Escola de Comunicação e Artes – Universidade de São Paulo (ECA USP) Carolina Linhares Bacarin
Fichamento de Obra Digicorp – Pós Graduação em Gestão Integrada da Comunicação Digital
São Paulo, 28 de Maio de 2012
São Paulo, 28 de maio de 2012. Internet e Sociedade em Rede (pp. 255 – 287) Parte III. CASTELLS, Manuel. Internet e a Sociedade em Rede. In: Por uma outra comunicação: mídia, mundialização cultural e poder . 5. ed. Rio de Janeiro e São
Paulo: Record, 2010
Manuel Castells, já no ano 2.000, fala sobre a importância da Internet e seus impactos na sociedade, comunicação e política. O autor explica, em nove pontos, como se encontrava a Internet no início do século 21 e suas conclusões anteveem o que é vivido na sociedade em rede nos dias de hoje. (19 de maio de 2012) Em Lições da história da Internet (p.258), o autor esclarece seis importantes características da mesma fazendo com que elas hoje sejam melhor compreendidas. A primeira é de que a Internet não nasceu em função de aplicações militares, mas sim da interação entre a ciência, programas de pesquisa militar nos Estados Unidos, entre a contracultura libertária e, 25 anos depois, a cultura empresarial, esta responsável pelo gancho entre Internet e sociedade. A segunda lição é a de que a Internet não foi criada como projeto de lucro de empresas. Na década de 70, o Pentágono tentou privatizar a Arpanet (antecessora da Internet) oferecendo-a gratuitamente para a empresa de telecomunicações AT&T. Esta negou a oferta sob a justificativa de que não seria um negócio rentável e, portanto, não tinham interesse em comercializá-la. Este é um grande exemplo que mostra que definitivamente “não foi a empresas a fonte da Internet ” (p. 258). A terceira lição é a de que desde seu início a Internet possui uma arquitetura aberta e de livre acesso. Qualquer técnico ou pesquisador tem acesso à fonte de códigos da Internet. A quarta lição é sobre a aplicação da Internet. Os produtores de tecnologia foram também seus usuários, e com isso as modificações de aplicações e novos desenvolvimentos tecnológicos eram constantes. O processo constante de retroação em tempo real desde o início da Internet é a base do dinamismo que ela possui como característica na atualidade. A quinta lição refere-se à origem da Internet. Ao contrário da opinião de que ela é de origem norte-americana, a Internet se desenvolveu a partir de uma rede internacional de cientistas e técnicos que compartilhavam e desenvolviam
tecnologias em cooperação. Sexta lição: desde seu início a Internet funcionou sob um sistema de autogestão sem grandes intervenções do governo. Isso porque nem empresas nem líderes políticos deram muita importância para a Internet. Sétima lição: o acesso aos códigos sempre foram abertos e assim continuarão sendo, pois está na base da capacidade de constante evolução e modificação em que a Internet se desenvolveu. Em A geografia da Internet (p. 262), Castells trata da distribuição da Internet para usuários e provedores. No ano 2.000, quando o autor escreveu o texto em questão, a penetração da Internet era maior nos países desenvolvidos. No entanto, era acelerado o crescimento do número de internautas nos países subdesenvolvidos. Passados 10 anos, a penetração mundial de acesso à Internet cresceu 445%, segundo
estudo
publicado
pelo
site
The
Next
Web
(http://thenextweb.com/shareables/2011/01/18/internet-penetration-around-the-worldinfographic/ Acessado em 27 de maio de 2012). Ou seja, o número de pessoas com acesso à Internet no mundo em 2011 ultrapassou a marca de 2 bilhões, de acordo com relatório publicado pela IUT Statistics (http://www.itu.int/ITU-D/ict/statistics/ Acessado em 27 de maio de 2012). (27 de maio de 2012) No entanto, segundo Castells, a diferença de tempo na chegada do acesso à Internet nos países causa disparidade de usos, pois “como os usuários são quem define os tipos de aplicação e desenvolvimento da tecnologia, os que chegarem depois terão menos a dizer sobre o conteúdo, a estrutura e a dinâmica da Internet ”. (p.263) Em relação à geografia dos provedores, a distribuição dos mesmos é concentrada nas áreas metropolitanas dos principais países do mundo, uma vez que estes ambientes caracterizam-se como polo de informação e conhecimento. Em A divisória digital (p. 265), o autor fala sobre a ideia de que a Internet estaria criando uma divisão no mundo entre os que têm e os que não têm acesso à Internet. É verdade que a diferença de conectividade no mundo traz desvantagens como fragilidade no mercado de trabalho e perda de competitividade econômica internacional, mas o desenvolvimento de conectividade é considerável e a falta de acesso deixa aos poucos de ser um problema . “A conectividade como elemento de
divisão social está diminuindo rapidamente” (p. 266). Sendo assim, o que pode ser
considerado na atualidade como divisória digital é “a capacidade educativa e cultural de utilizar a Internet ” (p. 266). Toda a informação está na rede, mas a extração dela exige dos usuários saber como buscá-la e como transformá-la em conhecimento específico. E, devido às desigualdades socioeconômicas no mundo, esta capacidade é desigual. Em A Internet e a nova economia (p. 267), o autor discorre sobre como as empresas funcionam com e através da Internet. A partir de casos que ilustram trabalhos internos de empresas feitos em grande parte pela rede, Castells mostra como elas tiveram sucesso e lucratividade com redução de gastos e economia de tempo. “(...) a primeira coisa que a Internet está fazendo na economia é transformar o modelo da empresa.” (pg. 269). Além disso,
[...] a Internet possibilitou o desenvolvimento vertiginoso da transação financeira eletrônica, o desenvolvimento de mercados financeiros, mercados de Bolsas como a Nasdaq, que são mercados eletrônicos, sem um lugar físico no espaço. [...] (p. 270)
Em A sociabilidade na Internet (p. 272), características que permeiam a interação social ou individual na rede são desmistificadas pelo autor. A Internet não chegou para mudar as relações sociais, mas sim para potencializá-las (27 de maio de 2012). [...] aquilo que as pessoas faziam, elas continuam fazendo com a Internet: para quem as coisas andavam bem, ficaram ainda melhores, e para quem elas iam mal, continuam igualmente ruins. [...] [...] A Internet é um instrumento que desenvolve, mas que não muda os comportamentos; ao contrário, os comportamentos apropriam-se da Internet, amplificam-se e potencializam-se a partir do que são. [...] (p.273)
A Internet possibilita que projetos pessoais sejam realizados e que redes de afinidades sejam geradas, uma vez que a rede possibilita ultrapassar os limites físicos do cotidiano. Os laços entre as pessoas encontram-se em uma nova configuração. A sociabilidade nos bairros e no trabalho, por exemplo, tem diminuído. As relações são baseadas em laços eletivos, ou seja, ao invés de construir relações entre pessoas que fazem parte de um mesmo espaço físico, as pessoas se buscam.
Esta possibilidade de eleger o tipo de relacionamento não mais obriga as pessoas a criarem laços estreitos com quem não possuem muita afinidade, sendo que a Internet possibilita a fortificação de laços entre indivíduos que buscam por assuntos comuns. Isso mostra a importância de fóruns, comunidades e grupos que são criados e “frequentados” na Internet. (27 de maio de 2012) “(...) quanto mais as comunidades virtuais estão ligadas a tarefas, a fazer coisas ou a perseguir interesses comuns, maior é seu êxito”. (p. 275)
Em Os movimentos sociais na Internet (p. 276), Castells mostra que eles utilizam a rede como forma de ação e organização. Ou seja, a Internet é um instrumento e não a responsável por mobilizações sociais. Nas revoluções políticas na Tunísia e no Egito, no início de 2011, as redes sociais desempenharam um papel importante no que diz respeito à organização de pessoas, discussão de ideias e facilidade da comunicação via Facebook. Sendo assim, não foi a Internet a responsável pelas revoluções, mas um importante instrumento para que elas pudessem ocorrer. (27 de maio de 2012) Segundo o autor, há três características fundamentais na interação entre a Internet e os movimentos sociais: 1ª) a crise nas organizações tradicionais estruturadas, como os partidos políticos, faz com que as pessoas busquem outras formas de se mobilizar; 2ª) os movimentos sociais desenvolvem-se em torno de códigos culturais e de valores. “A transmissão instantânea de ideias em um âmbito muito amplo permite a coalizão e a agregação em torno de valores” (p. 278); 3ª) O poder funciona
em redes locais, enquanto as pessoas constroem seus valores em sociedades locais. As pessoas se organizam na rede, que ultrapassa as barreiras físicas, e põe em prática seus ideais localmente. O conteúdo deste capítulo é estendido em A relação direta da Internet com a atividade política (p. 279), onde o autor ilustra como a rede tem sido utilizada por
governadores e por populações ao redor do mundo para se expressarem politicamente. No entanto, existe uma grande diferença entre os tipos de uso. Enquanto cidades tem se organizado digitalmente (Digital City de Amsterdã, redes cidadãs de Seattle e o programa Iperbole em Bolonha), os governos tem utilizado a Internet como instrumento de comunicação unidirecional.
[...] Em geral, limitam-se a expor dados: aqui está a nossa informação para que vocês fiquem sabendo o que fazemos, isso nos poupa trabalho e, se desejarem, podem nos dar a sua opinião. O que acontece é que não sabemos o que se passa com essa opinião. [...] (p. 279)
Em A privacidade na Internet (p.280), Castells discorre sobre a ideia do seu efeito sobre a privacidade e sobre a capacidade de controle da vida íntima dos indivíduos. Na relação entre os governos e os cidadãos, há a grande preocupação por parte daqueles por não ser possível controlar a Internet. “A possibilidade de criptografar um código permitiria que cada pessoa pudesse determinar seu próprio código”, (p. 283), mas tal prática é proibida pelos governos sob o argumento de que “os traficantes de drogas e outros malfeitores poderiam
utilizá-lo para realizar seus negócios via Internet ” (p. 283). Assim, a batalha hoje pelo código criptografado traduz-se na batalha pela privacidade na Internet. Em A Internet e os meios de comunicação (p. 284), o autor fala sobre a relação entre a Internet e a transformação da comunicação. [...] o que a Internet está fazendo é converter-se no coração articulador dos distintos meios, da multimídia. Em outras palavras, transforma-se no sistema operativo que permite interconectar e canalizar a informação sobre o que acontece, onde acontece, o que podemos ver, o que não podemos ver, e torna-se o sistema conector interativo do conjunto do sistema multimídia. Isso é o que a Internet está configurando. [...] (p. 284)
Considerando que a Internet transforma os seus meios de comunicação antecessores, é um equívoco assumir que ela irá substituí-los. A Internet não eliminou e nem irá eliminar outros meios, mas sim modificar a forma com que eles são consumidos. E para acompanhar este processo, os grandes grupos de comunicação precisam se atualizar. (27 de maio de 2012). “(...) a Internet está revolucionando a comunicação por sua capacidade de fazer os grandes meios de comunicação entrarem em curto- circuito”. (p. 285) No entanto, a possibilidade de qualquer indivíduo produzir conteúdo na Internet, põe em questão o problema da credibilidade. Com a velocidade da comunicação na
rede, alguns fatos podem ser distorcidos pelos internautas e uma notícia falsa é criada. Com isso, a “etiqueta da veracidade” (p. 286) continua sendo importante para
quem consome conteúdo na Internet. Os grandes grupos de comunicação seguem desempenhando um papel essencial e para isso precisam se adequar à nova configuração da comunicação de massa que a Internet ajudou a criar. A partir dos nove pontos que descrevem as principais características da Internet, Castells conclui que a mesma não é só uma tecnologia, mas [...] um meio de comunicação que constitui a forma organizativa de nossas sociedades. (...) O que a Internet faz é processar a virtualidade e transformá-la em nossa realidade, constituindo a sociedade em rede, que é a sociedade em que vivemos. [...] (p. 287)