26/8/2014
[P r o j e t o E]
Apresenta ção
Programas
Na TV
5. TRABALHO COOPERADO A FORÇA DA UNIÃO
Como é que surgiu surgiu o cooperativismo? Foi num momento de dific dificuldades uldades como o que estamos vivendo hoje?
Diva Pinho: O modelo principal do cooperativismo surgiu na Inglaterra em 1844 quando os trabalhadores da área têxtil atravessavam graves problemas. Eles se reuniram para resolver problemas de alimentação, de sobrevivência e elaboraram um modelo de cooperativa que passou a ser padrão para as cooperativas de consumo. Como é que funci funcionam onam as cooperativas de trabalho? Como é possível possív el alguns trabalhadores trabalhadores se associarem a ssociarem em cooperativas?
Walter Tesch: Hoje estamos vivendo uma mudança do próprio conceito de trabalho. As pessoas, às vezes, confundem estar numa cooperativa com ter um emprego. O emprego é uma relação em que há um empregador e o trabalhador é um sujeito assalariado, subordinado a este empregador. Estar numa cooperativa, a pessoa tem que assumir que é protagonista no processo produtivo. Deve conhecer o mercado onde vai atuar e ter habilidade adequada para isto. A legislaçã legislação o brasileir brasileiraa tem t em algum algumas rest riç riç ões: ela exige exige que se tenha te nha pelo menos 20 pessoas para constituir uma nova cooperativa. Primeiro, é preciso, então, que se tenha um grupo com alguma coesão e que este grupo tenha uma liderança boa que motive, estimule e agregue estas pessoas e veja qual a viabilidade delas na relação com o mercado. Se tiver um bom e viável projeto econômico, se tiver uma aliança, com apoio num local, com telefone e infraestrut infraestrutur uraa mínim mínima, se tiver uma possibilidade de um contrato, então, há condições de se dar certo. Como é este processo? Eu me associo associo em uma cooperati cooperativa va e o que devo fazer para ser um bom cooperado?
Diva Pinho: Eu já dei aula para cooperativas de trabalho que foram fundadas de cima para baixo por ministérios e secretarias governamentais. Elas já haviam elegido o conselho administrativo e o conselho fiscal e se perguntavam: e agora, o que fazemos? O desafio era justamente treinar este pessoal para a autogestão. O indivíduo que tem uma mentalidade de empregado, de repente http://www.pr oj etoe.or g .br /tv/pr og 05/html /i _05_05.html
1/4
26/8/2014
[P r o j e t o E]
está diante de outra condição: é autônomo, é dono do seu próprio destino. Ele precisa estar preparado para as atividades de autônomo. Aí eu entrava com a parte educacional: ensinar as pessoas sobre o que é uma cooperativa, quais os preceitos democráticos de autogestão da cooperativa etc. Dependendo dos profissionais, nós tínhamos aulas no fim de semana para ensinar o mínimo sobre administração de uma empresa cooperativa, o mínimo sobre fluxo de caixa, o mínimo sobre administração financeira de uma cooperativa. Depois, era preciso dar atendimento, pelo menos no primeiro ano de funcionamento da cooperativa. Quais são os fatores que atrapalham o cooperativismo no Brasil?
Walter Tesch: O Brasil só tem 4% da população economicamente ativa envolvida de alguma maneira com cooperativas, o que é muito pouco em relação ao Canadá que tem mais de 50% e à Argentina com mais de 39%. Esta cultura de cooperação é o primeiro fator importante para que funcione bem uma estrutura que exige alto grau de participação com autonomia. Outro aspecto é a legislação do trabalho que está construída com uma lógica de subordinação do trabalho ao capital. Não há no Direito nenhuma lógica que prevê a possibilidade do sujeito controlar e participar do seu trabalho. Mesmo o autônomo é o autônomo da CLT, o indivíduo isolado. Na cooperativa, este autonomo é um trabalhador associado à cooperativa. Eliminar a intermediação é um dos princípios cooperativistas. Quem é o grande intermediador? É o Estado. Aí temos dois problemas básicos: a Previdência Social e os tributos diversos. Nestes não se reconhece a organização do trabalhador em cooperativas como organização altamente benéfica à sociedade. Benéfica porque está evitando que este sujeito cooperado use o serviço público sem contribuir e evitando também a desestabilização maior deste sujeito e de sua família. Existem críticas sobre as cooperativas tomarem atitudes sem consultar os cooperados...
Diva Pinho: O administrador tem que ter bom senso: até quando ele pede a participação sem virar o "assembleísmo" desnecessário. Mas o que acontece mesmo é que nós não temos uma tradição de associativismo. É necessário que as pessoas tenham interesse de alguma forma na reunião. No exterior, mesmo em países de forte tradição cooperativista, muitas cooperativas organizam churrasco, confraternizações, diversões para a família etc. São técnicas para atrair os cooperados para a reunião. Walter Tesch: É importante diferenciar: numa cooperativa de habitação, o sujeito quer uma casa, na cooperativa de crédito, ele quer ter o dinheiro barato. Na cooperativa de trabalho a participação está diretamente relacionada com a coisa cooperada que é o trabalho. Neste caso, discutir o preço do contrato é vital, bem como a composição dos custos e como o trabalho do sujeito participa daquele contrato. A cooperativa é um bom instrumento de cidadania se ela discute o processo econômico. Aí não precisa de outra coisa. Diva Pinho: Eu fui presidente de uma cooperativa de pesquisadores da USP. Às vezes uma pesquisa é encomendada para uma cooperativa em que só uma pequena parcela é capaz de desenvolver aquele trabalho. Os critérios de http://www.projetoe.org.br/tv/prog05/html/i_05_05.html
2/4
26/8/2014
[P r o j e t o E]
distribuição do trabalho é muito importante nas cooperativas de trabalho. Walter Tesch: A gente observa em algumas cooperativas que começam com um certo tema e no final têm que mudar porque aquele tema já não existe. Diva Pinho: São profissões que desaparecem. As cooperativas também devem se reciclar. Walter Tesch: Quando se chega para formalizar uma cooperativa na Junta Comercial, ela exige que se tenha bem claro o objetivo da cooperativa. Às vezes este objetivo caduca. Um exemplo, é uma cooperativa dos exempregados da COBRAPE que ficou um tempo esperando projetos de desenho, mas já não tinha mais projetos na área. Foi preciso se requalificar, se diversificar, por exemplo, em turismo, em gestão de cooperativas. Como qualquer empresa, a cooperativa deve rever seu objeto de trabalho. Diva Pinho: Deve-se adotar um objeto de trabalho geral, amplo que permita redefinir a atividade em função das mudanças do mercado. Uma outra questão importante é o princípio da adesão livre. Qualquer pessoa pode entrar e sair de uma cooperativa livremente. Mas, nem sempre há mercado para todos. A UNIMED, por exemplo, está delimitando a adesão por bairros. Ela precisa redirecionar a adesão para os bairros em que ela não tem médicos. A Cooperativa dos Práticos do Porto de Santos tem 20 e poucos associados. Ela não pode abrir para mais associados porque não tem volume de navios que possibilite trabalho para mais gente. Por razões técnicas, uma cooperativa pode e deve suspender a adesão de novos associados. Como a pessoa busca apoio para abrir uma cooperativa?
Diva Pinho: Geralmente as organizações das cooperativas em cada estado dão esta orientação. A OCB - Organização das Cooperativas Brasileiras, em Brasília, também orienta. É importante que a pessoa procure e visite uma cooperativa do mesmo ramo que esteja funcionando bem para saber como ela funciona, quais os problemas. Depois, ela reúne o grupo interessado e analisa se vale mesmo a pena organizar aquela cooperativa. Walter Tesch: Devemos eliminar da nossa linguagem a expressão "montar uma cooperativa" porque as vezes as pessoas pensam que um contador ou um advogado é que vai fazer isto, o que é bem típico no Brasil. Se não tiver o grupo, não há possibilidade da cooperativa. Organizar a cooperativa é um processo. Em São Paulo, organizamos o Manual da Cooperativa com a lei (muita gente não conhece a lei), com o estatuto e com 60 perguntas que o grupo deve responder antes de saber se a cooperativa é uma opção. Quem quer informações pode procurar a OCESP e a FETRABALHO que também orientam através de documentos na Internet: http://www.ocesp.org.br e http://www.fetrabalhosp.org.br.
http://www.projetoe.org.br/tv/prog05/html/i_05_05.html
3/4
26/8/2014
http://www.projetoe.org.br/tv/prog05/html/i_05_05.html
[P r o j e t o E]
4/4