill que dispodisponibilizavam nibilizavam acompanhament acompanhamento o para transi transição ção hormon hormonal. al. Assim Assim que chechegou gou à cida cidade de,, esse esse ambu ambula lató tório rio foi foi
ONSTRUÇÃO B
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P A B N I S S E S X E U X A U L A / L / E T C
IDENTIDADE DE GÊNERO Ainda hoje persiste a ideia de que só podemos ser “homem” ou “mulher”. Mas essas são apenas duas categorias, e há uma variação enorme entre elas, que pode ser entendida como “queer”
n
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R E H L U M
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I N T E R S E X O
A G I N A V SEXO GENITAIS
EXPRESSÃO A forma como nos comportamos é influenciada pelo que sempre foi considerado “feminino” e “masculino”, mas essas características são mais fluidas do que parecem
i
EXPRESSÃO MOVIMENTOS
ORIENTAÇÃO CORAÇÃO
ANDRÓGINO
HETEROSSEXUAL
IDENTIDADE CÉREBRO
SEXO Nem mesmo os órgãos sexuais do ser humano, extensivamente estudados pela biologia, são tão binários assim
H O M E M
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ORIENTAÇÃOSEXUAL
L A U X E S S O M O H
Nascer com determinado órgão sexual e identificar-se com certo gênero não define porquem nos sentimos atraídos
S I N Ê P
M A S C U L I N O
Sexo, gênero, sexualidade e identidade são coisas diferentes e podem variar num espectro bastante amplo. Entenda: Fonte: It’s Pronounced Metrosexual.com Ícone: LVIS /The Noun Project
CO
Não existe uma forma correta de ajudar pessoas trans* na família, no grupo de
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suspenso, o que o fez se hormonizar por conta própria, com base em informações encontradas na internet e com medicamentos clandestinos. Ativista trans bissexual e membro do Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (Ibrata),Mota tem sofrido para conseguir uma vaga no mercado de trabalho. “Desde que saí de casa z entrevistas para todo tipo de emprego, levava meucurrículo com meu nome social e passava em todas as fases, até mostrar meus documentos, onde consta o nome de registro.A vagadesaparecia.Passei por nomínimodez entrevistas em que fuidispensado quando souberam que sou transgênero”, conta. O que aconteceu com Bernardo no mercado de trabalho e na família é chamado de transfo bia — aversão à transexualidade e preconceito. Infelizmente, no Brasil não há legislação que a criminalize, o que signica que Bernardo não pode tomar nenhuma medida judicial contra o preconceito. Em geral, a situação de direitos de indivíduos trans é precária no país. Não existe legislação especíca que reconheça a identidade de gênero, apesar de haver um projeto de lei para isso: a Lei João Nery, de autoria do deputado federal Jean Willys (PSOL/RJ) em parceria com a deputada Érika Kokay (PT/DF). O projeto reconhece a identidade de gênero como um direito e o tratamento de acordo com sua identidade pessoal. Outro projeto de lei, o PL 8.032/2014, da deputada Jandira Feghali (PCdoB/RJ), prevê a aplicação da Lei Maria da Penha às pessoas transexuais que se identiquem como mulheres. É possível citar também outros avanços, como a alteração de nome conforme o gênero sem a obrigação de cirurgia de transgenitalização, burocracia imposta anteriormente, e a publicação da Resolução 12/2015 do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoções dos
Davi nasceu menina, mas aos 7 anos molhou todas as suas roupas cor-de-rosa para não ter deusá-las. Hoje é bem andrógino e gosta de pessoas, não importa se homens ou mulheres
Autora das fotos desta matéria, Julia Rodrigues criou o #mamilolivre, projeto que promove a discussão sobre igualdade de gênero
QUEMMERGULHAESEDEPARACOMO CORAL�SOL EMBAIXODAÁGUAFICAMARAVILHADOCOMASUA BELEZA. ..
O INVASOR
TEXTO
JOÃO MELLO BOURROUL
FOTO
LEO FRANCINI
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O TERROR DO COSTÃO Comoo coral-sol se instala em novos hábitats, se multiplica até acabar comas outras espécies e se tornou um problema paraa biodiversidade das águasbrasileiras
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CHEGADA O coral-sol é originário do Indo-Pacífico e chegou ao Caribe na década de 1940, incrustado em cascos de navios. No Brasil, as primeiras colônias foram encontradas nos anos 1980, em plataformas de petróleo na Bacia de Campos, Rio deJaneiro
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SOBREVIVÊNCIA Pesquisadorinspeciona costão repleto de espécies de coral-soldurante visita ao arquipélago de Alcatrazes, em São Paulo
foi encontrado. Após dez dias de trabalho, o diagnóstico foi pouco animador.
“Nossa primeira ideia era de que a invasão estava em uma fase inicial, fácil de controlar, mas a situação é alarmante”, arma Kátia Capel, pesquisadora da UFRJ que participou da expedição e cuja tese de doutorado trata justamente da estratégia reprodutiva e da estrutura genética dos corais invasores. De acordo com ela, os cientistas conheciam apenas três ou quatro pontos do arquipélago que continham uma quantidade relevante do coral. Ao término do trabalho, a expedição retirou cerca de 1,5 mil colônias espalhadas ao longo de 19 pontos. Além da surpresa em relação à intensidade, outra novidade foi a descoberta da presença de mais um tipo de coral-sol. Até então, acreditava-se que a única espécie existente ali era a Tubastraea tagusensis , originária das ilhas Galápagos, mas a Tubas-
traea coccinea , oriunda
do Indo-Pacíco, também foi encontrada em Alcatrazes. As duas são igualmente danosas — entretanto, o fato de existir um segundo tipo demonstra a profundidade do problema e a diculdade em mapeá-lo com precisão.
Veloz e avassalador A velocidade da reprodução e a precocidade da maturidade reprodutiva do coral-sol são os grandes responsáveis pelo seu potencial destrutivo. As espécies se reproduzem por meio da liberação de larvas pelos coralitos. Elas vagam pelo oceano até encontrar um lugar apropriado para se assentar — em geral um costão rochoso, exatamente como o de Alcatrazes. “As espécies dependem de um espacinho e, se chega outra que se reproduz mais rapidamente, a espécie nativa, mais lenta, acaba diminuindo a longo prazo. Onde antes havia algas, esponjas e todas essas espécies que ocupam o cos-
Para que uma espécie não nativa se estabeleça é preciso superar uma série de obstáculos. O Oceano Atlântico tinhatudo: a escassez de competidores e predadores naturais fez com que o coral sobrevivesse e se dispersasse com facilidade
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REPRODUÇÃO Para se reproduzir o coral-sol libera larvas no oceano, formadas tanto por reprodução sexuada como assexuada. Elas dão origem aos pólipos, que se dividem e fazem com que as colônias sejam compostas de clones: cada coralito é um indivíduo, mas idêntico aos demais
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DISPERSÃO As larvas podem sercarregadas por correntes marinhas,reiniciando o processo de invasão. Hoje o coral é encontrado em costões rochosos na Flórida, no Golfo do México, no Caribee no Brasil
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AMEAÇA O coral-sol domina o espaço que antes era ocupado por espécies nativas, como corais, algas e esponjas. Sua taxa de crescimento é acelerada e o costão rochoso fica tomado de pontinhos laranjas — que enchem os olhos e esvaziam os mares
O coral-solliberauma substância queinibe a presençade outras espéciesou as queima comum tentáculo
Simone Oigman Pszczol, coordenadora institucional do Projeto Coral-Sol, dene a iniciativa do Instituto Brasileiro de Biodiversidade como um projeto socioambiental. As áreas de maricultura, pesca e turismo — principalmente para mergulho — são as mais prejudicadas. “Mergulhadores buscam áreas de maior biodiversidade, e o coral-sol pode tornar o ambiente marinho monótono.” O programa já capacitou 30 moradores da região, muitos deles trabalhadores dos setores econômicos atingidos, para atuarem como catadores, o que gera renda para a população local, uma das preocupações centrais da iniciativa. O projeto promove a utilização dos esqueletos dos corais removidos para a confecção de peças artesanais. Mais de 227 mil colônias já foram retiradas, 80% delas entre 2011 e 2012, período em que o Projeto Coral-Sol contava com patrocínio da Petrobras.
No meio desse oceano alarmante, algumas marolas de otimismo começam a surgir vagarosamente no horizonte. A Rede Coral-Sol, nome dado ao corpo de 30 pesquisadores do projeto, incluindo a própria Kátia, vem investigando possíveis aplicações benéficas desenvolvidas com o próprio invasor. De acordo com Simone, cientistas estudam a possibilidade de os compostos químicos do coral-sol serem utilizados para a produção de ração para avicultura, correção de pH do solo na agricultura e até no combate a doenças como malária e câncer. Será que o grande vilão dos mares brasileiros terá tempo para se redimir?
TUDO DOMINADO Os estados brasileiros mais afetados pelaproliferação desenfreada do coral-sol
BA
ES SP
PARA SABER MAIS
Projeto Coral-Sol coralsol.org Instituto Chico Mendesde Biodiversidade icmbio.gov.br
RJ
SC
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CIENTISTAS ESTÃO USANDO A TECNOLOGIA PARA REVOLUCIONAR A FORMA DE COZINHAR EM CASA. ENTRE AS NOVIDADES ESTÃO OS ROBÔS�COZINHEIROS, OS SUPERCOMPUTADORES QUE DESENVOLVEM RECEITAS E AS IMPRESSORAS 3D QUE PREPARAM PRATOS SOFISTICADÍSSIMOS
DESIGN FERNANDA DIDINI
TEXTO RAFAEL TONON
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FOTOS DANIEL OZANA
ILUSTRAÇÃO MATHEUS MUNIZ
a terceira temporada da edição inglesa do programa MasterChef , Tim Anderson deixou as panelas e os fogões dos restaurantes para trabalhar num estúdio. Durante seis horas por dia, reproduzia passo a Depois de vencer
passo algumas receitas e tinha todos os seus movimentos lmados por câmeras 3D de alto desempenho, como as usadas por estúdios de animação de Hollywood. As imagens eram então codicadas com a ajuda de algoritmos desenvolvidos em
parceria com a Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e a Scuola Supperiore Santana, na Itália, um dos maiores e mais importantes centros de
estudos e pesquisas em tecnologia da Europa. O objetivo do trabalho? Ensinar o ofício a um aprendiz de chef diferente:
na panela, refogou, mexeu e nalizou a receita com sucesso, diante de uma plateia atônita. “É uma tecnologia que vai transformar e facilitar o modo como
as pessoas cozinham em casa”, arma Mark Oleynic, fundador da Moley Ro botics. “Será possível preparar pratos que você nem teria ideia de como fazer enquanto ca na sala conversando com seus convidados.” Uma tela sensível ao toque permite escolher as receitas e até programar o robô para deixar seu jantar pronto na hora em que você chegar do trabalho. “A tecnologia robótica tem se
desenvolvido cada vez mais. Por que não usá-la para facilitar a nossa vida em tarefas cotidianas?”, pergunta Rich Walker, diretor da Shadow Hands, que trabalhou na criação das mãos do robô.
um robô. Criado pela empresa inglesa Moley Robotics, o MK1 é composto de dois braços articuláveis, tem mãos que imitam todos os movimentos humanos e é capaz de reproduzir com precisão receitas gravadas em seu banco de dados.
Quando chegar ao mercado, em 2017, ele poderá livrar as pessoas de uma tarefa que pode ser cansativa: preparar as próprias refeições todos os dias. As aulas de culinária surtiram efeito.
Depois de dois anos de pesquisa e desenvolvimento, o robô-chef, como cou conhecido, foi posto à prova na Hanover Messe, a maior feira do mundo de tecnologia industrial e robótica, realizada em abril, na Alemanha. Sua missão era preparar um bisque de caranguejo. Com os ingredientes organizados sobre uma bancada, o MK1 colocou tudo 62
Vaca sagrada O robô-chef é uma das tecnologias que vão revolucionar a gastronomia nos próximos anos. A IBM resolveu entrar nesse mercado com o Watson, supercomputador conhecido por vencer o Jeopardy, o mais importante programa de perguntas e respostas dos Estados Unidos. Há três meses, ele ajudou a lançar no mercado norte-americano o livro Cognitive Cooking with Chef Watson: Recipes for Innovation from IBM & the Institute of Culinary Education (Cozinha Cognitiva com o Chef Watson: Receitas para Inovação da IBM e do Instituto de Educação Culinária), que traz as criações culinárias do sistema de inteligência cog-
nitiva e primeira publicação do tipo no mundo exclusivamente desenvolvida por
um computador. “Começamos o projeto há quatro anos, como uma forma de desenvolver as capacidades do Watson e para mostrar as diferentes aplicações da computação cognitiva”, arma Florian Pinel, engenheiro-chefe do projeto pela
IBM. “O Watson pode ser usado para descobrir novos medicamentos e na luta contra o câncer, mas resolvemos aplicar a sua criatividade computacional assistida à comida, que interessa a todo mundo.” A principal tarefa dos programadores do Watson foi arregimentar uma base
de dados de milhares de receitas, além de fatos nutricionais e características dos compostos aromáticos contidos em diferentes alimentos. Watson consumiu mais de 10 mil receitas, selecionadas em parceria com a revista Bon Appetit.
MASTER� CHEF ROBÓ� TICO ComooMK1 aprendeu a sua primeira receita com um chef inglês O chef Tim An-
lmado com câmeras 3D preparando uma receita de bisque de caranguejo
1
derson foi
Ele usou sensores de movimento nos 2 braços e nas mãos. Os movimentos de Anderson foram captados por três câmeras e, depois, codicados pelos sistemas do robô Com a utilização de algoritmos, os movi3 mentos foram digitalizados e transformados em programação especíca
Ao ler as receitas já existentes, Watson descobriu quais eram os ingredientes necessários para elaborar um prato especíco, como a massa, o molho e o queijo que são usados para fazer uma pizza de mussarela. “Ele está programado para tentar combinações de ingredientes que se emparelham bem com as
resultados que levam em conta os ingredientes utilizados nessas cozinhas”, arma o engenheiro. Ou seja, ele ltra aspectos culturais considerados em cada tipo de cozinha, como o fato de a vaca
ser sagrada na Índia ou o uso do milho nos pratos latino-americanos. Mas a grande conquista das receitas
informações inseridas em seu sistema”,
do Watson é o fato de que ele não tem
conta Pinel. Watson aprende, por exem-
nenhum preconceito ou restrição quan-
plo, que um sanduíche é constituído de
to a alimentos ou misturas de sabores.
pão cortado ao meio com algum recheio, ao contrário de um burrito, que é uma massa ( tortilla) que se enrola em torno do recheio. Outro fator compilado e assimilado pelo sistema diz respeito aos aspectos culturais de cada tipo de culinária. “Se a pessoa procurar algo de italiano, brasileiro ou japonês, ela obterá
“Os chefs têm seus ingredientes favoritos e outros que raramente usam. O
Watson não”, arma Pinel. “Isso torna suas criações ainda mais interessantes.” Para selecionar as receitas do livro, Pinel e sua equipe escolheram as mais
fáceis de fazer e as que contavam com um elemento surpresa interessante
Os movimentos foram gravados no 4 sistema que controla o robô — que, com mãos articuláveis, assimilou os movimentos gravados pelo chef para preparar a mesma receita Depois de programado, o robô foi 5 colocado em uma cozinha com os ingredientes da receita. Ele reproduziu elmente o prato O robô está em fase de aprendizado de 6 novos pratos. A Moley espera que, até 2017, quando chegar ao mercado, o sistema possua mais de 2 mil receitas catalogadas em sua biblioteca interna. E que ele também aprenda a lavar a louça depois de cozinhar
UMA PITADA DE BITES Comoo supercomputador Watson cria as próprias receitas WATSON FOI ALIMENTADO com mais de 10 mil receitas para criar uma metodologia de análise e comparação: todo o banco de dados da revista americana Bon Appetit foi fornecido ao sistema. Assim, ele conseguiu processar quais ingredientes são mais frequentemente combinados (como tomate e manjericão) e mais usadosem cada cultura (como pimentas na culinária mexicana). Numa segunda etapa, os programadores do Watson se uniram ao Instituto de Educação Culinária de Nova York para carregar o sistema com informações técnicas sobre os ingredientes: detalhes da composição química dos alimentos (quantidade de açúcares, acidez, proteínas) e das preferências do paladar humano no decorrer dos anos (dodoce da infância aos sabores mais amargos da vida adulta). “Por fim, adicionamos informações sobre a ciência da cozinha, a base molecularde compostos de aroma e como eles podem causar uma experiência agradável ao nosso paladar”, afirma Steve Abrams, diretor do projeto Watson. Assim, o supercomputador estava pronto para criar as próprias receitas com combinações nunca feitas antes, capazes de surpreender e agradar.
(veja no quadro acima as receitas tes-
tadas por GALILEU). A equipe da IBM também criou um aplicativo grátis que pode ser usado por qualquer pessoa
que queira experimentar as criações do Chef Watson — ele pode ser baixado no site ibmchefwatson.com. É só informar os ingredientes que há na geladeira ou o
misturar apenas dois ingredientes, podemos criar trilhões de combinações”, afrma Pinel. Foi com esse intuito que
Bernard Lahousse fundou a Foodpairing,
tipo de comida que pretende fazer que ele combina os sabores.
empresa que desenvolveu uma tecnologia capaz de ajudar chefs nas harmonizações culinárias. Sediada em Bruges, na Bélgica, e com flial em Nova York, ela fornece uma assinatura que permite ao usuário acessar o banco de dados da
Mistura tudo
empresa na hora de criar novos pratos. O sistema usa a análise cientíca para ma-
A combinação de sabores, aliás, é um dos maiores trunfos do uso da tecnologia em prol da gastronomia. Existem inúmeras misturas possíveis de ingredientes que um ser humano jamais seria capaz de
imaginar. O Watson foi criado para levar em consideração todas elas. “Em vez de
pear as melhores combinações para um ingrediente. Um exemplo: a doçura da cenoura pode render boas sobremesas quando unida a outros sabores doces.
“Cada produto alimentar é caracterizado por uma centena de parâmetros, como composição de gostos, textura, nutrien-
DO BIG DATA PARA A PANELA Testamos três receitas do Chef Watson. Enãoéqueocomputadormandabem?
POUTINEPERUANO
BRUSCHETTATURCA
É um clássico da culinária canadense, especialmente de Quebec. Trata-se de uma batata frita turbinada com molho e queijo. Na versão do Watson, ele incluiu bacon e caldo de frango para cozinhar o molho de tomate. Curioso como o computadorbusca essas duas técnicas para dar mais profundidade de sabor à receita. Também entraram couve-flor e queijo branco. O acento peruano faltou.
Além da berinjela queimada no fogo (como manda a tradição) e do cominho, bastante usados na culinária turca, os outros ingredientes eram mais universais: cenoura, manjericão, parmesão. O diferencial foi o uso da cenoura crua por cima da pasta de berinjela, o que deu uma textura boa e deixou a receita crocante. Também pedia raspas de laranja, um contraponto de acidez interessante.
tes. Um computador é muito mais asser-
mação, os técnicos da Foodpairing cria-
tivo para calculá-los”, arma Lahousse.
ram uma receita para servir o salgado junto com castanhas temperadas com coentro, açafrão e pimenta. “É ótimo
“Chocolate e molho de soja são perfeitos um para o outro. Por serem usados em
cozinhas bem diferentes (o cacau, nas
A tecnologia da Foodpairing tam bém é útil para ingredientes regionais
para comer como um tira-gosto ou vendo um jogo de futebol”, diz ele. “Melhor ainda com caipirinha de framboesa, que traz os aromas frutados e doces.” Outra fronteira tecnogastronômica é
ou recém-descobertos, sem histórico na
o uso de impressoras 3D para fazer re-
culinária — e com poucas referências de combinação de sabor. “Fizemos um
feições mais elaboradas — e não só pizza e hambúrguer. O chef Mateo Blanch, do
trabalho com o chef Alex Atala para demonstrar novos usos de ingredientes da Amazônia em receitas, como a priprioca, o cupuaçu e até as formigas saúvas”, conta Lahousse. Uma das pesquisas mostra que o pão de queijo combina muito bem com castanhas-de-caju. Com essa infor-
restaurante La Boscana, na Espanha,
Américas; o molho de soja, no Oriente), eles quase nunca são combinados.”
foi um dos primeiros a colocar uma impressora ao lado de suas panelas. Na 3D Printshow, maior feira do segmento, ele
preparou uma refeição de cinco cursos (que incluía um polvo emoldurado em batatas) para provar que a tecnologia
BURRITOAUSTRÍACO DE CHOCOLATE
Um burrito de carne, mas feito com chocolate amargo, canela, baunilha, queijo edam, purê de damasco e edamame (que substituímos por ervilhas tortas). A combinação de carne e chocolate é habitual no México, de onde vem a receita. Enrolado na tortilla o recheio combinou bem, mas ficou adocicado demais, um pouco enjoativo. Das três, foi a pior receita.
pode ser usada nas altas cozinhas. A empresa 3D Systems, em parceria com o Instituto de Culinária da América, deve inaugurar neste mês o Culinary Lab, um laboratório para testar o impacto da im-
pressão 3D na indústria de alimentos. Há diversos chefs estrelados de olho na
aplicação da técnica. “Ela combina milhares de dados com a execução técnica precisa, algo que não era possível antes”, diz Hod Lipson no seu livro Fabricated: The New World of 3D Printing (Fabrica-
dos: O Novo Mundo da Impressão 3D, sem edição no Brasil). “As aplicações são inimagináveis.” A nova fronteira da tecnologia na cozinha pode não fazer de você um candidato ao MasterChef , mas vai ajudá-lo a cozinhar melhor. Ou a preparar seu jantar como se fosse um.
A senhora é norte-americana. Como aprendeu a falar português?
Como as pessoasforam recrutadas para o projeto?
Ninguém da minha família é do Brasil, todo mundo é de Nova York. Por motivos pessoais, meu pai resolveu levar a família para morar no Rio de Janeiro. Foi assim que aprendi a falar bem
Era 1977, não havia internet, mal tinha computador. Pessoas normais usavam o correio e telefone. A equipe de Sagan
o português — inclusive o sotaque,
mundo que ensinava todas as línguas.
porque peguei quando criança. Volta-
mos para os Estados Unidos quando eu tinha 13 anos. Foi só muitos anos
Escolheram aqueles cuja pronúncia fosse melhor, o que chamamos na linguística de nativo. Eles me convidaram para
depois que comecei a estudar linguís-
representar o português — e também
tica e reativei meu português, já na
chamaram uma série de outras pessoas. Não são 55 pessoas, são 55 mensagens em línguas diferentes. Com relação às
Universidade Cornell. Estava ensinando português e estudando linguística
das línguas românicas — português, espanhol, francês. Foi nessa época que zeram essas gravações.
ligou para o departamento de línguas, e a secretária pegou uma lista de todo
línguas clássicas, por exemplo, acho que algumas pessoas zeram mais de uma gravação. Em uma certa tarde, re-
cebi um telefonema explicando sobre
A senhora tomouconhecimentodo projeto da Golden Record quando estavaem Cornell. Pode contar como soube e de onde surgiu seu interesse em participar? Era um departamento de línguas
muito grande em comparação com o de outras universidades, ensinava algo como 20 ou 25 línguas diferentes, inclusive as exóticas. As outras instituições talvez ensinassem cinco ou dez línguas.
E, por acaso, o astrônomo Carl Sagan era o chefe da equipe do projeto Golden Record, que é apenas uma parte da missão das
Voyagers. Aliás, a mensagem foi uma ideia que acrescentaram ao projeto. Um dos cientistas falou: “Vamos, então, fazer uma espécie
JANET STERNBERG A norte-americana é professora, doutora e especialista em mídia. Quando jovem, morou no Rio de Janeiro, onde aprendeu a falar português como uma nativa
gan, um professor de astronomia que, naquela época, era um “João Ninguém”. Eles queriam que eu aparecesse em tal
lugar às 9 da manhã para realizar um projeto especial. No dia seguinte, fui ao local e dei de cara com muitos colegas e com vários outros que eu não conhecia.
Easenhorajásabiada importânciada missão? Ninguém sabia o que era. Aí falaram que estávamos lá cada um representando a sua língua. A língua não, o país. Eu estava representando todos os lusófonos, não só o Brasil como também Portugal, Macau, Angola, Moçambique, Goa. Disseram que estávamos lá para gravar sau-
dações para o universo. Devíamos ser breves, gravar um cumprimento do pla-
de mensagem na garrafa”. E foi aí que a equipe de Carl Sagan começou a trabalhar no Golden Record, em
neta Terra. Quando saímos da cabine, nos pediram para escrever o que fala-
1977. Há um livro chamado Murmurs of Earth (Murmúrios da Terra, em tradu-
não podia falar besteira. É importante
ção livre) no qual a equipe conta essa
bia nem se iriam completar os discos, nem se iriam completar as Voyagers, nem se haveria o lançamento. Hoje, mais de 30 anos depois, olhamos para a missão e dizemos “uau, as Voyagers
história. Eles estavam com pressa para fazer essa gravação, e decidiram mandar imagens, músicas, falas de personalida-
des famosas. Então resolveram convidar pessoas que representassem tantas línguas quantas fossem possíveis. Pessoas normais, que não fossem famosas
68
a existência de um projeto de Carl Sa-
mos e a tradução — então, obviamente, lembrar que, naquele tempo, não se sa-
duraram esse tempo todo sem nenhuma manutenção, sem mão humana”. Quan-
nem celebridades, simplesmente para
tas máquinas conhecemos no mundo que funcionam depois de tantos anos
gravar saudações ao universo.
sem nenhuma limpezinha, óleo, nada?
TEXTO
BRUNA BORELLI
DESIGN
FERNANDA DIDINI
ILUSTRAÇÕES
ANDRÉ TOMA
ABOLIDA HÁ MAIS DE 125 ANOS NO BRASIL, AINDA É POSSÍVEL ENCONTRAR RESQUÍCIOS DA ESCRAVIDÃO POR TODA PARTE � INCLUSIVE DENTRO DAS CASAS BRASILEIRAS. NÃO ACREDITA? POIS SAIBA QUE QUARTO E BANHEIRO DE EMPREGADA E ELEVADOR DE SERVIÇO SÃO UMA HERANÇA DIRETA DAQUELA ÉPOCA 71
22,7%
22,5%
21,6%
22,8%
20,1%
19,4%
19,3%
18,9%
19%
22,1% 15,9%
19,9%
19%
18,5%
14,8%
[1985]
[1986]
[1987]
[1988]
[1989]
[1990]
[1991]
[1992]
[1993]
[1994]
[1995]
[1996]
[1997]
[1998]
paulistana de classe média alta há dez
QUARTO
Detalhe da dependência de empregada, cadavez mais em desuso no país
72
anos e escuta repetidas vezes que é praticamente da família. Dorme num quartinho quente e abafado nos fundos da casa, perto da cozinha, onde passa boa parte de seu tempo. Adora seus patrões e cuida do lho deles como se fosse seu. No entanto, sua lha biológica, Jéssica, foi criada pela irmã em Recife, com a ajuda nanceira que Val lhe enviava todos os meses. Quando Jéssica vai a São Paulo para prestar vestibular e ca hospedada com Val (ou seja, na casa dos patrões), questiona a subserviência da mãe — que mora na casa dos patrões, mas não come na mesma mesa que eles e nunca colocou os pés na piscina da residência. Tratada com aparente carinho pela família, Jéssica pergunta se pode car no espaçoso (e sempre vago)
[1999]
LAVA, PASSA E DORME FORA Onúmerode empregadas domésticas quevivemno emprego caiu drasticamente desde 1985. Acompanhe
12,9% 9,8%
9,1% 8,4% 6,5% 5%
9,3%
3,3%
7,2%
3,3% 2,3%
2,2%
1,7%
4,3% 3,2%
[2000]
[2001]
[2002]
[2003]
[2004]
[2005]
[2006]
[2007]
[2008]
[2009]
quarto de hóspedes, em vez de dormir
da bagunça. Os elevadores social e de
no pequeno e calorento quartinho de empregada com sua mãe. “Uma suíte
serviço (com leis que proíbem qualquer tipo de discriminação) parecem ter seu
com um colchão bom assim e ninguém dorme aqui?”, pergunta a garota, numa alnetada ao hábito tão comum no Brasil. Essa é a história de Que Horas Ela Volta?, longa brasileiro que fez sucesso nos cinemas do país. Val (interpretada por Regina Casé) não é negra, mas lida com um cotidiano que mistura afeto e poder por parte dos patrões — tal como
valor na hora de levar cachorros para
Gilberto Freyre relatou no livro CasaGrande & Senzala . “Nas coletivas de imprensa para o lançamento do lme, os jornalistas europeus queriam saber se a situação descrita era real ou ctícia”, conta a diretora, Anna Muylaert. “Quando dizia que era real, cavam
passear ou voltar da praia sujo de areia. Quando isso é comparado com outras culturas que desconhecem esses há bitos, como a norte-americana e a europeia, essas peculiaridades sociais e arquitetônicas ganham um caráter segregacionista. “Fazer com que a doméstica que disponível 24 horas por dia, uma vez que ela dorme em casa, e separar os espaços de convivência é imitar as relações escravistas”, arma o sociólogo Emerson Ricardo Girardi,
professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), de São Paulo.
em choque.” Nem sempre percebemos,
Se a arquitetura brasileira tem demorado para se desvencilhar desses
mas situações como a vivida por Val são resquícios da escravidão abolida
costumes escravocratas, parte da culpa é da maneira pela qual a sociedade se
há mais de 125 anos no Brasil e podem
desenvolveu no país. Entre os fatores
ser encontrados em muitos lugares —
estão a tardia abolição da escravatura (em maio de 1888, uma das últimas nações do mundo a libertar os escravos), o modelo de sociabilidade originado no período açucareiro (com a casa-grande
inclusive dentro de casa. Contar com a ajuda de empregadas domésticas e diaristas é visto com naturalidade no Brasil. É assim também com a existência de casas e apartamentos
com quarto e banheiro de empregada e a distinção entre elevadores. Tudo parece inofensivo. Quando não utilizado,
e a senzala) e a relação de aparente harmonia entre senhores e escravos. “Diferentemente dos Estados Unidos,
[2010]
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lação adocicada, como dizia o próprio Freyre, em que os senhores e escravos eram próximos geogracamente, mas distantes na hierarquia social”, conta Girardi. “Os dois modelos são complicados. O preconceito mais latente, como no caso dos Estados Unidos, gera muitos conitos, mas essa rela-
ção bastante comum no Brasil faz com que a discriminação aconteça e passe despercebida por muitas pessoas.” Essa relação adocicada está presente nos momentos mais incômodos de Que Horas Ela Volta? e do documentário Doméstica, de Gabriel Mascaro. Neste, também é possível ouvir alguns “ela é quase da família” da boca dos patrões, mesmo que a quase integrante da família às vezes durma nos quartinhos dos fundos da casa, seja obrigada a usar
uniforme e não se sinta à vontade para sentar à mesa com os patrões. No caso do lme de Anna, a escolha de uma protagonista que não fosse negra foi proposital. A diretora queria causar reexão
sobre o separatismo social, não o racismo. O problema é que, na maioria das vezes, eles estão interligados — tanto
é que o perl da empregada doméstica no Brasil é o de uma mulher negra, com 52,6% do total, segundo pesquisa rea-
lizada em 2014 pela Fundação Sistema
o cômodo destinado à empregada acaba
onde a segregação às vezes chega até a ser geográca, com bairros exclusivos
Estadual de Análise de Dados (Seade)
virando uma despensa ou o quartinho
para negros, no Brasil existe uma re-
e pelo Departamento Intersindical de
Fontes: Secretaria de Planejamento e
Desenvolvimento Regional. Convênio Seade-Dieese e MTE/FAT
FIMDA EXPLORAÇÃO? Em 2013 foi aprovada a PEC das Domésticas, emenda constitucional que aumenta os direitos das empregadas. Saiba o que mudou
SOCIAL Ter elevadorde serviço e social no mesmo hall não desvaloriza o imóvel, dizem os arquitetos
FGTS JORNADA Os empregadores são obrigados a pagar hora extra caso as domésticas ultrapassem a jornada de tra balho de 8 horas diárias e 44 horas semanais
A empregada doméstica deverá ser incluída no FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço). O patrão deverá recolher 8% do salário do empregado para este m.
Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Também há uma questão de gênero implícita na categoria, uma vez que a mulher é a maioria absoluta entre as domésticas: 96,5%. O trabalho realizado por elas cou tão marcado pela escravidão no país que a categoria foi ignorada na criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), de 1943, sob a alegação de que não era uma atividade com caráter econômico. Apenas em 1988 a Constituição Federal cedeu às domésticas 9 dos 34 direitos garantidos aos demais trabalhadores — mais recentemente, em 2013, ganharam novos direitos da PEC das Domésticas. (leia mais acima).
CRIADAGEM MADE IN BRAZIL
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SALÁRIO� �FAMÍLIA
Dilma tem 55 anos e foi empregada doméstica a vida inteira. Natural de Porto Alegre (RS), há sete anos se desloca todos os dias de seu bairro simples, Restinga, para uma das áreas mais nobres da cidade, Ipanema, para cuidar da casa de seus patrões e das duas lhas. No início do ano, acompanhou a família nas férias na Califórnia. “Nunca tinha cado tanto tempo longe da minha família. Foi difícil passar dois meses sem ver minhas lhas e, principalmente, meus netinhos. Mas provavelmente nunca teria viajado se não fosse dessa maneira”, diz a doméstica, que convive com as piadas
O trabalhador recebe um valor a mais para cada lho de até 14 anos, ou para lhos inválidos de qualquer idade. Hoje, para quem recebe até R$ 725,02, o salário-família é de R$ 37,18 por lho.
ACIDENTES DE TRABALHO O empregador passa a ser obrigado a pagar 0,8% sobre o salário da doméstica para o seguro de acidentes de trabalho.
dos amigos do patrões por ter o mesmo nome que a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores. Nos dias de semana todos estudavam inglês, enquanto ela cuidava dos afazeres domésticos na casa alugada em San Diego. Durante os ns de semana, a família viajava para cidades turísticas, como San Francisco, Carmel, Los Angeles e Las Vegas. “Na época não questionei muito, mas quase nunca via babás ou domésticas lá. Algumas vezes via diaristas, mas parecia que elas faziam parte de alguma empresa especializada no serviço”, diz Dilma. Tanto na Califórnia quanto no Brasil, foi estipulado que Dilma não precisaria usar uniforme e dormiria no quarto com as crianças. Nada de quartinho de empregada. Menos mal: seria difícil encontrar uma residência com essas características, pois nos Estados Unidos apenas mansões extremamente luxuosas têm espaços reservados para esses funcionários. Ou pelo menos era assim antes de algumas incorporadoras começarem a introduzir o quarto de empregada em seus projetos para agradar clientes brasileiros que estranham a cultura de lá. A ser inaugurado em 2017, o condomínio de luxo Echo, localizado em Brickwell, o bairro da moda em Miami, faz sucesso com o público do país. Até o momento, mais de 50% das vendas
VIAGEM As horas de trabalho durante viagens poderão ser compensadas após o término da viagem. Além disso, nesse período a remuneração será acrescida de 25%, sem desconto de alimentação, transporte e hospedagem.
ADICIONAL NOTURNO
DEMISSÃO SEM JUSTA CAUSA
O trabalho noturno (das 22h às 5h) passa a valer 20% a mais que o trabalho diurno. Além disso, a hora de quem trabalha à noite é mais curta, com duração de 52,5 minutos.
O patrão tem de depositar 3,2% sobre o salário do empregado num fundo para a multa rescisória. O valor será repassado ao empregado em caso de demissão sem justa causa.
SEGURO� �DESEMPREGO Caso sejam dispensados sem justa causa, os empregados domésticos terão direito a seguro-desemprego de um salário mínimo durante três meses.
se média não teria como pagar uma empregada para dormir em casa.” Se a existência de quarto de empregada até mesmo em residências menores sobreviveu por tantos anos, mesmo depois da urbanização brasileira, agora a tendência é que se torne cada vez
mais rara graças à valorização do metro quadrado e à legislação trabalhista do setor. Para Fernando Forte, não faz
mais sentido, do ponto de vista da arquitetura, elaborar projetos menores com dependência de empregada. “Uma boa parte da área útil do apartamento é perdida num contexto econômico em que todo metro quadrado conta. Vai haver um declínio do número de quartos
de empregada em novas plantas com até 150 metros quadrados”, ressalta. A distinção entre elevadores (social
e de serviço) também é uma característica que tem caído em desuso. “Isso
é positivo porque, mesmo com leis que proíbem a discriminação racial, a empregada doméstica tem em seu in-
foram feitas para brasileiros. Mas esse
mes escravocratas. Depois da ampliação
não é o único projeto a considerar as
dos direitos das domésticas, já houve uma queda brusca no número de pro-
consciente que o lugar dela é no eleva-
ssionais que dormiam na casa em que trabalhavam na região metropolitana de São Paulo. Em 1992, elas representavam quase um quarto do total (23%). No ano passado, esse número caiu para apenas 2%, segundo dados da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) e do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). A diminuição da desigualdade social, que desde 2002 tirou 36 milhões
o preconceito: instalado em quem age
de brasileiros da situação de extrema
preocupação nossa. Adoramos arquitetura, mas não queremos ir contra o
peculiaridades da arquitetura nacional.
“Recentemente, o mercado imobiliário de luxo de Miami tem moldado seus projetos residenciais para atender essa questão cultural”, explica Cássio Faccin, da consultoria imobiliária que leva seu sobrenome. Antes disso, os compradores brasileiros acabavam por mexer nas plantas das residências para adaptá-las
ao costume nacional e criar um cômodo para a babá ou a empregada que levavam consigo. Faccin explica que o hábito de levar funcionários do Brasil funciona melhor para os clientes que passam férias por lá. “Quem vem para
pobreza, também aumentou a oferta de empregos e a escolarização das domés-
Miami para car acaba se habituando
ticas. Resultado: o Brasil tem o menor
aos costumes dos Estados Unidos, onde
número de domésticas em três décadas.
ter uma empregada doméstica morando
Se em 1985, quando a Seade começou a estudar o setor, elas representavam
em casa é muito caro. Com o tempo, eles percebem que faz mais sentido contar com serviços como lavanderia, empresas que disponibilizam prossionais para limpar a casa, restaurantes e comidas semiprontas”, diz Faccin.
PASSOS DE FORMIGA Com as transformações sociais que ocorreram nas últimas duas décadas, seja por causa da globalização, seja pela
ascensão das classes mais desfavorecidas, a tendência é que o Brasil nalmente comece a deixar de lado esses costu-
21% na cidade de São Paulo e arredores, em 2013 esse número baixou para 14%.
Outra prova de que estamos deixando esse lado escravocrata de lado é a mudança na arquitetura de novos empreendimentos no país. “Os costumes do Brasil rural levaram a aberrações na arquitetura: apartamentos para classe média com menos de 80 metros quadrados, dois quartos e cômodo de empregada”, conta Fernando Forte, sócio do escritório de arquitetura FGMF.
“Isso porque, supostamente, a clas-
dor de serviço. É assim que funciona de maneira preconceituosa e incutido em quem se vê oprimido pela condição social”, arma o sociólogo Emerson Ricardo Girardi. O escritório de arquitetura IdeaZarvos, de São Paulo, tem feito condomínios com apartamen-
tos de até 140 metros quadrados com dois elevadores iguais em uma entrada
única. “Não sentimos que isso desvalorizou o projeto, e essa é sempre uma
mercado”, explica Otavio Zarvos, fundador do escritório. Apesar das mudanças,
ainda permanece um tabu: o banheiro de empregada. O arquiteto Fernando Forte acredita tratar-se de um desperdício similar ao do quarto de empregada.
“Assim nascem outras bizarrices na arquitetura brasileira, como apartamentos de 80 metros quadrados com quatro
banheiros e dois moradores. É muito complicado mexer com a individualidade brasileira em relação a banheiros. Eles simplesmente não querem dividir
banheiro com as domésticas”, arma. Uma mudança radical na forma como os apartamentos são construídos depende também de uma reforma na mentalidade da população.
DESIGN FOTO
RAFAEL QUICK
VICENTE FRANÇA
O
V E L H O
E
O
Em 1954, Bernardo Riedel construiu seu primeiro telescópio por conta própria. Desde então, o quase anônimo inventor é responsável por fabricar mais de 2 mil equipamentos astronômicos em sua oficina TEXTO NEIDE OLIVEIRA
C É U
Q QUANDO ABRE o portão de sua ocina,
Bernardo Riedel tem as mãos ainda molhadas. Acabara de consertar uma parte do encanamento que estourou no galpão onde fabrica telescópios no bairro do Horto, em Belo Horizonte. Aos 74 anos, tem aparência frágil, mas está longe de precisar de descanso. Chega todos os dias ao trabalho por volta de 8 horas da manhã e, caso o céu esteja convidativo para observações, pode estender o expediente pela madrugada. “Minha mente não para, não posso parar de criar”, arma. Em 1954, ao apaixonar-se pelos mistérios do céu, Riedel construiu seu primeiro telescópio, de estrutura de madeira — para aprender a técnica de fabricação, utilizou um livro escrito pelo inventor francês Jean Texereau. Formado em Farmácia e Bioquímica pela Universidade Federal de Minas Gerais, instituição onde foi professor, também trabalhou como ótico em um observatório astrônomico de Belo Horizonte antes de fundar, em 1978, a B. Riedel Ciência e Técnica, fabricante de telescópios, reetores, cúpulas e lentes. “Dei um jeito de fazer do meu hobby a minha prossão”, diz o inventor, que já produziu mais de 2 mil telescópios em sua empresa. Nos poucos momentos em que está livre, geralmente aos domingos, Riedel ouve música clássica e lê livros técnicos. O resto do tempo e do dinheiro são revertidos para a empresa: a construção dos telescópios consumiu um valor equivalente a seis imóveis recebidos como herança. “Quando me lembro das pessoas que vêm até aqui e trazem seus lhos, penso que não posso parar”, arma. Sua maior tristeza, no entanto, é saber que não há sucessores para continuar seu trabalho. “Quando eu falecer, tudo isso se perderá, inclusive a experiência acumulada ao longo de tantos anos.” De qualquer forma, planos para o futuro não faltam: projetos para uma sala de aula, telescópios computadorizados e um observatório na parte superior da ocina aguardam sua vez para que o sonho de Riedel continue a se tornar realidade.
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NADA SE PERDE
Além doarsenalde ferramentas básicas parauma oficina, Riedel garimpouequipamentosem ferros-velhos, como motoresde sorveteirase polias de máquinas de costura,modificando-ospara a fabricação dos instrumentos óticos
REFERÊNCIA
Apesar do trabalhoquase anônimo, Riedel é reverenciadopela comunidade científica brasileira. “Infelizmente, não existea cultura de olharo céu no país”, dizAlberto Ardila, do Laboratório Nacionalde Astrofísica
TUDO SE CRIA
Com o auxílio de três funcionários, o inventor constrói os equipamentos de modo personalizado:monta os telescópios comtubos de PVCe trabalhaartesanalmentecom retalhosde vidro grosso, utilizados nas lentes
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PANORÂMICA
Lua para todos: a Nasa publicou em outubro um acervo digital com mais de 8 mil fotos do Programa Apollo, que entre 1969 e 1972 transportou humanos até o satélite n
tural da Terra. Na imagem, o astronauta norte-americano Harrison Schmitt, da Apollo 17, realiza uma missão a pé no vale lunar de Taurus-Littrow, em dezembro de 1972
n a n r e C e n e g u E / a s a N : o t o F
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ULTI� MATO
GOSTARIA DESABERMAIS INFORMAÇÕES SOBRE CONSUMO CONSCIENTE?
CIDADESSEMFOME O que faz: Projetos
INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
de agricultura sustentável e orgânica
O que faz: Defesa dos direitos socioambientais
O queposso fazer:
Conhecer o projeto e realizar doações Estado: SP
O queposso fazer:
Participar dos projetos Estados: AM, DF, MT, PA, RR, SP
cidadessemfome.org
QUAL É A SUA CAUSA? ENCONTREAQUILOQUEVOCÊMAISGOSTA DE FAZER E ENGAJE�SE EM PROJETOS SOCIAIS BIKEANJO
QUER ENCONTRAR NOVAS MANEIRASDE SE RELACIONAR COMASUA CIDADE?
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para ciclistas iniciantes O queposso fazer: Ajudar outras pessoas como um instrutor Estado: Rede em diferentes cidades bikeanjo.org
VIVARIO O que faz: Políticas
socioambiental.org
de inclusão social O queposso fazer:
Colaborar com as atividades da ONG Estado: RJ
IMAZON O que faz: Pesquisas
LUTAPORUM MUNDOMAIS SUSTENTÁVEL?
sobre o desenvolvimento da região amazônica O que posso fazer:
Acompanhar os trabalhos publicados Estado: PA imazon.org.br
CAATINGA O quefaz: Projetos
sociais no semiárido pernambucano
ATADOS
vivario.org.br
O que faz: Plataforma
virtual que apresenta oportunidades de voluntariado em diferentes organizações
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Transporte de animais, banho e tosa e campanhas de adoção Estado: SP clubedosviralatas.org.br
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Confira a lista na página 40 =)
TETO
FICADE CORAÇÃO PARTIDO AOVER BICHINHOS NARUA?
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Ajudar na construção das habitações Estados: BA, PR, RJ, SP
O que faz: Promove
techo.org
adoção de gatos abandonados
O queposso fazer:
Doações em dinheiro, ração, medicamentos Estado: SP
SÓ � 1 MIN Aconteceu em outubro, mas não coube na revista
MANDOU MAL,OBAMA Fundado por Glenn Greenwald, que revelou os documentos vazados por Edward Snowden, o jornal The Intercept divulgou dados sobre as operações de drones no Afeganistão entre 2012 e 2013:nove entre dezmortos eram civis
Estudos indicam queos jogos da Seleção Brasileira podem causar danos psicológicos à torcida
O que faz: Produz perucas para pacientes com câncer O queposso fazer:
GOSTARIA DEUMA SOCIEDADE MAIS JUSTA?
adoteumgatinho.com.br
INSTITUTOMÁRIO PENNA
Doação de cabelos Estado: MG mariopenna.org.br
UM CONTO CHINÊS
OUTRO CONTO CHINÊS
DÁHADOUKEN
Mao Tsé-Tung está chateado: na China, 596 pessoas têm fortuna superiora US$ 1 bilhão, ultrapassando os Estados Unidos, terra de 537 bilionários. Já existemfoices e martelos de ouro no socialismo da ostentação?
Com500 metros de diâmetro, um radiotelescópio em construção na cidade chinesa de Guizhou querdetectar sinaisde rádiode até 1 milhãode estrelas.A transmissão de um Palmeiras e SãoPaulo extraterrestre está garantida
Aos 26 anos, o gaúcho Keoma Pacheco disputará o campeonato mundial de Street Fighter IV após vencer a etapa brasileira do torneio. Será que ele aprendeu a jogar naqueles fliperamas de bar com o jogo pirata?