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Ficha Informativa n.º 12 Figuras de estilo
Alegoria
Série de imagens (metáforas, comparações) utilizadas para concretizar um pensamento ou uma realidade abstracta.
“O polvo, com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge; com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinhas, parece a mesma brandura, a mesma mansidão. E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa (…), o dito polvo é o maior traidor do mar.” Padre António Vieira
Repetição do mesmo som consonântico dentro da mesma palavra ou em várias palavras seguidas.
“Olha “Olh a a bolh bolha a d’água no galh galho! o! Olh lha a o orvalh orvalho!” o!”
Alusão
Evocação, de modo indirecto, de alguém ou algo que não se nomeia explicitamente.
Há gente insuportável! referência velada a alguém que o destinatário reconhece.
Anacoluto
Interrupção da sequência lógico-sintáctica de uma frase. Utiliza-se nos textos literários para reproduzir na escrita a expressividade da linguagem oral e as emoções e a vida interior das personagens.
“Disse-se que o namorado isto e aquilo, a esposa do merceeiro aventou que um homem casado lá do emprego dela, discutiu-se o feitio da madrinha (…).”
Repetição, no início de frases ou de versos sucessivos, de uma palavra ou grupo de palavras.
“Porque os outros se mascaram mas tu não Porque os outros usam a virtude Para comprar o que não tem perdão Porque os outros têm medo mas tu não”
Aliteração
Anáfora
Cecília Meireles →
António Lobo Antunes
Sophia de Mello Breyner Andresen
Apresentação de um contraste ou oposição entre duas ideias ou duas coisas.
“A morte sabes dar com fogo e ferro, Sabe também dar vida com clemência”
É um caso particular de sinédoque. Consiste em substituir o nome própróprio de uma pessoa por um nome comum que refere uma característica característica dessa pessoa, ou vice-versa, isto é, empregar um nome próprio como um nome comum.
“Cessem do sábio grego e do troiano As navegações grandes que fizeram”
Amor , com força crua” “Tu, só tu, puro Amor,
Apóstrofe
Chamamento ou interpelação de pessoas ou de alguma coisa personificada.
Comparação
Consiste em estabelecer uma relação de semelhança por meio da conjunção como ou de outra expresexpressão equivalente (à semelhança de, tal, mais do que…), ou de verbos que sirvam para comparar (parecer , assemelhar-se , lembrar…).
“[Os seus olhos] eram azuis como o céu e o mar em dias luminosos, azuis como os miosótis junto dos ribeiros, azuis como a nossa felicidade, os nossos risos, o nosso amor.” amor .”
Antítese
Antonomásia
a r o t i d E o t r o P © I P E 0 1 R A M E
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Luís de Camões
Luís de Camões
(sábio grego = Ulisses; troiano = Eneias) Este miúdo é o Figo da nossa equipa.
Luís de Camões
Ilse Losa
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FIGURAS DE ESTILO
Enumeração
Eufemismo
É a apresentação sucessiva de vários elementos que mantêm entre si uma correlação lógica ou semântica.
“Um grito que atravessava as paredes, as portas, a sala, os ramos do cedro .”
Consiste em expressar uma ideia ou uma realidade desagradável de uma forma atenuada, suavizada.
“FRADE: Pera onde levais gente? DIABO: Pera aquele fogo ardente que nom temestes vivendo.”
Sophia de Mello Breyner Andresen
Gil Vicente
(= inferno)
Gradação
Hipálage
Hipérbato
Hipérbole
Imagem
Sucessão de palavras ou grupos de palavras, em ordem ascendente ou descendente, que amplificam ou diminuem o significado de uma ideia anteriormente apresentada.
“Ocorrem-me em revista exposições, países,
É uma inversão de sentido em que se transfere para uma palavra uma característica que, na realidade, pertence a outra.
“[Beatriz] abria os olhos molhados de culposas lágrimas.”
Consiste na inversão da ordem directa das palavras na frase.
Ao ignorante sempre aborrece o sabedor.
Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo!” Cesário Verde
Camilo Castelo Branco
(Beatriz é que é “culposa” e não as lágrimas.)
Provérbio
(Em vez de: O sabedor aborrece o ignorante sempre.) Emprego de termos exagerados, a fim de pôr em destaque determinada realidade.
É uma das figuras mais comuns na linguagem corrente: um calor de morrer; surdo como uma porta; suar em bica; ficar sem pinga de sangue.
Engloba figuras como a comparação, a metáfora e a metonímia, que dão forma sensível à representação de ideias, sentimentos e acções.
“São como um cristal as palavras. Algumas, um punhal, um incêndio. Outras, orvalho apenas.” Eugénio de Andrade
Ironia
Consiste em exprimir uma ideia dizendo precisamente o contrário.
“E irritando-se mais: – Deixe, que a sua mãe também é um bom anjinho, não haja dúvida!” Ferreira de Castro
Lítotes
Consiste em afirmar algo indirectamente, frequentemente através da negação ou diminuição do seu oposto ou contrário.
A lítotes é muito utilizada na linguagem corrente: Não é nada parvo em vez de É esperto/inteli gente; Chegou não muito atrasado em vez de Chegou pouco atrasado. “As tuas mãos são passarinhos brancos.”
Metáfora
Formalmente, pode ser entendida como uma comparação dita “abreviada”, já que lhe falta a palavra ou expressão comparativa. Ao nível do sentido, é mais do que uma comparação: é a identificação entre duas realidades que a priori não teriam relações entre si.
Ilse Losa
“– Uma borboleta branca – retorquiu Sexta-Feira – é um malmequer que voa .” Michel Tournier
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FIGURAS DE ESTILO
Metonímia
Oxímoro
Substituição de um termo por outro com que está em íntima ligação.
É frequentemente usada na linguagem corrente: Comprei uns ténis (= uns sapatos para jogar ténis). Vou beber um copo (= o conteúdo de um copo).
Ligação de dois termos que se excluem mutuamente.
“Aquela triste e leda madrugada”
Associação de ideias aparentemente contraditórias.
“Amor é fogo que arde sem se ver É ferida que dói e não se sente É um contentamento descontente É dor que desatina sem doer”
Paradoxo
Luís de Camões
Luís de Camões
“Que despois de morta foi rainha”
Perífrase
Designa algo ou alguém de um modo mais descritivo, alongado e enfático e não pelos termos habituais, ou seja, diz por muitas palavras o que poderia ser dito por poucas. Atribuição de propriedades humanas a animais, ser inanimados ou ideias.
“O vento soluça e geme...”
Personificação
Pleonasmo
Consiste em reforçar uma ideia pela repetição de palavras e expressões redundantes, desnecessárias.
“(…) gritar e ninguém responder é a tristeza mais triste que eu conheci.”
Distingue-se da personificação por introduzir num enunciado “falas” de personagens mortas ou ausentes, seres sobrenaturais e seres inanimados.
“«De quem são as velas onde me roço? De quem as quilhas que vejo e ouço?» Disse o mostrengo, e rodou três vezes”
Consiste na existência de quatro elementos dispostos dois a dois, segundo uma estrutura cruzada.
“Ó minha menina → loura,
Prosopopeia
Quiasmo
Luís de Camões
(= Inês de Castro)
António Nobre
Alves Redol
Fernando Pessoa
→
Ó minha loura menina, Dize a quem te vê agora Que já foste pequenina...” Fernando Pessoa
Sarcasmo
É uma figura próxima da ironia, mas que é mordaz, insultuosa, violenta para com os destinatários (pessoas ou instituições).
“Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo, golpe até ao osso, fome sem entretém, perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes, rocim engraxado, feira cabisbaixa, meu remorso, meu remorso de todos nós…” Alexandre O’Neill
a r o t i d E o t r o P © I P E 0 1 R A M E
Símbolo
Relação que associa algo (objecto, ser animado…) a uma ideia, a um conceito, a um sentimento.
A pomba branca é o símbolo da paz; a cor verde é símbolo de esperança; etc.
Consiste em tomar a parte pelo todo ou vice-versa, o singular pelo plural ou vice-versa.
“Que, da ocidental praia lusitana”
Sinédoque
Consiste na mistura de sensações que pertencem a sentidos diferentes.
“E fere a vista com brancuras quentes, A larga rua macadamizada.”
Sinestesia
Luís de Camões
(= Portugal)
Cesário Verde
(sensações visuais e tácteis)
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